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Como identificar e

fortalecer o paciente
para lidar com um
relacionamento abusivo

PÚBLICA
Patrícia Cavalheiro - CRP: 05/53494

• Psicóloga
• Especialização em Terapia Sistêmica Individual, Família e
Casal
• Especialização em terapia sexual sistêmica de casal
• Sexóloga

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Relacionamento abusivo
- É definido como uma relação que apresenta abusos de
ordem física e/ou emocional.
- É aquele em que existe uma desigualdade entre os
envolvidos. Nele, ocorrem manipulações e situações que
fazem com que a pessoa se sinta aprisionada, constrangida,
dependente, reprimida ou inferiorizada.
- É quando existem tentativas de dominação que sempre
colocam um acima do outro.

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Os diferentes tipos de abuso:
● Moral — exposição da intimidade, excesso de mentiras, ciúmes exagerados, críticas
desonestas, controle sobre a forma como a outra pessoa se veste ou fala, ofensas, entre
outras atitudes que difamam o parceiro;

● Psicológico — ameaças, manipulação, chantagem emocional, vigilância, cerceamento


da liberdade e gaslighting (tentativas de fazer a outra pessoa duvidar da própria sanidade
mental) são exemplos desse tipo de abuso;

● Patrimonial — controle unilateral de bens, como dinheiro, documentos e imóveis, sem


que haja o consentimento de ambas as partes, também é uma atitude abusiva;

● Físico — agressões e lesões propositais, mesmo com pedidos de desculpas após o


episódio, são um tipo de abuso;

● Sexual — relações sexuais não consentidas também podem acontecer em


relacionamentos românticos, assim como outros abusos, como indução de aborto,
impedimento de uso de métodos contraceptivos e casamento forçado.
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Acontece só em relacionamento amoroso?

Não! Embora ganhem maior evidência nas


relações amorosas, os relacionamentos abusivos
também são bastante comuns no ambiente de
trabalho, podem acontecer entre irmãos ou
familiares e até mesmo entre amigos e colegas.

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Sinais de alerta - Superproteção
•Pode parecer um grande cuidado, atos extremos de
generosidade, muito amor, gerando uma dívida enorme por
parte de quem recebe essa proteção e esses favores.
•A vítima normalmente se sente muito incapaz de fazer
qualquer coisa sozinha, se sente extremamente dependente
da outra, até para ações de rotina, como: Precisa que alguém
dirija para ela, precisa de companhia para ir aos lugares, tem
medo de não saber explicar o que precisa, precisa ter
aprovação de outros em tudo que faz.

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Sinais de alerta – Violência Psicológica
•A violência psicológica envolve a manipulação, tentativas de
assustar uma pessoa e o uso frequente e deliberado de
palavras ou ações não físicas que fragilizam outra pessoa
emocionalmente.
•Os episódios podem variar entre elogios e depreciações.
•O agressor costuma oscilar entre ser muito gentil e
encantador, principalmente com quem está externo a relação,
e, em outros momentos, agressivo, violento e chantagista.

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Exemplos de violência psicológica
- Pouco caso das conquistas da vítima;
- ridicularização dos gostos ou opiniões;
- transferência de culpa para a vítima pelas atitudes do
agressor;
- justificativa da atitude desequilibrada em função de
estresse;
- imposição de vontades;
- comentários que causam insegurança, redução da
autoestima e medo.
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Sinais de alerta – Ameaças ou chantagens
•Quando tem crianças envolvidas, ameaça ou
abandonar os filhos ou de levar para longe.
•Ameaça de revelar segredos e/ou fragilidades do
outro ou até mesmo de inventar mentiras e espalhar.
•O agressor costuma diminuir a vítima, dizendo que
nunca encontrará ninguém que a aceite com os
defeitos que tem ou que a ame como ele.

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Com medo da consequência a vítima acaba ficando,
até mesmo pelo sentimento de incapacidade que
tem de continuar a jornada da vida sozinha.

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Sinais de alerta – Exigência de mudança
•O agressor sempre tenta modelar a vítima, seja
pelas roupas que usa, lugares que frequenta.
•Faz a vítima achar que só fala bobagens que serão
rejeitadas por outras pessoas, acreditarem que não
tem conteúdo para se expor.
•Manipula em relação a família e as amizades,
afastando a vítima de todos.

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Alerta aos profissionais
• O relacionamento abusivo tem fases, então a vítima tem
dificuldade de identificar que está sofrendo abuso, porque tende
a defender o agressor, relembrando fases passadas.
• Não temos fontes muito consolidadas de pesquisa sobre o tema,
porém temos bastante matérias e estudos sobre, precisamos ler,
entender os comportamentos para conseguirmos ajudar nossos
pacientes a reconhecer e enfrentar o que estão vivendo.
• Veremos 6 fases de um relacionamento abusivo de acordo com o
site cidade verde na campanha do mês de agosto lilás.

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1- Construção da imagem: o disfarce perfeito
•Nesta etapa, conhecida como efeito camaleão, o abusador
é capaz de ler, identificar e decifrar as necessidades do
outro. Com base nisso se adapta para caber no que falta ao
outro e se empenha para parecer sua alma gêmea. Quando
percebe que cativou a vítima, começam os sinais de ciúmes
leves, que podem ser vistos como amor, cuidado,
preocupação, atenção, carinho: ‘Não saia com essa roupa,
vão mexer com você’, ou ainda, ‘não se comporte assim, as
pessoas vão te julgar’.

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2- Adestramento
•No geral, esse comportamento é sutil e a parte
abusada passa por um tipo de adestramento. Há
uma recompensa cada vez que a ordem é
obedecida e a dinâmica é reforçada pela sensação
que a vítima tem de que está sendo cuidada.
Gradativamente vai permitindo que a parte
abusadora ultrapasse os limites.

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3- Justificativa
•A terceira fase que é a culpabilidade. A parte
abusadora passa culpar o outro por seu
comportamento disfuncional e até mesmo
agressivo. O abusado começa a se distanciar de si e
deixa de impor limites. A pessoa perde sua identidade
em troca de migalhas de afeto e atenção. O sentimento
de culpa vai sendo cultivado e inibe qualquer reação
contra a dinâmica abusiva da relação.

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4- Distanciamento
•Nos altos e baixos da relação, quando a pessoa abusadora
percebe que a outra parte começa a se incomodar, ele
trabalha o distanciamento. Esta é a quarta fase das
relações abusivas, quando a vítima busca um contraponto
de suas ações e a cada validação, sofre descrédito. Em um
segundo momento, passa a isolar o outro de sua família,
de amigos e colegas de trabalho, no objetivo de minar a
sua capacidade de acreditar em sua rede de apoio.

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5- Normalização
•Depois de dominada, a parte abusada é submetida a uma
dinâmica de oscilação emocional amor e desprezo. Há um ciclo
intermitente de tensão e explosão, seguidos de fases de
reconciliação e calmaria. A vítima realmente acredita que todos
os relacionamentos são assim, relativiza, acha normal e ignora os
sinais evidentes de abuso. Nestes momentos, não é incomum a
parte abusadora alimentar as inseguranças da outra pessoa. Ela
provoca situações de ciúmes, dando a entender que tem alguém
lhe rondando na rede social, com propósito de desvalorizar o
outro. A ideia é fazê-lo se sentir insuficiente e inseguro.

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6- Resignação
•No último degrau desta escada vem a resignação,
quando a parte abusadora convence ao outro de que
ele é incrível e insubstituível. São utilizados
argumentos depreciativos como: ‘se você me largar
ninguém vai te querer’. Nesse estágio, qualquer
tentativa de reagir à situação pode culminar em
discussões violentas, por vezes culminando na agressão
física.

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Por que a dificuldade de sair desse ciclo?
• A vítima apresenta características do transtorno de personalidade
esquizoide.
- A pessoa com transtorno de personalidade esquizoide parece
não ter nenhum interesse em ter relacionamentos íntimos com
outras pessoas e prefere ficar sozinha.
- O médico diagnostica o transtorno de personalidade esquizoide
tomando por base sintomas específicos, incluindo distanciamento e
desinteresse geral nos relacionamentos sociais e expressão limitada
de emoções.

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Por que a dificuldade de sair desse ciclo?
• A vítima se afastou dos seus amigos e familiares.
- Com vergonha de voltar atrás e dizer que todos tinham razão e
assumir que fez uma escolha ruim, não tem para quem contar ou
para onde voltar.
- Assumir as fraquezas perante os outros não é fácil,
principalmente se tiver uma posição social ou posição de admiração
dos outros, o que não é incomum.

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Por que a dificuldade de sair desse ciclo?

• A essa altura a autoestima está no seu pior momento.


- Não existe mais autoconfiança.
- A capacidade de sonhar está comprometida.
- Dependência emocional.
- Dependência financeira.

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Diagnostiquei um relacionamento
abusivo, e agora?
- Não conte seu diagnóstico, a não ser que seja uma
relação em que já aconteça violência física, porque
na inocência x fragilidade da vítima, ela é capaz de
contar ao agressor o que o profissional falou e
esse forçar o afastamento convencendo do quanto
foi nocivo e julgador, se fazendo de vítima.

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- Não dê ênfase somente a área afetiva, trabalhe em
paralelo os sonhos profissionais, os planos de
curto, médio e longo prazo, evidenciando talvez
que seu paciente possa ter perdido a capacidade
de pensar em si mesmo e em seu futuro.

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- Estude a fundo o passado do paciente, a criação, a
relação pai, mãe e filho, se era subjugado na infância ou
superestimado.
- Perceba se existe a necessidade de perfeição.
- Perceba se existe a necessidade de agradar os outros
constantemente, necessidade de aprovação social.
- Trabalhe a autoestima a fundo, esse item é um dos mais
importantes, com a autoestima abalada, a pessoa não é
capaz de sair de um relacionamento abusivo.

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- Destaque para seu paciente que a terapia é feita
de hipóteses que são formuladas e estudadas
juntos, peça ao mesmo que pesquise sobre
relações abusivas e que tente perceber se
porventura existe alguns sintomas similares em
seu relacionamento.

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5 liberdades para fortalecer a
autoestima - Virginia Satir
- A liberdade de ser
- A liberdade de dizer o que pensa e sente
- A liberdade de sentir
- A liberdade de pedir
- A liberdade de correr riscos

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A liberdade de Ser
•"A liberdade de ver e sentir o que é, em vez do
que deveria ser, foi ou será.“ Esta primeira
liberdade de Virginia Satir está ligada à
importância de ser autêntico e vivo no presente,
em vez de se perder nas profundezas do passado,
nas correntes futuras ou nos bastidores da
idealização e das projeções externas.

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A liberdade de dizer o que pensa e sente
•Na maioria dos casos, tememos que nossas palavras
e pensamentos sejam inadequados, que não
obtenham a aprovação dos outros ou que
prejudiquem os outros.
•É uma dupla traição, primeiro a nós mesmos devido
à rejeição da nossa pessoa, e depois aos outros de
quem escondemos quem realmente somos.

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A liberdade de sentir
•Essa é uma das liberdades de Virginia Satir que talvez
seja a mais difícil, já que ninguém nos ensina ao longo
da vida a identificar o que estamos sentindo. Em
primeiro lugar temos que ter em mente que todas e
cada uma das emoções são válidas, não temos que
reprimir nem bloquear nenhuma emoção. Ao fazer isso
não nos aprofundaremos na maravilhosa arte de
conhecer a nós mesmos.

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A liberdade de pedir
•Não podemos ficar esperando que as oportunidades e as pessoas batam
na nossa porta, nem podemos nos conformar com tudo que acontece
conosco. Temos liberdade para escolher e para pedir.

•Muitas vezes as pessoas que têm baixa autoestima costumam agir só


quando alguém lhes deu permissão para isso. Isso acontece por uma
insegurança crônica. É como se não pudessem decidir por si mesmas,
porque alguém tirou esse direito delas. Só que quem tirou esse direito
foram elas mesmas. E ainda que provavelmente isso tenha base no modo
como foi sua infância, nunca é tarde para despertar e levantar a voz por
si mesmo, para se fazer visível.

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A liberdade de correr riscos
•A última das liberdades de Virginia Satir tem relação com correr
riscos, com sair da zona de conforto que muitas vezes acaba sendo
um refúgio mesmo que gere incômodos para nós.

•Se queremos crescer, se queremos avançar, a única opção possível é


agir e, é claro, assumir a responsabilidade sobre as consequências
que derivam de nossos atos. Só assim poderemos aceitar os
acontecimentos e aprender com eles. Enquanto não abandonarmos
essa sensação de segurança e não enfrentarmos cara a cara a
incerteza, é impossível seguir no caminho do autoconhecimento.

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Passos até aqui...

- Anamnese contextualizada e profunda dos


relacionamentos vividos até aqui (infância, relações
amorosas)
- Acolhimento dos abusos sofridos, sem julgamento
- Reconhecimento das dores e histórias de insucesso
- Fortalecimento da autoestima
- Foco em outras áreas / olhar para o futuro.

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- Seu paciente tem medo além de tudo já
mencionado de ficar sozinho após o término,
porém precisa aprender a ser sozinho para estar
pronto para novas relações.

- Seu paciente tem medo de suas futuras escolhas,


se coloque a disposição para os próximos passos
que é ajudar nas próximas escolhas.
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Ensinando seu paciente a lidar com as perdas e lutos
de um relacionamento

- O que será perdido? Ex: mobilidade, financeiro, pessoas importantes em


comum? Deixe que listem.
- Entenda o significado dessa relação para seu paciente.
- Peça que listem os atuais pontos positivos, percebam que dependendo da
relação já não há mais tanto, não deixe que o passado sirva de parâmetro
nesse momento.
- O fator idade x tempo costuma aparecer com frequência, destaque que a vida
não é uma corrida contra o tempo, essa cronologia não deve ser um fator
usado contra a felicidade, mas a favor dela, nunca será tarde para recomeçar
de uma maneira melhor. Afinal, por que não viver melhor usando o mesmo
conceito do quão curta pode ser a vida.
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Listem juntos o relacionamento perfeito
•Se tivesse um relacionamento perfeito o que não faltaria?
•Quais as qualidade gostaria de encontrar em uma pessoa?
•O que gostaria de viver com a outra pessoa em um
relacionamento, liste bons momentos, viagens? Cinemas?
Jantares? Diálogos? Poder falar sem medo...
•Peça para destacar um relacionamento que conheça como
referência positiva e compare com a relação atual, vamos
calibrar juntos as relações possíveis conhecidas x a que existe x
a que se sonha (expectativas).

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Próximos Passos
- Incentive seu paciente a falar com amigos de confiança ou familiares, na
verdade a ouvi-los, essas opiniões antes veladas ou caladas vão trazer
perspectivas dos expectadores dessa relação, pontos invisíveis (cegos)
de quem está dentro da relação.

- Elimine comportamentos repetitivos, jogos, gatilhos que levem a


repetição das crises. Perceba brigas que se repetem, combine com seu
paciente uma reação diferente que force o agressor a não inverter o jogo,
se “vitimizando” e encontrando uma forma de culpar a vítima por suas
reações ou acusações.

- Foque na sanidade mental da vítima e não na necessidade de ter razão,


ganhando a disputa.

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Próximos Passos
- Incentive seu paciente ler casos de pessoas que passaram
por isso e saíram dessa relação.
- Estude com seu paciente as brigas, os motivos e desenhe os
ciclos, ao identificar as repetições a vítima terá mais
facilidade de quebrar o ciclo e confrontar o agressor.
- Reconheça as chantagens emocionais, listo algumas na
sequência.

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Chantagens mais comuns
•Você ficará sozinha para sempre!
•Você é egoísta!
•Vou me matar se você me deixar!
•Você está deixando a única pessoa capaz de te
amar ir embora!
•Você será infeliz para sempre!
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Tenha paciência, esse processo demora e demora e
demora e demora e demora mais um pouco.
Entre o reconhecimento e a ação pode ter um longo e
cansativo caminho e não é culpa do terapeuta, tire o
foco só do relacionamento e ajude seu paciente a
caminhar nas outras áreas, fortaleça o profissional, os
TCCs paralisados, faculdades trancadas, os perdões
nas relações familiares, incentive novas amizades,
cuidar do visual, da saúde física e por aí vai...
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- Não culpe a vítima.
- Se necessário acione algum amigo ou familiar, você pode
pedir permissão ao seu paciente para incluir mais alguém
nessa resolução.
- Repita tudo isso quantas vezes for necessário e lembre-se
do mais importante a vítima precisa estar disposta a ser
ajudada, senão tudo será em vão, o maior movimento vem
da vítima.
- Seu paciente é o sujeito mais ativo nessa equação, não é
você!

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Meu paciente terminou o relacionamento e agora?
- A chance de uma recaída é muito grande, intensifique o
trabalho terapêutico.
- Em todas as sessões faça questão de lembrar os pontos
negativos da relação que seu paciente deixou para trás e
do quão forte foi.
- Explique os estágios do luto para seu paciente.
- Comece a fazer uma lista do que uma relação ideal
precisa ter para que as próximas escolhas sejam
pautadas nisso.
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Dúvidas?

Gratidão por partilhar


com cada um de
vocês...
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