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RESENHA

Andressa Rodrigues dos Santos

Seminário intitulado “Ensino por Investigação”, proferido pelo Mestre David


Gadelha, Licenciado em Ciências Biológicas e Mestre em Ensino das Ciências
pela UFRPE, no âmbito da disciplina “Seminários Avançados” do Programa de
Pós-Graduação em Ensino das Ciências – PPGEC/UFRPE, ministrada pela
Professora Dra. Ivoneide Mendes.

O professor David compartilhou conosco a definição do Ensino por


Investigação e os elementos que caracterizam essa estratégia de ensino-
aprendizagem.

O Ensino por Investigação busca uma aprendizagem significativa, ou seja,


leva em consideração a compreensão prévia do estudante acerca do
conceito/tema, assim como busca o entrelaçamento entre esses conhecimentos
e o contexto dos estudantes. Nesse sentido, se caracteriza pela resolução de
problemas autênticos e relevantes através de atividades investigativas que
estimulem a criticidade, criatividade e autonomia.

Nesse sentido, o ensino por investigação parte de um problema. Este


problema, por sua vez, pode ser construído pelo professor ou pode ser
construído junto aos estudantes. O que vai determinar quem e como será
construído esse problema será o nível de autonomia e familiaridade que
professores e estudantes têm com esse tipo de abordagem, é o que Ana Maria
Pessoa de Carvalho, uma das principais pesquisadoras brasileiras nessa área,
chama de “graus de liberdade intelectual”, traduzido pelo David como “autonomia
sem medo de errar”.

O Ensino por Investigação apresenta quatro etapas: problematização


inicial, organização dos alunos para a investigação, intervenção do professor
para a sistematização do conhecimento e aplicação do conhecimento.

Para a problematização inicial é importante conhecer o perfil dos


discentes para construir uma questão que seja personalizada, mas não só isso,
é necessário também que o problema permita a construção de links com outros
campos do conhecimento assim como com questões sociais e históricas. Nesse
momento, é fundamental despertar o interesse e a curiosidade através de um
problema autêntico e desafiador sem esquecer da importância de estar
adequado ao conhecimento e contexto dos estudantes. Por isso, nesse
momento, é fundamental definir uma estratégia para apresentar o problema.

Ao escutar sobre o Ensino por Investigação trazido pelo professor David,


as etapas para desenvolver essa estratégia me chamaram muita atenção,
particularmente no que concerne à definição da problematização, talvez porque
seja a etapa que se aproxima do que eu vou precisar realizar no âmbito da minha
tese a partir dos Três Momentos Pedagógicos.

Me chama a atenção a necessidade de desenvolver um olhar crítico,


cuidadoso e reflexivo no professor para que essa problematização efetivamente
aconteça de modo faça sentido para os estudantes. Ela não pode partir da
apenas da imaginação do professor, mas da realidade concreta, do
conhecimento que ele tem sobre o contexto dos estudantes, a partir do que se
sabe que se tem construído sobre determinada temática. Para além dessas
questões, que muitas vezes não são levadas em consideração no cotidiano
escolar, é importante estar atento, ou melhor, prever, tudo o que está descrito no
planejamento da atividade, o que pode acontecer e o que pode falhar.

Por outro lado, é evidente a capacidade que essa abordagem tem de


permitir que os estudantes compreendam o modo como a ciência é construída
através da alfabetização científica. Uma vez que os estudantes precisarão
organizar-se em grupos, planejar ações, criar hipóteses e definir procedimentos
(segunda etapa do ensino por investigação).

Permite, também, a construção de habilidades como argumentação e


questionamento, uma vez que precisarão compartilhar com os outros grupos
seus “achados” e questionar o que os outros grupos trazem de resultados. É
nesse momento, na ocasião de compartilhamento (terceira etapa do ensino por
investigação), que o professor atuará como um sistematizador, buscando
confrontar e comparar as diferentes soluções encontradas, as evidências obtidas
e as explicações elaboradas. Para, por fim, chegar à última etapa: aplicação do
conhecimento. Nessa ocasião os conceitos científicos relacionados ao problema
são evidenciados (através de diferentes estratégias: textos, vídeos,
experimentos) de modo a aprofundar o conhecimento e extrapolar ele através de
conexões com o cotidiano.

Trata-se de uma abordagem que permite a construção de um olhar


diferenciado para o cotidiano, a partir dos conceitos científicos. Requer do
professor, por sua vez, uma formação sólida do ponto de vista conceitual e
pedagógico para desenvolver esse tipo de abordagem, além de apoio
pedagógico por parte da escola, compreendendo que atividades como essas
fogem do tradicional, envolve barulho, manipulação de objetos, discussões,
entre outras coisas que não acontecem na sala silenciosa e mecânica tradicional.
Do mesmo modo, a avaliação também não pode ser tradicional, mas na
perspectiva formativa.

O Ensino por Investigação, em si, não tem articulação direta com a minha
tese, por outro lado, compartilhamos de uma abordagem crítica, assim como o
“método” desenvolvido por Paulo Freire e adaptado por Delizoicov, Angotti e
Pernambuco para ser utilizado no ensino formal, através do qual sempre se parte
de realidade objetiva dos estudantes. Metodologias e estratégias de ensino
como essas deveriam ser amplamente desenvolvidas no âmbito do Ensino das
Ciências, entretanto, é preciso uma ruptura com o modelo atual de escola que
temos e com o tipo de formação de professores que é desenvolvido nas diversas
licenciaturas que, assim como nas escolas, na maioria das vezes é desarticulada
com a realidade e pautada numa perspectiva mecanicista da aprendizagem
(educação bancária).

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