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Copyright© 2023 KEVIN ATTIS

Revisão: Ârtemia Souza e Kevin Attis


Simulação de imagens da capa: Hórus Editorial
Adaptação: Kevin Attis
Fonte do título: Jéssica Santos
Imagens Diagramação: Fox Assessoria Literária e Kevin Attis
Diagramação: Kevin Attis
____________________
Dados internacionais de catalogação (CIP)
NOS BRAÇOS DO PECADO: LIVRO ÚNICO
2ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance erótico. 4.
Romance Dark. Trisal. Título I.
____________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Sumário
Playlist
Dedicatória
Epígrafe
O Pecado
Sinopse
Nota do autor sobre o assunto
Prólogo — Estére
Capítulo 1 — Estére
Capítulo 2 — Estére
Capítulo 3 — Estére
Capítulo 4 — Estére
Capítulo 5 — Estére
Capítulo 6 — Estére
Capítulo 7 — Estére
Capítulo 8 — Frederic
Capítulo 9 — Estére
Capítulo 10 — Estére
Capítulo 11 — Frederic
Capítulo 12 — Estére
Capítulo 13 — Estére
Capítulo 14 — Estére
Capítulo 15 — Estére
Capítulo 16 — Frederic
Capítulo 17 — Estére
Capítulo 18 — Estére
Capítulo 19 — Estére
Capítulo 20 — Estére
Capítulo 21 — Frederic
Capítulo 22 — Estére
Capítulo 23 — Estére
Capítulo 24 — Estére
Capítulo 25 — Estére
Capítulo 26 — Estére
Capítulo 27 — Estére
Capítulo 28 — Estére
Capítulo 29 — Estére
Capítulo 30 — Estére
Capítulo 31 — Ferdinand
Capítulo 32 – Estére
Capítulo 33 – Estére
Capítulo 34 – Estére
Capítulo 35 – Estére
Capítulo 36 – Estére
Capítulo 37 – Estére
Capítulo 38 – Estére
Capítulo 39 – Estére
Capítulo 40 – Ferdinand
Capítulo 41 – Estére
Capítulo 42 – Estére
Capítulo 43 – Estére
Capítulo 44 – Estére
Capítulo 45 – Estére
Capítulo 46 – Estére
Capítulo 47 – Estére
Capítulo 48 – Estére
Capítulo 49 – Estére
Capítulo 50 – Estére
Capítulo 51 – Estére
Capítulo 52 – Estére
Capítulo 53 – Estére
Capítulo 54 – Estére
Capítulo 55 – Estére
Capítulo 56 – Estére
Capítulo 57 – Estére
Capítulo 58 – Estére
Capítulo 59 – Estére
Capítulo 60 – Estére
Capítulo 61 – Estére
Epílogo – Estére
Depois do felizes para sempre... – Frederic
Uma espiada em “Nos Braços do Dominador” — Frida
Agradecimentos
Siga o autor nas redes sociais
Ouça aqui a playlist de “Nos Braços do Pecado”, disponível

no Spotify.

Escaneie:
Aos que chegaram agora, aos que estão aqui desde o

começo, aos que acreditam no amor, e aqueles que desacreditam. A

todos que não se importam com a forma de amar, e respeitam as

diferenças de cada um.

Esse livro é para vocês.

Dedico especialmente a Thais Santos, minha leitora, parceira e

amiga.
Esse livro é para você que acreditou nele desde o começo e não

permitiu que eu desistisse dele.


“Alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude.”

William Shakespeare.
O meu pecado

Não foi irá, inveja, ganância,

preguiça, luxúria, gula ou orgulho.

Meu pecado foi te amar, e não ter te contado,

O meu pecado foi não ter te procurado,

Nem para dizer adeus

O meu pecado foi não ter te protegido,

E nem tentado, te dizer que te amava.


E pecados não são perdoados, nunca.

Autor desconhecido.

Extraído da página “Pensador.


Romance dark + slow burn + garota virgem + age gap + trisal e

muito hot!

Ela não imaginava, mas eles seriam como pecado e luxúria,

levando-a ao desejo mais sombrio…

Frederic Cooper é um homem atraente que aos vinte e oito anos

perdeu a esposa para uma doença terrível. Desolado com a perda, ele tem

apenas uma pessoa a quem se apoiar: sua, até então, enteada.

Estére Muller é uma jovem inexperiente que sempre teve tudo o que

queria na palma de sua mão. Porém, com uma grande fatalidade que levou

sua mãe à morte, sua vida vira de ponta cabeça.


Por um pedido da falecida esposa e mãe, Estére e Frederic terão que

conviver sob o mesmo teto, no entanto, eles não esperavam que um

sentimento avassalador pudesse nascer em meio ao luto.

Como eles conseguirão resistir a uma ardente e proibida paixão que

não deveria existir entre os dois?

E o pior; como irão lidar com o irmão gêmeo de Frederic que busca

vingança, e pode colocar tudo a perder?

Um romance ardente, pecaminoso, incestuoso e cheio de luxúria,

com desejos sombrios que podem destruí-los, embarque nesta história e

descubra que os mocinhos às vezes podem ser os melhores vilões já vistos.


Alerta de gatilho: esse livro contém cenas de sexo explícito e

narrado. Contém tentativa de estupro, entre outras coisas que podem causar

desconforto. Se você não estiver à vontade lendo esta história, abandone a

leitura imediatamente.

O autor não compactua com esses comportamentos.

Leia a nota.
Esse livro contém diversos tipos de gatilhos e se você não se

sente confortável, abandone a leitura imediatamente. Contém: trisal, sexo

entre homens — sexo gay, tentativa de estupro, inversão sexual, drogas,

descrição de uso de bebidas alcoólicas, incesto entre irmãos, romance

entre enteada e padrasto, morte por câncer, crimes, morte e outros

assuntos considerados TABUS pela sociedade. Esse livro é proibido

para menores de dezoito (18) anos. Caso não goste do tema, peço que
abandone a leitura imediatamente e NÃO TENTE LÊ-LO SE NÃO

FOR DO SEU AGRADO.

É importante que leia sabendo disso para não se sentir

desconfortável. O autor não se responsabiliza se decidir continuar.

Kevin Attis.
Meu nome é Estére Muller, e se você pensa que essa história é

comum, está enganado. Aqui, nós somos tratados como os vilões. Eu me

trato assim.

Veja bem, eu perdi uma pessoa importante para um maldito câncer e

adivinha o que fiz? Não consegui lidar bem com isso e me entreguei a uma

paixão avassaladora.

Ao pensar nisso, você diria que eu fiz a coisa certa, afinal, amar é

uma dádiva, não é mesmo?

Não, não é.
Não no meu caso, no nosso caso, afinal, essa paixão envolvia muito

mais do que se pode imaginar.

Acredite se quiser, eu não escolhi isso. Na verdade, nós não

escolhemos. Simplesmente as coisas foram acontecendo e quando vi, já

estávamos tão envolvidos que o Pecado e a Luxúria estavam andando de

mãos dadas como se fossem as nossas melhores companhias. E foi aí que me

vi em um campo minado e as coisas começaram a sair do controle. Peço que

por favor, não nos julgue, conheça-nos antes de qualquer coisa e descubra os

nossos desejos mais sombrios, e ao descobrir, tente entender um pouco do

nosso lado...

Talvez você se arrependa de nos conhecer, ou quem sabe goste do

que está prestes a ler, eu espero que entenda tudo que fizemos, mas não há

mais nada a dizer.

Estamos no inferno.

Bem-vindo(a) ao purgatório.
Europa — Cidade do Vale Sombrio.

2017

Ouço o barulho da chuva bater na janela e a porta principal da

casa é aberta. Não poderia ser mais ridículo do que está sendo, até mesmo

parecia que Deus olhava para gente e dizia: “Bem, já que sua mãe morreu,

vou mandar uma chuva forte para deixar você ainda mais triste, e com sorte,

cortar os seus pulsos e se juntar ao inferno com ela”. O pensamento de que

mamãe agora está no inferno é triste, mas real. Não que ela tenha sido uma
pessoa ruim ou algo parecido, entretanto, eram assim as coisas. Quem

realmente ia para o céu? Deus deveria escolher a dedo as pessoas, e mesmo

minha mãe tendo morrido por causa de um maldito câncer, duvido que Ele

tenha tido piedade dela.

Suspiro, frustrada, e seco a lágrima que escorre pelo meu rosto,

encosto a cabeça na janela da sala e continuo olhando para o lado de fora,

vejo um casal jovem correr debaixo da chuva, sorrindo apaixonados. Penso

o quanto a vida as vezes é estranha; sim, estranha. Estou aqui dentro,

sofrendo pela morte de mamãe, e eles dois lá fora, sorrindo, se abraçando e

beijando-se debaixo da chuva como se fosse a coisa mais comum do

mundo.

Levanto-me e apanho meu celular que vibra na mesa de centro. Vejo

no visor que é uma mensagem do meu namorado, Collin Spellman. Apesar

de gostar muito dele, sempre achei seu nome um tanto ridículo.


Fala sério, quem coloca esse tipo de nome no seu filho?

“Você se chama Estére, acha seu nome bonito e comum?” Ouço meu

pensamento me questionar.

Estou ficando maluca.

— Estére? — Ouço a voz do meu padrasto e ele entra na sala, me

encarando. Está usando um terno preto com a gravata torta. A cabeça, com

o cabelo penteado para trás, está molhada por conta da chuva. Seu olhar é

frio e triste, por conta de ter perdido a esposa. O peitoral forte sobe e desce

por baixo da camisa.

Ele é muito mais jovem que mamãe, cerca de quase doze anos,

quando soube que os dois estavam namorando, achei um tanto estranho,

mas com o passar do tempo aprendi a gostar dele e, apesar de sermos tão

diferentes um do outro, éramos uma família.

— Oi — digo, ainda parada, com o celular na mão, pronta para

responder Collin.
— Gostaria de saber se você está precisando de alguma coisa — fala

Frederic. Esse é seu nome, o que, na minha opinião, não combina muito

com ele.

— Estou bem, na verdade, estava me preparando para tomar um

banho e me deitar.

— Você tem certeza? Não quer comer alguma coisa? Posso preparar

o jantar ou pedir comida japonesa — diz com a testa franzida.

Nego com a cabeça, segurando o celular com firmeza.

— Tenho certeza, obrigada, estou sem fome.

Silêncio.

Ele fica parado onde está e concorda com um aceno de cabeça, vejo

que seu lábio inferior treme, como se estivesse prestes a chorar.

— O funeral estava cheio, você não acha? Sua mãe era muito

querida — fala e sei o que ele está fazendo.

— Você quer saber como estou, então pergunte logo — digo ríspida.
Frederic abaixa a cabeça e volta a me encarar, vejo seus olhos

marejados.

— Só queria... você perdeu sua mãe, sinto muito.

— E você a sua esposa, também sinto muito, mas quando ela

descobriu sobre o câncer, sabíamos que as chances disso acontecer eram

grandes.

Voltamos a ficar em silêncio e ele concorda.

— Ok, vou me deitar, amanhã o advogado vai vir ler o testamento,

sabemos que sua mãe não era rica, mas tinha um dinheiro considerável na

poupança.

— Pode ficar com o dinheiro, não vejo problema nisso — digo,

seguindo até a escada. Passo ao seu lado sem ao menos encará-lo e Frederic

segura meu braço, virando meu corpo para ele. — O que foi?

— Não quero o dinheiro da sua mãe, apenas a quero de volta.


— Eu também a quero aqui, está bem? Mas sabemos que isso é

impossível! Não tem como ela voltar dos mortos.

Meu padrasto concorda e me desvencilho dele, subindo a escada.

Vejo ele uma última vez antes de me perder no corredor e entro para o meu

quarto, deito-me na cama e lamento a morte de mamãe.

“Droga, como será de agora em diante?”

Penso o quanto que a vida é injusta, por que perdíamos as pessoas?

Por que minha mãe havia partido tão cedo?

Sinto meu celular vibrar e saio dos meus pensamentos ao ver que é

uma ligação de Collin. Decido atender para que ele possa me deixar em paz

o mais rápido possível.

Só quero ficar sozinha, é pedir demais?

— Amor, como você está? Quer que eu vá para sua casa? —

pergunta com a voz rouca. Suspiro e me viro na cama, olhando a janela, que

continua chovendo do lado de fora da Cidade do Vale Sombrio[1], uma

cidadezinha interiorana que fica localizada na Europa. A cidade leva esse


nome porque boa parte do tempo está chovendo e tem um ar misterioso.

Muitos moradores dizem que aqui habita o próprio Diabo, o que eu não

duvido, já que é um verdadeiro inferno.

Estamos mesmo no purgatório.

— Oi — digo. — Estou bem, não precisa, nos vemos amanhã, o que

acha?

— Tem certeza? Posso levar panquecas do Beer’s — murmura do

outro lado da linha.

Collin é um homem muito bonito, isso não posso negar. Na nossa

faculdade ele sempre foi um dos caras mais cobiçado, tanto por mulheres

como por homens, no entanto, havia sido eu que acabara conquistando-o.

Começamos a namorar no segundo ano da faculdade e até então

ainda não havíamos ido para a cama. O que, de certa forma, sei que o

incomoda, mas desde então tem sido um cavalheiro e tanto comigo.

— Sim, nos vemos amanhã — digo com firmeza.


— Sinto muito que esteja passando por isso, minha garota — diz.

Sorrio da forma que fala e seco a lágrima que escorre pela minha bochecha.

— Eu também sinto, mas não podemos fazer mais nada. Agora, se

não se importa, vou dormir, estou bastante cansada.

— Tudo bem, eu te amo, até amanhã.

Desligo sem respondê-lo e tomo um rápido banho, deito-me na cama

e durmo.

Acordo de madrugada um tanto assustada, com o vento forte batendo

na vidraça da janela e o barulho dos relâmpagos. Levanto-me e fecho a

cortina, observando o temporal continuar do lado de fora.

Bocejo e vou até o banheiro, faço xixi e me encaro no espelho,

observo meu cabelo loiro bagunçado, meus olhos azuis estão vermelhos e

cheia de olheiras, já que faz dias que não durmo direito. Puxei as

características de mamãe, que, quando jovem e viva, era uma cópia perfeita

de mim. Aliás, ao contrário.


A única diferença entre nós é que mamãe era séria demais e

determinada a fazer o que fosse necessário para alcançar seus objetivos. Já

eu não.

Sempre fui uma garota despreocupada, o que era um forte motivo

para mamãe e eu brigarmos. Até mesmo sobre eu ainda ser virgem era

assunto de brigas, o que me incomodava bastante.

Mas, pensando agora que a perdi, preferia mil vezes brigar com ela

do que tê-la perdido para o câncer.

Esqueço meus pensamentos melancólicos e saio do banheiro, vou

para o lado de fora do quarto, sigo pelo corredor e desço a escada. Olho

para o relógio na parede e vejo que ainda são quatro da manhã. Sigo até a

cozinha, abro a geladeira e pego um pouco de leite.

— Sem sono também? — pergunta a voz atrás de mim.

Me assusto e quase derrubo a caixa. Viro-me na ilha da cozinha e

coloco-a sobre o balcão.


— Droga, Frederic, você me assustou! — exclamo, encarando meu

padrasto. Vejo que sua pele brilha e seu peitoral está desnudo.

— Me desculpe, não foi minha intenção. Ouvi passos pela casa e

decidi verificar se realmente era você.

— Se não fosse eu, quem é que seria? — pergunto, revirando os

olhos.

Ele me encara e abre a boca pronto para proferir algo, porém, a fecha

e começa a gesticular com os braços.

— Eu não sei, me desculpe novamente, só não consigo dormir.

Concordo e viro meu corpo, sigo em direção ao armário e pego um

copo.

— Aceita um pouco? — pergunto, apontando para o leite, ele

concorda e pego dois copos.

Volto em sua direção e nos sirvo, entrego um a ele, que sorri grato.

— Obrigado, Estére — diz, pronunciando meu nome devagar.


— Por nada. Agora me diga, não dormiu nem um pouco?

— É meio difícil, quando se está acostumado a ter outro corpo te

esquentando — diz de maneira despreocupada. — Me desculpe, sei que

você nunca foi muito com minha cara, já que eu sou muito mais novo do

que sua mãe...

— Não, por favor, não vamos falar sobre isso. Eu nunca disse que

não ia com sua cara, apenas me incomodava o fato de que meu padrasto tem

idade para ser meu irmão.

— Entendo, mas agora não sou mais seu padrasto, não se preocupe

com isso — diz, forçando um sorriso, forço outro apenas para correspondê-

lo.

— Acho que eu vou tentar dormir — digo terminando meu leite,

coloco o copo sobre a pia e Frederic concorda, me despeço dele, passando

ao seu lado e me esbarro sem querer no seu peitoral. Sinto a quentura de sua

pele e meus pelos se arrepiam. — Você está quente.


— Não se preocupe, não é nada demais — diz, concordo e ergo a

sobrancelha.

— Se você está dizendo. Até mais tarde.

Volto para meu quarto e me deito, fecho os olhos e tento dormir, no

entanto, é em vão, já que não para de vir na mente minha mãe dentro de um

caixão magra, completamente irreconhecível, e morta.


Sinto uma mão passear pelo meu rosto e abro meus olhos

devagar, encarando Frederic sentado ao meu lado.

— O que está fazendo aqui?! — pergunto ríspida, esfrego meus

olhos e o observo novamente, vendo que na verdade é Collin.

— Oi, amor, me desculpe, pensei que havíamos combinado de nos

vermos hoje — diz estreitando as sobrancelhas. — Está tudo bem?

— Como você chegou aqui? — pergunto surpresa.

— Frederic abriu a porta para mim — diz.


Fico surpresa com o que houve e balanço a cabeça. Apenas uma

confusão. É isso. Com certeza se deve ao fato de ter visto meu padrasto de

madrugada e agora estou imaginando coisas.

— Me desculpe — digo. Me aproximo dele e deposito um beijo

suave nos seus lábios, rapidamente me levanto e vou para o banheiro,

tranco a porta e o deixo para o lado de fora.

— Você quer sair para comer alguma coisa? — pergunta do outro

lado. — Pensei que, como esta semana as aulas foram suspensas por conta

das fortes chuvas, seria legal se fôssemos juntos para algum lugar, para

você descansar, o que acha?

Faço xixi e escovo os dentes, lavo o rosto e prendo meus cabelos.

Passo desodorante e abro a porta, encarando o homem de 1,80m, braços

musculosos, corpo malhado, cabelo arrepiado e olhar gentil.

— Não estou muito no clima — digo. Ele morde o canto da boca e

passo ao seu lado, indo até meu guarda-roupa. —, mas aceito sair para

comer, estou com fome.


— Ótimo, que tal irmos no Beer’s que você tanto adora? É dia de

panqueca.

Penso sobre o Beer’s, que é uma lanchonete-bar que sempre ia com

minha mãe quando ela estava de folga no trabalho.

— Pode ser, como o tempo está lá fora, abafado?

— E chovendo, como sempre, parece que estamos na boca do

inferno — diz se aproximando com um sorriso no rosto. Solto uma risada e

ele me abraça, deixo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto que

molham sua camiseta. — Sinto muito que esteja passando por isso, minha

garota, se eu pudesse, arrancaria toda essa dor que está sentindo.

— Obrigada, Collin, de verdade. Mamãe gostava bastante de você,

ela ficaria feliz em saber que está me apoiando neste momento tão difícil.

Ele segura meu queixo e deposita um beijo em minha testa.

— Que tal você se trocar para irmos tomar aquele café de que

estávamos falando? — pergunta mudando de assunto.


— Claro, não poderemos demorar muito, Frederic me disse que o

advogado vai vir em casa hoje ler o tal do testamento.

— Tão rápido? Sua mãe tinha um testamento? — pergunta,

sentando-se na cama.

— Parece que sim — digo procurando uma calça jeans, visto e

coloco uma blusa amarela, então vejo que é muito chamativa para quem

está de luto e coloco uma preta, que mostra minha barriga.

— E Frederic? Agora que sua mãe morreu, ele vai se mudar, não é?

— Eu não sei ainda como será, passamos tantos anos os três juntos

nesta casa...

— Sim, mas ele não é mais nada seu, deixou de ser seu padrasto

quando sua mãe morreu e foi enterrada — resmunga Collin. Dou de ombros

e passo um perfume qualquer.

— Conversaremos sobre isso depois, que tal irmos comer agora? —

Pego meu celular com a carteira e vejo uma mensagem de Frida, minha
melhor amiga, que foi batizada com esse nome por conta de os pais gays

serem fãs de Frida Kahlo.

— Certo, hoje você que manda — diz, passando o braço pelo meu

ombro.

— Eu mando todos os dias — digo, e ele ri.

Encontro Frederic no andar debaixo e ele me encara sorrindo.

— Bom dia — diz desanimado. — Vão sair?

— Vamos, sim — digo. — Collin vai me levar para comer panqueca

no Beer’s, quer ir com a gente?

— Ah, não, se divirtam. Se puder não demorar muito, o advogado

virá em breve.

Concordo e nos despedimos dele, saindo para o lado de fora, que

está garoando. Entramos no Porsche do meu namorado e ele sai do meio-

fio, seguindo pela estrada.


— Ir com a gente? — pergunta, ligando o rádio, uma música da

Colbie Caillat toca baixo.

— Só quis ser educada — digo, revirando os olhos, ele forma um

sorriso e retribuo. Há uma densa floresta ao redor da Cidade do Vale

Sombrio que fica afastada de toda a Europa. Encaro as árvores verdejantes e

suspiro, cantando baixinho. Logo a música acaba e uma outra começa, de

um cantor que não conheço.

Um tempo depois, Collin estaciona o carro em frente ao Beer’s,

conosco saindo e entrando pela porta da frente, que toca um sino assim que

passamos. O local está cheio, para uma quinta-feira comum, e alguns rostos

me encaram, reconhecendo-me. Isso que dá você morar em uma cidade

pequena. Quando algo acontece, todos os habitantes ficam sabendo

rapidamente.

— Estére — diz o dono do local, o senhor Georgie. Ele é um homem

barrigudo, de olhos caídos e sorriso gentil, que pela primeira vez não está
estampado na sua face. — Sinto muito pela morte de Jolie, realmente foi

algo totalmente inesperado.

Quero dizer que foi inesperado para ele que não convivia com ela e

não via a luta diária por conta do câncer, no entanto, apenas assinto e forço

um sorriso, agradecida.

— O que vão comer? Podem escolher o que quiserem, hoje é por

conta da casa — diz ele.

— Obrigada, Georgie — digo. — Vou querer panquecas com calda

de chocolate e morango, e ovos mexidos com bacon.

— É para já, minha jovem. E você, Collin?

— Pode ser o mesmo que o dela, e dois sucos de laranja, por favor.

O homem concorda, se afasta e Collin me guia em direção à mesa

que fica próxima a janela. Nos sentamos e os olhares continuam sobre mim,

o que começa a me incomodar.

— Fiz besteira em tê-la trazido aqui? Poderíamos ter ido no Griu’s.


— Não, tudo bem, com certeza teriam pessoas lá me olhando iguais

à essas — digo. Ele concorda e resolvo responder a mensagem de mais

cedo de Frida.

“Oi, amiga, estou bem, não se preocupe. Vim no Beer’s com

Collin, o que está fazendo?”

“Por que não me chamaram? Estou em casa, meus pais estão

comigo, mal dormimos essa noite por conta da tempestade.”

“Mesmo se eu tivesse chamado, seus pais não deixariam você

sair, e foi de última hora. Combinamos outra hora de nos vermos.”

“Tudo bem, fique bem. Eu te amo.”

Sorrio, deixo o celular de lado e vejo os pratos serem depositados

sobre a mesa. O cheiro de ovos com bacon e das panquecas invadem meu

nariz e meu estômago protesta, me lembrando que a última vez que comi

foi antes de ir para o velório.

— Obrigada, Georgie — digo, forçando um sorriso.


— Por nada, Estére, espero que gostem.

Ele se afasta e pego o garfo, levando um pouco dos ovos e bacon

para minha boca. Engulo, bebo um pouco do suco e vejo meu namorado me

encarar.

— O que foi, vai ficar aí me encarando? — pergunto, ele ri e começa

a comer.

— É só que eu gosto de te observar, é isso — diz. Sorrio e comemos

em silêncio, eu me delicio nas panquecas que sempre foram as minhas

preferidas.

— Este lugar nunca decepciona — digo, comendo tudo, Collin faz o

mesmo e após terminarmos, ele limpa minha boca com o guardanapo e

mordisca o canto da sua.

— Fico feliz em poder proporcionar um pouco de alegria neste

momento tão difícil — diz.

— Você tem sido ótimo, não se preocupe, mais uma vez obrigada

por sempre estar comigo.


— Claro que estarei — diz, erguendo a mão em um sinal de

saudação, rimos e vamos até o balcão, prontos para pagar.

— Não precisa, como disse, é por conta da casa hoje — diz Georgie.

Agradeço a ele e me despeço, com Collin e eu voltando para dentro do

carro.

— Você tem que me levar para casa agora, é tempo do advogado

chegar — digo, ele concorda e após afivelarmos o cinto, Collin sai do

estacionamento, seguindo em direção à casa de mamãe. Minha. De

Frederic.
Assim que chegamos, saio às pressas por conta de a chuva ter

aumentado e entramos à casa, com Collin sentando-se ao meu lado no sofá.

Vejo Frederic vir da cozinha e ele nos encara, forçando um sorriso.

Está usando calça jeans escura, uma camisa xadrez e botas grossas.

— Oi, onde está o advogado? — pergunto.

— Deve estar che... — Frederic é interrompido com o toque da

campainha e ele sorri. — Acho que chegou.

Vejo ele ir em direção à porta e abri-la, dando passagem a um

homem baixinho, de pele negra, careca e olhar sério. Ele nos encara e nos
cumprimenta.

— Olá, Estére, acredito que não se lembre de mim, sou Edie, o

advogado da família. Como está?

— Indo — digo, sorrindo, ele sorri e encara Collin, o

cumprimentando.

— Bem, como você sabe, sua mãe trabalhava com finanças e tinha

uma herança considerável, assim como esta casa, dois carros, e outras duas

residências, sendo um chalé e uma casa de campo, que ficam localizadas na

Europa.

— Certo, meus avós deixaram esse patrimônio para minha mãe

quando morreram, por ser filha única, ficou tudo para ela.

— Assim como você, porém, preciso ler o testamento, pois antes de

morrer, em seus últimos dias de vida, sua mãe fez algumas mudanças — diz

Edie. Concordo, estranhando a atitude de mamãe.

O que ela havia mudado?


— Certo, estamos ouvindo — digo. Frederic se senta em uma das

poltronas e Edie abre sua pasta, pegando alguns documentos de dentro. Ele

pigarreia e começa a examiná-lo.

— Quer que eu leia em voz alta ou apenas cite as mudanças? —

pergunta.

— Seja objetivo e fale sobre as mudanças, por favor.

Ele concorda e limpa a garganta.

— Como imaginado, sua mãe te deixou o chalé, a casa de campo,

um dos carros e metade desta casa. Para Frederic ela deixou um carro, vinte

por cento do dinheiro e metade desta casa.

— O quê? — pergunto, surpresa. Frederic está tão surpreso quanto

eu.

— É isso mesmo que eu disse, Srta. Muller — diz Edie. — Metade

desta casa te pertence e a outra metade pertence a Frederic, o viúvo de sua

mãe.
— Só pode ser mentira — sussurro, acenando com a cabeça.

— Não tem como reverter isso? — questiona Frederic. — Não quero

a casa nem nada. Não podemos ir à justiça e cancelar esse testamento?

— Cancelar? Isso foi escrito pela sua própria esposa, seria muito

difícil conseguir cancelá-lo, fora que não há nada de errado em sua esposa

ter deixado um pouco da sua herança ao senhor.

Ficamos em silêncio e suspiro.

— Tudo bem, mais alguma coisa? — questiono e me levanto.

— Sua mãe pede também que, por enquanto, vocês convivam sob o

mesmo teto, ela acreditava que isso poderia ajudá-los no luto — diz e fico

incrédula ao ouvi-lo.

— Conviver sob o mesmo teto que Frederic? — indago o óbvio e o

advogado aquiesce, meu padrasto fica em silêncio.

— Isso mesmo — diz por fim.

— Tudo bem, mais alguma coisa que devemos saber?


— Não, Srta. Muller, apenas que assine alguns papéis se estiver de

acordo com o testamento.

— De acordo? Não tenho escolha — digo, me aproximando dele.

Edie suspira e pega os papéis, me entregando a caneta e apontando onde

devo assinar. Assino sem pensar duas vezes e encaro Frederic.

— Vou sair, até mais tarde. — Encaro Collin e ele se levanta,

despedindo-se dos outros. Abro a porta com brutalidade e saímos. Entro

rapidamente no carro e afivelo o cinto, me sentindo irritada.

“Ótimo, perdi minha mãe e agora começará um inferno na minha

vida.”
— Vocês podem vender a casa e como tem o chalé, pode se

mudar para lá, e seu padrasto se mudar para outro lugar — diz Collin

seguindo pela estrada.

Ligo o som do rádio e ele me encara de canto de olho.

— É, não é uma má ideia, se desse para fazer isso. Como ainda

tenho vinte anos, teríamos que esperar mais quatro para podermos colocar à

venda. E o chalé é muito longe, teria que sair de madrugada para chegar à

faculdade ou até mesmo trancá-la.

— Isso é mesmo uma droga — diz ele.


— Sim, é uma droga — digo, triste.

— Quer ir ao cinema para se distrair um pouco? Eu pago.

— Não é uma má ideia — digo, sorrindo. Ele concorda e segue para

o cinema que tem na cidade.

Não demora e chegamos, Collin estaciona e abre a porta para mim.

Saio e vejo que não está chovendo, o que me deixa um pouco aliviada,

então seguimos para bilheteria e escolhemos um filme qualquer, apenas

para nos distrairmos um pouco.

— Vamos dar um passeio enquanto não dá a hora do filme — diz.

Concordo e seguro sua mão, andando pelo interior do cinema, onde tem

algumas lojinhas e uma livraria.

— Aqui — digo e entro na livraria.

— Estére, você tem mais livros do que consegue ler, a última vez

que viemos aqui, você comprou oito e aposto que não leu nenhum ainda.
— Não li, mas livro nunca é demais — digo, já encarando as

prateleiras. — Qual é? Você mesmo disse para nos distrairmos, me deixe

ver alguns livros.

Collin revira os olhos e forma um sorriso, concordando em seguida.

— Tudo bem, você venceu — diz. Sorrio, batendo palmas, e

continuo olhando para as prateleiras, passando as mãos pelas lombadas dos

livros. Escolho alguns que me chamam a atenção e seguimos até o caixa

para pagar.

Assim que saímos da livraria, Collin passa o braço pelo meu ombro

e me encara.

— Eu estava pensando, já que você não pode vender sua casa por

causa de uma lei idiota por aí, e não quer se mudar para o chalé, que fica

longe, por que não vem morar comigo?

Congelo com suas palavras e ele para ao meu lado, me encarando de

sobrancelhas erguidas, sem entender.

— Como disse?
— Estou chamando você para morar comigo — diz.

— Mas e seus pais? — indago.

— Bem, não posso expulsá-los de casa, não é mesmo? — questiona,

sorrindo.

Penso sobre isso e fico quieta, voltando a andar e chegando na fila

do cinema. Entrego os ingressos e vamos para o local indicado, com Collin

me encarando, esperando uma resposta.

— Não seria como um casamento, sabe? Seria como se fôssemos

amigos — argumenta.

— Como se fôssemos amigos? Somos namorados, não tem como

namorados morarem juntos sendo como amigos. E eu tenho minha casa,

não sou uma sem-teto ou algo parecido.

— Não disse que é — diz, indo comigo buscar pipoca e refrigerante.

— Eu sei que não disse, mas... é que... — Fico quieta e Collin me

encara.
— Só estou querendo dizer que seria muito estranho você morar

naquela casa enorme com um homem, agora solteiro, e atraente — fala em

tom de reclamação. — Ele era seu padrasto, mas sua mãe morreu, a ligação

que tinham acabou a partir do momento que ela foi enterrada.

— Espera, você está dizendo que meu padrasto é atraente? O que

quer dizer com isso? — pergunto, sem entender. Às vezes sei me fazer de

uma bela otária.

— Só estou querendo dizer que ele pode tentar algo, sei lá...

— Frederic era o marido da minha mãe, como consegue pensar

nisso? Isso é ciúme? — questiono. — Droga, Collin, a ligação que tínhamos

como padrasto e enteada pode ter acabado, mas se você não ouviu o que

Edie disse, minha mãe deixou parte da herança para ele, um carro e metade

da casa onde passei minha vida inteira! Fora que pediu que morássemos

juntos até tudo melhorar. Então não faça esse assunto virar seu, sendo que

não é!

— Me desculpe, tá legal? Só queria ajudar a encontrar uma solução.


Pego a pipoca, mastigo e bebo um pouco do refrigerante, sentindo-

me nervosa. Como Collin pôde transformar o assunto em algo dele? Claro

que não tiro a razão de sentir ciúme de Frederic, afinal de contas, ele é sim

um homem bonito e atraente. No entanto, passou os últimos anos casado

com minha mãe.

— Me ajude me levando para casa, por favor — peço, estarrecida.

Collin me encara e balança a cabeça em negativa.

— Pensei que iríamos ver um filme para nos distrairmos um pouco

— diz ele.

— É, eu também pensei, até você se colocar como o centro do

assunto quando nem faz parte dele — digo de maneira ríspida.

Vejo Collin aquiescer e pegar a pipoca e refrigerante da minha mão,

jogando-os na lixeira mais próxima. Algumas pessoas nos encaram e reviro

os olhos, saindo do cinema e seguindo para o carro.

Ele faz o mesmo e destrava a porta. Entro e passo o cinto pelo meu

corpo, em silêncio.
Collin liga o veículo e acelera, me levando para casa. E durante todo

o caminho fico pensando no que farei da minha vida.

Saio do carro quando Collin para em frente de casa e ele me encara

sério.

— Nos vemos quando? — questiona-me.

— Vamos conversando por mensagem — digo, fecho a porta e pego

meus livros, ele concorda e arranca o carro. Entro em minha casa e bato a

porta com força, sentindo-me chateada.

“Ótimo, perdi minha mãe, estou presa nesta casa e ainda briguei

com a pessoa que se importa comigo.”

Saio dos meus pensamentos e suspiro, vou até a cozinha e abro a

geladeira, pego uma garrafa de vinho e encho uma taça, bebo em um único

gole, então subo para meu quarto, enfiando meus novos livros na minha

estante. Mesmo tendo uma biblioteca em casa, sempre gostei de guardá-los

aqui, comigo.
Saio do meu quarto e vejo Frederic de roupão e pantufas andando

pela casa, está com óculos de leitura e um copo com uísque nas mãos.

— Oi — digo, ele me encara e força um sorriso, fechando o roupão.

Vejo que por baixo está apenas de cueca.

— Me desculpe, não sabia que havia chegado — diz.

— Collin e eu brigamos, então vim embora antes do previsto —

respondo. Ele assente e desço a escada, com ele me seguindo.

— Posso saber por que brigaram? — pergunta, curioso.

O encaro e aponto para o seu copo.

— Antes, aceito um desse — digo, ele forma um sorriso e concorda.

— É para já, espere só um momento.

Concordo e ele segue até a sala de jantar, onde fica o nosso bar. Não

demora e Frederic volta com um copo para mim e o seu cheio.

Bebo o líquido âmbar e sinto queimar meu estômago, suspiro e volto

a observar Frederic.
— Collin me convidou para morar com ele, ele disse que seria

estranho vivermos aqui, juntos, já que não temos mais elo nenhum — digo.

Frederic ergue a sobrancelha grossa e morde o canto da boca.

— Por que estranho?

— Bem, ele acha que como você não é mais meu padrasto, seria

meio que convidativo a você tentar algo comigo. Eu sei, é doentio, mas

você quis saber.

Vejo ele rir e rio junto, voltando a beber.

— E você concorda com ele?

— Não, claro que não. Apesar de tudo, ainda somos uma família,

mesmo que diferente — digo, apontando meu copo para ele, que bate com o

seu e viramos de uma vez.

— Bem, se você quiser, posso me mudar, ou sei lá. Não quero deixá-

la desconfortável em aspecto nenhum.


— Não, tudo bem, se mamãe deixou esta casa para nós dois, e pediu

para que ficássemos juntos, é porque ela queria que um apoiasse o outro.

Seria injusto não realizarmos o seu último desejo, porém, não irei levar a

roupa na lavanderia e nem lavar o banheiro. Ah, e cozinhar também não é

comigo, minha comida sempre foi horrível.

Rimos e ele sorri, estende o braço e passa os dedos sob o meu

ombro.

— Obrigado, Estére. Apesar de ela ter partido, ainda a amo, e não

seria fácil me despedir daqui.

— Tudo bem, nem para mim. Eu cresci aqui junto com ela, já que

meu pai nunca foi um homem presente e nem sei da sua existência. Seria

injusto para ambos se tivéssemos que sair.

Frederic concorda e me levanto.

— Se não se importa, vou para o meu quarto estudar um pouco.

— Como está a faculdade? — pergunta.


— As aulas foram suspensas por conta do temporal, mas estão indo

bem, estamos prestes a fechar a matéria e com sorte, passarei em todas.

Frederic concorda e me despeço dele, seguindo para meu quarto.

Fecho a porta e passo a tranca. Não sei explicar o motivo.

Estudo um pouco, converso com Frida no telefone e assisto à

programas bobos na televisão, então, quando já está beirando 21h, peço

uma pizza para comer e assim que chega, jogo a caixa sobre a mesa e

apanho um prato, colocando duas enormes fatias nele. Pego um copo de

suco e subo para meu quarto, entrando e voltando a passar a tranca.

Como em silêncio, ansiando o momento de terminar para poder

tomar um banho e dormir. Assim que faço isso, coloco meu pijama e me

aconchego na cama, cobrindo-me com o edredom grosso. Deixo a janela

fechada com as cortinas abertas, avistando ao longe as árvores e a chuva,

que já recaí sobre a cidade amaldiçoada em que vivo.

Suspiro e fecho meus olhos, não demora e caio no sono.

*
— Filha? — Ouço a voz de mamãe. — Estére, está na hora de se

levantar, querida.

Levanto-me da cama, sem entender, abro a porta e sorrio ao ver

minha mãe parada, já vestida para o trabalho.

— Mamãe, pensei que estivesse...

— Morta? — completa. Assinto e ela sorri. — Mas eu estou.

Vejo seu rosto enegrecer e sua pele apodrecer, então me afasto e caio

para trás, desviando meu olhar. Encaro novamente e Frederic está parado na

minha frente, sem camisa, com os pés descalços e o zíper da calça aberto.

— Oi, Jolie — diz se aproximando.

— O quê? — questiono, mas sou surpreendida quando ele me pega e

prende-me nos seus braços, encarando meus olhos. Fixo os meus nele e

engulo em seco, notando o sorriso se formar em seus lábios.

— Jolie, você voltou — diz, aproximando-se de mim e me beijando.


Tento me afastar, mas é em vão, já que ele é muito mais forte. Então,

sem escolhas, entrego-me ao beijo, sentindo meu corpo se arrepiar por

inteiro. Ele passa as mãos pelos meus braços e desce para o meu quadril,

movimentando sua pélvis contra mim. Sorrio e o encaro, vendo que agora o

rosto é do Collin, que sorri maliciosamente e se aproxima do meu pescoço,

o mordiscando. Respiro fundo e o aperto contra mim, então ouço um

barulho e sou trazida para a realidade, com o despertador me acordando e

me mostrando que só posso estar ficando louca ao sonhar com isso.


Sinto meu coração acelerado mais do que o normal e olho o

relógio, mostrando que já são mais de seis horas da manhã. Devo ter

esquecido de tirar o despertador do celular, já que ainda estou de luto e,

claro, as aulas foram canceladas pela tempestade. Realmente, esta cidade é

uma maldição.

Levanto-me e sigo para o banheiro, decidida a tomar um banho para

esfriar a cabeça por conta do sonho que eu havia tido. Não que eu sinta

atração pelo meu (ex) padrasto — como devo chamá-lo? —, mas aquela
paranoia de Collin em dizer que seria estranho morarmos juntos, agora que

ele é viúvo, me fez sonhar com isso.

“É culpa do idiota do meu namorado, mas não vou dar o braço a

torcer e falar com ele”, penso, enquanto a água escorre pelo meu corpo,

molhando meu cabelo.

Termino o banho, enrolando-me na toalha e coloco uma sobre o meu

cabelo. Sigo para o quarto e abro meu guarda-roupa, procuro uma lingerie e

a visto. Coloco um moletom confortável e saio do quarto, olhando ao redor

do corredor. Está silencioso, apenas com a trovoada da chuva do lado de

fora, então, desço a escada e vou para a cozinha, a fim de comer alguma

coisa.

Como vem acontecendo nos últimos anos, Frederic está com a mesa

posta. A diferença é que somos só nós dois agora. Temos frutas, leite, suco,

café, torradas e pastéis doces que tanto adoro.

Ele me encara e coloca na mesa dois pratos com ovos e bacon.


— Bom dia — diz sorrindo. Noto que seus olhos demonstram uma

tristeza inexplicável, com olheiras profundas. — Sabia que acordaria cedo,

então decidi preparar uma refeição adequada, já que nos últimos dias você

não tem se alimentado muito bem.

Sorrio, agradecida e me sento, com ele à minha frente.

— Obrigada, realmente estou precisando.

Sorrimos e como.

— Quais são seus planos para hoje? — pergunta, curioso.

— Bem, brigada com Collin e Frida presa em casa por causa da

tempestade, ficarei em casa lendo “Alice no País das Maravilhas” e

pensando em mamãe. — Ele concorda e fica cabisbaixo. — E você? —

pergunto, tentando ser gentil.

— Bem, preciso ir à funerária acertar algumas coisas que durante o

enterro não tive tempo. Vão colocar a lápide de Jolie — diz. Concordo

apenas com um aceno de cabeça.


— Não me ofereço para ir com você porquê...

— Sim, eu sei, não se preocupe, deve ser mais difícil para você do

que para mim. Convivi nove anos com sua mãe, um de namoro e oito de

casados, mas você não. Ela te teve, te criou, ensinou a caminhar e a falar.

Esposa podemos encontrar outra após alguns anos de perda, mas mãe não.

É algo único.

Concordo com suas palavras, mesmo discordando um pouco na parte

sobre arrumar outra esposa. Já estaria pensando no assunto?

“É claro que não, Estére, não seja idiota! É apenas uma metáfora,

ele só quer filosofar um pouco. Dê palco.”

— Obrigada por entender — digo, ele concorda e leva sua atenção

para seu prato com ovos e bacon.

— Eu estava pensando que poderia cozinhar à noite. O que acha?

Fazermos algo que possamos homenagear sua mãe.

Penso sobre sua atitude e até diria que é fofo, então anuo.
— Pode ser, o que tem em mente?

— Estava pensando em fazermos o prato favorito dela...

— Lasanha — respondo e ele concorda, formando um sorrisinho. —

Seria bom comer uma lasanha mesmo, faz muito tempo que não comemos.

— Sim, passo no mercado quando sair da funerária.

— Não, tudo bem, eu posso ir de carro. Tirei minha carteira de

motorista agora, mas não quer dizer que eu não saiba dirigir. Enquanto você

resolve as coisas na funerária, eu vou para o mercado e faço as compras.

— Bem, se preferir, ao invés de sair de carro, posso te dar uma

carona e você volta de táxi — sugere. Penso e estreito os olhos.

— Acha que dirijo muito mal? — questiono.

— Bem, não, não quis dizer isso. Só quis ser gentil — responde,

meio sem jeito.

— Estou brincando, seu bobo, eu sei que quis ser gentil, mas

realmente prefiro dirigir, vai me ajudar a esfriar um pouco a cabeça com


tudo que vem acontecendo.

Frederic concorda, força um sorriso e terminamos de comer em

silêncio, penso em mamãe e o sonho maluco que eu havia tido surge em

minha mente de novo, olho meu padrasto e me arrepio, com certeza

achando isso tudo uma loucura.

Algumas horas mais tarde, após organizarmos algumas bagunças da

casa, Frederic sai e me despeço dele, me preparando para ir ao

supermercado no carro que mamãe havia deixado para mim. Observo a casa

atentamente antes de sair e seco uma lágrima que insiste em descer pelo

meu rosto, pego a chave do carro, tranco a porta, verifico se estou com

bateria e vou para a garagem, que fica ao lado da residência.

O local é bastante grande. Gosto de pensar que vovô, quando vivo,

gostava de casa cheia. Diferente de mamãe. Nos fundos do nosso quintal,

temos uma piscina enorme e uma área de churrasco, com a garagem ao

lado. Sigo para lá e vejo a piscina coberta com folhas das árvores. Não
consigo entender o motivo para termos ela, já que o tempo quase não

melhora.

Encaro-a por um minuto inteiro e lembro dos churrascos que

fazíamos. Suspiro, sabendo que não adianta pensar nisso e entro na BMW

preta. Passo o cinto, prendendo-me e aciono o motor, dando ré. Abro o

portão grande com o controle que fica no carro e saio, o fechando logo em

seguida. Sigo pela estrada e coloco uma música do System Of a Down,

cantarolando em voz baixa.

Estaciono o carro em frente ao mercado que tem um letreiro

reluzente escrito “Mercado Davon’s” e pego um carrinho pequeno, o

empurrando para dentro do local.

Ando pelos corredores à procura dos ingredientes e coloco no

carrinho, pegando até mesmo algumas coisas a mais. Ainda bem que tenho

cartão de crédito.
Sigo pelos outros corredores e pego cerveja, que mamãe adorava,

chocolates, os outros ingredientes para a lasanha e sigo em direção ao caixa,

sorrindo para a atendente.

— São quarenta euros — diz ela, mostro o cartão e passo, pegando

as sacolas e me despeço dela, agradecendo.

Jogo no porta-malas do carro e entro, mandando uma mensagem

para Frederic:

“Já estou com tudo. Como estão as coisas por aí?”

“Até então, tranquilas, já vou embora.”

“Ok, nos vemos em casa.”

Ligo o motor e saio do estacionamento, voltando para a estrada.

Coloco uma música para tocar e canto animada, pensando que mamãe iria

gostar de me ver feliz. Claro que o luto não é fácil de lidar, porém, há certas

coisas que são difíceis de compreender. Como uma música poderia nos

deixar felizes apenas em ouvi-la? Assim como um abraço, que nos conforta

quando o sentimos.
Continuo cantando e pensando em mamãe. Passo o farol vermelho,

animada, então vejo uma fumaça subir do capô e estranho com ele fazendo

ruídos e, logo em seguida, parando.

— O quê? Esta merda é nova! — digo nervosa. — Droga, custava

ter me deixado o outro carro, mamãe?! — pergunto, olhando para o céu,

querendo rir ao recordar que dois dias atrás eu estava pensando que ela está

no inferno.

Suspiro, frustrada, e pego meu celular, mandando uma mensagem

para Collin, ele a visualiza e não responde, o que me irrita ainda mais, mas

decido ignorar, afinal, ambos estamos chateados um com o outro. Envio

uma mensagem para Frida, para perguntar se ela pode me buscar enquanto

aciono o guincho e ela diz que continua presa por conta das fortes

tempestades.

“Nem está chovendo agora, o que é um milagre!”

Respiro fundo, sem alternativas, e ligo para Frederic, que atende no

segundo toque.
— Algum problema? — pergunta.

— É seu dia de sorte, porque sim — digo, revirando os olhos.

— Meu dia de sorte? Como assim, o que houve?

— Parece que mamãe me deixou um carro ferrado e ele acabou de

fundir o motor na estrada. Eu acho. Estou acionando o guincho, mas vai

demorar um pouco e estou sozinha na estrada, será que você poderia vir me

encontrar e ver o que pode ser na sua oficina, você é mecânico, não é?

— Droga. Claro. Sim, sou, você sabe. Me diga, onde você está?

— Na estrada Negra, altura oito mil — digo. — Quanto tempo acha

que chega aqui?

— Uns quinze minutos, se for rápido, máximo vinte.

Encaro as árvores e a floresta pela janela do carro e concordo,

suspirando.

— Tudo bem, eu espero, não tenho alternativas mesmo — digo, ele

solta uma risada baixa e desliga, me deixando ainda mais irritada.

*
O guincho chega junto com Frederic, o que me faz revirar os olhos.

Então, sem alternativas, pego as compras e coloco no carro dele. O carro

que mamãe deixou. Ele me ajuda e vejo meu carro ser arrastado pelo outro

de maneira lenta, com meu ex-padrasto afirmando que foi o motor que

fundiu.

— Normalmente, quando acontece isso, perdemos todo o motor, mas

verei o que posso fazer, preciso ir mesmo na oficina.

Concordo, grata, e entro no carro, com ele fazendo o mesmo e logo

seguindo pela estrada.

— Obrigada por ter vindo — digo, Frederic me encara e assente.

— Por nada, somos uma família, não somos?

— Somos? — pergunto, mais para mim do que para ele, que

aquiesce.

— Sim, somos, se vamos conviver naquela casa juntos, então é bom

nos tratarmos como uma família. Mesmo seu namorado se opondo com

isso, acho que seria legal e sua mãe iria gostar.


— É claro que ela iria gostar, ela nos colocou nessa enrascada —

digo avistando o lado de fora da janela, ele está tão rápido que a floresta é

mais um borrão do que algo formado.

— Enrascada? Então é isso que sou para você. — Não é uma

pergunta, mas noto que ele se sente chateado com a maneira que falo.

— Me desculpe, ok? Não está sendo fácil digerir isso. Quero dizer,

semana passada você e minha mãe estavam casados, com ela no hospital

definhando. E agora estamos aqui, dentro deste carro que ela te deu, indo

para casa fazer a comida que ela tanto adorava.

Ficamos em silêncio um minuto e ele concorda.

— Pensando agora, parece que foi uma ideia idiota cozinhar em

homenagem a ela — diz, enfático. Estreito os olhos e sinto-me culpada, o

motivo, não sei dizer.

— Não quis dizer isso...

— Está claro que você quis dizer que sua mãe está morta e nós

estamos aqui, chegando em casa para fazermos uma refeição. Algo que ela
amava comer. Sim, parece bastante idiota pensando agora, mas não foi isso

que eu quis que parecesse.

Concordo com ele, é a mais pura verdade. Como uma simples

refeição poderia causar tanto desconforto? Nós dois estamos aqui, vivos e

pensando em comer, enquanto minha mãe está morta e nunca mais fará isso.

— Bem, mesmo assim, já comprei as coisas e gastei quarenta euros,

não vamos desperdiçar. Inclusive, comprei a cerveja que ela adorava.

Ficamos mais uma vez em silêncio e Frederic me encara quando já

estamos próximos de casa.

— E você e Collin, se resolveram? — indaga.

— Olha, podemos sim comermos juntos e conviver naquela casa,

mas não espere que a partir de agora eu vou tratar você como meu pai ou

algo parecido — digo, com ele rindo logo em seguida. — É sério!

— Só queria saber se está tudo bem — fala. — É difícil você brigar

com a pessoa que ama, principalmente se você não tem certeza se no dia

seguinte ela estará lá te esperando.


Fico em silêncio diante de suas palavras e quando vejo, ele estaciona

o carro na garagem. Me ajuda com as sacolas e entramos para o hall, mas a

verdade é que não paro de pensar no que disse.

Lavo minhas mãos e começo a picar cebola, alho e os outros

temperos que vão acompanhar o molho que Frederic irá preparar, aproveito

e coloco os tomates para cozinhar. Sempre preferimos fazer o molho em

casa. Enquanto isso, Frederic coloca um avental e começa a cozinhar a

carne, saboreando-a a todo instante. Analiso-o na cozinha mexendo na

panela e assim que termina, parte para o molho natural e sorri ao vê-lo

fervendo.

— Isso vai ficar maravilhoso — diz. Concordo e pego uma cerveja

na geladeira. Entrego uma garrafa a ele e abro uma para mim, brindando.

— Um brinde à mamãe — digo, dando o primeiro gole. Ele assente e

bebe, me encarando.
— Quer convidar o Collin para vir comer com nós? — pergunta,

voltando a atenção para suas panelas.

— Não, obrigada. Quando o carro quebrou, mandei mensagem para

ele, e o canalha só visualizou.

— Canalha é?

— Mas é claro! Eu estava sozinha no meio da estrada, e se tivesse

acontecido alguma coisa?

— Bem, eu fui lá, não fui? Não permitiria que algo acontecesse com

você.

Fico surpresa com suas palavras, mas sei que é verdade o que ele

diz.

— Obrigada — digo, continuando a beber, logo em seguida me

levanto. — Falta somente uma coisa para completar a homenagem a

mamãe.

— O quê?
— Música, é claro, ela adorava cozinhar ouvindo música.

Frederic concorda e conecto meu celular no pequeno aparelho

moderno que há na cozinha. Instantaneamente uma música da P!nk começa

a tocar e acompanho as batidas do seu ritmo.

— Try, é? Não lembro de sua mãe gostar dessa música.

— Cala a boca e só escuta — digo, cantarolando. Ele concorda e

começa a cantar comigo e P!nk, o que me deixa surpresa em saber que

conhece a música. — Eu não acredito que o enigmático Frederic Cooper

sabe cantar essa música.

Frederic me encara e dá de ombros.

— Talvez eu seja uma caixinha de surpresas que você não conhece

nem metade do que escondo — responde.

O jantar é tranquilo e divertido. A comida realmente é muito gostosa

e um breve pensamento de que mamãe iria gostar de estar aqui para provar,

passa pela minha mente, porém, o afasto imediatamente e continuamos


comendo. Aproveitamos o jantar em homenagem a mamãe para bebermos

um pouco além da conta e, quando vejo, acabamos com a cerveja e duas

garrafas de vinho.

— Não deveríamos beber tanto assim e já está ficando tarde — digo.

— Estamos em casa, é só você subir a escada que estará no seu

quarto, não tem com que se preocupar.

— Ah, é verdade. Você está certo — digo, apontando meu dedo para

Frederic e rio debochada. — Frederic, me diz uma coisa, como você e

minha mãe se conheceram?

Ele me encara e suspira, dando de ombros.

— Foi em um bar, ela havia acabado de sair do trabalho e eu

também. Nos sentamos um ao lado do outro e ela me ofereceu uma cerveja.

Acabou que eu aceitei e então... bem, o resto você não precisa saber.

— Então está dizendo que minha mãe deu uma cantada em você e

transou logo de cara? — pergunto rindo descontroladamente. — Acho que

ela foi mesmo para o inferno.


Ele fica sem entender e dou de ombros, terminando minha taça de

vinho.

— Acho que está na hora de se deitar, Estére.

Concordo e vejo meu celular apitar, mostrando uma nova mensagem.

O pego e abro, vendo que é de Frida.

“Papai disse que as aulas retornam amanhã, a faculdade já está

segura de novo.”

Para variar, o pai da Frida é um dos professores na faculdade e o

outro o diretor.

— Mas que droga, amanhã tenho aula e estou caindo de bêbada —

digo.

— É simples, é só não ir. Você está de luto, perdeu sua mãe esta

semana, eles vão entender, tenho certeza.

— Claro que vão, até descobrirem que estou em casa bebendo com

meu ex-padrasto.
— Ex-padrasto? Isso soa tão estranho. E como iriam descobrir que

você está dentro de sua casa, bebendo comigo?

Reviro os olhos e me levanto, sentindo minhas pernas bambearem.

— Moramos na Cidade do Vale Sombrio, interiorana, menos de dez

mil habitantes, todos sabem o que acontece aqui.

— Talvez nem todos — diz, fico sem entender e dou de ombros, me

despedindo dele e seguindo para meu quarto. Durmo sem ter sonhos

malucos, o que é um alívio, mas o meu interior pensa que poderia repetir

parte do pesadelo da noite anterior.


Levanto-me cedo, tomo banho, escovo os dentes, prendo meu

cabelo, visto uma roupa preta básica para mostrar que ainda estou de luto e

desço à procura de cafeína. Encontro Frederic sentado, bebendo café e

lendo o jornal, assim que me vê, ele forma um sorriso e aponta o lugar à sua

frente.

— Bom dia, coma algo antes de sair.

— Bom dia, obrigada, estou precisando mesmo — digo já me

servindo. — Você poderia me levar à faculdade?


— Pensei que Collin viria te buscar — diz.

— Bem, ainda estamos brigados, mas se não puder dou um jeito...

— Não, tudo bem, eu te levo, vou à oficina hoje. Termine seu café

que já iremos sair.

Concordo e continuo comendo, assim que finalizo, me levanto e vou

em direção à saída da casa, com Frederic vindo logo em seguida. Entramos

na garagem e ele sai de ré, seguindo pela estrada que nos conecta pela

cidade.

— Você vai trabalhar? — pergunto, a fim de criar algum assunto.

— Sim, vou mexer no seu carro, ver o que pode ser, assim se você e

Collin não se resolverem, você pode dirigir.

Concordo e seguimos o caminho em silêncio, comigo, como sempre,

observando as árvores do lado de fora. A sensação de vê-las me causa uma

certa calmaria, o que não sei explicar.


— Sempre pensei que aqui lembra muito Forks — digo, encarando o

local.

— Vai adentrar esta floresta e procurar o seu vampiro que brilha? —

pergunta, reviro os olhos e rimos.

— Não fale mal de Crepúsculo, eu adoro por sinal.

— É claro que adora, todo adolescente gosta.

— Não sou adolescente há muito tempo — digo. — Tenho vinte

anos.

— Ok, se está dizendo — diz. Balanço a cabeça, sabendo que ele

apenas quer me provocar para me animar e assim que vejo, estamos em

frente à faculdade.

— Obrigada pela carona.

— Não precisa agradecer. Quer que eu te busque também?

— Bem, caso Collin e eu não nos resolvermos, eu te envio uma

mensagem.
Ele concorda e saio, me despedindo e vendo o carro sumir

rapidamente.

— Amiga! — diz Frida vindo em minha direção e me abraçando.

Minha amiga é uma mulher muito bonita. Tem vinte e dois anos e está no

mesmo ano que eu de Fotografia. Seus cabelos são escuros e sua pele é

clara, com o corpo esguio e o olhar vibrante. Seu sorriso é tão contagiante

que consegue fazer qualquer pessoa se animar.

— Oi — digo, sorrindo.

— Como você está? Não pensei que voltaria hoje, mandei

mensagem apenas para informar, se não viesse, com certeza meu pai não

iria se opor. Estamos todos de luto pela tia Jolie.

Concordo, forçando um sorriso.

— Só quero me distrair um pouco, ficar em casa trancada não

adianta de nada, ainda mais que Collin e eu brigamos.

— Brigaram por quê? — pergunta, curiosa, segura no meu braço e

me arrasta para dentro.


— Mamãe deixou a casa para Frederic e eu, e como não posso

vendê-la, teremos que conviver juntos, ainda mais que foi seu último

pedido, alegando que Fred e eu nos ajudaremos no luto — digo ansiosa. —

Collin me convidou para morar com ele e os pais, disse que seria como

amigos, não como um casamento. E eu retruquei dizendo que não sou uma

sem-teto para ir morar de favor na casa dos outros.

— Ele te convidou para morar com ele, assim, do nada?

— Sim, Collin pensa que, agora que Frederic e eu não temos mais

ligação nenhuma, não existem motivos para continuarmos morando juntos.

— É, tecnicamente ele não é mais seu padrasto, poderia até mesmo

ser seu namorado. Foi isso que Collin quis dizer?

— O quê? Eca, que nojo! Mas basicamente foi isso, ele quis dizer

que Frederic pode tentar algo ou sei lá.

— Eca o quê, Srta. Muller? Todas nós sabemos que seu padrasto ou

sei lá como queira chamar, é um cara gostoso, mas duvido que ele tente

alguma coisa, sempre te respeitou bastante, não seria diferente agora.


— Sim, e não se esqueça que ele é ex-marido de mamãe, viúvo dela

— digo, dando ênfase.

— Mas não deixa de ser gostoso. Tia Jolie tinha sorte, será que ele

fode tão bem quanto dá aquele sorrisinho de lado? — pergunta, suspirando.

Reviro os olhos e finjo que estou vomitando, então damos de cara

com Collin.

— Oi, Estére — diz ele.

— Oi — digo ríspida, se ele acha que eu havia esquecido sobre ter

me ignorado quando pedi ajuda sobre a droga do carro, está enganado.

— Podemos conversar a sós? — pergunta.

— Na verdade, não, pode dizer aqui, agora, Frida vai saber de

qualquer maneira.

Minha amiga sorri e Collin suspira, concordando.

— Me desculpe, por favor. Não quis te chatear, só fiquei com ciúme.


— Certo, desculpo, mas e sobre ontem quando precisei de ajuda e

você me ignorou?

— Seu carro quebrou mesmo? Pensei que era só uma maneira de eu

ir atrás de você, não fiz por mal, juro. Sei que temos as nossas diferenças,

mas eu te amo.

Ouço em silêncio e vejo seus olhos brilharem. Acredito em suas

palavras.

— Tudo bem, mas você ainda me deve um passeio.

— Podemos ir ao shopping, se quiser. O que acha?

Encaro Frida e ela dá de ombros.

— Claro, vamos sim, Frida virá com a gente.

Ele concorda e se aproxima de mim, dando-me um selinho.

— Tenho que ir agora, minha aula já vai começar, nos vemos no

intervalo.

Concordo e o vejo se afastar, encarando Frida e seguindo para a sala.


— Ele vai mesmo se manter no curso de Medicina? — questiona

minha amiga, assim que entramos na sala.

Um tempo atrás, Collin havia dito que desistiria de cursar Medicina,

no entanto, acho que seus pais não ficaram tão felizes com isso e ele acabou

desistindo de mudar.

— Bem, os senhores Perfeitinhos não devem ter deixado — digo, me

referindo aos seus pais. Frida concorda e logo em seguida seu pai, o senhor

Viktor Bohringer, entra na sala e nos dá bom-dia.

Ele é um homem bonito, tem a pele negra, olhos escuros, corpanzil

forte e cabeça careca. Usa óculos de grau e é um pouco afeminado, o que

me deixa ainda mais encantada pelo pai da minha amiga.

Sentamo-nos em nossos lugares e começo a assistir a aula, minha

mente fica vaga sobre Frida ter dito que Frederic poderia ser meu

namorado.

Será que ela estaria falando sério?


Como poderia pensar em Frederic sendo meu namorado, se por anos

ele foi meu padrasto?

E outra, existe Collin, apesar de tudo.

Deixo o pensamento de lado e tento focar na aula, entretanto, é em

vão.
“Vai querer que eu te busque ou já se resolveu com o seu

príncipe?” debocha Frederic na mensagem que me manda assim que as

aulas terminam.

“Nós nos resolvemos, eu acho. Frida, ele e eu iremos ao

shopping. E meu carro, quais as novidades sobre ele?”

“Como te disse, foi mesmo o motor, mas irei dar um jeito. Se

divirta.”

— Pronta? — pergunta Frida me trazendo para a realidade, guardo o

aparelho celular na minha mochila e concordo, sorrindo.


— Sim, Collin já está vindo — digo.

Estamos do lado de fora da faculdade, e, por sorte, não está

chovendo, o que deixa todos muito surpresos.

— Certo, vou retocar meu batom, segura para mim — diz,

entregando-me um espelho pequeno. Seguro e minha amiga retoca seu

batom, logo após isso, ela arruma o cabelo e passa perfume, guardando as

coisas na mochila e me encarando. — Como estou?

— Linda, como sempre, mas por acaso você é prostituta e vai

encontrar algum cliente no meio do caminho?

Ela ri e me dá um tapa fraco no braço.

— Sou solteira, no shopping sempre têm homens bonitos, só quero

paquerar um pouco.

Concordo e vemos Collin vir em nossa direção, ele me abraça e pega

minha mochila, apanha a de Frida, que joga em cima dele. Dou risada e

seguimos para o seu carro. Ele destrava e entro, com minha amiga

sentando-se no banco traseiro.


— Prontas? — pergunta meu namorado, ligando o motor.

— Eu sempre estou pronta, meu amor — diz Frida sorrindo.

O shopping está cheio, o que já era de se esperar, já que o final de

semana está quase chegando. As lojas estão decoradas para o Natal, o que

me faz me sentir totalmente perdida no tempo. Como havia me esquecido

que já estamos no final de outubro?

— Credo, esse povo é adiantado, não acham? Faltam dois meses

ainda para o Natal e já estão preparando tudo — diz Frida incrédula.

Concordo com minha amiga e encaro a livraria, sentindo vontade de

entrar, no entanto, lembro de Collin e eu no cinema local da cidade, quando

fomos na livraria e depois disso, acabamos brigando — claro, por culpa

dele.

— Não vai querer entrar? — pergunta ele, segurando minha mão.

— Não, acho que concordo com você e tenho livros demais já —

digo. Collin ri e continuamos andando, avistamos várias pessoas sorrindo,


felizes, em suas vidas perfeitas.

Penso sobre isso e decido que não é momento de me vitimizar e me

comparar com essas pessoas. Com certeza, em algum momento de suas

vidas, elas já perderam alguém ou estão prestes a isso. Esta é a lei da vida.

Nascer, crescer e morrer. Isso quando você tem a chance de crescer e viver

uma história.

— Querem comer alguma coisa? — pergunta Collin quando

passamos próximos a praça de alimentação. Concordamos e vamos para a

fila do McDonald’s, que não demora muito, nos atende. Peço um Big Mac

com batatas fritas e Coca-Cola, meu namorado pede o mesmo e Frida

escolhe um outro. Nos sentamos em uma das mesas mais próximas

enquanto não fica pronto.

— Então, Collin, você desistiu de mudar de curso? — pergunta

minha amiga. A encaro, séria, e ela sorri.

— Por enquanto sim, eu acho — diz ele.

— Seus pais se opuseram à sua decisão? — questiona.


Collin fica em silêncio e anui, levantando-se e indo pegar nossos

pedidos quando a atendente chama.

— Frida! Por que fez isso? — questiono.

— Ele tem que se abrir com a gente, você é a namorada e eu a

melhor amiga da namorada, tornando-me amiga dele, óbvio.

Reviro os olhos e rio com isso, concordando com ela.

— Mas deixe que ele se abra, não force a barra.

— Tá bom, não está mais aqui quem falou.

Concordo e Collin volta com nossos lanches, começamos a comer

em silêncio e assim que terminamos, voltamos a passear pelo shopping.

Depois de passearmos pelas lojas e Frida acabar comprando algumas

coisas sem necessidade, decidimos ir embora. Como minha amiga mora

mais próximo do shopping, Collin a deixa em casa e me despeço com um

beijo em sua bochecha.


— Nos vemos amanhã na aula — digo, ela concorda e a vejo se

afastar. Collin se despede e segue a estrada, me levando para casa.

— Podemos conversar? — pergunta, olhando para a frente.

— Sim — digo.

— Então, os rapazes da faculdade me chamaram para irmos em uma

festa que vai ter no final de semana, queria saber se quer ir comigo, já que...

— Já que minha mãe morreu — o corto, desacreditada com o que ele

diz. — Você sabe que não vou a lugar algum, voltei para a faculdade porque

não posso perder as matérias. Mas ir a festas? Acho que isso já é um pouco

demais.

Ele fica em silêncio e sei o que está acontecendo.

— Por acaso você quer permissão para ir a essa festa sozinho? —

questiono.

— Não, quer dizer, sim. Gostaria muito de ir, com você é claro.

Somos um casal, namoramos há um bom tempo e ainda nem...


— Nem transamos — completo. — Então é sobre isso, você quer ir a

essa festa comigo para ver se no final acabamos na sua cama.

Collin fica em silêncio e reviro os olhos.

— Sei que você quer fazer sexo no momento certo, mas eu sou

homem. Todos os meus amigos já me perguntaram se transamos.

— Perco minha mãe para o câncer e o assunto dos seus amigos é se

transamos ou não? Como eles são babacas!

Collin não diz nada, apenas continua dirigindo.

— Não queria te chatear com esse assunto — diz.

— Não, claro que não. Eu acabo de perder minha mãe e você quer

fazer sexo, isso é realmente bem patético!

Vejo-o parar o carro com tudo e me encarar, então percebo que já

estou próxima de casa.

— Vamos conversar tranquilamente, por favor. Sei que perdeu sua

mãe e está passando por um momento difícil, mas somos um casal. Estou
com você, do seu lado, porém, queria ao menos ter um momento nosso. Só

nosso.

O encaro e pego minha mochila.

— Obrigada pela carona, tenha uma boa festa.

Abro a porta e saio, seguindo pela rua sem olhar para trás. Vejo

Collin fazer o retorno e sigo para casa, entrando e subindo direto para meu

quarto, sentindo-me completamente nervosa e frustrada com meu

relacionamento.
Estarrecido.

É assim que me sinto nos últimos dias. Na verdade, no último ano,

quando Jolie chegou em mim e contou sobre o câncer.

Relembro que há um ano eu havia dito a ela que tudo daria certo e

venceríamos essa batalha... Falhei com ela. Falhei com ela e com sua filha,

Estére, que agora praticamente vive apenas por ser obrigada.

Só de pensar na dor que minha esposa deve ter passado, desejo partir

deste mundo, porém, não tenho escolhas a não ser continuar nesta batalha

iminente que insiste em recair sobre mim.


Para me distrair um pouco, decido ir até minha oficina para ver

como estão as coisas. O meu funcionário, Jack, está mexendo no carro de

Estére, que para ajudar, ferrou o motor.

— Como estamos, Jack? Me diz que dá para recuperar — digo,

pegando um cigarro no bolso de trás da calça e acendendo. Dou um trago e

solto a fumaça, me sentindo um completo idiota por essa atitude.

“Sua esposa morreu de câncer e você está fumando, babaca!”

— Não tenho boas notícias, chefe, infelizmente — diz fechando o

capô e se aproxima, passo o cigarro para ele, que traga e me devolve.

— Perdemos o motor? — questiono. Ele assente, suspirando. —

Porra! Como isso foi acontecer? Agora para arrumar outro vai ser uma

grana alta.

Jack me encara e sei que ele quer dizer que isso não é o problema, já

que minha enteada tem grana e eu também. Não tanto quanto ela, mas

tenho.

— Vou procurar um bom e no preço — diz e concordo, grato.


— Temos mais alguma coisa para fazer ou o movimento continua

fraco? — questiono.

— Fraco — diz, coçando a cabeça. — Somente os clientes de

sempre, que querem fazer manutenção.

Concordo, nos últimos tempos os negócios andam mais fracos do

que de costume.

— Certo, qualquer novidade me avise — digo e ele faz um

movimento com a cabeça como resposta, me afasto, seguindo para dentro

do meu escritório. Me sento na cadeira e olho a papelada à minha frente,

frustrado com tudo que anda acontecendo na minha vida. Por que Jolie

tivera que morrer?

Respiro fundo e me levanto, pego uma garrafa de uísque que deixo

guardada aqui para momentos como este. Procuro um copo, como não

encontro com a bagunça, abro a garrafa e viro um farto gole na boca,

bebendo e torcendo o nariz.


— Droga — sussurro. Repito o processo e bebo ainda mais, sentindo

meu corpo se arrepiar por completo, mesmo estando acostumado com a

bebida.

A jogo na parede, frustrado, e a vejo se transformar em vários

pedaços, então começo a chorar, me sentando no chão e pensando em Jolie.

Por que a minha mulher? Por que perder justamente ela?

Fico pensando nos momentos felizes em que tivemos e no nosso

delicioso sexo. Jolie nunca me decepcionou na cama. A mulher era puro

fogo, e eu, a gasolina. Juntos, incendiávamos tudo que estivesse ao nosso

redor, sem nos importarmos com quem seria atingido no meio do fogaréu.

E agora, não teria mais isso. Não teria o melhor sexo da minha vida,

não teria a minha companheira. Minha esposa.

Eu a perdi para sempre.

Saio da oficina me despedindo de Jack e entro no carro, arranco com

tudo e sigo para a cidade vizinha mais próxima a fim de distrair a mente um
pouco. Paro o carro em frente a um bar e saio, sentindo meu olhar turvo por

conta do uísque e choro.

Assim que entro no local, vários caras me encaram e assinto para

eles, que erguem a cerveja como um sinal de cumprimento. Sento-me em

frente ao barman e o encaro.

— Me dê uma dose de tequila — peço.

— É para já — diz, virando-se de costas e pegando a garrafa, ele

enche o shot e viro de uma vez, apontando para que encha novamente.

O homem concorda e enche mais uma, duas, três vezes, bebo

rapidamente e suspiro.

— Se continuar bebendo assim vai ficar bêbado rapidinho, gatão. —

Ouço a voz de uma mulher ao meu lado.

Me viro e vejo o rosto de Jolie, fazendo-me arregalar os olhos e

limpá-los com a mãos, então noto que é uma mulher de cabelo escuro, pele

negra e sorriso largo. Não é minha esposa. É coisa da minha cabeça.


Estou ficando louco!

— O único objetivo em vir ao um bar é sair daqui bêbado — digo,

pedindo outra dose. Viro e devolvo o copo para o homem. — Duas

cervejas, por favor, uma para mim e outra para a mocinha intrometida.

Ela ri e se aproxima, me olhando dentro dos olhos.

— Me diga, por que um homem como você está aqui, sozinho, sem a

companhia de uma boa mulher? — pergunta, curiosa.

— Porque a minha mulher morreu — digo e ela ergue a sobrancelha,

sem graça.

— Me desculpe, deve ser difícil — diz. Concordo e o homem nos

entrega a cerveja, dou um gole e a encaro.

— É difícil sim, obrigado. — Me viro e fixo meu olhar nas garrafas

de bebidas na prateleira do bar. A mulher pega sua garrafa e sai, deixando-

me só.
— Vadia — sussurro sem que possam ouvir, o barman me encara e

limpa o balcão. Termino de beber e tiro do bolso cinquenta euros,

entregando a ele.

— Me dê uma dose de uísque, por favor.

— Tem certeza...

— Por favor — digo, em ênfase, para que ele entenda que não estou

com saco para aguentar essas pessoas se intrometendo na minha vida sobre

eu estar bebendo mais do que deveria. Quem foi que pediu a opinião deles

mesmo?

— Certo. — Ele se afasta, vai até o caixa e me traz o troco com a

dose da bebida. Viro de uma vez e agradeço. Levanto-me e saio do bar com

as pernas bambeando.

Entro no carro e suspiro, pego meu celular e vejo uma foto de Jolie,

Estére e eu. Lado a lado. Foi durante um passeio em um parque que

tiramos. Lembro-me de ter pedido a um homem qualquer para tirar a foto.


Estamos os três sorrindo, suas peles claras, reluzindo com a minha.

Dou zoom e encaro o sorriso perfeito de minha esposa, então noto que

Estére tem o mesmo sorriso que o dela. Na verdade, os mesmos traços.

Tudo, são praticamente idênticas, como se fossem irmãs.

Guardo o aparelho e ligo o carro, encarando à minha frente. Tudo

está embaçado. A visão turva.

Respiro fundo e com dificuldade saio, pegando a avenida principal

para voltar para casa. O trânsito está relativamente bom, o que é um alívio,

e não tem nenhum policial no caminho que possa implicar comigo.

Dirijo rápido e, quando vejo, estaciono em frente à casa, acertando o

veículo na lixeira. Não me importo e saio, andando em direção à porta.

Sinto minhas pernas fraquejarem e abro com dificuldade, entro e sigo em

direção a escada, subindo os degraus devagar. Procuro por Estére, mas não

a vejo, então entro para meu quarto e me jogo na cama, deixando a porta

aberta, sem me importar. Tiro os sapatos e arranco a camiseta, abro o zíper

da calça, mas antes que eu consiga tirá-la, eu acabo apagando.


Já está de noite e estou sozinha em casa, Frederic ainda não

chegou da oficina, pelo menos eu acho que é isso.

Fico deitada na minha cama, olhando para o teto e me animo em

saber que o tempo está bom em muito tempo. Decido colocar meu pijama e

mexo no meu celular, vendo minhas redes sociais. Collin e eu não voltamos

a nos falar, o que me desanima um pouco. Depois da morte de mamãe,

parece que tudo começa a desandar, o que, de certa forma, faz sentido, já

que ela era meu alicerce.

Saio dos meus pensamentos quando ouço passos subindo a escada e

sei que é Frederic. Decido me manter no meu quarto e tempo depois não
ouço mais nada, então me sento na beirada da cama e coloco as pantufas

nos meus pés, levantando-me devagar. Ando em direção à porta e a abro

devagar, encarando o breu no corredor. Vejo a porta no final aberta e decido

averiguar se está tudo bem com Frederic, então ando em direção ao quarto

que ele dividiu com minha mãe por longos anos e me aproximo lentamente.

Vejo a imagem dele deitado na cama com as pernas pendentes para fora.

Está sem os sapatos e sem a camisa, apenas com a calça. Penso se

aconteceu alguma coisa e entro no local nas pontas dos pés, para não o

acordar, o vejo com a boca entreaberta e o botão da calça jeans

desabotoado, revelando o cós da sua cueca. Abaixo do seu umbigo, consigo

observar sua barriga malhada, subindo e descendo, com a respiração

acelerada.

Engulo em seco e o encaro novamente, o vendo dormir, então

procuro o cobertor e jogo por cima dele, o cobrindo e analisando mais de

perto seu rosto. De repente, me recordo do meu sonho com ele e sobre o

que Collin havia dito de Frederic tentar algo comigo, já que agora, ele é
solteiro e não temos mais uma ligação de padrasto e enteada. O que é

mentira, sempre teremos essa ligação, não?

Lembro de Frida dizendo que ele poderia ser meu namorado e perco

os sentidos, me aproximo cada vez mais, então vejo seus olhos estalarem e

ele me encarar, dando um pulo da cama de susto.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta e sinto o cheiro forte

de bebida. De repente, é como se o álcool estivesse saindo em partículas

pela sua pele de tão forte que fica o cheiro.

— Vim ver se estava tudo bem e resolvi te cobrir — digo, sabendo

que é verdade, mas escondendo que fiquei encarando-o de maneira...

estranha.

— Certo, obrigado — diz, esfregando os olhos.

— Me responda com sinceridade — peço e Frederic me encara sem

entender. — Você bebeu, não foi? Foi por causa de mamãe?

Ele me observa e fica em silêncio, então bufo, frustrada.


— Não está sendo fácil para mim, tá legal? — fala.

— Não está sendo fácil para ninguém — digo, nervosa.

— Tem certeza disso? Porque você tem seu namorado e sua melhor

amiga. E eu? Eu só tenho lembranças dolorosas, Estére. Você pode estar

sofrendo, e sei que sim, mas tem seus momentos de liberdade para pensar

em outra coisa. Tem pessoas que te apoiam! — ele grita e se levanta, o

corpo balançando de um lado para o outro.

— Você está certo, tenho pessoas que me apoiam mesmo. Collin e eu

estamos brigando mais nos últimos dias do que o nosso relacionamento

inteiro. E Frida não sabe lidar muito bem com a morte. Mas sim, estou

tendo apoio! — grito, sendo sarcástica. — Se quer encontrar um refúgio,

procure outro, ou teremos que tomar medidas em relação a morarmos sob o

mesmo teto.

Ele me encara e vejo lágrimas descerem pelos seus olhos.

— Você está certa, me desculpe, mas isso não muda o fato de que

não está sendo fácil.


Fico quieta, e olho para abaixo do seu umbigo, notando a calça agora

um pouco mais abaixo. Desvio meu olhar e encaro seus olhos, torcendo

para que ele não tenha reparado os meus olhares estranhos.

— Você tem a mim, Frederic, sei que não sou a melhor companhia e

muito menos ela, mas se mamãe quis que ficássemos aqui, nesta casa, ela

queria que um apoiasse o outro, como nos pediu. Quero muito realizar sua

última vontade, mas agora está nas suas mãos fazer isso dar certo.

Saio do seu quarto sem ouvir uma resposta e entro para o meu,

batendo a porta com força e desejando que isso não esteja acontecendo.

Levanto-me no dia seguinte mais cedo do que de costume e me

troco, pego minhas coisas, sigo para a cozinha e vejo que Frederic não se

levantou ainda, então decido preparar nosso café. Já que ele havia feito isso

por mim, não via problema em retribuir o gesto, mesmo tendo discutido

com ele na noite anterior.


Passo o café e assim que está pronto, arrumo a mesa e decido chamá-

lo para comermos. Subo a escada devagar e sigo em direção à porta do seu

quarto, dou duas batidinhas e espero. Nada. Estranho e espero mais um

pouco, porém, Frederic não me atende, então bato novamente e sou

surpreendida com ele abrindo bruscamente.

A imagem que vejo com certeza me perturbará por um bom tempo; o

cabelo de Frederic está molhado e a água escorre pelo seu pescoço,

descendo para seu peitoral e seguindo para sua barriga, onde meu olhar

para. Noto que ele está com a toalha frouxa em volta do seu corpo,

revelando um pouco seus pelos pubianos.

— Ah, me desculpe, não sabia que estava no banho — digo, me

virando de costas.

— Aconteceu alguma coisa, Estére? — pergunta, como se estivesse

completamente vestido.

— Vim chamá-lo para tomar café — respondo, ainda de costas.

— Tudo bem, desço em dez minutos. Me espera?


Anuo e, ainda de costas, sigo em direção a escada, ouvindo a porta

se fechar.

Droga, o que está acontecendo comigo? Por que estou vendo coisas

onde não existem?

“Ele é o viúvo de sua mãe! Seu padrasto, apesar de tudo. E você tem

namorado!”

Desço correndo após afastar os pensamentos e pego minha mochila.

Chamo um Uber. Como tem um veículo próximo de casa, ele chega em

menos de cinco minutos e entro no carro sem ao menos tomar café,

pensando no que havia acabado de acontecer e a vergonha que estou

sentindo. Droga!

Chego à faculdade e encontro Frida, conversamos um pouco sobre

coisas aleatórias e simplesmente não consigo me concentrar na aula direito.

As horas passam rapidamente, o que é um verdadeiro alívio, e quando vejo,

já acabou.
Encontro Collin no corredor e desvio dele, seguindo para a

biblioteca a fim de esfriar um pouco a cabeça sobre tudo que vem

acontecendo e, claro, estudar um pouco, afinal de contas, o ano letivo está

prestes a se encerrar.

— Bom dia, querida — diz a senhora na biblioteca.

— Bom dia — digo, sorrindo forçadamente.

— Não esqueça que deve colocar o celular no silencioso antes de

entrar — diz.

Concordo, pego meu aparelho e vejo uma mensagem de Frederic:

“O que houve que você não me esperou? Aconteceu alguma

coisa?”

Quero dizer que sim; aconteceu. Aconteceu muita coisa,

principalmente nos últimos dias. Vêm acontecendo tantas coisas que não

consigo explicar. Perdi minha mãe, brigo direto com meu namorado babaca

que agora decidiu querer transar, e ainda por cima, tive um sonho maluco

com meu padrasto e ando o observando mais do que deveria.


Porém, como sei que não adianta conversar isso com ele, desligo o

celular para não ser incomodada e mostro para a senhora, que sorri e me

deixa entrar.

Ando pelas prateleiras e me sinto mais calma. Para alguns é besteira,

mas os livros acalmam minha alma de uma maneira que pessoa nenhuma

consegue. Bem, a que conseguia me acalmar e dizer que tudo ficaria bem

quando tudo estava uma merda, acaba de morrer. Mostrando que sim, a vida

está uma merda enorme.

Pego um livro qualquer sobre fotografias e me sento, o abro e

analiso as imagens. Tento me concentrar, mas é praticamente impossível. É

como se eu estivesse olhando as imagens e visse em cada uma delas o

abdômen definido de Frederic. Sei que pensar isso é errado e nojento, afinal

de contas, ele foi casado com mamãe por anos. Mas não consigo ter

controle dos meus pensamentos. De repente, me imagino com ele tirando a

toalha e o vendo completamente nu. O que será que ele esconde por
debaixo daquele tecido? Penso sobre a noite anterior, quando o vi com a

calça aberta e sobre seus pelos pubianos que vi mais cedo.

— Estére! — Saio dos meus pensamentos pecaminosos e me viro,

vendo Frida do lado de fora da biblioteca acenando para mim. Levanto-me,

guardo o livro e vou em sua direção.

— O que está fazendo aqui? Pensei que já havia ido embora — digo.

— Estava conversando com um gatinho e acabei vendo você aqui

distraída demais. Você está bem?

Concordo, lembrando sobre o que eu estava pensando antes dela me

chamar.

— Sim, estou, vou já para casa.

— Tudo bem. Vou na festa que chamaram o Collin, você não vai,

né?

Nego com um movimento de cabeça.

— Não estou muito a fim — digo.


— Bem, enviei o endereço no seu celular, de qualquer maneira, caso

mude de ideia.

— Não era necessário, eu não vou mesmo, ainda mais que Collin e

eu discutimos de novo. Faz o favor de ficar de olho nele para mim?

Ela revira os olhos e boceja.

— Acho que vocês deveriam dar um tempo, andam só brigando.

Quantas vezes foram esta semana? Três? Quatro? Mas tudo bem, ficarei de

olho nele, se não encontrar nenhum gatinho lá.

Reviro os olhos e dou risada.

— Obrigada, você realmente é uma amiga e tanto.

Ela pisca, concorda e seguimos para as nossas casas.


Quando estou chegando em casa, vejo que já está quase na hora

do almoço, o que me deixa surpresa em saber como a hora passa tão rápido.

Sigo em direção à entrada de cabeça baixa, atrás das minhas chaves

e sou surpreendida com Frederic sentado nos degraus da pequena escada

vestido de preto e flores nas mãos.

— Oi, Estére, eu estava te esperando, mandei mensagem e você não

respondeu — diz, me encarando com o olhar triste. Engulo em seco e

mordo o canto da boca.

— Desculpa, eu não vi, estava presa na biblioteca...


— Lendo, eu sei — diz. — Te conheço mais do que imagina.

Fico sem resposta diante disso.

— Belas flores — digo, apontando para o buquê na sua mão.

— Obrigado, são para sua mãe, estava esperando você chegar para

saber se quer ir comigo até o cemitério levá-las.

— Você vai agora? — questiono, surpresa.

—Sim, você quer me acompanhar?

— Claro, só me deixe colocar a mochila dentro de casa.

Ele concorda e sigo em direção à porta, abro e jogo-a sobre o sofá

após pegar meu celular e documentos. Saio, respiro fundo, determinada a

não pensar no que houve mais cedo e me viro para Frederic, sorrindo.

— Está pronta? — inquire.

— Sim, vamos — digo, seguindo em direção ao carro.

*
O caminho inteiro, ficamos em silêncio, apenas ouvindo uma música

da Sia que toca baixo. Frederic deixou as flores no banco traseiro e

enquanto dirige, bate seus polegares no volante, o que me faz acreditar que

tem algo o incomodando, porém, se realmente tem, prefiro não saber.

Chegamos ao cemitério e ele estaciona sem me encarar, viro-me para

pegar as flores e ele vira junto, com nossas mãos se tocando. Sinto meu

corpo se arrepiar e um formigamento toma conta da boca do meu estômago,

então as solto e ele as pega.

— Desculpe — diz, não respondo e rapidamente saio do carro, fecho

a porta e sigo cabisbaixa para o cemitério. Apesar de termos estado aqui a

poucos dias, é como se tivesse passado um milhão de anos.

Anos longos, duros e tristes. Porém, o pior é saber que só se

passaram alguns dias.

Seguimos lado a lado em silêncio e não demora, nos aproximamos

do local em que mamãe está enterrada. Ajoelho-me ao lado da cova, que


ainda têm algumas flores vivas, e sinto as lágrimas escorrerem pela minha

bochecha.

“Perdão, mamãe...”

Continuo chorando, chateada com tudo que vêm acontecendo. Com

certeza, quem iria para o inferno quando morresse, seria eu.

Imagine pensar no antigo marido de sua mãe de maneira diferente?

Isso é mesmo um grande pecado, e além disso, nojento. Asqueroso.

Lascivo.

Continuo chorando, tentando negar o que está acontecendo, então

vejo Frederic depositar seu braço sobre meu ombro, passando-me conforto.

Não recuo, apesar de tudo, ele é uma das únicas pessoas com quem posso

contar. Então continuo chorando e ele se ajoelha, depositando as flores ao

lado das outras.

— Sua mãe te amava muito, Estére — diz, a cada vez que ele diz

meu nome, mais meu corpo se arrepia. Sinto meu pescoço pinicar e

concordo.
— Eu sei, às vezes penso que falhei com ela, quando nos disse que

estava com câncer, não consegui acreditar. Até vê-la perdendo o cabelo. Vê-

los caindo por conta da quimioterapia me trouxe para uma realidade que eu

não quis acreditar.

Frederic concorda e suspira.

— Eu falhei com ela quando me disse sobre a doença, prometi que

venceríamos essa batalha e que iríamos rir disso tudo. Mas não cumpri, a

perdemos para sempre.

Concordo e tenho uma reação que não espero; viro-me para Frederic

e o encaro, então o abraço apertado e ficamos chorando juntos por um bom

tempo.

— Você quer almoçar em algum lugar? — pergunta Frederic após

sairmos do cemitério.

— Seria bom.

— Que tal o Beer’s? — pergunta, dando ré e seguindo pela estrada.


Penso que a última vez que estive lá foi com Collin e concordo,

dando de ombros.

— Claro, mamãe adorava àquele lugar.

Meu padrasto concorda e seguimos para o restaurante-bar, agora

ouvindo uma música do Evanescence.

Presto atenção na letra da canção Lithium e canto junto:

Lítio; não quero me isolar

Lítio; não quero esquecer como é sentir saudades

Lítio; eu quero permanecer apaixonada, com minha tristeza

Oh, mas, meu Deus, quero me libertar

Venha pra cama, não me deixe dormir sozinha

Não poderia esconder o vazio que você mostra sem saber...

Quando entramos no Beer’s, somos recebidos por Georgie, que sorri

ao nos ver. Seguimos em direção a uma das mesas e ele se aproxima com
um bloquinho nas mãos e uma caneta.

— Olá, Estére. Frederic — diz, acenando para meu padrasto, que

corresponde com o mesmo gesto.

— Oi, Georgie — digo, sorrindo de volta. — Como está?

— Bem, minha jovem. Fico feliz em vê-la sorrindo.

Sorrio, grata.

— Vou querer fritas com hambúrguer, e de sobremesa, sorvete de

chocolate com calda de morango — digo, vendo-o anotar.

— Certo, e você, Frederic?

— Pode ser o mesmo que ela, mas de sobremesa quero panquecas

com mel e blueberry. — Georgie concorda e se afasta, nos deixando a sós.

— Está melhor? — pergunta me encarando.

— Sim. E você?

— Sim — murmura, sem muita vontade, concordo e ficamos quietos

por um bom tempo. Balanço as pernas e torço as mãos umas nas outras. —
Está nervosa?

— O que disse?

— Perguntei se está nervosa, Estére — diz, me encarando sério. Ele

deposita sua cabeça sobre o braço e se aproxima de mim. — Sua mãe dizia

que quando você fica assim, balançando as pernas e mexendo nas mãos, é

porque está nervosa. Algo a incomoda. O que é?

O encaro por um minuto inteiro e sinto um arrepio percorrer minha

espinha. Como dizer a ele que me sinto nervosa por estar na sua presença?

— É só impressão sua, não estou nervosa — minto. Frederic

concorda e não demora, nossos pedidos são colocados sobre a mesa, pego

meu hambúrguer e dou uma mordida. Sinto o delicioso gosto invadir minha

boca e solto um gemido baixo, com Frederic me encarando e rindo.

— Está tão gostoso assim? — pergunta, comendo o seu.

— Sim, o seu não está?


— Sim, mas o seu parece estar melhor — diz, passando a língua nos

lábios.

Sinto meu rosto queimar e aponto o lanche para ele.

— Você quer um pedaço para tirar a prova? — pergunto, sendo mais

maliciosa do que deveria.

Ele concorda e se aproxima por cima da mesa, segura meus dois

punhos com suas fortes mãos e leva o lanche em sua direção, o provando.

Fico quieta enquanto ele mastiga e me solta, voltando para seu lugar.

— Realmente, o seu está muito melhor — diz, voltando a comer o

seu lanche.

Termino de comer e sigo para as batatas, devorando-as rapidamente.

Após terminar, Georgie se aproxima com o sorvete e entrega as panquecas

de Frederic.

— Ah, agora quem vai querer um pedaço sou eu — digo, pegando o

garfo de sua mão e cortando um fardo pedaço da panqueca. Frederic fica

me encarando e como, me lambuzando. — Divinas, como sempre.


Devolvo o garfo a ele, que sorri e começa a comer.

— Fico feliz que tenha gostado, Estér — diz. Ouço o apelido que

mamãe me dera quando viva e formo um sorriso de canto de boca.

— Eu também, Fred.
Sinto-me mais feliz após o almoço que tenho com Estére, porém,

após sairmos do Beer’s, a tristeza me abraça e fico em silêncio o caminho

inteiro. Assim que chegamos à casa, ela sai do carro e fico parado,

contemplando-a.

— Você não vem? — questiona, me encarando.

— Tenho que passar na oficina para ver se Jack já consertou seu

carro — digo e ela concorda, se despedindo e entrando. Vejo seu rebolar e

encaro suas pernas. São torneadas, com os pelos claros, quase

imperceptíveis. A depilação deve estar em dia.


Penso na sorte que Collin tem. Não posso negar; a filha da minha

mulher é linda.

Saio em disparada e relembro do momento que aconteceu mais cedo,

onde Estére me viu apenas de toalha e ficou me observando. Talvez ela

tenha pensado que eu não percebi, mas é claro que sendo um homem

observador, notei seu olhar.

Mas o que será que esse olhar queria dizer? O que está acontecendo

com Estére e eu, afinal de contas?

Será que está acontecendo algo além do que deveria?

Não, com certeza é apenas a carência que venho sentido, e a porra do

luto, que está fodendo com a minha mente.

Afinal, é para isso que o luto serve; foder nosso psicológico a ponto

de enlouquecermos e cometermos uma loucura.

Estou louco.

*
Acabo não passando na oficina e sigo para o mesmo bar da outra

vez. Sei que Estére não iria gostar de saber que eu bebi de novo, no entanto,

algumas regras foram feitas para serem quebradas.

Assim que entro, vejo os mesmos rostos da última vez. Fodidos. É

isso que esses homens são. Com certeza estão fodidos por causa de alguma

coisa e vêm ao bar para afogarem as mágoas.

“Igual a você, não é mesmo, Frederic Cooper? Seu fodido do

caralho!”

Afasto meus pensamentos e me sento em frente ao balcão, igual a

última vez, então o barman se aproxima e me encara.

— Tequila? — questiona, me observando.

— Uísque com gelo — digo. Ele concorda e volta um minuto depois

com o copo pela metade. — Completa, eu pago.

O homem me encara e, suspirando, vai atrás da garrafa e enche meu

copo. Sinto vontade de socar sua cara e quebrar todos os seus dentes. Ele é
a putinha de todos nós. Está aqui para nos servir. Mas, no fundo, não o

julgo, com certeza ele já havia visto coisas muito ruins neste bar.

Bebo um gole e torço o nariz, mesmo sendo apreciador de vinhos,

cerveja e uísque, ainda não sou completamente acostumado a sentir isso que

a bebida causa. Bebo mais um pouco, pensando em Jolie e fecho meus

olhos, visualizando sua imagem.

É como se estivéssemos na nossa cama, deitados, com ela apenas de

lingerie e eu de cueca. De repente, vislumbro a imagem dela sorrindo e

beijando minha barriga, descendo para meus pelos pubianos e indo de

encontro ao meu pau. Consigo visualizar completamente a cena em minha

mente. Jolie era uma mulher voraz e muito, muito danada. Ter sua boca em

volta do meu pau era como ter a melhor das bebidas no meio de um deserto.

Então continuo no meu mundo, visualizando a cena dela me

chupando, passando a língua pela glande do meu pau e de repente seu rosto

se transforma no de Estére.
Abro os olhos e vejo a movimentação no bar, a música está tocando

alto agora e as pessoas dançam, o que, de certa forma, me deixa confuso.

Droga! Mas que porra é essa que estou pensando?

Sei que ando com um tesão além do normal, e não me culpo, mesmo

estando de luto. São reações do meu corpo. Coisas que eu simplesmente

não posso controlar. É instinto.

Sempre fui fodedor de belas bocetas. Conheci minha esposa quando

tinha apenas dezenove anos, começamos a namorar e um ano depois nos

casamos. Ficamos casados por oito anos.

Porém, antes de Jolie, muitas mulheres passaram pela minha cama.

Diversas. Milhares. Centenas de mulheres. De todas as formas. Umas mais

gostosas que as outras, mas sempre com o mesmo desejo que eu — gozar,

gozar sem limite.

Viro o copo de uma vez e coloco sobre o balcão.

— Mais um — peço, o barman concorda e enche, então viro de uma

vez.
Preciso me aliviar, está nítido isso na minha mente. Já estou até

mesmo pensando besteira.

Como Jolie se sentiria em saber que acabo de pensar em sua filha

chupando meu pau? Com certeza ela não iria gostar nem um pouco, porém,

o desejo diz mais alto.

— Desejo, olha como você está dizendo — sussurro para mim

mesmo, em meio a música. — Só pode ser idiotice. É claro que é. Uma

completa loucura.

Termino de beber e peço mais. Mais. Mais. E mais.

Quando vejo, já foram mais de oito doses de uísque e meu corpo

começa a ficar inerte. Me levanto e sinto uma sensação estranhamente...

boa. É como se minhas pernas tivessem vida própria e andam em direção ao

banheiro sem eu realmente querer. Assim que entro, me tranco, abro o botão

da calça, desço o zíper e coloco meu pau para fora. Mijo e vejo ele meia-

bomba na minha mão, olho para trás, como se alguém pudesse estar aqui

dentro. Começo a fazer movimentos de vaivém e meu pênis cresce em


minha mão. Suspiro, pensando em Jolie e na saudade que sinto das

deliciosas vezes em que trepamos. Então continuo com os movimentos,

aumentando a velocidade cada vez mais.

— Ah, Estére — digo, e é como se todo o álcool saísse do meu

corpo e eu voltasse a realidade. Paro os movimentos, broxando na hora e

me vejo no banheiro. O som do lado de fora é alto.

Saio e volto para o bar, tendo a certeza de que estou ficando louco.

Sim, é isso. Só pode ser.

— Mais um — peço e o homem me encara.

— Não quero ser chato, cara, mas vejo muitos bêbados aqui e não

quero ter trabalho com mais um. Você tem alguém para te levar embora

depois?

— Sim, eu. Agora me dê a droga de mais uma bebida. — Arranco da

carteira algumas notas e jogo em sua direção, com ele torcendo o nariz e

concordando. Bebo mais, e quando vejo, já foram mais quatro copos.


Pego meu celular no bolso da calça e vejo que já está tarde, com a

visão turva, me levanto e saio, seguindo para dentro do meu carro. Suspiro,

ligo o motor e faço o retorno, seguindo para casa. A estrada está deslizando,

então vou devagar, forçando minha visão para enxergar o que está à minha

frente.

Chego à casa com dificuldade e saio cambaleando, subo os degraus e

coloco a chave na fechadura, a virando. Abro a porta e olho ao redor.

Silêncio. Sento-me no sofá e suspiro, começando a chorar, pensando no que

está acontecendo e na minha esposa.

— Volte para mim, Jolie — sussurro, em lágrimas.

— Fred? — Ouço me chamar. Levanto o olhar e vejo o rosto dela...

da minha esposa. Estranho. Será que ela havia voltado para mim e não

passara de um pesadelo tudo isso? — Frederic, está tudo bem?

Fico surpreso e me levanto, chorando.

— Jolie — digo, me aproximando ainda mais dela.


— O quê? — diz, sem entender. O que ela está fazendo? Será que

não está feliz em me ver? — Você está bêbado?

— Me desculpe, eu bebi, estava com medo e chateado, então acabei

parando no bar — digo, me aproximando mais. — Me deixe te abraçar, por

favor, Jolie.

— Não... Não sou a Jolie — diz.

Fico sem entender, encarando o rosto da minha esposa, então me

aproximo cada vez mais e a agarro, abraçando-a forte.

— Eu senti tanto sua falta — digo, ainda abraçado a ela.

— Frederic, por favor.

— O quê? — digo, a encarando, me aproximo e beijo seu pescoço,

mordiscando sua orelha e segurando seu rosto.

— Me solte! Não está vendo que está ficando louco? — inquire

Jolie.

— Por favor, amor, eu já me desculpei por ter bebido.


Volto a agarrá-la com mais firmeza e seguro seu rosto, me

aproximando dela e beijando seus lábios. O gosto é diferente do que estava

acostumado, sua boca parece menor e se encaixa com a minha, então levo

minha língua até ela e, de repente, sinto um chute no meio das minhas

pernas e caio no chão, me contorcendo de dor.

Solto um grito e recobro a consciência, encarando Jolie... que na

verdade é Estére.

— O que foi que você fez? — pergunta, gritando. — Está bêbado de

novo e agora me confundindo com minha mãe, agarrando-me?!

— O que, como? — pergunto, sem entender. Vi nitidamente a minha

esposa. Tenho certeza disso. — Por favor, me desculpe, e-eu fiz algo que a

machucasse?

— Não, mas saiba que se continuar desse jeito, teremos que falar

com o advogado e mudar esse testamento. V-você me beijou! Está maluco?

Fico quieto, surpreso com a loucura que estamos passando.

A que ponto eu cheguei?


— Me perdoe, por favor — peço.

— Só fique longe de mim — diz, me encarando.

Vejo Estére subir a escada e sumir na escuridão, deixando-me

sozinho com os pensamentos de que realmente estou louco.


Dois dias se passaram após o beijo que Frederic me deu. Não

consegui sair do meu quarto durante essas quarenta e oito horas. Quando

ouvia o silêncio ou a porta da frente se abrindo, mostrando que Frederic

saiu, ia para a cozinha comer alguma coisa. Acabei não falando com Collin,

por conta da nossa briga e tão pouco com Frida, que a última mensagem

enviada havia sido para me mandar o endereço da tal festa que será hoje.

Olho para o teto, deitada de pernas esticadas, e penso sobre o que

anda acontecendo nos últimos dias. É isso que venho fazendo esses tempos;
pensando. Porém, agora que Frederic me beijou, alegando que viu minha

mãe ao invés de mim, não consigo sequer entender o que sinto. Culpa?

Medo? Excitação? Ou tudo misturado, talvez?

Relembro do momento em que nossos lábios se tocaram e de quando

ele beijou meu pescoço e mordiscou minha orelha. Só de pensar nisso, meu

corpo se arrepia por inteiro e sinto um frio no meu ventre, o que, de certa

forma, é algo completamente novo para mim.

Não que os beijos com Collin fossem ruins, pelo contrário; ele beija

muito bem. No entanto, com Fred foi algo... que eu nunca provei na vida de

certa forma.

— Olha o que você está pensando, sua idiota — digo para mim

mesma. Me viro na cama e solto um suspiro, vejo meu celular alertar sobre

uma nova mensagem de voz de Frida e dou play:

— Sei que não anda muito bem por conta da sua mãe e que estou

sendo uma péssima amiga, mas, por favor, me diga como você está. Hoje
será a festa, você e o Collin se resolveram? Quer que eu ainda fique de

olho nele? Por favor, responda. Te amo.

Resolvo responder.

“Desculpe não ter falado com você nos últimos dois dias, acabei

ficando doente, mas já me sinto melhor. Se divirta na festa. Ainda não

me resolvi com Collin, porém, se puder, fique de olho nele. Te amo.”

Vejo que já são mais de sete horas da noite e jogo o celular na cama,

me sentindo cansada e presa. Cansada de toda essa situação estranha em

que estou envolvida. Presa por ficar dentro deste quarto sem conseguir sair

por não querer olhar para a cara de Frederic.

Mas afinal, será que ele está envergonhado assim como eu?

Esqueço isso e penso sobre essa festa que Collin e Frida estarão.

Pego o celular novamente e analiso o endereço; é perto, dá para ir de Uber.

Decido procurar alguma roupa adequada, decidida a aparecer de

surpresa e ver eu mesma Collin, afinal, somos namorados e uma hora ou

outra, teremos que nos resolver.


Pego uma calça jeans preta, botinas claras, uma blusa escura, com

um unicórnio na frente, e visto, olhando-me no espelho. Minha barriga

magra está de fora, o que faz eu dar um sorriso largo. Prendo meu cabelo

em um coque frouxo e deixo alguns fios soltos, passando uma maquiagem

logo em seguida. Nada vulgar, até porque continuo de luto, então aplico o

batom claro e o perfume sobre a minha pele. Sei que pode parecer egoísmo

da minha parte e um tanto errado sair sabendo que a minha mãe morreu tem

uma semana, no entanto, preciso me desligar um pouco de tudo que vem

acontecendo e me resolver com meu namorado. Quem sabe assim esqueço

de uma vez por todas o que aconteceu com Frederic e eu.

“Não aconteceu nada, foi apenas uma grande confusão. Ele estava

bêbado e pensou ser mamãe, afinal, somos muito parecidas. Foi isso. Um

erro de percurso.”

E espero acreditar nesse meu pensamento.

Saio sem ao menos ver Frederic, o que acaba sendo um alívio. Peço

um carro e o motorista segue em silêncio.


Quando estamos próximos da festa, ouço o som alto tocando

Dangerous Woman da Ariana Grande.

— Aqui está, obrigada, pode ficar com o troco — digo ao motorista,

entregando o dinheiro, ele agradece e saio do carro, olhando para a mansão

com portões ladeados à minha frente. A casa pertence a, se não me engano,

Ron Philips, amigo de Collin, eles estudam juntos.

Entro, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e penso que é

besteira eu estar aqui. Deveria ter ficado em casa, chorando, comendo

chocolate e assistindo a vídeos no videocassete que mamãe guardava da

minha infância perfeita. Porém, resolvi ser egoísta e pensar apenas uma

noite em mim, decidida a me divertir nesta festa.

Algumas pessoas da faculdade me encaram e começam a sussurrar

entre eles, talvez dizendo que eu, a primogênita de Jolie Muller, já superei o

seu luto. O que é mentira.

Esqueço essas pessoas, continuo andando e chego à casa. O som está

alto e várias pessoas bebem e dançam, descontraídos, sem ligar se sabem a


coreografia ou não, o que arranca um sorriso meu.

— Estére Muller. — Ouço meu nome atrás de mim e me viro, vendo

o próprio Ron. — Você veio.

— Oi, Ron. Sim, espero que não se importe — respondo,

encolhendo os ombros.

— Claro que não, você é a namorada do meu amigo, por que me

importaria? Seja bem-vinda — diz, sorrindo. Ele é um homem bonito, não

há como negar. Na verdade, na Cidade do Vale Sombrio, existem muitas

pessoas bonitas. Seu cabelo é encaracolado e sua pele negra, o sorriso largo

é cativante, e seu peitoral é como nesses filmes de adolescentes; malhado ao

extremo. Pergunto-me quando eles têm tempo para malhar, já que sempre

estão bebendo, fumando, falando de mulheres e transando com elas.

— Obrigada. Você viu o Collin ou a Frida por aí? Quero fazer uma

surpresa a eles.

— Ah, a Frida está na cozinha bebendo com os caras. Eles fizeram

uma aposta para ver se ela consegue beber doze doses de tequila. Já o
Collin, se não me engano, está ajudando na churrasqueira.

Concordo, pensando o quanto Frida é louca.

— Certo, vou atrás dele e depois vejo Frida — digo, já me afastando.

— Não! Espere, você não vai querer perder esse desafio da Frida,

não é? — pergunta, segurando meu braço e sorrindo. Olho para sua mão e

ele me solta.

— É, realmente. Você me acompanha? — questiono.

— Será um prazer, Srta. Muller.

— Apenas Estére, Ron — digo, agarrando no seu braço. Ele

concorda e me guia pela multidão das pessoas que estão na sala.

Seguimos por um corredor e não presto muita atenção na casa,

apenas notando o quanto está cheia e é grande.

— Qual é, garota? Vira essa tequila de uma vez. — Ouço, assim que

passamos para a cozinha. A cena que vejo é um tanto hilária.


Frida está em cima do balcão, na ilha da cozinha, usando uma saia

curta e uma blusa transparente, revelando seu sutiã colorido. Seus cabelos

estão bagunçados e a maquiagem berrante. Seu olhar é sério e desafiador.

— Ela vai beber sim, e vou acompanhá-la — digo, me

desvencilhando de Ron.

Todos que estão na cozinha ficam em silêncio e me encaram. Frida

me observa e abre a boca, surpresa por eu estar aqui.

— Então vem, princesa — diz um dos rapazes. Todos gritam e sigo

em direção de Frida, subindo no balcão com ela, que me dá espaço.

Pego a dose de tequila da sua mão e todos me encaram, vibrando de

emoção.

— Beba, beba, beba! — começam a gritar. Faço uma reverência

dramática e viro com tudo a bebida, balançando a cabeça quando engulo.

Todos gritam entusiasmados e Frida me abraça, bebendo a dela e

descendo do balcão. Desço junto e minha amiga me encara.


— Eu não acredito que você veio! — diz animadíssima.

— É, nem eu acredito — digo sorrindo. — Você viu o Collin? Ron

disse que ele está na churrasqueira, queria ter certeza antes de ir até lá.

— Ele está atrás de você — diz ela. Me viro e encaro meu

namorado, que me observa com o rosto vermelho e o olhar surpreso.

— Estére — diz se aproximando.

— Oi, Collin — digo, forçando um sorriso.

— Vou terminar meu desafio, vocês precisam conversar — diz Frida

se afastando. Concordo, Collin estende a mão na minha direção, e a agarro.

Saímos da cozinha pela porta dos fundos e vamos para a área da

piscina, com diversas pessoas nadando ao som de Perfect Illusion de Lady

Gaga.

— Fico feliz que tenha vindo — diz, ainda surpreso com a minha ida

a festa.
— Que bom — digo. — Você chegou aqui tem muito tempo? —

pergunto, para criar assunto. O que é estranho, já que ele é meu namorado.

— Às 19h, os caras precisaram de ajuda para carregar as bebidas e

na churrasqueira — diz. Concordo e forço um sorriso. — Você quer uma

cerveja? Posso pegar para nós.

— Seria bom.

— Certo, espere aí, volto em um minuto. — Ele se afasta e o vejo

indo em direção da churrasqueira. Ele abre um freezer e pega duas cervejas

geladas. Uma garota para ao seu lado e ele conversa com ela, noto o quanto

ela é bonita.

Logo ela se afasta e ele volta, parecendo sério, o que me deixa

confusa. Collin me entrega a cerveja já aberta e me dá um enorme sorriso...

o sorriso por qual me apaixonei. Que fez várias vezes eu sentir borboletas

no estômago.

— Quem era a garota bonita? — pergunto, levando um gole da

bebida aos lábios.


— Ah, ninguém, só estava perguntando sobre o Ron — diz sem me

olhar. Concordo, sentindo que ele está mentindo, porém, como quero evitar

brigas, não estendo o assunto. — Então, como você passou esses últimos

dias? Não temos conversado muito.

— É, eu sei. Fiquei meio que doente, mas já estou bem — minto.

— Meio doente? — questiona, sem entender.

— Coisa de mulheres — concluo. Como ele é homem e não entende,

apenas concorda, dando o assunto por encerrado.

— Então, quero que me desculpe, não quis forçar a barra em relação

a transarmos, nem quis parecer um canalha. Me desculpe mesmo...

O interrompo com um beijo e ele fica surpreso, me agarra e segura

minha cabeça com a mão livre. Sua língua invade a minha boca e

simplesmente não sinto nada. Nem uma sensação. Nem um arrepio.

Continuamos nos beijando, tento afastar esse pensamento insano e

depois de um tempo, separamos nossas bocas.


— Eu te amo, Collin — digo, convicta das minhas palavras. Ele me

encara e sorri.

— Eu também te amo, Estére — diz, sorrindo. Encosto minha testa

na sua e sorrio, mesmo sabendo que não senti absolutamente nada em beijá-

lo.

— Ah, os pombinhos se resolveram, finalmente! — grita Frida

animada.

— Você está bêbada — digo, e ela se senta ao meu lado,

entrelaçando seu braço ao meu.

— Sim, mas o que posso fazer? A vida é curta, temos que aproveitar.

— Você está certa — digo, sorrindo. E realmente está. Quando

vemos, a vida já passou, as pessoas que amamos já morreram e não fizemos

nada. Penso neste instante se as pessoas ao nosso redor estão felizes com a

vida que andam vivendo.

— Então vamos nos divertir, baby, porque a noite só está

começando! — Ela se levanta com dificuldade e dou risada, encarando


Collin, que se diverte. Nos levantamos e começamos a dançar uma música

animada que toca.

Frida rebola sem parar, animadíssima, então ela me abraça e sorri.

— Eu te amo, amiga.

— Eu também te amo — digo, rindo da sua bebedeira.

Ela concorda e sai correndo em direção à piscina, pulando com tudo,

molhando diversas pessoas.

— Vem! Vamos nadar, a água está deliciosa — diz.

Ouço tocar um remix de Halo da Beyoncé e sorrio, segurando na

mão de Collin e correndo com ele, nos jogando com tudo na piscina.

Dançamos na água e rimos bastante, nos divertindo, então, de repente,

várias pessoas entram e se divertem conosco.

Analiso o céu e vejo as estrelas brilharem. Sorrio pelo momento

descontraído, beijo meu namorado e aproveitamos a festa.


Está sol no domingo, o que acaba sendo um milagre e tanto. Saio

cedo com Frida e Collin, decidimos fazer um piquenique no parque local da

cidade. O lugar é simples, fica praticamente no começo da floresta, onde

tem um campo de futebol, mesas de pedra redondas e um pequeno lago.

Como está sol, aproveito para usar um short curto, camiseta regata e

óculos, a fim de me bronzear um pouco e dar cor a minha pele branca. Frida

está no mesmo estilo que eu, e Collin de bermuda, tênis e sem camisa,

mostrando sua barriga definida e seus músculos.


— Sei que o namorado é seu, mas puta que pariu, que homem

gostoso o Collin é — diz Frida ao meu lado, sussurrando, quando ele está

um pouco mais à frente, vendo uma mesa para ficarmos.

— É, não posso negar que ele é gostoso demais.

— Sim, e você está perdendo a chance de saber como é o material

dele — diz, como se estivesse me repreendendo. Reviro os olhos e formo

um sorrisinho.

— Estou começando a pensar que esse momento está cada vez mais

perto, mas não quero dizer a ele, para não se animar.

Frida e eu rimos e nos aproximamos da mesa.

— Qual a piada? — Collin pergunta, nos encarando.

Olho Frida e ela sorri.

— Só estava perguntando sobre Frederic para Estére, nada demais.

— E isso as fizeram rir? — questiona.


— Sim, eu estava dizendo a Estére que se o ex-padrasto dela quiser,

eu posso ajudá-lo a superar o luto.

Collin me olha e estreita as sobrancelhas.

— Entendi, eu acho — diz ele. — E como é que ele está, amor?

Ouço ele me chamar de “amor” e sorrio, mesmo não sendo a

primeira vez que isso acontece, ainda me deixa boba. Então percebo que

meu padrasto acabou virando assunto.

— Ele está bem, não ando vendo-o muito, está trabalhando bastante

na oficina. Por conta do meu carro que quebrou.

— Isso é bom, não é? Ele trabalhar, quero dizer — diz Frida.

— Acho que sim — digo.

— É, espero que ele fique bem logo. Quem sabe não arrume uma

namorada ou esposa mais rápido do que o esperado — diz Collin. Não

respondo, colocando sobre a mesa a cesta de vime e tirando de dentro as

coisas que trouxemos. Temos frutas, suco, entre outras coisas.


— Que tal deixarmos Frederic de lado e conversamos sobre outra

coisa? — peço de maneira gentil para não desconfiarem de algo.

— Claro, amor, você que manda — diz meu namorado me

abraçando e depositando um suave beijo nos meus lábios.

— Também quero! — brinca Frida.

Retribuo o beijo e me recordo dos lábios do meu padrasto

encostando nos meus, me separando do meu namorado e dando um beijo na

bochecha de Frida.

— Isso é o máximo que você vai conseguir de mim — digo,

arrancando uma risada dela.

— Você está bem? — pergunta Collin ao meu lado, Frida foi

comprar sorvete para nós.

— Estou sim — minto, quero dizer a ele que não, não estou bem.

Que possivelmente ele estava certo de que seria um erro morar com

Frederic, e também quero dizer do beijo, mas sei que isso iria acarretar a
tragédias inimagináveis. Então me mantenho em silêncio, com ele passando

o braço sobre meu ombro e me apertando contra ele. — E você, parece

meio que aéreo, está tudo bem com seus pais?

Seu rosto se contorce e ele suspira, dando de ombros.

— Sim, está. Quero dizer, eu não sei. — Collin bufa e sorri. — Tudo

anda complicado para todos nós, menos para Frida, ela sabe deixar as coisas

leves e divertidas.

Concordo, vendo minha amiga se aproximar com três sorvetes e rio.

— É, Frida é a alegria em pessoa, mas voltando a você, não gosto de

vê-lo triste.

— Eu também não gosto de ver você triste, minha garota, mas

algumas coisas são impossíveis de mudar.

— Há dores que nem mesmo o tempo é capaz de curar — digo,

concordando com ele. Com certeza está triste porque seus pais não o

deixaram mudar o curso na faculdade.


— Aqui está — diz Frida nos entregando os sorvetes, pego o meu

que é de chocolate e passo a língua, sentindo o sabor, Collin me encara e

solta uma risadinha baixa, o que me envergonha. — Um milagre esta cidade

de merda estar fazendo sol, não vejo a hora de chegar as férias para ir ao

Brasil com meus pais.

— Vocês vão mesmo viajar? — pergunto.

— Sim, e você pode ir com a gente se quiser.

— Sem chances, vou usar as férias para estudar. Não quero repetir

em nenhuma matéria.

— Você é muito correta — diz minha amiga, revirando os olhos. —

E você, Collin, fará o que nas suas férias?

Ele toma um pouco do sorvete e me encara.

— Pretendo passar ao lado da minha namorada e impedi-la que seja

tão correta — diz, arrancando risadas de nós duas.

— E no que você está pensando para fazer isso? — pergunto.


— Estava pensando em irmos para o seu chalé, o que acha? Falta um

mês ainda, dá para pensar com calma.

Concordo, sorrindo, não quero negar de cara, até porque a ideia é

boa. Entretanto, faz muitos anos que não vou ao chalé, principalmente por

ser no meio da floresta.

— Vamos pensar na possibilidade — digo e ele sorri.

— Agora chega de tanta melação, e já que o dia está lindo, vamos

andar um pouco — diz Frida, começando a recolher as nossas coisas.

— O que? Pensei que quisesse ficar no parque — digo, levantando-

me do chão.

— Ah, me poupe, já ficamos bastante aqui, vamos aproveitar nosso

domingo.

Reviro os olhos e Collin se levanta, vestindo sua camisa.

— Eu gostava mais da visão sem — digo, mordendo o canto da

boca, ele sorri sem graça e beija minha testa.


— Eu também — confirma Frida já andando à nossa frente.

— Vá com calma, não estamos fugindo, estamos?! — grito para que

ela ouça.

Andamos e passamos ao lado do pequeno lago que tem no parque.

Jogo uma pedrinha na água e a vejo pular três vezes, até afundar. Collin

pega uma e faz o mesmo, nos divertindo com isso.

— Oi, Collin. — Ouço uma voz feminina atrás de mim e meu

namorado e eu nos viramos juntos, olhando a garota da festa de ontem que

havia falado com ele. Ergo a sobrancelha, sem entender e Collin a encara.

— Oi, Laura — diz sério. — O que está fazendo aqui?

— Apenas passeando pelo parque, aproveitando o sol que resolveu

aparecer — diz e se vira para mim. — Você deve ser a Estére, estou certa?

Fiquei sabendo sobre sua mãe, sinto muito.

Ela estende a mão e a aperto.


— Obrigada, muito prazer. — Sorrio e ela forma um sorriso largo,

voltando a encarar o meu namorado.

— Nos vemos na aula, até mais. — Se afasta logo em seguida, me

deixando confusa.

— É a garota da festa de ontem — digo, segurando a mão de Collin.

— Sim, uma coincidência e tanto ela aqui, não é? — diz, desviando

o olhar do meu. Fico sem entender, mas concordo, vendo Frida bem à

frente.

— Venham logo! — grita ao longe.

Encaro Collin uma última vez e ele continua com o olhar desviado

do meu, então seguimos andando atrás de Frida.

O restante do passeio é bastante tranquilo, pelo menos para minha

amiga e eu. Collin se manteve em silêncio o tempo inteiro, completamente

distraído do que dizíamos com ele.


Quando o sol começou a baixar e dar lugar as nuvens escuras e a lua,

decidimos pegar nossas coisas e irmos embora. Como viemos no carro do

meu namorado, ele deixou Frida em casa primeiro e ela se despediu de nós

com beijos no rosto, dizendo que nos via na aula de amanhã. Logo depois

disso, seguimos para a minha casa, quietos.

— Você ficou estranho depois que encontramos Laura — digo. —

Aconteceu algo que eu deva saber?

— Não é nada, só estou um pouco cansado — responde, mas sei que

está mentindo. É como se eu pudesse sentir isso.

— Ok — concordo, afirmando com um movimento da cabeça,

sabendo que se realmente Collin esconde algo, uma hora ou outra eu irei

descobrir.
Me despeço do meu namorado com um beijo molhado e, assim

que entro, vejo seu carro se afastar. Olho ao redor da casa e tudo está

organizado. Procuro Frederic pelo andar debaixo e não o encontro, o que é

um alívio, subo a escada nas pontas dos pés e vejo a porta do seu quarto

entreaberta. Me esgueiro e dou uma olhada, notando que ele também não

está aqui, então sigo pelo corredor e entro para o meu quarto.

Tiro minhas roupas e decido tomar um banho, sigo para a banheira e

relaxo um pouco. Passo a bucha pelo meu corpo e lavo meu cabelo,
sentindo-me relaxada. Assim que termino, saio e me seco, enrolando-me no

roupão.

Ouço a campainha tocar e estranho, sabendo que não estou

esperando ninguém e, pelo que sei, Frederic não está em casa.

Coloco uma toalha nos cabelos molhados e abro a porta. Sigo

distraída pelo corredor, então esbarro em um corpanzil forte e vejo que é

Frederic.

— Ah, meu Deus! — digo, envergonhada por estar apenas de

roupão. O agarro ainda mais contra meu corpo e Frederic fica de costas. —

Me desculpe, pensei que não estava em casa.

— Estava nos fundos da casa, acabei de subir e a campainha tocou,

deve ser a pizza que pedi para comer — diz, ainda virado. — Você se

importa se...

— Tudo bem — digo, ele se vira e me encara, com seus olhos

pousando sobre mim.


Fico sem graça e me encolho, notando seu olhar vidrado, então a

campainha toca de novo.

— Melhor eu ir atender — diz, olhando nos fundos dos meus olhos.

Concordo e ele desce, me deixando completamente sem graça e com

um calor além do normal, então sigo para meu quarto, me trancando.

Ouço uma batida à porta e ergo meu corpo, séria.

— Estére? — Ouço a voz abafada de Frederic. — Você ainda está

acordada?

Conto até três e decido atendê-lo, indo até a porta e colocando meu

corpo por trás dela, revelando apenas minha cabeça.

— Oi — digo. Frederic está com uma calça moletom que nem havia

reparado e camiseta preta. Os pés descalços. Nas suas mãos há um prato

com duas fatias de pizza e um copo com suco.

— Achei que iria querer comer — diz, estendendo em minha

direção. Fico surpresa com sua atitude e saio de trás da porta.


— Obrigada — respondo de maneira gentil após pegar o prato com o

copo. Ele sorri e fica parado, me encarando. — Posso ajudá-lo em algo?

— Podemos conversar? — pergunta. — Sinto que as coisas entre nós

estão estranhas depois do... bem, você sabe.

Quero dizer a ele que as coisas estão estranhas desde quando mamãe

morreu. Principalmente porque, sem motivo algum, sonhei que o beijava. E

ele me beijou, o que torna tudo ainda mais difícil.

— Desculpe, estou cansada e amanhã tenho aula, conversamos outra

hora.

— Vai ser rá... — fecho a porta antes que ele complete a fala e

encosto meu corpo na madeira, sentindo meu coração acelerar. —...pido —

completa e vejo por baixo sua sombra se afastar.

Fico parada por um tempo, então pulo para a minha cama com o

copo de suco e o prato com as fatias de pizza. Mordo a ponta de uma e não

consigo sentir o gosto de nada, ainda pensando no que aconteceu. Estou

ficando maluca, tenho certeza. Deve ser coisa da minha cabeça isso tudo.
Como apenas para forrar o estômago e assim que termino de beber

meu suco, escovo os dentes e me deito, pegando no sono imediatamente.

Já teve um sonho em que pensou ser real? Que na verdade, você está

acordada, sem conseguir tomar conta das suas reações? É o que sinto neste

momento.

Estou na sala da minha casa, apenas de lingerie. Estranho, pois

nunca fiz isso, principalmente em casa.

Então vejo um movimento na escada e me levanto, parando em

frente ao primeiro degrau e me ajoelhando, cabisbaixa. Olho os pés à minha

frente e percebo que são masculinos, meu olhar vai subindo pelas pernas e

vejo os pelos negros. Não é Collin, já havia visto os seus pelos que são

claros.

— Por que está de joelhos, Estére? — Ouço a voz rouca e excitante

do meu padrasto e engulo em seco, nervosa.


— V-você me pediu — digo, ainda de cabeça baixa. Ouço sua

respiração pesada e ele estende as mãos para mim, comigo as segurando

com firmeza.

— Levante-se, não é preciso uma coisa dessas. — Concordo, ainda

de cabeça baixa e ele me guia pela sala, passando pelo corredor e entrando

na biblioteca. — Sente-se naquela poltrona.

Ele aponta para uma poltrona grande e larga, com o estofado claro,

cheio de desenho de flores e toda revestida em madeira maciça, na cor

mogno.

O obedeço e me sento, então Frederic para na minha frente e vejo

seu olhar sério, com seus olhos revelando um fogaréu incomum.

— Gosta do que vê? — pergunta, levando minhas mãos pelo seu

peitoral. É forte, sua pele é quente, e os músculos firmes.

— Sim, eu gosto muito.

Ele sorri e lambe os lábios.


— E Collin sabe disso? Ele sabe que você anda querendo me dar? —

diz, de maneira lasciva, o que me deixa confusa. — Me responda, Estére.

— Não, ele não sabe — digo, sem graça.

— Assim como a sua mãe, não é? Você é uma vadiazinha querendo

dar para o seu próprio padrasto! — vocifera. De repente, seu rosto se

transforma e vira o de mamãe, que acerta um tapa no meu rosto e acordo

pulando da cama com o susto.

Sento-me, tentando raciocinar. Recordo do pesadelo e suspiro,

colocando minha cabeça entre as minhas pernas.

— Você está ficando louca, Estére, só pode ser isso — digo para

mim mesma. — Pare de pensar essas coisas, é só uma semana difícil, você

perdeu sua mãe e está encontrando refúgio nos braços errados.

“Nos braços do pecado”.

Só pode ser loucura, com certeza!

*
Me troco e saio de casa sem comer, ansiando o momento de chegar à

faculdade. Como Collin e eu nos resolvemos por hora, ele me busca, e

assim que me vê, dá um beijo na minha testa. Apesar de ter sido um sonho

o que tive, me sinto estranha, como se estivesse traindo-o, o que não é

verdade, certo? Sonhos são sonhos, não realidade.

“Sonhos são coisas que desejamos, não se faça de idiota. A própria

palavra já diz!” Meu subconsciente me alerta.

— Dormiu bem? — pergunta Collin dirigindo. — Parece cansada.

— Tive um pesadelo — digo, me arrependendo logo em seguida.

— O que foi?

— Ah, nada de mais, só sonhei com mamãe — digo. — Besteira.

Fico em silêncio e ele não insiste no assunto, o que me deixa aliviada

e feliz. Se ele soubesse o que eu realmente sonhei...

— Certo, e sobre o que conversamos ontem, conseguiu pensar sobre

o assunto ou ainda não decidiu? — questiona estacionando o carro. Saímos


e o encaro.

— Sobre o chalé?

— Sim — diz.

— É, vai ser legal — digo.

“Melhor do que passar dentro de casa com meu padrasto.”

— Isso! — diz, animado, e vem para o meu lado, entrelaçamos

nossas mãos e ele forma um sorriso largo. — Quero que seja os melhores

dias da sua vida.

— Dias? — pergunto, curiosa.

— Sim, vamos passar uma semana lá, ou um mês, o que acha?

Estaremos de férias, não teremos com o que nos preocupar.

Sorrio e concordo, apreciando a ideia.

— Vamos pensar sobre isso — digo.

Ele sorri e seu sorriso some quando entramos na faculdade e Laura

passa por nós, acenando.


— Preciso ir agora, amor, nos vemos no intervalo. — Collin sai

andando sem ao menos me dar um beijo e fico sem entender, encontrando

Frida.

— Bom dia, amiga — digo, passando meu braço em torno do seu.

— Péssimo, estou com cólica e só quero chocolate e assistir a

alguma série na Netflix — diz.

Dou risada e aperto seu braço.

— Você pode ir para casa, se quiser, converse com seus pais e me

avise, o que acha?

— Ai, seria fantástico! Falarei com eles na hora do intervalo — diz.

Concordo e entramos para a sala, nos posicionando nos nossos

lugares e prestando atenção nas aulas.

Porém, mais uma vez, me vejo perdida em pensamentos sobre os

meus sonhos e a estranheza de Collin.

Será que realmente ele está me escondendo alguma coisa?


As primeiras aulas passam rapidamente e quando chega o

intervalo, encontro Collin e Laura conversando. Assim que me aproximo,

ela me encara, acena, e em seguida se afasta.

— Viraram amigos mesmo, hein? — comento, com ciúme. Collin

me encara e sorri.

— Está com ciúme, minha garota? — pergunta aproximando meu

corpo do seu.

— Talvez eu esteja — digo.


— É assim que me sinto todos os dias em saber que você mora com

seu padrasto — diz, acariciando meu rosto. Afasto sua mão e o encaro.

— Frederic é meu padrasto, Collin, você mesmo acabou de dizer

isso. Por que esse ciúme?

— Porque ele é homem, Estére. Assim como eu sou. Acredite, a

maioria de nós não pensamos coisas muito boas quando vemos uma mulher

linda e gostosa como você.

Fico calada e vejo Frida se aproximar, sorrindo.

— Meus pais deixaram, então assim que sairmos daqui, vou embora

para organizar minhas coisas e encontro você na sua casa às 18h. Quero

pizza e brigadeiro.

— Combinado — digo animada, ter outra pessoa naquela casa fora

Frederic será bom.

Ela dá pulinhos de alegria e vamos comprar alguma coisa para

comer, esquecendo completamente a conversa anterior com meu namorado.

*
Entro em casa e ouço um barulho na cozinha, sigo até ela e vejo

Frederic parado organizando as compras no armário.

— Oi — digo, ele se vira para mim e forma um sorriso.

— Oi, Estére.

— Só queria avisar que teremos visita mais tarde — digo, cruzando

as mãos uma na outra. — Frida vem dormir aqui.

— Tudo bem, quer que eu prepare alguma coisa para vocês

comerem? — pergunta, me encarando. Seus olhos brilham.

— Não precisa, pediremos uma pizza para comer. Ela pediu

brigadeiro, mas é fácil de preparar.

Ele concorda e fica me olhando.

— Quer que eu faça? — pergunta.

— Não, tudo bem, eu faço.

— Tem certeza?

Concordo e me viro, pronta para sair.


— Estére — chama, vindo até a mim a passos largos e segura meu

braço. O ponto em que sua mão encosta queima minha pele.

— O que foi? — pergunto, me virando, sabendo do que ele quer

falar.

— Podemos conversar?

Fico olhando Frederic por um minuto inteiro e sei que não vai

adiantar tentar me esquivar dele por muito tempo.

— Tudo bem — respondo, ele concorda e volta para a cozinha, o

sigo e me sento. Frederic se senta de frente para mim e me encara.

— Quero me desculpar novamente pelo ocorrido.

— De qual parte estamos falando? — questiono. — Porque, pelo que

me lembro, você chegou bêbado da primeira vez e conversamos sobre isso.

— Eu sei — ele suspira, sua respiração é pesada; seu peito desce e

sobe rapidamente —, mas prometo que dessa vez será diferente, irei evitar

ao máximo beber.
Concordo, fingindo que acredito.

— Você tem vinte e oito anos, Frederic, um homem formado, pode

fazer o que quiser da sua vida. Desde que isso não me prejudique.

Ele concorda e estende a mão em direção à minha, recuo, colocando

meus braços sobre o meu colo.

— Desculpe — diz. — Me perdoe pelo beijo, não foi o que pareceu,

eu realmente vi o rosto de sua mãe. Eu estava muito bêbado e você sempre

se pareceu muito com Jolie.

Concordo, tentando acreditar no que diz.

— Sinto muito, de verdade, não queria que passássemos por isso —

digo.

Ele concorda, cabisbaixo.

— Então, nos resolvemos? — Ele volta seus olhos para mim e vejo o

brilho intenso nas suas írises.


— Se você preparar aquele brigadeiro para Frida e eu, estaremos

resolvidos sim — digo, sorrindo. Ele ri e se levanta.

— É para já! Tem que estar frio na hora que ela chegar.

Concordo e rapidamente Frederic começa a ir atrás dos ingredientes,

pega a manteiga, achocolatado e leite condensado. Vejo-o acender o fogão

cooktop e colocar a panela sobre ele. Logo os ingredientes estão nela e ele

começa a mexer, conosco em silêncio.

— E as aulas vão até quando? — pergunta criando assunto enquanto

mexe a colher.

— Até o final de novembro, eu acho. Não vejo a hora de entrar de

férias.

— E você já tem planos?

— Collin quer passar uns dias no chalé — digo, ele me encara e

concorda, desligando o fogo.

— Está pronto — diz.


— Você realmente é rápido — digo levantando e me aproximando da

panela.

— Ah, isso é o fogão. Posso ser quente, mas quem fez tudo foi o

fogo — fala malicioso e ignoro, levando meu olhar para a panela.

— Parece delicioso — digo.

— Quer provar? — pergunta pegando uma colher e colocando um

pouco.

— Claro — digo. Vou pegar a colher e acabo derrubando o

brigadeiro quente no meio do dedo. — Ai! — digo, sentindo queimar.

Frederic solta a colher e segura minha mão, proferindo um palavrão

baixo.

— Desculpe, deixe-me ajudá-la — diz assoprando minha pele. Sinto

o seu hálito frio no meu dedo e rapidamente alivia. — Melhor?

— Um pouco, obrigada. Agora só estou suja mesmo — digo, vendo

meu dedo com o brigadeiro.


— Isso não é problema — diz Frederic. Vejo-o ainda segurar minha

mão e aproximar mais seu rosto do meu dedo, ele o leva até a boca e o

engole por inteiro, limpando todo o doce. Meu corpo se arrepia e sinto uma

sensação estranha em meu ventre. Ele continua e passa a língua na

queimadura, tirando meu dedo de sua boca. — Viu, problema resolvido.

Frederic solta minha mão e vai na direção do armário em busca de

um prato como se nada tivesse acontecido, volta e me encontra na mesma

posição.

Ele me encara e estreita os olhos, sem entender, ou talvez está se

fazendo de desentendido.

— V-você — gaguejo.

— O que foi, Estére? — pergunta, me olhando.

— Preciso confessar uma coisa — digo.

— Claro, o que foi? — Seus olhos se estreitam e o brilho neles

aumentam.
— Sei que é errado o que vou dizer e que não deveria pensar essas

coisas — começo, criando coragem. —, mas eu gostei do beijo. — Frederic

me observa e fica em silêncio. — Me desculpe.

Saio da cozinha e subo em direção ao meu quarto, notando que

Frederic não me segue.

“Estou chegando, espero que esteja preparada para a noite de

garotas que teremos”.

Leio a mensagem de Frida e suspiro, pensando no que havia

acontecido na cozinha pouco tempo atrás. Frederic não me procurou, o que

de certa forma foi um alívio, afinal de contas, não saberia onde enfiar minha

cara. Penso onde estava com a cabeça para confessar a ele que eu havia

gostado do beijo, algo que foi completamente inédito até mesmo para mim.

Ouço meu celular apitando e o pego, lendo uma mensagem de

Collin.

“Precisamos conversar, podemos?”


“Desculpe, agora não dá, Frida já está chegando. É algo muito

sério?”

“Não, tudo bem, nos falamos outra hora.”

“Ok, eu te amo.”

Envio a mensagem e a olho, questionando-me se realmente amo

Collin como antes.

Frida entra com um enorme sorriso, olhando em volta da sala.

— Quanto tempo que não venho aqui — diz analisando cada detalhe,

ela vai até o aparador e vê os porta-retratos com as fotos de nós mais novas,

quando ainda cursávamos o ensino médio.

A conheci quando tinha treze anos. Desde que a conheço, Frida

nunca soube o paradeiro da sua mãe biológica, assim como eu nunca soube

do meu pai. Quando éramos adolescentes, brincávamos por conta de eu ter

mãe e ela não, e ela ter dois pais e eu não ter um sequer. Pensando agora

nisso, vejo o quanto é deprimente.


— Você realmente tem a cara da tia Jolie — diz pegando um porta-

retratos que estou com minha mãe e Frederic. Concordo e sorrio.

— Ao menos a puxei na beleza — digo e rimos. Somos tiradas do

momento descontraído quando Frederic sai da cozinha e encara minha

amiga, sorrindo.

— Frida, como está bonita — diz se aproximando e a abraçando, ele

dá um beijo no seu rosto e me encara, deixando-me desconfortável.

— Oi, Fred. Obrigada, você também não está nada mal, ainda mais

para quem acabou de ficar viúvo — diz, me encarando. — Desculpe, não

quis ser indiscreta.

— Não foi, mamãe se foi e estamos aqui, sei que ela iria querer que

seguíssemos em frente. — Sorrio, pensando que ela iria querer isso mesmo,

só não iria desejar que eu saísse por aí querendo provar do beijo do seu

marido.

— É verdade, Jolie era maravilhosa. E obrigado pelo nada mal,

Estére tem cuidado bem de mim — diz Fred, sorrindo e piscando. Frida
concorda com um movimento da cabeça e ele cruza os braços. — É melhor

eu ir nessa, não quero atrapalhar a noite das garotas. Até mais.

Murmuro um “tchau” e vejo Frida olhando para sua bunda.

— Você é mesmo uma safada — digo.

— Qual é, o cara é gostoso pra cacete. Se eu morasse sozinha com

ele, me desculpe, mas já teria sentado.

— Frida! Estamos falando do viúvo de mamãe.

— E que Deus a tenha. Amava sua mãe e você sabe disso, sinto

muito mesmo pela morte dela, mas não podemos negar que Frederic é

lindo. Vai dizer que nunca o observou melhor?

Quero dizer a minha melhor amiga que sim, eu observei. Até mesmo

seus pelos pubianos e seu peitoral. E claro, seus lábios, mesmo que não

tenha sido de uma maneira convencional. Porém, me mantenho em silêncio,

revirando os olhos e a puxando em direção a escada e indo para meu quarto.


— Bem, prefiro não pensar nele dessa maneira — minto para ela, o

que me incomoda.

— Você que sabe, agora me diga o que vamos assistir.

Ligo a televisão e coloco na Netflix.

— Que tal vermos um filme bobo enquanto pedimos a pizza?

Assistimos filmes bobos na Netflix, comemos pizza e o brigadeiro

que Frederic fez, que por sinal, ficou delicioso. Quando é um pouco mais de

meia-noite, Frida se ajeita na minha cama e dorme rapidamente. Contudo,

comigo é diferente. Fecho os meus olhos e viro de um lado para o outro na

cama, não conseguindo dormir.

Levanto-me sem fazer barulho e vejo minha amiga roncar, saio do

quarto e desço até a cozinha, abro a geladeira e pego a garrafa com água.

— Outra noite sem sono, Estére? — Me viro e vejo Frederic

entrando na cozinha com o peitoral descoberto e o cós da calça de moletom

um pouco abaixo do normal.


— Sim, não consegui dormir — digo, tentando não fixar meus olhos

nisso.

— Nem eu — diz, vindo em direção à fruteira, pega uma maçã e a

morde, me olhando com um sorriso. — Frida já está dormindo?

— Sim, somente nós estamos acordados — digo, como se essa

informação fosse algo importante. Ele concorda e sai em direção ao

corredor. Fico sem entender e decido segui-lo, Fred sobe a escada e entra no

seu quarto. Paro em frente à sua porta e ele me olha.

— Boa noite, Estére — diz, fechando-a.

Fico incrédula com sua atitude e me sinto chateada, então vou para o

meu quarto e me deito, forçando-me a dormir.


Ouço o carro de Collin estacionar em frente à casa e Estére sair

às pressas com Frida para a faculdade. Não saio do quarto, então ouço a

amiga da minha enteada perguntar sobre mim e Estér dizer que talvez eu já

tenha ido para o trabalho, o que ela sabe que é mentira. Normalmente vou

para a oficina depois das 8h.

Quando o carro sai em disparada, abro a porta do quarto e me vejo

sozinho no corredor. Sigo para o andar debaixo e preparo um café forte,

tomando e comendo alguns biscoitos. Assim que finalizo minha refeição,


saio em direção à garagem e sigo para a oficina, pensando em Estére e no

que vem acontecendo.

Minha enteada está flertando comigo e eu estou gostando disso,

contudo, algo me impede de tomar alguma atitude sobre o assunto. Não

posso simplesmente esquecer que era casado com sua mãe. Mas vê-la me

olhando de maneira diferente e ter dito que gostou do beijo involuntário que

havia rolado entre nós, me deixa excitado.

Porém, na mesma proporção que me sinto excitado, me sinto um

verdadeiro canalha. Primeiro, não havia nem um mês que minha esposa

havia falecido, segundo que minha esposa era a mãe de Estére, o que deixa

tudo ainda mais confuso. E terceiro, ela namora.

Penso se as coisas fossem diferentes. Se eu namorasse com Estére ao

invés de Jolie? Estaríamos juntos neste momento lamentando a morte da

minha “sogra”?

É claro que isso seria impossível, já que, quando conheci Jolie,

Estére era apenas uma criança.


— Que pensamento nojento, Frederic Cooper — digo para mim

mesmo. — Como pode pensar em Estére desse jeito? Ela é sua enteada há

anos, jamais pensou nela dessa forma antes, por que agora?

Suspiro, frustrado. Realmente gostaria de encontrar respostas para

essas perguntas, no entanto, não acho.

— Foco, Fred, pense no que pretende fazer de agora em diante.

Vejo que já estou em frente à minha oficina e rapidamente saio do

carro. Jack está mexendo no carro de Estér.

— Bom dia, chefe — diz, secando o suor da testa.

— Para você, Jack — digo. — Quais as novidades sobre esse carro?

— Encontrei um motor, mas não funcionou, tive que fazer o pedido

de outro e vai demorar alguns dias para chegar.

— Que merda! — profiro, irritado. — O movimento melhorou?

— Do mesmo jeito — diz me encarando, percebo a angústia no seu

olhar.
— Não se preocupe, tenho dinheiro, não irei mandá-lo embora, você

é meu braço direito neste lugar.

Ele aquiesce e fecha o capô do carro.

— Obrigado, chefe — diz.

Sorrio.

— Se não tiver mais nada para fazer, pode tirar um dia de folga,

aproveita o tempo bonito e leve sua esposa para passear com seus filhos.

Jack me olha com gratidão e assim que termina seu trabalho, se

despede de mim e sai, indo embora. Fico sozinho e entro no carro de Estére.

Sento-me no banco dianteiro e coloco minha cabeça sobre o volante,

pensando nela ali dentro. Solto um suspiro, a frustração toma conta de mim

e olho para o teto, sentindo lágrimas descerem dos meus olhos.

— Por favor, Jolie, me perdoe — digo, secando-as. — Não quero

pensar em Estére desse jeito, mas não consigo controlar o desejo que tenho

sentido por ela.


Coloco as mãos sobre o meu colo e sinto meu pau duro. Concentro-

me para que passe a ereção, mas é impossível, então, em uma súbita

loucura, abro o zíper da calça e abaixo a cueca, o pegando. Vejo a

lubrificação do meu membro e me excito ainda mais, esqueço todos os

meus medos, receios e a loucura que vem acontecendo na minha vida com

minha enteada e me masturbo, gozando com o pensamento em Estére.

Me recomponho e anseio que esses pensamentos e a minha ação não

me atormentem.
A aula é chata, para variar. Na verdade, desde quando retornamos

as aulas após as fortes tempestades, vêm sendo chatas. Isso, é claro, deve

ser porque não consigo me concentrar completamente ao que está

acontecendo.

Assim que terminam as primeiras e vamos para o intervalo, saio com

Frida e seguimos para a fila a fim de comprarmos alguma coisa para

comermos.

— Eu adorei passar a noite na sua casa, amiga, obrigada — diz

pegando nossas saladas. Sorrio e concordo.


— Eu também adorei, quando quiser, podemos repetir.

Ela concorda e vamos para uma mesa vaga, com Collin vindo em

nossa direção um tanto sério.

— Podemos conversar? — pergunta, com os braços dentro da

jaqueta azul. Como a salada e concordo com um movimento, apontando a

cadeira vazia à minha frente. — Aqui não, tem que ser em particular.

— O que houve? — pergunto após engolir a salada. Seu olhar é sério

e triste, e fico pensando se ele descobriu que Frederic me beijou e eu havia

gostado.

— Só termine de comer logo, ok? Tenho que te contar uma coisa.

Olho para Frida, que está sem entender e concordo com um menear

de ombros, comendo o mais rápido possível.

— Nos vemos na próxima aula, até mais — me despeço da minha

amiga e sigo Collin, que anda à frente um pouco cabisbaixo. Continuo sem

entender sua atitude, mas resolvo dar o braço a torcer, curiosa para

descobrir o que tem a me contar.


Nos afastamos do campus e nos sentamos em um banco. Collin

coloca a cabeça entre as pernas e suspira, parecendo frustrado.

— O que foi que realmente aconteceu, Collin? Estou ficando

preocupada.

Novamente o pensamento de ele ter descoberto sobre o beijo

involuntário entre Frederic e eu me causa arrepios.

— Eu te amo, Estére — começa.

— Eu também te amo, Collin — digo. — E apesar de estarmos

brigando mais do que o normal, quero ficar com você. Quero fazer essa

viagem ao chalé para aproveitarmos.

Sorrio e percebo que ele não esboça reação alguma, o que me deixa

ainda mais confusa. Não era ele que queria tanto transar comigo?

— Me diz o que está acontecendo, Collin. São seus pais? Eles ainda

estão implicando com você por querer mudar de curso?


Ele nega com a cabeça, vira seu olhar para mim e vejo lágrimas

escorrendo por eles.

— Me perdoe, por favor — pede, o que me faz continuar sem

entender.

— Perdoar pelo quê?

— Eu te traí, Estére.

É como se suas palavras fossem pequenas gotículas de neve que

encostam em minha pele e queimam por causa da sensação gelada. Fico

parada, estarrecida, sem conseguir acreditar no que ele diz.

“Eu te traí, Estére.”

Me traiu.

Collin havia me traído.

— O quê? — Não quero acreditar no que ele diz, só pode ser

mentira. Tenho certeza. Nosso amor seria mais forte que isso, não seria?

Então percebo o quanto sou idiota em dizer isso.


Amor... que amor?

Se realmente existisse isso entre nós, Collin não teria me traído e eu

não estaria sentindo atração por Frederic. Não existe mais amor entre nós.

— Foi na festa — comenta. — Pouco antes de você chegar.

— Você transou com ela ou só se beijaram?

— Só se beijaram? Isso eu faço com você, Estére — fala com

desdém.

Concordo, entendo o que ele quis dizer.

Então realmente ele transou com uma garota na festa da qual eu fui

depois e ficamos juntos, me divertindo e ele ao meu lado, como se nada

tivesse acontecido.

Será que ele não tem nem um pouco de remorso por isso?

— Quem é ela? — pergunto, ele me encara ainda em lágrimas. —

Por favor, pare de chorar, é ridículo até para você.

— Estou arrependido — diz, com a voz embargada.


— Arrependido? Ora essa, você tem coragem de me trair e depois

que goza vem me dizer que está arrependido?! — grito, nervosa. Eu poderia

ter gostado do beijo de Frederic, mas nunca transamos. Nunca transaríamos.

Nunca trairia Collin.

Foi Fred que me beijou.

— O que eu posso dizer? Eu implorei diversas vezes para transarmos

e você simplesmente não quis.

— Eu não estava preparada! E agora quer colocar a culpa em mim?

— Me levanto, tremendo de nervoso. — Se nosso relacionamento era isso,

então fomos um erro.

Ele se levanta e concorda.

— Realmente, se quer saber, foi com a Laura que transei, e foi um

dos melhores sexos que fiz na vida. Uma pena não a ter levado para minha

cama, perdi minha aposta.

Fico surpresa ao ouvir tudo o que diz.


— Espera aí, você está dizendo que...

— Sim, meus amigos e eu fizemos uma aposta para saber se eu

conseguiria levá-la para a minha cama. Porém, comecei a me apaixonar de

verdade por você. Me perdoe por isso também, mas realmente não estamos

bem já faz um tempo.

— Eu perdi minha mãe, seu babaca! Como quer que eu fique? — Me

aproximo dele e cuspo no seu rosto. — Eu tenho nojo de você, está tudo

acabado entre a gente.

Dou as costas, pronta para seguir em frente e Collin segura meu

braço.

— Estére...

Viro-me e desfiro um soco no seu rosto, fazendo ele se contorcer de

dor e eu gritar.

— Merda! — vocifero, segurando meu punho. Saio às pressas,

seguindo em direção à faculdade e começo a chorar de dor e tristeza.


Assim que entro, sigo até a minha sala e pego minha bolsa,

ignorando o professor falar comigo. Frida me encara e se levanta, também

pegando suas coisas.

— Srta. Bohringer, onde pensa que vai? Vou reportar essa atitude

para seus pais!

— Então fique à vontade e eu digo que você deu em cima de mim,

em quem você acha que eles vão acreditar? — pergunta ela, no meio do

corredor em voz alta. O professor arregala os olhos e saio andando,

cabisbaixa e com dor no meu pulso. — Estére, espere!

Minha amiga se aproxima e me segura, olhando-me.

— Não estou bem, Frida, conversamos outra hora.

— O que foi que houve? — pergunta.

— Collin e eu terminamos, ele me traiu com a Laura. A vadia da

festa.
— O quê? — Vejo a fúria tomar conta de minha amiga e quando nos

viramos, Collin passa pelo corredor, o rosto vermelho e os cabelos

bagunçados. — Seu desgraçado, eu vou te arrebentar!

Vejo Frida correr em sua direção e dar um forte soco no seu rosto, o

impacto é tão grande que Collin e ela caem ao chão.

— Frida, não! — grito correndo em sua direção. Não demora e o

corredor está cheio de pessoas aglomeradas, vendo a confusão que está

ocorrendo. Vejo minha amiga bater ainda mais em Collin e ele se manter

parado, apenas cobrindo o rosto que está ensanguentado, com seus braços.

Ao menos não é um agressor covarde. — Frida, por favor. Será que alguém

pode me ajudar?

— O que está acontecendo aqui? — Ouço a voz de Viktor, o pai da

minha amiga e logo atrás Stefan, o seu outro pai. — Frida Bohringer, o que

pensa que está fazendo?

Vejo minha amiga parar de bater em Collin e se levantar, séria.


— Ele traiu a Estére, papai, me desculpe em causar esse alvoroço,

mas...

— Mas o quê, Frida? — questiona Stefan. Seu segundo pai é alto, da

pele clara e careca. — Por conta de Estére ter sido traída, você acha que tem

o direito de agredir esse rapaz? Ele pode nos processar, você sabia?

Todos nos olham, a vergonha estampada em nossos rostos. Só pode

ser mentira. Se isso for um sonho, que eu acorde. Agora a faculdade inteira

sabe que Collin me traiu.

Não poderia ser melhor.

— Quero os três na minha sala agora — diz o senhor Stefan

apontando para Collin, Frida e eu.

— Posso ir à enfermaria antes? — questiono, sentindo cada vez mais

dor.

— Você se machucou, querida? — pergunta Viktor, ele segura minha

mão e a analisa.
— Dei um soco no Collin, mas não foi no campus.

— Mas é agressão igual, querida — diz Viktor, sincero. — Tudo

bem, vão os três para a enfermaria e depois sigam para a sala do diretor. O

resto de vocês voltem para suas aulas e evitem aglomeração nos corredores,

não tem nada a ser visto aqui.

Collin se levanta e vejo seu rosto machucado, o que de certa forma

me deixa feliz e chateada.

Seguimos os três em silêncio para a enfermaria e tento verificar se

Frida está machucada. Assim como eu, apenas sua mão está inchada, em

decorrência dos socos que ela deu no meu ex-namorado.

Ex-namorado. Como soa estranho pensar isso.

Minutos atrás estávamos juntos, e agora tudo simplesmente mudou.

— Meu Deus, o que houve com vocês? — pergunta uma enfermeira

assim que nos vê. Ficamos em silêncio e ela pede ajuda a duas colegas, que

atendem Frida e eu, enquanto ela cuida dos machucados de Collin.


— Sinto muito colocá-la no meio dessa encrenca — digo a Frida,

que está à minha frente com a moça analisando sua mão.

— Vou ter que pedir um raio-x das duas. As mãos estão inchadas

demais e podem ter quebrado algo.

— O que? Eu só dei um soco nele, como quebraria a mão por isso?

— Ah, querida, eu já vi pessoas escorregarem e quebrarem o pé. Eu

vou fazer o raio-x.

— Tudo bem — digo, desanimada, sem muitas opções. Encaro

Collin e vejo a mulher fazer os curativos, Frida e eu seguimos as

enfermeiras e ele desaparece da minha visão, mostrando-me que nossa

história está encerrada de uma vez por todas.


Depois do término com Collin, os dias seguintes passam

rapidamente e me sinto perdida. Minha mão já está se recuperando. Por

sorte, Frida e eu não as quebramos, apenas uma luxação e nada mais.

Ganhamos uma suspensão de três dias na faculdade, o que para mim foi um

verdadeiro inferno, ainda mais que faltava pouco para entrarmos de férias.

Agora que não tinha mais Collin para me buscar e a droga do meu carro não

ficara pronto, Frida que me busca para irmos juntas para a faculdade.
Evito ao máximo Frederic, a fim de que ele não saiba que estou

solteira, contudo, sei que quando menos esperar, ele irá saber, afinal, a

cidade toda já está sabendo do ocorrido na faculdade. De que fui traída.

— Que tal sairmos hoje à noite para bebermos um pouco e

dançarmos? — pergunta minha amiga seguindo a estrada para a faculdade.

— Não sei, ainda estou pensando na suspensão que seu pai nos deu

e, claro, no seu castigo.

— Não se preocupe, eles disseram que não vamos para o Brasil nas

férias, mas sei que no fim, mudarão de ideia. Você conhece meus pais, eles

sempre foram assim, apenas nos deram a suspensão de três dias porque

papai é diretor e diriam sobre favoritismo.

— Espero que esteja certa — digo, ela concorda, sorrindo.

— Pai Viktor não vai muito com a cara do Collin, pai Stefan não vai

com a dos pais, mas ainda estão com medo deles quererem processar nós e

a faculdade, é claro, o que causaria sérios problemas, mesmo Collin

Arrombado, ter dito que não faria isso.


Dou risada da maneira que ela diz e concordo.

— Você está certa, preciso mesmo esfriar minha mente, ainda não

consigo aceitar o fato de que Collin transou com a Laura quando eu estava

no começo do meu luto.

Ela concorda, me encarando.

— Sério, já que vocês terminaram e não vai ter mais chalé, por que

não vem para o Brasil?

Com toda a confusão que anda acontecendo, nem me lembrava que

não iria para o chalé mais.

— Não, é sério, aproveite sua viagem com seus pais, se realmente

ela acontecer.

Ela ri e concorda.

— Vai acontecer, gatinha, escute o que estou dizendo.

As aulas passam tranquilas demais, não encontro Collin e parece que

as pessoas haviam começado a esquecer que eu era a garota de luto e agora


sou a garota do ringue e claro, a traída.

Depois do intervalo, na última aula, sou chamada na sala do diretor,

o que me deixa nervosa.

“Ele mudou de ideia e vai me expulsar. Os pais do Collin com

certeza resolveram processar a faculdade e agora eu.”

Tento não pensar nisso e assim que entro na sala do diretor, sou

surpreendida com Frederic sentado de frente para Stefan e Viktor.

— O quê... — sussurro.

— Estére, bem-vinda, sente-se, por favor — diz Stefan apontando a

cadeira ao lado do meu ex-padrasto. Ou padrasto. Eu já nem sei como devo

chamá-lo.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, ao me sentar.

— Nada de mais, querida, não tem com que se preocupar — diz

Viktor, sorrindo.

— Ok — digo, sem muito o que dizer.


— Deve estar se perguntado o que está fazendo aqui, não é? —

questiona o diretor. Concordo e ele sorri. — Bem, chamei seu padrasto

para...

— Ele não é mais meu padrasto — o corto. Frederic me encara e

Stefan e Viktor ficam sem entender. — Quero dizer, minha mãe morreu, o

elo que tinham acabou. Só não é mais o meu padrasto.

— Entendemos, querida, mas sua mãe, antes de morrer, deixou um

documento registrado alegando que o senhor Cooper é seu responsável em

qualquer virtude que fosse preciso — diz Stefan.

— O que? Do que é que estão falando? Eu já sou maior de idade,

posso resolver meus problemas sem ter alguém tentando limpá-los.

Frederic se mantém em silêncio e pigarreia.

— Quais problemas você está dizendo? Porque não vim aqui para

tratar sobre a agressão ao seu ex-namorado. Vim conversar com o diretor e

seu marido para você poder aplicar as provas finais.

— Aplicar as provas finais? O que isso quer dizer?


— Bem, o conselho de classe queria que além da suspensão, você

fosse impedida de fazer as provas — Stefan conta. — Eu tentei de todas as

formas mudar isso, alegar que está passando por um momento difícil pela

morte de sua mãe, mas eles não me deram ouvidos, já que você foi vista em

uma festa recentemente. Consegui reverter a situação apenas de Frida, o que

foi uma dor de cabeça e tanto. Mas você não foi fácil.

— Foi aí que ligamos para sua casa e encontramos Frederic —

comenta Viktor. — Como na sua inscrição mostra que ele é o responsável

por você quando sua mãe morreu, pedimos para ele vir até aqui.

— Então não irei fazer as provas? Vou perder meu ano todo por

causa do babaca do meu ex-namorado e um soco?

— É aí que eu entro — diz Frederic. — Eu mesmo conversei com o

conselho e dei uma ajuda de custo alta para a reforma e melhora de algumas

partes do campus, então eles mudaram de ideia e deixaram você fazer as

provas.

Fico em silêncio ao ouvir isso.


— Então eu corria o risco de não fazer as provas — digo,

processando a informação.

— Exatamente, Estére, mas Frederic resolveu isso para você.

— Pago uma nota para estudar e ainda tenho que dar dinheiro porque

senão, não farei as provas — digo, mais para mim do que para eles. —

Certo, obrigada por fazerem eu não perder as provas, se isso acontecesse,

seria um ano difícil.

Eles concordam e Viktor sorri.

— Agradeça a Fred, agora preciso ir nessa, tenho aula para dar.

Concordo e encaro Frederic, que sorri.

— Obrigada — digo, sincera. — Você realmente me salvou.

— Não agradeça tão rápido, estamos um pouco mais pobres, mas

nada que interfira no nosso futuro.

“Nosso futuro...”
— Isso é o de menos, o que acho um absurdo é eles criarem motivos

para arrancar dinheiro nosso, isso não seria antiético? — Saio da sala do

diretor com Fred me seguindo.

— Na verdade eu que fui antiético ao oferecer o dinheiro, apenas

estava querendo ajudar, não está sendo fácil para ninguém — diz. — A

oficina quase não está virando nos últimos dias.

Fico surpresa em ele se abrir para mim e concordo.

— Bem, quando consertar o meu carro, vou pagar pelo serviço —

digo. Ele ri e concorda.

— Tenho que ir agora, nos vemos mais tarde em casa.

Concordo e ele sai, o chamo e Frederic me observa.

— Você sabia que minha mãe o colocou como o meu responsável

mesmo sabendo que não preciso de um?

Ele dá de ombros e me encara.


— Às vezes até a pessoa mais cabeça dura precisa de um pouco de

ajuda — diz e vai embora.

O restante do dia passou tranquilamente, e quando vimos, já está na

hora de irmos para casa. Frida comunica ao seus pais que vamos sair e eles

não se opõem, o que é ótimo, então entramos no seu carro e seguimos para

sua casa, para ela pegar suas coisas para a noite.

— Eu quase perco as provas finais por conta da confusão com Collin

— digo a ela enquanto escutamos uma música no rádio.

— Como assim? — pergunta.

Rapidamente conto a minha amiga o que houve e ela fica

boquiaberta.

— Ainda não consigo acreditar que mamãe pensou em tudo antes de

morrer e colocou Frederic como meu responsável. Sou maior de idade, e

ele? Temos oito anos de diferença, não é como se ele fosse o padrasto velho

rabugento.
Ela concorda e balança a cabeça em negativa.

— Ao menos ele ajudou você a não perder as provas, se isso

acontecesse seria nossa ruína.

— A minha, você quis dizer. Seus pais conseguiram na hora resolver

o seu problema. Parece que por eu não ter pais as coisas se tornam mais

difíceis.

— Ei, nem pense nisso agora — ela profere. — E seria a nossa ruína

porque eu repetiria para ficar ao seu lado.

— Perder um ano inteiro por causa de uma amiga? Eu não permitiria

que você fizesse isso.

— E nem eu faria, mas daríamos um jeito, o bom é que agora não

precisamos esquentar nossas cabeças com isso.

Concordo e logo paramos em frente à casa, que é um sobrado estilo

o meu; cercado na frente, com um jardim bonito e a garagem ao lado.

Saímos do carro e rapidamente entramos, com Frida subindo direto para seu

quarto.
Eu a sigo e encontro um ambiente com uma cama de casal,

penteadeira, closet, banheiro, televisão e uma escrivaninha. Nada de livros,

a não ser, é claro, os da faculdade.

— Me ajude a escolher um look bom para esta noite — diz abrindo o

closet e jogando diversas opções em cima de mim.

Vejo um vestido preto, brilhante e curto, uma bermuda clara, e outras

peças, não aprovando nenhuma.

— Dê mais opções — digo, ela concorda e de dentro, tira uma saia

curta.

— E se eu fosse de saia, o que acha? — questiona.

Penso por um momento e concordo.

— Vai ficar ótimo, vista-se para vermos.

Ela concorda e retira sua roupa, ficando apenas de lingerie. Não

demora e ela veste a saia, com salto alto, e uma blusa cheia de pelinhos

preta. Minha amiga solta o cabelo e rapidamente passa um batom preto.


— O que acha?

— Se eu fosse lésbica, te beijaria fácil — digo, rimos e ela concorda.

— Está decidido, agora precisamos ver algo para você.

— Pretendo ir de calça jeans e camiseta comum — digo, meneando

os ombros.

— Você não está maluca — diz procurando coisas pela cama. —

Teste esse vestido.

Encaro o vestido curto que reprovei ela usar e bufo.

— Por acaso vamos sair para dançar ou serei prostituta por uma

noite? — pergunto.

— Para de drama e coloca logo o vestido — diz, revirando os olhos.

Concordo e retiro minha roupa, vestindo a pequena peça que fica acima dos

meus joelhos, deixando minhas pernas desnudas. — Caralho, mulher!

Sinto a empolgação de minha amiga e vou até o espelho que tem no

seu quarto, me encaro e fico surpresa.


O vestido realmente cai muito bem em mim. Seu tecido de camurça

combina com minha pele. Vejo o modelo rodado no comprimento e as

mangas um pouco acima dos meus cotovelos. Na frente, contém duas fitas

de cetim, que pego e faço um laço, deixando-me surpreendida com o

enorme decote, que mostra meu sutiã de renda preto.

— Uau — digo, surpresa em como a roupa realça meu corpo.

— Você está linda, um arraso! — Frida está animada. — Aqui,

coloque essas botas de cano alto.

Ela me entrega o par de botas e vejo que também são de camurça,

coloco, vendo que o comprimento chega na minha panturrilha.

— É esta — digo, sorrindo.

Vamos para minha casa e encontramos Frederic, que prepara o

almoço para nós. Quando está pronto, ele nos chama e seguimos para a sala

de jantar. Fazia muito tempo que não usávamos aquele cômodo para
fazermos nossas refeições. Para falar a verdade, quase não comia, a não ser

besteira, é claro.

— Estão ansiosas para o término das aulas? — ele pergunta,

puxando assunto.

— Mais do que ansiosa — diz minha amiga. — Meus pais e eu, se

tudo der certo, e sei que vai, iremos ao Brasil, então imagine como estou.

Frederic concorda, mostrando um sorriso de tirar o fôlego de

qualquer garota.

— E você, Estére, o que pretende fazer agora que Collin e você

terminaram? — Seus olhos recaem sobre mim e mastigo a salada sem sentir

o sabor.

— Ainda não sei, talvez eu vá para algum lugar.

— Eu a chamei para ir com a gente, mas Estére é cabeça dura e não

quis — diz Frida.

Fico em silêncio e Frederic concorda.


— Sim, você tem razão, ela é muito cabeça dura.

Fico em silêncio e termino de comer.

Quando são onze horas da noite, Frida e eu já estamos prontas para

irmos a uma balada que fica na cidade. Apesar de aqui ser um lugar

pequeno, com poucas coisas para conhecer, algum gênio resolveu abrir uma

boate para divertir os jovens.

Termino de fazer a maquiagem e vejo minha amiga com o batom

preto e os olhos escuros; ela realmente está maravilhosa.

Passo um perfume que ganhei de mamãe e coloco um pequeno colar

que ela me deu, com um pingente que dentro tem as nossas iniciais; J&E.

Frida me olha e assobia.

— Se mais cedo você estava linda, agora você está linda e gostosa,

vai arrasar corações esta noite e mostrar para Collin que não precisa dele

para nada.

— Como assim “mostrar para Collin”? — questiono.


— Ouvi boatos de que ele estará lá — diz, desviando o olhar.

— Ouviu boatos ou você já sabia e quis me arrastar para lá?

— Isso mesmo — diz, sincera. — Sei que anda triste com esse

término e a morte de sua mãe, então achei legal sairmos e provar para

aquele babaca que você está bem.

— Mas você mesma acabou de dizer que não ando feliz — digo,

revirando os olhos e rindo. Ela ri comigo.

— Eu sei, mas você sabe como homens são superficiais e não

percebem nada, e esse vestidinho preto mostrará que você ainda está de

luto, mas vivendo.

— Até na cor do vestido você pensou?

— Não, isso eu pensei agora te analisando.

Rio e concordo, pego minha bolsa de mão com celular, documentos

e dinheiro.
— É melhor irmos logo se quisermos esfregar na cara de Collin o

que ele perdeu — digo, ela concorda e sorri.

— É isso aí, garota!

Saímos, fecho a porta e encontramos Frederic no corredor, pronto

para se deitar.

— Estamos de saída — digo.

Ele se vira para nós e me encara, de repente, sinto como se seus

olhos estivessem analisando cada parte do meu corpo, vidrados pelo que

estão olhando. Sinto meu corpo se arrepiar e me encolho, sentindo que seu

olhar sobre mim é algo diferente do que estou acostumada nesses anos.

Observo meu padrasto e noto que ele me olha de uma maneira

diferente; me desejando. E por mais incrível e nojento que pareça, eu o olho

igual.

— Terra chamando Estére — diz Frida. — Você ouviu?

— O quê?
— Frederic dizendo que estamos lindas, a propósito, obrigada pelo

elogio — diz, sorrindo. — Agora vamos.

Sou puxada pelo braço e encaro Frederic uma última vez, notando

que ele passa a língua nos lábios e entra para o quarto.

A balada está lotada. Diversas pessoas dançam descontroladas com a

música que toca. Outras já estão bêbadas, o que me causa repulsa. Como

alguém pode ficar bêbado tão rápido?

— Vamos na chapelaria deixar nossas coisas — diz Frida, concordo,

pego meu celular com o cartão e coloco nos seios, arrumando meu decote.

Não demora e somos atendidas, então vamos para o bar e peço uma

marguerita, enquanto Frida pede uma caipirinha.

Nossos copos nos são entregues e saímos, indo em direção a pista.

Bebo um gole e balanço meu quadril, rebolando. Noto alguns olhares

conhecidos da faculdade e não me importo que recebo a atenção deles.

Quero me divertir e farei isso.


Frida e eu continuamos dançando e assim que a música acaba, uma

nova começa, fazendo-me dançar de maneira sensual com ela. Ouvimos

gritos de pessoas indo à loucura e sorrimos, adorando a sensação de sermos

o centro das atenções. Então, ao longe, avisto Collin me encarando. Em

suas mãos contém uma garrafa de cerveja e seu pé está sobre a parede. Não

me importo com ele e continuo no ritmo, me sentindo livre e feliz.

Quando a canção se encerra, Frida e eu fazemos uma reverência e

todos nos aplaudem, gritando entusiasmados.

— Isso foi maravilhoso — digo, bebendo, ela concorda e sorri.

— Eu disse que iríamos arrasar nesta noite.

A abraço e sorrio.

— Obrigada por estar me ajudando a me distrair tanto esses últimos

dias.

— É para isso que irmãs servem — diz, piscando.


— Com licença, garotas, posso pagar uma bebida para vocês? —

pergunta um homem surgindo no meio da multidão e nos observando. Não

posso negar que ele é bonito e bastante atraente. Seus cabelos são curtos,

sua pele clara e o olhar cativante, mostrando seus olhos azul-turquesa. Vejo

que ele usa uma calça jeans, uma camiseta com estampa do Batman e uma

jaqueta de couro preta por cima. — Achei você fantástica, se não se importa

em eu elogiá-la — completa, me olhando.

— Obrigada — digo. — Aceitamos a bebida.

— O que gostam de beber? — pergunta.

— Está abafado, uma cerveja cairia bem — respondo, ele concorda e

não demora, entrega uma garrafa para cada uma de nós.

— Bem, eu vou ao banheiro, obrigada pela bebida — diz Frida, se

afastando, e entendo sua jogada.

— Qual é seu nome? — pergunta, curioso. Nos encostamos no

balcão do bar e estendo minha mão.

— Estére, e o seu?
— Estére? Que nome diferente, é muito bonito. Me chamo Dréck, é

um prazer conhecê-la.

Ele beija minha mão e sorrio.

— Obrigada pelo elogio, o seu nome também é bastante diferente —

digo. — O que significa?

— Ah, é uma coisa ridícula que você não vai querer saber — diz,

sorrindo de lado.

— Estou curiosa, me diz o seu, que digo o meu.

— Ok, vamos lá, mas não vale rir. — Concordo, bebericando a

cerveja. — Em alemão, Dréck é nada mais nada menos que “sujeira”, é, eu

sei, é ridículo.

Ele ri e o acompanho, sabendo que realmente é ridículo.

— É diferente, eu gostei, apesar que as pessoas não precisam saber o

significado.

— Acredite, elas descobrem, sempre vão e buscam no Google.


— O meu não é o mais comum, na verdade, não conheço outra

pessoa que se chama Estére, que significa em húngaro “à noite”. Minha

mãe disse-me quando a questionei, que escolheu esse nome porque quando

anoitecia, eu ficava agitada dentro de sua barriga.

— Então foi por isso que você estava dançando tão feliz hoje — diz.

— Está agitada?

— Talvez um pouco — digo, bebendo mais. É legal poder flertar

com uma pessoa que não seja Collin.

“Ou Frederic, não é?”

— Então dançaria esta música comigo? — pergunta, me estendendo

a mão.

Concordo e seguimos para a pista, dançando Rihanna com nossos

corpos colados.

A hora passa rapidamente e bebemos mais do que o normal. Quando

vejo, já são quase quatro horas da manhã e decido ir embora, com Dréck me
acompanhando. Frida pergunta se tenho certeza de que quero ir com ele, ou

prefere que eu vá com ela.

Percebo que minha amiga está com um rapaz e tenho certeza de que

o restante da sua madrugada será regado a sexo, então digo que não há

problema, afinal, Dréck foi um verdadeiro gentleman.

— Seu carro é igual ao meu — digo, vendo a BMW.

— É mesmo? E o que houve com ele, você veio com sua amiga, não

foi? — pergunta, ao entrarmos no carro.

— Sim, vim com ela. Parece que o motor deu problema.

— Isso é um problema, mas como tenho o meu aqui, me passe seu

endereço para colocar no GPS para eu levá-la até em casa — pede, de

maneira gentil. Passo e logo estamos a caminho da minha casa, com um rap

tocando baixo no seu carro. — Adorei passar a noite com você, Estére.

— Obrigada, eu também gostei muito de passar com você — digo.


Vejo sua mão repousar sobre minha perna e ele a aperta, o que me

causa certo desconforto, então, sem que ele note, a afasto devagar.

— Você mora sozinha? — pergunta.

— Não, minha mãe morreu há menos de um mês, então vivo com

meu padrasto — digo, desacreditando daquilo. Quando é dito em voz alta

soa mais estranho do que o normal.

— Entendi, Estér, posso chamá-la assim? — pergunta me encarando.

— Sim — respondo, me sentindo incomodada, sem saber o porquê.

Ficamos em silêncio e, quando vejo, já estamos próximos da minha

casa, solto o cinto e me viro para ele.

— Pode me deixar aqui, obrigada pela carona.

Ele não esboça reação alguma. É como se eu não estivesse falando

com ele.

— Está cedo, Estér — diz.


— Não está, eu preciso descansar — digo, sem saber o que devo

falar. Ele não responde, mantendo o carro em movimento, agora mais

devagar. Vejo ele passar por minha casa e me preocupo. — Você já passou

— digo. Silêncio, ele continua seguindo pela estrada e o desespero toma

conta de mim. — Dréck, estava divertido, mas não estou mais gostando

dessa brincadeira. Me leve para casa, por favor!

Ele me encara e sorri. Fico atônica e faço algo que jamais pensei que

faria na minha vida — abro a porta do carro em movimento e pulo de uma

vez, caindo e rolando pelo asfalto. Sinto uma ardência tomar conta do meu

cotovelo e vejo que estou próxima de casa, então tento me levantar e sinto

uma dor no meu pé. Olho para trás e vejo Dréck parar, saindo do carro e

andando lentamente em minha direção.

— Por que você fez isso, Estér? Poderia ter se machucado. Vamos

curtir a noite, ainda falta muito para encerrarmos.

Levanto-me e acelero o passo, então sou surpreendida com ele me

agarrando quando estou perto de casa.


Caio no chão e bato a cabeça no gramado, soltando um gemido.

—Shhh, fica quieta, sua vadia, eu vou dar para você o que implorou

a noite inteira — diz passando a língua pelo meu pescoço. Me mexo,

tentando me esquivar, mas ele é mais forte.

— Socorro! — grito. — Alguém me ajude!

Ouço apenas o latido de um cachorro e Dréck bate no meu rosto.

— Cala sua boca, vadia! — diz, a tampando e levantando meu

vestido. Sinto seus dedos nojentos percorrerem até a minha calcinha e ele a

puxar com tudo, revelando meu sexo. O sorriso no seu rosto se alarga e ele

abaixa sua calça, se aproximando mais ainda de mim.

Sinto minha respiração acelerar e o medo tomar conta de mim. Não

posso perder minha virgindade assim, então abro a boca e ele enfia seus

dedos nela. Cravo meus dentes e Dréck solta um grito de dor.

— Frederic, socorro! — consigo gritar, encarando a porta de casa.


O que acontece é tão rápido que fico sem reação; vejo a porta frontal

se abrir e Frederic vir correndo apenas de cueca.

Ele joga seu corpo com tudo por cima de Dréck e os dois caem para

trás, então vejo o pau duro de Dréck, o que me enoja. Por pouco ele não me

estupra.

Frederic sobe por cima do canalha e desfere diversos socos no seu

rosto. Dréck não tem reação, vejo o sangue escorrer do seu rosto e manchar

o asfalto, com Fred ainda batendo nele.

— Fred, você vai matá-lo! — disparo, indo em sua direção com as

lágrimas pelos olhos. Meu padrasto não me dá ouvidos e continua batendo

no homem, então vejo Dréck levar a mão até o bolso da jaqueta e de dentro

tirar um pequeno revólver. Imediatamente Frederic para de bater nele e

estende as mãos para cima.

— Saia de cima de mim! — grita Dréck com o rosto machucado.

Sinto agonia em olhá-lo.


Frederic faz o que é pedido e, com os braços ainda para cima, vem

em minha direção. Vejo Dréck se levantar e subir sua calça.

— Vá embora daqui antes que eu te arrebente mais ainda — diz

Fred.

— Estou armado — diz o outro.

— É isso que te dá vantagens, se não estivesse, o mataria!

Dréck destrava a arma e me coloco na frente de Frederic.

— Por favor, Dréck, vá embora! Não irei prestar queixa, eu juro.

Ele cospe no chão e vejo o sangue, se afasta, ainda apontando a arma

e entra no seu carro, saindo em disparada.

Sinto meu coração desacelerar e caio, com Fred me pegando em seus

braços. Vejo seu peitoral e os movimentos dos seus lábios, porém, não

compreendo, então tudo fica escuro.


— Estére? — Ouço meu nome ao longe e abro meus olhos

devagar, tentando me lembrar do que havia acontecido, então vem em

minha mente o que Dréck tentou fazer.

Ergo meu corpo e vejo a mão de Frederic sobre meu peito,

empurrando-me novamente para o sofá.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Você desmaiou depois que aquele canalha foi embora, ficou vinte

minutos inconsciente, eu já estava prestes a chamar uma ambulância e você

acordou.
— Ouvi você me chamar — digo, reconhecendo que a voz era dele

ao dizer meu nome. Frederic assente e noto que ele ainda está somente de

cueca. — Obrigada por ter me salvado.

Ele meneia a cabeça e se levanta, fazendo meus olhos irem direto

para sua barriga definida e logo em seguida para o volume que tem na sua

cueca. Percebo que seu membro está mole, o que me faz arregalar os olhos.

“Imagine isso ereto...”.

Afasto o pensamento e sinto vontade de chorar ao lembrar que vi o

pênis de Dréck; ele quase me estuprou. Eu me sento e vejo que a mão de

Frederic está enrolada em um pano.

— Você se machucou? — pergunto. Ele concorda, mostrando a mão

roxa.

— Parece que passei dos limites nos socos, mas vai ficar tudo bem.

— Deixe-me ajudá-lo — digo me levantando e indo atrás da bolsa de

gelo. A pego na geladeira e volto para a sala, fazendo-o se sentar. Me sento


ao seu lado e encosto a bolsa, vendo seu olhar torcer. — Está doendo

muito?

— Aposto que não mais que o rosto daquele babaca maldito,

precisamos ir à delegacia prestar queixa. Ele te machucou? Notei seu

cotovelo ralado e o pé inchado. Se ele encostou em você, vou até o inferno

atrás daquele desgraçado.

Quero sorrir com suas palavras, mesmo o momento não sendo

propício a isso, contudo, não faço.

— Irei resolver isso, mas antes temos que cuidar da sua mão, está

muito inchada — digo olhando seus dedos compridos. Cada parte de sua

mão está roxa, o que me deixa surpresa.

— Me conte o que aconteceu, aquele babaca te conhece de onde?

— O conheci na balada que fui com Frida. Ele parecia bastante

gentil, passamos a madrugada juntos...

— Você está me dizendo que veio para casa com um homem que

conheceu a poucas horas? Está ficando maluca? E se ele tivesse conseguido


estuprá-la?! — Frederic grita, o que faz eu dar um pulinho no sofá.

— Eu estava bêbada, ok? Não me julgue, você também não fica

muito bem quando bebe.

— Está falando sobre aquele beijo? — pergunta. Desvio meu olhar

do seu.

— Fico grata que tenha me ajudado e sinto muito pela sua mão, de

verdade, mas não quero falar sobre isso. Só quero me deitar e dormir.

Me levanto e sigo em direção à escada.

— Eu também gostei do beijo, Estére, e demorei muito a entender

isso, mas sim, eu gostei. — Suas palavras fazem meus pés travarem e Fred

se aproxima de mim. Vê-lo dessa maneira; frágil e nervoso ao mesmo

tempo, apenas de cueca, com o volume marcando no meio das pernas, me

deixa excitada. Algo que nunca havia sentido antes. Pobre Collin. — Eu

gostei — ele repete.

Fico sem reação e faço algo totalmente fora do meu controle;

esqueço meus medos, meus receios, o fato de Frederic Cooper ser meu
padrasto, o viúvo de minha mãe e o agarro, pulando em seu colo.

Seus fortes braços se entrelaçam em minhas costas e envolvo minhas

pernas na sua cintura, beijando-o.

O beijo é como se fosse um elixir da vida. É como se fosse a melhor

das bebidas de todos os tempos e isso me deixa ainda mais excitada.

Frederic prende sua mão sobre minha nuca, colando ainda mais nossas

bocas e sinto sua língua me invadir. O gosto do seu beijo é uma mistura de

menta com uísque, que com certeza ele bebeu quando estava sozinho. Solto

um gemido e mordo o seu lábio, com ele nos desconectando e levando sua

boca até meu pescoço. Meu corpo se arrepia e envia alertas abaixo do meu

ventre e sinto que se ele continuar fazendo isso, irei me entregar à ele.

Frederic continua beijando meu pescoço e me leva em direção ao sofá.

Ele me deita e fica por cima, abro ainda mais as pernas e ele afoga

seu rosto nos meus seios. Então, devagar, desço minhas mãos pelo seu

peitoral e encosto na sua barriga, puxando o cós da boxer. Sinto seu pau
encostar na minha mão por baixo do tecido e me arrepio por inteira,

maravilhada com o tamanho e grossura quando o pego e aperto.

“O pau que sua mãe pegava, sua vadia. O pau em que ela trepou

por nove anos! Nem parece que você quase foi estuprada!”

Minha mente retorna ao que está acontecendo e empurro Frederic,

que cai para trás e solta um “ai” baixo.

— O que está acontecendo, você não gostou? — pergunta, sem

entender.

Quero dizer a ele que sim, gostei até demais. Mas a realidade

dolorosa de que ele é meu padrasto me impede de continuar.

— Sinto muito — digo. Corro para o meu quarto e me tranco.

Choro até amanhecer, ouvindo Frederic ir para seu quarto, e penso o

quanto sou pervertida.

Assim que amanhece, ainda sem conseguir dormir, penso em tudo

que havia acontecido e vejo uma mensagem de Frida perguntando como


havia sido à noite com Dréck. Peço para que ela venha até em casa, que

preciso contar a ela tudo que houve, não demora e minha amiga entra no

meu quarto, bem arrumada e muito animada.

— O que você ainda está fazendo nessa cama? Dormiu de

maquiagem? — pergunta. Quero dizer que nem dormi ainda, mas ouço o

que ela diz: — Quando Frederic me atendeu e disse que você não havia

saído do quarto, eu não acreditei, mas a vendo agora...

Me sento e aponto o lado vago para ela se sentar.

— Preciso da sua ajuda para fazer uma coisa — começo.

— Claro, o que é?

Mexo nas mãos, nervosa, e abaixo a cabeça, começando a chorar,

então conto a ela que Dréck quase me estuprou. Enquanto conto, minha

amiga fica cada vez mais espantada e as lágrimas nos seus olhos são

perceptíveis.

Não escondo detalhe algum, dizendo a ela que Fred que me salvou e

que no final, por pouco o canalha não atirou em nós. Então encerro, dizendo
que desmaiei.

— Meu Deus — diz, ainda em lágrimas. A encaro e desvio meu

olhar do seu. — Como você está se sentindo? Péssima, tenho certeza.

Precisamos agora mesmo ir à delegacia abrir uma queixa sobre esse cara,

ele não pode ficar solto por aí fazendo mais vítimas. Por pouco ele não te

estupra, e se existirem outras garotas que ele fez a mesma coisa?

— É para isso que preciso da sua ajuda, não sei se consigo ir sozinha

até a delegacia dizer o que houve.

— Claro que irei com você, sem pensar duas vezes, e levaremos

Frederic com a gente, vai ser bom termos uma figura masculina ao nosso

lado.

Quero dizer que não, que será melhor eu evitar meu padrasto o

máximo possível, mas ela está certa.

Me levanto e começo a me trocar, vendo algumas marcas no meu

pescoço, na minha coxa e o pé e cotovelo machucados. Sinto dor e protesto.


A adrenalina havia passado e antes não estava sentindo, mas agora elas são

nítidas.

Frida me ajuda a colocar uma calça, uma blusa de frio, já que o

tempo voltou a mudar e faço minha higiene matinal prendendo meus

cabelos e lavando meu rosto. Tiro a maquiagem borrada e suspiro.

Desço devagar e encontro Frederic na cozinha, que me encara e puxa

a cadeira para eu me sentar. O olho e vejo que sua barba está bem-feita, os

cabelos molhados e usa uma calça e jaqueta.

— Bom dia — diz, depositando uma xícara de café à minha frente,

agradeço e tomo um gole. — Está melhor?

— Assustada ainda, tenho que confessar — digo, ele concorda e

suspira pesadamente.

— Vamos à delegacia assim que terminar de comer.

Concordo, com medo.


— E se fizerem milhares de perguntas? Eu tenho medo do que pode

acontecer comigo depois desse registro — indago, receosa.

— Você precisa fazer isso para não deixar esse miserável impune —

diz Frederic, Frida concorda, sentando-se ao meu lado e segura minha mão.

— Estaremos ao seu lado. Eu estarei lá. Vamos contar tudo o que houve.

Concordo e termino meu café, sentindo pesar no meu estômago,

então seguimos para o carro de Frederic em silêncio até a delegacia.

O local não está muito cheio, o que já é um alívio. Percorro meu

olhar pelo lugar e vejo algumas cadeiras de estofados pretos vazias, um

balcão com dois homens escrevendo alguma coisa nos computadores e três

mulheres sentadas, aguardando serem chamadas. Entro com Frederic e

Frida e noto uma pequena recepção, com uma mulher me encarando. Me

aproximo e criando coragem, digo:

— Quero registrar uma queixa.


— Certo, sobre o que é? — pergunta pegando uma ficha e me

entregando, olho o papel e vejo a caneta.

— Tentativa de estupro — respondo, ela me olha sem expressão na

face e concorda.

— Só um momento.

Aguardo e a vejo ir até o telefone que há do outro lado. Ela disca

alguns números que não vejo e fala baixo, não sendo possível ouvi-la.

Alguns minutos depois, ela volta e me encara.

— O seu caso é no outro setor, siga o corredor até o final e vire a sua

esquerda, terá um homem e uma mulher lhe aguardando.

Concordo, agradecida, e sigo pelo corredor com Frederic e Frida ao

meu lado, que segura minha mão com firmeza.

Assim que chegamos ao local indicado, vejo as duas pessoas que a

mulher citou e sinto o suor na minha testa.


— Olá, bom dia, quem é a vítima? — pergunta o homem sem sequer

nos olhar.

— Eu — respondo, de imediato. Ele me encara e concorda, pegando

um papel onde vejo ser uma ficha parecida com a anterior, que não cheguei

a preencher.

— Preciso do seu documento com foto. — Entrego a ele e

rapidamente preenche umas informações e me devolve. — Pode entregar

para a inspetora que vai dar continuidade ao seu caso.

Concordo, quieta, pegando o papel que ele me entregou, sigo em

direção à mulher e lhe dou o papel, vendo-a me encarar e sorrir.

— Momento difícil, imagino — diz. Concordo, sentindo vontade de

chorar. Quanta loucura em tão pouco tempo. — Vou fazer uma breve

entrevista com você, pode se sentar. — Indica a mulher à minha frente. —

Sabe como funciona?

— Não.
— Teremos uma testemunha, eu e um escrivão, para ir anotando tudo

o que você diz. Não se preocupe, se quiser sigilo sobre sua identidade,

iremos manter. Me dê uns minutos, já volto aqui.

— Tudo bem, obrigada.

Ela se afasta sorrindo e nos sentamos lado a lado. Encaro Frederic e

ele segura uma das minhas mãos, enquanto Frida segura a outra. E deixo,

sem me importar se irão dizer ou pensar alguma coisa.

Passa exatamente trinta minutos e sou chamada pela mesma mulher.

Me levanto e Frederic me ajuda, guiando-me para dentro da sala em que a

mulher nos mostra.

— O senhor não poderá entrar — diz ela.

— Mas fui eu quem a salvei — diz Frederic, irritado.

— Mesmo assim, senhor, são protocolos.

— Por favor — peço —, deixe ele entrar comigo, ele testemunhou o

ocorrido, será mais fácil dizer.


A mulher me encara e balança a cabeça, permitindo.

— Vejo você daqui a pouco — falo para Frida, que concorda,

voltando para o lugar e se sentando. A porta é fechada e me vejo em uma

saleta branca. Há uma mesa no meio, duas cadeiras de um lado e uma do

outro. No canto, um homem sentado com um notebook à sua frente.

— Pode se sentar, Estére. Antes de tudo, meu nome é Ericka e

gostaria de ressaltar que sua identidade será mantida em sigilo caso você

queira. Então preciso que sempre me responda com “sim”, certo?

— Sim.

— Ótimo, então, que tal começar a contar o que realmente houve?

— Eu fui a uma balada com a minha amiga que está lá fora e

conheci um rapaz. Ele me disse que seu nome é Dréck, porém, não sei se é

real. Ele me pagou uma bebida e foi bastante gentil, nos divertimos a noite

toda, então, quando eu estava prestes a vir embora, ele me ofereceu uma

carona e acabei aceitando. Não pensei que aquele homem tão gentil e

educado iria se transformar tão rapidamente.


“Quando já estávamos chegando em casa, ele colocou a mão sobre a

minha perna e eu recuei. Foi quando pedi que me deixasse naquele trecho

da estrada, que, como estávamos perto, eu poderia ir andando. Mas ele não

me deu ouvidos, continuou andando em silêncio.

“Não tive outra escolha a não ser pular do carro em movimento, não

me machuquei muito porque estava devagar, então só arranhei o cotovelo e

machuquei meu pé.

“Após ter feito isso, ele parou e veio atrás de mim, tentei escapar e

não deu muito certo. Ele se colocou por cima de mim e abaixou minha

calcinha, tapando minha boca e abaixando a sua calça.”

Paro de falar, me recordando do que houve.

— E depois disso?

— Eu consegui morder a mão dele e foi quando gritei pelo meu

padrasto, Frederic, e ele me socorreu. Acabou que ele agrediu o rapaz e

quase morreu, pois Dréck tinha uma arma. Foi quando ele fugiu e eu acabei

desmaiando.
— E o senhor a socorreu nesse momento também?

— Sim — diz Frederic. — A levei para dentro de casa e tentei

acordá-la. Quando estava prestes a chamar uma ambulância, ela acordou e,

depois disso, se trancou no quarto até hoje de manhã.

— Por que não veio imediatamente à delegacia? — pergunta Ericka.

— Medo — digo, percebendo que Fred ocultou uma parte da

história. — Quantas vítimas vemos por aí que vão à delegacia prestar

queixa e acabam sendo acusadas por algo que não fez? Quantas mulheres

usam uma roupa mais justa e é tachada de vagabunda por causa disso? Eu

pensei que seria assim que me tratariam. Como a mulher que não se

colocou no lugar que a sociedade impõe, que flertou com um cara solteiro e

acabou quase sendo abusada. Meu medo era esse, ser a culpada da história

quando na verdade sou a vítima.

Ericka concorda e estende a mão para mim, que seguro de bom

grado.
— Que bom que você veio em uma delegacia onde uma mulher que

já foi abusada é a inspetora — diz. Fico surpresa com a revelação dela,

aquilo não ia contra suas diretrizes? — Preciso que me descreva como o

agressor é e quais vestes usava. E o carro, se conseguir lembrar.

— Certo, seu cabelo é curto e escuro, pele clara, olhos azul-turquesa

e usava uma calça jeans, uma camiseta do Batman e uma jaqueta de couro,

onde carregava a arma. O carro é um BMW, chegamos a conversar sobre

isso, por ser um carro igual ao meu.

Ericka me ouve e vejo que o homem anota tudo que eu digo.

— Há marcas de agressão pelo corpo?

— Sim.

— Pode dizer onde?

— Sim, tem marcas no meu pescoço, cotovelo e nas pernas também.

— Somente para dar veracidade ao seu relato, temos um protocolo

no qual você faz o exame de corpo delito, é opcional, porém, para termos
provas cabais contra o agressor o exame se faz necessário. Aqui está a guia

que deverá ser apresentada no ato da realização do exame.

Penso sobre toda situação e a exposição que já tive aqui, então

balanço a cabeça em negativa.

— Pensarei sobre isso — afirmo.

Ela concorda e suspira, ciente de que não farei, pela sua expressão

ela sabe que já estou certa da minha decisão.

— Por enquanto, terminamos aqui. Aqui está seu registro. Se

encontrarmos algum suspeito que pareça com as características que você

me informou, entraremos em contato para ser feito o reconhecimento, ok?

Concordo, pego os papéis e Ericka se levanta.

Frederic me ajuda e saímos. Frida vem em minha direção e me

encara.

— Como foi?

— Acho que supero.


— Claro que vai, estamos com você — diz, me abraçando.

— Bem, Estére, sinto muito por tudo que tenha passado, mas agora

preciso trabalhar, infelizmente existem outras vítimas com o mesmo caso

que o seu.

Encaro Ericka e concordo.

— Quantas dessas mulheres são compreendidas como eu fui? —

questiono, ela me encara e suspira.

— Infelizmente, não muitas, mas as que passam comigo sempre

tento dar um pouco de suporte.

Concordo, agradecida pelo apoio que ela me dá e saio com Frederic

e Frida.
— Obrigada pelo apoio que me deu hoje — digo a Frida,

quando chego à casa. Ela sorri e me abraça mais apertado ainda.

— Sempre estarei aqui para você, para ajudá-la e apoiá-la no que for

preciso — responde.

Concordo e me despeço dela, pensando se ela apoiaria a loucura que

vem acontecendo comigo e Frederic.

Vejo seu carro se afastar e entro para casa com meu padrasto.

— Você quer comer alguma coisa? — pergunta.

— Seria legal — digo, sorrindo.


— Certo, vou preparar alguns sanduíches para nós, não saia daqui.

O vejo se afastar para a cozinha e fico sentada no sofá, lembrando de

Frederic e eu nos beijando. Lembrando de quando passei minha mão pelo

seu peitoral e levei até seu membro duro.

Suspiro, me sentindo a pior pessoa do mundo. Talvez o que havia

acontecido com Dréck foi castigo por estar pensando no meu padrasto de

uma maneira que não deveria.

Penso se mamãe estivesse viva. Como seria? Em anos morando com

ela e Frederic, nunca, em hipótese alguma, pensei nele dessa maneira. Por

que agora depois que minha mãe morreu? Talvez possa ser porque ambos

estão vulneráveis, mas isso não deixa de ser errado. É como se estivesse

sendo amante dele. Traindo mamãe. Sua confiança, o seu amor e dedicação

que teve anos por mim.

— Ah, mamãe, se você puder me ouvir de algum lugar, peço que

apenas me perdoe por isso. — E choro baixinho.

*
Me recomponho quando Frederic volta até a sala e anuncia que o

almoço está pronto. A hora havia passado tão rápido que nem reparara.

— O que temos hoje? — pergunto, sentindo o delicioso cheiro

invadir minhas narinas.

— Couve de Bruxelas, omelete e carne — diz, colocando os pratos

sobre o balcão.

— Obrigada por tudo que vem fazendo por mim — digo, quando ele

me serve.

— Prometi a sua mãe que cuidaria de você e pretendo fazer isso até

o fim dos meus dias — diz, firme. Começo a comer e o encaro.

— Como se sente em relação a tudo que vem acontecendo entre nós?

— pergunto, curiosa. Sei que uma hora ou outra terei que enfrentar meus

receios e conversar com ele sobre isso, então por que não agora?

— Existe um nós? — questiona.

— Acho que sim — respondo.


Ele remexe na sua comida e me observa, os olhos estreitos.

— Não estou muito feliz em saber que sinto atração pela filha da

minha esposa morta, se é isso que quer saber — dispara. — Por outro lado,

não a vejo como minha enteada, já que, como você mesma disse, quando

sua mãe morreu os elos que tínhamos foram rompidos.

— E se a situação fosse diferente, Frederic — começo. — E se eu

fosse a sua esposa?

— Bem, para isso teríamos que nos conhecer bem depois, não acha?

Sou oito anos mais velho que você, o que é quase uma década. Mas,

respondendo à sua pergunta, não sei como seria. Não consigo enxergar

minha esposa como sogra.

Fico quieta, vendo o quanto é ridícula a minha pergunta e claro, a

sua resposta, mesmo que ele esteja certo.

— Me desculpe, não queria que chegássemos a esse ápice da loucura

— digo.

— Ápice da loucura, Estére? O que quer dizer?


— Você não nos acha loucos por sentirmos atração um pelo outro

quando na verdade você foi casado por anos com minha mãe e sempre o vi

como o padrasto chato?

— Padrasto chato? — repete, rindo.

— Sim. — Rio também. — Pode parecer estranho, mas no começo,

estranhei você ser mais novo que minha mãe.

— Sua mãe ser anos mais velha que eu, nunca foi um problema para

mim — diz. — E respondendo sua pergunta, acho sim um pouco louco,

estou confuso também, e claro, se pudesse evitar, faria isso. Em respeito à

memória de Jolie e pelo amor que senti durante anos por ela.

Concordo e seguro sua mão.

— Talvez sermos amigos venha ser a nossa única opção.

Depois de comermos e conversarmos sobre o que vem acontecendo,

decido ir para meu quarto tomar um banho para aliviar a mente das loucuras

e lavar meu corpo e tirar qualquer vestígio que tenha de Dréck em mim.
Deixo a porta aberta e sigo para o banheiro, a encosto, me dispo e abro o

chuveiro, deixando a água cair para mim entrar debaixo.

Quando já está aquecida, entro e molho meu corpo, sentindo como

se esse simples ato tirasse toda a impureza da minha pele. Passo o sabonete

pelo meu pescoço me lembrando dos beijos nojentos de Dréck e esfrego

minha pele até ficar vermelha, me lavo por completo e escorrego meus

dedos pela minha barriga, parando no meu sexo. O lavo e sinto meu corpo

se arrepiar com meu toque.

De repente, imagino que seja Frederic me tocando, e devagar, passo

os dedos pelo meu sexo. Os acaricio e sinto um toque que eu nunca havia

sentido antes.

Fecho meus olhos, ainda me acariciando, pensando no meu padrasto.

Então, é como se eu visualizasse a cena dele aqui comigo, abaixando-se à

minha frente e chupando meu sexo virgem, e depois, devagar, me

desvirginando.
Continuo passando meus dedos, fazendo movimentos circulares e

ouço um barulho, trazendo-me para a realidade.

Olho para a porta e a vejo do mesmo jeito, estranhando.

— Frederic? — chamo e o silêncio é a minha única resposta.

Ouço o barulho da água e paro no meio do corredor, vendo que a

porta do quarto de Estére está aberta. Me sinto indeciso sobre o que fazer e

deixo o tesão falar mais alto, então ando devagar na direção do seu quarto e

o barulho da água se intensifica.

Caminho devagar e avisto a porta do banheiro entreaberta, me

aproximo e a olho. Sei que isso é errado e nojento, mas a visão que tenho de

Estére é como se fosse eu estivesse visualizando Deus.

Seu corpo, suas curvas, são perfeitos da sua maneira. Seus seios são

pequenos e juntos, os biquinhos estão rígidos e sinto um desejo enorme de

entrar ali e provar deles, mas me controlo. Então a vejo de olhos fechados e
seus dedos escorregam para sua boceta, com ela fazendo movimentos

circulares em seu sexo. Lambo os lábios, desejando ainda mais estar ali,

provando dela, sentindo o seu delicioso gosto e, devagar, para que ela não

ouça nenhum barulho, abro o zíper da calça e a desço, colocando meu pau

já duro para fora. Olhando-a ainda se tocar, continuando com os

movimentos circulares, começo a me masturbar, imaginando que seja ela no

meu lugar. Imagino Estére se ajoelhando diante de mim e chupando meu

pau grosso. Tentando visualizar a cena na minha mente de quanto caberia

na sua pequena boca.

Continuo com os movimentos vaivém e gozo, sujando-me

completamente. Ela continua no banho e sem que eu perceba, esbarro meu

braço na porta e saio às pressas, sabendo que a porra da minha burrice a

despertou do seu transe.

Porra! Eu a quero. Eu a desejo. Quero minha enteada como a minha

mulher.
Quero-a nos meus braços. Quero ela comigo, se aproveitando do

pecado e da luxúria que sentimos um pelo outro.

Eu estou ficando louco!


Ainda estou pensativo sobre tudo que vem acontecendo entre

Estére, eu e o quase estupro dela. Fora essas merdas, agora outra surgiu do

inferno para me deixar com mais dor de cabeça.

Ando de um lado para o outro na oficina e suspiro, jogando uma das

ferramentas no chão.

O advogado no telefone havia me dito que a pena dele está prestes a

acabar e que será solto, o que me deixa preocupado.


Nós não somos inimigos. Sempre fomos muito unidos e por conta de

um erro do nosso passado, ele acabou pagando sozinho por coisas que não

deveria. Fiz de tudo para tirá-lo da cadeia, mas como ele foi pego em

flagrante, foi impossível, fazendo assim ficar preso por todos esses anos.

Mas agora, sabendo que está quase saindo da cadeia, me incomoda

pelo simples fato de que ele virá atrás de mim em busca de vingança. Sei

disso. Tenho plena certeza, afinal, em momento algum desde que foi preso,

eu fui visitá-lo.

Claro que posso dar um bom dinheiro a ele e fazê-lo ir embora o

mais rápido possível, contudo, seria como atirar no próprio pé. O conheço

bem, pegaria a grana e depois faria de tudo para me ridicularizar na frente

de todos que me conhecem.

E as coisas na oficina não andam muito bem. O que deixa tudo ainda

mais difícil. Eu poderia muito bem pegar o dinheiro que Jolie me deixou e

ajudá-lo, mas me recuso a mexer nele.


Quase trezentos mil euros guardados no banco sem uso. Se eu usasse

essa herança, as coisas estariam resolvidas, mas com tudo que vem

acontecendo entre Estére e eu, sinto que é um erro usar o dinheiro que

pertencia a minha esposa.

Estére...

Não consigo mais resistir a ela, porém, me mantenho distante o

máximo possível, sempre dizendo que estou na oficina trabalhando, para

assim esfriar a cabeça e saber o que fazer a respeito desse impasse que paira

sobre mim.

“Droga, estou fodido!”

Os dias passam voando, e quando vemos, as provas finais já haviam

passado e estamos oficialmente de férias.

As marcas no meu corpo desaparecem e Dréck não é encontrado, o

que me deixa chateada.


Frida vai com os pais ao Brasil, a despedida no aeroporto na cidade

vizinha havia sido resumida a lágrimas bobas de amigas e promessas de que

ela traria presentes para mim.

Frederic e eu não voltamos a conversar sobre “nós”. Ele está indo

mais vezes para a oficina, prometendo que terminará meu carro o mais

rápido possível.

Rolo na cama e mexo no celular, olhando o Instagram, sou

surpreendida com uma foto de Collin com Laura. Os dois estão se beijando

e na legenda diz:

“O melhor presente que eu poderia ter ganho do universo.”

— Filho da puta! — digo. — Como ele tem coragem de assumir

namoro com outra um mês após o nosso término?

Clico duas vezes na tela, curtindo, para que ele saiba que vi e saio da

rede social, recebendo uma ligação de Frida por chamada de vídeo.

— Amiga, como está sendo a viagem? — pergunto a observando.

Está de dia no Brasil e ela usa um boné e óculos de sol. Percebo que está
andando.

— Está sendo fantástico, apesar de não termos conhecido muita

coisa ainda. O brasileiro é o verdadeiro piadista, mas não liguei para falar

sobre isso, afinal, teremos tempo, o que quero saber mesmo é o que você

está fazendo.

— Isto aqui — digo, mostrando que estou na cama, assopro o cabelo

do meu rosto e minha amiga revira os olhos.

— Não acredito que você vai passar suas férias deitada — diz,

ainda andando. Ouço algumas pessoas falando na língua que não entendo e

dou de ombros.

— Meu plano era ir ao chalé com Collin, mas ele me largou e está

namorando com Laura agora.

— Eu vi a foto no Instagram, ele é nojento, mas não pense nisso.

Por que você não vai para o chalé?

— Sozinha? Sem chances, é no meio do nada e não sei acender a

lareira — digo, rindo. Ela ri e mostra a língua.


— Então não vá sozinha, convide Frederic para ir junto com você.

Os dois merecem um pouco de folga, os últimos meses não foram fáceis.

Penso sobre isso e torço o nariz, achando a ideia um absurdo.

— Sem chance, eu e ele no chalé sozinhos, no meio do nada? E se

um urso nos devorar? — digo, com minha imaginação indo ao longe.

— Só se ele for o urso, não é? Pare de besteira, levanta sua bunda

gostosa daí e arrume suas malas. Tenho certeza de que ele vai gostar da

ideia, e ficarem sozinhos nunca foi problema, já que só moram vocês dois

aí.

Quero dizer a ela que sim, existe um problema em morarmos

sozinhos, mas fico em silêncio.

— Ok, vou pensar a respeito da sua brilhante ideia.

— Cabeça dura, preciso ir agora, nós vamos conversando, eu te

amo.

— Eu também te amo.
Encerro a ligação e deixo o celular de lado, pensando na ideia dela.

Até que não é tão ruim.

Ouço uma buzina vindo do lado de fora e vou até a janela. Vejo

Frederic acenando para mim e meu carro parado na frente da casa.

Saio correndo, animada, e desço a escada rapidamente, abro a porta e

corro em sua direção.

— Olha só quem está pronto — diz, mostrando a chave.

— Puta merda, nem acredito! — digo e me jogo nos seus braços, o

abraçando. — Obrigada! Eu já estava sem esperanças dele voltar a

funcionar.

— Não esqueça que sou o melhor mecânico da cidade — diz, me

soltando. Ficamos nos olhando e concordo. — Ande, dê uma volta para ver

se está funcionando.

— Tenho outra ideia — digo, pensando na sugestão de Frida.

— Qual?
— Como o Natal está chegando, estou de férias e quase todos estão

viajando, estava pensando em ir para o chalé. Você quer me acompanhar?

Frederic me encara e um sorriso se forma nos seus lindos lábios

grossos.

— Só eu e você? — questiona.

— Sim.

— E você não acha isso meio... perigoso?

— Pelo contrário, acho excitante — digo, mordendo o canto da boca.

Ele ri e meneia a cabeça.

— Certo, então acho que devemos organizar as nossas malas, e

irmos ao mercado da cidade, afinal, lá está fechado há anos.

Sigo para dentro de casa e o puxo pela mão.

— Então é melhor irmos logo com isso.

*
Organizo minha mala com calças, bermudas, camisetas, blusinhas,

blusas de frio, calcinhas extras, tênis e outros acessórios. Coloco perfume, é

claro, creme hidratante e meus outros produtos de higiene. Toalhas extras, e

quando vejo, tudo está pronto, com as coisas que preciso em duas enormes

malas.

— Não me diga que resolveu morar lá de uma vez — diz Frederic no

portal da porta.

— São coisas que vou usar na viagem — digo. — Uma mulher

sempre tem que estar preparada. Mas e você, já terminou sua mala?

— Claro, sou homem, esqueceu? É só jogar meia dúzia de cuecas,

camisetas, bermudas e está tudo pronto — brinca arrancando uma risada de

mim. — Minhas coisas já estão prontas.

— Ótimo, está preparado para que eu dirija duas horas seguidas?

— Estou com meu terço para ir rezando e pedindo perdão por todos

os meus pecados, inclusive os que ainda não cometi — responde.


— Idiota — digo, ele ri e me atento ao som da sua risada. É uma

música para os meus ouvidos.

— Deixe-me ajudá-la com as malas — diz, já pegando a maior,

arrasto a menor, verificando se peguei tudo e fecho a porta do meu quarto.

Colocamos tudo no porta-malas e Frederic abre a porta para mim.

Agradeço, colocando-me atrás do volante assim que ele entra e afivelamos

o cinto, ligo o rádio, coloco na música Black do Pearl Jam e acelero.


Está uma forte tempestade, então demoramos mais para

chegarmos ao chalé por conta da estrada. Frederic, a todo instante, não para

de olhar para minha mão e fica analisando como dirijo. Não digo nada,

apenas formando um sorriso de canto e me concentrando à nossa frente. O

local em si não é longe, no máximo duas horas de viagem, mas com a forte

chuva, com certeza gastaremos bem mais.

— Tem um mercado mais à frente, vamos parar nele por conta da

tempestade, está muito forte — diz Frederic limpando toda hora o vidro do
carro, que está embaçando por conta de nossas respirações.

— Tudo bem — digo, concordando.

Ele meneia com a cabeça e dirijo por mais quarenta minutos,

sentindo medo por conta de tanta chuva. Tantos dias para chover e Deus

decide mandar bem no dia que decido dirigir.

— Ali, estacione — diz Fred ao vermos o mercado. Volto a

concordar e paro no estacionamento coberto. A tempestade está realmente

forte, então, com dificuldade, saímos e entramos no local.

— Você está bem? — pergunta Frederic, assim que entramos, olho

em volta e vejo que o local está cheio, algumas pessoas fazem compras e

outras usam o local como refúgio.

— Sim — digo, estranhando a pergunta.

— Certo, você parecia nervosa dirigindo. — Ele está ao meu lado.

Pego um carrinho e começo a arrastar pelo local.


— É por conta da chuva, não gosto de dirigir com tempestade —

digo, pegando na prateleira vários produtos de limpeza, aproveito e compro

uma vassoura, rodo e panos.

— Ah — é a única coisa que diz. Seguimos para o próximo corredor,

pegando mais coisas para limpeza do local. Depois disso, vamos para a

comida, abastecendo o carrinho. — Quanto tempo pretendemos passar no

chalé?

— Ainda não sei, mas comida nunca é demais — digo. Ele ri e

concorda, quando vejo, já pegamos todas as nossas coisas.

Seguimos em direção ao caixa, com Frederic ao meu lado e, de

repente, as luzes do local se apagam, com todos suspirando. Fico parada no

meio do corredor e olho ao redor, esperando voltar, porém, não acontece.

— Me sinto como estivesse no filme “O Nevoeiro” — sussurro,

buscando meu celular. Frederic dá uma risada e pega o seu do bolso,

acendendo a lanterna.
— Eu não pensei que no primeiro dia da nossa viagem seria assim

— diz. — Vou pegar velas, caso venhamos precisar.

Ele se afasta e continuo no mesmo lugar, sentindo a necessidade de

ir atrás dele, mas me mantenho parada, até que as luzes voltem.

O gerente vem e nos diz que o gerador está com problema, mas que

não é para nos preocuparmos, que logo tudo irá normalizar, então espero,

sem muita alternativa, e Frederic volta com diversas velas.

— Parece que o gerador está com problema e vai demorar um pouco

para a energia retornar — digo a Frederic, assim que aparece. Um trovão

ecoa no céu e solto um gritinho, me agarrando a ele. — Me desculpe. —

Me desvencilho e Frederic me segura, encostando nossos corpos no meio

do corredor.

— Não precisa se desculpar — diz, passando a língua nos lábios.

Fico quieta, sentindo minha respiração entrecortada e concordo,

voltando a abraçá-lo.

— Não esqueça que somos só amigos — digo.


— E amigos se abraçam — me responde, fechando seus fortes

braços em volta de mim.

Meu corpo pinica e fico quieta, pensando na loucura que estamos

fazendo.

Continuo abraçada a Frederic quando as luzes voltam e todos ficam

aliviados. Rapidamente me solto dele e sinto meu rosto queimar, seguindo

para o caixa.

Fred não diz nada, está com um sorriso debochado em seus lábios, o

que faz com que eu me sinta nervosa, contudo, não dou o gosto a ele de

dizer isso.

Sou atendida e rapidamente vou colocando as coisas sobre o balcão

do caixa, com a atendente, que está com o olhar cansado, passando devagar.

Um tempo depois, após passar todos os produtos, ela se vira para

mim e sorri.

— São duzentos euros — diz.


Pego o cartão e Frederic passa na minha frente, entregando as notas

a mulher, que o olha com desejo.

— Fique com o troco — diz, sorrindo. A mulher agradece e o

observa.

— O senhor está passeando pela cidade? Não lembro de tê-lo visto

antes, com certeza me lembraria do seu rosto.

A encaro e ela finge que eu nem existo, me deixando surpresa e com

raiva por estar flertando com Frederic.

— Minha namorada e eu estamos apenas de passagem, moramos na

Cidade do Vale Sombrio — diz ele, segurando minha mão. — Vamos tirar

férias, se é que você me entende.

Ele pisca e a mulher me nota, fazendo cara de desprezo. Então

percebo que o “vamos tirar férias, se é que você me entende” que dizer

outra coisa.

— Aproveitem — diz. — Próximo!


Nos afastamos e seguimos em direção à saída, noto que a tempestade

passou, dando lugar a uma fraca garoa.

— Uau, o que foi isso? — pergunto, surpresa. Frederic me encara e

dá de ombros, formando um sorriso. — Aquela moça pareceu interessada

em você — comento, dando as sacolas a ele, que coloca no porta-malas e

no banco traseiro.

— Não percebi — diz, sarcástico —, mas parece que você não

deixou de notar, não é?

— O que quer dizer com isso?

— Nada — responde. — Te incomoda o fato de outras mulheres

darem em cima de mim?

Encaro Frederic e bufo, entro no carro e saio do estacionamento.

— Não me causa ciúme, se quer saber — digo, olhando para frente.

Ele solta uma risada e reviro os olhos.

— Se você diz — responde, olhando para o lado de fora.


Fico quieta, quero dizer que me causa algo sim, mas não vou dar

esse gostinho a ele.

Então nos mantemos em silêncio e continuo dirigindo. Não demora e

avisto o vislumbre do chalé. É um lugar simples, que fica próximo à entrada

da floresta, longe da cidade.

Paro o carro em frente e saímos. Sinto o ar fresco e sorrio, me

recordando das vezes em que vim com mamãe aqui.

Passávamos sempre as minhas férias aqui ou na casa de campo

quando não queríamos viajar para muito longe. Recordo-me do dia em que

viemos para cá e mamãe lutou a noite inteira tentando manter a lareira

acesa, já que a lenha estava molhada.

Abro a porta da frente e vejo o local do mesmo jeito que deixamos a

última vez, a diferença é que há camadas de pó por todo lugar e até mesmo

algumas teias de aranha. O local é grande para um chalé, com uma sala

onde há um pequeno sofá e duas poltronas, uma janela mostrando a floresta,


um enorme tapete e a lareira. Ao lado fica a cozinha, que tem a pia, um

balcão com fogão embutido, a geladeira antiga e outra janela.

Ando pelo local e vejo o corredor, que no final leva para o banheiro

e a escada de madeira ao lado, que dá acesso para os dois pequenos quartos.

— É lindo — diz Frederic entrando com as sacolas, concordo,

sorrindo e o ajudo, colocando tudo sobre o balcão da cozinha.

— Passei muito tempo com mamãe aqui — digo após pegarmos

tudo. Frederic me encara e nos sentamos no sofá empoeirado.

— Ela e eu nunca viemos aqui antes — diz. — Sua mãe trabalhava

tanto antes de descobrir sobre o câncer, e depois não conseguimos fazer

mais nada.

Concordo, afirmando o que ele diz. Por diversas vezes mamãe ia

trabalhar e voltava tarde ou só no dia seguinte para tomar banho, trocar de

roupa e voltar ao trabalho.

— Acho que é melhor começarmos a limpeza — digo, não quero

falar sobre minha mãe. Fred concorda e subo para os quartos. Ambos são
simples, com cama, penteadeira e cômoda.

Tiro o plástico do colchão e passo um pano nos móveis, forrando a

cama e limpando o chão amadeirado. Assim que termino um, sigo para o

outro, fazendo a mesma coisa e limpando a escada.

Frederic ainda está limpando a cozinha, então ajudo no sofá,

aspirando o pó e abro todas as janelas.

Ele termina e segue para o banheiro, o lavando rapidamente.

— Não foi difícil — diz, jogando-se na poltrona. Me sento no sofá e

concordo, em busca do meu celular.

— Não sei como ainda temos sinal aqui — digo, vendo a internet

funcionar, ele concorda e se levanta, pegando o celular da minha mão. —

Ei, me devolve isso! Esse celular é meu.

— Eu sei disso, mas viemos aqui para descansar, não ficarmos em

redes sociais. — O vejo guardar o aparelho no bolso dianteiro da sua calça e

suspiro. — Se quiser de volta, vai ter que pegar.


— Ora essa! — digo nervosa. Sigo em sua direção e ele desvia,

rindo da minha cara. Tento pegar o aparelho e Frederic desvia de novo. —

Por favor, me devolva.

— Peça com jeitinho que eu dou — diz, desviando das minhas

tentativas falhas de apanhá-lo. Reviro os olhos e pulo em sua direção,

levando minha mão até o bolso da calça. Frederic ri e me segura, nos

aproximamos e nossos rostos ficam centímetros um do outro. — Por que

seu coração está acelerado, Estére?

— Porque é isso que você faz comigo — digo, atônita. Ele fica

parado e fecha os olhos, respirando profundamente.

— Acho que estou ficando louco — sussurra.

— Então teremos que ser internados juntos, porque eu também.

Ele me encara e sinto a tensão pairar sobre nós, Frederic se aproxima

e não recuo, esquecendo por um momento que ele é o meu ex-padrasto.

Seus lábios grossos e macios encostam nos meus. Ficamos assim, parados,

e devagar, abro a boca, levando minha língua até a sua. Frederic faz o
mesmo e nos entrelaçamos, com ele me agarrando e eu passando as pernas

em volta do seu corpo.

Fred devora meus lábios e solto um gemido entre o nosso beijo,

sentindo uma de suas mãos percorrer para o meu seio. Um arrepio elétrico

sobe na região que ele toca e sinto meu seio enrijecer, implorando por mais.

— Estére, não devíamos — diz, em meio ao beijo molhado.

— Eu sei, mas não consigo mais resistir — respondo, segurando sua

cabeça contra mim. Continuamos nos beijando e me delicio com o sabor da

sua boca.

É algo inédito. Completamente diferente do que tive com Collin.

Frederic é um homem bonito, atraente e com uma boa pegada, e

mesmo ele sendo o meu ex-padrasto, não me sinto arrependida de estar

beijando-o. O que me dá certeza de uma coisa — nós dois vamos para o

inferno. Isso é fato. E com esse pensamento acredito que talvez mamãe

esteja no céu.

*
Nos separamos e Frederic me coloca no chão, encarando-me, ele dá

suaves beijos nos meus lábios e encerra nossa conexão naquele momento.

— Está ficando tarde e precisamos de lenha, então vou buscar, você

fica aqui?

Percebo que ele se sente mal com o que acaba de acontecer e

concordo, sem muita alternativa.

— Claro — digo com a voz embargada.

Ele me encara mais uma vez e suspira, seguindo para o lado de fora.

E percebo que o pecado que estamos cometendo jamais será

perdoado.

Fodido. É isso que estou.

Completamente fodido e perdido. Como pude deixar isso acontecer?

Como fui capaz de esquecer em tão pouco tempo a mulher que amei nos
últimos nove anos e me entreguei aos braços de sua filha?

O pior dos pecados. Traição para mim sempre foi algo

completamente inaceitável, porém, agora cometendo esse ato tão

deplorável, vejo que, quem muito julga, acaba fazendo.

E é isso que estou fazendo. Traindo a memória da minha esposa, que

com certeza não está descansando em paz.

Nunca acreditei no inferno, aliás, não sou muito religioso. Apenas

acredito em uma força maior que nos coloca à prova todos os dias. Seria

essa a minha? Seria a minha prova resistir a Estére? Porque se for, falhei

miseravelmente.

Pego o machado e ando pela floresta, entrando nela. Está claro ainda,

apesar de ter caído uma tempestade, e as árvores são abertas, como se fosse

um convite para entrar ali.

Procuro algumas madeiras caídas, evitando o máximo cortar os

galhos e vejo um enorme galho caído. Sigo até ele e o puxo, notando que

por sorte, não está molhado, então o levo até atrás do chalé. Desconto toda
minha raiva, medo e frustração nela, cortando facilmente, então assim que

termino, jogo no espaço coberto que há atrás do chalé e volto para a

floresta, sabendo que a lenha é o suficiente para hoje e amanhã, mas não

quero ficar perto de Estére, senão irei acabar perdendo ainda mais à cabeça

e a levando para a cama.

“Resistir mais para que, se vocês dois já cometeram todos os

pecados possíveis?” Ouço uma voz na minha cabeça dizer.

Suspiro, frustrado.

É verdade, mesmo não a levando para a cama, o pecado já havia sido

cometido quando a desejei em meus braços pela primeira vez. E se Estére

soubesse que a vi se tocando e me masturbei com a cena, ficaria brava e

com certeza recuaria.

O que seria bom em uma parte e na outra, ruim, afinal, por mais

difícil que está sendo as coisas, eu não quero perdê-la. A quero para mim,

por completa.

A quero nos meus braços.


“Porra!”

Volto para o chalé com as lenhas e vejo que Estére está com outra

roupa, o que me dá a certeza que tomou um banho enquanto estive fora.

Percebo também um cheiro agradável pelo ambiente e fico surpreso quando

a vejo na cozinha, mexendo em uma panela.

— O quê? — pergunto, surpreso. É a minha única reação, afinal,

Estére nunca foi de cozinhar, já que sua comida é suspeita de digerir.

— É macarronada — ela comenta —, olhei na internet como que faz,

eu sei, é ridículo, mas como você foi atrás de lenha, achei que seria legal

preparar algo para comer.

Concordo, sorrindo, e sigo até a lareira, coloco as lenhas e em

seguida, ateio álcool e fogo. Não demora e a chama alaranjada começa a

aquecer o local gelado.

— Vou tomar um banho enquanto você termina — digo, arrancando

a blusa suja e a calça. Estére me encara e ergue a sobrancelha. — O que foi?


Parece que nunca me viu de cueca.

— Bem, já, mas..., tudo bem, tome seu banho rápido antes que a

comida esfrie.

Sorrio e concordo, seguindo para o banheiro, abro o chuveiro e me

lavo rapidamente.

Quando termino, procuro a toalha e não a encontro, abro a porta um

pouco e chamo por Estére.

— Me dê uma toalha, por favor — peço. Ela se aproxima e me

entrega, encarando-me. Vejo seu olhar recair sobre meus pelos pubianos e

sorrio. — Obrigado.

Pego a toalha e fecho a porta, sabendo que ela está louca para ver

meu pau. E senti-lo, com certeza.

Ainda estou surpresa com a imagem de Frederic no banho, mesmo

tendo visto pouca coisa. Porém, só de pensar que uma porta é a única coisa
que me impede de vê-lo nu, me sinto um pouco frustrada.

Coloco o macarrão sobre o balcão e ele sai do banheiro enrolado na

toalha, subindo graciosamente a escada. Não demora e Frederic volta com

calça de moletom que sempre usa, uma camiseta e chinelos nos pés.

— Pensei que iria demorar mais — digo, me sentando e apontando

para a banqueta ao meu lado. Ele ri e dá de ombros.

— Temos o que para beber?

— Suco, refrigerante, cerveja e vinho — digo, ele concorda e pega

duas taças, trazendo uma garrafa de vinho que havíamos comprado no

mercado.

— Acho que o momento é perfeito para isso — diz enchendo as

duas. Fred me entrega uma e sorrio, então batemos uma na outra e bebo um

gole, sentindo o sabor delicioso invadir minha boca.

— Espero que goste do macarrão, é o meu primeiro.


— Bem, caso eu passe mal, tem um hospital na cidade, fica a uma

hora daqui.

— Engraçadinho — digo, mostrando a língua. Ele ri e senta ao meu

lado, começando a comer.

Faço o mesmo e sinto o gosto agradável. Não é o dos melhores, mas

está saboroso.

— Até que não está tão ruim — diz, após comer tudo. Rio, sabendo

que apenas quer me provocar e Fred se levanta, pegando os pratos e

lavando.

Assim que termina, seguimos para a sala e me sento no tapete em

frente à lareira para me aquecer. Bebo um pouco do vinho e mais uma vez

penso em mamãe.

— No que está pensando? — pergunta, me tirando dos meus

pensamentos.

— Em mamãe.
— O quê?

Viro meu olhar para ele e mordo o canto da boca até sangrar,

sentindo o gosto se misturar ao vinho quando o bebo. Frederic enche minha

taça de novo e continua me olhando, esperando uma resposta.

— No que ela diria se soubesse o que vem acontecendo entre nós.

Não adianta dizermos que não existe nada, porque existe.

— Acredito que Jolie iria querer que fôssemos felizes. Ela não iria

querer que parássemos nossas vidas por conta da dela ter se encerrado.

— Eu sei disso, mas eu tinha que tentar ser feliz justamente nos

braços do meu padrasto? — pergunto, bebendo.

Ele me encara e dá de ombros, pensativo.

— A felicidade surge onde menos esperamos, Estére. O errado às

vezes pode ser o certo, assim como o contrário. O que é bom para sua vida

não é para a minha. Não podemos nos basear nas pessoas, mas sim, nas

nossas histórias.
— Se isso é felicidade, por que não me sinto completamente feliz?

Por que sinto que estamos traindo minha mãe?

Ele me encara e dá de ombros.

— Só você mesma pode me responder essa pergunta.


O sol invade a janela do meu quarto e desperto com o cantar dos

pássaros. A situação é um tanto clichê, mas fico feliz em ter um pouco de

luz natural.

Me sento na cama e bocejo, sorrindo. Coloco meus chinelos e sigo

para o andar debaixo, descendo a escada devagar.

Vejo Frederic na cozinha já preparando o café e ele me encara.

— Bom dia — diz animado.

— Bom dia — respondo indo em direção ao banheiro. Fecho a porta

e faço xixi, logo em seguida lavo minhas mãos, escovo os dentes e lavo
meu rosto, prendendo meus cabelos.

Saio e sigo em direção ao pequeno balcão, me sento e vejo os ovos

mexidos com torrada e geleia. Agradeço a Frederic e beberico o café que

ele coloca à minha frente.

— Dormiu bem? — pergunta, me encarando.

— Sim, sem sonhos. E você?

— Deu para descansar — diz, sorrindo.

Concordo e continuamos comendo.

— Quais os planos para hoje? — pergunto, ansiosa.

— Você que manda.

— Bem, podíamos ir à cidade, já que o tempo está agradável. O que

acha?

Ele concorda tomando seu café.

— Vamos assim que terminarmos de tomar café — diz.

*
Após comermos e ajeitarmos as bagunças do chalé que havíamos

deixado, vou para o meu quarto e coloco uma calça legging preta, botas de

coturno e uma camiseta qualquer, prendendo meus cabelos em uma trança

embutida. Resolvo passar um pouco de maquiagem, nada muito forte, e um

brilho labial, aplicando um perfume na minha pele.

Pego meu celular e vejo que Frida mandou uma foto dela com os

pais em um Museu de São Paulo. Então tiro uma foto minha e escrevo

“#Chalé”. Ela manda vários corações e guardo o aparelho, desço até a sala e

encontro Frederic já pronto. Ele usa botas grossas, calça jeans, uma

camiseta e boné. A barba por fazer lhe dá um charme enorme.

— Estou pronta, vamos?

— Claro — diz, dando passagem para mim. Não sei dizer se é

cavalheirismo ou apenas ele querendo vislumbrar minha bunda. Prefiro

acreditar na primeira opção.

— Você dirige — digo, jogando as chaves para ele, que pega no ar.

Fred destrava o veículo e entro, colocando o cinto. Ele faz o mesmo e dá ré,
indo em direção à estrada.

Fico olhando-o dirigir e vejo como Frederic manuseia bem o volante

apenas com uma mão enquanto a outra fica em sua perna. Me ajeito no

banco e ele me olha, sorrindo de lado.

— Precisa de alguma coisa? — pergunta.

— Não — digo, o encarando, abro o vidro do carro, deixando o

vento bater no meu rosto.

— Hummm — é a única coisa que diz, como se fosse um rosnado

baixo.

— Estou ansiosa para saber o que esta viagem nos reserva, faz tanto

tempo que não viajo — digo, agora olhando o lado de fora. Ele concorda e

volto a olhá-lo.

— Confesso que também estou ansioso para isso — diz, com

malícia. Passo a língua pelos lábios, os umedecendo e concordo, então um

pensamento involuntário me invade a mente.


Será que Frederic e mamãe flertavam assim também?

Chegamos à cidade uma hora depois. Após meu súbito pensamento,

fiquei em silêncio e Fred percebeu que algo aconteceu, contudo, não me

perguntou, talvez já suspeitando o que fosse.

Assim que entramos na cidade, notamos uma aglomeração e percebo

que há um pequeno parque montado próximo a floresta. Vejo “Bem-vindos”

escrito na entrada da cidade com luzes de Natal e um papai Noel de plástico

enorme sorrindo e acenando.

— Parece que o Natal começou cedo por aqui — diz Fred

estacionando próximo do pequeno parque. Um rapaz vem para perto de nós

e sorri.

— Bom dia, senhor, senhorita, este estacionamento é exclusivo para

visitantes para o evento que ocorrerá hoje na cidade. Vocês são moradores

daqui?
— Não, estamos visitando — responde Fred. O homem magro, com

o cabelo grande e roupas largas, aquiesce.

— Ótimo, então sejam bem-vindos à cidade — diz sorrindo ainda

mais.

Frederic agradece e saímos do carro.

— Que evento vai ter hoje aqui? — pergunto ao rapaz.

— Teremos show e o parque está inaugurando hoje, com preços

reduzidos.

— Uma montanha-russa e roda-gigante — diz Fred olhando os

brinquedos em movimento.

— Sim, entre outros, fiquem à vontade para conhecerem o local.

O homem se afasta e Frederic dá de ombros.

— Acho que vale a pena. Há quanto tempo você não vai em uma

montanha-russa? — ele pergunta. Seguimos o fluxo de pessoas e penso

sobre o que ele diz.


— Uns anos, a última vez foi com minha mãe, eu ainda era criança.

Ele concorda e continuamos andando. Há palhaços divertindo as

crianças, ilusionistas e até mesmo mágicos. Fico encantada com isso e ao

longe avistamos o “Papai Noel” tirando fotos com as crianças. É um senhor

idoso já, com sua barba de verdade, o que me faz acreditar que ele deixou o

ano inteiro ela crescer para estar tão enorme.

Saio dos meus pensamentos insanos e continuamos andando,

observo um homem sorridente entregar rosas às mulheres. Vejo Frederic ir

até ele e apontar para mim, o homem acena e retribuo o gesto, sem

entender. Em seguida, Fred volta com a rosa na mão.

— Aqui, para você — diz, rabugento. A pego e sinto o cheiro

delicioso.

— Obrigada — digo, tirando o caule e colocando atrás da orelha. —

Como fiquei?

— Acredite, mais linda do que já é — diz, fazendo-me ruborizar. —

Vi que estão servindo hambúrguer e cachorro-quente, quero comer.


— Você tomou café há pouco tempo — digo, andando pela multidão,

o barulho de risadas, músicas e dos palhaços me fazem falar mais alto.

— Eu sei, mas é comida de graça.

Rio, reviro os olhos da maneira que ele fala e concordo.

— Tudo bem, você ganhou desta vez.

Ele pisca e seguimos em direção às barracas que estão dando os

lanches. Pegamos cachorro-quente e hambúrguer e nos sentamos próximo a

uma praça para comermos. Realmente está gostoso e me delicio.

— Pensei que tivesse tomado café antes de virmos para cá — me

provoca.

— Como você mesmo disse, é comida de graça!

Depois de mais ou menos uma hora e meia andando pela cidade,

Frederic e eu decidimos ir ao parque. O show de uma banda local já

começou e eles estão cantando músicas do Aerosmith, Pearl Jam, Guns N’

Roses, entre outros.


Vamos para a fila da montanha-russa após comprarmos nossos

bilhetes e Frederic se mantém atrás de mim, com seu corpo colado ao meu.

Sinto minha pele se arrepiar com isso, mas mantenho o foco e não demora

muito, estamos no brinquedo.

Seguro com firmeza e Frederic se diverte com meu medo.

— Não tem com que se preocupar, se essa montanha-russa estiver há

quatro metros do chão, é muito.

— Quatro metros ainda me parece uma queda e tanto se isso escapar

— digo, segurando o “colete” com força.

— Se você cair, eu prometo te segurar antes que aconteça — diz.

Sorrio e o brinquedo começa a se movimentar.

De início é devagar, seguindo em linha reta, então começa a subir,

faz uma curva brusca, segue em frente e mais outra curva, agora subindo

mais alto possível e parando. Respiro fundo, o brinquedo desce com tudo e

grito de desespero. Ele repete o processo e as outras pessoas me


acompanham nos gritos. A diferença é que o deles é de animação, os meus,

de medo. Encaro Frederic e vejo que ele está se contorcendo de tanto rir.

O brinquedo para bruscamente e somos liberados. Saio com as

pernas bambas e respiro fundo.

— Está se sentindo bem? — pergunta Fred.

— Ótima, claro — respondo, debochadamente. Ele ri ainda mais e

estende a mão para mim. Eu a seguro.

— Vamos, agora iremos na roda-gigante.

Ele corre, me puxando e me divirto com isso, rindo e indo atrás.

Olhando assim, até parecíamos dois adolescentes apaixonados.

“O quê? Alerta! Nada de se apaixonar pelo seu padrasto! Você está

realmente ficando maluca!”

Ficamos na fila e como na montanha-russa, não demora e seguimos

para os assentos, com o rapaz se certificando de que está travada e que não

iremos cair de lá de cima.


— Lamento em dizer que esse sim é alto — diz Frederic. — Deve

ter no mínimo de dez a quinze metros de altura.

— Obrigada, com certeza estou muito mais calma com isso — digo.

Frederic estende a mão para mim e a seguro, com seus dedos

acariciando os meus.

— Se você cair, eu caio — diz. — E não estou filosofando, porque

eu não iria atrás de você, mas se ficar se mexendo demais isso aqui vai virar

e vamos morrer.

Dou risada e acerto um tapa fraco no seu braço.

— Como você é idiota, Frederic!

— Eu sei, e você está gostando, senão, não estaria com esse sorriso

enorme no rosto.

O brinquedo sobe alto e olho para baixo, então Frederic segura meu

rosto.

— O que foi?
— Não olhe para baixo, olhe à sua frente.

Faço o que ele me diz e vejo a cidade inteira, com a enorme floresta

ao redor. O sol reflete no meu rosto e fico maravilhada com isso,

fotografando essa imagem em minha mente.

Desde a morte de mamãe eu nunca estive tão feliz quanto agora. E

sei que não tem só a ver com a visão que tenho, e sim com Frederic Cooper.
Vamos para casa quando já está de noite e ficamos sabendo que a

árvore de Natal vai ser acessa nos próximos dias, comigo afirmando a

Frederic que quero ir ver. Ele concorda, e quando chegamos, cada um vai

para seu quarto e fico pensando seriamente sobre o que está acontecendo.

Ultimamente venho fazendo muito isso, contudo, não me julgo,

afinal de contas, é algo totalmente inusitado o que está acontecendo entre

Frederic e eu.

Troco minhas roupas, coloco meu pijama e me deito, olhando para o

tempo lá fora. O céu está um breu e as estrelas brilham, então caio no sono
com essa imagem.

Acordo na manhã seguinte um pouco assustada. Me levanto e sigo

em direção ao quarto em que Frederic está, mas vejo sua cama arrumada e

desço, vendo que ele não está. Procuro algum bilhete que me dê notícias

sobre seu paradeiro e não encontro nada, vou ao banheiro e resolvo comer

alguma coisa assim que saio. Preparo um suco natural e como algumas

torradas, quando termino, vou atrás do meu celular e encaminho uma

mensagem a Frederic, porém, não vai e vejo que o sinal está fraco.

— Merda — sussurro.

Decido não me preocupar, afinal, Frederic é adulto e sabe o que faz,

mas algo me diz que ele está escondendo alguma coisa de mim.

Saio cedo para a cidade, a fim de esquecer um pouco os problemas e

entro no supermercado mais próximo, observando a atendente sorrir mais


do que o normal para mim. Retribuo com um olhar sério e seu sorriso

vacila, então vejo o celular tocar e sinto meu coração descompassar ao ver o

número do advogado.

— Espero que me dê boas notícias — digo, ao atendê-lo.

— Olá, Frederic, como está? — pergunta Hugo do outro lado da

linha.

— Por favor, sem formalidades, nos conhecemos há anos. Me diga

quais são as novidades.

— Aconteceu o que já sabíamos, Fred. — Meu apelido estala na sua

boca e fico sem reação.

— Você está me dizendo que ele saiu da cadeia? — questiono, não

quero acreditar no que me diz. Não sei se me sinto feliz ou preocupado.

Talvez uma mistura dos dois sentimentos?

— Sim, é isso mesmo — afirma. — E ele sabe onde você está e

pretende procurá-lo, espero que você tenha um bom plano, afinal de contas,
sabemos que Ferdinand não está muito feliz.

Paro no corredor de vinhos e fecho os olhos, tentando raciocinar.

— Plano? Meu plano era tirá-lo dessa enrascada há muitos anos e

você não foi capaz de fazer isso!

— Me desculpe, mas sabemos que o caso era realmente delicado e é

muita sorte ele conseguir sair agora — responde. — Depois de todos esses

anos, o juiz o libertou por bom comportamento.

— Então isso só nos mostra que você foi um completo

incompetente! O seu trabalho era livrá-lo disso bem antes, sabemos

perfeitamente que ele é inocente.

— Você pode até estar certo, mas lembre-se que ser culpado por

algo que não fez é muito mais difícil de provar. Você acha mesmo que esses

policiais se importam com isso? Aqui as coisas não funcionam do jeito que

você pensa, é muita sorte ele conseguir finalmente sair.

Não respondo, sabendo que ele está certo.


— Verei o que posso fazer — digo.

— É bom ver mesmo, porque sabemos que ele irá atrás de você.

Você sempre soube que uma hora ou outra Ferdinand iria se vingar. E é

isso que ele fará. E sua cabeça será o prêmio principal.

— Não tive culpa, você sabe disso! Nós dois fomos enganados,

apenas fui errado em ter fugido do local.

Hugo suspira do outro lado da linha.

— Eu sei disso, meu jovem, mas ele não, e agora você terá que

explicar isso, ou irão acabar em guerra.

Saio do mercado com duas garrafas de vinho, alguns queijos e outros

petiscos, a fim de que isso possa me ajudar a distrair a mente um pouco.

Aproveito e apanho mais algumas lenhas para que possamos passar o final

de semana aquecidos. Quando olho, a hora passou voando e não falei com

Estére, esquecendo-me de deixar um recado a ela. Como dizem, a pressa é

realmente inimiga da perfeição.


Jogo as lenhas no mesmo local em que coloquei as outras e sigo para

dentro do chalé, assim que entro, dou de cara com uma Estére furiosa. Seus

olhos estão vermelhos e o cabelo bagunçado.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto.

— Como tem coragem de me perguntar isso? — questiona, aflita. —

Você saiu, não deixou nenhum recado e eu fiquei sem sinal. Pensei que

houvesse sido morto, sequestrado, devorado!

Seguro a risada do seu drama e coloco as coisas que comprei sobre o

balcão.

— Bem, ninguém me devorou, nem sequestrou ou matou. Apenas

saí para ir ao mercado e esqueci de deixar um recado. Falha de

comunicação, só isso.

— Só isso? — questiona, com a sobrancelha erguida.

— Sim — respondo.

Ela me encara e suspira, notando que se preocupou à toa.


— Apesar do meu jeito, me importo com você e seu bem-estar —

diz, me analisando por completo.

Sorrio e me aproximo dela, a abraçando. E sinto justamente a mesma

coisa que ela.

Quero apenas o seu bem.

Me sinto mais aliviada quando Frederic chega e depois de nos

separarmos do nosso abraço, ele diz que é para eu colocar música, que vai

preparar alguns petiscos para comermos. Coloco o som no volume ambiente

e me sento próxima ao balcão enquanto o vejo com as mãos à obra. Ele

trouxe do mercado vários tipos de queijo, salame e azeitona. Coloca-os

cortados em tamanhos iguais sobre uma bandeja que encontra e pega duas

taças, enchendo-as com o vinho que comprou.

— Vamos fazer um brinde — diz, erguendo a sua taça.

— Ao quê?
— Ao desejo sombrio — diz malicioso, umedecendo os seus lábios.

Sei de qual desejo ele está dizendo e meu corpo se arrepia com isso. Bebo

sentindo o gosto suave e doce invadir minha boca.

Ele começa a se servir e faço o mesmo, comendo os petiscos que ele

preparou.

— Por que não me chamou para ir com você? — indago, bebendo

mais do vinho.

— Não quis acordá-la — replica, dando de ombros. Concordo,

observando o quanto ele é bonito.

— Na próxima você me acorda, então — digo.

— Não consegue mais ficar longe de mim, Estére? — inquire. Toda

vez que meu nome estala em sua boca uma sensação surge em meu ventre.

— Não seja tão convencido assim — o respondo. Ele sorri e perco o

fôlego com seu sorriso tão sexy.

— Quer dançar comigo essa música? — pergunta.


Presto atenção no rádio e ouço Skin da Rihanna começando a tocar.

— Tudo bem — digo, me levantando. Ele vem até mim e me estende

a mão.

A seguro e seguimos para o meio da sala, Frederic passa uma de suas

mãos para o meu quadril e levo a minha ao seu ombro. Começamos a mexer

os quadris devagar, seguindo o ritmo lento da música.

Ele me olha atentamente e fixo meus olhos nos seus. Sua boca

entreabre e meu coração dispara.

— Você parece nervosa, Estére — diz. — Por acaso o seu coração

está acelerado?

Engulo em seco e fico sem reação, pensando no que as pessoas

diriam se nos vissem agora. Se Collin descobrisse que suas teorias de morar

sozinha com meu padrasto estavam certas. Se Frida soubesse que escondi

para ela o que vem acontecendo no último mês.

— Está sim, porque eu quero te beijar — respondo, ele concorda e

sorri.
— Eu também quero — pontua.

Rapidamente nossos corpos se aproximam e nesse momento esqueço

meus medos, os tabus e as opiniões das pessoas, e observo os lábios de

Frederic, o beijando.
Os dias no chalé têm sido tranquilos. Frederic mostra um lado

seu que por anos desconhecia. Ele é gentil comigo e isso me deixa a cada

dia mais encantada por ele, o que acaba me preocupando.

Fomos à cidade ver a árvore que ele fez questão de me levar. O

evento foi lindo, e com isso, tive a dolorosa realidade de que passaria o

primeiro Natal longe de mamãe. O que me fez ficar chateada e dar a noite

por encerrada.

No dia seguinte, acordo mais cedo e decido preparar café para

Frederic e eu, afinal, ele sempre vem cuidando de mim, então nada mais
justo do que eu fazer a mesma coisa. Faço um café forte para despertarmos

e preparo algumas torradas, aquecendo-as no micro-ondas que temos na

cozinha. Pego algumas fatias de queijo, presunto defumado e frutas,

colocando sobre o balcão. Aqueço o leite, e quando estou terminando, ele

desce apenas de camiseta e cueca. Percebo que o volume no meio de suas

pernas está marcando mais do que quando vi a última vez, o que me dá a

certeza de que seu material deve ser grande. Muito grande.

— Bom dia — digo.

Ele murmura alguma coisa e entra no banheiro, ainda sonolento,

alguns minutos depois, sai vestido com uma bermuda que deveria ter

deixado lá. Seus olhos recaem sobre mim e ele boceja, se senta à minha

frente e encosta a cabeça no balcão.

— Não dormiu esta noite?

— Nem um pouco — diz, pegando uma xícara. — Obrigado pelo

café.
— Não tem o que agradecer — digo, me sentando e começo a

comer.

Fazemos nossa refeição em silêncio, o que me deixa um pouco

incomodada. Será que há algo que está incomodando Frederic?

— Você está bem? — o questiono.

— Sim, por quê?

— Nada — minto, sabendo que realmente deve ter alguma coisa

acontecendo e ele não quer me falar.

— Vamos aproveitar hoje, que amanhã já é véspera de Natal — diz,

mudando de assunto.

— Claro, preciso ir ao mercado comprar as coisas da nossa ceia, que

você vai cozinhar, é claro. Não adianta, sou um desastre na cozinha.

Ele me encara e rimos disso.

— O seu macarrão não ficou ruim — diz.

— O que é sorte — digo.


— É, talvez esteja certa. Vou só arrumar as bagunças e me trocar, te

encontro em meia hora.

Frederic me encontra no tempo que diz. Ainda estou no quarto e ele

dá uma batida na porta, encostando seu corpo no batente.

— Estou pronto — diz.

— Certo, vamos — digo ao prender o cabelo e pegar a carteira e

celular.

Passo ao seu lado e Frederic para na minha frente, me encarando

mais próximo que o normal. Engulo em seco e minha respiração fica

entrecortada, ele se aproxima e coloca os dedos no meu rosto, arrumando

meu cabelo.

— Estava bagunçado. Vamos.

O vejo se afastar e descer a escada, o sigo, sabendo que ele está

fazendo isso para me provocar.

Se esse é o seu plano, então será o meu também.


*

O mercado está lotado, como já era de se esperar. Pessoas vão para

todos os lados empurrando seus carrinhos com crianças correndo ou

chorando.

Frederic arrasta o carrinho e seguimos pelos corredores de bebidas.

Pego uma garrafa de vinho e uma de champanhe, decidida a fazer esse

Natal ser uma noite agradável, mesmo que eu vá passar longe de mamãe e

até mesmo de Frida. Logo após isso, seguimos para outro corredor e Fred

começa a pegar as coisas que vai usar.

Menos de uma hora depois, nosso carrinho está com tudo que iremos

consumir e seguimos para a enorme fila, que se arrasta por mais uma hora.

Quando finalmente saímos do mercado, olho distraída para as

pessoas e um olhar marcante me nota. Congelo, sentindo-me estarrecida.

Vejo seus olhos azul-turquesa me notarem e o sorriso sádico estampar o seu

rosto ainda machucado, Frederic percebe que há algo errado e olha na

mesma direção que eu.


— Está tudo bem? — pergunta.

Pisco e percebo que Dréck sumiu. Isso se realmente ele esteve ali.

— Era ele — sussurro olhando ainda na mesma direção, como se ele

fosse se materializar a qualquer momento. — Dréck. Eu o vi.

Frederic me encara e procura ao redor, seu olhar mudando

completamente.

— Tem certeza disso? — pergunta. Concordo com um aceno de

cabeça. — Entra no carro — ordena.

— O que você pretende fazer?

— Entra no carro e fique aqui, entendeu? — o tom autoritário.

Não questiono, então entro e ele fecha a porta, travando o veículo.

Vejo Frederic se afastar e meu coração congela ainda mais com isso.

Onde ele pensa que vai?

Então reparo que Fred procura Dréck pela multidão, o que me deixa

aflita, com um enorme embrulho no estômago.


Ele segue para o outro lado e depois volta para dentro do mercado,

saindo do meu campo de visão.

Pego meu celular e me atento a ligar para a polícia, porém não o

faço. E se realmente havia sido minha imaginação? E se estou ficando tão

paranóica com tudo que me vem acontecendo que agora estou vendo

coisas?

Uma batida no vidro me faz sair dos meus pensamentos e encaro

Fred, que entra no carro.

— Não achei aquele desgraçado — diz, batendo no volante. Me

assusto e ele me observa. — Me desculpe.

— Tudo bem, obrigada por ter tentado.

Ele concorda e sai do estacionamento, seguindo para o chalé em

silêncio. Me mantenho do mesmo jeito, quieta e com medo.

Chegamos rapidamente e ajudo Frederic com as coisas, assim que

terminamos, subo para o meu quarto e me mantenho o dia todo trancada,

com medo de Dréck aparecer a qualquer momento e conseguir me violentar.


Acordo na manhã seguinte sem conseguindo me lembrar do

momento em que dormi, e meu estômago protesta. Levanto-me da cama e

corro para o andar debaixo, indo para o banheiro. O cheiro de comida fresca

invade minhas narinas e sinto ainda mais fome, então após eu sair do

banheiro, vou para a cozinha e encontro Frederic com um avental, todo

animado.

— Parece que alguém acordou com disposição hoje — digo, o

encarando. Ele sorri e concorda, colocando na minha frente panquecas com


mel e sorvete.

— Pensei que iria gostar de comer isso hoje, sei que não é do Beer’s,

mas tentei.

— Parece ótimo, obrigada! — digo animada. Me sento e começo a

devorar, sentindo a sensação de antes se esvair. Não pensei mais em Dréck,

parece que dormir e ter uma noite sem sonhos me ajudou a descansar minha

mente, o que me anima. — O que você está aprontando?

— Bem, coloquei as batatas para cozinharem, já coloquei o peru no

forno e vou preparar a sobremesa.

— Você está mesmo adiantado.

— Sim, iremos à cidade depois da ceia, o que acha? Vai ter um coral

de Natal lá, pensei que seria bom para você se distrair um pouco.

Sei sobre o que ele está falando. Frederic não quer ficar sozinho

comigo porque sabemos que se fizermos isso, nossa noite de véspera de

Natal vai ser regada a lágrimas e tristeza por não termos mamãe ao nosso

lado.
— Eu gosto da ideia, desde que você me deixe dirigir.

— Claro, o carro é seu — diz, sorridente.

Sorrio de volta e continuo comendo, maravilhada com o sabor das

panquecas. Após terminar, coloco o prato sobre a pia e o lavo, com Frederic

mexendo no seu celular e ficando com o olhar sério.

— Eu vou para o meu quarto, as batatas já estão boas e o peru vai

demorar pelo menos mais umas quatro horas, nos vemos daqui a pouco —

diz, já subindo e fechando a porta.

Fico sem entender, curiosa com o que está acontecendo. Será que

Frederic havia arrumado uma namorada e está com medo de me dizer?

“Não seja idiota! Ele deve estar com algum problema na oficina. É,

pode ser isso mesmo.”

E espero que eu esteja certa.

As horas passam devagar, tento falar com Frida, mas seu celular dá

caixa postal, o que me faz acreditar que esteja dormindo por conta do fuso
horário.

Continuo na cozinha, sentada, sentindo o cheiro da comida, Frederic

sai do quarto e desce, indo até o forno. O vejo mexer no peru e depois

terminar de fazer as batatas.

— Está quase pronto, parece que iremos comer cedo.

— Por mim tudo bem, sempre achei besteira termos que comer tarde

— digo.

— Concordamos nisso, então — diz, preparando o arroz e depois a

salada. Quando termina, ele segue para a sobremesa, que é torta de banana

com canela que tanto adoro.

O cheirinho da canela percorre todo o ambiente e lambo os beiços,

com água na boca.

— Você aprendeu a cozinhar tão bem assim com quem? — pergunto,

Frederic se vira e me olha.


— Minha mãe, quando viva, era uma cozinheira fantástica, tudo que

sei foi ela quem me ensinou.

— Eu sinto muito que a tenha perdido.

Ele agradece com um movimento de cabeça.

— Faz mais de dez anos. Quando conheci Jolie, ela havia falecido —

responde. — Hoje em dia é mais fácil lidar com a dor, mas não superei

ainda.

Fico em silêncio, se Frederic não havia superado a morte de sua mãe

depois de dez anos, imagino que será do mesmo jeito comigo.

— É difícil superarmos a morte de quem amamos, estou sentindo

isso na pele. Quando meus avós morreram, não foi tão difícil quanto está

sendo com mamãe.

— Sim, Jolie era uma ótima mulher, é realmente difícil superar sua

morte.

— Você ainda a ama? — pergunto, curiosa.


— Sim — responde de imediato. — Acredito que sempre irei amar

sua mãe, de uma maneira ou outra. Afinal, não terminamos nosso

relacionamento, ele foi interrompido.

Fico atônita ao ouvir isso. É verdade, a imagem de mamãe sempre

irá pairar diante de nós, mesmo que passasse anos, lembraríamos dela. Eu,

como a filha que a traí depois de morta, e Frederic como o canalha que

“pega” mãe e filha.

O pensamento me deixa enjoada.

Fico o restante do dia no meu quarto e quando está anoitecendo,

decido tomar um banho e lavar meu cabelo. Depois disso, me depilo e faço

as sobrancelhas, decidida a ficar bem arrumada nesta noite.

Escolho um vestido vermelho que realça minhas curvas. Ele é acima

do joelho e tem um decote nas costas e um discreto na frente. Coloco o

colar que ganhei de mamãe no último Natal e seco o cabelo, deixando com
a ondulação natural. Faço uma leve maquiagem e depois que termino de me

arrumar, ouço meu celular tocar e mostrar a imagem de Frida na tela.

— Finalmente conseguimos nos falar, pensei que havia me

esquecido por completo — digo, sorrindo. Minha amiga está linda; seu

vestido é brilhoso e com um enorme decote, está com um colar no pescoço

e enormes brincos na orelha, enquanto seu cabelo está preso e bem

arrumado. O batom escuro na sua boca realça seus lábios carnudos.

— Eu nunca te esqueceria — diz. — Me conta, como estão as

coisas no chalé?

— Bem tranquilas, Frederic é bem gentil, o que é estranho, e está

cozinhando para nós.

— Diz que mandei um beijo, mas agora me conta, ele já tentou algo

com você como Collin supôs?

Fico surpresa com sua pergunta e gaguejo.

— O-o quê? Claro que não!


Frida me encara e ri.

— Você tinha que ter visto sua cara agora. Só estou brincando,

bobinha.

Reviro os olhos e mostro a língua.

— Você está virando uma verdadeira piadista — digo.

— Isso é culpa das pessoas daqui, mas agora preciso ir nessa. Foi

bom conversar com você. Eu te amo, feliz Natal, aproveite a noite.

Me despeço dela e desligo o aparelho, vendo Frederic parado à

porta.

— Oi — diz. Vejo que ele usa uma camisa social e que as mangas

estão dobradas abaixo do cotovelo. É escura e combina com sua calça jeans

preta e sapatos sociais. Seu cabelo está penteado para trás, a barba está bem

alinhada.

— Olá — digo, desviando meu olhar do seu corpo. Droga, preciso

aprender a me controlar!
— Você está linda, Estére — diz, se aproximando de mim.

— Você também está — digo.

Ele sorri e ficamos frente a frente, com nossos corpos colados.

Frederic leva sua mão até meu rosto e acaricia minha pele.

— Vendo-a desse jeito, vestida nessa roupa, tenho certeza de uma

coisa — diz.

— O quê?

— Eu te quero, Estére, e mesmo sabendo que você é minha enteada,

sinto que isso não é errado — sussurra, passando os dedos no meu rosto.

Cada toque seu me causa um formigamento.

— Eu também te quero, Frederic, o que é uma loucura. Você foi por

anos meu padrasto, se mamãe estivesse viva, continuaria sendo, então me

diz por que isso aconteceu, por que não consigo me controlar quando estou

perto de você?

Encostamos nossas testas uma na outra e ele suspira.


— Eu também quero uma resposta para isso, contudo, não a tenho.

Mas não consigo só ser seu amigo, eu a desejo a todo instante. É como se

fosse o desejo mais sombrio que já tive em toda minha vida — revela.

Concordo e fixo meus olhos nos seus lábios, o beijando devagar. Ele

retribui e movimenta sua língua para dentro da minha boca, me fazendo

questionar em como seria se estivesse no meio das minhas pernas. Tento

não pensar em mais nada, não pensar em mamãe e nem no que as pessoas

diriam se soubessem, e nos entregamos ao beijo quente, doce e apaixonado.

Frederic me guia para o andar debaixo com uma venda nos olhos.

Ele diz que quer mostrar a surpresa que me preparou e sinto meu coração

acelerar cada vez mais quando chego no último degrau.

Assim que chegamos, fico parada e sinto minha respiração

acelerada, então, devagar, ele retira a venda.

Olho ao redor da sala e da cozinha e vejo luzes acesas em torno das

janelas e lareira. Em cima do balcão, estão nossos pratos, com guardanapos,


talheres e taças. Fico surpresa, sem acreditar que ele havia feito isso tudo

para mim em tão pouco tempo. O peru está sobre o fogão, assim como o

restante da comida.

E é aí que eu vejo que não temos uma árvore de Natal, com a

correria e loucura dos últimos dias, esquecemos completamente de

providenciar isso tudo.

— Como você arrumou isso tão rápido? — questiono.

— Foi enquanto você esteve no seu quarto — diz. — Infelizmente

eu não consegui uma árvore, e foi burrice nossa não pensarmos nisso antes,

mas achei isto.

Vejo ele pegar um buquê de rosas vermelhas e me entregar. Sinto o

perfume e sorrio.

— São lindas, obrigada — digo, alegre. Ele sorri de volta e do

buquê, pega uma rosa.

— Vermelho é considerado por algumas pessoas, a cor do pecado,

você sabia? — questiona.


— Não — digo, curiosa. Frederic segura a rosa e brinca com ela

entre seus dedos.

— E a rosa vermelha significa paixão — completa. — Eu sei que é

muito cedo para dizer isso, e não consigo explicar, mas estou apaixonado

por você, Estére.

Fico surpresa ao ouvir isso e sinto as lágrimas transbordarem nos

meus olhos. Frederic, meu padrasto, está apaixonado por mim.

E o pior, eu também estou apaixonada por ele, o que me deixa

completamente confusa.

Quando isso aconteceu? Como sei que o que sinto é paixão? Como

pude deixar isso acontecer?

Sinto medo e repulsa por estar apaixonada pelo homem que passou

anos ao lado de mamãe, mas o que eu poderia fazer a respeito? Como

explicar ao meu coração, que acelera quando ele se aproxima de mim e me

beija, que o que estamos fazendo é errado? Como mamãe se sentiria? Como

Frida reagiria?
Esqueço por um pequeno momento isso e finjo que tudo não passa

de loucura. Que Frederic nunca foi o meu padrasto e retribuo o beijo.

Para alguns, nós seríamos o próprio Diabo. O oitavo pecado capital.

Sodoma e Gomorra. Mas para Frederic e eu não, pelo menos, não neste

momento.

Somos apenas duas pessoas apaixonadas que não sabem o que fazer

em relação a isso.

Estávamos perdidos e nos encontramos um nos braços do outro. E

mesmo que nos julguem, massacrem e digam que isso não passa de loucura,

eu iria fazer de tudo para ficar com ele.

Eu me entregaria a completa loucura e combustão que nos

consomem.
—É melhor irmos comer antes que a comida esfrie — digo,

separando nossos lábios. Estamos parados no meio da sala e Frederic

concorda com um simples movimento de cabeça.

— Você está certa, ainda vamos à cidade.

Concordo e coloco as rosas, inclusive a que está em sua mão, na

cozinha e seguimos para o balcão. Me sento e Frederic me serve, a todo

instante sorrindo.

É estranho pensar que menos de dez minutos atrás ele me disse que

está apaixonado por mim, contudo, não me sinto mal com isso. Pelo
contrário. É como se dependêssemos em dizermos isso um ao outro para

nos libertarmos de todos os nossos medos.

Mesmo eu não tendo dito em voz alta.

— Gostou? — pergunta Frederic comendo.

— Do quê? — pergunto, saindo dos meus pensamentos.

— Do peru, é claro — diz. — E do restante da comida também.

— Está realmente delicioso, essas batatas estão divinas. Obrigada

por isso, se não fosse você ter vindo comigo para cá, eu iria acabar

comendo comida enlatada.

Ele ri e leva outra garfada até a boca.

— Fico realmente feliz que esteja se divertindo, apesar de não

termos saído muito.

— Não preciso sair para me divertir — digo. — A minha diversão

está aqui.

Percebo o quanto isso soa sexy e ele demonstra um sorriso de lado.


— É bom saber que sou uma diversão para você.

— É sim, principalmente suas comidas. — Rimos e continuo

comendo. Assim que finalizo meu prato, me sirvo de mais um pouco, não

ligando para as gordurinhas que irei ganhar.

— Realmente está bom, acho que é a primeira vez que a vejo

repetindo comida.

— Talvez eu tenha mudado mais do que imagina nos últimos

tempos. — Dou de ombros e levo o garfo à boca, bebendo do vinho.

Ele bebe da sua taça e concorda.

— Nós mudamos, pelo visto — diz e ouço seu celular apitar,

informando uma nova mensagem. Ele pede licença e se levanta, indo até o

banheiro.

Estranho essa atitude, mas não me importo. A loucura de achar que

ele tem uma namorada não paira mais em minha mente, visto que ele se

declarou para mim.

*
Quando terminamos de jantar, entramos no meu carro e seguimos

para a cidade. Dirigir com o salto me deu um pouco de dificuldade, mas

consegui, o que fez Frederic se divertir bastante.

— Você volta com o carro — digo saindo e batendo a porta.

— Você que quis vir dirigindo, apenas fiz o que queria, e poderia ter

tirado o salto — fala.

Reviro os olhos e mostro a língua a ele, que se aproxima de mim e

passa a mão pelas minhas costas desnudas.

— Não mostre a língua para mim ou serei obrigado a mostrar o que a

minha pode fazer.

Me arrepio com isso e mordo o canto da boca, já criando teorias do

que ele faria comigo.

— Devo admitir que estou curiosa para saber — digo. Ele ri e

seguimos em direção à multidão que já espera o coral começar. Há fileiras

de cadeiras colocadas à frente da praça da cidade e nos sentamos, com

Frederic segurando minha mão na frente das pessoas sem se importar.


Claro que aqui não há conhecidos nossos, podemos ter essa

liberdade, então penso em como será na nossa cidade. Iremos ter a mesma

liberdade que aqui?

“É claro que não, e não sei por que está pensando tanto, vocês não

são nada.”

Esqueço isso pelo menos por agora e avisto o palco que foi

improvisado na nossa frente. O céu está claro, o que é bom e não está frio.

Vejo algumas pessoas subindo no palco vestidas com roupas de

anjos, eu diria. Cada um se posiciona lado a lado e um homem vem na

frente deles, fazendo um sinal para que o coral comece a cantar.

As vozes de todos ecoam entre nós e fico fascinada. A música

escolhida é Hallelujah.

Sinto meus pelos se arrepiarem e me emociono, visualizando em

minha mente o sorriso radiante de mamãe. Penso em como daria tudo para

ela estar comigo neste momento. Até mesmo essa paixão que sinto pelo

meu padrasto.
Choro baixinho e Fred percebe, me abraçando apertado enquanto

eles ainda continuam cantando. Reflito em tudo que não fiz com minha

mãe.

Não fizemos nossa viagem dos sonhos e ela não me viu formada,

casada e com filhos, como sempre desejou. Quantas coisas foram perdidas

com o fim de sua vida.

Seco meus olhos e digo a Fred que está tudo bem, então continuo

prestando atenção ao coral, que finaliza a música e começa outra. Agora é a

vez de cantarem Imagine, que me faz ficar ainda mais emocionada.

— Eu não quero perdê-lo, Frederic — digo olhando-o com lágrimas

nos olhos. — Eu também estou apaixonada por você, e por mais

complicado que isso possa parecer, não quero te perder, em hipótese

alguma. Já basta eu não conhecer o meu pai e ter perdido minha mãe.

Perdê-lo seria como o fim.

Ele me observa e seca minhas lágrimas.


— Você não vai me perder, estarei ao seu lado até o instante em que

desejar. Sei que é estranho isso tudo e não entendo muito bem o que

aconteceu entre nós, mas eu não pretendo ir a lugar algum, Estére.

Me aproximo dele e sem me importar com as pessoas à nossa volta,

o beijo, sentindo não só as minhas lágrimas, mas as suas invadirem nossas

bocas.

— Vamos para casa, por favor — peço.

— Se formos agora, não irei conseguir me controlar, Estér — diz,

encostando sua testa na minha.

— Nem pense em se controlar, Frederic, por favor, eu quero isso.

Ele me encara e vejo as pessoas aplaudirem o coral.

— Tudo bem, vamos.

Chego ao chalé ansiosa e com duas unhas já ruídas. Meu coração

acelera ainda mais quando Frederic para o carro e me encara.


— Se não quiser fazer isso, tudo bem, podemos somente dormir

juntos, o que acha?

Penso sobre a proposta e mordo o canto da boca. Dormir com Fred

parece bom, mas ter a ideia de transarmos e minha primeira vez ser com

ele, é melhor ainda.

— Por acaso você está pulando fora, Frederic Cooper? — pergunto,

brincando. Quem sabe o clima de descontração não ajude o meu coração a

parar de pular tanto no peito.

— Eu nunca pulo fora, Estére, ainda mais quando é uma mulher

como você — responde.

Fico sem palavras e saio do carro, ele vem logo atrás, seguindo-me

para dentro do chalé. Entro e retiro o salto que me mata, Fred se aproxima e

me agarra.

Solto um gritinho quando ele me pega no colo e encara meus olhos,

o brilho dos seus me fascinam. Me aproximo, sem qualquer ressentimento e

começamos a nos beijar. Sinto sua língua invadir minha boca e o aperto
contra mim, levando minhas mãos até suas costas largas. Frederic me guia

pela escada e vai subindo devagar, parando no meio dela e beijando meu

pescoço, descendo para o meu decote. Solto outro gemido com isso e o

aperto ainda mais forte contra mim, pensando no que está prestes a

acontecer.

Seguimos para o quarto, com ele ainda me segurando, e abro a porta

com dificuldade. Ao entrarmos, Frederic me coloca no chão e desabotoa sua

camisa, revelando seu abdômen malhado, que me faz ficar com água na

boca toda vez que o vejo. Ele se movimenta para trás de mim e joga meu

cabelo para a frente, beijando minhas costas nuas. Abre o zíper do vestido e

as alças percorrem pelos meus braços, caindo devagar e escorregando para

o chão. Fico somente de lingerie e ele vem para a minha frente, me

encarando.

— Me diga como você gosta, Estére, que farei o melhor.

Fico em silêncio ao ouvir isso e sinto meu rosto queimar, então

abaixo a cabeça, sem graça.


— E-eu — gaguejo e Frederic estreita as sobrancelhas.

— O quê?

— Eu não sei como gosto — digo. — Nunca fiz.

Seus olhos se arregalam e ele fica um minuto inteiro em silêncio.

— Espera... você está me dizendo que é virgem? — pergunta

Frederic, surpreso.

Balanço a cabeça em concordância, sem olhá-lo.

— Sim — afirmo.

— Você e Collin nunca... nada? — questiona e balanço a cabeça em

negativa. — Meu Deus, por pouco você não é estuprada.

Fico quieta, sabendo o que ele quer dizer. Por pouco, pouco mesmo,

eu não perco minha virgindade sendo estuprada.

— É isso mesmo — afirmo.

— Você tem certeza de que quer isso? Digo, quer mesmo fazer isso

comigo?
— Sim, eu quero — respondo. Ele sorri e leva sua mão até a alça do

meu sutiã.

— Porra, Estére, você está me deixando louco. Prometo que farei ser

a melhor noite da sua vida, certo? Se algo lhe incomodar, peço que me avise

imediatamente, que paro.

Concordo, estranhando.

Tudo é estranho demais... principalmente por saber que estou prestes

a perder a virgindade com o meu ex-padrasto...

Mas não me oponho ao meu instinto. Pelo contrário, esqueço neste

momento o que sempre fomos e deixo Frederic me guiar.

Vejo ele retirar meu sutiã e olhar meus seios, maravilhado com a

imagem. Fred tira sua calça e fica apenas de cueca, enquanto estou de

calcinha.

Ficamos frente a frente e ele se aproxima, encostando seu corpo ao

meu, fazendo-me sentir seu pau já duro encostar no alto da minha barriga, o

que faz meus pelos se arrepiarem e meu corpo enviar um alerta para meu
baixo-ventre, o umedecendo. Sinto-me excitada, louca para tê-lo enterrado

em mim, então, passo as mãos no seu peito e me delicio com a rigidez

deles. Desço devagar e acaricio sua barriga, levando meus dedos até o cós

da boxer. Fred me encara e, devagar, o puxo e vejo seus pelos pubianos,

levando minha mão até dentro de sua cueca. Minha pele se encontra com o

seu pênis e me arrepio, sentindo-o pulsar. Lambo os lábios e Frederic me

puxa para mais perto, beijando meu pescoço e mordiscando minha orelha,

enquanto sua mão brinca com meu seio.

Levo minha mão mais para dentro da boxer preta e a puxo para

baixo, finalmente vendo seu pênis.

Como supus, é grande, grosso e com as veias saltadas, o que me

preocupa e excita ao mesmo tempo. Só de tê-lo em minha mão já sinto o

quanto isso será capaz de me satisfazer, entretanto, sinto medo por ainda ser

virgem.

— Seu toque é delicioso, Estér — diz, descendo com sua língua para

meu seio. Ele o chupa e tiro a mão do seu pau, soltando um gemido e o
segurando contra mim. Sinto-o brincar com o bico do meu seio e solto outro

gemido. — Viu, Estére, é isso que eu faço com a minha língua, mas tem

mais.

Frederic desce devagar, fazendo-me ficar ansiosa. Ele passa a língua

pela minha barriga e me arrepio, sentindo medo dos meus instintos. Então

Fred para em frente à minha boceta e se aproxima, inalando o cheiro da

minha calcinha.

Fico nervosa e ele leva as duas mãos até o cós, a puxando devagar,

como se fosse uma tortura.

Fico nua em sua frente, Frederic encara minha boceta e lambe os

lábios, se aproximando e passando sua língua quente no meu clitóris,

fazendo me arrepiar ainda mais.

— Você é linda, Estére — diz.

Continuo em silêncio e ele continua me lambendo, mergulhando na

minha boceta.
Solto um gemido alto ao sentir a sensação. É algo completamente

novo para mim, e sinto que a qualquer momento posso explodir de tanto

desejo que sinto.

Frederic continua com sua língua brincando na minha boceta e

depois de um bom tempo, ele se levanta e traz seus lábios até minha boca, a

devorando. Sinto o sabor do meu sexo e arranho suas costas, sendo a minha

vez de me abaixar.

Passo a língua pelo seu peitoral e sigo para sua barriga, sentindo os

gominhos, então desço devagar e sinto o cheiro de sabonete nos seus pelos

pubianos.

— Eu nunca fiz isso — digo, de joelhos.

— Tudo bem, não precisa ter medo — diz.

Concordo e seguro seu pênis duro que está à minha frente. Levo

minha língua em direção da glande e passo devagar, maravilhada com a

sensação que isso me causa. Frederic solta um gemido e repito o processo,

colocando-o devagar sobre a minha boca.


Faço alguns movimentos, me sentindo com vergonha e

desconfortável com aquilo. E se eu estiver fazendo errado? E se estiver

machucando Frederic e ele não quer falar para não me magoar?

Paro de chupá-lo e passo a língua na base, sabendo que isso é uma

coisa que não o machucará. Eu e minha inexperiência maldita. Então,

depois de um tempo brincando com seu pau, Frederic me puxa para cima e

me encara.

— Por hoje está bom — diz.

— Eu te machuquei? — pergunto, nervosa. Ele ri e nega.

— Não, mas não se preocupe com isso, sei que está nervosa e quero

deixá-la o mais confortável possível. Então faremos isso depois, ok? Eu te

ensino.

— Me ensinar? Eu não sei nada.

— Então fique feliz em saber que temos tempo, agora venha.


Concordo e o sigo, ele me deita na cama, devagar, fica sobre mim e

passa a ponta dos dedos no meu rosto. Fecho os olhos, aproveitando seus

toques e ele os leva até meus lábios.

— Quando eu for te ensinar a me chupar, iremos treinar com meu

dedo — diz, enfiando na minha boca, fico sem reação e concordo com um

leve menear de cabeça. —, mas agora quero saber se você está pronta.

Respiro fundo e concordo.

— Sim, estou — sussurro.

— Se te machucar, quero que me diga, entendeu?

Concordo e sinto ele acariciar meu braço e seguir para barriga, me

ajeito na cama e Frederic se mantém por cima de mim, enfiando seu pênis

devagar na minha entrada. A sensação inicial que sinto é de desconforto e

um pouco de dor, mas não digo a ele, afinal, quero isso. Ele vai se

aprofundando mais e sinto um estalo seguido de um pequeno desconforto.

Frederic fica parado e sinto seu pau escorregar para dentro de mim,

me preenchendo. Fico sem reação, deliciada com isso, e ao mesmo tempo


assustada por ser algo completamente novo.

— Como está se sentindo? — pergunta.

— Estou bem — respondo.

— Posso? — Sei que ele quer permissão para se movimentar e

concordo, passando minhas pernas em volta do seu corpo para que ele saiba

que estou realmente pronta. A dor e desconforto continuam presentes, mas

são substituídas pelo desejo e tesão que ele me causa.

Frederic começa a movimentar seu quadril devagar, enfiando aos

poucos e tirando. Continuo abraçada a ele, não conseguindo acreditar que

isso está acontecendo, então os seus movimentos vão se intensificando e me

sinto ainda mais excitada.

Como pude ficar sem isso por tanto tempo? Será que se eu tivesse

perdido minha virgindade com Collin seria tão bom quanto está sendo com

Frederic?

“Como pude resistir a esse homem por tanto tempo?”


Ele continua investindo em mim e me agarra, me colocando de pé, e

enquanto seu pau entra e sai de mim, envolvo-me em seus braços, cada vez

mais deliciada com isso.

Deliciada em saber que acabo de perder minha virgindade com meu

padrasto. Com o homem que foi casado por tanto tempo com mamãe. E não

me importo.

Deixo o desejo nos consumir e me entrego completamente a ele, que

continua estocando em mim, segurando meu corpo, arrancando gemidos de

dor e prazer da minha boca, e então Frederic solta um rugido, saindo de

dentro de mim antes de gozar e me sujar por completo.


Frederic me pega no colo e devagar desce a escada, me levando

para o banheiro. Ele me dá banho e sorri a todo instante, assim que

terminamos, voltamos para o seu quarto. Noto uma mancha de sangue no

lençol que não havia reparado antes e ele o retira, substituindo por outro.

— Dorme comigo — pede, após buscar uma roupa para mim e nos

trocarmos.

Penso sobre isso e concordo, sabendo que não adianta me crucificar

mais, afinal, o “pior” já havia acontecido.


E por pior que pareça ser, não me sinto mal com isso e sei que

Frederic também não.

Nos deitamos e ele apaga a luz, me abraçando e puxando meu corpo

para mais perto do seu. É a primeira vez que durmo com um homem. Sim,

nem mesmo isso eu havia feito com Collin. Tudo é realmente novo e me

sinto completamente excitada e confusa ao saber que estou fazendo isso

com Frederic.

— Boa noite, Estére, durma com os anjos — sussurra.

— Boa noite — digo, sorrindo, ele continua fazendo carinho em

mim até cair no sono e logo em seguida também durmo.

Acordo na manhã seguinte e vejo Frederic ao meu lado ainda

dormindo. Sorrio com isso e me levanto, seguindo até o banheiro. Faço

xixi, escovo os dentes e logo após, prendo o cabelo. Assim que saio, dou de

cara com Fred, que sorri.

— Bom dia, Estér — diz.


— Bom dia, Fred — respondo depositando um selinho em sua boca,

ele retribui e vai para o banheiro. Coloco a água para preparar o café e ele

sai um tempo depois, vindo até a mim.

— Pronta para ir para casa?

— Pensei que passaríamos o Ano-Novo aqui também — digo.

— Infelizmente a oficina precisa de mim — diz, bufando.

— Você sabe que não precisa trabalhar tanto, não é? Mamãe te

deixou um dinheiro considerável, por que não usa para investir e arrumar

outra pessoa para trabalhar? Poderia expandir os negócios, quem sabe.

Ele me encara e nega com a cabeça.

— Não tenho dinheiro, Estére — diz.

— O que? Você gastou todo aquele dinheiro que mamãe deixou?

— Na verdade, nem cheguei a mexer. Prefiro não usar, não é meu.

— Ele desvia seu olhar do meu e termina de preparar o café.


— É por minha causa, não é? Você não quer utilizar o dinheiro

porque está apaixonado pela enteada.

— Por favor, não vamos entrar nesse assunto agora.

— Mas por quê? Qual o problema em usar algo seu? Mamãe não se

importaria, sei que ela iria querer que você seguisse sua vida.

— Não com a filha dela! — grita, socando a porta do armário, me

assusto e ele suspira. — Me desculpe, não quis gritar com você, mas não é

fácil digerir isso tudo que vem acontecendo.

Fico em silêncio, sabendo que ele tem razão. Realmente não é fácil.

E se as pessoas souberem, irão nos criticar. Mas como mandar em algo que

não conseguimos sequer controlar? É impossível.

— Vou arrumar minhas coisas — digo, mudando de assunto e subo

para o meu quarto.

— Estére, por favor, volte aqui — pede.


Fecho a porta e a tranco, sabendo que Frederic está certo. Pode

passar o tempo que for, sempre seríamos o padrasto e a enteada que se

apaixonaram.

Depois de um tempo, ouço uma batida à porta e guardo as últimas

coisas na mala antes de abrir.

— O que foi? — pergunto a Frederic que está parado com duas

xícaras de café.

— Trouxe um café para você como um pedido de desculpas — diz,

me entregando a xícara. A pego e tomo um gole, agradecendo. — Por favor,

me desculpe, não quis ser rude.

— Tudo bem, sei que é uma situação completamente confusa —

digo. Ele fica parado e cruzo os braços. — Posso ajudá-lo em algo mais?

— Sim, me escutando.

— Estou.
— Me desculpe, ok? Estou realmente apaixonado por você e é tudo

muito confuso. Há momentos que estamos juntos que não me importo com

mais nada, a não ser com você, mas quero que entenda que por nove anos

seguidos você foi minha enteada, e agora é a mulher pela qual me

apaixonei. É confuso e sei que será difícil as pessoas digerirem. Será difícil

nós digerirmos isso, afinal, têm poucos meses que sua mãe morreu, então

peço que tenha paciência, pois terei com você.

Vejo que ele tem razão e assinto.

— Tudo bem, mas desculpo se tivermos panquecas para o café —

digo a fim de descontrair.

Ele está certo, faz pouquíssimo tempo que mamãe morreu e já

estamos apaixonados.

Como pode uma coisa dessa?

Realmente iremos para o inferno.

Ele sorri e dá de ombros.


— Te conheço mais do que imagina e já preparei, é só descermos

para comer.

Comemos e após terminarmos, ajeitamos a bagunça do chalé e

começamos a guardar nossas coisas no carro. À caminho de casa, com

Frederic dirigindo, uma súbita sensação de que as coisas serão diferentes

me cobre. E agora, o que iríamos fazer? Aqui, mesmo que não fosse tão

longe de onde moramos, é um lugar onde ninguém nos conhece, então

podemos andar pelas ruas como um casal apaixonado. Mesmo que não

sejamos um casal.

Mas afinal, o que somos? Frederic assumiu estar apaixonado por

mim, assim como eu também, e acabamos transando. Mas o que isso

significa na realidade? Ainda somos somente o padrasto e a enteada ou nos

tornamos algo a mais?

Saio dos meus pensamentos, decidida a não pensar nisso. Quero que

as coisas aconteçam da forma que devem ser, sem serem atropeladas.

Mesmo assim, ainda não consigo dimensionar isso tudo.


O principal fato é que eu estou completamente apaixonada por um

homem proibido. Mesmo mamãe estando morta e Frederic ser viúvo, sei

que é um homem que eu nunca deveria olhar. Mas como? Como

simplesmente esquecer o homem que te tocou pela primeira vez?

Chegamos cedo e como não temos muito o que fazer, Frederic

decide passar no Beer’s, o que é uma ótima ideia.

Passo pela porta com ele e ouço o sino tocar. Assim que entramos,

encaro Georgie e sorrio, mas o mesmo vacila ao ver que Collin e Laura

estão sentados em uma das mesas.

Fred nota meu olhar e me puxa delicadamente em direção ao balcão

do local.

— Não se deixe abalar por causa desse babaca — diz, e meneio a

cabeça.

— Estére, é bom vê-la aqui — diz Georgie sorrindo. — Frederic.

— Olá, Georgie, como está?


— Bem, fico feliz em vê-los, como passaram o Natal?

— Ótimos — respondo, encarando Collin, que me olha. — Fomos à

cidade vizinha e ficamos no chalé, nada demais.

Georgie concorda.

— Já sei o que querem, panquecas com mel e ovos com bacon,

certo?

— Hoje vai ser diferente — digo. — Quero omelete com queijo e

chocolate quente.

— O mesmo para mim — diz Frederic.

Georgie assente e se afasta, então seguimos para uma das mesas

vazias.

— Está frio — digo, como se isso fosse novidade.

— Se eu pudesse, a agarrava agora mesmo para aquecê-la —

sussurra, arrancando uma risada baixa de mim.

— Talvez possa fazer isso em casa. — Pisco e ele concorda.


— Olá, Estére. — Me viro e encaro Collin.

— Oi, Collin — digo, fria. — O que quer?

— Ouvi você dizendo a Georgie que passou o Natal no chalé com

Frederic — diz, nos encarando. Droga, lá vem problema.

— Isso mesmo — afirmo, com um meneio de cabeça. — E você

deve ter passado na cama da vadia que está ali sentada, estou certa?

Ele me encara e balança a cabeça.

— Vejo que a vadia aqui é você.

Frederic se levanta e todos nos olham.

— Repita isso na minha frente, filho da puta — diz ele, nervoso.

— O que foi, então você a defende agora? Não basta só fodê-la?!

— O quê? — questiono.

Mas não dá tempo de dizer mais nada. Vejo Frederic fechar o punho

e acertar o rosto de Collin, fazendo-o cair para trás. Solto um grito, pedindo
ajuda, mas as pessoas não fazem nada, apenas se afastam e dão mais espaço

aos dois.

— Repita o que você disse, desgraçado! Repita! — grita Frederic,

socando o rosto de Collin. Meu ex-namorado não reage, apenas leva os

golpes, então arrisco me colocar na frente de Frederic.

— Por favor, pare, você vai matá-lo.

Encaro Frederic que não me dá ouvidos e olho Collin, vendo o rosto

de Dréck. Me assusto e ando para trás, tropeçando nos meus próprios pés,

solto um grito e bato meu corpo ao cair.

Frederic para ao me ver caída e vejo seu punho ensanguentado. O

sangue de Dréck... Collin, cobre sua camisa e o chão. Todos nos olham,

assustados e sem reação. Laura chora desesperada e Georgie está com o

telefone, talvez ligando para a polícia.

— Você está bem? — pergunta, verificando se eu não me

machuquei.
— Acho que sim — digo, vendo Collin tossir e levantar. Ele limpa o

sangue do nariz e cospe, nos encarando.

— Você vai pagar por ter feito isso — diz, puxando Laura e saindo.

Todos continuam nos olhando e encaro Georgie, pedindo desculpas,

então saio às pressas e corro para meu carro, com Frederic entrando e

começando a dirigir.

— Foi um erro termos vindo embora — digo, quando estamos

próximos de casa. — Deveríamos ter ficado no chalé.

Ele não diz nada, apenas dirige, ainda sujo com o sangue do meu ex-

namorado.

— Vai ficar tudo bem, ele não voltará a te ofender — murmura,

como se não tivesse ouvido o que eu disse.

Frederic para o carro em frente à casa e saio, pego as malas e sigo

em direção à porta. A destranco e entro, jogando as coisas sobre o sofá. Ele


vem logo atrás de mim e arranca sua camisa, indo direto para o banheiro,

não demora e Fred volta com as mãos limpas.

— Você está bem? — pergunto e ele assente. — Onde aprendeu a

bater tanto assim?

— Um homem precisa saber se defender, Estér — responde.

Concordo e ouço seu telefone tocar. — Preciso atender, vai indo para o

banheiro tomar um banho que te encontro em poucos minutos.

Vejo-o se afastar e subo sem muitas opções, curiosa para saber quem

liga tanto para ele.

Saio da casa e ando em direção à garagem, atendendo o celular.

— Alô — digo.

— Olá, Frederic. — Ouço sua voz e congelo.

— Ferdinand — murmuro, com a voz embargada.


— Pensei que em todos esses anos sem me ver, não lembraria da

minha voz — diz, sarcástico.

— O que você quer?

— Está sabendo que estou livre, não está? Sei que sim.

— Sim, soube disso, mas por que me ligou? — pergunto, já sabendo

a resposta.

— Porque temos coisas a resolver, você não acha? Deixe-me

adivinhar, você está naquela cidadezinha tosca chamada Vale Sombrio, não

é mesmo?

Fico em silêncio por um minuto e suspiro.

— Na verdade, não, fui embora. Minha esposa morreu e deixei tudo

para trás.

— Que estranho, mandei um rapaz na oficina e ele perguntou de

você para o tal Jack e ele confirmou que você estava viajando com sua

enteada, Estére Muller — responde, me deixando atônito.


— O que você realmente quer, Ferdinand? Se for dinheiro, posso

conseguir. Me passe um valor que deposito para você.

— Calma, Fred, vamos chegar nessa parte ainda, por enquanto, só

quero que saiba que estou na cidade e em breve iremos nos ver.

Entro na banheira e não demora muito Frederic aparece, já tirando

sua roupa e entrando por detrás de mim.

— Resolveu sua ligação? — pergunto.

— O quê?

— A ligação — digo. — Percebi que você vêm tendo algumas, é

algum problema? Se eu puder ajudar, me diga.

Ele passa as mãos pelos meus ombros e beija, fazendo arrepios

percorrerem minha pele.


— É só burocracia da oficina — diz —, mas obrigado, se eu precisar,

te aviso.

Concordo, sabendo que ele não fará isso, e continuamos tomando

banho.

Assim que terminamos, saímos e sigo para o meu quarto, com

Frederic indo para o seu. Não demora e ouço uma batida à porta. A abro e o

vejo de calça moletom que sempre usa e camiseta regata.

— Posso dormir aqui com você? — pergunta.

Penso sobre isso, no chalé havia sido fácil por conta de ele não ter

ido lá com mamãe. Mas e aqui? Aqui eles conviveram nove anos juntos,

dormindo no final do corredor. Transando lá dentro.

— Tudo bem — digo, afastando meus pensamentos insanos. Nos

ajeitamos na cama e ele me abraça, beijando meus cabelos.

— Obrigado, Estére, por nesses últimos tempos estar sendo a minha

sanidade.
O Ano-Novo foi tranquilo, por incrível que pareça. Frederic e eu

acabamos passando em casa por conta de não termos outro lugar para

passar. Mas foi ótimo, afinal, foi regado a comida caseira que ele preparou,

taças de vinho e muito sexo.

Da segunda vez que transamos, foi muito mais prazeroso e pude

explorar ainda mais meu corpo, descobrindo pontos simples que me

causavam mais tesão ainda.

Frederic havia voltado a trabalhar na oficina e eu ficava em casa

estudando, já que Frida ainda não havia voltado de viagem.


O medo se tornou parte de mim, afinal, todos os dias era isso que eu

sentia. Ainda mais quando Frida me perguntava se durante a viagem ao

chalé eu não havia encontrado um gatinho e transado.

Queria muito dizer a ela que finalmente havia deixado de ser virgem,

mas como contar a sua melhor amiga, que conviveu com você e sua mãe,

que você está transando com o viúvo que é seu padrasto? Só de pensar em

dizer a ela, o meu eu me abraçava e eu desistia.

“Mas uma hora ou outra você terá que contar a ela o que anda

fazendo, Estére. Vocês não são melhores amigas? Amigas de verdade não

escondem esse tipo de segredo”.

Afasto esses pensamentos e pego meu celular. Envio uma mensagem

a ela, dizendo que preciso lhe contar algo. Imediatamente Frida responde e

encaro a mensagem:

“Me diga que finalmente você transou.”

Rio com isso, às vezes eu sabia mesmo ser bem superficial. Até

mesmo quando a pessoa está longe de mim.


Então penso sobre isso. Deveria contar para Frida o que está

acontecendo entre Frederic e eu? Ela entenderia isso? Respiro fundo e envio

para ela:

“Não é nada de mais, apenas que Collin levou uma surra de

Frederic no Beer´s.”

Conto para ela o que houve semana passada, antes do Ano-Novo e

ela se diverte, ficando feliz com a notícia.

Pelo que soube, Collin havia fraturado o nariz e ido até a delegacia

abrir queixa sobre Frederic, o que torcíamos para ser mentira. Mas, com os

pais que ele tem, não duvido que isso realmente aconteça.

Chego na oficina cedo, o Ano-Novo ao lado de Estére havia sido

tranquilo e Ferdinand não voltou a me procurar, o que me deixa mais

relaxado sobre isso.


Meu único problema neste momento é Collin, que levou a maior

surra de mim, e pelos boatos, havia ido à delegacia abrir uma queixa. Até

agora policial nenhum havia me procurado, então talvez seja mentira, mas é

melhor que eu me mantenha na linha.

Vejo Jack mexer em um carro novo e me animo um pouco, feliz em

finalmente termos algum cliente diferente.

— O que temos aí, Jack? — pergunto, vendo-o debaixo do carro.

— Nada de mais, eu acho — diz.

— Certo, estarei no meu escritório, qualquer novidade me avise.

— Tudo bem, chefe, mas preciso te dizer uma coisa antes.

— O quê? — pergunto, o encarando. Ele me olha, ainda na mesma

posição e aponta para o veículo.

— O dono deste caro, ele disse que vem buscar mais tarde, quero

saber se vai precisar que eu fique ou você entrega.


— Tudo bem, eu entrego. Qual o nome do cliente? — pergunto,

curioso.

— Ferdinand — diz. Fico em choque e mordo o canto da boca até

sangrar. Não pode ser, com certeza é só uma coincidência, afinal, se Jack

tivesse visto Ferdinand, iria comentar sobre o que venho escondendo.

— Certo, termine e tire o resto do dia de folga, eu assumo o resto das

coisas.

Ele concorda e vou para meu escritório, não quero acreditar no que

Jack me disse. Espero que eu realmente esteja errado e seja apenas uma

coincidência.

Mas, conhecendo Ferdinand tão bem, sei que isso é um joguinho seu.

Pensando nisso, pego a garrafa de uísque e encho meu copo,

tomando a forte bebida a fim de aliviar essa loucura toda que vem

acontecendo.

Droga, estou mesmo fodido!

*
O restante do dia foi de fúria e agonia. Ligo para Estére, dizendo que

não poderei almoçar em casa e ela diz que tudo bem, que me espera à noite,

então dispenso Jack e aguardo Ferdinand chegar, sabendo que em algum

momento ele irá aparecer e acabar de uma vez por todas com esse joguinho

ridículo.

Ando de um lado para o outro e noto o ponteiro do relógio andar

mais devagar que o habitual. Ou é apenas coisa da minha cabeça. Porém,

quando vejo, já começa a anoitecer e passa das 20h30.

Continuo esperando, vendo a mensagem de Estér dizendo que está

preocupada com a minha demora. Respondo que estou enrolado com um

cliente e ela manda um emoji de coração, o que faz um sorriso bobo

aparecer no meu rosto.

— Apaixonado, irmão? — Ouço sua voz e vejo a silhueta parada no

meio das sombras. Engulo em seco, ansiando o momento e ele vem em

minha direção.
— Ferdinand — digo, o olhando atentamente. Meu irmão para na

minha frente e vejo uma cópia perfeita de mim. Somos idênticos,

completamente iguais, até mesmo a silhueta e os músculos são parecidos.

— Andou malhando na cadeia, suponho.

Ele sorri e vejo seus dentes retos e brancos, a barba alinhada, a roupa

nova.

— Quando você é a putinha de dez homens por noite, aprende que

para se manter vivo necessita de força. — diz, cuspindo no chão. Fico

parado, surpreso com o que diz. Não consigo sequer imaginar tudo que ele

tenha passado nesses últimos anos. — Mas não vim aqui para falar dos

últimos dez anos fodidos da minha vida. Que tal me contar como anda a

sua? Sinto muito pela morte da sua esposa, é realmente algo muito triste.

Não respondo, apenas encaro-o andar de um lado para o outro.

— Por que voltou? — pergunto, sabendo a sua resposta.

— Como é? Vai me dizer que não sentiu nem um pouco a minha

falta nesses últimos anos?


Ele se aproxima e para bem na minha frente, encostando sua cabeça

na minha e me segurando com força.

— Ferdinand, eu...

— Cala a boca! — grita, ainda me segurando. — Vamos lá,

irmãozinho, mostra um pouco de compaixão a mim, finja ao menos que está

feliz em me ver!

Fico quieto, sabendo que não adiantaria eu dizer que sim, estou feliz

em vê-lo, mas também envergonhado.

— Aceita um drinque? — pergunto, me esquivando dele e indo atrás

da garrafa de uísque. Ele concorda e encho dois copos, entregando um a ele,

que bebe em um único gole. Encho de novo e meu irmão toma mais uma

vez.

— É bom poder tomar um uísque de verdade — diz, analisando seu

copo. Concordo e me sento, com Ferdinand sentando-se à minha frente.

— Agora que você está livre, pode fazer o que quiser, viver onde

quiser. Está precisando de dinheiro? Posso ajudá-lo nisso.


Ele solta uma risada e balança a cabeça.

— De novo esse assunto de dinheiro, irmão? Eu já disse que iremos

falar sobre isso depois, mas por enquanto quero ficar aqui, nesta cidade.

Conhecer as pessoas, entende? Quem sabe conhecer até mesmo sua enteada

e comê-la.

Vejo-o levar sua mão até o meio de suas pernas e segurar seu pau por

cima da roupa.

— Estére não é mulher para você, faça o que quiser comigo, mas se

mantenha longe dela.

Ele ri e lambe os lábios.

— O que foi? Vai me dizer que já está fodendo sua enteada?

— Ela não é minha enteada! — vocifero.

Ferdinand ri e concorda.

— É, você está comendo a garota mesmo. Isso é bem baixo até para

você. Me diga, irmão, quando sua esposa era viva, você já pensava nela
como mulher?

— Cala a boca! — grito, batendo na mesa, ele levanta e me encara.

Fico pensando em como ele sabe tanto sobre a minha vida.

— Por quê? Revelar para as pessoas que você e Estére Muller estão

tendo um caso é complicado demais? Complicado igual falar sobre mim?

Que me escondeu durante todos esses anos?!

Fico quieto e ele acerta um tapa no meu rosto, fazendo minha pele

arder na hora. Não recuo, continuo olhando dentro dos seus olhos e ele

sorri.

— Não é bem desse jeito que você pensa, Ferd — murmuro seu

apelido e seu rosto torce. — Não tive escolhas, por favor, entenda isso.

— Me deixar mofar na cadeia durante todos esses anos me pareceu

uma escolha — responde.

Fico quieto, sabendo que não adianta tentar me defender. Ele já está

com sua opinião formada sobre o assunto e o não o julgo por isso.
— Se veio buscar seu carro, ele já está pronto — digo, mudando de

assunto.

— Não tenho carro, caso não tenha percebido, isso foi apenas para

chegar até você. O veículo é de um outro cara e dei cem euros para dizer

que o nome dele é Ferdinand. Eu sabia que isso o perturbaria.

— Como conseguiu dinheiro? — pergunto.

— De uma mulher que conheci no presídio. Ela me visitava e

quando soube que eu sairia, me arrumou dinheiro. Estranho, não é, irmão?

Uma desconhecida me visitar e você não.

Fico quieto ao ouvir isso, sabendo que é realmente perturbador.

Como pude ser tão covarde?

— Eu sinto muito — digo, o encarando. Ferdinand sorri e balança a

cabeça.

— Você deveria sentir mesmo, passei um inferno naquele lugar que

você não iria gostar de saber, então sim, sinta muito, mas saiba que isso não

vai mudar o fato de eu estar completamente desapontado com você.


Ele coloca o copo sobre a mesa e me olha mais uma vez.

— Ferdinand, por favor...

— Não, Frederic, não me peça perdão. Quero que se culpe, sinta a

culpa tomar conta de você. — Meus olhos ficam marejados e ele sorri,

vitorioso. — Você é mesmo um homem fraco e covarde.

E sai, me deixando sozinho, com a dor e a culpa me consumindo.


Frederic não chegou cedo, o que me deixou um pouco chateada,

afinal, arrisquei cozinhar para nós e acabei jantando sozinha. Assim que

finalizo a comida, que ficou até que boa, subo para o meu quarto e tomo um

banho, lavando meus cabelos e os secando. Visto uma lingerie e meu

pijama, ouvindo a campainha tocar.

Estranho, sabendo que não estou esperando ninguém, e desço para

abrir, dando de cara com Frederic.

— Por acaso você perdeu suas chaves, foi? — pergunto, sorrindo.


Ele não me responde, Frederic vem em minha direção e fecha a

porta, me agarrando. Fico surpresa e ele me pega no colo, passando a língua

pela minha clavícula e descendo em direção aos meus seios. Passo meus

braços em volta do seu pescoço e entrelaço minhas pernas na sua cintura,

vendo-o subir para o andar de cima.

— Parece que alguém chegou animado — digo, rindo. Ele continua

em silêncio, parado no corredor. — Para o meu quarto.

Continuamos parados e estranho sua atitude, a luz fraca reflete seu

olhar sério. Então desço do seu colo e o puxo para o meu quarto, excitada.

Ele me segue, sem proferir uma palavra sequer, entramos e fecho a

porta, deixando apenas um dos abajures aceso.

Frederic beija meus lábios com voracidade e estranho, porém, não

me importo, apenas retribuo e sinto sua língua passear pela minha boca. Seu

beijo está... diferente. O sabor misturado de álcool, cigarro e hortelã me

invadem e puxo sua língua, o agarrando com firmeza.


Tiro sua camisa e passo as mãos pelo seu abdômen, sentindo-o mais

rígido do que o normal, mas não me importo, querendo apenas aproveitar

este momento. Ele faz o mesmo comigo e me deixa apenas de lingerie,

então vou beijando-o e me abaixo. Abro sua calça e inalo o cheiro delicioso

dos seus pelos pubianos, pego no volume duro e abaixo a cueca.

Estou ficando maluca ou seu pênis está diferente? Talvez um pouco

menor e mais grosso?

Afasto esse pensamento louco e começo a masturbá-lo, sabendo que

gosta disso. Ele solta um gemido baixo. Um gemido diferente. E continuo

fazendo os movimentos de vaivém, levando minha língua até a ponta do seu

pau e passando na glande lubrificada. Sinto o gosto de sabonete e o seu

sabor.

Um sabor diferente, mas delicioso. Continuo passando a língua em

torno da cabeça do seu pau e, devagar, para não o machucar, enfio dentro da

boca, sentindo um pouco de dificuldade.


Faço algumas sucções e Fred continua gemendo de prazer, talvez

feliz que eu esteja melhor que na primeira vez e não o machuco.

Depois de um bom tempo chupando seu pau, passo a língua pelo

comprimento, chupo suas bolas e inalo ainda mais seu delicioso cheiro. Ele

me levanta e me pega no colo, arrancando um gritinho de mim.

Frederic me ergue cada vez mais, colocando minhas pernas nos seus

ombros e segue em direção à parede para que eu possa me apoiar.

— Você está selvagem — sussurro, tendo o silêncio como resposta.

Será que essa posição teria um nome? Só sei que é completamente novo

para mim e excitante.

Continuo com minhas pernas nos seus ombros, afastando meus

pensamentos insanos e Frederic afasta minha calcinha com o dente e invade

minha boceta, que está praticamente no seu rosto, com sua língua, fazendo-

me gemer ainda mais alto. Ele faz círculos com a ponta da língua e a

mergulha ainda mais no meu sexo, fazendo-me contorcer de tesão.


— Fique parada — diz, finalmente. Noto que sua voz está mais

rouca, grave, e não me importo com isso, apenas me concentrando no

delicioso sexo oral que estou recebendo.

Ainda chupando minha boceta e segurando meu corpo com uma de

suas mãos, Frederic leva a outra em direção à minha bunda e puxa o tecido

da calcinha. Fico em sinal de alerta, sem saber onde estou sentindo mais

prazer. Em sua língua na minha boceta ou seu dedo, que está fazendo

círculos no meu cu.

— Ah, Frederic, como isso está gostoso — sussurro, maravilhada.

Fred não dá bola para o que eu digo e continua nos movimentos,

chupando minha boceta e investindo seu dedo devagar no meu orifício anal.

Continuo gemendo, me apoiando na parede e pedindo a ele que não pare,

então Fred para, como uma tortura, e me desce, encarando meus seios.

— São seus — digo, Frederic volta a me pegar no colo e me leva

para a cama, me deitando e subindo por cima. Sinto urgência em tê-lo em


mim, então retiro meu sutiã e ele os chupa, mordiscando como nunca havia

feito antes. — Continue, por favor.

Ele não para, continua chupando meus seios e roça seu pênis na

minha boceta, me deixando ainda mais excitada.

— Por favor! — imploro. — Me come, Frederic!

Ele sorri e me arrepio com isso, vendo-o parar de roçar e brincar

com meus seios e subir por cima de mim. Sinto seu pau encaixar na minha

boceta e ele se aprofundar na minha carne, fazendo-me soltar um gemido

ainda mais alto.

Frederic vai até o fim e para, relaxando nossos corpos, começa a

remexer seus quadris em movimentos circulares, que me deixa ainda mais

excitada. Abro mais as pernas e ele continua se remexendo, e, quando

menos espero, começa com as estocadas lentas e tortuosas.

Solto outro gemido, arranhando suas costas e me delicio com isso,

Frederic estoca cada vez mais rápido em mim, fazendo-me perder o ar.
Fred sai de dentro da minha boceta, se levanta, e puxa meu corpo

para beirada da cama. Vislumbro apenas a sua sombra e ele volta a se

encaixar em mim, e vejo o quanto somos perfeitos um para o outro. Seu pau

se encaixa perfeitamente na minha boceta, assim como seu corpo.

Ele continua me fodendo e solto mais gemidos, depois de um tempo,

ele para, me puxa, coloca-me de pé e se senta, me puxando para ele.

Sei o que ele quer, então vou me encaixando no seu colo e descendo

devagar no seu pau. Frederic solta um gemido alto, como um rugido, e o

beijo, subindo e descendo.

Enquanto o beijo e me mantenho nessa posição, Frederic esfrega o

meu clitóris, o estimulando. Sinto uma sensação estranha tomar conta de

mim, como se eu fosse eclodir a qualquer momento e continuo descendo e

subindo no seu pau, cada vez mais rápido. Com um grito alto, Frederic goza

e eu também, surpresa em saber que esse é meu primeiro orgasmo.

Assim que terminamos, ele me tira do seu colo devagar e me deito,

sentindo o cansaço tomar conta de mim. De repente, meus olhos pesam e o


encaro, vendo Frederic formar um enorme sorriso.

— Onde é que você vai? — pergunto, quando o vejo sair do quarto.

— Não se preocupe, Estére, eu volto em breve. — E sai, fechando a

porta.

Não consigo reagir, sentindo o sono tomar conta de mim e durmo,

sonhando com o delicioso sexo que fizemos.

Acordo com uma sacudidela e vejo Frederic me encarar. Seu olhar é

sério e percebo que usa outras roupas.

— Onde é que você foi? — pergunto, erguendo meu corpo e

bocejando.

— Estava na oficina — responde, suspirando pesadamente. —

Precisamos conversar.

— Claro, sente-se — digo, dando espaço. — O que você foi fazer na

oficina tão tarde?

Ele me encara e ergue a sobrancelha.


— Estive lá o dia todo — responde. — Acabei de chegar e a vi

dormindo.

O encaro e dou risada, fazendo-o ficar confuso.

— Do que é que você está falando? — indago, sem entender.

— Do que você está falando? — rebate.

É minha vez de estreitar as sobrancelhas.

— Ah, Frederic, não se faça de besta. Você esteve em casa, inclusive

abri a porta para você.

Ele arregala os olhos e fica sério, como se eu estivesse louca.

— Você está dizendo que eu estive aqui? — questiona.

— Sim, porque esteve. O que está acontecendo? Que brincadeira

mais sem graça é essa?

Vejo Frederic levantar e andar de um lado para o outro, a fúria

tomando conta dele.

— Ele te machucou, Estére? Ele fez alguma coisa com você?


— Ele quem? Me diga o que está acontecendo! — vou em sua

direção, mas ele se afasta.

— Eu deveria ter lhe contado antes, mas as coisas saíram do meu

controle e não sabia como dizer isso a você — começa.

Estranho ainda mais, não compreendo o que ele quer dizer.

— Por favor, Frederic, seja mais claro, não estou te entendendo.

Ele suspira e bufa, frustrado.

— Eu tenho um irmão, Estére — murmura. — Um irmão gêmeo.

Arregalo os olhos ainda mais surpresa com isso e ele me encara,

como se me pedisse perdão.

— O quê? — murmuro, de repente, me lembro dos beijos, dos

toques, do abdômen e até mesmo do pênis de “Frederic” que eu insisti em

estar diferentes.

— É isso mesmo, sei que escondi isso por muito tempo, mas tenho

meus motivos, e agora estou com medo do meu irmão vir atrás de você e
fazer algo.

Me sento, sentindo as lágrimas invadirem meus olhos.

— Você está me dizendo que não veio para casa hoje e depois voltou

para a oficina? — pergunto.

Ele nega com a cabeça.

— Foi meu irmão, tenho certeza. Ele fez alguma coisa com você? Te

machucou?

— O quê? Não! — respondo, chorando. Vejo o alívio tomar conta

dele e Frederic me encara, sem entender.

— Então por que está chorando? Sei que escondi isso de você e de

sua mãe, mas posso explicar.

Não dou importância para o que ele diz, é como se sua voz sumisse

da minha mente. Me levanto e sigo até o banheiro, me encarando. Há

marcas no meu pescoço e no meio do seio, então encaro Frederic, que vê.

— O que foi isso? — questiona.


— Frederic, eu...

As palavras se perdem no ar e ele arregala os olhos.

— Você está me dizendo que...

Concordo com a cabeça e continuo chorando, não acreditando que

isso esteja acontecendo.

Eu transei com o irmão de Frederic.

Não bastasse estar nos braços do pecado, eu estive nos braços... Da

luxúria. Sim, luxúria, havia sido isso que o irmão de Frederic e eu tivemos.

— Me perdoe, eu não sabia — digo.

Vejo seus olhos marejarem e ele suspira.

— Você está mesmo me dizendo que transou com meu irmão? —

pergunta com a voz embargada.


Dou um trago no cigarro e solto a fumaça que desaparece na

noite fria que está fazendo na cidade. Formo um sorriso ao ver o que acabo

de fazer — transei com a garota que meu irmão vem comendo. A sensação

de vitória me consome e paro em um bar, pedindo uma cerveja e alguns

petiscos.

— Você sumiu — diz o homem à minha frente, depositando a

cerveja.

— Do que você está falando? — pergunto, bebendo do copo. O

sabor por qual fiquei tantos anos sem, invade minha boca e causa ondas de
arrepios pelo meu corpo.

— Nada — responde. — Boa cerveja.

Vejo o barman se afastar e reviro os olhos. Com certeza está me

confundindo com o idiota do meu irmão, que a esta hora, já está sabendo

que comi sua mulher.

Bebo a cerveja e assim que termino, pego outra, tomando de uma

vez e pagando. Saio do local, sigo em direção a um hotel fajuto e peço um

quarto.

— Quantas noites o senhor vai querer? — pergunta um homem me

encarando.

— Apenas uma, amanhã é um novo dia e tenho certeza de que

muitas coisas acontecerão.

Sorrio e ele concorda, sigo para o quarto e me deito, feliz por

finalmente estar livre e poder me vingar do meu irmão.

Frederic Cooper e Estére Muller não sabem o que lhes esperam.


Enfim terei minha vingança.
Me tranquei no quarto durante dois dias seguidos, sem conseguir

olhar para Frederic por conta do que eu havia feito. Claro que eu não sabia

sobre seu irmão gêmeo e não podia adivinhar que estaria transando com ele.

E ele sabia disso, deixando claro que poderíamos esquecer e seguirmos em

frente.

No entanto, havia um enorme fator que me impedia de fazer isso.

Ferdinand Cooper.
Ele me contou o nome do seu irmão quando afirmei que havíamos

transado e não sabia que era ele.

Mas havia outro impasse diante de nós. Eu ter gostado do sexo.

Não me culpo tanto por pensar que era Frederic e desejá-lo a todo

instante, mas ao me recordar dos toques, beijos e investidas de Ferdinand,

meu corpo se arrepia por completo e me vejo completamente perdida.

Já não bastasse eu gostar do meu padrasto, esconder isso da minha

melhor amiga, que está voltando do Brasil, agora estou pensando no sexo

delicioso que tive com meu cunhado. E claro, o pior, fui obrigada a ir à

farmácia comprar a famosa pílula do dia seguinte para tomar, já que o

suposto “Frederic” gozou dentro de mim. Fez-me gozar. O pensamento me

causa repulsa, contudo, como não tem muito o que fazer, tento esquecer isso

pelo menos pelos próximos dias.

Levanto e saio do quarto em direção ao corredor. Sigo para a cozinha

e encontro Fred sentado, lendo o jornal e tomando café. Forço um sorriso e

ele retribui.
— Bom dia, como dormiu essa noite? — pergunta, me encarando.

— Tive pesadelos, mas estou bem.

Ele concorda e suspira.

— Pode me falar quais pesadelos foram esses? — pergunta, já

deduzindo.

— Se você sabe, por que me tortura ao perguntar sobre isso? —

questiono, nervosa.

Frederic coloca o jornal de lado e se aproxima de mim, fazendo meu

corpo se arrepiar por inteiro.

— Por que a mulher que eu estou apaixonado gostou de transar com

meu irmão? — pergunta. — Não a culpo por ter transado com ele e gostado,

afinal, o filho da puta se passou por mim. Mas agora estou começando a me

incomodar com o fato de estar me afastando de você e porque toda noite

fica gemendo, e quando eu vejo, está dormindo, sonhando com o pau de

Ferdinand te fodendo.
Desfiro um tapa no seu rosto e ele me encara, sério.

— Me desculpe — murmuro.

— Não peça desculpas por algo que você queria fazer.

— Você está certo, se tivesse me dito antes que tem um irmão, eu

não iria acabar na cama com ele — respondo, indo em direção à sala.

Frederic me segura e me puxa contra ele, beijando meus lábios.

Não recuo, pelo contrário; retribuo. No entanto, é tão diferente de

Ferdinand que me sinto completamente extasiada ao pensar nisso.

Frederic me agarra e passa as mãos pelo meu corpo, apertando o

bico dos meus seios. Solto um gemido e ele morde meu lábio, descendo

para meu pescoço e beijando minha clavícula.

Recordo que Ferdinand tocou ali e me afasto, com ele me encarando.

— Você nem consegue disfarçar que o deseja — diz, nervoso.

— Frederic, por favor — digo, chorosa.


— Tudo bem, Estére, sempre soubemos que essa relação seria um

erro. Eu fui o seu padrasto durante anos e acabamos nos apaixonando, seria

bom se ficasse com meu irmão mesmo.

— Do que você está falando? — pergunto, arregalando os olhos.

— Que se você quiser, encerramos o que temos agora — murmura.

Nego com a cabeça.

— Por favor, não faça isso, estou confusa, sim, mas continuo

apaixonada por você.

Ele suspira e concorda.

— Tudo bem, vou trabalhar, nos vemos mais tarde.

Vejo Frederic se afastar e sair, fechando a porta. Fico pensando nele

e em seu irmão.

Desejando saber onde Ferdinand estaria neste momento.


Nós não conseguimos descrever um sentimento até senti-lo, e neste

momento o que sinto é raiva.

Ainda estou tentando digerir tudo que aconteceu entre Estére e

Ferdinand, mesmo que não tenha sido culpa dela. Penso sobre como ela

deve ter se sentido durante o ato; com certeza, maravilhada.

Penso em Ferdinand, desde o dia que ele apareceu na oficina, não

voltou a nos procurar, o que chega a ser um alívio e tanto, mas tenho medo

do que ele pode estar aprontando. E se ele estiver planejando alguma coisa

que possa prejudicar Estére e eu?

Só de pensar em deixá-la sozinha em casa, sem ninguém para lhe

fazer companhia, me deixa de cabelos em pé.

Penso em Jolie e em como ela se sentiria ao saber toda a loucura que

vem acontecendo. Com certeza, nada feliz.

Pensar nela me causa um pouco de conforto e a sensação de traição

está cada vez menor. Mesmo sabendo que isso não muda o fato do que

Estére e eu fizemos.
Será que de onde Jolie está neste momento ela pode me ver? Me

ouvir? Se sim, que ela me perdoe por isso tudo que eu fiz.
Meu celular toca e vejo que é uma mensagem de Frida avisando-

me que já está na cidade e quer me encontrar no Beer’s.

Recordo-me que a última vez que eu fui lá, antes do Ano-Novo,

Frederic e Collin haviam brigado, e só de pensar nisso, quero dizer a minha

amiga que é melhor não, mas não consigo negar o seu pedido e vou até o

banheiro, penteando meus cabelos e fazendo uma trança embutida. Logo

após, passo um pouco de maquiagem e batom para ressaltar meus lábios.

Como não está tão frio hoje, coloco uma jardineira e meu All Star,

passo perfume e pego minha carteira e celular.


Pego a chave do meu carro e encaro a casa em que vivi com mamãe

a minha vida toda. Se ela soubesse que nos últimos tempos eu transei com

dois homens diferentes/iguais aqui, o que ela diria?

Com certeza me elogiaria, até descobrir que um deles era seu marido

e o outro seu cunhado que ela nunca conheceu.

Penso em Ferdinand. O chamei de cunhado, mas afinal, como rotular

ele sem saber qual rótulo usar com Frederic?

Chega a ser ridículo.

Saio e tranco a porta, sigo para a garagem e entro no meu carro. Dou

ré e sigo pela estrada, ouvindo uma música animada da Dua Lipa.

Quando chego ao Beer’s e vejo Frida sentada em uma das mesas

mexendo no celular, esqueço todos os meus problemas e corro em sua

direção, a abraçando tão forte que seria capaz de quebrar seus ossos.

— Amiga, que saudade que eu estava! — diz, também me apertando.

— Eu estava muito mais, pode acreditar.


Nos sentamos uma de frente para outra e ela sorri. Está usando um

batom amarelo e uma roupa berrante na mesma cor, que revela um pouco da

sua barriga.

— Me diga, pois estou muito ansiosa, quais são as novidades? Quero

saber como foi sua viagem ao chalé.

Dou de ombros e como uma batata que está sobre a mesa.

— Nada de mais, você que precisa me dizer como foi sua viagem ao

Brasil, isso sim é realmente algo interessante.

Frida suspira e chama um atendente.

— Traga dois milk-shakes de chocolate e panquecas com mel e

morango para nós, por favor. — O rapaz concorda, se afasta e ela me olha.

— Precisamos comer, a conversa vai ser longa.

Dou risada, feliz por esquecer um pouco do que ando passando e

concordo.

— Então comece a falar.


Frida concorda e passa a próxima meia hora me contando como foi

sua viagem com os pais e que conheceu um brasileiro de tirar o fôlego. Rio

quando ela me conta sobre as piadas e fico com água na boca quando me

conta sobre a comida. Depois de me dizer tudo que fez na sua viagem e

nossas panquecas com os milk-shakes serem servidos, ela me encara e

aponta com o dedo magro.

— Agora é sua vez de falar, mocinha, e nem pense em me esconder

alguma coisa.

Sinto meu rosto queimar ao ouvir isso. É como se ela soubesse que

estou escondendo várias coisas.

— Dréck continua desaparecido e não foram encontradas novas

pistas sobre ele — digo. — Tenho certeza de que o vi enquanto viajava com

Frederic, mas Fred não encontrou nada.

— Não se preocupe com ele, iremos encontrá-lo! — afirma, me

dando esperanças.
— Torço para isso, apesar de não pensar mais tanto no assunto,

desejo vê-lo atrás das grades, que é o seu lugar.

Ela concorda comendo e volta a me encarar.

— Mas sua viagem não foi regada só a isso. Vai, me diga, conheceu

algum gatinho?

Quero sorrir, dizer que o “gatinho” que conheci mora comigo há

mais de nove anos, mas decido apenas dar de ombros.

— Não estava a fim — minto. Quero dizer a verdade a ela, mas

Frida entenderia? Nem eu mesma consigo entender direito, como poderia

fazer uma pessoa de fora compreender o que está acontecendo?

Como dizer a sua melhor amiga que você está transando com seu ex-

padrasto — se é que existe isso — e transou com o irmão dele, que é uma

cópia perfeita?

Como dizer a sua melhor amiga que gostou de transar com os dois e

se pudesse repetiria? Simplesmente não consigo ser sincera com Frida


agora. Sei que estou errada diante disso, mas não quero ser julgada. Não

agora.

“E pensar que você achou que sua mãe estava no inferno. Quem vai

para lá é Frederic, Ferdinand e você!”

Afasto meus pensamentos e suspiro.

— Você precisa sair mais, Estére — diz.

— Bem, a última vez que fizemos isso não deu muito certo. —

Formo um sorriso triste e ela segura minha mão.

— Não pense nisso, ok? Agora que voltei de viagem, você terá que

me aguentar. Mas me diga sobre Collin e o que aconteceu entre ele e

Frederic.

Conto rapidamente para ela o que realmente aconteceu, dizendo que

Fred ficou nervoso por conta da maneira que ele me xingou.

Frida fica cada vez mais surpresa e coloca as mãos sobre a boca

aberta quando termino de falar.


— Eu daria tudo para ter visto a surra que ele levou — diz rindo. —

Collin é um frouxo, apanhou de mim calado e de Frederic.

— Não esqueça meu soco que quase quebrou minha mão — a

lembro, que ri ainda mais.

— Esse soco foi o melhor. Mas que tal agora irmos ao cinema para

distrair um pouco a mente e vermos uns gatinhos?

Concordo, sabendo que não vai adiantar negar esse seu pedido, e

depois que terminamos de comer e pagamos a conta, seguimos para os

nossos carros, combinando de nos encontrarmos no cinema da cidade.

Escolhemos um filme bobo de romance clichê e compramos pipoca,

refrigerante e chocolate. Frida se diverte com as cenas do casal e rio, sem

graça, apenas para acompanhá-la, já que não presto atenção direito.

Penso em Frederic e nos seus beijos deliciosos, no seu toque, em

como ele foi gentil na nossa primeira vez e na rosa que me deu, se

declarando para mim. Depois penso em Ferdinand, que chegou calado, me


agarrando, beijando e depois me devorou por completo. Não posso dizer

que um transa melhor que o outro, mas afirmo que os dois fazem o trabalho

direito.

E então um súbito pensamento toma conta da minha mente neste

momento.

E se eu tivesse que escolher entre Frederic e Ferdinand?

Com certeza não saberia com quem ficar.

Estére me envia uma mensagem dizendo que está no cinema com

Frida e que vai demorar para chegar em casa. Concordo, mandando um

simples “ok” e Jack entra no meu escritório.

— Chefe — murmura.

— O que foi?
— Seu irmão está aí — diz, parecendo surpreso. — Ele é igual a

você, eu nem sabia que você tem um irmão.

Reviro os olhos e concordo.

— Você deve ser a terceira pessoa que sabe, peça para ele vir ao meu

escritório, e como não temos muita coisa para fazer, pode tirar o resto do

dia de folga.

Jack concorda com um sorriso no rosto e sai. Não demora e vejo

meu irmão entrar no meu escritório, fazendo-me recordar da primeira vez

em que esteve aqui.

— Oi, irmãozinho — diz Ferdinand, me encarando sério. Ele usa

uma jaqueta de couro preta, com uma camiseta branca por baixo, calça

jeans e botas grossas.

— Vejo que a sua puta continua te mandando dinheiro — digo,

encarando as roupas novas. Ele sorri e passa os dedos pela barba, que está

alinhada.
— Não vim aqui falar sobre a minha puta — murmura. — Pelo

contrário, vim falar sobre Estér, como ela está? Ela contou para você como

foi o nosso sexo?

Fecho o punho nervoso ao ouvir isso, vou em sua direção e seguro a

gola da sua camiseta.

— Se veio aqui para falar sobre Estére, é melhor dar meia-volta e ir

embora! — Grito.

Ele apenas ri e o solto, volto para o meu lugar e respiro fundo para

não perder a linha. Principalmente com meu irmão.

Mas vê-lo na minha frente e saber que ele transou com Estére me

deixa nervoso. Fico imaginando-a gemendo no seu pau e ele gozando nela,

o que me enfurece. Será que haviam se protegido?

Duvido, Estére e eu não nos protegemos, o que foi um erro enorme

nosso, então com certeza eles não teriam feito isso. Ainda mais que a vi ir à

farmácia. Teria ido comprar pílula do dia seguinte?


Que droga! Só de pensar isso, sinto minha mente entrar em

combustão. O que esse filho da puta fez com minha mulher?!

— Se você não precisa de mais nada, acho que é melhor ir embora.

Ele fica de pé e concorda, seguindo em direção a saída. O sigo e

Ferdinand para próximo a calçada, se virando para mim.

— Me responda uma coisa — pede.

— O quê?

— Estére por acaso te contou como gemeu no meu pau e como ela

gozou para mim? — Ele ri e se afasta.

Tomo fôlego antes de correr até ele e pular nas suas costas, o

jogando contra o chão. Rapidamente Ferdinand se vira, tentando se esquivar

e acerto um soco no seu rosto. Ele não recua, como pensei que faria, e então

soca meu estômago, me fazendo perder o ar.

Caio para o lado e meu irmão sobe em cima de mim, me encarando.


— Já passou da hora de você aprender a ser homem — diz e desfere

outro soco. Sinto um apito no meu ouvido e ele dá mais um. E mais.

Minha visão fica turva e cuspo o sangue, rindo dele.

— O único que precisa aprender a ser homem aqui é você. O que foi,

Ferdinand, ser a putinha dos caras na cadeia te transformou em uma

marica? — Dou risada e vejo seu punho se fechar de novo pronto para vir

na direção do meu nariz, mas meu irmão é impedido quando dois policiais o

seguram e tiram de cima de mim, o que me faz ficar surpreso. Eu nem havia

notado a presença deles.

— O que está acontecendo aqui? Os dois estão presos por agressão

— murmura o policial nos encarando. Cuspo o sangue e ele nos enfia

dentro da viatura, seguindo para delegacia.

Ótimo, era realmente o que me faltava.

Estére vai me matar.


Ouço meu celular tocar quando saio do cinema com Frida e

atendo o número que desconheço.

— Alô — digo.

— Estére, sou eu — diz Frederic.

— Oi, estou com Frida, podemos conversar depois? — pergunto,

observando minha amiga mexer no celular e roer a unha.

— É urgente — diz. — Ferdinand e eu fomos detidos. Estamos na

delegacia da cidade, disseram que só seremos liberados sob fiança. Preciso

da sua ajuda.
Fico surpresa ao ouvir isso e arregalo os olhos.

— O quê? Como? — questiono, não querendo acreditar.

— Juro que eu te explico depois, mas agora preciso que venha para

cá.

— Tudo bem, estou indo.

Desligo o celular e encaro Frida.

— O que houve, amiga? Você está pálida.

— Preciso ir agora, houve um problema e Frederic foi detido —

digo, nervosa.

— Meu Deus, será que foi por causa do Collin? — pergunta,

estupefata.

— Eu não sei, mas qualquer novidade eu te digo — minto, me

despedindo dela com um beijo e correndo para o meu carro. Entro e saio do

meio-fio rapidamente.
Sigo pela estrada, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e não

demora muito estaciono em frente à delegacia local.

Saio do carro mais nervosa do que quando entrei e sigo a passos

largos para o interior do local, sentindo-me aflita ao me recordar do

momento em que estive aqui para relatar o que aconteceu com Dréck.

— Por favor... — Me aproximo de um policial e ele se vira para

mim.

— Sim?

— Poderia me ajudar? Eu estou procurando dois irmãos, gêmeos,

que foram detidos, os nomes deles são Frederic e Ferdinand Cooper.

O homem me encara e assente.

— Sei quais são, eu mesmo os trouxe para cá, pareciam dois animais

selvagens se batendo no meio da rua.

Ouço isso e fico atônita. Os dois se bateram? Bem típico de Frederic.

— Onde posso encontrá-los? — pergunto.


— Neste momento eles estão detidos em uma de nossas salas, ambos

estavam muito agitados e preferimos algemá-los para não se machucarem

mais.

— Certo, e eu poderei vê-los? — pergunto, mordendo o canto da

boca e torcendo as mãos uma na outra.

— Falarei com o delegado e já venho lhe informar, peço que aguarde

na recepção.

Concordo, agradeço e volto para a entrada, me sentando em um dos

bancos.

Enquanto o policial não volta, fico pensando no motivo de Frederic e

Ferdinand terem se agredido. O que realmente aconteceu para chegarem a

esse ponto? Por que Ferdinand odeia tanto o irmão?

Frederic teria que me contar, se ele quiser sair daqui hoje, terá que

começar a ser sincero comigo.

*
O policial me chama depois de um tempo e me guia para uma saleta

estilo a que eu estive quando fui abrir a queixa sobre Dréck. A lembrança

me deixa aflita, porém, não estou aqui hoje para isso, então entro e dou de

cara com Frederic sentado e os braços algemados.

— Estér — sussurra, ao me ver. Me aproximo dele e o abraço com

um pouco de dificuldade.

— Onde você estava com a cabeça? O que aconteceu? — Analiso

seu rosto e vejo os machucados. Seus olhos estão inchados, o lábio cortado

e a camiseta suja de sangue. Sinto-me completamente impotente ao vê-lo

dessa maneira e quero chorar, mas me controlo.

— Ferdinand — diz, torcendo o nariz que também sangra. —

Acabamos discutindo e a situação saiu do controle, quando vi, já estávamos

aqui. Eu sinto muito.

Concordo e nos sentamos.

— E onde seu irmão está? — pergunto, ele me encara e morde o

canto da boca. — Não é hora para ciúme, Frederic.


Fred solta uma risada seca e volta a me encarar.

— Está na sala ao lado, pelo que sei.

— Ok, verei o que pode ser feito para tirá-los daqui, mas antes

precisamos conversar.

Ele me examina e me sinto exposta.

— O que houve? — pergunta.

— Você que precisa me dizer — respondo. — Sei que Ferdinand e

você tem suas diferenças, mas para chegarem a esse ponto? Para ele se

passar por você e fazer o que fez...

Deixo as palavras se perderem no ar e ele mantém seus olhos fixos

nos meus.

— Já sei que você gostou, Estére, não precisa entrar nesse assunto

mais uma vez.

— Não me culpe por isso, eu pensei que era você, como poderia

adivinhar se são idênticos? Mas não é esse o assunto. O que quero saber é o
motivo de toda essa briga, o que um fez para o outro a ponto de se

machucarem assim.

Frederic fica em silêncio e desvia seu olhar do meu, olhando para o

chão.

— Para falar a verdade, é mais um desentendimento do que qualquer

outra coisa — responde.

— Desentendimento? — questiono.

Fred concorda com um movimento da cabeça e suspira.

— Sim, na verdade, nem eu mesmo sei explicar como as coisas

chegaram a esse ponto — responde, bufando. — Você não precisa fazer

parte disso, Estére, é algo que eu posso muito bem tentar resolver com meu

irmão.

— Percebi — digo, apontando para os machucados. — Quero estar

ao seu lado, Frederic, mas antes disso preciso saber o que vem acontecendo

entre você e Ferdinand. Por que ele te odeia tanto? Quais são os motivos

para isso?
— Você não entenderia, sempre foi filha única — murmura.

— Talvez você pudesse tentar e aí saberíamos se eu entenderei ou

não. Pare de escapar da verdade.

Ele volta a suspirar e assente.

— Tudo bem, você quer saber o que aconteceu entre meu irmão e

eu? Então vou te contar.

— Estou esperando — digo.

— Herdamos do nosso pai uma pequena oficina, estilo a que eu

tenho hoje, e lá cuidávamos dos carros de todos da cidade. Os concorrentes

sentiam inveja de como meu irmão e eu trabalhávamos em harmonia, mas,

na época, precisávamos de uma grana extra porque nossa mãe estava muito

doente. — Ele para de falar, como se estivesse vagando aos acontecimentos.

— Fomos contatados por um homem bastante gentil, ele disse que soube

sobre a situação da nossa mãe e que queria ajudar, precisávamos apenas

fazer um favor a ele.

— Qual favor? — pergunto curiosa com tudo que me diz.


— Espere, chegaremos lá — diz. — Conversei com Ferdinand e o

convenci de que seria bom, que o dinheiro poderia ajudar nossa mãe e

sobraria um pouco para as contas, que estavam acumuladas. Sem escolhas,

meu irmão concordou, e foi quando fomos falar com o rapaz.

“Ele disse que o trabalho era simples, era só deixarmos um carro

dele guardado na nossa oficina que no tempo certo ele pediria para

levarmos em um certo local. Concordamos, afinal, o que era deixar um

carro na sua oficina se havia espaço para isso?”

“O carro ficou lá durante um mês, depois disso começamos a achar

que poderia ser algum problema e o homem apareceu com o dinheiro e

disse que em breve iríamos levá-lo e pegaríamos mais uma grana. Na

situação, aceitamos, então, após alguns dias, fomos contatados para

levarmos o carro em um endereço um pouco afastado da cidade.”

“Não vimos problemas nisso, então nos despedimos de mamãe e

fomos. O grande problema é que, ao chegarmos lá, percebemos que fomos

apenas fantoches e que o homem que nos pagou era um traficante.”


“Saí do carro, esperei, e então vi um movimento estranho de

policiais, na hora que os vi disse para Ferdinand sair do carro e correr,

contudo, ele não foi tão rápido como eu e acabou sendo pego. Eu vi de

longe, escondido, eles perguntarem a ele quem o havia mandado e descobri

um tempo depois que o carro estava cheio de drogas por dentro.”

“Contratei um advogado para meu irmão, mas não tínhamos provas

de sua inocência, afinal, foi pego em flagrante e nunca encontramos o

verdadeiro culpado.”

“Por medo, eu nunca fui visitá-lo, questionando-me se a polícia me

prenderia também. Então, depois disso, mamãe morreu e eu me mudei para

cá, fechei a oficina e reconstruí minha vida nesta cidade pacata.”

“Foi aí que conheci sua mãe, na época ela já tinha uma carreira

sólida e escondi o fato de ter um irmão preso por medo dela achar que eu

poderia tentar roubá-la ou algo parecido.”

“Desde então, nos últimos dez anos, eu nunca fui visitar o meu irmão

na cadeia. Apesar de sermos inocentes, ele pagou por um crime que não
cometeu, e eu, sendo um grande covarde naquela época, não fui capaz de

ajudá-lo ou ao menos apoiá-lo.”

Frederic fica em silêncio após me contar o que houve e levo minha

mão até a sua, apertando-a com cautela.

— Sinto muito que você e seu irmão tenham passado por isso, mas

sabemos que você não teve culpa.

— Sei disso, Estére, ambos fomos enganados, mas eu o deixei mofar

na cadeia durante todos esses anos. Contratei um advogado que não serviu

de nada, mas o pior não é isso, e sim o fato de nunca o ter visitado.

Concordo com um movimento de cabeça, esse fato é algo que nunca

daria para mudar, e até mesmo entendo um pouco o lado de Ferdinand.

— Se tivesse dito a mamãe, ela teria ajudado ele, era muito

influente.

— Hoje penso dessa maneira, mas antes não. Sei que não será fácil

meu irmão me perdoar por conta disso. Durante anos, enquanto eu estava
sendo feliz, ele esteve preso, sozinho, sem o apoio de alguém que o amasse

de verdade. Sinto-me culpado por conta disso.

Fico quieta, sabendo que isso é algo que apenas Frederic pode

mudar.

— Vou conversar com os policiais sobre a fiança de vocês, mas antes

disso, quero vê-lo.

Frederic me encara e torce o nariz.

— Não quero que fique com ele sozinha, Estére.

— O que ele poderia fazer comigo algemado? — pergunto, Fred

suspira e concorda.

— Tudo bem, não irei sair daqui — diz, mostrando as algemas.

Formo um sorrisinho e me levanto, indo em direção à saída. O mesmo

policial está do lado de fora e me direciona para a outra sala, assim que

entro e vejo Ferdinand, um arrepio percorre minha espinha.


— Estére Muller — diz, lambendo os lábios —, veja só, que prazer

em finalmente conhecê-la. Quero dizer, conhecê-la me apresentando como

Ferdinand.

Fico quieta e noto que seu rosto também está machucado, e me guio

em direção à cadeira devagar.

— Ferdinand — digo, nervosa. —, como você está?

Ele sorri e mostra as algemas iguais a do irmão.

— Pareço bem? — questiona. — Acabo de sair da cadeia por bom

comportamento e meu irmão me coloca nessa enrascada igual na última vez

há anos.

Fico quieta e ele me encara.

— Ele te contou, não é? Não parece surpresa. Vai, me diga, quais

foram as mentiras de Frederic? Ele se fez de coitadinho, com certeza.

Me mantenho calada, brincando com minhas mãos.


— Quero ajudar você, Ferdinand, irei pagar a fiança e iremos sair

daqui.

— Você acha que no meu caso vai ser tão simples assim, pagar

fiança e sair?

— Acredito que sim, mas vão cobrar mais do que o normal —

respondo. Ele sorri e vejo os dentes brancos e retos, percebo que ao menos

isso a cadeia não marcou, já que seu corpo, e com certeza a alma, estão

marcados com puro ódio e ressentimentos.

— Ah, e a gatinha órfã tem dinheiro para pagar. — Ele se aproxima

e me encara dentro dos olhos. — O que sua mãe diria se soubesse que você

vai gastar o dinheiro dela com o irmão presidiário e o ex-marido dela, que

você vem trepando?

Sinto vontade de acertar um tapa no seu rosto, mas me controlo.

— Não dificulte as coisas, Ferdinand — digo. — E aqui também não

é lugar para discutirmos sobre isso. Vim apenas informá-lo que irei pagar a

fiança de vocês e vamos para minha casa, temos muito o que conversar.
Ele estreita as sobrancelhas e vejo o quanto se parece com Frederic.

Se eu não soubesse quem é ele, diria que é Fred.

“Você achou isso, não achou? Quando estava transando com ele,

você sequer deu importância para as diferenças que notou.”

— Temos, é? — questiona. — Por acaso você quer me conhecer

mais do que já conheceu?

Reviro os olhos ao ouvir isso. Não posso negar que realmente é

ridículo saber que o homem que está na minha frente já transou comigo, e

eu não sei absolutamente nada sobre ele.

— Conversaremos em casa — afirmo, esquecendo meus

pensamentos. Me levanto e ele me olha uma última vez, sorrindo.

— Ótimo, vai ser bom ir lá novamente e relembrar o que fizemos —

diz, e saio revirando meus olhos.


Pago uma pequena fortuna para ter os dois livres e assim que

somos liberados, entro no meu carro com os dois atrás, em silêncio. Mando

mensagem para Frida dizendo que está tudo resolvido e que Frederic não foi

preso por causa do Collin e sim por brigar com o irmão gêmeo.

“Irmão gêmeo? Desde quando você sabe essa informação?”

“Estou tão surpresa quanto você.”

Mesmo ocultando algumas partes, decido que o melhor é ser sincera

com minha amiga, até porque, com a cidade pequena em que moramos, não
demoraria muito para todos os moradores saberem que Frederic tem um

irmão e saiu no tapa com ele.

“É tão gostoso quanto Frederic? Você pode ficar com ele sem

consciência pesada agora.”

Dou risada e percebo que Ferdinand está olhando a mensagem.

— Sua amiga tem razão, Estére, você pode ficar comigo sem as

pessoas criticarem tanto, não que eu me importe com o que digam — diz,

me encarando. Respiro fundo e encaro Frederic, que está sério.

— Fiquem os dois quietos até chegarmos em casa, ok? — peço,

seguindo pela estrada.

— Você não nos deu muitas escolhas, Estér — sussurra Ferdinand ao

meu ouvido. Ignoro o arrepio que percorre meu corpo e mantenho meus

olhos na estrada, rezando a Deus que isso tudo não passe de um sonho.

“Um sonho bastante erótico, não acha?”

*
Felizmente ou infelizmente, não é um sonho. Ainda não consigo

decidir se ter Frederic e Ferdinand entrando em minha casa, com os rostos

machucados e as roupas sujas, é a melhor coisa do mundo. Contudo,

poderia ser pior. Bem pior.

— Ferdinand, você toma banho aqui embaixo e Frederic no quarto

dele — digo, apontando para a porta do banheiro.

— Não tenho roupas, não quer que eu fique pelado, quer? —

questiona Ferdinand me provocando.

— Acho que ter um irmão gêmeo com o porte praticamente igual ao

seu deve ajudar — respondo.

Frederic me encara e o vejo revirar os olhos, subindo para o seu

quarto.

— Suba e pegue as roupas, não vou trazer para você — diz,

parecendo um adolescente birrento. Quero rir disso, mas ao mesmo tempo,

bater nos dois.

Ferdinand bufa e segue o irmão, enquanto analiso sua bunda.


“Droga, estou ficando louca mesmo!”

E então me lembro das palavras de Frida, dizendo que eu poderia

namorar com ele, que as pessoas não me julgariam tanto.

Penso em relação a isso, será que Frida desconfia de alguma coisa e

joga essas indiretas para cima de mim a fim de que eu conte a verdade à

ela?

Não, claro que não. Jamais minha amiga ficaria calada com um

segredo desse.

Não que ela seja fofoqueira e sairia contando por aí, mas com

certeza ela já teria chegado em mim e perguntado a respeito. Certo?

Saio dos meus pensamentos quando vejo Ferdinand descer a escada

tranquilamente com uma toalha de banho, sabonete e roupas, inclusive uma

cueca boxer limpa.

Ele passa por mim e me encara, o que faz meu corpo estremecer.

Contudo não sei se isso é bom ou ruim.


Mas tenho que confessar que estou louca para saber.

Ando de um lado para o outro na cozinha, esperando os dois saírem

dos seus banhos. Preparo a maleta de primeiros socorros e resolvo fazer um

chá para aliviar a tensão.

Coloco três xícaras sobre a mesa de centro da sala, a maleta e o

adoçante.

Roo a unha, esperando, e quando vejo, Frederic desce e Ferdinand

sai do banheiro. Ambos estão com os cabelos molhados e os machucados

um pouco melhores, já que o sangue seco saiu da pele. Olho os dois e noto

como são iguais; as roupas de Fred ficaram ótimas no irmão.

— Perdeu o ar, gatinha? — pergunta Ferdinand se aproximando,

vejo Frederic fechar o punho e me afasto do outro.

— Deixe suas piadas para outra hora, Ferdinand, não é o momento

para isso.
Ele dá de ombros e concorda, se sentando. Frederic se senta na

poltrona e nego com a cabeça, fazendo-o ficar sem entender.

— Sente-se ao lado do seu irmão — peço.

— O quê?

— Você está parecendo nossa mãe — diz Ferdinand.

— Sim, quando éramos mais novos e brigávamos para ver quem

ficaria com a bola — responde Frederic como se vagasse em lembranças.

— Só quero poder conversar com os dois como pessoas civilizadas

— digo, servindo-nos. Entrego uma xícara para cada um e os vejo torcerem

o nariz.

— Chá? Por acaso você acha que somos o quê? O chapeleiro

maluco, Alice? — questiona Ferdinand, fazendo menção ao meu livro

favorito.

Será que ele sabe sobre isso ou é apenas uma coincidência?

“Com certeza é só coincidência.”


— Devo concordar com ele, isso não vai aliviar a tensão entre nós e

nem melhorar minhas dores — argumenta Fred, se levantando e indo até o

bar. O vejo encher dois copos de uísque e fico incrédula.

— Tudo bem, sem chá, me traga um também — digo, apontando

para a bebida cor âmbar.

Frederic ergue a sobrancelha e concorda, vindo nos entregar os

copos. Em seguida ele volta e enche um para si, sentando-se ao lado do

irmão.

Os dois levam seus copos até seus lábios e mordo o canto da boca,

reprimindo minhas pernas. De repente a lembrança deles me chupando

invade minha mente e tento afastar esse pensamento, bebendo o líquido.

Tusso e eles me olham.

— A gatinha não aguenta uma bebida forte, mas aguenta...

— Cala a boca! — grito, encarando Ferdinand, vejo ele estreitar as

sobrancelhas e Fred rir. — Desde o momento em que nos vimos, você não

para de fazer piada, só porque você teve coragem de vir aqui e se passar
pelo seu irmão. Agora já chega, estamos aqui para vocês tentarem se

resolver. Não podem ficar por aí brigando e parecendo crianças birrentas.

Os dois ficam em silêncio e Frederic abaixa a cabeça, não querendo

me olhar.

— Crianças? — questiona Ferdinand. — Está nos comparando com

crianças birrentas?

— Sim — afirmo, segurando o copo e o encarando, me sento na

poltrona e ele forma um sorriso largo.

— Somos duas crianças que te comeram com gosto, você não acha?

— Ferdinand — diz Fred, chamando a atenção do irmão.

— Seria somente um se o outro não fosse tão covarde e se passasse

pelo irmão para conseguir uma mulher — respondo, o alfinetando.

— Posso ser covarde em ter me passado por Frederic, mas que

fizemos um delicioso sexo isso você não pode negar.

É minha vez de abaixar a cabeça e ficar em silêncio.


— Sério, para mim já chega, se vocês vão ficar aqui falando sobre

isso na minha frente como se eu não existisse... Foi por esse motivo que

saímos no tapa, Estére. Não gosto de saber que você transou com outro,

principalmente com meu irmão gêmeo.

— Sei que é difícil compreender isso, mas sabemos que o único

culpado aqui é Ferdinand — digo, apontando para ele. Ele coloca os braços

para o alto, segurando o copo, e sorri.

— Culpado — responde, dando de ombros.

— Você se acha muito engraçadinho, não é? — questiono.

Ele ri ainda mais, se divertindo com a minha fúria.

— Sim, eu me acho — responde. — Mas seja clara, por que estamos

aqui? Qual o objetivo disso tudo?

— Primeiro que você precisa deixar esse humor ácido de lado —

começo. — E depois, vocês dois precisam conversar. Resolverem o que

ambos têm em aberto. É isso — digo, convicta das minhas palavras.


Ferdinand ri e Frederic o encara.

— Estére está certa, Ferd, precisamos conversar, nos resolvermos.

Ferdinand nos encara e ri ainda mais, balançando a cabeça em

negativa.

— Vocês sabem por acaso o inferno que eu passei na prisão para me

dizerem que simplesmente temos que nos resolver?! — questiona, gritando.

Seu olhar demonstra fúria.

— Não, não consigo imaginar a dor que é ficar anos preso sem poder

ir ao menos ao mercado. Não consigo pensar o quanto é ruim você ter que

dividir seu espaço com outras pessoas, mas você precisa entender que

Frederic não teve culpa. Vocês foram enganados. O erro dele foi apenas não

ir visitá-lo, quando na verdade deveria ter feito isso. Mas ele não teve culpa,

acredite.

Ele solta uma gargalhada e nega com a cabeça.

— No dia que você for estuprada todos os dias e noites durante dez

anos, conversaremos — responde, me observando.


Fico surpresa com suas palavras e meu coração acelera. Estuprado?

Ferdinand havia sido estuprado por dez anos? E pensar que eu quase fui

abusada por Dréck, que ainda está solto por aí, sabe Deus fazendo o quê.

— Acredite, eu quase fui, mas realmente não consigo compreender o

que é passar por isso, ainda mais por tantos anos.

Ele concorda, fica quieto ao ouvir o que eu digo e Frederic se

levanta.

— Sinto muito por tudo que você tenha passado, Ferdinand.

Confesso e reconheço que fui um covarde em não o visitar, mas fiz o que

pude. Contratei um advogado para tirá-lo da cadeia, mas sem provas do

verdadeiro culpado e você sendo pego no local do crime, foi impossível.

Queria ter lhe visitado sim, mas na época nossa mãe já começava a ficar

doente e eu precisava mentir para ela, dizendo que você estava trabalhando

fora para ajudar nas coisas.

“Trabalhei o dobro para pagar o advogado e suprir tudo que ela

necessitava, e, quando mamãe morreu, não consegui me manter na cidade e


foi aqui que consegui encontrar pessoas que me amam de verdade. Jolie era

magnifica, sinto muito que ela tenha morrido tão cedo, mas encontrei

conforto com Estére e realmente fico feliz que você esteja livre. Quero que

possamos nos entender e seguirmos em frente. Sei que perdeu anos da sua

vida, mas agora estou aqui para me desculpar e ajudá-lo no que precisar.”

Fico emocionada com as palavras de Frederic e encaro Ferdinand,

que continua em silêncio.

— Se não se importarem, acho melhor eu ir embora — diz,

colocando o copo sobre a mesa. Me levanto e paro em sua frente.

— Você vai para onde? Deixe-me ao menos fazer um curativo nesses

machucados.

Ele me encara e balança a cabeça.

— Importa para onde eu vou? — questiona.

— Para Fred e eu, sim — respondo.

Ele não responde, sabendo que minhas palavras são verdadeiras.


— Tudo bem, acho que não custa ter suas mãos acariciando a minha

pele.

Reviro os olhos e ele ri.

Vejo Frederic e seu olhar triste.

— Vamos cuidar dos seus machucados também — digo, estendendo

a mão para ele.

Frederic concorda e os dois se sentam no sofá, enquanto vou fazendo

os curativos.

Não demora muito e assim que termino, Ferdinand volta a se

levantar.

— Obrigado.

— Você pode ficar, se quiser, não precisa pagar um hotel — digo. —

Temos um quarto vago. Podemos fazer um jantar, o que acham?

Frederic encara o irmão e espero ansiosa pela resposta.

— Tudo bem, somente desta vez você ganhou — diz Fred.


— Eu cozinho, não confio na comida de vocês — responde o outro

seguindo para a cozinha e arrancando uma risada minha.


Sigo Ferdinand para a cozinha e assim que chegamos, ele abre os

armários à procura das coisas como se estivesse familiarizado com o local.

Me sento, apenas o olhando e Frederic fica ao meu lado, contemplando o

irmão abrir a geladeira e pegar o que quer que fosse fazer.

— O que teremos no cardápio? — pergunto, curiosa, quando ele já

começa a temperar os bifes e depois cortar tomates e cebolas em rodelas.

— Apenas um bife com purê, nada de mais — diz, dando de ombros.

O vejo acender o fogo e colocar as batatas descascadas na panela com água,


que começa a ferver rapidamente. — Se vocês dois vão ficar aí me olhando,

aproveite e me conte mais sobre você, Estére.

Ele me encara e me sinto um pouco desconfortável, então noto o

olhar de Fred para mim.

— Não tem muito o que dizer, eu acho.

— Não é possível, uma jovem como você com certeza tem muitas

coisas para nos contar.

— Você fala como se fosse um velho — digo, ele ri e balança os

ombros.

— Bem, não é isso, só não tenho muito o que contar e não quero

reviver o inferno que passei nos últimos anos. — Seu olhar recai sobre

Frederic e concordo.

— Tudo bem, me diz o que quer saber que eu conto.

Ferdinand pega uma frigideira e coloca um pouco de azeite, aguarda

as batatas cozinharem e se aproxima de nós.


— Me fale sobre sua mãe — pede.

Ótimo, não poderia ser pior!

Falar de mamãe nunca foi algo difícil para mim, pelo contrário, ela

era uma mulher tão simples e fantástica, que era fácil falar sobre suas

qualidades e ensinamentos que me deu. Mas, nos últimos tempos, depois do

Natal, para ser mais exata, eu estou evitando pensar nela.

Não que eu queira esquecê-la, mas sim para não me sentir tão

culpada pelo que estou fazendo.

— Mamãe era uma mulher fantástica — digo, ao visualizar o sorriso

dela em minha mente. — Adorava comer panquecas e lasanha, quando

precisava me dar bronca sempre me chamava de canto para não me expor.

— Você sente falta dela, Estére? — pergunta Ferdinand.

— Muita — respondo, sorrindo.

Ele me encara e olha o irmão.


— Me diz, pois estou curioso. Se sua mãe estivesse viva, você

renunciaria ao meu irmão?

Ouço sua pergunta, tentando compreender o que ele quer dizer e fico

em silêncio por um tempo. Eu o renunciaria? Desistiria de ter Frederic ao

meu lado para ter mamãe?

— Eu não sei responder a isso — digo.

— Então está assumindo que ama meu irmão — diz Ferd, voltando

para as panelas e vendo as batatas.

— O quê? Não! Quero dizer, não que não o ame, mas é difícil pensar

em uma resposta assim, do nada. Nunca parei para pensar nisso.

Encaro Fred e ele sorri, sem graça.

— Quando isso começou a acontecer entre vocês? Por que não me

responde essa, Frederic?

Fred suspira e dá de ombros.


— Não sei com certeza quando aconteceu, mas quando vi já estava

apaixonado por Estére.

Sorrio ao ouvir isso. Pode parecer errado, mas adoro quando ele diz

que está apaixonado por mim.

— Estranho, não é? Vocês eram padrasto e enteada e agora são o

quê, amantes?

Meu corpo retesa ao ouvir a palavra “amantes”.

— Não sei ao certo o que somos — respondo, cabisbaixa.

— Então, voltando ao que já havíamos conversado, Estér, você não é

minha cunhada, como presumi.

— Sim, ela é — afirma Frederic me encarando. — Namora comigo?

— pede.

Fico surpresa com o pedido inesperado e tusso, me espantando com

isso. Ele me encara e Ferd ri, adorando a cena.

— O quê? — pergunto ao me acalmar.


— Isso que eu disse — ele diz. — Namora comigo e assim

Ferdinand será seu cunhado oficialmente e ele poderá parar de dar em cima

de você.

Encaro-o e me viro para Ferdinand.

— Então é isso? Você está me pedindo em namoro apenas para seu

irmão parar de dar em cima de mim? Por que está com ciúmes?

— Eu vou parar? — pergunta o outro, rindo.

— Não foi isso que eu quis dizer, Estér, sabe que realmente gosto de

você e já que moramos juntos, você é solteira, eu viúvo, por que não?

— Você é viúvo de mamãe — digo. — Como vou sair por aí e dizer

que estou namorando o cara que chamei os últimos nove anos de padrasto?

As pessoas irão nos crucificar.

— Então namora comigo — diz Ferdinand. — Veja bem, as pessoas

vão estranhar o fato de você namorar o gêmeo do seu padrasto, e claro, vão

achar mais estranho ainda ele ter um irmão gêmeo, já que me escondeu por

anos, mas ao menos não será tão ruim quanto namorar com o padrasto.
— Vocês estão mesmo me pedindo em namoro, é sério isso? —

pergunto, incrédula. Ferd concorda e tira as batatas da água, amassando-as e

separando, enquanto em uma panela derrete a manteiga.

— É sério — diz Fred. — Digo, da minha parte, não dê ouvidos ao

meu irmão, ele está fazendo isso apenas para nos provocar.

— Provocá-lo por que, se Estére e eu transamos, assim como vocês?

— questiona o outro.

— Já chega, esse assunto de novo não. Sabemos que isso foi um

grande erro, então não vamos ficar relembrando, ok? Não vou namorar com

nenhum dos dois, isso é loucura!

— Então namore com os dois, Estér — oferece Ferdinand. — Não

me importaria de dividi-la com meu irmão, afinal, já fizemos isso antes.

— Se continuar relembrando isso, irei te arrebentar! — vocifera

Fred.

— Então vem — provoca o outro, mexendo o purê.


— Não comecem! Ao menos esta noite, por mim, não briguem.

Vamos ter um jantar normal e esquecer essa conversa que tivemos aqui

agora.

Os dois se encaram, me olham e concordam, ficando em silêncio,

enquanto eu, por dentro, estou mais agitada que o normal, criando um

pensamento um tanto inusitado.

E se realmente eu namorasse com os dois, como seria?

Arrumo a mesa em silêncio. Coloco os pratos, os talheres e nossas

taças, com Frederic afirmando que vai abrir uma garrafa de vinho para

acompanhar. O cheiro do bife com o tomate e cebola e do purê invadem

minhas narinas e meu estômago protesta. Então vejo Ferdinand colocar a

comida sobre a mesa e nos sentamos.

Sento-me na cabeceira, enquanto os gêmeos ficam de cada lado meu.

Começamos a nos servir e como em silêncio, saboreando o delicioso gosto

da carne macia e do purê.


— Está delicioso — elogio, comendo ainda mais. Ferdinand

agradece e eles comem em silêncio, depois de um tempo, Ferd me encara.

— Você faz faculdade, Estér? — pergunta, bebendo um pouco do

vinho. Faço o mesmo e assinto.

— Sim, faço Fotografia — digo.

— E não é muito de fotografar, pelo que percebi. Há poucas fotos

pela casa — diz.

— Gosto de curtir o momento e deixá-lo registrado em minha mente

— respondo, comendo. Ele concorda e sorri.

— Me fale sobre o que aconteceu com você — pede. — Quero dizer,

quando eu disse que fui estuprado, você falou que passou por algo assim...

— Sim — digo. — Quase fui abusada por um rapaz que conheci em

uma balada, seu nome é Dréck. Quem me socorreu foi Frederic. — Me viro

para ele e sorrio, relembrando o momento angustiante que passei.


Hoje parece uma lembrança distante, mas não deixo de pensar o que

teria sido de mim se Frederic não tivesse me socorrido.

Se Dréck tivesse alcançado seu objetivo e abusado de mim.

— Que bom que você tinha meu irmão ao seu lado para ajudá-la, já

eu, nunca tive ninguém — diz, levando o purê e carne até a boca.

Concordo, comendo e um súbito pensamento sobre o que houve

entre nós dois me toma a mente novamente.

“Droga, Estére, não houve nada entre vocês e sim entre Frederic e

você! Ele se passou pelo irmão, percebe o quanto isso é doentio?”

Mas o que estou fazendo com Frederic é sadio por acaso?

Nossa relação não deixa de ser sádica e para alguns seria

completamente doentia se soubessem que estamos nos envolvendo.

Que estou apaixonada pelo viúvo de mamãe.

Que eu perdi a virgindade com ele, e de quebra transei com o irmão

gêmeo, mesmo sem saber.


Penso em mamãe e sobre o que ela faria. E se ela conhecesse

Ferdinand? Ela também ficaria interessada nele, mesmo tendo Frederic ao

seu lado?

Como negar a mim mesma o desejo sombrio que me consome?

Como entender que pensar em tê-los é loucura?

Por que Ferdinand teve que aparecer justamente agora e ainda por

cima fazer sexo comigo?

Como se eu não tivesse gostado disso!

— A comida estava deliciosa — digo colocando o garfo sobre o

prato —, mas agora preciso descansar.

— Você não comeu tudo — diz Frederic me encarando.

— Tudo bem, estou mesmo cansada, o dia foi longo — digo

sorrindo. Ele concorda e Ferdinand me observa.

— Então vamos todos nos deitar — diz assim que termina, se

levanta e pega a louça. O ajudo e levamos até a cozinha. — Deixem que


amanhã cuido dessa bagunça. Já que a gatinha está cansada, é melhor

colocarmos ela para dormir.

Reviro os olhos com isso e ignoro, indo em direção à sala e subindo

a escada, os dois vêm atrás de mim e aponto para o quarto de hóspedes.

— Tem cobertas e lençóis limpos — digo, abrindo a porta e

avistando um local simples. Ferd concorda e entra. — Se precisar de

alguma coisa...

— Tudo bem, obrigado, isso aqui é um palácio comparado ao local

que vivi nos últimos anos — diz me encarando e em seguida olha para o

irmão. — Boa noite, irmão.

Frederic o encara e vejo um pequeno sorriso aparecer no canto de

sua boca.

— Boa noite, Ferd — diz. O outro fecha a porta e encaro Fred.

— Dorme comigo esta noite? — peço, erguendo minha mão para ele,

que concorda e a pega.


Seguimos para o meu quarto, e assim que entramos, fecho a porta,

trocando a roupa que estou por um pijama. Frederic tira sua roupa, ficando

apenas com a boxer branca e nos deitamos, com ele me abraçando. Me

aconchego nos seus braços e ele beija minha cabeça, entrelaçando sua mão

na minha.

— Parece que demos um pequeno passo com seu irmão — sussurro,

com ele assentindo.

— Sim, espero que ele me perdoe pelo que fiz.

— Ele vai, só precisa de mais tempo, fique tranquilo.

Frederic concorda e me viro, o encarando. Passo as pontas dos meus

dedos pelo seu peitoral e ele me encara.

— Sei que já conversamos sobre isso, mas por favor, seja sincera

comigo — começa.

— O que foi?

— Você realmente gostou do sexo com Ferdinand? — questiona-me.


O encaro nos olhos e mordo o canto da boca.

— Sim, eu gostei, mas não pense sobre isso, como já disse, pensei

que era você, Fred. Pare de se torturar.

Ele concorda e suspira.

— Falei sério sobre namorar comigo, Estér.

— Sabe que não é tão fácil quanto parece, não sabe? Quero dizer,

não poderia esconder para sempre que estou namorando e não seria fácil

dizer que meu namorado era meu padrasto, fora que sai de um

relacionamento agora.

— Collin era um babaca, e Ferdinand poderia ser seu padrasto e eu o

irmão solteiro — brinca, se aproximando e beijando meus lábios. Retribuo,

sentindo sua língua e o aperto contra mim.

— Não seria fácil do mesmo jeito, Fred.

— E se você tivesse que escolher, me diga, quem escolheria?

Reflito sobre isso e dou de ombros.


— Não sei, quem sabe não aceite a proposta do seu irmão e eu fique

com os dois? — digo, rindo, mas percebo que isso não é tão brincadeira

quanto parece ser.

Frederic me encara e suspira, fica em silêncio, então percebo que

minha brincadeira o incomoda e, não demora muito, dormimos.


— Acorde, Estére, já está na hora. — Ouço a voz de Ferdinand

sussurrar no meu ouvido e abro os olhos, vendo Frederic e ele em pé ao

lado da minha cama.

Esfrego os olhos, imaginando estar vendo coisas e os dois sorriem.

— O que está acontecendo aqui? — questiono, sem entender.

— Ferdinand e eu conversamos e vimos que a maneira mais fácil de

lidarmos com o que está acontecendo entre nós, é colocarmos tudo à prova

e vermos no que vai dar.


Fico sem entender e noto que ambos estão apenas de cuecas boxer.

Seus peitorais desnudos são parecidos, e olhando lado a lado, consigo notar

a diferença. Ambos são bem malhados, mas Ferdinand consegue ser um

pouco mais por conta dos longos anos na prisão.

— E o que estão planejando? — questiono, percorrendo meus olhos

pelos braços deles e descendo abruptamente para os volumes insistentes que

estão no meio de suas pernas.

— Vamos provar de você agora, juntos — responde Ferdinand. —

Não diga que não quer, pois sabemos que você deseja isso. Pode parecer um

desejo sombrio, Estére, mas além disso, é delicioso.

Fico atônita ao ouvir isso e apenas assinto, sabendo que não adianta

negar o que está acontecendo. Eu quero os dois.

— Tudo bem — digo, com a voz firme, o que chega a me

surpreender.

Os dois sorriem e me levanto, retiro o meu pijama e fico apenas de

lingerie.
— Fique onde está e faça o que eu pedir, ok? — Ferd instrui.

— O que está fazendo? — pergunto, sem entender o que quer dizer.

— Nada de mais, quero apenas que você nos obedeça. Pode fazer

isso?

Encaro-os e Frederic sorri.

— Sim — digo, concordando.

Os sorrisos à minha frente se alargam ainda mais e fico nervosa,

sentindo o suor brotar na palma de minhas mãos.

— Quero que você se ajoelhe e se toque, Estér — diz Fred.

— Por quê? — questiono, me ajoelhando.

Será que posso questionar o que está acontecendo aqui? Afinal, que

loucura é essa?

— Porque quero que você explore o seu corpo — responde. — Você

precisa se conhecer para poder nos dizer em quais pontos sente mais prazer.
Concordo, com meu rosto queimando e, fechando os olhos, acaricio

minha pele, tiro o sutiã e deixo meus seios à mostra. Percorro meus dedos

por eles e sinto um arrepio invadir a boca do meu estômago.

Os dois ficam parados, apenas contemplando a imagem à sua frente.

Então, com uma das mãos, mexo nos meus seios e com a outra desço

devagar, colocando por debaixo da minha calcinha.

Meu indicador acaricia meu clitóris e solto um gemido baixo,

arfando. Os dois sorriem com isso, começando a pegar em seus membros

que estão duros sob a cueca.

Continuo me tocando, inserindo o dedo e gemendo baixinho. Eu

nunca havia me tocado dessa forma.

Esqueço isso e insiro outro dedo, soltando um gemido mais alto

ainda. Frederic e Ferdinand abaixam suas cuecas e analiso os dois pênis à

minha frente.

Não são completamente idênticos, há sim uma pequena diferença. A

mesma que eu senti quando transei com Ferdinand, achando ser Frederic.
— Você quer, Estére? — pergunta Ferdinand segurando seu pênis. O

vejo se masturbar e continuo me tocando.

— S-sim — murmuro, nervosa.

Encaro Frederic e vejo o fogaréu nos seus olhos, os dois vêm na

minha direção e agarro Frederic, beijando-o deliciosamente, suas mãos

passeiam pelo meu corpo e sinto sua ereção cada vez mais dura, pulsando

entre as pernas. O agarro e enquanto o beijo, o masturbo, com seu irmão se

aproximando por trás e segurando meu cabelo, beija meu pescoço, desce

pelas costas e puxa minha calcinha, a tirando.

Meu corpo inteiro se arrepia, Ferdinand beija minha bunda e

continuo agarrada ao seu irmão, Fred se separa de mim e chupa meus seios,

enquanto seu irmão chupa o meu cu.

Gemo, extasiada com tudo que está acontecendo.

Isso é mesmo real?

Não estou sonhando?


Eles continuam e Ferd se aproxima, vira-me e chupa minha boceta,

enquanto seu irmão continua nos meus seios.

Vejo Ferdinand ajoelhado, chupando minha boceta, enquanto o pau

do seu irmão está próximo do seu rosto, e para a minha surpresa, Ferd o

agarra e passa a língua na glande, mergulhando-o em sua boca. Seu irmão

não recua, pelo contrário, os dois se conectam e Fred segura a cabeça do

seu irmão entre suas pernas, fodendo sua boca.

A imagem me deixa ainda mais excitada e Ferd continua chupando o

irmão, que geme cada vez mais. Aproximo-me dele e ajoelho, Ferdinand se

afasta e chupo Fred com ele, nos lambuzando cada vez mais.

Ferd fica de pé e seguro seu pênis, chupando-o, enquanto intercalo

no irmão, ambos gemem e vejo-os se beijando, isso me deixa ainda mais

excitada e percebo o quanto isso tudo é uma grande loucura.

Eles se afastam e Ferd me puxa, nós três nos beijamos e Fred sorri.

— Era isso que você queria, não era? — pergunta e aquiesço.

Sim, realmente era isso que eu queria.


— Agora você será nossa — diz Ferd puxando-me em direção a

cama.

Deito-me e Frederic explora meu corpo, seus olhos são como duas

labaredas, e quando estou prestes a gozar, acordo.

Estou assustada, penso no sonho que acabei de ter, me levanto e vejo

que ainda está de madrugada e que Frederic dorme tranquilamente ao meu

lado. Minha respiração está acelerada e sinto-me com nojo ao relembrar o

sonho erótico.

O que está acontecendo comigo?

Sonhar que Frederic e Ferdinand cometeram incesto, isso realmente

só pode ser loucura da minha mente perturbada.

Suspiro e sinto sede, abro a porta devagar e desço na ponta dos pés

para a cozinha. Ando pelo corredor, meio sonolenta, e esbarro em um corpo

forte e quente. Solto um gritinho e vejo que é Ferdinand. O encaro e noto

que seu peitoral está de fora e sem querer, repouso minha mão nele.
— Desculpe — digo, me afastando. Ele sorri, lambe os lábios, e vejo

que está apenas de cueca.

— Sem sono, gatinha? — pergunta, me analisando. Sinto-me

exposta diante dele e tento não focar meu olhar no seu peitoral sexy e na

boxer.

Vendo-o dessa forma, lembro mais uma vez do sonho... pesadelo,

que eu tive.

— Tive um pesadelo e acordei com sede, só isso — digo, seguindo

para a cozinha sem olhá-lo. Ferdinand vem atrás de mim e abro a geladeira,

pegando leite. Coloco no copo e viro de uma vez, me sentindo mais

relaxada.

Assim que termino, percebo Ferd ainda me olhar e estreito as

sobrancelhas.

— Perdeu alguma coisa aqui? — questiono.

— Não, só estava admirando — responde.


Concordo, dando de ombros.

— E você, não conseguiu dormir? — pergunto, para puxar assunto.

— Tive pesadelo também — responde.

— Quer falar sobre?

— Desde que você fale do seu. — Ele pisca.

Não respondo, se eu disser a ele que o pesadelo na verdade foi um

sonho erótico, com certeza serei tratada como uma pervertida.

Não que eu não fosse, levando em consideração tudo que fiz nos

últimos tempos, mas pensar nisso me causa sensações desconfortáveis.

— Então acho melhor guardarmos para nós mesmos o que sonhamos

— digo. Ele me encara e suspira.

— Sonhei que estava na prisão — comenta. — No sonho, eu era

abusado pelos caras novamente. Não pense que sou um cara fodido e mal

resolvido, é que simplesmente não é fácil pensar sobre isso. E agora que
estou livre, parece que as lembranças surgem com mais intensidade em

minha mente.

— Você não sente desconforto em dizer para a pessoa que conheceu

esses dias sobre ter sido abusado sexualmente na cadeia por tanto tempo?

— Por que eu deveria sentir vergonha pelo pecado dos outros? Não

me orgulho disso, mas é algo mais comum na prisão do que você imagina.

Imagine-se no meio de vários homens e você é a mais vulnerável. O que

eles fazem? Te usam como escape da porra dos seus problemas. Quem é

que não gosta de transar um pouco para distrair a mente? Contudo, com

poucas opções e ninguém querendo abrir mão da masculinidade, o alvo

fácil se torna vítima.

Alvo fácil. Foi isso que fui para Dréck.

Ele nunca foi gentil por acaso, apenas me viu como um alvo fácil,

sabendo que eu seria idiota o bastante de sair com ele.

— Sinto muito — é o que consigo dizer.


— Eu supero — diz, piscando. — Agora me diga, você irá aceitar o

pedido de namoro do meu irmão?

Penso sobre isso e dou de ombros, sem saber o que dizer.

— Acho que pode ser loucura, quero dizer, ele era casado com

minha mãe. Não quero ter que me esconder para sempre das pessoas, como

irei dizer a elas que estou namorando meu antigo padrasto?

Ele sorri e se aproxima.

— Então isso é um não.

— Por enquanto.

— Isso quer dizer que se eu quiser beijá-la agora não haverá

problema? — questiona, me deixando arrepiada. Ainda bem que ele não

percebe. — Por que não aceita o que eu disse e namora com os dois? Veja

bem, você pode sair na rua comigo de mãos dadas, chegar e ter meu irmão

te esperando.

Dou risada e nego com a cabeça.


— Você só pode estar louco, teria mesmo coragem de dividir sua

namorada com outro homem, ainda mais sendo seu irmão gêmeo?

— E por que não? Não vejo problema nisso. — Percebo que ele está

falando sério e me afasto, com medo de acabar fazendo uma besteira e

agarrá-lo.

— Bem, eu não serei essa garota — digo determinada. — Se você

quiser dividir outra mulher com outro homem, tudo bem. Seu irmão

também não está em jogo para ser dividido.

Ferdinand ri e balança a cabeça.

— Eu sei que você quer isso, Estére, consigo ver nos seus olhos o

desejo de nos ter em sua cama, mas é muito orgulhosa para admitir.

Dou de ombros e fico quieta.

— Que bom que percebeu que sou orgulhosa, agora se me der

licença, irei dormir.


Ando em direção ao corredor e sou puxada, nossos corpos ficam

colados e ele lambe os lábios.

Solto um gemido baixo e perco o ar quando o vejo se aproximar

ainda mais e trazer sua boca em direção a minha. Penso que será agora que

eu vou provar dos seus lábios novamente e ele o morde, seguindo em

direção do meu ouvido.

— Tenha bons sonhos, espero que sonhe com a nossa transa —

sussurra. Ele me solta e fico atônita, sentindo minhas pernas bambearem,

então subo para o quarto, sentindo-me além de arrepiada, excitada.

Porra! O que esses homens estão fazendo comigo?


Acordo na manhã seguinte um pouco tarde. Me viro e encontro o

lado da cama vazio, me levanto e sigo até o banheiro, faço xixi e arrumo

meus cabelos. Troco de roupa, substituindo o pijama por uma calça legging,

tênis e uma blusa de moletom. O tempo até que está agradável, com os raios

do sol aparecendo pelas janelas. Sorrio e apanho meu celular na mesinha de

cabeceira, vejo uma mensagem de Frida:

“Estou indo para a sua casa, prepare o café, estou faminta!”


Arregalo os olhos com isso e saio em disparada, sem me importar

onde Frederic e Ferdinand estão.

Desço os degraus de dois em dois e sigo pelo corredor, encarando os

irmãos Cooper sentados, tomando café e conversando.

Estreito as sobrancelhas, não acreditando no que os meus olhos estão

vendo e ando até eles.

— Acho que preciso de óculos — digo, sarcástica.

— Por quê, gatinha? — questiona Ferd me encarando.

— Frederic e você, sentados, comendo e conversando? É de admirar.

Fred ri e o irmão dá de ombros.

— Talvez as crianças birrentas estejam amadurecendo, gatinha —

diz Ferd, piscando. Reviro os olhos e vejo o que temos para o café.

Há algumas frutas, biscoitos, panquecas, bacon e ovos.

— Frida está vindo para cá — anuncio, me servindo de uma xícara

com café. Observo Fred e sua testa fica franzida.


— Tão cedo? — questiona.

— Sim, talvez eu tenha deixado escapar que você tem um irmão

gêmeo e com certeza ela está vindo aqui para vê-lo.

— Espera, essa tal de Frida está vindo para cá apenas para me ver,

como se eu fosse um bicho preso na jaula? — questiona Ferdinand.

— Basicamente isso — afirmo. Ele sorri e lambe os lábios.

— Estou cheiroso? Meus dentes estão limpos?

— O quê?! — pergunto, incrédula.

— O que foi? Tenho que estar apresentável para conhecer essa sua

amiga. Quem sabe ela é gostosa e resolve me dar uma chance. — Ele

arqueia a sobrancelha e reviro os olhos, incomodada da maneira que fala.

— Nem tente algo com Frida, ela não faz seu tipo — digo.

— E qual é meu tipo? Você? — questiona.

— Não começa, Ferdinand — diz Frederic.


O ignoro, e quando estou prestes a levar a xícara até a boca, ouço a

campainha tocar.

Ferd sorri e vou até a porta, a abrindo.

— Bom dia, amiga! — diz Frida animada. Ela me abraça e dou um

beijo no seu rosto. — Vim conhecer o irmão de Frederic.

— Uau, sério que você veio na casa da sua melhor amiga para ver a

cópia de um cara que você está cansada de ver? — pergunto, cruzando os

braços. Sorrio e ela ri.

— Sabe que te amo, mas preciso ver isso de perto. Um é bom, dois

então, deve ser magnifico! Preparou o café? Estou faminta.

— Os rapazes prepararam — digo.

Seguimos em direção à cozinha e avisto rapidamente Frederic e

Ferdinand, que estão sentados, fingindo que leem o jornal. Sei que eles

estão fingindo, tenho certeza disso.


Pigarreio e os dois me olham, com Frida atrás de mim com o rosto

vermelho.

— Temos visita — digo, apontando para minha melhor amiga.

Frida sai de trás de mim e acena para os dois.

— Olá — diz, acanhada, o que me faz formar um sorriso. Desde

quando minha amiga fica tímida?

— Frida, quanto tempo, como está? — pergunta Frederic se

levantando e a cumprimentando com um beijo no rosto. — Esse aqui é meu

irmão, Ferdinand, mas acredito que Estére já tenha falado dele para você.

Ferdinand se aproxima e segura a mão da minha amiga, depositando

um beijo.

— Olá, Frida. Belo nome.

— Obrigada, é um prazer enorme conhecê-lo. E estou bem — diz,

virando-se para Fred. — A viagem ao Brasil foi sensacional.

Fred sorri e aponto para o balcão.


— Sirva-se — digo, me sentando, e em seguida aponto para o meu

lado, onde ela se senta e pega uma xícara.

— Deixe que eu faço isso — diz Ferdinand pegando de sua mão, ela

concorda e o vejo colocar o café e leite. — Veja se está do seu agrado.

Frida agradece e bebe um pouco.

— Gostaria de panquecas? — pergunto, mostrando a ela. Minha

amiga aceita e mais uma vez Ferdinand se prontifica a ajudar, o que começa

a me incomodar.

— Me fale mais sobre você, Ferdinand, como não o conhecíamos?

— pergunta minha amiga, já começando a comer.

Encaro os irmãos Cooper e Fred fica sem graça.

— Estive viajando por alguns anos e resolvi voltar agora, de

surpresa. Não é mesmo, irmãozinho? — Ferd se vira para Frederic e ergue a

sobrancelha.

— Sim, isso mesmo.


— E você nunca pensou em falar sobre seu irmão apenas porque ele

estava viajando? — pergunta Frida, bebendo o café.

— Estávamos brigados — responde Ferdinand.

— Que briga tensa — pontua minha amiga sarcástica. Frederic

concorda com um meneio de cabeça e o encaro, sem graça.

— Mas deixemos minha história de lado e me conte sobre você,

Frida.

— Não tem muito o que saber — diz ela. — O que as pessoas não

sabem sobre mim descobrem com o tempo.

Vejo o sorriso de Ferdinand aumentar e sinto um calor anormal

tomar conta da minha barriga.

— Interessante, e como eu posso conhecê-la melhor?

— Você pode começar me chamando para sair — responde minha

amiga, flertando com Ferdinand. Fico estupefata e ele aumenta ainda mais o

sorriso.
— Que tal fazermos isso hoje? Podemos sair por aí, você decide, não

conheço muito a cidade.

Ele pisca e ela sorri, tímida. O que me faz estranhar. Frida com

vergonha?

— Claro, por mim tudo bem — diz e dá de ombros.

— Então está combinado. Você e Frederic deveriam sair também,

Estére, ele, como seu ex-padrasto, pode levá-la para passear às vezes.

Sinto vontade de mostrar o dedo do meio para ele, porém me

controlo.

— Acho que seria bom mesmo, amiga, por que vocês não saem para

paquerarem um pouco? Seria bom para os dois, já que estão solteiros.

— Não tenho idade para sair e ficar paquerando — responde

Frederic mal-humorado.

Frida dá de ombros e me encara.

— Então leve a minha amiga para paquerar.


Frederic ri e me encara.

— Não é você que deveria fazer isso, já que são melhores amigas?

— Fred indaga e Frida ri.

— Sim, mas hoje eu vou sair para paquerar — responde piscando e

rio.

— Certo, tudo bem. Estére, gostaria de ir à oficina comigo e de lá na

cidade vizinha para você paquerar? — Fred pergunta com o sorriso cínico.

Reviro os olhos e me levanto.

— Por que não, já que Frida e Ferdinand vão sair, podemos ir

passear um pouco também.

Encaro Ferdinand e o seu sorriso aumenta mais ainda. Sei que ele

está fazendo isso apenas para me provocar, porém, se ele pensa que pode

usar minha melhor amiga como um fantoche apenas para me causar ciúmes,

ele está enganado.


Se Ferdinand quer jogar, eu jogarei com ele. E mostrarei que quando

uma mulher entra para batalha, é para vencer.


Vou para meu quarto com Frida e procuro uma roupa para vestir

e sair com Fred. Escolho um vestidinho curto que realça as minhas curvas e

pego meus óculos de sol. Como o tempo na cidade é confuso, apanho ao

menos uma blusinha para cobrir os braços.

— Como estou? — pergunto a Frida quando termino de arrumar

meus cabelos e passo um brilho labial.

— Está linda, se eu não soubesse que Frederic é seu antigo padrasto,

diria que iriam para um encontro e tanto.


Ela sorri e forço um sorriso sem graça. Como pude mentir para

minha melhor amiga? Como não pude contar para ela sobre a minha

primeira vez? E como pude esconder dela que o homem que estava

flertando com ela na cozinha também transou comigo?

Chega a ser estranho pensar que eu havia transado com os dois, mas

como o momento não é propício para pensar essas coisas, decido esquecer.

— Se Ferdinand tentar alguma gracinha com você, não hesite em dar

um soco nele igual você fez com Collin, ok? — peço, segurando suas mãos.

Frida ri e concorda.

— Sabe que sei me defender muito bem, mas apenas aceitei o

convite dele por ser educada. Apesar de serem dois homens maravilhosos,

não fazem meu tipo. Acho que Ferdinand faz mais o seu, Estére.

— O-o quê? Claro que não! — digo, ríspida. Ela ri e balança a

cabeça.

— Eu te conheço demais para saber quando está com ciúmes de

alguém. Não se julgue por olhar o cara que tem o mesmo rosto do seu
padrasto com outros olhos. Ele realmente é gato! Se quiser, posso cancelar

o passeio.

Me sento na cama e a puxo para o meu lado.

— Você acha isso normal, quero dizer, eu sentir algo por Ferdinand?

— pergunto, surpresa em como chegamos a esse assunto.

— Estranho? Claro que não, estranho seria se fosse Frederic, mas

como não é... — Desvio meu olhar do seu e ela puxa meu rosto. — Você

não está me dizendo que... Você e Frederic...

— O quê? Não, claro que não! — falo de imediato, sei o quanto é

péssimo mentir para ela e posso ter perdido minha melhor chance de ser

sincera, no entanto, não está na hora de dizer isso a Frida. — Frederic é

muito gentil comigo, você mesma viu, mas não passa disso.

— Certo, se você está dizendo, irei acreditar. — Ela balança a

cabeça. — Quer que eu cancele com Ferdinand? Nunca que iria querer ser

fura-olho.
— Não, não precisa cancelar. Pode sair com ele, eu irei sair com

Frederic e espairecer um pouco a mente, mas se ele tentar alguma gracinha,

não hesite em...

— Socar ele, eu sei — diz, me cortando. Demos risada e a abraço,

feliz por pelo menos ser um pouco sincera com Frida.

E claro, ser sincera comigo em admitir que sim, estou com ciúmes de

Ferdinand, e possivelmente começando a gostar dele, mesmo sendo tão

recente.

O problema é como dizer isso a Frederic, e claro, como gostar de

dois homens ao mesmo tempo, principalmente quando são irmãos gêmeos.

Droga! O que eu devo fazer?

Será que eu deveria cogitar a ideia de Ferdinand e ficar com ele e seu

irmão? Apesar de tudo, sei que esse pensamento paira em algum lugar da

minha mente, senão, não sonharia com os dois essa noite.

*
Saio do quarto com Frida nos meus calcanhares e descemos até a

sala onde os dois homens que me deixam confusa estão nos esperando,

sentados.

Frederic fica de pé ao me encarar e Ferdinand faz o mesmo, só

depois olha para Frida. Neste momento, é como se só estivéssemos nós três

aqui, e sinto medo dos meus instintos.

O que eu seria capaz de fazer com os dois ao mesmo tempo?

Penso no meu sonho erótico e reprimo minhas pernas, quase caindo.

Frederic corre em minha direção, me segura e perco o ar.

— Obrigada — digo, o encarando. Frida nos encara e me levanto,

esgueirando-me dos braços de Fred.

— Tome cuidado, Estére, você pode acabar se machucando e não

queremos que isso aconteça — diz Ferd, me encarando.

— Vamos? — pergunto a Frederic, o ignorando.

— Claro, a propósito, gostei do vestido.


— Eu também — emenda Ferdinand, pegando no braço de Frida. —

Até mesmo parece que vocês vão para um encontro.

Resolvo ignorar e saímos, trancando a porta e indo para o meu carro.

Frida se despede de mim com um beijo e sorri.

— Depois conversamos — diz, olhando os irmãos. — Eu te amo.

— Eu também te amo — digo e a abraço apertado.

— Até mais, Estér — diz Ferdinand que se afasta com minha amiga

para o carro dela. Os dois entram e, com Frida acenando, saem em

disparada pela estrada.

— O que foi isso? — pergunto, aliviada em tê-los longe de nós.

— O quê? — pergunta Frederic.

Entro no carro e ele dirige, saindo da garagem.

— Nada de mais, pensei alto — digo. Ele me encara por um minuto

inteiro e sai em silêncio, sabendo que estou pensando em seu irmão.

*
A música da Nelly Furtado me distrai o caminho inteiro enquanto

Fred apenas dirige em silêncio. Fico pensando na conversa que tive com

Frida e em como pude ser tão transparente tanto para ela, quanto para mim.

É bom poder ser sincera com uma pessoa que você ama, mas, com a

revelação a ela sobre os ciúmes de Ferdinand, uma sensação de estar traindo

Frederic me consome.

Penso sobre quando isso aconteceu, sendo que conheço Ferdinand há

pouco tempo. Como pude me deixar levar e ser tão idiota a ponto de isso

acontecer e acreditar que talvez esteja começando a gostar dele?

“Você não sabe absolutamente nada sobre Ferdinand para cogitar

sentir alguma coisa, Estére Muller.”

— Está distraída — pontua Frederic, parando em frente à oficina.

Olho o lugar simples e noto o seu funcionário já mexendo em um carro.

— Não é nada de mais — digo e saio do carro.

Será que realmente não é nada demais?


Ele sai e fecho a porta, indo até o local. Rapidamente o rapaz sai de

baixo do veículo e sorri para mim.

— Olá, muito prazer, me chamo Jack — diz.

— O prazer é meu, sou Estére.

— Ah, eu sei quem você é — responde, sorrindo.

— Como estão as coisas, Jack? — pergunta Fred. É a primeira vez

que venho na sua oficina, ele nunca foi de deixar mamãe e eu visitarmos o

local.

— Tudo ótimo, as coisas enfim estão começando a melhorar.

— Que bom, eu vim só ver as novidades e já estamos de saída,

qualquer coisa pode ligar no meu celular que atendo.

O outro concorda e volta para debaixo do carro, sigo Frederic para

dentro da oficina. O vejo ir para uma sala, que lembra um escritório, e noto

a bagunça.

— Bem limpo — brinco, rindo. Ele ri também e dá de ombros.


— Está pronta para ir à cidade? Estava pensando que poderíamos

comer em algum lugar por lá, quem sabe termos realmente um encontro,

longe de tudo e todos daqui.

Ele se aproxima de mim e me puxa, passando seus braços na minha

cintura. Coloco os meus sobre seus ombros e entrelaço.

— Por mim tudo bem, vamos transformar este dia em algo perfeito

— digo. Ele concorda e se aproxima, beijando meus lábios. Penso se não

daria para Jack nos ver, mas não me importo.

Na verdade, deixo de me importar nesse instante com o que as

pessoas diriam se soubessem. O pior já está acontecendo. Estou gostando de

dois homens ao mesmo tempo, que são irmão gêmeos.

Frederic continua me beijando e nos separa, encerrando o beijo com

selinhos.

— Você está tensa, aconteceu alguma coisa? — pergunta, me

encarando. Tento desviar o olhar do seu, mas ele é mais rápido e vira meu

rosto em sua direção. — Sabe que pode ser sincera comigo, não sabe?
— Sim, eu sei, mas não é nada demais, não se preocupe, é só toda

essa confusão que estamos passando, mas estou bem.

Frederic me olha e concorda.

— Se você me garante — diz. — Vamos?

Seguro sua mão por um minuto e concordo, a soltando e indo para o

carro com o pensamento de quando irei poder andar de mãos dadas com

Frederic sem ser julgada.

Talvez nunca.

Seguimos para a cidade vizinha, e assim que chegamos, me sinto

liberta. É como se eu estivesse saindo de uma prisão e aqui pudesse ser

quem realmente sou.

— Aqui te faz bem, não é? — pergunta Fred.

Concordo, sorrindo, e sinto o sol arder na minha pele. A sensação é

confortável.
— Sim, é como se aqui eu pudesse ser eu, sabe? Sinto que nesta

cidade podemos ser um casal normal e as pessoas não nos julgariam, afinal,

ninguém nos conhece.

Ele dá um sorriso de canto e passa a língua no lábio.

— Então quer dizer que está pensando no meu pedido de namoro?

— inquire.

Dou de ombros, seguindo para a praça e me sento no banco,

respirando o ar puro que a cidade emana. As árvores em volta dela me

deixam ainda mais calma.

— Estou dizendo que talvez pudéssemos nos mudar para cá um dia

— digo.

Frederic me encara e segura minha mão, a apertando. Então me

abraça, sem medo de sermos vistos.

— Isso realmente é muito bom — diz, apertando-me contra ele.


Concordo, sorrindo, e analiso as pessoas. O parque do final de ano já

havia sido desmontado, então as crianças brincam na praça e se divertem.

Vejo as mães sentadas, despreocupadas e sorrio com essa imagem, olhando

ao redor.

E é aí que eu o vejo novamente, igual daquela vez quando Frederic e

eu estávamos no mercado.

Ele está usando uma calça jeans, uma camiseta xadrez e os cabelos

bagunçados. Noto que conversa com uma garota. Uma criança, na verdade,

e lhe oferece algo.

Me levanto e ao longe ele me olha, acenando para mim.

Pisco uma, duas, três vezes. Me certificando de que não estou

ficando louca, então o vejo correr em direção à floresta e desaparece do

meu campo de visão.

O primeiro instinto que tenho é ir atrás, então começo a correr e

Frederic grita por mim, me seguindo.


Continuo correndo, sentindo minhas panturrilhas protestarem, mas

não paro, passando pelas crianças e adentrando a floresta. Tenho certeza de

que o vi. Ele só pode morar aqui, certo? Será que eu estaria louca a ponto

de ver Dréck duas vezes aqui?

Me perco entre as árvores e o procuro.

— Onde você está?! — grito, com medo, vendo que isso é uma

loucura e tanto.

— Estére! — grita Fred.

— Aqui! — respondo, olhando em volta. Noto as marcas no solo e

vou seguindo, esbarrando em Frederic, que me segura e me aperta.

— O que houve para você sair correndo desse jeito? — pergunta, me

olhando. Não respondo, ainda procurando por Dréck.

— Eu o vi de novo — digo. — O vi conversando com uma garota e

correndo para cá, tenho certeza, não posso estar ficando louca, não é? Você

acredita em mim, não acredita?


Sinto o desespero tomar conta de mim e Fred me aperta contra ele.

— É claro que eu acredito em você, mas não pode simplesmente sair

correndo atrás de um estuprador querendo achá-lo. O que você faria se ele

estivesse aqui?

Fico em silêncio, ele tem razão. E se Dréck me encontrasse e fizesse

o que não conseguiu da outra vez?

— Precisamos ir à delegacia, eu tenho que falar com a inspetora.

Ele nega com a cabeça.

— Não adianta, se formos à delegacia, você terá que fazer uma nova

ocorrência para endossar a primeira, mas como o exame de corpo de delito

não foi feito, sabemos que não mudará esse fato.

Fico quieta. Frederic está certo, não adiantaria muita coisa. Talvez eu

devesse ter feito o exame, mas agora simplesmente não dá para voltar atrás.

— Por favor, me leve para outro lugar — peço.


— Certo, você quer ir para casa? Podemos encerrar o passeio, não

irei me opor.

Concordo e ele me guia para fora da floresta, fazendo eu me sentir

culpada por permitir que um fantasma do passado estrague o nosso dia.


— Para onde quer ir? — pergunta Frida, enquanto dirige. Ela

havia me mostrado um pouco da cidade e isso já está se tornando um saco.

Na verdade, não havia ficado interessado por ela, mas fiz isso apenas para

provocar Estére, e pelo desconforto que ela demonstrou, eu consegui.

— Eu não sei, que tal comermos em algum lugar? — pergunto.

Peguei uma grana com meu irmão quando Estére havia ido se arrumar,

então poderia levá-la para comer alguma coisa.

— Podemos ir ao Beer’s — diz. Concordo, não dando muita

importância a isso e seguimos para lá em silêncio.


Penso no meu irmão e em Estére, querendo saber como está sendo o

“encontro” deles. Será que Estér está se divertindo? Com certeza, afinal, ela

gosta do meu irmão.

O intruso nessa história toda sou eu, e reconheço isso. Se eu não

tivesse aparecido na vida dela e retornado na do meu irmão, já seriam um

casalzinho enjoativo desses de romances clichês.

Pena que nossa história não é sobre isso. Pelo contrário, nós somos

os vilões. Eu sou o vilão.

Vejo Frida parar o carro e saio dos meus pensamentos, me dando

conta de que chegamos no tal Beer’s. Analiso o local e saio, com ela ao

meu lado.

— Peça o hambúrguer, você vai adorar — diz.

Concordo e nos aconchegamos em uma das mesas, o local em si está

até que cheio, com o delicioso cheiro de cafeína e ovos no ar.

— Olá, o que vão querer? — pergunta um rapaz nos encarando.


— Oi, Rafa, vamos querer hambúrgueres com batatas fritas — diz

Frida. — Já conhece o Ferdinand, irmão gêmeo de Frederic? — pergunta,

como se fosse completamente difícil perceber que sou igual ao meu irmão.

— Muito prazer — diz ele, sorrindo. — Pensei que fosse Frederic.

— Ah, não, ele está na cidade vizinha com Estére. Esse aqui é

Ferdinand e hoje ele é só meu. — Ela me encara e sorri.

O homem assente e anota nossos pedidos.

— Que bom, ficamos com medo de Frederic depois da surra que deu

em Collin. — O rapaz olha em volta e seu olhar para em um jovem que está

sentado do outro lado com alguns caras e uma garota.

— Não se preocupe, Rafa — digo —, só mexo com quem mexer

comigo.

Ele concorda, se afasta e Frida me encara.

— Então você sabe se defender.


— Sim, muito bem — digo. — Principalmente quando um cara vem

folgar para cima de mim.

Ela concorda e sorri.

— Bem, Collin não pode ser considerado um homem, ele apanhou

de mim, Estére e Frederic em um curto período de tempo.

Rimos e chamamos a atenção de algumas pessoas, inclusive do tal

Collin, que se vira e nos encara. Vejo seu olhar duro contra mim e sustento

o meu no seu, cruzando os braços. Noto que seu rosto está com hematomas.

— As marcas são pela surra que Frederic deu nele? — pergunto,

curioso, ainda o olhando dentro dos olhos. Ele se mexe na cadeira,

incomodado.

— Sim, parece que por pouco os pais não denunciaram Frederic —

diz. — A verdade é que não sabemos ao certo se ele deu queixa ou não, mas

como ninguém foi atrás de Frederic...

— É bom ele não ir mesmo — digo, o analisando. — Se ele for, os

problemas ficarão maiores ainda.


Vejo Collin e os outros rapazes se levantarem, com a garota

segurando sua mão, e eles passam pela gente, sem nos encarar.

— Você causou medo neles — diz Frida, brincalhona.

— Isso é pelo simples fato de achar que sou meu irmão, mas me

diga, quem é esse Collin afinal de contas?

Frida se mexe na cadeira e me encara.

— Collin é o ex-namorado de Estére, eles namoraram por um bom

tempo e nunca transaram, acabou que Collin a traiu com aquela vadia que

estava com ele.

— E por que Estére nunca quis transar com ele? — pergunto,

curioso.

— Bem, ela queria perder a virgindade no momento certo —

responde. — Droga, não diga a ela que eu te contei que é virgem.

Fico surpreso ao ouvir isso. Estére era virgem quando começou a se

relacionar com meu irmão?


Então Frederic havia tirado sua virgindade.

— Tudo bem, seu segredinho está muito bem guardado — respondo,

pensando que comi uma mulher mais inexperiente do que imaginava.

“Ah, Estére, como eu daria tudo para tê-la em meus braços

novamente.”

Estére está aflita, dá para notar isso no seu olhar que percorre as

imagens distorcidas que vamos deixando para trás, enquanto dirijo em alta

velocidade.

Sei que ela falou a verdade em ter visto Dréck, jamais duvidaria da

palavra dela. E pensar que isso ainda a perturba, me deixa com as mãos

atadas.

O que eu poderia fazer para ajudar? Exatamente nada, a não ser, é

claro, que eu pegasse esse filho da puta e, ou fizesse justiça com as próprias

mãos, ou o entregasse a polícia.


Com certeza, sem termos provas cabíveis, o desgraçado seria solto

rapidamente. Isso se ninguém mais fosse à delegacia prestar queixa.

Tento não pensar muito sobre isso, sabendo que de nada vai adiantar,

então dirijo em silêncio, com Estére quieta, e não demora muito já estamos

próximos de casa.

— Quer comer alguma coisa? — pergunto, finalmente quebrando o

silêncio que se instalou desde o momento em que saímos da floresta.

— Estou sem fome — diz, sem me olhar. Concordo, sabendo que

não iria adiantar insistir e continuo o percurso, chegando em casa mais cedo

do que pretendíamos.

Estaciono o carro em frente ao sobrado e Estére sai em disparada. Eu

a sigo e assim que entramos, fecho a porta, me certificando de estar

trancada, ela se vira para mim e me encara por um minuto inteiro.

— Está tudo bem? — pergunto, estranhando o olhar que mantém em

mim.
— Sim, eu só quero... — Ela não completa a frase e se aproxima

ainda mais, depositando sua pequena mão no meu peitoral e devorando

meus lábios. Retribuo já passando meus braços pelo seu corpo e a agarro,

com Estére pulando e entrelaçando suas pernas em volta do meu corpo. —

Me leve para a cama — pede, em um sussurro quase inaudível.

Concordo, voltando a beijá-la e sigo em direção à escada, subindo

devagar enquanto ainda nos beijamos.

Assim que chegamos ao final da escada, percorro o corredor com ela

grudada aos meus lábios e abro a porta, entrando para o seu quarto e

fechando logo em seguida. Não nos separamos, Estére continua me

beijando e retribuo, sentindo sua língua invadir minha boca e seus dentes

mordiscarem meu lábio inferior.

Quando chego à cama, a solto e começo a retirar minha roupa com

rapidez, ficando apenas com a boxer preta. Ela faz o mesmo, ficando com a

lingerie clara e então se ajeita sobre a cama, sorrindo e me chamando com o

indicador.
Faço o que ela pede e vou me aterrando a cama, indo até ela e

voltando a conectar nossos lábios. Os beijos são selvagens e deliciosos, o

que me deixa rapidamente de pau duro. Ela sente meu pênis rígido e passa

sua mão pelo meu abdômen, enquanto me mantenho por cima dela. Não

demora e sua mão está em volta do meu pau, com Estére o apertando.

Abaixo a cueca com urgência e ela volta a pegá-lo, agora fazendo

movimentos de vaivém com rapidez. Solto um gemido alto e retiro seu

sutiã, contemplando seus seios.

Penso que meu irmão esteve aqui, igual estou agora, e um

pensamento de que Ferdinand a comeu invade minha mente.

“Não pense nisso agora, não é o momento”.

Afasto esses pensamentos e chupo seus seios, mordiscando o bico e

passando meus dedos freneticamente sobre eles. Estére solta um gemido

alto, enquanto ainda segura meu pau e me sinto excitado com o som que sai

da sua boca.
— Por favor, Frederic — pede, puxando meu corpo para mais

próximo do seu. — Me fode.

Concordo, sorrindo e abaixo sua calcinha, ela solta o meu pênis e

ergue os braços. A imagem que tenho é maravilhosa; seu corpo magro com

as curvas deliciosas, os seios pequenos e sua boceta depilada.

Me aproximo, beijo sua barriga e desço direto para seu sexo,

chupando-a deliciosamente. Absorvo seu gosto inebriante e me sinto

bêbado de seu sabor, pensando o quanto estava com saudades de senti-la.

“Seu irmão foi o último a sentir essa boceta...”

Continuo a chupando, sentindo sua lubrificação e me afasto,

encaixando-me no meio de suas pernas. Ela se abre ainda mais para mim e

enfio meu pau devagar, sentindo a quentura de sua pele invadir a minha.

— Puta que pariu — murmuro, maravilhado com isso. Estére sorri e

me aprofundo ainda mais, sentindo meu pau entrar por completo. — Me

diga, Estére, você quer fazer amor ou que eu te foda?

Fico parado, esperando sua resposta.


— Por hoje, quero que você me foda, por favor — pede, se

contorcendo de tesão.

Concordo e começo a movimentar meu quadril, entrando e saindo

dela devagar. Vislumbro como meu pau se encaixa bem na sua bocetinha e

sinto ela me apertar. Solto um gemido, movimentando-me um pouco mais

rápido.

Enquanto a como, volto a chupar seus seios e aumento as estocadas,

com Estére gemendo cada segundo mais alto. Beijo seus lábios com fúria e

continuo-a fodendo, metendo meu pau cada vez mais rápido.

Não consigo parar, continuo me aprofundando em sua pele e chupo

seus seios, segurando-a pelo pescoço, imaginando se Ferdinand fez desse

jeito. Na verdade, neste momento não me importo, apenas quero

proporcionar a essa mulher um orgasmo do qual ela não teve comigo.

Sei disso, Estére é completamente diferente de todas as mulheres das

quais eu fiquei. Diferente de Jolie.


Continuo investindo e ouvindo seus gemidos que entram pelos meus

ouvidos como uma deliciosa melodia, enquanto ela implora por mais. A

safada quer mais, muito mais. E eu não paro.

Mantenho os movimentos rápidos, solto seu pescoço e ela me

abraça, apertando seu corpo contra o meu e soltando um grito. Um grito de

tesão, de luxúria. Um grito de libertação.

E juntos, gozamos, comigo pensando em Ferdinand e o que ele faria

se estivesse aqui.

Ficamos deitados, agarrados, e beijo o alto de sua cabeça, quando

Estére passa seu braço para cima do meu peitoral.

— Como você está se sentindo? — pergunto, olhando para seus

cabelos.

— Estou melhor, obrigada. E, agora, morrendo de fome.


Concordo e olho a hora, está ficando tarde e Ferdinand não havia

chegado.

— Sabe alguma coisa sobre Frida e Ferdinand? — pergunto. Ela me

olha e morde o canto da boca.

— Eles foram ao Beer’s e de lá para o cinema — responde. — Seu

irmão já deve estar chegando.

Fico em silêncio e ouço seu celular tocar, Estére se estica por cima

de mim e o apanha na mesinha de cabeceira.

— Falando na diaba — brinca, atendendo. Não presto atenção em

sua conversa, sei que ela está falando com Frida e logo após desligar, ela

me encara. — Melhor nos levantarmos, ela disse que já está trazendo

Ferdinand.

Concordo, me levanto, e começo a me vestir, com Estére fazendo a

mesma coisa. A vejo arrumar os cabelos e lavar o rosto, então saio do seu

quarto e seguimos juntos para a sala, nos sentamos e assistimos algo na

televisão depois de muito tempo sem fazer isso.


A verdade é que depois da morte de Jolie muitos hábitos simples que

fazíamos com ela foi deixado de lado. Era de lei Jolie se sentar neste sofá e

ver o jornal.

Muitas das vezes ficávamos apenas eu e ela, e outras, nós dois com

Estére e Collin. O que faz eu dar uma risadinha.

— Qual a piada que eu perdi? — pergunta, curiosa.

— Nada de mais, que tal irmos comer alguma coisa enquanto esses

dois não chegam?

— Acho a ideia de pedirmos uma pizza e ficarmos aqui esperando

muito melhor.

— Você que manda — digo, sorrindo. Ela concorda e faz o pedido,

conosco ainda sentados, assistindo televisão e esperando.

Não demora muito e ouvimos a campainha tocar. Me levanto,

pegando a carteira e abro a porta, dando de cara com Ferdinand e Frida.

— Olá, irmão — diz, sorrindo.


— Está entregue — diz Frida.

Estére vem até nós e encara a amiga.

— Você não vai entrar? Pedimos pizza.

— Melhor não, amanhã me levanto cedo para resolver algumas

coisas com meus pais, eles estão se preparando para a volta às aulas.

— Mas ainda falta um mês — responde Estére.

— Sim, eu sei, mas eles realmente precisam de ajuda.

Estér concorda e se despede da amiga, que vai para dentro do carro e

buzina, seguindo pela avenida.

— Ela vai transar, tenho certeza — diz Estére sorrindo e entrando, a

seguimos e, novamente, a campainha toca.

Abro a porta olhando o entregador de pizza e ele sorri.

— Boa noite, senhor.

— Boa noite — digo, pego as caixas e o pago. — Pode ficar com o

troco — digo, me despedindo e fechando a porta.


Vejo Ferdinand sentado na poltrona, assistindo televisão e Estér me

encara, esperando as pizzas ansiosamente.

Coloco as caixas sobre a mesa de centro e vou até a cozinha, pego

três latas de refrigerantes e guardanapos. Entrego uma para cada assim que

volto para a sala, e beberico da minha, servindo-me de uma fatia da pizza

de calabresa.

— Deliciosa como sempre — diz Estére se lambuzando. Dou risada

e vejo o canto de sua boca suja, pego o guardanapo e a limpo, com meu

irmão me observando e ela ficando sem graça.

— E como foi o passeio, Ferdinand? — pergunto. — Para Frida ter

ido transar com outro, acredito que não tenha sido muita coisa.

Estér me encara e vejo o quanto o que eu digo a incomoda.

— Não saí com ela para transar, se eu quiser fazer isso, não preciso

ir muito longe — responde, querendo me provocar.

— Que bom, porque enquanto você estava com Frida, Estére e eu

estávamos...
— Dá para vocês pararem agora mesmo?! — pergunta, irritada. —

Vocês falam como se eu nem estivesse aqui ouvindo isso tudo.

— Desculpe, eu não quis...

— Não quis o quê, Frederic, dizer que estávamos transando? Não

quis me tratar como um prêmio? Porque é justamente isso que está fazendo.

— Ela se levanta e vejo abrir a segunda caixa de pizza, coloca duas fatias

na tampa de papelão e mais duas da outra. — Vou para o meu quarto, boa

noite.

Estére segue para a escada com o refrigerante e as fatias de pizza e

Ferdinand me encara.

— Ela come bastante, não é mesmo? Quatro fatias, porra, nem eu

consigo.

Sinto vontade de rir do que ele diz, mas a preocupação de que fiz

besteira toma conta de mim e não permite eu esboçar reação alguma.

Merda, sinto que a qualquer momento posso acabar perdendo Estére

se continuar dessa forma, e pensar isso me destrói, não posso perdê-la de


forma alguma simplesmente porque eu estou começando a amá-la.
Os dias passam devagar, como se, ao invés de vinte e quatro

horas, fossem quarenta e oito.

Fico trancada no meu quarto por mais de uma semana, apenas saindo

para comer e evitando Frederic e Ferdinand. Às vezes converso com Frida

por mensagens e passo a maior parte do tempo assistindo a séries e filmes

na Netflix.

Me sinto chateada pela maneira que Fred e Ferd vêm se

comportando. Até mesmo parece que são dois leões brigando por um

pedaço de carne.
Prazer, sou a carne.

É ridículo pensar nisso, porém, os pensamentos não deixam de

invadir minha mente.

Essa semana me sinto mais relaxada, em breve as aulas retornarão e

terei algo para ocupar a mente. Neste momento, só consigo pensar nos

sexos que eu havia tido com os dois.

A última vez que transei com Fred ele me fez chegar ao orgasmo, o

que, de certa forma, foi a primeira vez que conseguiu, já que da outra havia

sido seu irmão.

Penso o quanto isso é estranho. O cara por qual me apaixonei não foi

capaz de me fazer gozar na primeira e seu “substituto” conseguiu isso em

uma única transa.

Esqueço isso por um segundo. Droga, o que está acontecendo

comigo? Desde quando mamãe morreu minha vida se tornou uma

verdadeira caixa de Pandora. E o pior é que a cada dia eu fico mais confusa

sobre Frederic e Ferdinand.


E com essa caixa sempre me surpreendendo, não duvido que mais

alguma coisa possa acontecer.

Está cedo, o tempo lá fora me anima a sair da cama. Frederic e

Ferdinand não me procuram, ambos sabem que estou chateada e quero esse

momento só para mim.

Ouço o barulho do carro e corro para a janela, vendo que Fred já está

de saída, com certeza indo para a oficina.

Me animo um pouco, afinal, suas palavras me deixaram chateada de

verdade.

Levanto-me e vou até o banheiro, faço minhas necessidades e depois

de arrumar os cabelos e passar um pouco de maquiagem para disfarçar as

noites mal dormidas, sigo até o closet atrás de algo bom para vestir.

Não consigo dormir, todas as vezes que fecho meus olhos e agarro

no sono, acabo sonhando coisas eróticas com Frederic e Ferdinand. Não

consigo controlar, é praticamente impossível.


Afasto os pensamentos e suspiro, coloco uma calça jeans que realça

minhas pernas e uma blusa de mangas compridas na cor branca, que mostra

o decote na frente. Sorrio e saio do quarto assim que passo perfume e calço

meus tênis, pego o celular e coloco no bolso.

Desço devagar e sigo para a cozinha, dando de cara com Ferdinand

sentado no balcão e uma mulher o chupando.

Solto um gritinho e rapidamente ela para. Viro de costas.

— Que merda é essa?! — pergunto, estupefata com o que acabo de

ver.

“Meu Deus, apague isso da minha mente, por favor.”

— Droga, Estére, eu estava quase gozando. Pensei que estivesse

dormindo ou sei lá — diz Ferdinand, rindo. Reviro os olhos ainda de costas

e espero. — Você já pode ir, gatinha, obrigado pelo serviço, aqui está.

Continuo de costas e não demora muito a mulher passa ao meu lado

usando um vestido preto curto e salto alto. Ela vai até a porta e sai sem nem

olhar para trás.


— Pode se virar, docinho, eu já estou vestido.

Respiro fundo e conto até três, me viro e o vejo sentado no mesmo

lugar, com as pernas abertas, porém, seu “amigão” já está guardado.

— O que foi isso? — pergunto, indo até ele.

— Uma prostituta me chupando. Você não sabia que aqui tem?

Encontrei no Google — diz, sarcástico como sempre.

— Isso é nojento, as coisas não podem ser como antes? Você sair

com uma garota e acabar com ela na sua cama de maneira mais... aceitável?

Ele ri e lambe os lábios.

— Relaxa, Estére, é só sacanagem, não um encontro — murmura. —

Até porque a garota que eu quero levar para sair não está disponível.

Fico quieta e me sirvo de café, sentindo um pouquinho de nojo por

tê-lo visto com outra.

— E que garota é essa por acaso? — pergunto, como quem não quer

nada.
— Ah, não se faça de idiota, porque sabemos que você não é — diz.

Finjo-me de desentendida.

— Às vezes sei ser idiota — respondo. — Me conte quem é a garota.

Ele sorri e lambe os lábios. Estou à sua frente agora, de pé, enquanto

ele continua no balcão.

— Se você quer ouvir, então irei contar — começa. — É você,

Estére, quero levá-la para sair, mas você e meu irmão estão juntos e isso

seria um problema.

Dou de ombros e termino meu café.

— Podemos sair como amigos, não vejo problema nisso.

Ele desce do balcão e para na minha frente, passando seus dedos no

meu rosto.

— Mas eu vejo, porque não quero ser só seu amigo. Quero ser tudo,

até mesmo amante, menos seu amigo.

Fico atônita ao ouvir isso e assinto.


— Você é bem direto quando quer alguma coisa.

— Quando você perde dez anos da sua vida atrás das grades, acaba

se tornando uma pessoa mais objetiva.

Concordo em silêncio e dou de ombros.

— Bem, podíamos sair um pouco, o que acha? Irmos ao shopping

por exemplo. Aqui não tem muitos lugares para irmos — digo.

— Você está me chamando para sair? Meu irmão não acharia isso

ruim?

— Claro que não, só iremos sair como amigos, não é como se fosse

um encontro.

Ele me encara e assente.

— Tudo bem, vou apenas tomar um banho.

— Eu acho bom, enquanto isso eu vou comer alguma coisa.

Ferdinand me olha um minuto inteiro e sorri de lado, concordando,

se afasta e fico sozinha na cozinha, pensando no que ele havia acabado de


me falar.

Meia hora mais tarde, Ferdinand desce bem-arrumado e com o

cabelo molhado. O perfume másculo invade meu nariz e me arrepio com a

virilidade que ele exala, me causando um arrepio na espinha.

— Estou pronto, vamos? — pergunta, estendendo a mão para mim.

A pego de bom grado e entrego a chave do carro para ele. — Você falou

com meu irmão hoje?

— Não estamos nos falando ultimamente — respondo, ele concorda,

não dizendo nada e saímos, trancando a porta de casa. Seguimos para o meu

carro e rapidamente ele sai da garagem, seguindo pela estrada e ligando o

rádio.

— Coloque uma música para ouvirmos — pede.

Concordo e ligo o rádio, procurando uma estação que nos agrade.

Paro em uma música do Link Park e Ferdinand se anima, cantando a letra

com eles. Apenas o admiro, observando o quanto ele canta bem e está
despreocupado, batendo os dedos no volante do carro. Fico pensando em

como as coisas seriam se ele não tivesse ido parar na cadeia.

Poderia ter sido algo completamente diferente.

E se conhecêssemos ele antes? E se mamãe se apaixonasse por

Frederic e eu por Ferdinand? E se no fim de tudo mamãe ainda estivesse

viva? Eu me apaixonaria por Fred e estaria me sentindo atraída pelo seu

irmão?

Tantos “e se...” e nenhuma resposta. Principalmente para o fato de

que sou apaixonada por Frederic e atraída pelo homem ao meu lado.

Chegamos ao shopping da cidade e vejo que o local está lotado. Saio

do carro assim que Ferdinand para no estacionamento e sinto o sol cobrir

minha pele, o que me deixa animada.

— Vamos? — pergunta Ferd erguendo o braço em minha direção.

Fico pensando o que as pessoas diriam se vissem meu braço entrelaçado no


dele e decido que somente hoje não irei me importar, então o aceito de bom

grado e vamos para dentro do estabelecimento.

As pessoas andam para todos os lados bastante animadas, fico

maravilhada em vê-las sorrindo despreocupadas e sinto uma pontada de

inveja. Como eu gostaria de poder andar despreocupada dessa maneira.

— Vamos entrar aqui — diz Ferd me trazendo à realidade

novamente. Me viro e vejo uma loja masculina.

Entramos e ele começa a ver várias roupas e noto seus olhos

brilharem por cada uma delas. A verdade é que Ferdinand não tem roupas,

ele ainda usa as do irmão, afinal, saiu há pouco tempo da prisão.

E sei também que ele não tem dinheiro, o que me deixa

desconfortável.

Uns com tanto, outros sem nada. A vida realmente sabia ser injusta.

— Bom dia, pessoal — diz um vendedor, me tirando dos meus

pensamentos —, gostariam de aproveitar as promoções da loja? — O olho e

vejo o enorme sorriso no rosto do homem de pele clara e cabelos loiros.


— Hoje não, estamos apenas olhando — diz Ferdinand. O vendedor

concorda, e sorrindo se afasta, então vou em sua direção.

— Na verdade, o que ele quis dizer é que vamos olhar outros setores

da loja, o que você acha que combinaria com meu amigão aqui? —

pergunto, apontando para Ferd. O olho e vejo o desconforto em seu rosto.

— Bem, podemos ver algo que combine com ele — diz o outro.

— Então nos mostre — peço, dando meu melhor sorriso. O

vendedor se anima e puxo Ferdinand pelo braço, o guiando pela loja.

— O que você pensa que está fazendo? — pergunta baixinho.

— Dando-lhe alguns presentes, por acaso eu não posso? Você é

machista a ponto de não aceitar algo de uma mulher?

— O problema não é esse, e sim quem está dando — diz, travando o

maxilar. — Meu irmão não vai gostar de nada disso.

— Minha mãe me deixou uma herança para usufruir, se eu não posso

pegar o meu dinheiro e gastar com quem eu quiser, para que vou querê-lo?
E Frederic não tem nada a ver com isso. Ele recebeu uma porcentagem do

dinheiro de mamãe e optou em não usar. É um direito dele, mas o meu, eu

vou gastar.

Ferdinand ri e bagunça meus cabelos.

— Você é muito boa, Estére, nem Frederic e eu a merecemos. Somos

muito quebrados para uma garota como você.

Ouço suas palavras e engulo em seco.

— Bem, sobre isso, sou eu quem decide também.

Ele ri e seguimos o vendedor, que nos mostra diversas roupas.

Acabamos pegando várias calças, camisetas, blusas, bermudas e

outros. Ferd se anima com o tanto de roupa e assim que pago, saímos da

loja com ele sorrindo e os olhos brilhando. E percebo que é um sorriso

diferente do que estou acostumada a ver.

Normalmente, Ferdinand sorri de maneira sarcástica e autoritária,

para não demonstrar fraqueza, mas o sorriso que ele me dá é de gratidão.


*

Seguimos para outras lojas e compro alguns tênis para Ferdinand e

depois disso vamos para outra, onde adquirimos alguns acessórios como

bonés, óculos e outros que ele se agrada. Compro para ele alguns perfumes

e brinco dizendo que ele pode sair mais cheiroso ainda para suas

“acompanhantes de luxo”.

Quando encerramos as compras, nos direcionamos para a praça de

alimentação e me viro para Ferd.

— Escolha o que você quiser, sem pensar em preços — digo.

Ele concorda sem pestanejar e acaba pedindo um lanche do

McDonald’s, o que me deixa surpresa.

— O que foi? — pergunta, estranhando meu olhar de surpresa.

— Pensei que pegaria algo diferente — digo.

— Faz mais de dez anos que comi um desses, é realmente algo

diferente para mim — responde. Concordo, sentindo vontade de chorar. O


quanto esse homem havia sofrido na cadeia por algo que não cometeu.

Deixo meus pensamentos de lado, antes que eu comece a chorar, e

ele me observa, sorrindo. Sorrio de volta e somos chamados.

Pegamos nossos pedidos e voltamos para a mesa, com Ferd comendo

logo em seguida. O vejo se lambuzar com o ketchup e dou risada,

mergulhando uma batata no molho e levando até a boca.

— Está gostoso? — pergunto, enquanto ele come.

— Sim, eu comeria uns dez lanches desse — responde, bebendo o

refrigerante.

— E o que te impede de fazer isso? — pergunto.

— Eu perderia essa barriguinha sexy que você fica com água na

boca quando olha — retorque, piscando. Reviro os olhos e mostro a língua

para ele.

— Você é mesmo convencido.

— Sou, e você adora esse meu jeito, pode dizer.


Balanço a cabeça em negativo e rio, comendo meu lanche e bebendo

a Coca.

—Você é tão diferente de Frederic — digo. — Quero dizer, apesar de

ter passado por tantas coisas, é mais despreocupado, feliz.

— Não acho que eu seja esse homem — comenta.

— Então você precisa se conhecer melhor, Ferdinand — digo.

Ele me olha e seus olhos brilham.

— Talvez você esteja certa, mas você também precisa se conhecer

melhor, Estére.

— Do que está falando? — arrisco a pergunta e ele dá de ombros,

finalizando o lanche e partindo para as batatas.

— Não é nada demais, a propósito, obrigado por isso tudo — ele

aponta para as sacolas e volto a sorrir, ignorando o que disse, pelo menos

neste momento.
— Não precisa me agradecer, fico feliz que tenha gostado, até parece

que nunca ganhou nada de alguém.

Ele dá de ombros e fica quieto, estranho sua atitude e ergo a

sobrancelha.

— Disse algo que o chateou? — pergunto temerosa e ele nega.

— É só que de fato nunca ganhei nada de ninguém nos últimos anos,

apenas de uma garota que eu conheci na prisão, foi ela que me ajudou

quando vim para cá.

— E onde ela está?

— Bem longe, terminamos sem chances de volta, ela me deu um pé

na bunda após eu arrumar confusão com Frederic.

Ele ri e, devagar, seguro sua mão.

— Falando em Frederic, você o perdoou?

Ele suspira e acaricia meus dedos, me sinto receosa de alguém nos

ver, mas deixo isso de lado.


— Eu não sei, em algum momento com certeza farei isso, você não

faz ideia do quanto eu amo Frederic, mesmo estando afastado por tantos

anos.

Sorrio e aquiesço, não imagino sua dor ao passar tantos anos longe

do irmão e não poder se despedir da mãe, que morreu, e tão pouco como é

ficar preso por tantos anos.

— O que importa é que agora você está aqui, e tem nós dois.

— Eu sei, e você não imagina o quanto isso me fascina.


O passeio com Ferdinand foi tranquilo, quando chegamos à casa

e seu irmão nos viu com as compras, um sorrisinho no canto do seu rosto

surgiu, como se estivesse feliz pelo que eu havia feito.

Depois disso, os dias passaram rapidamente e me vi pronta para

retornar à faculdade, o que me anima um pouco e, também, desanima.

Suspiro pensando que Frederic e eu não havíamos voltado a

conversar. Não que ele não tivesse me procurado, porém, com meus

pensamentos tão confusos e a maneira que ele havia dito, ainda me


incomodam. Posso estar sendo um tanto idiota, eu sei, mas na hora certa

iremos conversar.

Saio de casa e sigo para dentro do meu carro com a mochila nas

costas, a jogo no banco traseiro e sigo pela avenida ao som de Avril

Lavigne. Canto animada com ela e não demora, já estou no campus

estacionando o carro ao lado de Frida.

Desço do veículo e minha amiga vem na minha direção com um

sorrisinho no rosto.

— Bom dia, amiga! — diz, me abraçando. Está, como sempre,

bastante animada.

— Animada para a volta às aulas? — pergunto assim que nos

separamos e seguimos devagar para dentro da faculdade. Reparo que

algumas pessoas me olham mais do que o normal, mas não me importo.

Talvez ainda não tenham superado o fato de Collin e eu termos nos

separado. Às vezes isso parece mais um colégio do que faculdade.


— Nem tão animada assim, mas feliz que é um semestre a menos —

murmura. — Estive pensando em Ferdinand e você.

— O quê? — pergunto, surpresa com o que diz.

— Sim, isso mesmo que você ouviu — responde. — Pensei que você

poderia dar uma chance a ele, é bem fofinho e gostoso.

Sinto-me atônita e mexo nos meus cabelos.

— Ele e eu fomos ao shopping uns dias atrás, mas não foi nada de

mais, apenas fui ajudá-lo a comprar algumas roupas.

“Isso é mentira, Estére!”

— Isso é fofo — diz —, mas e aí, rolou alguma coisa?

— Claro que não! Somos somente amigos, assim como Frederic.

Seria estranho eu ficar com o homem que tem o rosto do antigo marido de

mamãe.

“Estranho namorar com o irmão do seu padrasto, mas não é

estranho transar com Frederic?!”


— Besteira — diz. — Você que sabe, está perdendo um partidão, eu

a apoiaria.

Sorrio ao ouvir isso, penso em contar a ela que aconteceu algo entre

nós, claro, mudando alguns fatos, porém, me mantenho em silêncio. Mesmo

me sentindo péssima em mentir para minha melhor amiga, ainda não

chegou a hora de contar a verdade a ela, principalmente pelo fato de que

Collin e eu terminamos há pouco tempo.

— As pessoas estavam mesmo com saudades de nós — digo,

chegando ao meu armário e notando mais olhares sobre nós.

Frida olha em volta e ergue a sobrancelha.

— Tem alguma fofoca no ar — diz, displicente.

— Como assim?

— Você acha mesmo que todas essas pessoas nos conhecem ou se

importam com nós? Tem algo errado — diz, olhando em volta. — Ei, você

aí, vem cá!


Frida chama uma garota que nunca vi e a jovem se aproxima com o

olhar sério.

— O que é? — pergunta, mascando o chiclete.

— Você por acaso sabe o que está acontecendo para essas pessoas

estarem nos olhando? — pergunta, cruzando os braços.

— E por que eu saberia? —questiona a outra.

— Ora, porque quando rola uma fofoca, todo mundo sabe — diz

minha amiga. A outra me olha de cima abaixo e faz uma bolha com o

chiclete, a estourando.

— Não estão olhando para vocês, e sim para ela — diz, apontando

com um movimento de cabeça em minha direção. — Estão dizendo que

você e seu padrasto andam transando e que um irmão gêmeo dele apareceu

e está fazendo a mesma coisa.

Fico quieta, em choque, ao ouvir o que ela diz. Como as pessoas

descobriram sobre isso? Como isso se tornou assunto da faculdade?


— O quê?! — questiona Frida, falando mais alto do que o normal.

— Pois é, foi o Collin Spellman que começou a contar isso por aí —

responde a garota que não sei o nome. — Ele disse que desde quando

terminaram, você, Estére, vem tendo um caso com seu ex-padrasto. Até

mesmo contou que o motivo do término nem foi a traição com a loira vadia,

e sim porque você o traiu primeiro.

Fico estupefata com o que ela diz. Como Collin teve coragem de sair

dizendo isso por aí?

“Então não descobriram, foi apenas uma fofoca nojenta dele.”

— Ele me paga — digo para Frida. Minha amiga concorda e olha

atrás de mim, me viro e dou de cara com Collin.

— Estére, como está? — pergunta, com a loira ao seu lado. Virou

sua sombra.

— Seu desgraçado, filho de uma puta! — grito, tomando alguns

olhares em nossa direção. Ele faz um olhar espantado e forma um sorriso

debochado.
— O que houve? É porque seu segredinho foi espalhado? Todos

agora sabem o que acontece naquela casa, que você e seu padrasto transam,

como é transar com o homem que foi casado por anos com sua mãe? — ele

se aproxima. — Como é todos saberem que você não passa de uma vadia

nojenta?

Cuspo em seu rosto e ele se limpa, sinto vontade de socá-lo, porém,

me controlo. Não posso perder a cabeça, a outra vez já havia dado

problemas demais para mim, quase me fazendo perder as provas.

— Você me paga por isso — digo, pegando minhas coisas e dando a

volta. Saio do campus, com Frida me chamando, e corro para o meu carro,

entro e saio rapidamente do estacionamento. Sigo pela estrada, nervosa, e

me afasto cada vez mais, percebendo que, no fim, Collin nunca esteve tão

certo.

Eu sou mesmo uma vadia nojenta e desprezível, tudo o que ele

espalhou para faculdade é verdade e mereço ser julgada.

Tenho nojo do que me tornei.


*

Paro o carro em frente à casa e saio, batendo a porta e acionando o

alarme. Subo os degraus e entro, me jogando no sofá, nervosa.

Solto um grito, pensando em como deixei as coisas chegarem a esse

ponto.

Por que as coisas não poderiam ser diferentes?!

Mamãe poderia estar viva, casada com Frederic, e Collin e eu juntos.

Talvez se eu tivesse ido para a cama com ele, Collin não teria me traído e

estaríamos namorando ainda.

Só de pensar que o homem pelo qual me apaixonei perdidamente se

tornou um grande babaca, meu estômago embrulha.

— Não foi à aula? — Saio dos meus pensamentos e vejo Frederic

em pé, no batente do corredor. Agora consigo diferenciar um do outro.

— Houve um problema, e para não fazer besteira voltei para casa —

digo. — Perder um dia não me fará mal.


Ele me encara e assente.

— Posso? — pergunta, apontando para o assento ao meu lado,

concordo e ele vem em minha direção, sentando-se logo em seguida. —

Quer conversar sobre o que aconteceu? Ouvi você gritar.

Suspiro e fecho os olhos por um longo minuto.

— Foi Collin — digo. — Ele anda espalhando na faculdade que

você e eu estamos tendo um caso.

Frederic se mantém em silêncio e coça o alto da cabeça.

— Filho da puta — sussurra. — Como ele descobriu?

— Não descobriu, apenas está dizendo por diversão, mas muitas

pessoas estão acreditando nele, é claro.

— Vou arrebentar a cara dele! — diz, nervoso.

Nego com a cabeça e deposito minha mão no seu braço.

— Não adianta bater nele, isso só vai te trazer mais problemas, ainda

não esqueceram do que houve no Beer’s.


Ele concorda e vejo Ferdinand descer a escada com uma de suas

roupas novas.

— Não foi à faculdade? — pergunta, me olhando.

— Vim embora, não estou bem — falo.

— O que houve? — questiona, se sentando na poltrona ao lado.

— Collin — diz Frederic. — Ele anda espalhando na faculdade que

Estére e eu estamos tendo um caso.

Ferdinand nos encara e começa a rir descontroladamente. Fred e eu

apenas o observamos.

— Qual o motivo da risada? — pergunto, cruzando os braços.

— Vocês estão mesmo preocupados com isso? — pergunta.

— Acho que você não ouviu o que seu irmão disse — começo. —

Collin está espalhando pela faculdade que...

— Sim, eu entendi — me corta —, ele está espalhando que vocês

andam trepando. O conheci no Beer’s quando fui com Frida, na verdade,


apenas o vi de longe e pareceu um babaca e tanto. Fico me perguntando

como você teve coragem de namorar com ele, Estére.

— Onde você quer chegar com esse assunto? — pergunto, o

encarando.

— Que apesar de ele ser um tremendo babaca, está certo. Vocês não

estão trepando mesmo? Frederic até a pediu em namoro, Estér.

Fico em silêncio olhando o sorrisinho cínico dele e reviro os olhos,

sabendo que ele está certo.

— Isso não dá motivos para Collin sair espalhando isso pela

faculdade, irei até lá e falarei com o diretor, alguma providência precisa ser

tomada — diz Fred e nego.

— De jeito nenhum vou deixar você fazer isso, ele pode ir à

delegacia e denunciá-lo, não esqueça que muitas pessoas viram você agredi-

lo no Beer’s — respondo e ele bufa, frustrado.

— Se quiser eu posso dar um susto nele, sei métodos imbatíveis,

ninguém desconfiaria que foi eu— fala Ferdinand e reviro os meus olhos.
— É claro, porque desconfiariam de Fred — respondo. — Deixem

isso para lá, uma hora Collin irá cansar de me provocar.

— Tudo bem, mas caso ele continue, me avise, que eu mesmo o

mato e enterro na floresta — diz Ferdinand sarcástico e bufo.

— E eu ajudo — completa seu irmão.

— Ninguém vai matar ninguém — falo nervosa e ele riem.

— É brincadeira, Estére, eu nunca sujaria minhas mãos com aquele

cara — diz Ferd e aquiesço.

— Vou para o meu quarto, nos vemos depois — falo e me despeço

dos dois, perdendo-os de vista.


Eu estou deitada e já é a noite do dia seguinte. Não fui à

faculdade de novo, pensando no que havia acontecido.

Frida não para de me enviar mensagens e ligar, e só respondo que

está tudo bem. Porque realmente está. Collin está certo, contudo, sinto

medo do que faria se as pessoas descobrissem que é verdade.

Boatos sempre existirão, sobre tudo. O único problema é manter a

verdade escondida.

Ouço uma batida na porta e me ajeito na cama, permitindo entrar.

Vejo Frederic e na sua mão há um prato com pedaço de torta de morango.


— Podemos conversar? — pergunta, parado na entrada.

— Isso é para mim? — Aponto para o prato e ele sorri, concordando.

— Então podemos conversar.

Fred ri e se aproxima, me entregando a torta. Pego o garfo e levo um

pedaço até a boca, me deliciando com o gosto maravilhoso.

— Queria saber como você está — diz, de maneira sincera. — Com

sua falta a aula hoje e o assunto rolando na faculdade, o diretor resolveu

entrar em contato comigo para saber sobre os boatos.

Reviro os olhos e continuo comendo.

— E o que ele disse?

— Bem, ele disse que infelizmente não pode fazer muita coisa em

relação às pessoas falando, mas que daria uma punição severa ao Collin,

que espalhou o assunto.

Dou uma risada debochada e nego com a cabeça.


— Collin é um babaca, mas Ferdinand está certo, ele só disse a

verdade, mesmo não sabendo sobre ela. — Suspiro, triste. — Os vilões

nesta história somos nós, Frederic. Você e eu. Fomos nós que nos

entregamos um ao outro.

— E eu não me arrependo — responde. — De início recusei bastante

sobre o que estava sentindo por você, mas hoje não, Estére. Sei que não

somos as melhores pessoas e sinto muito em fazer isso com Jolie, mas eu

realmente gosto de você e não mando nos meus sentimentos.

— O que quer dizer? — pergunto, surpresa.

— Primeiramente, que me perdoe pela maneira que falei em relação

à você para Ferdinand. Eu realmente me senti um pouco ameaçado com ele

aqui, e com tudo que houve pensei que me trocaria pelo meu irmão. Então

agi como um idiota e reconheço isso.

— É, você realmente agiu como um idiota — digo, suspirando

profundamente —, mas já passou, eu acho.

Ele me encara e se aproxima, depositando sua mão na minha.


— Estére, eu te amo — diz, displicentemente. — Sei que é loucura

dizer isso, mas é a mais pura verdade. Eu te amo demais, e hoje consigo

distinguir esse sentimento.

Fico perplexa ao ouvir o que ele diz e arregalo os olhos. Seu olhar é

vibrante, intenso e parece um fogaréu, como se estivesse esperando eu dizer

o mesmo. E sei que ele está.

— Frederic, eu...

— Tudo bem, fique tranquila, apesar de esperar um dia ouvir que

você também me ama, não disse esperando retribuição, apenas quis ser

sincero.

Mantenho o silêncio por um longo minuto e aperto sua mão.

— Gosto muito de você, sabe que realmente estou apaixonada e o

confiei algo muito importante. Me entreguei primeiramente à você.

— Mas... — diz, sabendo que viria um.


— Mas é mais do que isso — respondo, completando. — Eu gosto

de você e estou muito confusa sobre...

— Ferdinand — responde, completando minha frase.

Fico cabisbaixa e concordo.

— Sinto muito — digo.

— O que você sente por ele? — pergunta, e percebo o tom de mágoa

em sua voz.

— Eu não sei, me sinto mexida por ele, uma sensação estranha.

— Que sensação? — questiona, o observo e ergo a sobrancelha. —

Pode confiar em mim, Estére. Confiei em dizer que te amo, quero que

confie em me dizer o que sente.

— Não sei ao certo o que sinto, quando estou perto dele uma

sensação estranha toma conta de mim. Como se eu estivesse com borboletas

no estômago, e você também me causa isso! Gosto do toque dos dois, não
posso negar — respondo, sentindo a voz embargada, como se algo preso

estivesse finalmente se libertando.

— Uau — diz ele, rindo sem graça. — Está claro, não está? —

questiona.

— O quê?

— Você está apaixonada por Ferdinand, Estére, assim como está por

mim — responde, me fazendo rir e negar com a cabeça.

— Não, não é isso, você está louco — digo.

— Me diga, além dessas sensações que ele te causa, o que você sente

ao ficar ao seu lado?

— Me sinto bem, mas isso é comum, me sinto bem com muitas

pessoas.

— Ok, mas, e sobre o dia que ele saiu com Frida, estava claro que

você sentiu ciúmes disso.

Fico quieta e concordo, ele realmente está certo.


— Há mais algumas coisas como por exemplo, o dia em que foram

ao shopping. Quando você chegou, vi um brilho nos seus olhos... um brilho

diferente.

— Que tipo de brilho?

— O mesmo quando disse que está apaixonada por mim —

responde, ficando cabisbaixo.

— Sinto muito — repito isso como se fosse um mantra.

— Tudo bem, você não tem culpa, não há um jeito que controle os

sentimentos. Eles simplesmente acontecem, e aconteceu. Talvez seja ironia

do destino, já que você se apaixonou pelo seu padrasto.

— O que faremos? — questiono, surpresa com a conversa.

— Acho que você deveria ser sincera com ele — me responde. —

Diga que está apaixonada.

Balanço a cabeça em negativa.


— Você está me entregando de bandeja ao seu irmão? — pergunto,

com raiva na voz.

— Não, jamais abriria mão de você, prefiro ter um pouco, a nada.

— O que quer dizer com isso, Frederic? — pergunto, sentindo meu

coração acelerar.

— Que se for preciso dividir você com meu irmão, irei fazer isso,

porque eu te amo e não suportaria perdê-la para sempre.

— O que... — Minhas palavras se perdem no ar.

— É isso mesmo, Estére, se for necessário, irei dividi-la, só não

quero perdê-la. Já perdi Jolie, se você me deixar, não irei suportar.

Aperto sua mão e engulo a bile.

— Você não vai me perder, Frederic, entendeu? Nunca.

Ele dá um sorriso de lado e acaricia minha mão.

— O que faremos, Estére? — pergunta encarando-me.

— Eu não sei, mas daremos um jeito, eu prometo.


Ele sorri e assente, sinto-me ansiosa e o abraço, torcendo para que

realmente tudo seja resolvido, principalmente os meus sentimentos.


Fico pensando no que Frederic havia falado durante o restante da

semana, e quando vejo já é domingo.

Fui obrigada a ir para a aula e os burburinhos começaram a diminuir.

O diretor me chamou até sua sala e pediu desculpas pelo ocorrido, como se

ele fosse o culpado. Aceitei, apenas para evitar mais problemas, e depois

disso, foquei meu pensamento apenas nas aulas para não perder nem uma

coisa importante.

O semestre está cada vez mais difícil, até mesmo para quem faz

Fotografia. Teríamos um trabalho do qual tínhamos que fotografar pessoas

de nossa família e montarmos um álbum.


O único problema disso tudo é que eu não tenho família.

Penso aleatoriamente no meu pai, não sinto vontade de conhecê-lo,

mas às vezes fico imaginando o que ele está fazendo neste momento. Isso é,

se ele ainda estiver vivo. E se estiver, se ele tem outra família e se tenho

irmãos, o que, de certa forma, seria até que divertido.

Mamãe nunca falou a respeito dele, e para ser sincera, nunca

perguntei, mesmo nós duas sabendo que no fundo, eu tinha curiosidade em

saber quem é meu progenitor.

— Já decidiu como vai fazer esse trabalho? — pergunta Frida,

deitada de barriga para cima na minha cama.

— Não, ainda não — respondo.

— Deveria fazer o que eu disse — responde. — Chame Frederic e

Ferdinand e os fotografe. Os dois são lindos e isso ajudará a ganhar alguns

pontos a mais, fora que, apesar de tudo, eles agora são sua família.

— Você e suas ideias malucas — digo, rindo. Ela havia me sugerido

que deveria convidá-los para irmos a algum parque e tirarmos as fotos,


porém, com toda a situação que havia acontecido entre Frederic e eu, não

sabia se aceitariam.

— Frederic anda bastante ocupado na oficina e Ferdinand está atrás

de emprego — respondo. — Eles não têm tempo para essas baboseiras.

— Baboseiras que irá mudar o seu futuro quando terminar a

faculdade — diz, revirando os olhos.

— Talvez você esteja certa, mas não vou chamá-los de jeito nenhum.

Frida bufa e se senta.

— Tudo bem, eu mesma farei isso. Não pode ser pior que eu, terei

que fotografar meus próprios pais que trabalham na faculdade. É ridículo

demais!

Dou risada e concordo.

— Em quesito ridículo, você venceu de mim — digo, a vendo revirar

os olhos e mostrar a língua.


Ouço uma batida à porta e Frida corre para abrir, encaramos Frederic

que está com o sorriso no rosto.

— O almoço está pronto — diz, me encarando. Sinto um

formigamento cobrir minha pele e concordo, me levantando. Quando ele

está dando a volta para sair, Frida segura seu braço.

— Frederic, Estére precisa de um favor seu e de Ferdinand — diz.

— Frida! — a repreendo, negando com a cabeça.

— O quê? — questiona ele.

— Tem um trabalho na faculdade que vale nota — diz. — É sobre

fotografarmos alguns dos nossos parentes, mas como Estér só tem você e

seu irmão como família, ela está com vergonha de pedir para que vocês

façam isso por ela.

Frederic me encara e mordo o canto da boca.

— É sério? — pergunta, me observando.

— É — respondo.
— Tudo bem, só diga o dia que estaremos lá, vou conversar com

Ferdinand sobre o assunto, como ele é um pouco cabeça-dura, vai recusar,

mas vou convencê-lo.

— Obrigada, Fred, você é um herói — diz Frida, toda derretida, o

que faz eu rir.

— Vamos comer — digo, puxando-a pelo braço e descendo com os

dois para a sala de jantar.

Frida e eu passamos o restante do dia no meu quarto assistindo a

séries bobas na Netflix e comemos bastante pipoca e brigadeiro. Fazer algo

simples, mas descontraído, me deixa um pouco mais relaxada e feliz. Pela

primeira vez em dias eu consigo esquecer um pouco sobre a loucura que é

Frederic e Ferdinand.

— Está pensando no quê, Srta. Muller? — pergunta Frida.

— Tenho que te contar uma coisa e não sei por onde começar —

digo, me sentindo nervosa. Frida me encara e seu sorriso aumenta.


— Não me diga que você e Ferdinand... vocês transaram?

Engulo em seco e mexo as mãos. Devo contar a ela?

— Não, claro que não! Mas estou sentindo algo por ele — confesso,

não seria tão ruim assim dizer a ela que estou gostando do ex-cunhado de

mamãe, não é? Mesmo ele sendo uma cópia perfeita do meu ex-padrasto.

Ex-padrasto, dizer ou pensar isso é tão ridículo, ainda mais que

também estou envolvida com Frederic Cooper.

— Eu sabia! — ela grita, dando pulinhos na cama. — Você não

consegue me esconder as coisas, Srta. Muller.

Fico quieta, sabendo que isso não é verdade. Se eu contar neste

momento o que venho escondendo, ela me perdoaria?

— Bem, não se anime tanto assim, porque não pretendo contar a ele.

— Por que não? — questiona, arregalando os olhos.

“Porque eu gosto de Frederic também, e ele me ama.”


— Não teria futuro e acabaria estragando nossa amizade — minto,

dando de ombros.

Frida mordisca o lábio e vejo o sorriso se espalhar.

— O convide para jantar, claro, não no Beer’s, aquilo está tão

ultrapassado quanto a calcinha que você está usando. Leve-o em um

restaurante chique, esta cidade de merda deve ter, não é possível.

Dou risada e balanço a cabeça, não acreditando no que ela diz.

— Pensei que amasse morar aqui.

— Você não ouviu isso sair da minha boca — responde apontando o

dedo magro na minha direção. — Vamos lá, daremos um tapa no seu visual

e você o convida para jantar.

— Não posso fazer isso — respondo.

— Pare de besteira, é claro que pode, ambos são solteiros, o que te

impede?
Frederic, é claro. Com certeza ele não iria gostar nem um pouco de

me ver saindo com seu irmão.

Maldita hora que abri a boca para contar a minha amiga sobre meus

sentimentos confusos.

— Já está tarde — digo, criando uma desculpa ridícula.

— Ainda são três horas, combine para sair as oito, é tempo de

arrumarmos suas unhas, o cabelo e escolhermos uma roupa. Ande, vá até o

quarto dele e o convide.

Penso a respeito disso e concordo, me levantando.

— Fique aqui, não faça parecer mais constrangedor.

Ela concorda e saio, fechando a porta.

Respiro fundo, sentindo meu coração acelerar e sigo até o quarto que

Ferdinand está ficando. Bato à porta e espero, com ele abrindo um minuto

depois apenas de cueca.


— Oi, gatinha, precisando de alguma coisa? — pergunta, levando a

mão até o meio de suas pernas. Reviro os olhos e ele ri.

— Isso foi um erro — digo, em voz alta.

— O quê? — ele parece confuso.

— Vim convidá-lo para jantar — respondo —, mas vendo o babaca

que é, deveria ter ficado no meu quarto, trancada pelo resto do domingo.

Ele ri e passa a língua pelos lábios, os umedecendo.

— Me convidar para jantar? — questiona e assinto. — Frederic sabe

disso? — sussurra, sabendo que Frida está no meu quarto com o ouvido

atrás da porta.

— Não, mas não pensei que deveria comunicá-lo.

Ele concorda e cruza os braços, desvio o olhar do seu abdômen

definido e do volume no meio das suas pernas.

— Sei que você é uma mulher à frente do seu tempo e tal, mas estou

pedindo para que avise a ele. Não quero parecer o irmão fura-olho,
entende? E será só um jantar.

Fico estupefata com suas palavras e a firmeza na voz. Nenhuma

gracinha sobre me levar para cama, é isso mesmo?

— Se isso fará você aceitar o convite, tudo bem — respondo,

sabendo que a conversa com Frederic não será nem um pouco fácil.

— Sim, me procure depois que conversar com ele. — Ele sorri e

fecha a porta, me deixando confusa e pensando que não seria ruim passar a

mão no seu peitoral.


Ando de um lado para o outro no corredor e fico pensando em

como chegar em Frederic e dizer que irei sair com seu irmão para jantar. O

que ele pensaria a respeito disso?

Apenas um jantar ou um encontro?

Afinal de contas, o que espero desse jantar?

“Deixe de ser idiota, sabemos melhor que ninguém que você e

Ferdinand não são amigos, você apenas o presenteou com algumas coisas,

nada mais. E claro, transaram, mesmo não sabendo que ele era ele.”
Reviro os olhos com meus pensamentos e sigo pelo corredor, crio

coragem e bato à porta do quarto de Frederic. O quarto do qual ele passou

anos com mamãe.

Como ele se sentia dormindo ali?

— Oi — diz, me tirando dos meus pensamentos. Ultimamente venho

tendo diversos devaneios.

— Oi — digo, já torcendo as mãos —, como você está?

— Bem — responde, estranhando a pergunta, afinal, nos vimos há

poucas horas quando fomos almoçar.

— Que bom — digo, desviando o meu olhar do seu. — Gostaria de

falar com você sobre uma coisa.

Ele cruza os braços e concorda.

— Estou ouvindo — diz, displicente.

— Eu gostaria de saber se você se importaria se eu saísse para jantar

com Ferdinand — digo. — O convidei para jantar sob influência de Frida,


mas ele pediu para eu falar com você primeiro, para saber se está de acordo.

Ele estreita as sobrancelhas e coloca a mão na cintura.

— Você está mesmo interessada nele — não é uma pergunta, fico em

silêncio e ele assente. — Tudo bem, podem ir, não me importo, desde que

amanhã você saia comigo para jantar.

Ouço o pedido e fico surpresa com sua reação. É sério que ele está

deixando? Então lembro de suas palavras.

“Prefiro ter um pouco, a nada.”

— Tudo bem — respondo, sorrindo. Ele forma um sorriso e olha

para o corredor, vistoriando se Frida está ou não nos olhando.

Fred me puxa em sua direção e beija-me suavemente. Perco o ar e o

agarro, mordo seu lábio e desço minha mão pelo seu peitoral.

— Estou com saudade — diz e sei do que ele está falando.

— Eu também estou — digo com a voz embargada, encarando-o

dentro dos olhos.


— Você sempre será minha, Estére — sussurra, para que não

sejamos ouvidos.

Volto a beijá-lo e Fred se afasta um tempo depois, fechando a porta.

Vou até o quarto de Ferdinand e ele atende do mesmo jeito que

estava antes.

— Então?

— Ele deixou — digo, me sentindo um pouco animada.

— Ok, nos vemos que horas?

— Às oito — respondo. Ferdinand concorda e volto para meu

quarto, me virando para Frida.

— Você demorou — diz, sem me olhar. Se me olhasse, perceberia

que algo aconteceu.

— Ele aceitou — digo, ignorando o que diz.

Rapidamente ela se vira para mim animada e solta um gritinho.

— Vamos cuidar do seu visual!


*

Passo as próximas horas sendo cobaia de Frida. Ela faz as unhas das

mãos e segue para os pés, insistindo que devo usar um salto. Depois disso,

me ajuda a depilar as pernas, alegando que irei usar um vestido. No banho,

ela faz eu depilar as axilas e depois que termino, arruma meus cabelos,

deixando-os encaracolados com o babyliss.

Quando termina, me ajuda com a maquiagem e só então seguimos

para a roupa, o que é uma verdadeira confusão.

— Você precisa renovar seu guarda-roupa — diz, nervosa. Dou

risada e espero minha amiga achar algo que sirva para esta noite.

Depois de um bom tempo, achamos um vestido que eu nem

lembrava ter. Ele é branco-pérola, com um decote avantajado na frente e

fechado atrás. O comprimento vai até abaixo do joelho, com a lateral aberta,

revelando a coxa.

Frida me faz vesti-lo, e assim que me olho no espelho, vejo o quanto

ficou bonito. Sorrio e ela me entrega um par de sandálias de salto na mesma


cor.

— Você está linda — diz.

— Você não acha um exagero isso tudo? É só um jantar.

— Não, não acho, e enquanto você enrolava com Ferdinand,

procurei no Google e achei algumas opções de restaurantes. Aqui na cidade

mesmo tem um chamado Flor de Lótus, pelos comentários o lugar é

bastante renomado. Fico pensando como não soubemos dele antes.

— Talvez seja porque sempre acabamos indo ao Beer’s — respondo.

Ela ri e concorda.

— Mas hoje será diferente, vocês vão nesse restaurante, vou enviar a

localização no seu celular.

Concordo e ela envia, vejo a hora e falta dez minutos para às 20h.

— A hora passou voando — digo, surpresa, ela concorda, sorrindo.

— Isso é que dá se produzir inteira — diz, se levantando. — Bem,

vou indo nessa, depois me conte como foi.


— Você tem certeza? Pode descer com a gente.

— Não quero segurar vela — diz, me dando um beijo e me

encarando. — Se divirta esta noite, promete? Não pense em mais nada, só

na noite.

— Prometo — respondo, sorrindo. Ela volta a me dar um beijo e sai,

não demora muito, a vejo pela janela no seu carro e Frida acena, seguindo

pela estrada.

Respiro fundo quando me vejo sozinha e me assusto quando uma

batida à porta atrai minha atenção.

Me viro e perco o fôlego ao ver Ferdinand vestido em um smoking

preto, com a camisa branca e a gravata borboleta. Sua barba está bem

alinhada e o sorriso cativante aparece, deixando-me com um formigamento

nas partes íntimas.

— Oi — consigo dizer.

— Olá, Estére — diz, se aproximando, ele pega minha mão, deposita

um beijo e me arrepio. — Você está linda.


— Obrigada, você também está. Onde conseguiu o smoking?

— Frederic me emprestou, ele disse que eu deveria me vestir bem

para sair com uma garota.

Fico quieta com suas palavras e apenas movimento a cabeça em um

sinal de aprovação.

— O que Frederic está fazendo? — pergunto, e ele entende a

pergunta.

— Dando-lhe o direito de escolha — diz.

Novamente fico quieta, pensando em como Frederic estaria se

sentindo. Ao pensar nisso, uma sensação estranha toma conta de mim.

— É melhor irmos nessa — digo, mudando de assunto. Ferdinand

concorda e estende o braço para mim, me guiando pelo corredor.

Paro meu olhar na porta do quarto de Frederic e suspiro, saindo com

Ferd e indo para o meu carro.


Ferdinand dirige até o restaurante que fica um pouco longe de

onde moro. Durante todo o caminho, fomos ouvindo músicas da Katy Perry,

e cantando com ela. O que me deixou surpresa em como ele aprendeu as

letras rapidamente.

— O que foi? — pergunta quando o vejo cantando. — Só porque

estive preso, acha que não sei cantar?

— Não é isso, sua voz, ela é linda.

Ferd ri, nega com a cabeça e continua cantando. Canto Wide Awake

com ele e não demora, chegamos ao local.


Saímos do carro e Ferdinand me estende a mão. A seguro e entramos

no ambiente bem iluminado, com pessoas por todos os lados. Noto que o

restaurante é nesses formatos antigos, como se fosse um pub, com janelas

em toda a sua volta e o teto abobadado.

Um homem nos recepciona e nos leva até uma das mesas, onde nos

aconchegamos e fico maravilhada com o local.

— Vocês aceitam a sugestão do sommelier para escolher a bebida?

— pergunta o rapaz.

— Claro, por que não? — diz Ferd sorrindo, o homem concorda, se

afasta e logo em seguida se aproxima outro, com um sorriso enorme.

— Boa noite — diz, educadamente, o cumprimentamos e ele

continua nos olhando. — A sugestão desta noite é um vinho tinto delicioso

que veio da França...

— Pode ser ele mesmo — diz Ferd o cortando, o homem fica sem

graça e concorda.
— Agora mesmo, senhor — diz se afastando e trazendo a garrafa em

seguida. Ele enche nossas taças e a deixa sobre a mesa.

— Poderia ter deixado o homem ao menos terminar de falar — digo,

rindo. Ele dá de ombros e bebe um gole do vinho.

— E perder a chance de passar mais tempo com você? — pergunta,

me fazendo corar.

— O que pretende comer? — pergunto, mudando de assunto, ele

olha o cardápio e suspira.

— Eu não sei, que tal ostras? Parece nojento. — Rio e ele aponta

para outro. — Ou podemos comer ouriço-do-mar, dizem que é um delicioso

crustáceo.

Balanço a cabeça, me negando a experimentar a sugestão.

— Acho que vou querer somente uma salada — digo, ele fecha a

carta e me encara.
— Certo, fingiremos que somos pessoas saldáveis que comem só

mato para não passarmos vergonha neste restaurante superchique. — Ferd

assente e arranca uma risada minha.

— Basicamente isso, melhor do que comermos ouriço-do-mar.

Ele concorda e chama o garçom, fazendo nossos pedidos. O homem

anota e se afasta.

— Me diga, Estére, por que me convidou para jantar?

Fico pensativa e meneio os ombros.

— Apenas quis, eu acho — digo, sabendo que isso não é total

verdade.

— Pensei que estivesse apaixonada pelo meu irmão — responde, me

encarando no fundo dos olhos. O desconforto que isso me causa é como se

eu estivesse nua na frente de todas as pessoas.

— Uma garota não pode convidar um rapaz para jantar sem

segundas intenções?
— Claro que pode, mas sabemos que esse não é o nosso caso — ele

responde. — Sei que você está interessada em mim, assim como eu em

você. E você, claro, no meu irmão, o que chega a ser bastante confuso.

O garçom coloca nossos pratos sobre a mesa e se afasta, conosco

começando a comer. Assim que engulo a salada, me volto para ele.

— Sei que realmente parece confuso, mas quando disse ao seu

irmão, ele não se opôs a me dividir com você.

Ferdinand arregala os olhos, surpreso com o que eu disse.

— Então isso quer dizer que você a partir de agora vai se dividir?

— Não exatamente, mas ele soube entender bem meus sentimentos,

o que chega a ser engraçado, sendo que nem eu mesma consigo

compreendê-los.

— Não compreende ou não aceita este fato? — questiona-me. —

Vamos lá, Estére, você sabe melhor do que ninguém que estou certo. Você

está louca para se entregar para nós dois, mas não aceita isso. Não

compreende.
Torço minhas pernas, me sentindo nervosa.

— E-eu nunca fiz isso — gaguejo.

— O quê? Uma relação à três? É claro que não fez, perdeu sua

virgindade com meu irmão — diz, sorrindo.

— Como sabe disso? — questiono.

— Frida me disse que você era virgem, e como ela não sabe o

acontece com você e Frederic, acabei deduzindo. Mas não mude de assunto.

— Não estou mudando — respondo, displicentemente. — Você age

como se isso fosse normal. Não esqueça que estamos falando do seu irmão,

você e eu. Não é outra pessoa, é seu irmão! — digo, estupefata.

— É melhor um conhecido do que um desconhecido, não acha? —

pergunta com o tom sarcástico.

— Você está pensando mesmo que vou levar esse assunto em

questão?

— E se não vai fazer isso, o que pretende? Quem vai escolher?


— Eu não sei — digo, voltando a comer a minha salada, ele faz o

mesmo e o encaro. — Para você seria normal isso? Digo, me dividir com

Frederic, como se não fossem irmãos?

— Não é a melhor relação que eu já vi, mas acredito que quando três

pessoas não brigam, elas trepam — sussurra, se aproximando de mim. Sinto

meu rosto queimar e ele ri, bebendo do vinho.

Faço o mesmo e termino de comer, encerrando o assunto e pedindo

sobremesa. Ferdinand faz a mesma coisa e somos servidos com bolinhos

recheados e sorvete.

Comemos em silêncio e continuamos bebendo vinho, com o clima

ficando um tanto estranho.

— Algo está lhe incomodando? — pergunta, depois de um tempo.

Quero dizer que sim. Estou mesmo incomodada. Sinto uma

excitação fora do normal e meu corpo se contorce com isso. Quero dizer a

Ferdinand que ele está certo, realmente quero aquilo. Mesmo sendo algo

totalmente novo para mim, é isso que desejo.


Eu o desejo, assim como desejo seu irmão. O mesmo desejo sombrio

que me consumira quando comecei a me relacionar com Frederic Cooper

me consome por Ferdinand.

A diferença é que agora é em dobro, e me pergunto se para ambos

está tudo bem fazermos aquilo, por que me repúdio tanto?

O pior eu já havia feito, que foi me entregar ao meu ex-padrasto.

Iríamos para o inferno de qualquer maneira, então por que não

aproveitar a chance que a vida está me dando? Por que não me entregar

completamente a esses dois homens que me desejam tanto?

Realmente somos os vilões desta história para algumas pessoas, mas

para nós não. Somos apenas três pessoas descompreendidas, quebradas da

nossa maneira que encontramos conforto um nos braços do outro.

E eu quero isso, eu desejo mais do que tudo Frederic e Ferdinand.

E os terei para mim.


Ferdinand pede a conta e após ele pagar, dizendo que havia

pegado dinheiro com o irmão e economizado, saímos do restaurante e

seguimos para o carro.

Entro sentindo a tensão tomar conta do lugar, minhas mãos estão

suadas e minhas pernas comprimidas. Disfarçadamente, sem que Ferd veja,

passo os dedos pelos meus seios e sinto a rigidez. Estou excitada. Não

posso negar isso.

Só de pensar que Frederic e Ferdinand concordam com a loucura de

“me dividir” me deixa com o sangue fervendo.


Mas o que iríamos fazer de agora em diante? O que vem agora?

— Está tudo bem aí? — pergunta Ferdinand saindo do

estacionamento e seguindo pela estrada.

— Sim — retruco, com a respiração entrecortada.

— Não parece — me responde, olhando-me nos olhos. Ele forma um

sorrisinho de canto e mordisca a boca, voltando sua atenção para a avenida.

— Só estou com calor — digo, abrindo a janela do carro, o vento

gelado bate em minha pele e alivia um pouco do que estou sentindo.

— Calor... — A palavra estala em sua boca. — Entendi.

— O quê?

— O tipo de calor que está sentindo — responde, ainda olhando para

a frente. Sinto meu rosto arder de vergonha e nego com a cabeça.

— Claro que não é isso que está pensando — respondo, com

firmeza, o que chega a me deixar surpresa.

— Tem certeza de que não é?


Fico quieta e fixo meu olhar do lado de fora do carro. Ferdinand não

diz mais nada, e quando vejo já estamos próximos à casa.

Assim que ele para o carro, solto o cinto e abro a porta, saindo e

seguindo para dentro. Sinto seu corpo logo atrás de mim e me viro, o

encarando, então tropeço nos meus próprios pés e escorrego, com

Ferdinand me segurando e encostando meu rosto próximo ao seu.

— Toma cuidado, gatinha, você pode acabar se machucando.

Sinto minha respiração entrecortada e continuamos nos olhando,

encaro seus lábios e começo a me aproximar, pronta para beijá-lo.

— Está tudo bem? — Sou trazida para a realidade quando ouço a

voz de Frederic e me desvencilho do seu irmão.

— Só Estére caindo por aí — diz Ferd, me encarando.

Fico quieta e Frederic desce a escada devagar, noto que ele está

usando calça jeans e camisa social com os botões abertos.

— É só isso mesmo, Estére? — pergunta Frederic, me encarando.


— Sim, tropecei nos meus próprios pés — respondo, desviando meu

olhar do seu.

Vejo de canto de olho ele balançar a cabeça em concordância e me

mantenho em silêncio, Frederic se aproxima cada vez mais e para à minha

frente.

— Não tenha medo dos seus instintos, Estér — sussurra.

— Me desculpe — digo, encarando-o. Ele coloca seus dedos no meu

queixo e ergue meu rosto.

— Pelo quê?

— Por querer você e Ferdinand — digo com a voz embargada,

encaro seu irmão que está parado ao seu lado.

Sua mão pende e ele meneia a cabeça, concorda e suspira

pesadamente.

— Se é isso que você quer...


— Sim — admito, sabendo que não adianta eu mentir para mim

mesma —, é isso que eu quero e pode parecer errado, mas gosto da ideia, se

não estiver confortável...

Encaro os dois e vejo expressões opostas. Frederic está surpreso,

enquanto Ferdinand está com um olhar de que gosta disso.

— Você não pensa que nós... Ferdinand e eu...

— Que vocês se envolvam? — questiono, ergo a sobrancelha,

relembrando do meu sonho erótico. Vejo Ferd rir e Fred revirar os olhos.

— Não me sinto excitado em pensar nisso, irmão, relaxe — diz

Ferdinand dando um soco fraco no seu braço.

— Mas se sente excitado em dividir a mesma garota com o irmão?

— pergunto. — Não quero ser a única que tenha vantagens nessa relação.

Precisamos explorar o máximo que pudermos.

Os dois ficam sérios e Ferdinand vem em minha direção.


— Por acaso você está dizendo que quer que meu irmão e eu foda?

— inquire.

— Sim — respondo, sentindo meu corpo se arrepiar com a ideia.

— Não acha que isso seja um pouco... fora do comum? — Fred

questiona e dou de ombros.

— E por acaso o que fizemos desde o começo é comum? — indago

como resposta. — Vamos tentar, se não se sentirem confortáveis, paramos.

Os dois se encaram e me aproximo deles, colocando cada uma de

minhas mãos nos seus peitorais.

Tocando-os ao mesmo tempo, consigo sentir a diferença; Ferdinand

com certeza é mais malhado que o irmão, isso por conta dos anos na cadeia.

Eles me encaram e, devagar, escorrego meus dedos pelas suas

camisas e puxo a de Ferd, tirando-a de dentro da calça. Assim que faço isso,

sigo meu olhar para os dois e vejo suas expressões sérias e excitadas.
Sorrio com isso e levo minhas mãos por debaixo das camisas,

sentindo minha pele entrar em contato com a deles. Um arrepio percorre

minha espinha e continuo acariciando, subindo até o peito deles. Ambos

continuam em silêncio, então me desvencilho dos dois e desabotoou a

camisa de Frederic, vendo-a escorregar pelos seus braços e cair no chão.

Sem receio, abro o botão da sua calça e desço o zíper, o mantendo nessa

posição, enquanto vou até o seu irmão e tiro o smoking, a gravata e sua

camisa, jogando no chão da sala.

Fixo meu olhar nos dois, olhando seus abdomens definidos e sinto

água na boca, abro o botão da calça de Ferdinand e desço o zíper igual fiz

com seu irmão.

— Vocês querem isso? — pergunto, retirando meus saltos. Levo o

meu braço até as costas e desço devagar o fecho do vestido.

— Mais do que tudo, Estére — responde Frederic.

— Pode apostar — diz o outro.


Sorrio com as respostas e retiro meu vestido, vendo-o cair no chão e

me deixar somente com a lingerie. Eles me olham fixamente e vejo Ferd

lamber os lábios, enquanto Frederic vai descendo sua calça. Mantenho

ainda mais o sorriso e o outro faz o mesmo, agora nós três apenas de roupas

íntimas.

Respiro fundo, ainda os encarando e vou até Frederic.

— Me beije — sussurro.

Ele concorda e se aproxima, encostando seus lábios nos meus.

Rapidamente invado sua boca com minha língua e as entrelaçamos, com

Frederic passando a mão pela minha nuca e me agarrando. Solto um gemido

no meio do nosso beijo e, ainda nos agarrando, puxo Ferdinand para

próximo de nós e acaricio seu peitoral, sentindo-me ficar cada vez mais

excitada.

Separo-me de Frederic e encaro seu irmão, indo em sua direção e

beijando seus lábios. Agora, beijando os dois ao mesmo tempo, consigo


sentir a diferença. É algo notável. Ambos, apesar de serem diferentes,

beijam muito bem.

Continuo beijando-o e sinto sua língua me invadir, ele agarra minha

cintura, passando seu braço em torno de mim, e um gemido involuntário sai

da minha boca.

Sinto Frederic acariciar meus seios, então volto-me para ele e o beijo

novamente, agora com o irmão acariciando meu mamilo.

— Agora é a vez de vocês — sussurro, me separando de Frederic.

Eles me encaram sérios e vejo seus membros duros dentro de suas cuecas.

Ferdinand se vira para o irmão e o encara atentamente.

— Se não quiser fazer isso, entenderei, também estou achando

estranho.

— Não, Estére está certa — Fred me olha, lambe os lábios e volta a

encarar seu irmão. — O pior já foi feito, então por quê não tentarmos?
Ferd sorri e se aproxima do irmão, puxando-o em sua direção. Eles

se encaram atentamente, noto, excitada, que seus olhares estão um na boca

do outro, então Ferdinand o agarra e o beija, fazendo meu corpo se arrepiar

por inteiro.

De início, noto que Frederic está receoso e se mantém sem reação,

então me afasto um pouco para dar espaço a eles e quando vejo, ambos

estão agarrados em um beijo excitante.

Ainda os olhando se beijando, deslizo meus dedos pelo cós da

calcinha e mergulho minha mão na minha boceta, enfio um dedo no meu

sexo e começo a me masturbar. Solto um gemido alto, com os dois ainda se

beijando e continuo me tocando, deliciada com isso.

Deliciada em saber que nós três estamos nos entregando ao desejo

sombrio. Ao pecado e a luxúria. Abraçando-os, como se fizéssemos parte

de uma só carne.

Continuo me tocando e eles mantêm o beijo, o que me deixa

animada e surpresa, vejo Frederic separá-los e segurar o irmão à sua frente,


mordiscando seu pescoço e descendo devagar pelo seu peitoral. Ferdinand

me encara, observando-me me tocar, me aproximo deles e Fred chupa o

mamilo do irmão, enquanto Ferd tira minha mão de dentro da calcinha e

introduz um dedo na minha boceta. Solto um gemido alto, enlouquecida

com seu toque e ele começa a movimentar seu indicador, enquanto o irmão

desce pela sua barriga e fica de joelhos diante de nós dois.

A imagem de Frederic de joelhos, parado em frente ao membro do

seu irmão, faz eu sentir arrepios percorrerem o meu corpo, como se eu

pudesse chegar ao ápice só de vê-los juntos.

— Se entregue, Frederic — sussurro.

Fred o encara e me olha, enquanto ainda sou tocada, Ferdinand tira

seu dedo da minha boceta e traz até minha boca, fazendo-me engolir e

sentir o meu gosto.

Não posso negar que é inebriante senti-lo, então chupando seu dedo,

vejo Frederic abaixar a minha calcinha e mergulhar sua língua dentro da

minha boceta.
Solto um gemido alto, me contorcendo de tanto tesão com isso,

como um homem poderia fazer aquilo tão gostoso? Sinto pena de quem não

tem um homem como esse em sua casa. Ou melhor, homens como esses.

Saio dos meus pensamentos sem sentido, fixo minha mente no

momento em que estamos, com Frederic ainda chupando minha boceta e

enfiando um dedo devagar, enquanto o dedo de Ferdinand se mantém na

minha boca, comigo o chupando e gemendo baixo.

Não demora e Fred para de chupar minha boceta e só mantém o dedo

nela, virando-se para o irmão e abaixando sua cueca. Instantaneamente o

pau de Ferdinand pula e para bem em sua frente, e isso me causa tanto

desejo, tanta excitação, que os gemidos escapam involuntariamente da

minha boca.

Frederic nos encara e continua com o dedo na minha boceta, então,

ainda com um pouco de receio, ele leva a ponta de sua língua ao pau do

irmão.
Ferd solta um gemido e retira o dedo da minha boca, me puxando em

sua direção e mordiscando meu seio por cima do sutiã. Não consigo prestar

atenção de onde vem tanto tesão; se é da minha boceta que está sendo

masturbada com o dedo do meu ex-padrasto, do seu irmão gêmeo chupando

meu seio com urgência ou ver Fred segurar com a mão livre o pau do irmão

e colocá-lo na boca, arrancando ainda mais gemidos de Ferdinand.

Fico excitada vendo isso e Frederic passa a língua na glande do pau,

o chupando completamente. Mergulhando-o em sua boca.

Fico maravilhada com a cena e ele continua chupando o irmão e

masturbando, com Ferdinand massageando meus seios cada vez mais veloz.

Respiro fundo e o calor toma conta de mim, solto outro gemido, cada

vez mais alto, e quando vejo, gozo deliciosamente no dedo de Frederic, que

na mesma hora para de chupar o irmão e volta sua língua para minha

boceta.

Sinto meu corpo amolecer e eles continuam com as investidas, um

em cada parte, e me sinto excitada com isso. Devagar, nos separo e me


coloco sobre o chão, com os dois fazendo o mesmo e agora trocando de

papéis.

Frederic vem para o meu lado e começa a beijar meu pescoço,

descendo para meus seios, enquanto Ferdinand chupa minha boceta. Solto

um gemido. Puta que pariu! Como esses homens fodem gostoso com a

língua!

Continuo na mesma posição, deitada, deixando-os me explorarem e

vejo Ferdinand parar de me chupar e deitar seu irmão de barriga para cima

ao meu lado.

— Eu sou o intruso aqui — diz ele, lambendo os lábios, seus olhos

brilham. — Então vou retribuir o que estão fazendo por mim.

Sem entender, vejo ele puxar a cueca do irmão e noto o pau de

Frederic duro, a ponta do membro bem lubrificada. Sorrio e Fred volta a

beijar meu pescoço, descendo para meus seios, enquanto vejo a cena do seu

irmão chupando todo seu pau e introduzindo o dedo em mim. Solto mais

gemidos, vendo como a mesma coisa, feita por outra pessoa, consegue nos
proporcionar prazer do mesmo jeito. Ainda mais intenso. Frederic geme no

meio dos meus seios, enquanto o irmão continua chupando seu pau e me

masturbando.

— Por favor — sussurro, enquanto continuam.

— O que foi, Estére? — pergunta Ferdinand. — Não era isso que

você queria? — O vejo segurar o pau de Fred e masturbá-lo, enquanto me

olha de soslaio.

— Sim — respondo —, mas, por favor, me comam agora.

Os dois sorriem e Frederic se encaixa no meio das minhas pernas,

enfiando seu pau sem qualquer dificuldade dentro de mim. Solto um

gemido ainda mais alto ao senti-lo e minha boceta se contrai, fazendo-o

gemer também. Logo as investidas começam e vejo algo um tanto

delicioso; Frederic dobra minhas pernas, investindo cada vez mais dentro de

mim e beija meus lábios, comigo notando que seu irmão está atrás dele e

leva sua língua até o ânus do meu antigo padrasto. Frederic não se importa,
pelo contrário, os gemidos continuam cada vez mais fortes e gemo junto,

com ele me fodendo cada vez mais rápido e eu esfregando meu clitóris.

— Me fode, vai! — peço, com ele metendo cada vez mais rápido.

Vejo Ferd ainda chupando o seu cu e depois que termina, me olha por cima

dos seus ombros, sorrindo. Com um pouco de dificuldade, avisto ele roçar

seu pau na bunda do irmão e Frederic não diz nada, ainda me fodendo com

força.

Sinto meu corpo cada vez mais quente e Fred para de me foder,

saindo de dentro de mim e trocando de posição com o irmão, que coloca seu

pênis de uma vez dentro de mim e me faz soltar mais um gemido.

— Agora é a minha vez de te foder com força, gatinha — diz,

sorrindo e remexendo o quadril. Fico extasiada com isso e ele começa com

os movimentos cada vez mais rápidos, vejo Frederic umedecer o dedo e

sorrir para mim, deslizando-o pelas costas do irmão e enfiando na sua

carne. Na posição em que estou, não consigo ver muita coisa, mas o vejo
enfiar o dedo e Ferd gemer, gostando, enquanto continua me comendo

rapidamente.

Frederic mantém o dedo no sexo do irmão e começa a se masturbar,

comigo voltando a esfregar meu clitóris.

— Eu vou gozar — sussurra Ferdinand. — Você toma pílula?

Nego com a cabeça e ele concorda, continua as investidas mais

rápidas e de repente, sai de dentro de mim. Ele solta um gemido e goza

sobre a minha barriga, vejo Frederic também gozar na direção da bunda do

irmão e deliciada com isso, solto um grito, chegando mais uma vez ao ápice

e sentindo meu corpo amolecido.

Os dois sorriem e continuo deitada.

— E-eu quero vê-los — sussurro.

— O quê? — Fred questiona, seu peito sobe e desce rápido, está

suado, assim como o irmão.

— Quero vê-los transando — peço. — Por favor.


Soa como uma súplica e os dois se encaram, Ferdinand leva a mão

até o peitoral do irmão e a outra começa a masturbá-lo.

— Manda ver, irmão — diz.

— T-tem certeza? — Fred indaga com a voz embargada, sei que ele

está se esforçando muito, mas sente-se excitado com isso, senão, não estaria

fazendo.

— Sim... e-eu gosto um pouco — Ferd diz com as bochechas

vermelhas.

Sigo deitada, completamente deliciada com isso e passo as mãos no

sêmen de Ferdinand, meu corpo se arrepia e volto a ficar excitada.

— Se não for um problema para você...

Ferdinand se aproxima do irmão e eles começam a se beijar, fico

parada, contemplando a cena, acariciando meu clitóris com uma das mãos,

enquanto a outra esfrega os seios, intercalando de um para o outro.


O beijo entre eles é intenso, cheio de desejo, medo, prazer, luxúria e

pecado. Ferd acaricia o corpo do outro e não demora para que fique

próximo a mim, de quatro, com a bunda empinada. Frederic chupa o seu cu

e Ferdinand geme, encarando-me, ele se aproxima, beija-me e noto que seu

irmão está cada vez mais perto, enfiando, devagar, seu pau no sexo dele.

Fred e Ferd gemem juntos, a expressão de dor de Ferdinand,

transforma-se em prazer pouco tempo depois e noto que meu ex-padrasto

inicia os movimentos, lentos e tortuosos, acertando tapas no outro, enquanto

o fode.

A imagem me deixa ainda mais excitada e começo a me masturbar, o

sexo entre eles se segue, Ferd empurra o irmão pouco tempo depois e o leva

até a poltrona, sentando-o e colocando-se em seu colo.

Fico de pé, aproximo-me, enquanto Ferd sobe e desce no sexo de

Frederic e continuo me masturbando, sabendo que podemos nos arrepender

disso depois, mas por enquanto, continuamos aproveitando o momento.


— Eu vou gozar — diz Frederic. — Puta que pariu, que cuzinho

gostoso!

Suas palavras lascivas me deixam ainda mais excitada e Ferd o

encara, ainda subindo e descendo em seu colo, o sorriso unilateral.

— É todo seu, irmão — sussurra. — Eu sou seu e de Estére.

Ele continua nos movimentos e Fred urra, anunciando que gozou,

seu irmão geme e goza, sem ao menos se tocar.

Fico de joelhos à sua frente e me lambuzo em seu néctar, engolindo

seu pau, enquanto os movimentos diminuem, até se tornarem inexistentes e

por fim, ele sai de cima de Fred, puxando-me para o beijo e provando do

seu sabor.

Sorrio, desvencilho de Ferd e vou até Frederic, beijo-o e ele sorri,

maravilhado com o que acabamos de fazer.

E apesar de acabarmos de cometer um dos maiores pecados do

mundo, sinto-me pronta para repetirmos.


Sinto fortes braços me carregarem para o meu quarto e me deito

na cama, com alguém se deitando ao meu lado. Não abro os olhos para

saber quem é, afinal, estou tão cansada que mal consigo me manter

consciente.

Não lembro do momento certo em que eu dormi, só me vem à

lembrança do sexo que eu havia feito com Frederic e Ferdinand.

O sexo.

Havia sido algo tão delicioso e inovador, que chega a me assustar. Só

de pensar que eu transei com os irmãos Cooper e os fiz transar, meu corpo
envia sinais e quero repetir, mas me controlo.

Continuo de olhos fechados e adormeço, sonhando com a

experiência que tivemos, sabendo que com certeza será a melhor de toda a

minha vida.

Após Estére dormir, saio da sua cama e sigo para o meu quarto,

deixando a porta encostada. Me deito e olho para o teto, pensando no que

havia acontecido entre Estér, Ferdinand e eu.

Eu transei com o meu irmão gêmeo.

Mas, além disso, havia muito mais, como a ideia de ter uma relação

à três.

Só de pensar no sexo que havíamos tido e no que meu irmão e eu

fizemos, me repreendo. Não por achar ser algo errado, apesar de saber que

não é comum, mas sim por ter gostado mais do que eu deveria.

Sim, eu adorei foder meu irmão tendo Estére ao nosso lado.


— Toc, toc. — Ouço meu irmão na porta e me viro para ele, que está

usando uma calça de moletom e camiseta. — Posso entrar?

Concordo e me sento na cama, ele se aproxima e se senta ao meu

lado.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, sem encará-lo, apesar de

ter gostado, sinto-me envergonhado.

— Sim, aconteceu — responde. — Estére, você e eu fizemos sexo,

isso que aconteceu — diz.

Fico em silêncio, pensando quando criei coragem e o chupei, logo

depois o comi. Eu nunca havia feito aquilo e pensar a respeito me causa

desconforto. Droga, o que está acontecendo comigo? O que eu sou, afinal?

Gay? Bissexual? A experiência havia sido completamente nova para mim,

eu nunca havia feito algo parecido, a não ser, é claro, transar com duas

mulheres e tê-las só para mim.

Mas o fato de ter ficado com meu irmão, o chupado, senti-lo me

chupar, eu o comer, me causa uma sensação estranha.


Um medo. Medo do que diriam. Medo por ter gostado.

Que pecado havíamos cometido? Sei que isso é errado, mas o que

fazer em relação a algo, sendo que eu havia gostado? Como explicar que

realmente foi excitante ter ficado com Estére e Ferdinand, meu irmão?

— E o que tem isso? — pergunto, saindo dos meus pensamentos.

— Você que precisa me dizer, Fred — sussurra, torcendo o nariz. —

Se me disser que não se sente bem com isso, que estou invadindo o espaço

de Estére e seu, eu posso pegar minhas coisas e cair fora, cara, mas para

isso preciso saber o que você acha de toda essa situação.

O encaro e noto seu semblante um pouco abalado.

— Eu não sei o que senti — digo. — Quero dizer, estava visível que

senti tesão, mas agora, depois que tudo passou, não consigo pensar direito.

Porra, Ferd, nós nos chupamos! Eu te comi, caralho, e somos irmãos. Tem

noção do que nós fizemos? Do pecado que cometemos? Se mamãe

soubesse...
Levanto-me e ando de um lado para o outro, sentindo-me

completamente perturbado com isso. Estére havia nos colocado nessa

enrascada e eu havia gostado.

Merda!

— Isso é um problema para você, irmão? — pergunta, também se

levantando.

— Eu não sei.

— Olha, eu passei muitas coisas na cadeia, e ser passivo dos caras,

chupar pau e às vezes ser obrigado a fodê-los foram algumas delas. De

início, foi completamente difícil, porém, com o tempo percebi que gosto um

pouco disso, entende?

— Está me dizendo que você é bissexual e só veio me contar agora?

— Eu deveria ter comunicado antes? — responde, com outra

pergunta. Nego com a cabeça, ele está certo, não tinha que dar satisfação da

sua vida para mim.


— O problema não é sermos bissexuais, mas sim irmãos —

respondo, ainda andando de um lado para o outro, cada vez mais nervoso.

— Você está preocupado com o que as pessoas dirão a respeito? —

questiona-me e assinto, suspirando, frustrado.

— Tenho medo por Estére e pela gente, é claro, sabe o quão doentio

é você se relacionar com seu próprio irmão? Uma relação a três tudo bem,

isso é mais comum do que as pessoas pensam, mas e incesto? O que as

pessoas pensariam a respeito disso?!

Ferdinand se aproxima e coloca as duas mãos sobre meus ombros,

parando-me à sua frente.

— Não se preocupe com o que a sociedade irá dizer, as pessoas

gostam de se indignar na web e apreciar por trás, é isso que elas fazem.

Criticam para parecerem as corretas, mas por trás consomem aquilo. Não

estou dizendo que essa relação é normal, e que termos transado é algo

comum, mas quero dizer que se nós gostamos, e Estére está de acordo, não

há o porquê de nos repreendermos tanto.


Ouço suas palavras e as analiso atentamente, reproduzindo-as na

minha mente. Meu irmão está certo, estou me preocupando demais com o

que as pessoas dirão a respeito disso. E o pior de tudo é que tenho medo da

reação delas. E se Frida descobrisse? Estére não conseguiria esconder para

sempre de sua amiga o que está acontecendo entre nós dois. Aliás, entre nós

três.

— Você está certo — digo, depois de um tempo.

— Me desculpe se te causei algum desconforto, mas se não quiser

mais, podemos conversar com Estére e acabarmos com isso tudo...

— Tudo bem, só é muito novo para mim, entende? Só preciso de um

tempo para processar o que está acontecendo, não vou ser hipócrita de dizer

que não gostei, foi... diferente.

Ele dá um sorriso unilateral, se aproxima ainda mais e me encara,

fixo meus olhos no seu rosto. O mesmo rosto que o meu. Analiso sua boca

carnuda e lambo os lábios.


— Acha que o que fizemos foi porque queríamos ou por pressão de

Estér? — inquiro.

— Eu não sei, me diz você... — ele envolve seu braço ao redor do

meu pescoço e me beija, sua língua encontra-se com a minha e sinto-me

estranhamente excitado com isso.

No começo do beijo, minha mente não para de me lembrar que estou

beijando Ferdinand, mas quando nos envolvemos e sinto suas mãos

passearem pelo meu corpo, esqueço completamente tudo e o aperto contra

mim, sabendo que não há mais como voltar atrás.

Tem como sair do inferno ao entrar nele?

Tem como pedir a Deus que me leve aos céus mesmo após cometer

tantos pecados como estamos fazendo?

Beijar Ferdinand foi o maior pecado que eu poderia cometer, fodê-lo

— com gosto, diga-se de passagem — foi o ápice da luxúria.

Não, a resposta é essa.


Não há como voltar atrás nos nossos pecados, não quando não está

arrependido e continua fazendo.

E é isso que faço, continuo beijando-o profundamente, sinto sua

ereção e a aperto, vendo-o nos separar e sorrir.

— E então, fizemos isso por pressão de Estére ou porque no fundo

queríamos? — ele indaga e dou de ombros.

— Em algum momento v-você m-me desejou na sua infância? —

questiono com a voz embargada e ele ri.

— Eu só desejava comer suas namoradinhas, elas eram gatas — ele

pisca, me dá um tapa e sai do quarto, deixando-me sozinho.

Fecho a porta, pensando no que acabara de acontecer e me deito,

fechando os olhos e adormecendo logo em seguida.

Sou invadido por lembranças do sexo que fizemos.

*
Acordo na manhã seguinte com o cheiro de ovos e bacon no ar. Me

levanto, vou até o banheiro e escovo os dentes. Encaro-me no espelho e

recordo do que havia acontecido na noite anterior, engolindo a bile e

afastando os pensamentos.

Assim que saio do quarto, já arrumado e com minhas coisas, desço a

escada e sigo para a cozinha, dando de cara com Estére e Ferdinand

preparando o café para nós.

— Bom dia — digo, forçando um sorriso.

Estér vem em minha direção e deposita um suave beijo nos meus

lábios.

— Está com fome? — pergunta, sorrindo. Sorrio e concordo, com

Ferdinand vindo até a mim.

— Devo cumprimentá-lo com um beijinho também? — caçoa, rindo

logo em seguida. Reviro os olhos e dou um soco fraco no seu braço.

— Nem pense — digo, me sentando e pegando a xícara que Estér

depositou à minha frente. Beberico um gole da bebida quente e começo a


comer os ovos com bacon quando ela me entrega.

— Ontem à noite você não se importou de me beijar — Ferd diz e

reviro os olhos.

— Como assim? — indaga Estére e dou de ombros.

— Frederic estava com receio de termos feito o que fizemos, por

pressão da sua parte, e aí provei para ele que na verdade queríamos isso, de

alguma forma ou de outra, esse desejo sombrio estava nos rondando faz

tempo — ele pisca e suspiro.

— E como você se sente, Fred? — Estér pergunta segurando minha

mão.

— É como Ferd disse, talvez esse desejo estivesse mesmo pairando

sobre nós, só não percebemos antes — suspiro e ela sorri.

— O que vai fazer hoje? — pergunta, mudando de assunto.

— Ir para a oficina — respondo, ainda comendo.

— Vai querer sair para jantar? — questiona.


Penso sobre o que havia falado com ela no dia anterior antes de sair

com Ferdinand e concordo, pensando em como em poucas horas as coisas

haviam mudado. Não que eu não tivesse gostado de ter feito sexo com os

dois, porém, quando você é novo nisso, é estranho pensar depois no que

aconteceu.

— Claro — digo, sorrindo e afastando novamente meus

pensamentos.

Porra, eu havia aceitado isso, não? Por que agora estou me

discriminando tanto?

— Tudo bem, eu pensei que poderíamos fazer as fotos no final de

semana, o que acham? Podíamos ir ao chalé, é na outra cidade e tem lugares

ótimos lá.

Penso sobre isso e concordo, vendo meu irmão assentir.

— Só farei essas fotos porque não tenho escolha, gatinha — diz,

piscando.
Estére revira os olhos e se levanta, indo até meu irmão e depositando

um suave beijo nos seus lábios, por incrível que pareça, isso não me

incomoda, então ela vem na minha direção e faz o mesmo.

— Preciso ir nessa, não posso mais perder aula, nos vemos mais

tarde.

Assim que fala, ela vai em direção à porta e a fecha, deixando-me

sozinho com meu irmão.

— Quer ajuda na oficina? — pergunta. — Estou de bobeira, está

difícil achar um emprego pela cidade.

Penso sobre isso e me recordo dos velhos tempos, conosco na oficina

que pertencera ao nosso pai.

— É, pode ser divertido — digo, me levantando e colocando as

louças na lava-louças. — Se prepare, porque hoje você que vai trabalhar.

Ele sorri e bate palmas, um tanto animado.

— Ah, como eu estava com saudades de mexer em um carro!


Sigo para a faculdade pensando no que havia acontecido na noite

anterior e fico arrepiada só de lembrar. Não havia me importado nem um

pouco sobre tudo que Frederic e Ferdinand fizeram um com o outro; pelo

contrário. Só de imaginar os dois juntos, transando, com Fred fodendo o

irmão, sinto-me excitada.

Porém, algo me incomoda, e é o que faremos de agora em diante.

Fico pensando o caminho todo sobre o que Frida faria se estivesse no meu

lugar e tomo a decisão de puxar o assunto com ela, quem sabe pode me

ajudar com alguma resposta útil?


Saio dos meus pensamentos quando já estou em frente ao campus e

assim que estaciono, vejo Frida vir em direção ao meu carro com um

enorme sorriso no rosto. Pego minha mochila e desço, travando a porta.

— Bom dia! — diz, animada — Eu quero saber de tudo.

— Tudo o quê? — questiono.

— Sobre o jantar, é claro! Você não me mandou mensagem, então

creio eu que deve ter rolado alguma coisa.

Sorrio forçadamente. Eu havia esquecido completamente que minha

amiga iria querer saber sobre isso.

— Na verdade, antes de tudo, quero te fazer uma pergunta — digo,

seguindo para dentro da faculdade.

— Qual?

— O que você faria se dois caras estivessem a fim de você e

dispostos a dividi-la entre eles? — questiono, pensando o quanto soa

ridículo dizer isso em voz alta.


Ela pensa por um minuto e dá de ombros.

— Se ambos querem e eu também, qual seria o problema? —

pergunta, curiosa. — Não vai me dizer que além do Ferdinand você está

com outro? Me diga quem é!

Engulo em seco e dou de ombros.

— É só uma pergunta mesmo — respondo. — Sobre o jantar, foi

sensacional, depois que fomos para casa, rolou um beijo.

Estou sendo sincera, certo? Realmente havia acontecido um beijo, só

não havia dito que foi com Frederic e Ferdinand. E claro, que passou disso.

Aliás, passou muito disso.

— Espere, Srta. Muller, você está me dizendo que Ferdinand e você

ficaram? Isso é sensacional! — diz em voz alta, fazendo algumas pessoas

nos olharem.

— O que é sensacional? — pergunta Collin atrás de nós. Me viro e

torço o nariz ao vê-lo.


— Bem, não é da sua conta, mas já que quer saber... — começa

Frida, limpando a garganta. — Estére está ficando com outro cara, um

muito melhor que você, acredite.

Vejo o desconforto tomar conta dele e Collin me encara.

— Isso é verdade, Estére? — pergunta, estreitando as sobrancelhas.

— Sim, é, e diferente do que pensa, não é o meu padrasto —

respondo, sorrindo.

Sei que isso é mentira, mas não há nada a ser feito.

Collin me observa e abaixa a cabeça, saindo sem falar mais nada.

— Ele é realmente maluco, eu não sei como vocês ficaram juntos

tanto tempo — diz Frida, e concordo com ela, seguindo para a aula assim

que o sinal toca.

A aula passou tranquilamente e me peguei pensando várias vezes no

sexo que eu havia feito com Frederic e Ferdinand. Só de pensar que poderia
repetir isso quantas vezes eu quisesse, dá vontade de não sair de casa para

mais nada.

— Você é mesmo uma tarada, Estére Muller — murmuro para mim

mesma, quando estou indo para uma mesa no refeitório. Frida havia ido

buscar sucos para nós, enquanto eu compro os burritos de queijo e carne.

— Pensando sozinha, amiga? — pergunta me trazendo para a

realidade assim que deposita na minha frente o suco de morango.

— É, digamos que sim — digo, dando de ombros.

— O que você está escondendo de mim? — pergunta, me fitando.

Me mexo na cadeira desconfortável ao ouvir isso.

— Escondendo? — questiono, sabendo o quanto estou sendo

hipócrita, por que não contar logo a verdade a ela? Por que não me abrir

para minha amiga? No fundo, sei que ela irá me apoiar, no entanto, o medo

toma conta de mim. — Bem, várias coisas, mas outra hora eu conto. —

Pisco e bebo do suco, com ela rindo e concordando.

— Mas então, e agora, como será entre você e Ferdinand?


— Eu não sei — digo, pensando em Frederic.

Ela come o burrito e faço o mesmo, sentindo o delicioso gosto da

carne.

— Você deveria chamá-lo de novo para sair, quem sabe não rola

sexo — diz, dando de ombros.

Me sinto mal ao ouvir isso e não poder contar para minha amiga

sobre o que já aconteceu.

“Você é uma amiga de merda!”

— Os rapazes e eu vamos no final de semana para o chalé para

fazermos as fotos — digo, mudando de assunto. — Decidimos ir para lá,

por ser um lugar mais tranquilo.

Frida continua comendo e concorda.

— Mudando de assunto, ok.

— Sim, obrigada — digo, sorrindo —, mas e você, faz tempo que

não me diz sobre algum rapaz que esteja ficando.


Ela lambe os lábios e dá de ombros.

— Não tem ninguém muito interessante, para falar a verdade, parece

que os caras bons sumiram ou são gays.

Dou risada do que diz e concordo.

— Ferdinand não é gay, nem Frederic — afirmo, relembrando, mais

uma vez, que os dois transaram, na minha frente.

— É diferente, porque não é como se eu fosse ficar com um dos

dois, você está saindo com Ferd, e Frederic é viúvo de tia Jolie, então...

— O que você acharia se de repente Frederic aparecesse com uma

outra pessoa? — indago e ela cruza os braços, dando de ombros.

— É um direito de ele ser feliz com alguém, quero dizer, ele tem

vinte e oito anos, há muito o que viver pela frente.

Concordo, sabendo que ela está certa, o que me incomoda é não

dizer a ela que ele está com alguém, e essa pessoa sou eu.

E agora o seu irmão.


— Seria bom ele se relacionar com alguém legal, conhecer novas

pessoas, o novo sempre é gostoso, de alguma forma — digo, sorrindo. Ela

me encara e concorda, estreitando os olhos.

— Você está certa, veja o quanto Ferdinand está fazendo bem a você

— diz, convicta.

— Não seja boba, nos conhecemos esses dias — respondo, sem

graça.

— Sim, e o tempo que esteve com Collin eu nunca vi esse brilho nos

seus olhos.

Quero dizer a ela que os culpados disso são Frederic e Ferdinand,

mas dou de ombros e sorrio.

— Possa ser que você esteja certa, mas que tal irmos logo para aula

antes que a gente se atrase?

Nos levantamos e ela concorda.


— Quem diria que as coisas mudariam tanto, você com Ferdinand e

eu sem ninguém.

Rio e concordo, querendo dizer a ela que na verdade não estou

apenas com Ferd, e sim com os irmãos Cooper, porém, me mantenho em

silêncio.

Muitas das vezes, o novo causa medo e impacto em algumas

pessoas. Sei disso, aliás, passei por muitas coisas novas das quais o medo

foi pioneiro nelas.

Lembro-me perfeitamente do dia em que fui jogado na prisão e lá

apodreci por longos dez anos. Sim, podridão, foi isso que aconteceu

comigo. Passei por muitas coisas novas, que foram ruins, e outras que no

fim, se tornaram boas. Como, por exemplo, o sexo. Por mais que tenha sido

estuprado por anos, quando eu fazia de livre e espontânea vontade, era


delicioso. Não, não sou gay e nunca fui, mas descobri um lado meu que

desconhecia.

E agora, com Estére e Frederic, descobri mais um. O desejo sombrio

de tê-los comigo, o que, de certa forma, é realmente doentio, como Fred

dissera, mas ao mesmo tempo, maravilhoso.

Por que nos prendermos em estereótipos se vamos mesmo para o

inferno? Isso se realmente ele existir, é claro.

— Está pronto? — pergunta Frederic me tirando dos meus

pensamentos. Encaro a caminhonete e concordo.

— Mas é claro, qual o problema dessa belezura? — questiono Jack.

— Nada de mais, só a correia — responde, encarando o capô aberto.

Concordo com um aceno de cabeça e observo meu irmão, que está com a

mão na cintura nos observando.

— Essa é fácil — digo, tirando a correia velha e a substituindo pela

nova, aproveito e reviso o óleo do motor e assim que finalizo, fecho o capô

do carro e encaro meu irmão. — Pensei que seria algo mais trabalhoso.
Ele dá de ombros e ergue as mãos.

— Culpado, eu queria mesmo que viesse para cá para relembrarmos

os velhos momentos que passamos na oficina de papai.

Penso sobre isso e ele vai para o seu escritório, o sigo e me sento,

lembrando do dia em que estive aqui e acabamos brigando.

— Eram bons momentos — digo, e aceito o copo com uísque que ele

me serve.

— Você acha que nossa mãe estaria orgulhosa de nós? — pergunta.

— Digo, em relação a tudo que já fizemos. Nem saber que você foi para a

prisão ela soube, escondi o máximo possível e quando vi, ela havia morrido,

e eu não tinha você lá do meu lado para me apoiar, assim como você não

me teve nos últimos anos.

— Não pense nessas coisas, tá legal? Já passou — respondo,

bebendo o uísque. — E apesar de tudo, acredito que ela tenha orgulho sim

de nós, independentemente de onde estiver. Não fomos os melhores filhos


do mundo, mas também não os piores. — Sorrio e ele também. — Você está

pensando de novo no que fizemos, não está?

— Você não? — inquire.

— Sim, mas para mim é mais fácil aceitar e conviver com este

pecado, do que continuar me julgando.

Ele fica em silêncio e me encara, formando um sorriso maroto.

— Estére, como ela pôde nos envolver nisso?

— Eu também não sei, mas é a mulher que você ama — digo,

cruzando as pernas. — Isso te incomoda?

— A mulher que eu amo gostar do meu irmão? Não, creio que não.

Quando ela me disse, parecia problemático, mas agora não, porque eu

também te amo, você é meu irmão e...

Ele para de falar e engole a bebida em um único gole.

— E...?
— Esquece, deixe isso para lá. — Fred suspira e se senta. — Porra,

como sou idiota, quem eu quero enganar? Gostei muito do que nós três

fizemos, Ferd, eu adorei transar com você.

— Eu também gostei — respondo sorrindo. Ele forma um sorriso e

concorda.

— Mais tarde vou jantar com Estére, por que não vem junto?

— É melhor não, eu tive meu momento com ela, tenha o seu também

— respondo.

— Para que se a noite há uma chance de acabarmos os três juntos?

— questiona. — Vou avisá-la que você irá com a gente.

— Tudo bem, em que lugar está pensando em nos levar?

— Não se preocupe, vocês vão gostar.

— Tenho certeza de que sim, mas o melhor mesmo é o que vem

depois — digo piscando.

Ele ri e concorda, sabendo que estou certo.


Recebo uma mensagem de Frederic assim que saio da faculdade,

avisando que Ferdinand vai jantar conosco e que vamos em um lugar

especial. Fico pensando que lugar é esse e me pego sorrindo com sua

mensagem, sendo tirada do meu devaneio com Frida parando ao meu lado.

— Deixa eu adivinhar, é mensagem do Ferdinand? — pergunta,

tentando olhar a tela, bloqueio e balanço a cabeça.

— Sim, só me convidando para jantar de novo — minto, me

sentindo péssima com isso. Frida sorri e lambe os lábios.

— Tenho uma notícia para te dar — diz.


— Conte, por favor, estou desesperada por fofoca — respondo e nós

duas rimos.

— Resolvi sair com um rapaz que conheci no aplicativo de paquera,

ele parece ser interessante.

— E vocês vão sair quando? — questiono.

— Ele me chamou para um jantar em sua casa, fica um pouco

afastado da cidade, mas conheço o lugar.

— Tem certeza disso? Não acha perigoso ir à casa de um

desconhecido? Ainda mais com Dréck solto por aí.

Ela pensa sobre isso e concorda.

— Você está certa, irei encaminhar uma mensagem a ele e dizer que

aceito, mas se formos em algum restaurante, dependendo de como for, eu

sigo para sua casa.

— Tudo bem, mesmo assim, mantenha sua localização atualizada e

me mande mensagem sempre.


— Claro, pode deixar — diz.

— Nos vemos amanhã — me despeço e ela vai embora.

Sigo para o meu carro, entro e vou em direção à estrada, torcendo

para que Frida se divirta com esse rapaz.

Sigo para casa ouvindo música e sorrindo feito boba ao pensar que

ao chegar lá, terei dois homens maravilhosos me esperando. Penso a

respeito da noite anterior e do momento em que Frederic trocou com

Ferdinand a penetração, fazendo eu sorrir com a lembrança. Não posso

negar, os dois são ótimos no sexo, ambos são diferentes e especiais de suas

maneiras.

Só de pensar que de início acreditei que Ferdinand não passava de

um babaca, quero rir, mas isso não muda o fato dele ser um bom “piadista”

com suas sátiras sem graça.

Chego em casa e saio do carro, seguindo para dentro. O cheiro de

comida invade minhas narinas e meu estômago protesta, lembrando que só


comi o burrito na faculdade.

Sigo para a cozinha e encontro os irmãos Cooper conversando e

preparando o almoço. Fred está nas panelas, enquanto seu irmão corta os

legumes.

— Boa tarde, gatinha — diz Ferd sorrindo para mim, retribuo e o

cumprimento com um beijo no rosto, fazendo o mesmo com Fred.

— O que temos para o almoço? O cheiro está ótimo — digo,

lambendo os beiços.

— Decidi fazer carne assada com batatas — diz Frederic.

— E para acompanhar, salada de legumes — completa Ferdinand.

— Certo, querem ajuda para alguma coisa? — questiono, ambos

negam com a cabeça.

— Só esteja preparada para mais tarde — diz Fred piscando,

concordo, pensando no que ele estaria aprontando e decido assistir um

pouco de televisão, para distrair a mente.


Mas ver os dois na cozinha, sabendo que poderiam estar comigo, me

deixa com a mente fervendo.

“Quando foi que você se tornou uma pervertida?”

Dou risada com o pensamento e sigo para o meu quarto, ligo a

televisão em uma série qualquer e pego meu celular, notando algumas

notificações do Instagram. Então recebo uma mensagem de Collin com um

link.

“Veja o quão doente isso é.”, diz na sua mensagem.

Seguro a respiração e abro o link, vendo que é um vídeo de um

suposto padrasto abusando sexualmente da enteada.

No vídeo, a garota está de quatro, sua boca está amordaçada, ele

segura uma faca apontada para o seu pescoço, enquanto transa com ela, que

chora copiosamente. Sinto-me enjoada ao ver isso, pensando o que passa na

cabeça das pessoas para gravar esse tipo de coisa. Fecho o navegador e leio

a outra mensagem de Collin:


“É assim que ele faz com você, Estére? É assim que Frederic te

fode? Ele te obriga a transar com ele e seu irmão asqueroso?”

“O que você quer, Collin?”

“A verdade, assuma de uma vez por todas que você e Frederic

estão transando. Agora com o irmão dele por perto, você deve estar

fazendo sexo com os dois, não é mesmo, sua vadia? Fala a verdade para

mim, diz que vocês sempre tiveram um caso e adorou que sua mãe

morreu para que pudesse ficar com ele.”

Fico atônita com suas duras palavras e sinto minhas mãos tremerem,

então sou trazida à realidade quando Ferdinand entra no quarto.

— O almoço já está na mesa, vamos comer? — pergunta, concordo

com um movimento de cabeça e tento disfarçar o olhar aflito, porém, falho

miseravelmente. — Está tudo bem? Você está pálida.

— Não é nada de mais — minto, sabendo que se ele e seu irmão

souberem sobre a mensagem de Collin, acabará em briga.

Ou até mesmo em morte.


— Tem certeza? — pergunta.

— Sim, eu tenho certeza — afirmo, com a voz embargada. Ele me

encara e quando vou sair do quarto, me impede, colocando seu corpo forte à

frente.

— Só irei deixá-la sair daqui quando me falar o que realmente está

acontecendo — diz, me fitando.

Vejo que não terei escolha e pego o celular, mostrando a ele as

mensagens.

— Collin está desconfiado de nós e quer que eu diga de qualquer

maneira a verdade.

— Vou arrebentar esse filho da puta! — diz, com a voz alterada. Não

demora e Frederic aparece sem entender.

— O que está acontecendo? — questiona. Mordo o canto da boca e

sinto o gosto do sangue, Ferd mostra o celular a ele. — Eu vou matar esse

cara.
— Não adianta agirmos de cabeça quente, e no final, ele está certo,

temos mesmo uma relação. Mesmo sem rótulos, estamos juntos, certo? —

Os dois assentem. — Então, isso só daria mais motivos para ele querer

expor isso.

— E se ele tentar alguma coisa com você? Isso já está se tornando

perseguição — responde Frederic, me observando.

— Caso isso aconteça, eu mesma vou atrás de um advogado com um

limiar para ele manter distância.

— Mas afinal, o que esse babaca quer? — questiona Ferdinand, me

observando.

Torço as mãos uma na outra e balanço o ombro.

— Acho que ele não aceita o fato de nós nunca termos transado —

digo.

— Eu ficaria puto também — responde ele, me encarando, Frederic

revira os olhos e me devolve o celular.


— Se ele continuar com essas mensagens, vamos até a delegacia,

entendeu? — Meneio com a cabeça. — Certo, vamos almoçar, ainda iremos

sair hoje.

Mordo o canto da boca e seguro seu braço quando ele está prestes a

sair.

— Tem certeza de que ainda quer fazer isso? — questiono.

— Sim, não vamos deixar esse babaca nos atrapalhar — responde.

Concordo e nós três descemos em direção à cozinha, nos sentamos nas

banquetas e logo estamos comendo, com o delicioso gosto da carne

invadindo minha boca.

Porém, não consigo esquecer o vídeo nojento que Collin havia me

mandado, e a mensagem. O que será que ele faria se soubesse que suas

teorias sobre Frederic, Ferdinand e eu estão corretas? Com certeza não seria

algo bom.

*
Estamos no carro de Frederic quando a noite já está caindo e

seguimos para um local mais afastado da cidade. Estou no banco da frente,

enquanto Ferdinand está sentado atrás, cantarolando a música que toca no

rádio.

Fred havia me dito que o jantar seria diferente, que iríamos fazer um

piquenique à luz das estrelas, o que me deixou bastante animada.

A cesta de vime está com Ferd, e pelo que vi, bastante cheia.

Fico pensando sobre isso que está acontecendo conosco e sorrio,

feliz pelo simples momento que estamos tendo agora.

— Está pensando o quê? — pergunta Frederic me encarando com

um sorrisinho nos lábios.

— Nada de mais — digo, olhando-o —, só pensando em como as

coisas mudaram nos últimos meses... Já faz quanto tempo que mamãe

morreu? Eu nem sei mais, estou perdida no tempo, sinto-me péssima com

isso, fomos apenas uma vez em seu túmulo.


— Podemos visitá-la quando quiser, é só dizer — responde e sorrio.

— A falta dela ainda é grande.

— Sim, penso nela diversas vezes — respondo, o sorriso sumindo.

Fred concorda e segura minha mão, apertando-a.

— Sei que é ridículo e talvez você não acredite nisso, mas ela está

em um bom lugar.

Desejo que ele esteja certo, afinal, se mamãe soubesse o que está

acontecendo dentro da casa da qual ela me criou a vida inteira, não estaria

nem um pouco orgulhosa de mim. Analiso a situação e mordisco o canto da

boca, tenho essa mania.

Quantas pessoas fazem o que Frederic, Ferdinand e eu estamos

fazendo? Claro que há pessoas que nos julgam, mas será que tem pessoas

que nos apoiam? Que acham “normal”? Principalmente em relação ao

incesto dos gêmeos Cooper. O que as pessoas diriam a respeito disso? iriam

nos repudiar? iriam nos... invejar?


Decido esquecer isso assim que o carro para e vejo que estamos

próximos de um pequeno parque da cidade. Há algumas pessoas

conversando, rindo e se divertindo.

Saio do carro assim que Fred destrava as portas e aspiro o ar fresco e

úmido do local. A grama verde está aparada e limpa; essa é uma das

qualidades daqui, os cidadãos não são imundos como em outros lugares.

— Para onde vamos? — pergunto, encarando os dois. Ferd dá de

ombros.

— Eu não sei de nada, sou um penetra nisso tudo.

— Deixe de besteira, irmão — responde o outro. — Vamos ficar por

aqui mesmo, é tranquilo e está vazio.

Concordamos e me afasto quando vejo os dois colocarem as mãos

para funcionar. Frederic tira de dentro da cesta uma enorme toalha, forrando

o chão. Logo em seguida, Ferdinand o ajuda a colocar as coisas que vamos

comer. Noto que temos queijos, presunto defumado, salgadinhos, azeitonas

e até mesmo uma garrafa de vinho e três taças. Contém frutas como uva,
morango e maçã. A fruta considerada do pecado, mas consumida por

muitos. Penso em relação a essa teoria. Muitos criticam o pecado, mas o

consomem, assim como “o fruto proibido”. É ridículo, eu sei, mas sorrio

com isso, analisando a situação. Será que Frederic e Ferdinand seriam meus

frutos proibidos?

Saio dos meus devaneios e encaro Fred.

— É simples, mas de coração — diz, sorrindo. Sorrio de volta e o

abraço, com ele depositando um suave beijo na minha testa.

— Não devíamos fazer isso aqui — sussurro —, pode ter algum

conhecido.

Ele segura minha mão e nega.

— Eu pensei nisso também, não vem quase ninguém que possamos

conhecer nesta parte da cidade.

Concordo, me sentindo um pouco insegura com isso e me sento, com

Ferdinand nos servindo do vinho.


— Vamos fazer um brinde — diz ele.

— Ao quê? — questiono, segurando minha taça e o encarando. Ele

está sentado com as pernas cruzadas, enquanto seu irmão está ao meu lado.

— A nós, é claro — diz ele —, que apesar dos pesares, estamos aqui,

nos divertindo como se nada tivesse acontecido.

Sorrimos e estendo a taça, batendo nas deles e bebericando do vinho.

— Quero agradecer aos dois pelo que estão fazendo por mim —

digo.

— O quê? Transando? — questiona Ferd rindo. Reviro os olhos e

nego com a cabeça.

— Claro que não, digo no sentido de me darem um pouco de

conforto. É tudo muito novo para mim e bastante confuso, mas estou

realmente feliz em tê-los ao meu lado. — Me viro para Fred e seguro sua

mão, que acaricia minha pele com seu polegar.


— Não precisa agradecer por algo que nem sabíamos que

aconteceria. Isso é novo para nós três, mas acho que podemos fazer dar

certo. — Ele encara o irmão e Ferd concorda, finalizando o vinho.

— Ok, vocês ganharam, eu também estou feliz em estar com vocês e

de podermos enfim nos resolver. Claro que não imaginei vir para cá e

manter uma relação com meu irmão e a garota dele, mas...

Dou risada e Frederic aperta a mão do irmão agora.

— Nossa garota, cara — diz, piscando.

— E vocês os meus rapazes — afirmo, pensando na loucura que isso

é.

Os irmãos Cooper assentem e começo a comer algumas azeitonas,

bebendo mais vinho. Os dois fazem o mesmo e aproveito para comer fatias

de queijo e presunto que tanto adoro.

— Agora chegou a parte que eu mais esperei — diz Fred. Fico sem

entender e estreito as sobrancelhas.


— Do que você está falando? — questiono.

— Soube que seu nome significa “a noite” — diz Fred —, sua mãe

uma vez me contou que era quando você mais chutava na barriga.

— Sim — digo, surpresa com isso, ele nunca havia me dito que

sabia o significado do meu nome.

— Ela me contou também que vinha muito aqui e ficava olhando o

céu todas as noites, quando você chutava a barriga dela. Jolie me contou

que as estrelas brilhavam mais do que o normal por aqui, e só acreditei

quando vi... — ele aponta para o céu e ergo minha cabeça, vendo as estrelas

reluzirem.

Fico emocionada com isso e sorrio, com Fred e Ferd me abraçando,

e analisando o céu ao meu lado. Penso em mamãe e o quanto a amo e sinto

sua falta, sabendo que se ela estivesse aqui, as coisas seriam completamente

diferentes. Sorrio ao pensar que em algum momento ela falou sobre mim

para Frederic e sinto as lágrimas cobrirem meu rosto, comigo chorando pela

primeira vez em meses.


Só que desta vez é bem diferente.

Isso tudo porque é um choro de felicidade.


O final de semana chega rápido, o que me deixa um tanto

animada. Assim que me levanto, arrumo minha mala com coisas que irei

usar e procuro nas gavetas a câmera fotográfica que mamãe havia me dado.

Quando a pego, milhares de lembranças do momento em que ganhei,

encobrem minha memória e um enorme sorriso no rosto surge, junto às

lágrimas.

Quando disse a mamãe que estudaria Fotografia, ela formou um

enorme sorriso e disse-me que eu deveria ser o que quisesse, o que me


deixou muito feliz. E então, no mesmo dia, um pouco mais tarde, ela me

entregou a câmera e disse para que eu a usasse nos momentos mais felizes

da minha vida. Infelizmente, com medo de não ser uma boa fotógrafa,

nunca cheguei a tirar uma foto de mamãe com ela.

Guardo-a na mala e saio do meu quarto, já arrumada. Estou usando

calça legging, tênis e camiseta, com meus cabelos presos em uma trança. O

tempo está bastante agradável, o que me deixa realmente feliz.

Desço a escada com a mala e encontro Ferdinand na sala com o

jornal e uma xícara de café na mão.

— Bom dia — digo, sorrindo. Ele está usando calça jeans, camiseta

e botas. Eu havia dito na noite anterior que queria viajar cedo para

aproveitarmos ao máximo o final de semana.

— Bom dia, gatinha — diz, se levantando e vindo em minha direção.

Ele dá um selinho em mim e sorrio, ainda achando isso tudo muito novo.

— Onde está Frederic? — questiono, deixando a mala de lado e

puxando a xícara dele.


— No quarto, ainda se arrumando, para variar — diz, revirando os

olhos.

— Eu não acredito que eu que sou mulher já estou pronta e ele não

— digo indo em direção à cozinha. Ferd me segue e pego pão e pasta de

amendoim. Passo em uma fatia e entrego a Ferdinand, faço outra e como,

sentindo o gosto doce invadir minha boca.

— Ainda há de existir uma explicação para você ser tão magra e

comer igual a um dragãozinho — diz, passando o dedo na ponte do meu

nariz. Dou risada e balanço os ombros.

— Penso que devemos ser felizes do jeito que somos,

independentemente se isso agrada ou não as pessoas — respondo. —

Comer me deixa feliz.

Ele sorri e concorda, passando a língua nos lábios.

— E meu irmão e eu te comendo te deixa feliz? — sussurra

sensualmente no pé do meu ouvido.


— Muito — respondo, mastigando o pão. O empurro e aponto meu

dedo para ele. — Nem pense em ficar me provocando a esta hora do dia.

Ferd ri.

— Tem medo de cair nas minhas garras e acabar querendo brincar

antes de viajarmos? Podíamos fazer isso, seria interessante.

— Vou fingir que você não disse nada — respondo e vejo Frederic

vir em nossa direção. O perfume invade meu nariz e sorrio.

— Estou atrasado? — pergunta, depositando um beijo nos meus

lábios. Sorrio, afirmando com a cabeça. Eu posso me acostumar fácil com

isso.

— Está, mas o perdoo depois dessa.

Ele ri e se vira para o irmão, dando um soquinho no seu braço.

— Ah, eu quero beijo também — provoca Ferdinand fazendo

biquinho. Rio com isso e Frederic revira os olhos.


— Eu também quero... digo, que você dê um beijo nele — provoco.

Frederic me encara e Ferdinand ri, se divertindo ainda mais. Sei que para

Ferd isso será muito mais fácil do que para o irmão.

Acredito que tenha a ver com o que ele passou na prisão, e claro,

pelos seus instintos.

— Estão falando sério? — questiona. Afirmamos e ele coça o alto da

cabeça. — Ele é meu irmão e...

— E vocês transaram, entre outras coisas que não preciso lembrar —

digo, gesticulando com a mão. Ferdinand está rindo tanto que pequenas

lágrimas surgem nos cantos dos seus olhos.

— O que foi, irmão? Pensei que já havíamos conversado sobre isso

— diz ele.

— Você sente prazer em ver isso, Estére? — questiona Frederic. —

Digo, em relação ao meu irmão e eu.

— Sim, por que não sentiria? Só porque são homens e irmãos? Eu

não me importo com isso, desde que você também não.


— Tudo bem, eu juro que vou me acostumar. Eu gostei mesmo. —

Balança os ombros ao dizer.

Frederic suspira e se aproxima de Ferdinand, depositando um selinho

na boca do irmão. Ele tenta se afastar e Ferd o segura com firmeza,

passando a língua pelos seus lábios.

— Seu nojento! — murmura Fred quando são separados.

— Ah, para de história, essa é a mesma língua que você deixou no

outro dia eu chupar seu...

— Tudo bem, eu já entendi — diz, dando as costas e se servindo de

café. Rio, achando graça e ouço meu celular apitar. O pego e noto que é

uma mensagem de Frida:

“Eu sei que demorei para falar com você, mas precisa saber.”

“O quê?”

“Eu não sai com o cara, aquele filho de uma puta simplesmente

me deu um bolo e parou de responder as minhas mensagens depois que


sugeri que fôssemos em um restaurante.”

“Isso é sério? Será que não é Dréck?”, questiono.

“Eu não sei, de qualquer forma, o bloqueei, odeio levar bolo de

alguém, mas transei com um outro carinha, foi ótimo, você deveria

transar com Ferdinand.”

Rio e termino de comer meu pão.

“Estou tranquila quanto a isso por enquanto, deixo para você.”

“Ok, você é uma cafona mesmo! Mas me diga, já foi viajar?”

“Estamos terminando de tomar café para irmos.”

“Mande notícias. Eu te amo.”

“Ok, também te amo, tome cuidado.”

Guardo o celular e me viro para os dois.

— Vamos nessa? Está na hora!

*
Vamos os três o caminho inteiro cantando músicas aleatórias que

toca no rádio. Dessa vez quem está dirigindo é Ferdinand e Frederic está no

banco da frente, enquanto sigo atrás os analisando atentamente, e vendo o

quanto são iguais e ao mesmo tempo diferentes.

Sorrio com isso e pouco mais de uma hora depois, Ferdinand

estaciona próximo ao chalé. O local está do mesmo jeito que deixamos da

última vez do lado de fora, com algumas lenhas guardadas e o ar fresco.

— Eu me mudaria para cá tranquilamente — digo, sentindo a luz do

sol refletir no meu rosto.

— Quem viveria no meio do nada? — questiona Ferd.

— Bem, temos carro, é uma boa opção — respondo.

— E o que fariam com a casa?

Frederic me encara e balanço os ombros.

— Por conta da minha idade, ainda não podemos vender. É uma lei

meio idiota que não entendo direito.


— Você venderia o lugar que passou sua vida inteira? — questiona

Ferd.

— Por que não? — Ele meneia os ombros e seguimos para o interior

do local.

— Teremos que ir ao mercado — diz Fred, assim que entramos. O

lugar está limpo e me recordo do Natal que passamos aqui. A lembrança

parece tão distante que chega a me incomodar.

Estamos em fevereiro já, e pensar que meu aniversário está cada vez

mais próximo, me deixa incomodada ainda mais. Seria o primeiro, de

muitos, que passaria sem mamãe.

— Faremos isso — digo, saindo dos meus devaneios. Ferdinand me

encara e como se lesse meus pensamentos, pergunta:

— Já que teremos uma relação, me diga, quando é seu aniversário?

O que mais gosta de fazer? Qual sua comida e cor preferidos?

— Então você decidiu me conhecer melhor? — pergunto,

brincalhona.
— Sim, meu irmão e eu precisamos conhecer melhor a mulher pela

qual estamos apaixonados.

Fico quieta e sorrio, me sento e Frederic e Ferdinand fazem o

mesmo, os dois estão com os olhos brilhando.

— Acho que Frederic sabe meu aniversário e isso ele pode te

responder.

Os dois se olham e Fred pigarreia.

— É dia seis de março, e você não gosta de contar para ninguém.

Sua comida favorita é panquecas do Beer’s, ovos e bacon. Você gosta de

assistir a séries clichês da Netflix e ouvir música no carro. Em casa é raro.

Sua cor favorita é todas, nunca parou para usar uma cor só, sua melhor

amiga é Frida e claro, adora fazer faculdade de Fotografia.

Ele termina de falar e fico surpresa em como me conhece bem, o que

me faz me achar uma ridícula, afinal, nunca soube muito bem do que ele

gosta.
— Uau, falta um mês para o seu aniversário e você não pretendia me

falar? — questiona Ferdinand.

— Não gosto de aniversários, penso que é só uma data para me

lembrar que estou ficando cada vez mais velha.

Ele ri e Fred forma um sorriso de canto de boca.

— Pelo jeito meu irmão te conhece bem — diz.

Concordo e Frederic me encara.

— Estou há anos ao lado de Estére, a vi crescer, realizar seus sonhos,

namorar e se tornar essa grande mulher — murmura, com sorriso no rosto.

— Estou surpresa, eu mal olhava na sua cara — digo, arrancando

uma risada dos dois.

— Eu sei, mas eu a olhava, na verdade, sua mãe sempre falava de

você para mim, então era difícil não notar.

Concordo e penso em mamãe.


— Se ela estivesse aqui, tudo seria diferente — digo. — Talvez não

teríamos nos relacionado, eu estaria com o Collin, Ferdinand teria aparecido

de qualquer jeito.

— Não tenha dúvidas disso, gatinha.

Formo um sorriso e me volto para Frederic.

— Sei que é difícil, mas e se ela estivesse aqui, o que você faria?

Ele me encara e balança os ombros.

— Eu não sei, acho que Jolie e eu estaríamos casados ainda.

— Quando isso aconteceu? — questiono. — Quando foi que nós três

nos apaixonamos?

Os dois dão de ombros.

— Eu não sei te responder isso, Estére, mas não quero mais viver

sem vocês — diz Frederic.

Sorrio e me aproximo dos dois, os abraçando, beijo Frederic e sigo

para Ferdinand, pensando que, mesmo que seja errado, loucura ou nojento
para alguns o que estamos vivenciando, eu realmente me sinto uma pessoa

feliz, e nesse momento, é somente isso que realmente importa.


O dia passou tranquilo, fomos ao mercado fazermos algumas

compras e depois disso, seguimos para o chalé para Frederic preparar nosso

almoço. Ele resolveu fazer almôndegas para nós, que estava uma delícia.

Depois disso, passeamos pela cidade e conhecemos alguns lugares

dos quais não havíamos ido da outra vez. Ferdinand está superanimado e

adorando o passeio, sempre respirando o ar puro e sorrindo ao fazer isso.

Penso o quanto isso deve ser importante para ele e acaricio a palma

de sua mão quando estamos próximos, o que faz Ferd sorrir ainda mais e

continuarmos aproveitando o passeio.


Quando já está quase anoitecendo, voltamos para o chalé em

silêncio, cansados de tanto andarmos e vermos a cidade.

— O dia foi incrível, obrigado por isso — diz Ferdinand assim que

entramos para o chalé, fecho a porta, trancando-a e sorrio.

— Realmente foi maravilhoso, vocês são ótimas companhias. —

Pisco e os dois lambem os lábios.

— Que bom que acha isso — responde Frederic.

Meneio a cabeça e tiro minha camiseta, jogando na direção deles.

Tiro meus tênis e a calça, ficando apenas de lingerie.

— Vou tomar um banho, os vejo mais tarde.

Passo ao lado dos dois, que ficam me observando, e entro no

banheiro, sorridente.

Abro o chuveiro e a água quente cai sobre mim, molhando meus

cabelos e meu corpo. Devagar, passo o sabonete pela minha pele e assim
que termino, vejo a porta do banheiro ser aberta e Frederic e Ferdinand

entrarem apenas de boxer.

— Podemos nos juntar a você, Estére? — pergunta Frederic.

Cubro meus seios e cruzo as pernas, meneando a cabeça.

— Pensei que não iriam vir — digo.

Os dois sorriem um para o outro e vêm em minha direção, entrando

debaixo do chuveiro. Me afasto, permitindo-os se molharem e vejo a água

escorrer por suas barrigas definidas, molhando os pequenos tecidos que

cobrem seus sexos.

Instantaneamente consigo notar os volumes marcando e mordo o

canto da boca, com Frederic me olhando e me chamando com seu

indicador. Me aproximo dos dois e fico entre eles, com a água agora

cobrindo-nos. Ferdinand pega o xampu e ensaboa meus cabelos,

esfregando-os cuidadosamente, o que me faz soltar um pequeno gemido

involuntário. Frederic nota e então pega o sabonete, fazendo espuma em sua

mão e a passando pela minha clavícula e descendo para meus seios. Quero
dizer a ele que já me ensaboei, mas a sensação que seus dedos me causam,

me deixa sem voz. Enquanto seu irmão se mantém nos meus cabelos, sua

mão percorre devagar entre meus seios, os bicos e descem devagar para

minha barriga.

Meu corpo se arrepia e ele para próximo a minha boceta, passa a

mão por cima, acariciando meu clitóris, o que me faz soltar outro gemido.

— Me responda uma coisa, Estére — pede, em um sussurro.

— Qualquer coisa, Fred — digo, aproveitando o momento.

— Quem foi que fez você atingir seu primeiro orgasmo? —

questiona-me.

Penso sobre a pergunta e fico receosa de responder, mas decido ser

sincera.

— Ferdinand — assumo.

Ele meneia com a cabeça e sorri.


— Ótimo, apesar do seu primeiro orgasmo não ter sido comigo, vou

fazê-la ter o melhor agora — murmura e assinto, notando que Ferdinand

parou de lavar meus cabelos e esfrega as minhas costas.

— Tudo bem — respondo, sentindo minha voz tremer.

— Feche os olhos, gatinha — pede Ferd.

Faço o que me pede e ele enxágua meus cabelos, tirando todo o

sabão. Assim que termina, volto a abri-los e encaro Frederic na mesma

posição, com sua mão encostada na minha boceta.

— Está pronta, Estér? — pergunta sério, seus olhos brilham com

uma intensidade que se houvesse um fósforo aqui, neste momento, tudo

estaria em chamas.

— Sim, estou — respondo.

Ele concorda e tira sua mão da minha boceta, lavando os dedos e

trazendo em minha direção.


— Abra a boca, Estére — faço isso e ele enfia seu indicador e médio

dentro da minha boca. — Chupe-os como se estivesse chupando meu pau e

de Ferdinand.

Concordo com um movimento de cabeça e faço o que ele pede,

chupando seus dedos como se fossem seu membro e do irmão. Passo a

língua nos dois e engulo, quase me engasgando. Ele sorri e investe os dedos

dentro da minha boca, como se estivesse a fodendo.

— Está ótimo — diz, os tirando da minha boca. — Agora eu vou

enfiá-los na sua boceta e mostrar para você do que sou capaz.

Fico arrepiada e sinto beijos serem dados pelos meus ombros, me

viro devagar e avisto Ferdinand. Ele sorri e mordisca meu ombro,

arrancando um gritinho baixo meu. Quando menos espero, sinto os dedos

de Frederic serem introduzidos na minha boceta e me arrepio ainda mais,

com Ferdinand continuando a me morder e beijando cada parte do meu

ombro, pescoço e costas.


— Meu Deus — murmuro, sentindo-me um tanto excitada. Os dois

continuam e os movimentos de Frederic dentro de mim se intensificam,

solto outro gemido ao sentir seus dedos me penetrando e o polegar

esfregando no meu clitóris.

— Está gostando, Estére? — pergunta, me encarando.

— Sim — respondo, com a voz falha. Fred sorri, se aproxima e

segura meu rosto com a mão livre, beijando meus lábios de maneira

selvagem e ágil. Solto um gemido entre seus lábios e ele me devora por

completo, ainda me fodendo com os dedos, enquanto seu pau e o de

Ferdinand encostam na minha pele desnuda e molhada pela água.

Gemo cada vez mais, principalmente quando Ferdinand vai

descendo devagar e mordisca minha bunda, enquanto seu irmão continua

me beijando e enfiando os dedos em mim. São tantas sensações que sinto

que não consigo sequer descrever. Somente quem já havia feito o que

estamos fazendo que saberia compreender a situação. O tesão se transforma

em luxúria e me vejo perdida nos braços dos dois. Frederic não para,
disposto a me fazer ter um orgasmo e Ferdinand separa minhas nádegas e

chupa meu cu, causando-me ainda mais sensações deliciosas.

— Está gostando? — pergunta Ferd, tirando seu rosto do meio da

minha bunda e me encarando. O olho por cima do ombro e concordo, ele

volta a chupar meu cu e Frederic beija meu pescoço.

Logo em seguida ele para e se abaixa, tirando seus dedos de dentro

de mim e os levando a sua boca.

— Seu sabor é delicioso, Estére — diz, me encarando ajoelhado.

Fico extasiada com a cena dos dois ajoelhados diante de mim e Frederic

começa a chupar minha boceta, fazendo eu gritar e gemer ainda mais.

— Puta que pariu! — exclamo, sentindo o fogaréu me cobrir. Eles

continuam me chupando e solto vários gemidos, sorrindo com a cena.

Como que alguém podia viver sem isso? Claro que muitas vezes um

homem apenas sabia satisfazer uma mulher, mas acho que todas as

mulheres mereciam ter a sensação que estou tendo agora. Todas deveriam
ao menos uma vez na vida transar com dois homens ao mesmo tempo e se

sentir como eu me sinto.

Desejada.

Os dois continuam enfiando suas línguas em minhas regiões íntimas

e me seguro na parede, sentindo minhas pernas cada vez mais se

transformarem em gelatina.

Então, quando menos esperam, solto um gemido e gozo, lambuzando

a boca de Frederic. Ele sorri e se vira para o irmão, com os dois se beijando

e provando do meu sabor. Não demora e eles se levantam, enquanto eu me

sinto exausta.

— Ainda não acabou, gatinha — sussurra Ferd, saindo e pegando

uma toalha.

Frederic fecha o registro do chuveiro e me ajuda a sair do box, me

pega no colo e guia-me pela saída. Rapidamente ele sobe a escada e vejo

Ferdinand logo atrás, então sou colocada em pé, ao lado da cama e Ferd
começa a me enxugar. Fico sem reação, deixando-os cuidarem de mim

como jamais fizeram.

— Você quer mais, Estére? — questiona Fred.

— Por favor — peço, em uma súplica. Ele concorda e assim que seu

irmão termina de me secar, me deita na cama e abre as minhas pernas.

— Você acha que aguenta nós dois... ao mesmo tempo?

Ouço o que ele diz e fico surpresa com a pergunta. Ele está mesmo

querendo saber se eu aguento fazer uma dupla penetração na minha boceta?

— E-eu... — gaguejo e engulo em seco — Eu nunca fiz isso, você

sabe, é claro.

Frederic forma um sorrisinho e concorda.

— Se você não estiver confortável, tudo bem. Ferd e eu podemos

revezar.

Penso sobre isso e sinto minha libido no alto; o tesão me

consumindo.
— Tudo bem — digo, me sentindo mais relaxada —, podemos

tentar, comece um e depois o outro...

Frederic concorda com um movimento de cabeça e o vejo sorrir.

— Desta vez é com você primeiro, Ferd — diz.

O irmão concorda e Fred me dá um beijo, dando espaço para o seu

gêmeo, que se aproxima. Respiro fundo e relaxo minha mente e corpo,

pensando apenas no desejo sexual que estou sentindo. Quero mais do que

tudo provar isso. Eu os desejo mais que qualquer coisa, e pensar que posso

ter os dois dentro de mim, faz minha lubrificação ficar cada vez maior.

Ferd se encaixa no meio das minhas pernas e o vejo enfiar seu pênis

na minha entrada, ele o desliza pela minha boceta e abro ainda mais minhas

pernas, me agarrando a ele. Arranho suas costas e as investidas começam,

arrancando mais gemidos meus.

Penso sobre o que houve no banho e me sinto cada vez mais

excitada, com ele metendo a cada segundo mais rápido. Suas investidas são
fortes e o vejo delirar de prazer; seu olhar mostra o quanto está deliciado

com isso.

Me viro e vejo Frederic em pé se masturbando e o chamo com o

polegar, com ele se aproximando e enfiando seu pau na minha boca.

Engulo o máximo que consigo e seguro a base, passando a língua na

glande, sinto o quanto seu pau está lubrificado e me lambuzo nele, deliciada

com a sensação que isso me causa.

O quarto do chalé é coberto pelos sons dos nossos gemidos.

Ferdinand geme por estar me fodendo. Eu gemo por estar sendo comida por

ele e chupando seu irmão. Enquanto Frederic geme por conta de eu estar

chupando seu pau.

Se vissem essa cena, as pessoas diriam que somos promíscuos, e

realmente devemos ser, no entanto, isso não deixa de ser maravilhoso. É

pecado? Pode até ser. É luxúria? Também, mas esse é o nosso amor. A

nossa maneira de nos completarmos. De nos amarmos e sermos felizes.


— Está gostando, gatinha? — pergunta Ferd rebolando dentro de

mim.

— Sim, estou — respondo, tirando o pau de Fred da minha boca.

Ele concorda e vejo inserir dois dedos na minha boceta, junto do seu

pau, o deslizando cada vez mais rápido. Sinto-me completamente excitada

com isso e Ferdinand sai de dentro de mim.

— Você está pronta, gatinha — diz. Não é uma pergunta.

Ferdinand se deita na cama e subo em seu colo, de costas para ele,

deslizando pelo seu pau e o sentindo me preencher por completo. Cavalgo

no seu membro e abro ainda mais as minhas pernas, com ele movimentando

seu corpo e fazendo as investidas rápidas.

Frederic vem para minha frente, sobe na cama e sorri, o vejo beijar

meus seios, enquanto seu irmão ainda me fode. Devagar, ele se aproxima e

enfia seu pau com um pouco de dificuldade na minha boceta, arrancando

um gemido meu. Sinto um pequeno desconforto, que rapidamente passa, e

quando vejo, o dois estão dentro de mim, me preenchendo.


— Sua boceta é tão quente e deliciosa, Estére — sussurra Frederic,

lambendo os lábios.

Sorrio maravilhada com isso e me inclino um pouco para trás, com

Fred movimentando-se dentro de mim, enquanto seu irmão gêmeo se

mantém parado, acariciando minhas costas e beijando-me. Solto um gemido

alto, misturado com um grito. A sensação é tão gostosa que me deixa

surpresa em saber que isso realmente está acontecendo. Fred nota o quanto

estou excitada e continua com as investidas, com Ferdinand fazendo o

mesmo, só que agora bem mais devagar.

O que me tortura ainda mais.

“Quero mais, muito mais!”

Eles continuam e levo minha mão até meu clitóris, esfregando o

polegar com rapidez, enquanto os dois continuam me penetrando e fazendo

eu ter um orgasmo que jamais pensei ter na vida.

Solto um grito de prazer e o pênis de Frederic escapa da minha

boceta, então ele goza, com seu sêmen escorrendo pela minha barriga e
perna, e noto que Ferdinand também gozou, o que me deixa ainda mais

maravilhada.

— Eu não quero nunca mais viver sem isso — digo, com a

respiração acelerada.

— Então não viva, Estére — murmura Frederic ainda à minha frente.

— O que quer dizer? — pergunto, ainda por cima de Ferdinand.

— Namora com nós? — pergunta Ferd no pé do meu ouvido. Sinto

um arrepio e encaro Fred, que sorri.

— Estão falando sério? — pergunto e Frederic aquiesce.

— Sim — diz.

— E então, você aceita? — Ferdinand indaga.

— Aceito — respondo.

Frederic leva sua língua até minha boceta, me limpando

completamente e segue para o pau do irmão, o chupando, Ferd geme e o


beija, sentindo-me ainda mais maravilhada ao saber que agora eu não

namoro apenas com um, mas sim com os dois irmãos Cooper.
Acordo na manhã seguinte e sorrio ao ver Ferdinand e Frederic

deitados em cada lado da cama. Levanto-me devagar para não os acordar e

sigo em direção ao andar de baixo, uso o banheiro e preparo um café.

Enquanto finaliza, arrumo o balcão com algumas coisas que compramos no

mercado e como, vendo que ainda está cedo. Pego meu celular e dou “bom

dia” para Frida, que responde na hora e pergunta como foi a viagem. Quero
dizer a ela que está sendo ótima, principalmente porque não tenho um, mas

sim dois namorados oficialmente.

Lembrar do pedido dos rapazes me deixa com o coração acelerado,

principalmente pelo fato de ter aceitado, coisa que eu jamais imaginei que

faria.

Minha amiga manda um coração e sorrio, realmente feliz, o que

chega a ser estranho. Creio que nunca fui feliz assim com Collin, mas agora

é diferente, porque estou com pessoas que realmente gosto. Não que eu não

gostasse do meu ex, pelo contrário, tenho certeza de que o amei, mas não

como os rapazes...

“Então você confessa que ama Frederic e Ferdinand, Estére?” ouço

a pergunta no pensamento.

Eu realmente os amo?

Não posso negar que estou mais do que apaixonada, mas isso que eu

sinto é amor?
Sou tirada dos meus pensamentos quando ouço passos descendo a

escada e vejo Frederic e Ferdinand apenas de cuecas. Rapidamente Fred vai

ao banheiro e minutos depois, seu irmão, com os dois vindo em minha

direção.

— Bom dia, dorminhocos — digo, sorrindo. Dou um beijo em cada

um e eles se sentam, se servindo de café.

— Qual a programação de hoje? — pergunta Ferd.

— As fotos, é claro, viemos para cá para isso, não se faça de bobo —

respondo, ele ri e concorda.

— Tudo bem, mas pensei que poderíamos passar os três na cama, o

dia todo, depois que Frederic fazer o almoço.

— Por que eu? — questiona o outro, bebericando da sua xícara.

— Você é o que cozinha melhor — digo, dando de ombros. Ferd

concorda e ele fica em silêncio. — Sobre ficarmos deitados, não é uma má

ideia, mas realmente preciso dessas fotos para o trabalho da faculdade.


— Podemos fazer isso depois — diz Ferd, sorrindo maliciosamente.

O vejo levar a mão até o peitoral e reviro os olhos.

— Você é convencido demais, não acha?

— Claro que não, o que é bom é para se mostrar... para você, é claro.

Estreito os olhos e rio, não aguentando manter o olhar sério, ele ri

também e Frederic revira os olhos.

— Convencido ao extremo... que tal fazermos as fotos agora de

manhã e mais tarde um passeio à cidade? E, depois, ficarmos deitados? —

Fred oferece.

Penso sobre a proposta e dou de ombros.

— Então acho que é melhor irmos logo fazer meu trabalho —

respondo, terminando o café e me levantando.

Os dois concordam e me seguem, correndo atrás de mim e me

enchendo de beijos, enquanto rio disso tudo e penso que essa é a melhor

viagem que já fiz.


*

Pego a câmera e sorrio ao ligá-la e focar a lente na entrada da

floresta. Capturo cada detalhe; o céu claro, os raios do sol, as árvores e o

gramado molhado. Noto o musgo pelos troncos e tiro outra foto, sorrindo.

Havia decidido de última hora fazer as fotos do lado de fora do chalé

e os gêmeos Cooper me apoiaram nessa decisão. Tiro mais algumas fotos e

assim que termino, vejo-os sentados no solo, me encarando.

Estamos na orla da floresta, o local em si já proporciona um

ambiente e tanto para as fotografias. Faço mais algumas e assim que

termino, me viro para eles.

— Vamos começar? — pergunto.

Os dois ficam de pé e Ferd suspira.

— Temos mesmo que fazer isso, não é? — inquire.

— Se gostam mesmo de mim, sim — digo, fazendo beicinho. —

Como sabem, o trabalho precisa ser feito com a família, e vocês são os mais
próximos que tenho disso neste momento.

Ferd se aproxima e agarra minha cintura.

— Tudo bem, desculpe por isso, mas faremos essas fotos com uma

condição — começa.

— Qual?

— Depois que você terminar, meu irmão e eu iremos fotografá-la —

diz, dando de ombros.

— Tudo bem — digo, achando a proposta válida —, mas agora se

aproxime daquela árvore ali e tire essa camisa.

Aponto para a árvore atrás deles e Frederic estreita as sobrancelhas.

— Tirarmos nossas camisas? Pensei que era um trabalho mais

familiar.

Dou risada e concordo.

— Essas serão para eu aquecer e ficarão guardadas comigo — digo,

piscando. Os dois concordam e tiram suas camisas, arrancando um suspiro


meu.

Coloco meu olho na lente da câmera e foco neles, mexendo e

desfocando o ambiente, então tiro a foto. Peço para que fiquem de lado e

tiro outra, observando cada detalhe dos seus corpos. São tão perfeitos que

eu poderia passar o dia todo os observando.

Assim que faço mais algumas fotos, peço para que fiquem frente a

frente e Fred recua um pouco, mas aceita. Foco neles, vendo-os se

encararem, os peitorais descendo devagar, a respiração entrecortada, seus

corpos próximos, e fotografo, formando um sorriso.

— Ótimo, se vistam, agora vamos começar realmente esse ensaio.

Eles concordam e fazem poses engraçadas enquanto eu fotografo,

rindo a cada careta de Ferd. Assim que termino, faço mais algumas e tiro

uma com eles atrás de mim. Sorrio e bato a foto, então Ferd toma a câmera

da minha mão e me encara.

— Já chega, agora é a nossa vez.

Cruzo os braços e mordo o canto da boca.


— E você sabe tirar foto, Sr. Cooper? — pergunto, o provocando.

— Não deve ser muito difícil, Srta. Muller — diz e aperta o botão,

com o flash reluzindo no meu rosto. — Viu? É fácil.

Reviro os olhos para ele e rio em seguida, coloco os meus cabelos

para trás e novamente ele me fotografa.

— Ao menos deixe eu me ajeitar — peço.

— Por quê? Você é linda de qualquer jeito — responde Ferd e

Frederic vai para o seu lado, analisando a foto.

Mordo o canto da boca de novo e me sinto nervosa. Eu adorava

fotografar as pessoas, e com a morte de mamãe, havia reduzido bastante

esse meu hábito. Mas eu ser fotografada é algo totalmente novo para mim.

Sinto-me tímida e o flash bate mais algumas vezes, com Frederic e

Ferdinand pedindo para que eu sorria, mude a posição e até mesmo faça um

olhar mais sensual.

— Tire a blusa agora, Estére — pede Ferd.


— O quê? Estamos na floresta — argumento.

— E o que tem? Só estamos no aqui — diz Fred. — Fizemos o que

nos pediu, agora é a sua vez.

Concordo e tiro a blusa, ficando apenas de sutiã.

— O sutiã também — diz Ferd.

Concordo, revirando os olhos e o tiro, cobrindo meus seios com o

braço. Parece ser ridículo, mas estar no meio da floresta, com os seios de

fora na frente dos dois, me deixa envergonhada.

— Não precisa ter vergonha, Estére — diz Fred, como se lesse meus

pensamentos. — Conhecemos cada parte do seu corpo, agora nos deixe

eternizar isso.

Concordo com um movimento de cabeça e descubro meus seios,

com a luz do flash reluzindo. Mudo de posição, me entregando àquilo e

mais uma vez Ferdinand tira a foto, agora comigo de lado, olhando para o

céu que está claro.


— Você é maravilhosa, Estére — diz, tirando outra. Sorrio e retiro o

short e a calcinha que uso, ficando completamente nua. Fecho minhas

pernas para esconder meu sexo e outra foto é tirada.

— Venha tirar comigo, Fred — peço. Ele concorda, se despindo e se

aproxima, me abraçando por trás e me encarando. Analiso seus olhos e seus

fortes braços, deixando-me completamente apaixonada por isso.

Estar nos braços do pecado é maravilhoso.

Ferd continua tirando fotos nossas, em diversas posições. Com ele

me beijando, abraçando, me segurando em seus braços e até mesmo

deitados no solo verdejante.

Assim que terminamos, ele troca de lugar com o irmão e me vejo nos

braços de Ferdinand. Nos braços da luxúria. Um homem do qual nunca

imaginei conhecer, mas que acabou se tornando uma das melhores coisas na

minha vida.

Estar nos braços de Fred e Ferd me deixa fascinada. É assim que eles

são para mim; pecado, luxúria, e o mais importante: o amor. Sinto que
posso finalmente entregar todo esse sentimento aos dois e beijo Ferd, com

Frederic parando de nos fotografar e se juntando conosco.

Os dois me beijam ardentemente e me sinto feliz, completamente

liberta dos meus medos e receios. Neste momento, enquanto estamos nos

amando, nos conectando e nos completando, não me importo com o que as

pessoas diriam se soubessem. Quero apenas ser feliz ao lado dos dois.

E realmente sou.

Depois de fazermos sexo no meio da floresta, o que me deixa

completamente feliz e surpresa, nos arrumamos e vamos para a cidade. Só

de lembrar dos beijos e carícias de Fred e Ferd, me sinto excitada

novamente. Pela primeira vez, desde quando começamos a nos relacionar, o

sexo havia sido diferente... menos selvagem, digamos assim.

Sorrio com a lembrança de estar deitada no solo duro e ver um de

cada vez investir em mim, então afasto meus pensamentos quando

chegamos e vejo a movimentação dos moradores.


O local me acalma, não consigo explicar o porquê, mas estar aqui,

longe do Vale Sombrio, me causa um conforto enorme. Talvez seja porque

aqui possamos ser nós mesmos, sem medo das pessoas dizerem que estou

namorando com meu antigo padrasto.

Ao pensar nisso, sem medo, seguro na mão de cada um dos dois, que

retribuem o gesto, e seguimos vendo as lojas, parando em uma que vende

vinhos e queijos variados. Entramos e o cheiro de mofo e lugar velho

invade meu nariz, fazendo-me espirrar e ao mesmo tempo rir com isso.

— Qual é a graça? — questiona Ferd soltando minha mão e indo

para uma das prateleiras.

— Nada de mais, é que estar aqui, andando tranquilamente, sem

ninguém nos encarando, é realmente bom.

Assim que termino de dizer isso, vejo uma mulher próxima da

prateleira segurando um pote de doce de leite me encarar de cima abaixo.

Ela nota minha mão na de Frederic e balança a cabeça em negativa, dando a


volta e saindo pelo outro lado. Sinto-me incomodada com isso e Fred me

encara.

— Não se importe, é isso que eles querem, que você se sinta atingida

pela opinião deles.

Concordo e sigo até o local que ela estava antes, vendo os potes de

doces. Pego um para levarmos e apanho duas garrafas de vinho rosé, os

rapazes escolhem outras coisas e assim que pagamos, saímos comigo

entrelaçando cada braço meu nos braços deles.

— Para onde iremos agora? — pergunta Ferd.

— Podíamos comer alguma coisa, o que acham? Estou ficando com

fome.

— Claro, gatinha, realmente dá fome depois de um sexo delicioso

como o que fizemos — murmura, lambendo os lábios.

Ignoro o que ele diz e seguimos para o restaurante mais próximo.

Assim que entramos, somos recebidos por um rapaz jovem nos dando as

boas-vindas e nos levando para uma das mesas.


— Aqui estão os cardápios, espero que gostem — diz, nos

entregando as cartas e se afastando para que possamos escolher

tranquilamente.

Escolho lasanha e os meninos pedem fritas e hambúrguer.

Chamamos o rapaz que nos atendeu e falamos nossos pedidos, esperando.

— Deixe-me ver as fotos enquanto nossos pedidos não chegam —

diz Ferd puxando a câmera do meu pescoço. Ele a liga e começa a

visualizar cada uma, sorrindo a todo instante, então me mostra a que estou

olhando para o céu. — Veja o quanto você é perfeita, gatinha.

Puxo a câmera dele e analiso a imagem; olho cada traço do meu

corpo. As estrias, celulites, entre outros e encaro ele.

— Onde está vendo que sou perfeita? — digo, dando zoom. Ele

toma o aparelho da minha mão e fica sério, com Fred ao seu lado me

analisando.

— Onde está vendo que não é? — questiona-me.

Dou de ombros e balanço a cabeça.


— Veja as celulites, estrias...

— E o que tem isso? — ele me corta. — São partes de você, não

significa que não seja linda e espetacular por conta de tê-las em seu corpo.

— Ele está certo — completa Fred. — Você é uma mulher

maravilhosa e deve se lembrar sempre disso.

Sorrio e mordo o canto da boca.

— Obrigada — digo, sem graça. Nunca fui uma pessoa que não me

aceitasse, pelo contrário, sempre me achei muito bonita, mas há certas

coisas que não podemos esconder ou impedir de termos, certo? E saber que

os dois gostam dessas partes em mim, me deixa com uma sensação boa.

Uma sensação de que sou amada.

E eu amo isso.
Os dias seguintes passam tão rápidos que quando vejo falta

pouco para o meu aniversário.

Não estou nem um pouco animada, como já era de se esperar. Se

nunca gostei de aniversário antes, imagine agora que não tenho mamãe ao

meu lado para me acordar com beijos, abraços, bolinhos e presentes, como

fez a vida inteira.

O trabalho da faculdade havia sido maravilhoso, as fotos dos rapazes

comigo me renderam uma boa nota, o que me fez rir muito quando vi o dez,

pensando o que o professor acharia sobre as fotos sensuais que havíamos

feito.
Me sinto muito incomodada pelo fato de mentir sobre o que anda

acontecendo entre os irmãos Cooper e eu para Frida, que insiste em saber se

Ferdinand e eu transamos.

E pensando nisso, vejo que preciso me abrir logo para minha amiga,

antes que aconteça alguma coisa.

Collin não voltou a me perturbar, o que foi ótimo, e com a chegada

do meu aniversário e Frida insistindo em fazermos uma festa em casa,

acabei cedendo. E agora, metade do campus está sabendo e se preparando

para o evento.

— Precisa ter muita cerveja e comida — diz Frida no intervalo. —

As pessoas particularmente vão às festas somente por conta disso, então

temos que arrasar!

— Você que decide — digo, desanimada. Minha amiga me encara e

belisca minha mão que está sobre a mesa, fazendo eu soltar um gritinho de

dor. — Que merda foi essa?


— Você que precisa me dizer — responde. — Sei que não gosta de

aniversários e é o primeiro sem sua mãe por perto, mas ao menos finja que

está animada com isso. A faculdade inteira espera por esse momento.

— Estão esperando à toa — digo. — Primeiro que nem cabe todo

esse pessoal lá em casa, fora que metade não me conhece, e se conhecem, é

por conta das fofocas de Collin.

— Isso é fácil de resolver, todos estão sabendo, mas poucos

realmente entrarão.

— E sairei como a vadia exibicionista que impede o povo de entrar

numa festa — resmungo. Ela ri e concorda.

— De fato, irão dizer isso mesmo, mas não se preocupe, o quintal

dos fundos é grande e as pessoas se apertam. A maioria vai apenas para

beber.

— Eu sei disso, o que me deixa mais desanimada ainda para essa

festa. As pessoas nem sequer se importam com a aniversariante — volto a

resmungar.
— Se você quiser, podemos cancelar — diz Frida, cabisbaixa. Fico

sentida pelo jeito que diz e nego com a cabeça.

— Tudo bem, vou aceitar a festa e forçar vários sorrisos no rosto, só

evite que Collin esteja lá. Frederic e Ferdinand querem acabar com ele, e se

Collin aparecer, pode dar merda.

— Se ele aparecer, eu mesma o quebro — murmura, eu havia dito

para ela sobre o vídeo que meu ex havia me mandado e a maneira obsessiva

que ele estava tendo em me perseguir no Instagram.

— Tudo bem, podemos comprar salgadinhos para a festa, cerveja e

um bolo. Está ótimo, não está? — pergunto, fingindo animação. Minha

amiga sorri agradecida pelo esforço e concorda.

— Está perfeito, essa festa será um arraso e tanto! Agora precisamos

pensar no seu visual, acho que poderia optar em arrumar os cabelos. Que tal

pintar?

— Não, obrigada, eu amo meu loiro.

Ela me encara e concorda.


— É, você está certa, então ao menos vamos pensar na sua roupa.

— Estou pensando em usar calça jeans.

— Você não está louca.

Reviro os olhos e suspiro.

— E o que você sugere?

Frida coloca o dedo na têmpora e balança a cabeça.

— Em uma saia, talvez? Um vestido mais sensual. Temos que ir às

compras! E claro, fazermos as unhas!

— Ok, ok, você ganhou desta vez — digo, me levantando quando o

sinal toca.

— Eu sempre ganho, amiga.

A semana passa rápido, e para variar, o tempo está frio e chovendo, o

que me deixa mais desanimada para o meu aniversário.


No final de semana, faltando exatamente uma semana para a minha

festa, Frida decide passar comigo para vermos séries, filmes, comermos

besteiras e ficarmos de bobeira. A presença da minha amiga me anima, mas

saber que não poderei fazer nada com Fred e Ferd me deixa um pouco

chateada.

Assistimos filme e assim que “Cinquenta tons de cinza” acaba, Frida

suspira e sorri.

— Eu adoraria conhecer um dominador, acho que seria uma

experiência interessante.

— Sério? — inquiro e ela aquiesce. — E você por acaso o permitiria

levá-la em um quarto vermelho da dor?

Rimos e minha amiga dá de ombros.

— Pensando por esse lado, seria estranho mesmo, não gosto que me

dominem — fala displicente e rio. — Mas me diz, já que estamos nesse

assunto e você fica me evitando, rolou algo entre Ferdinand e você?

Encaro ela e decido ser apenas um pouco sincera.


— Me perdoe por esconder isso por tanto tempo — peço, mordendo

o canto da boca.

— Você está me dizendo que... é sério mesmo que finalmente essa

toca foi invadida?

— Frida! — a repreendo, rindo da maneira que fala. Minha amiga ri

junto e dou um tapa no seu braço. — Sim, aconteceu, e foi fantástico.

— Quero todos os detalhes! — pede.

Concordo, decidida a ser sincera e contar sobre a primeira vez de

Ferdinand e eu, que na época eu achava ser o Frederic. Quero ser o máximo

possível sincera com minha amiga, mas ainda não estou preparada para que

o mundo saiba sobre a nossa relação.

Então vou contando os acontecimentos para ela, mudando alguns

fatos, é claro, e juntando outros.

Frida fica realmente feliz e surpresa com isso, batendo palminhas e

querendo a todo instante que eu diga qual o tamanho do “documento” de

Ferdinand.
Quero dizer a ela que além dele ser bem-dotado, o irmão também é,

mas fico quieta. Falar para ela apenas sobre Ferdinand me incomoda pelo

fato de que também namoro com Frederic, e tenho que esconder isso de

todas as pessoas.

Tenho que esconder isso da minha melhor amiga.

— Estou realmente surpresa que você finalmente perdeu a

virgindade.

Coro e concordo.

— É estranho, porque por um ano eu idealizei esse momento com

Collin, e de repente ele me traiu, nós terminamos e agora estou com a cópia

do marido de mamãe — “E o ex-marido dela também.” — Você acha isso

normal?

— O quê?

— O fato de eu estar com o ex-cunhado de mamãe — respondo.

Frida me encara e nega com a cabeça.


— Não acho que seja estranho, afinal, sua mãe morreu e o vínculo

que Frederic e ela tiveram, se encerrou. Claro que sempre haverá as

lembranças dos anos que eles passaram juntos, mas uma hora ou outra ele

arrumará outra pessoa. Essa é a lei da vida, seguirmos sempre em frente, já

conversamos sobre isso.

Penso no que ela diz e vejo o quanto minha amiga tem razão. A

lembrança de mamãe na vida de Frederic nunca será apagada. Saber que por

anos eles foram casados e mantinham relações sexuais me incomoda um

pouco, mas é algo que não dá para simplesmente apagarmos da nossa

história.

— E se eu estivesse com ele ao invés de Ferdinand, o que você diria

sobre isso? — pergunto, criando coragem.

Frida me encara surpresa com a pergunta e balbucia algo que não

entendo.

— É difícil pensar nisso assim tão de repente. Visualizar você com

Ferdinand é mais fácil, ele é gêmeo de Fred, mas nunca se deitou com tia
Jolie.

— Eu sei, mas o que você diria sobre isso? — questiono novamente.

— Bem... sei lá, de início seria um pouco estranho, mas acho que

daria para se acostumar, só não sei se você conseguiria aceitar o fato de que

o pau que você treparia foi o mesmo que sua mãe trepou por anos. Mas por

que essa pergunta, Srta. Muller? Está interessada nós dois? Fred é uma

delícia, eu sempre achei isso e você sabe, tia Jolie era uma sortuda. — Ela

sorri maliciosamente e me encara.

— Claro que não, é só uma curiosidade que passou pela minha

cabeça — digo, desviando meu olhar do seu.

— Se passou pela sua cabeça, significa que em algum momento você

se imaginou com ele — diz, convicta. — Vai, pode me dizer.

— Não é isso, é que as vezes olho Ferdinand e estranho — minto,

engolindo em seco. Frida concorda, ainda me encarando e sorri.

— Se você está dizendo, quem sou eu para dizer o contrário.


Fico quieta e penso sobre a conversa que acabei de ter com minha

amiga. A maneira que ela disse, aparentemente aceitaria normal, mas se

soubesse que é verdade, agiria dessa forma?

Eu devo dizer a verdade para Frida?

A hora de ela saber a verdade, está chegando.


Sinto-me exausta, ainda mais porque essa última semana Frida

vem abusando bastante de mim, principalmente em idas ao supermercado

para comprarmos as coisas e ao shopping. Decidi usar um vestido preto

curto no meu aniversário. Na frente há um decote que Fred e Ferd não

gostaram muito, e as costas é fechado. Um pouco acima do joelho,

combinou perfeitamente com os saltos pretos escolhidos. Decidi também

contratar um DJ por insistência de Frida — obviamente — e garçons para


nos servir. Um toldo foi colocado nos fundos da casa que desde a morte de

mamãe pouco usamos.

Compramos bastante salgados e muita bebida, o que me preocupa.

Com certeza a festa seria regada a cachaça e pessoas bêbadas.

A semana na faculdade também foi intensa. Apesar das pessoas

estarem animadas com a festa, muitas ainda falam sobre a fofoca que Collin

espalhou sobre os rapazes e eu. E pensar que todas essas pessoas — ou ao

menos boa parte delas — estarão na mesma casa que meu ex-padrasto e o

irmão dele, me deixa um tanto enjoada.

— Terra chamando Estére — diz Frida estalando os dedos e volto à

realidade.

— Desculpa, só estou pensando na semana intensa que tivemos —

falo e ela sorri, entregando-me uma embalagem. — O que é isso?

— Seus presentes, abra com cuidado, acho que vai gostar.


Olho ao redor para me certificar que ninguém está nos olhando e

abro, surpresa ao ver não um, mas dois vibradores, dos quais têm controle

remoto para controlar as vibrações.

— Para que é isso? — pergunto, encarando-a e ela dá risada.

— Agora que não é mais virgem, pensei que poderia apimentar as

coisas com Ferdinand, acho que ele vai gostar, passou tantos anos na prisão,

certeza que irá adorar utilizá-lo em você.

— E por que dois? — inquiro curiosa e ela ri.

— Quem sabe ele não quer usar um no traseiro dele — diz e rio.

— Você é mesmo ridícula — falo em tom de brincadeira e ela pisca.

— Depois você vai me agradecer, agora vamos, estou exausta.

— Você está pensativa demais hoje, Estére — diz Frederic

colocando o prato de comida à minha frente. Havia acabado de chegar do


shopping com Frida, que foi para sua casa com a promessa de que virá para

cá amanhã cedo.

— Não é nada de mais — digo, comendo —, só pensando nessa

festa de amanhã. Frida insistiu tanto sobre isso.

— Se não quiser, é só cancelar — comenta Ferdinand. — A casa é

sua, o aniversário é seu, por que fazer o que as pessoas querem?

— Frida acha que por ser o primeiro aniversário sem mamãe, seria

bom para me distrair. E também já gastei uma fortuna com comida, bebidas

e DJ.

— Ela por acaso sabe que Frederic e eu podemos distraí-la? —

pergunta, malicioso.

Dou risada e nego com um movimento de cabeça, em seguida

afirmo, deixando-os confusos.

— Ela sabe sobre você, cheguei a fazer um comentário sobre

Frederic, mas não contei nada ainda — respondo.


— Sabe que uma hora terá que contar, não sabe? — questiona Fred.

Concordo com um movimento de cabeça e como.

— Eu sei, mas não é tão fácil como parece, mesmo nos aceitando

completamente, tenho medo do que as pessoas dirão. Do que ela vai dizer.

Na verdade, tenho quase certeza de que aceitaria tranquilamente, mas o fato

de esconder por todos esses meses faria com que ela me matasse —

respondo, querendo rir, mas sabendo o quanto isso é verdade. Os dois me

encaram e concordam.

— Só pense que você não precisa da aprovação de ninguém para

viver do jeito que quer — responde Ferd. — Veja Frederic e eu, muitos

dirão que somos doentes por termos relações com a mesma mulher e entre

nós. Mas o que realmente importa nisso tudo, é o que sentimos, não eles.

— Exatamente — completa Fred. — Sabe melhor que ninguém que

estamos aqui para apoiá-la em tudo, não sabe?

Concordo, terminando de comer e me levanto.


— Obrigada, agora vou descansar um pouco. O dia amanhã será

longo. — Reviro os olhos e os dois riem, beijo cada um e sigo para o meu

quarto, tiro a roupa e coloco meu pijama. Fico pensando sobre o que

Frederic havia dito e me deito, sabendo que ele está certo, então adormeço.

Ouço a batida à porta e acordo, sonolenta, levanto-me devagar e

abro, vendo os irmãos Cooper em pé, completamente nus, segurando um

cupcake com uma vela acesa.

— Feliz aniversário, Estér — sussurram juntos e fico boquiaberta ao

notar que estão duros.

Eles entram no quarto, que está iluminado apenas com a luz do

abajur e me aproximo, assoprando a vela e fazendo um pedido.

— Obrigada — digo mordendo o doce, o sabor de chocolate invade

minha boca e divido com eles, que se lambuzam.

— Viemos dar o seu presente — diz Fred e sorrio, analisando-o levar

a mão até o seu pau duro, ele o segura, masturbando-se e umedeço os


lábios.

— É mesmo? E o que seria? — pergunto maliciosa.

— Sexo lascivo, sujo, ardente — diz Ferdinand. — Do jeito que

você gosta.

Levo a mão até uma mecha do cabelo e vejo-os parados, começo a

me despir, já excitada e eles sorriem, aproximando-se de mim.

Agarro-me a Ferdinand e o beijo ardentemente, pulo em seu colo e

ele me leva para a parede, relembro da primeira vez que transamos aqui,

com ele se passando pelo irmão e solto um gemido ao senti-lo morder

minha boca.

Frederic se aproxima de nós e viro-me em sua direção, agora

beijando-o apaixonadamente, noto Ferd à minha frente e não demora para

nós três estarmos em um beijo ardente, movido à prazer.

Sinto-me cada vez mais excitada com isso e me desvencilho de Ferd,

fico de pé, à altura deles e levo minhas mãos nos seus peitorais fortes,

descendo-as até seus membros rígidos. Os agarro e começo a masturbá-los,


os dois me encaram com prazer e volto a beijar cada um, com eles dois se

beijando em seguida.

Ajoelho-me e continuo segurando seus membros, eles gemem diante

do meu toque e lambo os lábios, aproximando-me do pau de Fred e o

engolindo.

O gemido alto invade todo o quarto, os dois continuam agarrados,

beijando-se e sigo chupando-o, tiro-o da minha boca e vou para Ferd, agora

ouvindo-o gemer mais ainda, então vou revezando entre os dois, que se

deliciam.

— Sua boquinha é tão gostosa, Estér — sussurra Ferd acariciando

meus lábios quando paro de chupá-lo e Frederic me puxa.

— Sim, mas agora é a nossa vez — diz Fred e sou guiada até a cama.

Ele me coloca de quatro e empino a bunda, vejo Ferdinand se

encaixar por debaixo de mim e erguer seu corpo, chupando minha boceta,

não dá tempo de arfar e sinto a língua do irmão gêmeo no meu ânus,

chupando-o deliciosamente.
Solto um gemido alto, sentindo-me arrepiada, meu corpo envia

alertas por toda parte e sinto um calor na boca do estômago, sem conseguir

raciocinar direito.

Eles continuam me chupando, enquanto Frederic acerta tapas na

minha bunda e a morde, seu irmão chupa meu sexo e esfrega meu clitóris, o

que me deixa ainda mais excitada.

É possível sentir mais prazer do que já estou sentindo?

Eles revezam de lugar e sinto-me mais maravilhada, levando o pau

de Fred que está próximo de mim à boca. Gememos todos juntos, percebo

que Ferd roça seu pênis no meu cu e continuo chupando meu outro

namorado, enquanto ele não para de se lambuzar na minha boceta.

Sinto-me exausta, meu corpo dói pela posição, mas não desejo parar,

sentindo o membro de Ferdinand invadir minha carne.

Paro de chupar Fred e solto um gemido misturado com dor, ele recua

e o encaro.

— Não! — Exclamo. — Continue.


Fred sai da posição que está e se deita, fico por cima dele, deslizando

seu pau para dentro da minha boceta, e empino a bunda para Ferd, que após

lubrificar, vai, aos poucos, encaixando seu pênis no meu cu.

Fico parada, mordo o canto da boca até sentir o gosto de sangue e

relaxo, sentindo-o deslizar cada vez mais para dentro de mim.

— Se estiver machucando, avise-me — pede e concordo, ele

continua e quando finalmente sinto-me relaxada, permito que as estocadas

comecem.

Fred remexe o quadril devagar e me sinto a cada segundo mais

excitada com isso, os dois me fodem juntos cada vez mais rápido e os

gemidos continuam invadindo meu quarto.

Beijo Fred, enquanto Ferd continua estocando no meu cu e sinto

nossos corpos cada vez mais colados, maravilhada ao fazer isso.

Eles são selvagens, como dois leões com a presa, saciando-se do

meu sexo. Meu corpo inteiro se arrepia e o suor gruda na pele, enquanto os

movimentos, ágeis e precisos, continuam sem parar.


Ferdinand sai do meu sexo e começa a se masturbar, pouco tempo

depois, ele goza em cima de nós, enquanto Frederic segura meu quadril

com força e estoca sem parar, cada vez mais forte.

Levo a mão até o clitóris e o esfrego repentinamente, ansiando o

momento de finalmente saciar todos os meus desejos sombrios, então Fred

solta um urro e percebo que atinge o orgasmo.

Chego ao ápice em seguida e jogo-me para o lado, eles sorriem com

a minha imagem e se deitam, abraçando-me.

Meu corpo está doendo e sinto-me ainda mais cansada, entre eles,

me deito no peitoral de Fred e jogo as pernas por cima de Ferdinand, que

acaricia meus cabelos.

— Isso foi delicioso — digo.

— Sim, precisamos nos lavar — diz Fred e concordo a contragosto.

Nos levantamos e seguimos até o banheiro, diferente das outras

vezes, nosso banho é rápido e após finalizar, saímos e me troco.


Aproveito para tirar os lençóis da cama e substituo por outros,

encarando os irmãos.

— Dormem comigo — peço e os dois concordam, conosco nos

deitando na mesma posição de antes.

Acordo com uma sacudida e assim que abro os olhos, vejo Frida em

pé, parada, com um enorme sorriso no rosto. Ela está com uma calça jeans,

blusinha e tênis, o que a deixa bastante sexy e descolada. Fico assustada e

noto que os lados da cama estão vazios, ela sorri e me sento.

— Acorde, amiga, está na hora — murmura, se sentando ao meu

lado. Bocejo e suspiro, a observando com o sorriso intacto nos lábios.

— Que horas são? — questiono, um pouco irritada por ser acordada.

— Hora da surpresa — sussurra.

Sem entender, vejo Frederic e Ferdinand entrarem no quarto como se

não estivessem aqui a noite passada, os dois estão com o café da manhã nas
mãos e fico surpresa.

— Feliz aniversário, gatinha — Ferdinand sussurra ao meu ouvido.

Fred se aproxima e deposita um beijo no meu rosto, me abraçando.

— Feliz dia, Estér — diz, sorrindo. Sorrio e noto que temos

panquecas com mel e blueberry, ovos com bacon e suco de laranja. Há

também um pequeno cupcake com uma vela em cima, igual ao da

madrugada, o que me faz acreditar que os dois pensaram em tudo. — Faça

um pedido.

Assopro, fazendo o pedido e encaro os três, completamente

emocionada. Era o que mamãe fazia todos os anos para mim, e agora

realmente vejo que ela não voltará nunca mais para nós.

— Obrigada — digo, com a voz embargada.

— Jolie iria gostar que continuássemos com a tradição dela —

comenta Fred. — Aproveite seu café.

O vejo ficar de pé e instantaneamente seguro sua mão, com Frida

encarando.
— Fiquem, por favor, a gente pode dividir — respondo, ele me

encara e concorda, então Ferd se senta do outro lado da cama e ele se junta

conosco.

Dou uma mordida na panqueca e engulo, saboreando o delicioso

gosto. Assim que termino, como um pouco dos ovos com bacon e tomo o

suco, passando a bandeja para Frida, que come um pouco e passa para Fred,

que faz o mesmo e entrega ao irmão, voltando a me devolver.

Termino de comer e divido o pequeno bolo, sorrindo para cada um

deles.

— Hoje o dia vai ser curto, temos que aproveitar bem — diz Frida,

animada. Quero dizer a ela que desejo só ficar na minha cama, com meu

traseiro dolorido, relembrando do sexo incrível que tive na noite anterior,

mas sei que isso será impossível, então concordo e me levanto.

— Tudo bem, você mais uma vez venceu, deixe só eu me arrumar —

digo, de pijama. Ela concorda e encara os rapazes.


— Vocês não vão sair? — pergunta, os olhando. Os dois ficam sem

saber o que falar e se levantam, pegam a bandeja e saem. — Ferdinand não

tirou o olho de você — comenta, após fechar a porta.

— Não reparei — digo, tirando meu pijama e colocando outra roupa.

— É claro, você estava olhando outra coisa — diz, sorrindo.

— O quê? — questiono, não entendendo o que ela quis dizer.

— Não se faça de boba, Estér — murmura. — Eu vi quando segurou

a mão de Fred e a maneira que ele te olhou. Estou começando a achar que

Collin estava certo em uma coisa.

Engulo em seco e desvio meu olhar do dela.

— Não estou entendendo — minto.

Ela me observa e assente.

— Quero dizer que Collin estava certo; Frederic está a fim mesmo de

você.
— E você deduziu isso apenas por eu ter segurado a mão dele? Se eu

pegar na sua estarei a fim de você também?

— Claro que não foi por isso, e sim pela maneira que ele te olhava e

você, distraída como sempre, não percebeu. É um olhar diferente das outras

vezes em que o vi te observando.

— Talvez você esteja vendo coisas onde não existe — argumento,

percebendo que estou perdendo a chance de ser sincera.

Por que simplesmente não dizer a verdade para Frida?

— Ok, não está mais aqui quem falou, vamos cuidar das coisas da

sua festa que o dia vai ser longo.

Fico quieta, chateada da maneira que ajo com minha amiga, e

concordo, forçando um sorriso.

Começamos organizando as coisas no quintal. Colocamos mesas

onde deixamos as cervejas e outras bebidas, o que, na minha opinião, foi


um exagero. Frida fez questão de encher alguns balões e fazer um painel

deles em uma das paredes com os dizeres “Feliz aniversário E”, já que não

deu para completar meu nome. Compramos o bolo de dois andares, outra

coisa que achei ser um exagero, já que as pessoas iriam mais pelas bebidas,

obviamente. Os salgadinhos chegaram na parte da tarde e completamos com

outros petiscos. O DJ ficaria perto da piscina, que diferente da última vez

que eu havia visto, está limpa, pronta para as pessoas usarem.

Colocamos luzes na área coberta, já que a lona está posta e analiso o

tempo. Por incrível que pareça, está sol e sinto o suor grudar em minha pele

enquanto arrumamos tudo.

Ferdinand e Frederic nos ajudam, é claro, eles ficam com as coisas

mais pesadas e agradeço por isso.

Quando vejo, já está ficando tarde, faltando poucas horas para a festa

começar e Frida me faz tomar banho.

Assim que saio do banheiro, visto a lingerie escolhida e coloco o

vestido, analisando-me no espelho. O vestido realça minhas curvas e fico


feliz com isso, me viro para minha amiga, que está sorrindo feito boba.

— Você está linda — comenta. — Sente-se aí, irei fazer a

maquiagem e arrumar seus cabelos.

Concordo e a vejo pegando o babyliss, deixando-o aquecer e

enrolando as mechas dos meus cabelos. Assim que o deixa pronto, minha

amiga começa a me maquiar, finalizando pouco tempo depois.

— Você está maravilhosa e vai abalar nessa festa — diz, batendo

palmas. Me encaro no espelho e concordo, sorrindo ao me ver. Ela tem

razão, estou mesmo linda e ao me notar, vejo os traços de mamãe no meu

rosto.

— Obrigada, Frida, se não fosse vocês, eu estaria deitada na minha

cama, chorando e me entupindo de chocolate.

Ela ri e concorda, cruzando os braços.

— Isso só aconteceria se fosse por cima do meu cadáver, querida. —

Rio com suas palavras e concordo.


— Tudo bem, você está certa, agora vá se arrumar. Os convidados

chegarão em breve.

Ela concorda e corre para o banheiro, pronta para tomar banho e me

ajudar na loucura que será essa festa.


Como presumi, diversas pessoas que eu nunca havia falado na

faculdade vieram à festa apenas para beber. Alguns foram até um pouco

gentis e trouxeram alguns presentes, e outros apenas sorriram, me deram os

parabéns e quando vi, já estavam bebendo e dançando.

Sinto meu corpo arrepiado por conta disso e um medo toma conta de

mim, pensando na besteira que foi fazer esta festa. Eu deveria ter sido pulso

firme com Frida e não a deixar fazer...

Afasto o pensamento e vejo Frederic e Ferdinand vindo na minha

direção. Estou nos fundos da casa com um copo com cerveja nas mãos,
ouvindo as batidas da música que o DJ toca. Frida já está dançando

descontroladamente.

— Está tudo bem por aqui? — pergunta Fred, olhando ao redor. Sei

quem ele está procurando, e para nossa sorte, Collin não apareceu. Pelo

menos ainda não.

— Está sim, só um bando de gente louca para beber — digo e os

dois concordam, voltando a olhar para as pessoas bebendo, dançando e

comendo. Algumas já estão na piscina apenas de sunga e biquíni, como se

soubessem que poderiam nadar, o que eu não duvido.

— Certo, estaremos lá dentro para você se divertir mais com seus

amigos — diz Ferd.

— O quê? Claro que não, fiquem, por favor. A minha única amiga

aqui é Frida, essas pessoas eu nunca falei direito.

— Tem certeza? Não queremos parecer o ex-padrasto chato e o

irmão que surgiu do nada — diz Fred, me encarando.

— Tenho sim, vai ser mais fácil se eu tiver vocês aqui comigo.
Os dois sorriem e concordam com um aceno de cabeça.

— Eu vou pegar uma cerveja para nós — diz Ferdinand e Fred me

encara.

— Você está linda — murmura.

— Obrigada, você não está nada mal — digo, o encarando no jeans e

jaqueta, a lua no céu está cheia, causando um brilho diferente no seu olhar.

— Obrigado — responde, piscando. — Quero tanto te beijar.

Olho em volta e noto que as pessoas nem estão preocupadas

conosco, e volto meu olhar para o seu.

— Eu também, está sendo uma tortura termos que nos manter longe

hoje.

Ele concorda e coloca as mãos nos bolsos, suspirando.

— Como a noite anterior, iremos resolver isso assim que todas essas

pessoas forem embora — responde, piscando. Sorrio e Ferd se aproxima,

entregando a cerveja para o irmão.


— Esses jovens parecem que nunca foram a uma festa — diz,

incrédulo, olhando o pessoal dançando e se jogando na piscina. — Ou eu

que fiquei muito tempo sem ter pessoas por perto.

Dou risada e ele me acompanha, erguendo a mão para mim.

— O que foi? — questiono, a segurando.

— Dança comigo? — pede.

Olho em volta e avisto Frida me encarar com um enorme sorriso,

retribuo e concordo, entrego meu copo para Fred, que sorri e bebe do seu.

Sei que ele gostaria de estar fazendo o mesmo comigo, e que ficar sem

poder me tocar está sendo uma tortura.

Sigo para mais próximo da piscina com Ferd segurando minha mão,

reparo que ganhamos alguns olhares, mas não me importo, então começa a

tocar uma música mais sensual e passo minhas mãos em torno do seu

pescoço, com ele segurando minha cintura e ficando com seu olhar na

direção do meu.
— Gosta dessa música? — pergunta, lambendo os lábios. Presto

atenção na letra de Skin da Rihanna e concordo, sabendo que em algum

momento já havia ouvido ela com Fred.

— Sim, eu gosto — murmuro, sorrindo. Ele sorri de volta e

continuamos embolados, dançando até a música finalizar e seguindo para

outra mais animada, agora rebolando e nos divertindo. Algumas pessoas se

aproximam e dançam conosco, e eu me divirto tanto que sinto minha

barriga doer. Sorrio e quando a música termina, abraço Ferd e me separo

dele.

— Obrigado pela dança, gatinha — diz, piscando e se afastando.

Sorrio e me viro quando Frida vem em minha direção e agarra meus

ombros.

— Amiga, o que foi isso?! — pergunta, eufórica.

— O quê? — questiono, sem entender.

— Essa conexão de vocês dois — diz ela. — Foi incrível a dança de

vocês, estou muito apaixonada.


Sorrio e abaixo a cabeça.

— Precisamos conversar, eu tenho que te contar uma coisa —

murmuro, entrelaçando minhas mãos.

— Claro, mas conversamos depois, vamos beber e nos divertir —

responde, animada.

— Por favor, enquanto eu estou com coragem, me deixe...

Não há tempo de terminar a fala e a vejo correr em direção às

bebidas, voltando logo em seguida com cerveja e me entregando. Bebo e

Frida sorri, gritando, pulando e dançando, sem se importar com o que tenho

para falar. Sinto a coragem se esvair do meu corpo e decido fazer o que ela

diz, voltando a dançar e a beber.

Vejo os irmãos Cooper afastados, conversando e bebendo. Sorrio,

ainda dançando, então me viro para Frida e ela começa a dançar

elegantemente comigo a música da Britney Spears que o DJ coloca para

tocar. Sinto-me eufórica e feliz, pensando que no fim não havia sido

completamente uma besteira fazermos a festa.


Me divirto como se não houvesse amanhã, bebendo, dançando e

comendo. Na hora do bolo, o reparto e dou o primeiro pedaço para as três

pessoas mais importantes da minha vida nesses últimos meses, pensando

que, pela primeira vez em muito tempo, não sinto tanta tristeza por não ter

mamãe comigo.

Pode parecer egoísmo, mas mesmo a querendo aqui, não sinto tanta

dor como antes. Talvez, enfim, o luto está começando a se esvair de dentro

de mim. Claro que sempre irei sentir sua falta, mas neste momento, me

divertindo com pessoas que eu mal conheço, me vejo feliz de verdade, o

que chega a me assustar.

As horas vão passando rapidamente e quando notamos, o sol está

começando a surgir.

Noto que algumas pessoas já começam a ir embora e a música cessa,

me sinto completamente exausta e bêbada. Assim que todos os convidados

se dissipam, Frida e eu seguimos para dentro e me jogo no sofá.


— Durma aqui — digo, com a voz arrastada.

— Melhor não, meus pais podem estar preocupados, já que ainda

não encontraram Dréck, mas não se preocupe, pedi um Uber e depois busco

meu carro.

Concordo e me despeço dela, vendo-a ir embora. Suspiro aliviada

por enfim a loucura desta noite ter acabado e Fred e Ferd se jogam ao meu

lado, ajudando-me a tirar os sapatos.

— A noite foi boa — digo, cansada.

— Foi sim, gatinha, agora você precisa descansar.

Encaro Ferdinand e sorrio, o chamando para mais próximo de mim.

— Vamos brincar um pouco e depois eu descanso — digo, o

puxando contra mim.

— É melhor não, você está bêbada — diz e nego.

— Estou bem — afirmo e Ferd sorri, beijando meu pescoço.


Fred se aproxima e enche minha pele de beijos, causando-me

arrepios. Fecho os olhos e me entrego ao momento, ansiando por isso. Ouço

um barulho e ignoro, sentindo os lábios de cada um preencherem partes do

meu corpo, arrancando gemidos de mim que fazem minha pele se arrepiar.

— Estére! — Ouço meu nome e abro meus olhos, arregalando-os ao

ver Frida parada, estarrecida, me encarando. — O que está acontecendo

aqui?
Eu fico de pé imediatamente e me aproximo de Frida, que recua

dois passos para trás.

— Não é o que você está pensando — digo, sabendo que não

adiantará mentir.

Ela encara Fred e Ferd e suspira, balançando a cabeça em negativa.

— Eu não acredito — diz, começando a rir, fico sem entender e

minha amiga me encara. — Não consigo acreditar que esse tempo todo

Collin esteve certo e você mentiu para mim dessa forma.

— Por favor, deixe-me explicar — peço.


— Explicar o quê? Que você está transando com Ferdinand e

Frederic, que é seu ex-padrasto?! — grita, nervosa. Fico sem reação e tento

me aproximar dela de novo, que volta a recuar, encostando seu corpo na

parede.

— Eu juro que queria ter contado — digo —, mas não sabia como

você iria reagir diante disso, e-eu tentei te dizer na festa, mas você não

permitiu.

Vejo Frida rir e balançar a cabeça em negativa.

— Você teve tantas oportunidades para me contar a verdade e

preferiu que eu descobrisse da pior maneira possível! Eu fiquei do seu lado

quando Collin começou com as paranóias dele, para no fim saber que ele

sempre esteve certo.

Fico quieta, sabendo que não adiantará dizer muita coisa, afinal, ela

está certa.

Quantas chances eu havia tido de contar a verdade a ela e optei em

continuar escondendo?
— Eu sinto muito — é a única coisa que consigo dizer.

— Sente muito? Você está transando com seu padrasto e me diz que

sente muito?! — inquire, nervosa. — Como você pôde fazer uma coisa

dessas com sua mãe? Você não sente vergonha?!

— É claro que eu sinto, ok?! — é minha vez de gritar — Mas

simplesmente não posso controlar o que eu sinto. Não foi intencional,

simplesmente aconteceu, e você mesma me disse várias vezes que me

apoiaria nisso.

— Desde que você fosse sincera comigo! — responde, apontando o

dedo na minha direção. — Me diga, há quanto tempo isso vem

acontecendo? Por favor, diga-me que Collin sempre esteve errado e isso

aconteceu hoje porque estão bêbados.

Fico em silêncio e ela me encara, mostrando o quanto está

desapontada comigo.

— Eu realmente sinto muito, queria ter contado a verdade...

— Há quanto tempo?! — me corta, gritando.


— Começou pouco tempo depois da morte de mamãe — digo,

engolindo em seco. — Frederic e eu acabamos nos beijando em uma noite

que ele estava bêbado e desde então venho sentindo algo por ele, até que

aconteceu na noite de Natal...

— Então você mentiu sobre sua virgindade também. — Não foi uma

pergunta. — Meu Deus, sabe o quanto isso que você fez é doentio?

— Por favor, nos chame de tudo, mas não de doentes, nós não somos

— digo.

— Eles não, você sim, por ter escondido todo esse tempo a verdade

da pessoa que mais te ama e apoia depois da tia Jolie — responde, e noto as

lágrimas nos seus olhos. — Você sabia melhor do que ninguém que poderia

contar comigo para tudo, inclusive para isso! Foda-se a opinião das pessoas

e o que elas diriam, apenas deveria ter sido sincera com a pessoa que mais

torce para a sua felicidade!

Volto a ficar em silêncio e começo a chorar, ainda mais triste em

saber que minha amiga me apoiaria. No final, ela só desejava sinceridade da


minha parte.

— Me perdoe, por favor — peço de forma sincera, não há nada a

dizer.

Frida me encara e suspira.

— Antes de querer o meu perdão, aprenda a se perdoar, se escondeu

esse tempo todo algo que te faz bem, o problema está em você.

Ela encara Fred e Ferd e vejo pegar sua bolsa que está na mesa de

centro — foi por isso que ela voltou. Assim que a pega, Frida me encara

uma última vez e sai, batendo a porta e deixando-me com o coração

completamente despedaçado.

Perdi minha mãe e agora a minha melhor amiga.

Quatro dias se passaram devagar e eu me mantive o tempo inteiro

dentro do meu quarto, apenas saindo para comer e ir à faculdade. Eu havia

tentado conversar com Frida de todas as maneiras possíveis, porém, ela não
me respondeu. Na aula, Frida havia trocado de lugar para ficar longe de

mim, e no intervalo eu me sentava sozinha.

As pessoas estavam comentando, como já era de se esperar.

Ninguém conseguia entender como que duas grandes amigas do nada

haviam parado de conversar. Isso tudo graças a cidade pequena.

Collin não apareceu desde a última vez que eu o vi, o que foi bom,

afinal, se ele visse Frida e eu brigadas, com certeza iria querer saber o

motivo e eu não conseguiria esconder, sendo a idiota que sou.

Fred e Ferd andavam trabalhando bastante na oficina, dizendo que

me dariam o tempo que fosse necessário para me recuperar do que havia

acontecido, o que, de certa forma, foi até bom, afinal, neste momento, só

quero ficar sozinha.

Me jogo na cama assim que chego da faculdade e suspiro, olhando

uma foto de Frida e eu no meu celular que havíamos tirado em algum

momento. Seco a lágrima que escorre e olho para o teto, pensando o quanto

eu havia sido idiota de não ter contado a verdade para ela. Seria tudo mais
fácil se eu soubesse desde o início que ela aceitaria tranquilamente a minha

relação com Fred e Ferd.

Mas ela está certa.

Quem precisa aceitar de fato a minha relação sou eu mesma.

Mesmo dizendo que não me importo com o que as pessoas

pensariam, percebo neste momento que procuro uma aprovação da qual não

preciso. Eu estando bem comigo, já está ótimo.

Afasto os meus pensamentos e me levanto, decidida a ir atrás de

Frida e resolver essa situação.

Procuro no Instagram onde ela está, sabendo que terá postado um

novo storie e vejo uma foto dela na sua casa. Pego as minhas coisas e saio,

entro no carro e sigo para lá, disposta a me conciliar com minha amiga e me

abrir completamente com ela.


Paro o carro em frente à enorme casa e respiro fundo, criando

coragem e saindo. Vou em direção à porta e toco a campainha, ansiosa. Não

demora muito e ela se abre, com Frida parada, me encarando. Noto que o

sorriso no seu rosto some e ela está bem-arrumada, talvez esperando

alguém.

— Oi, podemos conversar? — pergunto, ansiosa. Ela me encara

ainda séria e dá um passo para o lado, permitindo que eu passe. Entro e

Frida fecha a porta, se virando na minha direção.


— Seja rápida, tenho um compromisso e não quero me atrasar.

— Quero me desculpar por ter mentido e escondido de você por

tanto tempo o que vem acontecendo entre Fred, Ferd e eu.

— Me conta, porque estou muito curiosa — começa, cruzando os

braços.

— O quê?

— O que a fez se envolver com os dois, afinal de contas? —

questiona-me, ainda com os braços cruzados.

Penso sobre a pergunta e dou de ombros.

— É uma história um pouco complicada, não sei se vai querer ouvir

— respondo.

— Tá vendo, você não consegue se abrir para a pessoa que mais se

importa com você — comenta. — Ao menos, me diga como surgiu isso

tudo.
— Me desculpe, é que é muito difícil eu dizer em voz alta para outra

pessoa sobre o que vem acontecendo entre nós três. Foi algo que surgiu do

nada, e antes que pense que eu não me culpei, fiz isso por muito tempo. Na

verdade, ainda me sinto culpada em me envolver com meu ex-padrasto.

Você acha mesmo que é normal eu me relacionar com a pessoa que

conviveu por anos com minha mãe? Acha que tenho orgulho disso?

— Não estou dizendo que você precisa ter orgulho. Eu não sou

ninguém para me intrometer na sua vida, mas acho que se realmente quer

isso, terá que ser sincera com as pessoas e principalmente com você. Vai

mesmo querer viver a vida inteira escondendo o relacionamento de vocês?

Está certo que não é o relacionamento mais convencional, mas quem disse

que precisamos ter um relacionamento convencional para sermos felizes? O

que me magoou mesmo foi que você me bloqueou de conviver isso ao seu

lado. Me excluiu como se eu não fosse ninguém, sendo que sou a sua

melhor amiga.

Fico em silêncio e concordo.


— Me perdoe — peço, segurando as lágrimas.

— O que você sente em relação aos dois? — questiona, ignorando

meu pedido de desculpas.

Penso sobre isso e revivo na minha memória os momentos incríveis

que tive com os dois; o passeio no parque, nossa primeira vez juntos, a

viagem para o chalé, a sessão de fotos e o sexo que fizemos depois disso.

Não foi somente uma transa, mas sim algo além.

Foi amor.

— Eu os amo, Frida — murmuro, convicta das minhas palavras. —

Realmente amo eles de verdade e não quero perdê-los, sei que pode parecer

estranho amar duas pessoas ao mesmo tempo, mas é o que eu sinto.

Vejo ela movimentar a cabeça em concordância.

— Se tem certeza de que os ama, sugiro que deixe o medo de lado,

Estére, não há nada de errado em querer ser feliz.

— Então você me perdoa?


— Não é essa questão, e sim sobre você se perdoar — diz

encarando-me.

Percebo que ela realmente está certa, no fundo, eu preciso mesmo

me perdoar do meu pecado.

— Frida, eu...

— Acho que está na hora de você ir embora, conversamos outra

hora, se não se importa.

— Claro — respondo, olho-a uma última vez e suspiro.

Chateada, saio de sua casa, seguindo para dentro do carro. A vejo ir

para o seu carro e sair em disparada pela estrada, ligo o motor e faço o

mesmo, seguindo sem um destino certo.

Dirijo por horas e acabo parando na cidade vizinha. Paro o carro

próximo do parque que há na cidade e saio do veículo, sentindo o delicioso

cheiro de grama cortada. Respiro o ar puro e solto devagar, pensando na


loucura que minha vida se transformou desde a morte de mamãe. Um

pensamento de que se ela estivesse aqui tudo seria diferente surge na minha

mente e seco uma lágrima involuntária. Por que escolhi esconder a verdade

da única pessoa que poderia me apoiar? As nossas escolhas realmente

refletem no nosso futuro.

— Oi, Estére. — Saio dos meus pensamentos e congelo ao ouvir a

voz do homem que pensei ser um cavalheiro e na verdade se mostrou ser

um monstro.

Me viro devagar e encaro Dréck, que está com um sorriso sádico no

rosto e os cabelos bagunçados. Noto que ele está pálido e dou um passo

para trás, olhando em volta.

— O-o quê...

— Nem adianta gritar ou pedir socorro, as pessoas não iriam

acreditar em nada do que você dissesse, afinal, só estou conversando com

você, não é mesmo? — pergunta, sorrindo ainda mais. Fico em silêncio e a

bile sobe, deixando-me enjoada.


— O que está fazendo aqui? — pergunto, atônita.

— Eu moro aqui — comenta, despreocupado, deixando claro que

nas vezes que o vi, eu não estava louca.

— Então naquela vez no mercado...

— Sim, realmente você me viu, e fugi antes que aquele cara viesse

atrás de mim. Te vi novamente com ele na outra vez e fugi de novo, mas

não hoje. Hoje a vi de longe, sozinha, triste, e resolvi me aproximar para

conversarmos. Acho que não começamos muito bem da outra vez.

Sinto a fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras e cuspo no

seu rosto, ele o limpa e ri.

— Como você tem coragem de me dizer isso na maior

tranquilidade? Você tentou me estuprar, seu imundo!

— Eu não quis te estuprar, você que ficou me provocando com

aquela roupinha curta. É sempre assim, não é? Vocês são umas vadias e nos

provocam, quando conseguem o que querem, fogem e se fazem de vítima.


Você me fodeu, sua vadia, sabia que a polícia está atrás de mim no Vale

Sombrio? Sua vagabunda!

Dou um tapa no seu rosto e sinto a ardência tomar conta da palma da

minha mão. Maldito desgraçado! Como ele tem coragem de me culpar por

isso?

“Esse é o mundo em que você e outras mulheres vivem, Estére

Muller, isso é graças aos homens que governam o mundo e o

transformaram na droga que está.”

— Você é um porco — digo, criando coragem. — Eu farei de tudo

para vê-lo atrás das grades.

Dréck sorri e lambe os lábios.

— Então é melhor agir logo — diz. Vejo uma garota nova, talvez até

mais que eu, se aproximar de nós e o abraçar, me encarando séria.

— Anjo, essa aqui é uma amiga minha, se chama Estére — diz,

apontando para mim. Sinto meu corpo retesar ao ouvi-lo e o suor brota na

minha testa.
Eu não fui a sua vítima, mas com certeza essa garota pode ser se eu

não fizer nada.

— Certo, por que não vamos embora? — diz ela, me encarando

séria. Será que ela está mesmo pensando que eu estou dando em cima de

Dréck e quer marcar território?

— Claro, meu anjo, você que manda — responde Dréck, sorrindo

para mim. — Até mais, Estére. — Ele se aproxima e sussurra no meu

ouvido: — Vou fazer com ela o que não fiz com você, e ninguém poderá

fazer nada.

Congelo ao ouvir suas palavras e eles se afastam, com Dréck me

encarando cada vez mais longe.

Ainda atônita, entro no meu carro e o vejo entrar no dele com a

garota, seguindo pela estrada, ligo o motor e, devagar, começo a segui-lo,

procurando meu celular e discando rapidamente para Frederic, que me

atende imediatamente.

— Oi, Estér, como está? Precisa de alguma coisa? — questiona.


— Eu o encontrei, Frederic — digo, descontroladamente. — Estou

seguindo Dréck, ele está com uma garota, ele me disse que vai machucá-la,

faça alguma coisa, por favor.

— O quê? Do que você está falando, Estére? Onde você está? —

questiona, aflito.

Digo a ele o que está acontecendo, ainda perseguindo o carro, que

segue pela estrada rapidamente, talvez notando que eu estou logo atrás.

— Por favor, chame a polícia — peço com as lágrimas escorrendo

pelo rosto.

— Não faça nenhuma besteira, Estére, por favor, pare agora mesmo

esse carro e iremos mandar a polícia atrás dele.

— Não posso! Ele está com uma garota, ele vai machucá-la, tenho

certeza disso — respondo, sentindo o medo e a fúria tomar conta de mim.

— Eu amo você, Frederic, você e Ferdinand. Eu os amo demais — digo,

acelerando cada vez mais.

— Nós também te amamos, Estére, mas por favor, me escute...


— Sinto muito, mas não posso deixar Dréck machucar essa garota.

— Desligo o telefone e seguro o volante com as duas mãos, pisando ainda

mais no acelerador. Vejo Dréck se afastar cada vez mais e noto que estamos

saindo da cidade, o que me assusta, no entanto, não posso parar. Se eu fizer

isso e ele realmente machucar essa garota, nunca irei me perdoar.

Continuo dirigindo em alta velocidade e encosto meu carro no de

Dréck, batendo com tudo. Sinto o solavanco e solto um grito, com ele ainda

dirigindo.

Então acontece algo completamente inusitado.

O vejo colocar o braço para fora e apontar a arma na direção do meu

carro, atirando. Abaixo-me, gritando com medo e vejo a bala ultrapassar o

vitro frontal, o trincando. Ergo meu corpo e continuo seguindo, com ele

atirando novamente.

Grito mais uma vez e ouço a garota pedir socorro de dentro do carro,

o que me dá forças para continuar acelerando.


Saio de trás de Dréck e sigo com meu carro para o lado do seu, com

ele apontando a arma na minha direção. No impulso, jogo meu carro para o

lado e acerto a lataria, sentindo mais um solavanco. Repito o processo,

lembrando-me que ganhei este carro de mamãe e reúno as forças que

restam, acertando mais uma vez.

De repente, ouço ao fundo o barulho de uma sirene e vejo pelo

retrovisor a viatura nos seguindo, o que me deixa animada. Acerto mais

uma vez o carro de Dréck, para chamar a atenção dos policiais e ele atira,

acertando o retrovisor do carro. Mesmo com medo, continuo no impulso,

determinada a ajudar a garota e sinto meu carro ir aos poucos parando.

— Droga, não dê problema! Agora não, agora não! — solto um grito

e bato no volante, pisando fundo no acelerador e alcançando Dréck, que

continua atirando, enquanto me abaixo e desvio.

Penso na loucura que minha vida está. Minutos atrás eu estava

pedindo perdão a minha amiga, e agora estou perseguindo o homem que

tentou me estuprar.
Realmente minha vida é uma caixa de Pandora e me reserva muitas

coisas.

O barulho da sirene fica mais alto e vejo a viatura ao meu lado.

— Pare agora mesmo o carro! — grita um dos policiais, apontando a

arma para mim.

— Ele está com uma garota! — grito — Ele vai machucá-la! Por

favor, faça alguma coisa.

Novamente Dréck atira, abaixo-me e sinto o forte solavanco quando

meu carro para com tudo. O airbag aciona e solto um grito, vendo a viatura

e o estuprador se afastarem.

— Não! — grito, saindo do carro e os vendo cada vez mais longe,

pego meu celular e mando minha localização para Frederic, que me ligou

diversas vezes e eu não ouvi, por conta da perseguição.

Começo a correr, meu carro está completamente destruído, vejo os

dois veículos a frente parados e acelero os passos, não há nenhum

movimento de alguém saindo, então crio coragem e continuo me


aproximando, percebendo que um carro colidiu com o outro e que os quatro

estão feridos e alguns desacordados.

Sinto o desespero tomar conta de mim e ouço a voz da garota

pedindo socorro, corro em direção do carro de Dréck e, com um pouco de

dificuldade, abro a porta, a encarando.

— Me ajude, por favor — pede em meio às lágrimas. Vejo um vidro

cravado na sua perna e a encaro.

— Fique calma, vai ficar tudo bem, venha. — A puxo pelo braço e a

ajudo a sair, sentindo o cheiro de gasolina, Dréck se mexe e solto um grito,

puxando a garota para cada vez mais longe.

Sigo em direção à viatura e abro a porta, enquanto a garota que não

sei o nome, chora compulsivamente e o sangue da sua perna se espalha pela

calça, pingando no asfalto.

— Por favor, reajam — digo, mexendo nos policiais desacordados.

— Me diga seu nome — peço para a garota.

— Estela — murmura, chorando.


— Estela, eu me chamo Estére, percebeu a semelhança? Eu preciso

que você seja forte e me ajude, ok? Esses policiais precisam sair daqui,

antes que a gasolina se espalhe e algo pior aconteça. Você precisa me

ajudar, entendeu?

Ela concorda com um movimento de cabeça e me ajuda a puxar o

policial, o deixando deitado no chão. Rapidamente fazemos o mesmo com o

outro e vejo que Dréck tenta escapar, então apanho a arma do coldre do

policial e aponto para ele, que sai, se rastejando.

— Abaixe isso, Estére, sabemos que você é covarde demais para

usar — murmura, cuspindo sangue. Sinto a arma balançar na minha mão e

Estela chora baixinho.

— Fique atrás de mim — peço, apontando a arma para ele.

— Você é mesmo uma vadia, não é? — comenta. — O que vai fazer

agora? Me matar, sua puta?

Continuo em silêncio, com a arma apontada para ele, e o vejo

recarregar a sua, apontando para mim.


— Por que fazer isso? — pergunto, com a voz embargada. — Por

que machucar mulheres inocentes?

— Inocentes? Vocês são umas vadias, assim como sua amiga, eu

conversei com ela nesses aplicativos de pegação, mas acabei desistindo de

encontrá-la porque poderia ser pego, mas Estela não — diz e lembro do dia

que Frida disse-me que sairia com um rapaz e ele sumiu, fazendo sentido ao

que eu dissera. — Lamento muito por não ter conseguido te violentar e não

estuprar essa vagabunda. Eu queria tanto ver o medo nos seus olhos, foi tão

divertido vê-la assustada, seria perfeito ver seu desespero com meu pau

entre suas pernas nojentas.

Vejo-o manter a arma apontada em nossa direção e sinto o medo

tomar conta de mim. Um pensamento de que tudo irá acabar invade a minha

mente e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

“Chegou a hora de encontrar mamãe, talvez, ou não, já que vou

para o inferno”, penso, sentindo a bile subir pela minha garganta.


— Você é um covarde — digo, com a arma ainda apontada. Minhas

mãos continuam tremendo e Estela se mantém atrás de mim, em lágrimas e

com a perna sangrando cada vez mais.

—Não sou eu que estou com minhas mãos tremendo — diz, de

maneira sarcástica. — Vamos lá, Estére, mostre-me do que é capaz. Atire e

prove que você é tão cruel quanto eu.

Penso em suas palavras e destravo a arma, admirada em saber fazer

isso. Continuo apontando para ele e olho Estela de canto de olho.

— Não saia de trás de mim — peço. Ela concorda e volto minha

atenção para Dréck.

— Você é mesmo uma covarde, abaixe a arma, Estére — murmura.

— Abaixe ou vou atirar na garota.

O vejo apontar para Estela, que treme de medo atrás de mim e nego

com a cabeça.

— Não vou abaixar — murmuro.


— Então você acabou de assinar a sentença de morte dela.

O vejo formar um sorriso ao dizer isso e levar a mão até o gatilho,

tudo acontece tão rápido que me assusto e caio no chão com Estela gritando

de medo. Vejo Dréck cair e o sangue manchar sua camisa, com ele levando

a mão até o peito, olho para o lado e noto o policial com a arma apontada

para ele, atirar novamente.

Abraço Estela e sinto o medo tomar conta de mim ao ver Dréck

morto. Sinto meus olhos se fecharem e, de repente, perco a consciência.


Acordo desorientada e ouço o bipe, vendo tudo embaçado. Ergo

meu corpo e rapidamente avisto Frederic, Ferdinand e Frida sentados.

Assim que me veem, os três vêm em minha direção.

— Estére, como está? — pergunta Fred, segurando minha mão, a

aperto devagar e engulo em seco, sentindo um gosto estranho invadir a

minha boca.

— Onde ela está? — pergunto. — Estela, onde ela está?

— Fique calma, ela está bem, no quarto ao lado com a inspetora.


Fico em silêncio e me recordo do que havia acontecido, pensando

em Dréck, que agora está morto e nunca mais poderá causar nada de ruim

em outras pessoas.

— Quero vê-la — digo, com a voz embargada.

— Mais tarde você a verá, agora precisa descansar — Ferdinand diz,

enfático.

— Por favor — peço, encarando os três, Frida está parada, em

silêncio. — Você veio, desde quando estou aqui?

— Tem um dia, não se preocupe, os médicos te doparam porque

estava muito agitada, mas agora está tudo bem — diz ela.

— Me perdoe, por favor — peço, sentindo as lágrimas cobrirem

meus olhos.

— Eu perdoo por ter escondido a verdade, sabe que te amo e não

quero ficar brigada com você, mas não pense nisso agora, tente descansar.
— Dréck... ele me disse que conversou com você, era aquele rapaz

que desistiu de sair — conto e ela arregala os olhos, sabendo, que se

tivessem saído com ele, poderia ser uma vítima. —Por favor, preciso ver

Estela.

Os três suspiram, desistindo de me impedir e me ajudam a me

levantar. Sinto meu corpo dolorido e me sento na cadeira de rodas que Frida

aproxima de mim. Apesar de não ter me machucado, sinto como se tivesse

levado uma surra.

Volto à realidade e seguimos para o lado de fora do local, passando

pelo corredor e seguindo para o quarto ao lado. Rapidamente entramos e

vejo Estela deitada com a perna enfaixada e Erika conversando com ela.

Assim que me vê, ela forma um sorriso.

— Estére, é bom vê-la novamente, mesmo que seja nessa situação —

diz.

— Oi — sussurro, sem graça. — Como você está? — me direciono a

Estela e me aproximo da sua cama.


— Bem, e devo isso a você, que me salvou.

Sorrio e seguro sua mão, com ela apertando a minha.

— Não precisa agradecer, fiquei com tanto medo de Dréck fazer

alguma coisa com você.

— Eu também, ele foi tão gentil, e de repente se tornou um homem

agressivo.

Concordo e ela vê Frida e os rapazes.

— Quero te apresentar minha família — digo, apontando para cada

um. — Essa é Frida, minha melhor amiga, e esses são Ferdinand e Frederic,

meus namorados.

Ela arregala os olhos, surpresa, e me sinto feliz em dizer isso em voz

alta pela primeira vez. Erika nos encara e sorri sem graça.

— Bem, vou indo, obrigada pelo seu depoimento. Podemos

conversar, Estére?
— Claro — digo, me afastando dos outros e seguindo para o lado de

fora.

— Apesar de Estela ter me contado tudo o que aconteceu, preciso

que você me fale sua versão do acontecimento, tudo bem?

— Pode ser aqui mesmo?

— Claro, desde que esteja à vontade.

Concordo e começo a contar a ela tudo o que havia acontecido,

finalizando ao dizer que desmaiei. Assim que termino de falar, ela me

encara e sorri.

— Você foi bastante corajosa, apesar de achar um pouco imprudente

o que fez.

— Eu nunca permitiria que Dréck fizesse alguma coisa com essa

garota, quantos anos ela tem, dezoito?

— Dezenove, os pais estão vindo para cá, estavam preocupados. No

fim, você foi a heroína desta história.


— Só fiz meu dever de mulher, inspetora — digo, sorrindo. —

Estamos aqui para uma ajudar a outra, certo?

Ela concorda e sorri.

— Dois namorados, é? Achei diferente.

Dou risada e concordo.

— É realmente diferente, mas aos poucos iremos abrir a mente das

pessoas.

— Se você os ama, está certa em se entregar à eles.

— Sim, eu os amo demais — digo, aliviada em falar isso em voz

alta.

Se amar é considerado pecado, nós três iremos para o inferno.

Erika concorda e se afasta, volto para o quarto e converso com Frida,

Estela e os rapazes. E apesar da loucura que havia passado, eu me sinto

completamente feliz em saber que poderei descansar desse pesadelo.

*
Os dias passam e o assunto de que eu havia perseguido um

estuprador percorre rapidamente pela Cidade do Vale Sombrio. Diversas

mulheres foram à delegacia contar o que Dréck havia feito, inclusive Laura,

que terminou com Collin e abriu um grupo de mulheres empoderadas que

Frida e eu começamos a fazer parte. O assunto de que eu estou namorando

com Frederic e Ferdinand percorreu rapidamente também, com o conselho

de classe dizendo ser inadmissível e fez eu ser transferida para outra

faculdade, fazendo-me perder o semestre. Frida não gostou nem um pouco

disso e pediu transferência, deixando seus pais loucos.

As pessoas me olham torto, mas com o passar dos meses, isso acaba

deixando de me causar algum impacto. Na verdade, os rapazes e eu

decidimos procurar um psicólogo para nos abrirmos em relação à tudo.

Ferdinand precisava mais do que imaginou e eu também, contando a minha

psicóloga como realmente me sentia.

Uma vez ao mês eu vou ao túmulo de mamãe colocar flores e pedir

perdão, mesmo sabendo que eu não tenho culpa de me apaixonar por


Frederic.

Tive que comprar outro carro para mim, já que o meu acabou sendo

destruído na perseguição de Dréck e escolhi um conversível.

Tudo realmente está muito bom, as aulas estão tranquilas, estou

recuperando o semestre perdido com Frida e a ideia de nos mudarmos para

o chalé está cada vez maior.

Saio dos meus pensamentos e termino meu milk-shake, com Frida e

Frederic à minha frente. Ferdinand havia ido pegar batatas para nós na

praça de alimentação do shopping, então vejo Collin se aproximar.

— Veja só quem está aqui — diz nos encarando. — Então é verdade

mesmo os boatos que andam rolando. Foi por isso que você se mudou de

faculdade.

— Do que você está falando? — pergunto, o encarando séria.

Ferd se senta assim que volta e o encara atentamente.

— Você com esses dois — diz, trincando os dentes.


Encaro Frida e ela ri, balançando a cabeça.

— Meu Deus, depois de todo esse tempo você veio se dar conta

agora? Quero dizer, todos já sabem, acho que você está atrasado nas

notícias, Collin — pontua ela.

Collin fica em silêncio e vejo seu pomo de adão se mexer, com ele

um tanto irritado.

— Então sempre estive certo — comenta. — Você me trocou mesmo

por Frederic, não é? E aí o irmão dele apareceu em um cavalo branco e não

satisfeita com um, decidiu ficar com os dois.

Vejo Frederic e Ferdinand torcerem a mão e ergo a minha, os

impedindo.

— Eu não o troquei por ninguém, foi você que me traiu — começo.

— E se estou com os dois, isso não diz respeito a ninguém, principalmente

a você.

Collin me encara e ri.


— Você não percebe o quanto isso é nojento? — pergunta, conosco

ganhando alguns olhares. — Como consegue se relacionar com o homem

que foi casado com sua mãe por anos? Isso é doentio.

Me levanto e paro na sua frente, vendo Frida fazer o mesmo.

— Deixem que eu resolvo — digo aos três e volto a encarar meu ex.

— Sabe o que é nojento, Collin? É a falta de amor e empatia das pessoas no

mundo. Quantas pessoas se intrometem na vida dos outros e nem ao menos

perguntam como elas estão? Você deveria ficar quieto e seguir sua vida, do

mesmo jeito que fiz com a minha. Não me importa a sua opinião e das

pessoas que dizem que somos demônios e vilões desta história. Na verdade,

realmente devemos ser, mas ninguém tem nada a ver com isso. Eu amo

Frederic e Ferdinand, e é isso que realmente importa, o nosso amor.

Termino de falar e percebo que todas as pessoas na praça de

alimentação estão em silêncio, me encarando, então, quando menos espero,

começam a bater palmas e gritar, com Collin completamente envergonhado.

Ele me encara uma última vez e sai nervoso.


Sorrio e agradeço, me sentando e encarando os dois homens da

minha vida, que me observam atentamente.

— Nós te amamos, Estére — dizem, em uníssono.

— Eu também amo vocês, cada um de vocês — murmuro, alegre,

sentindo meu mundo completo.

Um tempo depois...

O tempo passa rápido, sem piedade de nós, como se cada dia durasse

menos de vinte e quatro horas. Estou quase formada, pensando em toda a

loucura que passei nos últimos anos. Pensando no dia em que perdi minha

mãe para o câncer e me vi sozinha nesta casa, vendo um casal desconhecido

se beijando, apaixonados, do lado de fora, na chuva. Penso em como as

coisas mudaram neste tempo. Eu sequer me imaginava terminando com

Collin e acabando ficando com Frederic, meu antigo padrasto, e depois com

seu irmão.
A lembrança de Ferdinand entrando em casa, passando-se pelo seu

irmão e me devorando por completo é tão vaga que me assusto com isso.

Como o tempo pode passar tão devagar e ao mesmo tempo tão

rápido?

Algumas pessoas ainda nos olham torto, torcendo o nariz e falando

por aí sobre a filha que na primeira oportunidade “traçou” o marido da mãe

morta. Uns dizem que Fred e eu tínhamos um caso antes mesmo de mamãe

morrer e que escondemos sobre o paradeiro de Ferdinand todos esses anos.

Não me importo com o que falam, na verdade, aprendi a aceitar que

Fred, Ferd e eu não somos os vilões. Somos mocinhos diferentes, quem

sabe? Acabei aceitando que para sermos felizes, basta desejarmos isso, e

que ninguém tem nada a ver com a nossa vida. Somente nós mesmos

sabemos o que passamos.

Com a morte de Dréck e o grupo que Laura criou, consegui me abrir

sobre como me senti o tempo em que ele não havia sido pego. Estela está
cada vez mais calma com relação a isso e fico realmente feliz. É um

verdadeiro alívio saber que não temos mais esse pesadelo entre nós.

Os irmãos Cooper também se abrem bastante comigo e a nossa

psicóloga, alegando que, mesmo sendo errado e pecado para alguns,

realmente se gostam. Para mim, não importa se as pessoas criticam a

relação de ambos, o importante mesmo é sermos felizes. Porém, a relação

de incesto que os dois mantém, é segredo. Achamos melhor continuar

assim. Apenas nossa psicóloga e Frida sabem sobre isso. Minha amiga

achou um máximo, é claro. Dessa vez, não ficou brava por termos

escondido, sabendo que é algo completamente inaceitável para algumas

pessoas, sendo até mesmo crime em alguns países.

Os pais de Dréck nos procuraram e pediram-nos desculpas pelas

atitudes do filho, o que me deixou surpresa e aliviada. Realmente não

sabemos sobre o caráter das pessoas.

Tudo está realmente bom, a faculdade, mesmo estando em outra, é

maravilhosa. Até mesmo digo que é melhor que a anterior, já que não
conheço ninguém e parece que não se importam com minha vida e dos

meus noivos...

Sim, os irmãos Cooper me pediram em casamento. Foi uma noite tão

feliz e agradável, regada a vinho e muito sexo. E então, o pedido de ambos,

com a voz embarga e o anel com a pedra nas mãos. Dentro, havia nossas

iniciais gravadas — FEF — com três pequenos pássaros voando. Frederic

explicou que significa a nossa liberdade. Que juntos, nós encontramos e nos

libertamos dos medos, tabus e da opinião da sociedade.

E realmente faz muito sentido.

Estou feliz. Estou completa e cada vez mais pronta para o que a vida

tem a nos oferecer.


Sinto-me nervosa ao ver que minha formatura finalmente chegou

e estarei formada em poucas horas. Levanto-me da cama e suspiro, indo em

direção ao banheiro e tomando banho. Assim que saio, encontro Frederic e

Ferdinand arrumados, agora os dois são sócios na oficina e com muito

custo, Fred resolveu usar o dinheiro que mamãe deixou para ele e expandiu

seus negócios, abrindo filiais em outras cidades e colocando Jack como

chefe.
Penso em como o tempo passou rápido. Só de pensar que há alguns

anos eu estava iniciando a faculdade com minha mãe me dando uma câmera

de presente e agora estou me formando, sinto como a vida é realmente um

piscar de olhos.

O tempo passa tão rápido que quando notamos as pessoas morreram,

outras saíram de nossas vidas, trilhando seus caminhos, e novas surgiram.

Para minha sorte, Frida não foi embora, o que é um alívio, mas agora

formada, sei que seus caminhos serão alçados longe daqui, o que me deixa

com o coração apertado.

— O advogado ligou e disse que tem uma boa proposta para a casa

— diz Fred me analisando. Coloco a lingerie e assinto, esperançosa. Com

os anos passando e eu podendo vender a casa, entramos em um acordo e

vimos que essa seria a melhor decisão que podíamos tomar.

Não que eu não amasse a casa, mas com tudo que já havia

acontecido, percebo que aqui se tornou um lugar que não me cabe mais.
— Isso é bom, se formos fechar com esse comprador, podemos usar

o dinheiro para investir no projeto de Laura e nas oficinas.

Os dois concordam e coloco meu vestido vermelho que vai acima do

joelho, com Ferdinand fechando o zíper e selando com um beijo no meu

ombro.

— O tempo passou tão depressa, já estamos juntos há quantos anos?

Três? Quatro? — questiona, me olhando. Encaro-me no espelho e sorrio,

vendo o quanto estou linda.

— Você é péssimo com datas, mas já que quer saber, estamos juntos

há quase quatro anos, já que o conselho me fez perder um semestre inteiro

— digo, com ele rindo.

— Eu ainda acho que deveríamos ter processado a faculdade, eles

não podiam se intrometer dessa maneira na sua vida pessoal.

Concordo e dou de ombros.

— Tudo bem, na verdade foi bom mudar de faculdade e ir para um

lugar que quase não conheço ninguém, e Frida veio comigo, o que tornou
tudo mais leve.

Ferdinand concorda, seu irmão se aproxima e me beija, encarando-

me pelo espelho.

— Jolie estaria mais do que orgulhosa da mulher que você se tornou,

tenha certeza disso. Infelizmente ela não está aqui para levá-la para sua

formatura, mas farei esse papel por ela.

Sorrio, segurando as lágrimas e concordo, abraçando e beijando os

dois.

— Não me façam chorar, por favor, hoje é um dia de felicidade.

Os dois concordam e me apertam contra eles.

— Vamos pegar seu diploma, gatinha — murmura Ferd.

A cerimônia da formatura é tranquila e quando recebo meu diploma,

diversas pessoas gritam entusiasmadas, inclusive Laura, que acabou se


tornando uma amiga. Não como Frida, mas uma amiga verdadeira e sincera,

que me respeita e é maravilhosa no seu projeto.

Sinto o frio na barriga e após terminar, seguimos para a festa, que me

deixa animada e relaxada.

— Estou tão orgulhosa de nós duas! — diz Frida, animada. — Eu

nem consigo acreditar que nós nos formamos.

— Nem eu, aconteceram tantas coisas nos últimos anos.

Ela concorda, analisando o anel no meu dedo.

— Você e os rapazes irão se casar quando? Já faz bastante tempo que

foi feito o pedido.

Dou de ombros e suspiro.

— Na Europa é difícil aceitarem um casamento poligâmico, na

verdade, é até considerado crime — digo, encarando-a. — Por enquanto

estamos bem desse jeito, quem sabe um dia a gente se case de uma maneira

diferente.
Ela concorda e me abraça.

— Vou sentir sua falta quando eu for embora da cidade — diz,

tristonha.

— Eu também, quem imaginava que você iria embora quando

terminasse a faculdade.

— Sim, mas não é como se fosse morar muito longe de Vale

Sombrio, Cidade do Sol é poucas horas de viagem, além disso, tem praia e

muitos solteiros para mim, e vocês podem me visitar sempre que quiserem.

— Como seus pais estão em relação a isso?

— Eles estão preocupados, já que a única filha vai morar sozinha,

mas me deram um apartamento, acho que começamos bem — ela pisca e

rio.

— Às vezes penso em ir para a casa de campo que mamãe nos

deixou, mas os rapazes gostam do chalé, assim como eu, e os negócios

estão indo bem.


— Espero que consiga se virar sem mim, Deus me livre ter que

voltar para cá.

Concordo, sorrindo e a abraço, com os rapazes se aproximando de

nós.

— Que tal dançarmos? — pergunta Fred.

— Claro — digo, segurando na mão dele e de Ferd. Seguimos para a

pista de dança e começamos a dançar a valsa que toca, os três, abraçados de

maneira engraçada. Percebo que algumas pessoas nos olham e sorrio feliz

com isso, sabendo que, mesmo elas não nos aprovando, há outras que

aceitam e o principal, nos respeitam.

E é o que realmente importa para nós. O respeito, acima de qualquer

coisa.
Dois anos mais tarde

Acordo com o sol refletindo no meu rosto e me levanto, bocejo e

vejo os dois lados da cama vazios. Me levanto e visto meu pijama, seguindo

em direção à escada e indo ao banheiro do chalé. Pensar que larguei a

minha vida na Cidade do Vale Sombrio e recomecei aqui, me deixa com um

sorriso no rosto, principalmente pelo fato de que Frederic e Ferdinand

apoiaram a minha decisão e vendemos a casa.


Frida se mudou e está adorando morar sozinha no seu apartamento,

minha amiga está prestes a chegar para o Natal e Ano-Novo. Como o chalé

tem dois quartos, ela poderá ficar no vago, onde fiquei quando vim pela

primeira vez aqui com Frederic.

Lembrar disso me deixa espantada. Os anos não tiveram dó de nós e

simplesmente se passaram seis sem nos darmos conta. O meu

relacionamento com os rapazes está mais sólido do que nunca, o que me

deixa sempre com um sorrisinho maroto no rosto.

Apesar das pessoas ainda acharem estranho o fato de eu ter me

relacionado com o meu ex-padrasto, os burburinhos cessaram e agora elas

compreendem mais, o que, de certa forma, é bom para gente, mesmo não

nos importando com a opinião deles.

Os negócios estão cada vez melhores e acabei abrindo uma clínica

para ajudar mulheres que estão se recuperando do uso de drogas e de abusos

sexuais que sofreram em algum momento de suas vidas. Com isso,

aproveito e dou aula de Fotografia, mostrando-as que as marcas de seus


corpos deixadas pelos homens que elas juraram ser de suas vidas pode se

tornar algo bonito de se olhar.

Tudo realmente está bom, o que me deixa cada dia mais feliz e

animada, e com isso, posso finalmente dizer que estou realizada. Sei que de

onde mamãe está, se sente orgulhosa da mulher que eu me tornei. E no

fundo me sinto perdoada pelo que eu fiz, mesmo não ouvindo de sua

própria boca isso.

Saio dos meus devaneios, escovo os dentes e arrumo meus cabelos,

procuro meu celular e vejo uma mensagem dos rapazes dizendo que já

encontraram Frida. Envio um emoji de beijo e começo a preparar as coisas.

Com o tempo, finalmente eu consegui aprender a cozinhar algo um pouco

aceitável.

As horas passam e coloco o peru no forno, que eu havia temperado

na noite anterior, e preparo a salada, ouvindo a porta se abrir. Sigo até a sala

e vejo os rapazes entrarem com Frida logo atrás, solto um gritinho e corro

em sua direção, abraçando-a. Minha amiga retribui o gesto e a encaro.


— Você está linda! — digo, observando-a, que dá uma voltinha.

— Assim como você, não é mesmo? — questiona, voltando a me

abraçar. Sorrio e seguimos para a sala, nos sentando.

— Me conte todas as novidades — peço, ela segura minhas mãos e

sorri.

— Teremos muito tempo para isso, não se preocupe, a única coisa

que quero neste momento é poder matar a saudade que eu estava de você e

aproveitar o máximo que puder.

Sorrio e concordo.

— Esse é só o começo, ainda temos muito o que aproveitar pela

frente.

Frida concorda e morde o canto da boca.

— Então vamos aproveitar! — diz animadíssima. Concordo e me

levanto, coloco uma música agitada para tocar e começo a dançar com ela.
Os rapazes nos encaram e entram na nossa brincadeira, se divertindo

conosco. Fred e Ferd me seguram e começam a fazer cócegas em mim,

fazendo-me rir até as lágrimas escorrerem dos meus olhos.

E é maravilhoso poder chorar de alegria e ter eles comigo, ao meu

lado, sendo a minha família.

Somos imperfeitos, peças de um quebra-cabeça diferente, e juntos

nos tornamos mais do que perfeitos uns para os outros.

Sinto-me feliz por não ter desistido de nós e estou mais do que

pronta pelo o que vem pela frente.

Esse é apenas o começo.


— Tem certeza disso? — pergunto, encarando Frida, que está

sentada na beirada da minha cama.

— Tenho sim, vai ser lindo, você vai ver, sendo aqui na floresta, vai

ser parecido com o casamento da Bella e do Edward[2].

— Que comparação ridícula — digo, rindo —, mas faz sentido.

— É claro que faz, mas me diga, você concorda com a ideia?

Mordo o canto da boca e analiso o rosto da minha amiga. Ela havia

tido a brilhante ideia de que os rapazes e eu nos casássemos aqui, no chalé,

na orla da floresta, para ser mais específica.


Não seria realmente um casamento, já que nenhum juiz de paz quis

nos unir, seria mais como algo simbólico.

— Um casamento simbólico — sussurro, saindo dos meus

pensamentos.

— Com direito a música, comida e festa — completa Frida.

— Vai ser legal, mas por acaso temos convidados? Será só você na

plateia.

— Na verdade quem vai os “unir” será eu — diz, fazendo as aspas

com os dedos. — Mas teremos convidados, não se preocupe com isso.

Dou de ombros e me levanto, indo até a janela e olhando os irmãos

Cooper cortando lenha com os peitos desnudos. Sorrio e me viro para Frida.

— É estranho você me convencer a casar, sendo que meus noivos

não fizeram isso.

— Bem, eles aceitaram o fato de que a sociedade hipócrita poderia

se opor com a relação de vocês, mas tenho certeza de que irão adorar a
ideia.

Sorrio e concordo.

— Tudo bem, você me convenceu.

Frida sorri e me abraça.

— Os anos passaram, mas o fato de eu sempre conseguir o que eu

quero continua — diz, animada. — Vamos preparar um casamento!

Frida iniciou os preparativos da festa com maestria. Nunca vi minha

amiga tão animada em toda minha vida. Nem mesmo nos meus aniversários

ela mostrou tanta animação como está demonstrando agora.

Os rapazes concordaram com a ideia de fazermos o “casamento”, até

mesmo resolveram alugar smokings e eu um vestido, que minha melhor

amiga escolheu, obviamente.

Quando tudo está pronto no decorrer dos dias, me vejo pensando em

tudo que já aconteceu em nossas vidas. Na primeira vez que Frederic me


beijou achando ser mamãe; quando comecei a me sentir atraída por ele;

quando viemos para o chalé e finalmente aconteceu a nossa primeira vez.

Nele se declarando para mim com uma rosa que perdi no tempo. Penso no

dia em que transei pela primeira vez com Ferdinand, acreditando ser o

irmão. Em como me entreguei a ele de corpo e alma. Sorrio ao pensar no

pedido de namoro de Fred apenas para mostrar ao irmão que tínhamos algo

e como isso me chateou; hoje em dia é apenas uma lembrança que me faz

rir. Então me recordo do meu jantar com Ferd e depois, é claro, a nossa

primeira vez juntos. Os três. Dos irmãos Cooper entregando-se um ao outro

e eu me entregando à eles.

Quem diria que uma relação considerada por muitos tabu e luxúria

iria se tornar tão sólida. Aliás, quem diria que eu acabaria com meu ex-

padrasto e seu irmão gêmeo?

— Está pronta? — Sou tirada das minhas lembranças e encaro minha

amiga, formando um sorriso.


— Acho que sim. Como estou? — Dou uma volta e ela observa o

vestido, sorrindo com lágrimas nos olhos.

— Está maravilhosa, eu jamais imaginei que você iria se casar e

quem iria uni-la seria eu.

Sorrio em resposta e sigo até a frente do espelho, analisando-me.

Escolhemos um vestido vermelho de renda, com um decote frontal e as

costas abertas com um tule. O vestido segue até abaixo dos meus joelhos,

revelando minhas pernas. Nos pés, uso sapatos na mesma cor, com os

cabelos presos e a maquiagem mais natural. O buquê foi diferente de outras

noivas, afinal, nós somos diferentes. Escolhi rosas vermelhas, por conta de

significar a paixão, como Frederic mesmo havia me dito. E claro, o

vermelho ser considerado, para alguns, a cor do pecado. Escolhi rosas azuis,

por significar o amor verdadeiro, raro e que não se abala facilmente. E por

último, escolhi rosas brancas, que significa paz e harmonia, o que, de certa

forma, encontrei com Frederic e Ferdinand, apesar de tudo que havíamos

passado.
Saio dos meus pensamentos e me agarro ao buquê, encarando minha

amiga.

— Está pronta para iniciar o verdadeiro “felizes para sempre” de

vocês? — questiona, sorrindo.

— Estou sim.

Sigo para o lado de fora do chalé me sentindo nervosa. Minhas mãos

tremem e o suor na minha nuca me pinica.

Ando devagar em direção a orla da floresta e me encanto em ver

como minha amiga preparou tudo da melhor maneira possível. Há diversas

cadeiras cobertas com tecidos brancos, dando um charme a floresta com ar

sombrio. Vejo que me enganei e temos sim convidados; Laura está aqui,

assim como Estela, Erika, os pais de Frida, que com o tempo se

desculparam conosco por conta de terem que me expulsar da faculdade.

Fico feliz e emocionada e sigo caminhando firme, com o buquê próximo do

meio peito e o coração acelerado. E então eu os vejo, sorrindo, com a barba


alinhada, os paletós bem passados e os sorrisos estampados. Fred e Ferd

estão lado a lado, de mãos dadas, esperando-me, enquanto Frida está

posicionada logo atrás dos dois em um palco improvisado. Há ramos de

flores falsas penduradas, pendendo-se abaixo de suas cabeças, o que dá

ainda mais um charme ao local.

As árvores com os troncos cobertos pelo musgo e o cheiro forte

deixa tudo ainda mais bonito. Para alguns, loucura, para nós, uma

realização.

E quando vejo, estou parada diante dos dois, surpresa com a firmeza

dos meus pés.

— Você está linda, gatinha — diz Ferd, dando um beijo no alto da

minha cabeça. Sorrio, emocionada e me viro para Fred, que está com

lágrimas nos olhos.

— Você está mesmo maravilhosa — diz ele.

Agradeço e nós nos viramos para Frida, com os poucos convidados

sentando-se em seus respectivos lugares.


— Boa tarde a todos — diz Frida, empolgada. — Estamos aqui,

nesta tarde, para unirmos esse casal que vieram para quebrar paradigmas

impostos pela sociedade. Juntos, Estére, Frederic e Ferdinand, enfrentaram

um tabu apenas por um objetivo; o amor. Alguns podem até questionar

sobre amarmos mais de uma pessoa, mas devemos sempre colocarmos o

respeito acima de nossas opiniões.

“Quem diria, não é mesmo? Estére Muller se casando, e ainda por

cima, com seu ex-padrasto, mas sem julgamentos, não mandamos nos

nossos sentimentos, e o amor acontece onde menos esperamos”.

“Sim, alguns vão dizer que é loucura, mas sabe o que realmente

importa? A nossa felicidade. Se te faz bem, te deixa feliz, com borboletas

no estômago, esqueça a opinião das pessoas e viva a sua vida da maneira

que deseja. Somente nós sabemos a nossa luta diária para chegarmos até

aqui. Então, por que nos importarmos com o que as pessoas vão dizer?

Deixe esse sentimento de aceitação e viva da maneira que te faça feliz.


Apenas viva e seja você mesma, assim verá como o mundo pode ser

melhor.”

Frida termina de falar e seco pequenas lágrimas que surgem nos

meus olhos, emocionada com suas palavras.

— Quero dizer que esta tarde fui beneficiada em poder unir esse

casal. Então, sem delongas, Frederic Cooper, você aceita se casar com

Estére Muller de livre e espontânea vontade?

Sei que, apesar de ela não citar o nome de Ferdinand, esse é um

casamento de nós três.

— Aceito.

— Ferdinand Cooper, você aceita se casar com Estére Muller de

livre e espontânea vontade?

— É claro, gatinha — diz, piscando.

— Tinha que ser — diz Frida, revirando os olhos. — E você, Estére

Muller, aceita se casar com esses dois rapazes?


Encaro-os e engulo em seco, pensando no que estamos fazendo. Para

alguns; pecado, luxúria. Em alguns lugares, crime por incesto.

Mas para nós apenas o amor de outra forma, assim como ele existe

em diversos contextos diferentes.

— Aceito — sussurro, formando um sorriso.

— Então eu os declaro casados, podem trocar as alianças.

Fred pega de dentro do seu bolso uma caixinha com três alianças e

deposita uma no meu dedo, fazendo o mesmo com o seu irmão. Então Ferd

e eu, colocamos a de Frederic, formando um enorme sorriso.

— Podem se beijar — diz minha amiga.

Aproximo-me dos meus dois maridos e beijo cada um, com eles se

abraçando e beijando o alto da minha cabeça logo em seguida.

— Eu amo vocês dois — digo, encarando-os.

— Nós também te amamos, Sra. Cooper — diz Frederic, sorrindo.


— Em todos esses anos, nunca fui capaz de agradecer tudo que

vocês fizeram por mim — diz Ferd, emocionado. — Eu te perdoo de

coração, irmão, pelos anos afastados e fico realmente feliz em saber que

nesses últimos anos fui liberto de uma vez por todas da prisão. E agradeço

por você ter me acolhido sem ao menos me conhecer, gatinha.

Sorrio ainda mais emocionada e os abraço.

— Estão prontos para vivermos o resto de nossas vidas juntos?

— Cem anos ao seu lado não seriam suficientes, Estére — diz Fred.

— Por anos amei Jolie e hoje posso dizer sem medo de ser julgado que eu a

amo. Estou mais do que preparado para termos o nosso final feliz.

— Então vamos iniciá-lo a partir de agora — digo, emocionada.

Voltamos a nos abraçar e então jogo o buquê, com Frida o pegando.

E então me vejo encarando o céu e tendo a certeza de que mamãe

pode estar lá, talvez orgulhosa da filha que me tornei.

Sorrindo, abraço os irmãos Cooper e me preparo para o que há por

vir, feliz em saber que independe de qualquer coisa, estaremos juntos para
enfrentarmos o que for preciso. Lado a lado.

E eu amo isso mais que tudo.


A trilha de beijos de Ferdinand percorre pelas minhas costas e me sinto

nervoso ao saber o que está prestes a acontecer. Estou com meu rosto no

meio das pernas de Estére, me lambuzando na sua deliciosa boceta,

enquanto ela geme baixinho e pede por mais.

Como essa mulher me deixa maluco! E agora Ferd também me causa

a mesma sensação.

Pode parecer estranho para algumas pessoas, mas com o passar dos

anos, é justamente isso tudo que eu sinto.

Como controlar um sentimento?


Será que realmente isso é possível mesmo?

Como controlar o prazer, desejo, luxúria por alguém especial?

Simplesmente é impossível.

Penso a respeito disso e encaro minha mulher, que me observa, sorri

e leva seus dedos até sua boceta, se masturbando na minha frente. E pensar

que a conheci virgem de tudo e hoje é uma safada na cama.

Vê-la dessa forma, é uma das melhores imagens que meus olhos

podem contemplar, em todos esses anos, com todas as loucuras que já

fizemos, ainda é difícil me acostumar com o prazer que isso me causa.

— Chegou a hora, Fred — ela sussurra, se masturbando

deliciosamente, a vejo inserir dois dedos no seu sexo e esfregar o clitóris.

Quero fazer isso por ela, mas não me mexo, engolindo em seco e

concordando.

Estére se levanta e Ferdinand continua beijando minhas costas.


— O que foi, irmão, você quer desistir? — questiona-me em um

sussurro. Viro-me para ele e o vejo segurando seu pênis, o sorriso

debochado nos lábios.

— Não, claro que não — digo. — Faça.

Ele concorda e volto a me posicionar de quatro na cama, com minha

mulher ainda acariciando seus seios e se masturbando ao lado do meu

irmão. Sinto meu pau latejar entre as minhas pernas e levo minha mão até

ele, fazendo movimentos lentos e tortuosos na glande lubrificada.

Respiro fundo e volto a sentir os beijos do meu irmão pelo meio das

minhas costas, subindo até meu pescoço e mordiscando minha orelha. Sinto

seu membro roçar minha bunda e fico quieto, tentando aproveitar ao

máximo o momento.

— Se eu fiz, você também faz, lembra-se? — inquire. — Você se

lembra da primeira vez que me fodeu, Fred?

— É claro que eu lembro, mas me prometa que depois deixará eu te

comer — peço, arrepiando-me com sua língua no meu pescoço.


— Tudo bem, mas antes...

Ferdinand volta a descer e para diante da minha bunda, levando seus

lábios até ela e mordendo minha nádega. Solto um gemido e me inclino

ainda mais, dando-lhe a visão completa à ele da minha bunda.

— Está pronto? — indaga.

Assinto e respiro fundo, surpreso em saber que Estére e ele me

convenceram disso. Demorou bastante tempo, mas finalmente conseguiram.

Então sinto sua língua invadir meu cu e me arrepio com a sensação

que isso me causa.

Me contorço de prazer, maravilhado em saber o quanto isso me

excita e vejo minha mulher se aproximar da cama e parar na minha frente,

puxando minha cabeça na direção da sua boceta.

A chupo com vontade, deliciando-me no seu néctar dos deuses e

solto mais gemidos ao sentir a língua de Ferd percorrer meu cu. Me entrego

ao momento e ainda chupando a bocetinha de Estére, rebolo no rosto do

meu irmão, com ele se deliciando cada vez mais com isso.
Nos mantemos assim por um longo período e então Estére se afasta,

voltando-se a ficar em pé e indo para trás de mim.

— O que pretende fazer? — pergunto, curioso.

— Você já saberá — sussurra, dando um sorriso.

Fico na expectativa e vejo meu irmão parado, mexendo no pau ainda

mais excitado, Estér se abaixa e em um súbito, passa a língua em mim. Meu

corpo inteiro se arrepia com isso, deliciado ao vê-la chupando meu cu, ela

continua se lambuzando em mim e quando menos espero, leva dois dedos

seus à boca e os umedece, tirando-os lentamente e trazendo em minha

direção.

Sei o que ela irá fazer e então me preparo, empinando ainda mais

minha bunda e sentindo, devagar, um dos dedos preencher minha carne.

Solto um gemido, sentindo um pouco de dor e ela o movimenta com

lentidão dentro de mim, sempre com o sorriso no rosto.

— Está gostando, Fred? — pergunta, continuando a movimentar o

dedo.
— Sim, continue — peço. Estér mantém o ritmo e acelera depois de

um tempo, introduzindo outro dedo dentro de mim.

Continuo gemendo de prazer com isso e me entrego ao desejo que

sinto, sabendo que todos os paradigmas, medos e tabus estão se esvaindo

neste momento. Todos os homens deveriam deixar o preconceito de lado e

se entregar desta maneira as suas parceiras. O prazer seria muito, muito

maior se fizessem isso.

Deixo os pensamentos de lado e continuo sentindo o dedo de Estére

me preenchendo, então, devagar, como uma tortura, ela o retira e se afasta,

ficando de lado, com Ferdinand colocando-se logo atrás de mim.

— Está mesmo preparado para isso? — pergunta lubrificando seu

pênis e minha carne.

— Sim, estou.

Ferd concorda e segura seu pênis, encaixando-o na minha região

anal. Sinto sua pele encostar na minha e um arrepio percorre por todo o meu

corpo, como se fosse uma onda elétrica.


Devagar, para não me machucar, Ferd enfia seu pau dentro de mim e

assim que chega ao fim, encostando sua pele à minha, ele para, acariciando

minhas nádegas e costas.

— Quando eu puder, você avisa — diz.

Concordo e aguardo, pensando no que estamos fazendo neste

momento. Então assinto, dando a liberdade ao meu irmão.

Os movimentos começam lentos, com pequenas estocadas, e solto

diversos gemidos com isso. De início, sinto dor e medo, mas aos poucos

isso vai se esvaindo e se tornam prazer, tesão, desejo e luxúria.

Ele se movimenta mais rápido e solto gemidos, sentindo meu irmão

me preencher por completo e dizer diversas coisas sujas. Me mantenho em

silêncio, aproveitando o momento, então sinto os tapas na minha bunda e

me arrepio por completo com isso. Ele tira seu pênis de dentro de mim e me

vira bruscamente de barriga para cima, voltando a se encaixar.

Encaro-o e peço por mais, maravilhado em saber em como consegui

me permitir coisas novas. Ferdinand continua estocando, enquanto Estére se


mantém parada ao seu lado, se masturbando e gemendo junto conosco.

Seguro meu pau e me masturbo, maravilhado em ver como nossos corpos se

encaixam. Maravilhado em ver meu irmão me foder ao lado de nossa

mulher.

Enquanto me fode, vejo Estér pegar um vibrador e levá-lo até

Ferdinand, ele desacelera as estocadas até senti-lo dentro dele e ela o

controla, os gemidos aumentam ainda mais, assim com suas estocadas

precisas. Sinto-me cada vez mais excitado e chamo Estér com o polegar, ela

sobe no meu colo, encaixando sua boceta no meu pau, enquanto ainda sou

fodido por Ferdinand.

Reviro os olhos de tesão ao sentir todas essas sensações; estou sendo

fodido, enquanto fodo minha esposa e Ferd está com o vibrador dentro dele,

que Estére continua controlando.

O suor encobre nossa pele e aperto os seios de Estér, ela esfrega seu

clitóris, subindo e descendo do meu colo, e Ferdinand continua estocando

em mim.
Ele para os movimentos e devagar sai de dentro do meu cu, Estére se

levanta com as pernas tremendo e fico de pé, indo em direção ao meu

irmão.

Subo no seu colo devagar, sentindo minhas pernas bambearem e

deslizo no seu pau, cavalgando no seu coloco. O tesão aumenta cada vez

mais e ergo meu corpo, permitindo-o estocar com força no meu rabo. Nossa

esposa se aproxima e com um pouco de dificuldade por conta da posição,

eu a fodo junto, com os três gemendo cada vez mais alto, as palavras

lascivas jogadas ao ar, sem nos importarmos com mais nada além do nosso

amor. Fico admirado em como isso é gostoso e Ferdinand anuncia que

gozou dentro de mim.

Saio do seu colo e sigo até seus lábios, o beijando, o puxo com força

até a beirada da cama e lubrifico meu pau, tiro o vibrador e entrego para

Estére, que pega um segundo, introduz no seu cu, e enfia o mesmo do meu

irmão em mim. Gememos novamente, meu corpo inteiro se arrepia com

todas as sensações que isso me causa e enfio, bruscamente, meu pau na


carne de Ferd. Ele chora de prazer no meu pau e me movimento cada vez

mais rápido, surpreso em saber que no minuto anterior ele estava me

fodendo e agora eu estou comendo-o.

Enquanto mantenho os movimentos dentro do meu irmão, que geme

no meu membro, puxo Estére, levando minha boca até seus seios e os

devoro, seguindo com dois dedos para sua boceta.

Estére e Ferdinand gemem enquanto eu os fodo e continuo com os

movimentos cada vez mais rápidos no meu irmão, enfiando com gosto

meus dedos na boceta de Estér e esfregando seu clitóris.

Nós três nos entregamos ao prazer e mantenho as investidas, tiro

meu pau do meu irmão e o viro de quatro. Entro no seu cu novamente e

volto a me movimentar, ainda com os dedos na minha mulher. Os

vibradores agindo em nossas carnes.

Sinto o cheiro de sexo invadir todo o ambiente, e gozo loucamente

dentro de Ferdinand, retirando meu pau e deitando-me na cama, exausto.


Vejo Estére subir por cima de mim e começar a beijar meu corpo,

com meu pau ficando duro instantaneamente. Não demora e ela começa a

cavalgar, com Ferdinand indo por trás e com um pouco de dificuldade,

enfiando seu pau no cu dela após tirar o vibrador. Meu corpo volta a

protestar e sorrio ao vê-los, gozando novamente.

Estére solta um grito de prazer ao chegar no ápice e Ferd goza, com

os dois se deitando ao meu lado.

Seguro as mãos deles e sorrio, com a respiração acelerada.

— Que felizes para sempre maravilhoso!

FIM

.
O celular toca e vejo que é uma nova mensagem do Tinder, me

ajeito na cama rapidamente e pego o aparelho, desbloqueando e abrindo o

app. Assim que entro, me surpreendo ao ver a foto de um homem

mascarado, que acabou de dar match em mim. Dou de volta e não demora,

ele me chama no chat, com o nome de “Dominador”.

Sorrio e entro no seu perfil, analisando bem; ele mora aqui perto.

Ótimo.

Tem quarenta e sete anos, é advogado, CEO e pelo que diz na sua

descrição, dono de um clube, mas não diz do que é.


Com certeza de algo pervertido.

Procuro mais fotos e me surpreendo ao ver que só tem a do perfil,

que não mostra absolutamente nada.

Droga.

Como homem pode ser tão babaca a ponto de não querer mostrar o

rosto?

Qual o sentido de você usar o app de pegação, se não está disposto a

mostrar a porra do seu rosto?

— Com certeza esse babaca é casado, ainda mais pela idade — digo

para mim mesma e vejo que ele mandou “oi, tudo bem?” o que de certa

forma me irrita.

Decido responder e mando um “oi” de volta, mordendo a unha e

tirando o esmalte. Preciso contar isso imediatamente para minha amiga

Estére, se ela souber que conheci um cara, ainda mais que se intitula

“Dominador”, vai surtar.


Penso na minha amiga e sorrio, agora que estamos longe, tudo é tão

diferente, ela continua casada com Frederic e Ferdinand e está com quase

vinte e oito anos, eu com vinte e nove.

Faz sete anos que os três estão juntos e ainda me lembro de tudo que

havia acontecido, até eu descobrir a verdade da pior maneira.

É claro que eu a perdoei, pensando bem, no seu lugar eu faria a

mesma coisa.

Meu celular apita novamente, tirando-me dos meus pensamentos e

vejo a mensagem:

Dominador: O que faz de bom por aí?

Frida: Nada, apenas pensando o porquê um homem como você

esconde seu rosto. É comprometido?

Decido ser direta, não gosto de rodeios, sempre fui assim.

Dominador: Não, sou solteiro, e se quiser, posso mostrar o rosto.


Frida: Eu quero, mas antes me diga, por que se intitula

Dominador? É algum fetiche?

Rio da minha ousadia e vejo que ele está digitando, me sento e

continuo roendo a unha, então vejo a sua resposta.

Dominador: Me intitulo assim porque é isso que eu sou, domino

as minhas transas e as mulheres com quem eu saio.

Frida: Então você é praticamente de BDSM?

Fico surpresa com isso, pensando que em toda a minha vida de

solteira, nunca sai com um cara que faz esse tipo de prática.

Dominador: Sim, você gosta?

Frida: Nunca fiz nada em relação, para ser sincera.

Fico animada com a conversa e ele continua digitando, então vejo

que é seu número de telefone.

Dominador: Caso tenha interesse, posso te ensinar algumas

coisas, me mande uma mensagem.


Frida: Ok, mas se quiser, mande você.

Encaminho meu telefone, pensando que eu não deveria fazer isso e

tomar mais cuidado com esses apps de pegação, ainda mais depois de

Dréck, que quase abusou de Estére, anos atrás, e ainda conversou comigo

no site, mas a ideia de conhecer um praticamente de BDSM me deixa

bastante curiosa.

Fecho o aplicativo, não falando mais, e decido me preparar para o

trabalho, estou morando sozinha e arrumei um bom emprego em um

escritório, até encontrar algo realmente na minha área.

Meus pais vivem preocupados comigo e pelo menos uma vez ao

mês, vou visitá-los na Cidade do Vale Sombrio, que continua horripilante,

já que não para de chover nunca nesse lugar.

Diferente daqui, que tem sol, praia, homens bonitos e sexo garantido.

Me arrumo às pressas e quando estou pronta, pego minhas coisas,

saio do apartamento e sigo para a garagem. Ao chegar, entro no meu carro e


ligo o som, cantarolo a música que toca, sentindo-me animada com isso,

então dou partida e sigo para o trabalho.

No caminho, ouço meu celular tocar e vejo que é uma mensagem do

tal “Dominador”, apresentando-se como Hector, e com uma foto.

A abro, enquanto estou parada no farol, e fico surpresa ao ver o

quanto ele é bonito.

— Uau, se você for esse cara mesmo, é muito gato — digo e rio,

enviando uma foto minha para ele, que corresponde com um coração.

Deixo o celular de lado e continuo o percurso para o trabalho,

ansiando o momento de poder conversar um pouco mais com esse homem.

Para a minha sorte, o trabalho é bastante tranquilo e na hora do

almoço falo com Estére, que diz está bem e morrendo de saudades.

Aproveito para responder alguns e-mails e ao finalizar o expediente, horas

depois, sigo para o apartamento, sentindo-me exausta.


Zapeio pela televisão enquanto espero o lanche chegar e meu celular

vibra, o pego, vejo que há uma nova mensagem de Hector, o Dominador, e

leio atentamente:

Dominador: Podíamos nos encontrar, o que você acha?

Moramos perto, pode vir em casa.

Penso sobre isso e relembro o que aconteceu em relação a Dréck.

Deveria aceitar e arriscar, ou apenas ignorá-lo?

Frida: Acho que não vai rolar, bebê, você é muito bonito, mas

isso não me garante que não é um pervertido.

Envio e deixo o celular de lado, pensando que mesmo tendo

cinquenta por cento de chances de ele ser um pervertido, eu quero conhecê-

lo, o que é uma loucura até mesmo para mim.

Droga, o que eu devo fazer?

O celular vibra novamente e roo a unha ao abri-la e ver sua resposta,

que me deixa surpresa:


Continua em 2023...
Gostaria de primeiramente agradecer a Deus por permitir que eu

consiga publicar este livro. Agradeço aos meus amigos que apoiam os meus

sonhos e a assessoria Fox Literária, que me apoiou e incentivou até o último

momento. A você, caro leitor e leitora, que chegaram até aqui. Obrigado por

me apoiar e me ajudar neste lançamento. Se você não gostou e leu até o fim,

agradeço da mesma forma por ter dado uma chance ao meu trabalho.

Agradecimento em especial a minha amiga Jussara, que me incentiva

a cada dia a não desistir dos meus sonhos. Obrigado, amiga, você é
fantástica.

E à três estrelinhas que partiram desse mundo e me moldaram para

ser esse homem que sou hoje, é difícil dimensionar a dor que sinto, mas

tento me manter forte, por mim e por vocês.

E mesmo que isso pareça estranho, aos meus cachorrinhos que amo

tanto, em especial ao Totó que me tirou da depressão.

Por último, a Beatrice Meirelles, minha persona, que me abraçou

desde o começo e me ajudou a criar esse projeto.

Obrigado, eu consegui.
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Kevin Attis.
[1]
Cidade fictícia.
[2]
Citação ao Livro “Crepúsculo”.

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