Você está na página 1de 4

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA –


PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA I – EXERCÍCIO DE SONDAGEM

Leia atentamente o texto abaixo. Depois, com base nele, responda às questões 1 e 2.

A ciência pode acabar?


por Jorge A. Quillfeldt

Um dos principais marcos da cultura ocidental é o advento da ciência, que não


só tem permitido o desenvolvimento de diversas tecnologias, mas também satisfaz a
sede de conhecimento. Um dos sustentáculos da atividade científica é precisamente o
compartilhamento de dados, conceitos, ideias, não só entre cientistas, mas também
com o público em geral. Se um dia esse fluxo de conhecimentos cessasse, como
ficaríamos?
O tema já foi explorado sob diferentes ângulos, como, por exemplo, fez John
Horgan no livro O fim da ciência: uma discussão sobre os limites do conhecimento
científico. Horgan entrevista cientistas e intelectuais perguntando, entre outras coisas,
se eles creem que o conhecimento científico atingiu o apogeu e, a partir de agora, não
pode avançar significativamente, muito menos prover benefícios reais à humanidade.
Conforme essa visão, já saberíamos tudo que há para saber porque a Natureza não teria
muito mais coisas escondidas de nossos “sentidos ampliados pelas tecnologias”, que são
as ferramentas da ciência empírica.
Essa ideia de um limite físico do conhecimento já foi postulada por alguns
cientistas no final do século 19, mas bastou surgirem a relatividade, a mecânica quântica
e a biologia molecular, por exemplo, para evidenciar o tamanho do equívoco. Contudo,
há quem aponte a perturbadora possibilidade de que o limite seja de natureza cognitiva,
ou seja, que limitações em nossa própria estrutura mental acabem impedindo nossa
compreensão do mundo a partir de certo nível de complexidade. Mas pode ser que os
limites do conhecimento sejam atingidos muito antes de arranharmos esses hipotéticos
obstáculos, e por razões bem mais mundanas: causas sociais.
O Nobel em física de Stanford, Robert B. Laughlin, formulou uma crítica que
surpreendeu a muitos em seu livro de 2008, The crime of reason and the closing of the
scientific mind (“O Crime da razão e o fim da mentalidade científica”). Laughlin descreve
o atual quadro de crescentes restrições no acesso ao conhecimento pelo grande público
e mesmo pela comunidade científica em função de legislações de proteção comercial,
patenteamentos abusivos, profusão de processos judiciários sobre propriedade
intelectual e a onipresença da propaganda comercial.
A alegação soa um tanto contraintuitiva para quem vive em meio à era da
internet, onde tudo parece estar ao alcance de todos, mas Laughlin constrói bem seu
caso, em um estilo leve e bem embasado: na internet, a escalada comercial cria tanto
ruído que é cada vez mais difícil encontrar informações realmente valiosas (exceto
mediante pagamento); na pesquisa científica, estudos relevantes são bloqueados por
demandas judiciais patentárias, ao passo que nos Estados Unidos chega a ser arriscado
2

ter ou dar acesso, mesmo que acidentalmente, a conhecimentos tidos como


“perigosos”.
A Suprema Corte americana, mesmo após decidir que princípios matemáticos e
leis da Natureza não podiam ser patenteados, acabou autorizando o patenteamento de
programas de computador e de trechos do código genético humano: a crise de
legitimidade vivida pelo atual sistema de propriedade intelectual, infelizmente, também
se dá longe dos olhos do público.
Se Laughlin estiver certo, há um conflito entre as necessidades de segurança e
prosperidade econômica em nossa sociedade, por um lado, e o direito humano de
conhecer e aprender – fruto dessa necessidade que nos distingue, como humanos, dos
outros animais. O futuro do conhecimento científico depende de sua resolução.
O bom é que, enquanto os limites físico e cognitivo são externos e pouco
podemos fazer para superá-los, a limitação social é de origem humana, logo comporta
soluções, ainda que difíceis. Foi necessário um Nobel para dar voz a essa preocupação
sem cair em “teorias conspiratórias”. Ainda há tempo para reverter essa tendência,
deixando definitivamente para trás esses tempos que Laughlin, com ironia, denominou
de era da amnésia.
(Adaptado de: http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/a_ciencia_pode_acabar_.html. Acesso em 31/07/14).

1. Assinale a opção que melhor expressa o principal objetivo do texto.

a) Discutir questões relacionadas aos limites do conhecimento científico.


b) Alertar a sociedade para o possível colapso do conhecimento humano.
c) Informar que princípios legais podem bloquear o acesso ao conhecimento.
d) Questionar as restrições que estão sendo impostas à expansão da ciência.

DICA: Ao falarmos em objetivo do texto, precisamos nos perguntar: para o que confluem
todas as informações do texto? Percebam que não é uma questão de localização ou
verificação de compatibilidade de informações. Observem, principalmente, o verbo que
introduz a ação que autor quer realizar e a abrangência do objetivo.

2. Marque a única opção que apresenta uma inferência autorizada do texto lido.

a) O ser humano não tem como conhecer mais sobre a natureza e o universo devido às
limitações de sua própria estrutura mental.
b) O desenvolvimento do conhecimento científico não tem limites; sempre poderemos
aprender mais do que já sabemos sobre o universo.
c) As restrições comerciais parecem uma barreira bem mais real para o
desenvolvimento do conhecimento científico do que as restrições físicas.
d) A única barreira para o desenvolvimento do conhecimento científico é a restrição
comercial, gerada por patentes abusivas e pela proteção à propriedade intelectual.

DICA: Essa questão trata de inferências, ou seja, de informações que não estão postas,
ditas diretamente no texto e, por isso, dependem da ação dedutiva do leitor. Uma vez
que se solicita a inferência AUTORIZADA, deve-se buscar a informação que não está
textualizada, mas é compatível com as ideias do texto.
3

3. Os parágrafos do texto a seguir estão desordenados. Enumere-os de modo a


garantir a progressão discursiva e, depois, marque a opção que corresponde a essa
sequência.

Instrumentos musicais feitos por impressora 3D são usados em show

( ) Diegel foi o primeiro do mundo a produzir um instrumento musical por meio de uma
impressora 3D: um saxofone, há dois anos. Desde então, o professor desenvolve esse
tipo de produto. Agora, com o projeto mais robusto, criou diversos instrumentos para
fazer a banda. O concerto foi realizado com membros da Academia de Música da
Universidade de Malmo, também na Suécia. Com duas guitarras elétricas, uma bateria
e um teclado, todos desenhados por Diegel, o conjunto se apresentou dentro da própria
universidade.
( ) Por enquanto, esse é somente um projeto do professor universitário e não há
previsão de lançamento dos instrumentos 3D no mercado tradicional. Entretanto, não é
difícil imaginar que isso possa se tornar uma realidade em um futuro próximo. Já
pensou?
( ) Quando indagado sobre as vantagens de se produzir esses instrumentos, Diegel, além
de mais econômica, a impressão tridimensional permite fazer formas complexas que são
impossíveis de serem fabricadas de outras maneiras. Além disso, ela pode criar
instrumentos mais precisos para um determinado tipo de músico, que terá um produto
feito à sua feição, especialmente em termos de design.
( ) Por exemplo, se um determinado músico se sentir mais à vontade com um formato
específico de guitarra, é possível criá-lo no formato desejado através de um software,
que comanda a impressão do produto final. Apesar da diferença de design, o som
emitido pelos instrumentos 3D não apresenta muita diferença quando comparados aos
produtos convencionais.
( ) A impressão 3D chega até à música. Um grupo de estudantes da Universidade de
Lund, na Suécia, se tornou a primeira banda a fazer um show com instrumentos musicais
fabricados a partir de impressoras 3D. O projeto foi liderado por um grande entusiasta
do ramo no mundo, o professor Olaf Diegel.
(Adaptado de: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/09/instrumentos-musicais-feitos-por-impressora-3d-sao-
usados-em-show.html. )

a) 2, 3, 5, 4, 1 b) 5, 1, 3, 4, 2 c) 5, 2, 3, 4, 1 d) 2, 5, 3, 4, 1

4. Leia o excerto abaixo. Em seguida, preencha as lacunas com palavras ou


expressões que complementem a coesão e a coerência textuais.

O desenvolvimento de próteses está intimamente ligado à superação de limites.


Originalmente, (1)____ limites eram os impostos àqueles cuja natureza do corpo fora
mutilada por nascença ou por acidente. (2)___, hoje, acoplados em próteses de
competição, os para-atletas velocistas agregam muita tecnologia e são capazes de
ultrapassar, e muito, a velocidade das pessoas comuns, chegando próximo (3)___ de
recordistas mundiais olímpicos.
4

Um exemplo de uso de próteses em competições é o do para-atleta Tony


Volpentest, (3)___ inspira admiração e, quem sabe, até despeito. Embora Tony tenha
vindo ao mundo sem os pés e sem as mãos, foi Medalha de Ouro nos Jogos
Paraolímpicos de Atlanta (1996). Munido de duas pernas mecânicas, esse atleta
americano de 26 anos faz 100 metros rasos em impressionantes 11 segundos e 36
centésimos de segundo: apenas um segundo e meio atrás do recordista mundial, o
canadense Donovan Bailey, que nasceu com todas as “peças” no lugar.
Exibindo próteses de alta tecnologia, desenhadas sob medida para competições,
a imagem desse para-atleta (5)___ sido explorada em propagandas e desfiles de moda.
No discurso da mídia e da propaganda, onde exibem ostensivamente o seu corpo
híbrido, os para-atletas corredores materializam hoje as aspirações do futuro do corpo
pós-humano: o homem redesenhado para uma "melhor performance".
(Adaptado de: http://sociologiamelhormateria.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.html. Acesso em: 05/10/14)

(1) __________ (2) ___________ (3) __________ (4) __________ (5)___________

5. Reescreva os dois trechos abaixo, tornando-os mais concisos.

a) Quando os peregrinos chegaram a Aparecida do Norte, que é a cidade onde se


realizam romarias e onde costuma haver milagres, encontraram a referida
cidade inundada pelas últimas chuvas que sobre ela desabaram.

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

b) Os mendigos que estavam deitados pelas calçadas foram recolhidos pelos


assistentes sociais ao asilo que ficava mais próximo das ruas nas quais eles se
achavam, logo que surgiram os primeiros raios de sol.

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

Você também pode gostar