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A Sul: Tartessos e as
comunidades púnicas
Cronologias
Transição do período fenício para o púnico é caracterizada pela passagem de uma sociedade
colonial para uma sociedade pós-colonial e pela conformação de cidades-estado independentes.
Integração nos finais do século III a.C. destes microestados em duas formações estatais em plena
expansão territorial: primeiro Cartago e depois Roma.
Geografia
História da investigação de Tartessos
✘ Tartesso foi concebida como uma grande cidade
✘ G. E. Bonsor, de forma pouco consciente, é o primeiro a aproximar-se da cultura Tartéssica ao escavar várias necrópoles perto
de Sevilha, mas não associa os materiais a esta cultura
✘ Ainda no inicio do século XX, Adolf Schulten, motivado pelas descobertas de Tróia, Micenas ou Tirinto, tentou encontrar a
“cidade de Tartessos” que se localizaria na embocadura de um rio. Perante as falhas sucessivas, esboçou algumas ideias que
ainda hoje ecoam fora do âmbito científico, lançando a hipótese de que Tartessos deveria ser a cidade perdida da Atlântida
✘ A procura da cidade de Tartessos só parou em meados dos anos 50 do século passado, quando Maluquer De Motes concebe
Tartessos como uma cultura indígena, enriquecida pelas contribuições Fenícias e Mediterrânicas
✘ Desde a descoberta casual do Tesouro de Carambolo (1958) e as escavações posteriores dirigidas por Juan Matra Carriazo, a
informação disponível foi aumentando
✘ Investigações recentes realizadas por Férnandez Flores e Rodríguez Azogue (2007), mostram que a cultura Tartéssica se inicia
com uma forte componente indígena
✘ A Arqueologia passou a ter primazia sobre as Fontes escritas que geram demasiada confusão...
A terminologia
Quando procuramos dar nome a estas populações, surgem várias dificuldades porque foram várias as designações
usadas por escritores gregos e la:nos.
A raiz do problema está no facto de não sabermos como é que estas comunidades se autodenominavam
(cananeos, Chanaani?- termo usado mais tarde pelas populações desta região para se dis:nguirem dos cristãos).
Termo latino
Termo grego Karchedonioi
derivado do grego
Tartessos Phoïnix, phoenices
Poenus (poeni no
Termo usado por
helenos e latinos.
plural)
Os gregos usavam o termo “fenício” com um valor étnico, de povo, e cartagineses com um valor político, como
habitantes da cidade norte-africana, sendo que estes últimos se incluíam nos primeiros.
Os latinos empregaram três termos étnicos: Phoenix, Poenus e Karchedonioi. Poenus é a forma mais antiga, deriva
do grego e é sinónima de fenício. Mas quando Roma entrou em contacto com Cartago, recorreu à designação
Phoenix para distinguir os habitantes da Fenícia dos poeni (seus interlocutores norte-africanos). Mas esta não foi
uma norma, sendo que alguns autores usam poenicum como equivalente de fenícios.
Fenícios/Púnicos
✘ Os primeiros colonizadores eram de Tiro, na Fenícia (franja sírio-palestina), cidade debaixo da proteção do poderoso
Império Assírio. Necessidade de aumentar transações comerciais para pagar ao império Assírio e manter a sua soberania.
Cada cidade fenícia era independente.
✘ 535 a.C. Batalha de Alalia (Gregos vs. Fenícios/Etruscos), Tartesso desaparece das fontes escritas e Cartago cria a sua
hegemonia para resistir aos Gregos.
Tartessos
✘ Referimo-nos a Tartessos como uma entidade sociopolítica e cultural, bem como a um território
que se configura com elementos indígenas e fenícios
A chegada dos Fenícios à Península Ibérica
✘ Atraídos pela riqueza mineral (cobre, estanho, ouro, prata) da Península
Ibérica
O mais antigo dos locais costeiros é Huelva, sendo por vezes identificada como a cidade de Tartessos.
Local sempre considerado importante, mas a sua relevância foi confirmada quando um tesouro de armas
de Bronze Final foi descoberto junto com uma dúzia de fíbulas: estes foram reconhecidos como
pertencentes a um 'Atlântico' em vez de um grupo 'mediterrâneo' e assim, acredita-se que pertençam a um
período anterior ao advento dos fenícios.
Mais recentemente, uma escavação de emergência identificou um esconderijo de materiais importados que
datam do século IX e, dos 8.000 fragmentos de cerâmica estudados, mais de 3.000 são fenícios, e 33 são
gregos.
Huelva deve ter sido o primeiro ponto importante de contato entre os Tartessos e o Oriente.
Organização do território
O outro sítio costeiro importante era Cádiz, frequentemente conhecido pelo nome romano de Gades ou
Gadir fenício.
Mas enquanto Huelva era essencialmente tartéssica, Gades era essencialmente fenícia.
Localizava-se numa pequena ilha no meio do porto, hoje assoreado, de modo que a cidade moderna
implanta-se numa península, unida ao continente. Essa ilha costeira estava numa posição estratégica,
pois era protegida de ataques e, ao mesmo tempo, não ameaçava os nativos. Parece ter sido a
principal cidade da qual a riqueza dos metais tartéssicos foi exportada para o Oriente em troca de
produtos e joias que os mercadores fenícios podiam fornecer.
Organização do território
O primeiro local importante a surgir (1958), é o famoso tesouro de Carambolo. 20 artefatos de ouro
foram recolhidos durante os trabalhos de reforma de um clube de tiro ao pombo em El Carambolo,
perto de Sevilha.
Os artefactos em ouro foram depositados num vaso de cerâmica do século VI, embora a maioria
dos objetos seja mais tardia, século VIII.
Trabalhos subsequentes (Férnandez Flores e Rodríguez Azogue, 2007) demonstraram que fazia
parte de um conjunto de estruturas complexas que foram interpretadas como templos. Entre estas
estruturas, foi escavado um templo consistindo em duas salas oblongas com bancos em redor do
lado de fora. Estava situado nos dois lados de um pátio e rodeado por uma série de quartos
menores.
A economia
Exploração mineira:
✘Já na Idade do Bronze eram exploradas para o ouro as Minas de Riotinto e as minas da zona da
Serra Morena. O Estanho encontrava-se mais para o interior
✘Apesar do estanho ter funcionado como principal atrativo, a descoberta de minas de prata mudou
o foco de exploração
✘As inovações fenícias permitiram em pouco tempo melhorar os métodos extrativos e multiplicar a
exportação
Exploração agropecuária:
✘Novas tecnologias
A economia
✘Pesca do Atum
✘ A chegada dos Fenícios foi acompanhada de grandes avanços tecnológicos: roda de oleiro, novos processos de
extração de minério, novas técnicas de ourivesaria, novas técnicas decorativas e trabalho em marfim
Cerâmica pintada Cerâmica tipo Carambolo (até sec. VII) Pithoi pintada “Cruz del negro”
Vaso dos grifos
A cultura material
✘ Os bronzes foram amplamente usados para definir a cultura material Tartéssica, devido à sua quantidade e
qualidade
✘Os objetos em prata, ao contrário do que nos dizem as fontes escritas, são pouco significativos
✘Jarros e braseiros, encontrados sobretudo em enterramentos e santuários, estão entre os objetos mais típicos.
A cultura material
✘ Objetos realizados em marfim mostram uma enorme riqueza iconográfica (pentes, placas...)
✘Expressão genuinamente tartéssica: leões, cervos, esfinges, grifos, mo:vos vegetais e formas em zig-zag. Mo:vos
guerreiros
✘Descobertas em dis:ntas necrópoles
✘ Por oposição ao Bronze Final, com a colonização Fenícia começamos a detetar no registo
arqueológico algumas necrópoles, sobretudo a partir do séc. VIII
✘As urnas aparecem com os restos cremados selecionados, geralmente tapadas com pratos e
enterradas em fossas, por vezes sinalizadas por estelas em pedra
O mundo funerário: necrópole de Setefilla
✘ A Necrópole de Setefilla proporcionou dados valiosos sobre a
organização social em Tartessos
* Orientalizante- termo da História da Arte. Conceito que define uma tendência artística
presente na Grécia no séc. VII a.C. onde se imitam produções do Próximo Oriente.
A generalização do termo “orientalizante” na Península Ibérica desvirtuou o seu significado
cultural e cronológico. Alguns autores optam por usar a denominação de “cultura
tartéssica” em vez de “orientalizante”.
A religião e os santuários
A religião e os santuários: Carambolo
O tesouro de Carambolo
Em que consiste?
Datação:
Entre 725 e 500 a.C.
Encontram-se ligeiras diferenças nas peças que poderá corresponder a distintos joalheiros.
A influência oriental é evidente, e o pendente poderá ser um artigo de importação.
A religião e os santuários: Carambolo
As escavações do inicio do século XXI, confirmaram que o espaço onde apareceu o tesouro terá sido
um espaço religioso/templo.
Os últimos trabalhos sobre o tesouro referem a possibilidade de ter sido pintado com azul, cinzento,
branco e ocre.
Confirmou-se igualmente que no interior das cápsulas/selos existiram pequenos elementos esféricos
não metálicos (pedras ou contas de marfim) para, talvez, produzir sons.
Existem outros tesouros tartéssicos encontrados em Alísenla (Cáceres) e em Belvis de Jara (Toledo).
A religião e os santuários: Carambolo
A religião e os santuários: Carambolo
A religião e os santuários: Carambolo
Vista aérea do
edifício do
templo /
santuário E.
“Santuário E”
A religião e os santuários: Carambolo
“Santuário D”
A religião e os santuários: Carambolo
No entanto, o sítio mais conhecido é provavelmente Cancho Roano, que fica na orla norte da
área tartéssica, 80 Km a sudeste de Mérida. Foi escavado de 1978 a 2001 e parece ter sido
algum tipo de templo ou local ritual - a sua funcionalidade é, ainda hoje, bastante debatida.
Na fase mais recente e mais bem preservada, foi detetada uma estrutura retangular circundada por um fosso de 5
m de profundidade e preenchido com os resíduos da cerimónia. No interior havia uma estrutura retangular com
uma única entrada estreita. A soleira era formada por uma “Estelas de Guerreiro”, que, provavelmente santificava
o local. Na câmara de entrada que conduzia a um pátio havia um impressionante pavimento vermelho e paredes
caiadas de branco. Do outro lado ficava a sala principal com um altar no centro.
A religião e os santuários: Cancho Roano
A religião e os santuários: Cancho Roano
A religião e os santuários: Cancho Roano
A religião e os santuários: Cancho Roano
A crise
No século VI a.C., a sociedade de Tartessos sofreu uma crise.
O seu sucesso sempre foi alimentado pelo comércio de prata: os assírios absorviam grandes
quantidades de prata, que exigiam como tributo de Tiro, e para Tiro a melhor fonte de prata era
Tartessos.
No entanto, em 612 a.C. os assírios foram derrotados pelo poder crescente dos Medes, e estes
não tinham a mesma necessidade de prata que os assírios.
Em 572 a.C., a própria Tiro foi capturada após um longo cerco e o elo crucial no comércio de
prata foi quebrado. Ao mesmo tempo, um grande realinhamento de poder ocorria no
Mediterrâneo entre as potências emergentes dos etruscos e dos cartagineses e gregos. Com a
queda de Tiro, Cartago começou a ocupar seu lugar como líder do mundo fenício - e Cartago não
precisava de prata. O colapso foi mais pronunciado ao longo da costa, em Huelva e nos
povoados agrícolas ao longo da costa leste. No interior de Tartessos, a vida continuou, e de facto
Cancho Roano é um monumento pertencente a esta fase tardia.
A crise
A partir do século VI a.C. deixamos de encontrar vestígios tartéssicos.
Outros fatores: