Você está na página 1de 19

Artigo 387º: Só é crime os maus tratos a animais de companhia (remissão para o 389º) – ficam

de fora os animais utilizados nas touradas. Qual o interesse que está aqui em causa? 1ª ideia -
O animal deve ser protegido devido ao vínculo de afetividade de pessoas e animais ou porque -
2ª ideia - são seres com emoções?

18º nº2 CRP: Só vou restringir um direito fundamental se isso significar que vou proteger outro

Rousseau: Tradição liberal individualista. O estado é guardião dos direitos individuais. Os


direitos individuais ainda são relevantes e por isso o estado submete-se ao contrato social para
garantir uma maior proteção dos direitos individuais. Coletivo é condição da realização do
individuo. Para este as pessoas são naturalmente boas (ao contrário do pensamento de
Hobbes), mas o estado é necessário para atenuar as desigualdades naturais. O crime é uma
ofensa à vontade coletiva da qual depende a proteção dos interesses individuais e a realização
individual.

Locke: Propriedade é o direito mais importante e deve ser protegida. O crime é uma ofensa a
crimes (individuais – o direito de propriedade). Só poderia existir incriminação dos maus tratos
a animais em Locke se considerássemos que o animal é uma coisa

Martha:

Animais - Não cria uma diferença extrema entre os seres humanos e outros seres vivos. Se
podemos desenvolver-nos para vivermos uma vida digna de ser vivida também não deveria
resultar o mesmo para os restantes seres vivos? Não devem eles ter direitos semelhantes aos
nossos na medida do possível?

Imigração - 2 visões – Martha (visão penal de direitos humanos): não se distingue cidadãos –
todos têm os mesmos direitos; visão do estado de segurança: nacionalista/europa fechada –
não entrar. Para a Martha o estado não é apenas o estado de segurança e quando o é serve
para proteger os mais fracos relativamente aos mais fortes e para que as pessoas se
desenvolvam de forma a viverem uma vida digna de ser vivida. Até onde vai o conceito de
crime? Será que se deve incriminar estas condutas quando os seus autores agem por razões
humanitárias (razões económicas)?

Problemas por resolver:

1) Pessoas com deficiência: Teóricos clássicos contratualistas assumem que estão a tratar
de seres com iguais capacidades de serem produtivas em termos económicos. Esta
(Martha) é a única que trata destas pessoas
2) Nacionalidade: O problema do local de nascimento influencia as chances básicas de
cada pessoa. A teoria da justiça deve considerar as dificuldades nos países pobres que
dificultam essas chances básicas
3) Animais: Nas teorias clássicas contratualistas estamos a lidar com seres humanos
racionais e não integram outros seres não humanos. Os animais são seres ativos e que
têm uma vida e por isso há um problema de justiça

Submissão de um cidadão ao estado justifica-se pelo desenvolvimento das capacidades


individuais de cada um para que cada pessoa possa viver uma vida digna de ser vivida.

Aceita a diferença e para Rawls os cidadãos são idênticos. Para Rawls os princípios de justiça
são formais. Para Martha os princípios são diversificados

Lista de capacidades humanas:


1) Pensar
2) Sentir
3) Viver
4) Ser sujeito de emoções
5) Ter saúde corporal
6) Imaginar
7) Ter integridade corporal
8) Ter posição critica quanto ao planeamento da sua vida
9) Viver com outras espécies

Rawls e a imigração ilegal: Não devia ser criminalizada – igualdade de oportunidades

Acórdão do incesto

A incriminação de comportamentos (incesto neste caso) não pode ser justificada apenas pela
gravidade ética/moral do ato. O direito penal não deve intervir na liberdade sexual,
excetuando os casos dos menores e adolescentes.

Princípios do conceito material de crime – padrões de critica:

Princípio da necessidade da pena: o direito penal só deve intervir se existir algum bem jurídico-
penal digno de proteção

Princípio da ofensividade: Stuart Mill – só as condutas que prejudiquem direitos/interesses


alheios podem ser castigadas

Não houve criação de dano, só standards do que é moralmente aceitável

Princípio da culpa: Artigo 1º e 15º 7º - dirige-se à pessoa que optou por praticar um ato ilícito
quando tinha oportunidade de escolha e podia ter optado por um ato lícito e não o fez

Quando não se tem alternativa de escolha os agentes não devem ser incriminados

Dificuldade de controlar os atos justifica que não haja oportunidade de escolha – para a
professora

Acórdão nº 247/2005

Homossexuais: atos sexuais de relevo (o que implica beijos na boca, caricias, passar a mão
pelas pernas com fins libidinosos); praticados pelo próprio agente ou levar o menor a praticá-
los com outrem; falta do requisito do abuso da inexperiência do autor

Heterossexuais: necessário existir coito anal, oral ou cópula; prática pelo próprio agente;
abuso da inexperiência do menor

Se o legislador coloca lá mais coisas é mais difícil de ser punido

Lei dá um tratamento mais benevolente às relações heterossexuais.

Argumentos contra a desigualdade:

1) Tanto o 174º como o 175º tutelam 1 bem jurídico: autodeterminação sexual e livre
desenvolvimento da personalidade em matéria sexual. Bem jurídico da
autodeterminação sexual: direito de crescer até uma dada idade na inocência do que
são contactos sexuais até ao momento em que a personalidade se forme ao ponto de
este poder exercer livremente a sua liberdade de escolha de parceiro/a. Para uma
efetiva e eficaz tutela da desse bem deve punir-se da mesma forma os atos
homossexuais e heterossexuais: argumento justificativo da não desigualdade
2) O 175º (homossexuais) viola o princípio da igualdade, consagrado no artigo 13º nº1 e 2
CRP e viola o direito fundamental à identidade pessoal e ao desenvolvimento da
personalidade do 26º nº1 CRP – dá uma clara indicação de que a heterossexualidade é
a única via admitida e a simples existência do artigo transmite a ideia de repulsa e
condenação da homossexualidade e inclusive deles próprios

Argumentos a favor da desigualdade:

1) A prática destes atos causa confusão nos menores mesmo que não haja abuso da
inexperiência do menor – prejudicial para o livre desenvolvimento da personalidade
(ainda não tem a sua personalidade desenvolvida ao ponto de poder escolher de
forma consciente um parceiro)
2) O princípio da igualdade postula a ideia: tratar de forma desigual o que não é igual – se
se considerar desiguais a situação em questão não se deve tratá-las de forma igual
3) STJ mostra o que o motivou a não declarar a inconstitucionalidade do 175º
(homossexuais) – questão de normalidade; experiências homossexuais de adultos com
menores são traumatizantes, comprometem a formação da personalidade e o
equilíbrio mental, intelectual e social futuro da vítima – não se entende quando não
existe um crime de violação e os atos são consentâneos

Para o TC as motivações do STJ são meramente moralistas e condena isso – o direito penal
deve estar desprovido de qualquer caráter moral

No CP de 1982 a homossexualidade com menores – incrimina o comportamento daquele que,


sendo maior, desencaminha o menor de 16 anos do mesmo sexo para a prática do ato
contrário ao pudor consigo ou com outrem do mesmo sexo

Acórdão do genocídio dos arménios vs. genocídio dos judeus

Boa parte dos combatentes armênios, bem como da liderança política e intelectual desse
povo, aliou-se a outros povos contra os turcos. Alguns combatentes armênios lutaram junto
aos russos (inimigos históricos do Império Turco-Otomano). As autoridades turcas alegaram tal
fator como alta traição e usaram esse subterfúgio para instituir uma política sistemática de
morte contra a população da Armênia.

O genocídio dos armênios perpetrado pelo Império Turco-Otomano. Os turcos ainda hoje não
reconhecem este genocídio (porque não lhes dá jeito)

Neste contexto:

Perinçek v. Suíça (Associação de arménios da Suíça) é um julgamento de 2013 do Tribunal


Europeu de Direitos Humanos referente a declarações públicas de Doğu Perinçek, ativista
político, advogado e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, que foi condenado por um
tribunal suíço por negar publicamente o genocídio armênio

Durante as suas visitas à Suíça em que fazia conferências, Doğu Perinçek, ativista político turco,
chamou repetidamente o genocídio armênio de 1915 de "grande mentira internacional". Ele
foi considerado culpado de discriminação racial por um tribunal distrital da Suíça em Lausanne
em março de 2007. O tribunal considerou existir uma violação do 261º do código criminal da
suíça: castiga a conduta por parte de qualquer pessoa que publicamente denuncia ou
discrimina contra um indivíduo ou grupo de pessoas em razão da sua raça, origem étnica ou
religião de uma forma que viole a dignidade humana, seja através de palavras, material escrito,
imagens, gestos, atos de agressão ou qualquer outro meio, ou que, na mesma fundamentação,
nega, grosseiramente trivializa ou procura justificar um genocídio ou outros crimes contra a
humanidade. No julgamento, Perinçek negou a acusação assim: "Eu não neguei genocídio
porque não havia genocídio". Após a decisão do tribunal, ele disse: "Defendo meu direito à
liberdade de expressão". Perinçek recorreu do veredicto. Em dezembro de 2007, o Tribunal
Federal Suíço confirmou a sentença proferida a Perinçek. Perinçek recorreu para o Tribunal
Europeu de Direitos Humanos.

Em dezembro de 2013, o Tribunal Superior do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu:

1) Suíça violou a liberdade de expressão de Doğu Perinçek garantida pelo artigo 10 da


Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Uma violação do Artigo 10º da Convenção
constitui já a ideia de que não existiu dano que pudesse ser indemnizado.
2) Perinçek não violou o artigo 17 da Convenção, que proíbe indivíduos que usam os
direitos da Convenção para buscar a abolição ou restrição dos direitos de outras
pessoas garantidos pela Convenção. A Corte considera que a rejeição da caracterização
legal dos eventos de 1915 não era, por si só, suficiente para incitar o ódio contra o
povo armênio, para expressar desprezo pelas vítimas dos eventos de 1915 e que ele
não havia sido processado por procurar justificar um genocídio. O requerente não
abusou do seu direito de se envolver em discussões abertas sobre assuntos que são
sensíveis e suscetíveis de causar ofensa, ou seja, mediante o direito de liberdade de
expressão expresso na convenção o requerente não o utilizou para fins contrários a
esta. O livre exercício desse direito é um dos aspetos fundamentais da liberdade de
expressão e distingue uma atitude democrática, tolerante e pluralista de uma
sociedade de um regime totalitário ou ditatorial. A restrição deste direito foi
necessária numa sociedade democrática? – princípio da necessidade

A Corte salientou que "não era necessário decidir sobre a caracterização legal do genocídio
armênio. A existência de um "genocídio", que era um conceito jurídico precisamente definido,
não era fácil de provar.

A discussão sobre a história é uma parte essencial da liberdade de expressão e nunca deve ser
proibida numa sociedade democrática. Um assunto histórico não deve ser definido como um
taboo e por isso ser excluído das discussões nem uma visão oficial deve ser vista como algo
que não deve ser contestado. Obviamente que devem existir limites relativamente a esta
liberdade expressão no que toca a estes assuntos com opiniões diversas. A discussão não se
deve tornar numa forma de denegrir a imagem de ninguém por exemplo.

O negacionismo do Holocausto é explícito ou implicitamente ilegal em 16 países: Alemanha,


Áustria, Bélgica (ver: Holocausto na Bélgica), Eslováquia, França, Hungria, Israel, Liechtenstein,
Lituânia, Países Baixos, Polônia, Portugal, República Checa, Romênia e Suíça. Se é crime negar
a existência de genocídio relativamente aos judeus porque não foi considerado crime negar a
existência de genocídio relativamente aos arménios?

- Os Estados onde a proibição de negação do Holocausto foi considerada compatível com a


Convenção são aqueles que experimentaram os horrores nazistas, e onde pode ser
considerado que se tenha uma responsabilidade moral especial relativamente a estes
assuntos. Não se considera que exista responsabilidade por parte da Suíça em relação a
eventos que ocorreram no Império Otomano. No entanto, temos de ter em conta que
legislação que expresse a solidariedade para com as vítimas de genocídio e crimes contra a
humanidade deve ser possível em todo o lado mesmo que não exista uma ligação direta
relativamente aos eventos ou vítimas. Foi a ideia de justiça da Suíça que fez com que esta
proibisse a negação do genocídio e por isso o homem que o fez fosse lá considerado culpado

A grande diferença é que no caso de negação do holocausto existem limites a debates


históricos baseados em legislação nacional e neste caso os tribunais poderiam, portanto,
considerar a caracterização legal do Holocausto como "genocídio" como ponto de partida para
a avaliação da responsabilidade criminal.

Acórdão 351/05 – atos sexuais com adolescentes menores

Quanto ao abuso da inexperiência: O legislador admite situações em que, por razões diversas,
o menor entre 14 e 16 anos ou já tem experiência sexual ou embora não a tendo não há abuso
de experiência, não ocorrendo então qualquer dano ou perigo para o livre desenvolvimento da
personalidade do menor, no que diz respeito à esfera sexual, o que justifica a especificação da
modalidade típica de ação abusar da inexperiência do menor. A não especificação desta
equivaleria, naqueles casos em que não há abuso de experiência, a uma incriminação que não
tutelaria qualquer bem jurídico.

Quanto aos atos sexuais de relevo: Uma explicação possível para um tratamento distinto dos
comportamentos em função da natureza heterossexual ou homossexual dos atos sexuais de
relevo é a ideia de que a heterossexualidade é que representa a situação mais normal,
havendo na homossexualidade algo de anormal, mesmo nos países onde se reconhece com o
direito à diferença.

Os parâmetros de normalidade/anormalidade extraídos das opiniões da sociedade afiguram-se


imprestáveis para justificar a diferença de tratamento jurídico, face ao artigo 13º. É
precisamente no tratamento de situações que se inserem em categorias socialmente
minoritárias ou sociologicamente desfavorecidas que o principio constitucional da igualdade
cobra a sua principal força, tutelando, sempre ou de algum modo, um direito à diferença ou de
diferença

Se tivermos em conta o direito comparado a Alemanha (em 1994) e a Áustria (em 2002)
revogaram artigos em que se fazia diferenciação entre a homossexualidade e
heterossexualidade

O conceito de ato sexual de relevo é mais extenso do que referir apenas os atos de cópula,
coito anal e coito oral. Mas sempre que se especializa, na tipificação de crimes sexuais, as
formas de cópula, coito oral e coito anal, o legislador estabelece uma punição mais severa do
que aquela que comina na tipificação genérica

Ou seja, se existisse masturbação de uma pessoa heterossexual relativamente a um


adolescente menor isso não seria crime. O legislador considerou os atos de maior relevo (como
a masturbação) atos que comportariam uma menor lesão ou risco de lesão para o livre
desenvolvimento da personalidade do menor no que à sua esfera sexual diz respeito.

Bigamia: Em que medida se pode incriminar esta atuação? Porque deve ter dignidade penal?

Acórdão da IVG – Palma


Resposta afirmativa:

Se analisarmos a resposta afirmativa à questão do referendo: A despenalização viola a


proteção consagrada no artigo 24º 1º, segundo o qual a vida humana é inviolável? A
inconstitucionalidade da resposta afirmativa defende-se no sentido em que todas as fases da
vida humana devem ser protegidas de igual modo. O feto seria titular de um direito subjetivo à
vida. No entanto, para contradizer esta inconstitucionalidade existe o argumento de que na
generalidade dos sistemas jurídicos o feto não é considerado uma pessoa titular de direitos. E
de que na jurisprudência portuguesa se distingue um direito subjetivo à vida de uma proteção
objetiva da vida intrauterina (relativamente à proteção contra agressões que provoquem o
aborto sem consentimento da mulher ou de aborto provocado por terceiros com
consentimento da mulher) – 140º CP.

Há quem entenda, na linha de orientação de um parecer do conselho consultivo da


procuradoria-geral da república que os constituintes não pretenderam integrar no 24º 1º a
proteção da vida intrauterina

No acórdão 288/98 conclui que não é exigida uma tutela penal idêntica em todas as fases da
vida

Se considerássemos a resposta afirmativa como inconstitucional estaríamos a considerar


inconstitucional a atual solução do CP que admite que não se puna certas situações de
interrupção voluntária da gravidez, segundo uma lógica de ponderação de valores

Se considerássemos que existe uma total desproteção jurídica da vida intrauterina nas
primeiras 10 semanas de gravidez a favor da liberdade da mulher grávida, seria
inconstitucional considerar legal o aborto mesmo nestas circunstâncias. No entanto, devemos
ter em conta que o método dos prazos pretende uma harmonização/concordância prática
entre dois valores conflituantes – um interesse acabará por prevalecer mediante o sacrifício do
outro. O legislador não poderia dizer que o direito ao livre desenvolvimento da
personalidade da mulher (liberdade de desenvolver um projeto de vida - 26º CRP) é
hierarquicamente superior ao bem jurídico, “vida humana intrauterina” e por isso
reconhecer que se pode abortar em qualquer circunstância, independentemente de
quaisquer prazos ou indicações. Por isso existem prazos e indicações que permitam uma
concordância prática entre os 2 bens jurídicos em conflito. Nas primeiras 10 semanas o que
prevalece será a autonomia da mulher (com as devidas limitações legais visando a proteção
da vida intrauterina), enquanto que nas últimas semanas se dará prevalência à vida
intrauterina

A pergunta em questão não resultará no abandono da proteção da vida intrauterina, mas será
uma forma de harmonização entre 2 bens jurídicos em conflito, evitando assim que exista
sacrifício total de um a favor de outro. A liberdade de manter um projeto de vida tem uma
proteção relativamente superior nas primeiras 10 semanas (o que não quer dizer que não se
tenha em conta ainda neste período a proteção da vida intrauterina)

Temos de ter em conta que não se está perante uma mera discussão entre valores, mas
também perante uma discussão sobre a necessidade de aplicação de pena nas várias
circunstâncias em questão. Neste caso, a procura da concordância prática de bens jurídicos
permitiu perceber em que situações era necessário punir ou não era.
Resposta afirmativa não é inconstitucional

Resposta negativa:

Uma resposta negativa e por isso concordância quanto à penalização não implicará uma
alteração do sistema vigente em que já existe uma ponderação de valores que exclui a
incriminação em situações de grave lesão de direitos da mulher como a sua vida, saúde mental
ou física, dignidade pessoal.

O legislador tem a oportunidade (não obrigação) de sujeitar uma questão a referendo, ou seja,
saber qual a opinião das pessoas em relação a uma questão tão controversa e que tem
bastante impacto nas suas vidas, antes de optar por determinada solução. A solução final
estará nas mãos do legislador pelo que a resposta negativa ou positiva, embora sejam
vinculativas, não serão tidas em conta se o legislador não achar que têm de ser.

Acórdão da deserção

Problema: Crime de deserção – punível pelos artigos 133º e 134º do decreto lei 33.252

Perante a acusação do MP o tribunal da comarca de Aveiro mediante 2 argumentos não


decidiu criminalizar a conduta do réu:

1) As normas do decreto-lei 33.252 do CPDMM que preveem o crime de deserção devem


ter-se por revogadas implicitamente pelo decreto-lei 400/82 (que aprovou o código
penal), porque a conduta que contemplam apenas pode ser apreciada em sede de
disciplina laboral e não criminal
2) As normas incriminadoras ofendem os princípios constitucionais de direito laboral não
podendo ser aplicadas por força do 207º da CRP – em 1943 a jurisdição do trabalho
era quase insignificante pelo que a figura do trabalhador numa situação de desertor
era claramente desprotegida; os transportes marítimos não são hoje tão
insubstituíveis como eram nessa data; as normas ofendem princípios básicos dos
direitos dos trabalhadores; factos como os indiciados podem ser objeto de censura de
acordo com as regras que disciplinam a prestação de trabalho, mas não podem ser
censurados criminalmente

Perante esta decisão do tribunal da comarca o MP recorre obrigatoriamente para o TC:

1) Objeto de recurso é afinal os artigos 132º e 133º e não o 133º e 134º do CPDMM e
disciplinar da marinha mercante, porque o arguido é pescador e não capitão do navio.
A norma incriminadora sobre a qual se discute a inconstitucionalidade é por isso a
132º e não a 134º
2) Em termos processuais tudo se manterá igual. Perante a decisão de
inconstitucionalidade ou constitucionalidade das normas a decisão de rejeição de
acusação do arguido manter-se-ia igual
3) MP dá a sua opinião pronunciando-se pela inconstitucionalidade das normas por
violação do artigo 13º da CRP: o trabalho de bordo pelas suas características
especificas deve ter um regime próprio, mas isso não significa que dadas as funções do
réu este seja tratado de uma forma tão diferente em relação aos trabalhadores em
geral
4) MP refere-se a 2 processos iguais no TC em que a inconstitucionalidade destas normas
se justifica pela violação do artigo 53º da CRP: MP não concorda porque para este
existiu um incumprimento do contrato de trabalho em que deveria resultar
despedimento com justa causa, no entanto, isso não implicaria necessariamente uma
violação do 53º. Aliás o MP acha é desproporcionado a gravidade das consequências
que advêm do incumprimento do contrato, que são a constituição de um crime

Questão da inconstitucionalidade:

Juízo de dignidade penal: importante!!!!

Julga-se inconstitucional a norma resultante da conjugação do 132º e 133º do CPDMM


aprovado pelo DL 33.252 na parte em que dela resulta a punição como desertor, daquele que,
sendo tripulante de um navio (e não desempenhando funções diretamente relacionadas com a
manutenção, segurança e equipagem do navio) e sem motivo justificado o deixe partir para o
mar sem embarcar. É inconstitucional por violação do princípio da subsidiariedade do direito
penal (implícito no princípio da necessidade) e do princípio da necessidade da pena (artigo 2º e
18º nº2 da CRP)

18º nº2: “A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente
previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar
outros direitos ou interesses (bens jurídicos) constitucionalmente protegidos e que tem
dignidade penal – carecem de proteção pelo direito penal.” – Princípio da necessidade de
pena:

1) A medida seja adequada e proporcional ao fim que visa obter e à proteção dos bens
jurídicos que a justificam – é necessária, pelo menos uma probabilidade de elevada de
que se produza o efeito de proteção do bem jurídico e não deve haver efeitos
colaterais que neutralizem ou contrariem as vantagens da incriminação.
2) Não haja outra alternativa para assegurar esse bem – numa vertente de necessidade,
implica que não haja outros meios disponíveis menos gravosos do que as penas
públicas para assegurar a proteção do bem jurídico. A medida alternativa até pode ser
menos eficaz, mas restringir menos os direitos fundamentais. Tem sempre de haver
uma ponderação.

Se do incumprimento de dividas em relações jurídicas de direito privado o devedor fosse


punido criminalmente violaríamos certamente a CRP porque a tutela seria excessivamente
intensa.

Acórdão Lenocínio

A prática de prostituição ou de atos sexuais de relevo, com adultos não é crime. Porque será
quando estas práticas são exercidas profissionalmente e com intenção lucrativa?

A norma do 170º 1º cuja inconstitucionalidade está a ser discutida protege valores protegidos
pela CRP, desde logo porque as situações de prostituição em que existem benefícios
económicos de terceiros constituem situações de exploração da pessoa prostituída. Não estão
aqui em questão preconceitos morais, mas sim a dignidade da pessoa humana que não deve
nem pode ser utilizada como meio ou instrumento para benefício de outrem. Existe ainda
uma evidente interferência na liberdade e autonomia da pessoa prostituída que poderá
acarretar consequências graves para esta, tendo em conta todo o contexto da prostituição.
Muitas das vezes existe um aproveitamento das pessoas, quer por carência económica quer
por uma maior debilidade mental.

Existem outros casos na ordem jurídica portuguesa em que o autor de uma conduta não é
incriminado, mas os terceiros que participam, ou seja, que auxiliam por exemplo o suicídio
(135º CP) ou a divulgação de pornografia infantil (172º 3º e) CP) – o consentimento de uma
pessoa em determinados atos não justifica o comportamento daquele que auxilia, motiva ou
facilita esse comportamento – existem deveres de respeito para com o outro

Não existiu por isso violação do 47º 1º da CRP porque a liberdade de exercício de profissão ou
de atividade económica tem limites como os valores e direitos associados à dignidade do ser
humano e à sua autonomia que são claramente postos em causa quando se usa a pessoa como
um meio para benefício próprio

Crimes de dano: são aqueles em que tem de existir um dano efetivo, uma lesão de um bem
jurídico. O crime do homicídio – verifica-se um dano para o bem jurídico vida

Crimes de perigo: concreto vs. Abstrato

Concreto: Um resultado não de lesão, mas de perigo. Para o tipo estar preenchido só precisa
de existir um resultado de perigo para o bem jurídico – 291º CP- para o tipo estar preenchido
neste caso só é preciso existir perigo; não é necessário atropelar uma pessoa para existir
crime, basta existir perigo. Exemplo: Estrada em que costuma passar muita gente e naquele
momento estava a passar

Abstrato: Comportamentos em abstrato já são perigosos – existe uma presunção de que o


comportamento levado pelo agente é suscetível de perigo – não se cria um perigo em concreto
– 292º CP. Não deve existir uma presunção inilidível. Exemplo: Estrada em que não costuma
passar ninguém aquela hora, mas poderia passar

Crimes de aptidão: O perigo já não está no resultado, mas na ação. Difamação – não é preciso
existir uma lesão na honra, basta existir a aptidão da ação para causar a lesão. Crime de
negação do holocausto – a aptidão da ação pode causar lesão do bem jurídico: paz pública
alemã.

153º - crime de aptidão - apta, idónea, adequada – expressões que aparecem na descrição do
tipo incriminador

169º - Como está construído é um crime de perigo abstrato – não se tem se fazer a prova de
que se colocou em perigo a liberdade de autodeterminação sexual da mulher.

Para a doutrina maioritária o artigo 169º viola o princípio da ofensividade (lesão de um bem
jurídico) e o princípio da necessidade da pena (não existe um bem jurídico que justifique a
restrição de outro bem jurídico – liberdade). Se quer prostituir-se não existe propriamente
exploração

Penas principais:

1) Pena de prisão: 41º e 42º


2) Pena de multa: 47º a 49º. Pena de multa vs. Coima – a multa tem natureza penal e a
coima tem natureza contraordenacional. A pena de multa pode ser convertida em
prisão, a multa não
Penas substitutivas: Substituir a pena de prisão ou de multa por uma pena substitutiva – 43º,
45º, 48º, 50º

Penas acessórias: O juiz considera que só a aplicação da pena principal não chega por isso
existe uma pena principal e uma pena acessória – cumulativamente. Na aplicação da pena
acessória o juiz tem de justificar (exemplo: inibição de exercício de funções), de acordo com as
teorias dos fins das penas. Artigo 65º e ss.

Artigo 69º - Pena compósita e não acessória: Tem uma vertente de pena de prisão e de
proibição de conduzir veículos com motor. O TC não diz que é inconstitucional

Acórdão STJ:

Reinserção social ou ressocialização do delinquente – prevenção especial positiva – ideia de


prevenção de reincidência inerente – para que o delinquente mais tarde viva a sua vida sem
cometer crimes – dar-lhe uma 2 oportunidade

Reafirmar a validade do direito e reforçar a confiança da sociedade – prevenção geral positiva

Culpa do agente: culpa menos intensa – obras na via, condutor prudente.

Acórdão TRL 2008:

Arguida condenada a uma pena principal de prisão de 4 anos e 6 meses, pela prática de um
crime de tráfico de droga.

Tudo se desencadeou após uma revista à arguida no aeroporto de Lisboa, pelos serviços
alfandegários. Esta fez uma viagem de Cabo verde – Lisboa

No decurso da revista foi encontrada cocaína – 2 embalagens com o peso líquido de 1. 983,411
gramas. Foi ainda feita toda uma lista dos pertences que a arguida tinha consigo no momento
da revista

O estupefaciente foi entregue à arguida em Cabo Verde e o objetivo era que esta o trouxesse
para Lisboa e entrega-se a pessoa não identificada pelas autoridades

1) Arguida sabia que transportava cocaína e sabia que esta era ilegal
2) Transportou com o intuito de obter dinheiro: iria receber 2.000,00
3) Os telemóveis, documentos apreendidos e o dinheiro que trazia consigo destinavam-
se ao exercício da atividade ilegal
4) A arguida agiu de forma livre e consciente de que o que estava a fazer era ilegal
5) Arguida reside em Portugal há 9 anos. Trabalha como empregada de limpeza. Cuida de
crianças de forma regulas em casas particulares. Tem uma filha proveniente de um
casamento. Não tem antecedentes criminais e tem o 9º ano

Arguida interpôs recurso do acórdão:

- A ameaça de pena e censura do facto são suficientes para afastar a arguida da prática de
crimes: por isso a pena de prisão deve ser suspensa

- Os factos já provados permitem efetuar um juízo favorável em relação à arguida

- Cometer um crime de tráfico de droga não pode afastar a possibilidade de aplicação da


suspensão da pena de prisão
MP defende a improcedência de recurso

Questão que se discute é se se pode realmente suspender a execução da pena de prisão:

Segundo Figueiredo Dias – Os fins das penas só podem ter natureza preventiva (seja de que
tipo for), mas não retributiva.

Num sentido de prevenção geral positiva devemos ver como finalidade da pena o reforço da
confiança da sociedade nas normas vigentes mediante um igual reforço das suas expectativas
que acabaram frustradas após a violação da norma e a defesa dos bens jurídicos tutelados
pelas normas violadas

Dentro da moldura e tendo em conta os limites máximos de culpa, os limiares de defesa do


bem jurídico e a medida ótima de tutela do bem jurídico devem atuar considerações de
prevenção especial quando se determina a medida concreta da pena para o caso em questão

A substituição da pena de prisão não deve existir neste caso de tráfico internacional
organizado de cerca de 2 kg de cocaína:

1) A aplicação de uma pena de substituição (de suspensão da execução da pena de prisão


neste caso) contrariaria as considerações de prevenção geral: A medida ótima de
tutela dos bens jurídicos e das expectativas comunitárias não pode ser excedida por
exigências de prevenção especial – princípio da necessidade da pena. E abaixo desta
medida ótima a tutela ainda pode ser efetiva, mas ultrapassando o limiar mínimo de
defesa do ordenamento jurídico (como seria o caso) a fixação desta pena já colocaria
em causa a função de tutela de bens jurídicos
2) Crítica da professora: Se não se tivesse em conta outros critérios de fins das penas
para além da prevenção geral positiva a utilização da arguida enquanto instrumento
seria efetiva e não justificável – foi o caso – contrariou-se o pensamento de figueiredo
dias porque no acórdão é só prevenção geral, geral, geral. Acaba por existir uma
prevenção geral negativa implícita mesmo que no acórdão isso não se encontre
expresso por ser uma ideia clássica e não da atualidade
3) Solução da professora: Arguida está integrada na sociedade e não é reincidente –
devia ter-se em conta, de acordo com a prevenção especial, para que a suspensão
fosse possível

Figueiredo Dias:

Moldura legal abstrata: 8 a 16 anos – crime de homicídio

Dentro dos 8 a 16 o juiz estabelece uma moldura judicial mediante a prevenção geral: 15 9 –
definição da medida concreta: mediante critérios de prevenção especial positiva – artigo 40º
CP

40º 2º - culpa é pressuposto da pena (não há pena sem culpa), mas o princípio da culpa é um
princípio restritivo

Pressuposto é diferente de fundamento!!!!

Teorias dos fins das penas de acordo com Figueiredo dias, Fernanda Palma e Roxin:

Figueiredo Dias

Moldura:

Abaixo desta medida concreta


da pena considerada ótima para
proteção do bem jurídico está
tudo bem. Acima desta a pena
Medida ótima

Limiar mínimo de defesa do bem jurídico (abaixo deste a pena não é justa)

O professor tenta articular a prevenção geral positiva (forma de proteção dos bens jurídicos) e
a prevenção especial positiva (forma de reintegração do agente na sociedade). No entanto, dá
mais importância à prevenção geral

A medida concreta da pena é determinada mediante considerações de prevenção especial e


mediante a culpa que impõe limites com o objetivo de evitar penas excessivas (não funciona
como fundamento, mas meramente como limite). A culpa estabelece um máximo de pena por
isso a medida da culpa não deve ser ultrapassada pela pena concreta.

A culpa não deixa de ser pressuposto da pena (sem culpa não existe pena), mas não é
fundamento.

1) A pena concreta é limitada pela medida da culpa – limite inultrapassável


2) Dentro deste limite máximo a pena é determinada mediante uma moldura fixada por
figueiredo dias através a prevenção geral positiva em que o limite superior é o
ponto/medida ótimo/a e o limite inferior o limiar mínimo de defesa do ordenamento
jurídico/bem jurídicos. Acima da medida ótima a pena não é justa (excesso), abaixo
será se não se ultrapassar o limite inferior
3) Dentro desta moldura a medida da pena é encontrada baseando-se na prevenção
especial. Estas exigências de prevenção especial NUNCA podem determinar uma pena
concreta que contrarie as exigências base da prevenção geral (os limites da moldura
penal fixada por figueiredo dias). A exigências de prevenção especial também nunca
devem contrariar o limite imposto pela culpa

Fernanda Palma

Críticas a Figueiredo Dias:

- Culpa não é só pressuposto, mas também fundamento

- As pessoas não podem ser instrumentalizadas

- A prevenção especial é mais importante

Culpa funciona como fundamento e limite da medida da pena – artigo 71º CP: A moldura
penal é fixada em função do limite imposto pela culpa e a pena determinada pela prevenção
geral e especial nunca pode ser superior a esse limite de culpabilidade

A culpa é extremamente importante para a determinação da medida concreta da pena


porque condiciona o merecimento da pena, no entanto, não se pode deixar de ter em conta
a prevenção geral e especial porque estas também afetam sempre o merecimento da pena
Na pena está sempre inerente uma ideia de reparação, de retribuição. Contudo, trata-se hoje
de uma retribuição moderna, em que a pena é entendida como uma pena retributiva
justificada preventivamente.

Defender que a culpa é fundamento da pena não é ter uma visão retributiva

Limite é a prevenção (sobretudo a especial porque a geral leva a uma instrumentalização das
pessoas) e a culpa

Roxin

Pena tem finalidades preventivas:

Plano da ameaça abstrata da pena (estatuição da norma incriminadora) - pena serve fins de
prevenção geral (visa a tutela de bens jurídicos)

Plano da graduação da pena no caso concreto – prevenção geral e prevenção especial, numa
lógica de evitar a reincidência, mas atendendo à culpa (culpa é pressuposto – não fundamento
- e limite inultrapassável da pena). Pode ser fixada pena abaixo do limite de culpa se isso for
necessário para a prevenção especial

Ressocialização faz-se no interesse do individuo mas também da comunidade

Sousa e Brito

Para este determina-se a pena primeiramente através da culpa e só depois mediante fins
preventivos (a prevenção especial sobrepõe-se à geral na sua opinião).

Este autor considera que do artigo 40º/2 resulta que a pena visa retribuir a culpa, mas que a
culpa é fundamento ou pressuposto essencial (ou seja, sem culpa não há pena), e só por isso
também limite da pena - A culpa só é retribuída na medida necessária à proteção dos bens
jurídicos. Ter um limite de pena imposto pela culpa pode ser incompatível com exigências de
prevenção especial

Em rigor, será impossível obedecer à proibição de a pena ultrapassar a medida da culpa sem
medir a pena pela culpa. Medir a pena pela culpa é o conteúdo essencial da ideia de
retribuição – pena não existe sem culpa

Defende que a pena retributiva é a que melhor serve as exigências de prevenção especial

TRL Évora

Prevenção geral positiva:

Restabelecer a paz jurídica comunitária

Reafirmar a proteção do bem jurídico

TRL Lisboa

Criminologia:

Luís, cidadão alemão, nasceu no seio de uma família com recursos económicos e
completamente estruturada. Quando atinge a idade de 15 anos trava contacto com alguns
colegas mais velhos que o iniciam no consumo de drogas. Passado alguns meses, Luís já
consume regularmente drogas pesadas. Certo dia, os seus pais decidem expulsá-lo de casa.
Luís procura então inscrever-se num programa de reabilitação para jovens toxicodependentes,
promovido na sua cidade pelo Estado alemão. Todavia, é informado de que já não pode
inscrever-se, porque as vagas já estão todas preenchidas. Luís acaba por ir viver com outros
jovens numa casa abandonada. Luís procura encontrar um emprego, sem qualquer sucesso.
Luís começa então a praticar pequenos furtos. Passado algumas semanas, já acompanha
alguns dos seus colegas em roubos de automóveis.

Luís não nasceu criminoso. Sutherland defende que não se pode ter em conta qualquer teoria
biológica ou psicológica para justificar as tendências criminosas de um individuo. São os
estímulos sociais que o individuo recebe que poderá potenciar essas tendências. São os
círculos sociais mais próximos deste, neste caso a família e amigos. Mead defende que a
construção do EU resulta de processos de imitação do outro, ou seja, o Luís quis imitar os
amigos para se sentir integrado daí ter iniciado o consumo de drogas. Isto levou a que
consequentemente os seus pais não o apoiassem e expulsassem de casa, talvez por o
rotularem já como potencial criminoso ou deliquente (labelling aproach). Aqui temos a família
a dificultar a situação. Assim o Luís acabou por perder os estímulos de aprovação do
cumprimento de normas para estar mais exposto aos estímulos de aprovação do
incumprimento das normas (Sutherland). Luís ainda tentou inscrever-se num programa de
reabilitação, mas não havia vagas. Creio que continuou a consumir drogas enquanto procurava
emprego. Devem tê-lo rotulado como drogado e um delinquente (labelling aproach), logo não
lhe arranjaram trabalho. Após tanta etiquetagem e sem ninguém que o ajude este acaba por
se considerar realmente um delinquente e decide atuar como tal, por isso entra no mundo do
crime – Segundo Sutherland as pessoas aprendem a ser criminosas, não se cingindo, portanto,
a uma mera imitação do comportamento dos outros.

Só existe uma solução: Sutherland - Se o crime é algo que se aprende então o direito penal
pode interferir nesse processo de aprendizagem – a justiça juvenil é importante neste caso.
Como a pessoa está numa fase de crescimento ainda se pode evitar que aprenda a ser
criminoso

Bem jurídico: Bem jurídico é apresentado, não como produto de uma norma, mas sim como
algo que tem valor na vida social, correspondendo a interesses e necessidades, e que é
relevante pré-juridicamente, ou seja, apenas é reconhecido pelo Direito.

Isto deve ser sempre articulado com os princípios de necessidade da pena (o direito penal só
deve intervir quando existe uma violação de bens jurídicos que justifique a restrição de direitos
e liberdades fundamentais – 18º 2º CRP), principio da proporcionalidade (aplicar uma pena a
um crime de natureza civil não parecerá justo nem proporcional), principio da subsidiariedade
(o direito penal é a ultima ratio, é o último recurso) e principio da proibição do excesso

Crimes ambientais: A sociedade moderna que se formou é uma sociedade de risco. Sendo
assim a segurança e prevenção de riscos é o ponto fulcral. O bem jurídico com dignidade penal
e por isso objeto de tutela penal será a vida humana e animal e a saúde pública – antecipa-se a
tutela do bem jurídico porque o que se pretende é evitar a produção de dano – crimes de
perigo abstrato (não há perigo efetivo para os bens jurídicos) – Aplicável!!!!

Figueiredo Dias: Bem jurídico é indispensável sob pena de a norma ser inconstitucional. Bem
jurídico é expressão do interesse da pessoa e comunidade. Bem jurídicos dignos de tutela
penal – existe analogia material entre o bem jurídico penal e os direitos fundamentais
presentes na CRP – relação de mútua referência (não de contacto imediato) entre a ordem
axiológica jurídico-constitucional e a penal. Não se pode prescindir da analogia material.

Roxin: O bem jurídico é fundamental para analisar a constitucionalidade ou


inconstitucionalidade das normas incriminadoras. Função do direito penal é de proteção dos
bens jurídicos. Não existe lesão de bem jurídico perante condutas imorais, questões
ideológicas. A necessidade de existência de um bem jurídico para que a norma penal seja
legitima decorre da CRP – 18º 2º, mas não pode afirmar-se que tudo o que não protege
concretamente um bem jurídico é inconstitucional. Crimes contra o meio ambiente: existe
ofensa de um bem jurídico – responsabilidade pelas gerações futuras

FP: Para ela a ideia de bem jurídico não é imprescindível para ver a inconstitucionalidade das
normas. O bem jurídico é apenas um conceito exploratório. Não existe um comportamento
que leva diretamente à lesão de um bem jurídico – difícil fundamentar a conexão entre os
dois. O que sustenta a incriminação da ação é uma ideia de responsabilidade pela natureza e
pelas gerações futuras – responsabilidade pessoa-mundo. Temos não só direitos, mas também
deveres. – Superação de uma visão antropocêntrica do direito penal – Aplicável!!!!

Princípio de legalidade

Acórdão da reserva relativa da AR

Questão fulcral: O artigo 22º que qualifica como mera contraordenação os factos
anteriormente qualificados pelo DL nº 31664 como crime, pertencente ao decreto-lei nº
187/83 de 13 de maio é inconstitucional?

Tanto para a 1ª instância como para o TRL a norma em apreço (22º 1º alínea a) é
inconstitucional porque trata de matéria de exclusiva competência da AR. No entanto, temos
de ter noção de que a matéria da norma 22º foi objeto de uma autorização legislativa, contida
no artigo 19º da lei 2/83 de 18 de fevereiro e esta nos termos do nº 4º do artigo 168º havia
caducado com a dissolução da AR

A norma em apreço é abrangida pela reserva de competência legislativa da AR face ao disposto


na alínea c) e d) do nº1 do 168º da CRP (165º da CRP da atualidade) porque o artigo ao punir
determinadas condutas como contraordenações acaba por implicitamente eliminar essas
condutas do elenco legal dos crimes – esta competência exclusiva da AR exerce-se pela
positiva e pela negativa

A lei nº2/83 em cujo artigo 19º se conferia a autorização legislativa em causa é a lei que
aprovou o orçamento de estado para 1983 e tinha sido sustentado que as autorizações
legislativas contidas na lei do orçamento não caducam nos casos previstos no nº4 do artigo
168º por o seu período de vigência acompanhar sempre o da lei em que se inscrevem. No
entanto, não sendo matéria abrangida pela alínea i) do nº1 do artigo 168º CRP, mas sim da
alínea c) não existe razão que justifique uma exceção

Acórdão das normas penais em branco

O artigo 24º do DL nº28/84 prevê um abundante nº de práticas proibidas que têm por objeto
aditivos alimentares anormais não considerados suscetíveis de criar perigo para a vida, saúde e
integridade física alheia. Mas não diz quais – norma penal em branco

O artigo 4º do DL 192/89 diz que é por portaria que serão estabelecidos quais os produtos
cuja utilização fazem atuar o 24º - norma complementadora da norma penal em branco
IDEIA QUE SE PRETENDE DISCUTIR: Defende-se que a portaria não é um ato legislativo (115º
nº1 CRP – “Nenhuma lei pode criar outras categorias de atos legislativos ou conferir a atos de
outra natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar, integrar, modificar, suspender ou
revogar qualquer dos seus preceitos”), e por isso não preenche a exigência do artigo 29º 1º
CRP – defende-se por isso que o artigo 4º do DL 192/89 é inconstitucional

a) Só existiria violação do 115º se na portaria se definisse o critério autónomo de ilicitude


– aquele que permite distinguir entre o comportamento proibido e o permitido. Mas
como não é esse o caso e quem define o critério autónomo de ilicitude é a norma do
DL não existe violação do 115º. A norma da portaria só executa a norma legal penal
em branco
b) O principio da legalidade penal não é violado porque este atinge a norma
incriminadora e essa será o artigo 24º do DL, isto porque é aí que se identifica o
desvalor da ação proibida, o desvalor do resultado lesivo e a identificação do bem
jurídico tutelado e por isso é definido nesse artigo o critério autónomo de ilicitude. A
norma da portaria é apenas uma concretização do já disposto na norma penal em
branco (o artigo 24º)

Conclusão: Artigo 4º do DL 192/89 não é inconstitucional

1) Princípio da legalidade: exigência de reserva de lei – 165º 1º d) CRP – regime geral do


DL 433/82, de 27 de outubro – desde que o governo legisle dentro dos limites
impostos pelo regime geral do DL este pode alterar o valor da coima

2 e 3) Situar a matéria no princípio da legalidade – quais corolários estão em causa? Exigência


de lei escrita – 165º nº1, c)

Autolimitação do estado perante os cidadãos – tipificar penas e crimes só existindo lei (só a lei
em sentido formal pode ser fonte, salvo o costume internacional): pretende assegurar as
expectativas jurídicas dos cidadãos.

FD: Princípio da legalidade abrange apenas a criminalização/agravação – não abrange


descriminalização/atenuação da responsabilidade

TC: Princípio da legalidade tem uma vertente positiva e negativa: Para além da agravação ou
criminalização, também a atenuação e exclusão (descriminalização) da responsabilidade
jurídico penal cabe na reserva relativa

Tudo considerado, é necessária autorização legislativa baseada no princípio da separação de


poderes, não do princípio da legalidade (para o FD)

4) 40º 3º - perigosidade aferida no momento do julgamento. Exige-se sempre uma lei em


sentido formal seja qual for a consequência jurídica (pena, medida de segurança
privativa ou não de liberdade). Princípio da legalidade e reserva de lei impõem-se a
todas as medidas de segurança privativa ou não das liberdades – Sousa e Brito
5) FD- princípio da legalidade abrange os tipos de ilícito e tipos de culpa, mas não os tipos
justificadores nem os tipos de desculpa. FP- onde a analogia não é proibida a reserva
de lei não opera. Governo vai estar a inovar e a criar – necessita sempre de uma lei de
autorização legislativa

Acórdão 534/98 – normas penais em branco e reserva relativa


Artigo 21º 1º do DL 15/93: Pune com pena de prisão de 4 a 12 anos quem, sem para tal estar
autorizado, cultivar, produzir etc…fora dos casos previstos no artigo 40º, plantas, substâncias
compreendidas na tabela I a III

Artigo 26º 1º do DL 15/93: Pena de prisão de 3 anos ou multa de quem utilizar as substâncias
para uso pessoal das tabelas I a III ou prisão de 1 ano ou multa até 120 dias, no caso de
substâncias compreendidas na tabela IV

Artigo 71º 1º alínea c) do DL 15/93: remete para portaria dos ministros da justiça e saúde o
dever de determinar mediante esta os limites quantitativos máximos de princípio ativo para
cada dose média individual diária das substâncias ou preparações constantes das tabelas I a IV,
de consumo mais frequente. A portaria é a 94/96

Questões importantes:

1) A norma contida na alínea c) do nº1 do artigo 71º do DL 15/95 não é organicamente


inconstitucional porque não cabe às autorizações legislativas determinar que matérias
podem ser remetidas para portaria pelo DL que as executa. Estas podem somente
definir o objeto, sentido, extensão e duração da autorização – 165º 2º CRP – não seria
necessária autorização legislativa
2) Normas penais em branco e princípio da legalidade em matéria criminal: “Não há pena
sem lei ou sem estar descrita em lei formal, não portaria nem costume”. As normas
incriminadoras – 21º e 26º do DL 15/93 – é que criam as infrações, consideram
formalmente ilícitos e culposos certos comportamentos das pessoas, estabelecem
tipos de crimes e fazem corresponder-lhes penas.
3) A questão é que defende-se que esta portaria delimita negativamente o tipo
incriminador do artigo 26º (tipo privilegiado) por referência ao tipo base, o artigo 21º,
ou seja, o agente não poderia beneficiar da penalidade mais leve fixada no artigo 26º
se detivesse plantas ou substâncias ou preparações em quantidade superior à indicada
na portaria. A portaria definiria assim os âmbitos de aplicação do tipo privilegiado e do
tipo base. No entanto, para se defender a constitucionalidade da norma que remete
para a portaria, devemos aplicar outro raciocínio: os limites fixados na portaria têm
um valor de meio de prova, a apreciar nos termos da prova pericial (natureza da
portaria seria técnica). Houve uma remissão para valores meramente indicativos que
podem ser afastados pelo tribunal mediante fundamentação

Interpretação:

Interpretação restritiva: aumentamos o âmbito da punibilidade ao interpretar restritivamente


uma norma revogatória, mas é admissível porque é a favor da parte. Solução é criticada: mais
do que restritiva, mas teleológica – para ser restritiva ainda tem de haver uma coincidência
entre a solução interpretativa e a letra da lei. Reduzimos a finalidade teleológica que o
legislador pensou para aquela norma

Redução teleológica de normas que descriminalizam (norma negativa) corresponde a uma


solução em que se aumenta o âmbito da punibilidade

Redução teleológica de normas positivas: a norma não vale para todos os fins que o legislador
a criou

Conselheiro Henrique Gaspar: Interpretação extensiva (imperfeitamente expresso o


pensamento do legislador por isso adiciona-se algo)
Sentido possível das palavras como limite da interpretação, não como critério interpretativo

De acordo com este limite Figueiredo Dias estabelece uma distinção entre a analogia vs.
Interpretação extensiva.

Para se escolher o sentido possível das palavras devemo-nos auxiliar

Se o comportamento couber no tipo incriminador da norma então tudo bem – elemento


teleológico e sistemático – Exemplo: Se alguém decide criar casas de abrigo para prostitutas
onde elas podem receber os clientes. Num mero juízo de subsunção esta ação insere-se no
169º, mas de acordo com uma interpretação do 169º de acordo com o elemento teleológico
estes atos já não caberão no 169º.

Problemas de interpretação:

Captura do lobo ibérico: A legislação incrimina o abate do lobo ibérico, mas ao abrigo de uma
interpretação admissível uma extensão destes casos aos casos de captura do lobo – admite-se
uma interpretação extensiva – se é punido o abate será que não cabe a captura também?

Crime do 208º: Se eu furtar uma roulotte antiga e pegar no meu carro e levar. Não se pode
ultrapassar este problema porque o que se exigem são veículos motorizados e a roulotte não o
é – se criássemos uma norma para o caso em que se integra a roulotte, esta seria contra legem
– existiria analogia. A interpretação extensiva aqui não seria possível

Castanheira Neves: Não posso fazer a interpretação sem recorrer à analogia. A lei é um critério
de orientação para se obter a norma do caso. O juiz decisório constrói a norma do caso. O juiz
ao interpretar vai construir a norma baseado num texto ideal

Para que a norma do caso a que o juiz chega seja válida tem de passar por 4 condições:
sistemática, dogmática, legal e garantia constitucional

FP: O juiz ao interpretar constrói a norma do caso, mas segundo o texto real da norma e não o
ideal. Sentido possível das palavras na linguagem comum (limite, não critério da
interpretação). O juiz ao interpretar vai construir o texto real da norma. O texto legal limita o
interprete – as palavras moldam as ideias – devemos partir do texto da lei para criar a norma
do caso. Elemento teleológico e sistemático

FD: Sentido possível das palavras

Norma do caso não pode ser contra legem. O interprete não pode chegar a soluções que sejam
inadmissíveis

1º - analogia é proibida:

FD – uma interpretação que caiba no sentido possível das palavras – extensiva; se ultrapassar
analogia

Analogia: existe lacuna – o legislador não regulou a situação – segundo um argumento de


semelhança aplica-se uma norma a um caso não regulado

Intervenção extensiva: o legislador não exprimiu bem o seu pensamento

FP: Fusi logis - Podemos recorrer a raciocínios analógicos – se ultrapassarem os limites da


interpretação então já não são possíveis.
Aplicação da lei penal no tempo

Caso 1: 371º A – requerer a reabertura da audiência porque a lei nova é mais favorável

2º 4º - não se aplica o 4º (aqui recorre-se), mas recorre-se ao 371º A CPP porque ele só
cumpriu meses e não o máximo da pena prevista na lei posterior para se aplicar a lei nova

Você também pode gostar