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Universidade Eduardo Mondlane

Curso de Engenharia Civil

Sebenta das Aulas Teóricas


da Disciplina de
Hidráulica I

Actualização 2021

Regente
HIDRÁULICA I – Sebenta das Aulas Teóricas da Disciplina de Hidráulica I - Actualização 2021
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HIDRÁULICA I
PROGRAMA DA DISCIPLINA

I – INTRODUÇÃO À HIDRÁULICA

1.1- A água como substância


1.2- O Ciclo Hidrológico
1.3- Conceitos gerais
1.4- Subdivisões da Hidráulica
1.5- A evolução da Hidráulica
1.6- A Carta Europeia da Água

II – PROPRIEDADES DOS LÍQUIDOS

2.1 – Fluidos - Gases e Líquidos


2.2 – Sistema Internacional de Unidades (SI)
2.3 – Massa Específica, Massa Volúmica e Densidade
2.4 – Forças Exteriores
2.5 - Compressibilidade
2.6 – Viscosidade
2.7 – Tensão de Saturação de Vapor de Água
2.8 - Celeridade
2.9 – Solubilidade de gases e líquidos
2.10 – Líquidos ideais e líquidos reais

III – HIDROSTÁTICA

3.1 – Lei hidrostática de pressões


3.2 – Pressões absolutas e pressões relativas
3.3 – Manómetros Simples e Manómetros Diferenciais
3.4 – Impulsão Hidrostática
3.5 – Teorema de Arquimedes
3.6 – Impulsão sobre Superfícies Planas
3.7 – Impulsão sobre superfícies Curvas
3.8 – Impulsão sobre a base e a totalidade de recipientes

IV – HIDROCINEMÁTICA

4.1 – Trajectórias e Linhas de Corrente


4.2 – Tipos de Escoamento
4.3 – Tubo de fluxo, Caudal e Velocidade média
4.4 – Equação da Continuidade
4.5 – Escoamentos Laminares e Turbulentos
4.6 – Aceleração Local e Aceleração Convectiva
4.7 – Descrições de Lagrange e de Euler
4.8 – Deformação angular, Rotação e Dilatação Volumétrica

Docente: Eng.º Carlos Caupers 1|Página


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V – HIDRODINÂMICA

5.1 – Equação de Navier-Stockes


5.2 – Escoamento no Campo da Gravidade
5.3 – Teorema de Bernoulli para Líquidos Perfeitos
5.4 – Linha Piezométrica e Linha de Energia
5.5 – Teorema de Bernoulli para Líquidos Reais
5.6 – Variação da Cota Piezométrica
5.7 – Vórtices
5.8 – Movimentos Rotacionais e Irrotacionais
5.9 – Escoamento Plano
5.10 – Início do Escoamento. Camada limite

VI – ESTUDO GLOBAL DOS ESCOAMENTOS LÍQUIDOS

6.1 – Teorema de Bernoulli Generalizado


6.2 – Potência Hidráulica. Conceito de Bombas e Turbinas
6.3 – Teorema de Euler. Princípio da Quantidade de Movimento

VII – LEIS DE RESISTÊNCIA DOS ESCOAMENTOS UNIFORMES

7.1 – Conceitos fundamentais do Escoamento Uniforme


7.2 – Tensão tangencial na fronteira sólida
7.3 – Escoamentos Laminares e Turbulentos
7.4 – Escoamentos Laminares Uniformes
7.5 – Escoamentos Turbulentos Uniformes
7.6 – Leis Empíricas para o Regime Turbulento Rugoso

VIII– ESCOAMENTOS PERMANENTES SOB PRESSÃO

8.1 – Generalidades
8.2 – Perdas de Carga Contínuas
8.3 – Perdas de Carga Localizadas
8.4 – Influência do Traçado das condutas
8.5 – Cálculo de Instalações. Redes
8.6 – Condutas de Caudal Variável durante o percurso
8.7 – Cavitação

IX – ESCOAMENTOS VARIÁVEIS SOB PRESSÃO

9.1 – Tipos de escoamentos. Problemas e aproximações


9.2 – Golpe de aríete. Análise Qualitativa
9.3 – Golpe de aríete. Análise Quantitativa Simplificada
9.4 – Protecção de Condutas Elevatórias contra o Golpe de Aríete
9.5 – Oscilação em massa
9.6 – Escoamentos quase permanentes

Docente: Eng.º Carlos Caupers 2|Página


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X – BOMBAS HIDRÁULICAS

10.1 – Definição e Classificação


10.2 – Caudal
10.3 – Altura Geométrica
10.4 – Altura de Elevação
10.5 – Cavitação (N.P.S.H.)
10.6 – Potências e Rendimentos
10.7 – Velocidade de Rotação
10.8 – Diagrama em Colina
10.9 – Velocidade Específica
10.10 – Curva característica. Ponto de Funcionamento
10.11 – Traçado das Curvas da Bomba
10.12 – Associação de Bombas Centrífugas
10.13 – Algumas precauções na instalação das bombas

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

HIDRÁULICA GERAL – António Lencastre


HIDRÁULICA – António Quintela
Apontamentos das Aulas Teóricas fornecidas pelos docentes
Livro de Problemas Práticos dos docentes da cadeira

AVALIAÇÃO

3 testes + Trabalhos de Laboratório


v 1º teste – cap.os 2, 3, 4 e 5;
v 2º teste – cap.os 6 e 7;
v 3º teste – cap.os 8, 9 e 10.

Peso dos testes: 70%; Peso dos TL: 30%

REGENTE E ASSISTENTES DA CADEIRA

Eng.º Carlos Caupers – Regente da cadeira;


Eng.º Sidney Nicol’s – Assistente;
Eng.º Rafael Mabunda – Assistente.

PRESENÇA NAS AULAS


De acordo com o Regulamento Pedagógico, artigo 37, é obrigatória a presença nas aulas. Número máximo de
faltas 20% da carga horária da disciplina – corresponde a 6 aulas ou 18 horas.

Docente: Eng.º Carlos Caupers 3|Página


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I – INTRODUÇÃO À HIDRÁULICA

1.1 – A ÁGUA - SUBSTÂNCIA

A água é a única substância que tem a propriedade de passar pelos estados sólido, líquido e gasoso nas
condições de temperatura e pressão reinantes na superfície da Terra. Cerca de 97,6% da água do planeta
é constituída pelos oceanos, mares e lagos de água salgada. A água doce, representa apenas 2,4% do
total e tem a sua maior parte situada nas calotes polares (1,9%), inacessível aos homens pelos meios
tecnológicos actuais. Da parcela restante (0,5%), mais de 95% é constituída pelas águas subterrâneas.

A água era tida como uma substância simples até ao final do século XVIII, quando foi obtida em
laboratório pela combustão do hidrogénio. Actualmente, é definida como uma substância composta,
resultante da combinação de dois átomos de hidrogénio com um de oxigénio. Na realidade, sabe-se
hoje em dia, que a água é uma substância complexa.

A água geralmente contém impurezas, mesmo quando sofre em laboratório três destilações sucessivas,
devido ao seu grande poder de dissolução. Na natureza, a água só é isenta de substâncias dissolvidas
quando se encontra em estado gasoso.

Para definir a qualidade da água natural, vários são os termos técnicos utilizados tais como dura ou
salobra, salgada ou salina, mineral, termal, radioactiva, doce, poluída, contaminada, turva, ácida,
alcalina, tratada, pura, potável, etc.

E como sem água não há vida, desde que o Homem se conhece como tal, assim como todos os outros
seres vivos, sempre fez uso da mesma, em função do seu estado de desenvolvimento. Ele sempre tentou
interpretar os fenómenos da natureza que estivessem directamente ligados com a água, nomeadamente
as chuvas, evaporação, as cheias, os períodos de estiagem, a existência de água subterrânea, etc.

1.2 – O Ciclo Hidrológico

É difícil falar da Hidrologia e Hidráulica como ciências, sem falar do Ciclo Hidrológico.

A quantidade de água existente na Terra, imutável no tempo se considerada em conjunto, varia nas
diversas porções em que existe no estado sólido, líquido e gasoso.

No estado líquido, a água apresenta-se:

· acima da superfície terrestre, constituindo a chuva;


· na superfície formando os rios e riachos, lagos e lagoas, oceanos e mares;
· abaixo da superfície terrestre criando os lençóis freáticos e bolsas de água subterrâneas
(também denominados aquíferos);

Pela acção dos raios solares, a água que se encontra na superfície terrestre desprende-se da superfície
líquida como vapor, que se eleva na atmosfera para constituir as nuvens.

Docente: Eng.º Carlos Caupers 4|Página


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As nuvens são arrastadas pelos ventos. Quando o ar fica saturado de humidade e decresce a
temperatura, elas se condensam para formar as chuvas, que em grande parte se precipitam no mar.

O ciclo Hidrológico

Embora grande parte das precipitações atmosféricas produza chuva, a condensação pode formar
igualmente neve, geada, granizo, nevoeiro ou orvalho. As chuvas que não caem no mar, escoam-se na
superfície da Terra alimentando os riachos e rios, lagos e lagoas, ou infiltram-se para abastecer os
aquíferos.

Nos rios e riachos, frequentemente chamados de cursos de água, bem como nos lençóis subterrâneos,
a água desloca-se pela acção da gravidade em direcção ao mar, isto é ao ponto de partida de grande
parte dela. No caso dos lençóis subterrâneos, esse deslocamento leva o nome de percolação.

Nem toda a água oriunda do mar volta a ele, como a que se evapora antes de atingi-lo ou a que fica
retida nos lagos e aquíferos.

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O ciclo hidrológico embora pareça um mecanismo contínuo com a água movendo-se de uma forma
permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente pois o movimento de cada uma
das fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo.

Em determinadas ocasiões a natureza parece trabalhar em excesso quando provoca chuvas torrenciais
que ultrapassam a capacidade dos cursos de água provocando inundações. Noutras ocasiões parece que
todo o mecanismo do ciclo parou completamente e com ele a precipitação e o escoamento superficial.

E são precisamente estes extremos de cheias e secas que mais interessam aos engenheiros desde os
primórdios dos tempos, pois hoje muitos dos projectos de Engenharia Hidráulica são feitos com a
finalidade de protecção contra estes mesmos extremos.

Por isso é a Hidrologia uma ciência muito antiga. Ela nasce com o início do uso da água para a
irrigação. Este processo dá os primeiros passos utilizando a água dos rios Nilo e Amarelo. A história
da Hidrologia compreende:

1) – Período de Especulação – até ao ano 1400:


Todos os conhecimentos fluviais são encarados como forma divina e disso se aproveitam os sacerdotes
egípcios;

2) – Período de Observação – 1400 a 1600:

Em pleno renascimento, começa a definir-se uma tendência para explicar racionalmente os fenómenos
naturais;

3) – Período de Medição – 1600 a 1700:

Já se medem as precipitações (chuvas), a evaporação, os caudais do rio Sena;

4) – Período de Experimentação – 1700 a 1800:

Aparecem os grandes técnicos de hidráulica: Bernoulli, D´Lambert, Chézy. Em 1760 é criada em


França a primeira escola de engenharia: École des Ponts et Chaussées;

5) – Período de Modernização – 1800 a 1900

Afirmação da Hidráulica/Hidrologia;

6) – Período do Empirismo – 1900 a 1930:

Fase unicamente descritiva onde se pretende reduzir os fenómenos hidrológicos a meras fórmulas;

7) – Período de Racionalização – 1930 a 1950:

Aparecimento do 1º computador (ENIAC em 1045);

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8) – Período Teórico – depois de 1950 e até aos nossos dias:

Aparecem os grandes hidrólogos, Ven Te Chow, Linsley, Meyer, Roy Sherman, Robert Horton, Merril
Bernard. Em 1962 aparece a grande obra “Handbook of Applied Hidrology” de Ven Te Chow e outros
autores.

1.3 – Conceitos Gerais da Hidráulica

Com a crescente necessidade de utilização da água para os mais variados fins, vai-se desenvolvendo o
estudo da Hidráulica ao longo dos tempos.

A Hidráulica pode ser definida como sendo a ciência que estuda as leis de estabilidade e movimento
dos líquidos.

Ela dá-nos com base em experiências efectuadas ao longo dos anos e através do desenvolvimento de
teorias concretas, métodos para a utilização dessas leis visando resolver diferentes problemas da prática
da engenharia.

Em geral, pode-se afirmar que a HIDRÁULICA não é mais do que a Mecânica Aplicada dos Fluidos.

Para se resolver grande parte dos problemas hidráulicos que quotidianamente se nos deparam, utilizam-
se métodos simplificados pelo que, as soluções para estes problemas têm em muitos dos casos, um
carácter de certo modo aproximado. Isto é, para a sua solução, aprecia-se de uma forma exacta somente
a característica fundamental do fenómeno em estudo e opera-se com factores aproximados e médios.

Pelo seu carácter, a disciplina da mecânica técnica dos fluidos ou HIDRÁULICA, pode ser comparada
à disciplina da Resistência dos Materiais, a qual, partindo do mesmo ponto de vista, analisa a mecânica
dos corpos sólidos.

1.4 – Subdivisões da Hidráulica


A Hidráulica pode ser dividida em duas grandes partes: a HIDROSTÁTICA que estuda as leis da
estabilidade dos líquidos e a HIDRODINÂMICA que estuda as leis de movimento dos líquidos.

Às leis da HIDRÁULICA estão relacionadas a Hidrometria, a Hidrologia, a Hidrotécnica que, devido


às experiências efectuadas nestes ramos, muito contribuem para o desenvolvimento global da
HIDRÁULICA.

A HIDRÁULICA ALICADA pode ser subdividida em:

· Hidráulica Urbana – que engloba os sistemas de abastecimento de água, esgotos sanitários e


industriais, galerias de águas pluviais;
· Hidráulica Rural ou Agrícola – relacionando-se à irrigação, enxugo, drenagem;
· Hidráulica Fluvial – que estuda o comportamento dos rios, cálculo de canais, represas,
barragens, diques, açudes;
· Hidráulica Marítima – Engloba a áreas dos Portos e obras marítimas;

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· Instalações Hidráulicas Industriais;


· Técnica Hidroeléctrica.

1.5 – Evolução da HIDRÁULICA

As obras hidráulicas de hoje, são uma continuidade das obras de certa importância que remontam à
Antiguidade. Isto porque na história do desenvolvimento do Homem, a água sempre teve um papel
importante. Na Mesopotâmia existiam canais de irrigação construídos na planície situada entre os rios
Tigre e Eufrates e em Nipur (Babilónia) por exemplo existiam colectores de esgotos desde os anos
3750 a.n.e.

Importantes obras de irrigação também foram executadas no Egipto, 25 séculos a.n.e. sob orientação
de UNI.

O primeiro sistema público de abastecimento de água do qual se tem notícia, o aqueduto de Jerwan,
foi construído na Assíria, 691 a.n.e.

Alguns princípios da Hidrostática foram anunciados por ARQUIMEDES (grande geómetra e


engenheiro de nacionalidade grega), no seu tratado sobre os corpos flutuantes (250 a.n.e.).

Grandes aquedutos foram construídos em várias partes do mundo a partir de 312 a.n.e. No séc. XVI, a
atenção dos filósofos voltou-se para problemas encontrados nos projectos das fontes monumentais,
que estavam na moda em Itália.

LEONARDO DA VINCI (pintor, escultor, arquitecto, músico e cientista italiano) apercebeu-se da


importância deste sector. Em 1856, STEVIN (engenheiro civil no ramo militar e matemático holandês),
ajudado por GALILEU (físico e pesquisador italiano), TORRICELLI (discípulo de Galileu, também
físico e pesquisador italiano) e BERNOULLI (cientista suíço, fundador da Física e Matemática),
constituíram a base para um novo ramo científico.

É de realçar as teorias criadas por PASCAL, sobre a lei de transmissão das pressões no interior de um
líquido e de NEWTON que descobriu as leis da resistência nos líquidos.

Em 1738, DANIEL BERNOULLI publicou um importante tratado sobre os problemas do movimento


e resistência dos fluidos, dando desta forma início à HIDRODINÂMICA. Neste trabalho, JACQUES
BERNOULLI fundamentou o famoso teorema sobre a variação da energia cinética dos corpos que até
hoje, tem um peso importante na resolução dos problemas de Hidráulica.

Em 1755 LEONARDO EULER, matemático suíço deduziu as equações diferenciais para um líquido
ideal, dando início à Hidromecânica Teórica, que estuda o movimento dos fluidos com o método de
análise matemático.

Vários foram os cientistas que deram grande contribuição à Hidráulica, sendo injusto não se fazer
referência a PITOT, CHÉZY, VENTURI para além de outros que fizeram com que a partir do séc.
XIX a HIDRÁULICA tivesse um enorme desenvolvimento.

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1.6 – Água como recurso escasso e indispensável

A água é também um veículo para a propagação dos mais diversos tipos de doenças, quando poluída
ou contaminada. Estudos feitos ao nível mundial sobre o saneamento do meio, constatou-se a alarmante
realidade de que cerca de 90% dos esgotos são lançados sem qualquer tratamento prévio nos solos e
rios ou riachos em todo o planeta. Estima-se que na ordem de 1,2 bilhão de pessoas no mundo carecem
de água potável e que 1,9 bilhão não dispõe de adequados serviços de saneamento. A falta de água
potável e de saneamento básico provoca a morte de cerca de 4 milhões de crianças anualmente,
vitimadas por doenças de veiculação hídrica como a cólera, a diarreia, etc.

Devido à degradação da sua qualidade que se acentuou a partir da II Guerra Mundial, a água doce
líquida que circula em muitas regiões do mundo já perdeu a sua característica especial de recurso
renovável, em particular nos países ditos do Terceiro Mundo, na medida em que os efluentes e/ou os
resíduos domésticos e industriais são despejados no ambiente natural sem tratamento ou de forma
inadequada.

Além dos desequilíbrios da oferta de água às populações, a questão da disponibilidade e dos conflitos
pelo seu uso também apresentam os seus aspectos preocupantes. Assim é que alguns países apresentam
escassez hídrica absoluta, tais como Kuwait, Egipto, Arábia Saudita, Barbados, Singapura ou mesmo
Cabo Verde; outros como Burundi, Argélia e Bélgica padecem de seca crónica; em vários locais
afloram conflitos decorrentes de desequilíbrios entre demanda e disponibilidade, tais como Madrid e
Lisboa pelo Rio Tejo, Síria e Israel pelo Rio Golam, Síria e Turquia e Iraque e Turquia pelo Rio
Eufrates, Tailândia e Laos pelo Rio Mekong, etc.

Diante desse cenário turbulento, a água subterrânea vem assumindo uma importância cada vez mais
relevante como fonte de abastecimento, devido a uma série de factores que restringem a utilização das
águas superficiais bem como ao crescente aumento dos custos da sua captação, adução e tratamento.
Além dos problemas facilidade de contaminação inerentes às águas superficiais, o maior interesse pelo
uso da água subterrânea vem sendo despertado pela maior oferta deste recurso e em decorrência do
desenvolvimento tecnológico, o que promoveu uma melhoria na produtividade dos poços e um
aumento de sua vida útil.

1.7 – Carta Europeia da Água

Dada a sua importância e actualidade, apresenta-se os 12 artigos que compõem a CARTA EUROPEIA
DA ÁGUA:

01 – Não há vida sem Água. A Água é um bem precioso indispensável a todas as actividades humanas;

02 – Os recursos hídricos não são inesgotáveis. È necessário preservá-los, controlá-los e se possível


aumentá-los;

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03 – Alterar a qualidade da Água é prejudicar a vida do Homem e dos outros seres vivos que dela
dependem;

04 – A qualidade da Água deve ser mantida em níveis adequados às utilizações previstas e em especial,
satisfazer as exigências da saúde pública;

05 – Quando a Água após ser utilizada volta ao meio natural, não deve comprometer as utilizações que
dela serão feitas posteriormente;

06 – A manutenção de uma cobertura vegetal apropriada, de preferência vegetal, é essencial para a


conservação dos recursos hídricos;

07 – Os recursos hídricos devem ser objecto de um inventário;

08 – A eficiente gestão de Água deve ser objecto de planos definidos pelas entidades competentes;

09 – A salvaguarda da Água implica um esforço importante de investigação científica, de formação


técnica de especialistas e de informação pública;

10 – A Água é um património comum, cujo valor deve ser reconhecido por todos. Cada um tem o
dever de a economizar e utilizar com cuidado;

11 – A gestão dos recursos hídricos deve inserir-se no âmbito da bacia hidrográfica natural e não no
das fronteiras administrativas e políticas;

12 – A Água não tem fronteiras. É um bem comum que impõe uma cooperação internacional.

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2 PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA


2.1 FLUIDOS – GASES E LÍQUIDOS

Os fluidos são corpos sem forma própria que podem escoar-se, sofrendo grandes variações de forma,
sob a acção de forças tanto mais fracas quanto mais lentas forem tais variações.

Tanto os líquidos como os gases são fluidos. Os líquidos ocupam um volume determinado, não
resistem a tracções e são muito pouco compressíveis. Os gases também não resistem a tracções mas,
ao contrário dos líquidos, ocupam sempre o máximo volume de que podem dispor e são muito
compressíveis.

Alguns materiais (por exemplo, o asfalto ou solos) apresentam propriedades intermédias entre as
propriedades dos sólidos e as dos fluidos, sendo estudados em disciplinas como Mecânica dos Solos e
Reologia.

O estudo dos fluidos em repouso e em movimento (escoamento) faz-se na Mecânica dos Fluidos. Na
disciplina de Hidráulica, embora os conceitos básicos sejam os da Mecânica de Fluidos, o estudo será
concentrado sobre o fluido água na perspectiva da Engenharia Civil.

2.2 SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)

Durante cerca de 200 anos, as grandezas físicas eram expressas em unidades que variavam de país para
país. Por exemplo, a Inglaterra usava o pé como unidade de comprimento ao passo que a Europa
continental utilizava o metro; a temperatura expressa em graus Celsius ou Fahrenheit; o volume
expresso em m3 ou em acre.pé.

Mas mesmo quando se utilizavam as mesmas unidades, havia divergências relativamente a quais as
unidades fundamentais e quais as derivadas, nos chamados sistemas MLT ou FLT (conforme a unidade
fundamental fosse a massa ou a força, para além do comprimento e do tempo).

O aumento dos contactos internacionais levou a que nos últimos 25 anos tenha sido adoptado de forma
praticamente universal o Sistema Internacional de Unidades – SI. Este sistema é do tipo MLT, tendo
como unidades fundamentais:

· comprimento – metro (m)


· massa – quilograma (kg)
· tempo – segundo (s)
· intensidade da corrente eléctrica – ampère (A)
· temperatura – kelvin (ºK)
· intensidade luminosa – candela (cd)

Cada uma destas unidades fundamentais tem uma definição rigorosa no SI. Todas as restantes
grandezas físicas são expressas em unidades derivadas a partir das unidades fundamentais.

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Na Hidráulica, as grandezas mais importantes, para além do comprimento, massa, tempo e


temperatura1, são:

· área – metro quadrado (m2)


· volume – metro cúbico (m3)
· velocidade – m/s
· aceleração – m/s2
· força – newton (N) 1 N = 1 kg x 1 m/s2
· pressão – pascal (Pa) 1 Pa = 1 N/m2
· energia, trabalho – joule (J) 1 J = 1 N x 1 m
· potência – watt (W) 1 W = 1 J / s
· frequência – hertz (Hz) 1 Hz = 1 ciclo / s
· massa volúmica, massa específica ou densidade – kg/m3
· caudal – m3/s

Muitas das unidades em que as grandezas físicas se exprimem são utilizadas correntemente pela
população pelo que a sua mudança encontra frequentemente grande resistência. Mesmo na área técnica,
a força do hábito leva a que se continue a utilizar unidades que não as do SI. Apresentam-se de seguida
algumas dessas unidades com interesse para a Hidráulica e as suas equivalências para as unidades do
SI.

· quilograma força – 1 kgf = 9.8 N


· bar – 1 bar = 105 Pa
· atmosfera – 1 atm = 1.034 x 105 Pa
· quilowatt hora – 1 kWh = 3.6 x 106 J
· cavalo vapor – 1 CV = 0.736 kW
· horsepower – 1 Hp = 0.75 kW
· caloria – 1 cal = 4.18 J

Para outras equivalências e factores de conversão, podem ser consultadas as tabelas 1 a 5 de


LENCASTRE 1983.

2.3 MASSA ESPECÍFICA, MASSA VOLÚMICA OU DENSIDADE

A massa específica, massa volúmica ou densidade r é a massa contida na unidade de volume. A


densidade da água varia relativamente pouco com a temperatura: 1000 kg/m3 entre 0 e 10 ºC; 998 a 20
ºC; 996 a 30 ºC; 992 a 40 ºC; e 958 a 100 ºC.

Devido à muito baixa compressibilidade da água, como adiante se verá, a densidade praticamente não
varia com a pressão.

1
É frequente a temperatura continuar a ser expressa em graus Celsius (ºC) : t (ºC) = t (ºK) + 273

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Por vezes é referida a densidade relativa, definida como a relação entre a densidade dum líquido e a
densidade da água a 4 ºC. A densidade relativa da água é obviamente 1 (ou muito próximo). O álcool,
menos denso que a água, tem uma densidade relativa de 0.8 ao passo que a água do mar pode ter uma
densidade relativa de 1.04.

2.4 FORÇAS EXTERIORES

Considere-se o volume V dum líquido limitado por uma superfície A conforme se representa na figura
1-1. As forças exteriores que actuam sobre esta massa líquida sujeita à acção da gravidade são de dois
tipos:
dF dF
dFn
dA

dA
dFt
r. g. dV

Figura 2-1 – Forças exteriores que actuam sobre um volume de líquido

· Peso próprio – proporcional à massa. Se se considerar um volume elementar dV, o peso próprio
é igual a r g dV.
· Forças de contacto – agem sobre a superfície A (superfície de fronteira). Se se considerar um
elemento de área dA, a força de contacto será uma força elementar d F = P dA , em que P é a
força de contacto por unidade de área.

A força de contacto d F pode ser decomposta numa componente normal dFn e numa componente
tangencial dFt à superfície dA. A componente normal é dirigida para o interior do volume de líquido
(já que os líquidos não resistem a tracções).

Designa-se por pressão p a grandeza escalar que representa o módulo da componente normal dFn por
unidade de área.

dFn
p= (2.1)
dA
A grandeza escalar que representa o módulo da componente tangencial por unidade de área é a tensão
tangencial t.

dF t
t= (2.2)
dA

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Nos líquidos em repouso não existem tensões tangenciais e, em qualquer ponto do líquido, a pressão é
independente da orientação da área elementar dA em virtude dos líquidos em repouso serem meios
isotrópicos.

Nos líquidos em movimento, embora a isotropia não seja perfeita continua a considerar-se que a
pressão num ponto do líquido é independente da orientação da área elementar dA. Surgem tensões
tangenciais desde que o líquido seja viscoso.

2.5 COMPRESSIBILIDADE

Os fluidos são compressíveis mas esta propriedade é muito mais evidente nos gases do que nos
líquidos.

Em termos gerais, define-se compressibilidade como a diminuição de volume (e consequente aumento


de densidade) provocada por um aumento da pressão sobre o fluido.

Define-se coeficiente de compressibilidade a como a diminuição de volume por unidade de volume


e por unidade de aumento de pressão. Exprime-se em m2/N

1 dV
a=- (2.3)
V dp

O módulo de elasticidade volumétrica e é o inverso do coeficiente de compressibilidade e exprime-


se como uma pressão.

No caso da água, os valores de a e e são de 0.5 x 10 –9 m2/N e 2 x 10 9 N/m2 respectivamente.

A compressibilidade da água é praticamente desprezável em problemas práticos, excepto no caso de


escoamento variável em condutas sob pressão (estudo do golpe de aríete).

2.6 VISCOSIDADE

Referiu-se anteriormente que os líquidos se adaptam à forma dos recipientes que os contêm. É da
experiência comum que certos líquidos se escoam dum recipiente para outro (deformam-se portanto)
com maior facilidade que outros – a água ou o álcool escoam-se mais facilmente que o óleo ou o mel.
Diz-se então que o óleo é mais viscoso que a água.

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Podemos definir viscosidade como a resistência dos líquidos à deformação. Considere-se na figura 1-
2 um escoamento plano (que se repete em planos paralelos) no plano OXY. A velocidade apenas tem
componente na direcção X mas o seu valor varia ao longo do eixo OY.

y V + dV
C D C´ D´ V + dV
b
dy
V A B A´ B´
V
V. dt

x, V
Figura 2-2 – Efeito do diferencial de velocidades no escoamento

Considere-se um rectângulo elementar de fluido ABCD que se move num intervalo de tempo dt da sua
posição inicial para uma nova posição A’B’C’D’. O rectângulo inicial deforma-se para um
paralelograma devido ao diferencial de velocidades entre o nível AB e o nível CD.

O ângulo b que mede a deformação angular ocorrida durante o tempo dt é dado pelo quociente entre o
diferencial de deslocamento de CD para AB e dy. O diferencial de deslocamento é expresso por:

(V + dV) dt – V dt = dV dt (2.4)

Donde

dV dt
b= (2.5)
dy

A velocidade de deformação angular será então

db dV
= (2.6)
dt dy

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Pode-se imaginar AB e CD como sendo duas camadas de líquido movendo-se uma sobre a outra, sendo
AB mais lenta e CD mais rápida. Então CD tende a exercer uma força de arrastamento sobre AB
enquanto AB exerce sobre CD uma força de retardamento igual e oposta à força de arrastamento. Estas
forças divididas pelas áreas sobre as quais se exercem dão tensões tangenciais t.

Newton admitiu que, no movimento unidireccional dum líquido, a tensão tangencial é proporcional à
velocidade de deformação angular

dV
t= m (2.7)
dy

m é o coeficiente de viscosidade dinâmica, sendo uma constante para cada líquido para uma dada
temperatura. Exprime-se em kg .m-1.s -1.

Os líquidos que seguem a lei de Newton designam-se por líquidos newtonianos. Quando a temperatura
aumenta, a viscosidade diminui.2

Frequentemente utiliza-se em lugar do coeficiente de viscosidade dinâmica a viscosidade cinemática


n, definida por

m
n= (2.8)
r

A viscosidade cinemática expressa-se em m2/s e varia significativamente com a temperatura, conforme


se indica na tabela seguinte.

T (ºC) 4 10 20 30 50 80 100

n (m2/s) x 10 – 6 1.57 1.31 1.01 0.80 0.56 0.37 0.30

Quando um líquido se escoa sobre uma parede sólida, adere a ela. Há assim uma película de líquido
que fica imobilizada enquanto o resto do fluido continua em movimento. À medida que a distância à
parede aumenta, aumenta a velocidade do líquido.

Portanto uma parede sólida em contacto com um líquido a escoar-se paralelamente à parede provoca
no líquido um gradiente de velocidade na direcção normal à parede e sofre, consequentemente, por
parte do líquido uma tensão de arrastamento proporcional à viscosidade e à velocidade de deformação
angular junto à parede. A tensão de arrastamento existe com valor variável em todo o líquido em
movimento, resultando do gradiente de velocidade.

2
Também os gases se regem por esta lei de Newton. No caso dos gases, a viscosidade aumenta com o aumento da
temperatura.

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A força de arrastamento realiza trabalho o que implica que o líquido perde energia quando se escoa. A
energia do líquido em movimento é energia mecânica (potencial e cinética) e a perda (dissipação) de
energia faz-se por transformação da energia mecânica em energia térmica. A energia térmica provoca
o aumento de temperatura do líquido (normalmente desprezável devido ao elevado calor específico
dos líquidos) e é trocada com o meio envolvente (parede sólida, atmosfera).

2.7 TENSÃO DE SATURAÇÃO DO VAPOR DE UM LÍQUIDO

Considere-se o recipiente fechado representado na figura 2-3. No estado inicial fez-se vácuo no
recipiente, mantendo o recipiente a uma temperatura constante.

Figura 2-3 – Trocas entre o estado líquido e gasoso na situação de equilíbrio

Foi-se introduzindo gradualmente um certo volume de líquido no recipiente o qual se vaporiza


rapidamente. À medida que se continua a introduzir líquido, o processo de vaporização torna-se mais
lento até se chegar a um estado de equilíbrio em que o volume de líquido no recipiente se mantém
constante. Trata-se duma situação de equilíbrio dinâmico em que o número de moléculas que passam
para o estado gasoso é igual ao que passa para o estado líquido.

Designa-se como tensão de saturação do vapor do líquido a pressão a que o líquido está sujeito nessa
situação de equilíbrio, ou seja, define a máxima quantidade de água que o ar a uma determinada
temperatura pode conter, a partir da qual se dá a condensação.

Se se aumentar a temperatura, verifica-se que a vaporização recomeça até se atingir uma nova situação
de equilíbrio com um valor mais elevado da pressão – a tensão de saturação do vapor cresce com a
temperatura.

A tabela seguinte apresenta valores da tensão de saturação do vapor da água para diferentes
temperaturas.

T (ºC) 4 10 20 30 50 80 100
Tensão (kPa) 0.813 1.225 2.33 4.24 12.3 47.3 101.2 (= 1 atm)

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Note-se que, para a temperatura de 100 ºC, a tensão de saturação de vapor iguala a pressão atmosférica
normal.

A consideração da tensão de saturação do vapor da água é muito importante em certas condições de


escoamento em que a pressão se torna extremamente baixa, podendo originar o fenómeno de
cavitação.

2.8 CELERIDADE

Celeridade c é a velocidade de propagação duma perturbação no seio dum líquido. A celeridade pode
ser calculada pela expressão
e
c= (2.9)
r

Para a água a temperaturas habituais (10 a 30 ºC), a celeridade tem um valor de aproximadamente 1400
m/s.

2.9 SOLUBILIDADE DE GASES EM LÍQUIDOS

A solubilidade de gases em líquidos é expressa pela lei de Henry: a temperatura constante e em


condições de saturação, a relação entre o volume de gás dissolvido e o volume de líquido é constante.

Se num dado ponto do escoamento dum líquido a pressão aumentar, o volume do gás dissolvido
diminui3 e uma quantidade adicional de gás pode ser dissolvida; inversamente, se a pressão diminuir,
liberta-se uma certa quantidade de gás que pode formar uma bolsa ou cavidade no seio do líquido.

Para temperaturas normais, a concentração do ar dissolvido na água em condições de saturação é de


cerca de 2%.

2.10 LÍQUIDO PERFEITO E LÍQUIDO REAL

Denomina-se líquido perfeito ou ideal o líquido considerado incompressível e com viscosidade nula.
Este líquido escoa-se sem que surjam tensões tangenciais, não havendo, portanto, perdas de energia.
A assunção de líquido perfeito, simplificando a análise dos problemas, tem utilidade para a derivação
de princípios básicos e em algumas situações particulares em que as hipóteses de incompressibilidade
e viscosidade nula são aceitáveis.

Designa-se por líquido real aquele em que se entra em linha de conta com a viscosidade e com a
compressibilidade. No entanto, como se referiu anteriormente, a compressibilidade pode ser ignorada
na maioria dos problemas práticos.

3
Recorde-se que, pela lei de Gay-Lussac (p V = n R T), a uma dada temperatura constante a variação do volume dum gás
é inversamente proporcional à variação da pressão.

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3. HIDROSTÁTICA
3.1 LEI HIDROSTÁTICA DE PRESSÕES

Hidrostática é o capítulo da Mecânica de Fluidos que estuda os líquidos em repouso. Num líquido
em repouso, não há variações de velocidade e, por conseguinte, não surgem tensões tangenciais t.
Apenas existem pressões (compressões).

A equação fundamental da Dinâmica (2ª lei de Newton) expressa-se por

F = m ´a (3.1)

sendo F a resultante das forças exteriores aplicadas a um corpo de massa m e a a aceleração


resultante. Nos líquidos em repouso, a aceleração é nula e consequentemente também F o é.

Como se viu no capítulo anterior, as forças exteriores que actuam sobre um volume de líquido são o
peso próprio e as forças de contacto. Como as tensões tangenciais são nulas nos líquidos em repouso,
as forças de contacto são as resultantes das pressões normais que actuam sobre a superfície que
contém o volume de líquido. Designando o peso próprio por G e a resultante das pressões por P ,
tem-se então

G + P =0 (3.2)

Considere-se agora a figura 3-1 que representa um cilindro de bases horizontais e geratrizes verticais
no seio do líquido em repouso. Vamos analisar a equação anterior (que é uma equação vectorial) na
sua componente na direcção vertical.

Figura 3-1 – Cilindro vertical em equilíbrio no seio do líquido

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As únicas forças com componente vertical são o peso próprio e as resultantes das pressões que
actuam sobre as bases horizontais do cilindro. As pressões que actuam sobre a superfície lateral do
cilindro são horizontais e, por isso, também as suas resultantes o são.

O peso próprio é calculado por

G = g ( z1 - z 2 ) dA (3.3)

sendo dA a área elementar da base do cilindro.

Como a base do cilindro pode ser tornada tão pequena quanto se desejar (dA tende para 0), as pressões
p1 e p2 podem ser consideradas constantes. Obtêm-se então, tomando o sentido vertical para baixo
como positivo:

g ( z1 - z 2 ) dA + p1 dA - p 2 dA = 0 (3.4)

Donde se obtém que

p1 p2
+ z1 = + z2 (3.5)
g g

Como as cotas z1 e z2 são genéricas, pode-se então escrever que:

p
+ z = cte (3.6)
g

Esta igualdade exprime a Lei Hidrostática de Pressões. É fácil verificar que esta igualdade não se
restringe a pontos do líquido situado na mesma vertical. Para isso, basta mostrar que a igualdade
continua válida para pontos do líquido situados ao mesmo nível, ou seja a pressão hidrostática num
determinado ponto num recipiente, não depende do volume do líquido mas da profundidade a que esse
ponto se encontra.

Considere-se então a figura 2.2 que representa um cilindro no seio do líquido. Este volume tem
geratrizes horizontais e bases de topo.

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Figura 3-2 – Cilindro horizontal em equilíbrio no seio do líquido

Considerando agora a componente horizontal da equação vectorial, verifica-se que nem o peso próprio
nem as pressões actuando sobre a superfície lateral têm componente horizontal. Por isso, as únicas
forças exteriores com componente horizontal são as resultantes das pressões que actuam sobre as bases.

Consequentemente, a equação reduz-se a


p3 dA - p4 dA = 0 (3.7)

Ou seja, p3 = p4. Como também z3 = z4 , então fica demonstrado que a equação

p
+ z = cte (3.8)
g

se verifica também para pontos situados na mesma horizontal. Consequentemente, a lei hidrostática
de pressões é válida para quaisquer dois pontos dum líquido em repouso.

Considere-se agora a figura 2.3 que representa um recipiente em que a superfície do líquido está sujeita
a uma certa pressão ps. Considerando um ponto genérico no interior do líquido e um ponto s à superfície
do líquido, é fácil concluir que

Figura 3-3 – Recipiente com pressão sobre a superfície livre do líquido

p s = p2

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p1 ps
+ z1 = + zs (3.9)
g g
Donde se tira que:

p = ps + g ( z s - z) = ps + g h (3.10)

sendo h a profundidade a partir da superfície.

3.2 PRESSÕES ABSOLUTAS E PRESSÕES RELATIVAS

A figura 3.4 representa dois eixos de pressões, o de cima com pressões absolutas e o de baixo com
pressões relativas.

A pressão relativa é a pressão absoluta diminuída da pressão atmosférica. Em muitos problemas de


Hidráulica torna-se mais fácil trabalhar com pressões relativas do que com pressões absolutas – veja-
se por exemplo o caso dum líquido em repouso com a superfície em contacto com a atmosfera. Nesse
caso, a pressão ps da equação 2.10 é nula.

p rel = p abs - p atm

Figura 3-4 – Pressões absolutas e pressões relativas

A pressão atmosférica normal é, como se sabe, equivalente a uma coluna de 760 mm de mercúrio ou
de 10.33 m de água.

As pressões absolutas são sempre positivas já que o zero representa o vácuo absoluto. As pressões
relativas serão positivas se superiores à pressão atmosférica e negativas se inferiores; a pressão relativa
mínima é de –10.33 m de água.

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3.3 MANÓMETROS SIMPLES E MANÓMETROS DIFERENCIAIS

A medição da pressão num ponto junto à parede dum recipiente pode fazer-se com manómetros. O
manómetro simples é um tubo (vertical ou inclinado) que contém um líquido (líquido manométrico)
em que uma das extremidades se liga a um orifício na parede do recipiente (tomada de pressão) e a
outra extremidade é aberta, com o líquido manométrico em contacto com a atmosfera. A medição da
pressão com o manómetro baseia-se na aplicação directa da lei hidrostática de pressões, figura 2.5.

Figura 3-5 – Manómetros simples

No primeiro exemplo da figura, a pressão no ponto A é obtida da seguinte maneira, relacionando A


com o ponto S da superfície livre do manómetro

pA pS
+ zA = + zS (3.11)
g g

Como zS – zA = h e pS = 0 (em pressões relativas), obtém-se:

pA =g h (3.12)
ou
pA
=h (3.13)
g

com a pressão expressa em termos de altura do líquido manométrico.

A configuração do manómetro em U, no segundo exemplo da figura, permite medir pressões relativas


negativas.

Quando a pressão no recipiente for muito elevada, convém utilizar um líquido manométrico de
densidade elevada como o mercúrio (drel = 13.6), conforme se representa no terceiro exemplo da figura
– manómetros redutores. Convém que o mercúrio fique separado do recipiente por um outro líquido
como a água. Nesse caso, a pressão no recipiente obtém-se por aplicação sucessiva da equação 2.6 a
pontos situados no mesmo líquido.

pB = pA + g1 h1 (3.14)

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pC = pD + g2 (h1 + h2) = g2 (h1 + h2) (3.15)

visto que pD (relativa) é nula. Como oa pontos B e C estão no mesmo líquido e ao mesmo nível, pB =
pC . Donde

pA = g2 h2 + (g2 - g1) h1 (3.16)

Os líquidos mais utilizados nos manómetros redutores são o mercúrio e o acetileno tetrabromado.

Quando as pressões no recipiente são muito baixas, devem-se utilizar manómetros amplificadores,
onde o líquido manométrico tem uma densidade baixa, inferior à da água, como por exemplo o álcool
etílico. A tabela 166 de LENCASTRE 1983 dá as densidades de diversos líquidos manométricos.

Para medir a diferença de pressões entre dois pontos dum líquido a escoar-se utilizam-se manómetros
diferenciais, figura 2.6.

Figura 3-6 – Manómetro diferencial

Se na conduta se escoa um líquido com densidade g1 e o líquido manométrico tem densidade g2 ,


normalmente superior a g1, considerando os pontos 1 e 2 chega-se facilmente a

p1 - p2 g2
=( -1) Dh = K Dh (3.17)
g1 g1

K é a constante manométrica.

3.4 IMPULSÃO HIDROSTÁTICA

Impulsão hidrostática é a resultante (quando existe) do conjunto de pressões que actuam sobre uma
superfície no seio dum líquido.

Como se sabe, no caso geral dum sistema de forças no espaço, elas são sempre redutíveis a uma
resultante e a um momento resultante. No entanto, só em casos particulares é que o momento resultante
é nulo e o sistema de forças se pode reduzir unicamente à resultante.

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Esses casos particulares são:

· forças concorrentes
· forças paralelas
· forças complanares

Assim, só existe impulsão hidrostática nos seguintes casos:

· superfícies de corpos imersos ou flutuantes (teorema de Arquimedes);


· superfícies planas (caso de forças paralelas já que as pressões são todas perpendiculares a esse
plano);
· calotes esféricas (caso de forças concorrentes visto que as pressões, sendo perpendiculares à
superfície esférica, passam todas pelo centro da esfera);
· superfícies cilíndricas cortadas por secções planas normais às geratrizes para geratrizes
horizontais (caso de forças complanares);
· superfícies cilíndricas cortadas por secções planas normais às geratrizes para directriz circular
(caso de forças complanares).

Estes casos particulares não são tão restritivos quanto poderá parecer. Com efeito, grande parte das
situações de interesse para a Engenharia Civil envolvem produtos fabricados com formas regulares
que se enquadram nesses casos particulares.

O estudo da impulsão hidrostática para os casos acima referidos é apresentado nos capítulos que se
seguem.

3.5 TEOREMA DE ARQUIMEDES

Arquimedes foi um físico grego que viveu na colónia grega de Siracusa no século III a.c. A sua
descoberta relativa à impulsão hidrostática, a que ficou associado o célebre Eureka!, foi motivada por
um problema prático que lhe fora colocado (se uma coroa real tinha prata misturada com o ouro de que
era suposta ser feita).

O Teorema de Arquimedes diz o seguinte: todo o corpo mergulhado num líquido recebe deste uma
impulsão vertical de baixo para cima igual ao peso do volume do líquido deslocado.

Figuras 3-7 – Corpo imerso em equilíbrio e forças que actuam num corpo mergulhado

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Como se pode ver na figura 3.7, um corpo total ou parcialmente imerso no líquido em repouso
encontra-se numa situação de equilíbrio. As forças actuantes sobre o corpo são o peso próprio G e a
resultante das pressões sobre a superfície do corpo P .

As pressões hidrostáticas no líquido em repouso não dependem da presença do corpo, dependem


apenas da densidade do líquido e da profundidade.

Donde, as pressões não se alteram se substituirmos o corpo por um volume de líquido contido pela
mesma superfície.

Portanto, G=P (3.18)

Os corpos maciços mais densos que o líquido afundam-se porque a impulsão é sempre inferior ao peso
do corpo mesmo quando totalmente imerso. Os corpos maciços menos densos que o líquido flutuam
sempre, imergindo apenas uma parte do volume, tal que o peso do volume do líquido deslocado seja
equilibrado pela impulsão.

Os navios são feitos de metal, muito mais denso que a água, mas flutuam porque o interior do casco é
praticamente vazio, o que faz com que a sua densidade média seja inferior à da água.

Figuras 3-8 – Empuxo na parte inferior dos barcos e a famosa frase EUREKA atribuída a Arquimedes

O teorema de Arquimedes serve também de base para o funcionamento de densímetros, flutuadores


em que o grau de imersão mede a densidade do líquido em que estão imersos. Um tipo de densímetro
muito utilizado é o areómetro Baumé, graduado em º B, ver tabelas 6 e 7 de LENCASTRE 1983.

Figuras 3-9 – densímetros que medem a densidade do líquido

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Exercício – Um recipiente contendo um líquido foi pesado numa balança que registou o peso de 100
KN. Posteriormente, introduziu-se no líquido um corpo com o peso de 10KN que ficou a flutuar. Qual
o peso total que seria acusado pela balança? O que é que se passaria em termos de impulsão?

3.6 IMPULSÃO SOBRE SUPERFÍCIES PLANAS

Considere-se a superfície plana A de contorno irregular, conforme se representa na figura 3.9.

Figura 3-9 – Impulsão sobre uma superfície plana irregular

Tome-se uma área elementar dA genérica da superfície A. Este elemento dA situa-se a uma
profundidade genérica h e tem coordenadas genéricas x, y no sistema de eixos XOY no plano da
superfície em que o eixo OY é horizontal.

Pode-se escrever

dF = g h dA (3.19)

h = x sin a (3.20)

Como todas as pressões são perpendiculares à superfície plana, a resultante p será também
perpendicular à superfície. O seu módulo pode obter-se integrando a equação 3.19 para toda a
superfície.

p = g sin a ò x dA = g A x 0 sin a = g A h 0 (3.21)


A
ou
p = A g h0 (3.22)

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sendo x0 a coordenada do centro de gravidade da superfície, A a respectiva área e h0 a profundidade a


que se situa o centro de gravidade. Portanto, a impulsão sobre uma superfície plana é calculada
simplesmente multiplicando a pressão no centro de gravidade da superfície g h0 pela área A da
superfície.

Pode-se também determinar facilmente o ponto da superfície por onde passa a resultante – centro de
impulsão. Para isso, basta igualar os momentos do diagrama de pressões e da resultante em relação
aos dois eixos coordenados.

Tomando momentos em relação ao eixo OY

p x I = ò x dF = g sin a ò x 2 dA (3.23)
A A

Sabe-se da Geometria das Massas e por aplicação do teorema de Steiner que:

ò x 2 dA = I y = I Yg + A x 0
2
(3.24)
A

em que IY é o momento de inércia da superfície em relação ao eixo OY e IYg o momento de inércia


em relação a OYg que passa pelo centro de gravidade da superfície.

Da conjugação das equações 3.23 e 3.24 obtém-se então

g sin a ( I Yg + A x 0 2 ) I Yg
xI = = + x0 (3.25)
g sin a A x 0 A x0

Como a primeira parcela do 2º membro da equação 3.25 é sempre positiva, verifica-se que xI é sempre
superior a x0 . Portanto, o centro de impulsão está sempre localizado abaixo do centro de gravidade
da superfície plana.

De forma análoga pode obter-se a coordenada yI do centro de impulsão. Tomando momentos em


relação ao eixo OX

p y I = ò y dF = g sin a ò x y dA (3.26)
A A

ò A
x y dA = I XY = I XYg + A x 0 y 0 (3.27)

g sin a ( I XYg + A x 0 y 0 ) I XYg


yI = = + y0 (3.28)
g sin a A x 0 A x0

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A figura 3.10 representa um caso particular de superfícies planas: trata-se dum rectângulo com os lados
de topo horizontais.

Figura 3-10 – Impulsão sobre um rectângulo plano com topos horizontais

Neste caso, é muito simples obter a resultante calculando o volume do diagrama de pressões. Sendo h1
e h2 as profundidades correspondentes aos lados de topo e b o respectivo comprimento, a resultante
será dada por

p = 0.5 g b (h1 + h2) (3.29)

A resultante passa no centro de gravidade do prisma trapezoidal.

3.7 IMPULSÃO SOBRE SUPERFÍCIES CURVAS

No caso geral de superfícies curvas, o conjunto de pressões que actuam sobre a superfície não será
redutível a uma força única mas sim a uma resultante e a um momento resultante.

Pode-se, no entanto, obter as forças resultantes segundo os eixos x, y, z a partir das projecções das
forças elementares de pressão d F segundo esses eixos. Admitindo que o eixo OZ é vertical, ter-se-ia
então as resultantes pv , px e py . Em determinados casos particulares, pode-se escolher os eixos OX
e OY de tal maneira que uma das resultantes horizontais seja nula.

Vejamos então como se podem determinar a impulsão vertical pv e a impulsão horizontal ph .


Considere-se para isso a figura 2.10 que representa uma superfície líquida imersa no seio dum líquido.

A força elementar de pressão d F tem uma componente vertical dFv

dFv = dF cosa (3.30)

Como dF = g h dA, obtém-se então:

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dFv = g h dAcosa = g h dAv (3.31)

dFv = g dV (3.32)

ou seja, a força elementar dFv é igual ao peso do volume elementar de líquido acima da superfície
elementar premida dA.

Figura 3-11 – Impulsão sobre uma superfície curva qualquer

Fazendo a integração para toda a área da superfície premida,

p v = ò dFv (3.33)
A

Portanto, a impulsão vertical é igual ao peso do volume do líquido delimitado pela superfície premida,
pelas projectantes verticais tiradas pelo contorno da superfície e pela superfície livre.

O cálculo da impulsão ph segundo uma direcção horizontal genérica h pode ser efectuado por um
processo similar.

dFh = dF cos b = g h dA cos b = g h dAh (3.34)

ou seja, a força elementar dFh é igual à impulsão sobre a projecção da área elementar dA num plano
vertical perpendicular à direcção h. Integrando para toda a área da superfície premida,

p h = ò dFh (3.35)
A

Assim, a impulsão horizontal é igual à impulsão hidrostática que seria exercida sobre a projecção da
superfície premida num plano vertical perpendicular à direcção h considerada.

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A figura 3.12 ilustra o processo de cálculo das impulsões vertical e horizontal sobre uma superfície
curva.

Figura 3-12 – Determinação da impulsão vertical e horizontal sobre uma superfície curva

Um caso especial que interessa considerar é o do cálculo da impulsão sobre uma superfície curva com
contorno plano, figura 3.13.

Figura 3-13 – Impulsão sobre uma superfície curva com contorno plano

Se se considerar o equilíbrio do volume de líquido limitado pela superfície curva e pelo contorno plano,
a aplicação da equação (2.2) conduz-nos a

G + P +p 2 = G -p 1 +p 2 = 0 (3.34)

p1 = G +p 2 (3.35)

A vantagem deste processo é que o cálculo de p2 é bastante simples.

3.8 IMPULSÃO SOBRE A BASE E A TOTALIDADE DE RECIPIENTES

Considerem-se os três recipientes cilíndricos da figura 3.14, com bases iguais e volumes diferentes,
todos com líquido ao mesmo nível. Admita-se que o peso dos recipientes é desprezável.

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É evidente que a impulsão exercida sobre a base dos recipientes é a mesma nos três casos e que a força
transmitida à base é diferente em cada caso. Essa força é igual ao peso do líquido, G, em cada
recipiente, que por sua vez tem de ser igual à impulsão hidrostática do líquido sobre a totalidade da
superfície do recipiente.

Figura 3-14 – Impulsão sobre a base e a totalidade de recipientes

No primeiro caso, p = G. No segundo caso, a impulsão p sobre a base é superior a G porque as paredes
laterais estão traccionadas. Finalmente, no terceiro caso p é inferior a G visto que as paredes laterais
estão comprimida.

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4. HIDROCINEMÁTICA
4.1 TRAJECTÓRIAS E LINHAS DE CORRENTE

Hidrocinemática é o capítulo da Mecânica de Fluidos que estuda a caracterização do movimento dos


líquidos. Nesta caracterização é importante definir os conceitos de linha de corrente e de trajectória.

Define-se trajectória como o lugar geométrico dos pontos ocupados ao longo do tempo por uma
partícula em movimento.

Considere-se agora num líquido em movimento o vector velocidade v = v ( x, y, z, t ) . A velocidade


varia de ponto para ponto do líquido e, em cada ponto, varia ao longo do tempo. Pode assim considerar-
se um campo de velocidades. Num dado instante de tempo, t0, será possível ter então um conjunto de
vectores v = v ( x, y , z, t0 ) , veja-se a figura 3.1.

Figura 4.1 – Campo de velocidades e linha de corrente dum escoamento

Define-se linha de corrente como a linha que, num dado instante e em qualquer dos seus pontos, é
tangente aos vectores velocidade.

No escoamento variável, em que as características do escoamento variam ao longo do tempo, o


campo de velocidades é, em geral, variável com o tempo, acontecendo por isso o mesmo com as
linhas de corrente.

Poder-se-á visualizar melhor as diferenças entre trajectórias e linhas de corrente através da seguinte
experiência, veja-se a figura 3.2. Sobre a superfície livre dum líquido a escoar-se lança-se um grande
número de confetti coloridos que flutuam à superfície e seguem com o escoamento.

Se fizermos uma fotografia da superfície livre com os confetti com um grande tempo de exposição,
cada uma das partículas em movimento (visualizada por um confetti) impressionará na chapa
fotográfica um segmento que corresponde à velocidade da partícula. O conjunto dos segmentos que
aparecem na chapa fotográfica corresponderá então ao campo de velocidades naquele instante e as
linhas tangentes às velocidades são as linhas de corrente.

Se agora fizermos sucessivas fotografias, com duração muito curta, sobre uma mesma chapa
fotográfica, o que obtemos são as sucessivas posições ocupadas por cada partícula. Unindo os diversos
pontos correspondentes a uma mesma partícula, obtemos a trajectória dessa partícula.

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Figura 4.2 – Experiência de visualização de linhas de corrente e trajectórias

A distinção entre trajectórias e linhas de corrente pode também ser ilustrada pelo exemplo dum
observador que, na margem dum rio, vê o escoamento à volta dum pilar duma ponte ou, na margem
dum lago, vê o movimento da água provocado pela proa dum barco em movimento, figura 3.3.

No primeiro caso, trata-se dum regime permanente (não varia com o tempo) e as trajectórias coincidem
com as linhas de corrente. No segundo caso, trata-se para o observador dum regime variável (varia
com o tempo) e as trajectórias já não coincidem com as linhas de corrente.

Figura 4.3 – Trajectórias e linhas de corrente em regime permanente e variável

4.2 TIPOS DE ESCOAMENTO


Critérios de classificação

A classificação dum escoamento como pertencendo a um determinado tipo depende do critério


utilizado para caracterizar os diversos tipos de escoamento. No estudo do escoamento dos líquidos,
interessa fundamentalmente fazer a sua categorização de acordo com os seguintes critérios:

Ø condições físicas de fronteira


Ø variação com o tempo
Ø variação com o espaço

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Ø regularidade das trajectórias


Ø propagação de perturbações

Faz-se de seguida uma primeira introdução a estes vários tipos de escoamento, embora uma melhor
compreensão de alguns deles necessite de conceitos e ferramentas a serem introduzidos em capítulos
posteriores.

Classificação segundo as condições físicas de fronteira

No que respeita às condições físicas de fronteira, os escoamentos podem ser classificados como:

Ø escoamentos sob pressão – acontece em condutas de secção fechada, sem contacto com a
atmosfera; a pressão em qualquer ponto do escoamento será normalmente diferente da pressão
atmosférica. O escoamento em condutas de sistemas de abastecimento de água ou em circuitos
hidráulicos de centrais hidroeléctricas é exemplo de escoamentos sob pressão.

Ø escoamentos com superfície livre – são escoamentos que ocorrem com alguma parte do
escoamento (a superfície livre) em contacto com a atmosfera; a pressão na superfície livre é
igual à pressão atmosférica. Pode referir-se como exemplos de escoamentos com superfície
livre o escoamento em rios ou em valas de drenagem.

Ø escoamentos em meio poroso – são escoamentos através dum solo permeável, sem contacto
com a atmosfera; o escoamento dá-se através dos poros do solo mas a secção do escoamento é
definida estatisticamente pela porosidade. O escoamento subterrâneo que alimenta poços e
furos de água é um exemplo de escoamento em meio poroso.

Os escoamentos sob pressão serão estudados em Hidráulica I; os escoamentos com superfície livre
sê-lo-ão em Hidráulica II; os escoamentos em meio poroso serão tratados nas disciplinas de
Mecânica dos Solos e Hidrologia.

É importante notar que pode haver escoamentos em condutas de secção fechada e que são
escoamentos com superfície livre. Isso acontece sempre que o escoamento não ocupa totalmente a
secção da conduta, como nos casos das condutas de águas residuais e de drenagem pluvial.

Classificação segundo a variação ao longo do tempo

Considerando o critério de variação ao longo do tempo, os escoamentos podem ser classificados


como:

Ø escoamento variável – as características do escoamento, como por exemplo a velocidade num


dado ponto, variam com o tempo. v = v ( x , y , z , t ) . É a situação mais geral e também mais
complexa de estudar. São exemplos o escoamento dum rio durante uma cheia, o escoamento
numa vala de drenagem durante uma chuvada intensa, o escoamento numa conduta alimentada
por gravidade por um reservatório cujo nível vai baixando.

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Ø escoamento permanente – as características do escoamento, como a velocidade num ponto,


¶v
não variam com o tempo. v = v ( x, y , z ), = 0 . Podem referir-se como exemplos o
¶t
escoamento num rio que não está em cheia ou o escoamento numa conduta alimentada por um
reservatório cujo nível de água se mantém constante. Em muitas circunstâncias, as
características do escoamento podem variar tão lentamente que o escoamento pode ser estudado
como escoamento permanente.

Ø escoamento transitório – trata-se do escoamento variável que ocorre entre dois escoamentos
permanentes. Um exemplo é o fecho parcial duma conduta: as condições iniciais de escoamento
permanente alteram-se e gera-se um escoamento variável mas, ao fim de algum tempo, o efeito
da perturbação (fecho parcial) desaparece e fica-se com um novo escoamento permanente.

No escoamento permanente, as linhas de corrente coincidem com as trajectórias. No entanto, a


coincidência de linhas de corrente e trajectórias pode existir mesmo no escoamento variável, como é
o caso do Golpe de Ariete provocado pelo fecho total duma conduta cilíndrica.

Classificação segundo a variação ao longo do espaço

De acordo com o critério da classificação ao longo do espaço, os escoamentos podem ser classificados
como:

Ø escoamento variado – as características do escoamento, como a velocidade, variam de ponto


para ponto do escoamento, podendo variar ou não ao longo do tempo.
v = v ( x , y , z, t ) ou v = v ( x , y , z ) . Constituem exemplos de escoamento variado o escoamento
num rio onde as secções transversais variam, o escoamento num troço tronco-cónico duma
conduta ou o escoamento numa conduta de alimentação onde o caudal vai diminuindo ao longo
do percurso.

Ø escoamento uniforme – as características do escoamento não variam de ponto para ponto do


escoamento. v = cte . Note-se que não é fisicamente possível ter v = v (t ) , ou seja, ter uma
característica do escoamento a variar com o tempo sem variar no espaço, visto que isso
implicaria que qualquer perturbação no escoamento se propagaria a uma velocidade infinita.
Portanto, não existe escoamento variável uniforme.

A conjugação dos critérios de variação no tempo e no espaço leva então à existência de três e não
quatro tipos diferentes de escoamento:

Ø escoamento uniforme – é o escoamento que não varia nem com o tempo nem com o espaço.
v = cte

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Ø escoamento variado – é o escoamento que varia com o espaço mas não varia com o tempo.
v = v ( x, y, z )

Ø escoamento variável – é o escoamento que varia com o espaço e com o tempo.


v = v ( x, y , z , t )

O escoamento variado é ainda classificado como escoamento gradualmente variado (escoamento


em rios e canais) se as características do escoamento variarem lentamente no espaço; ou escoamento
rapidamente variado (escoamento em descarregadores, pontes e aquedutos) se essas características
variarem rapidamente. Esta divisão é particularmente importante para os escoamentos com superfície
livre, onde obrigam a tratamento diverso.

O estudo do escoamento variável é muito complexo e normalmente reservado para o nível de pós-
graduação ou de cursos de especialização, onde se faz em paralelo o estudo de ferramentas matemáticas
apropriadas para a sua análise (métodos de integração de sistemas de equações diferenciais às
derivadas parciais). Os únicos casos de escoamento variável a serem tratados nas disciplinas de
Hidráulica, embora de forma simplificada, são o golpe de ariete em condutas sob pressão e a oscilação
em massa em galerias de centrais hidroeléctricas.

Classificação dos escoamentos em relação à regularidade das trajectórias

Se se abrir lentamente uma torneira, verifica-se que o escoamento se processa duma forma muito
regular – as trajectórias são rectilíneas e não interferem umas com as outras. Continuando a abrir a
torneira lentamente, o caudal debitado vai aumentando até que, a certa altura, o escoamento muda de
aspecto – as trajectórias tornam-se irregulares e passam a interferir umas com as outras.

De acordo com este critério, os escoamentos classificam-se então em:

Ø escoamentos laminares – as trajectórias são regulares, aproximadamente rectilíneas e não


interferem umas com as outras.

Ø escoamentos turbulentos – as trajectórias são irregulares e interferem fortemente umas com


as outras, aumentando a homogeneidade do escoamento através da troca de quantidades de
movimento entre partículas.

Mais adiante se verá como prever se um escoamento é laminar ou turbulento, através do número de
Reynolds, Re, e do seu significado físico.

Devido ao seu carácter regular, os escoamentos laminares são mais simples de analisar do que os
escoamentos turbulentos. No entanto, a maioria dos problemas práticos que se colocam em Hidráulica
pertencem ao domínio dos escoamentos turbulentos.

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Classificação de acordo com a propagação das perturbações

Se considerarmos um lago circular, com água parada, e deitarmos uma pedra no centro do lago, geram-
se ondas a partir do centro que se propagam em todas as direcções para a periferia do lago.

Se em vez dum lago tivermos um escoamento com uma certa velocidade e provocarmos uma
perturbação num dado ponto desse escoamento, essa perturbação vai propagar-se mais rapidamente no
sentido do escoamento (para jusante) do que no sentido oposto (para montante) visto que, neste último
sentido, a velocidade de propagação da perturbação é contrariada pela velocidade do escoamento.

Se a velocidade de propagação for superior à velocidade do escoamento, a perturbação acaba por


propagar-se para montante; se for inferior, ela não se propaga para montante; no caso limite de ser
igual, a perturbação mantém-se estacionária.

De acordo com este critério, os escoamentos são classificados da seguinte forma:

Ø escoamento lento – a velocidade de propagação da perturbação é superior à velocidade do


escoamento e o efeito da perturbação propaga-se tanto para jusante como para montante.

Ø escoamento rápido – a velocidade de propagação da perturbação é inferior à velocidade do


escoamento e o efeito da perturbação apenas se propaga para jusante. A perturbação é arrastada
para jusante.

Ø escoamento crítico – a velocidade de propagação da perturbação é igual à velocidade do


escoamento e o efeito da perturbação não se propaga para montante, ficando a perturbação
estacionária.

Esta classificação é extremamente importante para os escoamentos com superfície livre. Ver-se-á mais
adiante como prever se um escoamento será lento ou rápido, através da introdução do Número de
Froude, Fr, e do seu significado físico.

Exemplos ilustrativos

A figura 3.4 apresenta exemplos ilustrativos dos diversos tipos de escoamentos aqui definidos.

Reservatórios grandes, nível


constante, conduta cilíndrica –
escoamento uniforme;

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Reservatório de jusante é
pequeno, nível vai subindo,
conduta cilíndrica, velocidade
decresce – escoamento
variável;

Reservatórios grandes, nível


constante, conduta de
diâmetro variável, velocidade
varia – escoamento
gradualmente variado

Conduta cilíndrica, fecho


instantâneo da válvula –
escoamento variável

Descarregador duma
barragem – escoamento
rapidamente variado

Figura 4.4 – Exemplos ilustrativos de tipos de escoamento de acordo com o critério

4.3 TUBO DE FLUXO, CAUDAL, VELOCIDADE MÉDIA

Considere-se um escoamento representado por um conjunto de linhas de corrente e um contorno –


linha fechada que não coincide com nenhuma linha de corrente. Por cada ponto do contorno passa
uma linha de corrente, veja-se a figura 3.5.

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Figura 4.5 – Linhas de corrente e contorno

Define-se tubo de fluxo como a porção de espaço delimitada pelo conjunto de linhas de corrente que
passam por um contorno. Filete é o tubo de fluxo para um contorno com uma secção infinitamente
pequena.

Uma vez que a velocidade em cada ponto da superfície lateral do tubo de fluxo é tangente a essa
superfície (visto que a superfície lateral é composta por linhas de corrente), a superfície lateral dum
tubo de fluxo não é atravessada pelo líquido em movimento.

Designa-se por secção recta a secção que corta ortogonalmente todas as linhas de corrente num tubo
de fluxo, figura 3.6. Quando a secção recta é plana, ela é referida como secção transversal.

Figura 4.6 – Secção recta e secção transversal dum tubo de fluxo

Caudal é o volume do líquido que atravessa uma secção recta na unidade de tempo. O caudal que
atravessa uma secção recta será então:
r r
Q = ò V . n dA = ò V cosa dA = ò V dA (4.1)
A A A
r r
pois V e n têm a mesma direcção e sentido.

Velocidade média numa secção recta dum tubo de fluxo é a velocidade, constante em todos os
pontos dessa secção recta, dum escoamento fictício que transporta o mesmo caudal Q.
òA V dA
Q = ò V dA = U . A Þ U = (4.2)
A
A
A figura 3.7 ilustra o conceito de velocidade média.

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Figura 4.7 – Exemplos de ilustração do conceito de velocidade média

4.4 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

A Equação da Continuidade traduz o princípio da conservação da massa: a variação da massa dum


líquido contida num certo volume e , limitado por uma superfície S, durante um intervalo de tempo
dt é igual ao fluxo da massa de líquido através de S, isto é, é igual à massa que entra menos a massa
que sai nesse intervalo de tempo.

òòò e
dr . de = dt òò r V n ds
S
(4.3)

Pelo Teorema da Divergência ou de Gauss,

òòS
r V n ds = òòò div r V de
e
(4.4)

¶f x ¶f y ¶f z
em que div f = + + (4.5)
¶x ¶y ¶z

Daqui se obtém que

òòò e
dr de = dt òòò div ( r V ) de
e
(4.6)

A igualdade dos integrais num mesmo domínio obriga à igualdade das funções integradas, donde
(sendo de não nulo)

dr
= div ( r V ) (4.7)
dt

No caso de líquidos incompressíveis e admitindo que a temperatura se mantém constante, chega-se


então a:

¶V x ¶V y ¶Vz
div V = + + =0 EQ. CONTINUIDADE (4.8)
¶x ¶y ¶z

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Num tubo de fluxo limitado pelas secções rectas 1 e 2, veja-se a figura 3.8, sendo U1 e U2 as
velocidades médias nessas secções. Neste caso:

- a variação da massa no volume


e é nula

- o fluxo da massa dá-se apenas


através das secções 1 e 2

Figura 4.8 – Escoamento num tubo de fluxo

Donde se tira que r U 1 S1 = r U 2 S 2 Þ U 1 S1 = U 2 S 2 (4.9)

que é a Equação da Continuidade num tubo de fluxo para um líquido incompressível.

4.5 ESCOAMENTOS LAMINARES E TURBULENTOS

Num escoamento laminar, as trajectórias das partículas são regulares e não se cruzam. Pelo contrário,
num escoamento turbulento a velocidade num ponto varia ao longo do tempo, sem regularidade, tanto
em grandeza como em direcção, e as trajectórias são muito irregulares, com as trajectórias de partículas
vizinhas a cruzarem-se, figura 3.9.

Figura 4.9 – Trajectórias num escoamento laminar e num escoamento turbulento

A maioria dos casos de interesse prático em Engenharia Civil é de escoamentos turbulentos. Por isso,
tem todo o interesse definir o que se entende por escoamento turbulento em regime permanente, uma
vez que já se constatou que no escoamento turbulento a velocidade num ponto do escoamento varia
com o tempo.

Diz-se então que temos escoamento turbulento em regime permanente quando, em qualquer ponto
do escoamento, o valor médio da velocidade V ao longo dum período de tempo suficientemente longo
T se mantém constante e é independente do instante inicial t0. A figura 3.10 ilustra as diferenças entre
regime permanente e regime variável num escoamento turbulento.

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1 t0 +T
V=
T ò
t0
V dt (3.10)

Figura 4.10 – Escoamentos turbulentos em regime permanente e regime variável

A velocidade instantânea num dado ponto, V, é dada por (figura 4.11)

V = V +V ' (4.11)

em que V é a velocidade média ou velocidade de transporte e V’ é a velocidade de agitação ou


flutuação turbulenta de velocidade. É fácil de ver que o valor médio no tempo de V’ é nulo.

Figura 4.11 – Perfil de velocidades num escoamento turbulento

1 t0 +T 1 t0 +T 1
V' =
T òt 0
V ' dt =
T òt 0
(V -V ) dt = (V T -V T ) = 0
T
(4.12)

Embora em cada instante a velocidade V em cada ponto varie, o caudal na secção praticamente não
varia:

Q = ò V dA = ò (V + V ' ) dA = ò V dA + ò V ' dA = ò V dA (4.13)


A A A A A

A integral de V’ é praticamente nulo visto que V’ é pequeno relativamente a V e tanto assume


valores positivos como negativos na secção A.

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4.6 ACELERAÇÃO LOCAL E ACELERAÇÃO CONVECTIVA

O deslocamento elementar duma partícula no intervalo de tempo dt é dado por

dP = dx iˆ + dy ˆj + dz kˆ (4.15)

Obtêm-se as seguintes expressões para a velocidade e para a aceleração:

dx dy dz
Velocidade V = u iˆ + v ˆj + w kˆ em que u = v= w= (4.16)
dt dt dt
Note-se que u, v, w são funções de x, y, z, t.

du dv dw
Aceleração a = a x iˆ + a y ˆj + a z kˆ em que a x = ay = az = (4.17)
dt dt dt

Considere-se agora a diferencial total du em ordem a x, y, z, t.

¶u ¶u ¶u ¶u
du = dt + dx + dy + dz (4.18)
¶t ¶x ¶y ¶z

Atendendo a (4.16) chega-se a

du ¶u ¶u ¶u ¶u
ax = = +u +v +w
dt ¶t ¶x ¶y ¶z
dv ¶v ¶v ¶v ¶v
ay = = +u +v +w (4.19)
dt ¶t ¶x ¶y ¶z
dw ¶w ¶w ¶w ¶w
az = = +u +v +w
dt ¶t ¶x ¶y ¶z

Pode portanto considerar-se que a aceleração tem duas componentes – a aceleração local, representada
pela primeira parcela do 2º membro nas igualdades (3.19); e a aceleração convectiva, representada
pelas três restantes parcelas.

A aceleração local representa a variação da velocidade com o tempo num dado ponto. A aceleração
convectiva representa a variação da velocidade num dado instante entre dois pontos infinitamente
próximos. Apenas existe aceleração local em escoamento variável, mas existe aceleração convectiva
num escoamento permanente (variado).

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4.7 DESCRIÇÕES DE LAGRANGE E DE EULER

A descrição de Lagrange é uma das maneiras de analisar o movimento dum líquido, consistindo em
acompanhar o movimento duma partícula individualizada, estudando, portanto, trajectórias e obtendo
a partir daí as correspondentes velocidades.

Este método apenas se utiliza em determinados casos particulares porque, devido à complexidade do
movimento das partículas, o estudo das trajectórias é muito difícil em casos de aplicação prática.

A descrição de Euler analisa o movimento dum líquido procurando definir o campo de velocidades,
isto é, determinando o vector velocidade em cada ponto fixo do espaço e em cada instante. Estuda,
portanto, linhas de corrente. Este é o método mais habitual e aquele que irá ser utilizado nas
disciplinas de Hidráulica.

4.8 DEFORMAÇÃO ANGULAR, ROTAÇÃO E DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA

Considere-se os pontos A, B, C e D representados na Figura 3.12, formando inicialmente um


rectângulo de lados dx, dy. Esse rectângulo inicial deforma-se, como se indica na figura a tracejado.

É fácil de ver que o lado AB sofre uma


¶v
rotação que é dada por (positiva no
¶x
sentido contrário ao dos ponteiros do relógio)
. Por sua vez, o lado AC sofre uma outra
¶u
rotação dada por (positiva no sentido dos
¶y
ponteiros do relógio).

Figura 4.12 – Deformação angular

¶u ¶v
Define-se deformação angular como sendo a soma das duas rotações + . No caso particular
¶y ¶x
¶u ¶v
em que = , a situação é de deformação angular pura.
¶y ¶x

A Figura 4.13 representa uma outra deformação do rectângulo inicial ABCD de lados dx, dy.

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Neste caso, adoptando os sentidos positivos


de rotação dos lados AB e AC anteriormente
definidos, tem-se que a rotação de AB é
negativa e a rotação de AC é positiva,
¶u ¶v
>0 <0.
¶y ¶x

Figura 4.13 - Rotação

1 ¶u ¶v ¶u ¶v
Define-se rotação como o valor dado por ( - ) . No caso particular em que =- ,a
2 ¶y ¶x ¶y ¶x
situação é de rotação pura.
Finalmente, a figura 4.14 representa uma outra situação de deformação do rectângulo inicial ABCD.
Os lados AB e AC, com comprimentos iniciais dx e dy, sofrem extensões que são dadas
¶u ¶v
respectivamente por , .
¶x ¶y

Define-se dilatação volumétrica como o valor


¶u ¶v
dado por + . A Equação da Continuidade
¶x ¶y
impõe que, no caso dum líquido incompressível e
não sujeito a grande variação de temperatura, a
dilatação volumétrica seja nula.

Figura 4.14 – Dilatação volumétrica

Em geral, a deformação do rectângulo inicial será a sobreposição duma deformação angular pura e
duma rotação pura.

Exemplo) Admita que os pontos A(0,0), B(2,0), C(0,1) e D(2,1) se moveram para as posições A’(1,1),
B’(3,1.1), C’(1.3, 2) e D’(3.5, 2.1). Determine a deformação sofrida pela figura como uma
sobreposição duma deformação angular pura e duma rotação pura.

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5 HIDRODINÂMICA
5.1 EQUAÇÃO DE NAVIER – STOKES

As equações de Navier – Stokes, são definidas como as equações gerais do movimento de um líquido.

De acordo com a 2ª LEI DE NEWTON:


® ®
å F =m × a
Num determinado elemento infinitesimal de, limitado pela superfície ds, temos:

®
® ® dV
òòò
1 42e
r × F × de + òò P × ds = òòò r ×
43 1s 2 3 e dt
× de
1 2
em que:
1 - forças de volume: peso próprio;
2 - forças de contacto num plano tangente a ds: componentes normal e tangencial.

O Teorema de GAUSS por sua vez mostra que:

® ®

òò P × ds = òòò div P × de
s e
®
® ® dv
r F + div P = r
dt
®
P - Tensor de 2a ordem;
¶Pix ¶Piy ¶Piz dv
r × Fi + + + =r i
¶x ¶y ¶z dt

Hipóteses de Navier e Stokes:

a) - As tensões tangenciais são proporcionais à velocidade da deformação angular:


æ ¶v ¶v j ö
Pij = t ij = - m ç i + ÷
ç ¶x ÷
è j ¶xi ø
b) - As tensões normais (pressões) são proporcionais à velocidade de deformação linear:
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¶vi
t ii = -2m
¶xi
Pii = t ii + p(hidrostática)

Por substituição, obtêm-se 3 equações escalares segundo x-x:

¶P ¶ 2u æ ¶ 2u ¶ 2 v ö æ ¶ 2u ¶ 2 w ö du
r × Fx - + 2m 2 + m çç 2 + ÷÷ + m çç 2 + ÷÷ = r
¶x ¶x è ¶y ¶x¶y ø è ¶z ¶x¶z ø dt

æ du ö ¶P æ ¶ 2u ¶ 2 u ¶ 2u ö æ ¶ 2u ¶ 2u ¶ 2u ö
r ç Fx - ÷ = - m çç 2 + 2 + 2 ÷÷ - m çç 2 + 2 + 2 ÷÷ -
è dt ø ¶x è ¶x ¶y ¶z ø è ¶x ¶y ¶z ø
æ ¶ 2u ¶ 2v ¶ 2 w ö
- m çç 2 + + ÷
è ¶x ¶x¶y ¶x¶z ÷ø

¶2u ¶2 v ¶ 2w ¶ æ ¶u ¶v ¶w ö
+ + = çç + + ÷
¶x ¶x¶y ¶x¶z ¶x è ¶x ¶y ¶z ÷ø
2
1442443
*

* = 0, para líquidos incompressíveis

æ du ö ¶p
r ç Fx - ÷= - mÑ 2 m
è dt ø ¶x

O conjunto das equações de Navier-Stokes:


æ du ö ¶p
r ç Fx - ÷= - mÑ 2 u
è dt ø ¶x
æ dv ö ¶p
r ç Fy - ÷ = - mÑ 2 v
è dt ø ¶y
æ dw ö ¶p
r ç Fz - ÷ = - mÑ 2 w
è dt ø ¶z
Estas equações são difíceis de integrar analiticamente.

r (Fx , Fy , Fz ) forças de massa

Fx = F y = 0 Fz = ± g

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dv
r forças de inércia
dt

¶p
variação de pressão segundo os eixos
¶xi

mÑ 2vi forças de viscosidade

Nesta formulação não foram considerados os efeitos da turbulência.

5.2 ESCOAMENTO NO CAMPO DA GRAVIDADE

Forças F derivadas de um potencial x

F = grad x

Equações de Navier – Stokes

æ ®
ö
ç dv÷ ®
r ç grad x - = gradp - mÑ 2
v
ç dt ÷÷
è ø

Se o potencial for o da gravidade,


x = - gz + cte
®
dv ® æ p ö
-r + mÑ 2 v = r × g × grad çç z + ÷÷
dt è rg ø

®
æ p ö÷ 1dv m 2®
® ç
grad z + =- + Ñ v
ç r g ÷ g dt rg
è ø
p
z+ cota piezométrica
g

Volume e peso : g × e
Energia Potencial de Posição z
Energia Potencial de pressão : pe

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g ×e× z + p ×e p
Energia Potencial por unidadede Peso : = z+
g ×e g
Para o líquido Perfeito : m = 0
®
æ pö 1dv
® grad çç z + ÷÷ = -
è gø g dt

No líquido real em escoamento permanente:


® ® ®
¶v dv dv
=0 ® =
dt dt dp
®
æ pö 1 dv m 2®
grad çç z + ÷÷ = - + Ñ v
è gø g dp g

®
Quando o líquido está em repouso v =0
æ pö p
® grad çç z + ÷÷ = 0 ® z + = cte
è g ø 123g
L. H .P .

5.3 TEOREMA DE BERNOULLI PARA LÍQUIDOS PERFEITOS

Partícula ao longo da sua trajectória


®
æ pö 1 dv
grad çç z + ÷÷ = -
è gø g dt
®
v não tem componentes normais à trajectória.
®
Componente de v segundo a trajectória: v
Eixo da trajectória: s

®
d v ¶v ¶v ¶s ¶v ¶v ¶v ¶ æ v 2 ö
= + = + v= + ç ÷÷
dt ¶t ¶s ¶t ¶t ¶s ¶t ¶s çè 2 ø
¶ æ pö 1 ¶v ¶ æ v 2 ö
çç z + ÷÷ = - - ç ÷
¶s è gø g ¶t ¶s çè 2 g ÷ø

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¶æ p v2 ö 1 ¶v
çç z + + ÷÷ = -
¶s è g 2g ø g ¶t

Um líquido pode ser considerado perfeito quando:


1 Em repouso;
2 Início do movimento
- Passagem dum reservatório para uma conduta
- Passagem duma albufeira para um descarregador

Peso do Volume e : r × g × e
1 2 1
Energia Cinética : mv = rev 2
2 2
1
r ×e ×v2
2 v2
Energia Cinética por unidade de peso : =
r × g ×e 2g

Energia total / unidade de peso = (Energia potencial + energia cinética) / unidade de peso

v2 p
Carga H = z + +
g 2g

¶v
Regime Permanente : =0
¶t
v2
p
® z+ + = H = cte
g 2g

Num LÍQUIDO PERFEITO em REGIME PERMANENTE, a partícula desloca-se ao longo da sua


trajectória sem variação de carga.

p
Cota Piezométrica : +z
g
v2
Carga Cinética :
2g
p v2
Energia expressa em altura de líquido : z, ,
g 2g

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5.4 LINHA PIEZOMÉTRICA E LINHA DE ENERGIA

Linha de energia
U2/2g ≥ 0
P/γ Linha piezométrica

Z trajectória

v2
³0
2g
p
, pode ser positivo ou negativo(pressões relativas)
g
z, pode ser positivo ou negativo;

Tubo piezométrico ou tubo de PRANDTL (piezómetro)

Pp/γ

ZS P
Zp

Z=0
=0
}
p p = (z s - z p )g
pp ps
+ zp = + zs ®
g g

Tubo de PITOT

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=0
}
2
pP v pQ pS vP2
pP
+ zP + = + zP =
P
+ zS ® zS - z P = +
g 2g g g g 2g

5.5 TEOREMA DE BERNOULLI PARA LÍQUIDOS REAIS

A aproximação dos líquidos perfeitos é valida de acordo com a experiência:


1 Escoamento permanente partindo do repouso;
2 Escoamentos fortemente acelerados

Carga é constante não só em cada trajectória mas em todos os pontos.

Fórmula de TORRICELLI

É válida para reservatórios de grandes dimensões com um pequeno orifício de saída na parede lateral.

S - secção contraída, P = Patm


=0 =0
} =0
A } }
2
pA vA ps vs2
+ zA + = + zs +
g 2g g 2g
H
S – secção
contraída vs = 2 g ( z A - zS ) = 2 gH
ZA

ZS

Z=0

LÍQUIDOS REAIS – a carga diminui ao longo da trajectória devido ao trabalho das forças resistentes
(viscosidade, turbulência).

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Regime turbulento
Equações de Navier-Stokes com velocidades instantâneas v = v + v ¢

®
æ
è

grad çç z + ÷÷ = -
g ø
1 dv m 2® 1é¶ ' '
+ Ñ v + ê ui u x +
g ¶
¶ ' '

ui u y +

( )
¶ ' ' ù
ui u z ú ( ) ( )
1ë4444442444444 3û
g dt g x y z
*
1 componente da turbulência: normalmente muito mais importante que a viscosidade (em termos
de perda de carga). Fenómeno complexo.

Ao longo da trajectória
¶æ pö 1 ¶v 1 ¶ æ v 2 ö
çç z + ÷÷ = - - ç ÷- J
¶s è gø g ¶t g ¶s çè 2 ÷ø

J – perda de carga unitária: diminuição da carga H por unidade de percurso.

¶ æ p v2 ö
® çç z + + ÷ = -J
¶s è g 2 g ÷ø

Forma discreta:
H 2 - H1 = - JL - DH

5.6 VARIAÇÃO DA COTA PIEZOMÉTRICA

Coordenadas intrínsecas:
s- tangente à trajectória s
n- normal à trajectória
b- perpendicular ao plano de s e n (bi-nominal) b
n
Ao longo da normal n
r
æ p ö r pé ¶
grad çç z + ÷÷ = -
1 dV
+ m Ñ2 V + ê (...)...ùú
è g ø g dt g ë ¶x û


® TEOREMA DE BERNOULLI
¶s

Expressão de em coordenadas intrínsecas

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r
dV é ¶v ¶ æ v 2 öù v2
=ê + ç ÷÷ ú sˆ + nˆ
dt ë dt ¶ s çè 2 øû r

Não há componente segundo a binomial.


Não há tensões tangenciais nas direcções n̂ e b̂ porque não há escoamento nessas direcções.
¶ æ pö 1 v2
çç z + ÷÷ = -
¶n è gø g r

¶ æ pö
çç z + ÷÷ = 0
¶b è gø

5.7 VÓRTICES
Vórtice - movimento de um fluído com trajectórias circulares concêntricas.

A - Vórtice de eixo vertical - centros das trajectórias estão numa mesma vertical.
Variação da cota piezométrica com o raio.
Variação da cota piezométrica na vertical.

¶ æp ö
çç + z ÷÷ = 0 (distribuição hidrostática de pressões)
¶zèg ø

B - Vórtice forçado - força que provoca rotação do líquido mantém-se.

w = cte , v =wr

Posição das partículas invariável em relação ao reservatório:

d æ p ö 1 v2 w 2 r
çç z + ÷÷ = =
drè gø g r g

p w2 r2 p0
z+ = + z0 +
g 2g g
æ pö æ p0 ö w 2 r 2 p p0
çç z s + ÷÷ - çç z 0 + ÷= =0
g ÷ø
e
è gø è 2g , g g

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w2 r2
® z s = z0 + Equação da superfície livre
2g

Pressão num ponto a cota z

h = z0 - z

p w2 r2 w2 r2 d w2 r2
= + z0 - z = +h Þ p=g h +
g 2g 2g 2

r
z Linha de energia

Superfície livre

Z=0

1. A carga H é constante em cada trajectória ( r = cte)

v2 w2 r 2
p w2 r2 w2 r2
H= +z+ = + z0 + = z0 +
g 2g 2g 2g g
2. H varia com a trajectória r.

C - Vórtice livre - movimento com trajectórias circulares concêntricas após a cessação da força que o
originou.

H = cte em todos os pontos.

Para tal, tem de ser:


k
v=
r

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d æ p ö 1 v2 k2
® ç z + ÷÷ = =
d r çè g ø g r g r3
k2p v2
® z+ =- + cte = - + cte
g 2g r 2 2g
p v2
® z+ + = H = cte
g 2g

Forma da superfície livre


k2
p=0 ® z+ = H = cte
2g r 2

r= ¥ ® z = H = cte = z 0

k2
® z (r ) = z 0 - Hiperbolóide de Revolução
2g r 2

Equação não é válida para r » 0 (daria v® ¥ ).

Ex. Vórtice livre: saída de água por um orifício no fundo de um reservatório com pequena carga. (
mais movimento vertical para baixo ¯ ).

Efeito da aceleração de Coriolis

No Hemisfério Norte No Hemisfério Sul

5.8 MOVIMENTOS ROTACIONAIS E IRROTACIONAIS


r
A rotação é dada pelo vector turbilhão que é igual a 1/ 2 rot V :

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i j k
r ¶ ¶ ¶ æ ¶ w ¶v ö ˆ æ¶u ¶ wö ˆ æ ¶ v ¶u ö ˆ
rot V = = çç - ÷ i + çç - ÷÷ j + çç - ÷÷ k
¶x ¶y ¶ z è ¶ y ¶ z ÷ø è¶z ¶x ø è¶x ¶ yø
u v w

r
Se rot V = 0 ® Movimento irrotacional

Um elemento move-se sem rodar em torno de si próprio.


Viscosidade ® gradiente de velocidades.
Vórtice forçado - movimento rotacional.
Líquido real - escoamento rotacional devido a viscosidade.

Casos em que se pode aceitar a hipótese de irrotacionalidade - quando o líquido se comporta como um
líquido perfeito.

- escoamentos que partem do repouso;


- escoamentos rapidamente acelerados.

Movimento irrotacional é conservativo - não há perda de energia.


r
rot V = 0
¶w ¶v ¶u ¶w ¶v ¶u
® = , = , =
¶y ¶z ¶z ¶x ¶x ¶y

Para estas condições se verificarem, basta que:

¶f ¶f ¶f
u= , v= , w=
¶x ¶y ¶z

r
® V = grad f

f - função (escalar) potencial de velocidades.


r
Equação da Continuidade: div V =0 ® Ñ 2 f = 0 ( Equação de Laplace)

Ñ 2 f = 0 ® f é uma função harmónica.


f = cte = k1 ® equação da superfície equipotencial

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r
V = grad f é normal às superfícies equipotenciais e o mesmo sucede as linhas de corrente.

5.9 ESCOAMENTO PLANO

Escoamento plano - movimento irrotacional em que as características do escoamento se repetem em


planos paralelos.

Superfície equipotencial ® linhas equipotenciais, f = k1


Função de corrente y ® as linhas de corrente são y = k2 = cte

¶u ¶v ü
Movimento irrotacional : =
¶y ¶x ï
ïï ¶ f ¶y
ý ® u= = (1)
ï ¶x ¶y
¶u ¶v
Eq. da continuidade : =- ï
¶x ¶ y ïþ

Condições de analiticidade da função w:

w ( z ) = f ( x, y ) + i y ( x, y ) , z= x+i y

w - função analítica de variável complexa.

Linhas equipotenciais (f = cte) perpendiculares as linhas de corrente (y = cte) ® REDES DE FLUXO.

5.10 INÍCIO DE ESCOAMENTO. CAMADA LIMITE

Líquido ideal - não há intersecção com a parede sólida.


Líquido real - camada de líquido junto da parede tem velocidade aproximadamente nula e aumenta
com a distância à parede.

Exemplo: tubo a saída de um grande reservatório.

Escoamento laminar:
a) Líquido parte do repouso, escoamento irrotacional, velocidade uniforme;
b) Líquido em contacto com a parede vai sendo retardado ® camada limite;
c) Todo o tubo é ocupado pela camada limite laminar.
h2 u
Para um canal : l1 = 0.04
n
Para uma conduta : l 2 = 3 h 4 Re
Escoamento turbulento - junto à parede as flutuações turbulentas são impedidas ® película.

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6 ESTUDO GLOBAL DOS ESCOAMENTOS LÍQUIDOS

6.1 TEOREMA DE BERNOULLI GENERALIZADO

Tal como foi estudado no capítulo anterior, o Teorema de Bernoulli para líquidos perfeitos é
conhecido pela expressão:

z1 + (p1/γ) + (U12/2g) = z2 + (p2/γ) + (U22/2g)

Em que:
z1,2 – representa a cota acima de um plano de referência ou altura geométrica – ENERGIA
DE POSIÇÃO;

(p1,2/γ) – representa a pressão expressa em altura de líquido ou altura piezométrica –


ENERGIA DE PRESSÃO;

(U1,22/2g) – representa a altura cinética – ENERGIA CINÉTICA ou DINÂMICA;

Tratando-se de um líquido perfeito, isto é, sem viscosidade ( μ = 0 ):

(∂/∂s) [Z + (p/γ) + (V2/2g)] = - (1/g) . ∂V/∂t

No caso do regime permanente, ∂V/∂t = 0, então:

E = z + (p/γ) + (V2/2g) = constante

A LINHA PIEZOMÉTRICA – corresponde à marcação que se faz na vertical, a partir do plano


horizontal de referência, de comprimentos representativos da carga estática Z + (p/γ);

A LINHA DE ENERGIA – obtém-se de igual modo, se for marcada a carga total:

z + (p/γ) + (V2/2g);

No entanto, quando para os líquidos reais, a distribuição das velocidades ao longo de uma secção não
é uniforme;

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Fig. 6.1 – Distribuição de velocidades num tubo de fluxo

A Energia Cinética elementar / unidade de tempo (potência cinética), é dada por:

γ .V.dA. (V2/2g) = γ . (V3/2g) dA

A Potência Cinética para toda a secção:

∫A γ . (V3/2g) dA ≠ γ . (U3/2g) . A

O Coeficiente de Coriolis (α), representa a relação:

α = [ ∫A V3 dA / (U3.A) ] α≥1

Para o regime turbulento, a distribuição de velocidades é muito próxima da uniforme, α ≈ 1,1÷ 1,3.
No regime laminar, α ≈ 2

A Energia Cinética elementar / unidade de peso num tubo de fluxo, é dada por:

∫A γ . (V3/2g) dA / γ.(U.A) = γ α (U3/2g) .A / (γ U.A) = α (U2/2g)

Então a carga ou energia para um tubo de fluxo:

H = z + (p/γ) + α (U2/2g)

Expressão válida se z + (p/γ) = cte em todos os pontos da secção, excepto no Escoamento


Rapidamente Variado.

O Teorema de BERNOULLI para um tubo de fluxo, regime permanente:

(∂/∂s) [z + (p/γ) + α (U2/2g)] = - J

para o regime variável,


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(∂/∂s) [z + (p/γ) + α (U2/2g)] = - (1/g) . (∂ /∂t).(β.U) – J

β - coeficiente de Boussinesq ou coeficiente da quantidade de movimento:

β = [ ∫A V2 dA / (U2.A) ] β≥1

O coeficiente de Boussinesq corresponde à relação entre a quantidade de movimento real do


escoamento e a quantidade de movimento dum escoamento fictício em que todas as partículas se
movem à mesma velocidade média U.

6.2 POTÊNCIA HIDRÁULICA. CONCEITO DE BOMBAS E TURBINAS

A Carga ou Energia do escoamento por unidade de peso:


H = z + (p/γ) + α (U2/2g)

A Potência que atravessa a secção é igual a:


Pe = γ.Q.H

Esta Potência pode ser fornecida ao sistema ou então absorvida pelo sistema. No caso em que é
fornecida estamos perante uma BOMBA HIDRÁULICA. No caso em que é absorvida, estamos na
presença de uma TURBINA HIDRÁULICA;

À entrada da máquina, temos uma carga chamada de He. À saída da máquina a carga é denominada
Hs ;

A diferença entre estas cargas corresponde à Altura Útil da Bomba ou também denominada Carga ou
Altura Total da Bomba. No caso de ser uma Turbina, a expressão não muda mas é denominada queda
útil da turbina:
Hu = | Hs - He|

Tanto a Bomba como a Turbina têm o que é chamado de rendimento de transformação (η) que
corresponde à relação entre a Potência Útil e Potência Absorvida. Normalmente, η < 1;

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Fig. 6.2 – Representação de um sistema com turbina

ΔH1, ΔH4 – representam as perdas de carga localizadas, à saída e entrada dos reservatórios
respectivamente;

ΔH2, ΔH3 – representam as perdas de carga contínuas nas condutas a montante e a jusante da turbina;

Hu – Queda Útil;

( Zm – Zj ) – Queda bruta;

Hu = Zm – Zj – Σ ΔHi = Hb - Σ ΔHi

Fig. 5.3 – Representação de um sistema com bomba hidráulica

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Ht – Altura de Elevação;
( Zm – Zj ) – Altura geométrica de elevação;
ΔH1 – Soma de todas as perdas de carga (contínuas e localizadas)

Ht = Zj – Zm + Σ ΔHi

6.3 TEOREMA DE EULER. PRÍNCIPIO DA QUANTIDADE DE


MOVIMENTO

Leonhard Euler nasceu em 1707 na Basileia, Suíça e faleceu em S. Petersburgo, Rússia, em 1783 e é
considerado um dos mais brilhantes génios da matemática aplicada, embora tenha exercido também
medicina na marinha russa. Foi amigo de Daniel Bernoulli e trabalhou numa série de Academias de
Ciências da Europa.
Euler define a quantidade de movimento de uma partícula de massa m, que se move com uma
velocidade V, como sendo o produto m.V;

A Quantidade de movimento de uma massa líquida será a soma das quantidades de movimento das
partículas;

Numa secção escoa-se por unidade de tempo, uma determinada massa. Então a quantidade de
movimento por unidade de tempo, através de uma determinada secção pode ser conhecido como
sendo o fluxo de quantidade de movimento será então:

M = òò r × V × Vn × dS
s

Para que se possa considerar a velocidade média U em vez das velocidades pontuais das partículas,
introduz-se um factor de correcção da quantidade de movimento, β, coeficiente de Boussinesq.
Então, a quantidade de movimento por unidade de tempo, numa secção em que se escoa um caudal
Q, com uma velocidade média U, será:

M = β .ρ .Q .U

Tal como o coeficiente de Coriolis, o coeficiente de Boussinesq pode-se considerar igual a 1;

Para um dado volume de líquido contido por uma superfície de fronteira S, é nula em cada instante a
resultante das seguintes forças:

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r
v Peso (G ) ;
r
v Resultante das forças de contacto exercidas do exterior sobre a superfície de fronteira (p ) ;
r
v Resultante das forças de inércia (I ) ;
v Resultante das quantidades de movimento entradas e saídas do volume considerado
r r
M 1 - M 2 por unidade de tempo;

Então, a equação geral da quantidade de movimento é:

r r r r r
G + p + I + (M1 - M 2 ) = 0

Este é conhecido como sendo o Teorema de Euler.

Fig. 6.4 – Esquema das forças actuantes num tubo de fluxo

r
Quando o escoamento é permanente, (I ) = 0 ;
r r
Quando o líquido está em repouso, M 1 = M 2 = 0 ;
r r
Então, para líquidos em repouso (hidrostática): G +p = 0

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7 LEIS DE RESISTÊNCIA DOS ESCOAMENTOS UNIFORMES

7.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO ESCOAMENTO UNIFORME

O Escoamento Uniforme:
v é permanente;
v possui uma velocidade constante ao longo da trajectória;
v as trajectórias são rectilíneas e paralelas;
v fronteira sólida cilíndrica ou prismática com geratrizes paralelas à direcção do
movimento.

O Escoamento Uniforme pode processar-se sob pressão (ou em carga), quando ocupa inteiramente o
interior do tubo. Pode igualmente processar-se em superfície livre;

A Perda de Carga (ΔH):

A perda de carga ΔH entre duas secções distanciadas de “L” é dada pela expressão:

DH = K × L

DH
J= = K = C te
L

v A linha de energia no Escoamento Uniforme é rectilínea. A componente α.U2/2g é constante!

v A linha piezométrica é paralela à linha de energia!

v J pode ser determinado experimentalmente e representa a perda de carga por unidade de peso
escoado e por unidade de comprimento!

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p1 p2
( + z1 ) - ( + z2 )
DH H 1 - H 2 g g
J= = =
L L L

DH J
tgb = = ¹J
L × cosq cosq

No escoamento com superfície livre: p=0 P/γ + Z = Z


A Linha piezométrica coincide com o perfil da superfície livre

H1 - H 2
J= = senq
L
Para θ pequeno, J ≈ tg θ

Por norma, os escoamentos em pressão em condutas circulares, rectilíneas são regidos pela equação
do tipo:
L U2
DH = f × ×
D 2g

Em que,
v ΔH - perda de carga ou energia [ m ];
v f – representa o factor de resistência (adimensional);
v D – diâmetro geométrico, em condutas circulares [ m ];
v L – comprimento da conduta [ m ]

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7.2 TENSÃO TANGENCIAL NA FRONTEIRA SÓLIDA

As forças tangenciais actuam na fronteira sólida (entre o líquido e a parede do tubo);


Seja um tubo de comprimento “L”:
Rx – força de arrastamento (sobre a fronteira sólida);
P – Perímetro molhado
ζ0 – Tensão tangencial média
Rx
t0 =
P×L

Teorema de Euler:
r r r r r r
G + P 1 + P 2 + Rx + M 1 - M 2 = 0

Projectando na direcção do escoamento:

g × A × L × senq + p1 × A - p 2 × A - Rx = 0
L × senq = y1 - y 2
é p p ù
Rx = g × A × ê( 1 + y1 ) - ( 2 + y 2 )ú = g × A × J × L
ë g g û
R A
t0 = x = g ×J × = g × J ×R
P×L P

R – Raio hidráulico (R = A/P)

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7.3 ESCOAMENTOS LAMINARES E TURBULENTOS

7.3.1 - Experiência de Osborne Reynolds

Osborne Reynolds (1842-1867), nasceu na Irlanda, Belfast e foi o pioneiro no estudo da turbulência
dos escoamentos, tendo desenvolvido uma série de teorias que se mantém actuais. A experiência de
Reynolds consiste em manter num laboratório um escoamento uniforme num tubo transparente, sendo
introduzido no seu interior um corante podendo-se estudar o seu comportamento ao longo de um
determinado comprimento. Com base na experiência definiram-se os regimes: Laminar e
Turbulento.

Regime laminar Regime turbulento

N.0 de Reynolds corresponde à relação entre as forças de inércia e as forças de viscosidade:

Re = (U. D / ν)

ν - corresponde ao coeficiente de viscosidade cinemática (tabela 10 do ML);

Tabela correspondente à viscosidade cinemática da água a diferentes temperaturas

Considera-se:

Re < 1 000 - Regime Laminar;


1000 < Re < 4 000 – Zona crítica ou de transição;
Re > 4 000 – Regime turbulento

Geralmente considera-se que a passagem entre o regime laminar para turbulento se dá quando Re = 2
500.

A turbulência conduz a uma homogeneidade do perfil de velocidades:

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7.3.2 – Conceito de Rugosidade Absoluta e Rugosidade Relativa

Rugosidade Absoluta – ( K ou também ε, dada em mm) é dada pela medida das asperezas da parede
do tubo – (TABELA 32 Manual de A.L.);

Rugosidade Relativa – é o quociente da rugosidade absoluta pelo diâmetro da conduta ( K/D );

Tabela com alguns valores de rugosidade absoluta equivalente de diferentes materiais (Novais Barbosa, 1985)

7.3.3 – Conceito de Tubos Lisos e Tubos Rugosos:

Em mecânica dos fluidos, a camada limite é a camada de fluido nas imediações de uma superfície
delimitadora, fazendo-se sentir os efeitos difusivos e a dissipação da energia mecânica.

O conceito foi introduzido no início do século XX, por Ludwig Prandtl para descrever a região de
contacto entre um fluido incompressível em movimento relativamente a um sólido.

Sempre que as asperezas da parede são menores que a espessura da película laminar, então a natureza
dessas asperezas não influi na turbulência do escoamento – Tubo Liso;

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Na hipótese contrária, a turbulência acentua-se e influi na perda de energia – Tubo Rugoso.

Independentemente da rugosidade das paredes da conduta, se o escoamento praticamente não se


processar junto das paredes limites, então as rugosidades das mesmas não interferem no escoamento.

7.4 ESCOAMENTOS LAMINARES UNIFORMES

7.4.1 - Tubos de Secção Circular

Correspondem a tubos de fluxo de raio “r” no interior da conduta.

p ×r2 r
t0 = g × J × R = g × J × =g ×J ×
2p × r 2

dV
Em regime laminar: t 0 = - m ×
dr
Em que: m = n × r - coeficiente de viscosidade dinâmica;
n - coeficiente de viscosidade cinemática;

dV g ×J r
=- ×
dr m 2
g × J r2
V =- × +c
m 4

D g × D2 × J
r= ; V =0®c=
2 16m
g ×J æ D2 ö g × J × D2
V = × çç - r 2 ÷÷; V max =
4m è 4 ø 16 m

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D 2 2p
g ×J æ D2 ö
Q = ò V × dA = ò ò0 4m × çç - r 2 ÷÷ × r × dr × dq
A 0 è 4 ø

g × J ×p × D4 g × J × D2
Q= ®U =
128m 32 m

Fómula de HAGEN – POISEUILLE:


m U
J = 32 × × Vmax = 2 × U
g D2 a =2

7.4.2 - Factor de Resistência ou Factor de DARCY – WEISBACH:

J ×D
f = (adimensional)
U2
2g

m U r ×n U n U
J = 32 × × 2 = 32 × × 2 = 64 × ×
g D r×g D g 2D 2
U2 n
J × D = 64 × ×
2g U × D
J ×D U ×D
× = 64
U2 n
2g
f × Re = 64

7.5 ESCOAMENTOS TURBULENTOS UNIFORMES

O diagrama de Moody (tab. 33 do ML), é a representação gráfica em escala duplamente logarítmica


do factor de atrito em função do número de Reynolds e a rugosidade relativa de uma conduta. Numa
tabela em que relaciona Re com a rugosidade relativa (K/D) o factor de resistência “f” pode ser
conhecido (ábaco abaixo).

Da análise feita ao gráfico, pode-se verificar que:


v para Re pequeno ( Re < 2 x 104 ) – os tubos rugosos apresentam a mesma lei de
resistência f = Φ1 (Re) que os tubos lisos (considera-se regime turbulento liso);

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v para Re grande ( Re > 105) – o escoamento é só condicionado pela turbulência f = Φ2


(K/D) considerando-se regime turbulento rugoso, podendo ser usada essa expressão
para o regime de transição (2x104 < Re < 105);

Pode assim concluir-se que em escoamentos turbulentos, para uma dada rugosidade relativa:

ü Até um dado valor de Re, a perda de carga unitária em tubos rugosos coincide com a perda de
carga em tubos lisos e apenas depende do Re – regime turbulento liso;

ü A partir de um dado valor de Re, a perda de carga unitária em tubos rugosos apenas depende
da rugosidade – regime turbulento rugoso;

ü Entre os dois valores de Re anteriores a perda de carga unitária depende da rugosidade e do Re


– regime turbulento de transição

7.5.1 – Regime Turbulento Liso

Apoiados na experiência de Nikuradze, Karman (1881-1963) e Prandtl (1875-1953) para este regime
criaram a seguinte expressão:

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1 Re f
= 2 × log ; log = log10
f 2,51

7.5.2 – Regime Turbulento Rugoso

Usa-se também uma outra expressão de Karman – Prandtl:

1 3,7 D
= 2 × log
f K

D – diâmetro; K – rugosidade absoluta; K/D – rugosidade relativa;

7.5.3 – Tubos circulares comerciais –regime liso ou rugoso

Fórmula proposta em 1939 pelos cientistas Colebrook-White:

1 æ K 2,51 ö
= -2 × log ç + ÷
ç 3,7D Re f ÷
f è ø

K – Rugosidade absoluta equivalente


Na Tabela 32 do Manual de A. Lencastre consulta-se as rugosidades absolutas

Problemas típicos:

DADOS DETERMINAR RESOLUÇÃO


Directa c/ iteração
U ou Q, D, K J D. Moody C-W
U ou Q, J, K D - D. Moody, C-W
D, J, K U ou Q C–W D. Moody
U ou Q, D, J K D. Moody, C-W -

No regime turbulento rugoso, f = f ( K/D) = cte para um mesmo tubo.

J ×D
f = = C te ® J @ U 2
U2
2g

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Em regime turbulento rugoso, a perda de carga unitária num dado tubo é proporcional ao quadrado da
velocidade média (e do caudal).

7.5.4 – Tubos não circulares

Pode ser usada a Fórmula de COLEBROOK – WHITE substituindo o diâmetro D por Dh (Diâmetro
Hidráulico): Dh = 4 Rh

7.6 LEIS EMPÍRICAS PARA O REGIME TURBULENTO RUGOSO

Existem ainda equações empíricas para determinação da perda de carga unitária. Estas equações são
de utilização simples e devem ser cuidadosamente aplicadas por terem sido deduzidas para condições
específicas. As equações empíricas só podem ser aplicadas nas condições para que foram deduzidas.

Fórmula de CHÉZY: U =C× R×J ; Q = C × A× R × J

C – coeficiente de Cézy [ m1/2/s];

Determinação de C:

87 × R
Fórmula de BAZIN: C =
KB + R

100 × R
Fórmula de KUTTER: C =
KK + R

KB e KK – função das características do tubo (tabelas 36 e 37 do Manual de A.L.)

4,8 R
Fórmula de COLEBROOK: C = 18 × log
K
2 1 1 23 1
Fórmula de MANNING-STRICKLER: U = KS ×R 3
×J 2
; U = ×R ×J 2
n

æ 1 ö
n = çç ÷÷ – coeficiente de rugosidade m-1/3.s
è Sø
K
Valores de Ks – tabela 38 – Manual de A. L.

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Equação de BLASIUS:

f = 0,3164 Re -0,25 válida para 3000<Re<105

O factor de resistência é apenas função do Re, o que só será admissível em regime turbulento liso. A
sobreposição desta equação com o Ábaco de Moody, permite concluir que a equação de Blasius
representa bem o factor de resistência para valores do nº de Re até 105.

Equação de SCIMEMI (aplicadas a tubos de secção circular e escoamento de água):

Estas são equações empíricas específicas do material e aplicadas ao escoamento da água.

αβ
Q = K1 D J

No quadro a seguir são apresentados os valores destes parâmetros para diferentes tubos:

Equações de HAZEN-WILLIAMS - normalmente aplicada a regimes turbulentos de transição.

Valores do Coeficiente de Rugosidade C para a fórmula de HAZEN-WILLIAMS.

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Com base nos estudos desenvolvidos, podemos concluir que o escoamento da água se dá em regime
turbulento com excepção de algumas situações de início de escoamento, paragem ou escoamento
variável. Uma avaliação aproximada da perda de carga pode ser feita através da aplicação de equações
empíricas escolhidas de acordo com as suas condições de aplicação.

ESCOLHA DA FÓRMULA A EMPREGAR:

v Escoamento laminar – normalmente usada a fórmula de HAGEN-POISEUILLE;

v Condutas Lisas com grande diâmetro ( D > 0,5 m):


- Diagrama de Moody;
- fórmula de COLEBROOK-WHITE.

v Condutas de pequeno diâmetro, escoamento turbulento rugoso:


- fórmula de CHÉZY;
- fórmula de MANNING-STRICKLER;
- Equação de BLASIUS;
- Equação de SCIMEMI;
- Equação de HAZEN-WILLIAMS.

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8 PERDAS DE CARGA LOCALIZADAS EM ESCOAMENTOS


PERMANENTES SOB PRESSÃO
8.1 GENERALIDADES

Neste tipo de escoamento, a pressão é, em geral, diferente da Pressão Atmosférica (Patm) e processa-se
normalmente em instalações hidráulicas.

Estes tipos de instalações correspondem a grandes ou pequenos trechos de condutas cilíndricas que se
encontram ligados por acessórios (uniões, bujões, buchas de redução, curvas, tês, etc) e que podem
incluir:

v válvulas de diferentes tipos;


v dispositivos de medição;
v derivações de diferente ordem;
v máquinas hidráulicas (bombas e turbinas).

Quando acontece uma variação da direcção de escoamento, ou seja, a curvatura das linhas de corrente,
estabelece-se um regime permanente variado. A variação não está localizada no acessório instalado,
mas a um dado comprimento antes e depois da singularidade. Isto pode ser verificado, em laboratório,
através da determinação da linha piezométrica com a instalação de uma banda de piezómetros.

Neste tipo de instalações podem-se processar os diferentes tipos e regimes de escoamento: uniforme,
gradualmente variado ou rapidamente variado ocorrendo ao longo do seu comprimento e no sentido
do escoamento, perdas de carga, que podem ser contínuas (ao longo do comprimento da conduta) ou
localizadas (nas singularidades mencionadas).

Quando o escoamento se aproxima da singularidade, começa a sentir a influência da variação da


direcção das linhas de corrente e a linha piezométrica desce, sofrendo uma variação superior à
correspondente às perdas de carga contínuas. O escoamento quando se aproxima da singularidade
começa a perder energia e mesmo depois de atravessar a secção da singularidade ainda está a perder
energia.

No entanto, é mais fácil do ponto de vista de cálculo concentrar a perda de carga localizada na secção
da singularidade.

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Figs. 8.1 – Esquema dos tipos de perda de carga localizadas

8.2 PERDAS DE CARGA LOCALIZADAS

8.2.1 – Expressão geral:

A expressão geral é: ΔH = K. (U2/2g) = b. K. Q2

Os valores do coeficiente de perda de carga localizada K são determinados experimentalmente, tendo


alguns autores tabelado esses coeficientes para diferentes singularidades. À excepção das válvulas as
perdas de carga localizadas tomam valores da ordem da altura cinética

O valor de K depende de:

v Características geométricas da singularidade;


v Rugosidade da singularidade;
Normalmente pouco importantes!
v N.o de Reynolds (Re);

O valor de “b” pode ser conhecido pela expressão: b = 1 / (2g A2)

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8.2.2 – Conceito do comprimento equivalente:

O comprimento equivalente da conduta corresponde a um comprimento fictício que ocasionaria a


mesma perda que é introduzida pela singularidade.

Em regime turbulento rugoso: ΔH = a. L. Q2


Perda de carga localizada: ΔH = b. K. Q2
Então: L eq = (b. K) / a ; L eq = ΔH / J

(ver tabela 55 – Lencastre)

8.2.3. – Perda de Carga num Alargamento Brusco:

Estudado por BORDA (sec. XVIII);

Hipóteses simplificativas:
v Distribuição uniforme de velocidades ( α = β = 1);
v Estagnação do líquido na zona de separação;
v Perda de carga por atrito entre 1 e 2 é nula;

ΔH = (U1- U2)2 / 2g = U12/2g [ 1 – (A1/A2) ]2 = K (U12/2g)

η = ( A1/A2)

A tabela 56 do Manual de A.L. permite conhecer o valor de K para duas situações distintas:

v Repartição uniforme da velocidade para as situações:


o Re < 10;
o 10 < Re < 3 500;
o Re > 3 500

v Distribuição não uniforme das velocidades (IDEL’CIK, 1948):


K = η2 + α - 2 η β

Em que α = coeficiente de Coriolis e β = coeficiente de Boussinesq (tabela 26 do Manual de A. L.).

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8.2.4. – Perda de Carga num Alargamento Suave

Nestes casos (DIFUSORES) deve-se considerar a perda de carga por atrito (Kf), embora seja muito
pequena, para além da perda de carga provocada pelo alargamento (Ka), que é menor que para
alargamento brusco.

∆H < ( Ka + Kf ) (U12/2g)

A tabela 57 do M.L. dá valores para difusores circulares e rectangulares.

8.2.5. – Perda de Carga em Estreitamentos Bruscos:

∆H = K( U22/2g)
Em que K = f(η)

A maior perda de carga dá-se na expansão após a secção contraída.


v A tabela 59 do Manual de A.L. permite conhecer o valor de K para escoamentos com diferentes
números de Re:
o 1 < Re < 8;
o 10 < Re < 104;
o Re > 104

8.2.6. – Perda na Passagem de um Reservatório para uma Conduta:

a) – em aresta viva:
Admitindo Re > 104; η ≈ 0; K = 0,5

ΔH = 0,5 (U22/2g)

b) – através de uma transição:

0,05 < K < 0,50

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Na tabela 61 do Manual de Lencastre, os valores de K são conhecidos dependendo da forma


como é feita a transição:
ü Entrada em aresta viva (reentrante ou não);
ü Colector cónico reentrante;
ü Colector cónico não reentrante.

8.2.7. – Perda na Passagem de uma Conduta para um Reservatório?

O que acontece com a Linha de Energia (L.E.) e Linha Piezométrica (L.P.) no alargamento brusco
motivado pela passagem duma conduta para um reservatório?

a) – em aresta viva:

U2 = 0; ∆H = U12/2g
K=1
Toda a energia cinética perde-se à
entrada;

b) – através de uma transição:

∆H < U12/2g
0,5 < K < 1
Apenas parte da carga cinética é
perdida.

8.2.8. – Perdas de Carga em Outras Singularidades:

A) – Válvulas:
Nas tabelas 64, 65 e 66 do Manual de Lencastre encontra-se o valor de K para diferentes tipos
de válvulas quando parcialmente abertas, nomeadamente adufa circular, adufa
rectangular, cilíndricas, de borboleta, de retenção de batente, grandes válvulas e cónicas
tipo Howell–Bunger.

a) – adufa ou também designada de cunha, em conduta circular:

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b) – adufa em conduta rectangular:

c) – cilíndrica ou esférica:

d) – borboleta:

e) – de batente ou retenção (horizontal ou vertical):

B) – Curvas:
As tabelas do Manual de Lencastre, de 67 a 73 apresentam os valores de K para os mais diversos
tipos de curvas (ângulo e secção da curva, curvas especiais e de ângulo vivo).

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C) – Junções e Separações:

As tabelas 67 a 73 do Manual de LENCASTRE fornecem os valores de K considerando junções


com ou sem concordância, assim como separações.

D) – Ranhuras:
A tabela 79 do Manual de LENCASTRE fornece valores de K para este tipo de singularidade.

8.2.9. – Saída de condutas para a atmosfera:

a) – Saída livre:
A linha piezométrica passa pelo centro de gravidade da secção de saída.

b) – Saída por válvulas ou orifícios:

Q = C×A× 2×g×H

H – carga numa secção imediatamente a montante da válvula, medida em relação ao eixo da


secção de saída;

C – coeficiente de vazão que depende não só do tipo de válvula mas também do grau de
abertura;

Válvula:
Corrediça Esférica Cónica Borboleta
C 0,95 1,00 0,85 0,95 - 0,60

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8.3 INFLUÊNCIA DO TRAÇADO DAS CONDUTAS

O traçado das condutas é fortemente condicionado pela topografia do terreno natural. No projecto de
uma conduta adutora é muito importante a sua implantação. O funcionamento de uma conduta pode
ser influenciado pelo seu traçado.

Seja o caso de uma conduta adutora entre dois reservatórios em que a perda de carga unitária é
constante e se considera a linha piezométrica como uma recta que une a superfície livre dos dois
reservatórios,

Hipóteses simplificativas:

ü As perdas de carga localizadas à saída e entrada dos reservatórios são desprezáveis;


ü A carga cinética é pequena, podendo aceitar-se que a L.P. ≡ L.E.
ü Os 4 traçados têm o mesmo comprimento L, o mesmo diâmetro e são do mesmo material. Passa
por eles o mesmo Q, sendo para todos os traçados válida a expressão J = ( ZA – ZB) / L;

Traçado 1
Situação ideal pois:
· Pressão em qualquer ponto é sempre > Patm;
· Pontos altos 1” : prever ventosas para a saída de ar acumulado;
· Pontos baixos 1´: descargas para limpeza;

Traçado 2
· Entre 2´e 2” a pressão é inferior à Patm;
· Possibilidade de entrada de água de fora para dentro – risco de contaminação;
· Libertação de ar dissolvido (sem se poder colocar uma ventosa).

Traçado 3

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· O troço 3´´ até 3´´´ está acima do nível de energia do reservatório de montante – só há
escoamento se a conduta for previamente preenchida na sua totalidade (efeito de sifão);
· O troço 3´até 3´´´tem pressões inferiores à Patm ;

Traçado 4
· O traçado passa acima da L.P. absoluta;
· A pressão absoluta ( Pabs) seria < 0, o que não é fisicamente possível;
· A L.P. absoluta tem de ser menos inclinada:
o J´< J
o Q´< Q
o Se a conduta atingir em algm ponto uma cota superior a ZA + (Patm/γ) que
corresponde à energia absoluta disponível, o escoamento não pode ocorrer.

Os problemas detectados no traçado das condutas resumem-se a:

· Pressões negativas: podem provocar a contaminação do fluido escoado no caso de existir


alguma pequena fissura na conduta ou deficiência numa junta;
· Pressões muito elevadas: podem provocar o rebentamento da conduta;
· Funcionamento em sifão: além do problema correspondente a pressões negativas, obriga a
intervenção para início de funcionamento;
· Pressões atingem a tensão de vaporização: existe redução de caudal e os problemas resultantes
da ocorrência de cavitação.

8.4 CÁLCULO DE INSTALAÇÕES. REDES

As redes de condutas são constituídas por troços de conduta que se unem formando uma rede
ramificada, ou rede malhada.

Exemplo de redes ramificadas e redes malhadas

Expressão Geral das Perdas de Carga:

ΔH = ( Σ ai . Li . Qi2 + Σ bj . Kj . Qj2 )
i j

contínuas localizadas
Nas redes ramificadas o dimensionamento baseia-se na aplicação das seguintes relações:

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ü equação da continuidade em cada nó;


ü equação de Bernoulli e leis de resistência aplicadas ao longo dos troços.

Deve ainda ser verificada a velocidade máxima e as pressões máxima e mínima na rede.

8.4.1. – Ligação entre dois reservatórios:

Condutas em Série (variação de diâmetros e rugosidades)


A determinação do caudal é por um processo iterativo. Os sistemas podem ser ramificados ou em
paralelo.

Sistemas Ramificados:

v Dados: Di, Qi ΔHi; A solução é directa;

v Dados: Di, ΔHi Qi; Sistema de equações com solução iterativa. Para as redes,
a soma dos caudais em cada nó é igual a zero ∑ Qi = 0;

v Dados: Qi, ΔHi Di; problema de dimensionamento.

Sistema em Paralelo:

v Dados: Di, ΔHi Qi; solução directa;

v Dados: Di, Qt Qi, ΔHi; processo iterativo.

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Vários Reservatórios Interligados:

Processo iterativo. Arbitrar Ha;

Bombagem para um Reservatório Elevado:

O caudal é conhecido por


interações

Curva característica da Bomba:


Ht = a - b.Q2

8.4.2. – Redes de Condutas:

Todos os nós das redes, encontram-se ligados por condutas.

a) - As condições de fronteira são:

· Cota piezométrica fixada (cota do reservatório ou dada a pressão mínima na conduta), assim
como cotas do terreno onde está implantada a rede;
· Caudais de saída em cada nó. O caudal total é a soma desses caudais;

b) – Tem-se os diâmetros e o material das condutas (pode-se arbitrar).

Pretende-se determinar:

· Caudais em cada uma das condutas;


· Cotas piezométricas, pressões mínimas e máximas.

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O primeiro método de solução aproximada para este tipo de problema (correções de vazões operadas
individualmente para cada malha) foi apresentado por HARDY CROSS, no ano de 1936, sendo o
mais antigo e, provavelmente, aquele que maior divulgação teve até o momento. O método de Hardy
Cross é o mais utilizado de entre os métodos de aproximações sucessivas para o cálculo de rede
malhadas, por possibilitar o desenvolvimento dos cálculos, em sistemas simples, além de ser um
método provido de significado físico, que facilita a análise dos resultados intermediários obtidos.

Princípios de Resolução:
ü Nos nós, é válido o princípio da continuidade ∑ Qi = 0;

ü As cargas nas extremidades que concorrem ao mesmo nó são iguais, isto é, a soma de ΔHi
numa malha é nula :

ü (H2 – H1) + (H3 - H2) + (H1 – H3) = 0

O Método de Hardy – Cross é resolvido considerando:

1a Aproximação:

1. – Define-se um sentido de circulação para as malhas: ou ;


2. – Arbitra-se uma distribuição de caudais que satisfaça a continuidade. Alguns
caudais serão negativos em relação ao sentido de circulação;
3. – Calcula-se a perda de carga total em cada malha. Se não for = 0 modifica-se a
distribuição de caudais;
4. - Ao se modificar a distribuição de caudais volta-se ao ponto 3 (soma das perdas
deve ser igual a 0!);
5. – Repete-se o processo até ter uma aproximação suficiente.
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Como é feita a modificação dos caudais?

ΔH toma o sinal de Q;

Em cada lado da malha, ∑ ΔH = ∑ s Q2;

df
å DH = f = f (0) + DQ × dQ ; f (0) = 0

f
® DQ =
df
dQ
df
=
(
d å sQ 2 )
= 2å sQ , (módulo)
dQ dQ

Em cada lado da malha: DQ =


å sQ 2

2å sQ

Este método será aplicado na resolução de redes da disciplina de Abastecimento de Água, do Curso de
Engenharia Civil.

8.5 CONDUTAS COM CONSUMO VARIÁVEL DE PERCURSO

As condutas de abastecimento doméstico de água são um bom exemplo deste tipo de condutas pois
nelas existem numerosas pequenas derivações, variando o caudal lentamente (considera-se consume
uniforme).

Considera-se que existe uma saída contínua e uniforme de caudal. O caudal de percurso total no troço
é determinado por : P = Q0 – Q1

Considerando o percurso uniforme: p = (Q0 – Q1) / L


Qx = Q0 – p x

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Perda de carga unitária em cada secção:


2
æ Qx ö
J x = çç 2
÷ = b × Q 2x
÷
èK×A×R 3 ø

Perda de carga contínua total:


L L
æ p 2 × L2 ö
DH = ò J x dx = b × ò (Q 0 - p x ) 2 × dx = b × L × çç Q 02 + - Q 0 × p × L ÷÷ =
0 0 è 3 ø
æ p 2 × L2 ö
= b × L × çç Q12 + Q1 × p × L + ÷÷ = b × L × (Q 1 + a × p × L )2
è 3 ø
a = 0,5 - 0,577
Þ a » 0,55

Conceito do CAUDAL EQUIVALENTE:

O caudal equivalente é determinado de modo a que a perda de carga contínua no escoamento


gradualmente variado em regime turbulento rugoso seja igual à perda de carga contínua do escoamento
uniforme com caudal igual ao caudal equivalente em regime turbulento rugoso e na mesma conduta
(diâmetro e rugosidade absoluta equivalente).

Então, o Caudal equivalente corresponde ao caudal fictício que provocaria a mesma perda de carga
contínua total: Q e ® J e = b × Q e

DH = J e × L = b × L × Q 2e Q e @ Q1 + 0,55 × p × L

Caso em que Q1 = 0 Q0 = p × L
2
Q 1
DH = b × L × 0
= × b × L × Q 02
3 3

8.6 CAVITAÇÃO

Cavitação é o fenómeno hidráulico que corresponde à formação e subsequente colapso, no seio dum
líquido em movimento, de bolhas preenchidas por vapor de líquido e outros gases dissolvidos. O nome
de cavitação surge pela formação de cavidades dentro da massa líquida.

A cavitação ocorre em determinados pontos devido à aceleração do fluido, quando a pressão pode
descer a um valor abaixo da pressão de vapor do líquido, ocorrendo uma vaporização local do fluido,
formando bolhas de vapor, isto é, o líquido entra em ebulição.

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· Condutas com traçados próximos das linhas piezométricas absolutas;


· Singularidades tais como tubos de Venturi, curvas, irregularidades das superfícies, etc;
· Tubos de aspiração de bombas

Depois de formadas, as bolhas são transportadas para regiões de pressão mais alta, reduzem o seu
volume e dá-se assim o colapso das bolhas.

A consequência do colapso traduz-se na ocorrência de ruído forte, vibrações e pontualmente a


existência de pressões altas (podem atingir os 1000 m.c.a.!). Quando o colapso da bolha se dá junto às
paredes, provoca erosão pois dá-se a picagem das superfícies.

Se a região de colapso das bolhas for próxima a uma superfície sólida, as ondas de choque geradas
pelas implosões sucessivas das bolhas podem provocar fissuras microscópicas no material que, com o
fluxo constante, irão crescer e provocar uma cavidade de erosão localizada.

Este fenómeno deve ser sempre evitado por causa dos prejuízos financeiros que causa devido a erosão
associada, seja nas pás de turbinas, de bombas, em pistões, válvulas ou mesmo em canais.

Exemplos de danos em pás das turbinas das bombas provocadas pela cavitação

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9 ESCOAMENTOS VARIÁVEIS SOB PRESSÃO

9.1 TIPOS DE ESCOAMENTO. PROBLEMAS E APROXIMAÇÕES

No escoamento variável, os parâmetros caudal, velocidade e mesmo a pressão variam com o tempo:

Q = Q ( t ),
U=U(t);
p=p(t);

A ocorrência do escoamento variável sob pressão, tem como causas principais:


v manobras de válvulas (abertura e fecho),
v variação do consumo de água ao longo da conduta;
v variação do regime de funcionamento das bombas ou turbinas;
v variação do nível do reservatório de alimentação;
v outras causas particulares

O escoamento transitório corresponde ao escoamento variável na passagem dum regime permanente


para outro regime permanente;

Podem encontrar-se diferentes tipos de escoamento variável sob pressão:

Golpe de Ariete – entra-se em linha de conta com a compressibilidade da água e a deformabilidade


da conduta;

Oscilação em Massa – para a análise deste fenómeno, despreza-se a compressibilidade da água e


deformabilidade da conduta;

Escoamento quase permanente;

9.2 GOLPE DE ARIETE. ANÁLISE QUALITATIVA


9.2.1 Fecho total e instantâneo do obturador

Situação inicial:
Obturador aberto

æ U2 ö
p 0 = g × çç y 0 - ÷ » y0 ×g
è 2g ÷ø
Reservatório de grandes dimensões

fig. 9.1 – Esquema reservatório obturador no regime permanente

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No t=0 temos o fecho instantâneo do obturador. Caso se considerasse o líquido incompressível e a


conduta indeformável, todo o líquido ficaria na altura do fecho, instantaneamente imobilizado e a
aceleração seria negativa e infinita. Tal situação não é fisicamente possível.

No entanto, para a análise deste fenómeno, considera-se como simplificação, a deformabilidade da


conduta como sendo desprezável.

Como o líquido real é compressível, então:


v este continua a mover-se no instante do fecho, para o obturador;
v Só uma camada muito próxima do obturador se imobiliza e fica comprimida.;
v A camada próxima do obturador sofre uma sobrepressão Δp

p 1 = p 0 + Dp
Fig.9.2 – propagação da onda do reservatório para o obturador

O limite da zona imobilizada, funciona como o obturador fechado, produzindo-se uma onda que se
propaga no sentido do obturador-reservatório. Assim, distingue-se duas zonas bem distintas:

v Zona já atingida pela onda, onde U1 = 0, p1 = p0 + Δp


v Zona ainda não atingida, onde U = U0 e p = p0 ;

A onda propaga-se a uma velocidade que é chamada de celeridade. Esta chega ao reservatório ao fim
do tempo t = L/C :

Neste momento:
v Toda a água na conduta está parada (fig. 2);
v Todo o líquido contido na conduta está sujeito à sobrepressão Δp;
v Há um desequilíbrio de pressões na secção que liga a conduta ao reservatório, sendo p1 > p0;

Fig.9.3 – chegada da onda ao reservatório e diferença de pressões à chegada

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Como p1 > p0 o escoamento dá-se da conduta para o reservatório com uma velocidade U0.
(escoamento dá-se no sentido enquanto que a onda se propaga no sentido inverso ).

A pressão na zona descomprimida reduz-se a p0 :

Fig.9.4 – situação do escoamento no sentido obturador-reservatório

O limite da zona descomprimida funciona como anteriormente a secção de ligação conduta-


reservatório. Há uma onda que se propaga com celeridade C do reservatório para o obturador:

v Zona já atingida pela onda, onde U2 = - U0, p2 = p0


v Zona ainda não atingida, onde U1 = 0 e p1 = p0 + Δp;

A onda atinge o obturador no instante t = 2L/C.


Toda a conduta tem líquido com velocidade U2 = - U0, e também p2 = p0 ;
O líquido continua a escoar-se da conduta para o reservatório, até que a camada junto ao obturador
fica imóvel e a água nessa camada sofre uma descompressão:

Fig. 9.5 – Líquido da junto ao obturador com velocidade nula

O limite da zona descomprimida funciona como anteriormente o obturador.


Há uma onda que se propaga com celeridade C para o reservatório:

v Zona já atingida pela onda, onde U3 = 0, p3 = p0 - Δp


v Zona ainda não atingida, onde U2 = - U0 e p2 = p0;

A onda atinge o obturador no instante t = 3L/C


Toda a conduta tem líquido em repouso e com pressão p3 = p0 - Δp;

Há um desequilíbrio de pressões na secção de ligação conduta – reservatório e devido a essa


diferença vai haver escoamento de água do reservatório para a conduta.
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Na camada junto ao reservatório, a velocidade passa a ser igual a U0 e a pressão p0.

Fig. 9.6 – Situação em que a onda atinge o obturador no instante t = 4L/C

A nova onda atinge o obturador no instante t = 4L/C

As condições do sistema nos instantes t = 0 e t = 4L/C são as mesmas. Por isso o ciclo repete-se!

Podem ser traçados os diagramas de pressões e velocidades em qualquer secção da conduta.

Fig. 9.7 – Exemplo da secção do obturador

Se o tempo de fecho Tf < 2L/C estamos perante uma manobra rápida.

Fig. 9.8 – Variação das pressões ao longo do tempo em períodos L/C

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9.2.2 Fecho não instantâneo do Obturador

Neste caso, o obturador é fechado dentro de um determinado período de tempo T e considera-se a


manobra de fecho total como sendo uma sucessão de manobras de fechos parcelares.

Cada manobra parcelar é instantânea e origina uma redução da velocidade e uma sobrepressão junto
do obturador, originando uma onda que se propaga para o reservatório.

Como as manobras parcelares se sucedem no tempo, as ondas que originam estão desfasadas.

Fig. 9.9 – Variação das pressões numa manobra não instantânea do obturador

Assim, considerando uma manobra rápida (Tf < 2 L/C):

v A depressão (-Δp) provocada pela primeira manobra parcelar, só chega ao obturador ao fim
do tempo T1 = 2L/C > Tf;
v Todas as sobrepressões provocadas pelas manobras parcelares, somam-se;
v a sobrepressão máxima junto do obturador é igual à da situação do fecho instantâneo.

Considerando uma manobra lenta (Tf > 2 L/C):

v A depressão (-Δp) provocada pela primeira manobra parcelar, só chega ao obturador ao fim
do tempo T2 = 2L/C < Tf;
v As sobrepressões provocadas pelas últimas manobras parcelares, sobrepõem-se às depressões
das primeiras manobras parcelares;
v a sobrepressão máxima junto do obturador será menor do que no caso da manobra instantânea
e tanto menor quanto maior for < Tf /(2L/C);
v Só parte da conduta fica sujeita a uma sobrepressão máxima igual à sobrepressão máxima no
obturador para o caso de manobra rápida;

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Fig. 9.10 – Esquema das sobrepressões ao longo do comprimento da conduta na situação de fecho não
instantâneo do obturador

Tf + (x/c) = (2L – x) / c x = L – (Tf .c/ 2)

Admite-se que a sobrepressão máxima se reduz linearmente desde a secção x até ao reservatório,
onde se anula.

Fig. 9.11 – Modo como se distribui o Tf no fecho instantâneo do obturador

No caso da manobra lenta, a redução dá-se desde o obturador.

9.2.3 Medidas a adoptar em condutas a montante de turbinas

O golpe de ariete pode ocorrer a montante de turbinas em situações tais como:


v a diminuição da demanda de energia;
v redução do caudal nas turbinas;
v fecho total ou parcial da admissão de água na conduta, entre outras.

O objectivo das medidas a adoptar para evitar este fenómeno, é fazer reduzir as sobrepressões máximas
que ocorre nas condutas a montante das turbinas.

Procura-se assim aumentar o valor do parâmetro Tf / (2L/c). Assim, algumas medidas poderão ser
tomadas, tais como:

Ø intercalar na conduta uma chaminé de equilíbrio, reduzindo-se desta maneira o valor de L;


Ø aumentar o Tf, condicionado pela velocidade de rotação máxima admissível para as turbinas;

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Ø Instalar válvulas de descarga automática. São dispositivos que abrem quando as admissões para
as turbinas fecham; por outro lado, fecham lentamente sem provocar grandes sobrepressões;

9.2.4 Golpe de Ariete a jusante de uma bomba

O corte de alimentação de energia a uma bomba, pode ser provocado quer por uma manobra
comandada pelo operador, por uma manobra com comando automático ou ainda por uma avaria.

Como consequência desta corte, a velocidade de rotação da bomba diminui até parar e como
consequência o caudal bombado também.

A colocação de uma válvula de retenção junto à bomba é muito importante pois impede a inversão
do caudal através desta.

Na altura do arranque de uma bomba há que ter em consideração o tempo para se atingir o regime
permanente. Na altura de paragem de uma bomba o tempo Ta corresponde ao tempo de anulação do
caudal.

Com a paragem da bomba, gera-se uma situação simétrica à do fecho do obturador, gerando-se
inicialmente depressões a jusante da bomba:

Fig. 9.12 – distribuição das depressões quando paragem da bomba

9.2.5 Rotura da veia líquida

Se (p0 – Δp) baixar mais do que a tensão de saturação do vapor, ocorrem os seguintes fenómenos:

v dá-se o que se chama de rotura da veia líquida;


v há a formação de cavidades com vapor de água.

As consequências possíveis ao ocorrer estes fenómenos são:

o dá-se o colapso da conduta por pressões internas (altas pressões na reposição da veia);
o colapso da conduta por pressões externas (excesso de pressões exteriores durante a
rotura da veia);

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A rotura da veia pode não ocorrer junto à bomba e surgir num ponto alto da conduta, dependendo do
traçado altimétrico da conduta.

As condutas elevatórias (chamadas normalmente de condutas de adução) precisam de ser protegidas


contra os efeitos do golpe de ariete (sobrepressões e depressões).

9.3 GOLPE DE ARIETE. ANÁLISE QUANTITATIVA SIMPLIFICADA

9.3.1 Equações do modelo matemático

A análise rigorosa do Golpe de Ariete, é feita por um modelo matemático que entra em consideração
com a compressibilidade do líquido e a deformabilidade da conduta. As equações diferenciais do
modelo são:

Ø Equação da continuidade;
Ø Equação do movimento;
Ø Condições iniciais,
Ø Condições de fronteira.

Normalmente, a resolução é feita por métodos numéricos.

9.3.2 Sistema reservatório-conduta-obturador

Numa conduta com obturador, o fecho rápido ou lento da válvula, pode provocar o fenómeno do
CHOQUE HIDRÁULICO. A manobra ser rápida ou lenta depende da expressão 2L/C

a) Manobra rápida: b) Manobra lenta:

Em que C = celeridade ou velocidade de propagação da onda, e L = comprimento da conduta. Neste


caso desprezam-se as perdas de carga e a energia cinética

a) – Manobra rápida: (T< 2L/C)


∆p = ( y1 – yo) . γ

Equação de Allievi-Joukowski:
y1 – yo = c/g (U0 – U1)

Equação da Continuidade:
U1 . A = S1 . (2.g.y1) ½

Em que:
U1 = secção da conduta;

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S1 = secção aberta do obturador

Quando temos um fecho total rápido, U1 = S1 = 0, então:

y1 – yo = (C/g) U0 ou seja, Ymáx = C.U0/g


Ymáx representa o acréscimo de pressão, em m.c.a.

Ao longo da conduta, esse acréscimo pode ser assim representado:

X = L– C.Ta/2

A celeridade c, depende das características elásticas da conduta e do líquido e define-se como sendo:

ε - Módulo de elasticidade volumétrica do líquido (N/m2);


E - Módulo de elasticidade da conduta (N/m2)
Dint – Diâmetro interior da conduta
e – Espessura da conduta
ρ – massa específica do líquido (± 1.000Kg/m3)ou 998,20Kg/m3 à temperatura de 20ºc
(tabela 10 do ML)

Para os materiais mais utilizados, os valores dos módulos de elasticidade são os seguintes:

9 2
Material E (10 N/m = Gpa)
Água 1,96
Aço 210
Ferro fundido dúctil 170
Fibrocimento 23
PVC 3.1
PEAD 1.5

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Para a água, pode ser utilizada a tabela nº 10 do Manual de Lencastre, que considera 2,14x108 Gpa o
módulo de elasticidade considerando a água a 20ºc

Para água e condutas metálicas ou de betão, C ≈ 900 – 1300 m/s;

b) – Manobra lenta: (T > 2L/C)

É usada a Fórmula de MICHAUD (para utilizar em estudos preliminares):

A distribuição ao longo da conduta pode ser assim representado:

2L. U
á =
g. t
A B
L

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representa um acréscimo de pressão existente no ponto B. Se for extremidade livre a pressão seria (0
+ ymáx). Se a válvula estiver no meio de uma conduta, teria de se conhecer a pressão nesse ponto, no
momento do fecho da válvula.

9.3.3 Conduta a jusante duma Bomba

Nestes casos, o tempo de fecho é substituído pelo tempo de anulação do caudal da bomba (Ta). Podem
existir sobre-pressões (aumento de pressão na conduta), ou sub-pressões (diminuição da pressão na
conduta).

Analisando as SOBRE-PRESSÕES:

Fórmula de Mendiluce:

Em que,
C – variável em função do declive da conduta;
K – variável em função do comprimento;
L – comprimento da conduta em análise;
U – velocidade do escoamento;
g – gravidade;
Hman – altura manométrica, ou altura de elevação

i(%) 0 10 20 30 > 40
C 1 1 0,95 0,58 0

K = coeficiente adimensional, dependente de L:


K = 2 para L < 500;
K = 1 para L > 1 500,
K ≈ 2,5 – (L / 1000) para 500 < L < 1500

Mantém-se no entanto as fórmulas para o Ta do caudal:

Tempo de anulação não instantânea:

Tempo de anulação instantânea:

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a) Anulação instantânea: Fórmula de Allievi-Joukowsky:

ymáx = C.U0/g
X=L-Ta/2

Ymáx=C.U0 /g
H

Hman
Hg ou Y0

Bomba

b) Anulação não instantânea

Fórmula de Michaud:

Para além de sobre-pressões, parte da conduta pode sofrer sub-pressões. O sistema pode funcionar mal
se as pressões baixas forem inferiores ao correspondente a -8 m.c.a. (teoricamente – 10,33 m.c.a.,
correspondente à tensão de saturação de vapor).

Docente: Eng.º Carlos Caupers 104 | P á g i n a


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No caso de SUB-PRESSÕES:

a) Tempo de anulação instantânea:

b) - Tempo de anulação não instantânea:

2LUo
g. Ta

Hman Hg ou Y0

y min

Bomba

Nota: Yo representa o valor de Hg para o ponto onde se pretende verificar o Ymin.

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9.4 PROTECÇÃO DE CONDUTAS ELEVATÓRIAS CONTRA O GOLPE


DE ARIETE

Os objectivos da protecção das condutas é o de:

v evitar a rotura da veia líquida;


v reduzir a sobrepressão máxima.

São usados normalmente os seguintes dispositivos:

Volantes de inércia:
ü aumentam o tempo de paragem das bombas;
ü fazem melhor efeito em condutas curtas.

Chaminé de Equilíbrio:
ü reduz o comprimento da conduta sujeita ao golpe de ariete;
ü ocupa no entanto muito espaço. É muito usado em condutas para
turbinas;

Reservatórios Hidropneumáticos:

ü Chamados também de hidropressores –


fica no seu interior gás sob pressão;

Reservatórios Unidireccionais:

ü Alimentam as condutas
(sobretudo em pontos altos) quando as cotas
piezométricas nesses pontos se tornam
inferiores ao nível dos reservatórios.

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Condutas de Curto-circuito (By-pass):

ü Condutas que estão ligadas ao reservatório de alimentação da bomba;


ü Alimenta a conduta principal quando a cota piezométrica na conduta cai abaixo do nível do
reservatório;
ü Trechos munidos de válvula de retenção ou outra especial;

9.4 OSCILAÇÃO EM MASSA

Admite-se nestes casos, que:

Ø Líquido é incompressível;
Ø Conduta indeformável.

O modelo rígido só é válido para sistemas ALBUFEIRA – GALERIA – CHAMINÉ DE


EQUILÍBRIO

A situação inicial, U = U0 na galeria. O tempo T = 0 é o tempo do fecho instantâneo da admissão às


turbinas. Na hipótese simplificativa desprezam-se tanto as perdas de carga como a carga cinética na
galeria.

Docente: Eng.º Carlos Caupers 107 | P á g i n a


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Os níveis na chaminé e na albufeira são iguais antes da paragem das turbinas.

Ø Quando há paragem do líquido na conduta forçada, o escoamento na galeria continua e


a água penetra na chaminé;
Ø A subida de nível na chaminé, aumenta a pressão na secção de ligação com a galeria,
originando uma desaceleração do escoamento na galeria até à sua paragem;

Ø Quando o escoamento na galeria pára, o nível na chaminé atingiu o máximo e é superior


ao nível na albufeira. Passa então a haver escoamento da chaminé para a albufeira, com
velocidade inicial U = - U0.

Ø O escoamento para a albufeira faz baixar o nível na chaminé. Há aceleração no


escoamento dentro da galeria enquanto o nível na chaminé é superior ao da albufeira;

Ø A aceleração decresce com a diminuição da diferença de nível. Quando os níveis são


iguais, a aceleração é nula;

Ø O escoamento torna-se desacelerado quando o nível na chaminé se torna inferior ao da


albufeira. Quando o escoamento na galeria se anula, o nível na chaminé é o mínimo;

Ø O CICLO REPETE-SE!!

A energia potencial correspondente à máxima diferença de nível de água (positiva ou negativa) entre
a chaminé e a albufeira é igual à energia cinética do escoamento com velocidade inicial U0.

9.5 ESCOAMENTOS QUASE PERMANENTES

Os escoamentos quase permanentes são escoamentos variáveis em que a aceleração é muito reduzida,
sendo por isso estudados como se tratassem, em cada instante, de escoamentos permanentes.

É o caso vertente do esvaziamento de um reservatório por um orifício no extremo de uma conduta.

Num dado instante t, com o nível à cota z, tem-se, considerando o

Docente: Eng.º Carlos Caupers 108 | P á g i n a


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movimento como permanente:

Em que:
V = velocidade de saída do jacto de água;
ΔH = perda de carga total.
Tratando-se de um escoamento puramente turbulento:

Z = β . Q2
O valor de β pode ser determinado a partir das características do orifício e da conduta.
A variação da cota da superfície no intervalo de tempo elementar dt, é:

- Az . dz = Q . dt
ou,
æ ö
2 × b × A z × çç dz 1 ÷÷ = t 2 - t 1
è Z 2ø
sendo Az a área da superfície livre do reservatório à cota z.

Assim, se Az for constante (Az = A), as cotas da superfície livre Z1 e Z2 em instantes t1 e t2 são tais
que:

2 × b × A × ( Z 11 2 - Z 12 2 ) = t 2 - t 1

As perdas de carga na galeria e na chaminé, conduzem a um amortecimento do movimento


sinusoidal.

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10 BOMBAS CENTRÍFUGAS
10.1 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Denomina-se BOMBA uma máquina hidráulica capaz de elevar a pressão de um fluído, isto é, de lhe
comunicar energia.

Denomina-se de SISTEMA DE ELEVAÇÃO ao conjunto constituído pela tubagem e pelos meios


mecânicos de elevação do líquido e que pode ser constituído por:

v Tubagem de sucção ou aspiração;


v Bomba (eléctrica ou moto-bomba);
v Tubagem de elevação ou compressão.

As BOMBAS podem ser classificadas em dois grandes grupos:

a) – Volumétricas – Dependem das pressões e das forças estáticas e não das velocidades relativas
entre o escoamento e as partes móveis. Quando o escoamento é intermitente dizem-se
alternativas como por exemplo bombas de pistão e as de diafragma. Se o escoamento é contínuo
denominam-se rotativas como por exemplo as bombas de engrenagem, de palhetas, as
helicoidais ou as de vortex.

b) – Turbobombas ou hidrodinâmicas (normalmente denominadas centrífugas) – O


intercâmbio de energia depende das forças dinâmicas originadas pelas diferenças de velocidade
entre o fluido que escoa e as partes móveis da máquina. Conforme o escoamento do fluido pelo
propulsor, podem ser classificadas de radiais, axiais e mistas.

As Bombas Centrífugas podem ser ainda diferenciadas em função do número de propulsores:

v Bomba de estágios simples – são aquelas de um estágio apenas (um andar ou estágio simples);

v Bomba de estágios múltiplos (ou de andares múltiplos) – quando a altura manométrica é muito
grande, é costume usar-se bombas de vários estágios. Cada propulsor eleva o fluido até uma
determinada altura. Por exemplo, são usadas bombas de múltiplos estágios em poços
profundos.

Imagem 10.1 – Aspecto de uma bomba de apenas um estágio e outra de múltiplos estágios

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As Bombas podem ainda ser classificadas como submersíveis ou não-submersíveis - Geralmente as


bombas de eixo vertical trabalham submersas, isto é, ficam dentro da água e são comandadas por um
motor cujo eixo é prolongado, ficando este fora de água, sem que esteja sujeito a inundações.

É frequente também usar-se em poços, o conjunto de ar-comprimido ou “air-lift”, por onde se injecta
ar comprimido que obriga a água a subir por outro tubo.

Imagem 10.2 – Exemplo de bombas submersíveis e bomba de eixo horizontal, não-submersíveis

10.2 CAUDAL

O Caudal é o volume do fluido bombado na unidade de tempo. Mede-se geralmente em metros cúbicos
(m3/s) por segundo ou em litros por segundo (l /s). É representado normalmente por Q.

10.3 ALTURA GEOMÉTRICA (Hg)

Quando se deseja elevar um caudal Q de um Reservatório 1 para outro 2 ( normalmente o 1 é chamado


de aspiração e o 2 de compressão) é necessário vencer o desnível Hg. A esta altura chama-se Altura
Geométrica ou Estática. Corresponde à diferença de cotas destes dois reservatórios Z2 – Z1 = Hg ou
em também representada por Y, sendo as unidades em [m].

10.4 ALTURA DE ELEVAÇÃO (H)

Quando uma bomba está em funcionamento, verificam-se perdas de carga tanto contínuas como
localizadas. A altura de elevação ou também denominada altura manométrica, é o aumento de
pressão que a bomba pode comunicar ao fluido.

Pode exprimir-se em m.c.a. ou em N/cm2. É representada por H.

Verificando a figura abaixo, considera-se a seguinte simbologia:

Z1 – cota da superfície livre no reservatório de aspiração;

Z2 – cota da superfície livre no reservatório de compressão (na hipótese de as superfícies livres dos
reservatórios não estarem à pressão atmosférica, Z1 e Z2 seriam as cotas atingidas pelo líquido em
tubos piezométricos colocados nos mesmos;

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Fig. 10.1 – Representação de bombas em processo de elevação de água do reservatório de aspiração para o
reservatório de compressão

Za e Zc – Cota da linha de energia relativa, nos orifícios de aspiração e de compressão da bomba,


respectivamente;

Zb – Cota do eixo da secção de entrada da bomba;


Z´a e Z´c - Cota da linha piezométrica realtiva, no orifício de aspiração e de compressão
respectivamente;

Ya = Z1 – Zb – Altura geométrica ou carga estática, de aspiração. Será negativa no esquema a) e


positiva no esquema b);

Yc = Z2–Zb – Altura geométrica ou carga estática, de compressão;

Y = Z2 – Z1 – Altura geométrica ou carga estática total;

ha = Z´a – Zb – Altura manométrica de aspiração – normalmente corresponde à leitura num


manómetro colocado na flange de entrada da bomba e referida ao plano horizontal da cota Zb ,
expressa em coluna de líquido;

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hc = Z´c – Zb – Altura manométrica de compressão – corresponde à leitura num manómetro


colocado na flange de compressão e referida ao plano Zb , expressa em coluna de líquido;

h = Z´c – Z´a – Altura manométrica total – leitura num manómetro diferencial colocado entre as
flanges de entrada e de saída, expressa em coluna de líquido;

Ha = Za – Zb – Altura total de aspiração – É frequente na literatura inglesa, chamar-se de “total


suction lift” no caso do esquema a) e de “total suction head” no caso do esquema b);

Hc = Zc – Zb – Altura total de compressão;

H = Zc – Za – Altura total ou carga total;

ΔHa = Z1 – Za – Perdas de carga contínuas e localizadas na tubagem de aspiração;

ΔHc = Zc – Z2 – Perdas de carga contínuas e localizadas na tubagem de compressão;

Ua – Velocidade na secção de entrada da bomba;

Uc – Velocidade na secção de saída da bomba;

Ua/2g – Energia cinética na secção de entrada da bomba;

Uc/2g – Energia cinética na secção de saída da bomba;

10.5 CAVITAÇÃO – N.P.S.H. (Net Positive Suction Head)

Em determinadas situações, pode ser necessário instalar a bomba afastada do reservatório de montante,
sendo a conduta de aspiração longa. Para que seja possível o funcionamento do sistema, a distância
máxima do reservatório a que a bomba pode ser instalada, Xmáx corresponde à situação em que a
pressão mínima na flange de entrada da bomba iguala a tensão de saturação de vapor, que expressa,
em termos de pressões relativas, corresponde a:

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Considerando T=20ºC, a tensão de saturação de vapor =2340 Pa, e Patm = 1,012x105 Pa. Então o valor
da altura piezométrica mínima teórica seria igual a – 10 m.c.a.

Em rigor, esta pressão nunca pode ser atingida, uma vez que induziria no interior da bomba fenómenos
de cavitação decorrentes do aumento da velocidade junto ao impulsor. A este valor deveria ser somada
a diferença entre a carga sobre o eixo da flange e o ponto de pressão mínima no interior da bomba,
designada por carga absoluta útil na aspiração da bomba (Net Positive Suction Head, NPSH) expressa
em metro de coluna de líquido bombado.

sendo ps, a pressão no eixo da secção da flange de aspiração, p mi, a pressão mínima no interior da
bomba (no limite igual à tensão de vaporização), Us, a velocidade média na flange de aspiração.

O NPSH depende das características da bomba e varia com o caudal, com a velocidade de rotação e
com a temperatura do fluido. Se a bomba for instalada a uma distância superior a Xmáx ou a uma cota
topográfica superior tal que a pressão mínima fosse inferior à tensão de saturação de vapor tv, não seria
possível o funcionamento normal do sistema (Caso C).

Fig. 10.2 – Representação de bombas em processo de elevação de água do reservatório de aspiração para o
reservatório de compressão

Numa tubagem de aspiração, as pressões que se verificam são normalmente inferiores à Patm. Se se
verificarem pressões inferiores às do vapor do líquido à entrada da bomba:

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Ø originam-se bolhas de vapor que se deslocam para as zonas de maior pressão. Ao chegar à
bomba e como a pressão aumenta bruscamente (devido à energia fornecida pela bomba) as
bolhas colapsam-se;

Ø produzem-se normalmente ruídos semelhantes a um martelamento, para além de aparecerem


vibrações;

Ø Fenómeno chamado de CAVITAÇÃO, cujo nome deriva de aparecerem covas ou espaços no


fluido escoante, deixando de ser contínuo;

Ø O martelamento provoca a destruição das paredes da carcaça da bomba e das pás do propulsor
ou mesmo a tubagem próximo desta e deve-se a dois efeitos:

Mecânico – O choque das bolhas provoca sobrepressões (golpe de ariete) que


destroem e ampliam todos os poros e ranhuras existentes no metal;
Químico – As bolhas libertam iões de oxigénio que atacam todas as superfícies
metálicas;

Não há cavitação desde que em todos os pontos do percurso do fluido, a pressão do vapor do respectivo
fluido à temperatura ambiente.

Fig. 10.3 – Representação esquemática de uma bomba instalada a cota superior ao nível de água de montante

Consideramos dois pontos, um situado no N.A. do reservatório inferior, á pressão P0 (Patm) e outro
situado no eixo, à entrada da bomba, sujeito à pressão P1.
Aplicando
p0 U 20 p U2
+ = h a + 1 + 1 + DH a (1)
g 2g g 2g

E vem:
p 0 - p1 U 20 - U 12
ha = + - DH a (2)
g 2g

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Desprezando as perdas de carga e a diferença entre as energias cinéticas, temos,


p 0 - p1
ha = se for P1 = 0, caso limite P0=P1 (3)
g

101300 N m 2
p0
ha = = = 10,33m (4)
g 9810 N m 2

Que é o valor teórico máximo da altura estática de aspiração, ao nível do mar e à t = 4º;

Na prática adopta-se um valor em torno de 6 a 8 m já que normalmente o regime é turbulento à


entrada da bomba e não se deve desprezar as perdas de carga e a diferença entre as energias cinéticas.

A cavitação limita a altura estática de aspiração, cujo valor máximo ocorre quando a pressão na
conduta á igual à pressão do vapor do líquido à temperatura de bombagem.

p0é p v U 12 - U 02 ù
h a (max) £ -ê + + DH a + J * ú (5)
g ëg 2g û

J* está ligada à geometria e tipo de propulsor e tem o nome de coeficiente de cavitação. Depende da
altura manométrica (Hm) e da velocidade específica da bomba (ns):

J* = σ . Hm sendo que, σ = 0,0021 x n4/3


Assim,
p0 æ pv ö U 12 - U 02
- çç h a + + DH a ÷÷ > + J * (6)
g è g ø 2g

onde no primeiro membro estão as grandezas que dependem das condições locais de instalação. É o
N.P.S.H. disponível. No segundo membro estão as condições da bomba. É o N.P.S.H. requerido.

O (N.P.S.H)d corresponde à carga residual disponível;

O (N.P.S.H)r corresponde à carga exigida pela bomba;

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p0 æ p ö
- çç h a + v + DH a ÷÷ > J * (7)
g è g ø

Quando a altura de aspiração é positiva e o N.A. está sob a pressão atmosférica, o (N.P.S.H)d é
dado pela seguinte expressão:

( N.P.S.H) d = h atm - (h a + h v + DH a ) (8)

hatm depende da altitude do local considerado:


10,33 m para altitudes de 0m
7,03 m no caso da altitude ser igual a 3.000m;

hv depende da temperatura da água:


20º C .................. 0,24 m.c.a.
100º C ...............10,33 m.c.a

O (N.P.S.H.)r que é exigido pela bomba é normalmente fornecido pelos fabricantes.

Se a bomba estiver submersa e se a pressão na superfície de água (N.A.) for igual à Patm, o
(N.P.S.H)d é calculado pela expressão:

( N.P.S.H ) d = ( h atm + h a ) - ( h v + DH a ) (9)

10.6 POTÊNCIAS E RENDIMENTOS

Potência Útil da Bomba – Pu – É a potência que corresponde ao trabalho realizado pela bomba.
g ×Q×H g ×Q×H
Pu = g × Q × H[ Watt] = [C.V.] = [kW ] (10)
736 1000

Q – caudal bombado (m3/s);


H – carga total (m);
γ - massa específica (N/m3);

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Potência Absorvida pela Bomba – Pa – É a potência fornecida no eixo da bomba.

Rendimento da Bomba – Relação entre as Potências Útil e Absorvida da Bomba:

g ×Q×H g ×Q×H
Pa = [C.V.] = [kW ] (11)
h × 736 1000 ×h
Pu
Em que: h= (12)
Pa
OBS: O rendimento baixa significativamente para líquidos de viscosidade mais elevada. Nota-se neste
caso um aumento da Pa, uma redução na carga e alguma redução no caudal. Sempre que haja
necessidade de bombar líquidos mais viscosos, devem-se realizar ensaios prévios.

10.7 VELOCIDADE DE ROTAÇÃO

A velocidade de rotação, n, é o número de rotações dado pela bomba na unidade de tempo. O seu
valor influi duma maneira sensível no funcionamento da bomba. São válidas as seguintes regras
gerais:

v Os caudais Q, podem em primeira aproximação, considerar-se proporcionais à velocidade de


rotação n:

Q/Q1 ≈ n/n1 (13)

v As alturas H, variam em primeira aproximação, proporcionalmente com o quadrado da


velocidade de rotação, n:
H/H1 ≈ (n/n1)2 (14)

v As potência Absorvida varia, em primeira aproximação, proporcionalmente com o cubo da


velocidade de rotação, n:

P/P1 ≈ (n/n1)3 (15)

v O rendimento na zona de utilização, é praticamente independente da velocidade de rotação.

Será então, aproximadamente:

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P/P1 ≈ (H/H1 )3/2≈ (Q/Q1 )3≈ (n/n1)3 (16)

10.8 DIAGRAMA EM COLINA

A superfície que relaciona o rendimento, η, com o caudal, Q, a altura de elevação, H e a velocidade


de rotação, n, tem a forma de uma colina. O ponto de rendimento máximo corresponde aos valores
nominais da bomba: Q0, H0, P0, n0.

A representação da variação de η com Q e H toma o seguinte aspecto que se apresenta sob forma
adimensional:

Fig. 10.4 – Diagrama de colina

10.9 VELOCIDADE ESPECÍFICA

A velocidade específica, ns, é o número de rotações dado na unidade de tempo por uma bomba
geometricamente semelhante que, com a carga total igual a uma unidade, eleva a unidade de caudal.

Q
n = n×
H (17)
s 34

A velocidade específica é a mesma para todas as bombas semelhantes e, para uma mesma bomba,
não muda com a velocidade.

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Quando a velocidade específica é utilizada para caracterizar um tipo de bomba, deve-se calcular para
o ponto de rendimento óptimo.

10.10 CURVA CARACTERÍSTICA. PONTO DE FUNCIONAMENTO

A maioria dos problemas de bombagem é resolvida com auxílio das curvas características das
tubagens.

As relações entre o caudal, Q, a altura total, H, a potência absorvida P e o rendimento η, designam-se


por curvas características das bombas para uma dada rotação. Elas representam secções feitas no
diagrama de colina.

Fig. 10.5 – Gráfico representativo do ponto de funcionamento (PA) de uma bomba numa determinada
instalação hidráulica

Curva (I) – Curva de alturas totais, H, em função dos caudais;


Curva (II) – Curva das potências absorvidas, P, em função dos caudais;
Curva (III) – Curva dos rendimentos, η, em função dos caudais.

Para além das curvas características da bomba, existem também as curvas características de
instalação, representadas pelas curvas (IV) e (V):

Curva (IV) – Curva da perda de carga totais, ΔH (contínuas mais localizadas), em função dos
caudais;

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Curva (V) – Curva H1 = Y + ΔH em função dos caudais. Esta curva obtém-se da anterior somando
a ΔH o termo Y que corresponde a altura geométrica total;

Desenhadas as curvas características, o ponto de funcionamento da bomba obtém-se pela intersecção


da curva (V) com a curva (I). A esse ponto, A, definido por (HA, QA), corresponde uma determinada
potência absorvida, P e um determinado rendimento η.

Se a curva (I) se localizar toda inferiormente à curva (V), a bomba não se adapta à instalação
definida não debitando qualquer caudal. Fazem-se as seguintes observações de carácter geral:

Ø Ponto para Q = 0 da curva (I) deve ser superior ao ponto para Q = 0 da curva (V);

Ø Área compreendida entre o eixo vertical e as curvas (I) e (V) (tracejada na figura) deve ser a
maior possível, compatível com um bom rendimento;

Ø A estabilidade de regime da bomba é tanto maior quanto maior for o raio de curvatura das
curvas (I) e (V);

Ø Ponto de funcionamento deve posicionar-se ligeiramente para lá do ponto correspondente ao


rendimento máximo, para ter em conta uma eventual diminuição de caudal devido ao
envelhecimento da instalação;

10.11 TRAÇADO DAS CURVAS DA BOMBA

O fabricante fornece sempre o traçado da curva característica da bomba. Este é feito normalmente
por fórmulas do tipo:

Hm = Hg + a Q2 ou Hm = Hg + a Q1,85

Podem-se traçar as curvas características de cada tubagem colocando em abcissas os caudais e em


ordenadas as respectivas alturas manométricas.
O valor da constante “a” cresce com o comprimento da tubagem e decresce quando o diâmetro
aumenta. A inclinação da curva, num ponto qualquer, depende do valor de “a”.

As curvas características classificam-se de estáveis ou instáveis.

Nas bombas estáveis para cada Hm corresponde um único Q;


Nas instáveis para cada Hm podem corresponder dois ou mais valores de Q.

H1
H1
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Q1 Q1 Q2
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Estável Instável

As curvas estáveis classificam-se em:

H H H

Q Q Q
Crescente Muito crescente Plana

Figs. 10.6 – Tipos de curvas características de bombas centrífufgas

a) – Crescente (rising) – a altura aumenta continuamente à medida que se diminui o caudal. Para
caudal nulo, a altura é aproximadamente 15 a 20% maior do que a altura correspondente ao
melhor rendimento;

b) – Muito crescente (steep) – a altura aumenta de forma acentuada com a diminuição do caudal.
A altura de caudal nulo é de 50% maior do que no ponto de melhor rendimento;

c) – Plana (flat) – a altura do ponto de melhor rendimento é quase a mesma do ponto de caudal
nulo. Recomenda-se em instalações onde há grande variações de caudal e pequenas variações
de altura manométrica.

10.12 ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Razões que levam à necessidade de fazer associação de bombas:

v Caudal muito elevado e não há no mercado bombas capazes de atender à demanda pretendida;

v Aumento do caudal no tempo;

v Inexistência de bombas capazes de vencer uma grande altura manométrica;

As bombas podem assim associar-se em SÉRIE e em PARALELO.

As duas primeiras alíneas dão origem a uma associação em paralelo – duas ou mais bombas elevam o
fluido numa única linha, ou seja, cada uma bombeia um caudal parcial;

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Fig. 10.7 – Representação esquemática da associação de bombas: paralelo e em série

Quando a altura manométrica necessária é bastante elevada, faz-se a associação de bombas deve ser
feita em série. As bombas elevam numa linha comum de tal modo que a anterior bombeia para a
aspiração da posterior, recebendo o fluido maior quantidade de energia de pressão.

10.12.1 – Associação em Paralelo

As duas ou mais bombas que se associam em paralelo têm as curvas características definidas por H =
f(Q);

Considere-se 3 bombas com as respectivas curvas características:

A curva H corresponde ao conjunto das curvas (1), (2) e (3) – corresponde à soma os valores de H
individuais;

O ponto de funcionamento, A, é a intersecção da curva soma com a curva característica da instalação


H1;

O caudal debitado por cada bomba obtém-se traçando uma linha horizontal que passa por A e achando
a sua intersecção nas curvas (1), (2) e (3);

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O caudal total é igual à soma dos caudais das várias bombas:

Q = Q1 + Q2 + Q3

A carga total é igual a HA para cada uma das bombas e para o conjunto.

Na associação em paralelo, o caudal total é sempre inferior à soma do caudal de cada uma das bombas,
funcionando separadamente;

É muito importante fazer o traçado antes de decidir sobre a associação em paralelo pois pode acontecer
que, no limite, a característica resultante da associação já não corta a característica da instalação.

Quando assim acontece, a ligação da segunda bomba em paralelo provoca o não funcionamento do
conjunto;

O ideal será utilizar neste tipo de associações, bombas iguais;

A potência absorvida e o N.P.S.H são maiores para o ponto de funcionamento quando estiverem as
bombas associadas;

10.12.2 – Associação em Série

Neste caso, a curva H do conjunto obtém-se somando as ordenadas das curvas H de cada uma das
bombas.

O ponto de funcionamento A pode ser encontrado pela intersecção desta com a curva característica da
instalação H1.

O caudal de todas as bombas é o mesmo e igual a QA. As alturas que cada uma elevam são
respectivamente H1, H2 e H3.

A associação de bombas em série pode trazer alguns problemas. É que a bomba (3) estará construída
para suportar uma pressão que será inferior à pressão a que estará efectivamente sujeita.

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Por isso se usa nestas circunstâncias, bombas de vários andares que é na pratica uma ligação em série
de vários impulsores montados no mesmo veio, em que a obtenção das curvas se faz de forma análoga
à descrita anteriormente.

O rendimento da bomba cresce com o número de andares até a um certo limite.

Pode no entanto acontecer que as bombas tenham de ser instaladas em série, distanciadas umas das
outras.

As vantagens de deste tipo de instalação é que:

v reduz as pressões na conduta, que seriam maiores se fosse utilizada uma única bomba – ver
figura a);
v aumenta-se a capacidade de transporte de uma conduta já existente – ver figura b)

No primeiro caso obtém-se pressões máximas H1 e H2 na conduta inferiores à pressão H’


(correspondente à utilização de uma bomba apenas), para transportar o mesmo caudal.

No segundo caso, pela intercalação da bomba 2, foi possível passar o caudal do seu valor inicial, Qi,
para um valor Q > Qi.

As ligações de bombas em série distanciadas entre si requerem atenção especial no que se refere às
alturas geométricas yi de cada bomba.

10.12.3 – Associação Mista

Pode-se instalar:

v Associações em paralelo de várias séries;

v Associações em série de bombas trabalhando em paralelo.

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As curvas características de cada tipo de associação podem ser encontradas graficamente, e trabalhar
depois com essas curvas como se fossem curvas características de novas bombas, podendo-se associá-
las da forma pretendida.

10.13 ALGUMAS PRECAUÇÕES NA INSTALAÇÃO DAS BOMBAS

Uma bomba centrifuga, para que seja aumentado o seu tempo de vida, deverão ser seguidos os
principais aspectos tais como:

Ø Deve ser instalada o mais próximo possível do líquido a elevar;


Ø Deve ser protegida das eventuais inundações (excepto as submersíveis);
Ø Deve ser instalada garantindo os alinhamentos, para que o funcionamento no veio não seja
esforçado;

Ø As tubagens não devem exercer esforços no corpo da bomba;

Ø A fundação onde assenta a bomba deve ser sólida e as formas de fixação devem garantir que
não haja vibrações no seu funcionamento;

Ø Na tubagem de compressão deve ser sempre colocada uma válvula de retenção;

Ø Na tubagem de aspiração, na sua extremidade, deve ser colocada um chupador com válvula de
retenção (garante que o tubo de aspiração permaneça cheio de água;

Ø Deve-se garantir que a bomba antes de iniciar a funcionar está devidamente lubrificada de
acordo com o manual

Docente: Eng.º Carlos Caupers 126 | P á g i n a

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