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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO

PRESIDENTE DO EXCELSO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, PROFESSOR DOUTOR
LIVRE-DOCENTE LUÍS ROBERTO BARROSO

As vítimas são indignas ou os perseguidores são indignos?


Muitas práticas sociais, também acompanhadas ou favorecidas por
instrumentos jurídicos, construíram uma “ação paralela” de indignidade,
que sobrecarregou princípios e direitos, tornada ela próprio um princípio
que impôs a degradação da humanidade.
De exceção codificada e limitada, a atribuição da qualidade de indigno
tornou-se regra geral, legitimando a contínua agressão de categorias
inteiras de pessoas.
Diante de tudo isso, o direito não pode ser considerado inocente; na
verdade, ele se tornou cúmplice. (...).
As sombras, portanto, não são mais pessoas. São, apenas, seres
destinados apenas a serem apagados. A privação de direitos
correspondeu ao apagamento da própria humanidade.
––STEFANO RODOTÀ
(Il diritto di avere diritti, Roma, Laterza, 2012, p. 207, trad. nossa, destacamos)

Onde todos são culpados, ninguém é. O específico e o particular perdem-se


na sopa do geral. Quando um alemão escreve isso, é motivo de
preocupação. Significa: não foram os nossos pais, mas todas as pessoas
que causaram este desastre [Auschwitz]. O que, simplesmente, não é
verdade.
––HANNAH ARENDT
(Trecho de carta ao jornal alemão Merkur enviada em dezembro de 1964; trad. nossa)

Se o julgamento, “a faculdade de pensar o particular”, não tem nada em


que se basear a não ser outros particulares “a partir dos quais o geral
deve ser encontrado”, faltam-lhe todos os padrões ou critérios pelos quais
julgar. O padrão não pode ser emprestado da experiência e não pode
derivar de coisas externas. Não posso julgar um particular em razão de
outro particular: para determinar a validade ou o valor, preciso de um
tertium comparationis, algo relacionado com os dois particulares e, no
entanto, distinto de ambos. (...) E isto tem alguma relevância para todo um
conjunto de problemas que assombram o pensamento moderno,
especialmente para o problema entre teoria e prática, bem como para
todas as tentativas de chegar a uma teoria da ética parcialmente plausível.
––HANNAH ARENDT
(Transition, in Thinking without a banister, New York, Schocken, 2021, p. 523, trad. nossa)

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.


––CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
(Trecho inicial do caput do artigo 5º)

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TRÊS MULHERES BRASILEIRAS: Uma mãe, a Senhora
(1) EDJANE DUARTE DA CUNHA, brasileira, viúva, comerciante, inscrita no
CPF/MF sob o nº 709.521.751-34 e portadora da cédula de identidade RG nº 1.610.057,
SSP/DF, em mais profundo luto e ao lado das suas duas filhas, as jovens estudantes
(2) ANA LUÍZA DUARTE DA CUNHA, brasileira, solteira, inscrita no CPF/MF sob
o nº 076.629.321-17 e portadora da cédula de identidade RG nº 3.808.396, SSP/DF, e
(3) KÉSIA THALYTA DUARTE DA CUNHA, brasileira, solteira, inscrita no
CPF/MF sob o nº 076.628.951-65 e portadora da cédula de identidade RG nº 3.807.796,
SSP/DF,
RESPECTIVAMENTE, VIÚVA E FILHAS (DOCS. 01, 02 e 03) DA VÍTIMA,
CLRERISTON PEREIRA DA CUNHA, falecido em estabelecimento prisional em
razão de prisão preventiva manifestamente ilegal (DOC. 04), todas elas desamparadas,
residentes e domiciliadas na Casa 16 da Rua 8 que fica na Chácara 332 do Bairro Vicente
Pires, nesta Capital da República Federativa do Brasil, Brasília, Distrito Federal, CEP
72007-125, vêm, através de seu advogado e bastante procurador (DOC. 05) respeitosa,
tempestiva e subsidiariamente em razão da inércia da Procuradoria-Geral da República
(PGR), à presença de VOSSA EXCELÊNCIA para, em defesa da Sociedade Brasileira e
do Estado Democrático de Direito – o qual requer concretas e constantes demonstrações
da igualdade de todos perante as leis, que devem ser observadas e aplicadas em seus
rigores tanto ao mais pobre e iletrado dos brasileiros quanto a qualquer autoridade de
notável saber jurídico –, nos termos da Constituição, da legislação processual e material
penal, promover a presente

AÇÃO PENAL
CUMULADA COM PEDIDO DE COMPENSAÇÃO
contra Ministro do Supremo Tribunal Federal,
o Excelentíssimo Senhor Professor Doutor

ALEXANDRE DE MORAES,
pela prática, em concurso formal, de crimes tipificados tanto no
Código Penal quanto na legislação criminal especial, quais sejam,
prevaricação, maus-tratos, abuso de autoridade e tortura

em razão dos fatos aqui apresentados com todas as suas circunstâncias e suficiência de
provas, bem como dos exaurientes fundamentos jurídicos expostos ao longo desta
Exordial.

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1. COMPETÊNCIA, LEGITIMIDADE,
ADMISSIBILIDADE E TEMPESTIVIDADE

CONSIDERANDO QUE Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
(CONSTITUIÇÃO, art. 5º, caput);

CONSIDERANDO QUE ninguém pode ser submetido a tortura nem a tratamento


desumano ou degradante (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, III);

CONSIDERANDO QUE a todos é assegurado, independentemente do pagamento


de taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, XXXIV, a);

CONSIDERANDO QUE a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito e punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais, bem como considerará crime inafiançável e insuscetível de
graça ou anistia a prática da tortura – crime hediondo pelo qual, igualmente, deverão ser
condenados os que, podendo evitá-lo, se omitirem (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, XXXV,
XLI e XLIII);

CONSIDERANDO QUE é assegurado aos presos o respeito à integridade física e


moral (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, XLIX);

CONSIDERANDO QUE ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando


a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança, e que o Estado indenizará o
condenado por erro judiciário (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, LXVI e LXXV);

CONSIDERANDO QUE a todos, no âmbito judicial e administrativo, são


assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação (CONSTITUIÇÃO, art. 5º, LXXVIII);

CONSIDERANDO QUE a promoção da ação penal pública (ação penal


propriamente dita; ou seja, de natureza condenatória) é uma função institucional privativa

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do Ministério Público e, através dele, deve ser promovida por denúncia, mas dependerá,
quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo (CONSTITUIÇÃO, art. 129, I,
c/c CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, art. 24);

CONSIDERANDO QUE as infrações penais que comportam ação penal pública,


quando cometidas pelo Presidente da República, pelo Vice-Presidente, pelos membros do
Congresso Nacional, pelo Procurador-Geral da República ou pelos Ministros deste
Excelso Supremo Tribunal Federal, devem ser processadas e julgadas, originariamente,
por este Pretório Excelso (CONSTITUIÇÃO, art. 102, I, b; CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, art. 86, I; e REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
- RISTF, art. 5º, I); bem como

CONSIDERANDO QUE as denúncias acerca de tais infrações penais, quer dizer,


quanto aos crimes comuns eventualmente praticados por Ministros deste Excelso
Supremo Tribunal Federal – Corte Constitucional que é, insista-se, competente para
conhecer, processar e julgar, originária e privativamente, tais casos –, cabem,
privativamente, ao Ministério Público da União, que é chefiado pelo Procurador-Geral da
República (CONSTITUIÇÃO, art. 128, § 1º); ainda,

CONSIDERANDO QUE “qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa


do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de
convicção” (CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, art. 27);

CONSIDERANDO QUE será admitida ação privada nos crimes de ação pública
se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público intervir em todos
os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no
caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal
(CONSTITUIÇÃO, art. 5º, LIX; c/c CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, arts. 29, 30 e
31); e

CONSIDERANDO QUE “o órgão do Ministério Público dispensará o inquérito,


se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias” (CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL, art. 27 c/c art. 39, § 5º; destacamos).

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Diante de tais considerações preliminares:

UMA VEZ QUE a VÍTIMA, preso provisório sob a autoridade e a inteira


responsabilidade do Ministro ALEXANDRE DE MORAES – que é Ministro deste
Excelso Supremo Tribunal Federal e que, portanto, somente pode ser processado e
julgado quanto aos crimes comuns por esta mesma Corte Constitucional –, morreu no
contexto de prisão preventiva manifestamente ilegal à época dos fatos (DOC. 04);

UMA VEZ QUE, vindo a óbito a VÍTIMA, as AUTORAS da presente ação, viúva
e filhas da VÍTIMA (DOCS. 01, 02 e 03), são partes legitimadas a prosseguir com as
queixas ou proceder com as ações pertinentes na forma do artigo 31 do CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL (CPP);

UMA VEZ QUE, em consonância com o artigo 39 do CPP, as AUTORAS


exerceram, na forma escrita e através de advogado e bastante procurador, o seu direito de
representação dos fatos e dos fundamentos jurídicos que compõem e, por si mesmos,
comprovam os crimes cometidos pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES, contendo,
assim, todas as informações necessárias e suficientes à demonstração do fato e da autoria
como determina o §2º do retrocitado artigo – representação (DOC. 06) protocolada
eletronicamente junto à PGR no dia 5 de dezembro de 2023 (DOC. 07);

UMA VEZ QUE, conforme o artigo 4º da Portaria GDG, de 7 de dezembro de


2023, os prazos processuais neste Pretório Excelso foram suspensos entre os dias
(inclusive) 20 de dezembro de 2023 e 31 de janeiro de 2024 (DOC. 08); e, por fim,

UMA VEZ QUE, na véspera do protocolo da presente Exordial, ou seja, ontem,


dia 1º de fevereiro de 2024, perfez-se o prazo legal de 15 dias para o oferecimento da
denúncia pela PGR (CPP, art. 39, § 5º), que se manteve silente sobre a mencionada
representação das AUTORAS (DOC. 09).

Ficam demonstradas, assim, a competência deste Egrégio Supremo Tribunal


Federal para conhecer, processar e julgar o Ministro ALEXANDRE DE MORAES, bem
como a legitimidade ad causam das REQUERENTES e também, diante do esgotamento,
in albis, do prazo legal da PGR para se manifestar sobre o caso em tela, da admissibilidade
da presente ação penal privada subsidiária à pública, que ora se apresenta de maneira
tempestiva tanto quanto ao prazo inicial quanto ao prazo final.

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2. HISTÓRICO DE UM CASO INÉDITO NO
BRASIL: DA NÃO CORRELAÇÃO
PROCESSUAL COM O 08/01/23

Brasília, Distrito Federal; domingo, 8 de janeiro de 2023.

O lamentável fato criminoso que se vai noticiar a Vossa Excelência na presente


ação penal privada subsidiariamente à publica tem a sua origem remota no também
lamentável episódio ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes desta
Capital Federal brasileira, MAS, IMPORTA DESTACAR, COM ELE NÃO SE
CONFUNDE.

Em que pesem as opiniões divergentes, porque constitucionalmente livres, acerca


dos motivos que levaram uma multidão de cidadãos brasileiros ao Centro do Poder da
nossa República, bem como dos julgamentos de valor e as especulações sobre as
finalidades dessa multidão ali presente – isto é, desde cidadãos meramente curiosos,
passando pelas desavisados e chegando aos motivados por intensões diversas, díspares
ou divergentes –, é inegável que o único resultado objetivo desse triste evento foi um
vergonhoso e gigantesco rastro de destruição material; a evidência de que uma ou diversas
ações – coordenadas ou não, convergentes ou não –, além de representarem algo
civicamente inconcebível e condenável naquilo que tange à depredação do patrimônio
público, apenas sinonimizaram, politicamente, com o vocábulo “inútil”, ou melhor,
“imprestável”. Todavia, esse não é o objeto desta ação.

Ato contínuo, porque o Direito deve sempre prevalecer, prisões foram realizadas,
uma investigação foi iniciada, denúncias foram apresentadas de Procuradoria-Geral da
República (PGR) e, prontamente, aceitas por este Pretório Excelso em uma escala
industrial nunca vista na história deste país. A Relatoria de todas as denúncias tornadas,
então, ações penais ficou a cargo do Excelentíssimo Senhor Ministro Professor Doutor
ALEXANDRE DE MORAES.

Ao longo dos dias, dos meses que seguiram aos fatos, uma significativa parcela
dessa multidão continuou, “preventivamente”, presa. Foi o caso do pai de família sem
antecedentes criminais CLERISTON PEREIRA DA CUNHA, um pequeno empresário

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que, no dia 17 de julho deste ano de 2023, completou 46 anos de idade no cárcere, mais
especificamente, no Bloco 6 do Centro de Detenção Provisória nº 2 do Distrito Federal.

A despeito do acalorado debate acerca das implicações extralegais da modalidade


denominada “crimes multitudinários” (extralegais, já que toda a legislação penal
brasileira faz menção a crimes cometidos “sob a influência de multidão em tumulto”
apenas uma única vez na alínea “e” do inciso III do artigo 65 do Código Penal; e o
menciona, contudo, como medida benéfica ao réu que não provocou a comoção, ou seja,
como circunstância atenuante e, jamais, como situação menos benéfica na qual tenha o
réu, nesse contexto, as suas garantias ao devido processo legal reduzidas ou moduladas,
como, a título de ilustração, pressupostos processuais relaxados para um positivo juízo de
admissibilidade da ação penal pública ou, ainda, a relativização da absoluta obrigação
estatal de provar o alegado), quer dizer, mesmo sem qualquer prova ou evidência da sua
participação em qualquer ato depredatório e de violência, bem como de incitação a
qualquer modalidade de violência ou ato tipificado criminalmente, CLERISTON
PEREIRA DA CUNHA (VÍTIMA) foi tornado réu na Ação Penal nº 1.055
(numeração única dos autos: 0075777-96.2023.1.00.0000), a qual respondia preso
desde o fatídico 8 de janeiro por ordem do Excelentíssimo Senhor Ministro
ALEXANDRE DE MORAES.

REITERE-SE: A PRESENTE AÇÃO NÃO VAI QUESTIONAR,


DESAFIAR OU DEBATER academicamente a eventualidade de um crasso desprezo às
regras processuais que tenha levado a Procuradoria-Geral da República (PGR), então sob
o comando do Excelentíssimo Senhor Doutor Augusto Aras, a denunciar, perante este
Excelso Tribunal, mais de mil e trezentos cidadãos brasileiros que não gozavam – nem
gozam – do foro especial por prerrogativa de função, seja porque não enquadrados nas
hipóteses constitucionais numerus clausus seja pela inexistência de qualquer corréu
constitucionalmente “privilegiado” também denunciado (pois, ante a concordância deste
Excelso Colegiado com a tese do Ministro Relator que reconheceu a competência deste
Guardião da Constituição alegando existirem investigados inseridos no rol de autoridades
que gozam do foro especial por prerrogativa funcional, conforme a regra de atração
explicitada na vigente Súmula nº 704, de 13 de outubro de 2003, deste E. STF, somente
“não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados”; isto é, deve existir também denúncia formalizada contra

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o sujeito “privilegiado”, não bastando seja ele tão somente investigado); não conterá esta
ação conjecturas sobre insanáveis nulidades processuais dessas denúncias, uma vez que
originadas de um relatório policial revelado nulo em razão do surgimento (descobrimento
mediante vazamento à imprensa) de imagens – em um momento que significativa parte
das denúncias já havia sido apresentada e aceita por este Pretório Excelso – que mostram
cenas, até então, nunca mencionadas com personagens jamais ouvidos pelos
investigadores até então – afinal, como poderá gozar de qualquer validez jurídica um
relatório que, jogando por terra qualquer ideia de respeito à cadeia de custódia, conclui
um investigação que não investigou elementos de prova essenciais disponíveis?

Deveras, (i) apesar do indelével ensinamento jurídico de que nulidade não se


convalida; (ii) a despeito da eventual suspeita de afronta ao Princípio do Juiz Natural,
que, a priori, poderia representar verdadeira condenação de todos os denunciados – em
sua maioria, (iii) presos em flagrante aos quais foi negado o gozo do aparentemente
intransponível direito à audiência de custódia (evento jurídico que, se não acontece dentro
das vinte e quatro horas sequenciais ao recolhimento e se, neste mesmo tempo do evento,
não se decidir sobre a liberdade ou não do preso mediante conversão de modalidade
prisional, não passa de um odioso e tirânico simulacro) – através da (iv) frustração do
direito ao habeas corpus, estandarte do Estado Democrático de Direito na História da
Civilização, e da (v) negativa ao duplo grau de jurisdição; (vi) descartando discutir, aqui,
a eventualidade de um injustificável descarte do duplo requisito básico para a decretação
da prisão preventiva, qual seja, o fumus comissi delicti indissociável ao periculum in
libertatis (e, por tabela, o desprezo às muitas medidas intermediárias e preferenciais
elencadas no Código de Processo Penal); (vii) desconsiderando, ainda, qualquer
argumentação no sentido da inexistência, no ordenamento jurídico brasileiro, de
quaisquer implicações processuais menos benéficas ao réu nos chamados “crimes
multitudinários”, razão pela qual também não serão imperiosas quaisquer indagações
acerca (viii) de uma impensável violação ao princípio da legalidade, em especial na seara
criminal, a requerer, de maneira intransponível e incontornável, a existência da sua
previsão legal prévia, escrita e estrita; deixando de lado também (ix) qualquer notícia
suspeita que alegue uma constante afronta às prerrogativas dos advogados dos
denunciados, que teriam sido prejudicados, desde o acesso aos elementos da investigação
até as apresentações e apreciações das suas defesas, ao longo de toda a persecução
criminal; em suma, em que pesem todas essas questões, aqui, meramente

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mencionadas, NENHUMA DELAS SE CORRELACIONA COM A PRESENTE
AÇÃO PENAL; NADA DISSO TEM CORRELAÇÃO TANTO COM A CAUSA
DE PEDIR QUANTO COM O PEDIDO QUE, AO FINAL, SE VAI APRESENTAR.

Do mesmo modo, importa destacar, desde já, que, EM NENHUM MOMENTO


DESTA AÇÃO, SE VAI BUSCAR DEBATER OU LUCUBRAR SOBRE O
ESTADO DE INOCÊNCIA OU DE CULPA OU DE DOLO COMPROVADOS OU
VIRTUAIS DA VÍTIMA OU DE QUEM QUER QUE SEJA... A não ser, é claro do
Excelentíssimo Senhor Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

Tampouco importa, ou seja, é irrelevante para o objeto do presente instrumento se


a vítima dos tipos penais que se vai noticiar foi um indivíduo injustiçado ou perigoso, um
cidadão inocente ou culpado e, se culpado, se a sua pena seria, ao final de seu julgamento,
leve ou pesada. Mesmo que fosse a vítima, ad argumentandum tantum, o mais culpado
dos réus do 8 de janeiro, o mais sórdido dos acusados, o mais punido dentre os
condenados, o mais condenável de todos os demais infratores, nem isso seria capaz de
apequenar ou de apagar os crimes que se vai aqui apresentar.

Nada disso, enfim, importa: A CONDIÇÃO DA VÍTIMA É, NO CASO EM


TELA, TÃO SOMENTE A DE VÍTIMA.

Ignore, portanto, Vossa Excelência, todos os fatos acima mencionados... Chame-os


de controvérsias... Tanto melhor: Supere-os. Afinal, a existência ou inexistência deles é
prescindível e, em nada, interferem na indubitável, incontestável e insuperável
necessidade da imediata e urgente resposta jurídica que, como medida de justiça exigida
por toda a sociedade diante de um corpo cuja vida lhe foi ceifada injustamente – causa de
pedir acoplada a um nexo causal que se subsume em três tipos penais – se vai, aqui,
requerer oportunamente.

Indubitável! Incontestável! Insuperável! Urgente! A presente ação merece tais


qualificações (e todas as exclamações) seja por sua gravidade seja em razão do seu
simbolismo seja, por fim, em decorrência do seu ineditismo: Não há, na História do
Brasil, registro algum de julgamento contra um Ministro deste E. STF por crime
comum. Aliás, no campo dos crimes comuns, este E. STF também nunca teve
nenhum dos seus Ministros sequer sob investigação.

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Nesse diapasão, porque se vai tratar, aqui, do cometimento de infrações penais por
um Ministro deste E. STF, é de se salientar que, em virtude da comoção nacional gerada
pelo caso doravante pormenorizado, caso surjam, quantos forem, ações penais populares
e pedidos parlamentares instrumentalizados nos dispositivos da Lei nº 1.079, de 10 de
abril de 1950, nada terá o condão de obstruir, impedir, sobrepor ou anular as medidas
aqui, ao final, requeridas, uma vez que, ensina o Professor EUGÊNIO PACELLI, “a
ilicitude, enquanto contrariedade do fato à norma de direito, pode estender-se a diversos
ramos do mesmo ordenamento, podendo um único fato constituir tanto a ilicitude penal
como a civil, administrativa e disciplinar, para citar apenas algumas.” (Curso de Processo
Penal, 18. ed., Atlas, 2014, p. 125)

Dessa maneira, ainda destaca o Mestre Processualista, “a sanção prevista para os


chamados crimes de responsabilidade limita-se a impor a pena de perda do cargo público
e proibição de seu exercício por prazo certo, não guardando pertinência com a natureza
da sanção criminal.” E, nesse sentido, conclui: “Os crimes de responsabilidade, quando
não tipificados também como crimes comuns, não têm a dimensão coletiva e difusa
própria dos interesses do Direito Penal, no que se refere aos bens selecionados para a
necessária tutela” (Idem, loc. cit.).

Tal observação se faz pertinente diante da titularidade constitucional e


originariamente privativa da PGR – admitindo-se, nos termos do artigo 5º, LIX, da
Constituição da República e do artigo 29 do Código de Processo Penal, ação privada nos
crimes de ação pública se esta não for intentada no prazo legal, este fixado em 15 dias
conforme o § 5º do artigo 39 da mencionada codificação – no âmbito das ações penais
propriamente ditas [cuja natureza jurídica é de ação condenatória], titularidade que não
se replicou à seara dos chamados crimes de responsabilidade [ação de natureza jurídica
(des)constitutiva], garantindo-se, via de consequência, a mais absoluta independência
processual entre uma modalidade de crime e outra, inclusive na hipótese de cada um deles
originar-se de um mesmo ato jurídico, o que é também irrelevante na esteira do
ensinamento de PONTES DE MIRANDA, pois “o ato jurídico, qualquer que seja, que é
elemento do suporte fático de regra jurídica penal, está num setor e penetra no outro,
como quem residisse numa zona da cidade e instalasse outra residência noutra zona”
(Tratado das Ações, RT, 2016, p. 439, t. V).

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Em resumo, apesar de entrelaçado com os acontecimentos e crimes do 8 de
janeiro de 2023, é importante repisar que o fato criminal que se vai noticiar é dele
independente, absolutamente autônomo, de maneira que a sua análise não pode ser,
sob nenhum argumento, contaminado pelas paixões que incendeiam os debates
sobre o citado e lamentável evento ocorrido nesta Praça dos Três Poderes.

3. DOS FATOS QUE ATRIBUEM AO MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES A INTEIRA
RESPONSABILIDADE PENAL PELA MORTE
DA VÍTIMA

Retomando o que já se disse a título de contextualização histórica, o pequeno


empresário de vida simples e pai de família sem antecedentes criminais CLERISTON
PEREIRA DA CUNHA (VÍTIMA) foi preso em “flagrante” apenas por estar nas
imediações da Praça dos Três Poderes no fatídico dia 8 de janeiro de 2023 e, desde então,
nunca mais deixou a prisão.

“Preventivamente” preso, foi tornado réu na Ação Penal nº 1.055 (numeração única
dos autos: 0075777-96.2023.1.00.0000) sob a Relatoria do Excelentíssimo Senhor
Ministro ALEXANDRE DE MORAES (DOC. 10) que ordenara – sem jamais justificar
e nunca a reexaminar na forma da Lei – o seu recolhimento na citada unidade prisional.

Duas semanas após CLERISTON completar, na prisão, 46 anos de idade, o seu


advogado de defesa requereu ao Ministro ALEXANDRE DE MORAES, em petição
protocolada no dia 3 de agosto de 2023 (DOC. 11) na qual esclareceu e comprovou ao
Ministro Relator a gravidade da sua condição clínica – da sua saúde frágil a requerer,
antes mesmo do seu recolhimento em flagrante, acompanhamentos e procedimentos
médicos especializados –, a liberdade provisória ou, subsidiariamente, a conversão da
prisão preventiva em domiciliar.

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Insista-se: O seu delicado estado de saúde preexistente e persistente desde seu
recolhimento se agravava e, portanto, CLERISTON não poderia estar, ab initio, no já
referido centro de detenção.

De qualquer maneira, uma vez que já estava PRESO PREVENTIVAMENTE HÁ


QUASE 210 DIAS, a petição de 3 de agosto de 2023 provocava também o Ministro
Relator, na forma da lei processual penal (CPP, art. 316, parágrafo único), ao reexame
imediato (dada a sua obrigatoriedade a cada 90 dias mediante, conforme decidiu este
Excelso Pretório, provocação da defesa do preso) da medida sob pena de, assim não
procedendo, predicá-la como medida manifestamente ilegal.

Na mencionada peça, esclareceu e comprovou ao Ministro Relator que:

“O requerente possui a sua saúde debilitada em razão da COVID 19, que lhe
deixou sequelas gravíssimas, especificamente quanto ao sistema cardíaco, conforme
laudo médico anexo. Esse fato deve ser entendido como uma situação elencada no
art. 318, II, do CPP (...).
(...)
É de extrema importância informar, que recentemente a médica responsável pelo
acompanhamento do paciente, solicitou exames necessários (doc. Anexo) para
assegurar a saúde do acusado, todavia, não pôde comparecer aos exames
solicitados, devido a prisão preventiva, e vem convivendo em local degradante e
insalubre, e que estas condições podem acarretar em complicações fatais para o
paciente, ora acusado.
Nesse sentido notório que a segregação prisional tem sido prejudicial a saúde
ao referido uma vez que a conjugação dos tais tratamentos também se faz necessário
em conjunto com medicação prescrita.
Há que se falar também da debilidade física em que o acusado se encontra desde
a sua traumática prisão”. (DOC. 11)

Antes mesmo do petitório de 3 de agosto, tanto na audiência de instrução e


julgamento de 26 de junho de 2023 (QUANDO JÁ PRESO PREVENTIVAMENTE
HÁ QUASE 180 DIAS) quanto na audiência de continuação no dia 31 de julho seguinte
(QUANDO JÁ PRESO PREVENTIVAMENTE HÁ MAIS DE 200 DIAS), tanto a
própria VÍTIMA, então na condição de ré, quanto a sua defesa salientaram a necessidade,
em decorrência das suas sérias condições de saúde preexistentes ao cárcere, de
medicamentos vitais que, desde janeiro, não vinham sendo oferecidos no Centro de
Detenção; remédios controlados que, por isso, eram frequentemente trazidos por sua
esposa com todas as dificuldades inerentes às oportunidades das visitas. Sem contar que,

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no recolhimento, não a vítima não contava com acompanhamento médico necessário nem
podia realizar os exames hospitalares necessários à sua sobrevivência.

O risco de morte com a prisão de CLERISTON, aliás, já havia sido alertado poucos
dias após o seu recolhimento pela médica reumatologista do Hospital Regional de
Taguatinga, Dra. TANIA MARIA LEITE ANTUNES, que, formalmente, registrou em
dois relatórios (logo em 30 de janeiro e, após, no dia 27 de fevereiro de 2023) o quanto
segue: “Em função da gravidade do quadro clínico, risco de morte pela
imunossupressão e infecções, solicitamos a agilidade na resolução do processo legal
do paciente”.

Tudo isso foi retomado, é claro, na descrita petição protocolada em 3 de agosto de


2023 e, na mesma data, os autos restaram conclusos ao Ministro ALEXANDRE DE
MORAES (DOC. 10, p. 6), que, somente no dia 25 do mesmo mês – isto é, 22 dias depois
(QUANDO JÁ PRESO PREVENTIVAMENTE HÁ QUASE 230 DIAS SEM QUE,
EM NENHUM MOMENTO, FOSSE OBSERVADO O PRAZO LEGAL DE 90
DIAS PARA A REVISÃO DA PRISÃO PREVENTIVA) – intimou a Procuradoria
Geral da República (PGR) para manifestação.

A PGR, por seu turno, além de considerar a gravidade e a urgência do quadro fático
de saúde exposto e comprovado, acompanhou o pedido da defesa e concluiu pela
necessidade da imediata liberdade provisória de CLERISTON, inclusive porque,
argumentou:

“o término das audiências para oitiva das testemunhas de acusação e


defesa e a realização do interrogatório de CLERISTON PEREIRA DA
CUNHA configuram importante situação superveniente que altera o
cenário fático até então vigente, evidenciando que não mais se justifica a
segregação cautelar”.

O parecer citado foi protocolado nos autos da Ação Penal nº 1.055 no dia 1º de
setembro de 2023 (DOC. 12).

PROTOCOLADO O PARECER DA PGR, ELE FOI, NO MESMO DIA,


LEVADO AO CONHECIMENTO DO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES

13
(DOC. 10, p. 5). LAMENTAVELMENTE (FATALMENTE TAMBÉM), O
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES PREVARICOU.

Ignorado pelo Ministro Relator, o advogado de CLERISTON voltou a peticionar


nos circunscritos autos chamando a atenção para a concessão da liberdade provisória no
dia 7 de novembro de 2023 (QUANDO JÁ SE ENCONTRAVA PRESO
PREVENTIVAMENTE HÁ QUASE 300 DIAS! – DOC 14).

CLERISTON, antes mesmo do 8 de janeiro, já havia sido diagnosticado com


vasculite múltiplos vasos e miosite secundária. Em 2022, por exemplo, ele ficara
internado por 33 dias para tratar complicações do estado de saúde. Desde que foi preso,
em janeiro de 2023, sua sobrevida estava condicionada ao uso contínuo de medicamentos
controlados para diabetes e hipertensão. Sua saúde, ao longo dos mais de 300 dias preso
foi se deteriorando.

Ignorada a necessária liberdade provisória (porque assim determina a lei: tanto em


razão do grave estado de saúde quanto do necessário reexame da sua modalidade prisional
a cada 90 dias) pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES, CLERISTON, a VÍTIMA,
durante o banho de sol da manhã de um segunda-feira, dia 20 de novembro de 2023 (81
dias após o parecer favorável à sua liberdade provisória) MORREU (DOC. 04).

MORREU! DEPOIS DE 311 DIAS COMO UM PRESO PROVISÓRIO


AO QUAL FOI NEGADO, POR 3 VEZES, O REEXAME DA SUA PREVENTIVA.

MORREU! APÓS LONGOS E INJUSTIFICÁVEIS 81 DIAS DO

PARECER DADO PELA PGR FAVORÁVEL À LIBERDADE PROVISÓRIA


REQUERIDA.

MORREU! PORQUE LHE FOI NEGADO O DIREITO DE TER

DIREITOS PELO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, QUE, NEGANDO


VIGÊNCIA AO DIREITO, DESAFIOU, ASSIM, A ORDEM JURÍDICA
NACIONAL.

Não bastasse ter morrido, a VÍTIMA – tratada como cidadão pouco no último ano
da sua pouca vida, reduzida a pessoa pouca, indigna, e, privada dos seus direitos,

14
diminuída, ainda, à condição de sombra, isto é, de um ser destinado a ser apagado –,
mesmo assim, ou seja, já a se decompor em cova de bom tamanho para pouco defunto,
segue desrespeitada: MORTA HÁ MAIS DE 70 DIAS, CAUSA ESTRANHEZA
QUE, AINDA NESTA DATA, O ESCLARECIMENTO ACERCA DA CAUSA DA
SUA MORTE EM SUA CERTIDÃO DE ÓBITO (DOC. 04) NÃO TENHA SIDO
REVELADA... Estaríamos nós retomando as práticas dos Anos de Chumbo do Regime
Militar?

Lastimável. Todavia, qualquer que tenha sido a causa da sua morte, ela não importa:
A morte ocorreu em prisão preventiva manifestamente ilegal e sob a inteira
responsabilidade do Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

Lastimável, mas intolerável, de maneira que a VÍTIMA não poderá ser tratada da
mesma maneira que o Alberto da Silva de Ferreira Gullar, cuja notícia da morte não saiu
em jornal algum, pois “foi apenas a morte de um homem comum” (GULLAR, Ferreira,
Toda Poesia, Rio de Janeiro, José Olympio, 2015, p. 252); nem seja dito, como no mesmo
triste poema

Não foi nada demais, claro, o que aconteceu:


Apenas um homem, igual aos outros, que morreu

Caso isso ocorra e não seja o Ministro ALEXANDRE DE MORAES punido nos
rigores da Lei, outra certeza não haverá a não ser a de que a Lei morreu também.

4. DA CONDUTA DOLOSA DO MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES

Os fatos, farta e suficientemente documentados, falam por si e, ao lado dos


fundamentos jurídicos, dispensam a necessidade de inquérito. Destaque-se: a
responsabilidade penal, no caso em tela, decorre inteiramente de matéria de Direito.

É fato público e notório que, desde o primeiro dia da persecução criminal contra
CLERISTON, o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, arrogado na qualidade de

15
Juiz Natural do caso, foi a autoridade responsável pela VÍTIMA vinda a óbito no dia 20
de novembro de 2023.

Nesse sentido, a conduta do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES é


patentemente dolosa, afirmação que se comprova através tanto da sequência dos
acontecimentos quanto das inescusáveis e contumazes violações a dezenas (!) de
dispositivos legais.

Comprovação do dolo diante da sucessão dos fatos


A sucessão dos acontecimentos já seria suficiente para demonstrar que a conduta
aparentemente omissiva do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES foi, na realidade,
comissiva e dolosa diante da consciente intenção de, ao se manter inerte mesmo
provocado (em mais de uma oportunidade) pela defesa da VÍTIMA (então parte ré) e
também obrigado pela letra da lei, prejudicá-las – sim, no plural: Prejudicar tanto a letra
da lei quanto à VÍTIMA e, assim, incorrer nos crimes que serão, oportunamente, descritos
e assumir o risco da sua morte reiteradamente alertada.

A claridade é solar; a didática, a mais inequívoca... Os fatos não permitem outra


conclusão nem deixam sobre ela pairar a mínima sombra de qualquer dúvida sobre o dolo
e as tipicidades decorrentes da conduta reiterada e, portanto, contumaz do MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES a clamar, em nome da Justiça, por sua responsabilização
penal. Vejamos:

I. Desde o dia 9 de janeiro de 2023, CLERISTON esteve “preventivamente”


preso por ordem do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES.

II. Nos dias 30 de janeiro e 27 de fevereiro de 2023, durante o curso do


inquérito junto à Polícia Federal sob a supervisão jurisdicional do
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, a DRA. TANIA MARIA
LEITE ANTUNES alertou para o estado de saúde crítico de CLERISTON
(preexistente ao seu recolhimento) e pontuou, formalmente e em razão da
abrupta interrupção do seu tratamento, de maneira direta e inequívoca, o

16
risco de vida a que a prisão o expunha (prognóstico que nunca foi
contestado quer pelas autoridades policiais responsáveis pela
investigação quer por aquelas incumbidas do encarceramento quer
pelos membros do Ministério Público). Ipsis verbis:

III. Em 17 de maio de 2023, a Ação Penal nº 1.055 foi autuada no STF sob a
relatoria do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES.

IV. No dia 31 de maio de 2023, protocolada a defesa através da petição nº


55820/2023, o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, Relator, tem
ciência da particularíssima situação da VÍTIMA (DOC. 10, p. 13-14).

V. Em 26 de junho e 31 de julho de 2023, durante as audiências,


respectivamente, de instrução e julgamento e de continuação, a própria
VÍTIMA, conforme vídeo registrado nos autos da AP nº 1.055, retomou a
questão do estado crítico da sua saúde incompatível com os cuidados
oferecidos no cárcere e a interrupção do tratamento a que vinha sendo

17
submetida (mais uma vez, o prognóstico não foi contestado quer pelas
autoridades policiais presentes quer pelos membros do Ministério
Público quer pela Magistr5ada que presidia as audiências).

VI. No dia 18 de julho de 2023, os autos do processo, no qual já constavam


as comprovações do risco de vida ao qual CLERISTON estava exposto em
razão da sua frágil condição médica, foram encaminhados para a análise
pessoal do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (DOC. 10, p. 7).

VII. Todavia, em 24 de julho de 2023, ignorando por completo o grave risco


de dano iminente com resultado de morte ao qual CLERISTON estava
exposto, uma questão inegavelmente humanitária, o MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES tão somente determinou o seguinte:
“DESIGNO AUDIÊNCIA DE CONTINUAÇÃO DA INSTRUÇÃO (...)
a ser realizada por videoconferência e presidida pela Juíza Auxiliar deste
Gabinete, Larissa Almeida Nascimento (...). (...) FICANDO
INDEFERIDA, desde já, a inquirição de testemunhas meramente
abonatórias, cujos depoimentos deverão ser substituídos por declarações
escritas.” (DOC. 14)

VIII. No dia seguinte, 25 de julho de 2023, foi publicado o citado despacho


que revela o desprezo do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
pela condição humana de CLERISTON não somente por (a) ignorar seu
quadro clínico bastante grave, mas, principalmente, por (b) impedir o
contato físico de um réu debilitado e a ponto de perder a vida tanto com a
Juíza convocada para a audiência de continuação quanto com o Eminente
Membro desta PGR ali presente (Nobres Operadores do Direito e da
Justiça que, não fosse a audiência por videoconferência, poderiam
averiguar a miserabilidade física em decorrência do diabetes e da
hipertensão do réu); além disso, ao proibir a presença de testemunhas
abonatórias (que falariam acerca da vida do réu e não sobre os fatos direta
e estritamente ligados às condutas criminais a ele imputadas), (c) o
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES proibiu também, par ricochet,
que qualquer médico relatasse, diante da Juíza e do Eminente Membro

18
desta PGR, o risco de vida a que o réu estava exposto – determinação, no
caso em tela, de uma perversidade atroz e incompatível não apenas com o
Poder Judiciário, mas com a própria Humanidade (DOC. 10, p. 6).

IX. No dia 3 de agosto de 2023, exatamente às 14 horas, 39 minutos e 20


segundos, a defesa de CLERISTON juntou aos autos da AP nº 1.055 a
petição de nº 83277/2023, através da qual apresentou o pedido de liberdade
provisória e, dentre os seus fundamentos, acostou documentos médicos
que comprovavam o risco de vida caso continuasse preso (DOC. 11).

X. No mesmo dia 3, em virtude dessa petição, os autos do processo foram


encaminhados para a análise do MINISTRO ALEXANDRE DE
MORAES, que, ao menos agora e com toda certeza (por truísmo,
absoluta), de maneira formalmente comprovada pelo próprio sistema de
acompanhamento processual do STF, não mais poderia ignorar as graves
condições de saúde do réu e, desde então, é inequívoco que sabia da
decisão a ser tomada (DOC. 10, p. 6).

XI. O MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES passou 22 dias em


silêncio e, inexplicavelmente inerte, sequer adotou o procedimento de
praxe, qual seja, o de encaminhar o pedido para parecer da PGR de
forma imediata (praxe que se comprova diante da celeridade adotada
no encaminhamento das petições da POLÍCIA FEDERAL nos
mesmos autos – DOC. 10). Crueldade talvez? Ou indesculpável
rompimento dos princípios processuais da imparcialidade do juiz e da
paridade entre as partes?

XII. Em 8 de agosto de 2023, a conduta do Ministro ALEXANDRE DE


MORAES se comprovada dolosa de forma cabal quando, compulsado os
autos da AP nº 1055 – que, na oportunidade, continha o citado pedido da
defesa da VÍTIMA, então ré, de 3 de agosto como último ato processual,
isto é, quando sendo impossível alegar, dentre tantas folhas autuadas, ter
passado desapercebida a petição com alerta de vida ou morte da VÍTIMA
–, profere tão somente o despacho para a apresentação de alegações finais,
uma vez que, argumenta o próprio Ministro, “não foram apresentados

19
quaisquer pedidos pela Procuradoria-Geral da República ou pela Defesa.”
(DOC. 15)

XIII. Foi apenas no dia 25 de agosto de 2023, que o MINISTRO ALEXANDRE


DE MORAES liberou os autos do processo da sua conclusão e, assim, deu
vista à PGR para que se manifestasse quanto ao pedido de liberdade
provisória assistida da defesa (DOC. 10, p. 6).

XIV. Louvavelmente célere e humana, a DD. PGR tomou conhecimento do


pedido da defesa e preparou seu parecer em apenas 4 dias. Na mesma
semana em que recebeu a intimação para analisar o pedido de liberdade
provisória, a Instituição à frente do Ministério Público da União, no dia 1º
de setembro de 2023, às 13 horas, 3 minutos e 4 segundos, protocolou,
nos autos da discutida ação penal, o seu parecer favorável ao pedido (a)
tanto em razão do grave quadro de saúde do réu (agora VÍTIMA) (b)
quanto pelo esgotamento de qualquer justificativa legal para a manutenção
da prisão preventiva (Petição nº 97359/2023 – DOC. 12).

XV. No mesmo dia 1º de setembro de 2023, em virtude do parecer desta PGR,


os autos do processo foram encaminhados para a análise do MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES (DOC. 10, p. 5).

XVI. Na posse dos autos, o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES passou


mais 60 dias em injustificável silêncio, já que a lei manda priorizar
casos em que existe risco de vida... Ora, a lei...

XVII. Em 31 de outubro de 2023, dolo e maldade do MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES contra a VÍTIMA, mais uma vez, se
comprovam de forma inequívoca: Bastou apenas 4 dias para que o
MINISTRO despachasse, mesmo como praxe (e a comprovar a praxe do
imediatismo nesse tipo de despacho; o que demonstra que os 22 dias frente
a uma petição da defesa foram propositais), acerca de uma petição da
Polícia Federal protocolada no dia 27 imediatamente anterior. Todavia,
nenhuma palavra sobre o pedido da defesa avalizado pelo parecer da PGR.

20
XVIII. Em desespero, no dia 7 de novembro de 2023, a defesa protocolou a
petição nº 123848/2023, na qual, com letras garrafais, suplicou pela
apreciação de todos os pedidos de liberdade assistida que, até então,
vinham sendo ignorados, injustificável e categoricamente, pelo
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES.

XIX. No mesmo dia 7 de novembro de 2023, 83 dias após o derradeiro pedido


de liberdade provisória e 68 dias depois da obtenção do parecer
favorável da PGR arrazoando que a prisão preventiva do réu não mais
gozava de nenhuma juridicidade, ou seja, era MANIFESTAMENTE
ILEGAL nos termos do parágrafo único do artigo 316 de CPP, os autos do
processo foram encaminhados, novamente, para a análise do MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES.

XX. MAS O MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, CONTRA TUDO


AQUILO QUE A BOA-FÉ ENSINA E O DIREITO MANDA,
CONTINUOU A DESPREZAR A QUESTÃO. 83 DIAS MAIS 1, 2,
3... 7 DIAS... 13 DIAS INSISTINDO EM (1) MAL-TRATAR, (2)
TORTURAR O RÉU (AGORA VÍTIMA) E (3) ABUSAR DA SUA
AUTORIDADE AO SE OMITIR, OU MELHOR, (4)
PREVARICAR... SERIAM MAIS QUE 13 DIAS,
PROVAVELMENTE SE CLERISTON, ENTÃO RÉU E, AGORA,
VÍTIMA, NÃO TIVESSE MORRIDO PELOS EXATOS MOTIVOS
QUE FUNDAMENTAVAM A SUA LIBERDADE PROVISÓRIA.

XXI. CLERISTON morreu na manhã do dia 20 de novembro de 2023 (DOC.


04) em decorrência das complicações do seu estado de saúde; morreu
conforme previsto, por sua médica, desde de janeiro de 2023 quando não
compareceu ao hospital público para dar continuidade ao seu tratamento;
morreu conforme já se alertava, há muito, nos autos do processo; morreu
pelos motivos demonstrados e comprovados no pedido de 3 de agosto de
2023; morreu a despeito do reconhecimento do risco desse resultado pela
PGR em 1º de setembro de 2023 e, dúvida não há, pelo próprio Relator da
AP nº 1055, o Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

21
XXII. Em resumo, CLERISTON MORREU TORTURADO, PORQUE O
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, ABUSANDO DO SEU
PODER, ASSUMIU, INDEPENDENTEMENTE DE TER QUERIDO
ESSE RESULTADO MORTE, O RISCO DESSA MORTE
INDIGNA. CLERISTON, PROVAVELMENTE, AINDA ESTARIA
VIVO E AO LADO DA SUA ESPOSA E DAS SUAS DUAS FILHAS
SE GOZASSE DO PRIVILÉGIO DE UM JUIZ JUSTO,
IMPARCIAL, EMPÁTICO E CONHECEDOR DO DIREITO.

XXIII. Por derradeiro, hoje, dia 2 de fevereiro de 2024, passados mais de 70 dias
da morte da VÍTIMA, merece destaque algo muito suspeito e que, Deus
nos livre dessa suspeita, cheira a fraude processual nos moldes do
parágrafo único do artigo 347 do Código Penal brasileiro: Morta e
sepultada a VÍTIMA, o Poder Público ainda insiste em não esclarecer a
causa mortis em certidão de óbito (DOC. 04).

XXIV. Todavia, cumpre esclarecer que, independentemente do que se venha a


anotar no campo “causa da morte” da certidão de óbito da VÍTIMA, uma
vez que, no momento do falecimento, encontrava-se ela em situação de
prisão manifestamente ilegal e de responsabilidade do Ministro
ALEXANDRE DE MORAES, a quem, independentemente de querer o
resultado, recai a responsabilidade pelo resultado morte, apesar de
condenável a suspeita de uma espécie de fraude processual para efeito de
inovar, artificiosamente, processo penal ainda não iniciado, tal conduta
seria, juridicamente, inútil... Se é que o Direito brasileiro ainda vale – o
que saberemos, positivamente, com o acolhimento, conhecimento e
autuação desta ação penal contra o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES.

Apresentada a sequência dos fatos que demonstram as reiteradas condutas


antijurídicas e inexcusáveis assumidas pelo MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
ao ignorar, deliberadamente, os pedidos da defesa, bem como em retardar, de forma
proposital, a movimentação processual quando se tratava de petição da defesa (o que não

22
ocorreu, por exemplo, com petições da Polícia Federal), ao lado, é claro, das suas mais
estritas obrigações legais como juiz – talvez, até mesmo, das universais obrigações como
ser humano –, o dolo da sua conduta criminosa travestida de ato jurisdicional privativo
de um magistrado parece inquestionável.

Ensina PONTES DE MIRANDA, Mestre de todos nós:

Quando se fala de ato criminoso, alude-se a ato que pode ser complexo, plúrimo,
e não único, razão por que acertado fora BALDO DE UBALDIS, quando cuidou da
L. 4, C., de fugitivis servis et libertis, 6, 1, e escreveu: “non coacervatione, ut lapides
acervum, sed vera substantia, ut syllabae dictionem unum”.
Também se há de por de parte a necessidade de referência a esforço interno (cf.
BLONDEL, L'Azione, II, 178), bem assim a ligação inexceptuada à vontade, pois a
omissão, o ato negativo, pode ser simplesmente lesivo, sem ter sido voluntário. O
sistema jurídico é que estatui sobre a entrada do efeito do comportamento no mundo
jurídico (cf. AUGUST KÖHLER, Die Grenzlinien zwischen Idealkonkurrenz und
Gesetzkonkurrenz, 16; e FRANCESCO ANTOLISEI, L'Azione e l'Evento nel reato,
37). A lei é que aponta os fatos que se consideram crimes, por suporem inação. Trata-
se, então, de fatos jurídicos ilícitos stricto sensu, que de modo nenhum se podem
confundir com os atos jurídicos ilícitos, ou com os atos-fatos jurídicos ilícitos. Nos
atos jurídicos ilícitos estão incluídos negócios jurídicos, mas tem-se de advertir que
esses entram no setor penal do mundo jurídico como atos ilícitos, o que infelizmente
não se tem frisado. As divergências que surgiram (por exemplo, entre os que negam,
peremptoriamente, que o negócio jurídico possa ser ato ilícito criminoso, como B.
WINDSCHEID, Lehrbuch, 1, 869, nota 1, 9° ed., 310 s., e E. FLORIAN, Diritto
Penale, Parte Generale, n. 290, e os que sustentam a afirmativa, como HEINRICH
DERNBURG, Das bürgerliche Recht des deutschen Reichs und Pressens, I, § 123,
e FRANCESCO CARNELUTTI, Teoria generale del Reato, 27), resultaram de não
se distinguir o suporte fáctico da regra jurídica penal e o delito. O negócio jurídico
pode estar, válido ou não, no suporte fáctico de regra jurídica que diz, com os
elementos componentes, haver o crime. Daí ser absurdo pretender-se ser
impossível que um mesmo fato se apresente como negócio jurídico e como crime
(e.g., RAUL ALBERTO FROSALI, Sistema Penale Italiano, I, 209). São frequentes
os casos. Vamos aos exemplos: o procurador da empresa, que tem poderes para
determinado contrato, ou determinados contratos, recebe ordem de não o concluir,
por ter havido revogação, mesmo se já ocorrera contato com o terceiro, e assina o
documento (negócio jurídico válido, mas, como ato negocial criminoso, entrou no
setor penal do mundo jurídico); pessoa casada, que se diz solteira, casa-se com a que
acreditou no que dizia e assinou o ato de casamento (negócio jurídico nulo, que passa
ao setor penal do mundo jurídico). O ato jurídico, qualquer que seja, que é elemento
do suporte fáctico de regra jurídica penal, está num setor e penetra no outro, como
quem residisse numa zona da cidade e instalasse outra residência noutra zona. O ato
jurídico (não só o negócio jurídico) pode ser o elemento único do ato delituoso
ou ser um dos elementos, mas a primeira espécie dificilmente pode ocorrer, por
ser, quase sempre, um deles o dolo ou a culpa. (Op. cit., p. 438-439, grifamos)

23
Ao tratar dos Defeitos do Negócio Jurídico, na seção específica sobre o dolo, o
artigo 147 do vigente Código Civil brasileiro estabelece que “o silêncio intencional de
uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui
omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.

Mutatis mutandis, pode-se dizer, trazendo o dispositivo civil ao caso concreto, que
o silêncio de um juiz a respeito de uma real e urgente necessidade da parte não pode ser
tratado como uma ignorância acidental, como uma omissão propriamente dita: Porque o
juiz tem a obrigação legal e intransponível de apreciar tal demanda com prioridade, seu
silêncio sempre será intencional, doloso.

Dolo, tanto na Doutrina Civil quanto na Doutrina Penal, é a intenção de agir, é um


expediente, uma estratégia pensada, consciente, astuciosa, subsumida em determinada
prática divorciada da boa-fé, dos bons costumes, das boas práticas e dos deveres legais.

O CÓDIGO PENAL define, no inciso I do seu artigo 18, o crime doloso como
aquele em que “o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Mais ainda,
a fim de que não restem dúvidas nem escusas quanto ao dolo, convém realizar a leitura
conjunta do artigo 18 com o artigo 13:

“Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a


quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido.
(...)
§ 2º. A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;” (Destacamos)

Disso resulta que, se o dever de agir incumbe a quem esteja obrigado pela lei, toda
conduta omissiva praticada por aquele que tem o dever legal da conduta comissiva será
considerada uma conduta dolosa. Mesmo inexistindo o desejo do resultado criminoso
decorrente de um mal maior que se abata sobre o beneficiário da ação (a morte por
qualquer motivo que decorra da desassistência) do legalmente obrigado a ela (a
assistência ao beneficiário), este (o legalmente obrigado) assume o risco da
superveniência desse resultado.

24
Comprovação do dolo em razão da consciente e contumaz violação do Direito

A conduta do Ministro ALEXANDRE DE MORAES, ao longo de todo o período


da prisão preventiva da VÍTIMA, foi ativa, dolosa e, por isso, conscientemente, sua
conduta se subsumiu aos tipos penais que serão, oportunamente, elencados e descritos,
bem como, portanto, assumiu o risco do resultado da morte da VÍTIMA.

Diante de um imperativo legal certo que obriga o seu destinatário nele definido à
tomada de uma ação determinada, o ato de ignorar o conteúdo normativo e não proceder,
assim, conforme o seu comando incontornável revela, definitivamente, uma escolha do
destinatário; este escolhe entre agir conforme o dever normativo ou escolhe infringir a
lei, revelando sobrepor ao Direito um elemento da própria vontade após o cálculo do risco
inerente à escolha: partindo do pressuposto sentimento de que não se quer obedecer a lei
escrita e estrita previamente existente e válida, a escolha em negar vigência a ela pode até
aparentar tratar-se de uma omissão, mas, juridicamente, não pode ser outra coisa senão
uma ação comissiva.

Juridicamente – em especial para fins de responsabilidade penal –, só se pode pensar


em omissão (situação que, em princípio, elidiria o dolo e levaria a discussão para o campo
da culpa) diante da licitude da não execução de determinada conduta. Inclusive porque,
conforme mencionou-se anteriormente, o Código Penal brasileiros, em seus artigos 13 e
18, dispõe, de modo inequívoco que a omissão é penalmente relevante quando o omitente
devia e podia agir para evitar o resultado, sendo que o dever de agir incumbe a quem
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. Nesse sentido, a inação diante
da obrigação legal, portanto, porque imperiosa e intransponível, enquadra a conduta
renitente do Ministro ALEXANDRE DE MORAES como dolosa.

Ora, Excelência, da mesma forma que o Direito nacional não proíbe “matar” (não
existindo, assim, o dever de se omitir de matar; pois matar é ato ilícito por si e informa
que “deixar viver” é um comando de ação implícito no ordenamento – até mesmo porque,
se tratarmos o direito penal como um direito de omissões obrigatórias, aniquilaremos a
ideia do desvalor penal, bem como subverteremos a essência das razões do Direito, uma
vez que isso possibilitaria considerar que, não fossem as proibições convertidas em
obrigações omissivas, a ação seria natural à humanidade), não existe proibição do

25
descumprimento das normas do ordenamento jurídico, mas existem, evidentemente,
consequências!

O cumprimento das obrigações legais, uma vez que é ato jurídico, é comando
implícito para uma ação que decorre da antijuridicidade da ação contrária (o
descumprimento); e nunca uma simples omissão, que é apenas considerada
negativamente, ou seja, como falta (a simples omissão ocorre ou diante da ausência do
dever de agir ou em razão da disposição de faculdade lícita para agir) sem consequências
relevantes, quando a frustração de uma ação interpessoal esperada por alguém era
obrigatória ou permitida pelo ordenamento jurídico. Não se pode cogitar de simples
omissão, imprudência, negligência ou imperícia – em especial quando o agente é dotado
de notável saber jurídico – quando a ação comissiva cogitada é ato lícito e mandatório, o
que faz da não tomada dessa ação um ato antijurídico.

Da mesma forma que “matar”, “não respeitar a lei” nunca deixa, objetivamente, de
ser ato antijurídico, de modo que “não respeitar a lei” frente a “respeitar a lei” tem a
mesma essência de “matar” frente a “não matar”; quer dizer, é ato antijurídico que o
próprio ordenamento circunstancialmente aceita e transforma (em processo que
chamamos de ficção jurídica) em ato jurídico, porque existe um ato antijurídico anterior
que só poderia ser neutralizado imediatamente com outro ato antijurídico de igual
grandeza (como em uma equação matemática na qual a multiplicação de negativo e
negativo resulta em positivo; ou, em um jogo de soma cujo resultado deve ser zero, porque
o direito só transforma um dos negativos em positivo). Assim se opera, a título de
ilustração, a justificação jurídica da legítima defesa, que, porque é sempre um ato
antijurídico no nascedouro, deve provar, para que seja considerada, a antijuridicidade do
ato anterior que se quis neutralizar e a equivalência a ele – de forma que um tiro não é
legítima defesa frente a uma ameaça ou uma surra não pode ser legítima defesa ao
xingamento –, razão pela qual nunca exsurge como dever legal, mas, sempre e
invariavelmente, como permissão legal, ou seja, faculdade. Disso resulta que, porque
estava a VÍTIMA preventivamente presa e porque a obrigação jurídica (matéria exclusiva
de Direito) se endereçava exclusivamente ao Magistrado, na relação entre a VÍTIMA e o
Ministro ALEXANDRE DE MORAES é impossível se cogitar de qualquer forma de
legítima defesa própria, de outrem ou da sociedade brasileira.

26
No caso ora noticiado, mais de 30 dispositivos legais obrigavam o MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES a agir. Contudo, a despeito de todos eles, permaneceu em
sua conduta omissiva – e, nesse sentido, dolosa.

Imaginemos, Excelência, um empregado que tenha 30 patrões: Esses 30 patrões


diferentes fazem o mesmo pedido, idêntico pedido que, atendido, atenderia aos 30
patrões, a esse único empregado. Esse empregado merece o emprego? A resposta é óbvia
demais.

Sendo o Direito nacional o chefe dos operadores do Direito, dentre eles,


especialmente, os juízes e, dentre eles, principalmente, os Ministros deste Pretório
Excelso, temos, aqui, o mesmo caso: Mais de 30 normas legais do Direito nacional
ordenavam o Ministro ALEXANDRE DE MORAES à mesma e única ação... À ação de
apreciar – nem de deferir nem de indeferir, apenas apreciar e se manifestar de acordo com
a lei e com o que está nos autos. Negou-se, como o empregado do nosso exemplo
hipotético, em obedecer a mais de 30 comandos. ALEXANDRE DE MORAES merece
continuar no emprego?

A conduta do Ministro ALEXANDRE DE MORAES, ao longo de todo o período


da prisão preventiva da VÍTIMA, foi ativa, dolosa e, por isso, conscientemente, assumiu
o risco do resultado da sua morte.

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO


Da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pesam contra o Ministro
ALEXANDRE DE MORAES os seguintes dispositivos:

Art. 3o. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Art. 5o. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na
aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e
respostas a consultas.

27
O Decreto-Lei 4.657, de 4 de setembro de 1942, denominado, a partir de 2010,
como Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, determina, em seu artigo 3º,
que “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.” Se a regra vale
para todos os cidadãos brasileiros, mesmo quando analfabetos, e para os estrangeiros aqui
residentes – brasileiros ou estrangeiros que, na qualidade de cidadãos comuns e leigos em
matéria de Direito, certamente desconhecem o corpus do ordenamento jurídico nacional
–, é de obviedade ímpar que nenhum magistrado possa alegar qualquer coisa nesse
sentido.

Em acréscimo, o artigo 5º dessa mesma Lei impõe: “Na aplicação da lei, o juiz
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.” No mesmo
sentido, a regra do artigo 30: “As autoridades públicas devem atuar para aumentar a
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas.”

Também emerge da referida Lei a responsabilidade do MINISTRO ALEXANDRE


DE MORAES no presente caso quando, no artigo 28, estipula o seguinte: “O agente
público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo
ou erro grosseiro.”

CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL


Da leitura do Código de Ética da Magistratura Nacional, pesam contra o Ministro
ALEXANDRE DE MORAES os seguintes dispositivos:

Art. 1º. O exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos deste
Código e do Estatuto da Magistratura, norteando-se pelos princípios da independência,
da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do
segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal,
da dignidade, da honra e do decoro.

Art. 3º. A atividade judicial deve desenvolver-se de modo a garantir e fomentar a


dignidade da pessoa humana, objetivando assegurar e promover a solidariedade e a
justiça na relação entre as pessoas.

Art. 9º. Ao magistrado, no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar às partes


igualdade de tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada discriminação.

28
Art. 20. Cumpre ao magistrado velar para que os atos processuais se celebrem com a
máxima pontualidade e para que os processos a seu cargo sejam solucionados em um
prazo razoável, reprimindo toda e qualquer iniciativa dilatória ou atentatória à boa-fé
processual.

Art. 22. O magistrado tem o dever de cortesia para com os colegas, os membros do
Ministério Público, os advogados, os servidores, as partes, as testemunhas e todos
quantos se relacionem com a administração da Justiça.

Art. 23. A atividade disciplinar, de correição e de fiscalização serão exercidas sem


infringência ao devido respeito e consideração pelos correicionados.

Art. 25. Especialmente ao proferir decisões, incumbe ao magistrado atuar de forma


cautelosa, atento às consequências que pode provocar.

Art. 39. É atentatório à dignidade do cargo qualquer ato ou comportamento do


magistrado, no exercício profissional, que implique discriminação injusta ou arbitrária
de qualquer pessoa ou instituição.

A par disso, a conduta reiterada do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES é


dolosa, pois, evidentemente, contraria o CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA
NACIONAL, editado e aprovado pelo CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) e
em pleno vigor desde 18 de setembro de 2008, data da sua publicação, que exorta todos
os juízes brasileiros à sua fiel observância.

Na qualidade de única autoridade capaz de conceder a liberdade provisória a


CLERISTON, o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES afrontou diversas exigências
feitas pelo artigo 1º desse CÓDIGO DE ÉTICA, quais sejam, as de condutas de cortesia
(dever reafirmado no artigo 22), transparência, prudência e diligência.

Ademais, sua conduta contrariou o dever de garantia e fomento à dignidade da


pessoa humana previsto no artigo 3º. Mais ainda: Diante da dinâmica diferenciada a
depender da autoria das petições, uma para da defesa e outra, mais célere, para a Polícia
Federal, o MINISTRO desrespeitou a exigência de “dispensar às partes igualdade de
tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada discriminação”, conforme ordena o
texto do artigo 9º.

29
Diante dos fatos cronologicamente narrados e da morte em resultado da sua conduta
contumaz e dolosa, o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES mandou às favas o
disposto no artigo 20 do CÓDIGO DE ÉTICA, pois, em nenhum momento, velou “para
que os atos processuais se celebrem com a máxima pontualidade e para que os processos
a seu cargo sejam solucionados em um prazo razoável, reprimindo toda e qualquer
iniciativa dilatória ou atentatória à boa-fé processual.” Afinal, em desarco com o artigo
25, o MINISTRO não atuou “de forma cautelosa, atento às consequências que pode
provocar.”

Porque o réu respondia ao processo preso, o MINISTRO ALEXANDRE DE


MORAES pouco se importou também com o artigo 23 e infringiu o respeito e
consideração exigidos, incorrendo, por fim, em conduta descrita pelo artigo 39 da mesma
codificação como ato atentatório à dignidade do cargo.

LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL


No bojo da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, pesam contra o Ministro
ALEXANDRE DE MORAES os seguintes dispositivos:

Art. 35. São deveres do magistrado:


(...)
II – não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar;
III – determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem
nos prazos legais;
IV – tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados,
as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem,
a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução
de urgência.

Art. 36. É vedado ao magistrado:


(...)
III – manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente
de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou
sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no
exercício do magistério.

Não somente uma questão de evidente falta de ética, a conduta do MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES é uma questão de patente ilegalidade, haja vista que,

30
estando ele abaixo da Lei como qualquer cidadão – e, ainda, devendo servir de exemplo
a todo cidadão em matéria jurídica –, infringiu, com inacreditável contumácia, os ditames
da Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979, a Lei Orgânica da Magistratura
Nacional.

Dentre os deveres descritos no artigo 35 da citada Lei, o MINISTRO


ALEXANDRE DE MORAES deixou de cumprir, categórica e veementemente, aqueles
apresentados nos seguintes incisos II, III e IV, respectivamente: “não exceder
injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar”; “determinar as providências
necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais”; e “atender aos
que o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e
possibilite solução de urgência”.

Sem contar que, é fato público e notório que alerta sobre eventual suspeição, suas
reiteradas manifestações midiáticas – fora dos autos, das doutrinas e das salas de aula
portanto – sobre seus processos pendentes de julgamento (dentre eles, muito embora de
maneira indeterminada, mas determinável, a Ação Penal nº 1055, na qual a VÍTIMA era
parte ré), o que é proibido pelo inciso III do artigo 36 da mesma Lei Orgânica.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


Do Código de Processo Civil, pesa contra o Ministro ALEXANDRE DE MORAES
o seguinte dispositivo:

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das
enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988;
(...)
§ 4º A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional e deverá
ser imediatamente concedida diante da prova da condição de beneficiário.

Não é facultado a um cidadão brasileiro dotado de notável saber jurídico, como é o


caso do Ministro ALEXANDRE DE MORAES, desconhecer o CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL, codificação que estabelece, no inciso I do seu artigo 1.048

31
cumulado com seu § 4º, que terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou
tribunal, os procedimentos judiciais em que figure, como parte ou interessado, pessoa
portadora de doença grave: Caso de VÍTIMA renitente e indisfarçavelmente
desrespeitado pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


Do Código de Processo Penal, pesam contra o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES os seguintes dispositivos:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a:
(...)
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado.
(...)
§ 3º. Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao
receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para
se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das
peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo
deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso
concreto que justifiquem essa medida excepcional.
(...)
§ 6º. A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não
cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma
fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
motivada e fundamentada.
§ 1º. Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar,
o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.
§ 2º. Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

32
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão
revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

O MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES também infringiu o artigo 282 do


CÓDIGO DE PROCESSO PENAL tanto ao deixar de adequar a medida restritiva de
liberdade às condições pessoais do acusado, como manda o seu inciso II, quanto ao se
furtar ao DEVER de aplicação das medidas cautelares alternativas à prisão preventiva
imposto pelo seu § 3º nos casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida. Isso
sem contar a explícita violação à ordem do § 6º do mesmo artigo que proíbe a decretação
da prisão preventiva quando cabível – para não dizer “necessária” neste caso – outra
medida cautelar, uma vez que a gravidade das condições de saúde da VÍTIMA era
preexistente à decretação prisional promovida e jamais reavaliada pelo Ministro
ALEXANDRE DE MORAES, que, ao ignorar o fato clínico comprovado, deixou de
cumprir a contento também o artigo 315 da mesma codificação.

Tal como um cangaceiro que infringe, sem temor, uma variedade imensa de normas,
não bastassem todas as infrações legais expostas até aqui, o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES também optou por descredibilizar, aniquilando-o diante da sua renitente
conduta, o artigo 316 do CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Inovação trazida pela Lei
nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, o seu parágrafo único é cristalino ao impor ao
órgão jurisdicional a seguinte obrigação: “Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão
emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.”

Mesmo soterrada, em seu trecho final, por este E. STF – em decisão proferida no
caso do traficante André do Rap (HC 191.836/SP), esta Excelsa Corte “revogou” a
automaticidade do fim da legalidade da prisão (e, via de consequência, da necessidade da

33
sua revogação) não revista dentro do prazo estipulado pela lei ao criar, legislando
portanto, um dever para a defesa do preso, qual seja, o de apresentar pedido nesse sentido
ao final desse prazo (transferindo, assim, uma obrigação do juiz ao advogado).

Independente das críticas no campo do debate acadêmico: Mesmo observada e


cumprida a novel condição estipulada por este E. STF para a revisão da prisão preventiva,
a norma foi frontalmente violada pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES que,
mesmo tendo conhecimento do pedido de revisão feito pela defesa da VÍTIMA (na
petição de agosto, a VÍTIMA já se encontrava preventivamente presa há 204 dias, mais
que o dobro do prazo máximo para a revisão; e, no último pedido realizado em novembro,
completava 287 dias como preso preventivo, ultrapassando três vezes o prazo legal de
reexame), descumpriu a determinação legal por 3 vezes.

LEI DE EXECUÇÃO PENAL


Da Lei de Execução Penal, pesam contra o Ministro ALEXANDRE DE MORAES
os seguintes dispositivos:

Art. 40. Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos
condenados e dos presos provisórios.

Art. 41. Constituem direitos do preso:


(...)
VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
(...)
XIV – representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

Art. 66. Compete ao Juiz da execução:


(...)
III – decidir sobre:
(...)
e) livramento condicional;
(...)
IV – autorizar saídas temporárias;
V – determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;
(...)

34
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
(...)
VI – zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;

Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado
além dos limites fixados na sentença, em normas legais ou regulamentares.

Art. 196. A portaria ou petição será autuada ouvindo-se, em 3 (três) dias, o condenado
e o Ministério Público, quando não figurem como requerentes da medida.
§ 1º Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá de plano, em igual prazo.

Como não poderia deixar de ser, a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, isto é, a Lei
de Execução Penal, também foi violada pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES em
diversos dispositivos.

Sabedor das condições de saúde críticas da VÍTIMA, o Ministro ALEXANDRE


DE MORAES infringiu, em primeiro lugar, o artigo 40, que impõe “a todas as
autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos
provisórios”.

Porque somente ao Ministro ALEXANDRE DE MORAES competia decidir sobre


o livramento condicional (LEP, artigo 66, III, e) e saídas temporárias (LEP, artigo 66,
IV), bem como era a autoridade competente para determinar tanto a forma de
cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução quanto a conversão
da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (LEP, artigo 66, V, a, c) – sem
contar a obrigação legal de zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de
segurança (LEP, artigo 66, VI) –, a sua conduta dolosa privou a VÍTIMA do direito à
saúde garantido no inciso VII do artigo 41 e, desprezando as petições da defesa, reduziu
a pó o direito de petição em defesa de direito inserido no inciso XIV do mesmo artigo.

Aliás, tal menosprezo viola, consequentemente, o § 1º do artigo 196, que estipula


o prazo de 3 dias para que o magistrado, depois de ouvido o Ministério Público, decida
sobre petição do preso. No fatídico caso, entre a manifestação favorável desta PGR quanto
ao pedido da VÍTIMA e a data de sua morte, o Ministro ALEXANDRE DE MORAES já
estava 80 dias atrasado.

35
Porque negou vigência, conforme demonstrado anteriormente, ao artigo 316 do
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, o Ministro ALEXANDRE DE MORAES também
não cumpriu com a obrigação de “zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida
de segurança” do inciso VI do artigo 66.

Logo, conforme os termos do artigo 185 da LEI DE EXECUÇÃO PENAL, a


conduta dolosa do Ministro ALEXANDRE DE MORAES fez configurar o chamado
“excesso ou desvio de execução”.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988


Por derradeiro, quanto à Lex Legum, pesam contra o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES os seguintes dispositivos:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(...)
XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;
(...)
XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
(...)
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
(...)
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;
(...)
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

É indisfarçável que o Ministro ALEXANDRE DE MORAES violou a própria


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 – da qual ele deveria ser um dentre os seus
onze guardiões lotados (ou lotando?) neste E. STF –, quando negou vigência a cláusulas
pétreas do seu festejado artigo 5º, quais sejam:

36
a) Caput, pois frustrou à VÍTIMA a garantia da inviolabilidade do direito à vida e
à segurança jurídica (sem contar a discriminação promovida pela negativa de
direitos reconhecidos e concedidos aos mais perigosos traficantes brasileiros);
b) Inciso XXXIV, a, ao fazer letra morta do “direito de petição aos Poderes Públicos
em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder”;
c) Inciso XXXV, ao deixar de apreciar “lesão ou ameaça a direito”;
d) Inciso XLIX, por negar ao preso “o respeito à integridade física e moral”;
e) Inciso LXVI, ao manter a prisão quando a lei admitia a liberdade provisória;
f) Inciso LXXVIII, ao violar a garantia da “razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”; e, em razão de tudo isso,
g) Inciso III, submetendo a VÍTIMA à tortura.

NO MÍNIMO, O MINISTRO VIOLOU 35 DISPOSITIVOS LEGAIS!


Por quase dois mil anos, ao bom Direito, é indelével o entendimento de que não é
justo que o dolo próprio alivie alguém de uma obrigação. Nec æquum est, dolum suum
quemquam relevare: Eis a lição deixada por ULPIANO que, registrada no Digesto (D 17,
2, 63, 7), sobrevive à noite dos tempos e, saliente-se, é farta em variantes que sustentam
a máxima Nemo auditur propriam turpitudinem allegans.

Ninguém pode invocar a própria torpeza para se defender. Ninguém deve sequer
escutar a alegação da torpeza própria, de maneira que, ainda nas palavras de ULPIANO,
nemo ex suo delicto meliorem suam condicionem facere potest (D 50, 17, 134).

A conduta do Ministro ALEXANDRE DE MORAES não encontra guarida no


Direito. Deveras, ela se traduz em inequívocas infrações reiteradas, renitentes,
contumazes a, no mínimo, 35 normas do ordenamento jurídico nacional, o que não pode
ser admitido sob pena de se declarar, expressa e formalmente, o fim do Estado de Direito
no Brasil e, a reboque, da Democracia que se afirma “inabalada”.

Porque representam indesculpáveis afrontas ao Direito por qualquer ângulo que se


analise, qualquer eventual justificativa lançada para a defesa da indefensável conduta do
Ministro ALEXANDRE DE MORAES não merecerá outra denominação a não ser
torpeza. Torpeza!

37
Portanto, a continuada conduta omissiva do Ministro ALEXANDRE DE MORAES
que resultou na morte da VÍTIMA é dolosa e, em razão dela, praticou o MINISTRO
quatro diferentes crimes: (1) Prevaricação; (2) Maus-tratos, em sua modalidade
qualificada; (3) Abuso de autoridade; e (4) Tortura, crime hediondo também cometido
em tipo qualificado e, ainda, majorado.

5. DOS TIPOS PENAIS DOLOSAMENTE


COMETIDOS

O já mencionado artigo 13, caput, do Código Penal brasileiro, estipula que “(o)
resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido".
Importa, aqui, recorrer à Exposição de Motivos da Parte Geral reestruturada pela da Lei
nº 7.209/1984, em especial à nota de nº 12, na qual se consigna que "pôs-se, portanto, em
relevo a ação e a omissão como as duas formas básicas do comportamento humano. Se o
crime consiste em uma ação humana, positiva ou negativa (nullum crimen sine actione),
o destinatário da norma penal é todo aquele que realiza a ação proibida ou omite a
ação determinada, desde que, em face das circunstâncias, lhe incumba o dever de
participar o ato ou abster-se de fazê-lo" (destacamos).

Nesse diapasão, se a omissão é a não-execução de determinada ação, isso não


implica uma ausência de comportamento, pois, mesmo sendo inexato, filosoficamente,
falar em causalidade omissiva, é certa a existência de uma condicionalidade omissiva a
servir como nexo de causalidade no Direito brasileiro sempre que uma norma imponha o
dever, a obrigação de agir ou não agir em determinada circunstância.

A responsabilidade pelo cometimento doloso dos tipos penais incorridos pelo


Ministro ALEXANDRE DE MORAES, portanto, é suficientemente esclarecida na lição
do Professor Luiz Regis Prado que passamos a transcrever:

“Nos delitos omissivos, encontram-se presentes o dever de agir, que pode ser
visto, no dizer de nosso mestre Juarez Tavares, como um dever geral imposto pelo

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ordenamento jurídico, diante de certo caso concreto por ele mesmo previsto –
dever geral de assistência –, ou, ainda, como dever decorrente de uma especial
relação entre o agente e a vítima, ou entre o agente e a fonte geradora de perigo,
de maneira que se apresente como garantidor do bem jurídico relativamente a
uma pessoa determinada ou a outras atingidas pela fonte de perigo – dever de
impedir o resultado.
Exsurgem assim as duas espécies de crime omissivo:
a) Delito omissivo próprio ou puro – Consuma-se com a simples infração da
ordem ou comando de agir, independentemente do resultado. (...).
b) Delito omissivo impróprio (impuro) ou comissivo por omissão – Consiste em
dar lugar por omissão a um resultado típico, não evitado por quem podia e devia
fazê-lo, ou seja, por aquele que, na situação concreta, tinha a capacidade de ação e o
dever jurídico de agir para obstar a lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado (situação típica). Implícito na norma está uma ordem ou mandato de realizar
a ação impeditiva do evento, imputando-se-o ao omitente que não o evitou, podendo
evitá-lo.
Exige-se a ocorrência do resultado vedado integrante do tipo (ex.: homicídio
causado por omissão de alimento por quem podia e devia prestá-lo). O que
caracteriza essa espécie delitiva é a transgressão prévia do dever jurídico de impedir
o resultado, a que se estava obrigado.
Trata-se de delito especial, pois tão-somente aquele que estando anteriormente
em uma posição de garante do bem jurídico, não evita o resultado típico, podendo
fazê-lo, é autor. Essa posição de garantidor – elemento objetivo da autoria – decorre
do estreito vínculo existente a priori entre o omitente e o bem jurídico protegido.
Não basta, contudo, que o autor esteja na posição de garante, faz-se mister que tenha
capacidade de ação (possibilidade material de evitar o resultado). Em nível de
tipicidade, faz-se mister a concorrência de uma situação típica; da não-realização de
uma ação evitadora do resultado; da capacidade concreta de ação (conhecimento da
situação típica e do modo de evitar o resultado/possibilidade real de fazê-lo); da
posição de garantidor do bem jurídico; da identidade entre a omissão e a ação,
conforme o conteúdo do injusto.” (Curso de Direito Penal Brasileiro, 4. ed., São
Paulo, RT, 2004, p. 306-307, destacamos)

Uma vez que os crimes de Prevaricação e de Abuso de Autoridade, na modalidade


incorrida pelo Ministro ALEXANDRE DE MORAES, são, por essência, crimes
omissivos próprios (ou puros), as considerações doutrinárias feitas logo acima são
importantes a fim de situar os crimes de Maus-tratos e de Tortura, nos quais também
incorre o Ministro ALEXANDRE DE MORAES, dentro dessa modalidade especial de
delito (comissivo por omissão), haja vista que, ocupando a posição de garante dos bens
jurídicos vida, dignidade e integridade física e psíquica da VÍTIMA, cabia ao Ministro
ALEXANDRE DE MORAES o dever específico de agir para evitar o resultado. Isso

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significa que, conforme conclusão do Professor Luiz Regis Prado, “nessa hipótese o
desvalor da omissão equivale ao da ação (teoria da equivalência ou da equiparação).
Realiza-se através da omissão o injusto típico exigido para a verificação do resultado.”
(Op. cit., p. 309)

5.1. PREVARICAÇÃO: CÓDIGO PENAL, ART. 319

O crime de Prevaricação é assim tipificado no Código Penal brasileiro:

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-


lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

Diante de todo o exposto, tendo deixado de praticar, indevida e injustificadamente,


atos de ofício de maneira reiterada, negando, assim, vigência a, no mínimo, 35
dispositivos do ordenamento jurídico brasileiro, é evidente que o Ministro ALEXANDRE
DE MORAES incorreu no crime de Prevaricação de forma contumaz.

Mesmo a existência da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº


881 ajuizada pela ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO (CONAMP) e em curso perante este E. STF contra o art. 319 do Código Penal
não impacta na conduta tipificada do Ministro ALEXANDRE DE MORAES, haja vista
que a sua discussão gravita em torno de afastar a possibilidade de incidência do crime de
prevaricação à atividade de livre convencimento motivado dos membros do Ministério
Público e do Poder Judiciário. Nesse sentido, uma vez que a conduta do Ministro
ALEXANDRE DE MORAES foi a de optar pelo descumprimento do dever de se
manifestar e de atender aos imperativos legais nas formas positivadas sem apresentar
motivos, o reconhecimento do crime de Prevaricação é inescapável, não se aplicando, in
casu, a máxima latina precisamente enquadrada na doutrina de Nelson Hungria, qual seja,
in dubio judex non dolo sed per imperitiam male judicasse præsumitu (Comentários ao
Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, v. IX, p. 377).

40
Quanto ao trecho final do artigo em análise, qual seja, “para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal”, vale dizer o quanto segue: Diante de renitente conduta em negar
vigência à legislação – que, em 35 dispositivos (no mínimo), obrigavam (e continuam a
obrigar, pois vigentes) o Ministro ALEXANDRE DE MORAES a uma conduta
intencionalmente não adotada – e das veementes declarações midiáticas, isto é, fora dos
autos – bem como fora da doutrina e das salas de aula –, acerca das ações penais dentre
as quais está a ação penal na qual a VÍTIMA era parte ré, fica claro existir, mesmo que
não se saiba ao certo qual é (e o campo da reserva mental é impenetrável; é a última e
intransponível barreira da intimidade humana), “interesse ou sentimento pessoal”.

Crime que tem como bem jurídico tutelado a probidade e a respeitabilidade das
funções públicas, bem como a integridade dos seus agentes, Cezar Roberto Bitencourt
defina a Prevaricação como

“a infidelidade ao dever de ofício e à função exercida; é o descumprimento das


obrigações que lhe são inerentes, movido o agente por interesses ou sentimentos
próprios. Dentre os deveres inerentes ao exercício da função pública, o mais
relevante deles é o que consiste no cumprimento pronto e eficaz das atribuições do
ofício, que deve ser realizado escrupulosa e tempestivamente, para lograr a obtenção
dos fins funcionais. O sentimento do funcionário público não pode ser outro
senão o do dever cumprido e o de fazer cumprir os mandamentos legais.”
(Código Penal Comentado, 9. ed., São Paulo, Saraiva, 2015, p. 1397, destacamos)

Especialmente por não se tratar de conduta episódica, pontual e, por isso, passível
de ser confundida com uma acidentalidade, é que se pode afirmar a existência – repita-
se: mesmo que não se saiba ao certo qual é – “interesse ou sentimento pessoal”,
perfazendo-se, portanto, em razão de obstinada, silenciosa e imotivada reiteração de
conduta que despreza obrigação jurídica a conduta tipificada no artigo 319 do Código
Penal.

5.2. MAUS-TRATOS: CÓDIGO PENAL, ART. 136, § 2º

Uma vez conhecida e comprovada, nos autos da AP nº 1.055, a situação de “grave


e iminente perigo” vivida pela VÍTIMA, a PGR deu parecer favorável ao término
imediato da prisão preventiva que, formal e prontamente, foi levado ao conhecimento do
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES.

41
Porque compulsou e despachou nos autos sequencialmente ao pedido da defesa e
ao parecer da PGR, ou seja, porque optou por ignorar a situação de “grave e iminente
perigo” à vida da VÍTIMA, que, tristemente, veio a óbito, pesa, contra o MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES, a prática do crime de maus-tratos na sua forma
qualificada. Ipsis verbis:

“Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena. detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
(...)
§ 2º. Se resulta a morte:
Pena. reclusão, de quatro a doze anos.” (Destacamos)

Ao ignorar, deliberadamente, ao longo de 81 dias (e, é bastante plausível, maior


seria o tempo se a VÍTIMA não tivesse morrido), deixando de apreciar o parecer positivo
acerca da única medida capaz de remover o preso preventivo da situação que lhe expunha
a perigo a sua saúde e, via de consequência, a sua vida, o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES, inequivocamente, cometeu, na qualidade de sujeito ativo, a prática tipificada
contra a VÍTIMA, sujeito passivo por se tratar da “pessoa sob sua autoridade (...) para
fim de (...) custódia” – e custódia é qualquer detenção de uma pessoa para fim autorizado
legalmente; caso da prisão preventiva.

Ademais, a afirmação da PGR em seu parecer datado de 1º de setembro de 2023 e


levado aos autos da AP nº 1055 no mesmo dia, qual seja, a de que “não mais se justifica
a segregação cautelar”, reforçam a prática do tipo penal ao comprovar a privação do único
cuidado indispensável ao caso, isto é, a apreciação e sequencial deferimento da liberdade
provisória da VÍTIMA com a aplicação de outras medidas cautelares legalmente
admitidas... E a única autoridade competente para tanto era o Ministro ALEXANDRE
DE MORAES.

Ademais, há muito a jurisprudência é pacífica quanto ao entendimento de que o tipo


do art. 136, do Código Penal, “se aperfeiçoa com a simples exposição a perigo a vida ou

42
a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, em razão de excesso nos
meios de correção ou disciplina” (STJ, REsp 610.395/SC, Rel Min. Gilson Dipp, j.
25.05.2004), o que, no caso em tela, é inegável.

5.3. ABUSO DE AUTORIDADE POR PRISÃO ILEGAL: LEI Nº


13.869/2019, ART. 9º

Toda a exposição realizada ao longo do presente documento é bastante e suficiente


para fundamentar e comprovar que o Ministro ALEXANDRE DE MORAES deixou,
dentro de prazo razoável, (I) de relaxar prisão manifestamente ilegal (caso da prisão de
CLERISTON, a VÍTIMA, em virtude, no mínimo, do artigo 316 do CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL), bem como (II) de substituir a prisão preventiva por medida
cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, uma vez que, manifestamente,
cabível.

Essas duas condutas estão contidas nos incisos I e II do parágrafo único do artigo
9º da Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019, e fazem, se verdadeiramente vigentes
(como se espera), o Ministro ALEXANDRE DE MORAES incorrer na pena de detenção
de 1 a 4 anos mais multa.

Cumpre destacar que o presente tipo penal, por sua especificidade, se sobrepõe,
apenas em parte, ao crime de prevaricação, uma vez que retardou ou deixou de tomar atos
de ofício outros que, no conjunto, superam as hipóteses que gravitam em torno da prisão
preventiva.

Se condenado por este dispositivo da circunscrita lei, outro efeito decorre da sua
aplicação: A depender da gravidade do abuso e da reincidência nas práticas abusivas
(critérios, lamentavelmente, definidores do caso em tela), a autoridade condenada deverá
sofrer, necessariamente, ou “a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função
pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos” (hipótese que, nesta ação, pleiteiam as
REQUERENTES), ou “a perda do cargo, do mandato ou da função pública” (artigo 4º, II
e III) ou, ainda, ambos os efeitos. Nada impede que, por exemplo, inexistindo hipótese
mais grave que a morte da vítima do abuso, possa o MINISTRO ALEXANDRE DE

43
MORAES, cumulativamente com base no artigo 4º, tanto perder o seu cargo
definitivamente na forma do inciso III quanto, ao mesmo tempo, ficar impedido para
a Magistratura num período entre 1 e 5 anos.

5.4. TORTURA: LEI Nº 9.445/1997

Conforme o inciso II do artigo 1º da Lei nº 9.445, de 7 de abril de 1997, uma das


modalidades do crime de tortura consiste em submeter alguém sob a sua autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como
medida de caráter preventivo.

Crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia (§ 6º), a prática de tortura é


apenada com reclusão de 2 a 8 anos; pena aplicada também à autoridade que submeter
pessoa presa “a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não
previsto em lei ou não resultante de medida legal” (§ 1º). Se a prática resultar na morte
do preso, a pena será de 8 a 16 anos (§ 3º) aumentada de um sexto a um terço caso o
sujeito ativo seja agente público (§ 4º, I).

A condenação acarretará na perda do cargo, função ou emprego público, bem como


a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada (§ 5º). Por fim, o
condenado iniciará o cumprimento da pena em regime fechado (§ 7º).

No caso em deslinde, é indisfarçável que a conduta dolosa do Ministro


ALEXANDRE DE MORAES submeteu a VÍTIMA a sofrimento físico (conforme seus
colegas de cárcere relatam, ele sequer conseguia caminhar para os banhos de sol em razão
da agravada debilidade física nas suas últimas semanas de vida) e, claro, a intenso e
indescritível sofrimento mental, uma vez que a sua própria médica previa a sua morte se
ali continuasse, hipótese que o atormentava seja porque, sozinha, ela atormentaria
qualquer ser humano seja porque, se morresse, deixaria desemparadas as três mulheres
da sua vida: A sua esposa e as suas duas jovens filhas.

44
Circunscrito sofrimento, diga-se de passagem, por si só, é bastante e suficiente para
caracterizar o crime de tortura conforme entendimento sumulado e pacificado pelo
Egrégio Superior Tribunal de Justiça (STJ):

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. ARESP QUE NÃO COMBATEU OS FUNDAMENTOS
DA DECISÃO AGRAVADA. APLICABILIDADE DA SÚMULA 182 /STJ.
VIOLAÇÃO AOS ARTS. 158, 167, AMBOS DO CPP. (I) – TORTURA
PSICOLÓGICA. EXAME PERICIAL. DESNECESSIDADE. ACÓRDÃO EM
CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 83
/STJ. (II) – TORTURA FÍSICA. COMPROVAÇÃO. DESNECESSIDADE.
TORTURA PSICOLÓGICA É SUFICIENTE PARA A CONDENAÇÃO. (III) -
ABSOLVIÇÃO. VEDAÇÃO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7
/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. É inviável
o agravo que deixa de atacar, especificamente, todos os fundamentos da decisão
agravada. Incidência do enunciado 182 da Súmula desta Corte. 2. O entendimento
deste Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o crime de tortura psicológica
não deixa vestígios, assim dispensável a realização de exame pericial. Incidência do
enunciado 83 da Súmula deste STJ. 3. Não é necessária a existência de sofrimento
físico e mental simultaneamente para a caracterização do crime de tortura, pois a
comprovação de tortura psicológica, por si só, é suficiente para a condenação. 4. É
assente que cabe ao aplicador da lei, em instância ordinária, fazer um cotejo fático
probatório a fim de analisar a existência de provas suficientes a embasar o decreto
condenatório, ou a ensejar a absolvição. Incidência da Súmula 7 deste Tribunal. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Sexta Turma, AgRg em AResp
466067-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 21.10.2014)

Importa, ainda, frisar que essa conduta omissiva dolosa do Ministro ALEXANDRE
DE MORAES, provocadora de tais insuportáveis sofrimentos na VÍTIMA, não se deu
por intermédio da prática de ato não previsto em lei. Pior. Muito pior: Deu-se como
deliberada violação à lei; não a uma, mas a, no mínimo, 35 dispositivos legais.

Condutas similares à conduta praticada, in casu, pelo Ministro ALEXANDRE DE


MORAES têm sido não somente condenadas por seus colegas de Corte ao longo dos
últimos anos, mas chamadas, abertamente, daquilo que elas realmente são: TORTURAS!

No dia 9 de maio de 2023, durante sessão da Segunda Turma do STF que julgava
um recurso do ex-funcionário da Petrobras Sergio Souza Boccaletti, condenado por
corrupção e lavagem dinheiro por pagamento de propina nas obras da Refinaria Abreu e
Lima (PE), ao tratar das prisões preventivas desmedidas, o MINISTRO GILMAR
MENDES asseverou: “Coisa de pervertidos. Claramente, se tratava de prática de tortura.
Usando o poder de Estado. É disso que se trata (...). É muito grave para a Justiça esse tipo

45
de vexame”1. O MINISTRO DIAS TOFFOLI, por sua vez, as qualificou como “uma
indústria de condenações a qualquer custo, a qualquer preço, um pau de arara do século
21”.2

O MINISTRO GILMAR MENDES, assim, repetiu o argumento que já havia


lançado anos antes, em sessão de 2 de outubro de 2019, quando asseverou: "Usava-se a
prisão provisória como elemento de tortura (...). Quem defende tortura não pode ter
assento na Corte Constitucional. O Brasil viveu uma era de trevas no que diz respeito ao
processo penal.”3

O mesmo MINISTRO, em 30 de maio de 2017, já havia se perguntado:

“Não se justifica prisão provisória de dois anos sem que haja outros fundamentos.
É bem verdade que assim se produz a delação. Mas, será que nós não estamos
pervertendo o sentido da prisão provisória? Será que nós não a estamos usando como
tortura? E é justo que assim se faça? É condizente com o modelo constitucional de
1988 ou nós estamos reescrevendo o texto?”.

Diante do seu questionamento, concluiu: “A prisão provisória não se faz como um


instrumento de sanção antecipada, há pressupostos muito claros no texto constitucional.
Ela não se faz também para satisfazer uma sanha da opinião pública ou uma sanha da
opinião publicada”.

Na ocasião, o MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI concordou com o colega


e afirmou: “Essa preocupação de Vossa Excelência é minha, e também dos eminentes
pares, até porque hoje 40% dos prisioneiros do Brasil estão nessa condição de
provisoriedade”.4

Logo, dúvidas não restam: No presente caso, crime de tortura é patente. Com o
advento da morte da VÍTIMA e por ser o Ministro ALEXANDRE DE MORAES uma
autoridade pública, deve ele incorrer na pena de reclusão, de 9 anos e 4 meses a 21
anos e 4 meses, mais a perda definitiva do cargo de Ministro e o respectivo

1
Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/quentes/386230/gilmar-mendes-diz-que-lava-jato-
praticou-tortura--pervertidos>. Acesso em 31 jan. 2024.
2
Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/politica/gilmar-e-toffoli-criticam-lava-jato-no-stf-tortura-
e-pau-de-arara-do-seculo-21/>. Acesso em 5 nov. 2023.
3
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-out-02/lava-jato-usava-prisao-provisoria-elemento-
tortura-gilmar/>. Acesso em 5 nov. 2023.
4
Disponível em: <https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/politica/gilmar-mendes-questiona-se-
pris%C3%B5es-provis%C3%B3rias-s%C3%A3o-usadas-como-tortura-1.1284694>. Acesso em 5 nov.
2023.

46
impedimento para exercer a Magistratura depois de cumprida a pena privativa de
liberdade.

Uma vez que se alega, nesta Exordial, o cometimento tanto do crime de Tortura
quanto o de Maus-tratos em razão da mesma conduta renitente do mesmo Ministro
ALEXANDRE DE MORAES, cabe reafirmar o entendimento jurisprudencial uníssimo
que, diferenciando esses dois tipos penais, dá passagem à existência autônoma de ambos
em concurso formal. Ipsis verbis:

“A figura do inc. II do art. 1º da Lei n. 9.455/97 implica na existência de vontade


livre e consciente do detentor da guarda, do poder ou da autoridade sobre a vítima
de causar sofrimento de ordem física ou moral, como forma de castigo ou prevenção.
O tipo do art. 136, do Código Penal, por sua vez, se aperfeiçoa com a simples
exposição a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, em razão de excesso nos meios de correção ou disciplina. Enquanto na
hipótese de maus-tratos, a finalidade da conduta é a repreensão de uma indisciplina,
na tortura, o propósito é causar o padecimento da vítima. Para a configuração da
segunda figura do crime de tortura é indispensável a prova cabal da intenção
deliberada de causar o sofrimento físico ou moral, desvinculada do objetivo de
educação". (STJ, REsp 610.395/SC, Rel Min. Gilson Dipp, j. 25.05.2004)

A contumaz omissão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES, portanto, faz com


que ele ultrapasse o desvalor impresso pelo Legislador no crime de Maus-tratos: se a
simples exposição a perigo a vida ou a saúde da VÍTIMA perfazem o crime de Maus-
tratos, a insistência nesse sentido somente se explica pelo propósito cruel de causar e
perpetuar o padecimento físico, moral e psicológico da VÍTIMA, aqui demonstrados de
maneira inequívoca.

Por derradeiro, é de anotar que o crime de tortura praticado através de omissão


relevante não é desconhecido da Jurisprudência brasileira. Vejamos:

APELAÇÕES CRIMINAIS. TORTURA CASTIGO E TORTURA OMISSÃO


CIRCUNSTANCIADAS (LEI 9.455 197, ARTS. 1º, CAPUT, II, C/C SEU § 4º, II,
E 1º, CAPUT, §§ 2° E 4°, II). SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSOS DOS
ACUSADOS. (...) OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE. DEVER DE
EVITAR O RESULTADO. MÃE E GUARDIÃ DAS VÍTIMAS. (...) A ausência
de exame de corpo de delito não afasta a ocorrência dos fatos configuradores do
crime de tortura quando comprovado por outros elementos de provas,
especificamente pelas declarações das vítimas e das testemunhas e pelas avaliações
psicológicas e psicossociais, as quais revelam que as ofendidas eram submetidas a
intenso sofrimento físico e mental decorrentes das agressões físicas e verbais
perpetradas por um dos agentes e não evitadas por quem tinha o dever legal de

47
protegê-las. (...). O fato de a agente que detém o dever de evitar as condutas
configuradoras do crime de tortura meramente alegar ser vítima de agressões físicas
e de ameaças, não afasta a responsabilidade que lhe incumbia, como genitora, de
evitar que seus filhos, ainda crianças, fossem submetidos à violência causadora de
intenso sofrimento físico e mental promovido por seu companheiro, pai e padrasto
dos menores de idade, ainda mais quando devidamente orientada sobre o dever
inerente ao exercício do poder familiar e as consequências jurídicas de sua omissão.”
(TJSC, Segunda Câmara Criminal, Apelação Criminal n. 0004883-
55.2016.8.24.0011, Rel. Des. Sérgio Rizelo, j. 12.07.2022)

Nesse sentido, deve o Ministro ALEXANDRE DE MORAES responder pela


prática, contra a VÍTIMA, do crime de tortura qualificado pelo resultado morte e por ser
ele, sujeito ativo do tipo penal, um agente público.

6. DAS AGRAVANTES GENÉRICAS


Das 12 circunstâncias que “sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime”, prescritas no artigo 61 do CÓDIGO PENAL, a conduta omissiva
relevante, dolosa, do MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES perfaz a metade delas,
conforme arroladas no inciso II do artigo em comentário:
1) Motivo fútil ou torpe (alínea a);
2) Tortura (alínea d);
3) Abuso de autoridade (alínea f);
4) Violação de dever inerente ao cargo (alínea g);
5) Contra enfermo (alínea h); e
6) Estar o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade (alínea i).

Despiciendo dizer, portanto, que tal identificação deve refletir na dosimetria da


pena elevando o seu cálculo para as proximidades da penalidade máxima.

48
7. DO CONCURSO FORMAL, DA DOSIMETRIA
E OUTRAS PENALIDADES

Dispõe o artigo 70 do CÓDIGO PENAL:

Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior.

Uma vez que os 4 tipos penais que pesam contra o Ministro ALEXANDRE DE
MORAES decorrem de uma única e continuada conduta omissiva, é forçoso admitir que
a prática deles se dá na modalidade de concurso formal.

Ainda que a conduta omissa tenha sido inegavelmente dolosa, porque relevante nos
termos da lei penal, não há como se comprovar que os crimes resultaram de desígnios
autônomos do MINISTRO. Na impossibilidade, portanto, da aplicação cumulativa das
penas cominadas em cada tipo penal, deve ser levada em conta, conforme o dispositivo
transcrito, a mais grave das penas majorada, entretanto, de um sexto até a metade.

No caso que se noticia, a pena mais severa é aquela atribuída ao crime de tortura
qualificado pelo resultado morte e majorado por ser o sujeito ativo um agente público.
Logo, em razão do concurso formal que faz incidir sobre a pena o aumento de um sexto
até a metade, incorre o MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES na pena de reclusão
de 10 anos, 9 meses e 18 dias (mínima) a 32 anos (máxima) mais a perda definitiva
do cargo de Ministro e o respectivo impedimento para exercer a Magistratura depois
de cumprida a pena privativa de liberdade, que deve ser iniciada em regime fechado.

Em acréscimo, de acordo com o artigo 72 do CÓDIGO PENAL, porque, no


concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente, deverá o
MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES ser condenado no pagamento da multa
cominada no artigo 9º da LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE, que, em razão das muitas
agravantes genéricas apontadas e em conformidade com os artigos 49 e 60 do CÓDIGO
PENAL, deve ser fixada no maior valor possível. Esse valor deve ser, ao final,
multiplicado por 2 (dois), pois o crime de Prevaricação (CP, art. 319) também apena o

49
condenado no pagamento de multa. Contudo, se subsumido o crime de Prevaricação pelo
tipo específico de abuso de autoridade, a multa será uma só.

Tudo isso independentemente, é claro, da indenização decorrente da


responsabilidade civil.

8. DA COMPENSAÇÃO PELOS DANOS MORAIS

Conforme nova redação dada pela Lei nº 11.719/2008 ao inciso IV do art. 387 do
Código de Processo Penal, o juiz, ao proferir a sentença condenatória, “fixará valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido”.

O primeiro grande problema gerado pelo inciso IV do art. 387 do Código de


Processo Penal está na omissão que coincide com a indefinição, desleixada e injustificável
por parte do Legislador, acerca da necessidade de requerimento da vítima para o
reconhecimento do dano e a fixação de valor reparatório.

Muitos tribunais têm entendido que, no silêncio da norma, o juiz penal teria o dever
de julgá-lo mesmo ex officio, ou seja, mesmo que o ofendido não o requeira. Nesse
sentido:

Indenização civil – Fixação em sentença criminal de valor mínimo para reparação


dos danos – Desnecessidade de requerimento expresso ou de produção de prova sob
crivo do contraditório – Entendimento do art. 387, IV, do CPP. Ao proferir sentença
criminal condenatória, o Magistrado deve, consoante prevê o art. 387, IV, do CPP,
fixar um valor mínimo a ser pago pelo condenado à vítima, ou a seus familiares, a
título de indenização, por danos que decorram do fato por ele cometido. Tratando-
se de pedido implícito, que integra, por força de lei, o thema decidendum, não há
que ser cogitada da necessidade de requerimento expresso nesse sentido por parte
do titular da ação penal, ou pela vítima, quando não forem estes a mesma pessoa.
Observe-se, ainda, que, na medida em que o legislador estabeleceu que o valor a ser
fixado pelo Magistrado criminal corresponde a apenas um mínimo a ser indenizado
à vítima, aludida reparação deverá ser efetuada sempre por equidade, uma vez
referir-se a danos de natureza evidente, cuja existência e extensão, dada a
circunstância de serem decorrência natural do fato criminoso, independem da

50
produção da produção de provas sob o crivo do contraditório pelo interessado.
Caberá, todavia, sua eventual complementação em ação própria a ser proposta na
esfera civil, com direito à ampla defesa por parte do demandado, na qual será
discutido não mais o an debeatur, mas tão somente o quantum debeatur, como
decorrência dos efeitos civis da sentença penal condenatória” (TJSP, 8ª Câmara de
Direito Criminal, Apelação Criminal nº 0000249-56.2008.8.26.0523, Rel. Des.
Grassi Neto, j. 08.06.17)

Contudo, inclusive prestigiando o princípio processual da inércia do juiz, o STJ,


apesar de não ter sumulado a questão (como fez o TRF da 4ª Região), formou
jurisprudência no sentido de que a exigência dessa fixação de valor mínimo só existe
quando a parte assim a requerer na ação penal:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO


CIRCUNSTANCIADO. REPARAÇÃO DE NATUREZA CIVIL. ART. 387, IV,
DO CPP. DENÚNCIA. PEDIDO EXPRESSO. NECESSIDADE. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. A aplicação do instituto disposto no art. 387, inciso IV, do CPP,
referente à reparação de natureza cível, quando da prolação da sentença
condenatória, requer a dedução de um pedido expresso do querelante ou do
Ministério Público, em respeito às garantias do contraditório e da ampla defesa. 2.
Ao determinar a indenização de ofício, o Juízo de primeiro grau decidiu fora dos
pedidos deduzidos pelo Parquet na peça acusatória, o que configura violação do
princípio da correlação entre o pedido e a sentença, a justificar o afastamento da
indenização. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp no
1622852/MT, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, DJe 14.03.2017)

Diante do quadro legal vigente e da patente oscilação dos entendimentos


jurisdicionais, para que nenhuma pretensão das REQUERENTES seja, assim e
eventualmente, considerada preclusa – especialmente porque, em acréscimo, a Lei nº
13.869/2019, que trata dos crimes de abuso de autoridade, repete o comando processual
debatido ao dispor, no inciso I do seu artigo 4º, que uma condenação por qualquer crime
nela tipificado tem como efeito “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele
sofridos” –, convém seja também requerida, no bojo desta ação penal, a condenação do
Ministro ALEXANDRE DE MORAES no pagamento de valor compensatório aos danos
morais sofridos tanto pela VÍTIMA quanto pelas REQUERENTES, isto é, por sua viúva
e suas duas filhas, estes suportados de forma autônoma, independente e personalíssima.

Ademais, a fixação do quantum compensatório por este E. STF é medida que


responde melhor à análise mais aprofundada dos fatos: quem melhor conhece os fatos e

51
as circunstâncias do crime, bem como as condições da vítima e do criminoso?
Conhecendo tudo nos seus detalhes, o juiz penal, com maior precisão, poderá melhor
definir a extensão do dano.

Sem contar que, fora o princípio da economia processual (que é também


prestigiado), ao Estado interessa essa possibilidade por se tratar de verdadeira economia
judiciária – com consequente economia também para a vítima e para o criminoso,
dispensados de uma nova e custosa demanda judicial. Não faltam ao juiz criminal meios
de análise – se o conjunto probatório dos autos é suficiente para levar alguém à prisão,
deve ser mais do que suficiente para a análise do dano e sua extensão, especialmente
porque o réu, na ação penal, deverá defender-se também dessa pretensão indenizatória –
nem capacidade para determinar o quantum reparador.

Quanto ao dano moral, uma vez que não existem critérios objetivos vinculantes para
a definição do pretium doloris, o que impediria o juiz criminal de arbitrar esse valor?
Mais que qualquer outro juiz, ele deveria ser o mais capacitado para tanto: afinal, ele lida
com o bem mais precioso da pessoa, qual seja, a liberdade.

De fato, o debatido art. 387, IV, ao se valer do termo “prejuízos”, opta pelo conceito
geral e abrangente do dano, incluindo-se nele, assim, tanto o dano patrimonial quanto o
dano extrapatrimonial – e esse entendimento é ponto pacífico na jurisprudência brasileira,
sendo lapidar a seguinte decisão do STJ:

“1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso


Especial Repetitivo nº 1.675.874/MS, fixou a compreensão de que a prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher implica a ocorrência de dano moral
in re ipsa, de modo que, uma vez comprovada a prática delitiva, é desnecessária
maior discussão sobre a efetiva comprovação do dano para a fixação de valor
indenizatório mínimo. 2. A Corte estadual, apesar de manter a condenação do
Recorrido pela conduta de agredir sua companheira com socos no peito e no braço,
afastou a fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados, sob o
argumento de que o fato não passou de mero aborrecimento na vida da vítima, sem
produzir abalo psicológico ou ofensa a atributo da personalidade. 3. A atitude de
violência doméstica e familiar contra a mulher está naturalmente imbuída de
desonra, descrédito e menosprezo à dignidade e ao valor da mulher como pessoa.
Desse modo, mostra-se necessário o restabelecimento do valor fixado pelo Juízo
de origem como montante mínimo para a reparação dos danos causados pela
infração. 4. A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento
suficiente para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art.

52
387, inciso IV, do Código de Processo Penal, seja porque não há previsão legal
nesse sentido, seja porque compete à própria vítima decidir se irá promover a
execução ou não do título executivo, sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se
na aplicação da legislação processual penal que determina a fixação de valor
mínimo em favor da vítima. 5. Recurso especial provido para restabelecer o valor
mínimo de reparação dos danos causados pela infração, determinando-se ao
Tribunal de origem que prossiga no julgamento da apelação defensiva quanto ao
pleito subsidiário de redução do quantum fixado na sentença.” (STJ, 6ª Turma,
REsp: 1819504 MS 2018/0295072-9, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 30.09.2019)

Diga-se de passagem, que, na realidade, essa “novidade” legal trazida pelo inciso
IV do artigo 387 nem é tão nova nem promove, como lamentam alguns processualistas
penais brasileiros, a privatização do processo criminal, haja vista que o texto vigente
retoma uma prática que existiu no processo penal até 1940, qual seja, a de “dotar”, quer
dizer, indenizar a mulher honesta injustamente deflorada. Aliás, o Código de Processo
Criminal do Império (Lei de 29 de novembro de 1832), ao tratar do “Jury de Sentença”
nas “Juntas de Paz”, estipulava que os jurados deviam responder não apenas sobre
materialidade, autoria e “gráo de culpa”, mas também deviam dizer, conforme seu art.
225, §§ 4º e 5º, se o crime comportava pagamento de “indemnização” e, em caso
afirmativo, em qual valor (“Emquanto monta ella?”). E nem precisaríamos ir tão longe,
já que o nosso Código de Processo Penal, em seu art. 630, sempre facultou aos tribunais
criminais, mediante requerimento do interessado, a competência para arbitrar justa
indenização nos casos de procedência em revisão criminal.

A grande controvérsia, ainda longe de ser resolvida em nosso Direito, que recai
sobre o inciso IV do artigo 387 do CPP gravita em torno da expressão “valor mínimo”:
A redação dá a entender que, mesmo indenizado na ação penal, a vítima poderá buscar
uma indenização maior na esfera civil, porque reputa a decisão do juiz penal como um
valor mínimo para fins de reparação dos danos causados pela infração. Conforme a lição
do Professor Eugênio Pacelli de Oliveira, “não se trata de fixação do valor total da
recomposição patrimonial, mas apenas de um valor mínimo suficiente para recompor os
prejuízos já evidenciados na ação penal” (Curso de Processo Penal, 12. ed., Rio de
Janeiro, Lumen Juris, 2009, v. 2, p. 583).

Pensamos ser extremamente inoportuna e nada razoável a afirmação de que a


indenização arbitrada na esfera penal seja considerada “um mínimo” a ser
complementado na esfera civil. Seja pelas razões apresentadas anteriormente, seja porque

53
o “mínimo suficiente para recompor os prejuízos já evidenciados na ação penal” é, em si,
a reparação, pois, se esse “mínimo” não for suficiente, não é reparação.

O Código de Processo Penal, no inciso IV de seu art. 387, fala de “valor mínimo
para reparação dos danos”. A despeito do termo “mínimo”, é certo que toda reparação se
mede pela extensão do dano, de maneira que é absurdo pensar numa reparação que não
repara. Disso decorre que “valor mínimo” deve ser lido como “valor suficiente” sob pena
de não haver “reparação dos danos”. Ou a reparação é suficiente ou não é reparação...
Pode ser qualquer outra coisa, uma pena com a mesma natureza jurídica da multa penal
talvez, mas não tem natureza jurídica de reparação. Porque não é reparação, não pode
reclamar complementação na justiça cível, que permaneceria, em teoria, livre para pleno
arbitramento.

A uma, porque, diz o art. 935 do Código Civil, a responsabilidade civil (que
sanciona a reparação do dano) é independente da criminal (que sanciona multa, serviços
comunitários ou restrições da liberdade) e, desse modo, a responsabilidade civil não pode
ser fracionada. Se o juiz criminal fica obrigado, diante do requerimento do ofendido, em
considerar os prejuízos, materiais e morais, sofridos em decorrência do ato criminoso, ou
ele concede reparação (que deve ser sempre suficiente, mesmo que minimamente
suficiente – sendo que minimamente suficiente é o mesmo que dizer justo) ou ele não
concede. Dizer que ele deve fixar um mínimo a ser complementado é criar um elo de
dependência inadmissível.

A duas, porque a fixação desse valor suficiente é, por si, independente da aplicação
da sanção prevista no tipo penal: ao juiz penal, assim, caberá, quando provocado, a análise
da responsabilidade civil e da responsabilidade criminal. Tanto é matéria autônoma que
o STJ já fixou entendimento nesse sentido:

"A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil
fixada na sentença penal condenatória, com base no art. 387, inciso IV, do Código
de Processo Penal, pois a sua imposição não acarreta ameaça, ainda que indireta ou
reflexa, à liberdade de locomoção" (STJ, 5ª Turma, HC 302.141/RS, Rel. Mini.
Ribeiro Dantas, DJe 03.05.2016)

Apesar do reconhecimento da autonomia entre essas matérias, de modo que, como


vimos, mesmo que pertinente o habeas corpus a uma, reconhece-se a matéria

54
indenizatória totalmente estranha a ele, o entendimento de que o valor reparatório
arbitrado no processo penal não passa de um “mínimo” tem prevalecido. O STJ, em
reiteradas decisões, é expresso em “registrar que o juízo penal deve apenas arbitrar um
valor mínimo” (v.g., STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp no 1626962/MS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, DJe 16.12.2016).

Isto posto, hoje, em suma, vigora o quanto segue:

(a) O juiz penal, hoje, pode fixar o “mínimo” indenizatório quando provocado pela
vítima;

(b) A vítima pode requerer a reparação dos danos sofridos (materiais, morais,
existenciais e estéticos) através de pedido genérico ou não no bojo de criminal (por si
própria nas ações penais de iniciativa privada ou por meio do Ministério Público nas
públicas, bem como, ainda, nas ações penas privadas substitutivas de pública) ou não; e

(c) Caso requeira indenização na ação penal e, concedida, entenda insatisfatória a


quantia arbitrada na sentença, deverá, conforme uma maioria de julgados, tratar da
questão na esfera civil – e a maior parte das Câmaras Cíveis dos Tribunais de Justiça
parecem acompanhar tal entendimento:

“Uma nova condenação em danos morais na esfera cível não configura bis in idem,
pois se trata de um complemento de indenização, caso o magistrado da esfera cível
entender que a quantia arbitrada não é suficiente para reparar o dano. (...) Assim,
torna defeso ao magistrado do cível conceder uma nova indenização. 7. Cumpre
salientar que o juízo cível está impedido de debater sobre a ocorrência do fato e
sua autoria, e só não poderia conceder indenização completar à mínima, se o valor
arbitrado na esfera criminal fosse suficiente para a reparação do dano.” (TJRR,
AC: 0010117057660, Rel. Des. Elaine Cristina Bianchi, DJe 07.08.2014)

Melhor seria que a lei processual penal continuasse, nesse aspecto, como antes: A
análise da responsabilidade civil independente do juízo penal, ficando o juízo civil
vinculado apenas quanto à inevitabilidade de conceder indenização no caso daquele juízo
condenar o ofensor. Seria a medida ideal, porque permaneceram vigentes aos artigos 64
a 67 do Código de Processo Penal, que, se não tornam inútil o inciso IV do art. 387 do
mesmo diploma, revelam que esse dispositivo é, pura e simplesmente, promotor de
tumulto e, por isso, fator de profunda insegurança jurídica.

55
De qualquer forma, uma vez que a propositura da ação civil não fica prejudicada
diante de eventual sentença penal absolutória, tanto quando conclua que os fatos não
constituem crimes quanto nos casos em que decida que o réu não é o sujeito ativo do tipo,
bem como se é verdade que a Lei nº 11.719/2008 quis assegurar maior eficácia ao artigo
91, I, do Código Penal (“tornar certa a obrigação de indenizar o dano resultante do
crime”), as QUERELANTES requerem, nesta oportunidade, sejam fixados por este E.
STF 2 (dois) valores compensatórios para duas experiências distintas de danos morais
experimentados, a saber:

(i) Um valor compensatório que contemple a experiência da VÍTIMA, como


se viva ela ainda estivesse, de enfrentar, cotidianamente, a dúvida sobre a
morte iminente em prisão manifestamente ilegal, a fim de que esse valor, a
título de danos morais existenciais, seja compartilhado entre as suas 3
herdeiras e ora REQUERENTES; e
(ii) Outro valor compensatório que contemple a inestimável dor pela perda de
um pai, valor este que, a título de danos morais, deverá ser multiplicado
por 3, haja vista que a mesma dor é experimentada por cada uma das
REQUERENTES.

Os danos existenciais são espécie agravada de danos morais. Quanto ao dano moral,
a aguçada percepção do Ministro Luiz Fux, então no Ministro de E. STJ, nos revela que
o fato de sofrer um crime implica, necessariamente, em sofrer um dano moral.
Transcrevemos:

“É cediço na Corte que como se trata de algo imaterial ou ideal, a prova do dano
moral não pode ser feita através dos mesmos meios utilizados para a comprovação
do dano material. Por outras palavras, o dano moral está ínsito na ilicitude do ato
praticado, decorre da gravidade do ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva
demonstração, ou seja, como já sublinhado: o dano moral existe in re ipsa.” (STJ,
1ª Turma, REsp 709.877/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 20.09.2005)

Uma década antes do final da vigência do vetusto Código Civil, em artigo sobre o
dano moral no Direito brasileiro, o Saudoso Mestre Miguel Reale já nos ensinava a
diferenciar os aspectos subjetivo e objetivo do dano moral, porquanto a Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 5º, V, faz diferença entre dano moral e dano à imagem.
Referia-se o Jusfilósofo à possibilidade de, futuramente, termos um tertium genus, ou

56
seja, o dano pessoal ou dano à imagem social, situado entre o dano patrimonial e o dano
moral – anotando ainda, quanto a este último, referir-se propriamente “aos estados
d’alma, sofrimentos e sensações dolorosas que afetam os valores íntimos da
subjetividade” (Temas de direito positivo, São Paulo, RT, 1992, p. 20-23).

Sem descartar essa possibilidade tripartida do dano, o Professor Reale distingue o


dano moral em objetivo, ou seja, “aquele que atinge a dimensão moral da pessoa no meio
social em que vive, envolvendo o de sua imagem”, e subjetivo, “que se correlaciona com
o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, em sua intimidade psíquica”, enfim, o
sofrimento interior, como a morte de uma pessoa amada (Op. cit., p. 23).

A doutrina, em geral, não costuma sistematizar os diversos tipos de danos morais e


acaba fazendo uma imensa lista de todos os prejuízos de ordem moral sofridos pela pessoa
em suas diversas dimensões. Mas, para tornar a matéria mais definida, sempre tendo em
vista a reparação mais integral possível, é melhor deixar claro que existem várias
modalidades de dano moral, cada uma dizendo respeito a um aspecto diferente da pessoa.

Ou seja, há uma autonomia no tratamento jurídico dos diversos tipos de dano que
vem exatamente de sua autonomia conceitual. Dessa forma, um mesmo evento danoso
pode dar origem a diversas indenizações, cada uma a um título, levando à cumulação de
várias verbas e protegendo melhor a vítima, além de servir de exemplo no meio social.

Os chamados danos morais objetivos são aqueles que ofendem os direitos da pessoa
tanto no seu aspecto privado, ou seja, nos seus direitos da personalidade (direito à
integridade física, ao corpo, ao nome, à honra, ao segredo, à intimidade, à própria
imagem), quanto no seu aspecto público (como direito à vida, à liberdade, ao trabalho),
assim como nos direitos de família. Da ofensa a qualquer desses direitos nasce o direito
à reparação, de maneira que o dano moral se presume, ipso facto, não necessitando de
prova. É o damnum in re ipsa. Não é preciso provar, por exemplo, que a vítima de um
crime também sofre danos morais.

Por sua vez, o dano moral subjetivo é o pretium doloris propriamente dito, o
sofrimento d’alma, pois a pessoa foi ofendida em seus sentimentos mais íntimos, nas suas
afeições. É o caso do sofrimento dos pais pela perda do filho amado ou dos filhos pela
perda de um ou ambos os pais etc. Esse tipo de sofrimento integra e é absorvido pelos
danos morais à pessoa, mas que podem se constituir em dano autônomo quando somente

57
a dor está sendo objeto de reparação. Geneviève Viney (La reparation du dommage
corporel, Paris, Economica, 1985) insere nesse tipo de dano o prejuízo de afeição
(préjudice d’affection) e o prejuízo pelos prazeres da vida, inclusive o prazer sexual
(préjudice d’agrément e a loss of amenities of life).

Sobre tal prejuízo aos prazeres da vida, importa destacar que, especificamente a
partir desse entendimento, entramos no campo do chamado dano existencial, espécie de
tertium genus no âmbito da responsabilidade civil que se destaca do tronco do dano
patrimonial e, ao mesmo tempo, do tronco do dano moral, uma vez que afeta uma
realidade centrada no fazer não remunerado da vítima. Nas palavras de um dos criadores
do conceito, Paolo Cendon, o dano existencial ultrapassa os prejuízos à integridade
psicofísica, porque ele conturba, quase que de forma definitiva, irreversível, o cotidiano
da pessoa vitimada (Paolo Cendon e Patrizia Ziiz, Il danno esistenziale: una nuova
categoria della responsabilità civile, Milano, Giuffrè. 2000). O dano existencial é lesão
que compromete o interesse da pessoa no próprio cotidiano, que aniquilam a possibilidade
ou esperança de qualidade de vida. Não se confunde, a título de dano-resultado, com o
dano à saúde ou à integridade psicofísica (dano-evento). Evidentemente que pode ter
origem nesses, mas são seus efeitos mórbidos que conduzem ao dano existencial, sempre
um dano-consequência. O dano-evento pode ser de diversas origens, materiais ou
imateriais, contratuais ou extracontratuais. O importante para a caracterização do dano
existencial é que tenha produzido um prejuízo ao bem-estar pessoal ou ao projeto de vida.

O Professor Rogério Donnini bem resume o dano em tela como aquele que causa
“ruptura no projeto de vida”, levando a vítima “a escolhas de vida diferentes, no que diz
respeito à expressão e realização de sua personalidade”; “um caminho pelo resto da vida
comprometido e alterado em razão da lesão suportada” (Responsabilidade civil na pós-
modernidade: felicidade, proteção, enriquecimento com causa e tempo perdido, Porto
Alegre, Sérgio Antônio Fabris, 2015, p. 106-107).

O dano existencial, nesse sentido, tem encontrado guarida na Jurisprudência


brasileira e, ademais, tem sido incorporado, como modalidade autônoma de dano moral,
às leis de diversos países, a saber: (i) França (préjudice d´agrément); (ii) Inglaterra (loss
of amenities of life); (ii) Alemanha (com a reforma do BGB em 2002, foi acrescentado no
§ 253 inciso que estabelece a indenização por dano ao corpo, à saúde, à liberdade e
autodeterminação sexual); (iv) Peru (daño al proyecto de vida); (v) e Argentina, cujo

58
Decreto 191/2011 que instituiu o novo Código Civil, em seu artigo 1738, tratou também
de indenização por interferência no proyecto de vida.

Em suma, quanto ao dano moral suportado pela VÍTIMA ainda em vida e cuja
pretensão compensatória, com o evento da sua morte, transmitiu-se às REQUERENTES,
é cediço dizer que o arbitramento do montante indenizatório deve contemplar tanto os
danos morais objetivamente suportados quanto os danos morais subjetivos e, quanto a
estes, devem ser significativamente majorados em relação ao valor das maiores
compensações dessa natureza admitidas pela Jurisprudência brasileira em razão da ferida
que maculou a existência da própria VÍTIMA, ou seja, como somatório dos danos morais
objetivos com danos existenciais.

À parte, cada uma das 3 REQUERENTES faz jus, individualmente, a um montante


compensatório não somente decorrente dos danos morais subjetivamente suportados pela
perda, com relação à mãe, do esposo e, no que concerne a cada uma das filhas
autonomamente, do pai, mas que também deve contemplar os danos morais
objetivamente suportados ao longo do angustiante período prisional (ao menos a partir do
reconhecimento da manifesta ilegalidade pela PGR) da VÍTIMA, uma vez que as
REQUERENTES tinham ciência do prognóstico médico que a condenava à morte caso
permanecesse no cárcere.

9. DAS CAUTELAS INDISPENSÁVEIS

A Constituição de 1988 e o Regimento Interno do STF preveem que casos como o


que aqui se apresenta devem ser processados e julgados pelo próprio plenário do
Supremo, mas não há legislação sobre o rito do processo.

Contudo, a ação que se requer contra o Ministro ALEXANDRE DE MORAES e


que será, sem sombra de dúvidas, a prova mais robusta da sobrevivência da Democracia
do Brasil – senão a única, pois, de outro modo, jamais se poderá afirmar que, no Brasil,
todos são iguais perante a Lei, uma vez que restará comprovada, por aqui, a existência
oficial de uma sociedade de castas, onde Ministros deste E. STF estão acima de todo o

59
Direito e, portanto, acima de todos os cidadãos brasileiros –, para que seja eficiente,
demanda que também se requeira o imediato afastamento desse Ministro das suas
funções, seja na hipótese da necessidade de um inquérito seja na hipótese da admissão
imediata desta ação penal (afinal, todo o noticiado nesta Exordial ora se comprova na
qualidade de matéria de direito ora se comprova através dos documentos aqui acostados),
bem como todas as eventuais medidas que se façam necessárias para salvaguardar o bom
resultado dessa fundamental persecução penal.

10. DOS PEDIDOS

Em decorrência do falecimento da VÍTIMA, CLERISTON PEREIRA DA


CUNHA, durante prisão preventiva manifestamente ilegal, haja vista o reiterado
descumprimento do prazo processual revisional e a renitente negativa de aplicação das
normas jurídicas vigentes e aplicáveis em razão do seu comprovado estado de saúde
crítico, bem como de acordo com todo o exposto na presente ação penal privada
subsidiária à pública que, decorrido o prazo legal de resposta da DD. PGR à representação
protocolada em 5 de dezembro de 2023, se apresenta contra Ministro deste E. STF, o
Excelentíssimo Senhor Professor Doutor ALEXANDRE DE MORAES, a viúva da
VÍTIMA, a Sra. EDJANE DUARTE DA CUNHA, e as suas duas filhas, ANA LUÍZA
DUARTE DA CUNHA e KÉSIA THALYTA DUARTE DA CUNHA, requerem de
Vossa Excelência o quanto segue:

(i) Preliminarmente, diga Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores


Ministros deste Pretório Excelso estão remidos ou, ainda, obrigados a cumprir os
dispositivos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº
4.657/1942), especialmente os deveres prescritos nos seus artigos 3º, 5º, 28 e 30;

(ii) Do mesmo modo, diga Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores


Ministros deste Excelso Tribunal estão remidos ou, ainda, obrigados, tal como qualquer

60
Magistrado, a cumprir os dispositivos do Código de Ética da Magistratura, especialmente
os deveres prescritos nos seus artigos 1º, 3º, 9º, 20, 22, 23, 25 e 39;

(iii) Igualmente, diga Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores


Ministros deste Supremo Tribunal Federal estão remidos ou, ainda, obrigados, tal como
qualquer Juiz brasileiro, a cumprir os dispositivos da Lei Orgânica da Magistratura
Nacional (Lei Complementar nº 35/1979), especialmente os deveres prescritos nos seus
artigos 35, incisos II, III e IV, e 36, inciso III;

(iv) Nesse sentido, diga Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores


Ministros desta Corte Constitucional estão remidos ou, ainda, obrigados a observar os
dispositivos do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), especialmente o seu
artigo 1.048, I e § 4º;

(v) Diga também Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores Ministros


desta Excelsa Última Instância Jurisdicional brasileira estão remidos ou, ainda, obrigados
a observar os dispositivos do Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), em
especial, os deveres estabelecidos nos seus artigos 282, 315 e 316;

(vi) Diga, ainda, Vossa Excelência se os Excelentíssimos Senhores Ministros


deste E. STF estão remidos ou, ainda, obrigados a observar os dispositivos da Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/1984), em especial, os deveres prescritos nos seus artigos
40, 41, VII e XIV, 66, III, e, IV, V, a, c, VI, 185 e 196;

(vii) Nesse diapasão, por derradeiro, diga Vossa Excelência se os


Excelentíssimos Senhores Ministros deste Pretório Excelso, Guardião da Constituição da
República, estão remidos ou, ainda, obrigados a cumprir os dispositivos da Constituição
Federal de 1988, especialmente os deveres prescritos como cláusulas pétreas tanto no
caput quanto nos incisos III, XXXIV, XXXV, XLIX, LXVI e LXXVIII, do seu artigo 5º;

(viii) Sequencialmente, caso alguma das respostas anteriores – basta apenas uma
delas – seja afirmativa no sentido de que os Excelentíssimos Senhores Ministros deste E.
STF são e continuam obrigados a observar o ordenamento jurídico nacional, admita

61
Vossa Excelência a presente ação penal privada subsidiária da pública, uma vez que se
encontram plenamente satisfeitos todos os pressupostos processuais de admissibilidade,
legitimidade e tempestividade; e, acolhida,

(ix) Suspenda Vossa Excelência, de plano, o Ministério do Excelentíssimo


Senhor Professor Doutor ALEXANDRE DE MORAES, afastando-o, imediata, cautelar
e urgentemente, de todas as suas funções até que a presente ação encontre resolução de
mérito final e irrecorrível;

(x) A seguir, seja a presente ação distribuída para que, assim, seja ela
conhecida, julgada e provida no sentido de:

(xi) Condenar o Excelentíssimo Senhor Ministro ALEXANDRE DE


MORAES como incursos nas práticas dos crimes de:
a. Prevaricação (CP, art. 319), cuja pena estipulada é a de detenção de
3 (três) meses a 1 (um) ano, mais multa, mas que, todavia, é tipo,
neste caso concreto, passível de ser, inteiramente, superposto pelo
crime de abuso de autoridade (infra);
b. Maus-tratos na sua forma qualificada (CP, art. 136, § 2º), com
pena de reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos;
c. Abuso de autoridade na forma dos incisos I e II do parágrafo único
do artigo 9º da Lei nº 13.869/2019, sancionado com detenção de 1
(um) a 4 (quatro) anos, mais multa, além da perda do cargo de
Ministro deste E. STF (hipótese que, nesta ação, pleiteiam as
REQUERENTES) ou a inabilitação para o exercício da Magistratura
pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos ou, ainda, a perda do cargo
cumulada com a inabilitação para a função jurisdicional, conforme
estipulam, como efeitos da condenação, os incisos II e III do artigo
4º da mesma Lei; e
d. Tortura qualificada e majorada na forma do artigo 1º, II, § 1º, §
3º, § 4º, I, § 5º, § 6º e § 7º da Lei nº 9.455/1977, com pena
condenatória de 8 a 16 anos de reclusão, sempre iniciada em regime
fechado, aumentada de um sexto a um terço, mais a perda do cargo,

62
bem como a interdição para o seu exercício (no caso, a Magistratura)
pelo dobro do prazo da pena aplicada,

(xii) Na hipótese da condenação do Ministro ALEXANDRE DE MORAES


como incurso nas práticas de todos os tipos elencados acima, em virtude do concurso
formal dessas práticas, deverá ser também condenado como incurso nas seguintes penas:

a. reclusão de 10 anos e 11 meses (mínima) a 32 anos (máxima): pena mais


grave (reclusão de 8 a 16 anos aumentada de um sexto a um terço)
majorada de um sexto até a metade, ou seja,
{[8+(8*1/6)]+[8+(8*1/6)]/6} a {[16+(16*1/3)]+[16+(16*1/3)]/2}
(9,3 + 1,5) a (21,3 + 10,7)
10,8 anos a 32 anos
10 anos, 9 meses e 18 dias a 32 anos com início em regime fechado;
b. multa penal; mais
c. a perda do cargo, bem como a interdição para o seu exercício (no caso,
a Magistratura) pelo dobro do prazo da pena aplicada.

(xiii) Alternativamente, por mero amor ao debate, caso entenda este E. STF que
o reconhecimento dos crimes de Abuso de Autoridade e de Tortura afastem a
possibilidade de condenar, em razão de antijurídica duplicidade, o Ministro
ALEXANDRE DE MORAES como incurso nas práticas dos crimes de Prevaricação e de
Maus-tratos, em virtude do mesmo concurso formal naquelas duas práticas típicas, deverá
ser também condenado como incurso nas penas descritas no item imediatamente anterior,
isto é, de idêntica maneira (v. xii); ou,

(xiv) Da mesma forma, ou seja, ad argumentandum tantum, caso entenda este


E. STF que o Ministro ALEXANDRE DE MORAES tenha incorrido, apenas, nas práticas
dos crimes de Abuso de Autoridade e de Maus-tratos, em razão do mesmo concurso
formal neste caso, deverá ser também condenado como incurso nas seguintes penas:

63
a. reclusão de 4 anos, 8 meses e 12 dias (mínima) a 18 anos (máxima):
pena mais grave (reclusão de 4 a 12 anos) majorada de um sexto até a
metade, ou seja,
(4+4/6) a (12+12/2)
4,7 a 18
4 anos, 8 meses e 12 dias a 18 anos;
b. multa penal; mais
c. perda do cargo de Ministro deste E. STF (hipótese que, nesta ação,
pleiteiam as REQUERENTES) ou a inabilitação para o exercício da
Magistratura pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos ou, ainda, a perda
do cargo cumulada com a inabilitação para a função jurisdicional pelo
período de 1 (um) a 5 (cinco) anos.

(xv) Ainda no campo das hipóteses, caso entenda este E. STF que o Ministro
ALEXANDRE DE MORAES tenha incorrido, tão-somente, na prática do crime de Abuso
de Autoridade (porque é impossível, assinale-se, que um Magistrado maltrate um preso
sob a sua responsabilidade legal sem abusar da sua autoridade nos termos da lei penal
especial), ele deverá ser condenado como incurso nas seguintes penas:

a. Detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos; mais


b. multa penal; mais
c. perda do cargo de Ministro deste E. STF (hipótese que, nesta ação,
pleiteiam as REQUERENTES) ou a inabilitação para o exercício da
Magistratura pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos ou, ainda, a perda
do cargo cumulada com a inabilitação para a função jurisdicional pelo
período de 1 (um) a 5 (cinco) anos.

(xvi) Condenado, conforme o exposto até aqui, o Ministro ALEXANDRE DE


MORAES por ter incorrido na prática de todos, alguns ou apenas de um dos crimes
elencados, considere-se, para a dosimetria das penas, o perfazimento das hipóteses
prescritas nas alíneas a, d, f, g, h e i, todas constantes no inciso II do artigo 61 do Código
Penal, a fim de elevar a sua condenação às máximas sanções legalmente impostas ou à
proximidade delas; e, por último,

64
(xvii) Condenar o Excelentíssimo Senhor Ministro ALEXANDRE DE
MORAES no pagamento dos danos morais pela morte da VÍTIMA em razão de sua
conduta, no mínimo, antijurídica, vez que era o responsável legal por garantir o gozo dos
seus fundamentais direitos de liberdade, integridade física e psíquica, bem como, e
principalmente, do seu direito à vida, arbitrando-se – nesse diapasão e conforme disposto
no artigo 387, IV, do Código de Processo Penal, bem como no artigo 4º, I, da Lei nº
13.869/2019 – o valor mínimo para a compensação do moral existencial experimentado
pela VÍTIMA, bem como o valor mínimo para a compensação do moral sofrido por cada
uma das REQUERENTES de maneira autônoma e independente, isto é, a fixação de
quatro valores mínimos de compensação de danos morais.

(xviii) Por fim, caso este E. STF entenda sejam insuficientes as provas trazidas
junto a esta Exordial, o que é cogitável apenas no mundo das abstrações, requer-se provar
todo o alegado por meio de todas as provas admitidas em Direito.

Nestes termos,
pede e espera deferimento.

Brasília (DF), 2 de fevereiro de 2024.

TIAGO PAVINATTO
Advogado inscrito na OAB/SP sob o nº 272.508
Professor Doutor, Mestre e Graduado pela
Faculdade de Direito da USP
do Largo São Francisco
Professor Doutor de Filosofia do Direito da
Faculdade de Direito da FAAP

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