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PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE
SUPERCONDUTOR DE Y Ba2Cu3O7−δ
São Paulo
2023
VICTOR HUGO CARREIRA
PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE
SUPERCONDUTOR DE Y Ba2Cu3O7−δ
São Paulo
2023
VICTOR HUGO CARREIRA
PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE
SUPERCONDUTOR DE Y Ba2Cu3O7−δ
Orientador:
Prof. Dr. Renato de Figueiredo Jar-
dim
Co-orientador:
Dr.Fábio Santos Alves Abud
São Paulo
2023
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Renato de Figueiredo Jardim que no inı́cio do ano me aco-
lheu e me introduziu ao fascinante mundo dos supercondutores, sempre solı́cito quando
precisei de ajuda, seja para interpretar resultados ou para dar conselhos sobre futuro
rumo acadêmico. Também agradeço ao Dr. Fábio Santos Alves Abud, que durante os
experimentos teve a calma de me explicar cada detalhe de onde eu possivelmente estava
cometendo equı́vocos. Agradeço aos meus amigos da universidade, não teria conseguido
me formar sem vocês, compartilhamos boas memórias durante a graduação, desde o de-
sespero na véspera de provas até momentos de risos, sejam nos corredores ou nas festas.
Além disso tenho amigos que, mesmo longe, guardo no coração. Sem eles eu jamais teria
vindo para São Paulo e também seria cego para as ciências humanas. Por fim agradeço
aos meu pais que sempre me incentivaram a perseguir uma carreira acadêmica, me apoi-
ando moralmente e financeiramente para que eu pudesse me sustentar em São Paulo e me
preocupar somente com os estudos.
”A ideia
Supercondutores de alta temperatura como o Y Ba2 Cu3 O7−δ tem diversas aplicações
tecnológicas. Esse trabalho teve como objetivo analisar historicamente o desenvolvimento
dessa famı́lia de materiais, abordando as teorias microscópicas e fenomenológicas que
explicam fenômenos como o efeito Meissner e a resistividade elétrica zero para correntes
DC. Além disso foram produzidas 4 pastilhas supercondutoras, utilizando como reagentes
precursores óxidos de Y2 O3 , BaCO3 e CuO, sendo que durante a etapa de produção
foram feitas análises de difração de raios-X (DRX) para observar a formação da fase
Y Ba2 Cu3 O7−δ . Por fim foi feito um experimento para determinar a temperatura crı́tica
supercondutora da amostra através do método da resistividade elétrica de 4 pontas.
1 Introdução 12
2 Objetivo 14
3 Revisão bibliográfica 15
4 Metodologia 36
5 Resultados e Discussão 49
6 Conclusão 63
Referências 64
1 INTRODUÇÃO
A condutividade elétrica é uma grandeza fı́sica que quantifica a capacidade dos porta-
dores de carga (elétrons ou buracos) de transportarem corrente elétrica quando submetidos
a um potencial elétrico. Em materiais convencionais, o fluxo dos portadores de carga não
é energeticamente perfeito, ou seja, existe uma resistência elétrica associada ao processo
de condução. Esses valores de condutividade podem ser baixos ou altos, dependendo da
natureza do material. Por exemplo, os metais tipicamente possuem boa condutividade; o
cobre possui condutividade da ordem de 108 Ω−1 m−1 , enquanto alguns isolantes, como o
vidro, podem ter condutividade da ordem de 10−8 Ω−1 m−1 . Os supercondutores são uma
classe de materiais que não oferecem resistência elétrica à passagem de corrente elétrica,
sendo assim condutores que podem ser classificados como perfeitos.
A descoberta do efeito Meissner mostrou que essa classe de materiais era mais do
que condutores perfeitos, revelando a necessidade do desenvolvimento de teorias além
do eletromagnetismo clássico para explicar o fenômeno da supercondutividade. Nesse
sentido, as teorias desenvolvidas ao longo do século XX forneceram um arcabouço con-
ceitual que permite entender as propriedades excepcionais dos supercondutores. Entre
as principais teorias, destacam-se: a teoria dos irmãos London, a teoria BCS (Bardeen-
Cooper-Schrieffer) e a teoria de Ginzburg-Landau, que juntas fornecem explicações fun-
damentais sobre o comportamento dos portadores de carga, o mecanismo fundamental
para a ocorrência do fenômeno e a transição para o estado supercondutor.
Além disso, no decorrer deste trabalho, também foi objetivo aprofundar o conheci-
mento teórico sobre os supercondutores. O mecanismo responsável pela supercondutivi-
dade em ”alta temperatura”ainda não é consenso entre os cientistas. Entender melhor
esses mecanismos pode auxiliar na busca de novos materiais que tenham temperaturas
de operação ainda mais altas, além de propriedades mecânicas melhores. Aprimorar es-
ses aspectos é fundamental para aproveitar as vantagens dos supercondutores em novas
aplicações como a geração de energia, levitação magnética, medicina e transporte.
14
2 OBJETIVO
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A história dos supercondutores tem inı́cio com Heike Kamerlingh Onnes, com o obje-
tivo de dar continuidade a tese de Van der Waals sobre a continuidade da fase lı́quida e
gasosa publicada em 1873. Assim Onnes desejava estudar a temperatura crı́tica de gases,
ou seja, o ponto a partir do qual os gases podiam ser liquefeitos, mas isso exigia tempera-
turas muito baixas e equipamentos bastante caros. Com seu grande poder de persuasão
Onnes convenceu as autoridades a investirem uma grande quantidade de recursos finan-
ceiros no departamento de fı́sica e, assim, teve sucesso em produzir alguns litros por hora
de oxigênio lı́quido em 1894, atingindo uma temperatura de −183 °C [1].
zero em baixas temperaturas [1]. Dadas as divergências teóricas, havia uma motivação
adicional para tentar medir as resistências elétricas de metais em temperaturas próximas
do zero absoluto.
A melhor escolha para se tentar obter uma resistência elétrica zero era trabalhar com
mercúrio (Hg), isso porque através de processos repetidos de destilação era possı́vel obter
um metal extremamente puro. Assim em 8 de Abril de 1911 foi observada a supercondu-
tividade pela primeira vez [1]. A Figura 2 mostra que a resistividade elétrica do mercúrio
atinge o valor zero próximo de 4 K. A temperatura na qual a resistividade elétrica de
um material assume valor zero ficou conhecida como temperatura crı́tica supercondutora
(Tc ).
Sendo assim, foi descoberto que supercondutores eram mais do que condutores per-
feitos. O novo fenômeno observado, o diamagnetismo perfeito, que não era previsto até
então, mostrava que era necessária uma nova abordagem para compreender as proprieda-
des gerais desses materiais.
Para derivar as equações de London, primeiro será feita uma análise do modelo de
Paul Drude. O modelo proposto em uma série de artigos publicados em 1900 propunha
a condução nos metais como um gás de elétrons executando um movimento de difusão.
Negligenciado as interações eletrônicas, o modelo considerava que ocorreria um espalha-
mento de elétrons por conta de colisões com ı́ons e defeitos [13], conforme ilustrado na
Figura 4
dp p
=− (3.1)
dt τ
Não é difı́cil notar que a Equação 3.1 é análoga à Segunda lei de Newton, que trata
da variação temporal do momento p. Ao incluir o efeito do campo elétrico E em que os
elétrons de carga elementar e são submetidos, a equação de movimento pode ser escrita
na forma da Equação 3.2, onde foi usado que p = mv, sendo v a velocidade média do
elétron e m a massa do elétron.
dv mv
m = eE − (3.2)
dt τ
dv τ eE
Em um estado de equilı́brio dt
= 0, logo v = m
. Se a densidade de condutores
de corrente elétrica (condutores de corrente elétrica por unidade de volume) é n, então a
densidade de corrente elétrica J é dada pela Equação 3.3
J = nev (3.3)
Até o momento a teoria não faz distinção entre condutores metálicos e supercondu-
tores. A partir desse ponto foi usado o modelo de dois fluidos, que faz distinção entre a
densidade de elétrons supercondutores ns e a densidade de elétrons normais nn . Nesse
modelo foi considerado que ns possui um tempo médio de espalhamento tendendo ao in-
dvs eE
finito, assim pela Equação 3.2 dt
= m
. Logo a densidade de corrente supercondutora
será Js = ns evs e derivando os dois lados com respeito ao tempo obtém-em a Primeira
equação de London, a Equação 3.4, onde a densidade de corrente supercondutora Js
foi chamada apenas de J para simplificação da notação.
ns e2 c2
dJ 1
= E= E= E (3.4)
dt m Λ 4πλ2
m 4πΛ
Na primeira equação de London, foi usado que Λ = ns e2
e λ2 = c2
. O significado
do parâmetro λ será explorado mais adiante no texto. Para a obtenção da segunda
Equação de London será necessário relembrar duas equações de Maxwell: a Equação 3.5
e a Equação 3.6.
4πJ
∇×h= (3.5)
c
20
1 ∂h
∇×E =− (3.6)
c ∂t
∂
Ao fazer o rotacional da Primeira Equação de London, têm-se que ∂t
∇×J = Λ1 ∇ × E,
substituindo nesta a Equação 3.6, obtém-se a Equação 3.7.
∂ 1
∇×J+ h =0 (3.7)
∂t Λc
1
∇×J =− h (3.8)
Λc
É observado que o resultado da Primeira Equação de London só é válido para cam-
dJ
pos E que variam no tempo, caso contrário dt
resultaria em uma aceleração constante e,
portanto, uma velocidade infinita para a densidade de corrente J. A Segunda Equação
de London admite um campo magnético independente do tempo que, em conjunto com a
primeira lei, evidencia um claro desacordo com a teoria clássica, estabelecida pelo eletro-
magnetismo.
1
∇2 h = h (3.9)
λ2
Note que a Equação 3.9 prevê que campos eletromagnéticos externos são cancelados
exponencialmente no interior da amostra e penetrariam uma profundidade λ no interior da
amostra, como ilustra a Figura 3. Logo o parâmetro λ ficou conhecido como comprimento
de penetração de London. Empiricamente λ pode ser escrito através da Equação 3.10,
onde T é a temperatura do supercondutor e Tc é sua temperatura crı́tica.
4 !− 12
T
λ = λL (0) 1 − (3.10)
Tc
21
No desenvolvimento da teoria dos irmãos London, foi levado em conta uma eletro-
dinâmica local, ou seja, a densidade de corrente supercondutora (J(r)) em um ponto r
dependia somente do campo E que atuava em r. Pippard propôs em 1953 uma genera-
lização não local, ou seja, a densidade de correntes em r, J(r), poderia depender de um
campo elétrico E atuando em r’, E(r’) desde que esse campo estivesse dentro de um raio
l [2].
A Figura 5 fornece uma interpretação visual para o parâmetro ξ0 , sendo uma espécie
de comprimento com o qual os elétrons supercondutores podem interagir com o campo
elétrico E, análoga a discussão inicial sobre não localidade. A teoria desenvolvida por
Pippard assume que os elétrons responsáveis pela supercondutividade são aqueles que
apresentam energia kb Tc dentro da faixa de próxima do nı́vel de Fermi de um material. O
kb Tc
momento desses elétrons será da ordem de ∆p = vf
, onde vf é a velocidade dos elétrons
ℏvf
no nı́vel de Fermi. Usando o princı́pio da incerteza obtém-se ∆x >= ℏ
∆p
≈ k b Tc
, sendo
22
ℏvf
ξ0 = a (3.11)
kb Tc
A discussão acima é feita para materiais puros, considerando casos reais deve-se incluir
também o espalhamento dos elétrons. Portanto o comprimento de coerência ξ também
dependerá do livre caminho médio l. Pippard relacionou esses parâmetros através da
Equação 3.12. É importante notar que quando o caminho livre médio tende a infinito,
assim como os irmãos London assumiram, é recuperado o comprimento de coerência para
o material puro ξ0 [2, 14].
1 1 1
= + (3.12)
ξ ξ0 l
A teoria BCS foi proposta em 1957 sendo a primeira teoria microscópica de sucesso
para explicar o efeito da supercondutividade. O sucesso da teoria é consequência de sua
explicação satisfatória para um grande número de fenômenos observados na época [14].
Derivar a teoria BCS e explora-lá em sua totalidade está além do escopo desse trabalho,
logo serão abordados aqui suas bases e consequências.
Leon Cooper mostrou, em 1956, que o mar de elétrons de Fermi era instável contra
a formação de pelo menos um par de elétrons ligados, ou seja, demonstrou que existem
estados ligados com energia negativa em relação ao nı́vel de Fermi. Os pares eletrônicos
que se ligavam para formar o estado sueprcondutor ficaram conhecidos como pares de
Cooper. Para explicar matematicamente essa atração entre elétrons Cooper assumiu que
existe um potencial de atração U na faixa de energia ℏωD (faixa de energia de Debye)
nas vizinhanças da energia de Fermi e zero fora dessa região [14]. Vale ressaltar que
a essência dos pares de Cooper requer somente a existência da interação atrativa com
23
Na teoria BCS a origem do potencial atrativo U foi tido como uma atração mediada
por fônons: elétrons viajam em pares interagindo uns com os outros através das vibrações
da rede cristalina, dessa maneira um elétron com spin ↑ e momento k pode se ligar com
um elétron com spin ↓ e momento −k. Qualquer elétron deixado sozinho colidiria com os
átomos da rede cristalina e sofreria um espalhamento; a energia dissipada nesse espalha-
mento constitui a resistência elétrica. Em um metal normal, é exatamente isso que ocorre.
No entanto, quando emparelhados, é necessário que ambos os elétrons sofram exatamente
os mesmos eventos de dispersão, caso contrário o par se quebra. A probabilidade eventos
de espalhamento idênticos ocorrer de maneira simultânea é insignificante e há um custo
de energia associado à quebra de um par, denominada de ∆. Portanto, se a energia de
emparelhamento for suficientemente forte, os elétrons retêm sua energia emparelhada mo-
vimento e, ao encontrar um átomo da rede, não se dispersam. Sob essas circunstâncias,
a energia não é dissipada e não há resistência elétrica [5].
Dentre as previsões importantes da teoria BCS uma delas é a Equação 3.13, que
relaciona a energia para rompimento do par de Cooper ∆ (também chamado de gap de
energia), com a frequência de Debye ωD , o potencial atrativo do par U e a densidade
eletrônica por spin no nı́vel de Fermi N (Ef )[14]. Esta equação é importante pois fornece
uma estimativa da energia necessária para o rompimento do par de Cooper em uma
temperatura T << Tc . Para um acoplamento fraco e formado por uma onda-s é possı́vel
escrever a Equação 3.14 [15].
1
− U N (E
∆(0) ≈ 2ℏωD e f) (3.13)
Também é possı́vel fazer escrever como o Gap de energia varia em função da tempe-
ratura, como denotada pela Equação 3.15 [14].
1
∆(T ) T 2
= 1, 74 1 − (3.15)
∆(0) Tc
Por fim, utilizando os métodos de segunda quantização, a teoria BCS fornce um meio
de escrever a função de onda dos pares de Cooper. A formação dos pares de Cooper
24
é favorecida por conta do gap de energia ∆, mas conforme mais e mais pares vão se
formando a vantagem energética para a formação de um novo par tende a ser cada vez
menor [2]. A Equação 3.16 trata desse problema, onde |vk |2 é a probabilidade do estado
(+k ↑, −k ↓) estar ocupado e |uk |2 é a probabilidade deste estado estar desocupado, logo
|uk |2 +|vk |2 = 1. Na Equação 3.16, c†k↑ é um operador de criação de partı́culas de momento
k e spin ↑, enquanto o operador c†−k↓ é um operador de criação de momento k e spin ↓.
Y
|ψBCS ⟩ = (uk + vk c†k↑ c†−k↓ ) |0⟩ (3.16)
k
Como o par formado tem spins opostos, ele será considerado um bóson e poderá se
condensar de forma macroscópica. O tamanho do par de Cooper para os superconduto-
res convencionais é maior do que as distâncias interplanares da rede cristalina, fato que
permite uma sobreposição grande das funções de onda dos pares [14].
A teoria BCS é uma teoria microscópica e consegue explicar muito bem os casos em
que o gap de energia (∆) é constante no espaço. Para lidar com situações em que o
gap de energia é inomogêneo, como no estado intermediário de supercondutores do tipo
I e estados mistos dos supercondutores tipos II, o uso da teoria microscópica se torna
bastante difı́cil e é substituı́da pelo uso da teoria macroscópica de Ginzburg–Landau [2].
A teoria GL assume que próximo à transição de fase ψ torna-se pequena e com va-
riações suaves no espaço. Isso permite que a energia livre de Helmholtz possa ser ex-
pandida em uma série de potências de |ψ|2 de e do potencial vetor A [2, 14]. Assim é
possı́vel escrever a energia livre de Helmholtz do supercondutor (fs ) a partir da energia
h
livre do estado normal, fn = fn0 + 8π
, em função de parâmetros fenomenológicos α e β
(dependentes da temperatura), como está representado na Equação 3.17.
2
e∗
2 β(T ) 1 ℏ h
fs = fn0 + α(T )|ψ(r)| + |ψ(r)|4 + ∇ − A ψ(r) + (3.17)
2 2m∗ i c 8π
β(T )
fs − fn = α(T )|ψ(r)|2 + |ψ(r)|4 (3.18)
2
α2
fn − fs = (3.19)
2β
material sem sofrer apreciável aumento de energia, ou seja, indica a extensão de coerência
do parâmetro de ordem.
ℏ2 ξ 2 (0)
ξ 2 (T ) = ≈ (3.20)
2m∗ |α| 1 − TTc
m ∗ c2 β λ2L (0)
λ2L (T ) = ∗2 ≈ (3.21)
e |α| 1 − TTc
λL (T )
κ= (3.22)
ξ(T )
Figura 6: Estado intermediário do supercondutor tipo I. Note que o estado normal (região
penetrada pelas linhas de campo magnético) e o estado supercondutor (S) possuem uma
interface macroscópica.
terial e ele permanece em um estado misto, até um campo crı́tico superior Hc2 a partir do
qual experimenta o estado normal [2]. Essa diferença de comportamentos é ilustrada em
na Figura 7. Em geral, a presença do estado misto possibilita a utilização dos supercon-
dutores tipo II em campos magnéticos superiores aos campos crı́ticos de supercondutores
tipo I.
geométrico conhecido como rede de Abrikosov. A Figura 8 feita com difração de nêutrons
mostra como esses vórtices se arranjam em um padrão com geometria hexagonal (região
branca) [5].
hc
Φ0 = ≈ 2, 07 ∗ 10−15 W b (3.23)
2e
1
− U N (E
Tc = 1, 14ℏωD e f) (3.24)
Indo além, McMillan sugeriu que a constante de acoplamento λtr = U N (Ef ) dependia
da frequência dos fônons ωD . Fazendo uma série de outras considerações, como extrapolar
os limites das fórmulas que eram válidas para λtr ≤ 1 e desconsiderar a anisotropia de
∆, ele obteve uma fórmula que estabelecia o maior valor de Tc = 28K para a classe de
materiais denominada de A15, cujo o membro mais conhecido é o N b3 Sn [5]. O ponto
é que McMillan entendeu quão limitada era sua teoria, dadas as premissas feitas e as
30
extrapolações, mas a comunidade cientı́fica parece ter esquecido disso, então acabou-se
tomando como verdade absoluta que a temperatura crı́tica mais alta possı́vel seria próximo
dos 28 K.
Apesar do estudo dos supercondutores LTS ser de grande interesse cientı́fico, sua
aplicação era limitada por ter que se trabalhar com hélio lı́quido, que é caro. Em con-
trapartida, os supercondutores HTS foram aplicados fora do laboratório, pois tinham
temperatura crı́tica acima do ponto de liquefação do nitrogênio, que é um gás refrigerante
abundante e muito mais barato, além de possuı́rem melhores propriedades em tempera-
turas baixas.
Figura 9: Comparação entre Temperatura crı́tica (Tc ), campo magnético crı́tico superior
(Hc2 ) e densidade de corrente crı́tica (jc )) para supercondutores de alta temperatura HTS
e supercondutores de baixa temperatura LTS. Adaptada de [6].
[17].
Figura 10: Estrutura cristalina ortorrômbica do Y Ba2 Cu3 O7−δ . Na figura são evidencia-
dos os planos de condução do CuO2 e as cadeias de CuOx . adaptada da Ref. [7].
de oxigênio, sendo que a transição para o estado supercondutor desaparece para δ > 0.6.
A Figura 11 mostra como essa variação ocorre.
Como explicação para o fenômeno, R.J. Cava mostra que no ponto em que a supercon-
dutividade desaparece também existe uma mudança da estrutura cristalina do material,
passando ortogonal para tetraédrica. A mudança na estrutura cristalina é consequência
da alteração no comprimento de ligação entre o cobre o oxigênio, confirmando que a oxi-
genação leva à transferência de portadores de carga (buracos) entre as cadeias de CuO2
e planos de CuO e, assim, aumentado a condutividade no plano através da adição de
portadores de carga (buracos).
Apesar da teoria BCS prever que o potencial atrativo entre os portadores de cargas
(elétrons ou buracos) é responsável pelo efeito da supercondutividade, a matemática de
Cooper deixa em aberto a origem do potencial atrativo. Nos supercondutores de baixa
temperatura esse potencial atrativo é interpretado como uma interação elétron-fônon,
mas para explicar a supercondutividade nos supercondutores de alta temperatura ainda
existem dúvidas se o mecanismo de acoplamento é mediado dentro do próprio sistema
eletrônico, via acoplamento forte de fônons, ou através de outras excitações elementares
dos sólidos [18].
34
As aplicações para supercondutores são enormes, sendo que algumas tecnologias já
estão implementadas, enquanto outras são reservadas ao futuro, sejam por questões
econômicas ou limitações técnicas. Dentre as áreas de aplicação é possı́vel citar áreas
cientı́ficas, áreas médicas, áreas de transporte e áreas industriais.
4 METODOLOGIA
Para a produção dos supercondutores de Y Ba2 Cu3 O7−δ partiu-se de uma mistura
estequiométrica contendo óxido de ı́trio (Y2 O3 ), carbonato de bário (BaC O3 ) e óxido
de cobre (CuO), todas na forma de pós. Para os cálculos estequiométricos foi feita uma
planilha Excel, preenchida com as massas atômicas de cada substância que seria utilizada.
Esses cálculos foram feitos para que os supercondutores de cada amostra tivessem 10 g,
mas devido a um erro de digitação a massa da amostra 1 foi superestimada. A Tabela 1
mostra a massa estequiométrica (para produção de 10 g fase supercondutora) e a massa
real de reagentes utilizados para preparar as amostras 1, 2 e 3.
Para medir as massas dos reagentes precisamente foi usada uma balança de precisão
previamente calibrada. Primeiro foi feita a tara utilizando uma folha de alumı́nio como
suporte. Após aferida a massa de determinado reagente, ele era depositado em um almofa-
riz de ágata para futura homogenização. Para assegurar que toda a massa era depositada
no almofariz foi feita uma raspagem com espátula no suporte de alumı́nio. A figura 13
mostra a balança de precisão e deixa claro que o erro da balança está na quarta casa de-
cimal, inclusive a campânula de vidro tem como objetivo evitar a influência de correntes
de ar do ambiente.
Figura 13: Balança de precisão com campânula mostrando a aferição da massa dos rea-
gentes.
mistura é pressionada contra o almofariz se esta não estiver homogênea serão vistos pontos
brancos, indicando que o carbonato bário não foi homogenizado A Figura 14 evidencia o
aspecto acinzentado da mistura dos reagentes. Após a homogenização as misturas foram
colocadas em um cadinho de alumina e levadas ao forno para serem calcinadas.
Figura 14: Almofariz de ágata evidenciando o aspecto dos reagentes após homogenização.
A produção da fase desejada, Y Ba2 Cu3 O7−δ , envolve duas etapas de reação: a de-
composição primária do carbonato de bário e a combinação com o Ítrio sendo a primeira
delas a decomposição do carbonato, que pode ocorrer tanto pela rota quı́mica da Equação
4.1 quanto pela rota da Equação 4.2. Durante o processo de sı́ntese partı́culas adjacen-
tes reagem conforme indica a Equação 4.3. Oxigênio é necessário para a formação da
fase supercondutora, conforme mostra a reação da Equação 4.3. Baixas concentrações
de oxigênio atmosférico na reação faz com que a estrutura cristalina tenha deficiência de
38
oxigênio e isso é deletério para as propriedades do material, por isso é necessário um fluxo
de oxigênio [19].
BaCO3 (s) →
− CO2 (g) + BaO(s) (4.1)
Já para a amostra 2, o primeiro tratamento térmico foi feito em uma temperatura de
900 °C por 48 horas com uma taxa de aquecimento e resfriamento de 3°C/min. O segundo
tratamento térmico desta amostra foi feito em uma temperatura de 930°C por 120 horas
com a taxa de aquecimento e resfriamento de 3°C/min. Até então nenhum tratamento
havia sido feito sob fluxo de oxigênio. O terceiro tratamento térmico consistiu em aquecer
as amostras 2 e 3 até uma temperatura de 950 °C por 30 horas com fluxo de oxigênio
em pressão atmosférica. Posteriormente as amostras 2 e 3 foram tratadas por 48 horas
à 950 °C também sob fluxo de O2 . A tabela 2 mostra os tratamentos térmicos, no qual
todos foram feitos com taxas de aquecimento de 3°C/min, com exceção do tratamento 2
da amostra 1, como indicado.
Entre a amostra 2 e 3, houve a suspeita de que o forno não estava atingindo a tempe-
ratura programada. Sendo assim, com um auxı́lio de um termopar tipo K foi feita uma
verificação do perfil de temperatura do forno resistivo. Esperou-se que o forno atingisse a
temperatura programada e com a ajuda de uma tabela que associava potenciais elétricos
com temperaturas do termopar verificou-se que o forno estava corretamente calibrado.
Sempre entre duas etapas de tratamentos térmicos eram retiradas pequenas quantidades
de material para posterior análise via difração de raios-X.
39
Entre dois tratamentos térmicos foram retiradas amostras para serem feitas análises
de DRX. As lâminas para a deposição das amostras foram preparadas com um jatea-
mento de areia e graxa de vácuo, sendo que na deposição das amostras tomou-se cuidado
para apenas pulverizar o pó em cima da graxa de vácuo, evitando texturizar os pós das
amostras. O equipamento utilizado usa radiação de Cu com radiação de comprimento de
onda Kα = 1, 5418 Å, sendo que o Kα utilizado na verdade é uma média de Kα1 e Kα2 .
Segundo os dados do equipamento a radiação Kβ = 1, 3922 Å e intensidade relativa é zero.
Foi feita uma varredura de 2θ = 20 até 2θ = 80 com passo angular de 0,05°, tempo de
exposição de 2 segundos e foi utilizada uma rotação de 30 rpm durante a operação.
40
Figura 15: Prensa hidráulica utilizada para fabricação das pastilhas e manômetro mos-
trando 5 Ton.
41
Para a análise dos dados foi utilizado o software QualX com a base de dados POW_COD.
Nesse software, logo após carregar os dados e a base de dados, foi aplicado um filtro para
subtrair o background, sendo utilizada a opção ”filter” com 5 interações e tamanho da
janela 50. Além disso na opção ”Search” foi aplicada a restrição Just e selecionados os
elementos Y , Ba, Cu, O e C. Cada amostra teve suas reflexões mais intensas selecionadas
manualmente, pois a seleção automática foi insuficiente, especialmente para amostras
polifásicas.
Assim que todos as reflexões da amostra eram associados a uma fase anotava-se os
ı́ndices de Miller das principais reflexões da fase. Para a representação gráfica das fases
encontradas foi feito um programa em python para mostrar as imagens, pois o resultado
visual que o software QualX fornece é visualmente poluı́do.
Após a confecção das pastilhas ainda não havia sido feita a análise de DRX para
saber se a fase formada estava correta, assim foi feita uma inspeção visual. As 4 pastilhas
foram colocadas em um porta amostras que foi preenchido com nitrogênio lı́quido e em
sequência foi feita uma tentativa de levitar pedaços de Imãs de Neodı́mio-Ferro-Boro,
ou seja, uma observação direta do efeito Meissner. A Figura 17 mostra as 4 pastilhas
levitando um pequeno Imã de Neodı́mio-Ferro-Boro, conferindo aos materiais a presença
da fase supercondutora desejada.
os equipamentos no modo listening para que seja possı́vel enviar e ler comandos. Além
disso como a fonte de corrente é de uma versão mais antiga é necessário para o mesmo
efeito coloca-lá no modo REN.
import pyvisa
import time
#Configurando os equipamentos
multimetro_1 = pyvisa.ResourceManager().open_resource(’GPIB0::16::INSTR’)
fonte_corrente = pyvisa.ResourceManager().open_resource(’GPIB0::19::INSTR’)
fonte_corrente.write("REN")
A fim de iniciar o experimento foi feito um loop While True que executa o programa
indefinidamente até que o usuário force a parada. O loop foi dividido em uma parte
para a leitura da corrente positiva e outra para a leitura da corrente negativa, que são
os condicionantes if. A varável comando passa a corrente a ser aplicada pela fonte de
corrente, sendo que o parâmetro E-3 indica que a intensidade de corrente será da ordem de
10−3 A. O comando time.sleep() é o tempo até o programa alterar o sinal da corrente.
o comando do multı́metro query(’:SENSe:DATA:FRESh?’) serve para o programa ler o
valor que é mostrado no painel do multı́metro nesse momento. Por fim o programa registra
o valor da corrente positiva, salva no arquivo .txt e depois multiplica o valor de i por
menos 1, para fazer o processo para o valor de corrente negativa.
#Aquisiç~
ao dos dados até que se deseje parar o programa
while True:
if i > 0:
comando = "B1I" + str(i) + "E-3V10F1X" #Comando para a fonte de corrente
fonte_corrente.write(comando)
time.sleep(t)
leitura_DC_positivo = float(multimetro_1.query(’:SENSe:DATA:FRESh?’))
t_atual = str(time.time() - tempo_inicio)
l = str(leitura_DC_positivo)
dados.write(t_atual + " +" + str(corrente) + " " + l + "\n")
i *= -1 #A próxima corrente será negativa
45
else:
comando = "B1I" + str(i) + "E-3V10F1X"
fonte_corrente.write(comando)
time.sleep(t)
leitura_DC_negativo = float(multimetro_1.query(’:SENSe:DATA:FRESh?’))
i *= -1
t_atual = str(time.time() - tempo_inicio)
l = str(leitura_DC_negativo)
dados.write(t_atual + " -" + str(corrente) + " " + l + "\n")
lista_de_tempos.append(float(time.time() - tempo_inicio))
O código na ı́ntegra está discriminado no Anexo A. A partir dele foi feita a aquisição
de dados e, com isso, foi possı́vel construir os gráficos IV (corrente vs. tensão) e assim
determinar a resistência elétrica da platina para dois pontos de temperatura conhecidos:
o ponto da temperatura de fusão do gelo (273 K) e o ponto de liquefação do nitrogênio
(77 K). A Figura 19 mostra a curva de calibração I × V da platina na temperatura do
gelo fundente, sendo que cada ponto de tensão mostrado no gráfico é uma média das
tensões medidas ao longo do tempo. Existe uma incerteza associada a essa medida, que
foi utilizada para o cálculo da incerteza na resistência do resistor de platina.
Figura 19: Diagrama Tensão vs. Corrente para a curva de calibração do gelo.
Os resultados dessa curva de calibração foram usados para criar uma função que
associava a resistência medida com a temperatura experimentada pela amostra durante
46
as medições feitas. Para o ponto de gelo fundente (273 K) o resistor de platina acusou
1006, 42 Ω e para o ponto de liquefação do nitrogênio (77 K) acusou 193, 93 Ω. Assim a
função que transforma a a leitura de uma resistência da platina (Rpt ) em uma temperatura
em K é dada pela Equação 4.6.
273 − 77
a= (4.4)
1006, 42 − 193, 93
Nessa parte do experimento também foi utilizada uma configuração de quatro pontas
(conhecida como método de Kelvin). A Figura 20 mostra o esquema elétrico utilizado
nessa etapa. Vale ressaltar que a aquisição de dados nessa parte foi feita por um programa
em python muito similar ao programa do Apêndice A, com a diferença que foram utilizados
dois multı́metros Keithley 2000: um para medir a variação de tensão no supercondutor e
o outro para medir a variação de tensão no termômetro de platina. Em ambos os casos a
corrente de excitação aplicada tanto na amostra supercondutora como no termômetro de
platina foi de valor constante e magnitude 1 mA.
#A resist^
encia do term^
ometro será:
r_ter = (v_pos[0] - v_neg[0]) / (correntes[0] - correntes[1])
resistencia_termometro.append(r_ter)
# A resist^
encia R do YBCO será:
r_ybco = (v_pos[1] - v_neg[1]) / (correntes[0] - correntes[1])
temper = resis_para_temp(np.array(resistencia_termometro))
Para fazer o contato elétrico dos paralelepı́pedos supercondutores com fios de cobre foi
utilizada uma tinta prata. O circuito elétrico foi acoplado a uma haste metálica e esta era
parcialmente mergulhada em nitrogênio lı́quido. Com os dois primeiros paralelepı́pedos foi
feito com controle manual da temperatura, a haste era levantada e abaixada para variar
a temperatura. No entanto a terceira amostra foi totalmente mergulhada em nitrogênio
lı́quido e foi feita uma curva somente no processo de aquecimento.
2
ℏωD ρ(T ) − ρ(0)
λtr = 2
≈ 0, 246(ℏωD )2 α (4.7)
8π kB T
Segundo a referência [22], a unidade de ℏωD deve ser eV e a unidade de α deve ser
em µΩ ∗ cm ∗ K −1 para que a constante 0,246 fique dimensionalmente correta. Além disso
e segundo a referência [22], o valor esperado de ℏωD para o YBCO é de 3.6 eV .
49
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar a tabela Excel feita para os cálculos estequiométricos, foi observado que
houve um equı́voco de digitação na massa molar do Y Ba2 Cu3 O7 . Contudo, ao analisar a
Tabela 1 e avaliar as proporções entre as massas utilizadas na amostra 1 e a quantidade
estequiométrica correta calculada para 10 g de produto, foi observado que as proporções
são iguais. Dessa forma e nesse estágio do experimento já foi possı́vel notar que a este-
quiometria não era a causa da observação visual da chamada fase verde.
Após corrigir a massa na amostra 2, foi feito um novo o tratamento térmico para
esta amostra à 900 °C, que também resultou na visualização da fase verde. Como erros
estequiométricos haviam sido descartados o próximo passo na tentativa de se obter a fase
correta era alterar a temperatura do tratamento térmico, que foi aumentada para 930 °C.
Após um tratamento térmico ao ar de 120 horas à 930 °C, a amostra 2 ainda apresentava
um aspecto esverdeado, indicando que a fase desejada ainda não havia sido totalmente
formada, logo o aspecto ainda era parecido com o da Figura 21.
Figura 21: Fase verde (211) formada na amostra 1 após o segundo tratamento térmico.
novo tratamento térmico. No interior da região dita quente do forno, foi observado que as
extremidades do cadinho experimentavam uma temperatura menor do que a desejada e o
termopar, que controlava a temperatura do forno, ficava no centro. Assim, para controle
de temperatura era preferı́vel que as amostras sempre estivessem centralizadas em relação
ao termopar de controle do forno. Durante o tratamento térmico com as duas amostras
ao mesmo tempo, os cadinhos foram posicionados centralizados, mas isso não impediu
que houvesse um gradiente térmico. Dessa maneira, ao final do tratamento térmico 3 da
amostra 3 (vide Tabela 2), foi observado um gradiente de cores na amostra 2, conforme
mostra a Figura 22.
Para entender um pouco melhor as reações envolvidas, foram retiradas duas amostras
da Figura 22, uma amostra foi retirada da extremidade verde e outra da extremidade de
coloração mais escura, próxima da cor preta. Por fim, no último tratamento térmico das
amostras 2 e 3, que também foram feitos juntas, a inspeção visual revelou uma homoge-
neidade de cores, fornecendo segurança da obtenção da fase desejada e assim as amostras
foram prensadas e sinterizadas.
51
Figura 23: Diagrama de fases ternário Y2 O3 - CuO - BaO em 950ºC. Retirada da re-
ferência [10].
53
parte do material formado seria aquele correspondente à fase 123 (escrita como 2:1:3 na
Figura 23).
De acordo com a referência [19] era esperado a formação da fase intermediária BaCuO2 .
Entretanto o software QualX não retornava esse resultado. Na tentativa de observar as
reflexões de BaCuO2 , que não constavam na sugestão do software, pesquisou-se no site da
Crystallography Open Database qual eram os entry-number da fase BaCuO2 , sendo
encontrados os números 1525985 e 2002177. De posse dessa informação, esta fase foi
adicionada como sugestão no software para que fosse feita uma comparação gráfica com
os dados experimentais. Sendo assim essa fase foi adicionada na Figura 25. Além disso, o
software também apontou a presença da fase verde (211), que ajuda a explicar a coloração
vista nos primeiros tratamentos térmicos da amostra 2.
Como dito, a amostra da Figura 22 possui dois lados, um esverdeado e outro mais
escuro. Foram feitas análises de DRX desses lados separadamente. A análise do lado
preto e do lado esverdeado mostra uma diferença nı́tida na composição dos dois lados.
O DRX do lado esverdeado, mostrado na Figura 26, evidencia uma estrutura bastante
polifásica com intensidade de reflexões bastante similares para todas as fases. O DRX do
lado mais escuro, mostrado na Figura 27, tem uma dominância completa de intensidade
de reflexões da fase de interesse, a fase 123, com uma baixa intensidade de reflexões dos
reagentes, mostrando que a reação foi quase total.
Figura 24: Energia livre de Gibbs (∆G) das reações de interfaces entre os reagentes usando
Y2 O3 , BaCO3 e CuO. Adaptada da Ref. [11].
reflexões pertencentes aos reagentes iniciais não são observadas. Observa-se também que
as reflexões mais intensas, cujos os ı́ndices de Miller são (013) e (103), se dividiram em
duas adjacentes, conferindo ao material boa cristalinidade.
Uma análise similar foi feita com a amostra 3 e foi observado que logo após o tra-
tamento térmico 3 (o primeiro tratamento dessa amostra segundo a Tabela 2) todas as
reflexões pertencentes a fase supercondutora estavam presentes no diagrama de raios-X,
mas com a observação de traços de CuO. Esse resı́duo de óxido de cobre não foi observado
após o tratamento térmico subsequente. A Figura 29 mostra o DRX com o óxido de cobre
residual.
55
Figura 25: DRX para a amostra 2 após o tratamento térmico 2 (930 °C).
Figura 26: DRX para a amostra 2 após o tratamento térmico 3 (950 °C com fluxo de
O2 )-lado esverdeado.
56
Figura 27: DRX para a amostra 2 após o tratamento térmico 3 (950 °C com fluxo de
O2 )-lado preto.
Figura 28: DRX para a amostra 2 após o tratamento térmico 4 (950 °C com fluxo de O2 ).
57
Figura 29: DRX para a amostra 3 após o tratamento térmico 3 (950 °C com fluxo de O2 ).
58
Nessa etapa do experimento um obstáculo a ser superado foi fazer os contatos elétricos
dos fios de Cu com a amostra, sendo este o principal motivo de serem feitos 3 para-
lelepı́pedos. Os paralelepı́pedos foram cortados de maneira a maximizar a resistência
elétrica R, como R = ρL/A. Eles foram cortados para obter a menor área de seção trans-
versal possı́vel. Resistências muito baixas diminuı́am a precisão da leitura do voltı́metro.
Por outro lado, quando as amostras eram muito finas, os paralelepı́pedos 1 e 2 encontravam-
se abaulados e trincados após alguns ciclos térmicos, inutilizando-os. A provável causa
disso foram os gradientes de temperatura, que induziram tensões nesses materiais cerâmicos
porosos e, pela ausência de ductilidade, acabaram propagando trincas e sendo quase que
pulverizados. Para evitar esse problema o paralelepı́pedo 3 foi cortado com uma espessura
maior, conforme mostra a Tabela 3.
Como foi dito, após alguns testes com o paralelepı́pedo 1, este foi danificado e um
novo paralelepı́pedo foi confeccionado. A Figura 31 mostra o experimento feito para o pa-
ralelepı́pedo 2. É observável que a resistividade elétrica não experimentou um decréscimo
para valores próximos de zero com o decréscimo de temperatura. Esse resultado ex-
perimental pode ser explicado levando-se em consideração que existe uma contração do
material quando resfriado. Tal contração é diferente em magnitude daquela dos conta-
tos elétricos e quando esses não estão mecanicamente estáveis uma ruptura da superfı́cie
amostra/contato é observada. Apesar disso, foi registrada uma variação brusca na re-
sistência elétrica do material em 90, 2K, valor de temperatura esperado da da transição
supercondutora do YBCO (veja Figura 30).
59
Figura 30: Gráfico mostrando (de cima para baixo): a) variação da temperatura do
termômetro ao longo do tempo. b) Variação da resistividade ao longo do tempo. c)
Resistividade em função da temperatura.
60
Figura 31: Gráfico mostrando (de cima para baixo): a) variação da temperatura do
termômetro ao longo do tempo. b) Variação da resistividade ao longo do tempo. c)
Resistividade em função da temperatura.
61
Figura 32: Gráfico mostrando (de cima para baixo): a) variação da temperatura do
termômetro ao longo do tempo. b) Variação da resistividade ao longo do tempo. c)
Resistividade em função da temperatura.
A fim de obter a constante de acoplamento λtr para o YBCO com o uso da Equação
4.7 foi necessário estimar α. Dado que a amostra correspondente ao paralelepı́pedo 3 foi
a que mostrou os melhores resultados nas curvas de resistividade elétrica versus tempe-
ratura, eles foram usados para estimar a inclinação α da região de temperatura onde a
resistividade apresenta comportamento linear.
Utilizando a Equação 4.7 foi obtido λtr = 0, 246 ∗ (3, 6)2 ∗ 6 = 19. Esse valor encontra-
se uma ordem de grandeza acima daqueles encontrados na literatura, que variam entre 2
e 5 [18, 22]. Uma variação tão pequena em α como essa constitui um bom resultado ex-
perimental, dado que o processo envolveu amostras com alta porosidade e caracterizações
que não foram conduzidos em atmosferas controladas.
63
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
11 MIURA, A. et al. Observing and modeling the sequential pairwise reactions that
drive solid-state ceramic synthesis. Advanced Materials, v. 33, n. 24, p. 2100312, 2021.
Disponı́vel em: ⟨https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/2009/2009.10896.pdf⟩.
65
20 LIU, Y. et al. Upper critical field of high-quality single crystals of kfe2 as2 . Phys.
Rev. B, American Physical Society, v. 87, p. 134513, Apr 2013. Disponı́vel em:
⟨https://link.aps.org/doi/10.1103/PhysRevB.87.134513⟩.
22 GURVITCH, M.; FIORY, A. T. Resistivity of la1.825 sr0.175 cuo4 and yba2 cu3 o7 to
1100 k: Absence of saturation and its implications. Phys. Rev. Lett., American Physical
Society, v. 59, p. 1337–1340, Sep 1987. Disponı́vel em: ⟨https://link.aps.org/doi/10.
1103/PhysRevLett.59.1337⟩.
66
import pyvisa
import time
#Configurando os equipamentos
multimetro_1 = pyvisa.ResourceManager().open_resource(’GPIB0::16::INSTR’)
#Associa o instrumento a uma variável
fonte_corrente = pyvisa.ResourceManager().open_resource(’GPIB0::19::INSTR’)
fonte_corrente.write("REN") #Entra no modo de listening do equipamento
tempo_inicio = time.time()
#Aquisiç~
ao dos dados até que se deseje parar o programa
while True:
if i > 0:
comando = "B1I" + str(i) + "E-3V10F1X" #Comando para a fonte de corrente
fonte_corrente.write(comando)
time.sleep(t)
leitura_DC_positivo = float(multimetro_1.query(’:SENSe:DATA:FRESh?’))
t_atual = str(time.time() - tempo_inicio)
l = str(leitura_DC_positivo)
dados.write(t_atual + " +" + str(corrente) + " " + l + "\n")
i *= -1 #A próxima corrente será negativa
else:
comando = "B1I" + str(i) + "E-3V10F1X"
fonte_corrente.write(comando)
time.sleep(t)
leitura_DC_negativo = float(multimetro_1.query(’:SENSe:DATA:FRESh?’))
i *= -1
t_atual = str(time.time() - tempo_inicio)
l = str(leitura_DC_negativo)
dados.write(t_atual + " -" + str(corrente) + " " + l + "\n")
lista_de_tempos.append(float(time.time() - tempo_inicio))
68
import numpy as np
import matplotlib.pyplot as plt
#Carregar o arquivo
arq_1 = open("Experimento resistividade supercondutor 2.txt", "r")
#ler os arquivos
linhas_1 = arq_1.readlines()
return temperatura
69
resistencia_termometro = []
resistividade_ybco = []
fig, axs = plt.subplots(3)
tempos = []
v_pos = np.array([0., 0.]) #Tens~
ao positiva medida no [termometro, ybco]
v_neg = np.array([0., 0.]) #Tens~
ao negativa medida no [termometro, ybco]
correntes = [0., 0.] #Corrente [positiva, negativa]
for i in range(len(linhas_1)):
if corren > 0:
v_pos = [ter, ybco]
correntes[0] = corren
else:
v_neg = [ter, ybco]
correntes[1] = corren
#A resist^
encia do term^
ometro será
r_ter = (v_pos[0] - v_neg[0]) / (correntes[0] - correntes[1])
resistencia_termometro.append(r_ter)
# A resist^
encia R do YBCO será:
r_ybco = (v_pos[1] - v_neg[1]) / (correntes[0] - correntes[1])
# gráfico 1
axs[0].plot(tempos, temper)
axs[0].set_xlabel("Tempos [s]")
axs[0].set_ylabel("Temperatura [K]")
# gráfico 2
axs[1].plot(tempos, resistividade_ybco)
axs[1].set_xlabel("Tempos [s]")
axs[1].set_ylabel("Resistividade [" + r’$\Omega$’ + " * m]")
# gráfico 3
axs[2].plot(temper, resistividade_ybco, "o")
axs[2].set_xlabel("Temperatura [K]")
axs[2].set_ylabel("Resistividade [" + r’$\Omega$’ + " * m]")
fig.tight_layout()
plt.show()