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Pois nem bem nasceu, aquele riachinho cismou que queria conhecer o mar. E foi
descendo a montanha, curioso com tudo que via pelo caminho.
Não havia outro jeito. Para chegar até o mar, lá longe, tinha que atravessar
aquelas areias. Ele bem que tentou, mas por mais que se esforçasse, não
conseguia seguir adiante. Suas águas se afundavam nas areias. Quanto mais
força fazia, mais para dentro delas era levado.
– Assim você nunca vai alcançar o mar. O único jeito é deixar que o vento
transporte você até lá.
– Com assim? – disse o rio, espantado. De que maneira o vento poderia fazer
isso?
– De jeito nenhum – disse o rio. Se eu deixar de ser rio, quem pode garantir que
vou ser eu mesmo outra vez? Deve existir outra maneira.
– Eu nunca ouvi nada tão sem sentido como isso que você está dizendo. Como
posso arriscar a fazer uma coisa que nunca fiz antes? E se eu virar vapor e
sumir? Não posso acreditar em algo que não conheço.
– Você não sabe de verdade quem você é. Não adianta ficar repetindo essa
lengalenga. Tente se lembrar de outra coisa… a não ser que você se contente em
se transformar num grande lamaçal, barrento e parado.
O rio não queria virar lama, isso é que não. Começou a se perguntar, a pensar no
que a voz havia dito. Devagar foi se lembrando. Talvez algum dia, lá longe, no
passado, ele já tivesse virado vapor, não tinha certeza, mas quem sabe?
Ele ficou cheio de dúvidas, com um medo danado, mas na hora resolveu
arriscar.
Quando o vento veio chegando, estendeu os braços para ele e então o rio se
largou no aconchego do vento e virou vapor. Enquanto era levado, durante o
caminho para o céu, aconteceu de tudo. Ele teve medo, chorou. Outra hora
pensou que estava ficando louco, que nunca mais ia voltar para o chão. Algumas
vezes se divertiu, viu coisas maravilhosas. De novo chorou e duvidou de tudo. E
assim foi descobrindo tanta coisa que podia conhecer e fazer, que nem sequer
imaginava!
Quando finalmente chegou ao mar, como uma chuva grossa e quente, teve uma
alegria enorme. Além de conhecer o mar, que era o que ele mais queria na vida,
tinha aprendido quem ele realmente era.