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Pré-Modernismo

... O Pré-Modernismo é um momento de tr ansição, em que


se caminha da tr adição par a a modernidade...
Contexto histórico
Diferentemente do século XIX, em que tivemos o Romantismo, o
Realismo, o Natur alismo, o Parna sianismo e o Sim bolismo, o século
XX foi um período muito produtivo, em que predominou apena s
um estilo: o Modernismo. No entanto, esse estilo pa ssou por fa ses
distinta s, e a primeir a dela s foi o Pré-Modernismo.

Como já anuncia o prefixo “pré”, o Pré-Modernismo foi um


momento inicial, em que alguma s car acterística s modernista s
começar am a se fazer presentes, ma s ainda se caminhava par a o
Modernismo.

O Pré-Modernismo, portanto, foi o momento que se pa ssou entre


a s dua s primeir a s década s do século XX, indo de 1900 até 1922, marco
oficial do início do Modernismo, com a Semana de Arte Moderna. Na
história do Br a sil, esse foi o período da República Velha, e foi nesse
contexto que o Pré-Modernismo se configurou como um
momento de tr ansição, em que pa ssava da tr adição par a a
modernidade.
Contexto cultural
Par a compreendermos o Pré-Modernismo, é fundamental
pensarmos em uma retrospectiva do final do século XIX. Nessa
época, conviver am o Romantismo (em seu final), o Realismo, o
Natur alismo, o Parna sianismo e o Sim bolismo, sendo que toda s essa s
escola s apresentavam um estilo de escrita mais tr adicional.

A partir de 1900, os autores do século XIX começar am a entr ar em


declínio, apesar de ainda estarem produzindo. Assim, o século XX
começou sob a influência da tr adição, até porque o Modernismo
começou oficialmente apena s em 1922, com a Semana de Arte
Moderna. No entanto, a s ideia s modernista s já começavam a surgir,
por isso, o período entre 1900 e 1922 foi marcado pela tr ansição
entre a s car acterística s tr adicionais, que saíam de cena, e o
surgimento do estilo modernista.

Final do Início do Semana de


séc. XIX 1880 séc. XX 1900 Arte Moderna 1922
tradição Pré-Modernismo

Fim do Modernismo

Romantismo Realismo Período de


Naturalismo Transição

Parnasianismo tradição Modernidade

Simbolismo

Escolas de escritas

mais tradicionais
Características gerais
O principal ponto que devemos compreender quanto ao
Pré-Modernismo é que não houve um estilo pré-modernista. Como
vimos, o Pré-Modernismo não foi uma escola literária, ma s, sim, um
momento de tr ansição. Consequentemente, configurou-se em uma
fa se ba stante eclética, na qual conviver am os estilos tr adicional e
moderno. Por isso, quanto à estética e ao estilo de escrita, não
houve um consenso entre os autores que produzir am nessa
época.

Já em relação ao tema, o ponto em comum entre os autores foi a


apresentação de uma visão crítica da realidade br a sileir a. Naquela
época, o Rio de Janeiro er a a metrópole, o centro do Br a sil da
República Velha, e vivia a B e l l e É p o q u e (Bela Época), período
car acterizado por uma gr ande modernização urbana. Por conta
disso, a população mais humilde afa stou-se par a os morros, ger ando
o surgimento da s favela s. Além disso, na s regiões distantes da
metrópole, o país er a marcado por uma população pobre, carente e
a bandonada.

Dessa forma, a maior car acterística dos autores pré-modernista s


foi a produção de uma liter atur a de denúncia social. Dando
visibilidade par a a s diferentes regiões do país, seu objetivo er a
apontar os problema s de um Br a sil que vivia na periferia da
metrópole, em séria s condições de pobreza, miséria, doença s,
a bandono, etc.
Graça Aranha e Euclides da Cunha
Par a falarmos sobre os autores pré-modernista s, como os estilos
entre eles er am divergentes, o ideal é que falemos de maneir a
individualizada sobre cada um deles.

• G r aça Ar anha
É um nome importante tanto para o Pré-Modernismo quanto para o
Modernismo em si. Bom exemplo do que seria a literatura pré-modernista,
Graça Aranha destacou-se pela obra C a n a ã (1902), história que narra
sobre a vida de imigrantes alemães que foram mandados para o Espírito
Santo em busca de uma terra prometida. No entanto, em um local distante
da região central do Brasil, os alemães viviam como selvagens,
abandonados politicamente pelo interesse nacional maior. Dessa maneira,
os alemães são utilizados pelo autor como instrumento de denúncia,
dando visibilidade às regiões afastadas da metrópole.

• Euclides da Cunha
Autor fundamental para compreendermos o período pré-modernista e a
história do Brasil, Euclides da Cunha escreveu Os sertões (1902), uma
relevante análise acerca da realidade nacional. Obra extensa, com estilo de
escrita rebuscado, científico, próprio do séc. XIX, vocabulário erudito e
linguagem difícil, o livro é um importante registro de Euclides da Cunha
(jornalista e militar) sobre a Guerra de Canudos, dividindo-se em três partes.
1. A terra: análise da região do Sertão, considerando-a como difícil, árida
de conflito natural – paraíso e seca.
2. O homem: o sertanejo, apesar de parecer fraco, é forte por ser um
sobrevivente das difíceis condições de sua região.
3. A guerra
• Retrato de um povo sem assistência social, abandonado pelo governo
e que alimenta esperanças nos ensinamentos de Antônio Conselheiro.
• Extermínio do povo, genocídio cometido pelo país contra os filhos
mais doentes.
Monteiro Lobato
Outro nome do período pré-modernista foi Monteiro Lobato. Por
sua obr a infantojuvenil, é um autor recorrente no ima ginário
br a sileiro, no entanto, tam bém produziu uma liter atur a direcionada
ao público adulto. Confir a, a seguir, a s car acterística s de sua s
produções.

• Obr a infantojuvenil
Monteiro Lobato era um homem nacionalista e que tinha um projeto de
modernizar o Brasil. Porém, preocupava-o o fato de a população brasileira
ser predominantemente analfabeta. Sendo assim, viu na literatura uma
forma de incentivar as crianças e jovens a desenvolverem o gosto pela
leitura e pela escrita para que, no futuro, pudessem prosperar.

• Obr a “adulta”
Produção densa e crítica, a literatura adulta de Monteiro Lobato foi um
instrumento de denúncia do atraso e do abandono em que se encontrava
o interior do Brasil naquela época. Para isso, caracterizava o personagem
interiorano como ignorante, atrasado, apegado a crendices e superstições
ultrapassadas, indolente, preguiçoso e sem perspectivas de prosperar na
vida. Tal personagem ganhou destaque na figura de Jeca Tatu, um caipira
que refletia as consequências do atraso brasileiro e vivia à margem do
progresso.
Lima Barreto
Conhecer a biogr afia de Lima Barreto é importante par a que
possamos compreender melhor sua produção literária.

Por ser negro, o autor viveu os preconceitos próprios de uma


época posterior à a bolição da escr avatur a, na qual os negros er am
marginalizados. Sendo a ssim, mesmo tendo se diferenciado da
maioria negr a por ter tido acesso a estudo, cultur a e conhecimento
quando jovem, foi discriminado e viveu à margem do que poderia
ter vivido de acordo com a formação que teve.

A liter atur a de Lima Barreto, portanto, foi produzida por um


su burbano que olhava a sociedade sob a ótica de um marginalizado.
Dessa forma, sua principal car acterística é a presença de uma
denúncia forte e contundente à sociedade carioca, consider ando-a
como falsa, ligada somente às aparência s e na qual prevaleciam os
bajuladores, puxa-sacos e apadrinhados. Exemplo disso é o livro
C l a r a d o s A n j o s , que a borda o preconceito r acial e o lugar
ocupado pela mulher no início do século XX.

Outr a car acterística é o u s o d o d e b o c h e e d a s á t i r a par a retr atar


a sociedade ignor ante e a vida de aparência s. Assim, Lima Barreto
deixava clar a sua intenção de rir da s pessoa s que o humilhavam.
Exemplos nesse sentido são a s obr a s O h o m e m q u e s a b i a j a v a n ê s ,
A nova Califórnia e Triste fim de Policarpo Quaresma.
Augusto dos Anjos
O poeta Augusto dos Anjos deve ser consider ado como um ca so à
parte entre os autores pré-modernista s, pois não se filiou a
nenhuma escola e teve, consequentemente, um estilo mais livre.

A produção literária de Augusto dos Anjos pode ser consider ada


como uma síntese dos estilos do século XIX. Isso porque o autor
apropriou-se de car acterística s específica s de cada um dos
períodos literários daquele momento.

• Realismo: jeito pessimista e cético;


• Natur alismo: estilo científico, voca bulário técnico;
• Sim bolismo: preocupações metafísica s;
• Parna sianismo: perfeição estética.

Assim sendo, Augusto dos Poesia foi autor de uma poesia marcante,
na qual prevaleceu o uso de um voca bulário forte e o interesse
por tema s relacionado à decomposição, podridão, putrefação.
Confir a dois exemplos na sequência.

Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este am biente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário da s ruína s –
Que o sangue podre da s carnificina s
Come, e à vida em ger al declar a guerr a,

Anda a espreitar meus olhos par a roê-los,


E há-de deixar-me apena s os ca belos,
Na frialdade inorgânica da terr a!
(Augusto dos Anjos)

Versos íntimos
Vês! Ninguém a ssistiu ao formidável
Enterro de sua última quimer a.
Somente a Ingr atidão – esta panter a –
Foi tua companheir a inseparável!

Acostuma-te à lama que te esper a!


O homem, que, nesta terr a miserável,
Mor a, entre fer a s, sente inevitável
Necessidade de tam bém ser fer a.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a vésper a do escarro,
A mão que afa ga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua cha ga,


Apedreja essa mão vil que te afa ga,
Escarr a nessa boca que te beija!
(Augusto dos Anjos)

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