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Daniel Volquind
Pedro Thadeu Galvão Vianna
Marcos Antonio Costa de Albuquerque
José Mariano Soares de Moraes
Oscar César Pires
Volume II
SBA
Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Rio de Janeiro
2012
Educação Continuada em Anestesiologia
Copyright© 2012, Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer sistema, sem prévio consentimento da SBA.
Diretoria
José Mariano Soares de Moraes
Airton Bagatini
Ricardo Almeida de Azevedo
Sylvio Valença de Lemos Neto
Oscar César Pires
Antônio Fernando Carneiro
Fábio Maurício Topolski
Comissão de Educação Continuada
Daniel Volquind
Pedro Thadeu Galvão Vianna
Marcos Antonio Costa de Albuquerque
Capa e diagramação
Marcelo de Azevedo Marinho
Supervisão
Maria de Las Mercedes Gregoria Martin de Azevedo
Revisão Bibliográfica
Teresa Maria Maia Libório
Colaboradores
Maria de Las Mercedes Gregoria Martin de Azevedo
Teresa Maria Maia Libório
Rodrigo Ribeiro Matos
José Bredariol Junior
Simone Soares Nascimento da Gama
Ficha catalográfica
S678e Educação Continuada em Anestesiologia
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesiologia/SBA, 2012.
200 p.; 25cm.; ilust.
ISBN 978-85-98632-14-8
Vários colaboradores.
CDD - 617-96
AUTORES
Alexandre Teruya
•• Anestesiologista. Depto.de anestesia e terapia intensiva da Assoc. Bras. de Transplante de Órgãos.
•• Equipe de transplantes do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Euryclides de Jesus Zerbini.
•• Equipe de cirurgia minimamente invasiva cardíaca e torácica do Hospital Israelita Albert Einstein.
Ana Luft
•• Anestesiologista.
•• Mestre em Ciências Médicas UFCSPA.
Andrea Tiemi Kondo
•• Médica hematologista e hemoterapeuta do Departamento de Hemoterapia e Terapia Celular do Hospital Israelita
Albert Einstein
Bruno Salomé de Morais
•• TSA/SBA - Membro do Comitê de Anestesia em Transplantes de Órgãos
•• Instrutor Corresponsável pelo CET Serv.Anest. do Hospital Felício Rocho
•• Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pela UFMG. Anestesiologista do Grupo de Transplantes do HC/
UFMG e Hospital Lifecenter
Cláudia Regina Fernandes
•• TSA/SBA – Presidente do Comitê de Medicina Perioperatória
•• Responsável pelo CET Hosp. Univ. Walter Cantídio – UFCE
•• Doutora em Medicina pela Univ. de São Paulo – Área de Anestesiologia. Profa. Assistente do Curso de Med.da Univ.
de Fortaleza-UNIFOR.
Daniela Bianchi Garcia Gomes
•• TSA/SBA - Membro do Comitê de Anestesia em Pediatria
•• Medica Anestesista e Preceptora dos residentes de anestesia do Hosp. Pequeno Príncipe - Curitiba-PR
•• Membro da Comissão Cientifica da SPA
Débora de Oliveira Cumino
•• TSA/SBA - Membro do Comitê de Anestesia em Pediatria
•• Instrutora Corresponsável pelo CET Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
•• Médica coordenadora do serviço de Anestesiologia do Hospital Infantil Sabará, São Paulo-SP. Médica
Anestesiologista da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo-SP
Diná Mie Hatanaka
•• TSA/SBA.
•• Equipe de transplantes do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Euryclides de Jesus Zerbini.
•• Equipe de cirurgia minimamente invasiva cardíaca e torácica do Hospital Israelita Albert Einstein.
Emilio Carlos Del Massa
•• TSA/SBA - Membro do Comitê de Reanimação e Atendimento ao Politraumatizado da SBA
•• Instrutor Corresponsável pelo CET Casa de Saúde Santa Marcelina
Fábio Scalet Soeiro
•• TSA/SBA - Presidente do Comitê de Anestesia em Transplantes de Órgãos
•• Doutor em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP.
•• Responsável pelo serviço de anestesia para transplante hepático do Hospital Unimed de Sorocaba.
Fernando Antônio Nogueira Cruz Martins
•• TSA/SBA – Presidente do Comitê de Anestesia Cardiovascular e Torácica
•• Instrutor Corresponsável pelo CET S.A. Hosp. Benef. Portuguesa – SP
Florentino Fernandes Mendes
•• TSA/SBA. Membro do Comitê de Medicina Perioperatória
•• Responsável pelo CET Univ.Fed.Ciências da Saúde de Porto Alegre
•• Mestre Farmacologia pela UFCSPA. Doutor em Medicina pela FMSCSP. Prof Adj Anestesiologia da UFCSPA.
Gabriel Franzin Rusca
•• Anestesiologista.
•• Equipe de transplantes do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Euryclides de Jesus Zerbini.
•• Equipe de cirurgia minimamente invasiva cardíaca e torácica do Hospital Israelita Albert Einstein..
Ivani Rodrigues Glass
•• TSA/SBA – Membro do Comitê de Anestesia Ambulatorial
•• Instrutora Corresponsável pelo CET Menino Jesus de Praga
•• Presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado de Sergipe - SAESE
José Eduardo Bagnara Orosz
•• TSA/SBA – Presidente do Comitê de Anestesia Ambulatorial
•• Instrutor Corresponsável pelo CET do HMCP da Pontifícia Univ. Católica de Campinas
•• Mestre em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP. Anestesiologista da ANDROFERT
- Centro de Referência em Reprodução Humana.
Jose Mauro Kutner
•• Gerente médico do Departamento de Hemoterapia e Terapia Celular do Hospital Israelita Albert Einstein
•• Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Kleber Machareth de Souza
•• TSA/SBA – Membro do Comitê de Anestesia Cardiovascular e Torácica
•• Coordenador do Curso ETI/SBA
•• Fellowship em Cirurgia Cardiovascular e Transesofágico no Toronto General Hospital - Canadá
Leandro Mamede Braun
•• TSA/SBA – Membro da Comissão de Treinamento e Terapêutica da Dor
•• Instrutor Corresponsável pelo CET do Hosp.das Clínicas da UFPE
•• Fellow World institute of Pain (FIPP)
Magda Lourenço Fernandes
•• TSA/SBA - Presidente do Comitê de Anestesia em Pediatria
•• Responsável pelo CET da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte
•• Mestre em Ciências Aplicadas à Cirurgia pela UFMG
Márcio de Pinho Martins
•• TSA/SBA – Presidente do Comitê de Reanimação e Atendimento ao Politraumatizado
•• Responsável pelo CET do Serv.Anest.Hospital da Polícia Militar
•• Coordenador do Núcleo SBA Vida
Míriam Seligman de Menezes
•• TSA/SBA – Membro da Comissão de Treinamento e Terapêutica da Dor
•• Instrutora Corresponsável pelo CET Prof Manoel Alvarez – UFSM
•• Doutora em Medicina pela UNIFESP
Nádia Maria da Conceição Duarte
•• TSA/SBA – Presidente do Conselho Superior em Anestesiologia
•• Instrutora corresponsável pelo CET Serv. Anest. H. Restauração e H. G. Vargas
Octavio Henrique Mendes Hypolito
•• Anestesiologista. Coordenador do serviço de anestesiologia e corresponsável do programa de residência médica do
Hospital Municipal “Dr Jose de Carvalho Florence” de São José dos Campos.
•• Coordenador do serviço de anestesiologia do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Euryclides de Jesus
Zerbini.
•• Doutor em Ciências pela UNIFESP
Paulo Adilson Herrera
•• TSA/SBA – Presidente da Comissão de Treinamento e Terapêutica da Dor
•• Responsável pelo CET Serv. Anest. Hospital Evangélico de Londrina
•• Mestre em Medicina Interna da Universidade Estadual de Londrina
Regina P. El dib
•• PhD. Pesquisador Colaborador.
•• McMaster Institute of Urology, McMaster University, St. Joseph’s Healthcare, Hamilton.
•• Pós-Graduação Bases Gerais da Cirurgia. Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
Ricardo Lopes da Silva
•• TSA/SBA – Responsável pelo CET S.A. Santa Casa de Miser.Curitiba
•• Presidente da Sociedade Paranaense de Anestesiologia
•• Doutor em Medicina Cirúrgica pela FMRP/USP
Rodrigo Pereira Diaz André
•• TSA/SBA - Presidente do Comitê de Anestesia em Transplantes de Órgãos
•• Instrutor Corresponsável pelo CET Prof. Bento Gonçalves da UFRJ.
•• Anestesiologista do programa de transplante hepático do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ.
Ronaldo Alves de Souto
•• TSA/SBA - Membro do Comitê de Reanimação e Atendimento ao Politraumatizado da SBA
•• Instrutor do Curso SAVA/SBA
•• Coordenador da residência médica em Anestesiologia do Hospital Regional do Agreste
Vera Lúcia Fernandes de Azevedo
•• TSA/SBA – Instrutora do Curso SAVA/SBA
•• Responsável pelo CET da Assoc. Obras Sociais Irmã Dulce
•• Mestre em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho-UNESP- área de Anestesiologia.
Doutoranda em Medicina pela Univ. Est. Paulista Julio de Mesquita Filho-UNESP- área de Anestesiologia.
APRESENTAÇÃO
Todo livro tem sua história e este não difere dos demais. Sua história teve início há doze
anos quando a diretoria da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, capitaneada pelo dr.
Renato Almeida Couto de Castro, através da Comissão de Ensino e Treinamento lançou
a primeira edição, intitulando-o “Curso de Educação a Distância em Anestesiologia”, dando
continuidade a este projeto com muita seriedade e determinação até o ano de 2005. Naquela
época, a recém criada Comissão de Educação Continuada assumiu esta difícil tarefa com
muita eficiência e dedicação até 2010, quando foi editada a décima edição.
Para atender mudanças características do progresso, como a instituição da versão on-line,
no ano de 2011 a diretoria da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, orquestrada pela dra.
Nádia Maria da Conceição Duarte, acatou sugestões de seus associados e alterou o seu tí-
tulo para “Livro de Educação Continuada em Anestesiologia”, este ano na sua segunda edição,
permanecendo sob cuidados da Comissão de Educação Continuada, além das muitas outras
atividades que esta desenvolve.
São abordados temas diversos e atualizados que, por essa mesma razão, gozam de in-
teresses dos mais variados anestesiologistas, permitindo-lhes enriquecer e atualizar seus
conhecimentos, fruto este colhido a partir da pesquisa dos experientes e dedicados autores,
portadores do mais alto padrão científico.
Enfim, mais uma vez, agradecemos o empenho da Comissão de Educação Continuada,
autores, diretores e funcionários da SBA, pela constante e integral dedicação aos projetos
SBA, possibilitando oportunidade aos associados à continuada educação médica.
Capítulo 1
Estrutura administrativa da SBA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Nádia Maria da Conceição Duarte
Capítulo 2
Dor crônica pós-operatória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Leandro Braun, Miriam Seligman Menezes e Paulo Adilson Herrera
Capítulo 3
Delirium pós-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Vera Lucia Fernandes de Azevedo, Florentino Fernandes Mendes e Cláudia Regina Fernandes
Capítulo 4
Anestesia baseada em evidências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Regina P. El dib
Capítulo 5
Monitorização hemodinâmica e reposição volêmica no transplante hepático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Fábio Scalet Soeiro, Bruno Salomé de Morais e Rodrigo Pereira Diaz André
Capítulo 6
A coagulação no paciente cirúrgico - parte 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Alexandre Teruya, Andrea Tiemi Kondo, Diná Mie Hatanaka, Gabriel Franzin Rusca, Jose
Mauro Kutner e Octavio Henrique Mendes Hypolito
Capítulo 7
Utilização de hemoderivados em cirurgia cardíaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Ricardo Lopes da Silva, Fernando Antônio Nogueira Cruz Martins e Kleber Machareth de Souza
Capítulo 8
Anestesia ambulatorial para procedimentos em reprodução assistida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
José Eduardo Bagnara Orosz e Ivani Rodrigues Glass
Capítulo 9
Glicemia, insulina, resposta inflamatória e anestesia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Florentino Fernandes Mendes e Ana Luft
Capítulo 10
Cuidados pós-reanimação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Márcio de Pinho Martins, Emilio Carlos Del Massa e Ronaldo Alves de Souto
Capítulo 11
Analgesia pós-operatória em pediatria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
Daniela Bianchi Garcia Gomes, Débora de Oliveira Cumino e Magda Lourenço Fernandes
PREFÁCIO
A ciência séria, árdua e sincera se transforma em conhecimento que pretende se perpetuar
em obras consultadas ao longo dos anos.
A Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Anestesiologia – SBA
apresenta mais uma edição do Livro “Educação Continuada em Anestesiologia”, o qual reúne
temas expressivos e atuais da anestesiologia.
Com certeza, este volume será de grande utilidade ao anestesiologista brasileiro no sentido
de continuar seu aprendizado, rever conceitos e atualizar seus conhecimentos.
Prefácio | 13
Capítulo 01
Estrutura administrativa
da SBA
Nádia Maria da Conceição Duarte
Estrutura administrativa da SBA
Estrutura administrativa da SBA e sua política de formação, atualização e defesa
profissional dos anestesiologistas
A Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) é uma associação civil, sem fins
econômicos, fundada em 25 de fevereiro de 1948, por tempo indeterminado, consti-
tuindo- se em uma Federação de Associações Regionais, com sede e foro na Cidade
do Rio de Janeiro1.
Sua missão institucional é congregar os anestesiologistas no Brasil, promovendo conti-
nuamente a formação, a atualização técnico-científica e a implementação de ações de defesa
profissional, além de fomentar o comprometimento da especialidade com a comunidade
médica e a sociedade em geral.
Sua visão para 2015 é significar para a comunidade em geral uma entidade exemplar
no campo do ensino, atualização científica, defesa profissional, qualidade e segurança
da anestesiologia, com reconhecimento científico mundial.
Para cumprimento de sua Missão Institucional, a SBA executa os seguintes serviços: • Reúne
os médicos interessados em fomentar o progresso, o aperfeiçoamento e a difusão da Anestesiolo-
gia, Terapia Intensiva, Tratamento da Dor e Reanimação e estabelece normas para o treinamento
na especialidade • Faz cumprir o Código de Ética Médica, o Código Profissional e Econômico
da SBA e defende os interesses profissionais de seus membros • Patrocina Congressos da
Especialidade, de âmbito nacional e internacional • Confere o Título Superior em Anestesiologia
(TSA) • Confere o Título de Especialista em Anestesiologia (TEA) e o Certificado de Área
de Atuação em Dor • Publica a Revista Brasileira de Anestesiologia e a Anestesia em Revista •
Confere prêmios, conforme regulamentos próprios.
A SBA possui, atualmente, 25 Regionais distribuídas em todas as regiões geográficas do
Brasil. Uma em cada um dos seguintes Estados da Federação e no Distrito Federal: Acre,
Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam-
buco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito
Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
No seu quadro de membros, também chamados de associados, fazem parte
10 categorias:
I - Fundadores,
II - Honorários,
III - Beneméritos,
IV - Estrangeiros,
V - Ativos,
VI - Aspirantes,
VII - Adjuntos,
Dor crônica
pós-operatória
Leandro Braun
Miriam Seligman Menezes
Paulo Adilson Herrera
Dor crônica pós-operatória
1. Introdução
Dor Crônica Pós Operatória (DCPO) é uma síndrome dolorosa recentemente reco-
nhecida. Em 1999 Macrae e Davis em publicação da IASP (International Association
for Study of Pain) definiram DCPO como “Síndrome dolorosa desenvolvida no período
pós-operatório com duração de pelo menos dois meses, sem outras causas para a dor (ex.
infecção crônica, recorrência de neoplasia) e excluída a possibilidade da dor significar a
continuidade da doença pré existente1,2 .
Milhares de cirurgias são realizadas todos os anos no mundo inteiro. A ocorrência de dor
crônica pós-operatória varia entre diversos levantamentos dependendo do tempo de segui-
mento e do tipo de cirurgia. O que é certo é que DCPO pode ser uma complicação de cirur-
gias de todos os portes, ocorrendo aproximadamente em 60-70% dos pacientes submetidos a
toracotomias, mas também relatada por pacientes submetidas a herniorrafias inguinais, aonde
1,8% dos pacientes referem dor intensa após 6 anos de seguimento3. Com os avanços técnicos
mais e mais procedimentos cirúrgicos vem sendo realizados e nada indica que teremos em
um futuro próximo uma diminuição de casos de DCPO. Ao contrário, com o aumento do
número de procedimentos cirúrgicos realizados, a incidência de DCPO tem aumentado com
consequente aumento do custo social e da dimensão e relevância deste assunto.
É importante neste contexto determinar qual o papel dos anestesiologistas na prevenção
e no tratamento desta síndrome dolorosa. É disto que trata este tema de educação conti-
nuada. Primeiro por discutir quais as possibilidades de identificar aqueles pacientes que
tem maior risco para o desenvolvimento de dor crônica pós-operatória. Yarnstsky e col.
demonstraram que seria possível predizer a susceptibilidade à dor pós-toracotomia avalian-
do o estado pré operatório do Controle Inibitório Nocivo Difuso, (DNIC), isto é, a redução
da dor com a estimulação dolorosa de uma área remota4. Os mesmos autores, demonstraram
que a intensidade da dor aguda pós-operatória é uma variável independente para a incidên-
cia de dor crônica pós toracotomia. Alguns traços de comportamento e padrões genéticos
também podem estar associados com a predisposição de alguns pacientes para a dor crônica
pós-operatória. Os anestesiologistas, ao identificarem os pacientes susceptíveis, e ao atu-
arem no tratamento da dor pós-operatória, com estratégias multimodais, iniciadas desde
o pré-operatório, minimizam os processos de sensibilização periférica e central e podem
modificar o desfecho de manutenção crônica da dor no pós operatório.
Cabe também aos anestesiologistas otimizar o seguimento e a identificação dos pacien-
tes com DCPO no pós-operatório para que medidas de controle da dor possam ser toma-
das o mais precocemente possível. A maioria dos pacientes com DCPO tem componente
neuropático e necessitam de medicações específicas para o controle da dor. Muitos destes
pacientes passam longos períodos de tempo sendo inadequadamente tratados muitas vezes
somente com opioides e anti-inflamatórios. Os anestesiologistas detêm o conhecimento e as
habilidades necessárias para modificar o quadro de sofrimento da DCPO.
4. Genética
Existe grande variabilidade em como as pessoas relatam suas experiências dolorosas.
Esta imensa variabilidade entre indivíduos pode ser atribuída a comportamentos aprendi-
dos, mas também à características inatas. Estudos em famílias e irmãos gêmeos com dores
crônicas evidenciam o papel da herança genética nestas síndromes. Estes estudos sugerem
que 30-60% da variação da apresentação de síndromes de dor crônica podem ser atribuídos
a fatores hereditários61.
A complexidade do comportamento doloroso nos seres humanos sugere que a herança
relacionada à dor seja resultado de uma interação complexa de genes, ou seja resultado de
uma herança poligênica não mendeliana.
Polimorfismo em nucleotídeos (SNP – do inglês: Single Nucleotide Polimorphism) em
genes específicos podem contribuir para aumentar ou diminuir a suscetibilidade à dor. Um
5. Prevenção
Pelas grandes dificuldades encontradas no tratamento da DCPO, sem dúvida, a estraté-
gia potencial para sua prevenção seria a identificação dos fatores que possam predizer um
paciente suscetível1. Entretanto, ainda é impossível identificar com eficácia os pacientes
predispostos; predizer quem desenvolverá DCPO ou a natureza dessa dor ou mesmo esta-
belecer técnicas confiáveis e eficazes para sua prevenção6.
Várias medidas preventivas têm sido sugeridas, as quais vão desde uma precisa indica-
ção cirúrgica; opção por técnicas cirúrgicas menos invasivas ou “poupadoras de nervos”;
tratamento multimodal agressivo e precoce da dor pós-operatória; utilização preferencial
de anestesia e analgesia regional e mais recentemente a utilização de fármacos com efeitos
na sensibilização central como os gabapentinóides e a cetamina 5. Os efeitos dessas medidas,
6. Tratamento
A prevenção das lesões é a melhor estratégia, particularmente na ausência de terapia
comprovadamente validada para a neuralgia pós-cirúrgica estabelecida. A indicação e
habilidade cirúrgica e o treinamento são fatores importantes aqui, mas vão além dos obje-
tivos deste artigo. O tratamento agressivo da dor pós-operatória parece reduzir o risco de
desenvolvimento de dor crônica embora não haja estudos em larga escala que comprovem
esta estratégia.
A DCPO deve ser abordada de maneira parecida com outras síndromes dolorosas crônicas.
Uma vez instalada a síndrome dolorosa, o melhor tratamento para o paciente vai depender
do mecanismo etiológico. Dor neuropática é melhor tratada com antidepressivo(amitriptilina,
nortriptilina, duloxetina, venlafaxina), anticonvulsivantes (gabapentina, pré-gabalina, val-
proato de sódio). Dores nociceptivas podem ser manuseadas com analgésicos simples (pa-
racetamol, dipirona), ou opióides (tramadol, metadona, oxicodona)63.
A infiltração com corticosteroides com anestésicos locais pode ser empregada em alguns
casos com resultados muitas vezes satisfatórios.
A aplicação da radiofrequência pulsada sob o nervo acometido é uma opção interessante
por se tratar de técnica de neuromodulação, portanto não destrutiva. Alguns estudos mostra-
ram bons resultados64 mas, ainda são necessários mais estudos para avaliar estes resultados.
O uso de neuroestimulação medular e periférica pode ser empregada em casos refratá-
rios ao tratamento conservador particularmente na neuralgia pós-toracotomia e na dor do
membro fantasma com resultados encorajadores65,66.
Não existem evidências publicadas que definam um tratamento específico para a dor
pós-cirúrgica, mas devem ser abordadas de modo semelhante à outras síndromes dolorosas
crônicas. As técnicas ablativas como a neurectomia de nervos periféricos, particularmente
na dor crônica pós-hernioplastia, são técnicas de exceção, e têm sido utilizadas em casos
refratários, com bons resultados, segundo revisão sistemática publicada em 200567. Outros
tipos de lesões ablativas não têm indicação no manuseio destas síndromes, pois apresentam
morbidade inaceitável.
Não é sempre possível controlar a dor e outros sintomas adequadamente. Nestes casos os
pacientes irão requerer manuseio da dor com suporte psicológico para ajudá-los a enfrentar
seus problemas e reduzir o impacto em suas vidas diárias.
7. Futuro
A ausência de protocolos e tratamentos específicos para a reduzir a incidência e mi-
nimizar a dor dos pacientes com DCPO é preocupante. Algumas iniciativas começam
a surgir no âmbito das agências reguladoras como é o caso da ACTION: The Analgesic
Clinical Trial, Innovations, Opportunities and Networks. Uma parceria público-privada
Referências bibliográficas:
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12. Diatchenko L, Slade GD, Nackley AG et al. - Genetic basis for individual variations in pain perception
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16. Jenkins JT, O´Dwyer PJ - Inguinal hernias. BMJ, 2008;336:269-272.
Delirium pós-operatório
Vera Lucia Fernandes de Azevedo
Florentino Fernandes Mendes
Cláudia Regina Fernandes
Delirium pós-operatório
1- Introdução
O termo delirium vem do latim, cujo significado figurativo é “tornar-se louco”. Descreve-
-se que esta palavra foi usada pela primeira vez na linguagem médica por Aulus Cornelius
Celsus (25 B.C. – 50 A.C.)1. Embora haja relatos de que Hipócrates, considerado o pai da
medicina, que viveu na segunda metade do século V A.C.2, tenha descrito uma apresenta-
ção clínica compatível com quadro de delirium, diferenciando-o de outras condições, como
melancolia e mania.
Atualmente o delirium é definido como um disturbio agudo e flutuante da consciência,
com reduzida habilidade para focar, oscilando entre manutenção e alteração da atenção,
acompanhado por alterações na cognição e distúrbios de percepção, secundário a uma con-
dição médica geral (DSM-IV). Nas línguas neolatinas esta mesma condição é identificada
por meio da expressão “estado confusional agudo”3. A definição de delirium foi refinada
pela Classificação Internacional de Doenças (CID -10), que inclui: presença de distúrbio
psicomotor, distúrbio do ciclo sono-vigília, e distúrbios emocionais. Na maioria dos casos o
delirium tem uma característica transitória e autolimitada1,4, embora cada vez mais se pes-
quise a possibilidade da relação entre delirium pós-operatório, declínio da função cognitiva
e aumento da incidência de demência a longo prazo5.
O delirium pode ser considerado como uma disfunção cerebral aguda, análoga à insufi-
ciência renal ou à insuficiência respiratória aguda6.
A etiologia não está completamente esclarecida e provavelmente é multifatorial. A
deficiência colinérgica central aguda é uma das teorias mais aceitas. A diminuição da
atividade GABAérgica, anormalidades nas vias da serotonina e melatonina, hiperativi-
dade noradrenérgica, inflamação com aumento da liberação das interleucinas (IL) 1 e
6, levando a dano neuronal; e hipoperfusão cerebral, são outros possíveis mecanismos
patogênicos envolvidos1.
Por ser uma síndrome que frequentemente tem como fator causal determinadas condi-
ções clínicas ou intervenção cirúrgica, portanto, apresentando-se mediante sintomas cog-
nitivos e comportamentais, o delirium é frequentemente negligenciado, subdiagnosticado
e subtratado.
Esta condição é cada vez mais reconhecida como um importante evento adverso, que
acomete principalmente pacientes idosos no período pos-operatório, especialmente entre o
primeiro e terceiro dia após a cirurgia. Uma vez que o diagnóstico tenha sido estabelecido,
o principal objetivo da terapia é identificar causas orgânicas potencialmente tratáveis e pos-
sivelmente responsáveis pelo desencadeamento da síndrome7.
O objetivo deste capítulo é discorrer sobre o delirium pós-operatório, seus possiveis me-
canismos fisiopatológicos, os fatores desencadeantes e realçar os pontos chaves essenciais
para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento, assim como discorrer sobre as evidências
atuais relacionadas ao prognóstico.
3- Fisiopatologia
A fisiopatologia do delirium após a anestesia e cirurgia ainda não está completa-
mente compreendida, podendo ser multifatorial. Mecanismos hipotéticos incluem:
desordens da neurotransmissão, inf lamação e estresse. Evidências suportam o papel
da reduzida transmissão colinérgica ou do excessivo tônus dapaminérgico no deli-
rium. Citocinas pró-inf lamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF) ou IL-1
também tem sido implicados, podendo alterar a neurotransmissão, aumentar a neu-
rotoxicidade, e aumentar a permeabilidade da barreira hemato-encefálica 16 . Fatores
genéticos também foram identificados como fatores de risco para o desenvolvimento
de delirium no pós-operatório17.
A idade do cérebro exibe alterações qualitativas e quantitativas no circuito neuronal,
o que poderia explicar a maior sensibilidade do paciente idoso ao delirium18,19. A hipótese
principal é o comprometimento reversível do metabolismo oxidativo cerebral associado a
alterações de múltiplos neurotransmissores20. Como a atividade neural aeróbica depende
da reserva de substratos como oxigênio, glicose e fosfatos, anormalidades nesse metabo-
lismo oxidativo comprometem a manutenção dos gradientes iônicos, alterando os poten-
ciais elétricos e a repolarização da membrana neuronal, levando à depressão da atividade
cerebral. A síntese de neurotransmissores e a depuração de neurotoxinas estão também
prejudicadas. Os neurônios colinérgicos, histaminérgicos e monoaminérgicos são extre-
mamente susceptíveis a essas alterações21.
Delirium pós-operatório | 41
Quanto à neuropatogênese do delirium, sabe-se que a etiologia, particularmente no
período pós-operatório, é geralmente multifatorial e de difícil de diagnóstico. Interações
entre fatores de risco do paciente, comorbidades e terapêutica polifarmácia pode precipi-
tar a síndrome.
Distúrbios em vários neurotransmissores têm sido implicados, mas a base neuroquímica do
delirium é mais frequentemente explicada por déficit na transmissão colinérgica (hipótese co-
linérgica). A acetilcolina tem importante papel na atenção, consciência e memória, sendo criti-
camente afetada na demência. Fatores não farmacológicos, tais como isquemia ou inflamação
no sistema nervoso central (SNC), podem também contribuir para o delirium pós-operatório.
Alterações na transmissão envolvendo o ácido gama-aminobutírico (GABA), glutamato, e
monoaminas (serotonina, noradrenalina, e dopamina) também têm sido correlacionadas com
a patogênese do delirium. Vários agentes sedativos e hipnóticos incluindo anestésicos inala-
tórios, propofol e benzodiazepínicos potencializam a transmissão GABA mediada no SNC.
Os transmissores do tipo monoamina têm proeminente papel neuromodulatório em regular a
função cognitiva, o despertar, o humor, sendo modulados por vias colinérgicas. O excesso de
transmissão dopaminérgica tem sido implicado no delirium hiperativo, que pode responder
a agentes antipsicóticos antagonistas do receptor da dopamina, tal como o haloperidol. Tem
sido observada relação inversa entre a atividade da acetilcolina e dopamina no delirium, sendo
que os campos terminais destes neurotransmissores se sobrepõem extensivamente no cérebro.
Fármacos antiparkinsonianos como a levodopa podem induzir delirium, e antagonistas da
dopamina podem tratar os sintomas7. Em relação à dopamina no cérebro, existe uma relação
recíproca entre as atividades colinérgicas e dopaminérgicas. No delirium, ocorre um excesso
de atividade dopaminérgica21. Aumentos e diminuições na sinalização da serotonina têm sido
associados com a síndrome, que pode ser induzida por inibidores seletivos da recaptação de
serotonina. Quantidades excessivas de noradrenalina circulante também têm sido associadas
com delirium hiperativo7.
A histamina é outro importante modulador das funções neurais. Tanto receptores hista-
minérgicos do tipo H1 quanto H2 alteram a polarização e a homeostase elétrica dos neurô-
nios hipocampais e corticais. Portanto, a ação de fármacos anti-histamínicos pode levar ao
delirium21.
Além do envolvimento das monoaminas e do ácido gama-aminoburítico na patogênese
do delirium, o aumento do cortisol, desencadeado pelo estresse anestésico-cirúrgico tam-
bém tem sido implicado22 . A alteração do ritmo circadiano do cortisol e das beta-endorfinas,
tem sido sugerido como uma possível explicação para o delírio causado por glicocorticoides
exógenos21. Desordens da melatonina também estiveram associadas a distúrbios do sono
em pacientes que apresentam delirium.������������������������������������������������
Além da alteração da homeostase dos neurotrans-
missores, existe ainda a hipótese de que mecanismos inflamatórios mediados por citocinas,
como a interleucina-1 e 6, também estão associados à patogênese do delirium 23,24.
Os mecanismos estruturais e as vias neuronais específicas envolvidas com o delirium são
desconhecidas. Estudos de imagem metabólica realizadas em pacientes com encefalopatia
hepática e estudos estruturais realizados em pacientes com traumatismo cranioencefálico
Figura 1 – Hipótese para neuropatogênese do delirium em pacientes idosos cirúrgicos. Adaptado de: Mantz
J, Hemmings Jr. HC, Boddaert J. Case scenario: postoperative delirium in elderly surgical patients. Anesthesiology
2010;112:189-195.
4- Delirium e Dor
O delirium no período pós-operatório interfere com a recuperação funcional e normal-
mente ocorre entre o primeiro e terceiro dia de pós-operatório, com piora dos sintomas
durante a noite.
Existem controvérsias sobre a correlação entre a ocorrência de dor e delirium no pós-ope-
ratório. Enquanto alguns estudos não estabelecem associação25-28, outros certificam que a dor
intensa no pós-operatório é uma das causas de delirium hiperativo com agitação29.
Em um grande estudo de coorte realizado em 541 pacientes submetidos à cirurgia de colo
de fêmur, foi observado que 16% desenvolveram delirium no pós-operatório. Neste estudo, a
ocorrência de dor intensa foi associada com aumento de nove vezes no risco de desenvolver de-
lirium30. Outro estudo do tipo prospectivo acompanhou 333 pacientes com idade média de 74
anos, nos três dias de pós-operatório de cirurgia não cardíaca de grande porte, foi observado que
46% dos pacientes desenvolveram delirium. A dor em repouso e a aumento da dor basal no pri-
meiro dia de pós-operatório estiveram significativamente associados à ocorrência de delirium31.
Delirium pós-operatório | 43
Foi observado que a analgesia realizada com opioides em doses adequadas, não aumen-
tou o risco de desenvolver delirium, o contrário aconteceu com pacientes que apresentaram
escores elevados de dor em repouso. Possivelmente por afetar o ciclo de sono-vigília e os
níveis hormonais30.
A dor induzida por retenção urinária, não diagnosticada na Sala de Recuperação Pós-
-Anestésica (SRPA), é considerada causa de delirium32 .
5- Fatores de Risco
Os fatores de risco associados ao delirium podem ser divididos em fatores predisponentes,
normalmente não modificáveis, e precipitantes. Existem mais de 60 variáveis descritas na li-
teratura relacionadas ao desenvolvimento de delirium. O paciente que apresenta mais de três
destas variáveis tem aproximadamente 60% de chance de desenvolver a síndrome28.
Os principais fatores de risco estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1 – Fatores de Risco para Ocorrência de Delirium no Pós-Operatório
Fatores Predisponentes
Reserva cognitiva reduzida
Demência | Depressão | Idade avançada
Reserva física reduzida
Doença aterosclerótica | Falência renal | Doença pulmonar | Idade avançada | Uso de beta-bloqueador
no pré-operatório
Sensório prejudicado (visão, audição)
Abuso de álcool
Desnutrição
Desidratação
Genótipo apolipoproteina E4
Fatores Precipitantes
Medicações ou abstinência de medicações
Anticolinérgicos | Relaxantes musculares | Antihistamínicos | Antiespasmódicos gastrointestinais
| Analgésicos opioides | Antiarrítmicos | Corticoides | Polifarmácia (> 6 tipos de medicações) | > 3
novas medicações durante a internação
Medicações psicotrópicas
Antidepressivos | Antiepilépticos | Antipsicóticos | Benzodiazepínicos
Dor
Hipotermia
Anormalidades eletrolíticas
Desnutrição
Desidratação
Mudança de ambiente (por exemplo: internação em UTI)
Distúrbios do ciclo sono-vigília
Uso de cateter urinário
Uso de contenção
Infecção
Adaptado de: Whitlock EL, Vannucci A, Avidan MS. Postoperative delirium. Minerva Anestesiol.
2011;77:448-456.
Delirium pós-operatório | 45
Evidências apontam que a anestesia proporciona vasodilatação cerebral, que induz um
estado inflamatório e hipermetabólico, que resulta em estresse oxidativo, levando a anor-
malidades nos sistemas neuronais noradrenérgicos, histaminérgicos, dopaminérgicos e coli-
nérgicos, que por sua vez é considerado, o insulto inicial que culmina com as manifestações
de delirium no pós-operatório. A habilidade das células colinérgicas para sintetizar e liberar
acetilcolina pode está reduzida levando a desorientação e prejuízo da memória41. O aumento
resultante na liberação de dopamina contribui para causar agitação e alucinações42.
A sedação excessiva é um fator de risco para delirium. E, controlar a extensão e a pro-
fundidade da sedação poderia ser uma medida simples e econômica para diminuir sua in-
cidência43. Um estudo randomizado avaliou a profundidade da sedação mediante Índice
Biexprectal, em pacientes submetidos à cirurgia para correção de fratura de colo de fêmur,
sob raquianestesia A sedação foi realizada com infusão intravenosa de propofol. Foi obser-
vado que os pacientes tratados com níveis leves de sedação tiveram incidência de delirium
50% menor, quando comparados com o grupo submetido a sedação profunda (19% contra
40%; P = 0.02)44 .
Em Unidade de Terapia Intensiva, comparou-se o uso de benzodiazepínicos (midazolam,
lorazepam) com agonista alfa-2 adrenérgico (dexmedetomidina), usando o mesmo nível de
sedação, em períodos prolongados. Pacientes que receberam benzodiazepínicos apresen-
taram maior incidência e duração de delirium, quando comparados com os pacientes que
receberam agonista do receptor alfa-2 adrenérgico45,46.
A meperidina, opioide sintético, muito utilizado no passado para tratar a dor, também
pode precipitar delirium47.
Quanto às estatinas, estudos divergem quanto ao uso no pré-operatório. Em estudo de
coorte retrospectivo o uso de estatinas foi associado com aumento no risco de desenvolver
delirium em pacientes idosos submetidos a cirúrgias eletivas48, já em outro ensaio mais re-
cente, o uso de estatinas no pré-operatório foi associado à atenuação de delírium em pacien-
tes submetidos a cirurgia cardíaca49.
Outros autores dosaram a acetilcolinesterase no pré-operatório, e a butirilcolinesterase
no pós-operatório. Identificaram que a diminuição destas substâncias esteve associada com
a presença de delíirum no pós-operatório, em pacientes acima de 60 anos, submetidos a ci-
rurgia ortopédica. Sugerindo que a dosagem da colinesterase plasmática pode ser um candi-
dato a biomarcador para identificar pacientes com risco aumentado para o desenvolvimento
de delirium no pós-operatório50.
Foi observado que a fragilidade do idoso, observada através da avaliação do estado de
fragilidade (Frailty Status)51 no pré-operatório é fator de risco independente para o desen-
volvimento de delirium no pós-operatório preococe52. Esta avaliação leva em consideração
cinco critérios: perda de peso não intencional de mais de 4,5 kg no último ano; auto relato de
exaustão; força de preensão fraca; tempo de caminhada lento; e baixa atividade física51.
Em idosos, está descrito que fatores cirúrgicos também estão associados com o desencade-
amento de delirium no pós-operatório. As cirurgias ortopédicas, especialmente artroplastia
de quadril, cirurgias cardíacas e vasculares, estão mais frequentemente implicadas, embora
Delirium pós-operatório | 47
O delírium pode apresentar-se sob as formas hiperativa e hipoativa, esta última forma é
mais comum em pacientes idosos e frequentemente não diagnosticada54. As principais ma-
nifestações do delirium estão resumidas na tabela 2.
Tabela 3 – Manifestações Clínicas de Delirium em Pacientes Idosos Cirúrgicos, no Pós-Operatório
Principais Manifestações Clínicas do Delirium
Início agudo
Curso flutuante
Falta de atenção
Pensamentos desorganizados
Alteração da consciência
Déficit cognitivo (memória, orientação, funções executivas)
Alucinações (30% dos pacientes)
Distúrbios psicomotores
Letargia (delirium hipoativo)
Agitação (delirium hiperativo)
Alteração no ciclo sono-vigília
Distúrbios emocionais
Adapatado de: Mantz J, Hemmings Jr. HC, Boddaert J. Case Scenario: Postoperative Delirium in Elderly
Surgical Patients. Anesthesiology 2010; 112:189 -195.
Faz-se necessário distinguir as características do delirium, demência e depressão55, as
quais são apresentadas na tabela 3.
Tabela 4 – Características do Delirium, Demência e Depressão
Características Delirium Demência Depressão
Flutuação do nível
Tristeza, diminuição do
Distinção de consciência com Memória prejudicada
interesse nas atividades
diminuição da atenção
Início Agudo Gradual Variável
Curso Flutuante Crônico, progressivo Variação diurna
Consciência e Clara até estágios
Obnubilado, desorientado Não prejudicada
orientação avançados
Memória de curto prazo Memória de curto prazo Pobre atenção, porém
Atenção e memória
pobre, marcada desatenção pobre, sem desatenção memória intacta
Comum Menos comum
Presença de psicose? Menos comum
(alucinações simples) (alucinações complexas)
Adaptado de: Flinn DR, Diehl KM, Seyfried LS. Prevention, diagnosis, and management of postoperative
delirium in older adults. J Am Coll Surg 2009;209:261-268.
Delirium pós-operatório | 49
Tabela 6 - Escala de Triagem de Delirium de Enfermagem (Nursing Delirium Screening Scale)
Sintomas Avaliação dos sintomas
1- Desorientação
Manifestação verbal ou comportamental de não estar orientado no tempo ou ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2
espaço ou não perceber pessoas no ambiente
2- Comportamento inapropriado
Comportamento inapropriado para lugar, para pessoas, ou ambos; por exem-
( )0 ( )1 ( )2
plo: puxar tubos ou vestimentas, tentando sair da cama quando é contraindi-
cado, e assim por diante
3- Comunicação inapropriada
Comunicação inapropriada para lugar, para pessoas, ou ambos; por exemplo: in- ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2
coerência, não comunicabilidade, discurso sem sentido ou ininteligível
4- Alucinações/ilusões
( )0 ( )1 ( )2
Ver ou ouvir coisas que não estão lá; distorção visual de objetos
5- Retardo psicomotor
Respostas lentificadas, poucas ou nenhuma palavra/ações espontâneas. Por
( )0 ( )1 ( )2
exemplo: quando o paciente é manuseado, alguma reação é deferida, o paciente
está irresponsivo
Escore total ( ) ≥ 2 Sim
Delirium ( ) < 2 Não
Adaptado de: Gaudreau JD, Gagnon P, Harel F, Tremblay A, Roy MA. Fast, systematic, and continuous
delirium assessment in hospitalized patients: the nursing delirium screening scale. J Pain Symptom
Manage 2005;29:368-375.
Tabela 7 - Escore de Detecção de Delirium (Delirium Detection Score – DDS) – para SRPA
Sintomas Avaliação dos sintomas
1- Orientação ( )0
+ Orientado para tempo, lugar, e identidade de pessoas, capaz de se concentrar ( )1
+ Não tem certeza sobre o tempo, lugar, ou ambos, não é capaz de se concentrar ( )4
+ Não orientado no tempo, lugar ou ambos ( )7
+ Não orientado no tempo, lugar, e identidade pessoal
2- Alucinações ( )0
+ Nenhuma ( )1
+ Leves alucinações às vezes ( )4
+ Leve a moderadas alucinações permanentemente ( )7
+ Graves alucinações permanentemente
3- Agitação ( )0
+ Atividade normal ( )1
+ Atividade discretamente aumentada ( )4
+ Agitação moderada ( )7
+ Agitação grave
4- Ansiedade ( )0
+ Nenhuma ansiedade quando em respouso ( )1
+ Discreta ansiedade ( )4
+ Moderada ansiedade às vezes ( )7
+ Ataque agudo de pânico
5- Sudorese paroxística ( )0
+ Nenhuma sudorese
( )1
+ Sudorese quase não detectável, apenas nas palmas das mãos ( )4
+ Gotas de suor na testa ( )7
+ Intensa sudorese
( ) ≥ 8 Sim
Delirium ( ) < 8 Não
Adaptado de: Otter H, Martin J, Basell K et al. - Validity and reliability of the DDS for severity of delirium in
the ICU. Neurocrit Care 2005; 2:150-158.
Delirium pós-operatório | 51
Outras estratégias preventivas tais como preservação do sono e psicoterapia multimodal,
devem ser consideradas. A privação do sono é uma causa comum de delirium em pacientes
de UTI, sendo a melhora qualitativa e quantitativa um objetivo a ser perseguido61.
O impacto dos programas interdisciplinares na prevenção do delirium já tem sido ava-
liado na clínica médica e enfermaria de cirurgia; entretanto, a maioria dos estudos foram
realizados em cirurgias ortopédicas. Ensaio controlado e randomizado realizado em pacien-
tes acima de 75 anos, em diferentes enfermarias de especialidades cirúrgicas (ortopedia,
urologia e cirurgia digestiva), com intervenções de caráter multifacetadas, teve impacto na
redução do delirium no pós-operatório64. O programa foi interdisciplinar, composto de gru-
pos móveis e grupos pertencentes a enfermarias, cujam ações intervenconistas são descritas
a seguir:
Papel dos geriatras do Time Geriátrico Móvel (Mobile Geriatric Teams) nas enferma-
rias de cirurgia.
• Treinamento das enfermeiras para realização da CAM
• Treinamento dos cirurgiões da enfermaria para a prevenção do delíirum pós-operatório
• Realização de uma consulta geriátrica no pré-operatório
• Conferência trimestral sobre morbidade e mortalidade
• Papel das enfermeiras do Time Geriátrico Móvel
Realização de avaliações pré-operatórias
• Realizações de testes para diagnóstico de delirium
• Papel das enfermeiras da enfermaria cirúrgica
Realizar CAM um dia antes da cirurgia até 7 dias após a cirurgia
• Envolvimento na implantação do programa
• Envolvimento nas conferencias trimestrais sobre morbidade e mortalidade
Outros profissionais médicos da enfermaria
• Envolvimento na implantação do programa
• Envolvimento nas conferencias trimestrais sobre morbidade e mortalidade
7.2- Prevenção Farmacológica
O agonista alfa-2 adrenérgico dexmedetomidina aumenta o número de dias livre de de-
lirium em pacientes críticos sob ventilação mecânica, podendo ser uma boa estratégia para
sedação em UTI46.
O uso crônico de benzodiazepínico no pré-operatório está associado com delirium no
pós-operatório. Tal prescrição deve ser sempre questionada como medicação pré-anes-
tésica em idosos, no ato da avaliação pré-anestésica. Por outro lado, a retirada súbita de
benzodiazepínicos é uma causa clássica de delirium e deve ser evitada 33. Se existe opção
por administração de medicação pré-anestésica, o uso de hidroxizina ou clonidina deve
ser considerada.
A clonidina, agente alfa-2 agonista, exerce um importante efeito neuromodulador da
função cortical superior, aumentando a conectividade efetiva entre o locus ceruleus, o cór-
tex parietal e o córtex pré-frontal. Representa então, a primeira classe de fármaco sedativo
8. Tratamento
Estado de agitação associado a delirium requer pronta intervenção farmacológica.
O neuroléptico haloperidol é uma butirofenona antipsicótica bem tolerada, facilmente
titulável, não causa depressão respiratória, podendo ser utilizado para sedação. Devido
à sensibilidade aumentada de pessoas idosas a fármacos é aconselhável o início com
pequenas dosagens e titulação do efeito desejado. Em um estudo randomizado placebo
controlado, a profilaxia com haloperidol diminuiu a severidade e a duração do delirium
pós-operatório, mas não a incidência. O uso rotineiro de uma ferramenta de avaliação do
delirium pode reduzir o uso de haloperidol, induzindo a redução considerável na dosagem
e duração do tratamento7.
Delirium pós-operatório | 53
Considera-se que o tratamento mais efetivo do delirium é o diagnostico precoce e
prevenção. Tratamentos farmacológicos foram investigados, mas os estudos têm limi-
tações metodológicas. A Associação Americana de Psiquiatria recomenda evitar benzo-
diazepínicos como monoterapia para pacientes com delirium, exceto em síndrome de
abstinência ao álcool e aos próprios benzodiazepínicos71. Esta classe de fármacos pode
precipitar ou exacerbar delirium em muitos casos, além de apresentar efeitos adversos.
Ensaio clínico randomizado desenhado para comparar a eficácia de medicações antip-
sicóticas e lorazepam em pacientes com delirium foi interrompido por que o lorazepam
demonstrou uma prevalência mais alta de efeitos adversos como ataxia, aumento do
delirium e sedação excessiva72 .
Medicações antipsicóticas atípicas como a olanzapina e a risperidona são também
frequentemente usadas para tratar delirium. Quando comparada com os antipsicóti-
cos típicos essa classe farmacológica apresenta menor incidência de efeitos adversos
extrapiramidais. Em ensaio clínico randomizado, a olanzapina demonstrou melhora
da severidade do delirium, quando comparada com placebo73 . Porém sua eficácia se
mostrou atenuada em pacientes acima de 70 anos74 . Outro estudo clínico mais re-
cente comparou a risperidona com haloperidol. Houve melhora na severidade do de-
lirium em 75% no grupo haloperidol contra 42% no grupo risperidona. No entanto,
estatisticamente essa diferença não foi significativa e o estudo não apresentou poder
discriminatório suficiente75 .
Similar aos benzodiazepínicos, medicações com propriedades anticolinérgicas de-
vem ser evitadas na população de risco. Opioides não devem ser usados para sedação em
paciente agitado, devendo somente ser utilizado para tratamento da dor aguda. Embora
raro, existem relatos de que os bloqueadores histaminérgicos, como cimetidina e raniti-
dina causem delirium76.
A ocorrência de delirium é estressante para pacientes, familiares e cuidadores. O contro-
le farmacológico no paciente agitado ou assustado é desejável. Embora nenhum ensaio clí-
nico duplo cego e randomizado tenha estabelecido a eficácia e a segurança das medicações
antipsicóticas no manejo do delirium, a administração de antipsicóticos é referendada por
recomendação (guidelines) como parte da rotina clínica pela maioria dos especialistas em
terapia intensiva77,78.
Qualquer discussão sobre medicação antipsicótica, e sua categoria, é complicada por
uma variedade de diferenças de ação no receptor de cada uma delas. Em ensaio clínico,
pacientes que toleravam nutrição enteral na UTI foram randomizados para receber olanza-
pina ou haloperidol intravenoso. Ambos os grupos melhoraram com o tempo seus escores
de severidade do delirium. A necessidade de benzodiazepínicos, que reflete a necessidade
de sedação, diminuiu em ambos os grupos. Pacientes do grupo olanzapina tiveram menos
efeitos extrapiramidais do que os que receberam haloperidol79. Corroborando com a hipó-
tese de que todos os antipsicóticos convencionais típicos e atípicos parecem ser igualmente
eficazes no tratamento da psicose, e, no presente, não existe evidência de efeito diferencial
em casos de delirium.
Delirium pós-operatório | 55
O delirium pode ter importantes consequências a longo-prazo, que atualmente estão sen-
do definidas mediante estudos epidemiológicos em grande escala, enquanto não se obtem
evidências concretas recomenda-se identificar os pacientes de risco, estabelecer a prevenção
e padronizar terapêuticas, utilizando estratégia interdisciplinar.
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Delirium pós-operatório | 59
Capítulo 04
Anestesia baseada em
evidências
Regina P. El Dib
Anestesia baseada em evidências
Provas científicas nos remetem a Medicina Baseada em Evidências (MBE), à Saúde Base-
ada em Evidências ou, ainda, à Economia Baseada em Evidências. Steven D. Levitt e Stephen
J. Dubner, economista e jornalista americanos, respectivamente, exploram o lado oculto e
inesperado do dia-a-dia1. Eles não só fazem perguntas simples, mas também inesperadas
como, por exemplo, qual é a melhor maneira de apanhar um terrorista? Será que a televi-
são aumentou os índices de criminalidade em Nova York? Ou, então, por que os médicos
não lavam as mãos? Eles buscam respostas por meio de evidências e, neste caso, utilizam
fundamentos econômicos até para mostrarem como os lutadores de sumô trapaceiam e os
corretores de imóveis nos enganam.
Até mesmo a religião vem utilizando evidências para comprovar ou não a existência de
Deus. Um exemplo disso são as evidências escrutinizadas pelos representantes da NASA
sobre a veracidade do Santo Sudário de Turim 2 . Será que houve contato do corpo de Jesus
no tecido que o envolveu? Ou será que houve uma radiação ou energia desconhecidas que
chamuscou o pano do nazareno? Segundo a NASA, utilizando-se de um aparelho chamado
VP-8, comprovou-se a tridimensionalidade da imagem demonstrando que o mecanismo
não ocorreu por contato direto2 . Nota-se que não apenas ganhamos com o desenvolvimento
da tecnologia, novos testes diagnósticos e avaliações econômicas em saúde, mas, também,
na identificação de questões a serem pesquisadas com maior rigor metodológico.
Desta forma, a Medicina Baseada em Evidências utiliza-se provas científicas existentes e
disponíveis no momento, com adequada validade interna (metodologia rigorosa) na aplica-
bilidade dos resultados na prática clínica (validade externa) para comprovar a efetividade,
eficácia e segurança de uma intervenção, bem como, verificar a sensibilidade e especificida-
de de testes diagnósticos e avaliação de fatores de risco por meio de estudos prognósticos.
Felizmente já existem a Cardiologia Baseada em Evidências3, Psiquiatria Baseada em
Evidências4, Fisioterapia Baseada em Evidências 5, Enfermagem Baseada em Evidências6,
dentre outros. A MBE não nega o valor da experiência profissional, mas propõe que esta seja
alicerçada em evidências.
Como praticamos, então, a Anestesiologia Baseada em Evidências? Primeiro há a neces-
sidade da transformação de uma informação (sobre etiologia, prevenção, tratamento, prog-
nóstico ou diagnóstico) em uma pergunta, geralmente composta por quatro itens-chave e,
que é internacionalmente conhecida, como PICO: Patients (participantes) – qual é a doen-
ça a ser estudada?; Intervention (intervenção) – qual é a intervenção a ser avaliada?; Control
group (grupo controle) – qual o grupo de comparação e; Outcomes (desfechos) – quais des-
fechos a serem mensurados?
Suponha que se queira saber sobre a eficácia e segurança da anestesia intravenosa com-
parada à inalatória na diminuição da mortalidade de pacientes submetidos a técnica de ven-
tilação monopulmonar. Neste exemplo, o P representaria os pacientes que se submeteram à
cirurgia com ventilação monopulmonar; I, anestesia intravenosa; C, anestesia inalatória e,
O, diminuição na ocorrência de taxas de mortalidade. Desta forma, a pergunta adequada e
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Monitorização
hemodinâmica e
reposição volêmica no
transplante hepático
Fábio Scalet Soeiro
Bruno Salomé de Morais
Rodrigo Pereira Diaz André
Monitorização hemodinâmica e reposição volêmica
no transplante hepático
Introdução
Eventos adversos no intraoperatório estão associados de forma independente a pior
prognóstico após o transplante hepático (TH)1. Alterações hemodinâmicas abruptas
são frequentes durante o procedimento, quase sempre secundárias a eventos cirúrgi-
cos como o pinçamento da veia cava, sangramentos agudos ou reperfusão do enxerto.
Arritmias cardíacas podem também ocorrer, particularmente na reperfusão. Falências
ventriculares direita ou esquerda e eventos embólicos de grande monta são causas bem
conhecidas de mortalidade.
Devido à pluralidade de apresentações dos pacientes no momento do transplante e le-
vando em consideração o porte cirúrgico em questão, deve-se utilizar o melhor conjunto de
monitorização possível. A extensão da monitorização do paciente durante o TH depende
da história clínica do receptor, da sua condição fisiológica na chegada à sala de cirurgia e da
técnica cirúrgica a ser empregada (piggyback ou exclusão vascular total, com ou sem bypass
venovenoso). Além da monitorização básica (oximetria de pulso, medida da temperatura
central, cardioscópio de cinco derivações com análise do segmento ST, capnografia com
análise de gases e débito urinário), deve-se monitorizar a pressão arterial de forma invasi-
va por meio de um ou dois sítios de punção (artéria radial e/ou artéria femoral) em todos
os pacientes. Apesar da monitorização invasiva variar de acordo com a disponibilidade do
serviço, a decisão de sua utilização deve ser baseada nos benefícios que pode oferecer, riscos
e condição clínica do paciente. A interpretação adequada dos monitores, associada à expe-
riência de quem os interpreta, pode ser determinante para o desfecho do caso. A análise dos
parâmetros deve nos orientar na escolha dos fármacos e intervenções, bem como individua-
lizar a reposição volêmica. Essa por sua vez deve ser planejada e reavaliada a cada momento,
segundo os dados provenientes da monitorização, em cada etapa do procedimento. Pode-se
dividir didaticamente a monitorização por sistemas.
Sistema Cardiovascular
A monitorização da pressão arterial de forma invasiva é mandatória. Sua medida a partir
da artéria radial pode subestimar a pressão aórtica em estados hipotensivos, principalmente
durante a reperfusão. A pressão sistólica monitorizada na artéria femoral é significativamen-
te mais alta do que a obtida no sitio radial e o uso de vasoconstritores pode acentuar essa
diferença2, com grandes variações interindividuais. A linha femoral pode porém não ser útil
no caso raro de clampeamento da aorta para realização da anastomose da artéria hepática.
Alguns centros utilizam os dois sítios simultaneamente, um para coleta de amostras de san-
gue e outro para a monitorização. A cateterização da artéria femoral pode ser útil também
para a instalação de monitor de débito cardíaco com termodiluição transpulmonar.
Coagulação
A hepatopatia terminal está associada à desordem multifatorial do sistema hemostáti-
co . A síntese e a depuração dos fatores de coagulação, como de seus inibidores, estão
38,39
alteradas pela cirrose, acarretando desequilíbrio entre pró e anticoagulantes. Isso coloca
os mesmos em risco de trombose ou sangramento grave. Entre os múltiplos fatores de risco
adicionais para coagulopatia, podem-se destacar: desordens congênitas ou adquiridas da
coagulação, hemodiluição, consumo de fatores de coagulação, hiperfibrinólise, liberação de
heparinoides endógenos ou exógenos e acúmulo de citrato pelas transfusões. Condições bá-
sicas como hipotermia, acidose, hipocalcemia e anemia também podem exercer importante
influência na hemostasia.
Apesar do estado de hipocoagulabilidade ser o mais comumente encontrado nos can-
didatos a TH, aproximadamente 35% dessa população apresentam quadro de hipercoagu-
labilidade. Sobretudo, esses pacientes apresentam alta incidência de trombose e oclusão
vascular das anastomoses (veia porta e artéria hepática), além do risco de microtromboses
da circulação pulmonar por agregados de plaquetas ativadas no enxerto hepático durante
a reperfusão 40,41.
A concepção sobre o sistema de hemostasia vem mudando nos últimos anos. O modelo
clássico da cascata de coagulação com uma via intrínseca e outra extrínseca tem sido
substituído por um modelo celular que possui três fases consecutivas: iniciação, amplifica-
ção e propagação. Ele reflete de forma muito mais adequada as interações entre os fatores
celulares e plasmáticos do que o modelo clássico.
A monitorização da coagulação durante o TH é de fundamental importância para o su-
cesso do procedimento. Devido à complexidade das alterações hemostáticas presentes na
Nomenclatura
Parâmetro Processo
TEG ROTEM
A r: tempo de início da coagulação CT (tempo de coagulação): Iniciação da geração
(até atingir 2 mm de amplitude) tempo de início da coagulação de trombina e início da
até atingir 2 mm de amplitude polimerização do coágulo
B K: tempo entre o início da CFT: tempo de formação do Polimerização da fibrina, for-
formação do coágulo até atingir coágulo até atingir a amplitude mação da rede de fibrina com
a amplitude de 20 mm de 20 mm interação com as plaquetas.
C α (ângulo alfa): ângulo α (ângulo alfa): tangente da
formado da linha entre o final curva de coagulação através do
da r e o K ponto de 2 mm de amplitude
D MA (amplitude máxima): MCF (firmeza máxima Estabilização do coágulo
máxima amplitude registrada do coágulo): amplitude por plaquetas e fator XIII
máxima registrada
E CL45, CL60 (lise após 45 e 60 LY30, LY45 ou ML: lise em 30, Medida do grau de fibrinólise
minutos): amplitude em 45 e 45 minutos e lise máxima. após cada tempo específico
60 minutos.
Figura 4 – Traçado do tromboelastograma e nomenclatura utilizadas relacionadas com o processo
da coagulação
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A coagulação no paciente
cirúrgico – parte 1
Alexandre Teruya
Andrea Tiemi Kondo
Diná Mie Hatanaka
Gabriel Franzin Rusca
Jose Mauro Kutner
Octavio Henrique Mendes Hypolito
4.1 Introdução
Desde a utilização pela primeira vez da circulação extracorpórea (CEC), em 1950, para
realização de cirurgia cardíaca, tem sido identificados casos de sangramentos graves, sem
causa cirúrgica aparente.
O sangramento pós-operatório é uma das complicações mais comuns e grave da
cirurgia cardíaca sendo associada a aumento de morbidade e mortalidade. Autores
reportam que a incidência de acidente vascular cerebral 35 , síndrome do desconforto
respiratório agudo37, arritmias atriais 37, insuficiência renal, sepse, suporte ventilatório
prolongado e morte são significativamente maiores em pacientes submetidos a reopera-
ções por sangramento33 .
Aproximadamente 2% a 4% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca necessi-
tam de reavaliações por sangramento, com taxas ainda maiores em procedimentos de
alta complexidade.
Avaliação da Sociedade Americana de Cirurgiões Torácicos em relação a incidência,
os fatores de risco e a evolução de 528.686 pacientes que realizaram cirurgia de revascu-
larização do miocárdio e necessitaram nova cirurgia para revisão de hemostasia, entre os
anos de 2004 a 2007, mostrou ser de 2,4% o índice de reoperação34. Os fatores de risco
encontrados, foram: idade avançada, sexo masculino, comorbidades tais como: doenças
vasculares periféricas, cerebrovasculares, pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência
renal, insuficiência cardíaca, cirurgia de urgência/emergência, uso de balão intraórtico
no perioperatório, intervenções prévias, intervenções percutâneas em menos de 6 horas
antes da revascularização do miocárdio e o uso de tienopiridina, um anticoagulante, me-
nos de 24 horas antes do procedimento cirúrgico34. O risco de mortalidade ajustado foi
significativamente maior nos pacientes reoperados: 5,9% contra 1,97% 34.
Outros estudos identificaram como fatores de risco adicionais para sangramento no pós
operatório: tempo prolongado de CEC33,35, uso de clopidogrel pré-operatório, cessação do
uso de aspirina dentro de 4 dias antes da cirurgia, não utilização de medicações antifibrino-
líticas no intra-operatório e tipo de cirugia35.
Diante desse quadro de complicações relacionadas ao sangramento, associadas a to-
dos os riscos da transfusão de componentes sanguíneos autólogos é imperioso à equipe
assistencial a identificação da etiologia desse sangramento. Sendo que causas cirúrgicas
são identificadas em 50% dos pacientes submetidos à reoperação por sangramentos36, e no
restante dos pacientes é multifatorial.
Figura 2. Modelo da exposição do sangue a materiais estranhos, formando uma camada de proteínas plas-
máticas em torno do plástico. Reproduzido da referência71.
Anticoagulação
Como descrito anteriormente a heparina é o anticoagulante de eleição para prevenir a co-
agulação do sangue no interior do circuito de CEC, e as suas doses foram determinadas em-
piricamente desde o início de sua utilização. Tradicionalmente o uso do tempo de coagulação
ativado (TCA) é utilizado para monitorizar o nível adequado de coagulação durante a CEC, e
diversos centros utilizam a dose 300-400UI/kg de heparina, com o intuito de manter o TCA
>400 segundos, sendo que doses adicionais podem ser administradas para manter esses valores.
Entretanto os valores do TCA fornecem somente informações gerais em relação ao
estado de coagulação e não o mecanismo exato dessa inatividade do sistema hemostático.
Além de não se correlacionar com a concentração plasmática de heparina e ser influencia-
do pela hemodiluição, hipotermia e uso de medicações antifibrinolíticas 48-50.
A associação entre a dose de heparina utilizada e o sangramento no pós-operatório
ainda continua obscura, no entanto diversos estudos têm demonstrado que doses maiores
de heparina, controladas pela concentração plasmática e não pelo TCA estão relacionadas
com menores sangramentos no período pós-operatório 51-55. Isso se dá provavelmente pela
inibição da ativação excessiva da formação de trombina e fibrinólise, e manutenção de
níveis mais elevados dos fatores de coagulação após a CEC.
O sulfato de protamina é o agente mais utilizado para reversão da anticoagulação pela
heparina no final da CEC, formando um complexo estável de 1:1 e meia vida de aproxi-
madamente 5 minutos56. Entretanto apresenta diversas limitações potenciais: hipotensão
sistêmica, aumento da pressão na circulação pulmonar, diminuição do débito cardíaco,
anafilaxias, além de algumas disfunções do próprio sistema de hemostasia 57.
Sistema Inflamatório
A circulação extracorpórea induz uma resposta inflamatória de fase aguda, que asseme-
lha-se à apresentada na sepse, com interligações com o sistema de coagulação.
Ocorre ativação leucocitária com liberação de mediadores inflamatórios como interleucina
I, fator de necrose tecidual, endotoxina, que estimulam monócitos com consequente expres-
são de fator tecidual, geração de trombina e ativação paradoxal e inadequada do sistema de
coagulação61. Ocorre ainda diminuição da atividade da proteína C, com consequente favore-
cimento da produção de trombina durante a CEC 62, contribuindo para maior consumo dos
fatores de coagulação.
Sistema Fibrinolítico
Durante a circulação extracorpórea, desde o seu início ocorre ativação do sistema
fibrinolítico, inicialmente induzida pelo fator XIIa e, posteriormente pela produção endo-
telial do fator ativador do plasminogênio tecidual (t-PA) e do ativador do plasminogênio
uroquinase (u-PA), liberado pelos monócitos, macrófagos e fibroblastos.
Esse estado de hiperfibrinólise é estimulado pela própria trombina e fibrina produzi-
das por outros mecanismos 63 , além de outros mediadores inf lamatórios como citocinas
e endotoxinas 64.
Evidências sugerem que a plasmina e o t-PA são compostos com efeitos inibidores da
função plaquetária, degradando o fator de von Willebrand, e as glicoproteínas de membrana
GPIb e GPIIb/IIIa 66, resultando em disfunção plaquetário no final da CEC.
Vários estudos têm demonstrado que a administração de um composto antifibrinolítico
(aprotinina, ácido tranexâmico e ácido aminocapróico) durante a CEC diminui a ativação
do sistema fibrinolítico e inflamatório, além de reduzirem perdas sanguíneas no período pós
operatório e utilização de hemocomponentes 65, possivelmente pela atenuação da disfunção
plaquetária ocasionada pela hiperfibrinólise.
Disfunção Plaquetária
A disfunção plaquetária é considerada em muitos estudos como a principal causa de he-
morragia relacionada à circulação extracorpórea. Testes de função estão alterados após a
CEC: tempo de sangramento 65, força de contração plaquetária 67.
5. Hemorragia em Obstetrícia
A hemorragia pós-parto é uma das principais causas de morte materna, acompanhada
de eventos embólicos e hipertensão. Sua incidência vem aumentando, chegando, segundo
estudos americanos, a 2,93% de todos os partos 72,73. Por definição, caracteriza-se como he-
morragia pós-parto a perda sanguínea maior que 500 ml no parto normal e maior que 1000
ml no parto cesariano72 .
Os sangramentos precoces ocorrem em até 24 horas após o parto e são clinicamente mais
importantes, com maiores perdas sanguíneas, podendo levar a choque hemorrágico, coagu-
lopatia e óbito, sendo que 79% destes são causados por atonia uterina. Entre outras causas de
hemorragia pós-parto estão: retenção de fragmentos placentários, laceração de trato genital,
ruptura uterina, inversão uterina, placenta acreta e coagulopatia hereditária 72,73.
Alguns fatores de risco como causa de atonia uterina são: grande distensão uterina (como
em gestações múltiplas ou polidrâmnio), hipertensão arterial, pré-eclampsia, corioamnioni-
te, parto cesáreano e idade materna maior do que 35 anos. Entretanto, segundo estudo, em
38% dos casos de hemorragia por atonia uterina, nenhum dos fatores de risco anteriormente
relacionados foram identificados73.
Utilização de
hemoderivados em
cirurgia cardíaca
Ricardo Lopes da Silva
Fernando Antônio Nogueira Cruz Martins
Kleber Machareth de Souza
Utilização de hemoderivados em cirurgia cardíaca
Determinação do valor mínimo do hematócrito em cirurgia cardiovascular –
Evidencias favoráveis e contrárias a adoção de um gatilho transfusional.
Em 1947, John Lundy, baseado em anos de experiência nas salas de cirurgia da Clinica
Mayo, publicou que uma hemoglobina (Hb) de 10g/dl ou uma perda de 15% do volume
circulante seriam apropriados para utilizar como gatilho transfusional1. Este conceito
perdurou até a década de 80 quando se começou a questionar os riscos e benefícios da
transfusão sanguínea.
Atualmente, os conceitos sobre transfusão sanguínea estão baseados na necessidade
de aumentar a capacidade carreadora de oxigênio do sistema circulatório. O adequado
transporte de oxigênio (DO2) é o que mantém a homeostase normal dos tecidos, de-
pendendo do f luxo sanguíneo e do conteúdo de oxigênio arterial. O f luxo sanguíneo
é dependente do débito cardíaco e de condições circulatórias locais. Enquanto que o
conteúdo de oxigênio está diretamente relacionado com os níveis de Hb, saturação de
oxigênio e o oxigênio dissolvido no plama 2 (CaO2= Hb X 1,34 X SaO2 + 0,0034 X PaO2).
Portanto, a capacidade de transporte de oxigênio é diretamente proporcional ao
conteúdo de hemoglobina, uma vez que a quantidade de oxigênio dissolvida no
plasma é ínfima.
Em condições normais, o transporte de oxigênio sobrepõe o seu consumo em quatro
vezes e sua extração em torno de 20-30%. Quando ocorre uma queda nos níveis de Hb, ane-
mia, o organismo lança mão de respostas adaptativas, como aumento do fluxo sanguíneo
através de um acréscimo no débito cardíaco, redistribuição do fluxo de órgãos não vitais
para órgãos vitais, especialmente cérebro e coração, além do aumento na taxa de extração
de oxigênio pelos tecidos. O valor do transporte crítico de oxigênio humano ainda não é
conhecido, o lactato plasmático é um bom marcador da inadequada perfusão. No momento
que a reserva do organismo começa a se exaurir e falta oxigênio para o metabolismo aeróbi-
co, este se converte em anaeróbico, evidenciado pelo aumento no lactato plasmático3. Neste
ponto crítico, seria o momento em que a hemotransfusão estaria indicada, visando restaurar
a capacidade carreadora de oxigênio. Definir este momento é muito difícil, sendo ele variá-
vel dependendo das condições físicas do paciente. Experiência com pacientes Testemunhas
de Jeová mostram que o aumento da morbimortalidade em pacientes saudáveis começa a
ocorrer com uma Hb inferior a 5g/dl4.
Não existe um gatilho transfusional que atenda a todos os pacientes, o que existe são pa-
râmetros que nos guiam quanto à necessidade de se administrar concentrado de hemácias.
Em um guideline publicado pela Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA), postula-se
que nunca há necessidade de hemotransfundir quando o paciente apresenta Hb superior a
10g/dl, porém em indivíduos com Hb inferior a 6g/dl a utilização de concentrado de hemá-
cias está bem indicada5. Na faixa que varia de 6-10g/dl de hemoglobina, a necessidade ou
não de transfusão vai depender das condições clinicas do paciente.
Alterações metabólicas
As principais alterações metabólicas que acompanham a estocagem de sangue total in-
cluem o acúmulo de íons hidrogênio e potássio, a redução da concentração de 2,3-difosfo-
glicerato (2,3-DPG) e a redução do cálcio sérico no receptor.
Íons hidrogênio
A função contínua do metabolismo dos eritrócitos resuta em produção de íons hidrogê-
nio, os quais se associam àqueles presentes na maioria das soluções preservativas. Mesmo
com essas características, a ocorrência de acidose metabólica no receptor não é comum.
Assim, o uso de bicarbonato deve ser regulado pelos valores de pH e não de forma empírica.
Íons potássio
O conteúdo de potássio aumenta progressivamente no sangue estocado, mas mesmo em
transfusões maciças, não é comum a ocorrência de hiperpotassemia. Uma unidade de san-
Redução do 2,3-DPG
A estocagem de sangue leva a progressiva redução do 2,3-DPG, o que resulta em maior
afinidade do oxigênio pela hemoglobina (redução da P50). Conceitualmente a afinidade aumen-
tada do oxigênio pela hemoglobina pode causar menor disponibilidade desse gás aos tecidos.
Citrato
O metabolismo do citrato em bicarbonato pode causar alcalose metabólica. De fato, é comum
a ocorrência de alcalose, ao invés de acidose, em pacientes que receberam transfusão maciça.
Por outro lado a ligação de citrato ao cálcio poderia levar a hipocalcemia. A rápida me-
tabolização do citrato a bicarbonato, no fígado, além da mobilização de cálcio ósseo, torna
pouco comum a ocorrência de hipocalcemia em pacientes que recebem transfusão de san-
gue total. A administração de cálcio ao paciente deve seguir parâmetros objetivos, como:
prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma e redução da concentração de cálcio
ionizado plasmático. Além disso deve-se considerar a reposição quando a taxa de infusão de
sangue for mais rápida do que 50 mL/min, na presença de hipotermia ou doença hepática
que interfira com o metabolismo hepático do citrato e em neonatos9.
Hipotermia
A administração de sangue a 6oC pode resultar em hipotermia. Deve-se realizar a passagem
do hemoderivado por aquecedores apropriados. A redução da temperatura aumenta o consu-
mo de oxigênio em até 400% (em caso de tremor pós-operatório) e aumento compensatório
do débito cardíaco, o que pode levar a isquemia miocárdica em coronariopatas9.
Reações transfusionais
As reações transfusionais podem ser classificadas como febris, alérgicas e hemolíticas.
Em muitos casos, a anestesia pode mascarar os sintomas. A possibilidade de reação deve ser
suspeitada quando há hipertermia, aumento da pressão de pico das vias aéreas e/ou altera-
ção aguda da cor da urina ou débito urinário.
Periodicamente durante transfusão de hemoderivados deve-se observar sinais e sinto-
mas, tais como: urticária, hipotensão, taquicardia, aumenta de pressão de vias aéreas, hemo-
globinúria, hipertemia e sangramento microvascular.
Antes de instituir a terapia para reações transfusionais, deve-se interromper a transfusão
e iniciar os testes diagnósticos.
Reações febris
São as mais comuns reações não-hemolíticas. A explicação mais provável é a interação
entre anticorpos do receptor e antígenos existentes nos leucócitos ou plaquetas do doador.
Reações alérgicas
Manifestam-se por hipertermia, urticária e prurido. Tratamento deve ser feito com anti-hista-
mínicos e descontinuação da transfusão, em casos mais graves. Nesses casos deve-se avaliar
a presença de hemoglobina urinária para excluir reação hemolítica10.
Reações hemolíticas
Ocorrem quando sangue de tipagem incorreta é administrada. O fator comum na pro-
dução de hemólise intravascular e desenvolvimento de hemorragia é a ativação do sistema
complemento. Com exceção da hipotensão, os demais sintomas da reação hemolítica podem
ser mascarados pela anestesia: dor lombar ou esternal, febre, calafrios, dispnéia, vermelhi-
dão da pele). O aparecimento de hemoglobina livre urinária ou no plasma sugere ocorrência
da reação. Insuficiência renal resulta da precipitação de componentes lipídicos ou estromais
de eritrócitos hemolisados (não hemoglobina livre) nos túbulos renais distais. Coagulação
intravascular disseminada pode resultar em coagulopatia iniciada por material liberado das
hemácias rompidas.
O tratamento inclui descontinuação imediata da administração do hemoderivado e ma-
nutenção do débito urinário com uso de cristalóides venosos, manitol e furosemida. Corti-
cóides e bicarbonato de sódio para alcalinizar a urina e melhorar a solubilidade de produtos
da degradação de hemoglobina, são controversos10.
Análogos da Eritropoetina
Eritropoetina
Hormônio glicoprotéico produzido pelos rins, sendo que sua concentração eleva-se
na vigência de hipóxia. Após atingir a medula óssea, a eritropoetina atua em células
precursoras do eritroblasto o que induzirá sua diferenciação, acelerando a produção
de eritrócitos maduros. O processo de aceleração na produção de eritrócitos se inicia
geralmente no segundo dia de administração e atinge seu ápce no quarto ou quinto dia
após sua administração. Seu efeito se encerra após onze a doze dias. Deve-se observar
seu perfil clínico visando a administração de ferro e a realização de doação autóloga.
Pode-se utilizar para administração a via venosa e a via subcutânea, necessitando o
ajuste de doses para cada via determinada. A administração venosa promove biodis-
ponibilidade de 100% da eritropoietina, enquanto a via subcutânea em torno de 25%14.
É importante salientar que a efetividade da eritropoietina é dependente da co-administração
de ferro para sua efetividade.
Metanálises presentes na literatura tendem a demonstrar que a eritropoietina é ca-
paz de promover uma menor realização de transfusão de sangue alogênico associado a
um melhor perfil “cardioprotetor” reduzindo áreas de infarto, quando comparados ao
grupo controle.
A relação custo X benefício tende a favorecer a utilização da eritropetina, principalmente
em se considerar os riscos de doenças infecciosas associadas as transfusões sanguíneas14.
Referências Bibliográficas:
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Anestesia ambulatorial
para procedimentos em
reprodução assistida
Jose Eduardo Bagnara Orosz
Ivani Rodrigues Glass
Anestesia ambulatorial para procedimentos em
reprodução assistida
Introdução
A reprodução assistida desenvolveu-se muito nas últimas três décadas, com o adven-
to dos fármacos análogos hormonais utilizados para a indução ovulatória e preparo do
endométrio para a transferência do embrião. Contribuíram para melhores resultados as
técnicas microcirúrgicas utilizadas para obtenção de espermatozóides, sobretudo de pacientes
azospérmicos1, e as relacionadas à fertilização com auxílio de injeção intracitoplasmática
(IntraCytoplasmic Sperm Injection - ICSI)2 . As microcirurgias possibilitaram obter célu-
las do parênquima testicular, e a ICSI, que uma célula ainda imatura pudesse fertilizar
o óvulo. Muitos casais hoje conseguem conceber graças à técnica desenvolvida e ao
conhecimento acumulado nesses últimos anos.
Assim, a participação do anestesiologista não mais se restringe à obtenção de óvulos, e se
faz necessária também em procedimentos que visam obter espermatozóides, sobretudo de
homens azospérmicos.
Apesar disso, a aspiração de óvulos, realizada através de punção de fundo de saco vaginal
com agulha longa, guiada por ultrassonografia, é ainda o procedimento que demanda maior
cuidado na escolha da técnica anestésica, pois há indícios de que alguns fármacos anestési-
cos podem ser prejudiciais à qualidade dos oócitos.
Dessa forma, técnicas anestésicas empregando fármacos de curta duração, com rápida
distribuição e/ou metabolização, cuja concentração no plasma decresça rapidamente, tem
sido a escolha em diversos centros.
Os procedimentos envolvidos na reprodução assistida são feitos rotineiramente em
regime ambulatorial, uma vez que são pouco invasivos, com rápida recuperação, e envolvem
pacientes relativamente jovens, que apresentam, apenas em raros casos, idade superior a 50
anos, e tem baixa incidência de comorbidades.
Etapas do processo
Inicialmente é feita a estimulação ovariana com análogos hormonais, a fim de produzir
uma hiperovulação. O estado dos ovários é acompanhado através de exames ultrassono-
gráficos a intervalos variáveis, até as vésperas da captação dos óvulos, quando é realizada a
punção do fundo de saco vaginal e aspiração do líquido de cada um dos folículos, usando-se
uma agulha longa.
O material obtido é então processado, e os oócitos são classificados e incubados em meio
de cultura e condições específicos. Após um período variável em função da maturidade e
qualidade das células obtidas, podem receber tratamento complementar para desnudação, e
são então submetidas à fertilização pelos espermatozóides.
Os espermatozóides, por sua vez, são obtidos do esperma ejaculado ou, no caso
de pacientes azospérmicos, de punção de epidídimo (Percutaneous Epididymal Sperm
Avaliação pré-anestésica
Habitualmente, quando os pacientes chegam à etapa cirúrgica, em que há participação
do anestesiologista, já passaram pelas fases de investigação da causa da infertilidade,
receberam extensas orientações, e tiveram eventuais comorbidades tratadas ou com-
pensadas. Ainda assim, durante a avaliação pré-anestésica deve-se ter especial atenção às
comorbidades eventualmente associadas à infertilidade, como tireoidopatias, obesidade e
depressão endógena, e ao eventual uso de fármacos que podem apresentar interação com os
anestésicos, como antidepressivos e benzodiazepínicos4.
Punção de Epidídimo
Também chamada PESA (Percutaneous Epididymal Sperm Aspiration). Trata-se de
procedimento em que uma agulha é inserida no epidídimo para a se obter espermato-
zóides para uso em ICSI (Intra Cytoplasmic Sperm Injection).
Envolve a imobilização manual e a punção do epidídimo com agulha 40x12mm, e aspi-
ração do conteúdo com seringa preenchida parcialmente com meio de cultura apropriado.
Pela efemeridade e pequena a moderada intensidade da estimulação dolorosa, não há neces-
sidade de bloqueios quando se emprega algum tipo de sedação moderada a profunda.
Como é regra entre os pacientes que se submetem a reprodução assistida, muitos estão
ansiosos no dia do procedimento. A técnica de sedação usando apenas propofol, sob
ventilação espontânea e/ou assistida com máscara facial, tem resultados positivos, tanto
quanto à condição de trabalho do cirurgião, como em relação à satisfação do paciente.
A dose de propofol deve ser adequada a cada paciente, a fim de se obter o plano
necessário, e usualmente é de cerca de 3 a 4mg.kg-1, associada ou não, a um opióide
como fentanil (1 a 3µg.kg-1) ou alfentanil (10 a 20µg.kg-1).
Punção Testicular
Denominada TESA (Testicular Sperm Aspiration), é empregada para se obter espermato-
zóides diretamente dos testículos, através de punção percutânea do seu parênquima.
Microdissecção Testicular
Referida como Micro-TESE, ou Microdissection Testicular Sperm Extraction, é utili-
zada na tentativa de se identificar áreas de produção espermática no parênquima testicu-
lar. Envolve a dissecção microcirúrgica dos túbulos seminíferos a fim de se obter células
germinativas viáveis para uso em ICSI. Indicada em casos mais graves, ou nos casos de
azoospermia não obstrutiva. São escolhidas áreas com morfologia favorável e excisadas
porções de túbulos seminíferos.
Anestesia ambulatorial para procedimentos em reprodução assistida | 127
Nesse caso se faz necessária uma incisão ampla, exteriorização dos testículos e, frequen-
temente, algum grau de tração do cordão espermático, e é esperada maior intensidade de
estímulo nociceptivo. Está indicada técnica anestésica capaz de prover, além de analgesia
adequada, bloqueio de eventual resposta autonômica à tração do cordão espermático.
A sedação profunda sob ventilação assistida, ou a anestesia geral sob ventilação con-
trolada, utilizando-se fármacos de curta ou ultracurta duração, podem ser a técnica de
escolha. Mas também é possível obter suficiente analgesia com o emprego de infiltração
local, associada ao bloqueio do cordão espermático com anestésico local, que pode ser
complementado com sedação leve a moderada6.
Para isso utiliza-se, por exemplo, o propofol, na dose de indução de 3 a 4mg.kg-1, seguida
de infusão de 60 a 100µg.kg-1.min-1, conforme as necessidades e características do paciente,
sob ventilação espontânea ou assistida, e máscara facial com O2 100%.
Pequena dose de um opióide como fentanil (1 a 2µg.kg-1) ou alfentanil (7 a 15µg.kg-1) tem
sido empregada com sucesso antes da infiltração de pele e subcutâneo, com licocaína 1%
sem vasoconstritor, pelo cirurgião.
O bloqueio do cordão é realizado com 4 a 6ml do mesmo anestésico local, infiltrado “a
céu aberto” pelo cirurgião, quando o plexo pampiniforme é exposto.
Referências bibliográficas:
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sperm injection – new insights. Clinics (São Paulo), 2011; 66:1463-1478.
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Glicemia, insulina,
resposta inflamatória
e anestesia
Florentino Fernandes Mendes
Ana Luft
Glicemia, insulina, resposta inflamatória
e anestesia
Introdução
Como a glicose é o substrato preferencial durante condições críticas, a hiperglicemia de
estresse foi considerada por um longo tempo uma resposta benéfica, por que permitia uma
disponibilidade adequada de energia aos tecidos1.
Esse conceito começou a mudar quando um grande ensaio clínico mostrou redução na
mortalidade de pacientes cirúrgicos, com ou sem o diagnóstico de diabetes, tratados com
insulina, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com controle agressivo da glicemia 2 .
Subsequentes trabalhos, realizados com pacientes cirúrgicos ou internados em unida-
des de tratamento intensivo, têm reduzido o entusiasmo inicial com o controle agressivo
da glicemia 3,4, por causa do risco inaceitável de desenvolver hipoglicemia 5,6.
Indivíduos submetidos a cirurgias têm hiperglicemia transitória, considerada secun-
dária ao estresse associado com o insulto cirúrgico. Alternativamente a desrregulação
perioperatória da glicemia pode ser uma manifestação específica de doença, ou evidência
de intolerância a glicose ou diabetes não diagnosticada7,8.
Durante a cirurgia o controle deficiente da glicemia pode prejudicar a função leucocitária,
ser um preditor de infecção na ferida operatória, associar-se a complicações pós-operatórias
e aumentar custos8.
As pesquisas com utilização de insulina intravenosa não tem especificamente comparado
pacientes com e sem hiperglicemia de estresse em estudos prospetivos e controlados.
Outros investigadores excluem os pacientes sem diagnóstico de diabetes conhecido.
Existem poucos ensaios clínicos randomizados e a maioria dos dados é obtida de estudos
observacionais realizados em UTIs ou com pacientes com IAM ou eventos cerebrovascu-
lares. Além disso, aproximadamente 50% dos pacientes cirúrgicos com diabetes podem
não ser diagnosticados 9,10.
O objetivo deste trabalho é revisar o papel do controle da glicemia, com o uso da insulina,
na resposta inflamatória.
Resposta Inflamatória
Existe uma orquestração complexa de eventos associados à resposta inflamatória aguda
que envolvem perda de água, sal e proteínas do compartimento vascular, ativação das cé-
lulas endoteliais, interações adesivas entre leucócitos e endotélio vascular, recrutamento
de leucócitos, ativação de macrófagos nos tecidos, ativação dos sistemas de complemento,
coagulação e fibrinolítico e liberação de proteases e oxidantes pelas células fagocitárias.
A marca da resposta inflamatória aguda é a adesão de leucócitos polimorfonucleares
(PMN) no endotélio vascular e a diapedese para os tecidos lesados. Existem diversas al-
terações dentro do compartimento celular que iniciam a resposta inflamatória. A primeira
alteração é a ativação das células endoteliais. Quando a ativação ocorre as células endoteliais
expressam na sua superfície moléculas de adesão para leucócitos e monócitos (P-seletina,
L-seletina, E-seletina, moléculas de adesão intracelular - ICAM-1, moléculas de adesão de
células vasculares - VCAM-1, entre outros) e, uma vez ativadas, expressam e liberam citoci-
nas inflamatórias e quimiocinas (que vão atrair e ativar PMN).
O endotélio ativado expressa, também, fator tecidual (TF) na luz do vaso. A ativação do
complemento pode causar aumento da regulação de TF que é um potente pró-coagulante
e pode levar a formação de trombo no interior do vaso. O segundo evento que acontece
é a abertura das junções finas entre as células endoteliais que se acompanha de perda de
proteínas e fluídos do compartimento intravascular para o compartimento extravascular.
Outra característica da resposta inflamatória é a ativação plaquetária, que usualmente está
associada à conversão de protrombina em trombina. A plaqueta pode ser ativada por vários
agentes, com a formação de agregados de plaquetas e formação de trombose intravascular
(fator ativador plaquetário - PAF, ADP, trombina). Finalmente, a resposta inflamatória pode
associar-se com hemorragia por causa da lesão estrutural da barreira endotelial. A trombose
intravascular pode ser resolvida pela ativação do sistema fibrinolítico através do ativador de
plasminogênio tecidual (TPA) e de outros fatores que ativam enzimas fibrinolíticas. Pro-
teases e oxidantes produzidos pelas células fagocitárias ativadas causam lesão nas células
endoteliais e nos compartimentos vasculares e extravasculares.
A resolução da resposta inf lamatória requer a morte das bactérias invasoras, a remo-
ção dos debris e a cicatrização do tecido lesado. Para resolução da resposta inf lamatória
aguda é necessário que os leucócitos sejam removidos, via drenagem linfática ou por
apoptose22 (Figura 2).
Figura 3 – Representação das vias de sinalização da insulina. As ações metabólicas da insulina são media-
das pela via de sinalização dependente do fosfatidilinositol 3 quinase (PI3K). A proteína quinase ativada
por mitógeno (MAPK) dependente de sinalização de insulina regula a mitogênese, o crescimento e a di-
ferenciação celular.
Resistência à Insulina
A resistência à insulina é tipicamente definida como um decréscimo da sensibilidade
ou responsividade para as ações metabólicas da insulina. A diminuição da sensibilidade
ou resistência para as ações da insulina no endotélio vascular também contribui para o
fenótipo clínico de resistência à insulina. No entanto, a resistência à insulina pode envol-
ver qualquer um dos seus efeitos biológicos. Em indivíduos saudáveis, a insulina aumenta
o fluxo e o volume sanguíneos no músculo esquelético, o que lhe confere características
de um hormônio vasodilatador. Na vasculatura periférica, a insulina causa vasodilatação
dose e tempo dependente, efeito este que está prejudicado em estados caracterizados por
resistência à insulina, tais como a obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Esta resistên-
cia vascular à ação da insulina pode ser um mediador na fisiopatologia vascular 23.
Cirurgia Cardíaca
No coração os ácidos graxos livres (AGL) são a principal fonte de energia dos cardiomiócitos
e a captação e oxidação são proporcionais às concentrações séricas. Na isquemia miocárdica,
a energia celular dependerá quase que exclusivamente do metabolismo anaeróbico da glicose,
pois a redução na oferta de oxigênio torna o miocárdio incapaz de oxidar os AGL.
Estudos realizados em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas mostram que durante
cirurgia cardíaca o controle intensivo da glicemia pode aumentar a mortalidade e as taxas de
AVC. Assim, o racional para usar soluções contendo glicose, potássio e insulina (GIK) foca
o efeito cardioprotetor da mistura via promoção da glicose como um substrato energético
primário, diminuindo os níveis circulantes de ácidos graxos livres, aumentando a estabilida-
de da membrana miocárdica e promovendo a sobrevida celular61,63.
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Cuidados pós-reanimação
Márcio de Pinho Martins
Emilio Carlos Del Massa
Ronaldo Alves de Souto
Cuidados pós-reanimação
Introdução
A injúria cerebral é a causa mais comum de morbidade e mortalidade em pacientes após
parada cardiorrespiratória (PCR), desta forma, esta injúria se faz responsável pela causa de
morte em 68% dos pacientes após PCR extra-hospitalar (PCR-EH) e em 23% após PCR
intra-hospitalar (PCR-IH)1. Os cuidados pós-ressuscitação têm um potencial significativo
para reduzir a incidência de mortalidade precoce, causada por instabilidade hemodinâmica
e falência orgânica múltipla, além da morbiletalidade tardia resultante de lesão cerebral 2 .
O objetivo de toda reanimação cardiorrespiratória (RCP) após a parada cardíaca (ou
parada cardiorrespiratória – PCR) consiste no retorno da circulação espontânea (RCE). O
que se deseja é o retorno da função cerebral do paciente ao mesmo estado antes da PCR,
com estabilidade do ritmo cardíaco e da hemodinâmica. Porém, o período imediatamente
subsequente à RCP com sucesso é um período de grande instabilidade e de vulnerabilidade
do paciente. A maioria das mortes dos pacientes que foram reanimados, ocorre nas primei-
ras 24 h após o RCE. Negovsky3, reconhecendo a complexidade das alterações deste período
crítico, criou o termo doença pós-ressuscitação, chamando atenção de que o processo de
reanimação não se encerra após o RCE 4. O International Liaison Committee on Resuscitation
(ILCOR), em um consenso envolvendo diversos especialistas, propôs o termo síndrome
pós parada cardíaca (SPPCR)5.
A mortalidade da PCR permanece elevada cerca de 5 a 10% das vítimas sobrevive à PCR-
-EH e 15% à PCR-IH. Devido a avanços no atendimento das vítimas de PCR e implemen-
tação cada vez maior dos diferentes elos da cadeia de sobrevivência, uma maior proporção
de vítimas de PCR apresenta RCE, e chega com vida aos hospitais6. Dentro das mudanças
propostas nas últimas diretrizes para RCP da AHA/ILCOR, foi incorporado um quinto
elo na cadeia de sobrevida do suporte avançado de vida (SAV). Este quinto elo enfatiza as
peculiaridades do estado pós-RCP, bem como a importância do manejo terapêutico rápido
e apropriado nesse período.
Figura 1: Quinto elo da cadeia de sobrevivência
Cuidados pós-reanimação
Estes cuidados iniciam logo após o RCE, no local em que a RCP foi realizada. Uma vez
estabilizado, o paciente deve ser transferido para uma unidade de cuidados intensivos, CTI
ou unidade coronariana. A qualidade nestes cuidados influencia de forma significativa os
resultados dos pacientes que sobrevivem à PCR.
Os principais componentes dos cuidados pós-reanimação são8 .
• Manter oxigenação e a ventilação adequadas;
• Otimização da hemodinâmica;
• Cateterismo cardíaco precoce;
• Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos;
• Indução de hipotermia terapêutica, sempre que possível.
Diagnóstico Clínico
A principal manifestação clínica da SCA é a dor precordial em aperto, constrição ou ar-
dência, geralmente no repouso, acompanhada de sintomas neurovegetativos (dispnéia, su-
dorese, náusea, vômito e síncope). O quadro clínico clássico de IAM com SST consiste em
dor precordial súbita, em aperto, intensa, duradoura (>30 min), de localização precordial
com irradiação para membro superior esquerdo, pescoço ou região mandibular. Porém, a
apresentação clínica pode ser atípica(dor em queimação ou sensação de plenitude gástrica),
mais comum em idosos, diabéticos e mulheres.
A dor precordial anginosa da SCA sem SST tem as mesmas características anteriores,
exceto pelo fato da dor apresentar duração menor que 30 minutos e associar-se a náuseas,
sudorese, dispnéia e mal-estar.
No IAM com supra de ST, o paciente apresenta-se pálido, sudorético e agitado. A frequ-
ência cardíaca (FC) e a pressão arterial (PA) geralmente estão elevadas, entretanto, depen-
dendo da extensão e localização do IAM, pode ser encontrado disfunção ventricular asso-
ciada à hipotensão (IAM do ventrículo direito – VD). O aparecimento de sopro sistólico
deve servir de alerta para complicações do IAM associadas a disfunção do músculo papilar
e comunicação interventricular.
Avaliação clínica criteriosa inicial tem valor nos diagnósticos diferenciais entre os
quais incluem-se: pericardite, tromboembolismo pulmonar, dissecção aórtica e quadros
digestivos altos.
Estudos com nível de evidência(NE) 2 e 3, não apoiam o uso de quaisquer sinais e sin-
tomas independentes de ECG, biomarcadores cardíacos ou outros testes para diagnósticar
ou descartar a SCA noatendimento pré-hospitalar ou hospitalar. Embora alguns sintomas
sejam mais sensíveis e específicos do que outros, nenhum sinal ou sintoma avaliado isolada-
mente, excedeu a sensibilidade de 92% e especificidade de 91% (NE-3).
Diagnóstico eletrocardiográfico
O ECG de 12 derivações (ECG 12D) é o elemento fundamental no diagnóstico, na ava-
liação e na abordagem terapêutica inicial das SCA. Na suspeita de SCA e na PCR após o
RCE, deve ser feito de imediato um ECG com 12 derivações (Classe I, NE B). Quando reali-
zado no atendimento pré-hospitalar, permite alertar o hospital de destino, acelerar decisões
e o início do tratamento. Em pacientes com dor torácica aguda e elevação do segmento ST, a
incidência de IAM é de 80 a 90% 16. Nos casos em que não há possibilidade de interpretação
Antiisquêmicos
Dentre esta classe destacamos os betabloqueadores, pois seus efeitos benéficos resul-
tam da diminuição do consumo de oxigênio pelo miocárdio (MVO2), controle da FC
e PA, redução da contratilidade cardíaca. Os betabloqueadores, quando usados na fase
aguda do IAM, demonstram redução significativa de re-infarto, isquemia recorrente e
mortalidade geral 24.
Controle da temperatura
Hipertermia nas primeiras 48h após a PCR e RCE é comum. Vários estudos mostram
que a febre piora o prognóstico destes pacientes, por este motivo deve ser sempre tratada
com antipiréticos ou com resfriamento ativo, se necessário.
Hipotermia terapêutica
Nos últimos anos, numerosos estudos vêm demonstrando, de forma bem estabele-
cida, que a hipotermia terapêutica (HT) pode minimizar o dano do sistema nervoso
central (SNC) proveniente da PCR, melhorando o prognóstico neurológico. A HT
induzida nos cuidados pós PCR consiste na manutenção da temperatura central dos
pacientes, de forma controlada,entre 32 e34°C, durante 12–24 horas,com o objetivo
terapêutico de minimizar os danos produzidos pela isquemia durante a PCR, bem como
as lesões provocadas pela reperfusão8 .
Os efeitos benéficos da HT responsáveis por amenizar os danos causados pelos
processos de isquemia–reperfusão são obtidos através da redução do VO2 cerebral, su-
pressão de reações químicas associadas com lesões de reperfusão, redução das reações de
radicais livres que aumentam o dano cerebral, redução da interação de cálcio intracelular,
modulação da apoptose, modulação da resposta anti-inflamatória e proteção de membranas
lipoprotéicas32,33. Recentemente, foi demonstrado que a HT leve estabiliza a hemodinâmica
nos sobreviventes de PCR, o que pode contribuir para o aumento da taxa de sobrevida
destes pacientes. Ocorre aumento da contratilidade miocárdica, provavelmente pelo
aumento da sensibilidade ao Ca++do miocárdio em falência 34.
Fases da hipotermia
A HT se mostrou eficaz para a proteção do cérebro e outros órgãos, bastante eficiente,
sendo necessário tratar seis pacientes para salvar uma vida - número necessário para tratar
de 6 (NNT=6). Porém, algumas nuances não estão bem estabelecidas sobre sua utilização,
Pacientes podem ser facilmente resfriados com soluções cristalóides a 4°C41. Soluções
de ringer lactato ou soro fisiológico a 0,9% podem ser administradas em bolus de 500 ml ou
30 ml.kg-1.Técnicas de resfriamento de superfície, tais como bolsas de gelo em virilha, axila,
cabeça e pescoço, também poderão ser utilizadas como técnicas auxiliares42,43.
A monitorização axilar, oral ou timpânica da temperatura não é adequada durante a fase de
indução da HT.Em substituição a essas, a temperatura central pode ser obtida através de um
sensor de temperatura no cateter de Foley ou através de um termômetro esofágico, quando
não for utilizado lavagem gástrica com solução salina gelada. O termômetro retal poderá ser
utilizado quando modos de monitorização da temperatura central não estejam disponíveis.
Pacientes com tremores podem apresentar problemas para atingir a temperatura ideal
e devem ser agressivamente tratados. Opióides e ansiolíticos são os fármacos de eleição
para o tratamento, segundo recentes recomendações. Em pacientes resistentes ao trata-
mento inicial, bloqueadores neuro-musculares podem ser necessários. A HT pode reduzir
o clearance de medicamentos, interferindo na farmacocinética de sedativos e bloqueado-
res neuro-musculares.
Alguns pacientes atingem a temperatura alvo de 32-34°C na segunda fase da HT: fase de
manutenção. O objetivo desta, é manter a temperatura central atingida durante 12-24 horas.
Para tanto, além da infusão de solução salina gelada, serão utilizadas técnicas adicionais
como bolsas de gelo e cobertas geladas.
Após as 12-24 horas do período de manutenção, os pacientes deverão ser reaquecidos
através de método passivo ou ativo como uso de cobertores térmicos ou, eventualmente,
com solução salina levemente aquecidas44. Os dados atuais, baseados principalmente na
opinião de consenso, recomendam o reaquecimento a uma velocidade de 0,25-0,50°C por
Fase de Indução
• Temperatura alvo 32 - 34°C;
• Administrar fluidos intravenosos a 4° C (30 - 40 ml.kg-1 de Soro Fisiológico ou Ringer Lactato);
• Usar métodos de resfriamento de superfície (bolsas de gelo, mantas térmicas, equipamentos comer-
ciais de resfriamento de superfície);
• Controle de tremores;
• Monitorar temperatura central (vesical, esofágica, retal e intravascular).
Fase de Manutenção
• Manter a hipotermia (32 - 34°C);
• Manter por 12 – 24h;
• Monitorizar e manter etrófilos em níveis normais (magnésio, fosfato, potássio, cálcio);
• Monitorar glicose e tratar hiperglicemia;
• Monitorar coagulação (tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativado, plaquetas)
Fase de Reaquecimento
• Reaquecer a uma velocidade de 0,25 a 0,5°C por hora;
• Monitorizar e manter eletrólitos e glicemia em valores normais;
• Reaquecimento rápido pode reiniciar um processo catabólico e agravamento dos resultados.
Idade > 70
DPOC
Mioclonia
Conclusão
Os cuidados pós-reanimação devem estar dentro de um contexto institucionalmente
organizado, permitindo que todos os elos da cadeia de sobrevivência sejam cumpridos e
conectados, possibilitando que os sobreviventes de PCR cheguem até o nível final desta
cadeia de sobrevivência e possam receber o tratamento mais sofisticado dentro de uma
unidade de cuidados intensivos. Com isto, é possível reduzir a incidência da mortalidade
precoce, causada por instabilidade hemodinâmica e por falência orgânica múltipla, bem
como a mortalidade tardia resultante de lesão cerebral pós PCR.
As SCA apresentam importante papel na etiologia na maioria das PCR-EH. O tratamento
deve ser iniciado de forma precoce e organizada. Para obter os melhores resultados, a reperfu-
são deve ocorrer nas primeiras horas após o início dos sintomas. Para isto, é fundamental um
sistema de saúde preparado para a triagem de pacientes e início do tratamento de acordo com
os recursos locais disponíveis.
Apesar de ser ainda subutilizada, a HT vem se mostrando, nos últimos anos, o melhor
tratamento disponível para a síndrome pós-reanimação. Na ausência de contraindicações, é
recomendável em todos os pacientes sobreviventes de PCR 65.
Infelizmente, um percentual alto de pacientes apresentará resultados ruins após
PCR, podendo evoluir para morte cerebral ou coma persistente. Toda equipe que for-
nece cuidados pós-reanimação deve implementar os procedimentos apropriados para
uma possível doação de órgãos e tecidos, em tempo hábil e de modo eficaz, orientando,
dirimindo dúvidas e respeitando a vontade do paciente e de seus familiares.
Analgesia pós-operatória
em pediatria
Daniela Bianchi Garcia Gomes
Débora de Oliveira Cumino
Magda Lourenço Fernandes
Analgesia pós-operatória em pediatria
1- Introdução
A maior conquista na terapia da dor pediátrica é o reconhecimento que a dor sem trata-
mento ou subestimada, é importante causa de morbidade, mesmo após trauma cirúrgico de
pequeno porte.
Na última década, a validação de instrumentos de avaliação da dor específicos para esta
população, os avanços na neurobiologia e na farmacologia, o surgimento de novos fármacos
e as novas possibilidades terapêuticas (como a abordagem multimodal para a prevenção e
o tratamento da dor) têm ajudado o anestesiologista no controle mais eficiente da dor pós-
-operatória em pediatria1, permitindo o alívio da dor sem os efeitos colaterais indesejáveis e
propiciando rápida recuperação e alta hospitalar precoce.
A associação de analgésicos leves, bloqueios loco-regionais e opioides, frequentemente, é
eficaz em prover adequado controle da dor aguda2 .
Atualmente, diversas organizações de saúde, como American Pain Society (APS), Agency
for Health Care Research and Quality (ARQ ) e a Joint Commission on Accreditation of Health
Care Organizations (JCAHO) definiram diretrizes, baseadas em evidências científicas, para
adequada gestão da dor nas diversas faixas etárias pediátricas3.
O tratamento da dor aguda inicia ao estimar a probabilidade de dor pós-operatória e
elaborar estratégia de analgesia baseada na escada analgésica da Organização Mundial da
Saúde (OMS) (Figura 1).
3- Avaliação da dor
A avaliação adequada da dor é pré-requisito essencial ao planejamento do tratamento.
Novos avanços surgiram nos últimos anos, incluindo dezenas de escores de dor, porém esses
testes nem sempre se aplicam a todas as faixas etárias. Além disso, a avaliação da dor em
alguns grupos especiais, como neonatos e crianças que não verbalizam ou que possuem
atraso de desenvolvimento, ainda é um desafio10.
As escalas faciais parecem ser a melhor escolha para se estimar, separadamente, o componen-
te sensorial e os componentes afetivos da dor pós-operatória16. As crianças mais velhas relatam o
seu próprio nível de dor e as mais jovens podem ter as avaliações fornecidas por seus pais17.
4- Analgesia Regional
Em pacientes pediátricos, o bloqueio regional é frequentemente utilizado para prover
analgesia, combinada à anestesia geral.Quando realizado antes da incisão cirúrgica, o
bloqueio regional diminui o consumo de opoides e inalatórios no intra-operatório e os
efeitos adversos destes agentes. Proporciona rápida recuperação das funções fisiológicas
e diminui a resposta ao estresse cirúrgico18,19. Deve sempre ser considerada no tratamento
da dor aguda, exceto se contraindicado.
A Bupivacaína é o anestésico mais estudado e utilizado na população pediátrica, pro-
piciando analgesia prolongada e de boa qualidade para o pós-operatório. A ropivacaína e
levobupivacaína são alternativas interessantes devido à menor cardio e neurotoxicidade,
principalmente em neonatos, pacientes com insuficiência hepática e naqueles que requerem
infusão contínua prolongada ou grande massa de anestésico local.
A ultrassonografia se tornou uma ferramenta de grande valor na prática do anestesiologista,
permitindo visualização direta das estruturas anatômicas, movimentação da agulha e difusão do
anestésico. Agrega maior precisão no posicionamento de cateteres, possibilita administração de
menores doses de anestésico, diminuindo o risco de injeção intraneural e da toxicidade sistêmica18.
Sempre é importante respeitar as limitações fisiológicas desta população, como o ele-
vado débito cardíaco, imaturidade das vias hepáticas de degradação metabólica e os me-
nores níveis plasmáticos de albumina e alfa 1-glicoproteína, responsáveis pelo aumento da
fração livre do anestésico local e pelo maior risco de toxicidade sistêmica 20. É importante
respeitar as normas de segurança, utilizar materiais apropriados (agulhas com mandril 21,22
de tamanho adequado para a idade), respeitar a dose máxima segura para cada anestésico
Bloqueios no neuroeixo
O cone medular em neonatos e lactentes está localizado ao nível de L2-L3, sendo mais
caudal que nos adultos (L1), da mesma forma que as meninges localizadas em S3-S4 nos
neonatos e ao nível de S1 nas crianças acima de 1 ano de idade.
O sacro é mais delgado e estreito e o hiato sacral é facilmente identificado, permitindo
acesso direto ao espaço peridural e subaracnóideo.
Os RN e lactentes têm um pélvis proporcionalmente menor que adultos e o sacro está
localizado mais cefálico. Logo, diferente do adulto, a linha de Truffier cruza a linha média da
coluna vertebral no interespaço L4-L5 ou L5-S1, abaixo da terminação da medula espinal,
tornando-a apropriada para os bloqueios espinais nos pacientes pediátricos22 .
A terminação mais caudal do saco dural propicia a punção inadvertida do espaço
subaracnóideo durante a realização do bloqueio caudal 23 .
Dentre as particularidades fisiológicas no sistema nervoso central (SNC), a menor es-
pessura dos nervos e o processo de mielinização incompleto até em torno dos 18 meses
de vida promovem inespecificidade de resposta aos estímulos nervosos. A menor distância
entre os nodos de Ranvier e a frouxa bainha perineurovascular permitem uma comunicação
livre com os espaços perineurais, maior difusão dos anestésicos locais e uma maior área de
analgesia após injeção única da droga.
O volume do líquido cefalorraquidiano (LCR) relativo ao peso é maior em RN e
lactentes (4ml.kg-1) quando comparado aos adultos (2ml.kg-1), explicando parcialmente as
necessidades de maiores doses de anestésico local e a duração mais curta da anestesia
espinal nesta população.
As alterações hemodinâmicas são raras devido à imaturidade do sistema nervoso simpático
(SNS) e a menor capacitância do sistema venoso em crianças abaixo dos 8 anos de idade.
Todos estes fatores contribuem para a grande eficácia dos bloqueios de neuroeixo na po-
pulação pediátrica, promovendo uma anestesia de boa qualidade com soluções diluídas e
menores concentrações do anestésico local.
Contraindicações
As contraindicações absolutas ao uso do bloqueio de neuroeixo são similares as dos adul-
tos (recusa familiar, infecção no local de punção ou septicemia, hipovolemia e ou instabili-
dade hemodinâmica e alterações da coagulação sanguínea).
Raquianestesia
A raquianestesia, na população pediátrica, ganhou popularidade a partir das publi-
cações de Melman 24, 1975 e de Abajian 25 , 1984, onde o bloqueio espinal isolado de-
monstrou ausência de apnéia pós-operatória em neonatos ex-prematuros. No entanto,
estudos mais recentes demonstram que a disponibilização de agentes anestésicos de
curta duração tem diminuído a incidência de apneia, possibilitando a realização de
bloqueios espinhais sob sedação leve o que facilita a punção em crianças pouco colabo-
rativas, aumenta o conforto durante o bloqueio e diminui o risco de lesão neurológica
pela movimentação da criança durante a execução do bloqueio26 . Atualmente, com o
incremento dos procedimentos ambulatoriais, ampliou-se a utilização dos bloqueios
espinais na população pediátrica devido às características favoráveis como rápido
início de ação e curta duração, sendo utilizada para procedimentos de pequeno porte
abrangendo uma maior faixa etária e permitindo alta hospitalar precoce22 , em reparos
de mielomeningocele, gastrosquise, onfalocele, artrodese de coluna 27 e raqui total para
correções de cardiopatias congênitas19,28 .
Anestesia Peridural
Caudal
A anestesia peridural caudal ainda é a técnica mais utilizada para prover analgesia em
crianças abaixo dos 4 anos de idade35,36 sendo considerada uma técnica de fácil execução.
A extensão do bloqueio depende do volume administrado: para procedimentos em
membros inferiores e região inguinal, utiliza-se 0,5 a 0,7 ml.kg-1 de volume anestésico nas
mesmas doses e concentrações preconizadas para os bloqueios peridurais lombares; para
procedimentos em região abdominal baixa, 1 ml.kg-1; para abdome superior, 1 a 1,5 ml.kg-1
e para procedimentos torácicos de 1,5 a 2 ml.kg-1. Deve-se considerar a dose tóxica do anes-
tésico, adequando-se o volume à concentração, que varia de 0,125% a 0,25% de bupivacaína
e levobupivacaína ou 0,2% a 0,35% de ropivacaína.
É importante evitar o uso de concentrações elevadas de anestésicos locais, pois, o bloqueio
motor causa grande desconforto e angustia nas crianças1.
O bloqueio caudal em dose única oferece uma limitada duração da analgesia, em torno
de 90-120 minutos com bupivacaína. Inúmeros estudos com adjuvantes no neuroeixo
(epinefrina, opioides, alfa-2-agonistas, s-cetamina, tramadol, neostigmina demonstram a
possibilidade de prolongar a duração da mesma37,38.
Lombar e Torácica
Bloqueios em níveis mais altos exigem experiência e cautela do anestesiologista devido
ao risco de punção acidental da dura-máter e lesão medular, o local preferível para executar
a punção é L3-L4 ou L4-L5.
A técnica é similar à realizada no adulto, porém, na criança, o espaço epidural é mais
superficial e possui menor capacidade, sendo identificado pelo teste da perda de resistência
ao ar ou solução salina. Alguns estudos demonstram que o uso de solução salina diminui o
risco de embolia aérea e promove melhor analgesia, pois o ar pode formar bolhas no espaço
epidural impedindo a dispersão homogênea do anestésico local39.
A ultrassonografia pode auxiliar muito na realização da peridural em crianças,
as ondas ultrassonográficas passam com maior facilidade pela coluna lombar menos
ossificada, gerando imagens muito claras das estruturas de interesse no bloqueio. Pos-
sibilita determinar a profundidade do ligamento amarelo e identificar as referências
anatômicas, sendo particularmente vantajoso em crianças obesas 40. A dura-máter, em
crianças menores que 6 meses, é com frequência visualizada, permitindo observar a
progressão da agulha de Tuohy em tempo real41. Porem, ele não exclui a necessidade
de realizar teste de perda da resistência para confirmar o posicionamento correto da
agulha no espaço peridural.
5- Analgesia Sistêmica
Várias são as medicações que podem ser utilizadas por via endovenosa para promover o
alívio da dor na população pediátrica. No entanto, existe uma carência de estudos de muitas
dessas drogas nesta faixa etária o que faz com que esta população seja considerada, ainda,
uma órfã terapêutica.
Analgésicos
Os analgésicos não opioides são indicados para o tratamento da dor leve (como agente
isolado) a moderada (associdados a AINE ou opioide). Podem, ser usados de forma preemp-
tiva, diminuindo a intensidade e a duração da dor no pós-operatório ao bloquear os efeitos
nociceptivos antes que eles ocorram, ou como coadjuvante no alívio da dor pós-operatória.
Constituem medicações que apresentam substâncias analgésicas e antitérmicas, porem
sem ação anti-inflamatória. Apresentam uma relação dose-resposta limitada, acima da qual
haverá um aumento dos efeitos colaterais, sem aumento da analgesia.
Cetorolaco
Foi o primeiro AINE injetável utilizado nos EUA e um dos poucos AINE aprovados pelo
FDA para o controle da dor em crianças de 2 a 16 anos. Existe grande interesse e trabalhos
publicados em crianças menores. Pode ser considerado uma alternativa aos opioides para o
tratamento da dor aguda moderada a severa.
Seu efeito analgésico tem eficácia comparada a alguns opioides comumente utilizados
nesta população, com menor incidência de efeitos colaterais. Apresenta efeito antipirético,
anti-inflamatório, ação periférica semelhante a dos AINE e ação central.
Uma analgesia adequada no pós-operatório é obtido com a administração precoce do
cetorolaco, imediatamente após a indução da anestesia, já que o início do alívio da dor
ocorre 20-30 minutos após a mesma.
Seu uso para cirurgias de adenoamigdalectomias tem sido muito controverso, sendo
abandonado nos EUA pela grande quantidade de reoperações. Mas, estudos recentes não
demonstram alterações na incidência de sangramentos nesta população, passando a ser am-
plamente utilizado após a hemostasia cirúrgica efetiva 2,65-67. Tem sido relatado quadros de
disfunção renal em pacientes hipovolêmicos, que apresentam alteração da perfusão renal,
durante o período perioperatório, com normalização do quadro após terapia conservadora.
Qualquer 500 mg
Dipirona 12,5 – 30 VO,IM,EV 4-6 1-2
idade nos neonatos
40 mg/kg/dia
Ibuprofeno >6meses 4-10 VO 4/4,6/6, 8/8 1-2
ou 2 g/dia
6/6, 8/8,
Cetorolaco* >2 anos 0,25-1,0 VO/EV 15-30 mg/kg/dia 1-2
12/12, 24/24
VO
>1 ano 1
6/6,8/8,
Cetoprofeno >15 anos
EV lento em 12/12
3-5
SF0,9% 100ml
Analgésicos opioides
Os opioides são considerados as drogas mais importantes e mais utilizadas na população
pediátrica para o tratamento da dor moderada a severa e da dor em RN criticamente enfermos.
São drogas que agem em receptores opioides espalhados pelo SNC, cuja ativação inibe a
transmissão do estimulo nociceptivo, inibem a aferência da dor na medula espinal e ativam
as vias descendentes inibitórias.
Seus efeitos nos receptores μ2 são responsáveis pelos efeitos colaterais (depressão
respiratória, náuseas e vômitos).
Como pequenas variações das doses podem resultar em grandes efeitos colaterais eles
acabam sendo utilizados em subdoses analgésicas ou em intervalos muito prolongados,
gerando um subtratamento da dor nesta população. Como o citocromo P450 encontra-se
imaturo ao nascimento e só atinge os níveis de atividade do adulto por volta do primeiro ou
segundo mês de vida, pode ocorrer prolongamento do clearance e eliminação tardia dos opioides.
Este sistema enzimático pode, ainda, sofrer influencia de outras drogas (fenobarbital).
Crianças com disfunção hepática ou criticamente enfermas podem evoluir com alteração
do metabolismo e da eliminação dos opioides, resultando em acúmulo dos mesmos, prolon-
gamento do tempo de duração e toxicidade sistêmica. As drogas inativas, como a codeína,
que se tornam ativas ao serem metabolizadas no fígado podem ser inefetivas nas crianças
com doença hepática grave.
Morfina
É o opioide mais comumente usado em pediatria no controle da dor PO de moderada a
forte intensidade. Pode ser usado por várias vias de administração e, nas doses preconiza-
das, é segura e efetiva em crianças de qualquer faixa etária.
Os baixos níveis de proteínas plasmáticas nesta população resulta em maior quantidade
da droga livre no plasma e, em maior risco de depressão respiratória. A meia-vida de elimi-
Fosfato de codeína
É um opioide menos potente que a morfina e usado para o tratamento da dor leve a mo-
derada de curta duração, principalmente no momento de conversão da droga endovenosa
para via oral. Apresenta uma boa disponibilidade por via oral (60-70%) e é convertida em
morfina no fígado. Como seu efeito depende do metabolismo hepático através da enzima
CYP2D6 e como essas enzimas variam entre os grupos étnicos, seu efeito analgésico é
imprevisível e sua eficácia variável.
Dose oral: 1 mg/kg/dose 4/4 h (dose limite 60 mg/dose)
Fentanil
É um opioide sintético, 60-100 vezes mais potente que a morfina. Sua farmacocinética
é variável na população pediátrica, sendo os neonatos e os RN prematuros particularmente
sensíveis aos seus efeitos.
Administração intermitente– 1-4 μg/kg/dose a cada 2 ou 4 h EV
Dor moderada Dor intensa
Nalbufina
É um analgésico opioide sintético agonista (K1-K2) - antagonista parcial (μ), sendo mui-
to utilizada para o tratamento da dor moderada a severa em pacientes maiores de 18 anos,
não estando ainda estabelecido sua segurança para crianças abaixo desta faixa etária.
Lidocaina
Pode auxiliar como adjuvante no tratamento da dor aguda, sendo suplementado seu uso na
anestesia regional e local. Não há estudos comparáveis na população pediátrica para sugerir
que infusões de lidocaína IV sejam benéficas em crianças com dor aguda perioperatoria.
Dexmedetomidina
A dexmedetomidina está sendo usada off-label como um agente adjuvante para sedação e
analgesia em pacientes pediátricos na unidade de cuidados intensivos e para sedação duran-
te procedimentos não invasivos em radiologia.
Também apresenta papel potencial como parte dos cuidados para evitar o delírio emergência
e tremores pós-anestésico.
Pode ser de grande utilidade no pós-operatório imediato, facilitando a extubação precoce.
Porém, existem alguns relatos contraditórios na literatura no que diz respeito aos seus efei-
tos na função ventilatória, sugerindo um grau leve de depressão respiratória, diminuição da
ventilação minuto e da resposta ao CO272 .
É uma droga particularmente útil em crianças acima de 18 meses de vida por promover
analgesia e sedação leve. No pós operatório a dose para analgesia e sedação é de 0,2-0,6
mg.kg-1.h-1. Não há necessidade de diminuir a infusão antes da extubação.
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