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Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 2011, 24(1):51-63

Artigo de Revisão

ISSN 1984 - 3038


Ecocardiografia sob Estresse Físico - Experiência Clínica e Ecocardiográ-
fica de uma Década

Exercise Echocardiography - A Decade of Clinic and Echocardiographic Experience


Joselina Luzia Menezes Oliveira1, José Augusto Soares Barreto Filho2, Gustavo Porto Oliveira3, Antonio
Carlos Sobral Sousa4

RESUMO
A ecocardiografia sob estresse (EE) constitui-se em uma metodologia versátil, de baixo custo e de boa acurácia, para diagnóstico e estra-
tificação de risco da doença arterial coronariana (DAC). Entre os agentes provocadores de estresse cardiovascular, o esforço físico é o de
primeira escolha para indivíduos com capacidade física preservada, por provocar maior aumento do inotropismo e do duplo produto, por
fornecer informações fisiológicas sobre a presença, localização e extensão da isquemia, pelo comportamento do paciente no esforço físico
e pela resposta do espessamento regional da parede ventricular. A ecocardiografia sob estresse físico (EF) pode ser realizada em bicicleta
(BER) ou esteira ergométrica (EER). Na maioria dos serviços de EF, se o objetivo do exame é apenas analisar alteração segmentar das pa-
redes do ventrículo esquerdo (VE), a EER é mais utilizada. Se as informações do Doppler são necessárias e, quando é imperioso o estudo
das alterações regionais no pico do esforço, utiliza-se a BER. Em nosso serviço, temos 7.359 exames realizados em EER e 312 em BER.
Por se tratar de uma ferramenta muito segura e exequível, vários estudos de indicações emergentes têm sido publicados. Seu uso, na ava-
liação de valvopatias, da disfunção diastólica, da hipertensão pulmonar, do bloqueio do ramo esquerdo do feixe de His, entre outras, tem
ajudado sobremaneira ao clínico, principalmente, nos casos que merecem debates nas tomadas de decisões. Portanto, a EF tem poupado,
não somente recursos, mas também vidas dos portadores de DAC e de outras doenças cardiovasculares.

Descritores: Ecocardiografia Sob Estresse, Exercício, Doença Arterial Coronariana, Valvopatias.

SUMMARY
The stress echocardiography (SE) is a versatile method, besides its low cost and good accuracy of diagnosis and risk stratification of
coronary arterial disease (CAD). Among cardiovascular stress provoking agents, physical effort is the main choice in individuals with
preserved physical capacity, since it provokes greater increase of inotropism and double product and provides physiological information
about the presence, location and response of regional thickening of the left ventricle (LV). Exercise echocardiography (EE) may be per-
formed in bicycle (BEE) ou treadmill (TEE). In most of the EE services, if the aim is solely to assess regional wall motion of the LV, TEE
is usually preferred. If Doppler information and analysis of regional wall motion of the LV during peak exercise are necessary, BER is
chosen more frequently. Since EE is a very safe and executable tool, several studies of emerging indications have been published. The use
of EE in the evaluation of valvular heart disease, diastolic dysfunction, pulmonary hypertension, left bundle branch block, among others,
have considerably help the physician, especially in cases that require discussions to make decisions. Therefore, EE has helped to save lives
and resources when handling CAD and many other cardiovascular diseases.

Descriptors: Stress, Echocardiography; Exercise; Coronary Artery Disease; Valvular Heart Disease.

Introdução melhor estratificação de risco da doença arterial


coronariana (DAC) estabelecida. O estresse cardio-
A ecocardiografia sob estresse foi introduzida, vascular provocado pode ser físico, farmacológico
há 30 anos, em decorrência da necessidade de diag- ou medido com a utilização de marca-passo tran-
nóstico mais precoce da isquemia miocárdica e de sesofágico. Pode resultar em isquemia miocárdica,

Instituição 1- Professora Doutora pela Universidade Federal da Bahia. Professora do Departamento de Medicina
Universidade Federal de Sergipe. Aracaju - SE da Universidade Federal de Sergipe. Ecocardiografista da ECOLAB (Laboratório de Ecocardiografia
do Hospital São Lucas (HSL)
Correspondência
Joselina Luzia Menezes Oliveira 2- Professor Doutor pela Universidade de São Paulo. Professor do Departamento de Medicina da
Praça Graccho Cardoso nº 76/402 Universidade Federal de Sergipe. Aracaju-SE
49015-180 – Aracaju-SE
3- Médico Ecocardiografista do Hospital Universitário e da ECOLAB. Aracaju-SE
joselinasergipe@ig.com.br
4- Professor Doutor pela Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto). Fellow of American
Recebido em: 19/02/2010 - Aceito em: 14/04/2010 College of Cardiology. Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.
Ecocardiografista da ECOLAB. Aracaju-SE

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manifestada por anormalidade segmentar das pare- O exercício provoca um aumento generalizado
des do ventrículo esquerdo (VE), distal a uma lesão na motilidade regional e espessamento miocárdico,
coronariana obstrutiva. com incremento da fração de ejeção (FE), princi-
palmente, pela redução das dimensões sistólicas. A
1- Exercício físico – aspectos gerais disfunção sistólica regional, geralmente, é causada
pela DAC, porém também pode ser encontrada em
O exercício físico causa demandas importantes outras patologias, como cardiomiopatias. A presen-
ao sistema cardiopulmonar e pode ser considerado ça de isquemia é demonstrada pela ocorrência das
o teste mais prático para avaliação da perfusão e da seguintes anormalidades do VE: surgimento ou pio-
função cardíaca, em indivíduos com capacidade ra do déficit segmentar; aumento da dimensão do
física preservada. As respostas cardiovasculares ao VE; queda da FE e aumento do volume sistólico.
exercício resultam em alterações na circulação e no Vale ressaltar que essas anormalidades regionais
aumento acentuado da liberação de oxigênio para precedem as alterações do segmento ST, detectadas
os músculos em atividade. Nos indivíduos normais pela eletrocardiografia, e a manifestação de angina2,
sedentários, há um aumento de 10 vezes no consu- torrnando, portanto, a EF uma metodologia capaz
mo de oxigênio, do repouso até o esforço máximo. de detectar alterações isquêmicas mais precocemente
As adaptações metabólicas permitem aumentar sua do que o TE. Em 1994, Marangelli et al3 demons-
taxa metabólica em até 20 vezes e o débito cardíaco traram que a EF promove incremento do duplo pro-
em até 6 vezes, com um aumento imediato e signi- duto e do inotropismo cardíaco, significativamente,
ficativo da frequência cardíaca (FC). superior a outras modalidades de estresse3.
Em relação aos exames sob estresse físico, en-
tende-se que a captação miocárdica de oxigênio é 2- Aspectos metodológicos
a quantidade de oxigênio consumida pelo músculo
cardíaco, e a medida exata, desse consumo, requer 2.1 Relacionados ao estresse físico e aquisição
colocação de catéteres em uma artéria coronária e de imagem
no seio venoso coronário, pois seus determinantes A EF pode ser realizada com esteira (EER) ou
incluem tensão de pare-
Figura 1: EF em EER e BER
de miocárdica (pressão
ventricular esquerda
vezes volume diastóli-
co final), contratilida-
de e FC. Entretanto,
o duplo produto, ou
seja, o produto da FC,
pela pressão sistólica, é
a melhor estimativa da
captação miocárdica de
oxigênio1. Com base
nesses conhecimentos,
o teste ergométrico
(TE) está estabelecido
como o exame não in-
vasivo mais utilizado
para avaliação diagnós-
tica e prognóstica da
DAC.
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experiência clínica e ecocardiográfica de uma década

bicicleta ergométrica (BER), conforme Figura 1. perda de segundos, caso essa parada seja realizada nos
A escolha do estressor pode ser determinada pela protocolos convencionais da ergometria. Nesse mo-
experiência do serviço de ecocardiografia, indicação mento, é obrigatório um técnico que ajude o pacien-
do exame e pela aceitabilidade do paciente. Nesse te, no retorno ao leito, para que nenhum eletrodo
exame, é imperioso o esclarecimento ao paciente de seja desconectado. O ecocardiografista retorna, ime-
que não se trata de TE convencional, para que ele diatamente, ao ecocardiógrafo, enquanto o paciente
se envolva e colabore em realizar o esforço máximo está deitando, e captura as imagens o mais rápido
possível. possível, de preferência, no primeiro minuto, após
a cessação do exercício. Essa captação é programada
EF em EER nos aparelhos para um tempo de até dois minutos.
Após a captação, segue-se a escolha das melhores
A EF em EER é a opção preferencial da maio- imagens de pico. Enquanto o paciente está no pe-
ria dos laboratórios. São utilizados os protocolos ríodo de recuperação do esforço, o técnico verifica
clássicos validados pela ergometria, sendo o Proto- a pressão arterial e realiza os registros da ergometria.
colo de Bruce o mais usado. A imagem é obtida Em seguida, o ecocardiografista capta as imagens da
imediatamente após o exercício, evitando os fatores recuperação; é momento, então, da análise das ima-
que interferem na imagem, durante a sua execução, gens, lado a lado, dos 3 momentos da captação, ou
como interferência respiratória e movimento da pa- seja: repouso, pico e recuperação. Essas imagens são
rede torácica. Deve-se ressaltar que a recuperação digitalizadas e arquivadas no hardware do ecocardió-
da função sistólica, após o processo isquêmico, está grafo e, então, enviadas para arquivo em Compact
associada à duração da isquemia. Quanto mais tem- Disc, Pen Drive ou fitas de Disc Video Display.
po o miocárdio ficar privado de sangue, maior será Na realização dos primeiros EF, a dificuldade da
o tempo necessário para recuperação da perfusão. captação de imagem, logo após o exercício, pode
Portanto, é fundamental que o paciente realize o ser minimizada com a marcação, no tórax do pa-
esforço máximo e, de preferência, alcance uma FC ciente, do local exato da captação das imagens em
acima da máxima preconizada para a idade, princi- repouso, para facilitar no retorno ao leito. Essa
palmente, em pacientes com graus mais leves de is- marcação pode ser com um X com caneta, alguns
quemia, pois as modificações da motilidade parietal preferem colocar um eletrodo, porém, no retorno
induzida pelo esforço físico revertem, rapidamente, ao leito, o ecocardiografista vai perder alguns se-
com a cessação do exercício. gundos para retirá-lo dos pontos de captação de
A esteira deve estar localizada próxima à maca imagem. No decorrer do processo de aprendiza-
da realização do ecocardiograma. Inicia-se o exame gem, a captação torna-se mais fácil, inclusive nos
com a realização do eletrocardiograma e a monitori- pacientes com janelas ecocardiográficas difíceis em
zação convencional da ergometria. Com o paciente repouso. Observa-se que, após o esforço, as ima-
em decúbito lateral esquerdo, realiza-se o ecocardio- gens melhoram muito, devido à impulsão da pon-
grama convencional e a captação das imagens eco- ta do VE no gradil costal.
cardiográficas em repouso. O paciente é informado Quanto à ergometria, este exame pode ser rea-
de que deve se levantar para iniciar a ergometria, já lizado pelo ergometrista na sala de ecocardiografia.
que é importante, para o resultado do exame, que Na maioria dos serviços, a ergometria é realizada
ele avance o maior número possível dos estágios do pelo ecocardiografista e com a presença de um téc-
protocolo escolhido. É fundamental o seu retorno nico experiente, que realizará todos os registros
imediato ao leito, no esforço máximo, sem a preo- sob o comando do ecocardiografista. As informa-
cupação natural de querer ajudar a segurar os fios ções sobre a capacidade para o exercício, a resposta
anexados aos eletrodos. da FC, as mudanças no ritmo cardíaco e a pressão
No pico do esforço, o ecocardiografista deve des- arterial são analisadas juntas com a motilidade das
ligar a esteira no seu botão de controle, para evitar a paredes do VE, tornando-se assim parte da inter-
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pretação final do exame. Igualmente, deve-se ter o desafio inicial é maior do que em EER, devido
muito cuidado para não ser influenciado por dados à posição supina ou semissupina do paciente. No
ergométricos, como por exemplo, o esforço não inicio do aprendizado, faz-se necessário que, após
deve ser interrompido, devido à presença de in- a realização do eletrocardiograma e monitorização
fradesnivelamento do segmento ST maior do que para ergometria, seja realizado um ecocardiograma
2mm de caráter descendente. A interrupção deve convencional, em decúbito lateral esquerdo, para
ocorrer com a presença de precordialgia típica, da melhor conhecimento dos segmentos do VE, antes
instabilidade hemodinâmica, taquicardia supra- de sentar o paciente na bicicleta. Antes de iniciar
ventricular, fibrilação atrial, arritmia ventricular o esforço, as imagens são captadas com o paciente
complexa, como taquicardia ventricular ou extras- sentado, em repouso. O paciente pedala contra um
sístoles polimórficas frequentes, hipotensão arterial aumento de carga, com uma cadência constante de
sintomática, com queda > de 40mmHg na pressão cerca de 60 rotações por minuto. A carga é escalo-
arterial, ou da elevação exagerada da pressão arterial nada de acordo com o protocolo escolhido (Astrand
sistólica >220mmHg e diastólica>120mmHg4. ou Balke), enquanto as imagens são captadas pelo
Um grande aliado, na fase inicial de um servi- ecocardiografista. Para a boa realização do exame, é
ço de EF, é a facilidade com que se pode repetir imprescindível a colaboração do paciente para man-
um exame cuja conclusão não está muito segura. É ter a coordenação e a cadência das pedaladas e reali-
preferível conversar com o paciente, explicar que o zar o maior esforço possível.
esforço realizado não foi suficiente para concluir o A maior vantagem da BER é a chance de po-
resultado e sugerir que retorne em outro dia com der obter as imagens, durante os vários níveis do
mais disposição. Com o decorrer dos anos, os pa- esforço; porém na interpretação final, as imagens de
cientes aprendem que o EF não é um TE conven- repouso, do pico do esforço e recuperação devem
cional e que devem marcar seus exames para um ser comparadas. Caso os cortes apicais sejam de di-
dia e horário que lhes permitam realizar o esforço fícil captação, pode-se pedir ao paciente que solte as
máximo possível. Outra opção, também, muito mãos da bicicleta e estenda os braços, o que permite
útil é repetir o exame em BER. obtenção das imagens apicais da maioria dos pacien-
Na ECOLAB (Laboratório de Ecocardiogra- tes. Nos serviços que não dispõem de ergometrista
fia do Hospital São Lucas – Aracaju-SE), utiliza- na sala, é indispensável a presença de técnico expe-
se mais frequentemente a EER, atualmente com riente para registrar todos os dados ergométricos.
7.359 exames realizados; enquanto que com a
BER, estudaram-se 312 pacientes. Dentre os exa- 2.2 Relacionados à interpretação do exame
mes realizados com EER, 2.777 (38%) pacientes A abordagem da interpretação é qualitativa e
alcançaram FC acima da máxima preconizada subjetiva; a avaliação visual é baseada no espessa-
para a idade; 1.096 (15%) pacientes alcançaram mento que pode ser influenciada pela translation or
FC máxima; 2.707 (37%) pacientes alcançaram a tethering antes, durante e após o estresse físico. Ini-
submáxima e 709 (10%) pacientes alcançaram FC cialmente, as imagens devem ser avaliadas quanto a
abaixo da submáxima. Vale ressaltar que é impor- sua qualidade e quanto à presença de limitações téc-
tante que o paciente alcance FC acima da máxi- nicas. Deve-se ressaltar que tais limitações podem
ma, devido aos 5 a 7 batimentos que são perdidos ocorrer por conta da janela ecocardiográfica ou mes-
no momento da sua saída da esteira para a maca, mo pela experiência do ecocardiografista em captar
quando será realizada a captação das imagens eco- a imagem. Imediatamente. após o esforço com a
cardiográficas de pico. angulação correta e comparável à imagem captada,
em repouso. Também as imagens captadas duran-
EF em BER te o esforço devem ser bem interpretadas quanto às
angulações, principalmente, dos cortes apicais.
Para o ecocardiografista realizar EF em BER, A análise para identificar a presença de isque-
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experiência clínica e ecocardiográfica de uma década

mia consiste na avaliação qualitativa de 16 ou 17 Figura 2: EF em EER, acinesia do septo apical e hipocinesia da
parede anteroapical no pico do esforço
segmentos do VE, com espessamento normal ou
na presença de dissinergia (hipocinesia, acinesia ou
discinesia) e no cálculo do índice de escore de mo-
tilidade do VE (IEMVE). Nas imagens em repouso,
a FE é calculada pelo índice de escore de motilidade
do VE, pelo método de Teicholz e ou pelo método
de Simpson. As imagens, em repouso e em estres-
se, são comparadas quanto ao desenvolvimento de
disfunção global, com aumento do VE, ou mudan-
ças na sua forma geométrica ou disfunção regional.
Na resposta normal ao estresse, ocorre hipercinesia,
com aumento da função em todos os segmentos do
VE. O surgimento de uma alteração segmentar, ou
piora de uma já existente, identifica a presença de o exame sem conhecimento prévio de outros exa-
isquemia. Além do diagnóstico de isquemia, deve-se mes provocativos e dados angiográficos e, em casos
estudar bem cada caso, fornecendo informações so- selecionados, mesmo na rotina diagnóstica, rever as
bre a extensão, o local e a severidade da isquemia. imagens em outro momento e realizar interpretação
De grande valia clínica é relacionar a presença comparativa entre dois observadores independen-
de isquemia com a duração do esforço, o estágio e tes5. (Tabela 1 e Figura 2)
a FC alcançada, assim como, verificar o comporta- De preferência, um serviço de EF deve dispor
mento da pressão arterial e ritmo cardíaco. Torna- das duas opções: EER e BER, pois os princípios
se imperioso, no diagnóstico final sobre um caso, essenciais da ergometria são semelhantes, embo-
considerar hipocinesias menores, principalmente, ra os pacientes sejam diferentes. Existem os que
nos exames em EER; documentar uma dissinergia apresentam pânico de esteira, os que apresentam
em mais de uma incidência, se possível; interpretar limitações ortopédicas, principalmente joelhos, po-
rém estão habituados a
Tabela1: Interpretação dos resultados da EF
pedalar. Os que são ci-
clistas, os portadores
de valvopatias neces-
sitam de quantifica-
ções pelo Doppler dos
refluxos, estenoses e
de medida da pressão
pulmonar no esforço.
Para o diagnóstico de
isquemia miocárdica,
em pacientes com me-
nor número de lesões
e estenoses menores e
com doença da arté-
ria circunflexa, a EF
em BER é mais sen-
sível, pois a captação
DAC- doença arterial coronária; EF- ecocardiografia sob estresse; ER- ecodopplercardiograma em da imagem é realizada
repouso; FE- fração de ejeção; IEMVE- índice de escore de motilidade do ventrículo esquerdo; VS-
volume sistólico. no pico do esforço. Na
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estratificação de risco de DAC estabelecida, o apare- Em estudos importantes com EF (> que 100 pa-
cimento das alterações de motilidade das paredes do cientes), a média de sensibilidade foi de 74 a 97%,
VE, durante o exercício, é de grande valia para a ava- e a média de especificidade foi de 64 a 86%. Os es-
liação do significado funcional das lesões coronárias tudos com BER apresentaram maior sensibilidade,
conhecidas, para o planejamento da revascularização. porém com perda na especificidade7,8.
Uma vez feito o diagnóstico, o esforço pode ser inter- Em 2008, o Colégio Americano de Cardiologia e
rompido, diminuindo, assim, o risco do exame. Na a Sociedade Americana de Ecocardiografia publica-
EER, o exame continua tendo em vista a isquemia ram os critérios apropriados para indicações de eco-
que será diagnosticada após o esforço. Na BER, tam- cardiografia sob estresse, baseados em uma revisão
bém, poderá ser diagnosticada a viabilidade miocár- de riscos e benefícios da metodologia, no cenário
dica, com baixas cargas de exercício. Em suma, ambas clínico9. As indicações apropriadas da EF foram di-
as modalidades de exames, com exercício físico, for- vididas em diagnóstico de DAC, em pacientes sin-
necem informações valiosas para detecção de isque- tomáticos, nos assintomáticos e nos de estratificação
mia e para a avaliação da doença cardíaca valvar. Com de risco. (Tabela 2)
a EER, a carga de trabalho e a FC máxima alcançada Na ECOLAB, o diagnóstico de DAC, em sin-
tendem a ser maior, enquanto que, com a BER, a tomáticos, foi a indicação mais frequente (36%)
pressão arterial no esforço máximo é mais elevada. dos exames realizados, seguida de TE positivo, para
Na maioria dos serviços de EF, se o objetivo do exame isquemia miocárdica, em pacientes assintomáticos
for apenas analisar alteração segmentar das paredes (33%), estratificação de risco, em pacientes com
do VE, usualmente, utiliza-se mais a EER. Se as in- DAC estabelecida (20%), avaliação pré-operatória
formações do Doppler são necessárias e quando for de cirurgia não cardíaca (6%) e indicações não apro-
imperioso o estudo das alterações regionais no pico priadas, em 5% dos casos.
do esforço, utiliza-se a BER6. Quanto à segurança da metodologia, o esforço
Dos exames em EER realizados na ECOLAB, físico é a modalidade de estresse mais segura. No
em 73% a EF apresentou-se negativa para isque- estresse farmacológico com a dobutamina, ocorrem
mia miocárdica; em 12% a EF apresentou isquemia sérias complicações em 3 entre 1.000 entre pacien-
miocárdica, 11% apresentou-se com EF isquemia tes e com o dipiridamol 1 entre 1.000 pacientes. En-
fixa e 4% a EF isquemia fixa e induzida. quanto que na EF. estas ocorrem em 1 entre 10.000
pacientes10. Dos exames realizados em nosso serviço,
3- Impactos clínicos e econômicos da EF 1,3% foi interrompido, devido à taquicardia ventri-
cular, porém, não houve casos de fibrilação ventri-
Na EF, alguns fatores podem aumentar a sensibi- cular, infarto agudo do miocárdio ou morte.
lidade em uma determinada população, tais como: Os avanços tecnológicos nos métodos de ima-
realização de esforço físico máximo; estenoses arte- gem têm proporcionado um aumento na acurácia
rial mais grave (> 70%), de morfologia complexa, dos procedimentos de avaliação do diagnóstico e
com maior extensão para mais de 2 vasos; presença prognóstico da DAC. Convém ressaltar que a incor-
de angina vasoespástica; ausência de terapia anti- poração de uma nova modalidade de investigação
isquêmica e presença de infarto agudo do miocár- somente justifica-se, plenamente, se essa conduta
dio prévio. Para o aumento de especificidade, vale propiciar incremento substancial de informações
ressaltar que a ausência de motilidade anormal, em sem onerar, proporcionalmente, o sistema de saú-
repouso, de hipertrofia ventricular esquerda, de de. Ao contrário do que ocorre quando se avalia o
bloqueio do ramo esquerdo do feixe de his (BRE) e custo-efetividade entre estratégias terapêuticas, a
de angina vasoespástica são importantes dados que comparação entre métodos de investigação apre-
devem ser afastados. A experiência do ecocardiogra- senta algumas barreiras, tais como: dificuldade de
fista é, sem dúvida, de grande valia para a acurácia se verificar a conexão entre a realização do exame e
diagnóstica do exame. a melhora do prognóstico do paciente. Na prática
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experiência clínica e ecocardiográfica de uma década

Tabela 2: Critérios apropriados de indicação da EF clínica cotidiana, a interpretação dos resultados


das várias técnicas de investigação tem sido foca-
da, preferencialmente, no diagnóstico da DAC,
restando relativamente poucos dados concer-
nentes à predição de prognóstico11.
Apesar das limitações mencionadas, várias
investigações têm demonstrado que a EF pode
apresentar significativa custo-efetividade, com-
parativamente a outras modalidades de investi-
gação de pacientes com DAC, suspeita ou con-
firmada, sobretudo naqueles com baixo risco.
Esse fato tem sido verificado, tanto em modelos
virtuais obtidos por computação como em estu-
dos clínicos que constataram superioridade dessa
metodologia, em relação ao TE e à cintilografia
do miocárdio (CM), na avaliação de pacientes
ambulatoriais com dor precordial12. Recente-
mente, Jeetley et al13 demonstraram, também,
que, no manuseio de pacientes com suspeita de
síndrome coronariana aguda e troponina negati-
va, a EF foi superior ao TE quanto à necessidade
de investigação adicional, precisão diagnóstica, e
custo-efetividade.

4- Predição de mortalidade e eventos


cardíacos em pacientes com EF normais
e isquêmicos
Tanto as variáveis do exercício quanto a dos
achados ecocardiográficos contribuem para o valor
prognóstico da EF. Como em qualquer modalida-
de de exame que utilize o exercício como estressor,
são sinais de mal prognóstico: capacidade baixa ao
exercício (< 5 equivalente metabólico [METS]);
angina no esforço; pressão sistólica baixa no pico
do esforço (<130mmHg) ou queda da pressão sis-
tólica, durante o exercício e incompetência crono-
trópica (IC)14,15. A principal variável prognóstica é
considerada a extensão e a severidade da disfun-
ção ventricular induzida pelo exercício16. Embora
os eventos cardiovasculares ocorram mais em ho-
mens, a EF apresentou incremento no valor prog-
nóstico em ambos os sexos17.
O valor prognóstico da EF foi demonstrado
em 4.004 pacientes com teste ergométrico nor-
CACG- cineangiocoronariografia; EF- ecocardiografia sob estresse físi-
co; TE- teste ergométrico mal, dos quais 17% apresentaram isquemia à EF.
Modificado de Douglas PS9 No seguimento de 5 anos para eventos cardíacos
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maiores e mortalidade, a frequência de eventos foi EF, portanto a acurácia das técnicas são comparáveis.
de 10 a 12% em pacientes com isquemia e 4 a 6% A EF é mais específica em portadores de hipertrofia
naqueles sem isquemia18. ventricular esquerda, melhor em mulheres, devido
Uma EF normal confirma um risco muito baixo aos artefatos torácicos que interferem na CM, e em
(<1% ano), para eventos maiores, numa sequência pacientes com outras cardiopatias, como valvopatias
de 4 a 5 anos. A garantia de um teste negativo é e pericardiopatias. Nesses casos, a ecocardiografia
menor para pacientes com doenças associadas à ate- é inquestionável. Enfim, a EF é mais versátil, mais
rogênese acelerada, como diabéticos e portadores conveniente e tem menor custo, já que na CM o pa-
de insuficiência renal crônica, ou a não aderência ciente é submetido à radiação que corresponde a uma
ao tratamento clínico. Por outro lado, a EF positiva dose cerca de 600 a 1300 radiografias de tórax, para
para isquemia miocárdica traduz um risco de 10 a cada cintilografia simples realizada, causando assim
30% para um evento espontâneo, nos anos subse- um risco biológico elevado para o indivíduo e para a
quentes. Pacientes com disfunção, em repouso, mas sociedade, por acúmulo dos níveis de radiação21.
sem isquemia induzida pelo esforço apresentam risco A ressonância magnética (RM) é a mais recente
intermediário; caso apresentem isquemia induzida técnica para diagnóstico de doença cardíaca, sua van-
pelo esforço, têm o mais alto risco para morte e even- tagem é que não utiliza radiação ionizante, porém tem
tos cardíacos. Esses pacientes devem ser subestratifi- alto custo e baixa versatilidade, quando comparada à
cados, com base nos seus riscos clínicos, na capaci- EF. Nos casos em que a EF seja inconclusiva ou não
dade para o exercício, nas respostas hemodinâmicas factível, essa é uma opção a considerar22. A tomografia
ao exercício, na resposta do segmento ST, nos tipos e computadorizada (TC) é outra modalidade recente
extensão das alterações de motilidade das paredes do que expõe o paciente à radiação ionizante. Tem sido
VE. Os dados do estresse não são independentes, já utilizada para pacientes sintomáticos, com risco baixo
que incrementam o quadro clínico10, 19. e intermediário, e apresenta alto valor preditivo nega-
Na estratificação, após infarto de miocárdio, dis- tivo para excluir DAC. Quando o paciente apresenta
função ventricular esquerda ou em pré-operatório de escore de cálcio > 400, tem sido indicada a EF. Essa
cirurgia vascular periférica, os estudos publicados são, técnica tem avançado nos últimos anos, no entanto,
principalmente, com estresse farmacológico, pois se ainda são necessárias mais pesquisas para demonstrar
trata de paciente com prognóstico mais reservado, seu real benefício na prática clínica23.
devido à inabilidade para exercitar-se, o que já carac-
teriza um poderoso marcador de risco elevado. 6- EF em grupos especiais: diabéticos,
idosos, incompetência cronotrópica e mu-
5- Comparações da EF com outras modalida- lheres
des de exames de estresse com imagens
6.1 EF em diabéticos
Quando se prioriza o diagnóstico e a estratifica- Nos portadores de diabetes mellitus, a doença
ção de risco de DAC, o principal método alternativo vascular coronária, cerebral ou periférica são respon-
para a EF é a CM, pois apresenta sensibilidade de sáveis por cerca de 75% das mortes em adultos. A
90%, principalmente para pacientes com lesão de um EF, quando máxima, está estabelecida como método
único vaso (artéria circunflexa), além de uma melhor de detecção diagnóstica e prognóstica em assinto-
acurácia para os casos de multiarteriais, com alteração máticos e, nesse grupo, demonstra maior poder de
segmentar em repouso, e pacientes com janela ecocar- especificidade do que a imagem de perfusão, talvez
diográfica de difícil captação das imagens, como nos pela coexistência entre estenose coronária epicárdica
casos de portadores de doença pulmonar. e microangiopatia. Contudo, a ecocardiografia sofre
Em contrapartida, Metz et al20 demonstraram, em aumento dos valores de falso positivo pela possibili-
meta-análise, que a superioridade da sensibilidade dade de coexistência de cardiomiopatia24.
da CM é balanceada com a maior especificidade da Oliveira et al25 avaliaram o valor da EF em pre-
58
Oliveira JLM, et al. Ecocardiografia sob estresse físico -
experiência clínica e ecocardiográfica de uma década

dizer eventos em diabéticos. Os preditores de even- ser subestimada ou considerada fisiológica. Os da-
tos cardíacos enquadraram sedentarismo, com RR dos disponíveis sugeriram que a IC está associada à
of 2.57 95%CI [1o 6.02] (P = 0.03) e EE positiva maior prevalência de alterações segmentares do VE,
para isquemia miocárdica, com RR 3.63, 95%CI ou seja, cardiopatia isquêmica; 3) a IC adiciona va-
[1.44 to 9.16] (P = 0.01). Pacientes com exames lor preditivo positivo à EF ao identificar pacientes
positivos apresentaram maior frequência de eventos com DAC obstrutiva.
cardíacos, em 12 meses (6.8% vs. 2.2%), P = 0.004
(Figura 3). Concluiu-se que a EF é um método útil 6.3 EF nos portadores de incompetência cro-
para predizer eventos, em pacientes diabéticos com notrópica (IC)
DAC estabelecida ou suspeita. A IC caracteriza-se por uma resposta atenuada da
FC ao exercício. É um fator preditor independente
para eventos cardiovasculares e mortalidade
Figura 3 : Curva de Kaplan-Meier para sobrevida livre de eventos cardíacos
em pacientes com EF normal (linha cinza) versus anormal (linha preta). cardiovascular. Em 2007, Oliveira et al27 ob-
servaram 4.042 pacientes submetidos à EF
em EER. Dos pacientes estudados, 1.180
(29%) apresentaram EF positiva para isque-
mia miocárdica, destes, 263 pacientes com
isquemia miocárdica foram do grupo IC-
(54%)- e 917 com isquemia miocárdica fo-
ram do grupo CC (competente cronotrópi-
co) – (26%). O IEMVE foi maior no grupo
IC do que no grupo CC, tanto no repouso
(1,06±0,17 versus 1,02±0,09; P<0,0001),
quanto após o exercício físico (1,12±0,23
versus 1,04±0,21; P<0,0001), conforme
demonstrado na Figura 4. Sugeriu-se que a
IC, ocorrida durante o TE, deva ser utiliza-
da como parâmetro de risco cardiovascular
e não como um achado inconclusivo29.
6.2 EF em idosos Encontra-se em estudo na ECOLAB, uma pes-
Nos indivíduos acima de 65 anos, a DAC é res- quisa sobre os parâmetros clínicos e ecocardiográfi-
ponsável por cerca de 2/3 das mortes. Portanto, cos da IC, em pacientes não idosos, a fim de analisar
identificar indivíduos de alto risco para eventos car- a IC em jovens.
diovasculares é, particularmente, importante nesse
grupo. Nas últimas duas décadas, estudos indicam o 6.4 EF em mulheres
uso da EF como ferramenta não invasiva com acu- A DAC difere entre homens e mulheres de várias
rácia diagnóstica e prognóstica, semelhantes aos de- maneiras, incluindo sua resposta a testes diagnósticos
mais métodos na detecção de DAC subclínica, em não invasivos. O TE apresenta um número elevado de
indivíduos capazes de submeter-se a esforço físico falso positivo, isso em parte pela baixa prevalência de
em EER e BER26,27. Em 2007, Oliveira et al28 estu- DAC, em mulheres das populações estudadas (teoria
daram o papel da EF, na identificação de DAC, em Bayseana). Uma meta-análise avaliou 19 estudos de
pacientes idosos com incompetência cronotrópica mulheres que realizaram TE, CM e EF. Todas as pa-
(IC). Sugeriu-se que: 1) a EF é uma metodologia cientes foram submetidas a CACG. A sensibilidade do
segura e muito útil na avaliação de pacientes idosos TE, CM E EF foi, respectivamente, 61%, 78% e 86%
que não conseguem atingir a FC submáxima; 2) a e a especificidade, 70%, 64% e 79%30. Na ECOLAB,
IC, frequentemente observada em idosos, não deve há 3.789 mulheres (52%) submetidas a EER. Destas,
59
Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 2011, 24(1):51-63

820 (21,5%) apresentaram exames isquêmicos. pecificidade é pobre, como resultado de uma eleva-
7- Indicações emergentes da EF da proporção de resultados falso-positivos. Quando
são utilizados vasodilatadores, os exames apresen-
7.1 EF em valvopatias tam uma melhora significativa. Na EF, a principal
A EF tem importante papel na evolução dos pa- limitação é a análise da motilidade do septo inter-
cientes portadores de valvopatias. O exercício físico ventricular, apesar de alguns autores terem demons-
induz mudanças na hemodinâmica valvar, na função trado sua indicação, tanto no diagnóstico como no
ventricular e na pressão pulmonar30. A capacidade de prognóstico desses pacientes. Bouzas-Mosquera, et
os pacientes exercitarem-se e os sintomas induzidos al36 acompanharam, durante 5 anos, 609 portado-
pelo exercício são informações que contribuem para res de BRE submetidos à EF e, no grupo que apre-
o diagnóstico e prognóstico das valvopatias, ajudan- sentou isquemia miocárdica, a taxa de mortalidade
do sobremaneira ao clínico, principalmente, nos ca- e eventos cardíacos maiores foi 2 vezes maior em
sos borderlines que merecem debates nas tomadas relação aos que não desenvolveram isquemia36. Até
de decisão31. O Colégio Americano de Cardiologia e o momento, na ECOLAB, foi realizado EF, em 422
a Sociedade Americana de Ecocardiografia conside- pacientes portadores de BRE, cujos resultados foram
ram score de 7 a 9, ou seja, apropriado, da EF para enviados para os Congressos de 2.010, com o objeti-
avaliação hemodinâmica, incluindo Doppler du- vo de avaliar o valor preditivo positivo da EF e o valor
rante o estresse para indivíduos sintomáticos, com prognóstico da metodologia nessa população.
estenose mitral leve, e para indivíduos assintomá-
ticos com insuficiência aórtica e mitral importante, 7.3 EF na avaliação da função diastólica do VE
que não preenchem os critérios cirúrgicos quanto à Em pacientes com dispneia de esforço e pressão
função e ao tamanho do VE9,32-34. de enchimento ventricular esquerda normal em
Lancelotti et al35 demonstraram que, em indiví- repouso, a EF é, particularmente útil na determi-
duos assintomáticos, portadores de estenose aórtica, nação da existência de etiologia cardíaca, especial-
a EF é uma importante ferramenta para prognósti- mente quando realizada em bicicleta ergométrica,
co e avaliação pré-operatória. A reduzida tolerância o que possibilita a aquisição de medidas oriundas
ao esforço, o aparecimento de dispneia, a depressão do Doppler, antes, durante e após a realização do
do segmento ST e o aumento do gradiente médio esforço físico37. Em indivíduos normais, as veloci-
> 20mmHg podem contribuir para um pior prog- dades E mitral e e’ do anel exibem incrementos pro-
nóstico, possibilitando, assim, uma indicação para porcionais com o exercício, de modo que a relação
troca valvar aórtica ou para plastia mais precoce35. E/e’ não se modifica. Por outro lado, naqueles que
A EF, usualmente em BER, é uma metodologia apresentam disfunção diastólica, a onda E aumenta,
versátil, de baixo custo e de ampla aplicabilidade, que significativamente mais do que a onda e’, propician-
avalia a gravidade das valvopatias e pode ser tolerada do, portanto, incremento da relação E/e’38. A acurá-
por portadores de valvopatias aórtica e mitral, antes e cia dessa relação, na predição de pressões diastólicas
após as plastias ou trocas valvares. Entretanto, a litera- obtidas simultaneamente por metodologia invasiva,
tura ainda não dispõe de estudos em larga escala, ran- durante o esforço, foi testada em um estudo, verifi-
domizados do real benéfício da EF nesses pacientes. cando-se significativa correlação39.

7.2 EF em bloqueio do ramo esquerdo do fei- 7.4 EF em hipertensão pulmonar


xe de his (BRE) A maioria dos estudos, que descrevem o exercício
O esforço físico tem uso limitado como agente como indutor de hipertensão arterial pulmonar, uti-
estressor, em portadores de BRE, com suspeita de lizaram a BER. A ecodopplercardiografia transtoráci-
DAC, tanto na EF como na CM, devido à subótima ca em repouso tem sido de grande valia como técnica
acurácia diagnóstica. Esses pacientes têm sido enca- não invasiva, para medida da pressão arterial pulmo-
minhados para imagem nuclear contudo, a sua es- nar. Entretanto, durante o esforço físico, ainda não
60
Oliveira JLM, et al. Ecocardiografia sob estresse físico -
experiência clínica e ecocardiográfica de uma década

está estabelecida, devido às dificuldades metodológi- do ventricular, fornecendo informações diagnósti-


cas, como por exemplo, medir a pressão do átrio di- cas e prognósticas nos vários estágios da DAC. O
reito baseada nas mudanças inspiratórias na veia cava progressivo refinamento da tecnologia de imagem,
inferior. Embora a EF aumente a sensibilidade para com as indicações emergentes dessa modalidade de
o diagnóstico da hipertensão arterial induzida pelo estresse, aliado ao treinamento acurado do obser-
exercício, ainda existe a necessidade de medidas dire- vador, tem aumentado a exequibilidade global da
tas da hemodinâmica central para ser validada40,41. metodologia e, com isso, tem poupado não somen-
te recursos, mas também vidas, nos portadores de
7.5 EF em insuficiência cardíaca DAC e de outras doenças cardiovasculares.
Nos pacientes portadores de miocardiopatia dila-
tada ou isquêmica, a insuficiência mitral é um acha-
do comum, e a EF pode ser utilizada para avaliar o
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ca que foram submetidos à terapia de ressincroni- of Physicians Task Force on Competence and Training
(Writing Committee to Develop a Competence and Trai-
zação e demonstraram que o atraso interventricular
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difere, significativamente, do repouso para o esfor- Circulation. 2009;120: e100-e126.
ço, e que átrio ventricular não apresenta mudanças. 2. Heyndrickx GR, Baig H, Nellens P, Leusen I, Fishbein
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