Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ADRIANO FURTADO
HOLANDA
Pós-doutor em Psicologia
pela Universidade de Brasília
— UnB. Doutor em Psicolo
gia pela Pontificia Universi
dade Católica de Campinas na Carolina Bittcncourt
- PUC-Campinas. Mestre em
Psicologia Clínica pela Uni
FENOMENOLOGIA
versidade de Brasília UnB.
—
Especialista em Gestalt-tera
pia pelo Instituto de Gestalt
E HUMANISMO
-terapia de Brasília. Graduado
em Psicologia pelo Centro de oz da Rocha, 143
—
— Juvevê
—
— Fone: (4!) 4009-3900
252-1311 CEP: 80.030475 Curitiba— Paranã Brasil
—
Reflexões Necessárias
Ensino Unificado de Brasília. ai Torres, 1.220— Lojas IS e 16— Centro Comercial D’Ouro
Editor-chefe das revistas Phe rvila Nova de Gala/Porto Portugal
—
nomenological Studies Re -
o Pacheco
vista da Abordagem Gestáltica
e Interação em Psicologia
j Furtado.
(UFPR). Membro colaborador
a e humanismo: reflexões necessárias.!
do Círculo Latino-americano
Ï1olanda.! Curitiba: Juná, 2014.
de Fenomenologia e membro
da diretoria da Sociedade Bra
sileira de Psicologia Fenome gia. 2. Psicologia fenomenológica.
nológio. Professor universitário. Título.
CDD 150.192 (22.ed.)
CDU 165.62
sência quando somos arrebatados por situações catastróficas que nos im saúde ou do contato com o humano (mesmo que não tenhamos nos de
pelem a questionar de que “humano” se pode falar. Violência, negligên bmçado sobre outras possibilidades, como a Educação, p. ex.).
cia, irracionalidade, alheamento, “loucura”, sempre que se mostram “ex Este livro foi igualmente pensado num momento em que se ob
tremadas” ao sujeito comum, sempre que escapam das constantes “natu serva, ao menos na Psicologia, ao crescimento (ou consolidação) de um
ralizações” que o cotidiano nos impõe (essa cotidianidade do virtual, do “novo” campo mas não inédito e que se constitui em tomo da Feno
—
—
imediato, da saturação, da banalização), nos fazem re-pensar o pensar menologia. E para que este campo prospere, é preciso que tenhamos aces
ausente. Só aí se “esquece” temporariamente o esquecimento da ques
—
— so a ele. Este “novo” campo, que já teve autores e leitores ilustres ao
tão do humano. longo da história da construção do saber psicológico brasileiro, vem sen
Fenomenologia e Humanismo Reflexões Necessárias é uma
—
do ampliado a cada dia. Hoje, em todos os curriculos de graduação, já
proposta, um projeto, uma tentativa, uma aventura, um convite. A propos contamos com pelo menos uma ou duas disciplinas obrigatórias na
— —
ta é tão somente colocar isto: “reflexões” que consideramos “necessá formação do psicólogo. Isto deriva em responsabilidades na transmissão
rias”, sobre dois temas de relevância para ofazer cotidiano de muitos que de conhecimentos compatíveis com suas necessidades. Por outro lado, já
trabalham com o “humano” ou, simplesmente, que gostam de pensar esse temos claros “sintomas” desse crescimento, como a afirmação de um
“humano”. De maneira alguma se trata de um livro “definitivo”. E muito periódico orientado diretamente para essa perspectiva, na psicologia —
mais um texto propositivo que, espera-se, tenha como consequências como é o caso da Revista da Abordagem Gestáltica Fhenomenological —
mais aberturas do que finalizações. Por isto é urna proposta e uma tenta Studies, que desde 2006 publica nesta direção’ e outros sendo criados;
—
tiva de se colocar o problema em termos mais próximos daqueles que não como a realização de eventos e congressos com temática relacionada à
participam ativamente da linguagem muitas vezes hermética e “iniciáti
— Fenomenologia junto à Filosofia, Psicologia, Geografia, e tantos outros
ca” das filosofias puras. Por isto —já de antemão peço licença para
—
—
campos; como a criação, recente (em 2013), da Associação Brasileira de
tomar certos discursos filosóficos sem ser um filósofo. Inevitavelmente, a Psicologia Fenomenológica (ABRAPFE), que espera congregar pesqui
escolha pelo estilo de linguagem, pelas metáforas, pelos caminhos e pelas sadores, leitores e interessados nessas relações; como a mais recente
aproximações, trará questionamentos sobre sua validade. E é mesmo isto proposição de criação de um novo Grupo de Trabalho de Psicologia &
que se espera; afinal, escolhemos o caminho mais “simples” possível, na Fenomenologia proposto à Mpepp. Tudo isto mostra o quanto o campo
intenção de poder clarificar certos pontos e tomá-los mais acessíveis. cresce, numa das relações mais proficuas desde os primórdios do pensa
Nesta direção ainda, é uma aventura por trilhar caminhos que muitas mento fenomenológico.
vezes não estamos acostumados, mas que são atraentes e estimulantes; e, Enfim, espero que o leitor aceite o convite dessa caminhada, e
por fim, é um convite, a se criar novas possibilidades e novas descobertas. espero ainda que essa aventura possa despertar nesse leitor um prota
—
—
O livro foi pensado de modo que pudesse aliar certo rigor con
ceitual e de linguagem, e que ao mesmo tempo fosse acessível aos
—
—
científicas, enfim, acumula em sua trajetória títulos e repertórios comuns concepção eficiente e de imenso valor humano no campo da filosofia, das
ao rol dos intelectuais brasileiros de nosso tempo. Sobretudo, tem se tor ciências psicológicas e sociais. No entanto, se de um lado o crescimento
nado um decisivo estudioso do pensamento psicológico, cujo empreen dos estudos tem um aspecto altamente positivo, de outro ainda apresenta
dimento intelectual está, entre muitas coisas, em trazer conhecimento e equívocos e con±hsões conceituais gerados na psicologia e em outras
informação de abordagens psicológicas ainda recentes e, muitas vezes, ciências.
pouco conhecidas no território brasileiro. Além disso, é possível verificar que o número de pesquisas fe
Pan além dos merecidos títulos acadêmicos, encontramo-nos nomenológicas humanistas tem aumentado, pela ideia de uma psicologia
essencialmente diante de seu valor singular: estilo reflexivo, critico, ino fenomenológica e humanista não se restringir apenas à concepção de
vador, perseverante, audacioso, polémico, empreendedor e, até mesmo Edmund Husserl, mas ás diversas filosofias, humanistas e existenciais;
irreverente. Esse jeito de ser tem nos proporcionado outra maneira de filosofias que possibilitaram o surgimento de uma psicologia caracteriza
compreender as teorias e métodos presentes nas psicologias dessa abor da, atualmente, como abordagem fenomenológica, humanista e existen
dagem. Sim, uma maneira diferente de compreender! Não daquela manei cial. Dentre elas pode-se citar a fenomenologia filosófica de M. Heideg
ra clássica, dura e enrijecida, ou até mesmo elitizada de alguns intelec ger, E. Lévinas e A. Schultz, como as mais significativas e utilizadas
tuais que, muitas vezes, ensinam as concepções fenomenológicas e exis nessas abordagens, como mostra nosso autor no texto.
tenciais na psicologia, a partir de termos irrelevantes, ou de conteúdos No Brasil, os psicólogos da área ainda têm aprofundado pouco
descontextualizados de nosso mundo cotidiano brasileiro. no estudo direto dos filósofos fenomenólogos, de seus textos e na cons
O nosso autor é muito diferente de tudo isso. Quem conhece tração das possíveis articulações com a Psicologia, mesmo havendo uma
Adriano Holanda percebe de imediato a simplicidade, disponibilidade e crescente produção bibliográfica de pesquisas com a nomenclatura de
entusiasmo ao ensinar e pensar. Ele tem nos apresentado outra maneira de psicologia fenomenológica, humanista e existencial, O que se tem ainda é
ser, ou mesmo, outro “jeito de ser” nessas psicologias, transparecendo a presença de filósofos em cursos que oferecem, aos psicólogos, interpre
uma intensa curiosidade intelectual, compromisso e disponibilidade ao tações e esclarecimentos das articulações já feitas em outros tempos, além
diálogo (lembrem-se de sua primeira obra!). Essas são justamente as ca do uso de muitos intérpretes para o desenvolvimento do fazer “psi”. Essa
racteristicas fundamentais das psicologias dessa abordagem e que fazem questão pode ser justificada pelas palavras que abrem o primeiro capitulo
dela uma “psicologia mais humana”. desse livro: “Fenomenologia não é uma filosofia ‘fácil’ de ser apreendida.
Bem, mas não para por aí. Além de todo o engajamento nas psi Seus textos são complexos, extensos, detalhados e sistemáticos; pressu
cologias fenomenológicas, humanistas e existenciais, ainda não estaria põem um raciocínio ‘métrico’ e, principalmente, um poder de concentra
completo e honesto esta apresentação se esquecêssemos do compromisso ção significativo”. Ainda:
que Adriano também tem para com a psicologia brasileira. Não só com a
formação acadêmica dos estudantes, com suas pesquisas sobre a história Não são textos ‘cativantes’, no sentido que alcançam um grande grupo
de espíritos; não são ‘românticos’, na direção que ‘tocam’ as pessoas
da psicologia, mas com a própria profissão de psicólogo, estando, para de um modo imediato como muitos textos existencialistas, por
isso, engajado junto ao conselho profissional, na defesa das questões
—
exemplo nem são textos de rápida divulgação (até mesmo por sua
—
e
)e9
COMPREENDER A
FENOMENOLOGIA
Clarice Lispector
INTRODUÇÃO
ções1. Esta é uma das realidades mais frequentes para boa parte do campo
das ciências humanas e da saúde.
O próprio Husseri sofreu com seguidas interpretações errõneas de seu trabalho, che
gando a protestar e discutir várias vezes contra estas (vide Farber, 1940/20 12).
22 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
Fenomenologia não é uma filosofia “fácil” de ser apreendida. acessar aspectos “práticos” da fenomenologia buscando sempre cuidar
Seus textos são complexos, extensos, detalhados e sistemáticos; pressu para não cair na armadilha da simplificação.
põem um raciocínio “métrico” e, principalmente, um poder de concentra Tarefa dificil, sem dúvida, mas necessária para buscar aproxima
ção significativo. Não são textos “cativantes”, no sentido que alcançam ções com a filosofia. Espera-se, com isto, recuperar o solo original que
um grande grupo de espíritos, não são “românticos”, na direção que “to fertilizou todas as disciplinas que se seguiram. Para efetivar tal tarefa, fa
cam” as pessoas de um modo imediato como muitos textos existencia
—
remos um passeio histórico pelas raízes do pensamento fenomenológico —
listas, por exemplo nem são textos de rápida divulgação (até mesmo por
—
com especial atenção para a figura de seu principal idealizador, Edmund
sua extensão). Husserl e de suas marcas na atualidade; depois, trabalharemos alguns
—
Curiosamente, a Fenomenologia é uma filosofia “simples”, pois conceitos fundamentais da Fenomenologia para, finalmente, buscar uma
fala de algo que podemos considerar como o cotidiano, o imediato, como aproximação com o conjunto das ciências humanas, sociais e da saúde,
aquilo que de certa forma está “à mão” e que é sempre atual. Por isso com ênfase para a Psicologia, por esta ser uma metáfora da expressão da
considero a fenomenologia um pensamento simples, mesmo que não seja subjetividade, e por conta dos vínculos íntimos estabelecidos entre seu
“fácil”. Daí vem o paradoxo: como falar de algo que é, ao mesmo tempo, idealizador e a então nascente ciência psicológica.
simples e complexo? Tentaremos realizar uma exposição “dialogada”, esperando que
o leitor possa nos acompanhar nesse desafio e, nesse acompanhamento,
Há basicamente duas boas formas de se aprender fenomenolo
gia2: uma “fácil” e uma “dificil”. Comecemos pela “difícil”: basta to quiçá tenha novas reflexões que possam ser acrescentadas a essa emprei
marmos os escritos de Husserl (nem sempre acessíveis em nosso idioma, tada. Desta maneira, cremos, poderemos estar construindo um caminho
o que nos obriga a um exercício linguístico e muitas vezes hermenêutico) de parceria. Principiemos pela história, pois esta aponta para nossas raí
e estudá-los. De preferência, numa perspectiva histórica, das primeiras zes e para boa parte de nossos contextos. Afinal, como apontado pela
obras em diante, de modo a se ter um vislumbre da evolução de seu pen célebre epígrafe de Lavoisier, o universo é o palco da transformação.
samento. E, obviamente, lançar mão dos bons comentadores (e há uma
grande diversidade, em várias línguas). E qual seda a forma “fácil”? UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICA (SEMPRE NECESSÁRIA...)
Viajar. E porque viajar? Porque ao viajar nós nos deparamos
com a multiplicidade do mundo. Viajar, aqui, é a metáfora da descoberta A filosofia nao é um certo saber,
e do contato com a diversidade do mundo, e é com esta diversidade e ela é a vigilância que no nos deixa
multiplicidade que se dá o encontro com o que costumeiramente denomi esquecer a fonte de todo saber.
namos de subjetividade. Mas isto somente será possível se o viajante se Merleau-PonP’
permitir o deslocamento: quem viaja, e carrega consigo todas suas repre
sentações, tende a des-conhecer essa diversidade e não reconhece o outro. Sexto Empírico filósofo grego cético do século II d. C. nos
—
Em outras palavras: viajar seda urna boa metáfora, apenas quando esta seus Esboços Firronjcos3, traz uma excelente discussão sobre o sentido
viagem despertar a curiosidade do viajante. do filosofar. Ao discorrer sobre a diferença entre os grandes sistemas
Nossa intenção, aqui, é tentar apresentar uma compreensão mi filosóficos, formula a seguinte questão. Há três modos de pensamento; o
nimamente organizada e objetiva, para que possa beneficiar profissionais que declara ter encontrado a verdade, o que aponta para sua impossibili
que estão diretamente envolvidos com sua prática em questões sociais,
— dade e o que ainda permanece buscando.
de saúde ou mesmo educacionais e que tem dificuldades em se apro
—
modelo meramente conceitual (não que isto não seja importante, pois de
fato o é, especialmente quando se trata de ter clareza e coerência), para
Mais conhecida como HipoUposis Pirronicas (Sexto Empírico, 1993). Sexto Empírico
(Sec. 11-li!), foi filósofo, médico e astrônomo, nascido em Mitilene, tendo vivido em
2
No que peço desculpas a Husserl e a todos seus continuadores, por mais esta “simplifi Mexandria e Atenas. Foi seguidor de Pino de Elida (e. 365-275 a.C.), firndador do ce
caçao ticismo (dai o titulo de seu texto).
24 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 25
ou, de modo mais simples, ao processo de buscar conhecer — como bem ções paradigmáticas”4 no âmbito da construção e constituição do conhe
nos resume Marcondes (1999): cimento e na história da filosofia, como foram as “revoluções” propor
cionadas por Sócrates, Descartes e Kant.
Diz ele que em toda investigação temos três resultados possíveis: Uma prova desta relevância pode ser facilmente observada a par
acreditamos ter encontrado a resposta, acreditamos ser impossível en
contrar a resposta, ou continuamos buscando. No primeiro caso, nos tir das múltiplas influências que a Fenomenologia exerceu e ainda exerce
tomamos dogmáticos e a investigação cessa; no segundo caso, somos em numerosos campos do conhecimento, como o das “Ciências do Ho
também dogmáticos, ainda que em um sentido negativo, e a investiga mem” dentre elas as Ciências Socia&, a Antropologia6 e a História7
—
ção igualmente cessa; só no terceiro caso, segundo Sexto, temos a au passando pela Psicologia e Psiquiatria8 e alcançando campos os mais di
têntica filosofia, aquela que continua a investigar, para a qual a busca versos, como o da Saúde9 incluindo a Medicina, a Nutrição e a Enferma
—
é mais importante que a resposta. (p. 9) gem’°. Outro exemplo da dimensão do “olha?’ fenomenológico pode se
perceber sem esquecermos obviamente o campo da Educação”
— na —
Pode parecer estranho principiar uma discussão sobre a Feno apropriação de suas reflexões para campos tão diversos como os da Arqui
menologia com a referência a um dos principais representantes do Ceti tetura ou da análise da Estética e da da Geografia13, das Ciências da
cismo, mas ela se dá por vários motivos. Primeiro, por apontar para um Jnfonação4 e do Isso sem contar as repercussões que o pensa
bom exemplo do que poderemos, mais adiante, definir como sendo a mento fenomenológico teve ou tem em pensadores “livres” como Michel
“atitude fenomenológica” uma atitude de busca, de questionamento, de
—
de” entre o pensamento cético e a Fenomenologia, tanto em termos con criminado. Referimo-nos aos conceitos desenvolvidos por flomas Kuhn, em sua obra
ceituais, quanto históricos. Afinal, “ceticismo” vem de skeptikós, “pensa clássica A Estrutura das Revoluções Cientificas, onde define paradigma como o con
tivo” e designa os que continuam a investigar, ou “os que se dedicam a junto de ideias que uma determinada comunidade científica partilha, sendo aceito uni
fonnemente mesmo que por tempo limitado (Kuhn, 2007[19621). Um “novo paradig
observar” ou ainda “os que estão abertos a qualquer forma de pensamen ma” não impõe apenas novas ideias, mas novos problemas, determinando quais desses
to, sem se aferrar a nenhum” (Cao & Diego, 1993), e se baseava em três são ou não legítimos para uma ciência.
etapas, a epoché (ou suspensão do juízo), a zétesis (ou a busca incessante Merleau-Ponty, 1967/1973; Schutz, 1979; Capalbo, 1996, dentre outros.
da certeza) e a ataraxia (a imperturbabilidade), o que colocava a espe 6
Giorgi, 1977; Merleau-Ponty, 1960/1989a.
culação filosófica voltada diretamente à vida prática e ao senso comum Dilffiey, 1883, 1894/2002; Amaral, 1987; Di Napoli, 2002; Lima, 2011; Lima e Ho
(Japiassu & Marcondes, 1990). landa, 2010, 2011.
Aqui as referências e as relações são abundantes. Sobre as relações, estaremos discor
Portanto ejá retomando a “sempre necessária” história o ce
—
—
rendo com mais profundidade mais adiante. A título de ilustração, seguem algumas re
ticismo pirrônico pode ser visto como uma das raízes do pensamento ferências: Jaspers, 1913/1987; Spiegelberg, 1972; Nobre de Meio, 1979; Naudin, 1997;
fenomenológico, e não apenas por ter sobrevivido em Descartes este — Moreira, 2004; Kanvowski, 2005; Holanda, 2011b.
sim, um dos mais importantes alicerces da Fenomenologia propriamente Freitas, 2002; Ortega, 2005; Nunes, 2007; Mahfoud, 2008; Nunes e Vasconcelos,
dita na sua radical “dúvida metódica” (a que retomaremos muito em
—
2010; Pejxoto e Holanda, 2011; Holanda, 201 la.
‘° Este é um campo que merece destaque, pela quantidade de trabalhos produzidos e
breve), mas fundamental pelo que definiríamos como a atitude “necessá
pelas inúmeras aproximações possíveis (vide Capalbo, 1990; Boemer, 1994, 2011a,
ria” ao pesquisador, e presente na orientação cética. Como assinala Sexto 201 lb; Scimeider & Vaile, 1996; Correa, 1997; Jesus, Peixoto & Cunha, 1998; Lopes
Empírico, esta orientação era também chamada de Zetética e Eféctica Neto e Pagliuca, 2002; Bressan & Scatena, 2002; Campoy, Merighi & Stefanelli, 2005;
(por sua atitude mental) e de Aporética: Zetética, de zetéo, “buscar”, “in Rivem & Henera, 2006; Azevedo & Lopes, 2010; Ribeiro, 2010).
vestigar”; Eféctica oriunda da raiz épécho, a mesma de hë epoché, “man “ Bicudo e Cappelletti, 1999; Bicudo, 2000, 2010; Martins e Bicudo, 1983, 2005; Coe
ter em suspenso”; e Aporética por investigar e duvidar de tudo (Cao & lho, 2009.
‘2
Diego, 1993). Dufrenne, 1953, 1967/1998; Merleau-Ponty, l960/l989b; Fróis, 2001; Escoubas,
2005; Furtado, 2005; Carsalade, 2007.
Mas voltemos ao nosso caminho preliminar. A Fenomenologia ‘
Santos e Souza, 2007; Pereira, Correia e Oliveira, 2010; Goto, 2013.
é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes ‘
Guillén, 2004; Costa, 2009.
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas Reale, 1956; Capaibo, 1993; Maman, 2003; Guimarães, 2005, 2010a, 2010b, 2011;
reflexões e de seu legado pode mesmo ser comparada às demais “revolu Alves, 2010.
E
Foucault’6, por exemplo; ou com os desenvolvimentos no campo da Hei’ uma ideologia, nem como uma simples “escola” de pensamento; igual
rnenêutica (bastando para tal ter em conta trabalhos de autores como H. O. mente não é nem uma “corrente”, nem uma “abordagem”. A fenomeno
Gadamer ou Heidegger)7, Mais recentemente, observamos uma estreita logia é um modo de acesso ao mundo. Desta maneira, ela pode ser melhor
aproximação da Fenomenologia com as Neurociências’8. O campo das apropriada pela psicologia, p. ex. em seus aspectos metodológicos,
— —
corrente. Ela
Filosofia outros campos foram sendo alcançados, como a educação, a
—
música, a teologia e o simbolismo (na década de 1920); a arquitetara, a do corresponder ao apelo daquilo que se há de pensar. Se a fenomeno
literatura e o teatro (na década de 1930); a antropologia, o cinema e a logia for experimentada e considerada assim, então ela pode desapare
política (na década de 1940), até praticamente dominar o cenário filosófi cer, enquanto título, em favor da coisa do pensar, cuja revelação per
co francês nas décadas de 1950-1960 o que pode ser facilmente atesta
— manece um mistério2’
do, inclusive, nas produções posteriores francesas em campos como his
tória, linguística, dentre outros. A rigor, nenhuma grande corrente de A importância da Fenomenologia pode ser destacada pela sua
pensamento ou sistema do século XX passou incólume à influência da proposição de uma critica à ciência de tal modo que permite a construção
Fenomenologia. de outros modos de apreensão da realidade onde se dá o resgate da subje
tividade e a sua recolocação num contexto histórico e mundano. Algumas
Por todo esse leque de influências e repercussões, é importante palavras sobre essa delicada expressão: “resgate da subjetividade”. Trata-
assinalar que a Fenomenologia não é e não pode ser pensada como
— —
tudo, que é recorrente esse erro no campo da Psicologia, em especial na sua formação,
sido significativas (ou mesmo, necessárias), os resquícios fenomenológicos no pensa pois devido à positivação dos cursos de formação, se criou certa “necessidade” de
—
mento.foucaultiano são presenças destacadas (NaIli, 2009). formatação dos currículos em tomo de eixos temáticos (sejam estes tácitos, como
‘ Um trabalho imprescindível neste campo é o clássico Verdade e Método, de Gadamer nica”, “educação” ou “social”; sejam teóricos), o que gerou vinculações excludentes
(1986/19 98). (representadas pelas “correntes” teóricas), o que findou por associar o pensamento fe
“ Este, sem dúvida, um dos campos mais ricos da atualidade e certamente um campo nomenológico a algumas perspectivas em detrimento de outras. Veremos que isto não
aberto para o faturo (Overgaard, 2004; Depraz, Varela & Vermersch, 2006; DeCastro é um fato em si.
2!
& Gomes, 2008; Castro & Gomes, 2011). M. Heidegger, 1w Sache des Denkens, Tubingen: Max Niemeyer, 1988, p. 90. Citado
‘
Kluber e Burak, 2008; Bicudo, 2010; Bicudo e Borba, 2012. por Femandes (201 lb), p. 19.
E
mente a todas as possíveis determinações ulteriores” (Freitas, 1990c, p. Mesmo assim, Husserl reconhecia que Descartes não havia
1.337). Mas, concretamente, “ser sujeito” significa “estar numa determi aprofundado suficientemente sua investigação epistemológica. Seu com
nada relação com um objeto” (Freitas, 1990c, p. 1.337); ou, em outras promisso o conduzia a um projeto de realizar uma “viragem” na mesma
palavras, estar em situação. direção da do pensador francês e, para realizar este projeto, parte do pró
Quando, na história da filosofia, o pensamento passa a ocupar o prio Descartes para questioná-lo quando do estabelecimento de um subje
lugar central basicamente a partir da tradição inaugurada por Platão e
—
tivismo intrínseco introjetado, fechado em si mesmo, isolado do mundo
—
posteriormente desenvolvida por Descartes e seu cogito — deu-se uma — caracterizado por uma consciência definidora, mas que esquece dos
inversão semântica (de atributo para atividade), e sujeito deriva em subje objetos e das relações que esta consciência estabelece com o mundo.
tivo e em subjetividade. Assim, temos no vocábulo “sujeito”, uma acep Husserl (1929/1992) aponta, nas suas conferências de Paris, que o ego
ção receptiva e outra ativa. Por um lado, sujeito é o que “sofre” a ação (o cartesiano realiza “um filosofar seriamente solipsista”22.
que se sujeita a); e, por outro, é o que “se coloca”, que “exerce” uma ação
O projeto de Husserl é de tomar a filosofia o fundamento básico
(o que atua, que age). Então, ao falarmos de “resgate da subjetividade” de todo conhecimento, ou mais especificamente, fazer da filosofia uma
queremos significar esta dupla acepção, esta dialética sob a qual se esta
“ciência de rigor” título de uma de suas principais obras tomando por
belece boa parte da tradição filosófica ocidental, e que vai desembocar
—
—,
fenomenológica, desde Brentano. Mesmo assim, não nos furtaremos a -Ponty ou Seheler ou o Existencialismo, primordialmente centrado na
—
utilizar o clássico termo “subjetividade”, na expectativa de um resgate de figura de Jean-Paul Sartre e igualmente a Analitica Existencial de Mar
seu sentido. tin Heidegger e outras filosofias independentes, que foram influenciadas
Voltemos à questão da fenomenologia e sua posição histórica. diretamente pela fenomenologia, como as de Emmanuel Lévinas, Edith
Não se pode pensar a fenomenologia sem buscar seus vínculos com o Stein, Mikel Dufrenue, Michel Hemy, Alphonse de Waelhens, Paul Ri
cartcsianismo. O compromisso de Husserl com o pensamento de Descar couer, Jan Patócka, Jean-Luc Marion, Marc Richir e tantos outros.
tes toma a Fenomenologia uma corrente de pensamento imprescindível Este quadro pode ser reforçado pelo fato que a Fenomenologia
para a própria compreensão da cultura e da evolução do nosso século. transcendeu o próprio Husserl como afirma Embree (1997) visto que
—
—
Husserl, profundo admirador de Descartes, admitiu em diversas ocasiões seu desenvolvimento se deu em vertentes (ou ramos) diversos: 1. Uma
esses laços: fenomenologia realista, cuja ênfase estaria na busca de essências univer
sais de objetos igualmente diversos, que encontra apoio no primeiro gru
Com efeito, nenhum filósofo do passado teve uma influência tão deci po de Husserl, mas teria na figura de Max Scheler seu mais destacado
siva sobre o sentido da fenomenologia como o maior pensador da
França, René Descartes. E a ele que ela deve venerar como seu vcrda exemplo (com seus estudos sobre ética, p. ex.); 2. Uma fenomenologia
deiro patriarca. Foi de um modo muito directo, diga-se exprcssamente, constitutiva com ênfase no método, como temos em Aron Gurwitsch e
que o estudo das meditações cartesianas interveio na nova configura
ção da fenomenologia nascente e lhe deu a forma de sentido que agora 22
tem e que quase lhe permite chamar-se um novo cartesianismo, um “Solipsismo” advém de sohs-ipse, e designa uma consciência que se fecha sobre si
cartesianismo do século XX. (Husseri, 1929/1992, p. 9) mesma. Designa o ‘isolamento da consciência individual em si mesma, tanto em rela
ção ao mundo externo quanto em relação a outras consciências; considerado como
consequência do idealismo radical” (Japiassu & Marcondes, 1990, p. 228).
30 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 31
seus estudos sobre percepção; 3. Uma fenomenologia existencial, com Fenomenologia pode ainda ser entendida como uma filosofia, se
diferentes e às vezes dissonantes concepções, como temos em Merleau
— —
esta for entendida como um “pensar” a realidade; mas, como aponta Darti
-Ponty, Sartre, Heidegger e outros; e, 4. Uma fenomenologia hermenêuti gues (1992), Husserl gostava de considerar a fenomenologia como uma
ca, como nos trabalhos de H. G. Gadamer e Paul Ricoeur. filosofia que acompanha e subentende as ciências; não como um conjunto
Nosso objetivo, aqui neste espaço, será apresentar a Fenomeno organizado de construtos que estruturam uma “escola” filosófica, mas mui
logia, em algumas de suas bases históricas e conceimais, na tentativa de to mais próxima de uma concepção clássica de reflexão sobre a realidade.
compreender sua importância para o pensamento psicológico contempo Todavia, antes de se caracterizar como um modo específico de pensamen
râneo, tentando apreendê-la como uma nova perspectiva de fundamenta to, antes de se constituir numa forma sistemática de se acessar a realidade,
ção para a psicologia, e sua especial influência num recorte desta ciência, a Fenomenologia é um método, uma metodologia de pesquisa desta mesma
determinando caminhos para um conjunto significativo de modelos e realidade. E importante destacarmos essas diversas possibilidades de en
correntes psicológicas. Além disso, pretende-se delimitar aqueles concei tendimento do que é a Fenomenologia pan que possamos compreendê-la
tos ou noções que seriam centrais para a compreensão da fenomenologia, em toda sua complexidade, sem cair nas armadilhas da simplificação. Mas
em sua aplicação à psicologia. a Fenomenologia é, igualmente, uma ciência, como um “conhecimento
atento e aprofimdado de alguma coisa”, ou como “noção precisa”, conhe
cimento sistematizado a respeito de algo. Esta é uma das características do
1 GÊNESE E EVOLUÇÃO HISTÓRICA pensamento husserliano evitadas inadvertidamente por boa parte das inter
DA FENOMENOLOGIA pretações psicológicas, sejam estas modernas ou não.
Nunca eu tivera querido, dizer palavra tão louca:
Originalmente, diríamos que a Fenomenologia é um retorno, um
bateu-me o vento na boca, e depois no teu ouvido. “recomeço radical”, uma retomada do sentido exato do vocábulo grego
Levou somente a palavra, deixou ficar o sentido. phainómenon, como “aquilo que vem à luz”, que “se mostra”, que se
manifesta. Historicamente phainómenon era para os astrônomos gregos a
Cecilia Meireles referência aos eventos celestes. Phainómenon aparece no grego como
particípio (correspondendo ao nosso gerúndio) do verbo phainestai, e
O que se pode entender por Fenomenologia se refere a um mo
deve portanto ser lido como vindo à luz, mostrando-se, evidenciando-
delo de pensamento cujas raízes estão calcadas numa preocupação: preo
— —
conceitos). Juntando os dois elementos, a fenomenologia é: Lambert no seu Neues Organon, em 1764, para designar o que considera
va como o estudo das fontes do erro ou a “teoria da aparência ilusória e
(...) a realização de uma crítica geral de tudo quanto parece se impor a suas variedades” (Morujão, 1990, p. 487). Como fundamento de todo o
nós de maneira demasiado evidente, a saber, dos preconceitos; [e é] a saber empírico, o termo é recolhido por Kant, para designar “C•.) a parte
ideia de uma reforma de todos os saberes pela descoberta de seu fim da teoria do movimento que considera o movimento ou o repouso da
damento único no sujeito seguro de si mesmo. (Depraz, 2007, p. 11) matéria em relação com as modalidades em que aparecem ao sentido
externo” (Abbagnano, 1992, pp. 531-532), ou seja, relativamente à forma
Fenomenologia e Humanismo 33
32 Adriano Furtado Holanda
descritiva (ou a pura descrição das aparências psíquicas); ou Eduard von mestre para a cidade de Louvam, na Bélgica, onde em 1939, sob sua dire
Hartmaim (1842-1906) que a associou à “Fenomenologia da Consciência ção, foram fundados os Arquivas HusserP-3. A partir daí, e com o auxílio
Moral” (Morajão, 1990; Abbagnano, 1992). Todavia, a noção que per dc Eugen Fink e Ludwig Landgrebe, inicia-se a transcrição, ordenação e
manece mais viva é justamente a utilizada por Husseri a partir de suas publicação de seus textos24.
Investigações Lógicas. A gênese da Fenomenologia pode ser associada a dois grandes
Num contexto mais pragmático e mais próximo da uma reali
— pensadores: de um lado, Wilhelm Dilthey e, de outro, Franz Brentano.
dade clínica, por exemplo a fenomenologia será definida pelo filósofo e
—
Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi o grande nome do Historicismo alemão,
psiquiatra Karl Jaspers (1883-1969) como uma “psicologia descritiva dos além de ter se engajado na chamada “teoria da concepção de mundo” ou
fenômenos da consciência” (Jaspers, 1913/1967, p. 71). E sob esta base Wellanschauung. Suas ideias influenciaram as “filosofias da vida” ou
Jaspers edifica toda uma reforma da Psiquiatria, constituindo um campo “filosofias do espírito”, ressoando em Heidegger, Max Weber e outros.
novo de investigação o da Psicopatologia ao qual se refere como
—
— Influencia ainda Scheler, Jaspers e a corrente fenomenológica. Dilthey
sendo a ciência em si, cuja aplicação prática seria a psiquiatria. Para Jas faz uma distinção entre “ciências naturais” e “ciências do espírito”25,
pers, a fenomenologia é um procedimento empírico e descritivo, extre dizendo que há uma diferença gnoseológica nas questões metodológicas:
mamente útil para se ter acesso àqueles fenômenos como o fenômeno
— de um lado, a observação externa dá os dados das ciências naturais; e de
psíquico de outrem que não podem ser percebidos diretamente, ao con
—
outro, a observação interna revela a experiência vivida ou a Erlebnis. A
trário dos fenômenos fisicos, por exemplo. palavra Erlebnis (do verbo leben, “viver”), foi traduzida por Ortega y
No âmbito desta nossa consideração, a figura de Husseri é cen Gasset (1913/2011), inicialmente para o espanhol, por “vivência” ou “ex
tral que, como apontamos anteriormente, é um marco no pensamento periência vivida”, para designar aquilo que Dilthey e posteriormente,
—
contemporâneo. O objetivo de Husserl era realizar uma “viragem” da Husseri desianam com o fato caraclerístico do humano, como aquilo
—
que é dado imediatamente ao espírito. No caso das ciências humanas, é Contudo, é a partir do trabalho de Franz Brentano (1838-1917),
necessário compreender a vida pela própria vida, sem auxílio da metafisi que a Fenomenologia se estrutura. Nascido em Marienberg, e tendo sido
ca26 ou de valores absolutos ou superiores. professor em Wurzburg, Berlim e Viena, em 1874 publica sua obra capi
Pois a vida, diz Dikhey, só pode ser compreendida em sua co tal: Psicologia do Ponto de Vista Empírico, fato este importante devido à
nexão “viva”, e esta conexão é dada de modo constante e originário, na posterior influência que terá sobre Nusserl particularmente nos seus
—
vivência (Dilthey, 1894/2002). Com isto, Dilthey faz uma distinção entre primeiros escritos, mas igualmente nas subsequentes investigações sobre
Erklãren (explicar) e Verstehen (compreender) ou AuJkl&en (entender). lógica e teoria do conhecimento influência esta “C..) reconhecida ex
—‘
Distingue um “sistema de leis ou ciências”, de um lado, de um “sistema plicitamente e de bom grado por Husseri” (Farber, 1940/2012, p. 238).
de existências significativas e permeadas de valores” (visões de mundo), Brentano “foi representante de uma psicologia descritiva a quat
do outro. Assim, haveria duas modalidades de ciência: as Natunvissens chamou de ‘psicologia dos atos’, que considera o essencial das manifes
chaften (ciências naturais) e as Geisteswissenschaften (ciências do espíri tações anímicas (atos) em sua relação com o objetivo ao qual estão enca
to). Em outras palavras, Dilthey antecipa e dá as bases para a crítica hus minhadas (intencionalidade)” (Bonin, 1991, p. 68). A história de Brenta
serliana à aplicação das metodologias naturalistas às ciências humanas. no e mesmo da construção de seu pensamento passa pelo fato de ter
— —
Dilthey também antecipa toda uma reflexão humanista, com respeito aos sido um sacerdote católico (ordenado em 1864, mesmo ano de seu douto
procedimentos que virão a ser conhecidos, posteriormente, como ciências ramento em Filosofia), que entrou em conflito com a Igreja por não acei
humanas, sociais e antropológicas. Diríamos mesmo que Dilthey dá os tar o dogma da infalibilidade papal, tendo por isto se retirado de sua cáte
fundamentos necessários para se considerar a Psicologia como uma “ciên dra em 1873 e se convertido ao protestantismo em 1879. Dentre seus
cia humana”. discípulos, destacam-se Christian Von Elwenfels27, Edmund Husserl e
Com Dilthey formaliza-se um pensamento que recoloca o sujei Oswald Kulpe2t, sendo que Freud tomou algumas lições com ele (mais
to humano num contexto essencialmente social e histórico: somos seres especificamente durante os anos 1874-1 876).
históricos e constituídos na e pela história. Assim, contrariamente a uma Cabe aqui abrirmos um “parêntese” sobre a relação entre Freud
psicologia elementarista (que estuda o homem como unidade psicofisica), e Brentano que parece ter sido bem mais próxima do que se imagina ou
propõe “uma psicologia compreensiva, descritiva e analítica, reconhecen mesmo que a história tenha registrado. Por exemplo, a “leitura” freudiana
do a unidade estrutural da individualidade e seu modo de ser no mundo” dos significados embutidos na sintomatologia apresentada pelo clássico
(Japiassu & Marcondes, 1990, p. 73). “Anna O” que deriva em seus estudos sobre a histeria nos remete a
—
—
Quem introduz esta abordagem compreensiva aos fenômenos um modelo de descrição fenomenológica, mas vamos aos fatos. Há uma
psíquicos é Karl Jaspers (que foi aluno de Dilthey), em oposição às abor série de semelhanças curiosas entre Husserl e Freud: ambos nasceram na
dagens impessoais, e buscando escapar aos causalismos neurológicos, Morávia Freud em 1856 e Husseri em 1859 —; estudaram em Viena, na
—
apontando para uma conexão “que nasce de dentro” (Dihhey, 1874/ mesma época, embora não existam informações de que tenham se encon
2002), que virá ser apropriada como o “sentido” ou significado” da expe trado. Freud se doutorou em 1881 e Husserl em 1882. Ambos publicaram
riência. O que Dihhey traz de mais fundamental é o reconhecimento que suas obras capitais no ano de 1900 (Freud com A Interpretação dos So
as ciências do espírito demandam um outro tipo de método para sua cons nhos e Husserl com suas Investigações Lógicas). Ainda sobre a correla
tituição, que não o método naturalista, pois este levou a ciência a um ção entre Freud e Husserl, assinala Bucher (1983):
dilema, que foi a “C) separação crescente da vida em relação ao saber”
(p. 24). Em outras palavras, separa natureza e vida, acarretando outra (...) curiosamente, ambos os pensadores iniciam as suas pesquisas com
separação gnoseológica, entre “pensar” e “sentir”. uma inovação metodológica pela qual se destacam de todas as escolas
26 27 Von Ehrenfels (1859-1932) foi importante personalidade da Psicologïa. Foi precursor
Expressão derivada do grego tã metaphysikà. Contam que Mdrânico de Rodes, no séc.1
a. C., ao classificar os textos de Aristóteles, deu nome a um conjunto de escritos pela ex da chamada Gestalt-Tlworie ou a Psicologia da Gestali, influenciando diretamente as
pressão rã merà tà physikâ, designando assim os tratados “além da fisica”, “depois da fi figuras de Kõhler, Kofflca e Wertheimer.
2g
sica”. Com o tempo, a expressão ganhou a forma atual, rnelà physikà, pan designar o Filósofo e psicólogo alemão, Oswald Kulpe (1862-1915) estudou com \Vundt. Lecio
campo de estudo que abrange o estudo do que transcende o fisico ou o natural. nou em \Vurzburg e Munich. Foi um dos mestres da introspecção experimental.
36 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 37
e autores precedentes, e que merece ser chamada de corte epistemoló temente do sujeito desta experiência). Com isto, se anunciam dois cami
gico, com todas as implicações que tem essa noção, de revolução, se nhos para a efetivação de uma ciência empírica: a ciência natural e a psi
não de “subversão” das ideias vigentes até aí (...) (p. 34) cologia (Araújo, 2005). Para Wundt, pois, a psicologia seria uma ciência
que estaria entre as Nalunvissenschaflen e as Geisteswissenschoften;
Mas as relações entre Brentano e Freud vão além do pitoresco.
assim, “como a psicologia não estuda um objeto diferente do objeto das
Merian (1945) descreve como que Freud realizou a tradução de um dos
ciências naturais, mas apenas a mesma experiência de um outro ponto de
volumes dos trabalhos de John Stuart Milli, para o alemão, editado por vista, seus métodos de investigação também não podem diferi?’ (Araújo,
Theodor Gomperz. Alguns anos mais tarde, Heinrich Gomperz prepa —
(1949) descobriu que Freud seguiu, pelo menos, quatro semestres de cur ção de intencionalidade no contexto da distinção entre os fenómenos
sos de Brentano em Viena em seu terceiro, quarto, quinto e sexto se
—
ou atos físicos e mentais, presentes à consciência. A característica
mestres. Entre o inverno de 1874-1875, o verão de 1875 e o inverno de ftndamental e intrínseca dos atos psíquicos é a intencionalidade, pois
1875-1876, Freud segue os cursos de Brentano sobre “Leituras de Escri a inexistência (o termo aqui é o escolástico “messe”, ou seja, “existên
cia-dentro-de”) é ao mesmo tempo a característica mais importante e
tos Filosóficos”. Ainda no verão de 1875 (seu quarto semestre na univer mais própria dos fenômenos mentais. (Maciel, 2003, p. 36)
sidade), acompanha o curso de “Lógica”; e no verão de 1876 (correspon
dendo ao seu sexto semestre), acompanha o curso sobre a “Filosofia de Com isto, Brentano designa que a consciência humana se estru
Aristóteles” (especialidade de Brentano. tendo sido objeto de sua tese de tura dinamicamente em atos que remetem ao mundo, e não como um
— —
doutoramento). “Foram os únicos cursos não-médicos seguidos por Freud “objeto”. E, pois, característica do fenômeno humano se reportar conti
durante todo seu curso de estudos (oito semestres)” (Merlan, 1949, p. nuamente ao mundo.
451). Fecha parêntese. Nilton Campos na primeira grande referência brasileira à fe
—
Retomemos Brentano. O fundamental da psicologia brentaniana nomenologia na Psicologia (Holanda, 201 lc) coloca que Ribotjá anun
—
é que a experiência se baseia na percepção inferir»-, contrariamente ao cia o nome de Brentano como aquele que funda uma orientação que ex
que propunham os sistemas psicológicos primevos ao apontar pan a in clui a metafísica e a fisiologia do campo científico da psicologia e, por
trospecção (observação interior). Com isto, Brentano reage tanto à análi tanto, inaugura uma perspectiva autônoma para esta (Campos, 1945).
se dos conteúdos da consciência como desenvolvida pela psicologia
—
Apropriando-nos das mesmas palavras do filósofo, em seu prefácio, diz-
experimental de Wilhelm Wundt quanto à orientação naturalista toma
—,
-nos Brentano (1874/2008): “Eu me coloco, em psicologia, do ponto de
da de empréstimo à fisica e à fisiologia. vista empírico. Meu único mestre é a experiência” (p. 11). Foi Brentano
Para Wundt, a psicologia é a ciência empírica cujo objeto seria
a “experiência imediata”, e acreditava que toda experiência poderia ser 29
Wundt ainda desenvolve muito mais esse modelo, aplicando uma distinção entre auto-
analisada em seus conteúdos objetivos (que seria a experiência mediata) e observação e percepção interna, além de estudar, posteriormente, “objetos psíquicos”
subjetivos (experiência imediata). No segundo caso, a investigação recai que são produtos da história e dos costumes, que veio a ser conhecida como a sua Vol
sobre o próprio sujeito da experiência, ou seja, seu “mundo interno” (en kerpsychologie (pan um aporte mais detalhado do projeto wundtiano, remetemos o lei
tor ã leitura de O projeto de unia psicologia cientWca eni Wilhelnj Wundt) (Amújo,
quanto no primeiro caso, investigam-se os objetos pensados independen 2010).
Fenomenologia e Humanismo 39
38 Adriano Furtado Holanda
sim por diante. (Brentano citado por Maciel, 2003, p. 36) larmente a partir da quinta investigação Husserl define o estatuto da
—
Com isto, Brentano estabelece uma categorização dos aios men vivência como o solo sobre o qual se alicerçará a fenomenologia.
tais, distinguindo-os em “representação” (onde o objeto está sempre pre Husseri lecionou em três universidades, em períodos distintos:
sente, como algo mentalmente percebido); ‘juízo” (no qual é afirmado ou em Halle, de 1887 a 1901; de 1901 a 1916, em Gõttingen e, de 1916 a
negado) e “sentimento” (algo é amado ou odiado). Em resumo, os atos 1928, em Freiburg. Estes períodos coincidem com um desenvolvimento
mentais se caracterizam por serem intencionais, ou seja, remetem aos de sua obra em “fases” distintas, onde determinados temas são trabalha
objetos. A intencionalidade não varia, apenas a forma como é assumida, dos com rigor e organização.
ou seja, a referência ao objeto é que varia, e é sobre estas bases que Hus Vale a pena ressaltar essa informação pan que se tenha claro
serl estrutura seu projeto de Fenomenologia (Maciel, 2003; Ramón, 2006; que a Fenomenologia é uma construção de toda uma vida e, ainda assim,
Depraz, 2007). inacabada (o que reflete perfeitamente seu próprio “espírito”). Vamos tão
Mas o grande responsável pela estruturação da Fenomenologia somente assinalar algumas referências de sua obra, de modo que se possa
foi Edmund Husserl, nascido na cidade de Prosstnitz, na Morávia, em ter um vislumbre da complexidade do pensamento fenomenológico, do
1859. Entre os anos de 1876 a 1878 (quando tinha entre 17 e 18 anos) fre rigor do trabalho husserliano e da necessidade de uma leitura igualmente
quenta a Universidade de Leipzig, durante três semestres. Ali, estuda astro criteriosa tanto de seus conceitos quanto de suas ideias. Queremos igual
nomia, matemáticas e fisica, além de seguir as aulas de filosofia de mente marcar aqui um caráter de fluidez e de movimento pelo qual pas
W.Wundt. Em 1878, inscreve-se na Universidade de Berlim, onde pema sou a construção da fenomenologia, o que inclusive será significativo
nece por seis semestres, onde conhece Cari Weierstrass, que será sua inspi para os desenvolvimentos posteriores.
ração para uma “flmdação radical das matemáticas, e ademais despertará A Fenomenologia se construiu em múltiplas publicações, com
nele o ethos do cientista (...), rigor e retidão” (Depraz, 2007, p. 18). particular destaque para o Jahrbuch fur Philosophie und phünonienologis
Em 1881, vai a Viena e ali, em 1882, obtém seu doutoramento che Forschung, ou o “Anuário de Filosofia e Pesquisa Fenomenológica”,
com a tese Sobre o Cálculo das Variações. No ano seguinte, em Berlim, flmdado em 1912 pelos fenomenólogos da escola de Munique (Farber,
toma-se assistente de seu ex-professor, Weierstrass. Em 1884, Husserl 1940/20 12) dentre eles Adolph Reinach, Mexander Pfânder, Moritz Gei
retoma a Viena e se filia ao pensamento de Brentano, sendo este o res
—
ger e Max Scheler e que teve como editor inicial o próprio Husserl. Eram
ponsável por sua “conversão” à filosofia (Depraz, 2007). Dois anos de
—
publicações anuais (entre 1913 e 1930), nas quais autores diversos publica
pois renuncia à sua ascendência judaica, converte-se ao Luteranismo, vam seus trabalhos. Dentre estes, constam alguns dos principais textos de
casando-se no ano seguinte com Malvine Steinschneider. Posteriormente
Husserl, como também de Max Scheler (textos de Etica) e de Heidegger (a
toma-se livre-docente pela Universidade de Halie. Começa aí sua vida
intelectual realmente produtiva. primeira publicação de Sem und Zeit está no volume de 1927).
Neste ínterim, seu interesse se volta para a reflexão filosófica A obra de Husserl se deu em numerosos livros, textos e, princi
das matemáticas, o que o leva a realizar sua habilitação sob a tutela de palmente, cursos e conferências31, onde desenvolve suas ideias. Sua criti
CarI Stumpf, em Halle. Surgem daí, duas de suas primeiras obras: Uber ca aos reducionismos ganha corpo na publicação de 1910-11, Á Filosofia
den Begrjff der Zalil (1887) e Fhilosophie der Arithmetik (1 891)°, esta como Ciência de Rigor mas, antes, no ano de 1907, durante seu curso
última dedicada a seu mestre, Brentano. sobre A Ideia da Fenomenologia, surge-lhe a primeira ideia explícita
31
Pan um espectro mais amplo de sua produção, i’ide Apëndices.
30
Sobre o Conceito de Número (1887) e Filosofia da Aritmética (1891).
40 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 41
sobre a redução. Uma obra considerada “ffindante” é o livro intitulado 2 COMO COMEÇAR A ENTENDER FENOMENOLOGIA?
Ideias pai-a urna Fenomenologia Pura e para uma Filosofia Fenomeno
lógica (de 1913) mais comumente conhecida como as Ideen
— onde —
Lá atrás, sugerimos ao leitor que viajar seria uma boa metáfora
propõe uma investigação da consciência e de seus objetos. No ano de para se compreender a Fenomenologia. Reiteramos a sugestão. Mas va
mos fazer outros convites agora. Convido o leitor a pensar em algumas
1914, irrompe a Primeira Grande Guerra onde Husserl perde um filho
questões: Como se percebe o mundo? Como se sabe que o mundo é mun
—
nofront, em 1916, e seu mais dileto discípulo e colaborador, Adolf Rei do? Como nós nos percebemos? Como se pensa mente e como? Questões
nach32, em 1917 e em seguida, seu antigo colaborador, Heidegger33,
—
Há que se destacar ainda outros escritos importantes, tais pomo ou, mais destacadamente, ao problema da consciência. Eis um dos pro
os cursos de 1904-1905 sobre a Fenomenologia da Consciência Intima blemas centrais da Fenomenologia. Tão ou mais absurdo seria se pensar,
do Tempo (Zur Phaenornenologie des inneren Zeitbcwusstseins), compi por exemplo, como um “marciano” ou qualquer extraterrestre perceberia
lado originalmente por sua assistente à época, Edith Stein, e que teve o mundo e o universo ou nos perceberia, se aqui chegasse. O leitor pode
ainda outras organizações, como a de 1928 por Heidegger vindo a ser
— — ria facilmente substituir “extraterrestre” por Hobbits, Ogros, Elfos ou
publicada somente em 1966, numa edição de Rudolf Boehm. Muitos Dragões (como preferir), pois questões como essas são triviais no senti —
textos husserlianos permaneceram e ainda permanecem inéditos. E em do que nos acompanham constantemente, mesmo que não as pensemos
muitos deles temas importantes são trabalhados ou esclarecidos como
— —,
objetivamente por estarem no ceme de nossas crenças, convicções,
—
a questão da intersubjetividade, a temporalidade, dentre outros. valores, e por nos permitir fantasiar, imaginar e devanear, ou desejar, por
Como não nos propomos a uma exposição histórica exaustiva —
exemplo.
em particular de sua vida e obra remetemos o leitor aos Anexos, onde
—
Mas vamos começar por algo mais “simples”. Espero que o lei
poderá ter uma clara ideia da dimensão dos escritos husserlianos. Vamos tor aprecie arte, particularmente a pintura e, mais particularmente ainda,
agora tentar organizar, minimamente, algumas noções centrais da Feno convido-o a contemplar algumas das obras de Claude Monet35. Sugiro
menologia. começar pelos exercícios de variação que Monet produziu em séries, a
partir de 1890, como as “Cathédrales de Rouen”, por exemplo36:
32
AdolfReinacli (1883-1917) foi estudante de Theodor Lipps em Munique, e do circulo
de fenomenólogos que se juntou a Husserl em Giittingen, tendo sido um de seus mais Peço licença aos leitores por colocar essa magrificas telas em preto e branco. Ao que
próximos colaboradores e assistentes. Foi graças a Reinacli que vários importantes perdem em cores (que podem e devem ser acessadas facilmente na intemet), man
— —
nomes da fenomenologia posterior assimilaram os escritos de Husseri (como Dietrich tém a diversidade das formas que preciso pan os exemplos a seguir.
Von Hildebrand, Edith Stein, Hedwig Conrad-Martius, dentre outros). Reza a lenda 36
As ilustrações estão aqui reunidas numa montagem de várias telas, pintadas em mo
que as aulas de flusserl, por demais complexas, eram posterionnente esclarecidas por mentos diversos. Essas pinturas estão reunidas em coleções diversas, e em vários mu
Reinach em particular. Sua morte, na guerra, foi uma grande perda para o próprio edi seus, dentre eles, Pushkin Museum (Moscow); Musée du L.ouvre (Paris), Musée D’Orsay
ficio da fenomenologia (Mora, 2001; Drummond, 2007). (Paris), National Museum of Wales (Cardifi), National Galleiy of Art (Washington),
Heidegger acompanha os trabalhos de Husserl desde que este chega a Freiburg, em Metropolitan Museum of Art (New York), Musée Marmottan (Paris), Narodni Muzej
1916, substituindo-o posteriormente na cátedra, em 1929, o que irá gerar bastante po (Belgrado), Musée des Beaux-Ans de la Céramique (Rouen), Museum Folkwang (Es
lêmica, devido ao vínculo político de Heidegger com o Nacional-Socialismo alemão. sen) ou Museum of Fine Afls (Boston), bem como em coleções privadas. Um site mui
O leitor poderá acessar mais dados biográficos e históricos sobre a Fenomenologia e a to interessante é o do Media Center ofArt Histoiy (da Columbia University, New
figura de Husseri em um conjunto de textos disponíveis em língua portuguesa. Indicamos York), que tem uma área intentiva com mais de 25 telas de Monet sobre a Catedral de
algumas boas introduções, como Depraz (2007) ou Goto (2008); ou em obras mais com Rouen e pode ser facilmente acessado pelo endereço: http://wnv.leam.columbia.eduI
pletas como o The Carnbfldge Conipanion to Husseri de Smith e Smith (1996).
—
—
monet/swf/
42 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 43
g
Óleo sobre tela, 1899 (The Museum ofAn, Philadelphia). Óleo sobre tela. c. 1926 (Musãe Mamionan, Paris).
44 Adriano Furtado Holanda enoIosiaeHunismo4
5
esses flmdamentos. Eugen Fink, um eminente conhecedor do pensamento tato ingênuo com o mundo
husserliano, aponta a fenomenologia como um “recomeço radical”, uma E a ambição de uma filosofia para dar-lhe, enfim, um estatuto esse con
filosófico
que seja uma “ciência exata”,
retomada da busca das raízes. Constitui-se numa tentativa de solucionar o também uma apreciação do mas é
problema da dicotomia sujeito/objeto, através da apreensão das relações a tentativa de uma descrição espaço, do tempo, do mundo “vividos” E
direta de nossa experiência tal
do homem com o mundo40. Neste sentido, “a fenomenologia é, a um (...). (Merleau..iaonty, 1945, p. 1) qual ela é
tempo, método e atitude: a atitude especificamente filosófica e o método
dgorosamente filosófico” (Morujão, 1984, p. 67). A fenomenologa se faz
existe como movimento reconhecer como estilo, como
modo;
A Fenomenologia surge como uma crítica, no sentido original nala Merleaupon, (1945):
anterior à consciência filosófica
Ou, como assi
do termo41, enquanto uma tentativa de pôr em crise o conhecimento vi dade da fenomenologia e seu
“E em nós-mesmos que
encontramos a uni
gente. Assim, surge como critica à psicologia objetivista e experimental partindo da própria definição verdadeiro sentido” (p. 1). Em resumo, e
que como as demais ciências buscava o conhecimento absoluto igno de
Fenomenologia pode Ser encarada Merleaupon, podemos dizer que a
—,
—
rando a subjetividade. Ao propor isto, a ciência constrói uma imagem de como uma filosofia que como: um estudo das essências,
homem que não condiz com a sua realidade. O homem não é uma coisa recoloca essas essências na mas
nando homem e mundo existência, posicio
entre as coisas, e como tal não pode assim ser considerado. O mundo é numa relação de facticidade,
sendo uma filosofia
um objeto intencional com referência a um sujeito pensante. transce,,dental que põe em
—
que são centrai s, reconh e independentemente das experiências concretas de cada indivíduo. Escla
preciso esclarecer certos conceitos e noções reça-se, com isto, que a fenomenologia não institui um mero subjetivismo
para a psicolo
cendo o hermetismo de alguns deles e, ainda, o fato que —
concei tos são da ordem da toma a única referência com respeito ao mundo, mas, ao contrário, com
modo “necessário”, ou seja, alguns desses isto estabelece uma te-ligação do sujeito aqui compreendido enquanto
stos ipsis litteris para outro
lógica e da filosofia, e não podem ser transpo
—
como fundam entaçã o de uma subjetivação — com seu contexto, ou seja, re-coloca o ser no mundo.
campo em outras palavras, servem mais Para Mas se o mundo não me é dado como um “absoluto” — ou seja,
técnica ou instrum ento.
atitude posterior, do que propriamente como em si mesmo e também não pode ser confundido com uma construção
, bus
tal, elaboraremos uma breve apresentação de seu arcabouço teórico
—
enolog ia da Psicolo gia. subjetiva, como se dá a percepção do mundo dos fenômenos? Por “per
cando uma leitura que aproxime a Fenom fis” ou por “perspectivas” (Abschattunge,,), diz Husseri, nas Ideen, Re
tomemos essa questão, a partir de um exemplo de Merleau-Ponty
3 ELEMENTOS PARA UMA FENOMENOLOGIA (1942/2006). Em A Estrutjg,’q do Conportan,en,o Merleau-Ponty usa a
Sem evidência,
percepção de um cubo de madeira para esclarecer isto.
não há ciência. Tomemos um cubo. O cubo que vemos ou que percebemos, não
é o cubo “inteiro”, pois o vemos necessariamente por um determinado
Edmund Husserl ângulo. Dois sujeitos que olham para esse cubo, vêem o “mesmo” cubo,
abor só que por “perspectivas” diferentes. O cubo percebido — não é, assim
Um dos aspectos centrais da Fenomenologia é a própria
—
42
das ou estátic as, sendo que o su tantes de serem esclarecidas. Uma delas é exatamente a perspectiva que
talmente, o sujeito e o mundo não são entidad es separa
inserçã o no mundo , o que leva à concepção recoloca a subjetividade em ação: o mundo é mundo de significados que,
jeito somente se deixa apreender por sua
que “G..) o individ uo (...) sempre se encont ra em transiç ão, em evoluç ão; é um ser exatamente por isto, encontra-se relacionado ao sujeito que lhe dá signi
mas modela dor do mundo através de inte ficação. E comum se entender com isto que o sujeito, então, se toma a
emergente nunca fixado, nunca estabelecido, trama his
sempre em devir, o seu desenv olvime nto é marcad o pela referência (única) que dita este significado, ou seja, o mundo passa a ser
nções constantes;
r sentido pessoal da
tórica da sua temporalidade, através da qual ele tem que elabora o “tal qual é percebido ou vivido por um sujeito”. Há dois erros nesta inter-
sua existência” (Buche r, 1989, p. 30).
Adriano Furtado Holanda Fenomen&o&a e Humanismo 51
50
o, distinguem-se Imaginemos o seguinte. Ao longo da nossa vida acumulamos
pretação: primeiro, ao se colocar desta forma a questã vo. A pro uma série de ideias, valores, conceitos, atitudes, que são
se ênfase ao pólo subjeti
dois póios (sujeito e mundo), dando- . Husseri sa experiência pessoal, da nossa experiência com os
produtos da nos
ia é exatam ente o oposto outros, que são-nos
posta husserliana da Fenomenolog dadas pela culturrj (ou pela sociedade ou pela religião, ou
(1913/1985) é claro ao afirmar que não se nega o mundo
, nem se separa o por nossa famí
ão de Merleau lia), e que “atravess” nossas relações presentes
homem do mundo: mas se re-coloca como afirma a definiç
—
sentido desse “atravessar” não pode ser identificado com
ou futuras. Aqui, o
. O mundo de
-Ponty o homem em intrínseca relação com esse mundo l do sujeito,
—
Se fosse compreendido apenas como determinístico, seda “detenninar”
significados a que nos referimos passa pela históri a cultura o lente a
imediato (ou seu dizer que nada mais poderíamos fazer ou realizar, urna vez equiva
passa pela sua vida privada, passa pelo seu contexto mos algo previamente dado. Ser “atravessado” por estas
que já tería
de futuro (seus de
“fluxo de vivências”), passa ainda pelo seu horizonte ca dizer que estas são determj,,a,,tes para o sujeito, masrelaçõe sign
s ifi
ativas) ; enfim, ao invés de se tomar uma
sejos, seus anseios, suas expect sejam determinísticas. “determinatue”, aqui, tem o sentido de
não que estas
a imensidão do
outra teoria determinista, a fenomenologia descortina do, de sentido; significa que acompanjiam e que direciona
enologia não
mundo ao redor desse sujeito da vivência. Portanto, a fenom sam ser considerados, por estabelecerem interações. necess ariamente preci
mas deve ser com
pode ser interpretada apenas pela ótica subjetivista,
na. isto quer dizer que ao nos relacionarmos com o mundo,
preendida como essencialmente intersubjetiva e munda já atri
amos de nos referir diz buímos, já colocamos no mundo, estas ideias, valores,
O segundo esclarecimento a que gostarí des que não estão lá, necessariamente, mas contidas em concei tos e atitu
s buscam interpretar a
respeito a uma expressão corrente entre aquele que es sejam como relação com esse mundo, O “olhar ingênuo” é
nossa experiência
ctivas vigent
fenomenologia como uma via alternativa às perspe semelh ante àquela
—
ouvirm os dizer (ou atitude de nos colocarmos diante de um bom filme —já
estas filosóficas, científicas ou ideológicas. E comum ”. Se ou seja, significa “torná-lo novo”, e ser possível se
visto “de novo”,
—
analítica afirma
este se apre sen que a vida psíquica é um dado imediato, e como tal, —
i
podem os apre en ÇO, necessitando de compreensão e descrição.
ta para nós enquanto fenômeno. Isto significa dizer que expres são do
der o mundo e as coisas através de um “olhar ingênuo”, na os para o
Com isto, Husserl redefine o campo de investigação da expe
próprio Husserl. O que significa isto? Significa que ao
olharm riência. Seu raciocínio parte da ideia de como estudar os
e não en dados da expe
tal, riência em sua totalidade. Coerente com a perspectiva
mundo, percebemo-lo naquilo que se apresenta enquanto cartesiana Husserl
nós, anterior à considerava que todo fenômeno estaria penetrado de logos de
quanto uma determinada representação que já existe em “sentido”
por nossos concei
—
mas que este logos somente se expõe no fenômeno. Este
nossa experiência, e que é ditada por nossa reflexão, fenôm eno não
—
ca”. Husserl ainda diferencia a psicologia fenomenológica da fenomeno (externa ou interna), ou seja, não
—
há fonte de conhecimento
logia propriamente dita e da psicologia clássica aqui considerada como que não seja a experiência e a
—
sensação. Sendo
54 Adriano Furtado Holanda
r
ma experiência sensória ante passando pelos estudos sociais de Adam Smith, David Ricardo e Thornas
assim, as ideias derivam, portanto, de algu Malthus (nomes importantes na construção das modernas teorias econô
s inatas, apenas ideias deriva
rior à sua constituição; ou seja, não há ideia micas), até alcançar a psicologia com o Positivismo evolucjonista
das dos dados da sensibilidade. (tam
bém conhecido por danvinismo social) de Herbert Spencer,
figura de John Locke que terá
A fundação do empirismo se dá a partir da grande importância para o pensamento americano
inar as capacidades, funções e
(1632-1704), que tinha por objetivos, exam gênese, natureza e valor do É neste cenário científico e filosófico que se encontn a crítica
a
limites do intelecto humano, estabelecendo ecimento é a experiência, de Husseri: “o verdadeiro método segue a natureza das
e, fonte de todo conh coisas a investi
conhecimento. Para Lock a gar, mas não segue os nossos preconceitos e modelos”
ais expoentes desta corrente de (Husseri,
sendo a mente uma tabula rasa. Os dem 1910/1965, p. 29). Com isto, Husseri anuncia que a apropriação
empirismo. George Berkeley
pensamento reforçam a tese central do demais ciências
que as
são sensações, não existindo, em especial aquelas que virão, mais tarde, a serem
(1685-1753) defende que todas as ideias
—
es). Em outras palavras, a exis conhecidas como “ciência do homem” — fazem do método naturalista, ou
portanto, ideias abstratas (que seriam ilusõ seja, das ciências fisicas, não leva em conta a especificidade do seu
coisa ser percebida (existe obje
tência de uma “coisa” consiste no fato desta percebido) ou, nas próprias to e do seu objetivo, ou seja, não se pode considerar que o
é psíquico (p.
apenas aquilo que é percebido e enquanto ex.) seja tomado da mesma maneira que o fisico.
é perc eber e ser percebido”. Já David Hume
palavras de Berkeley: “Ser
s da mente são percepções, No mesmo esteio da crítica de Dilthey, Husserl (1 910/1965,
(1711-1776) aponta que todos os conteúdo es), sejam estas derivadas 33) aponta: p.
essõ
sejam estas originárias (que seriam as impr as”).
impr essõ es, as “idei
(que seriam a memória das Os objetos são o que são, permanente5 na sua identidade: a Natureza é
tivismo, como um
Sobre estes alicerces foi construído o Posi eterna (...). O que o Ser psíquico ‘é’, a experiência não o pode ensinar
rio europeu nos mais diversos
movimento que dominou boa parte do cená no mesmo sentido que se aplica ao físico. Pois o psíquico não é apa
literário), enfatizando os de rência empírica• é vivência (...).
terrenos (filosófico, político, pedagógico e
esentado pela figura de Au
senvolvimentos técnicos e científicos. Repr O psíquico não pode ser tomado como “objeto” da mesma ma
faz a exaltação da ciência como
guste Comte (1798-1857), o positivismo neira que tomamos uma pedra, por exemplo. O que Husser]
s humanos e sociais:
o único caminho para a solução dos problema tar é o fato de que uma apreensão naturalista de fenômenos
procura rejei
como o psí
O positivismo reivindica o primado dapara ciência: o único conhecimento quico, “C..) confundem a descoberta das causas exteriores de um
adquirir conhecimento é o fenô
válido é o científico; o único método iste no encontro de leis causais
meno com a natureza própria deste fenômeno” (Dartigues, 1992,
p. 12).
das ciências naturais; este mélodo cons do deve ser aplicado também Ou, do ponto de vista de Merleau-Ponty confunde o objeto
percebido
e em seu controle sobr e os fatos ; tal méto com o sujeito dessa percepção, colocando este objeto-percej0
. (Reale & Antiscri, 2005, “dentro”
ao estudo da sociedade, isto é, à sociologia do sujeito.
p. 287) A Psicologia desta época está, portanto iniluencia pelo posi
elecer uma doutrina da
A posição comteana é, pois, de estab tivismo e se pauta por pesquisas experimentais, sob condições
controla
fenô men os humanos. Segundo das, com o intuito de medir as relações entre estímulos
ciência universal aplicável a todos os por tarefa construir uma objetivos (am
teria bientais) e respostas subjetivas E sob esta premissa que a
Comte (1826/1988), a filosofia positiva capa z de vencer a crise da Psicologia
,
“fisica social” ou uma sociologia científica científica do século )W( foi construída enquanto uma psicologia flsioló
social. Em resumo: ciência
civilização, a partir de uma reorganização , pesquisa pelas causas dos gica. Neste caminho, a Única psicologia científica seria a psicologia
expe
leis” rimental.
passa a ser definida como a “pesquisa de os à prova, cm busca de com
post
fatos (portanto, partindo de hipóteses, A primeira grande objeção de Husserl reside no fato
isão e controle. Este modelo que ne
provação) cujos objetivos devem ser prev nhuma ciência experimental poderia ser o fundamento de
disciplinas co
ectual da época, sendo base para a
influencia sobremaneira o cenário intel fundamento para o utilitaris
mo a Lógica, p. ex., que lida com princípios puros. O que
faltaria à psico
medicina experimental de Claude Bemard; s MuI e John Stuart Mili, logia experimental, diz Husseri, seria uma disciplina anterior,
originária
Jame
mo inglês — desde Jeremiah Bentham, não mais baseada em “fatos”, mas em “vivências” O
fenômeno psíquico
56 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanjs0
57
não é um fato a ser observado diretamente, mas se caracteriza por ser ceber, de caminhos a percorrer, de trabalhos
a cumprir, de obras a rea
lizar. A luz fala, sobretudo, de um
uma “experiência vivida” ou uma “vivência de uma consciência”. O pro mundo em que ele nasce e cresce,
ama e odeia, vive e morre, a todo
jeto de uma psicologia empírica deve ser, pois, de uma “ciência natural o fisico não poderia empreender
instante. Sem esse mundo originário,
da consciência” e, para tal, deve ser antecedida por uma análise direta da possível nem mesmo existir. E, ao
suas pesquisas, pois não lhe seria
consciência pura tarefa esta da Fenomenologia e com a qual não se atingir-lhe os olhos, a luz não so
—
mente fala, a luz é tudo isto. (Leão, 1988,
p. 19)
confunde: uma psicologia empírica deve ser precedida por uma psicolo
gia eidética. Dito de outra forma, e recuperando a redefinição de “expe Retomemos o percurso husserliano Seu
projeto de urna feno
riência”, temos que, como assinala Dartigues (1992), o experimentalista menologia como ciência rigorosa toma como
ponto de partida, não mais
(o psicólogo experimental, p. ex.) realiza “experimentação” da realidade, as opiniões dos filósofos, mas a
própria realidade (Dartigues, 1992). Tra
ou seja, ele tem uma “experiência sobre o fenômeno”, enquanto que o ta-se de uma “terceira via”, alternativa:
1) ao discurso especulativo da
fenomenólogo tem uma “experiência do fenômeno”, ao que poderíamos metafísica (lá formalizado e sedimentado)
e, 2)
denominar “experienciação”. Assim, para a primeira ter um sentido, deve positivas (que apontava para um dogmatismo ao raciocínio das ciências
via” seria, diz Husser), a “das cientificista) Essa “terceira
se fundar sobre a segunda, portanto, para Husserl, as ciências empíricas coisas-mesmas»
devem se fundamentar nas ciências eidéticas. Como se percebe, Husseri se coloca a
“ancoragens” (Depraz, 2007): a ancoragem meio-canhinho de duas
Portanto, é possível realizar uma psicologia empírica exala (ou empirista e a ancoragem ra
positiva), como o próprio Husserl assinala: “Se por ‘positivismo’ enten cionalista Dito de outra forma é como se
nhecemos as coisas, e chegássemos à pensássemos sobre como co
demos o esforço, absolutamente livre de pré-julgamentos, para fundar seguinte conclusão: há coisas que
todas as ciências sobre o que é ‘positivo’, ou seja, suscetível de ser toma conhecemos graças a nossa experiência
direta prática, empírica e,
do de maneira originária, somos nós os verdadeiros positivistas” (Husserl, assim, concordamos com o ernpiris,;,o —
—
esta sensação o “nome” de fome. E claro que em muitas ocasiões confun Temos, portanto, assim a avperjê,jcia
empírica do número. Mas, e quando
dimos experiências, como o fato de “deseja?’ algo para comer (situação nos deparamos com a ausência, com o
“zero”, por exemplo? Será que po
típica na propaganda, p. ex.) com a própria sensação fisica de fome, O demos dizer que temos a “experiência”
do zero do mesmo modo que temos
que se tem em comum a todas essas experiências é que estas “se dão”, de a experiência do um, do dois ou do
trinta? Nossa tendência imediata é dizer
certa forma, imediatamente antes de serem “refletidas” ou “pensadas” que sim, que temos a mesma experiência;
mas,
como tal. Ou seja, primeiro temos a experiência, depois nominamo-la. E a “zero” ou o conjunto vazio? Na imagffiaçào onde e como percebemos o
(ou na fantasia, ou no pensa
isto que se quer significar com a expressão “experiência antepredicativa” mento), pois não há vazio no mundo
empírico. Observem que, ao pensar
ou “pré-reflexiva”. Outro exemplo: mos no “vazio”, precisamos “crias”
algo que “ocupa” o lugar do vazio. E
isto se dá na imaginação, na reflexão,
Quando de manhã cedo um fisico sai de casa para ir pesquisar no la no pensamento Mais um exemplo
para verificarnios a realidade dessa
boratório o efeito de Compton e sente brilhar nos olhos os raios de sol, experiência racional: onde localizamos
(ou Percebemos) afração na natureza?
a luz não lhe fala, em primeiro lugar, como fenômeno, de uma mecâ são exemplos de que não temos a
Ou os números irracionais? Esses
nica quântica ondulatória. Fala como um fenômeno de um mundo car experiência empírica de uma boa parte da
regado de sentido para o homem, como integrante de um cosmos, na realidade, mas que esta não deixa de ser
realidade por isto ao contrário, se
acepção grega da palavra, isto é, de um universo cheio de coisas a per revela como uma realidade pensada,
imaginada, ou fantasiada. Eis a anco
E
58 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 59
equivalerja a um subjetivismo
radical), nem no objeto formal (que que
sência” e esta é imanente aos fenômenos e podem ser percebidas por valeria a um realismo radical), mas equi
transparência daí seu “retomo” ás coisas-mesmas. Para Husserl çào entre sujeito
nesse entrelaça,nen,o nesta correia
—
que se
—
filosófico remonta a Aristóteles, como a forma sem matéria que existe na aos fenômenos psíquicos. Nenhum
fenômeno fisico apresenta algo
mente do ser pensante: na percepção, a mente recebe a forma do objeto semelhante Podemos, pois, definir os fenômenos
Psíquicos dizendo
que são fenômenos que contém
percebido sem a sua matéria ou seja, segundo Aristóteles, quando vejo intencionalmente um objeto neles.
(Brentano, citado por La11tériLaura, 1963, 58)
uma árvore no jardim, recebo a “forma” da árvore, mas não sua substân p.
cia de madeira. Há assim, similaridade de forma entre a árvore do jardim Percebamos que Brentano usa o termo
e sua imagem mental, mas não há similaridades em suas matérias. Decor não deve ser confundida com “intenção” “intencionalj&ide» que
(no sentido de tendência na di
re daí que a árvore existe de duas maneiras, na mente: intencionalmente, reção de um objetivo). Para Brentano
a intenciona1ide como caracte
como simples forma na mente; e realmente, como combinação de forma e rística fundamentai dos atos psíquicos
designa o conhecimento como “um
de matéria, no mundo exterior. concreto e total estar referido a alguma
coisa exterior” ou, cqmo um “re
Esta distinção de existências persiste na Escolástica medieval, portar-se incessantemente ao mundo” (Maciel,
2003, p. 31). E nesta dire
que veem a existência real e intencional como de diferentes valores. To ção que a Fenomenologia define a
consciência como ato e é a intenciona
Adriano Furlado Holanda Fenomenologia e Humanismo 65
64
Graças à intencionalidade, o mundo deixa de ser simples mundo
lidade que dá a estrutura fundamental da consciência, fazendo com que de “coisas” e passa a ser a morada dos “fenômenos”, como “essências”
esta cesse de ser uma interioridade fechada em si-mesma, para ser aberta que não têm existência fora do ato da consciência. A essência é sempre o
mais do
ao mundo visado. “A palavra intencionalidade não significa nada termo de uma visada de significação, ou seja, “essência” para a fenome
ser
que esta particularidade fundamental e geral que tem a consciência de nologia é o sentido do fenômeno.
a coisa, de portar, em sua qualid ade de cogito , seu
consciência de algum
cogitatiun nela mesma”, diz Husseri (1931/1980, p. 28). Isso significa que as essências não têm existência alguma fora do ato
Para nós, importa um pequeno detalhe, que nos parece impor de consciência que as visa e do modo sob o qual ela os apreende na in
tante pontuar e que talvez sirva para clarificar o conceito, que é o seguin tuição. Eis por que a fenomenologia, em vez de ser contemplação de
um universo estático de essências eternas, vai se tornar a análise do
eta
te: a expressão “consciência de alguma coisa” (sem o hífen) é compl dinamismo do espírito que dá aos objetos do mundo seu sentido. (Dar
iência- de-algu ma-coi sa”
mente diferente da mesma expressão “consc tigues, 1992, p. 18)
são
(com o hífen). O hífen liga e impossibilita a compreensão da expres
onalid ade: liga a consci ência ao
sem esta ligação. E isto que faz a intenci Para a fenomenologia, pois, não importa o objeto em si ou a
mundo, e o mundo à consciência. Remet a e consci ência a algum a coisa consciência em si. Nem o objeto, nem a consciência “existem” por si. A
. Ao
fora dela, e não permite que a consciência se feche sobre si mesma análise intencional nos “obriga” a conceber uma relação entre consciência
enquan to fenôm eno diante desta
mesmo tempo, coloca o mundo —
—
e objeto. Isto significa dizer que “consciência” e “objeto” não são entida
consciência. Assim, consciência e mundo se constituem mutuamente, des separadas, mas se definem respectivamente, no que Husserl chamou
ato.
para a fenomenologia. A consciência fenomenológica é, portanto, de “correlação” (percebam que estamos falando de conelaçao, corres
Para a fenomenologia a partir da intencionalidade da consciên
— pondência, e não de ideizt(ficaçjo) Fora dessa correlação não há, para a
cia o ego-cogito cartesiano se toma um ego-cogito-cogitatwn. Toda fenomenologia, nem consciência, nem objeto. Uma questão que se põe
consciência é arremessada em direção a algo, necessariamente. Não há
—
aqui pode ser: “quer dizer que a consciência não existe?”. Não se trata
s,
mais como pensar a consciência destacada das coisas. Em outras palavra disto. O que é a consciência enquanto função orgânica, p. ex., é da seara
a consciência é sempre “consciência-de”: não há mais como consid erar a da ciência natural e não da fenomenologia Dito de outra forma, a cons
consciência do vazio, por exemplo. Vejamos as consequências disto: qual ciência como função orgânica é “problema” da biologia ou das neuro
to.
quer ato como o “pensar”, p.ex. remete igualmente a algum correla
—
— ciências. Não nos interessa a consciência “em si”, mas a consciência en
nso-
Ou seja, não mais simplesmente tenho o “eu penso”; mas o “eu-pe quanto correlação com o mundo.
algo-pensado”. E isto vale para qualquer outro ato da consciência. Temos o A intencionalidade não finaliza no objeto, ela é dinâmica, não
e as
querer e o objeto-querido, o ver e o objeto-visto, o sentir e o sentido, pára no objeto (Christoff, 1966). Ela, pois, ao mesmo tempo, apresenta o
sim por diante. E isto igualmente é fácil de ser assimilado. mundo e presenqflca o sujeito diante deste mundo. E nesta dupla relação
Vejamos este exemplo: uma criança chega para sua mãe e diz: que se dá o solo da análise intencional. O campo de análise da Fenome
“Mãe, eu vi...”. Imediatamente surge para esta, mãe, uma pergunta corre nologia será então o da elucidação da essência dessa correlação entre
lativa à afirmação da criança: “Viu o que?”. E praticamente natural que consciência e objeto, já que é no campo da consciência que o mundo se
Assim,
façamos tal pergunta, pois a afirmação carece de complemento. estende. A análise intencional husserliana irá, portanto, recobrir toda a
não mais há o objeto destacado da consci ência. O objeto é sempre “obje esfera dinâmica do “espírito” (o nous), e compor-se_á da análise da nóese
to-para”, dado que o ato remete a um correla to, ou seja, não há mais sim (a atividade da consciência) e do ,,óenga (o objeto constituído por essa
ato dirigid o a um objeto. Em outras atividade).
plesmente um ato em si, mas um
palavras: se a consciência é consciência-de-alguma-coisa, então um obje Outro ponto importante a ser relembrado: a correlação sujeito-
to, é
to só tem sentido de objeto quando relativo a uma consciência, portan objeto só se dá naquilo que Husser! chama de “vivência” ou Erlebnis.
(para um sujeito da consci ência). Seda
um objeto-para-uma-consciência Para se estudar esta correlação, é preciso realizar uma operação de cons
-objeto
aqui que poderíamos falar da tal “superação” da dicotomia sujeito ciência, chamada de “conversão”. Trata-se de “suspender” a crença na
e que, curiosa mente, precisa dos dois
à qual nos referimos anteriormente realidade do mundo externo para se colocar como consciência transcen
pólos para se tomar uma equaçã o viável.
66 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
67
dental, ou seja, que transcende a mera realidade empirica e que se coloca ideias, valores, conceitos e julgamentos
(que estão em mim, antes mesmo
noutra posição. Esta é, segundo Husseri, a condição de “aparição” do de me encontrar com esse mundo).
A isto Husseri dá o nome de redução
mundo como fenômeno. E a esse desdobramento que se chama atitude fenomenológica e é o que permite colocar
em evidência o ser-no-nisipido
fenomenológica, que toma a consciência doadora de sentido e não mais a produto desta intencionalidade.
coloca como parte do mundo. Trata-se de uma atitude de
Podemos nos referir a isto da seguinte maneira: a atitude feno lecidas em prol de um contato direto abstração das ideias pré-estabe
com o observado e com o vivido.
menológica é uma disposição melhor entendida como uma dis-posição
—
Desta maneira, sem elementos
perturbadores, a apreensão do mundo sur
— do sujeito da consciência, como uma mudança de posição. Trata-se de ge mais clara e límpida. Segundo
Husserl, é preciso realizar a epochá
um deslocamento de uma posição para outra, de um desalojamento, ou fenomenológica, ou seja, pôr o mundo
entre
seja, da posição natural para a fenomenológica, que possibilita a “descober qualquer juízo da realidade. Não afirmar parênteses, suspender todo e
ta” do mundo. “Descobrir” é um verbo interessante neste momento, pois antes se deixar abandonar á compreensão ou mesmo negar algo46, mas
desta realidade, que assim esta
aqui não se trata de outra coisa que não seja realizar o des-encobrinzento do ríamos voltando ás coisas mesmas.
mundo, que estava “coberto” pelas vias das ideias, da cultura, das ideolo
gias, do ‘já-sabido”, na direção de uma outra experiência. Quando procedo assim, (...), eu não nego
este “mundo”, como se
A consciência deixa de ser “parte” do mundo para se tomar o
um sofista; eu não coloco sua existência em dúvida, como se fosse
um céptico; mas eu opero a epoche fosse
lugar do desdobramento do mundo no campo da intencionalidade. E o “fenomenológica” que me impede
de todo julgamento sobre a existência
espúcio-tempoJ Em con
mundo deixa de ser considerado como “coisa”, destacado da consciência. sequência, todas as ciências que se reportam
eu as ponho fora de circuito, não faço a este mundo natural
/
O mundo como “coisa”, como rês, é uma das consequências do pensa —
absolutamente nenhum
—
mento cartesiano. O “eu penso” de Descartes faz do “eu” do cogito, tam uso de sua validade; não faço minhas
nenhuma das suas
fossem mesmo de uma evidência perfeita; proposiçóes
bém uma substância (a “alma”) e, por conseguinte, uma rês. A intencio não acolho nenhuma, ne
nhuma me dá fundamentos (Husserl,
nalidade diferentemente da dúvida cartesiana reconecta o “eu penso”
—
—
/
todos os sujeitos?
“localizada”. Metaforicamente, a consciência não habita o homem, mas o Antiseri, 1991, p. 564) (citado por Reale &
homem habita a consciência (ou, melhor dizendo, ele é consciência). Da
mesma forma, uma sensação não “está” no corpo, ela é o corpo e o corpo
é a sensação.
A análise fenomenológica nos coloca, pois, diante do mundo 46
Nusserl parte do ego solipsistu (um
eu-pensante, fechado em sua racionalidade, em
que precede a reflexão, nos coloca diante de uma realidade que não é consciência individual definidora, um
ego-cogito) de Descartes pan determinar
sua
aquela dada a priori por minhas ideias, conceitos, valores, etc. A atitude nova relação do ego enquanto um ogjr0j10, uma
ego-cogito-c que designa que, através da
consciência intencional, se estabelece
fenomenológica requer uma outra operação: para se ter o mundo como Desta feita, a relação sujeito-objeto
uma ligação intrínseca entre o sujeito
e o objeto.
fenômeno, devo me abster desses a priori que me acompanham, devo me se
mentos. Isto permile, pan a Psicologia, define em si própria, e não mais em seus ele
colocar diante do mundo numa atitude ingênua, devo “suspender” minhas va de um devjr heraçljtieo uma retomada do ser humano numa perspecti
68 Adriano Furtado Holanda
enologiaeHumanism
Redução é uma busca do significado, uma procura pelo subjacen (técnico) e, assim, ser operacionaljdos
por esta ou aquela teoria. Em
te, em detrimento do simples aparente. A consequência da epoché é a intui outras palavras por serem
ferramentas lógico-fi1osfi5 não
associadas a atos instrumentais, como podem ser
ção das essências (Wesensschau). Afinal, Fenomenologia não é apenas uma atitude clínica, por exemplo.
descrição do fenômeno, do aparente. Isto seda realizar um simples feno Como assinala Morujão (1984):
menismo. Mas antes, fazer fenomenologia é realmente se embrenhar por Os termos epoché e redução
dentro da realidade, para desvendar o que está por detrás desta realidade. aparecem, contudo, quase sempre indife
rentemente para designar o mesmo conceito
Esta noção igualmente merece uma ressalva. Husserl principia dois conceitos distintos, embora (...). Em rigor, porém, são
relacionados. Graças à prática da
suas elaborações sobre a “redução” em 1907, no texto A Ideia da Feno epoché é que se consegl.Je a redução.
inenologia; mas em 1913, nas Ideias 1 já elabora diversas reduções. A to muito feliz ao afirmar “Epoché Fragata (...) dá um esclarecimen
te ao termo a quo; ‘redução’, refere-se, portanto mais diretamen..
redução é uma ferramenta lógico-filosófica e a transposição da filosofia cer a ‘epoché’ é simultaneamente
ao termo ad quem. Como, porém,
exer
para outras ciências é relativamente complexa (Castro & Gomes, 2011). gados indiferentemente pelo próprio
‘reduzir’ os dois termos são empre
E importante, então, fazermos algumas distinções. E muito comum en Husserl”. (p. 76)
contrarmos a ideia de redução como sinônima de epoché, só que isto não Para MedeauPontj,, a gia fenomenológica é a
é inteiramente verdadeiro. das essências ou do sentido, e Psicolo pesquisa
que quando levada aos seus limites,
cologia eidérica se torna a psi
Já em 1913, o conceito da redução fenomenológica foi introduzido analíti coexistencial Uma psicologia
deve situar o sujeito enquanto presença eidética
como elemento central do método fcnomenológico. A rcdução é, em de se acessar o fenômeno tal qual no mundo . A reduçã o é a maneira
termos gerais, definida no texto como a exclusão do transcendente à ele é.
consciência em geral. Ou seja, a exclusão de uma existência a admitir
por uma vigência a qual não se tem como percebedor o acesso eviden A redução não é uma abstração
te. De acordo com Fouche (1984) o conceito carrega ai dois passos ló mas uma mudança de atitude relativamente ao mundo e ao sujeito,
fenômeno, ou como constituintes (...) que nos permite visualizájos como
gicos: um negativo, a époche, que é a suspensão de pressuposições de uma totalidade, no seio da qual
sobre um fenômeno intencionado; e um passo positivo, o exame des mundo e o sujeito revelam_se, o
reciprocamen te como significaçõ5
critivo do fenômeno em busca das essências constitutivas de sua apa (Forghieri, 1993, 15)
p.
rência. Deve-se ressaltar, entretanto, que a compreensão dessa defini
ção ampara-se no projeto metodológico de Husserl, onde se destacam, Em resumo: está-se falando de
não se refere ao trabalho do uma operação lógica; portanto,
os níveis processuais para a efetivação da redução. Afora o cará psicólogo dfretamente Dito de outra
ter processual, o conceito é ainda definido de forma heterogãnea ao não se deve sair por aí dizendo
que se faz “epoché” aqui ou ali,
forma,
longo da obra do filósofo. E, portanto, dificil argumentar cm defesa de não se aplica. Epoché é a suspensão
na crença da existência da
pois isto
uma forma estrita de redução. (Castro & Comes, 2011, p. 235) colocando esta crença e esta realidade realidade,
cuito” (como aponta Husserl, 1913/1985)— entre parê ntese ou “fora de cir
—
No texto de 1913, Husseri descreve uma sucessão de reduções mundo. Porque pratico a epoché Epoché é a suspensão da tese do
progressivas, o que nos leva então a falar de diversas “reduções”. A redu POSSO “reduzir” o mundo ao
transcendental47 e revelá-lo como correjato fenómeno
ção “primordial” equivale a uma mudança de atitude: da natural para a imediato da consciência
fenomenológica, que “G) se desdobrará em reduções secundádas (...), a ‘
Aqui mais um conceito complicado
saber: redução fenomenológica psicológica, redução eidética, e redução dental Possuem siíflcações
e que dem cuidado:
tucendente e scen
fenomenológica transcendental” (Castro & Gomes, 2011, p. 235). Temos especificas para a fenomenoiogia
ponde às coisas como existentes fora Trwlsce,,de,,te corres
uma “redução fenomenológica psicológica” onde se pretende suspender o
da consciência. e
como reduzidas (correlativas) à !ranscende;jfa/ refere se às coisas
consciência (Momjão 1984). Mas não
valor já dado pela consciência ao mundo, mas não se nega o sujeito empi mos autores e comentadores que
se referem ao
é raro encontran
tal» como aquilo que está fo
rico. Temos a “redução eidética” que é a redução às essências, constituin ra consciéncia — ou no mundo em clara “transcenden
sendo o “nscendente” ou seja,
—
associação ao que se dee ima como
tes de sua evidência, e a “redução transcendental” onde se suspende o em oposição a “imente”
sujeito), de modo que é imprescindível (relativo à consaiéncja do
próprio sujeito empírico (Castro & Gomes. 2011). Assim, é importante preciso que os termos “transcendente»
que se faça a leirwa do termo
ada E
e “frasscendenmj» sejam udos contexmaçiz
destacar que as reduções são atos permanentes, e não temporários; por texto no qual estão colocados,
pois suas compreensões podem
em relação ao con
tanto, não são e não podem ser reduzidos ao meramente instrumental exemplo, eslabelecerse uma
Oposição entre o “Iranscendental» e o
diferir E comum, por
‘empírico’, sendo o
4
70 Adriano Furtado Holanda Fcaomenoloa e Humanismo
71
Como se percebe, nada disto é “prático” para uma ação direta mujido e, ao mesmo tempo,
—
I
objeto-para-uma-consciência.
STÓR. E VIDA
O projeto de Husseri para a filosofia consiste, pois, em:
(...) ffindar e fundamentar
—
pela análise intencional, as significa
—,
Noli foras ire, in te redi,
ções vividas das pessoas, bem como os conceitos constituídos. Para in interjorc homjne habitat ventas38
realizar este projeto, a razão especulativa deveria seguir dois cami
nhos, complementares: por urna análise regressiva, voltar-se para si Santo Agostinho
mesma para refazer a génese de suas intencionalidades, a partir de sua Evidente que a complexidade da
arqueologia pré-teórica e pré-objetiva; por uma redução constitutiva, apenas nas ideias referenciadas acima. Fenornenologia não se esgota
ascender ao mundo da consciência pura e das suas unidades transcen Há muito mais a ser analisado. Po
rém, como nossa intenção é tão
dentais. Porém, os dois caminhos o objetivo é o mesmo: apreender, teremos que fazer escolhas e
somente hxljcar caniipJos preliminare5,
possuir e expticar intelectualmente os sentidos que o mundo nos ofe eventuainente não destacar adequadame
rece. (Bucher, 1983, p. 34) este ou aquele conceito. Dado que
nossa direção é o solo desenvolvido
Psicologia, tentaremos desenvolver pela
mais algumas ideias da Fenomenologia
Ainda com relação à redução fenomenológica, podemos obser dirigidas a esta ciência, cientes da
limitação dessa proposta.
var que, além da dificuldade natural de mantermo-nos numa postura dis Por exemplo: uma noção central e
tanciada de nossos valores, há ainda a possibilidade de um outro erro, a der a Fenomenojogia é a de temporal fundamental pan se compreen
total abstenção de participação, ou seja, o distanciamento indiscriminado de forma contundente por diversos idade ainda mais por ser referenciada
da relação com o mundo e a realidade. Ou seja, redução não significa psiquiatras que se orientam pela feno
menologia, como Minjcowslrj e Binswanger
abstenção de relação ou anulação de valores ou ideias, mas tão somente tema requereria um estudo aprofundado Todavia, a complexidade do
suspensão temporária destes valores ou ideias no intuito de aproximar o específico sobre a questão.
Só para se ter uma ideia da
sujeito pensante da efetiva realidade do objeto, e não da concepção su e
Husserl marca o caráter temporal da complexidad desse tema, o próprio
posta deste. Esta é a real tarefa da fenomenologia. A redução se revela, Lições para tinia Fenomenologia da experiência. Diz Husserl em suas —
pois, como a abertura da consciência para a emergência do fenômeno. so proferjdo entre 1906 e 1907 Conscié,,cia Interna do Tempo, cur
Assim, podemos perceber que a Fenomenologia husserliana se que a temporalidade é “o mais dificil
dos problem fenomenológicos»
—
caracteriza por ser empirista naquilo que nos remete à experiência do (Flusseri 1928/1994), sendo a forma
—
os diversos sentidos que a palavra “consciência” adquire para Husseri, o como unidade de ato, O que significa isto?
xões, experiências se dão neste Que nossas percepções, refle
primeiro deles exposto nas suas Investigações Lógicas, já em 1900/
—
—
ou, nas palavras do próprio Hus
do fluxo dos vividos”. Como reitera Sokolowski (2007): “C•) é no domí serl, unificadas no “presente vivo” sem,
contudo, ficar aprisionadas de um
nio da temporalidade que a fenomenologia aborda o que seda chamado momento como um “agora”. “Não estamos
de primeiros princípios das coisas que ela examina” (p.14l). condenados a vaguear na ausência, Graças aprisionados na presença nem
à
Por ser de tamanha complexidade não analisaremos esse tema vidas são complexas tapeçarias de presença consciência do tempo, nossas
dade, identidade e diferença” (Brough & e ausência, unidade e diversi
aqui, em profundidade. De qualquer modo, é importante que remetamos o Blattner, 2012, p. 128).
leitor a dois textos cruciais para quem quiser entender melhor a questão A estrutura do “presente vivo”
da temporalidade e que compõem o campo de estudo necessário para o sente como extensão dinâmica, como um husserliano aponta para um pre
sões intrínsecas que Husseri dá o nome presente alargado a suas dimen
—
jeitos de experiência (Dmmmond, 2007). Husserl parte do “subjetivismo Voltemos à questão da intersubjetjvd
transcendental” caflesiano para uma “intersubjetividade transcendental”. O apreensão do outro? O outro me Como se dá esta
percurso pan desembocar ali começa com a apreensão do eu próprio indi é dado também nesta dupla
como o objeto e como analogo,, a percepção,
vidual e do seu corpo-próprio (daí a importância desse tema). de meu corpo-próprio como meu corpo, O outro me é dado a
partir
Observe-se que a questão da subjetividade vem acompanhada presentificação desse outro como um
tro-eu” como um alter-ego.
—
“ou
do tema da “corporeidade”, ou seja, temos um claro entrelaçamento entre
temas diversos como “temporalidade”, “corporeidade” e “subjetividade”. O que me leva a ler, sobre este corpo
cepção, a presença de um outro sujeito, presente no meu campo de per
O corpo, diz Hussed (1931/1980), vem considerado numa dupla acepção: é a sua semelhança com o
de um lado do lado de sua “exterioridade” eLe é objeto, é “coisa”, e próprio como, ele mesmo objeto do meu
/
—
—
mundo,
lógica anterior a todo o juízo. (Kelkel & e isto por uma aliança ana
como tal é um ponto de referência para o sujeito, o que chama de seu Schérer, 1954/1982 p. 51)
“ponto zero”. De outro lado do lado de sua “interioridade” o corpo é
—
—
mesma consciéncia, através da intencionalidade. Isto mostra, dentre outras coisas, que Desta intersubjetividade se
o tema da intencionalidade encontra-se, em Husserl, estreitamente associado ao pro dade, visto que o mundo, no fimda, pois, o domínio da objetivi
blema da constituição dos objetos (Tourinho, 2009). qual o meu eu está inserido,
é o mesmo
50
Trata-se de uma série de conferências pronunciadas por Husserl, em 1929, entre 23 e
24 de fevereiro, a convite do instituí dEtudes Gennaniqs’es e da Société Fruo çaise. A questão da cooreJdade
e da tercooreidade vai ser
mas somente publicadas em 1931. trabalhos de Merleua-ont meor desenvolvida com os
— 1
mundo para lodos; mundo este que apreendo a partir de meu “ponto ze nologia que a toma um instrumento
ro”, meu ponto de referência, ou seja, meu corpo-próprio e, graças a esta sentido da natureza humana, e imprescindível para a apropriação
o instrumento do
intersubjetividade, o eu primordial se lona existente no mundo. um modelo de apreensão do per se de constituição de
—
vivido.
—
/
ética da fenomenologia franscendenlal, que faz com que o pensamento de por uma necessidade de e, enquanto tal,
Husserl alcance uma dimensão de superação do seu idealismo, e a dimen ria. (...) [Ai história não é,essência, traz em si o horizonte da
de principio nada mais sua histó
são do Lebenswelt, do “mundo da vida”. A Fenomenologia apresenta-se Vivo da solidariedade e senão o movimento
da
como necessariamente ética na medida em que a intersubjetividade se da sedimentação do sentidoimplicação mútua da formação do sentido e
Schérer, l982,pp. 111-1 12) originário5 (Husseri, citado por Kelkel &
revela como a confirmação do outro como um sujeito.
Abordar questões de ética significa abordar questões de sentido A elucidação das relações
entre fenomenologia e
e de valor. No sentido de uma fenomenologia transcendental, o Outro tem mente se dá nas obras tardias
de Husserl, mas ganha relevo história so
valor de Outro exatamente quando me é reconhecido como tal, quando Ciências Eznvpeias e a
Fenonienologia Trafrzscende,;ta/
na Crise das
destaca-se do mundo objetivo através da peculiaridade de ser um anulo Nesta última obra, Husser?
retoma a história da filosofia
obra de 1936.
gon, um “análogo” de mim, tomando-se, assim, um verdadeiro Outro apresentar a “crise” de suas
ciências, e sugerir o retomo
moderna para
para mim. E isto se dá no momento em que a minha subjetividade acessa vida”, como saída desta
crise. Ai apresenta sua ao “mundo da
o mundo para estabelecer com este mundo uma relação de sentido. Em história, a partir do desvendar nova interpretação da
da redução:
outras palavras, a apreensão do Outro tona-se fundamento ético, dado
que descobrimos o mundo em comum no qual vivemos com um Outro. O que a redução desvenda,
ciência reduzida somente à com efeito, não é a solidão de uma cons
A história do desenvolvimento das ideias fenomenológicas está sou’ mas, mais evidência do seu ‘eu penso’ e do
seu ‘eu
calcada nestas premissas. A evolução do pensamento husserliano, de um primitivamente mesmo que ‘Pronominalização a
plenitude concreta da subjetividade
modelo inicialmente voltado para um “idealismo transcendental”, cujo as intencionalidades constituinte; é a subjetivi
múltiplas que a ligam ao com
acento está colocado no sujeito consciente, fazendo com que a análise in bensii’e/t) e a via pela qual mundo da vida (Le
as estruturas a priori deste
tencional se desenvolva na direção de uma “exegese de si próprio” ou nu tas em relevo (KelkeJ &
Schérer, 1982, p. 54)
poderão ser pos
ma “egologia”; desembocando numa filosofia “existencialista”, onde se
O fato de haver uma
acentua não mais a relação sujeito-objeto, mas consciência-mundo, faz com dependência da intencionalidade
flexionanle não significa o do ato re
que a fenomenologia se traduza numa consideração do ser-no-mundo. consciência pura, como Husseri
fechamento
do mundo em mim mesmo.
a entende, é original mente A
Portanto, conclui-se pela ética como substrato fenomenológico. é o substrato fundamental temporal.
da questão histórica. Assim, Este
A partir da apreensão do Outro descortina-se a essência ética da realidade como mundo histórico: o mundo é vivido
intersubjetiva: a relação eu-outrem como fundamento da realidade social “G..) a história constitui o nosso ‘horizonte’ de
e vivencial, a partir da descoberta do mundo em comum e da fundamen 52
Frage naeh de,,, Urvpnu,g
der Geometrie
tação ética do homem. E é esta natureza essencialmente ética da Fenome cada em 1936. ais
Problem publi
78 Adriano Furtado Holanda Fenomenotogia e Humanismo
79
inteligibilidade e de cultura. Não está fora de nós, pertencemos-lhe pela para melhor nos permitir agir sobre
ele e nele. “Ser homem é ser num sen
própria historicidade da nossa vida” (Kelkel & Schérer, 1982, pp. 5 5-56). tido teleológico, é dever ser”
(Ke&el & Schérer, 1982, p. 59).
Na fenomenologia, a constatação é que o “mundo da vida” é es O apelo da Fenomenologia está
sencialmente histórico, e que a historicidade define o nosso ser no mun tivo, teleológico, dado que o calcado neste aspecto prospec
coloca,’-se do homem é um ColOcar_se
do. A história é tradição e transmissão, O que é histórico é um “sentido te de. O ideal de “ciência rigorosa” dia,,
sedimentado”. Para Husserl, é pela trans-historicidade que se compreen de Husserl se realiza apenas pelo
“despertar de cada sujeito” para a responsabjljd0
de o histórico. O sentido nasce historicamente, e pode ser reproduzido co-sujeitos, tomando a filosofia uma partilhada com seus
pela reflexão. A história deixa de ser então um conjunto de “facticidades” tomada de consciência da humani
dade por si mesma, Reconhecese
para se tomar um devir histórico autêntico no qual se elabora o sentido então, como substrato da redução,
própria humanidade, ou: a
humano. Como assinala Eugen Fink, “a vida constituinte da subjetividade
transcendental é ela mesma histórica” (citado por Kelkel & Schérer, como muito bem notou Tran Duc Thao,
o conteúdo real da subje
1982, p. 57). Abre-se, pois a perspectiva de adentrarmos o mundo da tividade transcendental é a humanidade
intersubjetividade através da redução. fenomenoiogia transcendental pretende real, único sujeito histórico, A
de tomar consciência de que apenas (...) fazer a humanida
A redução e não, como em Hegel, a totalização dos ‘momentos’ dos seus projetos falhados e édesujeito e de que semprc o foi através
suas conffisões. (Kelkel & Schérer,
é que permite à consciência captar a sua plenitude concreta e à história 1982. p. 61)
racionalizar-se. Compreender-se historicamente toma-se a última etapa
de uma compreensão de si. Se a origem da reflexão permanece, realmen A retomada da questão da história
trema importância por marcar na Fenomenologia é de ex
te, na consciência que tenho de mim mesma, abre-ma, porém, a uma sub aproximações significativas com a Psico
jetividade originária (Ur-Ich) que é também intersubjetividade... (Kelkel logia moderna, notadamente com
a
gotskj, p. ex., quando este afirma perspectiva históricoculmral de Vi
& Schérer, 1982, p. 58). que
sujeito constituído em suas múltiplas o sujeito do conhecimento é um
Para Husserl, história é eminentemente uma histó,-ia do saber. Além disso, é a via de acesso que relações (González Rey, 1999),
Porém, assinala que se pode compreender a si próprio sem se descobrir o tão do “mundo da vida” ou “mundo Husserl se utiliza para resgatar a ques
sentido da história. Assim, a história surge com um caráter duplo, de per vital”, o Lebenswefl,
manência e evolução. “A redução, enquanto acabamento de um movimento Na Crise, Husserl reflete
vidade, para concluir que a “crise” sobre a história e sobre a intersubjeti
histórico latente, permite pôr em evidência o que, desde a origem, estava das ciências europeias (e, portanto
humanidade) é uma crise do significado da
presente sob a forma do ideal de compreensão universal do homem: a hu vida da humanidade, ou seja, uma dessas ciências para a própria
manidade em sujeito mas não o sabia” (Kellcel & Schérer, 1982, p. 59)53, ciências, produto do distanciamento
crise derivada da perda do sentido das
Este é o “ideal” humanista presente na fenomenologia husserliana; a ideia põe atender, Com a objetivação destas da humanidade a que se pro
de que o fenômeno histórico mais importante é justamente esta humanida das ciências, subverte-se a noção
dade para um sentido que é atribuído de ver
de que busca continuamente a sua própria compreensão. “Humanidade” fenomenozogia, a verdade se define pela externamente. Ao contrário, para a
aqui entendida como vida única de indivíduos, como “comunidade” de de, que é a evidência: “A evidência experiência vivida desta verda
sujeitos que se reconhecem (Flusserl, 1935/1996). dade, isto é, o momento da consciência é o modo originário da inrencionali
Este aspecto “teleológico”, contudo, não se fecha num “saber fala se dá em carne e osso, em em que a própria coisa de que se
pessoa, à consciência, em que a intuição
absoluto”, O fim da história reside na unidade do ato no qual o homem preenchida” (Lyotard 1986, p. 40). é
afirma a sua responsabilidade: tal qual se postula no dogmatismo Não há, pois, uma verdade absoluta,
O homem que atinge a última compreensão de si descobre-se uma ultrapassagem dialética de si mas esta se define como devi,; como
mesma (Lyotard, 1986).
como um ser que consiste em ser chamado a uma vida colocada sob o sig O “mundo da vida” é um mundo
nômenos anonimamente subjetivos”. extremamente rico, dos “fe
no da apoditicidade (...). Prolongamento da filosofia da história em ética: a Segundo Mora (1994), nem a ciên
razão teorética é também prática e a redução não nos retira do mundo senão cia objetiva, nem a psicologia,
nem a filosofia tomaram conta deste
51 Grifos nossos.
80 Adriano Furtado Holanda
/—
tanto as ciências objetivas quanto os fatos culturais. da Fenomenologia como as
Ideias, por exemplo, Baseado nisto,
Que as ciências tenham esquecido que tenha surgido ou emergido de um rança, embora seja necessária uma podemos afirmar — com certa segu
Lebenswelt, mostra um dos aspectos, senão o aspecto fundamental da avaliação mais aprofundada da ques
tão — que, tanto as elaborações
“crise da ciência europeia”. O Lebe,rnvelt é, com efeito, como a soma fundamentais de Heidegger (desenvolvi.
——
das em seu Ser e Tempo) quanto as de
das “franjas” ou dos “horizontes” nos quais emergem e se constituem os “em potência” na fenomenoiogia Merleau.Ponty e Sartrejá estavam
dados “mundanos”. Mas justamente porque o Leben.nvelt não é prnpda husserliana, daí a necessidade de resga
tantos a complexidade de seu pensamento
mente um fato, senão um “horizonte de fatos”, não é comparável ao como forma de entendimento
“mundo natural” (o qual é um dos elementos do Lebenswelt). O Le da crise da mentalidade ocidental
benswelt não é dado de uma vez para sempre, mas se descnvolve —acaso Paul Riccuer (2010) nos recorda que
historicamente — e tem “formas” e “estilos” (Mora, 1994, p. 2.087). tigo publicado em 1952 afirma que Pierre Thévenaz — num ar
“os verdadeiros herdeiros de Hus
serl são OS existencialistas franceses”
O Lebenswelt não é o que aparece primeiro na experiência natu consequência (quase) natural da (p. 154). Com isto, afinnase uma
ml, deve ser “reconquistado” a partir desta experiência. Por isso que, para fenomenologia Esta, radicalizada, de
semboca numa “filosofia da existência”,
Husserl, o estudo do Lebenswelt é uma “fenomenologia mundana” como já apontamos desvela o dado que a intencionalidade
(welrliche), através de uma redução que precede todas as outras reduções mundo de objetos e de sujeitos, bem co
mo a realidade do outro.
—
fenomenológicas.
5 FENOMENOLOGM PSICOLOGM E
“Segundo Husserl, há em Kant um “suposto” não expressado, o de um “mundo circun PSJQUMTPJA
dante vital” (Lebensumwelt) (...) Este suposto determina os modos como se estabele
cem os problemas da critica da razão, O mundo circundante vital é o mundo vivido e O único sentido oculto
— -‘
não e todavia, não “tematizado” (Mora, 1994, p. 2.086).
— das coisas é elas não terem
“
Filósofo francés, nascido em 1901, trabaifiou no Centre National de Recherches Scien sentido oculto algum,
tfiques de Paris (CNRS); mergulhou no manismo como resposta à sua crise filosófica
pessoal, tendo inclusive se associado ao partido comunista francês. Sua “critica da vida Fernando Pessoa
cotidiana” é um esforço pela descoberta do “homem total”. Por “vida cotidiana” com Da mesma maneira que a
preende a “apropriação pelo homem, não tanto da natureza exterior como de sua pró como método, como ciência e Fenomenologia surge como filosofia,
pria natureza como zona de demarcação e de união entre o setor não dominado da como urna epistemologia, suas aplicações
vida e o setor dominado como região donde os bens se confrontam com as necessi Psicologia e à Psiquiatria podem ser à
compreendidas nas mesmas dire
dades mais ou menos transformadas em desejos” (Mora, 1994, p. 2.089).
[
52 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 83
ções. As relações da Fenomenologia com a Psicologia são antigas, dado Como “fonte de hipóteses”, a Fenomenologia surge
como uma
que Husserl como matemático, estava interessado na Lógica e em estu metodologia alternativa à ciência natural, principalmente
—
no que tange a
dos sobre o número sendo postedormente “herdeiro” da psicologia questões tais como intuições, sensações ou outros
—
—
preocupação básica é a
puro (Freitas & Holanda, 2010). Mas há que se distinguir fenomenologia arpehência surge como uma metodologia importante
—
dado que:
de psicologia fenomenológica. Embora ambas partam da consciência e As reduções fenomenológicas variações imaginárias
das relações do sujeito com o mundo, não se trata do mesmo objeto, mas têm sido sempre o capital de giro de cientistas, mase interpretações
também não se constituem duas subjetividades, mas duas maneiras de citaram de forma detalhada como procedimentos
estes não as expli
apreensão do sujeito, de modo que não se pode reduzir uma à outra. metodológicos. No
nível mais simples de contribuição, a fenomenologia
De uma forma genérica, a Fenomenologia foi apropriada pelas uma descrição clara e algum rigor metodológico a este pode fornecer
e tão estágio crocial,
Ciências Humanas em diversos contextos: o
negligenciad do processo científico. (Keen, 1979, p. 98)
Segundo Spiegelberg (1982), a fenomenologia foi apropriada pelas ciên Desta feita, a fenomenologia ratifica seu caminho na
direção de
cias humanas, genericamente, em tomo de sete passos metodológicos uma metodologia descritiva e compreensiva,
desembocando naturalmente
característicos. São eles: 1) investigação de um fenómeno particular, 2) num modelo hermenêutico privilegiado de análise
da realidade, por não
investigação de essências gerais, 3) apreensão de relações essenciais en abandonar o solo empírico desta realidade, como reitera
tre constituintes do fenômeno, 4) observação de modos e aparecimento Husserl. Assim é
que um dos campos em que se observa cada vez mais
do fenômeno, 5) observação da constituição do fenõmeno na consciên nomenologia é o terreno da pesquisa e,npb-ica em
a aplicação da fe
cia, 6) suspensão de crenças na existência do fenómeno, e 7) interpreta Psicologia. Husserl
ção do significado do fenômeno. De acordo com o autor, os três primei procurou criar um método que permitisse a investigação
ridade quanto da exterioridade e, assim, “como
tanto da interio
ros passos foram amplamente aceitos e aplicados por praticamente todos ciência do sentido íntimo,
que se alinhavam, na primeira metade do século XX, com o movimento a psicologia deve voltar-se para as experiências
concretas do homem
fenomenológico. (Casfro & Gomes, 2011, p. 237) percebidas numa dimensão espacial e temporal, onde
a
sentido só é possível pela afirmação de uma consciência construção do
Talvez um bom exemplo de como podemos entender a impor riguela, 1995, p. 98). encarnada” (Ma
tância da Fenomenologia para a Psicologia (ou suas possíveis aplicações)
Em lermos gerais, no terreno das pesquisas
esteja em Keen (1979). O autor dá excelentes indicativos de reflexão todologia fenomenológica vem sendo cada vez mais qualitativas, a me
sobre o “lugar” que uma psicologia fenomenológica pode ocupar. A ri crescimento é louvável por apresentar-se na
reconhecida. Este
gor, aponta exatamente pan uma direção reflexiva, ou seja, indica modos mento metodológico e na consequente oportunidade
“perspectiva de um refina
de se pensar a fenomenologia aplicada. Isto é de suma importância para de considerar mani
festações ou expressões humanas e sociais antes inacessíveis
que como ressaltamos anteriormente com relação â redução não se
—
—
psicologia como ciência humana (Giorgi, 1977), no sentido de valorizar A expressão mais contundente da aplicação do
método fenome
aspectos da intersubjetividade humana. nológico à pesquisa empírica encontra-se no chamado
Na perspectiva de investigação desse humano, o método deve quesne”. A partir do primeiro trabalho publicado nesta “Grupo de Du
de Adrian Van Kaam (1920/2007), intitulado direção o artigo —
dar conta da sua originalidade, pois o que é próprio do humano não se “Phenomenal Analysis:
deixa captar pelos métodos da ciência tradicional (Amatuzzi, 1994). Co Exemplified by a Study of the Experience of ‘Really
tood”, publicado em 1959 (Van Kaam, 1959) Feeling Undcrs
mo “explica?’ a inspiração poética, o sonho como atividade simbólica, a uma série de outros pes
—
contemplação artística ou mesmo o surto psicótico? As investigações das quisadores depuraram o método na Universidade de
Duquesne, com des
ciências humanas são do tipo sujeito-sujeito, ou subjetividade- taque para a publicação do livro Fhenoizeno/ogj and
search, editado por Arnedeo Giorgi (1985). O Fsycho/ogjcaf Re
subjetividade, ou podem ser entendidas como relacionais de acordo com principal destaque desse
Buber (1923/1979). Fazer pesquisa em ciências humanas é caminhar em Grupo refere-se a uso do preceito da redução,
aplicado empiricamente
busca de significados. Contradamente à tradição clássica da ciência natu como a busca por “constituintes invariáveis ou
elementos essenciais na
ralista cujo objeto são os “fatos” as ciências humanas lidam também esflhjnra experiencial de um sujeito” (Castro & Gomes,
—
—
2011, p. 237).
com fenômenos. Enquanto os são abstraídos da realidade, os fenômenos Como um “veículo para o humanismo”, a Fenomenologia
são vividos. ca em seu centro de atenção, a consciência e os colo
processos conscientes. Ao
E neste sentido que se faz presente um projeto de “psicologia focalizar a experiência do indivíduo, a Psicologia atua
fenomenológica e
fenomenológica”, cujos alicerces se encontram na redescoberta e valori humanisticamente E relevante, contudo, o fato que o humanismo
como
zação da subjetividade consciente, suas manifestações e inter-relações, historicamente constituído enquanto movimento nos —
Estados Unidos
abarcando toda a complexidade do fenômeno humano: indivíduo, cultura, careça de uma metodologia suficientemente —
se constituído num caminho importante para o estudo da experiência Zygmunt Bauman, Guies
consciente ou da “vivência”56, e um modelo ideal para se estudar questões ‘
Amatuzj 1992, 1994, 1 995, 1996, 1999, 200la, 20011,;
Chaves, Macedo e Mendonça,
relativas à dimensão subjetiva do existir humano, tais como a religiosida 1996; Forghien, 1993; Bmns e Holanda, 2003;
Bruns e Trindade, 2003; Alves, 2003;
de ou a experiência religiosa57, a clínica psicológica e o vivido58. Kristensen, Flores e Gomes, 2003.
Esta discussão está melhor desenvolvida no primeiro
60 capitulo deste livro.
Em que pese o fato de Casl Rogers ter construído
todo seu arcabouço teórico-técnico
56
Giorgi, 1985; Momjo, 1994; Gomes, 1998; Moreira, 2002; Rnans e Holanda, 2003; com base em pesquisas empíricas, talvez tenha
sido o representante mais “empiricista”
Amatuzzi, 2003; Holanda, 2003a, 20031,; Martins e Bicudo, 2005. do movimento humanista americano O que é
curioso de se assinalar é que, atualmente,
as pesquisas da chamada ‘psicologia positiva”
‘ Mames, 1998, 2002; Frvitas, 2002, 2004; Alvas, 2004; Holanda, 2004a, 2004b; Maciel, resgatam os pressupostos e conceitos do
2004, Morues e Ribeiro, 2004. movimento humanista, só que com uma roupagem de
pesquisa empírica.
86 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
87
Lipovetsky ou Jean Baudrillard, por exemplo —, a Fenomenologia se A Fenomenologia propõe um olhar
apresenta como excelente campo que ffindamenta tanto esta discussão os fenômenos da realidade, um olhar onde diferenciado para o mundo e
a
(Villanueva, 2010), quanto propostas de revisão desses aspectos, seja do to/objeto ganha novos contornos e se toma tradicional dicotonija sujei
uma correlação. Como urna
ponto de vista filosófico ou sociológico tomemos autores como os nova forma de mudança radical de
perspectiva, toma-se — além de um
—
grandes nomes da fenomenologia francesa do século passado, como Sar método compreensivo — um paradigma
io que permite o
tre, Merleau-Ponty, Deu-ida ou Lévinas; ou pensadores mais contemporâ advento de um grande número de novas revolucionár
perspectivas sociais, psicológi
neos como Habermas e Gadamer. cas, filosóficas, antropológicas e científicas.
Podemos ilustrar isto através
Se trata mesmo de discutir o selos da humanidade, ou a crise da da análise das suas ramificações no seio
do pensamento psicológico e
humanidade europeia (Husseri, 1935/1996) e suas relações com a filoso psiquiátrico.
fia; ou discutir a própria crise das ciências europeias (Husserl, Spiegelberg (1972, 1982) traça um panorama
1936/1989) e suas relações com a fenomenologia transcendental. Nesta do das influências que a Fenomenologia bastante elabora
direção, a proposta husserliana e a Fenomenologia procuram ainda res exerceu sobre as diversas escolas
de Psicologia, destacando ainda algumas
ponder à crise de valores erigida no pensarnenlo moderno herdeiro e especificidades em alguns mo
—
turada nesta direção. Estamos nos referindo ao fato que nenhuma dessas
mundo o In-der-Welt-sein. Isto nos remete a Merleau-Ponty, quando este
—
fenomenologia (..j” (Merleau-Ponty, 1945, p.l). E o mesmo Merleau so”, precedido de contatos e estudos formais.
—
Para Binswanger, a Daseinsanálise é uma empresa científica, um ‘mé que muitos indicam como o principal mentor da Gestalt-Terapia teve
todo de pesquisa’. Ela não tem por perspectiva uma partida psicoterá
—
Cabe este alerta para que não se faça uma —para o terreno da clínica.
vados. Uma relação calcada no “aqui-e-agora” envolve, antes de tudo, ções que o arcabouço fenomenológico pode
análise simplista das contribui
abertura, totalidade e presença. Abertura para a possibilidade do encontro nos
faz sentido falarmos de uma epochá na clínica proporcionar Assim, não
e presença efetiva do ser na relação enquanto totalidade. A partir disto, ou de dizer que a tarefa de
determinada técnica é dc atingir a
estabelece-se uma relação imediata, ou seja, uma relação onde não se ao se fazer uma transposição de conceitos E preciso cuidado
interpõem meios entre o terapeuta e o cliente. Estas qualidades já são para campos diversos.
apontadas por Martin Beber (1923/1979), quando este fala do diálogo Quando falamos de “prática clínica”, não estamos nos
limitando
enquanto realidade existencial. à posição clássica da psicoterapia, mas
estamos nos referindo a um con
junto de práticas que envolvem a tomada do
O que assinalamos até aqui, foi tão somente uma pequena parte fenômeno humano nos seus
processos de subjetivação, o que nos obriga a um
do desenvolvimento das ideias fenomenológicas e de suas aplicações ao as relações grupais, p. ex., mas igualmente olhar mais acurado para
campo da psicologia. A Fenomenologia surgiu como um dos principais para outros modelos de rela
ção psicológica, como é o caso do
movimentos da filosofia do século XX, como uma autêntica “revolução Aconselhamento Psicológico como
uma escuta ativa clínica
cartesiana”, como o retomo ao “pré-reflexivo”, como o resgate das essên
—
1
92 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 93
—I
r
com a Daseinsanalyse de Binswanger, muito mais formalmente atrelada
ao movimento filosófico clássico.
fenómeno psíquico de outrem, assim como se percebe um fenômeno
sico, só se poderá tratar de representação, empatia e fi.
compreensão, a que
poderemos chegai, segundo o caso, pelo meio de levantamento
$
De qualquer modo, a caracterização destas duas abordagens no série de caracteres e simbolos sensivelmente perceptíveis, por de uma
uma es
contexto de psicologias ditas “fenomenológicas” ou “fenomenológico pécie de exj7osição sugestiva. (Jaspers, 1913/1987, 71)
p.
existenciais” se deve ao fato de que ambas consideram, de certo modo, que
Esta colocação de Jaspers serve-nos de introdução à questão
a fonte de todo conhecimento autêntico está na experiência imediata de si e da
aplicação da Fenomenozogia à situação de prática clínica.
de outrem. Ademais, apontam pan uma atitude tenpêutica desprovida de Uma análise
ideias apriorísticas e fl.mdamentam suas relações no momento do aqui-e- fenomenológica nos posiciona, enquanto clínicos, diante de um
fenômeno
específico que é uma pessoa, que wmjité nós em busca de
agora, no presente, na presença do terapeuta enquanto existente aberto à auxilio, de
esclarecimento.
relação, ou seja, o terapeuta, neste sentido é muito mais “pessoa” (como
assinala Rogers) do que propriamente um papel a ser desempenhado. Falar da aplicação da Fenomenologia à prática clínica não
signi
fica transpor simplesmente certos conceitos específicos
Embora a expressão “aqui-e-agora” já tenha conotações popula que são filosó
ficos e lógicos, circunscritos a este campo para o
—
res diversas, consideramos aqui alguns aspectos centrais a serem obser — terreno da clínica.
Cabe este alerta para que não se faça uma análise simplista
vados. Uma relação calcada no “aqui-e-agora” envolve, antes de tudo, das contribui
ções que o arcabouço fenomenológico pode nos proporcionar.
abertura, totalidade e presença. Abertura para a possibilidade do encontro Assim, não
faz sentido falarmos de uma epoché na clínica ou de dizer
e presença efetiva do ser na relação enquanto totalidade. A partir disto, que a tarefa de
determinada técnica é de atingir a intersubjetividade. E
estabelece-se uma relação imediata, ou seja, uma relação onde não se preciso cuidado
ao se fazer uma transposïção de conceitospara campos
interpõem meios entre o terapeuta e o cliente. Estas qualidades já são diversos.
apontadas por Martin Buber (1923/1979), quando este fala do diálogo Quando falamos de “prática clínica”, não estamos nos limitando
enquanto realidade existencial. à posição clássica da psicoterapia mas estamos nos
referindo a um con
O que assinalamos até aqui, foi tão somente uma pequena parte junto de práticas que envolvem a tomada do fenômeno
humano nos seus
processos de subjetivação o que nos obriga a um olhar mais
do desenvolvimento das ideias fenomenológicas e de suas aplicações ao acurado para
as relações grupais, p. ex., mas igualmente para
campo da psicologia. A Fenomenologia surgiu como um dos principais outros modelos de rela
ção psicológica, como é o caso do Aconselhamento
movimentos da filosofia do século XX, como uma autêntica “revolução Psicológico como
uma escuta ativa clínica certos tipos de Acompanhamento —
Terapêutico,
de terapias comunitárias, o CVV (Centro de
cias da realidade que se havia esquecido anteriormente pelas filosofias Valorização da Vida), o
Plantão Psicológico e até mesmo a situação de Psicodiagnóstico64
pragmáticas e objetivistas, cuja preocupação residia apenas no progresso
das ideias voltadas para o objeto, para o “ter” materialista e não para a Binswanger, por exemplo, é muito claro ao afirmar que sua lei
essência e pan a existência, para o “ser”. tura fenomenológica e sua proposição de uma análise
existencial aplicada
à clínica psicológica se refere a um novo “método de
investigação”, de
uma nova compreensão do homem. Ora, sem esta
6 ATITUDE FENOMENOLÓGICA E PRÂTICA CLÍNICA compreensão, qualquer
aplicação técnica seda vazia. Quando propõe a análise do
dasein no con
Então escrever ë o modo de quem texto clínico, Binswanger (1965, 1967, 1971) se propõe
a uma “elucida
tem a palavra como isca: ção fenomenológica da estrutura total ou da articulação total
da existência
a palavra pescando o que não é palavra. como ser-no-mundo (Jn-der-Welt_sei,,,í”, numa
perspectiva claramente
husserliana Neste sentido, não “cria” uma psicoterapia nova. Do
Clarice Lispector de vista de Binswanger, a psicoterapia deve investigar ponto
a história do pa
À fcnomenologia compete apresentar de maneira viva, analisar em suas
precisa pos
relações de parentesco, delimitar, distinguir da forma mais ‘ Augras, 1970; Rosenberg, 1987; Arnawzzj Echevenia,
Brisola e Giovelli 1996; Spa
sível e designar com termos fixos os estados psíquicos que os pacientes noudis, 1997; Bartz, 1997; Cautela Junior, 1999; Cuiy, 1999;
realmente vivenciam. Visto que não se pode perceber diretamente um da, 1999; Moraio, 1999; Carvalho, 2002. Mahfoud, 1999; Mmei
94 Adriano Furtado Holanda
processo.
paciente lembrasse e conseguisse praticar, de sua parte, o envolvimen Esta postura, esta posição tomada pelo terapeuta,
to, experienciando assim o evento do lado médico. O curar como o por uma escuta ativa, por uma observação se caracteriza
atenta, numa espera pela emer
educar não é possivel, senão àquele que vive no face-a-face, sem con gência do fenômeno do outro. Ao contrário
da
tudo deixar-se absorver. (Buber, 1923/1979, p. 152) naturalista ou explicativa, caracterizada por uma perspectiva tradicional,
atribui sentidos de fora para dentro. Pan atitude apriorística, que
Este alerta apenas introduz uma leitura que a Fenomenologia e realizar esta tarefa e permitir a
emergência do outro enquanto fenômeno é
as Filosofias da Existência podem legar às práticas psicoterapêuticas. preciso que o terapeuta se
encontre com o cliente nele, com ele e através
Então, como podemos entender a fenomenologia aplicada à psicoterapia; dele (Ribeiro, 1985). Para
tal, faz-se necessário realizar uma operação
ou, como poderíamos definir uma postura fenomenológica num contexto de consciência, que encontra
o similar lógico da “redução” na fenomenologia,
clínico? e cujo significado es-
96 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
97
r
sencial para o contexto clínico podemos designar pelo termo abertura, ou ser a valorização do encontro, do
presente, do momento onde este ocorre,
seja, significa que o terapeuta está aberto para perceber seupacientena do aqui-e-agora.
quilo que este se apresenta como mais essencial, naquilo que ele é, des Nesta perspectiva, a subjetividade do
cobrindo-lhe a totalidade. E abertura nos remete a responsabilidade, que em partes, mas em seu todo ou, dito de cliente/paciente não se dá
outra forma, o sintoma como
significa dizer que se está disponível, pronto a responder à demanda do manifestação presem jfica o sujeito, presenta_o —
outro (respons-habilidade).
Uma atitude que chamaríamos de “fenomenológica” difere de Um dos sentidos primordiais de uma
uma atitude “fenomenista”. Uma atitude “fenomenista” confunde o que na clínica consiste, pois, na “atitude fenomenoløgica”
consideração do outro como um sujeito —
se percebe com o próprio ato de perceber e, assim, o mundo se toma uma ativo e concreto contrarjamente à
concepção naturalista que transforma
representação. Já a proposição husserliana da Fenomenologja na mesma
—
—
este sujeito num “objeto”, como um
“doente” a ser “tratado”, e não como
esteira da dúvida cartesiana — é de um questionamento continuoeininter uma pessoa, como assinala Buber, que
está no mesmo nível existencial
rupto. Fazer fenomenismo é ficar no campo das simples descrições das do terapeuta, como aponta Binswanger.
Fazer fenomenologia na clínica é
aparências. No campo da psicoterapia, encarar a emoção do cliente como valorizar e privilegiar o encontro, o
“estar-junto” no presente, o que de
uma mera expressão sintomática (seja positiva, seja negativamente) é termina a diferença cracial entre a relação
médica
colocar-se no plano do simples fenomenismo; igualmente fenomenista caracterizada pelo uso de agentes intermediários (que é unidirecional e
seda a postura de inserir tal emoção ou vivido do cliente, dentro do arca cos, que são “aplicados” a um “paciente” fisicos ou bioquími
—
1
98 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
99
palavra falar (Amatuni, 2001b).
Neste irocesso o paciente viveese..
vive o iilcompreensçyej Como
FALA expressa Clarice Lispector: “Escrever é
procurar entender, é procurar reproduzir
o
último fim o sentimento que permaneceria irreproduzfvel é sentir até o
/\ FENÔMENO
apenas vago e sufocado?’.
Fazer a palavra falar: esta é a tarefa da
psicoterapia. Sair de um
discurso vazio ou de um sentimento que
um discurso que seja um dito, que seja sufoca, que não se expressa, para
‘4, for dito ou atualizado na plenitude
um ato realizador. “Enquanto não
de um dizer ou de uma prescntifica
DITO EXPRESSO ção, um sentimento permanece vago
e sufocador. A partir do momento
em que ele é dito, algo se transforma
(..j” (Amatuzzi 2001b, p. 63).
Uma psicoterapia fenomenoiógjca
1 COMPREENDER
palavra e sentido, dito e vivido caminha na direção de reunir
(MerleauPonty) mas não através de uma
‘4, imposição de sentido (de fora para dentro,
tro para fora, como uma transformaçã como atribuição), mas de den
o que se dá no fenômeno
NÃO HÁ COINCIDÊNCIA HÁ COINCIDÊNCIA ser do outro, através dele mesmo, próprio do
ENTRE DITO E EXPRESSO ENTRE DITO E EXPRESSO esta escuta o principal instrumento permeado.pela escutcrdo terapeuta. E
do terapeuta quarna fenornenoiogj
camente Escuta de sentido, e não da forma.
“Nunca eu tivera querido, dizer palavra Como diz Cecilia Meireles:
Tentamos explicitar o seguinte, a partir dessa esquematização. tão louca: bateu-me o vento na
boca, e depois no teu ouvido. Levou
O “objeto” mesmo da psicoterapia dado que a imensa maioria dos pro somente a palavra, deixou ficar o
—
sentido”.
cedimentos técnicos nesse campo é de cunho verbal é a “fala”, aquilo —
todos seus modos de expressão, pois cada um deles é a totalidade presen a fenomenologia do ouvir se expande
logo. O que acontece então quando o ouvir em fenomenologia do diá
te do próprio sujeito. chegou a esse nível de pra
flindidade? O passo seguinte pode ser expresso
Uma psicoterapia “fenomenológica” é aquela que busca o en terpelação do outro, sinto a necessidade assim: penuitindo a in
da resposta. Seu discurso já
tendimento, a compreensão da palavra, ou seja, é o processo que faza não está nele. Está agora em mim.
(Amanizzi, 2001b, p. 71)
Poderiamos substituir o exemplo, aqui, pelo corpo, nas tempias corpomis, por exemplo.
Adriano Furtado Holanda Fenomenotogia e Humanismo 101
100
Uma psicoterapia “fenomenológica” é isto, uma relação inter ao ser descoberto). Este é o mesmo caminho que Buber (1923/1979)
subjetiva. E uma boa metáfora para entendermos a fenomenologia na aponta pan a relação dialógica: o homem se realiza na linguagem, quan
do se toma palavra. Pálávra, para Buber, é ato.)
clínica é a questão do silêncio e da palavra: palavra e expressão7iWncto
e expressão. Quantas e quantas vezes nossos clientes ficam em silêncio A Fenomenologia propõe que o significado, o sentido, aquilo
absoluto e nos dizem, ao mesmo tempo, uma infinidade de coisas. Saimos que habita a palavranãoéopensamento, é anterior a este. A isto Husserl
do terreno do “significado” (daquilo que é significado por alguém ou já denomina de “èxperiência pré-reffexiva”; a isto Merleau-Ponty chama de
dado) para o terreno do sentido, do vivido, que nos é comum e que cãli, “intenção primordial”. E sobre este solo filosófico que a maioria das prá
na própria fala. ticas psicoterápicas ditas humanistas, fenomenológico-existenciais ou
—
200 la, p. 25). Esta é uma regra importante no contexto da psicoterapia: o seda de “C..) um espontâneo paralelo posterior confirmado pelo desco
silêncio primordial carrega o sentido das falas, mas é pela fala que este bdmento de acordos corroborativos” (p. 150)66.
sentido se realiza. Buscar o sentido anterior à fala não implica em negá Quando a Gestalt-Terapia fala dejawareness, por exemplo, e a
-la, mas em acolhê-la. Como a regra dialética nos ensina, a resposta está define como a experiência de estar em contato com a própria existência
contida na própria pergunta. E pela fala que acessamos o silêncio primor ou, como assinala Ribeiro (1993), como a experiência de estar consciente
dial. Ao terapeuta cabe caminhar junto com seu cliente, na fala dele, atra da própria consciência, está-se assinalando este “retorno” a uma expe
vés dele. riência que a Fenomenologia descreve como sendo pré-predicativa. To
Merleau-Ponty (1945) ainda dá exemplos de falas originárias: a davia, esta awareness não pode ser uru “objetivo” a ser perseguido pela
do apaixonado (que descobre sua paixão), a do escritor (ou filósofo, que terapia, pois se tomaria um “objeto”. Mas o caminho proposto pela Ges
despertam a experiência primordial), a do poeta. Nestes, é o silêncio pré- talt-terapia que alguns de seus interlocutores principais definem como
—
-verbal que mobiliza e conduz a fala; esta, já estava contida neste silên sendo o “contato” (Peris, Hefferline & Goodman, 1951/1997; Poister &
cio: o apaixonado identifica seu sentimento, que se revela (que se des
vela), e que pré-existia (e que toma um formato novo, um novo estatuto, Halting e Nill (1995) confirmam esta direção.
102 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
103
Polster, 1973/2001) — pode ser o caminho que permite a apresentaÇâo humano, seja pela introdução de novas técnicas
ou instrumentais. No caso
dessa linguagem a que nos referimos. da Daseinsanálise, a leitura heideggeriana intro
duz um novo modus ope
randi em relação à análise dos sonhos,
A finalidade da psicoterapia é levar o cliente à sua consumação, isto é, por exemplo. Para a Daseinanóli
se, o sonho é um modo que o sonhador tem
a desdobrar-se até a plenitude no agir, no pensar, no expressar-se pela de estar-no-mundo, compa
linguagem. Isto significa que o homem todo inteiro é o sujeito do pro rando-se o mundo onírico ao mundo da
vigília. Assim sendo, o sonhar
cesso psicoterapêutico (...). O discurso unitário é a pessoa do cliente e contém a história de vida do sonhador —
passada, presente e Mura e
a do profissional, o vinculo é a relação. Neste sentido, a relação é uma seus elementos aludem a esta história, e —
da
da natureza humana quanto numa compreensão filosófica por pro Moderna (em especial, no período compreendido Idade Média à Idade
—, —
ponto de partida.
à armadilha da simplificação. Relembrando a máxima de Terêncio: Homo Faremos um percurso que principia num questionamento
sirni; humani inhil a me alienum pulo “Homem sou, e nada de humano finaliza por alguns destaques. Consideramos ser e que
necessário,
—
me é alheio” a generalização nos coloca diante da indefinição. Indo do, apresentar a ideia de que não há propriamente antes de tu-
uma “corrente” huma
—,
nesta direção, como estabelecer fronteiras? No campo da Psicologia, por nista ou uma “escola” humanista que se possa
destacar da história do
exemplo, como negar o direito de ser considerado “humanista” a pensa- pensamento seja na Filosofia ou em qualquer das
—
ciéncias humanas e
dores tão díspares como Freud, Watson, Skinner, Lacan, Jung, Maslow, sociais. Seria mais apropriado encararmos o
humanismo como um “mo
James e outros? vimento” continuo, que invariavelmente brota
em duas direções: por um
O campo da definição se sustenta, pois, pela necessidade de lado, como crítica a apropriações diversas
que de certa forma, “des
subjetivizam” a realidade, ou que desapropriam o
—
em detrimento de
A proposta deste texto é de situar alguns elementos preLiminares uma visão de “globalidade”t melhor seria
—
dizermos em detrimento de
para construirmos um quadro compreensivo do humanismo em suas múl uma visão de interação ou de complexidade
e por outro
tiplas facetas, e procurar realizar “pontes” entre estes elementos e as projeto de valorização (ou de re-valorização)—;do humano. lado, como um
chamadas “psicologias humanistas” (ou mesmo as ditas psicologias Caminhando nesta direção, principiaremos com uma
genérica sobre a “ideia” de um Humanismo, que discussão
“existenciais”, “fenomenológicas”; ou ainda refletir sobre a possibilidade seguramente
Grécia Clássica, e conhece seu ápice nas diversas nasce na
dessa discussão, sua falibilidade ou inutilidade), seja como possíveis con manifestações
culturais e filosóficas do Renascimento europeu. artístico-
tribuições à sua prática, seja enquanto constatações de sua filiação ou Nosso plano, pois, é
aproximação. Neste sentido, destacamos a importância de uma “Leitura”
da questão humanista por detrás dos sentidos românticos (ou romantiza Apontamos aqui este e outros conceitos — como
“totalidade”, ou “holistico” sempre
dos) dos manuais, para além das definições formais dos livros de história, entre aspas, de modo a considerá-los em sua —
apreciar a delimitação da ideia de humanismo; destacar uma primeira Em termos gerais, pois, significa reconhecer que “ser humano”
não é urna condição adquirida ou herdada, mas uma
aproximação com o campo da Sofistica elaborando alguns conceitos a
—
conquista. Nesta
partir da figura singular de Protágoras de Abdera, um dos primeiros a direção, uma série de pensamentos e pensadores refletiu sobre o
do “existir” e da “existência” Neste contexto geral, podemos sentido
afirmar o primado da subjetividade na história do pensamento e, final —
pensar todo
mente, aportar em algumas considerações a respeito do movimento re o movimento “humanista”3 em Psicologia, por exemplo
—
como um
nascentista, que sirvam de apoio a uma visão difereneiada do fenômeno movimento de protesto contra a inapropriação do sujeito vivente ao
—
seu
humano. próprio contexto de vida. Noz particular, representa uma
quebra, uma
ruptura com os modelos vigentes de época4. Esta quebra ou
Pretendemos, assim, estar iniciando um debate já tão diffindido ruptura está
intimamente ligada a mudanças concretas que ocorriam na
em outras áreas, tais como a história e a antropologia2 e, quiçá, apontar ciência e no contexto social de sua época. cultura, na
para a polissemia do conceito de “humanismo”.
Mas isto, por si só, não responde à totalidade das questões
postas. Há um fio condutor que liga todos os elementos pro
suprac itados. O
1 HÁ UMA “QUESTÃO” HUMANISTA? que a Psicologia Humanista, o Humanismo e o
Renascimento têm em
comum é o fato de serem todos movimentos de
O sentido que faz sentido, —
—
vanguarda, que se
é o sentido que é sentido. desenvolvem em momentos distintos e que guardam entre si
conexões
silenciosas mas poderosas, onde destacam o homem de uma ctiva
perspe
Vamos partir novamente da questão ffindamental: o que é o limitadora para uma concepção de homem como totalidade, como
expres
Humanismo? O que pode caracterizar um “humanista”? Qual o significa são da superação, como desafio à continuidade.
do de se estudar o Humanismo? Como relacionar o Humanismo com a Por esta razão é importante revermos um pouco da história
Psicologia enquanto disciplina e ciência e com a chamada Psicologia
—
constituição do sujeito da ocidentalidade através de momentos da
ca
—
que sempre buscamos num período histórico tão antigo quanto a Renas dermos compreender o impacto e as possibilidades que um
modelo
cença, elementos para esta discussão? Enfim, qual o sentido de se estabe manista” propõe. Nomes como Heráclito de Efeso, Protágoras de “hu
lecer esse nível de correlações se é que estas existem?
—
4
F
110 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 111
História. Afinal, como já bem assinalara Wilhelm Dilthey (1833-191 1), mem?” e, a partir dela, traçar wn panorama histórico do
questão, desde a época clássica até os nossos dias. percurso desta
somos seres históricos e sobre ela estamos continuamente nos movimen
tando: é a história que dá sentido ao humano. A problemática contida na questão central da
Antropologia Fi
A discussão sobre o humanismo ou sobre o homem é tarefa atual losófica é que o questionameno contido na pergunta “o
que é o homem?”
da Antropologia Filosófica. Lima Vaz (1991) assinala que a pergunta toma o sujeito em objeto, ou seja, objetifica, “natural iza”
este sujeito. E
ffindamental “o que é o homem?”, é comum desde os primórdios do pen como assinala Jean Bmn (1982): “A inversão do Quem
sou eu? para O
samento ocidental, permanecendo como o centro de várias expressões da que sou eu? começou a partir do momento em que se
cessou de refletir
cultura, seja no mito, na literatura, na ciência ou na filosofia. Essa supre sobre a queda do homem para observar a queda dos corpos”
ma singularidade do ser humano de se interrogar nasce com a própria alusão aos primórdios do estabelecimento da dominância (p. 41), numa
do pensamento
cultura grega, inicialmente incipiente, para tomar corpo e se tomar domi científico na modernidade. Neste sentido, a pergunta
mais apropriada
nante com a Sofistica, no século V a.C. e encontrar a sua “expressão clás seria “quem é o homem?” por relevar em si o próprio
sujeito: “A interro
sica” com as quatro questões apontadas por Kant (Lima Vaz, 1991, p. 9): gação Quem é o homem? implica no reconhecimento
de um sujeito (..j,
que parte de si pan alcançar um ponto de interrogação
debruçando-se
— o que posso saber? (teoria do conhecimento); sobre uma verdade ao interior da qual ele tem o
sentimento de se encon
o que devo fazer? (teoria do agir ético); trar, sem poder coincidir plenamente com ela”
—
E, pois, nesta
homem clássico, o cristão e o moderno); e outra metodológica, demons
—
1
112 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 113
1
2 OQUEÉOHUMANTSMO? Abbagnano (1992) atribui dois sentidos ao Humanismo: 1) como o mo
vimento literário e filosófico, com origem na Itália renascentista, na se
O fenômeno histórico mais gunda metade do século XIV e, 2) como qualquer movimento filosófico
importante é a humanidade que que considera como fundamento a natureza humana, seus limites ou seus
pugna por sua compreens5o.
interesses; ou seja, toda filosofia que tome o homem como “a medida de
Edmund Husserl todas as coisas”.
Nesta direção, o movimento literário-filosófico renascentista
Para André Lalande (1956), o humanismo pode ser entendido possui um significado histórico fundamental, que é o reconhecimento do
sob quatro prismas: valor do homem em sua plenitude (Abbagnano, 1992). Dentre os princi
pais representantes deste movimento temos, na Itália, Francesco Petrarca
1. Como um movimento de espírito, representado pelos huma (1304-1374), Coluccio Salutati (1331-1406), Leonardo Bmni (1374-
nistas do Renascimento, tais como Erasmo de Rotterdam, 1444), Lorenzo Valia (1407-1457), Giannozzo Manetti (1396-1459),
Francesco Petrarca, Lorenzo Valia e Ulrich de Hutten. Neste
León Bautista Alberti (1404-1472) e Mario Nizolio (1498-1576); na
sentido, foi um movimento que se caracterizou pelo esforço
França, Charles Boville (1470-1553), Michel de Montaigne (1533-1592),
de relevar a dignidade do espírito humano, através de um re
Pierre Charron (1541-1603), Francisco Sánchez (1562-1632) e Justus
torno à antiguidade clássica (às “humanidades” ou Humani
Ias poesia, retórica, história, ética e política—, e ao ideal de
—
Lipsius (1547-1606); na Espanha, Juan Luis Vives (1492-1540); e na
beleza grego), além de ser reativo ao dogmatismo escolásti Alemanha, RudolfAgricola (1442_1485)bo.
co e à filosofia medieval; Ainda numa interpretação literário-cultural para o humanismo,
2. Doutrina de F. C. S. Schiller9, de Oxford, exposta em obras este seria um movimento de retomo efetivo ás fontes da cultura clássica
como Humanisin, philosophical essays, de 1903, ou Studies (grega e latina), prosseguindo o ideal da Paideia” grega ou da Hunzanitas
in Humanism, de 1907: “O humanismo é simplesmente o fa latina, assimilado à cultura medieval.
to de se ter conta que o problema filosófico diz respeito aos Nesse sentido, as suas motivações iniciais são de natureza estética e
seres humanos no esforço de compreender um mundo de ex prática coincidindo com um mais normal acesso dos “seculares” à
periências humanas com os recursos do espírito humano”
—
deve se ater exclusivamente ao que é da ordem do humano; o ideal da dignidade do Homem (microcosmos) e da Renascitas cristã.
assim, designa uma concepção geral da vida (seja esta políti (Pacheco, I990,p. 1.214)
ca, ética ou econômica), que se funda na crença na saúde do Num contexto geral, o humanismo apresenta como assuntos
homem por suas próprias forças. Neste sentido, opõe-se ao fundamentais:
Cristianismo que crê somente na força de Deus; e,
4. Doutrina que acentua a oposição, no homem, entre os limites a) O reconhecimento da totalidade do homem (corpo e alma,
do que é humano e do que é animal. destinado a viver no mundo e a dominá-lo);
Lalande ainda coloca que Bmnschvicg considera como inicia ‘O
Todavia Abbagnano (1992) não cita personalidades reconhecidas historicamente
dor do humanismo, a figura de Sócrates. Além disto, assinala para a inuti como
representantes do humanismo renascentista, como Erasmo de Rotterdam, Budé, Ulrich
lidade de se insistir sobre a questão da ambigüidade do termo. Já Nicola de Hutten, flomas Moms e Pico deila Mirandola.
“A educação por meio de disciplinas liherais, relativas a atividades exclusivas ao
Fcrdinand Cunning Scott Schiller (1864-1937), foi professor em Oxford e na Universi homem e que o distinguiam dos animais” (Pessanha, 1988, p. VIII). A Puideia
grega
dade de 1..as Angeles. Desenvolveu um “pragmatismo humanista”, acentuando o fato corresponde a Hurnaniras latina, e se refere à educação do homem, à formação
do ho
de que todo conhecimento tem um aspecto emocional e que a ciência deve obedecer a mem enquanlo pessoa humana singular. Toma-se, assim, sinônimo de “cultura”
um critério de utilidade (Reale & Antiseri, 1991). (Abbagnano, 1992).
114 Adriano Furtado Holanda Fenornenologia e Humanismo
115
b) A negação da superioridade da vida contemplativa sobre a mológica, mas virtualmente devido à
da natureza temos uma visão “admiração” decorrente das coisas
vida ativa; —
geocêntrica de mundo. Na Idade Média,
c) A exaltação da dignidade e da liberdade do homem; com a dominação do poder eclesiástico
e
de Deus supranatural, a visão de mundo com a perspectiva de uma ideia
d) O reconhecimento do sentido de historicidade do homem; cêntrica; enquanto que a Idade Modernapode ser considerada como teo
e) O apoio ao valor humano das letras clássicas, nas Hurnanitas cêntrica de mundo’3. Evidente que há inaugurou uma visão antropo
como a base para a educação do homem e na formação da controvérsias nesta tentativa de
sistematização, dado que como toda
consciência do homem; e, —
A
118 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
119
saber medieval. Já Eugênio Garin, fala de uma “valência filosófica” do hu principais representantes dos sofistas’6,
da oratória da Grécia antiga, ou que eram os mestres da retórica e
manismo, cuja característica básica seria o sentido de história: os “mestres da cultura”, que
poder da palavra (Mondolfo, 1971). exaltavam o
É precisamente a atitude adotada diante da cultura do passado e diante Pouco restou da sua obra, mas
constitui_se numa fonte significatjv Platão
do próprio passado que define claramente a essência do humanismo. E de infonnaçõesl7.
a peculiaridade dessa atitude não se deve fixar em um singular movi A Sofistica (que não se constituía
tes correntes, algumas numa escola, mas em diferen
mento de admiração e afeto, nem em um conhecimento mais amplo, contrapostas) se preocupava com
mas em urna consciência histórica bem definida. (citado por Reale & e concretas da vida cotidiana, questões práticas
Antiseri, 199l,p.21) bem como se caracterj por
vismo moral e por um antropocenj50 um relati
O humanismo foi inicialmente uma exaltação da liberdade poií A palavra “sofista”,
tica vivida no momento (lembremos que o humanismo sofistico, repre sophos, e sophja, O vocábulo segundo Guthrie (1995), articula-se com
as habilidades práticas
sofistés que englobava o saber
sentado por Protágoras, também se refere à vida política). Com base nes
—
/
nalmente, o termo “humanista” indica o oficio do literato, mas essa pro “chamam_se sofistas os que põem a
fissão vai bem além do simples ensino universitário, entrando na vida dos alunos” (Gomes, 1973, p.268). sabedoria á venda a troco de dinheiro
cotidiana, fazendo-se verdadeiramente uma ‘nova filosofia” (Reale &
Antiseri, 1991, p. 23). De início, a palavra “sofista” não
raiz “sof’ (de “sofia”, sabedoria) tinha nada de depreciativo; mas, a
O Humanismo constitui-se fundamentalmente numa ética.
— —
/
Abden, Pródico de Ceos, Gárgias Protágoras em de
Protágoras de Abdera (séc. V a.C.), apelidado de “o Raciocí 20
“Ane de ulili a lingnagem em
de Leôncio, Hipias de Elis.
nio” (De Crescenzo, 1988), foi ao lado de Górgias e Hípias um dos
—
—
um
convencer uma audiéncia da verdade discurso puasivo, pelo meio do qual visa-se
de algo. Técnica
baseada não na
120 Adriano Furtado Holanda Fenomenotogia e Humanismo
121
nas discussões públicas nas pólis. A importância dos sofistas de fato os — cedimento de convencimento Górgias de
Leontini (487-380 a.C.) — um
primeiros “pedagogos” da história se deve à consolidação da democra dos grandes oradores da Grécia
—
cia, conseqüente às guerras persas, que culminaram na batalha naval de convencer qualquer pessoa de qualquer
coisa”. Mas o que ocorria era que
Salamina e na vitória definitiva em Plateia (479 a.C.). Com isto, a educa eles compartilhavam a ideia antropocênti.jca
dos atenienses, onde o mun
ção tomou-se valor ffindamental, dado que se tomava necessário formar do humano seria uma criação do próprio
homem. Assim, não haveria um
cidadãos aptos para a vida pública e, portanto, versados na argumentação principio universal que a tudo regesse, mas
regras convencionais; ou seja,
e no discurso. Na realidade, os sofistas deram continuidade à vocação valor e verdade seriam relativos. Esta ideia
ia contra a filosofia, assim, os
educacional dos poetas gregos (Guthrie, 1995). sofistas: “C..) contemporâneos de Sócrates,
Platão e Aristóteles foram
A Sofistica enquanto movimento nasce então da necessida combatjdos por esses filósofos, que condenavam
o relativismo dos sofis
— —
de de Cultura, derivada da Democracia, que cria um sentido histórico tas e sua defesa da ideia de que a verdade
é resultado da persuasào e do
para o ensino sofistico e delimita o predomínio de urna questão antropo consenso entre os homens” (Japiassu &
Marcondes, 1990, p. 227).
lógica: Esta visão corrente — em grande parte,
de que os solistas eram superficiais, e derivada de Platão era —
/
desta realidade e marcam-na taxa
agora, pois caso não ofaças, irei cobrar de ti no tribunaL Ali, defender- tivamente, associando o pecúnio, o ganho
-te-ás. Caso percas a causa, pagar-me-ás, pois assim será determinado. financeiro, àqueles que se des
tacam da multidão. Neste sentido, os
solistas podem ser considerados a
Caso ganhes, pagar-me-ás, pois terás ganhado a tua primeira causa”21. marca de um ápice napólis.
Os sofistas ficaram com uma imagem de descompromisso com A disputa e a clássica cisão entre
a “verdade”, principalmente por sua associação à retórica como um pro vencedores e derrotados re
produzem o próprio status dos valores gregos:
o sucesso é coroado e o
fracasso é desprezado. Num contexto onde
lógica, nem no conhecimento, mas na habilidade em empregar a linguagem e impres
a imagem do herói se destaca.
a figura do sofista aparece claramente
sionar favoravelmenle os ouvintes”. (Japiassu & Marcondes, 1990, p. 214) como a possibilidade de ascensão —
21
Esta curiosa história, em múltiplas versões, pode ser encontrada em De Cresccnzo
n Em relação a
(1988), Guthrie (1995), Mondolfo (1971), e outros. Surge pela primeira vez em Dióge este movimento de releitum dos
nes Laertios (1988). Karl Popper, que a eles se dirigiu como sendo sofis5, podemos desmcar a figura de
“a grande geração” (Guthrie, 995).
122 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
123
através da elaboração racional e de superação, através da educação23 e Dizem que Demócrito, ao vê-lo trabalhando,
sua habilidade em lidar com feixes de madeira ficou impressionado com
—
ições: “Todas as fontes dire bem ou um mal objetivo, ou somos nós que o
nhando pelo ceticismo resultar em indefin
—
ou seja,
determinamos? Na época, a
questão estava clara: havia o bem de um lado, e o mal do
dito de Protág oras,
tas estão de acordo com o sentido geral do mundo lembrarmos o zoroastrismo, onde o bem e o mal
outro (basta
e que, por isso, o
que o que parece a cada um é a única realidade m
dividia o mundo entre
si). Segundo De Crescen.zo (1988), o mérito dos solistas foi
real difere para cada um” (Guthrie, 1995, pp. 161-16 2). a criação de
era o urna zona intermediária, o “cinza”, ao determinarem a dúvida
Percebe-se que o primordial no pensamento de Protágoras tivo para a busca constante do “outro lado da moeda”.
como mo
e absolu ta, bem como não existem Neste aspecto,
seu relativismo. Não existe uma verdad Protágoras teria sido o “pai” do ceticismo e o avô intelectual de
bens ou valores morais absolutos. O que existe é o que
é mais “convenien Popper,
que reconh ece o “relativo mais Quanto à objeção do “comodismo sofistico”, de decisão subje
te” ou oportuno. Para ele, sábio é aquele tiva sobre se é bom roubar, por exemplo, Protágoras diria que
útil” e que sabe convencer os demais disto. O relativ ismo de Protágoras se fôsse
mos capazes de convencer a nossa consciência da identificação de
matar
se revela, porém, limitado. ou roubar com o Bem, não haveria problema. “E aqui abre-se
a discussão
rador cm sobre o modo como a moral comum pode condicionar o
Com efeito, pareceria assim que, enquanto é medida e mensu o em relação à Protágoras. E certo que juizes somos nós próprios, mas também
relativismo de
relação à verdade e à falsida de, o homem toma-s e medid é certo
de venha a aprese ntar que o nosso julgamento d influenciado pela moral dos
utilidade, ou seja, que, de alguma forma, a utilida bem e o mal outros” (De Cres
como objetiva. Em suma: parece ria que, para Protág oras, o cen2o, 1988, p. 180)15,
tivame nte, o útil e o danoso ; e o “melho r” e o “pior” se
seriam, respec 1991, Com os Solistas surge o problema da cultura (paideja):
riam o “mais útil” e o “mais danoso”. (Reale & Antise ri, p. 77)
A origem e o desenvolvimento da cultura são pensados
ssa a me segundo dois
A questão não é, contudo, tão simples assim, e ultrapa modelos: o modelo da decadéncia, regido pelo mito de uma idade
que o sujeito , dian de
ra “conveniência”. O relativismo protagórico significa de”
ouro primitiva que se tomará um tópico clássico na
literatura antiga; e
juiz da realida
te de suas experiências sensíveis, é “pedra de toque e uo o
o modelo do progresso, que pressupõe um primitivo
estado de barbá
cada indivíd
(Mondolfo, 1971), que depende do estado subjetivo de rie, ultrapassado pela fundação das cidades (mito do herói
—
e fundador) e
momen to. Trata-s pela invenção das técnicas (mito do primeiro inventor),
que varia, de sujeito para sujeito e de momento para (Lima Vaz, 1991, p. 32)
pró/os eureíàs.
quando se diz
de uma forma filosófica do que, costuma-se estabelecer
eração da “verda
que “cada caso é uni caso” ou ainda, vale para a consid realidade Este pensamento revela que o homem e suas capacidades
erarmo s a pas
de” de cada um, sendo, pois, importante para consid sam a ser objeto principal da Filosofia. Lima Vaz
(1991) resume as ideias
subjetiva de cada indivíduo. diretrizes da Sofistica através dos seguintes pontos:
28
adas com seu nome são Platão, ao criticar a fórmula relativista de Protágoras, usa-se com
27 Segundo Mondolfo (1971), muitas das obras que foram catalog cita Sobre as Aio/e assim, uma contradição interna Para Platão (Huisman 2000), se
ela mesma, expondo
diferen tes para um mesmo texto. Dentre suas obras, a máxima protagórica
apenas títulos al, contudo, foi a obra for verdadeira então não há nada que não seja pelo homem,
asáticas, Do Estado, Da Virtude, Sobre as Artes, etc. A princip sendo assim tudo anifl
mais comple cial, Nesta ótica, não haveria valores em si, mas convenções
Sobre os Deuses , que teria sido a “causa” de sua expulsão. Para uma lista das de escolhas, ou seja, não haveria universalidade
humanas e sociais, advin
.
ta de suas obras, reportamo-nos a Diôgenes Laêrtios (1988)
126 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
127
a) Um conceito de natureza humana (anthropinéphysis); cessájia de apreensão da realidade do
outro, a partir de sua
b) O conceito de narração histórica (investigação, seriação e experiência vivida;
julgamento dos fatos); 3. Uma vez que uma das proposições
“busca do significado” pessoal, dessas psicologias é a
c) A oposição entre a convenção (nomós) e a natureza; retomamos ao ponto inicial,
d) Um individualismo relativista; qual seja, a realidade subjetiva
do individuo°; que, por fim, experiencial e vivencial
—
—
com suas particularidades e especificidades, com sua subjetividade e com mesmo que contrariamente à opinião
suas vivências, com sua história e suas relações. Tratar-se de relevar o râneos, é um valor agregado ao geral de alguns de seus contempo
espírito da “identidade”, ou em outros termos, a “sinEularidade”, a espe de treinamento e de educação31. desenvolvimento de qualidades, passível
cificidade do sujeito. Em alguns contextos isto pode ainda ser associado No século V a.C., surgem algumas
ou identificado com categorias como “individualidade” e “subjetivismo”; humano, que vão na direção da ideia teorias sobre o progresso
mítica da degeneração de uma per
1. Este sujeito é sujeito de si próprio, é quem determina sua feição primitiva. Em outras palavras, o
ser humano teria passado de um
própria existência (o que vai ser retomado posteriormente estado de barbárje à civilização, e o
que teria proporcionado isto teria
por algumas filosofias de cunho existencialista), que se cons sido, dentre outras, a domesticação
animal,
titui e se “constrói” em intima e constante relação como técnicas, o desenvolvimento de construções a aquisição de habilidades
o controle alimentar, etc.
mundo, numa devir, num “fluir”, num processo que o proje
ta nesse mundo. O sujeito é, pois, pro-jectum, um “projeto” sou a ser mais desenvolvida
empincamente graças as pesquisas de Cari
da década de 1950 (Sampaio, Camino Rogers, a partir
inacabado e inacabável; Não podemos, contudo, cair na
& Roazzj, 2009; De Simone, 2010).
armadilha
2. Ao se associar ao pensamento fenomenológico e à sua con exemplo as que definem o sujeito como das dicotomias e das oposições, como por
“individuo” e, portanto, tomam-no alheio
— —
Wundt pan designar a experiência imediata, que em seguida foi traduzida por Titchener a esse erro, apontando concepções
por “empathy”. A rigor, a Einfiih!ung em Husserl ganha contornos mais complexos, e constituição do “sujeito” da tempi& díspares pan a
‘
que demandam mais exploração. Remetemos o leitor à leitura dos oiiginais de Hussefi Sobre esta questão, observe_se que
a necessidade pecuniárja e o valor
(1905-1935/2001; 1931/1980). Opencionalmenle, o conceito encontrou solo dc fertiliza determjjiada ação prática não era desconjiecido agregado a uma
dos gregos, como podemos observar no
ção nas teorias de personalidade do século XX, desde a psicanálise (com Fitud e Reik) comentário de Filóstrato; “todos nós
até sua sistematização na psicologia social e do desenvolvimento, mas seguramente pas sério o queégr,ft0” (De Crescenzo levamos a s&io o que se paga e não levamos a
1988, p. 177).
À
128 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
129
Estes relatos sobriamente racionalistas da evolução humana estão em estrutura feudal foi sendo paulatinamente
forte contraste com concepções religiosas mais antigas de degeneração ras representadas por remos e substituída por grandes estrutu
de uma idade de perfeição, a ‘raça de ouro’ de Hesiodo ou a ‘idade do estados; as ciências e as artes
grande esplendor. As ideias enfatizaram conheceram
amor’ de Empédocles, quando a bondade do homem combinava-se o “nascimento” do sujeito, em a liberdade individual (e mesmo
com a infantil abundância da natureza. (Guthrie, 1995, pp. 63-64) primeira pessoa), permitindo ao homem
pensar por si só, espírito este que
permitiu, a partir dessas indagações, a
Protágoras mesmo foi um grande defensor da ideia de “progres cisão da Igreja, com a Reforma. Além
o homem moderno aos grandes disso, foi este espírito que impeliu
so”. Observa-se que, para Protágoras e Critias, o estado de natureza em descobrimentos.
inconfortável e selvagem (Guthde, 1995), desenvolvendo uma ideia de Este panorama não se modificou
‘idade de Ouro”32. Os solistas, como mestres da Cultura e seus dois mé cesso de mudanças que o quadro desarticulado de todo um pro
social feudal vinha sofrendo. A migra
todos; a erudição e o exercício ativo de habilidades intelectuais, e através ção rural para os grandes centros
urbanos levou ao florescimento das
da exaltação do poder da palavra, foram os primeiros a desenvolver uma cidades. Crises sucessivas ocorreram
no
perspectiva de “subjetividade” na ocidentalidade. epidemias, a incompatibilidade econômica século XIV, como as grandes
feudal para o capitalismo, e culminou da transição de uma economia
Numa primeira aproximação, portanto, o humanismo surge co
com a grande fome do início do
mo produto de uma renovação de um espírito clássico, de uma reesfltu século, agravada pela Guerra dos Cem
Anos (1337-1453). Crise também
ração das próprias perspectivas de uma sociedade em evolução. A van na esfera religiosa, com o grande
Cisma do Ocidente (1378-1417), que
guarda sofistica, associamos agora a vanguarda renascentista. elegeu dois papas. Grandes revoltas
sociais ocorreram em Flandres, Flo
rença e Liêge.
4 O RENASCIMENTO E A QUESTÃO HUMANISTA Tudo isto foi gerando a
de criação de um estado unitário, necessidade, cada vez mais premente,
de estados nacionais, unidos pela co
Nós (...) buscamos no homem uma nota munhão de origem e de línguas. Durante
que lhe seja peculiar, com a qual se possa XVI, foram surgindo os estados o século XV e o início do século
explicar a dignidade que lhe é própria modernos Foi-se dando um “renasci
mento” da vida europeia. Por Renascin,e,,,o
e a imagem da divina substância que não pois, o período de retomada da vida ou “renascença”, entende-se,
é comum a nenhuma outra criatura.
ga intensidade, ocorrida inicialmente econômica social e cultural, em lar
na Itália, e posterformente no resto
Pico deus Mirandola da Europa, em meados do século XV
comumente conhecido como a “longa (Hollanda, 1975), após o que ficou
noite medieval”.
Para o homem medieval, boa parte do que ocorria no mundo es Aqui cabe um parêntese: esta
tava ligado diretamente às questões religiosas. A Idade Média representa val” é mais conhecida pelo jargão expressão — “a longa noite medie
ria, assim numa avaliação mais tradicionalista um mundo fechado,
—
4
130 Adriano Furtado Holanda FenomenoIgj e Humanismo
131
—; já Jacques Le Goff destaca a produção intelectual do mesmo período, por ter gerado a moderna concepção
de ciência, iniciada no século XV e
com relevo para a produção filosófica e a constituição das universidades; se prolongando até fins do século
XVI. Esta revolução científica ocorrida
e como não destacar os textos clássicos de Philippe Ariês e Georges Du entre os anos 1500 e 1600 “não afetou
apenas todos os campos da ciência
by, dentre tantos outros33. como mudou as técnicas de investigação
cientista estabelecia para si mesmo e científica, os objetivos que o
Retomando o renascimento, O grande florescimento econômico o papel que a ciência poderia de
desta época se deu, em princípio, em cidades como Florença, Ferrara, sempenhar na filosofia e até na própria
sociedade” (Ronan, 1987, p.7).
Veneza e Milão. As razões pelas quais estas grandes mudanças tenham se A Renascença do século XV foi
a “redescoberta” do mundo,
/
iniciado na Itália afinal as cidades italianas nesta época eram um con através da arplo;-ação geográfico, por
—
são do homem. Mudanças significativas ocorrem no modo de se ver o Europa, coincidiu com a técnica de Gutenberg (em 1454) que, na
mundo, como a refutação, por Nicolau Copémico (1473-1543) da teoria de metal (o que permitiu o impressão de ilustrações em chapas
geocêntrica e a sua elaboração do sistema heliocêntrico. desenvolvimento da xilogravura) foram im
prescindíveis para a difusão do conhecimento. —
1
Itália.
bem é o prazer e a virtude, o cálculo dos prazeres. Estas ideias represen
tam reações diversas à imobilidade de pensamento da Idade Média, rea
ções que surgem como combates aos ideais de contemplação e ascetismo:
i
136 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 137
ou de “individuo” na
Renascença, mais particularmente através dos retratos, pode ser
ao “eu” medieval, diluído em meio às determinações divinas que surge como “pré
—
4
r
138 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humwiismo
139
Toda a tendência desta época caminha na direção da exaltação “A vida é uma sombra errante, um pobre ator
uma hora ou duas e depois não é mais que gesticula em cena por
da glória e da potência humanas. Como afirma Pico della Mirandola, “o ouvido”.
homem é livre para se apoderar do inundo”. Esta exaltação leva à redes Uma visada sobre o cenário artístico do
Renascimento lança lu
coberta de tradições místicas, como caminhos de contato do homem com zes sobre a questão do humanismo. Segundo
Sproccati (1994), as obras
as forças da natureza, como no caso da magia, da Cabala judaica e do artísticas representam “textos culturais” repletos
sistemas de signos e de símbolos, onde de significados; são
Hermetismo egípcio. Ficino, por exemplo, traduziu o “Corpus Hermeti podemos entrever as relações
eu?’, de Plotino; e considerava que os textos místicos de Hermes Trisme entre a arte e o contexto político e social no
a relação entre arte e ideologia. Nesta qual estão inseridos, ou seja,
gisto continham a “prisca theologia” (teologia primitiva), cujas bases não perspectiva, estudar a arte de um
divergiam da doutrina cristã. determinado período ou contexto é estudar o
que insere a obra. próprio período histórico em
Todo o esforço renascentista girava em tomo da valorização do
humano, da exaltação desta suprema obra divina, mas afirmava a sua A história do Humanismo perpassa a revolução
renascentista, que pode ser denominada de gerada pela arte
independência, a sua singularidade e, principalmente, o seu destaque do modernidade artística, cujas
bases estão no século XIV, com a renovação
mundo da natureza. Foi esta afirmação de um “eu” individual fechado e done (1267-1337), pintor e arquiteto florentino,
proposta por Giotto di Bon
separado do mundo exterior (aqui incluidos objetos e outras pessoas) que e por Giovanni Pisano.
derivou nos processos de colonização produto do contato com a multi Em fins da Tdade Média, a linguagem por
—
À
142 Adriano Furtado Holanda
Fenomenologia e Humanismo
143
impressão de serem tridimensionais. tomando a pintura mais natural48. A Europa49, como embaixador, seja
da
relação de sombras escuras e cores luminosas dão a impressão de que os Observa a queda e a manutenção conturbada vida política de Florença.
dos governos, e reflete sobre a
personagens iam de encontro ao observador, parecendo sair do quadro, ou zação política. Ao procurar
estabelecer um governo imaginário, organi
criando a ilusão de movimentos antes inimagináveis (como podemos para a necessidade de um príncipe aponta
facilmente observar com a Mona Lisa, de 1505-1506, cujos olhos pare ideia do maquiavelis,,io como “aprender a ser mau”, o que originou
sinônimo de ações inescrupulosas a
cem acompanhar o observador aonde quer que ele vá). O oposto deste trágico “realismo
Um segundo grande salto qualitativo do Renascimento encon “utopias”, ou as descrições de político” de Maquiavel são as
tra-se associado a Piero della Francesca (1415-20/1492). Suas regras de seus autores. Nestas obras sociedades opostas à real, esta conhecida
relativas à arte da perspectiva fazem-no um precursor da fotografia fiatu dentre as quais a maior representante
Utopia50 de Sir Thomas Monas
—
(1478-1535) descrevemse éa
ra: visão monocular, imobilidade do espectador e estatismo do objeto imaginárias, ideais (na sua obra, —
sociedades
Monas
observado (o que supõem uma nova retomada do subjetivismo); além da propriedades privadas nem injustiças), descreve uma ilha na qual não há
centralidade do ponto focal no campo visual. -1639), ao escrever A Cidade Tommaso de Campanella (1568-
O segundo renascimento compõe-se basicamente das contribui do Sol51, inspira-se em Platão,
uma cidade onde o governante e descreve
é
ções de gênios tais como o já citado Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio há nem propriedades privadas, um sacerdote metafisico, e na qual não
(1483-1520) e Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Neste período, a nem crimes. Estes autores
assim, ligados ãs transformações mostram_se,
teoria humanista da arte atinge sua maturidade, e complementa: “O clas riqueza, advinda da propriedade sociais oriundas da conceniração de
sicismo de Rafael é o produto final e talvez o mais rico e complexo da
— —
obras conteriam ideias precursorasprivada. Segundo alguns críticos, essas
tendência ‘retrospectiva’ que o humanismo italiano cultivou durante todo do moderno “comunismo”, ou
“comunitarismo» de um
o século XV” (Sproccati, 1994, p.59).
Thomas More (1478-1535) ou
Muito ainda teríamos a discutir a respeito da arte renascentista arcebispo de Canterbury Em Monas, em latim, foi
1490, ingressa na Universidade pajem do
—
produto necessariamente delimitador do espaço deste movimento em para estudar Direito, e em 1504, de
meio à construção da modernidade mas ainda restam outros pontos a se toma membro do ParlamentoOxford,
tarefa Política que exerce até
o final de sua vida. Sua principal inglês,
—
serem assinalados. Além da pintura, também na literatura encontramos Utopia, se constitui numa
representações dignas de nota desta transição de pensamento. Talvez o revalorização do epicurismo dentro obra, a
ção reinterpreti de PlatAo da tradi
e
—
tas resgatem também alguns Aristóteles, que faz com que os humanis.
exemplo de uma reflexão profunda empreendida por pensadores engaja cultura medieval ao qual filósofos esquecidos ou condenados
dos com o processo de mudança particularmente próprio de sua época. defende pela
—
1
144 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
145
cia Erasmo era um humanista no mais completo
finda renovação. Foi esse o aspecto da Utopia que maior influên sentido,
exerceu sobre os contemporâne os, toman do-a matriz de outras tentati integralmente nas possibilidades de a razão humana que acreditava
Sol de distinguir clara
vas para retratar uma sociedade ideal, como A Cidade do mente entre o bem e o mal, e colocava no
Iivre-arbíb-jo de cada um a
Nova Atlãnt ida, de Franci s fonte de todo autêntico pensamento religioso
Tommaso Campanella (1568-1639) e a e da opção moral. Lutero
Bacon (1561-1626). (Pessa nha, 1988, p. 157) esposava o agostinismo mais extremado,
segundo o qual o homem é
um miserável ser, condenado ao pecado
e à degradação da qual só
A Utopia é uma república diferente, sendo a descrição de uma pode ser salvo pela graça divina; o homem
não pode por si só atingir a
-
sociedade comunista ideal, onde não há propriedade privada (os utopia beatitude eterna mediante aquilo que faça; é
a Deus pela fé e esperar preciso antes entregar..se
nos mudam de casa periodicamen te), há distrib uição de gênero s apenas pacientemente pela misericórdia divina.
elei Erasmo procura a reforma pelo esclarecimento
necessários e à mão de todos, e um complexo sistema político de —
1
1
146 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 147
5: IIUMAMSMO, HUMAMSMOS E PSICOLOGIA responde por ele. E é nessa direção que se instala a angústia,
pois homem
escolhe sozinho, mesmo que a responsabilidade não seja puram o
O paradoxo é a paixão do pensamento;
ente indivi
dual (ao escolhermos, esta escolha também envolve um
o pensador sem paradoxo é como um “para” os outros;
escolhemos também o que consideramos melhor para os outros
amante sem paixão, um sujeito mcd jocre. ). Portanto,
nesta sua defesa, Sanre reafirma que cada escolha vale para
a própria hu
N. A. von Zuben manidade, e que o homem não pode recuar diante de sua escolh
a pois não
escolher ainda é uma escolha dai o homem ser “condenado
—
—
a ser livre”.
Do ponto de vista da filosofia existencialista, o ser humano não No mesmo ano, o filósofo francês Jean Beaufret (1907-1 982),
é um produto da fala, mas é a própria palavra. Conforme Heidegger e principia um diálogo com Heidegger, no qual lhe fala
dos desenvolvimen
Buber descrevem, não é a linguagem que se encontra no homem, mas o tos do existencialismo na França e de algumas de suas ideias
(que, inclusi
homem que se encontra na linguagem: “C..) no pensamento, o Ser se ve desenvolvera num conjunto de quatro artigos intitulados
“A propos de
toma linguagem. A linguagem é a casa do Ser. Em sua habitação mora o l’existentialisme”)54. Em novembro de 1946, redige uma
carta endereçada
homem. Os pensadores e poetas lhe servem de vigias. Sua vigília é com a Heidegger, na qual pergunta como dar um novo sentido
sumar a manifestação do Ser, porquanto, por seu dizer a tomam lingua à paiavra “huma
nismo”. Em resposta, Heidegger em 1949, em Uber deu
Hunwnismus55
gem e a conservam na linguagem” (Heidegger, 1949/1967). Já para Buber
—
des que tem diante do mundo, e o homem age pela palavra, que é ato. E
—
pelas “palavras-princípio” que se dá ação do homem no mundo. Palavra e clareira do Ser”. Heidegger lembra que o Darem é esse domín
linguagem, são atos: “Não é a linguagem que se encontra no homem, mas o io de aber
tura do Ser, que toma o homem capaz de compreensão
homem que se encontra na linguagem e fala do seio da linguagem assim do Ser; o Dasein
-
seria o “pastor do Ser”, aquilo que permite o acesso ao Ser.
também acontece com toda palavra e com todo espírito. O espírito não está A questão sartreana de que “o existencialismo é um hum
no Eu, mas entre o Eu e o Tu” (Buber, 1923/1979). mo”, é questionada por Heidegger que replica, por consid anis
Quando se pensa em “humanismo”, no contexto filosófico con erar que uma
filosofia que faz do homem a medida do ser, subordina
temporâneo, invariavelmente vem à tona dois grandes textos, de dois dos o ser ao homem,
quando o homem deveria ser subordinado ao ser.
Por outro lado, esta
mais importantes pensadores do século passado: O Existencialismo é uni posição especificamente “existencialista”, como tomada
Humanismo, de Satte; e Sobre o Humanismo, de Heidegger. Por sua im
—
enquanto responsável pelo Outro. Não foi o humanismo que fracassou, Sob esse enfoque, o ser humano nos aparece não como resultante
diz Lévinas, mas as interpretações recentes desse humanismo que, redu uma série de coisas, mas como, ftzndamentalmente, o
de
iniciante de uma
zido a esquemas simplistas esqueceu seus valores ftmdamentais. série de coisas, e os desafios daquilo que ele deve criar não são res
Esta ética, aqui não é simples reencontro consigo, pois “o reen pondíveis com explicações daquele tipo. O homem só aparece
naquilo
contro consigo não se verifica. A interioridade não seda rigorosamente
que ele tem de mais próprio, na questão do sentido, não
na questão da
causa explicativa. A razão explicativa se refere ao homem como
interior. Eu é um outro” (Lévinas, 1972J1993, p. 112). E, pois, uma ética tado, como repertório, ou como recebido, e, portanto, em
resul
definitivo,
sobre ao homem como passado. Não se refere ao homem atual, ao
56 A rigor, um “culto” da humanidade conduz a uma concepção de humano fechada desafiado, ao homem tendo de responder e posicionar-se, ao
homem
si mesma (como encontramos em Comte, p.ex.) e, levada ao seu extremo, ao fascismo. homem
presente (face a um futuro). Este homem atual, presente, desafiado,
termos
Há que se questionar o quanto de “caractebológica” é a psicologia moderna (em terpelado, em movimento, é o que se encontra face ãs questões de
in
caracteriolog ia queremos significar qualquer modelo de sujeito que seja defi sen
gerais). Por
a tais característica s previamente dadas
nidora do homem, ou seja, que resuma o homem
quanto
e, de cefla forma, imutáveis. Isso vale tanto pan uma perspectiva fisiologicista n Esta posição aproxima
anterio
social; ou mesmo pan os modelos “psicológicos” que se definem por conceitos Lévinas de Manin Buber. Todavia, embora partilhem muitas
res à manifestação do homem. Bem como vale pan outras modalidades interpretativas do posições; embora ambos panam do judaísmo e, embora, Lévinas
reconheça em Buber
sujeito, tais como a astrologia, diversas formas dc leitura religiosa, etc. um pioneiro em grande parte de ideias, há significativas
diferenças entre seus modos
de pensar (Orange, 2010).
“Humanismo do Outro Homem” (Lévinas, 197211993).
1
Fenomenologia e Humanismo 151
150 Adriano Furtado Holanda
ícito da fala vivencial que reside a própria ciéncia caminha em direção a uma revisão deste sentido, a Fe
da fala secundária para o significado expl
o sentido de uma psicologia humanista. nomenologia de Husserl vem para iniciar, no campo filosófico, este ques
O humanismo ainda pode ser analisado
, como aponta Erich tionamento. No bojo deste questionamen0 surgem ainda posições exis
hum anist a”. Para Fromm, esta tenciais que reinserem o ser humano num sentido de vivência, e de rela
Fromm, enquanto uma “tradição da ética
repre senta ntes de todas as épocas (o ção, como Buber e tantos outros.
“tradição” pode ser encontrada em
dos “humanismos e anti-
que é perfeitamente compatível com a ideia Quando se pensa numa psicologia “humanista” deve:se pensar
anista para Fromm é a afirma numa posição pautada por uma “sensibilidade hermenéutica” E esta que
humanismos” de Nogare). A ética hum
—
—
vendo em seu luga r força s que bloq ueiam futuro possa ser a mesma e que nos permite a compreensão efetiva, pau
do-o a uma “desumanização”? Esse é um dos temas centrais em seu es —
“tend ência à auto atualiza mento humanista”. A seguir, traçaremos alguns comentários a respeito
mo a “tendência atualizante” de Rogers ou a kl. Sob o prism a de deste movimento.
ção” de Maslow; ou a busca de sentido, de Fran
as pode m vir a ser hum anis
Fromm, destaca-se o fato que diferentes teori uma atitu de em co
tas, dado que o que as une não são suas ideia s, mas
orân eo,
5.1 o Movimento Humanista em Psicologia
. Em seu senti do cont emp
mum, diante do homem e da realidade
“crise” do homem e de
uma psicologia humanista seria uma resposta à O homem é uru ser inacabado
de crise moral; como
sua humanidade, numa época de crise de valores, e alento a anseios não e inacabável.
os
uma alternativa a questionamentos não respondid logia. KarI Jaspers
satisfeitos; ou seja, a expe ctati va de uma “nov a” psico
ubstancia
Essa expectativa de uma “nova” psicologia se cons amento, Quando se conta a história da psicologia moderna, costuma-se
—
uma nova corre nte de pens dividi-la ou em períodos históricos ou em “sistemas”. A partir de meados
em solo americano em projetos de
que já retomaremos sua
—
4
152 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 153
sar do fenômeno psicológico, que não se encaixam nos dois primeiros Há mesmo certa controvérsia ao se considerar se os movimen
“olhares”, se tomam (invariavelmente) “humanistas”. Há mesmo algumas tos humanista americano e existencial europeu guardam mais similarida
variações dessa denominação, normalmente associados a um certo “rigor” des ou diferenças, o que gera considerável confrsão quando necessitamos
epistêmico, que justificaria a mudança de nomenclatura de “humanista” defini-los e, ainda, não dá o devido mérito a nenhuma das duas constru
ções. Assim, é importante fazermos algumas distinções preliminares.
para “humanista-existencial” ou mesmo “fenomenológico-existencial”61. Uma clara distinção entre a chamada Psicologia Humanista e a Psicologia
Isto, em tese, daria mais liberdade para se poder desenvolver temas ou Existencial parece-nos um tanto demasiado, mas há que se destacar al
olhares tão distintos como o Psicodrama, a Gestalt-Terapia, a Logoterapia guns aspectos importantes;
ou mesmos as abordagens corporais, neste “lugar” do humanístico. Em
outras palavras, costuma-se pensar como “humanista”, tudo aquilo que 1. Em que pese o fato de haver desenvolvimentos independen
não for psicanálise ou comportamental. tes, embora paralelos, somente a Psicologia Hunianista é con
Não vamos adentrar a questão epistemológica subjacente a essa siderada como a “terceira força”63, em clara oposição à Psica
concepção, mas tão somente vamos assinalar que, do nosso ponto de vista, nálise e ao Behaviorismo, sendo esta sua principal caracterís
há um grave erro nesta consideração: a ideia de que cada uma dessas tica a de ser um movimento reativo. Além disso, esta consi
—
perspectivas parte de um “objeto” diferente de Psicologia, ou de uma deração se dá pelo fato desta ter se desenvolvido em solo
compreensão distinta do que seria o fenômeno psicológico. Isto equivaleria americano, enquanto que a Psicologia Existencial evoluiu na
a dizer que faríamos “psicologia?’ diferentes. Discutir esse tema, embora
seja imprescindível, não seria possível sem uma grande elaboração sobre o
que é e como se pode dar uma epistemologia da Psicologia; nem seria pos
62
Europa, à margem desta reação (dado que o movimento com
canas, Seguramente, uma das razões para esta consideração é o fato dos
humanistas ameri
no espaço, num mundo de contínuas e inevitáveis relações. peus estarem intimamente ligados à Filosofia e á Psiquiatria, enquanto modelos euro
que os modelos
americanos surgem como reações às duas “grandes forças” da Psicologia
da época. Para
constatar isto, basta lançamuos um olhas pan as contribuições de
60 Isto pode ser claramente observado nos curriculo de formação em psicologia no nosso personalidades tais co
mo Karl Jaspers, Ludwig Binswanger e Viktor Franjd, por exemplo.
pais. Hoje, já se procura incluir “novas epistemologias” nos cursos, como um modelo Mas há ainda um
outro detalhe digno de nota: nas construções europeias, não se observa
uma “quebra” tão
cognitivista ou um modelo “sócio-histórico” ou “histórico-cultural”. rigorosa quanto se pretende nas psicologias da “terceira força”, em
relação às demais es
‘ No Brasil, temos ainda a possibilidade da denominação “humanista-fenomenológica” colas; hãmmo uma compatibilização entre elas, como observamos em
Brnswanger, por
proposta por Moreira (2009, 2013). exemplo, que chegou a ser presidente de uma sociedade de psicanálise.
154 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 155
portamentalista é basicamente americano), ficando muito mais Psicodrama de J. L.Moreno (1889-1974), que emigra em
ligada à Psiquiatria do que à Psicologia em si; 1925 para New York (e dois anos depois faz o primeiro psi
2. Há elementos genéticos similares entre ambas. Em primeiro codrama fora da Europa), traz consigo raízes existencialistas
lugar, convém assinalar que os pensadores que mais direta e fortes marcas em temas como “comunidade” e “socialida
mente influenciaram a Psicologia Humanista foram justa de”, e que dialoga frequentemente com filósofos como Mar
mente os dissidentes freudianos (de origem europeia): Alfred tin Buber65;
Adler e 0110 Rank, dentre outros. Em segundo lugar, ambas 5. E temos ainda perspectivas que se mantiveram europeias, co
as abordagens associam-se ao pensamento Fenomenológico mo a Logoterapia, de Viktor Franld (1905-1997), mas que
e ao movimento Exislencial (também de origem europeia), trabalham diretamente com temas existenciais como vonta
que passam por uma re-interpretação ao pousar em solo
—
ram significativas diferenças entre as abordagens; pelas discussões sobre ética por Max Scheler quanto com os
—
3. O primordial, contudo, a nosso ver, é que a polêmica que se existencialismo5 (em pelo menos dois títulos traz explicita
criou ao redor desses dois movimentos, calca-se muito mais mente esta relação66) e com o humanismo (que discute expli
em uma questão semântica e hermenêutica, do que em reais citamente em Psicoterapia y Humanismo67); além de manter
liames de diferenciação conceitual ou filosófica. Uma consi proximidade com autores como Gabriel Marcel, Erwin Straus,
deração importante a ser feita é reconhecer a evolução da Von Gebsattel e Ludwig Binswanger6t.
Psicologia Humanista, seu desenvolvimento epistêmico e 6. E ainda, com relação aos autores que trabalharam (ou ainda
apagar a ideia arcaica de que esta se fundamenta, ainda,
— —
trabalham) com temática explicitamente existencialista, co
em conceitos da década de 30 (como invariavelmente as aná mo temos contemporaneamente com Jrving Yalom (1980),
lises são feitas). Apenas a título de ilustração: expoentes da por exemplo, o que dizer de suas proximidades? Temos que
Psicologia Humanista têm trabalhado exaustivamente na di levar em consideração o papel destacado desempenhado por
reção a um reconhecimento de suas bases existenciais. Por RoIlo May (1909-1994), psicoterapeuta pioneiro do pensa
exemplo, Eugene Gendlin desenvolve uma metodologia cla mento existencial nos Estados Unidos, e que manteve estrei
ramente existencial, junto a Carl Rogers. O próprio Rogers tas relações com os psicólogos humanistas, associando-o
reconhece a posteriori, é verdade, e despreocupado com
—
com frequência ao movimento ou designando-o como “exis
suas conseqüências a similaridade de suas propostas com
—
tencial-humanista”. Como defini-lo, contudo, se as marcas
os pensamentos de filósofos tais como Kierkegaard e Buber. de seu pensamento estão associadas a pensadores como ICi
A Gestalt-Terapia (que se inicia com um germe europeu e erkegaard e Nietzsche, por um lado; com Paul Tillich (de
cresce americana) vem trabalhando sucessivamente com as quem era amigo pessoal) e com todo um conjunto de psiquia
ideias de Buber, Marcel, Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre, tms europeus de orientação fenomenológica, como Binswan
além destas todas se fundamentarem ora implícita, ora ex
—
ger, Minicowski, Straus, Von Gebsattel e outros (tendo sido
plicitamente no método fenomenológico de Husseri.
—
4. Por outro lado, há abordagens clínicas que nascem e se de Fonseca Filho, 1980; Almeida, 199]; Nudel, 1994; Blaer e Biamer,
1996; Caldemni,
senvolvem na Europa, e que contribuem significativamente 2010.
com o movimento humanista norte-americano. E o caso do Psychothempy and Exislencialism (Fmnld, 1967) e Psicoanálisis
y Existencialismo
(frankl, 1946/1952).
67
Fmnkl, L97811984.
Sobre esta questão em particular, remetemos o leitor ao trabalho de Spiegelberg Spiegelberg, 1972; Fnnkl, 1967, 1984, 1991; Halling e Nill 1995;
Maciel, 2004;
(1972). Moreira e Holanda, 2010.
4
156 Adriano Furtado Holanda
—
e existencial,
car esta sociedade em “crise”, posicionando-a com sua facti teríamos algo como se segue:
cidade. Foi assim com Sócrates na Antiguidade ou com
Nietzsche apenas para citar alguns; Psicologia
. . Fundamentos
.
Existencial .
Explicitos
.
. . .
Europa
Existencialismo
humana”.
Analisando algumas importantes obras de referência histórica Mesmo assim, teríamos problemas em delimitar tão clara e for
na Psicolo gia, encontramos um quadro interessante. Heidbreder (1975), çosamente essas fronteiras, tanto entre os modelos americanos
e
livro Psicologias do Século XX, não inclui o movimento humanis (que se entrecruzam), quanto entre suas diversas denominaçõe europeus
em seu s. Apenas a
título de exemplificação, basta observarmos os “temas” trabalh
ados por
todos esses autores, que se confundem entre si, não sendo
pois ne
nhuma primazia. Estamos no terreno das interpretações, e estas,
— —
May, 195011970, 1953/1972, 19601L988, 1967/1977, 1975/1992, 1988; May, Angel & são abso
Ellenberge; 1958/1967; Ponte & Sousa, 2011.
À
1
158 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 159
lutamente livres. Preferiremos, então, destacar mais suas similaridades do história mostra claramente um solo de edificação
norte-americano capi
que propriamente suas divergências, guardando respeito pela diversidade taneado por grandes nomes da psicologia à época, que
do pensamento. Isto não implica, todavia, em dizer que se trata de um recebe contribuições de correntes europeias de fenomenolog posteriormente
ia e existen
“mesmo”, dado que as distinções decorrem muitas vezes de visões espe cialismo, influenciando a apropriação dos “aspectos trágicos
cíficas de homem, de mundo, de técnica, de objeto, enfim e que deli
—
—
valores na direção da
abordagens diversas se é que isto seria possível requereria um estudo compreensão da natureza humana e da condição humana”,
espectro de ações de pesquisa do comportamento humano ampliando o
—
—
mais aprofundado, tomando por base uma discussão epistemológica e (em especial
filosófica, mas este não é no momento o objeto de nosso estudo. E,
—
questionando os formatos exclusivamente quantitativos de
pesquisa, e
—
embora reconheçamos a necessidade de tal estudo, inclusive como forma estimulando novas formas de pesquisa qualitativa) e oferecendo
de marcar as contribuições de cada um desses modelos de pensamento e gama maior de métodos e técnicas de ação psicoterápica70. uma
de resgatar o legado de pensadores tão significativos para a história da Foi a partir dos trabalhos de Ivan Pavlov, que se deu
psicologia e da psiquiatria, por ora iremos nos ater a essa marcaçãd das academicismo psicológico americano, através da figura de
início ao
identidades para que possamos circunscrever o locus no qual está assen a sua “ciência do comportamento” (à qual Maslow
John Watson e
tada a chamada Psicologia Humanista, traçando um breve histórico de sua força” da psicologia). Calcado numa ênfase objetivista,
chamou de “primeira
construção. reforçada pelo
sucesso das metodologias naturalistas, pelas investigações
dos empidstas
britânicos e dos lógicos positivistas, este modelo buscou
aplicar os méto
5.2 BREVE ifiSTÓRICO DA PSICOLOGIA “HUMANISTA” dos e valores das ciências físicas ao estudo do ser
humano, o que gerou
uma série de críticas como a exclusão da subjetividade
A verdadeira natureza do homem, de sua considera
ção do ser humano, além de não abordar a complexidade
seu verdadeiro bem, e a da personalida
verdadeira virtude, e a verdadeira de e de seu desenvolvimento. Já a “segunda força”
emergiu da psicanálise
religião, são coisas ás quais O freudiana e das chamadas “psicoiogias profundas” de
Alfred Adler, Erik
conlwcimento é inseparável; Erikson, Carl Jung, Melanie ICem, Otto Rank e outros.
A ênfase deste
modelo estava na dinâmica do inconsciente e na crença
Pensées, Biaise Pascal de que o compor
tamento humano seda determinado prioritariamente
pelo que ocorre na
Podemos principiar por um olhar panorâmico sobre a Associa- mente inconsciente.
tio,: of Hunzanistic Psychology (AHP), onde encontraremos dados que
podem ser considerados “oficiais” acerca da Psicologia Humanista. Sua
70
nvw.ahpweb com
160 Adriano Furtado Holanda
“humanista” desenvol
Comumente afirma-se que Cari Rogers, Roilo May e Abraham vido em Toward a Psychology of Being, de 196272 —
Maslow foram seus maiores promotores, sendo que se atribui a este últi isto é, novos
mo a criação deste movimento, como veremos logo a seguir. Posterior- caminhos de perceber e de pensas, novas imagens do (...),
homem e da socie
mente, outros nomes de relevo passaram a compor um quadro amplo de dade, novas concepç&s éticas e axiológicas, novos
rumos por onde enve
profissionais e a divulgar o movimento, desde Hany Stack Suflivan, Gor redar” (Maslow, 1962/1974, p. 11).
don Allport, Herman Feifel, Gardner Murphy, a Mthony Sutich e outros. Num de seus muitos esforços, Maslow desenvolve
uma aproxi
mação de diversos grupos e profissionais que
O movimento humanista começou com a chegada aos Estados Unidos comingavam ideias e ideais,
e que posteriormente formariam a Psicologia
de emigrados da Europa por causa da Segunda Guerra Mundial, que Humanista: trata-se do que
chamou de “Rede Eupsiquiana”73; uma lista de
levaram às Universidades o pensamento de filósofas e psiquiatras, em nomes, organizações
entidades, grupos e revistas que estavam “interessados
geral alemães, conhecedores dos pensamentos de Husserl e Kierke víduo para uma condição mais plenamente humana,
em ajudar o indi
gaard, dando assim origem ao que se denominou a ‘terceira força’. E a a sociedade a evoluir
partir desta época, devemos considerar Gordon Allport como um pio no sentido da sinergia e da saúde, e todas as
sociedades e todos os povos
neiro nesta nova perspectiva. Assinalo, com respeito a esse autor, co tomarem-se um mundo e uma espécie” (Maslow, 1962/1974,
p. 275).
mo um dos primeiros, e à sua vez, mais profundo conhecedor do pen No desenvolvimento desse seu projeto, Maslow
samento existencial autêntico, que logo em seus seguidores se foi, p0- Introdução à Psicologia do Ser a Kurt Goldstein dedica seu livro
dedamas dizer, americanizando-se, centrando-se em demasia no indi (1878-1965), figura
emblemática na gênese do pensamento humanista em
vidualismo, em uma visão mais positivista, que intenta explicar e pre motivos: em primeiro lugar, por transitas na chamada
Psicologia, por dois
dizer a conduta humana. Poderíamos dizer que os psicólogos atuais mais conhecida como Psicologia da Gestalt o
Escola de Berlim —
praticam a psicologia humanista um tanto desligados de suas raízes fi que marca uma referên
cia em seus estudos e em seu legado. Foi a
—
losóficas, de seu largo passado que começa ao menos com Sécrates. partir dessa relação que Gol
(Oro, 1993, pp. 119-120) dstein surgiu como pensador fundamental para
Merleau-Ponty, por
A história da Psicologia Humanista está intimamente relaciona 72
Jntroduçâo à Psicologia do Ser, na edição brasileira, publicada
em 1974.
73
da à figura de Abraham Maslow (1908-1970), considerado ao lado de A “Rede Eupsiquianu” é uma extensa lista composta
pelas seguintes instituições ou
CarI Rogers, o criador deste movimento. Maslow é muito mais conhecido revistas as mais variadas: Esalen Institute; American
Association of Humanistic Psy
chology; NTL Institute for Applied Nebavioral
do grande público por sua teoria de motivação (e sua pirâmide de neces Institute; Psychosyntjiesis Research Foundation;
Science; Westem Behavioral Sciences
sidades básicas), do que propriamente por seus demais esforços. Educa syntlicsis; ICaims; Amedcan Humanisiic Association;
htemational Foundation for Psycho
American Ethical Unian; Thorn
dor e psicólogo renomado internacionalmente, formou-se na Universida as Jefferson Research Center Foundation for
Integrative Education; Intemational So
de de Wisconsin, passando a se dedicar a “liberar” a psicologia de sua ciety for General Semantics; Unitarian_Universalist
Association; United World Feden
rigidez (aqui entendida como uma demasiada ênfase em métodos e técni lisis; Fellowship of Religious Humanists;
Manas; Explontions; Intemational Corpon
tion Council; Philosophical Research Society;
cas, em detrimenlos de seus aspectos “humanos”, com claro intuito de for Explontion oU Human Potential; Theory Vienvoints lnstiwLe; National Center
criar uma “psicologia humana”). Neste esforço de expansão de pensa y Management Group; Comunity Services
Fnc. (que inclui desde agricultores antipesficidas
a “refomudores sexuais” como Lowen e
mento, trabalha com temas os mais diversos, desde motivação (que de outros reichianos); Synanon; Uaytop Lodge;
Seventh Step (semeffiante ao Synanon);
senvolve em Motivation and Fersonalily, publicado em 1954), passando Women’s Talent Corps e College of Human
Resources; Institute of flerupeutic Psy
chology; Consumers Union of ffie United States;
The Center L.etter; Leicestershire
Schools; Topanga Human Development Center; School
ofLiving; Grenvilie Clark Ins
‘ Polster e Polster (1973/2001), no seu apêndice A, apontam para as influências recebi titute for World Law; United World Academy and
Fellowship; World histitute Coun
das pela Gestalt-Terapia, de autores tais como Jung, Rank, Adier, Reich e Moreno. Já cil; tnstitute for Bioenergetic Analysis;
Moreno Institute; Society for the Sftidy of
Penhos (1997), amplia esta lista, incluindo nomes como os de Ehc Heme, CarI Rogers, Normal Psycholo; Shalal Institute; Oasis-Midvest
Center for Human Potential; In
Alben Ellis e Richard Lowen. stitule of Man (Maslow, 1962/1974).
162 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 163
exemplo, em seu A Estrutura do Comportamento, obra publicada em detalhes. Foi apoiado nesta experiência, que Goldstein edificou
do organismo e sua epistemologia da biologia, que sua teoria
1942, principalmente por trazer da Teoria da Forma, argumentos e recur influencia posterior-
sos para trabalhar com a patologia de modo mais “holístico”, numa pers mente vários outros nomes de relevo da tradição
biológico-psiquiátrica
pectiva mais integrativa entre organismo e meio; e, em segundo lugar, por europeia, como Viktor von Weizsaeker e Erwin Straus,
descritas em sua
obra magna, Der AuJbau des Organisnj,gs, publicado em 193476.
sua influência sobre a Gestalt-Tenpia, especialmente pelo fato de Fritz
Perls ter sido assistente de Goldstein em Franldurt, o que vincula a Gestalt Finalmente, cabe destacar certo “pensamento fenomenológico
-Terapia, necessariamente, ao seu aprendizado com Goldstein. Goldstein existencial” em Goldstein, que o levará a descobris afinidades e
é ainda conhecido dos filósofos, particularmente dos fenomenólogos. serl, Heidegger e Binswanger. Mas é a partir de com Hus
Merleau-Ponty que sua
desde as referências feitas a ele por Merleau-Ponty (em suas duas grandes obra se toma explícita, num debate que se expressa
numa “clínica dos
obras) e por ser primo de Emst Cassirer (Feron, 2005). fatos singulares” e num horizonte “não-biológico”
(Fédida, 1983). De
Goldstein traz à tona a relação dialética entre o vivente e seu todos esses destaques da obra de Goldstein, Maslow
ainda
meio externo, questionando as apropriações naturalistas do funcionamen complexidade de sua teoria organísniica, paiticularmente seu se atém à
to nervoso, e reinterpretando a função do sintoma: “O sintoma não é uma pressão “auto-atualização” para descrever os processos de uso da ex
expressão concomitante da doença cujo interesse seria residual: ele é o mento e capacidades de um indivíduo, e que Maslow toma desenvolvi
para explicar sua tese sobre necessidades básicas e como central
ponto de partida para se compreender concretamente um comportamento motivação.
e, a partir daí, se estabelecer uma conduta terapêutica em relação ao or Retomemos nossa historicização, Após a constituição da “rede
ganismo como um todo” (Fédida, 1983, p. v). eupsiquiana” cuja lista nasceu em 1954, a partir de uma
—
solicitação de
Desde que foi confrontado com a urgência dos cuidados aos Maslow, numa carta em que se lia, aproximadamente o
seguinte: “pes
soldados com lesões cerebrais, na Primeira Guerra Mundial, Goldstein se soas interessadas no estudo científico da criatividade, amor,
valores ele
opôs à concepção usual da época, de irreversibilidade dos deficits práxi vados, autonomia, crescimento, auto-atualização, etc,”
cos, gnósicos, mnésicos ou fásicos. Igualmente se opunha ao asilamento considerado o
primeiro passo concreto para a constituição da psicologia
—
dessas pessoas com lesões corticais e medulares, levando-o a conceber humanista, uma
lista mimeografada de literatura relacionada particularmente
uma instituição criada em Frankffirt-em-Main que se tomaria seu de artigos
que as revistas convencionais se recusavam a publicar17
—
— —
famoso Jnstitutfiir die E,forschung der Folgeerscheinungen von Hirnver lar entre os respondentes. No verão de 1957, numa troca passou — a circu
letzungen74, em colaboração com Adhémar Gelb75, e funcionada até a de correspon
dências entre Maslow e Sutich, ambos chegaram à conclusão
chegada de Hitler ao poder. Neste instituto misto de hospital, centro de
—
gem havia alcançado seus objetivos e que era chegada a que a lista
pesquisas e de formação em neurologia as pessoas eram acolhidas du hora de lançar
—
uma revista, Maslow tomou para si a tarefa de construir a
rante meses ou anos, e seus comportamento observados nos minimos primeira defini
ção da “terceira força”, e Sutich escreveu seus objetivos.
Assim nasceu
em 1961 o Journal of Hunianistie Psychology (11W), —
tendo Sutich co
mo editor principal.
‘
Instituto para o Estudo das Sequelas de Lesão Cerebral (numa tradução livre).
‘
Adhémar Gelb (1887-1 936). Psicólogo russo (nascido em Moscou) da escola gestaltis Atualmente, o 11W é uma publicação trimestral, definindo-se
la, foi o primeiro a trabalhar na Alemanha como clínico no Hospital de Lesionados Ce como um fórum interdisciplinar de contribuições e
rebrais de Frankfort, a partir de 1915, com Goldstein. Estudou em Berlim e se douto como editor principal, }Grk Sclmeider, vinculado aocontrovérsias, e tem
rou em 1910, com Carl Stumpf, desenvolvendo um trabalho intitulado “Aspectos Teó Saybrook Institute;
mas em seus ínicios, contou em sua comissão editorial,
ricos das Qualidades da Forma” (Bonin, 1991). Lecionou em Fmnkfiirt e, em 1924, com
nomes como Andras Mgyal, Erieh Fromm, Kurt Goldstein, conhecidos
—
tomou-se professor e diretor do Instituto de Psicologia, compartilhando o cargo com RolIo May,
Max Wenheimer. Entre 1931 e 1933, leciona em HalIe, deixando o emprego por ser Clark Moustakas e Lewis Mumford.
judeu. A partir de seus trabalhos no Hospital de Lesionados, Gelb e Goldstein introdu
ziram a diferença entre pensamento abstrato e pensamento concreto, que seria usado
por uma pessoa sã, de acordo com as circunstâncias, o mesmo não ocorrendo com aI 76
guris lesionados, enfermos ou mesmo com crianças. Pode-se distinguir as duas modali A Estrutura do Organismo, ainda sem tradução
pan o português. Neste trabalho,
dades de pensamento da seguinte forma: apresenta-se um círculo a uma pessoa, e esta lançamos mão da edição francesa, traduzida em 1951,
com prefácio de Pierre Fédida
o percebe como uma roda ou um prato (pensamento concreto) ou como uma 6gum ge (Goidstein, 1934/1983).
ométrica (pensamento abstrato). Anstoos, Serlin & Greening, 2000.
164 Adriano Furtado Holanda
Fenomenologia e Humanismo
Entre a constituição da rede eupsiquiana e a criação do JEP, um lóS
importante evento deu mais forças ao movimento. Em setembro de 1959, cipiam em 1966, na Sonorna
versity of West Georgia79. Situe University e, em 1969, na 5/ate Uni
Rolio May realizou um Simpósio sobre Psicologia Existencial, durante a No ano de 1971, a A1-IP
centro, então intitulado ibe cria um importante
Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia, em Cincinna mente é conhecido como Hunzanjsgjc Psvchology Institute, que atual
ti, que reuniu personalidades como Carl Rogers, Abraham Maslow
e de pesquisas e formação Saybrook Gradigate School, importante centro
Hermann Feifel, e que organizou, postedormente, em um livro, publicado (Anstoos, Serlin & Greening,
tiva exisleneial_fenomenológic a 2000). A perspec
originalmente em 196072. gramas de psicologia e filosof ainda vem a ser representada em pro
O primeiro número do Journal ofHumanistic Psychology surge ia, seja em solo canadense
University de Toronto, ou como no York
na primavera de 1961. Em 1963, acontece na Philadelphia, o encontro em solo estadunidense, na University ofAlberta, em
—
de Rogers ao primeiro
dante” (Anstoos, Serlin & Greening, 2000), intitulado “Humanistic patamar de fama; mas nada 1942 alçou o nome
—
ticipantes. um
—
Esse crescimento em número de pessoas interessadas no novo psicólogos (como RoDo May, local para seminários, acolheu não apenas
outros estudiosos e pensad Maslow, Rogers e
movimento passa a ser acompanhado pela criação de programas de for ores, como o historiadorPeris), mas também
mação especifica em psicologia humanista. Os primeiros graduate pra teólogo Paul Tillich, o Amold Toynbee, o
biólog
grams específicos começam ainda em 1964 (John F. Kennedy University fo Alan Watts, Na mesma o e antropólogo Gregory Bateson e o filóso
e Union Institute) e, em seguida, o Caflfornia Institute ofintegral Studies, ser mais conhecidas e a época, algumas tendências europeias passam a
caso de Ronald Laing e seus influenciar os pensadores
em 1968 (Anstoos, Serlin & Greening, 2000). Já em 1959, a Duquesne humanistas, como foi o
University passara a oferecer um programa de Master ofAris em psicolo Serlin & Greening, 2000). parceiros da Antipsiquiatria inglesa (Anstoos,
gia fenomenológico-existencial, e um doutorado foi agregado ao mesmo Em 1968, Maslow é eleito
programa em 1962 (Halling & Nili, 1995). Os primeiros programas de cal Assocjario,, (A1’A) presidente da American Psycho
Rogers já logi_
1947 o que ajuda à constituição havia presidido a mesma APA, em
—
4
166 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 167
Society for Humanistic malidade ao movimento humanista. Um desses diálogos foi realizado em
psicologia humanista, a atual Division 32 —
autores.
—
L
68 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 169
to, isto não justifica sequer parte de algumas considerações que negligen em uma “captação parcial” dos pensadores europeus da fenomenologia e
ciam o valor e o “lugar” do pensamento humanista americano. Além dis do existencialismo:
so, igualmente não se justifica qualquer avaliação depreciativa do movi
Os humanistas em geral são norte-americanos e, portanto, tomam par
mento, dado que as rekções entre o pensamento europeu e o americano celas, sem integrar todo o passado cultural europeu. Assim sucede por
não são oposições, mas podem ser compreendidos no bojo de reflexões exemplo, com Husserl, de quem só se tomam aspectos parciais de, sua
que questionam temas importantes como a técnica, o mundo e as relações fenomenologia, sendo seu aporte toda uma renovação ffindamental no
existenciais. campo filosófico. Igualmente se sucede com a fenomenologia de
Rolio May é considerado o mais influente porta-voz de uma Brentano dos referentes intencionais. Outro tanto poderíamos dizer de
perspectiva existencial-fenomenológica nos Estados Unidos, segundo Dilthey, com sua proposta de uma psicologia descritiva e analítica,
encaminhada não a explicar, mas a compreender a pessoa. (Oro, 1993,
Spiegelberg (1972). Sua participação no movimento se deve a sua forma p. 118)
ção e seus contatos. Após acompanhar alguns seminários de Adler, na
Europa, retoma a New York, ao Union Theological Seminaiy o mesmo —
As propostas das psicologias humanista (americana) e existen
que Rogers frequentou anteriormente onde encontra Paul Tillich, que
—
cial (europeia) foram reações aos reducionismos vigentes; ambas valoram
passa a ser seu mentor, e como quem passa a refletir sobre o humano, em as dimensões “superiores” da personalidade — como razão, liberda
de,
termos de essência (de natureza) e de existência (enquanto liberdade). autonomia, criatividade, responsabilidade, dentre outras
—; são também,
Depois de graduar-se e trabalhar como ministro por dois anos, Rolo May em sua base, fenomenológicas, mesmo que não se atenham às pesquisas
volta a estudar psicologia clínica na Columbia Universiiy, em Chicago. fenomenológicas em suas bases mais radicais.
Sua tese de doutorado explicita suas relações existenciais com a psicolo Ainda merecem destaque outras três personalidades. James Bu
gia, e foi publicada em 1950, sob o título The Ivíeaning ofAnxiely (Hal gental, que define sua atuação como existencial-humanista — foi fundad
ling & Nill, 1995). or
e primeiro presidente da AFIP (1963-1964) — publicou importantes obras,
Durante as décadas seguintes, Maslow, Rogers e May tornaram- como 77w Search ofAuthenticity (de 1965), The Search for Existential
-se os “mentores” intelectuais deste movimento, dando-lhe respeitabilidade Jdentiry (de 1976) e The Art of the Fsychotherapist (em 1987). Eugen
e
e fundamentação. Maslow legou à psicologia sua teoria da hierarquia Gendlin, que foi colaborador de Rogers, é um importante pesquisador
motivacional; Rogers desenvolveu a “psicoterapia centrada na pessoa” sobre a efetividade da psicoterapia, e conhecedor de filosofia fenom
enoló
(ambos abraçaram a ideia da auto-atualização como principio norteador gica, tendo publicado Experiencing and the Creation ofMeaning (de
1962)
de seus trabalhos); e Rollo May representou as correntes europeias da e Focusing (em 1981). Mais recentemente, o nome de hving Yalom passou
fenomenologia e do existencialismo, dando uma conotação filosófica à a ser dos mais conhecidos, graças em parte, a um livro que se tomou
psicologia humanista. A Psicologia Humanista expandiu suas fronteiras clás
sico na literatura psicológica, como Pie Theoty and Practice
of Group
durante os anos 1970-1980, e seu impacto pode ser avaliado sob três Psychotherapy (publicado em 1975) e ao seu Existential Psychotherapy
prismas: a) por oferecer uma nova concepção de valores ao entendimento ,
de 1980 (Halling & NilI, 1995).
da natureza humana; b) por expandir os horizontes metodológicos no Do movimento humanista brotou igualmente a “Psicologia
estudo do comportamento humano e; c) por oferecer uma nova gama de Transpessoal” que passou a ser denominada como a “quarta força”
métodos psicoterápicos.
—
—
quando Maslow se junta a Mthony Sutich, derivando um termo de Julian
Como se percebe, os movimentos e ideias foram se mesclando Huxley (“transhumanista”) em “transpessoal”, para designar uma
nova
ao longo do tempo, partilhando princípios e diferenciando-se por temáti perspectiva que se ocuparia dos aspectos transcendentes do human
o, de
cas (ou por interpretações de temáticas. Para Oro (1993), alguns aspectos experiências místicas e dos estados alterados de consciência. Neste
mo
“transpessoais” (aqui utilizados de forma genérica, e não se atendo espe mento, associa-se o outros profissionais (igualmente de áreas diversas)
cificamente ao que conhecemos hoje por “psicologia transpessoal”) e como Stanislav Grof, Julian Huxley, FritjofCapra e Ken Wilber. Pelo
alternativos que surgiram na Psicologia, faziam parte da Psicologia Hu seu
espectro amplo de temas e interesses, a psicologia transpessoal ficou
as-
manista. Destaca ainda influências e relações com as filosofias orientais e
1
r
sociada às “práticas alternativas”, sendo objeto de diversas críticas ao praticavam pesquisa empírica. Rogers, particularmente, constrói todo seu
longo do tempo81. arcabouço técnico e teórico com base em sua experiência clínica por —
A “terceira força”, com seus diversos “porta-vozes”, nem sem um lado e em pesquisas empíricas por outro. Ao descrever uma “rela
—
—
pre guardaram suficiente rigor quanto ao uso dos conceitos ou mesmo da ção de ajuda”, lança mão do conjunto de pesquisas já desenvolvidos so
linguagem; “Ç..) alguns desses termos, como por exemplo, “existencial”, bre atitudes, por exemplo; ao falar de psicoterapia, introduz recursos de
“fenomenológico”, “humanista” não são empregados de maneira coerente observação do processo para melhor descrevê-lo; e ao apresentar sua
nem com o uso histórico, nem com o uso filosófico recente” (Robinson, proposta de “terapia centrada no cliente”, não se exime de apresentar um
1982, p.18O). De fato, podemos designar a Fenomenologia como o veícu contexto de investigação como em seu clássico livro Tornar-se Pessoa
—
lo atual pan a recuperação do Humanismo na modernidade. A este res que “C..) começa com as mais antigas tentativas de investigação, por
—,
peito, Keen (1979) chama a atenção para a premissa de que este pensa volta de 1940, e conclui com uma descrição de uma série de projetos
mento procura ver e perceber as pessoas em termos de compreensão e incompletos que absorvem ainda o melhor do nosso esforço, em 1961.
através de uma linguagem apropriada (descartando conceituações toma Procurei deste modo apresentar pelo menos uma pequena amostra do
das de empréstimo das ciências naturais). Outro destaque reside sobre a resultado de anos de esforço de investigação” (Rogers, 1961/1977, p.
ênfase dada à consciência como centro de uma conceituação do humano. 221). E o que não dizer a respeito de um dos menos conhecidos trabalhos
Permanece, contudo, como característica do movimento, a critica à rigi de Rogers, desenvolvido durante anos e descrito em The Therapeutic
dez metodológica imposta pelos meios acadêmicos e científicos na —
Relationshzp and lis Impaci. A Study ofPsychotherapy with Schizophre
verdade, uma crítica ao modo de se compreender como “fazer” ciência e nics, publicado em 1967, onde se apresenta um longo design de pesquisa
qual seu significado. Essa crítica ganhou tanta relevância, que acabou com esquizofrênicos, e que acaba influenciando novas aplicações aos
sendo conftndida com certo “alheamento” para pesquisa, afastando mui esforços de compreensão e contato com esquizofrênicos e psicóticos?
tos profissionais da prática investigativa. Durante muito tempo, parte da (Prouty, 1994).
psicologia humanista se considerou anti-tecnicista e, por detrás de uma E o segundo aspecto é que, mais recentemente especificamen —
premissa (correta e coerente) de que o aftnilamento de pesquisas sobre te a partir de 1998 conhecemos o desenvolvimento de uma “nova”
—
áreas e modelos determinados restringia a apropriação do humano, pas perspectiva, conhecida como “Psicologia Positiva”. Seu idealizador, Mar
sou-se a evitar o acesso ao conteúdo ou mesmo a práticas de pesquisa, tin Seligman, ao assumir a presidência da APA, questiona a necessidade
associando (incorretamente) ciência e deshumanização ou objetificação. de se fazer uma ciência com vistas a melhorar a qualidade de vida e pre
Este fato não deixa de ser curioso, por dois aspectos: em primei venir patologias, e que assim, as pesquisas deveriam focar as potenciali
ro lugar, pelo fato que, tanto Maslow quanto Rogers (como mentores do dades humanas, estudando condições e processos que contribuam para a
movimento humanista), participaram ativamente da vida acadêmica e prosperidade de indivíduos e sociedade. A partir daí, fala-se de “flores
cimento” de indivíduos e comunidades, de desenvolvimento pleno, de
Algumas dessas críticas envolve uma carência epistemológica ou mesmo metodológi
amor e otimismo, de aspectos positivos e saudáveis da personalidade,
ca. “Num intento de crescimento do eu, e sobre a base de outras existências anteriores dentre outros temas, que são exatamente os mesmos da Psicologia Huma
(tomando em cena medida a teoria platónica da transmigração das almas), dentro desta nista, à diferença que a Psicologia Positiva procura dar mais ênfase aos
corrente transpessoal se pode incluir a Terapia de Vidas Passadas, que tem seu auge na dados de pesquisa empírica visto que aos humanistas faltaria mais rigor
atualidade (...). E oportuno destacar que estes enfoques que vêem a pessoa como um metodológico para dar consistência aos seus resultados e, segundo Selig
todo integrado com seu ambiente, com a terra e com o transcendente, não têm muito a
ver com o ser-no-mundo heideggeriano nem com a transcendência postulada por K.
man e Csikszentmihalyi (2000), estas seriam as razões para o enfraque
Jaspers e atualizada por Viktor E. FranH na Logotempia. Tampouco seria compatível cimento da Psicologia Humanista82. Em outras palavras, trata-se de “uma
com as notas sobre personalidade dadas anteriormente acerca da liberdade e responsa nova abordagem para velhas questões” (Paludo & Koller, 2007).
bilidade dos atos humanos” (Oro, 1993, pp. 120-121). Outro problema com respeito a
esta questão é que: “referente âs psicotempias alternativas, o panorama que oferecem
82
com respeito à personalidade é algo conffiso, mesmo que, em muitos casos, em teoria, Aproximações entre a Psicologia Humanista e a Psicologia Positiva são analisadas por
utilizam os mesmos nomes que a Psicologia Existencial pan designar distintos concei Resnick, Warmoth e Serlin (2001) e por Hemandez (2003). Pan mais detalhes sobre
i
tos” (Oro, 1993, p. 121). Psicologia Positiva, ver Seligman (2002), Snyder e Lopez (2002) e Compton (2005).
172 Adriano Furtado Holanda
formal dessa abordagem se dá em solo americano, e a partir de influên 2) Enquanto uma perspectiva critica propõe um reconhecimen
cias e redefinições que surgem dessa nova cultura (inegável, por exem to da alteridade e, portanto, uma valorização dos aspectos
pio, a influência exercida por Paul Goodman sobre a formação da moder relacionais da condição humana: o ser humano “é” em rela
na Gestalt-terapia). ção com outros seres humanos e com o mundo ao seu redor;
Sendo assim, a Gestalt-Terapia, ao se iniciar, também se posi 3) A Gestalt-terapia possui uma ideia de valorização do ho
cionou ao lado do movimento humanista da psicologia americana. De mem, com ênfase para seus aspectos “positivos” (embora
início, temos que a ftndamentação “fenomenológico-existencial” dá res não se esqueça dos aspectos “negativos”), saudáveis e
paldo, à Gestalt-Tenpia, para sua ação terapêutica: transcendentes da existência humana;
Nessa filosofia está a base das concepções de homem, das relações Uma psicoterapia preocupada com a valorização do humano, procura
humanas e, delas oriunda, da concepção da relação terapeuta-cliente diretamente lidar com o que de positivo tem a pessoa, procura lidar
que fundamentam a GT, bem como do método de trabalho que a ca com seu potencial de vida (saúde, beleza, força, etc.), procura fazer
racteriza e do modelo teórico ao qual este se articula. A atitude feno com que o cliente tome, de fato, posse de si mesmo e do mundo.
Tal
menológico-existencial dá sentido a todos os “fragmentos” de influên postura não significa que não se tente compreender o sentido das limi
cias a partir das quais emergiu a GT. (Loffiedo, 1994, p. 74) tações, das fronteiras, da morte, no contexto da psicoterapia, pois, psi
coterapia tem que ser expressão e compreensão da própria vida. (Ri 1/
Perls insere a Gestalt-Terapia entre as terapias de orientação beiro, 1985, pp. 29-30)
existencial (como a Logoterapia e a Daseinsanálise), mas a destaca das
demais pela sustentação interna fornecida pela abordagem gestáltica. “A ‘
A ideia de “facilitação” de um processo de desenvolvimento e/ou
de aprendizagem
GT é uma modalidade de psicoterapia existencial, enquanto uma forma advém das elaborações de CarI Rogers. Além desta, outra
importante contribuição do
característica de reflexão sobre a existência humana. Tem em comum, pensamento de Rogers pan a Gesta]t-terapia, está na Teoria Paradoxal da
Mudança,
1
elaborada por Amold Beisser.
Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 175
174
tradicional divisão destas fontes em eixos, por vezes, diserepantes, o que
4) A Gestalt-terapia como a maioria dos modelos clínicos hu
—
ou seja, na experiência vivida pelo sujeito, o que se constitui Algumas destas questões já foram levantadas por Bento Prado
numa valorização do momento presente, do aqui-e-agora exis Jr., num artigo pouco conhecido, e intitulado “O Neopsicologismo Huma
nista”, publicado em 1980. Nesse texto, Prado Jr chama-nos, inicialmente
tencial, isto é, centraliza-se na pessoa que vivencia;
-
por exemplo, mas pode “tomar-se” esse sintoma. O sujeito cia. E, para justificar tal tomada de posição, Peris aqui estamos nos
seria uma totalidade interatuante com o mundo e com os
—
que este tipo de linguagem servida para escapar aos dogmatismos e fana
uma preocupação com a manutenção do valor e da dignidade tismos, o que o motiva a rebatizar os conceitos, utilizando-se da lingua
do homem, dentro da antiga tradição renascentista; gem comum (como é o caso do “superego” que se toma “upper-dog”).
Outra razão da escolha da linguagem seria de ordem técnico-terapêutica:
7) Redimensiona a relação entre saúde e doença, destacando a
dialética desta relação e reinserindo o sujeito na totalidade O uso da linguagem, na situação terapêutica da Gestalt, é essencial-
de seu contexto; mente pcrsonalizantc, ele deve devolver ao paciente o pleno uso da
8) Tem como conceitos básicos de sua proposição o contato, o primeira pessoa do singular. Técnica de tomada de consciência de —
presente que terapeuta e paciente cruzam e o passado e o futuro são vistos muitas das vezes negada, em prol de um subjetivismo
—
como fantasmas que devem ser exorcizados para o advento da consciên coloca a GT na
mesma condição utópica de Walden II, ao recriar
—
aqui, a negligência ao “pensa?’, ao “refletir”, como ação incapaz de pro Atualmente já contamos com literntun consolidada
fis e desenvolvimentos do movimento humanista que traça per
dazir conhecimento verdadeiro ou mudança significativa. no Brasil. Igualmente
temos suficientes referências ao movimento
O que pouco se percebe e que não se trata necessariamente de
—
existencial e mesmo sobre
primazia desta abordagem em particular, mas de todo o conjunto do mo particularidades das práticas clínicas de orientação
fenomenoiógica no
4L
Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 179
178
nos anos 70, graças ao apoio de Madre Cristina Sodré (1916-1997)
nosso país85, de modo que não iremos replicar estas informações, mas ape
—
Uma das primeiras notas nos coloca diante de um falo interes responsável por trazer as ideias gestaltistas ao Brasil e de Paulo Eliezer
—
icas e
sante, que é a proximidade entre as ideias humanistas, fenomenológ
—
dios. Outro Ferri de Barros (1946-2006) responsável, dentre outras coisas, pela
existenciais com a Psicologia brasileira, desde seus primór —
coterapia”.
não apenas deixaram marcas indeléveis, como foram igualm ente marca
Na década de 70 ainda floresceu em nosso país a Daseinsanáli
dos por esta visita e por nossa cultura, sensibilidade, ideias, experiências, se, com a fundação em 1973 da Associação Brasileira de Análise e
na,
etc. Nomes de relevo da filosofia fenomenológica e existencial moder
— —
adora Moura (1931- 1986), Oswaldo de Barros mente dedicada à fenomenologia no país, sua tese O Método Feno’neno
(1923-1988), Maria Auxili lógico em Psicologia, de J945t9_ até as contribuições de Antonio Gomes
Santos (1918-1998) e Raque l Lea Rosenb erg (1931- 1987), e outros tantos
vivo seu espírito , de diversa s formas . Penna(19172000) e Soei Martins (1920-1993).
que ainda mantém
Sobre este solo fermentado pelo “rogerianismo” e pelo chamado
No campo da psiquiatria e da psicopatologia, o pensamento fe
nomenológico e existencial representou significativo impacto no contexto
“movimento do potencial humano”, outras práticas clínicas de cunho brasileiro, principiando com as contribuições de Elso Arruda (19 16-1995)
a
humanista e existencial prosperaram no Brasil. A Gestalt-Terapia começ com sua tese de 1947, intitulada Ensaio de Psicologia e Psicopatologia
a ser aqui praticada ainda na década de 60, mas começ a a ganhar corpo —
85
e Faria, 2005; Gobbi, Missel, Justo e Holanda,
2004b; Holanda, 2005, 201 lc; Holanda
2005; Suassuna e Holanda, 2009; Moreira, 2009, 2013; Bandeira, 2012. 88
o no Sobre Radecki, figura importante na consliniição da psicologia brasileira, remetemos o
86 Sobre Farias Brito e seu papel como precursor ou promotor do existencialism leitor aos estudos de Centofantj (1982, 2006, 201 la, 201 lb).
Brasil, há excelentes estudos publicados (Franca, 1929; Kiein, 2004; Guimarães, 1984,
9° Campos, 1945; Cabra), 1964; Penna, 1992, 1997, 200l; Holanda, 201 le.
2000; Paim, 1986, 1990). 9°
2012). Arruda, 1947, 1975, 1978, 1985, 1995.
Esta a outras tantas histórias estão contadas em Cari Rogers no Brasil (Bandeira,
180 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 181
iha com a psicopatologia fenomenológica de como Jaspers, Minkowski e Wolfgang em 1916, no cerco a Verdun e seu mais próximo assistente,
—
—
Binswanger, dentre eles nomes conhecidos da psiquiatria nacional como AdolfReinach, em 1917.
Isaias Paim (1909-2004) e Augusto Luiz Nobre de Meio (1909-1984). A ideia de uma “crise” não era nova, já em 1918, o filósofo e
Estas poucas notas servem apenas para assinalar, por um lado, o historiador alemão Oswald Spengler (1880-1936) publicara algo nesta
solo fértil sobre o qual o humanismo, a fenomenologia e o existencialis direção no seu clássico A Decadência do Ocidente, um sucesso na inte
mo se apoiaram; e, por outro, para marcar uma história muitas vezes es lectualidade, com forte tonalidade pessimista, prevendo a desintegração
quecida que invariavelmente nos leva a querer “recriar a roda”, por
—
da civilização europeia e expressando uma inquietação geral em tomo
puro desconhecimento que mostra ainda que essa fertilização toma o
—
dos acontecimentos de época92. Igualmente o polêmico Heidegger, em
Brasil um dos países em que mais se produz reflexões de cunho episte 1936, com seu texto A Europa e a Filosofia Alemã, em pleno domínio do
mológico, filosófico e metodológico em tomo dessas práticas. Nacional-Socialismo aponta igualmente nesta direção (Mvcs, 2006). Mas
ao que nos interessa, basicamente referimos à discussão empreendida por
Husserl em um conjunto de artigos publicados entre 1923-24, na revista
6 À GUISA DE CONCLUSÃO: A CRISE DAS CIÊNCIAS E japonesa Kaizo que peculiarmente significa “renovação” e a confe
—
Para onde caminha a humanidade? Não, não se trata aqui do tí A cultura filosófica é a cultura da Razão. Nesse sentido, a Filosofia
talo de um filme9t, mas de uma pergunta que, invariavelmente, acompa não é europeia. Pelo contrário, é a Europa que é filosófica. E a gran
nha a temática do humanismo. A rigor, trata-se de uma preocupação com deza da Europa filosófica, seu estatuto de “arconte” da Humanidade,
nio se confunde com qualquer projeto de domínio protagonizado por
o sentido ou os sentidos da humanidade e do humano. Podemos convocar um povo, mas com o modo como ela, na finitude das suas formas de
Husserl a esse debate humanista. E quando o criador da Fenomenologia cultura, é o fenômeno da ideia infinita de uma cultura racional que
pode ser considerado um “humanista”? Quando pensa questiona, refle
—
dentro de um horizonte co
“Ç..) viver em comunidade, como eu e nós, últimas terem sua origem na vida comum e na empiria, as
e o fato das
—
munitário”, uma “comunidade” de individuos que se reconhecem (Hus aproveitento dos conhecimentos das ciências puramente
e outras no
serl, 1935/1996, p. 59). Este é o sentido ético da fenomenologia tardia seri, quando fala de “vida” comum, não se refere à teórica s. Hus
husserliana, que o toma aqui, para nossa discussão um “humanista”.
—
—
Consiste numa posição crítica com respeito ao lugar que a razão ocupa, o A ordem do espírito humano está baseada na phvsis humana;
lugar das ciências que produzem esta razão e igualmente a filosofia que
—
vida psíquica ind ividual humana está findada na corporeidadetoda a
a pensa e o lugar que o mundo passa a ocupar. E porque o estamos de
—
conseguinte, também toda a comunidade, nos corpos dos homens por in
signando como “humanista” diante disto? Simplesmente pelo fato que, dividuais que são membros desta comwidade (p. 60)
pensar a razão ou a história, ou a cultura, ou a filosofia significa pen
—
—
arti
publicada em 2006, a cargo do Prof. Pedro Mves, e além do texto de 1935, traz os Com isto, fracassa o intento de se identificar as ciências do
in
gos da revista Kaizo (daí o título ser Europa: Crise e Renovação), bem como uma rito às ciências objetivas da natureza, pelo fato que, espí
tex
trodução do tradutor, contextualizando as obras. As edições francesas dividiram os natureza aqui não
o
— —
tos, sendo que a conferência de 1935 foi publicada como anexo ao texto de 1936, sob
gie Transcendan tale, cor
título La Crise der Sciences Eznopéennes e! Ia Phénon:énolo 96
A partir daqui estaremos usando a versão brasileira
respondendo ao volume VI da Husserliana (ver Apêndice 1); e os textos sobre “reno traduzida por
seri, 1935/1996) e, para dar maior fluidez ao texto, estaremos Urbano Zil (es (Nus.
4
mais
vação”, em volume separado Sur Ie Renouveau. Cinq Articles numa edição
—
—
apenas assinalando as
recente (Husserl, 1989, 1996, 2005). páginas da tradução em cada citação.
184 Adriano Furtado Holanda
que signifi
ca “observa?’, “olhar”98. E desse modo que nasce uma nova
ritual, e engloba domínios e solos para além da geografia do continente humanidade,
em espíritos individuais, como Tales, como seres de criação
europeu. Diz respeito tanto a suas influências e manifestações, quanto a de novas
formas culturais. E os que estão fora desse círculo, os não
sociedades que beberam de suas fontes. Do mesmo modo que bebemos filósofos —
/
186 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 187
A crise europeia é uma crise da racionalidade, e Husserl ainda Nesse momento, Husserl demonstra como a época moderna,
mesmo orgulhosa de seus feitos, se toma marcada pela insatisfação e
denuncia a ingenuidade do racionalismo, característico da Idade Mo
experimenta uma “situação de penúria”, como uma “penúria do método”:
derna, que é o objetivismo, “que se configura nos diferentes tipos de
naturalismo, na naturalização do espírito. Filosofias antigas eram e se Trata-se de problemas procedentes da ingenuidade, em virtude da qual
guem sendo ingenuamente objetivistas” (p. 76). E porque este objeti a ciência objetivista toma o que ela chama o mundo objetivo como
vismo é ingênuo e prejudicial ao pensar? Porque ele exclui, retira, sendo o universo de todo o existente, sem considerar que a subjetivi
alheia, distancia o homem do mundo. O pensar o mundo pressupõe o dade criadora da ciência não pode ter seu lugar legítimo em nenhuma
mundo mesmo diante de si e o próprio sujeito que o pensa. O mundo no ciência objetiva. Aquele que é formado nas ciências naturais julga
evidente que todos os fatores puramente subjetivos devem ser excluí
qual o homem vive é o mundo circundante, estendido no espaço e no dos e que o método científico-natura] determina, em termos objetivos,
tempo, que o inclui; e “C..) precisamente porque tudo é dado no espaço o que tem sua configuração nos modos subjetivos da representação.
e no tempo, tem, pelo menos em sua base, a forma existencial da corpo Por isso busca o objetivamente verdadeiro também no plano psíquico.
reidade” (p. 77). (p. 80).
O curso do desenvolvimento histórico é determinado, com precisão, Isto faz com que se considere a psicologia igualmente uma ciên
por esta atitude para com o mundo circundante (...). Muito rápido dá- cia natural e, portanto, psico-fisica. E, como assinala Husserl, o pesquisa-
-se o primeiro passo para uma descoberta importantíssima: é a da su dor natural assim interpreta e não percebe que o próprio fUndamento de
peração da finitude da natureza já pensada como um em si objetivo, seu trabalho mental de seu esforço subjetivo, de seu empenho de inves
uma finitude subsistente, apesar do caráter aberto e indefinido da natu —
grandeza, da massa, dos números, das figuras, das retas, dos pólos, das suniwelt, seu mundo próprio de vida. “A revolução de Einstein concerne
superficies, etc. A natureza, o espaço, o tempo tomam-se ideabnente às fórmulas que tratam da physis idealizada e ingenuamente objetivada
prolongáveis e idealmente divisíveis ao infinito. Da agrimensura nasce (..j”, mas não fala do sentido que isto carrega para a vida e para o mundo
a geometria, da arte dos números a aritmética, da mecânica cotidiana a circundante, ou para o próprio viver do cientista; “C..) assim Einstein não
mecânica matemãtica, etc. (p. 78) reforma o espaço e o tempo, nos quais se desenjola nossa vida real e con
creta” (p. 80).
Esta descoberta da infinitude tem um efeito “embriagador”, que
se prolonga numa atitude objetivista, na qual “C•) todo o espiritual apare O que Husserl nos aponta é tão somente que a “ciência matemá
tica da natureza” é uma “criação” (Leistung) ou um “triunfo do espírito
ce como superposto à corporeidade fisica”. Esta é a marca de um pensar
científico-natural, que delimita o materialismo e o determinismo; mas, humano”, O que a temática cientifica do mundo faz é o esquecimento do
próprio sujeito da ciência, retirando o cientista da posição de tema de
“desde Sócrates, a reflexão toma por tema o homem em sua humanidade
reflexão. E vejam quão atual permanece este questionamento:
específica, o homem como pessoa, o homem na vida espiritual comunitá
ria” (p. 78). Mas o homem permanece inserido no mundo objetivo. Com a Os psicólogos sequer percebem que, em suas colocações, como ho
Idade Moderna, o conhecimento matemático da natureza e os progressos mens criadores de ciência, não tem acesso a si mesmos e a seu mundo
constantes passam a ser estendidos às ciências do espírito; e o espírito circuadante. Não percebem que, de antemão, se pressupõem a si
passa a ser uma realidade natural, mais um objeto no mundo e, como tal, mesmos necessariamente como seres humanos vivendo em comunida
de de seu mundo circundante e de sua época histórica, e que querem
fundado na corporeidade. Surge daí o dualismo psicofisico, na qual a alcançar a verdade em si, válida para todos. Por causa de seu objeti
mesma causalidade agora dividida abrange o mundo: “a explicação
—
—
11
190 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 191
Alves, P. (2011). Razão Prática. Reflexões Husserlianas sobre o Conceito Andrade, C. C. & Holanda, A. F. (2010). Apontamentos sobre pesquisa
de Norma. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito (Rio de Ja qualitativa e pesquisa empírico-fenomenozógica Estudos de Psicolo
neiro). 40), 23-48. gia (Campinas), 27 (2), p.259-268.
Alves, P.M.S. (2010). Relação entre Proposição e Norma. Penomenolo Andrade, C. C. & Holanda, A. F. (2011). Psicologia da Gestalt, Teoria de
gia e Direito (Rio de Janeiro). 3(2), 39-64. Campo e Gestalt-Terapia. In L. A. Becker (Org.). Psicologia para
Concursos e Graduação (pp. 237-256). Rio de Janeiro: Elsevier.
Alves, V. L. P. (2003). Psicoterapia Conjugal: pesquisa fenomenológica,
Ir M. A. T. Bruns & A. F. Holanda (Orgs.). Psicologia e Fenomenolo Araújo, L. 5. (2007). Hennenêutica Gesíditica do Abuso Sexual para
gia. Reflexões e Perspectivas (pp. 93-120). Campinas: Alínea. urna Adolescente Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e So
cial). Universidade Federal do Pará, Belém.
Alves, V. P. (2004). Fenomenologia da Religião: pesquisas sobre a expe
riência religiosa com universitários e suas implicações para o ensino Araújo, 5. F. (2005). Wilhelm Wundt e o estudo da experiência imediata.
religioso. lii A. F. Holanda (Org.). Psicologia, Religiosidade e Feno Ir A. M. Jacó-Vilela, A. A. L. Ferrefra & F. T. Portugal (Orgs.). Histó
menologia (pp. 79-96). Campinas: Atomo. ria da Psicologia. Rumos e Percursos (pp. 93-104). Rio de Janeiro:
Nau.
Amaral, M. N. C. P. (1987). Dilthey: wn conceito de vida e uma pedago
gia. São Paulo: PerspectivalEdusp. Araújo, 5. E. (2010). O Projeto de urna Psicologia Cient(fica em Will,elm
Amatuzzi, M. M. (1989a). O Significado da Psicologia Humanista, Posi Wundt. Juiz de Fora: Editora UNE.
cionamentos Filosóficos Implícitos. Arquivos Brasileiros de Psicolo Ariês, P. & Duby, G. (1990). História da Vida Privada. Da Europa Feu
gia, 41(4), 88-95. dal à Renascença. São Paulo: Companhia das Letras.
Amatuzzi, M. M. (1989b). O Resgate da Fala Autêntica, Campinas: Papi AHès, P. (1981). História Social da Criança e da Família. Rio de Janei
rus. ro: Zabar (Original publicado em 1973).
Amatuzzi, M. M. (1992). O Silêncio e a Palavra, Estudos de Psicologia Arruda, E. (1975). Modelo Médico e Valores Humanos em Psicoterapia.
(Campinas), 9(3), 77-96. Kriterion (Belo Horizonte), 21(68), 105-113.
Amatuzzi, M. M. (1994). A Investigação do Humano: Um debate. Estu Arruda, E. (1978). A angústia e o nada. Kriterion (Belo Horizonte),
dos de Psicologia (Campinas), 11(3), 73-78. 24(71), 74-94.
Amatuzzi, M. M. (1995). Descrevendo Processos Pessoais. Estudos de Arruda, E. (1985). Patografia de Friedrici, Wilhelm Nietzsche (Estudo
Psicologia (Campinas), 12(j), 65-80. Ofltológico-Fenomeno/ógjco) Rio de Janeiro: UFRJ.
Amawzzi, M. M. (1996). Apontamentos Acerca da Pesquisa Fenomeno Arruda, E. (1995). Resumo Histórico da Psiquiatria Brasileira. Rio de
lógica, Estudos de Psicologia (Campinas), 130), 5-10. Janeiro: JC/Ed.TJFPJ
Amatuzzi, M. M. (1999). A Abordagem Fenomenológica no Atendimen Asimov, 1. (1993). Cronologia das ciências e das Descobertas, Rio de
to Psicoterápico, Psicologia em Estudo (Maringá), 40), 67-81. Janeiro: Civilização Brasileira (Original de 1989).
Amatuzzi, M. M. (2001a). Silêncio e Palavra. In M. M. Amatuzzi. Por Augras, M. (1970). O Ser da Compreensão. Fenomenologa da Situação
uma Psicologia Humana (pp. 2344). Campinas: Alínea. de Psicodiagnóstico, Petrópolis: Vozes.
Amatuzzi, M. M. (2001b). Atendimento Psicoterápico. In M. M. Ama Azevedo, R. E. & Lopes, R. L. M. (2010). Concepção de corpo em Mer
tuzzi. Por urna Psicologia Humana (pp. 61-72). Campinas: Alínea. leau-Ponw e mulheres mastectomizadas Revista Brasileira de
Amatuzzi, M. M. (2003). Pesquisa Fenomenológica em Psicologia, Holan Enfermagem. 63(6), 1.067-1.070.
da, A. F. Ir M. A. 1. Bnms & A. E. Holanda (Orgs.). Psicologia e Fe Baas, B. (1998). De la Chose à 1 Objet. Jacques Lacan e/la Traversée de
nomenologia. Reflexões e Perspectivas (pp. 17-26), Campinas: Alínea. la Phénon;énologie. Leuven: Peeters Vrin.
Amatuzzi, M. M., Echeverda, D. F., Brisola, E. B. V. & Giovelli, L. N. Bachelard, O. (1984). A Epistenologia. Lisboa: Edições 70 (Original
(1996). Psicologia na comunidade. Urna experiência, Campinas: Edi francês de 1971).
tom Alínea. Bandeira, E. (2012). C’arl Rogers no Brasil. São Paulo: GRD Edições.
4
r
292 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 193
Bartz, 5. S. (1997). Plantão Psicológico: Atendimento criativo à demanda Bonin, W. E. (1991). Diccionario de los Grandes Psicólogos. Mexico:
de emergência. Interações (São Paulo), 2(3), 21-34. Fondo de Cultura Económica.
Bemet, R. (1992). Délire et Réalité dans Ia Psychose. Etudes Bomiteim, O. (1998). Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Perspectiva.
Phdnoménologiques, (15), 25-54. Boss, M. & Condrau, G. (1997). Análise Existencial Daseinsanalyse,
—
Bezerra, M. E. S. (2007). Um Estudo Crítico das Psicoterapias Fenome Daseinsanaivse (1, 2 e 4), 23-35.
nológico-Kristenciais: Terapia Centrada na Pessoa e Gestalt-Terapia. Bourdieu, P. (1989). A Ontologia Politica de Marfim Heidegger. Campi
Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e Social). Universidade nas: Papims (Original publicado em 1976).
Federal do Pará, Belém. Bozarth, J. D. (1989). Person-Centered,,ess A Paradigm from Qient
Bicudo, M. A. V. & Borba, M. C. (Org.). (2012). Educação Matemática. Centered Therapy. IV Fomm Jrnemacional da Abordagem Centrada na
Pesquisa em Movimento. São Paulo: Cortez. Pessoa, Rio de Janeiro, manuscrito.
Bicudo, M. A. V. & Cappellefti, 1. F. (Orgs.). (1999). Fenomenologia. Brentano, F. C. (2008). La Psychologie dii Point de Vue Empirique. Pa
tinia visão abrangente da Educação. São Paulo: Olho D’Agua. ris: Librairje J. VHn (Original publicado em 1874).
Bicudo, M. A. V. (2000). Fenomenologia: Confrontos e Avanços. São Bressan, V. R. & Scatena, M. C. M. (2002). O cuidar do doente crônico
Paulo: Cortez. na perspectiva do enfermeiro: um enfoque fenomenológico. Revista
Bicudo, M. A. V. (Org.). (2010). Filosofia da Educação Matemática: Latino-Americana de Enfermagem (Ribeirão Preto), 10(5), 682-689.
Fenomenologia. concepções, possibilidades didático-pedagógicas. São Brough, J. B. & Blattner, W. (2012). Temporalidade. Iii H. L. Dreyfiis &
Paulo: Edunesp. M. A. Wrathall (Orgs.). Fenoinenologia e Existencialismo (pp. 125-
Biemel, W. & Saner, H. (1990). Martin Heidegger/Karl Jaspers. Corres 13 1). São Paulo: Edições Loyola.
pondencia (1920-1963). Madrid: Editorial Sintesis. Bnn, J. (1982). Qui est l’homme, In D. C. de Gibson (Org.). Qu’est-ce
Binswanger, L. (1965). Análisis Existencial y Psicoterapia. In H. M. que 1 ‘Homme? Philosophie/Psychana/yse Bruxeiles: Facultés U&ver
Ruítenbeek (Org.). PsicoanálisisvFilosofia Kristencia(, Buenos Aires: sitafres Saint-Louis.
Editorial Paidós.
Brun, J. (1988). Os Filósofos Pré-Socráticos. Lisboa: Edições 70.
Binswanger, L. (1967). La Escuela de Pensamiento de Análisis Existen
cial. In R. May, E. Angel & N. F. Ellenberger (Eds.). &istencia, Ma Bruns, M. A. T. & Holanda, A. E. (Orgs.). (2003). Psicologia e Fenome
drid: Editorial Gredos (Original em inglês de 1958). nologia. Reflexões e Perspectivas. Campinas: Alínea.
Binswanger, L. (1971). Introduction a l’Analyse Existentielie. Paris: Les Bmns, M. A. T. & Trindade, E. (2003). Metodologia Fenomenológica: a
Editions du Minuit. contribuição da ontologia-hermenêutica de Martin Heidegger. In M. A.
T. Bruns & A. F. Holanda (Orgs.). Psicologia e Fenomenologia. Re
Blatner, A. & Blainer, A. (1996). Uma visão global dopsicodrama:fun
damentos históricos, teóricos e práticos. São Paulo: Agora. flexões e Perspectivas (pp.77-92). Campinas: Alínea.
Boemer, M. (1994). A Condução de Estudos segundo a Metodologia de Buber, M. (1965). Between Mau and Mau. New York: MacMillan Paper
Investigação Fenomenológica. Revista Latino-A mericana de Enfenna backs.
gem (Ribeirão Preto), 20), 83-94. Buber, M. (1979). Eu e Tu. São Paulo: Moraes (Original publicado em
Boemer, M. (201 la). O tema da morte e sua interface com a Educação 1923).
em Enfermagem: Uma perspectiva fenomenológica. In A. J. Peixoto Buber, M. (1982). Do Diálogo e do Dialógico. São Paulo: Perspectiva.
(Org.). Fenomenologia. Diálogos Possíveis (pp. 139-150). Goiânia: Buber, M. (1987). Sobre Comunidade. São Paulo: Perspectiva.
Editora PUC. Buber, M. (1988). Appendix. Dialogue between Martin Buber and CarI
Boemer, M. R. (201 lb). A Fenomenologia do Cuidar. Uma perspectiva da Rogers. In M. Buber. The Knrnt.’ledge ofMau. Seleci Essavs. New ler
enfermagem. In A. J. Peixoto & A. H. (Orgs.). Fenomenologia do Cui sey: Humanities Press Intemafional, mc (Original de 1957).
dado e do Cuidar: Perspectivas Multidisciplinares (pp. 61-67). Curitiba: Buber, M. (1996). Histórias do Rabi. São Paulo: Perspectiva.
Jumá.
194 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 195
Bucher, R. E. (1983). Fenomenologia e Psicanálise. Revista Brasiliense Centofanti, R. (1982). Radecki e a Psicologia no Brasil.
cia e Profissão, EU), 2-50. Psicologia, Ciên
de Psiquiatria, 30), 33-43.
Bucher, R. E. (1989). Psicoterapia pela Fala. São Paulo: E.P.U. Centofanti, R. (2006). Os laboratórios de psicologia
nas escolas normais
Burke, P. (1999). O Renascimento Italiano. Cultura e saciedade na Itália. de São Paulo: o despertar da psicometria.
Psicologia da Educação,
São Paulo: Nova Alexandria. (22), 3 1-52.
Burow, O-A. & Scherpp, K. (1985). Gestaltpedagogia. Um caminho para Centofanti, R. (201 la). Laboratório de Psicologia da
Colônia de Psicopa
a escola e a educação. São Paulo: Summus (Original em alemão de tas do Engenho de Dentro 1924-1932. In A.
—
M. Jacó-Vilela (Org.).
1981). Dicioná rio Histórico de instituições de Psicologia
no Brasil (pp. 355-
Cabral, A. (1964). Nilton Campos (1898-1963). Jornal Brasileira de 356). Rio de Janeiro: Imago / Brasília: Conselho Federal
de Psicoloaia.
Psicologia, 1(2), 3-12. Centofanti, 1?.. (2011 b). Laboratório de Psicologia da
Escola Normal Se
Calderoni, C. R. (2010). Compatibilidades entre o psicodraina e a dasein cundária de São Paulo 19 12-1930. lii A. M.
—
Jacó-Vilela (Org.). Di
sanalyse naprádcapsicoterapêutica. Lins: Raízes Gráfica e Editora. cionário Histórico de Instituições de Psicologia ‘50
Brasil (pp. 357-
Campos, N. (1945). O Método Fenomenológico na Psicologia. Rio de 356). Rio de Janeiro: Imago / Brasilia: Conselho Federal
de Psicologia.
Janeiro, Tese pan Concurso de Cátedra na Universidade do Brasil. Cerbone, D. R (2012). Fenoinenologia. Petrópolis:
Vozes.
Campoy, M. A., Merighi, M. A. 8 & Stefanelli, M. C. (2005). O ensino Chaves, A. P., Macedo, 5. & Mendonça, V. (1996).
Psicologia Existen
de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica: visão do professor e cial-Fenomenológica: O saber filosófico e a produção
científica.
do aluno na perspecliva da fenomenologia social. Revista Latino- Estudos de Psicologia (Campinas), 13(2), 11-16.
Americana de Enfermagens, 13(2), 165-172. Chdstoff, D. (1966). Husserl ou le retos,,- aia choses.
Paris: Éditions
Cao, A. G. & Diego, T. M. (1993). Introducción. Influencia de los “Esbo Seghers.
ZOS Pirrónicos” en la Filosofia Moderna. In Sexto Empírico. Esbozos Coelho, 1. M. (Org.). (2009). Educação, cultura
Pirrónicos (pp. 7-47). Madrid: Editorial Gredos. efonuação: o olhar da
filosofia. Goiânia: Ed. da PUC Goiás.
Capalbo, C. (1990). Considerações sobre o método fenomenológico e a Compton, W. (2005). An isstrodutio,, to positive
enfermagem. Revista Enfermagem da UERJ (Rio de Janeiro), 2(2), psychology. Belmont:
Thompson Wadsworth.
192-197. Comte, A. (1988). Curso de Filosofia Positiva (Coleção
Os
Capalbo, C. (1993). Fenomenologia do Direito. Revista Brasileira de São Paulo: Nova Cultural (Original publicado em 1826). Pensadores).
Filosofia, 41072), 357-364.
Correa, A. K. (1997). Fenomenologia: uma alternativa
Capalbo, C. (1996). Fenomenologia e Ciências Humanas. Londrina: Edi para pesquisa em
enfermagem. Revista Latino-Ame,.ica,ia de Enfernsagem,
tora da UEL. 5(1), 83-88.
Corsini, R. J. (1984). Encvclopedia ofPsvchology (Vol.
Carsalade, E. L. (2007). Desenho c’antertuat Urna abordagemfenomeno 1-11). New York:
John Wiley and Sons.
lógico-existencial ao problema da intervenção e restauro em lugares
especiais feitos pelo homens. Tese de Doutorado em Arquitetura e Ur Costa, L M. (2009). Uns Método para Arquitetura
da hsfonnação: Feno
banismo. Salvador. Universidade Federal da Bahia. ‘nenologia como Base para o desenvolvimento de
arquiteturas da fiz-
Carvalho, J. (1965). Prefácio. In E. Husserl. A Filosofia canso Ciência de formação aplicadas. Dissertação de Mestrado em
Ciências da Infor
Rigor (pp. V-LWII). Coimbra: Atlântida. mação e Documentação. Brasilia. Universidade de Brasília.
Cunha, A. G. da (1991). Dicionário Etimológico
Carvalho, 5. 5. (2002). Acompanhamento Terapêutico: Que Clínica é Nova Fronteira da Lín
Essa? Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Brasília: Uni pia Portuguesa, São Paulo: Nova Fronteira.
versidade de Brasília. Cuiy, V. E. (1999). Plantão Psicológico
em Clínica-Escola. lia M.
Castro, T. G. & Gomes, W. 8. (2011). Movimento Fenomenológico: Mahfoud (Org.). Plantão Psicológico. Novos Horizontes
Sào Paulo:
Controvérsias e Perspectivas na Pesquisa Psicológica. Psicologia, Teo Companhia Ilimitada.
ria e Pesquisa (Brasília), 27(2), 233-240.
4
196 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
197
Cytnjnowicz, D. (1997). Psicoterapia: Uma Aproximação Daseinsanaliti Embree, L. (2001). The Continuation
ofPhenomenology: A Fiflh Pedod?
ca. Daseinsanalyse, (1, 2 e 4), 63-70. lhe hido-Pacjflc Journal ofPhenomenoiogy
1(1), 1-7.
Dartigues, A. (1992). O Que é Fenomenologia. São Paulo: Moraes. Enright, J. (1993). Recuerdos de Fritz
y propios. In C. Naranjo. Gestali
De Crescenzo, L. (1988). História da Filosofia Grega. Os Pré Si,, Fronte,’as. Testimonjos sobre el-
1
196 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
197
Cytrynowicz, D. (1997). Psicoterapia: Uma Aproximação Daseinsanalíti Embree, L. (2001). The Continuation ofPhenom
enology: A Fifth Period?
ca. DaseinsanalYSe, (1,2 e 4), 63-70. The Indo-Facjflc Jounzal ofFhenomenology, 1(1),
1-7.
DartigueS, A. (1992). O Que é Fenomenologia. São Paulo: Moraes. Enright, J. (1993). Recuerdos de Fritz y propios.
In C. Naranjo. Gestalt
De Crescenzo, L. (1988). História da Filosofia Grega. Os Pré Sin Fronteras. Testimonios sobre eI legado de FHtz Feris
-
. Buenos Ai
Socráticos. Lisboa: Editorial Presença. res: Era Naciente.
De Libera, A. (1991). Penser au Moyen Âge. Paris: Editions dii Seuil. Escoubas, E. (2005). Investigações fenomenológ
icas sobre a pintura.
De Simone, A. (2010). Sob,e o conceito integral de empatia: intercâm Kriterion, 46012), 163-173.
bios entre filosofia, psicanálise e neuropsicolagia. Tese de Doutorado Etcheveny, A. (1975). O Cotiflito Actual dos Hum
anismos. Porto: Livra
em Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. ria Tavares Marfins (Original em espanhol de 1957).
DeCastro, T. G. & Gomes, W. B. (2008). FenomenolOgia natunlizada o Evans, R. J. (2010). A chegada do Terceiro Reic
h. São Paulo: Planeta.
estatuto husserliano e as ciências cognitivas. Gerais: Revista Jn(erinsti Eysenck, H. J. (1957). Sens and Non-Sens in
tuciolial de Psicologia, 1(2), 136-147. Fsychology. Baltimore:
Penguin Books.
DeCastro, T. G. & Gomes, W. B. (2011). Aplicações do método fenome Eysenck, H. J. (1967). Usos e Abusos da Psicolog
nológico ã pesquisa em psicologia: tradições e tendências. Estudos de ia. São Paulo: Ibrasa.
Eysenck, H. J. (1968). Fato e Ficção na Psicolog
Psicologia (Campiirns), 28(2), 153-161. ia. São Paulo: Ibrasa.
Farber, M. (2012). Edmund Husserl e os Fund
Delacampagne, C. (1997). História da Filosofia no Século LY Rio de amentos de sua Filosofia.
Revista da Abordagem Gestáltica, 18(2), 235-245
Janeiro: Jorge Zahar Editor. (Original publicado
em 1940).
Depraz, N. (2007). compreender Husserl. PefrópoliS: Vozes. Farias, V. (1988). Heidegger e o Nazismo. Moral
Depraz, N., Varela, F. 1. & Vermersch, P. (2006). A redução à prova da e Política. São Paulo:
Paz e Terra.
experiência. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 58(1), 75-86.
Faye, E. (2005). Heidegger, 1 ‘introduction
Di Napoli, R. B. (2000). Etica e compreensão do Outro. A Etica de Wil dii nazisme drnis la
philosophie. Autour des séminaires inédits de
helm Dilthey sob a perspectiva do encontro interétnico. Porto Alegre: Editions Albin Michel.
1933-1935. Paris:
Edipucrs.
Fédida, P. (1983). Préface. In K. Goldstein. La Stru
Dilthey, W. (1883). Introduction lo the Human Sciences. Recuperado de cture de 1 ‘Organisnie
(pp. 1-XI). Paris: Gallimard.
Femandes, M. A. (2011 a). Do Cuidado da Fenomen
Dilthey, W. (1992). Teoria das Concepções de Afundo. Lisboa: Edições ologia à Fenomenolo
70 (Original publicado em 1911). gia do Cuidado. In A. J. Peixoto & A. H. (Orgs.).
Fenomenologia do
Cuidado e do Cuidar: Perspectivas Multidisciphnare
Dilthey, W. (2002). Psicologia e compreensão. Lisboa: Edições 70 (Ori tiba: Jurná.
s (pp. 17-32). Curi
ginal publicado em 1894).
Dnmmond, J. J. (2007). Historical Dictiona’y ofHusserl ‘s Philosophy. Fernandes, M. A. (201 lb). Fenonienologia do Cuil
dar em Heidegger.
Comunicação apresentada no XVII Encontro Goia
New York: Hardcover. no da Abordagem
gestáltica. Goiânia (19 a 22 de maio).
Dufrenne, M. (1953). Phénoménologie de 2 Expérience Esthétique. Paris:
Presses Universitaires de France. Feron, O. (2005). A cura atravessa o século. Uma
trave
com Hans Blumenberg. Actas do Segundo cotigresso ssia alternativa
Dufrenne, M. (1998). Estética e Filosofia. São Paulo: Perspectiva (Origi Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológ
Internacional da
nal publicado em 1967). ica (pp. 481-489).
Lisboa: Phainomenon.
Durant, W. (1988). A História da civilização: A Renascença. Rio de Figueiredo, L. C. & Santi, P. L. R. de (1999).
Janeiro: Record. Psicologia. Unia (Nova)
introdução. São Paulo: Educ.
Embree, L. (Org.). (1997). Encyclopedia ofPhenomenologY. Dordrecht:
Figueiredo, L. C. (1991). Matrizes do Pensamen
fuuwer Academic Publishers. to Psicológico. Petrópo
lis: Vozes.
198 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo
199
Figueiredo, L. C. (1994). A Invenção do Psicológico. São Paulo: Escuta / Freitas. M. C. (1 990b). Paixão. In Logos.
Enciclopédia Luso-&asilej,
Educ. de Filosofia (pp.1 .310-1.314) Lisboa: Verbo.
Fonseca Filho, J. 5. (1980). Psicodrama da Loucura correlações entre
— Freitas. M. C. (l990c). Sujeito. Tu Logos.
Enciclopédia Luso-Brasileira
Buber e Moreno. São Paulo: Agora. de Filosofia (pp.l.337-J 339) Lisboa: Verbo.
Forghieri, Y. C. (1993). Psicologia Fenomenológica. Fundamentos, Mé Fdck, W. B. (1971). Humanistic Psychology.
Jntervjews with Maslow,
todo e Pesquisas. São Paulo: Pioneira. Murphy and Rogers. Columbus: Charles E. Merrili
Publishing Co.
Foucault, M. (1964). Doença Mental e Psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Frójs, K. P. (Novembro 2001). Revisão da Percepção
Brasileiro (Original publicado em 1954). da Arquitetura em
Bruno Zevi, Chdstian Norbergschulz e através
de Heidegger até a
Foulquié, P. (1977). A Psicologia Contemporânea. São Paulo: Compa Possibilidade Fenomenológica de Mer1eau.ony OLA]if
nhia Editora Nacional. Ciência &
Tecnologia (Rio Claro), 1(2).
—
Fragata, 1. (1959). A Fenomenologia de Husseri. Braga. Fromm, E. (1980). Ter ou Ser? Rio de Janeiro: Zahar
Editores (Original
Franca, L. (1929). Noções de História da Philosophia. Rio de Janeiro: publicado em 1976).
Pimenta de Mello. Fromn, E. (198 la). O Coração do Homem. Rio de
Janeiro: Zahar Edito
Franld, V. E. (1967). Psychotherapy and Existentialism. New York: res (Original publicado em 1964).
Washington Square Press. Fronmi, E. (198 1h). O Espírito de Liberdade Rio de
Frankl, V. E. (1984). Psicoterapia y Humanismo. Mexico: Fondo de Cul Janeiro: Zahar Edi
tores (Original publicado em 1966).
tura Económica (Original publicado em 1978). Furtado, J. L. (2005). Fenomenologia e crise da
Franld, V. E. (1991). Em Busca de Sentido: U,n psicólogo no campo de (112), 414-428.
arquitetura. Knterion, 46
concentração. Petrópolis: Vozes.
Gadamer, H-G. (1998). Verdade e Método. Traços
Franki. V. E. (1952). Psicoanálisisy Existencialismo. Mexico: Fondo de fundamentais de unia
herpnenéutjca filoséfica. Petrópolis: Vozes (Original
Cultura Económica (Original publicado em 1946). publicado em
1986).
Franld. V. E. (1967). Psychotherapy and Existencialism. Selected Papers
Gay, P. (1989). Freud: Unia vida para nosso
ou Logotherapy. Washington: Square Press. tempo. São Paulo: Compa
nhia das Letras.
Frayze-Pereira, 3. A. (1984). Apontamentos para uma Critica da Psicolo
gia Humanista. Psicologia, 10(3), 1-10. Gelb, M. (2000). Aprendendo a Pensar com Leonardo
da VineL São Pau
Freitas, J. L. & Holanda, A. F. (2010). Fenomenologia e Psicologia. Vin lo: Atica (Original em inglês de 1998).
culações. b A. J. Peixoto (Org.). Feno,nenologia. Diálogos Possíveis Gimpel, J. (2001). A Revolução Industrial da Idade
Média. Lisboa: Pu
(pp. 101-118). Goiânia: Editora da PUC. blicações Europa-América (Original publicado em 1975).
Freitas, M. H. (2002). C’rença religiosa e personalidade em estudantes de Giorgi, A. (1977). Psicologia como Ciência
HumanaS uma abordagem de
Psicologia: Um estudo por meio do Questionário Pratt e do Método de base fenomenológica Belo Horizonte: Interliwos.
Rorschach. Tese de Doutorado, Universidade de Brasilia, Brasília. Giorgi, A. (Ed.). (1985). Phenomenology and
Psychological Research.
Freitas, M. C. 5. (2002). Uma abordagem fenomenológica da fome. Re Pittsburg: Duquesne University Press.
vista de Nutrição, 15(1), 53-69. Gobbi, 5. L., Missel, 5. T., Justo, H. & Holanda,
A. F. (2005). Vocabu/á
Freitas, M. H. (2004). Diretrizes Metodológicas para a Investigação do 1./o e Noções Básicas da Abordageni Centrada
Senso Religioso em Gerontologia: uma abordagem fenomenológica. In na Pessoa. São Paulo:
Vetor.
A. F. Holanda (Org.). Psicologia, Religiosidade e Fenomenologia. Goldstein, K. (1996). La Stntcture de l’Organisnze
Campinas: Atomo. Paris: Gallimard
(Original publicado em 1934).
Freitas. M. C. (1990a). Gabriel Marcel. Tu Logos. Enciclopédia Luso- Gomes, P. (1973). Filosofia Grega Pré -Socrática
Brasileira de Filosofia (pp. 625-630). Lisboa: Verbo. Lisboa: Guimarães &
Cia Editores.
4
200 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 201
de Janeiro), 1
riência Consciente. Psicologia USP, 8(2), 305-336.
Guthrie, W. K. C. (1995). Os Sofistas. São Paulo: Pauius.
Gomes, W. B. (Org.). (1998). Fenomenologia e Pesquisa em Psicologia.
Halling, 5. & Nu, J. D. (1995). A Brief History
Porto Alegre: UFRGS. of Existential
Phenomenological Psychiatry and Psychotherapy. Jounial
Gomes, W. B., Holanda, A. E. & Gauer, G. (2004a). Primórdios da Psico inenological Psychology, 26(1), 145.
of Pheno
logia Humanista no Brasil. In M. Massimi (Org.). História da Psicolo Heidbreder, E. (1975). Psicologias do Século LV. São Paulo: Mestre
gia no Brasil do Século LXpp. 87-103). São Paulo: E. P. U. Jou.
Heidegger, M. (1967). Sobre o Humanismo. Rio de Janeiro:
Gomes, W. B., Holanda, A. F. & Gaucr, G. (2004b). História das Abor sileiro (Original publicado em 1949).
Tempo Bra
dagens Humanistas em Psicologia no Brasil. In M. Massimi (Org.).
Heidegger, M. (1988). Ser e Tempo (Parte
História da Psicologia no Brasil do Século fl (pp. 105-129). São Pau O. Petrópolis: Vozes (Original
publicado em 1927).
lo: E. P. U.
Heidegger, M. (1991). Carta sobre o Humanismo. São
González Rey, E. (1997). Epistemologia Cualitativay Subjetividad. São Moraes (Original publicado em 1949).
Paulo; Editora
Paulo: Educ.
Heinrich, C. (2000). Monet. KüIn: Taschen.
González Rey, E. (1999). La Investigación Cualitativa eu Psicologia.
Rumbas y Desafios. São Paulo: Educ. Henandez, J. (2003). Psicologia positiva e psicologia human
ista: Apro
ximações teóricas e conceimais. Revista de Psicologia da
González Rey, F. (2003). Sujeito e Subjetividade. São Paulo: Thomson. 24-30.
UnC. 1(1),
Gonzalez, A. M. (1988). Psicología Riunanística, Animación Sociocultu Hobsbawn, E. J. (1977). A Era das Revoluções. Europa 1789-1
raly Problemas Sociales. Madrid: Editorial Popular S.A. de Janeiro: Paz e Terra.
848. Rio
Goto, T. A. (2013). Fenomenologia, Mundo-da-Vida C Crise das Ciên Holanda, A. F. & Faria, N. 3. (Orgs.). (2005). Gestalt-Terapia
cias: a necessidade de uma Geografia enomenológica. Geograficida_ poran cidade. Contribuições para uma
e Contem
de, 3, 3348. Construção Epistemológica da
Teoria e Prática Gestáltica. Campinas: Livro Pleno.
Goto. T. A. (2008). Introdução à Psicologia Fenomenológica. São Paulo: Holanda, A. F. (1998a). Fenomenoiogia, Psicoterapia e Psicolo
gia
Paulus. manista. Revista Estudos de Psicologia, (Campinas), 14(2), 334. Hu
Greening, T. G. (1973). Existential Humanistic Psychology. Belmont: Holanda, A. E. (1998b). Diálogo e Psicoterapia: C’orrelações
Brooks/Cole Publishing Co. entre Ro
gers e Buber. São Paulo: Lemos Editorial.
Guillén, G. V. (2004). PsicologIa y FenomenolOgia Transcendentales en Holanda, A. F. (2001). Psicopatologia, Exotismo e Divers
idade: Ensaio
ei Proyecto de la ftteligência Artificial. Revista de Filosofia de la Uni de Antropologia da Psicopatologia. Psicologia em Estudo
versidad de Costa Rica, 42006-107), 115-118. (UEM),
6(2), 29-38.
GuimarãeS, A. C. (1984). Farias Brito e as Origens do Existencialismo Holanda, A. F. (2003a). Fundamentação Fenomenológica da Pesqui
sa do
no Brasil. São Paulo: Convívio. Vivido, In 1. 1. Costa, A. F. Holanda, F. Martins & M. 1. Taffiri
(Orgs.).
Guimarães, A. C. (2000). O Pensamento Fenomenológico no Brasil. Re Etica, Linguagem e Sofrimento (pp. 171-183). Brasilia: Abrafipp.
vista Brasileira de Filosofia, 50(1 98), 258-267.
Adriano Furtado Holanda Fenomenoiogja e Humanismo 203
202
1L
do de 1936). em francês de 1954).
r
204 Adriano Funadu Holanda Fenomenologia e Humanismo 205
Keller, F. 5. (1974). A Definição da Psicologia. São Paulo: EPUíEdusp Lima, A. A. & Holanda, A. F. (2010). História da Psiquiatria
no Brasil:
(Original publicado em 1965). Uma revisão da produção historiográfica (2004/2009). Estudos e Pes
quisas em Psicologia (UERJ), 10(2), 572-595.
}Grk, G. 5., Raven, J. E. & Schofield, M. (1994). Os Filósofos Pré
Socráticos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (Original em inglês Lima, A. A. & Holanda, A. F. (2011). O Dr. Alô Falou para não
Contra
de 1983). riar: A Consolidação da Psiquiatria no Paraná na Primeira
Metade do
Século XX. Estudos e Pesquisas em Psicologia
Kfrschenbaum, H. & Henderson, V. L. (Eds.). (1989). Carl Rogers (UERM, INU, 353-
368.
Dialogues. New York: Houghton Mifilin Co.
Lima, A. A. (2011). Psiquiatria e Espiritismo no Atendimento
Klein, A. C. (2004). Farias Brito. Fortaleza: Edições Demúcrito Rocha. à Saúde
Mental: A História do Hospital Espírita do Bom Retiro
Klüber, T. E. & Burak, D. (2008). A Fenomenologia e suas contribuições (Curitiba,
1930-1950). Dissertação de Mestrado em Psicologia, Curitiba,
para a Educação Matemática. Práxis Educativa (Ponta Grossa), 3(1), sidade Federal do Paraná.
Univer
95-99.
Loffredo, A.M. (1994). A Cai-a e o Rosto. Ensaio sobre
Kolakowski, L. (1983). Husseri y la Búsqueda de la Certeza. Madrid: Gestalt-Terapia.
São Paulo: Escuta.
Alianza Editorial.
Lopes Neto, D. & Pagliuca, L. M. F. (2002). Abordagem
Kristensen, C. H., Flores, R. Z. & Gomes, W. B. (2003). Revelar ou Não holística do
termo pessoa em um estudo empírico: uma análise critica.
Revelar: uma abordagem fenomenológica do abuso sexual em meninos. Revista La
tino-A mericana de Enfermagem, 10(6), 825-830.
Tu M. A. T. Bruns & A. F. Holanda (Orgs.). Psicologia e Fenomenolo
Lyotard, J-F. (1986). A Fenomenologia Lisboa: Edições 70.
gia. Reflexões e Perspectivas (pp. 121-158). Campinas: Alínea.
Maciel, J. C. (2003). Fmnz Clemens Brentano e a Psicologia. Tu
Kuhn, T. 5. (2007). A estrutura das revoluções cientWcas. São Paulo: M. A. T.
Perspectiva. (Original publicado em 1962). Bmns & A. F. Holanda (Orgs.). Psicologia e Fenonzenologia.
Refle
xões e Perspectivas (pp. 27-40). Campinas: Alínea.
Laertios, D. (1988). Vidas e Doutrinas dos Filósofos ilustres. Brasilia:
Maciel, J. C. (2004). O Indisponível e a Psicologia: a dimensão
Editora UnB. espiritual
no pensamento de Vilctor Franid. Tu A. F. Holanda
Lagache, D. (1988). A Unidade da Psicologia. Lisboa: Edições 70 (Ori (Org.),Psicologia,
Religiosidade e Fenomenologia (pp. 125-146). Campinas: Atomo.
ginal publicado em 1949).
Mahfoud, M. (Org.). (1999). Plantão Psicológico. Novos
Lalande, A. (1956). Vocabulaire Technique et Critique de la Philosophie, Paulo: Companhia Tlimitada.
horizontes. São
Paris: Presses Universitaires de France.
Mahfoud, M. (2008). Unidade da Pessoa segundo Edith Stein:
Lantéri-Laura, G. (1963). La Psychiatrie Phénoménologique. Contribui
ções á Educação para a Nutrição. Psicologia USP (São Paulo), 19(4),
Fondementsphilosophiques. Paris: Presses Universitaires de France. 447454.
Le Goff, J. (2003). Os intelectuais na idade Média. Rio de Janeiro: José Malet, P. M. (2007). La Fenomenología em su Torsián
Olympio (Original publicado em 1985). Hermenéutjca
Analecta Revista de Humanidades (Universidade Vina dei Mar,
Le Goff, J. (2006). As Raízes Medievais da Europa. Petrúpolis: Vozes. Chi
le), 2(1), 121-132. Recuperado de http://www.uvm.cueduçaciop.Jde
Leão, E.C. (1991). Introdução, em Os Pensadores Originários. Petrópo Partamentos/humanidades/web%2oCEHevista%20Malectwana
lis: Vozes. lecta-TI- 1-2008 .pdf
Legrand, G. (1991). Os Pré-Socráticos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi Maman, J. A. (2003). Fenonienologia Existencial do Direito. Rio
de Ja
tor. neiro: Quartier Latin.
Lévinas, E. (1989). Théorie de lintuition dans la Phénoménologie de Marcel, G. (1935). Être etAvoir, Paris: Femand Aubier.
Husserl. Paris: Librairie Philosophique J. VHn. Marcel, G. (1968), L’Anthropologie Philosophique de Martin
Buber. Tu
Lévinas, E. (1993). Humanismo de Outro Homem. Petrópolis: Vozes Centre National de Hautes Erudes Juives. Martin Buber, L ‘honune
(Original publicado em 1972).
et le
philosophe (pp. 1742). Bmxelles: Editions de l’Tnstitut de
Sociologie
Lima Vaz, H. C. (1991). Antropologia Filosófica 1. São Paulo: Loyola. de 1 ‘Universjté Libre de Bruxeiles
i
Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 207
206
In Le Merleau_Ponty, M. (1945). Phénon;énologie de la Perception, Paris:
Marcondes, D. (1999). Prefácio. Para que Serve a Filosofia?
Philo: As grande s indaga ções da filo Gallimard
Nouvel Observateur (Ed.). Café
sofia (pp. 9-10). Rio de Janeiro : Zahar. MerleauPonty, M. (1960). Signes. Paris: Gallimard.
Uffimep.
Maiigiiela, M. (1995). Epistemologia da Psicologia. Piracicaba: Merleau_Ponty, M. (1973). Ciências Huma,,as e Fenomenologia. São
cialismo, Paulo: Saraiva (Original publicado em 1967).
Marfins, J. & Bicudo, M. A. V. (1983). Estudos sobre existen
Fenomenologia e Educação. São Paulo: Morae s. Merleau-Ponty, M. (1989a). De Mauss a Claude Lévi-Strauss In M. Mer
em Psico leau-Ponty Textos Selecio,,ados (pp. 141-154) (Coleção Os Pensado
Martins, J. & Bicudo, M. A. V. (2005). A Pesquisa Qualitativa
Centau ro. res). São Paulo: Nova Cultural (Original publicado em 1960).
logia. Fundamentos e Recursos Básicos. São Paulo:
Maslow, A. H. (1954). Motivation and Personality. New
York: Harper Merleau-pon3, M. (19891,). O Olho e o Espírito. In M.
Merleau-Ponty
and Row, Publishers. Textos Selecioptados (pp. 44-73) (Coleção Os Pensadores). São
Paulo:
es. Colum Nova Cultural (Original publicado em 1960).
Maslow, A. H. (1964). Religions, Values and Peak-&perienc
bus: Ohio State University. Merleau-Ponty, M. (1 989c). Sobre a Fenomenologia da Linguagem. lii
de Janeiro: M. Medeau_Ponty. Textos Selecionados (pp.77-88) (Coleção
Maslow, A. H. (1974). introdução à Psicologia do Ser, Rio Os Pen
Eldorado (Original publicado em 1962). sadores) São Paulo: Nova Cultural.
ção em Psi Merleau-Ponty, M. (2006). A Estrutura do Comportanjento São Paulo:
Matson, F. W. (1975). Teoria Humanista: A Terceira Revolu
cologia. In T. C. Greening (Org.). Psicologia Existe ncial-H umanista, Martins Fontes (Original publicado em 1942).
Rio de Janeiro: Zabar Editores. Misiak, 1-1. & Sexton, V. 5. (1973) Phetzonienologjcai Existe,,tia( and
Existencial en
May, R. (1967). Origenes y Significado dei Movimiento Humanistic Psychoiogies New York: Grune & Straton.
Psicologia. In R. May, E. Mgel & H. F. Ellenb erger (Eds.). Existeiz Mondolfo, R. (1968). O Homem na Cultura Antiga. São Paulo: Mestre
da. Madrid: Editorial Gredos 5. A. (Original publicado em 1958). Jou.
: Zabar (Ori
May, R. (1970). O Signqkado da Ansiedade. Rio de Janeiro Mondolfo, R. (1971). O Pensa,ne,,to Antigo. São Paulo: Mestre Jou.
ginal de 1950). Mora, J. F. (1994). Diccio,,a,•io de Filosofia. Barcelona: Editorial Anel
olis: Vozes 5. A.
May, R. (1972). O hotnem à procura de si mesmo. Petróp Mora, J. F. (2001). Dicionário de Filosofia (4 Vols.). São Paulo:
(Original de 1953). Loyola.
: Zahar Edi Moraes, C. C. & Ribeiro, J. P. (2004). Paranormalidade e Psicopatologia
May, R. (1977). Psicologia e dilema humano. Rio de Janeiro numa Abordagem Fenomenojógica: relato de uma experiência. In A. F.
tor (Original de 1967) Holanda (Org.). Psicologia, Religiosidade e Fenomenologia
: Globo (pp. 55-
May, R. (1988) (Org.). Psicologia Existencial. Rio de Janeiro 79). Campinas: Atomo.
(Original publicado em 1960).
Moraes, C. C. (1998). O Êrtase; Unia Abordagem do Ponto de
May, R. (1988). A descoberta do ser. São Paulo: Rocco. Vista da
Psicologia Clínica e das Religiões. Dissertação de Mestrado, Univer
Fronteira
May, R. (1992). A coragem de criar. Rio de Janeiro: Nova sidade de Brasilia.
(Original de 1975). Moraes, C. C. (2002). Traball,a,,do co??, 05 Fenômenos Religiosos e Es
cia. Ma
May, R., Angel, E. & Ellenberger, H. F. (Eds.). (1967). Existen pirituais; uma proposta metodológica para avaliaçào da experiência
drid: Editorial Gredos 5. A. (Original publica do em 1958).
de ampliação de consciência no processo grupal, Tese de
ofldeas, Doutorado
Merlan, P. (1945). Brentano and Freud. Journal of lhe Histoiy em Psicologia, Brasília: Universidade de Brasília.
60), 375-377. Morato, 1-1. T. P. (Org.). (1999). Aconse//,an,ento Psicológico
ofthe Histoty Centrado
Merlan, P. (1949). Brentano and Freud A SequeI. Journal
—
na Pessoa. Novos desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo.
ofideas, 10(3), 451. Moreira, D. A. (2002). O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Pau
i
lo: Thomson Pioneira.
Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 209
208
Nunes, A. L. (2007). Transtornos Alimentares tia Visão de Meninas Ado
Moreira, N. & Holanda, A. F. (2010). Logoterapia e Sentido do Sofri
mento: Convergências nas Dimensões Espiritual e Religiosa. Psico lescentes de Florianópolis: uma abordagem fenomenológica. Disserta
USF, 15 (3), 345-356. ção de Mestrado em Nutrição. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
Moreira, V. (2004). O método fenomenológico de Merleau-PontY como
Orange, D. M. (2012). Pensar la Práctica Clínica. Recursos Filosóficos
ferramenta crítica na pesquisa em psicopatologia. Psicologia, Reflexão
para ei Psicoanalisis Conteporáneo y las Fsicoterapias Humanistas.
e Crítica, 17(3), 447-456.
Estudos em Santiago: Editorial Cuatro Vientos.
Moreira, V. (2009). Clínica
psicoterapia e psicopatologia crítica. São Paulo: Annablume. Oro, O. R. (1993). Psicología de la Personalidad. Distintos enfoques a
Paulo: partir de una visión de conjunto. Buenos Afres: Ediciones Fundación
Moreira, V. (2013). Revisitando as Psicoterapias Hu,nanistas. São Argentina de Logoterapia ‘Viktor E.Franld’.
lntermeios.
Edi Ortega y Gasset, J. (2011). Sobre o Conceito de Sensação. Revista da
Morei, P. (1997). Dicionário Biográfico Psi. São Paulo: Jorge Zabar Abordagem Gestáltica, 17(2), 217-226 (Original publicado em 1913).
tor.
Ortega, F. (2005). Fenomenologia da visceralidade: notas sobre o impac
Morujão, A. F. (1984). Significado e estrutura da redução fenomenológi to das tecnologias de visualização médica na corporeidade. Cadernos
ca, Reflexão, 9(28), 63-78. de Saúde Pública. 21(6), 1.875-1.883.
Morajão, A. F. (1990). Epistemologia. h Logos. Enciclopédia Luso- Overgaard, M. (2004). On the naturalizing ofphenomenology. Phenome
Brasileira de Filosofia (pp. 115-120). Lisboa: Verbo. nology and flue Cognitive Sciences, 3, 365-379.
de
Morus, T. (2001). A Utopia. Porto Alegre: L&PM Pocket (Original Pacheco, M. (1990). Humanismo. In Logos. Enciclopédia Luso-
1516). Brasileira de Filosofia. Lisboa: Verbo.
Moustakas, C. (1994). phenomenolügical Research Methods. London: Pagês, M. (1986). L’Orientation Non-Directive en Fsychothérapie et en
Sage Pubhcations. Psychologie Sociale. Paris: Dunod.
Nalii, M. (2009). Um Rastro a Desaparecer na Praia do Pensamento Paim, A. (1986). O Estudo do Pensamento Filosófico Brasileiro. São
Foucault e a Fenomenologia. Revista da Abordagem Gestálilca, 15(2), Paulo: Convívio.
no prelo.
Paim, A. (1990). Revistas de Filosofia. In Logos. Enciclopédia Luso-
Naudin, J. (1997). PhénoménolOgie et Psychiatrie. Les VoLt et Ia chose. Brasileira de Filosofia (pp.74l-746). Lisboa: Verbo.
Toulouse: Presses Universitaires du Mirail.
Paludo, 5. 5. & Koiler, 5. H. (2007). Psicologia Positiva: uma nova
Neubern, M. 5. (2004). Complexidade & Psicologia Clinica. Desafios
abordagem para antigas questões. Faideia (Ribeirão Preto), 17(36),
Epistemológicos. Brasília: Plano.
9-20.
Nigel, T. (2013). Como é ser um morcego? Revista da Abordagem Ges Pascal, B. (1972). Pensées. Paris: Le Livre de Poche (Oiriginal publicado
jca/phenomenological Studies, 19(1), 109-115.
em 1669).
Nobre de Meio, A. L. (1979). Psiquiatria (2 Vois). Rio de Janeiro: Civili Peixoto, A. J. & Holanda, A. F. (Orgs.). (2011). Fenomenologia do (‘xii
zação Brasileira.
dado e do Cuidar: Perspectivas Muhidisciplinares. Curitiba: Juruá.
Nogare, P. D. (1994). Humanismos eAnti_Huinaflisflios. Petópolis: Vozes. Penedos, A. J. dos (1984). Introdução aos Pré-Socráticos. Lisboa: Rês.
Nudei, B. W. (1994). Moreno e o Hassidismo Princípios e Funda,ne’l
—
Penna, A. G. (1992). História da Psicologia no Rio de Janeiro. Rio de Raffaelli, R. (2004). Husserl e a psicologia. Estudos de Psicologia (Na
Janeiro: Imago. tal),9(2),211-215.
Penna, A. G. (1997). Repensando a Psicologia. Rio de Janeiro: Imago. Ramón, 5. P. (2006). A Importância da Act-Psychologie de Franz Brenta
Pemrn, A. G. (2000). Introduçâo à Epistemologia. Rio de Janeiro: Imago. no. Psicologia. Reflexão e Critica (Porto Alegre), 19(2), 340-345.
Penna, A. O. (2001). Nilton Campos. lii R. H. F. Campos (Org.). Dicio Reale, G. & Antiseri, D. (1991). História da Filosofia. São Paulo: Edi
nário Biográfico da Psicologia tio Brasil (pp. 112-114). Rio de Janei ções Paulinas.
ro: Imago / Brasilia: Conselho Federal de Psicologia. Reale, G. & Antiseri, IX (2005). História da Filosofia Do Romantismo
Pereira, L. A. G., Correia, 1. 5. & Oliveira, A. P. (2010). Geografia Fe ao Empirocriticismo (Vol. 5). São Paulo: Paulus
nomenológica: Espaço e Percepção. Caminhos da Geografia (Uber Reale, G. & Antiseri, D. (2006). História da Filosofia De Nietzsche à
lãndia), 11(35), 173-178. Escola de Frankfurt (Vol. 6). São Paulo: Paulus.
Peris, F., Heiferline, R. & Goodman, P. (1997). Gestalt-Terapia. São Reale, M. (1956). Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva.
Paulo: Summus (Original publicado em 1951).
Resnick, 5., Warmoth, A., & Serlin, 1. (2001). The humanistic psycholo
Peris, F. 5. (1979). Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata de liÍo. gy and positive psyehology connection: Implications for psychothera
São Paulo: Summus. py. Journal ofHumanisticFsychology, 410), 73-101.
Peris, F. 5. (1981). Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Tera Ribeiro, J. P. (1985). Gestalt-Terapia: Refazendo wn Caminho. São Pau
pia. Rio de Janeiro: Zahar Editores (Original publicado em 1973).
lo: Summus Editorial.
Perls, L. (1994). Vivi endo en los Límites. Valencia: Promolibro.
Ribeiro, J. P. (1993). Gestalt-Terapia. O Processo Gnipal. São Paulo:
Pessanha, J. A. M. (1988). Erasmo IMore. Coleção Os Pensadores. São Summus.
Paulo: Nova Cultural.
Ribeiro, 1. P. (1997). O Ciclo do Contato. São Paulo: Summus.
Pessoa, F. (1983). Poemas Dramáticos: Poemas ingleses: Poemas Fran
ceses; Poemas Traduzidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Ribeiro, J. P. (1999). Gestalt-Terapia de Curta Duração. São Paulo:
Peters, F. E. (1974). Greek Philosophical Tenns. New York: New York Summus.
University Press. Ribeiro, Y. C. (2010). As Dimensões do Cuidado da Enfermeira tia Uni
Pires, C. (1990). Essência. In Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de dade de Terapia Intensiva. Dissertação de Mestrado em Enfermagem.
Filosofia (pp. 256-259). Lisboa: Verbo. Universidade Federal do Paraná.
Politzer, G. (1968). Critique des Fondements de la Psychologie. Paris: Ricoeur, P. (1947). Gabriel Marcel e Karl Jaspers. Philosophie dii
PUF. mvstère etphilosophie duparadoxe. Paris: Editions du Temps Présent.
Polster, E. & Polster, M. (2001). Gestalt-Terapia integrada. São Paulo: Ricouer, P. (2010). Sobre a Fenomenologia. Em Paul Ricoeur, Na Escola
Summus (Original publicado em 1973). da Fenomenologia (,pp.149-l74). Petrópolis: Vozes.
Ponte, C. R. 5. & Sousa, H. L. (2011). Reflexões críticas acerca da Rivera, M. 5. & Herrera, L. M. (2006). Fundamentos fenomenológicos
psicologia existencial de Roilo May. Revista da Abordagem Gestal para un cuidado comprensivo em enfermeria. Texto Contexto Etifer
tica, 17W, 47-58. niagein (Florianópolis), 15(Esp.), 158-163.
Prado Jr, B. (1980). O Neopsicologismo Humanista. Discurso (Revista do Robinson, D. N. (1982). Sistemas Psicológicos do Nosso Tempo. Um
Departamento de Filosofia da FFLCH da USP), (13), 87-94. Recuperado esboço crítico. Rio de Janeiro: Zahar Editores (Original de 1979).
de http://www.ffich.usp.br/dVsite/Publicacoe5/sco/P’m 3_O_neo Rogers, C. R. & Buber, M. (2008). CarI Rogers Dialogues. Diálogo entre
psicologismo_humanista.pdf
Cari Rogers e Martin Buber. Revista da Abordagem Gestáltica, 14(2),
Prouty, G. (1994). Theoretical Evolutions iii Person-Centered/Experie’z 233-243 (Original de 1957).
tial Therapy. Applications to Schizophrenic and Retarded Psychoses.
Westport: Praeger. Rogers, C. R. & Coulson, W. R. (1973). O Homem e a Ciência do No
inem. Belo Horizonte: Interlivros.
212 Adriano Furtado Holanda Fenomenologia e Humanismo 213
Rogers, C. R. & Tillich, P. (2008). Cari Rogers Dialogues. Diálogo entre Schultz, D. P. (1969). A Histoty ofModenz Psychology. New York: Aca
Cari Rogers e Paul Tillich. Revista da Abordagem Gestáltica, 140), demic Press.
121-127. Schutz, A (1979). Fenomenologia e Relações Sociais. Rio de Janeiro:
Rogers, C. R. (1977). Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes (Ori Zahar Editores.
ginal de 1961). Seligman, M. (2002). Positive psychology, positive prevention, and posi
Rogers, C. R. (1983). Um Jeito de Ser. São Paulo: Martins Fontes. tive therapy. lii C. R. Snyder & 5. J. Lopez (Eds.). Handbook ofposi
tive psychology (pp. 3-9). New York: Oxford University Press.
Rogers, C. R. (1987). Abordagem Centrada no Cliente ou Abordagem
Centrada na Pessoa. In A. M. Santos, M. C. V. B. Bowen & C. R. Seligman, M. & Csilcszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: An
Rogers. Quando Fala o Coração: A Essência da Psicoterapia Centra introduction. American Psvchologist, 55, 5-14.
da na Pessoa. Porto Alegre: Artes Médicas. Sexto Empírico (1993). Esbozos Pirrónicos. Madrid: Editorial Gredos.
Rogers, C. R., Gendlin, E. T., Kiesler, D. J. & Tnax, C. B. (Eds.). Shaffer, J. (1978). Hzunanistic Psycho!ogy. Englewood Cliffs: Prentice
(1967). The Therapeutic Relationship and Jts Impact. Á Study ofPsy Hali.
chotherapy with Schizophrenics. Madison: The Universiw of Wiscon Sidekum, A. (1979). A Intersubjetividade em Marthz Buber. Porto Alegre:
sin Press. EST/UCS.
Ronan, C. A. (1987). História Ilustrada da Ciência. Da Renascença à Smith, B. & Smith, D. W. (Eds.). (1996). Tire Cambridge Companion of
Revolução Cient(fica (Vol. llfl. Rio de Janeiro: Jorge Zabar Editor. Husserl, Cambtidge: Cambddge University Press.
Rosenberg, R. L. (Org.). (1987). Aconselhamento Psicológico Centrado Snyder, C. R. & Lopez, 5. J. (2002). Handbook of posirive psychologv.
na Pessoa. São Paulo: E.P.U. New York: Oxford University Press.
Rotterdam, E. de (2000). O Elogio da Loucura. São Paulo: Maifin Claret Sokolowski, R. (2007). Introdução à Fenoinenologia. São Paulo: Loyola.
(Original publicado em 1511). Spanoudis, 5. (1997). A Tarefa do Aconselhamento e Orientação a partir
Rougemont, D. de (1972). L ‘Amour et 1 ‘Occident. Paris: Librairie Plon. da Daseinanalyse, Daseinanalvse, (1, 2 e 4), 56-62.
Sampaio, L. R., Camino, C. P. 5. & Roazzi, A. (2009). Revisão de As Spengler, O. (1982). A Decadência do Ocidente. Brasília: Editora da
pectos Conceituais, Teóricos e Metodológicos da Empatia. Psicologia, Universidade de Brasilia (Original de 1918).
Ciência e Profissão, 29(2), 2 12-227. Spiegelberg, H. (1972). Phenomenology iii Psychoiogy and Psychiatty. A
Sanama, 5. & Kampinnem, M. (1987). Á Historical Introduction to Phe historical introducrion. Evanston: Northwestem University Press.
no,nenology. London: Croon HeIm. Spiegelberg, H. (1982). Tire Phenomenological Moven,ent: a historical
Santi, P. L. R. de (1996). Á Construção do Eu na Modernidade. Da Re iníroduction. Boston: Madinus Nihjhoff.
nascença ao sáculo XJK Ribeirão Preto: Holos. Sproccati, 5. (1997). Guia de História da A,ie. Lisboa: Editorial Presen
Santo Agostinho (1997). Confissões. São Paulo: Paulus. ça.
Santos, C. A. & Souza, F. 5. (2007). A Paisagem Geográfica através da Struchiner, C. D. (2003). Psicologia Fenomenológiea: Uma perspectiva
Fenomenologia: possíveis caminhos pan a construção de um método. husserliana. In 1. 1. Costa, A. F. Holanda, F. Martins & M. 1. Tafuri
Anais do II Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Re (Orgs.). Etica. Linguagem e Sofrimento pp.l45-l6O). Brasília: Abra
presentações, Salvador. flpp.
Santos, 1. V. A. (2004). Fenomenologia do Onírico: A Gestalt-Terapia e a Suassuna, D. & Holanda, A. F. (2009). “Histórias’ da Gestali-Terapia
Daseinsanálise. Psicologia, Ciência e Profissão, 24(1), 3643. no Brasil. Curitiba: Juruá.
Sartre, J-P. (1946). L ‘Existentialisme est im Humanisme. Paris: Gal Sutich, A. J. & Vich, M. A. (1969). Readings iii Humanistic Psychologj’.
limard. New York: Thc Free Press.
Schneider, J. F. & Valie, E. R. M. (1996). O Ser Esquizofrénico e a Re Taylor, C. (1997). As Fontes do Self São Paulo: Loyola.
tomada do Tempo. Estudo fenomenológico. Goiânia: AR Editora.
214 Adriano Furtado Holanda