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Psicanálise e neurociências: visões

antagônicas ou compatíveis?

Elaine Pinheiro*

Regina Herzog**

Resumo

A direção atual de se enxergar manifestações psíquicas como sendo,

primordialmente, manifestações biológicas, tem suscitado críticas à

psicanálise. Esta última é muitas vezes vista como um tratamento de

menor importância quando comparada a terapias medicamentosas e

comportamentais. Psicanalistas respondem apontando para a necessidade

de se garantir um lugar para a singularidade de cada sujeito, em vez de

uma normatização coletiva de subjetividades. Freud, embora sustentasse

um projeto de ciência, afastou-se da medicina de sua época ao ver

sintomas que não eram explicáveis pela biologia. Hoje, enquanto alguns

defendem a atualidade das ideias de Freud, outros anunciam seu fim,

argumentando que o próprio Freud cogitou que futuras evoluções no

saber sobre o cérebro poderiam tornas suas ideias obsoletas. Este artigo

apresenta uma reflexão sobre qual o possível lugar da psicanálise diante dos

avanços da biologia atual. Entre autores a favor de uma articulação com

as neurociências e autores que veem esse diálogo como um contrassenso,

abordamos alguns achados neurocientíficos que se alinham às ideias de


Freud; o contexto cultural que faz com que explicações fisicalistas sejam

privilegiadas; a dificuldade de se entender o fenômeno mental como sendo

restrito à atividade cerebral; e os pressupostos técnicos e terapêuticos da

psicanálise. Ao final, refletimos sobre o que poderia ser um diálogo que

respeite as especificidades de ambos os campos.

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