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A Concepção de Espaço Na Investigação Epidemiológica
A Concepção de Espaço Na Investigação Epidemiológica
A concepção de “espaço”
na investigação epidemiológica
1 Instituto de Saúde Abstract Epidemiology’s conceptual and methodological shortcomings have placed constraints
C o l e t i va , Un i ve r s i d a d e on the study of health phenomena related to human communities, thus posing a challenge to
Fe d e ral da Ba h i a .
Rua Pa d re Feijó 29, 4o a n d a r, the field. This paper presents some basic principles resulting from the observation of the field of
Ca n e l a ,S a l va d o r, BA geography in defining its object – space – and the application of this object to medicine and epi-
4 0 1 1 0 - 1 7 0 , Bra s i l .
d e m i o l o gy. Such principles state the pertinence of a conceptual and methodological stra t e gy fo-
cusing on an approach to geographic space as ex p ressing the population’s living conditions. Ap-
plication of this concept to epidemiological studies is still limited, although such proposals have
already been developed in other areas of knowledge. Ecological studies, whose unit of analysis is
the gro u p, and the ecological model, based on the idea of an inter- relationship of factors, if im-
p rove d , could become a promising alternative in this dire c t i o n . The authors emphasize that re-
searchers should have wholeness as their scientific reference in order to guarantee the non-sepa-
ration of the complex interactive processes determining health phenomena in the population.
Key words Medical Geography; Geographical Space; Spatial Analysis; Epidemiology
causadas por organismos contagiosos pro p a- em explicar a ocorrência das doenças tra n s-
gados pelo contato ou objetos contaminados m i s s í ve i s, pre valentes na época. Também ela
( t e o ria do contágio). Na busca dos efeitos do adota o paradigma dominante da unicausali-
ambiente sobre a saúde, os trabalhos pro d u- dade e, apesar de ser a ciência que pre t e n d i a
z idos nessa época distinguiram-se por uma estudar a ocorrência da doença nas coletivida-
maior ênfase biológica/contagionista, geográ- des, o seu foco central era o indivíduo (Almei-
fica ou sociológica (Trostle, 1986). da-Filho, 1998).
Identifica-se como exemplo da corre n t e Os estudos enfatizando o impacto do am-
contagionista, o estudo de Snow em 1855 (Snow, biente, especialmente o clima, sobre as condi-
1997), considerado um marco na constituição ções de saúde do homem vo l t a ram a ser pro-
da epidemiologia, que, por meio da distri b u i- d uzidos e va l o rizados no início do século XX
ção espacial dos casos de cólera na cidade de (Pyle, 1979), mas é entre as décadas de trinta e
Londres, consegue identificar o veículo de trans- cinqüenta que se situa o início da crise da teo-
missão da doença antes mesmo da descoberta ria unicausal, com a constatação de que so-
dos micróbios. Os trabalhos de Hirsh, em 1860, mente a presença do agente não era suficiente
representam a vertente geográfica com o privi- para a produção de enfermidade e do apareci-
legiamento das categorias tempo e lugar nas mento de determinadas nosologias nas quais
suas análises, enfatizando as comparações em não era possível a identificação de um agente
escala internacional. Por sua vez, os estudos de e t i o l ó g i c o. Estes fatos aliados ao desenvo l v i-
Virchow, em 1847, e os de Durkheim, em 1897, mento das teorias do complexo patogênico, de
d e s t a c a vam que os fatores sociais também Max Sorre, e do foco natural, de Pavlovsky, fa-
d es e m p e n h a vam um papel etiológico causal vo re c e ram o florescimento da concepção da
( Tro s t l e, 1986). Estes, ao lado dos estudos de doença como resultado do desequilíbrio ecoló-
Vi l l e rmé, em 1840 (Vi l l e rmé, 1988), sobre a gico. Para Sorre, o clima tinha um papel espe-
saúde dos trabalhadores da indústria têxtil, de- cial entre os elementos da natureza. Ele tam-
m o n s t rando a relação entre a saúde e os pro- bém se pre o c u p a va em fornecer à geogra f i a
cessos produtivos em diferentes setores de Pa- médica uma base conceitual que permitisse in-
ri s, e dos de Chadwick, em 1842 (Chadwick, vestigações interd i s c i p l i n a re s, e além disso,
1945), sobre a situação de saúde das classes apresentava os hábitos, as condições de habi-
trabalhadoras na Inglaterra, são considerados tação e a ocupação como gêneros de vida, re-
como alguns dos principais representantes do presentando as possibilidades de constituição
m ovimento da medicina social ori g i n á rio da de complexos patogênicos (Silva, 1985). Apesar
França, que resultou em uma importante re- da maior capacidade explicativa desta teori a ,
f o rma sanitária nos estados republicanos da foram as idéias de Pavlovsky as mais debatidas
Europa. e divulgadas no Brasil. Elas pressupunham a
O desenvolvimento da microbiologia no fi- interação homem-ambiente onde o desequilí-
nal do século XIX, trouxe como uma de suas b rio poderia pro d u z i r, alterar ou tra n s f o rm a r
conseqüências a concepção da etiologia infec- os focos de transmissão de doenças (Fe r re i ra ,
ciosa da doença que pri v i l e g i a va o agente e 1991), contudo, porém mostrou-se insuficiente
c o n s i d e ra va como secundário o papel de ou- para explicá-las enquanto fenômeno que se in-
t ros fatore s, inclusive os da natureza. Co n t ra- c o r p o ra ao espaço organizado pelo homem
pondo-se à hegemonia desta teoria, neste pe- ( Ma rtins Jr., 1997). Esta tendência ecológica
r í o d o, destacam-se os trabalhos de Max Vo n mantém-se, e principalmente nos anos sessen-
Pettenkofer, nos quais, sem negar a importân- ta observa-se o seu fortalecimento na medici-
cia do agente biológico, este higienista alemão na e na epidemiologia. Os conceitos da ecolo-
considera a influência de elementos da geogra- gia são incorporados nos estudos do processo
fia física como o solo e a água na ocorrência e saúde-doença, contribuindo para o desenvol-
d i s t ribuição da cólera em Londre s, fato que vimento da história natural das doenças e do
tem sido interpretado como indicativo de ser o modelo da multicausalidade (Ba r re t o, 1982).
mesmo adepto da teoria da multicausalidade Os trabalhos realizados por Daggy (1959), Man-
na determinação da doença. Todavia, o para- ceau et al. (1960), Kurland & Reed (1988) são
digma da unicausalidade era hegemônico e foi alguns exemplos nos quais pode ser observada
responsável pela estagnação da medicina quan- a ênfase nos fatores ambientais, principalmen-
to à compreensão da dinâmica das doenças e te o clima, nas análises sobre ocorrência das
das causas de sua distribuição geográfica (Pes- doenças.
soa, 1978). A diferenciação social e cultural mais uma
É neste cenário que, apoiada na clínica e na vez volta a ser considerada como determinan-
estatística, nasce a epidemiologia, preocupada te da va riabilidade espacial da saúde-doença
(Pyle, 1979), agora apoiada principalmente nos t e rminantes das condições de vida (Sa n t o s,
recursos da epidemiologia (Almeida-Fi l h o, 1992). Assim, o espaço humano é necessari a-
1998). En t re t a n t o, tais fatores são encara d o s mente produto de uma série de decisões que
apenas como uma das características do am- orientam sua organização, segundo os critérios
biente e, portanto, colocados no mesmo pata- hegemônicos em uma dada formação econô-
mar que o clima e o solo, entre outras. mica e social, seja pela movimentação do capi-
Vale salientar que a epidemiologia, assim tal, seja pela ação organizada e planejada da
como a clínica, utilizava os conceitos da geo- sociedade pelo Estado, sendo um pro c e s s o
grafia sem contudo estabelecer-se um diálogo cheio de densidade histórica. Co n s e q ü e n t e-
entre estes campos de conhecimento, existin- m e n t e, o estudo do espaço presta-se a enfo-
do apenas esforços isolados não hegemônicos ques interdisciplinares, envolvendo a sociolo-
neste sentido. gia, a história, a economia e o urbanismo, que
Os avanços alcançados pela matemática e exigem da geografia um permanente intercâm-
pela estatística a partir das décadas de sessen- bio cultural com as ciências do homem e da vi-
ta e setenta, bem como o desenvolvimento da da (Ferreira, 1991).
computação eletrônica, contribuem para que a O perpétuo processo de reorganização das
epidemiologia encontre sua identidade provi- formas que apresenta e o seu conteúdo cultu-
sória, e é também por intermédio desta disci- ral, impõe que os estudiosos desse campo re-
plina que se processa o esforço para a matema- corram ao conhecimento histórico e cronoló-
tização da área da saúde (Almeida-Filho, 1998). gico. Este fato induz a uma maior aproximação
Concomitantemente vai se acentuando neste e n t re a geografia e a história, porque para ex-
campo um debate sobre a importância dos fa- plicar a organização atual do espaço, externa-
t o res econômicos e sociais na determ i n a ç ã o da em grande parte na paisagem, é necessário
dos fenômenos coletivos, que passam a ser en- reconhecer a sua inter- relação com o tempo
tendidos não apenas como atributos indivi- ( A n d ra d e, 1994). Este porém, nunca será dire-
duais ou um elemento do ambiente físico. Ta l tamente percebido ou apre e n d i d o, uma vez
movimento já vinha sendo incorporado ao dis- que é filtrado pelos agentes sociais – históricos
curso da geografia desde o início dos anos cin- ( A l m e i d a - Fi l h o, 1998). Um re f l e xo concre t o
qüenta, conforme referido anteri o rm e n t e. Es- desta historicidade é o recente fenômeno da
tas ciências questionam a abordagem reducio- globalização oriundo da difusão genera l i z a d a
nista até então adotada, apontando para a im- das técnicas e das inform a ç õ e s, em que as ci-
portância de se estudar os fenômenos popula- dades continuam combinando um grande nú-
cionais com uma visão mais totalizadora, con- mero de variáveis típicas desta época e de épo-
s i d e rando a historicidade de sua determ i n a- cas passadas. Logo, na realidade, as metrópo-
ção. Nesta linha de investigação podem ser ci- les não devem ser consideradas espaços homo-
tados os trabalhos de Ba r reto (1982), Si l va geneamente globalizados e modern i z a d o s,
(1985), Silva Jr. (1995), Paim (1997) e Barata et pois contêm elementos de diversas origens e
al. (1998). idades com multiplicidade de relações de capi-
tal, trabalho e cultura (Santos, 1997).
O esforço para atingir uma visão global, co-
A transcendência do espaço geográfico loca para o investigador a necessidade de utili-
zar não só sua capacidade de observação e re-
O espaço como uma totalidade é uma instân- flexão como também investir na busca de ino-
cia da sociedade, ao mesmo tempo que as ins- vações que facilitem o conhecimento da reali-
tâncias econômica e cultural-ideológica. Os dade (Andra d e, 1994). As generalizações não
seus elementos – homens, instituições, meio podem ser feitas, já que as pessoas não são
ecológico e as infra-estruturas – estão submeti- atingidas igual e linearmente pelas tra n s f o r-
dos a va riações qualitativas e quantitativa s, mações sociais (Santos, 1993), impondo-se in-
embora como realidade sejam uno e total (San- t e r p retações mais profundas e multilatera i s
t o s, 1992). O homem, porém, não é apenas o das realidades.
habitante de um determinado lugar, mas é tam- Assumido nessa concepção, o espaço geo-
bém o pro d u t o r, o consumidor e membro de gráfico apresenta-se para a epidemiologia co-
uma classe social, que ocupa um lugar especí- mo uma perspectiva singular para melhor apre-
fico e especial no espaço, e isto também define ender os processos interativos que permeiam a
o seu valor (Santos, 1993). ocorrência da saúde e da doença nas coletivi-
O processo de ocupação do espaço, desde o dades. De acordo com Silva (1997), pelo fato de
seu início (passado) até o momento (presente) a geografia marxista e de a epidemiologia te-
se refletirá no futuro, e é parte inerente aos de- rem como objeto o centro de uma rede de rela-
ções ampla e complexa que não se adequa a a u t o ra sugere ao invés da re d e, uma metáfora
uma visão metodológica estreita, torn o u - s e que denomina de “e c o s o c i a l” que corre s p o n-
bastante interessante para esta última discipli- deria a uma estrutura de um objeto de nature-
na o modo como aquela corrente da geografia za fractal, uma vez que a inter-relação entre os
t rabalhou a categoria espaço, valendo-se da fatores deve ser entendida como existindo em
análise do processo de sua organização como todos os níve i s, do subcelular ao social, re p e-
esteio das referidas relações, dando coerência tindo-se indefinidamente.
a um aparente caos. Inicialmente utilizado pela epidemiologia
O estudo da constituição dos diferentes es- como uma tentativa de integrar o biológico ao
paços recuperando a sua historicidade permite não biológico (Silva, 1985), o espaço geográfico
uma aproximação da realidade sem minimizar era considerado um lugar estático, isolado, sem
a sua complexidade. Entendendo que a produ- dimensão histórica (Carmo et al., 1995). Ao re-
ção e distribuição da doença e a constituição vestir-se de caráter social, ele passa a atender
do espaço têm os mesmos determinantes, este também às necessidades explicativas da con-
ú l t i m o, enquanto expressão das condições de cepção de determinação social da doença, vis-
vida dos segmentos que o ocupam, representa to permitir que os diferentes fatores que com-
a mediação passível de informar certas relações põem a estrutura epidemiológica sejam anali-
entre a sociedade e a saúde (Paim, 1997). sados numa perspectiva dinâmica e históri c a
(Barata, 1985), estando a sua compreensão di-
retamente articulada à formação econômico-
Limitações metodológicas social (Laurell, 1983).
e possibilidades de superação O conceito de espaço social recupera a his-
t o ri c i d a d e, incorpora a dinâmica de sua orga-
Mesmo reconhecendo que as abordagens indi- nização, a complexidade das interações e a to-
viduais e populacionais não são excludentes, a talidade de sua constituição (Ca rmo et al.,
epidemiologia ao investigar a saúde e a doen- 1995). Desta forma, a distribuição espacial da
ça, continua dando mais crédito às correlações doença re p resenta a realização manifesta ou
individuais (Castellanos, 1998), quando deve- empírica dos processos geradores subjacentes
ria adotar uma abordagem contextual para es- (Mayer, 1983), e o seu estudo capta a dinâmica
tar em consonância com a estrutura epidemio- da estru t u ra epidemiológica (Si l va, 1985), já
lógica dos coletivos humanos (Almeida-Filho, que o perfil epidemiológico dos diferentes es-
1998). As fragilidades conceituais e metodoló- paços é criado pela interação das relações so-
gicas no estudo desse processo enquanto fenô- ciais que caracterizam a sua organização, e mo-
meno coletivo têm sido mascaradas pela inter- difica-se através do tempo conforme o momen-
pretação do coletivo como uma associação es- to histórico em que se encontre o estágio de
tatística de dados individuais (Breihl, 1991). Es- d e s e n volvimento das forças pro d u t i vas e das
sa disciplina tem sido então desafiada a apor- relações sociais, as quais são os fatores defini-
tar os conhecimentos necessários à superação dores da organização do espaço (Breilh, 1991).
da crise atual de modo que realmente possa Apesar de o conceito de espaço social ade-
subsidiar o planejamento e, conseqüentemen- q u a r-se enquanto formulação teórica para a
te, as ações de saúde (MS/Cenepi, 1993; Rabel- explicação da ocorrência e da distribuição da
lo, 1996). Para isto, será preciso que novos mo- doença, para que se alcance a construção do
delos interpre t a t i vos da saúde/doença sejam c o l e t i vo, é indispensável, além do re f e re n c i a l
construídos, de uma maneira que os torne ca- teórico, o emprego de métodos e técnicas com-
pazes de integrar conceitos sistêmicos e causas petentes (Breilh, 1991). Neste sentido, o antigo
independentes, pela historicidade do processo instrumento da cartografia vem sendo utiliza-
e seus determinantes. Concomitantemente de- do com mais freqüência através das modernas
verão ser buscadas alternativas metodológicas técnicas de computação eletrônica (Ba r re t o,
para a pesquisa de processos e práticas sociais 1993; Me d ro n h o, 1995) e servindo como uma
ligadas à saúde (Almeida-Fi l h o, 1998). Co m o ferramenta auxiliar de maior precisão e capaci-
salienta Krieger (1994), a rede de causalidade dade operacional na apresentação e interpre-
não atende a esta necessidade por ser orienta- tação de informações espaciais.
da pelo pensamento biomédico e individualis- No momento atual a epidemiologia defron-
ta, pois a mesma foi elaborada apenas para dar ta-se com a incapacidade de operacionalizar os
conta da inter- relação simultânea dos vári o s seus novos paradigmas que têm nos objetos to-
f a t o res envolvidos na produção das doenças. talizados e na determinação não linear algu-
Para se adequar a uma teoria que realmente in- mas de suas pro p riedades fundamentais (Al-
t e g re os conhecimentos biológico e social, a meida-Filho, 1998). Alguns esforços nessa dire-
ção vêm sendo desenvolvidos por autores lati- uma apro p riação competente daqueles já de-
no americanos, tanto no campo teórico como senvolvidos em outras áreas do conhecimento,
p r á t i c o. Samaja (1996) discute as limitações a exemplo da química e da economia (Almei-
dos tipos de amostras que vêm sendo tradicio- da-Filho, 1998).
nalmente utilizados na epidemiologia, suge- A complexidade do enfoque conceitual de
rindo sua substituição por uma re p re s e n t a t i- espaço, proposto pela geografia crítica e poste-
vidade qualitativa sustentada em tipologias ri o rmente desenvolvido por vários autore s,
e s p a ç o - p o p u l a c i o n a i s. Ou t ros (Si l va Jr., 1995; tem levado a uma perplexidade ou mesmo a
Paim, 1997; Barata et al., 1998) vêm trabalhan- uma imobilidade para a sua operacionalização
do objetivamente em altern a t i vas para a ope- face à intrincada dimensão que assume a ques-
racionalização da vigilância da situação de saú- tão. Entretanto, este impasse deve ser supera-
de segundo condições de vida, como proposto d o, pois, por mais complexa que seja a situa-
por Castellanos (1991, 1998) cuja abord a g e m ç ã o, historicamente sempre que se ve rifica a
p rivilegia a categoria espaço, desenvo l ve n d o insuficiência de um paradigma estabelecido, o
uma metodologia específica, que se encontra homem é instigado a identificar novos cami-
em processo de validação. nhos que aportem aspectos essenciais da solu-
O modelo ecológico, por se basear na idéia ção. O importante no atual estágio do conheci-
de inter-relacionamento entre fatores, tem si- mento é se ter a totalidade como re f e r ê n c i a
do apontado como o precursor teórico mais científica, para garantir o não afastamento dos
a vançado para o estudo da determinação da complexos processos interativos determinan-
doença na perspectiva de integrar o conheci- tes dos fenômenos que ocorrem em cada espa-
mento biológico e social (Barata, 1985; Almei- ço social.
da-Filho, 1998); porém, ainda não permite a in-
terpretação fiel da realidade para tra n s f o rm á -
la (Barata, 1985). Apesar de já se encontrar qua-
se esquecido pelos epidemiologistas, este mo-
delo, se melhor fundamentado por meio da in-
c o r p o ração da dinâmica do pro c e s s o, poderá
ser aperfeiçoado e se constituir em uma alter-
nativa (Almeida-Filho, 1998).
Na prática investigativa, os desenhos de es-
tudos de agregados são considerados pela epi-
demiologia clássica como de segunda linha
(Kleinbaum et al., 1982; Rothman, 1986). Toda-
via, este tipo de estudo apresenta-se como a
mais adequada ou talvez a única estratégia me-
todológica para a apreensão da complexidade
desses fenômenos, pelo fato de usar mais fre-
qüentemente os agregados espaciais como uni-
dade de análise, e portanto, tomar rigorosamen-
te a dimensão coletiva (Possas, 1989; Schwartz,
1994; Almeida-Filho, 1998; Castellanos, 1998).
Assim, os efeitos resultantes da agregação nes-
ses estudos devem ser valorizados ao invés de
julgados como re s t ri ç ã o, pois os mesmos tor-
nam evidentes processos que muitas vezes pro-
duzem efeitos imperceptíveis no âmbito indi-
vidual (Almeida-Filho, 1998).
Apesar das possibilidades que representa, a
abordagem que tem como referência a concep-
ção de espaço social, não vem sendo adequa-
damente operacionalizada, visto que ainda em-
p rega va ri á ve i s, indicadores e medidas de um
modo que termina por reduzir esse conceito.
L o g o, torna-se necessário o desenvo l v i m e n t o
de um instrumental metodológico capaz de
a b o rdar esta questão entendendo a saúde e a
doença enquanto totalidade, ou que se faça
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