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CENTRO UNIVERSITÁRIO UFBRA/ SJC

Aluna: Fabiana Carla da Costa Alves Curso: Engenharia da Computação


Docente: José Antônio Disciplina: Teorias de Administração

Texto: “Sobre o colonialismo digital Dados, algoritmos e colonialidade tecnológica do poder


no sul global”.
Tello, A. (2023). Sobre el colonialismo digital. Datos, algoritmos y colonialidad tecnológica
del poder en el sur global. InMediaciones de la Comunicación, 18(2), 89-110. DOI: https://
doi.org/10.18861/ic.2023.18.2.3523

1. O autor inicia o artigo tratando sobre colonialismo. Aponta que no início a tecnologia
foi desenvolvida para auxiliar na conquista de outros povos por meio das armas. Mesmo
que acreditemos que esta linha de pensamento está superada (colonizadoresXcolonizados),
as grandes corporações tecnológicas criaram uma nova forma de exploração econômica a
partir do colonialismo: o datamining.
Prossegue no primeiro capítulo apontando as gigantes que dominam a infraestrutura
tecnológica em nível global como Apple, Microsoft, Google, META, Amazon, etc., as quais
estão modelando as formas de trabalhos e interações humanas. Isso está levando a uma
mercantilização (transacionalização) da vida diária. Os dados são o motor do capitalismo
atual, as estratégias corporativas estão voltadas a como tomar esses dados pelo menor
preço possível e transformar eles em produtos/serviços altamente rentáveis, e
preferencialmente, de seu domínio exclusivo. Além, de usar os dados para gerar mais
dados (previsões do comportamento futuro do indivíduo.
No segundo capítulo discute sobre como algoritmos são usados para extração de
dados na desculpa de melhorar a experiência do usuário mas, mas afirmando que isto é
falacioso pois, só uma fração desses dados realmente vão para melhorias, a maior parte
são comercializados por empresas que estão nos Estados Unidos, parte da Europa e Norte
Asiático e isso consolida a concentração de riqueza e capacidade de desenvolvimento
tecnológicos dos mesmos. Pelo mesmo motivo, é que a colonialização histórica se
perpetua, nós mantemos esse sistema de forma otimizada ao que ele denomina de
acumulação por despossessão em Marx (muito nas mãos de poucos pelo espólio das
riquezas e terras públicas ou privadas).
No terceiro capítulo ele levanta a hipótese do colonialismo digital, termo usado pela
ativista guatemalteca dos direitos digitais: Renata Ávila (2018), e definido pelo sudafricano
Michael Kwed (2019). Eles postulam que essas mesmas empresas usam de um capitalismo
informal - estrutura moderna de dominação - ao explorarem seus usuários pela apropriação
de seus dados, fragilizando sua privacidade e impondo regras, modelos tecnológicos e
culturais por meio do domínio computacional dos meios digitais pros países do Sul Global, o
que impede esses mesmos lugares de criarem seus próprios ecossistemas digitais:
software, hardware y conectividade de rede. Assim, exercem o poder na desculpa de levar o
desenvolvimento tecnológico para eles. Tudo isto, com auxílio das empresas, organizações
e partidos políticos desses países.
Ao transformarem os Governos nos seus principais clientes e parceiros impõem seu
software e políticas de ciberdefesa, vigilância, infraestrutura tecnológica (design e
linguagens de programação), educação e capacitação da mão de obra, perpetuando as
estratégias imperialistas de dominação sob o eixo Norte-Sul, o que o sociólogo brasileiro,
Theotônio Dos Santos (2020), chamou de dependência tecnológica.
No quarto capítulo, citando a obra “The Costs of Connection” de Couldry e Mejias
(2019), enfatiza que o colonialismo de dados é exatamente a extensão contemporânea de
um processo de extração e exploração de recursos que se iniciou com o colonialismo
medieval e foi continuado com o capitalismo industrial mas que agora captura e controla as
vidas humanas por meio da apropriação e comercialização de toda informação que se
possa obter delas, configurando-se isto como capitalismo tecnológico ou digital uma vez
que a apropriação se faz em grande escala dos recursos (vida) que podem ser traduzidos
em valor econômico. A partir daqui ele explora esse conceito e os modos como se
consegue extrair valor econômico da vida, que isto acontece por meio das formas como o
conhecimento é produzido e traduzido em inovação tecnológica.
Introduz a partir daí as epistemologias data-cêntricas, que se manifestam como uma
violenta imposição de modos de ser, pensar e sentir, o que expulsa os seres de sua ordem
social e os faz rejeitar a existência de outras vidas e formas de produzir o conhecimento
como na colonização dos povos originários. Mas, enfatiza que no pretexto da
desumanização, pela inserção das “raças”, nós reproduzimos o pensamento da
colonialidade do poder através da colonialidade algorítmica, com isto, aprofundamos ainda
mais a desigualdade social com algoritmos discriminatórios.
Para resolver estes problemas, deve-se questionar esse colonialismo computacional
e implementar o movimento de descolonização. Partindo do questionamento do “status quo”
imposto pelo capitalismo digital e buscando maior autonomia pelos atores do Sul Global se
conseguirá a descolonização computacional, ou seja, ao questionar quem constrói o
conhecimento? como? de onde? por quê? e para quem? se chegará a uma construção
prática, justa e ética das inteligências artificiais e toda a estrutura tecnológica de forma local
e assim, abrindo as possibilidades de criar e imaginar como fazer tecnologia e usar a
tecnologia livremente, pode ser alcançada a libertação do imperialismo do Norte,
consequentemente levando ao fortalecimento e crescimento dos demais países.

2. O artigo foi desenvolvido num modelo dissertativo expositivo, onde por meio da
revisão bibliográfica, num recorte de 10 anos, Tello defende a tese da comparabilidade do
colonialismo digital moderno ao sistema colonial histórico e busca encontrar uma proposta
para se fazer o caminho inverso a essa tendência.
O embasamento mais sociológico e crítico do que técnico nos chama à reflexão da
realidade que vivemos no Sul Global, denominação geopolítica moderna para o que antes
eram os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, e desperta para uma discussão
científica futura de como implementar estratégias concretas de mudança ou autossuficiência
tecnológica.

3. Escolhi este texto por ter relevância em assuntos como administração, economia,
políticas públicas, sociedade e TIC’s. Ele nos convida a refletir sobre o modo como se
formou a américa latina ao afastar um pouco o ponto de vista eurocêntrico e discutir como
estamos hoje e onde queremos estar em 50 anos em termos de desenvolvimento
tecnológico. Em engenharia da computação se trabalha com desenvolvimento de hardware
e software, partindo da premissa que a tecnologia surge para resolver problemas. Como
solucionar os que ela própria os cria? Então, deve-se compreender o problema, propor
soluções, direcionar os recursos, implementar o planejado e verificar se o resultado
desejado está sendo alcançado, para isso, pensar fora da caixa, buscar inovar, conhecer
outras realidades poderá trazer soluções concretas a ditos problemas e este texto nos
apresenta, justamente, parte dessas novas problemáticas tecnológicas.

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