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EDITORES
SBA
Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Rio de Janeiro
2011
Anestesia Venosa Total
Copyright© 2011, Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Diagramação:
Ito Oliveira Lopes
Wellington Luís Rocha Lopes
Capa:
Maria de Las Mercedes G. Martin de Azevedo
Marcelo Azevedo Marinho
Revisão Bibliográfica:
Teresa Maria Maia Libório
Colaboradores:
Maria de Las Mercedes G. Martin de Azevedo
Marcelo Azevedo Marinho
José Bredariol Junior
Rodrigo Ribeiro Matos
Ficha catalográfica
M489 Anestesia Venosa Total
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesiologia/SBA, 2011.
248 p.; 25cm.; ilust.
ISBN 978-85-98632-11-7
Vários colaboradores.
CDD - 617-96
4. MARCOS AGUZZOLI
• Membro Ativo da SBA
• Monitorização
9. Métodos de Monitorização da Analgesia
José Eduardo Bagnara Orosz _____________________________________________ 99
• Situações Especiais
10. Anestesia Venosa Total na Obesidade Mórbida
Ricardo Francisco Simoni _______________________________________________ 109
11. Anestesia Venosa Total no Idoso
Ranger Cavalcanti da Silva ______________________________________________ 119
12. Anestesia Venosa Total nos Transplantes
Ricardo Lopes da Silva e Fábio Amaral Ribas ______________________________ 129
13. Sedação Venosa em Terapia Intensiva
Fernando Antônio de Freitas Cantinho ____________________________________ 137
14. Anestesia Venosa Total em Pediatria
Daniela Bianchi Garcia Gomes, Débora de Oliveira Cumino e
Sérgio Bernardo Tenório_________________________________________________ 153
Introdução
Nossa história começa no ano de 1628, em que William Harvey publicou seu
histórico tratado Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus .1
Na verdade, seu trabalho foi precedido pelos estudos dos anatomistas da Renas-
13
Numa mistura de ciência, religião e magia, ao praticar medicina era usada
uma única palavra para músculos e vasos sanguíneos, pois acreditava-se que am-
bos eram responsáveis pelo movimento e pensava-se que os vasos sanguíneos
carreavam não só sangue mas também outras substâncias, como ar, água, sêmen,
urina e fezes4.
O sétimo século antes de Cristo (a.C.) constitui uma virada fundamental na histó-
ria da humanidade, pois foi nessa época que o homem começou a desenvolver coerên-
cia mental e a construir o método sistemático do argumento para expor ideias, numa
tentativa de explicar todos os fenômenos por causas naturais.
As ciências egípcia e babilônica eram primariamente voltadas para a solução de
questões práticas, sem maiores preocupações éticas. Os gregos, entretanto, elucu-
bravam por prazer, que consideravam a mais alta expressão da alma humana, sendo
a aplicação prática do conhecimento filosófico-científico mera consequência. Entre os
gregos - detentores da mais profunda influência sobre a cultura ocidental -, a fisiologia
e a medicina nasceram da filosofia. Por isso, os primeiros fisiologistas e médicos eram
filósofos-médicos, que realizaram importantes trabalhos de anatomia e de fisiologia, do
sexto século a.C. ao segundo século d.C4.
Para entender de forma coerente a evolução das ideias sobre a fisiologia cardior-
respiratória desde os gregos até os dias atuais, é necessário considerar que, como a
fisiologia nasceu da filosofia - sem experimentação -, todas as teorias sobre o compor-
Anestesia Venosa Total
tamento fisiológico dos seres vivos na antiguidade deviam ajustar-se aos princípios filo-
sóficos que as originaram. Era mais ou menos como “invente primeiro e prove depois”.
Sem a consideração desses aspectos, torna-se extremamente difícil compreender a
evolução do pensamento científico ocidental até nossos dias4.
O primeiro verdadeiro filósofo cientista grego foi Tales de Mileto (645-565 a.C.),
que fez muitas contribuições à matemática, geometria, astronomia e navegação. É
chamado de “pai da ciência” por ser a ele atribuído o início do estudo racional da natu-
reza. Muitos ensinamentos seus são válidos até hoje: “O que é difícil? Conhecer-se a si
mesmo. O que é fácil? Dar conselhos aos outros.” Como vemos, também entendia de
comportamento humano5.
Empédocles da Sicília (495-435 a.C.) acreditava que a respiração se fazia através
dos pulmões e também de todo o tegumento, ideia que Galeno (129-200 a.C.) manteve
até 600 anos depois. Para seus seguidores, o coração era o sítio da vida, concepção
que chegou até nós através de Aristóteles (384-322 a.C.). Era no coração que havia
mais calor, razão pela qual ele e os vasos estão em contínuo movimento. Esse “calor
inato”, intimamente identificado com a alma, era distribuído, pelo sangue, para todas
as partes do corpo a partir do coração. Para acalmar-lhe o fogo da atividade, da ira ou
do medo, os deuses presentearam-lhe os pulmões: o ar inspirado era levado ao coração
pelas veias pulmonares para esfriá-lo. Provavelmente, foi o primeiro a formular a teoria
do fluxo e refluxo (vai e vem) do sangue ao observar vasos seccionados de organismos
vivos4.
Diógenes da Apolônia (499-428 a.C.) foi o primeiro a descrever sistematicamente
o sistema vascular e o pulso arterial, pensando que as artérias continham ar em seu
interior (por isso o nome artéria)4.
14
A Escola Hipocrática
Hipócrates de Cós (460-373 a.C.), o pai da Medicina, foi a figura central do que
é chamado de Escola Hipocrática, que, além dos postulados éticos, começou a dar à
medicina uma conotação de corpo integrado por disciplinas, indo dos diagnósticos ao
tratamento e prognóstico. Provavelmente sua obra é mais reflexo de uma escola do que
de um homem isoladamente. Foi durante o período hipocrático, com seu culto a Asclépio
(Esculápio), deus de uma ordem de sacerdotes-médicos, que a medicina se separou
da filosofia. Foi o primeiro que colocou à prova a concepção racional dos filósofos
ao testá-la por meio da experiência, desenvolvendo o “método hipocrático”, conhecido
como indutivo. A escola hipocrática observava os eventos, mantendo-se cética quanto
ao inverificável, hesitante em teorizar além dos fatos observados, porém pronta para
generalizar a experiência6.
Na seção sobre o coração do livro de Hipócrates, Corpus hippocraticus, repete-se
as idéias de Empédocles, que defende que o coração é a origem do calor animal, sede
de um fogo inato, e que o propósito da respiração é esfriá-lo.
O pai da Biologia
Renascença
15
(libertária humana), cujo renovado interesse pelas ciências e pelas artes desembocou,
nos três séculos seguintes, no método científico moderno, pois a Renascença “produ-
ziu” as melhores cabeças para a investigação da natureza. O pendor para o naturalismo
e o interesse pelas formas do corpo humano, representadas por artistas como Verroc-
chio, Mantegna, Michelangelo e sobre tudo Leonardo da Vinci, deram novo impulso aos
estudos anatômicos4.
Tendo sido eleito o mundo natural como a maior autoridade, representá-lo e inter-
pretá-lo sem amarras era o objetivo da ciência. Em vez de usarem as observações como
“prova” de determinada “verdade” assumida antes, procuraram tirar princípios gerais,
aplicáveis, a partir da observação do comportamento de eventos independentes, muito
raramente provocados, o que é chamado de empirismo. Foi aí que nasceu a ciência
moderna8.
Somente nos últimos 400 anos, religião e ciência se separaram como cami-
nhos do conhecimento. Foi na Renascença que o método científico, baseado em ob-
servação, experimentação, prova, contraprova e expressão matemática, trouxe de
volta a racionalidade à cultura. Diferentemente da religião, em que a verdade aceita
surge revelada como uma explosão ou geração espontânea, exposta através de um
dogma - sem necessidade de ser compreendida -, a verdade científica é muito mais
circunstancial e fluida, baseada em conhecimento acumulado gradualmente, como
uma cadeia de elos sequenciais, detectada pelos sentidos e aceita pela razão. Esse
Anestesia Venosa Total
conhecimento progride devagar e se cristaliza como teoria ou fato novo ao atingir “um
limiar” capaz de ser detectado pelo cérebro mais sensível à sua influência, alguém
capaz de percebê-lo, demonstrá-lo, interpretá-lo, formulá-lo, oferecendo-o ao mundo
de forma sintética e coerente4.
No século XVI, já se encontrava formado o ambiente para que entrassem em
cena os três homens que deram as bases de sustentação e começaram não só a criar,
mas a implantar o método científico moderno: André Vesálio (1514-1564), anatomista
e fisiologista; Galileu Galilei (1564-1642), físico e astrônomo; e William Harvey (1578-
1657), médico e fisiologista4.
16
muscular que separa os dois ventrículos. Um tanto paradoxalmente, Harvey negou pro-
vimento à existência desses septos cardíaco (“poros”), que eram amplamente aceitos,
mas nunca tinham sido vistos, ao mesmo tempo em que postulou a existência de com-
ponentes - os capilares -, que ele também não podia ver9.
Anestesia
17
Só o fez em 1849, quase três anos depois das publicações de William Thomas
Green Morton (1819-1868) 10.
Em 10 de dezembro de 1844, um dentista itinerante chamado Horace Wells
(1815-1848) assistia a uma demonstração com gás hilariante (óxido nitroso) em uma
feira em Connecticut (Estados Unidos), quando um espectador caiu, feriu a perna e
nada sentiu enquanto estava inalando o gás. Wells percebeu as propriedades anesté-
sicas do gás e tentou demonstrá-las em uma sessão pública para estudantes de me-
dicina de extração dentária sem dor. Mas foi malsucedido (o gás foi mal administrado
ou havia algum defeito), já que o voluntário sentiu dor e os estudantes que assistiam
gritavam que era uma farsa. O fracasso o perturbou a tal ponto que o levou ao suicí-
dio, em 1848.
Em 1846, o dentista William Thomas Green Morton fez uma demonstração
para John Collins Warren (1778-1856), um dos mais renomados cirurgiões ameri-
canos do século XIX, e teve melhor sorte na anestesia feita com éter, ministrada
ao paciente Edward Gilbert Abbott, o que mudou para sempre a história da cirur-
gia.
No dia 16 de outubro de 1846, na sala de operações do Hospital Geral de
Massachusetts, em Boston, surgiu, à luz do mundo, a narcose, a anestesia contra
a dor mediante a inalação de gases químicos. Provavelmente não é possível, a um
homem de nosso tempo, compreender a revolução estupenda que se iniciou naque-
Anestesia Venosa Total
Seringa é uma palavra que vem do grego, “syrinx”, e que significa “caniço”. De
acordo com a mitologia grega, Syrinx era o nome de uma ninfa que o deus Pã perseguia
e que ao desaparecer deixou em seu lugar somente caniços de bambu, que se asseme-
lham a uma seringa. Por mais que o conceito de seringa tenha sido descrito por Galeno
(129-199 d.C.), a ideia da seringa é originária do século XV, embora foram necessários
vários séculos para o dispositivo ser desenvolvido11.
Em 1657, foram conduzidos experimentos com seringa - como dispositivo,
pelos ingleses Christopher Wren (1632-1723) e Robert Boyle (1627-1691). Em maio
de 1844, o médico irlandês Francis Rynd (1801-1861) desenvolveu um gotejamento
através de uma agulha para a introdução de drogas na veia, dando base ao início da
criação da seringa. Charles Pravaz (1791-1853), em 1853, desenvolveu, na prática,
a primeira seringa, feita inteiramente de prata, e adaptou a ela a agulha de Rynd.
18
Alexander Wood (1817-1884) foi o primeiro a administrar medicamentos por meio
de uma seringa hipodérmica. Isso permitiu o uso de anestesia venosa pela primeira
vez. Depois dessas invenções originais, surgiram diversas seringas, algumas feitas
de metal combinado com vidro e outras de vidro apenas (como o modelo desenvol-
vido por Wulfing Luer, da França, e elaborado por Becton Dickinson, em 1989). As
primeiras seringas não eram descartáveis, por isso era necessário que fossem este-
rilizadas. As seringas descartáveis começaram a ser utilizadas somente na década
de 196011.
Foram necessários vários séculos, após o surgimento da ideia de uma seringa,
para que esse dispositivo fosse realmente desenvolvido. Com a invenção da seringa,
consequentemente, a introdução de medicamentos no corpo humano se tornou mais
simples, já que antes, para isso, era necessário fazer uma incisão. Atualmente, a se-
ringa e a injeção são bastante utilizadas na prática médica, tornando os procedimentos
mais rápidos e menos invasivos.
Entretanto, foi só em 1872 que Pierre Cyprian Oré de Lyons serviu-se desses no-
vos instrumentos, a fim de produzir anestesia através da injeção intravenosa de hidrato
19
século de esquecimento, foi reintroduzida na prática clínica com sucesso conside-
rável 17.
A introdução de tiopental na prática clínica, em 1934, marcou o advento da mo-
derna anestesia venosa, entretanto os barbitúricos não são indicados para infusões
contínuas, sendo o seu uso restrito ao momento da indução anestésica. Por esse
motivo, novos anestésicos venosos foram introduzidos na prática clínica para oferecer
alguns ou todos os efeitos desejados. Essas drogas foram sendo introduzidas gra-
dualmente, com diferentes graus de aceitação e com um número crescente de com-
postos e métodos de entrega superior ao do tiopental, por isto o uso de anestésicos
venosos continua a crescer18.
O futuro da anestesia venosa envolve o uso simultâneo de vários medica-
mentos, inclusive anestésicos inalatórios. Uma pesquisa realizada por Cohen,
em 1988, mostrou que a mor talidade em 100 mil casos em que uma anestesia
foi usada revela que a prática do uso de drogas anestésicas combinadas pode
ser mais segura que o uso de apenas um ou dois medicamentos isoladamente
e que as chances relativas de morrer em sete dias foi 2,9 vezes maior quando
uma ou duas drogas anestésicas foram utilizadas em vez de três ou mais 19.
Embora seja extremamente difícil interpretar esses dados, o emprego de várias
drogas pode ser benéfico para os cuidados anestésicos. A habilidosa combi-
nação de anestésicos múltiplos venosos não é apenas possível, mas também
Anestesia Venosa Total
preferível 20.
Barbitúricos
Propofol
20
Benzodiazepínicos
Fenciclidinas (ketamina)
Etomidato
21
efeito combinado com outras desvantagens menores (por exemplo, dor durante
a injeção, tromboflebite superficial, mioclonias e alta incidência de náuseas e
vômitos) levou vários editoriais30 a questionar o papel do etomidato na moderna
prática anestésica. O uso da droga diminuiu significativamente após esses mani-
festos, mas tem se expandido por causa do resultado da redescoberta do perfil
fisiológico benéfico do etomidato combinado com a ausência de novos trabalhos
que descrevem significante supressão adrenal após uma dose de indução única
ou em breves infusões.
Agonistas a-adrenérgicos
Intensiva de adultos (CTI) 34. A dexmedetomidina está sendo usada em anestesia fora
dos CTI, em vários cenários, off label (para indicações clínicas diferentes das autori-
zadas), incluindo sedação e analgesia adjuvante na sala cirúrgica, sedação e melhora
de desintoxicação em unidades de internação e para outras aplicações em pacientes
adultos e pediátricos35,36.
Droperidol
22
apresenta as seguintes recomendações: pode ser administrado apenas duran-
te monitorização contínua do eletrocardiograma. Com a retirada do droperidol
em cer tos países e cuidados mais rigorosos relativos à rotulagem de arritmias
potencialmente letais em outros, o uso desse medicamento diminuiu tremen-
damente. A potencialidade do risco de o droperidol, em doses baixas, causar
prolongamento do intervalo QT, arritmias e mor te tem sido contestada por vá-
rios editoriais, ar tigos e car tas que estão revendo os processos que levaram
a essa ação 39,40.
Opioides
23
Os estudos bioquímicos foram realizados para purificar a proteína do receptor
opioide, mas não foram bem-sucedidos. Desde o início dos anos 1990, pesquisas
têm elucidado as estruturas moleculares e os mecanismos de transdução de sinal
dos receptores de opioides. Quatro cDNAs diferentes foram isolados, como membros
da família dos receptores de opioides42. Três deles foram definidos como μ, o e os
receptores K-opioide; o quarto receptor não está vinculado aos ligantes opioides de
alta afinidade. Mais tarde, um elemento chamado peptídeo nociceptina/orphanin FQ foi
identificado como um agonista endógeno do quarto membro da família dos receptores
de opioides43,44.
Os receptores μ estão localizados no cérebro e na medula espinhal 45 e
medeiam uma variedade de efeitos farmacológicos dos opioides. Além disso, a
classificação farmacológica do receptor μ, como μ1, μ2 e μ3, foi proposta. No
entanto, a identidade molecular desses receptores ainda precisa ser esclareci-
da.
A busca por um ligante endógeno que se une ao receptor μ com alta afinidade
e seletividade levou à descoberta de uma classe de novos opioides endógenos deno-
minados endomorphin-1 e endomorphin-246. Esses peptídeos são tetrapeptídeos com
a sequência Tyr -Pro-Phe-Trp e Tyr-Pro-Phe-Phe, respectivamente. Um gene endomorphin
ainda tem de ser clonado, e há muito a ser aprendido sobre a distribuição anatômica,
o modo de interação com receptores de opioides, a função in vivo e a eventual exis-
Anestesia Venosa Total
tência de outros peptídeos que são altamente seletivos para cada um dos receptores
opioides.
Bloqueadores neuromusculares
24
O mivacúrio foi o primeiro bloqueador não despolarizante de curta duração intro-
duzido na prática clínica na década de 199055 e, logo em seguida, foi a vez do rocurô-
nio56, também um bloqueador não despolarizante, só que de duração intermediária, mas
que apresenta rápido início de efeito.
Outros bloqueadores neuromusculares têm sido aproveitados na prática clínica,
desde a utilização do DTC. Entre eles, estão incluídos: pipecurônio, doxacurium, cisa-
tracúrio e rapacurônio. Cada um representou um avanço ou melhoria sobre seus ante-
cessores.
Os bloqueadores neuromusculares devem ser administrados em indivíduos
anestesiados para proporcionar o relaxamento dos músculos esqueléticos. Eles não
devem ser usados para parar o movimento do paciente, porque eles não têm proprie-
dades analgésicas ou amnésicas. A consciência durante a cirurgia57 e na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI)58 tem sido descrita em várias publicações. Os bloqueadores
neuromusculares são adjuntos valiosos para anestesia geral e devem ser usados
como tal.
A droga mais instigante dos últimos 50 anos na farmacologia clínica neuromus-
cular é denominada sugamadex. É o primeiro agente seletivo de ligação dos relaxantes
neuromusculares (“su” se refere a açúcar, “gammadex”, à estrutura da molécula de
ciclodextrina gama) e o mais novo tipo de agente de reversão existente. A combinação
25
derivados do EEG (por exemplo, potenciais evocados auditivos66 ou o índice bispec-
tral [BIS]67).
O desenvolvimento de novas técnicas coincidiu com o de novas drogas. A indução
venosa tornou-se popular com a introdução do tiopental sódico, em 1934. No entan-
to, sua farmacocinética impediu que fosse amplamente empregado na manutenção da
anestesia.
Durante os últimos 50 anos, numerosos hipnóticos venosos (metoexital, 1957;
propanidid, 1957; altesin, 1971; etomidato, 1973; propofol, 1977), ansiolíticos (dia-
zepam, 1966; midazolam, 1978) e analgésicos (fentanil, 1959; cetamina, 1966; su-
fentanil, 1979; alfentanil, 1980; remifentanil, 1996; dexmedetomidina, 1999) foram
introduzidos. A tendência geral para o uso desses novos agentes tem sido fornecer
medicamentos que encurtem o tempo necessário para a recuperação de seus efeitos
Nesse contexto, o propofol e o remifentanil, novos medicamentos por via venosa, pro-
porcionam rápido início da anestesia, fase de manutenção estável e rápida recupera-
ção62.
Os sistemas de administração venosa de anestesia podem ser usados para de-
terminar a dose racional de drogas injetáveis utilizadas na prática clínica. Uma discus-
são mais aprofundada dos princípios de farmacocinética e farmacodinâmica pode ser
encontrada nos próximos capítulos deste livro.
Anestesia Venosa Total
Conclusão
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29
Capítulo 2
Farmacocinética Aplicada
Marcos Antônio Costa de Albuquerque
Introdução
Farmacocinetica Aplicada
variar de subdoses, doses adequadas (aquelas que estão dentro da janela terapêu-
tica) ou sobredoses.
Outro parâmetro que deve ser observado, quando se tem a finalidade de indu-
ção rápida, é que o fármaco escolhido deve ter velocidade alta e tempo de ação curto,
pois desta forma ele chegará ao receptor (sitio efetor – local onde o fármaco age)
mais rapidamente. Entretanto, esse fármaco deve ter pouco ou nenhum acúmulo para
ser eliminado e ao final da anestesia termos poucos ou nenhum metabólito ativo. Por
outro lado ligando-se a vertente da analgesia, impõe-se um planejamento adequado
de analgesia pós-operatória, principalmente se o opióide escolhido for o remifentanil.
Princípios básicos
31
Clearance é a capacidade que o organismo tem de remover o fármaco do san-
gue ou do plasma. É a constante de proporcionalidade que relaciona a velocidade de
remoção do fármaco pela concentração plasmática, representado pelas unidades volu-
me/tempo:
Modelo Unicompartimental2
Modelo Tricompartimental1
32
O terceiro compartimento é o responsável pela captação do anestésico, em geral
lipossolúvel, pois esse compartimento é representado pela gordura. Esse compartimen-
to é o responsável por elevar a probabilidade de acúmulo de fármacos, após infusão
contínua1,2. O propofol possui um elevado volume de distribuição no terceiro comparti-
mento e tem forte tendência a acumular-se durante infusão contínua. Esse problema é
minimizado pela alta velocidade de metabolismo que o propofol apresenta. O fármaco
ideal para infusão contínua, entre outras características, deve ter um pequeno volume
no terceiro compartimento1,2.
Muitos fármacos usados em anestesia comportam-se como modelos de dois ou três
compartimentos. O recebimento e eliminação do fármaco são realizados pelo volume do com-
partimento central, e a distribuição e redistribuição pelos compartimentos periféricos. Inicial-
mente, neste modelo, o fármaco está presente apenas no compartimento central e com o
passar do tempo distribui-se para os compartimentos periféricos. O segundo compartimento
é o que se equilibra mais rapidamente com o plasma, representando o volume periférico rá-
pido; o terceiro é o volume periférico lento1,2. A soma destes volumes constitui o volume de
distribuição em estado de equilíbrio (Vdss). O Clearance central é também conhecido como
metabólico ou de eliminação, e os clearances que ligam os volumes periféricos ao volume
central são denominados de intercompartimentais ou de distribuição. Cada clearance inter-
compartimental é uma constante de proporcionalidade que relaciona o fluxo final de fármacos
para os compartimentos e o gradiente de concentração entre os compartimentos.
Farmacocinetica Aplicada
Assim como os volumes de distribuição não são volumes reais, a concentração
aparente nos volumes periféricos não é necessariamente igual à concentração verdadei-
ra do fármaco nestes locais. Os volumes de distribuição periféricos são determinados
de modo que, em estado de equilíbrio dinâmico, a concentração aparente é igual à
concentração plasmática.
De acordo com a teoria do modelo tricompartimental, o organismo humano pode
ser dividido, para fins didáticos, em três compartimentos distintos nos quais os fár-
macos são administrados. É a partir desse raciocínio que a maioria dos autores tem
descrito a dispersão de um fármaco no organismo. Um dos conceitos mais importantes
em AVT é o da concentração.
Como o fármaco é carreado pelo sangue para cada compartimento corporal, o
fluxo de entrada e saída para cada um desses compartimentos determina a concen-
tração. Portanto, os locais de maior débito cardíaco recebem o fármaco com mais
rapidez e em um primeiro momento. Encéfalo, rins, fígado, baço, coração, pulmões e
glândulas endócrinas são os primeiros locais a receberem os fármacos administrados e
são chamados de compartimento um ou central. Desses locais, os fármacos se distri-
buem para os músculos, denominados compartimento dois e, desses, para a gordura,
denominada compartimento três. À medida que ocorre passagem do fármaco entre um
compartimento e outro, por diferença de concentração, pode-se determinar constantes
de trânsito entre um compartimento e outro.
Quando um fármaco é administrado por meio de uma veia periférica, em uma
determinada dose, em mg.kg-1 ou em µg.kg-1, obtém-se um efeito que será maior ou
menor de acordo com o volume que diluir essa massa. Um efeito desejado ou indeseja-
do depende muito mais da concentração final e livre do fármaco do que da dose inicial
administrada.
33
Quando um fármaco é administrado, cria-se uma concentração em determinado
período de tempo, gerando um efeito. Quando o efeito guarda uma relação estreita
com a concentração, pode-se calcular o regime de infusão necessário para obter-se um
efeito clínico desejado e previamente programado. A limitação da técnica depende da
intensidade do estímulo gerado pela manipulação de cada cirurgião, distorção farmaco-
lógica em manter a concentração prevista próximo da medida real, alterações do volume
do compartimento central, erro na entrega do fármaco por parte da bomba de infusão e
desconexão ou perda do acesso venoso.
Biofase1,2
Histerese
34
a 4,32 meias-vidas do fármaco. Assim, o produto T1/2 Ke0 x 4,32 corresponde
ao tempo de equilíbrio entre o compartimento plasmático e a biofase. O tempo de
histerese do propofol pode ser calculado de acordo com a T1/2 Ke0, que é de 2,4
minutos. Significa que as concentrações plasmáticas e no local efetor de propofol
estarão em equilíbrio, após um regime de administração contínuo, em torno de 12
minutos. Esse tempo será menor para os fármacos cujo T1/2 Ke0 for menor. Dos
opióides, o alfentanil e o remifentanil possuem T1/2 Ke0 de apenas 1 minuto.
São exemplos de opióides adequados para indução rápida. Uma forma de diminuir
o tempo de equilíbrio entre os compartimentos plasmático e efetor é aumentar a
dose de indução utilizada em bolus quando a bomba inicia a infusão. Toda bomba
de infusão alvo controlada (IAC) utiliza um cálculo inicial para administrar a pri-
meira dose de ataque. Essa dose é obtida pelo produto entre o volume de distri-
buição do fármaco, no compartimento central, e o alvo plasmático escolhido pelo
anestesiologista. Assim, quando é determinada uma IAC de propofol, com um alvo
inicial de 4 µg.mL -1, a dose inicial a ser administrada pelo sistema será 4 x Vdss
do propofol. Ou seja: 4 x 17 ou 20 = 68 a 80 µg.mL -1. O Vdss do propofol varia
de acordo com o modelo descrito, entre 17 e 20 litros. A dose de manutenção é
estabelecida por meio de cálculos mais complexos2,5-7.
Meia-vida Contexto-dependente1
Farmacocinetica Aplicada
A meia-vida contexto dependente, ou contexto sensitiva, foi descrita inicialmente
por Hughes em 1992 e determina o tempo para que ocorra a diminuição da concen-
tração plasmática de um fármaco, para a metade do valor em que este se encontrava
durante a infusão, a partir do momento em que a administração for interrompida. A
partir do ponto de equilíbrio entre concentração plasmática e na biofase, é possível
determinar em quanto tempo um fármaco deverá alcançar a metade da concentração
plasmática que ele mantinha, quando a administração foi interrompida. Esse conceito é
muito importante em IAC, pois faz com que um sistema dotado das variáveis farmaco-
lógicas necessárias para esse cálculo possa inferir o tempo de despertar ou de retorno
à ventilação espontânea, de acordo com o cálculo da concentração prevista a cada
momento. As limitações desse cálculo variam diretamente com a margem de erro do
modelo, uma vez que este não mede a concentração diretamente no plasma, apenas faz
uma inferência com base em cálculos matemáticos. Ainda, características do fármaco e
do paciente, bem como a associação com outros fármacos, podem alterar o resultado
clínico observado ou esperado. A meia vida contexto dependente é utilizada para estu-
dar os fármacos em infusão alvo controlada, e incorpora as meias vidas de eliminação,
de distribuição lenta e rápida. Já para a administração de bolus, considera-se apenas a
meia vida de eliminação.
Janela Terapêutica1
35
em 95% dos casos). O conceito de janela terapêutica foi introduzido para explicar que
a dose de fármacos administrados, em anestesia, não deve ser tão elevada ao ponto
dos efeitos colaterais serem tão intensos e nem tão baixa a ponto de aumentar o risco
de não serem suficientes para a ação a que foram propostos. Uma anestesia geral
com hipnóticos e opióides poderá ser realizada por meio de uma grande variedade de
combinações, entre elas: 1) concentração elevada de hipnótico + concentração baixa
de opióide; 2) concentração média de hipnótico e de opióide (efeito sinérgico máximo
entre ambos); e 3) concentração baixa de hipnóticos + concentração elevada de opióide.
Diversos trabalhos descreveram a janela terapêutica para o propofol, quando associado
aos diversos opióides8,9. O pioneiro, talvez, tenha sido um estudo de Vuyk J e col., de
1997, que descreveram a janela terapêutica do propofol, quando associado ao fentanil,
alfentanil ou sufentanil 8. A concentração de propofol, em µg.mL-1 no local efetor, onde
foram descritos os melhores tempos de recuperação, quando ele foi administrado junto
com o fentanil ou alfentanil ou sufentanil, foram, respectivamente, 3,7, 3,5 e 3,3. As
concentrações, em ng.mL-1, de fentanil, alfentanil e sufentanil foram mantidas, respec-
tivamente, em 2,1, 85 e 0,159.
Bolus
Anestesia Venosa Total
36
meia-vida de eliminação com o tempo de ação do fármaco, observado na clínica diária,
não coincide com o que está descrito pela literatura. Por isto, atualmente, recomenda-
se a utilização da meia-vida de eliminação apenas para fármacos utilizados em dose
única ou bolus.
Apesar da necessidade de uma dose de ataque ou de bolus, para produzir o efei-
to farmacológico desejado, em geral a mesma não pode ser calculada baseada no vo-
lume inicial de distribuição do fármaco (que é primariamente o volume sanguíneo), mas
deveria usar o volume aparente de distribuição, o qual representa o fármaco distribuído
para o equilíbrio com a biofase, denotando a necessidade de um volume maior3.
Infusão Contínua1
Farmacocinetica Aplicada
seja alterada, ao acúmulo de fármacos, podendo levar a resultados menos previsíveis.
A segunda, com auxílio de bomba de infusão dotada de um sistema de IAC. Nesse caso,
apenas a concentração-alvo desejada é informada à bomba que, por meio de sistema
computadorizado contendo o modelo farmacocinético do fármaco, controla a dose a ser
administrada de acordo com as mudanças de alvo informadas pelo anestesiologista.
Um modelo farmacocinético é a descrição da identidade do fármaco, pois é ele quem
descreve quais as velocidades de passagem entre os compartimentos corporais, meta-
bolismo e Ke0, entre outras informações.
Considerações Finais
Referências
1. Nora FS – Anestesia venosa total em regime de infusão alvo-controlada. Uma análise evolutiva. Rev
Bras Anestesiol, 2008;58:179-192.
2. Shafer SL, Youngs EJ – Basic of Pharmacokinetics and Pharmacodynamics Principles, em: White PF
– Textbook of Intravenous Anesthesia, 1st Ed, Baltimore, Williams & Wilkins, 1997;10.
3. Sear J – Total Intravenous Anesthesia, em: Longnecker DE, Brown DL, Newman MF et al. – Anesthe-
siology, 1st Ed, New York, McGraw-Hill, 2008;897-957.
37
4. Coetzee JF, Glen JB, Wium CA et al. – Pharmacokinetic model selection for target controlled infusions
of propofol. Assessment of three parameters sets. Anesthesiology, 1995; 82:1328-1345.
5. Shafer SL, Gregg K – Algorithms to rapidly achieve and maintain stable drug concentrations at the site
of drug effect with a computer controlled infusion pump. J Pharmacokinet Biopharm, 1992;20:147-
169.
6. Glass PSA, Shafer SL, Jacobs JR et al. - Intravenous Drug Delivery Systems in Anesthesia, em: Miller
RD - Anesthesia, 4th Ed, New York, Churchill Livingstone, 1994; 389-416.
7. Shafer SL, Schiwinn DA - Basic Principles of Pharmacology Related to Anesthesia, em: Miller RD -
Miller´s Anesthesia, 6th Ed, Philadelphia, Elsevier, 2005;67-104.
8. Vuyk J, Engbers FHM, Burn AG et al. - Pharmacodynamic interaction between propofol and alfentanil
given for induction of anesthesia. Anesthesiology, 1996; 84:288-299.
9. Vuyk J, Mertens MJ, Oolofsen E et al. – Proposal anesthesia and rational opioid selection: determi-
nation of optimal EC50-EC95 propofol-opioid concentrations that assure adequate anesthesia and a
rapid return of consciousness. Anesthesiology, 1997;87:1549-1562.
10. Macquaire V, Cantraine F, Schmartz D et al. – Target-controlled infusion of propofol induction with or
without plasma concentration constraint in high-risk adult patients undergoing cardiac surgery. Acta
Anaesthesiol Scand, 2002;46:1010-1016.
11. White M, Schenkels MJ, Engbers FH et al. – Effect-site modeling of propofol using auditory evoked
potentials. Br J Anaesth, 1999;82:333-339.
12. Struys MM, De Smet T, Depoorter B et al. - Comparison of plasma compartment versus two me-
thods for effect compartment- controlled target-controlled infusion for propofol. Anesthesiology,
2000;92:399-406.
13. Nora FS, Aguzzoli M – Farmacocinética, Farmacodinâmica e Equipamentos, em: Cavalcanti IL, Canti-
nho FAF, Vinagre RCO – Anestesia Venosa, Rio de Janeiro, SAERJ, 2004;307-331.
14. Nora FS – Farmacocinética das Drogas Intravenosas, em: Turazzi JC, Cunha LBP, Yamashita AM et al.
– Curso de Educação à Distância em Anestesiologia, São Paulo, Office Editora, 2002;84-97.
Anestesia Venosa Total
38
Capítulo 3
Farmacodinâmica
Mecanismos de Interação
Farmacodinâmica
• Teoria da ocupação: a alteração conformacional persiste enquanto o sítio re-
ceptor estiver ocupado.
• Teoria de taxa: cada quantum de excitação, ou seja, a cada associação entre
agonista e receptor, se produziria uma mudança momentânea na permeabili-
dade ou no movimento iônico. O mecanismo de abertura de um canal iônico
envolve um complexo macromolecular constituído de uma porção receptora e
uma porção ionófora.
• Uma proposta alternativa sugere que uma mudança conformacional na molécula re-
ceptora resultaria no aparecimento de um canal iônico.
Outras ideias
39
a correspondente à ativação do sistema sob intervenção é denominado agonista parcial.
Mesmo quando um agonista parcial produz sua resposta máxima, o estímulo produzido
não é suficiente para gerar a resposta a ativação máxima potencial do sistema.
Um agonista pleno de grande eficácia produz resposta máxima numa concentra-
ção que não ocupa todos os receptores. Os receptores que assim permanecem deso-
cupados são chamados de receptores sobressalentes (receptores reservas ou spare
receptors). Agonistas plenos altamente eficazes podem produzir resposta máxima ocu-
pando 0,1% dos receptores - uma eficácia da ordem de 10.000.
As várias teorias evidenciam, infelizmente, o atual estágio de compreensão in-
completa sobre a formação do complexo receptor-fármaco e resposta resultante. Algu-
mas teorias são apropriadas para alguns sistemas fármaco-receptores, mas não apro-
priados para outros.
Ri Ra
A
A
40
• Agonistas
Promovem ativação do receptor, ou seja, possuem afinidade com atividade intrín-
seca.
• Ativação plena
• Ativação parcial (entre 0 e 100%, exclusive)
Um agonista parcial (agonista dual) é aquele que atua desencadeando uma res-
posta sub-máxima ao potencial do sistema; por isso pode ser denominado agonista
parcial ou antagonista (agonista dual). Uma vez que a atividade intrínseca (a) é a força
do estímulo farmacológico produzido pela ocupação do receptor, agonistas ativos geram
a=1, agonistas parciais 1>a>0 e antagonistas a=0.
Agonistas ligam-se a seus receptores (Ra) estabilizando-os em estado de ativa-
ção funcional plena ou parcial (complexo molecular Ra+Agonista).
Ri + Agonista (Ag) Ra-Ag
A
Farmacodinâmica
Começa a ficar claro que as relações entre fármaco e receptor podem ser repre-
sentadas tanto através de expressões matemáticas como de gráficos.
Na principal família de gráficos desta etapa, a percentagem do efeito máximo do
efeito de um fármaco é plotada como função do logaritmo da concentração deste. Este
é o procedimento padrão responsável pela clássica morfologia das curvas nos textos de
farmacologia. As vantagens são:
41
Observe abaixo as diferenças:
• Antagonistas
Anestesia Venosa Total
42
• Ligação estável e/ou irreversível
• Quando um antagonista forma uma ligação forte com o receptor, a taxa de dis-
sociação do complexo antagonista-receptor é tão lenta que é virtualmente zero.
Nesse caso, o antagonista é denominado de irreversível e o antagonismo não é
sobreposto pelo aumento na concentração do agonista. O grau de antagonismo
aumenta com o aumento na concentração de antagonista. A população de re-
ceptores disponível para a interação com agonista é reduzida e, portanto, a res-
posta máxima também é reduzida. A ocupação dos receptores pelo antagonista
irreversível pode ser reduzida pela presença simultânea de elevadas concentra-
ções do agonista ou de um antagonista competitivo. Antagonistas irreversíveis
podem ser utilizados para avaliar a afinidade e a eficácia do agonista.
• Antagonista Inverso: impede alterações conformacionais no receptor
Farmacodinâmica
Devemos considerar, atentamente, que as respostas induzidas pelas drogas não são
fenômenos “ tudo ou nada”. O aumento da dose pode elevar a resposta terapêutica e o
risco de toxicidade. Outros fatores em jogo são a interação droga-droga, com resultantes:
• Alteração da absorção
• Inibição do metabolismo
• Facilitação do metabolismo
• Competição para ligação a proteínas
• Alteração da excreção
• Receptores
43
Funções:
1. Acoplamento ao ligante apropriado (domínio de ligação).
2. Propagação do sinal regulador na célula alvo (domínio efetor).
3. Propagação do sinal.
4. Interação do receptor com proteína efetora (sistema receptor-efetor).
5. Proteína efetora: promove a síntese ou liberação de uma outra molécula
reguladora intracelular - segundo mensageiro (cascata catalítica com função amplifi-
cadora).
Do exposto, decorre um dos corolários mais famosos dos textos sobre o tema: o
efeito farmacológico ocorre devido à alteração de um processo fisiológico intrínseco e
não à criação de um novo processo.
Considerados sob prismas fisiológico e farmacológico temos:
• Receptores fisiológicos: interagem com agonistas naturais que carreiam informação
biológica (como p/ex hormônios, neurotransmissores, autacóides etc.) e, portanto,
podem ser estimulados por fármacos agonistas ou inibidos por antagonistas.
• Drogas que interagem com receptores no âmbito de sua função fisiológica
promoverão modulação desta função ao longo do seu espectro de ativida-
de.
• Receptores farmacológicos seriam aqueles que interagem com antagonistas
sintéticos que não carreiam informação biologicamente válida, representan-
Anestesia Venosa Total
Famílias de receptores
44
Tipo 2 - Receptores ligados à proteína G (Figura 2)
• Receptores metabotrópicos
• A proteína G é uma proteína de membrana que consiste em três subunidades
(abg), em que a subunidade a possui atividade GTPase.
• Existem vários tipos de proteína G que interagem com diferentes receptores
e controlam diferentes efetores.
• Alguns exemplos: mAch, adrenorreceptores, GABAB.
Farmacodinâmica
Sistemas efetores acoplados à proteína G (Tabela I)
45
Tipo 3 - Receptores ligados a quinases
nóico
Os receptores são proteínas intracelulares monoméricas
A A A
Ligantes lipofílicos
Atuam através da estimulação ou inibição da transcrição de genes resultan-
do em aumento ou diminuição da síntese de proteínas
46
Segundos Mensageiros (Figura 4)
Farmacodinâmica
de receptores de membrana.
47
1. Pode-se estudar a estrutura intrínseca de um receptor (através da protômica).
Receptores mutantes podem ser criados e comparados em função com os
normais, permitindo estudos detalhados dos mecanismos de interação e o
“projeto” sob medida de fármacos mais específicas e eficazes. Proteínas G e
outros segundos mensageiros podem ser investigados da mesma maneira.
2. A busca ativa de seqüências nucleares específicas (relacionadas às de re-
ceptores já conhecidos por similaridade) pode levar à descoberta de novos
receptores e até mesmo novas famílias de receptores.
3. A interação fármaco-receptor pode ser estudada de forma isolada e específi-
ca. Desta forma novos fármacos podem ser sintetizados bem como pode-se
prever com maior precisão o efeito sob variantes estruturais destes recepto-
res.
Animais transgênicos e com receptores específicos suprimidos por engenharia
genética têm sido de grande valor na elucidação da função de receptores e proteínas.
Como resultado deste segmento de estudos, sabemos agora a localização precisa dos
sítios de ação de numerosos anestésicos. Infelizmente, as vitórias nesta área não se
estendem aos anestésicos inalatórios.
Alguns princípios:
48
Algumas outras definições
• Eficácia
• Capacidade de um fármaco produzir a resposta desejada.
• Potência
• Posição relativa da curva dose-efeito ao longo do eixo de dosagens.
• Usada para comparar compostos dentro das mesmas classes de drogas.
• Tem pouca significância clínica, a menos que a dose seja impraticavelmente
grande ou pequena para ser administrada.
• O mais potente dentre dois fármacos não é necessariamente clinicamente
superior.
• Exemplo: o fármaco L é o mais potente dentre todos; o M é um agonista par-
cial; N é menos potente (Gráfico 6).
Farmacodinâmica
• Concentração Efetiva 50% (ED50)
• Concentração da droga que induz um efeito clínico específico em 50% de
indivíduos.
• Dose Letal 50% (LD50)
• Concentração da droga que induz morte em 50% de indivíduos tratados.
Por fim, alguns fatores que modificam a ação dos fármacos por interferência dire-
ta ou indireta sobre os receptores e seus condicionantes de funcionamento:
49
2- Super-sensibilização: Aumento da sensibilidade a agonistas do receptor após
redução de um nível crônico de estimulação. Ex: propranolol.
Consideraões Finais
• A maioria dos fármacos promove efeitos através de suas ações sobre recep-
tores.
• Existem 04 (quatro) vias de transdução de sinal.
• A interação entre um fármaco e seu receptor pode ser descrita matemática e
graficamente.
• Agonistas apresentam afinidade (kd) e atividade intrínseca (a).
• Antagonistas apresentam apenas afinidade.
• Antagonistas podem ser:
Anestesia Venosa Total
Referências
1. Shafer SL, Flood P, Schwinn DA – Basic Principles of Pharmacology, em: Miller RD - Miller’s Anesthesia,
7th Ed, Philadelphia, Churchill Livingstone, 2010;479-513.
2. Buxton ILO - Pharmacokinetics and Pharmacodynamics, em: Goodman & Gilman’s the Pharmacologi-
cal Basis of Therapeutics, 11th Ed, New Yok, McGraw-Hill, 2006; 1-40.
3. Vuyk J, Engbers F, Groen-Mulder S - On the Study and Practice of Intravenous Anaesthesia, 1st Ed,
Kluwer, 2000; 17-58.
50
Capítulo 4
Sistemas de Perfusão
Marcos Aguzzoli
Fernando Squeff Nora
Conceitos e histórico
Sistemas de Perfusão
novo foco era a administração de líquidos de forma precisa, iniciando pela seringa
e aparelhos movidos pela gravidade, o que levou ao desenvolvimento de bombas
que calculassem a infusão e regulassem a entrega de soluções ou fármacos a
serem infundidos.
Desde então, os sistemas de infusão têm evoluído de maneira importante, e o
advento das bombas de infusão manual e dos acessórios descartáveis nos possibilitou
a administração de medicamentos de forma mais segura e precisa. A evolução destes
sistemas foi em direção às bombas com gerenciamento farmacocinético de fármacos,
também chamadas bombas alvo controladas. Estes sistemas têm por objetivo esta-
belecer uma concentração plasmática no sítio efetor proposto (opióides e hipnóticos),
obedecendo a um modelo farmacocinético de gerenciamento e recalculando de forma
precisa toda a movimentação do fármaco pelos diferentes compartimentos do organis-
mo, sua redistribuição e eliminação, em vez de simplesmente estabelecer uma veloci-
dade constante de infusão.
O futuro parece ter a direção dos sistemas de alvo controle acoplados em
dispositivos de monitorização de atividade cerebral, para determinarmos em que
faixa de adequação anestésica desejamos trabalhar (sistemas de alça fechada).
Além disso, fármacos com características farmacológicas melhor delineadas pode-
rão nos fornecer maior precisão farmacocinética e farmacodinâmica, conduzindo,
assim, a melhorias em termos de precisão, desfecho clínico e segurança do ato
anestésico.
Desta maneira, poderemos enquadrar dentro da categoria de sistemas de per-
fusão: seringas, equipos, extensores, acessórios e bombas de infusão, sendo estas
últimas de maior complexidade.
51
Seringas
Na grande maioria das bombas de infusão que optam por seringas comuns, serin-
gas de vários volumes podem ser utilizadas, e não há restrições a marcas. Podem ser
escolhidas seringas que ofereçam melhor custo, com o objetivo de diminuir os gastos
relacionados aos insumos das infusões.
Em alguns casos, entretanto, algumas seringas apresentam alta resistência ao
avanço do seu êmbolo, o que pode resultar em erros ou paradas da infusão, caso a
bomba de infusão não tenha pressão suficiente para vencer esta resistência. Em algu-
mas bombas de seringa, ajustes de pressão já estão pré determinados para compensar
a resistência da seringa, conforme a marca utilizada, para que não ocorram erros de
infusão.
Equipos
determinada, e raras são as bombas que funcionam com equipos se soro comuns.
Este tipo de equipo acaba por encarecer a infusão da medicação, tanto pelo seu
custo específico, pois a produção é limitada a um tipo específico de aparelho, como
por utilizar dose prime de grande volume, o que determina desperdício de fármaco na
linha de acesso.
Extensores
Acessórios
52
soluções são sempre descartadas, não reaproveitadas entre pacientes diferentes. É
importante ressaltar que válvulas unidirecionais podem não garantir isenção de refluxo
em até 3% dos casos, ou seja, possuem permeabilidade, ainda que pequena. Alguns
dispositivos de três vias têm estas válvulas incorporadas na sua construção.
Torneiras de três vias: São acessórios muito utilizados em anestesia venosa
total. Algumas apresentam um dispositivo de rosqueamento em sua construção, que
torna a sua fixação ao equipo mais segura. O posicionamento das torneiras na mon-
tagem do sistema de infusão poderá refletir maior ou menor gasto de fármacos, bem
como alterações do despertar e desfecho clínico ao término da operação.
Na figura 1 vemos as torneiras montadas juntas, sendo uma para o opióide, uma
para o hipnótico e uma terceira para a injeção de anestésicos adjuvantes e/ou medica-
ções que possam ser necessários, em situações específicas durante o procedimento.
Este tipo de configuração é útil, por exemplo, quando os braços do paciente precisarem
ficar ao longo do corpo, e o acesso não estará sendo visualizado diretamente. É mais
confiável, portanto, que montemos a disposição das torneiras nesta posição, a fim de
que possamos visualizar, caso haja alguma desconexão dos perfusores colocados junto
às torneiras. Em contrapartida, ao término da infusão teremos fármacos acumulados
no conjunto, e é de suma importância lavar o sistema para que não ocorram proble-
mas advindos deste acúmulo no extensor, entre as torneiras e o acesso venoso. Opiói-
des, como o remifentanil, acumulados nesta linha, poderão causar efeitos indesejados,
Sistemas de Perfusão
como bradicardia intensa, tórax rígido ou parada respiratória.
53
Figura 2. Esquema de montagem No 2
Soro + equipo + 1 torneira de 3 vias + extensão + duas torneiras de 3 vias + acesso venoso
Bombas de infusão
As bombas de infusão podem ser divididas de várias maneiras:
54
chida de fábrica, não é necessário aspirar e/ou diluir a solução, diminuindo ou
praticamente eliminando o risco de contaminação da medicação.
Sistemas de Perfusão
marca de seringa a ser utilizada. É importante prestar atenção a este detalhe, mesmo
em seringas da mesma capacidade volumétrica, pois a taxa de infusão poderá variar
conforme o fabricante da seringa devido à resistência do material empregado. Quanto
ao volume, este tipo de bomba pode trabalhar com seringas de 5, 10, 20 ou 50 ml.
55
Bombas de Equipo: Basicamente, o mecanismo de funcionamento pode ser
dividido em bombas de rolete e bombas de peristalse. Raramente estas bombas usam
um equipo de soro comum, sendo utilizados dispositivos específicos para cada uma.
Esta peculiaridade acaba encarecendo o sistema, e fazendo com que ultrapasse o pre-
ço de uma infusão alvo controlada, mesmo em sistema fechado. É típico deste tipo de
equipo uma dose de preenchimento generosa, o que acarreta um gasto de medicação
importante.
Com o advento das bombas de alvo controle, bombas de seringa começaram a
ser oferecidas comercialmente em escala mais larga, e por diversos fabricantes, com
ou sem alvo controle, o que facilitou muito a vida do anestesiologista, por serem bem
mais práticas para uso em bloco cirúrgico e também por diminuírem os custos.
Há pouco tempo atrás, as bombas de seringa no Brasil não chegavam a 5 por
cento do total de bombas de infusão disponíveis. Na América do Norte correspon-
diam a 30 por cento, enquanto na Europa, onde houve a criação dos sistemas de in-
fusão alvo controlada, perfaziam um total de 60 por cento dos aparatos disponíveis
para infusão de fármacos.
As bombas de equipo são mais úteis para administração de medicamentos
em unidade de terapia intensiva; para uso em bloco cirúrgico, têm espaço para ad-
ministração de substâncias vasoativas, ou controle fino na infusão de soluções para
pacientes críticos ou com idades extremas. Já as bombas de seringa são mais úteis
Anestesia Venosa Total
56
6. Deve prover alarmes relacionados a tamanho, fabricação incorreta, mau
posicionamento ou esvaziamento das seringas, situações de baixa pres-
são e oclusão do sistema, além de detecção de baixa carga de bateria e
mau funcionamento do mecanismo interno da bomba.
7. O aparelho deve fornecer informações relacionadas a todos os modos de
função, como a quantidade de substância infundida, velocidade de infusão,
dose total administrada e mensagens de alerta.
8. O sistema deve ser capaz de logar os dados de infusão, e ser controlado por
um computador em local remoto.
1. Bombas de infusão alvo controladas, tanto para hipnóticos como para opi-
óides.
2. Extensores de equipo de diâmetro semelhante ao equipo de soro, para pro-
ver acesso rápido de fluídos.
3. Uso de, pelo menos, 3 torneiras de 3 vias, sendo uma para hipnótico, outra
para opióide e uma terceira para administração de medicamentos coadjuvan-
tes do ato anestésico.
4. Posicionamento das torneiras de hipnótico e opióide próximas ao acesso
Sistemas de Perfusão
venoso, para evitar resíduos de medicação no sistema de perfusão após o
término da infusão.
5. Uso de perfusores de diâmetro reduzido, para conectar as bombas de infusão
às torneiras de 3 vias, otimizando, assim, a administração dos fármacos.
6. Boa fixação do acesso venoso, com adaptação firme e segura entre os com-
ponentes de infusão, de preferência com conectores de tipo luer-lock.
7. Visualização contínua das conexões, como medida de segurança, no caso de
haver desconexões involuntárias durante o ato cirúrgico.
Referências
57
Capítulo 5
Introdução
59
Definição de modelo farmacocinético
60
o modelo farmacológico nelas incorporado gerando economia através da otimização de
fármacos provenientes de outros compartimentos diferentes do plasma ou do local de
ação. Durante a fase de recuperação, momento em que a concentração do fármaco é
maior no terceiro e segundo compartimentos, as bombas diminuem as taxas de infusão
a fim de utilizar, através do gradiente de concentração, fármaco destes compartimentos
que serão transferidos para o plasma e daí para o compartimento de ação. Quando a
concentração da bomba de infusão é diminuída, ela automaticamente interrompe a infu-
são, para somente depois de estabelecido o novo ponto de equilíbrio, re-iniciar a infusão
com uma nova taxa de administração. As bombas calculam estes tempos e as doses de
acordo com os modelos farmacológicos nelas incorporados. Importante salientar que
nenhuma bomba de infusão alvo controlada pode fazer a medida direta da concentração
plasmática do fármaco, a informação que elas disponibilizam é apenas o resultado da
aplicação de um modelo matemático testado em uma série populacional e em situações
clínicas diversas. Portanto, qualquer modelo de infusão apresenta uma margem de erro
que é a diferença entre a concentração prevista pelo equipamento e a concentração
real que seria obtida através da dosagem direta do medicamento presente no paciente.
Como a inferência destes modelos depende de diversos fatores associados a situações
61
contínua e nas populações dos pacientes nas quais os modelos estão sendo
testados 4,5.
D) Seleção das concentrações alvo: A seleção da concentração alvo deve ser bem
estabelecida, de acordo com cada um dos desfechos clínicos desejados e observados a
cada momento, tais como perda do contato verbal, perda do reflexo palpebral, etc4,5.
E) Seleção do tempo para alcançar a concentração alvo: A determinação do tem-
po para um fármaco alcançar a concentração alvo deve ser determinada de forma clara
pelo modelo, pois esta variável é determinada diretamente pelas informações contidas
dentro do modelo farmacocinético desenvolvido. Assim, as faixas de concentrações alvo
recomendadas devem partir de estudos realizados nas diversas situações clínicas nas
quais as doses são recomendadas. Anestesia mais profunda ou mais superficial, du-
rante sedação ou anestesia geral, com ventilação controlada ou espontânea, bem como
tipo de paciente, idoso ou jovem, debilitado ou não. O tipo de cirurgia deve ser descrito
para a determinação de uma concentração alvo desejada estabelecendo-se o um cri-
tério de utilização de um determinado alvo para cada evento per-operatório tais como:
incisão, intubação orotraqueal, fechamento da pele, tração peritoneal, esternotomia e
tração de vísceras. Ainda, o tempo para alcançar uma concentração alvo determinada
deverá ser titulável e controlável de acordo com a necessidade clínica4,5.
F) Seleção da concentração de despertar: A determinação da concentração de des-
pertar deve ser informada para este modelo de acordo com estudos populacionais grandes
Anestesia Venosa Total
De acordo com Varvel e col6. a performance de erro (PE) de cada modelo modelo
farmacocinético, para cada fármaco, pode ser determinada utilizando-se a fórmula que
segue:
PE(%) = Cm – Cp/Cp x 100*
62
3. Wobble
4. Divergência
63
Fase intermediária (25 – 120min):
MARSH: Subestima a concentração medida (CM)
WHITE, SCHUTTLER e SCHNIDER: Apresentam valores muito próximos da CM
alvo controlada.
64
• Com o PROPOFOL / MARSH (DIPRIFUSOR), a MDPE é normalmente po-
sitiva. Deve-se esperar, então, concentrações medidas maiores do que as
indicadas pela bomba.
• Com o REMIFENTANIL / MINTO, a MDPE é normalmente negativa. Deve-
se esperar, então, concentrações medidas menores do que as indicadas
pela bomba.
65
anestesia venosa total. A mudança do paradigma, através da introdução dos conceitos
de concentração plasmática em anestesia venosa total, ao invés da monitorização da
massa total de fármacos utilizados em função do peso foi decisiva para o entendimento
e avanço dos conhecimentos farmacológicos necessários para a utilização de modelos
farmacológicos em anestesia venosa total alvo controlada. Modelos dotados inicialmen-
te de controle do alvo plasmático, passaram a incorporar a variável Ke0 e, com isto pu-
deram oferecer aos usuários a possibilidade de monitorizar e controlar a concentração
no local efetor ou sítio de efeito.
Novos sistemas, chamados “abertos ou Open TCI” foram avaliados e lançados
no mercado para uso clínico em diversos tipos de equipamentos. Estes sistemas são
chamados “abertos” porque incorporam modelos farmacocinéticos de propofol e de ou-
tros medicamentos para utilização com qualquer apresentação farmacológica, diferen-
temente do Diprifusor®, que aceita apenas um tipo de seringa previamente preenchida
a 1 ou 2% de 50ml com uma única apresentação disponível.
Os novos sistemas de infusão, dotados de modelos farmacocinéticos abertos,
podem ser utilizados com uma ampla variedade de concentrações, com seringas que po-
dem variar de 10 a 50ml e de qualquer apresentação ou fabricante. Obviamente, estes
sistemas foram apresentados ao mercado com a promessa de serem de menor custo,
em comparação com as apresentações até então disponíveis, uma vez que permitem a
utilização de, por exemplo, propofol genérico.
Anestesia Venosa Total
Diferenças entre infusão alvo controlada pelo local efetor versus plasma
66
tempo de histerese entre as concentrações no plasma e no local efetor. O equilíbrio
entre o plasma e o local efetor é estabelecido por um tempo de retardo entre as duas
fases e é determinado pelo tempo que um fármaco leva para sair do compartimento
plasmático e penetrar no local efetor. A velocidade com que um fármaco é transferido
do plasma para o local efetor depende de diversos fatores, entre eles, o débito cardí-
aco e o fluxo sanguíneo cerebral ou de outros órgãos alvo. Propriedades farmacológi-
cas também interferem no tempo de transferência de um fármaco do plasma para o
local efetor, tais como, solubilidade e grau de ionização. O tempo de equilíbrio entre
local efetor e plasma pode ser descrito como uma equação matemática de primeira
ordem tipicamente quantificada e determinada como Ke0. Na verdade, este termo
se refere à saída do fármaco do compartimento de ação ou local efetor, mas como
o compartimento de ação representa um volume tão pequeno, costuma-se referir o
Ke0 como uma variável de velocidade de entrada e não de saída do compartimento
central. Como se não precisássemos de fato saber o quanto de fármaco entra ou sai
do compartimento de ação, uma vez que, por causa do negligenciável volume deste
compartimento, o equilíbrio entre a quantidade de fármaco que entra e sai é instan-
tâneo a cada momento. Por isto, o Ke0 é interpretado como a velocidade na qual um
67
Assim, os sistemas de infusão alvo controlados incorporam modelos farmacoci-
néticos de infusão que podem determinar aumentos e diminuições, ou seja, respostas
mais rápidas ou mais lentas, de acordo com a magnitude de alterações das concentra-
ções plasmáticas cada vez que o anestesiologista regula um novo alvo no local efetor.
Quando uma bomba de infusão está equipada com um modelo que altera a concentra-
ção no local efetor de forma mais rápida, seja para cima ou para baixo, significa dizer
que a magnitude de alteração das concentrações plasmáticas gerenciadas pela bomba
será maior tanto para cima quanto para baixo. Na prática, quando o anestesiologista
aumenta o alvo da concentração no local efetor em um sistema dotado de um modelo
de alterações mais rápidas, a concentração plasmática gerada pela bomba será maior.
Estas alterações da forma de infusão e a maneira como o sistema calcula o overshoot
ou sobredose a ser administrada, a fim de alcançar a concentração no local efetor mais
rapidamente ou mais lentamente, dependem do Ke0. Se um Ke0 lento ou menor é utili-
zado, há necessidade de aumentar a sobredose ou overshoot do pico de concentração
plasmática, necessária para criar um gradiente de concentração entre local efetor e
plasma, suficientes para o alvo no local efetor desejado e regulado pelo anestesiologis-
ta. Quando uma infusão de propofol, utilizando o modelo de Marsh é realizada com Ke0
de 0,26, o pico de concentração plasmática é maior quando comparado ao Ke0 de 1,2.
Da mesma forma, o equilíbrio entre concentração plasmática e local de efeito ocorre
mais lentamente quando o Ke0 é menor ou mais lento(0,26).
Anestesia Venosa Total
68
O modelo de Schnider incorpora um Ke0 de 0,456min e foi desenvolvido a partir de
uma combinação de modelos de farmacocinética e farmacodinâmica, a fim de melhorar
a correlação clinica entre uma infusão e o seu efeito. Assim, o pico de efeito também
é capaz de ocorrer em 1,69min. Compartimentos V1 e V3, no modelo de Schnider
são fixos, enquanto o tamanho de V2 é influenciado e muda de acordo com a idade.
Assim, o modelo de Schnider diminui o volume do segundo compartimento à medida
que a idade do paciente avança. Isto significa que o modelo de Schnider determina a
mesma dose em bolus inicial para todos os pacientes, independente da idade, peso e
altura. Mas a taxa de declínio da infusão de manutenção será determinada pela idade
do paciente e será menor quanto maior a idade do paciente, uma vez que o volume de
distribuição com segundo compartimento é alterado de acordo com a informação que
o sistema recebe da idade do paciente. A diferença é que o modelo de Marsh muda
a dose do bolus inicial de acordo com o peso, ou seja, quanto maior o peso, maior a
dose em bolus inicial. Isto não ocorre com o modelo de Schnider. Ainda, no modelo de
Schnider há um ajuste do K10, que é uma variável de eliminação do fármaco e que é
determinado pelo peso corporal total, altura e índice de massa magra, mas não pela
idade. Isto faz com que o sistema que inorpora o modelo de Schnider possa compensar
O curso de tempo que estima a concentração no local efetor pode ser calculado
a partir de um efeito clínico mensurável. Estudos que correlacionam a concentração
plasmática e no local efetor com um efeito clínico podem ser realizados em uma po-
pulação após a administração de um bolus, de uma infusão contínua ou de ambos.
O resultado disto é a criação de um modelo que combina aspectos farmacocinéticos
e farmacodinâmicos. Quando dados farmacocinéticos e farmacodinâmicos não estão
disponíveis utiliza-se um modelo independente de parâmetros chamado “Tempo para o
pico de efeito” (TTPE) que é utilizado com a função de estimar um Ke0 para um grupo de
pacientes em um modelo farmacológico. Após qualquer dose em bolus de um fármaco,
o efeito clínico máximo ocorrerá quando a concentração no local efetor for máxima. O
efeito será máximo quando a concentração no local efetor cruzar o ponto máximo da
queda de concentração no plasma. Quando o modelo de tempo para o pico de efeito é
utilizado, existe a determinação de vários Ke0 para cada estimativa da concentração no
sítio de efeito. Quando o Ke0 estimado é menor, há uma menor concentração no local
efetor e o pico máximo de ação ocorre em tempo mais longo, comparativamente quando
o Ke0 observado é maior. A desvantagem de um sistema que utiliza este método de
estimativa do Ke0 é que o mesmo depende da observação do efeito máximo para a sua
determinação. Quando o Ke0 de 0,27 min é utilizado, o efeito máximo ocorre quando a
concentração no local efetor se iguala à plasmática, no cruzamento entre ambas, que
ocorre em torno de 0,6mcg.ml e em 90 segundos. Quando o efeito máximo ocorre com
69
Ke0 de 0,38seg, há a geração de uma concentração plasmática e no local efetor em
torno de 0,5mcg.ml e em 100 seg. Já quando o Ke0 gerado a partir da observação do
efeito máximo é de 0,47min, a concentração plasmática e no local efetor se igualam
quando as mesmas são de 0,4mcg.ml e com 120segundos. Ou seja, Ke0 menor gera
concentração máxima para o pico de efeito menor e em um tempo mais longo. Ke0
maior gera concentrações plasmático e no local efetor maiores e mais rapidamente para
gerar o efeito máximo observado.
Desta forma, a Asena PK utiliza um modelo de infusão onde o tempo para o
alcance do pico de concentração máxima é fixo, gerando um único Ke0 para cada
paciente. A Base Primea, por outro lado, utiliza um Ke0 fixo (0,456min), o que resul-
ta em um tempo diferente para cada paciente para que ocorra o alcance do pico da
concentração.
A fórmula que segue é utilizada pelas bombas de infusão para alterar o alvo,
quando este é regulado pelo anestesiologista.
Dose em bolus(mg) = (Cp do novo alvo - Cp alvo antigo) x V1 / concentração fár-
maco na seringa
Anestesia Venosa Total
70
zado no modo de controle pelo local efetor na Base Primea, para alcançar 4mcg.ml, o
sistema irá administrar 98mg para um homem de 70kg, 40 anos e 170cm9.
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71
Capítulo 6
A interação entre dois ou mais fármacos pode revelar seus mecanismos de ação.
Vários estudos publicados destacam esta interação e efeitos clínicos dos fár-
macos anestésicos, como hipnose, imobilidade e analgesia. Hendrickx e col., em sua
revisão sobre a interação entre anestésicos, classificaram a interação produzida entre
duas drogas anestésicas como sinérgica, aditiva, infra-aditiva, sucessivamente, quando
o seu efeito combinado excede, iguala ou é menor que a soma dos efeitos das drogas
73
individualmente (Figura 1).4 Interações de fármacos que agem em um mesmo sítio de
ação habitualmente produzem um efeito aditivo. Os efeitos sinérgicos são decorrentes
de mecanismos e sítios de ação diferentes. Aproveitando-se destes conceitos, esta
interação nos permite o uso de doses menores de cada droga, potencializando seus
efeitos anestésicos e diminuindo seus efeitos colaterais. Isto nos proporciona uma re-
dução de custos e um aumento na segurança e conforto ao paciente.
Anestesia Venosa Total
Figura 1. Isóboles demonstrando efeito aditivo (vermelho), efeito sinérgico (azul) e efeito infra-aditivo (verde).
D1 e D2 são doses isoefetivas de duas drogas administradas isoladamente. E a administração destas duas
drogas em combinação de doses (d1 e d2) para atingir o mesmo efeito.
74
• Interações farmacocinéticas entre propofol e opióides
75
cia substancial na farmacocinética do propofol e dos opióides quando o débito cardíaco
foi mantido em valores fisiológicos.
76
ram observar a influencia do propofol nas doses de alfentanil na prevenção da resposta
ao estímulo nóxico28 e a influencia do alfentanil sobre doses ajustadas de propofol para
determinar as concentrações de propofol associadas com retorno da consciência, re-
dução de 10% na pressão arterial e freqüência cardíaca.29 Pavlin e col. relataram uma
redução de 46% (6.1 para 3.3µg.mL-1) na Cp50 de propofol com a co-administração de
alfentanil na presença de óxido nitroso.30
O grupo de Vuyk, utilizando simulações de computador, extrapolou os dados do seu
estudo da interação propofol/alfentanil para os outros opióides, sendo capazes de publicar
as combinações ótimas entre propofol e os outros opióides, não prevenindo apenas a res-
posta ao estímulo nóxico em 50% e 95% dos pacientes, mas também resultando em uma
recuperação mais rápida da anestesia.31 Estudos clínicos como o de Hentgen e col., também
buscando determinar a concentração ótima de propofol e sufentanil, para estabilidade hemo-
dinâmica, hipnose adequada e tempo de recuperação, também estão presentes na literatura,
comprovando-se que a concentração alvo de propofol necessária durante a cirurgia diminuiu
significativamente com o aumento da concentração de sufentanil.32 Da mesma forma, o fenta-
nil, um dos opióides mais utilizados na prática anestésica na concentração plasmática de 1ng.
mL-1, reduz a concentração de propofol necessária para bloqueio da resposta à laringoscopia,
intubação e incisão na pele em cerca de 31-34%. Concentrações de 3ng.mL-1 reduzem as
concentrações necessárias para os mesmos efeitos em 50 a 55%.18 Kazama e col. relataram
Figura 2. Os fármacos associados apresentam curva dose x resposta sigmoidal, como se fossem um novo
fármaco.
77
O response surface model busca simular as concentrações-alvo de cada um dos
fármacos, necessárias para produzir uma resposta clínica adequada (Figura 3).
Figura 3. Response surface model demonstrando a interação entre dois fármacos e as concentrações plas-
máticas efetivas (Cp25, Cp50, Cp75, Cp95).
Anestesia Venosa Total
Com este método faz-se um paralelo entre as mudanças de dose dos fármacos
e suas curvas de resposta, permitindo uma caracterização completa das interações far-
macodinâmicas. Utilizando-se a morfologia destas curvas de interação, podemos definir
se o efeito é sinérgico, aditivo ou infra-aditivo (Figura 1). Fidler e col. notaram que o nível
de interação é relativa entre o propofol e o remifentanil, sendo menor para sedação do
que para inibir a resposta à laringoscopia, e propuseram um modelo de interação flexível
entre fármacos para seus efeitos farmacodinâmicos.36 Este modelo nos permite pensar
que as combinações de doses podem ser feitas de forma assimétrica entre dois ou
mais fármacos, e desta forma fica demonstrado como pode variar desde uma interação
máxima até ausência de interação.
A monitorização instrumentada da profundidade anestésica, utilizando-se o índice
bispectral (BIS), tem sido cada vez mais utilizada. O efeito dos opióides associados ao
propofol sobre este índice ainda não foi definitivamente estabelecido. Estudo avaliando
a influência do fentanil, alfentanil, remifentanil e sufentanil em concentrações analgé-
sicas sob infusão alvo-controlada sobre o BIS, monitorando concentração no sítio de
efeito do propofol e valores do BIS, concluiu que a relação entre a concentração de
propofol no sítio de efeito e BIS foi preservada com ou sem opióides. Na presença de
um opióide, o momento de perda da consciência ocorreu com uma menor concentração
de propofol no sítio de efeito e um maior BIS50 (valor associado com 50% de probabili-
dade de perda de consciência), comparado com placebo.20 Embora clinicamente o efeito
hipnótico do propofol seja aumentado por concentrações analgésicas de opióides m-ago-
nistas, o BIS não mostrou este aumento de efeito hipnótico.20,21,32 Existem possíveis ra-
zões para o BIS não revelar a interação entre propofol e opióides, como a probabilidade
de que estruturas não corticais, indetectáveis pelo EEG, como o lócus cerúleos, estejam
envolvidas no mecanismo de efeito da droga.37
78
Em seu estudo, Nieuwenhuijs e col. verificaram que o índice bispectral é sensível
ao propofol, mas não ao remifentanil, mesmo quando estes agentes são combinados.24
Estão ainda em desenvolvimento métodos de aferição que integrem a potência de um
hipnótico e um opióide, para suprimir de modo sinérgico e compartimentalizado a res-
posta ao estímulo nóxico, o que pode reduzir o consumo de opióides, com consequente
maior estabilidade hemodinâmica e menor incidência de efeitos adversos.38,39
• Escolha de fármacos
79
de curta duração. Porém pacientes submetidos a procedimentos ambulatoriais devem ser ana-
lisados de uma forma distinta de pacientes sob sedação prolongada em UTI. Por exemplo, pa-
cientes que permanecerão em intubação traqueal prolongada, objetivando-se uma emergência
progressiva da anestesia, e um nível de analgesia significativa de longa duração, teriam no fen-
tanil uma boa escolha, inclusive com custo mais baixo. Para procedimentos de curta duração, a
meia vida contexto dependente do alfentanil, sufentanil e fentanil são muito próximas, não tendo
diferença substancial na redução em 50% da sua concentração plasmática.
A seleção racional das doses apropriadas de propofol-opióide é em grande parte
dependente da farmacocinética do opióide. Porque o fentanil e seus congêneres po-
dem ser vistos como farmacodinamicamente similares em muitos aspectos, mas com
importantes diferenças farmacocinéticas, sendo o tempo de retorno à consciência de-
pendente, predominantemente, do opióide escolhido e da duração da infusão. Devemos
lembrar que nem sempre uma redução de 50% da concentração plasmática (meia vida
contexto-dependente) é o suficiente para determinado efeito clínico, como retorno à ven-
tilação espontânea. Então, fármacos como o sufentanil nos dão uma margem de erro
menor do que o remifentanil por exemplo, podendo causar um despertar prolongado
associado a uma maior depressão da ventilação.32
Na administração de opióides de mais longa duração (fentanil, sufentanil e alfen-
tanil), é prudente utilizar menor concentração alvo de opióide e maior concentração alvo
de propofol, o que poderíamos chamar de uma técnica hipnótica, porque a farmacoci-
Anestesia Venosa Total
80
Mertens e col. ainda sugerem que, com a associação propofol/remifentanil em
cirurgias sem bloqueio neuromuscular significativo, pode-se utilizar concentrações alvo
de propofol relativamente mais baixas com concentrações relativamente altas de remi-
fentanil.
Tratando-se de cirurgias em que o bloqueio neuromuscular completo e um plano
anestésico mais profundo são necessários, advoga-se o uso de concentrações de pro-
pofol mais elevadas para reduzir o risco de consciência intra-operatória.23 A associação
de medicação pré-anestésica e monitorização do índice bispectral aumenta a margem
de segurança de uma boa hipnose.
Em resumo, a escolha racional da associação propofol-opióide, e de suas res-
pectivas dosagens e interações, passa pela avaliação completa de todas as variáveis,
como as condições clínicas do paciente, a natureza do procedimento e a realidade
macroeconômica da instituição, o que, certamente, contribuirá para a otimização do
resultado final do procedimento anestésico.
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Capítulo 7
Bloqueadores Neuromusculares Em
Anestesia Venosa Total
Maria Cristina Simões de Almeida
83
relaxantes9, autores não conseguiram demonstrar clinicamente uma potencialização do
cisatracúrio com lidocaína administrada em infusão continua10. Recentemente, no intui-
to de prolongar a acinesia para cirurgias de catarata, tem sido associadas pequenas
doses de BNM aos anestésicos locais em bloqueio retrobulbar11,12. No que tange ao su-
gammadex, testes em laboratório com cerca de 300 medicações usualmente prescritas
na clínica, só se mostrou significativa a interação com a flucloxacilina, o ácido fusídico
e o toramifeno, com capacidade de deslocamento da droga e com potencial dificuldade
de reversão13. Algumas interações medicamentosas figuram na tabela II.
Anestésicos venosos 20
Antibióticos 21
B Bloqueadores 22
Bloqueadores de canal 23,24
de cálcio
Além de suas ações nos músculos, estes fármacos também apresentam efeitos co-
laterais sistêmicos. Os mais graves estão relacionados à administração de succinilcolina, e
desses, pode-se citar a hipercalemia fatal na presença de algumas doenças neuromuscula-
res25,26. Igualmente importante é o desencadeamento de Hipertermia Maligna em pacientes
susceptíveis, e de recuperação prolongada no caso de alterações genéticas ou adquiridas da
colinesterase plasmática26,27. A succinilcolina tem um perfil único de rápida instalação e rápi-
da reversão, mas em decorrência dos efeitos indesejáveis, tem sua indicação basicamente
restrita às emergências médicas, como por exemplo no laringoespasmo, e no caso de pro-
cedimentos em pacientes com estômago cheio26. Alguns autores ainda a recomendam para
pacientes obesos mórbidos, na dose de 1mg.kg-1 calculado pelo peso real28.
Os efeitos cardiovasculares e pulmonares são praticamente insignificantes com
os BNM adespolarizantes mais recentes, mas quando observados, vê-se que são
devidos à liberação de histamina ou devidos aos efeitos vagais, registrados com os
compostos benzilisoquinolínicos e esteroidais respectivamente26,29,30. A liberação de
histamina está associada à injeção rápida e os efeitos vagais não guardam relação
com a velocidade da injeção, mas estão associados a doses elevadas dos relaxantes
esteroidais29,31-42.
84
As reações de hipersensibilidade são raras, e estatisticamente mais registra-
das com a succinilcolina e com o rocurônio, embora já tenham sido descritas com todos
os tipos de relaxantes, inclusive com o novo agente reversor, o sugammadex43-51. Pelas
características químicas das moléculas dos BNM, observa-se na maioria das vezes, a
reação de hipersensibilidade como resultado de uma reação cruzada com alimentos,
corantes ou com outros fármacos52. Recentemente foi publicado um interessante caso
de anafilaxia com rocurônio, cujos efeitos hemodinâmicos foram atenuados com a in-
jeção de sugammadex, colocando esta última droga como um possível adjuvante no
tratamento das reações anafiláticas com o rocurônio53.
Os BNM na Anestesia Venosa Total (TIVA) podem ser administrados basicamente
de 2 formas: em “bolus” e doses intermitentes, ou em infusão contínua. Para ambas
formas, se faz necessário ajustar as doses de acordo com a contração muscular regis-
trada no monitor da TNM. Para evitar a paralisia prolongada no período pós-operatório,
recomenda-se o uso da menor dose possível que promova o relaxamento adequado para
o tipo de cirurgia em questão3.
85
custos ao paciente e à instituição. Dentre as complicações pode-se salientar a diminui-
ção da resposta ventilatória à hipóxia e as alterações da deglutição nas fases precoces
da recuperação da anestesia59-63, assim como o aumento de infecções pulmonares no
período pós-operatório tardio64.
A monitorização subjetiva ou testes clínicos podem diminuir o risco do bloqueio
residual, mas não apresenta confiabilidade na detecção de graus pouco intensos de
curarização residual65,66. Assim, esse diagnóstico deve ser feito invariavelmente de for-
ma instrumentada com monitores da TNM que apresentem a forma de estimulação de
“train-of-four”(TOF)26,67,68.
Aceita-se hoje como recuperação da função neuromuscular, quando o valor de
TOF está 0,9 65,67,69. No entanto, mesmo com este grau de recuperação, alguns pa-
cientes ainda mostram sinais de comprometimento faríngeo ou da função respiratória
26,70-74
.
A reversão do relaxamento é obtida de duas formas: espontânea ou induzida.
Esta última pode ser obtida com os anticolinesterásicos, como a neostigmina, a piri-
dostigmina ou o edrofônio, ou se o relaxante for do grupo esteroidal, com o sugamma-
dex75,76. A dose do fármaco elegido para reversão, seja os anticolinesterásicos ou o
sugammadex, depende diretamente da profundidade do relaxamento69. Para neostig-
mina, a dose recomendada deve ser de até no máximo 60-80g.kg-1 e para o sugam-
madex de até 4mg.kg-1, embora doses mais elevadas já tenham sido empregadas77,78.
Anestesia Venosa Total
É preciso salientar que, graus profundos de relaxamento não devem ser revertidos
com neostigmina79. E é esta uma das grandes vantagens do sugammadex em relação
aos anticolinesterásicos convencionais, que inclusive pode mudar a “classificação” do
rocurônio como BNM de ação intermediária. Igualmente especula-se que, pela reversão
rápida do rocurônio mesmo em graus profundos de bloqueio, o binômio rocurônio e su-
gammadex possa substituir a succinilcolina em algumas situações80.
O sugammadex, uma variante da gama-ciclodextrina, forma um complexo na
relação de 1:1 com a molécula livre no plasma do rocurônio, e em menor grau com
a o vecurônio e pancurônio, revertendo o relaxamento de forma rápida, mesmo em
graus profundos de bloqueio neuromuscular75,77,81,82. Este complexo também engloba
outros componentes endógenos, como os glicocorticóides, hormônios sexuais e a
aldosterona, assim como a atropina, o verapamil, mas numa afinidade 700 vezes
menor do que aquela observada para as moléculas do rocurônio83. No que tange
às alterações sanguíneas após uso desse reversor, foram registrados aumentos da
glutamil-transferase e aspartato aminotransferase 84,85. Este complexo é eliminado
pelos rins86, mas na insuficiência renal, a forma de eliminação do complexo ainda não
está esclarecida69,87.
Efeitos colaterais têm sido registrados com os anticolinesterásicos, desde sia-
lorréia, até disrritimias cardíacas graves e parada cardíaca88,89. Com o sugammadex, os
efeitos colaterais até agora observados não mostram grande significação clínica.
O desenvolvimento do sugammadex é a maior inovação em anestesia dos últimos
anos, e os resultados apresentados são muito positivos77, mas a despeito dos excelen-
tes relatos, é preciso cautela, pois como bem citou J.M. Hunter, “…nós esperamos os
quase inevitáveis efeitos colaterais: não existe droga perfeita” 83.
86
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Anestesia Venosa Total
90
Capítulo 8
Introdução
91
Com relação ao propofol, os esquemas recomendados de infusão para se obter
condições satisfatórias de sedação e hipnose, variam se existem ou não complementa-
ção com óxido nitroso, benzodiazepínicos ou opióides. O uso combinado de midazolam
e propofol aproveita a vantagem da rápida recuperaão do hipnótico enquanto o benzo-
diazepínico reduz a recordação e ansiedade8.
O objetivo deste capítulo é mostrar as características de cada adjuvante e como
um pode ser utilizado para promover um melhor desempenho na técnica venosa de
anestesia.
res alfa 2 adrenérgicos, quando ativados, são capazes de inibir a adenilciclase. Outro
mecanismo efetor é o fluxo de potássio que pode hiperpolarizar a membrana excitável e
proporcionar supressão neuronal. Outra possibilidade de ação é a supressão da entrada
de cálcio inibindo, assim, a liberação de neurotransmissores10,11.
Parece provável que o subtipo alfa 2A medeie as propriedades anestésicas
e analgésicas; eles são encontrados principalmente no cérebro e medula e podem
provocar ações que incluem analgesia, sedação e efeitos hemodinâmicos, entre estes
bradicardia e hipotensão.
O receptor alfa 2B quando estimulado provoca vaso constricção, podendo levar
a hipertensão arterial.
O receptor alfa 2C está relacionado com a neurotransmissão dopaminérgica e
controle da temperatura.
Os compostos utilizados em anestesiologia são a clonidina e a dexmedetomidina.
A clonidina é um composto imidazólico, agonista parcial com uma relação de
aproximadamente 200:1 (alfa 2 – alfa 1). A absorção oral é rápida e quase completa.
A meia vida de eliminação é de 9 – 12 horas e 50% é metabolizada no fígado em me-
tabólitos inativos, sendo o restante excretado inalterado na urina. A dose de 0,5 a 2,0
microgramas/ kg é a mais utilizada em anestesia por via venosa12.
A dexmedetomidina possui uma relação alfa 2 – alfa 1 de aproximadamente
1600:1, tem uma rápida fase de distribuição, com uma meia vida de distribuição de
6 minutos e uma meia vida de eliminação de 2 horas. É eliminada quase que exclu-
sivamente através de metabólitos e possui uma taxa de ligação protéica em torno
de 94%. A dose sugerida é de uma infusão contínua de 1,0 micrograma/ kg durante
10 minutos, seguida de uma infusão de manutenção de 0,2 a 0,7 microgramas/ kg/
hora.
92
Aplicações Clínicas:
• Efeito sedativo: O lócus coeruleus é a região principal responsável por este
efeito. A sedação é dose dependente e possui um rápido início de ação13.
• Ansiólise: Capacidade de diminuir a ansiedade, que tem ação sinérgica com
benzodiazepínicos, podendo ser usado como pré-anestésico.
• Analgesia: Uma ação importante destes compostos é a sua capacidade de
reduzir as necessidades anestésicas, não só em anestesia venosa total,
mas também com inalatórios. O seu uso para anestesia pós-cirúrgica não
parece eficaz como agente único.
• CETAMINA
93
A cetamina produz uma estimulação simpática central, gerando com isso au-
mento da pressão sanguínea, da freqüência cardíaca e do fluxo sanguíneo cerebral.
Como efeito colateral, podem acontecer delírios e alucinações durante a fase de
recuperação. Idade maior que catorze anos, sexo feminino, história de sonhos habitu-
ais, problemas psiquiátricos e doses excessivas estão associados a uma incidência
mais alta. Atropina e droperidol não alteram esta ocorrência, mas os hipnóticos, ben-
zodiazepínicops, anestésicos inalatórios e óxido nitroso a diminuem. Em laboratório,
demonstrou possuir ação anticonvulsivante18.
A cetamina possui uma ação sinérgica com os opióides o que melhora a modu-
lação da dor. Em doses subanestésicas (menor que 1,0mg. kg) já promove inibição do
receptor NMDA, o que pode provocar uma redução de 30 a 50% no consumo de anal-
gésicos no intra e pós-operatório19. Pode reduzir a ocorrência de hiperalgesia induzida
por opióides20.
• Sulfato de magnésio
Droperidol
94
O droperidol possui efeito sedativo e hipnótico leves, que são dose dependente.
Pode produzir diminuição da pressão sanguínea por redução da pré- carga e ação alfa
bloqueadora. Tem uma ação antiemética e não deprime a respiração31.
Potencializa e prolonga a ação o efeito dos analgésicos de ação central. Mas devido
à evolução das técnicas e dos novos medicamentos, seu uso vem diminuindo gradativamen-
te. Porém ainda é um fármaco utilizado, principalmente pelo seu efeito anti-emético (0,5 a
1,25 mg) e por sua capacidade para controlar rapidamente quadros de agitação aguda32,33.
Óxido nitroso
O óxido nitroso (N2O) foi descoberto entre 1772 e 1774. Sua atividade analgési-
ca foi descrita em 1800. Desde então seu uso vem acontecendo.
É um gás inodoro e incolor; não é inflamável mas é comburente, inclusive na
ausência de oxigênio. Sua temperatura crítica é de 36,4ºC o que permite armazená-lo
em cilindros na forma líquida. A 15ºC e 1ATM, 1kg de líquido libera 543 litros de gás.
O N2O é mais denso que o ar e cerca de 34 vezes mais solúvel que o nitrogênio. Sua
Solubilidade no sangue se situa ao redor de 0,47 a 37ºC e 1ATM. A CAM do N2O é de
95
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Capítulo 9
99
manter a homeostase. Enfrentamos na prática clínica duas dificuldades: a primeira é a
de não poder prever a analgesia oferecida pela técnica empregada; e a segunda é a im-
possibilidade de mensurar diretamente o estado do balanço entre a analgesia oferecida
e a intensidade do estímulo nociceptivo existente.
Na ausência de monitorização específica, presumimos que se há analgesia in-
suficiente ocorrem reações do organismo, que são notadas pela observação clínica ou
através da monitorização habitual. Ainda hoje, na prática anestésica diária, utilizamos
sinais clínicos indiretos, como freqüência cardíaca, pressão arterial, diâmetro pupilar,
sudorese e lacrimejamento.
Mas tais manifestações podem ser mascaradas, modificadas ou atenuadas por
diversos fatores, dificultando de tal forma sua detecção e interpretação, a ponto de
torná-las não confiáveis para balizar a administração dos anestésicos.3 Diversas situa-
ções clínicas podem fazer com que a administração da anestesia, baseada apenas em
parâmetros clínicos, seja tão perigosa quanto condenável.
Pacientes com comprometimento de estado geral ou reserva cardiovascular
diminuída podem vir a receber doses insuficientes de anestésicos e apresentar
consciência intra-operatória. Também o emprego de determinados fármacos, como
beta bloqueadores, pode mascarar manifestações clínicas, a ponto de não serem
diagnosticadas, permitindo que em momento de insuficiente analgesia, ocorram
respostas autonômicas e endócrino-metabólicas, que levem a hiperglicemia e aci-
Anestesia Venosa Total
demia.
Há, ainda, potencial influência da interação entre fármacos na modificação dos
parâmetros clínicos, impondo dificuldade adicional à leitura precisa do que ocorre com
o paciente. Administração perioperatória de esmolol, por exemplo, pode reduzir as ne-
cessidades de isoflurano e fentanil em cerca de 25%, diminuir respostas hemodinâmi-
cas e o consumo de morfina em 30%, por até 3 dias no pós-operatório, em pacientes
submetidas a histerectomia.4
O estímulo doloroso pode variar muito ao longo do tempo, e para opô-lo é neces-
sária postura pró-ativa, idealmente antecipando-se a ele. Na prática diária isso acaba
sendo feito de forma empírica, a partir do “feeling” e da experiência de cada profissio-
nal, já que não dispomos de instrumentação que auxilie na mensuração da intensidade
da analgesia provida pela técnica anestésica empregada.
Profundidade anestésica, ou plano anestésico, é definida como a probabilidade
de não-resposta à estimulação, que é implementada através da administração de fárma-
cos, e produção de concentração eficaz no plasma e nos receptores (ou sítios de efeito),
que seja suficiente para se opor à intensidade do estímulo agressor.
Hipnose profunda na ausência de analgesia adequada não previne respostas he-
modinâmicas a estímulos nociceptivos.2 Da mesma forma, plano analgésico profundo,
per se, não evita consciência intra-operatória e memória. No entanto, combinação de
adequada hipnose e suficiente analgesia pode garantir amnésia e supressão de respos-
tas endócrino-metabólicas e hemodinâmicas.
Além de prover a manutenção da analgesia, é imprescindível garantir ausência
de consciência intraoperatória. Quando há falha do componente hipnótico da anestesia
geral, o paciente pode apresentar memória intra-operatória.
100
Em anestesia geral, quando sob ação de bloqueadores neuromuscula-
res, a incidência de memória intra-operatória é de cerca de 0,1 a 0,2%, mas
pode chegar a 1% durante cirurgias de emergência, de pacientes com baixa
reserva cárdio pulmonar, de idosos, e em cesárea sob anestesia geral. 5 Pa-
cientes que apresentaram memória intra-operatória descreveram medo, sen-
sação de impotência e de desamparo. Em cerca de 30% dos casos relatam
ter sentido dor 6 , e até 50% desenvolve síndrome de estresse pós-traumático,
com distúrbios de compor tamento, do sono, depressão, ansiedade, ou ainda
alterações de personalidade, com prejuízos à vida pessoal, familiar e profis-
sional. 7,8 Tais manifestações à consciência intra-operatória são muito variá-
veis individualmente. 9
Além dos benefícios decorrentes da adequação do plano anestésico no intra-
operatório, há também consideráveis ganhos com recuperação mais rápida10, despertar
precoce, menor incidência de efeitos adversos11 e economia de recursos12, quando
implementamos ações que possibilitam administração adequada dos fármacos, evitan-
do tanto sub como sobre dosagem. Manutenção de plano anestésico excessivamente
profundo, associado a hipotensão arterial, também pode ser prejudicial, à medida em
que se relaciona com maior mortalidade pós operatória.13,14
Assim como o EEG bruto é inútil para monitorizar a hipnose durante anestesia
geral, parâmetros clínicos puros que refletem o estado do sistema nervoso autônomo
também não se correlacionam isoladamente de forma confiável com analgesia. Altera-
ções na pressão arterial, frequência cardíaca, sudorese ou lacrimejamento, além do
diâmetro pupilar, recebem grande importância na estimativa clínica diária, mas nenhum
desses sinais pode ser considerado isoladamente para estimar plano anestésico ou dor
intra-operatória.15
Avaliar tais parâmetros supondo ativação simpática por estímulo nociceptivo,
por exemplo, nem sempre é verdadeiro. Diferentes tipos de dor desencadeiam res-
postas diversas. Tração de vísceras abdominais, por exemplo, pode levar a ativação
parassimpática, com respostas opostas.
Usado para tentar estimar profundidade de plano anestésico há décadas,
devido à facilidade de execução e de prescindir de exame instrumentado, o diâ-
metro pupilar pode se alterar como reflexo ao estímulo nociceptivo. A ativação
do sistema nervoso autônomo simpático determina, no indivíduo não anestesia-
do, dilatação pupilar e aumento de seu diâmetro. 15 No paciente anestesiado
a inibição do parassimpático é que leva à midríase, mas fármacos opióides
produzem supressão desse reflexo desde pequenas doses, tornando inútil essa
observação, pois plano anestésico que permita observar a resposta pupilar é
demasiadamente superficial para o período intra-operatório, e inadmissível na
prática anestésica, para virtualmente todos os procedimentos que envolvam es-
timulação dolorosa. 16
101
Pupilometria Dinâmica
Pode ser feita com o monitor chamado Procyon Vídeo Pupillometer – FIT 2000,
que avalia e grava as informações de forma automática e seqüencial.17 É usado em
pesquisa para avaliar duração de ação de alguns opióides, mas tem seu emprego
inviabilizado no paciente anestesiado, uma vez que os fármacos empregados influen-
ciam o estado das pupilas.18,19
A influência do sistema nervoso autônomo sobre a função cardíaca pode ser esti-
mada pela variabilidade na freqüência cardíaca, através da avaliação do intervalo R-R do
eletrocardiograma (ECG). Análise estatística espectral dessa variabilidade pode fornecer
quantificação contínua e não invasiva do tônus autonômico sobre o órgão, revelando au-
mento do controle da freqüência cardíaca relacionada à respiração, pelo sistema nervoso
autônomo simpático, após estímulo nociceptivo. Mas o método tem como limitação a
interferência e detecção de artefatos, e a necessidade de leitura por longo período para
calibração. Além disso, não é capaz de discriminar intensidades variáveis de ativação au-
tonômica, em função de mudanças na intensidade do estímulo doloroso.20
Anestesia Venosa Total
Pletismografia
102
dade de anestesia é o chamado AAI, ou A-Line Auditory Evoked Index. Seus valores são
apresentados em escala que vai de 0 a 100, com grande variação no indivíduo acorda-
do, e com sobreposição de valores encontrados no paciente anestesiado, de forma que
o método ainda demanda maior desenvolvimento para chegar à prática clínica.24
Eletroencefalograma Processado
103
sendo conduzida centralmente, que tende a despertar o encéfalo, como reação primitiva
e natural no animal sob ameaça.
O aproveitamento dessas informações excede a utilização pretendida do monitor
de BIS, cujo objetivo é o de monitorizar hipnose. Apresenta-se como forma avançada de
utilização, útil como refinamento da técnica anestésica, e que, em última instância, não
deixa de ser monitorização da consciência, uma vez que analgesia insuficiente pode con-
duzir a superficialização da consciência, o que pode produzir memória intra-operatória.
Entropia
104
Sudorese de causa emocional, como a que ocorre pela dor, é mediada por iner-
vação simpática da pele, e não é influenciada pela temperatura ambiente em condições
normais, mas sim por estímulos do córtex cerebral. A cada vez que essa inervação sim-
pática é estimulada, as glândulas sudoreicas são ativadas, há redução da resistência
elétrica da pele, e a condutibilidade se eleva. Isso cria um pico de condutância, cujo
tamanho é proporcional à intensidade do estímulo, ocorre em cerca de 1 a 2 segundos,
e não é influenciado por bloqueadores neuromusculares, drogas vasoativas ou mudan-
ças na volemia.32
Tais modificações elétricas da pele podem ser captadas por monitor específico
para esta finalidade, através de 3 eletrodos colocados nas regiões palmar ou plantar.
As informações são processadas, apresentadas em tempo real a cada segundo, sob a
forma de alterações da condutância da pele e de picos por segundo, em gráfico exibido
na tela do aparelho.1
Disponível no mercado sob a denominação Med-Storm Stress Detector™, o mo-
nitor dispõe de filtros de ruídos e artefatos, e alarmes de desconexão de eletrodos, e
foi certificado para uso no âmbito da Comunidade Econômica Européia, aguardando
aprovação da Food and Drug Administration norte americana. Leitura mostrando ausên-
cia de picos de condutância reflete estado de adequada ou ainda demasiada analgesia,
Conclusão
Nenhum dos métodos disponíveis até o momento obteve sucesso absoluto, como
solução para monitorizar analgesia intraoperatória, pelo simples fato de que ainda não
são capazes de avaliar o potencial de analgesia oferecido pela técnica anestésica em-
pregada, e tampouco de predizer reação ao estímulo subseqüente.
105
Os que apresentaram maiores conquistas foram os que ofereceram a possibili-
dade de se avaliar de forma rápida as conseqüências imediatas de estímulos, frente à
situação vigente na anestesia geral, possibilitando correção a tempo de sua profundi-
dade analgésica. É o caso da entropia de resposta – RE, do BIS e da monitorização da
condutibilidade da pele, através do Med-Storm Stress Detector, sendo essa última, a
tecnologia que apresentou maiores sensibilidade e especificidade.
Uma vasta gama de informações, coletadas a partir de EEG, variações hemodi-
nâmicas e pletismografia de pulso, combinadas e integradas através de processamento
eletrônico, por monitores desenvolvidos com ênfase na nocicepção. Esse parece ser o
futuro da monitorização anestesiológica, que deverá colocar o componente primordial
da anestesia, a analgesia, sob o foco principal das atenções.
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107
Capítulo 10
Introdução
A anestesia venosa total (AVT) vem ganhando cada vez mais adeptos, não só no
Brasil, mas a nível mundial. Em setembro de 2007, na cidade de Veneza (Itália) aconte-
ceu o 1o Congresso Mundial de Anestesia Venosa Total TIVA-TCI (Total Intravenous Anes-
thesia – Target-Controlled Infusion), com a presença de especialistas dos 5 continentes.
Nessa ocasião foi criada a Sociedade Mundial de Anestesia Intravenosa (World Society
Intravenous Anesthesia – WSIVA), sob a chancela da Federação Mundial de Anestesiolo-
gistas (World Federation of Anesthesiologists). Esse fato coincide com o grande desen-
109
física diminuída), à maior adipogênese (níveis elevados de lipase lipoprotéica) e à menor
capacidade de oxidar gordura. Conseqüentemente, o volume do terceiro compartimento
está bastante aumentado no indivíduo com obesidade mórbida.
A massa adiposa é aumentada no paciente obeso. Entretanto, o fluxo sanguí-
neo por grama de tecido gorduroso é reduzido, se comparado com o indivíduo não
obeso. Porém, em números absolutos, o volume intravascular está ligeiramente
aumentado. Entretanto, não há diferença significativa entre o compartimento central
do obeso e do não-obeso.
Para dar sustentabilidade ao excesso de peso, há necessidade também de au-
mento da massa muscular (massa magra) em torno de 20 a 30%. Entretanto, esta
correlação linear entre peso corporal e massa magra é positiva até certo peso corporal.
Após esse peso crítico, a massa magra não aumenta.
Todas essas alterações na composição corporal promovem variações no compor-
tamento farmacocinético de muitos fármacos, principalmente dos altamente lipofílicos.
Em contrapartida, a depuração hepática e renal é normal ou aumentada
nesses pacientes. Porém, muitas vezes ocorre intensa infiltração gordurosa no
tecido hepático, podendo comprometer a depuração dos fármacos que depen-
dem do fígado para sua eliminação.
No obeso mórbido a atividade da pseudocolinesterase plasmática está aumenta-
da, favorecendo a depuração da succinilcolina.
Anestesia Venosa Total
110
Propofol
111
Peso Corporal Corrigido
PCC
Como regra geral, para cálculo da dose de relaxante a ser empregada, pode-se utilizar
o peso de massa magra ou peso corporal corrigido (PCC) (Figura 2). Porém existem algumas
peculiaridades que serão abordadas a seguir.
Succinilcolina
anos. O rápido pico de ação e sua ultracurta duração fazem desse relaxante uma excelen-
te escolha em pacientes obesos mórbidos, principalmente naqueles obesos que possu-
am preditores para intubação difícil.
A dose de succinilcolina necessária para obter rápido relaxamento e exce-
lentes condições de intubação deve ser calculada através do peso corporal total,
devido ao fato de que, na obesidade mórbida, a atividade da pseudocolinesterase
plasmática e o volume extracelular estão aumentados. Porém, com a dose calcula-
da pelo peso corporal total, a duração clínica do bloqueio é um pouco prolongada
(9 minutos), o que pode ocasionar dessaturação nos casos “não-ventila e não-in-
tuba”.
Atracúrio
Está bem indicado no paciente obeso mórbido por ser um relaxante com eli-
minação órgão-independente. Porém, a liberação de histamina após administração
de altas doses, e de maneira abrupta, pode causar repercussões respiratórias e
hemodinâmicas graves nos obesos com antecedentes de asma brônquica e ato-
pia.
A depuração plasmática do atracúrio não está alterada pelo aumento do peso
corporal, não havendo, portanto, diferença na meia-vida de eliminação entre pacientes
obesos e não obesos. Entretanto, quando a dose é baseada no peso corporal total,
a concentração média de atracúrio é maior no obeso em relação aos não-obesos, e
esta maior concentração está diretamente relacionada com aumento da incidência de
bloqueio residual.
112
No obeso mórbido, quando a dose de atracúrio é calculada a partir do peso corporal
total, a duração do bloqueio neuromuscular está aumentada. A duração de ação (15% de T1)
da dose de indução de 0,5 mg.kg-1 no obeso mórbido é dada pela fórmula abaixo (Figura 3).
Cisatracúrio
Cisatracúrio
Latência Duração Dose
(seg) (T1 25%) (mg)
Tabela I. Cisatracúrio.
Rocurônio
O rocurônio é boa escolha como relaxante nos obesos, por possuir volume de dis-
tribuição restrito e sua metabolização não produzir metabólitos ativos. Tem sido usado
como substituto da succinilcolina para realização de intubação traqueal em seqüência
rápida, pois em altas doses (0,9 a 1,2 mg.kg-1) promove ótima condição de intubação
dentre 60 a 90 segundos após a dose de indução.
113
Nos pacientes obesos mórbidos, quando a dose de indução é baseada
no peso corporal total, a latência é diminuída; entretanto, nesta situação, a
duração do bloqueio (T1 25%) é prolongada (Tabela II).
Rocurônio
Mórbida
Critérios de Varvel
114
Infusão Alvo-controlada de Propofol
Propofol TCI
Peso PCC p
Real
MDPE (%) -6,21 -32,6 0,003
MDAPE (%) 23,6 33,1 0,03
Wobble 7,96 5,9 0,465
Divergência -1,8 -1,5 0,194
115
Pelo fato do modelo farmacocinético de Marsh, desenvolvido para o propofol, não ser
específico para a população obesa, e por esses pacientes possuírem alterações significativas
em sua composição corporal, talvez seja mais prudente monitorar a consciência instrumental-
mente no intra-operatório (BIS, CSM, entropia), com o objetivo de ajustar de forma mais segu-
ra a dose-alvo de propofol, principalmente se o anestesiologista for inexperiente em TIVA-TCI.
Observando esse fato, um estudo propôs a utilização do peso crítico para infusão
alvo-controlada de remifentanil. Até um determinado peso corporal, o paciente aumenta
proporcionalmente sua massa magra; porém ultrapassado esse peso corporal, a massa
magra não aumenta. Esse peso corporal é chamado de peso crítico (Figura 6).
Peso Crítico
PC
Masculino: PC = 121 - (1,447 * Altura cm)
Feminino: PC = 121 - (1,211 * Altura cm)
Figura 6. Peso Crítico
116
Outra maneira de “iludir” a infusão alvo-controlada de remifentanil seria o empre-
go, ao invés do peso, de uma altura fictícia dada pela seguinte fórmula (Figura 7).
Altura Fictícia
h Fict (men) = 128 xTBW x (6.68 x 103 + 216 x BMI)
- 1922 + 1.1 x 216 x BMI
Com isso, massa magra também seria ajustada ao real peso do paciente. Porém,
tal fórmula se adapta somente a pacientes do sexo masculino.
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pain and pulmonary function after laparoscopic gastric banding: remifentanil TCI vs sufentanil TCI in
morbid obesity. Br J Anaesth, 2007;99:404-411.
118
Capítulo 11
Introdução
119
Uma revisão do Departamento de Saúde Americano, publicada em junho de 1989, apresen-
tou um total de 1.600 reações adversas e 85 mortes, durante os primeiros 5 anos da introdução
do midazolam naquele país, quase todas associadas ao uso do medicamento em endoscopias
digestivas. O estudo demonstra, claramente, o desconhecimento em relação ao comportamento
farmacocinético e farmacodinâmico do midazolam no idoso, logo após sua introdução2.
Farmacocinética e Farmacodinâmica
120
Nas simulações acima, evidencia-se uma diferença maior que 20% na concentra-
ção plasmática de remifentanil alcançada após 30 minutos de infusão. Mais uma vez,
a única variável foi a idade. No estudo de Minto e col., a idade é mais importante que
o peso para o ajuste da velocidade de infusão3. Há uma redução de 20% no volume
central (V1) e de 30% no clearance de eliminação entre os 20 e os 80 anos3. Outros
opióides, como o sufentanil, alfentanil e fentanil, apresentam diferenças farmacocinéti-
cas menos importantes4.
Uma variável farmacocinética que também está alterada no idoso é o T1/2
Ke0, ou a constante de equilíbrio com o sítio efetor, que indica o intervalo entre a
administração do fármaco e o início do seu efeito. A constante de equilíbrio no idoso
é menor, quando comparada ao jovem, indicando um retardo no início de ação dos
fármacos3.
121
Abaixo, uma simulação com a infusão de remifentanil em um paciente idoso e em
um paciente jovem, mostrando o tempo necessário para que as concentrações, plasmá-
tica em vermelho e cerebral em verde, sejam iguais (Figura 4).
122
Anestesia Manualmente Controlada X Anestesia Alvo
Controlada no Idoso
Sempre que se utiliza dispositivo para infusão alvo controlada, deve-se conhecer
o modelo farmacocinético que o acompanha. Alguns modelos farmacocinéticos, entre
eles o modelo de Marsh, não utilizam a idade como uma co-variável para cálculo de
infusão. Essa limitação impõe a necessidade de alguns ajustes, sob risco de efeitos
indesejáveis.
Na população geral, a infusão “alvo controlada”, quando comparada à in-
fusão manual, parece não apresentar grandes diferenças clínicas6. Estudo utili-
zando a análise retrospectiva de 1.759 pacientes demonstrou que a infusão alvo
controlada foi associada a maiores doses de propofol, e, consequentemente, a
maiores custos, quando comparada à infusão manual 6. Por outro lado, a infu-
são “alvo controlada” requer um menor número de intervenções que a infusão
manual 6. Cabe ressaltar o fato de que os estudos incluídos nesta pesquisa fo-
ram de qualidade metodológica ruim, com um número pequeno de pacientes,
retrospectivos e com objetivos diferentes. Cada instituição hospitalar tem um
perfil de custos e de reembolso próprios, sendo necessários estudos de custos
de aquisição e margens para reembolso, para que se possa ter uma visão mais
123
Na simulação utilizou-se o esquema clássico de infusão, que preconiza um bolus inicial
de 1 mg/kg em 1 minuto, seguido por uma infusão decrescente 10-8-6 mg/kg/h a cada 10
minutos7.. O “alvo” projetado com essa infusão é de aproximadamente 3 mg/ml. Assim, o
comportamento da infusão no jovem, parece muito próximo do ideal, enquanto que no pacien-
te idoso, o “alvo” alcançado está sempre 20% a 30% acima do “alvo” projetado. Uma redução
em 20% ou 30% das doses administradas é suficiente para corrigir o “alvo” projetado. Porém,
quando prolongamos a infusão por um período superior a 2 horas, fica evidente a necessidade
de ajustes adicionais para baixo, na infusão para o paciente idoso. Abaixo, uma simulação de
infusão manual, com duração de 8 horas e alvo alcançado sem ajustes (Figura 7).
O “alvo” inicial de 3,8 mg/ml passa para 5,4 mg/ml após 8 horas de infusão,
sem reduções na velocidade de infusão. No idoso, logo após a segunda hora, deve-se
iniciar o processo de titulação para baixo das doses administradas. Novamente, o alvo
inicialmente projetado situa-se por volta de 3 mg/ml.
Quando a opção for por infusão “alvo controlada”, com dispositivos que utilizem o modelo
Marsh (Ex. Diprifusor®), redução de “alvo” para indução, prolongamento do tempo para indução
e redução de “alvo’ para a manutenção, são estratégias utilizadas para minimizar a ausência
da co-variável idade no modelo8. Outra estratégia particularmente útil no paciente idoso é a da
utilização da monitorização da hipnose, por meio do índice bispectral (BIS). Com o BIS pode-se
acompanhar em tempo real, ou quase, a relação dose/resposta do paciente em questão.
Por fim, a principal mensagem que se deve manter é a de que o idoso tem par-
ticularidades farmacológicas, com um profundo impacto na condução de qualquer
técnica anestésica. O idoso é heterogêneo sob o aspecto fisiológico, sendo que a
idade, isoladamente, pode não ser o melhor indicador do estado fisiológico do pa-
ciente. Seu estado nutricional, hábitos de vida (fumo e álcool), bem como doenças
associadas, podem nos auxiliar na condução de qualquer técnica anestésica.
Casos Clínicos
Caso I. Obesidade
Paciente de 65 anos, feminina, hipertensa, diabética tipo II, com IMC de 43,
pesando 122 kg, submetida a cirurgia laparoscópica para obesidade. Imediatamente
antes da indução, apresentava pressão arterial de 160/110 mmHg e frequência car-
díaca de 84 batimentos por minuto.
124
Neste caso, a opção foi por uma combinação de propofol alvo controlado e re-
mifentanil em infusão manual (Tabela III). O peso utilizado para a infusão de propofol
foi o peso real da paciente (122 kg), o peso utilizado para o ajuste da infusão do re-
mifentanil foi corrigido em 25%. Imediatamente antes da indução, administrou-se me-
tadona por via endovenosa, 0,1 mg/kg do peso ajustado, para reduzir a hiperalgesia,
bem como para uma transição mais suave para o despertar, clonidina 150 mg, para
melhor controle pressórico e de freqüência cardíaca, bem como para menor consumo
de propofol. O tempo total de anestesia foi de 2 horas e 30 minutos. Para analgesia
pós-operatória, foram administrados, na indução, cetoprofeno e dipirona. A paciente
permaneceu por 70 minutos na sala de recuperação pós-anestésica, onde consumiu
5 mg de morfina para controle da dor.
125
A duração total da CEC foi maior que a inicialmente proposta (1h e 10 min); o des-
mame ocorreu sem necessidade de qualquer fármaco vasoativo ou inotrópico, e não hou-
ve necessidade de transfusão sanguínea. Na unidade de terapia intensiva permaneceu
em ventilação mecânica por mais 50 minutos, quando foi extubado sem intercorrências.
Teve alta para o quarto no segundo dia de pós-operatório, permanecendo mais 3 dias no
hospital.
126
ANEXO I
Antes da indução anestésica Antes de iniciar a cirurgia Antes do paciente sair da sala cirúrgica
L Confirmação sobre o paciente. L O cirurgião, o anestesista e a enfermagem O técnico de enfermagem confirma verbalmente com
Identificação do paciente. verbalmente confirmaram. a equipe:
Local da cirurgia a ser feita.
Identificação do paciente. L Nome do procedimento realizado.
Procedimento a ser realizado.
Local da cirurgia a ser feita. L A contagem de compressas, instrumentos e
L Sítio cirúrgico do lado correto. Procedimento a ser realizado. agulhas está correta (ou não se aplica).
L Não se aplica. L Revisão anestesista: há alguma preocupação em L Biópsias estão identificadas e com o nome do
L Checagem do equipamento anestésico OK. relação ao paciente? paciente.
L Preparo intestinal realizado.
L Revisão da enfermagem: houve correta
L Não se aplica. L Houve algum problema com equipamentos que
esterilização do instrumento cirúrgico? deve ser resolvido.
O paciente tem alguma alergia? Há alguma preocupação em relação aos
L Anotar temperatura corporal no pós-operatório.
L Não. equipamentos?
L Sim__________________________ .
O antibiótico profilático foi dado nos últimos 60
Há risco de via aérea difícil / Broncoaspiração? minutos?
L Não. Ass. Enfermagem
L Sim.
L Sim e há equipamento disponível.
L Não se aplica.
Há risco de perda sanguínea > 500ml (7ml/kg em Ass. Anestesiologista
Exames de imagem estão disponíveis?
crianças)?
L Não. L Sim.
Ass. Cirurgião
L Sim e há acesso venoso e planejamento para a L Não se aplica.
reposição.
Ass. Instrumentadora
Data_______/______ /________
127
Anestesia Venosa no Paciente Idoso
Referências
128
Capítulo 12
129
dade de atuar como antioxidante e varredor de radicais livres, produzindo proteção ao
rim transplantado. Este efeito benéfico nos rins submetidos a isquemia foi comprovado
em trabalho experimental realizado em suínos, que tiveram sua artéria aorta clampeada
acima da saída das artérias renais; no grupo anestesiado com propofol, a creatinina
plasmática no pós-operatório foi significantemente menor que no grupo anestesiado
com sevoflurano3. O propofol ainda apresenta as vantagens de proporcionar um desper-
tar precoce e de diminuir a incidência de náuseas e vômitos4.
O remifentanil é um fármaco de metabolismo muito rápido, com curta duração de
ação e com clearance extrarrenal, portanto seguro para os pacientes renais crônicos.
Seu principal metabólito, GR 90291, é de excreção renal; porém, devido a sua baixa
eficácia, 4.600 vezes menos potente que o remifentanil, este metabólito não apresen-
ta efeito clínico em pacientes anéfricos5. Com a utilização do remifentanil em infusão
controlada, podemos adequar facilmente o nível de analgesia ao momento cirúrgico,
possibilitando um melhor controle hemodinâmico. Nos pacientes anestesiados com re-
mifentanil, a principal preocupação deve ser com a analgesia no período pós-operatório,
devido à ausência de analgesia residual. A utilização de morfina na dose de 0,1mg/Kg,
30 minutos antes do término da cirurgia, com a manutenção deste opióide em infusão
continua de 0,5-1mg/h, irá garantir uma boa analgesia4.
O paciente renal crônico tem o tempo de esvaziamento gástrico prolongado, por-
tanto a indução da anestesia precisa ser realizada após um tempo de jejum adequado.
Anestesia Venosa Total
130
expelir 500 ml de sangue em segundos, em condições de estimulação sim-
pática;
• Síntese de fatores de coagulação (II, VII, IX e X) e estímulo à produção de
plaquetas;
• Regulação do metabolismo dos carboidratos, lipídios e aminoácidos.
131
devido à intensa perda sanguínea e excessiva reposição de fluídos, pode ocorrer hemo-
diluição, causando diminuição na concentração plasmática do remifentanil.
A AIVT é uma boa alternativa para as cirurgias de transplante hepático, sendo que
nos casos de insuficiência hepática aguda, onde habitualmente ocorre encefalopatia he-
pática com edema cerebral e hipertensão intracraniana8, a AIVT é, sem duvida, a técnica
anestésica de escolha; pois nesta situação, a utilização de halogenados aumentaria a
hipertensão intracraniana, comprometendo as condições clinicas do paciente.
pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO²) e a fração de shunt, quando com-
parada à anestesia inalatória para as cirurgias torácicas, existem sugestões de indica-
ções para o uso de AIVT em uma série de circunstâncias nesta especialidade, incluindo
o transplante pulmonar. No quadro I, estão ilustradas algumas destas circunstâncias.
Quadro I. Situações nas quais a AIVT pode estar indicada na anestesia torácica12.
132
os opióides podem ter sua concentração muito variável durante esta cirurgia
(Quadro II).
Quadro II. Fatores que podem diminuir o nível de opióide
durante o transplante de pulmão.
Ventilação independente
Utilização de ventiladores sofisticados da terapia intensiva
Assistência circulatória parcial
Vigência de espaço morto aumentado
Vigência de fração shunt significativa
Anestésicos venosos
Propofol
133
Dexmedetomidina
Remifentanil
134
Algumas das barreiras à adoção desta técnica no transplante de coração são:
Referências
135
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Anestesia Venosa Total
136
Capítulo 13
Considerações Iniciais
137
Ansiedade, Agitação e Delirium
138
O haloperidol e a quetiapina26 são indicados para o tratamento farmacológico do
delirium.
A escore de Ramsay, descrito em 197435, 36, foi o primeiro utilizado para avaliar a
sedação de pacientes em ventilação mecânica. Monitora mais o nível de consciência do
que o grau de agitação (Tabela I).
139
Tabela II – Escore RASS – Richmond Agitation Sedation Scale85.
O escore RASS (do termo em inglês Richmond Agitation Sedation Scale; Tabela
II) avalia igualmente o grau de sedação e agitação, e oferece a vantagem de acom-
panhar alterações no nível de sedação em dias consecutivos37. Avaliações regulares
do nível de sedação com a RASS e da dor pela escala numérica estão associadas à
redução na incidência de dor e agitação, duração da ventilação mecânica e infecções
hospitalares38.
Uma nova escala de dor, a Escala de Dor Compor tamental, tem se mos-
trado confiável e válida na avaliação da dor no paciente que não se comunica.
Essa escala avalia os pacientes pela sua expressão facial, movimento dos
membros superiores e complacência com a ventilação mecânica. Representa,
provavelmente, um progresso no esforço de melhorar o confor to desse pacien-
te 39, 40.
Consenso alemão de 2010 aborda vários aspectos da analgesia, sedação e de-
lirium em terapia intensiva41. Apresenta interessantes observações quanto ao uso da
cetamina. Dependendo da dor e dos potenciais efeitos colaterais das medicações, a
cetamina poderá ser usada como um fármaco adjunto ou alternativo, mesmo quando
houver trauma cerebral e hipertensão intracraniana. Em vítimas de queimaduras, a ce-
140
tamina pode reduzir a hiperalgesia secundária e a necessidade de opioides; deve ser
preferida aos opioides para a analgesia durante procedimentos dolorosos em crianças
queimadas.
Dispositivos eletrônicos permitem uma outra forma de avaliação da sedação42,
porém considera-se que não servem para substituir os escores clínicos43. O EEG requer
pessoal especificamente treinado, não sendo de uso prático em UTI3. O índice bispectral
– BIS – é utilizado mais frequentemente em anestesia cirúrgica e tem sido investigado
em tratamento intensivo. Observa-se boa correlação entre o BIS e a escala de Ramsay
quando esta se encontra entre 1 e 5; em níveis mais profundos de sedação – Ramsay
6 – o BIS mostrou grande variabilidade11.
* p.r.n = do latim pro re nata, que significa “conforme necessário”; dose máxima
recomendada do haloperidol: 80 mg.dia-1
** CHP = hemoperfusão contínua; CAVH-D = hemodiafiltração arteriovenosa contínua; CVVH-D = hemodiafil-
tração venovenosa contínua
141
Tabela IV - Doses habituais de ataque e manutenção do fentanil, da morfina e da dex-
medetomidina e suas doses sugeridas na insuficiência renal1, 87.
Benzodiazepínicos
142
que pode contribuir para o desenvolvimento do delirium: pacientes tratados com lorazepam
por mais de 24 horas quase sempre desenvolveram a síndrome subsequentemente47.
O diazepam é o benzodiazepínico menos adequado devido ao risco de superseda-
ção com a administração repetida do fármaco. Infusão contínua deve ser evitada devido
ao risco de sedação prolongada causada pelo acúmulo do fármaco original e de seus
metabólitos hepáticos ativos48.
O midazolam é o benzodiazepínico de escolha para sedação de curta duração
pois é o que tem a maior lipossolubilidade, o início de ação mais rápido e a duração
mais curta entre todos os benzodiazepínicos venosos; é o que apresenta o maior clea-
rance, o que o torna o mais adequado à infusão contínua. Quando a infusão dura mais
que algumas horas pode haver sedação prolongada após a suspensão do agente. Esse
efeito resulta de múltiplos fatores como: acúmulo do agente no sistema nervoso central
– SNC, acúmulo do metabólito ativo (hidroxi-midazolam), especialmente na insuficiência
renal, inibição do citocromo P-450 (envolvido em seu metabolismo) por outras medica-
ções e insuficiência hepática.
A interrupção abrupta da administração de benzodiazepínicos pode produzir sín-
drome de abstinência consistindo de ansiedade, agitação, desorientação, hipertensão,
taquicardia, alucinações e convulsões48. É difícil a previsão do risco de ocorrer a síndrome
Propofol
143
O propofol tem alta lipossolubilidade e é suspenso comumente em uma solução de
lipídios a 10% para aumentar a solubilidade plasmática. Essa solução lipídica é quase idêntica
àquela usada em nutrição parenteral e o conteúdo nutritivo da emulsão (0,1 mg de gordura.ml-1
ou 1,1 kcal.ml-1) deve ser considerado como parte do aporte nutricional diário. No obeso, alguns
autores recomendam que a dose deva ser estimada considerando o peso ideal52, 57, enquanto
outros recomendam o cálculo pelo peso real45. Não deverá ser necessário o ajuste de dose
na insuficiência hepática ou renal52. O propofol tem alto clearance, com o metabolismo princi-
palmente pela degradação hepática a glicuronídeos, que são excretados pela urina. Não sofre
acúmulo significativo e a velocidade de infusão deverá ser definida de acordo com a resposta3.
A hipertrigliceridemia ocorre em até 10% dos pacientes, especialmente após 3
dias de infusão contínua. Portanto, níveis séricos de triglicerídios devem ser monitorados
durante infusão prolongada. A hipertrigliceridemia pode provocar falsas reduções in vitro
da saturação arterial ou venosa mista de oxigênio58. A solução a 2% permite sedação com
menor oferta calórica e de volume. A emulsão também promove o crescimento bacteriano
e o emprego de técnica estéril imprópria na sua administração tem resultado em sur-
tos de reações hipertérmicas e infecção de ferida cirúrgica. Para suprimir o crescimento
bacteriano, as preparações comerciais do propofol contêm edetato dissódico (EDTA) ou
metabissulfito de sódio. O EDTA quela o zinco e a suplementação deste elemento deve
ser considerada quando a infusão do propofol dura mais que 5 dias. Reações alérgicas ao
sulfito são raras, porém mais comuns em pacientes com história de asma1, 27.
Anestesia Venosa Total
Haloperidol
144
Há ampla variação nos níveis séricos do fármaco após uma determinada dose.
Portanto, se não houver evidência de resposta sedativa após 10 minutos, a dose deve-
rá ser dobrada. Ausência de resposta à segunda dose deverá indicar troca para algum
outro sedativo.
O antagonismo à dopamina nos núcleos da base pode produzir reações extra-
piramidais, fenômeno raro quando o haloperidol é administrado por via venosa. O uso
associado de benzodiazepínicos reduz a incidência dessas reações. O haloperidol deve
ser evitado em pacientes com doença de Parkinson. Os efeitos adversos mais temidos
deste fármaco são a síndrome neuroléptica maligna e a taquicardia ventricular poli-
mórfica conhecida como torsades de pointes. A síndrome neuroléptica maligna é uma
reação idiossincrática rara que se apresenta com hipertermia, rigidez muscular severa
e rabdomiólise. A arritmia torsades de pointes é causada por fármacos que prolongam
o intervalo QT no ECG. Essa reação é relatada em até 3,5% dos pacientes que recebem
haloperidol venoso ou que apresentam história prévia de torsades de pointes.
O haloperidol é metabolizado no fígado gerando metabólitos com atividade míni-
ma; apenas 1% do fármaco é eliminado inalterado na urina.
A clorpromazina tem mecanismo de ação e indicações similares ao haloperidol.
Todavia, ela também apresenta efeitos muscarínicos, noradrenérgicos (a-1 e a-2), his-
Opioides
145
são agentes novos que bloqueiam os receptores µ intestinais enquanto poupam os
receptores do SNC67, 68; provavelmente estarão disponíveis para uso clínico em futuro
próximo. Reduzindo o efeito constipante dos opioides, permitem nutrição enteral mais
precoce e efetiva25.
Opioides podem promover vômito pela estimulação da zona quimiorreceptora do
gatilho na parte inferior do tronco cerebral. Todos se equivalem na habilidade de promo-
ver vômitos, mas quando um agente provoca vômito a troca pode algumas vezes aliviar
os sintomas1. Antieméticos, como a ondansetrona, e baixas doses de antagonistas
podem também aliviar os sintomas.
Opioides são, em geral, metabolizados primariamente no fígado e seus metabó-
litos excretados na urina.
Morfina
Fentanil
O fentanil apresenta ação mais rápida que a morfina, não tem metabólitos ativos e
é menos propenso a reduzir a pressão arterial. Sendo 600 vezes mais lipossolúvel que a
morfina, ele é captado muito mais rapidamente no SNC. O resultado é um início de ação
mais rápido, o que permite um ajuste mais precoce da dose de manutenção. Em dose igual a
1/100 da dose de morfina, promove analgesia equivalente1. O fentanil não provoca liberação
de histamina, sendo preferível à morfina no paciente com instabilidade hemodinâmica. Além
do esquema posológico apresentado na Tabela IV, para manutenção da analgesia o fentanil é
mais comumente administrado em infusão contínua, na dose de 0,5-2,0 µg.kg-1.h-1.
O fentanil é metabolizado no fígado em nor-fentanil, metabólito que é inativado
pela hidroxilação2. O fentanil não sofre acúmulo na insuficiência renal.
Remifentanil
146
A infusão deve ser iniciada com 0,1-0,15 µg.kg-1.min-1 e ajustada em intervalos
de 5 minutos com incrementos de 0,025 µg.kg-1.min-1 de acordo com a resposta. Se não
for alcançada sedação adequada com 0,2 µg.kg-1.min-1 um sedativo adicional deverá ser
necessário. Há uma característica redução da PAM e da frequência cardíaca, porém es-
ses efeitos são mais significativos em infusões acima de 0,1 µg.kg-1.min-1. Há diversos
relatos de casos de tolerância aguda e sintomas precoces de abstinência70, havendo
necessidade de interrupção mais gradual. Há uma perda muito rápida da analgesia sen-
do necessário o emprego de um analgésico alternativo antes da retirada do remifentanil
quando ainda houver expectativa de forte estímulo doloroso3.
Agonistas a-2
Clonidina
Dexmedetomidina
147
Um estudo gerou informações após a alta hospitalar e mostrou redução do tempo
de delirium ou coma, ao comparar a dexmedetomidina com o lorazepam71. A dexmede-
tomidina está aprovada pelo Food and Drug Administration somente para uso em até 24
horas em pacientes sob ventilação mecânica, em dose não superior a 0,7 µg.kg-1.h-1, o
que limita seu uso em pacientes de UTI. Os autores de um estudo recente – SEDCOM
trial23 – tiveram permissão de usar doses equivalentes ao dobro daquela aprovada e por
um período de até 30 dias de ventilação mecânica, avaliando-se a segurança e eficácia
desse regime de doses. Na comparação com o midazolam, foi observada redução na
incidência de delirium e no tempo de extubação. Todavia, estudo posterior21, que avaliou
a mesma amostra analisada no SEDCOM trial, concluiu que a maior duração do delirium
resultou em aumento do risco de morte e intubação prolongada, porém definiu que este
resultado foi independente quanto ao uso de midazolam ou dexmedetomidina.
De forma similar ao que foi observado em indivíduos saudáveis, pacientes graves
sedados com a dexmedetomidina poderão despertar com mais facilidade, serem mais
cooperativos e se comunicarem melhor do que aqueles que receberam benzodiazepí-
nicos72. Portanto, é necessário especial cuidado na atribuição de maior potencial dos
benzodiazepínicos em induzir delirium em pacientes graves, quando comparados com a
dexmedetomidina; o que poderá estar sendo observado são diferentes perfis da ação
normal dos fármacos.
O seu emprego foi descrito em casos de eclampsia73. Estudos que comparam o
Anestesia Venosa Total
Conclusão
148
• “Analgesia-primeiro” deverá colaborar para a reduzir a perda cognitiva gerada
por doses excessivas de sedativos;
• Para que sejam evitadas doses excessivas, deve-se suspender regularmente
a sedação e avaliar o nível de consciência, pois é importante que se verifique
a real necessidade do uso de sedativos para que o paciente esteja confortá-
vel; a suspensão diária é a mais recomendada;
• Delirium é diferente do conceito clássico de delírio, tem as mais diversas
origens, podendo, inclusive, estar relacionado ao uso de sedativos;
• Midazolam, lorazepam, propofol, haloperidol, morfina e fentanil são fármacos
utilizados comumente na sedação e analgesia em UTIs, há muitos anos;
• O remifentanil tem uso mais recente; a literatura reserva à dexmedetomi-
dina dados promissores; ambos estão sendo submetidos ao crivo de mais
estudos e experiência clínica para melhor definição de seus papéis nesse
contexto.
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152
Capítulo 14
Introdução
Indicações
A AVT pode ser utilizada na criança como uma alternativa às anestesias inalatória
ou balanceada. Há situações, no entanto, em que a AVT pode ser considerada como a
técnica de eleição. Fazem parte deste grupo as crianças:
153
Vantagens e desvantagens da AVT
Em geral, as drogas utilizadas na AVT são consideradas menos tóxicas aos profis-
sionais da saúde por não poluírem o ambiente de trabalho.
A AVT e os sistemas de infusão alvo controlado podem ser usados para atin-
gir uma concentração no órgão efetor desejada, o que permite uma rápida indução
anestésica e uma maior previsibilidade do plano anestésico, do despertar e da recu-
peração da mesma. Previnem a administração de uma dose desnecessária da droga,
aumentando a segurança da anestesia e facilitando a recuperação dos reflexos prote-
tores da via aérea. Proporcionam uma maior estabilidade cardiovascular6 e uma maior
satisfação da criança e dos pais.
Porém, como qualquer técnica anestésica, a AVT na criança apresenta algumas
desvantagens, como a necessidade de uma veia canulada para a indução da anestesia
e de bombas de infusão compatíveis com a faixa etária, as restrições ao uso do propofol
em crianças menores de 3 anos de idade, a queixa de dor durante a infusão do propofol
e o risco de um controle inadequado da consciência no perioperatório, principalmente
no que se refere à população pediátrica, onde a monitorização da profundidade anesté
sica não está adequadamente validada.
Como o fluxo sanguineo regional, a composição corpórea e suas propor-
ções variam durante o desenvolvimento. Por isso, a farmacocinética e a farmaco-
Anestesia Venosa Total
dinâmica das drogas acaba sendo mais complexa nesta população, o que impede
a extrapolação direta dos modelos descritos para os adultos. Os modelos farma-
cocinéticos podem estimar o tempo necessário para que a concentração no órgão
efetor (Ce) decline a um nível em particular, mas a Ce exata em que a criança
irá atingir o plano anestésico planejado não é bem conhecida nesta população.
Outro fator limitador para seu uso na população pediátrica é a disponibilidade de
softwares apenas para crianças saudáveis, maiores de 1-3 anos de idade ou de
10-15 Kg do peso corpóreo.
A farmacocinética e a AVT
A AVT, assim como a anestesia inalatória, tem como objetivos principais a ob-
tenção da insensibilidade à dor e da hipnose. Na AVT, este objetivo deve ser atingido
com drogas injetadas na veia em bolus, seguido de uma infusão contínua. Para
que isto ocorra, a droga administrada por via endovenosa deve atingir a circulação
sistêmica, atravessar a ciculação pulmonar e ser distribuída aos órgãos alvos e de-
mais sistemas. Todos estes órgãos e sistemas apresentam fluxo sanguineo variável,
atividade metabólica enzimática e proporções diferentes com relação à gordura e à
água. O volume de distribuição (VD) e o clearance são as duas variáveis farmacociné-
ticas necessárias para se calcular a quantidade inicial da droga (bolus) e a quantidade
infundida.
O VD corresponde ao volume aparente em que a dose administrada de um certo
fármaco se mistura para atingir dada concentração. Seu valor é obtido dividindo-se o
bolus da droga pela concentração:
154
V D = BOLUS/CONCENTRAÇÃO
BOLUS = VD x CONCENTRAÇÃO
CLEARANCE = K x VD0
Modelo monocompartimental
ou
155
Infelizmente, a maioria das drogas utilizadas em medicina não segue este mo
delo monocompartimental. Em geral, as drogas anestésicas, e, em particular, as drogas
utilizadas na AVT, seguem um modelo tricompartimental.
Modelo tricompartimental
156
Figura 2 - Modelo tricompartimental. Neste modelo, as drogas se comportam como se o organismo fosse
composto por 3 compartimentos: V1= compartimento central, V2 e V3= compartimentos periféricos.
Para entendermos o que muda na anestesia venosa total nesta faixa etária, é fun-
damental conhecer algumas peculiaridades relacionadas ao desenvolvimento fisiológico
e os fatores que interferem com os modelos farmacocinéticos, como a distribuição e a
eliminação das drogas.
Na população pediátrica ocorrem diversas alterações fisiológicas (na composição da
água e da gordura, na concentração de proteínas, no débito cardíaco, na atividade meta-
bólica e na capacidade de eliminação) que decorrem do desenvolvimento normal da idade, o
que leva a uma grande variabilidade interindividual da farmacocinética e da farmacodinâmi-
ca, dificultando a utilização dos modelos farmacocinéticos desenvolvidos para os adultos6.
As alterações que podem influenciar a farmacocinética e o metabolismo das
drogas seguem o processo de maturação dos órgãos e dos sistemas. Esse processo
pode ser dividido em, basicamente, três períodos, que vão do nascimento aos 15 anos
de idade. No período neonatal, as doses de anestésicos para atingir e manter a con-
centração alvo desejada devem ser, em geral, menores. Durante a infância (que corres
ponde aos dois primeiros anos de vida) ocorre, por um lado, um aumento progressivo no
volume de distribuição (VD) e, por outro, uma rápida maturação do clearance. Portanto,
a dose (por unidade de Kg de peso corpóreo) necessária para atingir e manter a concen-
tração alvo desejada deve ser maior que a do adulto. Essas características também são
encontradas na criança na fase pré-puberal (dos 3 anos à puberdade), onde os volumes
são duas vezes maiores e o clearance intercompartimental 50% maior que o dos adul-
tos. Após a puberdade, os valores se assemelham aos do adulto.
Se, por um lado, as crianças saudáveis geralmente necessitam de doses maiores
de agentes intravenosos por unidade de peso corpóreo, e de elevadas taxas de infusão
para a manutenção das suas concentrações quando comparadas aos adultos, por outro
157
lado, os neonatos imaturos e as crianças em mal estado geral ou com disfunção de
órgãos podem precisar de doses menores da droga. Ou seja, o volume aparente em
que as drogas se distribuem variam individualmente entre as crianças, entre a mesma
criança nos diferentes estágios de desenvolvimento e entre as drogas5.
Atualmente, foram descritos diversos modelos farmacocinéticos em pacientes
de diferentes idades (Marsh e Kataria) que possibilitam o uso da AVT neste grupo de
pacientes.
Drogas e técnicas
158
sob ventilação espontânea e para procedimentos de curta duração15. Seus efeitos no
sistema cardiovascular e no sistema nervoso central já estão bem documentados. A
hipotensão arterial é menos intensa nesta faixa etária, devendo-se tomar cuidado nas
crianças com cardiopatias congênitas cianóticas. No sistema respiratório, os efeitos de
sua administração em bolus são menos descritas nesta população, mas pode causar
depressão dose-dependente da ventilação minuto devido a sua ação na resposta dos
quimioreceptores a PaCO216.
Por não apresentar poder analgésico, é necessário sua associação com outros
agentes que apresentam este poder de ação.
Crianças saudáveis apresentam um VD 50% maior que o dos adultos e um
clearance que pode ser duas vezes maior16, necessitando, portanto, de maiores quanti-
dades de propofol quando comparadas aos adultos, tanto para a indução (3 a 5mg/kg
versus 2 a 3mg/kg) quanto para a manutenção da anestesia. No entanto, as diferenças
no débito cardíaco, que podem afetar a distribuição da droga entre os compartimentos
e a alteração na eliminação desta pelos rins e pelo fígado, devem ser consideradas.
Como o sistema nervoso central é o órgão alvo para a ação hipnótica do propo-
fol, ele é conhecido como sítio efetor. O tempo necessário para que a concentração do
propofol no sítio efetor (Ce) se equilibre com a concentração plasmática (Cp) após um
0
00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00
Fig 3 - Ce e Cp predito após uma dose em bolus de 5 mg/kg em criança de 20 Kg seguido de uma taxa de
infusão de 200-1000 ml/h. Adaptado da referência 03.
159
O esquema descrito por Roberts, Tackley e colaboradores para adultos saudáveis
(dose bolus de 1 mg/kg EV seguido de taxa de infusão de 10 mg/kg/h por 10 minutos,
8 mg/kg/h nos próximos 10 minutos seguidos de 6mg/kg/h, permite manter a concen-
tração plasmática de propofol em torno de 3 mcg/ml5, sendo altamente efetivo para esta
população, permitindo atingir o sitio efetor de forma rápida, manter a Cp durante a fase de
redistribuição da droga e, prevenir o acúmulo do propofol nos compartimentos periféricos
ao se trabalhar com taxas de infusão menores. Mas, quando este mesmo esquema foi
utilizado em crianças de 1 ano de vida e 10 kg, através do Paedfusor®, a concentração
atingida da droga foi de aproximadamente 2 mcg/kg, diminuindo com o passar da infusão,
permanecendo, desta forma, abaixo da concentração considerada efetiva.
Um estudo demonstrou que para se obter concentrações plasmáticas de 3mcg/mL de
propofol em crianças com idades entre 3 e 11 anos, após um bolus da droga, foi necessário
infusão de quantidades 50% maiores que as doses administradas nos pacientes adultos18 e
taxas de infusão de “19, 15 e 12mg/kg/h” a cada 10 minutos, conforme tabela I.
Este estudo mostrou ainda uma ½ vida contexto sensitiva do propofol maior que
em adultos. Após uma infusão de 1hora e 4 horas a ½ vida do propofol foi de, respec-
tivamente, 10,4min e 19,6 min. Dados da literatura citam os valores de 6,7 min e 9,5
min na população adulta quando avaliada neste mesmo tempo (Figura 4).
160
Outra pesquisa analisou a resposta clínica em 2271 crianças, com idades inferio
res a 3 anos, após um estudo piloto em 50 crianças que receberam diversas doses
de propofol em infusão contínua. Os autores observaram que as crianças com idades
inferiores a 1 ano necessitaram de maiores doses do propofol para o mesmo efeito
clínico7 (Tabela II). O despertar foi mais rápido nas crianças com idades entre 1 e 3
anos (11,2 min) e mais lento nas crianças com idades entre 0 e 6 meses (26 min). Os
efeitos colaterais observados nesta longa série de pacientes foram considerados pelos
autores de menor importância.
Opióides
161
infusões prolongadas nas crianças, diferente dos demais opióides19, conforme demonstra-
do na tabela III. O clearance do fentanil, do alfentanil e do sufentanil estão reduzidos em
neonatos e infantes devido à imaturidade hepática ou à limitada capacidade dos demais sis-
temas enzimáticos. Estas características farmacocinéticas estão em nítido contraste com
o perfil farmacocinético de outros opióides, tornando o remifentanil uma boa opção para
o uso em infusão contínua na população pediátrica. O sinergismo farmacocinético entre o
propofol e o remifentanil tem sido bem descrito e uma relação dose-dependente é evidente.
Tabela III - ½ vida contexto sensitiva dos opióides nas crianças (minutos).
162
Cetamina
Midazolam
Dexmedetomidina
163
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164
Capítulo 15
Introdução
Fisiopatologia
165
ao estômago a toxina ingerida oralmente e a contração intestinal retrógrada, para retor-
nar qualquer conteúdo duodenal ao estômago, tornando-o mais disponível para ejeção.
A fase de pós-ejeção consiste em respostas autonômicas e viscerais que promovem o
retorno do organismo à fase quiescente, com ou sem náuseas residuais3.
A complexidade deste mecanismo é controlada pelo centro do vômito (CV), loca-
lizado na formação reticular parvocelular do bulbo, próximo ao núcleo do trato solitário
(NTS) e ao centro motor dorsal do nervo vago3, que é o responsável pela coordenação
da resposta eferente motora que integra as musculaturas respiratória e abdominal no
ato do vômito4. Este reflexo tem diversas vias aferentes que levam os estímulos eméti-
cos ao CV, podendo ser de origem periférica ou central.
As vias periféricas têm origem no TGI e o nervo vago (seguido de alguns aferentes
simpáticos) é o principal envolvido. Existem dois tipos fundamentais de fibras aferen-
tes: os mecanorreceptores4, localizados na parede muscular do intestino, podendo ser
ativados por contração ou distensão do TGI, e os quimiorreceptores4, localizados na
mucosa da parte mais alta do intestino, estimulados por irritações locais, soluções
ácidas, alcalinas, hipertônicas, temperatura ou fármacos, como a cisplatina e alguns
anestésicos3. Os estímulos eméticos originados em vísceras abdominais são transmi-
tidos através de aferentes vagais e simpáticos para o sistema nervoso central (SNC).
São eles, entre outros: tração visceral, obstrução intestinal, inflamação aguda (como
apendicite), íleo paralítico, dor visceral e doenças cardíacas como infarto agudo do
Anestesia Venosa Total
166
deixam o CV através do V, VII, IX, X e XII pares cranianos até o TGI e, através de nervos
espinhais, até o diafragma e musculatura torácica e abdominal, promovendo a fase de
ejeção previamente descrita3.
Múltiplos neurotransmissores (NT) e seus respectivos receptores estão envolvi-
dos na transmissão de impulsos à ZQG e CV e são os principais alvos da profilaxia e
terapia antiemética farmacológica multimodal4. Entre os NT encontrados, destacam-se
a acetilcolina, dopamina, serotonina ou 5 - hidroxitriptamina (5 - HT), histamina, subs-
tância P e outras neurocininas, além de encefalinas e opióides. Receptores colinérgicos
muscarínicos (M2) e de histamina (H1) são encontrados principalmente no labirinto e
núcleo vestibular, participando ativamente da gênese das cinetoses. A área postrema
é rica em receptores dopaminérgicos (D2), serotoninérgicos do subtipo 3 (5 - HT3) e de
opióides. O NTS por sua vez, é rico em receptores M2, H1, de encefalinas e de neuro-
cininas (NK - 1)4.
Na periferia, receptores D2 nas paredes da mucosa do estômago e intestino são
estimulados pela dopamina e, além do estímulo aferente para ZQG e CV, retardam o
esvaziamento gástrico, contribuindo para distensão e gastroparesia. Receptores 5 - HT3
existem também na periferia e são altamente sensíveis à secreção de serotonina pelas
células enterocromafins do TGI, constituindo importante aferência periférica aos cen-
Figura 1 - Mecanismos relacionados a náuseas e vômitos. Traços (- - -): vias neuronais; pontilhados (...): fato-
res associados a NVPO; linhas (¬¬__): locais de ação dos antieméticos7.
167
Figura 2 - Representação esquemática da ZQG, CV, NTS, receptores, agonistas e antagonistas envolvidos no
reflexo do vômito (5-HT3 = serototina; Ach = acetilcolina; H1 = histamina; NK-1= neurocinina ou substância
P; D2= dopamina)4:
Anestesia Venosa Total
168
Tabela I - Fatores de risco para NVPO em adultos8.
169
Tabela II - Critérios de Apfel et al.8 para estratificação
do risco de NVPO em adultos.
Tabela III - Critérios de Eberhart et al. 8 para estratificação do risco de VPO em crianças.
Anestesia Venosa Total
170
Tabela IV - Estratégias para redução dos riscos basais8.
171
Anestesia Venosa Total
Anti colinérgicos
172
A escopolamina tem sido empregada com maior eficácia por via transdérmica sob
a forma de emplastro de 2,5 cm2 aplicado na região mastóidea retroauricular, contendo
1,5 mg e programado para liberar a droga na proporção constante de 5 μg/h durante 3
dias3. Seu início de ação em torno de 2 a 4h é lento, e a escopolamina transdérmica
deve ser aplicada na noite antes da cirurgia ou 4h antes do final da anestesia3. Apre-
senta efeitos colaterais como boca seca, sedação, distúrbios visuais, alterações de
memória, disforia, hipertermia e, ocasionalmente, confusão, desorientação, agitação
e alucinações, principalmente em idosos, onde seu uso deve ser cuidadoso ou mesmo
evitado3.
Anti - histamínicos
Dexametasona
Butirofenonas
173
mética potente deve - se ao bloqueio dos receptores D23. Possuem atividade bloquea-
dora alfa-adrenérgica moderada, podendo levar à hipotensão. Outros efeitos colaterais
incluem a sedação e efeitos extrapiramidais em doses mais elevadas.
Após 30 anos de uso como primeira linha em terapia antiemética com relativa
segurança, em dezembro de 2001, o FDA (Food and Drug Administration) emitiu nota
em relação ao prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma (ECG) com maior
susceptibilidade para o desenvolvimento de Torsade de Pointes (TdP) e morte súbita
após uso perioperatório do droperidol (FDA Black Box Warning for Droperidol)15. O me-
canismo proposto seria de um bloqueio nas correntes de potássio durante o período
de repolarização da fibra cardíaca, aumentando o intervalo QT e tornando a fibra mais
susceptível a uma despolarização no período refratário relativo, o que poderia ocasionar
uma série de arritmias ventriculares16. A entidade publicou casos de arritmias fatais e
não - fatais e recomendou cuidado na utilização do droperidol, assim como a monitoriza-
ção com ECG em 12 derivações por 2 a 3 h após o uso do mesmo16.
Com o passar do tempo, diversos estudos tem questionado as evidências do FDA
Black Box Warning for Droperidol por não se conseguir realmente relacionar o uso de baixas
doses da droga às fatalidades registradas15, além da raridade de tais eventos mórbidos.
Em estudo randomizado e controlado envolvendo 1028 pacientes que receberam
0,625 mg e 1,25 mg de droperidol, não foram registrados efeitos cardiovasculares ou
mortes súbitas ligados à terapia17. Metanálise subsequente de 76 estudos com 5351
Anestesia Venosa Total
174
e, perifericamente, nas terminações parassimpáticas (aferentes vagais) do TGI. O aumento
do ciclo de produção e liberação de serotonina pelas células enterocromafins do intestino
delgado sugere que esta resposta contribua para o efeito emético, possivelmente iniciando o
reflexo do vômito através da ativação de fibras vagais que, por sua vez, promoveriam aferência
à ZQG e CV3. O antagonismo destes agentes se dá, portanto, de forma central e periférica.
São mais eficazes quando administrados ao final do procedimento8. O dolasetron e o granise-
tron apresentam maior afinidade pelo receptor 5 - HT3 que o ondansetron, assim como meias
- vidas de eliminação mais prolongadas (dolasetron: 6,9 a 7,3 h; granisetron: 4,9 a 7,7 h e
ondansetron: 3,5 a 5,5 h). O perfil farmacodinâmico parece não diferir entre os agentes desta
classe, porém a maioria das pesquisas envolve o ondansetron, que tem um maior efeito anti
vômito do que anti náusea8. São considerados igualmente seguros e são relatados efeitos
colaterais como cefaléia, constipação e elevação transitória de enzimas hepáticas. Conforme
mencionado acima, o ondansetron possui capacidade semelhante ao droperidol em prolongar
o intervalo QT, porém sem nenhuma recomendação do FDA até o momento.
Terapia combinada
Adultos com risco moderado para NVPO devem receber um ou mais antieméticos
175
A literatura recente sugere que, quando em terapia profilática combinada, as do-
ses de droperidol não devem exceder 1 mg, as de dexametasona não devem ultrapassar
10 mg e o ondansetron utilizado até dose máxima de 4 mg 8.
Estudo isolado mostrou que a combinação de prometazina com ondansetron re-
duziu tanto a frequência quanto a severidade de NVPO em cirurgias envolvendo ouvido
médio8.
Estudo randomizado, controlado, duplo - cego, em 24 centros diferentes, anali-
sando 620 mulheres submetidas a videolaparoscopias ou mastoplastias com prótese
sob regime de CP salientou que a utilização da escopolamina transdérmica associada
ao ondansetron obteve melhores resultados em relação a NVPO que o uso isolado do
ondansetron5.
Estudo randomizado, duplo - cego, não - controlado com 268 pacientes compa-
rando 4 mg de ondansetron vs. 4 mg ondansetron + 1 mg haloperidol em população
cirúrgica diversa demonstrou que a associação é significativamente mais efetiva e de
maior duração na profilaxia de NVPO que o ondansetron sozinho21.
Estudo randomizado, controlado, duplo - cego, comparando placebo vs. 1,25 mg
droperidol vs. 2 mg haloperidol vs. 5 mg dexamentasona vs. 2mg haloperidol + 5 mg de-
xametasona em 400 mulheres submetidas à histerectomia vaginal vídeo - assistida sob
anestesia geral, novamente evidenciou a superioridade da combinação dos 2 últimos
antieméticos em relação aos usos dos outros isoladamente, sem diferenças nos efeitos
Anestesia Venosa Total
176
Tabela V - Doses dos antieméticos e momento ideal para sua administração
na profilaxia de NVPO em adultos8:
177
te menor de NVPO quando esses pacientes foram tratados com administração liberal de
cristalóides (30 a 40 ml/kg no intraoperatório) vs. estratégia restritiva (10 a 15 ml/kg no
intraoperatório). O mecanismo antiemético ainda é incerto, mas parece estar relacionado à
diminuição da secreção de 5 - HT3 a partir das células enterocromafins de uma mucosa do TGI
normoperfundida, o que não acontece em casos de hipoperfusão com isquemia esplâncnica
e mesentérica, onde o estímulo serotoninérgico aferente periférico é maior24-26. Além disso, a
hipotensão com baixa perfusão do CV pode desencadear resposta emética eferente.
Análise retrospectiva de 1032 pacientes no intraoperatório e 176 pacientes no
perioperatório onde foi usada sonda gástrica para aspiração de fluidos concluiu que o
uso rotineiro desta estratégia não reduz a incidência de NVPO27. Alguns subgrupos de
pacientes, porém, podem se beneficiar da técnica.
Não existem evidências adequadas para considerar a hipnose como modalidade
promissora na profilaxia antiemética não - farmacológica8.
Anestesia Venosa Total
Pacientes com alto risco devem receber profilaxia com terapia combinada ou multimodal
que incluam 2 ou mais intervenções. Drogas de diferentes classes devem ser selecionadas para
otimizar os resultados. Anestesia regional, principalmente através de bloqueios periféricos, deve
ser considerada. Se a anestesia geral for utilizada, os fatores de risco basais devem ser reduzi-
dos, quando possível. Terapias não farmacológicas e adjuvantes devem ser consideradas8.
A literatura tem demonstrado claramente a superioridade da combinação de agentes de
primeira linha em relação ao uso isolado de cada um deles. Revisões sistemáticas examinando
combinações terapêuticas duplas têm demonstrado eficácia semelhante entre antagonistas de
5 - HT3 + dexametasona ou droperidol + dexametasona ou antagonistas 5 - HT3 + droperidol.
Combinações duplas envolvendo a metoclopramida não foram capazes de reduzir a
ocorrência de NVPO de forma mais efetiva que os agentes de primeira linha isoladamente,
demostrando mais uma vez a ineficácia daquele agente na profilaxia em doses clínicas8.
Uma abordagem multimodal combinando profilaxia farmacológica e não farmacológica a
intervenções visando reduzir os riscos basais foi proposta por Scuderi et al28 em estudo envol-
178
vendo mulheres submetidas a cirurgias laparoscópicas sob regime de CP. O protocolo reuniu
as seguintes medidas: ansiólise pré - operatória; anestesia geral venosa total com remifentanil
e propofol; ausência de óxido nitroso ou bloqueadores neuromusculares (portanto sem neces-
sidade de neostigmine para reversão); hidratação venosa generosa (25 ml/kg de cristalóides);
combinação tripla de antieméticos (1 mg ondansetron + 0,625 mg droperidol + 10 mg dexame-
tasona) e 30 mg cetorolaco IV visando analgesia pós-operatória. O autor obteve 98% de resposta
completa (ausência de qualquer episódio de náusea ou vômito) neste grupo de terapia multimo-
dal, comparada a 76% de resposta completa entre os pacientes recebendo monoterapia e 59%
entre aqueles que receberam placebo associado aos cuidados anestésicos.
179
Tabela VII - Combinações sugeridas de antieméticos profiláticos em pediatria8:
Sexta diretriz: tratar pacientes com nvpo que não receberam profilaxia
ou nas situações de falha de profilaxia
180
Segundo avaliação preliminar em análise multivariada, alguns autores sugerem
que os preditores independentes para NVPAH podem diferir um pouco dos critérios
clássicos de Apfel, sendo sexo feminino, idade jovem, tempo cirúrgico maior que 1h,
uso perioperatório de opióides (incluindo oral) e história de NVPO na SRPA os mais re-
levantes9,29.
Estudo de White et al30, prospectivo e observacional, envolvendo 11 centros e
376 pacientes de alto risco para NVPO (2 ou mais critérios de Apfel), avaliou a efi-
cácia da utilização profilática de uma, duas, três ou mais drogas antieméticas em
cirurgias laparoscópicas ou plásticas estéticas sob regime de CP. A administração
de três ou mais antieméticos teve o impacto mais positivo até as primeiras 72h de
pós-operatório, tanto em relação à menor incidência de NVPO quanto em relação à
menor interferência funcional que esses sintomas trouxeram nas atividades diárias
dos participantes. O estudo também conclui que, a despeito da prevenção realizada
com mais de uma droga antiemética, a incidência dos sintomas em pacientes de alto
risco, inclusive interferindo no retorno à vida normal, ainda é relativamente alta e
pode ser diminuída proporcionalmente ao número de intervenções visando profilaxia
(Figura 6).
Estudo prospectivo, randomizado e duplo - cego comparando dois regimes an-
Novas terapias
181
Anestesia Venosa Total
reflexo do vômito, como o núcleo motor dorsal do vago), podendo estimular o CV4,9. A distri-
buição destes receptores em vários pontos do arco reflexo do vômito difere um pouco dos
outros e torna a terapia com seus antagonistas de interesse particular em NVPO. Eles têm
demonstrado atividade antiemética importante em estudos envolvendo esquemas altamen-
te emetogênicos de quimioterapias, irradiação, opióides ou movimento (cinetoses)9,32.
O aprepitant é o primeiro antagonista altamente seletivo do receptor NK - 1 disponível no
mercado mundial aprovado para uso e recomendado por consensos e diretrizes na preven-
ção de náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia (NVIQT)33. Desde então, seu uso
no perioperatório tem sido objetivo de vários estudos. É utilizado na forma oral e apresenta
meia - vida longa de 9-13 h32,33, com efeitos clínicos muitas vezes superiores a este tempo.
182
Náuseas e Vômitos no Pós-operatório
Figura 6 - Incidência de vômitos, náuseas e interferência funcional em 0-24h, 24-72h e 0-72h
após as cirurgias em função do número de antieméticos administrados30.
183
O palonosetron é um antagonista 5 - HT3 venoso de segunda geração altamente seletivo
e muito mais potente que os da primeira geração, aprovado pelo FDA para prevenção e tratamen-
to de NVIQT agudos e tardios. Sua meia - vida plasmática é longa e ultrapassa 40h37,38,39. Ele
atua de forma diferente do ondansetron e granisetron, ligando - se em região alostérica distinta
dos mesmos no receptor 5 - HT3 de uma forma pseudoirreversível, devido à sua afinidade 30
vezes maior que o granisetron e 100 vezes maior que o ondansetron. Além disso, alguns investi-
gadores sugerem também um possível processo de internalização do receptor determinado pelo
palonosetron, o que ajudaria também a explicar esta duração de ação tão prolongada37-39.
Apresenta efeitos colaterais benignos semelhantes aos antagonistas 5 - HT3 de primei-
ra geração, com um potencial de prolongamento do intervalo QT muito menor que o do ondan-
setron e dolasetron, podendo ser administrado com segurança inclusive em cardiopatas39.
Dois estudos recentes, randomizados, multicêntricos, duplos - cegos e placebo
- controlados de fase III foram publicados avaliando a eficácia do palonosetron. O pri-
meiro, envolvendo 28 centros e 544 mulheres internadas submetidas a procedimentos
ginecológicos sob anestesia geral balanceada, comparou 3 diferentes doses únicas de
palonosetron (0,025 mg, 0,050 mg e 0,075 mg) vs. placebo na prevenção de NVPO40.
A dose de 0,075 mg reduziu a incidência de vômitos, a intensidade de náuseas e a
necessidade do uso de medicações de resgate para o tratamento, particularmente nas
primeiras 24 h.
O segundo estudo, envolvendo 574 mulheres com > 2 critérios de Apfel submeti-
Anestesia Venosa Total
das a procedimentos ginecológicos e/ou abdominais sob anestesia geral, desta vez em
regime de CP, comparou as mesmas 3 diferentes doses únicas de palonosetron (0,025
mg, 0,050 mg e 0,075 mg) vs. placebo na prevenção de NVPO41. Foi observado um au-
mento linear dose - resposta na incidência de resposta completa em relação ao placebo
nas primeiras 24h (26% placebo vs. 43% 0,075 mg palonosetron), além da redução dos
escores de náusea com o palonosetron 0,075 mg vs. placebo, no mesmo período41.
Baseado nestes dois estudos, a dose venosa de 0,075 mg é a dose de palonosetron
atualmente aprovada pelo FDA para prevenção de NVPO38-41. O palonosetron parece reduzir a
magnitude e a severidade também das náuseas, propriedade que não parece ser tão proemi-
nente com os antagonistas de primeira geração38,41. De forma similar ao aprepitant, seu uso
ainda não está aprovado em pacientes pediátricos no período perioperatório39.
Conclusões
NVPO são muito comuns após a cirurgia, inclusive após a alta hospitalar1,30,31. Nem todos
os pacientes irão se beneficiar da profilaxia. A identificação de pacientes e situações de alto risco
deve ser a base para as estratégias de prevenção. Os custos para o tratamento são, na maioria
das vezes, superiores aos custos da profilaxia, principalmente em relação aos gastos indiretos.
A redução dos fatores de risco e o uso de terapias não - farmacológicas são as
intervenções que apresentam os menores efeitos colaterais8. Combinações de drogas
antieméticas devem ser utilizadas em pacientes de alto risco e tem caráter aditivo1. A
tendência é que o número de intervenções seja proporcional aos fatores de risco, inclu-
sive devendo-se utilizar as combinações triplas, quando indicado30,31.
A profilaxia de NVPO em crianças de risco moderado a elevado deve incluir um
antagonista 5 - HT3 e, pelo menos, uma segunda droga8.
184
Quando existe necessidade do tratamento, um antiemético diferente dos admi-
nistrados na profilaxia deve ser inicialmente escolhido. Episódio emético ocorrido após
6 h de pós-operatório pode ser tratado com qualquer droga usada na profilaxia, exceto
a dexametasona e a escopolamina transdérmica8.
Novas terapias, como o aprepitant oral e o palonosetron venoso, são conside-
ravelmente seguras e parecem ser especialmente atrativas em situações de alto risco
de NVPO, nos caso em que os vômitos podem representar aumento da morbidade, em
falhas de profilaxia e, principalmente, na prevenção de NVPAH após procedimentos de
CP, devido à sua excelente eficácia e às suas meias - vidas incomparavelmente mais
prolongadas que às dos agentes antieméticos habituais32-41.
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Anestesia Venosa Total
186
Capítulo 16
Cardioproteção
Luis Antonio dos Santos Diego
Introdução
Cardioproteção
menos fisiopatológicos, e dentre eles destacam-se aspectos relacionados à morte celular
e a mecanismos endógenos de autoproteção. Também a farmacologia experimentou salto
qualitativo por igual motivo; a farmacodinâmica, em especial, cresce vigorosamente com
os detalhes possíveis da biologia molecular e da genética. Doutro modo, a pesquisa clínica
permite, considerando-se a metodologia científica e os princípios da bioestatística, que os
indícios observados na bancada do laboratório possam vir a ser confirmados, ou rejeitados,
em análise de resultados (desfecho).
Este capítulo, após breve introdução aos mecanismos celulares e fisiológicos da
cardioproteção, principalmente àqueles diretamente relacionados às ações dos agentes
anestésicos, irá apresentar sucinta integração da literatura sobre as evidências clínicas
da cardioproteção promovida por agentes anestésicos venosos.
187
tal a esse peculiar processo de morte celular – o que não ocorre com a necrose celular
estabelecida em processo isquêmico prolongado ou definitivo.
O preceito de que nenhum benefício orgânico poderia vir a ocorrer como conse-
quência do processo isquemia-reperfusão propriamente dito foi desconstruído, cien-
tificamente, a partir do pioneiro estudo experimental realizado por Murry e col.4 que
puderam, naquela ocasião, observar menor área de infarto do miocárdio em cães que
sofreram, como intervenção, quatro breves períodos de interrupção (5 min de isquemia
com 5 min de intervalo entre eles) do fluxo coronariano, aplicados imediatamente antes
de períodos mais prolongados (40 min). Empiricamente, comprovaram a existência de
mecanismos de adaptação endógena à isquemia. Desde então, o termo “pré-condi-
cionamento” (PC) vem sendo empregado para designar o efeito benéfico que determi-
nado estresse físico (pré-condicionamento isquêmico - PCI) ou com agente farmacoló-
gico (PCF), previamente infligido ao órgão alvo, pode proporcionar-lhe em decorrência
da maior tolerância adquirida a estímulos posteriores, mais duradouros e intensos.
Diversos pesquisadores5,6, sugeriram a existência de PC remoto (miocárdio), i.e., em
decorrência de ativação neurogênica (cardioproteção suscetível a bloqueio ganglionar) e
hormonal, mas ainda por vias muito pouco esclarecidas.
A resposta inflamatória local, decorrente da interação entre neutrófilos e células
endoteliais durante a reperfusão, também participa com o aumento de radicais livres de
oxigênio que desempenham relevante função apoptótica7. Citocinas são liberadas dos
Anestesia Venosa Total
188
lização do Ca++ em neutrófilos e sua correlação com o aumento de radicais livres de
oxigênio. O íon Ca++ atua como segundo mensageiro na ativação da NADPH oxidase,
fonte de radicais livres de oxigênio. Fröhlich e col.14 relataram que a ativação direta da
proteína cinase c (PKC) resultaria na geração de radicais livres de oxigênio, e que esse
processo não era modificado com a exposição a anestésicos voláteis. Nesse mesmo
ano, entretanto, Rehring e col.15, ao estudarem o pH em preparações de corações isola-
dos de ratos após estímulo de PCI, observaram diminuição da acidose, possivelmente
dependente de PKC e troca de Na+/H+.
A fase inicial do pré-condicionamento (“clássica”) permanece por cerca de duas
horas após o evento pré-condicionante, porém, esse primeiro estímulo irá determinar
uma nova fase do pré-condicionamento que pode permanecer por até 72 h e denomina-
se “second window of protection - SWOP”. Nessa fase, o processo determinará respos-
ta genômica e síntese16 protéica específica.
Inicialmente, o pré-condicionamento isquêmico (PCI) do miocárdio foi o mais estu-
dado. Entretanto, logo surgiram evidências de que diversos outros órgãos, além do cora-
ção, também seriam suscetíveis a mecanismo protetor semelhante, tais como: sistema
nervoso central17, musculatura esquelética18, pulmões19, fígado20 e intestino21.
Em condições de estresse e aumento na concentração de Ca++, poros não-es-
pecíficos, com permeabilidade transitória da mitocôndria (“mitochondrial permeability
transition pore” - mPTP), localizados na parte interior da membrana mitocondrial, tor-
nam-se, na reperfusão, permeáveis a proteínas que usualmente não chegam ao interior
Cardioproteção
da mitocôndria, determinando edema mitocondrial, disfunção da cadeia de elétrons e,
consequentemente, inibição da fosforilação oxidativa. Baines e col.22 admitem que es-
ses poros poderiam ser um dos possíveis alvos das vias sinalizadoras. Muitas dessas
vias envolvem proteínas cinases C (PKC) que compõem o sistema RISK (“reperfusion
induced salvage kinases”). São onze as isoformas conhecidas23, que podem ser ativa-
das, em sua maioria, por Ca++ ou lipídios (diacilglicerol, fosfatidilserina). A importância
de cada uma das isoformas como agentes mediadores ainda gera controvérsias sobre
sua ação como mediador, e também apresenta variações entre as espécies e órgãos
pesquisados. Outras proteínas cinases, como a G e A, também estão relacionadas ao
processo de PC. Tirosina-cinases também fazem contribuições ao PC de duas maneiras:
como receptor de membrana com ação de “gatilho” ativador de proteínas cinases C, ou
como receptor no citosol, atuando como mediador paralelo à PKC. Estes receptores de
tirosina parecem estimular proteínas cinases ativadas por mitogênese (“mitogen-acti-
vated protein kinase” - MPAK), que possuem diversas funções celulares, dentre elas a
de sinalização intracelular (Erk1/2, p38, JNK, BMK1, são exemplos de MPAK). Também
a cinase-fosfadil-inositol-3 (PI3K), estimulada por hormônio do crescimento e outros
fatores, pode ativar vias sinalizadoras do PC, principalmente a proteína serina-treonina
cinase, denomianada Akt, associada ao crescimento e sobrevivência celular. Tong e
col.24 demonstraram a ativação da cascata de PI3K-Akt em protocolo de PC; entretanto,
Tsang e col.25 estudaram corações de ratos diabéticos e observaram que este mecanis-
mo encontra-se deprimido. Outros mecanismos podem estar envolvidos, como o STAT-3
(“signal transducer and activator of trasncription-3”), relacionado principalmente com
SWOP e estímulo por TNF-a26. Essa via pode ser ativada pela janus-cinase (JAK) em uma
cascata que conduz o sinal pré-condicionante até o núcleo celular e a expressão genéti-
189
ca é então modulada. Interessante que, no SWOP, esse sistema promove a estimulação
do tipo “gatilho” (“upstream”) de óxido nítrico sintetase induzível (iNOS) e cicloxigenase-
2 (COX-2), conhecidos mediadores e efetores de proteção27.
Zaugg e col.28 utilizaram, também em cardiomiócitos, técnica de microscopia e
autofluorescência em modelo simulado de isquemia celular. Foram adicionados à pre-
paração diversos agentes bloqueadores, e estimuladores, de receptores de membrana
sarcoplasmática e mitocondrial, além de moduladores de vias sinalizadoras. Concluíram
que os anestésicos voláteis poderiam agir seletivamente em canais mitocondriais de
KATP após estimulação de proteína cinase C por diversas vias sinalizadoras. Esta con-
clusão, entretanto, ainda pode ser questionada quando se analisa o estudo de Notsu e
col.l29, realizado em cardiomiócitos submetidos à redução de ATP intracelular, e verifica-
se ação bloqueadora de ambos os canais K+ATP .
Os canais K+ATP apresentam, presumivelmente, a atribuição de regular as res-
postas celulares à isquemia em função da concentração intracelular de ATP30, ou seja,
são intrinsecamente ligados ao metabolismo energético celular. São dois os tipos
encontrados: sK+ ATP, no sarcolema, e mK+ATP, na membrana mitocondrial, este
último, de mais difícil estudo31. Ainda existem controvérsias sobre a maior ou menor
importância de cada um dos dois tipos de canais K+ ATP na mediação do PC, quer is-
quêmico, quer farmacológico32. Os canais sK+ ATP parecem ter maior participação no
PCI, enquanto os mK+ ATP estão mais relacionados ao PC farmacológico.
Anestesia Venosa Total
Enfim, são amplas as evidências de que o PCA não ocorre devido a único fator,
quiçá multifatorial, mas decorrente da ligação dos fármacos a receptores específicos
da membrana celular.
190
A partir da confirmação científica laboratorial do PCA, o paradigma que norteava
as pesquisas em anestesiologia, especialmente em anestesia inalatória, sofreu impor-
tante mudança. Até o início dos anos 1990 pensava-se no desenvolvimento de anestési-
cos mais seguros, de fácil manuseio e armazenamento, com início de ação e despertar
mais rápidos, fatores que favoreciam o maior desenvolvimento da cirurgia ambulatorial.
O aumento da competitividade no mundo globalizado também havia direcionado a ges-
tão dos recursos para uma relação custo-benefício mais favorável economicamente.
Anestésicos voláteis com propriedades farmacológicas direcionadas a esse perfil da
prática anestesiológica foram desenvolvidos e comercializados. A grande aceitação clí-
nica de anestésicos como o isoflurano, o sevoflurano e o desflurano, por suas caracte-
rísticas, segurança e conforto de administração, não favorecia maiores investimentos
no setor1 à procura de novos anestésicos. Entretanto, com as evidências laboratoriais
do PCA, descortinou-se um novo campo de estudo e pesquisa. A complexidade da lesão
isquemia-reperfusão, com o envolvimento de diversos tipos celulares, mediadores e
agentes sinalizadores, não mutuamente exclusivos e emergindo em diversos momentos
do evento, dificulta substanciarem-se as evidências laboratoriais em medidas terapêu-
ticas possíveis. Considerando estas dificuldades, Vinten-Johansen e col.39 discutem, à
luz de constatações científicas estabelecidas, novas possibilidades terapêuticas, tais
como o pós-condicionamento, ou seja, o controle da reperfusão em função de maior
proteção orgânica posterior ao insulto isquêmico letal.
Diversos pesquisadores40,41,42,43,44,45,46,47,48 vêm apresentando estudos clínicos na
Cardioproteção
tentativa de corroborar as inferências científicas laboratoriais, principalmente em rela-
ção aos anestésicos voláteis; todavia, o real impacto que a aplicação clínica dessas evi-
dências irá determinar na morbi-mortalidade impõe a necessidade de estudos clínicos
muito bem desenhados (multicêntricos com elevado número de pacientes e variáveis
bem controladas) e de difícil elaboração, uma vez que as variáveis se avolumam no dia-
a-dia da prática cirúrgica, e também metanálises49. Além da dificuldade inerente às ocor-
rências do período perioperatório50, outros fatores – autonomia do paciente, habilidade
cirúrgica, evolução da doença, idade e estados clínicos – interferem sobremaneira na
avaliação da eficácia da cardioproteção, tanto isquêmica quanto por anestésicos. Idade
mais elevada contribui para o aumento de radicais livres e, possivelmente, para maior
abertura dos canais mPTP no miocárdio51. O aumento da glicemia parece, também, im-
pedir a ativação dos canais mitocondriais KATP52.
Estudo clínico realizado por De Hert e col.53, ainda na primeira metade da corren-
te década, testou propofol e sevoflurano em quatro grupos de pacientes (n=50) subme-
tidos à revascularização do miocárdio em diversos esquemas: G I= somente propofol,
G II= propofol substituído por sevoflurano após esternotomia até início da CEC, G III=
propofol substituído por sevoflurano após término das anastomoses e G IV= propofol
até esternotomia, substituído por sevoflurano até o final; e acompanhou valores de
troponina I por 48 h e função cardíaca por 24 h no pós-operatório. Analisando os resul-
tados, observaram que as concentrações pós-operatórias de troponina I foram menores
1 Charley H. Mcleskey, Abbott Laboratories. Comunicação pessoal em palestra sobre História do Sevoflurano
- São Paulo, março/2006.
191
em G IV do que nos outros grupos e, ainda, o tempo de permanência do paciente na
unidade de terapia intensiva pós-operatória foi significativamente maior em G I. Dentre
suas conclusões, expressam a importância do uso continuado do sevoflurano durante
todo o procedimento para que os seus efeitos cardioprotetores possam ser clinicamen-
te considerados. Esse estudo apresentou-se de acordo com resultados preliminares
divulgados anteriormente54, os quais comparavam tanto a função cardíaca (análise das
alterações na dP/dt – max e efeitos no relaxamento isovolumétrico e a pressão sistólica
final) quanto a concentração de troponina I no pós-operatório (36 h), a qual apresentava-
se significativamente menor no grupo com anestésico inalatório.
Mais recentemente, De Hert55 e col., divulgaram os resultados dos estudos realizados
pelo grupo de estudos VACMAN (Volatile Anaesthetics and Cardioprotection Multicentre ANaly-
sis), do qual participaram, envolvendo 9 diferentes centros e 414 pacientes submetidos a
cirurgia de revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea e análise comparativa
entre os efeitos de anestésicos voláteis (desflurano e sevoflurano) e TIVA (“Total IntraVenous
Anesthesia”). Nesse estudo multicêntrico, o desfecho primário observado foi a liberação de
troponina T no pós-operatório, que também, como a troponina I, é um marcador de injúria
miocárdica. Entretanto, a análise dos resultados se contrapõe àqueles anteriormente rela-
tados54, não evidenciando diferença significativa entre os valores de troponina T observados
em ambos os grupos. Nas considerações apresentadas na discussão dos resultados, os
autores realizam uma profunda reflexão sobre correlação entre os valores de troponina I e
Anestesia Venosa Total
192
Anestesia venosa total e cardioproteção
Propofol
Cardioproteção
tioxidante do propofol, já anteriormente apontada por Murphy e col.63, considerando-se
sua semelhança estrutural a outros “removedores” (scavengers) de radicais livres de
oxigênio, tais como a vitamina E, que reduz as ligações protéicas dissulfídicas e inibe a
peroxidação lipídica determinada pelo estresse oxidativo64,65,66.
Kawano e col.67,68, estudando miócitos de rato e cultura de células, verificaram
que propofol não atua nos canais KATP do sarcolema em doses compatíveis com o uso
clínico, mas talvez possa oferecer cardioproteção interferindo com os poros não-especí-
ficos, com permeabilidade transitória da mitocôndria (“mitochondrial permeability tran-
sition pore” - mPTP), localizados na parte interior da membrana mitocondrial, à seme-
lhança do mecanismo do pré-condicionamento isquêmico dos anestésicos voláteis. Em
condições de estresse celular, como isquemia-reperfusão, esses poros permanecem
abertos, comprometendo o potencial de membrana e determinando edema mitocondrial
e alterações nas cristas69. A ruptura da membrana libera citocromo C e outras molécu-
las pró-apoptóticas, além da depleção celular de ATP.
Em modelo experimental in vivo, Kobayashi e col.70 observaram redução da área
de infarto nos animais anestesiados com propofol em ambos os grupos (10 e 20 mg.kg-
1
) comparados com o controle.
Em humanos, Bein e col.71 compararam o efeito do sevoflurano em administra-
ção ininterrupta antes do início da circulação extracorpórea e administração contínua
durante todo o procedimento (cirurgia de revascularização do miocárdio, n=42) com
TIVA (propofol 3-4 mg.kg-1.h-1 e sufentanil 0,01 mcg.kg-1.min-1). Os desfechos primários
foram os níveis de troponina T e CK-MB (creatina cinase), além do índice de desem-
penho miocárdio (“MPI”) obtido com ecocardiografia transesofágica. Os resultados
mostraram que, em até 48 h no pós-operatório, o grupo anestesiado tão-somente
193
com propofol/sufentanil apresentou valores de troponina T superiores ao grupo que
utilizou sevoflurano de modo intermitente, mas semelhante àquele que o empregou
durante todo o procedimento. A análise ecocardiografia (MPI) não apresentou diferen-
ças entre os grupos, assim como o tempo de ventilação e permanência na UTI e de
internação hospitalar.
Opioides
Conclusão
194
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Anestesia Venosa Total
198
Capítulo 17
Renoproteção
Introdução
Renoproteção
períodos2. O primeiro é chamado de inicial, ou PC clássico, e produz proteção do órgão
imediatamente após o estimulo pré-condicionante; o segundo é o PC tardio, que surge
até 72 horas após o emprego do PC. Foi também observado que o PC isquêmico é ca-
paz de causar proteção tecidual em local distante daquele em que se realizou o PC2.
De interesse para a Anestesiologia é o acumulo de conhecimento acerca do mecanismo
molecular atuando no pré-condicionamento, mostrando a possibilidade de modulação
da isquemia/reperfusão via ação de fármacos, e, entre estes, os anestésicos inala-
tórios e os opióides (Tabela I)3. Este pré-condicionamento passou a ser chamado de
farmacológico.
199
Tabela I - Fármacos com capacidade para produzirem ou
inibirem o pré-condicionamento farmacológico (PCF)
Causam o PCF Inibem o PCF
Agonistas receptores da Adenosina Antagonistas dos receptores da Adenosina
Adenosina Teofilina, aminofilina, bamifilina
Aumentam a adenosina endógena
Dipiridamidamole
Abrem o canal de KATP Bloqueiam o canal de KATP
Nicorandil Glibenclamida
Diazoxido
Agonistas opióides Antagonistas dos receptores opióides
Morfina Naloxona
Fentanil
Remifentanil
Agonistas dos receptores a1 adrenérgicos Antagonistas dos receptores a1
adrenérgicos
Fenilefrina Fentolamina
Noradrenalina
Isoproterenol
Agonista do receptor a2 adrenérgico
Bradicinina
Inib enz conversora da angiotensina (ACE)
Captopril
Lisinopril
Antagonista do receptor Angiotensina II
Anestesia Venosa Total
Losartran
Anestésicos Inalatórios Anestésicos venosos
Isoflurano Tiopental
Halotano R-cetamina
Sevoflurano Pentobarbital
Enflurano
Desflurano
Doador de óxido nítrico
Nitroglicerina
Estatinas
Prevastatina
Etanol
Vinho (Resveratrol)
Corticosteroides Inibidores da Cox-2
Celecoxib
Eritropoetina e análogos
200
da mitoK+ ATP). Ambos os canais são bloqueados pela glibenclamida, mas, somente a
mitoKATP é bloqueada pela 5-hidroxidecanoato (5-HD). O diazóxido abre o canal mitoK+
ATP com maior afinidade do que o sarcK+ ATP. Isto mostra que estes canais apresentam
diferenças farmacológicas. A administração de diazóxido mimetiza o pré-condicionamen-
to e o 5-HD causa inibição deste fenômeno. A proteção do rim, causada pelo pré-condi-
cionamento, pode ser completamente bloqueada pela administração da glibenclamida.
Isto demonstra a importância destes canais para o pré-condicionamento (PC).
Finalmente, os efetores finais do PC denominados proteínas do choque térmico
(“heat shock protein” – HSP) HSP27 e HSP70 são responsáveis pela inibição da troca só-
dio/hidrogênio, pela prevenção do edema osmótico e da destruição do cito-esqueleto.
Estes efeitos irão preservar a célula e evitar a apoptose, na fase da reperfusão.
O precursor do óxido nítrico, L-arginina, foi usado sob a forma de infusão e quan-
do injetado antes da isquemia-reperfusão causou proteção da função tubular e glome-
rular6. No pré-condicionamento renal, foi observado que houve aumento da expressão
indutora do óxido nítrico sintase (iNOS), do NOS endotelial (eNOS) e da expressão da
proteína do choque do calor (HSP25). O tratamento com Nþ-nitro –L- argenina (L-NNA),
que é inibidor da síntese de NO, torna o rim mais vulnerável ao episódio isquêmico7.
Modelo de intensa isquemia (nefrectomia à direita e isquemia do rim esquerdo durante
Renoproteção
45 minutos) e reperfusão causa intensa apoptose renal avaliada pela citometria do
fluxo. Entretanto, esta lesão foi atenuada no grupo de ratos submetidos ao pré-condicio-
namento e anestesiados pela associação de isoflurano e remifentani8. Trabalho experi-
mental encontrou proteção renal com o propofol, em episódio de isquemia e reperfusão
causado pelo clampeamento da aorta, durante 30 minutos, acima da bifurcação das
artérias renais. A creatinina plasmática no pós-operatório foi significativamente menor
no grupo de suínos anestesiados com propofol, quando comparado com o grupo aneste-
siado com sevoflurano9. Estudo “in vitro” mostrou que o propofol protegeu a célula renal
da lesão de isquemia e reperfusão. Esta proteção foi provavelmente devido ao efeito
pré-condicionante do propofol e possivelmente mediada pelos canais de KATP10. Estudo
realizado em nosso laboratório, em ratos, mostrou que com 25 minutos de isquemia
há proteção renal tanto com isoflurano quanto com propofol. Entretanto, esta proteção
desapareceu com ambos os anestésicos quando os animais foram submetidos à hiper-
glicemia transitória11.
O resveratrol é um composto fenólico, disponível na uva e no vinho, possuindo
diversas ações bioquímicas e fisiológicas, incluindo efeitos estrogênicos, antiplaquetá-
rios e antiinflamatórios. Foi demonstrado que o resveratrol tem ação protetora nos rins,
coração e cérebro após o episódio de isquemia-reperfusão. O possível mecanismo do
pré-condicionamento do resveratrol é o aumento da produção de NO12.
Atualmente, a eritropoetina (EPO) tem sido alvo das atenções dos pesquisadores
sobre a sua utilização como protetor de órgãos13. Relacionado a este efeito protetor
está o mecanismo de oxi-redução do óxido nítrico, do ROS (espécies reativas de oxigê-
nio) e dos fatores de crescimento induzidos pela hipoxia (“hypoxia inducible factor”- HIF
201
e o “vascular endotelial growth factor” –VEGF). Há, também, o envolvimento da EPO na
complexidade do episódio de isquemia/reperfusão. Estudos comprovam o efeito prote-
tor da eritropoetina no cérebro14 e no coração15. O mesmo aconteceu no rim16 quando
foram usados 300 U.kg-1 de eritropoetina, antes da isquemia (45 minutos de clampea-
mento bilateral das artérias renais) e após a reperfusão. A EPO causou proteção renal
avaliada pela histologia, pela concentração da creatinina plasmática e pela inibição da
ativação in vivo das caspases -3,-8 e -9. Do ponto de vista clínico, o resultado mais re-
levante nesta pesquisa, foi a proteção renal observada 30 minutos após a reperfusão.
Outra pesquisa17 mostrou que na isquemia-reperfusão a eritropoetina tem efeito prote-
tor renal com o aumento da HSP70. A hiperglicemia transitória bloqueia o efeito protetor
do pré-condicionamento produzido pelo isoflurano e pelo propofol. Estudo realizado no
nosso laboratório mostrou que a eritropoetina atenuou o efeito deletério da hiperglice-
mia, tanto na dose de 600 U.kg-1 quanto na dose elevada de 5.000 U.kg-1. Estas doses
foram injetadas aproximadamente 30 minutos antes do episódio da isquemia. Nos ratos
dos grupos em que se utilizou a eritropoetina, houve redução da apoptose e aumento
das células viáveis. Deve ser enfatizado que este efeito protetor tecidual da eritropoe-
tina é independente da sua ação hematopoiética. Isto foi demonstrado por Leist18, que
observou acentuado efeito neuroprotetor ao usar a EPO carbamilada (CEPO), que não
possui ação eritropoiética. Com os resultados da EPO e da CEPO, fica aberta a perspec-
tiva de novas estratégias terapêuticas na medicina regenerativa. Devido à capacidade
Anestesia Venosa Total
de proteger o rim e preservar a função renal, o tratamento com a EPO pode representar
novo alento na conduta para minimizar os efeitos das lesões causadas pela isquemia-
reperfusão.
202
A impermeabilidade de membrana pode, também, ser afetada pela ação de radicais
livres. A permeabilidade mitocondrial é um fenômeno caracterizado por aumento não
seletivo na permeabilidade da membrana mitocondrial interna, mediada pelo cálcio e di-
versos agentes indutores, como por exemplo, as espécies reativas do oxigênio (radicais
livres). A presença do cálcio na matriz mitocondrial é o requisito mais importante para
a indução da permeabilidade da membrana. Tem-se observado que, sob determinadas
condições, ocorre aumento da permeabilidade das mitocôndrias seguido de intumes-
cimento osmótico da matriz. Em presença de cálcio, o grupo que sofre isquemia tem
intumescimento osmótico mitocondrial mais acentuado. O aumento do intumescimento
osmótico mitocondrial na isquemia poderia ser justificado pelo desequilíbrio na home-
ostase mitocondrial do cálcio, causado pelo tempo de isquemia19.
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203
Capítulo 18
Neuroproteção
Daniel Volquind
Introdução
Neuroproteção
cerebral, o metabolismo cerebral (CMO2) e a pressão intracraniana (PIC) em cães sub-
metidos à oclusão temporária das artérias carótida interna e cerebral média1.
Por muitos anos, a redução do fluxo sanguíneo cerebral e a diminuição do metabo-
lismo cerebral, evidenciado no eletroencefalograma (EEG) transoperatório pela supres-
são da atividade elétrica cerebral, foram os pilares da neuroproteção intraoperatória5.
O crescente aumento do entendimento da fisiopatologia da lesão isquêmica neu-
ronal, dos mecanismos de morte neuronal e das vias bioquímicas envolvidas neste
contexto, mostrou que a neuroproteção com fármacos anestésicos vai muito além da
redução da atividade metabólica cerebral.
205
bral está relacionado a atividades de despolarização/repolarização, atividades estas
responsáveis pela manutenção e restauração dos gradientes iônicos, além da síntese,
transporte e recaptação de neurotransmissores. O restante da energia consumida pelo
cérebro está envolvido na manutenção da homeostase celular neuronal. Deste modo, o
cérebro é extremamente vulnerável à interrupção do suprimento metabólico de oxigênio
e glicose através das alterações no fluxo sanguíneo cerebral (FSC)6 .
Os mecanismos homeostáticos compreendem o acoplamento metabolismo/flu-
xo, a autorregulação da pressão arterial e a reatividade ao CO26.
A regulação do FSC, responsável pela manutenção da homeostase do tecido cere-
bral, sofre influência de variáveis como a pressão arterial média (PAM), pressão parcial
de dióxido de carbono arterial (PaCO2) e metabolismo cerebral.
O FSC sofre autorregulação, ou seja, apresenta capacidade de manter a circu-
lação cerebral constante entre PAM estimada de 65-150 mmHg, com uma apreciável
variabilidade interpessoal6. Por exemplo, nos pacientes cronicamente hipertensos, na-
queles com lesões ateromatosas de artérias carótidas internas ou com aumento da
pressão intracraniana estes limites desviam-se para direita. Quando a PAM está abaixo
ou acima destes limites, o FSC apresenta um comportamento passivo em relação à
PAM.
O FSC também apresenta uma regulação química relacionada á PaCO2 e varia
diretamente com as alterações da mesma, no intervalo de 25 a 70 mmHg. Ocorre
Anestesia Venosa Total
206
Mecanismos de isquemia e morte neuronal
Neuroproteção
abertura, como os de K+ e os de cálcio ativados pelo K+, são interrompidos logo após
o insulto isquêmico, promovendo hiperpolarização neuronal e silêncio elétrico. A perda
do transporte de eletrólitos celulares através da Na/K ATPase leva ao acúmulo de K+
fora dos neurônios e a subsequente lenta despolarização. Uma vez que o limiar desta
despolarização é alcançado, ocorre uma entrada de Na+ e Ca++ na célula e completa
perda de potencial de membrana9.
Esta despolarização é responsável pela liberação do excitotóxico glutamato dos
terminais nervosos, que vai ativar os receptores N-methyl-D-aspartato (NMDA) e os
receptores α-amino-3-hidroxyl-5methyl-4-isoxazole propionato (AMPA), aumentando a en-
trada de Na+ e Ca++ e a extrusão de K+ dos neurônios, através do acoplamento do
receptor de glutamato com os canais catiônicos10.
Durante o episódio isquêmico, a concentração de Ca++ citosólico aumenta mar-
cadamente devido à ativação de ambos receptores NMDA e dos canais de Ca++ volta-
gem dependente, bem como pelo bloqueio do transporte Na+ / Ca++ para o extracelu-
lar, desencadeando um proeminente papel no desenvolvimento da injuria isquêmica e
morte neuronal por necrose e/ou apoptose neuronal10.
A morte neuronal por necrose mediada pela excitotoxicidade é caracterizada pelo
rápido edema celular, condensação e piknose do núcleo, além de edema mitocondrial
e do retículo endoplasmático. A morte neuronal necrótica resulta em infiltração local do
cérebro por células inflamatórias, as quais se disseminam para os neurônios adjacen-
tes6.
A morte celular programada (apoptose) é um processo fisiológico que elimina um
determinado número de células neuronais durante o desenvolvimento. A apoptose é
207
caracterizada pela condensação da cromatina, involução da membrana celular, edema
mitocondrial e desestruturação do arranjo celular. Este processo não é acompanhado
de resposta inflamatória e limita a injuria ao redor dos neurônios que sobreviveram ao
insulto isquêmico inicial10.
As vias bioquímicas que conduzem à apoptose têm sido descritas e são caracte-
rizadas pela liberação mitocondrial do citocromo c, o qual é restrito ao citoplasma pela
membrana mitocondrial externa. No evento da injúria mitocondrial, a liberação do cito-
cromo c ocorre através dos poros da membrana externa; no citoplasma neuronal, este
interage com a enzima procaspase9 e o fator ativador da apoptose (FAA), iniciando uma
cascata de ativação enzimática, que resultará na formação de um apoptosoma6,9.
A liberação de várias proteínas pró-apoptóticas mitocondriais e sua redistribuição
no citosol neuronal, seguindo o insulto isquêmico, promovem a clivagem de substratos
protéicos, os quais são essenciais para o reparo do DNA e mostram que este é um pro-
cesso dinâmico, no qual os neurônios continuam a morrer por um longo período após o
início deste processo6.
O atraso da morte neuronal, demonstrada em isquemia global e também nas
isquemias focais, é dependente da gravidade do insulto, com neurônios morrendo ra-
pidamente e outros sobrevivendo ao insulto inicial, criando uma região de penumbra
isquêmica, que pode aumentar a extensão do infarto após a isquemia focal e são alvo
de estudos de estratégias neuroprotetoras, por apresentarem células neuronais passí-
Anestesia Venosa Total
208
Os anestésicos apresentam uma variedade de mecanismos de ação, tanto in
vitro quanto in vivo, associados à neuroproteção. Estes mecanismos parecem atuar
em cada etapa do processo fisiopatológico da lesão neuronal e incluem a inibição de
despolarizações espontâneas na área de penumbra isquêmica, redistribuição favorável
do fluxo sanguíneo cerebral, potencial antioxidante, antagonismo do receptor NMDA e
potencialização gabaérgica14.
O tipo de injuria, o intervalo de tempo entre esta e a intervenção neuroprotetora
e a intensidade do insulto isquêmico, determinam a efetividade de determinada terapia
neuroprotetora14.
A dificuldade em estudar os efeitos dos anestésicos como neuroprotetores é que
cada anestésico tem seu efeito próprio na vasculatura, no metabolismo e eletrofisiolo-
gia cerebral (potenciais evocados), na temperatura e na pressão arterial15.
A neuroproteção contra a injúria isquêmica, apesar dos vários bilhões de dólares
investidos ao longo de décadas em pesquisas, ainda apresenta pequeno progresso
quanto a uma terapia farmacológica que significativamente altere os desfechos após o
evento agudo. No entanto, algumas observações de estudos em laboratório demonstra-
ram que o propofol (2-6-diisopropilfenol) promove neuroproteção, se o fármaco estiver
presente no momento do insulto isquêmico16.
Efeitos neuroprotetores do propofol têm sido evidenciados em modelos animais,
enquanto os resultados em ensaios clínicos em humanos ainda não conseguiram evi-
dências suficientes de neuroproteção.
Neuroproteção
O propofol tem sido associado à redução da área de infarto isquêmico cerebral
e da necrose neuronal em modelos animais; no entanto, o efeito na apoptose neuronal
após eventos isquêmicos é desconhecida17.
Os possíveis efeitos neuroprotetores do propofol têm sido testados em diversos
modelos in vitro e in vivo, no entanto os resultados ainda são controversos. Deste
modo, o entendimento dos mecanismos de neuroproteção poderia identificar importan-
tes alvos terapêuticos e, possivelmente, uma eventual translação destes resultados
para uso em humanos18.
Em um estudo, Adembri e col. utilizando modelos in vitro e in vivo de ratos, apre-
sentaram um provável mecanismo de neuroproteção do propofol, administrando doses
de 100 mg/Kg, após oclusão da artéria cerebral média in vivo e deprivação de oxigênio
e glicose in vitro, através da prevenção do edema mitocondrial, o que diminuiria a exci-
totoxicidade neuronal19.
Engelhard e cols. demonstraram que o propofol pode prover neuroproteção sus-
tentada em modelos de ratos Sprague-Dawley masculinos submetidos a isquemia por
oclusão da artéria carótida ou choque hemorrágico.
O propofol inibiu o dano neuronal por 28 dias após isquemia incompleta com
reperfusão pós-injúria. O provável mecanismo neuroprotetor é o balanço em direção às
proteínas antiapoptóticas20.
A utilização de propofol como agente neuroprotetor mostrou resultados promisso-
res em um modelo in vitro de cultura tecidual cerebral (hipocampo), quando em combi-
nação com hipotermia (32oC) após injuria cerebral traumática21.
Em pacientes com elevação da PIC, apesar do propofol ter mostrado a diminui-
ção da taxa metabólica cerebral em 36%, da PIC em 30% e da PPC em menos de 10%,
209
manteve-se a autorregulação do FSC e a reatividade a PaCO2. No entanto, os efeitos
neuroprotetores atribuídos ao propofol não foram sustentados em casos de isquemia
moderada a grave por tempo prolongado22.
Em outro estudo, os efeitos do propofol não levaram à perda da autorregulação
do FSC nem à diminuição da resposta a PaCO2, mesmo em doses que resultaram em
silêncio elétrico no EEG (burst supression)23.
A avaliação quantitativa dos efeitos neuroprotetores do tiopental, propofol e ha-
lotano na isquemia cerebral em roedores (gerbil), estudada por Kobayashi e Cols., não
demonstrou superioridade do tiopental em relação ao propofol, bem como não houve
diferenças estatísticas em relação à duração das despolarizações isquêmicas. Neste
estudo, o propofol mostrou efeitos neuroprotetores quando promoveu supressão elétri-
ca do EEG ou BIS no intervalo entre 10-3024.
Em pacientes que sofreram traumatismo craniano com lesão cerebral associada,
estudos de fase III não apontaram nenhum fármaco com propriedade neuroprotetora,
incluindo os inibidores dos processos oxidativos celulares e da excitotoxicidade25.
As evidências, até o presente momento, mostram resultados desapontadores
quanto à atividade neuroprotetora do propofol em humanos, embora existam evidências
experimentais.
Estudos em desenvolvimento buscam a comprovação da atividade neuroprotetora
em humanos através do uso de fármacos. Um protocolo de revisão sistemática en-
Anestesia Venosa Total
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211
Capítulo 19
Introdução
213
dos fármacos, um período de recuperação, na maioria das vezes, previsível e seguro.
O momento em que a infusão deve ser interrompida, durante administração manual de
fármacos venosos, é calculado de acordo com as características farmacocinéticas de
cada fármaco, que deve ser do conhecimento do anestesiologista. Nesta modalidade de
infusão, o anestesiologista associa estes conhecimentos aos aspectos clínicos e vai di-
minuindo a administração dos fármacos até que a recuperação ocorra. Até certo ponto,
esta diminuição na taxa de infusão é realizada de maneira empírica. Durante anestesia
venosa total com uso de bombas de infusão alvo controladas, o cálculo deste período
de recuperação, bem como o cálculo da forma de diminuir a taxa de infusão é estimado
pelo equipamento.
214
Para atingir esses objetivos, o anestesiologista deve conhecer e manter os níveis
séricos terapêuticos dos fármacos anestésicos, baseado no conhecimento da farmaco-
logia dos agentes utilizados.
Princípios farmacocinéticos
número e, como a bomba de infusão tem em sua programação o valor do Vd1 do propo-
fol, ela calcula qual a dose em bolus que deverá ser feita para obter esta concentração.
Como o volume de distribuição do propofol no compartimento central (Vd1) é de 16L,
a bomba multiplica 16 x 4 e administra 64mg ou 6,4ml de propofol a 1% rapidamente.
Como a maioria dos pacientes pesa entre 60 e 90 kg, estas doses costumam variar en-
tre 1,06mg.kg-1 e 0,71mg.kg-1. Logo a seguir, a bomba recalcula a dose de manutenção
com a fórmula da equação 2, para compensar a fração do fármaco que começa a ser
metabolizado, redistribuído e eliminado. Notar que a dose inicial, em bolus, é menor que
a descrita pela literatura, que varia em torno de 2 a 2,5mg.kg-1 durante a indução. Isto
é feito desta forma para que não ocorram picos exagerados de concentração plasmáti-
ca no momento da indução, uma vez que uma dose inicial, em bolus de 2,5mg.kg-1 de
propofol, pode gerar concentrações plasmáticas de até 15µg.ml-1, com maior incidência
de eventos adversos, como hipotensão, por exemplo.
A clássica descrição de uma técnica de infusão, visando obter uma concentração
sérica do fármaco anestésico venoso, conhecida e estável, baseada nas variáveis far-
macocinéticas acima descritas, é um grande avanço. Mas ainda há problemas, uma vez
que falha em sua aplicabilidade clínica e nos estudos farmacocinéticos com modelos
tri-compartimentais, pois as variáveis não incorporam a biofase, ou seja, não se pode
determinar qual a concentração do fármaco dentro do compartimento de ação de forma
fidedigna.
Com o advento das bombas de infusão alvo controladas, alguns modelos que des-
crevem as variáveis envolvidas nesta transferência de fármacos de um compartimento
para o outro têm sido utilizados com algum sucesso. Estas variáveis serão discutidas
a seguir para que possamos fazer o correto entendimento a cerca do funcionamento
destes sistemas de infusão de drogas venosas.
215
Antes da discussão de técnicas de anestesia venosa, é importante introduzir
alguns conceitos farmacológicos que facilitam o entendimento do anestesiologista clí-
nico, no que se refere a infusão contínua dos agentes anestésicos venosos: tempo de
equilíbrio, biofase, e context-sensitive half-time.
Tempo de equilíbrio
Biofase
Anestesia Venosa Total
216
efetor. O tempo de histerese ou tempo de equilíbrio de um fármaco é determinado, por
definição farmacológica, multiplicando-se 4,32 vezes a meia vida de distribuição do
mesmo. Assim, o propofol, que tem uma meia vida de distribuição no compartimento
central de 2,3 min., completará o seu tempo de histerese em torno de 10 a 12 min.
O fentanil percorrerá este tempo em torno de 18min e o remifentanil em menos de 3
min.
A constante ke0 representa a velocidade de equilíbrio entre o fármaco exis-
tente no plasma e na biofase. A t1/2 ke0 é o tempo para que ocorra a metade do
fenômeno de equilíbrio. Um exemplo pode ser citado: a t1/2 ke0 para o fentanil é de
4,7 min.; se a concentração plasmática do fentanil, durante infusão contínua, for
mantida constante em 4 ng.ml-1, então 4,7 min após a infusão ter sido iniciada, a
concentração de fármaco na biofase será de 2 ng.ml-1 2,3. São consumidas quatro
meias-vidas (18 min) antes que seja atingido o equilíbrio na concentração de fárma-
co entre a biofase e o plasma.
O tempo necessário para atingir o pico máximo de efeito de determinado fármaco
anestésico venoso, após a administração de uma dose em bolus, é uma função da ke0
do fármaco e de sua distribuição pelos compartimentos do organismo. Um fármaco com
curto t1/2 ke0 apresentará uma rápida instalação do pico máximo de efeito. Um exemplo
217
Context-sensitive half-time
A meia-vida de eliminação (t1/2b) é definida como o tempo necessário para que a con-
centração de um fármaco venoso diminua em 50%. Infelizmente, o conceito de meia-vida de
eliminação não se enquadra de maneira matemática, quando é necessário calcular as meias
vidas de eliminação de múltiplos compartimentos, como ocorre na realidade clínica. No mo-
delo tricompartimental, as moléculas dos fármacos são administradas no compartimento 1,
ou central, podendo mover-se entre os compartimentos 1 e 2, por gradientes de concentração
e de acordo com as constantes k12 e k21 e, entre o 1 e 3, de acordo com as constantes k13
e k31, até que ele seja removido de forma irreversível do compartimento 1, a uma velocidade
determinada por outra constante, k10 (por convenção, toda fármaco metabolizado ou excreta-
do é considerado como presente em um compartimento 0). As constantes k demonstram a
velocidade do trânsito dos fármacos de um para outro compartimento.
A velocidade com a qual o fármaco é removido do compartimento central é direta-
mente proporcional à sua concentração nesse compartimento. O clearance do compar-
timento central, Cl1, é calculado através da equação, V1.k10.
A análise da capacidade de distribuição de um fármaco anestésico venoso, infundido de
maneira contínua, em um modelo tricompartimental, segue quase sempre a seguinte fórmula:
Pe-ct + Ae-at + Be-bt , com um p > a > b.
O P, p, A, a, B, b, definidos como uma função de distribuição em unidades com-
Anestesia Venosa Total
218
desejada, não mais do que isto. Através da manipulação de variáveis farmacológicas,
o sistema informa à bomba, por exemplo, quando o anestesiologista digita a idade do
paciente, que o volume de distribuição e/ou o Ke0 precisam ser alterados. Isto ocor-
re durante a anestesia venosa total com infusão alvo controlada para a maioria dos
modelos, exceto Marsh para o propofol. O modelo de Minto, descrito para a infusão
de remifentanil, altera o regime de infusão cada vez que é informada a idade, peso e
sexo do paciente. Pacientes mais jovens possuem volumes compartimentais maiores
que os pacientes mais idosos. Da mesma forma, pacientes mais idosos possuem um
T1/2Ke0 maior que os mais jovens. Estes dados são extremamente importantes para o
cálculo das doses iniciais, em bolus, que a bomba deverá administrar, bem como para
o cálculo das doses de manutenção subseqüentes. Portanto, um sistema de infusão
alvo controlado é capaz de gerar concentrações plasmáticas mais fidedignas e tituláveis
de maneira mais adequada. O resultado disto é uma diminuição dos efeitos adversos
relacionados a sobredose de medicamentos durante a indução anestésica. Um estudo
de Nora e cols.5, publicado na Revista Brasileira de Anestesiologia, exemplificou o fato
de que a idade é importante na administração de remifentanil. No referido estudo, dois
grupos foram avaliados. No grupo I iniciava-se a infusão de remifentanil 2 min. antes da
indução. No grupo II, iniciava-se a infusão de remifentanil, concomitantemente durante
219
de relacionar a concentração a um dado efeito clínico desejado. Por exemplo, a concen-
tração no local efetor na qual a maioria dos pacientes despertam, após uma infusão
alvo controlada de propofol, varia em torno de 1,2µg.ml-1. Sabe-se ainda que, através
da aplicação de organogramas de tempo de recuperação, é possível calcular o tempo
em que isto deverá ocorrer para um dado paciente, calculando-se desta forma o tempo
previsto de despertar. Como há uma forte correlação clínica entre o tempo de desper-
tar e de perda do contato verbal, durante a indução e recuperação, é possível diminuir
a variabilidade clínica alterando-se, na bomba de infusão, o valor da concentração no
local efetor onde é esperada a recuperação do paciente. Isto fará com que a bomba
recalcule o tempo de despertar para um período que seja próximo do valor previamente
informado. Estas são possibilidades que uma bomba de infusão manual não tem como
prever6,7,8.
As bombas de infusão alvo controladas calculam o tempo de infusão restante,
caso o alvo seja mantido o mesmo, possibilitando estimar o gasto e oferecer apenas a
quantidade suficiente, evitando desperdício de medicamento.
Com o advento dos monitores de consciência, analgesia e relaxamento muscular,
é possível desenvolver sistemas de infusão onde as concentrações plasmáticas sejam
mantidas, de acordo com o grau de relaxamento, inconsciência e analgesia desejados.
Estes sistemas estão em desenvolvimento e representam um avanço, uma vez que são
sistemas de infusão com alças fechadas, onde apenas os monitores comandam as
Anestesia Venosa Total
bombas através da informação prévia dos dados clínicos desejados. Estes sistemas
jamais poderiam ser acoplados a estes monitores, caso a infusão fosse manual, pois a
correlação clínica ocorre com a concentração final e não com a dose utilizada. A mesma
massa de anestésico em pacientes distintos pode gerar concentrações completamente
diferentes e, portanto, gerar efeitos distintos e imprevisíveis.
Os sistemas de infusão alvo controlados possuem mecanismos de checagem de
infusão correta, e causam travamento absoluto do sistema de infusão, caso ocorra erro.
Ou seja, caso o volume de anestésico utilizado seja incompatível com o alvo estabele-
cido e a diluição informada, o sistema interrompe a infusão e o alarme é acionado. As
bombas manuais não possuem esta função de auto gerenciamento.
Conclusão
220
Referências
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221
Capítulo 20
Despertar intraoperatório
Deise Martins Rosa
Introdução
Despertar Intraoperatório
ram-se cada vez mais modernos, mas essa intercorrência ainda se manifesta de forma
idêntica na perspectiva do paciente de agora e de 50 anos atrás. Onde está a falha?
Qual será o enigma? O que precisamos entender ou fazer para impedir que o DIO conti-
nue rondando nossos pacientes? Talvez ainda não existam respostas para todas essas
perguntas, mas a bibliografia tem nos oferecido a possibilidade de olhar para os com-
ponentes da anestesia geral (AG) de forma bastante esclarecedora.
Uma diferença fundamental deve ser estabelecida entre DIO e consciência in-
traoperatória (CIO). Embora ambos ilustrem situações de anestesia insuficiente, um
componente fundamental está presente em apenas um deles: a memória5. O paciente
cirúrgico que acorda durante o procedimento e não se lembra do evento teve um episó-
dio de despertar inconsciente (DIO). A CIO ocorre quando a experiência é registrada na
memória e as informações referentes a ela podem ser voluntariamente resgatadas pelo
paciente (memória explícita).
O diagnóstico de DIO e o de CIO são de difícil realização. Acredita-se inclusive que
ambas as intercorrências sejam muito mais freqüentes do que mostram os registros
da literatura5.
Para o diagnóstico de DIO é preciso que se mantenha o paciente com ao menos
um dos membros superiores livre da ação de bloqueadores neuromusculares (BNM).
Para isso, ou dispensa-se o uso do bloqueador, ou garroteia-se um membro superior
para isolá-lo da ação deste fármaco (técnica do antebraço isolado)5-7. Uma vez que a ati-
vidade motora está preservada, o observador verifica, durante a cirurgia, a resposta do
paciente a comandos verbais5. Os comandos são solicitações de que o paciente aperte
223
a mão do observador. A pesquisa é feita em intervalos regulares e é iniciada chamando-
se o paciente por seu primeiro nome. A seguir o observador segura a palma não parali-
sada do paciente e pede a ele que aperte sua mão. Caso haja resposta, solicita-se que
o paciente repita o movimento para que se confirme a percepção do comando. Neste
caso, é preciso que o diagnóstico se faça no período intraoperatório.
O diagnóstico de CIO é feito sempre através de entrevistas pós-operatórias e
merece alguns cuidados para que não haja resultados falsamente negativos8. Nas en-
trevistas, as seguintes perguntas são feitas ao paciente7:
224
pelo sistema nervoso, várias reações são desencadeadas na tentativa de impedir ou
diminuir as conseqüências daquele estímulo sobre o organismo.
O trauma cirúrgico é fonte de enorme quantidade de estímulos nocivos de diferen-
tes intensidades. No paciente anestesiado, as informações referentes à manipulação
cirúrgica devem ter seu tráfego impedido ao longo do sistema nervoso. Tal impedimento
tem por finalidade bloquear ou atenuar as reações cardiocirculatórias, respiratórias, mo-
toras e endócrinas, pois nestas circunstâncias elas são absolutamente prejudiciais.
Quanto maior a chegada de informações ao córtex cerebral, mais ativo ele preci-
sa estar para processá-las. Uma situação de “repouso” cortical depende, fundamental-
mente, de pouca aferência sensitiva7,16. No contexto anestésico-cirúrgico, córtex estimu-
lado é sinônimo de tendência à recuperação do estado de alerta e memória3. A eficácia
na prevenção contra o DIO/CIO depende, então, de ações farmacológicas em diversos
pontos do sistema nervoso, não apenas no córtex cerebral.
Despertar Intraoperatório
ção para a dificuldade na definição de profundidade anestésica. A partir do momento
em que a perda da consciência é um fenômeno de tudo ou nada, esse fator isolada-
mente não pode ser quantificado; ou o paciente está, ou não está consciente. Para
o estabelecimento de graus de profundidade anestésica, outros fatores deveriam ser
levados em consideração.
O organismo reage de diferentes formas a um estímulo nocivo. Em termos
didáticos, as respostas são divididas em sensitivas e motoras e subdivididas em
somáticas e autonômicas18. A resposta sensitiva somática é a percepção cons-
ciente do estímulo, ou seja, a sensação da dor. Pequenas doses de anestésicos
inalatórios ou de hipnóticos venosos conseguem evitar a memória ou o despertar
decorrentes de um estímulo nocivo, mas o paciente ainda pode ter reações motoras
a ele. É possível ainda que o paciente acorde por conta do estímulo, mas não tenha
lembrança do evento. A memória é mais sensível à ação de anestésicos do que o
estado de alerta12,16,18,19. Não se lembrar não significa que não aconteceu. Ausência
de lembrança e presença de resposta motora ainda é sinal de que a anestesia está
insuficiente.
Nas respostas motoras somáticas há participação dos músculos esqueléticos,
enquanto nas autonômicas estão envolvidos os que participam de funções autonômi-
cas, como a respiração. A quantidade de anestésicos necessária para evitar resposta
motora autonômica é maior do que a necessária para evitar a somática12,18. O paciente
que ainda não movimentou a musculatura esquelética pode já ter alterado seu padrão
ventilatório por conta de um estímulo cirúrgico.
As respostas adrenérgicas sofrem a influência de diversos fatores e nem sempre
representam as necessidades anestésicas5,7,8,12,18. Há relatos de DIO/CIO sem altera-
ções da pressão arterial ou da freqüência cardíaca20.
225
A partir desse raciocínio, Prys-Roberts definiu anestesia como sendo um estado
de inconsciência farmacologicamente induzido, em que o paciente não percebe (não
reage) nem se lembra da estimulação nociva17,18.
A profundidade anestésica passa a ser medida em função da probabilidade de
resposta de qualquer natureza à estimulação nociva, em uma relação inversamente
proporcional. Quanto menor a probabilidade de resposta, maior a profundidade anes-
tésica18. Essa é a principal diferença entre o sono fisiológico e a AG12,15,18. No sono
fisiológico o despertar ocorre imediatamente após uma estimulação nociva, ao passo
que na AG adequada, nem o mais intenso dos estímulos pode ser capaz de despertar
o cérebro. Enquanto as informações trafegam livremente pelo sistema nervoso central
durante o sono, na anestesia geral elas têm que ser impedidas de chegar ao córtex
cerebral.
Utilizando-se a definição de anestesia acima citada, podem-se concluir duas coisas:
assim como o que ocorre entre estes e os inalatórios. O acréscimo de pequenas doses
de opióides a qualquer técnica de anestesia geral diminui significativamente a chance
de responsividade do paciente durante a cirurgia7,18,21.
Efeitos sinérgicos também estão presentes entre os bloqueios neuroaxiais e os
agentes hipnóticos7. Observa-se que a diminuição da aferência sensitiva promovida pe-
los bloqueios facilita a obtenção dos estados de hipnose ou sedação desejados durante
a cirurgia.
Evitar a ocorrência de DIO/CIO depende da estreita associação entre os compo-
nentes hipnótico e analgésico da AG21. Analgésicos isoladamente não garantem hipno-
se, mas não há como se manter hipnose estável sem a ação subcortical dos analgési-
cos18.
226
• CAMINTUBAÇÃO - criada por Yakaitis e colaboradores em 1977, é a CAM
necessária para evitar resposta motora e tosse durante intubação traqueal
em 50% dos pacientes24. A intubação é um estímulo mais intenso do que a
incisão, o que exige que a CAMINTUBAÇÃO seja maior do que a CAM;
• CAMBAR – criada em 1981 por Roizen e colaboradores, é a CAM necessária
para bloquear a resposta adrenérgica à incisão na pele em 50% dos pacien-
tes, medida pela concentração plasmática de catecolaminas25.
Despertar Intraoperatório
central, o que torna difícil o ajuste da dose do anestésico em função do estímulo cirúr-
gico. Para uma anestesia geral venosa total é imprescindível que se utilizem infusões
contínuas ou alvo-controladas das medicações empregadas.
Tanto a CAM quanto a Cp50, acima citadas, levam em conta a administração
isolada dos fármacos. Na maioria das vezes, tanto os agentes inalatórios quanto os
hipnóticos venosos são associados a alguma substância que exerça função analgésica.
É facilmente esperado que a dose necessária para uma concentração plasmática de
propofol de 17,4 mcg.ml-1 seja acompanhada de grandes repercussões cardiocirculató-
rias8, assim como a administração da CAMBAR .
A imobilidade promovida pelos agentes inalatórios é mediada, principalmente,
por suas ações sobre a medula espinhal. Estudos em animais mostram que a adminis-
tração de inalatórios exclusivamente ao cérebro torna necessário o emprego de doses
bem mais elevadas para que não ocorram respostas motoras aos estímulos nocivos16.
Os hipnóticos venosos têm pouca ou nenhuma ação sobre a medula espinhal. Para a
utilização de doses compatíveis com uma anestesia segura e capaz de evitar respostas
do paciente a qualquer estímulo, tanto os agentes inalatórios quanto os hipnóticos ve-
nosos devem estar associados a um analgésico15.
227
sinais vitais do paciente se mantenham em valores aceitáveis ao longo da cirurgia.
Pacientes obstétricas que necessitam de AG também fazem parte do grupo de pacien-
tes com risco elevado para anestesia insuficiente13. Neste caso a preocupação reside em não
comprometer a viabilidade fetal com a ação dos anestésicos administrados à mãe.
O ajuste das doses de fármacos em função do peso é mais difícil nos obesos3.
Além disso, a preocupação com a depressão respiratória no pós-operatório tende a
fazer com que o anestesiologista seja ainda mais rigoroso na dose de anestésicos ad-
ministrada a eles.
Pacientes do sexo feminino, assim como usuários crônicos de álcool, analgési-
cos e tranqüilizantes são mais resistentes às ações anestésicas. Eles necessitam de
doses maiores para que se obtenham os mesmos efeitos3,7.
A utilização de agonistas simpáticos (adrenalina, efedrina, dopamina e outros)
que atravessam a barreira hemato-encefálica é acompanhada de estimulação tálamo-
cortical direta7. O sistema nervoso central encontra-se mais excitado, o que faz com que
as necessidades anestésicas sejam maiores nos pacientes que estão sob efeito des-
ses fármacos. Tal constatação apresenta-se de forma contraditória na prática clínica;
afinal, se o paciente encontra-se hemodinamicamente instável a ponto de necessitar de
agonismo simpático, a tendência é a de que ele receba menos drogas. Essas situações
representam um grande desafio para o anestesiologista, pois ao mesmo tempo em que
se precisa manter o status cardiocirculatório, precisa-se garantir a oferta de anestési-
Anestesia Venosa Total
cos em quantidade suficiente para que o paciente não apresente reação à cirurgia, nem
memória de eventos intraoperatórios.
Intubação traqueal difícil, principalmente quando não antecipada, é uma situação
que oferece risco para o despertar em momento inapropriado7. Embora a cirurgia ainda
não tenha começado, o paciente pode acordar durante a manipulação da via aérea.
O anestesiologista, preocupado em garantir condições adequadas de ventilação, não
atenta para o fato de que o efeito do hipnótico previamente administrado tenha termina-
do durante as manobras de laringoscopia e intubação.
Independentemente da técnica anestésica empregada, do tipo de cirurgia e do
perfil farmacocinético do paciente, a causa do DIO é sempre a mesma: anestesia insu-
ficiente; ou por conta de pouca oferta, ou por conta de muita necessidade.
228
está a criação das unidades de potência de todos os agentes envolvidos na AG.
A anestesiologia, como toda especialidade médica de caráter clínico, exige que
se façam diagnósticos e instituam-se tratamentos. O significado inequívoco da resposta
motora durante a cirurgia é: o organismo do paciente está percebendo o estímulo, pois
está reagindo a ele. Nesse momento é preciso que a causa da reação seja tratada,
pois se o paciente ainda não acordou, isso pode ser só uma questão de tempo caso o
estímulo permaneça.
Sabe-se que nem todo o indivíduo que se movimenta durante a cirurgia tem lem-
brança do evento5,12. Despertar e memória são funções cerebrais, enquanto a movi-
mentação origina-se a partir de reflexos medulares18. O que torna então o paciente
curarizado mais susceptível ao DIO/CIO? A movimentação intraoperatória significa que
a informação do estímulo nocivo não está devidamente impedida de trafegar pelo sis-
tema nervoso central. No momento da movimentação seu acesso ainda está em nível
medular, mas se algo não for feito, ela poderá ter acesso ao córtex. No paciente curari-
zado não é possível perceber o trânsito do estímulo através de estruturas subcorticais,
já que há um impedimento à demonstração de reações correspondentes aos reflexos
medulares8.
Testes de pesquisa de DIO mostram que a maioria dos pacientes que atende ao
comando verbal não tem lembrança do fato5. O mesmo ocorre nos casos de DIO inten-
cional para pesquisa de resultados cirúrgicos (wake up tests). Tal evidência ressalta a
Despertar Intraoperatório
importância da administração de doses anestésicas suficientes para impedir o movi-
mento, pois se elas forem capazes disso, deverão impedir o despertar8.
Se houve resposta motora algo precisa ser feito. O paciente que se movimentou
não precisa ser contido à mesa com BNM; ele precisa que seu organismo pare de per-
ceber, ainda que inconscientemente, o estímulo nocivo; ele precisa de mais analgesia.
Os inalatórios têm uma farmacologia única: possuem a mesma via para sua ad-
ministração e eliminação. Em função disso é possível o controle não só sobre a dose
oferecida, mas também sobre a que se pretende reduzir a cada momento.
A pressão parcial alveolar dos anestésicos inalatórios correlaciona-se estreita-
mente com a pressão parcial cerebral. A monitorização dos gases expirados revela a
quantidade de anestésicos no órgão alvo. Por melhor que seja a tecnologia empregada
nos equipamentos destinados à AGVT, nunca temos disponível a quantidade exata do
fármaco presente no cérebro8
A AGVT é mais trabalhosa do que a anestesia inalatória. Enquanto os aparelhos
de anestesia estão prontos para a utilização dos vaporizadores, na AGVT o médico terá
que se responsabilizar pelo preparo das soluções a serem infundidas.
Uma vez selecionada a dose, nem todas as bombas infusoras (BI) disponíveis
no mercado calculam automaticamente a velocidade de infusão necessária; caberá ao
anestesiologista a responsabilidade por esse cálculo.
Bombas de infusão dependem de energia elétrica. A desconexão acidental entre
a fonte de energia e a bomba nem sempre é sinalizada por alarmes. Algumas perdem
o suprimento elétrico e silenciosamente consomem sua bateria, até que ela acaba e a
229
bomba é desligada sem dar qualquer sinal. Bomba desligada é igual à interrupção da
administração de anestésicos, o que equivale à anestesia insuficiente. O anestesiolo-
gista que administra fármacos por BI tem que estar atento a este fato2,20.
Profissionais que trabalham com equipamentos devem ter familiaridade com o
seu manuseio8. No caso da opção pela AGVT, não basta dominar os conhecimentos far-
macológicos; é preciso estar à vontade com o manuseio da interface entre medicação e
paciente, que neste caso é a BI. Existem diferentes fabricantes de BI e cada uma delas
tem seus respectivos equipos. Se o anestesiologista não conhecer a BI disponível é
melhor não utilizá-la e optar por outra técnica.
O acesso venoso por onde estão sendo administradas as medicações anesté-
sicas deve estar permanentemente pérvio27. A veia escolhida deve suportar infusão
sob pressão das soluções em suas respectivas velocidades. A ruptura da veia, se não
for prontamente diagnosticada, levará à interrupção da administração dos fármacos e,
conseqüentemente, o paciente deixará de receber anestesia.
Mau funcionamento de equipamentos pode acontecer em qualquer técnica. Na
AGVT, a esse risco somam-se os referentes às falhas humanas13, como o erro na di-
luição ou no cálculo da velocidade de infusão das soluções. A obstrução em qualquer
ponto entre a solução de anestésicos e o plasma do paciente inviabiliza por completo o
sucesso da AGVT. Idealmente deve-se ter acesso a toda a extensão percorrida pela so-
lução, da BI ao sítio venoso. Nas cirurgias em que não haja pronto acesso aos membros
Anestesia Venosa Total
Conclusão
230
em sua definição: e quanto aos outros 50% dos indivíduos, qual será a CAM necessária
para eles? O mesmo pode-se dizer sobre a Cp50 dos venosos. O indivíduo que faz parte
da “outra metade” e vivencia uma experiência de DIO/CIO não tem 50% dos seus pro-
blemas atenuados por conta disso.
Atualmente a AG pode ser feita à luz de conhecimentos fisiológicos e farmacoló-
gicos antes pouco divulgados ou compreendidos. Reconhecer as necessidades individu-
ais dos pacientes cirúrgicos e interpretar corretamente seus sinais é a melhor profilaxia
contra uma intercorrência que ainda não pode ser tratada.
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Anestesia Venosa Total
232
Capítulo 21
I. Tivatrainer1
233
Figura 1. TivaTrainer 8.0
II. Anestfusor2
Anestesia Venosa Total
234
- Base Primea Orchestra em conjunto com os módulos DPS (Fresenius-Kabi)
- Bomba Pilot Anaesthesia 2 (Fresenius-Kabi)
- Bomba Alaris TIVA MKIII (CardinalHealth)
- Monitor BIS A-2000, XP (Aspesct Medical System)
- Monitor CSM (Danmeter)
- Monitor Ioc-View (Morpheus Medical)
Esse programa é comercializado pela Universidade do Chile em 3 versões: AF II
Standart Simulação, AF II Standart Real e AF II Pro. Com a primeira versão só é possí-
vel realizar simulações (Figura 2). Na versão REAL é possível o controle de bombas de
infusão. Já a versão PRO permite ao usuário editar e modificar qualquer modelo farma-
cocinético, inclusive criar um novo modelo.
III. Rugloop3
235
Anestesia Venosa Total
Figura 3. RUGLOOP
IV. Stanpump4
Este programa foi desenvolvido pelo Prof. Dr. Steven Shafer da Universidade de
Stanford (EUA) e é pioneiro no controle de bombas para administração de fármacos em
infusão (bolus, MCI ou TCI plasma e efeito).
Desenvolvido numa plataforma bastante simples (DOS), é capaz de adminis-
trar vários fármacos usando modelos farmacocinéticos tricompartimentais (Figura
4). Também permite ao usuário simular infusões, editar e criar modelos farmacoci-
néticos. Todas as simulações e infusões podem ser salvas em arquivo independen-
te.
Embora desenvolvida em ambiente DOS, com uma interface pouco amigável, a
principal vantagem desta ferramenta é ser gratuita. Entretanto, a grande desvantagem é
que esse programa permite o controle de bombas de infusão de difícil acesso no Brasil,
como é o caso da Haward Pump 22, por exemplo.
236
Figura 4. STANPUMP
Referências
237
Capítulo 22
“ Price is what you pay. Value is what you get.” Warren Buffett
239
A redução de custos é parte de qualquer planejamento estratégico nas mais di-
versas instituições, mas no caso da anestesiologia uma redução de custos diretos pode
significar o aumento dos custos indiretos relacionados à morbidade, aumento do tempo
de recuperação pós-anestésica e, por consequência, dos custos indiretos e globais no
processo anestésico cirúrgico.
Neste momento, faz-se necessário conceituarmos custo direto e indireto. O custo
direto é aquele relacionado à aquisição dos fármacos e insumos utilizados e o indireto
reflete o custo gerado pela repercussão da utilização daqueles, relacionados aos desfe-
chos clínicos, tempo de recuperação pós-anestésica, afastamento social e do trabalho,
necessidade de reintervenções, náuseas, vômitos, dor, etc1.
Deste modo, não podemos discutir a repercussão econômica da anestesia sem
analisá-la sob estes dois prismas.
Diversos estudos apontam os procedimentos anestésicos como sendo de baixo
custo quando analisados no contexto global. Dentre as diversas variáveis já menciona-
das no cálculo do custo, a anestesia concorre com 3 a 4% deste, embora ocorram va-
riações devido a questões regionais de contratualização e comercialização de fármacos,
equipamentos, insumos, trabalho médico, etc1,5. Em algumas situações a anestesia
pode chegar a 15% do custo global, mas ainda perfazendo um percentual pouco signifi-
cativo dentro do contexto custo.
Na composição isolada do percentual relacionado à anestesia, o anestesiologista
Anestesia Venosa Total
tem atuação em 50% do mesmo, ou seja, tem influência com as suas práticas somente
em 1,5 a 2% deste custo, sendo o restante relacionado às variáveis tais como energia,
salários, infraestrutura e impostos, às quais o profissional médico sofre ingerência.
Portanto, solicitar ao anestesiologista que utilize determinadas técnicas anesté-
sicas com o argumento de diminuir o custo da anestesia é injustificável, uma vez que a
repercussão no custo global raramente ultrapassará uma redução de 1%.
Por outro lado, o aumento dos efeitos adversos relacionados aos fármacos, a
permanência prolongada na sala de recuperação pós-anestésica e a ocorrência de náu-
seas e vômitos, aumentarão o custo global em uma proporção maior que a “economia”
realizada na anestesia6.
Podemos exemplificar a anestesia venosa total alvo controlada (TIVA\TCI) como
sendo uma técnica com custo direto elevado, quando comparada a outras técnicas, mas
apresentando um custo indireto baixo e muitas vezes até proporcionando economia
significativa, em comparação com a anestesia inalatória7.
Vejamos alguns dados coletados pelo autor em um hospital de grande porte: ao
realizarmos anestesia TIVA\TCI em pacientes neurocirúrgicos obtivemos um custo cinco
vezes mais elevado quando analisados, de forma isolada, os custos diretos em relação
à técnica inalatória balanceada; no entanto, a diminuição do tempo de internação no
centro de terapia intensiva, a ausência da necessidade de utilização de suporte ventila-
tório intensivo no pós-operatório pelo fato dos pacientes serem extubados ao final dos
procedimentos e a diminuição das complicações nosocomiais, promoveram uma econo-
mia de 40-50% no custo global destes pacientes, mostrando que a técnica anestésica
pode ser vista como um investimento em qualidade, proporcionando ao mesmo tempo
economia.
240
Seguindo o exemplo acima, podemos observar que o valor isolado de um fármaco
nem sempre reflete um aumento no custo total do paciente, e devemos analisar sua
repercussão quanto ao tempo de internação, diminuição de complicações (N/V) e à
diminuição de associação de fármacos, sejam como agonistas ou antagonistas farma-
cológicos8.
Outra análise realizada pelo autor faz referência aos procedimentos ambulato-
riais, que têm o seu custo pontuado pelo tempo de permanência hospitalar. O custo por
hora da sala de recuperação pós-anestésica é um dos maiores dentro da cadeia econô-
mica dos hospitais, por ter em média 70% do mesmo composto por elevado número de
profissionais envolvidos nesta etapa do atendimento6. Portanto, técnicas anestésicas
que prolonguem a permanência hospitalar, seja pelo tempo maior de recuperação ou
pela ocorrência de eventos adversos que necessitem de atenção dentro do hospital,
fazem da palavra otimização o verbete do momento.
À análise de custos diretos, na comparação do bloqueio subaracnóideo (BSA)
com TIVA/TCI, o BSA apresenta valores menores que a anestesia venosa alvo contro-
lada; mas quando colocamos a variável tempo de recuperação pós-anestésica como
comparativo, a importância dos custos indiretos aumenta. O tempo de recuperação pós-
Referências
241
Capítulo 23
1. Novos Fármacos
243
indução de propofol com a idade ( r= 0.48), o peso ideal (r=0.41), o volume sanguíneo
central (r= 0.45) e o fluxo sanguíneo hepático (r= 0.23), do paciente. Quando a dose de
indução do propofol foi predita levando-se em conta todos os parâmetros associados,
esta correlação passou a ser de r=0.84.
A análise de dados farmacinéticos permite estabelecer modelo de TCI para crian-
ça, denominado Paedfusor®. A primeira pesquisa clínica com este equipamento foi
empregada em 29 crianças, com idades que variaram entre 1-15 anos, e que foram
submetidas a cateterismo cardíaco ou a cirurgia cardíaca4. Com relação ao Diprifusor®,
as principais diferenças estão nos atributos compartimento central (V1) e no clearance
(K10) (Tabela I).
2.4 Uso do propofol como protetor de órgãos aos episódios de isquemia e reper-
fusão
244
celular e participam de diversos processos patológicos, tais como isquemia, hipóxia te-
cidual e diabetes mellitus14. A varredura dos radicais livres de oxigênio reduz as ligações
sulfídricas nas proteínas e inibe a peroxidação lipidíca, induzida pelo estresse oxidativo
durante o período de isquemia e reperfusão do órgão. O propofol causa proteção ao
tecido cerebral pela inibição da peroxidação lipídica15, além de reduzir o acúmulo de lac-
tato e edema do tecido cerebral isquêmico em ratos hiperglicêmicos16. Foi observado,
também, que a diminuição da toxicidade e da apoptose celulares acontecem com doses
elevadas de propofol17. Em modelo de isquemia e reperfusão intestinal, o propofol redu-
ziu a intensidade da lesão da mucosa do intestino18. Em estudo realizado em plaquetas
de pacientes submetidos a cirurgia, comprovou-se o efeito antioxidante do propofol,
avaliado pela inibição da produção de peroxidase lipídica19. Os resultados desta redu-
ção da peroxidação lipídica pelo propofol também foram observados no miocárdio de
pacientes submetidos a cirurgia coronariana com circulação extracorpórea20. Os eritróci-
tos tiveram redução do estresse oxidativo, em pacientes submetidos a gastrectomia e
anestesiados com propofol. Após a cirurgia, a hemólise foi menor no grupo do propofol,
quando se comparou este a grupo de pacientes anestesiados com sevoflurano21. Em
cirurgia cardíaca, o propofol, na dose de 120 µg. kg-1. min-1, iniciada 10 minutos antes
da circulação extracorpórea, reduziu as concentrações de troponina I e elevou os índi-
ces cardíacos, quando comparado com isoflurano ou doses menores de propofol (60
µg. kg-1. min-1)22. Resumindo, estudos mostram que, após isquemia, o propofol diminui
245
fármaco25. Entretanto, é um fármaco fácil de ser usado e com razoável preditibilidade.
A concentração plasmática alvo pode ser facilmente predita, multiplicando-se a concen-
tração da infusão do remifentanil pela constante29; por exemplo: quando é feita uma
infusão de remifentanil de 0.25 µg.kg-1.min-1, a concentração plasmática predita é 7,25
ng.ml-1. Acredita-se que o uso do TCI para o remifentanil, em substituição à infusão con-
tinua manual, talvez seja uma desnecessária complicação de algo bastante simples e
com ampla comprovação clínica.
3. Perspectivas
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