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A atuação da enfermagem no
atendimento pré-hospitalar às
emergências psiquiátricas: uma revisão

Nivia Cristiane Ferreira Brandão Soares


UFMA

Jéssica Mykaella Ferreira Feitosa


UNIPÓS

Aryanne Thays Feitosa Façanha


UNIDIFERENCIAL

Jorlandia Maria Ferreira Teles


UEMA

Maria Almira Bulcão Loureiro


UFMA

Fernanda Cavalcante Macedo Cândido


UFMA

Thais Araujo Barbosa


FACEMA

10.37885/210303873
RESUMO

Para um número cada vez maior de pacientes, os serviços de emergência são a porta
de entrada para o sistema de saúde e uma fonte essencial de tratamento, quando não a
única opção. Dessa maneira, o atendimento pré-hospitalar tem significativa importância no
manejo e transporte desses pacientes, garantindo qualidade na assistência médica. Este
trabalho tem como objetivo elaborar uma revisão bibliográfica que aborde a atuação da
enfermagem no atendimento pré-hospitalar às emergências psiquiátricas. O levantamento
bibliográfico foi realizado no banco de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em
Ciências de Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), BVS (Biblioteca Virtual
em Saúde) e Banco de Teses da CAPES, no período de 1999 a 2012. Os serviços de
urgência ocupam um lugar tão estratégico quão problemático na rede de saúde mental,
pois estão no último nível antes da internação psiquiátrica. Isso coloca a atuação dos
profissionais de enfermagem em uma posição privilegiada no tocante à percepção de
problemas, ao desenvolvimento de estratégias mais resolutivas e a tomadas de decisões
pertinentes durante o fluxograma do usuário nos diversos níveis da rede, servindo como
instrumento para evitar internações desnecessárias. O desafio de serviços de emer-
gências psiquiátricas é tentar manejar as suas limitações para atingir seus objetivos de,
efetivamente, exercer suas funções dentro de uma rede integrada de serviços de saúde
mental, criar condições minimamente adequadas para práticas de ensino e execução de
projetos de pesquisa de qualidade que permitam a avaliação de medidas de eficácia e
de efetividade de intervenções realizadas em contexto de emergência.

Palavras-chave: Serviços de Emergência Psiquiátrica, Enfermagem Psiquiátrica, Serviços


de Saúde Mental.

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Saúde Coletiva: avanços e desafios para a integralidade do cuidado
INTRODUÇÃO

O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) tem sido objeto de atenção da sociedade como


um todo, como se pode perceber através da mídia e, particularmente junto aos profissionais
envolvidos nesse tipo de atendimento. Também os órgãos governamentais têm se preocu-
pado em organizar melhor esse tipo de atenção à saúde, tornando este modelo um assunto
debate constante em todos os meios (RAMOS, 2005).
Atualmente, no Brasil, o atendimento pré-hospitalar está estruturado em duas modali-
dades: o Suporte Básico à Vida (SBV) e o Suporte Avançado à Vida (SAV). O SBV consiste
na preservação da vida, sem manobras invasivas, em que o atendimento é realizado por
pessoas treinadas em primeiros socorros e atuam sob supervisão médica. Já o SAV tem
como características manobras invasivas, de maior complexidade e, por este motivo, esse
atendimento é realizado exclusivamente por médico e enfermeira. Assim, a atuação da
enfermeira está justamente relacionada à assistência direta ao paciente grave sob risco de
morte (MALVESTIO, 2000).
Os serviços de emergências psiquiátricas constituem unidade central para o funcio-
namento adequado de redes de saúde mental, tanto pelo manejo de situações de emer-
gências, como pela regulação da rede em que se insere. Os serviços de emergências
psiquiátricas relacionam-se com todos os serviços hospitalares e extra-hospitalares, possi-
bilitando a organização do fluxo das internações e evitando sobrecarga da rede de saúde
mental (BARROS, 2010).
De acordo com Brasil (2010), para um número cada vez maior de pacientes, os serviços
de emergência são a porta de entrada para o sistema de saúde e uma fonte essencial de
tratamento, quando não a única opção. Dessa maneira, o atendimento pré-hospitalar tem
significativa importância no manejo e transporte desses pacientes, garantindo qualidade na
assistência médica.
Para Barros (2010), os serviços de emergências psiquiátricas relacionam-se com todos
os serviços hospitalares e extra-hospitalares, bem como o atendimento pré-hospitalar, pos-
sibilitando a organização do fluxo das internações e evitando sobrecarga da rede de saúde
mental. As funções dos serviços de emergências psiquiátricas são amplas e extrapolam o
simples encaminhamento para internação integral, pois a estabilização clínica e suporte
psicossocial podem ser alcançados em serviços de emergências psiquiátricas bem estru-
turados. Devendo a equipe de atendimento estar bem treinada e preparada para oferecer
segurança a esse paciente que depende desse atendimento de emergência.
A característica de agilidade no manejo do paciente – essencial para o adequado fun-
cionamento de um serviço de emergência – pode implicar em algumas limitações, no que se
refere tanto ao tratamento do paciente quanto à formação dos profissionais de saúde para

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a atuação neste tipo de serviço. Em geral, serviços de emergência psiquiátrica têm pouca
disponibilidade de leitos para melhor observação e acompanhamento da evolução do quadro
clínico, o que, muitas vezes, leva a uma decisão precoce de internação integral do paciente.
Nem sempre os serviços extra-hospitalares dispõem de uma estrutura que ofereça a mesma
agilidade encontrada na sala de emergência (BARROS, 2010).
Este trabalho tem como objetivo geral elaborar uma revisão bibliográfica que aborde
a atuação da enfermagem no atendimento pré-hospitalar às emergências psiquiátricas,
identificando as dificuldades que os profissionais de enfermagem enfrentam no atendimen-
to pré-hospitalar às emergências psiquiátricas, verificando como deve ser o manejo clíni-
co das emergências psiquiátricas no atendimento pré-hospitalar realizado pelo profissio-
nal de enfermagem.
A realização desta revisão bibliográfica é de suma importância, pois fazer essa refle-
xão é de fundamental importância para a saúde mental, pois pode subsidiar os profissionais
sobre como deve ser feito esse atendimento, discutindo as dificuldades da assistência às
crises em pacientes com transtorno psiquiátrico e contribuindo para a melhoria da qualidade
da assistência médica em saúde mental.

DESENVOLVIMENTO

Metodologia

Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Gil (2010) reforça que a pesquisa
bibliográfica é elaborada a partir do material já publicado, constituído principalmente de
livros, artigos periódicos e atualmente com material disponibilizado na internet. O levanta-
mento bibliográfico foi realizado no banco de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em
Ciências de Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), BVS (Biblioteca Virtual
em Saúde) e Banco de Teses da CAPES, no período de 1999 a 2012.
Para tanto, utilizaram-se como descritores os termos: serviços de emergência psiquiá-
trica, serviços de saúde mental e enfermagem psiquiátrica, sendo selecionados os artigos
originais, que estavam disponíveis na íntegra. Assim, a coleta de dados ocorreu em dezem-
bro de 2012, com a obtenção de 133 artigos e 2 dissertações. Destes foram selecionados
quatorze (14) artigos, os quais continham informações referentes ao tema de estudo, que
foram lidos e analisados criticamente.
Os dados foram analisados em três etapas, conforme Minayo (1994): Ordenação
dos dados, no qual foi realizado um mapeamento dos dados obtidos e leitura do material;
Classificação dos dados, onde por meio de diversas leituras, foram estabelecidos os materiais

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pertinentes ao objeto de estudo e Análise final, nas quais foram estabelecidas articulações
entre os dados coletados e a literatura específica.

REVISÃO DE LITERATURA

Reforma Psiquiátrica

A Reforma Psiquiátrica caracteriza-se como um movimento social e político que con-


tribuiu para a desconstrução da proposta de internação manicomial como estratégia central
para o atendimento do sujeito em sofrimento psíquico. Além disso, ampliou a discussão a
respeito da psiquiatria e seu modelo de assistência, bem como sobre o preconceito e o es-
tigma estabelecidos em torno do conceito de periculosidade do paciente psiquiátrico. Tais
discussões foram consolidadas nas diretrizes da política, da legislação e dos serviços de
atenção à saúde mental no Brasil (BONFADA, 2012).
Serviços de emergências psiquiátricas constituem unidade central para o funcionamento
adequado de redes de saúde mental, tanto pelo manejo de situações de emergências, como
pela regulação da rede em que se insere. Os serviços de emergências psiquiátricas relacio-
nam-se com todos os serviços hospitalares e extra-hospitalares, possibilitando a organização
do fluxo das internações e evitando sobrecarga da rede de saúde mental (BARROS, 2010).
Antes isolada e escondida atrás dos muros dos manicômios, hoje as crises ganham
o espaço social, com a diminuição dos leitos e das internações. Isso gerou também a ne-
cessidade de criar serviços substitutivos para dar conta dessa nova demanda. Nesse con-
texto, a Política Nacional de Atenção às Urgências ratificou a responsabilidade do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU no que tange à assistência em crises psíqui-
cas (BRASIL, 2002).

Estrutura do Atendimento pré-hospitalar

Atualmente, no Brasil, o atendimento pré-hospitalar está estruturado em duas modali-


dades: o Suporte Básico à Vida (SBV) e o Suporte Avançado à Vida (SAV). O SBV consiste
na preservação da vida, sem manobras invasivas, em que o atendimento é realizado por
pessoas treinadas em primeiros socorros e atuam sob supervisão médica. Já o SAV tem
como características manobras invasivas, de maior complexidade e, por este motivo, esse
atendimento é realizado exclusivamente por médico e enfermeira. Assim, a atuação da
enfermeira está justamente relacionada à assistência direta ao paciente grave sob risco de
morte (MALVESTIO, 2000).

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Para Brasil (2010), a emergência psiquiátrica (EP), embora seja vista como um compo-
nente necessário da assistência psiquiátrica, não é, tradicionalmente, um tema de destaque
na literatura. No entanto, com a redução do tempo de permanência hospitalar, carência de
alternativas assistenciais e aumento do número de pacientes em crise, tem sido cada vez
mais reconhecida a importância dos serviços de emergências psiquiátricas como parte
central e fundamental da rede assistencial. Para um número cada vez maior de pacientes,
os serviços de emergência são a porta de entrada para o sistema de saúde e uma fonte
essencial de tratamento, quando não a única opção.
Para Barros (2010), os serviços de emergências psiquiátricas relacionam-se com todos
os serviços hospitalares e extra-hospitalares, bem como o atendimento pré-hospitalar, pos-
sibilitando a organização do fluxo das internações e evitando sobrecarga da rede de saúde
mental. As funções dos serviços de emergências psiquiátricas são amplas e extrapolam o
simples encaminhamento para internação integral, pois a estabilização clínica e suporte
psicossocial podem ser alcançados em serviços de emergências psiquiátricas bem estru-
turados. Devendo a equipe de atendimento estar bem treinada e preparada para oferecer
segurança a esse paciente que depende desse atendimento de emergência.

Atendimento Pré-hospitalar nas Urgências Psiquiátricas

Segundo Bonfada (2012) o SAMU, serviço de atenção pré-hospitalar historicamente


atrelado ao paradigma da clínica tradicional de urgência e de emergência, na maioria das
vezes nega ou não pratica aquilo que a atenção à crise mais necessita, ou seja, empatia,
diálogo, corresponsabilização, humanização, subjetividade e criatividade.
Transtornos por uso de substâncias são prevalentes em setores de emergência ge-
rais e psiquiátricos, atingindo taxas de 28% das ocorrências em prontos-socorros gerais.
Todavia, profissionais dos setores de emergência identificam menos que 50% dos casos de
problemas relacionados ao álcool (AMARAL, 2010).
Em termos práticos, o atendimento no SAMU acontece da forma descrita a seguir.
Quando o serviço é acionado através da rede 192, a chamada é atendida inicialmente pelo
Técnico Auxiliar de Regulação Médica – TARM, que deve acalmar o solicitante, anotar a
localização do incidente de forma precisa, colhendo dados detalhados, buscar o motivo da
chamada e passar o caso para o médico regulador. Este, por sua vez, identifica a origem
da chamada (via pública, domicílio, prédios comerciais, etc.), o perfil do solicitante (médico,
profissionais de saúde não médicos, profissionais de áreas afins ou leigos); em seguida essas
informações são confrontadas com a gravidade do caso e o médico regulador, com base
nesses dados e na territorialização dos serviços de emergência disponíveis no momento,
envia o recurso mais apropriado (BRASIL, 2002).

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Em geral, o médico regulador tem à sua disposição dois tipos de ambulância, confor-
me a gravidade do caso: a de suporte básico de vida e a de suporte avançado de vida. Nas
ocorrências mais graves, o referido profissional envia uma viatura de suporte avançado de
vida, que conta com um socorrista condutor, um enfermeiro e um médico para a realização
de ações invasivas e de maior complexidade. Logicamente, esta ambulância está equipada
com todos os instrumentos de uma UTI móvel. Nas ocasiões de menor gravidade, a regulação
envia a viatura de suporte básico de vida, onde estão presentes um socorrista condutor e um
técnico de enfermagem, além do aparato tecnológico básico para a realização de manobras
de caráter não invasivo (BRASIL, 2002).
De acordo com Bonfada (2012), em geral, no socorro prestado pelo SAMU durante
as ocorrências psiquiátricas são encaminhadas viaturas que contam apenas com equipa-
mentos básicos e com a presença de um socorrista condutor e um técnico de enfermagem,
conforme as diretrizes para regulação médica estabelecidas na Política Nacional de Atenção
às Urgências. Esses profissionais têm a função de se deslocar até o local do evento, co-
municar-se com o médico regulador e seguir suas orientações para estabelecer condutas.
Pode-se perceber, ainda segundo este autor, que os serviços de urgência ocupam
um lugar tão estratégico quão problemático na rede de saúde mental, pois estão no último
nível antes da internação psiquiátrica. Isso coloca o serviço em uma posição privilegiada no
tocante à percepção de problemas, ao desenvolvimento de estratégias mais resolutivas e
a tomadas de decisões pertinentes durante o fluxograma do usuário nos diversos níveis da
rede, servindo como instrumento para evitar internações desnecessárias.

Atuação da Enfermagem nas Emergências Psiquiátricas

No que diz respeito à atuação da equipe de enfermagem, o estudo de Oliveira (2011),


possibilitou a identificação do grau de dependência em relação aos cuidados de enferma-
gem exigidos pelos pacientes com transtornos psiquiátricos, que demandam assistência
diferenciada frente à instabilidade do ponto de vista físico-fisiológico. Considerando que o
instrumento de classificação adotado apresentava uma constituição na qual predominam as
peculiaridades da assistência de enfermagem psiquiátrica, evidencia-se a necessidade de
ampliar as condições de avaliação clínica, pois estas sem dúvida têm demandado cuidados
específicos e o desenvolvimento de habilidades clínicas por parte da equipe de enfermagem,
somadas àquelas já requeridas na atenção ao paciente portador de transtorno mental.
Dentre os diversos dados levantados, encontrou-se várias descrições de atribuições
da enfermeira e recomendações sobre seu perfil: possuir formação e experiência profissio-
nal, extrema competência, habilidade, capacidade física, capacidade de lidar com estresse,

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capacidade de tomar decisões rapidamente, de definir de prioridades e saber trabalhar em
equipe (FERREIRA, 1999).
Desde a inserção da enfermeira no APH pode-se identificar mudanças e ampliação
de sua atuação, na maior parte, ainda vinculadas estritamente aos aspectos assistenciais.
Apesar desse reconhecimento ser um fator importante por admitir que ela é um membro da
equipe que possui maior grau de conhecimentos, habilidades e atitudes para o bom desem-
penho da função, sua presença ainda está restrita ao Suporte Avançado à Vida, juntamente
com o médico. Há que se indagar sobre a progressão dessa expansão também para as
atividades gerenciais de sua competência (RAMOS, 2005).
Ainda conforme esta mesma autora, o Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil foi am-
plamente discutido e redirecionado por várias esferas do governo, ao longo dos anos; es-
tando ainda, este novo paradigma proposto pelo Ministério da Saúde, em fase de implanta-
ção. A participação da enfermeira na estruturação dos serviços, desenvolvimento de ações
educativas e gerenciamento desta modalidade de atenção ainda requer um esforço organiza-
do para sua ampliação. É necessário expandir a atuação da enfermeira, não se restringindo
puramente à prestação da assistência; mas estender-se à organização e gerenciamento do
atendimento como o Suporta Básico à Vida, acrescentando um novo olhar aos serviços de
APH e propondo nova distribuição de autoridade e responsabilidade para todos os envolvi-
dos no funcionamento do APH.
O número de pacientes nas emergências em saúde mental está aumentando por razões
como: a crescente incidência de violência, a maior apreciação do papel de doença orgânica
em alteração do estado mental, e a epidemia de dependência do álcool e outros transtornos
relacionados a substâncias. Com isso surge a necessidade de que os serviços de emergência
garantam abrangência ampliada, ao incluir o abuso de substâncias, violência da criança e
do cônjuge, a violência do suicídio, do homicídio, do estupro, questões sociais como falta de
moradia, envelhecimento e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (KONDO, 2011).
De acordo com Brasil (2010), para um número cada vez maior de pacientes, os serviços
de emergência são a porta de entrada para o sistema de saúde e uma fonte essencial de
tratamento, quando não a única opção. Dessa maneira, o atendimento pré-hospitalar tem
significativa importância no manejo e transporte desses pacientes, garantindo qualidade na
assistência médica.
De acordo com Almeida (1999), a efetiva integração de um serviço de emergência psi-
quiátrica com os demais serviços de saúde mental disponíveis na região é um fator decisivo
para o bom funcionamento tanto da unidade de emergência como do sistema de atendimento
psiquiátrico como um todo. Dentro de uma rede articulada de serviços de saúde mental, o
serviço de emergência psiquiátrica tem um papel relevante nas tomadas de decisão quanto

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à indicação do tratamento necessário para cada caso, desempenhando ao mesmo tempo
a função de triador de casos novos, inserindo-os na rede de atendimentos disponíveis, e
a função de retaguarda para os demais serviços, no caso de pacientes já incluídos no sis-
tema de atenção à saúde mental. Esta retaguarda pode incluir tratamento e avaliação de
alterações agudas no comportamento, avaliação de condições médicas gerais associadas
ao quadro psiquiátrico, auxílio na hospitalização, ajuste medicamentoso, cobertura durante
os períodos em que os demais serviços não estão disponíveis, seguimento de curto prazo
e reencaminhamento para os serviços de origem após o manejo do quadro agudo.
Conforme citado no trabalho de Santos (2000), durante as três últimas décadas, os
serviços de emergência psiquiátrica foram fortemente influenciados por mudanças ocorridas
nas políticas de saúde mental, como a desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos e
o desenvolvimento de serviços psiquiátricos extra-hospitalares, como hospital-dia, pensão
protegida, serviços para usuários de álcool ou drogas, entre outros. Frente a essas mudanças,
a emergência psiquiátrica reestruturou-se para se adaptar às novas demandas, ampliando
suas funções. Além de proporcionar suporte psicossocial, passou também a triar casos de
internação e a intervir em quadros agudos, estabilizando ou iniciando o tratamento definitivo
em um paciente em crise.
O desafio de serviços de emergências psiquiátricas é tentar manejar as suas limitações
para atingir seus objetivos de, efetivamente, exercer suas funções dentro de uma rede inte-
grada de serviços de saúde mental, oferecer cuidados baseados em evidências científicas e,
ao mesmo tempo, criar condições minimamente adequadas para práticas de ensino e execu-
ção de projetos de pesquisa de qualidade que permitam a avaliação de medidas de eficácia
e de efetividade de intervenções realizadas em contexto de emergência (DEL-BEN, 1999).

CONCLUSÃO

Por todos os aspectos mencionados na análise dos artigos encontrados na literatura,


evidenciou-se que as dificuldades que os profissionais de enfermagem enfrentam no atendi-
mento pré-hospitalar às emergências psiquiátricas são de várias naturezas, como o manejo
às suas limitações para atingir seus objetivos de exercer suas funções dentro de uma rede
integrada de serviços de saúde mental com eficiência e eficácia, bem como oferecer cuida-
dos baseados em evidências.
A carência de serviços especializados na área de emergências psiquiátricas, como uso
abusivo de álcool e drogas, e a ausência de profissionais especializados e capacitados para
prestar uma assistência de qualidade ao paciente em crise, podem comprometer a aplicação
de práticas adequadas e deve ser objeto de preocupação dos profissionais de saúde pública
na organização dos serviços de emergência.

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Como pode-se perceber, os desafios são imensos e os questionamentos são de alta
complexidade, mas ao mesmo tempo esses elementos são mais um estímulo para a pro-
dução de conhecimentos científicos que venham a contribuir para a consolidação de uma
intervenção em crise pelos serviços de atendimento pré-hospitalar mais humanizada e ar-
ticulada com a reforma psiquiátrica brasileira, garantindo cidadania e inserção social aos
sujeitos em sofrimento psíquico.

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