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º ano)

Questão de aula – Fernando Pessoa, heterónimos (12.º ano)

Nome: Turma: N.º: Data:

Avaliação: Professor:

Antes de ouvires o excerto, lê com atenção todos


os itens.

Ouve, atentamente, o excerto do debate apresentado


pelo jornalista Luís Castro, dedicado ao poeta português
Fernando Pessoa e aos seus heterónimos1.

Dos 01’08’’ até aos 08’39’’ minutos

Responde, após a primeira audição, aos itens seguintes.

1. Seleciona a opção adequada para completares as afirmações corretamente.

1.1. Mariana Castro reconhece que escolheu o poema “Dobrada à moda do Porto”, de Álvaro de Campos,
de modo

(A) aleatório.

(B) cuidado.

(C) pensado.

(D) impulsivo.

1.2. Na perspetiva da investigadora, o poema escolhido reúne

(A) o que adora em Pessoa, revelando, ainda, um lado desconhecido pelo público.

(B) a obra heteronímica, além de apresentar o tom irónico de Fernando Pessoa.

(C) o que convém reter acerca do principal drama da obra heteronímica.

(D) os temas intemporais que são abordados na obra dos três heterónimos.

MPA
1.3. O facto de a “Dobrada à moda do Porto” ser servida “fria” simboliza, segundo a investigadora,

(A) o esbatimento da realidade.

(B) a sobreposição da emoção.

(C) o confronto sonho/realidade.

(D) a nostalgia da infância.

1 Disponível em https://arquivos.rtp.pt/conteudos/fernando-pessoa-6/
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1.4. A vida de Fernando Pessoa, de acordo com o testemunho de Clara Riso, foi marcada, sobretudo, por

(A) contrariedades.

(B) dificuldades económicas.

(C) vicissitudes culturais.

(D) sucessos.

1.5. A dissertação de Nuno Amado incide sobre a

(A) obra de Pessoa ortónimo.

(B) obra heteronímica.

(C) relação entre Pessoa e heterónimos.

(D) relação entre Caeiro e Campos.

1.6. Nuno Amado considera que a obra de Reis

(A) segue as filosofias de vida clássicas.

(B) evidencia marcas clássicas, a nível formal.

(C) contesta o Classicismo, a nível formal.

(D) elogia as influências filosóficas.

1.7. Na opinião de Nuno Amado, a ode XX, publicada em 1924, na revista Athena, constitui a confirmação de
que Reis
MPA
(A) repudia Horácio.

(B) venera Horácio.

(C) aceita Horácio.

(D) expõe Horácio.

2. Indica a reação de Mariana Gray de Castro quando questionada acerca da existência de “tantos heterónimos”.

Depois da segunda audição do excerto, confirma as tuas respostas.


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Soluções

12.º ano

ORALIDADE

Fernando Pessoa, heterónimos


Transcrição do registo áudio
Luís Castro (jornalista): Assim escreveu Álvaro de Campos, um dos mais conhecidos heterónimos de Fernando Pessoa. E é
deste poeta português, nascido em Lisboa, em 1888, que falamos hoje com Mariana Gray de Castro, investigadora na
Universidade de Oxford e de Lisboa, Clara Riso, diretora da Casa Fernando Pessoa, e Nuno Amado, doutorando em Teoria da
Literatura, na Universidade de Lisboa. Aos três, bem-vindos ao Sociedade Civil. É uma estreia dos três em televisão e também,
naturalmente, connosco, que seja a primeira de muitas. Quem escolheu este poema?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Eu penso que fui eu.
Luís Castro (jornalista): Foi a Mariana? E então, porquê? Por que razão?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Eu escolhi este poema muito rapidamente. Foi uma escolha instintiva,
quando me pediram, e, pensando melhor agora, acho que traz lá tudo o que eu mais adoro em Fernando Pessoa.
Luís Castro (jornalista): Pensava eu que era uma homenagem a mim, porque sou do Porto, afinal não é.
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Então, ainda tem mais esse sentido. Que bom! Fico muito contente!
Luís Castro (jornalista): E tem lá tudo, neste poema?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Está lá tudo: em primeiro lugar, um sentido de humor fantástico, quase
absurdo, e as pessoas esquecem-se muito deste lado brincalhão, divertido, de Fernando Pessoa. A comparação é absurda.
Comparar o amor, que é um sentimento magnífico, um dos mais eternos temas da arte e da vida, a uma dobrada à moda do Porto,
deve ser uma coisa deliciosa, não sei…
Luís Castro (jornalista): Não tenha qualquer dúvida. Se nunca provou, vai ter de provar.
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Então, imagine o que é entrar no restaurante, quererem uma dobrada do
Porto, que é a melhor coisa que há…
Luís Castro (jornalista): Tripas à moda do Porto, mais propriamente.
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Exatamente. E trazerem uma dobrada à moda do Porto fria, e pior que isso
só realmente o amor frio. E acho que essa comparação é maravilhosamente absurda, surreal e divertida. Mas depois também tem
os temas todos que vamos encontrar nos poemas de Fernando Pessoa, esta saudade por uma infância perdida, um paraíso que
pode ser imaginário, que pode ser até uma imaginação de um futuro possível, a diferença que há entre aquilo que nós queremos,
queremos uma dobrada à moda do Porto quente e trouxeram uma coisa completamente diferente. Já o facto de vir fria já muda
tudo e não é nada aquilo que nós queríamos. Por isso, esta frustração entre aquilo que nós imaginamos, que desejamos, e o que a
vida às vezes, infelizmente, nos traz.
Luís Castro (jornalista): Uma excelente entrada, portanto, a prestação da Laura, como agora a sua explicação, muito, muito,
muito bom. Clara, quem era Fernando Pessoa? Como é que surgiu este homem, qual foi a infância dele?
Clara Riso (diretora da Casa Fernando Pessoa): Bom, é um homem cuja biografia tem sido muitíssimo estudada. Há uma
história, que é a que se conta sempre. Depois a nós, na Casa Fernando Pessoa, interessa-nos contar outras histórias a partir
dessa, para além dessa. É verdade que é…
Luís Castro (jornalista): A história conta-se com histórias…
Clara Riso (diretora da Casa Fernando Pessoa): Exatamente, exatamente, e propondo outras histórias e ouvindo outras
histórias. É um homem que teve uma infância considerada infeliz, por factos absolutamente compreensíveis: perdeu o pai, perdeu
o irmão pequeno e, aquando do segundo casamento da mãe, mudaram-se para Durban, para África do Sul, e lá passou a
adolescência. No fim da adolescência, regressou a Lisboa e aí iniciou, enfim, primeiro os seus estudos e depois a sua vida literária MPA
mais ativa, no circuito lisboeta.
Luís Castro (jornalista): Nuno, a dissertação sobre Fernando Pessoa é?
Nuno Amado (doutorando em Teoria da Literatura da Univ. de Lisboa): A minha dissertação é sobre a heteronímia e, mais
concretamente, sobre Ricardo Reis e Alberto Caeiro, e sobre a relação entre os dois. Começou por ser uma tentativa de explicar
algo acerca do Ricardo Reis, que não é normalmente dito. O Reis, toda a gente estuda os heterónimos na escola, e o Reis é
usualmente descrito como um poeta clássico, influenciado por Horácio, e há um problema em relação a isso. Quer dizer,
obviamente isto é verdade, mas o Ricardo Reis, se olharmos para as odes do Ricardo Reis com mais atenção, o Ricardo Reis
disputa um pouco essas ideias. Evidentemente, é um poeta clássico, em termos formais, é do mais clássico que pode haver. As
odes do Reis são, em termos formais, decalcadas das do Horácio, mas, em termos de conteúdo, isso não é verdade. E já
começamos por aqui. Eu gostaria de falar de uma ode em concreto, a ode XX do Livro Primeiro do Ricardo Reis, que é publicado
em 1924, na revista Athena. É um livro de vinte odes e a vigésima dessas odes começa com uma descompostura a alguém,
alguém que não é nomeado. E o Reis, ao longo dessa ode, vai descompor aquela pessoa por se desgastar a tentar, de algum
modo, precaver a sua posteridade. Essa pessoa não é nomeada. O adjetivo que é usado para descrever essa pessoa é o adjetivo
“ínvio”, que é, aliás, um adjetivo esquisito para descrever alguém. Mas há uma ode, há, aliás, duas odes, ou uma ode com duas
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variantes, que não foram publicadas, e que é a ode original que o Reis escreveu antes desta ode XX, que é uma ode trabalhada
para ser publicada em 1924. E na ode original, a pessoa nomeada, em vez de ser nomeado pelo adjetivo “ínvio”, é nomeada por
“louro Flaco”. “Flaco” com F grande, é um dos nomes de Horácio. Horácio… o nome completo seria Quintius Horatius Flaccus e,
portanto, isto é o Reis a descompor o suposto mestre. E o que vemos é, portanto, o Reis a dizer que o Horácio preocupa-se em
excesso com a sua posteridade. E isto é uma máxima epicurista, que consiste em sugerir que o único objetivo de qualquer ação é
a própria ação e é o prazer que essa ação pode dar naquele momento. E, portanto, o Reis descompõe o Horácio e isto deve ser
transposto para a obra do Reis em geral. E, portanto, a relação com o Horácio tem de ser relativizada. E esta ideia de que o Reis é
só um discípulo do Horácio e que não faz mais do que decalcar e passar para português, verter para português, as odes latinas do
mestre tem de ser relativizada.
Luís Castro (jornalista): Alexandra, porquê tantos heterónimos? O que é que está na génese de tudo isto? Alguém que, se não
estou em erro, o primeiro heterónimo é aos 6 anos, é o Alexander. Depois escreve cartas a ele próprio. O que é? O que é que isto
significa?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Depende muito. Em primeiro lugar, depende muito como é que contamos os
heterónimos. Há pessoas que defendem que existem 108, foi a última contagem. A última contagem, 108 heterónimos. Há outros,
como eu, que defendem que são só 3 e meio.
Luís Castro (jornalista): Então, quais são?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis.
Luís Castro (jornalista): E o meio?
Mariana Castro (investigadora da Univ. de Lisboa): E o meio heterónimo, o semi-heterónimo, seria Bernardo Soares, autor do
Livro do Desassossego.

1.1. (D); 1.2. (A); 1.3. (C); 1.4. (A); 1.5. (B); 1.6. (B); 1.7. (D).

2. Quando questionada acerca da existência de “tantos heterónimos”, a investigadora reage com uma certa dúvida, pondo em
causa a contagem dos heterónimos. Para si, os verdadeiros heterónimos são Caeiro, Campos e Reis e o “meio heterónimo” é
Bernardo Soares.

MPA

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