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ABSTRACT
The burden of cardiovascular disease in the Afro-descendant population remains high and is a
major cause of disparities in life expectancy between blacks and whites. Therefore, this study ai-
med to describe the epidemiological characteristics of deaths from cardiovascular diseases in the
black population living in the state of Bahia, Brazil, between 2010 and 2019. This is an ecological
study of a quantitative time series and descriptive analysis, carried out through the secondary da-
ta of the SIM available on the DATASUS website. A rate of 70.1 deaths per 1,000 live births was
evidenced as a result of cardiovascular diseases, with a higher prevalence in elderly individuals
aged 80 years or more, males, married marital status and low education. The main causes of death
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were acute myocardial infarction and stroke, not specified as hemorrhagic or ischemic. Thus, mo-
re intensive care is needed to minimize risk factors for cardiovascular diseases in this most vul-
nerable population.
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doenças cardiovasculares na população negra re- As variáveis estudadas foram: ano do óbito, causa
sidentes do Estado da Bahia, Brasil, entre 2010 e básica da morte, faixa etária, sexo, escolaridade e
2019. estado civil. Além disso, foi calculado o coeficien-
te de mortalidade específica, através da divisão do
E como objetivos específicos: definir o perfil epi-
número de óbitos por doenças cardiovasculares,
demiológico dos óbitos por doenças cardiovascu-
pela quantidade de nascidos vivos no período mul-
lares na população negra residente do Estado da
tiplicado por 1.000.
Bahia; descrever as tendências da série temporal
dos óbitos por doenças cardiovasculares na popu- Para obtenção do número de nascidos vivos, foram
lação estudada; e calcular e descrever o coeficiente utilizados dados do Sistema de Informações sobre
de mortalidade específica dos óbitos por doenças Nascidos Vivos (SINASC), fornecidos também pelo
cardiovasculares na população negra do período e DATASUS. Como ferramenta para tabulação e
local estudado. análise de todos os dados, utilizou-se o software
Microsoft Excel.
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Ao analisar este coeficiente de mortalidade estra- Apesar da grande prevalência de mortalidade por
tificado por ano, observa-se que, no decorrer dos doenças cardiovasculares na população negra resi-
anos, o quantitativo de óbitos em pessoas negras dente no Estado da Bahia, convém salientar que a
causados por doenças cardiovasculares só cresce, maior parte de sua população é negra.
visto que, em 2010, estimaram-se 59,3 mortes por Cerca de 81,1% da população da Bahia é compos-
cada 1.000 nascidos vivos e, dez anos depois, em ta por negros. O contingente de pardos e pretos é o
2019, obtiveram-se 83,9 óbitos por 1.000 nascidos segundo maior do País, ficando ligeiramente atrás
vivos. Logo, houve um aumento gradativo ao lon- apenas do Amapá, onde essa população responde
go dos anos (Tabela 1). por 81,3% (BAHIA, 2020).
Tabela 1: Caracterização dos óbitos por doenças cardiovasculares na população negra segundo o ano do
óbito e coeficiente de mortalidade específica, n=144.444. Estado da Bahia - Brasil, 2010 - 2019.
Mortalidade especifica
Ano do óbito Óbitos (n°)
(n° de óbitos por cada 1000 nascidos vivos)
Na distribuição etária, foi observado que quanto constatadas 35.087 (24,3%) e 27.558 (19,1%) mor-
maior a idade, maior foi o quantitativo de óbitos da tes, respectivamente (Tabela 2).
população estudada.
Quanto ao sexo, foi evidenciada pequena diferença
Os indivíduos de 80 anos ou mais estiveram em entre ambos, entretanto, os homens estiveram em
maior prevalência entre as mortes, responsáveis maior frequência entre as mortes, responsáveis por
75.694 (52,4%) registros entre os óbitos.
por um quantitativo de 46.876 óbitos, represen-
tando 32,5% dos casos, seguido dos indivíduos de As mulheres obtiveram 68.742 (47,6%) das mor-
70 a 79 anos e 60 a 69 anos, para os quais foram tes notificadas (Tabela 2). A pesquisa de Lessa et al.
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(2009) aponta prevalência de hipertensão entre ne- associação significante com o baixo nível de esco-
gros, em indivíduos do sexo masculino, fator im- laridade, que foi relacionado também ao diagnós-
portante, determinante para o desenvolvimento de tico prévio de hipertensão e angina.
doenças cardiovasculares.
Achados semelhantes foram identificados em pes-
Entretanto, a literatura aponta maior risco de doen- quisas nacionais. Lessa et al. (2004) investigaram
ças do coração em mulheres da população negra os fatores de risco cardiovascular na população de
(KALINOWSKI et al., 2019). Salvador, capital da Bahia, apontando que o maior
risco de doenças cardiovasculares esteve associado
Nos dados de outro estudo de Lessa et al., nota-se a à baixa escolaridade e à raça negra.
prevalência de hipertensão arterial e outros fatores
de risco para doenças cardiovasculares na popula- Assim como Godoy et al. (2007), que evidencia-
ção negra feminina (LESSA et al., 2006). ram que os maiores coeficientes de mortalidade
por doenças cardiovasculares em São José do Rio
Em relação ao estado civil, observa-se um acome- Preto, no Estado de São Paulo, prevaleceram em re-
timento maior nos indivíduos casados, ou seja, sidentes na área com os piores níveis socioeconô-
45.380, correspondendo a 31,4%. micos e naqueles com menor escolaridade.
Além disso, 40.421 (28,0%) dos indivíduos eram Godoy et al. (2007) ainda afirmam que a popula-
solteiros, 30.726 (21,3%) eram viúvos, 6.227 (4,3%) ção menos favorecida pode apresentar um maior
possuíam outros estados civis e 4.112 (2,8%) eram predomínio de fatores de risco modificáveis, co-
separados judicialmente. mo dislipidemia, hipertensão arterial, Diabetes
Mellitus, tabagismo, obesidade, sedentarismo e es-
Achados compatíveis com a pesquisa de Sousa et
tresse, uma vez que os não modificáveis não se cor-
al. (2016), em que 58,5% dos mortos por doen-
relacionam com situação social ou econômica.
ças cardiovasculares possuíam o estado civil “ca-
sado”, entretanto, foram analisados negros e bran- A população com pouca instrução e que vive em
cos juntos. localizações geográficas menos favorecidas é mais
afetada por doenças crônicas, que, muitas vezes,
O estado civil dos indivíduos influencia no auto- pode ser determinada pela desigualdade social e
cuidado e na dinâmica familiar, bem como na ade- maior vulnerabilidade (MELO et al., 2019).
são medicamentosa.
E, por questões históricas, os afro-brasileiros de-
Ao analisar a prevalência segundo a escolaridade, têm com maior frequência esses fatores determi-
nota-se maior predominância entre pessoas de me- nantes, podendo influenciar negativamente com a
nor escolaridade, lideradas por aquelas que não ti- grande disparidade na saúde cardiovascular da po-
nham nenhuma escolaridade, presente em 45.857 pulação negra.
(31,7%) dos óbitos, seguido daquelas que pos-
suíam de 1 a 3 e de 4 a 7 anos de estudo, dominante As diferenças no acesso à saúde, intermediado
por condições sociais, poderiam explicar, em par-
em 34.776 (24,1%) e 17.443 (12,1%) dos óbitos,
te, o aumento do risco de mortalidade por doen-
consecutivamente.
ças cardiovasculares em áreas de exclusão social,
Em Uruguaiana, no sul do Brasil, Maurer et al. onde vive a população mais pobre e com me-
(2020) evidenciaram que a prevalência de doen- nor acesso a esses serviços e os menores recursos
ças cardiovasculares na população negra obteve (FARIAS, 2014).
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Tabela 2: Caracterização dos óbitos por doenças cardiovasculares na população negra segundo faixa etá-
ria, sexo, estado civil e escolaridade, n=144.444. Estado da Bahia - Brasil, 2010 - 2019. (continua)
Variável N° %
Faixa etária
Sexo
Ignorado 8 0,01
Estado civil
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Tabela 2: Caracterização dos óbitos por doenças cardiovasculares na população negra segundo faixa etária,
sexo, estado civil e escolaridade, n=144.444. Estado da Bahia - Brasil, 2010 - 2019. (conclusão)
Variável N° %
Escolaridade
Total 144.444 -
O infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular A hipertensão arterial sistêmica é considerada co-
cerebral, não especificado como hemorrágico ou mo um dos principais fatores de risco modificáveis
isquêmico, foram as causas da morte em que hou- para infarto agudo do miocárdio e acidente vascu-
ve maior incidência entre a população estudada. lar cerebral, com prevalência elevada. É mais do-
minante no sexo feminino, com aumento expres-
O primeiro, obtendo 31.731 (22%) dos casos e o se-
sivo após os 50 anos, e é mais comum em afrodes-
gundo, 26.416 (18,3%). Em seguida, insuficiência
cendentes, com maior gravidade e mortalidade.
cardíaca 13.579 (9,4%), hipertensão essencial (pri-
(ARAÚJO et al., 2019).
mária) 13.432 (9,3%) e outras doenças hipertensi-
vas 13.247 (9,2%). Franco e Faustino (2017) traçaram o perfil dos pa-
cientes atendidos em emergência hipertensiva em
A pesquisa de Farias (2014), que investigou a pre-
um hospital público de Salvador, onde os indiví-
valência de mortalidade por cardiovasculares em
duos afrodescendentes se destacaram entre os ca-
indivíduos negros e brancos residentes do municí-
sos e a maior parte dos pacientes tinham história
pio de São Paulo, também apontou a doença isquê-
prévia de hipertensão.
mica do coração e doenças cerebrovasculares co-
mo principais causas. Além disso, os principais desfechos foram aciden-
te vascular encefálico isquêmico, seguido do aci-
Farias destaca ainda que houve associação com
dente vascular encefálico hemorrágico, da insufi-
baixo nível socioeconômico. As diferenças nas
ciência cardíaca congestiva e do infarto agudo do
condições de vida entre os territórios e a vulnera-
miocárdio.
bilidade social nas áreas de menor nível socioeco-
nômico podem impactar negativamente nas con-
dições de vida e de saúde das populações.
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Tabela 3: Descrição dos óbitos por doenças cardiovasculares na população negra segundo causa da morte,
n=144.444. Estado da Bahia - Brasil, 2010 - 2019.
Causa da Morte N° %
Hemorroidas 17 0,0
Total 144.444 -
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Uma pesquisa que estudou os fatores de risco car- E, além disso, priorizar a busca por pessoas de bai-
diovascular na cidade de Barreiras, Bahia, consta- xa renda em áreas de alta prevalência das doen-
tou uma incidência maior no sobrepeso e etilis- ças cardiovasculares, focando na promoção da
mo e diabetes mellitus. Observou-se também que saúde através do programa Estratégia Saúde da
a maior parte da amostra (63,5%) não possuía co- Família, que tem papel importante nesse quesito.
nhecimento sobre os fatores de risco para doen- (LUNKES et al., 2018).
ça cardiovascular e prevenção. (LIMA; PASSOS;
Por se tratar de um estudo oriundo de dados se-
ORMOND, 2020).
cundários do DATASUS, pode haver viés relacio-
Considerando os resultados deste estudo e dos de- nado ao preenchimento da declaração de óbito ao
mais citados, é sensato afirmar que é necessária a se inserir estes dados no sistema. Além disso, não
intensificação da promoção da saúde da popula- foi possível investigar variáveis importantes, co-
ção negra, visando diminuir a disparidade de aces- mo comorbidades prévias, obesidade, tabagismo,
so à saúde e centros de referência. Favorece, assim, etilismo e variáveis socioeconômicas. Logo, suge-
a diminuição das mortes por doenças cardiovascu- rem-se novos estudos que possibilitem ampliar as
lares entre esses indivíduos, visto que ainda é uma tendências.
das principais causas de morte.
A principal dificuldade no desenvolvimento des-
No Brasil, existe a Política Nacional de Atenção te trabalho foi localizar estudos nacionais mais es-
Integral à Saúde da População Negra (PNSIPN), pecíficos sobre a morbimortalidade das doenças
que se insere no âmbito do combate às iniquidades cardiovasculares em afrodescendentes para agre-
na saúde e no aperfeiçoamento do Sistema Único gar, comparar e discutir com os resultados obtidos,
de Saúde. Busca por reduzir as desigualdades ra- pois estudos internacionais refletem inconsistên-
ciais, incluir grupos socialmente vulneráveis, com- cia com a realidade socioeconômica, demográfica
plementar, aperfeiçoar e viabilizar a política uni- e política do Brasil.
versal no âmbito da saúde pública, utilizando seus
Assim, considerando a importância da temática
instrumentos de gestão e observando as especifi-
para a saúde da população negra, faz-se necessário
cidades do processo saúde-doença da população.
o desenvolvimento de mais estudos nacionais nes-
(BATISTA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2013).
ta área do conhecimento.
Entretanto, mesmo existindo a PNSIPN, pesquisas
mostram que ainda há dificuldade perante a po-
pulação negra mais vulnerável no âmbito da saú-
4 CONCLUSÃO
de. No estudo de Chehuen et al. (2015), a maior Este estudo permitiu descrever as características
parte dos indivíduos estudados demonstrou estar epidemiológicas dos óbitos por doenças cardiovas-
insatisfeita com o acesso e a qualidade dos servi- culares na população negra residente do Estado da
ços prestados na rede pública de saúde. Embora Bahia, Brasil, entre 2010 e 2019, contribuindo po-
não tenham dificuldade no acesso, os custos com sitivamente para avaliação do sistema de saúde.
o prosseguimento e a continuidade do tratamen- Pode, também, favorecer para o subsídio de no-
to médico foram apontados como um dos maio- vas políticas públicas e articulação de estratégias
res empecilhos. visando à promoção da saúde da população afro-
descendente do Estado e à prevenção das doenças
As intervenções envolvem a dedicação de cuida-
cardiovasculares.
dos mais intensivos ao controle dos fatores de ris-
co cardiovascular em indivíduos com menor nível Foi evidenciado elevado coeficiente de mortalida-
de escolaridade. de, crescendo gradativamente ao passar dos anos.
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Além disso, identificou-se prevalência, entre os from the American Heart Association. Circulation, v.
óbitos de idosos do sexo masculino, casados e bai- 136, n. 21, p. 393-423, 2017.
xa escolaridade, de infarto agudo do miocárdio e COCKERHAM, William C. et al. A Comparison of
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O baixo grau de instrução, ou seja, baixa escola-
ridade, demonstrou ser um fator importante re- CHEHUEN NETO, José Antônio et al. Política Nacional
lacionado ao elevado número de mortalidade por de Saúde Integral da População Negra: implementação,
conhecimento e aspectos socioeconômicos sob a pers-
doenças cardiovasculares na população negra do
pectiva desse segmento populacional. Ciência & saúde
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