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DOI: http://dx.doi.org/10.31512/ricsb.v3i2.3298

O VÍRUS INFLUENZA: REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA


The Influenza virus: narrative literature review

Gatzke Fernanda1, Vera Regina Medeiros Andrade2


1
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI; Santo Ângelo, RS, Brasil.

RESUMO
Introdução: o vírus Influenza é um patógeno respiratório humano que causa infecções sazonais
e endêmicas e pandemias periódicas. No século XX, a pior pandemia registrada foi em 1918 que
matou aproximadamente milhões de pessoas em todo o mundo. É um vírus envelopado de RNA
de cadeia simples de sentido negativo segmentado. Os principais sintomas causados por este
vírus são caracterizados por um início súbito de febre alta, dor de cabeça, coriza, tosse e inflama-
ção das vias respiratórias que persistem por 7 a 10 dias. Objetivo: realizar uma revisão narrativa
da literatura sobre o vírus Influenza. Metodologia: revisão exploratória e narrativa da literatura,
sem definição de critérios explícitos de seleção dos artigos, nas bases de dados eletrônicas Pub-
Med, Scientific Electronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ci-
ências da Saúde (LILACS), utilizando palavras chave como Influenza, Influenza vírus, Influenza A
vírus, Influenza B vírus, Influenza vaccine, vacina contra Influenza; historical Influenza review,
história Influenza. Considerações: os vírus Influenza são uma ameaça à saúde, porque a forma
rápida de disseminação dificulta as estratégias de vacinação. Atualmente, dois subtipos do vírus
da Influenza A, o H1N1 e o H3N2 estão em circulação. As epidemias ocorrem por causa da varia-
ção antigênica viral, proteção para essas cepas circulantes e o grau de virulência desses novos
vírus. É importante a conscientização das pessoas com a prevenção para evitar problemas de
saúde pública.
Descritores: Influenza A vírus; Influenza B vírus; Vacinas contra gripe.

ABSTRACT
Introduction: Influenza virus is a human respiratory pathogen that causes seasonal and endemic
infections and periodic pandemics. In the twentieth century, the worst recorded pandemic was in
1918 that killed approximately millions of people worldwide. It is an enveloped segmented nega-
tive sense single stranded RNA virus. The main symptoms caused by this virus are characterized
by a sudden onset of high fever, headache, runny nose, cough and airway inflammation that per-
sist for 7 to 10 days. Objective: To perform a narrative review of the literature on the Influenza
virus. Methodology: exploratory and narrative literature review, without explicit criteria for arti-
cle selection, in the electronic databases PubMed, Scientific Electronic Library Online (Scielo),
Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), using keywords such as Influ-
enza, Influenza virus, Influenza A virus, Influenza B virus, Influenza vaccine, Influenza vaccine; his-
torical Influenza review, historical Influenza. Considerations: Influenza viruses are a health threat,
because their rapid spread makes vaccination strategies difficult. Currently, two Influenza A virus
subtypes, H1N1 and H3N2, are in circulation. Epidemics occur because of viral antigenic variation,
protection for these circulating strains, and the degree of virulence of these new viruses. It is im-
portant to raise awareness about prevention to prevent public health problems.
Descriptors: Influenza A virus; Influenza B virus; Influenza vacines.

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INTRODUÇÃO mento e sobre a vacinação, para um me-


lhor controle destes surtos. Desta forma, o
A gripe ou Influenza é uma infecção objetivo do estudo foi realizar uma revisão
causada pelo vírus Influenza. Este vírus foi narrativa da literatura sobre o vírus Influ-
isolado em humanos, pela primeira vez, enza.
em 1933, e a partir daí foi possível desen-
volver a primeira vacina contra a gripe. Em METODOLOGIA
1942, foi desenvolvida a segunda vacina
contra gripe, uma vacina bivalente, após a Trata-se de uma revisão integra-
descoberta de outro tipo de vírus Influ- tiva, método que tem como objetivo reu-
enza. Com o avanço da tecnologia foi pos- nir e sintetizar os estudos publicados, pos-
sível determinar que o vírus Influenza so- sibilitando conclusões gerais sobre uma
fria muitas mutações e novas vacinas fo- temática específica e a explicitação das la-
ram desenvolvidas. Esses avanços tam- cunas de conhecimentos
bém permitiram um diagnóstico preciso Trata-se de uma revisão explorató-
com a identificação do vírus, que antes era ria e narrativa da literatura, sem definição
identificado apenas com sinais e sintomas de critérios explícitos de seleção dos arti-
1, 2. gos. Foi realizada uma pesquisa bibliográ-
As infecções pelo vírus Influenza fica em artigos científicos encontrados nas
humano são sazonais e têm uma distribui- bases de dados eletrônicas PubMed, Sci-
ção mundial. A gripe ocorre em surtos no entific Electronic Library Online (Scielo), Li-
inverno, acometendo pessoas de todas as teratura Latino-americana e do Caribe em
idades, sendo mais graves em crianças e Ciências da Saúde (LILACS), utilizando pa-
idosos. Os sintomas são bem característi- lavras chave como Influenza, Influenza ví-
cos como início súbito de febre alta, mal- rus, Influenza A vírus, Influenza B vírus, In-
estar, dores musculares que persistem por fluenza vaccine, vacina contra Influenza;
7 a 10 dias, podendo variar conforme a historical Influenza review, história Influ-
idade e as condições de saúde do indiví- enza. Não houve delimitação de período
duo. Crianças e adultos também podem na busca dos artigos, uma vez que foi aces-
apresentar diarreia e dor abdominal, junto sado um artigo histórico publicado em
com sintomas respiratórios 3, 4. 1933, por Wilson Smith, Christopher An-
Hoje, existem muitas vacinas con- drewes and Patrick Laidlaw que relataram
tra Influenza, fabricadas com o vírus inati- o isolamento do vírus Influenza humano 7.
vados, para cada ano. Algumas são fabri- Foram incluídos na pesquisa artigos origi-
cados por grandes indústrias farmacêuti- nais e artigos de revisão, disponíveis com
cas, e outras por empresas menores. A texto completo, publicados em periódicos
maioria das vacinas são produzidas em nacionais e internacionais. A revisão co-
ovos embrionados, inativadas e purifica- meçou abordando os aspectos históricos
das. No Brasil, o Instituto Butantan fabrica das pandemias da gripe ou Influenza, o ví-
a vacina Influenza trivalente (fragmentada rus Influenza, a estrutura molecular do ví-
e inativada), destinadas às campanhas de rus, o ciclo replicativo dos vírus Influenza
vacinação contra a gripe realizadas pelo A, os principais sintomas da gripe, trans-
Ministério da Saúde 5, 6. missão, prevenção e tratamento e a vacina
É importante conhecer o vírus, co- contra a gripe.
nhecer a história das pandemias, sinto-
mas, transmissão, prevenção e trata- REVISÃO

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EPIDEMIOLOGIA reconheceu a gripe como problema de sa-


Os vírus da gripe causam significa- úde pública e divulgou informações sobre
tivas infecções respiratórias humanas, que a doença, na ocasião. Essa pandemia teve
se caracterizam como surtos sazonais, en- impacto na América do Norte, Índia,
dêmicos e pandêmicos, causando alta África, Austrália e Europa. Nesta época, as
morbimortalidade. Os surtos de gripe ou medidas para imunização contra a gripe
Influenza já haviam sido identificados e re- não existiam, e a população em geral era
latados, como um grande problema de sa- aconselhada a tomar medidas preventivas
úde pública, há muitos séculos 3. como cuidar da higiene, evitar contato di-
O nome Influenza tem provável ori- reto com pessoas doentes, assim como
gem de “Influenza del freddo” ou "influên- não realizar visitas a essas. Essa epidemia
cia do frio" na Itália, em 1504, e o termo chegou ao Brasil ainda em 1918, por meio
"gripe" apareceu em carta ao filósofo fran- de navios vindos da Europa 4, 8, 9.
cês Voltaire, em 1743, com significado de No ano de 1957, ocorreu outra
"fantasia súbita" ou "desafeição passa- pandemia originada na China, que ficou
geira". Publicações científicas e leigas so- conhecida como Gripe Asiática. Essa pan-
bre a gripe ou Influenza são encontradas demia se espalhou para países vizinhos
desde 1650, e muitos outros termos para como Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Ja-
designar esta doença surgiram em outros pão. Após, o surto se espalhou para o He-
países, porém o termo "Influenza" foi re- misfério Sul e Hemisfério Norte, causando
conhecido no Royal College of Physicians, graves epidemias durante o inverno. No
após a pandemia de 1918 4, 8. Brasil, os primeiros casos de surto da gripe
Conforme a literatura, existem re- foram registrados em julho de 1957, em
latos de surtos de gripe em 1510, uma pro- Uruguaiana (RS), em agosto em São Paulo
vável pandemia com disseminação da (SP) e em setembro, foi identificada no Rio
África para a Europa. Outra pandemia de de Janeiro (RJ) pelo Instituto Oswaldo Cruz
gripe foi em 1580, com origem na Ásia que e pelo Instituto de Microbiologia da Uni-
se espalhou para a África e Europa e de- versidade do Brasil. No mesmo ano, o vírus
pois para a América. A partir de 1700, os foi isolado em Belo Horizonte, Salvador e
registros e informações sobre pandemias Belém 8, 9.
de gripe são mais informativas. A primeira Outras pandemias ocorreram,
pandemia de gripe, deste século, começou como a pandemia de 1968-1969, conhe-
na Rússia, se espalhou para a Europa e de- cida como Gripe de Hong Kong, causada
pois para a América com altas taxas de pelo vírus Influenza A (H3N2) pandêmico,
mortalidade. Quarenta anos depois, ocor- isolado em Hong Kong em 1968, que foi
reu outra pandemia, cujo surto começou responsável por muitos óbitos. Em 1977-
na China e se espalhou para a Rússia, de- 1978, ocorreu outra pandemia causada
pois para a Europa e América do Norte. Se- pelo vírus Influenza do tipo A (H1N1) de
guiram algumas pandemias no século XIX origem suína na Rússia, também conhe-
e no século XX foram registrados quatro cida como gripe A ou gripe suína, que se
surtos de gripe pandêmica 8. disseminou no mundo. Em 1997, foi regis-
Em 1918, ocorreu uma grande pan- trada a transmissão de aves para humanos
demia de gripe, conhecida Gripe Espa- do vírus Influenza A (H5N1), na Ásia, que
nhola cuja origem permanece incerta, po- ficou conhecida como Gripe Aviária. Este
dendo ter originado na China. O nome "es- vírus se espalhou pela Europa, Ásia e
panhola" se deve ao fato de que a Espanha África, e embora fosse de alta virulência,
apresentou baixa transmissibilidade. Em

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2009, novamente ocorreu nova pandemia


com a propagação do subtipo de Influenza INFLUENZA
A (H1N1), que se disseminou rapidamente Estrutura do vírus
em todos os continentes. No Brasil, esse O vírus Influenza pertence à família
novo tipo foi identificado em maio de Ortomixiviridae. É um vírus envelopado de
2009, no início do inverno do hemisfério RNA de cadeia simples de sentido negativo
sul 4. segmentado, praticamente esférico, com
Ocorrem mutações contínuas com diâmetro de 100 a 200 nm. O envelope ori-
vírus Influenza, e atualmente dois subtipos gina-se da camada externa das membra-
do vírus da Influenza A, o H1N1 e o H3N2 nas plasmáticas das células do hospedeiro
estão em circulação. As epidemias ocor- que contamina. O genoma viral tem cerca
rem por causa da variação antigênica viral, de 13kb e codifica 13 proteínas: glicopro-
atingindo a população sem proteção para teínas de superfície hemaglutinina (HA) e
essas cepas novas circulantes e o grau de neuraminidase (NA); a proteína da matriz
virulência desses novos vírus. O estudo M1 (M1) e proteína do canal iônico M2
histórico e epidemiológico da gripe é fun- (M2); a proteína nuclear (NP); proteínas
damental por causa da variação antigênica não estruturais (NS1, NS2) e complexo de
viral, da periodicidade da doença e da RNA polimerase (PB1, PB2, PA). No enve-
grande morbimortalidade causando um lope viral estão inseridas as glicoproteínas
problema de saúde pública mundial. Con- de superfície hemaglutinina (HA) e neura-
forme a literatura, as 10 pandemias que minidade (NA) e a proteína canal M2. Por
ocorreram nos últimos três séculos tive- dentro do envelope viral encontra-se um
ram como origem a China, Rússia, Ásia, in- arranjo de proteínas M1 e as outras prote-
dicando que provavelmente a próxima ínas virais não estruturas e enzimas e o
pandemia originará nesta área. Desta material genético fragmentado em 8 com-
forma, é importante conhecer o vírus e plexos de ribonucleoproteínas (Figura 1)
sua história, para ajudar no controle de 10.

doenças no futuro.

Figura 1 – Estrutura esquemática da partícula viral e proteínas 10.

no entanto, apenas os gêneros A e B são


clinicamente relevantes para os seres hu-
A família Ortomixiviridae é dividida manos. O gênero A é responsável pela
em quatro gêneros A, B, C e Thogotovírus, maior ocorrência relacionada à gripe. Este

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gênero é classificado de acordo com a pro- Os vírus Influenza A são subdividi-


teína localizada na superfície, conhecida dos em subtipos, conforme as NA e HA. O
como neuraminidase (NA), que auxilia na tipo A apresenta 18 subtipos antigênicos
saída das partículas das células infectadas com base na molécula de hemaglutinina,
e a hemaglutinina (HA) associada ao cres- embora apenas H1, H2, H3, H5 e H7 po-
cimento do vírus no trato respiratório su- dem infectar humanos, sendo que os H5 e
perior. Os vírus do gênero B sofrem poucas H7 não se transmite entre seres humanos.
mutações e estão associados a problemas A nomenclatura dos vírus segue o padrão
mais localizados. Os vírus do grupo C estão H (x) N (y), incluindo a origem do hospe-
associados a poucos problemas na saúde e deiro, localização geográfica, número da
são mais estáveis. A capacidade de muta- cepa e ano do isolamento. Os vírus Influ-
ção e transmissão ocorrem principal- enza B não são divididos em subtipos, mas
mente pelos vírus dos grupos A e B, que podem ser divididos em linhagens. Atual-
causam os maiores problemas de saúde mente, o vírus Influenza B circulante per-
pela maior ocorrência de morbidade e tence a uma das duas linhagens: B / Yama-
mortes a cada ano. Os vírus penetram no gata e B / Victoria 5, 14.
organismo pelas mucosas do trato respira-
tório, olhos e disseminam-se pela corrente Ciclo replicativo dos vírus Influenza
sanguínea, sendo capaz de atacar as célu-
las 10 - 13.

Figura 3 – Ciclo de replicação do vírus Influenza na célula humana 15

O ciclo replicativo do vírus Influ-


enza começa quando as partículas virais

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entram em contato com as células das mu- tras, podem ter complicações como pneu-
cosas do trato respiratório ou dos olhos e monia por superinfecção bacteriana de
disseminam-se para a corrente sanguínea. Streptococcus pneumoniae, Haemophilus
A membrana plasmática das células epite- Influenzae, Staphylococcus aureus. Essas
liais possui receptores que reconhecem as infecções, normalmente, provocam um
proteínas virais. Essa membrana citoplas- aumento nas internações destes pacientes
mática é rica em ácido N-acetil neurami- idosos causando alta morbimortalidade. A
nico chamado de AS, que apresenta afini- maioria das mortes associadas à Influenza
dade pelas proteínas virais HA e NA. A en- refere-se à faixa etária das pessoas com
trada do vírus na célula tem início no reco- mais de 60 anos 3,4.
nhecimento do AS pela HA viral, ocasio- O grupo etário tem influência so-
nando várias etapas até a liberação da par- bre o risco de letalidade por Influenza. En-
tícula. Após o reconhecimento ocorre a quanto apresenta uma incidência mais
entrada do vírus na célula por endocitose elevado de infecções nos jovens, apre-
3, 10, 14, 15. senta uma incidência de letalidade mais
No núcleo, da célula, o material ge- expressiva nos idosos e em indivíduos imu-
nético do vírus Influenza é transcrito e re- nossuprimidos, ou que possuem doenças
plicado pela ação do complexo polimerase crônicas ou outras complicações clínicas
viral. Após a replicação das fitas de RNA e graves com infecções bacterianas 3,4.
proteínas específicas do vírus, a partícula Uma das complicações mais co-
viral é liberada por brotamento na mem- muns causadas pela Influenza é a pneumo-
brana citoplasmática da célula hospedeira. nia junto com alguns fatores como enve-
Quando ocorre o brotamento, a enzima lhecimento, deficiência nutricional, imu-
NA cliva receptores AS presentes na super- nossupressão podem acarretar e dificultar
fície da célula, impedindo a ligação da HA a defesa do organismo contra a infecção
com AS e reinfecção celular das partículas viral 11.
virais, permitindo a liberação dos vírions
(Figura 3) 14, 15. Transmissão, prevenção e tratamento
A transmissão do vírus Influenza
Sintomas da gripe ocorre de pessoa a pessoa pelo contato di-
Os sintomas da gripe são caracteri- reto ou indireto. A transmissão direta
zados por início súbito de febre superior a ocorre por meio de gotículas, no ato de
38º, calafrios, garganta dolorida, coriza, conversar muito próximo à pessoa infec-
mialgia, forte cefaleia, tosse, fraqueza, tado, contato com mucosa, secreções, por
desconforto geral e, em alguns casos, náu- espirro e ao tossir. Um indivíduo infectado
sea, vômito, diarreia e ardor nos olhos, pode transmitir o vírus 24 a 48 horas antes
que persistem por 7 a 10 dias, podendo de aparecer os sintomas. Durante o perí-
provocar inflamação das vias respiratórias odo sintomático, a transmissão ocorre de
superiores 3, 4. 24 a 72 horas, começando a diminuir no
Normalmente, ocorre em surtos no quinto dia deste período. A transmissão
inverno, acometendo pessoas de todas as indireta ocorre por meio do toque em ob-
idades, sendo mais graves em crianças e jetos contaminados, superfícies seguindo
idosos. Em idosos que já apresentam outra no toque aos próprios olhos, nariz e boca
com doença primária, como distúrbios di- 4, 15.

abetes, doença cardíaca, doença pulmo- A prevenção contra a gripe ou In-


nar crônica, distúrbios imunológicos e ou- fluenza incluem a vacinação com vacinas

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inativadas ou vivas atenuadas, ou adminis- A maioria das vacinas são produzi-


tração de medicamentos antivirais. A efi- das em ovos embrionados, por três pro-
cácia da vacina contra gripe é de 70% a cessos de fabricação para inativar o vírus:
90% em adultos jovens saudáveis, e a pro- vírus inteiro, dividido (por detergente), e
teção dura alguns meses, devido à grande subunidades (hemaglutinina e neuramini-
capacidade de mutações que o vírus apre- dase) que são mais purificadas, com remo-
senta. Por este motivo, a revacinação é ção de outras proteínas virais. No Brasil, o
anual. Já, os medicamentos antivirais po- Instituto Butantan fabrica vacina Influenza
dem ser utilizados como terapêuticos e trivalente (fragmentada e inativada), des-
profiláticos. O uso de antivirais para pre- tinadas ao Ministério da Saúde, para as
venir a doença devem ser administrados campanhas de vacinação contra a gripe 6.
de forma contínua em períodos de surtos
da gripe 3. Campanhas de vacinação no Brasil
A Organização Mundial da Saúde No Brasil, a vacina contra a Influ-
estabeleceu que o uso terapêutico de an- enza passou a ser oferecida pelo Ministé-
tivirais deve ser para os pacientes confir- rio da Saúde (MS), a partir de 1999, por
mados, ou suspeita com alto risco de sa- meio de Campanhas Nacionais de Vacina-
úde, ou em caso de hospitalizações. O tra- ção para a população a partir de 65 anos
tamento preconizado é com os inibidores de idade. Nos anos de 2000 a 2003, o MS
da neuraminidase (NA), zanamivir e osel- passou a oferecer a vacina para pessoas
tamivir 3, 17. idosas com mais de 60 anos. Em 2004, vol-
tou a realizar as vacinas com solicitação da
VACINA OMS, em 85% da população idosa e 95%
Em 1930, o vírus da gripe foi iso- das cidades brasileiras alcançando o obje-
lado pela primeira vez em suínos, e, em tivo esperado 6.
1933, foi isolado de humanos por Smith, Em 2000, ocorreu a implantação de
Andrews e Poidlaw que inocularam fil- um Sistema de Vigilância da Influenza, em
trado de lavagens da garganta humana em Âmbito Nacional, a fim de monitorar a cir-
furões. Isto levou ao desenvolvimento da culação do vírus nas regiões do Brasil,
primeira vacina contra a gripe, com um acompanhamento e utilização da vacina
único tipo de vírus, o Influenza A, ou va- contra a Influenza 4.
cina monovalente. Em 1942, foi desenvol- As vacinas contra Influenza são al-
vida a segunda vacina contra gripe, uma teradas anualmente, conforme preconiza
vacina bivalente, após a descoberta de ou- a Organização Mundial da Saúde, con-
tro tipo de vírus Influenza B. Com o avanço tendo três cepas de vírus, a Influenza A
da tecnologia e novas descobertas foi pos- H1N1, uma H3N2 e uma cepa de vírus B. A
sível determinar que o vírus Influenza so- cada início de ano, a OMS avalia os dados
fria mutações e novas vacinas foram de- coletados no ano anterior e preconiza as
senvolvidas, baseadas nos tipos virais cir- cepas que terão maior prevalência de cau-
culantes nos anos anteriores 7, 2. sar epidemias e que deve equivaler a va-
Atualmente, existem 26 vacinas cina que será utilizada no ano seguinte, no
inativadas licenciadas para Influenza, inverno nos países do hemisfério norte e
sendo que 13 são fabricados para cada es- final do mês de setembro para os países
tação. As grandes indústrias farmacêuti- do hemisfério sul. A vacina pode ser admi-
cas, como GSK, Sanofi, Pfizer e Abbott e nistrada somente acima dos 6 meses de
empresas menores, como Protein Scien-
ces, Mylan, Microgen, Sinovac, Seqirus 5.

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idade, a cada ano antes do estágio epidê- HUMAN VACCINES & IMMUNO-
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Autor Correspondente:
Gatzke Fernanda, E-mail: fernanda08gatzke@gmail.com
Recebido em: 27 de outubro de 2019
Aprovado em: 03 de dezembro de 2019

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