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ALEXANDRE DA SILVA
São Paulo
2019
ALEXANDRE DA SILVA
São Paulo
2019
AGRADECIMENTOS
SILVA, Alexandre da. Estrada do Padre Dória (1832-1842): estudo de geografia histórica
nos caminhos da Serra do Mar. 2019. 116 f. Trabalho de Graduação Individual (TGI) –
Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
O contexto do Brasil como sede do reino português, no início do século XIX, trouxe mudanças
nas dinâmicas espaciais, econômicas e políticas para o país. Nesse sentido o Porto de São
Sebastião (no litoral norte de São Paulo), adquire centralidade, e perspectivas de melhorarias
em infraestrutura para alçar maiores níveis de exportação, em especial pela produção de café
no Vale do Paraíba. Nesse contexto nasce a Estrada Dória, num complexo contexto de Serra do
Mar, que tem afetada suas dinâmicas por impactos da construção da Estrada, tendo em vista a
alta declividade das vertentes, e solos rasos, que tem o movimento de massa favorecido em
eventos de grande pluviosidade, com constância de necessidade de reparos. E é num contexto
geopolítico que a Estrada tem fim, a Revolução Liberal de 1842 é usada como mote para o
fechamento da mesma, e pode ter determinado, o fim de seu construtor, que tem sua morte com
causas e datas desconhecidas, com um último registro documental em dezembro de 1842. A
partir de documentos históricos e trabalho de campo, discutiu-se as possibilidades de traçado,
cujo registros cartográficos não apresentam unanimidade, sendo o mais plausível, a
consideração da estrada num eixo localizado mais a montante do Rio Pardo, e deste para São
Sebastião passando pelas cabeceiras dos Rios Pirassununga, Claro, Maresias e Rio Grande, o
Morro do Outeiro e Rio Anhanguera. No planalto, sentido São José do Paraitinga, a estrada
cortaria os vales dos Rios Claro e Tietê. As Estradas da Petrobrás, da Limeira e dos Mirandas
seriam os viários atuais formados a partir da Estrada Dória. A compreensão desse fenômeno
auxilia sobremaneira para entender a dinâmica da formação espacial de povoados como o de
Sâo José do Paraitinga, fortalecidas por movimentos econômicos da agricultura de exportação
no Século XIX.
Palavras-chave: Estrada do Padre Dória; São José do Paraitinga; Salesópolis; São Sebastião;
Serra do Mar; Transposições Viárias.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO 11
1 O VIGÁRIO – VEREADOR - DEPUTADO PROVINCIAL MANOEL DE FARIA
DÓRIA 18
2 AS DINÂMICAS POLÍTICAS E ECONÔMICAS NO BRASIL COLÔNIA E
IMPÉRIO E AS VIAS DE COMUNICAÇÃO 23
INTRODUÇÃO
projetos culturais em Salesópolis e região, alguns dos quais replicam o legado de pesquisas que
tem como objeto de estudo Salesópolis, visando educação patrimonial.
Entendo que essa pesquisa, e sua divulgação, tem a potência de envolver uma
desconstrução da perspectiva da história e de elementos basilares da cultura hegemônica de
Salesópolis (em especial no tom bandeirantista, e uma perspectiva de um vazio populacional e
necessidade de povoamento, de necessidade de exploração dos recursos do espaço, e de que o
“nascimento” do lugar deu-se em expansão a partir de Mogi das Cruzes, sem grandes relações
com outras localidades do entorno) convergindo para uma interlocução com outros discursos
que assumem a relação com o litoral como primordial para que o espaço Salesópolis fosse ali
produzido. Com assunção da perspectiva da existência de diversos caminhos que visavam o
litoral (em diferentes tempos históricos e sociais) e que por ali passavam, sendo o povoado
estabelecido como ponto de parada (numa visão do papel do econômico na formação do espaço
no século XVIII e XIX). Trata-se também de assumir o uso da Serra do Mar pelas populações
locais, que guardam relações culturais com várias localidades do litoral de São Sebastião, além
de assumir o papel do indígena no entendimento do conhecimento deste sobre o espaço Serra
do Mar e suas contribuições para o conhecimento até hoje existente acerca dos caminhos e usos
da floresta pelas populações que hoje estão no entorno do Parque Estadual da Serra do Mar.
Nesse sentido, com grande importância, tem-se a Serra do Mar, como pano de fundo,
como barreira a ser vencida ou como obra da natureza a ser respeitada, conhecida e reconhecida,
figurando como meu macro-“objeto” de pesquisa que apresento neste Trabalho de Graduação
Individual do Bacharelado em Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo.
Nesse contexto optei por um recorte temporal que contemplasse os antecedentes e a
fase de implantação da Estrada Provincial do Padre Dória, entendendo esta como uma estrada
construída e gerida por investimento da Província de São Paulo, na primeira metade do século
XIX, entre a então Vila de São Sebastião (no litoral norte paulista) e a então Capela Curada de
São José do Paraitinga (atual Salesópolis, e naquele momento povoado pertencente ao território
da Vila de Sant’Ana de Mogi das Cruzes), constituindo este como objeto de investigação do
presente trabalho.
14
Assim, a partir das referências espaciais trazidas pelos citados mapas, plantas e croquis
estabeleceu-se paralelos com os mapas-base da região, sendo eles as Folhas Caraguatatuba,
Maresias, Pico do Papagaio, Salesópolis e São Sebastião, e posteriormente sobrepostos com
apoio do programa Arc Gis.
Se coloca evidente o quanto as dinâmicas espaciais são expressas pelas representações
desta cartografia histórica, que converge num esforço de representação dos fenômenos e
realidades ali trabalhados, permitindo aproximações importantes na compreensão das
dinâmicas percebidas e estudadas no hoje referentes a um período ainda anterior a confecção
dos mesmos. Sustentanto a concepção da representação mapa como meio de comunicação e
como linguagem gráfica, como trazido por Harley, conforme reflexões de Gomes (2004, p. 71)
indicando que as imagens cartográficas são
Para além do tom heroico, várias lacunas se colocam com os parênteses abertos por
Almeida (1959), e que envolve o que é ser padre e o que é ser um político no século XIX, e
quais jogos de interesses foram mediados no enlace dos acontecimentos.
E trata-se de uma Estrada que existiu por 10 anos, Campos (2000) também faz
referência ao fechamento da Estrada, indicando que
[...] após sua morte [do Padre Dória] em 1842, um de seus inimigos políticos, o Padre
Pinto, obstruiu a estrada Dória [...], alegando que São Sebastião poderia ser invadida
pelas tropas de Rafael Tobias de Aguiar, da Revolução Liberal de 1842, que seguiriam
por esta estrada. (CAMPOS, 2000, p.173).
econômicos para a localidade. Como pensar qual o nível dessa força de adversários que
atravessa a morte? Quais os interesses envolvidos nessas escolhas? Considerando que também
existia a Estrada que ligava São Sebastião, via Caraguatatuba, à Paraibuna, havia, portanto,
interesse nessa estrada em detrimento da Estrada Dória? Por quê?
Quanto ao foco da citada Revolução em Paraibuna e sob o comando de Padre
Valério, citado por Hörner (2010), vale menção quanto a contemporainedade deste com Padre
Dória, o alinhamento liberal, além de um alinhamento quanto a questão da busca de melhorias
na infraestrutura de estradas, já que leva seu nome uma Estrada, a “Estrada do Padre Valério”.
Essa, teria partido da Estrada Dória em direção à Paraibuna, cuja referência encontra-se no
Decreto 5.384/32 (SÃO PAULO, 2019) na demarcamação de terras da gleba denominada
Boracéa para o serviço florestal do Estado. Até onde beirava esses alinhamentos dos referidos
Padres? Haverá alguma aproximação que a História não conta?
O citado por Almeida (1959) como opositor político de Padre Dória, o Padre Pinto
teria sido o mandante do fechamento da Estrada frente a possibilidade de uso desta pelos
revolucionários do levante de 1842. Mesmo sendo um nome recorrente no que se refere quanto
a ser este um mandante do fechamento da Estrada, carece dados do referido padre, o que limita
o entendimento do seu papel nesse contexto. A justificativa do fechamento da estrada frente a
Revolução liberal de 1842 se mostra plausível, mas em que termos isso teria acontecido?
Derrubando pontes? Fechando fisicamente os acessos? Por quais causas não teria sido reaberta
após o fim da Revolução?
Inclusive, quanto a data da morte apresentada por Almeida (1959), tão precisa, 21
de abril de 1842, poucos antes de eclodir a Revolução Liberal, alguma coincidência? No entanto,
ressalta-se a incoerência da data de morte, pois há, no Arquivo da Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo (1842a), documento datado de dezembro do mesmo ano, assinado pelo
Padre Dória. Por qual motivo a incoerência das datas?
Com mais perguntas que respostas, pouco se sabe da trajetória da vida dessa
personalidade enquanto Padre e enquanto Vereador em São Sebastião para além do trabalho de
Almeida (1959), e a assinatura do Padre em documentos da Câmara Municipal no período
estudado, mais especificamente a partir de 1834, mesmo Almeida (1959) indicando que o
mesmo teria exercido vários cargos de eleição. O autor cita que o Dória foi vigário de São
Sebastião entre sua ordenação, em 1816, e o ano de 1837, portanto a construção da estrada deu-
se enquanto ele ainda era vigário da referida localidade. Havia será algum interesse da Igreja
Católica com a construção da estrada? Ou um interesse pessoal da referida figura nesse contexto?
21
Quanto a sua vida como Deputado Provincial, a Assembleia Legislativa, por meio
de seu Arquivo Histórico, dispõe de dados que podemos dedicar atenção. Portanto, conforme
dados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (2013a), já em 1834, quando da
primeira eleição da Assembleia Provincial, Padre Dória já figurava de forma mediana entre os
candidatos mais bem votados (sendo o vigésimo colocado com 44 votos, num universo de 37
candidatos de deputados que assumiriam caso a eleição fosse validada), todavia esta eleição foi
anulada.
Na eleição seguinte, no ano de 1835, relativo à primeira legislatura da Assembleia,
que duraria entre 1835 e 1837, o Padre Dória foi eleito com expressivo 397 votos, sendo o
quinto deputado mais votado nesta eleição, num universo de 73 deputados eleitos naquela
legislatura. Nesta legislatura o Deputado Dória fez parte das Comissões de: Comércio, Indústria
e Trabalhos Públicos (no ano de 1835); Comércio, Indústria, Estradas e Obras Públicas (no ano
de 1837) e Estatística (no ano de 1837) (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 2013b). Por aqui percebe-se que mesmo Deputado, Dória possivelmente não
tivesse abandonado suas atividades eclesiásticas em São Sebastião, já que teria sido Vigário por
lá até 1837. Vale o olhar para a questão de que, conforme a Constituição Imperial de 1824
(BRASIL, 2019a), mesmo num contexto de eleições indiretas e restritas a uma parte menor da
população com recorte de renda, gênero e idade, é muito expressivo Dória ser o quinto deputado
em número de votos, o que pode mostrar uma posição mais privilegiada do mesmo no contexto
político da Província.
Na eleição seguinte, para a 2ª Legislatura da Assembleia Provincial (1838-1839), o
Padre Dória foi eleito com 343 votos sendo o sétimo colocado na eleição, num universo de 72
deputados eleitos na ocasião. Nesta legislatura o Deputado fez parte da Comissão Eclesiástica,
no ano de 1838 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013b). Foi
no ano de 1838, em 28 de fevereiro que foi promulgada a Lei Provincial que elevou a então
Capela Curada de São José do Parahytinga à Freguesia (SILVA, 1989; WUO, 1992;
MIRANDA JÚNIOR, 1973; ALMEIDA, 2000), neste sentido, pode-se presumir que,
considerando a força política do Padre, é possível que tenha havido um trabalho deste para esta
elevação, considerando ainda as condições de crescimento que São José do Parahytinga teve na
época, com a construção da Estrada Dória, seis anos antes. Considerando ainda que houve o
reconhecimento do Padre como fundador de São José do Paraitinga, em documento datado de
1866 (SÃO PAULO, 1866). Elementos que só vem a reforçar uma possível posição de prestígio
político na região.
22
Na 3ª Legislatura (1840-1841), o Padre Dória foi eleito com 287 votos, sendo o 26º
deputado mais votado entre os 73 eleitos. Nesta legislatura o Deputado fez parte das seguintes
Comissões: Eclesiástica (1840), Câmaras Municipais (1841), Orçamentos e Contas das
Câmaras Municipais (1841) (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2013b).
Na Legislatura seguinte (a 4ª) o Padre foi eleito com 347 votos, sendo o 27º
deputado mais votado, entre os 72 deputados eleitos na ocasião. Nesta legislatura o Padre
participou da Comissão Eclesiástica, no ano de 1842 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2013b). Mesmo considerando que seu mandato iria até 1843, o
último registro encontrado do Padre refere-se a um documento da Assembleia Provincial,
assinado por ele em 23 de dezembro de 1842, documento este que o Padre informa que não
poderá comparecer nas primeiras sessões por motivo de moléstia (presume-se que se refere ao
ano seguinte), informando que o fará logo que lhe for possível. A forma como se deu a morte
do Padre é objeto bastante controverso, inclusive, no início do ano seguinte, o qual o Padre
ainda era Deputado, sequer foi citada nas Atas das sessões a sua ausência, ou sua substituição,
tampouco o que levou a sua saída, permanecendo como fato desconhecido, mas não sem
especulações, e elemento chave para o entendimento do que levou ao fechamento da Estrada
Dória, em 1842.
No sentido das especulações frente a morte do Padre, há diferentes narrativas,
inclusive de cunho oral, que dão um tom heróico e de mártir ao Padre, indicando sua morte
numa emboscada na própria estrada que levou seu nome. Todavia, não foram encontrados
registros que dessem algum indício disso. Há de se destacar no entanto, que sendo uma figura
política de importância e expressividade e com adversários assumidos (Padre Pinto, por
exemplo), e sendo ele Liberal no contexto da Revolução Liberal, amigo íntimo de Padre Feijó,
como citado por Almeida (1959), figura importante no contexto do Império e da dita Revolução,
não seria surpreendente uma morte em tais moldes.
Ainda no campo da especulação não se pode perder de vista o quanto o porto de
São Sebastião foi expressivo na exportação do café, e é de se presumir a utilização da estrada
Dória para o escoamento desse produto. Por que o interesse dessa classe cafeeira quanto ao
fechamento da estrada?
De modo a tentar dirimir tais questões, serão discutidos no capítulo seguinte as
dinâmicas econômicas e políticas concernentes a esta época, de modo a auxiliar nesse processo
de reflexão que possam elucidar: o uso do espaço - articulado pela existência da estrada e
dinamizados ou minados pelas vontades políticas dominantes - e suas contradições.
23
É possível presumir que a Estrada Dória tenha partido de algo preexistente, antigos
caminhos, remontando outros períodos históricos e motivações sociais, culturais e econômicas
para a circulação de pessoas e, em dado momento, de mercadorias.
Os caminhos, apoiado na visão de Campos (2016), se formam de modo a promover
uma ligação entre um ponto e outro do espaço em um dado território, articulados em uma rede.
Desta forma seja ligado a aspectos da cultura, como nas movimentações dos indígenas no
território, ou ligado a aspectos econômicos voltados à economia exportadora como na
exportação da cana-de-açúcar a café, os caminhos marcaram o espaço do Brasil Colônia e do
Império. Possibilitando assim a organização do espaço, seja a partir das sesmarias, ou do
embrião dos povoados, vilas e cidades, importados da Metrópole, com impactos na organização
espacial da Colônia com expansão do território do colonizador frente o conflito com as
populações autóctones.
Necessária referência se faz aos povos indígenas que ocupavam o Brasil antes da
colonização e que tinham a circulação do território como parte de sua cultura. Especificamente
na Serra do Mar, a movimentação entre as áreas de planalto e litoral aconteciam de forma
periódica, sendo o planalto preferido, como indicado por Petrone e Papy ao serem citados por
Silva (1975, p. 75) “[...] o Planalto teria sido sempre mais importante para os indígenas que
buscavam o litoral apenas algumas épocas do ano”. No que se refere aos caminhos usados pelos
indígenas para seguir para o planalto e Litoral Norte Paulista, Silva (1975, p. 84) indica que os
mesmos “[...] utilizaram também as águas costeiras e os rios mais importantes como, entre
outros, o Juqueriquerê, o Saí, o Una e o Ribeirão Grande de Ubatuba”. É nesse contexto de
circulação que se deu a formação dos peabirus, enquanto ligação entre os oceanos Pacífico e
Atlântico, além da formação de diversos ramais, articulando diversas áreas dos diferentes
territórios indígenas.
O contexto da colonização do Brasil por Portugal a partir das grandes navegações e da
da conquista do território brasileiro, a partir do século XVI, traziam em seu bojo a consecução
na exploração de recursos na Colônia e para tanto houve a subjugação do indígena e a
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apropriação de seu conhecimento sobre o espaço de modo que essa exploração pudesse ganhar
força rumo ao interior da Colônia.
A Serra do Mar, no contexto da formação da capitania de São Vicente e Santo Amaro,
representou uma grande barreira transposta pelo colonizador a partir dos caminhos existentes
na Serra considerado o uso do espaço pelo indígena em suas movimentações sazonais entre
planalto e litoral. No que se refere ao Litoral Norte de São Paulo, Campos (2000) indica, por
exemplo, a ligação de Ubatuba com Taubaté, que seguia os antigos caminhos abertos pelos
Tamoios, e a ligação Caraguatatuba a Paraibuna, seguindo os caminhos dos Tupinambás e
Guerominis. Conforme demonstra Reis (1979), nas imediações de São Sebastião também havia
a presença de Guaianazes, e por extensão presume-se a existência de caminhos de circulação
desse povo. Como marco espacial neste período de ocupação tupi têm-se a praia de Boiçucanga,
local de embates de grupos tupiniquins que se concentravam ao sul e tupinambás que se
concentravam a norte da referida praia (SANTOS, 2011).
A formação de uma política indigenista e de um projeto missionário jesuítico com o
modelo dos aldeamentos, nos séculos XVI e XVII, pode ser considerada como um instrumento
de força no domínio, conflito e subjugação do indígena, inclusive no indígena como mão-de-
obra escrava, visando a consolidação do Império português na Colônia, assim como a
exploração de matérias-primas. Assim circundando a Vila de São Paulo, foram estabelecidos
vários aldeamentos dentre os quais: Pinheiros, São Miguel, Barueri, Embu, Guarulhos,
Itapecerica e Carapicuiba, num segundo plano havia as aldeias de Itaquaquecetuba, Escada e
São José (SPOSITO, 2012), que circundam a área de estudo, sendo os dois primeiros
localizados no Alto Tietê (e então dentro do território da Vila de Sant’Ana de Mogi das Cruzes)
e o terceiro no Vale do Paraíba (também original de antigo território da citada Vila). O que
sugere uma centralização dessa política na Vila de São Paulo, mas com certa amplitude pelo
território considerando ainda que foram estabelecidas aldeias em Queluz, no Vale do Paraíba,
e Peruíbe, no litoral (SPOSITO, 2012).
Vale a menção sobre a Terra Indígena Guarani do Ribeirão Silveira, localizada na
região de Boracéia e Barra do Una na costa sul de São Sebastião e Bertioga, tal comunidade foi
formada a partir dos anos de 1950 originários da Aldeia Bananal em Peruíbe, e nos anos 1980
tal povoação teve o incremento de grupos Guaranis originários de diversas aldeias do país,
dentre as quais as de Barragem e Boi-Mirim em São Paulo, bem como outras do Paraná, Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, conforme documento do Arquivo Nacional (BRASIL, 2019b),
com vários conflitos indicados, em especial no que se refere a loteamentos na região da
Boracéia, e o argumento por grupos contrários indicando uma invasão das terras pelos indígenas.
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Todavia tal comunidade reconhece o espaço como antiga região de perambulação e habitação
de seus ascendentes, considerado o aspecto nômade do povo (BRASIL, 2019c).
Caminho Velho ou Caminho Geral do Sertão, que partia de São Paulo para o Vale do
Paraíba até Minas Gerais; de São Paulo, passando por Atibaia e Bragança, até o sul
de Minas; o terceiro, pelo Vale do Mogi Guaçu e o Caminho Velho do Rio de Janeiro,
este conectando o porto de Parati às Minas.
26
[...] parece ter acusado um certo movimento nesse tempo [século XVII], em razão de
suas boas condições naturais. Entre a Ilha de São Sebastião e a terra firme um
ancoradouro assaz seguro, por maiores que fossem os navios, e bem garantido em
relação à incerteza das correntes. (RESSURREIÇÃO, 2002, p. 45)
27
A autora ratifica ainda que o porto de São Sebastião se tornou uma área de
articulação entre as áreas de mineração e o exterior, em concordância com Silva (1975) que
indica que nos fins do século XVII e início do XVIII, juntamente com o porto de Ubatuba, o
porto de São Sebastião escoava o ouro das Minas mencionando ainda que “[...] os caminhos
percorridos pelo ouro correspondem a velhas trilhas indígenas” (SILVA, 1975, p. 23). E
segundo Almeida (1959, p. 80) por volta de 1727, “[...] era vultuosa a quantidade de ouro
exportado pelos portos de São Sebastião e Ubatuba”, porém esse escoamento, a partir de 1710
foi tido como ilegal. A partir desse fato, como mostra Campos (2000), a exportação de ouro,
chegava até os portos do Litoral Norte por rotas de descaminho do metal precioso. Essas rotas,
fugiam do ‘caminho novo’, aberto por Garcia Rodrigues Pais, em 1710, caminho este que ligava
diretamente as Minas Gerais ao Rio de Janeiro, e que era intensamente fiscalizado, então se
buscava o litoral norte de São Paulo por alguma vereda, antiga trilha indígena, a mais conhecida
era a que passava por Guaratinguetá em direção ao porto de Ubatuba. Essa facilidade no
contrabando, nesse época, era auxiliado, em São Sebastião “[...] em função do seu grau de
isolamento e esquecimento quanto a uma fiscalização mais efetiva sobre as possibilidades de
contrabandos diversos” (CAMPOS, 2000, p. 91).
Segundo Campos (2000) os tropeiros que traziam o ouro das Minas Gerais, tinham,
de maneira geral, como frete de volta, produtos agrícolas e o sal, visando ao abastecimento das
populações das áreas de mineração.
Especificamente quanto ao sal, considerando o grau de importância deste, até por
nomear da “Rota do Sal”, o objeto de estudo da iniciação científica desenvolvida anteriormente
(SILVA, 2007), identifica-se esta como um precursor secundário da origem da Estrada do Padre
Dória, pois não pode-se perder de vista os caminhos indígenas, possivelmente apropriados para
este fim. Destaca-se que o sal já era um item utilizado pelos índios, que realizavam a coleta em
salinas naturais existentes na costa brasileira, porém
Haja vista que o sal era um dos principais produtos de exportação portuguesa, sendo
também essencial para a sustentação dos povos e animais (ALMEIDA, 1959), assim
28
Portugal, [...], salicultor por excelência, fez do Brasil, dos meados do século XVII em
diante, importante fonte de consumo para aqueles que era um de seus principais
produtos, restringindo ao máximo a produção de sal marinho no litoral brasileiro,
sufocando uma possível concorrência com todas as probabilidades de se desenvolver
(ELLIS, 1955, p. 15).
Constituindo, desta forma, o monopólio do sal, que durou até 1801 (ELLIS, 1955).
Considerando que se constituiu monopólio vários outros itens que o Brasil, na condição de
Colônia, não poderia produzir ou adquirir de qualquer outra nação que não Portugal.
Especificamente quanto ao uso das mulas, elas “[...] constituíam um dos principais
meios de transporte de fardos e de pessoas, nos tempos coloniais" (ELLIS, 1955, p. 32). A
maior utilização de muares nasceu com o ouro, e teve fim por volta de 1870 com o advento da
ferrovia (ELLIS, ELLIS JUNIOR, 1950). Já para Campos (2016) foi o século XIX o auge do
transporte realizado pelos muares. Teria sido pelas tropas de mulas o transporte realizado dos
produtos para o Porto de São Sebastião a partir das zonas produtoras.
Na segunda metade do século XVIII, como indicado por Campos (2007) e Marcílio
(2007), a agricultura de exportação, com base na mão de obra africana escravizada, começa a
se estabelecer de modo a melhor integrar São Paulo ao capitalismo colonial. Como resultado,
verifica-se importante incremento nas atividades econômicas da Província. Assim,
1782 e 1799, em números absolutos o salto foi de 3479 habitantes em 1782 para 6383 habitantes
em 1799. A situação de restrição dos portos teve fim com a abertura dos portos promovida a
partir do estabelecimento da família real portuguesa no Brasil em 1808 (RESSURREIÇÃO,
2002; FERNANDEZ, 1992).
Fernandez (1992) sinaliza que com a abertura dos portos em 1808 houve uma
retomada a cultura da cana (tanto para aguardente quanto para açúcar), porém essa não veio
com a mesma força quando comparado ao fim do século XVIII. Em termos de aumento
populacional o reflexo veio com crescimento da ordem de 5,5% ao ano entre 1808 e 1810, com
crescimento bem mais diminuto nos anos seguintes, cerca de 1,5% ao ano entre os anos de 1810
e 1836. Ou seja, mesmo com a construção da Estrada Dória não há expressivo aumento de
população em São Sebastião, o que contribui para a ideia que o maior incremento da exportação
pode ter vindo de uma produção de Serra acima.
No que se refere a Salesópolis, há dificuldade em analisar em termos de população,
tendo em vista na época o povoado ser parte de Mogi das Cruzes. Todavia, há participação na
economia agroexportadora a partir da produção de fumo (tanto folhas secas, como o fumo
preparado - o fumo de corda/tabaco), nas primeiras décadas do século XIX (SILVA, 1989), sem
dados quanto à dimensão dessa produção.
Esse movimento oficial de abertura, fechamento, ou restrições das atividades
portuárias, marcam sobremaneira o investimento da Província nessa infraestrutura, com uma
tendência de centralização no Porto de Santos.
também na instância imperial considerada a transição a partir da hegemonia exercida pelo reino
de Portugal com a Colônia (MORAIS, 2010). Nesse sentido, a política relacionada às vias de
comunicação teriam a potência de entrar na agenda, considerando o avanço das questões
comerciais, a arrecadação de impostos pelas barreiras nas estradas, tendo como atores principais
figuras da política local, clero e grandes fazendeiros, em seus projetos políticos para a provínvia
e para o reino. Padre Dória, por exemplo, fez parte das primeiras legislaturas da Assembleia
Providencial de São Paulo, possivelmente concorrendo para a conformação das demandas
locais, em contraposição a políticas que se centralizariam para o porto de Santos e,
posteriormente, para o modal ferroviário.
Esse processo que imbrica o fortalecimento do poder central e o viés econômico, a
partir da economia exportadora, é perceptível ao longo da história, e na época do Império, a
cultura do café ganhava expressão, sendo este um outro importante produto de exportação que
movimentou os portos do Litoral Norte e, consequentemente, os caminhos até os portos. No
que diz respeito à cultura do café, esta se desenvolve também com base na mão de obra africana
escravizada, Simonsen (1940) identifica 5 fases na história do comércio deste gênero, sendo
elas:
1. Antes de 1727 - implantação do uso pela Europa;
2. 1727 – 1810 - adaptação da cultura no país;
3. 1810 – 1870 - desenvolvimento da produção, com expansão pelo Vale do
Paraíba e Litoral Norte;
4. 1870 – 1897 - expansão da cultura no planalto de São Paulo;
5. A partir de 1897 - acelerada expansão da cultura em São Paulo e
superprodução.
Em São Paulo, “As primeiras culturas se verificaram em Areias, Guaratinguetá,
Pindamonhangaba, Caçapava, Jacareí” (SIMONSEN, 1940, p.179), no Vale do Paraíba. Em
1836, “Os maiores distritos cafeeiros seriam: Areias com produção de 102.197 arrobas;
Pindamonhangaba com 62.628; Jacareí com 54.004; Lorena com 33.649; São Sebastião com
42.848; Vila Bela1 com 10.289 e Ubatuba com 31.000 arrobas” (SIMONSEN, 1940, p.180). A
exportação
[...] se realizava pelos portos de Ubatuba, São Sebastião e Santos, na seguinte ordem:
Ubatuba 229373 ½ arrobas, São Sebastião, 80121 e Santos com 76336 [...]. É que a
esse tempo, a produção de café predominava ainda na chamada zona marítima,
1
Vila Bela da Princesa, atual município de Ilhabela.
31
Na região estudada havia exportadores de café como Mogi das Cruzes, que em 1838
tinha 38 fazendas de café e que, em 1852, exportava 150 mil arrobas de café (GRÍNBERG,
1961), além de cidades como Jacareí, que - para além do café-, se dedicava para o mercado
interno com a produção de milho, arroz, feijão (KLEIN, LUNA, 2005).
Em São Sebastião há o movimento de ocupação de antigas fazendas canavieiras
pelo café. Em 1830, a exportação chega 86.000 arrobas de café, em 106 fazendas (SÃO
SEBASTIÃO, 2002). A partir de 1830, o café estava em destaque ao lado do açúcar e da
agricultura de subsistência na economia do município.
Conforme colocado por Martins (2014, p. 73) no tocante ao desenvolvimento da
cultura do café:
[...] desde a década de 1830, o produto saltara para o primeiro lugar na balança
comercial em lugar da cana e conferira do Brasil outra imagem no quadro econômico
mundial. Era o país da coffea arabica, do ouro negro, do ‘elixir dos trópicos’. De
imediato, porém, outra imagem inevitável se acoplou ao território, de caráter perverso,
derivada da ordem escravocrata que o regia. Afinal, tratava-se de uma terra de
escravos, tocada por cativos e que se tornaria um dos últimos redutos escravagistas do
mundo. O trabalho escravo se fazia presente diuturnamente, fosse no eito, nas oficinas,
no interior doméstico, no comércio, por toda a parte. Certo que, no remanso bucólico
deste ‘Império do Café’, transformações de vulto ocorreram no aparato técnico do
País, onde algumas capitais até conheceram sofisticação e modernidade. Mas a
imensidão rural e a mão de obra escrava prevaleciam onipresentes, vincando-lhe o
perfil.
Como mostrado por Carrilho (2014) uma das áreas pioneiras no café originou-se na
região do entorno do chamado “Caminho Novo da Piedade”, aberta no século XVIII, ligando
as províncias de São Paulo e Rio de Janeiro, em que a partir de Lorena, passava por Silveiras,
Areias, São José do Barreiro e Bananal, além de Rio Claro, São João Marcos e Itaguaí, já no
Estado do Rio de Janeiro.
O aumento no comércio demandava uma infraestrutura melhor, exigia o
melhoramento das estradas, sendo o café foi o principal responsável pela abertura e
melhoramento de estradas ligando o litoral norte à Serra acima, e as estradas, por sua vez, foram
a causa principal do ressurgimento econômico de São Sebastião (ALMEIDA, 1959; SILVA,
1975).
Do Rio de Janeiro é que este porto exige as fazendas seccas, molhados, e ferragens, e
mais mercadorias extrangeiras para o seu consumo, e das povoaçoens, que tem
relaçoens com a dicta Villa, e seu districto. De Santos lhe enviam o assucar, arroz, e
outros comestíveis. De Angra dos Reis a cal.
O que demonstra que as comunicações via porto não se dava diretamente para o
exterior, mas sim pelos portos mais próximos, com gêneros alimentícios e produtos do exterior,
tanto nas importações quanto nas exportações conforme indicado por Müller (1923).
Fernandez (1992) indica que, com a cultura do café, não há expressivo aumento
populacional em São Sebastião, como há em Ubatuba, sendo que a produção do mesmo em São
Sebastião varia cerca de 3 a 6 vezes menos quando comparado a de Ubatuba entre 1820 e 1836.
Fica claro que essa produção se refere a das fazendas das respectivas Vilas sem fazer referência
a que foi escoada pelos portos.
Tabela 2: Produção de Café (em arrobas), com base nas listas nominativas (AESP)
Ano São Sebastião Ubatuba Vila Bela da Princesa
1798 8 94,9 16,5
1801 30 261,1 5
1803 48 447,1 11
1805 40 682,5 10
1808 24 567,2 90
1810 80 511 29
1812 - 717 -
34
Pela tabela fica evidente a maior produção de café pelas fazendas de Ubatuba,
quando comparada às outras da mesma região, sendo que em nenhum dos anos do estudo de
Fernandez (1992) houve maior produção em alguma das outras Vilas.
Gráfico 1: Produção de Café (em arrobas) no Litoral Norte, com base nas listas nominativas (AESP)
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1798
1799
1800
1801
1802
1803
1804
1805
1806
1807
1808
1809
1810
1811
1812
1813
1814
1815
1816
1817
1818
1819
1820
1821
1822
1823
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1831
1832
1833
1834
1835
1836
Pelo gráfico fica evidente que em todas as Vilas do Litoral Norte o crescimento da
produção do café deu-se a partir da década de 1820, ganhando maior expressão a partir de 1830.
Conforme dados de Reis (2011) a produção de São Sebastião chega a 86.000 arrobas de café
em 1854, e cai para 600 arrobas em 1886, já em Ilhabela a produção chega a 112.500 arrobas
de café em 1854 e cai para 4.000 arrobas em 1886 e para 3.020 em 1920, em Ubatuba mesma
tendência, 99.500 arrobas em 1854 produção que cai para 5.000 em 1886 e 153 em 1920, claro
impacto da construção das ferrovias. Em Lorena, exemplicação que a autora traz, a produção
em 1836 foi de 33.649 arrobas de café (menor que em São Sebastião no mesmo ano), em 1854
chega a 125.000 que também cai para 50.000 em 1886 que se mantém de certa forma uniforme
com a produção em 45.293 arrobas de café em 1920. Como indicado pela mesma autora todo o
litoral norte caiu no ostraciscmo a partir da construção das ferrovias ocasionando uma
centralidade do escoamento da produção de café para Santos, numa nova hierarquia portuária,
associada ao deslocamento da produção de café para a região de Campinas.
Desta forma fica evidente a correlação entre o desenvolvimento das atividades
econômicas ligada à agricultura de exportação, em momentos que se seguiram à exploração do
ouro nas Minas Gerais, especialmente com a agricultura de exportação do açúcar e café,
concorrendo para o aprimoramento dos caminhos e estradas, visando rapidez para o escoamento
dessas produções.
justificava, portanto a consideração deste como Freguesia, este mesmo dado é encontrado na
obra de Müller (1923).
Para Miranda Júnior (1973) a fundação de Salesópolis, passa a ser então o dia 28
de fevereiro de 1838, considerando a doação de terras por parte de membros da comunidade já
instalada para a servidão pública. Para além disso o citado autor enfatiza a existência de
Salesópolis como uma certa expansão da sede da Vila, não considerando as relações com o
Litoral já estabelecidas, como defendido neste trabalho. Wuo (1992) e Silva (1989), sendo que
esta última debateu com os trabalhos de Miranda Júnior (1973) e Wuo (1992), defendem uma
compreensão da formação do espaço considerando sobremaneira a relação com o Litoral e com
o Vale do Paraiba (por Jacareí), o qual guarda coerência quando se analisa a dinâmica regional
da época. Todavia é a versão de Miranda Júnior (1973) que ganha oficialidade, expressando o
discurso hegemônico, portanto, mas colocado em disputa por seus contemporâneos. Não há
consenso quanto à questão da fundação de Salesópolis, em Silva (1989) há a argumentação
quanto a consideração da fundação quando da constituição de São José do Paratinga em Vila,
que deu-se em 24 de março de 1857, pela Lei Provincial nº 9.
Entretanto, a controvérsia se faz presente, em documento da Câmara da então Vila
de São José do Paraitinga, datado de 1866, documento que tratava da descrição da Vila, em que
tem-se a seguinte colocação:
[A Villa] Fica situada em um habertão que fica aquem da serra do Una quatro legoas
sobre a chapada de um monte, está toda circundada de montes todos proprios para
agricultura, sendo seu fundador o patriota paulista Vigario de São Sebastião finado
Manoel de Faria Doria, sendo a primeira pedra triangular do alicerse da Igreja Matriz
assentada em 9 de Março de 1839.” [...] (SÃO PAULO, 1866).
É relevante que em dado tempo, e por dado grupo de pessoas que representavam a
comunidade, o próprio Padre Dória tenha sido considerado como fundador de Salesópolis.
Longe de ser uma discussão que se encerra aqui, múltiplos discursos colocados em disputa não
deixa de trazer à reflexão possíveis questões de apagamento da história. Menciona-se isso pois,
de fato, nenhum dos autores citados, sendo eles Miranda Júnior (1973), Silva (1989) e Wuo
(1992) citaram o Padre Dória em nenhum momento, fato no mínimo estranho, considerado que
um século antes a própria Câmara da Vila o indicava como fundador de Salesópolis.
Outra menção importante a partir do documento é quanto ao ponto de vista
geográfico de quem o redigiu, pois em termos de localização, ao mencionar o ponto em que
fica situado a Vila, faz-se referência à distância a partir da Serra do Una, que se supõe ser a
Serra do Mar na região do Rio Una, o que corrobora a perspectiva de maiores relações da então
37
Vila de São José do Paraitinga com a Serra do Mar e Litoral Norte. Não se faz qualquer
referência ligada a Mogi das Cruzes, que poderia ser uma tendência considerando que foi de
Mogi das Cruzes, que a dita Vila emancipou-se na década anterior, ou mesmo alguma referência
à capital da Província.
38
Santos (2004) traz em sua obra uma análise das características da Serra do Mar
quanto a geologia, geomorfologia, clima, vegetação, solos e movimentos de massa. Assim
como quanto aos avanços dos conhecimentos da engenharia frente às características da Serra.
O autor traça um panorama das transposições viárias historicamente construídas entre o
município de São Paulo e o porto de Santos, desde a trilha dos tupiniquins nas movimentações
destes entre o planalto e o litoral, passando por caminhos construídos no início da colonização
portuguesa no Brasil até as Rodovias construídas no século XX.
A histórica dificuldade na transposição da Serra do Mar pelos povos colonizadores
e pelos produtos de seu comércio advém das características e dinâmicas específicas da Serra do
Mar. Como mostra Santos (2004), muitas das tecnologias aplicadas sobre o espaço da Serra do
Mar no sentido da realização de uma transposição viária, não levavam em consideração as
especificidades das dinâmicas da Serra, visavam vencer a alta declividade e o desnível de
altitude com a transposição dos conhecimentos da experiência européia com mestres de obras
portugueses (no caso do Novo Caminho de Cubatão), do Real Corpo de Engenheiros de
Portugal (no caso da Calçada de Lorena), e de uma transição para uma experiência luso
brasileira com o Gabinete Topográfico da Província, no caso da Estrada da Maioridade.
Santos (2004) realiza seu estudo no que se refere às transposições viárias que
visavam o porto de Santos, sendo indicado aqui as características destacadas por ele quanto ao
período estudado, a fim de possibilitar viés de comparação com a Estrada Dória:
39
Quadro 2: Características Técnicas das Transposições viárias entre a Baixada Santista e o Planalto até o século XIX
Largura Conceito Grau de Principal
Rampa Período Aportes Principal
Via Trajeto Tipo média (m) tecnológico interferência meio de
Máxima áureo tecnológicos Objetivo
Plataforma básico nas encostas transporte
Trilha dos Vertente Picada Muito 0,60 Chão batido Nenhum Até A pé Empirismo Acesso ao
Tupiniquins Esquerda do variável 1500 indígena litoral
Vale do Rio
Mogi
Caminho do Vertente Direita Picada Muito 1,00 Chão batido Muito baixo 1560- A pé Empirismo Evitar contato
Padre José do Vale do Rio variável 1770 indígena com os tamoios
Perequê
Novo Picadão 20% 2,00 Pequenos Médio 1770- A pé e Experiência Abastecimento
Caminho de Vertente Direita cortes, 1790 mula europeia. das expedições
Cubatão do Vale do Rio arrimos e Mestres de para o sertão
das Pedras estivas obras
portugueses
Calçada de Espigão – Estrada 20% - 3,00 Pequenos Baixo 1790- Tropa de Real Corpo de Escoamento do
Lorena Pedras/Perequê calçada 25% cortes e 1841 mulas Engenheiros de açúcar
arrimos Portugal
Estrada da Vales – Estrada 10% 4,50 Cortes Alto 1841- Carroção Experiência Escoamento do
Maioridade Pedras/Perequê encascalhada encaixados 1867 luso-brasileira: açúcar e do café
na encosta Gabineite
Topográfico da
Província.
Daniel Müller,
José Vergueiro
Fonte: Santos (2004, p. 56-57)
40
[...] muito estreito, sem nenhum afrontamento às encostas, sem sequer a derrubada de
uma árvores que pudesse vir a facilitar seus movimentos. Desviando de obstáculos,
dando preferência às cristas dos espigões e às linhas definidas pelas rupturas negativas
de declive existentes no contato das encostas como o início dos coluviões de meia
encosta, essas trilhas eram suficientes para a locomoção típica do índio nessas regiões,
qual seja, uma locomoção leve, rápida e que revelava uma total intimidade do índio
com a natureza.
Enfim, pode-se dizer que conhecendo empiricamente o comportamento dos terrenos
das encostas da Serra, para o estabelecimento de suas trilhas os índios se preocupavam
mais com trajetos que lhes proporcionassem maior confiança (cristas de espigões e
rupturas negativas de declive) do que com as condições técnicas da ‘pista’ (boa largura,
rampas suaves, etc.) Refletindo a praticamente nula intervenção nas encostas, não há
informação relatada de algum problema geotécnico que tenha causado dano maior à
Trilha dos Tupiniquins. (SANTOS, 2004, p. 60)
A análise quanto ao Caminho do Padre José, que passava pelo vale do Rio Perequê,
construído sob empirismo indígena, com chão batido, que seria muito próximo às características
técnicas da trilha dos tupiniquins. Mas com seu intenso uso pelo aumento do tráfego teve que
41
ser recuperado várias vezes, havendo progressivo aumento do nível de intervenção da encosta,
com pequenos cortes, aterros e estivas.
Quanto ao novo Caminho de Cubatão, (período áureo 1770-1790) este já foi
construído com mestres de obras portugueses pelo Vale dos Rio das Pedras (vertente esquerda).
Para tanto, já foram realizadas intervenções na encosta como pequenos cortes, arrimos e estivas,
de modo que comportasse movimentações a pé e de mula. O autor relata que foi desastrosa a
construção sendo necessário inúmeros reparos e indica uma característica essencial desse tipo
de transposição viária, uma vez que tem por intento “vencer a serra”. Considerado as
características do uso, é o que mais deve se parecer tecnicamente com a Estrada do Padre Dória.
A Calçada de Lorena (período áureo 1790-1841) (que foi contemporânea a Estrada
do Padre Dória), foi construído com aporte do Real Corpo de Engenheiros de Portugal, de modo
a permitir o trânsito de tropas de mulas, foi uma estrada que havia calçamento, assentada no
espigão entres os rios das Pedras e Perequê, sendo que os espigões constituem as áreas de maior
estabilidade geotécnica quando comparado a outras morfologias da Serra do Mar. De modo a
ter uma mínima redução da declividade o traçado foi feito em ziguezague com poucos cortes e
arrimos.
No caso do Litoral Norte Paulista, a primeira estrada ligando litoral norte à Serra
acima, foi a que ligava Ubatuba, via São Luiz do Paraitinga, a Taubaté, estrada que passou a
ser bastante utilizada, principalmente, para o escoamento da produção do café. A segunda foi a
que ligava, São Sebastião, via Caraguatatuba, a Paraibuna (a estrada do açúcar) aberta em
função de escoar a produção de açúcar e café, estrada concluída em 1805.
Nessa ocasião, o governador Antônio José de Franca e Horta remete ofício ao
capitão-mór da vila de Jacareí, em 20-06-1803:
[...] ordena a Câmara dessa Vª por serem os moradores della a qm. mais
immediatamente interessa o novo caminho q. abrio o Coronel Luís Antonio Neves de
Carvalho da Parahibuna para beira-mar, que de comum acordo com Vmce. o mande
decortinar de ambos os lados, e compor de maneira que as tropas que por elle
tranzitarem, não encontem algum embaraço, ou precipicio na sua marcha [...] e a
Câmara da villa de São Sebastião tem de fazer outro tanto no Distrito que lhe pertence
[...] (AESP, 1937 apud RESSURREIÇÃO, 2002, p. 95),
A estrada Dória foi a terceira em importância do Litoral Norte. Aberta em 1832, ligava
o Município de São Sebastião ao Município de São José do Paraitinga atual
Salesópolis. Os trabalhos de abertura estiveram sob a responsabilidade do Padre
42
Manuel de Faria Dória. O objetivo era intensificar o comercio entre o porto de São
Sebastião, o Vale do Paraíba e parte do Alto Tietê (CAMPOS, 2000, p.172).
Almeida (1959) faz referência à Estrada do Padre Dória ao falar das vias de
comunicação no seguinte trecho:
Nos tempos coloniais existiam estradas mais ou menos boas, ligando a vila a outras
localidades. Mais tarde, já com o govêrno provincial, contavam-se novas vias
terrestres, como a que ligava São Sebastião a São José do Paraitinga, construção essa
autorizada pela lei n. 4, de 23 de fevereiro de 1841; a estrada Dória, aberta em 1832,
pelo padre Manuel de Faria Dória e trancada em 1842 por ordem do govêrno.
As obras desta estrada foram recomeçadas novamente em 1887. (ALMEIDA, 1959,
p. 13-14)
O café demandou ao litoral não apenas a utilização das potencialidades de seus portos,
especialmente São Sebastião e Ubatuba, mas também a abertura de caminhos no
planalto e com isso a instauração de uma incipiente rede de caminhos para a conexão
das áreas de escoamento da produção e a sua hinterlândia, representada pelo Vale do
Paraíba. É assim, pois que surgem o caminho do Padre Dória ligando São Sebastião à
Salesópolis e a estrada que ligava Ubatuba a São Luiz do Paraitinga. Nesse momento,
os dois portos do litoral norte possuíam mais expressividade econômica do que o porto
de Santos de maneira que, com relação ao café, suas exportações representavam o
dobro das santistas [...] (REIS, 2011, p. 148)
[...] não me demorarei em fazervos ver as vantagens, que devem resultar da abertura
desta Estrada, não só para esta Villa, e Bella da Princeza, como para a Capella Curada
de São José, Villa de Mogim, Villa de S. Izabel, e para grande árte dos moradores da
parte do (?)ssudueste da Villa de Jacarehi, e de muitas outras Freguesias, e populações,
cuja posição se faz alem esta Estrada para exportação de seus generos, e muito
principalmente pelo augmento da populaçao que infalivelmente se á de extender pelo
longo sertão todo capaz de culturar (SÃO PAULO, 1832b, p. 2)
[...] as estradas que passam por esta vila: a estrada geral, que comunica a capital da
Província com a Côrte do Rio de Janeiro; a estrada que vai ter à Vila de Santa Isabel;
a que passa pela freguesia de São José do Paraitinga, vai à Vila de Paraibuna e até São
Sebastião, e finalmente a estrada nova que vai desta vila ao alto da serra de Santos.
44
Ainda sobre a Estrada, uma vez fechada ela sofre uma subutilização em detrimento
de outras estradas, que recebiam investimentos públicos. Tal situação de subutilização é
potencializada com a construção das estradas de ferro, Santos – Jundiaí e Rio de Janeiro – São
Paulo, 1867 e 1877, com foco dos investimentos para outro modal de transportes, estabelecendo
o eixo econômico e de produção para as localidades no entorno das estradas de ferro. O Litoral
Norte e as outras cidades que ficaram a margem do processo sofreram estagnação econômica.
Em 1883, são retomadas as discussões em nível de Projeto para a recuperação da
Estrada pela Assembleia Legislativa Provincial conforme Projeto nº 59:
Supõe-se que a Estrada Dória possa ter sido usada nesse movimento de tráfico de
escravizados, por ser a ligação com o planalto com possibilidades de ligação com as praias
mencionadas. Além disso, há relatos desse movimento em documentos históricos dos arquivos
históricos que podem subsidiar esse argumento, todavia considerado os objetivos deste trabalho,
não é possível realizar tal levantamento e análise à altura que o tema deve ser abordado, por
representar delicado momento histórico.
Próxima menção encontrada da Estrada vem somente na década de 1950, no
contexto da criação da Petrobrás em 1953, e a construção do terminal Marítimo Almirante
Barroso em São Sebastião, a partir de 1957, tendo por finalidade a carga e o armazenamento de
petróleo bruto de origem nacional ou estrangeira (RESSURREIÇÃO, 2002).
Em 1961, a Petrobrás foi autorizada a operar no Canal de São Sebastião, e o
terminal foi concluído em 1968.
Cabe menção que para além da oficialidade da Estrada, a Serra do Mar tinha uso
ligado as populações locais, tanto do litoral quanto do planalto, assim como com intercâmbio
destes, realizado, muitas vezes, por meio dos caminhos e estradas presentes na Serra.
Santos (2004) inclui a Serra do Mar na Província Costeira com áreas de drenagens
para o Oceano Atlântico, divide a Província Costeira em Serrania Costeira, Morraria Costeira
e Baixadas Litorâneas, sendo a Serra, portanto, uma escarpa montanhosa de transição entre a
borda do Planalto Atlântico e as baixadas litorâneas. Quanto a forma da escarpa ele indica que
ora ela se apresenta abrupta, ora festonada, ora em espigões lineares digitados. Olga Cruz (1990)
indica a composição da Serra do Mar por enorne quantidade de vertentes alongadas, em sua
maioria escarpadas, com grande amplitude topográfica, criado pelo entalhamento da drenagem
fluvial, tendo sido talhadas em terrenos proterozóicos e arqueanos do Complexo Costeiro.
Muehe (2001), quanto à compartimentação do litoral brasileiro, traz quanto ao
litoral da Região Sudeste (que se estende do sul do Espírito Santo ao Cabo Santa Marta-SC),
também chamando-o de Litoral das Escarpas Cristalinas. O Litoral de São Sebastião, nesta
classificação, faz parte do Macrocompartimento Litoral das Escarpas Cristalinas Norte que se
estende da Ilha de Marambaia (RJ) a São Vicente (SP), esse macrocompartimento
Fulfaro e Coimbra ao serem citados por Muehe (2001, p. 321), situam o litoral de
São Sebastião numa sub-área desse macrocompartimento
[...] caracterizada por pequenas praias de enseada, do tipo pocket beach, com
comprimentos entre 2 a 4 km, separadas por pontões do embasamento cristalino. A
maior extensão de praia contínua encontra-se na enseada de Caraguatatuba, com mais
de 10 km de extensão, tendo à retaguarda a única planície costeria de expressão. Ao
sul da ponta de Boracéia as planícies costeiras se tornam mais contínuas, com
tendência à retilinização da linha de costa, tendência esta apenas interrompida pela
ilha de Santo Amaro, representando o trecho de transição para a área sul, esta
pertencente ao macrocompartimento adjacente.
Quanto ao clima, Santos (2004) indica o clima tropical quente e úmido, com
grandes índices pluviométricos nas cotas mais altas da Serra do Mar, cerca de 4.000mm/ano, e
mais baixas no sopé da escarpa (cerca de 2.500mm/ano), com maior concentração das chuvas
nos meses do verão e os menores índices pluviométricos no inverno. Indica o condicionamento
orográfico como um dos principais fatores da alta pluviosidade regional, ressaltando que pode
haver situações excepcionais de pluviosidade quando combinados fatores orográficos e
passagem de frentes frias polares. O que pode provocar intenso escoamento superficial,
aumentando as descargas fluviais, movimentos de massa e escorregamentos, conforme
apontamentos de Muehe (2001).
Quanto a vegetação, Santos (2004) destaca a formação da floresta tropical úmida,
denominada Floresta Ombrófila Densa ou Floresta Atlântica de Encosta que ocorre sobre relevo
montanhoso entre 50 e 1.500m de altitude, Floresta baixo-montana, abaixo de 50m de altitude
e Floresta montana acima de 1.500m de altitude. Mas descreve as características da Floresta de
Encosta, destacando sua alta diversidade florística, alto endemismo de espécies, árvores
maiores com até 25 a 30m de altura, corpo florestal denso com copas contíguas, ambiente
interno sombreado, abafado e úmido, espessa serapilheira, riqueza de samambaias, lianas e
epífitas (bromélias e orquídeas, por exemplo) no interior florestal, enraizamento superficial e
subsuperficial interno e denso. Cabe ressaltar que é a manutenção da vegetação que mantém a
estabilidade das encostas, frente aos tipos de solos desenvolvidos nesse contexto. Assim o grau
de impacto dos caminhos e estradas dialogam sobremaneira com a retirada da vegetação que
mantem estável esse sistema.
Quanto aos solos, Santos (2004) destaca que pelo relevo dissecado os solos são
pouco desenvolvidos, ao contrário da região do planalto e colinas onde esse pacote de solos são
bem mais desenvolvidos (chegando a dezenas de metros). Na região da encosta é na crista
(expressão convexa do relevo) que se encontram as maiores espessuras, assim como nas saias
das encostas já próxima ao talvergue (expressão côncava do relevo). No trecho de vertente,
retilínio, estão as menores espessuras. Assim, são nas vertentes as áreas de maior fragilidade,
pela pouca espessura dos solos, e menor estabilização em casos de grandes volumes de água de
chuva e/ou retirada da vegetação.
De maneira geral predominam os cambissolos, com horizonte B delgado e pouco
evoluído pedologicamente, de textura argilosa e areno-argiolosa (SANTOS, 2004). Quanto a
este tipo de solo, como indicado por Guerra e Botelho (2001), há uma distribuição por diversos
ambientes no Brasil, inclusive ao longo da Serra do Mar, sendo característico o horizonte B
incipiente (Bi), com a presença de minerais primários de fácil intemperização, fraca cerosidade,
52
Dentre os tipos de movimentos de massa, Santos (2004) ressalta que são as chuvas
torrenciais, o agente potencializador de deflagador dos movimentos, entendendo que faz parte
da dinâmica da Serra do Mar os movimentos de massa, as eventuais intervenções não devem
portencializar a possibilidade de movimento, portanto valeria evitar os cortes no terreno,
escavações, desmatamento, alterações na drenagem e etc. Todavia os caminhos e estradas na
Serra do Mar tem por característica a intervenção nas encostas seja por pequenos ou grandes
cortes, arrimos e estivas, além da exposição do solo e remoção da vegetação, ocasionando
movimentos de massa como os indicados no quadro, e até hoje noticiados nas diferentes
Estradas da Serra do Mar, que em sua maioria mantém a característica de alta intervenção na
estrutura da vertente.
Quanto à rede hidrográfica, conforme indicações de Rossi, ao ser citado por
Oliveira (2003), na escarpa ela é caracterizada com padrão dentritico aberto, com rios
orientados no sentido NE-SW e NW-SE, com menor densidade de drenagem e rios mais longos,
com ângulos de junção agudos, localmente retos, devido as falhas e fraturas. Um exemplo da
área estudada que está nesse padrão descrito é o Rio Pardo que corre sobre a falha Camburu,
54
havendo um profundo entalhamento pelo rio ocasionando vales profundos (CAMPANHA, ENS,
PONÇANO, 1994; ALMEIDA, CARNEIRO, 1998). Em declives mais acentuados, como
pontuado por Oliveira (2003), alguns rios cortam transversalmente as direções estruturais. Uma
vez que os caminhos tendem a seguir os cursos dos rios, fica um indicativo de possibilidade de
orientação dos traçados destes na Serra do Mar.
A Estrada Dória, não fugiu da característica de realizar intervenções na dinâmica
da Serra, como vê-se em documento do Aquivo do Estado, a descrição das características da
estrada seriam da seguinte forma:
[A estrada] Deverá ser construida de doze palmas de largura, em toda sua extençao,
com cavas, e soltas nos morros, e lugares precisos, de tal maneira, que por ventura
possão tranzitar carros: com dessubada(?) para os lados, que fique bem exposta ao sol,
com esgotadouros, onde o terreno pedir, e me todas as voltas nos morros estes
esgoutadouros serão de quatro palmas de largura, e onde for possivel, amparado de
pedras, ou de madeira estagueada: Nas cavas contra os morros deverá fazer-se um
(?)ego proporcionado para esgoto das agoas. Em alguns lugares humidos, fazer-se-ha
valla por ambos os lados dando sahida as agoas. Far-se-hão pontes de estiva e aterro
nas vias, e grotas, cujos barroncas forem altas. (SÃO PAULO, 1832b, p. 1)
Ao que parece, no entanto, tais intervenções não seriam de grande escala, havendo
a construção de esgotadouros e valas, que serve ao escoamento da água, assim como as pontes
de estiva. Os citados aterros nas vias e grotas, aparentam maior intervenção na tentativa de
estabilizar os locais mais úmidos da serra, não há menções quanto ao material de origem para
os aterros, tampouco se houve cortes na vertente, todavia, vale considerar que nos vales mais
fechados seria inevitável uma intervenção na vertente visando deixar o terreno mais plano para
o trânsito dos muares. Considerando as sucessivas solicitações financeiras à Província, era
evidente a constante demanda para melhoramentos e reparos, a título de exemplo, em outubro
de 1842, Padre Dória apresenta orçamento à Assembleia Provincial indicando como
justificativa “[...] concertar três lugares arruinados pelas aguas do verão passado, e construir a
metade da ponte do rio Pardo, cortado pelas aguas em Dezembro de 1839, assim como
proceder-se a factura de três atalhos no morro d’esta Villa para a tornar sem ziguezagues e
menos elevada [...]” (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1842b).
Assim ficam evidentes os problemas da estrada devido ao regime de chuvas e o relevo do
terreno, e também por este motivo, fazer-se atalhos poderia minizar a alta declividade do terreno
a partir da sede da Vila de São Sebastião, trecho de alta declividade da Serra. No documento
ainda há menção a uma ramificação construída para a Vila de Santo Antonio de Parahybuna e
que necessita também de melhoramentos até a fazenda de Dona Maria Custódia de Alvarenga,
55
assim como a referida ponte sobre o Rio Pardo, e roçar 6 léguas de estrada por estarem com
mato crescido.
É de se fazer pensar também quais condições teria esta estrada sem os devidos
consertos ao longo do tempo após seu fechamento. É de se supor que o transporte realizado
pelos muares, ao longo do tempo tenha sido impossibilitado. Todavia, as possibilidades de uso
dos caminhos a pé, assim como o uso pelas populações locais certamente continuavam a
acontecer, da mesma forma que pelos outros caminhos da Serra do Mar.
O autor indica ainda que o divisor de águas entre os rios Tietê e Paraitinga é mais
suavizado, a drenagem se espaça e domina na paisagem colinas arrendondadas e mais amplas,
com desníveis locais não superando 50m.
Alves (1975) indica a presença do Granito Cruz do Alto, um batólito alongado
continuo com 25km de extensão e largura variável entre 10km a leste e a 4 a 5km a oeste. O
referido aflora na presença de diversos matacões arredondados, que são marcantes na paisagem,
havendo forte quebra topográfica nos seus contatos. Certamente foi um contato importante a
ser vencido na construção da Estrada Dória.
A rede hidrográfica nesta região tem padrão treliça para dentrítico, devido o intenso
fraturamento e natureza bandada da rocha, com orientação na direção NE-SW e em menor
escala N-S, com rios em ângulos agudos e retos pelo controle geológico/estrutural, sendo
influenciada pelas direções estruturais (OLIVEIRA, 2003). Nesta região a tendência da estrada,
no entanto, é de cruzar os vales de modo a alcançar o centro de Salesópolis, atravessando os
interflúvios, ora pelos topos dos morros, ora pelas vertentes acompanhando as curvas de nível,
nesses locais possivelmente haveria alguma intervenção na vertente, o que poderia também
trazer impactos.
Tirico (1960) indica a existência de um certo grau de movimentação de relevo, em
nível de intervenção antrópica, ligados a erosão pluvial a alta precipitação, considerando os
solos descobertos de vegetação, no caso a Mata Atlântica. O autor chega a comentar sobre as
características viárias da região de Salesópolis, indicando que as estradas são, normalmente,
cortadas em vertentes íngremes. Possivelmente um resquício do uso desta tecnologia
construtiva de estradas a fim de vencer a alta declividade da serra e também dos morros do
planalto e possibilitar vias com maior largura.
57
Quanto a Estrada Dória, tendo esta sido criada em 1832, ela figura como expressão
espacial da necessidade de melhoria da infraestrutura viária existente que ligasse as áreas
produtoras, em especial o Vale do Paraíba, ao porto de escoamento dessa produção no primeiro
quartel do século XIX.
Em documento da época escrito pelo Padre Dória há a descrição do caminho
seguido por ele, numa das expedições de abertura da Estrada Dória:
A citação do Rio Claro como possibilidade de traçado para Mogi das Cruzes é uma
alternativa indicada no documento, que seria coerente com a possível maior centralidade de
Mogi e possivelmente sendo um caminho mais próximo à capital paulista, com uma maior
facilidade de traçado ao seguir pelo Vale do citado rio. Conclui o documento enfatizando a
importância da estrada para São Sebastião e as facilidades desta:
[...] só me cumpre informar vos, que temos por onde dirigi a picada oferece proporções
capazes de fazer-se uma Estrada excellente. Por alli não á pantanos, pedrarias, ou rios
que precizem de pontes, porque o verde, o Pardo são limitados e (?) livre passagem,
em menos de dois palmos d'agua: o trecho que se passa (?) além de São José, já tem
ponte, é pequeno, que não equivale ao de S. Antônio de Caraguatatuba, e apiras tem
vinte palmos de largura contados dos barrancos firmes; contudo, em quaze (?) parte
do caminho as cavas serão indispençaveis. (...), tendo a picada actual trinta e duas mil,
cento e quarenta braças, e estando esta Villa com a Capella de São José em rumo de
Noroeste quarta e meia a oeste em direção contão-se vinte e seis mil, duzentos e trinta
braças, podendo afiancar-vos, qui a Estrada, feitas as mudanças, e atalhao, não ficará
com mais denove legoas desta Villa á mencionada Capella. (SÃO PAULO, 1832a,
p.3)
[...] segue margeando o rio Pardo; passa no posto de cultura do rio Novo ou Boracéa,
que fica situado na Barra do rio do mesmo nome com o rio Pardo; passa no posto de
cultura do rio Pardo; e vae ao alto da Serra em demanda de Sallesópolis.
Indica-se, portanto, a Estrada entre São José do Paraitinga e São Sebastião, distante
12 léguas. Importante notar que a Estrada entre São Luiz do Paraitinga e Ubatuba não está
indicada, ou mesmo a estrada entre São Sebastião e Caraguatatuba, o que torna possível inferir,
de acordo com o grau de relevância indicada pelo autor, ser a Estrada Dória mais importante,
de alguma forma, em detrimento a outras estradas contemporâneas.
A Figura de nº 6 traz um mapa intitulada “Planta do Littoral do Estado de São Paulo:
entre a praia das Galhetas e a Barra do Rio Juqueryquerê bem assim das Ilhas de S. Sebastião,
dos Buzios e da Victoria”, escala de 1: 50.000, relativo a levantamento realizado em 1912 da
Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo. Trata-se de um mapa que conta,
dentro do recorte mencionado, com as curvas de nível, pontos cotados, estradas, de forma
pontual às ocupações humanas e empreendimentos maiores (como engenhos, conventos,
fazendas), além de referência às principais denominações locais das formações de relevo, das
praias e da hidrografia, como por exemplo: Morro do Barekesaba, Pontal da Cruz, Praia da
Enseada, Ribeirão do Outeiro.
61
As estradas não estão nomeadas, somente o destino das mesmas, então é possível
verificar diferentes indicações: como Estrada Estadual é possível verificar traçados indicando
“Mogi”, “Casa Grande”, “Salesópolis”, “Estrada de Rodagem Mogi-Salesópolis”; como
Estrada Municipal há traçados indicando: “Santa Branca”, “Paraibuna”, “Capela Nova”,
“Caraguatatuba” e “São Sebastião”.
Quanto ao traçado apresentado para a Estrada sentido São Sebastião, pode-se
observar o seguinte:
a Estrada teria o traçado, em um trecho, na margem direita (referência a jusante do rio) do Rio
Claro, cruzando outros dois rios, o Ribeirão São João e outro não identificado mas trazendo a
referência da Fazenda Rio Claro. Todavia o traçado indicado para São Sebastião se assemelha
ao traçado indicado num mapa posterior (SÃO PAULO, s/d “a”) quanto a um caminho para
Barra do Una. Desta forma o caminho indicado como para Caraguatatuba, potencialmente, deve
se assemelhar mais a Estrada Dória.
A noroeste temos o seguinte cenário:
Outro traçado seria de uma estrada (ou caminho) que acompanhando o Rio Cubatão
chegaria Praia do Una (proximo a Ponta do Una). No alto da Serra a Estrada segue a margem
direita (observado a jusante) de Rio não identificado que teria sua nascente no Morro do Pouso
Alto, assim a Estrada cruza o Rio Claro (mais para a cabeceira deste quando comparado ao
Estrada anteriormente descrita), em seguida cruza o Rio Tietê, num traçado que lembra bastante
o do o Mapa Progresso de Sallesópolis (SÃO PAULO, 1944), no que se refere a possibilidade
de compor a atual Estrada dos Mirandas.
Destaca-se uma “Estrada de Tropa” indicada no Mapa com um linha tracejada, que
se inicia nas proximidades do centro de Salesópolis na Estrada para a Praia do Una (indicada
anteriormente), próximo a uma localidade indicada como “Venda” e de uma outra linha
tracejada com a inscrição “Para a Fazenda do Chá”, a referida Estrada passa próximo a
referência espacial “Pedra Queimada”, e cruza com outra Estrada de Tropa que segue em
direção a Nordeste.
É bastante curioso o local indicado como “Venda”, distanciado da sede de
Salesópolis, e pra onde convergem o caminho para Barra do Una, a citada Estrada de Tropa,
um caminho vindo do Rio do Pote e o caminho para Fazenda do Chá. Não sendo possível
estabelecer o que pode ter sido ou servido esse local com essa denominação.
Quando observado a articulação com a Folha São Sebastião essa Estrada de tropa
ganha uma outra dimensão, conforme fotografia trazida na figura 17. Nela é possível verificar
que essa Estrada de Tropa tem o nome de Estrada Dória (mas há o cruzamento com outras,
também denominadas, Estradas de Tropa, inclusive, uma seguindo pelo Rio Lourenço Velho,
portanto pode ter sido a Estrada do Padre Valério, e outro seguindo a Nordeste, possivelmente
o caminho para Paraibuna – hoje Estrada da Roseira).
73
Figura 17: Fotografia – Folha Salesópolis + articulação com Folha São Sebastião
Esse traçado difere dos anteriormente citados pois não parece partir do centro de
São Sebastião, subindo a serra acompanhando rios não identificados (a esquerda de um e
acompanhando a cabeceira de outros, dentre os quais o Rio Grande), em seguida cruza o Rio
Verde, segue a esquerda do Rio Pardo, cruza este e continua seguindo a direita e alcança a
divisa com Salesópolis, onde passa a cabeceira do Rio Claro, que segue a esquerda e de um Rio
não identificado e do Rio Lourenço Velho, ambos a direita e seguindo a divisa entre Salesópolis
e Paraibuna. Em seguida cruza outro Rio não identificado, e segue a leste nas proximidades do
lado esquerdo do Rio Tietê (observado a jusante), cruza este nas proximidades da foz do
Ribeirão do Pote (ponto que difere dos outros mapas também), e em seguida segue rumo ao
centro de Salesópolis.
Possivelmente nos vales em que são indicados que a Estrada fica cruzando as
margens do Rio, no caso o Ribeirão da Cocadinha e Rio Limeira, devem ser vales mais fechados
em que ficaria dificil se manter em uma só margem mantendo transitabilidade. Tendo em vista
a proximidade com as cabeceiras podem ser rios em que facilmente se transita por ter baixo
volume de água e não serem profundos.
Chega as cabeceiras do mencionado Ribeirão, atravessa o topo do morro, cruzando
a Bacia do Rio Grande e o Rio Grande em si (o Rio Grande tem sua foz na Praia de Boiçucanga),
alcança novamente o topo do morro, onde encontra outro caminho (que segue até Boiçucanga),
a partir daí a Estrada cruza o Rio Comprido. A partir disso a Estrada cruza um topo de morro,
passando entre uma área denominada Boracéa com a informação “parte do perímetro
discriminado em 1909”, e outra área indicada como “Terras devolutas”, em seguida cruza a
cabeceira de um rio sem denominação e segue a esquerda de um outro rio, possivelmente o Rio
Pardo (que a jusante passa a ter a denominação de Rio Camburu e em seguida Rio Juqueriquerê).
A Estrada Dória aparece de forma diversa ao que foi trazido pelo Mapa da Fazenda
Santana (SÃO PAULO, s/d “c”), aqui a Estrada cruza o Rio Anhanguéra logo no início do seu
traçado e vai subindo o morro do Outeiro. Em seguida alcança a cabeceira do Rio da Limeira e
vai acompanhando este (por sua margem esquerda, observado a jusante) até o ponto em que o
Rio passa a ser chamado de Rio Claro, neste ponto, foz de um outro rio, a Estrada deixa de
seguir o Rio Claro e em outro ponto, possivelmente, cruza o Ribeirão do Moraiz, passando na
cabeceira do Ribeirão do João Conde/Rio das Maresias (à esquerda) e na cabeceira do Ribeirão
da Cocadinha (à direita), sendo possível supor que esteja acompanhando o topo do morro.
Logo após esse trecho, há a menção “Estrada Dória (velha)” (o que pode deixar a
entender que houve mais de um traçado…), em continuidade há uma linha pontilhada indicando
caminho para o Bairro de Maresias. Em seguida a Estrada cruza o Rio Verde e acompanha o
leito da parte esquerda do Rio Pardo, onde há a menção a “Boracea”, K45, Posto Meteorológico,
onde há a foz do Rio Novo. Continua acompanhando o Rio Pardo, com referência ainda ao Pico
ou Pedra do Ouriço a direita do Rio (observado a montante), sendo este trecho inserido na
Fazenda Mato Grosso. No K39 há menção a um caminho projetado acompanhando o leito do
Rio Campestre, em continuidade há a esquerda do Rio e da Estrada a Pedra do Rio Pardo, logo
em seguida a estrada cruza o rio em direção a um topo de morro acompanhando um rio sem
identificação, passando pela Pedra da Mancha Branca (a direita da Estrada), em seguida a
82
Estrada parece ir rumo a Paraibuna 2 , cruzando o Rio Lourenço Velho e outros Rios não
identificados.
2
O que contraria em muitos aspectos os documentos estudados. Admite-se, todavia, a questão do desenvolvimento
de atalhos à Estrada, havendo um, inclusive, à Paraibuna construída por Padre Valério, como anteriormente citado.
83
cruzando para a margem direita, contornando uma barragem no Rio Tietê (uma Pequena Central
Hidrelétrica de 1913), contornando a parte direita deste mas deixando o leito principal do rio e
seguindo por uma Estrada (provavelmente a que dá o atual acesso ao Bairro do Ribeirão do
Pote, em Salesópolis)
Figura 27: Recorte 3 - Planta topográfica São Sebastião-Salesópolis
O outro destaque em vermelho é dado para uma Estrada que parte do ponto
denominado Boracéa e segue a direita do Rio Pardo (observado a jusante) que passa a ser
denominado Rio Camburu, e que já na planície litorânia cruza este e vai terminar no Rio do
Lagão, com um ramal até o centro de Caraguatatuba e outro até o centro de São Sebastião.
3
Impossível passar despercebido a uma menção sobre o Quilombo denominado “das mortes” na região estudada,
mas não foi encontrada nenhuma outra menção em qualquer outro documento ou livro que se pudesse trazer como
referência para elucidar esta menção.
85
O mapa seguinte (figura 30) é uma versão mais antiga desta anteriormente
apresentada havendo uma menção ao Engenheiro Affonso Tosta e data de 21 de março de 1927,
com uma nota na parte inferior direita do mapa “cópia extraida dos autos de Divisão por Cyrillo
R. Silva” e datado de 20/04/1942.
87
]
Fonte: Tosta (192
88
O Mapa anterior diz respeito a uma Ação Demarcatória, que teve como
promoventes José Emboava dos Santos s/ mulher e outros e como promovidos Jerônimo
Amador de Deus s/m e outros, apresentando a Planta das propriedades pertencentes a: Joaquim
Rodrigues de Macedo (terras demarcadas) e Benedito José dos Santos (terras confinantes), em
escala 1:10.000. Há referências aos principais espigões, em especial os que separam as
propriedades (Espigão da Bacia do Rio Claro, por exemplo), assim como dos rios, sendo
destacados o Ribeirão dos Couros, Ribeirão das Lages, e às propriedades relacionadas a ação
de demarcação, havendo referência também à reserva florestal como próprio estadual, o que
pode fazer referência quanto a possível atualidade do mapa. Possivelmente este mapa seja logo
ao norte dos anteriormentes apresentados, nas divisas de bacias entre o Rio Claro e os rios que
vertem para o Vale do Paraíba.
Interessa neste Mapa, a princípio, uma menção na parte inferior esquerda, com um
“caminho do Rio Pardo” que em certa medida pode ser a Estrada Dória (que passaria sobre esse
divisor de águas) e o Marco do KM 30, mencionado como “Marco de Pedra – 1907”,
comumente trazido como referência entre estudiosos da estrada, não tendo sido levantado, no
entanto, o porquê dessa nomenclatura, e mesmo o que seria esse marco de pedra.
Partindo das características indicadas pelos mapas e croquis aqui apresentados, vê-se
que o traçado da Estrada Dória mostra-se tecnicamente diferente em vários trechos. De forma
a melhor visualizar tais diferenças, a Estrada foi dividida em três setores de análise, e
posteriormente indicadas num quadro para análise em cada mapa/croqui, com indicações das
principais referências espaciais por onde a Estrada teria passado:
• Setor Planalto: área no Planalto que a estrada atravessa os interflúvios dos vales
do Rio Claro e Rio Tietê
• Setor Vale do Rio Pardo: área que a Estrada acompanha o Rio Pardo até o
divisor de águas com o Vale do Paraíba e Alto Tietê.
• Setor Escarpa: acompanhando os divisores de água e outros vales até a sede do
Município de São Sebastião.
94
Autor Título do Mapa Setor Escarpa Setor Vale do Rio Pardo Setor Planaldo
- Divisor de águas Tietê-
Paraitinga
- Sede de Salesópolis
- Sede de São Sebastião
- Rio Anhanguera, ponto junto a
outro caminho pra Costa Sul
- Rio sem nome que nasce no
Morro do Outeiro
- Morro do Outeiro
- Cabeceiras do Rio Limeira
- Margem esquerda
(majoritariamente) do Rio
Limeira
Serviço de Reconhecimento do
- Margem esquerda do Rio Claro - Margem esquerda do Rio
São Paulo (s/d “c”) 2º Perímetro da Comarca São -
- Foz do Ribeirão da Cocadinha Pardo
Sebastião
- Cabeceiras do Ribeirão da
Cocadinha
- Divisor de águas Ribeirão da
Cocadinha-Rio Grande
- Cruza do Rio Grande
- Divisor de águas
- Cruza o Rio Comprido
- Divisor de águas
- Área devoluta “Boracéia”
- Cruza o Rio Verde
- Cruza Rio Anhanguera - Margem esquerda do Rio - Cruza o Rio Lourenço Velho
- Morro do Outeiro Pardo (referências a Boraceia e rumo à Paraibuna
- Cabeceira do Rio Limeira Posto Meteorológico)
Planta topográfica da Zona - Margem esquerda do Rio - Foz do Rio Novo Adendo – Estrada para
Planta... (s/d) entre Salesópolis e São Limeira - Margem esquerda do Rio Lourenço Velho:
Sebastião - Esquerda do Rio Claro Pardo (referência a Pico ou - Divisor de Águas
- Foz de um Rio não Pedra do Ouriço, e referência a - Cruzaria o Rio Paraitinga
identificado caminho projetado no Rio do - Esquerda do Rio Paraitinga
- Cruza do Ribeirão do Moraiz Campestre, margem direita do até sua nascente
96
Autor Título do Mapa Setor Escarpa Setor Vale do Rio Pardo Setor Planaldo
- Cabeceira do Ribeirão do Rio Pardo, referência a Pedra - Cabeceira do Ribeirão São
Conde/Rio Maresias do Rio Pardo) João e outros tributários do Rio
- Cabeceira do Ribeirão da - Cruza o Rio Pardo Claro e Tietê
Cocadinha - Acompanha um Rio sem - Margem esquerda do Rio
- Cruza o Rio Verde identificação (referência Pedra Tietê
da Mancha Branca) - Margem direita do Rio Tietê
- Divisor de águas - Contorna a direita da
Barragem do Rio Tietê (da
Usina)
- Sede de Salesópolis
- Margem esquerda do Rio
Pardo
- Cruza o Rio Novo na altura de
uma cachoeira
- Passa a cachoeira da Mata
Fazenda Mato Grosso – Grande
Melo (1973) - -
Comarca de Paraibuna - Passa a cachoeira dos Pilões
- Cruza do Rio Pardo
- Margem esquerda do Rio do
Campestre
- Divisor de águas com o Rio
Lourenço Velho
- Cabeceira do Rio Verde
- Cruza um Rio não identificado
- Cruza o Rio Pardo da
esquerda pra direita
Planta Geral de situação do 1º
- a partir da Estrada de - Cruza o Rio do Campestre
São Paulo (1950) perímetro de Caraguatatuba em
Baraqueçaba - Cruza um rio não identificado
discriminação
- Cruza outro rio não
identificado, segue pela
margem esquerda deste até o
divisor de águas
Fonte: autor
97
Fonte: o autor
Vale salientar que o Rio Pardo a jusante passa a se chamar Rio Camburu e em seguida
Juqueriquerê, o Rio Cocadinha tem referências como Rio São Rafael e também como Rio do
98
Centro. Já o Rio Novo foi encontrado em alguns mapas como Rio Boracéia, o que ajuda a
compreender os mapas que trazem a área devoluta denominada Boracéia exatamente nesta
região, importante não confundir com a região da Pedra da Boracéia, que é mais a oeste da área
de estudo na divisa dos municípios de Salesópolis e Bertioga. Vale salientar também que há um
Rio Claro na região do Planalto e outro Rio Claro voltado para a região litorânea. Quando
mencionado que a Estrada teria passado na região das cabeceiras do Rio Maresias, Rio Grande
e Rio Cocadinha, tal traçado corresponderia em parte à divisa dos municípios de São Sebastião
e Caraguatatuba, assim como quando mencionado das cabeceiras do Rio Claro e Tietê em
relação a cabeceiras do Rio São Lourenço, corresponde a divisa entre Salesópolis e Paraibuna.
Analisou-se em seguida, os traçados da Estrada da Petrobrás e da Estrada da Limeira,
a partir de arquivos shapes cedidos pela Fundação Florestal (Anexo A), uma vez que tais
traçados não foram encontrados em mapas-base do IBGE. Desse modo, e por comparação
visual com os elementos do relevo e da rede hidrográfica procurou-se estabelecer similaridades
com os traçados estudados.
Fonte: o autor
99
Fonte: o autor
Fonte: o autor
riscos. Exemplo disso foi o próprio documento do Padre Dória indicando a busca de atalhos na
região central de São Sebastião de modo que fosse mais simples vencer a altitude da Serra sem
tanto zigue-zague.
A partir da construção deste mapa ficou evidente que as Estradas da Limeira, Petrobrás
e Mirandas podem ser consideradas resquícios da Estrada do Padre Dória. Admitindo-se que,
no contexto da Serra do Mar, dificilmente novas estradas fossem construídas com traçados
completamente diversos de anteriores que já existissem, e que os mapas estudados são
anteriores a construção da Estrada da Petrobrás e da Limeira, muito provavelmente seus
traçados foram baseados nos caminhos preexistentes. Evidentemente somente um estudo
arqueológico poderia dimensionar a exatidão do traçado, do leito da estrada e da infraestrutura
ainda existente, assim pode-se inferir numa evolução dos traçados das estradas atuais a partir
do traçado da Estrada Dória, considerando nessa evolução a maior largura das vias,
eventualmente maiores necessidades de intervenções na encosta e possíveis retificações
visando maior aproveitamento frente o uso da estrada que é diferente da época estudada.
Desta forma, admite-se que o traçado principal seja o que, a partir do Rio Anhanguera,
siga pelo Morro do Outeiro e siga pela cabeceiras do Rios Limeira, Claro, Maresias e Rio
Grande, sendo esse trecho das cabeceiras representada pela atual Estrada da Limeira, de onde
foi possível tirar a seguinte fotografia em campo:
Figura 42: Vale do Rio Maresias
a centralidade em Salesópolis pode ter relação com a necessidade de ponto de parada (mas que
também poderia ser mais ao sul nas proximidades do Rio Claro ou Tietê), ou pode ter relação
com o estabelecimento do destino considerando a validade de fazê-lo em local que já contasse
com certa infraestrutura que pudesse servir de ligação para outras localidades, sendo assim
menos custoso. E Salesópolis corresponderia a essa perspectiva considerando que havia
ligações com as localidades vizinhas como Paraibuna, Santa Branca (e por extensão Jacareí) e
Mogi das Cruzes.
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar sobre a Estrada do Padre Dória é voltar o olhar para questões que envolvem
a compreensão da produção do espaço a partir das necessidades econômicas do capitalismo,
seja na articulação do porto com as zonas produtores de agricultura de exportação, seja na
espacialidade dos caminhos com este fim e mesmo a centralização de núcleos em que passa a
haver concentração de população, originando povoados. E o relativo corte a esse processo com
o fim da Estrada, deslocando a possível centralidade atribuída as localidades do planalto em
relação ao porto de São Sebastião, colocando-os à margem desse processo, e centralizando outra
qualquer localidade. Interessante olhar o papel da política e da Igreja nesse processo e pensar
que sim, eram eles autores capazes de gerar uma mudança com uma ação política, mas a que
custo ou motivação?
É tentar olhar um pouco do processo que se coloca à margem, de como teriam sido os
impactos para as pequenas povoações do litoral e do planalto que dependiam de alguma forma
da Estrada. Será que fechar a estrada foi suficiente para cessar o movimento que acontecia por
ela? Como teria se dado esse reflexo no microcosmo da Serra do Mar? Ao que parece nem com
a existência de um Parque de proteção integral como o existente hoje há capacidade de cessar
esse movimento. O que significa ter a Serra como caminho, como quintal, ou como área de
lazer?
É intrigante pensar nas referências que os mapas trazem, como explicar a menção feita
em alguns deles a um “Quilombo das Mortes”? Quando teria se formado tal quilombo? A
existência da Estrada teria contribuído pra essa formação? Ou foi motivação pra construção?
Por que carregar esse nome “das mortes”? Guardaria relação com o movimento de tráfico de
escravizados que teria acontecido por esta estrada?
Nesse sentido um dos pontos de inferência para a questão do fechamento da estrada,
seria um certo interesse na manutenção de caminhos alternativos às Estradas que possuíam
barreira, mas é válida a reflexão se tal possibilidade teria validade frente a imprevisibilidade de
reparos na estrada o que diminuiria suas possibilidades de uso, potencializado pelas possíveis
constantes influências de movimentos de massa em especial em períodos chuvosos,
considerando ainda que as menções posteriores à 1842 quanto a estrada indicam sua inutilização
e precarização da mesma. Todavia, as possibilidades de uso “a pé” eram possíveis, assim como
nos outros caminhos da Serra, o que pode ajudar a ganhar força o argumento do seu uso para
106
fins de tráfico de escravizados nos anos subsequentes, sendo interessante, portanto, provocar
um não uso tendo em vista o caráter clandestino deste. Mas esse uso parece consequencia, não
causa do fechamento, pensando que o caráter clandestino do comércio de escravizados deu-se
somente a partir de 1850 com a Lei Eusébio de Queiroz.
No campo “das mortes” a morte do Padre Dória permanece como item não desvendado.
Vítima de uma moléstia, ou um dos pivôs da Revolução Liberal de 1842 que precisava ter fim
como teve a Estrada que levava seu nome?
Permanece também a incógnita das motivações da omissão da existência da Estrada e
do Padre na historiografia de Salesópolis, e da timidez da abordagem destes na historiografia
de São Sebastião, mesmo com referências em documentos do próprio século XX, como a
maioria dos mapas citados. Fica no ar o possível caráter de “esquecimento” intencionalmente
provocado, mas a quem interessaria isso e por quê?
Vale menção para outros elementos que indicam esse processo, já no século XX, como
por exemplo, a mudança de nome de Salesópolis; mudanças de nome de ruas da cidade;
construção de grandes represas, que potencialmente esvaziam de conteúdos culturais o espaço;
criação de Parques de proteção integral que potencialmente esvaziam conteúdos culturais por
impossibilitar/limitar o uso do espaço; ou mesmo o uso do espaço na cultura do eucalipto em
grandes áreas, deslocando a população que habitualmente ocupava esses locais. Ações essas
que provocam rupturas, quebram a relação estabelecida com o espaço, desenraizam populações.
Qual o limite desse movimento? Existirá correlação desses itens com o atual papel periférico
de Salesópolis para o abastecimento de água e prestação de serviços ambientais?
O entendimento do traçado da Estrada, considerando os múltiplus discursos que se
colocam em disputa, inclusive na não unanimidade dentro da cartografia do século XX,
contribuem para o entendimento do fenômeno histórico, assim como para a orientação de
estudos mais dirigidos. Por mais que seja entendido, numa maior amplitude espacial, a
conjunção de diversos caminhos entendido como Estrada Dória, ressalta-se que trata-se de um
processo de evolução dos caminhos, desenvolvidos a partir da Estrada oficialmente criada e
construída a partir de 1832.
Esse traçado oficial, conforme os estudos aqui desenvolvidos, se configuram, num
processo evolutivo da estrada a partir dos diferentes usos, nas atuais Estrada da Limeira, Estrada
da Petrobrás e Estrada dos Mirandas, tal constatação contribui para a compreensão do processo
de formação do espaço a partir dos diferentes usos nos diferentes períodos históricos e políticos.
107
Assim, seja na formação da rede de caminhos estabelecido e seus usos para fins econômicos,
seja no potencial uso cultural nas movimentações das populações de Serra acima para o Litoral
antes do advento das grandes rodovias e do automóvel, ou mesmo o atual uso econômico da
floresta nas atividades turísticas. Todavia, entender essa evolução do uso do espaço depende de
outras variáveis que não tinham espaço para desenvolvimento neste trabalho, mas que
certamente concorrem com expressão para pesquisas futuras, inclusive na potencialidade de
estudo junto as comunidades no entorno do Parque, na valorização dos saberes, conhecimentos
e tradições dessas populações.
É com mais perguntas que respostas que esta pesquisa se finda, na certeza que as
certezas sempre serão menores que as perguntas no movimento de pesquisa, mas no propósito
de que são as perguntas as verdadeiras potências para uma possível compreensão da realidade.
108
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Antonio Paulino de. Memória Histórica sôbre São Sebastião. São Paulo:
Sociedade de Estudos Históricos, 1959.
ALMEIDA, Fernando Flávio Marques de; CARNEIRO, Celso Dal Ré. Origem e evolução da
Serra do Mar. Revista Brasileira de Geociências. São Paulo, v. 28, n.2, p. 135-150, jun.
1998.
______. Projeto de Lei nº 433. Oficializa o nome do ‘Padre Manoel de Faria Dória’ como
patrono do Núcleo Padre Dória, situado no Parque Estadual da Serra do Mar, em Salesópolis,
e institui data comemorativa em sua homenagem. Lex: DIÁRIO OFICIAL: PODER
LEGISLATIVO. São Paulo, v. 126, n. 95, 25 maio 2016.
CAMPOS, Cristina. Os caminhos de terra e de ferro no Arraial dos Souzas e Joaquim Egydio:
origens e desenvolvimento. In: RIBEIRO, Suzana Barreto (Coord.). Sesmarias, Engenhos e
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