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INSTITUIÇÃO FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS


BACHARELADO EM HISTÓRIA DA ARTE

DIVERSIFICANDO O LUGAR DO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA


ATRAVÉS DO PREFIXO TRANS: Reflexões a partir do Museu Transgênero de
História e Arte (MUTHA)

Natan Meneguzzi
Porto Alegre, 2022
Título: DIVERSIFICANDO O LUGAR DO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
ATRAVÉS DO PREFIXO TRANS: Reflexões a partir do Museu Transgênero de
História e Arte (MUTHA)

Resumo: Através deste artigo, pretendo analisar as contribuições que a criação do


primeiro Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA) traz para uma nova escrita
da história da arte contemporânea brasileira, além de aprofundar as reflexões que o
mesmo traz quando pensa o museu enquanto obra de arte. Para realizar a
respectiva análise, parto do meu lugar de fala enquanto pessoa transmasculina e
utilizo como base de pesquisa a entrevista realizada por mim com Ian Habib,
fundador do museu, em fevereiro de 2022.

Palavras-chave: Museu de arte contemporânea; história da arte; transexualidade.


O Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA) surge em 2020, criado e
produzido pelo pesquisador, artista e autor transgênero Ian Habib1.
Conforme descrição contida no próprio site, o MUTHA

[...] é um museu transformacional, ou seja, continuamente em transformação, que objetiva:


1. criar incentivos, ferramentas e alternativas à produção de dados sobre violências cotidianas a
vivências transgêneras no Brasil, pretendendo sugerir caminhos artísticos, educativos,
políticos e sociais alternativos;
2. resgatar memórias e investir em (re)escritas históricas de processos que foram apagados
desde o período colonial, suprimidos pela ditadura brasileira em outras configurações e
perduram como tentativas de extermínio até os tempos atuais; investir na criação de um
arquivo brasileiro sobre História e Arte transgênera;
3. valorizar memórias e produções artísticas dessas existências, que não são ainda
reconhecidas e visibilizadas em espaços de produção cultural;
4. discutir epistemologias corpo e gênero diversas nas artes; fomentar novos modos de vida em
paisagens em ruína; celebrar a imaginação;
5. destruir, por vezes, o que for preciso;
6. produzir eventos e suportes para debates sobre diversidade de gênero e suas
interseccionalidades, como processos étnico-raciais, deficiência, classe, sexualidade, e
outros;
7. criar paisagens radicais para outros futuros.

(Fonte: https://mutha.com.br/sobre/)

A primeira ação do MUTHA, e que, conforme Ian Habib, foi a que inaugurou o
museu, aconteceu através de um sarau. Esse sarau2, ocorrido no formato virtual, foi
financiado pelo Memorial Minas Vale (2020), e para ele foram convidadas 9 pessoas
transgêneras para contribuir com a primeira edição do projeto.3
Pensando numa breve cronologia de surgimento do MUTHA, Ian conta que

[...] na verdade o projeto foi pensado em 2019, quando surgiu a minha pesquisa de mestrado, e logo
após a minha censura eu já estava escrevendo sobre o MUTHA. Mas aí eu só fui ganhar uma grana,
para fazer a primeira ação do MUTHA, em 2020, através do Minas Vale. Foi aí que fizemos o Sarau,
que está disponível no Youtube pra você ver, e foi a primeira ação do MUTHA. Com esse edital, de

1
Ian Habib é performer, escritor, pesquisador e professor transgênero (UFMG/UFRGS). Mestrando
em Dança (CAPES/UFBA), com o projeto Corpos Transformacionais. Investiga Dança Butô,
Performance e Gênero, com ênfase nas poéticas das transformações corporais e alterações de
estados corporais. Criou e produz o @desmonteseminario, e o ABCDário Desmonte. Criou o
@muthabrasil. Coordenador da Linha de Estudos Trans, Travestis e Intersexo do grupo de pesquisa
NuCus (POSCULT/UFBA). Fonte:Transmutações no Butô: estados corporais, corpo transformacional
e censura no espetáculo Sebastian | Ephemera - Revista do Programa em Pós Graduação da
Universidade Federal de Ouro Preto.
2
O Sarau fundou o MUTHA como espaço cultural virtual e nacional de criação e manutenção de
arquivo histórico e artístico trans, através de apresentação de ensaios literários e acadêmicos,
palestras-performances, poesia, contos e trechos selecionados de obras históricas que buscaram
resgatar a memória de pessoas corpo e gênero diversas. É possível acessar a gravação do sarau, na
íntegra, através do link: https://www.youtube.com/watch?v=J2il2sPGvr8&t=65s.
3
As pessoas participantes foram: Presidenta Keila Simpson, Dr. Lino Arruda, Matheus Cairú, Luz
Bárbara, Léo Moreira Sá, Profa. Ma. Mariah Rafaela, Prof. Caio Tedesco, Xan Marçall e Jackie Jean.
uma instituição aqui de Minas Gerais, nós criamos esse sarau, de aproximadamente 1 hora e 20
minutos, com várias pessoas trans contando histórias e/ou falando sobre história, nessa perspectiva
história-histórias… foram 9 pessoas que participaram dessa primeira ação do MUTHA. Nós só fomos
abrir o site depois da nossa segunda ação, que foi o Desmonte Seminário, onde nós abrimos uma
mesa de debate, um evento lá da UFBA, que você pode ver o registro pelo Youtube, também, uma
imagem com umas raízes verdes, saindo do torso. Importante você assistir para entender melhor o
que eu falo sobre transformação corporal, o que a gente tá trazendo… além disso, a terceira ação,
então, foi a exposição que inaugurou o site, pela Lei Aldir Blanc através da FUNCEB. Essa foi a ação
maior, que nos possibilitou inaugurar o site. Agora estamos em andamento com uma quarta ação, o
PROAC, que vai inaugurar o Arquivo Histórico e construir ele, e outras três ações paralelas: a Fundo
Elas, que nos deu um incentivo para registrar a associação, e editais menores, pessoas parceiras do
MUTHA que pediram o espaço para realizar os seus projetos. O MUTHA já tá virando uma plataforma
de encontro também, sabe!4

Após a segunda ação, que foi a ocorrência do Desmonte Seminário, a terceira ação
foi a inauguração oficial do site, meu atual objeto de pesquisa. O site foi inaugurado
com duas exposições virtuais curadas por Ian Habib, intituladas Transespécie5 e
Transjardinagem6, e com o lançamento de um vasto catálogo em formato de livro
virtual7, destinado à reunião das obras de todes artistas transgêneres presentes nas
duas exposições.
A partir desse movimento inaugural, o site do MUTHA foi sendo construído a partir
de seis subseções, apresentadas em seis abas: INÍCIO, SOBRE, ARQUIVOS,
GALERIA, LOJA E CONTATO. Na aba intitulada ARQUIVOS, temos acesso a três
outras subdivisões: ARQUIVO ARTÍSTICO DE DADOS, ARQUIVO HISTÓRICO e
ARQUIVO VIVO. O primeiro tipo, o Arquivo Artístico de Dados, trata-se de um longo
mapeamento da atividade de pessoas trans nas artes, pensando artes nas suas
mais diversas interseccionalidades, entre elas: artes plásticas, audiovisual; dança;
performance; fotografia; artes cênicas; artes circenses; artesanato; literatura; moda;
música; beleza e áreas tecnológicas como iluminação, cenografia e sonografia. Esse
mapeamento visa

1) Indicar trabalhos e difundir vagas de emprego oferecidas futuramente pelo MUTHA, instituições
parceiras, como outras galerias, museus, espaços culturais, produtoras de conteúdo, e público em
geral;
2) Elaborar iniciativas educacionais;
3) Criar oportunidades para organização de cursos e comunicações;

4
Entrevista realizada por mim, através da plataforma Zoom, no dia 16 de fevereiro de 2022.
5
“Espécie é speciēs em Latim, e significa em sentido próprio “vista”, “sentido da vista”, “vista de
olhos”; em sentido usual “aspecto” e “aparência” ou “forma”, “exterior” e “ar”; e em sentido figurado
“beleza”, “falsa aparência”, “fantasma”, “imagem”, “aspecto”, “idéia que se faz de uma coisa” ou “tipo”
(FARIA, 1962, p. 935). A palavra vem de speciō, que indica “olhar”, “ver” e “avistar” (ibidem). Dessas
indicações, pode-se pensar que espécies são tentativas de atribuições de idéias e sentidos para
aspectos, formas, aparências e para o que está em campos de percepção.”
(Texto curatorial da exposição, acessível através do link https://mutha.com.br/transespecie/ )
6
“Transjardinagem diz muito da paisagem temporal em ruínas na qual se inscreve a trajetória de
produção desta exposição, que é por si mesma um arquivo vivo. Desejo propor um movimento de
jardinagem partindo de paisagens corporais catastróficas. [...]”
(Trecho do texto curatorial da exposição, acessível através do link
https://mutha.com.br/transjardinagem/ )
7
O livro pode ser acessado através do link https://mutha.com.br/livro/
4) Convocar residências artísticas e exposições;
5) Promover ações de visibilidade que não dependam das armadilhas dos mecanismos
cisheteronormativos, e que não compactuem com racismo, etnocídio, classismo e capacitismo.

(Fonte: https://mutha.com.br/arquivo-artistico/ )

A segunda subdivisão, a do Arquivo Histórico, é integrada por três núcleos: o Programa de


Preservação e Difusão Histórica (PPDH), o Programa em Educação (PED) e o Arquivo
Digital (AD).

O PPDH tem como objetivo coletar arquivos, dados e doações – jornais, revistas, documentos, livros,
filmes, cds, dentre outros –, promovendo sua organização, manutenção, restauro e digitalização, e
criando ferramentas de difusão dos mesmos.
O PED tem como foco o desenvolvimento de programas educacionais em História e Arte, e foi criado
para promover às pessoas trans capacitação profissional no mercado das Artes e Humanidades e
incentivar o empreendedorismo na indústria cultural, além de tornar as produções corpo e gênero
diversas mais acessíveis para todas as pessoas que desejam aprender mais sobre elas, fortalecendo
seu reconhecimento social. O PED oferece suporte para pessoas pesquisadoras, estudantes e para o
público em geral.
O AD é o acervo digital que engloba todo o material coletado pelo museu, como fotografias, panfletos,
clippings, newsletters, correspondências, periódicos, impressos, história oral, transcrições de
entrevistas, jornais, folhetos, objetos físicos, programas, anúncio, artigos, pôsteres, discursos, dentre
outros.

(Fonte: https://mutha.com.br/arquivo-historico/ )

Já o Arquivo Vivo, inaugurado no site do MUTHA no segundo semestre de 2022,


trata-se de um projeto virtual de memória pública e formação de arquivos, que visa
coletar relatos de pessoas transgêneras vivas no formato oral e também transcrito,
para integrarem ambos o campo do Arquivo Histórico do Museu Transgênero de
História e Arte (AHMUTHA). Este arquivo, o AHMUTHA, surge como uma
Associação do museu e abre uma nova aba do site, destinada à pesquisa de
documentação acerca da população corpo e gênero diversa no/do Brasil. 8
Por trás de todas as suas subseções técnicas, o MUTHA é transpassado por uma
ideia de museu enquanto obra artística, que Ian, artista-performer dançante, entende
como

[...] uma obra de arte de minha autoria, uma obra dançante. Tanto que quando você entra ali nada é
por acaso, foi tudo cuidadosamente escolhido e criado com base nesses conhecimentos, o que eu
tenho chamado de Transontocosmoepistemologia. Essa grande palavra parte do prefixo trans, como
um atravessador conceitual: quando você coloca o trans antes, ali no meio, ele faz esse movimento
de ir de um lado a outro, de atravessar. Então essa palavra diz que não há uma epistemologia, um
modo de criação, separado de um modo de ser, separado de uma cosmologia, de um modo de ver o
mundo. Então eu proponho essa palavra, Transontocosmoepistemologia, para falar de poéticas
artísticas trans, né, e essa palavra vem, e tudo no museu é construído a partir de poéticas trans na

8
Foram coletadas memórias de 8 mulheres transgêneras e travestis na/da Bahia, em fases diferentes
de vida, acima de 35 anos de idade, para cadastrar em nosso arquivo. Fonte:
https://mutha.com.br/arquivo-vivo/
área de artes. Transespécie é uma poética trans, Transjardinagem é outra, a gente poderia ficar
horas falando sobre poéticas trans nas artes, né, enfim. As pessoas perguntam aí fala um pouco
sobre a tipologia, a tipografia do MUTHA né, como vocês organizam o museu… então assim, nada é
por acaso, tudo é pensado como uma obra mesmo. O fato de você ter um corpo, um ser, logo que
você abre o MUTHA, que não sabe bem se é humano ou se é inseto, não é por acaso. O fato de o
MUTHA ter esses seres, não é por acaso. Quando você abre a galeria, você vê uma
Transquimerologia, que é outra poética trans. Você vai ver que é uma quimera, que tá girando, e ali
tem uma proposta de fissura entre o que é humano e não humano, vegetais, animais, inúmeras
matérias em transformação, que seria outro interesse meu de pesquisa: pensar não só o corpo
humano como performativo, mas a matéria como performativa. Uma das poéticas trans é a de
modificação da matéria, aí você vê um gelo derretendo, uma outra matéria que é um aço… você vê
essa conjunção de diversas matérias, se transformando uma na outra, e a cada giro da quimera você
é convidado a ajudar a criar esse ser. Ele sai da borda, ele rompe a borda, e a cada lugar que esse
objeto vai girando você é convidado a ver ele de uma forma. A perspectiva da quimera é a de
transformação, porque de cada lugar que você vê ela, você vê uma coisa diferente, e você vai ser
uma pessoa convidada a criar a continuidade dessa quimera, criar o seu próprio corpo como quimera,
um corpo em transformação. Por isso eu digo que o MUTHA não é só um lugar para expor obras
artísticas, mas ele mesmo é uma obra de arte.

Esse conceito fundador do MUTHA, o de funcionar tanto como museu quanto como
obra de arte, é o que me prendeu maior atenção e me instigou a aprofundar a minha
pesquisa sobre o projeto. Por tensionar a dualidade entre abordagem histórica e
abordagem artística, o conceito atravessador do MUTHA me trouxe algumas
questões acerca da história da arte contemporânea brasileira: seria possível tal
rompimento da distância entre museu e obra de arte, a ponto de que o museu vire a
própria obra de arte? Seria possível, ainda, estendermos a reflexão para um
reformulamento da própria escrita da História da Arte, a partir de uma abordagem
transgênera?
Conforme trazido na apresentação de Escritos de Artistas Anos 60/70 9, organizado
por Glória Ferreira e Cecília Cotrim, [...] a constituição de novos espaços de arte
contemporânea indica transformações importantes no circuito de arte brasileiro,
decorrentes, em grande parte, do embate por artistas e críticos contra a diluição
vigente e por uma história crítica da arte brasileira. Acredito que a criação do
primeiro Museu Transgênero de História e Arte surja justamente para apontar a
necessidade destas transformações, com a finalidade de preencher lacunas ainda
existentes na História da Arte contemporânea brasileira, e me trouxe diversas
provocações junto a esse movimento.
Enquanto pessoa transmasculina, para mim significou muito ter o contato com um
espaço museológico criado por, e com enfoque para, pessoas transgêneras, o que
considero de extrema importância. Porém, indo além das questões identitárias
referentes a gênero, o MUTHA me instiga a pensar essa interseccionalidade de
museu/obra de arte relacionada à própria História da Arte, o que me leva a refletir
sobre o meu lugar enquanto historiador da arte também.
Desde que adentrei no curso de História da Arte, em 2018, antes mesmo de iniciar

9
FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília (Org). Escritos De Artistas Anos 60, 70. Rio de Janeiro:
JORGE ZAHAR, 2006.
socialmente a minha transição de gênero, sempre busquei estudar artistas, teorias e
espaços de arte que fugissem do espectro cisgênero-binário. Comecei a, somente
em 2021, me expressar socialmente como pessoa transmasculina não binária, e
senti na minha pele a necessidade, bastante real, de me aproximar e dialogar com
meus pares. Senti, dentro e fora da academia, a solidão trans10, e entendi que esta
pode ser bastante assustadora, já que tão desviante da lógica binária/cisgênera que
move, num geral, a sociedade ocidental/brasileira em que vivemos. A vontade de me
aproximar de outras pessoas trans, me levou a questionar onde estava essa
representatividade na História da Arte e dediquei um bom tempo numa busca
pessoal por livros, filmes, obras de arte, artigos, notícias e quaisquer registros de
pessoas transgêneras participantes da história da arte brasileira. Ainda que tenha
encontrado materiais bastante relevantes e tenha conhecido artistas maravilhosas
pelo caminho11, experienciei também uma sequência de frustrações, devido à falta
de mapeamentos maiores e mais concretos. Me questionei, diversas vezes, sobre
estar pesquisando um objeto artístico que não existia, pois nunca ouvira o tema ser
abordado em sala de aula (e a própria ideia de uma identidade trans na arte
brasileira me parecia abstrata e bastante difusa), e estava quase desistindo do meu
objeto de pesquisa até que, por acaso, me deparei com a existência do MUTHA.
Conheci o museu por acaso, numa das minhas pesquisas sobre acervos virtuais
dentro de uma bolsa de pesquisa com a profa. dra. Mônica Zielinsky, e tive sorte de
me deparar com alguém tão acessível quanto o Ian Habib, que prontamente se
ofereceu a realizarmos uma conversa informal pela plataforma Zoom12, a fim de me
explicar melhor a criação e conceito do museu.
Nesta entrevista, um dos nossos primeiros diálogos foi justamente sobre a questão
que me incomodava tanto durante a minha pesquisa: a inexistência de um registro
de uma história da arte trans no Brasil.

Ian- … Porque o que acontece: a gente tá falando de uma população que, se a gente for olhar na
História da Arte, as produções dessa população passaram por diversos processos de censura, de
apagamento…você não vai achar por aí um livro de História da Arte trans, isso precisa ser feito. Aliás,
te convido a fazer isso! Precisamos disso, entende! Tem muita coisa a ainda ser feita, principalmente
no Brasil. A gente até encontra alguns materiais de outros países, mas no nosso país, isso ainda
precisa ser feito! Olhando o acervo da ditadura, eu até consigo fazer a partir da ditadura militar. Antes
da ditadura, eu ainda não consigo. Precisamos de mais dados. Isso ainda precisa ser feito! 13

10
Conceito desenvolvido através do artigo “Eu não vou morrer: solidão, autocuidado e resistência de
uma travesti negra e gorda para além da pandemia”, escrito por Letícia Carolina Pereira Nascimento
(2020).
11
No primeiro semestre do curso, entrevistei a artista Élle di Bernardini enquanto esta realizava uma
performance na cidade, intitulada “Dance with me”. Além da entrevista, tive também a experiência de
participar da performance junto à artista, experiência que me marcou profundamente e que só
aconteceu graças à oportunidade que a Universidade me ofereceu.
12
A entrevista ocorreu no dia 16 de fevereiro de 2022.

13
Trecho de entrevista com Ian Habib sobre o MUTHA, feita através da plataforma Zoom, no dia
16/02/22.
Com essa provocação de Ian, comecei a pensar junto a ele o que exatamente
seria, e no que impactaria, um acervo de história da arte trans. Conforme Ian, o trans
afinal teria

[...] vários sentidos, tá, e nenhum sentido existe pré-determinado. A gente pode usar algumas
ferramentas de análise, a gente pode usar uma arte trans num sentido pós-identitário, que é pensar
que quaisquer identidades de gênero podem, sim, vir a produzir uma arte trans. Mas por que trans?
Não é porque é transgênero, mas porque é uma analítica trans. Da mesma forma que eu pego o
prefixo trans e coloco em transregional, transetário, trans-sei-lá-o-que, essa palavra vira um
movimentador conceitual. Isso é chamado, nos estudos transgêneros (tudo isso que eu tô falando tem
no meu livro lá, de um jeito até muito mais interessante, eu aliás ia adorar que você lesse, posso te
mandar o link) de uma analítica trans. A analítica trans é um estudo da complexidade: a gente tem
intercultural, multicultural e transcultural. O trans vem para atravessar os espaços, movimentar as
fronteiras, e isso é uma analítica trans. 14

Ainda que faltem ainda pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto, a criação de
um museu especificamente destinado a abrigar tanto o acervo da população
transgênera numa abordagem histórico-social, quanto um acervo artístico e subjetivo
transgênero que considere a abrangência do prefixo trans como atravessador
transformacional, faz do primeiro Museu Transgênero de História e Arte brasileiro um
ato revolucionário para a escrita da história da arte brasileira contemporânea: não só
pensando em diversidade de gênero, mas diversificando também a ideia que temos
do que é, e do que pode ser afinal, um museu de arte contemporânea.

14
Trecho da mesma entrevista
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://mutha.com.br/

Transcrição de entrevista independente realizada com Ian Habib através da plataforma Zoom, no dia
16/02/2022. Ainda não publicada.

HABIB, Ian Guimarães. Corpos transformacionais. Editora Hucitec, 2021. Disponível em


https://lojahucitec.com.br/produto/corpos-transformacionais/

FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília (Org). Escritos De Artistas Anos 60, 70. Rio de Janeiro: JORGE
ZAHAR, 2006.

NASCIMENTO, Letícia Carolina Pereira. Eu não vou morrer: solidão, autocuidado e resistência de
uma travesti negra e gorda para além da pandemia. Artigo publicado na Revista Inter-Legere em
2020, disponível através do link https://periodicos.ufrn.br/interlegere/article/view/21581

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