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ESTRATÉGIAS E AVANÇOS NO CAMINHO DA INTERNACIONALIZAÇÃO

2019

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

REALIZAÇÃO

DIRETOR PRESIDENTE
Martin Dowle

DIRETORA DE EDUCAÇÃO
Diana Daste

GERENTE SÊNIOR DE EDUCAÇÃO


SUPERIOR E FUNDO NEWTON
Vera Regina Oliveira

GERENTE DE PROJETOS
DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
Simone Ricci

GERENTE SÊNIOR DE MARKETING


Fernanda Medeiros

GERENTE DE MARKETING DIGITAL


Juliana Ferreira

ESTAGIÁRIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR


Alessandra Micheletti

REPORTAGEM I EDIÇÃO
Maggi Krause
Rosi Rico

CHECAGEM DE DADOS
Wellington Soares

REVISÃO
José Américo Justo

DESIGN I DIREÇÃO DE ARTE


Carla De Franco

ILUSTRAÇÕES
Bruno Algarve

CAPA
Cacau Tyla com fotos Shutterstock

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

SUMÁRIO
HORA DE ALINHAR ESTRATÉGIAS............................... 12
Com Capes-PrInt, universidades ganham recursos
para colocar em prática planos de internacionalização.

O AVANÇO DO INGLÊS................................................................................... 20
Programas como Idiomas sem Fronteiras e iniciativas de EMI
são ferramentas para melhorar proficiência de alunos e professores.

PARCERIAS DE SUCESSO....................................................................... 32
Colaboração leva a pesquisas internacionais e artigos
em coautoria com mais chances de impacto global.

SABERES EM REDE................................................................................................... 42
O intercâmbio e a troca de conhecimentos entre pesquisadores
no exterior contribuem para o avanço da Ciência brasileira.

MEDIDAS DE QUALIDADE..................................................................... 50
Avaliar o desempenho das universidades é essencial para
saber se elas estão cumprindo bem seus objetivos.

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ARTIGO............................................................................................................................................................
Educação Transnacional: a oportunidade de ter um diploma
internacional sem sair do país.
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

NO RUMO DA
INTERNACIONALIZAÇÃO
É com imenso prazer que apresento a segunda edição da publica-
ção Universidades para o Mundo, que enfoca uma diversidade de te-
mas com os quais o setor de educação superior tem se confrontado
enquanto avança no processo de internacionalização no Brasil.

Em nosso primeiro número, abordamos uma série de desafios e


oportunidades que surgiram da decisão da Capes de encorajar
as universidades para o caminho da internacionalização, dando
luz a experiências realizadas pelo Reino Unido nessa área. Desde
então, a Capes lançou seu programa PrInt, que destina R$ 300
milhões anuais e conduz uma boa quantidade de Instituições de
Ensino Superior a seguir uma rota de sucesso para se internacio-
nalizar. Nesta edição, olhamos para como as universidades po-
dem desenhar seus planos estratégicos, avançar no EMI – Inglês
como Meio de Instrução, desenvolver parcerias de sucesso e es-
timular a mobilidade e a inovação.

Nos últimos dois anos, o British Council realizou diversas iniciativas


dentro do programa Universidades para o Mundo. Concedemos
dez bolsas para projetos entre universidades no Reino Unido e no
Brasil que visam derrubar as barreiras que impedem as brasileiras

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Pedro Silveira
de aprimorar o nível de inglês funcional entre seus professores e
pesquisadores. Também apoiamos várias instituições britânicas e
brasileiras para trabalharem em conjunto suas estratégias interna-
cionais. Além disso, em parceria com a Faubai e especialistas da Martin Dowle
• Diretor Presidente do
área de línguas, lançamos o segundo Guide to English as a Medium British Council no Brasil

of Instruction in Brazilian HEIs, que conta com um portal correspon-


dente para a busca de cursos ministrados em inglês.

Nunca é simples planejar e implementar estratégias internacionais,


pois envolve escolhas difíceis baseadas na definição de áreas de
prioridade e alocação de recursos. Mas bons planos permitem à
universidade definir qual o seu propósito e também como deseja
ser reconhecida em futuras parcerias no âmbito internacional.

Para concluir, gostaria de agradecer a todos os parceiros do pro-


grama Universidades para o Mundo, em particular MEC, Capes, Fau-
bai, Abruem, Fapesp, Confap, Idiomas sem Fronteiras e um grande
número de universidades espalhadas pelo Brasil. Espero que este
conteúdo estimule a reflexão sobre o avanço da internacionaliza-
ção do sistema de educação superior brasileiro e ajude a ampliar
ligações de pesquisa e ensino entre o Brasil e o Reino Unido. n

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PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

INTERNACIONALIZAÇÃO

Vera Regina Oliveira


Divulgação

Gerente Sênior de Educação Superior e Fundo Newton

Diálogos e projetos no
caminho das parcerias
O programa Universidades para o Mundo
apoia ações que favorecem a cooperação
entre instituições brasileiras e britânicas

P romover o acesso de jovens à educação


de qualidade e iniciativas que permitam
maior cooperação internacional entre Institui-
ca, em 2017 organizamos os Seminários Re-
gionais de Internacionalização, que discutiram
questões como o reconhecimento de diplo-
ções de Ensino Superior (IES) e pesquisa es- mas, inovação e pesquisa aplicada em parce-
tá entre os objetivos do British Council. Nossa rias internacionais, os passos necessários pa-
relação estreita com universidades, fundações ra internacionalizar e o acesso à língua inglesa.
de apoio à pesquisa e inovação e órgãos do Os debates resultaram no primeiro caderno
governo nos permite aproximar instituições Universidades para o Mundo: desafios e opor-
brasileiras e britânicas. Para isso, planejamos tunidades para a internacionalização, lançado
ações estratégicas dentro do programa Uni- em 2018, e mostraram a necessidade de esti-
versidades para o Mundo. Ele foi lançado em mular os diálogos e a sustentabilidade de um
maio de 2017, coincidindo com o Think Brazil, projeto de longo prazo de internacionalização
uma série de eventos realizados no Reino Uni- para o país. Essa passou a ser a prioridade do
do para promover os laços com o Brasil. Na- British Council na área de educação superior.
quela ocasião, o British Council organizou, com Ainda em 2017, em parceria com a Coor-
o apoio da Universities UK International (UUKi), denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
uma conferência que teve a presença de IES Nível Superior (Capes), a Associação Brasilei-
de ambos os lados do oceano. ra dos Reitores das Universidades Estaduais
Para incentivar o diálogo sobre a temáti- e Municipais (Abruem) e o Conselho Nacional

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

estudantes estrangeiros para o Brasil. Para is-


so, o British Council trabalhou em parceria com
a Faubai no Guide to English as a Medium of
Instruction in Brazilian HEIs, que lista os cur-
sos ensinados no Brasil em inglês ou outros
idiomas. Esses dados estão disponíveis para
pesquisa em uma plataforma online.
Vimos também o surgimento no país da
Educação Transnacional, com cursos de gra-
das Fundações Estaduais de Amparo à Pesqui- duação e pós-graduação. Esses movimentos
sa (Confap), lançamos dois editais Universida- levam a reflexões sobre as finalidades da in- O valor da
des para o Mundo para apoiar parcerias entre ternacionalização, e como ela pode beneficiar
instituições do Brasil e do Reino Unido. O ob- a universidade e a sociedade brasileira. Em
internacionalização
jetivo era utilizar a experiência dessas últimas 2019, lançaremos o quarto edital dentro do como parte
para ajudar na estruturação dos planos de in- programa Universidades para o Mundo, com
do ecossistema
ternacionalização das IES brasileiras. Os editais elementos que atendam aos interesses identi-
financiaram 12 projetos, beneficiando 22 uni- ficados entre nossos parceiros. São eles: universitário é o
versidades do país e 13 britânicas e possibili- de gerar redes
taram seminários e workshops de capacitação. n operacionalizar a implementação
de conhecimento
Em 2018, lançamos o terceiro edital Uni- de planos de internacionalização;
versidades para o Mundo, dessa vez focando n estabelecer processos de que promovem
em políticas linguísticas. Internacionalizar re- monitoramento e avaliação dos projetos; um ambiente mais
quer troca de ideias e fluxo de informações e n avaliar o impacto para as instituições
de pessoas, o que torna essencial o desenvol- e as comunidades que as cercam.
diverso de pesquisa,
vimento de ferramentas e políticas que facili- ensino e inovação.
tem a comunicação entre instituições, e destas Para o British Council, a internacionalização
com seus alunos, e o inglês assume a posição impulsiona trocas de conhecimento, fortalece
de língua franca. O valor da internacionaliza- redes de pesquisa e colaboração institucional
ção como parte do ecossistema universitário – e leva a um intercâmbio cultural que promove
ao expor estudantes, professores e pesquisa- a prosperidade dos países. Por isso, em dezem-
dores a diferentes referências e conceitos – é bro de 2018, organizamos o Seminário de In-
o de gerar redes de conhecimento que promo- ternacionalização UK-BR em Londres. O even-
vem um ambiente mais diverso de pesquisa, to aprofundou conversas entre universidades
ensino e inovação. brasileiras e britânicas sobre temas essenciais
Nos últimos anos, o sistema de educação da internacionalização, seus avanços e desa-
superior revisou sua visão sobre a internacio- fios. Elas foram o ponto de partida deste se-
nalização. O foco em parcerias para intercâm- gundo caderno Universidades para o Mundo.
bio de estudantes de graduação e pós-gradu- Nossa proposta é persistir nessas discussões,
ação deu lugar a estratégias de médio a longo para o benefício das relações entre Brasil e Rei-
prazos, com um viés institucional mais forte e no Unido, cumprindo a missão de contribuir pa-
seleção de áreas prioritárias. Uma das tendên- ra um ambiente de ensino e pesquisa diverso,
cias que se fortalecem é incentivar a vinda de acessível e internacionalmente conectado. n

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PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

INTERNACIONALIZAÇÃO
Marcelo Almeida

Diana Daste
Diretora de Educação

Entendendo o cenário
para criar estratégias
Estimular e documentar discussões
estratégicas faz parte da agenda do British
Council para fomentar a internacionalização
e a qualidade na educação superior

O programa Universidades para o Mundo


tem o objetivo de contribuir para a pros-
peridade e o desenvolvimento tanto do Brasil
um terceiro grupo é convidado para uma dis-
cussão estratégica, um primeiro contato com
os princípios e benefícios da internacionaliza-
quanto do Reino Unido, em particular do se- ção, as ferramentas disponíveis e os poten-
tor de educação superior, cultivando links de ciais parceiros. Todas essas iniciativas levam
longo prazo baseados na qualidade, no alinha- a uma consequência transversal: estimular e
mento estratégico e em relacionamentos sóli- documentar debates críticos sobre oportuni-
dos entre Instituições de Ensino Superior (IES), dades e desafios enfrentados pelos diferentes
governos e agências de fomento e pesquisa atores nesse campo. O British Council apoia e
de ambos os países para capacitação institu- absorve essas discussões, e elas geram inputs
cional da internacionalização. estratégicos para guiar os próximos passos e
Como o programa reconhece os diferen- futuras intervenções.
tes estágios de evolução das IES brasileiras, as O Seminário de Internacionalização UK-BR,
intervenções são segmentadas por necessi- realizado em dezembro de 2018 no Reino Uni-
dades e perfis, então (a) as universidades mais do, foi um momento-chave para essa agenda,
bem posicionadas são encorajadas a trabalhar permitindo um debate aberto e crítico sobre a
de forma mais efetiva com o Reino Unido, (b) consolidação de parcerias para a operaciona-
as que ocupam o nível seguinte têm a opor- lização dos planos de internacionalização das
tunidade de aprimorar sua preparação e (c) IES brasileiras sob o esquema do Capes-PrInt.

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PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

A missão envolveu mais de 50 instituições tra-


balhando ativamente na área, incluindo 19 IES
brasileiras (beneficiárias de recursos do PrInt)
e universidades do Reino Unido, assim co- O Seminário de
mo agências de pesquisa, políticas públicas e Internacionalização
educação internacional de ambos os países.
Ao descrever o contexto atual, sobressaí-
UK-BR foi um
ram discussões essenciais sobre garantia de momento-chave
qualidade, políticas linguísticas, operacionaliza- para essa agenda,
ção na prática das oportunidades entre o Rei-
no Unido e o Brasil, casos bem sucedidos de
permitindo um
Educação Transnacional (TNE) e os desafios de debate aberto
criar e apoiar redes que abrem espaço para o e crítico sobre
aprendizado e a troca de expertise entre as uni-
versidades mais internacionalizadas (que rece- cionalização do British Council. As colabora- a consolidação
beram o PrInt) e as instituições que pretendem ções se beneficiam de informações claras e de parcerias
levantar recursos da Capes no futuro. a tradução oportuna de contextos nacionais e
de IES brasileiras
Quatro componentes foram menciona- prioridades institucionais. Também é papel do
dos de forma recorrente durante os dois dias British Council ser facilitador desses encon- sob o esquema
de discussão, de forma transversal, em áreas tros e servir como uma ponte entre IES e as do Capes-PrInt.
e temas diferentes. Reconhecidos como alta- instituições políticas relevantes.
mente estratégicos, eles constituem a espinha Um conjunto de atividades irá manter es-
dorsal para as próximas chamadas, workshops ses espaços de interlocução ao longo do tem-
e, por fim, os resultados desejados do progra- po. Organizado em Brasília em março de 2019,
ma Universidades para o Mundo 2019-2020: um grupo de trabalho heterogêneo iniciou
1 – Internacionalização como um meio de um exercício de planejamento estratégico pa-
aprimorar a qualidade; ra estabelecer as diretrizes da quarta chamada
2 – Internacionalização como uma ferra- UK-BR para operacionalização de planos de
menta de inclusão social e cidadania global; internacionalização, que será lançada em um
3 – Indicadores robustos e confiáveis para workshop aberto no primeiro semestre des-
medir a implementação dos componentes da te ano. No primeiro trimestre de 2020, no Rei-
internacionalização e seu impacto amplo em no Unido, um seminário internacional pretende
regiões e sociedades; discutir e apoiar políticas linguísticas e a mobi-
4 – Redes fortes de colaboração e cons- lidade de estrangeiros para o Brasil.
trução de capacidades entre instituições bra- Seguimos com muito entusiasmo no traba-
sileiras na consolidação de parcerias com o lho junto aos principais interessados na temá-
Reino Unido e na operacionalização dos pla- tica e a nossos parceiros, construindo capa-
nos de internacionalização. cidades, apoiando links e desenhando estra-
A missão também teve a intenção de ser tégias relevantes que resultem em parcerias
um momento de follow-up a respeito dos pro- estratégicas e planos de internacionalização
dutos e processos esperados dos projetos bi- mais aprimorados, impactantes e sustentáveis
laterais financiados pelo esquema de interna- entre Reino Unido e Brasil. n

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PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

HORA DE ALINHAR
ESTRATÉGIAS

Todo plano estratégico prevê um olhar atento e detalhado para


dentro: missão, prioridades, metas, forças, fragilidades, cami-
nhos a seguir. Esse fundamental exercício para a construção de
um projeto de internacionalização foi realizado por várias uni-
versidades brasileiras no ano passado, no que pode represen-
tar um avanço significativo para aumentar a presença do ensi-
no superior do Brasil no mundo. A iniciativa foi uma exigência
do Programa Institucional de Internacionalização (Capes-PrInt),
lançado pela Capes para tentar mudar o quadro constatado em
2017, quando 320 instituições responderam a uma pesquisa da
agência e 225 alegaram ser pouco ou nada internacionaliza-
das. Contribuir com esse processo é também estratégia do Bri-
tish Council no Brasil, que, em dezembro, organizou o Seminário
de Internacionalizacão UK-BR. Realizado em Londres, o evento
foi uma ocasião para atualizar as discussões e aprofundar a te-
mática da internacionalização.

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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO
Bellerby & Co Globemakers, London
Photography by Ana Santi

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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

INTERNACIONALIZAÇÃO
ESTRATÉGIAS

A força do
planejamento
Universidades traçam caminhos para
ampliar processo de internacionalização
“O conhecimento não tem fronteira e a uni- a universidade atrativa para outros parceiros,
versidade não sobrevive isolada. Ela consegue criando um ciclo realmente produtivo. “Embo-
trabalhar localmente, mas não em ciência de ra o Brasil esteja entre os 13 principais países
ponta. Para isso é necessário se articular com do mundo em produção de artigos, o número
outros grupos e países”, afirma Waldenor Bar- de citações não está no mesmo nível. Portanto,
ros Moraes Filho, Diretor de Relações Interna- precisamos agora passar para a qualidade, e
cionais da Universidade Federal de Uberlândia esse é um grande desafio”, diz Marcio de Cas-
(UFU). A parceria entre instituições de ensino tro Silva, Pró-Reitor Adjunto de Pós-Graduação
é um dos principais resultados da internacio- da Universidade de São Paulo (USP).
nalização (leia mais na página 32), pois permite Construir acordos de cooperação rele-
trocar conhecimento, enriquecer os projetos vantes demanda preparação e empenho.
desenvolvidos e ampliar a divulgação deles, No Brasil, a estratégia de internacionalização
com publicação de artigos e citações. Mas da maioria das universidades começou com
não bastam números. A pesquisa precisa ter a mobilidade de estudantes, professores e
alto impacto para gerar visibilidade e tornar pesquisadores, tanto externa quanto interna.

PRODUÇÃO DE ARTIGOS ACADÊMICOS


Total publicado entre 2006 e 2011

1o EUA 2.521.998

2o CHINA 1.402.689

3o REINO UNIDO 742.824

4o ALEMANHA 653.718

5o JAPÃO 483.505
Fonte: relatório
Research in Brazil
o
13 BRASIL 250.680 2018, Clarivate
Analytics para Capes

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No entanto, muitas dessas iniciativas são in-
dividuais e não resultam em benefícios dura-
douros dentro das instituições. No questioná-
rio da Capes, 64% das Instituições de Ensino
Superior (IES) responderam não ter um plano
estratégico nem mesmo sobre mobilidade.
Há, portanto, muito a ser feito.

Levantar pontos fortes


Uma parcela das universidades brasileiras,
porém, conquistou espaço no cenário inter-
nacional, figurando em rankings conceituados
(leia mais na página 50). A expectativa é que
o Capes-PrInt, que prevê investimentos anuais
de R$ 300 milhões por quatro anos, amplie e
acelere esse processo. “A internacionalização é
fundamental para melhorar a qualidade da uni-
versidade e importante para que o Brasil não

Carlos Patrício / Mackenzie


fique alheio às novidades que acontecem no
exterior”, diz Connie McManus Pimentel, Direto-
ra de Relações Internacionais da Capes.
O primeiro benefício é estimular as insti-
tuições a fazer um mapeamento interno sobre
Biblioteca da
suas potencialidades para elaborar o plano de missões de trabalho no exterior e capacitação Universidade
ação exigido. “Tínhamos iniciativas isoladas, em cursos de curta duração. Questões de infra- Presbiteriana
Mackenzie, em
mas esta foi a primeira vez que presenciei pro- estrutura ficam por conta da própria instituição. São Paulo.
fessores, coordenadores de pesquisa, direto- “Nós tínhamos um plano de desenvolvi-
res e o escritório internacional envolvidos com mento estratégico, no qual constava a impor-
o mesmo objetivo. E trabalho aqui há 30 anos”, tância de colocar a universidade no circuito in-
relata Heloisa Orsi Koch Delgado, Diretora de ternacional. Mas algumas concretudes vieram
Relações Internacionais da Pontifícia Universi- com o PrInt, que acelerou o debate interno”,
dade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). conta Moraes Filho. A UFU elegeu dois temas
As propostas devem esclarecer as diretri- centrais, Dinâmica Social, Qualidade de Vida e
zes para o processo de internacionalizar, indi- Saúde e Tecnologias Convergentes e Recursos
cando, entre outros pontos: temas de pesqui- Ambientais. O primeiro está dividido em cinco
sas a serem desenvolvidos envolvendo várias projetos de colaboração internacional – entre
áreas de conhecimento para incentivar a inter- eles, construção de cidades saudáveis e pro-
disciplinaridade, o número e o tipo de bolsas cessos biomecânicos reabilitadores em odon-
necessárias, as instituições parceiras e as con- tologia –, e o segundo em quatro, um deles so-
trapartidas oferecidas pela universidade. O Ca- bre soluções tecnológicas para agropecuária e
pes-PrInt vai financiar bolsas de pós-doutora- conservação ambiental. Esses projetos envol-
do, doutorado-sanduíche e professor-visitante, vem 16 programas de pós-graduação.

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ESTRATÉGIAS

Na Universidade Presbiteriana Mackenzie bam 14 projetos: Saúde e desenvolvimento;


Parte do (UPM), que vai receber R$ 10,4 milhões em O mundo em movimento – indivíduo, socieda-
processo quatro anos, a decisão foi de elencar quatro de e tecnologia; e Tecnologia e biodiversidade
temas: A nano e a microescala: materiais e – sustentabilidade, energia e meio ambiente.
exige dispositivos funcionais (para aplicações em
cuidar da energia, telecomunicações e sensores); Es- Mais do que mobilidade
cala humana: cérebro, cognição e compor- Além de decidir o foco das pesquisas, as
infraestrutura tamento (aplicações da neurociência, entre universidades precisaram indicar quais os par-
interna da outros); Escala social: linguagem, cidades e ceiros ideais para colaborar em cada um dos
cultura (com pesquisa sobre mobilidade urba- projetos, respeitando a orientação da Capes de
universidade na e o desafio da convivência); e Escala cós- priorizar a relação com instituições relevantes
mica: a Terra e o Universo (que alia engenha- de países listados pela agência. A ideia é que,
ria aplicada à geofísica espacial). Os projetos estreitando a cooperação com universidades
abrangem dez programas de pós-graduação. que já realizam pesquisa de ponta e têm visibi-
“Já existia um planejamento estratégico es- lidade maior no cenário internacional, aumente
truturado, foi preciso apenas adaptá-lo. Mas o o impacto da produção intelectual das institui-
trabalho de reunir pesquisadores criativos, que ções brasileiras. “Com algumas já cooperáva-
quebram paradigmas, para discutir e escolher mos, mas outras foi preciso ir atrás”, diz Lage.
os temas para o PrInt foi enriquecedor”, diz Ma- Para consolidar a internacionalização, é ne-
ria Campos Lage, Assessora para Cooperação cessário também cuidar da infraestrutura inter-
Internacional e Interinstitucional da UPM. na da universidade. Trata-se de um ponto im-
A PUCRS focou em três áreas, que englo- portante porque a tendência no Brasil é de

DESAFIOS PARA INTERNACIONALIZAR


n Fazer as pessoas trabalharem juntas dentro da universidade/
interdisciplinaridade;

n Oferecer infraestrutura para mobilidade interna (incluindo línguas estrangeiras);

n Reduzir a desigualdade de acesso e de oportunidade;

n Criar ilhas de excelência;

n Qualidade dos estudantes (estrangeiros estudando


no Brasil e não apenas sobre o Brasil);

n Encontrar parceiros com perfis certos;

n Transformar colaboração individual em institucional;

n Construir parcerias sustentáveis e duradouras;


Fonte: workshop “Diagnosing
and supporting quality n Estabelecer relações horizontais com parceiros, apesar das diferenças
implementation of em políticas nacionais e condições de financiamento.
internationalisation plans”,
British Council, dezembro 2018

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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

enviar estudantes e professores para o exterior realizou seminários de EMI (Inglês como Meio CAPES-PRINT
e não de recebê-los. de Instrução) para encorajar os docentes a
A UFU está trabalhando na ambiência, com Propostas
ministrarem aulas em inglês.
recebidas: 109
propostas para colocar placas em três línguas Ao mexer com a universidade como um
na sinalização do campus e criar grupos para todo, o Capes-PrInt tem se mostrado atrativo. Propostas
recepção e acolhimento de estrangeiros. Outro “Atores do setor acadêmico do Reino Unido aprovadas: 25
aspecto é a questão da língua estrangeira, que apreciaram as possibilidades que o programa
Pedidos de
inclui capacitação de técnicos e professores e abre. Ele permite fortalecer parcerias já existen- reconsideração: 39
a oferta de cursos em outros idiomas. O progra- tes entre universidades brasileiras e britânicas
ma de Imunologia, por exemplo, teve o currícu- e facilita novas colaborações”, diz Carlota de Aprovações
com ajustes: 11
lo espelhado em inglês, para permitir a alter- Azevedo Bezerra Vitor Ramos, Chefe dos Seto-
nância da oferta em dois idiomas. O próximo res de Cooperação Educacional e Cooperação Total
será o de Odontologia. Também está nos pla- Científica da Embaixada brasileira em Londres. de aprovadas: 36
nos mexer no processo seletivo, ajustando ca- “A Embaixada tem se empenhado em atender
Investimento:
lendário e idioma para atrair alunos estrangei- a consultas, realizar o acompanhamento de par- R$ 300 milhões
ros. “Estudantes de fora trazem conhecimento cerias prospectivas e ajudar no ‘match-making’ anuais
e desafios novos”, ressalta Moraes Filho. entre Instituições de Ensino Superior”, completa. Fonte: Capes
Na UPM, a fase também é de ampliar a Antes do próximo edital do Capes-PrInt, a
internacionalização em casa. Entre outras Capes pretende lançar um programa sobre pla-
ações, a universidade adaptou seu site para o nejamento estratégico, uma espécie de consul-
público internacional, criou um grupo de em- toria para as instituições que não se inscreve-
baixadores para recepcionar estrangeiros e ram ou não foram aprovadas no primeiro. n

Campus da
Universidade
Federal de
Uberlândia,
Marco Cavalcanti / UFU

que teve
projeto
aprovado no
Capes-PrInt.

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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ESTRATÉGIAS

ESTÍMULO
PARA
autoavaliação
Connie McManus
Pimentel, Diretora
de Relações Internacionais
da Capes, fala sobre
o Programa Institucional
de Internacionalização
(Capes-PrInt) da agência
Divulgação

federal de fomento

Quais os principais objetivos queira colaborar? Isso porque o objetivo não


do Capes-PrInt? é apenas procurar parceiros no exterior, mas
Fizemos um questionário em 2017 no qual também atraí-los para o Brasil.
descobrimos que as universidades não esta-
vam ativamente envolvidas com a questão da O Capes-PrInt exige que as
internacionalização. Muitas não sabiam quais universidades elaborem um plano
eram as ações realizadas internamente. Por estratégico de quatro anos. Como
isso, desenhamos o Capes-PrInt. Não é um isso pode impactar a
programa adequado para toda e qualquer internacionalização das IES?
universidade nem para a universidade inteira. Acreditamos que já está impactando. Várias
É pensado para a parte que tem possibilidade universidades nos informaram que o programa
de atrair colaboradores internacionais. Pedi- exigiu uma conversa interna para entender
mos para as instituições escolherem temas melhor os programas, o que as fez perceber
prioritários, com os quais tenham chance de que há ações complementares em vários de-
serem líderes mundiais, e colocamos uma partamentos. Por exemplo, entre Direito, Biolo-
questão para elas refletirem: O que sua uni- gia e Engenharia. Eles olham de maneira dife-
versidade tem de especial para que outra rente para o mesmo problema, mas nunca ha-

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Nada é comparável
viam sido estimulados a interagir. Quando vo- pria universidade e também as da Capes. A e queríamos
cê faz esse movimento, também fica mais questão do impacto, por exemplo, será cobra-
claro seu foco externo, pois começa a pergun- da nos resultados. Vai ser um monitoramento
exatamente isto:
tar: A qual problema eu quero responder? de perto porque queremos realmente ver as que cada uma
Quais são as armas que tenho para resolvê-lo? mudanças dentro das universidades. Também das universidades
Isso ajuda a construir uma visão mais comple- estamos propondo que elas aprendam umas
ta da universidade, não apenas de um pesqui- com as outras. Para isso, temos workshops re-
traçasse seu
sador ou de um grupo de trabalho. gionais para estimular a troca de experiências. caminho, pois
não há um
Qual é a análise das propostas A intenção da Capes era, no primeiro
apresentadas? Pode dar exemplos momento, fortalecer as instituições
único possível.
de projetos de parceria inovadores? que já estão mais avançadas no As missões, visões
processo de internacionalização?
O que vimos foi muito mais no sentido da uni-
e propostas
versidade estar se empenhando para fazer Exatamente. É uma questão de capacidade de
uma autoavaliação e um projeto institucional. implementação. Por isso foi decidido primeiro são diferentes.
Mais do que apresentar questões inovadoras, consolidar as que já têm condições. De agora
as instituições aprenderam muito durante o em diante, vamos verificar o que as demais
processo de elaboração do projeto. Tivemos precisam e ajudá-las. Vale lembrar que a Ca-
propostas de IES públicas e privadas, de todas pes continua concedendo vários tipos de bol-
as regiões. Nada é comparável e queríamos sas. Estamos, por exemplo, com edital aberto
exatamente isto: que cada uma traçasse seu para professores-visitantes no exterior, no
caminho, pois não há um único possível. As qual as instituições aprovadas no PrInt não po-
missões, visões e propostas são diferentes. dem concorrer. Dessa forma, a perspectiva de
Não é que as universidades estejam em está- participação para as demais se amplia. n
gios diferentes, elas têm naturezas distintas. Fonte: Capes

Quais serão os mecanismos de PRINCIPAIS INDICADORES DE AVALIAÇÃO


monitoramento da implementação NO CAPES-PRINT
dos planos estratégicos n Programas de pós-graduação com notas 5, 6 e 7;
e dos resultados obtidos? n Qualidade da produção científica intelectual;
n Parcerias internacionais;
Já visitamos seis universidades e fizemos
n Estrutura institucional;
orientações onde foi preciso. Cada universida-
n Viabilidade de execução da proposta;
de tem, digamos assim, uma “babá” da Capes,
n Atuação no Brasil e no exterior;
um técnico que ajuda a tirar dúvidas. E esta- n Coerência entre tema, objetivos e ações propostas para o projeto;

mos montando um grupo de trabalho que vai n Estratégias e políticas inovadoras;

acompanhar a instituição ao longo dos quatro n Relevância dos temas propostos e modelo institucional de gestão;

n Impacto da proposta para a internacionalização da instituição.


anos, com duas visitas anuais. Vamos verificar
o cumprimento de metas colocadas pela pró-

19
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Mat Wright

20
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

O AVANÇO DO INGLÊS

“Falar uma língua o coloca no corredor da vida. Falar duas lín-


guas abre cada porta ao longo do caminho.” A reflexão é de
Frank Smith, psicolinguista inglês que fez carreira como profes-
sor universitário no Canadá. A frase reflete as oportunidades
acessíveis pelo conhecimento de um segundo idioma. No mun-
do contemporâneo o inglês é a língua franca, que permite a
comunicação entre pessoas de várias partes do globo. No Bra-
sil, esse saber ainda não está universalizado. O modo como o
idioma é ensinado nas redes públicas de educação básica co-
labora para que os jovens não dominem a língua inglesa ao sair
do ensino médio e entrar na universidade, em um cenário pou-
co favorável à internacionalização. Para revertê-lo, programas
específicos como o Idiomas sem Fronteiras (IsF) buscam avan-
ços na proficiência de estudantes e acadêmicos, além de esti-
mular o desenho de políticas linguísticas em Instituições de En-
sino Superior. Outra maneira de enfatizar o inglês nas
universidades é a internacionalização em casa, que conta, en-
tre outras estratégias, com o EMI – Inglês como Meio de Instru-
ção (leia nas páginas 26 a 29).

21
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

POLÍTICA LINGUÍSTICA

barreiras
Mais acesso, menos

Frank Noon Photography

Os méritos dos programas de idiomas


e a valorização das políticas linguísticas
Profissionais do departamento de línguas Um dos motivos é o edital de 2017 do próprio
são consultados e considerados dentro do am- IsF, que exigiu das Instituições de Ensino Supe-
biente acadêmico. Muitas vezes, eles integram rior (IES) se credenciando ou recredenciando
as equipes de relações internacionais. Mas a ele a entrega de um documento que descre-
essa configuração de colaboração é bastante va sua política linguística, aprovada ou em fase
recente. “Quanto melhor for a articulação en- de aprovação nos conselhos das IES.
tre os departamentos, mais congruente e sóli- “Estamos fazendo a primeira leitura dessas
do fica o trabalho de internacionalização”, res- políticas e vamos avaliar quais desenvolvem
salta Denise de Paula Martins Abreu e Lima, melhor os idiomas nas instituições. A intenção
Presidente do programa Idiomas sem Frontei- é orientar as universidades e também divulgar
ras (IsF). Segundo ela, nunca se falou tanto quais políticas realmente promovem a interna-
sobre política linguística no país como agora. cionalização”, conta Denise. Já ficou claro que

22
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

muitas IES não têm um plano de ação para co-


locar as políticas em prática. Em sua primeira
fase (de 2013 a 2016), o IsF teve foco na forma-
IDIOMAS SEM FRONTEIRAS EM NÚMEROS
Total entre 2013 e 2018
ção por meio do financiamento dos Nucli (Nú-
cleos de Línguas) dentro de universidades fe-
derais e estaduais, a aplicação de testes de Vagas ofertadas para as aulas presenciais de inglês
nivelamento e proficiência, cursos autoinstru-
cionais online e aulas presenciais para estu- 438.578
dantes de graduação, pós-graduação e profes-
sores universitários (veja os números ao lado). Professores de inglês
O orçamento anual do MEC para o programa
IsF gira em torno de R$ 8 milhões. 1.241
participantes do programa, em sua maioria
alunos de graduação em Letras - Inglês
Iniciativa estadual
Criado em 2014, época em que o IsF fi- Coordenadores
nanciava apenas as universidades federais, o
Paraná fala Inglês (PfI, atualmente Paraná fala 257
Idiomas, pois também oferece francês) envol- participantes do programa, especialistas
na área de língua inglesa das IES parceiras
ve sete universidades estaduais do Paraná
(UEL, UEM, Uenp, Unioeste, Unicentro, UEPG e Parceiros internacionais
Unespar). O programa conta com o apoio da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino 14
Superior do Paraná e também teve duas eta-
pas. Na primeira, foram ofertados cursos se-
mestrais preparatórios para o exame de profi-
ciência para a comunidade universitária, que
majoritariamente tinha níveis entre A1 e A2. NÍVEL DE PROFICIÊNCIA
Na segunda, iniciada em junho de 2017, pas- Total de testes aplicados entre 2013 e 2018
saram a ser oferecidos cursos para viabilizar
o uso da língua inglesa atendendo a deman-
das específicas da internacionalização. Até
agora foram 2 mil concluintes que alcança-
4% 426.364
provas corrigidas
ram níveis de proficiência entre A2 e B1
(68%), com uma parcela de 15% atingindo n A2 (básico)
20%
n B1
B2 e C1. “A ideia é fortalecer o idioma para
interlocução com parceiros estrangeiros,
para interagir com outros pesquisadores, ter
45% n B2 } (intermediário)

sucesso na escrita acadêmica e científica,


com potencial para aprovação de trabalhos 31% n C1 (avançado)

em revistas de impacto internacional”, enu-


mera Eliane Segati Rios Registro, Coordena-
Fonte: Idiomas sem
dora de Relações Internacionais da Universi- Fronteiras (exame TOFL/ITP)

23
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

POLÍTICA LINGUÍSTICA

dade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) e


Vivências Coordenadora Estadual do programa Paraná
dentro do próprio país. “É importante criar um
ambiente em que o nosso aluno possa intera-
diversas fala Idiomas. gir com o conhecimento produzido lá fora e
Outro objetivo é aumentar a capacidade
no idioma linguística de professores de diversas áreas
isso começa com a consulta à bibliografia em
inglês, que é a língua da produção científica
permitem aos do conhecimento, para que possam dar pa- internacional”, explica ela. O EMI ainda é uma
lestras e aulas em língua inglesa, recebendo
estudantes visitantes e alunos internacionais, e ministrar
iniciativa tímida no Brasil, embora seja uma ten-
dência internacional. Mas institucionalmente a
experimentar disciplinas junto com professores estrangei- língua estrangeira pode servir a outros interes-
ros. Com vistas a incrementar os processos
um ambiente de internacionalização em casa nas universi-
ses, como aumentar o número de publicações
acadêmicas em inglês para obter melhores
acadêmico dades paranaenses, Eliane apresentou uma posições em rankings globais e estabelecer
proposta de pesquisa aplicada em inglês
internacional para a UK Brazil English Collaboration Call (leia
mais parcerias, o que exige uma vasta gama
de atividades: falar e compreender virtualmen-
sem sair nas páginas 28 e 29). Juntamente com a Uni- te ou presencialmente, interagir, dar palestras,
versidade de Cambridge (leia entrevista ao
do Brasil lado), os pesquisadores buscam entender as
discutir uma pesquisa, entre outras.
Para Denise, do Idiomas sem Fronteiras,
preocupações dos professores universitários existe um ponto crucial a ser considerado pe-
que utilizam o Inglês como Meio de Instru- las universidades: os estudantes dão mais
ção (EMI) e como trabalhar essas questões. valor a aprender inglês ou outros idiomas se
A modalidade de aulas é pensada para que eles forem uma exigência, por exemplo, para
o avanço na proficiência dependa menos da ser elegível a uma bolsa. “Se uma IES vincula
mobilidade e beneficie um número maior de esses processos com o conhecimento de um
estudantes dentro da própria universidade. idioma, isso já é um indicador de que o apren-
Telma Gimenez, Professora Sênior no Pro- dizado de línguas é estimulado. Mas ainda é
grama de Pós-Graduação em Estudos da Lin- um desafio no país formar a consciência de
guagem e pesquisadora da Universidade Es- que é preciso investir tempo e esforço em
tadual de Londrina (UEL), diz que é possível idiomas”, observa ela, lembrando que os cur-
pensar várias estratégias para internacionalizar sos do IsF são gratuitos. n

PARA ELABORAR UMA BOA POLÍTICA LINGUÍSTICA


nResultado de um grupo de trabalho sobre o assunto, o documento
Política Linguística para Internacionalização do Ensino Superior, da Associação
Brasileira de Educação Internacional (Faubai), serve para conscientizar,
orientar e auxiliar no desenho e implementação de uma
política linguística. Disponível para download no site www.faubai.org.br.

nCambridge English conta com o Cambridge Assessment English Language


Policy Framework e o Language Policy Implementation Guide. Ambas as
publicações servem à consultoria especializada oferecida a IES no mundo todo.
Mais informações em www.cambridgeenglish.org/consultancy.

24
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

cionais e aumentar a empregabilidade de seus


formandos. Nós também auxiliamos algumas
Instituições de Ensino Superior a definir suas
políticas linguísticas. Foi o caso da Universida-
de Anhembi Morumbi, em São Paulo.

Quais são os maiores desafios


Frank Noon Photography do Brasil considerando o aprendizado
de uma segunda língua (o inglês)?

O DESAFIO
Eu acho que os desafios são similares aos en-
frentados em outros países. Muitas vezes o

do tempo
maior desafio é simplesmente tempo. Apren-
der um idioma requer prática e é difícil reservar
tempo suficiente no calendário acadêmico. Os
professores nem sempre têm formação em me-
todologia para o ensino de línguas. Esse é um

Hugh Moss é Consultor Sênior dos motivos que levam alunos a finalizarem a
educação básica sem saberem usar o inglês ou
da equipe de Projetos de Educação mesmo falar a língua. A boa notícia é que o Bra-
sil está levando esse problema a sério. É ótimo
Internacional de Cambridge que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
Assessment English, referência em reconheça a importância de políticas para lín-
gua inglesa na educação básica. Somado a isso,
ensino e avaliação da língua inglesa as IES abraçaram o inglês e estão aumentando
seu nível de internacionalização. Universidades
Você é o pesquisador líder da em estágios mais avançados já oferecem gra-
Universidade de Cambridge para duação internacional e programas de extensão
pesquisas financiadas por meio da UK com aulas em inglês e a possibilidade de cursar
Brazil English Collaboration Call. Quais parte do currículo no exterior.
estratégias Cambridge desenvolve
para a educação superior no Brasil? Há exemplos de países que
Fomos contemplados, e por isso temos atual- superaram barreiras de proficiência
mente dois projetos de pesquisa aplicada em e podem inspirar o Brasil?
andamento sobre EMI, em colaboração com A Colômbia criou um Programa Nacional Bi-
a Universidade Estadual do Norte do Paraná língue e, com o apoio de Cambridge English,
e com a Federal do Paraná. Além disso, con- continua a trabalhar para que 70% dos estu-
tribuímos para a formação de professores e dantes do ensino médio alcancem o nível B1
a montagem de currículos para dar a estu- e todos os professores de inglês em forma-
dantes um background sólido, assim como ção cheguem no mínimo ao B2. Estamos en-
atestamos sua proficiência em inglês. Isso é volvidos em projetos igualmente ambiciosos
essencial para universidades que querem me- junto a governos de vários países, entre eles
lhorar sua performance nos rankings interna- a Malásia, o México e o Panamá. n

25
UNIVERSIDADES
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

EMI
POLÍTICA LINGUÍSTICA

Foco no
Entre as práticas que incentivam a inter- e Tecnologia (43%)
O Inglês nacionalização em casa está o Inglês como n Internacionalização em casa
como Meio de Instrução (EMI). Sua realização é apri- para os professores (35%)
morada quando professores de áreas especí- Qualidade das aulas (23%)
Meio de ficas do conhecimento e linguistas trabalham
n
n Nenhum benefício (5%)
Instrução em colaboração para potencializar a aprendi-
zagem do conteúdo e de língua. Essa ideia é Organizadora do Guide to English as a
é alvo de defendida por Laura Baumvol e Simone Sar- Medium of Instruction in Brazilian HEIs 2018-
pesquisas mento, da Universidade Federal do Rio Gran- 2019, publicação conjunta do British Council e
de do Sul (UFRGS), no artigo A Internacionali- da Faubai, a pesquisadora Telma Gimenez, da
e ganha zação em Casa e o Uso de Inglês como Meio UEL, nota que os cursos em EMI têm presença
portal de Instrução. As autoras salientam “que a ado- mais incisiva na pós-graduação e vê isso como
ção de práticas de EMI por IES brasileiras po- um reflexo das políticas de agências de fomen-
de (e deve) servir para empoderar alunos bra- to, como a Capes e o CNPq. “O grande méri-
sileiros de forma a aumentar sua participação to do guia é reunir dados e informações so-
em diferentes situações acadêmicas que en- bre essa área. Forma-se um quadro que serve
volvam o uso do inglês”. Em apresentação fei- de base para futuras análises”, ressalta Telma.
ta por ocasião da UK Brazil English Collabo- Ela diz que é preciso começar a medir impacto
ration Call (leia mais na página 29), Simone e proficiência e entender como esses progra-
enumerou os benefícios do EMI, apontados mas dialogam com a realidade brasileira para
em pesquisa com 5 mil professores (que ele- então pensar políticas públicas.
geram mais de uma resposta): Há um crescimento de 2016 para cá: na
primeira publicação do guia, eram apenas 44
n Estudantes brasileiros melhoram sua cursos a nível de pós-graduação, agora pas-
proficiência na língua inglesa (69%) sam de 400. “A oferta maior é em cursos de
n Estudantes estrangeiros podem extensão universitária, o que se entende, pois
participar das aulas (55%) eles são de curta duração, então qualquer
n Professores podem aprimorar sua adequação de rota é mais simples de ser fei-
proficiência na língua inglesa (55%) ta”, diz Telma. O guia dispõe de gráficos e da-
n Internacionalização em casa para os dos quantitativos da oferta de EMI no Brasil e
estudantes (47%) as informações podem ser consultadas com
n Prepara os estudantes para o futuro / uma ferramenta que permite buscar univer-
mercado de trabalho (47%) sidades e cursos específicos no portal www.
n O inglês é a língua da Ciência faubai.org.br/guideemi.

26
Alunos em
laboratório
de línguas da
Universidade
Divulgação

Federal do Rio
Grande do Sul.

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INGLÊS


POR ÁREA DO CONHECIMENTO (2018)
Ciências Sociais
Aplicadas

Ciência
15%
e Tecnologia
28%
Mais EMI
No Guide to English as
a Medium of Instruction
in Brazilian HEIs 2018-
2019, 85% das 240 IES
consultadas oferecem
alguma atividade em
língua estrangeira (79%)
Ciências
ou planejam fazê-lo
Biomédicas
28%
em breve (6%).
Em relação ao guia
de 2016, há maior Engenharia
oferta de disciplinas
de pós-graduação (406) 16%
e de graduação (235), Fonte: Guide to English as a
variando as áreas de Educação e Medium of Instruction in
Brazilian HEIs 2018-2019,
Humanidades
12%
estudo predominantes. Faubai e British Council

27
UNIVERSIDADES
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

POLÍTICA LINGUÍSTICA

Publicar maior número de pesquisas em ceberam um total de £ 70 mil de financiamen-


Projetos de periódicos científicos internacionais e rece- to do British Council e £ 45 mil de cofinancia-
colaboração ber mais acadêmicos estrangeiros são metas dores brasileiros e britânicos. “Para atingirem
difíceis de cumprir quando há baixa profici- uma comunidade maior, as formas de disse-
entre Brasil ência na língua inglesa. Segundo pesquisa re- minação das pesquisas precisam incluir estra-
e Reino Unido alizada pelo programa Idiomas sem Frontei- tégias como webinars, workshops presenciais
ras, apenas 3% dos acadêmicos e pesquisa- e guias de boas práticas”, explica Cíntia, que
investigam dores de universidades brasileiras com pós- também avaliou as propostas.
elementos -graduação possuem o nível C1 de inglês. Por Entre os projetos contemplados, uma in-
isso, o British Council decidiu fomentar a pes- vestigação sobre aspectos do EMI (Inglês co-
de políticas quisa aplicada em língua inglesa por meio da mo Meio de Instrução) está a cargo, entre
para língua UK Brazil English Collaboration Call, organiza- março e setembro de 2019, de Eliane Segati
da em parceria com o Conselho Nacional das Rios Registro, da Uenp, e Hugh Moss, da Uni-
inglesa Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa versidade de Cambridge. Eliane conta que o
(Confap). “O resultado esperado é o aumen- diferencial da proposta é a relevância da con-
to no intercâmbio de conhecimento e pes- tribuição para políticas de EMI, primeiro no es-
quisa, com o objetivo de desfazer as barrei- tado do Paraná e depois nacionalmente. “Es-
ras que impedem o aprimoramento do ensino peramos entender melhor as dificuldades
e do aprendizado do inglês no Brasil”, diz Cín- que os acadêmicos têm ao dar aulas sobre
tia Toth Gonçalves, Gerente Sênior para Inglês sua especialidade em inglês”, ressalta Moss.
do British Council. O trabalho se propõe a elaborar diretrizes e
Uma parte das pesquisas está alinhada políticas para desenvolver o EMI no progra-
com a agenda de internacionalização em ca- ma Paraná fala Idiomas e servir de estudo de
sa (veja no mapa ao lado), abrangendo seis caso para outras universidades. Acompanhe
das nove propostas de colaboração que re- abaixo as etapas da pesquisa. n

IMPRESSÕES ANTES E DEPOIS


O estudo Formação EMI para professores universitários: uma ferramenta
potencial para internacionalização (Uenp - Universidade de Cambridge)
envolve professores das sete universidades estaduais do Paraná.

Etapa 1 Avaliação do nível de inglês dos professores com teste de nível


e questionário para entender atitudes e sentimentos em relação ao EMI.
Etapa 2 Entrevistas antes e depois da participação no curso online
de EMI com o total de 40 horas da Universidade de Cambridge,
com suporte presencial de instrutores do Paraná fala Idiomas.
Etapa 3 Os professores dão uma aula com conteúdo de sua especialidade
em inglês. Eles refletem sobre desafios e o que necessitam para superá-los,
além de avaliarem o curso de treinamento, dando inputs para Cambridge.
Etapa 4 Serão coletadas sugestões dos estudantes-alvo do EMI.
O objetivo é entender suas opiniões e também os resultados de aprendizagem.

28
UNIVERSIDADES
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

UK BRAZIL ENGLISH COLLABORATION CALL


Abaixo os projetos contemplados com financiamento dentro da linha de pesquisa
“Políticas para o idioma inglês como principal componente do processo de internacionalização”

BELO HORIZONTE, MG,


e BRASÍLIA, DF
UFMG/UnB - Universidade de Birmingham
Paisagens de língua e letramento em mudança nas universidades SÃO PAULO, SP
brasileiras: o Inglês no desenvolvimento da política e da prática USP - Universidade de Glasgow
linguística investigará – por meio de análise de documentos escri- Facilitando a internacionalização no
tos, entrevistas gravadas e vídeos de aulas – os modos em que se contexto do ensino superior brasi-
constrói a política de internacionalização em casa, e como o uso e leiro: desenvolvendo expertise em
a produção de textos em inglês estão mediando esse processo na ensino de inglês para propósitos
pesquisa, no ensino/aprendizagem em diferentes disciplinas e na acadêmicos pesquisa os desafios
administração, na UFMG e na UnB. do ensino de inglês para fins acadê-
micos (IFA) junto a três grupos de
professores. Também pergunta que
habilidades, conhecimentos ou ex-
periências precisam ser desenvolvi-
dos, com o objetivo de reformular
conteúdos e formatos de cursos de
formação de professores EAP e su-
gerir alterações curriculares na ha-
bilitação em Inglês.

JACAREZINHO, PR
CURITIBA, PR Uenp - Universidade de Cambridge
UFPR - Universidade de Cambridge Formação EMI para professores
Há um nível de proficiência mínimo universitários: uma ferramenta
para ministrar disciplinas em inglês potencial para internacionalização
no ensino superior? busca evidên- é um estudo de caso envolvendo
cias acerca de um nível mínimo re- professores de pós-graduação das
comendado para poder lecionar EMI, sete universidades estaduais do
pois não há consenso na literatura da Paraná para compreender o status
área. Extratos de gravações de aulas atual do EMI na região, as concep-
de diversos professores brasileiros ções e atitudes dos professores e
serão avaliados por estudantes da alunos em relação ao EMI e veri-
Universidade Federal do Paraná e por ficar até que ponto a proficiência
estudantes nativos de inglês e estu- linguística dos envolvidos impac-
dantes internacionais não brasileiros. ta no processo de aprendizagem,
buscando propostas de melhoria.

PORTO ALEGRE, RS, e SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP LONDRINA, PR


UFRGS / Unesp - Universidade de Surrey UEL - Goldsmith, Universidade de Londres
Apoio à internacionalização da pesquisa brasileira: combinan- Inglês como Meio de Instrução em duas instituições públi-
do formação em Inglês com Fins Acadêmicos (IFA) e autonomia cas de ensino superior sob a perspectiva de língua franca:
para a escrita acadêmica vai parear pesquisadores brasileiros política em prática vai investigar IES em diferentes está-
atuantes e professores de IFA e apoiá-los na produção de arti- gios de implementação do EMI, examinando política, atitu-
gos científicos de acordo com padrões internacionais, por meio des e práticas de gestores, professores e acadêmicos de
de uma série de oficinas. Como resultado, os pesquisadores pós-graduação. De natureza qualitativa, o projeto gerará
aprenderão a divulgar melhor as pesquisas e os professores irão dados por meio de questionários, observações de aula,
adquirir confiança no ensino da redação de escrita acadêmica. entrevistas, grupos focais e análise documental.

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PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

POLÍTICA LINGUÍSTICA

Brasil como
DESTINO
Para Maria Leonor Alves
Maia, Presidente da Faubai,
aprimorar políticas linguísticas
e preparar as IES do país
para receber estudantes
internacionais colabora
para melhorar a qualidade
e a competitividade
da educação superior
Divulgação

A Associação Brasileira tros sobre internacionalização no ensino su-


de Educação Internacional (Faubai) perior. Em terceiro eu destacaria que nossa
completou 30 anos em 2018. Conferência Anual está cada vez mais interna-
Quais foram as principais conquistas cionalizada, contando com 50% dos partici-
na última década? pantes vindos de outros países.
Foram três as maiores conquistas. A primeira
é ter contribuído com o crescimento da inter- Quais são as iniciativas da Faubai
nacionalização da educação superior brasilei- para incentivar a
ra e seu reconhecimento pelos pares interna- internacionalização do setor
cionais, atuando intensamente na promoção de educação superior no Brasil?
da internacionalização como instrumento fun- Ao lado da realização da Conferência Anual, a
damental para uma formação qualificada. A Faubai promove a diversidade e as potenciali-
segunda é colaborar com a articulação de IES dades do sistema brasileiro de educação supe-
associadas com outras instituições e associa- rior nos principais eventos e feiras de educação
ções no mundo todo, por meio de workshops internacional no mundo, mantém diálogo cons-
e missões e participando de redes e encon- tante com as agências, facilitando a coopera-

30
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ção interinstitucional, participa ativamente na Qual é o principal objetivo do Guide


Rede de Associações de Educação Internacio- to English as a Medium of Instruction
nal e promove workshops e treinamentos em in Brazilian HEIs?
gestão de assuntos internacionais para asso- Ele é o primeiro levantamento extensivo de
ciados, entre outras iniciativas. Também faz in- cursos, disciplinas e atividades em língua ingle-
terlocução com governos e agências nacio- sa (e outros idiomas) oferecidos no Brasil. A pri-
nais e internacionais. No caso do governo bra- meira edição tem dados de 2016 e a segunda,
sileiro, falamos não só com Brasília, mas com de 2017 até o primeiro semestre de 2018. Nes-
as representações diplomáticas no exterior. sa, há mais de 1.500 atividades em 84 IES de
todas as regiões do país. A plataforma online do
Como a Faubai entende as guia – com a oferta por tipo de atividade, nível,
barreiras da língua no processo área de estudo, região do país e IES – é uma
de internacionalização das IES poderosa ferramenta de promoção do Brasil
e como superá-las? como destino para estudantes internacionais.
Elas são um importante desafio, se pensar-
mos que o domínio de língua estrangeira ain- Qual é o cenário da mobilidade de
da é pequeno entre os brasileiros. A Faubai estudantes para o Brasil no momento
ASSOCIAÇÃO
apoia o ensino de idiomas, a criação de cur- atual? Quais as perspectivas futuras?
BRASILEIRA
sos e atividades oferecidos em línguas estran- Temos observado um aumento, resultado
DE EDUCAÇÃO
geiras, divulga boas práticas e incentiva no- dos esforços de promoção, melhor acolhida
INTERNACIONAL
vas iniciativas. Tudo serve a três objetivos: e maior oferta de atividades e oportunidades
(Faubai)
poder acolher um número maior de estudan- em línguas estrangeiras. As perspectivas fu-
tes internacionais, oferecer formação em lín- turas são positivas e também se antevê um Ano de fundação: 1988
guas para estudantes brasileiros e realizar a aumento da internacionalização em casa, ofe- Número de associados:
chamada internacionalização em casa. recendo um ambiente cada vez mais interna- mais de 200 IES
Conferência Anual 2018:
cional nas IES brasileiras. 770 participantes
Em que medida a Faubai se preocupa de 30 países
com políticas linguísticas? Quais as ações essenciais para que
Grupos de trabalho
Reconhecemos que elas são centrais como as IES sejam mais internacionais?
em 2019:
impulsionadoras do processo de internacio- O sistema de educação superior brasileiro n Políticas

nalização das IES e do sistema de ensino su- precisa ter sua qualidade mais divulgada no Linguísticas para a
perior como um todo. Apoiamos o programa exterior e ampliar a oferta de oportunidades Internacionalização
n Competências
Idiomas sem Fronteiras e a oferta de ativida- de ensino, pesquisa e extensão em línguas
Interculturais e
des em línguas estrangeiras, incluindo Portu- estrangeiras. Também é válido melhorar a Internacionalização
guês como Língua Estrangeira. Além disso, acolhida de estudantes, pesquisadores e pro- em Casa
n Mobilidade de
a Faubai desenvolveu, junto com o British fessores internacionais, superando barreiras
Estudantes Estrangeiros
Council, o Guide to English as a Medium of institucionais e legais ainda existentes. Além para o Brasil
Instruction in Brazilian HEIs. A primeira edi- disso, é necessário estruturar melhor uma n Atração de Talentos

ção saiu em 2016 e a atual está sendo lan- política nacional de internacionalização pa- Acadêmicos para o Brasil
e Revalidação de Títulos
çada em formato de plataforma eletrônica ra que ela aborde e atenda à diversidade do
n Acolhida de Refugiados
de consulta, durante a Conferência Faubai sistema de educação superior e os distintos em IES Brasileiras
2019, em Belém. estágios das IES no processo. n

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UNIVERSIDADES
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

PARCERIAS DE SUCESSO

Intercâmbio de dados coletados em investigações, soma de co-


nhecimentos de especialistas e áreas de estudos teóricos ou
práticos que se complementam. Uma mistura bem planejada
desses fatores é o dia a dia das pesquisas acadêmicas e cientí-
ficas realizadas em colaboração internacional. Mas antes de o
trabalho conjunto iniciar, existem passos essenciais como a es-
colha do parceiro certo, a escrita de propostas para editais, a
busca por fundos, a organização de rotinas, o apoio institucional
e – ufa! – a assinatura de contratos de cooperação. Tudo isso
driblando a burocracia, o aperto no orçamento, as diferenças
culturais e o fuso horário. O esforço vale a pena, já que as pes-
quisas conduzidas e os artigos em coautoria por cientistas britâ-
nicos e brasileiros têm seu impacto multiplicado. “Construímos
parcerias e colaborações tendo em vista uma perspectiva de
longo prazo. Para obter retorno, é preciso colocar energia, com-
promisso e investimento”, ensina Robin Mason, Pró-Reitor Inter-
nacional da Universidade de Birmingham, que há oito anos es-
colheu o Brasil como uma de suas prioridades estratégicas.

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UNIVERSIDADES
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Frank Noon Photography

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DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

PARCERIAS

Conexões

University of Glasgow
sólidas e duradouras
Selecionada pelo Capes-PrInt por seu progra- nacionalização e alinhada aos temas dos Obje-
Pesquisas ma de internacionalização, a Universidade Esta- tivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
feitas em dual Paulista (Unesp) convidou representantes Organização das Nações Unidas (ONU). Das ins-
de instituições estrangeiras para discutir pos- tituições internacionais, a Unesp avalia que ha-
colaboração síveis parcerias e reuniu 42 universidades, de verá um investimento de mais um terço desse
geram mais 12 países, entre eles Austrália, Canadá, França, valor, por meio de contrapartidas como a au-
Alemanha, Irlanda, Holanda, Reino Unido e Esta- sência de pagamento de tuitions e o intercâm-
impacto dos Unidos, em uma reunião de kick-off. “Paga- bio de professores. “Faz parte do compromisso
mos os custos de estadia, mas eles pagaram a e do esforço em todas as parcerias promisso-
passagem, sinalizando enorme interesse. Foi só ras. Atualmente só fazemos acordos se houver
o primeiro passo para construir parcerias está- cofinanciamento”, explica Freire Junior.
veis”, diz José Celso Freire Junior, Assessor Che- Os recursos são uma parcela importan-
fe de Relações Externas da Unesp. O edital da te da engrenagem de pesquisa, pois sem eles
Capes destinou cerca de R$ 85 milhões para a não é possível avançar em investigações de
execução, ao longo de quatro anos, da propos- qualidade. É um dos itens que constam da
ta apresentada pela universidade, construída maioria das estratégias para alavancar boas
de acordo com seu plano estratégico de inter- parcerias. “Analisamos o número de publica-

34
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ções conjuntas e o sucesso em levantar fun-


dos”, revela David Fearn, Reitor de Engajamen- MAIS COLABORAÇÃO, MAIS IMPACTO
to Global para as Américas da Universidade de Cresce o número de citações de pesquisa quando
Glasgow. “Com o Brasil, nossas colaborações há coautoria entre brasileiros e britânicos
bem-sucedidas nasceram de conexões indivi-
duais de pesquisa, mas fizemos um forte traba-
lho para não depender de uma só pessoa. De-
senvolvemos parcerias com a USP, a Unesp e
a UFMG, com o apoio de fundos como os do
Erasmus, da Fapesp e do British Council”, enu-
3,13
Impacto
mera Fearn. Na estratégia da universidade es- combinado
cocesa há ainda um fundo próprio destinado à
mobilidade dos pesquisadores, principalmente
1,57 BRASIL
Impacto
28,5%
para os que estão no início da carreira acadê- REINO individual 0,86 dos artigos são
mica. E os parceiros internacionais reservam Impacto
UNIDO individual
publicados
o mesmo, em esquema de reciprocidade. Ou-
47,7%
em parceria entre
tro fundo da Universidade de Glasgow custeia um autor brasileiro
dos artigos são e um de outra
workshops e visitas, já que elas precisam ser publicados nacionalidade
regulares para construir relacionamentos com em parceria entre
os atores-chave no exterior (entenda os pas- um autor britânico
e um de outra
sos da estratégia no quadro ao lado). Fonte: SciVal, 2017.
nacionalidade Média ponderada
Mas o que determina o início ou a continui-
dade de uma relação entre instituições parcei-
ras é a busca de resultados que impactem a
produção científica mundial. Eles são medidos
por citações feitas em periódicos de pesquisa DESENVOLVENDO LINKS COM O BRASIL
(revistas científicas), que evidenciam a reper- A Universidade de Glasgow trabalha de forma ampla com número
cussão entre os pares. Esse número aumenta reduzido de instituições parceiras. Atualmente mantém colaborações
consideravelmente quando as pesquisas são com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade
realizadas em cooperação com autores de ou- Estadual Paulista (Unesp) e com a Universidade de São Paulo (USP).

tro país (veja no gráfico o impacto em conjunto


PASSO 1
com o Reino Unido). Segundo o relatório InCi-
n A partir das conexões individuais de pesquisa, desenvolver
tes, entre 2011 e 2016, pesquisadores base- as institucionais identificando áreas de interesse
ados no Brasil coassinaram artigos com pes- comum e forças complementares
quisadores de 123 países e cerca de um terço n Designar um diretor para cuidar da região das Américas

n Montar um comitê diretor de internacionalização


de todos os artigos brasileiros do período pos-
n Identificar agências de fomento interessadas
suía pelo menos um colaborador internacional.
Ainda de acordo com o InCites, o impacto do
PASSO 2
Brasil na produção científica mundial subiu de n Divulgar briefings sobre a região em Glasgow
0,73 em 2011 para 0,86 em 2016, um aumento n Estabelecer conexões pessoais nas equipes
de 18%. Se a tendência atual for mantida, atin- n Oferecer apoio por meio de seminários nas IES brasileiras

girá a média global de 1,0 em 2021.


Fonte: apresentação de James Conroy, Vice-Diretor
de Internacionalização da Universidade de Glasgow

35
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

PARCERIAS

Quando duas instituições de excelência Em geral, são as áreas de estudos e o ní-


Acolher realizam trabalhos conjuntos, o impacto vai vel de excelência em pesquisa os primeiros fa-
as pessoas às alturas. É o caso da Universidade de São tores a serem levados em consideração, tan-
Paulo (USP) e da Universidade de Oxford. So- to por IES brasileiras quanto no Reino Unido.
e comunicar zinho, um artigo da universidade paulista, que A agência de cooperação prepara dossiês so-
resultados figura no topo do ranking brasileiro, alcança bre países que listam as universidades que es-
1,1. Nas 1.017 publicações conjuntas com tão no topo dos rankings, o número de visi-
é tarefa dos Oxford (entre 2013 e 2018), o impacto mé- tas de representantes de instituições daquele
escritórios de dio foi de 9,33, conforme a plataforma analíti- país e até as que têm os maiores números de
ca SciVal (2013-2018). A USP tem atualmente publicações em coautoria com a USP. No Rei-
cooperação 55 acordos ou convênios vigentes com o Rei- no Unido não é diferente. “O que se procura
no Unido e as publicações conjuntas com os é a qualidade, como o Brasil tem algumas uni-
britânicos representam 17,2% dos papers, se- versidades que aparecem como líderes mun-
gundo dados da Agência USP de Cooperação diais em alguns setores, é isso que atrai par-
Acadêmica Nacional e Internacional. As ativi- ceiros britânicos em primeiro lugar”, diz Lucy
dades do PrInt da instituição, que receberão Shackleton, Diretora de Engajamento Interna-
R$ 144 milhões da Capes, se dividem em cin- cional da Universities UK International, orga-
co áreas de estudos (Saúde e Doenças, Artes e nização que faz a ponte entre o ensino supe-
Humanidades, Ciências Translacionais de Plan- rior do Reino Unido com outros no exterior.
tas e Animais, Tecnologia e Terra e Espaço). Ela reconhece que ambos os sistemas, o britâ-

Frank Noon Photography


José Celso
Freire Junior,
Assessor Chefe
das Relações
Externas
da Unesp.

36
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

nico e o brasileiro, têm uma diversidade incrível tados por questionário prévio. “Existe um protocolo
e o desafio atual é o de comunicação, ou se- de acolhimento que colabora para deixar os estran-
ja, é preciso saber divulgar as prioridades e as geiros encantados”, conta Heloisa. Depois dessa eta-
forças de cada instituição. “É importante re- pa, o pesquisador da PUC traça um plano de ação
conhecer e promover as diferenças. Isso quer com o par internacional e o escritório dá suporte em
dizer olhar além de Oxford e Cambridge, pois relação a financiamentos e burocracia, para minimi-
existe um espectro muito vasto de universi- zar o estresse dos acadêmicos. Em 2018, a PUC foi a
dades”, observa Lucy. Identificar instituições única universidade gaúcha a figurar no Times Higher
com pesquisas complementares pode ser um Education (THE) Golden Age Rankings, que analisa
bom começo para encontrar o parceiro certo. IES estabelecidas entre 1945 e 1967. Na avaliação,
Em seguida, observar se as prioridades estra- se destacou nos quesitos Transferência de Conheci-
tégicas combinam e se existe apoio institucio- mento, Citações em Artigos Científicos e Cenário In-
nal para as ideias dos pesquisadores. Opor- ternacional. Aparecer em rankings é a parte final de
tunidades de financiamento são indutores de ações estratégicas de parcerias. Foi o caso na Uni-
parcerias entre universidades. Quando o ob- versidade de Birmingham. “Nós somos muito fortes
jeto de estudo está em um país e os especia- em biomateriais e o Brasil se destaca incrivelmente
listas no outro, começa a busca pelo parcei- na área odontológica. Então estabelecemos colabo-
ro ideal e toda a articulação para apresentar rações excelentes com várias universidades brasi-
uma boa proposta (veja o quadro ao lado). leiras. Hoje estamos em 19o lugar nos rankings em
“Parcerias longevas e sustentáveis costumam Odontologia”, ressalta Robin Mason, Pró-Reitor Inter-
ter mecanismos para monitorar o trabalho e nacional da Universidade de Birmingham. n
avaliar o sucesso, além de deixar a comunida-
de universitária informada sobre seu funcio-
namento e benefícios”, ressalta Lucy. O inves-
timento em comunicação foi uma estratégia
10 DICAS VALIOSAS
Hugh Moss, da Universidade de Cambridge, compartilha
adotada pela Pontifícia Universidade Católica
a experiência de participar de uma chamada de colaboração
do Rio Grande do Sul (PUCRS) para dar visibili- conjunta entre IES do Brasil e do Reino Unido.
dade a suas práticas. “Criamos o Portal PUCRS
internacional, concentrando pesquisas inter- n Não perca tempo demais para identificar um parceiro
(ou parceiros) adequado(s)
nacionais, convênios, mobilidade acadêmica
n Tente não ser muito ambicioso
e notícias”, explica Heloisa Orsi Koch Delga-
n Decida por um conjunto realista de questões que possam
do, Coordenadora Executiva do escritório de ser implementadas em um período curto
cooperação internacional da PUCRS. n Certifique-se de que você fez download de todos os documentos

da chamada e repasse-os com cuidado


Estratégias que dão resultado n Não subestime o tempo necessário para cumprir as tarefas

n Estabeleça um plano de comunicação entre os parceiros


Na hora da aproximação para parceria, He-
n Entre em acordo sobre papéis e responsabilidades
loisa destaca que o acolhimento do pesquisa-
n Considere a organização da parte prática (agendar passagens
dor internacional é muito importante. Quando e estadia, por exemplo)
ele chega, recebe um material institucional e a n Discuta como monitorar e avaliar o sucesso do programa

revista da PUC, em português, espanhol e in- de pesquisa e seus impactos


n Planeje a disseminação dos resultados da pesquisa
glês. O tour pelo campus é planejado segun-
do os principais interesses do visitante, levan-

37
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

INTERNACIONALIZAÇÃO
PARCERIAS

Terceira Conferência

Divulgação / RCGI
Anual entre os
institutos, em
setembro de 2018.

Impulso para a
A exploração de petróleo em águas profundas

inovação
e suas demandas tecnológicas impulsionam a
mobilidade e a troca de conhecimentos entre
a Universidade de São Paulo (USP) e o Imperial
College London (IC). Desde 2016 acontece o
intercâmbio de acadêmicos e pesquisadores
em dois centros especializados de pesquisa:
o Research Centre for Gas Innovation (RCGI),
na USP, e o Sustainable Gas Institute (SGI), do
IC. Mas a aproximação entre as universidades
Laboratórios e museus dos dois começou muito antes. “Cursei meu doutorado
lados do oceano tiram proveito em Engenharia Aeronáutica no Imperial Colle-
ge e o pós-doutorado na área de hidrodinâmi-
de conhecimentos complementares ca aplicada, logo depois fui contratado pela
USP”, relembra Julio Romano Meneghini, Dire-
tor Científico do RCGI. A primeira colaboração
aconteceu entre a Engenharia Mecânica da
Escola Politécnica da USP (Poli) e o Departa-

38
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

mento de Engenharia Aeronáutica do IC. Um os dois institutos inclui intercâmbio de cientis- Entre
programa de dupla titulação de doutorado se tas e acesso aos laboratórios, que conduzem 2013 e 2018,
o número de
iniciou nos anos 2000 e depois se estendeu atividades complementares. “Nós temos uma papers produzidos
para todos os departamentos da Escola Poli- equipe de especialistas em soluções aplicadas pela USP e pelo
técnica (Poli). A partir daí, a parceria, que ao e eles são fortes nos fundamentos dos estudos Imperial College
London foi de
todo dura mais de 25 anos, se instituciona- que envolvem a área de engenharia offshore”,
410 e o impacto
lizou. Quando soube que o RCGI era patro- explica Meneghini. Ele conta que a tradição de de citação
cinado pela mesma empresa, logo o SGI fez pesquisa do Reino Unido é anterior à brasileira, foi de 10,1,
uma proposta de convênio entre os dois ins- mas aqui a quantidade de problemas a resol- de longe o maior,
considerando
titutos. “A participação em outros ambientes ver é maior. Enquanto o Brasil é líder em bio-
as top 10
acadêmicos cria conexões que maximizam a combustíveis, como o etanol, eles são experts universidades
produção dos dois lados. Acho esse um dos em energia solar e eólica. inglesas que
exemplos mais expressivos de sinergia entre No Gas Innovation Fellowship Programme colaboram com
a universidade
instituições”, elogia Raul Machado Neto, Pre- (GIFP), financiado pela Shell e o CNPq, 20 alu-
paulista.
sidente da Agência USP de Cooperação Aca- nos de doutorado e cinco pesquisadores de
dêmica Nacional e Internacional. pós-doutorado receberam bolsas. Quatro vão Fonte: relatório InCites
(2013-2018)
O RCGI é um centro de estudos avançados passar dois anos na USP e dois no IC, rece-
que busca o uso sustentável e inova na solução bendo dupla diplomação, oito farão doutora-
de problemas relacionados a gás natural, bio- do sanduíche (um ano no IC e três anos na
gás, hidrogênio e dióxido de carbono. Envolve USP) e oito receberão o doutorado do IC, após
350 pesquisadores e 18 laboratórios espalha- quatro anos de estudos em Londres. “A forma-
dos por vários institutos da USP e outras ins- ção integral em duas universidades de ponta
tituições, como o Instituto de Pesquisas Ener- é uma vantagem imensa para os alunos e o
géticas e Nucleares (Ipen). Os patrocinadores fato de ter brasileiros estudando lá aproxima
fundadores são a Fapesp e a Shell (que investe as equipes, fortalecendo a pesquisa no longo
R$ 140 milhões ao ano), que também financia prazo”, comenta Gustavo Assi, Professor do
o SGI, em Londres. A troca de expertise entre Departamento de Engenharia Naval da USP.

O RCGI
Divulgação / RCGI

é sediado
na Escola
Politécnica
(Poli) da USP.

39
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

PARCERIAS

A parceria institucional entre a PUCRS e a sugeriram ideias para as duas exposições.


A abertura Universidade de Newcastle é um exemplo de Nos interessamos pela maneira como eles
de acervos colaboração equitativa e estratégica. Nos úl- utilizam mais materiais de baixo custo e ex-
timos cinco anos, houve conexão entre mais ploram as sensações, ao invés de enfatizar a
de biologia de 50 docentes, pesquisadores e técnicos ad- tecnologia. E eles ficaram surpreendidos com
mostra visão ministrativos de ambas as universidades. Um a maneira como engajamos alunos e profes-
dos projetos (leia ficha informativa ao lado) foi sores para a utilização do museu”, conta José
da evolução selecionado no edital Institutional Skills 2015- Luís Schifino Ferraro, Professor da Faculdade
para o público 2016, promovido pelo British Council do Brasil de Biociências e do Programa de Pós-Gradu-
com financiamento do Newton Fund. ação em Educação em Ciências e Matemáti-
O Museu de Ciências e Tecnologia da ca da Pontifícia Universidade Católica do Rio
PUCRS (MCT-PUCRS) e o Great North Mu- Grande do Sul (PUCRS). No trabalho de con-
seum Hancock (GNM) optaram por elaborar e cepção, planejamento e troca de expertise
construir duas exposições científicas (simul- sobre o tema, um dos desafios foi estar em
taneamente em Porto Alegre e Newcastle), hemisférios diferentes – o que significa que
trabalhando conceitos sobre evolução das o semestre universitário não era o mesmo
espécies a partir dos materiais disponíveis em em Porto Alegre e em Newcastle. Durante as
suas coleções científicas. “Ambas as equipes visitas ao Brasil, os pesquisadores britânicos

Exposição
Marcas da
Evolução no
Bruno Todeschini

MCT-PUCRS,
em Porto
Alegre.

40
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

estranharam as longas jornadas, já que alguns


profissionais da PUCRS se dividem entre ativi-
dades relacionadas ao museu e acadêmicas,
dando aulas à noite.
Para Caroline McDonald, Diretora do GNM,
alguns fatores foram decisivos para a parceria
funcionar, entre eles a oportunidade de pas-
sar um tempo no outro museu e no outro país.
“Esse contato foi valioso e permitiu um enten-
dimento mais aprofundado entre os parcei-
ros. Foi interessante observar que tínhamos
desafios em comum, mas também soluções
diferentes para eles, que às vezes nem ti-
nham sido consideradas pela outra equipe”,
nota Caroline. Nessa imersão nas diferentes
realidades, foi possível perceber como cada Entrada
da exposição
time desenvolvia não só o planejamento das
Bones do
Colin Davison

exposições, mas como conduzia as ações GNM, em


educativas e as funções administrativas em Newcastle.
cada região. A ideia da organização brasileira,
de aproveitar os mascotes dos museus para
tornar ainda mais amigável a exibição para o
público, foi absorvida pelos britânicos e ani-
MUSEU DE CIÊNCIAS
mou tanto as exposições Marcas da Evolução
E TECNOLOGIA DA PUCRS E
(MCT) quanto Bones (GNM).
GREAT NORTH MUSEUM HANCOCK
Além das exposições, a parceria evoluiu
para criar novos links entre ambos os museus
e o de História Natural da Universidade de NOME DO PROJETO
The use of museums scientific collections for teaching
Oxford, presente na Conferência Connecting
evolution and understanding of environmental changes
Museums, organizada na PUCRS em outubro from the ecomuseologic perspective
de 2017. “Outra consequência importante CHAMADA DE PESQUISA
foi a entrada do MCT-PUCRS como membro Edital Institutional Skills 2015-2016, promovido pelo British Council
do Brasil com financiamento do Newton Fund
na Science in University Museums Network
VALOR DO FINANCIAMENTO
(SUMs), que organiza reuniões anuais para £ 60 mil
atualizar o que acontece nos museus do PERÍODO
janeiro de 2016 a março de 2017
Reino Unido”, explica Ferraro. Para Caroline,
LÍDERES
um dos ganhos da parceria foi o reposiciona- José Luís Schifino Ferraro (MCT-PUCRS) e Caroline McDonald (GNM)
mento do papel que os museus universitários PESSOAS ENVOLVIDAS 100*
podem desempenhar como extensões de NÚMERO DE VISITANTES
Marcas da Evolução – 400 mil
produção acadêmica e conhecimento e o po-
Bones – 102 mil
tencial de sua utilização para apoiar a agenda * Incluindo pesquisadores e o staff dos
dois museus na elaboração, organização
de internacionalização. n e execução de ambas as exposições

41
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Frank Noon Photography


SABERES EM REDE
O contato de acadêmicos com seus pares é a fagulha inicial da
maioria das colaborações de pesquisa. Para os estrangeiros, o
Brasil oferece campo vasto para investigação em áreas como
biodiversidade, vírus tropicais e energias renováveis, entre ou-
tras. Já brasileiros no exterior têm potencial criativo para inovar
em soluções para problemas globais. O mapeamento da diáspo-
ra científica – reflexo de experiências internacionais e políticas
de mobilidade – e a organização de redes de pesquisadores po-
dem ampliar a cooperação entre indivíduos e instituições.

42
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Nessa era de alta tecnologia, em que a co-


municação entre os continentes é quase ime- POPULAÇÃO ACADÊMICA
diata, a integração e as trocas ainda se fortale- Número de pesquisadores por milhão
cem por meio das relações humanas. “Quem de habitantes (2015-2016)
estuda ou pesquisa no exterior exerce papel-
-chave nas cooperações científicas porque co-
nhece duas culturas e entende a burocracia de
4.430
REINO UNIDO
dois países”, ressalta Ana Maria Carneiro, Pes-
quisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Pú-
blicas (Nepp), da Unicamp. Ela observa um mo-
vimento crescente de pessoas altamente
qualificadas saindo do país, ocupando posições 1.473
900
estratégicas. O contato com esses especialistas MUNDO*
é cada vez mais relevante, pois se tornam pon-
tes nos processos de internacionalização das BRASIL
IES e divulgam a Ciência brasileira no exterior.
Ana Maria deu o suporte acadêmico à pri- * Média mundial
** Média de todos
565
meira Reunião da Diáspora Científica Brasileira AMÉRICA LATINA
de Ciência, Tecnologia e Inovação no Reino Uni- os países da região E CARIBE**
do, organizada em fevereiro de 2019 pela Em-
baixada brasileira em Londres e pela Fapesp. O ção*. “Os participantes ainda notam uma visão Fonte: World
Development
evento fez parte do Ano Brasil-Reino Unido de negativa da diáspora por parte dos brasileiros, Indicators:
Science and
Ciência e Inovação 2018-2019. “A principal con- que acham que quem recebe suporte do go- Technology –
The World Bank
clusão do workshop foi o entendimento de que verno deve voltar ao país”, diz Ana Maria. Mas
a comunidade científica brasileira no exterior essa postura deve ser ressignificada com a ideia
pode e deve trabalhar pelos interesses do país, de promover a produção científica brasileira pa-
atuando de forma estratégica no ambiente de ra o mundo, ampliando o prestígio do país e va-
pesquisa e de negócios local”, conta Carlota de lorizando a cooperação. “É preciso ter políticas
Azevedo Bezerra Vitor Ramos, Chefe dos Seto- transparentes e objetivas para que essa rede se
res de Cooperação Educacional e Cooperação torne factível”, explica Ana Maria. A ideia é ma-
Científica da Embaixada brasileira em Londres. pear a diáspora brasileira no Reino Unido, inicia-
tiva que já começou nos Estados Unidos, por
Aposta em redes de conhecimento acordo entre a Embaixada em Washington e
No encontro, ficou clara a mudança de con- pesquisadores do Nepp/Unicamp.
ceito sobre a diáspora científica. Nos anos 1970, A Embaixada em Londres estima que vi-
se falava em fuga de cérebros para o exterior, e vem no Reino Unido cerca de 500 brasileiros
havia menos perspectivas de colaboração in- estudantes de doutorado ou pesquisadores
ternacional. Mas entre 2000 e 2010, a literatura visitantes com financiamento da Capes, do
internacional apontou que a intensidade de arti- CNPq e das Fundações de Amparo à Pesquisa
*A Diáspora Científica
culação das redes locais de produção do co- (FAPs) dos estados. Mas o que une as pesso- Brasileira: Perspectivas
para Sua Articulação
nhecimento com as redes mundiais é decisiva as não é um período ou um lugar, e sim o inte- em Favor da Ciência
Brasileira, Elizabeth
para acelerar o processo de internacionaliza- resse. O Imperial College London fundou um Balbachevsky (2011)

43
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

INTERNACIONALIZAÇÃO
DIÁSPORA CIENTÍFICA

Juliana Bertazzo
e Carlota de
Azevedo Ramos, do
setor acadêmico
da Embaixada
brasileira em
Londres.

Frank Noon Photography


“Brazil Forum” para manter o registro e organi- n Eles desenvolveram um perfil que
Cientistas zar a comunidade de 164 brasileiros ligados pode enriquecer a experiência
radicados atualmente ou egressos da universidade. da comunidade científica em áreas
No artigo A Diáspora Científica Brasileira: essenciais para o país, como
no exterior Perspectivas para Sua Articulação em Favor o desenvolvimento de políticas, gestão
trazem da Ciência Brasileira, de 2011, Elizabeth Balba- de redes complexas e promoção
chevsky, Pesquisadora Sênior do Núcleo de do conhecimento junto a outros atores*;
parcerias Pesquisa em Políticas Públicas (Nupps/USP), n Muitos têm experiência na promoção
vantajosas também presente no evento da Embaixada, dos resultados de pesquisa e cooperam
aponta vantagens de pesquisadores brasilei- na produção de políticas públicas;
para o país ros que amadureceram profissionalmente em n Aprenderam competências específicas
outros ambientes culturais: para a gestão de projetos complexos;

44
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

n São experientes na articulação com tágios. A recolocação desses profissionais em


instituições para as quais os resultados instituições brasileiras nem sempre é simples
da pesquisa são relevantes; ou atrativa e Lucas comenta que, em países on-
n Sabem enfrentar situações de a diáspora já trouxe benefícios econômicos
de negociação que envolvem e sociais, como a China e a Índia, as regras para
múltiplos interesses e usuários. os bolsistas parecem ser menos rígidas.
Ainda segundo Elizabeth, se espera que De olho nessa problemática, a Fapesp tem
a interação entre a diáspora e a comunidade atualmente opções para pesquisadores do ex-
científica nacional acelere a internacionaliza- terior (brasileiros ou não) que queiram realizar
ção da pesquisa brasileira, ampliando opor- colaborações de pesquisa em São Paulo, co-
tunidades de articulação de redes nacionais mo bolsas de pós-doutorado, o Programa Pes-
com as que produzem conhecimento de pon- quisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe)
ta em escala global. Carlota ressalta que um e o Programa Jovens Pesquisadores em Cen-
mapeamento permite conhecer o perfil dos tros Emergentes (leia abaixo). “O estado de
acadêmicos presentes no Reino Unido e suas São Paulo atrai pesquisadores jovens de to-
demandas. Uma plataforma da diáspora possi- do o mundo. Quem se destaca recebe apoio,
bilitaria trocar informações, facilitar trabalhos financiamento à pesquisa e conta com uma
conjuntos e formar redes de apoio para o aco- estrutura que compete com muitos centros
lhimento de estudantes e pesquisadores re- europeus”, ressalta Carlos Henrique de Brito
cém-chegados. Estimular esse networking já é Cruz, Diretor Científico da Fapesp. Trazer cien-
uma das tarefas da Associação de Brasileiros tistas com experiência internacional reforça a
Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisado- linha estratégica da Fundação, que é baseada
res (Abep-UK), organização sem fins lucrativos em criar oportunidades para projetos de pes-
que conta com 400 associados e comple- quisa colaborativos. n * Citação de Kuznetsov, 2006

tará 40 anos de existência em 2020. “Sabe-


mos que quando alguém vem fazer doutorado
aqui, aumenta a ligação entre a universidade JOVENS PESQUISADORES EM CENTROS EMERGENTES
britânica e os centros de pesquisa de seu lo-
cal de origem”, explica o baiano Lucas França, O programa da Fapesp estimula a criação de oportunidade
de trabalho para pesquisadores ainda em fase de afirmação
Presidente da Abep, doutorando em Neuro-
profissional ou grupo de jovens pesquisadores. A duração máxima
ciência Computacional na University College é de quatro anos e as propostas são avaliadas pelos pares.
London e bolsista do CNPq. Valor da bolsa: R$ 8.377,50 mensais.

REQUISITOS:
De volta ao Brasil n Experiência internacional em pesquisa comprovada após

A associação publicou uma pesquisa, em a conclusão do doutorado.


n Demonstrar realizações que indiquem capacidade de liderança
2017, em que ouviu demandas de bolsistas da
Capes e do CNPq. “Uma das principais críticas e grande potencial para nucleação de novos grupos de pesquisa.
n Atuar em temas modernos e com inserção internacional,
é em relação à obrigatoriedade de retornar ao
não cobertos por pesquisadores no estado de São Paulo.
Brasil logo após o final do curso”, aponta Fran- n Projetos cientificamente sólidos que induzam a criação de novos

ça. Normas mais flexíveis permitiriam aos estu- núcleos em instituições que ainda não têm tradição em pesquisa
dantes realizar pós-doutorado no exterior ou ou a criação de novas linhas de pesquisa em instituições consolidadas.
aceitar propostas de emprego, parcerias ou es-

45
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

DIÁSPORA CIENTÍFICA

mobilidade
A importância da

Quando bem planejada, os estudantes e também


as instituições aproveitam a experiência
Basta estar em um campus de universidade financeiras e linguísticas”, conta Lucy Shack-
na Inglaterra ou na Escócia para se sentir em leton, Diretora de Engajamento Internacional
um ambiente incrivelmente internacional, onde da Universities UK International (UUKi), orga-
convivem culturas e costumes de várias partes nização que representa os interesses interna-
do globo. A tradição e a excelência acadêmi- cionais do setor de ensino superior no Reino
ca funcionam como um ímã para os estrangei- Unido. Segundo ela, o interesse por aprender
ros (veja dados ao lado). Para os britânicos, isso idiomas adicionais e o número de graduações
resulta em uma espécie de internacionalização em línguas estrangeiras está caindo. A UUKi
em casa, e com pouco esforço, pois quem vem lançou a campanha Stand Out, Go international
de fora chega falando inglês. “As principais bar- para dobrar o número de estudantes de gradu-
reiras que impedem que os estudantes do Rei- ação no exterior: eram apenas 6,6% em 2014-
no Unido avancem na mobilidade externa são 2015 e a meta é passar de 13% já em 2020.

Gilson Oliveira/PUCRS
Vista aérea
do campus
da PUCRS.

46
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

A ATRATIVIDADE DO REINO UNIDO PELO OLHAR


INSTITUCIONAL
2 6
o o
DESTINO NA LISTA Resultados
mais popular no mundo de preferência Quem estuda fora tem
para estudantes internacionais.* dos brasileiros** melhor desempenho
acadêmico e chances
442.375 2.135 de empregabilidade,
influenciando números
ESTUDANTES ESTUDANTES Fontes: * HESA
Student record em rankings.
INTERNACIONAIS BRASILEIROS (2016-17),
** Global Flow of
em universidades no Reino Unido (2016)** Tertiary-Level
Students – Parcerias
britânicas (2016-2017)* Unesco (2016) Intercâmbios podem
abrir portas para
colaboração em
“Temos orgulho do nosso setor universitário, contavam-se 52.515 estudantes brasileiros ensino e pesquisa
e trocas de
mas estamos mal em relação à mobilidade ex- no exterior e 19.996 estrangeiros em univer-
conhecimento
terna e por isso reforçamos os motivos para ter sidades brasileiras.** entre instituições.
uma experiência internacional entre os estu-
dantes e conquistamos o apoio de muitas uni- Flexibilidade e currículo Reputação
Estudantes são
versidades para a causa”, explica Lucy. Além de Rever critérios e estabelecer metas para
embaixadores
ações de marketing e convencimento, a UUKi a mobilidade estudantil é um desafio dos pla- de suas universidades,
busca formas de apoiar estudantes menos fa- nos de internacionalização, por isso vale con- com potencial
para atrair estudantes
vorecidos, pois é comprovado que são eles os siderar seus benefícios (veja quadro ao lado).
e staff acadêmico
que mais se beneficiam após vivências fora do “Nos últimos cinco anos, passamos de 8% pa- do exterior.
seu país. Segundo Lucy, como as universidades ra 24% dos nossos estudantes em mobilidade
britânicas têm parcerias sustentáveis ao redor externa”, conta James Conroy, Vice-Diretor de Cultura
Os jovens retornam
do mundo, é importante que os graduandos Internacionalização da Universidade de Glas-
com visão global
desenvolvam habilidades acadêmicas e profis- gow. Um dos motivos para esse aumento foi a e acolhem melhor
sionais para se integrar nesse ambiente. flexibilidade nos intercâmbios. Em alguns ca- os estrangeiros no
O Brasil é o país da América Latina que mais sos, os britânicos partiam para um curso de campus, aprimorando
a internacionalização
envia estudantes ao Reino Unido (foram 1.745 verão no exterior e, em troca, os alunos es-
em casa.
em 2016-2017, segundo o HESA Student re- trangeiros vinham à Escócia por um semes-
Fonte: UUKi Stand
cord) e também o que mais recebe (305 no tre. Isso pode ser uma boa oportunidade para Out Report
mesmo período). Aqui, os principais desafios universidades brasileiras, algumas já planejam
para a mobilidade externa sem dúvida passam períodos de summer school e pensam formas
pelo financiamento e pela língua estrangeira inovadoras de atrair os estrangeiros. “Também
(leia nas páginas 20 a 29). A porcentagem de nos preocupamos em modelar o currículo pa-
estudantes brasileiros que fazem algum curso ra uma audiência internacional”, diz Conroy.
no exterior é baixíssima: apenas 0,6%* (no Mé- “Não é possível trazer estudantes por um se-
xico e Chile é 0,8% e na Colômbia, 1,2%). mestre, um ano ou um programa inteiro, que
Fontes: * estudo Higher
E os números da mobilidade externa ten- depois voltam para suas culturas, sem consi- Education and Student
Mobility, do Institute of
dem a cair depois do término do programa derar adequações ou alterações no currículo International Education (IIE);
** HESA Student record
Ciência sem Fronteiras (2011-2016). Em 2016, que sejam interessantes para eles.” n (2016-2017)

47
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

DIÁSPORA CIENTÍFICA

Royal Botanic Gardens, Kew

O valor da
Como são as relações entre
o Royal Botanic Gardens, Kew
e as universidades brasileiras?
A colaboração é forte com um grande núme-

DIÁSPORA ro delas, em todas as regiões do Brasil. Uma


das mais antigas é com a Universidade de São
Paulo (USP). Uma ex-estudante de PhD em
Kew e atual pós-doc na USP, Thais Vascon-
Diretor Científico do Royal Botanic celos, recebeu em 2018 a Medalha John C.
Marsden, da Linnean Society, que premia anu-
Gardens, Kew, o brasileiro almente a melhor tese de Biologia do mun-
Alexandre Antonelli diz do. O foco de Thais é o campo rupestre, ecos-
sistema que motivou trabalho conjunto entre
que grupos de especialistas Kew e USP por anos. Outra relação prolonga-
internacionais propõem da acontece com o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, onde funciona a Escola Nacional de
soluções inovadoras e com Botânica Tropical. Kew foi o primeiro parcei-
mais chances de impacto ro dela no programa Reflora, que constrói um
herbário virtual com base em imagens e infor-
mações de espécies da flora brasileira deposi-
tadas em herbários estrangeiros.

Atualmente Kew trabalha com algum


projeto com foco no Brasil?
Sim, são vários. Um deles é um esforço cola-
borativo para elaborar a monografia do gêne-

48
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ro Myrcia, incluindo a avaliação do risco de ex- ra ser descoberto e investigado. Desde então,
tinção para todas as espécies, cerca de 800. treinei cerca de 70 estudantes de mestrado
Outro envolve monitoramento remoto da ve- e doutorado, de muitos países e backgrounds
getação da caatinga, com satélites e drones, diferentes, uma experiência fantástica e com-
chamado Learning to live with the forest. Tam- pensadora. Trabalhar com estudantes criati-
bém recebemos fundos do Reino Unido para vos e outros cientistas é um dos melhores as-
o projeto Digital repatriation of biocultural col- pectos de se fazer pesquisa.
lections, que conecta cientistas e comunida-
AVENTURA E
des indígenas de conhecimento na Amazônia. Qual o segredo para reunir equipes
EXCELÊNCIA
científicas eficazes?
De que forma você pretende aumentar Tento achar os indivíduos melhores e mais
O campineiro Alex
as cooperações com acadêmicos e motivados que tendem a dar importantes con- Antonelli trancou o curso
instituições brasileiras? tribuições para a pesquisa. Para isso, acabo de Biologia na Unicamp
após seis meses para
Espero iniciar um diálogo envolvendo agên- contatando pessoas em vários países e con-
viajar como mochileiro
cias de fomento e representantes do governo tinentes. Essa é uma das maiores belezas da pela Europa e América
do Brasil e do Reino Unido para discutir áreas pesquisa: a liberdade para estabelecer qual- Central. Conheceu sua
de colaboração e de financiamento. Ao mes- quer constelação de colaboradores. Um úni- futura esposa, sueca,
em Honduras e
mo tempo, quero garantir que as iniciativas co artigo publicado na revista científica PeerJ
recomeçou os estudos
que vêm da base da comunidade de pesqui- no ano passado foi resultado de um workshop em Gotemburgo, na
sa sejam analisadas com cuidado e apoiadas. e de discussões entre pesquisadores de Su- Suécia. Especialista em
écia, Estados Unidos, França, Brasil, Equador, Biogeografia, após um
pós-doutorado na Suíça
Como acontece esse intercâmbio UK- Holanda, Espanha, Suíça, Guatemala e Finlân- voltou como curador
BR entre estudantes e pesquisadores dia. Algo similar aconteceu para um da Natu- do Jardim Botânico
na área científica do Kew? re Geoscience, que combinou trabalho de bo- de Gotemburgo. Atuou
como professor de
Muitos pesquisadores no Kew são especia- tânicos, zoólogos, geólogos e paleontólogos.
biodiversidade na
listas em espécies brasileiras e muitos espe- universidade local
cialistas brasileiros fazem contribuições im- Como diria que a Ciência se beneficia e criou o Centro de
portantes em nossas pesquisas. Os benefí- da colaboração entre estudiosos Biodiversidade Global de
Gotemburgo. Deu aulas
cios são mútuos e vemos intensa movimenta- do mundo todo?
na Universidade de
ção entre o Brasil e Kew. Nos últimos anos, um Espécies não ligam para fronteiras políticas. Zurique e na Universidade
grande número de estudantes e pesquisado- Por isso, especialistas que estudam grupos de Harvard, nos Estados
res veio para cá com fundos de CNPq, Capes plantas ou fungos muitas vezes têm conhe- Unidos. Em fevereiro
de 2019, assumiu como
e das FAPs estaduais. cimento relevante para continentes inteiros
Diretor Científico do Royal
ou zonas climáticas. Isso é verdadeiro para a Botanic Gardens, Kew,
Você lidera um grupo interdisciplinar biodiversidade, mas acredito que se aplica à ou Kew Gardens, em
Londres. A instituição
e internacional de pesquisa, pode maioria dos campos científicos. Quanto mais
é referência mundial
contar um pouco da experiência? internacional for um projeto, mais pessoas em pesquisa botânica,
Iniciei o Antonelli Lab há nove anos, após re- com diferentes perspectivas estarão analisan- com 22 mil espécies
tornar de um pós-doc na Suíça. A principal mo- do a questão da pesquisa, e por consequên- de plantas nos jardins,
7 milhões nos herbários
tivação foi a vontade de fazer bem mais pes- cia as soluções serão mais inovadoras. Além
e 1,2 milhão de
quisa do que eu conseguia sozinho. Biodiver- disso, a colaboração internacional tem mais amostras de fungos.
sidade é um tema imenso e ainda há muito pa- chance de gerar um impacto vital ou global. n

49
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Centro de Difusão
Internacional da
Universidade de

Marcos Santos
São Paulo (USP), que
é a brasileira melhor
colocada nos rankings.

MEDIDAS DE QUALIDADE
O que é qualidade na universidade? Não há uma resposta única,
pois depende do contexto socioeconômico e cultural em que
cada instituição de ensino está inserida. Há lugares em que o
foco principal está na produção científica, em outros, na experi-
ência proporcionada aos alunos, por exemplo. A escolha indica
qual das funções primárias – ensino, pesquisa e extensão – vale
enfatizar. Mas há um ponto de concordância para todos da área:
é essencial desenvolver padrões e métricas para avaliar o ensi-
no superior. Por isso, surgiram os rankings, que cada vez mais
influenciam nas decisões das equipes gestoras nas IES.

50
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Para realmente conhecer a excelência de Em geral, uma universidade precisa se


uma universidade e afirmar que ela está cum- submeter aos critérios internos de avaliação,
prindo bem seu objetivo – que, no Brasil, con- ao sistema nacional, nos países nos quais há
forme está na Constituição, é trabalhar de ma- órgãos que estipulam padrões de qualidade, e
neira equivalente três eixos: ensino, pesquisa aos rankings, tanto nacionais quanto interna-
e extensão –, não dá para ficar apenas na per- cionais. No Brasil, a função de verificar a quali-
cepção. É necessário criar maneiras para me- dade na graduação é do Sistema Nacional de
dir o desempenho. Uma boa avaliação é útil Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que
para todos os envolvidos, pois permite ao go- combina análises do perfil do corpo docente,
verno ter parâmetros para definir políticas pú- da infraestrutura da instituição e do desempe-
blicas, ao estudante e ao professor definir, nho do aluno, medido pelo Exame Nacional de
respectivamente, onde estudar e trabalhar e à Desempenho de Estudantes (Enade), prova
própria instituição de ensino ter claros pontos feita pelos concluintes do curso. Para a pós-
fortes e aspectos a melhorar. Mas quais indi- -graduação, a responsabilidade é da Capes,
cadores de desempenho considerar? Esse é que adota cinco quesitos: proposta do progra-
o desafio, pois as escolhas acabam delinean- ma, corpo docente, corpo discente, produção
do o que se entende por qualidade. intelectual e inserção social.

TIMES HIGHER EDUCATION (THE)


No ranking realizado no Reino Unido, alguns indicadores
têm pesos diferentes na avaliação geral e na regional

World University Latin America


Rankings University Rankings
n 1o lugar: Universidade de Oxford (Reino Unido) n 1o lugar: Unicamp
n 251o a 300o lugar: USP (Brasil) o
n 2 lugar: USP
n No de brasileiras no ranking: o
n N de brasileiras no ranking:

36 no total, 2 entre as 500 primeiras 43 (total de 129 avaliadas)

ENSINO ENSINO
30% 36%
PESQUISA PESQUISA
30% 34%
CITAÇÕES CITAÇÕES 20%
30%
INTERNACIONALIZAÇÃO INTERNACIONALIZAÇÃO
7,5% 7,5%
INOVAÇÃO
2,5% INOVAÇÃO 2,5%

Fonte: THE/2019 Fonte: THE/2018

51
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

RANKINGS

Quando a meta é ganhar visibilidade inter- Criados para comparar as instituições de


O conceito nacional, acrescentam-se mais itens na lista a um país ou classificá-las globalmente, os
do que é bom considerar: os critérios que regem a educação rankings também pautam as definições de
superior no país com o qual se pretende cola- qualidade. Na China, por exemplo, uma boa
e os critérios borar. “Em nossa experiência, as parcerias inter- universidade, conforme mostra o Academic
de avaliação nacionais são mais bem-sucedidas quando ba-
seadas em uma compreensão recíproca da cul-
Ranking of World Universities (ARWU), é a que
publica nas revistas científicas Science e Natu-
mudam tura e exigências do ensino superior dos países re e que tem ganhadores do Prêmio Nobel en-
de acordo envolvidos”, diz Fabrizio Trifiro, Gerente Interna-
cional da Quality Assurance Agency (QAA),
tre seus formandos e professores. Na Rússia, é
a que for mais bem avaliada na opinião dos es-
com a região agência que assegura a qualidade no Reino Uni- tudantes. Nos Estados Unidos, é uma institui-
do. “Conseguir isso e também uma visão com- ção onde os professores ganham bem e que
partilhada do que ambas as instituições buscam tenha baixíssima evasão. Na África do Sul, a ên-
alcançar por meio da parceria exige comunica- fase é na diversidade do corpo discente e do-
ção e compromisso regulares para entender cente. Há, porém, aspectos comuns avaliados
quais são as linhas vermelhas, ou seja, os limites pela maioria dos rankings internacionais, como
um do outro.” Quem tem interesse em fazer par- medir o número de citações de uma IES.
cerias com instituições britânicas pode se infor- Lançado em 2004, o ranking britânico Ti-
mar sobre os padrões e as expectativas de qua- mes Higher Education (THE) usa cinco indica-
lidade da região acessando o Código de Quali- dores: pesquisa (volume, investimento e repu-
dade do Ensino Superior do Reino Unido em tação), citações (influência da pesquisa), ino-
www.qaa.ac.uk/quality-code. vação, internacionalização e ensino. Conside-

ACADEMIC RANKING OF WORLD UNIVERSITIES (ARWU)


Ranqueamento chinês prioriza prêmios e publicações

n 1o lugar: Harvard (EUA)


o o
n 151 a 200 lugar: USP (Brasil)
o
n N de brasileiras no ranking: 6

DOCENTES PREMIADOS 20% n número de professores vencedores


CITAÇÕES
20% do Prêmio Nobel e Medalha Fields
n número de pesquisadores citados
ARTIGOS PUBLICADOS
20% em 21 categorias
n número de artigos publicados nas revistas
ARTIGOS INDEXADOS 20% científicas Nature e Science
n número de artigos indexados no Science
ALUNOS PREMIADOS
10% Citation Index-expandido
DESEMPENHO DOCENTE e Social Science Citation Index
10% n número de ex-alunos vencedores
do Prêmio Nobel e Medalha Fields

Fonte: ARWU/2018

52
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

rando o peso de cada um, fica claro que, ao guir ir além das métricas quantitativas, princi-
lado do ensino, a pesquisa é um foco impor- palmente para incluir análises sobre ensino –
tante. “Quando você olha para o problema de como mensurar a experiência dos estudantes
como comparar universidades em diferentes ou o desempenho dos professores? – e impac-
países, percebe que, como a ciência se tor- to social. O THE, por exemplo, está preparando
nou mais global, é possível medir o impacto um novo ranking baseado em alguns dos Obje-
da pesquisa onde quer que ela seja feita no tivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU,
mundo”, diz Simon Baker, Data Editor do THE. como igualdade de gênero e ações contra as
O mesmo raciocínio vale para o brasileiro mudanças climáticas. “Estamos analisando es-
Ranking Universitário Folha (RUF), que também sas metas para tentar encontrar maneiras de
tem na pesquisa o maior destaque. Com o di- identificar como as universidades impactam
ferencial de incluir uma métrica para refletir o em suas comunidades”, conta Simon. O RUF
contexto local: opinião do mercado. “Nos Esta- também tem feito estudos regulares na tenta-
dos Unidos, quem cursa Harvard não está pre- tiva de criar quesitos para medir as ações de
ocupado com emprego, porque sabe que vai extensão das universidades (leia mais na
conseguir um. Então, não faz sentido mensu- página 54). A preocupação é compartilhada
rar a opinião do empregador sobre qual uni- por órgãos como Capes e QQA. Trata-se de um
versidade é boa ou onde as pessoas estão tra- aprimoramento fundamental para que todas
balhando. Mas no Brasil faz, então, resolvemos essas avaliações sejam realmente utilizadas
adotar também esse indicador”, conta Sabine para impulsionar a melhoria na qualidade das
Righetti, Coordenadora Acadêmica do RUF. universidades e não simplesmente para servir
Uma dificuldade comum a todos é conse- como parâmetro de comparação entre elas. n

RANKING UNIVERSITÁRIO FOLHA (RUF)


Destaque na avaliação realizada no Brasil é para pesquisa e ensino

n 1o lugar: USP
o
n 2 lugar: UFRJ
o
n 3 lugar: UFMG
o
n N de universidades avaliadas: 196

PESQUISA 42%
n totalde publicações, total de citações,
ENSINO 32% citações por publicação e por docente,
publicações por docente, publicações em revistas
MERCADO 18% nacionais, recursos obtidos por instituição,
INTERNACIONALIZAÇÃO 4% bolsistas CNPq e teses
n professores com doutorado e mestrado, com
INOVAÇÃO 4% dedicação integral e parcial e nota no Enade
n opinião de 5.444 profissionais de RH
consultados pelo Datafolha em 2016, 2017
e 2018 sobre preferências de contratação
n citações internacionais por docente
e publicações em coautoria internacional
Fonte: RUF/2018 n patentes e parcerias com empresas

53
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

RANKINGS

Retratos
PARCIAIS
Para Sabine Righetti,
Coordenadora Acadêmica
do Ranking Universitário
Folha (RUF), principal desafio
para melhorar os rankings
é acesso a informações
Os rankings mostram o que as
universidades estão fazendo, mas
também ajudam a apontar os dados
que faltam, como a situação dos
egressos. Por que seria importante
ter essa informação?
E que outras faltam para termos
rankings melhores?
A literatura científica diz que você sabe se um
curso é eficiente pelos egressos. A metodolo-
gia mais consistente para avaliar seria, depois
de cinco anos, ver se eles estão trabalhando,
se atuam na área e se têm posição de lideran-
ça. Nos Estados Unidos, essa pesquisa é feita
nas universidades e os rankings usam essas in-
formações. Aqui, solicitamos dados para o MEC,
mas o pedido foi negado, porque se entendeu
que isso é sigiloso. A única maneira de obter se-
ria pelas universidades, mas descobrimos que
nenhuma mapeia seus egressos. Seria um in-
dicador essencial para entender o que ocorre
com quem se forma e qual a qualidade dos cur-
Divulgação

sos. Outra informação é evasão, importante pa-


ra política pública. Mas não temos esses dados.

54
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

Quais os desafios para que os


rankings mostrem o impacto social da
universidade em suas comunidades?
Obter informações. Algumas universidades co- Teria que
locam no orçamento anual dinheiro destinado acontecer,
Quais iniciativas de
à extensão, mas é tudo pueril. Qual é essa ex-
no âmbito de
tensão? Qual o resultado? Não tem avaliação internacionalização mais
disso. O tema é discutido na literatura, porque influenciam nos rankings? política pública
não se sabe como medir. Em impacto social, Investir dinheiro, que é o que a China fez. No nacional, um
empregabilidade é uma maneira de mensurar, THE de 2012, eles tinham três universidades
debate para
mas o impacto social local é mais difícil. Quan- entre as 200 melhores do mundo. Agora são
to uma universidade influencia positivamente a sete. Tsinghua, por exemplo, estava em 71 lu-
o definir indicadores
região onde está instalada? Primeiro teria que gar e agora está em 22 . Há estudos que mos- de extensão
o

acontecer, no âmbito de política pública nacio- tram que fazer isso influencia todo o ecossiste-
nal, um debate para definir indicadores de ex- ma do país. O que falta, então, é decidir isso co-
universitária, que
tensão universitária, que hoje não existem nem mo política pública, definir que não é gasto, e hoje não existem
nas avaliações oficiais do MEC. O Ministério sim investimento para colocar o Brasil na rota nem nas avaliações
olha pesquisa e ensino, mas não extensão, que do mundo. E, a partir daí, desenhar ações junto
é um terço da missão das instituições. às instituições para que isso aconteça.
oficiais do MEC.

Como você avalia o posicionamento Um dos maiores desafios dentro


das universidades brasileiras nos das universidades é a comunicação.
principais rankings internacionais? Como melhorar esse ponto?
Houve barulho quando a Universidade de São No ano passado, as universidades publicaram
Paulo (USP) entrou para as 200 melhores do 70 mil estudos, de acordo com o Sinaes, mas
mundo, em 2011, do THE. Entrou em 178 lu- não temos conhecimento disso. O que sai na
o

gar e depois melhorou e foi para 158 . E desde imprensa, prioritariamente, são trabalhos de
o

então tem caído. Mas a produção científica da pesquisadores de fora, porque eles têm um sis-
USP aumentou. Então, não é que está piorando. tema eficiente de comunicação. Deveriam exis-
Existem políticas de estado, nos Estados Uni- tir mecanismos para facilitar a divulgação da ci-
dos, no Reino Unido, na China e em outros paí- ência produzida no Brasil, que é parruda e de
ses, para ter um grupo de universidades world alto impacto, como parte da política pública de
class. Na China, nove instituições recebem internacionalização. Sou pesquisadora na Uni-
aportes milionários para estarem bem posicio- camp e lá ganhamos um edital para desenvol-
nadas internacionalmente. O Brasil não tem is- ver um projeto, a Agência Bori, inspirado no Eu-
so. Existe um movimento agressivo contra as rekAlert, ferramenta do American Association
universidades públicas brasileiras, no sentido for the Advancement of Science (AAAS) que faz
de falar que ganham muito e produzem pouco. esse tipo de ponte. Mas é uma iniciativa peque-
E o ranking serve a isso. Mas não é uma leitura na, apenas com informações da Unicamp. De-
justa. É quase um milagre elas manterem a pro- veria haver inúmeras outras. A USP precisa sair
dução científica, pois os orçamentos estão sen- no New York Times. Precisamos falar mais do
do reduzidos, em alguns casos, pela metade. que as universidades fazem de incrível. n

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UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ARTIGO

Simone Ricci
Divulgação

Gerente de Projetos de Educação Superior


do British Council no Brasil

Educação além
das fronteiras
Tendência em um mundo globalizado,
a Educação Transnacional (TNE)
dá seus primeiros passos no Brasil
Ela já é conhecida das universidades britâ- a mudança para outro país não existem. Além
nicas, que atualmente investem muito nessa disso, a comodidade e a facilidade de estudar
modalidade de ensino, em especial no merca- no país de origem para muitos são fatores de-
do asiático. Mas no Brasil até o conceito de cisórios na escolha de um curso. Dependen-
Educação Transnacional é novo. Transnational do do momento de vida de cada estudante,
Education (ou TNE), também chamada de es- também pode ser inviável ficar longe da famí-
tudos transfronteiriços (cross-border), se ca- lia ou do trabalho. A Educação Transnacional
racteriza fundamentalmente por ir além da é uma boa alternativa para uma graduação ou
fronteira de um país. Ela se diferencia da edu- pós-graduação com direito a diploma interna-
cação internacional tradicional, pois permite cional, já que ele impulsiona promoções, re-
que os alunos estudem em uma determinada colocações e amplia as perspectivas profis-
universidade sem sair do seu país de origem. sionais no país de origem ou no exterior.
Essa modalidade de ensino costuma ser Além do programa online de TNE, as prin-
oferecida para as áreas de graduação e de cipais formas de se estabelecer essa modali-
pós-graduação e na maioria das vezes por dade de ensino são: abertura de campus no
meio de sistema online e a distância. Entre as exterior, dupla diplomação e por meio de sis-
principais vantagens da TNE está o valor do tema de franquias. Todos esses modelos
investimento: sem a necessidade de sair de combinam educação de qualidade e comodi-
casa para estudar, os custos envolvidos com dade para os seus participantes, o que pode

56
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

ser fundamental na hora de escolher um cur-


so. Para as universidades, faculdades e esco-
las que oferecem a Educação Transnacional,
uma das grandes vantagens é o contato com A Educação
estudantes de outras culturas. Ele facilita e Transnacional
agrega valor à estratégia de internacionaliza-
ção como um todo. Dependendo do tipo de
é boa alternativa
proposta para investimento em Educação para graduação
Transnacional, existem governos oferecendo ou pós com
incentivos fiscais. É o caso de Malásia, Hong
Kong e Dubai. Outro ponto positivo é a possi-
diploma
bilidade de firmar parcerias com outras insti- internacional, pois,
tuições de ensino, agências de fomento edu- dependendo do
cacional e com a indústria, que cada vez mais Eles são precedidos de um curso preparatório
se interessa por pesquisa e inovação. de um ano (Foundation), que complementa a momento de vida
Por não existir legislação específica que qualificação dos ingressantes após o ensino do estudante,
regule a Educação Transnacional no Brasil, médio. Os alunos têm aulas com professores
pode ser inviável
por enquanto há poucas Instituições de Ensi- britânicos seguindo o currículo acadêmico de
no Superior britânicas atuantes em nosso pa- Hertfordshire. “Outra vantagem é que quem se ficar longe
ís, como a Manchester Business School (MBS) forma pode seguir com estudos naquela uni- da família ou
e a Universidade de Hertfordshire. O Global versidade ou em outra instituição internacio-
do trabalho.
MBA, programa de MBA internacional part-ti- nal, ingressando diretamente no programa de
me da Alliance Manchester Business School bacharelado”, explica Carsten Snedker, CEO
(AMBS), é realizado em inglês em parceria com da Ebac/Universidade de Hertfordshire.
a Fundação Getulio Vargas (FGV). O formato Nos últimos anos, a Coordenação de Aper-
blended de ensino presencial em blocos de feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Ca-
imersão e suporte a distância é flexível, permi- pes), por meio do Capes-PrInt, vem promoven-
tindo que o aluno concilie estudo e trabalho. do a internacionalização em casa. Para se inter-
“Profissionais que residem na América do Sul nacionalizar, é importante que as universidades
fazem o programa em São Paulo com profes- brasileiras fomentem parcerias internacionais e
sores da AMBS e da FGV, e ainda podem assis- ministrem cursos em inglês. Essa nova pers-
tir aulas nos cinco centros da AMBS (Manches- pectiva abre portas para universidades estran-
ter, Dubai, Cingapura, Hong Kong e Xangai) pa- geiras interessadas no mercado educacional
ra trocar experiências com alunos de outros do país. O British Council, atento a essa ten-
países”, diz Ana Paula Vitelli Morgado, Diretora dência, está preparado para atender às de-
Regional Brasil e América do Sul. mandas das IES do Reino Unido e também das
Já a universidade britânica de Hertfordshi- brasileiras que queiram se familiarizar com o
re possui um campus em São Paulo em parce- conceito e os benefícios da TNE. Nosso de-
ria com a Escola Britânica de Artes Criativas partamento de consultoria oferece serviços
(Ebac). Ali, oferece diversas opções de bacha- específicos para o segmento, como pesquisas
relado nas áreas de Artes, Design, Educação de mercado, com o objetivo de facilitar a en-
e Economia Criativa, com duração de três anos. trada de instituições britânicas no Brasil. n

57
UNIVERSIDADES
PARA O MUNDO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

CONCLUSÃO

Agenda ativa
e relevante
British Council organiza nova chamada,
workshops e seminários para
apoiar o avanço da internacionalização
Tanto as iniciativas quanto os debates ganhos na qualidade, na produção de conheci-
sobre a temática da internacionalização evo- mento e nas publicações conjuntas. São todos
luíram de um ano para cá, quando lançamos interconectados e essenciais para que sejam
a primeira publicação Universidades para o criadas parcerias sólidas e produtivas.
Mundo. Falar de desafios e oportunidades no Para fortalecer esse diálogo, a segunda edi-
desenvolvimento de planos de internacionali- ção da publicação Universidades para o Mundo
zação era apropriado à época, em que estava se aprofunda nas temáticas em discussão na
lançada a chamada para o edital do Capes- área, destaca processos de institucionalização,
-PrInt, encerrada no primeiro semestre de traz opiniões de especialistas e exemplos de
2018. As universidades apresentaram seus colaboração de universidades públicas e priva-
planos e deram início a uma nova corrida para das entre o Brasil e o Reino Unido, destacando
consolidar parcerias internacionais entre Insti- a força das parcerias e a sua contribuição para
tuições de Ensino Superior. avançar em processos de internacionalização.
O Seminário de Internacionalização UK-BR, Respondendo a algumas das demandas
realizado em Londres em dezembro de 2018, foi do contexto atual, o British Council implemen-
um marco importante por reunir IES contempla- tará neste ano três ações estratégicas:
das pelos recursos da Capes e outras institui- n um edital de colaboração para apoiar
ções brasileiras interessadas no tema, além de a operacionalização de planos
universidades do Reino Unido, ávidas por par- de internacionalização;
cerias. Essa ponte e a oportunidade de diálogo, n seminários e workshops sobre políticas
proporcionadas pelo British Council, deixaram linguísticas e língua inglesa;
claro que o momento é de estratégias e avan- n instrumentos para fomentar a mobilidade
ços nesse caminho. de pesquisadores, gestores e estudantes
A internacionalização consiste em uma série estrangeiros para o Brasil.
de fatores e impacta em vários outros: a mobili- Esperamos que essas ações contribuam
dade de estudantes, pesquisadores e gestores, para o fortalecimento de capacidades e o apro-
o desenvolvimento de currículos compartilha- fundamento do debate, visando instituições
dos, projetos de pesquisa e inovação, o esta- mais preparadas para encarar as oportunidades
belecimento e reforço de redes de pesquisa, e desafios globais da educação superior. n

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