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3⁐MARTE - Colóquio Musealização da Arte

Diante das Performatividades, Performações e Transitoriedades:


Quais os Tempos da Musealização?

14 a 16 de junho de 2023
Museu Nacional da República – Brasília/DF

Comissão Científica
Profa. Dra. Ana Lúcia de Abreu Gomes (UnB)
Prof. Dr. Clovis Carvalho Britto (UnB)
Profa. Dra. Joseania Miranda Freitas (UFBA)
Profa. Dra. Elizabete de Castro Mendonça (UNIRIO)
Profa. Dra. Rosângela Marques de Brito (UFPA)
Profa. Dra. Magali Melleu Sehn (UFMG)
Profa. Dra. Vanessa Barrozo Teixeira Aquino (UFRGS)
Profa. Dra. Daniela Andreia Viola Ferreira Salazar (NOVA de Lisboa)
Profa. Dra. Alice Semedo (U.Porto)

Comissão Organizadora – Universidade de Brasília

Dr. Emerson Dionisio Gomes de Oliveira


Dra. Daniela Felix Martins Kawabe
Dra. Bianca Andrade Tinoco
Ms. Fernanda Werneck Côrtes

Equipe de Apoio

Grupo mARTE
Dra. Anna Paula da Silva – Universidade Federal da Bahia
Dr. Emerson Dionisio Gomes de Oliveira – Universidade de Brasília
Dra. Bianca Andrade Tinoco – Universidade de Brasília
Ms. Fernanda Werneck Côrtes – Universidade de Brasília
Ms. Juliana Pereira Sales Caetano – Universidade Federal de Minas Gerais
Dra. Daniela Andreia Viola Ferreira Salazar – NOVA de Lisboa
Dra. Daniela Félix Martins Kawabe – Universidade de Brasília
Dra. Neila Dourado Gonçalves – Universidade Federal de Sergipe
Dra. Mariana Estellita Lins Silva – Universidade Federal do Maranhão

Créditos da publicação
Foto da capa: Daniel Marques / Divulgação Museu Nacional da República
Sumário

Conferências e Palestras
Fernanda Pitta (MAC USP) ................................................................... 6
Marijara Souza Queiroz (UnB) ............................................................ 7
Edson Farias (CNPq; PPGSOL/UnB; CMD; PPGMLS/UESB) ........... 8
Vanessa Barrozo Teixeira Aquino (UFRGS) ...................................... 9
Mesas
Mesa 1
Anna Paula da Silva (UFBA) ............................................................... 12
Tálisson Melo de Souza (USP) ........................................................... 12
Marina Ciambra Rahe (USP).............................................................. 13
Yacy-Ara Froner Gonçalves & Francesco Napoli (UFMG) ............ 14
Mesa 2
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira (UnB) .................................. 15
Cristiane Peres Dias & Robson Xavier da Costa (UFPB/UFPE).... 16
Juliana Pereira Sales Caetano & Magali Melleu Sehn (UFMG).... 17
Bianca Andrade Tinoco (UnB) ........................................................... 18
Mesa 3
Anna Luisa Santos de Oliveira (UFBA) ............................................. 19
Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha (UFBA) ........................ 20
Raisa Filgueira Soares Gomes & Sabrina Fernandes Melo
(UFPB/UFPE) ......................................................................................... 20
Mario Caillaux Oliveira (UnB) ............................................................ 21
Mesa 4
Adriel Dalmolin Zortéa (UnB) ............................................................ 22
Marco Túlio Lustosa de Alencar (UnB) ............................................ 23
Matias Monteiro Ferreira (Itaú Cultural) ......................................... 24
Leandro Alves Garcia (UnB) & Robson Xavier da Costa (UFPB) . 24
Mesa 5
Daniele Pestana & Zenildo Alves de Sousa Júnior (GDF) ............. 25
Maria Sofia Villas-Bôas Guimarães (UFBA)..................................... 26
Fernanda Werneck Côrtes & Sara Seilert (UnB/GDF)................... 27
Renata de Fátima da Costa Maués & Raissa Silva da Costa
(UFPA) .................................................................................................... 28
Mesa 6
Maria de Fátima Medeiros de Souza & Maria Inês Alves de
Souza (GDF) .......................................................................................... 29
Luzia Gomes Ferreira (UFPA) ............................................................ 30
Robson Xavier da Costa & Alynne Cavalcante Bezerra da Silva
(UFPB) .................................................................................................... 31
Joseania Miranda Freitas & Lysie dos Reis Oliveira (UFBA) ......... 32
Mesa 7
Maira Rangel Marinho & Leísa Sasso (GDF) ................................... 33
Ana Beatriz Marques Penna (UnB) .................................................. 34
Ana María Bernal Cortés (Univ. Del Tolima/ UnB) ........................ 35
Conferências e Palestras
Quarta-feira, 14 de junho

Conferência de abertura

“Nós somos pássaros que andam”: manifestações estéticas indígenas e o


atravessamento dos espaços de arte
Fernanda Pitta (MAC USP)

A partir das noções de ativação e atravessamento, a conferência tratará de algumas


experiências de apresentação de manifestações estéticas indígenas em museus e
exposições de arte. A discussão dessa trajetória cria a oportunidade de refletir
como a musealização e exibição da arte contemporânea dita “efêmera” pode
dialogar com as estratégias de resistência e memória de manifestações estéticas
indígenas, configuradas na forma de sua apresentação no contexto de museus e
exposições de arte.

Fernanda Pitta é professora doutora da Divisão de Pesquisa em Arte,


Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo, atualmente chefia a Divisão de Acervo do museu. Historiadora
da arte, foi curadora sênior da Pinacoteca de São Paulo entre 2014 e
2022. Realizou, entre outros projetos, a curadoria das exposições
Trabalho de artista: imagem e autoimagem (1826-1929), Ninguém teria
acreditado: Alvim Côrrea e 10 artistas contemporâneos e Eleonore Koch:
espaço aberto. Atuou como coordenadora curatorial de Véxoa: nós
sabemos, com curadoria de Naine Terena e como consultora da mostra
Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil. É coordenadora da
equipe Brasil do projeto de pesquisa Decay without mourning, future
thinking heritage practices (Riksbankens Jubileumsfond). Membro do
Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA). Atua na área de história da
arte, com ênfase na reflexão sobre branquitude e historiografia da arte
no Brasil.

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Quinta-feira, 15 de junho

Palestra

O lugar da arte na musealização de espaços de memória em tempos


pandêmicos
Marijara Souza Queiroz (UnB)

Analisa a exposição UnB espaços de memórias desenvolvida durante a Covid-


19 que registra lugares de memórias construídos na temporalidade presente por
meio da inter-relação entre pessoas e os espaços arquitetônicos,
artísticos ou paisagísticos. Propõe reflexão sobre o vazio dos lugares e os
recompõem por meio da memória que é subjetiva, considera a materialidade, os
símbolos e as funções e pode ser afetiva, imaginativa ou fantasiosa. É pessoal, mas
se consolida no processamento coletivo. O Kombeiro, intervenção artística
do Coletivo Corpos Informáticos no Campus Darcy Ribeiro da Universidade de
Brasília, desdobramento da performance realizada na inauguração da
exposição Aberto Brasília, em 2011, no Centro Cultural Banco do Brasil, se constituiu
como laboratório de artes do qual surgiram inúmeras performances do Coletivo
que acrescenta memórias ao lugar por meio das comemorações
do aniversário de plantação das carcaças de kombis, receptáculos e provocadores
de memórias que enriquecem a paisagem visual e servem de abrigo para pessoas
e animais.

Marijara Souza Queiroz é doutora em Artes pelo Instituto de Artes da


Universidade de Brasília (UnB). Mestra em Artes Visuais pela Escola de
Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharela em
Museologia pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
UFBA. Professora Adjunta do Curso de Museologia da Faculdade de
Ciência da Informação da UnB e membro do Grupo de Pesquisa
Museologia, Patrimônio e Memória do CNPq nas linhas de Teoria e
Prática Museológica e Cultura, Arte e Memória. Trabalha com temas
relacionados a museus, coleções, curadorias e exposições museológicas
com abordagens voltadas para memória social, fundamentos e crítica da
arte, estudos de gênero, raça e classe.

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Sexta-feira, 16 de junho

Palestra

Agenciamentos intermidiáticos nos remanejamentos da política da memória


em torno de Agontimé
Edson Farias (CNPq; PPGSOL/UnB; CMD; PPGMLS/UESB)

A convergência intermidiática define a realidade cujo alcance amplo e profundo sobre


os processos de simbolização contemporâneos substanciam uma agenda de
pesquisas, estudos e debates. Prevalece o interesse, de um modo geral, nos efeitos
deixados pelas linguagens e tecnologias digitais. O alvo nesta comunicação, porém,
são as repercussões mutuas entre a tradução de um romance e as políticas de
memória envolvendo um patrimônio cultural. Classificado como área de exceção
patrimonial nacional, a Casa Grande das Minas Jeje, em São Luís do Maranhão, sagrou-
se um espaço museificado em que, a um só tempo, o monumento tesmunha e
referencia uma das matrizes religiosas afrobrasileiras – o Tambor de Mina-Gegê. Ao
se concentrar no romance Agontimé e sua lenda (versão em português do original
Agontime, her legend, de autoria da escritora estadunidense Judith Ilsley Gleason), a
reflexão tomará por objeto as mediações entre os agenciamentos sócio-humanos e
sociotécnicos que inserem outras pautas ao recurso às lembranças da mítica
fundadora daquele espaço símbolo. A finalidade teórica de problematizar a maneira
como se desenrolam processos de intermediação envolvendo distintas formas de
simbolização, com suas linguagens artísticas afins, portanto, se realiza a partir de dois
questionamentos: a) a escolha mesma desse bem simbólico como digno de ostentar
a representação sublinhada no romance; b) a conversão dessa escolha em arranjos
semióticos que, a um só tempo, sintetizam estilisticamente injunções e performações
poético-formais, mas também aquelas de natureza institucionais, epistêmicas,
políticas, econômicas, entre outras.

Edson Farias é pesquisador do CNPq. Doutor em Ciências Sociais pela


Unicamp (2001). Pós-doutoramento pelo Colégio de México, onde esteve
como pesquisador visitante (2012) e pelo Instituto de Estudos Sociais e
Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2022-2023).
Atualmente é professor adjunto do Departamento e do PPG em Sociologia
da Universidade de Brasília. Professor associado do PPG em Memória:
Sociedade e Linguagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica e

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Sociologia da Cultura. Pesquisa audiovisual, cultura popular, memória,
economia simbólica e consumo cultural e formação de subjetividades
artísticas. Coordena o Comitê de Pesquisa em Sociologia da Cultura da
Sociedade Brasileira de Sociologia. Coordenou a equipe responsável pela
pesquisa e pelo dossiê que subsidiou reconhecimento do Complexo
Cultural do Boi-Bumbá Amazônico como patrimônio cultural do Brasil, pelo
IPHAN. E membro do Comitê de Cultura e Patrimônio da Associação
Nacional em Pós-Graduação em Ciências Sociais. Lidera o Grupo de
Pesquisa em Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD –
www.culturaememoria.com.br). Editor da revista Arquivos CMD
(http://www.culturaememoria.com.br/revista/index.php/cmd).
Coordenador do Comitê de Sociologia da Cultura da Sociedade Brasileira de
Sociologia.

Conferência de encerramento

Há uma coisa que pulsa: musealização da arte no Hospital Psiquiátrico São


Pedro (RS)
Vanessa Barrozo Teixeira Aquino (UFRGS)

A conferência visa compartilhar experiências no âmbito do processo de


musealização do acervo artístico da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico
São Pedro (HPSP), um dos hospitais psiquiátricos mais antigos do Brasil localizado
em Porto Alegre/RS. O acervo da Oficina de Criatividade do HPSP reúne há mais de
três décadas a produção artística criada por seus frequentadores, constituindo
atualmente mais de 100 mil trabalhos entre pinturas, desenhos, bordados e
cerâmicas. Em 2022, o acervo passou a integrar o Museu Estadual Oficina de
Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (MEOC-HPSP) iniciando novos
projetos no âmbito da Museologia, contemplando ações de salvaguarda e
comunicação com vistas à preservação de suas coleções. O MEOC-HPSP integra a
rede de acervos de arte e saúde mental do país, junto com Museu de Imagens do
Inconsciente (MII), Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac) e Museu
de Arte Osório Cesar (MAOC).

Vanessa Barrozo Teixeira Aquino é professora no Curso de Museologia


e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio
(PPGMusPa) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Possui Doutorado e Mestrado em Educação (UFPel), Especialização em
Práticas Curatoriais pelo Instituto de Artes (UFRGS) e Graduação em

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Museologia (UFPel). Vice Líder do Grupo Sépia: Preservação - Memórias -
Acervos (UFRGS/CNPq). Tem experiência na área de Museologia com
ênfase em curadoria de exposições, atuando diretamente nas disciplinas
voltadas às práticas curatoriais no Curso de Museologia e no Programa
de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPGMusPA/UFRGS).
Orienta e desenvolve pesquisas e projetos de extensão nas seguintes
temáticas: Expografia e Expologia, Curadoria, Acervos de Arte e Saúde
Mental, Conservação Preventiva de documentos em suporte de papel e
Comunicação Museológica.

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Mesas
Quarta-feira, 14 de junho

Mesa 1

As autorias para a semântica da arte da performance


Anna Paula da Silva (UFBA)

Para alguns de nós, o único contato com as obras de arte da performance ocorre
por meio de registros videográficos e fotográficos. Além disso, alguns desses
registros permitem a reativação, a reperformance de muitas obras, especialmente
as inscritas como seminais para os estudos da performance. Neste sentido, esta
comunicação tem como objetivo debater o papel das autorias dos registros na
disseminação, na interpretação e na produção de sentidos sobre obras de arte da
performance. Ademais, propõe-se evidenciar a ausência ou o restrito
reconhecimento dessas autorias; e debater a importância desse reconhecimento
para a documentação de obras inscritas na linguagem e que parte deles são
musealizados, institucionalizados por diferentes agentes e agências. Para tanto,
pretende-se apresentar algumas obras, seus artistas e os outros autores que
produziram registros, cuja documentação torna-se parte de um acervo
museológico/documental/arquivístico. A partir dessas experiências será possível
suscitar o papel dessas autorias para semântica da arte da performance, inclusive
por possibilitarem a produção de sentidos sobre as obras e evidenciarem os
distintos tempos entre a ação e o pós-acontecimento.

Anna Paula da Silva é doutora em Artes Visuais pelo Programa de Pós-


graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília (PPGAV-UnB) e
professora adjunta do Departamento de Museologia da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).

Reperformações e cronopolíticas: os casos de Neide Dias de Sá e Gretta


Sarfaty em aquisições recentes na Pinacoteca do Estado de São Paulo
Tálisson Melo de Souza (USP)

Em 1967, Neide Dias de Sá inseriu uma obra interativa em evento aberto no Aterro
do Flamengo, ao redor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, intitulada “A
Corda”. A obra era composta de recortes de jornais e revistas preparados pela
artista e oferecidos ao público dentro de um cesto, para pendurá-los com
pregadores de roupa e clips de papel num varal esticado entre duas palmeiras.

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Entre 1977 e 1980, Gretta Sarfaty realizou três performances em diferentes cidades
(Paris, Ferrara, Antuérpia e São Paulo), tendo apenas os registros fotográficos e
audiovisuais conservados até o presente, uma vez que sua materialidade estava
restrita à duração da ação performática. Entre 2018 e 2021, essas obras de Neide
Dias de Sá e de Gretta Sarfaty foram adquiridas pela Pinacoteca do Estado de São
Paulo, sendo integradas no projeto curatorial de exibição do acervo da instituição:
“A Corda” (1967), a partir de 2021; e “Modificação e Apropriação de uma Identidade
Autônoma" (1980) de Sarfaty, apresentada na inauguração da Pina
Contemporânea, em 2023. Esta apresentação propõe analisar de que maneira
essas obras performativas são reconstituídas para sua musealização, questionando
também a relação das aquisições com políticas museológicas do presente.

Tálisson Melo de Souza é artista visual e curador; pesquisador de pós-


doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São
Paulo (USP) e doutor em sociologia e antropologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com estágio de pesquisa na Yale
University; mestre e bacharel em artes pela Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF), com concentração em história da arte na Universidad de
Salamanca.

A performance e o intangível na coleção da Tate


Marina Ciambra Rahe (USP)

A entrada de performances em coleções museológicas vem desde sempre


intermediada por objetos. Se, em um primeiro momento, as ações eram
representadas por meio de vídeos e fotografias, a partir dos anos 2000, quando os
museus passam a adquirir performances propriamente ditas, contratos e
instruções começam a ser utilizados com o objetivo de reunir dados para sua
ativação. Dentro desse contexto, no qual a documentação assume um papel
preponderante, a aquisição de trabalhos de Tino Sehgal vem sendo apontada como
desafiadora diante do fato de que o artista tem como procedimento proibir
qualquer tipo de documento ― ele se vale da oralidade tanto para a transmissão
de instruções como para firmar contratos de compra e venda. Mas no momento
em que a Tate reafirma seu pioneirismo na coleção deste gênero com um acervo
que chega a mais de 25 peças, a aquisição de Ten Years Alive on the Infinite Plain
mostra como o método de Sehgal ― antes visto de forma isolada ― passa a ser
adotado como instrumento para garantir a continuidade da performance de Tony
Conrad. Para a conservação e exibição do trabalho, o museu passou a contar com
figuras que se tornaram responsáveis pela transmissão de informações,
reconhecendo a memória como essencial na sua realização. É uma perspectiva que

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perturba a ideia do museu como guardião das peças, uma vez que distribui o
conhecimento para além dos seus limites e valida dados que são transmitidos entre
os corpos, reavivando o caráter efêmero e intangível dessas obras.

Nina Rahe (Marina Ciambra Rahe) é jornalista formada pela


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mestre em Poéticas
Visuais no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e doutoranda
em História, Crítica e Teoria da Arte pelo mesmo programa.

Deslocamentos performáticos:
Minas Gerais como um vetor descolonizante
Yacy-Ara Froner Gonçalves & Francesco Napoli (UFMG)

O que fica da performance? Como desviar a discussão conceitual sobre


performance para fora da narrativa euro-estadunidense que se impõe? Como
inserir a memória de um tipo de arte que produz dispositivos descolonizantes em
uma estrutura museológica que é produto da própria colonialidade? A partir da
nossa perspectiva de artistas/pesquisadores mineiros, discutimos os modos de
apropriação de artistas deslocados do eixo RJ/SP, compreendendo Minas Gerais
como um vetor destas comunidades de artistas da performance que têm pouca
visibilidade epistemológica e não frequentam o campo das discussões e teorias das
artes. A partir da tese de Tadeu Chiarelli, em “Arte Internacional Brasileira”
(CHIARELLI, 2002), segundo a qual no Brasil as mulheres protagonizam movimentos
artísticos de modo antecipado, entendemos que tal movimento descolonizante,
característico da arte dita brasileira, vai além de romper com aspectos do
patriarcado, se estendendo para outros deslocamentos que são sempre re-
apropriações e entendendo também que a re-performance (FREITAS, 2022) é o
próprio movimento da memória no tempo presente, problematizamos a fragilidade
da memória recente da performance na era digital e como os editais e as demais
iniciativas institucionalizadas de fomento artístico lidam com esta memória.

Yacy-Ara Froner é graduada em História pela Universidade Federal de


Ouro Preto (1988), mestre em História Social pela Universidade de São
Paulo (1994) e doutora em História Econômica, com ênfase em
patrimônio cultural, pela mesma universidade (2001). Especialista em
restauração pelo Centro de Conservação e Restauração-CECOR (1992),
em conservação de coleções pelo Getty Conservation Institute-GCI (1995)
e em Arte e Cultura Barroca pelo IAC-UFOP (1992). É professora titular da
Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, atuando

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junto aos cursos de graduação em Artes Visuais e em Conservação-
Restauração, e professora permanente do Programa de Pós-graduação
em Artes e do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e
Patrimônio Sustentável da mesma universidade.

Francesco Napoli é graduado em História pelo Centro Universitário de


Belo Horizonte (UNIBH), mestre em Estética e Filosofia da Arte pela
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutor em Artes pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é professor
titular da Universidade Salgado de Oliveira.

Mesa 2

Direitos autorais e do autor em domínios conexos:


apreciações sobre o direito à performance
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira (UnB)

A Lei de Direitos Autorais atualmente em voga no Brasil desde 1998 é considerada


frequentemente restritiva diante do surgimento de novas tecnologias e formas de
difusão, que provocam, entre outras questões, responsabilidades compartilhadas
de autoria. A assimetria entre o texto da lei e a realidade contingente da cultura e
da arte exige uma forte atenção à literatura jurídica e jurisprudência. O resultado é
insegurança pela carência de referências para delinear as fronteiras legais da
autoria. Não raro a cessão ou o licenciamento de direitos autorais por seus titulares
contraria o interesse público. Não é inusual que museólogos, gestores de toda
ordem, além de historiadores das artes, cientistas sociais e educadores se vejam
impedidos de utilizar uma obra, seja qual for sua configuração, simplesmente por
não localizar os detentores de tais direitos. Nesse tocante, muitas vezes a proteção
absoluta dos direitos do autor torna-se obstáculo para o acesso às obras. Por outro
lado, pensar em ativações e reproduções livres podem fragilizar o lugar social e o
papel econômico do artista, transbordando marcos regulatórios dos direitos
autorais, inclusive úteis para a proteção de instituições museológicas e suas
coleções. O domínio público de uma obra exige mais responsabilidades sobre ela,
e não menos, da perspectiva museológica e patrimonial. Assim, buscamos
compreender por que as categorias do Direito Autoral no Brasil não respondem às
demandas geradas pelos conceitos de obra e autoria no grande continente da
performance.

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Emerson Dionisio Gomes de Oliveira é doutor em História. Docente e
pesquisador do Departamento de Artes Visuais, no Programa de Pós-
graduação em Artes Visuais e no Programa de Ciência da Informação da
Universidade de Brasília (UnB), é Bolsista Produtividade do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fragile:
temporalidades, performatividades e ancestralidades
Cristiane Peres Dias & Robson Xavier da Costa (UFPB/UFPE)

A experiência social do corpo negro feminino tem sido impactada por narrativas
coercitivas que atravessam o tempo. O racismo construído pelo colonialismo
escravocrata do século XIX articula-se, nos dias atuais, por meio de diversas
agendas discriminatórias. Para a mulher negra, essas estruturas interagem em
ramificação ao estigma sexista e são articuladas pela relação indissociável entre
raça, gênero e classe com a finalidade de espoliar, dizimar e deslegitimar saberes.
Os contextos impositivos expressam que a performance arte de um corpo
racializado está intimamente ligada a operações sociais e políticas dos grupos afro
diaspóricos, pois manifestam concomitantemente aos seus corpos, narrativas de
existência sob um sistema maculado pela violência racista. O objetivo deste estudo
é analisar como a performance arte, ativada pelo corpo negro feminino, pode
contestar experiências de apagamento sobrepujadas pelos tensionamentos
atemporais das teorias de controle genderizadas e colonialistas. Examinamos três
registros fotográficos da performance intitulada Fragile (2021) da artista paraibana
Cris Peres, realizada no interior de Pernambuco em 2021 durante residência
artística. Abordamos a desintegração identitária a partir das teorias anômalas do
branqueamento e as políticas da desigualdade sob o ponto de vista de intelectuais
negras/os: Kilomba (2019); Davis (2016); Gonzales (2020); Collins (2019) e Fanon
(2020). A pesquisa evidencia o corpo negro feminino enquanto conduto anacrônico
do conhecimento decolonizado, articulado pela performatividade ancestral do “eu
existo” em contestação aos limites colonizadores.

Cristiane Peres Dias é artista multimeios, bacharela e mestra em Artes


Visuais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB/ PPGAV –
UFPB/UFPE), graduanda em licenciatura em Artes Visuais pela Uniasselvi-
João Pessoa. Possui três individuais: Vocabulário do Vazio (2019-JP); Área
de risco (2021-JP); Fragile (2023-JP); participação em coletivas entre a
cidade de João Pessoa (PB), Recife (PE) e São Paulo (SP).

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Robson Xavier da Costa é artista visual, curador, arte/educador e
arteterapeuta. Pós-doutor em Estética e História da Arte (MAC USP). Dr.
em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU UFRN e Universidade do Minho
Portugal). Mestre em História (PPGH UFPB). Licenciado em Artes Plásticas
(UFPB). Docente/Investigador do Departamento de Artes Visuais da UFPB.
Vice-Presidente da ANPAP (gestão 2023-2024), membro da AICA e ABCA.

O artista como documentalista:


uma proposta de protocolo para a performance "Esmagamento Sensível" de
Marco Paulo Rolla
Juliana Pereira Sales Caetano & Magali Melleu Sehn (UFMG)

No Brasil, nas últimas décadas, tem se tornado cada vez mais notória uma crescente
presença de obras performáticas em feiras de arte, galerias, salões, bienais e em
coleções públicas e particulares. Ao mesmo tempo, tal crescimento não foi
acompanhado de grandes iniciativas, estratégias e diretrizes de conservação em
relação a como realizar a preservação e exibição desses trabalhos por meio de sua
documentação. Não sendo incomum, atualmente, casos de performances em
acervos de museus com diversas lacunas informacionais, muitas delas originadas
ainda no processo de aquisição. Nesse tocante, nossa comunicação objetiva a
apresentação de uma proposta de protocolo voltado para os artistas, de forma a
guiá-los a elaborar sua própria documentação de performance para instituições de
arte. Considerando assim o artista não como um ator passivo ou problema, mas
como um colaborador e parceiro no processo de produção documental. Para pensar
essas questões, consideraremos o caso da performance “esmagamento sensível” do
artista mineiro Marco Paulo Rolla, incluindo as séries e versões da obra a cada
ativação da ação. Utilizaremos como base entrevistas com o artista e protocolos de
museus e projetos de conservação internacionais.

Juliana Pereira Sales Caetano é doutoranda e bolsista CAPES no


Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) na linha de Preservação do Patrimônio Cultural. É mestre
em Ciência da Informação (2019) pelo programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Universidade de Brasília e graduada em
Museologia (2016) pela mesma universidade.

Magali Melleu Sehn é Professora Associada do Departamento de Artes


Plásticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora
permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas

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Artes da UFMG. Doutora em poéticas visuais pela Universidade de São
Paulo (ECA/USP) e mestre em Artes pela mesma universidade.

Tirando a poeira do invisível:


sobre a necessidade de ativação periódica das performances em coleções
Bianca Andrade Tinoco (UnB)

O colecionamento de performances ― ou seja, a aquisição mediante doação ou


compra e posterior guarda dessas obras em acervo ― é uma prática em expansão
em museus e coleções de arte contemporânea. A conservação de trabalhos dessa
categoria de linguagem frequentemente prioriza a documentação de requisitos
para a ativação, tendo como foco o registro das condições encontradas na primeira
apresentação da performance no museu ou naquela que veio a consagrar a obra
em questão. Esses cuidados, no entanto, não são suficientes para prevenir perdas
no trabalho colecionado. Fatores como a insegurança frente aos parâmetros para
a ativação, a escassez de elementos considerados necessários ou a mera falta de
interesse podem acarretar que mesmo performances com ampla documentação
deixem de ser apresentadas pouco depois de serem incorporadas a uma coleção.
O esquecimento no fundo da reserva técnica, indesejável para qualquer trabalho
artístico, é ainda mais sensível para obras de performance ― as quais, muitas
vezes, não possuem sequer um elemento físico com o qual curadores ou diretores
artísticos possam se deparar numa visita ao acervo. Guardada em arquivos, pastas
e sistemas digitais, uma performance em estado dormente pode perder conexão
com a memória de autores, intérpretes e outros conhecedores a ponto de não
poder mais ser executada. Diante dessa característica, a performance dentro de
uma coleção requer um compromisso de ativações periódicas, com a
documentação de eventuais alterações que interfiram na semântica da obra.

Bianca Andrade Tinoco é doutora em Teoria e História da Arte no


Programa de Pós-graduação em Artes Visuais pela Universidade de
Brasília (PPGAV-UnB). Possui mestrado em Poéticas Contemporâneas
pelo mesmo programa e pós-graduação lato sensu em História da Arte e
da Arquitetura no Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio).

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Quinta-feira,
Quinta-feira,15 de
15junho
de junho

Mesa 3

O tempo-manifesto de Milza:
mover-se como método curadoria comunitária
Anna Luisa Santos de Oliveira (UFBA)

O presente trabalho apresenta caminhos teóricos-metodológicos para o processo


de entendimento da investigação conceitual do que venho chamando de curadoria
comunitária, a partir da história de vida de Maria Milza, uma mulher considerada
santa, natural do povoado de Alagoas em Itaberaba-BA. Tendo como recurso
prático a poética negra feminista e milagreira presente no complexo museológico
de Alagoas e suas intersecções entre produção artística afro-brasileira
contemporânea, enviesando gênero, raça e território, apresento como método
processual curatorial as práticas envoltas aos feijões milagrosos do território que
tem como centralidade o mover-se das romarias que acontecem de forma
recorrente e, notadamente, a produção de uma coleção museológica de objetos
artísticos por meio dos ex-votos. Como eixo central de construção de narrativas
afrodiaspóricas, baseadas nas experiências que explicam vida e razão humana para
pessoas negras, bem como, sentido e forma de produção artística baseada nas
próprias experiências de vida, enviesadas na representação de uma divindade
negra e feminina, alinho o mover-se das romarias como performance do tempo
que bailarina. Baseada nas cosmologias e cosmopoéticas africanas, apresento uma
epistemologia do encantamento enquanto sustento para um conceito de curadoria
comunitária, a partir do fazer coletivo que tem o tempo enquanto manifesto dos
corpos-milagres-testemunhas. Para a escrita me debruço principalmente nos
referenciais teóricos presentes nas escritas de Denize Ferreira da Silva (2019), Diane
Lima (2018), Tiganá Santana (2019: 2021), Isabel Mayer (2021), Dénètem Touam
Bona (2020), Leda Maria Martins (2021) e Marcelo Cunha (2006).

Anna Luisa Santos de Oliveira vive e trabalha entre Rio de Janeiro e


Bahia. Doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos (Pós-Afro/UFBA),
mestra em Museologia (PPGMUSEU/UFBA) e bacharel em Museologia
(UFRB). É educadora popular, pesquisadora da área de Museologia Social,
gênero e raça. Atualmente é coordenadora de educação do Galpão Bela
Maré/Observatório de Favelas.

19
Constrangimentos e desafios na curadoria de uma coleção documento da
intolerância: o caso da Coleção Estácio de Lima
Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha (UFBA)

No ano de 2010, o Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia passou


a abrigar objetos afro-religiosos que compunham o antigo Museu Antropológico
Estácio de Lima. Instituição originada no âmbito dos museus médico legais, comuns
a partir do século XIX, o Estácio tinha a particularidade de abrigar objetos
provenientes da perseguição do Estado, através da sua polícia de costumes, a
Delegacia de Jogos e Costumes, a manifestações culturais das comunidades
afrodescendentes. Nessa comunicação abordaremos questões relacionadas ao
enfrentamento dessa coleção, no que diz respeito a questões documentais, de
conservação e exposição, a partir de desafios éticos, conceituais e operacionais.

Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha é museólogo, mestre em


Ciência da Informação e doutor em História Social. É professor associado
do Departamento de Museologia da Universidade Federal da Bahia,
coordenador do Museu Afro-Brasileiro e investigador de questões
relacionadas a processos museológicos voltados para a preservação de
elementos das culturas africanas e afro-diaspóricas.

Entre folguedos e memórias:


a performatividade das brincadeiras populares no CCSF
Raisa Filgueira Soares Gomes & Sabrina Fernandes Melo (UFPB/UFPE)

O acervo de Arte Popular do Centro Cultural São Francisco (CCSF), localizado em


João Pessoa, Paraíba, originou-se da exposição Brasil, Arte Popular Hoje,
inaugurada em 1980 sob a curadoria da antropóloga Lélia Cordeiro Frota. O acervo
abriga diferentes linguagens artísticas como cerâmica, xilogravura, ex-votos, arte
indígena e afro-brasileira, entre outros. Tais linguagens abordam diferentes
temáticas, dentre elas, os folguedos e brincadeiras típicas do nordeste do Brasil
como o Cavalo Marinho, o Reisado e o Boi de Reis, formas de expressão artística e
performativas que contam histórias e revelaram tradições através da dança, da
música e dos rituais cênicos. No entanto, o registro, a documentação e a difusão
dessas manifestações culturais colocam inúmeros desafios para o campo museal,
por serem manifestações vivas e performáticas que extrapolam a reserva técnica
do acervo e ganham as ruas como tradições pulsantes. Portanto, esta comunicação
tem como objetivo discutir obras que remetem aos folguedos e brincadeiras
existentes no CCSF, na tentativa de compreender como essas tradições continuam
vivas e como a performatividade, enquanto categoria potente, atua tanto nos

20
folguedos brincados na rua como na ação que essas obras têm de performar
memórias e afetos. Através dos mecanismos de resistência dessas manifestações
artísticas populares em uma instituição museológica e fora dela é possível
compreender como elas continuam vivas ao longo do tempo e como foram
incorporando diferentes camadas e atravessamentos como da documentação
museológica, das curadorias e das vivências.

Raisa Filgueira Soares Gomes é arquiteta e urbanista (UNIPÊ),


especialista em Gestão e Prática em Obras de Conservação e Restauro
do Patrimônio Cultural (CECI/UFPE), discente da Pós-graduação em Artes
Visuais (PPGAV UFPB/UFPE) e graduanda do Curso de Bacharelado em
Artes Visuais (UFPB).

Sabrina Fernandes Melo é professora no Departamento de Artes


Visuais da Universidade Federal da Paraíba e no Programa Associado de
Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV/UFPB/UFPE). Historiadora e
museóloga, é pós-doutora em História e doutora em História pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2018) com pesquisa realizada na
Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, Portugal (2017).

Videoarte 50 anos depois:


obsolescência e remasterização
Mario Caillaux Oliveira (UnB)

Em 2023 comemoram-se os 50 anos da primeira videoarte realizada no Brasil, o


filme M3x3 de Analívia Cordeiro. Desde então, o uso de imagens em movimento,
em suas mais diversas formas, se intensificou, tornando-se comum nos diversos
ambientes expositivos. É importante destacar o papel primordial que as instituições
em nosso país tiveram no desenvolvimento dessas iniciativas desde o seu início.
Pode-se dizer que no Brasil a videoarte já nasce musealizada, pois foi através de
iniciativas como a do MAC/USP, sob a direção de Walter Zanini, que muitos desses
primeiros trabalhos foram comissionados e criados. Neste artigo iremos investigar
de que maneira, passadas quase cinco décadas da criação dessas experiências
pioneiras, a obsolescência da tecnologia é assimilada pelas instituições e como ela
interfere no próprio ato de divulgação e exposição das obras. Em uma primeira
etapa analisaremos a mostra Vídeo_Mac que ocorreu em 2020, com a curadoria de
Roberto Moreira Cruz, e que recuperou e exibiu grande parte desses vídeos
produzidos no museu paulista. Já em um segundo momento, analisaremos como
em alguns casos a falta dos equipamentos originais impede a divulgação e a
visualização destes trabalhos. Este é o caso de um conjunto de filmes de Fernando

21
Cocchiarale: apesar das fitas originais portapak de ½ polegada estarem sob a
guarda do MAM-Rio, não existe no país equipamento funcionando para a sua
reprodução ou remasterização.

Mario Caillaux Oliveira é doutorando em Teoria e História da Arte pela


Universidade de Brasília (UnB), pesquisando as relações entre as
imagens em movimento e a arte contemporânea em suas diversas
formas de atuação. É também mestre em Artes Visuais pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a dissertação “Raymundo Colares:
além das ultrapassagens”.

Mesa 4

Barroco na fortuna crítica de Adriana Varejão, entre as exposições "Câmera


de Ecos" (2005) e "Suturas, Fissuras e Ruínas" (2022)
Adriel Dalmolin Zortéa (UnB)

O presente trabalho debruça-se sobre a associação entre duas exposições de


Adriana Varejão (1964), “Câmara de Ecos” (2005), com textos de Philippe Sollers e
Paulo Herkenhoff, na Fundação Cartier, em Paris, e “Suturas, Fissuras, Ruínas”
(2022), com texto de Jochen Volz, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Por não
privilegiar, necessariamente, as diferenças entre os contextos históricos e, ao
considerar a impossibilidade de produzir uma interpretação totalizante das
respectivas exposições, trata-se de investigar, diacronicamente, as entrevistas da
artista nos catálogos expositivos, bem como os textos de apresentação a partir de
uma especificidade: a relação que se articula entre a poética de Varejão e o que os
textos compreenderam como legado do Barroco no Brasil, principalmente ao
voltarem-se à pintura do elemento carne na plástica da artista. Por parte desses
textos, face à primeira exposição, denota-se a apresentação da pintura de carne
vinculada à talha em madeira policromada, numa exaltação do caráter erótico e
dispendioso do material. Frente à segunda exposição, ressalta-se o caráter das
feridas na história colonial, numa violência explícita que, se não oblitera a retórica
anterior, contrapõe-se a ela. Nesse sentido, se é possível considerar o Barroco no
Brasil não somente uma chave hegemônica, mas um elemento estruturante da
fortuna crítica de Varejão, parte-se de uma investigação dirigida aos seus
desdobramentos diacrônicos face a esse movimento artístico e, ainda, à hipótese
de modificações, talvez, estruturais em seu desenvolvimento entre 2005 e 2022.

22
Adriel Dalmolin Zortéa é mestrando em Teoria e História da Arte
(PPGAV/IdA/UnB) com bolsa Capes. Graduado em História (UFSC), com
bolsa PET e CNPq e filiado ao Laboratório de Teoria e História da Arte
(LaTHA/UnB), bem como aos grupos de pesquisa Montagem no discurso
historiográfico artístico (UnB/CNPq) e Laboratório de Historiografia da
Arte no Brasil e Américas (UFRJ/CNPq).

Efeitos da passagem do tempo:


considerações sobre a musealização de obras de arte constituídas de animais
e suas partes
Marco Túlio Lustosa de Alencar (UnB)

Várias obras de arte têm a capacidade de nos colocar mais diretamente diante de
aspectos relacionados ao conceito “tempo” ― movimento, ritmo,
acompanhamento, fluxo ―, fomentando sensações de continuidade. No entanto,
ao evidenciar o constructo “cronológico”, fazem emergir outras discussões, visto
que este continuum, ou esta ordem de sucessão, conforme indicou Einstein, não
seria único nem absoluto. Um sentido, por assim dizer, mais heterogêneo de tempo
está presente na arte em diferentes direções e guarda muitos desafios. Nessa linha,
a introdução ― em forma de obra ― de corpos de animais e suas partes nos
dispositivos reconhecidos pelo sistema da arte persiste representando um
problema entre as inúmeras circunstâncias temporais impostas à área
museológica. Pois, portando indícios tangíveis e/ou intangíveis da passagem do
tempo, em múltiplas camadas, pertencem à categoria de objetos artísticos mais
frágeis que exigem um esforço contínuo de preservação para a sobrevivência como
tal e sua “eternização” enquanto arte. Numa rápida mirada, em meio a mudanças
recentes impostas à própria instituição museu, tornam-se perceptíveis as
dificuldades (e implicações) museológicas sobre como proceder ante a(s)
temporalidade(s) de certos artefatos, como os trabalhos constituídos de espécimes
e seus fragmentos, para que estes prossigam relevantes e possam ser
experenciados em toda sua diversidade, especialmente, numa época em que a
questão animal perpassa inúmeras práticas e campos do conhecimento.

Marco Túlio Lustosa de Alencar é mestre em Artes, na linha Teoria e


História da Arte, pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da
Universidade de Brasília (PPGAV/UnB, 2020). Graduado em Teoria, Crítica
e História da Arte pela UnB (2017) e em Comunicação Social - Jornalismo
pela Universidade Federal do Ceará (1988). É membro da Associação
Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas - ANPAP (2022).

23
A presença muda das coisas:
o ato expográfico e a invenção do tempo
Matias Monteiro Ferreira (Itaú Cultural)

É preciso assumir que a musealização descreve um conjunto de processos cujo


resultado e motivação coincidem na noção de musealidade. Refletir, portanto,
acerca dos supostos “tempos da musealização” (de partida, plurais) implica, em não
se condicionar à uma temporalidade linear, causal, cumulativa, genealógica e
produtivista. De fato, a musealização, compreende-se, inaugura um novo contexto
para elementos desterritorializados no tempo e/ou no espaço e introduzidos em
um universo representacional coeso que Desvallees e Mairesse chamam de
utópico, que Glicenstein reivindica com heterotópico e que Tupitsyn sugere
cronotópico. Este aprés coup (só depois) museológico parece ganhar uma nova
dimensão na explogia a partir de uma passagem impactante, porém negligenciada,
de Jean Davallon, quando o mesmo propõe um registro do real ao campo
expológico, parafraseando Lacan, e sugerindo uma dimensão de “presença teimosa
e muda das coisas” (“la présence muette et têtue des choses”), como resistência ao
registro do simbólico e do imaginário; uma opacidade inscrita na própria condição
de musealidade de um fenômeno cultural. Esse registro nos convida a reexaminar
a musealização como processo de mediatização do sujeito e o tempo como
fenômeno social. Assim, propomos uma reflexão acerca dos “tempos da
musealização” por meio da aproximação entre os campos da expologia e
psicanálise e de um ato performativo singular: o expográfico.

Matias Monteiro Ferreira é analista cultural sênior no Instituto Itaú


Cultural, em São Paulo. Doutor em Arte na linha de pesquisa de Métodos
e Processos em Arte Contemporânea e mestre na linha de pesquisa de
Poéticas Contemporâneas pelo Instituto de Artes da Universidade de
Brasília, é artista, curador, professor e desenvolve ações educativas em
museus e centros culturais.

O tempo antes da exposição e a performatividade das relações:


diálogos entre Brasil-Alemanha nos anos 1990
Leandro Alves Garcia (UnB) & Robson Xavier da Costa (UFPB)

Os workshops artísticos surgiram como um fenômeno no início da década de 1990.


Eram organizados com o intuito de reunir artistas que trabalhavam com diversas
linguagens para intercambiar suas experiências e produzir arte em um ateliê

24
coletivo. Nosso recorte de pesquisa acontece fora do eixo Rio de Janeiro/São Paulo,
a partir do primeiro Workshop Brasil-Alemanha que foi realizado no Espaço Cultural
José Lins do Rêgo - João Pessoa/PB, em 1991. Nessa perspectiva, a presente
investigação objetiva analisar a performatividade das relações entre os artistas
convidados para este evento cultural. Trata-se de uma pesquisa qualitativa (Guerra,
2014; Minayo, 2001; Flick, 2009), inserida no contexto da “história das exposições”
(Afterall 2010-2022; Cypriano e Oliveira, 2017). Por esta via, utilizaremos consultas
a fontes primárias, matérias publicadas para divulgação do evento e catálogos
expositivos. Consideramos que os workshops são eventos interativos que
antecedem o tempo de exposição das obras de arte ao público, apresentando
características da estética relacional (Bourriaud, 2009) como resultado dos diálogos
e interações entre os artistas de ambos os países.

Leandro Alves Garcia é artista, professor, pesquisador. Doutorando do


Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília
(PPGAV/UnB); mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB); especialista em Cinema pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN); graduado em Licenciatura de Artes Visuais
(UFRN). Atualmente dedica-se à pesquisa da tese "Intercâmbios artísticos
e institucionais no Brasil: Staatliche Kunsthalle Berlin em Trânsito (1977
– 1993)".

Robson Xavier da Costa é artista visual, curador, arte/educador e


arteterapeuta. Pós-doutor em Estética e História da Arte (MAC USP). Dr.
em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU UFRN e Universidade do Minho
Portugal). Mestre em História (PPGH UFPB). Licenciado em Artes Plásticas
(UFPB). Docente/Investigador do Departamento de Artes Visuais da
UFPB. Vice-Presidente da ANPAP (gestão 2023-2024), membro da AICA e
ABCA.

Mesa 5

Mapeamento de Acervos:
repensando a gestão de acervo museológico da Secretaria de Estado da
Cultura e Economia Criativa | SECEC/DF
Daniele Pestana & Zenildo Alves de Sousa Júnior (GDF)

25
Percebida desatualização e dificuldade de recuperação de informações das
coleções museológicas da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do
Distrito Federal (SECEC/DF), a Diretoria de Preservação (DIPRES) da Subsecretaria
do Patrimônio Cultural (SUPAC), em 2019, planejou uma série de ações para
atualizar acervo sob sua guarda e repensar na atual gestão deste acervo. A primeira
ação em desenvolvimento consistiu na contratação de profissionais especializados
por meio de Cooperação Técnica Internacional entre SECEC/DF e UNESCO para
realizar o mapeamento dos acervos preservados nos museus da Secretaria de
Estado de Cultura e Economia Criativa- SECEC, nome dado ao projeto. Pretende-se,
neste Colóquio, comunicar o trabalho executado pela SECEC e os descobramentos
desta ação na tentativa de atender normativas museológicas e em especial,
divulgar as reflexões a respeito da documentação museológica do acervo do Museu
Nacional da República.

Daniele Pestana é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência


da Informação na Universidade de Brasília (2015), graduada em
Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e especialista em Teoria da Arte: Fundamentos e Práticas Artísticas pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1999). Servidora Pública da
Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal
(SECEC/DF), no cargo de Analista de Atividades Culturais com
especialidade em Museologia.

Zenildo Alves de Souza Júnior é graduado em Arquitetura e Urbanismo


pela Universidade Paulista (2014) e em Museologia pela Universidade de
Brasília (2016). Atualmente, atua como Arquiteto e Urbanista, e
Museólogo na Subsecretaria do Patrimônio na Secretaria de Estado e
Cultura do Distrito Federal (SECEC/DF).

Em busca de uma musealização que dance:


memórias coreográficas em tempos curvos
Maria Sofia Villas-Bôas Guimarães (UFBA)

Entre reflexões e experiências sobre modos de salvaguardar Dança, e/ou seu(s)


modo(s) de salvaguardar, há no Memorial de Dança da UFBA a experimentação de
estratégias dialógicas mediando Dança e Musealização. No Memórias
Coreográficas, em seus atos performativos de homenagem, da
contemporaneidade acessamos obras de Dança que estão no passado, nas
tessituras da Escola de Dança da UFBA, contribuições para a formação Dança
cênico-teatral na Bahia do primeiro curso Superior de Dança no país, criado em

26
1956. Suas obras foram (e são) contribuições significativas para o cenário cultural
não só de Salvador, mas da Bahia, do Nordeste e do Brasil. Dos rastos documentais
chegamos a ação artística que celebra encontros. Com intuito de uma reflexão
compartilhada com pesquisadores da área, apresentaremos aqui três
acontecimentos do Memórias Coreográficas: Oriki de Laís (2019); Experimento
Yanka Rudzka (2021); Exibição de filme + Roda de conversa com Clyde Morgan
sobre o espetáculo Por Quê Oxalá usa Ekodidè (2022); Ciclo Odundê – 10 anos
(2022). O Projeto tem se inspirado em Leda Maria Martins, em suas Poéticas do
Tempo Espiralar: poéticas do corpo tela. Tecituras sobre temporalidades e
ancestralidade afirmam um tempo espiralar, uma continuum no qual a memória é
sempre atualizada no presente, na concepção de “um tempo que se curva para
frente e para trás, simultaneamente, sempre em processo de prospecção,
retrospecção, de rememoração e devir simultâneos (2021.p.23).

Maria Sofia Villas-Bôas Guimarães (Suki VB Guimarães) é professora


adjunta da Escola de Dança da UFBA. Doutora e mestre pelo Programa
de Artes Cênicas da UFBA, licenciada em Dança\UFBA e especialista em
Socioeducação\UCSAL. Atualmente, coordena o Memorial de Dança da
UFBA.

"O chão pertence ao Rio Madeira":


a reapresentação de uma obra de arte complexa a partir da pesquisa sobre o
acervo
Fernanda Werneck Côrtes & Sara Seilert (UnB/GDF)

A comunicação tem como tema a reapresentação de obras de arte complexas.


Utilizando a instalação “O chão pertence ao Rio Madeira” (2019) ― obra de Raissa
Studart integrante do acervo do Museu Nacional da República ― como exemplo,
objetivamos pensar a relação entre a preservação da arte contemporânea e outras
atividades institucionais, em especial as de pesquisa sobre o acervo. A obra de arte
em questão passou a fazer parte da coleção do Museu por meio do Prêmio Vera
Brant de 2019, como uma contrapartida apresentada ao Fundo de Apoio à Cultura
do Distrito Federal, financiador do projeto. Estrutura suspensa composta por
tábuas de madeira e pedaços de vidro amarrados com fio de sisal, a obra nunca
havia sido exposta pela instituição até dezembro de 2022, quando foi escolhida pela
curadora Sabrina Moura, selecionada em chamada pública realizada com o objetivo
de promover a pesquisa sobre o acervo, para integrar a exposição “AQUI ESTOU –
corpo, paisagem e política no acervo do Museu Nacional da República”. Para a
mostra, o trabalho foi montado com o acompanhamento da artista e um manual
de montagem foi elaborado pela equipe técnica da instituição. O caso, portanto,

27
suscita a discussão não somente acerca das práticas de conservação e de
documentação desenvolvidas, mas também sobre a condição expositiva e sobre as
estratégias de aquisição de obras adotadas por um museu de arte contemporânea,
contribuindo, assim, para a reflexão em torno das temporalidades inerentes ao
processo de musealização realizado com essa tipologia de acervo.

Fernanda Werneck Côrtes é museóloga e mestre em Ciência da


Informação pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, é
professora substituta do curso de bacharelado em Museologia na
mesma universidade.

Sara Seilert é bacharel e licenciada em Artes Plásticas pela Universidade


de Brasília (2012), e mestranda em Ciência da Informação ― linha de
pesquisa Museus e Patrimônio: Agentes e Agências ― na mesma
universidade. É analista de Atividades Culturais, especialidade Artes
Plásticas, na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal
(SECEC/DF), onde atualmente atua como diretora do Museu Nacional da
República.

Diagnóstico preliminar de conservação da coleção de fotografia "Prêmio


Diário Contemporâneo" da COJAN
Renata de Fátima da Costa Maués & Raissa Silva da Costa (UFPA)

O trabalho intitulado “Diagnostico preliminar de conservação da coleção de


Fotografia Prêmio Diário Contemporâneo da COJAN”, está vinculado ao “Projeto de
pesquisa e documentação museológica do acervo de artes visuais do Espaço
Cultural Casa das Onze Janelas de Belém do Pará, aprovado junto ao CNPq na
CHAMADA Nº40/2022 - Projeto em rede – políticas públicas para promoção da
cultura. Tem como proposição realizar um diagnóstico dos procedimentos de
preservação desenvolvidos com a coleção de fotografia, gerindo informações
adicionais pertinentes as obras e os processos de preservação da coleção, nesse
embate não só com o tempo, mas também com as adversidades de um meio
ambiente desfavorável para sua guarda frente a fragilidade dos materiais
constituintes, suscetíveis a inúmeras degradações. Além do diagnóstico, o trabalho
busca adoções de medidas simples e adequadas para a guarda e proteção das
imagens fotográficas atuando com procedimentos de conservação preventiva,
higienização, organização e acondicionamento das coleções nas áreas de reserva
técnica. Trata-se de uma pesquisa teórico-empírica na qual os processos
metodológicos estão pautados no levantamento bibliográfico sobre o assunto, na
observação, na coleta de informações diante do ambiente, espaço físico,

28
compreendendo os objetos museológicos, como fonte documental basilar de
modo a subsidiar a construção da melhor estratégia de atuação frente aos desafios
elencados no projeto de pesquisa.

Renata de Fátima da Costa Maués é doutoranda em Artes pelo


Programa de Pós-graduação em Artes (UFPA), mestra em Artes (UFPA),
especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis –
CECOR (UFMG), bacharel em Belas Artes (UFMG) e coordenadora do setor
de Conservação e Restauração do Sistema Integrado de Museus –
SIM/SECULT.

Raissa Silva da Costa é graduanda do curso de Conservação e Restauro


na Universidade Federal do Pará (UFPA). É pesquisadora bolsista de
iniciação científica do projeto de pesquisa e documentação museológica
do acervo de artes visuais do espaço cultural Casa das Onzes Janelas, em
Belém do Pará.

Sexta-feira,
Sexta-feira,1616dedejunho
junho

Mesa 6

Calçadas de Galeno:
sobre a preservação de obras de arte em espaços públicos
Maria de Fátima Medeiros de Souza & Maria Inês Alves de Souza (GDF)

A Calçada da Orla do Lago Veredinha de Francisco Galeno é uma obra de arte


pública relevante para a dinâmica social dos moradores de Brazlândia. Formada
por padrões geométricos construídos com pedras portuguesas, a calçada sofreu
inúmeros danos ao longo de 30 anos. Em 2021, parte da materialidade foi removida
pela Administração Regional. A partir desse evento, a Secretaria de Cultura iniciou
o processo de reconhecimento dessa obra como patrimônio cultural da cidade.
Galeno, artista piauiense, mudou-se para Brazlândia em 1965. Sua produção visual
está intimamente vinculada às memórias de infância, aos locais onde viveu e à
manualidade. Nesse sentido, é importante discutir a relação do artista com
Brazlândia, evocando noções de memória social e da vivência da paisagem em seu
sentido lato. Interessa tratar de uma noção de geografia que transcende a noção
espacial, envolvendo as vivências e as subjetividades da comunidade. A paisagem,
nesse sentido, pressupõe relações entre sujeitos e espaço, segundo uma
perspectiva fenomenológica dos lugares (SAUER, 1969; RIBEIRO, 2007; SCIFONI,

29
2016; FIGUEIREDO, 2014). A Calçada de Galeno se inscreve na noção de paisagem
produzida pela indústria humana e se relaciona intrinsecamente com o espaço
natural do Lago Veredinha. Propomos discutir meios institucionais para o
reconhecimento do mérito cultural da obra segundo as perspectivas da geografia
cultural, das Cartas patrimoniais da UNESCO que tratam dos bens culturais naturais
e dos mecanismos de preservação das obras de arte em espaço público.

Maria de Fátima Medeiros de Souza é doutora em Teoria e História da


Arte pelo Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de
Brasília (2020), mestra em Ciência da Informação (2016) e bacharel em
Artes Visuais (2009) pela mesma universidade. É servidora pública da
Secretaria de Cultura do Distrito Federal (SECEC/DF), onde atua na
Gerência de Conservação e Restauro de bens culturais móveis. Faz parte
da Comissão Permanente de Análise e Avaliação de Registro e
Tombamento do Patrimônio Cultural do Distrito Federal.

Maria Inês Alves de Souza é graduada em Ciências Econômicas na


Universidade de Brasília (1975–1979) e em Conservação e Restauro de
Bens Culturais Móveis no Centro Universitário Euro-Americano –
UNIEURO (2010-2011). É servidora da Secretaria de Cultura do Distrito
Federal (SECEC/DF), onde atua como Gerente de Acervo. Participa da
Comissão Permanente de Análise e Avaliação de Registro e Tombamento
do Patrimônio Cultural do Distrito Federal.

A roupa que dança em despedida:


o tempo de musealização da indumentária de Yemanjá Ogunté: entre as
águas do Recôncavo e de Salvador
Luzia Gomes Ferreira (UFPA)

No Candomblé Baiano, as roupas dos Orixás são confeccionadas para que eles e
elas dancem no Aiyê (terra), e cada Yabá e Oboró possuem suas indumentárias
específicas. Nesse sentido, é possível inferir que as roupas também dançam a partir
dos corpos das iniciadas e dos iniciados, respeitando o tempo de iniciação. Nesta
proposta de comunicação, pretendo abordar o tempo da musealização em
processo da indumentária de Yemanjá Ogunté, da Egbomi Raquel de Jesus Gomes
Ferreira, falecida em 2021, devido a COVID-19. Após o falecimento da Egbomi, o
Babalorixá Idelson da Conceição Sales, líder religioso do Ilê Axé Ogunjá, localizado
na cidade de São Félix no Recôncavo Baiano, escolheu doar a última roupa com a
qual a Yemanjá Ogunté dançou na cerimônia de 21 anos de iniciação da Egbomi
para o Museu Afro-Brasileiro (MAFRO), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

30
Essa indumentária de Orixá é carregada dos tempos de vida e morte, dos tempos
de um evento traumático na sociedade brasileira que foi a pandemia, dos tempos
do espaço sagrado do terreiro para o interior da instituição museu, mas também
dos tempos das memórias dessa mulher negra do Recôncavo Baiano que em seu
corpo abrigava as águas de Yemanjá para dançar luxuosamente de pés descalços.
Entre as águas doces do Paraguaçu e as águas salgadas da Baía de Todos os Santos,
busco refletir como o tempo da musealização desse traje nos possibilita pensar,
registrar e preservar as memórias plurais contidas nos bordados da roupa diante
da fugacidade do tempo.

Luzia Gomes Ferreira é baiana do Recôncavo, radicada em Belém do


Pará; Poeta; Feminista Negra; Professora do Instituto de Ciências da Arte
(ICA), lotada na Faculdade de Artes Visuais (FAV), onde leciona para o
Curso de Bacharelado em Museologia, na Universidade Federal do Pará.
Doutora em Museologia pelo Programa de Doutoramento em
Museologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
(ULHT-Portugal/2018), mestra em Antropologia Social pelo Programa de
Pós-Graduação em Antropologia (PPGA/UFPA/2012) e bacharela em
Museologia pelo Departamento de Museologia da Faculdade de Filosofia
e Ciências Humanas (FFCH) da Universidade Federal da Bahia
(UFBA/2008).

O tempo Ad Infinitum:
a longa permanência da imagem feminina na arte do cemitério de Santo
Amaro
Robson Xavier da Costa & Alynne Cavalcante Bezerra da Silva (UFPB)

Além da conhecida função das necrópoles como local de salvaguarda de restos


mortais, os cemitérios secularizados trazem uma grande e importante coleção de
obras de arte tumulares que ornam jazigos e expressam os sentimentos de luto da
sociedade de determinada época/local, muitos deles sendo considerados,
informalmente, como museus ao ar livre. Com o Cemitério de Santo Amaro, na
cidade de Recife, em Pernambuco, não é diferente. O local abriga um silencioso
acervo escultórico e diverso, contendo obras dos mais variados estilos, suportes e
temas. Ao estudar tal acervo, nos deparamos com a presença constante da
representação do corpo feminino, que ora aparece como uma pranteadora, ora
como viúva, ora como uma mãe a se despedir dos filhos que deixou. Levando em
consideração a característica dessa permanência, pretendemos analisar a
recorrência da imagem feminina na arte do cemitério citado sob a abordagem de
Aby Warburg e seu conceito de nachleben, que foi traduzido por Didi-Huberman

31
como “sobrevivência da imagem”. Assim, será possível identificar a repetição das
fórmulas que essa representação feminina evoca e construir uma narrativa visual
a partir desses corpos de pedra, resultando em um diálogo sobre os caminhos e
possibilidades de musealização dos espaços cemiteriais a partir de eixos temáticos
específicos.

Robson Xavier da Costa é artista visual, curador, arte/educador e


arteterapeuta. Pós-doutor em Estética e História da Arte (MAC USP). Dr.
em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU UFRN e Universidade do Minho
Portugal). Mestre em História (PPGH UFPB). Licenciado em Artes Plásticas
(UFPB). Docente/Investigador do Departamento de Artes Visuais da
UFPB. Vice-Presidente da ANPAP (gestão 2023-2024), membro da AICA e
ABCA.

Alynne Cavalcante Bezerra da Silva é historiadora e servidora pública


da UFPE (coordenação de design). Atualmente, cursa o mestrado em
artes visuais no PPGAV da Universidade Federal de Pernambuco e é
membra da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC).

De adorno funerário a peça de museu seguindo as espirais de um bracelete


em ferro
Joseania Miranda Freitas & Lysie dos Reis Oliveira (UFBA)

Esta apresentação sintetiza um relato de pesquisa, em andamento, que entrelaça


arte decorativa, metalurgia do ferro, arqueologia, história e museologia,
perpassando por espaços e tempos diferenciados, seguindo a geometria das
espirais de um bracelete em ferro, que foi extraído de uma tumba de conchas, em
1976, e levado para uma vitrine do Museu do CRDS (Centro de Pesquisa e
Documentação do Senegal). Datado entre os séculos IV e XIV, o bracelete evoca
memórias e tecnologias dos habitantes da região do Delta do Saloum, assim como
a produção de outros artefatos, seus modos de vida, culminando em
enterramentos com adorno, como este bracelete. A pesquisa visa buscar vestígios
anteriores à musealização, assim como compreender os processos técnicos de
fabrico e uso de braceletes na região, suas histórias e simbologias. A metodologia
adotada tem como base a revisão das literaturas especializadas e pesquisa de
campo.

Joseania Miranda Freitas é professora titular do curso de Museologia


da UFBA. Doutora em Educação (UFBA), foi a primeira coordenadora do

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Programa de Pós-Graduação em Museologia (PPGMuseu/UFBA 2013-
2015).

Lysie dos Reis Oliveira é professora titular da Universidade do Estado


da Bahia, onde atua no Departamento de Ciências Exatas e da Terra
(DCET), ministrando disciplinas no Bacharelado em Urbanismo e no
Programa de Pós-Graduação em Estudos Territoriais (PROET).

Mesa 7

A pesquisa de público e os tempos do Museu Nacional da República


Maira Rangel Marinho & Leísa Sasso (GDF)

Este estudo compartilha e analisa os achados nos dados da primeira pesquisa de


público realizada no Museu Nacional da República - MuN em Brasília entre 2022/2023.
A pesquisa visa a melhor conduzir as práticas artísticas e pedagógicas do Projeto
Educativo do Museu, orientar as ações curatoriais e programáticas da Gestão,
sensibilizar a equipe para a percepção de seu público, aproximar, redirecionar e
fortalecer a atuação do Museu junto aos seus frequentadores/as, em uma perspectiva
de cidadania e de direitos culturais, preocupada em incluir públicos; trabalhar a
acessibilidade universal, gêneros e diversidades; desenvolver estratégias de mediação
e de engajamento de audiências. Por iniciativa do Programa de Pesquisa do MuN, foi
contratada consultoria via Cooperação Técnica Internacional entre Secretaria de
Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. A pesquisa objetivou produzir
conhecimento acerca do perfil dos frequentadores do MuN, como faixa etária, sexo e
gênero, classe social e renda, local de origem e de habitação, percepção sobre a
experiência da visita, entendimento da comunicação e linguagens utilizadas nos textos
curatoriais e nas fichas técnicas, atendimento ao público e outros. Esse conhecimento
gerado enfatiza principalmente a importância da pesquisa para fortalecer e
democratizar as ações no âmbito da instituição. A pesquisa permite igualmente
reflexão acerca do tempo como um processo de aprendizado que se tece e se
entretece a cada mediação, e sobre a forma pela qual a construção social dos tempos
é trabalhada, apresentada, percebida e interpretada por meio das exposições do
acervo e itinerantes, que ocupam esse espaço tempo pedagógico.

Leísa Sasso é doutora e mestre em Arte pela Universidade de Brasília


(UnB), especialista em Gestão Escolar (UnB) e em História da Arte (FADM)

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e graduada em Artes Visuais (UnB 2001). É professora da Secretaria de
Estado de Educação do DF (SEEDF) em atuação na Secretaria de Cultura
e Economia Criativa (SECEC/DF), sendo responsável pelo Programa
Educativo do Museu Nacional da República em Brasília.

Maíra Rangel Marinho é mestre em Sociologia (UnB), bacharel em


Ciências Sociais com habilitação em Sociologia (UnB) e pós-graduanda
em Gestão de Museus e Inovação pela EXPOMUS/ABGC - Associação
Brasileira de Gestão Cultural, com residência no Museu da Língua
Portuguesa - SP (2022-2024). É servidora pública efetiva, integrante da
carreira de Gestão de Políticas Públicas do Distrito Federal. No Museu
Nacional da República, em Brasília, é responsável pelo Programa de
Pesquisa e pelas articulações institucionais junto ao IBRAM, ao ICOM
Brasil e ao Programa Ibermuseus.

Itinerâncias do ato expositivo:


o museu distribuído como tática para a formação de públicos em 3 casos
Ana Beatriz Marques Penna (UnB)

Qual é o tempo dos públicos quando pensamos em museus? Há tempo nos museus
para aqueles que ainda não são públicos? Existem caminhos para os que transitam
distantes desses espaços? Esse trabalho consiste numa investigação sobre os
modos de ir em direção ao outro de três atos expositivos distintos, aqui
identificados como museus itinerantes: Museóbus (1960), Skin of Memory (1999) e
Fiotim (2015). Neste trabalho, à luz da ideia de “museu distribuído”, levantada por
Dewdney, Dibosa e Walsh (2013), que surge no contexto dos estudos da museologia
pós-crítica sobre formação de públicos, analisaremos as mecânicas de atuação, as
motivações, o grau de permeabilidade, e o potencial de formação de público de
cada um dos casos selecionados. A itinerância, afinal, é uma ferramenta útil para a
formação de públicos ou apenas cria outras performatividades para as exposições?

Ana Beatriz Marques Penna é mestranda em Educação em Artes Visuais


pela Universidade de Brasília (atual); licenciada em Artes Visuais (2021) e
bacharela em Artes e Design (2017), ambos pela Universidade Federal de
Juiz de Fora. Atua como artista e educadora em espaços não formais e no
desenvolvimento de projetos curatoriais, dentre eles: A Casa Austera
(2022); Memento (2019); Lugar de Memória e Arte: Rastros de uma escola
normal (2019) e Sobre microposicionamentos das coisas (2019).

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El tiempo y las performatividades de los públicos:
el caso del 46 Salón Nacional de Artistas en Colombia
Ana María Bernal Cortés (Univ. Del Tolima/ UnB)

El Salón Nacional de Artistas (SNA) de Colombia es una exposición temporal y bianual


que se realiza en este país de forma “institucional” desde 1940, con el propósito de
circular la producción de los artistas contemporáneos generando un circuito de
exhibición y recepción, que moviliza a los públicos entorno a las artes y otras
expresiones relacionadas que se desarrollan en el país, en correspondencia con las
prácticas artísticas vigentes en la escena del arte internacional. Se conoce como una
exposición de carácter institucional y pública, entre otros aspectos, porque hace parte
de una política de estado y es financiada con recursos públicos. La versión 46 titulada:
“Inaudito Magdalena”, que se realizó entre los meses de julio y noviembre del 2022 a
lo largo del extenso recorrido del Río Magdalena, propuso un reto para el público; el
evento fue conformado por 10 exposiciones distribuidas en siete ciudades, alrededor
de 20 procesos de formación denominados “Laboratorios” y un sinnúmero de micro-
eventos y procesos paralelos. La exposición “desbordada”, implicó la vinculación en
simultaneidad de distintos actores, para lograr concretar con tiempos sincrónicos y
asincrónicos la musealización, la mediación de las muestras, eventos artísticos y
procesos formativos. De esta experiencia emerge esta pregunta: ¿Cómo aconteció la
agencia sobre los públicos, con los públicos y desde el público que predominó en este
evento? Para este análisis se propone examinar las nociones de lo “público” implicadas
en este evento, reflexión atravesada por las perspectiva de la filosofía política de
Hannah Arendt (público en la acción), y desde la sociología: Richard Sennett
(Construcción del espacio Público) y Michael Warner (Públicos y Contra-Públicos);
tomando como referencia la observación en campo de esta exposición, los estudios
de públicos realizados institucionalmente y algunos ejemplos de manifestaciones y
agencias en la esfera pública realizadas por los distintos actores y algunas entrevistas
realizadas a los públicos de la versión 46 del SNA.

Ana María Bernal Cortés es Maestra en Artes plásticas y visuales,


Especialista en Educación Artística Integral, Magister en Museología y
Gestión del Patrimonio de la Universidad Nacional de Colombia y
estudiante de Doctorado en el PPGAV de la Universidad de Brasilia.
Interesada en procesos de creación colectivos y relacionales; su pesquisa
incluye, los ámbitos y los espacios de la gestión cultural, los procesos
educativos en artes, la curaduría, los museos universitarios y la educación
museal. Es profesora del departamento de Artes y Humanidades de la
Universidad del Tolima (Colombia), en la que además participa del
Colectivo de Investigación en Arte y Cultura (CIAC) y del Semillero RECEA.

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