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ISSN 1676-3661
CADERNO DE DOUTRINA 13
A instituição do Tribunal do Júri e seus reflexos na
violência perpetuada contra a população negra
Mariana Secorun Inácio
26 Uma parte geral finalista? Reflexões no marco
dos 40 anos da reforma penal de 1984
Victor C. R. S. Costa
29
se a justiça for negada, a memória não será apagada Erika Chioca Furlan
Mensagens de WhatsApp como prova no
16
Débora Maria da Silva Processo Penal: o entendimento do Superior
Valéria Aparecida de Oliveira Silva Protodefesa e proteção de dados pessoais na Tribunal de Justiça
persecução penal Hellen Luana de Souza
Juan Lopes Amaral Rocha João Pedro Barione Ayrosa
O “princípio da insignificância” como elemento de
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inserção dos mandamentos político-criminais no
âmbito da tipicidade jurídico-penal Teoria negativa da pena: uma pequena observação CADERNO De Jurisprudência
Pedro Guilherme Borato para uma maior clareza TEMA: CULTIVO E IMPORTAÇÃO DE CANNABIS PARA FINS
Thiago Rocha de Rezende MEDICINAIS
13. A instituição do Tribunal do Júri e seus reflexos na violência perpetuada contra a população negra
Mariana Secorun Inácio, Renê Pereira da Cruz, Erika Chioca Furlan
19. Teoria negativa da pena: uma pequena observação para uma maior clareza
Thiago Rocha de Rezende
22. Maternidade e cárcere: organização criminosa e progressão de regime especial no Superior Tribunal de Justiça
Beatriz Ferreira de Paula
26. Uma parte geral finalista? Reflexões no marco dos 40 anos da reforma penal de 1984
Victor C. R. S. Costa
29. Mensagens de WhatsApp como prova no Processo Penal: o entendimento do Superior Tribunal de Justiça
Hellen Luana de Souza e João Pedro Barione Ayrosa
CADERNO DE JURISPRUDÊNCIA
32. Tema: Cultivo e importação de cannabis para fins medicinais
32. Supremo Tribunal Federal
32. Superior Tribunal de Justiça
Resumo: Este artigo tem por objetivo abordar o contexto da violência Abstract: This article aims to address the context of state violence
estatal perpetrada pelos agentes da segurança pública, nos ataques ocorridos perpetrated by public security agents in the attacks that occurred in the state
no estado de São Paulo no ano de 2006, que deu origem ao Movimento of São Paulo in 2006, which gave rise to the Independent Movement Mothers
Independente Mães de Maio. Este movimento é composto por mães e of May. This movement is composed of mothers and relatives of the victims
familiares das vítimas que permanecem na luta resistindo pelos últimos 17 who remain in the struggle resisting for the last 17 years, seeking to maintain
anos, buscando manter a memória já que a justiça lhes é negada. the memory since justice is denied them.
Palavras-chave: Mães de Maio; Violência de Estado; Memória. Keywords: Mothers of May; State violence; Memory.
1. Introdução a violência estatal que age por meio de seu aparato repressivo – a
Polícia Militar –, considerando que a cada dia aumenta mais o índice
No Brasil é comum ouvirmos que “brasileiro não tem memória” e
de crimes cometidos por agentes da segurança pública em todo o
normalmente, o jargão está relacionado aos diferentes contextos
território nacional.
históricos, principalmente o político. Este artigo, escrito a duas mãos,
tem o intuito de rememorar os graves fatos ocorridos na história Há quem diga que esta prática violenta, esta política de morte
recente do nosso país no que diz respeito à violência, em especial, adotada pelos policiais militares foi herdada do período ditatorial,
Notas
1
A reportagem foi publicada no site do G1, em 4 de abril de 2023. Poderá ser consultada 2 A carta foi publicada no site da Justiça Global, em 13 de maio de 2016 e poderá ser
em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/04/04/mortes-cometidas-por- acessada na íntegra por meio do link: http://www.global.org.br/blog/carta-final-do-i-
policiais-sobem-25percent-em-sp-no-1o-bimestre-da-gestao-tarcisio-de-freitas.ghtml encontro-internacional-das-maes-de-vitimas-da-violencia-do-estado/
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Autoras convidadas
Resumo: O presente estudo verifica como os mandamentos valorativos Abstract: The present study verifies how the political-criminal value
político-criminais se inserem na dogmática jurídico-penal, mais especificamente commandments are inserted in the criminal law dogma, more specifically
no interior da tipicidade, por meio do princípio da insignificância. Para análise do within the typicity, through the principle of insignificance. To analyze the
objeto, utiliza-se de uma combinação metodológica que conjuga os métodos object, a methodological combination is used that matches systematic,
sistemático, tópico-retórico e racional teleológico-funcional. O tema é atual, topical-rhetorical and rational teleological-functional methods. The theme is
complexo, controverso e demanda, portanto, pesquisa científica para demonstrar current, complex, controversial and demands, therefore, scientific research to
como os valores penetram a estrutura jurídica no âmbito criminal em moldes demonstrate how values penetrate the legal structure in the criminal sphere
próximos aos descritos pela corrente Funcionalista. in ways close to those described by the Functionalist theory.
Palavras-chave: Política criminal; Princípio da insignificância; Dogmática Keywords: Criminal policy; Principle of insignificance; Criminal law dogma;
jurídico-penal; Tipicidade. Typicity.
O presente estudo detém como objetivo a demonstração da forma conectados, porém, em vista do integral processo da realização do
pela qual os mandamentos políticos criminais estabelecidos nas Direito Penal, em uma unidade teleológico-funcional. É a esta unida-
finalidades da pena penetram no interior da dogmática jurídico- de que continua hoje justificadamente a convir o antigo conceito de
penal, mais especificamente no plano da tipicidade, por intermédio Liszt: “ciência conjunta do Direito Penal” (DIAS, 1999, p. 49).
do princípio da insignificância. No período da pandemia da Covid-19, o debate acerca do princípio
Para a orientação metodológica da pesquisa, emprega-se uma com- da insignificância retornou aos holofotes em razão das várias notícias
binação metódica que possibilita ampliar o nível de cientificidade e, que envolveram o furto de itens de baixo valor, principalmente
consequentemente, a solidez das conclusões edificadas. Os pensa- alimentos.
mentos sistemáticos (BÜLLESBACH, 2009, p. 409) e tópico-retórico Em 2020, por volta de 19 milhões de pessoas viviam em situação
(TEUBNER, 1989, p. 113) serão os utilizados em alinhamento ao mé- de fome no país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança
todo racional teleológico-funcional: “[...] fundado na perspectiva de Alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. Em
se estabelecer uma conexão direta entre os elementos integrantes 2018, eram 10,3 milhões. Ou seja, em dois anos ocorreu uma alta de
do Sistema Jurídico-Penal e a sua respectiva função” (FERNANDES, 84,4%. Muitas ações envolvendo o furto famélico estão chegando às
2003, p. 80). Política criminal, dogmática jurídico-penal e criminolo- instâncias superiores da Justiça brasileira, como o Superior Tribunal
gia são assim, do ponto de vista científico, três âmbitos autônomos, de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). Desde 2004,
Referências
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FERRARI, Eduardo Reale. Medidas de segurança e direito penal no estado democrático
de direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
Resumo: O presente estudo tem como objetivo averiguar a proteção ao Abstract: This study aims to investigate the protection of the right
direito à acessibilidade das pessoas com deficiência inseridas no sistema prisional to accessibility for people with disabilities in the Brazilian prison system.
brasileiro. A acessibilidade é um direito fundamental para todas as pessoas com Accessibility is a constitutionally guaranteed fundamental right for all people
deficiência (PCDs) garantido constitucionalmente. Partindo disto, verificou-se as with disabilities. Based on this, the accessibility conditions in the Brazilian
condições de acessibilidade no sistema prisional brasileiro por meio da análise prison system were verified through the analysis of data and censuses
de dados e censos dispostos em meio eletrônico. Constatou-se que inseridas em available electronically. It was found that inserted in a precarious system and
sistema precário e em crise, as pessoas com deficiência estão marginalizadas in crisis, people with disabilities are marginalized doubly, having their basic
duplamente, tendo desrespeitados seus direitos básicos à acessibilidade, que rights to accessibility disrespected, which are not recognized in the criminal
não se encontram reconhecidos nas tutelas do ordenamento jurídico criminal. legal system.
Palavras-chave: Acessibilidade; Pessoas com deficiência; Sistema prisional brasileiro. Keywords: Accessibility; People with disabilities; Brazilian prison system.
1. Introdução das pessoas com deficiência vista como uma questão de Direitos
Humanos, em 1975, foi proclamada pela Assembleia Geral das
De acordo com o censo de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia Organizações das Nações Unidas a Declaração dos Direitos das
e Estatística (IBGE), 8,4% da população brasileira é composta por
Pessoas Deficientes. Posteriormente, nos anos 2000, foi promulgada
pessoas com deficiência (PCDs). Conforme art. 2º da Lei 13.146/2015,
a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas
a pessoa com deficiência é aquela que: “tem impedimento de longo
de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência.
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação Atualmente, a deficiência é conceituada por meio do modelo
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as biopsicossocial, instituído pela Organização Mundial de Saúde por
demais pessoas.” meio da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
A deficiência, tratando-se de uma característica corporal do e Saúde (CIF), caracterizando-se como resultado da interação entre
indivíduo, era vista inicialmente como uma tragédia pessoal, sendo as condições de saúde física e psicológica do indivíduo, os fatores
conceituada pelo modelo médico como uma lesão que acarretava pessoais e externos. Assim, a deficiência passou a pertencer ao
a incapacidade física da qual o indivíduo deveria ser curado ou domínio de saúde, e não apenas ser a consequência de uma doença
tratado. Assim, a garantia de direitos da PCD era voltada a minimizar, ou lesão, mas consistindo em um aspecto relativo à saúde humana
por meio da integração e reabilitação, os efeitos da deficiência e das características físicas, mentais e sociais que compõem o bem-
em sua vida cotidiana, por meio de políticas assistencialistas, que estar do indivíduo (DINIZ, 2007).
fortaleciam o estereótipo da pessoa com deficiência necessitada de Em 2007, foi elaborada a Convenção Internacional sobre os
caridade pública (RAMOS, 2017). Direitos das Pessoas com Deficiência, visando garantir sua plena
Apenas nos anos 1970, a deficiência deixou de ser tratada como participação na sociedade, acesso a serviços, o gozo das liberdades
questão médica necessária de adaptação do indivíduo à sociedade, e reconhecimento da sua autonomia, em igualdade, às pessoas
passando a ter o papel de se adaptar, assegurando a igualdade sem deficiência. No entanto, as previsões legais existentes não são
material, eliminando as barreiras e promovendo a inclusão destes suficientes para promover a vida digna às pessoas com deficiência
indivíduos (RAMOS, 2017). Desta forma, sendo a dignidade de vida e o reconhecimento da autonomia delas ainda é um desafio para a
10
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Ao longo da história, as pessoas com deficiência foram estigma- É necessário que a inclusão da pessoa com deficiência ocorra em
tizadas sendo tratadas como indivíduos frágeis, sem autonomia, todos os âmbitos da sociedade, para que a acessibilidade, igualdade
sem reconhecimento social e com discreta agenda política a elas e a dignidade sejam cada vez mais efetivadas e garantidas. Um olhar
dedicada. Com a evolução dos modelos de conceituação de defi- mais aprofundado sob o tema urge e convidamos a todos para que
ciência e as lutas por direitos, as pessoas com deficiência tiveram façam essa importante reflexão, para que mais políticas públicas
seus direitos pautados em conferências e acordos internacionais, sejam implementadas e possam, de verdade, proporcionar que
em legislação local e, claro, em debates públicos chefiados por a pessoa com deficiência possa cumprir a pena de forma digna,
lideranças da pauta. humana, sem discriminação e violência.
Referências
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Resumo: Raimundo Nina Rodrigues construiu uma criminologia racial Abstract: Raimundo Nina Rodrigues developed a racial prejudiced
preconceitusa, com suposto caráter científico. O instituto do Tribunal do Júri criminology, supposedly based on science. Trial by jury has mechanisms
prevê mecanismos para a propagação desse discurso, como a ausência de that allow the perpetration of those ideals, such as the unnecessity of
fundamentação das decisões por parte dos jurados. Tal previsão torna-se motivation of jurors’ decisions. This institute becomes a facilitator for society,
instrumento para a sociedade, contaminada com o estereótipo do criminoso contaminated with the “savage” black criminal stereotype, to perpetuate
negro “selvagem”, de perpetuar a violência racial em suas decisões. racial violence in their decisions.
Palavras-chave: Criminologia Racial; Esterótipo; Tribunal do Júri. Keywords: Racial Criminology; Stereotype; Trial by Jury.
O surgimento de uma criminologia com roupagem científica se deu consistente na figura do criminoso, assim como Lombroso, Nina
com a escola positivista, tendo como principal expoente Cesare Rodrigues se apoia no darwinismo social para justificar sua posição
Lombroso, com estudos focados no indivíduo deliquente. Seus de superioridade do homem branco. Darwin, ao traçar a árvore
estudos abrangem características anatômicas, como assimetria genealógica da humanidade, concluiu como sendo a África o ponto
facial, formato de orelhas e mandíbulas, seguido por aspectos de partida da espécie. Por meio da hereditariedade, as características
psicológicos, como sensibilidade, inteligência, uso de gírias e moral. passavam de geração em geração e, constantemente, da mistura de
Para Lombroso (2016), toda característica importava, bastando que genes diferentes, surgiam novas raças. Esse conceito permitiu aos
se identificasse o padrão correto, capaz de diferenciar os normais criminológicos da época sustentar o argumento de que a África seria,
dos selvagens. portanto, o local de menor evolução, enquanto os mais evoluídos
foram se afastando (ANITUA, 2019, p. 297-304).
Sob a ótica de Lombroso, o criminoso nato surge a partir dessa
combinação de características físicas e psicológicas, indicando Se os ideais darwinianos já serviram de suporte para a construção
um retrocesso enquanto ser humano. Na interpretação de Salo de lombrosiana do conceito de criminoso atávico – indivíduo com
Carvalho (2015, p. 228-258), a ideia lombrosiana de delinquente “falhas genéticas” provocadas por uma possível formação fetal
deriva da sua não aceitação da criminalidade como fato social, precocemente concluída, cujo estágio de desenvolvimento não
razão pela qual se dedicou a diferenciar o indivíduo civilizado do alcançou o nível evolutivo atual da sociedade, estagnando em um
bárbaro. Essa “segunda classe” de pessoas possuiria características patamar anterior –, as conclusões acerca do grau de evolução dos
físicas típicas de povos antigos, normalmente com referência ao povos africanos serviu de suporte para corroborar “cientificamente”
formato do crânio, o que os levava, cedo ou tarde, a assumirem um as conclusões de que o negro seria selvagem devido à sua
comportamento bárbaro, típico do período pré-civilizatório. inferioridade evolutiva.
Em solo brasileiro, o principal difusor dos ideais lombrosianos foi Trazendo essa concepção para o contexto brasileiro do final do
Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Ao buscar por um “outro”, século XIX, logo após a abolição da escravatura, Nina Rodrigues
13
14
Notas
1 Conforme Ana Luiza Pinheiro Flauzina, os dados acerca da violência cometida contra negros no Brasil são escassos, visando a institucionalização e reprodução da violência racial.
Referências
ANITUA, Gabriel Ignácio. História dos pensamentos criminológicos. Trad. Sérgio de Brasília, Brasília, 2006.
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genocida do Estado brasileiro. 2006. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade
15
Resumo: Dada a dinâmica processual em que os indivíduos sofrem Abstract: Given the procedural dynamics in which individuals undergo
intervenções em seus direitos e garantias sem qualquer contraponto defensivo, interventions in their rights and guarantees without any defensive counterpoint,
este artigo trata da proposta de instituição da protodefensoria, isto é, de um this article deals with the proposal for the institution of protodefense, that
departamento público, dentro da Defensoria Pública, responsável por postular is, a public department, within the Public Defender’s Office, responsible for
pela proteção dos dados pessoais, quando da persecução penal por meio de advocating for the protection of personal data, when criminal prosecution is
métodos ocultos, ou seja, de expedientes investigatórios realizados sem o carried out by means of hidden methods, that is, of investigative expedients
conhecimento das pessoas afetadas. carried out without the knowledge of the people affected.
Palavras-chave: Persecução penal; Dados pessoais; Protodefesa. Keywords: Criminal prosecution; Personal data; Protodefense.
Se saber é poder, o Estado não pode saber tudo, porque um estado existir para que haja o devido respeito ao direito de desenvolvimento
que tem conhecimentos ilimitados tem também um poder ilimitado. da personalidade, a paulatina compreensão (ainda em curso) do
O direito de proteção de dados, que começa como direito subjetivo,
mostra-se, ao menos em boa parte, como garantia institucional,
perigoso uso do processamento informatizado de dados pelo
relativa à própria estrutura da sociedade e do Estado (GRECO, L. In: Estado1 e de bases comuns a diversos órgãos estatais (em violação
WOLTER, 2018, p. 45). ao princípio da separação informacional dos poderes), para ter à
disposição amplos conhecimentos sobre aspectos privados das
1. Introdução pessoas, faz com que gradativamente se intensifiquem os debates
Se “conhecimento é poder” e muitos conhecimentos só são e reflexões acerca do dever Estatal de proteção de informações
alcançados por meio da análise de dados pessoais, com o aumento pessoais e, consequentemente, sejam tomadas relevantes iniciativas,
quantitativo e qualitativo da circulação e registro desse tipo de dados tais como as que culminaram na Emenda Constitucional 115/2022.
– levando em conta que informações que antigamente circulavam Nessa linha, a partir de investigação bibliográfica, este trabalho se
ou ficavam registradas de modo precário, hoje são intercambiadas dedica a apontar como a instituição da protodefesa contribuiria para
em poucos cliques e permanecem gravadas por custos muito o cumprimento desse dever, quando da persecução penal por meio
menores, devido à evolução tecnológica –, na atualidade é correto de métodos ocultos.
dizer que estudá-los é facilmente um meio de se obter ou exercer 2. A instituição da protodefesa e a garantia de proteção dos
poder e que, nessa medida, as balizas que envolvem seu tratamento dados pessoais na persecução penal por métodos ocultos
precisam ser delimitadas, principalmente, no campo criminal,
para que ninguém seja afetado por investigações, senão de forma Dados pessoais são informações a respeito de uma pessoa, que por
previamente justificada. suas características, em decorrência do dever Estatal de assegurar
o livre desenvolvimento das personalidades, só podem ser
Decorrente da construção de uma rede de garantias que devem tratadas, isto é, coletadas, armazenadas, circuladas e descartadas,
16
17
Notas
1
Como a Corte Constitucional alemã já assinalou “um dado irrelevante por si só pode sido objeto de deliberação e aprovação pelo Congresso, de modo que não há de se
adquirir um novo status; desse modo, já não existem mais dados ‘irrelevantes’ no falar em norma vigente e vinculativa, não se pode deixar de considerar que referida
contexto do processamento eletrônico de dados” (ALEMANHA, 1983 [tradução proposta traz relevantes diretrizes interpretativas, em especial se considerarmos que
nossa]). a proposta foi formulada com base no trabalho de um conjunto de especialistas no
2
Compõem a análise de proporcionalidade de determinada medida: a legitimidade do tema” (BRASIL, 2021); e (ii) “por se tratar de espaço no qual há potencial de resultado
fim, sua idoneidade, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito (GLEIZER; de privação de direitos e liberdade, a flexibilização da proteção de dados no âmbito
MONTENEGRO; VIANA, 2021, p. 58 et seq.ss.) (; GÓES, 2022, p. 419-420). penal está sujeita a parâmetros mais exigentes de justificação no curso do devido
3
Com isso em mente, deve-se assegurar, por exemplo, o sigilo da geolocalização que processo para que se torne legítima” (ALMEIDA, 2022).
6
emana de aparelhos eletrônicos, com o fim de mitigar a possibilidade de que por meio Nesse sentido, por todos, cf. as respostas de Gleizer e Badaró (2021).
7
desses dados indevidamente se tome conhecimento de que determinada pessoa tem Segundo dados apresentados por Santoro e Tavares (2019), enquanto nos EUA, por
esse ou aquele comportamento sexual, ou professa certa crença religiosa ou filosófica. exemplo, o número de interceptações, entre os anos de 2015 e 2017, não passou de
Afinal, atualmente, smartphones constituem quase uma “característica da anatomia 7.500 ao ano, no Brasil giram em torno de 300.000, sendo que entre 2015 e 2018,
humana”, levando em conta que as pessoas por necessidade os carregam o tempo estados da federação “tiveram uma taxa de interceptação em relação à sua população,
todo em vias públicas, residências privadas, consultórios médicos, sedes políticas e levando em conta o acumulado dos anos, inferior a 100. Isso significa que, em termos
outros locais, o que faz a localização de um celular geralmente ser a fiel localização de estatísticos, nesses estados a cada 100 pessoas uma é interceptada.”
8
seu proprietário, e nessa medida potencialmente revele não apenas seus movimentos Cf. a profética opinion do Justice Brandeis no sentido de que “[o] progresso da
particulares, mas por meio deles suas associações familiares, políticas, profissionais, ciência em fornecer ao governo meios de espionagem provavelmente não parará
religiosas e sexuais (EUA, 2018). com as escutas telefônicas. Algum dia poderão ser desenvolvidos meios pelos quais
4
Essas relações, assim como as intervenções, encontram-se bem tuteladas, no StPO, o Governo, sem retirar papéis das gavetas secretas, possa reproduzi-los no tribunal,
nos §§ 100a a 100c (que, seguindo o imperativo de determinação e clareza legal, e pelos quais possa expor a um júri as ocorrências mais íntimas do lar” (EUA, 1928
discriminam quais, quando, como e porque intervenções podem ser adotadas), [tradução nossa]).
9
§§ 100d I a V e 160a (que determinam a inadmissibilidade de intervenções ou de Proposta de alteração no CPP para primeira e sucinta disciplina da atuação da
seu uso ou valoração, quando afetam o núcleo central da esfera privada ou o sigilo protodefesa. “Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade
profissional), e §§ 97 e 252 (que proíbem, salvo algumas exceções, a apreensão de da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia
dados de comunicações entre o imputado e as pessoas autorizadas a se recusar tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe
contribuir com a persecução penal, bem como de objetos deixados sob a guarda especialmente: [...] IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação
dessas pessoas e também a reprodução – por meio, especificamente da leitura e, criminal e imediata nomeação de defensor público, nos termos do § 1º do art. 261
por extensão, do testemunho de ouvir dizer –, na audiência, das palavras da pessoa deste Código;” “Art. 261. Nenhuma imputação será investigada, processada ou julgada
que se vale do direito de se recusar contribuir com a persecução penal). Para uma sem defensor, ainda que o imputado esteja inciente, ausente ou foragido.
tradução de diversos desses dispositivos, mais referências e visão crítica, em especial, § 1º Durante a investigação, será nomeado defensor público para postular pela
quanto à postura jurisprudencial alemã no sentido de um crescente viés em aplicar legalidade da investigação e pela salvaguarda dos direitos dos afetados suspeitos
a ponderações para quase sempre autorizar o uso ou valoração de dados obtidos e insuspeitos.
ilicitamente, cf. Wolter (2018, p. 77 et seq.; 112 et seq.; 132 et seq.). § 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, o defensor público é obrigado a manter o
5
É imperioso ir contra essa posição porque (i) a LGPD dá proteções gerais, que podem sigilo das investigações, também em relação a qualquer afetado, ao menos até o
e devem ser aprofundadas por leis complementares. Nesse sentido, está em discussão seu encerramento. (Descumprir essa obrigação poderia configurar o tipo do art. 325
um anteprojeto de “LGPD Penal” (para persecução penal, segurança pública e defesa do CP ou do art. 24 da Lei 13.431/2017 ou do art. 2º, § 1º da Lei 12.850/2013) Obs:
nacional), o qual, conforme raciocina o Min. Mendes, “[embora] ainda não tenha Propostas de alteração marcadas em sublinhado.
Referências
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debate. v. 4. São Paulo: InternetLab, 2021. Disponível em: https://congresso.internetlab. WOLTER, Jürgen. O inviolável e o intocável no direito processual penal: reflexões sobre a
org.br/wp-content/uploads/2021/08/Direitos-fundamentais-e-processo-penal-na-era- dignidade humana, proibições de prova, proteção de dados (e separação informacional
digital-Teoria-e-pra%CC%81tica-em-debate-Vol-4.epub. Acesso em: 1 nov. 2022. de poderes) diante da persecução penal. Rio de Janeiro: Marcial Pons, 2018.
18
Resumo: Se a pena é tão importante para o Direito Penal que deriva dela Abstract: If punishment is so important to Criminal Law that (in Portuguese)
o seu próprio nome – penal –, parece inegável que o estudo das construções it derives its own name ‒ Penal Law ‒ from it, it seems undeniable that the study of
teóricas sobre a pena é essencial para o estudo do próprio Direito Penal. Neste the theoretical constructions on punishment is essential to the study of Criminal
âmbito, o trabalho tem como objetivo jogar luz nas teorias positivas e negativa Law. In this scope, this paper’s objective is to put a spotlight on the positive and
da pena, especialmente os contrastes entre o que os nomes delas podem dar a negative theories of punishment, especially the contrasts between what their
entender e o que os seus conteúdos realmente são, com enfoque especial na names may imply and what contents really are, focusing in the negative theory
teoria negativa da pena, a fim de esclarecer alguns pontos. of punishment, in order to clarify some issues.
Palavras-chave: Teorias positivas da pena; Hipóteses; Teoria negativa da pena; Keywords: Positive theories of punishment; Hypothesis; Negative theory of
Crítica. punishment; Critique.
19
20
Notas
1
No trecho, o presente trabalho tomou somente uma das hipóteses – prevenção geral ao leitor que se interesse em ver as críticas a todas as hipóteses positivas da pena,
negativa – como exemplo por questões de espaço. Na continuidade, do mesmo recomenda-se a obra dos professores Zaffaroni e Nilo Batista constante nas referências
modo, toma-se como exemplo somente a prevenção especial positiva. Entretanto, do presente artigo.
Referências
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chamada “cegueira deliberada”. 2017. 366 f. Tese (Doutorado em Direito do Estado) – Janeiro: Revan, 2003.
21
Resumo: A Lei 13.769/2018 inseriu o § 3º no art. 112 da Lei de Execução Abstract: Law 13.769/2018 inserted § 3º in art. 112 of the Penal Execution
Penal, trazendo requisitos específicos para a progressão de regime prisional Law, bringing specific requirements for prison regime progression for
para mulheres grávidas, mães ou responsáveis por crianças ou pessoas pregnant women, mothers or those responsible for children or people with
com deficiência. A nova modalidade de progressão de regime foi objeto de disabilities. The new modality of regime progression has been subject to more
interpretações mais ou menos restritivas pelos tribunais, em especial quanto or less restrictive interpretations by the Courts, especially regard to item V, §
ao inciso V, § 3º do art. 112, que prevê como requisito para a progressão de 3º of art. 112, which establishes as a requirement for regime progression that
regime que a mulher não tenha integrado organização criminosa. Nesse the woman has not joined a criminal organization. In this sense, the present
sentido, o presente trabalho analisou a jurisprudência do Superior Tribunal work analyzed the jurisprudence of the Superior Court of Justice, with the
de Justiça, com o objetivo de compreender como a Corte interpreta e aplica objective of understanding how the Court interprets and applies this device
esse dispositivo e como isso pode representar um obstáculo à efetivação da and how this may represent an obstacle to the effectiveness of the protection
proteção às maternidades encarceradas. of incarcerated mothers.
Palavras-chave: Maternidade; Encarceramento; Progressão de regime; Keywords: Motherhood; Incarceration; Prison regime progression; Criminal
Organização criminosa. organizations.
22
23
24
Notas
1
Esse artigo foi elaborado com o apoio da FAPESP: Processo nº 2022/06175-6, 5
Os acórdãos foram coletados por meio de múltiplos métodos, como a busca na
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). ferramenta online de pesquisa de jurisprudência do STJ (Disponível em: https://
2
STJ, HC 522.651/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz. Data de Julgamento 04.08.2020; processo.stj.jus.br/SCON/. A pesquisa foi realizada no dia 13/11/2022, com as
e AgRg no HC 679.715/MG, 5ª Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca. Data palavras-chave escolhidas “progressão de regime especial”) e por meio do método
de Julgamento 26/10/2021. Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/ bola de neve, formando uma rede de referências a partir dos primeiros acórdãos
Paginas/Comunicacao/Noticias/09102020-Progressao-especial-para-maes-deve- analisados. Não se exclui a possibilidade de que haja outros acórdãos que discutam
considerar-definicao-da-Lei-de-Combate-ao-Crime-Organizado.aspx; https://www. o mesmo tema que o presente projeto não conseguiu abarcar.
stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/16112021-Associacao-para- 6
Período compreendido entre agosto de 2020 e outubro de 2021.
o-trafico-nao-impede-progressao-mais-benefica-para-maes--decide-Quinta-Turma. 7
Período posterior a outubro de 2021.
aspx. Acesso em: 5 nov. 2022. 8
Trecho da decisão AgRg no HC 721.863/SP (2022/0031804-4).
3
Segundo o Infopen Mulheres (BRASIL, 2018), 62% das condenações de mulheres 9
“Art. 33 [...] § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão
decorrem de condutas relacionadas ao tráfico de drogas. ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons
4
HC 522.651/SP (2019/0212860-0); AgRg no HC 534.836/SP (2019/0283366-2); HC antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
645.236/SP (2021/0043530-2); AgRg no HC 607.164/SP (2020/0211173-2); AgRg no criminosa.”
HC 679.715/MG (2021/0216912-0); AgRg no HC 696.420/SP (2021/0309904-4); AgRg
no HC 649.789/RS (2021/0065722-9); AgRg no HC 721.863/SP (2022/0031804-4).
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crime de tráfico de drogas no Brasil. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2022.
Direito, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
25
Victor C. R. S. Costa
Doutor em Direito pela PUC-PR. Mestre em Direito Penal pela UFMG.
Professor de Direito Penal. Advogado.
Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/9947142424896892
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6010-6577
victorsilva.costa@yahoo.com.br
Resumo: O artigo pretende problematizar a afirmação, ainda muito Abstract: The article intends to problematize one assertion, still much
repetida na doutrina, de que a reforma da parte geral do Código Penal repeated in the doctrine, that the reform of the general part of the Brazilian
Brasileiro de 1984 teve forte inspiração finalista. Percorrendo temáticas como Penal Code of 1984 had a strong finalist inspiration. Going through themes
a disciplina do erro e do tratamento legal dos crimes omissivos impróprios, such as the discipline of error and the legal treatment of improper omissive
pretende-se concluir que sua redação final não respeitou nenhuma ordem crimes, it is intended to conclude that its final wording did not respect
sistemática e, em algumas passagens, esteve muito aquém da novidade que any systematic order and, in some passages, fell far short of the novelty it
pretendia veicular. intended to convey.
Palavras-chave: Parte geral; Dogmática penal; Finalismo. Keywords: General part; Criminal dogmatics; Finalism.
26
27
Notas
1
Vide, por todos, a obra do integrante da Comissão de 1984: Dotti (1998, p. 138 e ss). situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”.
2
Sobre a receptividade da teoria do domínio do fato na AP 470/STF, vide o estudo de 5
Luisi (1987, p. 124) declara o acerto da legislação de 1984 ao identificar os sujeitos
Greco e Leite (2015). obrigados.
3
“A teoria finalista da ação foi a adotada pela Reforma de 1984, como se poderá concluir 6
No mesmo sentido Zaffaroni et al. 2010, p. 360): “Temperando o esquematismo do critério
pela inclusão do dolo na estrutura do tipo legal de ilícito, de que são exemplos o erro formal, é indispensável que o obrigado se encontre concretamente em uma estreita e
sobre os elementos do tipo e o erro de proibição (CP, art. 20 e 21)” (DOTTI, 2010, p. especial relação vital com o bem jurídico, cuja integridade depende concretamente de
387). Assim também Luisi (1987, p. 124). sua intervenção: só no plano concreto se pode vislumbrar com clareza o garantidor
4
Erro de fato. “Art. 17. É isento de pena quem comete o crime por erro quando ao fato (enquanto o obrigado tem existência puramente normativa)”.
que o constitue, ou quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe
Referências
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28
Resumo: O artigo apresenta a jurisprudência do Superior Tribunal de Abstract: The article presents the jurisprudence of the Superior Court of
Justiça (STJ) sobre o uso de mensagens de WhatsApp como prova no Processo Justice on the use of WhatsApp messages as evidence in criminal proceedings.
Penal. Para isso, adotou-se a metodologia quantitativa e qualitativa. Inicialmente, For this, the quantitative and qualitative methodology was adopted. Initially, the
explica-se a sistematização empregada; após, disserta-se sobre o entendimento systematization employed is explained; then, the predominant understanding of
predominante do STJ em relação ao tema; na sequência, por manifestarem the Superior Court of Justice on the subject is discussed; next, as they manifest
especificações ou exceções ao entendimento predominante, são abordados specifications or exceptions to the predominant understanding, four topics are
quatro tópicos, em apartado; ao final, resumem-se os achados da pesquisa. addressed and, separately; at the end, the research findings are summarized.
Palavras-chave: Jurisprudência do STJ; Mensagem de WhatsApp; Inviolabilidade; Keywords: Superior Court of Justice jurisprudence; WhatsApp message;
Corpo de delito; Espelhamento. Inviolability; Corpus delicti; Mirroring.
29
30
Referências
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Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/04/2021, DJe de 13/04/2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 537.274/MG. Rel. Min. Leopoldo de
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no AREsp 1.807.901/AM. Rel. Min. Arruda Raposo (Des. Convocado do TJ/PE), julgado em 19/11/2019, DJe de 26/11/2019.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 19/10/2021, DJe de 25/10/2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). HC 580.662/MG. Rel. Min. Laurita Vaz,
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 567.637/RS. Rel. Min. Ribeiro julgado em 22/03/2022, DJe de 29/03/2022.
Dantas, julgado em 03/11/2020, DJe de 12/11/2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 588.135/SP. Rel. Min. Reynaldo
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 595.956/SP. Rel. Min. João Soares da Fonseca, julgado em 8/09/2020, DJe de 14/09/2020.
Otávio de Noronha, julgado em 27/04/2021, DJe de 29/04/2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 590.296/MS. Rel. Min. Reynaldo
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 611.762/SC. Rel. Min. Felix Soares da Fonseca, julgado em 4/08/2020, DJe de 13/08/2020.
Fischer, julgado em 20/10/2020, DJe de 26/10/2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). REsp 1.755.974/MT. Rel. Min. Laurita Vaz,
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 648.004/SP. Rel. Min. Felix julgado em 12/03/2019, DJe de 29/03/2019.
Fischer, julgado em 13/04/2021, DJe 19/04/2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). RHC 89.385/SP. Rel. Min. Rogerio Schietti
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 722.827/SC. Rel. Min. Cruz, julgado em 16/08/2018, DJe de 28/08/2018.
Jesuíno Rissato (Des. Convocado do TJDFT), julgado em 19/04/2022, DJe de 26/04/2022. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). RHC 89.981/MG. Rel. Min. Reynaldo
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no HC 752.444/SC. Rel. Min. Soares da Fonseca, julgado em 5/12/2017, DJe de 13/12/2017.
Ribeiro Dantas, julgado em 4/10/2022, DJe de 10/10/2022. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). RHC 102.093/PB. Rel. Min. Ribeiro
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). EDcl no HC 492.052/SP. Rel. Min. Rogerio Dantas, julgado em 20/08/2019, DJe de 23/08/2019.
Schietti Cruz, julgado em 16/06/2020, DJe de 26/06/2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). RHC 108.262/MS. Rel. Min. Antonio
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 421.249/SC. Rel. Min. Reynaldo Saldanha Palheiro, julgado em 5/09/2019, DJe de 9/12/2019.
31
CULTIVO E IMPORTAÇÃO DE
CANNABIS PARA FINS MEDICINAIS
(STF – Min. Rel. GILMAR MENDES – HC 144.161 – 2ª Turma – j.
Nosso comentário: A revogada Lei 6.368/76 já previa a possibilidade de 11.09.2018) (destaques nossos – Cadastro IBCCRIM 6426).
cultura de plantas com substâncias entorpecentes para “fins terapêuticos
ou científicos (...) mediante prévia autorização das autoridades
competentes” (art. 2º, § 2º). A atual Lei de Drogas possui disposição Nosso comentário: No julgamento conjunto dos HCs 144.161/SP HC
semelhante (art. 2º, parágrafo único, da Lei 11.343/06), assim em 142.987/SP, no ano de 2018, a 2ª Turma fixou o entendimento de que
como o decreto que a regula, o qual dispõe que é de competência é a atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes
do Ministério da Saúde “autorizar o plantio, a cultura e a colheita de cannabis sativa. A posição foi replicada posteriormente, em
dos vegetais dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, casos semelhantes – entre outros: HC 149.199/SP, Min. Rel. Ricardo
exclusivamente para fins medicinais ou científicos” (art. 14, I, c, do Lewandowski, j. 18.09.18; HC 173.346/SP AgR, Min. Rel. Ricardo
Decreto 5.912/06). Lewandowski, j. 04.10.2019; HC 147.478/SP, Min. Rel. Roberto Barroso,
As convenções internacionais sobre drogas subscritas pelo Brasil ca- j. 19.12.19.
minham no mesmo sentido. A Convenção Única sobre Entorpecen- Ainda na Suprema Corte, vale mencionar a ADI 5708 (Min. Rel. Luiz
tes, de 1961 (promulgada pelo Decreto 54.216/64), reconhece, em seu Fux), ajuizada no ano de 2017, cujo objeto é “conferir interpretação
preâmbulo, que “o uso médico dos entorpecentes continua indispen- conforme a Constituição aos dispositivos supracitados [arts. 2º, caput
sável para o alívio da dor e do sofrimento e que medidas adequadas e § único; 28; 31; 33, § 1º, I, II e III; 34; e, por arrastamento lógico-
devem ser tomadas para garantir a disponibilidade de entorpecentes sistêmico, 35 e 36, todos da Lei nº 11.343/06 c/c art. 334-A do Código
para tais fins”. Da mesma maneira, a Convenção das Nações Unidas Penal], afastando entendimento, segundo o qual, seria crime plantar,
sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971 (promulgada pelo Decreto cultivar, colher, guardar, transportar, prescrever, ministrar, e adquirir
79.388/77), também reconheceu, em seu preâmbulo, que “o uso de Cannabis para fins medicinais e de bem-estar terapêutico” (p. 1 da
substâncias psicotrópicas para fins médicos e científicos é indispen- inicial). Após parecer da Procuradoria Geral de República, em 2019,
sável, e que a disponibilidade daquelas para esses fins não deve ser “pela parcial procedência da ação, a fim de que seja determinado
indevidamente restringida”. prazo à União e à Anvisa para que, no âmbito de suas respectivas
competências, editem regulamentação sobre o plantio da Cannabis
Contudo, mesmo diante dessa permissão legislativa, ainda não existe
regulamentação normativa específica no país. com finalidade medicinal”, aguarda-se o seu julgamento.
Observe-se, nesse ponto, que as normas da ANVISA sobre cannabis
não tratam, especificamente, da autorização para o seu plantio Superior Tribunal de Justiça
para fins medicinais (e subsequente extração de suas substâncias).
Especificamente: i) a RDC 327/19 versa sobre “fabricação e importação” Ementa: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.
e “requisitos para a comercialização, prescrição, a dispensação, o IMPORTAÇÃO DE 16 SEMENTES DE MACONHA (CANNABIS
monitoramento e a fiscalização de produtos de Cannabis para fins SATIVUM). DENÚNCIA POR TRÁFICO INTERNACIONAL
medicinais”; e ii) a RDC 660/22 disciplina a “importação de Produto DE DROGAS. REJEIÇÃO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
derivado de Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, mediante RECLASSIFICAÇÃO PARA CONTRABANDO, COM APLICAÇÃO
prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. AFASTAMENTO. RECURSO
saúde”. ESPECIAL PROVIDO. PRETENDIDO TRANCAMENTO DA AÇÃO
No ano de 2017, foi criado um Grupo de Trabalho na ANVISA (Portaria POR ATIPICIDADE. ACATAMENTO DO ENTENDIMENTO DO STF.
nº 415, de 13/03/2017) para a discussão do tema, que, inclusive, chegou EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS.
a elaborar um relatório de análise de impacto regulatório (processo
administrativo SEI nº 25351.421833/2017-76).1 Contudo, em votação 1. O conceito de “droga”, para fins penais, é aquele estabelecido no
da Diretoria Colegiada do órgão, decidiu-se pelo arquivamento do art. 1.º, parágrafo único, c.c. o art. 66, ambos da Lei n.º 11.343/2006,
processo, nos termos do voto do Diretor Antonio Barra2, para quem, norma penal em branco complementada pela Portaria SVS/MS n.º
dentre outros argumentos, o “escopo de atuação desta Agência 344, de 12 de maio de 1998. Compulsando a lista do referido ato
demandaria delegação de competência pelo Ministério da Saúde”3. administrativo, do que se pode denominar “droga”, vê-se que dela
Assim, “diante da omissão inconstitucional do poder público na não consta referência a sementes da planta Cannabis Sativum.
implementação das condições necessárias ao adequado acesso
dos brasileiros à utilização terapêutica da Cannabis e em obediência 2. O Tetrahidrocanabinol - THC é a substância psicoativa
ao dever estatal de efetivar as prestações necessárias à garantia encontrada na planta Cannabis Sativum, mas ausente na
da saúde da população (CF, art. 196), o Judiciário vem viabilizando semente, razão pela qual esta não pode ser considerada “droga”,
pessoas físicas e jurídicas a importar sementes e plantar Cannabis em para fins penais, o que afasta a subsunção do caso a qualquer
solo brasileiro como forma de tutela da vida e da saúde de pessoas uma das hipóteses do art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/2006.
que a utilizam no tratamento de doenças”4.
3. Dos incisos I e II do § 1.º do art. 33 da mesma Lei, infere-se
que “matéria-prima” ou “insumo” é a substância utilizada “para a
Supremo Tribunal Federal preparação de drogas”. A semente não se presta a tal finalidade,
Ementa: Habeas corpus. 2. Importação de sementes de maconha. 3. porque não possui o princípio ativo (THC), tampouco serve de
Sementes não possuem a substância psicoativa (THC). 4. 26 (vinte e reagente para a produção de droga.
seis) sementes: reduzida quantidade de substâncias apreendidas. 4. No mais, a Lei de regência prevê como conduta delituosa o semeio,
5. Ausência de justa causa para autorizar a persecução penal. o cultivo ou a colheita da planta proibida (art. 33, § 1.º, inciso II; e
6. Denúncia rejeitada. 7. Ordem concedida para determinar a art. 28, § 1.º). Embora a semente seja um pressuposto necessário
manutenção da decisão do Juízo de primeiro grau. para a primeira ação, e a planta para as demais, a importação
32
33
Notas
1
https://acesse.one/YeD2b. Acesso em: 28 abr. 2023. 4
MARONNA, Cristiano Avila. Lei de Drogas interpretada na perspectiva da liberdade. São
2
https://l1nk.dev/xLbNr. Acesso em: 28 abr. 2023. Paulo: Contracorrente, 2022, p. 230.
3
https://l1nk.dev/piB6I. Acesso em: 28 abr. 2023.
34
CONSELHO CONSULTIVO
Marina Pinhão Coelho Araújo
André Nicolitt
Ester Judite Rufino
Felipe Cardoso Moreira de Oliveira
Cleunice Aparecida Valentim Bastos Pitombo
Marcos Alexandre Coelho Zilli
OUVIDORA
Alessandra Rapacci Mascarenhas Prado
CORPO DE PARECERISTAS DESTE VOLUME: Aline Mendes Favarim (PUC – Porto Alegre/RS), Amarílis Regina Costa da Silva (USP –
São Paulo/SP), André Grandis Guimarães (EMERJ – Rio de Janeiro/RJ), Angelo Antonio Sindona Bellizia (USP – São Paulo/SP), Cláudio Ribeiro
Lopes (UFMS – Pioneiros/MS), Danilo Vieira Vilela (UEMG – Belo Horizonte/MG), David Pimentel Barbosa de Siena (UFABC – Santo André/
SP), Emília Merlini Giuliani (PUC – Porto Alegre/RS), Ewerton Bellinati (UNIDERP – Campo Grande/MS), Felício Nogueira Costa (USP – São
Paulo/SP), Fernando de Oliveira Zonta (PUC – São Paulo/SP), Jenifer da Silva Moraes (Universidade de Salamanca – Espanha), João Vitor
Rodrigues Loureiro (UnB – Brasília/DF), Jonata Wiliam Sousa Da Silva (UFBA – Salvador/BA), Jônica Marques Coura Aragão (UFCG – Campina
Grande/PB), Lorenna Roberta Barbosa Castro (UEM – Maringá/PR), Luanna Tomaz (UFPA – Belém/PA), Lucas Andreucci da Veiga (PUC –
São Paulo/SP), Luís Gustavo Durigon (UFSM – Santa Maria/RS), Luis Ricardo de Oliveira Dantas (Universidade de Sevilla – Espanha), Marcio
Evangelista Ferreira da Silva (IESB – Brasília/DF), Mariana Colucci Goulart Martins Ferreira (PUC – Belo Horizonte/MG), Marianna De Queiroz
Gomes (UFC – Fortaleza/CE), Núbio Pinhon Mendes Parreiras (PUC – Belo Horizonte/MG), Pablo Rodrigo Alflen da Silva (UFRGS – Porto
Alegre/RS), Thais Bonato Gomes (UFSC – Florianópolis/SC), Vanessa Urquiola do Nascimento (PUC – Porto Alegre/RS) e Vinícius Wildner
Zambiasi (URI – Erechim/RS).
AUTORES(AS) DESTE VOLUME: Beatriz Ferreira de Paula (USP – São Paulo/SP), Débora Maria da Silva (UNIFESP – São Paulo/SP), Erika
Chioca Furlan (UPM – São Paulo/SP), Fabiana Zanatta Viana (EPM – São Paulo/SP), Hellen Luana de Souza (ABDCONST – Curitiba/PR), João
Pedro Barione Ayrosa (UEL – Londrina/PR), Juan Lopes Amaral Rocha (PUC – São Paulo/SP), Júlia da Silva Ribeiro (UNIFACS – Salvador/BA),
Mariana Secorun Inácio (UPM – São Paulo/SP), Pedro Guilherme Borato (Universidad de Salamanca – Espanha), Renê Pereira da Cruz (UPM –
São Paulo/SP), Thiago Rocha de Rezende (UERJ – Rio de Janeiro/RJ), Valéria Aparecida de Oliveira Silva (USP – São Paulo/SP) e Victor Cezar
Rodrigues da Silva Costa (FAC – Curitiba/PR).
CAPA E PRODUÇÃO GRÁFICA: Able Digital | Tel.: (11) 97426-3650 | E-mail: contato@abledigital.com.br
REVISÃO: Primavera Assessoria Revisão de Textos | E-mail: primaverarevisao@gmail.com
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