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Rev Bras Anestesiol

1994; 44: 6: 383 - 398

Artigo Especial

Anestesia para Cardiopata para Cirurgia não Cardíaca*


1
José Otávio Costa Auler Júnior

Auler Jr JOC - Anesthesia for Cardiac Patients for non Cardiac Surgery

KEY WORDS: COMPLICATIONS: Cardiopathies; RISK: evaluation, pre-operative

tualmente, o crescimento demográfico da samento presume-se que o anestesiologista


A população e o aumento da expectativa de
vida tornam cada vez maior a probabilidade de
que se propõe a anestesiar cardiopatas con-
heça em profundidade a fisiopatologia de cada
pacientes cardiopatas necessitarem cirurgias cardiopatia e a repercussão dos fármacos e
não cardíacas. Existe sempre grande receio da técnica de anestesia a serem empregadas. A
descompensação destes pacientes frente à an- discussão do ato operatório deve ser feita entre
estesia e cirurgia, com complicações muitas o clínico, o cirurgião e o anestesiologista,
vezes fatais. Nosso objetivo é abordar alguns avaliando-se o risco e planejando-se a es-
pontos fundamentais relacionados à anestesia tratégia que culmine com os melhores resul-
de pacientes cardiopatas pois freqüentemente tados possíveis. Do ponto de vista
existem dúvidas quanto à conduta anestésico anestesiológico apontamos como importante a
cirúrgica, principalmente entre anestesiologis- discussão dos seguintes pontos: fatores de
tas e cardiologistas. Um dos pontos que nos risco, fisiopatologia das cardiopatias, seleção
parece bastante confuso está relacionado com da técnica e agentes anestésicos.
a avaliação do risco operatório. O que real-
mente o anestesiologista precisa saber de
avaliação cardiológica pré-operatória que
possa influenciar a escolha da técnica e agentes AVALIAÇÃO DO RISCO
anestésicos nem sempre é feita com clareza ou PRÉ-OPERATÓRIO
profundidade. Por outro lado, as mudanças fisi-
ológicas provocadas pela anestesia e a ação A avaliação pré-operatória deve
farmacodinâmica destes agentes nem sempre começar com anamnese e exame físico com-
são levadas em conta pela equipe clínica que pleto. Nos pacientes com diagnóstico de alguma
faz a avaliação. Nesta mesma linha de pen- cardiopatia deve-se centralizar o exame nas
condições clínicas enfatizando-se as reper-
* Trabalho realizado no Instituto do Coração - HC FMUSP (INCOR) cussões da cardiopatia e a eficácia da terapêu-
1 Prof Associado da Faculdade de Medicina da USP,
Depto de Cirurgia, Disciplina de Anestesiologia
tica utilizada.

Correspondência para José Otávio Costa Auler Jr


Instituto do Coração - HC FMUSP (INCOR)
05403-000 São Paulo - SP Anamnese e Exame Físico
Apresentado em 15 de julho de 1994
Aceito para publicação em 09 de agosto de 1994 Na anamnese algumas perguntas dire-
cionadas à doença cardíaca são importantes
© 1994, Sociedade Brasileira de Anestesiologia
como: presença de dor precordial, cansaço e

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física. Ao exame físico é importante a ausculta mais 9 . O estudo de Framingham demonstrou


pulmonar e precordial, direcionando-se para a que alterações inespecíficas do segmento ST
pesquisa de terceira bulha, estase jugular e estão associadas a elevada incidência de
estertores pulmonares. Paralelamente são im- coronariopatias. Outros estudos demonstraram
portantes a pesquisa de edema, presença de associação mais elevada entre alterações do
hepatomegalia e cuidadosa revisão da medi- segmento ST e episódios isquêmicos peri-op-
cação em uso pelo paciente. eratórios 10,11 . Outras características morfológi-
cas de importância do ECG incluem: hipertrofia
do ventrículo esquerdo (VE) e alterações de
Exames subsidiários condução. Existem poucos estudos na literatura
comparando estas alterações e morbidade em
ECG: No paciente adulto com mais de operações eletivas. Pacientes com idade infe-
40 anos, mesmo sem história clínica de rior a 40 anos e assintomáticos não necessitam
cardiopatia, a anamnese e exame físico devem ECG rotineiro no pré-operatório.
ser complementados por ECG rotineiro. Em Rx de Tórax : O valor preditivo deste
vários estudos 1-4 19 a 79% dos pacientes adul- exame costuma ser questionado em pacientes
tos candidatos a operações eletivas e com idade sem doença cardíaca que não serão submetidos
superior a 40 anos, apresentaram alguma anor- a operações torácicas pois sua realização habit-
malidade do ECG incluindo 1 % de ondas Q ual é dispendiosa e nada acrescenta na quali-
antigas, estando a maior parte destes pacientes dade da avaliação clínica. Entretanto, em
assintomáticos. Este fato corrobora os 25 % de pacientes cardíacos, a radiografia de tórax em
infartos silenciosos verificados em ECG rot- suas diferentes posições pode mostrar a
ineiro pré-operatório de acordo com o relatório anatomia cardíaca, circulação pulmonar e o
Framingham 5 . A chance de diagnosticar IAM tamanho do coração, fornecendo importantes
silencioso por ECG é cerca de 2/1000 homens subsídios indiretos da função cardíaca e sua
entre 40 a 60 anos e 5 a 10 homens acima de repercussão pulmonar. Dos métodos para
60 anos. Em mulheres, a incidência atinge 0,2 e avaliar a área cardíaca, o mais utilizado é o
2/1000 respectivamente 6,7 . Como o IAM re- índice cardiotorácico, que na posição PA é a
cente constitui-se em importante aspecto de razão do diâmetro horizontal do coração (soma
morbi-mortalidade o ECG continua ser funda- da distância máxima do contorno cardíaco à
mental como avaliação pré-operatória nas con- direita até a linha média, com a máxima distân-
dições já definidas. A sensibilidade do ECG com cia do contorno cardíaco à esquerda com a linha
12 derivações em detectar a presença de IAM média), com relação ao diâmetro interno da
verificado em autópsia variou de 3 a 66% en- caixa torácica à altura da cúpula diafragmática
quanto a especificidade variou entre 88 a 98% direita. Este índice é considerado normal entre
8
. Assim, a presença de ondas Q significativas 40 a 50%.
no ECG define IAM prévio com alto grau de
especificidade. Por outro lado, sua ausência não
significa que o IAM não tenha ocorrido. A de-
pressão do segmento ST igual ou maior que 1,0
mm no ECG de repouso pode identificar pacien- AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO VENTRICULAR
tes com risco para eventos isquêmicos. Pacien-
tes idosos com este achado apresentaram 3,1 O conhecimento em profundidade da
vezes mais episódios isquêmicos durante op- função ventricular é fundamental para o plane-
erações eletivas que pacientes da mesma faixa jamento da anestesia. Dependendo desta infor-
etária com segmento ST dentro de valores nor- mação o anestesiologista pode selecionar os

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agentes anestésicos, a técnica de anestesia e o
grau de monitorização hemodinâmica, bem
como requisitar previamente leito na UTI para o
pós operatório imediato.
Em conjunto com a avaliação clínica,
exames subsidiários são solicitados quando ne-
cessários para a quantificação da função. Os
mais utilizados são o ecocardigrama, o uso de
radionuclídeos, e mais recentemente a res-
sonância magnética. A função ventricular pode
também ser quantificada através de métodos
invasivos como durante o estudo
cineangiográfico. Por sua praticidade enfa-
tisaremos os métodos não invasivos.
O desenvolvimento da ecodoppler-
cardiografia representou um enorme progresso Fig 1 - Desenho esquemático da parede ventricular normal, com
acinesia, hipocinesia e discinesia. Esta avaliação pode ser
no diagnóstico e avaliação das cardiopatias. obtida através da ventriculografia convencional ou métodos
Através deste exame é possível conhecer-se o não invasivos.
tamanho das cavidades, a função sistólica e
diastólica dos ventrículos, o gradiente de
pressão intraventricular, a espessura do
miocárdio e a presença de valvopatias ou outras
cardiopatias. Outro método é através de fárma-
cos radioativos, quando pode-se estudar a
função ventricular em repouso ou durante o ex- AVALIAÇÃO DA RESERVA CORONARIANA
ercício. De maneira simplista podem ser obtidas
informações no tocante à contratilidade, Historicamente, a identificação da
parâmetros sistólicos, diastólicos e fração de coronariopatia e suas manifestações fisiopa-
ejeção. A função ventricular neste método pode tológicas, especialmente o IAM, tem sido a meta
ser realizada de duas maneiras: empregando-se prioritária da avaliação pré-operatória. Identifi-
um radionuclídeo que marque o miocárdio ou cando-se o problema, o clínico deve propor al-
que passe através dele. A fração de ejeção guma conduta para o caso e o anestesiologista
(obtida por equação matemática), que expressa saber interpretar o real risco da doença.
numericamente a função ventricular, é apresen- Paralelamente o clínico defronta-se com nu-
tada em percentagem. Para ventrículos normais merosos testes capazes de detectar as mani-
o valor é 40% para radionuclídeos e 65% para festações da insuficiência coronariana (ICO) e
ecocardiograma. Estes exames podem paralela- função ventricular. Frente ao elevado custo do
mente mostrar a presença de anormalidades da tratamento médico a escolha do exame que per-
contração ventricular como áreas acinéticas, mita reduzir a morbidade peri-operatória a baixo
discinéticas ou hipocinesia (Figura 1). custo é essencial. O aspecto mais importante na
avaliação da doença coronariana, após a intro-
dução da cinecoronariografia que permitiu seu
diagnóstico anatômico, foram os exames que
possibilitaram a avaliação da ‘‘reserva coronari-
a n a ’’ e m t e r m o s d e f l u x o s a n g ü í n e o a o
miocárdio. Neste aspecto é oportuno considerar

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30% 14-17 . Estudos mais recentes da década de


80 mostraram que a incidência de IAM pode ser
diminuída em até 6% em pacientes com IAM
ocorrido 3 meses antes da operação, e em até
2% entre 3 a 6 meses após o IAM. Estes resul-
tados resultaram da introdução de conceitos
modernos de anestesia cardiovascular a estes
pacientes, incluindo completa monitorização
hemodinâmica invasiva, agentes anestésicos
com mínimo efeito cardiovascular e rígido con-
trole intra-operatório dos fatores dinâmicos da
circulação: hipotensão ou hipertensão, taqui-
cardia e anemia18,19 . Paralelamente vários tra-
Fig 2 - Interdependência entre fluxo coronariano e consumo de oxigênio
pelo músculo cardíaco. Nos vasos normais existe um lineari - balhos têm enfatizado a importância de
dade( linha cheia).Na presença de insuficiência coronariana o
fluxo coronariano não consegue acompanhar o consumo (linha
pesquisar-se outros aspectos relacionados a
interrompida) podendo instalar-se a isquemia. O espaço trace - doença coronariana que poderiam ser mais
jado significa falta de ‘‘reserva coronariana ’’.
úteis que simplesmente fixar o tempo do IAM
antes da operação. A estimativa da função ven-
tricular aferida pela fração de ejeção, a pre-
que a angiografia não permite o conhecimento sença de insuficiência cardíaca e disritmias que
do fluxo sangüíneo coronariano e ‘‘reserva vas- podem ocorrer após o IAM são fundamentais na
cular’’, variáveis importantes para saber se a soma de fatores que aumentam muito o risco
circulação coronariana pode suportar o estresse cirúrgico. Neste sentido, aqueles pacientes que
da cirurgia e do pós-operatório (Figura 2). Assim apresentaram IAM não complicado com alta
os testes dinâmicos acoplados com vasodi- hospitalar precoce apresentam menor incidên-
latação farmacológica e perfusão com tálio tor- cia de complicações comparados àqueles com
naram-se muito populares na avaliação do fluxo IAM complicado, necessitando tempo prolon-
sangüíneo coronariano 12 . O risco de IAM pe- gado de hospitalização por complicações decor-
rioperatório durante operações eletivas em rentes do IAM. Portanto, estimar o risco
pacientes com mais de 40 anos com anteceden- cirúrgico baseando-se somente no tempo decor-
tes de ICO está entre 4 e 6% nas revisões mais rido após o IAM pode-se estar simplificado em
extensas. Nos pacientes da mesma faixa sem muito o problema. Algumas regras práticas
antecedentes a incidência está ao redor de 1% podem ser úteis: 1- Se o IAM ocorreu há mais
13
. Didaticamente podemos dividir os pacientes de 6 meses e o paciente apresentou evolução
com história de coronariopatia em três grupos: favorável desde a internação não há necessi-
com IAM prévio, com angina sintomática e dade de prolongar-se o tempo de espera da
aqueles com elevada possibilidade de desen- operação. 2- Se a cirurgia for realmente eletiva
volverem coronariopatia silenciosa. é aconselhável esperar-se os seis meses regu-
Classicamente, a revisão da literatura lamentares após o IAM. Se a operação não
compreendendo os anos 60 e 70 tem mostrado puder esperar os seis meses deve-se pelo
que pacientes que apresentaram IAM seis me- menos aguardar 4 a 6 semanas para a completa
ses antes da operação e evoluíram assintomáti- cicatrização da área infartada, e iniciar-se algum
cos apresentam risco de desenvolverem IAM no programa de reabilitação para melhorar a ca-
período perioperatório em torno de 6%, entre 3 pacidade física. Teste de esforço submáximo
a 6 meses após o IAM a incidência de reinfarto deve ser solicitado para saber se o paciente
foi de 15% e até 3 meses antes da operação em pode suportar o estresse exigido pela cirurgia.

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Pacientes que apresentaram alguma compli- afetados, podendo atingir 79 a 100% nos pacien-
c a ç ã o d e v e m s e r i n v e s t i g a d o s m a i s r i g- tes tri-arteriais 21 . A acurácia do teste de esforço
orosamente, principalmente em relação a positivo aumenta com a idade, múltiplos fatores
função ventricular. Finalmente, se houver urgên- de risco, angina durante o teste, resposta
cia de tal maneira que o risco da espera supere pressórica inadequada durante o esforço e de-
a incidência das complicações determinadas pressão generalizada do segmento ST em todas
pelo IAM a operação pode ser realizada com a as derivações. A incapacidade física em termi-
máxima monitorização invasiva, recomen- nar o protocolo de esforço sugere fator de risco.
dando-se longa permanência pós-operatória na A reduzida capacidade anaeróbia, o inicio
terapia intensiva. Os pacientes com história de rápido de isquemia durante o teste, principal-
angina estável possuem riscos semelhantes aos mente quando associado à disfunção ventricu-
pacientes que apresentaram IAM não compli- lar, identifica pacientes com elevada
cado há mais de 6 meses e estão assintomáti- probabilidade de desenvolverem compli- cações
cos. Na avaliação dos pacientes anginosos são graves no período peri-operatório 22 .
importantes as seguintes considerações: Os pacientes com maior probabilidade
primeiro diferenciar entre angina estável ou in- de desenvolverem ICO assintomática são os
stável. Em segundo lugar é importante saber se idosos, diabéticos e aqueles com insuficiência
a angina impõe algum grau de limitação fun- vascular periférica. Infelizmente o teste de tol-
cional. Se existir esta limitação deve-se com- erância ao exercício não é totalmente específico
parar se ela é inferior ou superior ao estresse ou sensível e um teste positivo pode vir a ser
exigido pela cirurgia. Como terceiro ponto con- falso positivo. Nos pacientes assintomáticos
siderar se a terapêutica utilizada no controle dos
sintomas está sendo eficaz ou deve ser mel-
horada. Em quarto, deve ser considerada a re-
alização de exames diagnósticos mais
elaborados que possam realmente configurar a
gravidade da angina quando a história e exame
físico forem insuficientes para estabelecerem o
risco. Considerar, dependendo da gravidade do
processo anginoso, a indicação de cine-
coronariografia antevendo-se a possibilidade de
angioplastia coronária ou revascularização do
miocárdio20 . Outra possibilidade é realizar es-
tudo com tálio e dipiridamol. As artérias
coronarianas normais são dilatadas pelo dipiri-
damol e as artérias obstruídas não são afetadas.
O tálio vai ser captado apenas em regiões com
suprimento sangüíneo normal. Nos pacientes
que podem ser submetidos a algum protocolo de Fig 3 - Sistema coronariano constituído de dois grupos de vasos
exercício o teste ergométrico pode dar ao clínico principais: R1 vasos de condutância de maior calibre e que
estão afetados pelos processos obstrutivos. A medida que
ótimas informações sobre a reserva coronariana instala-se a obstrução a resistência eleva-se (R1). O outro
(Figura 3). A sensibilidade do teste de esforço grupo de vasos (R2) são sistemas de menor calibre e respon -
sáveis por ajustes no fluxo sangüíneo. Quando a resistência
para detectar ICO significativa varia ente 56 a R1 eleva-se tornando-se máxima à uma hipotética obstrução
superior a 70% da luz, os vasos R2 tornam-se maximamente
81% enquanto a especificidade varia de 72 a dilatados procurando compensar a obstrução. Os vasodi -
96%, dependendo do protocolo utilizado. A sen- latadores atuam principalmente no sistema R2, que deve ser
mantido em dilatação máxima em obstruções mais graves.
sibilidade aumenta com o número de vasos

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mas com elevado risco de desenvolverem da experiência do anestesiologista. Ao optar-se


coronariopatia, o exame positivo pode ser com- por anestesia geral é importante considerar os
plementado com a estimativa da classe fun- seguintes aspectos: a indução pode acarretar
cional. Nos pacientes com incapacidade para hipotensão por três mecanismos: inibição da
exercitar-se, outros exames podem ser consid- atividade do sistema nervoso simpático, perda
erados como, por exemplo, o tálio com dipiri- dos reflexos mediados por baroreceptores e
damol e a análise da função ventricular com efeito direto dos anestésicos no miocárdio e
ecocardiograma. vasos de resistência. Doses mínimas de hipnóti-
cos seguida por doses maiores de opiáceos são
HIPERTENSÃO ARTERIAL mais indicadas, pois estes agentes podem
suprimir os reflexos da entubação. Para a
Os pacientes hipertensos são mais manutenção da anestesia não existe nenhum
propensos a desenvolverem coronariopatia e in- agente comprovadamente melhor. A consid-
suficiência cardíaca, ambas situações que eração mais importante é evitar-se flutuações
causam aumento da morbidade peri-operatória. exageradas na pressão arterial. Parece haver
Afastando-se a associação de outras doenças algumas evidências que hiperventilação com
cardíacas, a hipertensão isoladamente não rep- hipocapnia secundária acarreta aumento da re-
resenta fator de risco importante para o paciente sistência vascular sistêmica e queda do débito
cirúrgico. Estes pacientes, por outro lado, apre- cardíaco. Em relação à anestesia regional, os
sentam maior labilidade pressórica durante o cuidados devem ser redobrados, principalmente
período perioperatório principalmente naqueles quanto à altura que o bloqueio possa atingir.
com tratamento irregular e altos valores tension- Pacientes com hipertensão controlada, mesmo
ais no pré-operatório. A tendência é observar-se recebendo betabloqueadores, toleram anest-
crises hipertensivas no pós-operatório. Existe esia epidural e espinhal bastante bem, desde
na literatura uma certa polêmica quanto a in- que o bloqueio se instale lentamente e se man-
cidência de instabilidade pressórica observada tenha em nível torácico médio. Pacientes com
no período intra e pós operatório entre hiperten- pressão arterial não controlada parecem ser
sos controlados, tratados de maneira inade- muito mais susceptíveis aos efeitos da anest-
quada e não tratados 23 . Estes aspectos têm esia regional24 .
ocasionado certa discordância entre os autores
mas é consenso geral que os pacientes hiper-
tensos bem controlados evoluem melhor. Assim,
a avaliação pré-operatória deve centrar-se na DISRITMIAS E ALTERAÇÕES
investigação da estabilidade pressórica ou se há ELETROCARDIOGRÁFICAS
sintomas relacionados à hipertensão. Na hiper-
tensão descontrolada aconselha-se adiar a op- Paralelamente ao achado de IAM re-
eração até seu controle efetivo, sendo a cente no traçado eletrocardiográfico certas dis-
manutenção da terapêutica antihipertensiva, in- ritmias e outras alterações do ECG podem estar
clusive na véspera da operação, um dos princi- associados ao aumento do risco cirúrgico. Na
pais aspectos relacionados à estabilidade impossibilidade de estabelecer-se o tempo do
circulatória no intra-operatório. Não existe téc- IAM frente a ECG com presença de ondas Q,
nica particular de anestesia ou combinações deve-se considerá-lo recente e a cirurgia poster-
específicas de agentes anestésicos que gada por seis meses desde que possível. Retar-
mostrem que possam ser melhores que outras dando-se ou não a operação, todas as medidas
para o paciente hipertenso. A escolha da técnica de investigação quanto ao grau de reserva
regional ou geral vai depender principalmente coronariana descritas acima devem ser

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tomadas. Alterações do segmento ST ou onda T e depressão da despolarização distólica. De-
podem sugerir coronariopatia, doença valvar, pen--dendo da profundidade da anestesia ocorre
hipertensão arterial ou miocardiopatia. Na com relativa freqüência ritmo juncional e bradi-
ausência de sintomas clínicos estes sinais cardia. O halotano também sensibiliza o
provavelmente não aumentam o risco cirúrgico. miocárdio às catecolaminas endógenas e
Entretanto, a avaliação pré-operatória deve ser exógenas podendo desencadear vários tipos de
mais cuidadosa principalmente no sentido de disritmias. Esta sensibilidade é acentuada pelo
diagnosticar-se coronariopatia em evolução 3 . uso crônico de aminofilina, hipoxemia e hiper-
Disritmias atriais ou ventriculares geralmente carbia e se suporte inotrópico for necessário
são indício de cardiopatia e disfunção ventricu- durante anestesia com halotano, este agente
lar. Havendo diagnóstico prévio de alguma deve ser descontinuado. O enflurano e isoflu-
cardiopatia a coexistência de disritmia aumenta rano não sensibilizam o miocárdio com a inten-
em muito o risco cirúrgico. A presença de disrit- sidade descrita pelo agente anterior, podendo
mias está mais relacionada ao grau de disfunção ser utilizados com segurança em pacientes re-
cardíaca prévia do que propriamente a possíveis cebendo catecolaminas. Em doses equipotentes
complicações disritmias no transoperatório. cinco vezes mais catecolaminas seriam ne-
Desta maneira condutas profiláticas com fárma- cessárias para provocar disritmias quando asso-
cos específicos em pacientes com disritmias ciadas ao enflurano e dez vezes ao isoflurano
devem ser bem pensadas, pelo risco de de- quando estes agentes são comparados ao halo-
primir-se ainda mais a função ventricular devido tano 27 . Em relação a freqüência cardíaca o
a interação destes agentes com os anestésicos isoflurano a aumenta discretamente, enquanto a
25
. Por outro lado, estando o paciente em uso de taquicardia pode ser o grande inconveniente
medicação antidisrrítmica, ela deve ser mantida durante a anestesia. A baixas concentrações
e reintroduzida precocemente no período pós- inspiradas, este último agente determina taqui-
operatório 26 . cardia reflexa por estímulos de barorreceptores
decorrentes de hipotensão arterial causados por
vasodilatação periférica. Em concentrações in-
spiradas mais elevadas o efeito taquicardizante
EFEITOS DOS ANESTÉSICOS NO é mantido, acreditando-se que embora haja
RITMO CARDÍACO inibição do reflexo baroreceptor o mecanismo da
taquicardia possa ser explicado por possível
ação beta estimulante deste agente. Neste sen-
Agentes Inalatórios tido o isoflurano pode ser boa escolha nos
pacientes com bradicardia, com retardo na con-
Em cães o halotano e o enflurano pro- dução átrio-ventricular ou em uso crônico de
longam significativamente a condução do es- drogas bradicardizantes como bloqueadores do
timulo pelo nó A-V, o qual é pouco afetado pelo canal do cálcio, beta-bloqueadores e amio-
isoflurano. Uma alteração do ritmo comumente darona 28-29.
observada com estes agentes é a dissociação
isorrítmica, observando-se ritmo juncional
quando acentua-se à depressão da atividade do Agentes Venosos
nó sinusal que desaparece ao superficializar-se
a anestesia. Em seres humanos o halotano Conhecido por sua ação em diminuir a
apresenta potentes efeitos eletrofisiológicos descarga do nó sinusal e assim provocar bradi-
que incluem: diminuição da velocidade de con- cardia o fentanil e congêneres também prolon-
dução pelos tecidos especializados do coração gam a condução átrio-ventricular e aumentam a

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refratariedade ventricular às disritmias. Há rela- cardia, dissociação e retardo na condução átrio-


tos de bloqueio átrio-ventricular e mesmo assis- ventricular. Este relaxante também diminui o
tolia após infusões de doses elevadas de limiar das catecolaminas em induzirem fi-
fentanil. Da mesma maneira este agente eleva brilação ventricular. A combinação de ben-
o limiar de sensibilidade à fibrilação ventricular zodiazepinicos, barbitúricos e fentanil ou
em cães, por provável inibição simpática 30 . To- sufentanil em associação à succinilcolina para a
dos os estudos sugerem que os pacientes indução da anestesia pode levar a bloqueio
propensos a desenvolverem taquidisritmias de átrio-ventricular ou mesmo assistolia 3 3 . O
origem ventricular ou supraventricular podem brometo de pancurônio eleva a freqüência
beneficiar-se do uso de opióides durante a an- cardíaca encurtando a condução átrio-ventricu-
estesia. Ressalva deve ser feita entretanto aos lar por bloqueio dos receptores muscarínicos e
pacientes bradicárdicos, com alterações da con- estímulo indireto dos nervos simpáticos termi-
dução A-V ou fazendo uso de medicação que nais, podendo ser atenuado pelo uso de β -blo-
lentificam a resposta do nó sinusal. Quanto aos queadores. Há também relatos de estrassístoles
barbitúricos, embora possam ser utilizados com atriais e disritmias ventriculares mais graves ao
segurança em pacientes cardiopatas, são agen- associar-se pancurônio com halotano na vigên-
tes que possuem efeito inotrópico negativo. cia de anti-depressivos tricíclicos. Entretanto,
Taquicardia reflexa pode ser observada, princi- este fato pode não acontecer se o agente
palmente se ocorrer hipotensão arterial. A com- inalatório for o enflurano. O atracurium não pos-
binação dos efeitos depressão miocárdica e sui efeito em gânglios simpáticos ou receptores
taquicardia reflexa na indução com tiopental re- muscarínicos do coração. Portanto, em
comendam cautela na utilização deste fármaco dosagens inferiores a 0,6 mg/kg utilizadas para
na presença de valvopatias e insuficiência intubação não apresenta efeitos hemodinâmi-
cardíaca. Isquemia por hipotensão e taquicardia cos. Em doses mais elevadas pode liberar his-
pode ocorrer na presença de obstrução tamina com efeitos colaterais imprevisíveis.
coronariana fixa 31 . Reações anafilactóides são raras, mas podem
O etomidato pode ser utilizado com evoluir para conseqüências mais sérias in-
segurança na indução da anestesia em pacien- cluindo o choque e parada cardíaca. O
tes cardiopatas. Com doses elevadas (0,3 a 0,6 vecurônio é praticamente desprovido de ação
mg/kg) observa-se mínima depressão cardiovascular mesmo em doses de 0,3 mg/kg,
miocárdica e nenhuma alteração na freqüência três vezes superior à dose necessária para a
cardíaca, inclusive em presença de má função intubação. Associando-se estes relaxantes a
ventricular. Em relação aos benzodiazepínicos elevadas doses de opiáceos, pode acontecer
observa-se com estes agentes aumento na ca- bradicardia acentuada, efeito teoricamente de-
pacitância venosa e discreta taquicardia reflexa. sejável na presença de coronariopatia is-
Entretanto, são considerados seguros e empre- quêmica ou estenose mitral, mas desastroso na
gados sem maiores restrições na anestesia em vigência de débito cardíaco fixo freqüência de-
cardiopatas incluindo aqueles com má função pendente ou problemas na formação do
ventricular 32 . estímulo pelo nó sinusal ou condução A-V 34 .
A maior parte dos relaxantes muscu- Embora a grande maioria dos anestési-
lares utilizados em anestesiologia exercem seus cos locais possuam propriedades antidisrrítmi-
efeitos cardiovasculares por bloqueio de cas por bloquearem os canais de sódio, a
gânglios do sistema nervoso autônomo, lib- bupivacaína, agente muito utilizado em anest-
eração de histamina, inibição vagal e de recep- esia regional, quando em nível elevado no
tores muscarínicos no coração. Em relação à sangue, como acontece por exemplo em injeção
succinilcolina, as disritmias relatadas são: bradi- intra-venosa inadvertida, pode causar disritmias

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ventriculares, eventualmente fatais. Estudos ex- ventricular a episódios de fibrilação atrial
perimentais demonstram aumento do intervalo paroxística 35 . Extrassístoles atriais sem sinto-
P-R e Q-T, alargamento do QRS, bloqueio A-V, matologia não oferecem maior risco, não neces-
taquicardia e fibrilação ventricular. O mecan- sitando digitalização profilática. A insuficiência
ismo das disritmias ventriculares induzido pela cardíaca, mesmo compensada, que com baixa
bupivacaína não é bem claro. O bloqueio dos fração de ejeção apresenta maior suscetibili-
canais de sódio por este agente é dez vezes dade em evoluir com disritmias no período pe-
mais prolongado que o da lidocaína. O aumento rioperatório, principalmente frente a alterações
da repolarização pode levar à síndrome do Q-T eletrolíticas, ácido básicas, hipóxia e hipercap-
longo ou torsades de pointes observada em ani- nia. Uma situação relativamente freqüente é a
mais que receberam injeção intra-venosa de anestesia superficial em cardiopatas, o que leva
bupivacaína. a proteção neurovegetativa inadequada. A
Quanto aos agentes utilizados na re- grande liberação de catecolaminas pode gerar
versão da anestesia, a naloxona pode promover disrritimas por ação direta no miocárdio e indire-
taquicardia e fibrilação ventricular, mas também tamente através do aumento da pós-carga con-
foram observados taquicardia sinusal, hiperten- seqüente à piora da função ventricular 24 .
são e edema pulmonar. Acredita-se que a etiolo-
gia destas complicações advenha da
estimulação adrenérgica secundária à súbita di-
minuição da ação dos opióides. Se naloxona for
necessária, principalmente tratando-se de UTILIZAÇÃO DE MARCA PASSO
cardiopatas com pouca reserva cardíaca ou
propensos a desenvolverem disritmias, as Em relação às alterações do sistema de
doses empregadas devem ser mínimas (50-100 condução, como bloqueio átrio-ventricular, blo-
microgramas). queio fascicular ou bloqueios de ramo devem
Os agentes utilizados na reversão do ser consideradas como sinal de alguma doença
bloqueio neuromuscular, a atropina-edrofônio e cardíaca, merecendo investigação. As indi-
atropina-glicopirrolato provocam disritmias cações para marca passo temporário como pro-
(atriais, nodais e ventriculares) em 36 a 57% e filaxia de complicações mais sérias no período
53% dos pacientes respectivamente. Os inibi- perioperatório também devem ser consideradas
dores da colinesterase, como a neostigmina em algumas situações. Bloqueio A-V de primeiro
podem causar lentificação das descargas do nó grau ou mais avançado e história de bloqueio
sinusal e da condução átrio-ventricular. A-V intermitente podem, frente à estímulos va-
gais associados à anestesia e cirurgia, evoluir
para bloqueio A-V total, havendo portanto indi-
cação de instalar-se eletrodo para marca passo
Condições clínicas que predispõem a disritmias temporário. Bradicardia acentuada no pré-op-
eratório, decorrente ou não de algum fármaco
Existem pacientes que no ECG de base como beta-bloqueadores, é condição em que a
não apresentam disritmias mas que possuem colocação de marca passo temporário pode pre-
grande chance de apresentarem-nas no período venir problema mais sério no período periop-
operatório. Entre estes podemos citar os idosos eratório. A mesma conduta deve ser tomada
a serem submetidos a operações torácicas ou frente a taquidisritmias supra ventriculares que
vasculares. Alguns estudos mostram que a digi- não respondem bem à terapêutica medicamen-
talização profilática pode diminuir a incidência tosa. Os portadores de bloqueio de ramo bifas-
de disritmias supraventriculares ou a resposta cicular sem bloqueio A-V de primeiro grau não

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apresentam indicação de marca passo pro- INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E ANESTESIA


visório.
Os portadores de marca passo pro- Muitos agentes anestésicos deprimem
gramáveis e que necessitam qualquer operação diretamente o miocárdio, paralelamente há no
devem ser submetidos à avaliação cardiológica pós operatório maior demanda de oxigênio im-
completa principalmente no que se refere à posta pela cicatrização e aumento do metabo-
função ventricular e funcionamento do marca lismo que exige maior débito cardíaco. Estes
passo. Todos os agentes e técnicas de anest- dois fatos dificultam o manuseio de pacientes
esia podem ser utilizados com segurança em portadores de insuficiência cardíaca, principal-
presença de marca passo implantados, pois não mente no tocante à reposição de fluídos ne-
interferem com o limiar de estímulo. Ressalvas cessários para a manutenção da hemodinâmica
devem ser feitas com miopotenciais gerados por e comprovam o elevado índice de complicações
fasciculações musculares que ocorrem após a observados nestes pacientes. O risco de inter-
injeção de succinilcolina. Estes potenciais elétri- corrências aumenta proporcionalmente à classe
cos podem sobrepor-se aos potenciais cardía- funcional pré existente e todos os esforços de-
cos inibindo assim o marca passo. Este mesmo vem ser feitos no pré operatório para compen-
tipo de problema pode acontecer com potenciais sação cardíaca. Por outro lado, aqueles muito
elétricos que ocorrem durante tremores gener- depletados de volume podem desenvolver hipo-
alizados durante o despertar da anestesia. O tensão arterial ocasionadas pela vasodilatação
uso de eletrocautério também pode causar imposta pela anestesia geral ou regional. Nas
problemas com a geração de estímulos pelo operações maiores, que normalmente transcor-
marca passo. Se o marca passo utilizado for rem com grandes desvios da volemia, deve
externo deve-se mantê-lo assincrônico durante haver monitorização hemodinâmica invasiva.
as descargas elétricas. Os modelos implantados Pacientes refratários à terapêutica conven-
programáveis e não programáveis são transfor- cional, ou quando não houve tempo hábil para a
mados em assincrônicos através de um mag- compensação, podem beneficiar-se da vasodi-
neto colocado sobre o gerador. Assim ficam latação decorrente da anestesia espinhal ou
trabalhando de maneira assincrônica, não sof- epidural. Cerca de 20% daqueles com história
rendo interrupção ao serem estimulados os si- pregressa de edema pulmonar podem desen-
nais elétricos liberados pelo eletrocautério. Ao volver quadro semelhante no período pós-op-
término da utilização do eletrocautério o mag- eratório. O risco é particularmente importante ao
neto é removido, o marca passo programável término da ventilação mecânica, quando
pode ser reprogramado e o não reprogramável aumenta o retorno venoso, e no primeiro ou
volta a sua atividade sincrônica primitiva. Para segundo dia de pós-operatório, quando o líquido
qualquer tipo de gerador algumas recomen- armazenado no terceiro espaço ganha a circu-
dações são válidas: 1- usar o eletrocautério em lação e sobrecarrega o coração. Muitas vezes
curtos intervalos de tempo. 2- colocar a placa fica difícil avaliar-se antes da operação quando
correspondente ao terra o mais distante os mecanismos compensatórios da ICC (ativi-
possível do gerador. 3- usar a menor corrente dade adrenérgica, mudanças estruturais no
possível para a coagulação ou corte. 4- en- miocárdio, maior extração de O2 periférico, re-
quanto utilizar o eletrocautério, palpar con- tenção de sódio e líquidos) estão exaurindo-se
tinuamente o pulso periférico do paciente 36 . (Fig 4). Muitas vezes a própria demanda
metabólica do pós operatório acaba por
descompensar definitivamente a insuficiência
cardíaca. Recomenda-se portanto prolongada
permanência na UTI35 .

392 Revista Brasileira de Anestesiologia


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Em relação aos agentes anestésicos, a estas razões o isoflurano tem sido associado ao
utilização de agentes inalatórios halogenados é ‘‘roubo’’ de fluxo e possível isquemia miocárdica
restrita por seus efeitos depressores do em pacientes com obstruções coronarianas.
miocárdio e vasodilatação, o que determina Como há certa polêmica em relação a este as-
hipotensão arterial nas concentrações ne- sunto, mais estudos são necessários para esta
cessárias para suprimir reflexos simpáticos ori- comprovação. Em relação ao óxido nitroso, pos-
undos do estímulo cirúrgico. Assim, a sui ação depressora direta no miocárdio e es-
popularidade dos halogenados diminuiu muito timula discretamente o sistema nervoso
na última década em presença de baixa reserva simpático, efeitos pouco evidentes quando utili-
cardíaca, enquanto cresceu a utilização da an- zado em pacientes com função ventricular nor-
estesia venosa total com doses elevadas de mal. Entretanto, em presença de má função
opiáceos, apoiando-se no conceito que estes ventricular ou hipovolemia, este efeito pode
agentes são relativamente inofensivos, pro- acentuar-se levando à hipotensão arterial 29-37 .
tegendo totalmente o coração através do blo- O óxido nitroso também aumenta a resistência
queio neurovegetativo. Entretanto, a vascular pulmonar. O estímulo simpático
observação que havia efeitos colaterais indese- poderia contrabalançar seus efeitos depres-
jáveis com doses elevadas de opiáceos, a inex- sores no miocárdio mas são suprimidos por
istência de bloqueio neurovegetativo completo e opiáceos e benzodiazepínicos. Desta maneira
o despertar no intra-operatório renovaram o in- recomenda-se muita cautela na utilização deste
teresse nos agentes inalatórios suplementando agente em vigência de má função ventricular e
os opiáceos, que sendo utilizados em menor naqueles portadores de coronariopatias 38 .
concentração, promoveriam mínima depressão Os opiáceos, que consistem hoje a
cardíaca. Assim, em muitas instituições dire- base da maior parte das anestesias, quer como
cionadas a anestesiar cardíacos a anestesia agentes isolado, ou suplementados com agen-
hoje consiste em doses moderadas de opiáceos tes inalatórios, adquiriram esta preferência por
suplementadas por baixas concentrações de an- sua extrema estabilidade cardiovascular. Ex-
estésicos inalatórios. Os betabloqueadores e cetuando-se sua ação bradicardizante, em re-
bloqueadores do canal de cálcio podem poten- lação a função contrátil, mesmo em doses muito
cializar o inotropismo negativo e bradicardia dos elevadas estes agentes são praticamente
halogenados. Dentre estes agentes o enflurano, desprovidos de outros efeitos.
um haloéter, apresenta efeitos hemodinâmicos
semelhantes ao halotano, sendo diminuição do
débito cardíaco e pressão arterial dose depend-
entes. Existem pequenas diferenças que podem Valvopatias
atenuar o efeito inotrópico negativo deste
agente em relação ao halotano, sendo a princi- Valvopatias, com classe funcional II ou
pal a elevação da freqüência cardíaca, fato que mais, possuem grande risco de desenvolverem
reforça a escolha deste agente na vigência de insuficiência cardíaca, tolerando mal hipovo-
betabloqueadores. O isoflurano difere dos agen- lemia, hipervolemia e disritmias no período pe-
tes anteriores por promover menor depressão rioperatório. As lesões valvares são
miocárdica, sendo potente vasodilatador. A de- caracterizadas por importantes alterações das
pressão da função contrátil pode ser compen- condições de carga impostas aos átrios e ven-
sada pela redução da pós-carga. Outro efeito trículos. Hipertrofia, dilatação, modificações na
deste anestésico é a diminuição da resistência complacência ventricular e redistribuição do
arteriolar coronariana sem dilatá-la concomi- fluxo sangüíneo pulmonar são os mecanismos
tantemente ou aumentar o fluxo colateral. Por compensatórios ao estresse mecânico a que é

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submetido o coração. A contratilidade é afetada Sociedade Americana de Anestesiologia con-


em graus diversos dependendo da duração e hecida como ASA. Embora pareça um tanto
gravidade da doença e a extensão das modifi- vaga, sua correlação com complicações peri-op-
cações na geometria ventricular. Como os sin- eratórias é bastante estreita, pois, é bastante
tomas cardíacos são muito dependentes das utilizada pelos anestesiologistas ao praticarem
condições de carga e nem sempre refletem a sua avaliação pré-anestésica. O fator idade tam-
realidade da contratilidade atual, os pacientes bém deve ser considerado. Idade superior a 70
valvares devem ser cuidadosamente investi- anos associa-se a maior incidência de compli-
gados no pré-operatório. É fundamental que a cações mesmo estando a condição cardíaca sob
insuficiência cardíaca, quando presente, receba controle. Outra situações como insuficiência re-
controle adequado. A estenose aórtica acres- nal ou hepática crônica, DPOC, ou restrição
centa elevado risco pela pouca tolerância às prolongada ao leito, conferem grande morbi-
variações volêmicas e do ritmo cardíaco. A dade aos pacientes cardíacos. Finalizando, a
estenose mitral pode propiciar a formação de operação de emergência acresce em 4 a 5 vezes
edema pulmonar na vigência de taquidisritmias. a possibilidade de ocorrer infarto do miocárdio
A presença de estenose aórtica sintomática ou outras complicações cardíacas fatais 24 .
pode ser contra-indicação formal à cirurgia não
cardíaca. Estes pacientes devem receber
avaliação cardiológica completa que pode in-
cluir o estudo hemodinâmico. Depen--dendo do ESTRESSE IMPOSTO PELA
gradiente observado e sintomatologia, devem ANESTESIA E CIRURGIA
ser consideradas como prioridades, operação
cardíaca para troca ou plástica valvar, ou di- Vários trabalhos demonstram que a
latação com cateter balão, prévias à cirurgia não monitorização cardiovascular invasiva intraop-
cardíaca. As anestesias regionais que pro- eratória, controlando fatores dinâmicos da circu-
movem amplo bloqueio simpático e com isto lação como pressão arterial, débito cardíaco,
variações bruscas da pré e pós carga possuem pressão dos átrios, resistência vascular e
certa restrição nos portadores de patologias freqüência cardíaca, reduzem significati-
com predomínio de estenose (mitral ou aórtica). vamente as complicações intra e pós-op-
No entanto, a insuficiência valvar poderia bene- eratórias 1 6 . S ã o c o n s i d e r a d a s c o m o
ficiar-se da vasodilatação periférica desen- complicações o infarto do miocárdio, disritmias
cadeada pela anestesia espinhal ou epidural de difícil controle, edema pulmonar, insuficiên-
30-37
. cia cardíaca, angina e morte relacionada a
qualquer evento cardiológico. Embora não este-
jam estabelecida normas para indicação de
monitorização invasiva recomenda-se em
pacientes com infarto recente, com história ou
IDADE, ESTADO GERAL E OPERAÇÃO DE presença de insuficiência cardíaca e aqueles a
URGÊNCIA serem submetidos a aneurismectomia de aorta
abdominal. O mesmo critério pode ser estendido
Mesmo a doença cardíaca estando sob quando a idade for superior a 70 anos e pro-
controle, o estado geral pode ser um importante gramar-se operações de grande porte. O tipo de
fator na gênese de complicações cardiovascu- cirurgia está claramente relacionado à incidên-
lares, pois impõe maior grau de exigência ao cia de complicações cardiovasculares, procedi-
coração. Uma das maneiras para se estimar o mentos intra-abdominais e intratorácicos
estado geral é utilizar-se da classificação da acarretam maior risco do que as operações

394 Revista Brasileira de Anestesiologia


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periféricas. Entre todas as operações a aneuris- quear estes reflexos hipertensivos. Neste as-
mectomia aórtica intra-abdominal é a que deter- pecto a anestesia regional é bastante vantajosa
mina a maior morbidade. As complicações não pois não determina o aparecimento de reações
parecem estar relacionadas ao tempo de cirur- adrenérgicas indesejáveis. Por outro lado de-
gia e anestesia mas principalmente à ocorrência pendendo da extensão do bloqueio simpático
de hipotensão prolongada, translocação de pode promover hipotensão arterial. Entre a
fluídos que comprometem a oxigenação pul- escolha de anestesia geral ou regional, muitos
monar e transporte de oxigênio no pós-op- fatores estão em jogo que incluem a experiência
eratório. Também os processos de recuperação do anestesiologista, o local e extensão da op-
destas cirurgias são longos, caracterizados por eração e a condição clínica do paciente. É im-
elevada exigência metabólica em que o coração portante lembrar que a principal meta da
pode não possuir a reserva necessária. Existem anestesia é manter as condições hemodinâmi-
dois períodos críticos no pós-operatório quando cas dentro da maior estabilidade possível blo-
as complicações apresentam maior chance de queando os reflexos indesejáveis 24 .
ocorrerem: nas primeiras horas de pós-op-
eratório quando a ventilação mecânica é
descontinuada, aumentando-se o retorno
venoso havendo risco de edema pulmonar, e o GESTANTE CARDIOPATA
despertar quando acompanhado de dor, an-
siedade, hipoventilação hipertensão arterial. A Alguma forma de doença cardíaca pode
maior incidência de congestão pulmonar e in- ocorrer em 2% das pacientes grávidas. Estas
suficiência cardíaca ocorre um a dois dias após incluem as cardiopatias congênitas e as adquiri-
a cirurgia, quando líquidos do terceiro espaço das, que acometem principalmente as valvas
começam a ser reabsorvidos, sendo isquemia cardíacas, tendo como etiologia principal a febre
miocárdica muitas vezes precedidos por estas reumática. Com o progredir da gestação ocor-
complica--ções. rem importantes alterações no sistema cardio-
A compreensão da alterações provo- vascular. Estas mudanças na fisiologia podem
cadas pela anestesia e cirurgia são importantes descompensar a gestante cardiopata. As mais
para entender-se a grande demanda imposta ao significativas são: desvio do coração para
coração e as medidas necessárias para minimi- esquerda e para cima; elevação da freqüência
zar a morbimortalidade. Estes efeitos iniciam-se cardíaca, maior incidência de disritmias atriais
com a indução anestésica. Dependendo dos paroxísticas e extrassístoles ventriculares, ele-
agentes utilizados e das condições clínicas, vação do débito cardíaco de 30 a 50 % entre a
pode haver hipotensão arterial causada por va- 28 e 30 semana da gestação, com aumento
sodilatação e depressão miocárdica. Evita-se progressivo durante o trabalho de parto. A
este problema inicial selecionando-se cui- posição corporal influencia enormemente o
dadosamente o agente de acordo com o estado débito cardíaco, a pressão arterial e o retorno
hemodinâmico, certificando-se do grau de venoso. Também o volume sangüíneo aumenta
hidratação e volemia. Durante a laringoscopia e de 35 a 50% com concomitante elevação do
intubação, observa-se reação adrenérgica que fluxo sangüíneo pulmonar.
culmina com taquicardia e hipertensão podendo As patologias cardíacas de maior in-
atingir a valores muito elevados nos pacientes cidência bem como as alterações fisiopatológi-
hipertensos. O pré tratamento com beta blo- cas e sugestão para a anestesia estão descritas
queadores pode atenuar esta resposta em pre- a seguir:
sença de circulação hiperdinâmica. Também os
- Estenose Mitral : determina aumento
opiáceos em doses analgésicas podem blo-
da pressão no átrio esquerdo por obstrução fixa

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ao enchimento ventricular. Com isto ocorre cardíaca, resistência periférica e retorno


aumento da pressão nos vasos pulmonares, venoso. Diminuições bruscas da resistência
congestão e hipertensão pulmonar. A gestação periférica e do retorno venoso podem determi-
agrava a estenose mitral pelos seguintes fatos: nar grandes quedas do débito cardíaco. A bradi-
aumento da freqüência cardíaca, encurtando o cardia e disritmias também são mal toleradas
tempo de enchimento diastólico, maior exigên- pois não há uma compensação eficiente do
cia de débito cardíaco que também não con- débito cardíaco através do volume sistólico.
segue ser aumentado pela obstrução valvar; Neste aspecto a anestesia regional deve ser
aumento do volume sangüíneo, que piora a con- evitada, sugerindo-se anestesia geral. Cumpre
gestão pulmonar; grande facilidade de desen- lembrar que o miocárdio submetido a estenose
volver-se edema pulmonar pelo aumento da aórtica apresenta grande perda da contratili-
pressão capilar pulmonar e pela diminuição da dade tornando-o muito susceptível a anestési-
pressão oncótica. Esta última pela diluição das cos voláteis potentes.
proteínas plasmáticas. A anestesia sugerida - Cardiopatias Congênitas : quando há
para pacientes com estenose mitral em trabalho predomínio do shunt esquerda para a direita,
de parto ou cesariana é o bloqueio epidural. As como acontece na comunicação intraventricular,
seguintes mudanças na hemodinâmica justifi- atrial e persistência do canal arterial não há
cam a escolha desta técnica: o alívio da dor e o grandes problemas para a anestesia, desde que
bloqueio simpático diminuem o aumento pro- não haja hipertensão pulmonar importante e in-
gressivo do débito cardíaco. Quando realizada versão de fluxo sangüíneo. Nesta situação re-
no início do trabalho, o seqüestro sangüíneo comenda-se a anestesia regional, pois a
induzido pela vasodilatação diminui o retorno diminuição da resistência vascular sistêmica re-
venoso, aliviando a circulação pulmonar: a anal- duz o volume de sangue desviado para o
gesia durante a fase do nascimento permite apli- pulmão. Entretanto, na vigência de hipertensão
cação de fórcipe, reduzindo o esforço materno pulmonar acompanhada de hiper-resistência a
e a freqüência cardíaca. Os mesmos efeitos são anestesia regional pode desviar o fluxo
benéficos durante a cesariana. Enfatiza-se que sangüíneo da circulação direita para a esquerda
os anestésicos locais não devem conter vaso- provocando instauração arterial.
constritor para não acelerar a freqüência - Síndrome de Eisenmenger : deve-se a
cardíaca. uma inversão fixa de sangue da circulação dire-
- Insuficiência Mitral : caracteriza-se por ita para a esquerda conseqüente a um hiperfluxo
sobrecarga de volume do ventrículo esquerdo pulmonar prévio. Esta síndrome acarreta ele-
com perda progressiva da função sistólica. vada mortalidade materna, sendo contra indi-
Qualquer sobrecarga adicional tais como cada a anestesia regional em relação a
aumento da resistência periférica ou bradicardia anestesia geral. Os agentes que diminuem a
podem piorar abruptamente a função bomba. A resistência vascular sistêmica e deprimem a
anestesia regional reduz a resistência vascular contratilidade cardíaca ou aumentam a resistên-
periférica melhorando o desempenho cardíaco, cia pulmonar devem ser evitados, optando-se
sendo portanto a forma de anestesia mais indi- por anestesia balanceada 39,40 .
cada. Auler Jr JOC - Anestesia para Cardiopata
- Estenose Aórtica: caracteriza-se por para Cirurgia não Cardíaca
um débito cardíaco fixo por sobrecarga
UNITERMOS: COMPLICAÇÕES:
pressórica, acarretando falência do músculo
Cardiopatias; PRÉ-ANEST-
cardíaco, que leva algum tempo para se mani- ESIA: preparo, avaliação;
festar em sintomas clínicos de insuficiência. O RISCO: avaliação, pré-ope-
débito cardíaco varia dependendo da freqüência ratorio

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Tradução Inglês-Português em Anestesiologia


M. Bernadette Barbosa
Fone: (021) 295-7781

398 Revista Brasileira de Anestesiologia


Vol. 44 : Nº 6, Novembro - Dezembro, 1994

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