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Imagem de capa: Banco de Imagens Livres.
Todos os direitos são reservados. Obra registrada na Biblioteca Nacional.
(cód.21).
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
EPÍLOGO
SINOPSE
Ela não se lembrava de nada. Nem quem era, nem de onde vinha;
nada. Sua memória era um branco absoluto. Não reconhecia o homem que
diziam ser seu marido e que ali mesmo, no hospital, a olhava com tanto ódio.
Não se lembrava de ter destruído seu casamento e raptado seus próprios
filhos. E se recusava a acreditar que fosse o tipo de mulher que diziam ser.
Olhou para a traseira do carro e viu uma janela da parte de trás toda
trincada. Um barulho mais alto e ensurdecedor de trovão cortou o céu e
alguém gritou e balbuciou palavras inteligíveis. Era o grito de uma criança.
Ele havia sido notificado assim que ela pusera os pés na Calábria.
Cada passo dela era monitorado por ele, mas ele não pôde prever o que
aconteceria, e era o que mais o martirizava. Soubera exatamente a hora em
que o carro caiu no barranco. Ele sabia que a polícia estava pronta para
interceptar o veículo que avançava em alta velocidade quando tudo
acontecera rapidamente, sem mais nem menos.
Todo o seu corpo doía. O respirar doía e ela era forçada a usar a
respiração curta, evitando ao máximo o subir e descer natural. A cabeça doía
terrivelmente a forçando a manter as pálpebras inchadas fechadas. Até
mesmo o lençol incomodava nas partes feridas.
— Na Itália, Bárbara.
Ela estava cansada por causa do esforço de falar e ter que lidar com
tanta dor e confusão mental ao mesmo tempo. Todo aquele esforço parecia
demais para ela naquele momento.
O suporte do soro era sua companhia constante. Para onde quer que
fosse, ela tinha de estar ligada a ele. Aplicavam-lhe injeções que diminuíam a
dor e faziam o que era preciso para sua recuperação. Ela estava
permanentemente consciente da dor, mesmo debaixo da alta dosagem de
remédio que lhe davam.
— Quem é Thiago?
— O Guerra. —O médico respondeu, mexendo nos contrapesos que
suspendiam a perna engessada.
— Onde está meu filho, Bárbara? Que tipo de jogo mesquinho você
está planejando desta vez?! — O ódio vibrava no murmúrio áspero.
Mais uma vez ela olhou para o médico em busca de ajuda, mas ele
parecia tão refém quanto ela. Sentia os membros tremerem diante da fúria de
Thiago Guerra, mas não conseguia entender porque ele estava tão perturbado.
— Vou ter meu filho de volta, Bárbara! Não adianta fingir e pode
esquecer essa falsa amnésia. Eu quero meu filho novamente! Nem que eu
tenha que passar por cima de você para descobrir, mas eu quero saber aonde
Pedro está!
Possesso pela raiva, ele parecia enlouquecido. Seu rosto se contorceu
e, num movimento súbito, Thiago a largou com brusquidão e saiu do quarto.
— Ele... esse homem, Thiago... ele me assusta! E... por que você não
fez nada?
— Quem é esse homem que o deixa furioso por ter estado comigo?
De onde foi que eu parti? E por que um soldado parece trabalhar para ele?
Quem é Pedro? Eu não conheço nenhum Thiago Guerra! Tenho certeza
absoluta que nunca o vi antes em toda minha vida! — Ela soluçou,
começando a chorar de desespero. — Como poderia ter feito algo de mau
para o filho dele?
— Alguém levou, Bárbara. Thiago não soube deles durante três anos
inteiros...e agora acontece isso. — Ele olhou profundamente nos olhos dela.
— Você desapareceu com eles, Bárbara. E imediatamente concluiu-se que
você tinha muita coisa a ver com o desaparecimento das crianças. E tem que
admitir que essa suposição era correta. Se não, como explicar seu retorno
agora, com Júlia nos braços? E porque outra razão você não haveria de estar
com Dominic Lang? Ele é talvez a pessoa que Thiago tem mais motivos para
desconfiar!
Ela olhou bem para o médico e achou ter ouvido errado aquelas
palavras. Não seria possível que ela caíra justamente em um lugar aonde as
pessoas tinham uma espécie de irmandade! Thiago também era médico para
que Leonardo Nanderitti o chamasse de chefe? Mas e se fosse médico, que
negócios eram esses que envolviam milhões?
— Eu... eu trabalhava para ele... para Thiago? Era babá das crianças,
é isso? Foi por isso que ele me responsabilizou pelo horrível... — Um soluço
a sacudiu. — Isto é horrível!
— Não.
O médico a olhou por cima dos óculos e se dando por vencido, disse:
— Júlia e Pedro são gêmeos — Ele afirmou tendo mais cuidado com
as palavras. — Você é mãe deles, e esposa de Thiago. Pode acreditar,
Bárbara.
— Mas que tipo de mulher eu sou afinal? Como pude fazer uma
coisa assim tão horrível?
Ele caminhou parecendo ser o dono de tudo ali, e parou aos pés da
cama como um ser superior aos daquele quarto, implacável, com as mãos
dentro do bolso. Ela estremeceu, sentindo a cólera terrível do olhar dele.
— Fingindo ou não, você vai me dizer onde está meu filho. Eu juro!
Nem que para isso eu tenha que te matar!
— Vai ser melhor para ela morrer de medo do que morrer por ter
atravessado meu caminho outra vez. Afinal, não vou ser tão tolerante e
paciente desta vez, e eu quero meu filho de volta! — Ele ralhou
agressivamente enquanto lhe apontava um dedo.
— Não posso lhe dizer como me sinto mal com tudo isso..., mas
posso lhe garantir que não passa de um erro terrível. Eu não sou sua mulher.
Não sei do que estão falando!
Thiago olhou com desprezo as lágrimas que lavavam o rosto ferido e
disforme.
— Não! Não entendi! — Ela sentiu algo nefasto nas palavras dele e
isso lhe deu forças. — Não entendo e nem acredito nessas coisas horríveis
que vocês estão me dizendo. Posso não lembrar quem sou, mas sei que não
sou sua mulher, e sem dúvidas, você deve ser um péssimo pai se nem
consegue reconhecer a mãe de seus filhos. Eu não sou ela! Ela falou por entre
os dentes, depressa, ansiosa para se livrar dos arames que prendiam seu
queixo para poder gritar.
— Você ainda não viu sua cara, garota. Sua própria mãe não seria
capaz de reconhecê-la, se tivesse a infelicidade de ainda estar viva. Mas você
é a minha mulher, sim. Infelizmente, isso é bastante evidente — Ele enfiou a
outra mão no bolso da calça e tirou um bracelete de ouro que sacudiu diante
do rosto dela. — Estava usando isto aqui quando chegou ao hospital.
Lembra? Era de sua avó! Ela deu a você de presente.
Ela pegou o objeto que batera em seu rosto e caíra em seu colo e o
colocou bem perto do rosto, para enxergar bem. Automaticamente a cabeça
doeu com o esforço.
Ela pegou o passaporte que ele lhe atirou com brutalidade. Ela
tomou o documento e mãos e levantou a altura do rosto. A tinta estava
borrada, a fotografia danificada, mas ainda assim, tudo o que ele dissera
perfeitamente legível.
Ele não vinha mais confrontá-la. As únicas vezes que a via era
durante as visitas do psiquiatra, Marcelo Rubio.
Dr. Rubio vinha duas vezes por semana e fazia uma sessão de
psicoterapia que durava em média uma hora.
Thiago vinha com ele e se sentava num canto do quarto, fora da vista
de Bárbara. Ficava absolutamente em silêncio enquanto Rubio fazia
perguntas sempre gentis e que não a perturbavam. Bárbara tinha certeza que
Thiago prestava extrema atenção em todas as suas respostas e perguntas, mas
ele nunca falava, nem interrompia a sessão. Mas não adiantava muita coisa
ele estar meio escondido, a presença dele inseria uma magnitude em qualquer
ambiente.
Dr. Marcelo, jamais havia dito algo sobre a presença de Thiago. Pelo
contrário, o homem parecia ter resistência em falar que era uma consulta
particular e que, portanto, aconteceria apenas entre paciente e médico. Mas
sem saber bem por que, Bárbara desejava que o marido ficasse. Queria que
ele ouvisse o doutor e ela.
Essa pergunta, era facilmente respondida: temia por sua vida. Não
sabia ao certo porquê, mas sentia que todas aquelas ameaças não eram vazias.
Algo lhe dizia que havia algo muito pior por trás de cada palavra.
Ele era muito bonito, sem dúvidas, mas a expressão do rosto não
relaxava nunca. Seus olhos pretos eram profundos e duros, implacáveis e ele
não deixava de encará-la nem se quer pôr um minuto. Estudava cada gesto
que ela fazia, e como teste ela as vezes se movimentava, percebendo o olhar
dele para ela.
Enquanto o médico dizia algumas coisas, ela olhava pelo vidro, para
o rosto bonito e enigmático. De tudo o que o médico ia dizendo, ele nunca
demonstrava emoções. Ela sentia-se insegura, mas tentava ignorar o que a
presença dele causava, o máximo que podia. Concentrava-se apenas em
recobrar a memória, que continha todos os anos de sua vida passada e
também o mistério da desdenhosa rejeição de seu marido.
— Oi, Bárbara. — Ele disse, afinal. — Desculpe não ter vindo antes.
Estava a trabalho numa temporada de desfiles na Espanha. Acabei de voltar.
Vim vê-la assim que soube que estava aqui. Olhe. Para combinar com seus
olhos, trouxe este arranjo de rosas tingidas de azul.
Tão rápido o homem entrou, saiu, sem ao menos olhar para trás.
Bárbara não o viu sair, atenta a seu marido. Thiago Guerra a olhava
bem nos olhos, extremamente tenso, as feições contraídas num grande
esforço, demonstrando claramente o homem perigoso que era, mantendo-se
penosamente sob controle.
— Como? ... Você... Por que você t-tem uma arma? Q- Quem é ele?
— Perguntou assustada, agarrada às cobertas.
Abriu os olhos, mas ele afastou o rosto, mascarando todo o ódio que
sentia. Observou-a um momento com a intensidade de um animal pronto a
dar o bote sobre sua próxima vítima. Bárbara estremeceu, a despeito do
esforço para controlar seus medos.
Ele foi até a porta e antes de sair parou e virou o rosto por cima do
ombro.
— É bom que você saiba que tudo o que fizer, eu saberei. Mas acho
que não preciso lembrá-la. Você já sabe muito bem disto.
E foi embora.
Aquele homem arrogante e decidido tinha o poder de arrasá-la
apenas com a força de suas palavras. Bárbara estava desesperada. Tinha
certeza que sua própria destruição estava nas mãos de Thiago Guerra. Não
confiava inteiramente que o controle dele sobre as próprias emoções fosse
capaz de evitar essa destruição.
Bárbara olhava para ela confusa, sem fazer ideia do que a mulher se
referia.
— Ah, não. Não precisa se incomodar com este homem agora... Ele
não representa nada. — Intuitivamente, ela sabia que a enfermeira dissera
aquilo justamente por achar melhor que Bárbara não remexesse no passado
adormecido.
Capítulo 06
Como iria fazer para conviver com ele, quando tivesse de deixar a
proteção do hospital para voltar para a casa? —
Era um pensamento assustador.
Thiago parecia tão duro, tão cruel! E além disso estava decidido a
vingar-se das ações que ela nem conseguia se lembrar. E era claro que ele não
acreditava na amnésia dela.
Quando Dr. Stern mandou, ela abriu os olhos. Ele tinha espalhado
três fotos sobre seu colo. Tiradas em épocas diferentes, eram retratos de uma
moça surpreendentemente linda.
A estrutura óssea era clássica. Os olhos de cor azul, pouco puxados,
bem separados, sedutores e misteriosos. Os cílios longos tornavam os olhos
provocantes, convidativos. As sobrancelhas eram bem traçadas e negras. A
boca perfeita e os lábios cheios. Os cabelos médios e castanhos com algumas
mechas claras. Muito diferente da atual tonalidade que ela usava.
— Não é tão grave quanto pensei — Stern lhe disse. — Vou ter que
fazer outro trabalho de reconstrução no nariz, lábios e uma harmonização
facial, mas posso quase lhe garantir que o resultado será satisfatório. — Ele
fez uma pausa. — Espero que não se importe, mas acho que por conta das
cirurgias de correção a laser, seu olho perdeu um pouco da melanina ocular.
— Vou ter que levar uma das fotos de perfil e a foto de frente para
estudos — Stern disse, pegando as fotos.
Ela sentiu uma vergonha que nunca tinha sentido antes. Sua vontade
era pular no pescoço daquele homem. Descobriu, então, que sentia muita
raiva dele. Tentou se levantar para protestar, indignada, mas Thiago a atirou
com força e violência de volta ao leito, machucando o braço ainda engessado.
Ela pegou algumas coisas e olhou para cada uma delas, avaliando.
Arrumou cuidadosamente sob a cama a roupa que ela escolheu para sair do
hospital. Era um vestido simples, florido e bonito, de pano leve. Em total
contraste com as outras roupas caras que estavam ali.
— Vou ter alta? — Ela perguntou. — Dr. Leonardo não disse nada
até ontem.
— Sim, você vai ter alta. Já está tudo pronto. Aquela delicadeza de
homem que é seu marido está esperando você. — Marina disse baixo com
ironia, para que os homens que faziam a guarda de Bárbara na porta não
ouvissem, e ambas riram. — E ele não é muito paciente. Portanto, de pé,
Bárbara.
O ato em si, fez com que ela sentisse uma pequena dor aguda na
costela e sua respiração ficasse desregulada. Ela fechou os olhos por um
momento absorvendo toda aquela situação. Para a surpresa dela, Thiago abriu
a porta do outro lado do carro e veio assumir lugar ao seu lado. Ela ainda
suava, sentindo dor, e ele pareceu reparar nisto.
— É claro que não vou lhe contar nada. Por que iria eu estragar o
efeito da sua representação e arruinar o gran finale?
O desdém dele era terrível, mas ela não conseguia entender se era
dirigido a ela ou a última informação. Um pouco dos dois, talvez. Mas os
lábios dele se cerraram firmemente e ele mais nada explicou. Angustiada e
perturbada pelas informações, virou o rosto e olhou a paisagem montanhosa,
deixando as lágrimas caírem.
Estavam chegando quase no topo da montanha quando o carro parou
no meio de um grande espaço aberto. Thiago desceu e veio abrir a porta para
ela.
— Não sei. Mas acho que não desmaio assim tão fácil — ela
informou, com calma e dignidade.
Mas antes que chegasse, sentiu seu braço ser pego com força e ser
puxado para trás. Bárbara sentiu o corpo bater de encontro ao torso de
Thiago. Com violência ele a virou de volta e a levou até a beirada do abismo.
Sem se convencer com o discurso, ele a soltou fazendo com que ela
se inclinasse para frente e quase caísse no abismo.
Olhou novamente para a paisagem a baixo e viu que nada lhe restava
se não recuperar a memória e provar que aquela história toda era um grande
engano. Pelo menos era o que devia ser.
Ela ainda estava magoada pela forma com que ele a tratou diante
daquelas pessoas, mas Thiago não se importava. Ele simplesmente a
empurrou para que ela caminhasse.
— Vamos.
A mão firme em seu braço a conduzia para a grande porta de entrada
da casa. De passagem, ele olhou para alguém que Bárbara não tinha notado e
a chamou.
Thiago pediu para que Gabriela fosse buscar Júlia e ele e Bárbara
adentraram no cômodo no final de um corredor. Parecia uma grande
biblioteca, mas ao reparar na mesa e no computador ultra sofisticado, deduziu
ser um escritório de muito bom gosto e decorado.
— Não reparei que ela fosse tão baixa, Thiago. — Disse de maneira
depreciativa. A voz não tinha sotaque, mas o tom era estrangeiro. — Não que
eu me importe com isso... — Disse retirando as luvas de couro das mãos e a
olhando de maneira êmula. —Sabe que não suporto a simples presença desta
messalina.
— Mamã! Mã-mã!
— Você deve fazer o que acha melhor. Você geralmente tem razão.
Só espero que desta vez não vá se arrepender.
Bárbara estava confusa, tentando com grande esforço manter as
rédeas dos pensamentos. Que homem duro, malvado e implacável! Para ele
parecia natural mantê-la afastada da filha. O que teria feito para que a odiasse
tanto? Sem dúvida era uma coisa terrível desaparecer com os filhos, mas ela
pressentia que isso era apenas uma parte, a culminação de uma série de coisas
que a tinham condenado imperdoavelmente aos olhos deles.
Capítulo 10
Bárbara não entendia por que sua presença era necessária nesse tal
lugar. Nem sabia onde ficava. Parecia-lhe muito mais razoável ficar na casa e
consolar a filhinha. Abriu a boca para dizer isso, mas Thiago não lhe deu
chance de falar.
A menina era a cara do pai. Era inegável que era filha de Thiago. E
era inegável que era sua filha também. Portanto, era mesmo esposa de
Thiago. Essa constatação a deixava nervosa. Secretamente tinha se recusado a
acreditar nisso, mas não podia mais negar.
Quem Thiago pensava que ela era? — Pensou com muita raiva.
Foi assim que Thiago as encontrou quando abriu a porta e saiu junto
com a mulher. Ele arrumando o terno e a mulher os cabelos e o vestido
amarrotado.À pesar se ter escutado o fecho da porta se abrindo, Bárbara não
se moveu ou se quer olhou para o rumo do barulho, mas viu pela visão
periférica eles se beijarem sofregamente e após disto, a mulher ir embora.
Bárbara adiara tanto quanto podia, mas não suportava a ideia de ter
que aguentar a presença de Thiago sem descarregar tudo o que sentia.
— Você acha que pode me dar ordens? Exigir coisas das quais nem
você mesma cumpriu no passado, garota? O tempo que esteve aqui todos
souberam a quão promíscua e traidora você é!
Ela não estava mais gritando. Não tinha fôlego. Estava caída no
chão, esmagada pelo peso dele, o ruído das respirações dos dois se
misturando. Ele prendia os pulsos dela acima de sua cabeça com mão de aço,
o rosto tão próximo ao dela que quase a sufocava. De olhos bem abertos,
Bárbara fuzilou-o com um olhar de ódio, cheio de lágrimas.
Thiago voltou o olhar para Bárbara que ainda tentava lutar contra ele
e se soltar, e, com as costas da mão, acertou lhe um tapa forte e sonoro no
lado esquerdo, fazendo com que o rosto dela virasse para o lado.
Para não lhe fazer coisa pior, ele finalmente saiu de cima, a deixando
no chão, estendida aos prantos.
Capítulo 11
Uma vez pronta, viu que estava alguns minutos atrasada. Levou um
susto quando abriu a porta e viu que não estava sozinha. O tempo todo havia
um "Mad men" parado ali como se fosse um guarda dos aposentos real.
Apressada e um pouco atrapalhada, descobriu que andar naqueles saltos sem
o fecho estar fechado, era mais difícil do que pensava.
A situação era sem saída. Não pertencia àquele mundo. Quanto mais
depressa entendesse aquilo, mais fácil seria sobreviver ali. Thiago só queria
uma coisa dela. E, quanto mais cedo conseguisse revelar o paradeiro do filho,
mais depressa o castigo viria e só de pensar no que Thiago guardava para ela,
arrepiava-se.
Por que teria feito isso? Começava a suspeitar que nunca teria essa
resposta.
— Eu decidi que não quero que leve Júlia para passar os dias no
escritório com você. — Ele disse, olhando-a firmemente. — E, como a garota
parece querer ficar a seu lado o tempo inteiro, nonna, está dividida se
concorda com isto ou não...
Bárbara sentiu o sangue gelar. Todo seu ser repudiava aquela ideia.
Ela estremeceu olhando-o com desprazer. Não conseguia entrar no quarto.
Era estranho, constrangedor e íntimo demais. Thiago percebeu e sorriu cheio
de maldade, parecendo divertir-se às custas do medo dela.
— Vou com você dar uma olhada nela. Mas pode estar certa que não
vai conseguir escapar.
— Pensei que ela tinha chorado — Ela disse baixinho. — Entrei para
ver.
Dura, muda, ela entrou e ouviu a porta se fechar atrás de si. Olhou
para os lados e respirando fundo, dirigiu se até o closet para trocar de
roupa. Para seu desespero, nenhuma roupa de dormir ali era descente. Sem
dúvidas, as camisolas pareciam ter vindas diretamente de um guarda roupa de
atriz de filmes eróticos.
Ela olhou meio confusa para os lados enxergando tudo escuro a volta
deles. Ela se levantou, mas teve muita dificuldade para reconhecer aonde
estava. Lutava bravamente contra o sono quando impensadamente perguntou:
— Que horas são?
—Hora de levantar. E ande depressa. Quero tomar o café da manhã
dentro de quinze minutos. Vista um jeans e traga agasalho.
— Acho que era este sapato que você usava com essa roupa aí.
— É claro que eu não costumava sair para caminhadas matinais
antes, se usava esse sapato aí... — Ela disse rindo, mas contendo-se quando
viu o semblante sério do homem.
Vendo que ela mantinha uma certa dificuldade com os dedos, Thiago
soltou um impropério em sinal de impaciência.
— Deixe que eu amarro. — Ele interveio abaixando se a sua frente.
Bárbara prendeu a respiração, o coração batendo forte ao senti-lo tão
perto. Geralmente ele era uma ameaça e na noite anterior havia provado ser
bastante agressivo, não era sempre que ele parecia ser prestativo. Apenas
quando queria.
Fosse qual fosse a razão que a tinha levado a fazer isso, Bárbara
achava que sua atitude era imperdoável. Sem dúvida deveria haver meios
mais eficazes de punir um homem que não fossem usar dois bebês inocentes
como reféns de seus próprios desejos.
Ela olhou o homem que caminhava lado a lado com a avó à sua
frente. Realmente não podia esperar dele nenhuma consideração, mas e as
violências e ameaças? E a tal punição que tanto falava que lhe aplicaria
quando Júlia estivesse menos apegada?
Se não recobrasse a memória, merecia qualquer castigo que ele
resolvesse impor? E se caso aceitasse, teria de cumprir com o castigo sem
protestar ou se quer pedir clemência?
Sabia que Thiago havia colocado gente para traçar todos os seus
passos antes de embarcar no Brasil para a Europa com Júlia e o tal de
Dominic Lang, mas ela não fazia ideia dos progressos da investigação.
Tudo ali era muito bonito e bem cuidado. Ao longe se via os barris
em carvalho usados na preparação do vinho e pessoas praticando a pisa nas
uvas, dentro de grandes lagares de inox. Thiago conversava de maneira
polida com a avó e parecia fazer aquilo somente para satisfaze-la. Era claro
que seu ramo de negócios eram outros.
Bárbara ouvia tudo interessada, louca para fazer perguntas. Mas não
queria chamar atenção. Estava fascinada. A paisagem era belíssima, e o
cheiro era uma delícia. Era revigorante estar ali em contato com todas aquelas
belezas e surpreendentemente, ela se sentia bem. Se pelo menos pudesse
lembrar como era sua vida antes naquele lugar tão lindo...
— Nos seis meses logo depois que os gêmeos nasceram você nem
olhava para eles. Sentia nojo ao amamenta-los... Fico surpreso em ver que se
importa com Júlia agora. Espero que se importe com Pedro assim também.
— Não posso negar que a Júlia ama você, e não posso negar que
você demonstra amor por sua filha. E isso, é absolutamente surpreendente
vindo do seu caráter..., mas eu continuo a odiando, e não acreditando em
nada que venha de você.
Ela estava confusa e atormentada pelas palavras sem piedade dele.
Thiago achava impossível ela amar os próprios filhos. Mas o espectro do
filho desaparecido a atormentava e dizia que ela realmente não os amava.
Olhou para Thiago, aquele belo homem em forma de monstro que a assolava,
deixando-a depressiva e magoada a cada dia com tantas perguntas sem
resposta.
Ela já sabia que deveria sempre esperar naquela sala sem graça. O
tédio era tanto que ela já podia jurar que o assento tinha a anatomia de seu
bumbum.
Sem pensar duas vezes e com o coração na mão, andou pelo saguão
de entrada e entrou no elevador parado. Mas antes que a porta se fechasse ela
teve o último vislumbre de uma das secretárias com a mão na boca e olhos
assustados, e o "Med men" correndo em sua direção para tentar conter o
elevador.
Mal acreditando no que fizera, Bárbara se olhou no grande espelho
do elevador e quase riu da satisfação. Com a respiração acelerada pela
adrenalina de ter fugido daquele ambiente humilhante, ela deu se conta de
que não fazia ideia de onde ir. Mas pelo menos não ficaria ali naquele
saguão, presenciando o entrar e sair de mulheres de dentro da sala de
Thiago ao longo do dia, e os olhares de pena e constrangimento direcionados
a ela pelos funcionários.
Mas alguns metros perto de um dos tonéis, estava aquele que fazia a
guarda dela no saguão, de quem Bárbara fugira. O homem estava caído no
chão e de olhos bem abertos, a cabeça pousava em uma poça de sangue
grosso.
—Ele teve o que mereceu. E agora é a sua vez. Mas antes, quero que
me responda.
Ele olhou para Bárbara com dúvidas, ainda sob influência do ódio
descomunal que sentiu assim que soube que a esposa fugiu do saguão. A
sensação de revolta sobrepunha a qualquer outro sentimento que não fosse o
de causar lhe dano e sofrimento.
Thiago.
Vermelho sangue. Esta foi a cor que Thiago enxergou. Quis tirar a
vida do soldado ali mesmo dentro de seu escritório quando ele lhe deu a
notícia. Thiago encarou o soldado que se mantinha firme na postura, mas
claramente havia a apreensão e um clima de tensão no ar.
Um comboio de homens entrou e alguns deles arrastaram a mulher
que estava ali para fora. Thiago respirou fundo e friamente deu ordem para
um dos soldados chefes que adentrara junto com os outros.
Bárbara.
Ali estava ela. Novamente no hospital. Só que desta vez, sabia bem o
motivo e a causa.
Teve a ajuda de Marina, que, o tempo inteiro segurou lhe a mão boa,
e um pano que Bárbara colocou na boca para abafar os gritos de dor. Os
dedos, um a um, iam sendo voltados novamente para o seu devido lugar e
neles, colocado talas.
Mas Bárbara não ligava para nenhuma das informações médicas que
lhe eram esclarecidas. A dor presente na alma, ainda não havia sido aplacada.
Por mais que lhe tivessem medicado, e estivesse sob o efeito de calmantes e
relaxantes, por mais que tivessem feito curativos em suas feridas e contusões,
por dentro, Bárbara sentia se violada. A violência sofrida e a consequência
disso, era a pior parte. Para isto não havia remédio.
Thiago.
Ficar sem ela fez com que Thiago voltasse para a antiga rotina de
sempre, mas a comichão que sua presença deixou incomodava o ao extremo,
ainda mais depois de ter chegado em casa sem Bárbara e ter tido que lidar
com Júlia sentindo falta da mãe.
— Precisa de ajuda?
A pergunta foi um choque. Bárbara olhou para Thiago e viu que ele
mantivera a mesma feição. Thiago parecia apenas ser cavalheiro, mas sem
dúvidas, o que Bárbara havia visto nele, nem beirava aquele homem ali de pé
à sua frente. Com um riso nervoso de descrença, Bárbara perguntou:
Logo após, Bárbara viu que não fora uma boa ideia questioná-lo
daquele modo. Num instante a feição de Thiago endureceu-se e Bárbara
repreendeu-se mentalmente pela frase impensada.
Ela buscava com inquietação a melhor posição para que a perna não
doesse tanto. Thiago, que já não mais olhava compenetrado para a tela do
celular, assistia tudo em silêncio e de cenho franzido.
À medida que ele teve a visão das pernas tampadas, subiu o olhar
descaradamente por todo o corpo de Bárbara e estudou com o olhar cada
parte do corpo feminino a seu lado. Completamente constrangida pelo
homem se quer disfarçar que avaliava seu corpo parecendo a procura de algo,
Bárbara, virou se um pouco e olhou pela janela.
O trajeto do hospital até a mansão demorava mais do que ela se
lembrava. No caminho, Bárbara reconheceu o ponto onde Thiago havia
parado da última vez para pressioná-la a recobrar a memória que ele mesmo
julgava ser recobrável. Bárbara arrepiou-se ao recordar da altura de onde ela
e a filha haviam caído. Era um milagre estarem vivas. Lembrar-se do local do
acidente, a fez automaticamente lembrar-se de Júlia.
Bárbara dizia ao soldado mudo que não precisava de ajuda para subir
a escada quando fora interrompida pelo homem que ela reconheceu ser o
mesmo que acompanhava Irma.
“Mas será que ela realmente era como ele dizia? ” “Será mesmo
que ela necessitava tanto assim de homens? ”
— Você não será comida por nenhum homem, porque não sairá de
perto das minhas vistas. E ainda que saiam, eu saberei exatamente o que está
fazendo, quando está fazendo e o quê estará fazendo. E, é bom, que você não
esqueça disso.
Um silêncio longo e pesado caiu entre eles.
Capítulo 16
Podia estar sem memórias, mas sabia que o que ele fizera fora
extremamente errado e injusto. Ele se quer conversar a com ela sobre o
assunto e Bárbara nem saberia dizer se francamente, gostaria de conversar
sobre o atentado sofrido. Não sabia nada sobre o marido, mas certamente,
sabia que não eram um homem dado a conversas.
— Eu senti que Júlia teve uma boa reação com sua aproximação. —
Marietta disse a ela de repente ainda olhando fixamente para um ponto e
perdida em pensamentos.
Não se deixou abalar. Decidida, soube que naquele dia era mais forte
do que pesava e mais resistente do que sabia. Jurando a si mesma que logo
estaria dormindo em uma cama, Bárbara, levantou-se e arrastou-se pelos
degraus.
Capítulo 17
Thiago.
Momentos antes...
Thiago olhou para o relatório onde tinha uma foto da tal mulher cujo
nome era Rita. Era uma versão madura de Bárbara. Muito bonita, mas de
traços bem mais simples e mais cansados.
Era estranho uma tia parecer-se tanto fisicamente com a sobrinha.
— Thiago, o relatório de Spencer diz que Rita, tia de Bárbara, era
irmã gêmea da mãe de Bárbara.
Bárbara
— Nasci nesta casa, senhora. Minha mãe foi governanta e amiga fiel
de Marietta até o último dia de sua vida. Enquanto a pergunta de como a
senhora e seu esposo se conheceram... está eu não sei dizer. — Disse a moça
de forma simples.
— Não! Não faça isso! Não faça isso! — pedia veemente. Mas
Thiago não a escutava.
Ele tentava estapear, se debater, morder, mas tudo era em vão. Ele
apenas emitia pequenos rosnados em protestos quando os movimentos dela
adiavam a chegada da mão dele nos lugares onde queria.
Já sem paciência, Thiago tapou lhe a boca com a mesma mão que
outrora comprimia lhe os seios.
— Não quer se sentir novamente desejada, Bárbara?
— Vou te foder do jeito que uma puta como você merece. — Ele
disse enquanto esfregava sua ereção contra ela, evidenciando claramente ao
que se referia e ao que estava prestes a cometer.
No momento em que ele a penetraria sem escrúpulos ou qualquer
preparação. Pequenas batidas de mãos na porta e chororô descomedido
retirou Thiago de toda aquela facínora nefasta e bestial.
— Papai? Papai? — A vozinha de Júlia rompia as portas duplas e
pesadas do escritório e quebrava toda o ímpeto e ódio que sentia naquele
momento para causar danos em Bárbara.
Excitado, ele olhou para o rosto que agora parecia sereno. Bárbara
estava desmaiada. Mas para Thiago, o ocorrido não anulava o que ainda tinha
em mente. Ele sem dúvidas tinha plano de acordá-la e continuar o que Júlia
atrapalhou.
Abaixando se, retirou o tecido rasgado que agora, cobria parte das
nádegas volumosas e bem feitas, Thiago ia dobrando-se, mas de repente
parou. Olhando com atenção para um ponto específico na nádega esquerda de
Bárbara.
Naquele momento, Thiago levou um choque quando se deu conta de
que a mancha de nascença escura e do tamanho de uma ervilha que Bárbara
possuía, havia sumido.
Capítulo 19
Era de desconfiar. Sua intuição sempre lhe dizia que algo estava
errado e ele sempre ignorou. O ódio que sentia a todo momento nublava a
realidade. A verdade tinha estado o tempo inteiro ali, à sua frente. Mas ele se
quer fora capaz de enxergar!
Com raiva, Thiago pensou em adentrar no quarto e tirar a limpo toda
a estória, mas parou no meio do caminho. Sua mente lhe dizia que seria
necessária uma certa sagacidade se ele quisesse destrinçar todos aqueles
paradigmas.
Diogo ficou mudo por alguns segundos. Achava que de tudo o que já
havia visto Bárbara fazer, aquilo fora inovador e não era elogio. Bárbara era a
rainha dos absurdos, mas colocar alguém em seu lugar já era novidade
demais.
— Como vai viajar, porra? E vai deixar essa mulher aí? — Diogo se
zangou. — E Júlia? Como que fica nisso tudo?
— Pena que o tiro não saiu pela culatra e te acertou, filho da puta. —
Khalil respondeu com a respiração entrecortada.
Esta era sua jogada de estratégia. Fazer dinheiro aonde quer que ia.
As jogadas administrativas de Thiago, além de muito expansivas, eram
demasiadamente lucrativas. Este sem dúvida era um de seus destaques na
chefia da Calabresa.
Thiago jamais tinha casas nos países onde frequentava, a não ser, as
que ganhava como presente. Ele era acostumado a comprar hotéis de luxo,
restaurantes e lojas, tudo isto em outros países, a fim de transforma-los em
lavagem de dinheiro. E o hotel que estava hospedado, não era muito
diferente.
Thiago sabia que ela não apertaria botão algum. Ela não era hóspede.
E ele podia sentir o ambiente mudando e o ar pesando. Os seios arfantes da
mulher, e o lábio entreaberto já lhe diziam muito.
— Dentro de você.
Thiago apreciou o fato de que ela gostava de sexo tão sujo quanto
ele e em nenhum momento se opunha ao que ele queria. Era insaciável.
Bárbara era uma deusa do sexo. E de fato, essa fora a grande química que os
uniu durante os dias em que ficaram juntos ali no Brasil e posteriormente a
bordo do SWK note no meio do oceano Atlântico...”
Ela olhou para o corpo debaixo das cobertas. Estava quase nua. Suas
roupas estavam esfarrapadas e rasgadas. Afastou as cobertas e tocou a
intimidade procurando indícios de pós violação: nada. Não sentia dor a não
ser a dor de cabeça terrível que lhe afligia. Foi para o banheiro trancando a
porta. Retirou os trapos que restaram do vestido e os jogou no lixo. Nua, se
auto examinou. Olhou para o corpo e se ateve aos detalhes, em busca de
possíveis violações.
Será que eles fingiam não escutar nada que Thiago fazia com ela?
Ou será que eram tão bons assim em ignorar? Como que Marietta exigia algo
que ela simplesmente não tinha a mínima coragem de fazer no momento?
Ela havia se esforçado para conseguir uma boa relação com a avó de
Thiago. Algumas vezes, ao brincar no jardim com a filha, Marietta as
acompanhava; ficava de longe, nunca se misturava, apenas observava e ria
discretamente de toda a algazarra que Júlia e Bárbara faziam.
Tais reações, fizeram com que ela ficasse ainda mais desconfiada e
incomodada. Todos pareciam vigiá-la discretamente, e isso era feito de um
jeito sufocante e horrível.
Sentiu que Thiago subia na cama com certo esforço. Ele parecia
estar com o peito cheio e respirava com certa dificuldade, fazendo sempre um
chiado estranho. Um sentimento de curiosidade a invadiu e ela abriu os olhos,
mas estava virada de costas para ele.
Olhou para cima, para o rosto dele, e Thiago apenas a encarava, com
olhos semicerrados e sério. Parecia ter problemas para manter-se de olhos
abertos. Bárbara olhou o que tinha na maleta e concluiu que o que havia ali,
daria para controlar bem a situação.
— Obrigado.
Thiago.
Bárbara.
Talvez ele nem tenha percebido e então poderia sair de cima sem
chamar a atenção. — Pensou.
Levantou, levemente a cabeça a fim de sair de mansinho, mas não
aguentou e olhou para cima. Thiago olhava para ela parecendo levemente
divertido com o que via.
— Continue, não estou reclamando.
— Júlia está animada para brincar na neve. Eu disse que para isso
seria necessárias roupas de proteção.
Naquele dia, ao ser tratado bem por uma mulher que se quer ele
realmente conhecia e o qual ele fizera tanto mal, Thiago provou algo
diferente de tudo o que estava acostumado ou conhecia. Ali houve uma
espécie ínfima de redenção, mas que ele jamais reconheceria como sendo a
sua.
O jeito com que ela caíra, fez com que o corpinho saísse deslizando
para um pouco mais longe da beirada. Bárbara levou as mãos à boca com o
susto, soltou um grito e correu para a beira do lago à espera de que o gelo não
quebrasse e a filha afundasse. Cada segundo dentro d’água era fatal. Dois
minutos dentro do lago seriam suficientes para matar a criança.
Bárbara tinha o coração disparado e o rosto, pálido. No desespero do
momento e ao ouvir o choro da filha, Bárbara adiantou se até a beira do lago.
Quando ia entrando um dos soldados gritou:
Meia hora para elas seria o suficiente. Surya não estava ali à passeio,
e ele bem sabia disso. Apesar da boa intenção era preciso cautela e prudência,
afinal, ela se mantinha perto de mais de Júlia e ele ainda não sabia se era real
ou fingimento.
Estava Thiago e Diogo no meio do caminho quando receberam um
chamado dizendo que a pista principal estava sendo interditada, pois grandes
blocos de neve haviam caído da montanha e bloqueavam a passagem.
Xingando, Thiago deu a volta na pista e voltou novamente,
acompanhado dos carros de escolta e de Diogo. Seus planos de ir para a sede
não seriam frustrados pois para isso, ele usaria o helicóptero.
De longe, apesar da névoa que cobria o local, ele pôde ver Bárbara
sobre o gelo com a menina no colo, um soldado dando a volta no lago em
busca de ajuda, e o outro soldado que avisara do incidente pelo rádio
segurando Gabriela, impedindo-a de entrar no lago.
Gabriela estava em choque e paralisada, quando Thiago se
aproximou o soldado se afastou dela e a jogou de qualquer modo no chão.
Thiago gritou por cima do ombro dando ordens para que puxassem a
corda e rastejou buscando aproximar-se, mas o gelo estalou alto e o trinco no
gelo expandiu.
— Não chore, não quero que chore... Olhe, olhe para mim. —
Thiago pôs as mãos no rosto completamente gelado da mulher assustada e de
lábios e extremidades roxas. — Vou te impulsionar e você vai firmar na
corda, depois eu quero que você apenas se prenda a mim assim como acabei
de lhe dizer, certo?
A mulher assentiu completamente trêmula de frio. Com engenho,
Thiago trouxe Bárbara para perto e a prendeu junto a seu braço, ele mesmo se
agarrou a escada de corda, e subiu a trazendo consigo. Com força, prendeu-a
pelo diafragma junto ao corpo. Thiago tinha plena convicção de que não a
deixaria escapar de forma nenhuma, só não contava em sufocá-la durante o
trajeto até a margem.
Ela não entendeu ao que ele se referia, mas também decidiu não
perguntar. Thiago olhou para trás em busca do soldado chefe, e o viu dando
ordens a alguns outros.
— Você vai ter que se esforçar. Nossa filha está nos esperando.
Sabemos como Júlia é. Vai ficar assustada se ver a mãe entrando em casa
desmaiada.
Ela sabia que Júlia jamais vagava pela casa sem a presença de um
adulto, e a probabilidade era ínfima de ver a mãe entrar. Ela sabia que
Thiago usava aquelas palavras para instigá-la, convencer, a ficar acordada.
Thiago olhou para ela e logo depois para o soldado que dirigia o
carro concentrado na estrada. Geralmente os carros que ele usava dispunham
de um vidro de proteção que bloqueava a visão e audição do passageiro com
o condutor do veículo, mas aquele veículo em questão, não tinha.
— Marietta.
— Está melhor?
Bárbara podia jurar que ela não o afetava, mas não podia dizer o
mesmo dela. O roçar de pernas ao entrar na banheira, a forma inconsciente
com que ele emitia sons graves ao se deliciar com a água, o corpo másculo e
a testosterona que exalava, o quanto era bonito, apesar de sério, e o quanto a
barba cerrada o deixava ainda mais charmoso. Tudo isso mexia com sua
libido e fazia com que ela entrasse em completa negação. Ela não poderia
pensar em transar com ele! Não depois de tudo! Era obsceno!
— E você?
— Estou muito mais alerta. Além do que, sou bem maior e fiquei
menos tempo na água.
— Ela é nova, Thiago. Uma boa menina e a culpa não foi dela. Eu,
como mãe, devia estar atenta, mas ao invés disso, fui eu quem tirou Gabriela
do foco. A culpa é minha, Thiago! Eu gosto dela e Júlia também... por favor?
Como resposta ela apenas teve suas mãos retiradas com brusquidão e
o virar de costas, deixando-a falar completamente sozinha. Thiago saiu do
quarto e bateu a porta ao fechá-la, indicando sua saída repentina.
Ali, sozinha no grande quarto e sentada por cima das pernas naquela
cama, Bárbara entendeu que apesar de toda a tensão e atração sexual, e de tê-
la salvo daquele momento no lago de gelo, Thiago ainda continuava sendo o
mesmo algoz de sempre e era preciso que ela se lembrasse sempre disto.
Com vontade, engoliu até onde conseguia, sem deixar se levar pela
gana de querer engoli-lo completamente. Ela sabia que o tamanho do
membro, comparado ao espaço em sua boca e garganta, não permitiriam a
proeza.
Controlando-a pelos cabelos, Thiago puxou sua cabeça para que ela
o olhasse. Estava tão absorta e concentrada no que fazia que ao menos
percebeu que ainda mantinha os lábios entreabertos.
— Quero que olhe para mim enquanto eu estiver fodendo essa boca
gostosa.
Um tapa não muito forte ele deu em seu rosto, mas que serviu e a
deixou ainda mais excitada e com expectativas do que aconteceria a seguir.
— Sim. — A voz dela saiu quase que implorando, ansiosa para que
ele viesse a fazer logo o que tinha em mente.
— Porquê você me fez isso?! Por que você fez isso com a gente,
Su?!
"Su?" — Perguntava-se.
Ele acreditava que Surya, até então, nutria simpatia e denotava jeito
com crianças, mas naquele dia, ele enxergou algo além disso. Ela era mãe,
ainda que não biológica, mas tinha sentimentos de mãe pela menina, isso não
tinha como fingir.
Seu pai, jamais aceitara seu jeito de ser, e por isso, jamais se referia
a ela, ou se quer a olhava. Sua mãe era uma artista incompreendida, sua
família jamais a incentivou ou deixou seguir carreira, seu marido jamais
deixou que seu talento fosse desenvolvido e ultrapassasse as paredes de casa.
Maysa parecia ter nascido para a arte, mas ser bloqueada pela máfia,
culminara para sua total tristeza. Numa desesperada tentativa de salvar o
casamento, ela conseguiu chamar infimamente a atenção do marido e
engravidou de seu segundo filho.
Logo, ele foi separado para o treinamento que mudaria tudo. Thiago
ainda se lembrava dos gritos de terror e desespero que a mãe emitira quando
ele fora levado aos oito anos para o Metamorfose. Até ali, ele nunca tinha
visto nenhum outro esboço de reação da mãe a seu favor, à não ser alguns
sorrisos tímidos, tristes demais para chegarem até os olhos.
Um dia fora achada morta por seu pai. Os pulsos cortados, sangue
para todos os lados, havia cometido suicídio. No fim, ela deixou uma carta de
despedida, onde narrava suas amarguras e tristezas internas.
A partir dali ele aprenderia duramente a ser criado para não sentir,
não chorar e principalmente: ensinado a não sentir piedade; O amor e a
extensão do calor de uma mãe ele nunca sentira.
— Ela quem?
— N-não, senhor.
— Tive vontade de abrir caminho no gelo com sua cabeça. Mas vou
poupá-la.
Ali, completamente impune e sem poder lutar, ela apenas aceitou seu
destino. Era fiel à famiglia e havia sido ensinada desde sempre a morrer e
viver em nome da Calabresa. Para ela, realmente era uma vergonha ter
falhado o que acabou por culminar na aceitação do que acontecia.
Assim ela repetiu enquanto o segundo "F" era desenhado com faca
em seu braço.
— Que eu sempre saiba onde te posso ser útil, e com a vontade de
Deus, esteja sempre à completa disposição da Máfia Calabresa.
— Sim, chefe.
Para Thiago, era a relação mais conveniente que tinha. Ela nunca
soubera de seus negócios; nunca perguntava sobre nada; jamais se envolvia
em escândalos na cidade e era boa de cama. Curtiam um ao outro e isso já
bastava.
Ao chegarem em frente ao prédio, saíram do carro rapidamente,
ansiosos pela cama para que finalmente dessem vazão ao tesão que sentiam.
Entraram pela porta do apartamento se beijando, indo para o quarto
dela entre gemidos, mãos bobas e urgência em retirar cada empecilho de
roupa, quando o telefone dele tocou.
A emoção do que ouviu fora tanta que Thiago caiu sentado na cama.
O coração em disparada e a respiração ofegante.
— Como sabe, através de uma varredura por GPS, fizemos uma
busca por toda a extensão do Estado do Goiás. Achamos com muito custo
uma propriedade afastada, com plantações de soja e laranjas... Até então, não
sabíamos de quem se tratava o dono desta área, mas há dois dias,
descobrimos ser dos Lima... É nela que vive Rita, Ernesto, — marido de Rita
— e Pedro... — Vendo que Thiago não falava nada, Spencer parou um
momento, dando tempo a ele absorver tudo. — Eles cuidam de Pedro como
se fosse os avós, Thiago...
As emoções o sufocavam e a vontade de socar o rosto de Bárbara só
crescia juntamente com o ódio daquilo tudo.
— Continue falando...
— A área só poderia ser acessada de helicóptero ou avião. Me passei
por seu representante, e intermediador na compra de alguns quitares. Marquei
um encontro na fazenda junto com alguns advogados e Ernesto Lima...
— Vá direto ao que interessa, eu já soube disso há dois dias.
Sentia que sua função não se resumia apenas em ser mãe, mas ela
nunca descobria a fundo, o que realmente era. Para sua alma era como se não
bastasse ela somente estar ali presente, ela tinha que se envolver com outras
coisas.
Estar ali, trancada, sem poder sair, por causa da neve, e das
restrições de Thiago, mexiam com ela. Outro dia, tentara escapulir por um
momento até o estábulo, estranhamente, para ela, era confortável estar com os
animais, apesar da presença de Roger, o tratador de cavalos.
Ela ainda sentia na pele, as consequências de ter se encontrado com
ele e quase ter sido estuprada por Thiago. Por esse motivo, sempre achava
uma brecha e aparecia no estábulo quando ele não estava temendo sua
presença e repugnando quaisquer investidas da parte dele.
Sentir o cheiro costumeiro que para muitos eram ruins, mas que para
ela não incomodava. O cheiro, pelo contrário, despertava lembranças que ela
não fazia ideia do que eram.
Enquanto ela ficava parada sem acreditar no que via, e no peso que
saia de seus ombros, Júlia vinha em sua direção correndo, feliz demais. Com
carinho, Bárbara ajoelhou-se e encheu a filha de beijos, grata demais por
Gabriela estar sã e salva. Apesar da euforia de Júlia, Bárbara mantinha a
atenção sempre na garota parada a sua frente.
Ao se pôr de pé, Bárbara viu que Gabriela sorria de leve, como
sempre. E sem se ater aos costumes frios de sempre, foi até ela e a abraçou
forte, realmente feliz e emocionada em vê-la. O abraço foi retribuído e
Bárbara deixou cair algumas lágrimas de alívio. Gabriela estava um pouco
vermelha, tímida como sempre.
— Gabi... — disse a menininha apontando para a mulher a sua
frente, confirmando os pensamentos de Bárbara.
A menina não dissera nada, apenas ficou calada, temendo ter dito de
mais.
— Tudo bem. Nada do que me disse eu vou contar... — Sentindo
que precisava de ar, levantou-se e passou as mãos no rosto, perturbada
demais. — Consegue cuidar de Júlia?
— Sim, senhora. Minha recuperação foi muito boa e total.
Com o aplicativo que permitia ele ter acesso às câmeras, viu que
Surya estava acordada, àpesar de ser madrugada na Calábria. Olhava pela
janela, parecendo estar com os pensamentos longe. Num certo momento, ela
começou a andar de um lado para o outro e agitar os braços, provavelmente
sentindo algum sintoma de ansiedade.
Thiago olhou a cena intrigado. Era estranho para ele como que tudo
por ali parecia colorido. Não existia o completamente cinza, obscuridades, ou
se quer os pensamentos ruins misturados ao vermelho sangue de raiva e
luxuria que o cercava.
Ali, naquela fazenda, ele experimentou enxergar a mistura de todas
as cores que pareciam dar vida e aquecer. Era completamente diferente da
costumeira frieza que conhecia.
— Aceitamos sua proposta...— disse Rita encarando-o de modo
firme.
Era noite e Thiago havia voltado para a casa onde estava hospedado.
Marietta achara um completo absurdo ficar no Brasil, mas não protestou mais
quando Thiago dissera ser o necessário a se fazer, caso quisessem recuperar
Pedro sem maiores danos.
— Diga, Thiago.
— Está captando esta chamada de vídeo?
Era uma batalha contra si mesmo que ele lutava. Não era segredo a
ninguém que ele nunca fora um homem de muita paciência, mas esperar o
tempo de Surya recuperar a memória ou o de acharem rastros de Bárbara e
Dominic Lang, era o que mexia com seus demônios internos e o atiçava.
Nesses momentos ele enxergava tudo vermelho.
Nunca tinha sido bom e havia sido criado para agir de maneira fria e
calculista. Mas toda aquela situação mudara a partir do momento que se viu
imerso em todos aqueles problemas. Não tinha como ser neutro.
Bárbara o olhou e sua raiva, ao ver que ele estava ainda mais bonito,
só aumentou.
— Estou bem. Não sinto dor, apesar de não saber uma opinião
médica sobre o que realmente houve...
Alfinetou um pouco, tentando obter alguma informação do porquê o
médico não tinha vindo vê-la, e porque ele a havia enganado.
Ela estava com raiva. Raiva por ser privada de acesso à um médico;
raiva por ser ligada a um libertino que não respeitava a própria família e não
dizia aonde ia; raiva por estar enjaulada como uma fera; raiva pelos castigos
que ele impunha a ela simplesmente porque queria, e raiva por fazê-la sentir
raiva.
— Gabriela. — Thiago falou de repente fazendo com que a menina
desse um pulo no lugar.
— Ela sempre esteve aqui, Thiago. Só não quero permitir que você
me controle a partir do que acha que é melhor para mim.
Bárbara tremia com medo, mas levantou o olhar e viu que ele a
olhava de maneira implacável.
— Fale assim de novo comigo e será você a ser comida por
cachorros.
Thiago largou seu braço e afastou-se. Ela ainda sentiu ardência e
dor no local onde ele apertara.
Ao escutar o primeiro soluço alto, viu com espanto que ela mesma
fora quem emitira. Andou ainda mais depressa ignorando tudo a sua volta.
Subiu as escadas rapidamente e logo escutou os passos de Thiago vindo atrás.
Apressou- se em desespero, mas foi pega no corredor e encurralada contra a
parede.
— Não me vire às costas! — Ele falou agressivamente entre dentes,
mas estagnou assim que a viu chorando.
Vendo que não tinha por onde se desvencilhar, ela apenas encostou a
cabeça e chorou em desespero. Não sabia o que estava acontecendo, se era o
isolamento, se era a perda de memória, se era a falta do sol, mas ela sentia
tristeza, desespero e ansiedade em demasiado.
De modo carinhoso ele passou as mãos por seu cabelo e a confusão
do gesto só a deixava ainda mais apreensiva e com medo. Era como se ela
esperasse a parte ruim da carícia, a dor; mas ela não veio.
Como uma tempestade que se dispersa, pouco a pouco, ela foi se
acalmando e relaxando. Depois de algum tempo, ali, de pé, encurralada pelo
corpo dele contra a parede, sentindo o subir e descer da mão que passeava em
suas costas, ela levantou um pouco a cabeça e Thiago a encarou, passeando o
olhar por seu rosto.
Sem dar muito palco aos pensamentos, logo sentiu a mão dele subir
de maneira terna e ser colocada lado a lado em seu rosto, prendendo-a
enquanto aprofundava mais o contato.
Sentia o pau pulsar dentro das calças, mas não conseguia parar de
dar prazer aquela mulher que tanto fora seu martírio nos últimos dias.
Quanto mais a chupava e provava de seu gosto, mais queria ter o gosto dela
em sua língua.
O membro dele quase não fechava em sua mão. Passou o dedo por
cima da cabeça espalhando o pré-gozo que havia ali. Abrindo os olhos,
Thiago olhou para baixo bem a tempo de vê-la colocando o dedo que acabara
de passar em seu membro na boca e gemer provocante.
A madrugada havia sido muito quente e ela quase pensou que não
daria conta das exigências de Thiago, do tanto que ele a requereu. Mas se
surpreendeu ao constatar que quis ele do mesmo modo avassalador e intenso
que ele a queria.
"Mas se o sexo entre eles era tão bom e quente, por que eles não
tinham dado certo?"
Ela tinha certeza que outrora, com a memória saudável, se fosse
casada com um homem daqueles, e tivesse tido filhos maravilhosos com ele
— como era o caso — ela certamente estaria empenhada em fazer com que
tudo desse certo. Era do feitio dela querer fazer com que um casamento desse
certo.
Era loucura como Thiago a marcara, e como ela se sentia imoral por
ficar tão excitada apenas com as lembranças e a sensações das mãos dele por
todo seu corpo.
Olhou em dúvida para a porta afim de saber se mais uma vez estaria
ela trancada e sozinha naquele grande mausoléu luxuoso que se tornara a
mansão. Desconfiada, pôs a mão no trinco da porta e se surpreendeu a vê-la
aberta.
Após tomar café sozinha, Ileana a informou que Thiago estava
chamando-a até o escritório. Ileana continuava tratando-a de maneira distante
e polida, mas Bárbara não se importava. Aceitava o fardo.
Era a primeira vez que ela ia ao escritório de Thiago depois da
tentativa de estupro que sofrera dele. A simples visão da grande porta pesada,
já lhe causava certa aflição e faziam as mãos suarem. Bateu e após permissão,
entrou.
Desta vez, foi a vez de ela passear os olhos pelo corpo dele. Bárbara
sentia a tensão sexual entre eles, e a constatação disso era o volume
indisfarçável no meio das pernas dele.
Cada gesto dele ela ia se sentindo cada vez mais tentada. Thiago
aproximou-se de modo pretensioso e ficou a sua frente. Apesar de ser bons
centímetros mais alto e a deixar um pouco intimidada, ela não se deixou
abalar. Agora que tinha plenos conhecimentos de como o afetava, usaria isso
a seu favor.
Não reivindicaria nada, nem iria lhe imporia condições, pois sabia o
seu lugar, mas esperava ganhar um pouco mais de confiança por parte dele e
de quebra, a permissão de fazer o que quisesse.
O ar estava tão denso e excitante que ela pôde jurar que iriam se
beijar quando Thiago de repente falou:
— Quero que se sente na poltrona. Vou lhe aplicar uma injeção. —
Ela piscou sobressaltada, confusa e assustada com as palavras crua e direta de
Thiago.
— Eu já lhe disse que você não pode decidir nada sobre o que se
refere a minha saúde pois você não é médico!
Disse se referindo a conversa calorosa que tiveram outrora. Com
agressividade Thiago avançou sobre ela e pressionou o corpo dela entre ele e
a mesa. Era explícito o estado de excitação dele e ela pôde sentir.
— Olha o que você faz comigo, garota! — Thiago pegou a mão dela
e colocou por cima da ereção e apertou a mão dela, envolta do pênis ereto. —
Acha que eu vou te comer sabendo o risco que você corre de ficar grávida,
porra? Já tenho problemas de mais com que me preocupar!
Trincando os dentes de raiva, Bárbara desejou poder apertar o
membro dele por cima da calça, como estava fazendo, até a ponto de
machucar.
— Não quero saber, Thiago! O corpo é meu e eu quero ter o direito a
escolher como vou me prevenir!
"Será que sabia mesmo fazer aquilo?" — Sua mente inquisitorial lhe
questionou quando ela olhou com dúvidas para o grande animal preto e
potente.
Sentiu uma energia nunca antes vivida ela vibrou com o animal e
saiu em disparada com o animal que parecia não se contentar apenas com
aqueles círculos.
Júlia gritava para ela e gesticulava um tchau com as mãozinhas,
Gabriela e Ramires olhavam surpresos e ela sentia no coração a necessidade
de apenas ir cada vez mais longe.
"Mas como pensar nisso quando o corpo pedia por mais e ela
claramente se excitava com as memórias do dia anterior?"
Após a escolha do vestido e do sapato, ela ainda recebeu uma sessão
dentro do quarto de manicure, massagens e depilações. Passou o dia rodeada
de pessoas que trabalhavam para que ela ficasse ainda mais bonita.
Sem muito ter ideia do que fazer, olhou para os lados do quarto e
imaginou se Thiago viria busca-la, mas depois de um tempo, cansada de
esperar, levantou-se rumando para a porta.
No momento que abria, Ileana estava parada com a mão no ar como
se estivesse prestes a bater na porta.
Para ter acesso ao evento que acontecia, ela foi direcionada a uma
espécie de ante sala que mais se parecia com um hall de bailes oferecidos
pela realeza no século dezessete, totalmente em contraste com a decoração
contemporânea. A mistura do clássico e o contemporâneo davam um aspecto
luxuoso e quase de conto de fadas.
Ao terminar de olhar deslumbrada toda a decoração, viu que meia
dúzia de pares de olhos masculinos e olhavam. Algumas mulheres
agarravam-se ao ante braço do marido e a olhava com hostilidade. Bárbara
não entendia o porquê daquilo, mas se lembrou da imagem que era assimilada
e envergonhou-se procurando ficar longe dos olhares maldosos alheios.
Surpresa com o que ele dissera, e pela evolução da forma com que
ele a tratava, Bárbara revidou em cheio:
— Se não quisesse outros homens dando atenção a sua mulher, então
não a deixasse sozinha.
Thiago parou de andar e olhou para ela como se tivesse levado um
tapa. Ali, parados no meio do hall ele pareceu enxergá-la como se fosse a
primeira vez, varrendo cada centímetro de seu rosto. Thiago deu um passo
para trás, sem soltar a mão dela, e olhou sem cerimônia alguma para o corpo
dela, deixando claro que apreciava tudo o que via.
—Eu tenho vontade de foder sua boca toda vez que você fala de
mais, Bárbara. — Disse meio rouco enquanto se aproximava e colava as
costas dela no espelho do elevador.
O coração de Bárbara acelerou, ansiosa com o que viria. Thiago
aproximou-se a e beijou de maneira urgente e com demasiado furor. Ela
recebeu o beijo inesperado de olhos abertos e espantados, mas logo relaxou
ao ver a intenção dele, e sorriu internamente.
Trocaram um beijo íntimo e cheio de tesão. Thiago a apertava e a
desejava, cheio de lascívia. O barulho do beijo se misturava aos gemidos
deles, e ela desejou não estarem ali e nem cobertos com roupas.
— Não saia sem calcinha sem que antes tenha a minha permissão.
Com isso, deu lhe um tapa sonoro na bunda fazendo com que ela
soltasse um pequeno grito de susto.
Ela resmungou com a dor do tapa que levara e isso lhe causou uma
certa dúvida do que aquele gesto havia sido. Thiago a soltou, repousando as
mãos novamente em sua cintura e apertou o botão que permitia que a porta
abrisse, saindo ele primeiro, seguido por ela. O lugar de acesso ao elevador
era iluminado a meia luz, mas algumas pessoas olharam curiosos para eles
saindo do elevador.
Thiago segurava a mão de Bárbara e a levava de volta, para o
ambiente da festa quando uma voz feminina o chamou.
—Thiago!
Thiago parou e virou para ver quem o tinha chamado. Bárbara
também se virou e viu que a dona da voz, era a mesma mulher que entrou no
escritório dele no primeiro dia em que ela esteve lá e presenciou os atos
libertinos de Thiago, ouvindo os gemidos e barulhos constrangedores que ele
e ela fizeram.
A mulher vestia-se chique, porém mais simples, mas ainda assim, a
seu modo muito bonita. A beleza exótica dos olhos grandes, sorriso largo e
covinhas contribuía.
Mas parou abruptamente num repentino susto. Sua mente havia dado
aquela palavra informal, e em seu idioma natal. Bárbara sabia o que a palavra
significava, e sabia que ela servia para apelidar a característica cafajeste de
um homem.
Bárbara levantou os olhos, ainda um pouco surpresa pela novidade,
mas logo seu rosto se fechou novamente ao ver que a mulher, insatisfeita em
Thiago ter tirado as mãos dela de seu peito, pegou as dele e as colocou em
sua cintura. Um ódio repentino deu vazão a toda felicidade que sentia.
Sendo assim. Ainda que apanhasse novamente, ainda que voltasse a
sofrer nas mãos dele, ela não aceitaria ser humilhada por Thiago e amante
nenhuma, ainda por cima com eles se comportando daquela maneira, com ela
na mesma festa. Estavam casados, ele querendo ou não, e havia ficado mais
que claro que a noite passada não tinha significado nada para ele. Obstinada,
Bárbara, deu alguns passos e foi até onde Thiago encontrava-se com a
mulher.
Ele havia saído cedo para uma reunião que teria com os associados e
pertencentes a famiglia, e desde então o trabalho se estendera mais do que o
esperado. Eram assuntos infindos que ele tinha de resolver ou dar opiniões
sobre. Thiago, Diogo e Spencer, sempre estavam envolvidos em algum
assunto, ou trabalhando para nunca serem pegos.
Haveria aquela noite o evento que firmaria um acordo com o novo
governador da Calábria e Thiago prezava isto. Este era o esquema mais
valiosos que tinham ali.
A máfia criava um Estado dentro do Estado, e consequentemente a
Calabresa dominava os dois lados, firmando acordos através da boa e velha
diplomacia dos negócios sujos. Naquela noite, através daquele baile social e
de boas-vindas ao novo governo, Thiago firmaria um acordo com o
governador e ali se fundiria os negócios dele com o Estado. Bem o que ele
tinha em mente.
Ao vê-la de perto, viu que estava ainda mais linda, apesar de preferi-
la ao modo natural de sempre. Surya não disfarçou o alívio em vê-lo. Ela
provavelmente ainda deveria se lembrar das ameaças que ele havia feito caso
fosse vista com outro homem.
Barone, era um dos homens que trabalhavam para o governo e era de
confiança de Thiago. A esposa dele estava grávida do primeiro filho. Barone
e Camilla formavam um casal apaixonado e fieis à máfia. Barone sempre foi
muito parceiro de Thiago e fazia aquilo apenas por implicâncias. Thiago
sempre relevava, da mesma maneira como fazia com Spencer.
Thiago não queria dar vazão ao que sentia e se sentia consternado ao
perceber o quão mexido ficava quando via Surya receber atenção de outro
homem, ainda que este outro homem fosse bem casado.
"É apenas atração." — Ele dizia a si mesmo, vendo-a tão linda de
perto, enquanto cheirava-lhe o pescoço, adornado com a joia que ele a
presenteara. — "Tem de ser!"
Ele ainda não a conhecia totalmente e não confiava no que via. E era
este o principal ensinamento que tivera: esperar para ver se podia confiar.
A chave para todas suas respostas estava anexada às memórias
esquecidas de Surya, apesar dele saber o paradeiro de Bárbara.
Thiago tinha a plena noção de que tudo o que ele perguntasse a
Bárbara teria fundos falsos ou mentirosos, e pelo que havia conhecido de
Surya, se ela se lembrasse haveria uma boa possibilidade de as verdades
serem reveladas de maneira clara.
Ele tinha noção do que ela tinha feito pelos filhos dele e simpatizava
com isso, mas confiança era uma palavra muito descabida no momento e que
ia muito além. Algo a ser estudado para ver se Surya seria digna ou não.
Após enxotar Barone, ele a guiou por entre as pessoas a fim de ficar
com ela na mesma posição resguardada que estava anteriormente, mas as
palavras ácidas dela o tiraram-no do foco.
Entrar pela porta do elevador e beijá-la enquanto apalpava todo seu
corpo era muito pouco para o que ele tinha em mente. Senti-la sem calcinha,
despertava turbilhões de sentimentos que o levavam em segundos do céu ao
inferno.
Atônito, ele percebeu que o simples fato de tira -lá de uma festa,
importante como aquela, apenas para beijá-la levado pelo motivo de que ele
não conseguia se controlar perto dela, era o começo de algo que ele jamais
ousara se permitir explorar.
Seus passos haviam sido meticulosamente traçados por seu pai para
que ele assumisse à Calabresa aos trinta anos. O problema era que Thiago
jamais quisera casar-se ou ter filhos, ideia esta que muitos na máfia não
simpatizavam.
Apesar de ser um bom líder e chefe, o conselho e sua avó logo
começaram a fazer pressão para que ele se casasse e constituísse o que para a
máfia era de mais importante e valioso: A família.
Thiago mantinha-se relutante, apesar de sempre estar acompanhado
de mulheres muito bonitas. Ele nunca assumia nada de muito concreto com
nenhuma delas, por simplesmente não acreditar que poderia fazer dar certo.
Ele presenciara o casamento fracassado dos pais e isto lhe serviu de lição.
O amor era uma possibilidade remota e longe, que para ele nunca
acontecia de fato. Os únicos contatos que Thiago gostava era o de pele com
pele, calor, fogo e tesão. Passar disso seria arriscado, e ele não queria se ver
preso a mais nenhuma instituição que não fosse a própria máfia.
O contraditório era que os conselheiros da máfia não pensavam
assim, portanto, ao protelar a decisão de se casar por dois anos, viu em
Bárbara uma situação para aplacar toda a pressão que sofria do conselho.
Era sempre a mesma pressão para que ele se casasse e concebesse
um filho para dar continuidades ao que os Guerra faziam há anos. A desculpa
de Marietta e conselheiros eram sempre as mesmas: Ele já tinha 32 anos e há
dois anos enrolava para se casar. A pressão já o tirara do sério algumas vezes.
As memórias e lembranças o jogaram para o dia em que Bárbara
entrara de vez em sua vida.
— Você é louco de pensar que eu vou passar nove meses sem poder
sair e beber?! Eu amo a vida que eu levo, entendeu?! Eu amo esta vida e não
é um feto que vai me tirar isso!
Thiago avançou sobre a mulher a pegando desprevenida e desferiu
dois tapas no rosto dela. A pegou pelos cabelos e a puxou do chão de onde
estava caída e a jogou por cima da cama. Ele subiu em cima do corpo esguio
e colocou as mãos em cada lado, próximo ao rosto dela.
—Você não vai fazer nada contra esta criança! Está me ouvindo?! —
Ele dizia de modo assassino. — Se tentar eu te mato.
A ameaça fora tão vivida que ela se quer duvidou. Sua reação era de
quem ainda processava tudo o que acabara de acontecer e o encarava
assustada.
Ela já havia engravidado duas vezes antes. A primeira, com
dezesseis anos, a avó ajudara a acobertar do restante da família e a abortar. A
segunda gravidez havia sido aos vinte e um anos. Havia transado em um
banheiro de balada sem proteção e com dois desconhecidos, o que gerou
numa gravidez. Nesta última, ela se quer sabia quem seria o pai da criança.
— Não estou propondo nada, estou dizendo como vai ser. Durante
doze meses quero estar à par de você integralmente. Haverá um contrato onde
você assina, no compromisso de ficar doze meses comigo, a base de algumas
restrições...
A verdade, era que o contrato era apenas para formalizar algo que já
estava decidido por Thiago. Para ele, apenas sua palavra bastava e tinha
valor.
Ela não conhecia nada sobre a máfia e nem saberia por ele. O
contrato era mero acordo formal entre os que não conheciam seus negócios
para que eles se tornassem reféns disto.
O seu corpo sofreria mudanças que ela não queria e no final ela
ainda teria de amamentar?! — pensou com contra gosto. —Estaria ela
amarrada a um homem daqueles, num casamento falso, e sem poder gozar de
sexo com outros homens..., mas e Thiago? — Pensou, lembrando do sexo
quente que fizeram. — Ele claramente a desprezava e descartaria quaisquer
envolvimentos físicos. — Ponderou. — Mas no final, ela poderia sair com
seis milhões e nenhum vínculo com a criança...
Sorriu internamente.
— Eu aceito sua proposta.
Como resposta, ela virou-se, olhou para ele e voltou a fazer o que
estava fazendo antes. Umedecendo algodão para retirar a maquiagem.
— Vai me ignorar, caralho? — Thiago foi até ela, fazendo com que
o reflexo dele aparecesse no espelho, bem detrás dela.
— Acho que sua cota de assuntos para serem tratados
especificamente com mulheres já estourou por hoje, não?
A intenção dele era ferir Surya com palavras, mas ao contrário disso
ela arqueou a sobrancelha e franziu os olhos, sentindo a raiva aumentar.
— Não sou cega, Thiago. E acho muito prepotência de sua parte me
dizer que depois de uma transa com você eu estou requerendo demais...
Gostando ou não sou sua esposa e ao meu ver eu tenho direito de ser
respeitada!
— Em momento algum a desrespeitei.
Com a mesma rapidez que ele a tomou, a beijou, mas de modo rude
e agressivo, como se fosse um castigo. Tomado por fúria, Thiago mordiscou
lhe o lábio inferior com bastante pressão e quando ela murmurou de prazer?
Dor? Ele se aproveitou da oportunidade para introduzir a língua em sua boca
e aprofundar o beijo.
Surya sentia desejo descontrolado se formando entre suas pernas e
ela percebia os mamilos endurecerem enquanto sentia a ereção dele
pressionada em sua barriga. Parecia loucura que a briga terminasse de
maneira tão impetuosa.
Como ela podia deixar que o corpo reagisse daquela maneira quando
ainda há pouco seu desejo era lhe dar uns bons tapas? — Pensava perplexa
enquanto ele a desconcentrava beijando seu pescoço.
Usando todo o seu charme, ela colocou os longos cabelos soltos para
o lado, e arrebitou a bumbum na direção dele, olhando o por cima do ombro e
abrindo um sorriso safado.
Ela olhou para o espelho e encontrou o olhar dele preso nos dela. E
bem quando estavam assim, ele a estocou forte de modo que entrou com tudo
dentro dela.
E era assim que ela se via. Totalmente aberta, em cima dele, virada
de frente para um espelho que mostrava exatamente o que ele bem queria
fazer com ela. Era a cena mais erótica de todas.
Thiago mantinha as pernas dela abertas em "V" enquanto ela olhava
o pênis dele sair e entrar. Percebendo que ele também olhava para o reflexo
deles no espelho, Surya começou a se tocar, atraindo a atenção dele para a
mão dela que se moviam em seu clitóris.
Mas ele sabia o grande filho da puta que era, e aproveitaria cada
segundo que fosse daquela força impetuosa que os unia à depravação.
Capítulo 35
Estavam juntos, e esta era a melhor definição que cabia entre eles.
Dormiam juntos e acordavam juntos, as vezes até o banho tomavam juntos. O
sexo era sempre algo que eles faziam em quase todos os lugares possíveis e
Surya apenas ficava feliz em saber que finalmente o casamento deles
caminhavam para a melhora, mas ela sempre se sentia incompleta
imaginando aonde estaria Pedro.
Ela havia evoluído em alguns aspectos, lembrando de letras de
músicas, de bandas que ela sabia que gostava, mas isso não era o suficiente,
ela sempre tentava se obrigar a recobrar a memória para saber aonde Pedro
estava.
Thiago era calado e jamais demonstrava nada que lhe desse
esperança de que tudo aquilo não passava de sexo. Ela não queria se importar
e ficava sempre se lembrando das três promessas que fizera a si mesma.
Apesar dele nunca ter pedido perdão, ela levaria tudo que passou
como uma bela lição e jamais se deixaria esquecer de aonde estava pisando,
sabendo o marido que tinha.
— Marietta está com saudades dela e eu vou levá-la para que ela
veja a avó.
Surya não sabia bem o porquê, mas não acreditou no que Thiago
dissera. Olhou para ele e ainda não entendia o porque ela não poderia
acompanhá-los.
"Será se ele ainda sentia vergonha dela como sendo sua esposa e
por isso não queria que ela o acompanhasse?"—Indagou-se.
Tudo nelas a fez com que se sentisse inferior. Até mesmo o modo
como elas a olharam, assim que a perceberam parada, mas Surya não se
deixou abater. Sustentou o olhar enquanto a que parecia ser a mais velha
entre elas, se aproximou.
— Bárbara, não é mesmo? — Perguntou olhando-a de cima a baixo.
Surya arregalou os olhos e tentou gritar, mas sua boca foi tapada.
Capítulo 36
— Eu não sou assim mais! Eu não faço mais isso, eu sou casada! Por
favor! — Ela dizia em negação, balançando a cabeça negativamente
chorando muito.
Roger apenas riu cético, ele parecia ter sérios problemas em aceitar
aquilo. Como resposta, partiu em direção a Surya, que, conseguiu desviar e se
colocar de pé rapidamente. Tentou passar por ele na clara intenção de fugir,
mas Roger a agarrou pelo vestido que rasgou ainda mais, e a trouxe para trás
novamente.
As mãos dele subiram até o pescoço dela e apertou com muita força,
enquanto a imprensava na parede de alvenaria da baia. Desesperada por ar,
Surya se debatia e com o ultimo fôlego, gritou ao não ver escapatória.
Roger a olhava nos olhos com muita fúria quando disse brusco:
— Vou parar de apertar. Você vai parar de gritar?
— Eu não queria que fosse assim, mas foi você quem pediu.
Logo, ela sentiu a adaga escorrer por suas mãos, pois Roger puxava
dela, enquanto o cachorro cravava os dentes nele. Era aflição, aperto, ânsia e
choro. Ela não entendia como alguém poderia ser tão mal, e os pensamentos a
fazia se esquecer de gritar.
Chorou de pavor por si mesma ao sentir que ele forçava sua mão
para que ela abrisse. Começava a doer e ela sabia que largaria a qualquer
momento.
Quando o objeto saiu completamente de sua mão, ela sentiu Roger
sair de cima dela e se voltar contra o cachorro batendo forte na cabeça dele
enquanto o pobrezinho emitia esguichos de dor, mas ainda assim, agindo
fielmente e não soltando Roger, sempre defendendo-a.
Um estrondo, fez com que Roger olhasse para trás e seu rosto fosse
atingido por um soco bem forte. Ele capengou para um lado e, pela blusa foi
levantado, e retirado de cima de Surya. Thiago partiu para cima dele com
murros certeiros no rosto não dando chance alguma para que Roger ao menos
entendesse o que acontecia.
Diogo estendeu sob o corpo dela seu próprio paletó e Thiago parou
apenas para ameaçar quem quer que se aproximasse ou olhasse em direção do
corpo dela. Surya não conseguia não olhar para a cena grotesca de Thiago
acabando com o homem.
— Que o corpo deste verme seja dado aos cachorros, e a merda que
os cachorros fizerem sejam queimadas. Sacrifique o cão que está agonizando
lá nos fundos.
Nem mesmo a voz dele parecia a mesma. Todos se mantinham
calados e não ousavam dizer nada, muito menos o contrariar. À pesar do caos
de sangue que ele se encontrava, Thiago ainda conseguia manter a
imponência de sempre.
Ninguém sabia o que esperar vindo dele, naquele momento, mas não
se surpreenderiam caso a mulher desacordada fosse punida. Mas algo
aconteceu que os surpreendeu.
Mas antes que fosse tragada pela escuridão, ela olhou para Thiago e
enxergou algo diferente.
No último momento ela viu algo que jamais sentiu por ali: Piedade.
Capítulo 37
— Certo. Vou avisar Spencer e vocês saem daqui ainda esta noite...
— Ele ainda continuava paralisado no mesmo lugar e olhou furtivamente
para a mulher deitada na cama. — Precisa chamar o Nanderitti?
Thiago não havia pensando na possibilidade de Surya estar
machucada e se quer cogitou chamar um médico. A pergunta o deixou sem
resposta e ele mal se reconheceu. Sua cabeça, sua mente, seu corpo, ele por
inteiro, ainda estava preso na cena que vira pelas câmeras de segurança.
— Me mande mensagem se precisar que o chame. — intuitivamente
Diogo falou.
Todo o ódio que ele sentia parou ao dar lugar para o espanto. Thiago
deu-se conta de que ele mesmo usou aquela palavra para definir o que tinha
por Surya.
A constatação daquilo o fez ficar enfurecido consigo mesmo. Thiago
retirou o terno e a blusa suja do sangue do verme. Ainda desnorteado pelos
pensamentos, buscou o rosto de Surya e avançou sobre ela de só uma vez,
ainda envolto em cólera. No último momento controlou o impulso de acorda-
la com violência.
Não havia espaço dentro dele para nada, muito menos sentimentos.
Thiago sabia que aquela mulher não podia ser palco para suas loucuras. Seu
lema era seus filhos e unicamente eles.
Olhou para baixo com o cenho franzido, sentindo nojo, uma repulsa
latente por quem quer que fosse que o fazia. Virou-se de uma só vez e viu
uma mulher completamente nua o olhando de maneira claramente
convidativa, enquanto abaixava uma das mãos e o pegava pelo pulso,
indicando um grupo de pessoas que transavam, aglomerados e envolvidas de
mais entre elas. Era um convite silencioso.
O lugar para onde a mulher o chamava era pouco iluminado,
escondido na penumbra e as pessoas que estavam ao redor dali, se envolviam
demais, concentradas no que faziam.
Thiago a seguiu em silêncio, os olhos escuros sem transparecer toda
o ódio que o consumia.
Um tapa cheio fez com que ela voasse para o chão do deque e
batesse com a cabeça. Os homens acabavam por somente abrir espaço e Carlo
se levantou junto com as mulheres, que continuavam abraçadas a ele e riam
de algo.
— Homens? Boa diversão! — Disse se retirando, indo em direção às
portas da sala vermelha que se encontravam abertas.
Bárbara caída no chão, cuspia sangue e saliva, tentando se levantar.
Thiago foi até ela e a retirou do chão pelos cabelos, aproveitando para pegar
em seu pescoço e apertar. A jogou por cima do sofá e subiu por cima de seu
corpo, chegando bem perto da face dela, apertando forte, vendo a ficando
vermelha, e veias saltarem por seu rosto.
Ele queria acabar com ela, mas antes, faria com que ela se
arrependesse pouco a pouco de sua própria existência.
Bárbara esganiçava e virava os olhos, lutando contra as grandes
mãos ao redor de seu pescoço. Thiago tirou uma mão e bateu forte em cada
lado do rosto dela, sentindo verdadeiro nojo.
Barulho de risadas e vozes animadas o tiraram do estupor e Thiago
olhou em volta. Um grupo de homens se masturbavam enquanto olhavam a
cena que ele protagonizava. Thiago a soltou e a puxou pelos cabelos indo até
o arado de bronze que sustentava as madeiras crepitantes.
A medida que ele se aproximava do lugar quente com ela, Bárbara
começava a tentar gritar, mas tossia descontroladamente, em busca de ar.
A sensação foi horrível que os gritos que ela dava não eram capazes
de aplacar o que sentia e por um momento ela quis morrer.
Thiago olhou em volta e viu que o que protagonizava era um
verdadeiro show para aqueles que aprovavam de sodomia e fetiches bizarros.
Decidido a não terminar o que tinha em mente de fazer, ele procurou outro
pedaço de madeira, mas desta vez, um bem flamejante, e igualmente cheio de
brasas.
— Isto, é pelo erro grave que você me fez cometer. E pelo engano de
achar que eu jamais descobriria tudo.
Ele ajoelhou, e prendeu com as pernas o tronco e os braços dela.
Procurou a coxa esquerda e se preparou para o golpe que daria. Com toda a
força que tinha, Thiago esmagou a madeira acesa na coxa dela, vibrando por
dentro, ao ver a agonia e toda dor que Bárbara sentia.
Ela gritou forte e agudo, tremeu-se toda, na tentativa de se soltar,
mas Thiago era forte e a prendia, parecendo querer transladar a madeira
flamejante até chegar ao outro lado de sua perna.
O agouro foi tanto que Bárbara se mijou inteira e alguns homens que
se masturbavam pararam na hora, olhando estarrecidos e um deles vomitou.
Na perna havia sido aberto um buraco. Sangue, água e gordura
corporal vazavam. Era a cena mais grotesca e maldosa que Bárbara já
presenciara. Ela chorava e se tremia toda, ainda tentando sair de perto dele,
mas de nada adiantava. Thiago a segurava fortemente no lugar.
— Você é louco!
Assim que chegaram até o Iate, tiveram ajuda dos soldados para
subir. A medida que o barco ia sendo içado, ficava difícil de Bárbara
enxergar a grandiosidade do Iate por causa das luzes fortes que emanavam, à
medida que cada parte aparecia.
O olhar que aqueles homens direcionavam para ela, não era como se
fosse de desejo por ela estar completamente nua, mas era uma espécie de ódio
compartilhado que emanava do olhar deles. Pareciam fiéis demais para não se
sentirem impactados ou ultrajados com a presença dela.
Bárbara não ligava. Seu corpo estava nu, roxo, cheio de feridas e
escoriações, sua perna em estado deplorável com pedaços de carnes presos
por pele. Seu osso era visível e ela sentia ódio toda vez que olhava.
Mas por mais que ela quisesse se ver livre de tudo aquilo, ela sentia-
se bem por causar tanta raiva neles. E riu debochada com este pensamento.
Thiago mantinha-se no mesmo porte altivo e arrogante, ainda que estivesse
irreconhecível com aquela roupa. Muito diferente do habitual terno e gravata,
Bárbara reparou com desdém.
À contra gosto ela o fez, sentindo ódio de Thiago toda vez que se
movimentava e seu corpo doía ou as mãos congeladas reclamavam. Thiago
prestava atenção em tudo sem expressão.
— Você não fez isso, seu puto! Você não fez isso! — Ela batia no
peito dele, machucando-o, mas o soldado não emitia um som. Seu corpo era
apenas impulsionado para trás e ele mantinha a mesma expressão neutra de
antes, mas logo Thiago interveio.
A puxou pelos cabelos, mas antes que a cabeça dela viesse para trás,
a mão de Thiago veio cheia de cabelos, um monte de mechas que mais
pareciam falsos.
Depois de muito tempo ali, Bárbara achou que havia sido largada
para morrer, não sabia quanto tempo se passara mas achava que havia sido
muito. Dormir era difícil e ela o fazia em pé. O lugar era muito pequeno e se
mexer ou agachar era impossível, o que fazia com que ela sentisse ainda mais
ódio de tudo e de todos.
Seu coração não abria espaço para voltar atrás e nem mesmo para
sentir remorso. Ela não se arrependia. Morreria sendo o que era. Sua avó
havia sido sua maior apoiadora em tudo, até ela começar a dar ouvido aos
seus tios. Os tios tinham uma fazenda onde originalmente fora de seus avós,
mas assim que Vicentino Lima morreu, deixou a administração de tudo aos
tios, nada para ela e dois milhões para sua avó, Corina Lima.
Dinheiro este que ela havia ajudado a liquidar com a vida desregrada
e badalada que levava. Dos gastos com viagens infundadas, carros, joias e
estilo de vida desraigado, havia sobrando apenas o apartamento da Lapa, no
Rio de Janeiro, que era onde moravam, e que estava sendo quase tomado por
não estarem dando conta de pagarem o condomínio.
Aos vinte e quatro anos, ela achou a sorte grande ter encontrado e
engravidado de um ricaço italiano, muito bonito e relativamente novo, que
lhe ofereceu alguns milhões por sua reclusão até dar à luz. Isso durou até
achar outro que propôs toda a fortuna do marido, que, supostamente era
estimado em bilhões. Dominic Lang não a satisfazia sexualmente como
estava acostumada, mas ele prometera o que homem algum jamais lhe
propusera: dinheiro, status e poder. Palavras estás que acenderam sua
ganância e ambição.
Estava tudo pronto para o plano ser posto em prática, até Surya jogar
o carro na ribanceira e atrapalhar tudo. Ao pensar na prima, estragando o
plano, Bárbara gritou de ódio e socou a porta, mas a fisgada na perna a fez
levar a mão até o local da ferida e senti-la com um aspecto e cheiro estranho.
Thiago era bem maior que a viseira da porta e isso bloqueou por um
momento toda a luz que entrava. Assim que a porta foi aberta totalmente ela
teve dificuldade de enxergar por causa da luz forte que adentrou.
Fraca, ela caiu no chão bem diante dos pés de Thiago. Havia um
certo prazer mórbido e intrínseco no olhar dele e que sentia satisfação no que
acontecia com ela.
Ele estava com aparência muito boa e bem vestido. O perfume caro
exalava, em contraste com o estado repugnante, deplorável e muito crítico
que Bárbara se encontrava.
O corpo fedia a fezes e urina e a coxa estava com uma cor negra
espalhada, denunciando o estado de putrefação. Havia uma espécie de crosta
branca e cheia de pus, a situação da perna não parecia nada boa.
— Sou a mãe dos seus filhos... não mereço isso, Thiago. — A voz
estava metálica por causa da sequidão.
— Escute, Thiago... e-eu sei que eu errei e sei que fui negligente
com nossos filhos, m- mas o momento que estive presa lá embaixo serviu
para que eu colocasse os pensamentos em ordem... — Ela se arrastou no chão
até ele e o tocou pela barra da calça. — Podemos ser uma família! — Disse
piscando com algumas lágrimas. — Eu posso ser a esposa que você deseja e a
mãe que nossos filhos merecem!
Vendo que ele não dizia nada, tentou argumentar subindo a mão e o
tocando na coxa por cima da calça.
— Não sei... ele roubou todo meu dinheiro e me deixou apenas com
dois dias no hotel pago e sumiu. Fui atrás dos coiotes que nos levariam até os
Estados Unidos e acabei me envolvendo com eles.
— Eu não sei.
Bárbara olhou para Thiago, mas o olhar bestial que ele lançava
prometia coisas grotescas demais e ela não aguentou sustentar o olhar. Se
encolheu e olhou para o lado.
— Ela acha que é mãe das crianças por ter cuidado delas desde que
fugi para o Brasil. Quando soube que eu levaria Júlia, veio atrás... Eu estava
pronta para dar uma boa lição nela quando Dominic Lang viu nossa
semelhança e teve a ideia de colocá-la no meu lugar sob a ameaça de que os
pais dela teriam problemas caso ela falhasse...— Thiago mantinha-se sem
reação alguma, e ela não sabia se era bom ou ruim. — Com a ameaça certa
Surya fez exatamente o que queríamos...Até aquela desgraçada estragar com
tudo!
Olhou para o rosto de Bárbara e viu que ela estava mantinha os olhos
abertos, enquanto morta, golpeou o pescoço com o machado, separando-o do
resto do corpo.
Há uma semana ela havia acordado ali. Aos poucos, sua vontade de
dormir e reclusão foram indo embora e com ela, ficou o medo e pavor de
tudo e de quase todos.
No início foi muito difícil para ela deixar que Júlia interagisse
livremente com o tal do "tio Spencer", como a menina o chamava, mas aos
poucos ele foi ganhando a confiança de Surya. Assim, ela passou a entender
que o homem só estava ali para protegê-las e não oferecia risco algum.
Na maior parte do tempo ela quis chorar de medo e teve certo pânico
quando saíram para conhecer restaurantes. Sem Thiago ali, nada lhe passava
segurança, nem mesmo a presença de Spencer e suas atitudes protetivas. E
isso fazia com que ela passasse a detestar o fato de Thiago ter a presença tão
inconstante.
O que acontecia entre eles era confuso. Eram um casal mas não
pareciam casados, não agiam amorosamente um com o outro, e ela jamais se
reportava a ele porque ele sempre sabia de tudo o que acontecia com ela ou
sobre ela. Diferentemente dela, que não conhecia ou se quer sabia algo sobre
o marido. A única coisa que os ligava era o sexo muito quente e a tensão
sexual de sempre. Apesar de casada com ele, Surya sentia que Thiago se
lembrava disso apenas quando transavam ou em suas demonstrações
exageradas de possessão.
Ela soube por ele, de maneira muito vaga, que estavam no México e
que Thiago estava ausente há mais de uma semana resolvendo assuntos da
máfia e sua preocupação por ele pareceu ascender ainda mais.
Os dias iam passando e ela cada dia descobria algo sobre si mesma.
Cada dia uma lembrança nova, um sabor diferente, um cheiro diferente e ela
achava que não muito demoraria para ela se lembrar de algo.
Seu estado de lembranças diárias havia evoluído tanto, que ela nem
se quer comemorava ou notava quando as lembranças da vida antiga vinham.
Para ela, aquela nova vida era a que valia, e de nada adiantava recobrar
memórias antigas se não fosse para saber aonde estava Pedro.
Ela dormia com Júlia em seu encalço, mas logo a menininha virou
para o outro lado e afastou-se um pouco da mãe. Surya vestia um short de
pijama muito curto e a camiseta de alcinhas mal tapavam o colo do peito. As
pernas bem torneadas e bronzeadas prometiam a tentação e devassidão do
qual estavam tão bem familiarizados.
Thiago velava o sono de Surya. Ele mesmo havia deitado logo após
o banho e não dormiu. Não conseguia fazê-lo visto o alto teor de
concentração que ele mesmo exigia de si naqueles momentos de missão e
recuperação da honra. Até seu corpo se acostumar novamente com o antes,
demoraria.
Seus pensamentos era o que minavam o sono e ele olhava para ela
prestando atenção em cada reação do sono conturbado. Os olhos mexiam
criando volume na pálpebra. De vez em quando ela se movimentava brusco e
ele assistia, pensando em qual momento deveria intervir.
Ele a olhava querendo na verdade ler os pensamentos dela e saber
com o que de fato ela estava sonhando. Mas pelo modo como Surya estava
reagindo, e as informações que Spencer lhe dissera, ele até podia imaginar do
que se tratava e lembrou-se daquele fático dia....
Ela esmurrava o peito dele, mas não conseguia gritar visto que o
terror e paralisia a travavam. Com muito custo e usando voz de comando,
Thiago conseguiu trazê-la para perto e colocou a cabeça dela encostada em
seu peito, fazendo carinho nos cabelos longos e lisos.
— Eu acho que não vou aguentar mais, Thiago. Não posso ficar aqui
sozinha sem você por perto... Não sei se dou mais conta! E eu tenho medo.
Surya sentiu o rosto esquentar ao constatar que ele sabia o que ela
fazia. Mas a forma cheia de tesão que ele dissera, denotava o quão excitado
estava.
Para sua surpresa, Thiago não olhava para o que ela fazia, mas sim
para seu rosto. E foi nisso que ela se concentrou. Fazia questão de olhar no
rosto dele enquanto se masturbava. Gemidos e arfadas de ar eram emitidos
por ela e mesmo que aquilo que fazia não chegasse perto da sensação que ele
lhe causava, era excitante de mais fazer aquilo para ele.
Ela assentiu e olhou para ele com curiosidade e uma certa ansiedade
em ascensão.
Antes que conseguisse chegar aonde queria, ele a agarrou por trás e a
levantou no colo indo com ela até o banheiro. Surya ofegava e ria, vendo o
semblante fechado de Thiago, mas totalmente relaxado, com um leve
desenho de um riso no semblante.
Ele tinha o poder de tornar instável o que para ela era completamente
controlável. Seu corpo respondia a ele de maneira jamais sentida antes. E a
forma como ele a tocava, corrompendo-a, deixava a mostra que aquela forma
de sentir prazer era totalmente nova.
Daquele modo como estava, toda aberta e de frente pro rosto dele,
fazia com que em nada ela se sentisse envergonhada. Pelo contrário, com
Thiago era tudo sem reservas e ela se permitia sentir-se mulher, e de um jeito
que até mesmo a completava e a valorizava.
Olhou bem nos olhos dele enquanto fazia do jeito que ele mandou,
mas bem quando terminava de fazer, decidiu que faria a seu modo. Para
provocá-lo ainda mais, ela se inclinou o máximo que podia, permitindo-o ter
a visão mais sexy que já presenciara na vida.
Thiago a puxou para deitar-se por cima dele, enquanto ele procurava
sua boca e a beijava, conciliando o beijo com leves penetrações.
Surya gemia em sua boca, sentindo cada vez mais a sensação de ser
alargada. Thiago levou uma mão até a vagina dela e estimulou, fazendo com
que a sensação de incômodo desse lugar ao prazer.
Aquela forma de transar era totalmente diferente, mas igualmente
excitante. Thiago emitia breves gemidos graves e ela sabia que estava sendo
muito bom para ele.
Ela afastou do beijo e procurou ver o que ele fazia com ela, e ficou
ainda mais excitada com o que via no reflexo do box. Surya sentia a
respiração dele em seu pescoço e percebia o esforço que ele fazia para não
gozar.
Ela estava igualmente excitada e ficou ainda mais quando ele abriu
suas pernas e a estimulou com as mãos. A sensação era tão intensa e de
frenesi que ela tentava fechar as pernas, mas Thiago lhe dava tapas mandando
a abrir novamente.
No fim, ele acabava por passar uma certeza para ela do qual nem ela
mesma tinha: " De que tudo estava bem com Pedro."Nesses momentos, ela o
questionava se ele sabia de algo, e a resposta era sempre a mesma: " Não se
preocupe com o que eu sei, apenas confie em mim."
Ela desconfiava que ele tinha informações sobre o filho e que não
queria lhe dizer, por isso não se preocupava em demasiado com o garoto
Pedro, confiando cegamente em Thiago. Às vezes, ela até mesmo se sentia
culpada por isso, mas sua intuição lhe dizia para confiar nele.
Ela sentia que com Thiago, tudo ficava mais sólido. Nada de
incertezas ou negações. Era ele e não haviam mais dúvidas. Ele passou
chama-la de Bella e em alguns momentos específicos durante o sexo de
Passione, mas estranhamente ele não a chamava mais pelo nome.
Thiago era atencioso e gentil com ela. Ele não era um exemplo de
carinho quando estavam em companhia de outras pessoas, mas pessoalmente,
quando estavam somente os dois, ele a chamava de apelidos carinhosos e a
tratava mais que bem.
"Será que ele escolheu justamente aquele momento para dizer a ela
que jamais se apaixonaria?" — Ela engoliu em seco, já preparando-se
mentalmente.
— Não falo isso por que sou bom, cara, falo isso por que...
Gabriela e Spencer não havia vindo com eles, Surya desconfiava que
as pessoas que estavam ali tinham sido selecionadas, o que aumentava ainda
mais a expectativa dela sobre o que viria.
Ao desembarcarem no aeroporto, Surya sentiu uma certa
familiaridade com o clima e automaticamente sorriu. Júlia estava animada e
saltitante, corria sempre na frente mesmo que Surya desaprovasse a peraltice
da menina. Mas ela entendeu que de alguma forma, a criança parecia sentir a
mesmo frenesi que ela.
Para chegarem até onde tinham que chegar, Thiago explicou que
teriam de fazer mais uma pequena viagem de carro até a cidade em questão, e
durante todo o percurso, Surya olhava a vegetação verde e densa.
A forma como ela guiou o motorista, fez com que desse diretamente
para uma rua fechada e ela encarou a saída com certa desordem mental.
— Do que se lembrou?
Ela quis chorar, mas Thiago a abraçou. Ele passava as mãos nos
cabelos dela numa clara tentativa de tranquiliza-la e amenizar o sentimento
de sofrimento.
Ele a levou de volta para dentro do carro, e com uma agonia interna
e inexplicável, Surya olhou uma última vez para o letreiro apagado e
empoeirado.
Thiago sabia que ali era a cidade aonde ela vivia, se não, como
haviam chegado ali? Ele não era homem de enrolar, isso era um fato. Thiago
era sempre muito certeiro e agia pensadamente sobre tudo. Então, se a
trouxera ali, era por que sabia dos pais! Ou do filho! Mas e se sabia, porque
ele não dizia nada! A deixava no escuro!
Thiago não sabia se ele dispunha de muitos homens, mas de algo ele
tinha certeza: Ele estaria sempre a um passo de Dominic Lang, esperando o
momento certo para pôr fim à toda aquela loucura.
Thiago apenas a olhou, sem nada dizer. Ele bem sabia que não tinha
como amenizar as palavras. A história era o que era. Estavam sentados um de
frente para o outro, apenas Marietta estava ao lado, olhando tranquilamente
para a paisagem noturna pela grande janela.
— ... Ao acordar, foi atestado que ela havia sofrido uma grave lesão
cerebral e com isso acarretou uma perda de memória. Ela não se lembrava de
nada, a não ser do momento que acordou ali no hospital... Dali em diante, ela
passou a ser tratada por mim como a esposa que tinha fugido com os filhos e
deixado o marido para trás, o que não foi nada fácil para ela...
— Mas aonde você quer chegar com este assunto, meu filho? — Rita
perguntou meio incerta se queria saber a resposta ou não.
O choque da notícia foi tão grande que Ernesto parou com a mão no
ar, ao buscar as mãos da esposa e Rita o encarava sem reação. O silêncio
absoluto foi quebrado pela voz de Thiago que, sem perder a elegância e a
altivez, completou:
— Como você me pede para acalmar quando diz que a minha Surya
está com você e que ela não está morta?! Eu quero a minha filha! E a minha
neta! — Rita falou olhando para Thiago com urgência, de repente
enxergando nele uma ameaça. — Você sabia que ela estava viva e nos viu
aqui, no momento de dor, sofrendo pela perda dela! — Acusou-o ainda
chorando muito.
As palavras dele surtiram o efeito que queria, fizeram com que Rita
e Ernesto se sentissem envergonhados.
Aquilo bastou para calar o descontrole deles, mas ainda assim, não
os acalmou.
Ernesto ainda insistiu mais um pouco para que ele ficasse, mas
Thiago refutou, alegando que precisava voltar para terminar um trabalho.
O cômodo estava vazio, mas havia sinal de que ele estivera ali, e há
não muito tempo. Chegando pertinho da mesa, ela viu que tinha alguns
papéis espalhados e a tela do computador brilhava. Esbarrou no mouse, mas a
tela estava bloqueada, e ela se repreendeu mentalmente por estar fazendo
aquilo e se sentindo como se cometesse um crime.
Era certo que o uso do contraceptivo havia sido suspenso por ela não
ter se dado bem com a medicação, mas será que ainda tinha resquícios do
medicamento que a fizera tão mal? Duvidou. Parecia ser uma espécie de
acumulo de emoções que desencadeavam memórias novas, e seu corpo
parecia querer pedir um momento para absorver tudo aquilo que vinha cada
vez mais rápido. De repente um barulho na porta e ela se assustou. Olhou
para trás e era ele:
Ele se sentou com ela ainda em seu colo, com uma perna de cada
lado. Beijavam-se com urgência e uma vontade tão grande que chegava a
doer, esta foi a sensação que ela sentiu.
Não sabia o pensar direito, não sabia o que sentir, mas aquela
sensação de que se perderiam, a fazia querer fugir de tudo e se esconder de
todos, e viver com ele assim como estavam fazendo outrora em Tijuana.
Usou com mais incisão a fricção para masturbar o pênis sem todo
aquele impedimento de roupas. A única barreira entre eles era o shortinho de
dormir que ela usava. O prepúcio se movimentava com o vai vem que ela
fazia o que fazia com que Thiago respirasse com dificuldades e buscasse o
rosto dela.
Vendo que ele a olhava enquanto ela rebolava no colo dela. Surya se
aproximou e o mordeu nos lábios, lambendo-os em seguida. Com força, ele
juntou seus cabelos e puxou sua cabeça para trás. Deu um sonoro tapa em sua
bunda antes de levar os dedos até o short e pôr de lado, fazendo com que o
pênis roçasse em sua vagina.
Sem avisar, Thiago a encarou quando guiou o pênis para dentro dela,
e Surya o olhava assustava é surpresa pela invasão inesperada.
Dois dias depois e aquela sensação estranha que tanto lhe causava
aflição, não diminuiu, aliviou, mas não passou completamente. Thiago, desde
a noite de sexo intenso, havia se distanciado um pouco e ficado um pouco
recluso, e ela imaginava ser a demanda de trabalhos, já que ele não estava tão
presente assim na Calábria.
Thiago fez uma menção para que ela se sentasse no banco traseiro,
ao lado de Júlia e começou a afivelar o cinto de segurança em ambas e
colocar o protetor auricular. Vendo o que ele fazia, Surya começou a ficar
nervosa, com uma sensação de frio na barriga, com medo de voar. Um pouco
receosa, ela olhou para os lados, em busca do piloto.
E assim ela o fez, mas com muito custo. Sua vontade era de correr,
correr bastante, sentia que a liberdade que sentia era mais que real. Sentir que
o enclausuramento e a limitação da mente, já não eram mais familiar.
Completamente alheia a Júlia, que olhava para a mãe sem entender nada, é
muito menos para Thiago, que a encarava e lia em seu semblante toda a
verdade.
Remorso. Esta foi palavra certa para Surya definir o que ela sentiu
no exato momento que seus olhos cruzaram com o de Rafael. Cada toque que
recebeu dele, cada lembrança do tempo de namoro, o pedido de casamento,
os momentos juntos, todos eles foram brotando em sua mente resignificando
a figura dele e participação em sua vida. Mas o que de fato a espantou foi que
nada daquilo pareceu tão forte, quanto as novas memórias que carregava
consigo. Era como se Rafael fizesse parte de uma realidade passada, de algo
que foi e não existia mais.
Tudo mexia com ela, mas agora, nada ao redor estava cheio de
pontos de interrogação. Lembrou-se de cada momento ruim ao lado dele e
lágrimas amargas vieram a seus olhos. O perdão estava lá, disponível para
todos aqueles momentos, mas ela agora com outra perspectiva. Thiago
adentrou ao quarto e fechou a porta atrás de si. Deu uma pequena olhada ao
redor do quarto, com o mesmo ar de superioridade de sempre, e no final a
encarou nos olhos novamente. Surya continuava olhando para ele, mal
conseguindo acreditar nas palavras que a pouco ele usara e seu corpo engolia
cada tensão que ele exalava no ambiente.
— Porque não me contou.
Ela não gritava, mas o tom de decepção das palavras era visível.
— Eu não acredito que você ainda consegue ser tão arrogante a esta
altura do campeonato, Thiago! Olha o que o seu egoísmo fez! O tempo
inteiro que eu estive com você, eu tinha um noivo, Thiago! Um noivo!
— Para gerar mais porquês em sua mente? Não seja por isto. O que
quer saber? Se eu estou arrependido?
— Está?
— Não há um dia que eu não lamente toda esta história. Mas não me
arrependo.
Tudo para ele era como se fosse um jogo. E ele não perdia. Nada
entrava a realidade, o contato o sentimento. Tudo se tratava de estratégias.
Era ele quem dava o tabuleiro, regras e cartas, não importando mais nada
além disto.
— Eu fui uma peça no seu jogo, Thiago. Assim como também fui
para Bárbara e Lang. Me usaram apenas para terem o que queriam. Você me
manteve lá, no escuro, sem saber de nada e não me venha com esta desculpa
de que era porque se preocupava com as minhas reações caso eu descobrisse
de maneira brusca. Você nunca se importou! — As palavras saiam em rojões.
— E eu nem sei bem se aquele pedido de perdão foi pelas suas maldades ou
por estar me sacaneando!
Thiago mantinha-se inalterado, com resposta pra tudo. Era como ele
tivesse no controle e não estivesse disposta a ceder com isto. E era o que a
deixava em cólera. Nada nele despertava nenhum sentimento além da ira.
Parecia alguém inatingível.
— Sacanagem esta que você adora, não é mesmo? Goza no meu pau
feito uma cachorra.
Ela olhou para ele com o rosto banhado em lágrimas e o que via era
apenas o mesmo de sempre. Era o que a matava. Ela estava magoada, e a
objetividade das palavras dele atrapalhavam a sua assimilação com tudo.
Thiago era muito duro e não abria brecha para que o diálogo entre eles
fluísse.
— Alguma vez para você, o que aconteceu entre nós foi além de
sexo, Thiago? Porque para mim, neste ponto, eu também não me arrependo e
sigo te amando. Mas eu preciso decidir o que fazer com minha vida agora...
Eu não posso simplesmente voltar com você para casa e ignorar o fato de que
eu tive uma vida antes de você. E eu não posso me jogar com tudo me
contentando apenas em ser uma espécie de amante e mãe não biológica dos
seus filhos.
— Com toda a forma que vivi, e fui criado, fui moldado a ser quem
eu sou. E eu sou assim. Tenho um sentimento por meus filhos, mas não sei o
que é amor...eu não conhecia você, Surya, não fazia ideia de quem era, mas
admito que trouxe uma certa significância e....
Mas mais uma vez ele não dissera. Da forma dele, Thiago
intrinsecamente deixou subentendido que não sabia o que era amar, o que era
uma espécie de apunhalada, afinal, naquele momento ela se sentia
completamente vulnerável pelo que sentia e ainda mais usada por ele.
Ela havia criado três regras básicas para conseguir transar sem se
envolver amorosamente e mesmo seguindo-as, se apaixonou perdidamente.
Uma das regras consistiam em ão se deixar levar e se jogar naquela relação.
Ela estava até disposta a isto, desde que tivesse a garantia de que não seria
apenas mais uma mulher a entrar na vida dele e com significados vazios.
Mas no fim, Thiago tocou seu rosto com a ponta dos dedos e
levantou o rosto dele. Ela levantou os olhos, cheios de lágrimas sofridas e
contidas. Algo nele pareceu quebrar. Apesar de ter odiado cada palavra que
ela dissera, ele simplesmente não conseguia dizer a ela que estava totalmente
enganada. Thiago precisava bem entender o que era aquilo que sentia e a
simples palavra amor, não se encaixava e nem fazia sentido.
Ele se sentia um idiota por não saber como falar com ela, ou como se
portar com ela. Ele sabia que ela era sensível, carinhosa e doce, mas não
sabia como acessar isto sem feri-la. Ainda mais quando não sabia dizer que
gostava dela, ou o que sentia por ela.
Mas ela me ama. — Pensou com altivez, mas logo em seguida ficou
confuso novamente. — Mas se amava, porque ainda não tinha voltado?
Como ela exigia algo que ele não sabia oferecer? O sexo era bom.
O que mais faltavam-lhe?
Estava tão desligado de tudo, que ele lia os relatórios, mas não
entendia, E para não fazer uma besteira com plano traçado para pegar o
verme maldito, baixou a tela do notebook com certa força e desistiu de ler,
finalmente indo até a mesa de aparador enchendo o copo com uísque e
tomando a metade em um só gole. O celular vibrava insistentemente em seu
bolso quando ele pegou o aparelho com raiva e olhou para tela. Era Spencer.
— Mas que porra é essa, Spencer? Esse filho da puta não estava aqui
no Brasil?
— Exato.
— Era o que um idiota como ele faria. Estou indo para a Colômbia.
Reforce a segurança da fazenda dos Lima.
— Já o fiz.
— Filho da puta.
Isso durou até Thiago desconfiar e começar a pedir para que valores
fantasmas fossem depositados, com isto, Dominic Lang começou a se irritar
com algumas contas pessoais dele que não fechavam. Se quer disfarçou
quando a constatação de que estava sendo enganado por Thiago o atingiu.
Conseguiu fugir levando falsos valores em dinheiro, e ainda persuadiu
Bárbara, que levou as crianças, ocasionando em toda aquela bagunça de
pessoas envolvidas.
—Fala.
— Não sei! Não sei! Ele só mandou eu ficar aqui no lugar dele.
—É ele.
O carro deles seguia por uma rua longa, deserta e vazia, enquanto ao
longe se podia ouvir o som do motor de algum outro carro avançando
também. Era Lang. Estavam em ruas diferentes, mas emparelhados ao mesmo
quilômetro por hora.
— Saia do carro!
— Você não sabe o quão boa, filho da puta. — Dizendo isto, Thiago
retirou o cigarro acesso da boca dele e apagou em sua bochecha.
Sem querer demonstrar dor, Lang não gritou apenas rugiu de dor,
mas não foi o bastante. Thiago deu um tiro de metralhadora na perna de
Dominic Lang explodindo, fazendo com que virasse um aglomerado de
sangue e carne.
Ele não falava nada, sabia que de nada adiantaria. A decisão foi
tomada e eles seguiriam o curso de maneira implacável. Dominic Lang foi
içado para ser colocado dentro dos primeiros pneus, e à medida que cada um
ia o cobrindo, seu riso ia ficando cada vez mais alto até por fim, virar um
grito misturado com agonia e medo. Thiago se aproximou e o olhou de modo
presunçoso e altivo, antes de dizer:
— E se tem algo que nesta história que ela nos ensina, é que se pode
matar qualquer um.
Com o olhar vagante, Lang acordou e viu que estava sendo banhado
com gasolina, da cintura para baixo. Percebendo aonde aquilo ia parar, o
homem começou a chorar desesperado e a tremer feito um bebê.
Dominic Lang aceitava o fim, mas odiava como estava sendo. Ele
olhava com ódio a imponência de Thiago e se irava ainda mais, imaginando
do porquê não ser ele ali.
Julia foi quem perguntou do pai primeiro. Mas ela sempre tecia
alguns comentários que faziam as crianças entenderem que a ausência era
temporária.
A vontade de gritar com ele era grande, de bater em seu peito e fazer
com que ele desse a ela a certeza de que ela seria a mulher dele e que não
somente seria alguém descartável que logo seria largada em qualquer lugar
depois que ele se cansasse.
Havia um mês que Surya tinha voltado para casa dos pais, e os
antigos hábitos voltando pouco a pouco, como se fossem algo descoberto,
mas ao mesmo tempo nada novo. Nas primeiras noites, as crianças haviam
insistido para que dormissem juntos com ela. Com pena de todo o
distanciamento que haviam sofrido, Surya passou a permitir que aquilo
acontecesse sempre, até que se passasse o período da saudade e ela os
reeducasse.
Para seu alívio, naquele dia, eles não estavam ali, pareciam ter
levantando mais cedo e saído, o que era comum. Especialmente naquela
semana, ela vinha dormindo mais que o comum. Às vezes, até mesmo
durante o dia. Nestas horas, sua mãe a olhava estranho e como se sentisse, ela
sempre corria para o banheiro para vomitar.
— Sua mãe pediu para avisar que esta manhã ficará fora com as
crianças.
— Dona Rita disse que iria até a fazenda do seu Joaquim, para
aproveitar a colheita de melancias e levar as crianças para conhecer. Saiu ela,
seu Ernesto e as crianças, acompanhados daqueles bonitões armados... — Ela
suspirou sonhadora. — Dona Marietta resolveu ficar e está tomando café da
manhã sozinha. Quase pediu para que eu a chamasse...— Vanda riu para si
mesma, balançando a cabeça. — Qual é a desse povo rico que não podem
comer sozinhos na mesa, hein?
Ela descobriu naquele meio tempo que ele era o detentor de grande
parte da fazenda, e que tinha ajudado seus pais a saírem dos problemas
financeiros que enfrentaram, mas não concordava em tornar refém, pessoas
que ele tinha ajudado.
A desculpa foi que corriam um certo risco com o Lang à solta. Por
isso ela também não havia mais visto Rafael. Nem mesmo ele tinha o direito
de se aproximar. No fundo, Surya desconfiou que Thiago não tinha feito
aquilo em nome de nenhuma precação, e sim, em nome dos ciúmes.
Foi preciso que Surya entrasse em contato com Spencer e ele viesse
pessoalmente até a fazenda amenizar os corações perturbados de todos,
dizendo que Thiago estava em uma missão e não podia ter contato. Todos ali
pareceram aliviar, ou até mesmo levar um tempo até sentir a falta de Thiago
novamente, mas Surya não estava igual.
— Marietta, eu...
— Mas não posso fazer isso comigo, Marietta... Thiago sabe que
espero o tempo dele em relação a tudo, mas não posso permitir e seguir com
isso sem que ele engula a intolerância e orgulho que tem e me diga com
palavras o que eu fui todo este tempo em que estive com ele!
A senhora suspirou, parecendo cansada e adiantou-se dizendo antes
de se levantar.
— Bem, neste caso, resta saber de Thiago a resposta. Mas para mim
nunca foi tão claro o que você significou para o meu neto, tanto, que acabou
carregando uma pequena lembrança do que viveram.
Andando sem rumo, ela ia caminhando até os lugares que ela mais
gostava. Espairecer era o que precisava, justamente por estar engasgada com
as palavras de Marietta. Ela decidiu que não galoparia naquele dia, que a
melhor opção seria gastar suas próprias energias e ela mesma caminha, já que
possivelmente estava grávida.
Surya chegou até o local, onde era sua paz. Sentou-se na beirada da
grande pedra, e observou a água limpa cair das pedras encrostadas na parede.
O barulho da cachoeira, a água, tudo mexia internamente com ela, e
amortizava a mágoa, mas também a lembravam da solidão. Naqueles
momentos longe, Surya sentiu e se permitiu chorar toda sua dor e sensação de
vergonha.
Não haveria Rafael, ou Thiago. Ela daria uma chance para si mesma
depois que tudo aquilo passasse. Não seria justo com Rafael ele ser
surpreendido e se achar com obrigações com ela, quando na verdade, ela
estava apaixonada por Thiago.
Olhou para baixo, mas uma massa estranha havia grudado em seus
pés e a mantinha presa no chão. Ela levantou os olhos desesperada, em
busca dos olhos de Thiago, mas ele olhava para um outro ponto, além dela.
Com uma dor enorme que a sufocava, Surya viu que a mulher,
carregava um buquê de flores, e era ela quem começava a andar em passos
curtos até Thiago.
Com a força do grito, ela acordou chamando por ele e deu se conta
de que estava sozinha, deitada debaixo de uma árvore. Olhou para os lados
até seus olhos se acostumarem e percebeu que algumas horas já haviam se
passado.
Surya olhou para o horizonte e percebeu que pela posição do sol, que
se passavam um pouco da hora do almoço, e torceu para que ninguém tivesse
sentido sua falta ou se preocupado.
Era cedo, quando Surya partia da fazenda para ir até a cidade realizar
a consulta médica. Estava de saída na porteira, quando viu o carro de Rafael
de longe e pediu para o motorista parar. Relutantemente o motorista o fez e
ela desceu, batendo a porta do carro. Rafael pareceu nota-la e também parou.
Assim que se aproximaram um do outro, se abraçaram, mas não com o vigor
e calor de outrora, era mais como se fossem amigos. Não era mais como se
estivessem algo.
Surya riu quando escutou ele a chamar daquele apelido que só ele
tinha para ela.
Ela achou uma boa ideia. E sem pedir licença ao soldado, entrou no
carro com o Rafael e partiram. O soldado ainda tentou impedir, mas não teve
chances. Sem pestanejar, entrou no carro e os seguiu.
Rafael, que olhava para ela, olhou para a pista e riu, de modo que as
covinhas tão bonitas apareceram. Outrora, aquelas marcas foram o encanto de
Surya, mas hoje não mais.
— Surya, existe algo que você tem a me dizer, e que eu tenho de lhe
contar... —Ele parou o carro no sinal e a olhou reflexivo. — Quando
aconteceu de... bem, você sabe, da notícia de sua morte. Eu particularmente
fiquei muito abalado. Demorei um pouco para me recuperar, mas com o
tempo eu refiz minha vida... — Riu meio nervoso.
— Bem, enfrentar a perda não foi muito fácil e, com muito custo eu
consegui seguir a diante...nada muito sério, apenas alguns casos, mas agora...
Surya não queria magoá-lo, mas decidiu ser direta e não esconder
nada. Ela levantou os olhos verdes e o encarou bem dentro dos olhos e disse:
— Não posso.
Surya via que Rafael apertava o volante e ruminava cada palavra que
ela dissera. Ele simplesmente estava em estado de negação e relutante.
— Rafael, olhe para mim. — Ela pediu com mais delicadeza e assim
ele o fez. — Somos duas pessoas vítimas do destino e de infelizes
coincidências. Aconteceu algo muito bom entre nós, mas por causa das
pessoas que nos tornamos e pelo tempo que ficamos separados, não
voltaremos mais a ser o que éramos. — Ela apelou para a franqueza, vendo-o
apenas olhar para a frente. — Eu não quero que você me culpe por algo que
aconteceu impensadamente, assim como eu não o culpo por se permitir ter
tido outros relacionamentos neste meio tempo! Eu não sabia de você e nem
você sabia de mim!
Ainda era muito cedo e só havia ela e uma outra moça para
realizarem o teste de gravidez, por isso, a enfermeira decidiu que o resultado
do teste sairia ainda naquela mesma manhã.
Era a palavra escrita no papel com seu nome logo acima. Ela não
acreditou que aquilo estava acontecendo. Suas mãos suaram, seu rosto
empalideceu e ela se sentiu totalmente perdida.
Ela estava emocionada demais para falar algo. A falta que sentia dele
pulsava, ao mesmo tempo que a presença de Thiago ia preenchendo cada
canto. Era impossível de ignorar.
No momento em que a mão dele tocou sua pele, ela sentiu uma
espécie de frenesi, conexão pura e sua pele arrepiou. Foi o que a retirou do
estupor.
Rafael também desceu do carro, mas não disse nada. Thiago olhava
para ele tão cheio de ódio, que o homem não duvidou se quer um minuto de
que ele sabia. E antes de sair e partir, Thiago apontou o dedo em sua direção
e disse:
Não deu tempo de se quer ele pensar sobre o que Thiago falava. Um
homem surgiu, entrou em seu carro e assumiu a direção. Rafael, que olhava
tudo muito estupefato, não percebeu que um outro homem vinha pelo outro
lado, e o prendia com as mãos para trás.
— Ora! Mas que direito você tem de se sentir assim?! Que eu saiba
não temos nada, Thiago.
Ele a olhou como se ela estivesse dito a maior das atrocidades, como
se quisesse esganá-la, e diminuiu a velocidade até parar perto da entrada que
levava a fazenda.
Ela viu um "Mad men" dar uma coronhada nele e Rafael cair no
chão, enchendo a boca de areia. Vendo aquilo acontecer, foi inevitável ela
não correr e ir até ele, mas Thiago pegou em seu braço fortemente e a trouxe
impedindo-a de fazer.
— Toque nele e eu te mato! — Ele pareceu falar sério demais, o que
a magoou profundamente.
— O que você está fazendo, Thiago?! É ciúmes?! Não estamos juntos! Pelo
amor! Não faça isso!
— Não faça isso! Por favor! — Ela chorava. — Eu volto com você e
faço o que for preciso, mas não...
— Não? Pois então venha comigo, vou te mostrar bem o que ele é!
Dizendo isto ele a arrastou pelo pulso até onde Rafael estava.
Vendo-o de perto, ela percebeu que Rafael parecia ainda pior! Ele estava
vendado e pareceu ter apanhado ao longo do caminho, enquanto esteve indo
parar lá.
Tudo aconteceu muito rápido e ela se culpava por não ter percebido
nada, desde que foram interceptados. Sem olhar para ninguém, ou se quer
enxergar algo no caminho, ela virou-se e caminhou, ainda de cabeça baixa,
para sair daquele lugar tão sufocante e opressivo.
Surya não quis ver nada. Não queria olhar em direção, mas ela sabia
que estava sendo vigiada por astutos olhos negros. Ela estava totalmente
desequilibrada e quase desmaiou ao chegar perto do carro, foi que Thiago a
amparou.
Rafael fez parte de sua história. Foi seu primeiro beijo, sua primeira
transa, sua primeira expectativa de futuro e matrimônio. Ainda que a chegada
de Thiago tivesse mudado e anulado tudo, ela ainda nutria carinho por Rafael
ter sido especial.
Tudo parecia ser um sonho. Ela olhou as horas no pulso e não fazia
nem três horas desde que esteve com Rafael, e coisas demais já haviam
acontecido desde então naquele meio tempo.
Sua visão periférica fazia com que ela o visse lá, ainda que não
quisesse, por isso ela abaixou a cabeça e lágrimas quentes e silenciosas
caíram.
— Não é assim que funciona comigo, Thiago! Eu sou real, não sou
feita de gelo igual a você! — As palavras dela parecem o atingir. — Eu sinto,
você gostando ou não.
—Quero conversar.
Surya voltou-se para ele e riu sem humor. Ela olhou para o rosto dele, como
se o enxergasse pela primeira vez naquele dia.
— Eu não quero conversar agora, Thiago, e nem acho que deva ser o
momento certo.
— Então me prove que eu não sou apenas parte do seu jogo, Thiago!
Prove que eu não sou apenas alguém a ser usada por você para presenciar
seus joguinhos sádicos! Prove que você não vai me levar para sua casa e
depois quando se cansar, vai me devolver como descartável...
— Mas não é nada disso, caralho! Eu quero que você volte comigo,
e quero isso porque eu gosto de você! Me ouviu?! Eu gosto de você! É isso
que quer escutar?!
Suas mãos tremiam e ela sentia que o corpo pedia algo. Foi então
que piscando muito, olhou no final do corredor e viu que seu pai falava
freneticamente ao telefone, Marietta a seu lado a abanando com o rosto cheio
de preocupação, e foi quando um leve carinho em seu pé lhe chamou atenção.
Era Thiago.
A pergunta foi tão inocente, mas tão preocupada que Surya não teve
coragem de rir e apenas respondeu:
— Neste caso, então sugiro que Vanda sirva algo a ela. — Marietta
interviu.
Sem acreditar no que ele dizia, ela abriu a boca para chamá-lo, mas
Thiago virou-lhe as costas e caminhou até a porta, e mais uma vez, saiu a
deixando estupefata.
Capítulo 49
Ela estava abatida com a morte de Rafael, e com tudo o que havia
descoberto sobre ele. A sensação que Surya tinha era que parecia que ele
tinha atuado o tempo inteiro. Não usou de maneira clara.
— Vamos ali dentro comigo, Rita, temos que ver como ficou aquela
planilha de pagamento. Nos acompanha também, Marietta?
—Eu jamais brincaria com você, Thiago... E sobre o que você disse
no outro dia, eu acho que...—Ela respirou fundo e disse tudo o que pensava
de uma só vez. — Você realmente não entende nada... Eu não exijo que me
ame agora, porque eu respeito o seu tempo, seu processo e a sua forma de
encarar esta nova situação...— Suspirou longamente. — Mas se me amar não
faz sentido para você, então acho que já tenho minha resposta.
— De como será daqui para frente. Minha nova vida sem você.
Sem entender nada, Surya olhou para ele confusa, sem saber ao certo
o que ele estava fazendo.
— Você acha que pode se livrar de mim assim, Surya? —Ela puxava
o braço e tentava parar, mas ele não cedia. — Vou te mostrar o que eu sou na
tua vida.
— Estou? — Ele disse com raiva. — Você não viu nada! Você não
vai fazer isso comigo!
Ela puxava o braço dele, mas nada o impedia de levá-la a força. Ela
começava a tropeçar no meio do caminho e Thiago ainda assim a arrastava.
— Não faça assim! Não faça assim! — Mas ele não escutava. De
repente, com um berro para fazê-lo parar, ela gritou: — Eu estou grávida!
E então ele parou e a olhou fora de órbita. Ela estava levantada, com
as duas mãos nos ombros dele, e ele a segurava, abraçado às coxas dela.
Surya o olhava de cima e estudava nele cada reação. Demorou um pouco até
ele começar a piscar rápido, e parecer se lembrar de algo. Thiago a colocou
no chão e a olhou no fundo dos olhos.
— Neste caso. Vamos nos casar. Não sou pai de filhos bastardos.
Ela o olhou bestificada, meio que sem entender aonde que ele queria
chegar com aquilo.
Ela não pediria para ele dizer o porquê. Já estava cansada de pedir e
implorar para ele, mas engoliu a decepção que sentiu.
— Eu quero ver.
Assim que entraram na casa, o barulho de sempre estava lá: Seu pai
cuidado dos negócios, ou conversando com algum empregado; sua mãe e
Marietta compenetradas em um novo hobby: esculpir, e havia também as
crianças, que bagunçavam tudo.
POSITIVO.
Thiago caminhou com ela, ainda aos beijos, quando bateram numa
parede. Ele desceu a boca para o pescoço dela, e Surya começou a desafivelar
o cinto dele apressadamente, ansiosa, desejosa, querendo mais, mais e mais.
E foi neste momento que ele a puxou para cima e levantou uma
perna dela, afastou sua calcinha para o lado com brusquidão e a penetrou de
uma só vez.
Ela meio que não estava preparada para a sensação, à pesar de lubrificada, e
seu corpo levou um susto com a invasão, fazendo-a olhar para ele de olhos
bem abertos e prender as palavras na garganta.
Foi uma agonia gostosa, e uma dor prazeroso tê-lo todo dentro dela,
completo e pulsante. Thiago varria cada expressão do rosto dela, enquanto
suor brotava em seus rostos. Ele se manteve dentro dela, parado, íntimo de
mais, parecendo desafia-la a dizer algo.
Thiago a fitava no fundo dos olhos e ela pôde sentir novamente uma
ligação, uma espécie de fio interno que a conectou instantaneamente. E era o
que ele precisava. Thiago rosnou quando levantou sua outra perna e a
manteve de pernas bem abertas e suspensa no ar.
À medida que ele ia mais rápido, Surya ia cada vez mais se sentindo
leve e prestes a flutuar para um outro lugar. Levou a boca até perto do ouvido
dele e gemeu baixinho e sofrido, o que o enlouqueceu ainda mais.
— Então depois que eu comer sua boceta, vou gozar bem forte no
seu cuzinho.
Ela sentia dor, mas estava relaxada, o que ajudava bastante. Sentiu o
corpo ceder e então, ele a penetrou. Longo, forte, cheio e duro, e ela não
podia acreditar que Thiago ainda continuava daquele modo.
Ele parou no mesmo momento, achando que gozaria mais uma vez
tamanho era sua vontade, mas não aconteceu. Ele se moveu lentamente,
entrando e saindo, enquanto ela abria o vão entre as pernas cada vez mais
para recebê-lo.
— Estou te machucando?!
Ela quase que não o reconheceu de tão tenro que ele pareceu.
Surya estava tão cansada e sem forças, que Thiago meio que a
sustentou e a levou até a cama. Ele sentou e a trouxe para se sentar em seu
colo, amparando-a e a beijando na boca.
— Eu amo você. — Ele reafirmou baixinho, antes de levantar a mão dela e
colocar um anel no dedo anelar.
2 meses depois...
Surya estava feliz com o rumo que sua vida estava tomando, e se
sentia realizada. Finalmente o arco-íris no final da tempestade.
Marietta certo dia até comentou, que apesar de nunca ter conhecido
o calor humano, e o aconchego familiar ser pouco prezado na família Guerra,
ela havia encontrado uma razão de sentir o afago humano.
Sua amiga de infância, Ana Zélia é que seria uma de suas madrinhas.
Ela também tinha se arrumando no mesmo lugar que Surya e depois de
pronta se aproximou, pondo as duas mãos em sua barriga e sorrindo.
Ela se olhou no espelho e quase que enxergou uma outra mulher ali.
Seus cabelos estavam soltos, caindo em longas mechas onduladas. Suas
únicas joias eram algumas poucas pérolas que compunham a imagem de uma
linda e elegante noiva gestante, mas todos presentes ali, afirmavam que sem
dúvidas ela estava linda.
— Quero que seja muito feliz, minha filha. Te desejo todo o amor e
sorte no mundo. — As palavras amorosas a deixaram comovidas, e ela
apenas conseguiu murmurar um “obrigada."
Fim.
Epílogo
7 anos depois...
— Mas a vez dela foi hoje pela manhã! Não quis alimentar na hora certa,
perdeu a vez!
Quando o lugar ficou pronto, ela percebeu que era uma linda casa
ampla e ecológica, com paredes de vidro, e que ficava no alto de uma colina
com vista privilegiada para as plantações de laranjas e reserva ambiental que
ficava ao lado. A "casa transparente", como Júlia gostava tanto de chamar,
ficava um pouco mais afastada da sede da fazenda, aonde seus pais ainda
moravam.
Nos momentos que eles iam vinham ao Brasil, era quando Surya
tinha a prévia autorização do marido para exercer sua profissão de
veterinária. Ela gostava de fingir que era Thiago quem tinha a palavra de
decidir o que ela faria e para todos os efeitos, quando algo grave acontecia e
precisavam dela, Surya sempre conseguia uma permissão, pedindo de um
jeito especial e sábio para irem mais cedo ao Brasil. Esta foi a maneira que
ela encontrou para manter a palavra dele valendo, mas fazendo o que ela bem
queria. Deixando-o acreditar que ele mandava, quando na verdade, acontecia
ao contrário.
Assim que Eva completou dois anos, e os gêmeos sete, Marietta veio
a falecer de uma insuficiência renal crônica, o que causou o abalo e tristeza
em todos. Seus pais haviam ficado devastados e choraram a perda da amiga
querida e Surya nunca vira Thiago tão calado e fechado, mas no fim, a vida
seguiu seu curso e acabaram por aceitar que aquele era o rumo natural que a
vida levava.
— Por que estão brigando, Pedro? — Júlia não entende, mamãe. Ela
acha que sempre é só ela que importa e isso me deixa sem paciência alguma.
Ela sentia medo e naturalmente foi ficando cada vez mais perceptível
suas reações exageradas de proteção. Num dia, ela simplesmente ficou um
pouco mais reclusa e pesquisava incansavelmente sobre ressocialização de
crianças, pensando que a qualquer momento seu filho poderia ser tirado dela.
Mas a resposta dele veio e tirou toda a aflição que ela sentia. Thiago
explicou que ele não tinha planos de submeter Pedro à metamorfose, e que
daria a chance de escolha ao menino quando chegasse a hora certa. Mas que
até lá, Thiago o traria para mais perto para que ele aprendesse a ter
maturidade para quando fosse chegada a hora, Pedro escolhesse com
personalidade se ele queria assumir o posto de chefe ou não. Surya ficou tão
aliviada que sentiu o peso enorme lhe ser tirado das costas.
Nos momentos que se viam sozinhos, depois das viagens que ele
fazia, era sempre muito intenso e muito fervoroso a maneira com que
transavam e se entregavam. Era sempre muito bom.
Júlia veio correndo até a mãe e logo quis a criança e fazer carinho
também. Júlia era muito carinhosa, gentil e muito doce, mas conseguia ser
bastante geniosa quando queria.
Logo, Eva também veio, pedindo para segurar Tulipa no colo, ideia está que
não foi cogitado pelos adultos, já que se tratava de uma criança de 5 anos
pedindo para segurar no colo uma bebê de 4 meses.