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1.

ÍNDICE

ENQUADRAMENTO DA UNIDADE CURRICULAR…………………………………………………………………………………………


PÁG. 1
OBJETIVOS GERAIS ………………………………………………………………………………………………………………………………
PÁG. 2
PROGRAMA ………………………………………………………………………………………………………………………………………
PÁG. 3
BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………………………………………………………………………….
PÁG. 4
RECURSOS E MATERIAIS
MÓDULO I – A PALAVRA E SUA CLASSIFICAÇÃO ………………………………………………………..
PÁG. 6
PÁG. 6
1. Critérios de classificação das palavras ……………………………………….
2. Classes de palavras …………………………………………………………………… PÁG. 9
2.1. O nome………………………………………………………………………………… PÁG. 9
2.2. O adjetivo…………………………………………………………………………… PÁG. 23
2.3. O verbo………………………………………………………………………………. PÁG. 33
2.4. O advérbio………………………………………………………………………….. PÁG. 47
2.5. O pronome………………………………………………………………………….. PÁG. 54
2.6. O determinante………………………………………………………………….. PÁG. 69
2.7. O quantificador…………………………………………………………………… PÁG. 78
2.8. A preposição………………………………………………………………………… PÁG. 84
2.9. A conjunção…………………………………………………………………………. PÁG. 90
2.10. A interjeição………………………………………………………………………... PÁG. 95
MÓDULO II – A PALAVRA E SUA FORMAÇÃO ………………………………………………………… PÁG. 96
1. Processos morfológicos de formação de palavras …………………..
PÁG. 97
1.1. Derivação………………………………………………………………………….. PÁG. 97
1.2. Composição……………………………………………………………………… PÁG. 106
2. Processos irregulares de formação de palavras …………………..
PÁG. 109

MÓDULO III – A PALAVRA E SUAS RELAÇÕES ……………………………………………………… PÁG. 116


PÁG. 117
1. Relações fonéticas e gráficas entre palavras …………………………..
1.1. Homofonia ……………………………………………………………………….. PÁG. 117
1.2. Homografia ……………………………………………………………………….. PÁG. 118
1.3. Paronímia ……………………………………………………………………………... PÁG. 119
1.4. Homonímia ……………………………………………………………………….. PÁG. 120

2. Relações semânticas entre palavras ………………………………………. PÁG. 121


2.1. Relações de semelhança (Sinonímia) ………………………………… PÁG. 121
2.2. Relações de oposição (Antonímia) ………………………………….. PÁG. 121
PÁG. 123
2.3. Relações de hierarquia (Hiperonímia/Hiponímia) ………………..
2.4. Relações de parte-todo (Meronímia/Holonímia) ………………… PÁG. 124
2.5. Família de palavras ………………………………………………………… PÁG. 125
2.6. Formas de organização lexical …………………………………………. PÁG. 125
(campo lexical, campo semântico e campo associativo)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 1

2. ENQUADRAMENTO DA UNIDADE
CURRICULAR

Adisciplina de Bases de Análise Gramatical I faz parte do Plano Curricular da Licenciatura em Ensino
da Língua Portuguesa da Faculdade de Educação, Artes e Humanidades da Universidade Nacional Timor
Lorosa’e.

Esta unidade curricular visa apresentar alguns dos conceitos básicos e das categorias mais
relevantes na análise gramatical do Português.

No âmbito desta unidade curricular, de carácter essencialmente prático, pretende-se desenvolver a


capacidade de isolar unidades linguísticas e suas variantes ao nível da palavra.

A estruturação desta unidade curricular em três módulos pretende aprofundar progressivamente o


grau de conhecimento e de análise morfossintática do Português e de alguns aspetos semânticos, numa
perspetiva descritiva, de forma a identificar regularidades no sistema linguístico do Português,
descrevendo contrastes relevantes através de uma metalinguagem adequada e consciencializando para
a plasticidade da língua portuguesa.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 2

3. OBJETIVOS GERAIS

 Consolidar e sistematizar os conhecimentos gramaticais adquiridos ao longo dos Ensinos Básico e


Secundário.
 Desenvolver um conhecimento reflexivo sobre a língua.
 Distinguir atitudes descritivas de atitudes normativas na análise linguística.
 Reconhecer abordagens e níveis de descrição das unidades da língua.
 Identificar diferentes categorias gramaticais e distinguir categoria de função.
 Dominar os conceitos teórico-descritivos necessários para a explicitação do conhecimento
gramatical.
 Conhecer e aplicar diferentes metodologias para a identificação de unidades linguísticas ao nível
da palavra.
 Desenvolver métodos de observação, de procura de regularidades e de generalização a partir dos
dados linguísticos.
 Retirar conclusões através da manipulação de dados linguísticos.
 Reconhecer sequências linguísticas possíveis e impossíveis ao nível da palavra.
 Recorrer às metodologias mais adequadas para o estudo de diferentes tópicos.
 Melhorar a capacidade de análise linguística.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 3

4. PROGRAMA

GRAMÁTICA DA PALAVRA

MÓDULO I – A PALAVRA E SUA CLASSIFICAÇÃO


1. Critérios de classificação das palavras
2. Classes de palavras
2.1. O nome
2.2. O adjetivo
2.3. O verbo
2.4. O advérbio
2.5. O pronome
2.6. O determinante
2.7. O quantificador
2.8. A preposição
2.9. A conjunção
2.10. A interjeição

MÓDULO II – A PALAVRA E SUA FORMAÇÃO


1. Processos morfológicos de formação de palavras
1.1. Derivação
1.2. Composição
2. Processos irregulares de formação de palavras

MÓDULO III – A PALAVRA E SUAS RELAÇÕES


1. Relações fonéticas e gráficas entre palavras
1.1. Homofonia
1.2. Homografia
1.3. Homonímia
1.4. Paronímia

2. Relações semânticas entre palavras


2.1. Relações de semelhança (sinonímia)
2.2. Relações de oposição (antonímia)
2.3. Relações de hierarquia (hiperonímia/hiponímia)
2.4. Relações de parte-todo (meronímia/holonímia)
2.5. Família de palavras
2.6. Formas de organização lexical (campo lexical, campo semântico e campo associativo)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 4

5. BIBLIOGRAFIA

Bibliografia
AMORIM, Clara e SOUSA, Catarina (2013) – Gramática da Língua Portuguesa. Porto: Areal Editores.
ARRUDA, Lígia (2012) – Gramática de português língua não materna. Porto: Porto Editora.
AZEREDO, M. Olga; M. Isabel Freitas M. PINTO e M. Carmo Azeredo LOPES (2013) – Gramática Prática
de Português – 3.ºciclo de EB e secundário. Lisboa: Raiz Editora.
CASTELEIRO, J. Malaca (Coord.) (2001). Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa,
Academia das Ciências e Editorial Verbo.
CUNHA, Celso e Lindley CINTRA (2006) – Nova Gramática do Português Contemporâneo (18ª ed.).
Lisboa: Ed. Sá da Costa.
COIMBRA, Olga Mata e Isabel COIMBRA (2001) – Gramática Activa 1 (3ª ed.). Lisboa – Porto – Coimbra:
Lidel – Edições Técnicas.
GOMES, Álvaro (2008) – Gramática Pedagógica e Cultural da Língua Portuguesa, 3º Ciclo do Ensino
Básico e Ensino Secundário. Porto: Porto Editora.
MATEUS, M. Helena Mira et al. (1989) – Gramática da Língua Portuguesa. 2ª edição revista e
aumentada. Lisboa: Ed. Caminho
MATOS, João Carlos (2010) – Gramática Moderna da Língua Portuguesa. Lisboa: Escolar Editora
MOREIRA, Vasco e Hilário PIMENTA (2008) – Gramática de Português. Porto: Porto Editora
MOURA, José de Almeida (2009) – Gramática do Português Actual. Lisboa: Lisboa Editora
FROMKIN, Victoria e Robert RODMAN (1993) – Introdução à Linguagem. Coimbra: Livraria Almedina
Webgrafia
AA. – Ciberdúvidas da Língua Portuguesa [Em linha]. Disponível em http://www.ciberduvidas.com/
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA. Direção-Geral da Educação ‐ Dicionário Terminológico [Em
linha]. Disponível em http://dt.dgidc.min-edu.pt/
PORTO EDITORA – Infopédia. Enciclopédia e dicionários Porto Editora [Em linha]. Disponível em
http://www.infopedia.pt/
INSTITUTO DE LINGUÍSTICA TEÓRICA E COMPUTACIONAL– Portal da Língua Portuguesa [Em linha].
Disponível emhttp://www.portaldalinguaportuguesa.org/
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 5

6. RECURSOS E MATERIAIS

MÓDULO I
– A PALAVRA E SUA CLASSIFICAÇÃO –
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 6

AS PALAVRAS E O MUNDO

O ser humano é inequivocamente um ser social e a sua capacidade de


comunicação constitui-se como um eixo definitório do indivíduo e das relações que
estabelece com os outros e com o mundo.
Assim, seja para representar, traduzir e transmitir o pensamento, seja para trocar
informações, o ser humano utiliza diferentes meios – sinais visuais (ex.: os sinais
reguladores do trânsito), sinais auditivos (ex.: o toque de uma campainha ou de
qualquer outro instrumento sonoro), gestos (ex.: um aceno de adeus com a mão).
No entanto, o instrumento, por excelência, da comunicação é a linguagem verbal
(falada ou escrita).
Em Hub Faria et. al. (1996) afirma-se que “a linguagem verbal constitui, para os
mitos e religiões de muitos povos, a propriedade que distingue a espécie humana dos
restantes animais” (p. 12) e, de facto, independentemente do seu grau de inteligência,
qualquer ser humano tem a capacidade de usar criativamente os signos linguísticos ao
seu dispor para construir uma mensagem, verbalizar um pensamento e comunicar.
A linguagem verbal, exclusiva do ser humano, constitui o sistema mais rico e
complexo de comunicação e obedece a regras de pronúncia, de ortografia, de
concordância sintática, de seleção semântica e de adequação comunicativa.
A linguagem verbal pode ser oral (através do diálogo em presença, do telefone, da
rádio, da televisão) ou escrita (através do livro, do jornal, de carta, etc.) e é realizada
através das palavras1 que constituem uma língua.

1. Critérios de classificação das palavras

Se é verdade que, na linguagem verbal, é condição necessária o uso das palavras


para que as pessoas comuniquem, não é menos verdade que só o uso das palavras não
é suficiente para que a comunicação seja eficaz. Se, por exemplo, alguém disser
*comprar o vai bola Rui amanhã uma, é quase impossível que se perceba que O Rui vai
comprar uma bola amanhã. Isto acontece, entre outras razões, porque as palavras têm

1
Palavra: Item lexical pertencente a uma determinada classe, com um significado identificável ou com
uma função gramatical e com forma fonológica consistente, podendo admitir variação flexional.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 7

de se organizar dentro da frase de acordo com a distribuição (as combinações e


relações de dependência) que a sintaxe2 admite. Em função do critério distribucional
(sintático), as palavras dividem-se em dez classes: nome; adjetivo; verbo; advérbio;
pronome; determinante; quantificador; preposição; conjunção e interjeição.
Dentro destas classes é possível, frequentemente, proceder a subdivisões, que
obedecem a critérios de ordem sintática e/ou semântica.
Como está em permanente construção pela comunidade ou sociedade que a
utiliza, a língua não é imutável e vai sofrendo alterações ao longo dos tempos, porque
vai acompanhando a evolução natural da comunidade ou sociedade que a criou.
Tais alterações são as que permitem uma atualização e renovação dos recursos
lexicais3 disponíveis numa língua.
Isto não se verifica, no entanto, com todas as palavras. De acordo com o critério da
potencialidade de criação de novas unidades lexicais, as palavras podem integrar
classes abertas ou classes fechadas.
São classes abertas as que integram um número potencialmente ilimitado de
palavras, que podem aumentar ou alterar-se de acordo com a evolução da língua.
Correspondem a este critério os nomes, os adjetivos, os verbos, os advérbios e as
interjeições.
São classes fechadas as que integram um número finito de palavras, a que
raramente se juntam outras novas.
Correspondem a este critério os pronomes, os determinantes, os quantificadores,
as preposições e as conjunções.
Outro critério de classificação das palavras prende-se com a sua variabilidade. Este
critério, de matriz morfológica, divide as palavras entre variáveis e invariáveis.
São palavras variáveis as que, prototipicamente, admitem flexão4 (nomeadamente
em género, número e/ou grau). Correspondem a este critério os nomes, os
determinantes, os pronomes, os adjetivos e os verbos.

2
A sintaxe estuda as relações e as funções que as palavras contraem entre si numa frase.
3
Recursos lexicais: conjunto ilimitado e aberto de unidades significativas, designadas por lexemas
(palavras ou constituintes morfológicos portadores de significado).
4
Geralmente,a flexão manifesta-se através de processos morfológicos como a afixação, embora haja
instâncias de flexão que não envolvem afixação, como, por exemplo, a formação dos tempos compostos
dos verbos.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 8

São palavras invariáveis as que não são flexionáveis. Exemplos de palavras


invariáveis são as preposições, as conjunções ou as interjeições.
Este critério de classificação de palavras, como se verá adiante, apresenta algumas
fragilidades, na medida em que mesmo as palavras consideradas variáveis apresentam
formas invariáveis e vice-versa.
Por último, é de referir que todas as palavras se distinguem, morfologicamente,
entre simples e complexas – são palavras simples as que apresentam um único radical
e cujos únicos afixos possíveis são de natureza flexional; são palavras complexas as
que apresentam mais do que um radical ou afixos de natureza derivacional. Estes
processos serão objeto de análise aprofundada no módulo II.

Resumindo…
Critério de potencialidade de criação de novas unidades lexicais
Integram um número potencialmente ilimitado de palavras, que podem aumentar ou
Classes
alterar-se de acordo com a evolução da língua.
abertas
(ex.: nomes; adjetivos; verbos; advérbios; interjeições)
Classes Integram um número finito de palavras, a que raramente se juntam outras novas.
fechadas (ex.: pronomes; determinantes; quantificadores; preposições; conjunções)

Critério de variabilidade
Palavras Prototipicamente, admitem flexão (nomeadamente em género, número e/ou grau).
variáveis (ex.: nomes; determinantes; pronomes; adjetivos; verbos)
Palavras Integram um número finito de palavras, a que raramente se juntam outras novas.
invariáveis (ex.: interjeições; preposições; conjunções)

Critério de constituição morfológica


Palavras Apresentam um único radical e cujos únicos afixos possíveis são de natureza flexional.
simples
Palavras Apresentam mais do que um radical ou afixos de natureza derivacional.
complexas
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 9

2. Classes de palavras

2.1. O nome

O nome é uma palavra pertencente a uma classe aberta. É dotada de capacidade


referencial e serve para designar pessoas (i), animais (ii), objetos (iii), profissões (iv),
elementos da natureza (v), instituições (vi), lugares (vii), conceitos (viii), estados (ix),
sentimentos (x), sensações (xi), qualidades (xii) ou processos (xiii).
Ex.:
(i) Maria
(ii) gato
(iii) mesa
(iv) padeiro
(v) nuvem
(vi) UNTL
(vii) Díli
(viii) Justiça
(ix) cansaço
(x) tristeza
(xi) frio
(xii) bondade
(xiii) escrita

Os nomes podem flexionar em género, número e grau, mas todos pertencem,


obrigatoriamente, a uma categoria de género (são masculinos ou femininos).
Sãonomes variáveis os que admitem contraste de género, variação em grau e
flexão em número. Os que não apresentam contraste em género são nomes
invariáveis ou uniformes, podendo referir entidades animadas ou não animadas.
Os nomes podem classificar-se como próprios ou comuns, contáveis ou não
contáveis e coletivos.
São nomes próprios os que designam um ser único entre os da sua espécie, isto é,
um ser individualizado. Podem ser antropónimos (ex.: Carlos), topónimos (ex.:
Bobonaro; África), seres antropomorfizados ou mitológicos (ex.: Deus; Adamastor),
instituições (ex.: Ministério da Educação; Universidade Nacional Timor Lorosa’e), festas
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 10

e festividades (ex.: Natal; Páscoa), títulos de periódicos (ex.: Timor Post), pontos
cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente (ex.: Norte; Oriente).
Escrevem-se sempre com letra maiúscula.

São nomes comuns os que não individualizam os seres, seja porque se aplicam a
qualquer referente que pertença a uma espécie (ex.: cão, colher, carta, animal), seja
porque designam uma abstração (ex.: amor, tristeza, justiça, alma).

São nomes contáveis os que estão sujeitos a uma quantificação, podendo, por isso,
coocorrer com quantificadores e assumir a forma do singular ou do plural (ex.: o
carro/os carros; uma árvore/cinco árvores).
Ex.:
(i) Este mês li o livro que me emprestaste.
(ii) Durante um ano, posso ler muitos livros.

São nomes não contáveis os que não permitem a divisão em indivíduos distintos,
assumindo, normalmente, a forma do singular. Não são flexionáveis em número e não
são utilizados com numerais (ex.: a água; o ouro; a esperança; o arroz)5.
Ex.:
(i) Bebi água assim que pude.
(ii) Recebi um anel de ouro.
(iii) É preciso manter a esperança.
(iv) Comprei um quilo de arroz.
(v) Bebeu uma garrafa de vinho.

Os nomes coletivos são nomes comuns que, no singular, designam um conjunto de


elementos da mesma espécie (ex.: arquipélago = conjunto de ilhas; banda = conjunto
de músicos; bando = conjunto de aves; enxame = conjunto de abelhas; armada =
conjunto de navios de guerra). Há nomes coletivos contáveis, como cacho ou cardume,
e nomes coletivos não contáveis (que não aceitam o plural), como é o caso de fauna e
flora.

Alguns coletivos:
5
Quando os nomes não contáveis são usados no plural significa que estão a referir qualidades (ex.: Neste
bolo usei dois açúcares – o branco e o amarelo) ou porções/medidas convencionadas (ex.: Pedimos duas
águas e três cafés ao empregado de mesa).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 11

alcateia (de lobos e outros animais frota (de navios; de viaturas)


ferozes)
armada (de navios de guerra) girândola (de foguetes)
armento (de gado grande: bois, búfalos) horda (de povos selvagens nómadas; de
desordeiros; de invasores)
arquipélago (de ilhas) junta (de bois; de médicos)
banda (de músicos) legião (de soldados; de demónios)
bando (de aves; de malfeitores) magote (de pessoas; de coisas)
batalhão (de militares) malta (de amigos; de desordeiros)
cacho (de bananas; de uvas) manada (de bois; de búfalos; de cavalos;
de elefantes)
cáfila (de camelos) matilha (de cães de caça)
cambada (de malandros; no Brasil, molho (de chaves; de verduras)
também de caranguejos, chaves)
cancioneiro (de canções, de poesias multidão (de pessoas)
líricas)
caravana (de viajantes, de peregrinos, de ninhada (de aves; de animais recém-
mercadores) nascidos)
cardume (de peixes) nuvem (de mosquitos; de gafanhotos; de
insetos)
choldra (de assassinos, de malfeitores) olival (de oliveiras)
chorrilho (de asneiras) pinhal (de pinheiros)
chusma (de gente, de pessoas) plantel (de atletas; de animais de caça)
constelação (de estrelas) plêiade (de poetas; de artistas)
cordilheira (de serras e montanhas) pomar (de árvores de fruto)
corja (de vadios, tratantes, velhacos, quadrilha (de ladrões; de bandidos)
malandros)
coro (de cantores; de anjos) ramalhete (de flores)
elenco (de atores) rebanho (de ovelhas; de cabras)
enxame (de abelhas) récua (de bestas de carga)
enxoval (de roupas) renque (de árvores)
esquadra (de navios) réstia (de cebolas; de alhos)
esquadrilha (de aviões) romanceiro (de poesias narrativas)
exército (de soldados) turma(de alunos)
falange (de soldados; de anjos) vara (de porcos)
feixe (de lenha; de capim)

FLEXÃO EM GÉNERO
Género natural e género gramatical

Considere as frases:

O menino atira a bola.


A menina atira a bola.
A criança atira a bola.
Leia ainda o texto:
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 12

A bola não é mulher do bolo


É evidente
E o golo
Não é marido da gola.
(da gola da camisola)

As palavras menino e bolo têm, gramaticalmente, o género masculino; por sua vez,
menina, bola e criança têm como género gramatical o feminino. No entanto, enquanto
menino se refere a uma pessoa do sexo masculino e menina a uma pessoa do sexo
feminino e podemos dizer que em ambos os casos o género natural dado pelo sexo
coincide com o género gramatical, esta realidade não existe em bolo e bola: como se
diz no poema, “A bola não é mulher do bolo”.
O nome bola designa uma realidade com género gramatical feminino e bolo refere
outra realidade completamente diferente – é um outro nome e tem o género
gramatical masculino.
Por outro lado, no caso da criança, estamos face a uma palavra que tem como
género gramatical feminino, mas que pode designar um ser quer do sexo masculino
quer do sexo feminino, ou seja, cujo género natural pode ser o masculino ou o
feminino.
Geralmente, nos nomes que designam seres animados (pessoas e animais), o
género natural (que é dado pelo sexo) coincide com o género gramatical (ex.: o
menino, a menina);há, no entanto, casos em que isso não acontece, como quando os
nomes são uniformes quanto ao género (ex.: a criança, a gente), podendo, por isso,
designar tanto seres masculinos como femininos.
Nos nomes que designam seres inanimados, o género é imposto pela própria
língua de forma arbitrária (género gramatical), pelo que não há qualquer alteração de
género.

Formação do feminino
►Os nomes terminados em –o átono formam habitualmente o feminino substituindo
a terminação –o do masculino pela terminação –a (índice temático) do feminino, como
acontece, por exemplo, em:
(i) o menino → a menina
(ii) o aluno → a aluna
(iii) o coelho → a coelha
(iv) o gato → a gata

Em alguns nomes essa alteração surge acompanhada da modificação da abertura


da vogal tónica:
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 13

(i) o porco→ a porca


(ii) o morto→ a morta

Casos particulares na formação do feminino


Para além dos nomes que obedecem a regra geral, há casos particulares no que diz
a respeito à formação do feminino.

► Os nomes terminados em –tor e -dor formam o feminino umas vezes acrescentando


–a (i) e (ii), outras vezes substituindo por –triz (iii) e (iv) ou –deira (apenas no caso de
terminar em -dor) (v):
(i) o cantor → a cantora
(ii) o vendedor → a vendedora
(iii) o ator → a atriz
(iv) o imperador → a imperatriz6
(v) o cantador → a cantadeira

► Nos restantes nomes terminados em consoante, geralmente forma-se o feminino


acrescentando –a:
(i) o professor → a professora
(ii) o freguês → a freguesa7
(iii) o escritor → a escritora

► Os nomes terminados em -epodem formar o feminino substituindo a terminação -e


do masculino pela terminação –a do feminino:
(i) o infante →a infanta
(ii) o governante →a governanta
(iii) o monge →a monja

► Os nomes terminados no ditongo -ão formam o feminino umas vezes elidindo o –o


final (i) e (ii), outras vezes mudando em –oa (iii), -ona8(iv) ou –ana (v):
(i) o irmão → a irmã
(ii) o anão → a anã
(iii) o leão → a leoa
(iv) o mocetão →a mocetona
(v) o sultão → a sultana

6
O feminino de imperador, como de embaixador, forma-se acrescentando –a quando se refere à mulher
que ocupa essa função (imperadora e embaixadora), ou substituindo por –triz quando se refere à esposa
da pessoa que ocupa essa função (imperatriz e embaixatriz).
7
No feminino, o acento desaparece porque deixa de ser necessário para marcar a sílaba tónica (a
palavra deixa de ser aguda e passa a ser grave).
8
Normalmente esta situação verifica-se quando os nomes se apresentam no grau aumentativo (ver
adiante).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 14

►Os nomes que designam pessoas ou animais podem formar o feminino a partir de
radicais diferentes (casos de variação lexical):

(i) o bode → a cabra (viii) o genro → a nora


(ii) o boi → a vaca (ix) o homem →a mulher
(iii) o cão → a cadela (x) o marido → a mulher
(iv) o carneiro → a ovelha (xi) o padrasto → a madrasta
(v) o cavalo → a égua (xii) o pai → mãe
(vi) o compadre → a comadre (xiii) o veado → a corça
(vii) o frade → a freira (xiv) o zangão →a abelha

► Alguns nomes, apesar de não apresentarem qualquer variação lexical (mudança de


radical), formam o feminino de um modo diferente de qualquer das regras anteriores.
Assim,
(i) o europeu → a europeia (vii) o poeta → a poetisa9
(ii) o herói → a heroína (viii) o judeu → a judia
(iii) o barão → a baronesa (ix) o galo → a galinha
(iv) o príncipe → princesa (x) o maestro → a maestrina
(v) o cônsul → a consulesa (xi) o avô → a avó
(vi) o abade → a abadessa (xii) o réu → a ré

►Para além destes casos, há ainda os nomes que, independentemente de referirem


entidades animadas ou não animadas, apresentam a mesma forma no masculino e no
feminino: são os nomes uniformes ou invariáveis. Podemos distinguir as seguintes
variantes:

♦ Nomes epicenos: nomes que designam animais e cujo género natural é assinalado
através da palavra macho ou fêmea.
(i) a girafa-macho → a girafa-fêmea
(ii) a cobra-macho→ a cobra-fêmea
(iii) o tigre-macho→ o tigre-fêmea
(iv) o sapo-macho → o sapo-fêmea
(v) a avestruz-macho→ a avestruz-fêmea
(vi) a serpente-macho→ a serpente-fêmea
(vii) o golfinho-macho → o golfinho-fêmea

♦Nomes sobrecomuns: nomes que designam pessoas sem identificar o seu género
natural, não apresentando qualquer contraste de género, nem sequer no
determinante.
(i) o cônjuge
(ii) a vítima
9
Atualmente, usa-se também a forma poeta.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 15

(iii) a criatura
(iv) a criança
(v) o indivíduo
(vi) a pessoa
(vii) a testemunha
(viii) o carrasco

♦ Nomes comuns de dois: nomes que possuem uma forma comum aos dois géneros,
sendo o género assinalado apenas pelos determinantes que os acompanham.
(i) o/a artista
(ii) o/a colega
(iii) o/a intérprete
(iv) o/a vigarista
(v) o/a jovem
(vi) o/a cliente
(vii) o/a gerente
(viii) o/a mártir

FLEXÃO EM GRAU
O nome pode encontrar-se no grau normal, no grau aumentativo e no diminutivo.
O uso do grau nos nomes pode apresentar duas finalidades comunicativas – dar uma
indicação relativa ao tamanho ou atribuir um valor apreciativo (positivo ou negativo) –,
que só ficam explícitas em contexto.
O grau aumentativo tem como significação o aumentodas características
designadas pelo nome, sendo muitas vezes usado com um valor pejorativo ou
depreciativo:
(i) casa → casarão
(ii) cabeça → cabeçorra
(iii) mulher → mulherona
(iv) homem → homenzarrão
(v) rico → ricaço

O grau diminutivo tem como significação a diminuição do tamanho normal do


referente ou expressão do valor afetivo, frequentemente de carinho ou estima:
(i) papel → papelinho
(ii) cão → cãozinho
(iii) gato → gatito
(iv) rio → riacho
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 16

FLEXÃO EM NÚMERO
O nome singular designa um ser único ou um conjunto de seres considerados como
um todo. O singular dos nomes verifica-se pela ausência de afixo.

Considere as seguintes frases do excerto:


“O Sr. Mário ouve relatos dos jogos de futebol das equipas de Díli e adormecia.
Então nós, rastejando, íamos aproximando da mesa da rádio e, deitados na relva,
decorávamos o nome das equipas, dos jogadores, das palavras elogiosas e
depreciativas das habilidades.”
Luís Cardoso, “Coisas de Bola” in Público (texto adaptado)

Repare nas palavras jogos, jogadores, equipas. Estes três nomes encontram-se no
plural; apresentam, portanto, flexão em número.

Formação do plural
► Regra geral, os nomes terminados em vogal (i) a (iv) ou ditongo diferente de -ão(v)
a (ix)formam o plural acrescentando o afixo flexional -s à forma do singular:
(i) escola → escolas
(ii) corte → cortes
(iii) sapato → sapatos
(iv) peru → perus
(v) pau → paus
(vi) pai → pais
(vii) boi → bois
(viii) chapéu → chapéus
(ix) mãe → mães

► Os nomes terminados em–m formam o plural substituindo o –m por –n e


acrescentando –s:
(i) bem → bens
(ii) fim→ fins
(iii) som → sons
(iv) álbum→álbuns
► Os nomes terminados em consoante diferente de –m ou -l formam o plural
acrescentando –es:
(i) cor → cores
(ii) mar → mares
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 17

(iii) português → portugueses10


(iv) país → países
(v) voz → vozes
(vi) cruz → cruzes
(vii) abdómen → abdómenes
(viii) dólmen → dólmenes

► Os nomes terminados em –il formam o plural elidindo o –l e acrescentando –s (se a


sílaba é tónica) (i) a (v), ou substituindo a terminação de singular –il por –eis (se a
sílaba é átona) (vi) a (viii):
(i) funil → funis
(ii) barril → barris
(iii) canil → canis
(iv) carril → carris
(v) ardil → ardis
(vi) fóssil → fósseis
(vii) réptil → répteis
(viii) míssil → misseis

► Os restantes11 nomes terminados em –l formam o plural substituindo o –l por –is:


(i) jornal → jornais
(ii) manual → manuais
(iii) anel → anéis
(iv) túnel → túneis
(v) papel → papéis
(vi) farol → faróis
(vii) caracol → caracóis
(viii) paul → pauis

► Os nomes terminados no ditongo -ão formam o plural de acordo com as


terminações que tinham em Latim. Assim, uns apenas acrescentam o –s (i) a (vi);
outros substituem a terminação –ão por -ões (vii) a (xv); outros ainda substituem a
terminação –ão por –ães (menos produtivo) (xvi) a (xix):

10
Tal como acontece quando passa para o feminino, no plural o acento desaparece porque deixa de ser
necessário para marcar a sílaba tónica (a palavra deixa de ser aguda e passa a ser grave).
11
Há algumas exceções a esta regra: mal →males ou cônsul →cônsules.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 18

(i) cidadão → cidadãos (xi) nação → nações


(ii) cortesão → cortesãos (xii) leão → leões
(iii) cristão → cristãos (xiii) vulcão → vulcões
(iv) irmão → irmãos (xiv) casarão → casarões12
(v) acórdão → acórdãos (xv) sabichão → sabichões
(vi) sótão → sótãos (xvi) alemão → alemães
(vii) botão → botões (xvii) cão → cães
(viii) canção → canções (xviii) capitão → capitães
(ix) coração → corações (xix) pão → pães
(x) eleição → eleições

► São invariáveis os nomes graves terminados em –s e alguns nomes terminados em –x:


(i) o/os lápis
(ii) o/os alferes
(iii) o/os oásis
(iv) o/os pires
(v) o/os atlas
(vi) o/os cais
(vii) o/os tórax

Atenção
► Existem alguns nomes terminados em –ão que permitem duas ou mais formas de
plural.
(i) aldeão → aldeões, aldeãos ou aldeães
(ii) guardião → guardiões ou guardiães
(iii) ancião → anciões, anciãos ou anciães

► Os nomes cujos diminutivos são formados com –zinho e –zito flexionam


simultaneamente no plural a base da palavra (suprimindo o –s) e a terminação
(adicionando-se o -s).
(i) cançãozita, leãozinho – cançõezitas, leõezinhos
(ii) cãozinho, pãozito - cãezinhos, pãezitos
(iii) jornalzinho, papelzito - jornaizinhos, papeizitos

12
Todos os nomes que se encontram no grau aumentativo com o sufixo –ão formam o plural em –ões.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 19

Formas defetivas
► Há nomes que se empregam apenas no plural (também designados pluralia tanta):

(i) cãs (vi) óculos


(ii) condolências (vii) pêsames
(iii) férias (viii) parabéns
(iv) fezes (ix) víveres
(v) núpcias (x) arredores

Plural nomes dos compostos

Considere as seguintes frases do excerto.

“Tenho flechas, cinco bandas desenhadas, uma chave-inglesa, um livro de insetos,


uma mapa, uma borracha e uma pedra. Toda gente devia ter uma bagagem assim. O
guarda-chuva faz de paraquedas.”
Bill Watterson, Calvin e Hobbes
in Que Dias Tão Cheios (Texto adaptado)

Neste excerto Calvin utiliza vários nomes compostos, isto é, nomes constituídos
por dois ou mais elementos associados (radicais ou palavras):
chave-inglesa
guarda-chuva
paraquedas

Se se tratasse de vários exemplares de cada objeto empregaria:


as chaves-inglesas
os guarda-chuvas
os paraquedas
► Os nomes compostos podem apresentar cinco formas distintas de composição, das
quais depende a formação do plural.
♦ Os compostos morfológicos ou morfossintáticos unidos sem hífen flexionam-se no
plural como se fossem nomes simples, isto é só o último elemento constituinte vai
para o plural.
(i) aguardente – aguardentes
(ii) malmequer – malmequeres
(iii) pontapé – pontapés
(iv) vaivém – vaivéns
(v) passatempo-passatempos
(vi) reviravolta-reviravoltas
(vii) clarabóia-clarabóias
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 20

♦ Os compostos morfológicos unidos, geralmente, com hífen, são formados por dois
ou mais radicais com o mesmo estatuto e flexionam no plural no final da palavra.
(i) luso-brasileiro → luso-brasileiros
(ii) afro-luso-brasileiro → afro-luso-brasileiros

♦ Nos compostos morfossintáticos coordenados13 a flexão afeta, de igual modo, todos


os constituintes, sejam dois nomes (i) e (ii), seja um nome e um adjetivo (iii) e (iv), seja
um adjetivo e um nome (v) e (vi).
(i) couve-flor →couves-flores
(ii) obra-prima →obras-primas
(iii) estrela-cadente →estrelas-cadentes
(iv) nó-cego → nós-cegos
(v) gentil-homem → gentis-homens
(vi) livre-pensador → livres-pensadores

♦ Nos compostos morfossintáticos subordinados, a flexão em número só afeta o


nome da esquerda, independentemente de serem constituídos por dois nomes (i) a (iv)
ou por nome + preposição + nome (v) a (viii).
(i) escola-modelo → escolas-modelo
(ii) ideia-força → ideias-força
(iii) navio-escola → navios-escola
(iv) bomba-relógio → bombas-relógio
(v) grão-de-bico →grãos-de-bico
(vi) estrela-do-mar →estrelas-do-mar
(vii) pão-de-ló →pães-de-ló
(viii) fim-de-semana → fins-de-semana

♦Nos compostos morfossintáticos em que o primeiro elemento é uma forma verbal ou


palavra invariável e o segundo um nome ou adjetivo, a flexão em número só afeta o
elemento da direita.
(i) guarda-chuva → guarda-chuvas
(ii) abaixo-assinado → abaixo-assinados
(iii) recém-nascido → recém-nascidos
(iv) vice-reitor → vice-reitores

13
As palavras têm o mesmo estatuto e idêntica contribuição para a interpretação semântica.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 21

Resumindo…
Pertence a uma classe aberta.
É dotado de capacidade referencial.
Serve para designar pessoas, animais, objetos, elementos da natureza, instituições,
lugares, conceitos, estados, qualidades, ações ou processos.
Pertence obrigatoriamente a uma categoria de género (masculino ou feminino).
Pode flexionar em género, número e grau.
Classificação
próprios
Nomes

Designam um ser individualizado e único entre os da escrevem-se sempre com letra


sua espécie. maiúscula.

sujeitos a uma quantificação;


Não individualizam os seres,
Nomes comuns

nomes contáveis podem coocorrer com quantificadores;


seja porque se aplicam a
podem flexionar em número
qualquer referente que
pertença a uma espécie, seja normalmente, forma no singular;
nomes não-
porque designam uma não flexionáveis em número;
contáveis
abstração não podem coocorrer com numerais
nomes coletivos forma no singular

FLEXÃO EM GÉNERO
NOMES VARIÁVEIS
NOMES INVARIÁVEIS ou UNIFORMES
(apenas entidades animadas)
Regra -o  -a; consoante + -a Epicenos: referentes a animais.
–tor  -tora / -triz A informação de género natural é dada pelo uso de -
–dor  -dora / -triz / -deira macho e -fêmea.
particulares

-e  -a Sobrecomuns: referentes a pessoas.


Casos

-ão  -ã / -oa / -ona / -ana Não há qualquer contraste de género.


-ão  oa Comuns de dois: A informação de género natural é
Variação lexical dada pelo determinante.

FLEXÃO EM GRAU
Normal
Aumentativo aumento(objetivo ou subjetivo)do tamanho normal do referente
Diminutivo diminuição do tamanho normal do referente; valor afetivo
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 22

FLEXÃO EM NÚMERO
NOMES VARIÁVEIS NOMES INVARIÁVEIS ou UNIFORMES
Regra vogal + -s
Nomes graves terminados em -s
consoante + -es
-m  -ns
Nomes terminados em -x
-il (se tónico) -is
Pluralia tanta (formas defetivas)
-il (se átono) -eis
NOMES COMPOSTOS
-l  -is compostos morfológicos ou morfossintáticos sem
Casos particulares

hífen  flexiona como nome simples


-ão -ãos/ -ões / -ães compostos morfológicos unidos com hífen 
flexiona no final da palavra
compostos morfossintáticos coordenados  ambos
os constituintes flexionam

compostos morfossintáticos subordinados  só


diminutivos flexionam a base da
flexiona o nome da esquerda
palavra e a terminação
compostos morfossintáticos com forma verbal ou
palavra invariável no primeiro constituinte  só
flexiona o nome da direita
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 23

2.2. O adjetivo

O adjetivo pertence a uma classe aberta de palavras e junta-se a um nome para o


caracterizar, descrevendo qualidades (positivas ou negativas), propriedades ou
determinando circunstâncias (ex.: discurso lúcido; homem perverso; pessoa simples;
roupa delicada; céu azul; vidro fosco; casa arruinada; laranjeira florida). É,
normalmente, uma palavra variável que concorda em género e em número com o
nome a que se refere.
Ex.:
(i) O Rui é inteligente.
(ii) Os livros são caros.
(iii) Estas maçãs são doces.
(iv) Os gatos pretos não me dão azar.

Os adjetivos podem, em princípio, flexionar em número, género e grau. No


entanto, como se verá em seguida, nem todos apresentam estas características.

SUBCLASSES DOS ADJETIVOS


De acordo com a relação que estabelece com o nome a que se junta, o adjetivo
pode ser classificado como numeral, qualificativo ou relacional.
O adjetivo numeral determina uma posição numa sequência ordenada, indicando
a ordem em que o nome que acompanha surge numa série 14. Concorda em género e
número com o nome a que se refere e que geralmente precede 15. Não tem variação
em grau (exceto primeiro ------> primeiríssimo). Pode ser antecedido de determinantes
– artigo (i), demonstrativo (ii) ou possessivo (iii):
Ex.:
(i) Timor-Leste foi o oitavo país a aderir à CPLP.
(ii) Este primeiro lugar foi merecido.
(iii) O teu terceiro livro é o mais vendido.

14
Primeiro, segundo, terceiro...
15
Timor-Leste foi o oitavo país a aderir à CPLP mas * Timor-Leste foi o país oitavo a aderir à CPLP.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 24

O adjetivo qualificativo exprime uma determinada propriedade, qualidade ou


característica do nome a que se junta (ex.: este livro tem um valor acrescido para mim;
gosto de ver as árvores floridas). Geralmente varia em grau, embora haja alguns que
não têm essa variação (ex.:sólido, azul…). Este tipo de adjetivo pode, entre outras, ter
origem no particípio presente ou no particípio passado de alguns verbos (ex.:
arranjado, reluzente).
A sua posição habitual é pós-nominal (à direita do nome). No entanto, alguns
podem ocorrer quer à direita quer à esquerda do nome, o que condiciona o seu
sentido. Assim, quando o adjetivo é colocado em posição pós-nominal (à direita do
nome), assume um valor restritivo16, com um significado mais objetivo ou material (i);
se for colocado em posição pré-nominal (à esquerda do nome), tem um valor não
restritivo e avaliativo, com um significado mais subjetivo ou psicológico (ii). Alguns
adjetivos têm uma posição pós-nominal obrigatória17, como é o caso dos adjetivos de
cor (iii).
Ex.:
(i) A ONU tem um representante alto. (um representante de estatura
elevada).
(ii) A ONU tem um alto representante. (um representante com poderes
especiais).
(iii) Os olhos azuis são bonitos. / *Os azuis olhos são bonitos.

O adjetivo qualificativo é, prototipicamente, graduável 18, e pode originar palavras


derivadas com prefixos de negação (ex.: desagradável, intolerante, impróprio).
O adjetivo qualificativo apresenta, frequentemente, um antónimo: (bonito/feio;
grande/pequeno; claro/escuro…).

O adjetivo relacional deriva de uma base nominal19 (ex.: mensal> mês;


presidencial> presidente; febril> febre). Sendo de natureza classificatória, precisam o

16
Assume valor restritivo na medida em que pode ser substituído por uma oração subordinada relativa
restritiva: o rapaz pobre = o rapaz que é pobre.
17
Evidentemente, as regras aqui apresentadas não se aplicam ao texto literário.
18
Veja o tópico relativo à flexão em grau.
19
Ao contrário dos adjetivos qualificativos, que por regra não o são (algumas exceções: monumental,
gigantesco, fabuloso).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 25

conceito expresso pelo nome, restringindo-lhe, assim, a extensão do significado. O


adjetivo relacional estabelece uma relação diversificada com o nome, podendo
expressar várias propriedades ligadas àquele (de agente, de posse, de origem, de
tema, etc. – ex.: invasão indonésia; veto presidencial; vinho português; arte japonesa).
Não apresenta variação em grau e ocorre em posição pós-nominal. Incluem-se nesta
subclasse os adjetivos gentílicos e pátrios (os que, formados a partir de nomes, servem
para indicar a origem, naturalidade ou nacionalidade de algo ou alguém).
O adjetivo relacional não apresenta antónimos. Pode ter prefixo de valor numérico
(ex.: unicelular, monocromático, poliglota…).

FLEXÃO EM NÚMERO
O plural dos adjetivos, normalmente, segue a regra dos nomes (ex.: alto/altos;
feliz/felizes; são/sãos; saudável/saudáveis). Nos adjetivos compostos, em regra, só o
último recebe a terminação do plural, mas há exceções, como nos que se referem a
cores, quando o segundo elemento do composto é um nome.
Ex.:
(i) Serviços médico-sociais
(ii) Poesias galaico-portuguesas
(iii) Países ibero-americanos
Mas
(iv) Folhas verde-mar
(v) Céus azul-ferrete

Se o composto é morfossintático coordenado, os dois termos flexionam em


número – ex.: surdo-mudo/surdos-mudos.

Nota:Quando um adjetivo caracteriza vários substantivos, toma sempre a forma


plural, mesmo que todos os substantivos estejam no singular.

Ex.: terra, mar e céu serenos; mangueira, goiabeira e papaieira floridas.


FLEXÃO EM GÉNERO
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 26

De acordo com a possibilidade de flexionar em género, os adjetivos dividem-se em


biformes e uniformes.
Os adjetivos biformes formam o feminino de modo semelhante ao processo de
formação dos nomes: os terminados em –o mudam para –a (i); os terminados em –u–
ês e –or acrescentam o –a ao masculino (ii), (iii) e (iv).
Ex.:
(i) lindo/linda
(ii) nu/nua
(iii) português/portuguesa
(iv) aterrador/aterradora

Outros casos:
♦ os adjetivos terminados em –eu formam o feminino em –eia (i) e –ia (ii).
Ex.:
(i) ateu/ateia
(ii) judeu/judia

♦ os adjetivos terminados em –or formam o feminino em –ora (exceto alguns


terminados em –tor e –dor).
Ex.:
(i) falador/faladora
(ii) gerador/geratriz
(iii) motor/motriz

♦ os adjetivos terminados em –ão formam o feminino em –ã (i) ou–ona (ii).


Ex.:
(i) campeão/campeã
(ii) comilão/comilona

Os adjetivos uniformes não flexionam em género, ou seja, têm uma única forma
para o masculino e para o feminino. Estão neste caso os seguintes adjetivos:
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 27

♦ o adjetivo só;
♦ quase todos os terminados em –emudo;
Ex.:
(i) inteligente
(ii) contente
(iii) triste
(iv) leve
(v) doce

♦ os terminados em –z (i) a (iii), –l(iv) a (vi) e –m (vii) a (ix)20;


Ex.:
(i) audaz (vi) azul
(ii) feliz (vii) ruim
(iii) veloz (viii) comum
(iv) fácil (ix) jovem
(v) notável

♦ os paroxítonos21 terminados em –es;


Ex.:
(i) reles
(ii) simples

♦ os terminados em –ar (i) e (ii) e alguns terminados em –or (iii);


Ex.:
(i) auxiliar
(ii) ímpar
(iii) maior

♦ muitos dos terminados em –a, no masculino, que podem ser tomados como
nomes;
Ex.:
(i) hipócrita
(ii) cosmopolita
(iii) agrícola
FLEXÃO EM GRAU
Os graus do adjetivo são o normal, o comparativo e o superlativo.

20
Há exceções a esta regra: andaluz/andaluza; espanhol/espanhola; bom/boa…
21
Palavras paroxítonas ou graves são as que apresentam acento tónico na penúltima sílaba.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 28

Ograu normal exprime, simplesmente, uma propriedade, qualidade ou


característica do nome a que o adjetivo se junta.
Ex.: uma casa bonita.

O grau comparativo permite o confronto de qualidades ou propriedades de um


nome com as de outro, enunciando uma comparação entre dois seres ou situações.
♦ Comparativo de superioridade – mais … que (ou do que). Ex.: A Rita é mais
estudiosa que o irmão.
♦ Comparativo de igualdade – tão… como (ou quanto). Ex.: A Rita é tão estudiosa
como o irmão; a Rita é tão estudiosa quanto o irmão.
♦ Comparativo de inferioridade – menos…que (ou do que). Ex.: A Rita é menos
estudiosa que o irmão.

O grau superlativo apresenta as propriedades ou qualidades que um nome possui


num determinado grau elevado. Pode ser superlativo absoluto, se enuncia a qualidade
no grau mais elevado, mas sem estabelecer qualquer relação com qualquer outro ser.
Pode também ser relativo, se enuncia a qualidade no grau mais elevado,
estabelecendo uma relação com os outros seres que a possuem. O absoluto pode ser
sintético ou analítico; o relativo pode ser de superioridade ou de inferioridade.

♦ Superlativo absoluto sintético22 – geralmente forma-se acrescentando ao grau


normal o sufixo –íssimo.

Ex.: jardim lindíssimo.

Mas há exceções23:

 Os adjetivos terminados em –vel (i) e (ii), -z (iii) e (iv) ou –ão (v) (vi)
acrescentam –íssimo depois de transformar essas terminações em –bil (-
bilíssimo), -c (-císsimo) e –n (-níssimo), respetivamente.

22
Não se usam no superlativo absoluto sintético as palavras terminadas em –or e –ora, que indicam
profissionais ou agentes, quando funcionam como adjetivos. Nestes casos, recorre-se à forma analítica
(ex.: Ela é muito sedutora; ele é muito trabalhador).
23
Estas exceções resultam da mudança a nível da base e não da terminação (por questões de evolução
da língua).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 29

Ex.:
(i) amável/amabilíssimo
(ii) afável/afabilíssimo
(iii) feliz/felicíssimo
(iv) capaz/capacíssimo
(v) são/saníssimo
(vi) pagão/paganíssimo

 Outros adjetivos sofrem modificações no radical.


Ex.:
(i) amigo/amicíssimo
(ii) doce/dulcíssimo
(iii) sábio/sapientíssimo

 Há também adjetivos que formam o superlativo absoluto sintético com o sufixo


–érrimo (i) a (iv) ou –ílimo (v) a (vii).
Ex.:
(i) acre/acérrimo
(ii) célebre/celebérrimo
(iii) livre/libérrimo
(iv) pobre/paupérrimo
(v) fácil/facílimo
(vi) grácil/gracílimo
(vii) humilde/humilíssimo

♦ Superlativo absoluto analítico – geralmente forma-se antepondo ao grau normal


os advérbios muito, bem, assaz, bastante, excessivamente, imensamente, etc.

Ex.: árvore muito alta; pessoa excessivamente ingénua.

♦ Superlativo relativo de superioridade – geralmente forma-se antepondo


o/a(s)mais ao grau normal, seguido ou não da preposição de.

Ex.: Este é omais antigo livro da nossa biblioteca.


BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 30

♦ Superlativo relativo de inferioridade – geralmente forma-se antepondo


o/a(s)menos ao grau normal, seguido ou não da preposição de.

Ex.: Esse é omenos aconselhável dos caminhos possíveis.

Formações particulares e irregulares de comparativos e superlativos:

Comparativo de Superlativo
Grau normal
superioridade Absoluto Relativo
bom melhor ótimo o melhor
mau pior péssimo o pior
grande maior máximo o maior
pequeno menor mínimo o menor

Resumindo…

Pertence a uma classe aberta.


Junta-se a um nome para o caracterizar, descrevendo qualidades (positivas ou
negativas), propriedades ou determinando circunstâncias.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 31

É, normalmente, uma palavra variável que concorda em género e em número com


o nome a que se refere.

SUBCLASSES
Características semânticas Características sintáticas Posição
Concorda em género e número
com o nome a que se refere.
Determina uma posição numa
Não tem variação em grau (exceto
Numeral

sequência ordenada, indicando a Por regra surge antes


primeiro/ primeiríssimo).
ordem em que o nome que do nome.
Pode ser antecedido de
acompanha surge numa série.
determinante – artigo,
demonstrativo ou possessivo.
Exprime uma determinada Por regra surge depois
propriedade, qualidade ou do nome.
característica do grupo nominal, Os adjetivos de cor só
Qualificativo

complementando ou Geralmente varia em grau. podem ocorrer à


modificando o nome. Pode assumir a função sintática de direita do nome.
Assume valor restritivo quando modificador ou de predicativo. Alguns podem surgir
surge à direita do nome. antes do nome, mas
Assume valor avaliativo quando isso tem implicações
surge à esquerda do nome. semânticas.
É de natureza classificatória.
Deriva de uma base nominal.
Precisa o conceito expresso pelo
Não apresenta variação em grau.
Relacional

nome, podendo expressar várias Surge


Assume a função sintática de
propriedades a ele ligadas. obrigatoriamente
complemento do nome.
Assume valor restritivo. depois do nome.
Não pode ser predicativo do
Incluem-se aqui os adjetivos
sujeito.
gentílicos e pátrios.

FLEXÃO EM NÚMERO

Simples Regra Segue a regra dos nomes

Compostos Só o último flexiona; se o composto é morfossintático coordenado,


Regra
ambos flexionam
Exceção Adjetivo + nome de cor: não flexiona nenhum

FLEXÃO EM GÉNERO
ADJETIVOS BIFORMES ADJETIVOS UNIFORMES
Regra -o  -a; consoante + -a; -u  +a “só”
Cas

–or  -tora / -triz


os

Terminados em:
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 32

–dor  -dora / -triz


particulares
-eu  -eia / -ia
-e mudo
-z
-ão  -ã / -ona -l
-m

FLEXÃO EM GRAU
Normal
(exprime uma propriedade, qualidade ou característica do nome a que o adjetivo se junta)
de inferioridade menos + adj + que (ou do que)
Comparativo
(confronto de qualidades ou tão + adj + como (ou quanto)
de igualdade
propriedades de um nome com
as de outro) de superioridade mais + adj + que (ou doque)

Relativo o/a(s) menos + adj (+de)


(estabelece de inferioridade
relação o/a(s) mais + adj (+de)
Superlativo
com os de superioridade
(destaque de
outros)
qualidades ou
Absoluto adj + –íssimo
propriedades de de sintético
(não (exceções: -ílimo; -érrimo)
um nome)
estabelece muito/bastante… + adj
qualquer de analítico
relação)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 33

2.3. O verbo

O verbo é a palavra com função predicativa, que pertence a uma classe aberta e
exprime situações, estados e acontecimentos, considerados em momentos diferentes.
É uma palavra variável, que flexiona em tempo e modo, pessoa e número.
Ex:
Esta tarde não choveu.
Os alunos estudam.
Faço ginástica todas as manhãs.
Ela telefona ao namorado todos os dias.
A nossa turma participou nos jogos tradicionais.
O júri entregou o prémio ao vencedor do concurso.
Ele acha importante fazer os deveres.
Tu pareces distante… está tudo bem?

CONJUGAÇÃO VERBAL
A conjugação é o conjunto ordenado de todas as formas de um verbo e consiste na
adição das marcas de pessoa/número e tempo/modo/aspeto ao conjunto radical +
vogal temática. Os verbos distribuem-se por três conjugações, de acordo com a vogal
temática que apresentam: 1ª conjugação (verbos de tema em –A) (i) a (ii); 2ª
conjugação (verbos de tema em –E) (iii) a (iv) e 3ª conjugação (verbos de tema em –I)
(v) a (vi).
Ex.:
(i) Andar
(ii)Pensar
(iii) Comer
(iv) Beber
(v)Fugir
(vi) Pedir

O paradigma verbal em Português é constituído por formas finitas e formas não


finitas (ou nominais). São não finitas as formas de infinitivo (i) a (iii), de gerúndio (iv) a
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 34

(vi) e de particípio passado (vii) a (ix). Todas as restantes formas são finitas, e são
flexionáveis em pessoa/número e tempo/modo/aspeto24.
Ex.:
(i) Andar
(ii)Comer
(iii) Fugir
(iv) Andando
(v)Comendo
(vi) Fugindo
(vii) Andado
(viii) Comido
(ix) Fugido

Especificidades da flexão verbal:


 Há verbos que não apresentam todas as formas verbais (ex.: haver; colorir;
abolir; demolir…) – chamam-se verbos defetivos, impessoais e unipessoais. A maioria
dos verbos defetivos pertence à 3ª conjugação e, em geral, as formas em falta são as
formas do singular e da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, do presente do
conjuntivo e a 2ª pessoa do singular do imperativo. Os verbos impessoais são os que
se flexionam exclusivamente na 3ª pessoa do singular e que se relacionam com
fenómenos meteorológicos (ex.: chover, amanhecer, trovejar…). São também
impessoais os verbos haver (com sentido de existir – ex.: havia muitas pessoas na rua),
fazer (na indicação de tempo decorrido – ex.: faz oito dias que chegaste), ou outros
verbos que, em determinadas situações, podem surgir como impessoais. São
unipessoais os verbos que apenas flexionam na 3ª pessoa do singular e do plural. São
verbos que se relacionam com ações próprias de animais. Ex.: ladrar, miar, galopar…

24
Há verbos que não apresentam todas as formas verbais. (Ex.:haver; colorir; abolir; demolir…) –
chamam-se verbos defetivos, impessoais e unipessoais. A maioria dos verbos defetivos pertence à 3ª
conjugação e, em geral, as formas em falta são as formas do singular e da 3ª pessoa do plural do
presente do indicativo, do presente do conjuntivo e a 2ª pessoa do singular do imperativo.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 35

 A flexão verbal em todas as formas permite a existência de verbos regulares ou


irregulares. São regulares os verbos que mantêm o mesmo radical sem qualquer
alteração e que flexionam de acordo com o paradigma da sua conjugação (ex.: cantar,
andar, amar, bater, viver, vender, existir, partir, desistir). São irregulares os verbos que
apresentam modificação no radical em alguns tempos ou pessoas e que se afasta, na
flexão, do paradigma ou modelo da sua conjugação (ex.: estar, dar, ser, ter, haver, ver,
fazer, ir, vir, ouvir, rir, por, ler, crer…). As irregularidades podem afetar o radical ou os
sufixos de flexão.

 Muitos dos sufixos de flexão verbal apresentam-se amalgamados, i.e., não se


distinguem os elementos que correspondem à marcação de pessoa/número e/ou
tempo/modo/aspeto (ex.: cantaste = radical cant- + vogal temática –a– + sufixo de 2ª
pessoa do singular, pretérito perfeito do indicativo –ste).

 Alguns verbos são obrigatoriamente acompanhados (sempre ou em algumas


construções), por um pronome pessoal átono, que concorda em pessoa e número com
o sujeito. Estes verbos chamam-se verbos pronominais e no infinitivo apresentam-se
com o pronome se (ex.: rir-se; queixar-se). Os verbos pronominais reflexos são aqueles
cuja ação que representam recai sobre o próprio sujeito (ex.: eu lavo-me; tu vestes-
te…). Assim, o pronome pessoal átono tem um valor semântico, ao contrário do que
acontece no caso dos verbos pronominais.

Flexão em pessoa/número
Os verbos podem flexionar em seis pessoas gramaticais (três no singular e três no
plural). A primeira pessoa inclui o locutor (correspondente aos pronomes pessoais eu
no singular e nós no plural); a segunda pessoa destina-se ao interlocutor
(correspondente aos pronomes pessoais tu no singular e vós no plural); a terceira
pessoa corresponde a uma entidade a quem não se dirige o discurso (correspondente
aos pronomes pessoais ele e ela no singular e eles e elas no plural)25.

25
Os pronomes pessoais você e vocês apresentam um estatuto um pouco híbrido, na medida em que se
destinam ao interlocutor mas selecionam a terceira pessoa gramatical.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 36

Flexão em tempo/modo/aspeto26
Os verbos podem apresentar-se em quatro modos distintos:
 Indicativo
 Conjuntivo
 Imperativo
 Condicional

O tempo, que pode estar em correlação com o aspeto, faz a identificação das
formas das classes modais entre indicativo e conjuntivo.
Assim, o modo indicativo pode apresentar-se nos seguintes tempos:
♦ presente
♦ pretérito imperfeito
♦ pretérito perfeito
♦ pretérito mais-que-perfeito
♦ futuro

O modo conjuntivo, por sua vez, pode apresentar-se nos seguintes tempos:
♦ presente
♦ pretérito imperfeito
♦ futuro

Para além destes tempos simples, existem tempos compostos:


No modo indicativo:
♦ pretérito perfeito
♦ pretérito mais-que-perfeito
♦ futuro

No modo conjuntivo:
♦ pretérito perfeito
♦ pretérito mais-que-perfeito

26
Relativamente ao aspeto, este é mais facilmente identificável em contexto. Por esse motivo, será
apenas aqui referido no âmbito dos verbos auxiliares.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 37

♦ futuro

O modo condicional e as formas nominais de infinitivo e de gerúndio também


apresentam formas compostas.

Formação dos tempos verbais:

- pretérito imperfeito do indicativo (a partir do presente do indicativo)


- pretérito mais-que-perfeito do indicativo (a partir da 2ª pessoa do singular do
pretérito perfeito do indicativo)
- futuro do indicativo (a partir do infinitivo impessoal27)28
- presente do conjuntivo (a partir da 1ª pessoa do singular do presente do
indicativo)29
- pretérito imperfeito do conjuntivo (a partir da 2ª pessoa do singular do pretérito
perfeito do indicativo)
- futuro do conjuntivo (a partir da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito do
indicativo)
- condicional (a partir do infinitivo impessoal)30
- imperativo (a partir das pessoas correspondentes do presente do indicativo)31
- infinitivo pessoal (a partir do infinitivo impessoal)
- gerúndio (a partir do infinitivo impessoal)
- particípio passado (a partir do infinitivo impessoal)

27
O infinitivo impessoal corresponde ao “nome do verbo”, ou seja, à forma como surge no dicionário.
28
Exceções: dizer – direi; fazer – farei; trazer – trarei.
29
Exceções: haver – haja; ser – seja; estar – esteja; dar – dê; ir – vá; querer – queira; saber – saiba.
30
Exceções: dizer – diria; fazer – faria; trazer – traria.
31
Exceções: ser – sê/sede.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 38

A título de exemplo, apresentam-se abaixo três verbos regulares, correspondentes


às três conjugações, em todos os tempos e modos.

Tempos simples:
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Indicativo
amo corro parto
amas corres partes
ama corre parte
Presente
amamos corremos partimos
amais correis partis
amam correm partem
amava corria partia
amavas corrias partias
Pretérito amava corria partia
imperfeito amávamos corríamos partíamos
amáveis corríeis partíeis
amavam corriam partiam
amei corri parti
amaste correste partiste
amou correu partiu
Pretérito perfeito
amámos corremos partimos
amastes correstes partistes
amaram correram partiram
amara correra partira
amaras correras partiras
Pretérito-mais-que- amara correra partira
perfeito amáramos corrêramos partíramos
amáreis corrêreis partíreis
amaram correram partiram
amarei correrei partirei
amarás correrás partirás
amará correrá partirá
Futuro
amaremos correremos partiremos
amareis correreis partireis
amarão correrão partirão
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 39

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Conjuntivo
ame corra parta
ames corras partas
ame corra parta
Presente
amemos corramos partamos
ameis corrais partais
amem corram partam
amasse corresse partisse
amasses corresses partisses
Pretérito amasse corresse partisse
imperfeito amássemos corrêssemos partíssemos
amásseis corrêsseis partísseis
amassem corressem partissem
amar correr partir
amares correres partires
amar correr partir
Futuro
amarmos corrermos partirmos
amardes correrdes partirdes
amarem correrem partirem

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Condicional
amaria correria partiria
amarias correrias partirias
amaria correria partiria
amaríamos correríamos partiríamos
amaríeis correríeis partiríeis
amariam correriam partiriam

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Imperativo
ama corre parte
amai correi parti
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 40

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
FORMAS NOMINAIS
Infinitivo
Impessoal amar correr partir
amar correr partir
amares correres partires
amar correr partir
Pessoal
amarmos corrermos partirmos
amardes correrdes partirdes
amarem correrem partirem
Gerúndio
amando correndo partindo
Particípio passado
amado corrido partido

Tempos compostos:
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Indicativo
tenho amado tenho corrido tenho partido
tens amado tens corrido tens partido
Pretérito tem amado tem corrido tem partido
imperfeito temos amado temos corrido temos partido
tendes amado tendes corrido tendes partido
têm amado têm corrido têm partido
tinha amado tinha corrido tinha partido
tinhas amado tinhas corrido tinhas partido
Pretérito tinha amado tinha corrido tinha partido
perfeito tínhamos amado tínhamos corrido tínhamos partido
tínheis amado tínheis corrido tínheis partido
tinham amado tinham corrido tinham partido
terei amado terei corrido terei partido
terás amado terás corrido terás partido
terá amado terá corrido terá partido
Futuro
teremos amado teremos corrido teremos partido
tereis amado tereis corrido tereis partido
terão amado terão corrido terão partido
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 41

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Conjuntivo
tenha amado tenha corrido tenha partido
tenhas amado tenhas corrido tenhas partido
tenha amado tenha corrido tenha partido
Pretérito perfeito
tenhamos amado tenhamos corrido tenhamos partido
tenhais amado tenhais corrido tenhais partido
tenham amado tenham corrido tenham partido
tivesse amado tivesse corrido tivesse partido
tivesses amado tivesses corrido tivesses partido
Pretérito mais- tivesse amado tivesse corrido tivesse partido
que-perfeito tivéssemos amado tivéssemos corrido tivéssemos partido
tivésseis amado tivésseis corrido tivésseis partido
tivessem amado tivessem corrido tivessem partido
tiver amado tiver corrido tiver partido
tiveres amado tiveres corrido tiveres partido
tiver amado tiver corrido tiver partido
Futuro
tivermos amado tivermos corrido tivermos partido
tiverdes amado tiverdes corrido tiverdes partido
tiverem amado tiverem corrido tiverem partido

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
Condicional
teria amado teria corrido teria partido
terias amado terias corrido terias partido
teria amado teria corrido teria partido
teríamos amado teríamos corrido teríamos partido
teríeis amado teríeis corrido teríeis partido
teriam amado teriam corrido teriam partido
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 42

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


(tema em –a) (tema em –e) (tema em –i)
Modelos AMAR CORRER PARTIR
FORMAS NOMINAIS
Infinitivo
ter amado ter corrido ter partido
teres amado teres corrido teres partido
ter amado ter corrido ter partido
termos amado termos corrido termos partido
terdes amado terdes corrido terdes partido
terem amado terem corrido terem partido
Gerúndio
tendo amado tendo corrido tendo partido

Os verbos podem classificar-se, de acordo com a sua função, como principais,


copulativos ou auxiliares.
O verbo principal é o que, numa frase, constitui o núcleo do grupo verbal. O verbo
copulativo funciona como um verbo de ligação32 entre o sujeito e um constituinte com
a função sintática de predicativo do sujeito (Ex.: Tu és estudante da UNTL). O verbo
auxiliar, por sua vez, e tal como o próprio nome indica, ocorre juntamente com um
verbo principal ou um verbo copulativo, precedendo-o. O verbo auxiliar não determina
o sujeito ou os complementos que ocorrem na frase.

Classificação dos verbos principais quanto aos complementos que selecionam:


Em função da presença e do tipo de constituintes selecionados, o verbo
principal pode ser:
Impessoal – não seleciona sujeito e ocorre sempre na 3ª pessoa do singular
(ex.: Em Timor-Leste nunca nevou);
Intransitivo – seleciona um sujeito mas não determina a ocorrência de
complementos (ex.: os meninos caíram; as folhas amarelecem);
Transitivo – seleciona um sujeito e um (ou mais) complementos:

32
Os principais verbos copulativos são ser, estar, ficar, continuar, parecer, permanecer.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 43

T. Direto – quando o complemento que seleciona desempenha a função


sintática de Complemento Direto (ex.: A Catarina bebeu a água toda; ele comprou
uma bicicleta; os pássaros comem as sementes);
T. Indireto – quando o complemento que seleciona desempenha a função
sintática de Complemento Indireto (ex.: A Rita telefonou a todas as amigas) OU de
Complemento Oblíquo (ex.: O Papa vem a Timor-Leste);
T. Direto e Indireto – quando os complementos que seleciona desempenham as
funções sintáticas de Complemento Direto E de Complemento Indireto (ex.: A
Teresa ofereceu águaa quem tinha sede); OU de Complemento Direto E de
Complemento Oblíquo (ex.: O Paulo deixou as chavesem cima da mesa);
Transitivo-predicativo – seleciona um sujeito, um Complemento Direto E um
Predicativo do Complemento Direto (ex.: o Miguel achou o testedifícil).

O verbo auxiliar pode surgir em tempos compostos, na construção da voz passiva


ou noutras construções que apresentem um valor temporal, aspetual ou modal.
Os verbos auxiliares temporais são haver de e ir, e ocorrem com o verbo principal
no infinitivo, apresentando um valor de futuro (ex.: O Pedro vai viajar de avião; ele há
de conhecer outras terras).
Os verbos auxiliares aspetuais podem apresentar um valor de tipo durativo (ex.:
estar a (i); continuar a (ii); ficar a (iii); andar a (v)…), inceptivo (ex.: começar a (v)) ou
pontual (ex.: acabar de (vi)). Em qualquer dos casos ocorrem com o verbo principal no
infinitivo.
Ex.:
(i) O Pedro está a estudar medicina.
(ii)Tu continuas a insistir nos mesmos erros.
(iii) A mãe ficou a ver televisão.
(iv) Eu ando a arrumar o escritório há dois dias.
(v)Comecei a ler o último livro de Luís Cardoso.
(vi) Quando acabares de estudar podes ir passear.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 44

Os verbos auxiliares modais podem apresentar um valor de possibilidade (ex.:


poder (i)), probabilidade (ex.: dever (ii)) ou obrigatoriedade (ex.: dever (iii); ter de (iv)).
Em qualquer dos casos ocorrem com o verbo principal no infinitivo.
Ex.:
(i) Eu posso comprar pão antes de ir para casa.
(ii) Eu devo ir ao cinema este fim-de-semana.
(iii) Tu deves cumprir as regras da escola.
(iv) Um juiz tem de ser justo e imparcial.

Resumindo…
Pertence a uma classe aberta.
Exprime situações, estados e acontecimentos, considerados em momentos
diferentes.
É uma palavra variável, que flexiona em tempo e modo, pessoa e número.
Conjugação verbal: conjunto ordenado de todas as formas de um verbo; consiste na
adição das marcas de pessoa/número e tempo/modo/aspeto ao conjunto radical +
vogal temática.
1ª conjugação (verbos de tema em –A)
2ª conjugação (verbos de tema em –E)
3ª conjugação (verbos de tema em –I)
Paradigma verbal
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 45

Impessoal 
Infinitivo
Pessoal 

simples
Formas não finitas

Gerúndio 
Particípio passado 

Impessoal 
Infinitivo
compostas

Pessoal 
Gerúndio 
Particípio passado
Pretérito
Pretérito Pretérito Mais-
Presente Futuro
Perfeito Imperfeito que-
Perfeito
simples

Indicativo     
Conjuntivo   
Formas finitas

Imperativo
Condicional
Indicativo   
compostas

Conjuntivo   
Imperativo
Condicional 

Especificidades da flexão verbal


apresentam modificação no radical em alguns tempos ou pessoas e afasta-se, na
Verbos irregulares flexão, do paradigma ou modelo da sua conjugação. As irregularidades podem
afetar o radical ou os sufixos de flexão.
as formas em falta são as formas do singular e da 3ª pessoa do plural do presente
Verbosdefetivos
do indicativo, do presente do conjuntivo e a 2ª pessoa do singular do imperativo
flexionam exclusivamente na 3ª pessoa do singular e relacionam-se com
Verbosimpessoais
fenómenos meteorológicos.
verbos que apenas flexionam na 3ª pessoa do singular e do plural. Relacionam-se
Verbosunipessoais
com ações próprias de animais.
apresentam modificação no radical em alguns tempos ou pessoas e afasta-se, na
Verbos irregulares flexão, do paradigma ou modelo da sua conjugação. As irregularidades podem
afetar o radical ou os sufixos de flexão.
Verbos acompanhados por um pronome pessoal átono, que concorda em pessoa e
pronominais número com o sujeito.
V. pronominais aqueles cuja ação que representam recai sobre o próprio sujeito. O pronome
reflexos pessoal átono tem um valor semântico.

Radical de base Tempos derivados


BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 46

Presente do indicativo Pretérito imperfeito do indicativo


(1ª pessoa do singular) Presente do conjuntivo
(para o imperativo, as 2ª pessoas) Imperativo
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
Pretérito perfeito do indicativo
Pretérito imperfeito do conjuntivo
(2ª pessoa do singular)
Futuro do conjuntivo
Futuro do indicativo
Condicional
Infinitivo impessoal Infinitivo pessoal
Gerúndio
Particípio passado

VERBO Características sintáticas


ocorre juntamente com um verbo principal ou um verbo
Auxiliar copulativo, precedendo-o. O verbo auxiliar não determina o
sujeito ou os complementos que ocorrem na frase. Pode ter
valor temporal, aspetual ou modal.
não seleciona sujeito
Impessoal
ocorre sempre na 3ª pessoa do singular

seleciona um sujeito mas não determina a ocorrência de


Principal

Intransitivo
complementos

direto seleciona um sujeito + C. D.


Transitivo indireto seleciona um sujeito + C. I. ou C. Oblíquo
direto e indireto seleciona um sujeito + C. D. + C. I. ou C. Oblíquo

Transitivo-predicativo seleciona um sujeito + C. D. + Predicativo do C. D.

Copulativo seleciona um sujeito + Predicativo do sujeito


BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 47

2.4. O advérbio

O advérbio é uma palavrainvariável em género e em número (apenas admite


variação em grau e só em certos casos). Pertence a uma classe aberta e pode
desempenhar diferentes funções sintáticas, nomeadamente modificador da frase (i)
ou do grupo verbal (ii), complemento oblíquo (iii)ou predicativo do sujeito (iv). Pode
também assumir a função de conexão de elementos frásicos (v) ou de modificador de
constituintes, concretamente de um grupo nominal (vi), de um grupo adjetival (vii), de
um grupo preposicional (viii) ou de um grupo adverbial (ix).
Ex.ː
(i) Infelizmente, não ganhei o prémio de leitura.
(ii)Hoje sei o queé sofrer.
(iii) A Joana mora aqui.
(iv) Estou muito angustiado.
(v)Quando cheguei a casa fiz o jantar. Depois, li o jornal e fui dormir.
(vi) Só tu me consegues fazer rir.
(vii) O Rui é bastante irritante.
(viii) Deixa as chaves na gaveta, não em cima da mesa!
(ix) A Sara escreve excessivamente devagar.

Esta categoria apresenta grande heterogeneidade morfológica, sintática, semântica


e pragmática.

Sintaticamente, os advérbios podem ser:


♦de predicado – faz parte do grupo verbal como seu modificador (i), como
complemento oblíquo (ii) ou, por vezes, como predicativo do sujeito (iii). Pode ser
afetado pela negação (ii) e por estruturas interrogativas (i). Sendo modificador, pode
apresentar diferentes valores semânticos – temporal, locativo e modal.
Ex.:
(i) Cheguei agora. O professor já chegou? (valor temporal)
(ii)A Joana mora ali, não mora aqui. (valor locativo)
(iii) O Duarte está bem. (valor modal)

♦de frase – modifica o conteúdo da frase, afetando-a por inteiro. É externo ao


predicado e não é afetado pela negação nem por estruturas interrogativas. Em geral, o
advérbio de frase tem grande mobilidade no enunciado e surge destacado,
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 48

frequentemente, no início ou no fim da frase. Sendo modificador, pode apresentar


diferentes valores semânticos – de modalidade (i), avaliativo (ii), de enunciação (iii) ou
nocional (de ponto de vista) (iv).
Ex.:
(i) Possivelmente, não chegarei a tempo à aula.
(ii)O médico, infelizmente, não chegou a tempo.
(iii) Era, literalmente, um boi a olhar para um palácio.
(iv) Politicamente, a decisão foi um tiro no pé.

♦conectivo – tem uma função primária de ligação entre frases ou elementos


frásicos. Não é afetado pela negação ou por estruturas interrogativas.
Ex.:
(i) A Maria esteve na aula. Depois, foi para casa.
(ii)No início, os alunos estavam distraídos mas, posteriormente,
começaram a interessar-se pelo tema.

♦modificadores de constituintes
Estes advérbios podem modificar grupos nominais, adjetivais, adverbiais e também
verbais. Podem ser:
- de negação – permitem a negação de um constituinte ou de um valor de
verdade (ex.: A Teresa não entrou na Universidade);
- de afirmação – usados em resposta a interrogativas totais, para afirmar ou
reforçar uma asserção (Ex.: O teu problema não está na matéria, mas sim na falta de
estudo);
- de quantidade e grau – apresentam um valor quantitativo e de intensificação.
Podem contribuir para a formação do grau de adjetivos e advérbios (ex.: Os alunos
falam muito e ouvem pouco).

- de exclusão – usados para marcar o caráter de eliminação e exceção do


constituinte que modificam. Contribuem com informação sobre a não participação de
um constituinte num determinado conjunto (ex.: Gosto de todos os tipos de filmes,
exceto os de terror).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 49

- de inclusão – usados para marcar o caráter de abrangência e integração do


constituinte que modificam. Contribuem com informação sobre o caráter exaustivo ou
de participação de um constituinte num determinado conjunto (ex.: O problema é tão
fácil queaté tu sabes a resposta).

- interrogativos – surgem em construções interrogativas a identificar o


constituinte interrogado. São substituíveis por um grupo adverbial ou preposicional
(ex.: Onde vais? Quando regressas?)

- relativos – surgem numa oração relativa a identificar o constituinte, podendo


ser substituídos por um grupo adverbial ou preposicional (ex.: A escola onde estudo é
forma bem os alunos).

Repare:
Os advérbios podem assumir diversos valores semânticos, nomeadamente de
acordo com o contexto em que ocorrem e com aquilo que modificam. Assim, um
mesmo advérbio pode ter diferentes classificações.
Ex.: matematicamente
(i) Ela provou matematicamente o erro. (advérbio de predicado, valor
modal)
(ii)Matematicamente, a nossa equipa ainda pode ganhar o campeonato.
(advérbio de frase, valor nocional)
(iii) Essa equação é matematicamente impossível de resolver. (advérbio
modificador do grupo adjetival)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 50

No quadro abaixo apresentam-se exemplos de advérbios organizados de acordo


com a sua classificação sintática e com os valores semânticos que podem assumir:

Classificação sintática Valor semântico Exemplos


locativo aqui, aí, acolá, cá, lá, além, aquém,
(de lugar) abaixo, fora, dentro, perto, longe...
Advérbio de predicado temporal agora, ainda, amanhã, antes, breve,
(modifica o grupo verbal) (de tempo) cedo, depois, hoje, já, logo...
modal bem, depressa, devagar, mal, pior,
(de modo) melhor, lentamente, velozmente...
de modalidade certamente, possivelmente,
porventura, talvez, forçosamente...
Advérbio de frase avaliativo afortunadamente, felizmente,
(marca o envolvimento ou infelizmente...
a opinião do locutor) de enunciação francamente, resumidamente...
nocional economicamente, oficialmente,
(ou de ponto de vista) matematicamente...
Advérbio conectivo assim, contrariamente, depois,
vários
(liga elementos frásicos) nomeadamente, primeiro...

Por serem modificadores não apenas do grupo verbal mas de qualquer constituinte
frásico, apresentam-se separadamente os exemplos de advérbios modificadores de
constituintes:
Classificação sintática Valor semântico Exemplos
de negação não, nunca, nada, menos, nem...
de afirmação sim, realmente, certamente...
de quantidade e grau assaz, muito, pouco, mais, tanto...
Advérbio modificador de de exclusão apenas, somente, só, senão, salvo,
constituinte exclusivamente, exceto…
de inclusão até, mesmo, inclusivamente…
interrogativo onde?, quando?, porquê?
relativo onde

Flexão em grau
Alguns advérbios, como os adjetivos, também apresentam variação em grau, que
indica a maior ou menor intensidade da ideia expressa.
Os graus dos advérbios são o normal, o comparativo e o superlativo.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 51

Grau normal
Ex.: cheguei cedo a casa.

O grau comparativo utiliza-se numa relação de confronto, enunciando uma


comparação.
♦ Comparativo de superioridade – mais … que (ou do que). Ex.: Cheguei mais cedo
a casa do que tu.
♦ Comparativo de igualdade – tão… como (ou quanto). Ex.: Cheguei tão cedo
como a Paula; a Paula chegou tão cedo quanto eu.
♦ Comparativo de inferioridade – menos…que (ou do que). Ex.: Cheguei menos
cedo a casa do que tu.
O grau superlativo exprime um grau elevado. Pode ser superlativo absoluto, se
não estabelece qualquer relação. Pode também ser relativo, se indica um grau maior
ou menor. O absoluto pode ser sintético ou analítico; o relativo pode ser de
superioridade ou de inferioridade.
♦ Superlativo absoluto sintético – geralmente forma-se acrescentando ao grau
normal o sufixo –íssimo (i) ou, no caso dos advérbios com sufixo –mente, flexionando o
adjetivo de que deriva no grau superlativo absoluto sintético (ii).
Ex.:
(i) Chegaste cedíssimo.
(ii) Ele comporta-se pessimamente.
♦ Superlativo absoluto analítico – geralmente forma-se antepondo ao grau normal
os advérbios muito, bem, assaz, bastante, excessivamente, imensamente, etc.
Ex.: Hoje vieste muito cedo; chegaste excessivamente cedo.
♦ Superlativo relativo de superioridade – geralmente forma-se antepondo o mais
ao grau normal, seguido da palavra possível (ou equivalente).
Ex.: Vem omais cedo possível / que possas/ que conseguires…
♦ Superlativo relativo de inferioridade – geralmente forma-se antepondo omenos
ao grau normal, seguido da palavra possível (ou equivalente).
Ex.: Vem omenos tarde possível / que possas/ que conseguires…

Formações particulares e irregulares de comparativos e superlativos:


BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 52

Comparativo de
Grau normal Superlativo
superioridade
bem melhor otimamente
mal pior pessimamente
muito mais o mais / muitíssimo
pouco menos o menos / pouquíssimo

Atenção: no caso dos advérbios bem e mal, quando ocorrem com particípios, o
grau comparativo de superioridade deve ser, respetivamente, mais bem e mais mal.
Ex.: Este trabalho é mais bem pago que o anterior. O anterior era mais mal pago
que este.

Resumindo…
Palavra invariável em género e em número (apenas admite variação em grau e só
em certos casos).
Pertence a uma classe aberta.
Esta categoria apresenta grande heterogeneidade morfológica, sintática, semântica
e pragmática.
Características sintáticas Funções sintáticas
modifica o conteúdo da frase, afetando-a
por inteiro;
é externo ao predicado;
Advérbio de frase não é afetado pela negação nem por modificador da frase
estruturas interrogativas;
geralmente, tem grande mobilidade no
enunciado.
é interno ao predicado;
modificador do GV
Advérbio de pode ser afetado pela negação e por
predicado estruturas interrogativas; predicativo do sujeito
geralmente, tem pouca mobilidade no
enunciado. complemento oblíquo
tem função primária de ligação entre
frases ou elementos frásicos; não é
Advérbio conectivo conexão de elementos frásicos
afetado pela negação ou por estruturas
interrogativas.

Advérbios Modificador de GN
modificadores de Modificador de GAdj
constituintes Modificador de GP Modificador
de GAdv
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 53

Valores semânticos
modalidade
avaliativo
Advérbio de frase
enunciação
nocional (de ponto de vista)
temporal (de tempo)
Advérbio de predicado
locativo (de lugar)
modal (de modo)
Advérbio conectivo vários

Negação negação de um constituinte ou de um valor de verdade


Afirmação resposta a interrogativas totais; afirmação ou reforço de
uma asserção
Quantidade e grau valor quantitativo e de intensificação
Advérbios Exclusão informação sobre a não participação de um constituinte
modificadores de num determinado conjunto
constituintes Inclusão informação sobre o caráter exaustivo ou de participação
de um constituinte num determinado conjunto
Interrogativo em construções interrogativas para identificar o
constituinte interrogado
Relativo remete para um referente, retomando-o

N.B.: Dependendo do contexto, um mesmo advérbio pode ter diferentes classificações.

FLEXÃO EM GRAU
Normal
de inferioridade menos … que (ou do que)
Comparativo
(utiliza-se numa relação de tão… como (ou quanto)
de igualdade
confronto, enunciando uma
comparação) de superioridade mais … que (ou doque)

Relativo o/a(s) menos + adv (+de)


(estabelece de inferioridade
relação
Superlativo
com os de superioridade o/a(s) mais + adv (+de)
(destaque de
outros)
qualidades ou
Absoluto
propriedades de de sintético adv + –íssimo
(não
um nome)
estabelece
qualquer de analítico muito/bastante… + adv
relação)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 54

2.5. O pronome

O pronome pertence a uma classe fechada e pode substituir ou representar um


grupo nominal. É geralmente variável, retomando o género, o número e, em alguns
casos, a pessoa gramatical e a função sintática do nome que substitui ou representa.
Ao contrário do determinante, o pronome não precede um nome e assume a posição
deste no grupo nominal.

Atente na frase: O senhor Rodrigues e a família vão ao serviço de urgências.


Em vez do sujeito composto o senhor Rodrigues e a família, poderia ocorrer na
mesma posição da frase eles ou aqueles:
-Eles vão ao serviço de urgências.
- Aqueles vão ao serviço de urgências.
Por outro lado, se o sujeito fosse a família Rodrigues, poderia ser substituído por
ela ou aquela.
Se fosseo senhor Rodrigues a falar diria: Euvou ao serviço de urgências.
Neste caso, a palavra eunão substitui um grupo nominal, mas representa
diretamente o emissor.
Podemos concluir que eu, eles, ela, ou aqueles, aquela são pronomes.
Os pronomes podem ser pessoais (i), demonstrativos (ii), possessivos (iii),
indefinidos (iv), relativos (v) e interrogativos (vi).
Ex.:
(i) Ele telefonou-lhe.
(ii) Comprei um casaco novo. Este estava a ficar velho.
(iii) Vamos no teu carro. O meu está avariado.
(iv) As minhas amigas de Lisboa não vieram, mas vieram umas outras.
(v) Quem vai ao mar perde o lugar.
(vi) Quem me chama?

PRONOMES PESSOAIS
Os pronomes pessoais referem-se aos participantes do discurso e aos objetos
discursivos, isto é, têm a capacidade de indicar quem fala (1ª pessoa); com quem se
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 55

fala (2ª pessoa); de quem se fala (3ª pessoa). Não podem ser precedidos por qualquer
tipo de determinante. Os pronomes pessoais apresentam flexão em pessoa e em
número, mas só as 3ª pessoas apresentam flexão em género (feminino e masculino).
As 1ª e 2ª pessoas, embora invariáveis, pressupõem a referência ao género natural do
emissor ou do recetor, verificável nos processos de concordância (ex.: (m.) eu fui
teimoso/ (f.) eu fui teimosa).

Em algumas forma de tratamento menos familiares do que a forma da 2ª pessoa


do singulartu, como é o caso de você(s) ou o(s) senhor(es)/ a(s) senhor(as), ou ainda
em formas de tratamento cerimoniosas como Vossa Excelência, Vossa Eminência,
emprega-se a 3ª pessoa gramatical embora de facto se designe uma 2ª pessoa.
Ex.:
(i) Você vai sair? O táxi é para si?
(ii) V ª Ex. ª pretende mais alguma coisa?
(iii) Se não se importa, amanhã telefono-lhe.

Formas dos Pronomes Pessoais


Para além da flexão em pessoa, número e género, os pronomes pessoais
apresentam também variação em caso, isto é, mudam de forma conforme a função
sintática que desempenham:

Função sintática Caso Exemplo


Sujeito nominativo Ela saiu.
O João vendeu-me o carro. Comprei-o
Complemento direto acusativo
ontem.
Complemento indireto dativo Chamei-lhe génio. Agradeceu-me o elogio.
Declarou-se a ela:
Complemento oblíquo
oblíquo Olha para mim, eu gosto de ti, quero
ou agente da passiva
namorar contigo.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 56

Quanto à acentuação, distinguem-se nos pronomes pessoais as formas tónicas das


átonas. São átonas as formas que ocorrem junto ao verbo: à sua direita (regra geral), à
sua esquerda ou ainda no interior das formas do futuro e do condicional. As restantes
formas são tónicas (ex.: a mim, de ti, para si, por nós, convosco, sem eles).
Funções sintáticas
Sujeito C. Direto C. Indireto C. Oblíquo ou C.
Número

Pessoa

(caso nominativo) (caso acusativo) (caso dativo) Agente da Passiva


(caso oblíquo)33
Formas tónicas Formas átonas Formas átonas34 Formas tónicas
1ª eu me me mim mim, comigo
Singular

2ª tu, você35 te te ti ti, contigo


3ª ele, ela o, a, se36 lhe si, ele, ela si, consigo, ele, ela
1ª nós nos nos nós, connosco
Plural

2ª vós, vocês vos vos vós, convosco


3ª eles, elas os, as, se37 lhes si, consigo, eles, elas

Particularidades dos pronomes átonos (clíticos):


 Os pronomes o, a, os, as podem apresentar outras formas, dependendo da
forma verbal a que se agregam. Assim, quando surgem unidos por hífen a formas
verbais terminadas em -r (i), -s (ii) ou –z (iii)38, estes pronomes assumem as
formaslo, la, los, las.
Ex.:
(i) -r Ele vai fazer a cama.  Ele vai fazê-la.
Ela está a lavar as mãos. Ela está a lavá-las.

33
Estes pronomes surgem sempre precedidos de preposição, exceto nos casos de comigo, contigo
consigo, connosco e convosco, dado que a preposição (com) já está incluída na forma pronominal.
34
No singular apresentam-se também as formas tónicas mim, ti, si, ele e ela, selecionadas pela
preposição a.
35
Apesar de corresponder à 2ª pessoa, na medida em que se destina a um interlocutor, o pronome
pessoalvocêatualiza a sua forma pronominal na 3ª pessoa em todos os casos exceto no nominativo (ex.:
Sr. Guterres, é consigo: prefere que eu o visite ou que lhe telefone?)
36
Apenas quando selecionado por um verbo pronominal reflexo (ex.: Eu lavo-me). Esta forma
pronominal corresponde não só à 3ª pessoa mas também à segunda, quando o sujeito é você.
37
Apenas quando selecionado por um verbo pronominal reflexo (ex.: Eles lavam-se).Esta forma
pronominal corresponde não só à 3ª pessoa mas também à segunda, quando o sujeito é vocês.
38
Nestes casos, as formas verbais perdem as consoantes finais e, por vezes, é necessário acentuar
graficamente a vogal final para não alterar o acento tónico da palavra (ex.: Quero visitar + oQuero
visitá-lo).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 57

(ii) -s Tu bebes o sumo todo. Tu bebe-lo.


Nós vemos a Sara todos os dias.  Nós vemo-la todos os dias.
(iii) -z O Rui faz os trabalhos de casa.  O Rui fá-los.
Ele traz a mala para a escola.  Ele trá-la.

Quando surgem unidos por hífen a formas verbais terminadas em –m(i), em -ão (ii)
ou em -õe (iii), os pronomeso, a, os, asassumem as formasno, na, nos, nas.
Ex.:
(i) –m Eles apagaram o fogo.  Eles apagaram-no.
Elas fazem as sandes.  Elas fazem-nas.
(ii) -ão Eles dão o documento ao Luís.  Eles dão-no ao Luís.
Elas dão os livros ao amigo.  Elas dão-nos ao amigo.
(iii) -õe Ela põe os livros na mesa.  Ela põe-nos na mesa.
Ele propõe a ideia aos colegas.  Ele propõe-na aos colegas.

 Colocação dos pronomes pessoais de complemento direto e de complemento


indireto:
 Geralmente, o pronome pessoal coloca-se depois da forma verbal à qual se liga
por um hífen (i) e (ii). Se o tempo da forma verbal é composto, o pronome coloca-se
a seguir ao verbo auxiliar, também a ele se ligando por um hífen (iii) e (iv).
Ex.:
(i) Ele lavou as mãos. → Ele lavou-as.
(ii) Ele explicou tudo ao médico. → Ele explicou-lhe tudo.
(iii) Ele tinha lavado as mãos. → Ele tinha-as lavado.
(iv) Ele tinha explicado tudo ao médico. → Ele tinha-lhe explicado tudo.
Por vezes, os pronomes pessoais, nas formas de complemento direto e indireto,
associam-se numa mesma forma:
Ex.: Ela lavou as mãosaos filhos. → Ela lavou-lhas.
lhes + as
as lhes
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 58

 Quando a forma verbal se encontra no futuro ou no condicional, o pronome é


incluído (com hífen antes e depois) na forma verbal, entre o radical e as
terminações de pessoa/número, tempo/modo/aspeto.
Ex.:
(i) Eles apagarão o fogo.  Eles apagá-lo-ão.
(ii) Telefonaria ao Pedro se pudesse.  Telefonar-lhe-ia se pudesse.

 O pronome surge antes do verbo quando a frase é negativa (i) ou quando nela
existem palavras com polaridade negativa (ii); quando surge numa oração
subordinada (iii) e (iv); quando ocorre com advérbios e pronomes interrogativos (v)
e (vi), com alguns advérbios (já, talvez, só, apenas, sempre, ainda…) (iii) e (vii), com
alguns quantificadores (viii) e com alguns pronomes indefinidos (ix).
Ex.:
(i) Ele nunca lava as mãos. → Ele nuncaas lava.
(ii) Saiu sem lavar as mãos. → Saiu semas lavar.
(iii) Só sei o resultado porque vi as listas. → Sóo sei porqueas vi.
(iv) Se vires a Maria, diz-me. → Sea vires, diz-me.
(v) Quandote casas?
(vi) Quemlhes disse isso?
(vii) Aindanos falta acabar este exercício.
(viii) Amboso avisaram que era perigoso ir sozinho.
(ix) Tudolhes corre mal…

Valores dos pronomes pessoais


Valor dereflexividade
 As formas me, te, se, nos, vos, si, comigo, contigo, consigo, connosco e convosco
podem apresentar-se com valor dereflexividade. Neste caso, o sujeito é
simultaneamente aquele que pratica a ação e aquele sobre quem recai a ação do
verbo. Estes pronomes podem surgir acompanhados de expressões como a mim/a
ti/a si/a nós/a vós/a ele(s)/a ela(s) e/ou serseguidas de próprio/a(s) ou mesmo/a(s).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 59

Ex.:
(i) Ele vestiu-se (a si mesmo).
(ii) Ela só pensa em si (própria).
(iii) Os alunos levaram os testes consigo (mesmos).
(iv) Eu vou emendar-me.

Valor dereciprocidade
 Os pronomes nos, vos e se podem também apresentar-se com valor
dereciprocidade. Neste caso, os pronomes indicam o caráter mútuo de uma ação
entre dois ou mais indivíduos.Estes pronomes podem surgir reforçados por
expressões como um(ns) ao(s) outro(s), uma(s) à(s) outra(s) ou entre nós/vós/si.
Ex.:

(i) Eles cumprimentaram-se (um ao outro) à saída.


(ii) Os namorados abraçaram-se (um ao outro).
(iii) Nós e os rapazes encontrámo-nos (uns aos outros) no bar.
(iv) O Luís e a mãe cumprimentaram-se.
(v) Vós vos entendereis (entre vós).

Valor impessoal ou indeterminado


 O pronome se, de valor impessoalouindeterminado, marca a indeterminação
do sujeito. É uma das formas de representar um sujeito indeterminado, que pode
ser substituído pela expressão há pessoas que ou há quem.
Ex.: Diz-se que os preços dos combustíveis vão baixar. (= alguémdiz/há quem diga
que os preços dos combustíveis vão baixar)

Valor passivo
 O pronome se, de valor passivo, permite formar uma frase passiva sem recurso
a um verbo auxiliar, embora seja parafraseável com ele. Trata-se, pois, de uma
partícula apassivante.
Ex.:
(i) Vendem-se livros usados aqui. (= livros usados são vendidos aqui.)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 60

(ii) Passam-se bons momentos neste jardim. (= bons momentos são


passados neste jardim.)

PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Os pronomes demonstrativos são variáveis em género e número e indicam a
posição dos seres ou objetos em relação ao emissor e ao recetor. Têm, por isso, um
valor deítico39. Podem também ter um valor anafórico, ou seja, retomar um elemento
já introduzido anteriormente no discurso (ex.: Sempre tive gatas em casa. Esta que
tenho agora chama-se Teki).
As formas átonas o,a,oseassurgem na frase antes de que ou de(i)ou ainda
adjacentes ao verbo (neste último caso trata-se da forma invariável).
Ex.:
(i) Fiz esta conta; a que vinha a seguir não fiz e a de dividir também não.
(ii) Não tenho tempo para fazer este trabalho e a professora sabe-o bem.

Os pronomes demonstrativos apresentam, ainda, formas invariáveis: isto, isso,


aquilo.

Os pronomes demonstrativos podem, por vezes, substituir frases inteiras.

Não tenho tempo para fazer este trabalho e a professora sabe-o bem.
e a professora sabe bem isso.

Deixis: forma de referenciar os elementos essenciais que definem as coordenadas enunciativas: EU-TU,
39

AQUI e AGORA. Pode dividir-se em pessoal, espacial e temporal, e define-se tendo como referência
quem produz, onde e quando é produzido um enunciado. Assinala um objeto ou um processo e situa-os
em relação ao falante.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 61

Variáveis
Singular Plural
Invariáveis
Masculin Feminino Masculino Feminino
o
Próximo de este esta estes estas isto
quem fala
Próximo de esse essa esses essas isso
quem ouve
Longe de
quem fala e aquele aquela aqueles aquelas aquilo
de quem
ouve
o outro a outra os outros as outras
o mesmo a mesma os mesmos as mesmas
o
tal tal tais tais
o a os as

PRONOMES POSSESSIVOS
Os pronomes possessivos são variáveis em pessoa, género, e número e
estabelecem uma relação de pertença. Têm um valor deítico, na medida em tomam
como ponto de referência os participantes do discurso. As suas formas são iguais às
dos determinantes possessivos e apresentam a mesma variação em género, número e
pessoa.

Considere o diálogo e atente nas palavras destacadas:


-O trabalho de casa é teu, Calvin. Tu é que o fazes.
-se eu tiver uma nota má, a culpa será tua porque não o fizeste por mim!
Bill Watterson, Calvin e Hobbes. In Público (adaptado)

As palavras teu e tua indicam a relação existente entre o possuidor (tu, 2ª pessoa
do singular) e o que é possuído, i.e., as realidades designadas pelos nomes que
substituem (trabalho de casa e culpa, respetivamente) e com o qual concordam em
género e número. São pronomes possessivos.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 62

Na perspetiva de Calvin, embora o trabalho de casa fosse seu, quem o devia fazer
era a mãe.
Os pronomes possessivos são frequentemente precedidos de um determinante
artigo definido:
Ex.: Este trabalho é omeu; oteu é o outro.

Número
Pessoa Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
1ª meu minha meus minhas
Um só possuidor
2ª teu tua teus tuas
(singular)
3ª seu sua seus suas
1ª nosso nossa nossos nossas
Vários possuidores
2ª vosso vossa vossos vossas
(plural)
3ª seu sua seus suas

PRONOMES INDEFINIDOS
Os pronomes indefinidos caracterizam-se pela indeterminação referencial, ou seja,
o antecedente não é especificado. Podem ser variáveis em género e em número.
Nesse caso, as formas são idênticas às dos determinantes indefinidos e apresentam
um valor semelhante ao dos quantificadores. Podem também ser invariáveis com
valor referencial não definido e não específico.
Ex.:
(i) Alguns falam em demasia, mas ninguém lhes liga.
(ii) Alguém perguntou por ti.
(iii) Nada do que disseste o atingiu.
(iv) Estes livros custaram trinta dólares cada.
(v) As minhas amigas de Lisboa não vieram, mas vieram outras.

Variáveis Invariáveis
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 63

Singular Plural
Masculin Feminino Masculino Feminino
o
algum alguma alguns algumas
alguém
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
algo
todo toda todos todas
ninguém
muito muita muitos muitas
tudo
pouco pouca poucos poucas
nada
tanto tanta tantos tantas
outrem
outro outra outros outras
cada
qualquer qualquer quaisquer quaisquer
vário vária vários várias

Nota: Alguns dos pronomes indefinidos com valor negativo não podem coocorrer
com a negação frásica na posição pré-verbal de sujeito, mas coocorrem em posição
pós-verbal.
Ex.: Ninguém fala. / Não fala ninguém. / *Ninguém não fala40.

PRONOMES RELATIVOS
O pronome relativo estabelece uma relação com um antecedente e introduz uma
oração que o caracteriza ou qualifica. Pode também surgir numa frase sem
antecedente (i).
O pronome relativo tem uma função dupla: é núcleo de um grupo nominal com
uma determinada função sintática; funciona como conector ou elemento de ligação
entre a oração subordinada e a subordinante.
Ex.: A conta era difícil. Eu fiz a conta. Se transformássemos estas duas frases
simples numa frase complexa evitando repetições, obteríamos: A conta que eu fiz era
difícil.
Ex.:
(i) Quem vai ao mar perde o lugar.
(ii) Trouxe o livro que te prometi.
(iii) Ele diz tudo quanto pensa.

40
Em linguística, o uso do asterisco (*) marca a agramaticalidade da frase.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 64

Variáveis
Singular Plural
Invariáveis
Masculin Feminino Masculino Feminino
o
que
o qual a qual os quais as quais
quem41
quanto quanta quantos quantas
onde42

PRONOMES INTERROGATIVOS
Os pronomes interrogativos permitem introduzir interrogativas parciais, diretas (i)
e (ii) e indiretas (iii), visando a identidade, a qualidade ou quantidade da realidade a
que se referem os nomes que substituem. Podem aparecer em formas semelhantes a
quantificadores interrogativos, na mesma forma dos determinantes, e ainda na forma
invariável quem (i).
Ex.:
(i) Quem fez estas contas?
(ii) Qual fizeste, Calvin?
(iii) A professora também lhe perguntou quantas tinha feito.

Variáveis
Singular Plural
Invariáveis
Masculin Feminino Masculino Feminino
o
que? quê?43
quem?
quanto? quanta? quantos? quantas? porque?
qual? qual? quais? quais? porquê?
como?
onde?

41
O pronome relativo quem só é usado para seres com traço + humano (ex.: Pedi a quem soubesse
que respondesse).
42
O pronome relativo onde só se emprega para seres inanimados e exprime uma circunstância de
lugar (ex.: Os lugares onde estive eram maravilhosos).
43
Quê? e o quê? São formas tónicas do pronome que usadas, com frequência, na conversação.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 65

Resumindo…
Pertence a uma classe fechada.
Pode substituir ou representar um grupo nominal.
Geralmente variável, retomando o género, o número e, em alguns casos, a pessoa
gramatical e a função sintática do nome que substitui ou representa.

PRONOMES PESSOAIS
Referem-se aos participantes do discurso e aos objetos discursivos.
Funções sintáticas

C. Oblíquo ou C. Agente
Número

Pessoa

Sujeito C. Direto C. Indireto


da Passiva
(caso nominativo) (caso acusativo) (caso dativo)
(caso oblíquo)
Formas tónicas Formas átonas Formas átonas Formas tónicas
1ª eu me me mim mim, comigo
Singular

2ª tu, você te te ti ti, contigo


3ª ele, ela o, a, se lhe si, ele, ela si, consigo, ele, ela

1ª nós nos nos nós, connosco


Plural

2ª vós, vocês vos vos vós, convosco


3ª eles, elas os, as, se lhes si, consigo, eles, elas

Particularidades:
1. Com as formas o, a, os, as:
Nas formas verbais terminadas em:
-r
-s cai a consoante final e acrescenta-se<l> (lo, la, los, las)
-z
Nas formas verbais terminadas em:
-m
-ão acrescenta-se <n> (no, na, nos, nas)
-õe
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 66

2. Com as formas de complemento direto e de complemento indireto:


Posição dos pronomes
(simples ou contraídos)
Depois da forma verbal, unido com hífen Regra geral
Incluído na forma verbal, unido com hífen Nas formas verbais de futuro e condicional
Nas frases negativas ou com palavras de
polaridade negativa
Numa oração subordinada
Antes da forma verbal, unido com hífen com advérbios e pronomes interrogativos
com alguns advérbios
com alguns quantificadores
com alguns pronomes indefinidos

3.
Valores dos pronomes pessoais
reflexividade(me, te, se, nos, vos, si, comigo, O sujeito é simultaneamente aquele que pratica a
contigo, consigo, connosco e convosco) ação e aquele sobre quem recai a ação do verbo.
O pronome indica o caráter mútuo de uma ação
reciprocidade (nos, vos e se)
entre dois ou mais indivíduos.
impessoal ou indeterminado (se) Marca a indeterminação do sujeito.

passivo (se) Permite formar uma frase passiva sem recurso a um


verbo auxiliar. É uma partícula apassivante.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Indicam a posição dos seres ou objetos em relação ao emissor e ao recetor.
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
Próximo de este esta estes estas isto
quem fala
Próximo de esse essa esses essas isso
quem ouve
Longe de quem
fala e de quem aquele aquela aqueles aquelas aquilo
ouve
o outro a outra os outros as outras
o mesmo a mesma os mesmos as mesmas
o
tal tal tais tais
o a os as
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 67

PRONOMES POSSESSIVOS
Estabelecem uma relação de pertença.
Número
Pessoa Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
1ª meu minha meus minhas
Um só possuidor
2ª teu tua teus tuas
(singular)
3ª seu sua seus suas
1ª nosso nossa nossos nossas
Vários possuidores
2ª vosso vossa vossos vossas
(plural)
3ª seu sua seus suas

PRONOMES INDEFINIDOS
Caracterizam-se pela indeterminação referencial.
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
algum alguma alguns algumas
alguém
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
algo
todo toda todos todas
ninguém
muito muita muitos muitas
tudo
pouco pouca poucos poucas
nada
tanto tanta tantos tantas
outrem
outro outra outros outras
cada
qualquer qualquer quaisquer quaisquer
vário vária vários várias

PRONOMES RELATIVOS
Estabelecem uma relação com um antecedente; podem também surgir numa frase
sem antecedente.
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
que
o qual a qual os quais as quais
quem
quanto quanta quantos quantas
onde
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 68

PRONOMES INTERROGATIVOS
Permitem introduzir interrogativas parciais, diretas e indiretas, visando a
identidade, a qualidade ou quantidade da realidade a que se referem os nomes que
substituem.
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
que? quê?
quem?
quanto? quanta? quantos? quantas? porque?
qual? qual? quais? quais? porquê?
como?
onde?
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 69

2.6. O determinante

Odeterminante pertence a uma classe fechada de palavras e especifica um nome,


precedendo-o num grupo nominal. O determinante concorda com o nome em género
e em número, sendo, por isso, uma palavra variável.
Como indica o próprio nome, o determinante determina ou caracteriza uma
relação entre quem fala e o ser ou objeto de que se fala, participando deste modo na
construção referencial do nome, com informações sobre propriedades sintáticas e
semânticas.
Ex.:
o fotógrafo
esta menina
os seus amigos
outro caderno
as árvores

As palavras da coluna esquerda dão indicações sobra a realidade a que se refere o


nome. Pertencem todas à classe do determinante: precedem o nome e concordam
com ele em género e em número.
Os determinantes podem dividir-se em artigos, demonstrativos, possessivos,
indefinidos, interrogativos e relativos.
Como verá adiante, alguns determinantes44 podem ser contraídos com as
preposições a, de, em e por.

DETERMINANTE ARTIGO
O determinante artigo é utilizado para indicar o grau de definitude ou
especificidade do nome que precede. O artigo é marcador de género e estabelece uma

44
Enquadram-se neste caso os determinantes artigosdefinidos e indefinidos, os demonstrativos e o
indefinido outro.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 70

relação de concordância com o nome (i). Pode preceder quase qualquer nome 45 e
serve para caracterizar e distinguir entre o conhecido e o desconhecido.
O determinante artigo pode ocorrer com qualquer possessivo (determinante ou
pronome46) precedendo-o sempre (ii), mas só pode surgir com alguns demonstrativos
(mesmo, outro e tal).
Ex.:
(i) Ontem comprei um livro novo. O livro novo está em cima da mesa.
(ii) É este oteu livro? Queria oferecê-lo a um amigo meu.

Número
Artigo definido
Singular Plural Número
Artigo indefinido
Masculin Singular Plural
O Os
Género o Masculino Um Uns
Género
Feminino A As Feminino Uma Umas

O determinante artigo definido permite especificar seres ou objetos e apresenta-


se como um marcador de identificação – indica que se trata de um ser já conhecido
por ter sido mencionado antes, ou por ser conhecido através de experiência (ex.:
encontrei a Joana e fomos juntas para a escola. Lá fomos buscar as fotocópias e os
livros que emprestámos ao Pedro); assinala as ideias já determinadas, já consabidas do
falante e do ouvinte (ex.: Comprei um livro. O livro custou-me uma fortuna).
Em Português usa-se o determinante artigo definido antes de nomes próprios de
pessoas, desde que sejam da esfera do conhecimento pessoal do falante e não se trate
de indivíduos com valor histórico ou institucional:
A Joana é minha amiga. O Pedro é meu irmão.
45
Não podem ser precedidos de determinante artigo os nomes comuns não contáveis e alguns nomes
próprios.
Por outro lado, muitas palavras de diferentes classes gramaticais podem, como se verá mais adiante, ser
nominalizadas, isto é, passar a pertencer à classe dos nomes. Nesses casos, para perceber se a palavra
assume as características da sua classe original ou se sofreu um processo de nominalização, recorre-se à
anteposição de um determinante artigo (ex.: Eu costumo jantar tarde; vou fazer frango frito para
ojantar).
46
Diferença entre determinantes e pronomes: os determinantes são palavras que geralmente precedem
o nome e ajudam à construção do seu valor referencial. Dão indicações sobre aquilo que o nome
expressa, limitando ou concretizando o seu significado. Por sua vez, os pronomes são palavras que
substituem um grupo nominal. Ao contrário do que acontece com os determinantes, os pronomes não
podem preceder um nome.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 71

Xanana Gusmão foi, durante muitos anos, o rosto visível da resistência timorense.
O determinante artigo definido pode usar-se antes de determinantes e pronomes
possessivos (ex.: O meu carro é azul, oteu é verde).
O determinante artigo indefinido permite especificar seres ou objetos
indeterminadose apresenta-se como um marcador que acrescenta informação nova,
introduzindo uma entidade que anteriormente não era conhecida (ex.: Um cão
mordeu-a. O cão tinha raiva).
Este determinante usa-se, pois, antes de um nome que não se mencionou
anteriormente – ex.: Tenho um carro novo (falamos deste carro pela primeira vez), mas
Emprestas-me o teu carro novo? (falamos do carro que já conhecemos.)
* Podes abrir uma janela? (uma janela *Podes abrir a janela? (A janela que
qualquer, não sei qual.) está perto de ti, ou há só uma janela.)
* Sabe se há um banco aqui perto? *O banco fecha às três horas. (Está a
(Não interessa que banco é.) referir um banco específico.)
*Vamos alugar um filme? (Não refere *Não quero ver o filme que alugaste.
nenhum filme em particular.) (Está a referir este filme em especial.)

O determinante artigo indefinido permite também indicar uma aproximação


numérica (ex.: Eles andam todos os dias uns 5 km = Eles andam cerca de 5 km).
As formas de plural podem ser suprimidas em frases como Comprei lápis, canetas e
cadernos.
Qualquer determinante artigo pode ser contraído com as preposições de(do, da,
dos, das, dum, duma, duns, dumas) e em (no, na, nos, nas, num, numa, nuns, numas).
O determinante artigo definido pode ainda ser contraído com a preposição a (ao,
à, aos, às).

DETERMINANTE DEMONSTRATIVO
O determinante demonstrativo indica a posição dos seres ou objetos em relação ao
sujeito que os enuncia. Admite variação em género e número, concordando com o
nome a que se refere. Sendo utilizado para indicar ou mostrar, este tipo de
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 72

determinante situa o nome que acompanha no espaço (ou no tempo) em relação às


pessoas da enunciação. Tem, por isso, um valor deítico.
Singular Plural
Masculin Feminino Masculino Feminino
o

Próximo de quem fala este esta estes estas

Próximo de quem ouve esse essa esses essas


Longe de quem fala e aquele aquela aqueles aquelas
de quem ouve
o outro a outra os outros as outras
o mesmo a mesma os mesmos as mesmas
tal tal tais tais

Tal como os determinantes artigos definidos, os determinantes demonstrativos


também se referem a algo individualizado, definido.
Pertencem ao grupo nominal e especificam o nome (i). Os determinantes
demonstrativos não são precedidos de determinante artigo (à excepção de o mesmo,
o outro, e, em alguns casos, tal). Podem preceder determinantes possessivos (ii) e
podem ser precedidos de certos quantificadores (iii).
Ex.:
(i) Passas-me essa travessa?
(ii) Estemeu robalo está uma delícia.
(iii) Todosestes alimentos são saudáveis.

DETERMINANTE POSSESSIVO
O determinante possessivo indica a posse de um ser ou objeto por um sujeito. Tem
um valor deítico e, para além das alterações de género e de número de acordo com o
nome que determina, apresenta também variações em pessoa.
Pertence ao grupo nominal e ocorre antes do nome, especificando-o (i).
Geralmente, o determinante possessivo surge precedido de determinante artigo
definido (ii), podendo também ser precedido pelo demonstrativo (iii) ou acompanhado
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 73

por certos quantificadores (iv). Em determinadas circunstâncias, quando inserido num


contexto indefinido, o determinante possessivo pode surgir depois do nome (v).
Ex.:
(i) O Filipe ficou em vossa casa hoje?
(ii) Omeu carro está natua garagem.
(iii) Este meu carro só me dá problemas.
(iv) Os meus dois filhos são muito irrequietos.
(v) Um primo meu tem um carro igual ao do pai do Pedro.

Número
Pessoa Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
1ª meu minha meus minhas
Um só possuidor
2ª teu tua teus tuas
(singular)
3ª seu sua seus suas
1ª nosso nossa nossos nossas
Vários possuidores
2ª vosso vossa vossos vossas
(plural)
3ª seu sua seus suas

DETERMINANTE INDEFINIDO
O determinante indefinido marca a indistinção referencial e concorda em género e
número com o nome que precede (i). Pode coocorrer com determinantes artigos
(definidos (ii) ou indefinidos (iii)) ou com determinantes demonstrativos (iii). Nestes
casos, são os determinantes com que coocorre que exprimem a definição ou
indefinição da expressão nominal.
Ex.:
(i) Outro dia fui a casa da Joana.
(ii) Ooutro dia, na tua escola, foi maravilhoso.
(iii) Tinha umacerta pressa e essacerta pressa devia-se ao atraso dos
transportes.
Singular Plural
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 74

masculino feminino masculino feminino


certo certa certos certas
outro outra outros outras

DETERMINANTE RELATIVO
O determinante relativo estabelece uma relação entre um nome que determina e
um antecedente, ocorrendo no início de uma oração subordinada relativa. Este
determinante implica a particularidade de pressupor uma expressão introduzida pela
preposição de.
Ex.:
(i) O livro cujo título te indiquei está esgotado. (= Eu indiquei-te um título
de um livro que está esgotado. Neste caso, o determinante cujo
estabelece uma relação entre o nome que especifica (e precede) e com
o qual concorda em género e número – título –,e aquele com que se
relaciona (e que o antecede), o antecedente – livro).
(ii) O rapaz cuja casa foi assaltada é da minha turma.
(iii) Voltei a encontrar aquela senhora de cujo nome não me lembro.

Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
cujo cuja cujos cujas

DETERMINANTE INTERROGATIVO
O determinante interrogativo precede um nome e permite formular uma pergunta
(parcial) direta (i) e (ii) ou indireta (iii).
Ex:
(i) Que livro queres?
(ii) Qual é o teu problema?
(iii) Não sei qual é o teu problema…
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 75

Variável
Invariável
Singular Plural
qual? quais? que?

Resumindo…
Pertence a uma classe fechada de palavras.
Especifica um nome, precedendo-o num grupo nominal.
É uma palavra variável, que concorda com o nome em género e em número.
Determina ou caracteriza uma relação entre quem fala e o ser ou objeto de que se
fala.
DETERMINANTE ARTIGO
Utilizado para indicar o grau de definitude ou especificidade do nome que precede.
Pode ocorrer com qualquer possessivo (determinante ou pronome) precedendo-o
sempre, mas só pode surgir com alguns demonstrativos (mesmo, outro e tal).
Número Número
Artigo definido Artigo indefinido
Singular Plural Singular Plural
Masculino O Os Masculino Um Uns
Género Género
Feminino A As Feminino Uma Umas

Qualquer determinante artigo pode ser contraído com as preposições de(do, da,
dos, das, dum, duma, duns, dumas) e em (no, na, nos, nas, num, numa, nuns, numas).
O determinante artigo definido pode ainda ser contraído com a preposição a (ao,
à, aos, às).

DETERMINANTE DEMONSTRATIVO
Indica a posição dos seres ou objetos em relação ao sujeito que os enuncia.
Não é precedido de determinante artigo (à excepção de o mesmo, o outro, e, em
alguns casos, tal). Pode preceder determinantes possessivos e pode ser precedido de
certos quantificadores.
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 76

Próximo de quem fala este esta estes estas

Próximo de quem ouve esse essa esses essas


Longe de quem fala e de aquele aquela aqueles aquelas
quem ouve
o outro a outra os outros as outras
o mesmo a mesma os mesmos as mesmas
tal tal tais tais

DETERMINANTE POSSESSIVO
Indica a posse de um ser ou objeto por um sujeito.
Geralmente, surge precedido de determinante artigo definido, podendo também
ser precedido pelo demonstrativo ou acompanhado por certos quantificadores. Em
determinadas circunstâncias, quando inserido num contexto indefinido, o
determinante possessivo pode surgir depois do nome.
Número
Pessoa Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
1ª meu minha meus minhas
Um só possuidor
2ª teu tua teus tuas
(singular)
3ª seu sua seus suas
1ª nosso nossa nossos nossas
Vários possuidores
2ª vosso vossa vossos vossas
(plural)
3ª seu sua seus suas

DETERMINANTE INDEFINIDO
Marca a indistinção referencial.
Pode coocorrer com determinantes artigos (definidos ou indefinidos) ou com
determinantes demonstrativos.
Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
certo certa certos certas
outro outra outros outras

DETERMINANTE RELATIVO
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 77

Estabelece uma relação entre um nome que determina e um antecedente,


ocorrendo no início de uma oração subordinada relativa.
Pressupõe uma expressão introduzida pela preposição de.
Singular Plural
masculino feminino masculino feminino
cujo cuja cujos cujas

DETERMINANTE INTERROGATIVO
Precede um nome e permite formular uma pergunta (parcial) direta ou indireta.
Variável
Invariável
Singular Plural
qual? quais? que?
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 78

2.7. O quantificador

O quantificador pertence a uma classe fechada47 é um elemento linguístico que


expressa qual a quantidade de indivíduos ou objetos com determinadas
características; expressa relações entre conjuntos de propriedades, evitando a
enumeração de cada objeto individualmente.
O quantificador especifica um nome e precede-o 48, permitindo a construção do seu
valor referencial, dando informações relativamente ao número, à quantidade ou à
parte da(s) entidade(s) referida(s).
Ex.:
(i) Encontrei dois colegas no centro da língua.
(ii) Encontrei alguns colegas no centro da língua.
(iii) No centro comercial todas as lojas estavam com promoções.
(iv) A maioriadas lojas fazia descontos de 50% nos preços dos artigos.
Os quantificadores podem dividir-se em universais, existenciais, relativos,
interrogativos e numerais. Devido à sua natureza dispersa, não é possível afirmar que
os quantificadores são, na sua essência, variáveis ou invariáveis. Assim, podemos
afirmar que, genericamente, são variáveis, embora os quantificadores universais
apresentem também formas invariáveis.

QUANTIFICADOR UNIVERSAL

São universais os quantificadores que implicam a referência à globalidade dos


elementos de um conjunto, encarados na sua totalidade ou distributivamente.
Ex.:
(i) Todos os alunos chegaram a horas à aula.
(ii) Cada aluno sabe o que pode levar para o teste.
(iii) Qualquer dúvida tem de ser resolvida.
(iv) Ambos os pais perceberam que a filha precisava deles.
(v) Tudo aquilo tinha uma explicação lógica.

47
No caso dos numerais, em teoria, tratar-se-á de uma classe aberta, dado que os números são, por
natureza, infinitos.
48
Ao ter esta função, o quantificador facilita a interpretação entre nomes contáveis e não contáveis.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 79

Formas:
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
todo toda todos todas
cada
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
49 tudo*
qualquer qualquer quaisquer quaisquer
nada*
ambos50 ambas
* Tudo e nada, sendo prototipicamente pronomes indefinidos, assumem o estatuto
de quantificadores em frases como Tudo o que disseres pode ser usado contra ti ou
Não acredito em nada do que dizes.

QUANTIFICADOR EXISTENCIAL

São existenciais os quantificadores que exprimem uma ideia de existência das


realidades a que se referem os nomes que acompanham, sem remeter para a
totalidade dos elementos de um conjunto (i) ou para expressar uma quantidade não
precisa (ii) ou relativa a um valor considerado como ponto de referência (iii).
Ex.:
(i) Alguns alunos faltaram ao teste. (do conjunto de alunos considerados só
uma parte faltou ao teste)
(ii) Vários alunos faltaram ao teste. (uma quantidade não precisa de alunos
faltou ao teste)
(iii) Muitos alunos faltaram ao teste. (o número de alunos que faltou ao
teste é superior à quantidade média)

Formas:
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
muito muita muitos muitas
pouco pouca poucos poucas
tanto tanta tantos tantas
algum alguma alguns algumas
bastante bastante bastantes bastantes
vários várias

49
Qualquer equivale a todo e cada um de. Ex.: Qualquer dúvida tem de ser resolvida. (=) Toda e cada
uma das dúvidas tem de ser resolvida.
50
Ambos é um quantificador universal ao induzir uma leitura universal sobre um conjunto formado
apenas por dois elementos. Substitui o numeral cardinal dois.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 80

QUANTIFICADOR RELATIVO

São relativos os quantificadores que exprimem uma ideia de quantidade total em


relação ao nome que o antecede (e com o qual concorda em género e número) e que é
acompanhado de um quantificador (tanto/a(s); tudo), introduzindo uma oração
relativa.
Ex.:
(i) Comi tudoquanto havia na festa.
(ii) Fiz tantas mudanças quantas pude fazer.

Formas:
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
quanto quanta quantos quantas

QUANTIFICADOR INTERROGATIVO

São interrogativos os quantificadores que, surgindo em contextos interrogativos


parciais (diretos (i) ou indiretos (ii)), pressupõem na resposta o recurso a um
quantificador que indique uma determinada quantidade de elementos a que o nome
que acompanha se refere.
Ex.:
(i) Quanto dinheiro deves? (R.: Muito; pouco; 10 dólares)
(ii) Já não sei quantas vezes eu fiz isso.

Formas:
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
quanto? quanta? quantos? quantas?

QUANTIFICADOR NUMERAL
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 81

São numerais os quantificadores que expressam uma quantidade numérica inteira


precisa (numeral cardinal) (i), um múltiplo de uma quantidade (numeral multiplicativo)
(ii), ou uma fração precisa de uma quantidade (numeral fracionário). Os
quantificadores numerais fracionários e multiplicativos são, muitas vezes, locuções
(metade de, dobro de, etc.)51.
Ex.:
(i) Comprei três livros.
(ii) Comprei o triplo dos livros.
(iii) Comprei metade dos livros.

Formas:
Quantificadores Numerais
Cardinais Multiplicativos52 Fracionários53
um, uma ----------- -----------
dois, duas dobro, duplo meio, metade
três triplo terço
quatro quádruplo quarto
cinco quíntuplo quinto
seis sêxtuplo sexto
sete séptuplo sétimo
oito óctuplo oitavo
nove nónuplo nono
dez décuplo décimo
onze undécuplo undécimo
doze duodécuplo duodécimo
treze … …
vinte … vigésimo
trinta … trigésimo
cem cêntuplo centésimo
mil milésimo
milhão milionésimo

Resumindo…

51
Muitas outras expressões de quantidade e medida, como “uma porção de”, “um litro de”, etc.
funcionam sintática e semanticamente de forma semelhante aos quantificadores numerais fracionários,
podendo ser designados de expressões partitivas.
52
Nos multiplicativos, em geral, a partir do triplo usa-se o cardinal seguido da palavra vezes (ex.: oito
vezes…).
53
Os fracionários, excetuando meio e terço, são expressos pelo ordinal se este se compõe de uma só
palavra (ex.: quarto, décimo…) ou pelo cardinal seguido de avos se o ordinal apresenta uma forma
composta (ex.:onze avos; dois mil avos…). Os fracionários são antecedidos de cardinal que indica o
número de partes da unidade (ex.: um terço, três quartos…).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 82

Pertence a uma classe fechada.


Genericamente, são variáveis embora os quantificadores universais apresentem
também formas invariáveis.
Expressa a quantidade de indivíduos ou objetos com determinadas características;
expressa relações entre conjuntos de propriedades, evitando a enumeração de cada
objeto individualmente.
Especifica um nome e precede-o, permitindo a construção do seu valor referencial,
dando informações relativamente ao número, à quantidade ou à parte da(s)
entidade(s) referida(s).

QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Implicam a referência à globalidade dos elementos de um conjunto, encarados na sua


totalidade ou distributivamente.
Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
toda todos todas
todo cada
nenhuma nenhuns nenhumas
nenhum qualquer tudo*
qualquer quaisquer quaisquer
nada*
ambos ambas
*em circunstâncias explicadas anteriormente.

QUANTIFICADOR EXISTENCIAL

Exprime uma ideia de existência da realidade a que se refere o nome que acompanha,
sem remeter para a totalidade dos elementos de um conjunto ou para expressar uma
quantidade não precisa ou relativa a um valor considerado como ponto de referência.
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
muito muita muitos muitas
pouco pouca poucos poucas
tanto tanta tantos tantas
algum alguma alguns algumas
bastante bastante bastantes bastantes
vários várias
QUANTIFICADOR RELATIVO
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 83

Exprime uma ideia de quantidade total em relação ao nome que o antecede e que é
acompanhado de um quantificador (tanto/a(s); tudo), introduzindo uma oração
relativa.
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
quanto quanta quantos quantas

QUANTIFICADOR INTERROGATIVO

Surge em contextos interrogativos parciais (diretos ou indiretos) e pressupõe na


resposta o recurso a um quantificador que indique uma determinada quantidade de
elementos a que o nome que acompanha se refere.
Singular Plural
Masculino Feminino Masculino Feminino
quanto? quanta? quantos? quantas?

QUANTIFICADOR NUMERAL
Expressa uma quantidade numérica inteira precisa (numeral cardinal), um múltiplo de
uma quantidade (numeral multiplicativo), ou uma fração precisa de uma quantidade
(numeral fracionário).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 84

2.8. A preposição

A preposição é uma palavra invariável, pertencente a uma classe fechada, que


permite estabelecer relações de sentido entre duas partes ou elementos de uma frase
(i).
Pode apresentar, como seu complemento, frases (ii), grupos nominais (iii) e (iv) ou
advérbios (v) e obriga qualquer pronome contido num grupo nominal complemento a
apresentar caso oblíquo (iv).
Ex.ː
(i) Vou ao Centro de Língua fazer uma pesquisa.
(ii) Fiquei contente por teres tido boa nota.
(iii) Não tome banho após as refeições.
(iv) Este livro é perfeito para ti.
(v) Dou-te uma resposta até amanhã.

As preposições, quanto à forma, podem ser simples ou podem agregar-se em


locuções prepositivas.

Preposições
a (conforme) entre (salvo)
ante (consoante) (exceto) (segundo)
após de (mediante) sem
até desde para sob
com (durante) perante sobre
contra em per, por trás
Nota: as palavras indicadas entre parênteses são, com frequência, utilizadas como
preposições.

Das preposições simples destacam-se as preposições a, de, em e por (na forma


per)pelo facto de poderem surgir contraídas com alguns determinantes (artigos e
demonstrativos), pronomes (pessoais e demonstrativos) e advérbios (com valor
locativo):
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 85

Preposições contraídas
a de em per
ao do no pelo
Determinantes à da na pela
artigos definidos aos dos nos pelos
às das nas pelas
dum num
Determinantes duma numa
----- -----
artigos indefinidos duns nuns
dumas numas
àquele deste; desse; daquele neste; nesse; naquele
Demonstrativos àquela desta; dessa; daquela nesta; nessa; naquela
(determinantes e àqueles destes; desses; daqueles nestes; nesses; naqueles
-----
pronomes) àquelas destas; dessas; daquelas nestas; nessas; naquelas
disto; disso; daquilo nisto; nisso; naquilo
dele nele
Pronomes dela nela
----- -----
pessoais deles neles
delas nelas
daqui
Advérbios ----- daí ----- -----
dali

Nota: Quando a preposição que se encontra junto de qualquer um dos elementos


com que se pode contrair integra uma construção com o verbo no infinitivo (impessoal
ou pessoal), não se dá a contração, escrevendo-se em separado.
Ex.:
- A professora explicou novamente a fim de eles compreenderem melhor;
- em virtude de os nossos pais terem saído não podemos resolver o problema;
- o facto de a conhecer deixou-me feliz;
- Eles estão a portar-se melhor por causa de aqui estares.

Locuções prepositivas
As locuções prepositivas são sequências de duas ou mais palavras invariáveis, com
a distribuição e o comportamento de uma preposição. Normalmente, as locuções
prepositivas são formadas por uma ou duas preposições simples e por uma palavra
pertencente originalmente à classe dos advérbios, dos nomes ou dos adjetivos.
Existem muitas locuções prepositivas. Eis algumas das principais:
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 86

abaixo de atrás de em vez de


acerca de através de fora de
acima de à volta de graças a
a fim de cerca de junto de
à frente de debaixo de longe de
além de dentro de para cima de
antes de depois de para com
ao lado de diante de perto de
ao pé de em cima de por baixo de
ao redor de em direção a por causa de
apesar de em frente de por cima de
a respeito de em volta de por entre

Relações que as preposições podem estabelecer:


De um modo geral, todas as preposições podem estabelecer muitas e variadas
relações.

A = modo; tempo; lugar; distância; preço; limite


 Já há carros movidos a eletricidade; eu ando a pé; gosto da pintura a óleo.
(modo)
 O avião chega às dez horas; aos domingos durmo até mais tarde; as aulas
acabam a 17 de novembro. (tempo)
 A Judite foi a Bobonaro. (lugar)
 Desistiu a dez metros da meta. (distância)
 Em Lecidere vendem bananas a um dólar. (preço)
 Tenho aulas das oito às onze. (limite)
*A preposição a serve também para introduzir o complemento indireto.
Ante = relação, física ou não, de presença
 O réu apresentou-se ante o juiz; ante tal argumento, não sei que te diga.
Após = posterioridade, sucessão
 Após duas horas de discussão, chegaram a um acordo.
Até = limite de uma ação no tempo ou no espaço.
 Esperamos uma resposta até segunda-feira. (limite de tempo)
 Correu até casa. (limite de espaço)
Com = adição; companhia; modo; meio; causa
 Como arroz com peixe. (adição)
 A Sofia estava com os amigos. (companhia)
 Escrevo com muita dificuldade. (modo)
 Cortou o pão com a faca. (meio)
 Morreu com malária. (causa)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 87

Contra = oposição, contrário


 O vereador discursava sempre contra a poluição. (oposição)
De = origem/lugar; matéria; tempo; posse; autoria; modo; causa
 Sou de Baucau, vim de lá há dois anos. (origem/lugar)
 A mesa é de vidro. (matéria)
 De manhã chegam sempre com um atraso de cinco minutos. (tempo)
 Esta caneta é da Maria. (posse)
 Li todos os livros de Luís Cardoso. (autoria)
 Ficou de braços cruzados sem fazer nada. (modo)
 Morreu de fome.(causa)
*A preposição de serve também para introduzir o complementoagente da
passiva.Ex.:Os guerrilheiros estavam rodeados de tropas inimigos.
Também se usa, em casos especiais, com uma ideia de realce, reforço: Exs.: O diabo do
homem não se calava; Ai de ti que me mintas; Puxou do relógio e ficou espantado com
as horas.
Desde = afastamento com insistência no ponto de origem (espaço ou tempo)
 Veio a pé desde a paragem do autocarro até casa. (espaço)
 Desde ontem que tenho febre. (tempo)
Em = posicionamento relativo a lugar, tempo ou modo
 O diretor esteve em Manatuto, em casa de um amigo. (lugar)
 Faço anos em outubro. (tempo)
 Falou em voz alta e em pé para que todos o ouvissem. (modo)
Entre = posição intermédia de espaço ou tempo
 A mesa estava entre o armário e a estante. (espaço)
 Temos aulas entre as duas e as três e meia. (tempo)
Para = finalidade; direção; destino
 O avião serve para viajar. (finalidade)
 A mãe dirigiu-se para a porta. (direção)
 Atirou a folha para o cesto. (destino)
Perante = relação, física ou não, de presença
 Ela parou perante mim; estou perante um dilema.
Por = percurso; duração; objetivo; preço; modo
 A criança veio sempre pelo passeio. (percurso)
 A chuva prolongou-se por toda a semana. (duração)
 O diplomata bateu-se por alcançar a paz. (objetivo)
 Vendeu a primeira jarra por cem contos. (preço)
 Gosto de organizar as coisas por cores. (modo)
* A preposição por serve também para introduzir o complementoagente da
passiva.Ex.:Os guerrilheiros estavam rodeados por tropas inimigos.
Sem = ausência
 Estava sem nenhum dinheiro no bolso; era um rapaz sem juízo nenhum.
Sob = posição de inferioridade em relação a algo ou alguém
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 88

 O gato está sob a mesa; tu estás sob as minhas ordens.


Sobre = posição de superioridade em relação a algo ou alguém
 O lápis está sobre a mesa; não opinião sobre isso.
Trás = posição posterior
 A casa fica por trás do jardim.

Resumindo…
Palavra invariável, pertencente a uma classe fechada.
Permite estabelecer relações de sentido entre duas partes ou elementos de uma
frase.
Pode apresentar, como seu complemento, frases, grupos nominais ou advérbios.
Obriga qualquer pronome contido num grupo nominal complemento a apresentar
caso oblíquo.
Quanto à forma, podem ser simples ou podem agregar-se em locuções
prepositivas.
Preposições
a (conforme) entre (salvo)
ante (consoante) (exceto) (segundo)
após de (mediante) sem
até desde para sob
com (durante) perante sobre
contra em per, por trás
Nota: as palavras indicadas entre parênteses são, com frequência, utilizadas como preposições.

As preposições a, de, em e por (na forma per)podem surgir contraídas com alguns
determinantes (artigos e demonstrativos), pronomes (pessoais e demonstrativos) e
advérbios (com valor locativo).
Quando a preposição que se encontra junto de qualquer um dos elementos com
que se pode contrair integra uma construção com o verbo no infinitivo (impessoal ou
pessoal), não se dá a contração, escrevendo-se em separado.

Locuções prepositivas: sequências de duas ou mais palavras invariáveis, com a


distribuição e o comportamento de uma preposição. Normalmente, são formadas por
uma ou duas preposições simples e por uma palavra pertencente originalmente à
classe dos advérbios, dos nomes ou dos adjetivos.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 89

Relações que as preposições podem estabelecer


A modo; tempo; lugar; distância; preço; limite(também para introduzir o
complemento indireto)
Ante relação, física ou não, de presença
Após posterioridade, sucessão
Até limite de uma ação no tempo ou no espaço
Com adição; companhia; modo; meio; causa
Contra oposição, contrário
De origem/lugar; matéria; tempo; posse; autoria; modo; causa (também para
introduzir o complementoagente da passiva ou para realçar, reforçar.)
Desde afastamento com insistência no ponto de origem (espaço ou tempo)
Em posicionamento relativo a lugar, tempo ou modo
Entre posição intermédia de espaço ou tempo
Para finalidade; direção; destino
Perante relação, física ou não, de presença
Por percurso; duração; objetivo; preço; modo (também para introduzir o
complementoagente da passiva.)
Sem ausência
Sob posição de inferioridade em relação a algo ou alguém
Sobre posição de superioridade em relação a algo ou alguém
Trás posição posterior
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 90

2.9. A conjunção

A conjunção é uma palavra invariável, pertencente a uma classe fechada.


As conjunções (e das locuções conjuntivas54) estabelecem uma relação entre frases
(i) ou palavras (ii) com a mesma função, mas não desempenham qualquer função
sintática na frase a que pertencem – apenas introduzem orações (iii) e constituintes
coordenados (iv), ou orações subordinadas completivas (v) e adverbiais (vi).
Ex.:
(i) Fizeram preparativos, mas nem todos participaram.
(ii) Professores e alunos participaram na festa.
(iii) O Carlos estudou pouco, mas conseguiu passar no exame.
(iv) Nem mãe nem filho comunicavam por carta.
(v) O Pedro disse que foi para casa.
(vi) Não encontrei a chave, portanto não posso entrar em casa.

Esta classe pode subdividir-se em conjunções coordenativas e conjunções


subordinativas.
São conjunções coordenativas as que estabelecem a ligação entre dois ou mais
elementos coordenados, relacionando constituintes (iv) ou orações (i).
Dizem-se correlativas as conjunções e locuções constituídas por dois elementos,
cada um composto por uma ou mais palavras, que precedem cada um dos elementos
coordenados. Esta situação só se verifica no caso das copulativas (nem… nem…; não
só… mas também…; não só… como também…) e das disjuntivas (ou… ou…; quer…
quer…; ora… ora… ; seja… seja…; ora… ora…).
São não correlativas as conjunções e locuções constituídas por um elemento
apenas, composto por uma ou mais palavras, que precede apenas um dos elementos
coordenados não inicial.

De acordo com a relação que estabelecem entre si, as orações coordenativas


dividem-se em copulativas, adversativas, disjuntivas, conclusivas e explicativas.

54
Locução conjuntiva: sequência de duas ou mais palavras invariáveis, pertencentes a uma classe
fechada, com a distribuição e o comportamento de uma conjunção (exs.: apesar disso, por
consequência…)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 91

Assim, são copulativas as conjunções/locuções que apresentam uma adição ou


sequencialização (seja na forma afirmativa (i) ou negativa (ii)); são adversativas as que
estabelecem uma relação de oposição ou contraste (iii); são disjuntivas as que
apontam uma disjunção ou alternância (iv); são conclusivas as que estabelecem uma
relação de conclusão (v); são explicativas as que esclarecem melhor o sentido,
apresentando uma explicação (vi).
Ex.:
(i) A Rita foi à praia e o Mário foi ao cinema.
(ii) Tu não trabalhas nem estudas.
(iii) Hoje dormi muito mas continuo com sono.
(iv) Preferes papaia ou ananás?
(v) Trabalhaste bem, logo serás recompensado.
(vi) Tem chovido aqui, pois está tudo verde.

No quadro abaixo apresentam-se algumas das conjunções e locuções conjuntivas


coordenativas mais comummente utilizadas:
Conjunções Locuções
Copulativas e; nem; nem… nem… não só… mas também…; não só…
como (também)…; tanto…como…
Adversativas mas; porém; todavia; contudo no entanto

Disjuntivas ou; ou… ou…; quer… quer…; seja… ou


ora… ora… ; seja… seja…
Conclusivas logo; pois; portanto; assim por isso; por consequência; por
conseguinte
Explicativas pois; que; porquanto

As conjunções subordinativas introduzem sempre orações e estabelecem uma


relação de dependência. Ao contrário das coordenativas, pertencem às frases que
conectam.
Segundo a relação que estabelecem com a oração subordinante, as subordinativas
dividem-se em completivas ou integrantes, causais, finais, temporais, concessivas,
condicionais, comparativas e consecutivas.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 92

Assim, são completivas ou integrantes as conjunções/locuções que introduzem


orações que completam a ideia da anterior (i); causais as que apresentam uma causa
(ii); finais as que apresentam uma finalidade (iii); temporais as que indicam
circunstâncias de tempo (iv); concessivas as que admitem algo contrário ao que é
afirmado na oração subordinante mas sem capacidade de o impedir (v); condicionais
as que indicam uma hipótese ou condição (vi); comparativas as que contêm o segundo
elemento da comparação ou confronto (vii) e consecutivas as que indicam uma
consequência do anteriormente declarado (viii).
Ex.:
(i) Ela perguntou-lhe se queria mais pão.
(ii) Como não fazes desporto, estás gordo.
(iii) A Maria esforçou-se para ter boas notas.
(iv) Mal tenha tempo, escrevo-te.
(v) Embora não mereças, vou dar-te uma prenda.
(vi) Se fores à praia, telefona-me!
(vii) Reages como se estivesses para morrer!
(viii) O advogado argumentou de tal modo que todos concordaram com
ele.

No quadro abaixo apresentam-se algumas das conjunções e locuções conjuntivas


subordinativas mais comummente utilizadas:
Conjunções Locuções
Completiva que; se (na interrogativa
indireta)
PARA
Causal porque; que; como; visto que; já que; pois que; tanto mais que
pois; porquanto
POR; VISTO; DADO
Final que; para que; a fim de que;
PARA A FIM DE
Temporal quando; mal; apenas; logo que; assim que; até que; primeiro que;
enquanto sempre que; todas as vezes que; desde que;
antes que; depois que; senão quando; à
medida que
ANTES DE; DEPOIS DE
Concessiva embora; conquanto se bem que; ainda que; mesmo que; mesmo
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 93

se; posto que; nem que; por mais que;


NÃO OBSTANTE; APESAR DE
Condicional se; caso a não ser que; a menos que; salvo se;
contanto que; desde que; exceto se; NO
CASO DE
Comparativa como; conforme assim como… assim (também)…; bem como;
mais / menos… (do) que; tão / tanto.. como
Consecutiva que de tal modo/maneira… que; tão… que;
tanto… que

Nota: as conjunções e locuções em letra maiúscula implicam a seleção de formas verbais no


infinitivo (pessoal ou impessoal).

Resumindo…
Palavra invariável, pertencente a uma classe fechada.
As conjunções (e das locuções conjuntivas) estabelecem uma relação entre frases
ou palavras com a mesma função, mas não desempenham qualquer função sintática
na frase a que pertencem.
Conjunções estabelecem a ligação entre dois ou mais elementos coordenados, relacionando
coordenativas constituintes ou orações.
Copulativas apresentam uma adição ou sequencialização (seja na forma afirmativa ou negativa)
Adversativas estabelecem uma relação de oposição ou contraste
Disjuntivas apontam uma disjunção ou alternância
Conclusivas estabelecem uma relação de conclusão
Explicativas esclarecem melhor o sentido, apresentando uma explicação.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 94

Conjunções Locuções
Copulativas e; nem; nem… nem… não só… mas também…; não só… como
(também)…; tanto…como…
Adversativas mas; porém; todavia; contudo no entanto
Disjuntivas ou; ou… ou…; quer… quer…; ora… seja… ou
ora… ; seja… seja…
Conclusivas logo; pois; portanto; assim por isso; por consequência; por conseguinte
Explicativas pois; que; porquanto

Conjunções introduzem sempre orações e estabelecem uma relação de dependência.


subordinativas Pertencem às frases que conectam.
Completivas introduzem orações que completam a ideia da anterior
Causais apresentam uma causa
Finais apresentam uma finalidade
Temporais indicam circunstâncias de tempo
admitem algo contrário ao que é afirmado na oração subordinante mas sem
Concessivas
capacidade de o impedir
Condicionais indicam uma hipótese ou condição
Comparativas contêm o segundo elemento da comparação ou confronto
Consecutivas indicam uma consequência do anteriormente declarado

Conjunções Locuções
que; se (na interrogativa
Completiva indireta)
PARA
porque; que; como; visto que; já que; pois que; tanto mais que
Causal pois; porquanto
POR; VISTO; DADO
Final que; para que; a fim de que;
PARA A FIM DE
quando; mal; apenas; logo que; assim que; até que; primeiro que; sempre que;
Temporal enquanto todas as vezes que; desde que; antes que; depois que;
senão quando; à medida que
ANTES DE; DEPOIS DE
embora; conquanto se bem que; ainda que; mesmo que; mesmo se; posto
Concessiva que; nem que; por mais que;
NÃO OBSTANTE; APESAR DE
Condicional se; caso a não ser que; a menos que; salvo se; contanto que;
desde que; exceto se; NO CASO DE
Comparativa como; conforme assim como… assim (também)…; bem como; mais /
menos… (do) que; tão / tanto.. como
Consecutiva que de tal modo/maneira… que; tão… que; tanto… que

Nota: as conjunções e locuções em letra maiúscula implicam a seleção de formas verbais no


infinitivo (pessoal ou impessoal).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 95

2.10. A interjeição

A interjeição é uma palavra invariável e integra uma classe aberta.


Esta classe de palavras tem a particularidade de incluir palavras que não são
produtivas nem estabelecem relações sintáticas com outras classes, formando, por si
mesmas, uma frase com função emotiva.
As interjeições servem, pois, para exprimir diferentes sentimentos, emoções,
desejos ou estados de espírito. A compreensão do valor semântico de cada interjeição
depende do contexto de enunciação, da entoação com que é produzida e da
linguagem corporal utilizada pelo falante.
A origem das interjeições pode encontrar-se em:
(i) palavras de outras classes (força!; cuidado!...);
(ii) gritos ou expressões emotivas espontâneas (ah!; oh!...);
(iii) onomatopeias (catrapum!; chiu!...);
(iv) grupos de palavras (valha-me Deus!; alto lá!...). Neste último caso, estamos
perante locuções interjetivas, ou seja, expressões compostas por duas ou mais
palavras com valor de interjeição.

As interjeições e as locuções interjetivas podem exprimir estados emotivos tão


diferentes como o espanto ou a surpresa (ah!; ih!...), a alegria (ah!; oh!...), a animação
(eia!; vamos!...), o desejo55(oh!; oxalá!...), a impaciência (irra!; apre!...), o medo (ui!;
ai!...) ou a dor (ai!; ui!...).

Resumindo…
Palavra invariável.
Esta classe de palavras é aberta e inclui palavras que não são produtivas nem
estabelecem relações sintáticas com outras classes, formando, por si mesmas, uma
frase com função emotiva.
As interjeições e as locuções interjetivas podem exprimir estados emotivos muito
diferentes.

55
Apenas um desejo mas também desejode atenção (ó!; pst!...), de silêncio (psiu!; silêncio!...), de
suspensão de uma atividade (alto!; basta!...), de incentivo (força!; bravo!)…
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 96

MÓDULO II
– A PALAVRA E SUA FORMAÇÃO –
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 97

1. Processos morfológicos de formação de palavras

As palavras podem ser simples ou complexas, conforme sejam formadas por um ou


mais do que um radical56, a que se acrescentam o tema57 e o(s) sufixo(s) de flexão.
Uma palavra simples é formada por um único constituinte morfológico (o radical),
pelo constituinte temático e pelo(s) sufixo(s) de flexão.
Ex.: pedras é uma palavra simples, constituída pelo radical [pedr], pelo índice
temático [a] e pelo sufixo de flexão [s]; arco é uma palavra simples, constituída pelo
radical [arc], pelo índice temático [o]; favor é uma palavra simples, constituída apenas
pelo radical [favor].
Uma palavra complexa é formada por mais do que um constituinte morfológico, a
que se associa um constituinte temático e sufixo(s) de flexão. Pode ser formada por
derivação ou por composição.
Ex.: desfavoravelmente é uma palavra complexa, formada por quatro constituintes
morfológicos – um que é o radical, [favor], e outros três que são afixos: [des], [avel] e
[mente]; amor-perfeito é uma palavra complexa, formada por dois constituintes
morfológicos: [amor] e [perfeit], a que associa um índice temático [o].

1.1. Derivação

Ao processo de formar palavras novas, a partir de uma forma de base, pelo


acréscimo de afixos58 ao radical de palavras já existentes na língua dá-se o nome de
derivação.
No entanto, é também possível identificar processos de derivação em que não
existe qualquer acréscimo de afixos.

Atente nas seguintes séries de palavras:


a) por: apor; compor; dispor; repor.

56
O radical é uma categoria morfológica constituinte do tema.
57
O temaé uma categoria morfológica e constituinte da palavra, formada pelo radical e por um
constituinte temático (vogal temática no caso dos verbos ou índice temático para os nomes).
58
Constituintes morfológicos que se juntam à palavra primitiva, acrescentando uma nova tonalidade à
significação primitiva.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 98

b) pedra: pedreiro; pedreira; pedraria; pedrinha.


c) caçar: caça; cortar: corte; espantar: espanto; chorar: choro.

Como pode constatar, de por,pedra e caçar formaram-se outras palavras. Como?


Nos exemplos da série a) foram agregados os prefixos a-; com-; dis- e re-. Estas
novas palavras chamam-se palavras derivadas por prefixação.
Nos exemplos da série b) foram agregados os sufixos -eiro; -eira; -aria; -inha. Estas
palavras novas chamam-se palavras derivadas por sufixação.
Nos exemplos da série c) verifica-se a formação de nomes a partir de verbos por
redução da palavra primitiva. Trata-se, por isso, de derivação regressiva.
As vezes é difícil saber se o nome que se deriva do verbo ou o verbo do nome.
Nesses casos, quando for necessário, poderá consultar-se um dicionário etimológico
para esclarecer a dúvida.

PROCESSOS DE AFIXAÇÃO (COM ADIÇÃO DE CONSTITUINTES MORFOLÓGICOS):


PREFIXAÇÃO
Os afixos podem ser prefixos (se colocados antes do radical, como recompor,
desfazer) ou sufixos (se colocados depois do radical, como facilmente, funileiro,
fininho). A palavra pode conter, ao mesmo tempo, prefixos e sufixos: Ex.: (desaguar).
A derivação por prefixação consiste na associação de um afixo que se antepõe a
uma determinada palavra (prefixo), modificando a estrutura de base dessa mesma
palavra. A maioria dos prefixos é de origem grega ou latina59.
Ex.:
(i) in- + feliz = infeliz
(ii) a- + por = apor
(iii) semi- + círculo = semicírculo
(iv) tri- + ângulo = triângulo
(v) contra- + por = contrapor
(vi) re- + fazer = refazer
(vii) im- + por = impor
59
Consulte, no final do módulo, os quadros com os principais prefixos.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 99

SUFIXAÇÃO
A derivação por sufixação consiste na associação de um afixo que se pospõe a
uma determinada palavra (sufixo), modificando a estrutura de base dessa mesma
palavra.
Ex.:
(i) delícia + -oso = delicioso
(ii) adaptar + -vel = adaptável
(iii) pinta + -or = pintor
(iv) lembra + -ança = lembrança
(v) feliz + -dade = felicidade
(vi) falso + -ear = falsear
(vii) alvor + -ecer = alvorecer
Por vezes, entre a palavra primitiva e o sufixo desenvolve-se uma vogal ou uma
consoante de ligação, para facilitar a pronúncia ou torná-la mais agradável ao ouvido:
Ex.: aguadeiro (água + d + eiro), cafezinho (café + z + inho), cafeteira (café + t +
eira), chaleira (chá + l + eira), gasómetro (gás + o + metro).

Os sufixos adicionados às formas de base especificam a categoria gramatical dessa


forma. Assim, é possível distinguir sufixos de verbalização (que colocam a palavra
derivada na classe dos verbos)60; sufixos de adjetivalização (que colocam a palavra
derivada na classe dos adjetivos); sufixos de nominalização (que colocam a palavra
derivada na classe dos nomes); sufixos de adverbialização (o único afixo de
adverbialização no Português é o sufixo –mente).
sufixos de verbalização
sufixos valor semântico exemplos
- ar prática de uma ação fardar, enroupar
- ecer adormecer, entardecer
- escer começo de ação ou transformação noutro florescer, rejuvenescer
- ear estado branquear, falsear
- izar ajuizar, civilizar, suavizar
- açar processo; repetição da ação esvoaçar, espicaçar

60
Consulte, no final do módulo, os quadros com os principais sufixos.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 100

- ear folhear, guerrear


- ejar gaguejar, praguejar
- izar fiscalizar, agonizar

sufixos de adjetivalização
sufixos exemplos sufixos exemplos
-aco maníaco -estre terrestre, campestre
-ado apaixonado -eu europeu
-ano americano, tibetano -il febril, estudantil
-al mortal, legal -ino pequenino; esquerdino
-ão valentão; beirão -ista socialista, budista
-ário lendário; partidário -onho risonho, tristonho
-(a)lhão grandalhão, parvalhão -oso caloroso, mafioso
-ense timorense -udo cabeludo; patudo
-ento sedento, bafiento -vel palpável, elegível
-ês português

A maior produtividade em termos de derivação por sufixação é ao nível da


nominalização, como se pode verificar no quadro seguinte 61. Apresentam-se,
separadamente, os sufixos que permitem a flexão em grau (dos nomes).
sufixos de nominalização
valor semântico sufixos exemplos
aglomeração, abundância, sentido -ada papelada, pardalada, colherada
coletivo -al laranjal, pombal, pantanal
-agem ramagem, plumagem
-aria cavalaria, livraria
-ário vestuário, vocabulário
-eiro formigueiro, vespeiro, coqueiro
-edo arvoredo, vinhedo
-ame vasilhame
61
Esta listagem não é exaustiva, nem nos sufixos nem nos valores semânticos. Pode consultar no final do
módulo um quadro com todos os sufixos e respetivos exemplos. Para os valores semânticos, aconselha-
se a consulta de um dicionário como o Dicionário Houaiss.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 101

-ama moirama, dinheirama


-io mulherio, rapazio
-ão escrivão, sacristão, capelão
-ário bibliotecário, operário
agente, profissão, ocupação -eiro sapateiro, enfermeiro, padeiro
-ino bailarino, dançarino
-ista jornalista, artista, pianista
-aço cansaço
-ada bengalada, badalada
ação ou resultado dela -agem contagem, arbitragem
-ão arranhão, puxão, contestação
-ismo heroísmo, desportivismo
ez sensatez, rapidez
qualidade, estado -eza firmeza, avareza
-ia valentia, alegria
-aria pirataria, selvajaria, tirania
relativo a, característica própria de -ismo automobilismo, grafismo
-ista alarmista
-aria cafetaria, livraria, hospedaria
-agem passagem, portagem
-dor regador, fervedor, corredor
local, espaço
-doura manjedoura, dobadoira
-douro lavadouro, bebedouro
-tório consultório, dormitório

Sufixos de nominalização(flexão em grau)


Grau Sufixos Exemplos
aumentativo -aço, -aça, -uça ricaço, mulheraça, dentuça
- (a)lha, -(a)lhão muralha, fornalha, vagalhão
- anzil corpanzil
-ão, -arrão escaldão, paredão, gatarrão
- arão casarão
- arra, -(z)orra bocarra, cabeçorra, manzorra
- ázio copázio, gatázio, balázio
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 102

- eirão vozeirão, asneirão


-zarrão homenzarrão
- acho, -icho, -ucho riacho, rabicho, barbicha, papelucho
- ato regato, lobato
-ebre casebre
-eco, -eca livreco, jornaleco, soneca
- ejo animalejo, lugarejo
-el, -ela cordel, saquitel, rodela, viela
- elho grupelho, cortelho
- eta, -ete, -eto sineta, palacete, folheto
- ico, -iço burrico, abanico, aranhiço
diminutivo - ilha, -ilho mantilha, peitilho
- im camarim, farolim, fortim
- inho, -inha rapazinho, casinha, letrinha
- ino, -ina pequenino, franzino, cravina
- isco chuvisco, pedrisco
- ito, -ita gatito, mosquito, casita
- ola aldeola, rapazola
- ota, -ote, -oto casota, ilhota, velhote, perdigoto
- zinho, -zinha lugarzinho, reguazinha
- zito, zita lugarzito, cidadezita

PARASSÍNTESE
Um caso especial de derivação é o da parassíntese (ou derivação parassintética),
quando o prefixo e o sufixo se aglutinam ao mesmo tempo ao radical, sem se poder
conceber uma palavra intermédia.
Considere a palavra repatriar. Com efeito, não existem, nem nunca existiram, as
palavras *repátria ou *patriar.
A parassíntese acontece sobretudo em verbos incoativos, construídos a partir de
adjetivos ou nomes: amanhecer (a + manhã + ecer), embainhar (em + bainha +ar).
Ex.:
(i) afunilar
(ii) ajoelhar
(iii) enroupar
(iv) entardecer
(v) emagrecer
(vi) engaiolar
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 103

Nota: Determinados afixos participam em mais do que uma regra derivacional. Um


exemplo é o sufixo [-nte], que integra uma regra de nominalização e outra de
adjectivação (ex.: Os médicos visitaram os doentes. / As pessoas ficam doentes por
causa da poluição). Por outro lado, se é verdade que sempre que existe adjetivo
também existe nome, o inverso nem sempre é verdadeiro (agente ou presidente são
apenas nomes, não podendo ocorrer como adjetivos).

PROCESSOS DE DERIVAÇÃO SEM ADIÇÃO DE CONSTITUINTES MORFOLÓGICOS:


DERIVAÇÃO REGRESSIVA
A derivação regressiva ( ou não afixal)consiste na formação de nomes a partir de
verbos (nomes deverbais) por redução da palavra primitiva. É um fenómeno de certo
modo contrário à prefixação e à sufixação, dado que estes dois fenómenos implicam a
adição de elementos e na derivação regressiva o que se passa é a subtração de
elementos (especificadores do verbo).
Ex.:
verbo Nome Verbo Nome Verbo Nome
abalar abalo amostrar amostra alcançar alcance
adejar adejo aparar apara atacar ataque
afagar afago buscar busca cortar corte
amparar amparo caçar caça debater debate
apelar apelo censurar censura enlaçar enlace
arrimar arrimo ajudar ajuda levantar levante
chorar choro comprar compra rebater rebate
errar erro perder perda resgatar resgate
recuar recuo pescar pesca tocar toque
sustentar sustento vender venda Sacar saque

DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA
A derivação imprópria (ou conversão) consiste na alteração ao nível da
especificação categorial sem que haja qualquer alteração ao nível da forma. Este
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 104

processo é extremamente produtivo e abrange diferentes classes ou subclasses


gramaticais, sendo particularmente eficaz nas nominalizações.
Ex.: O verdadeiro sábio aprende com o passado e vive o presente sem se preocupar
com o que o futuro trará.
Muitos são também os casos em que, dependendo do contexto sintático, uma palavra
pode ser nome ou adjetivo (ex.: vi uma preta velha/ vi uma velha preta).
Exemplos de derivação imprópria:
(i) Eu sou timorense./ O eu poético é uma mulher. (Pronome/ Nome)
(ii) Nota-se uma grande diferença entre os funcionários ricos e os funcionários
pobres. / Os ricos não pensam nos pobres. (Adjetivo / Nome)
(iii) Tenho um burro./ É um homem muito burro.(Nome / Adjetivo)
(iv) Hoje vais jantar com quem? / O jantar estava delicioso! (Verbo / Nome)
(v) Fiquei a olhar para ela./ Ela tem um olhar misterioso. (Verbo / Nome)
(vi) Ele foi morto pelos indonésios. / O morto chamava-se Nicolau. (Verbo / Nome)
(vii) A mulher está ferida. / A ferida não cicatriza. (Adjetivo / Nome)
(viii) Não sei se fiz o trabalho bem ou mal. / O Ying e Yang representam o Bem e o Mal.
(Advérbio / Nome)

(ix) Amanhã vou ao cinema, hoje não posso. / Vive o hoje sem pensar no amanhã.
(Advérbio / Nome)

(x) Ai! Magoei-me! / Não estejas para aí aos ais. (Interjeição / Nome)
(xi) Estou sem força. / Força! Tu consegues! (Nome / Interjeição)
(xii) Este gato é bravo/ Bravo! (Adjetivo / Interjeição)
(xiii) Ele é alto/ Alto! (Adjetivo / Interjeição)
(xiv) A pereira não deu peras este ano. / O professor chama-se António Pereira. (Nome
comum / Nome próprio)

(xv) Vivo no Porto./ Aceita um porto? (Nome próprio / Nome comum)


(xvi) O João é alto./ O João fala alto.(Adjetivo / Advérbio)
(xvii) É calado mas fala se conhecer as pessoas./ Deixa-te de mas e ses e decide-te!
(Conjunção / Nome)

(xviii) Temos sempre que analisar os prós e os contras de qualquer decisão.


(Conjunção / Nome)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 105

Resumindo…

Processo de formação de palavras novas a partir de uma forma de


Derivação
base.
associação de um afixo que se coloca antes de uma determinada
por prefixação
palavra (prefixo).
associação de um afixo que se coloca depois de uma determinada
por sufixação palavra (sufixo). Frequentemente a classe gramatical da palavra
derivada é diferente daquela a que pertencia a palavra original.
Afixação associação de um afixo que se coloca antes de uma determinada
por prefixação palavra (prefixo) e de um afixo que se coloca depois de uma
e sufixação determinada palavra (sufixo). A palavra original pode ter associado
apenas o prefixo ou o sufixo.
o prefixo e o sufixo aglutinam-se ao mesmo tempo ao radical, sem se
parassíntese
poder conceber uma palavra intermédia.
formação de nomes a partir de verbos por redução da palavra
regressiva
primitiva.
Sem afixos
alteração ao nível da classe gramatical sem que haja qualquer
imprópria
alteração ao nível da forma.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 106

1.2. Composição

A composição é um processo de formação de palavras em que duas ou mais formas


de base se associam. Em Português há a composição morfológica e a composição
morfossintática.

No processo de composição morfológica, formam-se palavras complexas


associando um radical a outro radical ou a uma palavra com a ocorrência habitual de
uma vogal de ligação entre eles. Estão neste caso muitos compostos ditos eruditos, de
origem grega e latina, sobretudo no vocabulário técnico, científico e tecnológico.
Na composição morfológica, só o elemento da direita pode sofrer alterações de
género e número.
Ex.:
(i) autocarro
(ii)luso-brasileiro
(iii) sociologia
(iv) ciberespaço
(v)económico-geográfico
(vi) neurocirurgia
(vii) videoconferência
(viii) telemóvel
No processo de composição morfossintática, os constituintes são palavras. Estes
compostos podem ter diferentes estruturas, o que implica diferenças a nível da
interpretação semântica da palavra e da flexão em género e número:
 se as duas palavras que formam o composto têm igual contribuição para o seu
valor semântico, o contraste de género e a flexão de número atingem ambas as
palavras.
Ex.:
(i) Surdo(s)-mudo(s)
(ii) Trabalhador(es)-estudante(s)
(iii) Rádio(s) gravador(es)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 107

 se o valor semântico da palavras da esquerda é modificado pelo valor semântico


da que está à direita, o contraste de género e a flexão em número afetam só o
nome da esquerda.
Ex.:
(i) Bomba(s)-relógio
(ii) Aluno/a(s)-modelo
(iii) Homem(ns)-rã

 Se o composto é constituído por uma forma verbal na terceira pessoa do


singular do presente do indicativo seguida de um nome (e raramente de um
adjetivo), quando há flexão em número, esta atinge a palavra da direita.
Ex.:
(i) Abre-latas
(ii) Tira-nódoas
(iii) Picapau(s)

Família de palavras62
Segundo Cunha & Cintra, chama-se família de palavras ao conjunto de todas as
palavras que se agrupam em torno de um radical comum, do qual se formaram pelos
processos de derivação ou de composição.
Exemplo 1: Palavra primitiva/radical : terra
Família : terra, terraço, terramoto, terrão, térreo, terráqueo, terrestre, terrícola,
terrígeno, terriço, terraplanagem, aterrar, aterro, aterragem, enterrar, enterro,
desenterrar.
Exemplo 2 – Palavra primitiva/radical : flor
Família: flor, floração floral, floreado, floreira, florentino, florescência, florescente,
florescer, florescimento, floricultor, florido, florífero, floriforme, florilégio, florir,
florista…aflorar, afloramento, desflorar, desfloração, inflorescência… couve-flor, beija-
flor, flor-de-abril, flor-de-noiva, flor-de-lis,… Flora, Florbela, Florença, Floriano,
Florindo, Flórido, etc.

62
Este conteúdo volta a ser abordado no módulo III.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 108

Resumindo…

processo de formação de palavras em que duas ou


Composição
mais formas de base se associam.
só o elemento da direita pode sofrer alterações de
Morfológica radical + radical ou palavra
género e número.
se as duas palavras que formam o composto têm
igual contribuição para o seu valor semântico, o
contraste de género e a flexão de número atingem
ambas as palavras.
se o valor semântico da palavras da esquerda é
modificado pelo valor semântico da que está à
Morfossintática palavra + palavra direita, o contraste de género e a flexão em número
afetam só o nome da esquerda.
se o composto é constituído por uma forma verbal
na terceira pessoa do singular do presente do
indicativo seguida de um nome (e raramente de um
adjetivo), quando há flexão em número, esta atinge
a palavra da direita.

Família de palavras: conjunto de todas as palavras que se agrupam em torno de um


radical comum, do qual se formaram pelos processos de derivação ou de composição.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 109

2. Processos irregulares de formação de palavras

2.1.1. Onomatopeias e palavras onomatopaicas


As palavras que através dos seus significantes imitam sons produzidos por objetos,
animais ou fenómenos da natureza são onomatopeias e/ou palavras onomatopaicas.
Ex.:
(i) Bong
(ii) Tcham
(iii) Tilintar
(iv) Ribombar

2.1.2. Siglas e acrónimos


As siglas e os acrónimos são representações gráficas dos fonemas iniciais das
palavras e que funcionam como palavras; no caso das siglas, estas leem-se destacando
cada letra enquanto no caso dos acrónimos estes leem-se como uma palavra.
Exemplos de siglas:
(i) UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa’e)
(ii) TT (Timor Telecom)
(iii) UE (União Europeia)

Exemplos de acrónimos:
(i) ONU (Organização das Nações Unidas)
(ii) PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
(iii) FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente)

2.1.3. Truncação
A truncação consiste na criação de uma palavra por apagamento de uma parte da
palavra que lhe deu origem.
Ex.:
(i) Metro (metropolitano)
(ii) Moto (motociclo)
(iii) Táxi (veículo com taxímetro)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 110

2.1.4. Amálgama
Palavras que resultam do cruzamento de duas ou mais palavras.
Ex.:
(i) Informática (informação + automática)
(ii) Diciopédia (dicionário + enciclopédia)

2.1.5. Empréstimos ou estrangeirismos


Palavras de origem estrangeira usadas na língua. Por vezes sofrem um processo de
adaptação gráfica.
Ex.:
(i) workshop
(ii) Wifi
(iii) Lanche (> inglês lunch)
(iv) Dossiê (> francês dossier)

2.1.6. Extensão semântica


A extensão semântica consiste na atribuição de um novo significado a uma palavra
já existente na língua.
Ex.:
(i) Rato (do computador)
(ii) Leitor (de DVD’s)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 111

Prefixos de origem grega


Prefixo Significado Exemplos
afónico, analfabeto,
a-, an- negação, privação
anarquia, ateu...
movimento inverso, repetição, anacronia, anáfora,
an(a)-
semelhança anagrama, analogia...
dualidade, de um e de outro anfíbio, anfípode,
anfi-
lado, ao redor anfiteatro...
antiaéreo,
anti- ação contrária, oposição anticonstitucional,
antipatia...
ap(o)- afastamento, separação apogeu, apóstata...
arc(a), arce-, arcanjo, arcebispo,
arque-, superioridade, primazia arcipreste, arquétipo,
arqui-, arci- arquiduque...
movimento de cima para baixo, cataclismo, catacumba,
cata-, catá-
oposição, em regressão catálogo, catarata...
através de, por meio de, diagnose, diâmetro,
dia-, di-
separação, afastamento diocese...
disenteria, dispepsia,
dis- mau estado, dificuldade
dispneia...
eclipse, eczema, êxodo,
ec-, ex- movimento para fora
exorcismo...
encéfalo, elipse, emplastro,
en-, e-, em- posição interior, dentro
embrião...
movimento para dentro, endócrino, endógeno,
end(o)-
posição interior endosfera...
posição superior, sobre, epicentro, epiderme,
ep(i)-
movimento para, posterioridade epígrafe...
eufemismo, euforia,
eu-, ev- bem, bom, excelência
evangelho...
hipérbole, hipermercado,
hiper- posição superior, excesso
hipertensão,...
hipoglicemia, hipoteca,
hipo- posição inferior, escassez
hipótese...
mudança, transformação, metafísica, metamorfose,
met(a)-
sucessão, posterioridade, além metatexto...
parágrafo, paralelo,
par(a)-, pará- ao lado de, aproximação
paramilitar...
movimento ou posição, em periferia, perímetro,
peri-
torno de período...
movimento para diante, posição prognóstico, programa,
pro-
em frente, anterioridade prólogo...
ação conjunta, companhia, sílaba, simpatia, sincronia,
sin-, sim-, si-
simultaneidade sinestesia...
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 112

Prefixos de origem latina


Prefixo Significado Exemplos
afastamento, separação, abusar, abster, abstrair,
a-, ab-, abs-
privação amovível...
adjunto, administrar,
ad-, a- (ar-, aproximação, direção,
advogado, arribar,
as-) transformação, junção
assimilar...
anterioridade no espaço ou no antebraço, anteontem,
ante-
tempo antepor, antevéspera...
bem-, bene-, de forma agradável, positiva ou bendito, benfeitor, bem-
bem- intensa vindo, benevolente...
circum-navegação,
circum-,
ao redor de, em torno de circunscrever,
circun-
circunvalação...
cis- posição aquém, do lado de cá cisalpino, cisandino...
coabitar, Compor,
com- (con-), contiguidade, companhia,
confluência, conter,
co- (cor-) agrupamento
corroborar...
contra-argumento, contra-
contra- oposição, ação contínua
atacar, contradição...
movimento de cima para baixo;
decair, decompor,
de- positivo / negativo; do global
decrescer...
para o local
desfazer, desigual,
separação, ação ou ideia
des- desobedecer, desumano,
contrária, negação, privação
desvair...
separação, movimento para
difundir, dilacerar, dissabor,
dis-, di- diversos lados, negação,
dissidente...
dispersão
movimento para fora,
emigrar, esfriar, evadir,
e-, es-, ex- separação, ação de tirar, estado
exportar...
anterior
posição exterior, fora de, além entreabrir, entrelinha,
entre-, inter-
de, intensidade intercâmbio...
posição interior, movimento
en-, em- endoidecer, enterrar,
para dentro, passagem a um
i-, in-, im- imigrar, importar, ingerir...
estado
extraconjugal, extramuros,
extra- posição exterior, além, para fora
extraordinário...
negação, privação, ideia ilegal, impróprio,
i-, in-, im-
contrária inoportuno...
intramuscular,
intra- posição interior intrapulmonar,
intravenoso...
introduzir, intrometido,
intro- movimento para dentro
introvertido...
justa- aproximação, posição ao lado justapor, justaposição...
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 113

oposição, inversão, posição em


ob-, o- obstar, obstruir, oposição...
frente
movimento através de, percurso, perfazer,
per-
acabamento, intensidade perfurar...
posterioridade, posição posfácio, pós-graduação,
pos-, pós-
posterior pós-pago...
prefácio, premeditar, pré-
pre-, pré- anterioridade, antecedência
história...
movimento para a frente, progresso, promoção,
pro-, pró-
substituição, a favor de pronome, pró-marxista...
movimento para trás, repetição, recomeçar, remetente,
re-
intensidade renascer...
retrocesso, retrospetivo,
retro- movimento para trás
retrovisor...
semibreve, semicírculo,
semi- meio, metade de, quase
semivogal...
posição acima ou em cima, sobredotado, sobrepor,
sobre-,
excesso, superioridade, supermercado,
super-, supra-
excelência suprassumo...
debaixo, posição inferior, sota-proa, sotavento,
soto-, sota-
subordinação sotopor...
sobranceiro, soerguer,
movimento de baixo para cima,
so-, sob-, sub- soterrar,
subordinação, inferioridade,
su-, sus- subdesenvolvimento,
quase
sujeitar, suspender...
movimento ou posição para
tras-, trans-, transbordar, traspassar,
além de, através, excesso,
três- tresandar...
intensidade
ultramar, ultrapassar,
ultra- posição além de, em excesso
ultrassónico...
em lugar de, em posição
vice-diretor, vice-presidente,
vice-, vis- imediatamente inferior,
visconde...
substituição
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 114

Lista de sufixos derivacionais


Sufixos Derivados Sufixos Derivados
estagiário,
-aco / -aca maníaco, maníaca... -ário / -ária
estagiária...
mobiliário,
-aco / -aca velhaco, velhaca... -ário
receituário...
peitaço, talentaço,
-aço / -aça -ática problemática...
caloraça...
cotovelada, traumático,
-ada -ático / -ática
paulada... traumática...
laranjada,
-ada -ato anonimato...
limonada...
absolvição,
-ada noitada... -ção
contribuição...
americanada, batedeira,
-ada - deira
ciganada... calçadeira...
aprendizado, aspirador,
-ado -dor
professorado... espanador...
brasonado, vendedor,
-ado / -ada -dor / -deira
brasonada... vendedeira...
armazenagem, apresentador,
-agem -dor / -dora
contagem... apresentadora...
ancoradouro,
-agem folhagem... -douro
comedouro...
duradouro,
-al teatral... -douro / -doura
duradoura...
favorecer,
-al laranjal, pinhal... -ecer
amarelecer...
-ar espetacular... -edo folguedo...
-ama dinheirama... -edo vinhedo...
bananeira,
-ame vasilhame... -eira
laranjeira...
canadiano, azeitoneira,
-ano / -ana -eira
canadiana... sapateira...
microbiano,
-ano / -ana -eira barulheira...
microbiana...
-ão / -a beirão, beirã... -eira cegueira...
quarentão,
-ão / -ona -eiro coqueiro...
quarentona...
respondão,
-ão / -ona -eiro açucareiro...
respondona...
-ão / -oa leitão, leitoa... -eiro nevoeiro...
-ão empurrão... -eiro cativeiro...
-ão salão... -eiro / -eira peixeiro, peixeira...
cervejaria,
-aria -ejar gaguejar...
geladaria,...
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 115

Sufixos Derivados Sufixos Derivados


barbearia,
-aria -engo mulherengo...
sapataria...
gritaria, nortenho,
-aria -enho / -enha
maquinaria... nortenha...
-ário / -ária lendário, lendária... -eno / -ena romeno, romena...
madeirense, analfabetismo,
-ense -ismo
timorense... salazarismo...
bolorento, alpinista,
-ento / -enta -ista
bolorenta... projetista...
jasmíneo,
-eo / -ea -ita moscovita...
jasmínea...
bronquite,
-ês / -esa chinês, chinesa... -ite
laringite...
principesco,
-esco / -esca -itude plenitude...
principesca...
carbonizar,
-estre terrestre... -izar
suavizar...
europeu, alargamento,
-eu / -eia -mento
europeia... pagamento...
afluência,
-ez altivez, surdez... -ncia
tolerância...
pendente,
-eza beleza... -nte
tolerante...
-ia alegria... -onho / -onha risonho, risonha...
-io compadrio... -oso / -osa calor, caloroso...
-io / -ia algarvio, algarvia... -tória convocatória...
-ice burrice, patetice... -tório reservatório...
conservatório,
-ície planície... -tório / -tória
conservatória...
alimentício,
-ício / -ícia -udo / -uda sortudo, sortuda...
alimentícia...
apostólico, ferrugem,
-ico / -ica -ugem
apostólica... penugem...
-idade dignidade... -ume azedume...
-idão podridão... -ume ardume...
formosura,
-il estudantil, servil... -ura
ternura...
esquerdino,
-ino / -ina -vel palpável, temível...
esquerdina...
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 116

MÓDULO III
– A PALAVRA E SUAS RELAÇÕES –
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 117

1. Relações fonéticas e gráficas entre palavras

As palavras são unidades lexicais com som e significado, pertencentes a classes


gramaticais específicas.
Em Português, como noutras línguas, há palavras que se podem confundir entre si,
seja devido à semelhança da forma como se pronunciam (palavras homófonas), seja
devido à semelhança da forma como se escrevem (palavras homógrafas), seja devido à
proximidade da forma como se pronunciam e como se escrevem (palavras parónimas),
seja porque coincidem exatamente na forma como se pronunciam e como se escrevem
(palavras homónimas).

1.1. Homofonia

A homofonia verifica-se quando duas palavras são foneticamente iguais


(pronunciam-se de forma igual, têm o mesmo som) mas têm significados distintos e
escrevem-se de forma diferente. São homófonas as palavras que têm a mesma
pronúncia, e, normalmente, se escrevem de forma diferente.
Ex.:
(i) A costureira coseu o vestido. / A cozinheira cozeu a carne.
(ii) O concelho de Maliana pertence ao distrito de Bobonaro. /O amigo dele deu-
lhe um conselho muito oportuno.
(iii) Assisti a um concerto maravilhoso. / Estes sapatos já não têm concerto.

Alguns pares de palavras homófonas:


 coser (costurar) / cozer (cozinhar)
 acento (sinal ortográfico) / assento (lugar para se sentar; verbo assentar – 1ª p. s.
presente indic.)
 aço (liga de metal) / asso (do verbo assar – 1ª p. s. presente indic.)
 apreçar (colocar preço) / apressar ( imprimir pressa)
 bucho (estômago de animais) / buxo (planta)
 cegar (perder a vista) / segar ( ceifar)
 cem (quantificador numeral) / sem (preposição)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 118

 censo (recenseamento) / senso (juízo)


 chá (planta e bebida) / xá (soberano da Pérsia)
 concelho (divisão administrativa) / conselho (opinião; assembleia)
 era (verbo ser – 1ª/3ª p. s. pret. imperfeito indic.) / hera (planta)
 houve (verbo haver – 1ª/3ª p. s. presente indic.) / ouve (verbo ouvir – 1ª/3ª p. s.
presente indic.)
 nós (pronome pessoal 1ª pessoa plural) / noz (fruto da nogueira. Em tétum,
espécie de“kiar-musan”)
 paço (palácio) / passo (verbo passar – 1ª p. s. presente indic.; (n.) passada)
 vós (pronome pessoal 2ª pessoa plural tu) / voz (fala)

1.2. Homografia

A homografia verifica-se quando duas palavras são graficamente iguais (escrevem-


se de forma igual, têm a mesma ortografia 63) mas têm significados distintos e
normalmente pronunciam-se de forma diferente. As palavras homógrafas têm,
geralmente, origens etimológicas diferentes, distinguindo-se, muitas vezes, pelo
acento gráfico.
Ex.:
(i) Vou colheruma maçã da macieira. / Come a sopa com esta colher.
(ii)Fomos jogar com a bola nova que comprei ontem. / Comemos, ao almoço, uma
deliciosa bola de presunto.

Alguns pares de palavras homófonas:


 bola (ó – (n.) objeto redondo) / bola (ô – (n.) comida)
 colher (é – (n.) utensílio) / colher (ê – (v.) apanhar)
 cópia (ó – (n.) reprodução) / copia (u – (v.) copiar,1ª/3ª p. s. presente indic.)
 cor (ó – loc. adv.: de cor= de memória) / cor (ô – (n.) tom colorido)

63
Os sinais gráficos de acentuação não são elementos distintivos para a classificação de palavras ao nível
das relações fonéticas e gráficas que estabelecem entre si.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 119

 fábrica (á – (n.) edifício industrial) / fabrica (a – (v.) fabricar, 1ª/3ª p. s. presente


indic.)
 fora (ó – adv.: no exterior) / fora (ô – (v.) ser; ir, 1ª/3ª p. s. pret. m.-q.-perf. indic.)
 governo (é – (v.) governar, 1ª p. s. presente indic.) / governo (ê – (n.) ato de
governar; instituição)
 molho (ó – (n.) feixe, conjunto) / molho (ô – (n.) tempero)
 pode (ó - (v.) poder, 3ª p. s. presente indic.) / pôde (ô – (v.) poder, 3ª p. s. pret.
perf. indic.)
 por (u – preposição) / por (ô – (v.) colocar)
 pregar (e – (v.) fixar com pregos) / pregar (é – (v.) dizer sermão)
 sábia (á – (adj.) sabedora) / sabia (a – (v.) saber, 1ª/3ª p. s. pret. imperf. indic.)
 sede (é – (n.) local de funcionamento) / sede (ê – (n.) desejo de beber)

1.3. Paronímia

A paronímia verifica-se quando duas palavras apresentam formas relativamente


próximas, tanto na pronúncia como na escrita, e têm significados distintos.
Ex.:
(i) Ele comporta-se com pouca discrição / A Rita fez uma descrição pormenorizada
do espetáculo.
(ii)O comprimento da sala era enorme. / Aqui, todos querem o cumprimento da lei.
(iii) A construção do túnel foi um trabalho perfeito. / O prefeito do Colégio Paulo VI
é uma pessoa muito competente.

Alguns pares de palavras parónimas:


 arrolhar (por uma rolha) / arrulhar (cantar do pombo)
 comprimento (extensão, medida) / cumprimento (obediência, execução)
 descrição (ato de descrever) / discrição (ato de ser discreto)
 elegível ( que pode ser eleito) / ilegível ( que não se consegue ler)
 emigrante ( o que sai de uma região) / imigrante (o que entra noutra região)
 eminente (elevado, alto) / iminente (prestes a acontecer)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 120

 moral (ética) / mural (relativo a muro)


 mugir (bramir; voz dos bovídeos) / mungir (ordenhar)
 perfeito (adj.: sem defeitos) / prefeito (nome: vigilante; chefe)
 rebelar (revoltar) / revelar (dar a conhecer)

1.4. Homonímia

A homonímia verifica-se quando duas palavras partilham a mesma grafia e a mesma


pronúncia, mas conservam significados distintos. As palavras homónimas são, ao
mesmo tempo, homófonas e homógrafas e resultam do fenómeno da polissemia64.
Muitas vezes têm origem em palavras convergentes (originárias de diferentes termos
que surgem em Português com a mesma forma vocabular.
Ex.: O rio Lóes nasce entre os montes de Fatululik e Fohorém. / Eu rioà gargalhada
sempre que vejo aquele filme.
A forma do verbo rir (do latim < rideo), , escreve-se da mesma maneira que o nome
do curso de água(do latim <rivu),. São duas palavras diferentes que convergem na
mesma forma e por isso se chamam também palavras convergentes.

Alguns pares de palavras homónimas:


 amo (nome: senhor, aio) / eu amo (v. amar)
 canto (nome: aresta, ângulo) / canto (nome: som melodioso) /eu canto (v. cantar)
 livro (nome: folhas escritas, objeto) / eu livro (v. livrar)
 nós (nome: plural de nó = laço) / nós (pronome pessoal 1ª pessoa plural)
 são (nome ou adj.: o que tem saúde) / são (adj.: redução de santo) / Eles são (v.
ser)
 vão (nome: espaço, abertura) / vão (adj.: inútil; que está vazio) / eles vão (v. ir)
 pena (nome: revestimento das asas das aves) / pena (nome: punição, castigo) /
pena (nome: dó)

64
A polissemia é a propriedade semântica que uma palavra tem de poder apresentar dois ou mais
significados (ex.: Fiquei muito sentido contigo / É uma rua de sentido proibido / Não percebo o sentido
da frase.)
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 121

2. Relações semânticas entre palavras

Sendo as palavras unidades com significado próprio, elas podem estabelecer


relações ao nível da significação. Assim, as palavras podem estabelecer relações de
semelhança (palavras sinónimas) ou de oposição (palavras antónimas), mas também
de hierarquia (hiperónimos e hipónimos) e de parte-todo (holónimos e merónimos),
quando o significado de uma palavra integra o significado de uma outra palavra.

2.1. Relações de semelhança (Sinonímia)

Sinonímia é a relação de equivalência semântica entre duas ou mais palavras que


reenviam para o mesmo referente. Os sinónimos são palavras que têm significado
igual ou quase igual.
Em rigor, não existem sinónimos perfeitos (ou totais), uma vez que as palavras
atualizam sempre o seu significado em função do contexto concreto em que ocorrem.
Neste sentido, os sinónimos são sempre parciais, uma vez que reenviam para um
mesmo referente, mas num contexto específico.
Ex.:
(i) satisfeito/ alegre/ contente/ feliz
(ii) casa/ habitação/ moradia
(iii) bonito/ lindo/ belo
(iv) andar/caminhar
(v) alto/ elevado

2.2. Relações de oposição (Antonímia)

Antonímia é a relação de oposição entre o significado de duas palavras que


apresentam, em comum, alguns traços semânticos.
Os antónimos são as palavras que têm significado oposto ao de outras.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 122

De acordo com o tipo de oposição que se estabelece entre as palavras, é possível


distinguir:
Antonímia contraditória – relação de oposição que envolve a exclusão recíproca.
Uma palavra contradiz a outra negando-a por incompatibilidade e sem mediação
possível. A afirmação de uma implica a negação de outra (ex.: presente/ausente;
vivo/morto; solteiro/casado).

Antonímia contrária – relação de oposição entre palavras que, sendo opostas, não
se contradizem. Esta antonímia admite graduação, i. e., conceitos intermédios que não
são incompatíveis (ex.: quente/frio; cheio/vazio; gordo/magro).

Antonímia conversa – relação de oposição entre palavras que funcionam como


pares em frases que invertam a sua estrutura. Esta sinonímia verifica-se sobretudo nos
domínios das relações de parentesco (ex.: pai/filho; tio/sobrinho; avô/neto), dos
intercâmbios sociais (ex.: médico/paciente; patrão/empregado) e das relações
temporais (ex.: antes/depois) e espaciais (ex.: ir/vir; cá/lá).

Os antónimos tanto podem resultar de palavras diferentes como de uma mesma


origem que, por processo de prefixação, ganha sentidos opostos:
a) através de palavras diferentes, que podem ser nomes (i) a (iii), pronomes (iv) e
(v), adjetivos (vi) a (ix), verbos (x) a (xii), etc.
Ex.:
(i) dia/ noite
(ii) calor/ frio
(iii) chegada/ partida
(iv) alguém/ninguém
(v) tudo/nada
(vi) bonito/ feio
(vii) suave/áspero
(viii) frio/ quente
(ix) grande/ pequeno
(x) nascer/ morrer
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 123

(xi) subir/ descer


(xii) ganhar/ perder

b) através dos prefixos in- (com a forma i- quando a palavra a que se associa
começa por m ou n ou com a forma im- quando a palavra a que se associa começa por
p ou b); an- (ou a- quando a palavra a que se associa começa por m ou n); des-; anti-;
contra-.
Ex.:
(i) feliz/infeliz
(ii) útil/inútil
(iii) moral/imoral
(iv) possível/impossível
(v) alfabetismo/analfabetismo
(vi) normal/anormal
(vii) fazer/desfazer
(viii) social/antissocial
(ix) dizer/contradizer

2.3. Relações de hierarquia (Hiperonímia/Hiponímia)

Hiperonímia – Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas palavras,


partindo do sentido genérico (hiperónimo) para o específico (hipónimo), sendo que o
primeiro impõe sempre as suas propriedades ao segundo, criando assim, entre eles,
uma dependência semântica. Um hiperónimo pode substituir, em todos os contextos,
qualquer dos seus hipónimos.
Ex.: O hiperónimo flor impõe as suas propriedades semânticas aos seus hipónimos
(ex.: cravo, rosa, lírio, corneta, arequeira) e pode substituir, em todos os contextos,
qualquer um dos seus hipónimos (ex.: No jardim há rosas / No jardim há flores).
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 124

Hiponímia – Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas palavras,


partindo do sentido específico (hipónimo) para o genérico (hiperónimo), sendo que o
primeiro, para além de conservar as propriedades semânticas impostas pelo segundo,
possui os seus próprios traços diferenciadores. Um hipónimo não pode substituir um
hiperónimo em todos os seus contextos.
Ex.: O significado da palavra gato implica o significado da palavra animal. No
entanto, o significado da palavra gato inclui traços semânticos (ex.: + mamífero; -
aquático) que o distingue da palavra golfinho. Não obstante, qualquer destas duas
palavras tem como hiperónimo animal.

Esta relação pode representar-se com a fórmula “x é uma espécie de y”, sendo
sempre x um hipónimo e y um hiperónimo.

2.4. Relações de parte-todo (Meronímia/Holonímia)

Meronímia – Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas palavras, que


indica a porção, implicando a referência ao todo relativo a essa parte. O merónimo é a
palavra cujo significado designa uma parte do significado total de outra palavra (o
holónimo).

Holonímia – Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas palavras, que


indica o todo sem impor as suas propriedades à porção ou à parte.
Ex.: flor é um holónimo em relação a pétala, caule ou folhas (que são merónimos).

Ex.: bigodes, orelhas ou garras são merónimos de gato (que é o holónimo).

Esta relação pode representar-se com a fórmula “x é uma parte de y”, sendo
sempre x um merónimo e y um holónimo.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 125

2.5. Famílias de palavras

O conceito de família de palavras consiste no conjunto de palavras que partilham


um mesmo radical e, consequentemente, uma mesma base comum de significação. As
palavras que pertencem a uma mesma família podem ser formadas por derivação ou
por composição a partir da palavra simples, que dá o nome à família.
Ex.:
(i) Mar – marinheiro; marítimo, maresia, amarar, almarear, ribamar, quebra-
mar…
(ii) Porta – portagem, portaria, portão, porteiro, portada, portinha, porta-a-
porta…

2.6. Formas de organização lexical

A organização interna do léxico65 de uma língua designa-se como estrutura lexical ao


obedecer a particularidades fonéticas, fonológicas, morfológicas, sintáticas e
semânticas próprias do sistema dessa língua.
A noção de campo, desenvolvida no âmbito da semântica estrutural lexical, diz
respeito à organização do léxico de uma língua, segundo relações de sentido, em áreas
ou subsistemas (campos).

2.6.1. Campo lexical

O campo lexical é o conjunto de palavras que, pelo seu significado ou relações de


sentido, se associam num determinado domínio conceptual, partilhando uma zona de
significação comum e apresentando características distintivas entre si. Um campo
lexical é constituído por palavras da mesma classe gramatical.

65
O léxico é o conjunto ilimitado e aberto de palavras que constituem os recursos lexicais disponíveis
numa língua de uma comunidade ou de um locutor.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 126

Ex.:
(i) Parentesco – avó, tio, sobrinho, mãe, neto, prima…
(ii)Educação – escola, professor, aluno, aula, disciplina, ensino…
(iii) Habitação – casinha, casarão, casebre, apartamento, vivenda, moradia…

2.6.2. Campo semântico

O campo semântico é o conjunto de sentidos que uma palavra pode atualizar em


contextos diferentes ou um conjunto de usos possíveis para uma unidade lexical. O
campo semântico abrange toda a área de significação de uma palavra ou de um grupo
de palavras.
Ex.:
(i) Mãe – mãe de família, mãe solteira, mãe-coragem, mãe-galinha, mãe-pátria,
mãe de criação, terra-mãe…
(ii) Mão – mão-de-obra, segunda mão, mão de ferro, fora de mão, andar de mãoem
mão, dar uma mão a, dar a mão de…

2.6.3. Campo associativo

Considere as seguintes palavras: areia - mar - férias - bandeira - sol - brincar -


conchas - bola - creme - descansar.
Com que área da realidade as relaciona? Provavelmente com praia.
Dizemos, então, que aquelas palavras constituem um campo associativo (neste
caso, o campo associativo de praia).
O campo associativo é, então, o conjunto de palavras que se associam por relações
de semelhança ou contiguidade, tanto de significantes como de significados. As
palavras que constituem o campo associativo podem pertencer a diferentes classes
gramaticais.
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 127

Ex.:
(i) Cinema – guião, película, cenários, ator, filmar, bandasonora, realizador, estrear,
sétima arte…
(ii) Escola – aula, aprender, quadro, ensinar, recreio, professor, aluno, estudar,
teste, livro…

Resumindo…

RELAÇÕES FONÉTICAS E GRÁFICAS ENTRE PALAVRAS


Som Grafia
Significado Obs.:
(pronúncia) (escrita)
Homofonia IGUAL DIFERENTE DIFERENTE
Têm, geralmente, origens
Homografia DIFERENTE IGUAL DIFERENTE etimológicas diferentes, distinguindo-
se, muitas vezes, pelo acento gráfico.
Paronímia PARECIDO PARECIDO DIFERENTE Formas bastante próximas.
Resulta do fenómeno da polissemia.
Homonímia IGUAL IGUAL DIFERENTE Muitas vezes têm origem em palavras
convergentes.

RELAÇÕES SEMÂNTICAS ENTRE PALAVRAS


relação de equivalência semântica entre duas ou mais palavras que
Semelhança reenviam para o mesmo referente. Os sinónimos são palavras que
Sinonímia têm significado igual ou quase igual. A sinonímia pode ser total ou
parcial.
relação de oposição entre o significado de duas palavras que apresentam, em comum,
alguns traços semânticos. Os antónimos são as palavras que têm significado oposto ao
de outras.
Antonímia relação de oposição que envolve a exclusão recíproca. A afirmação de
contraditória uma implica a negação de outra.
Oposição
Antonímia relação de oposição entre palavras que, sendo opostas, não se
Antonímia
contrária contradizem. Admite graduação.
relação de oposição entre palavras que funcionam como pares em
Antonímia frases que invertam a sua estrutura. Verifica-se sobretudo com
conversa relações de parentesco, intercâmbios sociais , relações temporais e
espaciais.
relação de inclusão semântica entre duas palavras em que a palavra
HierarquiaHiperonímia/ de sentido genérico (hiperónimo) impõe as suas propriedades à
Hiponímia palavra de sentido mais específico (hipónimo). Esta relação pode
representar-se com a fórmula “x é uma espécie de y”, sendo sempre x
um hipónimo e y um hiperónimo.
relação de inclusão semântica entre duas palavras, que indica o todo
Parte-todo (holónimo) sem impor as suas propriedades à porção ou à parte
Meronímia/Holonímia (merónimo). Esta relação pode representar-se com a fórmula “x é
uma parte de y”, sendo sempre x um merónimo e y um holónimo.
Formas de organização lexical
BASES DE ANÁLISE GRAMATICAL I 128

conjunto de palavras que se associam num determinado domínio conceptual,


campo lexical com uma zona de significação comum mas características distintivas. É
constituído por palavras da mesma classe gramatical.
conjunto de sentidos que uma palavra pode atualizar em contextos diferentes
campo semântico
ou um conjunto de usos possíveis para uma unidade lexical.
conjunto de palavras que se associam por relações de semelhança ou
campo associativo contiguidade, tanto de significantes como de significados. As palavras que o
constituem podem pertencer a diferentes classes gramaticais.

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