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Ale Silva
1° Edição
2018
REVISÃO: JULIANA POLICARPO
CAPA: ALE SILVA
DIAGRAMAÇÃO: ALE SILVA
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. QUALQUER
SEMELHANÇA COM FATOS, NOMES E ACONTECIMENTOS
REAIS É MERA COINCIDÊNCIA.
OUTRA CHANCE PARA O AMOR — 2018 — ALEXANDRA
SILVA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
SÃO PROÍBIDOS O ARMAZENAMENTO E/OU A
REPRODUÇÃO DE QUALQUER PARTE DESTA OBRA SEM O
CONSENTIMENTO DA AUTORA.
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS É CRIME
ESTABELECIDO NA LEI N°.9.610/98 E PUNIDO PELO ARTIGO 184
DO CÓDIGO PENAL.
Agradecimentos
Primeiramente a Deus por me permitir escrever esta história e dar
vida aos personagens que surgiram na minha mente. Aos meus filhos que
tanto me cobraram para voltar a escrever e me apoiam mesmo quando fico
horas sentada em frente ao computador. Vocês são minha vida. As minhas
Sem filtro: Eliz, Cris e Ju, por me aturarem falando o tempo todo sobre o
livro e embarcar nessa loucura comigo; por “adotar os meus filhos” como
vocês fazem; por me ajudar na construção de mais esta história me dando
dicas e apoiarem em tudo. Amo vocês. Ao meu trio de “advogatas”: Juliana
Policarpo, Lorene Fonseca e Jéssica Bidoia por me auxiliarem nesse percurso
e me ajudarem a dar vida ao Felipe. A Juliana Giorgiani por me aturar te
perturbando o tempo todo perguntando sobre contabilidade. A Cristiane Lana
por me ajudar com essa capa. Não teria conseguido sem você. A minha
Gangue que sempre me incentiva e apoia. Por último, mas não menos
importante, aos meus leitores que deixo representados aqui por Viviane
Oliveira e Adiany Junior. Muito obrigada. Amo todos vocês.
Índice
Sinopse
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capitulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Capítulo quarenta e quatro
Capítulo quarenta e cinco
Capítulo quarenta e seis
Capítulo quarenta e sete
Capítulo quarenta e oito
Capítulo quarenta e nove
Capítulo cinquenta
Capítulo cinquenta e um
Capítulo cinquenta e dois
Epílogo
Bônus
Uma chance para a felicidade
Playlist
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Outras obras da autora
Sinopse
Amanda vê seu casamento desmoronando a cada dia e não tem mais
forças para lutar sozinha e tentar reverter essa situação. Os únicos momentos
de alegria que tem são ao lado de sua filha. As suspeitas de traições e
constantes brigas com o marido a fazem tomar as rédeas de sua vida e tentar
um recomeço. Ela só não contava que nessa construção de uma nova vida
fosse conhecer alguém capaz de mexer com todos os seus sentidos como
ninguém mais conseguiu.
Guilherme vive cercado por belas mulheres e está cansado de pessoas
que pensam mais no corpo do que em qualquer outra coisa. Sua vida é
administrar a academia onde é sócio com uma de suas irmãs e curtir a
família. Depois de uma grande decepção que teve no passado não pretende se
envolver com mais ninguém. Mas essa decisão vai por terra quando conhece
Amanda. Por mais que tente, ele não consegue tirá-la da cabeça. Nem mesmo
o fato de saber que ela é casada, faz com que ele consiga esquecê-la.
Duas pessoas machucadas e o destino se encarregando de juntá-las.
Será que eles darão outra chance para o amor?
Prólogo
Sinto o Felipe tenso, olhando pelo retrovisor a todo o momento e sei
que tem alguma coisa errada. Olho para trás e vejo um carro cada vez mais
próximo de nós.
Eu conheço esse carro e só o fato de estar nos seguindo já me deixa
nervoso. O que será que esse cara pretende fazer? Ele parecia fora de si e
tenho medo do que está passando na cabeça dele neste momento.
— É ele, não é? — Pergunto só para confirmar. Ele acena com a
cabeça em acordo sem desviar os olhos do trânsito. — O que será que ele
quer? Esse desgraçado não vai desistir?
— Parece que não. Fica com ela e deixa que eu cuido disso,
Guilherme. Ela está de cinto, não está? Coloca o seu também e tenta distraí-
la.
— Tudo bem. — Respondo a ele e me viro para a Duda. — O que
você fez na escola hoje, princesinha? — Tento fazer com que ela preste
atenção em mim.
— Por que o papai estava gritando na minha escolhinha, tio Gui? Ele
está triste comigo? Eu não fiz nada. — Diz com os olhos brilhando de
lágrimas.
Respiro fundo e tento pensar em uma desculpa para não complicar a
situação. Essa menina já passou por coisa de mais para eu piorar por estar
com vontade de socar a cara do pai dela para ver se ele para de fazer as
mulheres da minha vida sofrerem. Porque é isso que ela e a mãe dela são para
mim. Sou capaz de tudo pelas duas.
Olho para trás mais uma vez e vejo que ele está cada vez mais perto.
Percebo também que, logo atrás, tem um carro da polícia.
— É claro que não está triste com você, princesinha. Ele só estava
nervoso. Adulto é assim mesmo. Vive fazendo besteira e depois se arrepende.
Escuto uma pancada e o carro quase perde a direção. Olho para o lado
e vejo que é ele tentando nos jogar para fora da rua.
— Segura ela, Guilherme. Esse homem está louco. Vou tentar sair
daqui, mas o trânsito não está ajudando.
— O que foi isso, tio Gui? — A Duda pergunta assustada.
— Nada, minha princesinha. O tio Lipe já vai tirar a gente daqui. Fica
calma, tudo bem? É só você ficar quietinha.
O Felipe consegue sair em uma rua com menos movimento e ele vem
logo atrás. Escuto a sirene da polícia e espero que consigam nos alcançar
antes que ele faça mais alguma loucura.
Assim que fazemos outra curva ficamos de frente com vários carros
parados em um sinal. Não tem para onde o Felipe fugir. Viro-me para ver
onde ele está e percebo que deu um pouco de distância.
Quando acho que desistiu, ele acelera e vem a toda velocidade em
nossa direção. Só tenho tempo de soltar o meu sinto e tentar proteger a Duda
com o meu próprio corpo. Somos jogados com a batida e o carro roda na rua,
batendo em seguida em um muro. Sinto meu corpo doer, mas só consigo
pensar se a Duda está bem.
Começo a olhar para ela a procura de algum machucado.
— Você está bem, Dudinha? Fala com o tio Gui, minha princesinha.
— Eu quero a minha mãe. — Diz completamente assustada e
chorando muito.
— Tenta sair daqui com ela. Ele está vindo para cá. Rápido, cara.
Viro-me para ver o que ele está falando e vejo o César vindo em
nossa direção com uma arma na mão. Tento abrir a porta e não consigo. O
carro está amassado de um lado e o outro está encostado no muro me
impossibilitando de sair.
Percebo que o Felipe também tenta abrir a porta dele e não consegue.
Jogo o meu corpo por cima do da Duda e fecho os olhos fazendo uma prece
para que a polícia chegue aqui a tempo de impedir esse louco e que ele não
tenha coragem de machucar a própria filha. Escuto um disparo e tudo para ao
meu redor.
Capítulo um
Amanda
— Mamãe, o papai não vem? Ele não gosta mais de mim? — A Duda
me pergunta com a voz de choro e eu respiro fundo para me controlar antes
de ficar de frente para ela.
Nós tínhamos combinado de ir ao cinema com hoje e depois iríamos
lanchar em uma lanchonete que ela adora, só que, já são oito horas
da noite, o César ainda não chegou e nem atende o celular.
Espero sinceramente que ele tenha ficado preso em alguma reunião de
última hora e não tenha conseguido me avisar, caso contrário, eu vou esganá-
lo assim que passar pela porta de casa.
— Claro que ele gosta de você, meu amor. Deve ter acontecido
alguma coisa no trabalho dele e ele não conseguiu sair de lá ainda. Daqui a
pouco ele chega. Quer que a mamãe faça um lanchinho para você? Já está
tarde, nós não vamos conseguir mais sair hoje.
— Mas eu queria ver o filme. — Diz com lágrimas nos olhos.
— Agora não dá mais tempo, filha. Outro dia nós vamos. Se o papai
não puder ir junto, vamos nós duas. — Dou um beijo no rostinho dela e pego-
a no colo. — Vamos comer alguma coisa bem gostosa para você poder
dormir. O papai deve demorar ainda.
Vou com ela para a cozinha e, como ela jantou mais cedo para
sairmos, faço apenas uma vitamina de banana que ela adora. Pego também
alguns biscoitos de leite para que ela coma e não sinta fome durante a noite.
Assim que ela termina, vamos para o quarto, onde eu dou banho e
coloco o pijama dela.
— A gente pode ver mais um pouco de desenho, mamãe? Eu não
estou com sono. — Sinto que ela está querendo esperar o pai, mas sei que não
irá aguentar muito tempo.
— Só um pouquinho, mocinha. — Deito com ela no sofá da sala. Não
demora trinta minutos e ela já está dormindo.
Coloco-a na cama e a cubro. Dou um beijo na testa dela e volto para a
sala. Quero ver que horas e como o César irá chegar. Qual será a desculpa
dele?
Olho mais uma vez para o relógio. Já são onze horas da noite e nada
de ele chegar. Não sei mais o que pensar. Posso estar aqui o xingando de
todos os nomes e ele ter sofrido um acidente ou alguma coisa parecida.
Ele nunca teve horário fixo para chegar em casa, mas também nunca
chegou tão tarde. Se pelo menos atendesse o celular eu ficaria mais calma.
Começo a torcer para que ele esteja no bar com o pessoal do trabalho, apesar
de não entender o motivo de não ter me avisado, já que eu nunca fui de
reclamar dessas coisas.
Sei que o nosso casamento está passando por problemas, porém, a
maioria dos casais passa por isso em algum momento do relacionamento.
Acredito que seja a tão falada crise dos sete anos chegando adiantada, já que
nós só completaremos os mesmos daqui a quatro meses.
Começo a me lembrar de quando nos conhecemos. Eu conheci o
César em um dos piores dias da minha vida. O dia em que eu perdi a minha
mãe. Ela estava lutando contra um câncer e não resistiu.
Eu estava na faculdade quando meu pai me ligou para avisar. Saí da
sala sem rumo, chorando pelo corredor. Todos me olhavam, mas ninguém se
aproximava para perguntar o que estava acontecendo.
O César foi o único que me parou, perguntou se eu estava me
sentindo bem e, quando eu não consegui responder por causa do choro, só me
abraçou.
Estava tão perdida em minha dor que não reparei que ele me levava
para a cantina. Quando percebi, ele já voltava com uma garrafa de água para
mim. Ele esperou que eu me acalmasse e contasse o que estava acontecendo.
Logo depois de eu desabafar, perguntou se eu queria ir para o hospital
e se ofereceu para me levar. Não nos separamos mais depois desse dia.
Nós fazíamos faculdade de contabilidade. Ele estava no sexto período
e eu no quarto. Quando ele se formou, foi trabalhar com um casal de amigos
que abriu um escritório. Depois, eu completei o meu estágio lá e, assim que
me formei, fui efetivada.
Seis meses depois de formada, eu perdi o meu pai. Ele era tão
apaixonado pela minha mãe que se entregou quando ela faleceu. Mais uma
vez o César foi o meu suporte. Casamos seis meses depois.
No começo do casamento era tudo perfeito. Sempre nos demos muito
bem. Trabalhávamos juntos, saíamos com nossos amigos nos fins de semana
e nunca brigávamos.
Depois de dois anos, eu engravidei da Duda. Nossa filha foi muito
desejada. Assim que ela nasceu, ele me pediu para parar de trabalhar. Disse
que, no futuro, se precisasse, eu voltaria, porém, naquele momento, ele daria
conta de tudo e queria que eu curtisse o crescimento dela. Como eu não
conseguia me imaginar longe da nossa princesa, aceitei.
De um ano para cá começaram os problemas. A gente briga por tudo.
Ele vive chegando tarde em casa. Tem sempre uma desculpa de alguma
reunião, algum cliente de última hora. Tem tempo para tudo, menos para sair
com nós duas.
Foi por esse motivo que marcamos de sair hoje com a Duda. Ela anda
sentido falta do pai e, depois de mais uma discussão, nós combinamos de
fazer esses programas em família mais vezes. O que não adiantou nada. Pelo
contrário, só piorou. Minha filha foi dormir arrasada achando que o pai não
gosta mais dela.
Outro fator que mudou também foi em relação ao sexo. Nós sempre
nos demos muito bem neste quesito, só que, de um tempo para cá, está cada
vez pior. A gente quase não transa mais e, quando transa, não é a mesma
coisa. Eu sinto como se ele estivesse fazendo por obrigação.
Sei que se parasse para conversar em um grupo de amigas e contasse
tudo o que está acontecendo, elas iriam me perguntar o que ainda estou
fazendo em um relacionamento fracassado como esse, mas o problema é que
eu não tenho com quem conversar e, além disso, no fundo, eu ainda acho que
é só uma fase. Não quero jogar anos de relacionamento para o alto.
Acabei perdendo o contato com a maioria das amigas de faculdade. A
única que eu não perdi completamente foi a Rebeca, que é a dona do
escritório em que o César trabalha junto com o Artur, marido dela, só que ela
também é amiga dele. Inclusive, foi por isso que nos conhecemos. Então,
apesar de gostar muito dos dois, eu fico meio travada em conversar sobre
certos assuntos com eles.
Acabo pegando no sono no sofá esperando ele chegar e acordo com o
barulho da porta abrindo. Olho para o relógio e já passa de duas horas da
manhã. Respiro fundo e me levanto. Está na hora de enfrentar o problema de
frente.
— Posso saber onde você estava e por que não atendeu o celular? —
Pergunto tentando me controlar para não gritar e acordar a Duda.
— Boa noite para você também. Como foi o seu dia? — Deboche
puro sai de sua boca.
— Boa noite? Você já viu a hora, César? — Uso todo o meu controle
para não voar no pescoço dele.
— Eu estava trabalhando, Amanda. Alguém precisa fazer isso nesta
casa. — Não respondo. Sei que ele quer me provocar para que eu perca a
razão.
— Você esqueceu, não é? Não faz ideia do motivo de eu estar tão
irritada por você chegar tarde. — Minha voz transborda de incredulidade.
Sorrio sem humor nenhum.
— Esqueci o quê? Qual foi a data importante que eu deixei passar? —
Pergunta com sarcasmo.
— A gente tinha combinado de sair com a Duda. Ela ficou te
esperando até tarde. A menina dormiu chorando, César. Perguntando se o pai
não gosta mais dela.
— Dramática igual à mãe. Ela tem que entender que eu estava
trabalhando e não brincando. Não posso largar tudo só para satisfazer um
capricho dela.
— Capricho? O que você chama de capricho eu chamo de saudade.
Ela está sentindo a sua falta. Você quase não para mais em casa. Nunca tem
tempo para a gente.
— Sem drama você também, Amanda. Chega. Eu estou cansado.
Estava com um cliente importante para o escritório. Não posso me dar ao
luxo de escolher horários e negar uma reunião. Pensei que você soubesse
como funciona.
— Sabe o que eu sei? Que você poderia ter avisado que não vinha.
Assim pelo menos a sua filha não ficaria esperando por nada. Sabe mais o
que eu sei, César? Que é muito bom que você esteja falando a verdade para
mim e realmente estivesse em uma reunião com cliente, porque, se eu
descobrir que é mentira, eu não sei do que eu sou capaz.
— Vai querer me controlar agora? Você está se transformando
naquelas mulheres insuportáveis que só sabem cobrar e que o marido prefere
ficar na rua para não ter que aturar. É melhor ficar em uma reunião com um
cliente mala do que aqui em casa aguentando você com essa chatice.
— Eu nunca fui de te cobrar. Nunca reclamei de você ir para o bar
com o pessoal do escritório no final do dia, nem mesmo controlei os seus
horários. Mas eu te digo uma coisa, César, escuta bem o que eu vou falar, se
eu descobrir que você está me traindo, nada e nem ninguém vai me fazer ficar
quieta. Isso eu não perdoo. Pensa bem no que você está fazendo. O nosso
casamento está indo ladeira a baixo e você não está fazendo nada para
impedir, pelo contrário, está se afastando cada vez mais. Depois não diz que
eu não avisei. — Viro as costas e caminho em direção ao quarto da Duda.
— Aonde você vai? — Indaga com voz de surpresa. Acredito que não
esperasse que eu saísse assim da sala, já que eu nunca quero terminar uma
conversa brigada com ele.
— Para o quarto da minha filha. Esta noite eu me recuso a dormir
com você. Aproveita para pensar no que você quer. — Digo sem nem olhar
para trás.
Chego ao quarto da Duda e deito-me na cama com ela. Puxo o
corpinho dela para perto de mim e sinto o cheirinho gostoso que ela tem
tentando me acalmar, mas não funciona. Por mais que eu tente impedir, as
lágrimas descem livres pelo meu rosto.
Parece que o que eu mais temia está acontecendo. Meu casamento
está indo para um caminho sem volta e eu não sei se tenho forças para lutar
sozinha por ele.
Preciso voltar a pensar em mim. Tenho que colocar a Duda em uma
escola e voltar a trabalhar. Não quero mais depender dele para tudo. Eu não
estou mais sozinha. Se o meu casamento realmente chegar ao fim, eu tenho
que estar preparada.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu vou fazer tudo que puder para te
proteger disso tudo. Prometo. Eu te amo, minha filha. — Falo baixinho
próximo ao ouvido dela e dou um beijo em sua cabecinha. Ela se aproxima
mais de mim como se estivesse entendendo que eu estou precisando desse
carinho.
Capítulo dois
Amanda
Acordo mais tarde do que o costume e demoro um pouco para me
situar. Estou no quarto da Duda. Lembro-me da conversa que eu tive com o
César quando ele chegou. Nem sei se aquilo pode ser chamado assim, na
verdade.
Começo a escutar barulhos vindos da cozinha e resolvo não levantar
ainda. Acredito que o César esteja preparando alguma coisa para comer. Se
fosse outro dia, eu já estaria lá fazendo, mas, hoje não. Ele que se vire
sozinho.
Consigo ficar mais dez minutos deitada antes que a Duda acorde.
— Bom dia, meu amorzinho. — Dou um beijo nela e aperto o seu
corpinho junto ao meu.
— Bom dia, mamãe. A senhora dormiu aqui comigo? — Pergunta
sonolenta.
— Sim, princesa. A mamãe queria dormir agarradinha com você. —
Ela fica parada me olhando e sei que vai perguntar pelo pai. Resolvo mudar
de assunto antes que ela o faça. — Está com fome? Vamos tomar café? —
Ela se espreguiça e acena com a cabeça em acordo.
O barulho que vinha da cozinha já parou. Espero que ele tenha saído e
eu não precise encontrá-lo logo cedo. Levanto da cama, pego minha filha no
colo e sigo para o banheiro. Depois de nos prepararmos, vamos para a
cozinha juntas cantando a música da Ana e da Elsa do filme Frozen que ela
adora.
— Bom dia! Como as minhas garotas estão? Dormiram bem? —
Estaco na porta da cozinha com a cena que eu vejo.
A mesa está posta para o café com diversos tipos de pães, biscoitos,
bolo e frios, além de leite, achocolatado, suco e salada de frutas. Ele deve ter
ido à padaria que tem aqui na esquina para comprar essas coisas, pois nunca
que faria isso tudo.
— Papai. — Minha filha fala com voz de choro e se agarra em minhas
pernas.
— Oi, filha. Você desculpa o papai por ontem? — Ele se abaixa na
frente dela para perguntar. — O papai estava com um cliente muito
importante e não conseguiu chegar mais cedo, mas prometo que hoje nós
vamos nos divertir muito juntos. Nós três. — Diz olhando para mim.
— O senhor ainda gosta de mim? — Sinto que minha filha quer se
jogar nos braços do pai, só que ainda está sentida com ele.
— Claro que sim, bonequinha. O papai te ama. — Solto os bracinhos
dela da minha perna e me afasto, deixando os dois sozinhos e me aproximo
da mesa para preparar o pratinho dela. — Diz para o papai, o que você quer
fazer hoje?
— Eu quero ir no cinema. — Responde se animando.
— Então, eu já sei o que vamos fazer. Nós vamos tomar esse café
bem gostoso que eu preparei para nós três — Fala olhando para mim. — e
vamos para a pracinha brincar. Depois, a gente vem para casa tomar banho
para ficarmos bem cheirosos para ir ao shopping almoçar e ver o filme que
você quiser. O que você acha? Topa?
— Topo. — Grita com um sorriso enorme no rosto e se joga no colo
dele que a pega e abraça apertado.
Viro de costas e fecho os olhos rezando para que esse carinho todo
não seja passageiro mais uma vez. Eu quero acreditar, porém, não é a
primeira vez que isso acontece, e eu não consigo mais confiar assim tão fácil.
— Aqui, filha. Vem comer. — Coloco o pratinho na frente da
cadeirinha dela e sento-me ao lado para ajudá-la.
O café passa tranquilo, com eles fazendo planos para o dia e rindo um
para o outro o tempo todo. Sinto que ele quer me falar alguma coisa, mas se
controla por causa da Duda.
— E você, amor, — Coloca a mão sobre a minha e me chama como a
muito não fazia. — o que acha? Quer fazer alguma coisa diferente ou os
nossos planos estão bons para você também?
— O que a Duda quiser está ótimo para mim. — Digo puxando a
minha mão. Se ele acha que eu vou facilitar para ele, está muito enganado. —
Vou lavar a louça para a gente sair. — Falo e me levanto. Ele segura minha
mão mais uma vez e diz:
— Deixa que eu lavo hoje. Você já faz isso todos os dias. — Assim
que ele acaba de falar, a campainha toca. — Atende, por favor? Deve ser uma
encomenda que fiz.
Não respondo. Viro-me e caminho para a sala em direção a porta para
ver que é. Abro e vejo parado no portão de casa um entregador com um
buquê de rosas salmão em uma das mãos e uma caixa pequena na outra.
Caminho para o portão para receber. O César sempre teve esta mania.
Ele nunca me dá flores, a menos que queira se desculpar por alguma coisa,
como é o caso hoje.
— Bom dia, a senhora é a Amanda? — Questiona o entregador.
Aceno com a cabeça em acordo e ele continua. — São para a senhora e essa
caixinha é para a menina Eduarda. — Diz olhando para um papel com os
nomes anotados.
— Bom dia. — Respondo e pego o buquê e a caixa, que agora eu sei
ser de bombons da mão dele e agradeço. — Obrigada. Precisa assinar?
— Não, senhora. É só entregar mesmo. Tenha um bom dia.
— Obrigada. Você também. — Espero que ele saia para voltar para
casa.
Assim que eu entro, encontro o César me esperando. Vejo a Duda
sentada no sofá vendo desenho. Ele se aproxima de mim, segura em minha
cintura e tenta me beijar, mas eu desvio o rosto antes.
— Gostou das rosas? Sei que são suas flores preferidas. — Indaga
todo carinhoso.
— Sim, você acertou. Pena que eu só receba quando você faz alguma
besteira e precisa se desculpar, não é mesmo? — Dá um passo para trás como
se eu tivesse o empurrado. — Pode ficar tranquilo. Eu não vou estragar o seu
teatro. Não por você, e sim pela minha filha.
— Não sei do que você está falando, amor. — Diz se fazendo de
desentendido. — Eu sei que errei ontem. Estava de cabeça quente. Peguei um
cliente complicado no escritório que me solicita muito. Acabei descontando
em quem não devia. Sei que você está chateada, e com razão, mas estou me
desculpando. Ontem você me acusou de não estar fazendo nada pelo nosso
casamento, agora eu estou. Será que eu não mereço uma chance?
— Merece. Claro que merece. Assim que eu perceber que você
realmente quer esta chance e que você não vai mudar outra vez daqui a três
dias como vem acontecendo sempre nos últimos tempos. Você pode comprar
a nossa filha com presentes e passeios. Ela ainda é muito inocente para
entender as coisas, mas, eu, não. Eu quero atitudes, César. E não um dia só.
Quero direto. Quero o homem com quem eu casei, por quem eu me apaixonei
de volta. Não vou aceitar menos que isso. — Falo tudo em um tom baixo para
que a Duda não note que estamos discutindo. Sinto-me até mais leve depois
de soltar tudo que estava engasgado. — Toma, entrega a ela. Eu vou me
arrumar e separar a roupinha dela. — Viro-me para sair da sala e ele me
segura mais uma vez.
— Eu vou te provar que desta vez é sério. — Segura minha mão e
leva aos lábios, beijando os meus dedos e solta. Não respondo. Sigo para o
meu quarto.
Assim que passo pela porta, escuto os gritinhos de felicidades da
minha filha na sala. O pai deve ter entregado a caixa de bombom. A Duda
adora ganhar presentes e ele ainda escolheu uma coisa que ela ama:
chocolate.
Jogo-me na cama e respiro fundo. Penso no que o César falou para
mim agora na sala e espero que seja verdade. Apesar de me fazer de difícil,
eu ainda tenho esperança que possamos nos entender e voltar a ter o
relacionamento que tínhamos antes.
O que eu não aguento mais é fazer papel de boba. Perceber que nada
do que ele fala é verdade. Que as promessas dele não valem de nada. Ver
meu casamento cada vez mais perto do fim e fingir que nada está
acontecendo não está resolvendo. Está na hora de mudar isso. Meus pais não
me criaram para aceitar migalhas de ninguém. Ou ele fica completo, ou pode
ir embora de vez.
Não que eu não ame meu marido. Claro que sim. Estamos a quase dez
anos juntos, entre namoro e casamento. Não são dez dias. Mas também não
posso me submeter a tudo o que está acontecendo. Não vou manter um
casamento só por manter. Ninguém será feliz com isso. Nem ele, nem a Duda
e nem eu. Principalmente a Duda. Minha filha fica arrasada toda vez que nós
brigamos. Isso não é vida para uma criança. Ela precisa crescer em um lar
que transmita paz. E não é o que está acontecendo aqui.
Levanto-me, vou para o banheiro, tomo banho e me arrumo. Assim
que acabo de pentear os meus cabelos, prendo em um rabo de cavalo alto e
paro em frente ao espelho me olhando.
Eu ganhei alguns quilos com a gravidez e ainda não recuperei o meu
corpo de antes. Nunca me incomodei com isso, porém, agora, eu quero voltar
a me cuidar, a gostar de mim mesma. Decido que vou procurar uma
academia. Não é por impulso. Se eu quero recuperar meu casamento, preciso
me amar em primeiro lugar. E o meu corpo está começando a me incomodar.
Sei que não estou obesa. Estou apenas com alguns quilos a mais. Só
que sempre fui magra e essa diferença está mexendo comigo. Com a minha
autoestima. Não voltaria atrás. Essa mudança me trouxe a pessoa mais
importante da minha vida. Se eu tivesse que escolher, sem sombra de
dúvidas, ela seria a minha escolha, mas, se posso ter os dois, é o que vou
fazer.
Saio do quarto decidida. Essa semana irei começar a procurar uma
escola para a Duda e uma academia para mim. Tenho que voltar a trabalhar
também.
Entro no quarto dela e separo sua roupinha. Chamo por ela para se
arrumar que entra toda serelepe. Coloco uma roupa confortável para ela
brincar na pracinha já que iremos vir em casa antes de ir ao shopping.
— As minhas garotas já estão prontas? — O César indaga já
arrumado parado na porta do quarto da Duda enquanto eu prendo o cabelo
dela igual ao meu.
— Sim, papai, sim. — Ela pula animada e sai em disparada para a
porta.
— Ei, mocinha. Espera pela gente. Nada de sair correndo na nossa
frente. — Chamo por ela.
— Deixa a menina. Você sabe que ela não vai abrir o portão. A mãe
dela está ensinando muito bem. — Fala e me puxa para perto, pegando-me de
surpresa e me prendendo na parede do lado da porta do nosso quarto.
— Para, César. Ela pode entrar. — Tento me soltar em vão.
— Deixa. Se entrar, ela vai ver o pai beijando a mãe dela. Nada de
mais. — Diz e me beija sem me dar tempo de reagir. Eu acabo me entregando
ao beijo. Não posso negar que sinto falta dele. Só espero não me arrepender
mais uma vez.
Capítulo três
Amanda
— Vai querer almoçar naquele restaurante perto da praça que você
gosta? — O César pergunta enquanto estamos sentados tomando café da
manhã só nós dois.
A Duda ainda não acordou. Ela ontem foi dormir tão cansada que
acredito que vá acordar tarde hoje.
— Não precisa. Ontem nós já passamos o dia na rua. Eu faço alguma
coisa para a gente comer aqui mesmo.
— Tem carne na geladeira? — Aceno com a cabeça em acordo e ele
continua. — Faz uma saladinha de legumes e arroz então. Eu asso a carne na
churrasqueira. A Duda adora churrasco mesmo.
Passamos o domingo juntos. Almoçamos e depois assistimos a um
filme com a Duda deitada no meio de nós dois no sofá da sala. Mais tarde,
pedimos uma pizza para jantar.
Minha princesa vai dormir cansada da bagunça que nós fizemos, mas
feliz. Ela não para de sorrir um minuto. Eu espero que isso dure e que, desta
vez, a mudança do César seja definitiva.
Amanhã é o primeiro dia que ele vai sair de casa depois da nossa
conversa. Quero ver qual será o comportamento dele durante a semana, pois,
esses dias, ele nem atendeu ao celular. Sempre que tocava dizia que estava
com a família dele e, fosse o que fosse, poderia esperar. No final, chegou a
desligar o aparelho.
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São onze horas da noite e o César ainda não chegou e nem ligou
avisando que iria demorar. Eu já coloquei a Duda para dormir e estou deitada
no meu quarto lendo um livro.
Escuto o barulho da porta, deixo o livro na mesinha de cabeceira e
desligo o abajur. Não quero que ele saiba que eu ainda estou acordada. Ele
entra no quarto e vai direto para o banheiro sem falar nada. Quando sai, deita-
se ao meu lado, vira-se de costas para mim e dorme.
No dia seguinte vamos levar a Duda para a escola. Ele, mais uma vez,
está calado. Minha filha não para de contar o que fez no dia anterior para ele
que nem responde direito. Apenas acena com a cabeça.
Mais uma vez ele sai assim que o portão abre sem se despedir e nem
me dá tempo de apresentá-lo à Clara.
Capítulo quinze
Amanda
Coloco a Duda para dormir, tomo banho e me deito enquanto o César
continua na sala vendo televisão. Ele chegou cedo e ficou o tempo todo junto
da filha. Brincou, conversou, perguntou sobre a escola. Nem parecia o
mesmo homem de hoje de manhã.
Passei o dia pensando em tudo o que conversei com a Clara. Eu falei
sério quando disse que quero me separar. O César está conseguindo acabar
com o sentimento que eu tinha por ele. Não aguento mais essas mudanças de
comportamento. Muito menos a desconfiança de que ele esteja me traindo.
Ele entra no quarto e vai para o banheiro em silêncio. Depois de cinco
minutos deita-se atrás de mim e passa o braço pela minha cintura.
— Eu sei que você ainda está acordada. Desculpa mais uma vez.
Parece que é só o que eu falo de algum tempo para cá. — Não respondo. —
Você não vai falar nada? — Viro-me para ele.
— Falar o que, César? Que eu já não aguento mais? Que o meu limite
já estourou há muito tempo? Que eu cansei das suas mentiras, das suas
desculpas esfarrapadas? O que você quer que eu fale? — Explodo.
— Prefiro que você fale tudo isso do que me ignore. Eu sei que eu
ando pisando na bola com você, Amanda. As coisas andam complicadas no
escritório, eu ando de cabeça quente, estressado e tenho descontado em cima
de quem não devo. Sei disso tudo, mas eu ainda sou o mesmo cara com quem
você casou.
— Não, você não é. O cara com quem casei não me trataria como
você anda fazendo. Não me faria pensar que está me traindo. Não ignoraria a
filha como você faz, nem faria pouco caso das novidades dela. Ele era
carinhoso, amigo. Não descontaria em mim um dia ruim. Tinha sempre um
elogio, uma palavra carinhosa para falar. Só que ele sumiu. Ficou para trás
em algum momento e eu não percebi. E, esse que está aqui agora, eu não
quero para mim. — Confesso.
— O que você está falando? Que não me quer mais? É isso? — Senta-
se na cama descontrolado.
— Estou falando que do jeito que está não dá mais. Você diz que vai
mudar e não muda. Fica alguns dias bem e volta tudo como era antes. A Duda
está sofrendo com isso e eu também. Eu não aguento mais, César. Eu tentei,
juro que tentei, mas não consigo mais. — Sento-me também. Acho que a
gente precisava desta conversa franca.
— Eu não quero te perder, Amanda. Não quero. Não aceito isso. —
Segura meu rosto com força e me faz encará-lo. — Está me ouvindo? Eu não
aceito. Você é minha mulher e vai continuar sendo.
— Para que, César? Para viver do jeito que nós estamos? Para brigar
o tempo todo? — Levanto-me da cama e começo a andar pelo quarto. Ele
levanta e vem atrás de mim.
— Isso é só uma fase, Amanda. A gente vai conseguir passar por ela.
Você vai ver. — Puxa-me para um abraço.
— Você está me traindo, César? Você está com outra mulher? É isso?
— Afasta-se de mim e me olha com os olhos arregalados. — É por isso que
você chega tarde e que não desgruda do celular?
— Não! Claro que não! De onde você tirou isso? Quem te falou uma
coisa dessas? — Pergunta nervoso.
— Ninguém me falou, mas eu não sou cega. Você acha que eu não
reparo? Que eu não sei que você leva a Duda para a praça e fica no celular o
tempo todo? Você chega tarde em casa e vai direto para o banheiro, não para
nem para me dar um beijo. Lembra que você mesmo me falou que se me
traísse não daria o mole de chegar perto de mim com cheiro de mulher?
— Não é nada disso, amor. Eu chego da rua cansado, suado. Só quero
tomar banho para poder ficar com você e a nossa filha. Você precisa acreditar
em mim.
— Então faça por onde. Porque, no momento, eu não consigo mais.
— Caminho para a cama e deito-me outra vez de costas para o lado dele.
Estou cansada disso tudo. Cansada de tentar consertar o que eu não
sei se tem mais jeito. Ele deita-se também e me puxa para ele.
— Eu vou te provar que te amo e vou começar agora. — Distribui
beijos pelo meu pescoço e me vira na cama deitando-se por cima de mim. —
Eu vou te amar a noite toda. — Diz e me beija. Não resisto. Não tenho mais
forças para lutar contra. Estou confusa e já não tenho certeza de mais nada.
Deixo que ele faça o que quer comigo. As lágrimas começam a descer por
meu rosto e ele pede: — Não chora. Eu vou te convencer que a gente ainda
tem jeito.
E eu choro. Choro pelo relacionamento que a gente tinha e que se
perdeu. Choro por pensar em minha filha sofrendo por tudo o que está
acontecendo. Choro por perder o meu amigo, o homem por quem eu me
apaixonei. Choro por me sentir fraca e não saber que caminho seguir.
Simplesmente deixo as lágrimas saírem na esperança que elas levem junto a
minha dor e incertezas.
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Guilherme
— Agora eu sei o que aconteceu. — A Ju fala assim que a Amanda se
afasta de nós.
— Do que você está falando, sua louca? — Pergunto enquanto
caminhamos para o restaurante.
— Ela é alguma feiticeira. Por isso conquistou você e a Clara assim
tão rápido. — Diz como se fosse a coisa mais séria do mundo.
— Júlia, eu juro que ainda te coloco uma mordaça. Jura que você
tinha que falar isso para ela? Você mesma falou para eu esquecê-la e agora
chama para almoçar com a gente? Sério isso?
— Gui, mas eu não tenho culpa. Já falei. Ela é feiticeira. Tanto que
conquistou a mim também. — Fala com cara de inocente. Solto um suspiro.
Não estou acreditando nisso.
— Isso só pode ser algum tipo de piada. Eu querendo esquecer e ela
ficando próxima de vocês. Assim será muito fácil para mim. — Reclamo.
— Meu irmãozinho querido, não adianta resmungar. Você não vai
esquecer. — Olho para ela sem acreditar no que ouvi. — Não adianta me
olhar assim. Você viu a mulher uma vez e não consegue tirar da cabeça.
Ficou todo borocoxô quando a viu com o marido. Acha mesmo que, agora,
encontrando com ela todo dia na escola, vai esquecer? Quando passar esse
mês, você não terá mais cura.
— Você me anima muito, irmãzinha. — Digo com desânimo.
Fico calado pensando no dia de hoje. Acabei me atrasando e
chegando à escola depois do horário de entrada. Sei que não atrasou a aula,
mas tenho que me programar para não acontecer mais isso.
Os alunos foram super tranquilos, pois a maioria já me conhece. Na
aula da turma da Mel tive a surpresa da amizade dela com a Duda. Elas não
saíam do lado uma da outra. Parece que se conhecem há anos.
Porém, o que mexeu mesmo comigo foi encontrar com a Amanda. Fui
um pouco frio com ela, só que não consegui me controlar. Quando a vi,
lembrei dela com o marido e quis manter certa distância.
Senti que ela também me tratou diferente, de uma maneira mais
distante. Não que tenha demonstrado algum interesse na primeira vez. Talvez
tenha se acertado com o marido, não sei. Ela só ficou mais a vontade depois
que descobriu que a Júlia era a irmã que a Clara tanto fala como ela mesma
disse.
— Para de pensar tanto, Gui. Estou sentindo o cheiro de fumaça
daqui. — Implica. — A Clara não entrou em detalhes, mas parece que ela
está mesmo passando por problemas no casamento. Se tiver que ser, será,
mano. Dê tempo ao tempo. — Diz de forma carinhosa.
— Ju, eu te amo, mas você não está ajudando assim. Eu preciso
perder as esperanças, não criar mais. — Ela finge que fecha a boca com um
zíper e não fala mais nada sobre o assunto.
Fico pensando no que ela falou. Não me pareceu que estivessem com
problemas no casamento quando eu vi os dois na praça, pelo contrário,
pareciam muito bem. Mas o que eu sei sobre eles? Talvez sejam como esses
casais que vivem brigando e fazendo as pazes.
Já vi tudo. Mais um dia pensando nela. Estou ferrado e não sei o que
fazer para mudar isso.
Capitulo dezoito
Amanda
Acabou que a Clara e eu não conseguimos nos encontrar na praça este
fim de semana. Ela tinha o aniversário do filho de um amigo de trabalho do
marido para ir no sábado e já tinha combinado de almoçar na casa da mãe no
domingo. Combinamos para o fim de semana que vem.
Como o César saiu dizendo que ia jogar futebol com os amigos, estou
sozinha com a Duda. Não acreditei muito, só que não falei nada. Já cansei de
brigar. O clima entre a gente está cada vez pior e prefiro ficar sozinha com a
minha filha.
Ela ficou toda tristinha quando o pai saiu. Disse que queria ir junto
com ele, mas o pai não deixou. Aproveito que estamos só nós duas e resolvo
passar a tarde na praça com ela que logo se anima.
Quando voltamos para casa o César ainda não está. Tomamos banho
juntas, jantamos e ficamos assistindo o filme Enrolados deitadas no sofá da
sala. Ela acaba pegando no sono de cansaço e eu a levo para a cama.
Organizo a casa e me deito em seguida.
****
****
Amanda
Saio de casa para levar a Duda para a escola junto com a Júlia. Minha
filha está cansada de tanta bagunça que elas fizeram ontem. Além de
brincarem a tarde toda como me contaram quando chegaram, elas ainda
fizeram sessão se cinema e brincaram de boneca antes de dormir.
— Tchau, princesa. Mais tarde a gente brinca mais, combinado? — A
Júlia se despede da Duda na porta da academia. — Qualquer coisa me liga,
Amanda. Você tem o meu número.
— Pode deixar. Obrigada. — Agradeço e sigo para a escola com a
Duda.
Ela vai toda feliz me contando mais uma vez sobre o dia de ontem e
todas as brincadeiras.
— Agora sim. — O Guilherme fala assim que vê a Duda. — O tio
quer ver você sempre assim, ok? Com esse sorriso lindo no rosto. — Diz e a
pega no colo. — Está tudo bem? Ele apareceu? — Pergunta baixo para que só
eu escute. — Espera. Deixa essa princesinha aqui entrar primeiro. — Pede.
Coloca a Duda no chão e ela entra junto com uma menina da turma dela que
também chegou agora. — Prefiro que ela não escute nada relacionado a isso.
— Explica.
— É melhor mesmo. Ela pode perceber de quem estamos falando. —
Concordo. — Acredito que ele não vá aparecer. Levou quase tudo e deixou
um recado que quando fosse pegar o restante me avisava.
— Não sei se confio nele, Amanda. Não depois de tudo o que você
me contou. Ele não estava aceitando a separação e, do nada, muda de ideia
assim tão fácil? Disse que você ia se arrepender e não faz nada? Sei lá. Não
consigo acreditar nisso. Para mim ele só quer que você baixe a guarda para te
pegar de surpresa. Toma cuidado, por favor.
— Pode deixar. Você conseguiu falar com o Felipe? — Pergunto. Até
eu que não o conheço já estou preocupada com essa falta de contato.
— Nada ainda. Se não me ligar hoje, vou entrar em contato com o
escritório para perguntar se ele tem falado com eles. Além de estar
preocupado, quero saber se tem alguma coisa que você possa fazer antes
mesmo de ele voltar.
— Eu também. Tenho que adiantar alguns serviços. Depois a gente
conversa. Não vou te atrapalhar mais um dia. Manda uma mensagem para
mim se ele te ligar, ok?
— Pode deixar. — Diz e fica me olhando com carinho. — Queria
passar a manhã conversando com você outra vez.
— Eu também, mas temos que trabalhar. — Sorrio.
— Almoça comigo outra vez? — Pede. Vejo algumas mães nos
olhando e cochichando, mas não me importo.
— Melhor não. Você está me acostumando mal. — Falo brincando.
— Você ainda não viu nada. Vou te mimar muito mais. — Vira-se
para trás e diz: — Tenho que ir. Quer me encontrar direto na academia? Eu
levo a Duda para você.
— Não precisa. Eu venho buscá-la e nos encontramos lá. — Beija o
meu rosto me pegando de surpresa e entra.
Passo perto das mães que estavam nos olhando e escuto quando uma
delas fala:
— Essa daí acabou de chegar na escola e já agarrou o irmão da dona.
Viram o pai da menina? É um gato também, mas a gulosa quer logo os dois.
Tenho vontade de responder que ela não sabe o que está falando e que
pode ficar com o César todo para ela, mas não me dou ao trabalho. Nunca
liguei para o que os outros pensam de mim e não será agora que isso irá
mudar.
Passo na loja, resolvo o que preciso e vou para casa pegar uma muda
de roupa para a Duda. Ela ontem acabou passando o dia de uniforme. Quando
estou chegando, vejo o César saindo com um homem de lá.
O que será que ele estava fazendo? Ele mesmo me falou que avisaria
se precisasse voltar. Pelo menos não saiu com nada nas mãos. Espero que se
afastem e entro. Olho tudo e não vejo nada mexido. O que será que ele está
aprontando?
Pego o que preciso e sigo para a escola para buscar a Duda. Ela vai
caminhando para a academia toda animada por ficar mais uma vez com o
Guilherme que já avisou que vai chamar a Júlia também.
Ontem ele me disse que, pelo menos por enquanto, prefere não ficar
sozinho comigo e com a Duda para não confundir a cabeça da minha filha.
Fico encantada com o carinho e preocupação que ele demonstra sentir por ela
o que só faz com que me apaixone cada vez mais.
É, não tenho mais como negar. Eu estou apaixonada pelo Guilherme.
Entro na academia e a Sara acena para mim de trás do balcão onde
está atendendo.
— Boa tarde. — Cumprimenta-me. — Já sabe o caminho. A Ju já está
esperando vocês. — Avisa e pisca para mim.
O Guilherme chega logo depois com várias sacolas com comida.
— Não sabia o que vocês queriam comer. Trouxe mais de uma opção.
— Diz colocando em cima da mesa.
— Meu Deus, Gui! Para que isso tudo? — A Júlia pergunta rindo.
— Já tenho que emagrecer, desse jeito, vou explodir. Quem está
sempre malhando são vocês dois, não eu.
— Não precisa mesmo. Está ótima do jeitinho que está. Bem até
demais para a minha sanidade. — O Guilherme fala e me olha de cima a
baixo como se pudesse me comer com os olhos e eu coro feito uma
adolescente.
— Opa. Opa. Opa. Crianças na área. Vamos parar com isso que a titia
aqui não precisa presenciar essas coisas. — A Júlia me deixa ainda mais sem
graça e o irmão joga uma bola de guardanapo amassado nela.
Depois do almoço, enquanto a Duda pinta uns desenhos que a Júlia
trouxe para ela, comento com eles sobre ter visto o César lá em casa e o
Guilherme fala:
— Ele está armando alguma coisa, Amanda. Vou tentar ligar para o
Felipe outra vez. — Pega o celular, disca o número dele e faz sinal de
positivo com o dedo. — Fala, Felipe. Está difícil falar com você cara.
Recebeu as minhas mensagens? — Escuta o que ele responde e volta a falar:
— Ok. Só me responde uma coisa, depois de tudo que eu te expliquei, ela
pode trocar a fechadura da casa ou corre o risco de se prejudicar? — Anda
pela sala enquanto espera a resposta. — Tudo bem, Felipe. Até amanhã,
então. — Despede-se.
— O que ele falou? — Questiono assim que ele desliga.
— Eu fui mandando mensagens para ele com tudo o que você me
falava e acontecia. Sabia que a hora que chegasse ele iria ler todas. —
Explica.
— E o que aconteceu para ele não retornar as ligações? — A Júlia
pergunta preocupada.
— Disse que está em um lugar que o sinal é ruim. A ligação falhava o
tempo todo enquanto a gente conversava agora. — Responde e vira-se para
mim. — Ele está voltando amanhã à noite. Falou que você pode conversar
com o proprietário da casa sobre o contrato para se informar, mas que pode
trocar a fechadura. Assim evita que ele entre a hora que quiser.
— Vou à casa do João hoje mesmo para fazer isso. Ele não mora
muito longe lá de casa.
Fico mais trinta minutos com eles e vou embora. No caminho passo
na casa do João, mas não o encontro. Uma vizinha diz que ele viajou no final
da manhã e só volta na sexta-feira à noite.
Capítulo vinte e sete
Amanda
Chego em casa e ligo para um chaveiro vir trocar a fechadura da
porta. Só em pensar que o César não terá mais como entrar aqui e me pegar
de surpresa já sinto certo alívio. Assim que ele termina o serviço, a Júlia
chega para passar a noite aqui outra vez.
— Tia Juuuuu. — A Duda grita do corredor e corre na direção dela
que a pega no colo.
— Oi, princesinha. Vamos brincar mais hoje? — Pergunta fazendo
cócegas na barriga da Duda.
— Obrigada, Júlia. Desculpa por te dar todo esse trabalho.
— Não precisa agradecer, Amanda. Eu adoro brincar com a minha
sobrinha. — Sorrio para a maneira que ela chama a minha filha. — Não é
trabalho nenhum.
Deixo as duas brincando e aproveito para adiantar algumas
declarações que eu preciso entregar. Depois de tanto brincar, a Duda acaba
pegando no sono durante o filme que estávamos assistindo.
— Está dormindo feito uma pedra de tão cansada. — Digo para a
Júlia quando volto para a sala depois de colocar a Duda no quarto dela. —
Sei que você diz que não precisa, mas obrigada mesmo assim. A minha filha
andava muito tristinha. Depois do que aconteceu, então, ficou pior ainda. Vê-
la voltar a sorrir é bom demais. — Limpo uma lágrima que escapa e desce
pelo meu rosto. — Nunca serei capaz de agradecer o que vocês estão fazendo
por nós duas.
— E nem precisa. Eu faço de coração. Faço porque quero e gosto de
estar perto de vocês. — Dá um aperto na minha mão. — Você ainda não
entendeu, não é?
— Não entendi o quê? — Olho para ela sem entender o que quer
dizer.
— A nossa família te adotou. Adotou vocês duas, na verdade. Vocês
conquistaram a todos nós. — Faz uma pausa e volta a falar: — Reparei o
jeito que me olhou por chamar a Duda de sobrinha, mas é assim que eu vejo.
É assim que eu sinto. Sei que é questão de tempo para você e meu irmão se
entenderem. Sendo bem sincera, acho que já eram para terem feito isso.
Entendo que estão se segurando por causa do seu casamento, só que ele já era
mesmo. Façam escondidos por um tempo para não te causar problemas, tudo
bem, mas não acho que precisem mais esperar.
— Não é só isso, Júlia. Eu preciso de um tempo, sabe? Não quero
entrar em um relacionamento com o seu irmão com algo entre nós. Quero
entrar livre, sem nada que nos atrapalhe. Preciso resolver essa separação e
preciso de um tempo para mim. Não quero sair de um casamento e cair de
paraquedas em outro relacionamento. Preciso respirar, sentir que sou capaz
de ficar sozinha e de cuidar da minha filha e de mim mesma. Eu avisei ao seu
irmão que não estava pronta e que precisava de um tempo. Não o estou
enganando.
— Você está certa, Amanda. Eu que sempre vejo as coisas de uma
maneira muito simples. Ou vai ou não. Mas nem sempre é assim. Espera o
seu tempo, posso te afirmar que vai valer a pena. O Gui é louco por você. Ele
te olha de uma maneira que nunca vi meu irmão olhar para ninguém. Nem
mesmo... — Para de falar.
— Nem mesmo? O que você ia falar? — Questiono sem entender.
— Nem mesmo uma namorada que ele teve. — Sinto que ela fica
tensa com o assunto. — A gente pensou que era sério, mas acabou. Nem para
ela ele olhava do jeito que te olha. — Volta a sorrir.
— Seu irmão também mexe demais comigo. De uma maneira que eu
não esperava. — Confesso.
— Ele ficou doido desde o primeiro dia que te viu. A Clara percebeu
só de ver vocês dois juntos. — Sorri.
— Comigo não foi diferente. Só que me segurei, tentei negar e
esquecer porque não achava certo. O César estava dizendo que iria mudar e
eu estava tentando salvar o meu casamento. Não podia sentir nada por ele.
Por isso não voltei na academia e resolvi que procuraria outra. Tentei manter
distância, mas não adiantou muito, não é?
— Não mesmo. Melhor não lutar contra. Está na cara de vocês dois o
que sentem. Mas tudo bem. Eu te entendo. Meu irmão é um gato. — Brinca.
— Sim. Seu irmão é lindo mesmo, mas não foi isso que fez com que
ele me conquistasse. No primeiro momento, claro que me chamou atenção,
não sou cega. Só que foi o dia a dia, a convivência que me deixou de um jeito
sem volta. Foi o jeito que ele me trata, o jeito que trata a minha filha e que
demonstra preocupação com a gente. São as atitudes dele que me cativaram
cada dia mais.
— Dá gosto escutar vocês falando um do outro. Chego até a pensar
em mudar de ideia e sossegar com alguém. Coisa que nunca passou pela
minha cabeça.
— Por que isso, Júlia? Você teve alguma decepção para pensar
assim? — Tento entender. — Porque pelos exemplos que você tem em casa
não é. Sua irmã e o Rodrigo estão juntos há doze anos que ela me contou e
seus pais também foram assim.
— Acho que eu ainda não achei alguém que valesse a pena e que me
fizesse pensar diferente. E sabe como é, enquanto não acho o certo, vou me
divertindo com os errados mesmo. — Não consigo segurar e começo a rir. —
E, futura cunhadinha, tem cada errado gostoso por aí. — Começa a se abanar
e eu preciso me controlar para não gargalhar e acabar acordando a Duda.
— Só você mesmo, Júlia.
Continuamos conversando por mais uma hora e meia até que
resolvemos dormir também já que amanhã acordamos cedo. Ela para ir para a
academia, eu para organizar tudo para levar a Duda para a escola e voltar
para casa para trabalhar.
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****
Guilherme
Entramos na cozinha e o Artur caminha para a geladeira.
— Quer uma cerveja? — Pergunta pegando uma lata.
— Não. Obrigado. Não costumo beber e ainda vou dirigir. —
Concorda e abre a dele.
— Também não bebo sempre, mas preciso de uma para me ajudar a
engolir tudo isso que vocês me contaram. — Respira fundo e volta a falar: —
Conheço o César desde a nossa adolescência. Quer dizer, achei que conhecia.
Depois de hoje, não sei de mais nada.
— Não tenho a mínima vontade de defendê-lo. Seria mais seguro que
ele não aparecesse na minha frente, pois não sei qual seria a minha reação,
mas acredito que o fato de estar usando drogas e ainda misturando com
bebidas tenha ajudando nessa mudança.
— É a única explicação que eu consigo encontrar. Ainda tem essa
mulher. Será que também é lá do escritório?
— Não sei dizer, mas ela não é culpada sozinha. Se ele não tivesse se
envolvido nada disso teria acontecido. Quem devia respeito à Amanda era ele
e não a mulher. Assim como era ele quem tinha que pensar na Duda em
primeiro lugar.
— Você parece gostar bastante das duas. — Olha-me enquanto bebe
mais um gole de cerveja.
— Gostar não chega nem perto do que eu sinto por elas. Aquelas duas
são minha vida. — Sou sincero. Não tenho motivo para esconder o que sinto.
— Há quanto tempo vocês estão juntos? — Sei muito bem aonde ele
quer chegar com essa pergunta.
— Respondendo ao que você realmente quer saber, nós não tivemos
nada enquanto ela estava casada. Não pelo seu amigo, e sim pela Amanda e
por mim. Não queríamos começar um relacionamento com nada entre a
gente. Se fosse só por vontade, no primeiro dia que ela entrou na academia
não teria saído mais da minha vida. Tive que esperar, mas não me arrependo.
Faria tudo outra vez para tê-las comigo.
— Fico feliz de ouvir o jeito que você fala delas. Posso ser amigo do
César, mas também gosto muito da Amanda. A Rebeca sentiu muito essa
distância, mas achamos que ela quis se afastar e preferimos não forçar nada.
Hoje vejo que isso foi um erro. Se tivéssemos procurado por ela, saberíamos
antes o que estava acontecendo.
— Nada impede que vocês se aproximem outra vez. — A Amanda já
me falou algumas vezes deles e parece gostar bastante da Rebeca. Não vejo
motivo para implicar com essa aproximação agora que eles entenderam o que
aconteceu.
— Pelo jeito aquelas duas já estão fazendo isso. — Sorri pela primeira
vez desde que nos encontramos no shopping. — Devem estar colocando o
papo em dia.
— Queria aproveitar que a Amanda não está aqui para te pedir um
favor. Não acho uma boa ideia falar para o César que a Amanda contou tudo
isso para vocês. Sei que ele é seu amigo, mas tenho motivos suficientes para
não confiar. Se ele ficar sabendo, pode tentar fazer alguma coisa contra ela e
eu prefiro evitar esse risco.
— Você está certo. É melhor evitar. Ele não precisa saber como eu
descobri. — Concorda.
— Vou deixar o número do meu celular com você. Se puder me
manter informado sobre ele, te agradeço. Quero estar preparado se ele tentar
alguma coisa. — Pego um cartão com os meus contatos na minha carteira e
entrego para ele.
— Conheço essa academia. — Diz olhando para o nome impresso no
cartão. — Você é o dono?
— Sou sócio da minha irmã e administrador.
— Já escutei falar muito bem. Vou aparecer lá qualquer dia.
— Pode pedir para me chamar. — Olho para o relógio no meu pulso e
falo: — Acho melhor chamar a Amanda para irmos embora ou não saio daqui
hoje.
— Com certeza. Aquelas duas devem estar conversando sobre tudo o
que não falaram durante todo o tempo que ficaram sem se ver. — Sorrio e
volto para a sala com ele logo atrás de mim.
— Pequena, vamos? Já está tarde. Outro dia vocês conversam mais.
Acredito que o dia já foi bastante agitado para uma gestante que estava de
repouso.
— O Gui tem razão. Vamos marcar um almoço para terminar a nossa
conversa. — A Amanda fala e se levanta para se despedir deles.
— Aqui, Guilherme. — O Artur me entrega um cartão com o nome
dele. — Leva o meu também. — Aperta a minha mão. Despeço-me da
Rebeca enquanto a Amanda se despede dele e seguimos para o meu carro.
— Como você está? — Questiono assim que saio com o carro.
— Bem. Estou me sentindo leve. Tanto por saber que eles não
queriam essa distância como por que sei que o Artur pode ajudar ao César de
alguma maneira.
— Sim. Aos poucos as coisas vão se ajeitando. — Sorrio para ela que
retribui. — Quer passar em algum lugar para comer alguma coisa?
— Não. Prefiro ir direto para casa e fazer alguns sanduíches para a
gente comer. Quero aproveitar que estamos sozinhos hoje.
— Melhor esquecer os sanduíches. Tenho coisas muito mais gostosas
para saborear. — Pisco para ela que coloca a mão na minha coxa e começa a
acariciar. — Pequena, se você quer chegar em casa em segurança é melhor
parar. Não vou conseguir me concentrar assim.
— Mas eu não estou fazendo nada. — Fala se fingindo de inocente.
— Imagina se estivesse. Se você não parar, eu vou encostar o carro
aqui mesmo e não vou me importar nem um pouco que estamos em uma rua
movimentada.
— Você é um estraga-prazeres, grandão.
— Quando chegarmos em casa vou te mostrar que sei muito bem dar
prazer e não estragar. Tenho a noite toda para te provar. Nos dois sentidos. —
Ela balança a cabeça sorrindo e eu acelero mais um pouco. Não vejo à hora
de cumprir o que acabei de prometer.
Capítulo quarenta e três
Guilherme
Estou fazendo a vistoria do dia na academia. Sempre gosto de dar
uma volta pelas instalações para ver se está tudo correndo como deve. Vejo
algumas alunas em um canto me olhando e cochichando, mas não me
importo.
Depois do dia em que a Amanda discutiu com uma e me beijou na
frente de todos, elas quase não chegam mais perto de mim. Ela é sempre
tranquila, trata a todos super bem, mas, se vê alguma aluna se jogando para
cima de mim, se transforma. Diz que sou ciumento, porém, não fica atrás.
Sinto o meu celular vibrar no bolso da minha calça e pego para
atender. Olho no visor e vejo o nome do Artur que salvei depois que ele me
deu o cartão no sábado. Atendo a ligação e começo a caminhar para a minha
sala.
— Boa tarde, Guilherme. Você está podendo falar?
— Boa tarde, Artur. Estou sim. Espera só um minuto que vou entrar
na minha sala para escutar melhor. Pronto, cara. Pode falar. — Digo assim
que fecho a porta.
— Só para te contar que eu falei com o César hoje pela manhã. Não
disse nada sobre a Amanda, mas achei melhor te avisar.
— Claro. Obrigado por isso. Por mais que você não tenha falado, ele
pode desconfiar. Quem mais contaria sobre isso para vocês?
— Pois é. Foi o que pensei. Ele surtou. Disse que não era verdade e
que ela é que quis se separar porque tinha um amante.
— Ele falou a mesma coisa para o homem que nos contou tudo. Não é
homem nem para assumir o que faz e quer jogar a culpa para cima da
Amanda.
— Hoje percebi como o César está diferente. Nós discutimos feio
aqui. Ele tentou me agredir, quis quebrar a sala, não tem mais nada do cara
que eu conheci. Saiu daqui dizendo que eu ia me arrepender e discutiu com o
único funcionário aqui que ainda era amigo dele. — Fico preocupado que ele
desconfie do Maurício e faça alguma coisa já que ele era o único que sabia de
tudo. — Depois que saiu, os outros funcionários vieram falar comigo e me
contaram como ele andava agindo. Fico me perguntando como não percebi o
que estava acontecendo dentro do meu próprio escritório.
— Não tinha como, Artur. Você estava afastado por causa dos
problemas com a gravidez da Rebeca. A culpa não é sua. — Tento convencê-
lo.
— Sei que você tem razão, mas não consigo deixar de me culpar. Se
eu tivesse percebido isso antes, poderia evitar que chegasse a esse ponto. —
Respiro fundo para não responder. Sei que está falando sobre o casamento da
Amanda e do César. — Desculpa, Guilherme. Não foi isso que eu quis dizer.
Só queria poder tirá-lo desse vício, que, pelo o que percebi, está cada vez
pior. Ele chegou aqui com os olhos vermelhos logo cedo.
— Ainda não é tarde para isso, Artur. Basta ele aceitar ajuda.
— O problema é esse. Não acho que vá aceitar. Do jeito que ele saiu
daqui, não acredito que ainda tenhamos algum tipo de contato por mais que
eu tente.
— A coisa foi tão feia assim? — Questiono.
— Bem pior do que eu esperava. Ainda bem que consegui convencer
a Rebeca de não vir comigo. Ela ficaria muito nervosa com tudo isso e
acabaria passando mal. Não preciso de mais problemas do que já tenho no
momento. Bom, liguei só para te avisar mesmo. Vou deixar você trabalhar e
fazer o mesmo. Preciso dar um jeito na bagunça que ficou a minha sala.
— Tudo bem. Qualquer novidade me avisa, por favor. Agora você
entende o motivo da minha preocupação.
— Pode deixar. Só mais uma coisa, você vai contar para a Amanda?
— Você vai contar para a Rebeca? — Respondo com outra pergunta.
— Está certo. Só que talvez não seja a melhor solução fazer isso.
Deixá-las sem saber de nada pode ser pior.
— Já pensei nisso. Elas não seriam pegas de surpresa se soubessem.
— Pois é. Fora que preciso falar alguma coisa para ela mesmo que
diminua um pouco. A Rebeca não é boba e vai desconfiar caso eu não faça
isso.
— A Amanda também. — Concordo com ele. — Não temos muita
escolha.
— Não mesmo. — Escuto alguém chamando por ele. — Tenho que
desligar que estão me chamando aqui. Depois nos falamos. — Despeço-me
dele e desligo.
Fico pensando no que ele falou. Sei que preciso contar para a
Amanda, mas queria poder deixá-la fora disso tudo. Queria que ela não
precisasse mais se preocupar com nada que dissesse respeito ao César e que
tivesse paz finalmente, mas, infelizmente, não tenho esse poder.
Tenho medo do que ele pode fazer já que a culpou pelo que
aconteceu, só que não posso prendê-la em casa. Passo a mão pelos cabelos e
solto um suspiro alto.
— O que aconteceu, Gui? Que cara é essa? — Parece que ela sabe
que eu estava pensando nela e aparece na minha frente sem que eu a tenha
escutado entrar.
— Oi, pequena. Pensei que não viesse hoje. — Desconverso.
— Você não me enrola, grandão. — Diz sentando no meu colo. —
Por que você está preocupado?
— O Artur acabou de me ligar. — Sei que não vai adiantar esconder
dela. — Ele demitiu o César hoje.
— E você está preocupado com isso? — Pergunta sem entender aonde
quero chegar.
— Ele pode te culpar por isso, pequena. Por mais que o Artur não
tenha dito que foi você quem falou para ele, as opções não são muitas.
— Eu já tinha pensado nisso, mas não me importo, Gui. O Artur tinha
que saber.
— Você não entendeu, pequena. E se ele te procurar e fizer alguma
coisa contra você? — Fecho os olhos e respiro fundo.
— Ei. Ele não vai fazer nada. O César não sabe onde estou morando.
Não tem como me encontrar. — Aperto o corpo dela contra o meu.
— Não acredito muito nisso, pequena. Ele sabe onde a Duda estuda e
pode te seguir. Toma cuidado, por favor. — Peço.
— Gui, calma. Não vai acontecer nada. Eu vou tomar cuidado, ok? —
Segura o meu rosto com as mãos e me beija.
Tento me acalmar. Não queria deixá-la assustada e acabei fazendo
justamente isso, mas só em pensar naquele homem perto dela eu já fico
louco. Ela encerra o beijo aos poucos e fica fazendo carinho na minha nuca.
— Você não me falou o que veio fazer aqui. Não disse que ia ficar em
casa? — Mudo de assunto.
— Saí de casa mais cedo para buscar a Duda e resolvi passar para te
dar um beijo. Não gostou da surpresa? — Pergunta prendendo um sorriso.
— Tanto que decidi ir buscar a nossa princesinha junto com você e
passar o resto do dia com as duas. — Faço um carinho no rosto dela.
— Nada disso, senhor Guilherme. Você tem que trabalhar e eu
também.
— É só um dia, pequena. Amanhã volta tudo ao normal. Prometo. —
Tento convencê-la. Ela semicerra os olhos para mim.
— Por que será que eu acho que você está me enrolando?
— Não sei o que você quer dizer. — Beijo o pescoço dela. — Vamos
que está na hora da princesinha sair. — Levanta-se. Faço o mesmo e vamos
para a escola.
Caminhamos de mãos dadas e tento esquecer esse assunto por
enquanto. Disse que queria passar o dia com as duas e é isso que vou fazer.
Não vou deixar que esse cara atrapalhe os meus planos mesmo de longe.
— Tio Guiiiiiii. — A Duda vem correndo para mim quando me vê.
— Quem vê pensa que ela não te viu hoje de manhã. — A Amanda
fala ao meu lado e vejo algumas mães nos olhando e cochichando.
— Oi, princesinha. Acho que a mamãe está com ciúmes. — Implico.
Ela me dá um beliscão de brincadeira.
— Vamos, mocinha. Está na hora do seu almoço.
— Tio Gui, você vai com a gente? — Pergunta agarrada ao meu
pescoço.
— Você quer que eu vá? — Ela acena com a cabeça em acordo. —
Então o tio vai passar o dia com vocês.
— Obaaaaaa. — Grita e vejo a Amanda sorrindo para nós.
— Já vi que estou perdida com vocês dois.
Vamos para casa e eu passo o caminho todo olhando em volta
procurando pelo César. Almoçamos, brinco com a Duda enquanto a Amanda
trabalha, mas não consigo relaxar completamente. A sensação que alguma
coisa vai acontecer não me deixa.
Na hora de dormir a Duda pede para dormir conosco e eu adoro a
ideia. Assim posso ficar de olho nela durante a noite toda. Convenço a
Amanda e nos deitamos com a Duda entre nós dois.
Coloco meu braço por cima das duas abraçando-as dormindo e peço
que essa sensação não passe de coisa da minha cabeça.
— Não vou deixar que nada aconteça com vocês. Eu prometo. — Dou
um beijo na cabeça de cada uma e tento dormir também.
Capítulo quarenta e quatro
Amanda
Hoje faz uma semana que o Artur demitiu o César e pensei que o Gui
fosse enlouquecer. Ele inventava desculpas o tempo todo para não me deixar
andar sozinha na rua. Se dependesse dele, eu não sairia de casa para nada e a
Duda não iria nem para a escola.
No dia em que soube, ele passou o tempo todo com a gente. Senti
durante o caminho para casa que estava tenso e olhava para o lado o tempo
todo. Fiz de tudo para tentar distraí-lo, mas tenho minhas dúvidas se consegui
realmente.
Durante a semana, ele inventou que vinha almoçar em casa e que eu
não precisava sair para buscar a Duda que a traria para mim, foi comigo na
loja que eu presto assessoria e não foi trabalhar no sábado só porque eu
queria levar a Duda na praça.
— Pode deixar que eu levo a Duda para a escola. Estou indo para
academia, você não precisa sair de casa. — Diz enquanto eu arrumo o lanche
dela.
— Gui, chega! — Largo tudo em cima da mesa e viro-me para ele
parado na porta da cozinha. — Não vou viver presa dentro de casa por causa
do César. Já tem uma semana que você está tenso desse jeito e não relaxa
nem um minuto sequer. Você está exagerando. — Caminha para perto de
mim e me abraça apertado.
— Desculpa, pequena. Sei que estou sendo chato, mas me preocupo
com vocês.
— Eu sei, Gui, mas não precisa. Se ele fosse fazer alguma coisa já
teria feito.
— Você está certa. Prometo que vou tentar relaxar um pouco, ok? —
Seguro o rosto dele e dou um beijo leve em seus lábios. — Mas quero levar a
Duda na escola. — Vou falar, mas ele me cala com um beijo. — Não é por
isso, eu gosto de levá-la.
— Tudo bem. Vou terminar aqui para a gente sair, então. Olha o que
ela está fazendo, por favor. — Peço.
— Está sentadinha na sala vendo desenho. Eu mesmo liguei a
televisão para ela antes de vir para cá. — Puxa o meu corpo para mais perto
dele. — Vamos aproveitar para namorar um pouco. Sei que você vai me
deixar o dia todo de castigo sem te ver.
— Deixa de ser dramático, grandão. Até parece que não vamos nos
ver hoje.
— O que eu posso fazer se você me viciou nos seus beijos? — Suga o
meu lábio inferior.
— Se você continuar fazendo isso a Duda vai chegar atrasada na
escola.
— Podemos voltar depois de levá-la. — Pisca para mim.
— Nada disso. Você vai trabalhar e eu também. — Afasto-me dele.
— Anda. Vai ficar com a Duda para que eu possa terminar aqui.
— Sim, senhora. — Beija meus lábios mais uma vez e sai.
Termino de preparar o sanduíche, coloco o suco na garrafa e arrumo
tudo na lancheira dela. Seguimos juntos para a escola e, depois de deixarmos
a Duda na escola, volto para casa e o Gui vai para a academia.
****
****
— Que casa é essa, Gui? — Pergunto quando ele para o carro duas
casas depois da nossa.
Acabamos de sair da consulta da minha médica e ela disse que estou
com três meses completos de gestação. O Gui falou que tinha uma surpresa
para mim e veio direto para cá.
— Vem comigo, pequena. — Abre a porta e espera que eu desça.
Caminha comigo para a entrada da casa e pega uma chave no bolso da
bermuda abrindo a porta em seguida.
Olho em volta encantada. A casa é linda. No andar de baixo tem uma
sala ampla, banheiro, cozinha, área de serviço e uma varanda que circula a
casa. Os quatro quartos ficam no segundo andar e são todos suítes, sendo um
maior do que os outros. O quintal fica na parte de trás e tem bastante espaço
além de uma área com churrasqueira. Na lateral da casa fica a garagem.
— A casa é linda, Gui. — Digo olhando para o quintal e ele me
abraça pela cintura. — Bem espaçosa e arejada, só que você ainda não me
explicou por que me trouxe aqui.
— Pode ser nossa. — Olho para ele sem acreditar. — Eu só queria
saber o que você achava para fechar o negócio.
— Você está falando sério? Por que não me disse que estava
procurando uma casa?
— Porque era uma surpresa. A gente precisa de uma casa maior
agora, pequena. E esta aqui é perto da minha mãe e da Ju. Elas podem
continuar te ajudando sem problemas. Além de ser a mesma distância para a
academia e para a escola do que de onde moramos. Se você me disser que
gostou, fecho o negócio hoje mesmo e já podemos começar a preparar a
mudança e a procurar os móveis novos. Assim não precisamos correr e você
não se cansa. Dá tempo de preparar tudo para a chegada da sementinha.
— Se eu gostei? Eu amei, Gui. Mas precisa ser deste tamanho? Nós
não precisamos de quatro quartos. — Digo olhando em volta mais uma vez.
— Um você pode usar como escritório. Ainda tem o da Duda, o da
sementinha e o nosso. Só vai sobrar um. Isso por enquanto. — Pisca para
mim.
— Eu ainda não estou nem na metade da gravidez e você já está
pensando em me engravidar outra vez? — Coloco as mãos na cintura.
— Não tenho culpa se você fica ainda mais gostosa assim. — Puxa-
me para perto dele e me beija.
— Eu te amo, sabia? Obrigada por pensar em tudo.
— Tudo para vocês, pequena. Tudo pela nossa família. Agora vamos.
Está na hora de alimentar a sementinha. — Diz e caminha comigo para a
saída da casa.
— Essa sementinha quer que eu vire uma melancia, isso sim.
— Pode deixar que eu te ajudo a queimar esses quilos que tanto te
incomodam depois que ela nascer, mas, por mim, você ficava assim. Gosto
de ter onde pegar. — Sorri para mim e eu sacudo a cabeça para os lados. Ele
não tem jeito. Estou me sentindo gorda e ele não cansa de me elogiar e dizer
que estou gostosa. Fala com tanta sinceridade que não tem como não
acreditar.
Parece que minha vida realmente mudou. E mudou para melhor.
Tenho um homem que me ama e me respeita acima de qualquer coisa, trata a
minha filha como se fosse dele, faz de tudo para nos ver felizes e ainda vem
mais uma criança para completar essa felicidade. Realmente não tenho do que
reclamar.
Epílogo
Amanda
— Eu não tenho nada para fazer na academia hoje, pequena. — Fala
enquanto me abraça por trás e beija o meu pescoço.
— Não adianta tentar me enrolar, Gui. Já disse que combinei com as
suas irmãs e vamos fazer o dia das meninas.
— Eu fico aqui para tomar conta da Duda, da Belinha e da Mel para
vocês. Prometo que nem irão perceber a minha presença.
Se durante a gravidez já era difícil tirar esse homem de casa, depois
que a Isabela nasceu, há dois meses, ficou impossível. Ele não desgruda das
meninas por nada desse mundo.
A Duda e ele eram muito grudados um ao outro e parece que ficaram
mais com a chegada da Belinha, já que ele procura incluí-la em tudo o que
faz para que não sinta ciúmes.
Ele não passa mais o dia inteiro na academia como fazia. Sempre dá
um jeito de escapar e vir olhar como estamos. Os dias mais movimentados
ele pega a Duda na escola para mim e vem nem que seja só para almoçar com
a gente.
— Nada feito, Guilherme. Você vai trabalhar e não ouse aparecer aqui
antes do fim do dia. Para de inventar desculpas para ficar em casa.
— Para alguma coisa tem que servir o fato de ser o patrão. — Viro-
me de frente para ele e passo os braços pelo pescoço dele.
— Um patrão que estava sempre de olho em tudo o que acontecia e
agora vive faltando. Eu não quero que você largue tudo para ficar aqui, Gui.
Não tem necessidade. Eu consigo me virar com as meninas e nós estamos
bem. Se eu precisar de alguma coisa, vou te ligar.
— Eu levo a Duda comigo, então. — Pede com cara de carente.
— Sua mãe vai vir também para ficar com as meninas e eu combinei
com a Duda que ela ia participar. Eu preciso desse momento com ela,
grandão.
— Eu não gosto de ficar longe de vocês o dia todo, pequena. — Puxa-
me para mais perto e me abraça apertado.
— Gui, para de drama. É um dia só. Aproveita e chama o Felipe ou o
Rodrigo para fazer alguma coisa também.
— Promete que vai me ligar se precisar de alguma coisa?
— Prometo, grandão. Agora, vai trabalhar antes que as suas irmãs
cheguem e briguem com você por não ter saído ainda. Sabe como a Ju é. —
Dou um beijo nele e o levo a até a porta.
Não acredito. Pensei que não fosse conseguir tirá-lo daqui. Sempre é
difícil convencê-lo de ir trabalhar, mas, hoje, foi ainda pior. Parece que ele
sentiu que estava sendo enganado.
Desde o meu aniversário, depois da conversa que eu tive com a Ju,
que eu comecei a pensar em uma maneira de retribuir tudo que o Gui faz pela
Duda e por mim.
Quando eu estava com cinco meses de gravidez nós fomos ao
casamento do Miguel, amigo do Gui, e todos os amigos dele perguntavam
quando seria a nossa vez. Ele sempre fazia uma brincadeira e respondia que
já somos casados, mas reparei que a Ju tinha razão e que essa era mesmo a
vontade dele.
Resolvi então que daria isso a ele. Não me importo se já fui casada.
Sei que o Gui é completamente diferente do César e merece que eu faça isso
por ele.
A minha gravidez foi bem tranquila e me mudei um mês depois de o
Gui comprar a nossa casa, mas preferi esperar a Belinha nascer. Agora que
ela já está com dois meses, vamos realizar a cerimônia. Será uma coisa bem
íntima, somente a nossa família e amigos mais próximos com a benção de um
padre e a festa depois.
Contei com a ajuda das minhas cunhadas, da minha sogra, da Rebeca
e da Sara para organizar tudo, desde o bufê responsável pelas comidas até a
decoração com flores que será feita no meu quintal, já que tive que me dividir
entre trabalho, cuidar das meninas e ainda tinha que fazer somente nos
momentos em que o Gui não estava em casa.
Estou perdida em pensamentos quando elas chegam para me ajudar e
começamos com os preparativos. Pedi ao Felipe que fique de olho no Gui
para mim e para não deixar que ele venha para casa.
O dia passa com o entra e sai de pessoas organizando e decorando
cada canto do quintal, cabeleireiro, manicure e maquiadora para nos arrumar
e, cada hora que passa, eu fico mais nervosa.
Será que ele vai gostar? Será que não vai ficar chateado por eu ter
escondido dele? E se o desejo dele era participar de toda a preparação? Ai,
meu Deus. Será que eu tomei a decisão certa? Começo a me perguntar
enquanto estou sozinha no meu quarto.
— Agora não dá mais para desistir, cunhadinha. Acabei de saber que
o seu recado já foi entregue a ele. — A Ju fala parada atrás de mim enquanto
me olho no espelho. Respiro fundo e viro-me para ela sorrindo.
— Eu não vou desistir. Amo demais o seu irmão para voltar atrás.
— Assim é que se fala. — Pega minha mão e caminha comigo para a
cama para pegar o meu vestido e me ajudar a me vestir.
Guilherme
Escuto baterem na minha porta e, quando olho para ver quem é, vejo
o Rodrigo entrando com uma caixa nas mãos.
— Pediram para te entregar. — Caminha para perto de mim e coloca
em cima da minha mesa.
— O que é isso? — Questiono pegando o cartão que está preso na
caixa e abro para ler.
“Oi, grandão. Há mais ou menos um ano e meio eu conheci um
homem quando fui a uma academia e me encantei com ele no primeiro olhar.
No começo foi porque era lindo, mas, com o passar do tempo, conforme eu
fui conhecendo melhor, vi que a maior qualidade dele era a beleza interior.
Esse homem me cativou mais a cada dia e me trouxe de volta a esperança de
ser feliz. Com ele eu tive outra chance para o amor e construí uma família.
Sei que você queria passar esse dia conosco, mas eu precisava me preparar
para essa noite. Coloca a roupa que está nessa caixa e venha me encontrar.
Estarei te esperando na nossa casa para comemorarmos o nosso amor. Essa
noite é nossa. Não se preocupe com nada. A sua mãe e suas irmãs irão olhar
as meninas para a gente. Eu te amo, Gui. Não demora. Estou te esperando.
Beijos da sua pequena.”
Olho para o cartão com um sorriso enorme no rosto. Não consigo
deixar de pensar em como sou sortudo por tê-la em minha vida. A Amanda
me trouxe de volta a felicidade. Ela e as meninas são a minha vida e não há
nada que eu não faça por elas e para elas.
— Está esperando o que, moleque? Anda que eu vou te esperar. Sua
mulher me pediu para ser o seu motorista até a casa de vocês.
— O que a pequena está aprontando, Rodrigo? — Tento tirar alguma
coisa dele.
— Você não conhece aquelas mulheres? Se eu abrir a minha boca sou
um homem morto. Vai se arrumar que já está na hora.
Abro a caixa. Encontro uma calça social, um blusão, sapatos, meias e
uma gravata. Estranho a escolha da roupa, mas não falo nada. Já percebi que
não vou conseguir arrancar nada dele.
Vou para o banheiro, tomo banho e me visto. Quando saio, seguimos
para a minha casa, o que não demora, já que moro perto da academia.
Chegamos e ele diz que vai entrar na frente. Não entendo o motivo, mas não
questiono. Sei que tudo faz parte do que a Amanda programou e não quero
decepcioná-la. Desço do carro e fico no portão esperando por ela. Vejo a
minha mãe caminhando em minha direção.
— Vamos, meu filho. Sua mulher e suas filhas estão te esperando. —
Fala e a voz dela transborda de felicidade me deixando cada vez mais
curioso.
— Mãe, o que está acontecendo aqui? — Pergunto não aguentando
mais me segurar.
— Você já vai saber. — Diz e caminha comigo para o quintal na parte
de trás da casa.
Quando viramos na lateral, paro sem acreditar no que está a minha
frente. A nossa família e nossos amigos estão todos ali me esperando e, no
final do corredor feito por cadeiras, está um padre em um altar improvisado.
— Não acredito. — Paro onde estou. — Ela sempre falou que não
precisávamos casar e que um papel não mudaria nada do que sentimos um
pelo outro, então, por que isso agora?
— Por você, meu amor. — Faz um carinho no meu rosto. — Essa
mulher te ama, filho. Assim como você a ela. Esta benção só irá reforçar o
que todos que estão aqui já sabem.
Caminhamos para o altar onde ela me deixa sozinho esperando pela
Amanda. Começa a tocar uma música instrumental e vejo a Duda entrar
empurrando um carrinho de bebê com a Belinha.
Minhas filhas, minhas princesas. Elas estão lindas de vestidos brancos
iguais com flores azuis bordadas nas saias e uma tiara na cabeça. Abaixo-me
e dou um beijo na testa de cada uma.
— Vocês estão lindas, minhas princesinhas. — Digo. A Duda sorri
para mim e caminha levando a irmã para perto da Ju que está sentada na
primeira fila.
Levanto-me e vejo o João parado ao lado da Amanda para trazê-la ao
altar. Ela está com um vestido igual ao das meninas, tem um sorriso enorme
no rosto e os olhos brilhando que me fazem perder o ar. Esta mulher é minha
vida. Ela e nossas filhas são a razão para eu me levantar todos os dias.
Começa a tocar Te voy a amar de Axel, eles caminham para perto de mim e o
João diz assim que me entrega a mão dela:
— Cuida das minhas meninas, rapaz. Elas valem ouro.
— Daria a minha vida por elas, João. — Falo com sinceridade.
— Eu sei disso. — Aperta a minha mão e vira-se para a Amanda. —
Tenho certeza que os meus amigos estão muito felizes onde estiverem. —
Beija a testa dela e se afasta.
— Você está linda. — Beijo a testa dela. — Eu te amo, pequena.
— Não mais do que eu. — Aperta a minha mão.
— Obrigado por esta surpresa. — Faço um carinho no rosto dela que
se inclina na direção da minha mão.
— Sei que era o que você queria e sou capaz de tudo por você. —
Sorrio para ela, mas não respondo. Não sei se conseguiria falar agora. Dou
outro beijo na testa dela e nos viramos para o padre.
A cerimônia é simples, mas linda. Perco-me nas lembranças de tudo o
que passamos até aqui. Lembro do tanto que lutei para não me envolver; de
quando percebi que não adiantava lutar contra, pois não tinha mais jeito; do
nosso primeiro beijo; da primeira vez que a amei; da nossa primeira briga; de
quando descobri que ela estava grávida e do nascimento da Belinha.
Valeu cada minuto gasto, cada noite sem dormir pensando nela e cada
dia que passei perdido em pensamentos no meio do trabalho. Faria tudo outra
vez se tivesse a certeza que ela estaria aqui ao meu lado como agora.
Volto ao presente com ela dando um aperto suave em minha mão e
percebo que está na hora dos nossos votos. Escuto quando uma música suave
começa a tocar e a Duda entra com as nossas alianças em uma almofada.
Pego a da Amanda na almofada e ela faz o mesmo com a minha. Dou
um beijo na Duda, a Amanda outro e ela volta para perto da Ju que sorri para
mim. O padre faz sinal para que eu comece.
— Pequena, não acredito que palavras sejam suficientes para
expressar tudo o que eu sinto por você. Desde o dia em que te vi pela
primeira vez que não consigo te tirar da minha cabeça. Você e as meninas são
a minha vida, a família que eu sempre quis ter. Eu te amo e a cada dia esse
sentimento cresce mais ainda. A cada manhã que eu acordo e tenho você ao
meu lado o sinto crescendo. Em cada vez que olho para as nossas filhas, ele
se multiplica dentro do meu peito. Eu pensei que sabia o que era esse
sentimento, mas foram vocês que me apresentaram a ele. Eu te prometo dar
tudo de mim para fazer vocês felizes. Prometo sempre te respeitar e te amar
cada dia mais. — Seco as lágrimas que descem livres pelo rosto dela e coloco
a aliança em seu dedo.
— Gui, meu grandão, você acha que eu te ensinei o que é o amor, mas
foi o contrário. Foi com você que eu aprendi o sentimento verdadeiro. Aquele
que não pede nada em troca e que se doa pelo simples prazer de ver o outro
feliz. Foi quando te conheci que percebi que podia ser feliz de verdade, sem
medos e sem receios. Foi vendo o seu amor pela minha filha, nossa filha, que
tive a prova que ter o mesmo sangue muitas vezes não significa nada. Foi
percebendo a sinceridade dos seus sentimentos que percebi ter encontrado a
pessoa certa para mim. Não me importa a nossa idade, o que os outros falam,
não me importa nada. Se tiver você ao meu lado, sou capaz de enfrentar o
mundo. Porque você e as nossas filhas são o meu mundo. Eu te amo, Gui, e
prometo dar tudo de mim para te fazer feliz também. Prometo te respeitar e te
amar cada dia mais. — Sorri para mim e coloca a minha aliança no meu
dedo.
Não espero que o padre autorize e a beijo com todo o meu amor.
Saber que fez isso tudo por mim mesmo quando não queria nada disso, só me
faz amá-la ainda mais. Caminhamos para o começo do corredor com a nossa
família e amigos nos aplaudindo e jogando pétalas de flores quando
passamos.
Olho em volta e me pergunto como ela conseguiu organizar essa festa
sem que eu percebesse nada. Tenho certeza que tem dedo das minhas irmãs e
da minha mãe em cada detalhe que está presente neste quintal. Agradeço em
pensamento a sorte que eu tenho de ter essas pessoas na minha vida.
— Eu te amo, sabia? Obrigado por tudo. Pelas nossas filhas, por estar
todos os dias ao meu lado, por me permitir te amar, por me fazer o homem
mais feliz nesse mundo e por essa surpresa.
— Eu também te amo, grandão. E isso aqui não é nada perto do que
sou capaz de fazer por você e para ver esse sorriso lindo no seu rosto. Sei que
faria o mesmo por mim. — Puxo-a para um beijo não me importando com as
pessoas nos olhando.
— Será que eu posso abraçar os noivos? — Escuto a voz da Ju atrás
de mim quando encerro o beijo e viro-me para ela sorrindo.
— Claro que pode. Não sou louco de negar nada a uma grávida.
Como está o meu pontinho? — Pergunto fazendo carinho na barriga dela.
— Você e essa mania de colocar apelidos ridículos nos bebês. —
Implica, mas sei que também fala assim.
A festa segue e, quando toca Ouvi dizer do Melim, eu puxo a Amanda
para dançar.
— “Ouvi dizer; que existe paraíso na terra. E coisas que eu nunca
entendi; coisas que eu nunca entendi. Só ouvi dizer; que quando arrepia já
era; coisas que eu só entendi; quando eu te conheci.” — Canto no ouvido
dela e a beijo mais uma vez.
Bônus
Guilherme
Olho para a foto da Amanda com as nossas filhas no colo que tenho
em cima da minha mesa na academia e sorrio. Minhas meninas estão cada dia
mais lindas. A Belinha, agora com quatro meses, está cada vez mais esperta.
Já emite alguns gritinhos e adora quando a irmã brinca com ela.
As duas são muito apegadas, coisa que espero que continue. A Duda
vai para a escola contando os minutos para voltar e ficar com a irmã e, depois
que volta, fica sempre onde a Belinha está.
A Amanda aproveita os intervalos entre as mamadas para trabalhar.
Até pensei em falar para parar, mas sei que ela gosta e não aceitaria depender
de mim para tudo, coisa que ela mesma diz.
Tento me concentrar nos documentos que estão espalhados na minha
frente pela mesa. Precisei vir à academia para resolver algumas coisas, mas
não quero demorar.
Hoje é o aniversário de seis anos da Duda e a Amanda está
preparando tudo em casa para a festinha que vamos fazer para ela. Sei que a
Clara, minha mãe, a Ju e a Rebeca estão lá, mas quero ajudar também.
Ainda quero passar no shopping para comprar a boneca que ela me
pediu. Não contei para a Amanda já que ela disse que era muito cara e quis
comprar outra, mas não consigo negar nada para a minha princesinha.
Sei que vou escutar a Amanda reclamar que mimo muito a Duda,
porém nada que eu não consiga reverter com muitos carinhos. Aquelas três
me têm nas mãos e nem sabem.
— Guilherme, o juiz decidiu. — O Felipe entra na minha sala
gritando e me pegando de surpresa.
— Decidiu o que, Felipe? Quer me matar do coração, cara?
— Tudo bem. Não te conto a novidade, então. Talvez eu deixe para te
contar só no mês que vem. — Senta-se na cadeira na frente da minha mesa e
fala tirando um papel da pasta.
— Que papel é esse, Felipe? — Levanto-me e tento tirar da mão dele,
mas ele puxa para longe e não deixa.
— Agora você quer saber? Deixa para lá. Acho que vou falar com a
Amanda primeiro. — Levanta-se e ameaça sair da sala. Fico na frente dele e
não deixo que passe por mim.
— É o que eu estou pensando? Você não está de brincadeira, está? —
Sorrio sem me controlar. — Hoje? — Acena com a cabeça em acordo. —
Justo hoje? Não acredito. — Passo a mão pelos cabelos.
— Claro que eu estou falando sério, Guilherme. Você acha que eu iria
brincar com esse assunto? Está aqui, cara. Saiu a decisão do juiz deferindo a
adoção unilateral. Com esse papel, você já pode registrar a Duda. Ela é sua
filha legalmente.
Olho para o papel sem acreditar. Há mais ou menos um ano eu
conversei com a Amanda sobre adotar a Duda e ela aceitou. Pedi ao Felipe
que agisse tudo para mim, mas não sabia que demoraria tanto assim. Hoje,
justo hoje, no aniversário dela, esse documento chega e quem ganha o
presente sou eu.
— Minha filha, cara. A Duda é minha filha. — Digo completamente
emocionado e ele me puxa para um abraço.
— Ela já era, cara. Só falta ter o seu nome na certidão e você já está
autorizado a isso. — Afasta-se de mim e tem um sorriso enorme igual ao
meu. — Vai ligar para a Amanda para contar ou só vai falar quando chegar
em casa?
— Só em casa. Quero fazer uma surpresa para as duas. — Olho para a
minha mesa e desisto de fazer qualquer coisa. Depois eu resolvo isso. Agora,
eu quero ir para casa e contar para a Duda. Preciso ver a reação dela e saber
se vai gostar.
— Você não vai esperar, não é? — Pergunta sabendo a resposta. — Já
vai embora.
— Só tenho que passar no shopping para comprar a boneca que ela
me pediu, mas não fico mais um minuto sequer aqui. — Pego as minhas
chaves, carteira, celular e o envelope que ele me entrega para sair. — Você
vai comigo ou vai passar em casa antes de ir para lá?
— Tenho que passar em casa para tomar banho antes. — Diz
caminhando comigo para a porta.
Despeço-me dele e sigo para o shopping. Vou direto à loja de
brinquedos e peço a uma vendedora a boneca. Não demoro trinta minutos e
saio do shopping para ir para casa.
Mando uma mensagem para a Amanda perguntando se ela quer
alguma coisa da rua, ela diz que não e eu agradeço mentalmente por não
precisar demorar mais para chegar.
Dou sorte e não pego trânsito. Cerca de vinte minutos depois estou
estacionando no portão de casa. Entro e sigo direto para a parte de trás do
quintal onde sei que vou achá-las carregando a bolsa com a boneca e o
envelope com o documento que o Felipe me entregou.
Viro na lateral da casa e vejo as minhas irmãs sentadas com as
meninas brincando perto delas e a Belinha no carrinho ao lado. A Amanda sai
de casa e me vê. Quando a Duda percebe a minha presença levanta e vem
correndo em minha direção.
— Papai! Papai, olha o que a tia Ju me deu. — Estaco no lugar onde
estou sem acreditar no que escutei.
Vejo quando a Amanda coloca a mão na boca e as lágrimas descem
livres pelo rosto dela. Sei que não estou muito diferente, pois não consigo me
segurar e deixo a emoção me dominar.
— Oi, minha filha. — Pego-a no colo e aperto o corpinho dela ao
meu. — Repete para o papai, repete? — Peço. — Do que você me chamou?
— De papai. Você não quer ser meu papai? — Pergunta com um
rostinho triste.
— É o que eu mais quero, princesinha. — Distribuo diversos beijos
pelo rostinho dela que sorri para mim. — O papai tem uma coisa para contar
para você e a mamãe. — Faço sinal com a mão para a Amanda se aproximar
de onde estamos e dou um beijo leve nos lábios dela quando para ao meu
lado.
— O que é esse pacote, papai? — Não me canso de escutá-la me
chamando assim.
— É um dos seus presentes, filha, mas primeiro o papai quer te
mostrar uma coisa. — Coloco-a no chão e pego o envelope dentro da bolsa.
Vejo a Amanda me olhando curiosa. — Esse papel aqui diz que agora você é
minha filha igual à Belinha. — Mostro para ela que, apesar de não entender
muito bem ainda a importância disso para mim, sorri.
— Saiu? — A Amanda pergunta ainda emocionada. Aceno com a
cabeça em acordo. — Meu Deus! Tem como esse dia ficar melhor? — Escuto
o gritinho da Belinha e caminho para onde está o carrinho dela para pegá-la.
Volto para perto da Duda e da Amanda e pego a Duda no colo
também. Beijo as três e sorrio para as minhas irmãs que estão me olhando
enquanto secam as lágrimas que descem pelo rosto delas.
Fim
Uma chance para a felicidade
Spin-off de
Outra chance para o amor
Júlia
— Vamos que o Gui já me mandou mensagens umas três vezes
perguntando se estávamos chegando. — Digo enquanto entramos de mãos
dadas no bar. Ele para do nada e eu quase caio quando sou puxada para trás.
— Júlia, espera. — Pede. — Seu irmão está aqui?
— Está, garotão. O que foi? Está com medo dele? — Pergunto
sorrindo para implicar com ele.
— Não. Claro que não. Só que você não me falou nada. — Passa a
mão pelos cabelos nervoso.
— Foi você mesmo que me pediu para assumir para todos que
estamos juntos. Mudou de ideia? Quer voltar atrás agora?
— Não é isso. — Solta um suspiro.
— É o que, então? — Viro-me de frente para ele.
— Nós precisamos conversar, Júlia. Vem comigo. — Tenta me puxar
para fora do bar.
— A gente não vai demorar. É só para o Gui parar de me perturbar.
Ficamos uns trinta minutos e vamos embora. Teremos a noite toda para
conversar depois.
Caminho para a mesa onde sei que estão me esperando com ele atrás
de mim.
— Que merda é essa, Júlia? — O Gui grita levantando da cadeira
quando me aproximo deles.
— Você não queria conhecer o meu namorado? — Cruzo os braços.
Sabia que ele não ia gostar, mas não esperava que fizesse esta cena.
— Diz que isso não é sério, Júlia. — Pede passando a mão pelos
cabelos.
Playlist
Ciúmes – Ultraje a Rigor
Medo bobo – Maiara e Maraisa
Quem de nós dois – Ana Carolina
Te voy a amar – Axel
Ouvi dizer – Melim
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Outras obras da autora
Duas metades
Sinopse
Ana Luíza tem sua vida transformada na noite de sua formatura,
graças a um motorista embriagado. Agora ela se dedica a cuidar de sua mãe,
não tendo mais uma vida social. Até que surge uma nova oportunidade de
emprego em suas mãos.
Na noite em que sai com sua amiga para comemorar a nova fase,
conhece Edu em um bar.
Por mais que tente, não consegue tira-lo da cabeça, mesmo sabendo
que as chances de se reencontrarem são quase nulas, já que ele não era de sua
cidade.
Carlos Eduardo perdeu sua família quando tinha dezoito anos, vítimas
de um assalto em sua residência. Depois de oito anos ele ainda não conseguiu
voltar a ser a pessoa alegre que fora um dia.
Não consegue se envolver com mais ninguém, depois que sua ex-
namorada tentou armar contra ele, de olho em sua herança.
Teve casos de uma noite, mas nenhuma mulher conseguiu quebrar as
barreiras que ele criou em volta de seu coração. Até conhecer Ana.
Ebook no site: https://goo.gl/hhaxs7
Já era amor
Sinopse
O amor surge no primeiro olhar? Uma amizade pode se transformar
em amor? Ou será que ele sempre esteve ali e você nunca notou?
Isabela e Ricardo cresceram na mesma rua, com amigos em comum,
mas nunca foram próximos. Certo momento, Ricardo precisa de apoio e todos
os seus amigos estão viajando. A única pessoa que ele tem ao seu lado é
Isabela.
Eles se aproximam, desenvolvem uma amizade sólida, porém, com o
passar dos anos, um novo sentimento surge fazendo com que os dois
enxerguem algo a mais do que uma simples amizade.
Relacionamentos fracassados, momentos difíceis, tudo faz com que os
dois se aproximem cada vez mais.
Será que eles irão se entregar a esse amor? Ou deixarão o medo de
perder essa amizade esconder esse sentimento?
Ebook no site: https://goo.gl/Bww4Qu
Voltei, e agora?
Sinopse
Um amor é capaz de ultrapassar as barreiras da saudade?
Lucas e Fernanda cresceram na mesma rua e tornaram-se
inseparáveis. Na adolescência, logo após assumirem o namoro, o pai de
Lucas foi transferido para o Distrito Federal e eles acabaram se afastando.
Sete anos se passaram e, mesmo sem o apoio dos pais dele, eles se
comunicavam e até mesmo se encontravam durante as férias, continuando
assim com um relacionamento à distância.
Alguns acontecimentos fizeram com que eles acabassem se afastando
e perdendo o contato nos últimos meses, fazendo Fernanda acreditar que
Lucas desistiu de tudo que combinaram durante todos esses anos.
Agora Lucas está de volta. Será que eles irão recomeçar de onde
pararam? Ou o sentimento não é mais o mesmo?
Uma coisa é certa: Lucas não vai desistir de Fernanda e está disposto
a lutar para reconquistá-la.
Ebook no site: https://goo.gl/H5CBy5
Table of Contents
Sinopse
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capitulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Capítulo quarenta e quatro
Capítulo quarenta e cinco
Capítulo quarenta e seis
Capítulo quarenta e sete
Capítulo quarenta e oito
Capítulo quarenta e nove
Capítulo cinquenta
Capítulo cinquenta e um
Capítulo cinquenta e dois
Epílogo
Bônus
Uma chance para a felicidade
Playlist
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