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3.ª reimpressão: fevereiro, 2000 12.' reimpressão: 2008 6JG-0~6.2Z
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8.' reimpressão: 2004 17.' reimpressão: 2014
9.' reimpressão: 2005 18." reimpressão: 2015

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
P493e

Pereira, Maurício Gomes


Epidemiologia : teoria e prática/ Maurício Gomes Pereira. - [Reimpr.J. - Rio de Janeiro :
Guanabara Koogan, 2016.
il.

Contém exercícios e respectivas respostas


Inclui bibliografia
ISBN 978-85-277-0356-7

1. Epidemiologia. I. Título.

08-2421. CDD: 614.4


CDU: 616-036.22

ô o1 iG3V 5'
Capítulo 1

CONCEITOS BÁSICOS
DE EPIDEMIOLOGIA

I. Co:isiderações gerais, 1 que pese ser "epidemia" um termo antigo, aparecendo nos escritos
A. Areas temáticas, 1 desde os tempos da Grécia clássica, a referência mais remota à
B. Defi nições da epidemiologia através do tempo, 3 palavra "epidemiologia" é de um texto espanhol sobre a peste, do
C. Premissas básicas, 3 século XVl.1 Há registro, também, de uma Sociedade de Epidemio-
D. Métodos de investigação, 3 logia, fundada em Londres, em 1850. A partir desta época, aproxi-
E. Corpo de conhecimentos, 4 madamente, as investigações etiológicas sobre as doenças trans-
F. Aplicações da e pidemiologia, 5 missíveis tomaram grande impulso e geraram um vasto conheci-
G. Especificidade da epidemiologia, 5 mento científico, que passou a constar de capítulos, nos livros de
H. Três aspectos da prática da epidemiologia, 5 higiene, com a denominação de "epidemiologia". O status de dis-
ciplina científica, porém, só foi alcançado na metade do século XX,
data do aparecimento dos primeiros livros-texto, detalhando con-
II. Perspectiva histórica, 7 ceitos e métodos, exclusivamente dedicados ao assunto. 2
A. Evolução da epidemiologia até o século XIX, 7 Etimologicamente, "epidemiologia" (epi = sobre; demo=
B. O século XIX, 7 população; logos = tratado) significa o estudo do que afeta a
C. A primeira metade do século XX, 10 população. O conceito original de epidemiologia, que se restrin-
D. A segunda metade do século XX, 12 gia ao estudo de epidemias de doenças transmissíveis, prevale-
E. Pilares da epidemiologia atual, 13 ceu por longo tempo. Recentemente, como veremos, o conceito
evoluiu de modo a abranger praticamente todos os eventos rela-
III. Comentário final, 14 cionados com a saúde das populações.
Questionário, 14
Leitura complementar, 15 A. ÁREAS TEMÁTICAS
Referências bibliográficas, 15
Como era de esperar, na evolução de uma disciplina que se
tornou muito abrangente, o campo da epidemiologia apresenta hoje
várias subdivisões, por área de conhecimento, as quais foram sur-
gindo, à medida que os problemas tornaram-se prioritários.

1. AS DOENÇAS INFECCIOSAS E AS
ENFERMIDADESCARENCIAIS
O capítulo tem por objetivos apresentar uma vi~ão geral
da epidemiologia e familiarizar o leitor co~ os respec~1vos con- No passado, o alvo da epidemiologia era representado pe-
ceitos e temas básicos, que serão expandidos poste_nor~e~t~. las doenças que se apresentavam sob a forma de epidemias bem
Parte substancial da matéria é abordada sob perspectiva h1ston- evidentes, tais como as de cólera, peste, tifo, varíola e febre
ca, realçando a evolução, a utiliza_ção ~tua! ~ a posição de gran- amarela - afecções de evolução aguda e que sempre alarmaram
de abrangência alcançada pela ep1dem10logia moderna. a população e as autoridades. No entanto, para possibilitar a de-
tecção precoce de epidemias, ficou logo evidente a conveniên-
cia do estudo da doença em seus períodos interepidêmicos, pois
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS a epidemia é apenas uma fase na evolução do processo mórbido,
na coletividade. Por isto, os estudiosos passaram a vigiar, de ma-
Os temas tratados na epidemiologia não são novos; relativa-
neira contínua, a ocorrência e a distribuição das doenças agudas,
mente nova é a disciplina acadêmica que atende por este nome. Em

2 Epidemiologia

o de afecções, houve necessidade de um melho


na população. A busca de agentes biológicos específicos para nes te grup . , . d f rc
·mento dos aoentes et10 1og1cos e os atores de risco [)0·
cada doença tornou-se o objetivo central das pesquisas etiológi- nhec1 º d d' . . .q
cas. "orços recentes expandiram o emprego a isc1plina nos servi· .
I' • 1 .t t , , Ços
O su~esso ~lcançado com a aplicação de semelhante abor- de saúde. Ao final deste hvr~, º. e1 or ~ncon rara cap_ltulos sobre
dagem, na mvestlgação das doenças infecciosas de evolução agu- as doenças infecciosas, as nao-mf~c_c1_osas e os ser~1ços de saú.
da, concorreu para estendê-la ao estudo das doenças infecciosas de , forma esta muito comum de d1v1drr o tema e ate de class·r: 111.
d: evolw~ão crônica, de que é exemplo a tuberculose. Outras afec- caros epidemiologistas.
çoes, CUJO comportamento assemelhava-se ao das doenças de
natureza transmissível , como as nutricionais - em especial, a • Outras subdivisões da epidemiologia
pelagra e o beribéri-, passaram, também, a ser pesquisadas da
mesma maneira. Com a ampliação, adi versificação e o aprofundamento d
campo de estudo da disciplin~, sur_girarr:i, também, outras div~
2. AS DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS sões das áreas temáticas da ep!~erruolog1a. Algu~as_tomam por
E OS OUTROS DANOS À SAÚDE base, como critério classificatono, grupos de poss1ve1s causas-
falando-se, então, em epidemiologia ambiental e ocupacional.
A:, _diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e Outras fundamentam-se nos grupos de risco (de crianças, de
carencia1s, o envelhecimento progressivo da população e a mu- adolescentes, de idosos etc.), nos locais onde a epidemiologia é
dança no perfil de morbidade, fatos que ocorreram primeiramente praticada (comunitária e hospitalar) ou utilizam outros critérios
em países hoje _considerados mais desenvolvidos, levaram a que - gerando, então, denominações como epidemiologia social, clí-
o campo de aplicação da epidemiologia fosse ainda mais amplia- nica, nutricional, farmacológica, molecular, comportamental etc.
do, p~ssando a compreender as doenças crônicas do tipo dege-
nerativo, as anomalias congênitas e muitos outros eventos como
?s a~identes e os envenenamentos, que não são doenças, ~as que • Exemplo: temas do congresso de epidemiologia no
Justificam uma abordagem semelhante. Daí é costume dizer-se Brasil, realizado em 1990
que o objeto da epidemiologia é representad~ por qualquer dano O Quadro 1.1 mostra uma classificação, segundo áreas
ou agravo à saúde estudado em termos de população. temáticas, dos trabalhos apresentados no Primeiro Congresso
. ~o contrário das doenças infecciosas, não há um agente Brasileiro de Epidemiologia, realizado em Campinas. A predo-
et1ológ1co conhecido para a maioria das enfermidades crônico- minância das doenças transmissíveis, no conjunto da produção
degenerativas. A ausência de agentes ou fatores específicos para científica, pode estar refletindo a maior disponibilidade de infor-
cada ~oe~ça toma o diagnóstico mais difícil e, conseqüentemente, mações sobre estas condições e, também, a importância que as
tambem e complexa a separação entre pessoas doentes e não- mesmas assumiram no perfil epidemiológico da nossa popula-
doentes. As investigações etiológicas sobre os agravos à saúde ção. 3 Nos países do Primeiro Mundo, predominam, dentre os
de natureza não-infecciosa foram, então, dirigidas para o estudo temas listados na citada tabela, as pesquisas sobre doenças crô-
de condições presentes em fase anterior ao aparecimento de al- nicas e saúde mental- além da SIDA (AIDS): os motivos desta
terações clínicas ou anatomopatológicas, especialmente os fato- primazia relacionam-se, provavelmente, à importância de que se
res de risco e os estados fisiológicos. Como conseqüência desta revestem estes problemas na nosologia local.
expansão, os conceitos e métodos da epidemiologia, hoje em dia,
estão sendo aplicados a qualquer evento relacionado com a saú-
de da população - e não especificamente a doenças. São exem- Qua~r_o 1.1 Tra_balhos apresentados no Primeiro Congresso
plos a investigação epidemiológica sobre o hábito de fumar, o Brasileiro de Ep1derniologia, classificados por tema:
peso ao nascer, os níveis de glicemia de uma população, a fadi- Campinas, 1990
ga profissional, a violência urbana e o consumo de drogas, ao lado
Temas Número %
das pesquisas mais tradicionais de morbidade e mortalidade.
Temas específicos * 308 79,8
3. OS SERVIÇOS DE SAÚDE Atividades de infra-estrutura 49 12,7
Políticas e organização de serviços 16 4,1
A assistência aos doentes e as práticas preventivas represen- Fundamentos teóricos 13 3,4
Total geral 386 100,0
tam fatores que intervêm na distribuição e na ocorrência das doen-
ças. Conseqüentemente, os serviços de saúde também passaram a * Classificação dos temas específicos
ser abordados, mediante a utilização do quadro referencial da epi-
demiologia. Os estudos epidemiológicos sobre serviços de saúde Doenças transmissíveis 103 26,7
são realizados com objetivos diversos, entre os quais os de conhe- Serviços de saúde 49 12,7
cer a situação - por exemplo, a cobertura populacional ou a qua- Saúde da mulher e da criança 47 12,2
lidade do atendimento, com o intuito de identificar problemas, as- Saúde do trabalhador 27 7,2
sim como investigar as suas causas, propor soluções compatíveis e Doenças crônicas 22 5,7
avaliá-las com os métodos usados em epidemiologia. Saúde mental 15 3,8
Epidemiologia social 14 3,6
Nutrição 9 2,3
Em síntese, a evolução aqui traçada indica que a epidemio- Saúde ambiental 8 2, 1
logia foi primeiro utilizada no estudo das doenças infecciosas e Outros 14 3.6
carenciais, e, depois, nas não-infecciosas. Neste segundo grupo, Total dos temas específicos 79,8
308
há um amplo número de subdivisões, de que são exemplos a
Fonte: Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Epidemiologia. ABR ASCO 199 1:20
epidemiologia cardiovascular e a do câncer. Para poder intervir (Quadro adaptado )3.
Conceitos Básicos de Epidemiologia 3
B. DEFINIÇÕES DA EPIDEMIOLOGIA
etiologia (causa, fator ou detenninante) ou ecologia (oito vezes
ATRAVÉS DO TEMPO em
23) e prevenção ou controle (três vezes em 23).
_ .
Diante do exposto, compreende-se que, embora nao haJa
A ampliação do campo de aplicação da epidemiolooia, consenso em sua definição, a epidemiologia é entendi~a,
esboça da nos parágrafos anteriores, fez com que muita s em
defini- sentido amplo , como o estudo do comportamento coleti
ções surgissem, na tentativa de expre ssar, com maior precis vo da
ão, a saúde e da doença. No intuito de alcançar melhor nível
nova realid ade. Como ~onseqüência, pode- se encontrar, hoje de ex-
em plicação, pode-se conceituá-la da maneira expressa no Quadr
dia, dezenas delas na literatura especializada, o que, embo o 1.2.
ra re-
fl etindo ~ evolução d_a ~isciplina, também significa que
ma é aceita por unamm1dade. nenhu- C. PREMISSAS BÁSICAS
As definições mais antigas estão limitadas à preocupação
exclusiva com as doenças transmissíveis, pelo que afirma Um dos princípios básicos da epidemiologia é o de que ~s
m tra-
tar-se de ciência ou doutrina médica da epidemia, ou de discip aoravo
b s à saúde não ocorrem, ao acaso , na população. A partir
lina deste princípio, dois corolários se aplicam:
dedicada à investigação das causas e ao controle de epidem
ias. Já
as recentes incluem, também, as doenças não-infecciosas,
outros • a distribuição desigual dos agravos à saúde é produto
problemas de saúde e até os estado s pré-patológicos e fisioló
cos. Vejamos algumas definições: gi- da ação de fatores que se distribuem desigualmente
na po-
pulação; a elucidação destes fatores, respon sáveis pela distri?
ui-
• "A epidemiologia é o campo da ciência médica preocu ção das doenças, é uma das preocupações constantes da
- epide-
pado com o inter-relacionamento de vários fatores e condiç miologia;
ões • o conhecimento dos fatores determinante s das doenças
que determinam a freqüência e a distribuição de um proce
sso permite a aplicação de medidas, preventivas e curat
infeccioso, uma doença ou um estado fisiológico em uma ivas ,
comu- direcionadas a alvos específicos , cientificamente identificado
nidade humana."4 s,
• "A epidemiologia é um campo da ciência que trata dos o que resulta em aumento da eficácia das intervenções.
vários fatores e condições que determinam a ocorrência
e adis- O detalhamento destes corolários costuma ser feito sob
tribuição de saúde, doença, defeito, incapacidade e morte
entre diferentes ópticas, segundo a visão de seus formuladores,
os grupos de indivíduos."5 geran-
do teorias e modelos com os quais se tenta apreender a realid
• "A epidemiologia ocupa-se das circunstâncias em que a-
de, com maior precisão. No Cap. 3, algun s destes modelos
as doenças ocorrem e nas quais elas tendem ou não a flores serão
cer ... apresentados.
Estas circunstâncias podem ser microbiológicas ou toxicológica
s;
podem estar baseadas em fatores genéticos, sociais ou ambie
n-
tais. Mesmo os fatores religiosos ou políticos devem ser D. MÉTODOSDEINVESTIGAÇÃO
consi-
derados, desde que se n?te que têm alguma influência
sobre a
prevalência da doença. E uma técnica para explorar a ecolog A sistemática predominante de raciocínio, em epidemio-
ia
da doença humana. "6 logia, é própria da lógica indutiva, mediante a qual, partin
do-se
• "A epidemiologia é o estudo da distribuição e dos de- de um certo número de dados, estabelece-se uma proposição
mais
terminantes da freqüência de doenças no homem." 7 geral. Por exemplo, a partir da observação de alguns pacien
tes,
• "A epidemiologia é o estudo da distribuição e dos de- portadores de uma mesma doença, é possível inferir a epidem
iolo-
terminantes da saúde em populações humanas." 8 gia desta doença.
• "A epidemiologia é uma maneira de aprender a fazer per- Os métodos utilizados na epidemiologia são encontrados em
guntas e a colher respostas que levam a novasyer&unt~~··· outras áreas do conhecimento, embora seja freqüente a referê
~m~r~- ncia
gada no estudo da saúde e doença das populaçoes. ~ a c1enc1 a "métodos da epidemiologia" ou "métodos epidemiológicos".
a bas1- Eles
ca da medicina preventiva e comun~tária, sen~o aplicada a devem ser entendidos como um certo número de estratégias
u~a v~; adap-
riedade de problemas, tanto de serviços de saude como de tadas para aplicação a situações próprias do estudo da saúde
saude. da
população, que também são utilizadas, de maneira mais ampla
, na
Vinte e três definições de epidemiologia, encontradas metodologia científica que rege todas as ciências.
na Classificar os principais métodos ou tipos de estudo é uma
literatura anglo-saxônica, referentes ao período 1927-1976,
fo- tarefa aparentemente simples, mas que, na realidade, está
ram compiladas por um epidemiologista10 que, ao final, aprese reple-
n~a ta de dificuldades, em face da diversidade de critérios passív
uma outra definição, de sua autoria. Em resposta, outr~s eis
estudi- de serem usados, o que gera certa confusão semântica. A
osos do assunto apresentaram, em números subseque~t classi-
es ~a ficação dos estudos em descritivos e analíticos, e em exper
mesma revista científica, as suas versões sobre a conce imen-
1tuaçao tais e não-experimentais (ou de observação) é extensame
da epidemiologia. 11 • 14 Contou-se o númer_o ~e ;;z~s em nte
que cer- empregada.
tas palavras-chaves apareciam nas 23 defiruçoes. Eis alg~mas fre-
qüências encontradas: doença (21 vezes em 23), populaçao,
comu-
nidade ou grupo (17 vezes em 23), distribuição (nove vezes 1. ESTUDOS DESCRITIVOS E ANAÚTICOS
em23),
A classificação das investigações em descritivas e analít
Quadro 1.2 Definição de epidemiologia i-
cas é feita em função de seus objetivos, como será ilustra
do a
seguir. Embora estes objetivos não sejam, em muitas invest
Ramo das ciências da saúde que estuda , na população, a _ocorrê iga-
ncia, ª ções, facilmente separáveis, pois seus limites nem sempr
distribuição e os fatores determinante s dos evento s relacionados e são
com nítidos, o que torna esta classificação passível de crítica
a saúde , ela é
muito usada e útil, em termos didáticos.
-
4 Epidemiologia
, .ntervenção no processo da doença podem ser
tras _formas de I ira idêntica à das vacinas. A grande vantageni
• Estudos descritivos avahados de man~ tais é a possi bilidade de melhor neutralj.
dos estudos expe1 unen . '
Os estudos descriti vos informam sobre a freqü ência e a , ariáveis extrínsecas. . . . .,
0 s para rnves.
di stribui ção de um evento. Como o próprio nome indica, ~êm v - há 1·11m·tes a' cr1· ação
zc1r as Nao , . art1 fic1ai, .
de situações
objeti vo de descrever, "epidemiologicamente'' como se diz, os . _ nao _ . d·t das por condic10nantes1prat1cos ou pre.
t gaçao a sei as Ia doenças, por exemp o, e, d.ti ·1
dados colhidos na população . Estes, em geral, referem-se à mor- 1 .' , . . lo ia das J ic1 mente
ade, e são organizado s de maneira a mostr~r ce1tos éticos. A etio . g . t I E impossível fazer com que
talidade e à morbid es uisada de maneira expenmen a . . . .
as vari ações com que os óbitos e as doenças se encontram no se10 P q . e sadias por exemplo, limitem suas a11.
d .
algumas pessoas Jovens •
da própria população (por exempl o, entre faixas etárias) ou en- vidades físicas e outras não, durante anos: com o mtu1to
. .
t ;en:
tre regi ões e épocas di stint as. Por vezes, a descrição tem como ficar a relação entre sedentarismo e saude. Por ?utro a o, _e
foco outros eventos - caso dos fatores de risco e das caracterís- antiético provocar a doença, e?1 ~ere~ humanos, a fim ~e estud~-
ticas da população . Os Caps. de 4 a 11 trazem numerosos subsí- la cientificamente. Por estas hm1taçoes , os estudos nao-exper!-
dios para a descrição de eventos, na coletividade. mentais, vistos a seguir, ocupam posição de destaque como me-
todo de investigação.
• Estudos analíticos

Os estudos analíticos têm o objetivo de investigar em pro- • Estudos não-exp erimenta is


fundidade a associação entre dois eventos, no intuito de estabe-
Os estudos não-experimentais, ou "de observação':, são
lecer explicações para uma eventual relação observada entre eles.
majoritários na área de saúde. Eles referem-se a_pe~-
Por exempl o, em pesquisa sobre a associação entre colesterol largamente
situações que ocorrem naturalmente. Neles, como 111d1-
sérico e coronariopatia, tenta-se verificar se os níveis altos ou quisa de
denominação, o pesquisador apenas observa as
baixos desta substância acarretam, consistentemente, riscos di- ca sua própria
compara as suas características. O investi-
ferenciado s de ocorrência daquele tipo de doença cardiovascu- pessoas ou grupos e
a situação, como nos estudos experimentais, so-
lar. Os dois eventos focalizados são, respectivamente, uma su- gador não cria
posta causa (o nível de colesterol) e um dos seus efeitos (a coro- mente colhe e organiza os dados respectivo s, para que possa
nariopatia). Se os riscos são consistentemente elevados para seg- investigá-l a. Serve de exemplo o estudo comparativo da incidên-
uma cia de cardiopati as, em indivíduos vegetarianos e não-vegetaria-
mentos populacion ais com altos níveis de colesterol, tem-se
forte evidência da "relação causal" entre colesterol sérico e nos.
coronariopatias.
Na interpretação da relação entre dois eventos existem mui- 3. OUTRAS CIASSIFICAÇÕES
tas aimadilhas a serem evitadas. Numeroso s fatores , fora o nível
de colesterol sérico elevado, podem estar contribuindo para a ocor- Há muitos outros critérios de classificação de métodos de
rência da coronariopatia - caso do hábito de fumar e da hiperten- estudo, o que resulta em uma terminologia diversificada. Cabe
são arterial. Muitos destes fatores - comumente designados como citar, como ilustração , as investigações longitudinais e transver-
variáveis "externas" ou "extrínsecas" - têm de ser neutralizad os, sais, as prospectiv as e as retrospectivas, os estudos controlados
de modo que não venham a confundir a interpretaç ão da relação e os não-contro lados, e os de coorte e de caso-controle.
entre os dois eventos principais investigado s. Os Caps. 12 e se- Na investigaç ão de um tema, empregam-se as diversas
guintes tratam, em profundidade, dos estudos analíticos. modalidad es de estudo, passíveis de utilização, na busca da me-
lhor forma de produzir informações inequívocas e evidências
2. ESTUDOS EXPERIMENTAIS E NÃO- mais consistentes, sobre o assunto. O método ideal de investiga-
EXPERIMENTAIS ção será aquele que, aplicado a uma dada situação, levando-se
em conta condicionantes éticos e práticos, melhor controle as
Numeroso s fatores e condições são considerados capazes circunstân~ias e fatores que dificultam a interpretação dos resul-
de favorecer a eclosão de doenças ou a manutenção da saúde. São tados. Por isto, em algumas situações, o investigador restringe-
exemplos típicos uma característica ou atributo das pessoas (há- se a estudos de observação e, em outras, não resume suas ativi-
bitos), um fator ambiental (poluição atmosférica), uma prática dades à mera obser~ação dos fatos, mas intervém de maneira que
preventiva (vacina) ou uma intervenção curativa (conduta mé- produza uma cond1_ç~o especial, artificial, onde haja maior con-
dica). Tais fatores e condições podem ser objeto de verificação trole sobre as cond1çoes de observação.
quanto à sua real influência, por meio de estudos epidemiológi-
cos. Es~a ampla ga~ a de situações, a esclarecer, faz com que seja E. CORPO DE CONHECIMENTOS
convernente a adoçao de uma outra forma de classificação, se-
gundo sua investigação seja feita de maneira artificial (estudos
, . ~odo agravo à saúde tem sua "epidemiologia". Os comen-
experimentais) ou natural (estudos não-experimentais).
tarios Jª apresentados nos tópicos precedentes fornecem uma idéia
dos numerosos ~etalhes, aspectos, informações e formas de abor-
• Estudos experim entais dagem que a epidemio · 1ogia· pode fornecer sobre doenças e ou-
tros agravos à saúde e que, em conJunto, · .
. constituem o "corpo de
. É possív~l, ao investigador, produzir uma situação artifi- conhec1mento" dispo mve , 1so bre um dado tema. São questões que
cial_para ~esqmsar o seu tema, o que caracteriza os estudos ex- d1zem . . .,.
respeito no que tange a doenças .mfecc1osa .
s e paras1tanas. a
p~nment~1s, Pº! vezes d!tos "de intervenção". Serve de ilustra- as pec tos concernen '
tes p
çao a ver~fica~ao do efeito das vacinas. A eficácia de medica- reservatório d ' or exemp_1o, ao agente etiológico . ao
mentos, cirurgias, condutas médicas, exames periódicos c - d ' ao~ ~~ _os de transmissão, ao período de incuha- .
Jh f · · , onse- Çao e e transm1ss1b1hd d ~ d' .· . -
os pro iss1onais, programas de saúde e uma infinidade de ou- res de risco. ª e,ª IStl 1bu1çao da doença e aos lalll·
Conct:ilO~ Básico~ <le Epidemiologia 5
Quadro 1. 3 Aplicaçõc::~ da epidemi ologia
ção, através do melhor conhecimento da situação, de seus fato-
p,,crc, cr a, rnnd içõc, de \~údc uapopu lação res determin antes e das melhores oportunidades de prevenção,
ln' ,,ugar o~ fatore~ dcte~mrnante~ da ~ituaçào de saúde de cura e de reabilitação. Mas este objetivo geral é encontrado,
.\ , aliar o 11npac10 da~ açocs para alterar a situação de saúde também, em outras disciplinas das ciências da saúde. Qual é, pois,
a contribuição própria da epidemiologia, que a diferencia das
demais? Essencialmente, é a de fornecer os conceitos, o raciocí-
nio e as técnicas para estudos populacionais, no campo da saúde.
O corpo de co nhecimentos
. fi gura tambe'n, · Por referir-se à saúde ou à doença, em nível do coletivo,
, , com maior ou
me nor detalhe.• . d nos li vros de clínica médica d d. · d ou seja, de grupos de pessoas, a epidemiologia confere uma ou-
. , e pe iatna, e
doenças cromco- egenerat1 vas e de outras disciplina fi • tra dimensão ao estudo destes temas, complementando o conhe-
. _ d d s a ms, pois,
na descnçao "d . e ca a agravo, quase sempre há uma - • • cimento produzido através de investigações de laboratório ou de
• ,, seçao mt1tu-
lada
' "ep1 erm o og1a
1
_ , na qual . constam os pontos essenc1a1s · · so- pesquisas de natureza puramente clínica. Alguns problemas de
bre O assunto. Nao raro, tais seções apresentam O e d _
. bf . ,. orpo e co saúde somente podem ser pesquisados no nível coletivo, próprio
nhcc1mento so orma smtet1ca, o que não reflete a ab
. _ d .d .
e as aphcaçoes a ep1 em1ologia atual. ran 00 encia da epidemiologia.
• ·

• Exemplo: fatores de risco para coronariopatias


f. APLICAÇÕES DA EPIDEMIOLOGIA As investigações epidemiológicas têm, consistentemente,
apontado que as taxas de colesterol, situadas acima dos valores
_O objetivo geral da e~idemiologia é o de concorrer para médios registrados para a população, ou os níveis séricos de HDL,
redu zi: os pro~l~~as de saude, na população. Um importante situados no limite inferior da distribuição, estão associados a
passo 111t~rme~1ar10 para ~lcançar semelhante objetivo, no qual maiores riscos de infarto do miocárdio. Somente as investigações
a epidem1ol?gia pode m_mt~ c~ntribuir, é representado pelo me- epidemiológicas puderam evidenciar que semelhantes relações,
lhor co?hec1mento_da _d1s~r~bu1ção das doenças, dos fatores que de fato, existem, e quantificar os riscos a que estão sujeitas as
determmam esta d1stnbmçao e das possibilidades de êxito das pessoas, em função dos níveis séricos destas substâncias no or-
intervenç~es d~stina_das a alterá-la. Logo, as principais aplica- ganismo, o que aponta para as condutas de prevenção, a adotar.
ções da ep1dem1olog1a podem ser colocadas em três grandes gru-
pos (Quadro 1.3), que guardam estreita relação com a definição H. TRÊS ASPECTOS DA PRÁTICA DA
de epidemiologia apresentada, anteriormente, e são resumidas, EPIDEMIOLOGIA
a seguir:
Para que os resultados de investigações, como as que iden-
• informar a situação de saúde da população - inclui a de- tificaram os fatores de risco das doenças coronarianas, sejam
terminação das freqüências, o estudo da distribuição dos eventos e aceitos sem reservas pela comunidade científica, alguns pontos
0 conseqüente diagnóstico dos principais problemas de saúde ocor- devem ser convenientemente tratados no desenrolar da pesqui-
ridos, inclusive com identificação dos segmentos da população sa. Entre eles, três se destacam pelo grande impacto que podem
afetados, em maior ou menor proporção, por estes problemas; ter nos resultados, de modo que parte considerável da avaliação
• investigar os fatores que influenciam a situação de saú- crítica das evidências geradas pelas investigações está baseada
de- trata-se do estudo científico das determinantes do apareci- na minuciosa verificação destes aspectos, que são:
mento e manutenção dos danos à saúde, na população; e
• avaliar o impacto das ações propostas para alterar a si- • a correta seleção da população para estudo;
tuação encontrada - envolve questões relacionadas à determi- • a apropriada aferição dos eventos e a adequada expres-
nação da utilidade e segurança das ações isoladas, dos progra- são dos resultados; e
mas e dos serviços de saúde. • o controle das variáveis confundidoras - ou seja, das que
confundem a interpretação dos resultados.
Estas três formas de uso da epidemiologia fornecem valio-
sos subsídios para auxiliar as decisões, seja em nível coletivo seja 1. A POPULAÇÃO PARA ESTIJDO
em nível individual.
Em nível coletivo, as decisões são tomadas pelos planejado- A epidemiologia lida com a população e esta pode ser com-
res de saúde, a partir das evidências proporcionadas pela epidemio-
posta por qualquer grupo de unidades. Embora os termos "epi-
logia, no sentido de implementar novas intervenções, reorientar as
demiologia" e "população" sejam usados em outros contextos,
atualmente existentes ou manter as mesmas estratégias em curso. como, por exemplo, em veterinária, 15 eles são aqui empregados
Em nível individual, valem-se dos subsídios, apurados com com uma visão antropocêntrica, isto é, em relação ao ser humano.
o uso da epidemiologia, os profissionais de saúde que lid_am _ d!- "População", "comunidade" e "coletividade" são denomi-
retamente com as pessoas, no sentido de fundamentar c1ent1f1- nações muito usadas, em epidemiologia, como sinônimos. Po-
camente decisões e condutas, tais como o diagnóstico clínico, a dem referir-se a numerosas situações: os habitantes de uma cer-
solicitação de exames complementares e a prescrição de vacinas, ta área, como os de um estado, bairro, edifício ou qualquer con-
de drogas e de regimes alimentares. junto de pessoas com determinadas características comuns -
doentes, clientes, operários, médicos, escolares, previdenciários
G. ESPECIFICIDADE DA EPIDEMIOLOGIA e recém-nascidos. Os dados referentes a estes grupos são encon-
trados em arquivos de prontuários, fichas , atestados e certifica-
O objetivo geral da epidemiologia, conforme foi visto, é o dos, e até organizados sob a forma de estatísticas. Quando ainda
de concorrer para o controle dos problemas de saúde da popula- não disponíveis, os dados são, então, coletados diretan1ente junto
6 1 p 1úrn 11 ulci1,t1 J

Clínica,
:\, pc,,na, . quer 111du1r1do toda a população. quer utili zando ape- Patologia
na, um a amo,tr.i . dc\ta população.

• Rcprc.,cntatividadc da amostra

O, problema, de ~aúde de um segmento ou de toda a po-


pu la~ão podem ,cr conhecidos pela ausculta de apenas alguns Epidemiologia
pouco, indi víduo, que constituem a amostra selecionada para x constante
coeficiente
t'ltudo. Um import ante aspecto referente à amostra, da qual se
obtêm o, dauos para uma investi gação ou para uma simples es-
latí,tica, con!>iste na verificação de sua representatividade. Fa-
remo-, aq ui uma distinção entre as pesqu isas feitas com as pes-
:-.oa, que procuram os serviços de saúde e aquelas que incluem a
população de uma de1erminada área. Demografia
A:,. pesqui sas de morbidade realizadas em estabelecimen-
to~ de :,aúde, ditas "i nstitucionais", alcançam um grupo selecio- Fig. 1.1 Componentes de um coeficiente e sua relação com cenas
nado de pe!>:,oas - emgeral, não-representativo de todos os doen- áreas do conhecimento.
te:,.. O!> rcsulta<los produzidos com os dados de "clientes" forne-
cem uma visão diferente dos problemas de saúde, comparados
ao que seria obtido em investigações "comunitárias", em bases No cálculo de um coeficiente, há aind~ ª. mu_Itiplica9ão por
territori ais bem defi nidas, por vezes ditas "populacionais", nas uma constante, de modo a gerar números de ~ac_il l~itura (Fig. l. l).
quais o objetivo é o de incluir as pessoas afetadas ou sob risco, A referida figura indica ainda que certas d1~c1plmas oc~pam~se
independentemente ele haverem ou não buscado os cuidados de mais com o numerador, outras com o denommador. A ep1dem10-
profü.sionais de saúde. As pesquisas que usam técnicas para ga- logia enfoca a relação numerador/denominador, quando o tema
rantir a representatividade de todos os doentes alcançam tanto é saúde ou doença.
os que procuram como os que não procuram os serviços de saú-
de. Os resultados obtidos, desta maneira, tendem a produzir um 3. O CONTROLE DE VARIÁVEIS
quadro mais realista da morbidade. No Cap. 16, o assunto é apre- CONRJNDIDORAS
sentado em detalhe.
A epidemiologia lida, essencialmente, com a c_ompara-
ção da freqüência de eventos: p~r exem~lo, dos coefic1e~tes de
2. A AFERIÇÃO DOS EVENTOS E A mortalidade entre duas populaçoes - seJam estas os habitantes
EXPRESSÃO DOS RESULTADOS de duas regiões, os clientes de dois hospitais ou de ou:ros _co~-
juntos. Para que tais comparaçõe~ p~oduzam co~clu~oes ute1s,
O cerne da prática da epidemiologia reside no processo de as populações devem ser comparave1s. Se elas nao sao compa-
quantificação dos eventos. Ele é representado pela medida, da ráveis - ou seja, se suas características são diferentes, os resul-
maneira mais exata possível, das freqüências - de doenças, dos tados podem perder o significado. Não há sentido, por ~x~mplo,
fatores de risco, das características da população, dos recursos em confrontar as taxas de mortalidade de pequenos hospitais com
etc. Questões referentes a fonnas de aferição e à quantificação as de hospitais terciários, sem que se façam os devidos ajustes.
da saúde e da doença na população são assuntos dos Caps. 4 a 11 Sabe-se de antemão que os primeiros têm menores taxas, pois
e 17. A coleta de dados sobre estes temas gera uma base factual encaminham os seus casos mais difíceis para estabelecimentos
para in vestigar-se como as características de~ta po~ulação, e ~s com maiores recursos; em geral, onde há melhores possibili-
fatores de ri sco nela encontrados estão associados a ocorrencia
dades de lidar com os pacientes graves. A comparação entre os
das doenças. Os dados de rotina produzi~os_ no atendi~ento da
dois hospitais deve levar em conta, pelo menos, a gravidade dos
demanda podem ser utilizados com tal obJelivo, mas sao as pes-
pacientes que neles são atendidos. A gravidade dos casos funciona
quisas bem conduzidas, com contr?le estrit~ sobre a coleta.de
como variável extrínseca, que é "confundidora" (ou de "confundi-
dados, a melhor opção para obter a mformaçao sobre a ocorren-
mento") na comparação de coeficientes entre os dois hospitais.
cia dos eventos na população.
A expressão dos resultados, em epidemiologia, é feita, prin-
Na interpretação de qualquer estudo epidemiológico, há sem-
pre o problema das variáveis confundidoras. Em termos ideais,
cipalmente, por meio de "coeficientes" (ou "taxas"), em face_de
sua utilidade e facilidade de interpretação, embora outros meios elas devem ser identificadas e devidamente neutralizadas. Ocon-
de sintetizar dados também sejam empregados. Todo coeficien- trole destas variáveis se faz na fase de planejamento da pesqui-
te é expresso por uma fração (Fig. 1.1). Para obtê-lo, é ne~essá- sa, na de análise dos dados, ou em ambas. Entre as técnicas uti-
rio conhecer, dentro do grupo objeto de estudo, os seus dois ter- lizadas estão a aleatorização das pessoas que devem formar os
grupos de estudo, o pareamento, a estratificação e a análise de
mos:
regressão múltipla. No Cap. 18, o tema é apresentado em mais
• os "casos", ou seja, o número de pessoas com determi- detalhes. Somente com o controle das variáveis confundidoras
nadas características, representados pelos doentes, nos estudos chega-se a conclusões apropriadas em estudos epidemiológicos
de morbidade, ou pelos óbitos, nos de mortalidade; este número e em comparações de estatísticas, de maneira geral.
constitui o numerador da fração; Em resumo, os resultados de estudos epidemiológicos têm
• o tamanho do grupo de onde provêm os casos, represen- mais credibilidade quando é dada a devida atenção à forma cor-
tados pelos "expostos" ou pela "população sob risco"; este nú- reta de selecionar indivíduos para o estudo, de aferir os eventos
mero constitui o denominador da mesma fração. e de neutralizar variáveis confundidoras.
Co ncl'.i tos flásicos de Epidem iologia 7

fl. PERSPECTIVA HISTÓRICA ou ~eja. as emanações. passariam do doente para os indivíduos


suscetíveis, o que explicari a a origem das epidemias das doen-
ças contagiosas.
A bu,ca da, . . raíze~ da epidemiologia co nfun de-se com a
ça- d · b Note-se que. ainda hoje, o sobrenatural e os miasmas são
11 ,,1ón ,1<la med icina e com a própria. evolu 0 a~ teori as so re
3, c;i u,a, J:i~ doenças. O conhec imento do pa'sad , · utili zados por leigos como explicações para as doenças, levando
. _ ., , o e essenc1a1
mormen te a at·itude d , · a numerosas práticas místicas, em que avultam as danças e o uso
rara en1ender_a ,1tuaçao atu al. os tecmcos
de amuletos para afastar danos à saúde, ou o emprego de subs-
e da populaçao. em face _ da doença e das manei·ra s de enf renta- ,
· d tânci as de odor forte, como o álcool , a menta e o eucalipto, usa-
1::i · Atravé, da _ mençao a vultos ilustres e a acontecimentos o
p;L,,::ido. ~ erao realçados alguns marcos da históri d ·d · das em fricções no corpo ou aspergidas no ambiente, em casos
-, ;,, Jk a aep1 em10-
logia.1 · de infecção respiratória.

• Primórdios da quantificação dos problemas


A. E~OLUÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA ATÉ o de saúde
SECULO XIX
O advento da quantificação de temas biológicos e sociais
A história da epidemi ologia pode ser traçada desd A11 _ foi um acontecimento de grande importância, pois encontrou
· 1 d l ' . b e a
1igu1t a e c ass1ca - em ora o termo "epidemi ologia'' seja rel a- campo fértil na saúde pública e na clínica.17 Foi somente há cer-
!l vamente recente, como refendo no início do capítulo. ca de três séculos que alguns pioneiros iniciaram tal tipo de abor-
dagem, mediante a utilização de dados de mortalidade.
• Hipócrates
• John Graunt
Hipócrates, médico grego que viveu há cerca de 2.500 anos
dominou o pensamento médi co de sua época e dos séculos se~ John Graunt (1620-1674), no ano de 1662, publicou um
guintes. Anali sava a~ doe1~ças em bases racionais, afastando-se tratado sobre as tabelas mortuárias de Londres, no qual analisou
do sobrenatural , teona entao em voga para explicá-Ias. As doen- a mortalidade por sexo e região. Visto não haver, à época, ano-
ças, para ele, eram produto da relação complexa entre a consti- tação da idade no registro de óbitos, este ilustre precursor selecio-
tuição do indi víduo e o ambiente que o cerca, muito na linha do nou determinadas causas, como prematuridade e raquitismo, para
raciocínio ecológico atual. Uma sofisticada explicação desta teo- estimar a proporção de crianças nascidas vivas e que morriam
ria é encontrada em seus li vros, onde figura a orientação ao mé- antes dos seis anos de idade. Graunt calculou em 36% a mortali-
dade, cifra julgada correta, à luz das verificações ulteriores. 19 Pelo
dico, de sempre considerar, na avaliação do paciente, entre ou-
seu pioneirismo na utilização de coeficientes - óbitos em rela-
tros fatores, o clima, a maneira de viver, os hábitos de comer e
ção à população - ele é considerado o pai da demografia ou das
de beber. Este sábio da Grécia antiga estudou as doenças epidê-
estatísticas vitais.
micas e as variações geográficas das condições endêmicas. Além
Entretanto, se forem desconsideradas estas primeiras ten-
disto, deixou-nos um juramento, que constitui o fundamento da
tativas, mais de natureza demográfica do que propriamente epi-
ética médica, e a defesa do exame minucioso e sistemático do
demiológica, o aparecimento de uma massa crítica de inves-
paciente, que consiste na base para o diagnóstico e para a fiel
tigações, semelhantes às que hoje são denominadas "epide-
descrição da história natural das doenças. Pelo muito que fez e
miológicas", somente ocorreu no século XIX.
legou à posteridade, Hipócrates, o pai da medicina, é considera-
do, também, por alguns, o pai da epidemiologia ou o primeiro
epidemiologista. B. O SÉCULO XIX

• Preservação dos ensinamentos hipocráticos A Europa no século XIX era o centro das ciências. Uma
sucessão de acontecimentos influenciava profundamente as pes-
A tradição de Hipócrates foi mantida, entre outros, por Ga- soas e as idéias. A Revolução Industrial, iniciada por volta de
leno (138-201) na Roma antiga, preservada por árabes na Idade l 75~ na Inglaterra e um pouco mais tarde em outros países, pro-
Média e retomada por clínicos, primeiramente na Europa Oci- duz~u um exten~o deslocamento das populações do campo par_a
dental, a partir da Renascença, e depois em, praticamente, toda as cidades, atra1das por emprego nas fábricas recém-criadas. A
pane. época, importantes correntes filosóficas e políticas estavam nas-
Embora muito de Hipócrates e de Galeno tenha chegado cendo ou mostravam suas repercussões, entre as quais a Revolu-
até nós, parte de sua contribuição foi perdida ou deturpada. Acres- ção Francesa do final do século XVIII e o positivismo, o materi-
cente-se que, mesmo a parte que nos chegou até hoje, foi relegada alismo filosófico e os movimentos político-sociais da metade do
a segundo plano, durante certo tempo, dando lugar a outras ex- século XIX. Epidemias de cólera, febre tifóide e febre amarela
plicações. Neste caso, encontra-se a teoria dos miasmas, vigente constituíam graves problemas nas cidades, levando maiores preo-
há séculos, e que dominou o pensamento médico até a segunda cupações quanto à higiene, ao aprimoramento da legislação sa-
metade do século XIX. nitária e à criação de uma estrutura administrativa para a aplica-
ção das medidas preconizadas. A explicação das causas das doen-
• Miasmas ças era disputada entre os que defendiam a teoria dos miasmas e
os que advogavam a dos germes.
A origem das doenças, na teoria miasmática, situava-se na Franceses e ingleses ocuparam posição de destaque na his-
má qualidade do ar, proveniente de emanações oriundas da de- tória da medicina e da epidemiologia daquela época, embora
composição de animais e plantas. A malária,junção de mal e ar, investigadores de outros países tenham, também, produzido obras
deve seu nome à crença neste modo de transmissão. Os miasmas, de grande valor. Entre os cientistas franceses , do século XIX,
11
8 Lp1llrn11 11l11µl ,1

kmbrndu, como pio nei ro~e com , . . , v·, consciG


o rcprc,e n1 an1c~ d~ im1!or\:ll~- cn1 cpocas. lll,·11s· remotas'N1,,1.1,1. . ncia do papéel dos !'atores
1c, co1Tcn1e, do pen~amen1n que
intlucnciaram a cp1dcn11 ologw . . b ' '1 "IÍld C 17 o t.:I11' 1111 l1 somente no s 1.: u1o XIX '\•,
soci.11 s so ie · s, . · _ ' '
.11ua\, encont ranH c Pierre Loub.
pclo u~o da c~1:11ís1icn ~m pcs- - .
rclaçncs cnti.c, ~on • hçoes cco 110•111 ·1c·is ,, ',
' · "' ·soc iai s, e seus efeito,,
qui,a clínica; Loui~ Vi l\ermé. pelo t .
. . ,. 'ide \ora m nu11 s . . coii sistcnt cmcnt c apontadas, cx pa
e~1u do da~ dclcnmn anl c~ so)\ 1c ,1s,IL • ·· - 1 11 •
,ociai, da, doença,: e Loui ~Pa,1 clind o-sc, desde ent ão, ,1. .~l de que estas rclaçoc s < cvc m ser
c11 r. por suas inve~1igaç ões 1~0 _noç_, o ,...
campo du microbiologia. En1 rc os submetida s à invcstigaçao c1cnt íl
ingk scs. mcreccm mença? lt:,1.
Will iam Farr. pcla apli caç:io dn cst:
llística ao es1udo da mortali -
dade. e John Snow. por ~cu~trabalho
~de campo. vohndos à ell~- • William Farr
cida çào de epidemias ele cólera.
Vejamos algumas carac1erfs11-
ca~do 1rab nlho dcs1es ci nco cicn1i
s1ns de modo n realçar. através Wil. liam
. F ( ()
•arr 18 7 188 3) estudou por dois anos cm Pa.
dek ~. a~ corrcnt cs de pen~am~nto . . .. L · . 11 e ·fo i inl'l
· · .
XIX.
da epid emiolog ia no séc ulo ns com P1c
. 11 c ou1 s, uenciad o pelo cnl oqu c soc.ial
, . é 1· d
. ~s 1·nvcstig·1ções. Rctorn an o 1 1
qucV 1\lerm con Cll,. ,1<1, ' ' , a ~nnt rcs,
•1p éis ·1sua es tada na Fl.,,111ça' , ti"tb
' alhou por m.ais de.40 anos no
• Pierre Louis Esc.ri;ó.rio do Reg istro Ger al da In glatcrra.22 Entre as sua s
tribuições, des taca m-se: um a clas con-
Picr rc Louis ( 1787 -\ 872) fun dou esco sifi cação de ~loe nça> ~11~1a des -
la em Pari s, freqüen- crição das \eis das epid emi as - asc_
tad a por inlcrcss ados vindos de mui ensão rápida i~o 11~,.~1~;, c_lc~
tos paíscs.w·21 Entre as sua s vação \enta até O ápice e, em seg
obras. encontram-se cstuclos clín uid a, um a qued~1 m<1 _1s I a1~1d,1
ico-patológicos sobre a tuber- ("lei de Farr")i<' - e a produção de
cul ose e sobre a febre ti fóid e. Sua informa9ões ep1dem1ol~g1cas
maior contribuição foi haver sistemáticas usadas para sub sidi ar
i111roclu lido c div ul gado o método o plan eJamento das _açocs de
estatístico, utili zando-o na pre venção e contro\ c.2'1 Nos rela
in vcs 1igação cl íni ca das doença tóri os anu ais do Registro Ge-
s. Em Pari s, àqu ela época, ra\ ond e trab alhou des de a sua
pro pugnava-sc a con1 agc m rigorosa fundação, em 1839, aprese nta va
de eve ntos para realçar se- as info rma ções de mortalidade e
melhanças e diferenças entre seg descrevia situ ações que apon-
mentos da população, na linh a tava m para as grandes des iguald
abraçada pela epid emi ologia atua ades, reg ionais e sociais, nos
l. Com esta visão, foi pos síve l perfis de saúde.
a Picrrl! Louis. ao ana lisar as inte
rnações hospitalares em Pari s Os relatórios do Reg istro Geral
- mai s especifica mente. a letalida da lnglate rra possibili ta-
de da pneumonia em rela ção ram o ace sso de estudiosos a um
/1época cm que o 1ratamento por manan1.: ia\ de info rma ções so-
sangri a era iniciado - reve lnr bre saúd e, até então não-dis poníve
a condut a prejudi cial representada l. Friedrich Eng els ( l 820-1895)
por esta técnica, no tratamento utili zou-as, especialmente na sua
de pneum oni as, muito mai s peri obra " A condição da classe tra-
gosa do que benéfica para os balhadora na Inglaterra, em 184
pacient es (Quadro 1.4) . Por trabalho 4", e Edwin Chadwick ( 1800-
s como este, Pierre Louis é 1890), um adv ogado, nos seus rela
rderen1.: iado. por muitos. como a tóri os sobre a saúde das clas-
figura ideal do clínico que usa
ade quadamente a epidemi ologia e ses trab alhadoras ( \ 842) e sobre
o modelo para os profissionais os cemitérios ( 1843), que sub -
de saúde que hoje colocam em prát sidiara m a refo rma sanitária ing lesa
ica a chamad a "epidemiologia da metade do séc ul o XIX .
clínica". Alguns o consideram com Chadwi ck, basead o em info rmaçõe
o o iniciador da estatística s do Registro Geral da Ingla-
médica e out ros como o verdad eiro terra, mostrou a grav e situação de
pai da epidemi olog ia moder- saúde de grande parte da po-
na, emb ora não haja consenso qua pul ação, atra vés de constatações
nto a este últim o títul o, já que como as seg uintes: mai s da
os autores anglo-saxões se dividem metade das crianças das classes trab
entr e Farr e Snow. alhadoras não chegav a à idad e
de cinco anos, a idade média do
óbito na classe mai s abastada
• Louis Vil ler mé era de 36 anos, entre os trabalh ado
res do comércio era de 22 anos
e entre os trab alhadores da indú stri
a, de 16 anos.25
Louis Vi\l erm é ( 1782-\ 863 ) inve Em outros centros culturais de ent
stigou a pobreza, as con- ão, além de Pari s e Lon -
diçôes de trabalh o e sun s repercu dres , a pesqui sa das causas das doe
ssões sobre a saúde, realçando nça s também torn ou um rum o
as estrei1as relações ent re situ açã s~n~ elhante, com ênfase conjunta
o soc ioeconômica e mortalida- nos aspecto s biológ icos e so-
de, o que o torn a um dos pioneiros c1~1s. Serve de exe mplo a investi
dos estudos sobre a etiologia gação rea lizada por Rud olf
soc inl das doe nças. Sua pesqui sa Y1rchow (1 82 1-1 902), urna das
sobre a saúde dos trabalhadores fi guras centrais da patologia
das indústrias de algo dão, lã e sed modern a, sobre um a epidemia
a é considerad a clássica ,2l Já de febre tifóide, ocorrid a na
Alemanha, em 1_8~8, cuja s conclu
sões fora m as de que as causas
era n~ t_anto soc 1a1s, econômi cas
b1olog1cas . e polític as, quanto físicas e
Quadro 1.4 Letalidade da pne
um oni a em relação it época
ele iníc io cio trat amento com
san grias: Paris, 183 5
Início do Número de Número de • JohnSnow
tratam ento • (dia s) pacientes Letalidade
óbitos (%)
1- 3 24 . 1?hn Snow ( 18 13- 1858) conduz
4-6 12 50 no mtu1to de esc hrece . · iu numero sas investigações
34 12 . · ' r <1 ongern das epi.demias .
7 -9 19 35 ridas em Londres, no período 184 de cólera oco r-
3 16 • • . . , 9-1854 26 F . ,. ' con
Total seg um mcnmm ar o con•·u d . 01 assim que -
77 27 • , • J
1.
pelos ep1sod1 os da doençamot e agua polu1d
, ,
a como resp onsáve l
35
· l~cfr :c-~é :H, dia de c,:otu ç_à~l ~h~ eontro Ie de nov , e raçar os pn. nc1, p1o.
s de prevenção e
pn~1c1r~ grnro . n ~un~n;\ fl,~1~11~mc
pneumonia cQ m qur/ tli aplirndn n 'i angii l\. As!\im
, pam , . •. os surt . os 1 1·d
' v,t I os ame·
lu
nph~a,·:m dl· :-.: mgn a SCl tcvc m11.·10 cn_trc o 1. e. o 1 dias dndncnça. No segun do grn po, 0u epoc,1mun o anterior ao i 1 ia hoje mas fixados cm urna
a partir do ..\ .'' dmt.la doença e. no terce .. ame nto do resp' ectivo ag,ente ·
.
Fl,ntc: [l1crrl . R 1
' Loui s. cc 11.~rc hc.., :-.ur 1 ff iro 11ru po no 7 11 .1•, gico , o que só acontec euso e111 1883 O etioló-
caclo de Su,,~r & Ack btcin. Thc 1.'!<i e l't'ts de la ~uignfr. Pari-; , Mignnrct ~ '
\ 835· m0· dT
ui ,1.
- cid ação da 'd . .
work of Wi llinm Fnrr 1975: iii.
" '
11
epi em ,a de cól · trabalh o de Sno w na
"epidern· 1 · d e ' ·
10 ogta e campo" . ra, e con siderado um clá ss11.:o da
' . elu-
Conc<.:i tos n:ísicos de Epidemiologia 9

Quadro 1.5 ~1 ort c~ por colera. por 1O mil hahitações, seguintes. outros cientistas também a0 rmaram que as doenças
na" '-CI C primeira, semana._<. de uma epidemi a. ocorrida em eram causadas por agentes animados, difere ntes para cada doen-
l ondrc., em 1854, na população servida por duas ça. conceito que era negado pelas mais importantes figuras da
companhiJ!! de abastecimento de água.
época. .
Companhia.~ de Número de Mortes por Mortes Um passo essenci al para o desenvolvimento da teona dos
por oermes foi a descoberta do microscópio, em 1675 , por va n
3 b~trcimcnt o habitações cólera cada 10 mil
de água
habitações
Leeuwenho ek ( 1632- 1723), que, graças a este engenho, conse-
South" ark & guiu visuali zar pequenos seres vivos, aos quai_s den_omi~ou
\'auxhall 40.046 ª animálculos ", abrindo uma nova direção para as mvest1gaçoes.
1.263 315
Lamhcth 26.107 98 Foi Pasteur, no entanto, a figura central da microbiologia,
37
Rc~to de Londrc\ 256.423 1.422 pois identi fico u e isolou numerosas bactérias, além de fazer tra-
59
hmtc John \ now ~obre a rnane,ra de tran,rn,ssão da cólera. ongmalmcmc publicado cm
balhos pioneiros de imunologia . Entre as suas muitas contribui-
1~~~ ções, está o estudo da natureza da fermentação da cerveja e do
lei te, em 1857, sec undado pela investigação das bactérias
patogênicas e dos meios de destruí-las ou de impedir sua multi-
plicação. Ele constatou que os líquidos sem germes se conser-
A expressão "epidemiologia de campo" significa a coleta vavam livres deles quando devidamente protegidos de contami-
planejada de dados, em geral, na comunidade.1s Snow, na tenta- nação veiculada pelo ar, por insetos ou por outros meios. Des-
ti va de elucidar a etiologia das epidemi as de cólera, visitou nu- cobriu o princípio da pasteurização, em 1865: os micróbios que
merosas residências para minucioso estudo dos pacientes e do causam a transformação do vinho em vinagre podiam ser mor-
ambiente onde viviam, inclusive com exame químico e micros- tos por meio de várias aplicações de calor, em temperaturas que
cópico da água de abastecimento. não causavam danos ao vinho. A convite do governo francês ,
em 1865, estudou e identificou os agentes etiológicos, e os meios
A obra deixada por Snow é muito apreciada como exem-
para combatê-lo s, da praga que prejudicava seriamente a indús-
plo de "experimento natural": conjunto de circunstâncias que
tria nacional do bicho-da-seda, sendo, portanto, um precursor
ocorrem naturalmente e em que as pessoas estão sujeitas a dife-
da colaboração ciência-indústria. Desenvolveu a vacina anti-
rentes graus de exposição a um determinado fator, simulando,
rábica, cuja aplicação permitiu salvar as pessoas mordidas por
assim, uma verdadeira experiência planejada com esta finalida-
cães raivosos, até então irremediavelmente condenadas à mor-
de. Naquela época, duas companhias comerciais forneciam à
te.
população de Londres a água do rio Tâmisa, retirada de locais
Os trabalhos de Pasteur, seguidos pelos de Robert Koch
próximos entre si e muito poluídos. Em determinado momento, (1843-191 O)
e de outros brilhantes microbiologistas, criaram
uma das companhias mudou o local de coleta de água para um a impressão
de que as doenças poderiam ser explicadas por
ponto mais a montante do rio, antes de sua penetração na cidade. uma única causa,
o agente etiológico, que passou para a história
Logo, raciocinou Snow, se a ingestão de água contaminada fos- como a "teoria do germe".
As pesquisas em epidemiologia pas-
se fator determinante na distribuição da doença, a incidência de saram a ter um forte componente
laboratorial, pois parecia evi-
cólera deveria ser diferente entre as pessoas que se abasteciam dente que a busca de agentes para
explicar as doenças substituía,
de uma ou de outra fornecedora de água. Para comprovar a sua com vantagens, a teoria dos miasmas, constituindo
uma linha pro-
hipótese, procurou saber a fonte de suprimento de água de cada missora de investigação etiológica. Além
de tudo, trazia para o
domicílio onde era registrado caso fatal de cólera. Como o dado raciocínio causal uma precisão não encontrada nas
teorias ante-
não existisse na forma por ele desejada, passou, juntamente com riores, qual seja, a comprovação laboratorial da presença
de um
um assistente, a anotar os óbitos registrados como devidos à agente.
doença e a visitar os domicílios, para certificar-se da proveniên-
cia da água. Os resultados encontrados (Quadro 1.5) mostram que • Outras figuras de destaque
a companhia que mudou o seu ponto de captação de água estava
relacionada a uma taxa de mortalidade várias vezes menor, o que Muitos outros vultos históricos poderiam e mereceriam ser
foi tomado como uma forte evidência para sustentar a teoria da citados por suas contribuições expressivas, como Semmelweis,
transmissão hídrica, mormente quando não havia outras diferen- Jenner, Quetelet e Mendel, mas a citação completa seria impra-
ças, de cunho social, geográfico ou demográfico, que pudessem ticável. Apenas aos quatro citados faremos ainda menção.
explicar variações de mortalidade entre os clientes das duas com- O médico húngaro Ignaz Semrnelweis ( 1818-1865) inves-
panhias. tigou as causas da febre puerperal em duas clínicas da materni-
dade em que trabalhava, no Hospital Geral de Viena.27 Em uma
• Louis Pasteur delas, cuja taxa de mortalidade era alta (9,9% nos anos 1841-
1846), os estudantes vinham à enfermaria e examinavam as
Pasteur ( 1822-1895), considerado o pai da bacteriologia, mulheres logo após realizarem dissecações na sala de autópsias.
foi uma das figuras mais importantes da ciência, no século XIX. Na outra, onde a mortalidade era mais baixa (3,4% no mesmo
Foi ele quem assentou as bases biológicas para o e~tu~~ das período, 1841-1846), isto não acontecia. Semmelweis suspeitou
doenças infecciosas, influenciando profundamente a h1stona da de que os estudantes, ao exame, contaminavam as mulheres com
epidemiologia. Na verdade, a noção de que as doenças eram trans- algum material infeccioso. Graças a medidas de higiene e desin-
mitidas por contágio é antiga. No século XVI, Girolamo fecção das mãos, regime instituído nas maternidades no ano de
Fracastorius ( 1484-1553) descreveu a transmissão de infecções 1847, a taxa de mortalidade por infecção materna, em ambas as
por contacto direto, através de gotículas de saliva e de fômites clínicas, diminuiu para 1,3%, no ano de 1848. As conclusões de
(objetos que, contaminados, propagam a infecção). Nos séculos Semmelweis não foram aceitas pelos seus colegas de trabalho.

1O Epidcmi ulo~ia

o~trê~ vulto~. ainda aqui lembrados. não o são porque te- grande competência técni ca, o que lhe ~al_eu ser r~c?nhecido
nham efetu ado in ve~ti gações epidemiológicas, da maneira como como um dos grandes vultos da saúde publica bra~Il e1ra. Entre
são vistas atualmente, das quai s é protótipo a de Semmelweis, os que se destacaram no Instituto Oswald? Cruz, ftg ura_Carlos
mas pela repercussão ele suas pesqui sas pioneiras, no campo da Chagas ( 1879-1934 ), que descreveu a entidade nosológ1ca que
epidemiologia e ela prevenção. leva O seu nome. 29 A descoberta ocorreu em 1909, em Lassance
Edward Jenner ( 1743- 1823), médico inglês, foi o primei- Minas Gerais, quando lá esteve para co laborar no combate a u~
ro a utilizar, cientificamente, uma vacina, empregada contra a surto de malária, que dificultava a construção d_a estrada cl_e ferro
varíol a e, por isto, é considerado o pai ela imunologia. local. Também fez parte do grupo de Mangutnh?s o _bnlhante
Jacques Quetelet ( 1796-1857), estatístico belga, é lembra- protozoologista Adolfo ~utz ( 1855-!94,0)_, que hav~a deixado sua
do pela aplicação pioneira cio raciocínio estatístico às ciências posição de diretor do Instituto Bactenolog1co, em Sao Paulo, onde
biológicas e sociais. trabalhara no controle da febre amarela e de outras endemias, ao
Gregor Mendel ( 1822-1884 ), padre e botânico austríaco, lado de outro grande sanitarista, Emílio Ribas ( 1862- 1925).
foi o pioneiro cios estudos de genética. abrindo caminho para Muitas obras públicas no país, naquela época, foram possíveis
d_ecifrar os mistérios da transmissão ele características ele pais para ou facilitadas graças à ação direta dos técnicos do Instituto
fllh?s e, conseqüentemente, explicar, em parte, a distribuição Oswaldo Cruz, indicando as medidas saneadoras preventivas que
cles,gual da doença, na coletividade. deviam ser tomadas ou, indiretamente, em conseqüência do trei-
namento que o Instituto promovia e das descobertas científicas
C. A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX que ali aconteciam. 28

A história da epidemiologia, neste século, não será narrada 2. DESDOBRAMENTOS DA TEORIA DOS GERMES
com base na referência a vultos ilustres, como na seção anterior,
embora haja citação de alguns nomes - visto compreender acon- Embora o século XIX tenha sido muito rico na produção
tecimentos recentes, com numerosos protagonistas, muitos dos quais do conhecimento, o seguinte assistiu a um progresso ímpar ela
ainda não ultrapassaram o teste do tempo. Além do mais, o que levou ciência e da tecnologia. Os grandes avanços da bacteriologia, já
a epidemiologia à sua posição atual não foi a contribuição de um assinalados, fizeram com que, nas primeiras décadas do século
ou de alguns poucos brilhantes intelectuais, mas a de um conjunto XX, os caminhos ela prevenção se consolidassem através ela
de pequenos avanços, cuja obtenção foi compartilhada por muitos. iclentificacão de agentes etiológicos e dos meios de combater sua
ação morbígena, mediante o aumento da resistência específica
do organismo humano, com o uso das imunizações, e da promo-
1. INFLUÊNCIA DA MICROBIOLOGIA ção do saneamento ambiental.

A revolução representada pelo desenvolvimento da bacte- • Saneamento ambiental, vetores e


riologia, na segunda metade do século XIX, influenciou profun- reservatórios de agentes
damente as primeiras décadas do século XX, causando uma subs-
tancial reorientação do pensamento médico, pois alterou os con- O saneamento ambiental é preocupação antiga ela huma-
ceitos de doença e de contágio. A partir de então, comprovou-se nidade. Os romanos construíram monumentais aquedutos, alguns
fartamente que seres microscópicos, dotados de características dos quais até hoje preservados e, nas suas cidades, era grande o
especiais, minuciosamente descritas, desempenhavam papel pre- cuidado com o saneamento básico. Nos séculos XVIII e XIX, os
dominante na gênese de muitas doenças. A clínica e a patologia sanitaristas lutavam pela ampliação do saneamento ambiental,
tornaram-se subordinadas ao laboratório, que ditava também corno forma de enfrentar as doenças contagiosas. Na urbaniza-
padrões para a higiene e para a legislação sanitária. Nas escolas ção das cidades, os médicos eram ouvidos e aconselhavam a
de saúde pública, tradicionais pontos de formação de sanitaris- construção de avenidas largas, para facilitar a ventilação e, desta
tas, o ensino concentrava-se também no laboratório. Fundaram- maneira, combater os miasmas. A urbanização do centro ela ci-
se institutos de pesquisa aplicada em praticamente todo o mun- dade do Rio de Janeiro, com a drenagem de pântanos e a demo-
do, nos moldes do Instituto Pasteur de Paris, criado para facilitar lição de morros, desde meados do século XIX, foi profundamente
as investigações do pesquisador francês e de seus discípulos. influenciada pelos profissionais de saúde que, na época, comun-
Serve ele ilustração o que aconteceu no Rio de Janeiro. gavam da visão miasmática das causas ela doença. Mas as des-
cobertas científicas, ocorridas na biologia e na medicina, fize-
• Oswaldo Cruz e a Escola de Manguinhos ram com que o meio ambiente pudesse ser estudado mais cienti-
ficamente, colocando em destaque o seu papel na tran smissão,
Oswaldo Cruz ( 1872-1917), o renomado sanitarista brasi- visto que ele fornece o substrato não só para grande número de
leiro, estudou no Instituto Pasteur em Paris e, no seu retorno ao agentes produtores de doenças, como para os hospedeiros sus-
Brasil, fundou, no início do século, em Manguinhos, no Rio de cetíveis. O campo de investigação expandiu-se, para incluir os
Janeiro, o Instituto que hoje tem o seu nome, reproduzindo o vetores e os reservatórios de agentes, o que resultou no esclare-
modelo de sucesso de então e que também se tornou, com o pas- cimento do ciclo dos parasitas, ampliando as possibilidades de
sar do tempo, um cios poucos exemplos de longevidade de insti- prevenção. Como ilustração de investigações orientadas para
tuições de pesquisa na América Latina. 28 elucidar o papel dos mosquitos e outros vetores na etiologia das
Além de criar o Instituto, no qual possibilitou condições doenças infecciosas, empreendidas no final do século XIX e iní-
excepcionais de trabalho para numerosos cientistas que recrutou cio do século XX, citam-se as realizadas pelo franc ês Alphonsc
para investigar os principais problemas nacionais de saúde, Laveran (1845-1922) e pelo inglês Richard Ross (1857- 1932)
Oswaldo Cruz empreendeu vitoriosa campanha contra a febre sobre a malária, as do inglês Patrick Manson ( 1844-1922) sobre
amarela, no Rio de Janeiro, e o combate à peste e à varíola, com filariose e esquistossomose, as do cubano Carlos Fi nlay l 1833-
Conceitos Básico~ de Epidemiologia 11

19 15 ) e J0 norte-americano Walter Reed ( 18 _ 1_1


hrc amarel a. e as do brasileiro Carlos Ch :i .á9ü2) s~bre fe- Quadro 1.6 Morbidade e mortalidade por beribéri, na
,ol•rt: · .
" . a. tnp.tno<;,om1ase .
, americana d J mencionado ·
ou se· agas, Marinha japonesa - 1878-1888
· Ja. a oença de Chagas.
Número de Morbidade Mortalidade
• Ecologia Ano Marinheiros Casos* Taxa** Obitos* Taxa**
1878 4.528 1.485 328 32 7
O aprofundamento do conheciment O b . _
r so re a transnussao 1879 5.03 1 1.978 389 57 11
da, doenças 1ez com que a teoria centrada 1880 4.956 27 5
· - nos germes cedesse 1.725 348
lugar a esquemat1zaçoes sobre agente hosped · • . 188 1 4.64 1 1.163 25 1 30 6
r . ' eiro e me10 ambien-
te. sob a 1orma de modelos um ficados iniciand0 f . 1882 4.769 1.929 404 51 11
· d d · ' a ase atual'.mais
sofi. stica a. e, explicação das doenças, baseada na mult1cau- 1883 5.346 1.236 25 1 49 9
sal1dade. A saude passa a ser mais bem com preendºd . 1884 5.638 718 127 8 1
I a e entendi-
da como uma resposta adaptativa do homem ao meio · b. 1885 6.918 41 6
· d am 1ente 1886 8.475 3 1
_ o c1rcun
que . a, e a_doença como . um desequiºlíb . desta adapta-
1 no 1887 9.016
çao, resultante, de complexa_mteração de niu' lt·1p1os fatores. "Os 1888 9.184
estados de saude . _e doença sao a expressão do sucesso ou do fra-
pelo organismo em. seus es"o *Números absolu10s
casso experimentado
. . . . 1' rços para res- ••cocficicn1cs por mil
ponder
. adaptativamente _ desafios ainbientais•"3º A ep1·dem10-
a · Fome: Condensado de Takaki. Lancei. 19de maio de 1906: 1369. "
log1a. por sua preocupaçao com o estudo das doenças em re1a-
- f b. • ,
çao a. ·atores am 1entais, e, então, considerada como "eco10 0 ia ·
,,31 .d 0
méd 1ca ou, em senti o amplo, "ecologia da saúde".
• Takaki e a prevenção do beribéri
3. BASE DE DADOS PARA A MODERNA
EPIDEMIOLOGIA O Quadro 1.6 é o resumo de um trabalho do pesquisador
japonês Kanehiro Takaki ( 1849-1915). Mostra a enorme magni-
A coleta sistemática de dados sobre as características das tude da incidência do beribéri na marinhajaponesa. 33 Esta afec-
pes~oas faleci,das , em especial ~ causa mortis, atividade esta já ção, devida à deficiência de tiarnina (vitamina B 1), causa mani-
praticada_ ~á seculos e q~e tem sido progressivamente aperleiçoa- festações neurológicas periféricas, cerebrais e cardiovasculares
da. perm1t1u o estabelecimento de um sistema moderno de infor- graves. Aquele pesquisador japonês, através de estudos epide-
mações, centralizado, útil para a detecção do aparecimento e do miológicos - nos quais analisava as localidades e as épocas de
perfil de muitas doenças na comunidade. Desta maneira, as cha- aparecimento da doença, as dietas servidas quando as pessoas
madas "estatísticas vitais", que incluem informações sobre nas- estavam em serviço e as características dos marinheiros afeta-
cimentos e óbitos, tornaram-se uma fonte de dados para a qual dos (por exemplo, raros eram os casos entre os de classe social
se voltaram, e se voltam, com freqüência cada vez maior, os pro- ~ai~alta) -, apontou para a etiologia nutricional da afecção. No
fissionais de saúde, visando a aprimorar o conhecimento das mtmto de comprovar sua hipótese, alterou a dieta que era habi-
condições de saúde da população. Sem este sistema oficial de tualmente servida aos tripulantes de um navio, durante uma vi-
registro, reafirme-se, os dados de óbitos e nascimentos seriam agem de quase um ano, ao final da qual não foi constatado ne-
pouco utilizados em saúde, já que a um interessado, isoladamente, n~um caso de beribéri, acontecimento raro àquela época, nas
seria praticamente impossível reunir tamanha quantidade de in- viagens de longo curso. Com esta evidência experimental, da-
formação. tada de 1884, foi mais fácil convencer as autoridades da nature-
Outros sistemas de informação sobre morbidade e fatores za imprópria da alimentação então utilizada na marinha japone-
de risco foram implantados em várias partes do mundo, de modo sa e, por meio da mudança da dieta, erradicar a afecção naquela
a funcionar como elemento de base para possibilitar o melhor organização.
conhecimento da saúde da população e para facilitar as investi-
gações etiológicas. • Goldberger e a prevenção da pelagra

4. EPIDEMIOLOGIA NUTRICIONAL As investigações sobre a pelagra - doença causada pela


deficiência de niacina e caracterizada por manifestações derma-
Mesmo antes do século XX, muitos investigadores em di- tológicas, gastrointestinais e do sistema nervoso central - fo-
ferentes países comprovaram, por estudos epidemiológicos, que ram realizadas por Goldberger, nas primeiras décadas do século
algumas doenças tidas como infecciosas tinham, na verdade, XX. 34.35 Primeiramente, através da observação da distribuição de
natureza nutricional. Eis algumas ilustrações. doentes, ele apontou para a consistência da associação entre ocor-
rência de pelagra e os tipos de dietas (Quadro 1.7). A seguir,
passou para uma nova fase da pesquisa, na qual buscou confir-
• Llnd e a prevenção do escorbuto mar a hipótese nutricional por meio de estudos experimentais.
Em investigações bem controladas, feitas em orlanatos e prisões,
Um estudo experimental dirigido à prevenção do escorbu- mostrou que a pelagra podia ser evitada pela adequação das die-
to (deficiência de vitamina C) foi conduzido por um médico na- tas e que as restrições alimentares podiam induzir o aparecimen-
val, o inglês James Lind (1716-1794 ). 32 Embora realizado com to da doença. Em geral, tratava-se de investigações nas quais
reduzido grupo de pessoas (1 2 marinheiros), os seus resultados metade das pessoas recebia dieta com alimentos frescos, vege-
permitiram comprovar que a doença podia ser prevenida com a tais e animais, e a outra metade permanecia com a alimentação
ingestão de frutas frescas (limões). habitual. Aqueles que tinham a dieta modificada curavam-se da
1

12 Ep1dcmiologia

Quadro 1.7 Incidência de pelagra , em relação ao co~sumo de porte, como as Investigações In,teramericanas de Monalida.
de carne fresca, em sete pequenas comunidades: Carolina do de.,1.Js Nos Caps. de 4 a 6, o tema e mostrado em detalhe s.
Sul. EUA, 1916
b) INVESTI GAÇÕES ETIOLÓGICAS
O consumo Residências
de carne Total de com casos Quanto às pesquisas etiol_ógi~as, que abrir~m un:ia nova fase
por adulto residências de pelagra .demiolooia merecem c1taçao as que ev1denc1aram O Pa
(gramas/dia) (N.º) (N.º) (%) na epl o • • • 39 d . ·
el da rubéola nas malformações congem tas, as o cigarro na
Menos de 30 p ·oJooia · ,. 40 d ft d ·
282 40 14,2
e,t º de afecções resprratonas e as os a ores e nsco re.
30 a 89 114 4 3,5 !acionados às coronariopatias. 41 Para ta1, f01. necessa,no.
o aper.
90 ou mais 39 1 2.6 feiçoamento de estudos controlados, _de cunho não-experimen.
Total 435 45 10,3 tal, quer prospectivos quer retro~pe~t,~os: Os estud~s de coone
Fonte· Milton Tem, . Goldbcrgc r on pellagra. 196-1."
e de caso-controle têm sido os pnnc1pais tipos de delmeamentos
para investigações etiológicas.

pelagra, mas voltava m a ter a doença quando a dieta retorna- • Os estudos de coorte
va ao seu habitual. Estas investigações foram conduzidas de ma-
neira que se interviesse em apenas um fator, a dieta, fazendo-a Data de meados do século XX o início dos primeiros estu.
variar. deixand o os demais constantes e iguais entre os grupos dos prospectivos, ditos "de coorte", com_o segu!mento decente.
contrastados. Goldberger estava tão confiante na sua teoria so- nas ou milhares de pessoas por anos e ate por decadas e o uso de
bre a etiologia da doença que inoculou material de lesões de pe- técnicas sofisticadas de análise estatística, para esclarecimento
lagra em voluntários, inclusive nele próprio , sem obter a repro- do papel dos fatores de risco nas doenças crônicas não-tran smis-
dução da doença, evidenciando a natureza não-infecciosa da afec- síveis. Uma ilustração deste tipo é o estudo de Framinghan, so-
ção. bre fatores de risco das doenças coronarianas. 41
Estudo s epidemiológicos sobre nutrição como os citados
indicaram soluçõe s para as afecções carenciais, apropriadas ain-
• Os estudos caso-controle
da hoje em dia, mas formuladas muito antes da identificação das
respectivas vitaminas, o que somente ocorreu a partir de 1920.
As dificuldades inerentes à condução de investi gações
prospectivas, de longa duração , empreendidas com o intuito de
D. A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX melhor conhecer a etiologia das doenças crônicas, fizeram com
que fosse amplamente utilizado um outro tipo de pesquisa, de
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve um natureza retrospectiva, que contorna alguns problemas das inves-
impressionante desenvolvimento da epidemiologia. tigações prospectivas: o estudo caso-controle. Esta modalidade
de investigação, por ter como ponto de partida o paciente e ser
1. A ÊNFASE DAS PESQUISAS de realização mais rápida, se comparada ao estudo de coorte,
estimulou e facilitou a realização de pesquisas em ambientes
O século XX, como já foi assinalado, testemunhou a mu- clínicos. Uma ilustração é a investigação sobre o papel do hábi-
dança do perfil das doenças prevalentes, com a importância cres- to de fumar na etiologia do câncer de pulmão .40
cente das condições crônico -degenerativas, como causas de
morbidade e mortalidade. A epidemiologia progride através da e) AVAIJAÇÃO DE INTERVENÇÕES
pesquisa sobre muitos temas, entre os quais:
Foi só recentemente, a partir de meados do século XX, que
• a determinação das condições de saúde da população; a avaliação de procedimentos preventivos e curativos, através de
• a busca sistemática de fatores antecedentes ao apareci- estudos populacionais controlados, teve maior espaço na litera-
mento das doenças, que possam ser rotulados como agentes ou tura da epidemiologia. São exemplos pioneiros as investigações
fatores de risco; e experimentais levadas a efeito para verificar a eficácia da
• a avaliação da utilidade e da segurança das intervenções estreptomicina no tratamento da tuberculose, 42 da fluoretação da
propostas para alterar a incidência ou a evolução da doença, atra-
água na prevenção da cárie dentária43 e da vacina contra a palio·
vés de estudos controlados. mielite. 44 Desde então, esta metodologia passou a ser amplamente
~sada, sendo exemplo recente do seu emprego a avaliação das
a) DETERMINAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO
1~tervenções adotadas para reduzir a prevalência de fatores de
nsco das doenças cardiovasculares.45
Os inquéritos de morbidade constituem exemplos de inves-
tigação sobre o estado de saúde da comunidade. Na verdade,
pesquisas deste tipo já haviam sido realizadas em épocas anterio- 2. SITIJAÇÃO ATIJAL
res,36mas somente foram empregadas em grande número e com
maior nível de detalhamento na segunda metade do século XX. Para lidar com o complexo problema da multicausalidade na
realizaç
o mesmo se passou com os inquéritos de mortalidade, dos quais con~oleão de estudos analíticos, em especial dos tipos coorte e caso-
muitos exemplos podem ser encontrados na literatura de algu- , e af~tar, ao mesmo tempo, as numerosas variáveis con-
mas década s atrás, mas apenas a segunda metade do século tes- fundido ras da m~rpretação dos resultados, foi necessário imprimir
temunhou pesquisas desta natureza, bem controladas e de gran- grande complexidade ao arsenal analítico, de caráter estatístico.
pouco acessível ao não-especialista. Como conseqüênci:1. sã() cn·
Conceitos Básicos de Epidemiologia 13

r:icterísticas marcantes da pesquisa epidemiolo'g' d fi I d , - e que passou a ser conhecida como "epidemiologia social".
'X · . 1ca o ma o se-
culo X o ngor metodológico na tentativa de 1·m · · · · Foi o renascer do estudo da determinação social da doença. O
. , . , · , :- ' pnmlf 11nparcia-
1Idad1:
. : na , enficaçao
. _ dos eventos
. , e a sofisti
· caça-o d .
o p1aneJainento seu intuito é o de procurar melhor entender a situaçã? de saúde
das mvest1gaçoes . e da análise . estatística, em comp utador. da população, em especial nas regiões subdesenvolvidas - _ou
Yale assmalar a publicação pioneira em 1960 d . .
. - d 1· , , a pnme1- dos segmentos desfavorecidos da população, mesmo das naçoes
d
ra e 1çao• e um 1vro-texto que teve r:,orande m · fl uencia
, · no de-
• , industrializadas - dentro de alguns postulados básicos, que são
senvol v1mento
. , . da epidemiologia.
,
7 Nele é feita · · smte-
a pnme1ra , encontrados principalmente na sociologia. Conseqüentemente,
se dos pnnc1p1os e metodos ,utilizados . na epi'derru· 1 · -
o og1a, e sao o seu objetivo tem sido o de produzir conhecimentos dentro de
abordadas,
.. em detalhe, as tecmcas mais si
' mple d
s os estu osd uma lógica até então pouco utilizada ou totalmente esquecida na
descnt1vos, bem como a metodol?gia mais avançada dos estu- epidemiologia. 49 Ajustificativa de semelhante enfoque advém da
dos caso-controle, de coorte e de mtervenção rand · d
Na atua]I.dade, a situação.
é complexa. Praticam t t d
orruza a. constatação das enormes desigualdades existentes na socieda~e
' d ·, . en e o os os e que, enquanto este contexto de desigualdades não for resolvi-
agravos à sau eJa ,oram ou estão sendo estudados atr , d ·
· - ·d · ] ' • aves e mves- do, a saúde dos grupos socialmente menos favorecidos sofrerá
ugaçoes
_ , ep1 • em10f'og1cas.
. Nas
. ,pesquisas
. etiológicas são anali sados
as suas conseqüências adversas: a alta prevalência de doenças
n~o so os ,atores _1s1cos e b10log1cos, de indiscutível predominân- evitáveis e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, quan-
cia como
, foco de interesse • nas pesquisas
. etiológicas, mas tamem, b,
do deles tem necessidade.
em numero crescente, os 1atores ps1cossociais. Tomou-se claro
. d d' ,para
os pesqmsa
. f' .ores e_estu 1osos da matéria, que os agentes rru·crob'10_
ló~1cos_e 1s1cos n?o _eram capazes de explicar todas as questões de E. PIIARES DA EPIDEMIOLOGIA ATIJAL
euolog1a e prognostico. Isto fez com que conceitos e técnicas de
uso habi~al em outras disciplinas, principalmente em sociologia e O desenvolvimento da epidemiologia, descrito anterior-
psicologia, passassem a ser utilizados e incorporados aos fundamen- mente, fez com que a disciplina, antes restrita à saúde pública e
tos e a~s ~ét_odos da mode~a epidemiologia. A aproximação com com ênfase nos aspectos físicos e biológicos, se expandisse para
estas d1sc~plinas e a neces_s1dade de melhor precisar as condições a área clínica e para a área social, levando a sua incorporação ao
de_apar~c~ento e_evoluç~o das d?en_ças trouxeram, para a epide- currículo de todo o pessoal de saúde. Em vista desta expansão, a
m1olog1a, enf~se ru~~a mruor em tecmcas quantitativas, de que são epidemiologia moderna é uma disciplina complexa, que se vale
exemplos os mquentos em amostras representativas e O uso de dos conhecimentos gerados em muitas outras áreas, mas onde
análises estatísticas multivariadas. A evolução da técnica foi mar- podem ser identificados três eixos básicos: as ciências biológi-
cante na segunda metade do século XX, em grande parte devido às cas, as ciências sociais e a estatística (Quadro 1.8). A boa com-
necessidades inerentes às investigações sobre os múltiplos fatores preensão e a aplicação da epidemiologia, nos dias atuais, reque-
determinantes das doenças crônicas não-transmissíveis.2 rem sólidos conhecimentos sobre estes seus três pilares. Veja-
mos cada um deles, a seguir.
• Duas tendências da epidemiologia atual
• CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
No último quarto de século, duas tendências, de contornos
distintos, marcaram a moderna epidemiologia: uma de natureza A epidemiologia apóia-se em conhecimentos biológicos,
clínica e outra de cunho social. encontrados ou desenvolvidos em outras áreas do próprio cam-
po da saúde, tais como a clínica, a patologia, a microbiologia, a
a) EPIDEMIOLOGIA CÚNICA parasitologia e a imunologia. Estas e outras disciplinas afins
contribuem para que se possa melhor descrever as doenças,
É o retorno da epidemiologia ao ambiente estritamente classificá-las mais adequadamente e, assim, atingir maior grau
clínico, mas com característica diferente, em comparação à ên- de precisão na determinação da freqüência com que estão ocor-
fase de outrora, que tinha uma conotação eminentemente ecoló- rendo na população, o que se reflete na qualidade dos estudos de
gica - ou seja, de conhecer o ambiente imediato em que vive o correlação e nas pesquisas, de maneira geral.
paciente, de modo a verificar as circunstâncias que possibilitam
o aparecimento da doença. A prática clínica sempre foi depen-
• CIÊNCIAS SOCIAIS
dente de informações epidemiológicas, essenciais para o diag-
nóstico e para a orientação do paciente. Foram os médicos os
primeiros epidemiologistas, os primeiros que usaram a discipli- As ciências sociais conferem uma dimensão mais ampla à
na, para a pesquisa etiológica ou para conferir uma visão mais epidemiologia. Os fatores que produzem a doença são biológi-
6
abrangente, ou ecológica, à saúde. Mas na década de 1970, sur- cos e ambientais, com significados sociais complexos. A socie-
ge algo diferente: um movimento também de médicos, de cunho dade, da forma como está organizada, embora ofereça proteção
metodológico, para utilizar a epidemiologia e a estatística no aos indivíduos, também determina muitos dos riscos de adoecer,
ambiente clínico, de modo a trazer maior rigor científico à prática bem como o maior ou menor acesso das pessoas às técnicas de
da medicina, e que foi denominado "epidemiologia clínica" .4648 Ele prevenção das doenças e de promoção e recuperação da saúde.
consiste na aplicação dos fundamentos epidemiológicos modernos
ao diagnóstico clínico e ao cuidado direto com o paciente.
Quadro 1.8 Os três pilares da epidemiologia
b) EPIDEMIOLOGIA SOCIAL
Ciências biológicas
Ciências sociais
Trata-se de contestação à visão clássica da epidemiologia Estatística
- criticada como "reducionista", "funcionalista" ou "positivista"
14 Epid emi ologia

A bu-,ca de melhor conhecimento da inte


biológico. na produção da doença. pass
ração do social com 0 QUESTIONÁRIO
ou a ser fundament~ . na
epidemiologia atual. Ar:, ciências soci l Qual o conceito atual de epidemiolo~
ais dis~õem de te~n as e ia? E o a~tigo?
método!,, além de toda uma tradição de 2· Discorra sobre alguns princípio~ bás1~os
pesquisa, que estao sen- ~a ep1dem1ologia.
do trazido!> para a epidemiologia como
abo rdagem a sere m empregados na inve
instrumentos e formas_de 3: Quais os principais métodos de mve stig
açao usados em epi.
stigação das re_laçoes demiologia?
entre c:,aúd e e sociedade. O estu do da . .
doença s não é recente, como se mencion
determin ação social das 4 _ 0 que se entende por corpo de conhecimentos da epidemio.
a em diversas passagens logia?
deste livro , mas exis te, na atualidade, .
um ress urgir de interesse 5. Enumere três aplicações da ep1?e1TI. .
~obre o assunto, inclusive quanto à form 1?logia. . .
teórico da~ investigações.
a de conceber o marco 6 _ Qual a contribuição da ~~id~1TI1olog1~, q~e a diferencia das
demais disciplinas das c1enc_ia_s da saud
e. .
.
7 Discorra sobre a representat1v1d~de da amostra, em mvesti-
• ESTATÍSTICA gação sobre os problemas de saud~.
8. Dê exemplos de problemas de saud _ . .
A estatísti ca é a ciência e a arte de cole e que sao mvestJgados
tar, resumir e ana- pela epidemiologia.
lisar dados suje itos a vari ações. 18 Tem
papel fundamental na 9. Através de algumas figuras ilustres
epid emi olog ia, poi s fornece o instrum do sé~ulo ~IX , _trace um
ental a ser levado em quadro dos movimentos dominantes da
conta nas investigações de questões com ep1de1TI1ologrn daque.
plexas, como a alea- la época.
toriedade dos eventos e o controle de
a interpretação dos resultados. Em dive
variáveis que dificultam 10. Quais as características d~ ~p1. dem. . . .
rsas fases de uma pes- 1olo~ia, na pn_meu~ me. 1
quisa, a estatística assume papel de real tade do século XX? Que ideias, nesta
ce: é o que ocorre, por epoca, mmto a mflu.
exemplo, na etapa de planejamento, enciaram?
especialmente na deter- 11. Qual foi o desenvolvimento da epid
min ação do tamanho da amostra e na emiologia, na segunda
forma de selecionar as metade do século XX?
unidade s que deverão compô-la. Outra
ilustração é represen- 12. Comente as disciplinas que se con
tada pela fase de análise dos dados, em stituem em pilares da epi-
particular, no estudo do demiologia atual.
significado das variações de freqüências
, quando se tenta verifi-
car se as diferenças são simplesmente
devidas ao acaso ou se
traduzem ocorrências sistemáticas , cujas
quisadas. A aproximação da epidemiolog
causas merecem ser pes- LEITURA COMPLEMENTAR
ia à estatística fez com
que a primeira fosse ocupando um espa
ço até então não preen- 1.1 . Podemos tirar muitos ensinamento
chido na área da saúde, formando uma "po s e inspirações dos acon-
nte", que o pessoal de tecimentos passados e do exemplo das
saúde utiliza para melhor conhecer a esta grandes figuras dos
tística, e tornando-se tempos pretéritos, registrados na história
uma disciplina científica de síntese, ond . Textos clássicos,
e são encontrados con- que descrevem investigações sobre saúd
ceitos e métodos para planejamento, exec e e doença, mere-
ução, análise e inter- cem ser lidos, meditados e discutidos em
pretação de resultados de estudos sobr grupo; eles podem
e a saúde de grupos de ser encontrados nos originais onde fora
pessoas. Pelo fato de a epidemiologia env m inicialmente pu-
olver o estudo de mui- blicados ou em reedições e traduções. Um
tas pessoas, gerando, no mais das veze a das compilações
s, uma massa considerá- mais abrangentes é "O desafio da epidemi
vel de dados para análise, o advento das ologia", 1publicada
modernas técnicas ele- pela Organização Pan-Americana da Saú
trônicas de computação, dinamizando de, em espanhol e em
as tarefas de cálculo, fi- inglês. Nela, estão reproduzidos muitos trab
zeram com que a informática tivesse amp alhos, entre os quais
la aplicação na disci- os de Hipócrates, Lind (escorbuto), Cas
plina. Vale referir os programas estatísti al ("mal da rosa"),
cos, para microcompu-
tador, de uso em epidemiologia, que estã Baker (cólica endêmica), Jen ner (va
o sendo desenvolvidos cina antivariólica),
em ritmo crescente, com grande economi Villermé (saúde dos trab alha dor es),
a de tempo no planeja- Pan um (sarampo),
mento e na análise de dados. Semmelweis (febre puerperal), Finlay
(febre amarela), Farr
(mortalidade em mineiros), Snow (cólera)
, Takaki (beribéri),
Chagas (doença de Chagas) e Goldberger
m. COMENTÁRIO FINAL 1.2. Nesta mesma obra, 1 há também a
(pelagra).
transcrição de muitos ar-
tigos recentes, alusivos a trabalhos que
se tomaram marcos
O capítulo oferece uma visão da evolução na epidemiologia atual. É conveniente
e do estado atual conhecê-los.
da epidemiologia. Foram apresentados e 1.3. A evolução dos aspectos conceit
comentados os seus con- uais e metodológicos da
ceitos básicos, os seus temas principais e epidemiologia pode ser encontrada em
o raciocínio que norteia algumas referênci-
a moder~a epidemiologia. As suas aplicaçõ as.2·5º Os comentários editoriais contido
es foram apontadas, s na obra "O desa-
e conclui-se que qualquer evento, relacion fio da epidemiologia"' são também vali
ado com a saúde da osos, em especial,
p~pulação,yode_ ser i~cluído no seu campo os que versam sobre "desenvolvimen
de ação. As preocupa- to histórico" e sobre
çoes da ep1dem1olog1a concentram-se, prin "persp~ctivas e orientações" .51 São tem
cipalmente, na men- as especialmente
suração da freqüência e da distribuição apropnados para seminários de alunos
dos agravos à saúde na de pós-graduação.
P?pulação e ~o ~stu_d~ dos fa~~res determin 1.4. Sobre a realidade latino-americana,
c1~ e desta d1stnbu1çao , aqm mcluído antes desta freqüên- há várias coletâneas de
o papel dos serviços de artigos, cabendo destacar: "Us os e perspect
sa~?e e de toda uma gama de produtos ivas da epidemio-
e procedimentos neles logia", que trata de programas de saúd
utilizado~. ~stes temas serão_ ap_rof_undad e, formação de pes-
os soal e investigaçõe s; 52 "Formação em
los. O prox1mo detalha os pnnc1pa1s usos nos demais capítu- desenvolvimento dos serviços de saúd 53
epidemiologia para o
atualidade. da epidemiologia na e"· e uma série de
' artigos sobre epidemiologia nos serviços
de saúde, que apa-
rece em um número especial da revista
"Educac ión Médica
Conceitos Básicos de Epidemiologia 15

y Saluct··. do ano de 1990.5-l Especificamente, sobre o Bra- 27. SEM MEL WEISS Ignaz. The etiology, concept and P:º P~ilaxys of chil~b:d
fever. Reproduzido na referência 1:46-59 (edição em mgles) e 47-62 (ed1çao
sil_, exi ~tem os a~ais dos Congressos Brasileiros de Epide-
em espanhol). .• . . . . ·
m1 ologia, patrocmados pela Associação Brasileira de Saú- 28. STEPAN Nancy. Gênese e evolução da c1encia bras1le1ra. RJO de Janeiro,
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