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Teoria Crítica Racial

Critical Race Theory


A Teoria Crítica
Racial é alvo de
disputas políticas,
estigmatização e até
censura nos EUA

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Mas o que é a Teoria Crítica Racial?
É um movimento que reúne ativistas e acadêmicos que
mobilizam estudos em torno das relações entre raça, racismo
e poder.

Questiona uma perspectiva liberal do direito e seus


fundamentos, tais como: teoria da igualdade, discurso
jurídico, racionalismo iluminista e neutralidade.

Surge na década de 70, como uma forma de apontar a


estagnação ocorrida após a década de 60 - conquista dos
direitos civis.

Assim como as demais teorias críticas, ela não se limita a


analisar a realidade, senão sugerir práxis para a mudança. 3
Crítica à neutralidade racial
Para os autores da TCR, a neutralidade racial nos permite
corrigir apenas danos raciais extremamente gritantes;

Ainda, uma aplicação extrema de neutralidade racial pode


impedir o direito de corrigir erros históricos.

Plessy vs. Ferguson

Separated but equals doctrine

Brown vs. Board of Education

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E como relacionar
com a realidade
brasileira?

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Parte da Turma de Direito
UFRGS Diurno 2016

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Trecho de sentença
(ano 1985) -
Dissertação “Direito
e Relações Raciais”
de Dora Bertúlio,
Procuradora da
Universidade
Federal do Paraná
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MM. Juiz. Trata-se de inquérito instaurado para a apuração de eventual delito
previsto na Lei n. 7.716 / 89, envolvendo Aparecida Gisele Mota. Segundo se
apurou, Aparecida fez publicar, no jornal Folha de São Paulo [...] um anúncio
onde demonstrava seu interesse em contratar uma doméstica que, entre
outras características, deveria ser preferencialmente da raça branca [...] que
após a publicação do anúncio, diversas pessoas entraram em contato com
Caso Simone Gisele, ou com a pessoa que a representava para tanto, ou seja, Maria Tereza
Diniz Benincasa. Dentre tais pessoas, Simone André Diniz realizou uma ligação
para o número indicado no anúncio, sendo certo que a mesma se sentiu
Promoção de discriminada, pelo fato de ser da raça negra e ter sido preterida para a vaga
como doméstica. Aparecida Gisele foi ouvida [...] e esclareceu à Autoridade
arquivamento
Policial que em momento algum pretendeu discriminar qualquer raça.
- 1997
Esclareceu que seus filhos haviam tido um problema de relacionamento
com uma doméstica de cor negra, que chegou a espancar os mesmos, o
que motivou, em face de um receio gerado nas crianças, que fosse dada a
preferência a uma empregada de cor branca. Esclareceu ainda a
averiguada, que não possui qualquer tipo de preconceito racial, até mesmo
porque é casada há onze anos com Jorge Honório da Silva, pessoa de raça
negra. Como Vossa Excelência pode bem observar, não se logrou apurar nos
autos que Aparecida tenha praticado qualquer ato que pudesse constituir
crime de racismo, previsto na Lei 7.716 / 89. Diante do exposto, não havendo
nos autos qualquer base para o oferecimento de denúncia, requeiro que Vossa
Excelência determine o ARQUIVAMENTO [grifo nosso] do presente feito,
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ressalvada a hipótese do art. 18 do C.P.P 27
Sedução. Declarações da ofendida. Mais de uma vez se afirmou nos tribunais
que as vítimas são as grandes testemunhas dos crimes sexuais, contando que
elas, como mulher, se imponham ao julgador por sua postura moral, coerência
do testemunho e repercussão deste no conjunto das provas. Experiência sexual.
Conhecer o sexo através de leituras, cinema e televisão não é ter experiência
sexual, como se pretende, equivocadamente. Já foi dito na ciência sexológica
que "a inexperiência não se equipara à falta de conhecimento sobre as coisas
sexuais". Inexperiente é a mulher que embora possua noções teóricas acerca do
sexo, ainda não o conhece na vivência prática e sensível, de modo a ignorar em
si mesma seus reflexos do domínio fisiopsíquico. Justificável confiança. O
acusado obtém-na usando para isso o expediente do namoro sério e mais ou
menos demorado, com visitas freqüentes a casa da ofendida e passeios em público
na sua companhia, mormente se se trata de menina do interior, de hábitos
humildes e sem participação social expressiva. Sentença mantida em parte.
Redução da pena. Concessão de sursis.(Apelação Crime, Nº 684052855, Segunda
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ladislau Fernando Rohnelt,
Julgado em: 09-05-1985).

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A PALAVRA DA VÍTIMA, MULHER
Corrupção de menor. Sem a certeza MADURA E VIRGEM, ESTÁ APOIADA NA
de que a ofendida fosse mulher PROVA TÉCNICA, DEMONSTRANDO A
honesta e inexperiente, ao tempo VIOLÊNCIA SEXUAL. NÃO TERIA ELA
da primeira relação sexual, não RAZÕES PARA ENTREGAR-SE A UM
existe amparo para um juízo de HOMEM (O QUE NÃO FIZERA DURANTE
condenação do acusado. Apelação 40 ANOS) QUE SEQUER NAMORADO
provida. (Apelação-Crime, Nº 26206, ERA. SENTENÇA BEM FUNDAMENTADA
Segunda Câmara Criminal, Tribunal COM PENA ATÉ BRANDA. NEGARAM
de Justiça do RS, Relator: Ladislau PROVIMENTO. UNÂNIME.(Apelação
Fernando Rohnelt, Julgado em: Crime, Nº 687027144, Terceira Câmara
15-10-1981) Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Moacir Danilo Rodrigues,
Julgado em: 18-08-1988).

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ESTUPRO. VIOLÊNCIA FICTA. A PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA NO CASO DOS
ADOLESCENTES EXISTE EM RAZÃO DA INCIDÊNCIA EM RELAÇÃO AOS FATOS
SEXUAIS, MITIGADA EM FUNÇÃO DE REGISTRO TARDIO OU CORRUPÇÃO DA
OFENDIDA, DADOS INOCORRENTES NA HIPÓTESE, EM QUE A OFENDIDA E
PESSOA RECATADA, DE ÓTIMO PROCEDIMENTO, DEDICADA AO ESTUDO E A
FAMÍLIA. APELO PROVIDO.(Apelação Crime, Nº 693047136, Terceira Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Augusto Monte Lopes,
Julgado em: 19-08-1993).

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ESTUPRO. CONCURSO DE AGENTES. PROVA. PENA. REGIME. A PALAVRA DA VITIMA,
HONESTA, QUE APONTA O REU COMO AUTOR DE ESTUPRO, ALIADA A OUTROS
ELEMENTOS DE PROVA COLIGIDOS, E BASTANTE PARA EMBASAR DECRETO
CONDENATORIO, PRINCIPALMENTE A SE CONSIDERAR A ABSOLUTA FALTA DE
CAUSA PARA EMERGENCIA DE UMA FALSA ACUSACAO. A CONCORDANCIA DA
VITIMA, AMEACADA POR AGENTES ARMADOS DE ESPINGARDA E FACAS, EM SE
DIRIGIR A OUTRO APOSENTO DA CASA, ONDE FOI ESTUPRADA, NAO SIGNIFICA
CONSENTIMENTO, AINDA MAIS QUANDO COMUNICA SEU TEMOR DE "LEVAR UM
TIRO". "SEGUNDO ENTENDIMENTO DE ALGUNS TRIBUNAIS E TURMAS DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTICA, O ART-1, PAR-7, DA LEI N. 9455/97, QUE DEFINE OS CRIMES DE
TORTURA, DEU NOVO TRATAMENTO AO QUE DISPOE O PAR-1 DO ART-2 DA LEI N.
8072/90, PODENDO, PORTANTO, HAVER PROGRESSAO DE REGIME CARCERARIO,
QUANDO A PENA APLICADA DIZ RESPEITO A PRATICA DE CRIMES HEDIONDOS, DE
TORTURA E DE TRAFICO ILICITO DE ENTORPECENTES E DROGAS AFINS" (LICAO DE
MARCO ANTONIO RIBEIRO DE OLIVEIRA). ESTA CONSOLIDADA NOS TRIBUNAIS
SUPERIORES A DEFINICAO DE QUE O ESTUPRO E O ATENTADO VIOLENTO AO
PUDOR SO SE QUALIFICAM COMO HEDIONDOS QUANDO SOBREVIR O RESULTADO
MORTE OU LESOES GRAVES PARA A VITIMA. APELACAO PROVIDA EM PARTE.
(14FLS.)(Apelação-Crime, Nº 70002530350, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Ilton Carlos Dellandrea, Julgado em: 12-09-2001).
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A igualdade formal é
suficiente para garantir
a igualdade material?

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Direito da Antidiscriminação
Preconceito: “percepções mentais negativas em face de indivíduos e
de grupos socialmente inferiorizados, bem como as representações
sociais conectadas a tais percepções” (RIOS, 2008, p. 15).
Discriminação: “designa a materialização, no plano concreto das
relações sociais, de atitudes arbitrárias, comissivas ou omissivas,
relacionadas ao preconceito, que produzem violação de direitos dos
indivíduos e dos grupos” (RIOS, 2008, p. 15).
Conceito jurídico de discriminação: “qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência que tenha o propósito ou o efeito de anular ou
prejudicar o reconhecimento, gozo ou em pé de igualdade de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos econômico, social,
cultural ou em qualquer campo da vida pública” (RIOS, 2008, p. 20).

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Discriminação Direta (disparate treatment): “repúdio ostensivo a
indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial”, que “requer a
existência da intenção de discriminar” (ALMEIDA, 2018, p. 25 e p. 26).
discriminação explícita (facial discrimination): aquela em que a referência
discriminatória é expressa na medida ou na lei, ainda que o atributo de
diferenciação não seja literalmente manifesto.

discriminação na aplicação da legislação ou da medida (discriminatory


application): é caracterizada por uma execução discriminatória, na prática, da
medida ou lei que, originalmente, não foi concebida com a intenção de
discriminar.

discriminação na elaboração da legislação ou da medida (discrimination by


design): legislações ou medidas que, em seu texto, adotam atributos
aparentemente neutros, mas que concretizam a sua intenção real de
discriminar ao causar prejuízos desproporcionais a determinados indivíduos ou
grupos. (RIOS, 2008).

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Discriminação indireta (disparate impact): Não demanda a
comprovação de motivação discriminatória. Uma medida ou lei
aparentemente neutra será discriminatória quando o seu impacto
for desproporcional sobre determinados indivíduos ou grupos,
ainda que não exista a intenção de discriminar (RIOS, 2008).
Discriminação positiva: “possibilidade de atribuição de
tratamento diferenciado a grupos historicamente discriminados
com o objetivo de corrigir desvantagens causadas pela
discriminação negativa” (ALMEIDA, 2018, p. 26).
Discriminação múltipla/interseccional: A discriminação
interseccional ocorre quando dois ou mais critérios proibidos
interagem, sem que haja possibilidade de decomposição deles. (...)
Assim, a discriminação interseccional implica uma análise
contextualizada, dinâmica e estrutural, a partir de mais de um
critério proibido de discriminação. (RIOS; DA SILVA, 2017)
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O conceito de
interseccionalidade
Chamar atenção às diferenças
intragrupos, sob pena de que as análises
restem distorcidas, bem como as
soluções delas decorrentes;

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Constituição Federal de 1988 - Art. 5o: XLII - a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Lobby do Batom
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Ailton Krenak
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Forme uma dupla. Cada um deve
escrever em um pedaço de papel três
afirmações relacionadas à política ou à
realidade social que consideram
verdadeiras. Em seguida, cada um deve
apresentar um contraexemplo para as
afirmações da outra pessoa.
Como a outra pessoa reagiu? Como foi
sua reação? A sua opinião mudou? Sim
ou não? Por quê?
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