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Título Original: The last nanny in Manhattan

Copyright © 2022 por K. Sterling


Copyright da tradução © 2024 por Editora Bookmarks.

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utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização
por escrito dos editores.

Tradução e diagramação digital: Marília Schuh


Copidesque: Camila Kahn
Edição: Luizyana Bueno
Capa: Rachel Teixeira
Diagramação digital: Andreia Barboza

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.

Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil, adquiridos por


Editora Bookmarks.
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SINOPSE
Walker Cameron III pode ser um dos homens mais temidos de
Manhattan, mas não é páreo para suas trigêmeas de seis anos. Depois de
esgotar todas as opções, Finley Marshall é a última esperança do viúvo mal-
humorado.
Felizmente para os Cameron, Fin é um mestre do caos e pode acalmar
até as crianças mais ferozes. Mas o babá logo descobre que as meninas não
são o problema, e sim o pai delas. Ainda de luto e sobrecarregado, Walker
deixa para seus funcionários a tarefa de lidar com as pequenas diabinhas.
Fin quer provar que é o melhor babá da cidade e que seu irmão mais velho,
Reid, deveria abrir a própria agência. Mas será que o rapaz está disposto a
arriscar a vida e a integridade física para fazer isso?
Com medo de perder o funcionário mais competente que já entrou em
sua casa, Walker concorda com um conjunto incomum de regras. Ele vai
dedicar mais tempo às meninas e vai tentar ser um pai melhor tendo Fin
como seu guia. Mas Walker se depara com um problema novo e inesperado:
pela primeira vez em anos, não consegue parar de pensar em alguém, e essa
pessoa é Fin.
Agora, Walker vai precisar descobrir se vai ser capaz de conter seus
sentimentos ou se vai se apaixonar pelo último babá de Manhattan disposto
a enfrentar as gêmeas terríveis.
CAPÍTULO UM
— O QUE A fada dos dentes faz com todos estes dentes? — Neville
perguntou enquanto ficava na ponta dos pés e colocava sua pintura, feita
com os dedos, na estante para secar. Finley Marshall estava lavando as
mãos de Celeste, irmã de Neville de catorze meses, na pia. Os três haviam
criado obras-primas de pinturas com os dedos, mas era hora de Celeste tirar
uma soneca enquanto Fin e Neville faziam um lanche e trabalhavam na
tarefa de francês do dia.
— Acredito que esse seja um dos maiores mistérios da vida — Fin
murmurou e fez malabarismos com o bebê, que se contorcia, e com os
materiais de arte.
— E se eu quiser ficar com meus dentes? E os de Celeste?
— Hum... — Fin arregalou os olhos para o bebê. Neville era um
garotinho brilhante e muito curioso, mas alguns de seus interesses podiam
ser... alarmantes. Era difícil dizer se ele era um antropólogo em ascensão ou
um assassino em série iniciante.
— Temos que vender os dentes para a fada dos dentes? E se eu quiser
comprar os dentes dos meus amigos? — Neville perguntou e usou a língua
para mexer em um de seus dentes da frente.
— Ah — Fin fez uma anotação para avisar os Wolfords. Neville fazia
Fin se lembrar de um pequeno Edgar Allan Poe, com suas feições sombrias,
pele pálida e um fascínio mórbido pelo esqueleto humano e as múmias. —
O que você vai fazer com todos eles? — Fin perguntou um pouco nervoso,
mas o menino deu de ombros.
— Fazer uma coleção. A mamãe disse que não posso colecionar
ossos, mas dentes são parecidos, e ela me deixa colocá-los debaixo do
travesseiro.
Esse foi um momento raro de maternidade real da sra. Wolford. Aos
trinta e quatro anos, ela tinha menos da metade da idade do marido e com
frequência ficava distraída demais com o garoto que limpava a piscina ou
ocupada com seu treinador. Ela rondou pelo quarto das crianças durante a
primeira semana de Fin, mas perdeu o interesse depois de agarrar a bunda
dele três vezes e não conseguir uma reação. Eles raramente se falavam, mas
ela era gentil sempre que se encontravam, ainda que esnobe. Fin fingia que
ela era a Mãe do Ano pelo bem de Neville e Celeste.
— Sim. Preciso avisar seus pais, porque não queremos que entrem em
pânico quando encontrarem um saco de dentes debaixo da cama — Fin
disse, apontando para Neville.
O menino torceu o nariz e balançou a cabeça.
— Eu ia colocá-los junto com meus troféus de futebol.
— Eca. Não. — Fin reprimiu um arrepio. Ele lembrou a si mesmo
que Neville tinha outros interesses saudáveis e se relacionava com
facilidade com os colegas, ao contrário da maioria dos assassinos em série.
Houve uma batida na porta do quarto de brinquedos e a governanta
dos Wolford entrou, com o nariz empinado.
— Olá, Astrid — Fin disse com cautela, então franziu a testa
enquanto ela tirava Celeste de seus braços e a colocava no cercadinho. — O
que está acontecendo? — ele perguntou. Astrid cruzou as mãos nas costas,
fungando e mantendo o olhar fixo no teto. Ela sempre foi azeda e tinha um
ar superior, mas Fin sabia que estava em apuros, porque ela nem olhava
para ele.
— O sr. Wolford gostaria de dar uma palavrinha com você no
escritório — ela falou, sem rodeios.
— Eu vou com o Fin! — Neville gritou enquanto se lançava contra
Fin, mas Astrid agarrou seu braço.
— Ei, amigo! — Fin segurou o nariz dele e deu uma leve sacudida.
— Seja bonzinho e ouça a Astrid. Íamos praticar francês. Por que você não
pega um livro para ler até descobrirmos o que está acontecendo? — ele
sugeriu, segurando o nariz de Neville até que ele assentisse. — Este é o
meu homenzinho assustador — Fin disse, erguendo a palma da mão para
que Neville pudesse bater nela. — E você, reduza as travessuras ao mínimo
— ele falou para Celeste enquanto se dirigia ao cercadinho e consertava seu
laço. Ele deu um beijo em seus dedos e os esfregou na bochecha dela antes
de olhar ao redor. Fin teve a sensação de que seria a última vez que a veria.
— Sejam muito, muito bonzinhos. — Ele tossiu quando a voz falhou. —
Até mais tarde, Astrid. — Ele abaixou a cabeça e saiu da sala.
Fin não sabia por que, mas sabia o que estava por vir. O sr. Wolford
nunca quis ver nenhum de seus funcionários, exceto o mordomo e o
pequeno exército de advogados que faziam todas as suas vontades. O
homem exigia a obediência deles enquanto o resto do pessoal da casa corria
pelas portas sempre que ele entrava na sala. Fin não conseguia imaginar o
que poderia ter feito para merecer uma reunião.
Ele desceu as escadas com rapidez até o segundo andar, indo até o
conjunto de escritórios no final do corredor oeste. Bateu na porta, a abriu e
encontrou o velho financista sentado atrás de sua mesa. Wolford nem se deu
ao trabalho de erguer os olhos. Ele apenas acenou com impaciência de onde
estava, ocupado com uma pilha de documentos. Ele estava rodeado por dois
de seus advogados e um deles desdenhou de Fin quando ele se aproximou
da enorme mesa de mogno.
— Queria me ver, senhor? — ele perguntou, os olhos já ardendo,
apenas para receber uma risada seca e ofegante em troca.
— Você deve assinar isto e se retirar da minha casa — Wolford
ordenou e o advogado à esquerda apontou para um formulário no canto da
mesa. Fin franziu as sobrancelhas e olhou para a página. As palavras
“Rescisão do Contrato” foram uma facada no estômago.
— O quê? Por quê? Não fiz nada de errado e as crianças me amam. A
sra. Wolford disse que sou o melhor babá que as crianças já tiveram — Fin
protestou, mas era provável que isso tivesse piorado as coisas. O sr.
Wolford (corretamente) suspeitava que ela tinha dormido com metade dos
empregados da casa. — Não que nos falemos com tanta frequência. Só
quando ela visita as crianças — ele acrescentou rapidamente, mas o
advogado arrogante da esquerda bateu uma caneta na mesa enquanto o da
direita apontou para o documento.
— De acordo com o contrato que você assinou quando se juntou à
família, o sr. Wolford tem o direito de rescindir seu contrato quando achar
adequado, sem qualquer explicação. Além disso, você está proibido de falar
sobre a família Wolford e qualquer coisa que possa ter visto ou ouvido
enquanto trabalhava para eles — o homem da esquerda disse depressa, e o
advogado da direita apontou para o documento de novo.
— Mas...
— Sem qualquer explicação, sr. Marshall — o sr. Esquerda repetiu.
— Tudo bem — Fin falou, tenso, e olhou para Wolford enquanto
pegava a caneta da mesa. Ele examinou os dois parágrafos curtos, mas não
havia pistas sobre o que havia feito, então assinou e empurrou o papel de
volta para o sr. Esquerda. — Obrigado por me permitir cuidar de seus
filhos. Os dois são maravilhosos e os últimos seis meses foram um prazer
— ele completou, porque era verdade e porque era uma pessoa boa e
decente. Ao contrário de seu agora ex-chefe. Fin fez uma saudação ao sr.
Wolford, deu meia-volta e saiu da sala.
Pela maneira como quase todos os funcionários evitavam o contato
visual, imaginou que o pessoal da cozinha sabia de sua demissão. Tamara,
uma das mais novas contratadas, foi a única pessoa que sussurrou um “sinto
muito”, mas Fin dispensou a jovem enquanto tirava sua mochila do gancho
e saía dali. Doeu muito, porque adorava as crianças, mas nada do que os
ricos faziam o surpreendia. E Frederick Wolford não era o primeiro idiota
sem coração para quem já trabalhou.
Como babá, Fin aprendeu a tolerar muitos comportamentos ruins e
autoritários. As crianças geralmente eram ótimas, embora um pouco
mimadas, mas os adultos costumavam ser um pesadelo. Fin não gostava da
maioria dos pais nas casas em que trabalhou, mas o salário era excelente. A
carga de trabalho era menor do que quando dava aulas na primeira série, e
que mal cobria sua parte do aluguel. Então aprendeu primeiros socorros e
focou suas habilidades no cuidado infantil particular. Agora, ele raramente
voltava para casa coberto de substâncias grudentas misteriosas, a menos que
se divertisse demais com um projeto de arte ou ciência. Ele pegava menos
resfriados e adorava estar no comando das aulas, já que a maioria dos pais
não se importava com o que ensinava, desde que as crianças ficassem
quietas.
Ele queria ser professor universitário de História. Estava estudando na
França quando percebeu que sua paixão era o ensino infantil. Acompanhou
um passeio ao Museu do Louvre e se divertiu mais ensinando crianças de
seis e sete anos sobre cores primárias do que pesquisando manuscritos e
escrevendo artigos. Então ele mudou de História para Educação Infantil,
assim como seu irmão mais velho, Reid.
Fin havia encontrado sua vocação e amava seu trabalho, mesmo que
nem sempre gostasse de para quem trabalhava. Ele se divertia e criava laços
com as crianças sob seus cuidados. Se afastou de várias famílias, porque os
pais se divorciaram e as crianças estavam se mudando para outro estado ou
porque cresceram o suficiente para irem para um internato. E foi demitido
por motivos duvidosos e fúteis que raramente tinham algo a ver com ele.
Mas nunca foi dispensado de maneira tão abrupta e sem nenhuma indicação
do motivo.
A falta de explicação o deixou ainda mais irritado. Foi algo que ele
fez que causou uma mancha em seu histórico quase perfeito?
Provavelmente não. Pessoas como os Wolfords não se importavam com os
danos que causavam à vida e à reputação de seus funcionários.
Fin saiu furioso, pensando em se candidatar a outro emprego de
professor, apesar da promessa de nunca mais voltar a dar aulas. Ele tinha
uma lista de razões pelas quais nunca mais queria lecionar em uma escola,
mas não tinha emprego. E, ao contrário de seus chefes, tinha contas e
responsabilidades. Teria que encontrar outra coisa em breve.
CAPÍTULO DOIS
FIN CONTINUOU IRRITADO durante todo o caminho para casa e
quase rosnou para a senhora no trem que gostava de provocá-lo toda vez
que viajavam ao mesmo tempo. Ela quase o tirou do sério com um
comentário sobre imigrantes, mas ele sabia que não devia dar importância à
idosa, então pegou um livro para ler no telefone. Fin se sentiu feliz ao
pensar em como ela ficaria chocada se soubesse que estava lendo um
romance gay.
Seu destino chegou cedo demais e ele teve que enfrentar a cidade e a
decepção de novo enquanto subia os degraus do metrô na Avenida Utica e
passava pelo parque. Acenou para Lisa da loja de celulares e para as
mulheres no salão de beleza. Não parou para conversar com elas ou comer
um burrito a caminho de casa. Seu estômago estava embrulhado, mas estava
ansioso por uma taça de vinho e para desabafar com seu melhor amigo
desde o ensino fundamental, Riley Fitzgerald.
Normalmente, as flores nas janelas de seu apartamento estilo porão
inglês, localizado no bairro Bedford-Stuyvesant, em Nova York, animavam
Fin, mas desta vez não ajudaram a melhorar seu humor enquanto descia os
degraus. Ele mostrou a língua para o gato de desenho animado no tapete,
ordenando que ele “limpe as patas agora miaaausmo”, e entrou.
Uma música de Nat King Cole soava do toca discos antigo,
sinalizando que Riley estava no modo autocuidado. As luzes estavam
apagadas, exceto pelas luzinhas de fada que se entrelaçavam com as
trepadeiras ao longo das estantes e da janela. As plantas eram os bebês de
seu amigo. Ele as resgatou da mesma forma que senhorinhas resgatavam
gatos. As plantas serpenteavam por todos os cômodos do apartamento e um
grande vaso de laranjeira florescia, orgulhosa, no canto. Uma vela com
aroma de chá de limão tremeluzia na mesinha de centro, mas Fin também
detectou um leve cheiro de alecrim. Ele deveria ter sentido pena de si e do
amigo, mas se acalmou, apesar do dia terrível, e se sentiu grato por estar em
casa.
— Aposto que meu dia foi pior — Fin gritou enquanto usava o pé
para fechar a porta. Riley estava sentado no balcão da cozinha, vestindo
nada além da cueca. Não era um bom sinal ele chegar em casa primeiro e já
estar bebendo. Fin se perguntou se estava prestes a retirar suas palavras. —
Eu tive o pior dia? — perguntou, deixando a mochila no sofá de veludo
verde e se encaminhando para a cozinha. Ele costumava ficar de cueca, mas
Riley era o sr. Otimista e tinha um suprimento infinito de positividade e
entusiasmo, enquanto Fin era cauteloso e cínico.
Fin e Riley muitas vezes eram confundidos com irmãos, porque eram
altos e magros e tinham cabelos castanhos desleixados. Eles eram melhores
amigos desde o ensino fundamental e compartilhavam um guarda-roupa,
pois ambos acreditavam na tríade: cardigãs, veludo cotelê e Converse. Riley
até usava o mesmo número de tênis que Fin. Era perfeito.
— Você também foi demitido? — Riley perguntou e serviu uma taça
de Prosecco barato, mas que era fácil de beber, para o amigo. Eles
brindaram e Fin agradeceu enquanto bebiam.
— Parece que sim — Fin falou, fazendo Riley engasgar e cuspir a
bebida.
— Sério?
— Sim.
— Caramba. Pelo menos, eu não estava tão apegado ainda — Riley
murmurou. — Penn e Reid estavam certos sobre Gayle e sua agência. Ela é
homofóbica e me demitiu porque descobriu que sou gay.
— Ela descobriu agora? — Fin perguntou desconfiado, não gostando
do timing. Riley gemeu enquanto passava a mão pelo cabelo.
— Sinto muito. É culpa minha. Publiquei o vídeo da nossa
apresentação no Facebook e no Instagram — ele disse e fez uma careta.
Fin inclinou a cabeça, confuso.
— O quê? Era Hamilton! Fomos mal, mas não fomos tão mal assim
— ele respondeu.
— Só você estava desafinado — Riley retrucou, na defensiva.
— Você escolheu Helpless e me fez cantar a parte de Eliza — Fin
rebateu, depois ergueu a mão. — Ainda não entendo como eles descobriram
ou por que isso nos fez ser demitidos.
— Porque fizemos a apresentação para arrecadar fundos — Riley
falou, e o amigo ficou boquiaberto. Eles haviam realizado aquele ato infeliz
para o evento de arrecadação de fundos, “Noite dos Mil Fracassos”, no
teatro local. Os ingressos custavam vinte dólares por pessoa para uma noite
de entretenimento digno de pena, mas amigável e familiar, beneficiando um
abrigo para jovens LGBTQIA+ sem-teto.
— Quando você pensa que as pessoas não podem piorar... — Fin
comentou. Ele se sentia péssimo por Riley. Era a segunda vez que o amigo
era demitido por ser gay. Ele lidou bem com isso seis meses antes, mas
estava sendo mais difícil desta vez. — Nós vamos dar um jeito.
— Eu sei, sempre damos. Mas só tenho o suficiente para cobrir o
aluguel deste mês. Vou ter problemas se não conseguir encontrar algo logo.
Gastei a maior parte das minhas economias na última vez que fiquei
desempregado — Riley alertou. Fin balançou a cabeça enquanto pegava a
garrafa para encher as taças.
— Não se preocupe. Mandei uma mensagem para o Reid vindo para
cá, e ele me disse para passar em sua casa pela manhã. Vou te levar comigo,
e ele vai cuidar de nós dois.
Havia poucas pessoas com quem Fin podia contar no mundo. Uma
dessas pessoas era Riley, que sempre estava à postos com vinho. A outra era
Reid. Ele sempre teria todas as respostas. O irmão mais velho foi seu
primeiro melhor amigo e herói. Fin não era o único que o admirava. Os
melhores babás da cidade ligavam para Reid sempre que tinham problemas,
porque ele entendia de crianças e famílias melhor que ninguém. Todos o
respeitavam e confiavam nele. E, embora Fin não tivesse pressa de
envelhecer, um dia seria exatamente igual ao irmão. Sem as camisas de
botão e gravatas, é claro.
— Legal. Reid vai saber o que fazer — Riley falou com uma risada
aliviada. — Ele conhece tudo e todos. Como ele está?
— Ainda um pouco desanimado, mas isso deve melhorar seu humor.
— Fin semicerrou os olhos e murmurou, pensativo. — Você sabe que ele
fica mais feliz quando está resolvendo problemas e salvando o dia.
— Verdade — Riley concordou. — Talvez alguma coisa boa saia
desta bagunça terrível — ele comentou e estendeu a taça para brindar com o
amigo.
— Tenho a sensação de que vai ser uma coisa boa. Ao Reid, e que
Gayle e os Wolfords vão para o inferno!
CAPÍTULO TRÊS
— EU ME PERGUNTO por que Reid disse para você se arrumar —
Riley bufou, e Fin o ignorou enquanto subiam os grandes degraus do
número 42 do Briarwood Terrace. Não havia nada de errado com sua roupa.
— Eu me arrumei mesmo. Este é meu melhor cardigan e estou usando
sua calça nova de veludo cotelê preto — ele apontou. Riley se inclinou e
arfou, apreciando-o.
— Que eu comprei no brechó! — Eles bateram os punhos, e Fin
cantou sobre comprar um teclado quebrado, fazendo referência à música
Thrift Shop, de Macklemore, antes de Riley pigarrear. — Obviamente, acho
que você está ótimo. — Ele gesticulou para seu próprio cardigan, com
diversos padrões de cores e fez uma careta para Fin. — Mas Reid disse que
você deveria se arrumar.
— Eu estou arrumado — Fin respondeu com desdém enquanto tocava
a campainha. O casaco era cinza-escuro e Fin o combinou com uma
camiseta branca nova e seu melhor par de Converse preto. — Não é como
se eu fosse ver o papa.
— Você tem permissão para usar tênis quando visita o papa? — Riley
perguntou.
— Não sei — Fin rebateu quando o interfone soou.
— Você está usando roupas de verdade? — Reid perguntou.
— Não — Fin respondeu. Eles ouviram um gemido longo e baixo.
— Finley. — O som abafado foi pontuado pelo clique da fechadura.
Fin sorriu para Riley quando abriu a porta. Eles acenaram para
Norman, o porteiro idoso que cochilava na recepção. O prédio já foi uma
mansão, mas foi convertido em dez apartamentos. Fin adorava os pisos de
mármore preto e creme, o lustre de cristal gigante e a escada larga e curva.
Reid morava no primeiro andar, na unidade número quatro, que foi a sala de
jantar, sala de estar e o jardim de inverno. Os dois viraram no corredor atrás
da escada para encontrar Reid encostado na porta, esperando por eles. O
rapaz não parecia surpreso ao ver Riley, mas estava balançando a cabeça,
desapontado com Fin.
Ambos herdaram os olhos verdes e cabelos escuros da mãe irlandesa,
mas não poderiam ser mais diferentes. O cabelo perfeitamente aparado e
domado de Reid já estava ficando grisalho nas têmporas. Ele sempre usava
camisas com botões e mantinha as mangas dobradas. Também usava
gravata quando saía de casa. Fin sentia como se estivesse sendo
estrangulado apenas por abotoar o colarinho.
— Encontrei o emprego perfeito para você e é assim que você me
retribui — Reid brincou, gesticulando para o irmão enquanto caminhava até
a cozinha. Ainda parecia um jardim de inverno, com os azulejos pretos e
brancos e as antigas janelas panorâmicas. Os balcões e utensílios eram
modernos, de aço inoxidável e o espaço era bem iluminado e repleto de
videiras e as orquídeas mimadas de Reid.
— Sou babá, não um gerente de hotel — Fin rebateu e se virou ao
ouvir um clarinete do outro lado do apartamento. — Bom dia, Gavin — ele
disse, mas não houve resposta além do som de Rhapsody in Blue, de George
Gershwin, entrando na cozinha. Reid morava com seu melhor amigo de
infância, Gavin Selby, um contador arisco e supervaidoso. Os dois tinham
trinta e dois anos, mas Gavin mantinha a rotina de um senhor de oitenta e
tocava clarinete por uma hora, todas as manhãs durante a semana antes de
caminhar até o parque para jogar xadrez com outros idosos.
— Este é um... trabalho especial, mas tenho certeza de que você pode
dar conta — Reid falou enquanto dava a volta na ilha e rasgava o pedaço de
papel com um endereço de seu caderno. — É o dobro do que Wolford
estava pagando — ele acrescentou, erguendo as sobrancelhas. E puxou de
volta o endereço quando Fin estendeu a mão para pegá-lo.
— Rico e desesperado. Gosto disso. Qual é a pegadinha? — Fin
perguntou.
— É o Walker Cameron III — Reid respondeu de maneira incisiva.
Fin e Riley fizeram caretas e se inclinaram para trás.
— Não é de admirar que ele esteja desesperado. Ouvi dizer que as
meninas são terríveis — Fin murmurou, mas estava mais preocupado com
Cameron. Ele valia o próprio peso em ouro e havia rumores de que também
era um horror. As pessoas com certeza se apavoravam com ele em Wall
Street e havia rumores nas redes sociais de que o homem estava comprando
diversos jornais pequenos apenas para poder fechá-los.
Reid rangeu os dentes e balançou a cabeça.
— Ele está desesperado porque é viúvo. O marido dele morreu há
alguns anos, lembra?
— Então ele não vai se importar se eu não aparecer de smoking? E
não preciso me preocupar se ele vai me demitir se descobrir que sou gay —
Fin disse, dando de ombros. Para ele, os dois estavam em pé de igualdade.
Cameron poderia ser um dos homens mais temidos de Manhattan, mas
estava sem opções e ele já havia encontrado todos os tipos de idiotas ricos e
frios ao longo de sua carreira e existência na cidade de Nova York. Ele
estava pronto para enfrentar o chefão e estava confiante de que poderia lidar
com ele.
— Certo! — Riley disse, pegando o pedaço de papel. — Ele é
solteiro. Talvez eu devesse ficar com o trabalho. Estou desempregado
também. — Fin deu uma cotovelada em Riley e pegou o endereço das mãos
dele. Conferiu para ter certeza, mas já conhecia a imponente mansão
Beaux-Arts na East 88th Street.
— Não seja grosseiro. Eu já estou arrumado.
— Você está parecendo um skatista — Reid resmungou, se jogou em
um banquinho de metal e abriu seu laptop. — Posso colocar você em algo
temporário enquanto procuramos uma situação melhor — ele disse a Riley,
depois digitou um número de telefone. — Penn precisa tirar algumas
semanas de folga, porque o pai está doente. Ele trabalha para uma família
grande, com duas mães e duas crianças adoráveis.
— Você é um salva-vidas — Riley falou, mas Reid encolheu os
ombros.
— Muitos pais gays também têm sofrido recusas para cuidarem de
suas crianças ultimamente, então tenho me mantido atento. Não deve
demorar muito para encontrar uma boa família para você — ele disse. Os
lábios de Fin se curvaram enquanto estudava o irmão.
— Sabe, estou vendo uma oportunidade aqui — ele murmurou
pensativo, voltando a encher sua xícara com o café da prensa francesa. —
Você tem tempo e conhece todo mundo. — Reid estava entre uma família e
outra e fazendo o possível para esconder que estava deprimido. Ele amava a
última família para a qual trabalhou e ficou especialmente apegado aos
gêmeos. Estava com eles desde que eram bebês, mas a mãe conseguiu um
emprego como embaixadora e se mudou para Copenhague, levando os
meninos e deixando Reid perdido.
— É possível. Há bagels frescos na torradeira — Reid disse de forma
distraída à medida em que Fin e Riley trocavam sorrisos calculados. A
comida era uma das linguagens de amor de Reid e esse era o tipo de coisa
em que ele se destacava e bem o que precisava para levantar seu ânimo e se
manter ocupado. Eles concordaram em silêncio sobre conspirarem mais
tarde. Vou falar com o Gavin também.
— Obrigado, mãe! — Fin deu um beijo estalado na bochecha de Reid
e foi se servir. O mundo ainda não estava nos eixos, mas podia sentir que
algo bom estava chegando quando se jogou em “sua” cadeira, ao lado de
uma antiga mesa de bistrô que Reid colocou de encontro ao assento da
janela.
Fin aprendeu mais naquela mesa do que em qualquer sala de aula.
Falou sobre seus problemas pessoais e profissionais na cozinha de Reid e
Gavin, já que os dois eram mais como pais dele do que os biológicos.
Ambos estavam ocupados sendo psicólogos infantis e autores renomados,
então Fin e Riley muitas vezes recorriam a Reid e Gavin para quase tudo.
Reid era a voz calma e fria da razão e Gavin era o cérebro por trás de
qualquer coisa que decidissem fazer. Juntos, ajudaram os amigos a
aguentarem todas as tempestades e juntavam os cacos se Fin desmoronasse
ou alguém partisse seu coração.
Eles chegaram ao Briarwood Terrace esperando que Reid resolvesse
seus problemas, mas Fin viu uma oportunidade de ajudar uma nova família
e salvar seu irmão. Com seus contatos e instintos, Reid conseguiu
transformar sua paixão por resolver problemas em uma profissão e auxiliar
muitas pessoas. Fin considerou o endereço em suas mãos e as
possibilidades. Ele não tinha grandes esperanças para Walker Cameron III,
mas iria provar que era um dos melhores babás da cidade. Ele tinha que
provar. Estava representando Reid, e era assim que iriam pegar os limões
que a vida deu e fazer uma limonada.
CAPÍTULO QUATRO
A CASA ESTAVA silenciosa quando Walker saiu do escritório e
verificou com cuidado ambas as direções. Estava claro e quase na hora de o
novo babá chegar. Ele olhou para o relógio enquanto virava o corredor e
passava pelo medalhão de mármore no centro do hall de entrada, e xingou
quando seus sapatos italianos Oxfords escorregaram em uma pequena poça.
Walker fez uma careta e examinou a escada e o hall, mas não viu o culpado.
— Amelia? — ele chamou, mas não houve resposta. Walker colocou
as mãos nos quadris enquanto se afastava da escada. Havia outra poça, e
seus braços giraram ao lado do corpo enquanto ele escorregava. — Amelia!
— o homem gritou e se virou quando ouviu uma risadinha abafada. Ela
acenou e espiou por trás de um vaso grande. — Venha aqui — ele disse e
apontou para sua frente.
Ela piscou os longos cílios escuros para ele, e Walker ficou
momentaneamente atordoado por seus olhos azuis arregalados quando a
menina se aproximou. Os cachos pretos e brilhantes de Amelia estavam
presos para trás em duas chuquinhas, com laços azul Tiffany que
combinavam com o vestido de bolinhas branco e azul. Ela parecia um anjo,
e Walker derreteu um pouco, até notar o cano verde neon espreitando por
trás do ombro dela.
— O que eu te disse? — ele perguntou enquanto gesticulava,
impaciente, esperando que ela entregasse a arminha. O lábio inferior dela
tremeu, mas Walker endireitou a postura. Tinha que ser forte. — Me dê. Eu
falei sem arminhas de água dentro de casa — ele a repreendeu, cansado.
Amelia fungou e fez beicinho para ele, que permaneceu firme.
— Eu pensei que você tinha dito nada de arminhas no quarto de
brinquedos — ela murmurou enquanto entregava um canhão de plástico que
era quase de seu tamanho.
— Boa tentativa — ele respondeu, seco. Walker passou a pistola de
água para Pierce quando ele chegou com um de seus funcionários e um
esfregão. O mordomo saiu com a arma sem dizer nada, e o chão estava
imaculado alguns segundos depois. Walker estreitou os olhos enquanto se
ajoelhava e segurava o queixo dela. — Qualquer coisa que você tenha
planejado, não vai funcionar. Sabe por quê? — ele perguntou e os olhos
dela se estreitaram.
Senhor, era impossível ficar com raiva dela. Amelia era tão esperta e
se parecia tanto com seu amado Connor. A garotinha era inteligente como
ele, mas Walker não tinha ideia de como se tornou tão trapaceira. Muitas
vezes, se perguntava se usar Agnes como doadora de óvulos teria sido pedir
por problemas... Ele sentiu a pontada da úlcera quando Amelia balançou a
cabeça. Ela tinha apenas seis anos, e ele era um homem adulto, lembrou a si
mesmo. Seja forte.
— Não vai funcionar, porque não vou permitir que o sr. Marshall peça
demissão, não importa o que você e suas irmãs façam — ele jurou. Porque
Walker era um homem de muita... sorte. Ele não tinha apenas um clone
precioso e caótico de Connor. Tinha três. — Já prometi pagar o salário de
um neurocirurgião para fazê-lo passar pela porta, mas estou disposto a dar
esta casa e a herança de vocês se isso fizer com que ele fique. — Walker
ergueu as sobrancelhas para Amelia, mas ela apenas piscou para ele —
Você sabe o que isso significa? — perguntou, e a língua dela se projetou no
canto da boca enquanto considerava suas palavras.
— Ele vai ser nosso pai e você vai ter que morar na casa dele? — ela
questionou.
— Deus, isso seria ótimo — ele murmurou baixinho e riu com doçura
quando o queixo dela caiu. — Por alguns dias, mas eu sentiria muito a sua
falta. O sr. Marshall é o último babá da cidade que vai atender ao meu
pedido. Vou dar a ele cada centavo que tenho para mantê-lo. Isso significa
que não há mais pôneis ou fins de semana na casa de campo. Teremos que
morar com seus avós — ele ameaçou, mas ela não parecia alarmada. — Os
outros avós — esclareceu e o rosto dela se contraiu como se já pudesse
sentir o cheiro do adubo. Os pais de Walker estavam na casa dos oitenta
anos e mal notavam as meninas quando elas visitavam a propriedade, em
Connecticut. Os de Connor, por outro lado, moravam em Idaho e
cultivavam cevada para alimentação. — Quer morar na fazenda? — ele
indagou. Ela balançou a cabeça rapidamente. — Então é melhor você torcer
para que o sr. Marshall não seja ruim, porque você está presa a ele.
— E se...?
— Não. Não há outras opções se você assustá-lo. — Ambos se
encararam até que a campainha tocou. — Deve ser ele — Walker disse
enquanto olhava por cima do ombro, apenas para descobrir que seu
precioso diabinho já havia desaparecido. Ele acenou com a cabeça enquanto
Pierce atravessava o hall de entrada. O homem mais velho e sisudo tossiu
baixinho quando dois de seus empregados abriram as portas e Walker se
endireitava e cruzava as mãos nas costas.
— Bem-vindo à Casa Killian, sr. Marshall — Pierce falou, inclinando
a cabeça em uma reverência educada e se afastando.
A linda manhã de primavera entrou pelo hall quando um jovem
desleixado, mas bonito, passou pela porta. O homem vestia um cardigã
cinza enorme, calça de veludo cotelê e tênis preto. Ele afastou o cabelo
castanho do rosto enquanto examinava o saguão com olhos verdes
brilhantes que endureceram quando pousaram em Walker.
— Sr. Cameron? — ele perguntou ao se aproximar. Os ângulos
agudos de sua mandíbula e maçãs do rosto ficaram mais tensos conforme o
sr. Marshall o avaliava, e ele se sentiu estranhamente constrangido. Não
havia lhe ocorrido que ele não passaria no teste do sr. Marshall. Era
mortificante e quase obsceno, mas Walker abriu um sorriso largo para o
homem mais jovem enquanto estendia a mão.
— Isso mesmo. Obrigado por vir em um prazo de tempo tão curto —
ele disse e observou o jovem mais de perto. Seu lábio se curvou um pouco,
confirmando que a informação de Walker era precisa: Finley Marshall foi
demitido simplesmente por ser gay, não por “ser gay” durante o trabalho.
Um possível incidente em seu último local de trabalho poderia ter
influenciado a decisão de Walker, mas os antecedentes e o histórico
profissional do jovem de vinte e seis anos eram perfeitos. Assim como seus
olhos. Walker ficou impressionado com a confiança despreocupada do
homem. Ele a carregou pela porta como a brisa do início da primavera que
agitava as mechas marrons escuras que se enrolavam nos ângulos rígidos de
suas bochechas e mandíbula.
— Ouvi dizer que era uma emergência, e você me encontrou
enquanto eu fazia alguns arranjos — Marshall comentou em tom
brincalhão. Ele sorriu de volta para Walker enquanto os dois apertavam as
mãos. Eu sei exatamente o quanto você precisa de mim, idiota, os olhos
dele diziam. Walker estava prestes a negar quando Marshall deu um grande
passo para a esquerda e algo rosa passou por eles. Ouviram um splash alto
quando um balão cheio de água atingiu o piso, exatamente onde o jovem
estava parado antes. O balão estourou e a água espirrou nos sapatos e nas
pernas de Walker, mas ele manteve a expressão séria. Marshall sorriu
quando a veia na têmpora do outro homem pulou.
— Eu não diria que é uma emergência, mas minhas meninas
certamente precisam de uma mão firme — ele disse de forma calma, e
Marshall riu.
— Uma mão firme. Fofo — ele comentou, então olhou além de
Walker e pulou para a direita. O homem mais velho ouviu um assobio suave
pouco antes de ser atingido entre as omoplatas. Ele se encolheu quando o
colarinho e a nuca ficaram encharcados. Walker inspirou profundamente
pelo nariz e soltou o ar devagar. Ele ainda queria gritar, então contraiu os
lábios, com as narinas se alargando e contou de dez para baixo. Assim que
teve certeza de que estava controlado, sorriu para Marshall.
— Por favor. Me ajude.
CAPÍTULO CINCO
— VOCÊS QUEREM PLANTAR cevada? — Walker Cameron III
disparou, mas seus olhos cinza-aço prenderam os de Fin enquanto a veia de
sua têmpora esquerda pulsava. — Porque é assim que vocês se tornam
fazendeiras de cevada — ele ameaçou em voz alta.
Fin ficou impressionado. Ele esperava um homem franzino em um
terno caro, mas Cameron era alto, de ombros largos, bem constituído e
usava um terno sob medida. Ele estava no final dos quarenta ou no começo
dos cinquenta anos e seu cabelo preto já tinha generosas mechas grisalhas.
E era tão autoritário e insuportável quanto Fin previu. Teve um desejo
irresistível de se contorcer e mostrar a língua para Walker enquanto o
homem o examinava.
— Você é o babá que Reid Marshall recomendou? — ele perguntou
com óbvia frustração. Mas Cameron fez Fin se lembrar que estava
representando seu irmão e tinha que exalar competência e profissionalismo.
— Sou Finley Marshall. Acredito que Reid forneceu meu currículo ao
senhor — ele murmurou enquanto examinava o hall de entrada e a grande
escada atrás de Cameron com cautela. As trigêmeas já deveriam ter
aparecido. A curiosidade de uma única criança de seis anos era uma força
luminosa e instável. De três crianças de seis anos deveria ser desenfreada e
inflamável, então Fin interpretou o silêncio como um sinal de que mais
travessuras estavam por vir. Cameron estava alheio à situação enquanto o
encarava.
— Seu currículo diz que você fala quatro idiomas e tem mestrado em
Educação Infantil — Cameron confirmou.
Fin assentiu e torceu o nariz, olhando para o outro homem.
— Desisti de um doutorado em Psicologia porque não queria fazer
matemática. Passei um ano na França preparando minha tese de mestrado
em História antes de descobrir que educar crianças é minha paixão.
— Impressionante para alguém da sua idade — Cameron admitiu a
contragosto, e Fin suspirou. — Psicologia e Educação Infantil são os
negócios da família. Meu irmão acha que usei o mestrado em História para
convencer nossos pais a financiarem férias na França, mas me encontrei e
adquiri um grande domínio em confeitaria enquanto estava lá.
— Entendo. Você parece qualificado, e seu currículo e verificação de
antecedentes foram impecáveis. — A língua de Cameron pressionava o
interior de sua bochecha enquanto ele avaliava Fin. — Esta é a
programação atual das meninas — ele falou e colocou a mão no casaco.
Entregou a Fin quatro folhas dobradas, que exalaram um cheiro divino
quando ele as abriu para ler. Uma mistura de sabonete francês de lavanda e
a colônia de Cameron flutuaram até o nariz de Fin conforme ele folheava as
páginas, tornando difícil compreender o cronograma. Mas o jovem se
esforçou para se concentrar nas palavras que indicavam a estrutura do dia a
dia das trigêmeas e o currículo obrigatório. Não era incomum que crianças
como elas fossem ensinadas em casa com tutores em vez de frequentarem o
jardim de infância e a escola primária, especialmente se estivessem bem à
frente de seus coleguinhas e se preparando para os internatos mais
prestigiados. Mas Fin suspeitava que as meninas também estavam sendo
educadas em casa por questões comportamentais.
— Isto é impressionante. Balé, aulas de equitação, futebol, xadrez...
Já estão estudando francês, matemática básica, geometria e estão lendo bem
mais que as crianças da mesma idade.
— Sim. As meninas têm três tutoras que cuidam de tudo: higiene,
vestimenta, hora de dormir e café da manhã. A tutora Lisa vai te informar
sobre a rotina e cuidados delas. Você será responsável pela saúde, bem-estar
e educação durante o dia e deve consultar Pierce se precisar de alguma
coisa. Esta casa é dele, eu apenas moro aqui, e peço que você respeite a
autoridade dele tanto quanto possível no exercício de suas funções.
— Acho que posso lidar com isso — Fin respondeu enquanto
procurava mais uma vez pelas trigêmeas. As meninas definitivamente
estavam tramando algo ou já estariam espiando e verificando o novato.
— Excelente — Cameron falou. Ele se movimentou com a graça
atlética de um homem mais jovem quando se virou e se dirigiu até a grande
escadaria de mármore. — Amelia, Beatrice e Charlotte! Apareçam agora!
— sua voz estremeceu a elegância primitiva da casa como um trovão e três
pequenas princesas idênticas espiaram e acenaram por trás do corrimão ao
longo do saguão. — Agora! — Cameron ordenou. Fin ficou encantado
quando as meninas riram e desceram as escadas.
— Seremos fazendeiras de cevada! — uma das trigêmeas se gabou
enquanto se alinhavam ao longo do último degrau. Cameron bufou e
balançou a cabeça.
— Vou ficar bem, mas é melhor que vocês treinem escavação — ele
rebateu, olhando para Fin. — Suponho que haja escavação.
— Não faço ideia — Fin admitiu. Cameron bufou para ele e voltou
sua atenção para as filhas.
— A mais alta, à esquerda, é Amelia. Esta com o nariz ligeiramente
mais pontudo é Beatrice, e a mais baixa, à direita, é Charlotte. — Ele
apresentou indicando as três, mas a testa de Fin franziu quando se inclinou
para um olhar mais atento. Cada uma era uma réplica idêntica da outra e
eram as coisas mais preciosas que Fin já viu, com cachos pretos
esvoaçantes e vestidos rodados de bolinhas. Elas tinham grandes olhos
azuis e as três olhavam para o pai com pura adoração enquanto ele as
encarava com severidade.
— É muito bom conhecer vocês, senhoritas. Meu nome é Fin. Vamos
nos divertir muito e aprender as coisas mais legais — ele disse enquanto
apoiava as mãos nos joelhos para ficar próximo à altura delas.
— Já sabemos subir na árvore que fica no fundo do jardim e onde a
cozinheira guarda o chocolate — Beatrice revelou. Fin tinha certeza de que
poderia diferenciá-las, desde que se mantivessem nesta ordem.
— Sabem como pedir por um advogado em francês ou como fazer um
vulcão com o creme de barbear do pai de vocês? — Fin desafiou. A
“baixinha”, chamada Charlotte, arfou ao se aproximar, mas as outras
permaneceram imóveis.
— Parece que você vai conseguir. Chame Pierce se precisar de
alguma coisa — Cameron afirmou e se virou para sair.
— Papai, espere! — Amelia chamou e o seguiu. Fin perdeu a noção
de qual menina era qual quando as três correram atrás dele. Cameron deu
um pulo, balançando a cabeça, e Fin se encolheu ao ver o homem
competente e sereno fugir de crianças de seis anos como se sua vida
estivesse em perigo. Sua expressão indiferente e severa mudou de repente
para aterrorizada e as meninas tiraram vantagem disso. Houve um frenesi
pela atenção do pai e os ombros de Cameron se contraíram enquanto elas
puxavam a manga e as costas do casaco.
— Receio que tenha que atender a uma ligação importante em cerca
de dez minutos — Cameron falou, apressado. Ele estava literalmente
fugindo quando checou o relógio e virou no corredor.
— Com licença? — Fin chamou ao tentar ver para onde Cameron foi,
mas ele havia sumido. — Eu acho que vocês vão ter que me mostrar a... —
Mas havia apenas um anjinho zangado no hall. Fin viu um lampejo de
branco e azul do outro lado da escada quando Amelia (ele tinha quase
certeza de que era ela) estendeu a mão para o corrimão e colocou o pé no
primeiro degrau.
— Nós nunca vamos gostar de você e não te queremos aqui — ela
sussurrou. Fin bufou enquanto colocava as mãos nos bolsos.
— Sabe, também sou muito persistente. Seria menos trabalhoso e
mais divertido se tentássemos ser amigos. — Ele lhe lançou um olhar
esperançoso, mas a garota subiu as escadas correndo e virou no corredor. —
E sei o que vocês planejam. Conheço todos os truques. — ele alertou, então
se agachou e cobriu a cabeça para se proteger do bombardeio de bexigas de
água que vinha em sua direção.
CAPÍTULO SEIS
— QUAL DE VOCÊS colocou a meleca no cabelo dele? — Walker
suspirou quando se sentou na beirada da cama de Charlotte. Ele cruzou as
mãos no colo e levantou uma sobrancelha em expectativa. A garotinha
estava impassível. Não havia como fazê-la falar, e Beatrice era esperta
demais para arriscar a ira de sua irmã. Mas Charlotte era muito doce e
honesta. O homem pigarreou quando os olhos da filha dispararam para os
da irmã. Ele se inclinou para captar a atenção dela. — Como a meleca foi
parar no cabelo do sr. Marshall? — ele perguntou com o tom de voz severo.
Charlotte mordeu os lábios enquanto ria.
— Ele se arrastou para debaixo da mesa, porque a Amelia deixou o sr.
Bibble sair.
— Sr. Bibble? — Walker balançou a cabeça, confuso. Sua ansiedade
aumentou quando foi mais uma vez puxado para o buraco negro. Era uma
sensação muito familiar, infelizmente. Em especial durante as conversas
antes de dormir.
— Nosso hamster! — Amelia o repreendeu, e Walker suspirou.
— Quase — ele murmurou para si mesmo. O homem estava exausto
mais uma vez, sem seguir uma direção específica e sem fazer nenhum
progresso. — Por que o sr. Bibble estava fora da gaiola e como isso resultou
em meleca no cabelo do sr. Marshall?
Pierce teve muito a dizer durante o jantar, quando Walker perguntou
sobre o primeiro dia do novo babá. Aparentemente, as calças e o cardigã do
sr. Marshall tiveram que ser enviados para uma lavagem a seco de
emergência devido a uma catástrofe relacionada a leite com chocolate. Ele
precisou de pomada e alguns Band-Aids para um machucado de aparência
desagradável no cotovelo e havia a preocupação de que pudesse ter uma
concussão após um incidente envolvendo um pouco de vaselina na escada
do quarto de brinquedos.
Walker não soube da meleca até colocar Beatrice na cama. Cada uma
das meninas tinha seu lado do quarto e sua cama para que pudessem se ver,
mas ainda assim ter um espaço próprio. Pareceu uma boa ideia quando o
designer de interiores sugeriu, mas Walker percebeu que foi um erro tático
de sua parte. Ele teria mais facilidade com Charlotte se Amelia não
estivesse olhando para ela e balançando a cabeça.
— Por que o sr. Bibble estava fora da gaiola? — ele repetiu e
continuou girando para a direita para que Charlotte não pudesse ver Amelia.
Charlotte era sua princesinha e pura demais para ser calculista. Ela enrugou
o nariz minúsculo e deu de ombros. Houve uma risada abafada do outro
lado do quarto, mas Walker manteve a expressão séria, apesar da agitação
em seu estômago. Seu olhar severo não seria tão eficaz se ele risse com ela.
Mas teria sido muito fácil acompanhá-la se a situação não fosse tão terrível.
Walker foi um pesadelo quando criança e se perguntava se suas
antigas tutoras e babás estavam se divertindo às suas custas. Ele e sua irmã,
Agnes, cresceram na propriedade Cameron em Connecticut. Os pais
raramente ficavam em casa. Não havia limites e era uma maravilha que a
casa ainda estivesse de pé. Também era um milagre que os irmãos fossem
tão práticos. Eles só ficavam felizes quando conseguiam o que queriam,
mas raramente havia vitória com as trigêmeas. Tudo o que elas tinham que
fazer era rir ou cercá-lo. E então ele derretia ou entrava em pânico.
— De quem foi a ideia de libertar o hamster? — ele repetiu com
firmeza. Charlotte respirou fundo e Walker se preparou. Ele tinha a
sensação de que devia um pedido de desculpas muito sincero ao sr.
Marshall.
— O sr. Marshall disse que não queria segurar o sr. Bibble porque ele
é alérgico a hamsters, então Amelia o deixou sair. Assim o sr. Marshall teria
que pegá-lo, ficaria doente e teria que ir para casa.
— Foi uma coisa terrível de se fazer. — Walker lançou um olhar
aguçado para Amelia, horrorizado com seus péssimos modos. E muito
astutos, notou. — E a meleca? — ele perguntou enquanto se virava para
Charlotte. Ela riu de novo e foi seguida por suas irmãs, fazendo com que
fosse impossível continuar com raiva. De fato, não havia som mais precioso
no mundo, e o pai não estava equipado para discipliná-las. Isso era
responsabilidade de Connor. Ele não tinha a paciência e a criatividade do
marido e não lidava bem com o caos e a desordem. Era por isso que
precisava desesperadamente de alguém como o sr. Marshall na vida deles,
mas o primeiro dia do novo babá foi péssimo.
— Bea estava brincando com a meleca, mas Amelia disse para jogar
na cabeça dele quando o sr. Marshall estava rastejando no chão. Bea não
faria isso, então eu fiz — Charlotte revelou.
— Por quê? — Walker perguntou, horrorizado.
— Porque Bea não quis fazer e foi engraçado.
— Foi muito engraçado, papai! — Amelia disse, animada. Bea puxou
as cobertas sobre a cabeça, histérica, e Charlotte gaguejava.
— Tudo bem. Se acalmem. — Walker deu a Charlotte um olhar
severo e se abaixou para beijar seu cabelo. Seus cachos selvagens foram
presos em tranças para dormir e Walker não resistiu a puxar uma delas. —
Pelo menos, não foi premeditado — murmurou. Ele usou a ponta da trança
para fazer cócegas no nariz da menina. — Você vai se desculpar com o sr.
Marshall pela manhã.
— Sim, papai — Charlotte prometeu. Walker repetiu o ritual com
Beatrice e Amelia antes de apagar a luz e fechar a porta.
Nos últimos três anos, ele terminava quase todas as noites com relatos
semelhantes de travessuras e pedidos para que as meninas se desculpassem
com as inúmeras babás que contratou. Lisa, a tutora sênior das trigêmeas,
vinha falando muito sobre as tutoras da noite não permanecerem caso uma
babá competente e confiável não fosse encontrada logo.
Apesar de sua aparência e comportamento descontraído e relaxado, o
sr. Marshall era o candidato mais promissor e qualificado para ocupar a
função. Walker viu uma oportunidade de oferecer às meninas mais do que
uma vantagem educacional e mais disciplina no dia a dia. Ele viu a
formação em Psicologia do sr. Marshall como um presente de Deus. Não
queria que as meninas crescessem sem limites e terminassem
emocionalmente prejudicadas e mimadas como ele. Mas estavam com
sérios problemas, se o primeiro dia do babá era uma indicação do quanto
estragou tudo como pai solo desde a morte de Connor. Walker se certificaria
de que as filhas se desculpassem quando ele chegasse pela manhã e o ritual
começaria de novo.
— Senhor, espero que ele seja resiliente. — Walker fez o sinal da cruz
a caminho da brinquedoteca.
CAPÍTULO SETE
— COMO ELAS CONSEGUIRAM? — Fin se virou enquanto se
desenrolava da armadilha feita com corda em que se encontrava. Uma ponta
estava amarrada a uma boneca e a outra estava na perna de um dos
banquinhos da mesa de artes. Seu pé ficou preso ao tentar sair dali, e ele
quase chorou quando colocou a mão em uma caixa de giz de cera vazia e a
encontrou cheia de uma substância marrom gelada e pegajosa. Era mousse
de chocolate, então Fin não gritou para Pierce pedindo demissão, mas foi
por pouco.
Ele olhou para a porta fechada que separava o quarto de brinquedos
do quarto de dormir das meninas. As três já tinham se recolhido para dormir
e era possível que estivessem com o pai. Lisa chegou depois que os pratos
do jantar foram retirados para informar a Fin que o sr. Cameron chegaria
em duas horas para colocá-las na cama e provavelmente falaria sobre o
comportamento delas. Era tempo suficiente para Fin arrumar o quarto de
brinquedos e organizar seus pensamentos. Ele tinha um discurso de
demissão planejado para Cameron, mas precisava ter certeza de que Riley
estava pronto. Assim que conseguiu se libertar, enrolou a corda de pular em
um nó certeiro e a jogou em uma das caixas organizadoras a caminho da
escrivaninha no canto do cômodo.
O quarto era decorado em tons alegres de rosa e verde, com
prateleiras e móveis brancos, mas estava em um estado de puro caos. Fin se
sentou em um canto da escrivaninha, exausto e perplexo com tudo o que
tinha acontecido durante o dia. Ele foi uma criança indisciplinada e passou
vários anos aproveitando na faculdade, mas nada disso o preparou para o
primeiro dia na Casa Killian. Ele estava esgotado, mas, mais ainda, furioso
com Walker Cameron enquanto discava o número de Riley.
— Espero que você não esteja ligando porque precisa que paguem sua
fiança. Você sabe que estou sem dinheiro — Riley disse, colocando um
sorriso no rosto de Fin. Era o primeiro do dia e parecia melhor do que
ranger os dentes.
— Ainda não chegamos a esse ponto, mas quanto tempo você levaria
para chegar aqui? Posso precisar de ajuda para esconder um corpo.
— Shhh! Você sabe que não podemos discutir este tipo de detalhes
por telefone. A polícia está ouvindo. — Riley estava brincando, mas Fin
correu os olhos pela sala até a janela. Ele não ficaria surpreso se a polícia
tivesse encontrado um motivo para espionar um financista muito rico como
Cameron. O babá não confiava muito na polícia ou em bilionários.
— Você tem razão. É claro que eu estava brincando — Fin falou com
uma risada forçada.
— Foi tão ruim assim?
— Um pesadelo. Estas meninas são... — Fin parou, olhando para um
porta-joias com uma pequena bailarina que estava virado de cabeça para
baixo. Devia ter caído da estante no caos da tarde. O jovem suspirou e foi
ajudar a pobre bonequinha. — São as coisas mais preciosas que já vi, mas
não estão para brincadeira. Elas colocaram armadilhas na escada e soltaram
o hamster. Achei que ia precisar de pontos e de uma dose de adrenalina
hoje.
— Que pesado. Elas realmente querem a atenção do pai — Riley
adivinhou e Fin bufou em desgosto.
— Exatamente. Vou dizer a Cameron que estou fora. Não vou ficar.
Adorei as garotinhas e gostaria de poder ajudar, mas elas vão continuar com
isso até me colocarem no hospital.
— É muito justo, mas quem vai ajudá-los se não for você? — Riley
rebateu, sua pergunta parecendo uma facada no estômago de Fin.
— Não sei, mas não é problema meu. Não vou me envolver em outra
situação que não possa resolver. Posso não ter que me preocupar em ser
demitido e o salário é muito bom, mas não vale a pena. Ele vai tornar meu
trabalho muito mais difícil do que deveria, porque não quer cuidar das
filhas.
— E quanto ao Reid? — Riley perguntou com um silvo de
compreensão. A bravata de Fin vacilou por um momento.
— Tem essa questão. Pensei que poderia lidar com Cameron e ajudar
o Reid, mas vou ter que conseguir outro cliente importante. Isso só pode
acabar em violência ou tragédia — Fin previu. Ele quase precisou de uma
ambulância no primeiro dia e sabia que as trigêmeas estavam só
começando. Cameron estava disposto a gastar uma fortuna com tutoras e
babás para evitar as filhas, e elas descontavam as frustrações em Fin.
— Não mate o Cameron. Você quase convenceu Reid de que esta
agência é uma boa ideia, mas não acho que o nome Babás Assassinas
pareça encorajador.
— Mas é um ótimo nome para um filme de terror — Fin disse, e
Riley resmungou.
— Há algo que eu possa fazer? — ele perguntou. O babá sorriu, feliz
por ter ligado para o amigo.
— Prepare o vinho e a pizza. Estou chegando em breve.
— Posso fazer isso — Riley concordou.
— Você é o melhor.
— Sou mesmo. Lembre-se de que tem comida e bebida te esperando
em casa se as coisas ficarem difíceis com Cameron.
— Não podem ficar tão ruins. Nenhum de nós arriscaria acordar as
meninas.
— Isso é tranquilizador. Reid não iria querer que você aguentasse
algo só por causa dele, então siga seu instinto — Riley aconselhou,
reforçando a determinação de Fin para terminar o dia de um jeito
profissional.
— Obrigado. Vou preparar meu discurso de demissão para que seja
um pouco mais diplomático.
— É uma boa decisão. Vejo você daqui a pouco.
— Obrigado. Esteja pronto para um pouso de emergência — Fin
respondeu e desligou.
Ele não se sentia bem em pedir demissão enquanto olhava para o
quarto de brinquedos. As meninas eram realmente difíceis, mas Fin gostava
dessa característica. Sempre ficava triste quando entrava em uma nova casa
e encontrava pequenos fantasmas assombrando as brinquedotecas em vez
de crianças curiosas e animadas. O babá preferia redirecionar aquela
imaginação e a energia obstinada do que sufocá-la. Ele podia se imaginar
tendo muitas aventuras com as três e isso partia seu coração, pois sabia que
elas continuariam se comportando assim e Cameron continuaria a evitá-las
até que tivessem idade suficiente para ir para o internato. As meninas iriam
levar todos os comportamentos ruins que aprenderam na Casa Killian com
elas e iriam retaliar Cameron por mandá-las para longe.
Fin suspirou, se levantou e foi até a janela. A vista do Central Park e
da cidade era fenomenal, mas ele não ficou impressionado. Homens como
Walker Cameron III achavam que todo o dinheiro do mundo era suficiente,
que se pagassem bem, seus problemas iriam embora. O orgulho de Fin
sofreu com a ideia de pedir demissão e desistir das meninas, mas homens
como Cameron não ouviam os funcionários e com certeza não mudavam
seus hábitos pela felicidade dos filhos. As mãos do jovem ficariam atadas
até que ele fosse demitido por algo que não fez ou Cameron desistisse e
mandasse as meninas para um internato. Lisa havia dito que o plano era que
elas ficassem em casa até serem um pouco mais velhas, mas ele não via o
patrão conseguindo manter uma boa babá por tempo suficiente.
— É uma pena — Fin disse baixinho e se afastou da janela. Ele
avistou seu reflexo e franziu a testa para a forma branca em suas costas. —
Pensei ter sentido um rabisco — ele falou e tirou o cardigã para inspecionar
o corte grande. A roupa estava inteira quando foi devolvida da lavanderia.
— Muito bem, meninas. — Ele jogou a peça na cadeira e seu coração
afundou. — Acho que poderíamos ter sido almas gêmeas.
CAPÍTULO OITO
WALKER FICOU ANIMADO ao ver que a luz ainda estava acesa no
quarto de brinquedos. A porta se abriu silenciosamente quando se encostou
no batente, esperando encontrar o sr. Marshall em dificuldades. Em vez
disso, foi Walker quem precisou de apoio extra ao ver a sala destruída.
Quase todas as caixas foram derrubadas e o chão estava cheio de giz de
cera, marcadores, fitas, cartões, Legos, arcos... O massacre comum e as
consequências de um trote com o babá. Mas quando seu foco pousou no sr.
Marshall, ele esqueceu tudo sobre a zona de guerra de artes e desenhos.
Fin não era um babá comum e, embora fosse uma suposição
absurdamente sexista, Walker esperava que um babá jovem e do sexo
masculino pudesse estar um pouco mais preparado para o tipo de travessura
das meninas. Ele não imaginava que o sr. Marshall fosse tão... gostoso. E
com certeza não esperava ser tão afetado pela visão das costas e da bunda
do jovem, mas lá estava ele, olhando com o canto dos olhos para o babá,
como um clichê assustador. A camiseta branca subiu quando ele se abaixou
para colocar um coelho de pelúcia em uma das caixas. O homem mais
velho desviou o olhar quando teve um vislumbre do torso firme e magro de
Marshall conforme ele se espreguiçava e pegava outro coelho roxo.
— Pode deixar isso. Vou me certificar de que esteja limpo antes de
você voltar amanhã. — As palavras saíram com um leve tremor e Walker
ajustou o colarinho. Entre todas as oportunidades para começar a pensar
nisso novamente, por que justo agora? O patrão se forçou a olhar para cima
e estremeceu ao ver o cabelo do sr. Marshall antes de ser pego no flagra.
Metade dos fios tinha uma substância azul-celeste grudada na lateral da
cabeça. — Sinto muitíssimo — Walker disse com uma reverência sincera.
— Obrigado, mas acho que não vou voltar — o babá respondeu,
olhando para Walker ao coçar o que parecia ser alergia no pescoço e depois
no braço. O empresário sentiu um lampejo de pânico e balançou a cabeça
de forma frenética. Ele levantou as mãos enquanto pulava os obstáculos, na
esperança de reverter a situação.
— Só um momento! Por favor — ele implorou, parando de súbito
quando seu quase ex-babá apontou o dedo indicador para ele em sinal de
advertência. — Entendo por que você ficou furioso, mas posso garantir que
é o pior que elas têm a oferecer. Eu já conversei com as meninas, e elas vão
se desculpar pela manhã.
— As meninas não são o problema. Você é! — Marshall sussurrou
com raiva enquanto verificava se a porta do quarto ainda estava fechada.
— Eu? — Walker ficou atordoado.
— Sim, você! — Ele soltou a caixa de tecido e andou até o patrão. —
Levei dois minutos para descobrir o que estava acontecendo aqui. Já vi este
filme cansativo muitas vezes e decidi que não vou comprar o ingresso para
esta sessão.
— Do que você está falando? Estou pagando para você estar aqui.
Posso pagar mais — Walker ofereceu rapidamente, mas Marshall bufou de
desgosto.
— Não, obrigado. Já estou cansado de pais ricos e mesquinhos que
não se importam com os filhos.
— Me desculpe, o que você disse? — Walker protestou e vacilou
quando Marshall riu e tirou o lado limpo do cabelo dos olhos.
— É isso mesmo que você ouviu. Amelia é diabólica! — Fin disse
em um sussurro alto e apontou para o quarto de brinquedos destruído. —
Ela é a mente por trás de tudo e é terrivelmente brilhante. E Charlotte... —
O babá jogou as mãos para o alto e riu. — Ela é adorável, mas meu Deus, é
puro caos. E Beatrice — ele balançou a cabeça — eu não consegui decifrá-
la, porque a garotinha é quieta e furtiva, mas também não quero. Sabe por
quê? — perguntou, e o homem mais velho balançou a cabeça.
— Eu não entendo. — Walker sentiu como se estivesse preso em uma
roda de hamster enquanto Marshall zombava dele.
— Gosto que minhas crianças tenham muita personalidade e não me
importo com um desafio. Mas detesto pais que tornam meu trabalho mais
difícil do que deveria e estou cansado de ser demitido depois de me apegar
e ganhar a confiança dos filhos deles.
— Por que eu demitiria você se...? — Walker começou, mas Marshall
o interrompeu, bufando.
— Quem sabe? Da última vez, foi porque participei de uma peça para
uma instituição de caridade gay, e antes disso foi porque a dona da casa não
conseguia tirar as mãos da minha bunda. Uma vez, fui demitido e
substituído pelo amante da mãe das crianças. Tudo o que sei é que nunca é
sobre mim e, com certeza, não é sobre as crianças.
— Isso tudo é muito lamentável, mas por que você presumiu que eu
faria algo assim? — Walker perguntou, e Marshall piscou de volta para ele.
— Não sei. Pode ter sido a maneira como você me empurrou para as
suas filhas e correu para longe no momento em que entrei pela porta da
frente.
— Espere aí. — Walker ergueu a mão. — Posso não saber como lidar
com as garotas, mas não há nada que eu não faça para deixá-las felizes.
— Além do óbvio? — Marshall respondeu irritado, fazendo com que
o patrão franzisse a testa.
— Não há nada de óbvio sobre como as cabecinhas delas funcionam.
— Uau. Você está pensando demais, Cameron. Elas querem mais do
seu tempo — Marshall rebateu e o rosto de Walker se contraiu.
— Claro que sim. Elas sentem falta de Connor e acham que vou fazer
todas as coisas maravilhosas que ele costumava fazer, mas não sei como. Eu
me fecho quando não consigo dar o que elas precisam. Foi por isso que
contratei você. Fui criado por empregados, porque tive pais péssimos que
não sabiam como lidar comigo. — Se explicar a um estranho fazia Walker
se sentir humilhado, mas ele desnudaria sua alma se fosse preciso.
— Eu sinto muito, de verdade, mas isso não é culpa das meninas. E já
posso dizer que vou me apaixonar perdidamente por elas, apesar de você —
Marshall disse com tristeza, mas parecia a melhor notícia que Walker ouviu
em semanas. Ainda havia uma chance, se ele já se importava com as
trigêmeas.
— O que seria necessário para que você ficasse? — ele perguntou
com sinceridade. Desta vez, foi Marshall quem ficou atordoado.
— Eu... não quero mais dinheiro. Tinha certeza de que fui longe
demais e estava prestes a ser expulso — o jovem admitiu, tímido. Então
Walker decidiu retribuir sua franqueza.
— Você me colocou em desvantagem, sr. Marshall. Você é o último
babá decente que me atendeu, mas também parece ser a melhor pessoa para
o trabalho. É raro ouvir que minhas filhas podem ser amadas. Você estava
certo sobre a Bea. Ela é inteligente como Amelia, mas escolhe suas batalhas
com sabedoria. Ela também parece ter um pouco menos de sede por sangue
— Walker falou, umedecendo os lábios quando Marshall riu.
— É o tipo de criança que gosto e poderíamos ser melhores amigos,
mas não vou ficar por aqui.
— Gostaria muito que você ficasse. Faço qualquer coisa para isso. Eu
seria idiota de te perder se você acha que pode amá-las — Walker
respondeu. Marshall suspirou, surpreso, e assentiu.
— Elas são difíceis de controlar, mas posso garantir que estão agindo
assim porque querem mais tempo com você — ele explicou.
— É um trabalho duro dar o mundo a elas, mas farei o que for
preciso. Tenho que ter alguém que se importe neste quarto, porque por mais
que eu adore cada fio de cabelo destas meninas, não posso ser o pai que elas
necessitam — Walker admitiu. O babá bufou, exasperado. Ele estendeu a
mão para afastar o cabelo do rosto e parou antes de tocar a parte grudenta.
— Em primeiro lugar, elas não querem o mundo. Só querem o pai.
Mas você torna meu trabalho mais difícil fugindo toda vez que elas querem
sua atenção. Elas vão continuar agindo assim até você ceder às demandas
delas — ele alertou. A ansiedade de Walker aumentou mais uma vez. Ele
tinha a sensação de que o babá estava certo.
— O que você propõe? Estou realmente no meu limite e à sua mercê,
sr. Marshall. Eu amo minhas filhas, mas tenho medo de tê-las estragado.
Nunca sei o que dizer ou fazer e parece que pioro as coisas sempre que
tento agir como o pai delas. Connor era tão bom nesse papel e fazia tudo
parecer fácil... — Walker parou, subitamente envergonhado por sua
divagação. Ele pigarreou e fungou enquanto estudava os livros na prateleira
ao lado do joelho.
— Tudo bem, vou ficar — Marshall afirmou, e Walker se sentiu
esperançoso outra vez quando seus olhos se encontraram. Mas quando o
sorriso tranquilizador do jovem voltou, ele entrou em pânico. — Mas você
está em dívida comigo, e tenho algumas regras básicas.
— Eu estou em dívida? — Os olhos de Walker se estreitaram quando
ele esticou o pescoço. — Já disse que te pagaria, e...
— E eu disse a você que não quero mais do seu dinheiro — o outro
homem respondeu rapidamente ao atravessar o campo de batalha, livrando-
se de Legos e bonecas. — Quero algo muito mais interessante — ele falou
devagar e seus olhos percorriam Walker da cabeça aos pés, como se
estivesse avaliando seu oponente.
— O que você quer? — A pergunta saiu esperançosa. Ele sabia que
não deveria presumir que o babá fosse sugerir algo inapropriado, mas sua
imaginação correu solta. Sério, Walker? Ele não tinha sentido um pingo de
desejo por sexo desde a morte de Connor, mas não queria assustar o único
babá que gostava mesmo de suas filhas e queria cuidar delas.
— Você. — Marshall se aproximou, oferecendo a mão. Walker
arregalou os olhos. — Você vai se esforçar e me dar o máximo de tempo
livre possível para que eu te ensine a se comunicar com suas filhas —
Marshall explicou. Desorientado, o homem mais velho agarrou a mão do
jovem, esperando por uma tábua de salvação. Mas parecia que ele estava
sendo puxado cada vez mais fundo para um buraco negro de confusão e
desordem no qual se viu depois do primeiro dia do babá.
— Certo. Mas mantenha suas expectativas baixas. Em geral, evito me
comunicar, a menos que esteja absolutamente desesperado. Não tive pais ou
babás quando criança — ele disse, embora Walker desejasse poder ser
metade do pai que Connor era.
— Tudo o que peço é que você tente. As meninas ficarão felizes
desde que passem mais tempo com você. E isso vai facilitar o meu trabalho.
— Parece justo... — Cameron concordou com cautela e os dois
apertaram as mãos. — Quais são as suas regras básicas?
— Primeiro de tudo, pare de me chamar de sr. Marshall. Guarde isso
para meu irmão mais velho ou alguém que use gravata. Pode me chamar de
Fin. Em segundo lugar, você vai começar a tomar café da manhã e jantar
com as três, a menos que tenha algo imprescindível agendado. Mas faça o
possível para evitar marcar coisas importantes nestes horários. Confie em
mim, você vai adorar começar as manhãs com uma conversa estimulante, e
elas vão se acostumar a compartilhar as coisas boas e ruins dos dias delas
com você durante o jantar. Por fim, pare de pensar nisso como se fosse uma
batalha. Não desejo controlar a imaginação das trigêmeas ou refrear a
natureza obstinada delas. As garotas podem ser terríveis, mas as melhores
meninas são, e crescem para serem mulheres fortes e brilhantes. Elas são
mimadas, mas crianças devem ser mesmo, e temos muito tempo para
transformá-las em pessoinhas decentes.
— Gosto do som de tudo isso... Você vai me chamar de Walker? —
ele perguntou, e o rosto de Fin se contorceu quando balançou a cabeça.
— Definitivamente, ainda não chegamos lá.
— Não? — O patrão questionou e ofereceu a Fin um sorriso irônico.
— Eu não tinha certeza. Não estou acostumado a meus funcionários falando
tão abertamente ou fazendo exigências.
— Bem... — Marshall esfregou a nuca e lançou um olhar
envergonhado. — Não estamos falando da sua casa ou dos seus negócios. É
a sua família, e você está perdendo a cabeça. Isto é uma emergência.
— De fato — Walker concordou enquanto segurava a mão de
Marshall com mais firmeza. — Detesto mudanças, mas preciso de
resultados diferentes, então estou à sua mercê, Fin. Dentro dos limites da
razão — ele acrescentou. Sentiu algo estranho no estômago quando
vislumbrou os lábios curvados e o brilho travesso nos olhos de Fin.
— Fechado. Não pensei que seria capaz de trabalhar com você, mas
isso vai ser divertido.
CAPÍTULO NOVE
— VOCÊ CONSEGUE. É só café da manhã — Walker falou para si
mesmo enquanto olhava para a porta da sala de jantar. Ele ouvia as meninas
rindo e uma das tutoras sussurrando, implorando para que voltassem para
seus lugares e se comportassem.
Em geral, o homem fazia a refeição em seu escritório. Ele lia o jornal
e examinava sua agenda, tomando café e comendo aveia e fruta em paz.
Mas sempre se perguntava como as meninas estavam passando a manhã e
ansiava pelos desjejuns perfeitos em família que tinham antes de Connor
morrer.
As trigêmeas tinham quase três anos quando o marido partiu em
decorrência de um acidente com um motorista bêbado. Elas ainda estavam
aprendendo a sentar à mesa e se acostumando com os talheres de plástico.
Mas os dedos pegajosos e os copos de suco derrubados acabaram sendo
demais para Walker, então começou a se isolar.
Ele se arrependeu disso com o passar do tempo e quis se juntar às
meninas novamente, mas era orgulhoso demais para admitir que não
poderia lidar com elas sem a ajuda de babás e tutoras. Pare de pensar nelas
como se fossem inimigos. Esta não é uma campanha militar ou uma
transação comercial. Walker tinha que agradecer a Fin por sua segunda
chance no café da manhã com as trigêmeas e parecia provável que houvesse
alguma lógica por trás do restante das regras do novo babá.
O desespero transformou Walker em um capacho? Suspeitava que era
muito mais que isso enquanto olhava para os painéis da porta. Uma gota de
suor escorreu por sua têmpora. A camiseta e a cueca grudaram em sua pele
como um plástico úmido. Ele teria pagado quase qualquer valor para manter
Fin antes de ele chegar. Mas algo mudou quando o babá se aproximou dele
no hall de entrada e reconheceu que tinha vantagem sobre o patrão. Então,
Fin exerceu seu poder na brinquedoteca, e... Walker gostou. Não apenas
porque ele era gostoso e ficava lindo quando sorria como se estivessem
prestes a se enfrentarem em um beco. Ninguém em seu círculo dizia o que
fazer ou não, mas a competência e a confiança de Fin eram muito mais do
que um alívio. Eram sedutoras. Walker não tinha um único osso obediente
no corpo e comandava todos os aspectos de sua vida, exceto as trigêmeas,
mas queria agradar o novo babá.
— Meu Deus, não são nem oito da manhã. O que deu em você,
Walker? — Ele alongou o pescoço e puxou o colarinho da camisa. Sua
libido estava agradavelmente adormecida por anos, então este era um
momento muito inconveniente para começar a notar os homens de novo.
Ele se preparou e ergueu a mão para abrir a porta, mas se lembrou de que
não estava indo para uma guerra. Então colocou o que esperava ser um
sorriso tranquilo no rosto e entrou na sala de jantar. — Bom dia, meninas.
O homem parou na porta e fez um balanço do quadro diante de si:
Beatrice parecia estar perseguindo Amelia, que tinha nas mãos o sapato da
irmã. Charlotte estava rastejando sobre a mesa em uma tentativa de escapar
de sua tutora da manhã, e a pobre mulher estava tão vermelha quanto o
tapete persa embaixo da mesa.
Walker ficou paralisado, sua ansiedade e o mau humor em rápida
ascensão. Ele recuou por instinto, mas a vontade de correr foi logo apagada
pela vergonha e pelo arrependimento. Sempre entrava em pânico e fugia.
Então relembrou a avaliação exata de Fin ao testemunhar as consequências
diretas de suas ações. Eu tenho que melhorar.
— Minhas desculpas, senhor! — A tutora aproveitou o silêncio
chocado das meninas e tirou Charlotte da mesa. Walker respirou com força,
reunindo coragem e avançou com confiança.
— Não precisa se desculpar — ele respondeu a caminho da cabeceira
da mesa. — Amelia, Beatrice e Charlotte. — O pai acenou para as cadeiras
à sua esquerda. Um lugar foi reservado para Fin à direita de Walker, pois ele
deveria chegar a qualquer momento. — Vou explicar se vocês se juntarem a
mim. — Pierce havia se materializado ali e estava pronto para puxar e
empurrar a cadeira do patrão enquanto ele se sentava. As meninas estavam
curiosas quando se acomodaram em seus assentos. — Vocês estão lindas
esta manhã — disse, lembrando que Fin comentou que conversas
estimulantes ajudariam. Embora Walker não tivesse certeza de que elas
precisavam de mais encorajamento.
Os longos cachos das três foram arrumados em tranças francesas com
laços cor de lavanda que combinavam com os guarda-chuvas roxos que
pontilhavam os vestidos brancos rodados. O dia estava nublado, mas a sala
parecia mais iluminada conforme elas sorriam e piscavam os grandes olhos
azuis para o pai.
— Eu sei que vocês costumam tomar café da manhã na
brinquedoteca, mas Fin achou que seria bom tomarmos café da manhã e
jantarmos juntos, conforme minha agenda permitir — ele explicou. As
meninas juntaram as cabeças, sussurrando com alegria enquanto Pierce
voltava com um bule de café. Vários empregados entraram na sala de jantar
com pratos que foram dispostos no meio da mesa para que Walker e as
meninas pudessem fazer a refeição em família. — Gostaria de enganá-lo e
fazê-lo acreditar que não somos bárbaros e que temos algumas maneiras —
o pai completou e sacudiu o guardanapo, o estendendo no colo.
Amelia assentiu e as três meninas imitaram Walker, estendendo os
guardanapos no colo. Os empregados destamparam as travessas, revelando
pilhas de panquecas, ovos mexidos, bacon, salsichas e torradas, mas as
meninas olhavam para o pai como se ele tivesse inventado o Natal. A
consciência do homem pesou quando se lembrou do comentário de Fin
sobre as três se comportarem mal porque estavam famintas por seu tempo e
atenção.
— Sr. Marshall — Pierce anunciou da porta da sala de jantar. Walker
ficou de pé e segurou a cadeira antes que ela caísse para trás.
— Ele pediu que o chamássemos de Fin. Bom dia, Fin — o patrão
falou enquanto se curvava e Fin parou ao cruzar a porta.
— Bom dia... Me disseram que os encontraria aqui. Não esperava que
você aceitasse todas as minhas sugestões de uma só vez — ele disse.
— Achei que eram regras básicas, não sugestões — Walker corrigiu e
acenou para o assento à sua direita. Os olhos de Pierce se arregalaram de
horror, mas Fin não percebeu. Ou se importou.
— Eu disse isso, não foi? — O jovem riu e deu a volta na mesa. —
Vocês três estão lindas — Fin falou para as meninas, mas elas estavam
cautelosas enquanto se aproximavam mais do móvel. Walker permaneceu
de pé para fazer os pratos das trigêmeas, mas se encolheu ao pegar o de
Amelia. O pai deveria saber se ela gostava de ovos ou se queria as
panquecas em um prato separado, mas não fazia ideia de quais eram as
preferências das filhas.
— Quem gosta de calda em tudo? — Fin perguntou ao se levantar e a
mão de Charlotte se ergueu em disparada. — Eu deveria ter adivinhado —
ele disse com uma piscadinha. — Eu também — ele sussurrou para a
garotinha enquanto pegava os pratos para Walker colocar as panquecas de
Amelia e Beatrice. Ele passou a montar sua refeição e começou com os
ovos. Se serviu de uma colher e, em seguida, levantou uma sobrancelha
para as meninas. — Quem quer ovos? — Amelia enrugou o nariz quando
Beatrice e Charlotte acenaram positivamente para ele. Fin ofereceu ao
patrão um sorriso encorajador e colocou colheradas de ovos nos pratos. Mas
foi muito mais do que um gesto casual no entendimento de Walker. Foi uma
tábua de salvação e uma oferta de paz. O babá deu cobertura ao homem
mais velho e o ajudou a aprender sem um pingo de julgamento. — Aposto
que todo mundo gosta de bacon — Fin sugeriu e ergueu o pegador, fazendo
alguns cliques com o instrumento. Com habilidade, levantou duas fatias e
Charlotte assentiu rápido enquanto aproximava seu prato, mas Fin voltou
atrás e o colocou no dele. Ela arfou e estreitou os olhos para Fin. — Acho
que foi você que jogou a meleca em mim ontem... — ele disse com um
resmungo indeciso ao girar o pegador. — Não sei se deveria dividir meu
bacon com você.
— O bacon é de todo mundo! — Amelia reclamou. Fin sibilou e
balançou a cabeça.
— Isso seria verdade se todos nós fôssemos educados e seguíssemos
as regras por aqui, não é? — ele perguntou apenas para receber três
beicinhos descontentes como resposta. Walker mordeu o nó do dedo para
não rir. Fin o pegou fazendo isso e bufou em aprovação ao colocar duas
tiras de bacon no prato dele. — Vocês não se importam em trapacear e
serem malvada, mas eu sou bem mais alto que vocês. E sou bem rápido.
Provavelmente poderia comer este prato inteiro em... trinta segundos, e
vocês não seriam capazes de me impedir — Fin se gabou e ergueu o prato
para inspecioná-lo. — O que você acha, Cameron? Quer cronometrar? —
perguntou, arqueando as sobrancelhas.
— Não há como você fazer isso em menos de um minuto — Walker
rebateu e puxou a manga da camisa para poder ver o relógio. Pierce parecia
estar passando mal enquanto observava a cena da porta.
— Sinto muito pela meleca! — Charlotte deixou escapar. — E pelo
mousse na sua cadeira, e por colocar cola na sua sopa — ela acrescentou.
Fin franziu a testa, mas deu a ela duas tiras de bacon.
— Você colocou cola na minha sopa?
— Sinto muito — Walker sussurrou, os olhos lacrimejando enquanto
lutava para manter uma expressão séria.
— Achei o gosto um pouco estranho, mas não queria dizer nada e
ofender sua cozinheira.
— Seus modos são claramente melhores que os nossos — o patrão
respondeu e balançou a cabeça para as meninas. — Alguém mais gostaria
de um pouco de bacon? — ele perguntou de forma incisiva.
— Sinto muito por trancar você no banheiro e por comer seu cookie
enquanto você estava lá — Beatrice admitiu.
Walker não sabia a respeito disso.
— Eu... não tenho certeza se você merece que Fin te dê bacon.
— Tudo bem. Agora você sabe que consigo arrombar fechaduras —
Fin respondeu, alegre. Ele deu o bacon para a garota e sorriu com
expectativa para Amelia, que soltou um suspiro relutante.
— Sinto muito por ter deixado os degraus escorregadios, e por ter
colocado tinta no sabonete, e ter deixado o sr. Bibble fora da gaiola. E todas
as outras coisas — ela resmungou.
— Todas as outras coisas — Walker suspirou. Ele não podia culpar
Fin por estar furioso. As meninas recorreram à medidas de fato
desesperadas para se livrarem do babá, apesar da ameaça de Walker de
transformá-las em fazendeiras de cevada.
— O bom é que temos a chance de tentar de novo, se pudermos
admitir que não fizemos o nosso melhor ontem. — Fin sorriu, sereno, e era
só alegria ao terminar de distribuir o bacon e se servir de uma torrada.
— Acho que todos nós precisamos nos lembrar disso de vez em
quando — o homem falou enquanto se sentava. — O que você planejou
para as meninas hoje? — perguntou ao babá. E então viu Amelia se animar
com curiosidade, mas fingiu que suas panquecas eram mais interessantes.
Beatrice arqueou a sobrancelha, e Charlotte estava olhando para Fin de
forma arrebatada, mastigando um pedaço de bacon.
— Vou mandar as meninas para uma caça ao tesouro esta manhã. Elas
vão procurar por coisas como os bichinhos de pelúcia e livros favoritos para
que possamos fazer um grande show e contar histórias. Estou esperando
fantasias luxuosas e obras de arte de primeira — Fin respondeu. Os olhos
de Charlotte e de Beatrice se iluminaram. Amelia apertou os lábios, fazendo
planos. Ah, ele é bom.
O resto do café da manhã foi divertido e informativo, pois Fin usou a
refeição como uma oportunidade para compartilhar seu impressionante
currículo com as meninas. Ao contrário da versão que passou pela mesa de
Walker, o babá encantou as trigêmeas com seu vasto conhecimento em
personagens de desenhos animados e contos de fadas e as presenteou com
desastres épicos com artesanato. No final da refeição, Amelia ainda estava
cautelosa e hesitante, mas Charlotte estava apaixonada por Fin e Beatrice
queria ver o que o novato poderia fazer.
— Vou dar uma vantagem a vocês — Fin disse enquanto as três
empurravam as cadeiras para se levantarem. — Vamos começar com capas.
Podem usar suas favoritas ou criar uma nova, mas espero drama e
originalidade. Vou pegar meu álbum de recortes e encontro vocês lá em
cima — ele informou, e Pierce abriu a porta com rapidez para as meninas
saírem correndo da sala de jantar. Walker aplaudiu, e Fin fez uma
reverência.
— Isso foi muito bom. Você vai tê-las na palma da mão até o final do
dia. — Ele estava muito impressionado. Em menos de dois dias, Fin
conseguiu o que nenhuma outra babá da cidade havia conseguido até então.
Mas o jovem balançou a cabeça quando estendeu a mão e colocou um braço
em volta dos ombros de Walker. O homem mais velho deu um pulo e olhou
confuso para o babá. Os dois ouviram uma inspiração aguda de Pierce. Era
provável que conseguisse contar em uma mão o número de pessoas que o
tocaram ao longo de seus quarenta e oito anos. Sem contar alfaiates,
estilistas e empregados. Fin não pareceu notar suas reações e deu um aperto
encorajador em seu ombro.
— Eu sabia que poderia conquistá-las com a sua ajuda. Você foi
ótimo. Estou muito orgulhoso — ele comentou, confundindo ainda mais o
patrão e provocando outro suspiro horrorizado de Pierce. Mas Walker sentiu
uma pontada de esperança e talvez de prazer ao andarem juntos pelo hall de
entrada. Era um contraste forte, mas agradável, com o pavor e a ansiedade
que vivenciou quando abriu a porta da sala de jantar antes do café da
manhã.
— Fui? — ele perguntou, mas não que estivesse procurando por mais
elogios. Fin assentiu rapidamente e falou em voz baixa.
— Nós somos uma boa equipe. Continue seguindo minhas
orientações e seremos uma família feliz — ele previu. Se qualquer outra
pessoa tivesse dito isso, Walker teria pensado que ela estava sendo
sarcástica ou mentindo, mas já confiava em Fin e sabia que tudo seria
resolvido em um piscar de olhos.
— Obrigado. Acho que você está certo — o patrão respondeu,
incapaz de esconder o alívio.
— Nós vamos conseguir! — Fin insistiu quando o soltou para que
pudesse andar em outra direção. — Preciso correr para a cozinha para pegar
meu álbum de recortes na mochila. Mas você foi muito bem. Continue
assim e vamos nos divertir muito — ele disse, então se virou e correu pelo
outro corredor.
— Conversamos mais tarde — Walker gritou para Fin, que acenou
por cima do ombro. O mais velho alongou o pescoço ao observá-lo partir.
— Eu fui bem.
Suas pupilas dilataram, e ele ficou bastante satisfeito consigo mesmo
enquanto repassava a conversa. Talvez fosse porque as trigêmeas eram a
coisa mais importante em seu universo e a situação era crítica. Ou porque
era raro que recebesse elogios de pessoas sinceras, mas Walker se sentia
genuinamente lisonjeado. Ele estava otimista após o sucesso do café da
manhã e ansioso para agradar Fin de novo. Talvez um pouco animado ao
pensar em receber outro elogio também, o que foi uma reviravolta bastante
estranha quando parou para pensar.
— Não sei o que deu em mim — ele reclamou e foi para o escritório.
CAPÍTULO DEZ
— RILEY ESTÁ COM você? — Reid perguntou pelo interfone. Fin
gemeu de forma solidária ao colocar um braço em volta do ombro do amigo
e dar um aperto.
— Sim, mas está com uma ressaca das grandes. Teve um encontro
difícil ontem à noite.
Fin se presenteou com algumas taças de vinho por sobreviver à sua
primeira semana na Casa Killian antes de Riley chegar em casa com uma
caixa de Chardonnay para tentar esquecer que a noite aconteceu.
— Não fui eu, foi ele — Riley murmurou e revirou os olhos, o que foi
um erro. Ele pressionou o punho contra os lábios e implorou ao estômago
para aguentar.
Reid os deixou entrar e quando os dois viraram na escada,
encontraram Penn Tucker na porta. Seu nome verdadeiro era Pennsylvania,
mas ele atendia por Penn desde que o conheceram, primeiro como colega de
quarto de Reid na faculdade e depois, como frequentador do Briarwood
Terrace.
— Que bom te ver! — Fin disse quando foi puxado para um abraço
caloroso. Os olhos verdes de Penn brilharam com diversão.
— Senti sua falta, irmão.
— Como está seu pai? — o jovem perguntou. Penn era considerado o
mago das babás, porque era gentil, tranquilo e todos o admiravam. Mas ele
parecia mais místico que o normal quando Fin se recostou e o examinou. O
cabelo loiro estava ainda mais comprido, preso em um coque, e ele deixou a
barba crescer mais enquanto estava de folga do trabalho.
— Está indo muito bem. Ele teve algumas semanas difíceis, mas logo
vai melhorar e voltar à oficina — Penn respondeu antes de estender a mão
para Riley. — Como você está?
— Melhor. Estou muito feliz por seu pai. Dê um abraço nele por mim.
— Riley deu um tapinha nas costas dele e os três se dirigiram para a
cozinha. — As crianças Parker são anjos e sentem sua falta — Riley falou
para Penn. — Alice e Liza são incríveis. Estou triste por ser um trabalho
temporário, mas já posso dizer que vamos ser amigos para o resto da vida.
— Eles são uma família fofa, e sinto falta deles — Penn disse com
tristeza. — Vou sentir ainda mais falta das crianças quando forem para o
internato.
Reid tinha acabado de sentar e apontou para a comida e a cafeteira no
balcão com sua caneca. Riley foi até a mesa e se jogou em uma cadeira.
— Eles são muito legais, Reid. Alice é confeiteira e vai me ensinar a
fazer doces e sobremesas — Riley falou e acenou para Gavin, que estava
sentado à mesa com o jornal e uma xícara de chá. Ele sempre ocupava o
assento da janela, com a postura ereta e um ar desaprovador, mas acenou
com a cabeça para Penn ao se sentar ao lado dele.
— Bom dia, Gavin. Não foi jogar xadrez no parque hoje? — Riley
perguntou.
— Você sabe que nunca jogo aos sábados. Tem muita gente — ele
respondeu, olhando o jornal. Os cabelos escuros e ondulados estavam
penteados para trás, e Gavin usava um cardigã cinza com reforço nos
cotovelos e calças cinza-escuras. Sua camisa estava totalmente abotoada.
Ele fazia Fin se lembrar do avô Marvin, e muitas vezes o imaginava com
um cachimbo, embora ele nunca tivesse tocado em tabaco ou drogas e só
bebesse álcool em ocasiões especiais. — Estes números não podem estar
certos. Quem eles estão tentando enganar? — reclamou, resmungando sobre
o mercado financeiro enquanto virava a página.
Fin sorriu e foi se servir do que restava na cafeteira. Reid e Gavin
eram como um casal antigo, porque eram melhores amigos desde o ensino
fundamental. Mas não havia química sexual, apesar do vínculo profundo e
do afeto entre ambos, provavelmente porque eram muito parecidos. Eles
eram como almas gêmeas, mas sem o aspecto sexual, e se entendiam
melhor do que qualquer um, mas simplesmente não havia uma faísca, de
acordo com Reid. Gavin estava presente durante essa conversa em
particular e concordou. Sendo as almas sensatas e práticas que eram,
fizeram algumas tentativas, porque isso tornaria tudo muito mais simples,
mas não funcionou. Reid disse que os encontros foram um desastre, e Gavin
disse que preferiria beijar uma garota. Fin ficou aliviado. Ele não queria
pensar sobre qual dos dois ficaria com a sua custódia caso se divorciassem.
— Eu me sinto péssimo, mas deveria comer — Riley comentou. Ele
ainda estava meio esverdeado, mas ficou de olho na salada de frutas à mesa.
Reid balançou a cabeça, perplexo.
— Quando isso te impediu de comer? — ele perguntou, mas todos
sabiam que a resposta era nunca, porque Riley estava sempre com fome. —
Eu estava esperando o Riley, mas o que você está fazendo aqui? Por favor,
não me diga que Cameron te demitiu. — Reid arregalou os olhos para Fin.
— Só estou de folga hoje — Fin disse e o irmão ficou animado.
— Sério? Eu não estava muito otimista. Tinha certeza de que vocês
iam se odiar. Você mais ainda, por ele ser muito rico.
— Ele é mesmo muito rico — Fin respondeu, dando de ombros.
— Ouvi dizer que as meninas são um terror e a família é
“amaldiçoada” — Penn comentou, fazendo aspas com os dedos. Reid riu e
tomou um gole de café. Fin achou que ele já parecia estar muito melhor do
que há uma semana. Ele e Gavin estiveram ocupados revisando currículos,
verificando referências e acompanhando alguns contatos, mas Reid ainda
não havia se comprometido “oficialmente”. Fin captou o olhar de Gavin, e
eles compartilharam acenos de satisfação. É bom ter o velho Reid de volta.
— Você marcou uma consulta para o seu check-up odontológico? —
Reid perguntou.
— Não. Esqueci.
— Finley.
— Vou fazer isso. — Talvez eu tenha falado rápido demais... — E as
meninas são encantadoras. Elas passam fins de semana alternados com a tia
Agnes — Fin informou e mudou de assunto, mas Gavin e Reid trocaram
olhares compreensivos. Eles estavam muito familiarizados com as táticas
do jovem de evitar sermões.
— Sem babá? — Reid perguntou, desconfiado, e Fin sorriu.
— Parece que adoram a tia, e a mulher consegue lidar com as
trigêmeas sem ajuda. Ela é artista e vive no chalé da família em Sagaponack
quando não está em Paris ou hospedada em uma de suas casas nas
Bahamas. — Entre as conversas das meninas e um pouco de bisbilhotice,
Fin conseguiu aprender muito sobre a irmã de Cameron e mal podia esperar
para conhecê-la.
— Ela é solteira? Eu não me importaria de viver nas Bahamas —
Reid comentou, recebendo uma risada divertida de Gavin.
— Você só gosta de mulheres quando está bêbado e elas se parecem
com Jamie Lee Curtis — ele murmurou ao virar outra página do jornal.
— Eu não acredito que isso exija qualquer explicação — Reid
rebateu, então pigarreou enquanto tirava algo da manga de sua blusa. Fin
piscou para Gavin. Reid era o único bissexual entre os cinco, e tinha uma
queda por mulheres mais velhas, com cabelo estilo pixie, quando bebia
muitos drinks. Reid engoliu um pedaço de sua torrada e gesticulou com a
cabeça para Fin. — Como vão as coisas com Cameron?
— Ele não é tão ruim assim — Fin respondeu, neutro. Riley sorriu e
se inclinou sobre a mesa de forma conspiratória.
— Ele é super gostoso, mas Fin não quer admitir — ele disse ao
grupo. Fin o encarou, fazendo com que Riley levantasse as mãos. Traidor.
Penn captou o olhar e apontou com entusiasmo.
— Ah, eu já vi o Cameron. As filhas dele frequentam a mesma escola
de dança que Kaitlynn, a filha de Alice e Liza. Elas estão em turmas
diferentes, mas Cameron vai aos recitais — Penn complementou, e Fin foi
até a geladeira para se esconder até que seu rosto parasse de queimar.
— Em uma escala de um a dez — Reid falou, ganhando um gemido
apreciativo de Penn.
— Um dez sem pensar muito. Em geral, não curto o tipo de cara que
usa terno e tem as unhas bem-feitas, mas Cameron parece que fica ainda
mais gostoso quando o terno sai.
— A maioria dos caras fica — Fin argumentou e fechou a geladeira.
— Isso não é verdade. Às vezes, o terno sai e você percebe que o
homem é apenas um idiota comum e que foi enganado por uma alfaiataria
de qualidade — Reid comentou, distante. Os olhos dele deslizaram para o
teto e seus dentes rasparam o lábio inferior. — Por que não consigo resistir
a um terno de três peças e uma barba por fazer?
— Porque você não é o Super-Homem. Ninguém consegue resistir a
isso — Fin respondeu.
Gavin resmungou em concordância enquanto tomava o chá e lia o
jornal.
— Eu não resisto a um homem de tweed e cotoveleiras — ele
murmurou. Penn fez um som compreensivo e se inclinou ao seu lado.
— Não posso beber tequila ou ver shorts de couro com suspensórios
pelo mesmo motivo.
— De qualquer forma... — Reid balançou a cabeça para Penn antes
de virar para Fin. — Como foi a primeira semana? E não me diga se você
foi enganado por um idiota comum usando alfaiataria de qualidade — ele
comentou, voltando ao assunto original.
— Foi muito melhor do que eu pensei que seria. — Fin ainda estava
atordoado.
A situação passou de irrecuperável ao projeto dos seus sonhos no
espaço de alguns dias. Ele não estava de todo errado sobre Cameron: o
homem mais velho era tão prepotente e egocêntrico quanto o jovem
esperava, mas amava as filhas. E, ainda mais importante, estava disposto a
tentar mudar. Fin poderia trabalhar com isso. E a ideia de salvar uma
família como uma Mary Poppins gay moderna o fazia sorrir e cantarolar
Supercalifragilisticexpialidoce, a famosa canção do filme, por todo o
caminho de volta para Bedford-Stuyvesant depois que saía da Casa Killian.
— Você acha mesmo que vai ser capaz de trabalhar com ele? — Reid
perguntou com um ceticismo óbvio. Fin não duvidava da fé de seu irmão,
mas Cameron não era conhecido por ser flexível. Ou muito paciente... Reid
tinha boas razões para ser cínico, mas ele teria êxito.
— Ele quer o melhor para as meninas, então vou permanecer positivo.
Ele é... muito mais razoável e acessível do que eu esperava.
— Deus me livre — Gavin falou pausadamente.
— Não... Isso é muito incomum — Reid concordou. — Você é
contador. Tudo o que importa é como os ricos gastam o dinheiro deles, mas
pense em como você cresceu. Uma babá vê como as pessoas ricas vivem e
como tratam os filhos. Nem sempre é ótimo, e Fin tem dificuldade em
aceitar que não cabe a ele dizer aos ricos como viver.
— Não vim aqui para ser repreendido — Fin avisou, seu instinto
aflorando. Resolver problemas não era a única paixão de Reid. Nada
irritava tanto o jovem e o fazia se sentir como se tivesse seis anos do que o
dedo levantado do irmão. Ele teria preferido pagar pelo café da manhã e se
arrependeu de pegar três trens quando havia um burrito muito decente
esperando na mercearia da esquina de sua casa. — Tenho as coisas sob
controle e está tudo bem com Cameron. Ele escuta e não é orgulhoso
demais para pedir ajuda com as meninas. Fizemos um plano e já posso dizer
que as trigêmeas vão ser ótimas.
— Uau. Essa é a coisa mais gentil que já ouvi você dizer sobre
alguém que nunca andou de transporte público — Reid respondeu. Gavin
concordou, mas Fin manteve a calma. Ele colocou uma framboesa na boca
e se reclinou em seu assento, com os pés esticados e os tornozelos cruzados.
— Fui muito sincero com ele e, surpreendentemente, o homem ouviu,
então estou lhe dando o benefício da dúvida.
— Não é possível que tenha funcionado — Gavin comentou com uma
risada irônica. O foco de todos permaneceu em Fin enquanto ele pegava
outra framboesa.
— Ele estava tão desesperado para que eu ficasse que me ofereceu
ainda mais dinheiro — Fin sussurrou e jogou a fruta no ar para pegá-la com
a boca. O babá mastigou e ficou satisfeito com a expressão atordoada de
Reid.
— Vamos voltar para a parte em que você repreendeu um bilionário
assustador e ele gostou.
— Eu não diria que ele gostou. Cameron é inteligente e sabe que
precisa de ajuda — Fin respondeu. Houve murmúrios de surpresa, mas Reid
ainda parecia cético.
— É mesmo?
— Sim. — Fin torceu os lábios e assentiu. — Não é doido? Eu tinha
certeza de que ele iria me chutar para fora de sua mansão intocada.
— O que ele disse? — Penn perguntou, e o babá inflou as bochechas.
— Ele disse que faria o que fosse preciso, que estava disposto a
mudar.
— Temos um achado aqui! — Riley falou, arrancando risadas ao
redor da mesa.
— Qual é o seu plano? — Reid perguntou. Ainda havia uma ponta de
ceticismo e preocupação em sua voz.
— Café da manhã e jantar de início. Eu disse que ele precisava estar
presente no maior número possível de refeições daqui para frente.
— Isso deve ajudar as meninas a se acalmarem, porque sabem que
vão ter o tempo e a atenção dele em intervalos estabelecidos — Reid
comentou, e Fin assentiu em concordância.
— Pretendo revisar a rotina da hora de dormir e ver o que posso fazer
para tornar esse momento menos estressante para ele e mais satisfatório
para as meninas.
— Bom plano — o irmão concordou. — É provável que seja uma das
poucas vezes no dia em que interagem com o pai de forma consistente e
individual. Bem, não tão individual assim, já que são três e ele é só um... —
Ele estreitou os olhos e pareceu distante outra vez. Fin riu e lhe roubou um
pedaço da torrada. Reid estava no modo solução de problemas.
— Meu instinto me diz que Cameron quer mais tempo com as
meninas, só é orgulhoso demais para admitir que tem medo delas — Fin
revelou, contraindo a mandíbula. Houve vários gemidos e suspiros
solidários. — Vou ajudá-lo a trabalhar em sua confiança...
— Você vai ajudar Walker Cameron a trabalhar a própria confiança?
— Gavin questionou.
— Sim. — Fin deu de ombros. — Faz total sentido se você pensar a
respeito: Cameron está acostumado com todo mundo fazendo o que ele diz
e pisando em ovos ao seu redor. As meninas não fazem nada disso e não
têm medo dele. O pai tem vantagem zero com elas, e isso o tira dos eixos.
Vou ensinar a ele algumas estratégias de educação e ajudá-lo a entender por
que as meninas estão se comportando mal.
— Mary Poppins! — Reid tossiu, mas Gavin balançou a cabeça.
— É A Noviça Rebelde. Cameron é viúvo e as crianças estão tentando
afastar o Fin.
— Gosto mais de Mary Poppins, porque não quero fugir com meu
chefe — Fin argumentou. Ele deu uma cotovelada em Riley, mas manteve
um olho em Reid. — Porém, vou ficar de olho em Bert enquanto estivermos
no parque — ele garantiu, se referindo ao personagem do filme.
— Bert era gostoso — Riley disse, sonhador. Todos, exceto Reid,
riram.
— Não quero saber o que você faz com homens estranhos no parque
— ele falou, passando o braço por cima do encosto da cadeira, encarando
Fin. — Só não tenha muitas esperanças. Homens como Walker Cameron III
não gostam de mudanças e raramente veem a necessidade disso.
— Tenho certeza de que ele viu a necessidade — Fin rebateu, e o
irmão bufou.
— Pode ser, mas nesse caso vai ser o primeiro da espécie a de fato
fazer algo a respeito.
— Eu sei. É por isso que não estou brincando. Não vou arriscar minha
saúde e segurança porque ele tem medo de passar um tempo com as filhas.
— Tudo bem. Não me importo com o que é bom para os negócios.
Você vale mais para mim do que a opinião de Cameron sobre nós — Reid
afirmou. Ele pulou para pegar algo no balcão e uma expressão carregada
atravessou a mesa, até que todos estivessem olhando para Fin. Reid
percebeu e franziu a testa para os rapazes ao se sentar. Ele ergueu uma
sobrancelha para o caçula. — Isso é uma intervenção?
— Sim. Achamos que você deveria parar de brincadeira e começar
sua própria agência — Fin declarou. Houve acenos e murmúrios ao redor da
mesa. Reid não riu deles e ainda parecia receptivo, então Fin continuou com
seu discurso pronto. — Você salvou a mim e a Riley e achamos que pode
fazer muitas coisas boas com sua agência. Os pais acham que você é um
rockstar e todos sabem quem somos por causa dos nossos pais. Não sei por
que não pensamos nisso antes. Cuidar de crianças está no nosso sangue.
Os doutores Theodore e Saoirse Marshall escreveram, juntos, uma
série de livros que se tornou um talk show de sucesso. Eles estavam fazendo
a transição para podcasts e tinham um documentário em andamento com a
Netflix.
Reid suspirou, com o olhar fixo na janela. Ele estava se acostumando
com a ideia. Penn estendeu a mão sobre a mesa e lhe deu um aperto
afetuoso.
— Você publicou artigos sobre deficiências de desenvolvimento e te
ofereceram uma escola Montessoriana. É perfeito e você já tem todas as
conexões — ele disse, como se Reid precisasse de um lembrete.
— Isso mesmo. Você é o melhor babá do mundo — Fin concordou e
ergueu o café em um brinde. — Mas e se você tivesse um exército de babás
e salvasse a cidade?
— Esse trabalho me daria algo com o que me ocupar... — Reid
refletiu. Fin, Gavin, Penn e Riley trocaram olhares mais uma vez.
— Eu poderia lidar com toda a documentação financeira e legal —
Gavin ofereceu, prestativo. Reid percebeu que eles estavam sem café e foi
até a cozinha, então Fin agradeceu os amigos silenciosamente. Eles
trocaram os mais leves acenos de cabeça, aproveitando que o outro estava
na cozinha em busca de grãos de café.
— Recebi algumas ligações de amigos que estão procurando
oportunidades de emprego e há pais com dificuldade em encontrar agências
que não discriminem. — Reid bateu com os dedos na lateral da lata de café,
analisando. — Isso me daria algo com o que me ocupar... — repetiu
enquanto se distraía com algo do outro lado dos vidros escuros e antigos da
janela. Então assentiu. — Vou pensar — ele decidiu. Mas não percebeu os
amigos sorrindo e vibrando em silêncio. Reid era a cola que mantinha as
vidas deles unidas, mas raramente pedia ajuda quando precisava.
— Riley vai precisar de algo permanente assim que o pai do Penn se
recuperar — Fin o lembrou, e o irmão assentiu. Seria um golpe de sorte se a
informação de que ele o havia recrutado para sua nova agência vazasse.
Quase todas as babás da cidade seguiriam Reid e Penn, e Fin poderia fazer
muito pela reputação deles se não estragasse tudo na Casa Killian.
— Verdade. E se eu tivesse você, Riley, Penn... e talvez Penny? —
Reid ergueu as sobrancelhas para o amigo. Ela era a irmã mais nova de
Penn e quase tão lendária quanto o irmão por fazer milagres com crianças
“difíceis”.
— Claro que estou dentro — Penn concordou e bateu os punhos com
Fin. — E Penny também, assim que souber — ele previu. Desta vez, Fin
comemorou ao estender a mão para que Gavin e Riley pudessem bater nela.
— Posso conseguir mais algumas babás para se juntarem a nós e
começaríamos com uma lista bem decente — Reid observou.
— Cameron poderia escrever a primeira avaliação da agência — Fin
apontou.
— Sério? — Reid arqueou as sobrancelhas. — Você já tem esse tipo
de influência dentro da casa? — ele perguntou, e o irmão deu de ombros.
— Cameron é muito legal com a equipe e não vejo motivo para ele
não ajudar outros pais.
— As pessoas prestam muita atenção no que Cameron faz e o apoio
dele seria muito significativo — Penn acrescentou, acariciando a barba.
Reid ergueu a mão, sinalizando para que eles fossem com calma.
— Esperem... eu ainda não me comprometi totalmente com essa
empreitada. A primeira missão de Fin pode terminar em desastre.
— Ou romance — Riley argumentou e Fin contorceu o rosto.
— Não diga isso. Reid não está interessado em administrar um
serviço de babás e namoro.
Houve grunhidos de concordância vindos de Reid e Gavin.
— Essa é uma maneira muito mais agradável de colocar as coisas,
mas entendo o que você quer dizer. — Riley mordeu o lábio e pensou. — E
se ele se apaixonar pelo seu colega de apartamento?
— E se meu colega de apartamento morresse ao cair da escada
enquanto bebia vinho? — Fin respondeu, e Reid arregalou os olhos para
eles, impaciente.
— Vamos ver por quanto tempo Fin e Cameron conseguem se dar
bem antes de nos precipitarmos — Reid advertiu. — Algo assim seria caro
para tirar do papel, e vou ter dificuldade em conseguir um empréstimo se
Cameron demitir Fin por passar dos limites. Não tenha muitas esperanças,
Fin. No fim, ele ainda é Walker Cameron III. Ele pode até estar disposto a
mudar algumas coisas, mas talvez não vá tão longe quanto você imagina. O
homem pode estar fazendo o que for preciso para mantê-lo até que você
esteja muito apegado e envolvido para querer sair. Os pais são conhecidos
por fingir bem até que estejam confortáveis o suficiente para serem eles
mesmos.
— Já passei por isso antes, Reid — Fin suspirou enquanto se
recostava na cadeira e cruzava os braços atrás da cabeça. — Cameron pode
tirar o cavalinho da chuva se acha que pode me dar um tapinha nas costas e
me fazer consertar a família em seu lugar. Ele vai sujar as mãos desta vez.
CAPÍTULO ONZE
— ACHO QUE ELA conseguiu capturar meu charme libertino — Fin
murmurou enquanto admirava o desenho que Charlotte fez antes de dormir.
Não gostou que eles parecessem estar no circo. Ao menos esperava que
fosse um circo, porque havia um número alarmante de palhaços em volta
deles. As meninas estavam de mãos dadas, usando coroas e vestidos de
baile azuis. Fin estava em uma ponta, segurando a mão de uma delas e
Cameron estava na outra ponta, de cartola e fraque. Ele notou que o pai
tinha uma espada e franziu a testa. — Hum. Talvez não estejamos no circo...
— Você ainda está na Casa Killian, mas é fácil entender por que está
confuso — Cameron disse da porta do quarto de brinquedos, fazendo Fin
pular. Ele riu e ergueu o desenho.
— Charlotte fez uma obra de arte. Ou meu pior pesadelo, mas amo a
forma que ela usa todas as cores que consegue.
— Ela é minha pequena Kahlo — Cameron falou ao entrar na sala,
fazendo referência à pintora mexicana Frida Kahlo. Fin lhe entregou o
desenho, e o mais velho murmurou em aprovação. — Acredito que sempre
devemos manter uma espada à mão quando assistimos a uma ópera de
palhaços — constatou, devolvendo o papel a Fin. Cameron parecia
satisfeito e se apoiou na ponta da mesa de arte. — Tenho perguntado às
meninas qual foi a parte favorita do dia delas na hora de dormir, como você
sugeriu, e isso fez maravilhas. Eu costumava questionar quem era a
responsável pelos desastres do dia, mas sua sugestão resultou em muito
menos brigas e confusão esta semana.
— É uma boa maneira de encerrar o dia. Muitas vezes, me sinto
cansado quando penso em tudo que fiz desde que acordei.
— Mais uma vez, a genialidade está na simplicidade. A hora de
dormir sempre foi minha favorita — Cameron começou. Ele fechou um
olho e fez uma leve careta. — As meninas geralmente são mais dóceis,
porque estão exaustas. Ficam paradas, quietinhas e me escutam enquanto
leio para elas.
— Crianças de seis anos dão trabalho e a energia caótica delas se
multiplica quando você tem duas ou mais juntas em um mesmo espaço.
Incentive-as a falarem sobre as coisas que gostam e elas não terão motivo
para brigar. Você faz uma dizer algo legal e as outras vão retribuir, porque é
assim que funcionamos — Fin explicou. Ele podia ver que Walker estava
adicionando a informação à lista mental de coisas para tentar. Em geral, o
patrão fazia isso quando conferia tudo com o babá à noite. Era revigorante e
quase estimulante ser respeitado e ser uma referência. O jovem mal teve
relação com a maioria dos pais para quem já trabalhou, mas Walker estava
genuinamente ansioso para aprender e melhorar. Ele nunca admitiria, mas
imaginava arriscar tudo sempre que estavam sozinhos e Walker confiava
nele.
Fin não pretendia fazê-lo, mas deu uma conferida na bunda do chefe
enquanto Cameron estudava a obra de arte de Charlotte. Assim como seu
irmão, Fin poderia perder a cabeça perto de um homem bonito usando terno
sob medida. E o patrão não era apenas bonito e em forma. Ele preenchia
todos os requisitos. Havia linhas finas nos cantos dos olhos cinza-claro que
acentuavam o grisalho de suas têmporas. O babá sempre gostou de homens
mais velhos, mas Cameron não agia como nenhum dos caras com quem Fin
já se envolveu. Walker andava como se fosse dono de tudo que seus olhos
tocavam — porque normalmente era — ou como se estivesse em uma
passarela. Pierce se certificava de que o patrão estivesse arrumado à
perfeição e praticamente todas as roupas foram feitas sob medida.
Fin descobriu que Cameron tinha uma academia no porão e treinava
com um personal cinco dias por semana antes do nascer do sol. Havia
também uma bicicleta na sala de estar de sua suíte. O babá a encontrou ao
se aventurar pelo cômodo para devolver uma gravata Hermès de seda que
Charlotte “pegou emprestado” para uma fantasia. Em vez de admirar o
quarto bem decorado, ficou hipnotizado pela visão de Cameron sem camisa
na bicicleta. Ele brilhava enquanto o suor escorria por suas têmporas, pelos
braços nus, e se acumulava nos pelos no peitoral. A camiseta do chefe
estava pendurada no guidão, proporcionando a Fin uma visão de abdômen
definido, tonificado e coberto de pelos. E o short de compressão preto
acentuava com perfeição as coxas e a bunda firme e redonda.
— Vim para resolver uma coisa — Cameron ofegou, batendo na testa.
— Deixe isso em qualquer lugar. Pierce vai chegar em alguns momentos e
cuida de tudo.
— Certo. Boa sorte — Fin balbuciou, recuando pelas portas duplas
abertas. Você acabou de arruinar minha vida, mas vou deixar isso em
qualquer lugar.
— Você tem jeito com as meninas — O patrão disse, arrancando Fin
de seus pensamentos e puxando-o de volta à brinquedoteca.
— Sou obstinado e caótico, por isso nos damos bem — Fin
respondeu.
— Pode ser. A única pessoa, além de você, com quem se comportam
é minha irmã, Agnes. Provavelmente porque ela é uma pirralha obstinada,
mas ela pega as meninas quase todo fim de semana, então consigo recuperar
o fôlego. O resto da casa também precisa de uma pausa — ele acrescentou
com uma expressão de dor.
— Eu não entendia por que eu tirava folga a cada dois fins de semana
e essas datas eram imutáveis, mas agora entendo — Fin riu e se agachou
para pegar as cartas do jogo da memória que estavam no chão. — Beatrice
pode ser quieta, mas ela arrasa nos jogos o tempo todo. — Ele olhou por
cima do ombro para Cameron, apenas para encontrar os olhos dele fixos em
suas costas. O babá se levantou com lentidão, sentindo o cós da calça
deslizar sobre sua bunda. A peça podia ser um pouco larga, com tendência a
ceder quando ele se curvava ou se agachava. Seu rosto esquentou quando
avistou cardigã pendurado do outro lado da sala. Fin semicerrou os olhos e
se esforçou para lembrar o que estava usando por baixo do jeans. Cuecas
vermelhas de malha. Poderia ter sido muito pior. Metade das suas roupas
íntimas eram tangas e biquínis femininos. Praticamente qualquer coisa em
que pudesse se sentir confortável. Esta, em particular, era da seção
masculina, mas a parte de trás era quase toda transparente. — Folga a cada
quinze dias funciona muito bem para mim, porque gosto de costurar — Fin
tentou agir com naturalidade ao se virar e Cameron assentiu com brevidade.
— Perfeito. Você é um costureiro ávido? — Cameron perguntou
fracamente, olhando para qualquer lugar que não fosse o babá enquanto
uma gota de suor escorria por sua testa. Fin notou um volume bastante
impressionante na frente da calça do chefe e seu constrangimento se
transformou em pânico.
Mas que merda! O que eu faço? Fin tossiu e deu dois passos largos
até a mesa e pegou o cardigã.
— É mais uma coisa do TDAH. E também porque o mundo está
sendo sufocado com fast fashion, então faço roupas de frio para os
necessitados enquanto assisto a filmes ou ouço audiolivros. Fico muito
nervoso com a quantidade de poluição e lixo que os humanos criam e como
estamos transportando cargas de sujeira do tamanho de um aterro sanitário
pelo oceano porque ficamos sem espaço aqui — Fin balbuciou. — Tenho
que manter minhas mãos ocupadas e posso usá-las assim — ele acrescentou
e viu Cameron estremecer. O jovem repensou sua última declaração e quis
em esmagar sua mão na gaveta.
— É? — Walker deu uma resposta tensa e puxou o colarinho.
— Você sabe o que dizem sobre mãos desocupadas — Fin completou,
depois mordeu os lábios. Isso é pior, seu nerd! Ele correu para colocar o
ábaco de volta na estante e derrubou uma pilha de quebra-cabeças de
madeira no chão. Todos os países e continentes se espalharam pelo tapete,
fazendo Cameron murmurar de forma dolorosa. — Não se preocupe! Eu
pego tudo — o babá anunciou ao se abaixar.
— Preciso falar com o Pierce! Vejo você amanhã — Cameron disse e
se apressou em direção à porta.
— Certo. Espero que não seja nada sério. — Fin piscou para a porta
vazia enquanto Walker escapava. — Tenha uma boa noite — ele adicionou.
Ele se afastou da porta e parou quando sua bunda bateu na mesa. — O que
foi isso?
Não era a primeira vez que Fin pegava o patrão o examinando. E com
certeza era culpado por olhar também. E por cheirar. Cameron era muito
cheiroso. Ele era bonito, e Fin era jovem e atraente. Até onde sabia, eles
eram os únicos homens gays no minúsculo microcosmo da Casa Killian,
então era natural que notassem um ao outro.
Não havia nada ameaçador ou predatório nos olhares do chefe. Na
verdade, eram cautelosos e fugazes e apenas despertavam a curiosidade e a
imaginação de Fin. E ele disse a si mesmo que se eles olhassem ou
sentissem o cheiro um do outro de vez em quando não tinha problema. Não
estavam machucando ninguém e ambos eram adultos. Não era como se Fin
tivesse alguém, então não estava sendo infiel. Não havia tempo para um
relacionamento. Ficava preso na Casa Killian das sete da manhã às sete da
noite, com folga apenas a cada dois fins de semana. Não era culpa dele que
seu chefe fosse incrivelmente gostoso e também gostasse de olhar. O babá
concluiu que estava só aproveitando ao máximo uma situação fantástica,
mas inofensiva. Ou assim ele pensava.
— O que isto significa?
Agora ambos sabiam e quase tinham reconhecido a situação. Fin
ficou envergonhado por Cameron ver sua cueca, mas... Ele gostou. Pelo
menos, parte dele. E foi muito... interessante para o jovem saber que
causava esse tipo de efeito em um homem como Walker Cameron III.
Também era perigoso.
Fin ficava nas nuvens toda vez que Cameron confiava nele e apenas
tentava. Ele não podia evitar ficar animado com o progresso do patrão e, às
vezes, ficava animado demais. Ninguém acreditaria que o chefe era capaz
do tipo de ternura e autoconsciência que Fin testemunhou em apenas
algumas semanas. Mas Cameron compartilhou este lado de si mesmo com o
babá pelo bem de suas filhas, embora estivesse claro que ficava
desconfortável em fazer isso. Eram esses lampejos de vulnerabilidade e
honestidade que o tornavam verdadeiramente sexy.
— O que vou fazer?
Em geral, o instinto de Fin seria ignorar, ignorar, ignorar e fingir que
nada aconteceu, mas ele nunca quis um chefe antes, muito menos um de
quem gostasse tanto quanto estava começando a gostar de Walker. O que
era outro problema. Fin já havia se apaixonado pelas trigêmeas e enfim teve
a oportunidade de salvar uma família. Ele nunca arriscaria isso por sexo,
mas certamente estava tentado.
— Vou ligar para o Riley e pedir para ele pegar as taças de vinho —
Fin disse com um aceno decidido. Terminaria de arrumar a brinquedoteca
pela manhã.
CAPÍTULO DOZE
— PODEMOS DAR NOSSA pintura para a vovó e o vovô quando
chegarmos lá? Não gosto de esperar você e o vovô falarem sobre dinheiro e
a casa — Amelia reclamou, sonolenta. Beatrice e Charlotte murmuraram
em acordo e abafaram bocejos. Elas praticamente se esqueceram do pai e
cochilaram por todo o trajeto até a propriedade da família, em Greenwich.
Era um milagre depois de anos de interrogatórios estridentes, e Walker
passou a maior parte da viagem de quase uma hora distraído por algo
diferente das brigas e reclamações pela primeira vez.
Mas depois de uma hora de relativa paz, ele ainda não sabia o que
fazer a respeito do que aconteceu com Fin na brinquedoteca. Ele não era o
tipo de homem que cruzava a linha com seus funcionários, e o babá não
parecia alguém que brincaria com o chefe. Fin era o tipo de homem que
usava cuecas vermelhas transparentes. Walker passou o resto da noite,
depois de fugir do quarto de brinquedos, imaginando o jovem em sua cama
usando nada além daquelas cuecas. E isso foi surpreendente por si só.
Porque nada poderia ser mais tolo do que se envolver com Fin. A
súbita onda de excitação era uma erupção inoportuna de um vulcão
adormecido há muito tempo, e Walker ainda estava abalado com as
consequências. Ele não tinha certeza de como se sentia a respeito disso e,
sem dúvidas, não estava pronto para explicar a Fin.
Fazia apenas três anos e Cameron não passava mais que duas semanas
sem chorar, mas já não olhava mais para as portas desejando que Connor
entrasse na sala. Se ele tivesse um terapeuta, o médico diria que ele aceitou
a morte do marido, mas ainda estava no estágio de “dor intensa”. Houve
momentos em que ficou tão sozinho e se sentiu tão isolado pela enormidade
do que havia acontecido que ansiava por alguém que o ajudasse a encerrar
aquela parte de seu passado para seguir em frente. Então, se preocuparia
com o preço de deixar o marido ir.
Ele ficou petrificado com a ideia de namorar novamente. Se fechou
na Casa Killian e o mundo o deixou sozinho na maior parte do tempo,
porque estava de luto. Mas o mundo mudou de forma drástica desde que
esteve na faculdade, e ele mal entendia de namoro na época.
Mesmo que Walker pudesse, não saberia o que fazer com alguém
como Fin. O babá era mais novo e muito mais experiente de um jeito que
ele não conseguia compreender. O jovem poderia ter quem quisesse, e
Walker o entendia bem o suficiente para saber que ele nunca colocaria seus
desejos à frente das necessidades das meninas.
Se Fin o quisesse.
Cameron pensou ter visto o babá o observando algumas vezes, mas
disse a si mesmo que foi imaginação. Ele assumiu que Fin tinha alguém ou
que tinha opções melhores. Por que alguém tão criativo e vibrante se
interessaria por uma pessoa tão sem graça e rígida como ele?
Mas Walker ficava imaginando, com ciúmes, com que tipo de homem
Fin passava seu tempo quando estava longe da Casa Killian. E suas mãos
apertaram o volante enquanto entrava pelo portão e passava pelo labirinto
em miniatura no meio do pequeno pátio. As meninas ficaram em alerta
quando ele estacionou em frente à propriedade de estilo colonial. Elas
apontaram para os cavalos no estábulo com entusiasmo antes de atacarem
as fivelas das cadeirinhas.
— Podemos dar nossa pintura ao vovô e depois dizer oi para os
pôneis? — Beatrice implorou. O pai desligou o carro e olhou para o palito
de picolé e a moldura de macarrão no banco do carona. A obra de arte foi
um projeto em equipe. Fin fez as meninas pintarem uma imagem dos pais
de Walker nas cadeiras de rodas em forma de tronos para combinar com a
moldura de macarrão colorida.
— Lembrem-se de que a vovó e o vovô não conseguem mais
enxergar muito bem e nem sempre entendem o que vocês dizem, porque
também não conseguem ouvir direito. — Cameron se virou para as filhas.
Era mais fácil fingir que seus pais não podiam ver ou ouvir as
meninas do que explicar que os idosos sempre foram frios e vazios. Eles
estavam com problemas de audição agora, mas podiam entender quando
convinha. Ambos estavam surpreendentemente bem de saúde, mesmo na
casa dos oitenta anos e podiam andar, mas seu pai gostava de ser empurrado
e mimado pela enfermeira jovem e atraente. E sua mãe gostava de tomar
coquetéis no café da manhã, então se sentia mais segura sentada o tempo
todo.
— Eles estão ansiosos para ver vocês, mas ficam cansados rápido —
ele acrescentou. Amelia assentiu com impaciência enquanto ajudava
Charlotte com a bota.
— O vovô nos ama, mas quer perguntar sobre o seu dinheiro — ela
disse, e começou a apressar Bea. Pelo menos, elas não vão ficar
desapontadas. Os pais de Walker mal notavam as meninas, e a única
preocupação do pai era o portfólio do filho e sua reputação em Wall Street.
Cada geração de Camerons havia construído um império com as próprias
mãos, com uma vantagem significativa, é claro, e Walker havia superado
todas as gerações anteriores. Até contratar Fin, temia que não fosse melhor
que o pai e que as filhas estivessem pagando o mesmo preço que a irmã e
ele.
Como se a tivesse convocado, a enorme porta da frente da casa se
abriu, e Agnes desceu os degraus da frente correndo para recebê-los. Ela era
alta como irmão, mas esbelta. Walker nunca diria isso em voz alta, mas
achava que ela havia envelhecido muito bem e estava estonteante, ainda
mais quando prendia o cabelo escuro com toques grisalhos em um coque
estiloso. No entanto, ela não parecia tão estonteante no momento. Usava
com um avental manchado de tinta e tamancos ridículos de madeira. E
estava fazendo um grande espetáculo, pulando e acenando como uma
competidora em um game show.
— Dinheiro é praticamente a única coisa que o vovô entende hoje em
dia. — Se isso, o homem pensou com uma careta irônica. A compreensão
de seu pai sobre o mercado financeiro estava diminuindo à medida que a
tecnologia avançava, mas o dinheiro ainda era a única coisa com a qual
Walker Cameron II se importava. — Vamos lá. Se vocês forem boazinhas
com a vovó e o vovô, poderemos jogar tênis com a Agnes — falou. As
meninas comemoraram enquanto ele saía e dava a volta para ajudar Amelia.
Agnes abriu a outra porta e pegou Charlotte quando ela se lançou para fora
do carro.
— Minhas soldadinhas! — Agnes riu quando as pegou e beijou
Charlotte e Beatrice.
— Fizemos uma pintura! — Amelia anunciou, animada para mostrar
à Agnes. Ela estendeu a mão e pegou a arte emoldurada. O outro braço se
esticou para Walker, e ela riu quando se jogou para o pai. Ele a abraçou
apertado e reprimiu um arrepio. O homem adorava esses momentos em que
as filhas estavam calmas o suficiente para abraçá-lo. Felizmente, eles
estavam acontecendo com mais frequência desde a chegada de Fin.
Demorou anos para chegar até aqui, mas Walker enfim conseguia passar
mais de cinco minutos com suas borboletas caóticas sem xingar baixinho ou
implorar a elas para ficarem em silêncio.
— Isto é uma obra de arte! — Agnes declarou. Ela continuou a falar
enquanto cercava as meninas no carro. — Graças a Deus vocês têm o gosto
e a criatividade de Connor. Walker nunca foi bom com cores. É por isso que
ele gosta de tudo em cinza, preto e branco — ela disse. Walker revirou os
olhos e as seguiu. Apesar da alfinetada, estava grato por sua capacidade de
falar sobre Connor com tanta facilidade. Walker não conseguia, mas ela
fazia parecer que o marido ainda estava lá e o mantinha presente na
memória das meninas. Por mais satisfeito que estivesse pelo tempo livre,
parte do motivo pelo qual ele mandava as meninas para Agnes era para que
elas pudessem aprender mais sobre o outro pai. Agnes era um pé no saco,
mas tinha suas qualidades. Ela é minha melhor amiga.
— Eu também achei — Walker respondeu, então pegou as malas e as
deixou na entrada para que pudessem ser colocadas no Range Rover de
Agnes. Ela ia ficar com as sobrinhas pelo resto da noite e depois ia levá-las
para um lanche. Os irmãos trocaram olhares carregados, e ele a abraçou
para cumprimentá-la. — Eles estão muito cansados? — perguntou e ela
suspirou, dando um tapinha reconfortante no peito dele. Há muito tempo,
“cansados” era o código para sóbrios e sociáveis. Ou, quando se referiam às
visitas das trigêmeas, companhia apropriada para crianças pequenas.
— Mamãe não está consciente desde a quarta taça de vinho de café da
manhã, mas papai está reclamando sobre criptomoedas — ela alertou.
— Droga. Quem contou a ele sobre isso? — Walker perguntou. Ele
colocou Charlotte no chão e entrou na casa para acalmar o pai antes que ele
tivesse um derrame, interrompendo o discurso do pai e desviando a
conversa para a recente reforma no jardim da Casa Killian. Agnes levou as
trigêmeas para o quarto, arrumou os cabelos e vestidos delas antes que
entrassem e fizessem uma reverência. Walker avaliou os pais enquanto os
dois se deleitavam sob um raio de sol que entrava pela janela em forma de
arco. O fogo crepitava na lareira, apesar do dia de primavera lá fora, porque
a mãe estava sempre com frio. As meninas estavam lindas e muito bem-
comportadas, mas não houve reação dos avós.
— Vejam quem está aqui! — Walker falou com entusiasmo e se
abaixou para poder arrumar o cabelo mãe que caiu rosto. A mulher deu um
tapa em sua mão e o pai procurou o monóculo.
— O quê? — ele perguntou em voz alta.
— As meninas do Walker estão aqui! — Agnes gritou para eles e a
cabeça da mãe se ergueu.
— Eu quero vê-las! — Ela empurrou os braços da cadeira e
vasculhou a sala. — São elas ali? — perguntou, apontando para o reflexo
do filho na cornija da lareira.
— Aqui, mãe — Agnes repreendeu e guiou as meninas para mais
perto. Walker segurou as meninas. Ele não queria que elas chegassem muito
perto, pois não sabia se queriam que os avós as tocassem. As três não eram
mais bebês, e ele imaginava que o temperamento explosivo de seus pais e
os comentários bruscos e diretos pudessem ser perturbadores para crianças
pequenas. E os dois tinham o hábito de agarrar e beliscar.
— Fizemos algo para vocês — Amelia comentou. Ela deu um passo à
frente e apresentou a moldura de macarrão. O pai ficou orgulhoso da atitude
formal, mas lamentou que ela tivesse desenvolvido aquela armadura. Ela
estava distante e desinteressada ao apresentar a pintura. A alma de Walker
murchou um pouco mais quando o avô ajustou o monóculo e se inclinou
para frente. Ele fez vários sons de "Hum!" antes de voltar a se recostar em
seu trono estofado de tapeçaria.
— Você deveria contratar um professor de arte decente para elas —
ele disse com desdém. O monóculo caiu e balançou como um pêndulo na
silenciosa sala de estar.
— É uma obra-prima — Agnes declarou e a tirou das mãos do pai.
Ela foi até a cornija e apoiou a moldura no espelho. — Vejam isso! — Ela
apertou o peito de forma dramática. — Sabe, acho que vou pintar uma
versão em tamanho real para o aniversário de casamento de vocês — a
mulher falou com um aceno decisivo. Walker não poderia ter amado mais a
irmã quando ela colocou os braços em volta das meninas e as levou para
longe. — Nós vamos nos trocar. Encomendei boás de penas e luvas
combinando para nós que acabaram de chegar. Nos encontramos na quadra
de tênis, Walker — anunciou.
As meninas saíram com Agnes e Walker ficou um pouco com os pais
até que também fosse dispensado para que pudesse vestir suas roupas de
tênis.
Os cinco passaram a tarde rindo e jogando bolas uns nos outros. E
então as meninas entraram para jantar no quarto delas. As três assistiram a
seus filmes favoritos e brincaram enquanto Walker e Agnes sofriam no
andar debaixo.
Ele estava brincando com a raquete e ansiava por coquetéis na sala de
estar. Eram o anestésico perfeito para o jantar com os pais. Então, Agnes
atacou. Walker percebeu que estavam sozinhos, e ela estava com um humor
malicioso, a julgar pelo brilho em seus olhos.
— Quem é este Fin de quem tanto ouço falar? — ela murmurou,
passando o braço em volta do pescoço do irmão. — As meninas dizem que
ele é o melhor babá do mundo e um rapaz muito fofo.
— Não comece — Walker disse e tentou se esquivar, mas ela agarrou
a parte de trás de sua camisa.
— Notei que você está mais firme com as meninas, e elas estão muito
mais calmas ultimamente.
— Fin ameaçou se demitir se eu não me recompusesse e parece que
há alguma sabedoria por trás da loucura dele.
— Parece que sim — Agnes falou, sugestiva. O irmão a ignorou e
ficou absorto enquanto brincava com a bola de tênis na raquete.
— É muito cedo para eu me interessar por outros homens? — ele
perguntou quando Agnes pegou a bola.
— Já faz muito tempo — ela disse. E então segurou o pulso de
Walker e o virou. Ele desviou o olhar para que a irmã não pudesse ver seus
olhos lacrimejando. Fazia apenas três anos, mas todos diziam que já era
tempo suficiente. — Por favor, faça isso, mesmo que tenha medo — a
mulher pediu. Ele balançou a cabeça, mas Agnes segurou seu rosto. —
Ouvi dizer que você voltou a rir.
— Crianças de seis anos são fontes terríveis — Walker alertou. —
Não está acontecendo nada. Eu só estou curioso.
— Você não é o único.
— A última coisa que esta situação precisa é de uma irmã mais velha
intrometida.
— Tem certeza? — ela perguntou com gentileza. — Você se trancou
em casa e só sai para trabalhar ou pelas meninas. Quem mais vai te dizer
para seguir em frente? Com certeza, não vai ser o Pierce.
— Não. O conselho dele seria muito mais sensato e menos provável
de arruinar minha vida — Walker rebateu, mas o rosto de Agnes se
contraiu.
— Que vida, meu amor?
— Não comece, Aggie. Eu me mantenho ocupado com as meninas e
com o trabalho — ele afirmou, e ela riu baixinho, então passou o braço em
volta dele.
— Não mais. Agora você tem o Fin e as coisas já estão muito mais
tranquilas. Você pode ter muito mais tempo disponível.
— Um pouco, mas ele quer que eu dedique esse tempo para as
meninas, e acho que essa é a decisão certa.
— E você? O que você quer? — ela perguntou, e Walker nem
precisou pensar. Fin.
— Eu não sei, mas finalmente parece que tenho algum controle, e não
vou mais estragar as meninas. Há uma chance de Fin me transformar em
um pai decente e tenho que aproveitá-la. Isso é tudo o que importa no
momento.
Agnes suspirou e se inclinou para levar Walker de volta para casa,
mas seus pés estavam pesados. Ele estava pensando em pular o jantar e
voltar para a cidade mais cedo.
— Não posso falar sobre o assunto com propriedade, porque fomos
criados por duas figuras frias e vazias, mas acredito que parte de ser um pai
decente é ser um pai feliz. As meninas veem como você está sozinho e
ficam mais felizes quando você sorri.
— Isso não é justo, e você sabe — Walker repreendeu. — A mamãe
pode reter litros de álcool e muitas vezes o faz sem derramar uma gota.
— Verdade — Agnes admitiu. — Mas imagine como teria sido se
nossos pais gostassem um do outro e rissem com a gente — ela rebateu,
cutucando a consciência do irmão.
— Vou pensar sobre isso, pirralha.
CAPÍTULO TREZE
— ESPERE. VOCÊ ACABOU de me dizer que não posso ver o
projeto de lei antes que ele chegue ao Plenário? — Walker perguntou,
sorrindo quando ouviu o senador gaguejar um pedido de desculpas. Parecia
que ele estava chorando. — Volto a ligar depois que eu der uma olhada. —
Ele desligou e riu baixinho enquanto riscava o item da lista em sua agenda.
Houve uma batida suave na porta do escritório.
— Então é aqui que você se esconde. — Fin franziu os lábios e entrou
na sala com as mãos nas costas. Ele avaliou as estantes e as paredes e girou
lentamente. — Estranho que eu trabalhe nesta casa há quase dois meses e
nunca tive motivo para dar uma espiadinha...
— Garanto a você, não estou me escondendo. — Walker apoiou o
cotovelo no braço da cadeira e fingiu estar calmo enquanto Fin tocava seus
troféus e cartazes. Ele estava se escondendo, mas achava que seu escritório
era um disfarce infalível, porque era onde trabalhava e, em geral, passava a
maior parte do tempo. O homem mais velho ainda estava preso entre a
razão e... a parte dura em suas calças. Ele não queria prejudicar o progresso
que estava fazendo com as meninas, mas a voz de Agnes continuava
ecoando em seu ouvido sempre que via Fin.
O babá era muito mais do que “um cara muito fofo”, e Walker
gostaria de ter coragem para dizer ou fazer algo sobre essa atração, mas
havia muito em jogo.
— Estou bem onde devo estar.
— Se você diz. — Fin foi até os decantadores de vinho, puxou uma
das tampas e cheirou. O chefe franziu a testa em confusão.
— Se eu digo? — Geralmente é assim mesmo.
— Sim. Isso é o que as pessoas falam quando não concordam.
Quando têm uma diferença de opinião — Fin explicou com um gesto vago.
Ele se abaixou para ver mais de perto uma foto do patrão com o papa e riu.
Walker revirou os olhos para o teto.
— Uma diferença? Eu não estou me escondendo. Este é o meu
escritório, Fin. Onde mais eu estaria? — ele perguntou.
— Na brinquedoteca em meia hora? — o babá sugeriu, mas Walker
bufou.
— Com certeza, não. Tenho uma chamada com o secretário de defesa
em vinte minutos.
— Não! Você precisa remarcar ou encurtar a ligação! — Fin insistiu.
— Remarcar com o secretário de defesa? — Cameron perguntou, e o
jovem assentiu como se não fosse absurdo.
— Sim. Eu disse às meninas que poderia fazer com que você
aparecesse para o nosso chá antes da soneca da tarde, mas elas não
acreditaram em mim. Disseram que você nunca aceita os convites, mas eu
respondi que tinha a manha.
— Manha?
— Você sabe, influência. Preciso que você apareça para que eu possa
fazer parte do clubinho.
— Clubinho? — Walker perguntou sem entender nada, e Fin deu um
tapa na própria bochecha.
— Vamos, Cameron. Aja como se já conhecesse o roteiro. Estou
tentando impressionar as meninas para que elas confiem em mim e me
achem legal. É o que você quer, certo?
— Claro. Minha sanidade e salvação dependem disso. — O homem
não conseguia ver como sua presença em um chá beneficiaria sua sanidade
ou ajudaria em sua salvação. No mínimo, podia acelerar sua queda em
direção à loucura.
— Então se junte a nós no chá.
— Acho que não posso remarcar com o secretário de defesa ou
“encurtar” a chamada.
— Só estou pedindo meia hora. Coopere comigo. Vou fazer valer a
pena — Fin disse de forma suave, fazendo os cabelos da nuca do patrão se
arrepiarem.
— O quê?
— Meia hora na brinquedoteca bebendo chá invisível vai transformar
suas meninas, eu prometo — o babá murmurou as palavras como se
estivesse convidando Walker para uma escapada relaxante em um spa.
Por um momento, ele imaginou que Fin estava oferecendo um tipo
diferente de troca e ficou chocado consigo mesmo. Então, se lembrou do
que sua parte no trato implicava e bufou.
— Não é que eu não queira. Tivemos sorte, mas não acho que vai ser
do jeito que você está esperando. Sempre que me junto às meninas para
uma atividade na brinquedoteca ou saímos para um passeio, tudo se
transforma em caos. Elas ficam superanimadas e gritam sem parar. Então
acabo me irritando e grito com elas. Uma delas, normalmente Charlotte, vai
começar a choramingar, e vou me sentir péssimo e terei que ir embora. Ou
isso, ou o alarme de incêndio é acionado e vou estragar outro terno.
— Sem chance! Não em um dos meus chás! — Fin prometeu e
contornou a mesa de Walker, se apoiando na beirada. Os olhos do homem
mais velho se arregalaram e voaram para os do babá. Pierce era o único que
havia tocado em sua mesa. A maioria das pessoas tinha muito medo para
cruzar a soleira da porta do escritório, mas Fin com certeza se sentia em
casa. Ele murmurava com curiosidade, despreocupado enquanto mordia o
lábio e estudava o calendário do chefe.
— Por que seus chás são especiais? — perguntou, analisando o lábio
inferior do babá. Era cheio e parecia muito macio. Walker havia notado que
ele costumava raspar os dentes sobre os lábios quando estava planejando e
calculando algo.
— Primeiro, é uma festa do pijama com chá. Segundo, nada de
segredos — Fin disse, aumentando a perplexidade de Walker.
— Sem segredos? — ele repetiu.
— Sim! Coloquei Brubeck para tocar e dançamos por meia hora para
que as meninas pudessem esquecer sobre segredos e picuinhas. — O jovem
levantou os braços e encenou enquanto assobiava a abertura de Take Five.
Era uma das músicas favoritas de Walker, e ele estava um pouco triste por
ter perdido esse momento. — Providenciei uma tigela grande de morangos
e framboesas, porque essas frutinhas são cheias de vitaminas e minerais que
ajudam no descanso e relaxamento. As meninas estarão cochilando antes
que a meia hora acabe.
— Parece maravilhoso, mas não posso reagendar a ligação. — Walker
ainda não estava convencido de que não estragaria o chá das filhas e ficaria
parecendo um idiota mal-humorado. Mas o pensamento de apaziguar as
meninas e agradar Fin o atraía, se houvesse alguma maneira de conseguir
isso sem perder a paciência.
— Que tal isso? — O babá se inclinou para Walker como se eles
estivessem negociando algo muito mais sério. — Posso adiar por meia hora.
Vou pedir a elas que desenhem a parte favorita da história de dormir da
noite de ontem. Isso vai preparar suas cabecinhas para descansar. — Fin
estendeu a mão como se fosse sua melhor oferta. O chefe a tomou, notando
o quão forte era o aperto do jovem. Era seguro e confiante, mas sua mão
estava quente enquanto segurava a dele.
— Estarei lá — Walker confirmou. Um sorriso largo encheu o rosto
de Fin, iluminando seus olhos. O homem mais velho pôde sentir o calor se
espalhando por seus dedos e subindo pelo braço como se a confiança e o
otimismo do babá estivessem se infiltrando nele.
— Bom garoto! — Fin disse antes de cortar a conexão calorosa.
Walker quase o seguiu quando ele se levantou e contornou a mesa. O jovem
fez uma pausa e levantou dois pares de dedos cruzados. — Não tivemos
uma pegadinha ou colapso em dois dias. Tenho a sensação de que você vai
descobrir que as meninas estão muito mais calmas agora, porque sabem que
vão ter tempo com você esta noite. E elas sabem que vão te ver amanhã no
café da manhã. Um pouco do seu tempo é tudo o que elas precisam, você
vai ver — ele completou e saiu.
A chamada para o secretário de defesa durou quase meia hora, mas
não teve nada de extraordinário, o que não exigiu muito da atenção de
Walker. Ele pôde refletir sobre o plano de Fin e descobriu que também
estava otimista. O babá estava lá há apenas algumas semanas, mas todos já
haviam notado uma melhora nas garotas, o que levantava o astral da casa.
Pierce disse que não tinha visto nenhum vazamento ou chamado um técnico
em conserto em dias, e Walker não conseguia se lembrar da última vez que
ouviu uma empregada chorando.
Quando ele chegou à brinquedoteca, se deparou com a iluminação
fraca. Uma luminária em forma de esfera repousava sobre a mesa de arte,
projetando tons pastéis na sala. Um dos edredons florais das meninas estava
no chão e havia travesseiros por ali para relaxar. Como prometido, uma
grande tigela de frutas e um jogo de chá de cerâmica rosa esperavam
enquanto Louis Armstrong cantava What a Wonderful World.
— Você chegou na hora certa! — Fin disse acenando de seu lugar no
cobertor. Ele havia tirado os tênis e estava sentado de pernas cruzadas. As
meninas levantaram os olhos dos desenhos, claramente felizes em ver o pai,
mas não houve gritos ou tumulto. Tranquilas, elas deram tapinhas no
edredom, convidando Walker para se sentar. E permaneceram calmas
quando ele tirou os sapatos e se deitou em frente a Fin.
— Posso servir um pouco de chá? — Beatrice pegou o bule e uma
xícara vazia quando ele assentiu. A xícara permaneceu vazia depois que ela
serviu, mas Walker fez um som apreciativo enquanto bebia e comia um
morango de verdade.
— Esta é uma das minhas músicas favoritas — ele falou a Charlotte,
e ela assentiu rapidamente.
— Gosto desta e daquela sobre o velho MacDonald.
— Eu conheço essa música... — Walker estreitou os olhos e se
inclinou para ela. — Qual é a sua versão favorita? — perguntou e a filha
olhou para Fin.
— Ella Fitzgerald, mas está na nossa playlist “Esqueça os Segredos”,
porque é agitada demais para a hora do chá — o babá explicou, e Walker
ficou impressionado mais uma vez.
— É uma excelente escolha e é realmente agitada — respondeu,
fazendo Fin e as meninas rirem. — Qual é a sua música favorita? — Walker
perguntou a Charlotte. Ela estava adorável enquanto batia no queixo de
forma pensativa.
— Gosto de Linus and Lucy — ela disse, arrancando um suspiro de
satisfação do pai.
— Eu amo essa música! — ele falou, e ficou um pouco sem fôlego
quando as meninas se aproximaram. Amelia se encolheu ao lado dele
enquanto Beatrice descansava a cabeça em sua coxa e Charlotte e Fin
pintavam e cantavam junto com a música. Os olhares deles se cruzavam de
vez em quando, e Walker achava reconfortante que nada tivesse mudado
entre os dois. Fazia quase uma semana desde que viu a cueca vermelha, mas
o babá agia de forma relaxada e encorajadora como sempre. Ele soltava
grunhidos suaves e sussurros de aprovação enquanto o chefe e as meninas
desenvolviam um laço por meio da música. Os dois ainda pareciam ser
parceiros, focados no bem-estar das garotas, e Walker suspeitava que
também estivessem se tornando amigos.
A tarde se tornou mágica quando Hit The Road To Dreamland, de
Dean Martin, começou a tocar e Amelia pediu a Walker para dançar com
ela. Era a música favorita da pequena e ele sentiu como se estivesse em um
sonho à medida que os dois adultos se revezavam para dançar com as três
até a hora da soneca. Foi fácil relaxar quando confiou em Fin e parou de
pensar demais nas coisas.
Como o babá previu, as meninas estavam sonolentas e foram
colocadas na tenda da princesa quando a hora do chá acabou. A festa do
pijama foi um sucesso tão reconfortante que, quando voltou ao escritório,
Walker fez algo que não fazia desde criança. Ele apoiou os pés no canto da
mesa, cruzou os braços atrás da cabeça e tirou uma soneca.
CAPÍTULO CATORZE
EU NÃO O teria convidado para nossa festa do pijama com chá se
soubesse que ele estaria tão gostoso.
Fin estava um pouco frustrado consigo mesmo ao descer os degraus
em direção à porta de sua casa. Ele incitou Walker a comparecer, mas o tiro
saiu pela culatra. O jovem convidou o patrão para que ele pudesse desfrutar
de uma atividade relaxante com as meninas e provar que nada havia
mudado entre eles. Mas o pai fez mais do que se conectar com elas por
meio do jazz e do chá imaginário; ele esteve presente, vulnerável e
abertamente encantado com as filhas. Isso deixou Fin fraco, e ele teve
ideias muito indecentes sobre como gostaria de agradecer o patrão por
tornar seu trabalho bem mais fácil.
E agora é Walker? Não é um bom sinal.
Ele não apenas chamava seu chefe pelo primeiro nome em
pensamento, como também ficava imaginando como ele passava as horas
quando não estava com Fin e as meninas. E imaginava várias maneiras de
preencher seu tempo enquanto as crianças dormiam ou estavam fora de
casa. Em suas fantasias favoritas, Fin trancava a porta do escritório e o
agradava por ser um bom garoto.
O que seria ruim, mas o pior era que Fin tinha uma forte suspeita de
que o patrão gostaria muito disso. Era difícil não perceber como ele ficava
nervoso e corado sempre que o jovem o elogiava. E, muitas vezes, havia um
olhar esperançoso quando olhava para ele em busca de aprovação. Aquele
olhar ia direto para as calças do babá e fazia seu coração acelerar.
— Cheguei — Fin anunciou e fechou a porta com um chute. Ele
deixou a mochila escorregar pelo braço e cair no chão a caminho da
cozinha. Riley pareceu preocupado sentado no balcão. Ele estava bebendo
vinho e supervisionando uma panela de massa cozinhando.
— O que aconteceu? Sua mensagem disse que o chá foi um sucesso.
— Até demais — Fin resmungou. Ele pegou uma taça no armário, e
Riley estava pronto com a garrafa. O amigo a encheu e Fin agradeceu antes
de tomar vários goles.
— Demais com as meninas ou com Cameron? — Riley perguntou em
dúvida e o outro balançou a cabeça.
— Talvez eu tenha gostado um pouco demais — ele admitiu, fazendo
o rosto de Riley se contrair.
— Eca.
— Não desse jeito. — Fin deu um olhar de reprovação para o amigo e
balançou a cabeça. — Mas eu posso ter tido... pensamentos.
— Oba! Eu estava esperando que isso acontecesse! — Riley
comemorou.
— Não! Não é assim. Podemos estar interessados um no outro, mas
não desse jeito — Fin disse e deixou o outro desanimado.
— O que você quer dizer? Vocês gostam um do outro ou não?
— Sim — Fin disse com naturalidade. — Pude conhecer um pouco
melhor o Walker e ele não é tão horrível como eu pensava...
— Walker?
— Eu não o chamo assim pessoalmente — ele respondeu e parou
Riley antes que o amigo pudesse dizer qualquer coisa. — Já reconheci que é
um problema e posso estar tendo alguns pensamentos inapropriados sobre
meu chefe. — Ele abaixou a cabeça e se encolheu quando a expressão de
Riley se abriu em um sorriso enorme.
— Eu sabia! Vamos ter um casamento na primavera! Ultimamente,
todo mundo está se casando no inverno, mas quem quer passar frio e ficar
encharcado de chuva ou neve quando está dizendo os votos?
— O quê? Não! — Fin balançou a cabeça, frenético. — Eu disse que
ele não é tão horrível quanto eu pensava, mas não quero namorar. De jeito
nenhum — ele acrescentou com firmeza.
Riley fez beicinho e coçou a cabeça, com uma expressão
desapontada.
— Nem um pouco?
— Não. Estamos nos dando muito bem, mas não temos muito em
comum ou parecemos muito interessados um no outro, além de uma coisa
muito específica — Fin explicou. Riley arregalou os olhos enquanto
processava a informação e bebia vinho.
— Estou assumindo que essa coisa é sexo — ele finalmente
adivinhou. O amigo ergueu a mão e balançou a cabeça.
— Não faço ideia, mas parte de mim realmente quer.
— O que isso significa? — Riley quis saber. Fin passou a mão pelo
cabelo e fez um som de explosão.
— Percebi que ele gosta quando o parabenizo por algo. Posso até tê-
lo chamado de “bom garoto”.
— Ah — Riley se recostou e piscou para o outro. — Você acha que
ele quer ser um cachorrinho?
— Não... — Fin estreitou os olhos enquanto tentava imaginar o patrão
com uma coleira e de joelhos. Era uma visão e tanto, mas não parecia certo.
— Ele não é esse tipo de submisso. Walker é inseguro sobre suas
habilidades como pai e quer ser elogiado por coisas verdadeiras. Não acho
que ele queira ser obediente apenas pelo prazer de ser obediente, sabe?
— Mesmo assim, ainda é excitante. — Riley suspirou sonhador, e Fin
assentiu.
— Esse é o problema. Ele tem sido tão aberto sobre estar
sobrecarregado com as meninas e me escuta. Então quase derrete quando
digo que ele fez algo bom... e eu amo isso.
— É. É muito excitante. Me diga de novo por que você não quer se
casar com ele — Riley falou, mas o amigo não ia se dignar a responder.
— Outra coisa aconteceu há cerca de uma semana — Fin comentou,
hesitante. Riley fez um pequeno som e deslizou para fora do balcão.
— Já sei que vai ser bom. Diga — ele pediu e gesticulou, impaciente.
Fin olhou para sua taça e pensou em jogar nele, mas decidiu não
desperdiçar vinho. E ele não tinha mais ninguém com quem conversar. Reid
o estrangularia se soubesse o que aconteceu na brinquedoteca.
— Eu o peguei olhando minha bunda, e ele viu minha cueca.
— Ops. Que tipo de cueca? — Riley perguntou, porque sabia como o
gosto do amigo para roupas íntimas podia ser inusitado.
— Savage Fenty, mas da seção masculina. O fato é que ele gostou
muito. De uma forma muito óbvia. E ele sabe que eu sei — Fin explicou,
recebendo uma careta de Riley.
— Há um elefante na sala.
— Não mais — Fin rebateu, frustrado consigo mesmo mais uma vez.
— Ele estava me evitando e se escondendo no escritório, então o convidei
para o chá das crianças para provar que estava tudo bem. Ele deveria
perceber que podemos deixar o que quer que tenha acontecido fora da
brinquedoteca, no que diz respeito às meninas.
— Mas isso não aconteceu?
— Ah, com certeza aconteceu — Fin reclamou. — Tudo ocorreu de
forma perfeita, e Walker teve um momento maravilhoso com as meninas.
— Não consigo ver o problema — Riley falou, mas seus lábios se
contraíram como se entendesse. Fin fez uma careta sobre a taça.
— Além do meu irmão?
— Quem vai descobrir se você tomar cuidado? Cameron vai ficar
quieto, porque precisa de você e nós dois sabemos que você vai ser
cuidadoso.
— Normalmente, eu diria que você está certo, mas tive quase duas
horas sozinho depois da festa e a vontade de entrar sorrateiramente no
escritório dele foi quase insuportável! — Fin sussurrou com desgosto. —
Eu queria dizer que ele foi um bom garoto e implorar para acabar comigo.
— Você deveria ter feito isso! — Riley incitou, então colocou a mão
sobre a boca. — Soou excitado demais até para mim — ele disse, e Fin
assentiu.
— Só um pouco, mas pela primeira vez concordo com você. O que
vou fazer? Eu o peguei me olhando, e ele sabe que fiz o mesmo, mas agora
ele viu minha cueca e eu vi a ereção dele. Achei uma ótima maneira de
provar que não era nada, mas isso me fez querê-lo ainda mais.
Eles ficaram em silêncio por vários momentos enquanto ambos
refletiam sobre o problema.
— Ele realmente é o seu tipo — Riley observou, e Fin suspirou.
— Homens mais velhos e dominantes que se transformam em
submissos no quarto são meu ponto fraco. — Sua formação em psicologia
acabava se estendendo aos relacionamentos e à vida sexual. Compreender
as necessidades do parceiro excitava Fin romântica e sexualmente, e era
raro encontrar um homem que quisesse ser compreendido e respondesse de
forma tão positiva a elogios.
— Você precisa de algo para quebrar o gelo! — Riley disse e
gesticulou, animado. — Algo simples e que não dê a entender que quer
romance.
— Isso poderia funcionar! — Fin percebeu. Ele correu para a
geladeira para ver se havia mais vinho. Estava com sorte. — Maravilha! —
Ele pegou a garrafa e sorriu para o amigo. — E acho que conheço a maneira
perfeita de manter os riscos baixos.
— Continue. — Riley acenou e estendeu a taça.
— Eu já sei que ele gosta de ouvir quando está sendo um bom garoto
— Fin disse enquanto servia o vinho. — Vou perguntar se ele gostaria de
explorar diferentes tipos de recompensas.
— Como o quê? — Riley perguntou arqueando as sobrancelhas. As
bochechas de Fin estavam quentes quando ele deu de ombros.
— Estou aberto a quase qualquer coisa, mas tenho uma coleção
impressionante de roupas íntimas... — O jovem sentiu uma onda de
excitação ao pensar em abrir o zíper da calça e recompensar Walker. — Vou
começar com uma espiadinha na minha tanga e deixá-lo resolver até onde
quer ir.
CAPÍTULO QUINZE
— VOCÊ VIU AS meninas ou Fin? — Walker perguntou ao passar
por Pierce no hall de entrada.
— Não desde o café da manhã, senhor — o mordomo respondeu e
ficou no cômodo, mas Walker o dispensou.
— Obrigado pela ajuda — ele disse baixinho e subiu os degraus.
Estava chovendo, então os quatro provavelmente estavam na brinquedoteca.
Ele atravessou a galeria e estava verificando a hora quando ouviu o babá
gritar. — Fin! — O coração de Walker disparou à medida em que corria.
Achava que já não precisava se preocupar com a segurança do jovem,
mas seus gritos aumentaram à medida em que Walker subia os degraus. Ele
escorregou quando chegou ao patamar e se jogou contra a porta do quarto
de brinquedos, então a abriu e o sangue sumiu de seu rosto quando viu as
meninas empurrando, puxando e esfaqueando Fin com armas de mentira. O
babá soluçou e implorou por misericórdia enquanto se contorcia.
— Até tu, Brutus? — Fin balbuciou e arfou quando estendeu a mão
para Charlotte, que riu e o espetou no coração com sua adaga. A lâmina de
espuma amassou quando a menina a segurou no peito dele e forçou Fin a
ficar de joelhos. Ele tossiu de forma dramática e riu quando se enroscou na
capa feita com um lençol roxo. Então ficou de costas. As trigêmeas se
lançaram sobre o babá enquanto guerreavam com ele com as armas de
mentira.
— Obrigado, meu Deus. — Walker colocou a mão no peito e
suspirou, aliviado ao se encostar na porta. Mas um sorriso se espalhou em
seu rosto enquanto observava as filhas com Fin. Ele mordeu o nó do dedo
para abafar uma risada ao ver o jovem se ajoelhar e gritar como um
Velociraptor, o dinossauro.
— Não havia dinossauros na época de César! — Beatrice se opôs,
mas perdeu a razão quando Fin a agarrou e fez cócegas.
— Como você sabe? Você estava lá? — ele rebateu e então gritou
quando Charlotte pulou em suas costas e passou um braço em seu pescoço.
— Se acalmem! Sou eu quem vai esconder o corpo dele se vocês o
matarem — Walker falou alto, assobiando para chamar a atenção delas. As
meninas riram e gritaram com alegria, depois correram pela brinquedoteca
para cumprimentar Walker.
— Sr. Cameron? — Fin bufou enquanto lutava para se livrar da
túnica. — Nós estávamos...? Ah, caramba! — ele falou e puxou o lençol. A
camiseta subiu junto e ficou presa na cabeça, atraindo a atenção de Walker.
Ele caiu contra a porta e bateu com a cabeça quando as meninas atingiram
suas pernas. O homem mais velho não percebeu ou se importou à medida
que avaliava cada centímetro exposto das costas e da lateral do peito de Fin.
Ele emitiu alguns sons e acenou com a cabeça enquanto as meninas
balbuciavam para ele. Walker perdeu todo o foco quando Fin se curvou para
se libertar da túnica, fazendo com que a cintura da calça descesse um
pouco, revelando uma fina tira de cetim cor de lavanda. O babá comemorou
quando chutou o lençol para longe e se contorceu para ajeitar a camiseta.
Walker fixou o olhar na tira roxa nas costas de Fin e notou que parecia ser
algum tipo de tanga feminina. — Nós estávamos fazendo muito barulho? —
o jovem perguntou enquanto ajeitava a camiseta e se virava para eles.
— Quem? — Walker indagou desnorteado. Seus olhos estavam nos
de Fin, como era apropriado, mas tudo que via era a tanga. Tudo ao seu
redor era lavanda conforme se imaginava puxando a tira de cetim roxo com
os dentes.
— Estamos te incomodando? Nós nos deixamos levar — o babá
disse. Ele parecia preocupado e franziu a testa ao atravessar o quarto de
brinquedos.
— De jeito nenhum. — Walker riu. Ele sorriu para Amelia e arrumou
uma de suas tranças antes de dar um beliscão em seu nariz. — Estou
aliviado por não precisar mandar o jardineiro e seus homens passarem a
noite fora — murmurou, e a criança riu quando o pai piscou para ela de
forma conspiratória.
— É hora do lanche, meninas. Podem ir se limpar e me encontrem na
cozinha. Vamos fazer fantasmas de banana, adagas de maçã e sangue de
framboesa para mergulhar as frutas! — Fin disse. As meninas
comemoraram e saíram correndo da brinquedoteca. — Você está bem? —
ele perguntou quando ficaram sozinhos.
— Eu? Claro — Walker respondeu de imediato. O que era mentira.
Ele estava abalado com duas revelações bastante significativas.
— Você bateu a cabeça.
— Sim. — O patrão concordou. Ele bateu a cabeça e percebeu como
era mais fácil sorrir quando não estava preocupado em arruinar a vida das
filhas ou transformá-las em monstros mimados. E descobriu que realmente
gostava de roupas íntimas femininas. Não as achava atraentes quando uma
mulher usava, mas mudou de perspectiva agora que viu a calcinha roxa de
Fin. O que foi tão milagroso quanto o riso, porque não achava que estava
interessado em nada além do básico quando se tratava de sexo. Mas essa
realidade mudou quando Fin começou a lhe dar ordens. Walker achava que
ele era um tanto insípido e previsível, mas seus gostos se alteraram de
forma bastante excêntrica, graças ao babá e sua calcinha. A libido de
Walker havia se esticado assim como o elástico roxo em volta da cintura do
jovem, e era muito mais aventureira do que imaginou. Mas essas eram
revelações muito inconvenientes para se ter em relação ao babá de suas
filhas.
— Quer que eu dê uma olhada? — Fin perguntou e estendeu a mão
para tocar Walker.
— O quê? — O chefe recuou e se chocou contra a porta. — Não! —
Ele riu e balançou a cabeça enquanto afastava o outro. Você saberia
exatamente o que está se passando pela minha cabeça se olhasse. — Estou
bem. Pode ter colocado um pouco de bom senso aqui dentro.
Ele devia a Fin muito mais do que o salário extravagante que estava
pagando. O homem mais jovem estava com eles há pouco tempo, mas a
família de Walker já parecia mais estável e menos caótica. As filhas
estavam se comportando, e o pai não precisava se preocupar tanto. Mais
importante, as trigêmeas estavam felizes e não quebravam nada caro há
dias. Fin abraçou as personalidades obstinadas e curiosas e as encantou
tanto quanto elas o encantaram.
— Estou muito bem, na verdade. Obrigado — Walker disse e acenou
para o corredor. — Posso acompanhá-lo até a cozinha, milorde? —
perguntou. Fin arrumou sua coroa de louros imaginária e ergueu a ponta de
sua túnica invisível.
— Veni, vidi, vici — Fin murmurou e passou pelo patrão. — E agora,
eu preciso de um lanche.
CAPÍTULO DEZESSEIS
— QUAL FOI O SEU momento favorito do dia? — Walker
perguntou a Beatrice. Ela se espreguiçou e bocejou.
— Minha parte favorita... foi quando Fin disse que iria perguntar para
você se poderíamos pegar caranguejos-eremitas porque ele pode fazer
qualquer coisa! Ele nunca tem medo e sabe de tudo — a menina balançou a
cabeça lentamente, admirada com o babá.
— Ele é muito inteligente.
— Fin disse que iríamos para a floresta fazer caminhadas e vai me
mostrar como pegar um sapo! — Charlotte exclamou.
— Sua vez já foi — Amelia repreendeu, e Charlotte mostrou a língua
para ela.
— Eu não preciso ter uma vez para falar sobre Fin.
— Mas você já falou sobre Fin quando era sua vez.
— Você também — Charlotte rebateu. Beatrice sorriu para Walker e,
por um momento, eles ignoraram as irmãs e tiveram uma conversa
silenciosa. Ele tinha esses momentos somente com Beatrice e os valorizava.
Charlotte era exuberante e curiosa e Amelia era direta e aberta com seus
sentimentos e observações. Mas Walker e Beatrice estavam desenvolvendo
uma linguagem secreta à medida que ele se tornava mais hábil em se
comunicar com cada uma das filhas.
— Fin é o melhor, papai. Não queríamos ninguém, mas ele nos ama e
você está mais feliz agora. E fica mais tempo aqui por causa do Fin.
— Temos sorte de tê-lo. — Walker beijou sua testa e puxou a coberta
até seu queixo. — Durma bem, princesa.
— Boa noite, papai.
O pai beijou e colocou Amelia e Charlotte na cama assim que a
discussão acabou, então fechou a porta com cuidado e se assustou ao
encontrar o babá encostado na parede.
— O que você está fazendo? — Walker perguntou em um sussurro.
Fin sorriu ao se afastar da parede e gesticulou para que o patrão o seguisse.
— Eu arrumei a brinquedoteca mais cedo, então pensei em esperar e
caminhar com você ao sair. Achei que poderíamos ter a nossa própria
conversa de “momento favorito do dia” — ele explicou. Walker achou que
era uma boa ideia, presumindo que o jovem também quisesse discutir os
momentos que não eram seus favoritos e como o outro poderia melhorar.
— Isso pode ser útil — ele concordou enquanto o seguia. Fin sorriu,
deixando o homem mais velho fascinado.
— Eu também acho. Me diga, qual foi a sua parte favorita do dia? —
ele perguntou com um leve empurrão, como se fosse um hábito passear
juntos no final do dia.
— Bem... — Walker parou ao analisar. Houve vários pontos altos.
Alguns deles eram profissionais, mas seu rosto ainda formigava sempre que
se lembrava de como Beatrice disse que o achava muito bonito e o beijou. E
fez as meninas rirem quando espiou a brinquedoteca mais uma vez e as
encontrou praticando as cores em francês com frutas. Ele não estava se
sentindo corajoso o suficiente para contar a Fin sobre o formigamento na
bochecha, então achou que o francês seria mais fácil. — Gosto quando faço
as meninas rirem, já talvez seja meu som favorito no mundo, e é sempre
gratificante quando faço uma piada que funciona — confidenciou. Ainda
era um pouco mais honesto do que gostaria, mas ele não teria pensado em
dar uma espiada na brinquedoteca ou teria tido coragem de entrar sem
convite se não fosse por Fin.
E o babá fez tudo ser fácil. Ele o encorajou a se juntar aos quatro e
ofereceu sugestões para que o patrão pudesse fazer aquelas piadas de pai e
encantar as meninas.
— É menos intimidador agora, e é bom poder entrar para ganhar
alguns beijos quando sinto falta delas sem criar uma confusão ou ficar
sobrecarregado — ele disse com calma. Fin abriu os lábios e pareceu
atordoado por um momento antes de desabotoar o cardigã.
— Sou só eu ou está muito quente aqui? — Ele estava um pouco
corado ao tirar o casaco e pendurá-lo no braço. — Você gostaria de saber
qual foi o meu momento favorito?
— Claro — Walker respondeu. Ele sentiu um arrepio de antecipação,
mas disse a si mesmo que era apenas uma caminhada lenta pelo corredor,
não a caminhada para casa depois de um primeiro encontro, apesar do frio
na barriga. Fin parou e se aproximou, seus lábios a apenas alguns
centímetros dos de Walker.
— Acho que foi quando você nos surpreendeu na brinquedoteca, mas
este é o meu momento favorito. Eu gosto quando você é sincero comigo e
me diz como posso ajudá-lo a se envolver com as meninas. Você foi um
garoto muito bom hoje — ele sussurrou.
— Eu... — Walker ficou paralisado, como se Fin tivesse desligado
seu cérebro. As palavras um garoto muito bom ricochetearam em sua
mente, ecoando no espaço oco enquanto o calor se derramava em sua
virilha. — Obrigado — ele murmurou. Normalmente, essas palavras teriam
causado um sorriso de escárnio ou feito o mais velho querer brigar, mas
arrepios se espalharam por seus braços e ele sentiu um forte desejo de pedir
a Fin que as repetisse.
— De nada — Fin respondeu e sorriu como se soubesse bem pelo que
Walker estava agradecendo. — Você gostaria que eu dissesse de novo? —
perguntou baixinho, fazendo o coração do outro homem parar.
— Como? — Ele ficou tonto. — O quê?
— Está tudo bem, Walker. — Fin se aproximou para poder segurar o
braço dele e apertá-lo de forma tranquilizadora. — Percebi que você
notou... algo — disse. Fin deu de ombros como se não fosse grande coisa,
mas seu chefe queria se jogar da escada ou da janela, o que tivesse mais
próximo.
— Caramba. Fin, sinto muito. Eu não queria olhar e nunca iria...
— Shhh! — Fin riu e deu um tapinha no peito de Walker para
tranquilizá-lo, mas isso só fez seu coração bater mais rápido. — Não há
absolutamente nada de errado em olhar, desde que tenhamos certeza de que
você quer ver e eu quero mostrar — ele explicou, atordoando o outro mais
uma vez.
— Você queria mesmo? — ele perguntou. Fin torceu o nariz e mordeu
os lábios. Era adorável, e Walker se sentiu um tanto embriagado. A situação
era inapropriada, porém o mais velho se animava um pouco mais cada vez
que Fin cruzava a linha. A proximidade do babá e a promessa de algo novo
e empolgante era maravilhoso e aterrorizante. Principalmente depois de
uma vida inteira de decoro, sem dizer o que ele realmente queria.
— Não, mas tenho usado certas coisas para o caso de você olhar —
Fin admitiu, assustando o patrão.
— Fin! — Walker balançou a cabeça em movimentos rápidos.
— Tudo bem! Eu também gostei — o jovem sussurrou para
tranquilizá-lo, mas o chefe desejou que houvesse algum freio, porque estava
ficando aterrorizado.
— O quê? — ele murmurou de volta. Fin abriu a boca para responder,
e Walker entrou em pânico. — Não! — E então tampou a boca do outro. —
Posso ter olhado por acidente, e... posso ter gostado. Mas tenho muito
respeito por você para cogitar a ideia de fazer algo desagradável. E eu
nunca faria avanços inapropriados com um funcionário — disse. Fin piscou
para ele, e Walker abaixou a mão.
— Eu sei, Walker. — Fin estava calmo como sempre quando mexeu a
cabeça em direção ao escritório do patrão. — Tenho uma proposta — falou.
Walker se apressou e abriu a porta para Fin, mas passou por ele para
se certificar de que estavam sozinhos.
— Que tipo de proposta? — ele perguntou, sentindo uma onda de
vertigem quando o babá fechou a porta e se encostou nela. Era raro ficarem
sozinhos e nunca fechavam a porta. Seria...
— Algo inapropriado. — Fin brincou e colocou as mãos nos bolsos.
Ele cruzou os tornozelos e estava relaxado ao observar Walker.
— Fin, te acho atraente e seria um tolo se dissesse não se você fosse
qualquer outra pessoa. Mas as meninas iriam colocar fogo nesta casa se
você nos deixasse.
— Dizer não para quê? — Fin perguntou e ergueu uma sobrancelha.
— Sexo nunca vai ser mais importante para mim do que este trabalho. As
meninas e essa família são minha prioridade. Se eu estiver certo, isso pode
ajudá-lo a ser uma pessoa mais feliz e vai fazê-lo ser um pai melhor. Mas
não tem absolutamente nada a ver com a nossa relação profissional.
— O que é, então?
— É sobre você e o que você gosta.
— Você sabe do que eu gosto? — Era uma pergunta honesta. Walker
não tinha muita certeza, e Fin o havia desvendado.
— Eu tenho alguns palpites. — Fin tirou a mão do bolso e colocou os
dedos na cintura da calça de veludo cotelê. Ele exibiu uma tira de renda cor
de ameixa, e Walker umedeceu os lábios, nervoso.
— Não sei por que gosto disso — ele suspirou e foi para trás do sofá
para que Fin não pudesse ver sua ereção. — Mal noto fotos de mulheres
vestindo lingerie, e elas estão em todos os lugares hoje em dia, mas quase
desmorono quando dou apenas uma olhadinha no que você está usando —
ele admitiu. Fin sibilou enquanto desabotoava a calça.
— Lá vem você sendo sincero de novo e me dizendo o que quer. Você
não tem ideia de como isso me deixa feliz.
— Sério? — Walker questionou e fechou os olhos. Uma pergunta se
formou em sua língua, então ele mordeu os lábios para evitar que saísse.
— Sim, muito feliz — Fin ronronou. O som fez cócegas nos pelos da
nuca do chefe e o fez estremecer, apesar do suor em sua testa.
— Isso é algo bom? — ele perguntou. Eu fui bem? O homem não
conseguia respirar. Tinha medo de que a pergunta se transformasse em um
desejo e Fin ouvisse.
— É muito bom. Você tem sido um ótimo garoto, Walker — o jovem
disse, e o patrão agarrou o encosto do sofá.
— Droga. Fin, eu... — Ele ficou sério e seu rosto esquentou. — Como
você soube? Nem eu sabia!
— Que você pode ser submisso? — Fin perguntou com ternura, mas o
outro homem pulou como se um prato tivesse se quebrado.
— Eu sou?
— É provável.
— E você é...? — Walker parecia alguém que acabou de escapar de
um convento e nunca viu um filme pornô.
— Eu gosto de muitas coisas. Gosto de dominar e ser dominado, mas
minha inclinação é para dominador — Fin respondeu com um sorriso
atrevido.
— Então você não é apenas um babá mandão? — Walker brincou. —
Isso significa que você gosta de chicotes e mordaças? — Ele puxou a
gravata quando sua ansiedade aumentou.
— Não. Jogos de humilhação não são meu estilo. Você acha que
gostaria de algo assim? — Fin perguntou com cuidado. O mais velho
balançou a cabeça com rapidez.
— Acho que não, e Pierce provavelmente pediria demissão se eu
aparecesse com marcas nas costas. Qual é seu estilo? — A voz de Walker
falhou, e ele tossiu para disfarçar. O sorriso do jovem era esperto enquanto
ele abria a braguilha da calça.
— É óbvio, gosto de roupas íntimas bonitas. — Ele levantou a
camiseta branca apenas o suficiente para que o chefe visse um pouco de
seda cor de ameixa entre o zíper. — E de me exibir.
— Entendo — Walker falou, e Fin murmurou:
— E realmente gosto do quanto você fica fascinado com elas. E se eu
deixar que você as veja sempre que compartilhar algo verdadeiro ou fizer
algo corajoso? — Ele ofereceu. Walker franziu as sobrancelhas enquanto
lutava para entender. Por que Fin perderia seu tempo com um viúvo rude e
reprimido quando havia legiões de homens mais jovens e excitantes
esperando por ele do lado de fora da Casa Killian?
— E o que você ganha em troca?
— Quer me deixar acariciar sua cabeça e sussurrar em seu ouvido
para que possamos descobrir? — Fin perguntou, então gemeu quando
Walker xingou baixinho e escondeu o rosto de novo. — Eu não sei como
você chamaria isso, mas homens mal-humorados e tensos que se derretem
quando você os acaricia são muito meu tipo.
— Essa é uma descrição surpreendentemente correta — o chefe
murmurou. — E o que exatamente você está propondo? — A situação já
parecia boa demais para ser verdade, e ele estava procurando uma
pegadinha ou uma armadilha.
— Acho muito atraente quando você se arrisca com as meninas e
confia em mim. Faça mais vezes e vou te mostrar o que estou vestindo.
Posso até deixar você tocar, se quiser. — Fin passou a mão na renda entre o
zíper, atraindo a atenção de Walker e seus dedos coçaram para tocá-lo. Ele
imaginou sua língua e lábios substituindo as pontas dos dedos do babá e
pensou que não conseguiria parar quando começasse.
— Quero fazer tudo isso, mas é perigoso, Fin. Você ouviu as meninas.
Elas te amam, e esta é a situação mais fácil que já vivemos aqui em anos. E
se sair do controle?
— Minha definição de sair do controle é você fazer algo que não quer
e eu nunca deixaria que isso acontecesse — Fin respondeu, mas a expressão
confusa do outro homem se aprofundou.
— Eu não teria a intenção, mas e se eu fosse longe demais e forçasse
a barra? — ele perguntou e o jovem apertou os lábios.
— Não parece o tipo de coisa que você faria.
— Não. Mas você não tem certeza disso — Walker argumentou e se
perguntou por que estava tentando dissuadir o outro quando ele já tinha
pensado a respeito. Fin sempre teve um plano bem pensado, e o chefe ficou
tocado, dada a ambivalência do babá em relação aos muito ricos.
— Juro, você não estaria me forçando a nada.
— Fin! — Walker falou, mas estava tentado a ver o que aconteceria
se fosse corajoso o bastante para acusar o jovem de estar blefando.
— Depois do que você disse no corredor? — Fin perguntou e apontou
por cima do ombro. — Aquela parte sobre dar uma espiadinha para ganhar
beijos e não ficar sobrecarregado foi o suficiente para me deixar maluco.
— Entendo. — Na verdade, não entendia, mas estava anotando tudo
em detalhes na sua cabeça. — E como isso funcionaria? Nunca fiz nada
assim e não posso arriscar perder você.
— O que acontece entre nós fica entre nós e a portas fechadas. Não
vou arriscar perder as meninas ou prejudicar a reputação do meu irmão —
Fin afirmou, gesticulando e balançando a cabeça. Walker acreditou nele e se
aproximou enquanto o outro homem acariciava o queixo. — E se você
definir o ritmo? Vou perguntar se está pronto a cada etapa e, se não estiver,
ficaremos onde estamos ou recuaremos.
— E isso funcionaria para você? — o mais velho perguntou
desconfiado, mas Fin gemeu.
— Quanto mais você fala, mais gostoso tudo isso se torna, Walker —
ele disse ao fechar o zíper da calça. Arrepios se espalharam pelo peito de
Walker, mas ele estava se sentindo quente.
— Você poderia, por favor...? — Walker fechou os olhos e puxou a
gravata à medida em que sentia o ar sufocante. — Por favor, repita isso —
ele disse e teve que umedecer os lábios.
— Seu nome? — Fin perguntou e o outro assentiu. — Você gostou?
— Sim — ele suspirou.
— Você quer que eu te chame assim quando estivermos sozinhos?
Walker assentiu de novo e arriscou um olhar para Fin. Ele também
parecia estar sem fôlego ao se encostar na porta em busca de apoio.
— Por favor.
— Posso fazer isso — o babá concordou com um sorriso malicioso, a
expectativa deixando os nervos do patrão cada vez mais tensos. — Você foi
um garoto muito bom hoje, Walker.
As palavras correram pela coluna de Walker como mel quente e havia
um forte latejar em sua virilha.
— Obrigado, Fin — ele sussurrou.
— De nada. Vejo você pela manhã — o outro respondeu baixinho,
mas não esperou por uma resposta. Ele saiu da sala, deixando o mais velho
excitado e nervoso.
— Vejo você amanhã — Walker murmurou depois de vários
momentos encarando a porta.
Amanhã. Ele lembrou que veria Fin no café da manhã, e já tinha suas
dúvidas. Como é que ele deveria comer e se comportar como um adulto
funcional depois disso? O homem ia fazer papel de bobo e todos saberiam
que algo inapropriado estava acontecendo.
— Não vou participar do café da manhã. Vou dizer a Pierce para
avisá-los que tive uma ligação urgente.
Era uma escapatória covarde, mas tinha que se orientar e era provável
que precisasse falar com a irmã antes de tudo virar uma bagunça.
— Estou com sérios problemas se vou pedir ajuda a Agnes.
CAPÍTULO DEZESSETE
— PARECEM INSETOS — WALKER murmurou ao pairar sobre o
tanque na mesa de artes.
— Talvez, mas não são. As meninas vão ficar muito animadas quando
voltarem da aula de dança — Fin disse. Ele checou o relógio e emitiu um
som ansioso. — Sou alérgico a gatos e pequenos animais e as crianças
nunca gostam de peixe. Mas quem não ama caranguejos-eremitas?
— Tem certeza de que não são insetos?
— Filo artrópode, subfilo crustáceos, classe malacóstracos e ordem
decápodes. Eu juro, não são insetos. Aquele com a casca de peixe-palhaço é
meu e vou chamá-lo de Fini. Porque ele é um mini eu — Fin informou ao
chefe. — Aquele com a casca do Batman é seu.
— Meu? — Walker riu e balançou a cabeça, mas o babá o deteve.
— Ele é o maior, mas também é do tipo forte e silencioso. É o nosso
herói — ele explicou. O homem mais velho franziu a testa enquanto olhava
para os caranguejos no tanque. Estava claro que ainda não entendia o
quanto as filhas o admiravam e como foi corajoso desde que Fin chegou. —
Você é nosso herói — o babá insistiu e deu um soquinho afetuoso no braço
de Walker.
— Isso é ridículo. Mal posso lidar com três menininhas.
— Eu duvido que o Batman pudesse lidar com suas filhas sem ajuda.
— Você e a Agnes conseguem — Walker argumentou, mas o jovem
gesticulou com desdém.
— Você já está anos-luz à frente de onde começamos. E é mais fácil
para Agnes, porque são só alguns finais de semana. Crianças são sempre
ótimas quando estão em festas do pijama, ou então não vão poder mais
frequentá-las. Tenho formação nisso e trabalho apenas doze horas por dia,
graças a Deus. Não se esqueça de que Bruce tinha Alfred e uma Batcaverna.
— Verdade... — Walker se afastou da mesa de artes. — Eu estou
satisfeito, se você estiver. Preciso voltar lá para baixo.
— Precisa? — Fin perguntou e o seguiu pela brinquedoteca. O patrão
não havia participado do café da manhã, e Fin teve que ir encontrá-lo no
escritório para que ele fosse ver os novos caranguejos-eremitas. O homem
mais velho tentou escapar desse momento também, mas Fin foi inflexível.
Queria que ele aprovasse as novas adições à Casa Killian antes que as
crianças voltassem da aula de balé.
O babá se preocupava que tivesse sobrecarregado Walker na noite
anterior e não gostou que ele estivesse se distanciando das crianças por
causa disso. A última coisa que ele queria era ficar entre Walker e as filhas.
— Eu deveria. Tenho algumas chamadas marcadas para mais tarde.
Nada com que realmente me importe, mas tenho responsabilidades —
respondeu e começou a se afastar, mas Fin o deteve.
— Vai ser um dia lindo. Eu estava pensando em ir ao parque ou fazer
um piquenique no jardim em vez de uma festa do pijama, já que o clima
está agradável. As meninas tiram uma soneca com mais facilidade e
geralmente colaboram mais se eu as deixo correr por uma hora ou mais no
sol.
— Parece um bom plano — Walker murmurou.
— Em geral, sim. Você deveria se juntar a nós. Elas ficariam muito
felizes. — E Fin poderia avaliar o que o fez voltar aos hábitos antigos.
— Creio que não. Nunca me diverti muito em piqueniques e não
gosto muito do parque.
— Vamos! É o dia perfeito! — Fin insistiu. Walker abriu a boca para
recusar de novo, mas as meninas entraram na brinquedoteca vestidas com
collants e tutus. — Aí estão minhas bailarinas! Vejam o que o pai de vocês
me deixou encomendar! Eles acabaram de chegar! — As meninas gritaram
e suspiraram enquanto subiam nos banquinhos para olhar mais de perto.
— Ah! Eu quero o Batman! — Amelia choramingou, e Charlotte
imediatamente estendeu a mão para o caranguejo com a casquinha do
Batman.
— Não tão rápido! Já decidi quem fica com qual, então não haverá
briga. Este é do seu pai — Fin informou. As meninas ficaram encantadas
por Walker ter seu próprio animal de estimação na brinquedoteca e
assentiram quando Fin distribuiu os caranguejos-eremitas restantes. —
Agora, agradeçam ao pai de vocês e vão se trocar. Nós vamos lá para fora.
— Para fora! — As trigêmeas comemoraram e desceram dos
banquinhos para que pudessem correr até Walker e abraçar suas pernas.
— De nada. Vão se trocar e sejam boazinhas com o Fin — ele disse
depois de pegá-las no colo para um beijo. A tutora Lisa estava na porta
esperando por elas e as ajudaria com a troca de roupas. O jovem riu ao vê-
las saindo como um tornado de tutus e collants, então ergueu as
sobrancelhas para Walker.
— Tem certeza de que quer perder um passeio ou um piquenique com
estes anjinhos? — ele perguntou. Fin tinha quase certeza de que o patrão
diria sim, a julgar pela maneira como seus olhos brilhavam ao vê-las sair da
sala. O homem ficava mais feliz quando estava nas mãos das meninas,
então o babá adorava facilitar isso. — O que pode ser melhor do que um
passeio ou uma manta em um jardim sombreado? — Ele se aproximou para
sussurrar algo encorajador, mas Walker recuou.
— Isso tudo é muito agradável, mas... — O homem mais velho
hesitou, girando quando seu calcanhar bateu em um pufe.
— Há algo errado? — Fin perguntou, mas Walker balançou a cabeça.
— Isso tudo seria ótimo, mas tenho que ir. — Ele se esquivou e foi
direto para a porta.
— Não. Isso não vai funcionar de jeito nenhum. — Fin não deixaria
Walker perder duas oportunidades de se conectar com suas filhas em um
dia. — Precisamos ter outra conversa — ele disse e tentou ganhar um pouco
de tempo.
CAPÍTULO DEZOITO
ERA REALMENTE UM dia muito agradável e os pensamentos de
Walker vagaram para Fin e as meninas ao virar sua cadeira em direção ao
jardim. Ele se perguntou se os quatro escolheriam passar a tarde no parque
ou se ficariam em casa e fariam um piquenique. Walker poderia espiá-los da
janela se ficassem. Uma voz sussurrou que era culpa dele estar perdendo
esse momento, mas não confiava em si mesmo quando o babá sorria para
ele.
— Preciso ligar para Agnes — Walker disse aquelas palavras
inúmeras vezes, mas se acovardava toda vez que pegava o telefone. Ela era
a única pessoa com quem podia conversar, mas tinha a sensação de que a
irmã só aumentaria a confusão. Agnes sempre escolheria o caos. Houve
uma pequena batida na porta, e ele soube que era Fin antes mesmo de virar
a cadeira.
— Nós decidimos: vamos fazer um piquenique. As meninas estão se
trocando e supervisionando enquanto a cozinheira prepara uma cesta para
nós — ele falou, acenando para Walker segui-lo com um gesto do queixo.
— Boa sorte. Não se esqueça do protetor solar — ele murmurou e
fingiu que tinha algo importante para verificar na agenda à sua frente.
— Vamos lá! As meninas estão tão animadas! — Fin pediu em um
sussurro alto, mas Walker negou com a cabeça.
— Vocês vão se divertir mais sem mim, e tenho trabalho a fazer.
— Não tem! Você acabou de dizer que não se importa com nada disso
— o jovem rebateu. Ele espiou pelo corredor antes de entrar no escritório
do patrão, fechar a porta e se encostar nela.
— O que você está fazendo? — Walker perguntou com cautela e seus
nervos explodiram quando Fin mordeu o lábio e deu de ombros.
— Quer falar sobre o porquê você está evitando a mim e às meninas?
— ele arqueou as sobrancelhas para o outro.
— Não estou, eu recebi uma ligação esta manhã...
— Nós dois sabemos que isso não é verdade. É por causa de ontem à
noite. Você quer esquecer que aconteceu? Podemos fazer isso, se não
parecer certo para você. — Fin sugeriu, mas Walker balançou a cabeça.
— Não! Eu não quero esquecer. Eu não consigo. Esse é o problema.
Tenho medo de fazer algo que nos denuncie ou que sejamos pegos — disse,
e Fin murmurou com simpatia.
— Nós não falamos o suficiente sobre limites ontem à noite, não é?
Mas sei que precisamos recuar e estabelecer algumas regras para que você
se sinta mais seguro. Eu estou orgulhoso de você, Walker — ele falou. As
palavras eram um bálsamo e também intoxicantes para os nervos do chefe.
— Está? — ele perguntou, nervoso e seus olhos foram em direção à
porta. Fin notou e o acalmou.
— Eu disse para as meninas que vamos jogar futebol antes do
piquenique, então elas estão se trocando. Lisa vai levá-las para a cozinha
para aprenderem a fazer sanduíches com a cozinheira enquanto falo com
você sobre nosso passeio ao Museu das Crianças na próxima semana. Vou
levá-las na semana que vem. Tudo bem? — Fin confirmou rapidamente e
Walker assentiu.
— Eu me lembro do e-mail que você enviou com a programação.
— Bom. É assim que funciona. Nós nos comunicamos e não
brincamos, a menos que as meninas estejam fora, dormindo ou sob a
supervisão de outro adulto. E podemos nos envolver em um pouco de flerte
leve, mas sem brincadeiras durante o dia, porque esse é o momento crianças
— Fin concluiu.
— Faz sentido. — Walker concordou e fez um gesto para que o babá
continuasse.
— Lembre-se do que eu disse ontem à noite: fica entre nós e a portas
fechadas. Nós mantemos o flerte no mínimo quando estou trabalhando, mas
estarei por perto ao longo do dia e vou compartilhar meus momentos
favoritos com você depois que elas dormirem — ele falou e pigarreou. — É
da Savage Fenty — o jovem disse lentamente ao desabotoar o cardigã.
— Como? — Walker perguntou. Ele puxou o colarinho quando se
sentiu esquentar. Fin riu conforme se afastava da porta. Era um som baixo e
sedoso que fez Walker sentir arrepios, apesar do suor se acumulando no
pescoço.
— Minha cueca. Metade do dinheiro que você me dá vai direto para a
Rihanna e você merece conferir por me dizer que precisava de mais limites
— Fin explicou com uma piscadinha atrevida. Ele deu a volta na mesa e se
sentou na beirada. O homem mais velho ergueu os olhos da cintura de Fin
para seu rosto e engoliu em seco. — Sei que acabamos de concordar que
não haveria brincadeiras, mas acho que podemos abrir uma exceção, já que
ainda estamos negociando. Comunicação é importante quando você está
estabelecendo limites, e sei como isso deixa você desconfortável. Quer ver?
— Quero — o chefe sibilou, e Fin gemeu em aprovação.
— Bom garoto, Walker — ele sussurrou, fazendo o outro homem
estremecer de prazer. — É assim que você vai saber que isso é pessoal e
não profissional. Vou te chamar de Walker quando formos só nós dois, e de
Cameron quando eu estiver em horário de trabalho.
— Gosto disso. E gosto de ouvir você dizer meu nome — ele
comentou, ganhando outro gemido abafado de Fin.
— Ela é conhecida como Cheeky e é de renda preta. Caso você esteja
se perguntando — ele acrescentou de forma casual.
— Estava mesmo. — A voz de Walker falhou e ele suou ainda mais.
— Você prefere roupas íntimas femininas? — perguntou.
— Prefiro, e parece que você também. — O babá abriu o cardigã e o
chefe deu um pulo. Uau, ele nem o tirou. O homem mais velho desistiu de
qualquer esperança de manter a dignidade.
— Fin, você sabe que eu nunca esperaria nada de você... — ele
começou, mas Fin bateu um de seus dedos contra os lábios dele.
— Shhh... — ele piscou, e Walker ficou impotente. — Sei que você
nunca faria isso. E eu não tenho expectativas com você além do que quiser
compartilhar. Se for demais para qualquer um de nós, somos livres para
desistir e voltar ao nosso relacionamento profissional amigável. Não será
sexy ou satisfatório para mim se não tivermos confiança um no outro ou se
não quisermos a mesma coisa.
— Eu quero. — Desta vez, Walker tinha certeza. As regras estavam
mais claras e o jovem eliminou todas as suposições e tornou o acordo
infalível. Claro que ele fez isso. Este era Fin. — Eu confio em você, Fin.
— Excelente. Você gostaria de dar uma olhada? E talvez tocar? — O
babá acrescentou em um sussurro. Walker umedeceu os lábios e rezou para
que sua boca funcionasse.
— Eu poderia. Talvez. — Concordou. Ele teria vendido sua alma por
isso.
— Antes de fazê-lo, temos mais uma regra — Fin avisou e Walker
inclinou a cabeça.
— Você guardou o melhor para o final? — Ele lançou um olhar
cauteloso para o mais jovem, mas relaxou quando os lábios dele se
curvaram. Bem. Quase relaxou. Walker realmente gostava dos lábios de Fin
e ficava um pouco agitado quando eles se curvavam daquele jeito.
— Você está convidado para uma tarde de delícias culinárias e
frivolidades ao ar livre. — Fin ronronou e ergueu a frente de sua camiseta,
expondo nada além da cintura de sua calça de veludo cotelê, mas o outro
arregalou os olhos. O polegar de Fin brincou com o botão da calça e o
homem riu.
— Certo. O piquenique. Acho que posso lidar com ele agora. Eu
adoraria ir — ele disse, caindo de volta em seu assento quando Fin
empurrou seu peito.
— Obrigado. Eu não quero que nada que aconteça entre nós atrapalhe
seu tempo com as meninas. Sempre estarei mais feliz quando vocês
estiverem mais felizes, então as coloque em primeiro lugar e deixe o que
quer que esteja acontecendo entre nós até a hora de dormir, está bem?
— Posso fazer isso — Walker respondeu com uma risada aliviada. —
Geralmente, não gosto quando me dizem que devo seguir as regras de outra
pessoa, mas isso parece mais fácil, por algum motivo.
— Regras nos ajudam a gerenciar nossas expectativas e o que é
esperado de nós. Você se sente menos propenso a errar quando as instruções
são postas à sua frente. — Fin explicou. Ele deu um puxão lento em seu
zíper e arregalou os olhos para Walker com expectativa. — Mais?
— Por favor — Walker resmungou e assentiu.
— Bom garoto — Fin falou, e o patrão estava se derretendo outra vez.
— Por favor, me mostre. Eu preciso ver — ele implorou, então
choramingou quando Fin usou o joelho para separar suas coxas e se
posicionar entre elas.
— Bom garoto — ele repetiu de maneira incisiva antes de abrir o
botão da calça. Lentamente, ele revelou a renda preta em forma de grandes
pétalas, esticada em sua pélvis. Walker conseguiu visualizar alguns pelos
escuros sob a renda e pendeu a cabeça para o lado conforme sua boca se
enchia de água. — Você gostaria de me tocar? — Fin ofereceu, arrastando
os dedos sobre a renda. Os olhos de Walker seguiram o movimento, mas ele
negou com a cabeça.
— Não acho uma boa ideia. — Ele confessou, na defensiva. Suas
mãos estavam tremendo. Ele não tinha certeza se podia confiar em si
mesmo. Fin deu de ombros, chocando Walker novamente com outro sorriso
suave e malicioso.
— Já consegui o que queria. — Ele confidenciou ao se virar. — A
parte de trás é de tiras. Veja. — Fin passou a perna por cima da coxa direita
de Walker e se sentou. Ele se mexeu ao abaixar um pouco a calça, depois
ergueu a parte de trás do cardigã para que o outro homem pudesse ver. Sua
camiseta estava na frente. A mão de Walker se estendeu e a puxou para
cima antes que pudesse se deter. Fin arqueou as costas e respirou fundo,
mas se manteve imóvel conforme o olhar de Walker deslizava mais para
baixo. A renda mergulhava em um V profundo, atraindo seus olhos para a
fenda da bunda de Fin.
— Parece... — Ele se sentia tonto quando o jovem olhou para ele por
cima do ombro, tão tentado a tocar a peça e as curvas suaves de sua bunda.
Delicioso. Eu vou enlouquecer se não prová-lo logo. Era por isso que
Walker não confiava em si mesmo para parar. — Fica ótimo em você.
— Eu encomendei algumas sem costura na virilha com estampa floral
preta, mas talvez tenha que guardá-las para usar em casa. Acho que vamos
acabar tendo uma situação de comando. — Fin refletiu e começou a se
levantar, mas o chefe segurou seu quadril. O babá o olhou de forma
questionadora, mas o homem mais velho não sabia o que dizer. Tudo o que
ele sabia era que não queria que Fin saísse dali. Ele roçou o polegar na
renda. Walker fechou os olhos quando o calor desceu por seu braço e
arrepio percorreu suas costas.
— Você não tem ideia de como é incrível sentir isso de novo — ele
sussurrou. Não achou que sentiria esse tipo de energia ou desejo depois de
perder Connor.
— O quê? — Fin perguntou. Sua mão envolveu a coxa de Walker, e a
apertou suavemente. O outro estava sorrindo e relaxado enquanto balançava
a cabeça.
— É melhor você se certificar de que a cozinha ainda está inteira —
ele disse. Então ajudou Fin a se levantar e o dispensou. — Vou lá em cima
vestir algo mais leve.
— Algo mais leve? — o babá perguntou de maneira sugestiva. Ele
estava sorrindo, brincando com Walker ao ajeitar a braguilha da calça e ir
em direção à porta. O homem mais velho levantou as mãos, decidindo que
dois poderiam jogar este jogo.
— Talvez eu precise tomar um banho rápido. Seria terrível se eu
tivesse que esconder isso a tarde toda. Poderia arruinar um piquenique,
imagino — ele disse enquanto se levantava. Não se preocupou em abotoar o
casaco ou esconder o volume em suas calças ao contornar a mesa. Fin
estava encarando e pulou um botão do cardigã, mas Walker deixaria que
uma das meninas dissesse a ele. — Se você me der licença — O chefe
estendeu a mão para a maçaneta, batendo na têmpora em saudação ao sair.
— Isso não é legal. — Ele ouviu Fin resmungar.
— Você começou — Walker respondeu por cima do ombro. Ele
planejou manter uma distância segura até falar com Agnes e ter certeza de
que não estragaria tudo, mas Fin afastou o medo e tornou tudo mais fácil,
como sempre. E, enquanto o bom senso do homem o alertava de que a
situação estava fadada a terminar em desastre, sabia que o jovem tornaria o
processo divertido e maravilhoso se ele se arriscasse.
CAPÍTULO DEZENOVE
— VIU? NÃO FOI tão ruim. Você foi ótimo. — Fin se deitou de lado
e se apoiou em um cotovelo. Walker se sentou quando Charlotte bateu o pé
e gritou com Amelia por espantar o gato do vizinho. — Relaxe. Elas estão
aprendendo a resolver conflitos e vão perder o interesse e esquecer em dois
minutos. Se piorar, vou até lá e as separo... cabelos não vão voar. — O
jovem brincou. Walker resmungou, mas sorriu ao olhar em volta, então se
reclinou na manta com o babá. Eles estavam escondidos por um grande
carvalho e pelas rosas do jardim. O resto do mundo estava obscurecido pela
cerca que rodeava o local.
Fin trouxe a bola de futebol e fez Walker participar de alguns passes,
e todos se revezaram fazendo bolhas de sabão. Eles comeram os sanduíches
que as meninas fizeram, queijos, frutas frescas e legumes, mas Fin tinha
planos para o prato de cupcakes que estava entre ele e o patrão. Planos que
tiveram que esperar quando o outro homem respirou fundo.
— Você estava certo, é menos assustador quando eu sei quais são as
regras e o que é esperado de mim. Mas ainda parece um sonho — ele
admitiu em um tom baixo e suave que provocou cócegas na calça de Fin.
— É um sonho do qual você não está gostando? — Fin perguntou
com cuidado, mas teve sua resposta quando os olhos de Walker se fixaram
nos dele e estavam arregalados e cheios de dúvidas, mas viu uma centelha
de curiosidade e quis atiçar a chama.
— Estou gostando, mas e se eu não puder...
— Não puder o quê, Cameron? — Fin sussurrou. Ele umedeceu os
lábios enquanto considerava o melhor jeito de apaziguar o último dos
medos de Walker. — Não há expectativa da minha parte. Você é quem
decide até onde isso vai. Se olhar e tocar é o suficiente para ajudar você a se
abrir e expressar suas necessidades, então é o suficiente. Isso é muito mais
importante para mim do que simplesmente gozar.
— Eu acho que faz sentido. Mas me preocupo se vou querer, mas não
vou conseguir. Não porque me falte vontade ou capacidade física. Apesar
de que já faz anos e posso estar errado, mas porque perderia a coragem ou o
meu... coração não me deixaria fazer isso — Walker explicou com cuidado,
mais uma vez deixando Fin sem fôlego com a sua vulnerabilidade.
— Você se lembra o que eu disse sobre estar por perto e compartilhar
depois que as meninas dormirem? — o babá perguntou, e Walker assentiu.
— Nós vamos voltar a este momento mais tarde, e vou te mostrar como
estou orgulhoso de você. — Ele viu as pupilas de Walker se dilatarem e
ouviu sua inspiração aguda. — Você não precisa fazer nada até que esteja
pronto. Talvez isso te ajude a ver onde chegou e mostre onde você ainda
precisa se curar. Se assim for, está ótimo para mim.
— Isso tudo é absurdo — Walker falou com uma risada perplexa. —
É maravilhoso, mas absurdo, e estou tentado a pedir que você me belisque,
mas tenho medo de ver até onde isso pode nos levar.
— Por que é absurdo? — Fin perguntou. O outro homem suspirou
enquanto examinava o jardim e observava as filhas por um momento.
— Eu não pedi por essas coisas. Rezei por um milagre para salvar as
meninas de mim mesmo, mas não achei que merecia alguma mágica ou
uma segunda chance.
— Vou ter que pensar em algo realmente especial para mais tarde —
Fin respondeu, trêmulo. — Você está me matando — disse, mas valeu a
pena quando Walker corou e resmungou.
Amelia e Beatrice gritaram enquanto iam atrás de Charlotte,
assustando Walker. Fin aproveitou a distração, deu um sorriso diabólico e
pegou um cupcake de baunilha. Walker era tão tenso e formal, mas Fin
adorava ver que ele corava e se contorcia sempre que suas mãos se tocavam
e seus olhares se encontravam. E ele se arriscou e confessou a fraqueza
pelas roupas íntimas. Também foi honesto sobre a dor da perda e quanto
tempo ela durou. Era revigorante ver um homem tão poderoso revelar seus
pontos mais sensíveis e feridas não cicatrizadas.
— Eu acho que você merece um desses.
— Um cupcake? — os olhos de Walker se ergueram e estavam cheios
de calor e fome quando encontraram os de Fin. — Obrigado, mas eu não
deveria. — Sua voz ficou suave e rouca, e ambos sabiam que ele não estava
falando sobre o doce que descansava na palma da mão de Fin.
— Você sabe por que cupcakes são os meus favoritos? — Fin
perguntou. Ele manteve a voz baixa e apenas para Walker. Assim como o
bolinho. Walker balançou a cabeça, mas não conseguiu desviar os olhos do
jovem. O babá passou a ponta do dedo mindinho pela cobertura e ronronou
ao lamber. — É pequeno, doce e é só para você. Em vez de uma fatia inteira
em um prato, são apenas algumas mordidas e você pode guardar para
quando estiver pronto. E não precisa compartilhar com ninguém.
— Isso é... muito interessante. — A voz de Walker quase sumiu e
houve um leve tremor quando ele pegou o cupcake da mão de Fin. — Faz
muito tempo desde que eu... não como um desses, mas acho que posso
experimentar um. — Ele ergueu o bolinho e o girou para observar, como se
estivesse admirando algo muito mais complexo e tentador. Ele encontrou a
falha na cobertura causada pelo dedo de Fin e passou a língua ali. Walker
fechou os olhos e gemeu baixinho saboreando o doce. Seu olhar estava mais
pesado quando voltou para Fin.
— Acho mesmo que você deveria experimentar. — Fin ofegou e se
inclinou para mais perto. Podia jurar que sentiu a língua de Walker se
arrastar por seus lábios. Queria chupá-la e se cobrir todo com a cobertura do
cupcake. Fin imaginou ordenar a Walker que o lambesse até limpá-lo por
completo e conteve um gemido.
— Eu peguei primeiro! — Amelia choramingou quando Charlotte
passou correndo pela toalha do piquenique com a bola de futebol. Fin e
Walker se afastaram quando as outras duas passaram apressadas atrás dela.
— Eu deveria pará-las antes que isso acabe em violência — o babá
disse, mas Walker balançou a cabeça e removeu o papel do cupcake.
— Como você disse, elas estão aprendendo a resolver conflitos e vão
perder o interesse e seguir em frente em alguns minutos. Relaxe, Fin, elas
não podem causar muito dano aqui. — Ele deu uma mordida e balançou a
cabeça enquanto mastigava e lambia os lábios. — Eu me esqueci de como
isso pode ser bom — ele murmurou em um tom profundo que provocou
arrepios em certas partes nas calças de Fin.
— Cuidado, Cameron — Fin disse baixinho e se reclinou de novo,
cruzando os tornozelos. — Você pode ganhar outro desses. — Ele fechou os
olhos como se estivesse aproveitando o sol e se perguntou quem era mais
gostoso, Walker ou o sol, enquanto o patrão saboreava outro pedaço do
cupcake.
CAPÍTULO VINTE
— DEIXE-ME ADIVINHAR, seu momento favorito do dia foi o
nosso piquenique. — Walker puxou as cobertas até o queixo de Amelia e
bateu com o indicador na ponta de seu nariz. Foi o momento favorito das
irmãs também. Ela assentiu e colocou as mãos debaixo da bochecha.
— Eu gostei quando você jogou futebol de terno. A gente não tinha
ideia que você sabia jogar, mas você é muito bom. — Houve risadinhas nas
outras camas quando Walker se abaixou para beijar a cabeça de Amelia.
— Joguei muito futebol quando estava na escola. Vamos jogar mais
vezes. Na próxima, vou usar os sapatos certos — ele disse, provocando
outra onda de risadinhas. Walker teve sorte de não cair de bunda no chão,
correndo na grama com sapatos Oxford italianos.
— Fin é bom, mas você é muito melhor que ele no futebol —
Charlotte se gabou, e Walker a acalmou e estendeu a mão quando ela
começou a se ajeitar para se levantar.
— É o suficiente por hoje — ele respondeu e se levantou. — Nós
tivemos um dia maravilhoso, mas é hora de minhas joaninhas dormirem um
pouco. Ama muito vocês e nos vemos de manhã. — Ele esperou até que
Charlotte estivesse acomodada sob as cobertas para apagar a luz e fechar a
porta.
— Ela estava sendo gentil. Eu sou péssimo no futebol, mas é ótimo
para desenvolver a coordenação e ensinar às crianças sobre trabalho em
equipe e boa comunicação. — Fin estava esperando na porta e se afastou da
parede. — Preciso ir agora, porque vou encontrar Riley no cinema, mas
tenho algo muito especial para você — ele disse enquanto caminhava e o
patrão o seguia.
— Espero que você se divirta — Walker murmurou, mas ficou
desapontado. Ele passou a tarde toda nervoso e curioso sobre o que Fin
havia planejado para depois que as meninas dormissem.
— Não me lembro qual o filme que vamos ver, mas de qualquer
forma, não vou prestar atenção — Fin disse. Ele estava aéreo e parou
quando chegaram à escada.
— Não?
— Não. Tenho a sensação de que estarei pensando nisso. — O babá
olhou em volta para se certificar de que o hall estava livre antes de colocar a
mão no cardigã. Ele pegou um envelope e o entregou para Walker.
— O que é isso? — O patrão girou o envelope e encontrou o fecho de
metal, mas Fin o deteve.
— Espere até estar sozinho — ele recomendou e o corpo inteiro de
Walker paralisou. Exceto por seus olhos. Ele os arregalou enquanto olhava
para o envelope. Fin pigarreou e se aproximou. — Você já pôde ver e tocar,
mas não acho que esteja pronto para fazer mais que isso, então pensei em te
deixar ficar com elas.
— Ficar com elas? — O homem mais velho murmurou e arregalou
ainda mais os olhos.
— Se você quiser. Não precisa olhar se não estiver pronto e estiver
confortável com onde estamos. Leve o tempo que desejar. Você não precisa
me dizer ou pode me contar tudo. — Fin deu uma piscadinha brincalhona
para Walker antes de descer os degraus. — Tenha uma boa noite. — Fin
acenou quando chegou ao fim da escada e foi na direção da cozinha.
— Boa noite — Walker respondeu, mas ninguém o ouviu. Nem tinha
certeza se seus lábios se moveram.
Era um envelope pardo de tamanho médio perfeitamente comum, mas
aumentou e ficou mais pesado quando ele percebeu que estava segurando
algo muito, muito grande. Era possível que fosse a maior coisa que já havia
segurado depois das filhas, no que diz respeito aos momentos de virada.
Sua vida passava diante de seus olhos enquanto pesava suas opções e as
consequências. Não olhar não era uma opção, mas estava considerando
guardar para mais tarde. Até que imaginou as calcinhas de Fin em sua
gaveta de roupas íntimas, pulsando como um coração. Ele balançou a
cabeça. Sabia que não ia conseguir dormir. Ficaria uma pilha de nervos até
ver o que tinha ali. Então se lembrou de onde estava e o que estava
segurando.
Ele correu para sua suíte, passando pela área de estar e entrando em
seu banheiro. Walker trancou a porta atrás de si e se apressou para o closet,
então se encostou na porta. Seu coração batia forte e as mãos tremiam
quando abriu o pacote com dedos suados. Deu uma olhada no conteúdo e o
fechou de imediato ao primeiro vislumbre de renda preta. Depois olhou
para o espelho para se certificar de que ainda era ele segurando a calcinha
do babá.
Esta era, sem dúvida, a coisa mais escandalosa que já aconteceu com
ele. O homem estava bastante perplexo, mas também emocionado e
encantado ao abrir o envelope, lentamente revelando a tentação de cetim e
renda.
Em vez de sentir que estava trapaceando ou pegando algo que não
deveria, os dedos de Walker tremeram com espanto quando ele pegou a
tanguinha e deixou o envelope cair no chão. Não era outro corpo — outro
homem —, mas era uma bela lembrancinha de uma fantasia. Era um objeto
que poderia explorar e apreciar sem ninguém para ver.
Então fechou os olhos e esfregou a bochecha parte da frente. Ele
gostou da fricção suave da renda contra sua pele. O tecido ficava mais
quente perto da bochecha, e ele se imaginou tirando-a de Fin, ajoelhado na
frente do rapaz e roçando o rosto nela. Seu desejo explodiu. Passou por ele
como uma maré quente e Walker choramingou à medida em que cheirava
profundamente o tecido, absorvendo toda essência de Fin. Sentiu cheiro de
amaciante de roupas e de sabonete, mas também havia um leve toque de
suor.
Walker estava eufórico quando tirou o cinto, atacando a braguilha
com uma das mãos. Ele empurrou as calças para baixo, gemendo na tanga
ao agarrar seu pênis. Ele estava duro e ansiava por provar Fin. Inspirou
novamente, dessa vez na tira que ficava entre as nádegas do jovem. Cada
nervo em seu corpo tensionou antes de entrar em combustão. Ele foi
engolido pelo calor quando gozou e o esperma escorreu sobre a mão.
Uma risada sem fôlego explodiu dele enquanto examinava os danos.
Estava de pé sobre o envelope rasgado, e suas calças e cueca estavam
abaixo dos joelhos. Walker olhou para o espelho e sorriu para o reflexo
atordoado segurando uma calcinha preta. Seu pau estava semiereto e um fio
de esperma pendia da ponta de seus dedos. O cabelo, o casaco, a camisa e a
gravata estavam um desastre.
— Muito bem, eu suponho — murmurou para o espelho e cambaleou
até a pia. Walker colocou a tanga no balcão com cuidado e abriu a torneira,
então observou seu rosto enquanto lavava as mãos e esperava que sua
expressão mudasse. Vasculhou sua consciência, mas não houve culpa ou
arrependimento. Ele não se sentia sujo ou confuso, apenas... melhor e feliz.
— Por que não me sinto culpado?
Era isso. O sorriso murchou em seu rosto.
Ele não pensou em Connor nenhuma vez. Era um milagre não ter se
preocupado com o quanto era errado o fato de Fin ser seu funcionário ou o
que ele poderia estar tirando das meninas, mas deveria ter pensado em
Connor, pelo menos.
— O que está acontecendo comigo?
Ele ajeitou a calça e dobrou a tanga antes de colocá-la no bolso.
Walker deu um tapinha reverente no local e foi ligar para a irmã. O homem
adiou a ligação, porque não tinha ideia do que ia dizer ou se o conselho dela
iria ajudar. Agnes sempre seria uma agente do caos, mas era tudo o que
Walker tinha, a menos que ele quisesse confiar em Pierce.
— Eu não pago o suficiente para isso, e provavelmente ele se
demitiria — Walker murmurou enquanto pegava o telefone e localizava o
número da irmã. Ele segurou a ponte do nariz e rezou por paciência.
— As meninas estão bem? — ela perguntou assim que atendeu, e ele
sorriu.
— Estão dormindo.
— Amém, Senhor. Por que você está me ligando às dez e meia da
noite em uma sexta-feira? É o seu fim de semana — ela brincou. Walker
ouviu uma risadinha no fundo.
— Você está ocupada.
— Sim, mas eles podem se divertir sozinhos se for importante. — Ela
estava falando sério, mas Walker se perguntou o que eles significava. Era
tão ambíguo. O irmão decidiu que não precisava saber.
— Preciso da sua ajuda, Aggie. Acho que posso estar com problemas.
— Me dê um momento. Vou para outra sala. — A linha ficou
silenciosa e Walker se sentou no sofá, mas logo se levantou e começou a
andar junto à janela. — O que aconteceu? Você está bem?
— Estou. — Ele passou a mão pelo cabelo e considerou por onde
começar. Nada lhe ocorreu. Era por isso que ainda não tinha ligado. —
Estou bem, mas algo aconteceu com Fin.
— Ah, Deus. Ele está te extorquindo? Porque eu conheço alguém —
ela sussurrou.
— Caramba, não! Aggie! — Walker decidiu que encontraria alguns
amigos assim que resolvesse as coisas com Fin e as meninas. — É por isso
que eu estava com medo de te ligar. Fin não quer dinheiro.
— Você disse que estava com problemas e me ligou, então presumi
que era algo ilegal.
— Não é ilegal, mas é errado. Ou deveria ser, e estou preocupado
com o porquê de não me sentir assim.
— Você precisa falar em códigos? — ela perguntou, entediada.
Walker conseguia imaginá-la verificando as unhas ou folheando uma
revista.
— Posso estar sabotando o que mantém as coisas sob controle aqui
em casa, mas não consigo me conter.
— Isso é interessante. Por favor, me diga que você fez algo com
aquele babá fofo. As meninas não param de falar dele. O jovem parece ser
delicioso.
— Isso é nojento e inapropriado.
— Então você não fez aquilo com o babá?
— Não. Eu meio que fiz, mas parece nojento e inapropriado quando
você fala assim — ele esclareceu e esfregou os olhos. Agnes comemorou e
houve risadinhas abafadas enquanto ela dançava ou pulava do outro lado da
linha. — Finalmente estou me arrependendo de algo — o irmão observou.
Walker decidiu que contaria até dez e depois desligaria. Chegou a sete.
— Isso é excelente. Eu não poderia estar mais feliz.
— Há um sinal de alerta.
— Pare com isso. Me diga o que aconteceu.
— Eu queria, mas tenho medo de que você me diga para ir até o fim
— ele disse.
— Talvez seja exatamente por isso que você me ligou. Você pode
estar procurando por um empurrãozinho, querido.
— Não preciso de um empurrãozinho. Fin já me deu um, mas preciso
de uma lanterna ou de um mapa para não me perder.
— Ele não te deu isso também? — Ela parecia preocupada. — Foi
mais do que um empurrãozinho? Ele não está te pressionando, está?
— Não. Não é o tipo de coisa que Fin faria. Ele notou que havia... um
interesse mútuo, então deixou claro que estaria aberto a explorar isso, já que
passamos tanto tempo juntos aqui em casa.
— Você é um bobo em dizer não se ele é tão gostoso quanto parece
— Agnes respondeu rápido demais.
— Por que você age como um animal? E ainda nem estamos falando
sobre o motivo principal dessa ligação, que é o fato de não me sentir mal,
mesmo achando que deveria.
— De acordo com quem? Você está machucando alguém? A única
pessoa com quem eu me preocuparia seria Fin, mas sei que você nunca
forçaria ninguém, ainda mais um funcionário.
— E as meninas?
— A sua necessidade é maior do que as delas no momento, e duvido
que você ou Fin permitiriam que qualquer mal acontecesse a elas.
Agnes estava certa, é claro. Fin criou limites para proteger as meninas
e cuidar o relacionamento profissional deles. Walker estava se desviando da
verdadeira preocupação.
— E o Connor? Faz só três anos.
— Não diga só como se você não tivesse sofrido durante esse tempo
ou colado todos os pedaços de seu coração. Você trabalhou muito para ser
forte pelas trigêmeas e por ele e merece ser feliz de novo. Já perguntou para
as meninas como se sentem a respeito de você namorar de novo? Tenho a
sensação de que ficaria surpreso com o quanto elas querem isso — Agnes
sugeriu. Walker riu baixinho e balançou a cabeça.
— Com toda a certeza não estou namorando nosso babá e ele não está
interessado em me namorar. Não é esse tipo de arranjo. No momento, mal
chega a algo físico ou sexual.
— O que quer dizer?
— Existem limites. Eu dito o ritmo, e ele me recompensa por
expressar meus sentimentos — o irmão revelou e se preparou. Houve mais
gritinhos histéricos.
— Ah, Walker! É exatamente o que você precisa, e eu não poderia
estar mais feliz.
— Como vou definir o ritmo quando nem sei o que isso significa ou o
que devo fazer? Ainda não decidi se estou pronto para transar com outros
homens de novo e já estou confuso, porque estou ficando excitado com
coisas que nem sabia que gostava.
— Isso é maravilhoso! — Ela riu. — Comece do zero e faça coisas
que nunca tentou antes. Você não vai sentir que está substituindo todas as
memórias que criou com Connor.
— Espere aí. Você pode ter acabado de dizer algo racional — ele
respondeu, e a irmã bufou.
— Às vezes, acontece.
— Não faria mal tentar coisas novas e começar do zero. E eu gosto da
parte de não substituir todas as memórias com Connor — ele falou.
— Não há problema, desde que você abra espaço para novas
memórias. Você estava certo: eu quero que você vá até o fim. Tenho
grandes esperanças em vocês dois, e já tiveram um começo promissor.
— E agora, você voltou a ser ridícula. Boa noite, pirralha — ele
resmungou, mas estava sorrindo quando se levantou e voltou para o
banheiro para tomar banho.
— Boa noite. Amo você.
— Também amo você — ele respondeu e encerrou a ligação. Foi uma
conversa ridícula, porque era o que acontecia sempre que falava com
Agnes, mas Walker se sentia melhor, e ela realmente ajudou. — Ninguém
está se machucando e é bom começar do zero e tentar coisas novas — disse
a si mesmo e foi esconder a calcinha de Fin.
CAPÍTULO VINTE E UM
— MEXAM-SE, MENINAS. É hora da história! — Fin anunciou. Ele
estava sentado perto da janela da brinquedoteca e sua mão estava dentro de
um fantoche de dinossauro escondido nas costas. As trigêmeas largaram os
lápis de cor e as espadas feitas de espuma e correram para se juntar a ele. —
Era uma vez, em um supercontinente conhecido como Pangeia...
— Fin! — Amelia sussurrou alto, e ele a calou.
— Dinossauros perambulavam por um supercontinente...
— Fin!
— Eu nem consegui explicar o que é um supercontinente! — ele
reclamou e mexeu os braços em exasperação. Charlotte arfou, arrancou o
dinossauro da mão dele e o abraçou.
— Doug! — ela exclamou enquanto o apertava.
— Nós precisamos da sua ajuda! — Amelia sussurrou com urgência,
e Fin franziu a testa.
— O que está acontecendo?
— Nós queremos fazer uma grande festa de aniversário para o papai,
mas não temos dinheiro e não podemos usar o telefone — Beatrice
explicou. Amelia assentiu e deu um tapa no braço de Charlotte para chamar
sua atenção. Ela assentiu também.
— Nós queremos um bolo grande e muitas pessoas com roupas
chiques — Charlotte revelou com um gritinho entusiasmado.
— Entendo — Fin disse e esfregou o queixo. — Eu também não
tenho dinheiro para algo assim, mas posso falar com Pierce, e ele pode fazer
acontecer...
— Um bolo muito grande! — Charlotte insistiu. Fin bateu palmas,
animado.
— Com certeza. Suponho que vocês querem que seja uma surpresa e
querem todo o crédito, certo? — ele perguntou e as meninas assentiram. —
Adorei a ideia — ele completou e elas vibraram. — Agora que isso está
resolvido — o babá pegou Doug de Charlotte e colocou a mão de volta no
pescoço do dinossauro. — Os dinossauros vagavam pelo supercontinente...
— Fin emitia sons altos conforme Doug saltava do ombro de Charlotte para
a cabeça de Beatrice e depois para o joelho de Amelia. Ele gritou e se
contorceu quando o fantoche mergulhou em um brontossauro de plástico
em uma pilha de livros.
— Por que suas unhas estão cor-de-rosa, Fin? — Charlotte perguntou
e o babá congelou.
— Eu... estava um pouco atrasado esta manhã e me esqueci de tirar o
esmalte — ele falou enquanto olhava para a mão. Fin as pintou enquanto
ouvia um podcast antes de dormir. Seu rosto estava quente e se perguntou
como explicaria isso a Pierce.
— Mas elas estão cor-de-rosa! — ela riu.
— E daí? Eu amo rosa. Por que não poderia pintá-las dessa cor? —
ele perguntou e as três ficaram confusas. — Vocês usam azul e verde, não
usam? — As três assentiram. — Meninas podem usar azul, verde e gostar
de coisas com carros de corrida e dinossauros. E meninos podem usar rosa,
roxo e coisas com babados e laços se quiserem.
— Mas isso é para meninas! Meninos não usam esmalte — Charlotte
contestou. Fin inclinou a cabeça.
— Tenho quase certeza de que conheço todas as regras, e essa não é
uma delas.
— Papai nunca usa rosa, exceto nas gravatas. Por que você nunca usa
rosa? — Amelia perguntou enquanto puxava a ponta do cardigã do babá.
— Seu pai só usa terno — ele disse e colocou Doug debaixo do braço
para que elas prestassem atenção. — Tudo bem as pessoas usarem a cor que
quiserem, independentemente de serem meninos ou meninas — Fin
verificou se as três estavam ouvindo. Era muito cedo para falar com elas
sobre como as questões de gênero tradicionais podiam ser opressivas, mas
as cores e as roupas eram uma maneira fácil de começar. — Por que vocês
gostam de vestidos com muitas camadas? — perguntou.
— Porque eles me fazem sentir como uma princesa? — Beatrice
adivinhou.
— Exatamente — Fin disse, assentindo. — É divertido usar coisas
que nos fazem sentir especiais. E isso não é da conta de mais ninguém.
Vocês sabiam que rosa é a minha cor favorita e que eu uso o tempo todo
quando estou de folga? — ele perguntou, esperando que isso fosse muito
mais interessante do que suas unhas.
— É a minha terceira cor favorita! Por que você não pode usar rosa
quando está com a gente? — Charlotte perguntou.
— Eu quero pintar suas unhas! — Amelia exclamou, mas Fin
balançou a cabeça.
— Não. Não acho que seu pai ou Pierce aprovariam. Os empregados
da casa têm um código de vestimenta — ele comentou, e as meninas
resmungaram.
— Eu não me importaria. — Ouviram uma voz profunda e
retumbante, e Fin engasgou quando encontrou Walker encostado na porta
da sala. Logo se repreendeu por ter esquecido a acetona antes de sair do
apartamento. Pela primeira vez, o chefe estava calmo e se divertindo, e o
babá estava todo atrapalhado na frente das crianças.
— Sinto muito. — Fin se levantou e jogou o fantoche em uma cesta.
— Eu estava começando a cochilar enquanto ouvia um podcast, então as
pintei... — Ele se encolheu, mas Walker acenou com desdém.
— Ouvi o suficiente para entender. Você está certo. Não é da conta de
ninguém, e eu também gosto de rosa e de unhas pintadas — o homem mais
velho disse.
— Tudo bem — Fin respondeu, segurando a mesa de artes enquanto a
sala girava ao seu redor. — Achei que estivesse enrascado — ele sussurrou.
Walker acenou e riu.
— Seria preciso muito mais que isso depois do que fizemos você
passar.
— Posso pintar suas unhas, papai? — Amelia perguntou. Ele desviou
os olhos de Fin e sorriu para a filha.
— Não vejo motivo para não fazê-lo, mas vou ter que tirar antes de
sair ou as pessoas vão pensar que sou bobo, porque não sou tão legal quanto
o Fin.
— Claro que é — Fin rebateu. Será que eu vou desmaiar? Acho que
vou desmaiar. O babá tinha lido vários romances, mas não achava que
alguém realmente desmaiasse até conhecer Walker Cameron III. — Estou
encrencado — ele murmurou e passou a mão na testa.
— Você está bem? — o patrão perguntou, e o jovem assentiu.
— Estou! Só está um pouco abafado aqui.
— Meninas, acho que está na hora de vocês encontrarem a tutora Lisa
para que possam se aprontar para a aula de equitação — Walker disse,
salvando Fin. As garotinhas comemoraram, e então se levantavam e saíram
correndo da sala, deixando os dois sozinhos. — Elas vão ficar fora por
algumas horas, e tenho a tarde livre. Estava me perguntando se há algo que
você precisa discutir comigo. — O homem mais velho sorriu para Fin com
esperança.
— Na verdade, eu estava pensando que poderíamos continuar esta
conversa. Há algo que eu gostaria de mostrar a você. — Fin mexeu no
botão do cardigã e arqueou uma sobrancelha para o outro. Ele assentiu e
corou.
— Parece que é importante. Vou me certificar de que não sejamos
interrompidos — Walker falou, pedindo licença e depois fazia uma
reverência e saiu da sala. Fin também pensava assim e ficou feliz por não
ter muito o que fazer até que as meninas voltassem da aula de equitação.
Ele imaginava que o dia passaria devagar, mas o patrão tornou tudo
especial, dando a ele algo pelo que ansiar.
— Alguém vai ganhar uma calcinha rosa de renda esta noite.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
WALKER DEVERIA SABER que algo estava acontecendo quando
Fin pediu que ele levasse chinelos à brinquedoteca depois do café da
manhã. Pierce também parecia preocupado enquanto estavam no closet de
sapatos, entregando os chinelos ao patrão.
— Talvez seja uma viagem imaginária à praia — Walker cogitou.
— Devo pegar um short de banho também, senhor?
— Não, a menos que Fin peça. Tenho certeza de que ele teria
especificado se fosse necessário. Deus, espero que traje de banho não seja
necessário. — Walker estava disposto a agradar o babá e as meninas, mas
mostrar as pernas para o resto da casa seria totalmente incorreto e nada
digno.
— Também espero, senhor — Pierce respondeu antes de desaparecer,
deixando Walker carregar suas coisas e enfrentar a brinquedoteca por conta
própria.
A princípio, ele pensou que era hora da contação de histórias. Uma
das poltronas cor-de-rosa da sala das garotas foi realocada para o meio da
brinquedoteca. Então, notou a banheira do mesmo tom e vários pincéis de
maquiagem e frasquinhos sobre a mesa de artes.
— O que está acontecendo aqui? — Walker perguntou ao se inclinar
da soleira da porta com cautela.
— Ah! Aí está você! Deve ser nosso cliente das nove horas! — Fin
anunciou, correndo para a brinquedoteca. Ele estava com um dos cachecóis
de penas das meninas em volta do pescoço e uma toalha pendurada no
braço.
— Cliente? — Walker repetiu e pulou quando o babá contornou a
poltrona e deu um tapinha no assento.
— Por aqui! Este é o seu lugar, sr. Cameron. — Fin gesticulou e se
curvou em uma reverência.
— Não sei se é seguro — o patrão disse baixinho. Ele olhou em volta
apreensivo, então atravessou a sala e se sentou na cadeira.
— Claro que é! Tire os sapatos.
— Eu temia isso.
— Não tema! — Fin lançou um olhar significativo. — Minha equipe
de estilistas mestres vai cuidar de você em breve. O senhor está em ótimas
mãos — ele assegurou.
— Cuidar de mim? — Walker resmungou enquanto se inclinava para
desamarrar os sapatos e tirá-los. Fin bateu palmas e ele segurou o riso
quando as meninas entraram na sala em uma formação rápida. Elas vestiam
seus trajes de banho por cima dos vestidos e circulavam ao redor do pai,
murmurando sobre pontas secas e raízes. Amelia gesticulou para Beatrice e
balançou a cabeça para Charlotte. — Tive um encontro com meu estilista há
apenas dois dias. — Walker deu um tapinha no cabelo, constrangido.
— Bem, eles fizeram uma bagunça — Amelia o informou.
— Eu posso consertar! — Charlotte declarou e pegou uma tesoura
roxa grossa do bolso do roupão.
— Não! — Walker tentou se levantar, mas Fin o segurou pelo ombro.
— Eu disse a vocês, vamos só escovar o cabelo dele hoje — o babá
falou com calma. Charlotte deu de ombros e colocou a tesoura de volta no
bolso. Walker relaxou e foi presenteado com meia hora de mimos e
entretenimento.
Ele descobriu que gostava de ter o cabelo escovado e preso em
chuquinhas. Foi relaxante quando Beatrice e Charlotte seguraram suas
mãos, fingindo lixar as unhas. E ele não se importou com as mãozinhas
acariciando suas bochechas e os pincéis macios como penas passando sobre
suas pálpebras. A maquiagem pode ter sido falsa, mas os frascos de esmalte
eram reais.
— Escolha uma cor, papai! — Charlotte ordenou. Walker franziu os
lábios e examinou os frascos de vidro. A maioria deles era em tons de rosa,
vermelho e laranja, mas havia alguns azuis e verdes, bem como preto e
prata.
— De onde vieram esses esmaltes? — ele perguntou.
— São do Fin! — Amelia disse e se sentou aos pés do pai. — Escolha
uma cor!
— Bem... — O homem balançou a cabeça. A cor não importava para
ele. Os dedos estariam escondidos dentro dos sapatos assim que pudesse
colocar as meias de novo. — Por que você não escolhe, Bea?
— Este! — ela pegou um frasco pink. — Fin disse que este é o
favorito dele! — Beatrice sorriu para o pai.
— Certo... — o pai agradeceu e entregou o frasco para Amelia. Ela e
Charlotte se revezaram pintando as unhas dos seus pés e fizeram um
trabalho excepcional, para sua surpresa. — Sabe, eu não pensei que seria
capaz de usar essa cor, mas gosto dela. — Ele pegou a carteira e com o
canto dos olhos viu o babá apertar o peito. — Acho que Fin mencionou algo
sobre uma ida à livraria mais tarde. — O pai deu a cada uma das meninas
uma nota de vinte dólares antes de se levantar e calçar os chinelos. Então
olhou para seu relógio. — Mesma hora na semana que vem? — perguntou
para as filhas e checou com Fin, cujos olhos brilharam à medida que
assentia. — Excelente. — Walker fez uma reverência e se dirigiu para a
porta.
— Não se esqueça das meias e dos sapatos! — Fin disse e os pegou
do chão enquanto corria atrás de Walker. Eles se encontraram na porta e o
rapaz pigarreou quando se aproximou, os entregando a ele. — Você tem
sido um garoto muito bom. Vou te esperar depois que as garotas dormirem
— ele sussurrou.
— Estou ansioso por isso — Walker respondeu. Sua fala foi tranquila,
mas queria pular e cantar quando se virou para as escadas. Estava sorrindo
ao descer os degraus e checou o relógio novamente. — Droga! — Ele se
lembrou de que esperava uma ligação de um primeiro-ministro em dez
minutos.
Walker jogou os sapatos e as meias no sofá enquanto entrava no
escritório e ainda sorria quando afundou na cadeira. Ele se reclinou e
esticou as pernas para esperar. Sua imaginação vagou para a hora de dormir.
Bem, para depois da hora de dormir. O coração bateu um pouco mais rápido
e ele se sentiu aquecer.
Era comum que Fin o esperasse do lado de fora do quarto das
meninas para que pudessem caminhar até a suíte de Walker. Assim que
ficavam sozinhos, o rapaz recompensava o patrão por todas as maneiras que
ele o havia agradado ao longo do dia. Ele recompensava o homem mais
velho com palavras suaves, um vislumbre de algo bonito e talvez uma nova
adição à sua crescente coleção. Walker sentiu uma pontada de excitação e
xingou quando verificou a hora de novo. Ele só tinha dois minutos até a
ligação e horas até as meninas dormirem.
— Achei que o senhor gostaria de uma xícara de chá durante sua
ligação — Pierce anunciou quando apareceu com uma bandeja e a colocou
na mesinha. Walker assentiu de forma distraída e pegou o telefone quando o
aparelho tocou.
— Cameron — ele falou e cruzou os tornozelos enquanto Pierce
preparava o chá. O primeiro-ministro estava ligando porque queria
transferir a maior parte de seu dinheiro antes que a esposa e o público
soubessem de seu caso. Walker já tinha um plano e iria comprar pôneis para
as meninas com a comissão que receberia no negócio. Houve um arquejo
alto quando Pierce deu a volta na mesa e viu as unhas pintadas do patrão e,
em seguida, um baque surdo e um barulho abafado quando a xícara e o
pires caíram no tapete grosso. Ele agiu como se não tivesse notado o chá
escorrendo nas gavetas da escrivaninha. — Estou querendo financiar um
programa no East Harlem. Seria bom para a comunidade e proporcionaria
um ótimo retorno se você pudesse esperar alguns anos — Walker disse. Ele
lidou com o primeiro-ministro como se o acordo fosse brincadeira de
criança, porque esse era o tipo de coisa que fazia quase todos os dias.
Depois virou a cadeira e se desligou de Pierce enquanto o homem preparava
outra xícara de chá e logo limpava a bagunça que havia feito. A mente de
Walker estava livre para voltar à hora de dormir e à sua recém-descoberta
obsessão.
Era uma loucura cair no feitiço de Fin, mas todos estavam felizes e a
casa estava muito mais tranquila graças a ele. O tipo de mágica que o babá
fazia era um pouco caótico às vezes, mas ele parecia saber exatamente do
que os quatro precisavam. Sexo com ele parecia inevitável e não o
assustava tanto quanto pensou, mas a última voz racional em sua cabeça o
lembrou do quanto perderia se estragasse tudo.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
POR FAVOR, NÃO se atrase! Fin fechou a porta da brinquedoteca e
correu para o outro lado do corredor. Ele se encostou na parede ao lado da
porta do quarto das meninas e ficou escutando. Levou vários minutos para
limpar todos os confetes e a meleca roxa que elas conseguiram grudar no
teto.
— Qual foi o seu momento favorito do dia? — Walker perguntou, e
Fin comemorou enquanto esperava. O momento favorito do dia dele era
quando o patrão fazia essa pergunta às meninas. Era parte relatório de
progresso e parte sinal de que o babá tinha acabado seu turno.
— Meu momento favorito foi quando Amelia não quis os morangos
dela e os deu para mim — Charlotte disse, fazendo Fin derreter um pouco.
Ele podia diferenciar as vozes das três sem olhar e não havia como
confundi-las agora.
— Foi muito gentil da parte dela compartilhar — Walker respondeu.
— E você, Amelia? Qual foi o seu momento favorito do dia?
— Foi quando Fin nos levou para passear e vimos Abigail e Annabel.
— As meninas Delaney? — o pai perguntou. Fin ouviu um leve
murmúrio e uma das garotinhas bateu palmas.
— Annabel disse que a mãe delas tem um novo namorado, e elas
ajudam a escolher vestidos e joias quando ela sai com ele! — Amelia
sussurrou, animada.
— Estou muito feliz por Judith. Faz alguns anos que ela perdeu o
marido — Walker respondeu.
— Você deveria sair com o Fin! — Charlotte comentou. O babá abriu
a boca com um sobressalto e se segurou na parede para o caso de suas
pernas cederem. Não ficou surpreso com a sugestão das meninas, mas era
embaraçoso e ele se sentiu péssimo por Walker.
— O quê? Não! Por quê? O quê? — O homem mais velho parecia
igualmente chocado. — Por que você...?
— Porque Fin é incrível, e ele também gosta de meninos! — Amelia
declarou e Fin se recuperou com um sorriso, respirando aliviado. Ela não
estava errada.
— Às vezes, parece que você quer sair com o Fin. — Beatrice se
meteu na conversa. O jovem estremeceu e não gostou dos grunhidos
desajeitados e do gemido que ouviu de Walker. Ele estava em conflito.
— Eu não sei do que você está falando — o pai das meninas
respondeu. Fin se sentiu mal por ele.
— Você olha para ele como a Charlotte olha para os cachorrinhos —
Beatrice disse.
— Como se ele fosse sorvete e você quisesse comê-lo! — Charlotte
riu e o som se espalhou pelo quarto. Fin se encolheu e qualquer pensamento
que tivesse de salvar o patrão desapareceu. Você está por conta própria,
camarada. Walker não o pagava o suficiente para entrar nessa.
— Sinto muito, mas vocês estão enganadas, e isso seria
absolutamente inapropriado. Eu nunca poderia sair com o Fin, porque ele é
meu funcionário — o pai explicou. E porque seria estranho, o babá
acrescentou com um aceno de cabeça. Houve gemidos desapontados vindos
do quarto e alguém socou um travesseiro. — Chega — Walker falou com
firmeza e as meninas se acalmaram. — Fin é um jovem maravilhoso. Mas
eu sou mais de vinte anos mais velho e ele tem muito para viver ainda.
Fin não gostou do que ouviu. Não havia muitos homens da sua idade
tão gostosos quanto Walker, até onde sabia. E os homens na faixa dos vinte
e tantos anos em geral não eram confiáveis. Raramente tinha algo em
comum com eles. Não que tivesse muito em comum com Walker também,
mas o patrão era bem gostoso e tinha um cheiro incrível.
— Mas nós queremos que você se case de novo, e Fin é perfeito.
— Me corrijam se eu estiver errado, mas vocês não estavam tentando
assassiná-lo alguns meses atrás? — Walker fez uma pausa e houve
resmungos e risadinhas.
— Nós o amamos agora. Ele faz você passar mais tempo com a gente
e torna tudo melhor — Amelia declarou, e o rapaz colocou a mão no peito.
Ele amava as trigêmeas e se sentia péssimo porque queria que o chefe
mentisse para elas, até ouvir como estavam desapontadas.
— Temos muita sorte de tê-lo conosco, e essa é outra razão pela qual
eu nunca o namoraria. Vocês gostariam que ele se demitisse e nos deixasse
porque tivemos um encontro ruim? — Houve uma pausa antes de Walker
rir. — Achei que vocês diriam isso. Boa noite, Amelia. — Ele beijou a
cabeça da filha e Fin ouviu quando o patrão caminhou pelo quarto. Walker
fechou a porta atrás de si e suspirou para Fin. — Suponho que você tenha
ouvido tudo.
— Perdi a hora da história e as coisas favoritas de Amelia e Beatrice,
mas peguei o resto — ele respondeu. O babá suspirou e colocou as mãos
nos bolsos, então caminhou com Walker. — Foi difícil, mas você lidou bem
com a situação.
— Obrigado. Pensei em pular pela janela, mas me perguntei o que
você teria feito — Walker murmurou, fazendo Fin tropeçar.
— Hum. Obrigado?
— Por que está surpreso? Você está sempre me salvando e estava
fadado a me influenciar. — O homem mais velho deu de ombros,
claramente sem saber que havia realizado um dos sonhos de Fin.
— Está finalmente acontecendo! — ele comemorou dando soquinhos
no ar.
— O que está acontecendo? — o outro perguntou em alerta. Eles
haviam chegado à suíte de Walker, então ele levantou a mão, gesticulando
para Fin esperar enquanto ele se apressava até a sala de estar e ia em
direção ao quarto. Estava vazio, então correu até o banheiro e espiou pelas
portas. — Tudo limpo. O que está acontecendo? — repetiu. O jovem fechou
as portas da suíte e desabotoou o cardigã ao se virar.
— É minha bênção e minha maldição — ele disse e gargalhou quando
Walker tropeçou.
— Eu sei que fui abençoado com um... — ele começou, desajeitado, e
parou quando Fin riu.
— Não estou falando de você especificamente! — Fin disse e limpou
os olhos. — Embora, sim! — ele arqueou as sobrancelhas para Walker,
fazendo-o corar. Era sexy. — Parte do motivo pelo qual deixei de dar aulas
e me tornei babá foi para poder trabalhar com famílias. Achei que seria
como Maria ou Mary Poppins e que as estaria ajudando em vez de ficar
preso em uma sala de aula com crianças com as quais nunca poderia me
conectar. Mas essas famílias não eram como nos filmes e os pais não
queriam conhecer os filhos. Não queriam ouvir quando eu tentava ajudar.
Fui repreendido e instruído a cuidar da minha vida, até vir para cá.
— Não sei quem disse a você que riqueza era um indicador de
inteligência, mas estavam mal-informados — Walker disse com um risinho
de desdém. Seus dentes arranharam o lábio e ele estava inseguro quando se
aproximou de Fin. — Mas então eu fui bem? — perguntou. Suas
sobrancelhas se ergueram em sinal de esperança, fazendo o estômago do
rapaz revirar. A maneira como este homem impenetrável suavizava e se
agarrava a cada palavra do jovem era um afrodisíaco. Havia uma ternura e
um fascínio que Walker reservava apenas para suas meninas, pelo menos
até onde Fin sabia, e era inebriante causar esse efeito em um homem como
ele. Ainda mais quando o homem tinha uma aparência dessas...
— Eu ouvi o que você disse às meninas e estou muito feliz, Walker
— ele jogou o cardigã em uma das poltronas e ergueu a mão, chamando o
outro homem para mais perto. Houve uma onda de adrenalina quando os
ombros do patrão relaxaram e seus lábios se curvaram em um sorriso torto e
tímido. É isso. Deixe tudo para lá e vamos nos divertir um pouco. Estava
ficando mais fácil para ele deixar suas preocupações de lado e confiar em
Fin. Seus dedos se entrelaçaram e houve aquela corrente de calor mais uma
vez quando o babá o puxou para mais perto e guiou sua mão para a
braguilha da calça de veludo cotelê. — Você tem sido um garoto muito
bom. Quer ver o que eu vesti para você? — Fin observou o chefe abrir o
botão e depois estremecer. Não porque estava renunciando a seu poder ou
controle da situação. Não era um estremecimento de fraqueza, mas de
libertação. Ele soltou as amarras e se permitiu brincar e explorar.
— Sim. Por favor. — Walker fechou os dedos sob a cintura da calça
de Fin e os arrastou para frente e para trás, como se estivesse testando a
textura. Então fechou os olhos e umedeceu os lábios. — É renda? Parece
que sim, mas também sinto... fitas — Ele esperou mais alguns segundos
antes de segurar o zíper, e o babá gemeu de forma encorajadora à medida
que o outro homem o abria. — Minha nossa, Fin. — A voz de Walker
desmoronou junto com seu controle.
Ele segurou a bochecha do jovem e xingou ao puxá-lo para mais
perto. Encostou seus lábios nos do rapaz e seu controle se esvaiu. Walker
lambeu e chupou enquanto murmurava súplicas e desculpas incoerentes.
Fin passou o braço em volta do pescoço do chefe, convidando-o a pegar o
quanto precisasse. Houve um rosnado quando Walker inclinou a cabeça e
aprofundou o beijo. O homem mais velho deslizou a mão para dentro da
calça do outro para acariciar o triângulo de tecido antes de pegar sua bunda
com cautela. Então a apertou, e Fin não pôde evitar o gemido estrangulado
e suplicante que escapou de sua garganta.
— O clima está esquentando, mas acho que devemos parar um pouco
e fazer uma conferência. — O babá estava tremendo quando se recostou nos
braços de Walker para recuperar o fôlego. — Como você está? —
perguntou. O homem parecia atordoado, mas faminto, enquanto ofegava e
olhava para os lábios de Fin.
— Bem. Eu acho. Você, humm... quer ir para lá? — ele perguntou e
fez um gesto com a cabeça apontando para a porta do quarto. Havia um tom
de esperança na voz dele que foi direto para a virilha do rapaz. Seu coração
e seu corpo ordenaram que ele dissesse sim, mas Fin se lembrou do porquê
eles estavam indo devagar e como era mais gostoso quando Walker se
sentia seguro e confiava nele.
— Mais do que você poderia compreender, mas acho que devemos
parar. — Fin suspirou, então Walker soube o quanto lamentava essa
decisão. — Esta noite foi uma montanha-russa de emoções, e acho que
devemos ficar por aqui mesmo — o jovem falou e acenou entre eles. —
Vamos ver como as coisas evoluem antes de tentarmos qualquer outra coisa.
— Pode ser uma boa ideia — o chefe respondeu com uma careta,
esfregando a mão na boca e abafando um palavrão. — Foi demais? Eu fui
longe demais?
— Não! — Fin sussurrou e gesticulou. — Nós estaríamos nus e
tentando quebrar coisas se eu achasse que você está pronto para isso, mas
sabemos que você não está.
— Quebrar coisas?
— Sim — Fin falou enquanto olhava por cima do ombro de Walker e
imaginava a cena. — Gosto das coisas mais brutas de vez em quando — ele
disse à medida que acariciava a gravata do outro homem. — Estou muito
orgulhoso e acho mesmo que você e as meninas vão ficar bem.
— Porque nós temos você. Temos que ter cuidado, porque não posso
te perder, Fin.
— Não sei se você notou, mas eu sou muito teimoso. Não vou a lugar
algum — o babá afirmou e deu um beijo firme nos lábios de Walker antes
de soltá-lo. — A não ser para casa. Mas estarei de volta amanhã e teremos
outro dia incrível.
— Eu sei que sim. — Walker sorriu e acenou enquanto o jovem
pegava seu cardigã e saía da sala.
Os pés de Fin não tocavam o chão quando ele saiu da casa e pegou o
trem de volta para Bedford-Stuyvesant. Ainda estava no piloto automático
quando entrou em seu apartamento e, pela primeira vez, ficou feliz por
Riley não estar lá. Ele planejava abrir uma garrafa de vinho, preparar um
banho quente e terminar o que Walker havia começado.
CAPÍTULO VINTE E
QUATRO
— POR AQUI, MENINAS! — FIN analisou o corredor dos
funcionários e abriu a porta. Ele as segurou e olhou para ambos os lados,
fingindo ter certeza de que a barra estava limpa. As meninas riram e se
amontoaram atrás dele. — Vamos nos abaixar e correr para aquela porta do
outro lado da cozinha — ele falou. A cozinha original da Casa Killian foi
reformada, mas não era mais usada com regularidade. As luzes estavam
baixas, mas um brilho quente espreitava por baixo da porta dos aposentos
do mordomo. — Parece que ele está lá — o babá sussurrou e sinalizou para
seus pequenos soldados o seguirem quando correu. Os quatro conseguiram
atravessar a cozinha sem serem vistos, e Fin tocou os lábios e endireitou os
ombros para que as trigêmeas soubessem que era hora de se comportar. Ele
deu uma batida rápida na porta e empinou o nariz enquanto esperava. Pierce
abriu a porta e ficou perplexo, mas ofereceu uma reverência rígida.
— Senhor. Senhorita Amelia, senhorita Beatrice e senhorita Charlotte.
Como posso ser útil? — ele disse com sua placidez habitual. Fin pensou em
perguntar se eles poderiam mudar o local da reunião para ter mais
privacidade, mas uma olhada rápida revelou uma sala de estar espartana
com uma mesinha redonda e uma cadeira. Havia um toca-discos em uma
estante antiga e dezenas de discos meticulosamente organizados nas
prateleiras, mas essa parecia ser a única indulgência de Pierce. O resto do
quarto estava vazio, e o rapaz podia ver uma cama de solteiro por entre a
porta aberta. Havia um único travesseiro e a cama estava perfeitamente
arrumada com lençóis de dobras meticulosas.
— O aniversário do sr. Cameron é em três semanas, e nós precisamos
de ajuda para fazer uma festa surpresa para ele. Esperávamos que você
pudesse nos auxiliar com alguns itens da lista ou nos indicar a direção certa
— Fin disse, entregando um papel a Pierce. A lista era extensa, então ele
cruzou os braços e as meninas o imitaram. O mordomo deu uma olhada,
depois arqueou uma sobrancelha para Fin e pigarreou.
— Um bolo enorme, muitas pessoas com roupas chiques, homens
carregando bandejas com comidinhas, uma banda enorme... — Pierce leu e
encarou o babá. — Não haverá castelo inflável, guerrinha de balões ou
fogos de artifício, mas o resto deve ser fácil de conseguir. — Ele dobrou o
papel e o enfiou dentro do casaco.
— Ah... Maravilha! — Fin deu um soquinho no ombro de Pierce. —
É claro, não temos dinheiro para contribuir com o orçamento, mas temos
mão de obra — ele comentou, indicando as pequenas subordinadas.
— Não será necessário — Pierce afirmou. — O sr. Cameron separou
uma quantia generosa no orçamento da casa para feriados e eventos
especiais, como festas de aniversário. Eu estou autorizado a usar esses
fundos a meu critério, então isso não será motivo de preocupação — ele
informou.
— Isso é ainda mais incrível! — Fin disse e levantou o polegar para
que as meninas soubessem que Pierce era o cara.
— Sim. Acredito que conheço as preferências das jovens em relação a
decorações e tipos de bolo, mas vou conferir com elas na brinquedoteca
antes de tomar qualquer decisão.
— Entendido — o babá respondeu com uma saudação. — Mais
alguma coisa que podemos ter esquecido? — ele sussurrou para Pierce. O
mordomo ficou parado por um momento antes de seu foco passar para as
meninas e depois de volta para o jovem.
— Também vou providenciar vestimentas na brinquedoteca enquanto
o sr. Cameron estiver fora da Casa Killian. Ninguém pode ir a uma festa de
aniversário chique a menos que esteja devidamente vestido.
— Sim! — as meninas gritaram, e Fin sorriu para Pierce.
— Você é um gênio. Sabia que podíamos contar com você. — Ele
ergueu a mão para que Pierce pudesse bater nela. O rosto mordomo se
contorceu em desaprovação, mas ele ergueu a mão e quase a pressionou
contra a de Fin.
— É uma ideia louvável, e estou feliz em ajudar. A festa de
aniversário do sr. Cameron deve ser tratada como um evento especial. Só
peço que fiquem lá em cima e fora da cozinha a menos que tenham
permissão da sra. Lester ou minha — ele falou. Fin ergueu as mãos,
desculpando-se.
— Eu sei. Estávamos nos divertindo com a ideia de nos esgueirarmos
pela casa e talvez eu tenha me empolgado um pouco por causa da chuva —
ele respondeu, e Pierce pigarreou mais uma vez.
— Podemos abrir uma exceção de vez em quando, mas seria muito
mais sensato da minha parte me reportar a você na brinquedoteca se nosso
objetivo é evitar sermos pegos.
— Não acontecerá de novo. De agora em diante, vou verificar
primeiro com você ou com a cozinheira. Enquanto isso, nos dê algo para
fazer. Não podemos ficar sentados enquanto você faz todo o trabalho duro.
— Essa é a definição de um mordomo, senhor — o outro homem
respondeu categoricamente.
— Certo... — Fin pigarreou e passou a mão no nariz, apontando de
forma discreta para as meninas. — Não podemos te deixar ficar com toda a
diversão — ele acrescentou lentamente, esperando que Pierce entrasse na
brincadeira. Ele piscou para Fin por um momento, então abaixou a cabeça.
— Entendo. — Pierce olhou para as meninas e depois para Fin. —
Acredito que não tenho permissão para gastar o dinheiro da casa com
presentes, então caberá a vocês quatro comprá-los.
Fin sussurrou um “perfeito” e levantou o polegar para que apenas o
mordomo pudesse vê-lo.
— O que mais? — o rapaz perguntou. Os olhos de Pierce
endureceram e seus lábios se apertaram ao olhar para Fin. Provavelmente
em frustração. O babá lhe lançou um sorriso tímido. — Vou ficar te
devendo muito — ele falou. O outro homem franziu os lábios e suspirou,
pensativo.
— Seria útil se o sr. Cameron estivesse distraído quando o
organizador e o bufê vierem à casa.
— Sim! Nós podemos cuidar disso! — Fin vibrou e as garotas o
acompanharam. Ele pensou ter visto os lábios de Pierce se contorcerem.
— Tenho certeza disso. Há a questão das luzes — ele acrescentou,
seu tom ficando sério e um tanto ameaçador.
— Luzes? — Fin perguntou e olhou para as meninas. Amelia e
Beatrice deram de ombros e Charlotte se agachou. Ela estava fingindo
amarrar os tênis, mas tinha os cadarços das irmãs nas mãos e os enrolava
em um nó apertado. — Charlotte! — Fin esperou até que tivesse a atenção
dela e levantou um dedo. Ele se recusou a prosseguir até que a garota
começasse a desfazer os nós. Então se voltou para Pierce, sorrindo com
orgulho. — Eu amo essa dose de perigo. Agora, o que você dizia sobre as
luzes?
Pierce não perdeu o ritmo e agiu como se Charlotte não tivesse
tentado pregar uma peça nas irmãs bem na frente dele.
— Tenho certeza de que posso coordenar tudo na tarde da festa sem
que o sr. Cameron suspeite de nada, exceto as luzes. O paisagista as instala
para um evento noturno e isso geralmente é um trabalho que dura o dia
inteiro e precisa ser feito antes da chegada dos decoradores e da equipe do
bufê. Em circunstâncias normais, eu providenciaria isso para o dia anterior,
mas receio não poder esconder uma equipe de paisagistas do sr. Cameron
por tanto tempo.
— Deixe isso comigo! — Fin esfregou as mãos enquanto bolava um
plano e ficou ainda mais animado com a festa. — Sou um nerd do teatro e
iluminação é minha paixão. Sei como fazer mágica com um orçamento
apertado e tenho muita ajuda.
— Não operamos com um orçamento apertado na Casa Killian —
Pierce respondeu de imediato, como se o babá tivesse ofendido sua honra.
— Você vai ter tudo o que precisar. Basta me fornecer uma lista — ele
acrescentou, e Fin teve que morder os nós dos dedos. Ele queria gritar de
felicidade. As meninas e Walker ficariam maravilhados quando vissem
todas as luzes.
— Espere até eu dizer ao meu irmão e meus amigos que podemos
invadir o quintal de Cameron e transformá-lo em um país das maravilhas.
— Isso não será necessário. Seu código de acesso funcionará no
portão dos fundos.
— Mas não seria muito divertido — Fin explicou enquanto calculava.
Era raro que tivesse a oportunidade de mostrar seu talento para a
iluminação teatral dramática e se safar com uma pequena invasão de
propriedade e vandalismo. — Essa festa ficou ainda mais incrível.
— Vou notificar a segurança e fechar as cortinas do quarto do sr.
Cameron — Pierce disse, depois estendeu a mão, sinalizando que era hora
de eles voltarem para o quarto de brinquedos. — Essa é toda a ajuda de que
preciso, mas se pensar em mais alguma coisa, sei onde encontrá-lo, senhor.
Senhoritas — ele acrescentou com uma reverência para as meninas. Elas
riram e fizeram reverências para agradecê-lo, fazendo o coração de Fin
inchar. Ele não conseguia imaginar nada mais precioso, e elas podiam ser
muito doces quando não estavam tramando algo.
— Obrigado, Pierce — Fin queria abraçá-lo por ter agido de maneira
tão perfeita. Os quatro incomodaram o mordomo em seu santuário, mas o
homem os ouviu com paciência. O rapaz suspeitava que era porque Pierce
amava os Camerons e faria qualquer coisa ao seu alcance para fazê-los
felizes. Mas também sabia que o homem não apreciaria um abraço, então
fez uma saudação antes de se virar e agachar. — Vamos ser tão silenciosos e
invisíveis quanto fomos no caminho para cá — ele sussurrou para as
meninas e elas agiram como profissionais, assentindo e batendo nos lábios
como pequenas superespiãs. — Tudo bem, me sigam!
CAPÍTULO VINTE E
CINCO
— EU ME PREOCUPO com o financiamento. Você garante que a
pesquisa e o orçamento estejam prontos a tempo e que tenha tudo
organizado. Ligo no mesmo horário na semana que vem, e quero saber
quais são as projeções para os próximos dois trimestres, no mínimo. —
Walker desligou e fez uma anotação na agenda. Pierce entrou com a
bandeja de chá e a deixou em uma mesinha.
— A sra. Lester e o resto da equipe estão entusiasmados com a
proposta de Fin de ter uma “mesa do chef” para as meninas na cozinha — o
mordomo comentou. Ele recolheu os papéis soltos da última ligação e os
colocou na pasta certa. A agenda foi fechada e colocada à direita de Walker
para mais tarde, deixando a mesa vazia para o chá.
— Estão? — o patrão perguntou, surpreso. — Não achei que eles
iriam querer as meninas comendo lá — o homem admitiu. Ele considerava
sua casa muito mais tranquila, uma vez que não havia separação entre o
“andar de cima” e o “andar de baixo”, do que aquela em que cresceu, mas
presumia que sua equipe ainda preferia que as crianças permanecessem nos
quartos delas e salas de ensino tanto quanto possível. Seria inédito para ele
fazer uma refeição na sala de jantar quando era criança, mas na cozinha?
Sempre foi proibido, e Walker tinha até medo da cozinheira e da confeiteira.
— Eu era uma criança terrível, no entanto...
— Sim, senhor. — Pierce colocou uma xícara e um pires na frente do
patrão. — A cozinha fica mais silenciosa à tarde, desde que a cozinheira e
sua equipe não estejam se preparando para um evento. A sra. Lester disse
que não se importaria em ver mais as meninas, agora que elas estão mais
contentes e se comportam melhor — o mordomo falou, repreendendo
Walker com gentileza pelos erros que cometeu como pai. Um prato de
biscoito amanteigado amenizou um pouco o clima, confortando-o quando
mergulhou um biscoito em seu chá.
— Eu sei, não graças a mim. — O homem riu, e Pierce ofereceu a ele
um aceno de cabeça.
— Eu acreditava que poderia haver um pouco mais de... intervenção
da sua parte, mas também entendia que o senhor estava enfrentando muita
dor e fazendo o seu melhor — ele falou em tom baixo e uniforme, mas foi o
momento mais revelador e desconcertante do relacionamento muito longo e
extremamente profissional que eles tinham.
Pierce tinha quase quarenta anos quando começou a trabalhar para
Walker, cuidando de suas necessidades pessoais e arrumando suas roupas
para o dia. Ele tinha vinte e dois anos e morava na Casa Killian, mas, na
época, a mansão ainda pertencia ao pai. Então ele comprou o lugar na
Quinta Avenida e promoveu Pierce, dando a ele o comando de sua própria
casa. E o homem o seguiu quando Walker Cameron II se aposentou em
Connecticut, assumindo a responsabilidade da Casa Killian, além de suas
funções como mordomo de Walker.
— Estou melhorando na intervenção, graças a Fin — o chefe admitiu.
— Está mesmo, senhor.
— Falando nisso... Você sabe o que as meninas estão fazendo agora?
— Acredito que aula de matemática. Passei pelo quarto de brinquedos
há alguns minutos e as trigêmeas estavam aprendendo frações e decimais
com um jogo de pizza e folhas de cálculo — Pierce respondeu, e Walker
ficou alerta.
— Eu deveria ver se posso ajudar. Sou muito bom em frações e
decimais.
— Esta é uma excelente ideia, senhor.
Era uma ideia excelente, porque ele nunca tinha dificuldade com
matemática! Walker era quase um sábio quando se tratava de dinheiro e
números, o que significava que essa era sua hora de brilhar. Ele estava
assobiando com alegria enquanto subia as escadas correndo, lembrando-se
de truques e sequências matemáticas que aprendeu para impressionar as
meninas, mas desacelerou quando se aproximou da brinquedoteca. Ficou na
dúvida se estava ocupada quando abriu a porta e espiou lá dentro. O pai
encarou, perplexo, quando Amelia passou um giz de cera azul para
Charlotte e calmamente sussurrou sobre frações. Beatrice concordava com a
cabeça, a língua presa entre os dentes, pintando com atenção. Era um sonho
se tornando realidade, e Walker não tinha certeza se estava na
brinquedoteca certa, mas ficou preocupado, porque Fin não estava ali.
— Toc, toc — ele falou enquanto batia na porta. As filhas se viraram
e acenaram animadas, mas não houve gritos ou correria. — Onde está o
Fin? — Não era de seu feitio deixar as meninas sozinhas por muito tempo.
— Ele teve que ir ao banheiro, porque Charlotte enfiou um giz no
nariz dele e começou a sangrar — Amelia anunciou, mas nenhuma das
meninas achou que o assunto era digno de interromper o trabalho delas.
— Foi um acidente — Charlotte argumentou e se inclinou para
Beatrice. — Posso pegar o roxo quando você terminar?
— Por que você enfiou um giz no nariz de Fin? — o pai perguntou e
deu uma olhada mais de perto.
— Eu perguntei ao Fin se narizes de adultos eram maiores por dentro
e se um giz de cera caberia e ele disse que não, mas queria ver se ele estava
certo — Charlotte explicou. Beatrice lançou um olhar sofrido a Walker e
balançou a cabeça.
— Fin está sempre certo, mas ela nunca escuta. Ele disse que não
caberia, mas ela tentou mesmo assim.
— Eu escuto! — Charlotte protestou enquanto pintava uma fatia de
pizza. — Mas eu tive que esconder o vermelho, porque vocês continuam
pegando.
— Eu deveria ver se o Fin está bem — Walker falou, se encolhendo
ao olhar na direção do banheiro. Ele podia ouvir a água correndo através da
porta e decidiu que daria a Fin mais alguns minutos.
— Você pode ver o meu trabalho, papai? — Beatrice perguntou e
empurrou sua folha de cálculo pela mesa.
— Claro — o pai respondeu. Ele segurou a gravata contra o peito e se
inclinou sobre a mesa, então apontou para Charlotte. — Nem pense nisso
— disse com severidade, e ela deixou cair um giz amarelo. Ele rangeu os
dentes para a menina, mas foi em frente e sorriu, porque seu rosto franziu
de forma adorável quando ela fez beicinho por ter sua tentativa frustrada.
Walker cantarolou pensativo ao examinar a folha de cálculo de Beatrice.
Havia fatias de pizza de feltro colorido recheadas sobre a mesa que as
meninas poderiam grudar com velcro para fazer várias frações diferentes.
Eram auxiliares para ajudar as filhas a colorir frações nas folhas de cálculo,
e Beatrice fez as dela de forma correta. — Isso é extraordinário — Walker
começou enquanto segurava o papel. — Gosto da sua escolha de cor para os
cogumelos. A maioria das pessoas não pensaria em usar azul, mas
realmente faz com que se destaquem. E o trabalho em si é impecável. Nem
um único erro. Muito bem-feito.
— Você pode olhar o meu? — Charlotte perguntou, e o pai deu a
volta na mesa. Ele se abaixou e apoiou a mão nas costas da cadeira dela.
Uma de suas chuquinhas estava ao alcance, então ele deu um puxão de
brincadeira.
— Está excelente, Charlotte. — De fato estava. As cores eram ainda
mais psicodélicas que as de Beatrice. — Você tem um senso de equilíbrio
notável e sua escolha de cores é inspiradora. Eu realmente gostei muito do
que você fez com essa pizza de três quartos.
— Tem um chifre porque é um unicórnio! — ela se gabou.
— Extraordinário. — Walker beijou a bochecha dela e então se
levantou. Ele deu a volta, e Amelia levantou sua folha de cálculo. — Isto
parece o cardápio de um ótimo estabelecimento. Todas as suas frações estão
certas, e eu comeria qualquer uma dessas pizzas — ele declarou, fazendo-a
se iluminar de orgulho. Diferente de suas irmãs, Amelia pintou as frações
de pizza em tons normais do alimento e fez o possível para deixá-las
realistas. — Não é fascinante? Cada uma de vocês pode receber as mesmas
folhas de cálculo e a mesma caixa de giz de cera e, ainda assim, criar três
obras-primas únicas. E vejam como vocês são brilhantes, minhas pequenas
matemáticas.
— Elas já estão muito adiantadas nessa matéria. Você vai precisar
contratar um tutor de verdade, porque elas vão praticar álgebra em breve, e
eu disse a Reid para colocar uma cláusula no contrato, porque sou alérgico
— Fin brincou. Ele estava assistindo da porta do banheiro com os braços
cruzados.
— Alérgico a álgebra? — Walker perguntou, e o babá resmungou,
concordando.
— Meu rosto e minha língua incham. Você não iria gostar.
— Não. Nós não iríamos querer isso. — Eles trocaram sorrisos fáceis
e havia um brilho nos olhos de Fin que o patrão poderia traduzir com
facilidade agora. Eu estou tão orgulhoso de você. Walker deu de ombros,
negando que tivesse feito qualquer coisa especial. No entanto, ficou
surpreso por não ter entrado em pânico e voltado atrás assim que notou que
o rapaz não estava lá. Ele fez um trabalho muito bom cobrindo Fin e teve
um momento maravilhoso com as meninas. Não levantou a voz e não havia
lágrimas ou lábios trêmulos.
— Meninas. É hora de guardar tudo. Tenho uma notícia muito boa:
consegui permissão da cozinheira para usar o forno a lenha. Vamos fazer
pizzas para o almoço! — Fin anunciou. Desta vez, houve caos e correria.
As irmãs pularam e gritaram ordens umas às outras. Walker saiu do
caminho delas, optando por verificar Fin enquanto elas se mexiam para
organizar tudo. Ele viu algumas gotas de sangue na camiseta de gola V
cinza do babá e soltou um palavrão. Fin olhou para baixo e arquejou. — Eu
tenho uma camiseta extra na mochila e vou trocar antes de pisar na cozinha.
Juro que sou muito cuidadoso e faço exames a cada três meses.
— Eu não estou preocupado, Fin — o patrão garantiu e cutucou de
leve seu braço.
— Que bom — o jovem respondeu, depois pigarreou e olhou por
cima do ombro de Walker. — Porque sempre mantenho meus exames mais
recentes na mochila para o caso de o meu nariz sangrar ou eu bater a cabeça
em alguma escada escorregadia. Também faço uso de PrEP, — ele
acrescentou com tranquilidade. Walker arqueou as sobrancelhas e ele
balançou a cabeça.
— Eu não sei o que isso significa, mas... que bom. Sinto muito pelo
seu nariz.
— Sem problemas! — Fin riu. — Teria sido um comercial de toalha
de papel incrível. Tudo aconteceu em câmera lenta. Charlotte, pulando de
seu assento, empunhando um giz de cera vermelho. Eu, tentando impedi-la.
Charlotte enfiando o giz no meu nariz. Meu nariz jorrando sangue, porque é
algo que acontece a todo instante, e é por isso que mantenho meus exames
comigo. Eu, tropeçando como um palhaço até o banheiro enquanto tentava
conter todo o sangue que escorria.
— Sempre fico impressionado com a sua capacidade de rir,
independentemente da situação, não importa o quanto seja trágica ou uma
bagunça.
— Podemos ir agora, Fin? — Amelia exigiu. As meninas haviam
guardado tudo.
— Podemos. Quer se juntar a nós? — o babá perguntou. Walker
assentiu e verificou o relógio, levantando um dedo.
— Vocês talvez tenham que começar sem mim. Preciso fazer uma
ligação rápida para um dos meus advogados, mas não deve demorar mais
do que dez minutos.
— Ótimo! E você deveria procurar aquela outra coisa — Fin
comentou enquanto encurralava as meninas e as levava em direção à porta.
— Vou fazer isso — o patrão respondeu. Contente em vê-los partir,
ele suspirou com alegria e saiu da sala atrás deles. Fin e as meninas estavam
cantando uma música inventada sobre como fazer pizzas que soou pelo hall
de entrada à medida em que desciam as escadas.
Walker não podia ter pedido por melhores companhias para o almoço
e estava cantarolando junto com eles ao tirar o telefone do bolso e procurar
por “PrEP”. Ele arregalou os olhos e tropeçou no corredor quando viu os
resultados. Nunca ouviu falar sobre o assunto e não sabia que havia um
medicamento para prevenir o HIV.
— Ah... entendo. — Mais uma vez, Fin estava entregando a Walker
outro envelope e permitindo que ele decidisse se estava pronto para abri-lo.
Ele suspeitava que poderia estar, mas confiava em Fin para desacelerar as
coisas se estivessem indo muito rápido. — Talvez não faça mal dar uma
olhada — ele disse, encantado com o belo rumo que seu dia havia tomado.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
— EU ESTOU FELIZ que você voltou para casa mais cedo, papai.
Sinto sua falta quando você não nos dá um beijo de boa noite. — Amelia
lhe deu um beijo estralado, e Walker guardou na memória a sensação dos
braços pequenos ao redor de seu pescoço. Ele sentia falta das covinhas nos
cotovelos, das bochechas cheias e redondas e de como as mãos e os dedos
gordinhos das meninas eram pequenos quando eram bebês. Mas estava
tendo pequenos vislumbres das pessoas que suas filhas estavam se tornando
conforme elas cresciam, e já estava muito orgulhoso do quanto eram
inteligentes e fortes. Essa não foi a única razão pela qual Walker deixou o
evento beneficente mais cedo, mas se deliciou com a alegria das meninas
quando entrou na sala de smoking e sobretudo para surpreendê-las.
— Sempre sinto falta de vocês quando não consigo dizer boa noite,
mas hoje senti ainda mais saudade das minhas meninas, então disse a eles
que tinha algo muito mais importante para fazer e voltei para casa.
— Você disse? — Charlotte ofegou e Walker assentiu.
— Tenho mais alguns eventos em minha agenda que não posso
mudar, mas disse aos meus assistentes que não vou mais estar disponível à
noite, assim que essas festas já marcadas passarem.
— Sem mais eventos de arrecadação de fundos beneficentes e com
trajes de gala? — Beatrice perguntou, animada, então se desvencilhou das
cobertas e ficou de joelhos na cama.
— Tenho mais alguns no meu calendário dos quais já confirmei
presença, mas depois desses, não, a menos que eu tenha a companhia das
minhas pequenas. Vocês vão ter idade suficiente, terão dever de casa e vão
poder dormir um pouco mais tarde à medida que ficarem mais velhas, então
tenho certeza de que vamos querer assistir a filmes e jogar alguns jogos...
Eu prefiro estar aqui em vez de ir a festas entediantes e fazer discursos
chatos — ele explicou. As três meninas chutaram, gritaram, pularam e
comemoraram. — Está bem! — ele riu e se levantou. — Estou contente que
vocês estejam tão felizes e ansioso por tudo isso também, mas ainda é a
hora de dormir. Se acalmem e vamos para a cama para que possamos nos
ver de manhã — ele disse às filhas, então caminhou pelo quarto, beijando o
cabelo de cada uma e colocando-as na cama de novo. — Amo muito vocês
— sussurrou enquanto apagava a luz.
Walker foi atingido outra vez por um profundo sentimento de gratidão
e alegria. Ele ansiava por uma maneira de acalmar suas filhas apenas o
suficiente para estar em pé de igualdade com elas em vez de sentir que
estava constantemente afundando em areia movediça. Ainda que a mudança
não tivesse partido delas. As três foram pequenas diabinhas, mas Walker as
deixou desesperadas e famintas por sua atenção. Ele fugia das pequenas
coisas quando elas eram menores, porque ele tinha medo. Tinha medo de
enfrentá-las e aprender, e as transformou em monstrinhos adoráveis. Mas
elas eram os seus monstrinhos, e ele estava aprendendo a ser o pai que elas
precisavam, com a ajuda de Fin.
As meninas não foram as únicas que ficaram felizes com sua
mudança de planos. Fin estava esperando e sem fôlego quando Walker
fechou a porta do quarto.
— Não achei que fosse ver você de novo hoje.
O homem mais velho ouviu hesitação na voz do babá e viu o brilho
em seus olhos. Ah, você tem sido um garoto muito, muito bom.
Alegria pura. E orgulho. Walker estava tão feliz e certo de que tomou
a decisão certa. Ele estava exatamente onde deveria estar e queria puxar o
jovem para seus braços, dizer como sua vida estava melhor e agradecê-lo
por todas as maneiras lindas que ele o mudou. E Walker queria tanto que
isso o aterrorizava. Ele queria adorar Fin e qualquer que fosse a roupa de
baixo maravilhosa e obscena que ele estivesse usando. Queria que o babá
dissesse a ele o quanto ele era bom enquanto fazia isso.
— Vamos! — Fin sussurrou, incentivando que o homem mais velho
se mexesse. Eles correram até chegar ao quarto do patrão, então pararam
para se certificar de que estavam sozinhos. O banheiro e o closet estavam
vazios, então Walker acenou para o jovem entrar enquanto tirava o
sobretudo e o jogava em uma das poltronas.
— Eu falei sério. Senti falta das meninas e não queria que você fosse
embora sem me despedir — Walker comentou com naturalidade, mas seu
coração palpitava e suas mãos suavam quando tirou o casaco e afrouxou a
gravata. Ele lançou um olhar esperançoso para Fin ao se aproximar.
— Você foi um garoto muito bom hoje. Gostaria de dar uma olhada?
— O babá deixou o cardigã cair e desabotoou a camisa com rapidez. Walker
assentiu à medida em que se aproximava e capturava os lábios de Fin. Eles
gemeram quando as línguas se enrolaram e se empurraram, ávidas.
— Por favor! — As mãos de Walker pairaram sobre o rosto de Fin,
esperando por permissão e direcionamento. Fin gemeu em aprovação e
ficou duro enquanto ia de encontro ao homem mais velho, estimulando-o e
provocando-o a se libertar. E Walker descobriu que podia. Era tão fácil... ele
se sentia seguro. Estava mais leve, solto e havia luxúria e alegria só de
pensar em agradar o rapaz. — De novo — sussurrou.
— Você foi um garoto tão bom! — A voz de Fin estava mais alta, e
ele tremia quando estendeu a mão e abriu a braguilha. — Você gostaria de
tocar? — ele murmurou e guiou a mão do outro homem até sua cintura.
— Posso? — Walker ofegou. A pergunta era tão reverente e suave
que Fin a absorveu dos lábios do homem mais velho.
— Puta merda, sim.
Os dedos de Walker passearam pelo cós da calça do babá antes que os
dedos deslizassem pelo zíper. Um arrepio por eles eles quando o patrão
acariciou a renda vermelha com o polegar. Ele se afastou para poder ver e
umedeceu os lábios, ressecados e doloridos, quando finalmente olhou. A
ereção de Fin estava contida por uma tanga de renda vermelha, Walker
ficou hipnotizado quando uma mancha úmida se espalhou no tecido. Ele
arrastou passou o dedo pelo pau de Fin e ouviu um suspiro agudo quando
outra explosão do líquido pré-ejaculatório apareceu.
— Merda, Fin! — Walker falou quando seu controle foi para o
espaço. Ele foi exigente e duro ao beijar o jovem. Ele enrolou a mão no
cabelo do jovem enquanto continuava acariciando a parte da frente da calça
de veludo e segurava suas bolas. Ele soltou Fin e gemeu quando passou os
dedos pela tanga e na fenda de sua bunda.
— Puta merda! — Fin pressionou o corpo no de Walker, incitando-o a
tocar o quanto quisesse. O homem mais velho torceu o fio dental, apertando
a parte da frente em volta do pau do babá. Eles ficaram selvagens enquanto
lambiam, chupavam e se esbarravam um no outro.
— Não posso fazer isso! Sou seu chefe — Walker disse e afastou os
lábios, mas mergulhou o rosto na curva do pescoço de Fin. Ele tinha um
gosto tão bom que Walker até salivou enquanto lambia a mandíbula do
rapaz e chupava o lóbulo da orelha.
— Acho que nós dois sabemos quem está no comando — Fin ofegou.
As palavras tiveram um efeito imediato, e Walker estremeceu de prazer ao
pensar no jovem assumindo o controle sobre ele. — O que você acha? Devo
te tocar? — o babá sussurrou quando puxou a frente da camisa de Walker.
— Eu... Por favor, Fin. — Seu peito arfava enquanto ele se debatia,
imaginando se já quis tanto ser tocado quanto queria ser pelo rapaz. Fin o
acalmou com gentileza e deu um beijo leve nos lábios do patrão.
— Está tudo bem, Walker. Estamos apenas nos tocando e podemos
parar quando você quiser.
— Eu sei e não custa tentar algo novo — ele respondeu, beijando Fin.
Não se cansava dele, do gosto de maçã, menta e um toque de chá que sentia
em sua língua. O formigamento delicioso que sua respiração causava
quando ele se aninhava contra a pele de Walker. Mais do que tudo, gostava
de como se sentia rejuvenescido quando Fin o tocava. Sabia que estava se
preparando para mais sofrimento, porque não poderia ter Fin e a relação
teria que acabar. Mas, até lá, Walker tocaria e provaria com avidez cada
parte do jovem.
Aparentemente, Fin também precisava tocá-lo. Seus dedos torciam e
agarravam, frenéticos, a camisa do chefe. Walker estava em agonia quando
o babá deslizou as mãos até segurar sua bunda. Puta merda, sim! Por favor,
por favor, me toque! Como se ouvisse seus pensamentos, Fin apertou os
dedos antes de começar a trabalhar no cinto e no zíper da calça do homem
mais velho. Walker arqueou as costas, ofegando com o despertar de seus
nervos.
— Eu posso diminuir a velocidade se você precisar de um momento,
ou podemos parar aqui — Fin disse com suavidade, mas o outro homem
negou com a cabeça.
— Não pare ainda! Por favor! Eu só...
— Shhh... eu sei — Fin disse, acalmando-o, e colocou a mão nas
calças do chefe. As pontas dos dedos deslizaram sobre o algodão fino da
cueca boxer de Walker e ambos praguejaram quando o rapaz envolveu a
mão no calor intenso.
— Caramba, Fin. — As pernas de Walker tremiam, então ele
cambaleou alguns passos à frente, empurrando o babá contra a parede mais
próxima para se apoiar.
— Hmmm... Isso é bom? — Fin buscou por qualquer sinal de aflição,
mas Walker abriu a boca em um grito silencioso e balançou a cabeça de
leve. — E você vai me dizer se for demais e você precisar parar? — o
jovem confirmou.
— Sim!
— Bom garoto. — Fin apertou com mais força ao redor de seu pau e
o acariciou. O calor entre eles aumentou, e Walker ficou tonto quando
colocou a mão na parede ao lado do ombro do babá.
— Como você sempre sabe? — ele o reverenciava de novo ao beijá-
lo de forma suave. Como ele sabia como aliviar a dor de Walker e fazer
com que dizer a verdade fosse tão bom?
— Eu vejo você, Walker. Posso sentir o quanto você precisa de
alguém que te toque. E como é bom quando outra pessoa está no comando
ao menos uma vez.
— Sim. — Foi apenas um suspiro, como se Walker tivesse medo de
que alguém além de Fin o ouvisse. Ele não queria que ninguém tivesse esse
tipo de controle ou o conhecesse desse jeito. Ninguém além de Fin.
— Todo mundo te diz sim e afirma você sabe mais que os outros, mas
você não sabe se eles estão sendo verdadeiros, não é? — o babá perguntou,
e o mais velho engoliu em seco antes de concordar com a cabeça. Apenas
Fin. — É por isso que você ama quando digo não. É por isso que você fica
mais duro toda vez que eu digo que você é um bom garoto.
— Eu nunca me importei antes. Mas sinto que me desfaço quando
você diz esse tipo de coisa, e faria tudo para ouvi-lo repetir.
— Bom. Eu quero dizer a você e quero que você se desfaça quando
estiver pronto. — Fin guiou a mão de Walker de volta para o cós de sua
tanga e ronronou, encorajando e provocando. — Eu gosto quando você é
honesto comigo e confia em mim. Você tem sido tão bom, Walker. Você
quer me tocar? — o rapaz ofegou, trêmulo.
— Posso? — O patrão deslizou os dedos ao longo da borda de renda.
— Sim, você pode.
Walker passou a mão pela tanga de Fin e segurou seu pênis com
gentileza. Seus dedos se esticaram, empurrando o membro para baixo e o
rapaz gemeu enquanto ficava na ponta dos pés para que o outro pudesse
alcançar suas bolas.
— Merda, Fin! — Walker estava choramingando quando beijou Fin
ao mesmo tempo em que o massageava e acariciava. O babá gemeu alto e
colocou a mão na boxer do chefe. — Isso! — Walker soluçou, e eles
ficaram frenéticos. Os dentes bateram e as mãos ficaram escorregadias. Fin
chupou a língua do patrão à medida em que bombeava seu pau, e foi difícil
dizer quem gozou primeiro. Uma onda brilhante de prazer e pressão atingiu
o homem mais velho quando Fin gritou seu nome. — Merda, sim! —
Walker colocou os dedos na boca para que pudesse lamber o esperma do
rapaz. Tinha um sabor fresco e ácido, e ele fez um som satisfeito,
surpreendendo Fin.
— Uau! — Fin balançou a cabeça, parecendo atordoado. — Você foi
um garoto muito, muito bom. — Ele levou os dedos aos lábios para sentir o
gosto de Walker. Também lambeu o sêmen da mão e murmurou. —
Hmmm... um garoto muito bom.
— Estou muito feliz por ter voltado para casa mais cedo. — Walker
segurou Fin em seus braços antes de se permitir pensar demais. — Meu dia
não parece completo se eu não disser boa noite para você.
— É a minha parte favorita do dia também — Fin suspirou enquanto
se inclinava para o patrão e o beijava. Eles se sentiam mais pesados à
medida em que deixavam o beijo se prolongar, e Walker não queria soltá-lo
quando o babá se afastou para pegar o cardigã.
Eu queria que você não tivesse que ir.
Mas Walker não compartilhou o pensamento, porque Fin diria que
isso estava indo longe demais e que não havia nada que eles pudessem fazer
sobre o assunto.
— Boa noite, Fin, e obrigado.
— O crédito é seu. Você fez a minha noite melhor. — O babá se
demorou na porta, como se também não quisesse ir. — Vejo você de manhã.
— Aquilo soou melancólico e ecoou a saudade que o outro sentiu quando se
afastaram. Fin acenou antes de sair pela porta e levar consigo todo o calor.
— Acho que posso estar encrencado — Walker murmurou. Ele não
precisava ligar para a irmã para saber qual seria o conselho dela. — É isso
que eu ganho por ouvir a Agnes — ele disse, sorrindo enquanto terminava
de tirar o smoking destruído e amassado.
CAPÍTULO VINTE E SETE
— É MELHOR VOCÊ desacelerar ou o seu francês vai ser melhor
que o meu — Fin disse a Beatrice.
Ela pulou de alegria e apontou para a foto dele.
— Você é um príncipe!
— Eu amo que finalmente alguém me valoriza — ele disse com um
sorriso descarado e então se curvou para beijar o cabelo dela. — É uma
história linda, e eu amo a foto. Vou colocar na porta da geladeira da minha
casa para que o Riley fique com ciúmes. — Ele verificou o relógio e sibilou
ao se levantar. — Hora das minhas cowgirls colocarem as botas e pegarem
os laços — ele falou e as meninas riram. Elas iam para aula de equitação.
— Eu queria que fosse aula de dança. — Charlotte fez beicinho. —
Você vai ao nosso recital, Fin?
— Eu não perderia por nada! Estarei na frente e vou gravar cada
momento! Mas vocês precisam ir ou vão se atrasar.
As meninas comemoraram e se dispersavam pela sala. Elas
guardaram os trabalhos e materiais de arte e saíram correndo da sala,
deixando-o sozinho. Ele não estava exagerando. Estava animado para ver as
trigêmeas se apresentarem depois de semanas ajudando-as a praticar na
brinquedoteca. E também estava ansioso por uma noite fora com os
Camerons. Walker o convidou, e os cinco tinham planos de comemorar com
sorvete depois. Ele já havia escolhido um cardigã rosa e um tênis da mesma
cor para surpreender as crianças ao combinar com os figurinos delas. As
meninas ficariam encantadas.
— Você está tramando algo — Walker falou, fazendo Fin pular. Ele
riu e foi desligar a música quando o chefe se encostou à porta, elegante e
impecável.
— Planejando meu look para o recital. Vai ter muito rosa! — ele
sussurrou alto e o homem mais velho sorriu.
— Então vou ter outra coisa pela qual ansiar. Você fica bem de rosa
— Walker elogiou ao entrar na sala. Fin lhe lançou um olhar escandalizado,
corando de verdade. — Passei pelas meninas na escada. Estamos sozinhos
— ele acrescentou com a voz calma.
— Você sabe que só devemos flertar no meio do dia se for muito
importante e a porta estiver trancada. A porta está aberta — Fin repreendeu
e apontou para trás.
— Peço desculpas — Walker murmurou, mas o jovem sabia que não
era sincero. Ele estava ficando mais ousado, e Fin gostava disso. — As
meninas vão ficar fora por algumas horas, e tenho a tarde livre. Eu gostaria
de saber se você quer se juntar a mim para o almoço no terraço dos fundos.
— O patrão olhou em volta antes de se aproximar e deslizar o dedo no
primeiro botão do cardigã do rapaz. — Eu disse ao Pierce que queria revisar
as melhorias ou acréscimos que você pudesse querer fazer na brinquedoteca
e pensei que lá poderia ser mais confortável do que em meu escritório.
— Melhorias? — Fin perguntou e seu rosto esquentou. Walker o
estava convidando para um encontro! Não um encontro de verdade, porque
seria impossível, mas o terraço dos fundos do escritório do patrão era muito
mais privado do que a sala de jantar. Pierce podia aparecer uma ou duas
vezes, mas era o mais próximo de um encontro que eles poderiam ter. O
babá estava tocado por Walker ter feito o arranjo. E também um pouco
cauteloso. Eles ficaram juntos enquanto as meninas estavam dormindo ou
fora de casa, mas o homem mais velho estava propondo algo mais pessoal e
íntimo, de certa forma. — Eu adoraria, mas não sei o que mudaria. Tudo
está muito perfeito.
— Tenho certeza de que podemos encontrar algo se pensarmos juntos
— Walker capturou a mão de Fin e a levou aos lábios. — Seria perfeito se
eu não tivesse que esperar até a noite para beijar você.
— Cameron... — O rapaz olhou para a porta e resistiu à vontade de
bater o pé. Ele queria não estar em horário de trabalho e se preocupar com
limites. — Eu também quero muito te beijar, mas devemos guardar isso
para depois da hora de dormir.
— Apenas um. Por favor — o chefe sussurrou. Fin não pôde fazer
nada quando seus lábios se tocaram. Sua língua encontrou a de Walker,
deliciando-se com o sabor de menta fresca e um toque de uísque e charuto.
Não se cansava do cheiro e do gosto do homem mais velho e da lufada de ar
quente contra sua pele. Fin sabia que estava em apuros, mas era impossível
resistir a Walker quando ele implorava. — Almoce comigo.
— Você não acha que é arriscado? E se escorregarmos perto do
Pierce?
— Acho que ele já sabe — Walker revelou e o jovem arfou de horror.
— Não! — ele choramingou. O patrão riu, mas de forma suave e
simpática à medida em que acariciava o ombro de Fin.
— Eu acho que você não notou o estado dos meus ternos
ultimamente. Algum evento curioso acontece com eles entre a
brinquedoteca e a minha suíte quase todas as noites. Duvido que ele
suspeite que estou sendo atacado por ninjas — Walker refletiu.
— Maravilha. Seria muito ruim se eu tivesse que matá-lo? — Fin
perguntou baixinho. Pierce era furtivo, e o babá não sabia por que pensou
que poderiam esconder qualquer coisa dele.
— Posso garantir a você, Pierce prefere cuidar da vida dele e ficar
fora da nossa. Deve ser por isso que ele quase não aparece mais à noite e
não espera para ajudar a me despir.
— Essa não é a questão — Fin argumentou, então abriu a boca para
perguntar por que um homem adulto precisava de ajuda para se despir, mas
acabou desistindo. Ele ainda pedia ajuda para Reid sempre que precisava
usar gravata. — Ele é como um gerente, e sua impressão sobre mim é
importante. Eu respeito o Pierce — Fin comentou, dando um tapa no braço
de Walker. Ele pegou a mão do jovem e assentiu.
— Você está absolutamente correto. Nada de flerte e passaremos pelo
menos metade da refeição falando sobre as meninas e a brinquedoteca.
— E sobre o que você quer falar na outra metade do tempo? — o
babá perguntou e não escondeu que estava desconfiado. Walker franziu a
testa com curiosidade.
— Nada em particular. Você? O que você gosta de ler e assistir
quando não está entretendo crianças de seis anos? Onde cresceu? — Ele
deu de ombros e riu. — Nós falamos sobre mim o tempo todo, e você já
sabe tudo. Mas eu só fico com as pequenas histórias que você conta para as
meninas.
— Isso também é arriscado, Walker — Fin alertou com doçura. O
problema era que ele não estava sendo sincero. Ele queria que o homem
mais velho soubesse de tudo.
— Eu sei, mas não me impede de imaginar o que você está fazendo
quando não está aqui, ou de pensar para onde eu o levaria se não estivesse
limitado à minha sala de estar ou ao terraço — Walker revelou. Fin teve que
respirar fundo antes de dar um tapa no chefe mais uma vez.
— Você não pode dizer coisas como essa! É adorável, e eu penso em
você também, mas não pode transformar esta história em algo romântico ao
dizer coisas assim.
— Me desculpe — Walker respondeu, solene, mas o rapaz fez careta.
— Você diz isso, mas não fala sério.
— Às vezes. Por favor, almoce comigo, Fin. Eu prometo que vou me
comportar. Sem flertes.
— Pode haver algum flerte, se formos cuidadosos — o babá retrucou,
apesar de saber que não era uma boa ideia.
O destino conspirou contra Fin. O almoço com Walker foi
absurdamente romântico. Alguém colocou os pratos um ao lado do outro,
fazendo com que as mãos deles se tocassem muitas vezes sem motivo
algum. E os dedos do patrão continuavam se entrelaçando com os do jovem
debaixo da mesa. Depois que os pratos foram retirados, Walker apoiou o
queixo na mão e o bombardeou com perguntas. Ele estava atento e
interessado, prestando atenção em cada palavra de Fin. Antes de se
separarem, o homem mais velho perguntou se poderiam almoçar juntos toda
quinta-feira.
Fin não conseguiu dizer não. A tarde já foi perfeita antes de Walker o
puxar para o canto debaixo da escada, roubando um beijo antes de mandá-lo
de volta à brinquedoteca. Três cowgirls cansadas e agitadas apareceram
meia hora depois, o que funcionou perfeitamente para Fin. Ele apagou as
luzes, colocou um documentário sobre natureza e deu a elas um pouco de
pipoca, ganhando tempo para planejar enquanto elas comiam e cochilavam.
Graças à tarde tranquila, o babá não teve muito para fazer depois que
entregou as meninas à tutora. Então entrou discretamente no banheiro
enquanto o pai as preparava para dormir, e vestiu uma calcinha com tiras de
renda. Rosa. Porque era a cor favorita de Walker.
A calcinha foi um sucesso. O homem mais velho balbuciou, o
encarando e gostou muito de enroscar as mãos nas tiras perto da bunda de
Fin quando se beijaram. Eles se esfregaram como adolescentes até gozarem,
e o jovem fez Walker manter os olhos fechados ao tirar a calcinha e voltar a
vestir suas calças.
— Obrigado por hoje — Fin sussurrou as palavras enquanto colocava
a calcinha de renda na mão do chefe. — Você pode abrir os olhos agora. —
O rapaz observou quando os cílios grossos e pretos de Walker se ergueram e
viu seus olhos se arregalarem quando focaram na calcinha. — Tenha uma
boa noite — Fin disse e se sentiu como um deus ao deixar o outro homem
no sofá, atordoado e excitado outra vez.
CAPÍTULO VINTE E OITO
— VOU MANDAR PREPARAR um dos novos smokings para o
senhor. Vai ventar esta noite e há uma chance de chover, então vou deixar
seu sobretudo e cachecol esperando na porta.
— Tudo bem — Walker respondeu de maneira distante enquanto se
virava e Pierce o ajudava a vestir o casaco. O mordomo tagarelou sobre a
agenda do dia, mas o patrão não estava ouvindo. Ele não conseguia ouvir
Pierce, porque só conseguia pensar nos ronronados sedutores e suspiros
frenéticos de Fin. Ele ouviu os gritos sufocados, mas ainda primitivos,
quando estavam se masturbando na noite anterior. Tiveram o cuidado de
manter as roupas no caso de alguém entrar no quarto, e isso estava deixando
o homem mais velho louco. Ele só tinha visto partes da pele do babá e as
roupas íntimas. Mas o que Walker viu... e tudo que ele tocou...
— Está tudo bem, senhor? — Pierce perguntou e olhou por cima do
ombro de Walker para o reflexo deles no espelho.
— Sim. Por quê?
— Nenhuma razão. — O mordomo pigarreou com discrição, alisou o
tecido sobre os ombros do patrão e se inclinou para verificar se havia vincos
nas costas. Ele contornou Walker para se certificar de que estava satisfeito
com o lenço de bolso. Pierce estava fazendo careta e seu olhar se voltou
repetidas vezes para o rosto do outro homem.
— O que foi? — Walker insistiu, mas Pierce balançou a cabeça.
— Não é nada, senhor.
— Mas?
— É só que o senhor fica sorrindo, e não é o tipo de coisa... que o
senhor faz. Há algo estranho na minha aparência ou algo especial sobre o
dia de hoje que eu esqueci? — Pierce perguntou com cautela. Walker o
encarou por um momento antes de rir. O mordomo vacilou e piscou para o
patrão como se ele tivesse um par extra de orelhas.
— Está tudo bem! — ele disse, batendo no ombro de Pierce. — E
você parece tão obstinado e normal como sempre.
— Muito bem, senhor — o mordomo falou com um suspiro aliviado e
abaixou a cabeça.
— Embora... é estranho não estar preocupado com as meninas a cada
momento do dia — Walker confidenciou em um sussurro.
— Eu concordo — Pierce admitiu com um leve aceno de cabeça. —
Posso não aprovar o jeito do sr. Marshall... ou sua aparência, mas não posso
negar que ele teve um efeito calmante sobre as trigêmeas que beneficiou
toda a casa.
— Fico feliz que você aprove — Walker falou e deu um último puxão
na gravata, então saiu da frente do espelho e caminhou até a porta. —
Francamente, eu demitiria você antes de deixar o sr. Marshall ir embora. E
ele prefere ser chamado de Fin. — Ele lembrou a Pierce com uma
piscadinha brincalhona. O mordomo deu um pulo e se encolheu, fazendo
Walker rir de novo ao sair da sala.
Se ele estava sorrindo mais, com certeza era por causa de Fin, e
Pierce estava certo: o babá tinha um efeito calmante sobre as crianças, mas
não era só sobre elas. Walker também se acalmou com a presença confiante
e competente do homem mais jovem. Pela primeira vez desde a morte de
Connor, não sentia que estava falhando toda vez que encarava as filhas. Era
quase como ter rodinhas ou boias, mas para um pai que tinha medo de se
acidentar ou se afogar. De alguma forma, Walker sabia o que dizer ou como
agir quando o jovem estava por perto, mas quando as palavras e a calma
falhavam, Fin gentilmente conduzia cada encontro de volta aos trilhos e os
levava a fazer uma aterrissagem suave.
Em vez de temer os dias e os perigos que o esperavam, Walker estava
confiante e seguro de que tudo correria bem. O que era raro para ele quando
estava em casa. Era feroz e temido quando estava trabalhando, mas a cidade
toda iria rir se soubesse como se encolhia e se escondia em seu escritório
antes de Fin entrar em suas vidas.
Filhas.
Não apenas uma, mas três, que eram a luz no mundo do pai, mas
também seu calcanhar de aquiles e o maior medo. Não que ele tivesse medo
de Amelia, Beatrice e Charlotte — embora tivesse —, mas porque ele
andava de um lado ao outro por horas e perdia o sono à noite com medo de
estar estragando as meninas perfeitas dele e de Connor. Walker queria que
fossem mimadas e tivessem certeza de que o mundo era delas, mas também
queria que fossem boas e gentis. Ele queria que as trigêmeas fossem tão
temíveis quanto ele, que pudessem dominar tudo o que quisessem fazer,
mas também queria que elas tivessem o coração generoso e curioso de
Connor. Infelizmente, Walker não tinha esses instintos mais suaves e estava
falhando bastante em tudo, exceto em mimar as meninas. Até contratar Fin.
Toda a casa parecia respirar de forma mais fácil, e ele quase podia
sentir um suspiro coletivo de alívio quando o babá chegava todas as
manhãs. Walker sentiu a mesma euforia suave quando acordou, mas o
sorriso desta manhã era devido a um tipo bem diferente de efeito calmante.
Graças a Fin, ele superou outro medo muito mais pessoal: tocou outro
homem e se deixou ser tocado sem ter um colapso nervoso ou se encolher
em uma bola de culpa. E Walker não sentiu como se tivesse traído a si
mesmo ou à Connor como pensava que sentiria sempre que se imaginava
convidando um homem atraente para tomar uma bebida. Ainda parecia
errado, porque Fin era seu funcionário, mas também parecia a coisa mais
natural e segura do mundo quando estavam sozinhos. De alguma forma, o
jovem enxergou através de Walker e entendeu exatamente o que ele temia e
como acalmar as coisas que eram mais fortes e doloridas. Ele tornou o
processo divertido e fez com que fosse certo Walker ficar excitado de novo
e desejar os lábios e o corpo de outro homem. E isso era algo gigantesco, e
ele estava usando mais de sua recém-descoberta confiança para expressar
esses desejos com Fin.
Walker parou no topo da escada e esperou até ouvir o babá
cumprimentando uma das empregadas para descer correndo os degraus.
— Bom dia, Fin. Espero que sua noite tenha sido agradável — ele
murmurou enquanto olhava para o relógio. A esta hora, a tutora estaria
levando as meninas para a sala de jantar.
— Foi uma noite normal. Nada de especial — Fin respondeu com
uma piscadinha provocante.
— Isto é péssimo. Mas sempre há a próxima noite. Pode me dar um
minuto? Eu gostaria de passar algumas coisas para você — o chefe
perguntou e apontou para a sala de estar.
— Claro! — Fin o seguiu pelo hall de entrada e contornou a parede,
contendo uma risada quando foi puxado pela sala até a parte de trás de um
biombo chinês.
— Uau, senti sua falta! — Walker puxou o jovem para seus braços e
atacou seus lábios. Fin riu e passou os braços no pescoço do outro homem à
medida em que se inclinava para ele. Foi mágico, e o patrão se sentiu
renovado quando seus lábios se uniram e se curvaram em sorrisos secretos.
Walker apertou os braços em torno do babá para poder girá-lo.
— Cuidado! — Fin disse, mas sua voz se transformou em uma
risadinha abafada quando ele empurrou o rosto no ombro de Walker. —
Ninguém vai acreditar que estamos falando sobre as meninas se nos
pegarem fazendo isso — ele sussurrou no ouvido do patrão, fazendo-o
tremer quando os pelos de sua nuca se arrepiaram. Walker não se lembrava
de como era estremecer de prazer ou como era bom acordar excitado e
animado para ver alguém. Mesmo que não pudesse fazer nada sobre isso até
mais tarde.
— Tenho que comparecer a um evento beneficente esta noite, mas
pensei em entrar e me despedir de você e das meninas antes de ir. Eu
esperava que tivéssemos um momento a sós também... — Walker não
conseguia pensar em nada no evento que pudesse ser mais agradável ou
gratificante do que um abraço ou um beijo na bochecha de uma de suas
filhas. E nada poderia prender seu interesse da mesma maneira que Fin em
uma tanga. O babá gemeu baixinho quando seus lábios se arrastaram pela
bochecha de Walker até encontrar sua boca.
— Que coincidência, porque tenho um plano que você vai amar. Nós
vamos ter o melhor dia de todos, e eu pretendo te recompensar mais tarde
por ser um bom garoto.
— Gosto disso. Você tem toda a minha atenção.
Fin tinha muito mais que isso, a julgar pela ereção na calça de Walker.
Eu não sei o que deu em mim, mas vou morrer se não fizer sexo com ele em
breve.
Mas era muito mais provável que fossem pegos. Ele estava tendo
muita dificuldade em manter o controle e se viu ignorando as regras que o
jovem criou. Elas foram estabelecidas para ajudar o homem mais velho a
voltar à intimidade e proteger o relacionamento profissional, mas era difícil
aderir às regras e limites de Fin. Walker estava ficando mais ousado e
infinitamente mais feliz. Às vezes, era fácil esquecer o que estava em jogo e
muito mais divertido se deixar levar por um momento.
— Algo me diz que vamos ter um grande dia. — Fin chupou o lábio
do chefe e tornou tudo mais luminoso. Mas também um pouco mais
dolorido na região das calças.
— Você deveria me contar sobre esse plano antes que eu faça algo
constrangedor.
— Ah! Constrangedor? — O rapaz brincou, arqueando as
sobrancelhas.
— Pare com isso. Qual é o plano?
— Eu estava pensando que como as meninas foram muito corajosas
ontem ao fazerem os exames de rotina, nós poderíamos levá-las ao parque
antes do tempo mudar. Mas pensei que você pareceria um super-herói se a
ideia fosse sua, porque estaria tão orgulhoso delas por tomarem quatro
vacinas sem morderem ninguém ou quebrarem nada.
— Elas foram mesmo muito corajosas — Walker concordou. —
Mesmo que a última coisa no mundo que eu quisesse de fazer fosse me
aventurar em um passeio entre as multidões sujas e medíocres que
encontramos em um parque público...
— Finja que você é uma criança com alma pura e imaginativa, e não
um idiota cansativo — Fin sugeriu e encarou o chefe com desaprovação.
— Me desculpe.
— É bom que se desculpe mesmo. “Multidões sujas e medíocres”? —
o jovem repetiu e balançou a cabeça. — Não diga essas coisas perto de suas
filhas. Quero que as meninas tenham amigos — ele acrescentou, puxando o
braço de Walker para fazê-lo se mexer. — Elas estão esperando por nós.
— Tudo o que estou dizendo é que não parece o tipo de coisa que eu
iria sugerir — o patrão comentou e seguiu Fin pelo hall de entrada e pelo
corredor. O babá revirou os olhos, mas seus lábios tremeram, e Walker
captou um pequeno sorriso.
— Não parece, mas as meninas não vão ficar animadas com uma ida
ao banco ou ao escritório do seu contador.
— Eu não vou ao banco e meu contador vem até mim — o homem
mais velho rebateu e se perguntou por que Fin o encarava. — Certo, acho
que não é muito divertido no banco mesmo.
— Não. A maioria de nós não nada em dinheiro. — Fin acenou para
Pierce quando ele abriu a porta da sala de jantar para ambos. O mordomo
ficou mais uma vez perplexo enquanto piscava para Fin.
— Papai! Fin! — Amelia estava de joelhos em seu assento, acenando
animada por cima do encosto da cadeira. — Eu e a Bea perdemos dois
dentes! — ela abriu a boca em um largo sorriso e apontou para o espaço
vazio. Beatrice ficou de joelhos para poder mostrar a eles também.
— Excelente! — Walker comemorou, mas notou que Charlotte estava
com as mãos no colo e seus lábios tremiam. Fin também notou e
estremeceu. — Em breve vocês três terão sorrisos grandes, desdentados e
bobinhos. Mal posso esperar — o pai declarou ao se sentar e relaxou
quando Charlotte riu e se iluminou. — Ouvi que você foi muito corajosa
ontem — ele disse e se sentiu mesmo como um super-herói quando os olhos
da filha brilharam e ela assentiu rapidamente.
— Tive que tomar quatro vacinas! — ela informou ao pai. Walker
arfou e segurou a gravata contra o peito enquanto se inclinava para ela.
— Acho que eu teria chorado. Você foi mesmo muito corajosa.
— Eu tive que tomar quatro vacinas também! — Amelia gritou, e
Beatrice levantou quatro dedos com rapidez. Walker fez um som solidário
conforme se recostava na cadeira e deixava Pierce encher sua xícara de
café.
— Vocês estão se tornando mocinhas muito corajosas — o pai falou
com orgulho. Fin murmurou em concordância, então pareceu o momento
perfeito para sugerir o passeio. — Já que vocês têm sido tão boazinhas e
corajosas, pensei que poderíamos tirar a manhã de folga e ir ao parque.
— Ao parque? — as três arfaram juntas, e Walker se perguntou se
havia algo que ele não sabia sobre o parque.
— Sim... Depois do café da manhã, vamos vestir nossas roupas de ir
ao parque e Fin pode nos guiar em uma aventura. — Ele recuou um pouco
quando as meninas gritaram e bateram palmas de forma barulhenta. O babá
esperou até que seus olhares se encontrassem para oferecer a Walker um
aceno de aprovação. O que estilhaçou a atenção do chefe. Felizmente, as
trigêmeas estavam conversando sobre o que iriam vestir e o que queriam
ver no parque. O resto do café da manhã foi um borrão agradável, até que
Fin reuniu as meninas e as despachou com a tutora para trocarem de roupa.
— Uma palavra, por favor, Cameron — Fin disse e acenou para o
patrão esperar quando os últimos pratos do café da manhã foram retirados,
deixando-os sozinhos. — Você lidou muito bem com a situação — ele falou
ao se aproximar e o empurrou para a porta.
— Lidei? — Ele sorriu para cobrir a oscilação na voz. O jovem
ronronou ao se inclinar para Walker.
— Você foi um garoto muito bom.
— Fui? — Em geral, o homem mais velho era uma pessoa eloquente,
mas frases completas estavam além de sua capacidade quando Fin estava
assim tão perto.
— Vou ter que encontrar um jeito especial de recompensar você mais
tarde — o babá sussurrou. Ele aumentou a agonia do chefe com um
movimento brincalhão da língua. Ela passou por seus lábios e Walker
engoliu um gemido.
— Huum? — Viu? Patético. Mas o patrão perseguiu a língua do rapaz
enquanto se recostava. Fin mordeu o lábio quando puxou a frente da
camiseta e abaixou a cintura da calça, revelando um toque de malha rosa
choque. — Ah. — Walker remexeu no colarinho e a sala foi ficando mais
quente. — Em que você pensou?
— Nada de mais, na verdade. Mas tenho algumas ideias para
começarmos — Fin disse com suavidade. Ele ergueu uma sobrancelha para
o homem mais velho ao puxá-lo para longe da porta pelas lapelas e girá-los.
— Agora, vá colocar suas “roupas de usar no parque” e nos encontre no hall
de entrada. — Ele deu um beijo rápido em Walker e o deixou lá, olhando
para a porta da sala de jantar, por vários momentos.
— Por favor, não perca a calma — o homem implorou a si mesmo.
Ele fungou alto e balançou a cabeça. — Pare com isso. Você vai ter um
passeio maravilhoso com as meninas e Fin. E quem sabe você possa deixá-
lo ainda mais feliz e dar a ele mais motivos para te recompensar... — ele
disse e um sorriso sonhador se espalhou em seu rosto com o pensamento.
CAPÍTULO VINTE E
NOVE
WALKER ESTAVA MUITO elegante em suas “roupas de parque”.
Ele apareceu no hall de entrada usando um suéter de caxemira preto colado
ao corpo, jeans e mocassins de couro. As meninas trocaram os vestidos por
macacões e galochas pretas com laços de borracha nos dedos. Os cardigãs
eram vermelhos com bolinhas pretas e anteninhas no capuz. Walker pediu
licença por um momento para ir correndo ao andar de cima, e Fin quase
desmaiou quando ele retornou ao hall.
— Pensei em combinar com as minhas joaninhas — ele disse,
enrolando um lenço vermelho no pescoço quando desceu os degraus. Ele
estava mais relaxado que nunca e isso o deixava ainda mais sexy. —
Prontos? — perguntou ao apontar para a porta.
— Estou muito pronto — Fin respondeu com um suspiro. Ele adorava
a maneira que o jeans de Walker abraçava sua bunda e fez uma anotação
para dizer ao chefe que precisava se vestir de forma casual com mais
frequência.
Eles se juntaram na calçada, esperando o motorista trazer o carro, e o
jovem tirou fotos de Walker e as filhas. As fotos ficaram lindas, as
trigêmeas girando, o pai procurando pelo carro. E, por um momento, Fin
fingiu que eles eram sua pequena família perfeita, e uma pontada aguda de
orgulho e anseio encheu seu peito.
— Vamos tirar uma foto para o álbum de recortes e para colocar na
porta da geladeira da brinquedoteca — ele convidou. Houve outra onda de
orgulho quando as meninas se amontoaram nas pernas de Walker. O homem
parecia tão feliz e as crianças eram quase anjos em comparação ao primeiro
dia de Fin, que disse a si mesmo que só poderia receber uma parte do
crédito ao entrar na limusine e se sentar ao lado de Walker.
— Cintos! — Fin ordenou. As meninas se acomodaram, obedientes
em seus assentos no outro banco e procuraram pelos cintos e fivelas. A
limusine não passaria do tráfego lento até a entrada do parque, então Fin e
Walker não se preocuparam. Eles se acomodaram um ao lado do outro na
cabine escura e se divertiram com a conversa animada das trigêmeas, que
apontavam para pontos turísticos e pedestres do lado de fora do carro.
— Você estava certo. Este já parece o melhor dia de todos. Obrigado
— Walker disse com tranquilidade. Sua mão se fechou ao redor da de Fin
enquanto elas descansavam no assento entre eles. Os olhares se
encontraram e o babá deu de ombros, apesar da forma como suas bochechas
se aqueceram.
— Não foi nada — ele disse, sem fôlego.
— Papai! — O foco de Amelia voltou para eles, então suas mãos se
separaram e eles se afastaram. — Podemos andar no carrossel?
— Não vejo porque não.
As meninas voltaram a ser espectadoras empolgadas e se esqueceram
dos dois mais uma vez. Fin tossiu e esticou o braço, passando a mão de
forma discreta na nuca de Walker. Ele se remexeu e o jovem ouviu um
gemido fraco e doloroso. Você só quer ser acariciado. Não é de se admirar
que seja tão mal-humorado o tempo todo. Fin arriscou um olhar e sentiu
uma pontada de tristeza ao pensar em como as noites do patrão eram
solitárias depois que as meninas iam para a cama e os funcionários iam para
casa. Ele esperava que fosse melhor, agora que o rapaz adquiriu o hábito de
“dizer boa noite”, mas deve ter sido solitário antes. O hábito de Walker de
conversar com as filhas na hora de dormir era ainda mais comovente. Fin
viu isso como o único vislumbre de esperança para o homem mais velho
como pai, e o motivo pelo qual ele deu uma segunda chance ao chefe. Mas
era muito mais que isso, o rapaz percebeu. Walker, assim como as meninas,
estava se agarrando a esses últimos momentos de atenção e
companheirismo antes de enfrentar outra noite longa e solitária.
— É realmente um dia lindo. Não acredito que vai chover mais tarde
— Walker refletiu. Fin murmurou algo em concordância, mas estava muito
distraído com toda aquela orgia de pai sexy de qualidade.
Fetiche por homens que eram pais era um gênero bastante específico.
Fin não tinha se dado conta de que ele gostava de mocassins de couro,
histórias para dormir e pais que eram convidados para piqueniques, mas, ao
que parecia, ele não podia resistir a isso.
Claro. Culpe os pornôs com papais sexies.
Walker era a versão de uma droga para Fin. E ele pode ter sido uma
lufada de ar fresco em comparação com os outros pais que o jovem
conheceu como babá, mas não explicava a galeria de fotos em seu celular.
Havia um álbum secreto especial onde Fin guardava todas as fotos favoritas
e a de Walker e as meninas esperando a limusine já estava lá. Fin olharia
mais tarde, quando estivesse sozinho. Ele se imaginaria parte da família e
beijando Walker do jeito que queria antes de todos entrarem no carro.
O plano bem elaborado de Fin e todas as suas regras básicas saíram
pela culatra de maneira espetacular. Mas ele não tinha muitos
arrependimentos ao admirar o perfil de Walker. O outro homem estava
distraído por algumas pessoas discutindo enquanto esperavam para
atravessar na faixa de pedestres. Franziu a testa e contraiu os lábios com
confusão, um alienígena observando humanos interagirem. Mas ele era tão
lindo e fazia a barriga de Fin revirar, mesmo quando resmungava sobre
massas sujas.
Ele estava apaixonado pelo chefe. Fin não conseguia dizer não ou
parar de pensar em ficar sozinho com ele. E estavam ficando descuidados
com os almoços privados e beijos roubados. Ele ficava mortificado com a
ideia de envergonhar Reid e prejudicar a nova agência, então o fez uma
anotação mental para falar com Walker. O sexo era iminente, e Fin não faria
nada para impedir, desde que o patrão estivesse pronto e as meninas e Reid
não saíssem prejudicados. Na verdade...
— Este evento beneficente hoje à noite... — Fin disse, baixinho.
— O que tem?
— Você vai jantar lá?
— Infelizmente. Agnes está na cidade para um compromisso e vai
levar as meninas para jantar fora e depois para Sagaponack, já que eu vou
chegar tarde — Walker falou, distraído por outra briga entre um ciclista e
um motorista de ônibus enquanto esperavam o sinal abrir. O babá gemeu,
pensativo, ao esticar o pescoço e fingir verificar a rua. Sabia que estavam
perto do parque pelo número de pessoas correndo e carrinhos de bebê na
calçada.
— Vou deixar as meninas com a tutora Lisa para se prepararem para o
encontro com Agnes e depois vou para casa — Fin decidiu. —
Provavelmente, vou beber algumas taças de vinho e experimentar
algumas... coisas novas que comprei. No caso de ter um convidado.
— Parece... uma noite interessante. Amanhã é seu dia de folga. Você
não tem outros planos? — Walker perguntou, mantendo o foco fixo na
janela. O jovem verificou se as meninas estavam adequadamente distraídas
antes de pegar a mão do chefe de novo e dar um aperto rápido e afetuoso.
— É mesmo! Mas não tenho nada planejado. Só mais um motivo para
eu beber um pouco além da conta e fazer algo vergonhoso.
— É?
— Hmmm... vou poder dormir até tarde, já que as trigêmeas vão
passar o fim de semana com a sua irmã nos Hamptons — Fin comentou,
mordendo os lábios. Ele não estava planejando convidar Walker para ir à
sua casa e possivelmente passar a noite, mas as palavras apenas saltaram de
sua boca quando um plano bobo se formou em sua cabeça. Mas nós dois
temos a noite de hoje e o dia de amanhã de folga, e ele fica tão gostoso de
jeans e mocassins.
— Você tem certeza? — Walker sussurrou enquanto olhava para as
meninas. Fin não pôde resistir.
— Se tenho certeza de que sua irmã mora nos Hamptons? — Fin
perguntou e mostrou a língua para o patrão. Ele riu. Foi adorável, os olhos
dele se enrugaram nos cantos e Walker ficou um pouco constrangido,
porque deveria ser o sr. Sério-E-Irritado. Fin o teria beijado se estivessem
sozinhos. Ele suspirou e disse a si mesmo que o beijaria duas vezes mais
tarde.
— Chegamos! — Charlotte anunciou. O carro ficou um caos quando
todas começaram a se empurrar para sair.
— Certo! Temos quatro horas até voltarmos — o babá disse ao chefe
e às meninas.
A manhã acabou sendo puro papai sexy. Eles andaram pelo parque,
começando no Delacorte Clock e no Children's Zoo. As meninas arrastaram
ambos em direção aos seus animais e atividades favoritas até que fossem ao
lago para comer hambúrgueres, batatas fritas e sorvete no The Loeb
Boathouse. O coração de Fin bateu forte ao ver Walker se apaixonar pelas
filhas e se deliciar com a atenção delas. Ele estava faminto por afeto,
amolecendo toda vez que elas pegavam sua mão ou beijavam sua bochecha.
E Fin amou cada minuto. Ele não pensou muito quando convidou o
homem mais velho para passar a noite com ele, mas pareceu certo quando
foram para o carrossel. Ele e Walker não faziam sentido e não dariam certo,
mas o babá estava orgulhoso da pequena família que resgatou e do quanto o
patrão progrediu.
A fila não estava longa e as meninas foram até seus cavalinhos
favoritos enquanto Fin conduzia Walker até a saída.
— Você foi tão bem hoje — ele falou enquanto o outro apontava a
câmera de seu celular para a atração. Walker olhou para o jovem e se
atrapalhou com celular, depois o guardou para que não o deixasse cair, e riu
nervoso.
— Você planejou tudo. Só o que eu precisava fazer era vir junto —
Walker respondeu. Fin desejou poder sacudi-lo e então beijá-lo.
— Mas você está aqui! — ele sussurrou. — Sabe quantas crianças eu
já vi neste carrossel, desejando que a mamãe ou o papai estivessem junto
para tirar fotos e tomar sorvete com elas? — Fin olhou em volta e encostou
no ombro de Walker com o seu. — Hoje foi muito especial e algo me diz
que esta noite pode ser especial também — ele falou de modo suave.
— Você tem certeza? — Walker deu uma olhadinha rápida para ele e
seus olhos se encontraram. O patrão estava vulnerável de novo e o rapaz
ansiava por abraçá-lo e dizer o quanto o queria.
— Tenho, Walker — Fin afirmou. — É como este passeio. Tudo que
você precisa fazer é aparecer. — Ele se afastou para tirar fotos melhores das
meninas quando uma mulher mais velha usando um casaco de pele enorme
e um turbante dourado passou pelas crianças e os pais que estavam ao redor
do carrossel.
— Walker Cameron, não pode ser você! O que está fazendo aqui? —
ela quis saber. Fin ergueu uma sobrancelha, esperando uma explicação, mas
o outro congelou e empalideceu. Suas pálpebras estremeceram enquanto ela
avançava na direção dele. — Não fique aí parado, me dê um abraço! — O
topo da cabeça dela mal tocava o queixo do homem, mas Walker parecia
apavorado ao se curvar e cumprimentá-la.
— Muriel — ele murmurou e beijou. — Estou aqui com as meninas, é
claro. O que a traz ao parque? Não esperava vê-la tão longe de seus martínis
e o poodle.
— Que absurdo. Jonathon está andando com Calista em algum lugar
— ela respondeu com um vago aceno. — E ele tem uma garrafa térmica
com martíni na bolsa para mim. Ele quer ser uma daquelas celebridades do
Instagram, então pensei em tirar algumas fotos dele e de Calista no
carrossel. Não parece maravilhoso?
— Eu tenho certeza de que vai ser — Walker rebateu com desdém,
focando nas meninas e no brinquedo. Mas Muriel não pararia.
— Devo entender que você não está mais de luto? — ela perguntou.
Houve um suave ronronar nas palavras e suas narinas dilataram como se ela
cheirasse uma carcaça fresca. Os olhos do homem se arregalaram, e Fin se
afastou de forma discreta. Ele queria ajudar, mas tinha a sensação de que a
última coisa que a situação pedia era um babá desbocado.
— Eu acho... — Walker começou, mas a fala foi interrompida quando
Muriel agarrou seu pulso adornado com um relógio Patek Philippe. —
Acho que sempre vou sentir falta do Connor, mas talvez esteja pronto para
sair mais. Socialmente — ele acrescentou, sem jeito. Era uma admissão
evasiva e mínima, mas os olhos de Muriel brilharam e ela se agitou de
prazer.
— Que maravilhoso, e que sorte a nossa! Jonathon! — ela chamou e
se virou. — Jonathon! — A mulher ficou na ponta dos pés e procurou na
multidão. — Onde está esse garoto?
— Não. Isso não vai ser... — Walker começou, mas Muriel o ignorou
e gritou o nome do homem. Fin procurou com ela, querendo muito saber
quem era Jonathon.
— Aqui, tia Muriel — um jovem respondeu. Ele se demorou e tudo o
que Fin conseguiu ver foram longas ondas loiras e uma expressão
envergonhada e entediada. Um poodle cor de damasco, grande e irritado
rosnou enquanto abria caminho na multidão.
— Aí está minha doce Calista! — a mulher disse em êxtase. Fin levou
a mão à boca para conter uma gargalhada quando viu o terno floral e a
gravata azul Tiffany do jovem. As botas eram do mesmo tom de azul, e ele
carregava uma bolsa da mesma cor. — Jonathon, diga oi para o Walker
Cameron — Muriel disse de maneira sugestiva. Ela estendeu a mão em uma
reverência, como se estivessem em um baile, ele fosse o Príncipe Encantado
e Jonathon fosse a Cinderela. O homem mais velho pareceu horrorizado e o
rapaz pareceu ter apenas um leve interesse.
— Cameron — Jonathon disse e estendeu a mão com a urgência de
um bocejo.
— É um prazer — Walker respondeu categoricamente e apertou a
mão do jovem. Fin estava se divertindo um pouco demais até que o
carrossel parou. Ele ficou alerta e examinou a fila conforme as pessoas
saíam do brinquedo, procurando pelas meninas.
— Fin! — Charlotte o viu primeiro e pegou a mão de Beatrice. Ela
agarrou Amelia e as três se espremeram para que pudessem correr até o
babá.
— Você tirou uma foto minha no unicórnio? — Amelia perguntou. As
trigêmeas começaram a pular animadas ao redor do jovem enquanto ele as
levava de volta ao pai.
— Tenho muitas fotos! Vamos fazer uma colagem quando voltarmos
à Casa Killian — ele prometeu.
— O que é isso? — Muriel exigiu saber, e Fin notou a carranca se
fixar nele.
— Você se lembra das minhas filhas? Amelia, Beatrice e Charlotte —
Walker disse conforme apontava para elas, mas a mulher bufou.
— Pare com isso, Cameron. Quem é este? — ela perguntou, acenando
com a cabeça para Fin.
— Ah. Você quer dizer o sr. Marshall? Ele é nosso babá — Walker
informou como se tivesse esquecido que o rapaz estava lá. Fin achou que o
patrão fez um excelente trabalho ignorando sua presença, mas o queixo de
Muriel caiu e seus olhos adquiriram um brilho feroz.
— Entendo! — ela sussurrou, agarrando a gola do casaco.
— Não, você não entende — Walker respondeu e balançou a cabeça.
Mas era tarde demais. Muriel percorreu Fin da cabeça aos pés e riu.
— Ah, com certeza entendo... — ela falou lentamente. Seu sorriso
aumentou e Fin quase pôde ouvir os pensamentos obscenos se agitando
naquele turbante dourado. Era provável que não tivesse ido tão longe, mas o
babá ainda queria gritar que não era assim, que eles não eram assim. — E
não culpo você. Ele é delicioso, mas você ainda precisa seguir em frente.
Sabe o que dizem, um homem solteiro e rico deve estar precisando de uma
esposa. Pense em como você e Jonathon seriam impressionantes como um
casal. Ele é ainda mais jovem que o seu sr. Marshall — ela se gabou. O
rosto de Fin se contorceu, ele não pôde evitar.
— Não é bem assim. Tenho mestrado em educação infantil e falo
quatro idiomas — o jovem se gabou, mas ficou com a impressão de que só
tinha piorado as coisas.
— O sr. Marshall é o melhor babá da cidade e sua prioridade é o bem-
estar e a educação das meninas — Walker falou com delicadeza, mas
Muriel gargalhou.
— E eu garanto que ninguém vai se importar se for discreto, mas
você tem que se casar com alguém respeitável.
— Eu não preciso me casar com ninguém, e seu sobrinho já tem idade
suficiente para beber? — Walker contra-atacou.
— Por um triz, e você tem que se casar se vai continuar se
envolvendo com os empregados. Você não quer que as pessoas se
perguntem o que está acontecendo na Casa Killian. Ou se você está ficando
imprudente e pouco confiável — ela o lembrou.
Fin arregalou os olhos em choque. Era possível que o patrão perdesse
clientes e oportunidades se bancos e investidores não confiassem mais nele,
mas sugerir isso em voz alta, na cara de Walker, no meio do Central Park,
era... ousado. Fin ouviu algumas tosses e arquejos vindos das famílias perto
do carrossel. Muriel gritou o nome dele de forma escandalosa, então quase
todos no parque sabiam que um dos solteiros mais ricos e poderosos da
cidade estava ali. E Jonathon.
— Eu nunca sou imprudente ou pouco confiável, Muriel — Walker
declarou, seco. Finalmente, ela percebeu que havia passado dos limites e
recuou.
— Eu nunca sugeriria tal coisa, mas você sabe como as pessoas falam
e como é importante manter uma aura de estabilidade quando você é o rosto
de um império tão grande quanto o seu — a mulher pontuou. Ela tinha
razão, mas Fin não via como se casar com um Pokémon em forma de
homem de vinte e um anos poderia ajudar na reputação de Walker. Então,
mais uma vez, nada sobre ser tão rico assim fazia sentido para o babá. Ou
parecia ético.
— Agradeço sua preocupação. É hora de irmos. — Walker ofereceu a
Muriel uma reverência rígida.
— Mas... e Jonathon? — ela disse e tentou segui-los. O homem
inclinou a cabeça e franziu a testa.
— Tenho certeza de que não posso ajudar. Você já considerou um
novo estilista? — ofereceu. Os lábios de Fin tremeram enquanto ele abria os
braços e afastava as meninas do carrossel.
— É a nossa deixa para irmos embora. O carro deve estar chegando
— ele disse baixinho para as meninas e fez o possível para permanecer
invisível. Conseguia sentir o olhar de Muriel, mas manteve a cabeça baixa
ao guiá-las para a saída. Walker pegou a mão de Amelia e sua expressão
estava relaxada, mas havia uma dureza em seus olhos quando os conduziu
de volta ao caminho que levava à Quinta Avenida. E ele não olhou para Fin
ou demonstrou tê-lo visto.
— Eu não gosto daquela mulher — Amelia comentou e olhou para o
pai. Ele riu, mas foi baixo e havia um toque de ironia no som.
— Nem eu, querida, mas temos que tolerar pessoas como Muriel
Hormsby, infelizmente. O papai não teria dinheiro se não fosse por elas,
mas esse tipo de gente é um bom lembrete de que você pode ter muito, mas
muito dinheiro, e ainda assim não ter boas maneiras.
— Por que temos que tolerar essas pessoas? — ela perguntou,
arrancando uma risada sincera de Walker. Eles saíram do parque no mesmo
instante em que a limusine estacionou por perto.
— Prática, eu suponho — o pai respondeu e segurou a porta para as
meninas subirem na parte de trás. — E eu gostaria que vocês três se saíssem
bem na sociedade e se casassem quando forem adultas, se quiserem.
Mais uma vez, Walker não olhou para Fin quando entraram no carro,
e ele ficou quieto durante todo o caminho de volta para casa. O babá estava
preocupado, mas conversou com as trigêmeas até chegarem à Casa Killian.
O jovem disse para que as meninas seguissem a tutora para trocarem de
roupa. Ele esperou até que estivessem sozinhos no hall de entrada para
pegar Walker pelo cotovelo.
— Ei. Sobre o que aconteceu no parque... — ele começou, mas o
chefe levantou a mão, interrompendo-o.
— Eu lidei com a situação de forma terrível. Não sei por que não
previ que isso aconteceria quando contratei você — ele disse. Os olhos de
Walker se estreitaram, pensativos, e percorreram o saguão, evitando Fin.
— Uau. Não sei como devo encarar isso.
— Me desculpe. Acho que não vou conseguir sair do evento
beneficente mais cedo. Me lembrei de que alguém importante vai estar lá e
seria melhor se eu ficasse — o patrão falou baixinho enquanto se curvava
em outra reverência rígida e adequada.
— Tudo bem... — Fin respondeu, mesmo sem ter certeza de que se
sentia assim. — Você sabe onde me encontrar se precisar de mim. — Ele
tentou dar um sorriso, mas falhou quando Walker balançou a cabeça. O
coração do jovem se partiu. Tudo estava completamente perfeito até Muriel
Linguaruda aparecer. Seus sonhos de uma noite inteira sozinho com Walker
foram despedaçados. Para piorar as coisas, ele estava muito mais animado
pensando em como poderiam ocupar as horas além do sexo do que com a
ideia de transar propriamente dita. Ele queria, é claro, mas Fin ansiava por
tempo e privacidade para mimar o chefe com afeto e intimidade. —
Cameron? — o rapaz insistiu baixinho.
— Obrigado por esta manhã. Falo com você mais tarde — Walker
respondeu e fugiu pelas escadas até o escritório, assim como no dia em que
se conheceram. Fin piscou para os azulejos e se perguntou o que havia feito
para chatear o homem.
— Ou talvez tenha sido apenas Muriel. Ela é horrível o suficiente
para arruinar o dia de qualquer um — ele comentou distraído, mas balançou
a cabeça. A mulher era péssima, mas seu comportamento não era tão
surpreendente assim, considerando tudo o que Fin já viveu. Ele suspeitava
que ela tinha envergonhado Walker e o feito se sentir culpado. — Parece
que precisamos conversar. — O jovem queria explorar mais o
relacionamento e encher Walker de elogios e carinho, mas gostava do
relacionamento profissional e público do jeito que era. Não queria que as
coisas mudassem entre eles fora do quarto. E, quanto antes o chefe
entendesse isso, melhor.
CAPÍTULO TRINTA
A BOLHA DOS SONHOS estourou no Distrito Infantil do Central
Park e Walker percebeu que não estava vivendo um conto de fadas. Em vez
de um felizes para sempre, sua vida logo estaria se tornando um pesadelo.
Ele se apaixonou por seu funcionário e se transformou no pior tipo de clichê
que Manhattan poderia imaginar.
Como eu não me dei conta disso?
De maneira tola, Walker negligenciou a possibilidade de ser seduzido
por Fin e a realidade deu um tapa em sua cara quase que de imediato. Por
que não previu o que aconteceria se a notícia de que um jovem babá
maravilhoso estava ficando íntimo dele na Casa Killian vazasse? Estava tão
desesperado para conseguir alguém competente para assumir o trabalho que
não olhou além do currículo incrível do jovem e o fato de que ele já estava
disponível.
Walker se sentiu culpado e sujo após o confronto com Muriel e fugiu
de Fin assim que voltaram para casa. Ele não tinha ninguém além de si
mesmo para culpar pelo que aconteceu no parque e pela bagunça nos
limites estabelecidos entre os dois. Foi ele quem reorganizou todas as tardes
de quinta-feira para ter um tempo a sós com Fin e também foi quem roubou
beijos enquanto o rapaz estava em horário de trabalho. Walker se deixou
levar e se apaixonou por seu babá, e aquilo se voltou contra ele na primeira
vez em que se aventuraram para fora da Casa Killian como uma família.
Envergonhado e irritado consigo mesmo, ele evitou Fin e as meninas
pelo resto da tarde, então entrou sorrateiramente na brinquedoteca, já
vestindo seu smoking, para desejar boa noite às filhas. Walker ainda não
conseguia olhar nos olhos do babá e murmurava desculpas para escapar
dele sempre que podia. Mas a culpa e o constrangimento não eram culpa de
Fin.
Walker continuava vendo o olhar preocupado no rosto do rapaz
quando saiu correndo do hall de entrada depois que eles voltaram do
parque. E se sentia péssimo. Fin provavelmente estava com medo de ser
demitido de novo, não que o patrão fosse fazê-lo ou que ele tivesse
qualquer motivo para tanto, além do fato de ser muito lindo e tentador.
Então Walker parou de fingir que se importava com o evento
beneficente e saiu do local sem cumprimentar ninguém. Levou mais de uma
hora para chegar ao endereço de Fin no Brooklyn, mas ainda não sabia o
que diria quando o visse. Só sabia que precisava pedir desculpas e dizer ao
jovem que ele ainda tinha um emprego.
— Ótimo local — Walker murmurou enquanto sinalizava para o
motorista ir em frente e deixá-lo ali. A casa geminada de três andares era
arrumada e bem charmosa, com sua fachada de pedra marrom e canteiros de
flores nas janelas. Ele respirou fundo para aliviar a agitação no estômago e
subiu os degraus da frente. Tocou a campainha e deu um puxão na gravata-
borboleta para se certificar de que estava reta. A porta se abriu e Walker
cambaleou quando um senhor idoso, alto e com um olhar de reprovação
apareceu.
— O que você quer? — o homem mais velho perguntou, desconfiado.
Walker piscou, confuso e um pouco ofendido.
— Olá... Eu estou procurando pelo sr. Marshall.
— Fin? Porta errada — o idoso falou, sinalizando com o polegar para
a direita, por cima da varanda. Walker olhou e fez uma careta para os
degraus que levavam ao porão.
—Ah. — Ele pulou quando a porta se fechou com força. Balançou a
cabeça e deu a volta. A pequena escada estava escondida por uma roseira, e
Walker sorriu para o gato mandão no tapete dizendo para limpar as patas
agora miausmo. Um candelabro de ferro enchia a porta com um brilho
acolhedor e a voz aveludada de Dean Martin cantava de forma convidativa.
O homem tocou a campainha e cantarolou enquanto esperava. Ele viu uma
cesta no topo da escada, cheia do que pareciam ser cachecóis dobrados,
chapéus e luvas. Um bilhete estava grudado na cesta, e Walker reconheceu a
caligrafia elegante e confiante do rapaz.

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quentes recicladas.

A porta se abriu e um jovem que não era Fin olhou para Walker com
expectativa. Ele era uma graça, com cabelo ondulado castanho-escuro como
o do babá, mas seus olhos eram de um azul-claro suave e brilhavam com
humor. Usava uma camiseta vintage da Vila Sésamo e boxers com estampa
de tiranossauros. Walker teria ficado preocupado se não tivesse lembrado
que Fin morava com o melhor amigo de infância, Riley.
— Isso não é um sonho, então sei que você não está aqui por minha
causa — ele disse, sem o cinismo ou a desconfiança do amigo. O homem
mais velho riu com leveza e balançou a cabeça.
— Peço desculpas por vir tão tarde, mas esperava que o sr. Marshall
estivesse disponível. — Ele inclinou a cabeça e cobriu a boca com a mão.
— Ai, meu Deus. Você é... — ele sussurrou, então se virou. — Fin!
Você tem visita!
— É o Reid? Eu disse a ele que devolveria o maçarico no próximo
fim de semana. Ainda preciso dele para um projeto de ciências — Fin
resmungou de algum lugar. Walker tentou ver por cima do ombro de Riley.
Ele deu um passo para o lado e abriu um sorriso para o homem.
— Acho que é o seu chefe.
— O quê? — o rapaz respondeu do que parecia ser a cozinha. Ficava
do outro lado do balcão, e Walker ficou confuso. Ele também conseguia ver
dois quartos e um banheiro. Não estava acostumado a conseguir ver tantos
cômodos ao mesmo tempo. Fin contornou o balcão, segurando uma taça de
vinho e comendo um cupcake. — Walker? — Ele estava sem camisa, e o
chefe teria encarado as tatuagens se sua atenção não estivesse na calça de
moletom cinza desgastada que pendia dos quadris do babá. Não ficou
exatamente claro o que ele havia interrompido, mas o jovem parecia o
sonho mais molhado do patrão.
— Eu... — Ele deu alguns passos cautelosos. Walker examinou o
ambiente, observando as trepadeiras que pendiam ao longo das paredes e as
prateleiras repletas de livros e fotos emolduradas. Havia um sofá de veludo
verde e tapetes com franjas em tons dourados que chamaram sua atenção,
porque tudo era a cara de Fin. Ele não havia pensado nisso, mas agora que
estava lá, queria ver e catalogar cada detalhe da vida do rapaz longe da Casa
Killian. — Não pude dizer boa noite a você e não gosto da maneira como
deixamos as coisas — Walker murmurou. Ele olhou para Fin e sorriu,
desculpando-se. — Não consegui escapar do jantar, mas assim que cheguei
lá, queria estar com você, então fiz o mínimo e saí o mais rápido que pude.
— Você queria estar comigo? — Fin perguntou baixinho, então
respirou fundo e gesticulou com a cabeça para o amigo, que sorria para o
mais velho. — Walker, este é o Riley. Riley, este é o Walker Cameron.
— É um prazer, mas sei quando não sou necessário — Riley
respondeu com uma saudação alegre, passou por Walker e entrou no quarto
à esquerda. A porta bateu e o chefe sorriu para Fin ao tirar as luvas e
colocá-las no bolso do sobretudo.
— Espero não ter interrompido algo — ele falou.
— Você não está interrompendo nada. Estávamos acabando com uma
caixa de vinho e prestes a jogar alguns nuggets de frango e coisas
congeladas na air fryer — Fin respondeu enquanto se agarrava à taça e
cobria o peito, constrangido.
— Parece... — Walker olhou com o canto dos olhos para o padrão
intrincado no tapete entre eles. — Eu não tenho ideia do que é uma air fryer
ou o que ela faz, mas tenho certeza de que é muito mais interessante do que
a noite que minha assistente planejou.
— Pobre Nancy. Aposto que era tudo muito importante — Fin
repreendeu, mas o patrão dispensou o comentário.
— Eu pago à Nancy um salário de CEO, porque ela não precisa de
mim. Isso é mais importante.
— Isso é mais importante? — o babá perguntou e chegou mais perto.
Walker assentiu.
— Eu queria ser... outra pessoa e não o seu chefe. Não acho que você
seja inferior a mim. Na verdade, é exatamente o contrário, mas me senti um
lixo depois que nos encontramos com a Muriel no parque — ele explicou.
Fin se encolheu e gemeu.
— Não! Eu entendo. A última coisa que eu quero é ser esse tipo de
babá. E não quero fazer isso com o Reid. Ele está começando sua agência e
não quer ser associado a esse tipo de coisa.
— Você não está chateado comigo? — Walker perguntou com
cautela.
— De jeito nenhum. Achei que hoje foi um sucesso. Nós estávamos
comemorando — Fin revelou, erguendo a taça. — As meninas se divertiram
muito e você também, até Muriel aparecer. Minhas expectativas foram
superadas.
— As minhas também. Estou aliviado, mas não queria terminar
minha noite sem te ver — Walker se aproximou, pegando a mão do jovem
para que pudesse sentir o cheiro do vinho na taça. O aroma era muito doce e
ácido.
— O quê? — Fin perguntou, trêmulo. Ele engoliu em seco e
umedeceu os lábios. — Isso é muito... você quer um pouco? — ele
ofereceu, mas o patrão negou com a cabeça.
— Acho que não — ele pegou o copo, o colocou sobre a mesa e levou
a mão de Fin aos lábios. — Eu não sei o que fazer sobre isso, sobre nós,
mas não consigo parar de pensar em você — ele esfregou os lábios nos
dedos do rapaz e saboreou o tremor que correu entre eles. — Não achei que
sentiria algo de novo, e isso me assusta. Às vezes, sinto como se estivesse
recebendo uma segunda chance ou tentando algo novo. Outras vezes,
parece terrível. Como se eu estivesse recomeçando e deixando Connor para
trás. Há momentos em que digo a mim mesmo que ele gostaria que fosse
assim e quase consigo me convencer disso. Mas então penso em como as
pessoas veriam e o que poderíamos enfrentar e a situação me assusta.
— O que acontece entre nós não é da conta de mais ninguém, mas
não gosto de fazer você se sentir mal — Fin disse e passou um braço pelos
ombros de Walker. O homem mais velho balançou a cabeça.
— Você me faz mais feliz do que estive em anos. Não achei que
sentiria algo de bom de novo, mas me sinto vivo e há muita alegria quando
estou com você.
— Por que isso é terrível? — Fin perguntou com gentileza. Walker
colocou um dedo debaixo do queixo do rapaz e roçou os lábios nos dele.
— Porque eu deveria amá-lo para sempre e tenho medo de perdê-lo se
compartilhar com outra pessoa as coisas que prometi que sempre seriam do
meu marido. Não consegui ficar com outro homem desde que Connor
morreu. Tenho medo do quanto vai doer se eu perder o pouco que me resta
dele. — O homem mais velho estremeceu, desculpando-se, e Fin se
inclinou e balançou a cabeça.
— Não o deixe ir. Valorize a memória dele e o honre sendo feliz. Ele
não iria querer que você ficasse sozinho.
— Diga isso ao meu coração. Eu sei que o Connor gostaria que eu
amasse de novo, mas ainda dói.
— Não pense como se o estivesse perdendo, você só está abrindo
espaço para outra pessoa — o babá disse baixinho, e Walker sorriu.
— Ele diria a mesma coisa. Seu coração era tão grande e ele sempre
encontrava mais espaço se alguém precisasse.
— Connor era um homem maravilhoso, e eu não gostaria que você
parasse de amá-lo. Você deve se lembrar dele e honrar sua memória sendo
feliz. É o que ele ia querer.
— Eu não sei se ele aprovaria que eu ficasse me esgueirando com o
babá. Não porque você é babá, mas ele não gostaria da parte de se esconder
— Walker falou antes que uma risada suave escapasse de seus lábios. —
Ele ia amar você, mas consideraria essa situação um desastre.
— Na verdade, nós não temos escolha, e vou deixar tudo ainda mais
fácil para você — Fin declarou. Ele deu um tapinha firme e confiante no
peito do patrão. — Eu quero você, Walker, mas não quero drama. Cuidar de
suas filhas é minha prioridade e eu amo meu trabalho porque as amo.
Talvez eu ame você também, mas não vou deixar isso interferir no meu
compromisso com as trigêmeas. Elas precisam de mim mais do que você,
então o que quer que aconteça entre nós, ficará entre nós. — Ele assentiu,
pontuando a declaração com um suspiro. Walker imitou seu gesto ao tomá-
lo nos braços.
— Não sei se isso é verdade. Talvez eu precise um pouco mais de
você do que elas, mas nunca me perdoaria se estragasse tudo e fizesse com
que você nos deixasse.
— Não vou a lugar algum — Fin prometeu.
— Talvez você me ame? — Walker sentiu um tremor de esperança e
um desejo profundo de que fosse verdade.
— Sim — o babá sussurrou, murmurando as palavras contra os lábios
do chefe. — Mas podemos deixar isso guardado em um envelope para que
ninguém além de nós saiba. Não precisamos pegá-lo até estarmos prontos.
— Ah, Fin... eu... — Walker estava tonto e muito feliz. — Eu também
— ele admitiu, mas a confissão foi tensa e rouca. — Mas não sei por quanto
tempo posso esconder algo tão grande e tão lindo. Só precisou de um
passeio ao parque para que Muriel Hormsby descobrisse o que estava
acontecendo entre nós.
Fin emitiu um som calmante, lento e suave, expulsando as
preocupações de Walker para fora da sala. Ele descansou a testa contra a do
homem mais velho e se afundou nele.
— Vamos ser mais cuidadosos no futuro e as pessoas vão esquecer
tudo o que Muriel disse em uma semana. Sou seu e das meninas, mas
ninguém precisa saber o quanto eu pertenço a você.
— Caramba. Você não tem ideia do quanto preciso de você, Fin —
Walker gemeu na boca do jovem. Os movimentos se tornaram frenéticos e
os dedos dele se atrapalharam com os botões e a fivela do cinto do outro
homem. Walker afastou os lábios e choramingou quando eles colidiram
com o sofá. Os olhos do babá estavam pesados de luxúria e seus lábios
estavam inchados. Sua beleza fez com que o mais velho ficasse nervoso de
repente.
— O que há de errado? — Fin segurou o queixo do chefe e examinou
seu rosto. — Fale comigo — ele pediu. Walker fechou os olhos e esfregou a
bochecha na mão do rapaz. Ele se sentiu seguro e sabia que podia confiar
seus medos a Fin.
— Não sei se vou conseguir continuar. Eu quero gritar, você não tem
ideia do quanto quero você. Mas tenho medo de perder a coragem, ou
começar a chorar, ou terminar cedo demais, ou não conseguir terminar... e
se eu... — ele começou, mas os lábios de Fin esmagaram os seus,
interrompendo a divagação.
— E se fôssemos para o meu quarto e simplesmente deixássemos
acontecer? Eu não me importo se você mudar de ideia ou terminar em
menos de um minuto. Este é um grande passo, e acho que você foi corajoso
o suficiente por uma noite. Qualquer coisa depois disso é lucro, Walker.
— Apenas lucro — ele concordou. Fin foi tão doce quando inclinou a
cabeça para o lado e o beijou, fazendo os dedos dos pés de Walker se
curvarem. Ele parou de se preocupar com o que tudo significava ou se
estavam indo rápido demais. Fin o levou com para o quarto. Ele esbarrou na
porta, e o jovem riu contra os lábios de Walker. O babá tinha um gosto doce
e fresco e o homem mais velho estava intoxicado. Ele tirou o casaco e o
jogou em uma cadeira.
— Eu preciso de dois minutos para convencer o Riley a nos ceder o
lugar por algumas horas. Tire a gravata e fique confortável — Fin sussurrou
ao escapar dos braços de Walker.
— Certo. — Ele assentiu e obedeceu ao comando enquanto Fin
voltava para o banheiro e fechava a porta atrás de si.
Como esperava, o quarto do babá era cheio de livros e fotos. As
paredes eram repletas de prateleiras e ele ficou fascinado ao explorar. Havia
livros de quase todos os assuntos e muitas fotos de Fin em aventuras com
várias crianças sorridentes. A cama ficava embaixo da janela e repousava
sobre pallets de madeira que o rapaz encheu com mais livros. Como o resto
do apartamento, luzes e folhas emolduravam a janela e se arrastavam pelas
prateleiras mais altas. Walker sorriu para o dálmata de cerâmica no canto e
relaxou ao se reclinar na cama. Havia muitos travesseiros e uma manta feita
de flanelas antigas e camisetas cobrindo o edredom. Era macio e quente e
lembrava Fin. Tudo tinha o cheiro dele — como amaciante e cookies.
Ele lembrou que o jovem tinha tatuagens e balançou a cabeça. Esteve
tão distraído com a trilha de pelos macios que atraiu seus olhos para a parte
plana e firme do abdômen do babá. Walker estava ciente da mística
associada à calça de moletom cinza e raramente a encontrava, mas
finalmente entendeu e gostou do encanto. A porta do banheiro se abriu,
lançando uma luz suave no quarto enquanto Fin apoiava o ombro no batente
de forma casual.
— Tem certeza de que não quer beber nada? As meninas vão passar a
noite com a Agnes e ninguém espera você na Casa Killian por horas — o
jovem ofereceu. Walker balançou a cabeça e se sentou, estendendo a mão
para o jovem.
— Não vou ter problemas se pedir permissão a Pierce para ficar
acordado tarde — ele respondeu. Fin riu enquanto se afastava da porta e
caminhava até o chefe.
— Tenho certeza de que seu motorista é discreto, e Pierce não vai
falar nada, mas é um grande problema quando sai da rotina, e você nunca
faz nada espontâneo. — Fin deslizou um braço em volta do pescoço de
Walker e se sentou em seu colo.
— Eu faço quando estou com você. Normalmente não vou a
piqueniques ou ao parque, ou tomo café da manhã na sala de jantar, mas
faço essas coisas com você e as meninas agora.
— Porque eu te obrigo — Fin rebateu e ergueu a sobrancelha,
desafiando Walker a negar.
— Juro, eu não faria se não quisesse. Mas você deixa tudo muito mais
fácil e não tenho mais tanto medo, porque sei que vai fazer tudo ser
perfeito.
— Esse é o meu trabalho, mas não sei do que você tem medo. Elas
são apenas menininhas e te adoram. — Fin inclinou o rosto para trás e
traçou as sobrancelhas do outro homem com os polegares, afastando as
últimas dúvidas. O jovem estava calmo e confiante como sempre e isso
excitava tanto Walker quanto os desenhos coloridos espalhados por seu
torso e braços.
— Estou percebendo isso agora, graças a você. Não sabia que tinha
tatuagens — Walker murmurou, inclinando a cabeça para o lado. Havia as
cores do arco-íris circulando o bíceps de Fin e um arranjo de flores colorido
caía sobre seu ombro.
— Aposto que você não sabia que eu tinha um lado selvagem e
perigoso — ele insinuou.
— Selvagem e perigoso? — Walker brincou, traçando o cupcake no
peito do rapaz com o polegar. — Qual é o nome dessa gangue com a qual
você anda? — ele perguntou. Fin estreitou os olhos e apertou os lábios.
— Você está duvidando que eu tenha um lado selvagem? — ele
empurrou Walker, plantando as mãos na cama e pairando sobre ele. Mordeu
o lábio com malícia. — Você está me desafiando?
— Eu sei que você pode ser um perigo tão difícil quanto as meninas.
Isso aqui são pôneis? — os dedos de Walker passaram pela cintura da calça
de moletom do jovem. Ele também viu algum tipo de bicho de pelúcia
espreitando pela cintura da calça.
— São os unicórnios do livro infantil Where the Sidewalk Ends.
— Entendo.
— Você quer? — Fin perguntou e puxou Walker com ele enquanto
rolava na cama. Ele desamarrou os cordões da calça e deu um puxão,
soltando o moletom e dando ao outro homem um vislumbre da renda preta.
Ele pegou a mão do chefe e a pressionou contra seu estômago.
— Fin... — A voz de Walker falhou quando a luxúria e o desejo
avassalador de reivindicar o jovem aumentaram. — Eu vim me desculpar
por ser um idiota privilegiado, mas você transformou isso na minha fantasia
mais erótica — ele repreendeu. As pontas de seus dedos formigavam
conforme percorriam a renda e seu pau latejou. Os dentes de Fin cravaram
nos lábios de Walker ele gemia e balançava os quadris de forma
convidativa.
— Surpresa! Não é preciso nenhum pedido de desculpas — o babá
anunciou, expulsando o que ainda restava da tensão e permitindo que o
outro homem apenas... aproveitasse.
Fin não conseguia compreender o quanto Walker estava encantado ou
como era surreal encontrar o paraíso em um apartamento modesto em um
porão no Brooklyn. Não havia pressão, estresse ou insegurança. O quarto
do jovem era tranquilo e silencioso e não havia funcionários para atrapalhar
e nenhum lugar que qualquer um deles devesse estar. Walker estava
excitado, mas não havia expectativas, apenas um convite para explorar.
— Eu gosto mesmo daqui. Parece um sonho — ele sussurrou e se
abaixou para beijar Fin.
— Sonhei em encontrar você na minha cama, mas nunca pensei que
de fato aconteceria — o rapaz admitiu sem fôlego. Ele chupou o lábio de
Walker e recuou de novo. — Estou tentando muito não apressar as coisas,
mas preciso demais que você me toque.
— Assim? — Walker colocou a mão por baixo do algodão cinza para
poder acariciar o outro homem através da renda, mas havia uma fenda no
tecido.
— Não tem costura na virilha — Fin ofegou quando os dedos do
outro homem se enrolaram na pele quente e dura. O membro e as bolas de
Fin escaparam da fenda e encheram a mão de Walker. Ele gemeu de prazer
enquanto apertava e acariciava. — Isso! — falou e beijou o homem mais
velho em um frenesi, incentivando-o a continuar. Os dedos de Walker
desceram e foram para a fenda de sua bunda. — Sim, sim, sim! — Arrepios
se espalharam pela barriga de Fin, mas o outro homem estremeceu e ficou
com água na boca. — Nós podemos fazer o que você quiser. Gosto de
dominar e ser dominado, mas geralmente prefiro ficar por baixo, a não ser
que eu tenha bebido muito e esteja mais selvagem — ele revelou.
Uma onda de ansiedade percorreu Walker ao pensar em decepcionar
Fin. Ele umedeceu os lábios e engoliu em seco. Não sabia os nomes de
nenhuma posição além de papai e mamãe e de quatro. Ainda não tinha ideia
do que era uma Savage Fenty ou o que fariam se Fin não tivesse
preservativos, porque ele, com certeza, não tinha.
— É... perfeito, mas já faz muito tempo e nunca fui muito criativo
quando se trata de sexo. Eu sei que gosto muito de usar a boca —
murmurou.
— Funciona para mim — Fin respondeu rápido. — E eu sou criativo
o suficiente por nós dois. Pare de se preocupar. — Os dedos do jovem se
enrolaram em seu cabelo e os lábios de Walker foram guiados para um beijo
exigente. — Nós podemos ir devagar e você pode levar todo o tempo que
precisar.
— Eu realmente gostaria de provar você — Walker disse quando seus
dedos tocaram a entrada de Fin. Ele ergueu uma sobrancelha para o rapaz,
esperançoso. Não tinha certeza se sexo oral anal ainda era “legal” ou se
havia saído de moda, como os pelos no corpo nos anos 1990.
— Ótimo! — Fin assentiu, mordendo os lábios. — Eu gostaria disso
também — ele falou com tranquilidade, mas Walker percebeu a leve
oscilação em sua voz. — E qualquer outra coisa que você quiser, não que
isso não seja suficiente. Eu estou quase lá, na verdade — acrescentou.
Ele ergueu os quadris e baixou a calça de moletom, permitindo que o
homem mais velho visse o que estava fazendo com ele. Uma gota de
líquido pré-ejaculatório saiu do pau de Fin enquanto ele xingava e tremia
debaixo de Walker.
— Puta merda, isso é lindo. — A boca do homem mais velho se
encheu de água quando o resto do seu controle desmoronou. Renda preta
envolvia a pélvis de Fin e sua bunda firme e redonda. Seu pau era longo e
duro e suas bolas eram rígidas e depiladas. — Eu quero que você me diga
como gosta de ser chupado, e então acho que gostaria de foder você. Se eu
não perder o controle e gozar enquanto estiver te chupando.
— Parece ótimo também. Tudo isso parece ótimo.
— Tudo bem. Você tem... camisinha? Eu não tenho.
— Não, mas ainda tenho meus exames na mochila e estão negativos.
Você pode dar uma olhada. — Fin apontou para a mochila perto do armário.
— Sei que você está com a saúde perfeita, e eu não estive com ninguém
desde... muito antes dos meus últimos exames, então por mim, tudo bem
não usarmos preservativo. Desde que você esteja confortável com isso —
acrescentou. Confortável em senti-lo sem nada entre eles? Walker manteve
a expressão séria e concordou com a cabeça de forma calma, apesar dos
fogos de artifício em sua mente. Fin era tão confuso. Ele era adorável, com
sua cesta de luvas e cachecóis reciclados e seu cupcake e tatuagens de
unicórnio. Mas também queria realizar todas as fantasias sexuais de Walker
e queria fazê-lo sem nada entre eles. Havia uma enorme chance do homem
mais velho estar loucamente apaixonado e a caminho de uma catástrofe
romântica.
— Acho que posso trabalhar com isso — ele falou com uma risada
nervosa e uma piscadinha. — Você vai me dizer o que fazer e quando eu
fizer algo certo? — Walker perguntou baixinho e prendeu a respiração.
— Você gostaria disso? — Fin segurou o cabelo do outro com mais
força.
— Muito.
— Então me mostre o que essa boca pode fazer. Comece com a minha
bunda e vá subindo. — Ele empurrou a cabeça de Walker para baixo e abriu
as pernas. Não havia dúvida de que Fin sabia exatamente o que fazer. A
tensão terrível evaporou, deixando o outro homem maravilhado e com uma
fome insaciável. Ele esfregou o rosto por toda a barriga do babá, lambendo-
o e cheirando-o enquanto descia. — Isso é bom. Assim. — Fin assentiu ao
se deixar cair de volta na cama, então segurou a cabeça de Walker e o guiou
gentilmente, permitindo que explorasse à medida em que descia por seu
corpo.
E o corpo de Fin... era elegante, magro e elétrico, murmurando com
uma energia vibrante e inquieta e encorajava o chefe a tocar e provar tudo
que quisesse. A língua de Walker girou em torno do umbigo do rapaz,
percorreu a parte interna de seu quadril e tocou de leve a cabeça de seu pau,
roubando uma gota do líquido brilhante e fresco. Fazia tanto tempo que não
ficava completamente nu e sozinho com outro homem que não percebeu
como sentia falta de sentir outro corpo. E foi ainda mais importante porque
era Fin. Walker se tornou mais voraz conforme arrastava a língua na pele
tensa debaixo das bolas de Fin e na fenda de sua bunda.
— Isso! Aí! — Fin implorou em êxtase. Ele descansou os pés nos
ombros do homem mais velho como se fossem estribos e estivessem
realmente em um território de fantasia. Walker o manteve aberto e
mergulhou. Ele lambeu e chupou e se deleitou com o gosto do ânus de Fin e
seus gemidos desesperados e irregulares. — Ah, você é tão, tão bom,
Walker... Mais, por favor — ele balbuciou, a cabeça pendendo para o lado.
O chefe estava tão duro que teve medo de destruir sua cueca boxer. Ele
mergulhou a língua e foi recompensado com um gemido longo. O aperto de
Fin em seus cabelos era tão forte que havia uma boa chance de Walker ficar
careca. Mas ele estava se divertindo muito conforme Fin cavalgava sua
língua. — Merda! Eu estou tão perto. Coloque o dedo e me chupe...
Walker estremeceu com a onda de luxúria e alegria ao pensar em
agradar Fin e sentir o gosto de seu prazer. Um vidrinho de lubrificante foi
empurrado para ele e foi excitante deslizar dois dedos pela entrada apertada
da bunda do jovem e ouvi-lo gemer. Ele era direto e exigente, e Walker
amou. O rapaz ficou ainda mais barulhento quando o patrão o levou ao
fundo da garganta antes de chupar a fenda na cabeça de seu pau. Ele estava
entusiasmado e fez o outro homem se sentir como um super herói quando o
elogiava e implorava por mais.
— Hhmmmm... Walker. — O corpo de Fin estremeceu e suas costas
arquearam. — Eu estou quase lá — ele falou em um alerta. Seus
calcanhares cravaram na cama enquanto segurava firme nos lençóis, mas de
maneira nenhuma Walker iria soltá-lo. Ele esfregou as pontas dos dedos nas
bolas de Fin e chupou com mais força. — Walker! — o jovem gritou no
momento em que uma explosão de sêmen inundou a boca do outro homem.
Houve um gemido eufórico, mas desta vez foi de Walker. Sua cabeça
balançou lentamente à medida em que sugava e extraía cada gota do outro.
— Merda. Isso foi incrível — Fin bufou e riu, zonzo.
— Hummm... — Fin tinha um gosto incrível. Walker lambeu seu
corpo, saboreando o suor entre os peitorais e nas laterais do pescoço. Ele
chupou o queixo do rapaz, dando-lhe um momento para recuperar o fôlego.
— Você tem gosto de paraíso. Posso...? — ele sussurrou, experimentando
esfregar seu pau na parte interna da coxa do babá.
— Eu esperava que sim, mas só se você tiver certeza de que está
pronto — Fin sussurrou de volta. Ele estendeu a mão entre eles e agarrou o
membro de Walker. — Parece que você está — ele disse e passou
lubrificante no pênis de Walker.
— Eu estou pronto. Você é tão lindo e preciso te sentir. — Ele não iria
durar muito, mas ainda se sentia muito poderoso quando alinhou a cabeça
de seu pau e entrou em Fin. Ele levou o tempo necessário e deslizou para a
frente, centímetro por centímetro, até estar totalmente dentro. — Você está
bem? — perguntou quando conseguiu falar. Fin era escorregadio, quente e
apertado.
— Muito mais que bem. Você é perfeito. — Ele enrolou uma perna no
quadril de Walker e ronronou ao se acomodar embaixo dele. — Comece
devagar, mas seja bruto e vá bem fundo — ele sussurrou no ouvido do outro
homem. Os cabelos em sua nuca se arrepiaram quando começou a remexer
os quadris.
— Posso fazer isso — ele murmurou, então se perdeu no movimento
do seu pau mergulhando na entrada de Fin. Seja bruto e vá bem fundo.
Walker fez exatamente isso. Ele manteve cada estocada profunda e bruta até
o jovem ter perdido a cabeça e estar arranhando suas costas.
— Você é tão bom. Tão, tão bom, Walker! — Fin gritou. — Agora!
Mais rápido! Mais!
— Mais? — Como poderia haver mais? Isso era tudo, e o homem
mais velho estava delirando quando se chocou contra o corpo de Fin e
lambeu seus lábios. Eles estavam tão próximos, como se fossem um só e
estivessem se fundindo. Algo nos recessos do cérebro dele notou com
felicidade que isso não parecia como perder uma parte de si mesmo. Ele se
sentiu completo pela primeira vez em anos e foi tão bom não estar sozinho.
Se sentia incrível e o corpo do rapaz era mais que incrível, mas foi a
facilidade e a segurança de confiar nele e saber que tudo seria perfeito que
tocou Walker.
E ele deu tudo de si. Colocou Fin de joelhos e o som dos palavrões e
de sua virilha batendo contra a bunda dele encheu o quarto. O jovem era
insaciável e exigente. Ele agarrou a cama e implorou por mais até que sua
cabeça pendeu para trás e seus olhos reviraram. Walker sentiu a passagem
de Fin se apertar brutalmente e foi puxado para sua liberação. Toda a
pressão e calor saíram de seu corpo quando ele gozou com um gemido
rouco. O sêmen saiu de seu pau direto para a bunda de Fin, e ele
permaneceu ali enquanto gozava e estremecia de prazer.
— Uau, Fin! Isso foi... você é tão... — Ele balançou a cabeça. Não
conseguia encontrar as palavras. Caiu para frente, apoiando a mão na cama,
e acariciou a nuca e o cabelo do jovem. Estava úmido de suor, mas cheirava
a shampoo. — Eu não achei que seria capaz de me sentir assim. Achei que
nunca mais sentiria nada.
Eles caíram na cama e o rapaz se virou para que ficassem de frente
um para o outro. Ele enrolou um braço e uma perna no corpo do outro
homem, prendendo-os. Ambos pareciam contentes em mergulhar no calor
escorregadio de seus corpos, saciados e entrelaçados. Fin acariciou a
mandíbula de Walker e deu um selinho em seus lábios.
— Nunca senti nada assim. Estive em alguns relacionamentos, mas
não duraram muito. Em geral, porque o cara não gostava do quanto eu
trabalhava ou porque eu não me via deixando o trabalho de lado para abrir
mais espaço na minha vida para ele. Mas isso já parece muito maior, como
se eu fosse desistir de tudo por você se precisasse.
— Você não tem que desistir de nada por mim — Walker falou,
fazendo o outro rir.
— Eu sei. Tenho o emprego dos sonhos e o cara dos sonhos.
— Não foi isso que eu quis dizer, mas obrigado.
— Eu sei. Mas é incrível sentir algo tão grande assim sem gerar
conflito com a minha vida profissional. Dessa vez, o cara não vai reclamar
quando eu passar muitas horas por semana no trabalho ou falar demais
sobre as minhas crianças.
— Não, não acho que ele vai. — Walker não conseguia pensar em
nada melhor, na verdade. Ele tentou imaginar como seria namorar Fin.
Mesmo que pudesse ter pena de qualquer um que tentasse ficar entre o babá
e as crianças de quem ele cuidava e com quem se importava, ele não
gostava da ideia de compartilhar Fin e ficou surpreso com a onda de
possessividade e ciúme que sentiu. Era tão raro ficar com ciúmes que se
sentia honrado e grato por Fin ser seu. — Acho que ele se sente muito
sortudo.
— Temos uma coisa muito boa acontecendo aqui — Fin disse. —
Estou focado em você e nas meninas. Não me importo com mais nada. —
Ele fez o possível para derreter o cérebro do patrão com um beijo longo e
demorado. Walker pensou em pedir ao jovem para beliscá-lo de novo, mas
isso definitivamente levaria a problemas, e ele precisava de um pouco mais
de tempo para se recuperar e sua cabeça parar de girar.
— Acho que você finalmente cometeu um erro, Fin. Sou eu quem fica
com o cara dos sonhos.
CAPÍTULO TRINTA E UM
— PARECE QUE EU fisguei um partidão — Fin disse de uma forma
arrastada. Mas se sentia como um gato que acabou de comer uma grande
tigela de...
— Venha aqui. — Os dedos de Walker passaram pelo cabelo do rapaz
e se curvaram ao redor de sua cabeça. Ele puxou de leve, e Fin ronronou
como um gato saciado enquanto escalava o corpo do homem mais velho,
esfregando o rosto no pelo escuro na barriga e no peito dele. O jovem
cutucou um mamilo com a língua e adorou o gemido pesado de Walker. Fin
o adicionou à sua coleção. Cada pequeno “ah, merda!” era precioso e era o
som mais alto e estridente que já tinha ouvido.
E Fin ouviu um coro de xingamentos quando o acordou com a boca.
Dolorido por causa da noite anterior, ele se sentiu em casa entre as coxas de
Walker. O homem realmente tinha o maior equipamento de Wall Street. O
babá acariciou e chupou as bolas do outro e tentou engolir cada centímetro
de seu pau. Ele chupou e acariciou até que Walker gozou com um suspiro
delirante. Então, o deixou assisti-lo se masturbar e gozar na barriga dele.
Emitiu sons altos e gananciosos enquanto o lambia e se deliciava com o
brilho compartilhado do pós-sexo. Iria exigir muito trabalho e prática, mas
estava empenhado em fazer Walker gritar.
— Eu não achei que fosse possível, mas você é ainda mais sexy de
manhã — Fin disse. Ele arrastou os lábios na mandíbula do outro e gemeu.
Ele amava o jeito que ardiam quando os esfregava na barba por fazer de
Walker.
— Você me vê quase todas as manhãs, e eu tenho quase quarenta e
oito anos, Fin. Vou precisar de algumas horas. — Ele agarrou a nuca do
jovem e houve um profundo gemido de prazer quando suas línguas se
enrolaram. Acordar com aquele homem era muito melhor que qualquer
coisa que Fin pudesse ter conjurado em seus sonhos e fantasias. Ele queria
parar o tempo e então poderia mantê-lo em seu quarto.
— Mas não desse jeito. — Ele passou o polegar pela mandíbula do
outro homem, arranhando o queixo e estremecendo. — Você está sempre
impecável e calmo quando desce. Eu gosto de você assim. — Fin catalogou
as linhas finas ao redor dos olhos de Walker, seu cabelo bagunçado, a barba
por fazer e o cheiro de seu corpo quente e excitado. — Gosto de estar com
você desse jeito.
— Eu também. — Walker afastou o cabelo dos olhos do rapaz e
acariciou seu rosto com os dedos. — É lindo estar tão perto de você e
finalmente poder tocá-lo.
— Você pode me tocar o quanto quiser. Quando quiser. Desde que as
meninas não nos vejam e que estejamos sozinhos — Fin acrescentou,
franzindo o nariz.
— Sabe, nunca pensei que seria capaz de fazer isso com alguém e
com certeza não pensei que faria algo assim — Walker refletiu. O rapaz não
gostou da ruga na testa do outro homem ou da maneira que ele suspirou.
— Do que você está falando?
— Normalmente, reviro os olhos quando ouço alguém falar que está
se envolvendo com um funcionário. Pensei que eu era melhor que isso.
— Claro que você é! Nós dois somos — Fin protestou ao se afastar
do peito de Walker para montar em sua cintura. — Não temos esse tipo de
relacionamento. Nós temos boas razões para manter o assunto em segredo.
— Tenho certeza de que a maioria das pessoas que têm casos se sente
do mesmo jeito.
— Justo. Mas por quê? Você está mudando de ideia? — Fin
perguntou com cautela, um alarme disparando nos recessos nebulosos de
seu cérebro. Ele quebrou seu contrato com o patrão? E se estivesse agindo
de má fé porque ele não conseguiria enfrentar Walker ou a Casa Killian se
não desse certo? Como o babá poderia estar perto do homem mais velho e
não enlouquecer de vontade de tocá-lo e cheirá-lo? — Você acha que foi um
erro? — questionou. Walker riu e passou os braços em volta do rapaz, os
girando na cama. Seus olhos brilhavam de alegria e adoração ao olhar para
Fin, apagando a maioria de suas dúvidas.
— Com certeza não, mas parece vulgar pedir para você esconder o
que temos. E não parece ser o tipo de coisa que você esconde. Eu te acho
incrível e já fez uma enorme diferença na minha vida em apenas alguns
meses.
— Mas é só disso que eu preciso — Fin disse. Ele estava deitado de
costas, mas estava sem fôlego e um pouco tonto. Então segurou a bochecha
de Walker e o beijou. — Eu só quero você e não quero que nada mude. Não
temos ideia de como as coisas poderiam ficar loucas se todo mundo
descobrisse. Vamos dar um passo de cada vez e ver como nós nos sentimos
primeiro — ele sugeriu.
— Isso é perfeito — Walker respondeu e se abaixou para poder apoiar
a testa na de Fin. — Somos só nós e este e o momento mais tranquilo que já
tive em muito tempo. O que fazemos agora? — Ele esfregou o nariz no do
rapaz, deixando-o mais quente e sonolento.
— Que tal um café da manhã na cama e uma longa soneca antes de
você ter que dirigir até Sagaponack para pegar minhas meninas? — Ele
ofereceu, e Walker sorriu. Foi tão fácil e feliz, e um sorriso que ele
guardava apenas para Fin.
— Acho que isso pode ser um sonho, mas não estou com pressa de
acordar. Você precisa da minha ajuda?
— Você sabe cozinhar? — Fin perguntou e ele balançou a cabeça.
— Conheço o básico para fazer um café e tenho um repertório sólido
de coquetéis.
— Por que não aproveita um pouco? Você pode sair do quarto e
conhecer o Riley, ou ficar aqui mesmo — o rapaz disse. Walker franziu o
nariz quando olhou para a cozinha.
— Ele pareceu ser um jovem encantador, mas não me importaria de
pular o que está fadado a ser uma troca esquisita, se estiver tudo bem. Eu
gostaria de permanecer... — ele estremeceu — nessa paz por mais algum
tempo — explicou.
— Acho que é uma ótima ideia — Fin rolou para poder imobilizar
Walker. — Relaxe e se sinta em casa.
— Tudo bem se eu tomar um banho?
— Sim! — O babá deu um beijo nos lábios do homem e rolou para
fora da cama. — Devo ter uma escova de dentes extra em uma das cestas
embaixo da pia. — Ele correu para o banheiro e se encostou na porta. —
Você pode deixá-la ao lado da minha para quando ficar aqui nas noites em
que as meninas estiverem fora. — Ele ergueu as sobrancelhas para Walker,
esperançoso.
— Vou fazer isso — ele concordou.
— Ótimo. Não vou demorar — Fin prometeu e se virou, então
escovou os dentes e lavou o rosto antes de vestir um roupão. Deixou a
escova de dentes nova sobre uma toalha de rosto limpa, mas ficou
constrangido ao olhar em volta. O box do chuveiro de Walker era maior do
que todo o seu banheiro. O espaço tinha uma banheira de tamanho normal e
um box de vidro. O ladrilho branco era impecável e a luz ambiente e os
difusores de aroma faziam o banheiro ficar sempre cheiroso. Ele decidiu
que teria que servir e foi providenciar o café da manhã. Riley estava
esperando com uma variedade de itens da padaria da esquina. — Você é
meu melhor jogador — Fin disse a ele.
— Ao que parece, o astro é você — Riley respondeu e ergueu a mão
para que Fin pudesse dar um tapa.
— Com certeza, marquei alguns pontos. — Ele não sabia por que dois
nerds do teatro estavam fazendo trocadilhos esportivos.
— Estou orgulhoso de você. Esperei até que os sons de sexo
acabassem para ligar a cafeteira. Tem suco, melão picado e alguns queijos
muito bons na geladeira que Alice trouxe da viagem a Vermont — Riley
indicou. O amigo abriu os braços e avançou sobre ele.
— Você é o melhor, e eu vou parecer um verdadeiro deus doméstico
quando voltar para o quarto com o café da manhã perfeito! — Fin bateu em
sua mão outra vez, comemorando, e começou a procurar uma bandeja.
— Vai parecer que você é do tipo para casar! — Riley comentou.
— Não! — O jovem se levantou e balançou a cabeça, apontando um
dedo para ele. — Nenhum de nós quer lidar com o tipo de caos que isso
pode desencadear. As meninas precisam de estabilidade e precisam do
Walker. Elas não precisam que o novo babá roube o pai quando acabaram
de recuperá-lo.
— Ou elas podem ganhar um novo papai!
— Esse não é o plano.
— Mas pode ser! — o amigo rebateu.
— Estabilidade é o plano. Um... fiasco entre mim e Walker não seria
legal agora. E o que acontece se não der certo? O que isso faria a elas? O
aconteceria se Reid me matasse por fazer sua nova agência ser motivo de
chacota antes mesmo de imprimir os cartões de visita?
— Talvez você esteja pensando demais nisso.
— Estou fazendo o meu melhor para apenas pensar neste momento.
Eu meio que entrei em pânico ontem e procurei um cargo de professor,
porque pensei que tinha estragado as coisas com Walker. Mas tudo está de
volta aos eixos e as questões foram resolvidas. Eu acho — admitiu. Suas
bochechas inflaram, e ele balançou a cabeça. — Esta agência pode ser uma
coisa maravilhosa para o Reid e para muitas pessoas. E o acordo que tenho
com meu chefe tem sido muito bom para eles como família. Por que eu
estragaria tudo se também estou feliz?
— Mas você está? Quanto tempo até que se esconder e mentir fique
muito difícil? — Riley perguntou. O amigo ergueu as mãos.
— Já é complicado, mas nós vamos dar um passo de cada vez e
deixar as coisas se resolverem. — Ele voltou a procurar a bandeja que Reid
comprou e então se virou. — Lá está! — Ele se abaixou e quase montou no
armário da cozinha para pegar a bandeja. Nem ele, nem Riley eram do tipo
que tomavam café da manhã na cama e raramente tinham companhia pela
manhã.
— Eu vou fazer uma previsão — Riley começou ao dar um pulo para
se sentar no balcão.
— Você precisa fazer isso?
— Não posso dizer que estava certo se não fizer.
— Certo. Acabe logo com isso. — Fin olhou para Riley. Ele
provavelmente estaria certo. Normalmente estava, porque conhecia o amigo
melhor que ninguém, até mesmo Reid.
— Vou te dar uma semana, no máximo, antes que você se canse de
guardar segredos. Você não nasceu para ser amante — ele pontuou e o outro
homem franziu a testa.
— Não. Não é assim, e posso viver com isso porque não estamos
prejudicando ninguém. Nenhum de nós é casado, e ele só está me pagando
para cuidar de suas filhas. Nós só estamos mantendo nosso relacionamento
separado e muito, muito privado — Fin disse, assentindo com firmeza.
— Uma semana. No máximo. — Riley entregou ao amigo um prato
de queijos bem arrumados.
— Nós já concordamos que as coisas estão ótimas do jeito que estão.
Vamos manter nosso relacionamento privado e ir devagar. — Fin o
agradeceu pela tigela de frutas picadas e foi encher a garrafa térmica de
café.
— Gosto mesmo dele e estou feliz por você, se vale de alguma coisa
— Riley disse de forma suave, lembrando a Fin que a relação ainda era algo
enorme, mesmo que eles estivessem mantendo em segredo.
— Obrigado. Eu não esperava por isso. Não sabia que poderia amar
tanto assim alguém que não fosse você ou o Reid. É quase a mesma coisa
com Walker, exceto que eu sempre quero ficar pelado com ele e chupá-lo.
— Uau. É realmente lindo. Mal posso esperar para encontrar algo
assim — Riley comentou enquanto dava um tapinha na mão do amigo e a
segurava.
— Você vai. E vou ficar devendo a você — Fin respondeu e apertou a
mão de Riley antes de dar os retoques finais no café da manhã.
— Voltei! — Fin anunciou quando retornou ao quarto com uma
bandeja cheia. Walker saiu do banheiro e pareceu impressionado. Ele jogou
a toalha de rosto no balcão e apagou a luz.
— Você não precisava fazer tudo isso — ele falou.
— Eu não fiz. Riley se empolgou. — Fin não queria crédito agora.
Foi contaminado pelo plano ridículo de Riley.
— Foi atencioso da parte dele.
— Confie em mim, você não quer saber onde estava a atenção dele.
Fin colocou a bandeja na cama e tirou as canecas dos bolsos do
roupão. Ele entregou uma para Walker e a encheu com o conteúdo da
garrafa térmica. Então se ocupou em preparar o café e franziu a testa
enquanto sacudia um pacote de açúcar mascavo. O homem mais velho
bebeu o café puro e parecia estar se divertindo quando se sentou na cama e
se reclinou contra os travesseiros.
— Por que parece que você quer brigar com essa caneca?
— Não foi atencioso. Ele colocou algo na minha cabeça que eu não
precisava. — Fin não queria sonhar acordado em se casar com Walker e
contar a todos que as meninas eram dele, que também era o pai delas. Isso
começaria a ficar trágico, porque o rapaz queria se apaixonar e queria uma
família. E Walker precisava de um marido. Ele estava sozinho e ansiava por
companhia, e as trigêmeas ansiavam por outro pai para amá-las e oferecer o
tipo de segurança que não podiam receber de uma babá ou de uma tutora.
Fin não queria pensar em como era triste que ele estivesse bem ali e
pronto para dar ao chefe e às meninas todo o amor e compromisso de que
precisavam, mas não podia fazê-lo. Parecia provável que Walker também
quisesse isso de Fin, mas suas mãos estavam atadas, porque poderia ser
devastador para sua reputação. Elon Musk e Jeff Bezos também não estavam
exatamente firmes ultimamente... O babá zombou. Nenhum dos dois eram
conhecidos por ter punho de ferro e autocontrole impecável.
Walker era temido por seu temperamento rígido e exigente – as
meninas resistiam a ele – e nunca faria nada tão imprudente quanto ter um
caso com o babá das filhas. Seria chocante, e investidores e acionistas
questionariam o julgamento e a confiabilidade do homem. Diferente de
Bezos e Musk, Walker não era dono de uma empresa. Ele era um financista
da maneira ambígua que muitos financistas super-ricos eram, pois construiu
sua riqueza de maneiras que muitas vezes envolviam corretagem e
transações com o dinheiro de outras pessoas. Seu julgamento era a base de
sua reputação e um relacionamento com Fin poderia colocar tudo a perder.
O babá ainda não tinha colocado o currículo no site do sistema de ensino
público, mas parecia ser uma opção em caso de emergência, ou se a
reputação de ambos estivesse em risco.
— Eu achei que iríamos dar um passo de cada vez e encontrar nosso
caminho juntos — Walker falou, arrancando Fin de seus pensamentos. Ele
assentiu e deu risada, esperando afastar a dúvida e o desapontamento.
— Não seríamos tão bons juntos se um de nós fosse o tipo de pessoa
que não se importa com as mentiras que contamos ou com quem
machucamos — Fin refletiu.
— Isso não seria tão horrível se você não fosse bom demais para
mim. Mas eu também não acharia você tão tentador — o homem mais
velho concordou e sorriu para o babá enquanto tomava seu café. Fin bufou,
como se não estivesse derretendo.
— Não diga coisas assim a menos que você esteja tentando me
seduzir.
— Me desculpe.
CAPÍTULO TRINTA E
DOIS
MAIS UMA VEZ, Walker ficou surpreso ao ver como o trajeto até a
casa da família em Sagaponack mudou de forma drástica nos poucos meses
desde que Fin chegou à vida deles. Ele ainda estava se deliciando com o
esplendor da manhã com o jovem e um pouco tonto por estar quase
chegando. Veria as filha em breve. E estava ansioso pelos chás, piqueniques
e outros passeios ao parque que viriam na semana seguinte. Walker
geralmente passava o trajeto mergulhado em culpa e desejando saber como
fazer essas coisas, porque sempre quis fazê-las.
Mas Fin sabia e estava ensinando Walker a ser o pai que as filhas
queriam desde que perderam Connor. Agora, cantava Dean Martin a plenos
pulmões e sonhava acordado com cupcakes e unicórnios. Ele se encolhia de
vez em quando ao se lembrar do olhar de Pierce quando voltou para a Casa
Killian vestindo um smoking amassado, mas nem isso era suficiente para
acabar com o clima.
Walker estava nas nuvens conforme dirigia pelos portões de madeira,
contornava a entrada sinuosa e estacionava em frente à casa de campo. O
imóvel foi construído em 1899 e só mudou de dono duas vezes, antes de seu
ancestral comprá-lo. A casa foi ampliada para nove quartos e tinha uma
cozinha completa recém-reformada. Era o esconderijo de Walker e Agnes
sempre que eles precisavam fugir da cidade. Os pisos de madeira cor de mel
e os sofás grandes e poltronas confortáveis de cores vivas evocavam
lembranças de risadas e lágrimas.
De muitas maneiras, a casa em Sagaponack era o verdadeiro lar de
Walker. As memórias favoritas de Connor estavam lá, e ele estava feliz por
as meninas terem um lugar onde pudessem correr e brincar livres. A
propriedade era situada em aproximadamente dois hectares de verde
exuberante. Como sempre, encontrou Agnes no deque dos fundos, sentada
em uma cadeira de madeira enquanto assistia às sobrinhas brincando no
jardim. As trigêmeas estavam incrivelmente fofas com vestidos de verão e
chapéus pequenos, distraindo Walker até a irmã chamá-lo. Ela usava uma
túnica, um chapéu de abas largas e óculos escuros. Suas pernas compridas
estavam esticadas e ela abraçava uma garrafa de champanhe.
— Está tão lindo lá fora, deixe-as brincarem um pouco mais. —
Agnes deu um tapinha na cadeira ao lado e ergueu o champanhe. Ela
raramente se incomodava em pegar uma taça, porque dizia que era mais
difícil perder uma garrafa inteira.
— Obrigado, Aggie — Walker falou, suspirando, e se sentou em sua
cadeira de costume. Ela ofereceu uma bebida, mas ele negou com a cabeça.
— Parece que você está pensando em muitas coisas. Por que não pega
outra garrafa e passa a noite aqui? Tenho alguns baseados para depois que
as meninas forem para a cama.
— Não desta vez. Tenho que levá-las de volta esta noite. — Assim
elas poderiam ver Fin pela manhã.
— Desembuche logo. O que há de errado?
— Nada. Eu só estou com muita coisa na cabeça no momento — ele
disse e então reconsiderou. — Passei a noite com Fin. Foi incrível, e eu não
poderia estar mais feliz, mas é complicado demais. — Ele manteve a
expressão relaxada e observou as meninas e as borboletas, apesar da batida
acelerada de seu coração.
— Walker! Isso é... eu acho que é maravilhoso! — Agnes se inclinou
para a frente para poder pegar a mão dele e se aproximou para ver seu rosto
de perto. — Por que é complicado?
— Por favor, Aggie. Ele não é alguém que seria considerado
apropriado para mim.
— De que maneira? A idade? A profissão? A classe social? — A
outra mão girou enquanto observava os olhos do irmão, esperando para
repreendê-lo por ser superficial.
— Acho que tudo isso — ele respondeu.
— Maravilhoso — a irmã disse com sinceridade e deu um aperto
firme na mão dele. — Por que você se importa com o que as pessoas
pensam? E quem vai dizer algo a você? — Agnes perguntou.
— Muriel Hormsby, talvez... — Walker retrucou, dando de ombros
com indiferença. A cabeça dela caiu para trás enquanto ria.
— Aquela velha? Ouvi dizer que está tentando casar o sobrinho
terrível, porque está cansada das despesas que ele dá. A mãe do garoto se
casou com um bancário, mas ele fugiu com a amante depois de cumprir
pena por desvio de dinheiro. Soube que ele está em Ibiza, agindo como se
tivesse vinte e cinco anos. Você consegue imaginar? Não é de admirar que o
garoto tenha acabado desse jeito.
— Ele é mesmo terrível e tem mais cabelo que neurônios — Walker
murmurou, então estremeceu. — Eu não sei o que Muriel está pensando ao
jogar aquele garoto em coma de mim.
— Ela está pensando que você pode bancar a cocaína dele,
provavelmente — Agnes adivinhou. — Eu te deserdaria se você se casasse
com aquele garoto.
— Está resolvido então — Walker respondeu. A irmã ergueu uma
sobrancelha para ele, mas o homem estava mais perturbado com a
possibilidade de estar a apenas uma viagem para Ibiza de ser tão ridículo
quanto o pai de Jonathon. Pelo menos, não sou caloteiro. Walker podia se
rebaixar a ter um caso indecente, mas nunca poderia virar as costas para
suas meninas.
— Vou te dar tempo para prepará-lo, mas mal posso esperar para
finalmente conhecer o Fin. Contratá-lo foi a coisa mais inteligente que você
fez em anos. Olhe para você, está feliz e posso dizer que está dormindo
melhor. — Um sorriso esperto se espalhou pelo rosto dela. — As trigêmeas
não param de falar dele e nós sabemos como elas eram determinadas a
acabar com todas as babás da cidade. Parece que todo mundo está muito
mais feliz desde que você o contratou — Agnes refletiu. Ele deu um olhar
duro para a irmã, mas ela se encolheu com timidez e mordeu os lábios.
— Eu não sei o que minhas filhas falaram para você, mas...
— Só disseram coisas boas.
— Ele fez maravilhas com as meninas.
— E com você, pelo jeito que está corando. Posso presumir que você
abraçou seu lado mais selvagem e encontrou a paz? — ela ofegou quando o
rosto de Walker ficou ainda mais quente.
— Já chega, Aggie. E você faz soar casual quando fala assim. Nós
devíamos ser amigos com benefícios, mas... com limites. Agora é
complicado, porque não quero mais limites. Eu quero tudo — ele reclamou.
— É o que eu sempre quis para você! — ela sussurrou e abraçou a
garrafa batendo palmas. — Meu irmãozinho está apaixonado!
— Shhh! — Walker se endireitou e se certificou de que as meninas
não pudessem ouvi-los. Elas não estavam prestando atenção na varanda,
então ele relaxou de novo. — Eu não quero que as crianças saibam. Elas já
estão cheias de esperanças, mas eu disse que não namoraria o Fin.
— Posso garantir que elas não acreditam em você. Talvez eu tenha
ouvido um plano para fazer o papai propor casamento ao novo babá. Elas
sabem que o papai reclama demais — Agnes alertou.
— Ah, não, não, não, não, não... — Walker balançou a cabeça. Essa
era a última coisa de que precisava.
— Eu acho que é maravilhoso. Charlotte diz que você olha para o Fin
como se quisesse comê-lo.
— Pelo amor de... precisamos ir — o irmão disse, levantando-se em
um salto, mas Agnes agarrou seu pulso e o puxou de volta. — Isto é
oficialmente um pesadelo.
— É maravilhoso — ela insistiu. — É quase como Um problema
como Maria, do filme A Noviça Rebelde, só que com Fin.
— Você não está ajudando.
— É uma pena que você não saiba cantar, porque seria perfeito — ela
disse e cantarolou parte da canção do musical e bebeu um gole de
champanhe.
— Como se resolve um problema como assassinato em plena luz do
dia? — Walker perguntou ao se endireitar e examinar os jardins para ver se
mais alguém podia vê-los. As meninas estavam distraídas com os baldes e
pazinhas e não notariam nada além de um unicórnio gigante até que o pai
fosse pegá-las.
— Pare com isso. Eu não sei por que você está ficando chateado. É
hora de voltar para o jogo e encontrar alguém.
— Eu não percebi que você estava bêbada. São apenas quatro da
tarde, Aggie — ele murmurou e a irmã riu. — Ele é o babá.
— E? Você sabe quantas pessoas têm casos com as babás? Eu ficaria
mais preocupada se você não tivesse, pelo jeito com que as trigêmeas
descrevem o Fin.
— Não é assim — Walker objetou, franziu o nariz. Com certeza era.
— Ele tem vinte e seis anos.
— Melhor ainda.
— As meninas precisam dele. Eu preciso dele — ele admitiu com a
voz suave. Agnes estendeu a mão e pegou a de Walker de novo.
— Então é melhor você não estragar tudo.
— Ele é o babá — ele repetiu de forma séria, mas a irmã deu de
ombros.
— E daí? Ele é bom para elas e, mais importante, é bom para você.
As trigêmeas só precisam de babá por mais alguns anos, mas você precisa
de um parceiro para os próximos trinta ou quarenta — ela replicou,
recebendo um suspiro exasperado de Walker.
— Isso é bem otimista.
— Besteira. Papai e tio Hamish estão na casa dos oitenta anos, e você
é a cópia deles. Todos os homens da nossa família vivem até os noventa,
então é melhor você encontrar alguém legal enquanto tudo ainda funciona.
Presumo que tudo ainda funcione. — Ela abaixou a cabeça para poder olhar
para ele por cima dos óculos escuros. Walker fez uma careta conforme se
afastava.
— Tudo ainda funciona, mas prefiro não discutir isso com você. E eu
encontrei alguém legal. Encontrei alguém que era bom demais, mas eu o
perdi — ele a lembrou e Agnes suspirou ao apertar sua mão.
— A dor é o preço que pagamos pelo amor. Nos custa tudo, mas as
memórias são um dos poucos tesouros que podemos guardar por uma vida
inteira. — Ela indicou as meninas com o queixo e Walker soltou a
respiração que estava presa em seu peito.
— Eu não sei se conseguiria sobreviver a algo tão doloroso assim de
novo, mas pelo menos eu as tenho. Elas tornam tudo melhor e parece que
ainda tenho o melhor de Connor quando estou com as nossas filhas.
— Porque você tem — Agnes falou com um aceno firme. — Você
com certeza não pode receber nenhum crédito por isso. Elas saíram ao
Connor, graças a Deus. Só se parecem com você quando estão sendo
terríveis.
— Graças a Deus — Walker concordou com uma risada. Ele foi um
terror quando criança e não havia dúvidas de que as trigêmeas eram sua
punição por aqueles pecados do passado. Ele ficou sério de novo e fungou
para parar o formigamento no nariz. — E se eu não estiver tão pronto
quanto penso que estou? E se eu estiver preso ao momento e a todas as
novidades incríveis? Às vezes, fico com medo quando toco nele. E se eu
estiver deixando Connor para trás quando me apegar a Fin?
— Ah, Walker... — ela segurou a mão dele e ficaram em silêncio por
um momento. Ele sabia que ela estava se agarrando à sua própria onda de
dor. A irmã também amou Connor. Os três eram inseparáveis até as
meninas nascerem, e Connor e Walker se estabelecerem na felicidade
doméstica na Casa Killian. Agnes ficava com as sobrinhas a cada dois fins
de semana para dar um descanso a Walker e à casa, mas também ficava com
elas porque sentia falta de seu melhor amigo. — Mais do que tudo, ele
gostaria que você fosse feliz e que vocês quatro fossem uma família de
novo. Imagine como ele ficaria triste se pudesse ver o quanto você sofreu
nos últimos anos. E pense em como ficaria entusiasmado com Fin. Ele
gostaria de alguém que mantivesse seu grande ego sob controle, mas
também amasse você e as meninas tanto quanto ele amou. As trigêmeas
acham Fin incrível e dizem que você se diverte com ele. Esse rapaz tem o
meu apoio, se vale de algo — ela acrescentou de forma atrevida.
— Vale muito. Obrigado. É um consolo saber que você não vai rir de
mim se eu decidir fazer papel de idiota e namorar o babá, como qualquer
outro idiota de Manhattan.
— Como você disse, não é assim. Você nunca foi o tipo de homem
que transa por aí e corre atrás de homens mais novos. Namorar o Fin não
vai mudar isso só porque ele é mais novo. Deixe as pessoas pensarem que
você é um desses idiotas e então prove que estão erradas vivendo feliz para
sempre com o seu adorável brinquedinho — ela provocou. Walker revirou
os olhos, mas seus lábios queriam se curvar em um sorriso. Ele pode até
não ter pretendido fazer isso, mas com certeza escolheu o brinquedinho
mais adorável de todos. Fin se superava em todos os sentidos como babá e
era incrivelmente sexy. Ele mantinha todo aquele charme sedutor escondido
debaixo de seus cardigãs e calças de veludo, mas era ainda mais irresistível
e fascinante quando os dois ficavam a sós.
— Felizmente, Fin não está interessado em namorar em público e
prefere que mantenhamos as coisas da forma mais discreta possível. Seu
foco principal são as meninas e gosto disso. Muito. Ele também não quer
prejudicar sua própria reputação ou a do irmão, mas é inflexível sobre as
coisas permanecerem o mais estáveis possível para as trigêmeas. Ele estava
certo, elas se comportam mal, porque precisam de mim e anseiam por
estabilidade emocional. Nós somos mais como uma família agora e as
crianças estão indo tão bem, então não posso arriscar.
— E se você o perder porque não se arriscou? E se alguém vir Fin
pelo que ele é e o fizer se apaixonar enquanto você está aí, enrolando?
Imagine como seria vê-lo com as meninas todos os dias depois que alguém
conquistá-lo bem debaixo do seu nariz. Literalmente.
A cabeça de Walker pendeu para trás e uma carranca confusa nublou
sua expressão. Ele não pensou em como seria se as coisas entre eles dessem
errado, e Fin seguisse em frente. Ele teria que sorrir e aguentar firme,
sabendo que o jovem poderia ter sido dele.
E se ele se apaixonar por outra pessoa e decidir que está pronto para
começar a própria família?
Claro, Fin ia querer sua própria família um dia, e ele só tinha mais
alguns anos... Walker adiou até que Connor ameaçou encher a Casa Killian
com gatos, e ele se arrependeu de ter esperado tanto tempo. Ele teria mais
energia para as travessuras das meninas se fosse mais jovem, e Connor teria
tido mais tempo com elas. Não queria que Fin esperasse, agora que estava
pensando nisso. O rapaz seria um marido e pai incrível e Walker sofria com
a ideia de outra pessoa tê-lo.
— Você me deu muita coisa em que pensar — ele admitiu, depois se
levantou para pegar as meninas e sacudir a sujeira dos cabelos e vestidos
antes de levá-las ao Range Rover. — Talvez eu não te mate.
CAPÍTULO TRINTA E
TRÊS
— EU NÃO VEJO por que isto é necessário — Fin reclamou. Ele se
virou para dar uma olhada em sua bunda no espelho e o alfaiate italiano
exigente que Pierce contratou estalou os dedos até que ele se endireitasse.
— Por que precisa ser tão apertado?
— Porque você tem vinte e seis anos e é lindo — Vincenzo disse com
alfinetes entre os lábios. O babá arregalou os olhos para ele com um ar de
repreensão antes de franzir a testa para as meninas.
— Não estou planejando que alguém me veja. Pensei que eu poderia
ficar escondido ajudando o pai e a tia de vocês se precisassem de mim, mas
não preciso usar um smoking. Vou usar minha roupa de trabalho. — Na
verdade, Fin preferia o cardigã e a calça de veludo quase invisíveis. Muriel
Hormsby estava na lista de convidados e suas suspeitas apenas seriam
confirmadas se ele aparecesse com um smoking que não podia pagar e
começasse a socializar com os convidados. Nenhum dos outros
funcionários de Walker ousaria fazer isso. O jovem sempre se opôs a usar
smoking, mas desta vez parecia uma ideia ainda pior. Pierce, o velho astuto,
estava usando a paixão de Fin pela iluminação teatral do aniversário contra
ele. O homem se recusou a aprovar seus planos para o terraço dos fundos a
menos que ele cooperasse na prova de roupa.
— Vai ser uma festa de aniversário chique, Fin! Você tem que estar
bem para não nos envergonhar — Amelia falou. A cabeça do babá virou na
direção dela e seu queixo caiu.
— Envergonhar vocês? O que há de errado com minha roupa de
trabalho?
— Você não pode usar aquilo na festa do papai! Tem que parecer um
adulto — ela completou. Beatrice e Charlotte concordaram. Charlotte
levantou uma amostra de tecido rosa choque.
— Você deveria usar algo rosa por baixo do terno! Você gosta de
rosa!
— Gosto... — o rapaz disse com franqueza. Vincenzo levantou uma
sobrancelha para ele, em dúvida.
— Talvez uma faixa na cintura e uma gravata?
— Preto está bom. Pierce sugeriu preto e é minha segunda cor
favorita — Fin respondeu, dando a Charlotte um olhar firme. Vincenzo teria
a ideia errada se as meninas não fossem cuidadosas. Tecnicamente, não está
errado, mas... — Eu ainda não entendo por que tudo tem que ser tão
apertado. — Ele se contorceu e pegou a cueca que escolheu para a prova de
roupa, e Vincenzo deu um tapa em sua mão. — Ai!
— É melhor você não usar boxers com estas calças — ele ameaçou
baixinho. Fin sabia exatamente o que usaria por baixo da calça. Nada dizia
“feliz aniversário, Walker!” tão bem quanto uma calcinha com tiras pretas
da Versace.
— Tenho tudo sob controle — o jovem retrucou e deu a Vincenzo um
sorriso largo. — Quanto tempo isso ainda vai demorar? Nós temos uma
massa de cookie descansando na geladeira.
— A receita pode descansar por mais quinze minutos. Você tem ideia
de quanto vale meu tempo? — Vincenzo perguntou com arrogância. Fin
revirou os olhos.
— Não, mas não acho que você quer fazer disso uma competição. O
sr. Cameron me paga um salário obsceno. Quero dizer, quantas provas
particulares você já fez para uma babá? — ele perguntou e depois se
encolheu. — Não responda. Isso é diferente — Fin mentiu e sorriu nervoso
para as meninas. Elas estavam a apenas um comentário de provar o quanto
ele era mentiroso. O rapaz pensou que teria uma manhã tranquila e que o
compromisso era para os vestidos das trigêmeas, apenas para ser
surpreendido por Vincenzo depois que Walker saiu para uma reunião do
outro lado de Manhattan.
O resto da prova transcorreu sem problemas, felizmente, mas Fin
ainda estava em estado de choque quando levou as meninas até a cozinha
para terminar de fazer os cookies. A brinquedoteca tinha pia, geladeira e
micro-ondas para artes e lanches, mas não tinha forno, então ele conseguiu
permissão da cozinheira e da governanta para usar um canto da cozinha da
Casa Killian. O ambiente tinha vários fornos, então não iriam atrapalhar,
desde que as trigêmeas se comportassem. Elas prometeram ser anjos para
que pudessem fazer cookies em forma de estados do país, se Fin cooperasse
durante o compromisso com Vincenzo. O babá tinha a sensação de que as
meninas e Pierce se uniram contra ele e não gostou nem um pouco disso.
— Pelo que estou vendo, você finalmente está colocando minhas
filhas para trabalhar — Walker falou quando voltou e foi conferir onde
estavam. As trigêmeas riram e acenaram para ele com dedos pegajosos. —
Acho que pode ser bom fazermos um teste... — Ele era um completo
homem de negócios ao inspecionar os biscoitos congelados nas prateleiras.
— Eu gostaria de experimentar um... Califórnia, Bea.
Ela comemorou e deslizou do banquinho para poder correr em volta
da mesa de trabalho. Beatrice levantou os braços e o pai a pegou no colo
para que ela pudesse ver os cookies. Fin se inclinou para a frente e prendeu
a respiração enquanto ela apontava o dedo. Ela hesitou sobre a Flórida, mas
não era boba, então encontrou o cookie certo e os braços do babá se
ergueram.
— Essa é a minha garota! — Fin disse e deu pulinhos. Walker
assentiu em aprovação e mastigou.
— O Califórnia está gostoso. Muito bem, querida. — Ele a colocou
no chão e bateu no queixo ao inspecionar as prateleiras novamente. O pai
pegou um dos estados quadrados e o ergueu. — Quem decorou este Texas?
— perguntou, e Amelia balançou a cabeça. Ela se esticou e apontou para o
cookie maior, com cobertura de laranja. — Este? — Walker confirmou. Ela
assentiu, e ele pareceu satisfeito ao dar uma mordida. Ele o colocou
próximo à Califórnia e seus dedos dançaram sobre o resto dos estados,
prendendo a atenção do babá. — Qual é o meu estado favorito, Charlotte?
— Walker perguntou, depois pegou um.
— Nova York! — ela gritou e riu quando houve aplausos e
comemorações da equipe da cozinha. Walker sorriu ao dar uma mordida e
piscou para Fin enquanto reunia seus estados.
— Vocês são muito espertas — o pai declarou. Ele deu a volta na
mesa de trabalho e beijou o cabelo de cada uma das meninas, então
diminuiu a velocidade ao passar pelo rapaz. Seus olhos se encontraram por
um momento quente, e Fin ansiou oferecer seus lábios. O músculo na
mandíbula do homem mais velho contraiu e o babá soube que ele havia lido
sua mente.
— Mais tarde — murmurou, apenas para Walker ouvir. Houve um
murmúrio suave em resposta quando ele fez uma reverência e os deixou.
Felizmente, o resto da tarde passou rápido e a brinquedoteca ficou
livre de desastres depois de um dia de provas de roupas e confeitos na
cozinha. Mas, em vez de se apressar, Fin se demorou enquanto guardava os
bichos de pelúcia e pendurava as fantasias. Ele não queria perder a
historinha para dormir da noite ou o momento favorito do dia de cada uma,
mas precisava de tempo para fazer um balanço de seu dia e seus
sentimentos.
Era difícil dizer se ele ainda estava irritado por ter que usar um
smoking ou se estava apreensivo por chamar mais atenção para si. Mas o
smoking e as conspirações das meninas e de Pierce só fizeram Fin se sentir
pior sobre as mentiras que ele estava contando para esconder o
relacionamento com Walker. Assim como Riley havia previsto. Exceto que
não durou nem uma semana. Só precisou de uma prova de roupa com
Vincenzo para minar sua determinação.
— Aí está você.
E lá estava ele. Walker sorriu para Fin da porta da brinquedoteca,
elegante como sempre. A gravata estava frouxa e o cabelo, bagunçado. Elas
passavam os dedos pelas mechas dele e puxavam a gravata quando o pai
lhes dava um beijo de boa noite, e esse era apenas mais um motivo pelo
qual essa era a parte do dia favorita do babá.
Mas estava ficando mais difícil ouvir através da porta. Fin desejava
que não precisasse ir embora quando as tutoras vinham buscar as meninas.
Ele queria ajudar a trançar os cabelos, acomodar as trigêmeas nas camas e
se aconchegar com elas durante a hora da história. Também queria dar um
beijo de boa noite nelas, mas não era seu papel. Suas responsabilidades
ficavam na porta da brinquedoteca assim que elas eram levadas para dormir.
— Eu tinha que cuidar de algumas coisas. — Outra mentira. Fin
sorriu e fez o possível para deixar suas preocupações e sentimentos para
mais tarde. Não deve ter se saído muito bem, porque Walker estava
franzindo a testa quando eles viraram no corredor no passeio noturno. — O
que foi? — Ele abraçou o cardigã e agiu como se não fizesse ideia de nada.
— Algo está errado.
— Não. — Fin balançou a cabeça. — Está tudo bem. Só estou
pensando demais.
Walker murmurou e abriu a porta da suíte para Fin. Havia algo
diferente ali, no entanto, e a careta do homem mais velho voltou quando ele
foi conferir se Pierce estava ali. Mas eles estavam sozinhos, então o jovem
fechou a porta e deixou o cardigã na maçaneta. O outro acenou para Fin
segui-lo até o closet.
— No que você está pensando? — Walker estava jogando o casaco na
escrivaninha quando o babá entrou no closet. Ele nunca esteve lá antes e
ficou surpreso com as longas fileiras de casacos, camisas e calças. E havia
muitos sapatos.
— Isso aqui parece uma loja de departamento masculina.
— Nunca estive em uma, mas espero que não. — Walker havia
removido a gravata e as abotoaduras. Ele dobrou as mangas e caminhou na
direção de Fin.
— Sabe, você fica muito gostoso quando...
— Pare de mudar de assunto — o patrão falou de forma brusca,
sobressaltando-o. — Notei que você faz isso sempre que é hora de falar
sobre você. — Ele pegou Fin pelo pulso e o puxou para fora do closet.
— É um dos meus superpoderes. Meu sexto sentido sempre começa a
formigar quando minha mãe ou Reid querem me dar um sermão sobre
alguma coisa. — O rapaz seguiu Walker até o sofá e se jogou na almofada
ao lado dele.
— Eu não quero dar sermão em você.
— Eu sei, mas não tenho certeza se quero falar sobre isso — Fin
admitiu. Ele levantou as mãos, desculpando-se. — Prefiro te ajudar com
seus pensamentos a me preocupar com o que está acontecendo na minha
cabeça. Meu pai diz que é uma manifestação de problemas não resolvidos
de irmão mais novo/de competência/de competitividade. Não sou tão bom
quanto meu irmão ou tão inteligente se tenho problemas e não gosto de
parecer despreparado ou inexperiente — resumiu. — Não é tão profundo
assim — ele acrescentou um sorriso atrevido, esperando que isso fosse
apaziguar Walker.
Mas não funcionou. A boca do patrão abriu e fechou várias vezes
antes de ele bufar.
— Fui bem hoje? — ele perguntou, desorientando Fin. Seu sexto
sentido definitivamente estava formigando.
— Sim... você foi ótimo. Na verdade, eu estava esperando que você
pudesse me ajudar com algumas ideias para o seu presente de aniversário
— ele disse e tentou abraçar o homem mais velho, mas Walker o virou.
— Podemos falar sobre isso mais tarde. — Walker o puxou para que
ele descansasse em seu peito. — Sabe como às vezes você me recompensa
com uma tanga ou uma calcinha com tiras? — ele sussurrou as palavras no
ouvido de Fin, fazendo-o tremer em seus braços. Houve um roçar suave dos
lábios do chefe contra o pescoço do babá antes que os dentes dele roçassem
sua pele.
— Às vezes, eu te surpreendo. Amo poder fazer isso — Fin
sussurrou. Ele teve que agarrar a coxa do outro homem quando ele lambeu
o ponto abaixo de sua orelha. — Você quer que eu faça isso agora? — Sua
voz ficou um pouco mais histérica.
— Não.
— Você quer ver minha roupa íntima? — Fin arriscou, esperançoso.
— Não. — A voz de Walker estava rouca e baixa, pontuada por um
beijo na nuca do rapaz. Mas, em vez disso, ele deveria tê-lo avisado. —
Quero que você se abra comigo para que eu possa ajudá-lo do jeito que
você me ajuda. — Mãos grandes e fortes se espalmaram nos ombros de Fin
e toda a tensão em seu corpo se esvaiu quando Walker começou a
massagear suas costas. O jovem sentiu como se fosse feito de cera e deixou
a cabeça pender e balançar.
— Ah, Deus... isso não está ajudando. — Sua fala estava arrastada.
— O quê? — As mãos do outro homem paralisaram, e ele ficou alerta
atrás do babá.
— Não. Não pare.
Mesmo que as mãos mágicas de Walker realmente não estivessem
ajudando. Ele voltou a apertar e esfregar, e Fin meio que se ressentiu pelo
patrão ser tão maravilhoso. Seus sentimentos estavam ficando confusos o
suficiente sem se apaixonar ainda mais por Walker. No entanto, ele estava
certo. Foi preciso muito trabalho duro e coragem para se abrir para Fin. O
chefe merecia a verdade. Ou, pelo menos, a maior parte. O rapaz não podia
contar sobre suas ressalvas a respeito do smoking ou sobre Vincenzo.
— Sabe o que eu disse sobre nada precisar mudar e sobre nosso
relacionamento ficar em segredo?
As mãos de Walker pararam outra vez.
— Algo mudou?
Fin olhou para a bicicleta ergométrica no canto, perto da janela. A
vida era muito mais simples quando o patrão era apenas um homem rico e
gostoso com quem Fin não se dava bem.
— Eu mudei. Pensei que podia manter tudo compartimentalizado,
mas estava errado. Meus sentimentos por você e pelas trigêmeas já estão
por toda parte.
— As meninas amam você, Fin.
— Eu sei. É o que torna tudo mais difícil. — Todas as peças para a
família perfeita estavam ali, e ele queria demais Walker e as trigêmeas, mas
ele não se encaixava. Estava fora de lugar. — Seu aniversário é em alguns
dias. Não posso revelar nada, mas as crianças e eu estamos nos divertindo
muito, então gostaria de focar nisso por enquanto, se estiver tudo bem. —
Fin tinha que garantir que o aniversário do patrão fosse perfeito. As
meninas estavam contando com ele.
— Claro, tudo bem. Há algo que eu possa fazer para ajudar? —
Walker perguntou e o rapaz balançou a cabeça. Riley, Reid e Penn foram
informados e estavam preparados para escalar a parede do pátio dos fundos
às oito horas da noite para ajudar com as luzes.
— Você poderia ajudar com uma ideia de presente. Eu comprei algo
que tenho certeza de que você vai gostar, mas quero te dar algo... divertido,
que só eu posso te dar.
— Suponho que você esteja falando de algo sexual — Walker
adivinhou, hesitante.
— Sim!
— Eu disse a você, minha imaginação é péssima. Principalmente
quando se trata de sexo. Acho que tudo o que fazemos é divertido.
— Obrigado! — Fin estava satisfeito com o rumo que a conversa
tomou. — Vamos lá. Qualquer coisa. Ou me dê algo pelo que começar —
ele pediu, mas o patrão franziu a testa.
— Não consigo pensar em nada, mas, mesmo que pudesse, duvido
que conseguiria dizer sem morrer de vergonha.
— Besteira. Você já percorreu um longo caminho. Vamos permanecer
no simples. Não precisa ser nada excêntrico. Há algo que você pensou em
fazer recentemente que nunca teria considerado antes? Ou algo que você
tentou e quer tentar de novo? Apenas algo divertido, tipo... — Fin bateu o
dedo no queixo, vasculhando suas fantasias recentes. — Eu me imaginei
coberto de glacê, como um cupcake, para que você pudesse lamber.
— Gosto disso — Walker respondeu. O rapaz balançou a cabeça e o
beijou.
— Eu estou guardando a ideia para o meu aniversário.
Houve outra pausa e o homem mais velho pareceu confuso antes de
se encolher e seu rosto ficar vermelho. Fin lhe deu um olhar de expectativa,
mas Walker negou com a cabeça, obviamente não estando pronto.
— Ah. — Ele escondeu os olhos, envergonhado. Fin se inclinou para
a frente e prendeu a respiração, antecipando algo obsceno, dada a forma
como o patrão se contorcia. — Eu pensei em fazer... coisas... no meio do
dia.
— Coisas? — Fin foi muito cuidadoso e pronunciou a palavra de
forma neutra, sem nem um pingo de diversão. O outro assentiu com rapidez
e desviou os olhos. O babá estava prestes a montá-lo como se ele fosse
aquela bicicleta no canto. — Que tipo de coisas?
— Não sei. Coisas muito... duras e obscenas — ele acrescentou
baixinho. — Em um lugar diferente. — Walker soltou uma respiração alta,
como se tivesse largado um peso.
— Certo. Uma rapidinha dura e obscena durante o dia. — O jovem
olhou para o outro homem para se certificar de que era isso mesmo, e ele
assentiu.
— Isso seria... sim.
— Maravilha! — Fin comemorou e se ajoelhou, preparando-se para
atacar. — E muito bem. Você tem sido um garoto muito bom, Walker.
CAPÍTULO TRINTA E
QUATRO
— OBRIGADO, SR. SILVERSTEIN! — Fin sussurrou ao fechar a
porta do quarto das meninas e correr pela brinquedoteca. Ele pulou por
cima da cesta de fantoches e correu porta afora. Tiveram uma manhã
bastante animada, começando com uma caminhada até a biblioteca para
deixar os livros e terminando com fantoches e poemas do livro Where The
Sidewalk Ends, de Shel Silverstein. Era sempre um sucesso quando Fin
enroscava o dedo e fingia que arrancava o próprio nariz. Exaustas de
encenar seus poemas favoritos e de darem risadinhas histéricas, as
trigêmeas entraram, alegres, na barraca e dormiram abraçadas. — Tenho
pelo menos uma hora! — O babá previu. Ele passou por uma empregada na
escada e deu um sorriso casual e amigável, apesar da agitação de seus
nervos. — Como vai, Steph?
— Muito bem. Como está o seu dia? — ela perguntou. Fin deu de
ombros como se não estivesses prestes a tirar as calças de Walker. As suas
também, se tivesse sorte. Esta era uma das muitas surpresas que planejou
para o grande fim de semana de aniversário, incluindo café da manhã e um
filme na brinquedoteca. Mas essa era a surpresa “divertida” que o chefe
escolheu.
— Até agora, tudo bem — ele respondeu conforme descia os degraus.
— E prestes a melhorar — acrescentou baixinho. Ele cantarolou Parabéns
pra você ao virar no corredor. A porta do escritório de Walker estava aberta,
e Fin olhou para trás para verificar que estava sozinho antes de se
aproximar e escutar. Havia apenas o toque suave do teclado, então foi em
frente e espiou pela porta. Walker estava desacompanhado e levantou a
mão, gesticulando para que o jovem entrasse.
— Você precisa de algo? — ele perguntou, se recostando na cadeira.
Fin ronronou suavemente, então fechou a porta e a trancou.
— Na verdade, sim. — O babá desabotoou o cardigã e tirou uma
embalagem de lubrificante do bolso. — As meninas estão dormindo e a
tutora Jasmine está com elas enquanto cumpro uma tarefa na minha hora de
almoço. Quer se divertir comigo, aniversariante? — ele perguntou e ergueu
o lubrificante.
— Aqui? — Walker parecia um tanto escandalizado.
— Em um lugar que não é aqui ou um quarto — Fin citou. O outro
homem processou suas palavras por apenas um momento antes de se
levantar e segurar a gravata.
— Mas meu aniversário é só amanhã.
— Você quer ter essa conversa de novo? Podemos dar voltas e mais
voltas, assim como fizemos com o bolo de panquecas, ou podemos transar.
Quer uma rapidinha safada? — Fin perguntou com a voz lasciva. Os olhos
do patrão baixaram para a sua agenda, e ele rabiscou algo antes de assentir.
— Sim, eu quero. — Ele se levantou e foi tirar o casaco conforme
dava a volta na mesa, mas Fin ergueu as mãos e se apressou para detê-lo.
— Fique aí. Bem desse jeito! — ele pediu. Walker congelou e ergueu
uma sobrancelha para o rapaz.
— Não seria mais confortável no sofá?
— É provável, mas vai ser mais indecente na sua mesa e com você
usando seu terno perfeito. Quero que você acabe comigo sem amassar a
calça nem bagunçar o cabelo — Fin explicou conforme se aproximava e o
empurrava de volta para a cadeira. Ele tirou o cardigã e a camiseta. Houve
uma batida suave na porta e os dois se viraram naquela direção.
— Estou ocupado. Não quero ser incomodado pela próxima hora —
Walker disse e gesticulou para Fin continuar. Ele pegou o rosto do chefe e o
beijou com força.
— Vou fazer valer muito a pena — prometeu.
— Você sempre faz — Walker gemeu, deixando os joelhos do babá
fracos. Fin caiu entre as pernas dele e sibilou com apreço, esfregando as
mãos nas coxas do homem mais velho.
— Tire para mim — o jovem ordenou com um sorriso sensual.
— Tirar? — As mãos de Walker tremeram quando ele o obedeceu e
abriu o cinto e o zíper.
— Não estou aqui para te servir, Walker. Quero ver o que você pode
fazer comigo sem destruir esse terno.
— Entendo. — As palavras soaram irregulares quando o homem
enfiou a mão na cueca e puxou o pau para fora. Ele já estava duro, e Fin
salivou quando se aproximou, ainda de joelhos.
— Bom garoto — o rapaz sussurrou e o pau do chefe saltou. —
Agora, foda a minha boca, Walker, e não tenha medo de ser rude. — Ele
colocou as mãos nas costas abriu bem a boca.
— Fin! — Desta vez, o homem mais velho estava escandalizado, mas
um fio do líquido pré-ejaculatório surgiu na ponta de sua ereção quando
umedeceu os lábios, nervoso.
— Vá em frente, não seja tímido. Eu quero que você bagunce meu
cabelo e me sufoque com o seu...
— Tudo bem! — Walker estendeu a mão hesitante e a colocou na
cabeça do babá.
— Medroso — Fin sussurrou. O patrão revirou os olhos e passou os
dedos pelo cabelo do jovem. Ele segurou a cabeça de Fin, mas seu toque
ainda era hesitante, quase um apoio, conforme o puxava para mais perto. —
Vamos lá. É a primeira vez que faço algo assim durante o dia. Quero que
seja muito quente e atrevido — o babá o informou.
— Ah, merda! Fin! — O peito de Walker pesou por um momento
antes de seu aperto ficar mais forte e Fin rir quando seu rosto foi esmagado
contra um calor forte e duro. O homem mais velho ergueu a cabeça do babá
e a inclinou para trás antes que o de empurrar seu pau para dentro da boca
de Fin. O jovem gemeu em êxtase. Ele envolveu os lábios no pau de Walker
e engasgou quando a cabeça chegou ao fundo de sua garganta. O homem
mais velho arfou, xingou e elogiou enquanto Fin chupava de forma
barulhenta. Seus lábios queimaram ao se esticarem em volta do calor de
Walker e sua mandíbula doeu, mas era com estar em um paraíso. Ele podia
ouvi-lo lutando e se esforçando para manter a compostura. A outra mão do
homem mais velho agarrou o apoio de braço da cadeira e os nós de seus
dedos ficaram brancos. — Fin! — ele rosnou e afastou seus lábios.
— Isso foi tão bom! — ele ofegou para Walker e limpou a saliva do
queixo. — Eu quero que você me coloque sobre a mesa e me foda desse
jeito. — Ele mal conseguiu terminar de falar as palavras e Walker o
levantou e o beijou de forma selvagem. O patrão abriu o zíper de Fin e
baixou a calça dele.
— Como vou conseguir trabalhar aqui sem pensar nisso? — ele
reclamou. Seus dedos passaram pela fenda do traseiro do babá e apertaram
a parte de trás de sua tanga.
— Isso vai ser um grande problema para você, não é? — Fin fez
beicinho e então arquejou quando o outro o girou e seu peito bateu na mesa.
Ele mordeu o lábio e gemeu com alegria à medida em que os dedos
escorregadios de Walker circularam e lentamente pressionaram a entrada
apertada de sua bunda. — Não se atreva a ser gentil — ele disse. Fin riu
quando o chefe deslizou a tanga para o lado e segurou sua bunda aberta
para que pudesse entrar com força e ir bem fundo. Ele agarrou o cabelo do
jovem com firmeza, estabelecendo um ritmo brutal que tocava nas bolas de
Fin a cada golpe rápido. — Estou prestes a gozar em cima da sua mesa e
fazer você me alimentar com isso.
— Fin! — Walker ficou na ponta dos pés, preenchendo o rapaz ao
máximo enquanto o líquido quente inundava seu núcleo.
— Ah, sim! — Os olhos de Fin reviraram quando cada nervo de seu
corpo se apertou com mais e mais tensão, e então tudo se rompeu. Ele
tampou a boca para abafar um grito conforme o sêmen bombeava para fora
de seu membro, espirrando na capa da agenda e no tampo de vidro da mesa.
— Fin — Walker sussurrou em seu cabelo. Ele o segurou com
firmeza contra o peito e lutavam para recuperar o fôlego. O homem saiu
com cuidado de dentro de Fin e beijou sua têmpora. — Foi incrível, mas eu
me sinto profundamente em conflito.
— Por quê? — Fin se inclinou para poder examinar o rosto do chefe.
— Porque isso foi selvagem demais e gostei mais do que deveria.
— Você não tem ideia de quantas vezes eu imaginei você me punindo
bem assim. Foi perfeito! — Fin colocou a mão para trás para pegar o sêmen
antes que pudesse escorrer por sua coxa. Ele gemeu e lambeu os dedos para
limpá-los e observou Walker olhando com admiração e confusão. — O quê?
O outro riu, incrédulo.
— Você é babá!
— Huuhummm... — Fin resmungou enquanto chupava o polegar. —
Babás podem ser bastante safados quando estão de folga.
— Eu não fazia ideia.
— Nem eu — ele confessou com uma piscadinha. — Acabei de
inventar isso. Vou correr até a cozinha e pegar um sanduíche antes que as
meninas acordem. Amo você — ele acrescentou.
— Espere! — Walker segurou o rosto de Fin para outro beijo. — É
isso?
— O quê? — Os olhos do rapaz se fecharam lentamente quando seu
cérebro finalmente entendeu o que disse. Ele não queria falar as palavras
em voz alta. Fin pensou em voltar atrás e rir, mas não queria fazê-lo. — Eu
quis dizer isso, mas não significa que temos que fazer algo a respeito. Nós
podemos guardar a questão no envelope junto com a outra coisa. — Ele
rezou em silêncio e ficou irritado consigo mesmo por ter se deixado levar
mais uma vez quando era para ser uma surpresa divertida. O chefe riu com
leveza, mas o riso se transformou em um suspiro satisfeito quando seus
braços apertaram Fin.
— Eu também amo você — Walker falou com ternura. — Nós não
deveríamos... conversar? — ele perguntou, estremecendo. Fin balançou a
cabeça e deu um tapinha no peito do outro homem. Era muito para absorver
em trinta minutos e o babá queria que Walker tirasse um tempo para
processar os grandes desenvolvimentos emocionais. Os primeiros “eu te
amo” e as primeiras rapidinhas diurnas eram grandes passos em qualquer
relacionamento, mas o patrão ainda estava de luto enquanto navegava por
essas águas.
— Não depois dessa escapadinha. Podemos conversar mais tarde. —
E Fin tinha que manter sua confusão emocional contida até dar a Walker a
festa de aniversário dos sonhos das meninas. Ele se abaixou e ajeitou calças
de veludo cotelê. — Isso foi absolutamente perfeito e vamos repetir, mas
preciso comer algo. Fiquei com fome durante toda a manhã toda para que
nós pudéssemos fazer isso.
— Ah, droga. Vá! — Walker insistiu e o ajudou a arrumar as roupas e
a si mesmo. Ele verificou o corredor para ter certeza de que estava vazio e
deu um beijo rápido nos lábios de Fin antes de empurrá-lo para fora do
escritório.
— Não poderia ter sido melhor — Fin disse para si mesmo,
caminhando pelo corredor com as mãos nos bolsos. Ele tentou dar um
pulinho feliz antes de virar para as escadas e engoliu um palavrão por causa
da pontada de dor na bunda. — Mas não estou disposto a mais nada além de
um chamego esta noite.
CAPÍTULO TRINTA E
CINCO
WALKER TEVE “RAPIDINHAS diurnas” no passado, e elas foram
atrevidas e divertidas, mas nunca assim. Ele não sabia quem Fin conjurou
quando entrou no escritório e ordenou ao patrão que “tirasse tudo”. Mas não
pode ter sido ele. Walker não recebia sexo oral de babás e gozava neles no
escritório.
Exceto que ele fez exatamente isso e amou. Ele estava bastante
esgotado e leve quando afundou na cadeira com um uísque na mão. Walker
remarcou uma ligação com um de seus consultores financeiros e passou
uma hora sozinho com seus pensamentos. Todos giravam em torno de Fin à
medida em que revia seu último encontro várias vezes.
Eu estou transando de novo, Walker reparou. Ele esperou que sua
mente desse algum tipo de indicação de como se sentia, mas sua
consciência permaneceu em silêncio. Com certeza, estava gostando da
situação e amava tudo sobre a pessoa com quem estava transando, mas não
sabia como se sentia sobre si mesmo e as coisas que fez.
Ele esperava que houvesse alguma culpa e muitas dúvidas, mas não
havia nenhuma. De alguma forma, as coisas que fez com Fin não envolviam
as partes de seu coração e alma que usava com Connor. Elas pareciam
seções distintas que ocupavam lugares totalmente diferentes dentro de
Walker. Talvez porque mudou tanto pela dor e depois por Fin, que sentia
que ele não era mais o mesmo.
O sexo com certeza era diferente. Foi incrível com Connor e Walker
aproveitou uma maré de sorte nesse quesito antes de se conhecerem. Mas
ele tinha uma apreciação bastante nova pela sensação de outro corpo nu e
entrelaçado com o dele. O gosto da pele, do suor, da saliva e do esperma era
muito mais forte e intoxicante depois de anos sozinho. Walker desligou e
trancou tudo, mas agora seus nervos vibravam de ansiedade e havia uma
necessidade latente por Fin. Não importava que tivesse acabado de ter o
rapaz e ainda pudesse sentir seu gosto. Os ecos de seus gemidos abafados
ainda soavam em seus ouvidos, mas ele desejava tocar o jovem e vê-lo
gozar de novo.
A rapidinha diurna não foi a primeira coisa que veio à mente de
Walker quando Fin pediu por ideias “divertidas”, mas era muito menos
intimidador. Apesar de uma libido muito saudável e uma vontade abundante
de agradar Connor, havia várias coisas que ainda não tinha experimentado,
inteiramente por causa de sua falta de imaginação. E ele pensou que teria
tempo para reunir coragem e dizer ao marido que queria tentar coisas novas.
Ele não sabia como explicar que queria aprender mais sobre si mesmo e
sobre o que mais ele poderia gostar no sexo, porque sexo com Connor era
muito bom, e não porque Walker não estava satisfeito com o que faziam.
Ele não tinha pensado muito nessas experiências até que se apaixonou pelo
marido. Então, queria tentar de tudo, mas não verbalizou, porque pensava
demais quando se tratava de sexo e de se expressar.
Agora, Walker era mais velho e mais sábio. Ele sabia o quanto
procrastinar custou a ele. Mas não significava que estava mais corajoso. O
céu era o limite com Fin, tudo o que precisava fazer era pedir, como acabou
de aprender. O jovem já o havia apresentado a uma nova obsessão por
lingerie. E, pelo visto, ele gostava de ser elogiado e de ser submisso
também. Mas ainda não havia dito a Fin que queria ser comido.
Nunca teve a chance de tentar com Connor, porque perdeu a coragem
de contar a ele, mas perguntaria ao babá em breve. Infelizmente, essa era
uma conversa que teria que esperar até que eles tivessem mais tempo,
porque Walker tinha a sensação de que essa era a calmaria antes da
tempestade de aniversário. Fin e as meninas estavam encarregados de
mantê-lo distraído, então passou os últimos dias fingindo que não sabia da
quantidade de visitantes entrando e saindo da casa.
Era uma pena que Walker não pudesse pedir o que de fato queria de
aniversário. Mas os adultos raramente conseguiam, porque, em geral, eram
muito educados ou tinham muito medo de admitir que só queriam ficar
bêbados e assistir O Senhor dos Anéis sozinhos ou serem dominados pelo
babá. Se alguém tivesse perguntado no ano passado ou no retrasado, teria
dito que queria passar a noite com as meninas, aconchegados no sofá com
uma grande tigela de pipoca e seus filmes favoritos. Ele nunca pôde pedir
por isso, porque precisaria de pelo menos uma babá e possivelmente uma
tutora como apoio. Agora, Walker queria a mesma coisa. Exceto que,
depois que as meninas estivessem dormindo, ele poderia encher Fin de
champanhe até que estivesse selvagem e ver o que aconteceria.
O pensamento de tentar isso com Fin era incrível, porque não se
preocupava se seria bom ou não, mas também era estressante. O rapaz
saberia o que fazer e o ensinaria. E já sabia que podia ser bom, porque
gozou no chuveiro apenas com seus dedos várias vezes depois que Fin
contou que era submisso e dominador.
Ele não foi gentil consigo mesmo. Sempre que pensava em Fin tão
perto, deslizando fundo em sua bunda, Walker perdia o controle. Seus dedos
quentes e escorregadios viraram o pau de Fin, mergulhando na sua entrada
enquanto suor e sêmen escorriam por suas pernas. Ele imaginou lamber Fin
todo, até limpá-lo depois que terminasse e então ouvir que ele era um bom
garoto. Walker repetiu as palavras várias vezes, ouvindo a voz do babá em
seu ouvido até gozar na parede do chuveiro.
Mas como alguém pedia por isso de aniversário? Essa era a parte
estressante para Walker. Ele mal conseguia pedir por sexo. Pedir a Fin para
com firmeza, do jeito que fez com Fin no escritório era impossível. Walker
ficava tonto só de pensar. Ele desmaiaria antes que as palavras saíssem de
sua boca. Não era hedonista e sua educação de internato e medo de se
divertir não permitiam que ele usasse esse tipo de linguagem ou pedisse por
esse tipo de atenção.
— Você não é mais aquele homem. É diferente agora e tem o Fin —
Walker disse, balançando a cabeça ao apoiar os pés no canto da mesa e
voltar a imaginar as palavras safadas e os gemidos ofegantes do babá. — É
seu aniversário. Você deveria fazer um pedido.
CAPÍTULO TRINTA E
SEIS
ESTAVA TUDO SILENCIOSO. Muito silencioso para a hora da
soneca, então Fin espiou o quarto das trigêmeas. As meninas ainda estavam
na tenda de princesa, com os ursinhos de pelúcia, mas sentadas de pernas
cruzadas e sussurrando.
Nada bom...
Fin entrou no quarto na ponta dos pés e e caminhou pela lateral da
barraca para que elas não o vissem. As luzes estavam baixas, então não
poderiam ver sua sombra através do tecido rosa. Havia luzinhas lá dentro e
o babá conseguia distinguir as formas das meninas. Elas eram como
pequenos vaga-lumes em uma jarra rosa-claro, e ele ficou encantado ao
ouvi-las rir e tramar algo.
— E se a gente dissesse que Charlotte estava se escondendo e não
conseguimos encontrá-la e depois trancássemos eles em um armário? —
Beatrice sugeriu. Fin tinha pena de quem quer que fosse o alvo delas. Ele
ficou feliz por ter ouvido seus instintos e ido verificar as trigêmeas. Uma
pequena espiadinha poderia ajudá-los a evitar uma catástrofe...
— Fin sabe como arrombar fechaduras — Amelia apontou. Os
sentidos do jovem vibraram, e ele arregalou os olhos.
— Nós poderíamos encher a fechadura de queijo! — Charlotte disse,
e Fin presumiu que fosse ela aplaudindo. Com certeza, foi Amelia quem a
silenciou.
— Fique quieta ou ele vai nos ouvir! Como vamos saber que eles vão
se beijar?
— Talvez papai beije o Fin se ele destrancar a porta a tempo da festa
— Charlotte falou. A cor sumiu do rosto do babá. Ele era o alvo delas.
— Mas ele não vai conseguir fazer isso se você encher a fechadura de
queijo, bobinha — Beatrice rebateu, resultando em um forte suspiro de
Amelia.
— Como vamos colocá-los no armário ao mesmo tempo? — ela
perguntou, cansada. Fin decidiu que preferia fugir e fingir que não as ouviu.
Ele se arrastou de volta para o corredor e para a brinquedoteca. O
rapaz fez o possível para ignorar a pontada de culpa enquanto ia até a mesa
de arte para arrumar e reabastecer os equipamentos. Ele encontrou um
bilhete dobrado entre pedaços de cartolina e seu coração afundou quando o
desdobrou. Ele e Walker estavam representados em cores vivas com giz de
cera. As lágrimas inundaram os olhos de Fin enquanto ele traçava o terno
cinza encorpado do chefe e o coração que os circulava.
— Ah, não... — Fin se escorou na beirada da mesa. Elas não
entenderiam como isso era impossível, mas o jovem gostaria de poder dar
às meninas o que queriam. Ele tinha a sensação de que ficariam encantadas
em ver ele e Walker de mãos dadas ou se beijando. Elas iriam adorar ver
como o pai era carinhoso e atencioso e a maneira como ria quando Fin o
provocava. Droga, Riley. Por que você sempre tem que estar certo? Houve
uma batida na porta e a fantasia da família feliz desapareceu.
— Elas estão dormindo há muito tempo? — Walker perguntou. O
babá balançou a cabeça e fungou para clarear a visão quando o outro
homem fechou a porta com cuidado atrás de si.
— Elas ainda não dormiram. Você tem que ver isso. — Ele ergueu o
desenho enquanto Walker o puxava para seus braços. O patrão fez um som
de reconhecimento, mas sorriu ao admirar o papel.
— Eu acho que é coisa da Beatrice. É como ela desenha meus ternos
— ele falou.
— É fofo que você consiga diferenciar os desenhos das meninas —
Fin gemeu e afundou no peito do homem mais velho, então beijou sua
bochecha. — Mas isso é muito triste, Walker.
— Por quê? Eu acho que seu cardigã está bem alegre. É rosa e tem
um coração — ele comentou e apontou para o coraçãozinho no bolso.
— O desenho é perfeito. Mas esta situação é muito triste. Eu ficava
mal com a mentira, mas não achei que estivéssemos machucando alguém.
Estou começando a me sentir egoísta. Nós estamos nos escondendo, porque
temos medo das ramificações sociais, mas imagine como elas ficariam
felizes. As meninas ficariam tão empolgadas, mas mantemos isso só entre
nós.
— Eu achei que você não queria que ninguém soubesse. Você disse...
— Walker franziu a testa ao se afastar e Fin assentiu de imediato.
— Eu não quero. Ainda acho que chamaria muita atenção e você
deveria estar mais focado nas meninas. Não em nós — ele respondeu. — Só
me sinto péssimo, porque não podemos dividir isso com elas.
— Nós poderíamos, se quiséssemos, mas teríamos que encontrar uma
maneira de garantir que elas não contassem a ninguém — Walker ofereceu,
mas parecia tão perturbado quanto Fin com a ideia. O babá negou com a
cabeça.
— Com certeza, não. Elas não conseguiriam evitar, e eu nunca
esperaria que elas mentissem ou escondessem algo por nós. — Ele deixaria
a Casa Killian antes de permitir que as meninas mentissem por ele e Walker.
Fin ainda não tinha enviado sua inscrição para o sistema escolar, mas fez
algumas ligações e foi informado de que poderia escolher entre vários
cargos. Isso não o animou, porque nenhuma dessas posições chamou sua
atenção, mas ele estava pensando em um emprego como professor de
segunda série. Não ficaria feliz, mas poderia aguentar por Walker e as
trigêmeas. Ele só não sabia como contar ao chefe que estava pensando em
voltar a dar aulas.
— Bom. Eu também não, e não haveria chance de isso funcionar. —
Walker estava distante enquanto dobrava o desenho e o colocava no bolso
interno do casaco.
— Desculpe. Eu não queria te desanimar no seu aniversário. — Fin se
esticou em direção aos lábios do patrão, mas ele o afastou.
— Você e eu temos definições muito diferentes de tristeza. Nossa
família sobreviveu a coisas piores — Walker respondeu com firmeza.
— Espere. Eu não quis dizer...
— Eu preciso ir. — O outro homem ergueu uma mão, sinalizando que
tinha terminado. Fin sabia quando era hora de pressionar ou manter sua
posição, e esse não era o momento.
— Sinto muito. Por favor, não esqueça que você deve me encontrar lá
embaixo às sete horas.
— Não vou esquecer. E estarei vestido com um smoking — Walker
disse e fez uma reverência, então se afastou da sala e deixou o babá
sozinho. A porta se fechou com suavidade atrás dele, e Fin gemeu ao se
sentar na beirada da mesa de artes.
— Bom trabalho, Fin. Você o fez se sentir culpado e muito triste no
dia do aniversário. — Ele esfregou a têmpora quando sua cabeça começou a
doer. — Vou descobrir como consertar isso — ele prometeu, mas enquanto
examinava a brinquedoteca, sabia que era hora de tomar uma atitude. — Eu
tenho que deixá-los.
CAPÍTULO TRINTA E
SETE
PIERCE PARECIA QUE ia ter um aneurisma enquanto murmurava
desculpas sobre uma confusão em uma entrega e o atraso no jantar. Mas,
nesta noite em particular, Walker não se importou com o incômodo que era
vestir um smoking. Em geral, ele preferia que o mordomo supervisionasse
todos os pequenos detalhes, como o colete, as abotoaduras e o nó da gravata
borboleta e do lenço. Isso permitia que a mente do patrão vagasse, então
podia praticar um discurso ou fazer um checklist mental de última hora
sobre quem bajular e quem evitar antes de um evento formal importante.
Mas Walker não queria que sua mente vagasse enquanto se vestia
para o que provavelmente seria sua festa surpresa de aniversário. Ele captou
pequenos fragmentos de conversas sussurradas e percebeu sinais
reveladores de preparativos ao longo de toda a tarde. O homem ansiava em
segredo por tudo o que Fin e as meninas tinham planejado, então ficou feliz
em fingir que não sabia de nada. Mas, depois de se retirar da brinquedoteca,
ficou satisfeito por ter algo tedioso para fazer, como vestir um smoking,
para que pudesse se distrair.
Ele foi grosseiro com Fin e saiu correndo de lá, porque queria contar
às meninas. Ficou animado com a ideia de não dar a mínima para as
consequências e ceder à alegria do momento. Porque era assim que era
amar o jovem. Walker queria gritar e comemorar e às vezes sentia vontade
de rodopiar, como as filhas, de tão feliz que ficava quando Fin entrava na
sala. Então, o babá trouxe a realidade de volta para ele e estourou sua bolha
imaginária e feliz.
Isso teria tornado a noite verdadeiramente especial e as meninas
teriam ficado muito felizes, mas Fin estava certo. Eles virariam suas vidas
de cabeça para baixo de maneiras que nenhum deles poderia prever. Walker
se perguntou se havia uma chance de não ocorrer um desastre e se lembrou
da conversa com Agnes. Ela também estava certa. Connor não iria querer
que ele se segurasse se houvesse uma chance de ser feliz.
O marido nunca deu a mínima para a sociedade ou sobre manter as
aparências. Ele se apaixonou de forma platônica por Agnes quando se
conheceram na Tisch, a escola de artes da Universidade de Nova York, e
depois acabou se apaixonando por seu irmão mais novo quando ela o levou
à casa de campo nas férias de inverno. Ele não queria compartilhar a irmã e
sua tradição favorita de inverno, até que ela empurrou Connor pela porta da
frente. Foi amor à primeira vista, mas Connor amou Walker apesar de sua
riqueza e boa educação.
Ele fugiu de Fin, porque parecia que estava decepcionando as
meninas e Connor de novo. Ele estava desapontado consigo mesmo por ser
tão rápido ao concordar com Fin e fazer o que era mais fácil e confortável.
— O que estou fazendo? — perguntou ao espelho. — Estou
decepcionando todos que importam. — Ele percebeu e aceitou que as
pessoas teriam que cuidar de suas próprias vidas ou irem para o inferno.
Walker deu um passo para trás e deu uma última olhada em seu reflexo,
então assentiu. Ele já se sentia mais leve e estava sorrindo ao sair correndo
de quarto para encontrar Fin no hall de entrada. — Tenho que dizer a ele
antes de cumprimentar qualquer um — decidiu. Ele estava sorrindo quando
chegou ao saguão e às escadas, mas congelou quando viu Agnes. — O que
você está fazendo aqui? — Ele arqueou as sobrancelhas conforme admirava
o vestido de renda azul-gelo. Era um design elegante de um ombro só com
uma cauda dramática. Seu cabelo grisalho estava preso em um coque mais
solto, e Walker achou que ela parecia uma princesa.
— Me disseram para aparecer um pouco antes das sete usando algo
chique — ela o informou.
— Você está deslumbrante — ele falou enquanto beijava sua
bochecha.
— Feliz aniversário, irmãozinho. Você está elegante como sempre.
— Você costumava me provocar e uma vez disse que eu parecia um
funcionário de hotel — ele lembrou, e os olhos da irmã brilharam quando se
lembrou de como ele parecia esquisito em um smoking quando era
adolescente.
— Você só tinha pés, e o pescoço era muito comprido, coitadinho!
— Corajoso da sua parte falar sobre os pés — ele retrucou. O queixo
de Agnes caiu, e ela deu um tapinha nele.
— Não comece! Não foi minha culpa ter herdado os pés enormes do
papai.
— Com certeza, herdou — Walker murmurou e se inclinou para
observar os saltos prateados e finos da irmã. Ele assobiou.
— Pare com isso, ou este vai ser seu último aniversário — ela rosnou
e pegou o braço do homem. Então olhou em volta e se aproximou. —
Finalmente conheci o Fin e... uau! Cheguei cedo para ver as meninas e
assisti à aula de dança mais fofa de todas na brinquedoteca. Ele estava
ensinando Beatrice a dançar valsa, e eu quis devorá-lo na mesma hora. Ele é
perfeito e vou tornar o resto da sua vida um inferno se você não se casar
com ele.
— Acalme-se. — Walker verificou os corredores, a sala de jantar
espaçosa e a sala de estar para se certificar de que ainda era seguro. — Eu já
decidi que não podemos mais manter a relação em segredo. Quero contar às
meninas e viver em paz com ele. Não posso mais me preocupar com o que
as pessoas pensam de mim. Não se isso significar que não posso ficar com
ele — Walker disse à irmã. Agnes levou a mão ao coração e suspirou.
— Eu estou tão feliz. Não achei que ele corresponderia às descrições
das meninas, mas é ainda mais adorável. E mais gostoso. E me fez
reconsiderar a maternidade para que pudesse contratá-lo...
— Maravilhoso. Se você puder manter essa história em segredo até eu
ter a chance de resolver as coisas com o Fin, eu ficaria grato. — Walker
olhou para trás de Agnes e quase desmaiou quando viu o rapaz no final do
corredor. O babá estava vindo do terraço e tudo desacelerou quando ele
sorriu para o chefe. Fin havia trocado o cardigã e a calça de veludo cotelê
por um smoking bem-ajustado e o cérebro de Walker parou por completo.
— Huuumm... — Ele não conseguia se lembrar sobre o que estavam
falando ou aonde estavam indo. Tudo o que sabia era que Fin estava
incrível. O homem mais velho sentiu um desejo avassalador de se esfregar
no rapaz naquele smoking. Ele queria começar lambendo seus mocassins de
couro envernizado. Os sapatos tinham um acabamento brilhante e Fin os
estava usando sem meias.
— Aí está o homem da noite! — O babá aplaudiu e correu na direção
deles, tirando Walker da fantasia indecente e o trazendo de volta à
realidade. Agnes riu ao apontar para o irmão.
— Manter em segredo? Querido, você tem cerca de quinze minutos
antes que todos que enxerguem aqui descubram por conta própria. Sua
expressão não esconde nada. Nem suas calças — ela acrescentou de forma
lasciva, e Walker a empurrou de leve.
— Você está incrível, Fin — Walker elogiou. Ele pegou as mãos do
jovem e desejou que estivessem indo para algum lugar privado. E se fosse à
prova de som seria ainda melhor. Fin segurou as mãos de Walker e
examinou seu rosto.
— Sobre antes... — ele começou, mas Walker balançou a cabeça.
— Não foi sua culpa. Você estava certo sobre nós, sobre mim, sobre
sermos egoístas, e entrei em pânico, então saí antes que você dissesse outra
coisa que eu não queria ouvir.
— Eu entendo... — Fin respondeu e arregalou os olhos para o outro
homem antes de gesticular com a cabeça na direção de Agnes. — Há algo
que eu gostaria de te dizer, mas é particular — ele completou, sussurrando
desculpas a Agnes.
— Ah! Essa é a minha deixa. Depois eu volto, e boa sorte! — Ela deu
um beijo estalado na bochecha de Walker, pegou a saia do vestido e correu
para as portas do terraço. Fin riu ao vê-la sair.
— Sua irmã é tão maravilhosa quanto imaginei — ele comentou.
— Agnes disse a mesma coisa sobre você. Ela te acha perfeito e disse
que eu seria um tolo se te deixasse escapar — Walker falou enquanto
segurava as mãos do jovem. — Ela está certa. Sei que vai ser complicado e
que pode até ser um pouco esquisito quando as pessoas souberem, mas não
quero mais me preocupar com isso.
— Nós não precisamos. — Fin levou as mãos do homem mais velho
aos lábios para poder beijá-las. — Não vai ser complicado, porque vou
embora. — Ele estava muito animado e mordeu o lábio para conter um
grito.
— O quê? Não! — Walker não deveria ter gritado, mas estava em
pânico e já podia ouvir o choro das meninas.
— Só vou deixar de ser babá. — Fin o tranquilizou, mas Walker bateu
na própria testa.
— Eu não entendo, mas todos vão me matar
— É temporário. Vou voltar, e dessa vez, para sempre. Ou até você
decidir que já está cansado de mim — Fin acrescentou com timidez.
— Nunca vou me cansar, mas do que você está falando? — Walker
permaneceu com a mão na testa.
— Eu recebi uma proposta para ser professor da segunda série em
uma escola pública a apenas algumas quadras daqui. Pensei que se nos
mantivermos em segredo por cerca de seis meses, ninguém faria muito
alarde se você decidisse começar a namorar um professor jovem e gostoso.
Se você não se importar em namorar um simples professor do ensino
fundamental — ele brincou.
— Me importar? — Walker estava tonto de novo. De jeito nenhum
ele deixaria Fin aceitar aquele trabalho, mas ficou profundamente
emocionado. — Você disse que não gostava de ensinar em sala de aula, sem
contar que seria uma grande redução de salário.
— Eu não me importo. Vou ficar com você e as meninas, e ainda vou
trabalhar com crianças.
— Por cerca de noventa por cento menos do que você ganha agora —
Walker argumentou.
— Você está se esquecendo da parte em que eu fico com o homem
dos meus sonhos e as trigêmeas — o rapaz disse com presunção. Ele deu
um tapinha no peito de Walker, distraindo-o por um momento.
— E as meninas? Elas vão ficar sem o babá se você se demitir.
— Eu posso conseguir um substituto. Reid sabe que as crianças
mudaram e que elas vão cooperar, porque você vai estar aqui para ajudá-las
na transição. Vamos explicar para elas que é apenas temporário e que eu
ainda vou aparecer nos fins de semana para vê-las. Assim, se elas contarem
aos amigos, não vai haver problemas, porque você vai estar namorando um
professor em vez do babá delas.
— Eu amo você, mas não posso te deixar fazer isso — Walker
respondeu, então abaixou a cabeça e beijou Fin.
— Eu também te amo, e é a solução perfeita. Eu ia esperar até
amanhã para contar às meninas e a todos os outros, porque hoje é a sua
noite — o rapaz disse e deu um passo para trás para oferecer o braço ao
chefe. — Vou acompanhá-lo até a porta, mas depois temos que fingir que
não estamos só esperando a festa acabar para arrancar as roupas um do
outro. Não vou mais poder flertar com você assim que sairmos, mas se
lembre de que você me deve uma dança mais tarde. — Fin mordeu o lábio
enquanto seus olhos se fixavam nos de Walker, comunicando suas
intenções. O outro homem gemeu.
— Imagino que haja muita gente lá fora e nós tenhamos que ficar na
festa.
— Todos estão lá fora. Pierce transformou o jardim dos fundos em
uma festa de aniversário enquanto você estava se vestindo. É melhor agir
como se estivesse maravilhado e dar todo o crédito às meninas. Foi ideia
delas. Fui apenas o intermediário e transmiti seus desejos a Pierce. Ele fez
quase tudo que elas pediram, menos o castelo inflável e a guerra com balões
de água. Mesmo que eu tenha insistido que você iria amar um castelo
inflável.
— Não teria, mas agradeço tudo o que você fez e a sábia decisão do
Pierce — Walker falou. Ele colocou um dedo sob o queixo de Fin e o
beijou. — Já é o melhor aniversário que tive em muito tempo. Nós vamos
voltar a essa conversa mais tarde, quando estivermos sozinhos de novo,
porque não quero esperar meses para assumir algo incrível.
— Você não quer? — Fin choramingou. — Precisamos ir. Você pode
apenas fingir por mais algumas horas e depois voltamos a conversar?
— Eu não sei se posso prometer qualquer coisa, Fin. É a primeira vez
que o vejo em uma roupa sob medida e agora está difícil pensar direito.
— Sério? — o rapaz perguntou sem fôlego e girou na direção dos
lábios de Walker. A porta se abriu, e eles se afastaram rapidamente.
— Vocês vêm? — Agnes os apressou, batendo o pé com impaciência.
— As meninas estão quase entrando e exigindo a presença de vocês. Como
ousam nos deixar esperando quando há um bolo?
— Já estamos indo! — Fin riu e a enxotou. — Ela é ótima, e nós
vamos resolver isso assim que tivermos um momento para nós. — Ele
beijou a bochecha do chefe, dispersando sua atenção. — Lembre-se de
parecer surpreso — ele completou antes de abrir a porta.
— Certo... — Walker respondeu, mas sua voz sumiu quando
observou o mar de convidados em roupas formais, a explosão de luzes e
lanternas de papel decorando as árvores, o bolo de aniversário de seis
andares e a banda do outro lado da piscina. — Como vocês fizeram isso em
uma hora?
— Nós entramos furtivamente ontem à noite enquanto você dormia
para colocar as luzes, e o Pierce cuidou de tudo na cozinha — Fin explicou.
— As meninas fizeram tudo isso — ele disse em voz alta. Walker aplaudiu
ao descer os degraus e procurou por elas. As trigêmeas estavam com Agnes
perto do bolo e correram para o pai quando ele se ajoelhou e abriu os
braços. Elas pareciam anjos vestidas em lilás.
— Feliz aniversário, papai! — elas comemoraram ao colidirem contra
ele. O coração de Walker se encheu de alegria ao ser abraçado pelas três.
Ele enterrou o rosto em cachos pretos e beijou a bochecha de cada uma.
— Obrigado. Vocês se superaram — Ele sorriu para Fin, que
aguardava atrás das meninas, então tocou o nariz de Amelia. — Vamos dar
uma olhada neste bolo.
— Sim! Sim! Sim! — Charlotte ergueu os braços e rodopiou.
— Posso ajudar a cortar? — Amelia perguntou.
— Você vai ter que me ajudar. Nunca cortei um bolo tão grande —
Walker respondeu conforme se levantava e as levava para mais perto da
mesa. Alguém entregou uma faca a ele, que ficou momentaneamente
impressionado enquanto a multidão se aproximava. Walker não podia ver
Fin ou Agnes, mas todos os seus contatos comerciais estavam lá, incluindo
os contadores, que eram a maior parte da equipe em Nova York, seu
personal trainer e inúmeras socialites que ele mal conhecia... Até Muriel
Hormsby estava lá. O que significava que seu sobrinho terrível estava por
perto. — É muita gente — ele observou.
— Podemos contar com uma ajudinha da banda? — Fin perguntou e
se posicionou atrás do chefe e das meninas. — Parabéns para você... — Fin
começou e todos os presentes se juntaram a ele. As meninas estavam
eufóricas, então Walker assumiu uma expressão corajosa e sorriu, apesar de
um estar com um pressentimento ruim. Ele tinha a sensação de que as
coisas estavam prestes a dar muito errado.
CAPÍTULO TRINTA E
OITO
TALVEZ CONVIDAR TODOS os contatos de Walker não tenha sido
a melhor ideia, a julgar pelo olhar desorientado em seu rosto, mas ele estava
lidando bem com a situação. As meninas estavam radiantes, porque todo
mundo apareceu e se vestiu com as melhores roupas para desejar um feliz
aniversário ao pai delas.
Ele fingiu que a faca era pesada demais para segurar sozinho e deixou
que as filhas o ajudassem a cortar a primeira fatia. Ele deixou cada uma
provar um pouquinho antes de dar uma mordida e então entregou seu prato
para Agnes.
— Me permitam fazer um brinde, então todos podem voltar a
aproveitar a noite — Walker anunciou.
Pierce se materializou com uma taça de champanhe para Walker
enquanto a equipe de funcionários da cozinha percorria o espaço com taças
para os convidados. Fin recebeu a sua e a ergueu em direção ao chefe. Seus
olhos se fixaram por um momento antes de Walker pigarrear e olhar ao
redor.
— Obrigado por virem e fazerem esta celebração ser muito especial
para a nossa família. Eu estava esperando algo um pouco mais discreto, mas
minhas filhas se superaram. Elas fizeram um trabalho incrível planejando
tudo isso e quero agradecer a elas e a todos que ajudaram a tornar isso
possível. — O olhar de Walker cruzou com o de Fin antes de examinar a
multidão e encontrar Pierce perto do bolo. Ele curvou a cabeça para o
mordomo e o babá ergueu a taça. — Por mais um ano e mais uma volta ao
redor do sol. Vamos torcer para que desta vez dê certo — ele disse. Todos
riram e brindaram.
A música recomeçou, e Walker foi engolido pelos convidados
ansiosos para cumprimentá-lo. Ele suportou tudo com um sorriso nos
lábios, e Fin fez uma anotação mental para acrescentar isso à lista de
motivos pelos quais o patrão foi um garoto muito bom. Ele sentiu uma
pontada de excitação, cantarolou junto com a música e esperou que a
multidão ao redor de Walker diminuísse o suficiente para dar outra olhada
nele em seu smoking. Ninguém usava um smoking como Walker Cameron
III.
— É melhor você ir lá e resgatar meu irmão — Agnes comentou,
aparecendo ao lado de Fin. Ela estava com outra fatia de bolo, mas o jovem
negou com a cabeça.
— Vou pegar um pedaço depois — ele falou, recebendo uma bufada
de desdém da mulher.
— Eu não trouxe para você. — Ela comeu um pedaço e os olhos se
estreitaram enquanto checava o irmão. Fin teve apenas pequenas trocas com
ela, mas já estava completamente apaixonado pela irmã mais velha de
Walker. Ela tinha quase cinquenta anos e o jovem estava atraído pelo brilho
de malícia em seus olhos cinza-claros. Agnes era o oposto do irmão em
quase todos os sentidos, mas eles poderiam ser gêmeos e tinham os mesmos
trejeitos. Ela tinha espírito livre, era muito honesta e uma protetora feroz de
seu irmão caçula. — Você não vai poder dançar se estiver comendo bolo.
— Nem você. — Fin piscou e estendeu a mão.
— Não comigo — ela retrucou, mas pontuou com um sorriso travesso
e inclinou o queixo para Walker. — Vá e salve meu irmão.
— E se eu preferir dançar com você? — Fin perguntou de forma
suave e lhe deu uma leve cutucada. Mesmo que adorasse a ideia, o plano de
Agnes era terrível.
— E se eu fosse da máfia em segredo? Já que estamos falando de
mentirinhas! — ela sussurrou, animada e gesticulou para Fin. — Rápido, o
convide para dançar antes que alguém faça isso. Eu já vi quatro gays
solteiros precisando de um marido rico, incluindo aquele horrível do
Jonathon. Você sabia que a tia Muriel está contando a todo mundo que
Walker está de volta ao mercado agora que as filhas estão se comportando
bem?
— Isso é... — Fin estremeceu ao ficar na ponta dos pés e tentar
encontrar o chefe. — Tenho certeza de que ele pode lidar com esses
homens. — Ele não ficaria satisfeito com o babá se seu aniversário se
transformasse em uma série de encontros rápidos.
— Ah. Eu estava esperando que você ficasse com ciúmes e tornasse
esta festa interessante.
— Ei! Eu planejei a maior parte da festa! — Fin protestou.
— E o fez com perfeição. Mas não planejou nenhum fogo de artifício
e a vida do meu irmão anda muito parada.
— Não. Você está falando com o homem errado. — O jovem
estendeu a mão de forma desafiadora. — Não vou fazer uma cena. Prometi
às meninas que esta noite seria perfeita e seria tudo sobre elas e Walker.
— Você pode ser um babá brilhante, mas pelo visto, não entende as
cabecinhas travessas daquelas irmãs tão bem quanto pensa. Elas não
estavam planejando uma festa de aniversário. Você é a Cinderela e Walker é
o Príncipe Encantado.
— O quê? — Fin balançou a cabeça. — Ah, não... — Seu rosto
esquentou conforme olhava em volta e depois para seu novo smoking. — O
que aconteceu com o meu sexto sentido? Eu deveria ter previsto essa
situação. Estava tão distraído com a festa e com Walker — ele murmurou
para si mesmo, então olhou para Agnes. — A última coisa que quero é
desapontá-las, mas seu irmão não pode virar a vida dele de cabeça para
baixo por minha causa. Isso deixaria tudo uma... bagunça!
— Por que você diz que isso como se fosse uma coisa ruim? E você?
O que quer? — ela perguntou. A mulher entregou o que restava de seu bolo
a um garçom que passava e pegou a mão do jovem. — Finja que Walker
não se importa se o mundo dele está de ponta cabeça ou se está uma
bagunça. Finja que você não se importa com o que os outros pensam. O que
você quer, Fin? — Agnes o puxou para seus braços e o fez rir quando
conduziu a dança. Walker lhe disse que a irmã teria sido a rebelde da
família se os Camerons fossem do tipo que reconhecesse mau
comportamento. Fin queria que seu amante pudesse ser tão livre quanto ela,
mas ele tinha responsabilidades diferentes. O babá também tinha as suas.
— Se isso fosse um livro de romance ou um filme, eu iria atrás dele.
Eu vou atrás. Apenas... de modo sensato — retrucou, mas franziu a testa
quando um homem elegante e mais velho se aproximou de Walker. Ele
gesticulou, como o se estivesse para dançar, mas o outro homem recusou,
pegou Charlotte no colo para que pudesse girá-la com as outras pessoas
dançando. Fin não percebeu que estava segurando a respiração. — Eu amo
o Walker e as meninas — ele continuou e balançou a cabeça. — Tenho um
plano e já pedi minha demissão — ele acrescentou com olhar pesado.
— Ah, Fin. Você é mesmo perfeito — Agnes comentou, suspirando.
A música chegou ao fim, e ela abraçou o rapaz. — Vamos ver o que
podemos fazer para ajudá-lo — ela sussurrou. Fin teria preferido ficar o
mais longe possível, mas ela não o soltava. — Walker! Aqui! — Ela acenou
enquanto arrastava o jovem. Ele ficou feliz em ver as trigêmeas de novo,
mas foram rapidamente cercados.
— Pare de se mexer, Cameron! — Muriel Hormsby gritou, e eles se
viraram. Ela abriu caminho na multidão, parecendo um flamingo enorme
com seu turbante e vestido fúcsia brilhante. Um de seus punhos cheio de
joias estava fechado em volta do pulso de Jonathon. Fin sentiu uma pontada
de compaixão. — Feliz aniversário, meu garoto. Me beije. — Ela ofereceu
a bochecha, e Walker a beijou de forma obediente.
— Obrigado por vir — ele falou com suavidade.
— Eu não teria perdido essa festa linda. É ótimo reabrir a casa, agora
que não está mais de luto.
— Muriel! — Agnes sibilou e mordeu os lábios. — Você está
adorável. O nariz é novo? — Ela se recuperou conforme se inclinava para
beijar a bochecha de Muriel.
— Onde estão seus modos, Agnes? Você se lembra de Jonathon?
— Claro — ela murmurou e olhou para o jovem. Suas unhas
cravaram no braço de Fin e ambos sorriam para Jonathon. Seu cabelo estava
cheio de gel e o smoking preto tinha um acabamento brilhante de cetim. Ele
também decidiu descartar o uso de camisa e todos foram presenteados com
a visão dos mamilos com piercings adornados por uma corrente de
diamantes pretos. — Você está... demais — Agnes engasgou.
— Ele é famoso no Instagram — Muriel comentou com arrogância.
Seu foco voltou para Walker, e ela sorriu com doçura para ele. — Vocês
dois deveriam dançar. Jonathon estava me dizendo agora mesmo que acha
que você está muito em forma para um homem da sua idade. Não é mesmo?
— ela perguntou ao sobrinho, mas ele estava olhando para um dos garçons.
Fin seguiu o olhar do rapaz e imaginou que fosse o grandão com a bunda e
as coxas musculosas. — Jonathon! — a mulher chamou sua atenção, e ele
se assustou e assentiu.
— Sim. — Ele revirou os olhos e ergueu a mão, como se não
soubesse o que mais fazer com ela. Ninguém sabia, e todos balançaram as
cabeças.
— Jonathon adoraria dançar com você, Cameron — Muriel declarou.
Walker fez uma careta, mas ela não percebeu ou pareceu não se importar
com o fato de Jonathon não estar prestando atenção. Ela deu uma
cotovelada nele e o empurrou para o homem mais velho.
— Com certeza adoraria! — Jonathon disse com outro revirar de
olhos.
— Já prometi esta dança a Beatrice — Walker disse e pegou a filha
nos braços e escapou.
— Quer dançar comigo, Fin? — Amelia perguntou. Ela ficou na
ponta dos pés e estendeu as mãos para o babá, mas ele sentiu como se
estivesse sendo salvo quando a pegou no colo.
— Ano que vem, nós não vamos convidar tanta gente — ele disse, e
ela riu ao abraçar seu pescoço e segurar sua mão. Fin a guiou em um giro e
arriscou um olhar para Walker. Ele estava rindo e rodopiando com Beatrice.
Ele mal podia esperar até que os dois estivessem sozinhos e fosse sua vez.
O chefe parecia tão bonito e feliz, deixando Bea fascinada.
— Ano que vem, deveríamos fazer uma festa na casa de campo só
para nós. Mas ainda vamos ter o bolo gigante.
— Foi tudo ideia sua — Fin a lembrou e Amelia tinha um ar
presunçoso ao sorrir.
— Nós só queríamos que você e o papai se vissem com smokings e
dançassem com a gente. E queríamos um bolo gigante.
— Vocês nos manipularam. Como está o bolo? — ele perguntou à
menina.
— Muito bom. Mas acho que não vai sobrar muito — ela pareceu
triste, então Fin deu um beijo em sua testa e riu.
— Ano que vem, vamos ter um bolo inteiro só para nós! — ele
prometeu. A música foi parando e o jovem ficou desanimado quando
terminou e teve que devolver Amelia para a família.
— Nós não queremos uma festa enorme no ano que vem — Amelia
os informou.
— Com certeza, não — Agnes disse e gemeu. — Deus, lá vem a
Muriel de novo.
— É Dean Martin? É o favorito de Jonathon! — Muriel insistiu
quando a banda tocou You're Nobody 'Til Somebody Loves You, mas
Jonathon deu de ombros.
— Eu prefiro Lana Del Rey e Kendrick Lamar. Sinceramente, não
tenho ideia de quem é este.
— Vocês sabem como as crianças são sarcásticas hoje em dia —
Muriel retrucou com um aceno de desdém.
— Não... eu acho que estou velho demais e meio por fora — Walker
pegou Amelia, e ela olhou para a mulher.
— É a minha vez — ela afirmou com uma inclinação esnobe do nariz.
A menina passou um braço em volta do pescoço do pai e apontou para os
outros casais dançando.
— Se vocês nos derem licença — ele falou e, em seguida, saiu
correndo com Amelia.
— Minha vez! — Os braços de Charlotte se agitaram enquanto ela
pulava na frente de Fin.
— Eu ficaria honrado, senhorita. — Ele se curvou em uma pose
dramática antes de pegá-la no colo. — Você está feliz com a sua festa? —
ele perguntou. Charlotte assentiu, distraída com os vestidos e as joias por
alguns momentos. Fin teve a sensação de que ela estava prestes a pular de
seu colo e ir em outra direção, então teve que se manter firme.
— Nós deveríamos fazer uma festa ainda maior quando você se casar
com o papai — ela declarou.
— Não! — Fin exclamou e ofereceu às pessoas ao redor um sorriso
fixo e enorme. — Desculpe. Isso foi uma loucura. Ela está brincando. —
Ele balançou a cabeça e os levou para mais perto da banda. A multidão era
menor ali e a música tornaria mais difícil que qualquer um ouvisse. — Eu
sei que parece legal que eu e seu pai nos casemos, mas isso pode ser muito
complicado. — O babá não queria dizer nada até que ele e Walker tivessem
a chance de conversar e tomar uma decisão juntos.
— Complicado é ruim?
— Nem sempre. Mas você não tem ideia de quanto caos estaríamos
causando. As pessoas vão querer saber tudo sobre nós e pode ter muita
gente tirando fotos suas — ele explicou, mas Charlotte se animou.
— O papai disse que eu amo caos e amo tirar fotos!
— Eu sei que você não se importaria com o caos... nem suas irmãs,
agora que penso nisso. Vocês gostam de nos ver sofrer. — Ele percebeu.
— Nós gostamos quando o papai está feliz. Ele era feliz o tempo
todo, mas nosso outro papai morreu e o papai ficou muito triste. Ele não
fazia barulho, mas chorava muito. Então ele parou de chorar, mas ficou
muito mal-humorado. Ele parou de ser bravo quando você veio cuidar de
nós. Ele está feliz de novo, e eu gosto do jeito que ele olha para você o
tempo todo — Charlotte refletiu. Fin a tranquilizou e beijou seu cabelo.
Então teve que colocá-la no chão, porque não se sentia estável.
— Ah, Charlotte... — O rapaz roçou o polegar na bochecha dela. —
Eu te amo muito, querida. Prometo que vamos resolver isso e seremos
felizes.
A música terminou e Charlotte decidiu que essa era sua deixa. Ela deu
um puxão forte na mão de Fin antes que ele fosse arrastado pela multidão.
— Estou vendo o papai e a Agnes! — ela disse.
— Devagar!
— É a sua vez de dançar com o papai! — ela anunciou. Fin balançou
a cabeça de um jeito frenético e implorou em silêncio a Walker para que ele
fizesse alguma coisa.
— Talvez seu pai pudesse convidar a Agnes para dançar — o babá
sugeriu. O outro homem sorriu como se fosse dizer algo provocador, mas
ficou irritado quando Muriel reapareceu.
— Você já teve sua vez com todas as meninas, Cameron. Seja um
bom anfitrião e dance com um de seus convidados. — Ela fez beicinho.
— A festa é nossa. Nós planejamos tudo — Amelia informou a ela e
desafiou o velho dragão a dizer o contrário. Muriel recuou por um
momento, e Fin esperou que ela tivesse coragem de contradizer Amelia
Grace Maxwell Cameron. Walker imobilizou a mulher com um olhar duro,
desafiando-a a incomodar sua menininha.
— Claro que sim! — Muriel disse com desdém enquanto se
recuperava. — Eu acabei de dizer a Jonathon que esta deve ser a festa do
ano. Não falei, Jonathon?
— Não sei. É boa, eu acho — Jonathon respondeu antes de lançar
para Fin um olhar apreciador e acenar. — E então?
— Não. — Fin balançou a cabeça e o encarou com desgosto. Muriel
bateu no sobrinho com sua bolsa de contas.
— Se você não convidar aquele homem para dançar, eu cancelo seus
cartões de crédito — ela o ameaçou. Jonathon gemeu e se curvou em uma
postura derrotada conforme se virava para Walker.
— Isso não será necessário — o homem mais velho respondeu,
tentando interrompê-lo.
— Eu insisto! — Muriel exclamou, empurrando Jonathon. Ele
esbarrou em Walker e arrumou o cabelo de forma dramática. O outro
grunhiu e estendeu a mão, claramente pronto para encerrar a discussão. Fin
lançou um olhar nervoso a Agnes, e ela estava roendo a unha do polegar
com o que ele imaginou ser uma mistura de medo e prazer.
— Eu prefiro que não — Walker resmungou.
— Ela não vai calar a boca se não dançarmos — Jonathon murmurou.
— Você deveria mesmo dançar com alguém — Muriel indicou.
Agnes e Fin notaram a contração do maxilar de Walker à medida em que
sua raiva fervia e os dois se prepararam.
— Pelo amor de... não! Eu não quero dançar com o Jonathon! — ele
gritou, fazendo tudo parar ao redor deles. — Só tem um homem com o qual
quero dançar e é o Fin — Walker falou e estendeu a mão para o jovem com
uma risada irônica. — É meu aniversário, mas não posso dançar com o
homem que eu amo porque ele é meu babá.
— Walker! — Fin ofegou e pulou quando Agnes o cutucou nas
costelas.
— Não o interrompa!
— Mas ele está falando de mim! — ele sussurrou de volta.
— Eu sabia! — Muriel anunciou e olhou em volta para se certificar
de que todos estavam olhando.
— Não posso evitar, Fin. — Walker ergueu as mãos e deu de ombros.
— É meu aniversário. Já dancei com as minhas filhas. Tudo o que quero
fazer agora é dançar com você.
— Tem certeza? — o babá perguntou baixinho. Ele estava com medo
de olhar ao redor e ver quantas pessoas ouviram e estavam encarando. O
chefe estendeu a mão e sorriu daquele jeito secreto, do jeito que sorria só
para Fin. Sua barriga revirou quando ele mordeu os lábios e lutou contra as
lágrimas.
— Não posso perder mais tempo me preocupando com o que as
pessoas pensam. Dance comigo, Fin. — Ele sorriu e o rapaz achou que seus
joelhos iam ceder. Havia tanto amor e calor nos olhos de Walker.
— Tudo bem — Fin murmurou e pegou a mão do outro homem. Ele
puxou Fin para seus braços e a festa desapareceu.
— Ano que vem, vou passar meu aniversário com você e minhas
meninas. Agnes, Amelia, Beatrice, Charlotte e você. É isso — Walker
afirmou, então bufou com sarcasmo. — E provavelmente Pierce —
acrescentou. Fin riu e estava com olhos cheios de lágrimas quando
concordou.
— Parece perfeito. — Ele deslizou um braço em volta do ombro do
outro homem e arriscou um rápido olhar ao redor deles. As meninas
pulavam e se abraçavam enquanto Agnes enxugava os olhos com um lenço.
Muriel estava fazendo beicinho e Jonathon não estava à vista. Fin notou
alguns olhares curiosos e alguns sorrisos de reconhecimento, mas percebeu
que não se importava com eles ao observar as trigêmeas. A alegria delas era
contagiante e o babá riu quando descansou a cabeça no peito de Walker. —
O que nós estamos fazendo? — ele olhou para o chefe, que deu de ombros.
— Eu não sei você, mas estou dançando com o homem que amo e
pensando em como vou passar o resto do meu aniversário quando a festa
acabar.
— Tenho algumas ideias — Fin respondeu, a voz trêmula de emoção.
Ele não sabia como seria o amanhã, quando todos soubessem que Walker
Cameron III estava namorando seu babá, mas estava muito orgulhoso de
seu homem. Ele escolheu a própria felicidade acima das expectativas da
sociedade e de Muriel. E Fin estava muito orgulhoso, porque Walker era
dele e todos sabiam disso. — Eu ainda estou muito preocupado, mas isso é
inacreditável. Não acredito que agora estamos dançando e... namorando!
— Só namorando? — ele perguntou, e Fin deu um tapa em seu braço
de brincadeira.
— Pare com isso! Eu não sei o que estamos fazendo, mas agora todo
mundo sabe. Ou vão saber até amanhã à tarde.
— Acho ótimo. Isso significa que podemos sair para jantar amanhã à
noite ou levar as meninas para um lanchinho no próximo fim de semana
sem nos preocuparmos com quem pode nos ver. De agora em diante, tudo
que me importa é você e as meninas. Nós moramos na maior cidade do
mundo, e eu quero viver nela com a minha família. Você é meu, é parte da
minha família e nós não vamos mais nos esconder na Casa Killian.
— Eu amo você e amo sua família maluca — Fin sentiu como se
estivesse sonhando quando apoiou o queixo no ombro de Walker. O homem
mais velho suspirou feliz quando sua mão se abriu nas costas do rapaz. Ele
estava segurando Fin tão perto, de forma tão possessiva e afetuosa, que não
haveria dúvidas sobre a natureza do relacionamento deles ou sobre os
sentimentos do aniversariante.
— Eu estou tão feliz, talvez você seja a única pessoa na cidade
disposta a nos aturar.
A música terminou, mas Walker se recusou a soltá-lo. Ele continuou
dançando por várias músicas e ignorou o resto dos convidados, até que
Agnes deu um tapinha em suas costas.
— Está ficando tarde. Vou ajudar a preparar as meninas para
dormirem, mas você deveria agradecer a seus convidados antes de eles irem
embora.
— Acho que sim — o irmão disse, suspirando. Ele levou a mão de
Fin aos lábios e a beijou.
— Walker! — o rapaz sussurrou. O outro homem apenas sorriu e
esfregou os lábios nos nós dos dedos dele.
— É meu aniversário. Tenho autorização. Você me espera lá em
cima? — ele perguntou, e Fin assentiu. — Ótimo. Eu ficaria muito feliz se
você estivesse nu, mas vou deixar você escolher — ele sussurrou e deu um
beijo na bochecha do jovem antes de deixá-lo.
— Ah, definitivamente vou estar nu. Você foi um garoto muito bom
esta noite — Fin disse com um aceno da cabeça firme, depois disparou no
meio da multidão para ajudar Agnes e dizer boa noite às meninas.
CAPÍTULO TRINTA E
NOVE
— ELAS REALMENTE SÃO especiais e não sei o que vou fazer
quando não quiserem mais passar os fins de semana comigo — Agnes
comentou enquanto passava o braço em volta de Walker e descansava a
cabeça em seu ombro. Ele cumpriu seu dever e agradeceu a todos os
convidados, mas mal podia esperar para dar um beijo de boa noite nas
meninas e colocá-las na cama. Elas estavam pegando no sono, e Walker se
sentiu muito abençoado e orgulhoso de sua pequena família. Era o melhor
presente que ele poderia ganhar depois de anos fazendo quase tudo errado.
— Do que você está falando? Elas sempre vão querer ficar com você.
— Não, não vão. Elas vão ter jogos nos fins de semana e vão querer
passar mais tempo com os amigos quando começarem a viver as próprias
vidas. E está tudo bem! — Agnes disse, mas fungou. Walker franziu a testa
para as belas adormecidas. Elas já tinham crescido tão rápido e quase o
deixado para trás. Ele finalmente estava recuperando o atraso e pegando o
jeito das coisas, mas sabia que elas continuariam crescendo e mudando.
— Não é mesmo justo, não é? Quando você pensa que tem tudo o que
quer, o tempo começa a tirar isso de você.
— Talvez eu tenha errado em não ter meus próprios filhos — Agnes
disse com a voz suave. O irmão ficou bastante atordoado, mas a
possibilidade aqueceu seu coração e ele sorriu, encantado com a ideia de ser
um tio carinhoso.
— Sabe, nunca é tarde para adotar. Sempre há uma criança à espera
de um lar e de alguém para amá-la — ele falou e beijou sua cabeça.
— Não me encoraje, Walker. Tenho quase cinquenta anos — ela
rebateu, mas ele já podia ouvir os neurônios trabalhando na cabeça da irmã.
O homem não tinha dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa. Ela era
uma tia fenomenal e dedicada às trigêmeas, apesar da natureza impetuosa e
rebelde delas. As meninas também foram boas para Agnes.
— Nós sempre vamos estar aqui e tenho certeza de que podemos
encontrar uma babá excelente para você, se estiver preocupada em como
vai se virar sozinha.
— Talvez... mas você já pegou o melhor babá da cidade.
— Sim, mas eu devo a Reid Marshall um pedido de desculpas e um
grande favor depois do dano que causei à sua agência esta noite.
— Não vai ser tão ruim. Esta noite foi incrivelmente romântica e não
vai demorar muito para que todos vejam como vocês são perfeitos juntos —
Agnes previu e fechou a porta do quarto, então colocou o braço ao redor de
Walker. Ela ia dormir em seu antigo quarto para poder levar as meninas à
casa de campo depois do café da manhã.
— Eu espero que você esteja certa. Mas ele vai ter que encontrar um
substituto para o Fin.
— Tenho a sensação de que ele não vai se importar. Na verdade,
suspeito que vai ficar muito feliz pelo irmão — ela agarrou o braço dele e
ficaram contentes em permanecer em frente à janela panorâmica na galeria.
Um dos funcionários da equipe de Pierce andava de um lado para o outro
no terraço, berrando ordens. Todos os vestígios da festa de aniversário de
Walker seriam limpos antes que os últimos convidados pegassem os casacos
e entrassem em seus carros. — Você vai pedir Fin em casamento?
Houve um imediato e retumbante sim.
— Eu tenho que me casar com ele — ele amava o rapaz e eles eram
uma família agora. O mundo saberia o que Fin significava para Walker e as
meninas. E o babá seria respeitado como marido de Walker e teria toda a
proteção que o status trazia. — Não sabia se algum dia estaria pronto, ou se
gostaria de estar de novo, mas posso fazer isso com Fin.
— Eu estou muito orgulhosa de você e sei que Connor também está.
— Acho que sim. Eu tive medo de esquecê-lo ou substituí-lo, mas
posso sentir que é o que ele quer para mim.
— Como se pudéssemos esquecê-lo. — Ela tentou ficar séria, mas
uma lágrima escorreu pelo canto do seu olho e rolou pela bochecha. —
Toda vez que Charlotte faz uma cena ou me faz rir, eu o vejo e sei que ele
está rindo conosco. E o jeito que o nariz de Amelia enruga quando está
sendo teimosa é totalmente Connor — Agnes comentou, fazendo o irmão
rir.
— Todo mundo acha que ela herdou o lado travesso de mim, mas ele
era mestre nisso. Você se lembra daquele ano em que quase nos matamos?
— Caramba, achei que as pegadinhas nunca iriam acabar e não sei
como alguém não foi parar na cadeia ou no hospital. Era como morar em
uma fraternidade — Agnes balançou a cabeça e riu. — Você se lembra de
quando estávamos no Vale de Isère, na França, e ele encheu seu capacete de
esqui com creme de barbear? — Ela cobriu a boca e Walker jogou a cabeça
para trás enquanto gargalhava. Agnes agarrou o rosto do irmão e fez o
possível para silenciá-lo. — Você vai acordar as meninas! — ela sussurrou
e riu baixinho. — A sua reação foi impagável.
— Passei o dia todo com o cabelo grudento e com cheiro de perfume
ruim — ele resmungou, mas não conseguiu manter uma expressão séria. Ele
deu um selinho na irmã e ambos suspiraram.
Walker deu um riso discreto.
— Beatrice tem a mente brilhante dele, e eu sempre vou culpá-lo
quando ela fizer perguntas que não sei responder.
— Eu estou tão feliz por você. Estava preocupada, mas você nunca se
dissesse que precisava de ajuda. Você nunca teria aceitado o auxílio de Fin
se não fosse pelas meninas.
— Você deve estar certa — Walker admitiu. — E você? Não pode
continuar tendo casos com seus treinadores e transando com esposas-troféu
solitárias.
— Acho que não te perguntei nada.
— Eu quero que você seja feliz, Agnes.
— Eu me apaixonei por um homem uma vez e foi o pior erro que já
cometi — ela respondeu e o irmão murmurou, pensativo.
— Então tente se apaixonar por uma mulher. Foi há muito tempo e
você é uma pessoa diferente agora.
— Eu sou, e posso dizer que as mulheres podem ser tão
inescrupulosas quanto os homens. Você me deserdaria se soubesse com
quantas esposas-troféu eu já transei. Elas são presas fáceis no country club,
porque já estão bêbadas e só querem um motivo para irritar os maridos.
— Sério, Agnes.
— Eu sei. Sou terrível, Walker. Às vezes, consigo pegar duas de uma
vez se forem melhores amigas e uma delas acabou de descobrir sobre uma
nova amante.
— Você está tentando estragar meu aniversário? — Walker
perguntou, e ela franziu os lábios reflexiva.
— Acho que não deveria contar a você sobre o que aconteceu na van
do bufê então...
— Esta é uma boa hora para dizer boa noite. — O homem deu um
beijo em sua testa. Ela mostrou a língua antes de beijá-lo de novo. — Boa
noite, pirralha — ele disse e a virou para que pudesse subir as escadas.
— Boa noite. Eu estou muito orgulhosa de você.
Ele esperou até que ela saísse e voltou para a janela. Walker
relembrou sua declaração na festa e tudo o que havia acontecido desde que
Fin chegou, e também estava orgulhoso de si mesmo. Nada disso teria
acontecido sem o babá, mas ele assumiu o risco e colocou a si mesmo e sua
família em primeiro lugar. Tudo em uma só noite. E agora, o rapaz o
esperava em sua suíte. Na suíte deles.
— Em breve — Walker prometeu a si mesmo e foi dar boa noite a
Fin.
CAPÍTULO QUARENTA
— TOMEI A LIBERDADE de enviar seu smoking para a lavanderia
e as... outras roupas estão na escrivaninha no closet — Pierce informou Fin
em um tom baixo e seco. O jovem o encontrou esperando na suíte de
Walker com um roupão na mão, e instruções para “cuidar de todo o seu
conforto”.
— Obrigado... — Fin disse hesitante, então jogou as mãos para cima.
— Nós temos que fazer isso? É estranho e não gosto. Você ainda é meu
superior e não quero que faça coisas para mim.
— Sinto muito, senhor, mas receio que isso me deixaria muito
desconfortável e tornaria meu trabalho desnecessariamente complicado. Eu
também gosto dos limites tradicionais e previsíveis — Pierce explicou,
depois pigarreou. — Não que eu não tenha visto a sabedoria em seus
métodos. Sou grato por tudo que fez pelo sr. Cameron e pelas meninas. Na
verdade, estou bastante satisfeito com a forma como as coisas aconteceram.
E estou muito feliz por você... Fin.
— Obrigado, Pierce. Isso significa muito. Sei o quanto você se
importa com esta família — Fin respondeu. Ele sorriu para o mordomo, que
mal piscou de volta para ele. O jovem presumiu que isso era o mais
próximo de um sorriso que ele era capaz de dar. — Acho que vou só esperar
aqui — Fin abaixou a cabeça, liberando Pierce para que ele pudesse sair
correndo da sala.
O rapaz riu com leveza, mas o sorriso sumiu quando analisou o
ambiente. Ele espiou da sala de estar algumas vezes, mas nunca tinha
passado da porta do quarto de Walker. Assim como o resto da suíte, a
enorme e antiga cama de dossel de mogno e todo o estofamento eram
envoltos em veludo cinza. Grandes poltronas de couro estavam ao lado da
lareira, onde o fogo crepitava e estalava de forma convidativa. Havia pisos
e balcões de mármore combinando com o estofamento no banheiro, que
parecia um refúgio. A decoração lembrava Fin dos ternos de Walker.
— Podemos redecorar, se for muito escuro para você — Walker falou,
se aproximando em silêncio enquanto ele admirava uma obra preta e branca
de Jackson Pollack sobre a cama.
— Eu adoro — o babá se virou nos braços do chefe. — Como você
está?
— Estou mais feliz do que pensei ser possível. E você? — ele
perguntou, inclinando a cabeça quando devolveu a pergunta e examinou o
rosto de Fin.
— Estou um pouco anestesiado, mas de um jeito bom. Preocupado
com você. Muita coisa aconteceu esta noite — o jovem relatou. Walker
assentiu lentamente, concordando.
— Verdade... mas me sinto muito melhor agora que não somos mais
um segredo. Posso seguir minha vida e me concentrar nas coisas que
realmente importam sem me preocupar com o que o mundo vai pensar.
— Isso é realmente incrível — Fin concordou com um sorriso
malicioso. — Mal posso esperar para contar aos meus pais e meus amigos.
Eu tenho um namorado insanamente gostoso agora.
— Você acha que eles vão aprovar? — o outro homem perguntou. Fin
apertou os lábios, analisando.
— Meus amigos vão achar ótimo, porque você é você. Tenho a
sensação de que meus pais não vão ficar muito animados, mas vão ficar
bem quando te conhecerem. eles vão amar as meninas e podem ficar muito
empolgados para passarem um tempo com elas. Os dois ficam atrás de mim
e do Reid, insistindo para termos filhos logo, porque “eles não estão ficando
mais jovens”. Mas os horários deles são ridículos, então Reid e eu
geralmente vamos juntos ao Park Slope e fazemos um lanche com os dois
no primeiro domingo de cada mês.
— Ah. — Walker fez uma careta ao calcular e perceber que Fin
perdeu os últimos dois domingos porque as meninas não estavam com
Agnes. — Por que você não me contou?
— Eu planejava contar assim que as coisas estivessem calmas o
suficiente por aqui, então não seria grande coisa. Meus pais entendem que
crianças precisam de mais tempo e atenção durante mudanças importantes.
— Acho que podemos dispensar você por algumas horas no domingo,
mas eu gostaria de conhecer seus pais e de conversar com seu irmão —
Walker anunciou. Fin deu de ombros e concordou.
— Eu tenho que apresentá-lo a Reid em breve, e sei que meus pais
vão querer te conhecer assim que ficarem sabendo sobre a noite de hoje.
Geralmente, vou à casa do Reid nas minhas manhãs de folga. Quer ir
comigo amanhã? Quero ver o quanto ele acha que isso vai ser ruim e me
desculpar.
— Com certeza eu deveria ir com você, visto que fui eu quem contou
a todo mundo. Pensei em algumas maneiras de ajudar e consegui bons
contatos para ele — Walker disse, surpreendendo o jovem.
— Isso é ótimo. Talvez ele possa mudar a percepção das coisas se as
pessoas pensarem que vocês dois também são amigos...
— Seremos depois de amanhã, e vou consertar as coisas — o outro
homem prometeu, mas Fin lançou um olhar impaciente.
— Consertar? Você fala como se não tivesse feito a coisa mais
incrível do mundo hoje. O Reid vai ficar irritado comigo por dormir com o
cliente, mas ele adora arrumar a bagunça. Nada o faz mais feliz do que
resolver problemas. É por isso que esta agência é perfeita: ele ajuda
famílias, juntando-as com o babá perfeito para suas necessidades, e ajuda
babás queer a encontrarem casas onde de fato se encaixem.
— Parece um empreendimento digno, e estou feliz em dar meu apoio.
E você? O que quer fazer? — Walker perguntou, e Fin franziu a testa,
confuso.
— O que você quer dizer? Tudo está perfeito aqui. Não quero mudar
nada.
— Eu esperava que muita coisa mudasse — o homem mais velho
disse com cautela enquanto afrouxava a gravata e ia para o closet. O jovem
balançou a cabeça e foi atrás dele.
— Por quê? Agora todo mundo sabe e as coisas vão se ajeitar.
— Vão, mas você não pode mais trabalhar para mim, Fin.
— Não! Este é o melhor emprego que eu já tive e ninguém mais vai
me contratar quando descobrirem que estou namorando meu último chefe.
— Eu estava esperando que você permanecesse... em uma função não
oficial.
— O quê? — Fin ergueu a mão. — Isso não está indo na direção que
eu esperava e estou começando a sentir dor de cabeça.
— Você realmente achou que ainda seria babá das meninas na
segunda-feira e apenas as levaria para a biblioteca, como sempre? —
Walker perguntou de forma delicada. Este de fato foi o pensamento do
rapaz e ele e assentiu.
— Sim! Eu achei que faríamos exatamente isso e então as pessoas
veriam que nem é tão estranho assim e logo perderiam o interesse — ele
explicou, arregalando os olhos para Walker com esperança. — Eu poderia
reorganizar um pouco a nossa rotina e as meninas nem iriam notar que
seríamos discretos por algumas semanas.
— Eu gostaria que você morasse conosco de agora em diante. — O
outro homem tirou o casaco e o deixou na escrivaninha para Pierce. — Isso
vai exigir muito mais do que reorganizar nossa rotina. Quero que você seja
parte da nossa família, não um funcionário.
— Ah... — O jovem cambaleou. — Você quer mesmo oficializar as
coisas — ele murmurou, e Walker riu.
— Fin! Eu acabei de assumir para todo mundo que estou apaixonado
por você e que você é o único homem com quem eu quero dançar.
— Acho que seria estranho se eu não me mudasse... Não é como se
você e as meninas pudessem morar comigo e o Riley — o babá refletiu.
— Não. Mas ainda precisaríamos que você cuidasse de nós — Walker
o lembrou, fazendo-o se sentir muito melhor. Em vez de ser contratado pelo
homem mais velho para cuidar das trigêmeas, elas também seriam de Fin.
— Há algo mais que você gostaria de fazer? Talvez uma função como a do
Reid e trabalhar em casa — Walker sugeriu. A cabeça do rapaz se inclinou
e ele murmurou pensando na situação.
— Eu sempre me perguntei quanto tempo levaria para arrecadar
roupas que seriam descartadas por outras pessoas... Talvez pudesse
transformar isso em algo concreto. — Ainda que Fin nunca tivesse pensado
no que faria quando tivesse sua própria família, ele estava profundamente
preocupado com o quanto a fast fashion contribuía para a poluição e a
lotação de aterros sanitários. E ele era apaixonado por reaproveitar roupas
descartadas, produzindo peças quentes para aqueles que precisavam.
— Acho que é uma ideia maravilhosa, e eu ficaria feliz em investir
nisso, assim você poderá contratar mais pessoas para ajudá-lo — Walker
ofereceu. Fin comemorou e agarrou seus ombros.
— Um dos abrigos para os quais eu envio peças ajuda mulheres a
aprenderem a ler, conseguirem diplomas escolares, entrarem em programas
de treinamento profissional, se candidatarem a faculdades... Tudo o que
precisam para uma segunda chance. Eu poderia começar assim!
— Sonhe alto e contrate quantas pessoas você quiser. Fico feliz em
investir — Walker disse. Ele se inclinou para tirar os sapatos e as meias, e o
rapaz estremeceu quando o outro homem se levantou e andou até ele. —
Você trouxe de volta minha vida. É a minha vez de realizar alguns dos seus
sonhos.
— Eu só fiz o meu trabalho — ele rebateu, mas se inclinou para
Walker quando ele o puxou para perto.
— Nós tivemos doze babás em três anos, Fin. Eu sabia que você era
diferente no momento em que entrou nesta casa.
— Eu fiquei tão irritado com o quanto você era gostoso, porque tinha
certeza de que ia odiá-lo — o babá admitiu. Ele mordeu os lábios quando
desabotoou a camisa do agora ex-patrão. — Você foi um bom garoto esta
noite.
— Fui? — Walker perguntou e, desta vez, a voz dele vacilou e se
desfez. Fin assentiu e começou a tirar as calças dele.
— Muito bom. — Ele abriu o zíper e gemeu quando colocou a mão
dentro da calça encontrou o pau de Walker. — Você merece realizar um
desejo de aniversário muito especial.
— É? — o outro ronronou.
— Hum... — Fin chupou o queixo dele enquanto o masturbava. —
Tudo que você quiser, Walker. Tudo. — Ele sentiu o membro do homem
pulsar contra sua mão. — O que quer que seja! Me conte! — Fin implorou.
Walker assentiu, os olhos pesados, então abaixou a cabeça e roçou os lábios
nos do jovem.
— Eu planejei perguntar... — Ele umedeceu os lábios, nervoso, e Fin
gostou do jeito que a língua tocou a dele. Walker estava ficando mais
quente e tremia ao beijar o rapaz. Ele podia sentir o homem mais velho
reunindo coragem e isso o deixou ansioso e faminto.
— Por favor, pergunte.
— Eu estava pensando se você poderia... se talvez a gente pudesse...
— Walker fechou os olhos com força e xingou. — Você bebeu muito esta
noite? — ele deixou escapar e Fin franziu a testa em confusão.
— Na festa, não, mas bebi um pouco do seu uísque enquanto estava
esperando. Eu realmente queria ficar nu, mas Pierce estava por perto. Por
quê?
— Você diria que já bebeu o suficiente para ficar mais selvagem? —
o outro homem perguntou. Havia uma histeria em sua voz que deixou Fin
sem saber o que fazer.
— É possível... Por quê? — ele perguntou, cauteloso. Não queria
dizer nada que pudesse desencorajá-lo. Walker respirou fundo.
— Porque, se você estivesse vontade de... me dominar, eu não me
importaria — ele disse rápido.
— Dominar você? — Fin repetiu e então entendeu. — Ah! Você quer
que eu... — ele falou, e Walker fechou os olhos e assentiu.
— Se você acha que teria interesse em fazer isso — ele completou
com os dentes cerrados.
— Interesse? — O jovem riu e tocou o rosto de Walker. — Eu não
tinha ideia de que você queria isso, mas tenho muito interesse. — Ele estava
duro conforme guiava a mão de Walker para sua calça. Fin o ajudou a
afrouxar o cinto e então abriu o roupão para que o outro homem pudesse
ver o quanto ele estava interessado. — Por que não me disse nada?
— Porque esse sou eu. Eu nunca... porque estava muito assustado
para pedir.
— Uau. Você realmente está se superando esta noite — o rapaz
comentou. Ele saiu do closet, levando Walker junto. — Eu estou muito
orgulhoso. Você foi um garoto muito bom esta noite. — Ele deslizou o
roupão pelo corpo e o deixou cair no chão enquanto iam para a cama. Os
olhos de Walker desceram para a cueca com tiras de Fin e gemeu em
apreciação.
— Muito bom, mas são bem discretos para você — ele brincou.
— Pierce contratou um alfaiate italiano arrogante para fazer meu
smoking, e ele disse que me mataria se eu usasse a roupa íntima errada. Ele
foi firme para que eu tivesse atenção e a calcinha não marcasse — Fin
explicou e ganhou uma bufada pensativa de Walker.
— Pelo jeito, foi o Vincenzo.
— Você o conhece?
— Sim. É o meu alfaiate. Provavelmente vou receber a conta desse
smoking na semana que vem.
— Feliz aniversário! — Fin comemorou, se desculpando.
— Foi um aniversário feliz, e a melhor parte foi ver você naquele
smoking.
— Sério? Talvez eu precise usar mais alguns... quanto uma coisa
dessas custa? — o jovem perguntou.
— Cerca de doze mil dólares — Walker arriscou, fazendo o queixo de
Fin cair.
— O quê?! — Ele balançou a cabeça. — Eu deveria ter pedido a ele
para colocar um elástico na cintura e acrescentar mais bolsos para guardar
comida, porque vou ter que ficar com esse smoking até os noventa anos
para fazer seu dinheiro valer.
— Não se preocupe com isso. Vamos fazer mais alguns smokings e
ternos sob medida. Você não pode usar um smoking como aquele em todos
os eventos. Vai precisar de algo mais conservador para eventos relacionados
a negócios e à política. Possivelmente algo mais informal para festas de
entretenimento...
— Do que você está falando? Não preciso ir a todos esses eventos e
não preciso de mais smokings — Fin disse, esperando encerrar o assunto,
mas Walker assentiu.
— Senti muita falta de ter alguém para me fazer companhia e
reclamar comigo quando tenho que ir a esses eventos. E pretendo te exibir,
agora que contei ao mundo todo sobre você — ele alertou enquanto tirava a
camisa. As orelhas de Fin ficaram vermelhas e ele sentiu um pouco de
náusea ao pensar em mais smokings e ternos.
— Há muitos botões... são tão apertados e coçam — ele sussurrou
segurando os ombros de Walker, que gemeu solidário e parou para que Fin
pudesse tirar a calça e a cueca.
— Você estava incrivelmente sexy, se isso ajuda.
— Um pouco — Fin admitiu. Pelo menos, ele não parecia um
instrumento miserável, apenas se sentia como um. — Eu deveria ter sido
mais legal com o Vincenzo.
— Por quê? Ele não é pago com gentileza. Eu também não o acho
agradável, mas ele faz ternos perfeitos, como você comprovou esta noite.
— Você não precisa ficar me elogiando, vou para casa com você esta
noite — Fin respondeu. Ele os girou e colocou Walker na cama. O jovem
sentiu como se fosse seu aniversário quando tirou a cueca e rastejou por
cima do outro homem.
— Esta também é a sua casa agora. — Ele capturou os lábios do rapaz
para um beijo profundo e demorado. Fin murmurou e descansou a testa na
de Walker.
— Eu estou tão animado para morar com você e as meninas, mas o
resto me assusta e me dá vontade de fazer xixi nas calças.
— Podemos pedir a Vincenzo para fazer uma fralda para você — o
outro ofereceu.
— Certo, se é disso que você gosta — o babá rebateu, fazendo Walker
gargalhar. Ele se agarrou a Fin e foi excitante de um jeito novo. Ver a
alegria do homem mais velho enquanto ele enxugava os olhos e recuperava
o fôlego era melhor que sexo. Era um tipo totalmente diferente de
intimidade ficar com alguém assim, rindo enquanto estavam nus. Sentia o
corpo de Walker vibrar contra o dele e a maneira que os pelos de seu peito
roçavam a pele e os mamilos de Fin era deliciosa. Walker acariciou as
costas do rapaz, e o puxou para mais perto.
— Até onde sei, não, mas tento qualquer coisa com você — ele disse.
O jovem deu uma risada baixa que se transformou em um ronronar.
— Isso é tão sexy. — Ele inclinou a cabeça para chupar o lóbulo da
orelha de Walker e deu uma mordida. — É muito sexy quando você me diz
do que gosta e sobre o que está curioso.
— Tudo, Fin — ele murmurou. Walker estendeu a mão e tateou a
mesa de cabeceira até encontrar a gaveta. Fin rosnou de forma encorajadora
enquanto lambia e mordia o pescoço e o ombro do outro homem.
— Brinquedinhos? — Fin sussurrou, pairando sobre o mamilo de
Walker.
— Sim — ele murmurou de volta. Um tubo de lubrificante caiu no
colchão e Walker acariciou o cabelo de Fin. Ele resmungou em aprovação
enquanto sua língua girava, fazendo o homem mais velho ofegar e se
contorcer debaixo dele.
— Eu tenho braçadeiras na minha casa. — Fin foi recompensado com
um gemido de dor quando mordiscou seu mamilo.
— Isso!
— Um garoto tão bom — o jovem murmurou e deslizou para o outro
peitoral, então lambeu.
— Fin! — o pau de Walker vibrou entre eles e o homem se contorceu
embaixo do rapaz.
— Shhhh! — Fin foi descendo, acariciando, chupando e lambendo.
Walker xingou, gemeu e se contorceu, repetindo seu nome. Era todo o
poder de que Fin precisava. Não havia nada mais excitante do que ser o
homem que fazia Walker Cameron estremecer de prazer e implorar. Ele
apreciava a vulnerabilidade do homem mais velho e sua confiança. — Você
é tão bom, Walker. — Ele lambeu a cabeça do pau do outro, feliz por ele ter
compartilhado as coisas que o assustaram no passado. Ele não o estava
recompensando por ser um dos homens mais poderosos de Manhattan ou
por sua riqueza. Todo mundo fazia isso. Fin encorajava e elogiava Walker
pelas coisas sobre as quais era mais inseguro e que mais importavam para
ele.
— Obrigado! — Walker ofegou e se contorceu na cama enquanto Fin
o levava mais fundo na garganta. Ele o tocou em seu íntimo e depois o
acalmou. O rapaz usou palavras, os lábios, a língua e os dedos para
provocar a confiança e a luxúria do outro. Adorou as bolas de Walker e
chupou e lambeu avidamente sua entrada até ele estar rouco e tremendo.
Então, perguntou se ele gostaria de experimentar balanços, plugues, gaiolas
e restrições... e Fin recompensou Walker por cada admissão ofegante.
— E você gosta que eu brinque com os dedos? — Fin perguntou
devagar e deslizou com gentileza dois dedos pela entrada apertada da bunda
de Walker. Ele assentiu em um frenesi e sua cabeça foi de um lado para o
outro no travesseiro enquanto Fin entrava mais fundo e girava. — Ah, você
é tão bom, e tão, tão apertado. — A voz do babá era rouca e fraca. Seu pau
doía, e ele temeu não poder durar muito quando Walker começou a cavalgar
seus dedos.
— Por favor! Fin! — ele choramingou e estendeu a mão. Isso não
ajuda! Fin agarrou a base do próprio pau e respirou através de uma onda de
pressão. Seus nervos tremeram e ele já estava muito perto.
— Só um momento — ele disse de forma tranquila, apesar de seu
coração estar batendo forte. Cobriu cuidadosamente seu pau com
lubrificante e avançou, de joelhos, alinhando a cabeça na entrada de Walker.
Ele foi para frente e ambos gemeram quando Fin deslizou com lentidão
para dentro. — Puta merda, é apertado — o rapaz falou, sufocado. O outro
homem assentiu e os dedos dos pés se curvaram quando Fin flexionou os
quadris.
— Mas é muito bom! — ele disse, trêmulo. Walker soltou palavrões e
agarrou o edredom de veludo.
— Muito bom! — Fin concordou. Suas mãos se espalharam pelas
coxas do homem mais velho enquanto empurrava os quadris, estabelecendo
um ritmo estável. Ele manteve as estocadas superficiais, porque só
conseguia aguentar pouco atrito. O jovem estava por um fio, então
massageou as bolas de Walker e o masturbou com mãos trêmulas e
escorregadias.
— Caramba, Fin... eu não aguento! — Walker balançou a cabeça e a
bateu contra o travesseiro. Fin agradeceu em silêncio aos deuses do sexo e
investiu mais rápido. Ele apertou o pau de Walker quando eles gritaram e
gemeram o nome um do outro. — Fin! — Walker exclamou à medida em
que suas costas se erguiam da cama e o sêmen saía de seu pau e se
derramava sobre o punho do rapaz.
— Isso! — Finalmente, ele o fez gritar. Fin se soltou e se estilhaçou.
Ele gozou, inundando a passagem de Walker. Fin estremeceu e engoliu uma
série de palavrões, depois riu ao cair para a frente. O homem mais velho o
pegou e ajeitou em seus braços enquanto os rolava na cama.
— Você sempre sabe. — Ele beijou Fin e havia muita gratidão e
satisfação nos lábios e no toque de Walker.
— Porque você confia em mim o bastante para me mostrar e me
dizer. Você não tem ideia do quanto eu amo isso e o quanto você me excita.
— Só com você, Fin. Você torna tudo fácil e faz com que me sinta
seguro.
— É meu trabalho agora — ele respondeu com um bocejo. — Eu te
amo, e tudo o que quero é fazer você feliz.
— Eu também te amo, Fin. Você me faz mais feliz do que eu achava
ser possível. — Walker passou os braços em volta dele e os dois
sussurraram planos e se beijaram até caírem no sono.
CAPÍTULO QUARENTA E
UM
— POR QUE VOCÊ está aqui tão cedo? Achei que dormiria até tarde
depois da noite de ontem — Reid Marshall perguntou pelo interfone.
Fin piscou para Walker e deu um leve aperto em sua mão, aliviando
um pouco a ansiedade. Ele estava determinado a causar uma boa impressão,
porque o outro homem sabia o quanto ele amava e admirava o irmão mais
velho. Mas tinha medo de que eles não tivessem começado bem com a
revelação na festa. Fin disse que ia esperar até falar com Reid para decidir
se aquilo era um escândalo. Ele parecia surpreendentemente relaxado,
sorrindo para Walker enquanto esperavam na varanda. Fin suspirou para ele
com um ar sonhador conforme se inclinava para o interfone.
— Não consegui contar tudo, e Walker está comigo. Achamos que era
hora de vocês dois se conhecerem — ele explicou e a fechadura abriu meio
segundo depois. Fin abriu a porta para ele e acenou para que entrasse. —
Bom dia, Norman! — o rapaz disse ao homem idoso atrás da mesa. Ele
acenou com a cabeça, mas seu queixo caiu sobre o peito e um ronco alto
ecoou pelo saguão.
Walker ficou encantado com os azulejos preto e branco de mármore e
o corrimão de ferro forjado ornamentado. Ele observou o enorme lustre de
cristal, mas seguiu Fin quando ele deu um puxão em sua mão. Eles
contornaram o lado esquerdo da escada e viraram no longo corredor. Walker
estava apreciando a vista do jardim quando avistou uma versão mais velha e
mais contida de Fin esperando por eles. Ele estava encostado na porta com
os braços cruzados enquanto estudava o homem mais velho com uma
curiosidade perspicaz e penetrante. As mangas de sua camisa estavam
erguidas, ele usava gravata e o cabelo estava cuidadosamente aparado, mas
ele era sem dúvidas o irmão mais velho de Fin.
— Você tem lugar na mesa para mais um, certo? — Fin segurou o
ombro do irmão. — Reid, este é o Walker. Walker, este é o Reid. Preciso de
mais café — ele afirmou ao passar por eles. Reid lançou para o outro
homem um olhar de sofrimento.
— É bom te conhecer — Walker disse e estendeu a mão.
— Eu gostaria de dizer que ele me falou muito sobre você, mas não é
o caso — Reid respondeu, cansado. — Entre. Há muito espaço e muita
comida, desde que Riley não apareça. Ele come o suficiente para três
pessoas. — Reid sorriu e acenou para ele entrar, mas Walker podia sentir
seu olhar fixo nele. É por isso que você está aqui, lembrou a si mesmo. Ele
admirou o conforto peculiar da sala de jantar reformada e do jardim de
inverno ao passar por um sofá e poltronas de couro desgastado e entrar na
cozinha. Trepadeiras e orquídeas os cercavam e uma luz suave entrava pelas
janelas do jardim de inverno. Um clarinete tocava em algum lugar do
apartamento, impressionando Walker, e Fin estava comendo uma framboesa
que pegou em uma tigela no balcão.
— Fin me disse que sua festa foi um sucesso — Reid comentou,
irônico. Ambos perceberam as bochechas do caçula corarem quando serviu
o café.
— Estava indo maravilhosamente bem e exatamente como eu
planejei, até Walker resolver ser romântico. — Ele fez beicinho de
brincadeira, então passou a Walker uma caneca de café preto e deu a ele um
sorriso conspiratório. Ele estava se divertindo, mas o homem mais velho
estava ficando mais ansioso a cada momento.
— Eu soube — Reid respondeu com um gesto impaciente. — É por
isso que não pensei que você apareceria neste fim de semana. Por que você
está aqui mesmo? — Ele pegou o açucareiro na prateleira ao lado da
geladeira e olhou para Fin com expectativa, passando o utensílio para ele.
Fin procurou uma colher em uma gaveta e franziu o nariz.
— Nós decidimos que não há motivo para eu aceitar aquele trabalho
como professor, já que não preciso mais de um disfarce, mas também não
vou mais ser babá das meninas.
— Então... você não vai mais trabalhar? — Reid perguntou, incapaz
de esconder sua preocupação. Fin lhe deu um olhar duro e balançou a
cabeça.
— Eu estaria subindo pelas paredes até o final do dia. Vou cuidar das
trigêmeas e trabalhar na Casa Killian. Walker vai me ajudar a criar o
negócio de reciclagem de peças de inverno, então vou poder vender roupas
reformadas com doações agregadas. Você sabe, uma daquelas empresas que
compram algo e doam algo. Assim, posso conseguir maiores quantidades de
roupas usadas e fornecer ainda mais peças de inverno e cobertores gratuitos
para abrigos e casas de repouso — ele explicou.
— Isso é ótimo! — Reid disse e olhou para eles. — Por que você
precisou vir de Manhattan para me dizer isso? Não que eu não esteja feliz
por vocês — ele acrescentou. Fin apontou para Walker enquanto mexia seu
café.
— Walker sentiu que devíamos desculpas a você e queria ser
apresentado oficialmente. Desculpe por estragar meu primeiro e único
trabalho na agência. Espero não ter prejudicado a reputação da sua nova
empresa — ele respondeu com uma careta de dor. Reid se encostou no
balcão e cruzou os braços. Ele piscou para Fin, sentindo sua exasperação, e
Walker soube tudo o que precisava sobre Reid: ele amava Fin com todo seu
coração, mas o caçula o levava ao limite. O homem mais velho nunca
compreendeu tanto outro ser humano quanto o fez enquanto eles trocavam
olhares perplexos. Ele mal podia esperar para apresentar Reid a Agnes,
apenas para que eles pudessem se lamentar juntos.
— A agência vai ficar bem. Tudo o que me importa é que você esteja
feliz e fazendo o que é certo para você.
— Eu concordo — Walker interrompeu. — Fin só estava
considerando aquele trabalho de professor por minha causa, então pedi a ele
que encontrasse algo pelo qual fosse apaixonado e que lhe desse satisfação.
— Você começou bem, Cameron — Reid murmurou e balançou a
cabeça indo em direção a uma das cadeiras em volta da mesinha no canto.
— Já tenho o trabalho de longo prazo perfeito para o Riley. Temos Penn e
Penny a bordo. E também tenho dois novos caras com currículos excelentes
vindo para entrevistas mais tarde, então não estou preocupado. Parece que
há muitos babás queers na cidade.
— É uma notícia excelente, mas eu gostaria de ajudar o máximo que
puder, já que sou parcialmente responsável — Walker ofereceu e o outro
homem pareceu surpreso.
— Eu agradeço, mas não acho que o relacionamento de vocês vai ser
tão ruim para a agência quanto você espera. No mínimo, pode ser algo bom
estar conectado a Walker e Agnes Cameron. Vocês são muito influentes —
ele observou. Walker assentiu e colocou a mão dentro do casaco para retirar
dois cartões de visita.
— Também acho que sim. Se estiver tudo bem, contratei uma
empresa de publicidade e uma equipe para cuidar das relações públicas para
você. Também encontrei dois clientes em potencial e você deve ter notícias
deles em breve.
— Uau — Reid deixou escapar.
— Uau — Fin concordou e então deu a volta na ilha de aço
inoxidável para dar uma olhada nos cartões. — Você disse que tinha
contatos, mas quando fez tudo isso? — ele perguntou ao se sentar ao lado
de Reid. Walker deu de ombros com desdém e se virou para Fin.
— Fiz um pouco de controle de danos ontem à noite enquanto
estavam todos na festa e querendo puxar meu saco.
— Isso é... — Reid suspirou alto e esfregou a nuca. — Enorme. Acho
que está mesmo acontecendo. Eu tenho minha própria agência — ele disse,
incrédulo. Fin sorriu para Walker e esfregou as costas do irmão. Havia tanta
gratidão naquele sorriso, mas também havia uma boa dose de promessa.
Você foi um garoto muito bom.
— Isso é exatamente o que você precisa e você vai ajudar muitas
pessoas — Fin disse a Reid.
— Eu não sei por que não pensei em ter minha própria agência antes,
mas parece certo e as coisas continuam se encaixando. — O irmão parecia
um pouco emocionado, mas Cameron esperava que isso trabalhasse a seu
favor.
— Eu também estava esperando que você me desse sua bênção —
Walker falou devagar e se inclinou para pegar a mão de Fin. — Não posso
propor a ele oficialmente até que as meninas me ajudem a escolher um anel,
mas gostaria da sua permissão primeiro.
— O quê? — Fin gritou. Seu lábio tremeu, e ele fungou alto.
— Puta merda, vou me casar com você — Reid disse, então arfou
quando o caçula lhe deu uma cotovelada.
— Você fez isso ser ainda mais romântico — Fin repreendeu, mas
seus olhos brilharam e ele fungou de novo enquanto piscava para Walker.
— Me desculpe. Isso é um sim? — o outro homem perguntou e
depois abaixou a cabeça com esperança e Fin assentiu.
— Claro que eu vou me casar com você.
— Acho que perdi algo. — Um jovem alto e vestido de maneira
conservadora entrou na cozinha com um jornal debaixo do braço. Ele era
lindo, com cabelos escuros e olhos azuis brilhantes por trás das lentes
redondas de um óculos com armação de metal.
— Este é meu colega de quarto e parceiro de negócios, Gavin Selby.
Gavin, este é Walker Cameron — Reid anunciou.
Walker se levantou para apertar a mão do homem mais jovem e
semicerrou os olhos para ele.
— Selby? Você parece familiar. Seu pai é...? — ele parou quando Fin
e Reid tossiram e balançaram a cabeça de forma negativa, encerrando a
conversa, mas despertando o interesse de Walker por um momento. Os
Selbys de Scarsdale também eram bastante influentes. Ele se lembrava de
algo sobre um neto que havia deixado a família por uma briga com o
patriarca, Randolph Selby Sr.
A expressão de Gavin permaneceu distante, e ele parecia
desinteressado ao preparar seu café s se sentando ao lado do homem mais
velho.
— Eu estou afastado da minha família e não tenho contato com eles
há anos. Que história é essa de Fin se casar?
— Cameron me pediu a bênção — Reid contou.
— Uma decisão questionável da parte de Cameron, mas presumo que
ele saiba onde que está se metendo — Gavin falou enquanto examinava o
jornal.
— Shhh! — Fin levou um dedo aos lábios. — Ele também fez
algumas coisas muito generosas para ajudar a agência — acrescentou, e isso
provocou uma reação em Gavin. Ele soltou o jornal e olhou para Reid.
— Generoso quanto? Preciso fazer contratos? Como vai ser para os
nossos impostos? — ele perguntou.
— Vou garantir que todos os contratos necessários cheguem até você
ao fim do dia — Walker o tranquilizou. Reid acenou com desdém conforme
se levantava.
— Vamos comemorar antes que ele se dê conta. Fin encontrou
alguém que está disposto a ignorar os inúmeros defeitos dele e nós temos
tudo o que precisamos para fazer esta agência decolar. Parece que somos
oficialmente homens de negócios. — Ele voltou com uma garrafa de
Prosecco e taças de champanhe para acompanhar a jarra de suco na mesa. A
campainha tocou no apartamento e Reid inflou as bochechas ao olhar para a
geladeira. — Deve ser o Riley. Talvez tenhamos comida suficiente se eu
fizer omeletes... — Ele saiu correndo da cozinha, deixando Fin encarregado
de servir o Prosecco.
— Você sabe que as meninas não vão conseguir guardar segredo
sobre o assunto, elas vão contar para todo mundo em Manhattan — Fin
avisou, mas Walker não se importava mais.
— Que bom. Isso vai me poupar o trabalho de colocar um anúncio no
jornal. Eu quero que celebremos como uma família, sem nos preocupar com
o que os outros pensam. — Ele não sentia um pingo de preocupação e era
libertador viver apenas para fazer sua família, Fin e ele mesmo felizes.
— Você vai se casar? — Riley gritou enquanto corria para a cozinha.
Fin largou a garrafa e girou para poder pegar o amigo quando se jogou nele.
— Eu ainda não consigo acreditar! — Fin estava rindo, e eles
começaram a chorar e pular. Houve uma risada suave quando um homem
grande com uma barba cheia se juntou a eles. O longo cabelo loiro
ondulado estava preso em um coque e ele usava um macacão e uma
camiseta desbotada do Led Zeppelin, além de chinelos de couro, e Fin
comemorou ao correr para ele. — Eu vou me casar, Penn!
— Parabéns! Eu soube. — o outro homem disse, bagunçando o
cabelo de Fin com afeto. Ele pegou a mão de Walker e deu um sorriso
receptivo e abertamente curioso. — Então você acha que é bom o bastante
para o nosso Fin? — ele perguntou com uma risada fácil. O mais velho
negou com a cabeça, então se levantou e apertou a mão de Penn.
— Tenho certeza de que não, mas pretendo trabalhar nisso todos os
dias. Walker Cameron.
— Pennsylvania Tucker. Mas todos me chamam de Penn. — Ele
segurou a mão de Walker e analisou seus olhos. Normalmente, Walker teria
ficado preocupado ou ofendido, mas achou calmante quando Penn o
encarou e murmurou baixinho. — Acho que você vai servir. Bem-vindo à
família — ele falou e o puxou para um abraço. Walker franziu a testa e deu
um tapinha nas costas de Penn.
— Obrigado. Sempre me perguntei como seria fazer parte de uma
comunidade — Walker disse. Penn riu quando o soltou e deu um soquinho
de brincadeira em seu ombro.
— Tenho a sensação de que vamos ser amigos.
— Eu gostaria disso — Walker respondeu e saiu do caminho quando
Reid voltou com outra cadeira. Gavin se arrastou no assento da janela para
que Penn pudesse se sentar no meio, enquanto Reid foi buscar mais taças de
champanhe.
— Riley trouxe mais Prosecco e Penn trouxe seus famosos rolinhos
de canela — ele anunciou. Riley comemorou quando se sentou na terceira
cadeira e bateu no tampo da mesa.
— Você pode colocar isso aqui. Eu vou ser o padrinho, certo? — Seus
olhos estavam arregalados quando encararam Fin. Ele e o irmão assentiram.
— Reid e Gavin têm um ao outro, e achei que estaria ao seu lado
quando você encontrasse alguém. Se algum dia encontrar alguém e decidir
se casar — Fin disse.
— Provavelmente não vou. — Riley deu de ombros e ergueu a mão.
— Eu sou amaldiçoado.
— Muito doce — Fin explicou a Walker.
— Consigo ver como isso pode ser um problema... — Walker disse,
mas balançou a cabeça para Reid e Gavin. Eles imitaram o gesto,
concordando, e Reid deu um tapinha encorajador nas costas de Riley.
— Eu não quero te namorar, mas acho que você é quase perfeito.
— Talvez você possa deixar isso por escrito para eu mostrar ao
próximo cara que me deixar na friendzone.
— Tem alguém em mente para ser seu padrinho? — Penn provocou
Walker, mudando de assunto. Ele ergueu as sobrancelhas para o homem
mais velho e deu um puxão sugestivo em uma das tiras de seu macacão. —
Talvez eu esteja disponível.
— Não vou ter um padrinho — Walker falou. — Vou pedir a Agnes
para ficar comigo no altar.
— É perfeito — Fin concordou e suspirou feliz para o noivo. Walker
sorriu para ele enquanto tomava um gole de café.
— As coisas tendem a ser assim quando eu estou com você.
EPÍLOGO
NOVE MESES DEPOIS, primavera, uma casa de campo em
Sagaponack, Nova York...

— Eu acho que ele é o homem mais lindo que já vi.


— Eu acho que você não deveria estar olhando — Reid disse, mas
Fin deu de ombros ao observar o jardim pela janela da cozinha. Walker
pegou Charlotte para poder dançar valsa com ela e o jovem suspirou de
forma sonhadora olhando para eles.
— É meu casamento e posso fazer o que quiser. Walker disse.
— Se acalme, noivo monstro — Reid riu e girou o irmão. — Me
deixe consertar isso — ele deu um tapa na mão do outro quando ele tentou
impedi-lo.
— Está bom.
— Não está perfeito. Tem que ficar perfeito — Reid falou e puxou a
gravata de Fin. O caçula esperou enquanto os dedos do irmão se mexiam e
giravam até que ele estivesse satisfeito. Fin pegou Reid pelos ombros e
encontrou seus olhos.
— Tudo está perfeito. Você e Agnes fizeram um trabalho incrível com
os arranjos. Vocês dois poderiam fazer disso um negócio secundário.
— Não ouse colocar essa ideia na cabeça da Agnes. Eu te disse que
ela me ligou às quatro da manhã para perguntar se eu achava que
deveríamos ter contratado um DJ para depois do casamento?
— Você disse, e estava certo, vamos ficar bem com a banda. Tudo
está incrível — Fin reafirmou. Eles optaram por se casar na casa de campo
da família Cameron. Queriam uma cerimônia pequena e privada. Fin e
Walker queriam que as meninas estivessem confortáveis e tivessem muito
espaço para brincar. Nenhum dos dois desejava uma cerimônia formal, e
Fin se apaixonou pela casa de campo assim que Walker dirigiu o Range
Rover pelo portão para passarem o primeiro fim de semana com Agnes e as
trigêmeas. As árvores eram muito maiores na propriedade, que mais parecia
um parque, e tinha muito verde. Havia quatro jardins e o favorito do rapaz
era o jardim inglês, que ficava ao lado do deque dos fundos. Agnes havia
sugerido que eles se casassem ali, sob o pergolado coberto de rosas.
— Os pais de Walker pareciam impressionados. — Fin ergueu uma
mão para que Reid pudesse dar um tapinha nela. O irmão mais velho
suspirou aliviado.
— Não achei que isso fosse possível. Eles são estranhos.
— Sim. Eles são muito idosos e não gostam de falar muito ou de
mexerem o rosto — Fin disse, franzindo o nariz em uma expressão de
desculpas. — Talvez eles só queiram preservar energia. — Ele teve uma
compreensão muito maior do noivo depois que visitou a propriedade da
família em Connecticut.
Os pais de Walker eram como geleiras idênticas, em cadeiras de rodas
que mais pareciam poltronas com rodinhas, estofamento acolchoado e
apoios laterais. Eles assentiam e resmungavam enquanto trocavam
gentilezas, mas era difícil para Fin dizer se gostaram dele. Nem tinha
certeza se sabiam quem ele era ou entendiam o propósito da visita, porque
mal prestavam atenção nele. As meninas permitiram que o pai de Walker
desse tapinhas gentis em suas cabeças e a mãe dele disse que elas pareciam
anjos. Quando chegou a hora de ir embora, Walker os cobriu e deu beijos
em seus rostos, então declarou que a visita foi um grande sucesso.
— Eu soube que a mãe de Walker gostou do jeito que você decorou o
jardim, com todas aquelas luzes e arcos — Fin disse a Reid, mas os lábios
de seu irmão se afinaram enquanto ele sibilava.
— Ela me perguntou se teríamos canções de Natal e se eu poderia
exagerar no rum em seu chocolate quente — Reid sussurrou com discrição,
mas o caçula caiu na gargalhada.
— Ela bebe muito. Walker disse que ela pode andar e fazer algumas
coisas sozinha, mas eles simplesmente não confiam que ela não vai cair da
escada ou na piscina.
— Bem. — O irmão mais velho mordeu os lábios para não rir. —
Nenhuma família é perfeita.
— A minha é. E tenho o melhor irmão do mundo. Obrigado por fazer
isso — Fin disse ao se virar para ele. Reid acenou, dispensando o
agradecimento, mas seus olhos brilharam quando ele afastou o cabelo dos
olhos de Fin.
— Você é um irmão caçula terrível, mas também é o melhor, e eu
tinha que garantir que tudo fosse perfeito. Você é meu orgulho e minha
alegria, Fin. Eu praticamente te criei e não poderia estar mais orgulhoso do
homem que você se tornou.
— Eu não facilitei mesmo, mas você fez um trabalho incrível. — O
nariz de Fin coçou e seus olhos arderam quando Reid tossiu baixinho e
pigarreou. Ele balançou a cabeça e passou um tempo alisando as lapelas do
caçula.
— Sempre houve algo especial em você. Eu nunca tive que te dizer
para fazer a coisa certa, porque você sempre, sempre, sempre o fez por
conta própria. Você sempre colocou os outros em primeiro lugar e faz de
tudo para colocar um sorriso no rosto das pessoas. Você pode ser um pé no
saco horrível e há momentos em que quero te estrangular, mas então me
lembro de que ninguém mais tem um irmão mais novo como você e que eu
sou muito sortudo. — Reid parou Fin quando ele tentou puxá-lo para um
abraço. — Seu smoking! — Ele pegou o rosto do caçula e beijou a testa
dele com força.
— Isso é estranho.
— Cale a boca. Amo você.
— Também amo você — Fin respondeu, então segurou as orelhas de
Reid e beijou sua testa.
— Não bagunce meu cabelo. — Ele se afastou e ajeitou a gravata de
Fin de novo. — Sempre soube que você ficaria bem, porque não há nada
que não possa fazer. Eu me perguntava se haveria alguém bom o bastante
para você, mas Walker é um homem maravilhoso, e ele te ama. Estou muito
feliz e nem dói tanto quanto achei que iria.
— Doer? — Fin perguntou com a voz fraca. — Por que doeria?
— Você não precisa mais de mim. Agora tem o Walker, e ele pode
cuidar de você melhor que eu — Reid falou, dando um soquinho no
estômago do outro. Ele balançou a cabeça e jogou os braços ao redor de
Reid. — Finley!
— Cale a boca. Eu te amo. — O caçula o abraçou o mais forte que
pôde, do jeito que fazia quando tinha medo do escuro ou depois de
assistirem a um filme de terror quando crianças. — Sempre vou precisar de
você. Eu amo o Walker, mas ainda vou até você quando me sentir perdido.
Você é o meu herói e a pessoa em que mais confio. Sei que o Walker me
ama, mas você me ama há mais tempo e me conhece melhor que ele.
— Espero que sim. Eu sentiria muito a sua falta e não saberia o que
fazer comigo mesmo se não tivesse que me preocupar com você.
— Não sei por que você pensou que seria tão fácil se livrar de mim.
— Eles deram tapinhas nas costas um do outro quando se afastaram, e Fin
gesticulou com a cabeça para a janela. — Mamãe e papai parecem muito
felizes.
— Eles não são grandes fãs dos pais do Walker, mas acham que ele é
ótimo. Mamãe disse que estava um pouco preocupada no começo, porque
ele é tão... reservado. Mas então ela conheceu as trigêmeas e viu como ele
era maravilhoso com elas. Ela vê o quanto ele ama as meninas e o quanto
ama você. Papai disse que confiava no seu julgamento, por algum motivo,
mas percebeu que Walker estava nervoso quando se conheceram e a única
razão pela qual um homem como esse ficaria nervoso era se isso fosse
realmente importante.
— Walker estava apavorado. Ele acha que nossos pais são muito
legais. Ele leu os livros deles e disse que aprendeu muito.
— Ele disse ao papai. Os dois estão muito felizes por você e estão
bastante apaixonados pelas meninas.
— Não é a melhor coisa de todas? — Fin disse e os dois riram. O
rapaz tinha orgulho de muitas coisas, mas nada se comparava ao que sentia
ao ver quanta alegria as trigêmeas davam a seus pais. Ambos passavam na
Casa Killian sempre que tinham algum motivo para cruzar a ponte e sempre
levavam presentes para as meninas.
— É ótimo e a mamãe parou de me atormentar sobre ter filhos —
Reid disse. Houve uma batida na porta e os irmãos sorriram quando o pai
deles deu uma espiada.
— Eu preciso mandar o Reid para o jardim e me preparar para
acompanhar o noivo — ele falou. O homem entrou e colocou a mão no
peito enquanto balançava a cabeça para Fin. — Uau, quando isso
aconteceu? Você era um nerd magrelo até pouco tempo. Eu não estava
gritando para você dias atrás para deixar seu skate na varanda?
— Eu tenho que ir. — Reid enxugou as bochechas ao deixá-los.
— Você já me fez chorar esta manhã — Fin disse e ergueu as mãos
como se seu pai tivesse sacado uma arma.
— Relaxe. Sua mãe disse que não posso falar nada, exceto o quanto
você está bonito. Eu não devo mencionar como você era pequeno quando
nasceu ou como eu costumava carregá-lo no bolso da frente do meu
moletom.
— Não vou dizer a ela, a menos que você me faça chorar.
— Eu já contei todas as coisas importantes no café da manhã. Você
escolheu um homem maravilhoso, com uma família linda. E você está mais
feliz que nunca. Não poderíamos pedir por mais. — A banda de jazz tocou
a abertura de Somewhere Only We Know, de Keane, e o estômago de Fin
deu uma cambalhota. — Está na hora, Fin. — Seu pai ofereceu o braço
quando Pierce abriu a porta para eles.
— Parabéns, Fin. — Pierce inclinou a cabeça conforme eles
passavam e o rapaz o ouviu fungar de leve.
— Obrigado, Pierce — o jovem sussurrou. — Meu Deus. — Ele
deveria saber que era inútil pensar que conseguiria passar o resto da noite
sem chorar.
O sol estava se pondo e o jardim parecia um conto de fadas enquanto
sua nova família esperava junto com a “antiga”. Walker estava de tirar o
fôlego em um smoking preto clássico. Uma rosa estava presa à sua lapela.
Era do pergolado e combinava à perfeição com os vestidos de princesa das
meninas. Agnes usava um smoking sob medida deslumbrante, com um
corpete rosa-claro e um enorme broche de diamante da mesma cor. Riley
estava lutando para se manter firme ao segurar a mão de Reid, que parecia
um pouco perturbado, mas sorriu para o irmão quando seus olhares se
encontraram. O pai de Fin tossiu e enxugou os olhos quando eles se
juntaram a Walker sob o pergolado.
— Acho que é o mais longe que posso ir. Ele é seu agora. Cuide bem
do meu menininho. Ele é especial.
— Com certeza é, e prometo que vou cuidar muito bem dele.
Walker pegou as mãos de Fin e não houve mais nervosismo ou
lágrimas. Isso era exatamente o que o jovem deveria fazer com sua vida, e
ele não conseguia pensar em ninguém mais lindo que Walker Cameron III.
— Eu te amo, Fin — o outro homem começou dando de ombros
quando o pastor pediu que ele falasse seus votos. — Eu tentei meu máximo,
mas você torna as coisas muito fáceis. Você é a pessoa mais inteligente,
gentil, engraçada e generosa que já conheci. Você me salvou e me deu uma
segunda chance com minhas meninas, e fez isso de forma fácil e divertida.
Nunca vou poder retribuir toda a alegria que me deu, mas prometo que vou
te amar com todo o meu coração até ele parar de bater. — Ele deslizou a
aliança de platina feita à mão que as trigêmeas escolheram no dedo de Fin e
a beijou. — Obrigado por me dar uma nova chance e por voltar depois que
as meninas tentaram matar você — ele disse e todos riram. Fin assobiou e
balançou a cabeça quando chegou sua vez.
— Eu não achei que conseguiríamos trabalhar juntos, mas estava
errado. Acabamos sendo uma boa equipe. e você era cheio de muitas
surpresas maravilhosas. Você não era nada do que pensei que seria e não
pude evitar, me apaixonei perdidamente. Você me surpreende todos os dias
e faz com que me apaixone ainda mais. Não consigo pensar em ninguém
com quem eu prefira fazer um piquenique e sou o homem mais sortudo do
mundo, porque posso compartilhar todos os meus “boa noite” com você. —
As mãos de Fin estavam tremendo conforme ele deslizava a aliança que as
meninas o ajudaram a escolher no dedo anelar de Walker. Tinha grandes
esmeraldas ao redor do aro de platina, porque o rapaz e as meninas
nasceram em maio, e essa era a pedra do mês. Eles eram uma família, e Fin
pensou em Connor quando beijou a mão do noivo e jurou amá-lo e às
trigêmeas com cada pedacinho de seu coração e sua alma. Ele prometeu
protegê-los e honrar a memória de Connor todos os dias.
— Pelo poder que me foi conferido pelo estado de Nova York, agora
os declaro casados. Vocês podem se beijar — o pastor disse.
— Finalmente! — Fin ofegou e agarrou os ombros de Walker. Ele
ficou na ponta dos pés e todos assobiaram e bateram palmas quando se
beijaram.
Walker e Fin pegaram as meninas para um abraço em grupo enquanto
eram cercados por seus amigos e familiares. Os pais de Walker bateram
palmas suaves e foram levados embora depois de parabenizá-los. Em vez de
fazer o tradicional, que seria um bolo, havia seis camadas de cupcakes. Fin
e Walker deram uma mordida em um ao mesmo tempo e as meninas
cortaram um cupcake enorme no topo da torre. Mesas de piquenique com
vidros e luzinhas dentro foram espalhadas pelo gramado. O quarteto de jazz
foi montado embaixo de um dos enormes carvalhos noruegueses e começou
a tocar enquanto os convidados se serviam dos baldes de champanhe
gelado. As trigêmeas corriam e caçavam vaga-lumes, à medida em que o
céu escurecia e a lua aparecia. Fin estava tonto e em êxtase quando Walker
o puxou para seus braços para uma dança sob as estrelas.
— Obrigado por me convencer a fazer o casamento aqui — Walker
agradeceu. As cabeças estavam juntas enquanto balançavam com a música.
— Foi ideia da Agnes, mas parecia tão certo. Eu queria que as
meninas fossem parte disso e que fosse uma comemoração em família.
— Fico feliz que não nos casamos em uma igreja ou em Fiji, como
sugeri. Vamos poder voltar aqui e dançar sempre que quisermos e vou me
lembrar de como você tirou meu fôlego esta noite.
— Lá vem você sendo romântico de novo — Fin disse com um
suspiro. Ele descansou o queixo no ombro do marido e ficou maravilhado
com o quanto parecia certo se aconchegar a este homem e relaxar em seus
braços. Era uma segunda natureza agora e as mãos de Walker se espalharam
nas costas do rapaz como se pertencessem àquele lugar, como se Fin
pertencesse a ele.
— Quem é aquela com seu irmão e o cavalheiro da comunidade? —
Walker perguntou e o jovem riu. Ele não precisava olhar para saber de qual
“cavalheiro” Walker estava falando. Eles tomavam café da manhã no
apartamento de Reid sempre que as meninas estavam com Agnes. Walker e
Penn gostavam de provocar um ao outro, e Fin podia vê-los se tornando
bons amigos com o tempo.
— É a irmã do Penn, a Penelope. Eu vivo dizendo a você, não deixe a
barba e o coque grande e bagunçado te enganarem. Penn é um gênio e pode
consertar qualquer coisa. Ele é o LeBron James das babás e a razão pela
qual Reid não estava tão preocupado em me perder.
— Ele está me conquistando. E a irmã dele?
— Penny? Ela é maravilhosa. Eles eram um acordo do tipo “dois por
um” e no fim, Reid conseguiu que ambos se juntassem à agência.
— Então ela é babá também... E presumo que seja... — Walker
murmurou sugestivamente e Fin se inclinou.
— É claro, se ela está na agência do Reid. Por quê? — ele perguntou,
desconfiado. Walker balançou a cabeça, mas seu olhar se dirigiu para
Agnes. Os olhos de Fin o seguiram, e ele franziu os lábios. Agnes estava
encarando enquanto Penny ria de uma das piadas do irmão. Fin não podia
culpá-la. Penny era tão gentil e com espírito tão livre quanto Penn, mas ela
era muito mais bonita. Ela lembrava Fin de uma fada da floresta, o que era
perfeito, porque Penn e Penny ficavam mais felizes quando se perdiam nas
matas e ambos eram veganos.
— Ah... isso é muito interessante — Fin concordou, com hesitação.
— Mas não sei se é uma boa combinação. Penny é hippie e vegana como o
Penn. Mas ela é ainda mais pura que ele. Acho que a última namorada dela
era budista e fazia parte do Corpo da Paz. Penny com certeza acharia Agnes
gostosa, mas não acho que se dariam muito bem...
— Muito interessante... — Walker concordou. — Fique de olho nisso
e me mantenha informado.
— Mantê-lo informado? — Fin balançou a cabeça. — Quando elas
teriam chance de se encontrarem de novo? Agnes não tem filhos.
— Ainda.
— Sério? Quando ela decidiu que queria ser mãe?
— Cerca de seis meses atrás, imagino. Tenho enviado fotos e
candidaturas para ela e acho que minha irmã está pronta — Walker
respondeu. O rapaz suspirou e pensou no assunto.
— Isso é muito interessante, mas Penny confia menos ainda em ricos.
E ela iria irritar Agnes — previu.
— Por isso é tão perfeito. Olhe para nós. Não tenho ilusões e você
não gosta de gente rica. E é o que Agnes merece — ele riu. Fin já tinha
causado confusão suficiente no papel de irmão mais novo e sabia que não
deveria se meter, mas arriscou um olhar para o próprio irmão e sorriu.
— Sabe, Reid não administra esse tipo de agência e não vai ficar feliz
se perder outra babá para os Camerons.
— Tenho certeza de que ele vai entender, por ser irmão mais velho.
— Agnes é dezesseis meses mais velha que você — Fin observou,
mas Walker dispensou a informação.
— Eu sou mais alto e bem mais maduro.
— Então isso faria de você o irmão mais velho de todos, menos de
Penn e Gavin — Fin disse e o outro homem bufou.
— É assim que me sinto ultimamente.
— Você ama meu irmão e meus amigos.
— Amo — Walker admitiu com uma risada gentil e puxou Fin para
mais perto. — Obrigado por compartilhá-los comigo. Eu só queria ter uma
família melhor para compartilhar com você.
— Pare! — O rapaz abafou uma risadinha e deu um tapinha nele. —
As meninas são minha coisa favorita no mundo inteiro. Eu não poderia
amá-las mais nem se elas tivessem saído de mim. E Agnes é um tesouro.
— Eu já pensei em enterrá-la na praia diversas vezes — Walker
murmurou, ganhando outro tapinha e uma risada de Fin.
— Ela é a melhor.
— Ela é — concordou.
— O irmãozinho dela também não é tão ruim assim.
— Não é?
— Ele é perfeito, na verdade. Acho que deve ser o homem mais lindo
que eu já vi — Fin sussurrou.
— É mesmo? — Walker perguntou com uma risada calorosa e o
jovem assentiu. Até onde ele sabia, não havia um homem vivo que pudesse
se comparar a Walker Cameron III. Mas era muito mais do que sua
aparência, os ternos impecáveis ou seu cheiro. Fin amava Walker ainda
mais quando ele era corajoso o suficiente para ser vulnerável e honesto.
— É. Ele não é tão malvado quanto gostaria que todos pensassem e é
todo meu — Fin afirmou com sua confiança habitual. O marido murmurou
em concordância conforme capturava o queixo do outro. Walker inclinou o
rosto de Fin para trás e fez os dedos dos pés dele se curvarem com um beijo
lento. Ele suspirou de um jeito sonhador quando seus lábios se conectaram
e então se uniu a Walker. — Ele é o homem dos meus sonhos e vou passar o
resto da minha vida com ele.
— Tenho a sensação de que você está certo. As coisas têm um jeito de
saírem sempre perfeitas quando você está por perto.

FIM
LEIA TAMBÉM:
Erin Stewart sabe que enfrentar a festa de aniversário de casamento
de seus pais não será nada fácil. Ela sabe que vai se deparar com segredos
doloridos e muita tensão familiar. É por isso que contrata Steph Mitchell,
uma atriz linda de morrer, para fingir ser sua namorada. Serão apenas cinco
dias. E com a ajuda de Steph, ela pode enfrentar a situação, certo?
Ela só não esperava que o romance de mentira parecesse tão real.
Também não previu que a atração ficaria fora de controle, com
consequências vertiginosas para todos. E no final, vai precisar descobrir se
Steph é seu destino ou sua ruína.

Prepare-se para um romance repleto de desejo, um primeiro beijo fora


do comum e dramas familiares de partir o coração, tudo ambientado no
cenário cinematográfico das Terras Altas da Escócia.
Clare Lydon é a rainha das comédias românticas britânicas, e essa
história vai te fazer rir e chorar na mesma proporção.
PRÓLOGO
Vinte anos antes...

STEPH ABRIU OS olhos e levou um momento para se lembrar de


onde estava. A luz que passava pela persiana entreaberta e empoeirada
iluminou a parede do outro lado do cômodo.
Uma mulher de jaleco branco estava ao lado da cama, com uma
prancheta na mão, e o som da caneta contra o papel era quase abafado pelo
bipe dos monitores.
— Você está acordada de novo. — A voz da médica era baixa.
A mente de Steph girou um pouco enquanto ela tentava se lembrar o
nome da médica. Teresa? Tracy? Trudi? Tinha certeza de que começava
com “T”, mas seu cérebro estava lento desde o procedimento.
— Como você está se sentindo?
A jovem fez menção de assentir, mas sua cabeça era como um peso
morto. Se forçou a engolir em seco. Queria muito poder escovar os dentes.
— Bem — resmungou. Pelo menos, esperava ficar bem. Depois de
seis anos vivendo momentos de muita tensão, sua expectativa era de que
isso marcasse um recomeço. O início de uma nova vida. Fazia dois dias
desde a operação. Tinha tubos saindo de sua boca e nariz, estava cheia de
pontos, mas estava viva.
A médica a olhou fixamente, então assentiu.
— Só não se esqueça de que você vai se sentir mal por um tempo.
Vá com calma e seja gentil consigo mesma. Não exagere. Você tem o resto
da vida pela frente. Nada de levantar pesos, correr ou pular.
Ter uma chance seria ótimo.
A médica apertou seu braço.
— Vejo você mais tarde. Descanse um pouco. — Ela fechou a porta
com um clique silencioso.
Steph se ajeitou na cama. Sentiu um pouco de dor. Seus molares
doíam, o peito estava apertado e as pálpebras estavam quase se fechando.
Respirou fundo, então fez uma careta. Queria se inclinar e se enrolar em
uma bola. Qualquer coisa para aliviar as dores constantes.
Mas tudo valeria a pena. Logo, seus dias de hospitais e salas de
espera de consultórios terminariam. Com o tempo, poderia até ser capaz de
correr. Chega de calcular o risco em cada passo. A médica prometeu que ela
viveria uma vida tão normal quanto qualquer outra.
— Mas será um caminho lento, sobretudo nos primeiros meses.
Você vai ter que ser paciente.
Essa era uma habilidade que ela havia aperfeiçoado.
— Você vai superar isso. Você é a minha guerreirinha. — Era o que
a mãe sempre dizia.
Steph brincou que, no próximo ano, iria pular de paraquedas para
comemorar seu aniversário de um ano. A mãe disse que ela não faria isso.
Talvez não o fizesse mesmo. Não queria causar ansiedade à mãe. Talvez
pegasse leve e fizesse coisas normais. Coisas que todo mundo tomava como
certo.
Como correr para pegar um ônibus, dançar como louca... Talvez até
beijasse uma garota. Ela se permitiu dar um sorrisinho, embora as maçãs do
rosto doessem. Seria demais. Além disso, talvez pudesse finalmente realizar
seu sonho de se tornar atriz. Se inscrever em um curso de teatro, como
sempre prometeu. Mal podia acreditar que essas coisas estavam ao seu
alcance.
A jovem teve uma segunda chance e não estragaria tudo. Viveu os
últimos seis anos de sua vida como uma lagarta preguiçosa. Agora, estava
pronta para sair de seu casulo e se tornar a borboleta que sempre deveria ter
sido.
Steph podia ousar sonhar.
CAPÍTULO UM
Dias atuais

— EU NÃO VOU.
Erin tomou o resto do gim Sevilla da taça de boca larga e se
recostou, fechando os olhos.
— Não vai? À festa de aniversário de quarenta anos de casamento
dos seus pais? — A descrença estampava o rosto de Morag. — Eu vou,
mesmo sozinha. Seus pais fazem festas incríveis. Lembra do aniversário de
sessenta anos da sua mãe, que tinha a escultura de gelo com vodca e o
karaokê com banda ao vivo? — Ela acenou e a manga do suéter rosa-claro
prendeu no pacote aberto de salgadinhos, fazendo-os girar na mesa. Morag
pegou antes que caíssem no chão e na boca do cachorro do pub, um
labrador chocolate chamado Freddo.
Erin se lembrava. Bebeu vodca demais, ficou chateada, tropeçou e
quase caiu do palco no meio de uma versão empolgante de The one and
only, de Chesney Hawkes. Mas ela disfarçou como uma profissional e
contornou a multidão com o microfone sem fio. Os parentes comentavam
sobre isso até hoje.
— Também me lembro de pensar que foi um pouco trágico não ter
uma parceira para me acompanhar.
Morag a olhou boquiaberta.
— Você tinha a mim! — A careta demonstrava sua indignação.
Erin franziu a testa e deu um tapinha no braço da melhor amiga.
— Eu sei, e você é a melhor. Naquela época, eu tinha vinte e sete
anos. Se você está solteira na casa dos vinte, tudo bem, Mas nada mudou
em dez anos. Não consigo enfrentar as perguntas da minha família sobre
meu status de relacionamento. Fica pior a cada ano. Além disso, você sabe
como são as coisas com meus pais. Eles são alegres demais e determinados
a mostrar que está tudo bem. Então, sim, vou para outro lugar. — Para
onde?, se perguntou, mas decidiu em um instante: — Vou para as
Seychelles. Só eu, o sol e meu coração solitário. Não vou ser a aberração de
trinta e sete anos na festa dos meus pais.
Morag inclinou a cabeça para trás e riu alto. O Falcon, lugar favorito
delas, estava lotado. Duas mulheres na casa dos cinquenta anos, usando
roupas de caminhada e sentadas na mesa ao lado, se viraram para olhar, e
Morag acenou.
Erin cobriu o rosto. Morag sempre foi assim.
— Devo pegar outra bebida ou você vai ficar ainda mais piegas? —
Morag colocou alguns cachos atrás da orelha direita. Ela se levantou, sem
esperar por resposta e se virou para Erin antes de sair. — Gim-tônica com
limão extra para a rainha do drama?
Erin bufou.
— Gim normal, por favor. Esse com sabor de laranja me fez desejar
chá e torradas. — Os ombros dela caíram. — Sei que tenho que ir, mas não
quero. Por que você não vem comigo e finge ser minha namorada?
Morag hesitou.
— Se a Patsy e o Duncan não me convidarem apenas por minha
personalidade brilhante, vou ficar bem ofendida. — Ela fez uma pausa. —
E embora seu plano seja ótimo, todos os seus amigos e familiares me
conhecem. Eles também sabem que sou hétero. Dificilmente vou me sentir
atraída depois de todos esses anos, não acha?
Erin iria para a festa. Estava apenas desabafando, e Morag sabia
disso. Mas por que o status de seu relacionamento era algo tão essencial?
Teve sucesso em todos os outros aspectos da vida, não era suficiente? Não
de acordo com sua avó.
Meu último desejo é ver você estabelecida, foi o que ela disse na
última vez que se encontraram. Se Morag queria drama, Erin aprendeu com
a melhor. Sua avó estava em forma, longe de bater as botas.
Morag voltou com o gim para Erin e sauvignon blanc para ela.
Arqueou a sobrancelha para a amiga enquanto se sentava.
O sexto sentido de Erin pareceu despertar. Aquele olhar no rosto de
Morag normalmente indicava problemas.
— Sabe, o que você acabou de dizer me fez pensar. Sobre eu fingir
ser sua acompanhante.
Erin piscou.
— Vai fazer isso?
— Claro que não. Para começar, o que o Tim diria?
— Você só saiu com ele algumas vezes.
— Não vou ser sua acompanhante.
— Estraga prazeres.
— Não, isso me fez pensar sobre um podcast que ouvi
recentemente. Aquele sobre relacionamentos. — Morag seguiu em frente.
— Estavam entrevistando um cara... me esqueci o nome dele. Ele estava
falando sobre uma agência que montou para pessoas que precisam de
acompanhante ou encontro.
— Não vou contratar uma garota de programa para ir à festa dos
meus pais. — Erin tinha padrões, e isso não era negociável. Ela não era
Richard Gere em Uma linda mulher.
— Não estou falando de uma garota de programa! — Morag tomou
um gole de sua bebida. — Além disso, quem faz isso hoje em dia? Elas são
acompanhantes. — Ela bateu na mesa. — Voltando ao meu ponto.
— Aquele em que você me diz para contratar uma garota de
programa?
— Não! Esse cara tem uma agência onde você pode contratar atores
profissionais para ocasiões como essa. Não é uma agência de
acompanhantes. São atores desempregados que estão cansados de trabalhar
como figurantes. Você não precisa dormir com ela, nem mesmo beijá-la. A
garota só vai acompanhar você pelo fim de semana inteiro e fingir ser sua
namorada. Se pensar bem, é perfeito.
— É desesperador.
Morag deu a ela um olhar penetrante.
Erin piscou, então franziu a testa.
— Não estou desesperada!
As vizinhas de mesa se viraram novamente. Era a imaginação de
Erin ou elas se inclinaram dessa vez?
Morag bufou.
— Não, o pub todo acredita nisso. Você acabou de gritar, o que é
sempre a melhor maneira de convencer as pessoas.
Erin revirou os olhos.
— Mesmo se eu contratasse uma atriz, como faria meus pais
acreditarem? Nos falamos toda semana. — Eles estavam acostumados com
o fato de ela estar solteira, então, não podia simplesmente aparecer com
uma mulher.
— Diga que conheceu alguém um mês antes. Não é como se você
morasse na esquina deles, não é? Eles vivem nas Terras Altas. A última vez
que fomos até lá, levamos quatro horas. A menos que tenham câmeras no
seu apartamento, ninguém vai saber que você não está transando com
alguém.
Erin considerou, então fez uma careta.
— De jeito nenhum. Temos muito em que pensar. — Sua empresa
de decoração em Edimburgo, a Female Flecks, estava com a agenda lotada
há meses. Reforma era algo que nunca saía de moda, e uma empresa de
decoração dirigida por mulheres era diferente o suficiente para conseguir
um fluxo constante de clientes. — Além disso, não são apenas meus pais. E
o Alex? Eu também teria que mentir para ele.
— E daí? Ele e a Wendy estão muito ocupados correndo atrás das
crianças para se preocuparem com sua vida amorosa. Além disso, tenho
certeza de que eles ficariam felizes com a distração. Algo empolgante e
novo para falar que não envolva treinamento para usar o penico ou birras de
crianças.
Isso era verdade. Erin sempre se sentiu na sombra do irmão porque
ele tinha um emprego como médico, além de esposa e filhos. Não
importava que ela administrasse sua própria empresa. Na sua cabeça, Alex
sempre a superava.
Então, é claro, havia Nadia.
— Sei que eles ficariam felizes por mim, mas pode piorar se
descobrirem que é mentira. — Ela enfiou duas batatas fritas com queijo e
cebola na boca enquanto sua mente girava com possibilidades. — Sou
sempre a estranha. Minha mãe e meu pai, Alex e Wendy. Até as trigêmeas
têm uma à outra.
— Então mude a narrativa. Qual é o problema? Você nunca levou
ninguém para casa. Faça diferente desta vez.
Erin sempre pensou que já teria conhecido alguém a essa altura da
vida e apresentado à família. Mas ela costumava vasculhar a cidade em sua
busca pelo amor verdadeiro. Contratar alguém para interpretar sua
namorada seria pior que aparecer sozinha? Além disso, as tensões
familiares sempre aumentavam em ocasiões especiais. Havia muitas coisas
não ditas. Talvez uma pessoa nova mudasse os holofotes.
— Que tal se eu fosse pesquisar a respeito? Falar com esse cara ou
alguém com quem ele trabalha. Descobrir os detalhes. — Morag inclinou a
cabeça. — Não é como se você não pudesse pagar. Está sempre me dizendo
que tem dinheiro, mas não tem onde gastar. Por que não considera um ato
de autocuidado? Algumas pessoas meditam, outras vão para um fim de
semana no SPA. Você pode contratar uma namorada linda para o fim de
semana para aliviar a pressão e tornar tudo mais suportável.
Erin imaginou a cena em sua cabeça: entrar na festa com alguém ao
seu lado em vez de ficar sozinha. O poço do desespero esquentou em seu
estômago. Seria bom. Caramba, seria uma mudança radical, e isso
significaria que sua tia Helena não viria até ela e acariciaria seu braço de
forma conspiratória, dizendo que não havia nada de errado em ser
solteirona, assim como ela.
Erin se ajeitou na cadeira. Talvez contratar alguém fosse melhor.
Sem sentimentos. A mulher faria o que ela quisesse. Teria controle total,
algo pelo qual vinha lutando desde... bem, desde que sua vida mudou.
Além disso, Morag tinha razão: ela podia pagar.
— Tudo bem. Pode pesquisar. Mas não acho que vai dar certo. Por
um lado, quem quer que eu contratasse teria que ser queer. Ou então, uma
atriz muito boa.
— Você quer uma namorada queer de mentira? — A melhor amiga
franziu a testa. — Não ouviu a parte sobre serem atores?
Erin apertou as mãos.
— Sei disso. Mas se a pessoa fosse queer as coisas seriam mais
fáceis. Ela compreenderia a questão da pressão familiar.
Morag deu a ela outro olhar penetrante.
— A pressão familiar que você está sofrendo está só na sua cabeça.
Seu irmão te ama. Seus pais também. — Ela fez uma pausa. — Sei que isso
é por causa da Nadia também...
— Pare. — Erin enrijeceu. Seu coração ainda acelerava, mesmo
depois de tantos anos. — Isso é sobre mim e minha incapacidade de ter um
relacionamento. — Ela atraiu o olhar de Morag. — Mas você tem razão, ir
com alguém seria bom. Faça contato e veja o que encontra.
CAPÍTULO DOIS
— STEPH, PEGUE!
Steph olhou para cima bem a tempo de ver uma lata dourada de
spray para cabelos voando em sua direção, mas não rápido o suficiente para
impedir que atingisse sua bochecha.
— Caramba, Jody! — Steph pegou a lata no chão empoeirado do
provador. Ela esfregou o rosto enquanto se levantava. — Por que está
jogando spray de cabelo em mim? — Ela olhou para sua fantasia: um
macacão verde chamativo, corda verde na cintura e folhas falsas cobrindo-a
dos ombros aos pés. Não era um visual que pretendia repetir tão cedo.
— Porque você precisa dele para o visual pé de feijão completo. —
Ela disse a última palavra como se estivessem prestes a entrar na passarela
da semana de moda de Paris. — Além disso, estava jogando para você, não
em você.
Jody estava na frente da amiga, vestida como uma bugiganga de
Natal. Sua estrutura de um metro e oitenta dois estava coberta por uma
esfera vermelha, o rosto e cabelo estavam pintados de dourado e luzes de
fada piscavam no topo de sua cabeça. Ela estava ridícula.
— Ainda não consigo acreditar que sou cinco centímetros mais alta
que você e não consegui o papel de pé de feijão. — A indignação cruzou o
rosto de Jody.
— O que posso dizer? Tenho experiência com isso.
Jody sorriu.
— Precisa refazer o cabelo verde antes de usar aquele spray
também.
Steph deu um tapinha no cabelo, sabendo que Jody estava certa. Sua
carreira como atriz chegou ao ponto em que estava no coro da peça João e o
pé de feijão, em Croydon, interpretando três papéis diferentes, incluindo o
aldeão, a vaca e o sábio pé de feijão falante. Estavam prestes a entrar na
primeira música, e esse era o grande momento do pé de feijão. No palco,
João cantava sobre estar perdido e não saber para onde ir. Steph se olhou
em um espelho. Ela entendia sua situação.
— Você vai beber comigo hoje à noite?
Steph assentiu.
— Vou. O Michael vai também. Ele disse que tem um trabalho para
mim.
Jody levantou uma sobrancelha.
— Ainda não consigo acreditar que ele desistiu de atuar.
Steph, Michael e Jody se conheceram na escola de teatro. As
carreiras de Jody e Steph ficaram unidas desde então, mas Michael se
cansou da insegurança no trabalho e começou um negócio, alugando atores
para pessoas que precisavam de encontros de mentira. Ela não o via há
alguns meses, mas a julgar por seu perfil no Instagram, a empresa estava
indo bem. Hoje à noite, Michael viria vê-la com uma oferta que ela não
poderia recusar. Ela pensaria a respeito. Ele tentou oferecer trabalhos a ela
antes, mas seus horários nunca batiam. Além disso, Steph não considerava
o que Michael fazia como um trabalho adequado de atriz. Claro, essa peça
podia não ser o lugar onde se imaginou aos trinta e sete anos, mas ao menos
ainda estava no palco e tinha sua carteirinha do Sindicato de Atores. O
negócio de Michael não era nada além de um serviço caro de
acompanhantes. Ainda não estava tão desesperada.
Na verdade, ainda estava na ativa.
Melhor isso que nada.
— Não tenho certeza do que ele quer me oferecer, mas foi muito
insistente. Talvez ele tenha um papel que será minha grande chance. Talvez
seja a minha hora de brilhar.
Quando Jody assentiu, sua fantasia tilintou.
— Está realmente na minha hora de brilhar! — Ela apertou um
botão na coxa e as luzes que cobriam seu corpo piscaram rápido demais.
Steph virou a cabeça e agradeceu por não sofrer de enxaqueca. Se
fosse sua mãe, ela não aguentaria aquilo.
— Todos em seus lugares! — Aquele era Ron, o diretor de palco.
Ele tinha cabelos grossos, da cor do suco de cenoura que Steph adorava,
mas que raramente podia comprar. Também tinha uma ruga tão profunda
entre as sobrancelhas que devia ter nascido com uma carranca. — O público
adorou a primeira metade, a julgar pela quantidade de sorvete que estão
comendo agora. Esgotaram o de chocolate e baunilha. Arrasou!
Finalmente algo para se orgulhar.
Ele se virou para Steph, acenando para sua fantasia.
— Você precisa de mais folhas. Perdeu alguma no primeiro ato?
Ela assentiu. Ron também tinha uma memória terrível. Isso
acontecia todas as noites.
— Elas caem no número do grande grupo. São giros demais.
Ele franziu a testa e a ruga aumentou.
— E seu cabelo precisa ficar mais verde. — Ele olhou ao redor. —
Marion! Precisamos deixar a Steph tão verde que os marcianos a verão do
espaço!
Marion apareceu com mais folhas, espetando-as no corpo de Steph.
Em seguida, pegou o spray de cabelo, cobriu os olhos da moça e borrifou,
cobrindo todo o cabelo de verde. Ela recuou, acrescentou um pouco mais de
cor e sorriu.
— Marciana pronta.
— Você é o pé de feijão mais sexy que já vi — Jody disse enquanto
passava com seus colegas bugigangas. — Lembre-se: tequila mais tarde!
Steph assentiu enquanto duas árvores de Natal humanas passavam
correndo. Então Harry, que interpretava João, apareceu ao seu lado
abotoando o short depois de uma rápida ida ao banheiro.
Steph desviou o olhar.
— Chamada de três minutos, pessoal! — Rony gritou. — Fiquem
em posição! — Ele apontou para Steph e depois para Harry. — Vocês dois
estão juntos. Fiquem assim, certo?
A cabeça de Steph vagou para o que Michael queria falar com ela. O
que quer que fosse, tinha que ser melhor que atuar como pé de feijão pelo
terceiro ano consecutivo. Sim, ela tinha um metro e sessenta e cinco, mas já
estava ficando estereotipado.
— Eu já disse que verde é a minha cor favorita? — Harry
perguntou. Eles esperavam nos bastidores, o resto do elenco já estava
cantando e dançando.
— Todas as noites, há trinta e três dias — Steph respondeu. Ele era
fofo, mas cansativo.
— O João e o pé de feijão estão prontos? — Ron sussurrou, fazendo
Steph pular. Algumas folhas caíram no chão. Em segundos, Marion
apareceu e as colocou de volta rapidamente.
Ron deu um sinal de positivo, seguido de um largo sorriso.
Hora do show.

***
Steph viu Michael assim que entrou na festa. O homem malaio e
musculoso de um metro e oitenta e três não era difícil de identificar. Além
de começar sua própria agência de atuação não muito ortodoxa, Michael
também instalou uma academia em casa. Agora, sempre que tinha alguns
minutos sobrando, malhava. Ele não precisava de atenção masculina,
mesmo que os homens com quem saísse não parecessem ficar muito tempo.
Ela se aproximou e deu um abraço nele. Depois da noite que teve,
em que escorregou na água e quase caiu no fosso da orquestra, foi ótimo ver
um rosto familiar. Embora, infelizmente, não tão familiar quanto gostaria.
Esse era o problema com o trabalho teatral: sempre que Steph estava de
folga, seus amigos estavam trabalhando e vice-versa. Michael sabia tudo a
esse respeito, pois essa também foi sua vida dois anos antes.
— Exatamente a mulher que eu queria ver! — Michael beijou sua
bochecha e segurou uma mecha de seu cabelo, anteriormente castanho. —
À propósito, seu cabelo ainda está verde.
— Risco do trabalho.
Ele tinha cheiro de perfume caro misturado com fumaça e beijar sua
bochecha a fazia sentir como se tivesse acabado de passar o rosto por uma
lixa. Steph não tinha ideia de como as pessoas conseguiam beijar um
homem.
— Como está meu pé de feijão favorito?
— Extremamente perspicaz. — Steph pegou sua mão e o puxou em
direção à cozinha. Quando chegaram, os dois cumprimentaram algumas
pessoas. Ela pegou duas garrafas de cerveja de um balde de gelo no balcão
e se dirigiu para o jardim. Mesmo em dezembro, o ar fresco era bem-vindo.
Steph engoliu em seco, olhando para o céu escuro. Se ao menos houvesse
um pé de feijão mágico e sábio a quem pudesse recorrer para receber
conselhos e terapia de vida. Michael estava tão perto quanto ela. Eles
caminharam até uma fileira de dormentes de trem antigos que se alinhavam
a uma parede de canteiros de flores e se empoleiraram na beirada.
— Me diga novamente que há vida após a atuação. — Ela abriu as
garrafas e deu uma a Michael.
Ele tomou um gole antes de responder.
— Eu digo toda vez que nos vemos, mas você está determinada a
fazer essa carreira dar certo. Admiro isso. É uma coisa boa. Mas, às vezes, é
preciso saber a hora de mudar o rumo. Tentar algo novo. Como a minha
agência. — Ele tirou do bolso um maço de Marlboro Gold, acendeu um
cigarro e tragou. — É por isso que quero falar com você. — Para alguém
obcecado pelo próprio corpo, fumar parecia uma sabotagem ao seu esforço.
— Você foi muito enigmático ao telefone.
— Recebi um pedido muito específico. Uma cliente precisa de
alguém para atuar como sua namorada por um fim de semana. É a
comemoração de aniversário de casamento de seus pais. Ela tem trinta e
sete anos, é uma empresária de sucesso. O problema é que ela é lésbica e
pediu, se possível, por uma atriz queer. — Ele umedeceu os lábios. — Não
posso pedir aos atores do meu cadastro que declarem a sexualidade deles e
não vou ligar para descobrir. Mas então pensei em você.
— Não estou no seu cadastro.
— Eu sei. Mas você mesma disse que atuar paga pouco, ao contrário
da minha agência. Fiz um orçamento para esta mulher com o preço mais
alto, por conta da exigência em encontrar uma atriz queer, e ela nem sequer
vacilou ao aceitar. Bem, foi a amiga que falou comigo. — Ele ergueu a
mão. — Sei que você já rejeitou minha oferta antes, mas isso é diferente.
Você estaria me fazendo um favor pessoal. Além do mais, eu pagaria bem
pelo trabalho. Você ganharia em cinco dias o que levaria dois meses para
ganhar no palco.
Os ouvidos de Steph se aguçaram.
— Dois meses? Não é de se admirar que eu esteja ouvindo tanto
sobre seu serviço de nossos colegas.
Michael deu a ela um olhar compreensivo.
— A gente precisa tentar coisas novas na vida.
— Não sei. — Steph realmente queria desistir? Ela dizia isso o
tempo todo, mas era o sonho de sua vida. — Não tenho experiência nesse
tipo de trabalho.
— Você é ótima em improvisação, e isso é tudo de que precisa.
Lembra da vez em que você derrotou todos aqueles caras no desafio de
improviso? Você até tentou fazer stand-up e foi ótima. Deveria fazer de
novo.
— E ser mais um pouco chutada pela vida? Trabalhar com stand-up
é difícil. Especialmente quando se é mulher.
— E ser atriz é fácil?
Ele tinha razão.
Alguma coisa fez cócegas no pescoço de Steph, e ela deu um pulo,
bateu com a mão nas costas e girou. Um arrepio percorreu sua coluna.
Michael inclinou a cabeça e a olhou de um jeito divertido.
— Pode parar de sorrir e verificar se não tem uma aranha assassina
nas minhas costas? — Ela contorceu os ombros e balançou os quadris como
se estivesse girando um bambolê.
Michael se levantou e acariciou suas costas.
— Está tudo bem. Não tem nada aí.
Steph verificou mais uma vez, então eles se sentaram novamente.
— Eu não pediria se não achasse que você pode fazer isso. —
Michael lhe deu um olhar suplicante. — São cinco dias fingindo ser alguém
diferente. Você treinou a vida toda para isso. Se formou em atuação. E você
é lésbica! Além do mais, vi uma foto da mulher e ela é atraente. Fingir ser
namorada dela por cinco dias não vai ser difícil. Fingir olhar para ela como
se quisesse atacá-la? Facílimo.
Steph franziu a testa.
— Mas por que ela quer uma atriz lésbica? Pessoas heterossexuais
também podem interpretar gays. Tipo Suranne Jones em Gentleman Jack —
ela disse, colocando a mão no quadril. — Ela não espera nada além, não é?
— Claro que não! Já disse, é só atuação. Acho que ela só quer
alguém que entenda as pressões de ser lésbica e lidar com a família.
Steph pensou nisso por um momento.
— Vou deixar uma coisa bem clara: não vou dormir com ela. —
Sempre suspeitou que aquilo fazia parte do acordo.
Michael revirou os olhos.
— Não estou te contratando para se prostituir. É um trabalho de
atuação, e você é uma atriz altamente experiente. Além disso, todos nós
sabemos que você não consegue ir para a cama sem se apaixonar, então
imploro que não faça isso... pelo bem de todos.
Steph bufou.
— Posso fazer sexo casual sem me apaixonar! — Ela estava
mentindo, e os dois sabiam.
A risada de Michael ecoou no ar.
— Claro que pode. — Ele tomou um gole de sua cerveja. — De
qualquer forma, que trabalho você tem agendado?
— Estou naquela nova peça no Old Vic a partir de fevereiro, uma
semana após o término da atual. Vai até abril. Me inscrevi também para
fazer uma corrida escolar pelo país a partir de dez de maio, mas isso é algo
que eu realmente não quero. Vai durar dois meses. Uma atuação sobre
saúde sexual voltada para adolescentes. Mas o pagamento era acima do
normal e entrei em pânico. Estou tentando esquecer o fato de que vou
interpretar clamídia. — Foi para isso que ela estudou por quatro anos na
escola de teatro? Não.
Michael bufou mais um pouco.
— Isso é tentar coisas novas, mas às vezes, suas escolhas de vida me
fazem querer gritar. — Ele chamou sua atenção. — Este trabalho é para o
início de maio, então nossas agendas estão alinhadas. É como se estivesse
escrito nas estrelas. — Ele apontou um dedo na direção dela. — Garanto
que é melhor que interpretar clamídia. Quer saber o outro grande ponto?
Além do pagamento?
— Qual é?
— Fica nas Terras Altas da Escócia.
Steph engoliu em seco. Michael sabia o que aquela área significava
para ela. Ele conhecia a conexão.
— As Terras Altas. — Sentiu algo vibrar em seu peito.
Ele assentiu.
— Lochcarron, para ser mais preciso. Lembra de quando fomos até
lá?
— Como eu poderia me esquecer? — Steph sorriu. Eles foram no
verão do segundo ano da escola de teatro e acamparam ao longo da costa.
Foram mordidos por mosquitos e sofreram com a comida. A mãe de Steph
havia feito a viagem alguns anos atrás e disse que a situação alimentar havia
melhorado muito e o cenário era igualmente espetacular. Steph sempre quis
voltar, mas nunca encontrou o momento certo. Agora, ele estava sendo
colocado em suas mãos.
Ela respirou fundo. Poderia atuar por cinco dias, alugar um carro e
fazer uma viagem por conta própria. Visitar o lugar que significava tanto.
Afinal, ela era meio escocesa.
— Não consigo me lembrar de Lochcarron com precisão, você
consegue? Todos os nomes de lugares são um pouco confusos. Eu me
lembro de Skye e Ullapool, mas não muito mais.
Ele balançou a cabeça.
— Foi há quase vinte anos. Mas tenho certeza de que tudo voltará à
tona quando você chegar lá.
— Ainda não concordei. — Mas ela sabia que o faria. Assim como
Michael, pelo sorriso em seu rosto.
— É a Escócia, paga bem e vai ter comida e bebida de graça o fim
de semana inteiro. E, aconteça o que acontecer, não pode ser tão ruim
quanto quando você conheceu os pais de Andrea, pode?
Steph respirou fundo. Mesmo três anos depois, conhecer os pais de
sua ex ainda tinha esse efeito sobre ela.
— Você está certo, não pode ser. — Ela rangeu os dentes, então
tomou uma decisão. — Tudo bem, eu aceito. Onde essa mulher mora?
Michael sorriu, vitorioso, a pegou e a girou.
— Sabia que você era a minha melhor amiga por um motivo. — Ele
colocou Steph no chão. — Pelo que sei, em Edimburgo. Vocês terão que
chegar juntas, então terá que dirigir de Edimburgo a Lochcarron para, pelo
menos, firmar as histórias. Não que a rainha do improviso precise de muita
preparação, claro.
— Você deveria vir depois e me encontrar. Poderíamos refazer nossa
viagem à Escócia.
— Essa ideia é ótima. Contanto que você não caia em um lago de
novo.
Steph riu da lembrança. Estava frio pra caramba.
— Fiz isso, não é? — Ela fez uma pausa. — Essa noite, quase caí no
fosso da orquestra também.
— Posso pedir que você tente não cair ou quebrar nada neste
trabalho? Só então irei ao seu encontro.
— Vou tentar o meu melhor.
— E podemos ficar em hotéis e não em barracas desta vez?
— Desde que você pague.
Ele sorriu, então se curvou.
— Será um prazer, madame.
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