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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA


MÉTODOS EXPERIMENTAIS DA FÍSICA III

IGOR MARQUES BISPO SILVA - 9377185


PATRICK LOBO PADULA - 11368881
LUKAS ALVES JOSEPH COSTA - 9423036
TIAGO CASTAGNET - 9423022
GUILHERME TREVIZAN SILVA OLIVEIRA - 9843188
RENÊ REGINATO DAVID VIANA - 9359282

Aferição das características magnéticas intrínsecas do material FeCoNiCuGa

RELATÓRIO

Profa. Cristina Bormio Nunes

Lorena
2022
Lista de ilustrações

Figura 1 – Fluxo magnético através de uma dada área (azul) orientada num ângulo
(esquerda) e normal (direita) ao campo magnético. . . . . . . . . . . . . 7
Figura 2 – Curva de Histerese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Figura 3 – Curva de Histerese com ação de B e M após aplicação do campo magnético 10
Figura 4 – Montagem experimental sem núcleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Figura 5 – Aparato experimental com núcleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Figura 6 – Fluxímetro de bancada Lake Shore Model 480 . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 7 – Ficha técnica do Fluxímetro de bancada Lake Shore Model 480 . . . . . 16
Figura 8 – Fonte de bancada programável Tektronix PWS4602. . . . . . . . . . . . 17
Figura 9 – Especificações técnicas do gaussímetro de bancada Model475. . . . . . 18
Figura 10 – Paquímetro utilizado nas medições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 11 – Chave inversora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 12 – Núcleo de ferro silício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 13 – Amostra de FeCoNiCuGa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 14 – Bobina caseira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 15 – Tabela da amostra sem o núcleo de Fe Si . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 16 – Tabela da amostra com o núcleo de Fe Si . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 17 – Tabela da amostra sem anular o campo interno . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 18 – Gráfico de B x H sem o núcleo de FeSi . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 19 – Gráfico de B x H com o núcleo de FeSi . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 20 – Curva de histerese da amostra de FeCoNiCuGa . . . . . . . . . . . . . 25
Lista de tabelas

Tabela 1 – Tabela t-Student, 2022 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13


Tabela 2 – Resultados obtidos da histerese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Tabela 3 – Valores calculados da derivada dB/dH para H = 0 . . . . . . . . . . . . 26
Tabela 4 – Valores de permeabilidade relativa calculada . . . . . . . . . . . . . . . 27
Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

3 Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento . . . . . . . . . . . . 7


3.1 Fluxo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.2 Lei de Faraday . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.3 Materiais ferromagnéticos duros e moles . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.4 Curva de histerese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.5 Magnetização de saturação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.6 Susceptibilidade magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.7 Cálculo de incerteza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

4 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

5 Equipamentos e Sensores Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16


5.1 Lake Shore Model 480 Fluxmeter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5.2 Fonte de bancada programável Tektronix PWS4602 . . . . . . . . . . 17
5.3 Paquímetro Mitutoyo Absolute Digimatic . . . . . . . . . . . . . . . . 18
5.4 Chave Inversora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5.5 Núcleo de ferro silício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5.6 Amostra de FeCoNiCuGa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5.7 Solenoide caseiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

6 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
6.1 Resultados obtidos experimentalmente . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
6.2 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 15 . . . . . . . . . . 23
6.3 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 16 . . . . . . . . . . 24
6.4 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 17 . . . . . . . . . . 25

7 Discussão dos Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

8 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4

1 Introdução

A indução eletromagnética é um dos assuntos mais importantes do eletromag-


netismo clássico. O fenômeno teve, e segue tendo, aplicações práticas e tecnológicas
extremamente relevantes, tais como o desenvolvimento de geradores elétricos e sistemas
de radiofrequência. Para entender esse fenômeno e seus desdobramentos, precisamos
visitar os estudos de M. Faraday (1791-1867) sobre a indução elétrica datada de 1831.
Faraday descobriu que era possível induzir uma corrente elétrica em um circuito secundário
ao variar a corrente em um circuito primário, notou que enquanto a corrente no primário
permanecia constante, nada era induzido no circuito secundário. Ele também verificou que
ocorria indução mantendo-se a corrente no primário constante ao movimentar um circuito
em relação ao outro. Em seus estudos, Faraday foi além, notou que podia obter a corrente
induzida no secundário aproximando ou afastando um ímã permanente, ou mantendo o ímã
em repouso em relação à terra e aproximando ou afastando o circuito secundário, relação
denominada de indução por translação (casos em que ocorre um movimento relativo entre
o circuito primário e secundário, ou entre o ímã e o circuito secundário) (DA SILVA, DE
CARVALHO; 2012).
Após a apresentação dessas descobertas, grandes cientistas propuseram a explicar
esse fenômeno, entre eles: Faraday, Maxwell, H.A. Lorentz, A. Einstein e W. Weber. Neste
estudo, nos focaremos na teoria apresentada por Faraday. Sua explicação para a indução
de corrente elétrica devido a uma fonte de campo magnético (imã permanente) que se
aproxima de um circuito, ou vice-versa, baseia-se na existência de linhas de campo que
cortam o circuito elétrico (provocando uma variação de fluxo magnético através do circuito).
Para Faraday, as linhas de campo acompanhavam qualquer movimento translacional do
imã. Ou seja, caso o ímã fosse transladado em relação ao laboratório com uma velocidade
constante de 5 m/s, as linhas do campo magnético vão se mover em relação ao laboratório
com 5 m/s. (DA SILVA, DE CARVALHO; 2012) Em seu famoso livro “Um Tratado sobre
Eletricidade e Magnetismo”, Maxwell, que compartilhava das ideias de Faraday, resumiu as
experiências deste, na seguinte formulação:
“O conjunto destes fenômenos pode ser resumido em uma única lei. Quando o
número das linhas de indução magnética que atravessam um circuito secundário na direção
positiva é alterado, uma força eletromotriz age ao redor do circuito, a qual é medida pela
razão de diminuição da indução magnética através do circuito.” (1 do Sincker)
Para efeitos deste experimento, devemos nos aprofundar no entendimento dos ma-
teriais ferromagnéticos. Os materiais ferromagnéticos possuem como sua característica
marcante a magnetização espontânea, isso quer dizer que eles apresentam uma magne-
tização não nula, mesmo na ausência de campo externo aplicado. Em geral, podemos
classificá-los em dois grupos: materiais ferromagnéticos duros e materiais ferromagnéti-
cos moles ou doces. Esta classificação considera a resposta magnética do material a um
Capítulo 1. Introdução 5

campo aplicado. A propriedade utilizada para separar os tipos de ferromagnetismo é a


coercividade, ou seja, a intensidade de campo necessário para levar a magnetização do
material a zero. Embora não haja uma maneira exata de classificá-los, assume-se que
materiais ferromagnéticos são aqueles que possuem uma coercividade alta sejam duros, e
aqueles que possuem coercividade baixa sejam classificados de moles ou doces. Assim, um
material com uma coercividade maior que 104 A/m é classificado como duro, e o material
que tenha coercividade menor que 500 A/m e doce (SINNECKER 2000).
Graças a essas diferenças naturais, esses materiais produzem diferentes curvas
de histerese, que são determinantes para aplicações práticas. Como o uso do ferro em
transformadores, nos quais se usam ligas com alta permeabilidade e histerese estreita
para diminuir as perdas energéticas. Materiais com alta permeabilidade e histerese estreita
se aplicam também na blindagem de campos magnéticos. No caso de transformadores e
aplicações de blindagem, o material de histerese estreita é utilizado em regime não saturado.
Porém, há também aplicações de materiais ferromagnéticos com histerese estreita que
vala-se apenas possibilidade de saturar o material. Nas portas de fluxo 1 , em inglês fluxgate,
usa-se a saturação para medir campos magnéticos extremamente fracos, tipicamente na
faixa de 0,1 nT até 1 mT.
Visto que os conceitos de características magnéticas dos materiais e indução eletro-
magnética permeiam uma série de estudos científicos e processos industriais da atualidade,
somos convidados a fazer uma análise mais profunda por meio deste experimento.
6

2 Objetivos

Neste experimento foram realizados procedimentos para aferição das características


magnéticas intrínsecas do material FeCoNiCuGa, assim buscamos encontrar a susceptibili-
dade magnética , a curva de histerese para discutir sua dureza, a magnetização remanente
Mr, a magnetização de saturação Ms e o campo coercivo Hc. Comparando os valores
obtidos em um panorama geral na literatura, uma vez que o material ainda está sendo
pesquisado em outras áreas do conhecimento.
7

3 Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento

3.1 Fluxo Magnético

Cálculo de fluxo é a magnitude de um campo vetorial que penetra através de uma


área ou volume específico arbitrário. O cálculo de fluxo não está associado diretamente a
nenhum fenômeno físico e sim é uma ferramenta matemática que pode ser utilizada para
qualquer problema modelado por um campo vetorial, assim, como apresentada na Figura
1 para melhor visualização do campo atravessando uma área (A). Quando associado ao
estudo do magnetismo, pode ser utilizado para calcular o fluxo magnético, sua unidade de
WB
medida é dada em m2
.

Figura 1 – Fluxo magnético através de uma dada área (azul) orientada num ângulo (esquerda) e
normal (direita) ao campo magnético.

khanacademy

O fluxo magnético pode ser calculado através da seguinte integral de superfície


apresentada na Equação 3.1.

ZZ
ΦB = P
B(r; t):dA (3.1)
(t)

Sendo ΦB = NB:A , onde B é a densidade de fluxo magnético e A é um


ΦB = NBA:cos„
elemento de área superficial.

3.2 Lei de Faraday

A lei de faraday ou lei de indução eletromagnética relaciona a variação de fluxo


magnético em um material condutor com o surgimento de uma corrente elétrica em sua
superfície, conhecida como força eletromotriz ou corrente induzida.
Na lei de faraday quando há uma modificação do fluxo magnético proveniente por
uma mudança do campo magnético incidente é induzida uma força eletromotriz sobre a
Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 8

superfície da área ou volume. Um exemplo usual desse fenômeno é um campo variante


sobre um fio em forma de bobina, ao se variar o campo é induzida uma corrente sobre o fio
por conta da aceleração dos elétrons o que gera uma diferença de potencial quando temos
um fio aberto conectado a um voltímetro.
Segundo a lei de faraday a força eletromotriz ou FEM é dada pela Equação 3.2.

dΦB
" = −N (3.2)
dt
Utilizando a forma integral de fluxo magnético e o teorema de Stokes, podemos
P P
chegar na Equação 3.3, onde é uma superfície fechada definida por @ ; E é o campo
P P
elétrico; B é o campo magnético; dl é um elemento de @ ; dA é um elemento de

I ZZ
@B
E:dl = − :dA (3.3)
@
P @t
P

A equação acima é uma das quatro equações fundamentais do eletromagnetismo,


as equações de Maxwell ela pode ser reescrita na forma reduzida, apresentada na Equação
3.4.

@B
∇×E =− (3.4)
@t
Uma das utilizações possíveis do conceito da lei de faraday é associar uma diferença
de potencial medida a um campo magnético. Isto permite a criação de sensores como os
de efeito hall uma vez que é simples a medição de uma diferença de potencial.

3.3 Materiais ferromagnéticos duros e moles

Os materiais ferromagnéticos apresentam uma magnetização não nula independente


da existência de um campo externo aplicado. Esses materiais são classificados dependendo
sua resposta a um campo externo aplicado, sendo materiais ferromagnéticos duros (ímãs)
e materiais ferromagnéticos moles.
Para distinguir esses dois possíveis materiais é utilizado em análise sua coercividade,
ou seja, o campo aplicado necessário para levar a magnetização do material a zero. Porém,
não há um valor específico para determinar que material é duro ou mole, mas assumi-se que
materiais ferromagnéticos com coercividade alta sejam definidos como duros e o inverso
para os moles.
A
Normalmente, os materiais com uma coercividade maior que 104 m é considerado
A
como duro e materiais com uma coercividade menor que 500 m é considerado como mole
(SINNECKER, 2000).
Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 9

3.4 Curva de histerese

A curva de histerese indica o comportamento magnético de um material quando na


presença de um campo magnético externo. A partir desta curva pode-se perceber algumas
propriedades magnéticas do material como a magnetização, desmagnetização e campo
magnético residual. Assim ela ajuda na classificação do material e eventualmente seu uso
(CALLISTER, W. D., 2002).
Inicialmente é utilizado algum aparato gerador de campo para induzir um campo
magnético no material, como uma bobina solenóide, e um instrumento de medição de
campo, como uma bobina de captura. O campo induzido é aumentado e diminuído em três
etapas distintas e então é traçada a curva de histerese.
Partindo de um material não magnetizado é possível perceber que ao se aumentar
o campo induzido H(v) a densidade de fluxo magnético (B) dentro do material aumenta
até um valor máximo de magnetização, pode-se assim identificar graficamente o ponto de
magnetização de saturação (S), como já discutido esse fenômeno ocorre pela orientação
dos domínios magnéticos dentro do material em um único sentido. A partir desse ponto ao
se reduzir o valor de H é possível perceber uma defasagem do valor de campo induzido
e fluxo, isto pode ser percebido graficamente por um distanciamento no eixo de H entre
ambas as curvas. Este comportamento é chamado de histerese. Quando H é zero é possível
perceber que ainda há um valor de fluxo magnético presente, isso indica que o material se
mantém magnetizado mesmo sem campo externo. Este ponto é chamado de densidade de
fluxo remanescente (Br) e ocorre por que os momentos de dipolo magnéticos se mantêm
ordenados.
Ao se aplicar um campo com sentido inverso ao anterior (H<0) , também chamado
de campo coercivo, é possível observar que há uma diminuição do fluxo magnético B até
um novo ponto de saturação (S-), igual ao cenário anterior ao se diminuir o valor do campo
coercivo até 0 é possível perceber uma densidade de fluxo remanescente (-Br) . Ambos os
pontos de saturação e pontos remanescente são explicados da mesma maneira que seus
análogos com campo H positivo.
Concluída a curva de histerese pode-se definir ambas as dureza e moleza magné-
ticas através de quão estreita é a curva e dos pontos de saturação, também é possível
estimar a quantidade de energia perdida pela área total da curva. Além disso, há dois
valores de H definidos por H+ e H- onde o valor de fluxo magnético volta (B) a ser 0. Na
Figura 2 é possível visualizar o formato da curva para uma análise dimensional em relação
a sua largura e altura.
Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 10

Figura 2 – Curva de Histerese

Boylestad, R. L.

A Figura 3 mostra as curvas de magnetização em termos de B (linha contínua a


partir da origem no primeiro quadrante) e M (linha pontilhada). Embora M seja constante
após a saturação ser atingida, B continua a aumentar com H, porque H forma parte de B. A
Equação 3.5x mostra esse comportamento.

Figura 3 – Curva de Histerese com ação de B e M após aplicação do campo magnético

Cullity e Graham (2009)

B = H + 4ıM (3.5)
dB
Assim, dJ
é a união além do ponto Bs, chamada de indução de saturação; contudo, a
inclinação dessa linha não aparenta ter união, pois, as escalas de B e H costumam ser dife-
rentes. O aumento do H além do ponto de saturação irá fazer com que “Mr” aproxime-se de
1, enquanto H se aproxima de infinito. A curva de B x H a partir do estado de desmagnetiza-
ção até a saturação é chamada de magnetização normal ou curva normal de magnetização.
Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 11

Esta pode ser medida em duas formas diferentes, e o estado de desmagnetização pode ser
alcançado em duas maneiras diferentes, mas na maioria das casas não são significativas.

3.5 Magnetização de saturação

Ao final do alinhamento dos momentos magnéticos surge uma assintota, isto é,


uma tendência para um valor máximo ou mínimo de magnetização, esta é a conhecida
magnetização de saturação do material (MARTINÊZ, 2013).

3.6 Susceptibilidade magnética

Uma importante propriedade dos materiais é sua susceptibilidade magnética (ffl),


esta característica intrínseca de cada material está relacionada com sua estrutura atômica
e molecular. Os átomos apresentam momentos de dipolo magnético dado o movimento
orbital dos respectivos elétrons e cada elétron apresenta um momento de dipolo magnético
intrínseco associado ao seu spin (CARNEIRO, 2003).

3.7 Cálculo de incerteza

Em experimentos que envolvem instrumentos de medição de qualquer natureza, é


necessário considerar a incerteza dos aparatos de medição e sua influência nos valores
das grandezas encontradas. Para calcular a incerteza do ensaio realizado, é necessário
realizar a propagação das incertezas dos equipamentos utilizados como na Equação 3.6 a
seguir, multímetro, fonte, micrômetro e régua (OIML, 2010).

‹Y = f (X) = f (X1 ; X2 ) (3.6)

O método utilizado para propagação de incerteza foi o método GUM, definido pela
Organização Mundial de Metrologia Legal (OIML, 2010). O método consiste na somatória
quadrática das incertezas, ajustadas por seus coeficientes de sensibilidade, definidos
como derivadas da equação de modelagem do experimento pelas respectivas variáveis,
resultando na Equação 3.7.

N  2
X @f
uc2 (y ) = u 2 (xi ) (3.7)
i=1
@xi

É orientado pela OIML que seja considerado, também, a incerteza tipo A, proveniente
do desvio padrão das amostras experimentais, Equação 3.8.
Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 12

s
PN
− x)2
i=1 (xi
ff = (3.8)
n−1

A combinação quadrática das incertezas envolvidas, Equação 3.9, garante que todas
as incertezas contribuam de maneira proporcional para o resultado final, sem maquiar o
resultado.

q
Uc = UA2 + UB2 (3.9)

Então, após ser definido o intervalo de confiança, 95% no caso, e medido os graus
de liberdade efetivos que estiveram presentes no experimento, pode-se localizar o fator de
abrangência definido pela Tabela 1, t-Student.
O fator de abrangência “K” garante que as medições encontradas estão presentes
em um certo intervalo de medição, com confiança de 95%, no caso dos experimentos
descritos neste relatório segundo a Equação 3.10.

Y (X) = ±K ∗ U(X) (3.10)


Capítulo 3. Conceitos Teóricos Envolvidos no Experimento 13

Tabela 1 – Tabela t-Student, 2022

STUDENT-T-TABLE, 2022
14

4 Procedimento Experimental

Inicialmente foi preparada a bobina de captura. Mediu-se a chapa de FeCoNiCuGa


em suas dimensões transversal e longitudinal utilizando para isso o paquímetro Mitutoyo
Absolute Digimatic. Sobre a chapa foi aplicada uma camada de fita dupla face e enrolou-se
a bobina solenóide utilizando um fio de cobre esmaltado 27 awg, no total foram 36 voltas ao
redor da chapa em uma única camada. Para efeitos de redundâncias mediu-se a resistência
total da bobina utilizando o multímetro e o diâmetro do fio utilizando o micrômetro.Para
facilitar com o resto do experimento, as pontas da bobina foram lixadas e receberam uma
leve camada de estanho de solda.
Para a realização das medidas de indução sobre a chapa de FeCoNiCuGa esta
foi introduzida dentro da bobina solenóide confeccionada anteriormente e conectada ao
aparato experimental. Este consistia na configuração da fonte de bancada NPC-3003,
Gaussímetro LakeShore modelo 475 e chave inversora de corrente. Para o cálculo do
campo pelo gaussímetro inseriu-se no equipamento a área calculada da bobina de captura
e o número de voltas da mesma.
Para os valores de B inicial foi introduzida a bobina de captura no interior do solenóide
confeccionado pelos alunos. As medidas foram realizadas de maneira autônoma através de
software e computador fornecidos pelo professor, esses eram capazes de controlar ambas
as fontes e o gaussímetro coletando-se assim os valores de campo magnético induzido
para valor de tensão (v) aplicado na bobina. Uma vez realizadas as medições o sentido da
corrente foi alterado utilizando a chave inversora. Para melhor visualização da montagem a
Figura 4 apresenta uma foto do experimento.

Figura 4 – Montagem experimental sem núcleo

Autoria própria
Capítulo 4. Procedimento Experimental 15

Para os valores de histerese a bobina de captura foi introduzida em um núcleo de ferro


silício. A bobina de captura foi posicionada entre ambas as partes do núcleo. As medidas
foram realizadas utilizando o mesmo processo descrito para os de B inicial sem núcleo.
Uma vez realizadas as medidas para o campo natural foi alterado o sentido da corrente
alterando a chave inversora e repetido as etapas de medição para o campo coercitivo. Para
melhor visualização da montagem a Figura 5 apresenta uma foto do experimento.

Figura 5 – Aparato experimental com núcleo

Autoria própria
16

5 Equipamentos e Sensores Utilizados

5.1 Lake Shore Model 480 Fluxmeter

Fluxímetro de bancada que foi utilizado em conjunto com a amostra é o Lake Shore
Model 480, capaz de determinar o fluxo total, B, a densidade de fluxo, H e força do campo
magnético. Esse equipamento representado na Figura 6, é relevante para magnetização,
testes magnéticos e componente principal em loops BH e em medidas de hysteresis.

Figura 6 – Fluxímetro de bancada Lake Shore Model 480

LakeShore

Na Figura 7 é listado os aspectos técnicos relevantes que foram utilizados nos


cálculos de erro do experimento referente ao Fluxímetro de bancada Lake Shore Model 480
(LakeShore, 2015).

Figura 7 – Ficha técnica do Fluxímetro de bancada Lake Shore Model 480

LakeShore
Capítulo 5. Equipamentos e Sensores Utilizados 17

5.2 Fonte de bancada programável Tektronix PWS4602

Para a aplicação da corrente, foi utilizada a Fonte de bancada Tektronix PWS4602


representada na Figura 8. Uma fonte de larga faixa de corrente e tensão, com 0.03% de
precisão na tensão e 0.05% de precisão na corrente. A fonte tem tecnologia RemoteSense
que elimina o efeito da queda de tensão nas pontas de prova e reduz o ruído para 5 mV
pico-a-pico.
A fonte também possui uma porta USB para programação externa para automatizar
os experimentos. Utilizando uma porta compatível com USBTMC, é possível utilizar a edição
da Tektronix do software LabView SignalExpress, desenvolvido pela National Instruments,
para controlar o experimento por computador.

Figura 8 – Fonte de bancada programável Tektronix PWS4602.

Tektronix

Na Figura 9 é listado os aspectos técnicos relevantes que foram utilizados nos


cálculos de erro do experimento referente à Fonte de bancada programável Tektronix
PWS4602 (Tektronix, 2022).
Capítulo 5. Equipamentos e Sensores Utilizados 18

Figura 9 – Especificações técnicas do gaussímetro de bancada Model475.

Lakeshore, 2019

5.3 Paquímetro Mitutoyo Absolute Digimatic

Para a medição das dimensões do carretel retangular polimérico foi utilizado o


Paquímetro Mitutoyo Absolute Digimatic, representado na Figura 10.
Figura 10 – Paquímetro utilizado nas medições.

Autoria própria

Segundo o manual da Mitutoyo, as especificações do paquímetro são:

• Resolução: 0,01 mm
Capítulo 5. Equipamentos e Sensores Utilizados 19

• Precisão: ± 0,02 mm

• Repetibilidade: 0,01 mm

5.4 Chave Inversora

A chave inversora, também conhecida como ponte H, foi utilizada para alterar a pola-
ridade da tensão e, consequentemente, a direção da corrente do experimento, representada
na Figura 11.
Figura 11 – Chave inversora

Autoria própria

5.5 Núcleo de ferro silício

Para realização do experimento foi utilizado um núcleo de ferro-silío (Fe-Si), como


mostrado na Figura 12.
Figura 12 – Núcleo de ferro silício

Autoria própria
Capítulo 5. Equipamentos e Sensores Utilizados 20

5.6 Amostra de FeCoNiCuGa

Utilizamos no experimento uma amostra de FeCoNiCuGa enrrolada em seu centro


como uma bobina um fio de cobre esmaltado 27 awg totalizando 36 voltas em uma única
camada, representado na Figura 13.

Figura 13 – Amostra de FeCoNiCuGa

Autoria própria

5.7 Solenoide caseiro

Para a geração do campo no experimento, foi utilizado um solenoide construída no


experimento anterior.

Figura 14 – Bobina caseira

Autoria própria
21

6 Resultados

6.1 Resultados obtidos experimentalmente

Após a realização do experimento, obtivemos as tabelas representadas na Figura


15 que representa a medição da amostra sem a presença do núcleo de FeSi, na Figura
16 apresenta as edições da amostra com a presença do núcleo de FeSi e na Figura 17
obtemos os valores do campo sem anular a magnetização interna da amostra.

Figura 15 – Tabela da amostra sem o núcleo de Fe Si

Autoria própria
Capítulo 6. Resultados 22

Figura 16 – Tabela da amostra com o núcleo de Fe Si

Autoria própria
Capítulo 6. Resultados 23

Figura 17 – Tabela da amostra sem anular o campo interno

Autoria própria

6.2 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 15

Utilizando os dados coletados apresentados na Figura 15, foi realizado o gráfico


apresentado na Figura 18 que apresenta o resultado da aplicação do campo para a amostra
sem o núcleo. Na Figura 18 é possível notar duas curvas de cores diferentes, a curva de
cor laranja (à direita) representa a medição para o campo aplicado positivo, já a curva em
azul (à esquerda) representa a medição para o campo aplicado negativo.
Capítulo 6. Resultados 24

Figura 18 – Gráfico de B x H sem o núcleo de FeSi

Autoria própria

6.3 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 16

Utilizando os dados coletados apresentados na Figura 16, foi realizado o gráfico


apresentado na Figura 19 que apresenta o resultado da aplicação do campo para a amostra
com o núcleo. Na Figura 19 é possível notar duas curvas de cores diferentes, a curva de
cor laranja (à direita) representa a medição para o campo aplicado positivo, já a curva em
azul (à esquerda) representa a medição para o campo aplicado negativo.

Figura 19 – Gráfico de B x H com o núcleo de FeSi

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Capítulo 6. Resultados 25

6.4 Resultados obtidos a partir dos dados da Figura 17

Utilizando os dados coletados apresentados na Figura 17, foi realizado o gráfico


apresentado na Figura 20 que apresenta o resultado da aplicação do campo em 3 estágios
diferentes para a amostra com o núcleo. O primeiro estágio é dado pela tabela de H1
apresentado na Figura 17, nele é aplicado o campo positivo. No segundo estágio dado pela
tabela H2, ocorre a aplicação do campo negativo sem anular o campo interno da amostra.
Por fim, o terceiro estágio dado pela tabela H3, que novamente sem anular o campo interno
é novamente aplicado o campo positivo.

Figura 20 – Curva de histerese da amostra de FeCoNiCuGa

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A partir da curva de histerese encontrada, foi determinado os valores de Mr , Hc e


Ms utilizando uma média para os valores próximos ao eixo vertical e horizontal do gráfico
apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados obtidos da histerese


Capítulo 6. Resultados 26

Campo remanente Campo coercitivo Campo de saturação

Orientação (Mr ) (Hc ) (Ms )

Positivo 4; 5979:10−4 ± 7; 21:10−4 T 7; 2000:10−3 ± 7; 21:10−4 T 1; 048:10−3 ± 7; 21:10−4 T

Negativo −4; 5356:10−4 ± 7; 21:10−4 T −5; 6000:10−3 ± 7; 21:10−4 T 1; 025:10−3 ± 7; 21:10−4 T

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A partir dos dados coletados foi realizado o cálculo a permeabilidade magnética


realizando a derivda dos valores do campo induzido e o campo aplicado apresentado na
Tabela 3.

Tabela 3 – Valores calculados da derivada dB/dH para H = 0

Núcleo Campo positivo Campo negativo

T T
com 2; 8405:10−3 ± 7; 21:10−4 2; 2223:10−3 ± 7; 21:10−4
M:A M:A

T T
sem 0; 2556:10−3 ± 7; 21:10−4 0; 2556:10−3 ± 7; 21:10−4
M:A M:A
Capítulo 6. Resultados 27

Núcleo Campo positivo Campo negativo

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Assim pode-se calcular o valor de permeabilidade relativo representado na Tabela 4.

Tabela 4 – Valores de permeabilidade relativa calculada

Núcleo Campo positivo Campo negativo

com 2; 2604:10−5 1; 7685:10−5

sem 2; 0340:10−6 2; 0340:10−6

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A partir de dos valores de permeabilidade relativas pode-se estimar o valor de


susceptibilidade através da Equação 6.1.

ffl = —r − 1 (6.1)

Porém, como — = 1; 2566:10−6 é muito menor do que 1 pode-se assumir que ffl = −1
28

7 Discussão dos Resultados

Para a amostra em questão temos que os valores de campo de desmagnetização


são na escala de 10ˆ-4 T, quando comparado com a literatura vemos que este é um
valor considerado baixo indicando que o material é magneticamente macio. A forma fina e
alongada da curva de histerese, quando colocada na mesma escala, colabora para esse
comportamento. Também a partir da histerese podemos ver um campo B residual ( quando
valor de H equivale a 0 ) na escala de 10ˆ-3T, o que ao se comparar a literatura pode ser
entendido como um valor baixo. Dessa forma temos que o material não retém muito bem
o campo magnético após redução do campo magnético, o que corrobora para a hipótese
deste ser magneticamente macio.
Ao se observar os fatores de permeabilidade magnética pode-se observar que estes
são em média na casa de 10ˆ5, isto indica que o material tem dificuldade de magnetização
e atinge o valor máximo de magnetização rapidamente.
Como o valor de susceptibilidade magnética é negativo, ou seja, menor do que
zero, podemos inferir que o material é diamagnético. O que explica seu comportamento
de material magneticamente macio, uma vez que seus dipolos magnéticos tendem a se
orientar ao campo H, diminuindo o valor de campo magnético medido.
Possíveis discrepâncias nos valores obtidos se devem principalmente a dificuldade
na medição e construção dos equipamentos utilizados. Nenhum dos alunos está na condição
de técnico ou especialista no assunto, o que abre oportunidades para diversos tipos de
erros experimentais grosseiros Isto pode incluir, mas não se limita há, construção errada
das bobinas primárias e bobina de captura, leitura incorreta de equipamentos e escalas,
cálculos incorretos das grandezas físicas, inserção incorreta de dados nos equipamentos,
soldas grosseiras e etc.
29

8 Conclusão

A partir do experimento realizado pode-se concluir que a amostra de FeCoNiCuGa se


trata de um material diamagnético, macio magneticamente e com baixo campo de saturação.
Seu campo H de desmagnetização é em torno de -7,000 10ˆ3 T, campo residual de 4,5979
10ˆ-4 T. Em termos metafísicos de aprendizado o experimento foi útil para o entendimento
de do processo de magnetização e desmagnetização bem como pode ser realizada a
caracterização magnética de materiais desconhecidos ou recém fabricados.
30

Referência

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Revista brasileira de ensino de fisica, v. 22, n. 3, 2000.

CARNEIRO, Antonio Adilton O.; TOUSO, Alessandro Tadeu; BAFFA, OswaldoAvaliação


da susceptibilidade magnética usando uma balança analítica. Química Nova, v. 26, n. 6, p.
952-956, 2003.

MARTINÊZ, Gustavo Adolfo LopezSíntese de nanopartículas magnéticas com elevada


magnetização de saturação e estabilidade química. 2013. Tese de Doutorado. Universidade
de São Paulo.

DA SILVA, RT.; DE CARVALHO, H. B. A indução eletromagnética: análise conceitual e


fenomenológica. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 34, n. 4, p. 1-6, 2012.

CULLITY, BD.; GRAHAM, C. D.. Introduction to Magnetic Materials. 2. ed. Piscataway, Nj:
Wiley, 2009. 544 p.

SPALDIN, Nicola AMAGNETIC MATERIALS: fundamentals and applications. 2. ed. Santa


Barbara: Cambridge University Press, 2003. 274 p.

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2009. 614 p.

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Supplies ZZZ Programmer Manual[s.l: s.n.]. Disponível em: <https://download.tek.com/man
ual/PWS4000-series-linear-dc-power-supplies-programmer-EN-EN.pdf>. Acesso em 1 de
junho 2022.

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