Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Introdução: este artigo aborda e problematiza usos dos resultados de avaliações externas no
trabalho pedagógico para melhorar a qualidade do ensino por equipes da gestão escolar no
ensino fundamental. Explora as relações da avaliação externa e da gestão escolar com usos dos
resultados. Método: analisa dados de alunos de quatro escolas do ensino fundamental de uma
rede municipal de ensino do estado de são paulo para exemplificar possibilidades de usos de
resultados. Conclusões: conclui que, para efetivar as funções da gestão escolar, é necessário
evidenciar elementos da realidade escolar que estão disponíveis nos resultados das avaliações
externas e socializá-los com os profissionais da escola para edificar o trabalho coletivo na dire-
ção da concretização de uma escola pública democrática. Destaca a importância da escola não
esgotar a reflexão sobre sua realidade nas avaliações externas e buscar trilhar a trajetória da
avaliação institucional, contemplando a autoavaliação.
Palavras-chave: Gestão pedagógica da escola • Avaliação externa • Qualidade do ensino
Abstract
70 Introduction: This article discusses uses and results of external assessments in educational
work to improve the quality of education by school management teams of elementary schools.
It explores the relationships of the external evaluation and the school management to use the
results. Method: It analyzes data from students in four elementary schools in the state of São
Paulo to illustrate possible uses of results. Conclusion: This article concludes that to accom-
plish the tasks of school management it is necessary to evidence the elements of a reality that
is available in the school results of external evaluations, and to socialize them with school pro-
fessionals to build the collective work toward the realization of a democratic public school. It
stresses the importance of schools not exhaust the reality in their reflection on external eva-
luations and seek to tread the path of institutional evaluation contemplating self-assessment.
Key Words: School, educational management • External evaluation • Quality of teaching
Avaliação externa
e gestão escolar:
reflexões sobre usos
dos resultados 1
ocente do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Vale do Sapucaí - Univás e Doutora
D
Machado C em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Participa do GEPAVE (Grupo de Estudos e Pesquisas em
Avaliação Educacional) na Faculdade de Educação da USP.
Introdução na ou interna, quando o objetivo é a ISSN 1982-8632
obtenção de dados para elaborar pro-
Avaliação sempre foi um tema
postas de investimentos e ações para
candente entre os pesquisadores e os
a melhoria da qualidade da educação. Revista
profissionais da educação. Durante
Avaliar é um processo que pode ter @mbienteeducação.
muito tempo o foco dos debates privi- 5(1): 70-82, jan/jun,
como integrante o levantamento siste-
legiou a avaliação que é feita dentro da 2012
mático de informações dos alunos em
escola, a avaliação da aprendizagem.
testes padronizados, mas não se esgo-
No entanto, mais recentemente, a par-
ta nele. A análise dos dados obtidos, a
tir de 1990, ganhou relevância nas
produção de juízos de valor sobre eles
discussões a avaliação externa, que é
e a utilização dos resultados alcança-
aquela gestada fora do ambiente esco-
dos na proposição e direcionamento de
lar.
ações são etapas indissociáveis do ato
Fatores diversos impulsionaram de avaliar.
esse movimento, dentre eles as ini-
No caso das redes públicas de en-
ciativas do governo federal de criação
sino, urge repercutir os resultados das
do Sistema de Avaliação da Educação
avaliações externas de forma a ala-
Básica (Saeb), em 1990, do Exame
vancar o desenvolvimento de proces-
Nacional de Cursos (ENC), em 1995
sos subsequentes por parte de profes-
e do Exame Nacional do Ensino Mé-
sores e equipes gestoras de unidades
dio (Enem), em 1998 tiveram, sem
educacionais, configurando impactos
dúvida, um papel preponderante. Na
desejáveis na escola.
esteira do governo federal alguns go-
vernos estaduais amplificaram esse
O reconhecimento da valorização
movimento com a criação de seus pró-
da etapa inicial da avaliação, o levan-
prios sistemas de avaliação do ensino
tamento, coleta e sistematização de
fundamental, como os pioneiros Cea- 71
informações, em detrimento do estí-
rá (1992), Minas Gerais (1992) e São
mulo e elucidação para a apropriação
Paulo (1996).
das etapas seguintes do processo ava-
liativo ensejaram este artigo. Nele são
O objetivo de fornecer informa-
abordados e problematizados usos dos
ções sobre o desempenho e resultados
resultados de avaliações externas por
dos sistemas educativos para gestores
equipes de gestão escolar de escolas de
educacionais e de ensino, famílias e so-
ensino fundamental, na perspectiva
ciedade aparece, dentre outros, como
de sua utilização no trabalho pedagó-
principal justificativa nos documentos
gico, visando à melhoria da qualidade
oficiais de criação das avaliações ex-
do ensino. São tomados para análise
ternas (Brasil, 1994), expressando a
alguns dados de alunos de quatro es-
importância do levantamento e coleta
colas do ensino fundamental de uma
de dados para subsidiar as ações nos
rede municipal de ensino do estado de
âmbitos da gestão da política educa-
São Paulo. Antecedendo o estudo des-
cional. De modo geral, tais avaliações
ses dados, busca-se explorar relações
concentraram-se em torno da aplica-
da avaliação externa e da gestão esco-
ção de testes para a aferição de compe-
lar com usos dos resultados.
tências e habilidades em língua portu-
guesa e matemática, para obtenção de
Sobre avaliação externa
seus resultados.
Avaliação externa é todo processo
Em que pese sua relevância para
avaliativo do desempenho das escolas Avaliação externa
os processos educacionais, sistema- e gestão escolar:
desencadeado e operacionalizado por
tizar informações sobre os sistemas reflexões sobre usos
sujeitos alheios ao cotidiano escolar. dos resultados
educativos é insuficiente para a cons-
Existem vários arranjos possíveis na
tituição de uma avaliação, seja exter- Machado C
organização dos processos das ava-
ISSN 1982-8632 liações externas e, em algumas expe- tura, e em matemática, com foco na
riências e/ou etapas2, a participação resolução de problemas (Inep, 2012). O
de profissionais das escolas avaliadas diferencial - e aqui está a inflexão - é
Revista pode ser contemplada, mas a decisão o tipo de avaliação, que é amostral na
@mbienteeducação. de implementar uma avaliação do de- Aneb (alguns alunos das séries ava-
5(1): 70-82, jan/jun,
2012
sempenho das escolas é sempre exter- liadas fazem a prova) e censitária na
na a elas. Prova Brasil (todos os alunos das sé-
ries avaliadas fazem a prova).
Comumente, é também uma ava-
liação em larga escala, abrange contin- Corolário desse diferencial, que
gente considerável de participantes e também contribuiu para essa inflexão,
pode fornecer subsídios para diversas é a geração e divulgação dos resultados
ações e políticas educacionais. Para dos desempenhos na avaliação da Pro-
Freitas (2009, p. 47), essa avaliação va Brasil por município e escola, além
dos dados já produzidos pelo Saeb (re-
é um instrumento de acompanha- sultados dos desempenhos do Brasil,
mento global de redes de ensino com regiões e unidades da Federação), que
o objetivo de traçar séries históricas não possibilitava a identificação de
do desempenho dos sistemas, que
municípios e/ou escolas nos dados dis-
permitam verificar tendências ao
longo do tempo, com a finalidade de ponibilizados pelo INEP. Nas palavras
reorientar políticas públicas. de Sousa e Lopes (2010, p. 55):
Nível Pontos na Escala Percentual (%) 2005 Percentual (%) 2007 Percentual (%) 2009
Nível 8 300 a 325 0,0 0,0 1,0
Nível 7 275 a 300 0,0 4,4 2,8
Nível 6 250 a 275 1,19 7,4 5,6
Nível 5 225 a 250 8,33 16,2 8,4
Nível 4 200 a 225 14,29 23,5 18,7
Nível 3 175 a 200 22,62 25,0 27,1
Avaliação externa
Nível 2 150 a 175 27,38 17,6 18,7 e gestão escolar:
Nível 1 125 a 150 19,05 4,4 11,2 reflexões sobre usos
dos resultados
Nível 0 125 ou menos 7,14 1,5 6,5
Machado C
Fonte: INEP
ISSN 1982-8632 e devem ser cotejadas com os desempe- com os professores, sobre os fatores
nhos dos alunos. Alcançar bons resul- que podem estar associados a essa di-
tados em detrimento da reprovação de versidade de distribuição em níveis de
Revista muitos alunos não pode ser visto como desempenho de um mesmo grupo de
@mbienteeducação. sucesso pelas escolas. Nesse sentido, é alunos que, teoricamente, é submetido
5(1): 70-82, jan/jun,
2012
fundamental a apreciação da dinâmi- ao estudo de um mesmo conteúdo, é
ca das taxas de aprovação das escolas imprescindível. A pesquisa de Franco
em cada série/ano à luz dos desempe- et al., (2007, p. 277) sobre “qualidade e
nhos dos alunos para o desvelamento equidade em educação”, que investiga
das práticas subjacentes a elas. “características escolares promotoras
de eficácia e de equidade intraescolar”,
Algum tempo depois da divulga- pode contribuir com esse desafio.
ção dos resultados do Ideb7, dos dados
da Prova Brasil e das Taxas de Apro- O boletim permite, também, in-
vação, o INEP divulga os boletins com tensificar o estudo dos níveis de de-
os dados consolidados por escola (Bra- sempenho dos alunos. No caso da Es-
sil, 2012). Neles, é possível visualizar cola Tulipa, em matemática, embora a
a distribuição dos alunos da escola nos média esteja concentrada no nível três,
níveis de desempenho alcançados. conforme Quadro 2, uma análise mais
acurada nos dados do Quadro 4, reve-
Na Escola Tulipa, por exemplo, la que a percentagem de alunos que
em matemática, os alunos estão dis- estão abaixo da média é maior do que
tribuídos em mais níveis de desempe- aqueles que estão na média. Enquanto
nho a cada aferição da Prova Brasil, 27,1% dos alunos estão no nível três, os
conforme demonstra o Quadro 4. Os níveis 0, 1 e 2 somados abarcam 36,4%
alunos que estavam no último ano do destes. Considerar apenas a média da
ensino fundamental em 2005 se con- escola no nível de desempenho pode
78 centraram em sete níveis de desempe- escamotear a desoladora realidade de
nho; em 2007 esse número subiu para uma escola que não consegue ensinar
oito e em 2009 para nove. Em que pese a todos os seus alunos.
a análise positiva de que, a cada aferi-
ção, alguns poucos alunos estão apren- Observando os dados do Quadro
dendo mais matemática, é relevante o 5, que retrata a distribuição dos alu-
destaque para a falta de equidade na nos da Escola Tulipa, em língua por-
aprendizagem dos alunos. Nesse sen- tuguesa, vemos a mesma diversidade
tido, uma investigação criteriosa, por de distribuição nos níveis de desempe-
parte da gestão escolar em conjunto nho, com exceção da aferição de 2007,
Quadro 5– D
istribuição, em percentagens, dos alunos dos anos iniciais de ensino funda-
mental em Língua Portuguesa - Escola Tulipa
Referências
82
Avaliação externa
e gestão escolar:
reflexões sobre usos
dos resultados
Machado C