Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

GUIA

D E P Ó S - O P E R AT Ó R I O
EM CIRURGIA PLÁSTIC A

ABDOMINOPLASTIA EM ÂNCORA
MINIABDOMINOPLASTIA
LIPOABDOMINOPLASTIA
ABDOMINOPLASTIA

DR. TÁCITO FERREIRA


Cirurgião Plástico
CRM 162.870
RQE: 104.458

0
1
1. ACESSÓRIOS
1.1. Malhas Compressivas
A malha compressiva tem a função de reduzir o edema e diminuir a
probabilidade de complicações como hematoma e seroma. Deve ser
utilizada por 30 dias e deve ser retirada para trocas, curativos e higiene
pessoal. Recomendamos ter pelo menos duas para trocar diariamente.
Quanto ao tamanho, a malha não deve ficar apertada a ponto de formar
dobras e nem folgada.
1.2. Meias elásticas anti-trombo
As meias elásticas fazem parte das medidas de prevenção à trombose
venosa profunda e tromboembolia pulmonar. Podem ser utilizadas as meias
de tamanho 3/4, e sempre devem ficar abaixo da dobra do joelho para evitar
que façam pressão nessa área, por onde passam as veias. Devem ser
usadas por 10 dias, durante 24 horas. Podem ser removidas para trocas e
higiene.
1.3. Talas e placas
As talas são indicadas para evitar que dobras das malhas formem vincos na
pele. Devem ser utilizadas na frente do abdome e em alguns casos pode ser
indicado uso na lateral do abdome e no dorso.

2
2. SINAIS E SINTOMAS
2.1. Dor
A dor costuma ser moderada, em especial na linha média por conta da
plicatura (fechamento) da diástase dos músculos. Todavia, a sensação
dolorosa que existe quando você se movimenta costuma não ocorrer
quando está estiver em repouso. Para controlar fazemos uso de analgésicos
que serão prescritos na alta hospitalar.
2.2. Náuseas
Náuseas poderão ocorrer até 24 horas após o término da anestesia.

2.3. Edemas ("Inchaço")

O edema está presente no pós-operatório de todas as cirurgias plásticas. O


EDEMA PÓS-OPERATÓRIO DURA EM MÉDIA 3 MESES. Até o 30º dia
de pós-operatório o edema (inchaço) estará presente e fará parte do quadro
NORMAL e PREVISTO de uma abdominoplastia. Este prazo, porém, pode
ser maior ou até menor, variando de pessoa para pessoa. O edema estará́
mais acentuado pela manhã, e será́ ele que impedirá que você̂ veja o
resultado dentro de um espaço de tempo, variável de 3 a 4 meses.
2.4. Sangramentos
É normal que ocorra saída de um líquido sanguinolento pelo dreno, em
grande quantidade no começo e que irá reduzir ao longo dos dias. A
característica desse líquido é uma cor vermelha que tinge os tecidos, mas é
bem líquido, não é denso como sangue e não forma coágulos, portanto não
há motivos para preocupações. Porém se o líquido for grosso, forme
coágulos ou pedaços que se acumulam ou o sangue saia sob pressão ou
em jato, pode significar um sangramento ativo, neste caso você deverá
procurar atendimento médico de urgência, que irá entrar em contato com
seu médico para diagnosticar a causa.
2.5. Nódulos
Poderão ser sentidos com os dedos, porém desaparecem ao longo de
algumas semanas do pós-operatório. Estes nódulos podem conter
coágulos ou fibroses da própria cicatrização. Quando persistem após 6
meses de pós-operatório, e se ainda forem visíveis, poderão requerer
pequenos retoques.
2.6. Equimoses (manchas roxas)
Manchas rochas podem surgir devido a lesão dos tecidos e sangramento
dentro da cirurgia, podendo ser encontradas nas áreas operadas ou muito
3
abaixo delas, como, por exemplo: na vulva, no pênis, e nas pernas.
Desaparecerão, progressivamente, em média, ao longo de até 1 mês e
meio.
2.7. Amortecimento/Dormência
Poderá́ estar presente na região inferior do abdome, próximo a cicatriz, mas
em geral se recupera em até 2 meses.

4
3. DRENOS
O dreno serve para retirar o excesso de líquido produzido pelo corpo na região
operada que ele não consegue absorver sozinho, pois o corpo continua a
produzir líquidos constantemente. Porém, quando a quantidade de líquido
produzida já é pequena o suficiente para que o corpo tenha a capacidade de
absorver, o dreno já não é mais necessário.
3.1. Localização
Foi colocado 1 dreno, na região lateral da incisão.
3.2. Aspecto do líquido
O líquido normal que sai do dreno é avermelhado parecendo sangue até 5
dias, depois desse período começa a clarear para um tom alaranjado e por
volta do 7º dia o líquido já é mais amarelo transparente parecendo urina.
3.3. Quantidade
A quantidade de líquido que sai do dreno é alta nos 3 primeiros dias, entre
110 e 150 ml por dia. A quantidade diminui ao passar dos dias, pois o corpo
passa a absorver sozinho e produzir menos líquido na área operada, então
entre 4 e 7 dias a quantidade cai de 150ml para 30 a 100 ml. Após 7 a 10
dias a quantidade pode diminuir abaixo de 30ml, que é a faixa adequada
para que se retire o dreno sem risco elevado de formação de Seroma.

5
3.4. Medidas
Realizar medidas diárias da quantidade de líquido do dreno em mililitros e
anotar, sempre no mesmo horário. – Anote abaixo para trazer em consulta:

Dia Quantidade Esperado Cor Esperado

1 150ml Vermelho

2 140 ml Vermelho

3 110 ml Vermelho

4 100 ml Marrom

5 80 ml Marrom

6 60 ml Laranja

7 30 ml Laranja

8 <30 ml Amarelo

9 < 30 ml Amarelo

10 < 30 ml Amarelo

6
4. CURATIVOS
4.1. Materiais necessários
Luvas; Soro fisiológico; Clorexidina degermante; Cotonetes; Algodão; Óleo
hidratante para cicatrizes; Gaze; fita micropore e tesoura
4.2. Troca de curativos
Os curativos devem ser abertos após o terceiro dia de cirurgia. Abaixo
explicaremos como deve ser realizada a troca de curativos passo-a-passo.
Molhar: os curativos com bastante soro fisiológico até que as gazes
fiquem bem úmidas e se soltem facilmente da cicatriz.
Retirar: Retire cuidadosamente as gazes.
Limpar: Passe clorexidina degermante em toda extensão da cicatriz e
com o auxílio de um cotonete esfregue delicadamente para limpar
todas as sujidades e resíduos de sangue até que a ferida fique limpa.
Enxaguar: Jogue soro fisiológico em toda cicatriz para limpar mais e
seque com algodão.
Observar: Neste momento, veja se há alguma área da cicatriz que a
pele abriu e tire fotos com boa iluminação e informe a equipe médica
para orientações.
Hidratar: Passar óleo hidratante para cicatrizes em toda a cicatriz.
Cobrir: Cobrir a cicatriz com gaze estéril.
Fixar: Fixar as gazes com fita micropore.
Repetir: Repetir o mesmo processo diariamente.
4.3. Cuidados com a pele ao redor da cicatriz
A pele ao redor da cicatriz também requer cuidados pois pode machucar
com os curativos adesivos e formar erosões e até bolhas. Portanto de vê-se
umedecer a região ao redor das cicatrizes com óleo hidratante para que a
pele não perca as camadas mais superficiais com o adesivo da fita
micropore e fique machucada. Intercalar os locais de fixação da fita
micropore

7
5. ATIVIDADES NO PÓS-OPERATÓRIO
5.1. Banho
Nos primeiros 3 dias, limpar axilas e genitais, sem chuveiro. Após esse
período, se não houver complicações e a cicatriz estiver fechada o banho
pode ser tomado no chuveiro sentada com curativo fechado, com ajuda de
um acompanhante. Após o banho proceder a troca do curativo conforme
descrito no item 4.2.
5.2. Posicionamento
Na tabela abaixo você pode encontrar a posição mais adequada para andar
e para dormir de acordo com o tempo de pós-operatório.

DIA ANDAR DORMIR

1 a 7 Dias Repouso Sentada de pernas


elevadas

7 A 15 Dias Encurvada Sentada de pernas


elevadas

15 A 21 Dias Começa a se erguer Deitada de barriga para


cima

21 A 30 Dias Andar quase normal Deitada de barriga para


cima

> 30 dias Caminhar normalmente Deitada para cima ou de


lado

8
6. RETORNO ÀS ATIVIDADES HABITUAIS
A volta a prática de atividades regulares de sua rotina, trabalho e até mesmo
viagens terá de ser gradual e lenta para permitir que seu corpo se recupere e
cicatrize no tempo correto, evitando assim complicações como abertura de
pontos e infecções decorrentes da entrada de bactérias nessas aberturas.
Abaixo você encontra uma recomendação nossa dos dias de pós-operatório de
cirurgias maiores que você pode iniciar a praticar cada atividade. Lembrando
que essas recomendações não são engessadas e devem ser individualizadas
ao seu caso, de acordo com a sua evolução.

ATIVIDADES FÍSICAS

Caminhar dentro de casa 2 dias

Caminhar na rua 7 dias

Exercícios aeróbicos (Esteira, elíptico, bicicleta etc.) 30 dias

Exercícios tensionais leves (musculação, prática de 30 dias


esportes leves)

Exercícios tensionais intensos (musculação, luta, 45 dias


crossfit, esportes intensos)

ATIVIDADES DOMÉSTICAS

Lavar louças e pegar pequenos objetos 15 dias

Cozinhar 21 dias

Varrer o chão e passar pano 30 dias

Carregar pesos, sacolas pesadas e faxinar 45 dias

Arrastar móveis 60 dias

DIREÇÃO DE VEÍCULOS

9
Veículos de câmbio automáticos 30 dias

Veículos de câmbio manuais 45 dias

VIAGENS PROLONGADAS

Viagens até 2 horas 10 dias

Viagens de 2 a 4 horas 20 dias

Viagens acima de 4 horas 30 dias

TRABALHO

Trabalhos de home-office 10 dias

Trabalhos de escritório 14 dias

Trabalhos com esforço leve 21 dias

Trabalhos com esforço moderado sem peso 30 dias

Trabalhos que exijam esforço intenso e força bruta 60 dias

6.1. Exposição Solar


Recomendamos que a exposição solar seja realizada somente após 3
meses de cirurgia pois antes desse período as cicatrizes ainda se encontram
em período inflamatório e isso pode levar ao escurecimento delas.

10
7. RECUPERAÇÃO E CICATRIZAÇÃO
7.1. Cuidados com as Cicatrizes
7.1.1. Hidratação: A cicatriz é uma pele constantemente seca por não conter
glândulas que produzem secreção sebácea, portanto utilizar óleos ou
outros agentes emolientes é essencial para manter a cicatriz hidratada
e consequentemente menos inflamada. Recomendamos alguns
exemplos de produtos para este fim:
- Bio-Oil
- Óleo de girassol
- Óleo de rosa mosqueta
- Dersani
- Cicalfate
- Cicaplast
- Cicatricure
7.1.2. Compressão: Comprimir as cicatrizes por meio de malhas
compressivas auxilia a diminuir o processo inflamatório de cicatrizes
hipertróficas e queloides.
7.1.3. Limpeza: Evite limpeza com sabonetes comuns que podem irritar a
pele e remover as barreiras de proteção, aumentando a inflamação.
Utilize apenas sabonetes hipoalergênicos e evite esfregar as cicatrizes.
Utilize sempre água morna ou fria.
7.1.4. Contato: O contato com alguns produtos pode levar a piora da
inflamação e escurecimento das cicatrizes, como esmaltes escuros e
fortes, pigmentos de maquiagens, sabão em pó e amaciantes comuns.
Procure sempre utilizar produtos hipoalergênicos e evite produtos com
corantes muito intensos.
7.2. Drenagens linfáticas
As drenagens linfáticas e os cuidados pós-operatórios realizados por um
profissional habilitado são essenciais para a boa evolução de qualquer
cirurgia plástica. Devem ser iniciadas após o segundo dia de pós-operatório
e recomendamos abaixo um padrão de frequência das sessões de acordo
com o tempo de pós-operatório.

11
MÊS FREQUÊNCIA

1º Mês 2 a 3 vezes / semana

2º Mês 1 vez / semana

3º Mês 1 vez / 10 dias

7.3. Ultrassom, Laser e Tecnologias associadas


Os aparelhos tecnológicos como o ultrassom, laser e demais tecnologias
são comumente utilizados associados às drenagens linfáticas, realizados
por profissionais capacitados para auxiliar na evolução pós-operatória. Seu
uso está liberado a partir de 15 dias de pós-operatório.
7.4. Drenagens modeladoras
Após o término das drenagens linfáticas pós-operatórias, ou seja, após
passados 3 meses de cirurgia, o paciente esta liberado para realização de
drenagens modeladoras convencionais.

12
8. RESULTADO FINAL
Por fim, o resultado final de uma Lipoescultura ou Lipodefinição corporal
costuma ser mais bem avaliado após 9 a 12 meses de pós-operatório, podendo
este espaço temporal variar de paciente para paciente.

13
9. COMPLICAÇÕES
9.1. Seroma
O que é o Seroma?
O corpo produz líquido em todas as áreas que são operadas. Quanto maior
a área operada, mais líquido é produzido. A quantidade de líquido que é
produzida é grande no começo e vai reduzindo até menos que 30 ml por dia
ao redor do 14º dia. O próprio corpo tem mecanismos de absorver o líquido
produzido, porém ajudamos o corpo na remoção do líquido com a utilização
do dreno. Quando a quantidade de líquido chega a 30ml por dia o corpo já é
capaz de absorver sozinho. Se o líquido continua a ser produzido após a
retirada do dreno e o corpo não der conta de absorver, pode acumular e
formar bolsas de líquido, que chamamos de Seroma.
Quando o Seroma aparece?
Após a retirada dos drenos.
Como o Seroma é diagnosticado?
Por exame clínico pela palpação se for volumoso, mas se for pequeno só é
possível diagnosticar com exame de ultrassom de parede abdominal.
Como o Seroma é tratado após feito o diagnóstico?
Se o Seroma for muito pequeno pode ser tratado de forma conservadora,
ou seja, é observado por uma semana para avaliar se o corpo consegue
absorver. Se o Seroma for grande o suficiente para ser diagnosticado
clinicamente ou grande ao ultrassom pode ser tratado por punção com
agulha para retirada do excesso de líquido, permitindo que o corpo absorva
o líquido restante. Essa punção pode ser realizada múltiplas vezes até que
o Seroma seja resolvido.
9.2. Hematoma
O que é o hematoma?
Quando uma cirurgia é feita vários vasos sanguíneos são cortados. Muitos
deles são tão pequenos que não são nem visíveis a olho nu. O cirurgião
sempre tem o cuidado de realizar a cauterização de todos os sangramentos
durante a cirurgia, porém por diversos motivos algum desses vasos pode vir
a sangrar novamente mesmo após dados todos os pontos de fechamento,
sem que ninguém veja o que está acontecendo. Quando isso ocorre a
maioria das vezes o próprio corpo tem mecanismos para estancar o
sangramento, porém se o vaso for maior, esse sangramento pode ocasionar
um acúmulo de sangue no local onde ele se encontra formando um bolsão
de sangue, que chamamos Hematoma. O que geralmente acontece é que
14
esse sangramento acaba parando em algum momento e o que sobra é
apenas o hematoma.
Quando o hematoma aparece?
O hematoma pode aparecer desde o pós-operatório imediato, ou seja,
horas após a cirurgia, até cerca de 10 dias de pós-operatório.
Como o hematoma é diagnosticado?
Por exame clínico pela palpação se for volumoso, mas se for pequeno só é
possível diagnosticar com exame de ultrassom de parede abdominal.
Como o hematoma é tratado após feito o diagnóstico?
Se o hematoma for muito pequeno pode ser tratado de forma conservadora,
ou seja, é observado por uma semana para avaliar se o corpo consegue
absorver. Se o hematoma for grande o suficiente para ser diagnosticado
clinicamente ou grande ao ultrassom pode ser tratado por punção com
agulha para retirada do excesso de líquido, permitindo que o corpo absorva
o líquido restante. Se o hematoma for muito espesso pode ser necessário
um pequeno corte para remover os coágulos.
9.3. Deiscência
O que é a deiscência?
Quando damos pontos unindo dois lados de uma ferida permitimos que o
corpo aproveite essa aproximação para criar uma união entre esses dois
lados através da formação de uma cicatriz, que é o que vai manter os dois
lados juntos. A cicatriz é rica em colágenos e proteínas que ligam um lado
ao outro. Para produzir essa cicatriz o corpo precisa de uma boa circulação
sanguínea, de uma boa quantidade de proteínas que disponíveis para serem
utilizadas, de oxigênio para dar energia às células que fazem essa união e
não pode haver infecção no local, pois as bactérias digerem essas proteínas
e não pode haver forças que separam os lados das feridas, senão as fracas
e jovens proteínas não terão força suficiente para se ligarem umas às outras.
Quando alguma dessas coisas não está funcionando bem corre o risco da
cicatriz não se completar num determinado ponto, e então essa região fica
aberta, que chamamos de deiscência.
Quando a deiscência aparece?
A deiscência aparece após o 3º dia de pós-operatório e pode acontecer
mesmo após 21 dias de pós-operatório, período onde a cicatriz deveria
completar a sua formação e iniciar o processo de amadurecimento.

15
Como a deiscência é diagnosticada?
Por exame clínico pela simples visualização da abertura da ferida em alguma
região dela.
Como a deiscência é tratada após feito o diagnóstico?
Toda deiscência ocorre por algum dos fatores que foram explicados acima:
Má circulação sanguínea
Falta de nutrição adequada
Falta de oxigenação
Infecção de ferida operatória
Excesso de tensão na pele
Portanto as medidas são voltadas primeiramente para corrigir os fatores que
levaram a ela ocorrer, pois senão qualquer tratamento será ineficaz e levará
ao fracasso com nova deiscência. Manter-se longe de tabagismo, manter-se
bem hidratado, evitar comprimir em excesso as feridas, operar somente se
o colesterol e diabetes estiverem controlados reduz o problema da falta de
circulação sanguínea. Alimentar-se bem, a cada 2 horas, com dieta rica em
carboidratos e proteínas ajuda a ofertar mais substrato para formação de
proteínas nas cicatrizes. Suplementação com Ômega 3, vitamina C e Zinco
também atuam na formação das cicatrizes. As infecções devem ser
prontamente diagnosticadas e tratadas, sem o controle da infecção não há
possibilidade de fechamento. Excesso de tensão é controlado mediante a
rigorosa obediência ao repouso recomendado, pois quaisquer movimentos
ou esforços levam ao estiramento da pele com consequente aumento da
tensão e abertura dos pontos. A conduta de realizar novos pontos para fechar
não só é ineficaz como pode piorar o quadro por criar um espaço fechado de
proliferação de bactérias e o aumento da tensão da ferida. Só são realizados
novos pontos em alguns casos para aproximação e diminuição da
cicatrização aberta, mas podem acabar abrindo novamente.
9.4. Infecção de Ferida Operatória
O que é a Infecção de ferida operatória?
Infecção de Ferida Operatória é quando um microrganismo externo ao
corpo humano, geralmente uma bactéria, invade a ferida por onde foi
realizada a cirurgia, se prolifera nesta região se alimentando dos líquidos e
secreções ali produzidos e se propagando pelos tecidos causando
destruição. Geralmente o corpo tem a capacidade de destruir as poucas
bactérias que alcançam a parte interna do corpo, mas se elas se
reproduzirem em uma velocidade muito grande ou a fonte de bactérias for

16
grande, como por exemplo, uma ferida com secreção infectada sem
drenagem, o corpo não é capaz de vencer sozinho essa infecção.
Quando a infecção aparece?
A infecção de ferida operatória aparece após o 5º dia de pós-operatório pois
é o tempo necessário para que as bactérias comecem a se proliferar o
suficiente para causar inflamação e destruição dos tecidos. O surgimento
pode acontecer até 30 dias de pós-operatório.
Como a infeção é diagnosticada?
O diagnóstico é feito clinicamente pela presença de 5 fatores principais:
1. Calor – A ferida fica mais quente que a região normal.
2. Rubor – A ferida fica mais vermelha que a região normal.
3. Dor – A região infectada começa a doer mais que a região normal.
4. Edema – A região infectada fica mais inchada que as regiões normais.
5. Perda de função – A cicatriz que antes mantinha as bordas da ferida
fechadas perde sua função e abre para drenar secreções purulentas.
Esses 5 fatores, iniciados após 5 dias da cirurgia concluem o diagnóstico
para uma infecção de ferida operatória. Em caso em que há dúvidas se há
ou não uma infecção, pode ser realizado o exame de Cultura da secreção
da ferida, para poder evidenciar a bactéria em laboratório. Em casos mais
graves podemos encontrar feridas com abscessos e drenando secreção
purulenta espontaneamente. Nesses não há dúvidas de que há uma
infecção de ferida operatória acontecendo.
Como a infecção é tratada após feito o diagnóstico?
A infecção de ferida operatória é tratada primordialmente com antibióticos
por via oral na frequência específica para cada medicamento. Nos casos em
que há abscessos ou secreção purulenta drenando, procedemos a tentativa
de drenagem do máximo possível dessa secreção e é deixada a ferida
aberta para não criar novo compartimento fechado de acúmulo de um
bolsão de pus. Os antibióticos têm sua efetividade avaliada após 3 dias de
uso correto. Então após 3 dias deve haver sinais de alguma melhora para
se considerar que o tratamento está sendo efetivo. Em caso positivo,
continua-se os antibióticos até o fim do ciclo. Nos casos em que há piora,
deve ser cogitada hipótese de infecção resistente ou complicação da
infecção, como um novo abscesso a ser drenado. Após 10 a 14 dias de
antibioticoterapia a maioria das infecções de ferida operatória são
devidamente controladas sem necessidades de outras terapias.

17
9.5. Necrose
O que é a necrose?
Quando realizamos a abdominoplastia a pele inferior do abdome é removida
e a pele da parte superior do abdome é unida à pele da parte superior da
coxa e da região púbica. Especificamente a região ao redor do novo umbigo
e abaixo dele é uma pele mais sensível pois ela recebia sangue de 3 fontes
diferentes antes da cirurgia, e após cortar a pele na parte de baixo e soltar a
pele de cima dos músculos para que ela desça, removemos 2 dessas
fontes, restando apenas uma fonte de suprimento sanguíneo. Por conta
desse motivo essa região é muito deficiente de circulação sanguínea, que
leva oxigênio para que as células sobrevivam. Se esse suprimento de
sangue não for capaz de dar oxigênio suficiente para a pele, ela começa a
ficar azulada e fria já no 1º ao 3º dia de pós-operatório, que chamamos de
cianose. Do 5º ao 7º dia de pós-operatório começamos a notar ela
escurecer e ficar mais frágil (friável) e podem ocorrer deiscências. Depois
disso se o corpo não conseguir criar novos vasos sanguíneos suficientes,
provavelmente essa pele irá morrer, ficar mais escura e seca, a qual
chamamos de Necrose. Por isso essa região é extremamente sensível e é
onde mais ocorrem as deiscências e necroses.
Quando a necrose aparece?
A necrose começa a dar sinais por volta do 3º dia e fica mais evidente após
o 7º dia de pós-operatório.
Como a necrose é diagnosticada?
A necrose é diagnosticada clinicamente pela simples visualização do tecido
e suas características, pela cor enegrecida, pelo tato áspero e seco, pela
ausência de sangramento e pela temperatura fria.
Como a necrose é tratada após feito o diagnóstico?
Após estabelecido o diagnóstico de que uma necrose está acontecendo é
preciso eliminar fatores que podem piorar o quadro, como uma infecção,
que consome energia das células que ainda poderiam viver, e excesso de
compressão na região que pode impedir que o sangue chegue na ferida. É
necessário lembrar que o fumo (tabagismo) tem importante relação com o
surgimento de necroses pois ele destrói a circulação sanguínea e não há
nada que se possa fazer a não ser interromper o fumo pelo menos 1 mês
antes da cirurgia. Diabetes, hipertensão e colesterol alterados também são
fatores que podem levar a alterações crônicas da circulação e contribuir para
que a abdominoplastia complique com áreas de necrose. Após tratada
qualquer infecção, o tecido evidentemente sem vida é removido pois ele não
vai contribuir para formação de pele. Abaixo da necrose de pele o que existe
pode ser uma camada profunda da pele (derme) ainda com vida ou pode

18
não existir mais camada nenhuma de pele. Nos casos de necroses
pequenas as feridas podem ser tratadas com pomadas e cremes ou placas
que auxiliam a cicatrização ajudando o corpo a criar uma camada de cicatriz.
Nos casos de necroses maiores, ou que estejam com feridas abertas há
mais de 3 semanas, deve ser considerado realizar a cobertura dessa ferida
com enxertos de pele.

19

Você também pode gostar