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PONTO 02

Organização da SBA,
Cooperativismo e SUS
Nádia Maria da Conceição Duarte
Presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia – gestão 2011;
Instrutora Corresponsável pelo CET-SBA do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Mestre em cirurgia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Professora da disciplina de anestesiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Ana Maria Menezes Caetano


Instrutora Corresponsável pelo CET-SBA do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Doutora em anestesiologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp);
Professora da disciplina de anestesiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Gerente de Atenção à Saúde do Hospital das Clínicas (EBSERH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Organização da SBA, Cooperativismo e SUS
2.1. Organização da SBA
2.2. Cooperativismo
2.3. SUS

INTRODUÇÃO
Em 16 de outubro de 1846, no Hospital Geral de Massachussets, na Harvard Medical School, o dentista
William Thomas Green Morton administrou éter como agente anestésico a um paciente, permitindo-lhe ser
submetido a um procedimento cirúrgico sem sofrer as agruras do ato operatório. Apesar de não ter sido o
pioneiro na utilização do fármaco para esse fim, foi o primeiro que o fez com sucesso e deu publicidade ao
fato – demonstração pública. Por isso, apesar das controvérsias, é dado a Morton o crédito pela introdução
da anestesia. Nasceu assim a bem-sucedida história da anestesiologia mundial1.
No Brasil, sete meses após esse fato, em 25 de maio de 1847, o Dr. Roberto Haddock Lobo, no Rio de
Janeiro, reproduziu esse feito e, também com éter, anestesiou um estudante de medicina que se volun-
tariou para essa experiência.
Em 1848, na Inglaterra, surgiram as primeiras anestesias com o uso de clorofórmio. Mais uma vez,
apenas quatro meses depois, aqui no Brasil, a prática foi replicada pelo Dr. Manoel Feliciano Pereira de
Carvalho, que realizou uma amputação de membro com o uso desse novo agente.
No século XX, proliferaram novos fármacos, equipamentos e técnicas anestésicas. Os bloqueios regionais
ganharam adeptos. A anestesia local e a raquianestesia foram aplicadas com proficiência. Porém, pela falta
de profissionais habilitados disponíveis, os procedimentos eram, muitas vezes, realizados por cirurgiões, e es-
tes, como se ocupavam, em seguida, do procedimento cirúrgico, abandonavam seus pacientes a cuidados de
terceiros, em geral uma irmã de caridade sem a capacitação devida ou mesmo dedicação exclusiva a quem
estava sendo operado. Essa prática resultava, não infrequentemente, em complicações e desfechos infelizes.
Com o número crescente de médicos e estudantes interessados em anestesia, as clínicas e os hospitais
foram, paulatinamente, organizando os serviços de anestesia.

2.1. ORGANIZAÇÃO DA SBA


O retorno da Força Expedicionária Brasileira da Segunda Guerra Mundial trouxe, principalmente para
o Rio de Janeiro e São Paulo, um contingente de médicos, cujos serviços prestados nos hospitais de cam-
panha foram exercidos exatamente na assistência anestésica. A chegada desses doutores, com novas
experiências, fez aflorar mais ainda o interesse pela especialidade. As reuniões para discussões clínicas
tornaram-se mais frequentes e organizadas.
Em um desses encontros, por sugestão dos drs. Antônio Patury Souza e Oscar Vasconcelos Ribeiro,
realizou-se, no dia 25 de fevereiro de 1948, no Auditório do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de
Janeiro, na Rua Sacadura Cabral, 158, uma reunião entre os profissionais da anestesiologia. Esta foi uma
importante iniciativa, pois foi exatamente nesse momento que os presentes definiram a criação de uma
sociedade. Aprovada em plenário, com ata registrada e assinada por seus fundadores, nascia a Sociedade
Brasileira de Anestesiologia (SBA)2, com a primeira diretoria assim constituída:
• Presidente - Mário Castro D´Almeida Filho
• Vice-presidente - Antônio Patury Souza
• Secretário - José Luiz Guimarães Santos
• Tesoureiro - Paulo Drolshagem
• Bibliotecário - Breno Cruz Mascarenhas
• Diretor da revista - Oscar Vasconcelos Ribeiro
Depois desse primeiro momento, novas diretorias da SBA foram eleitas e empossadas anualmente, sen-
do realizadas reuniões administrativas e científicas, nas quais se discutia e deliberava sobre ações impor-
tantes que estruturavam, passo a passo, o funcionamento dessa jovem instituição.
42 | Bases do Ensino da Anestesiologia
Já no ano seguinte à fundação da SBA, sua sede foi instalada numa sala situada na Praça Floriano Pei-
xoto, Centro do Rio de Janeiro/RJ.
Para intensificar sua atuação, a SBA identificou a necessidade da criação de regionais nos respecti-
vos estados da Federação. Pela mobilização intensa e o empenho dos profissionais que atuavam àquela
época, nasceram as regionais da SBA, iniciando-se por São Paulo, em 19503.
Com a expansão das atividades regulares da sociedade e seus associados, em 1952, nasceu a Revis-
ta Brasileira de Anestesiologia (RBA), com a missão de difundir o conhecimento científico acumulado da
especialidade. Hoje, a RBA é um periódico trilíngue, indexado ao MedLine, entre vários outros grandes
bancos de dados de periódicos científicos, com visibilidade e disponibilidade para toda a comunidade
científica mundial por via eletrônica. É cadastrada para análise bibliométrica de impacto pela Thomson
Reuters – ISI, que avalia o desempenho de sua produção científica quanto aos pesquisadores, aos artigos
e ao periódico como um todo.
A Anestesia Revista foi criada logo depois da RBA, como um boletim sem cunho científico, como instru-
mento de comunicação da Diretoria sobre suas ações, deliberações emanadas de assembleias e divulgação
de informações referentes ao ensino da especialidade.
A formação em anestesia passou a ser regulamentada e controlada pela SBA em 1953, com divulgação
dos serviços para treinamento em anestesiologia e elaboração dos Requisitos Essenciais para o Treina-
mento em Anestesiologia. Nasceram, assim, com essas medidas, os Centros de Ensino e Treinamento em
Anestesiologia da SBA.
Com relação à titulação dos especialistas, a SBA foi pioneira no Brasil, criando, em 1957, o Título de Espe-
cialista em Anestesiologia (TEA-SBA). Foi somente 20 anos depois que o então presidente da República, general
Ernesto Geisel, sancionou a criação da residência médica, através do Decreto nº 80.281, de 5 de setembro de
1977, definindo-a como uma modalidade de ensino de pós-graduação destinada a médicos, sob a forma de cur-
so de especialização, estando esta, nos dias de hoje, sob a coordenação da Comissão Nacional de Residência
Médica (CNRM).
A Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.634/2002 estabeleceu o convênio entre o Conselho
Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a CNRM, para o reconhecimento das
especialidades médicas. A resolução estabelece que as residências médicas reconhecidas pela CNRM e os
programas de ensino das sociedades de especialidades reconhecidos pela AMB são os órgãos formadores
acreditados para a formação de especialistas.
Em 1983, a SBA passou a conferir também, por meio de concurso, o Título Superior em Anestesiologia
(TSA), que vem a ser a maior certificação da especialidade auferida pela SBA. Para se inscrever no concurso
para a obtenção do TSA, é necessário que o candidato seja especialista em anestesiologia pela Sociedade
Brasileira de Anestesiologia. Ser portador do TSA é pré-requisito essencial para um membro da SBA fazer
parte de sua diretoria, de comissões e comitês de assessoramento técnico-científico, do corpo editorial da
RBA e do quadro de instrutores responsáveis e corresponsáveis dos Centros de Ensino e Treinamento.
A história dos eventos científicos no Brasil se inicia nas próprias reuniões informais que determina-
ram o nascimento da SBA. Da informalidade, esses encontros científicos se organizaram, resultando no
1º Simpósio Brasileiro de Anestesiologia, realizado em Recife (Pernambuco), em 1951, presidido pelo Dr.
Nelson Falcão. Esse simpósio de Recife foi o embrião dos atuais congressos brasileiros, que tiveram sua
primeira versão em São Paulo, em 1954.
As jornadas regionais inicialmente se organizaram no Sul do país. Em Porto Alegre, em 1962, realizou-
-se a primeira JOSULBRA. Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais organizaram uma jornada intitulada
Rio–São Paulo–Minas, de 1966 até 1979. A partir de então, o Espírito Santo foi adicionado ao bloco e, desde
1980, o evento passou a ser denominado JASB (Jornada de Anestesiologia do Sudeste Brasileiro). A Jornada
de Anestesiologia do Brasil Central (JABC) ocorre desde o ano de 1969, tendo diferentes composições de
regiões, como Uberaba e Uberlândia (MG), que participaram como sede algumas vezes. Atualmente, con-
grega as regionais do Distrito Federal, de Goiás, do Tocantins, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nas
regiões Norte e Nordeste, desde 1977, se realiza a JONNA (Jornada Norte–Nordeste de Anestesiologia)3.
De acordo com o artigo 1o de seu atual estatuto, “a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) é uma
associação civil, sem fins econômicos, fundada em 25 de fevereiro de 1948, por tempo indeterminado,
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constituindo-se uma federação de associações regionais, com sede e foro na cidade do Rio de Janeiro,
situada à Rua Professor Alfredo Gomes, 36, Botafogo, Rio de Janeiro – RJ, CEP 22251-080, que não remu-
nera, por qualquer forma, os cargos de sua diretoria, conselhos fiscais, deliberativos ou consultivos e não
distribui lucro, bonificação ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou associados, sob nenhuma forma
ou pretexto, a qual se regerá pelo presente estatuto e pelas leis que regulam a matéria”4.
Desde sua fundação, a SBA tem buscado, de forma incessante, se atualizar e ficar alinhada com im-
portantes instituições, na busca de indicadores e evidências de boas práticas, orientando seus associados
para a obtenção dos melhores desfechos de suas atividades médicas. A SBA promove e divulga ações que
podem resultar na melhoria contínua da qualidade e da segurança nos processos de atendimento ao pa-
ciente no período perioperatório, por meio de gestão eficiente de riscos, conhecimento, pesquisa, ética
e responsabilidade social5.
Desde 2007, a SBA começou a discutir sobre a importância e a necessidade de utilizar ferramentas mais
eficazes e modernas de gestão. Em 2008, implantou o programa 5S de qualidade e, nesse mesmo ano, com
uma assessoria especializada, estruturou e implantou um sistema de gestão de qualidade e planejamento
estratégico que auxilia o gerenciamento de seus processos internos e externos e descreve, de forma clara,
sua política de qualidade, missão, visão, valores e competência.
Em 2009, a SBA submeteu-se ao processo de avaliação do sistema de gestão da qualidade pela certi-
ficadora DNV GL, que resultou na obtenção da certificação ISO-9001:2008, selo criado pela International
Organization for Standardization, cujo objetivo é reconhecer práticas de gestão que se coadunem com
as exigências internacionais de sistemas de gerenciamento da qualidade. Ela foi a primeira sociedade
de especialidade médica brasileira a obter essa certificação. Desde então, tem sido submetida, anual-
mente, às auditorias de manutenção, sendo recertificada a cada ciclo de três anos, uma evidência de
que seu sistema de gerenciamento de qualidade é aprovado e certificado em prol de um padrão de
melhores práticas4.

Política da Qualidade
Comprometimento contínuo com práticas de gestão e melhorias organizacionais, visando à geração de
ganhos para os anestesiologistas associados e demais partes interessadas.

Missão
Promover o desenvolvimento, o bem-estar e o aprimoramento científico dos anestesiologistas e ga-
rantir a qualidade e a segurança da medicina perioperatória para a sociedade em geral.

Visão para 2015-2020


Significar para a comunidade em geral uma entidade exemplar no campo do ensino, da atualização
científica, da defesa profissional, da qualidade e da segurança da anestesiologia, com reconhecimen-
to internacional.

Valores
Qualidade
Programas de ensino, atualização científica e segurança profissional, para atender e superar as expec-
tativas de seus associados e clientes.
História e Tradição
• Armazenamento, organização e divulgação da história da SBA, para gerar reconhecimento e iden-
tificação de suas tradições.
Empreendedorismo
• Busca continuada de melhorias dos processos, com a implementação de novas práticas e projetos,
visando a ganhos para seus associados e clientes.
Imagem
• Percepção positiva da SBA pelas demais entidades médicas e a sociedade em geral.

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União
• Ações de melhoria organizacional que buscam o comprometimento, a satisfação e a valorização de
todos os seus associados e colaboradores.
Ética
• Valores da organização, dos indivíduos e da sociedade.
Relacionamento
• Desenvolvimento, com seus pares, fornecedores e clientes, de parcerias baseadas em confiança
mútua e ganhos compartilhados.
Organização
• Desenvolvimento contínuo de ferramentas que permitam a capacitação dos associados, melhoran-
do continuamente seu perfil científico e profissional.

Competência
Para dar cumprimento à sua Missão Institucional, a SBA executa os seguintes serviços:
• Promove o desenvolvimento das ciências da saúde nas áreas de educação, pesquisa e apoio técnico,
com a formação e capacitação de recursos humanos na área de anestesiologia, buscando a me-
lhoria contínua da qualidade dos serviços anestesiológicos oferecidos à população, sem nenhuma
forma de discriminação de raça, sexo, cor, religião ou classe social.
• Reúne os médicos interessados em fomentar o progresso, o aperfeiçoamento e a difusão da anes-
tesiologia, da terapia intensiva, do tratamento da dor, dos cuidados paliativos e da reanimação.
• Estabelece normas para treinamento na especialidade.
• Faz cumprir o Código de Ética Médica e o Código Profissional e Econômico da SBA.
• Defende os interesses profissionais de seus membros.
• Patrocina congressos da especialidade, de âmbito nacional e internacional.
• Confere o Título Superior em Anestesiologia (TSA).
• Confere o Título de Especialista em Anestesiologia (TEA).
• Confere o Certificado de Área de Atuação em Dor.
• Confere o Certificado de Área de Atuação em Cuidados Paliativos.
• Publica a Revista Brasileira de Anestesiologia e a Anestesia em Revista.
• Confere prêmios, conforme regulamentos próprios.
• Realiza convênios de intercâmbio cultural e científico com entidades internacionais, visando ao
aprimoramento técnico-científico de profissionais anestesiologistas.
O número possível de membros associados da SBA é ilimitado, e suas categorias são:
I. Fundadores.
II. Honorários.
III. Beneméritos.
IV. Estrangeiros.
V. Ativos.
VI. Aspirantes.
VII. Adjuntos.
VIII. Aspirantes adjuntos.
IX. Remidos.
X. Especiais.
Em seu organograma, a SBA é composta pelos seguintes órgãos:
I. Assembleia Geral (AG).
II. Assembleia de Representantes (AR).

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III. Conselho Superior.
IV. Conselho Fiscal.
V. Diretoria.
VI. Conselho de Defesa Profissional.
VII. Departamentos.

Assembleia Geral
A Assembleia Geral é o órgão máximo da sociedade. Ocorre pela reunião de seus membros ativos com
os seguintes objetivos:
I. Liquidação da SBA.
II. Eleger a Diretoria e o Conselho Fiscal.
III. Destituir a Diretoria e/ou o Conselho Fiscal.
IV. Aprovar as contas.
V. Alterar o estatuto.
VI. Deliberar sobre assuntos de especial importância para a SBA.

Assembleia de Representantes
A Assembleia de Representantes (AR) é o órgão legislativo, deliberativo e soberano da Sociedade Bra-
sileira de Anestesiologia, exceto nos casos previstos no capítulo V do estatuto. É constituída por represen-
tantes das regionais, pelo presidente do Conselho Superior e pela Diretoria da SBA.
Compete à AR:
I. Examinar e dar aprovação final aos assuntos administrativos da sociedade, exceto os casos pre-
vistos no capítulo V do estatuto.
II. Tomar conhecimento dos relatórios apresentados.
III. Eleger os membros das comissões permanentes, o editor-chefe e coeditor da Revista Brasileira de
Anestesiologia, o secretário do Conselho de Defesa Profissional, os comitês e criar comissões de
estudo com prazo inferior a um ano.
IV. Eleger a região que vai sediar o Congresso Brasileiro de Anestesiologia (CBA) com, no máximo,
cinco anos de antecedência, de acordo com o relatório da Diretoria da SBA, baseado nas “condi-
ções mínimas para sediar um CBA”.
V. Examinar qualquer assunto de relevância solicitado por, pelo menos, cinco membros ativos e
apresentados por meio da Diretoria ou do Conselho Superior.
VI. Fixar as anuidades, as taxas de readmissão e aprovar a proposta orçamentária para o exercí-
cio seguinte.
VII. Examinar os recursos da Diretoria encaminhados pelo Conselho Superior.
VIII. Discutir e votar os pareceres dos grupos de trabalho sobre as propostas das comissões permanen-
tes, da Diretoria e do Conselho Superior.
IX. Discutir e votar as alterações dos regulamentos e regimentos propostas no relatório da CERR.
X. Votar as resoluções do Conselho Superior.
XI. Votar as resoluções do Conselho de Defesa Profissional encaminhadas pela Diretoria da SBA ou
pelo plenário desse conselho.
XII. Eleger a Comissão de Aprovação da Ata, composta por três representantes.
XIII. Dar encaminhamento às propostas de alteração do estatuto, de regulamentos ou regimentos en-
viadas pelos representantes.
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Conselho Superior
O Conselho Superior é constituído pelos três últimos presidentes da SBA e pelos presidentes das regio-
nais. São suas atribuições:
I. Eleger seu presidente, que tomará parte nas reuniões de Diretoria, sem direito a voto.
II. Participar das Assembleias de Representantes, por meio de seu presidente.
III. Examinar as contas da SBA e recomendá-las à aprovação, ou não, pela Assembleia Geral, após
conhecer o relatório do Conselho Fiscal.
IV. Indicar, por solicitação da Diretoria, substitutos para cargos vagos nos períodos entre as eleições.
V. Recomendar à Assembleia de Representantes nomes para a eleição aos cargos eletivos, exceto da
Diretoria e do Conselho Fiscal.
VI. Opinar, em qualquer época, sobre determinado assunto, por solicitação da Diretoria.
VII. Apreciar as denúncias em grau de recurso.

Conselho Fiscal
O Conselho Fiscal é composto por três membros efetivos e três membros suplentes – todos membros
ativos da SBA, eleitos pela Assembleia Geral – e tem como função conferir, verificar e comprovar, trimes-
tralmente, a administração financeira da SBA, opinando sobre ela e enviando relatórios ao Conselho Su-
perior para apreciação.

Diretoria
A Diretoria é o órgão executivo da SBA, composta por um presidente, um vice-presidente, um secretá-
rio-geral, um tesoureiro, um diretor do Departamento Administrativo, um diretor do Departamento Cien-
tífico e um diretor do Departamento de Defesa Profissional, todos eleitos por meio da Assembleia Geral,
sendo deles exigida a qualificação de TSA. Compete à Diretoria, coletivamente:
I. Executar e fazer executar as resoluções das assembleias.
II. Cumprir e fazer cumprir o estatuto.
III. Designar comissões, com mandato máximo de três meses.
IV. Apresentar à Assembleia de Representantes um relatório completo de suas atividades.
V. Contratar o pessoal necessário para o funcionamento da SBA.
VI. Reunir-se, pelo menos uma vez por ano, com os presidentes das comissões permanentes e o edi-
tor-chefe da Revista Brasileira de Anestesiologia.
VII. Aprovar e recomendar à Assembleia de Representantes as cidades que têm condições de sediar
o Congresso Brasileiro de Anestesiologia.
VIII. Deliberar sobre o credenciamento e descredenciamento dos Centros de Ensino e Treinamento,
com base nos relatórios da Comissão de Ensino e Treinamento.
IX. Deliberar sobre o credenciamento e descredenciamento dos Centros de Treinamento e Terapêu-
tica da Dor (CTTDor), com base nos relatórios da Comissão de Treinamento e Terapêutica da Dor.
X. Deliberar sobre o credenciamento e descredenciamento dos Centros de Treinamento em Medici-
na Paliativa (CTMP), com base nos relatórios da Comissão de Treinamento em Medicina Paliativa.
XI. Deliberar sobre os casos omissos no estatuto da SBA.

Conselho de Defesa Profissional


O Conselho de Defesa Profissional é constituído pelo presidente e pelo secretário do Conselho de De-
fesa Profissional, pelos presidentes das regionais ou seus substitutos credenciados, pelo último presidente
da SBA e pelo presidente da SBA em exercício. Tem como finalidade tratar as relações e condições de
trabalho dos associados da SBA.

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Departamentos
Os departamentos da SBA são órgãos cuja responsabilidade e supervisão competem aos respectivos
diretores: Administrativo, Científico e de Defesa Profissional.

Departamento Administrativo
É de responsabilidade do diretor do Departamento Administrativo e é integrado por:
• Comissão de Estatuto, Regulamentos e Regimentos.
• Equipe de planejamento dos CBA (EPCBA).
• Biblioteca, videoteca e museu.

Departamento Científico
É de responsabilidade do diretor do Departamento Científico e é integrado por comissões permanentes
e comitês e pela Revista Brasileira de Anestesiologia.
A Revista Brasileira de Anestesiologia é editada, no mínimo, trimestralmente e se destina, primordial-
mente, a publicações científicas sob a responsabilidade do editor-chefe e do coeditor, ambos portadores
do Título Superior em Anestesiologia, eleitos pela AR, com mandato de três anos. Os editores são auxilia-
dos por um corpo editorial associado de três membros e por um corpo de conselheiros, selecionados entre
membros ativos, portadores do Título Superior em Anestesiologia, com referendo da Diretoria da SBA.

Comissões do Departamento Científico


• Comissão de Ensino e Treinamento.
• Comissão de Normas Técnicas.
• Comissão Examinadora do Título Superior em Anestesiologia.
• Comissão de Educação Continuada.
• Comissão de Treinamento e Terapêutica da Dor.
• Comissão de Treinamento em Medicina Paliativa.

Comitês do Departamento Científico


• Anestesia Ambulatorial.
• Anestesia em Cirurgia Cardiovascular e Torácica.
• Anestesia em Obstetrícia.
• Anestesia em Pediatria.
• Anestesia Loco-Regional.
• Anestesia Venosa.
• Hipertermia Maligna.
• Reanimação e Atendimento ao Politraumatizado.
• Via Aérea Difícil.
• Medicina Perioperatória.
• Anestesia em Transplantes de Órgãos.

Departamento de Defesa Profissional


É de responsabilidade do diretor do Departamento de Defesa Profissional, que também é o presidente
do Conselho de Defesa Profissional. Esse departamento é integrado pelas seguintes comissões:
• Comissão de Sindicância de Processo Administrativo.
• Comissão de Saúde Ocupacional.
• Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesiologia.

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A SBA conta, hoje, com 11.334 associados, distribuídos nas seguintes categorias:
• Ativos: 8.019.
• Adjuntos: 402.
• Remidos: 754.
• Aspirantes adjuntos: 161.
• Benemérito: 1.
• Honorários: 2.
• Estrangeiros: 3.
• Aspirantes: 1.992.
Como instituição formadora e certificadora dos especialistas brasileiros em anestesiologia e suas áreas
de atuação, a SBA conta, atualmente, com 109 Centros de Ensino e Treinamento (CET), distribuídos por
todas as regiões do país. Há, hoje, 1.992 médicos em especialização e 781 instrutores com credenciais
válidas, além de anestesiologistas voluntários e não cadastrados para a função, mas que se dedicam da
mesma forma ao ensino da especialidade nos diversos hospitais de ensino da SBA. Os programas para o
ensino da especialidade, bem como os serviços, as seções, os departamentos e as disciplinas, com propó-
sitos de ensino pós-graduado da anestesiologia, sob credencial oficial da SBA, e seus centros de ensino e
treinamento são de responsabilidade da Comissão de Ensino e Treinamento. É exigido do médico em espe-
cialização um período mínimo de treinamento de três anos (36 meses) em regime de dedicação exclusiva.
Findo esse período, com a aprovação nas provas anuais e o cumprimento dos demais deveres regulamen-
tares, o egresso do CET recebe seu Título de Especialista em Anestesiologia (SBA/AMB).
A SBA expede, em convênio com a Associação Médica Brasileira (AMB), o Título de Especialista em
Anestesiologia (TEA) para médicos que pratiquem a anestesiologia, não membros ou membros adjuntos
da SBA, aprovados em concurso para a obtenção desse título. Esse concurso é realizado anualmente sob
a supervisão da Comissão de Ensino e Treinamento.
Juntamente com a Defesa Profissional, a Educação Continuada é um dos principais pilares da SBA. A
instituição oferece a seus associados e à população em geral um grande leque de instrumentos: edição
anual de livros e periódicos; aulas, cursos, seminários e fóruns presenciais e a distância; atualização e in-
formações para especialistas e leigos em seu website; o Núcleo SBA Vida, que abriga cursos práticos para o
aprimoramento técnico-científico: Suporte Avançado de Vida em Anestesia (SAVA), Reanimação Cardíaca,
Controle da Via Aérea (CVA), Ecocardiografia Transtorácica e Transesofágica no Intraoperatório (ETTI) e
ainda as Recomendações da SBA. Como ação social, em 2011, foi inserido neste Núcleo o curso Salve uma
Vida, destinado ao público não médico, que leva noções básicas de primeiros socorros, desobstrução de
vias aéreas e reanimação cardíaca6.
Atualmente, a SBA possui 25 regionais distribuídas em todas as regiões geográficas do Brasil. Uma em
cada um dos seguintes estados da Federação e no Distrito Federal: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Mara-
nhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Tocantins, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

2.2. COOPERATIVISMO
A política nacional de cooperativismo foi definida no Brasil por meio da Lei no 5.764, de 16 de dezembro
de 19717. Em seu art. 1°, a lei afirma que “Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a ati-
vidade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado,
isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público”.
Em 19 de julho de 2012, a Presidência da República do Brasil sancionou nova lei – Lei nº 12.690 –, com
novas disposições sobre a organização e o funcionamento das cooperativas de trabalho8.
As cooperativas de trabalho podem ser de dois tipos:
• De produção – quando constituída por sócios que contribuem com o trabalho para a produção em
comum de bens e a cooperativa detém, a qualquer título, os meios de produção. Exemplo: coope-
rativas de reciclagem, de costura, de artesanato.

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• De serviço – quando constituída por sócios para a prestação de serviços especializados a terceiros,
sem a presença dos pressupostos da relação de emprego. Exemplo: cooperativas de prestação de
serviços de tradução ou cooperativas de prestação de serviços culturais/artísticos.
De acordo com o Parágrafo Único do art. 1.º da Lei 12.690, estão excluídas do âmbito da nova lei:
• As cooperativas de assistência à saúde, na forma da legislação de saúde suplementar.
• As cooperativas que atuam no setor de transporte regulamentado pelo poder público e que dete-
nham, por si ou por seus sócios, a qualquer título, os ativos necessários ao trabalho.
• As cooperativas de profissionais liberais cujos sócios exerçam as atividades em seus pró-
prios estabelecimentos.
• As cooperativas de médicos cujos honorários sejam pagos por procedimento.
Uma cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satis-
fazer a aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de
propriedade coletiva e democraticamente gerida.
Os princípios do cooperativismo são:
• Adesão voluntária e livre: as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pes-
soas aptas a utilizar seus serviços e assumir responsabilidades como membros, sem discriminação
social, racial, política, religiosa e de gênero.
• Gestão democrática e livre: as cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus
membros, que participam ativamente da formulação de suas políticas e da tomada de decisão.
• Participação econômica dos membros: os membros contribuem equitativamente para o capital de
suas cooperativas e o controlam democraticamente.
• Autonomia e independência: as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, con-
troladas por seus membros.
• Educação, formação e informação: as cooperativas promovem a educação e a formação de seus
membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir
eficazmente para o desenvolvimento de suas cooperativas.
• Intercooperação: as cooperativas servem de forma mais eficaz a seus membros e dão mais força
ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, por meio das estruturas locais, regionais,
nacionais e internacionais.
• Interesse pela comunidade: as cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado de suas
comunidades, por meio de políticas aprovadas pelos membros.
No Brasil, as cooperativas de médicos anestesiologistas são, em geral, denominadas COOPANEST. As
primeiras COOPANESTS foram fundadas em 1974 e 1976, nos estados de Goiás e Pernambuco, respectiva-
mente. De forma voluntária, grande número delas está afiliada à Federação Brasileira das Cooperativas
dos Anestesiologistas (FEBRACAN), assim distribuídas pelos estados brasileiros9:
• COOPANEST - AL | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado de Alagoas
• COOPANEST - AM | Cooperativa dos Anestesiologistas do Amazonas
• COOPANEST - BA | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas da Bahia
• COOPANEST - CE | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Ceará
• COOPANEST - DF | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Distrito Federal
• COOPANEST - GO | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas de Goiás Ltda.
• COOPANEST - TM | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Triângulo Mineiro
• COOPANEST - MT | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado de Mato Grosso
• COOPANEST - PA | Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado do Pará
• COCAN - PB | Cooperativa Campinense dos Anestesiologistas
• COOPANEST - PB | Cooperativa dos Anestesiologistas da Paraíba

50 | Bases do Ensino da Anestesiologia


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2.3. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS


Considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, segundo informações do Conse-
lho Nacional de Saúde10, o Sistema Único de Saúde (SUS) é descrito pelo Ministério da Saúde como “um
sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e igualitário à população brasileira, do
simples atendimento ambulatorial aos transplantes de órgãos”.
Foi instituído pela Constituição Federal do Brasil de 1988, em seu artigo 196, como forma de efetivar
o mandamento constitucional do direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado” e está
regulado pela Lei nº. 8.080/199011, que operacionaliza o atendimento público da saúde.
Antes da instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), a atuação do Ministério da Saúde se resumia às
atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças (como, por exemplo, a vacinação), realizadas
em caráter universal, e à assistência médico-hospitalar para poucas doenças; servia aos indigentes, ou
seja, a quem não tinha acesso ao atendimento pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdên-
cia Social (INAMPS).
O INAMPS, por sua vez, era uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência
Social (hoje Ministério da Previdência Social) e foi criado pelo regime militar, em 1974, pelo desmembra-
mento do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que hoje é o Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS). O instituto tinha a finalidade de prestar atendimento médico/dentário aos que contribuíam
com a previdência social, ou seja, somente aos contribuintes de toda forma e seus dependentes.
Além da democratização da saúde, a implementação do SUS também representou uma mudança do
conceito sobre o qual a saúde era interpretada no país. Até então, a saúde representava apenas um qua-
dro de “não doença”, fazendo com que os esforços e as políticas implementadas se reduzissem ao trata-
mento de ocorrências de enfermidades. Com o SUS, a saúde passou a ser promovida e a prevenção dos
agravos passou a fazer parte do planejamento das políticas públicas.
Com o advento do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e gratuita,
financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, conforme rege o artigo 195 da Constituição.
Fazem parte do Sistema Único de Saúde os centros e postos de saúde; os hospitais públicos – incluindo
os universitários, os laboratórios e hemocentros (bancos de sangue) –; os serviços de vigilância sanitária,
vigilância epidemiológica e vigilância ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa acadêmica e
científica, como a FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz) e o Instituto Vital Brasil.

Princípios Constitucionais do SUS


Na seção “Da Saúde” (artigo 196 até o artigo 198) da Constituição foram estabelecidos cinco princí-
pios básicos que orientam o sistema jurídico em relação ao SUS. São eles: universalidade, integralidade,
equidade (“acesso universal e igualitário”), descentralização e participação social.

Ponto 02 - Organização da SBA, Cooperativismo e SUS | 51


Universalidade
Esse princípio pode ser auferido a partir da definição do artigo 196, que considerou a saúde como um
“direito de todos e dever do Estado”. Dessa forma, o direito à saúde se coloca como um direito funda-
mental de todo e qualquer cidadão, sendo considerado até mesmo cláusula pétrea, ou seja, não pode ser
retirada da Constituição em nenhuma hipótese, por constituir um direito e garantia individual. Por outro
lado, o Estado tem o dever de garantir os devidos meios necessários para que os cidadãos possam exercer
plenamente esse direito, sob pena de o estar restringindo e não cumprindo sua função.
Integralidade
A integralidade, conforme o artigo 198, em seu inciso II, confere ao Estado o dever do “atendimento in-
tegral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais”, em relação
ao acesso a que todo e qualquer cidadão tem direito. Por isso, o Estado deve estabelecer um conjunto de
ações que vão desde a prevenção à assistência curativa, nos mais diversos níveis de complexidade, como
forma de efetivar e garantir o postulado da saúde.
É o reconhecimento na prática dos serviços de que:
• Cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade.
• As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não
podem ser compartimentalizadas.
• As unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade, formam também
um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral.
Enfim:
“O homem é um ser integral, biopsicossocial, e deverá ser atendido, com esta visão integral, por um
sistema de saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar sua saúde.”
Equidade
O princípio da equidade está relacionado com o mandamento constitucional de que “saúde é direito
de todos”, previsto no já mencionado artigo 196 da Constituição. Busca-se aqui preservar o postulado da
isonomia, visto que a própria Constituição, em Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, artigo 5º,
institui que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Logo, todos os cidadãos, de maneira igual, devem ter seus direitos à saúde garantidos pelo Estado.
Entretanto, as desigualdades regionais e sociais podem levar à inocorrência dessa isonomia, afinal, uma
área mais carente pode demandar mais gastos em relação às outras. Por isso, o Estado deve tratar “desi-
gualmente os desiguais”, concentrando seus esforços e investimentos em zonas territoriais com os piores
índices e déficits na prestação do serviço público.
Em Dos Princípios Fundamentais, artigo 3º, incisos III e IV, a Constituição configura como um dos ob-
jetivos da República, “reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de todos”.

Descentralização
Está estabelecido em Da Saúde, artigo 198, que “as ações e serviços públicos de saúde integram
uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo [...]”. Por isso,
o Sistema Único de Saúde está presente em todos os níveis federativos – União, estados, Distrito Fede-
ral e municípios –, de forma que o que é da alçada de abrangência nacional será de responsabilidade
do Governo Federal; o que está relacionado com a competência de um estado deve estar sob respon-
sabilidade do governo estadual e a mesma definição ocorre com um município. Dessa forma, busca-se
maior diálogo com a sociedade civil local, que está mais perto do gestor, para cobrá-lo sobre as políticas
públicas devidas.

Participação social
Também está prevista no mesmo artigo 198, inciso III, a “participação da comunidade” nas ações
e nos serviços públicos de saúde, atuando na formulação e no controle da execução destes. O con-
trole social, como também é chamado esse princípio, foi mais bem regulado pela já citada Lei nº
52 | Bases do Ensino da Anestesiologia
8.142/9012. Os usuários participam da gestão do SUS através das Conferências da Saúde, que ocorrem
a cada quatro anos em todos os níveis federativos – União, estados, Distrito Federal e municípios. Nos
Conselhos de Saúde ocorre a chamada paridade: enquanto os usuários têm metade das vagas, o go-
verno tem um quarto e os trabalhadores, outro quarto. Busca-se, portanto, estimular a participação
popular na discussão das políticas públicas da saúde, conferindo maior legitimidade ao sistema e às
ações implantadas.
Não obstante, observa-se que o Poder Constituinte Originário de 1988 não buscou apenas implantar o
sistema público de saúde universal e gratuito no país em contraposição ao que existia no período militar,
que favorecia apenas aos trabalhadores com carteira assinada, foi além e estabeleceu também princípios
que iriam nortear a interpretação que o mundo jurídico e as esferas de governo fariam sobre o citado sis-
tema. E a partir da leitura desses princípios, nota-se a preocupação da Constituinte em reforçar a defesa
do cidadão ante o Estado, garantindo meios não só para a existência do sistema, mas também para que o
indivíduo tenha voz para lutar por sua melhoria e maior efetividade.

Avaliação dos Usuários do SUS


Em pesquisa realizada pelo Datafolha13 a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) e divulgada em
19 de agosto de 2014, 54% dos entrevistados avaliaram o atendimento em saúde prestado pelo SUS com
nota de 0 a 4; 33% com nota entre 5 e 7 e 13% com nota entre 8 e 10. Para 93% dos brasileiros, os serviços
públicos e privados de saúde no país são regulares, ruins ou péssimos.
O Sistema Único de Saúde (SUS) recebeu avaliação negativa de 87% da população.
Os principais problemas apontados incluem filas de espera, falta de acesso aos serviços públicos e má
gestão de recursos.

Médicos no SUS
Inquérito realizado numa parceria entre CFM/CREMEMESP/USP14 revelou que 21,6% dos médicos traba-
lham apenas no setor público, enquanto 26,9% estão exclusivamente no setor privado. Como há sobreposi-
ção – 51,5% dos médicos atuam concomitantemente nas esferas pública e a privada –, pode-se afirmar que
78,4% dos médicos têm vínculo com o setor privado e 73,1%, com o setor público.
É imensa a desigualdade de concentração dos médicos a favor do setor privado, se consideradas as
populações cobertas pelo Sistema Único de Saúde (75% da população utiliza exclusivamente o SUS) e
pela assistência médica suplementar (25% da população, além do direito ao SUS, têm plano ou seguro
de saúde).

Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde15


O Conselho Nacional de Saúde, pela Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, publicada no Diário
Oficial da União nº 155, de 14 de agosto de 2009, dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde
por meio da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. O documento, que tem como base seis princípios
básicos de cidadania, caracteriza-se como uma importante ferramenta para que o cidadão conheça seus
direitos e deveres no momento de procurar atendimento de saúde, tanto público como privado. Para o
Conselho Nacional de Saúde, é importante que todos se apossem do conteúdo da carta, elaborada com
uma linguagem acessível, para, assim, permitir o debate e a apropriação dos direitos e deveres nela con-
tidos por parte dos gestores, trabalhadores e usuários do SUS.

Princípios básicos da cidadania


Os princípios básicos da cidadania são:
1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.
3. Todo cidadão tem direito a atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite sua pessoa, seus valores e seus direitos.
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada.

Ponto 02 - Organização da SBA, Cooperativismo e SUS | 53


6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios
anteriores sejam cumpridos.

Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009 – Direitos e Deveres dos Usuários da Saúde


O Ministro de Estado da Saúde, no uso das atribuições previstas no inciso II do parágrafo único do art.
87 da Constituição e considerando os arts. 6º e 196 da Constituição Federal;
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção,
a proteção e a recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes;
Considerando a Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS, de 2003, do Minis-
tério da Saúde;
E Considerando a Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa no SUS, de 2007, do Ministério
da Saúde, resolve:
Art. 1º - Dispor sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde nos termos da legislação vigente.
Art. 2º - Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços ordenados e organizados para a garantia
da promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde.
Art. 3º - Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no tempo certo para resolver o seu pro-
blema de saúde.
Art. 4º - Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado e acolhedor, realizado por profissionais
qualificados, em ambiente limpo, confortável e acessível a todos.
Art. 5º - Toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos respeitados na relação com os serviços
de saúde.
Art. 6º - Toda pessoa tem responsabilidade para que seu tratamento e recuperação sejam adequados
e sem interrupção.
Art. 7º - Toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços de saúde e aos diversos mecanismos
de participação.
Art. 8º - Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos e conferências de saúde e de exigir que os
gestores cumpram os princípios anteriores.
Art. 9º - Os direitos e deveres dispostos nesta Portaria constituem a Carta dos Direitos dos Usuários
da Saúde.
Art. 10 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

REFERÊNCIAS
1. Viana TJ. Anestesiologia: aspectos históricos. In: Cangiani LM, Slullitel A, Potério GM et al. Tratado de aneste-
siologia SAESP. 7a ed. São Paulo: Atheneu, 2011; p. 3-13.
2. Bagatini A, Silva MS, Azevedo MMGM. Sociedade Brasileira de Anestesiologia: 65 anos de história. Rio de Janeiro:
Sociedade Brasileira de Anestesiologia, 2013.
3. Lima OS, Machado WS, Martins CAS. SBA: 50 Anos de história. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Aneste-
siologia, 1999.
4. Sociedade Brasileira de Anestesiologia [acesso em 10 fev 2016]. Disponível em: http://www.sba.com.br.
5. Salman FC, Diego LAS, Silva JH et al. Qualidade e segurança em anestesiologia. Rio de Janeiro: Sociedade Bra-
sileira de Anestesiologia, 2012.
6. Duarte NMC, Martins MP, Pires OC. Suporte avançado de vida em anestesia. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira
de Anestesiologia, 2011.
7. Brasil. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime
jurídico das sociedades cooperativas e dá outras providências [acesso em 8 fev 2016]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5764.htm.
8. Brasil. Lei nº 12.690, de 19 de julho de 2012. Dispõe sobre a organização e o funcionamento das cooperativas
de trabalho; institui o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho – PRONACOOP – e revoga o

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