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Reforma

Agrária

Produção
Agroecológica

Direito ao
Habitat
Rural

PLANO TERRITORIAL POPULAR


Comuna da Terra IRMÃ ALBERTA | SP
IRMÃ ALBERTA GIRARDI

Freira italiana.

Chegou ao Brasil em 1970 e lutou contra a ditadura.

Durante o período em que viveu aqui, esteve ao lado de camponeses sem terra,
dedicando-se à luta por reforma agrária e por melhores condições de vida no
campo.

Participou das Ligas Camponesas e integrou a Comissão Pastoral da Terra.

As famílias sem terra que ocuparam a antiga Fazenda Itahyê homenagearam a


freira, atribuindo seu nome à Comuna. Na assembleia festiva de inauguração da
Comuna da Terra, a própria Irmã Alberta esteve presente.

E segue presente até hoje!

Este Plano Popular Territorial também é uma forma de homenageá-la.

E homenagearmos a todas e todos que têm se erguido e lutado contra a explo-


ração e expropriação dos povos rurais.

Pela defesa dos direitos dos povos do campo, das águas e florestas, bradamos:

Reforma Agrária Já!


Irmã Alberta Girardi, durante evento de inauguração da Comuna. Acervo do MST/SP | 2006.
Esta obra é de acesso aberto. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada
a fonte e autoria e respeitando a Licença Creative Commons indicada

Equipe Técnica

PLANO TERRITORIAL POPULAR Arquitetura e Urbanismo

Ariel Ferrari
Engenharia Ambiental

Marília Leite
Assistência Social

Patrícia de Mendonça
Comuna da Terra IRMÃ ALBERTA | SP Flora Atino
Francisco Barros Contabilidade Direção Política do MST
Luiz Azevedo
Rodolfo Sertori Sofia de Campos David Adão Marília Leite
Victor Preser Simone Tomaz Luciano Carvalho Simone Tomaz

Parceria de Fomento

Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP)

Ficha Técnica Moradores da Comuna da Terra IRMÃ ALBERTA


Organização
Textos Coordenadoras e Coordenador dos Núcleos de Base
Instituto Técnico de Ensino, Pesquisa e Exntensão em Rodolfo Sertori, com contribuições Iranice (Núcleo 01); Íris (Núcleo 02); Luiz (Núcleo 03) e Noêmia (Núcleo 04)
Agroecologia “Laudenor de Souza” (ILS) pontuais de Francisco Barros, Luiz
Azevedo, Marília Leite e Victor Presser Moradoras e Moradores
Allan, Alexandra, Amaro, Beatriz, Bruno, Cláudia, Claudiane, Damião, Diva, Erick,
São Paulo | 2023 Mapas Euridson, Eva Ernestina, Felipe, Fernando, Francisco, Gael, Gisele, Graça, Henrique,
Luiz Azevedo, Marília Leite, Rodolfo Iranice, Irenildo, Íris, Isabel, Ismael, Jaqueline, Josefa, Joselene, Josenildo, José Lou-
Sertori e Victor Presser renço, José Martins, Judite, Lívia Rebeca, Luan, Lucas, Lucilene, Luiz, Luiza Mano-
ela, Maria de Lourdes, Maria Eliete, Maria José, Mário, Míriam, Nazareth, Noêmia,
Imagens Núbia, Pierre, Rafael, Raoni, Roseane, Sara, Silvana, Silvia, Tomás, Valdenício, Val-
Acervo Digital do ILS dete, Valtemberg e Vitória.

Concepção Gráfica e Diagramação Para Citar


Rodolfo Sertori
Para citar trechos de capítulos específicos deste documento, seguir o exemplo:
Revisão Geral
Equipe Técnica
SOBRENOME, Nome. Título do Capítulo. In: INSTITUTO LAUDENOR DE SOUZA
Coordenadores dos Núcleos de Base
(Org.). Plano Territorial Popular da Comuna da Terra Irmã Alberta | SP. São Paulo,
2023.
SUMÁRIO
35 Mapa Núcleo 02: Luís Ferreira

Apresentação 07 Mapa Núcleo 03: Paulo Freire


37
39 Mapa Núcleo 04: Olga Benário

1 Sobre o Método 09

O conceito de habitat camponês 09 41 Cenário atual do habitat 3


O início 09
41 Condições habitacionais
Ampliando o debate 10
41 Sobre os programas habitacionais
Formulando o conceito 11
41 O PNHR vinculado ao MCMV
Perspectivas de continuidade 13
42 Condições habitacionais na Comuna
Reuniões e assembleias 15
43 Síntese das condições habitacionais
Diagnósticos 16
Condições de acesso a infraestruturas,
46
Linha do Tempo do Projeto 17 equipamentos e serviços

46 Sobre as políticas de infraestruturas

47 Sobre as condições na Comuna

Síntese das condições de infraestrutu-


48 ras, equipamentos e serviços
2 Sobre a Comuna 18
Síntese das condições ambientais, de
49 saneamento e de produção
Outra proposta de assentamen-
tos rurais: as Comunas da Terra
18

Um projeto de Comuna da Terra


na Grande São Paulo
19

Um breve histórico das políticas


de reforma agrária no Brasil 20 51 Por um Plano Territorial 4
A Comuna da Terra Irmã Alberta 21
51 Bandeiras, demandas e reivindicações
Mapa da Macrorregião 23
Linha do Tempo da Comuna 25
A classificação dos lotes 28
A caracterização dos núcleos 29
Mapa da Microrregião 31
53 Referências 5
Mapa Núcleo 01: Antônio Conselheiro 33 53 Referências citadas e/ou consultadas
Amaro, morador do Núcleo 04, apresenta sua produção agroecológica de abóboras. Acervo do ILS | 2022.
07 Apresentação Apresentação 08
los privados, o que corrobora o retorno de • O pensamento científico sobre o pro- Para tanto, o documento foi organizado
áreas reformadas ao mercado de terras. blema da habitação nas áreas rurais, em quatro capítulos. No primeiro, sobre
sobretudo no campo da arquitetura, o método, apresentamos brevemente al-
Diante deste dilema, as famílias que habi- do urbanismo e da construção, já que guns elementos que têm sido considera-
tam a Comuna ainda estão submetidas a este tema ainda é secundário nesta dos na formulação teórica do conceito de
uma condição de subcidadania6, baseada: área, carecendo de pesquisas, for- habitat camponês e, em seguida, descre-
a) na indefinição do projeto da Comuna, mação, debates, análises e trabalhos vemos as dinâmicas de trabalho propos-
Apresentação de tal forma que esse projeto pudesse
contemplar, como veremos adiante, os •
práticos;
As ações do Estado no âmbito dos
tas em conjunto com os coordenadores
de núcleos e da própria Comuna, as quais
Por Rodolfo José Viana Sertori Acesso à Área Social, no Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. aspectos relacionados ao planejamento planos, das políticas e dos programas orientaram a condução dos diagnósticos.
territorial do habitat rural; b) na sua inse- de reforma agrária, habitação e infra-
gurança com relação à permanência no estrutura nos assentamentos rurais; No segundo capítulo, sobre a Comuna,
lote e ao pleno direito de seu usufruto; c) • O exercício profissional e político de recuperamos o histórico dos processos
Este Plano Territorial Popular é um dos tropolitanas do estado. Direcionadas para preço da área da Comuna – um dos impas- na inexistência de sistemas adequados de arquitetos e urbanistas, especial- sociais e jurídicos que lhe deram origem,
resultados do Projeto Consolidação Habi- a parcela mais pobre dos trabalhadores ses para sua desapropriação para a refor- infraestruturas básicas, como água, ener- mente aqueles envolvidos com proje- desde o projeto inicial, até o projeto atual,
tacional da Comuna da Terra Irmã Alberta, urbanos – incluindo emigrantes de outros ma agrária – está atrelado: gia e saneamento; d) na precariedade do tos e trabalhos de ATHIS. Se o proble- com destaque para: sua inserção nas es-
realizado no período de dezembro de 2021 estados, famílias sem teto (e sem terra) e traçado viário, que dificulta a mobilidade ma da habitação no Brasil ainda está calas macro e microrregional; a classifi-
a julho de 2022, por meio de uma parce- desempregados –, as Comunas da Terra se • Às oscilações nas taxas de juros do dos habitantes e o escoamento da produ- bastante associado às áreas urbanas, cação dos lotes; e a caracterização dos 04
ria de fomento com o CAU/SP, no âmbito configuravam como uma opção para que mercado de capitais, uma vez que, ção; e) na oferta precária e insuficiente de a realidade vivida pelos habitantes Núcleos de Base.
do edital 003/2021, de Apoio à Assistência trabalhadoras e trabalhadores pudessem num país de capitalismo rentista e serviços públicos e equipamentos sociais, da Comuna Irmã Alberta não apenas
Técnica em Habitação de Interesse Social ter uma vida digna no campo. E, também, patrimonial, a terra se transformou seja na escala local, seja na escala regio- esgarça a contradição dos binômios No terceiro capítulo, apresentamos o ce-
(ATHIS). como uma possibilidade de criação de em um ativo financeiro, comportan- nal; f) e na impossibilidade de acesso às urbano-rural e campo-cidade, como, nário atual do habitat, a partir da siste-
redes de produtores locais e regionais, do-se ora como reserva de valor, ora políticas e aos programas sociais, sobre- também, alarga as lacunas e os desa- matização das informações obtidas com
Coordenado pelo Instituto Técnico de Ensi- destinadas à produção, ao escoamento e como reserva de patrimônio3; tudo aqueles vigentes nos últimos anos, fios teóricos, técnicos e políticos para os diagnósticos (complementadas com
no, Pesquisa e Extensão em Agroecologia à oferta de alimentos saudáveis, atenden- • À inclusão da área da Comuna, antes destinados a subsidiar a produção de mo- a arquitetura, o planejamento territo- pranchas gráficas em forma de sínteses),
“Laudenor de Souza” (ILS), por militantes do moradores de bairros e municípios de caracterizada enquanto “zona rural”, radias e a agricultura camponesa. rial e regional e a construção. referentes às condições habitacionais, de
do MST/SP e por uma equipe interdiscipli- grandes adensamentos urbanos. ao perímetro urbano de São Paulo, infraestruturas, serviços e equipamentos
nar, composta por profissionais e pesqui- por meio do Plano Diretor Municipal A partir deste cenário, o Projeto apoiado *** e, também, relacionadas às questões am-
sadores das áreas de arquitetura e urba- No entanto, passados 20 anos desde a de 20044; pelo CAU/SP foi estruturado em três eixos bientais, de saneamento e de produção.
nismo, engenharia ambiental, assistência ocupação, a Comuna da Terra Irmã Alberta • À expansão imobiliária e industrial principais: i) uso e ocupação do território; Este Plano Territorial Popular, portanto,
social e geografia, o Projeto foi conduzido ainda permanece como um território irre- que tem ocorrido na região, cujo pe- ii) condições e demandas habitacionais; possui uma dupla função. A primeira de- Por fim, no quarto capítulo, ressaltamos
em parceria com as famílias da Comuna gular. Tal irregularidade está relacionada rímetro do município de São Paulo, iii) e recuperação ambiental. Articulados las é apresentar e debater o conjunto atu- as principais lutas em defesa da reforma
da Terra Irmã Alberta que, em 2022, come- à paralisação do processo jurídico que, que faz divisa com os municípios de entre si, esses eixos foram trabalhados alizado dos aspectos característicos do agrária, da produção de alimentos sau-
morou 20 anos de resistência e luta pelo desde 2008, tem tramitado no INCRA, com Santana de Parnaíba e Cajamar, tam- com base em um entendimento mais am- habitat rural, obtido por meio de diagnós- dáveis e do habitat rural – debatidas du-
direito ao habitat rural. o objetivo de reconhecer a conquista da bém é parcialmente contornado pelo plo sobre o problema habitacional exis- ticos realizados nas escalas dos lotes e rante o desenvolvimento do Projeto. Para
área e consolidá-la como um Projeto de Parque Anhanguera; tente na Comuna, referido a um conceito da própria Comuna. A segunda é que este tanto, organizamos, em conjunto com as
Localizada na extrema região noroeste Reforma Agrária, garantindo aos seus ha- • Ao adensamento dos bairros de fron- (ainda em formulação) de habitat cam- documento possa se configurar enquanto famílias, um conjunto de bandeiaras, de-
do município de São Paulo, mais precisa- bitantes o direito ao habitat e à cidadania. teira com o perímetro da Comuna, ponês7. Mobilizando três relações sociais, um instrumento de formação técnico-po- mandas e reivindicações, no sentido de
mente no bairro denominado como Chá- caracterizados por constantes ocu- inseridas na dimensão territorial (repro- lítica e, também, de disputa fundiária, vi- reforçarmos e ampliarmos a luta dos ha-
cara Maria Trindade, no Distrito de Perus, a Porém, não é de hoje que, no Brasil, os pações e condições precárias de ha- dução social, produção camponesa e vida sando a conquista do habitat e o reconhe- bitantes da Comuna da Terra Irmã Alberta
Comuna da Terra Irmã Alberta é uma das impasses sobre a moderna propriedade bitação e saneamento; coletiva), esse conceito também coloca cimento da área enquanto uma Comuna por um Plano Territorial Popular, por re-
quatro comunas territorializadas na Gran- privada da terra têm bloqueado quaisquer • E à intensificação das ocupações em destaque os desafios para: da Reforma Agrária. forma agrária e pelo direito à cidadania no
de São Paulo, como: a Comuna da Terra tentativas de se realizar uma reforma promovidas por trabalhadores sem campo-cidade.
Dom Pedro, em Cajamar; a Comuna da agrária1 que, de fato, atinja os nervos da terra e sem teto – algumas delas,
Terra Dom Tomás Balduíno, em Franco da nossa estrutura fundiária, baseada na gri- inclusive, incidindo sobre o períme-
Rocha; e a Comuna da Terra Dom Helder lagem, no latifúndio, na violência, no patri- tro da Comuna –, sobretudo durante
Câmara, em Jarinu. mônio rentista e no não cumprimento da os dois primeiros anos da pandemia 1
Ver: Martins, 1999.
função social da terra. de Covid-19, em que (para além do
Decorrente de uma ocupação ocorrida em expressivo e revoltante número de
2
Estas informações serão detalhadas no ca-
julho de 2002, na antiga Fazenda Itahyê – No caso da Comuna Irmã Alberta, o im- óbitos), também houve um aumento pítulo 2.
desapropriada pelo governo de Mário Co- passe fundiário com a SABESP, que tem alarmante do desemprego e da fome. 3
Ver: Oliveira (2007, p. 64).
vas e concedida à SABESP em 1998, por se arrastado por anos, fez com que o pre-
meio do Decreto Nº 43.124 –, a Comuna foi ço da área passasse de R$ 11.444.520,93, Como consequência deste conflito fundi- 4
Referência à Lei 13.885, aprovada em 25 de
uma resposta de trabalhadores sem teto em 2008, para R$ 38.600.000,00, em 20142. ário, e tendo em vista a prioridade dos inte- agosto de 2004.
organizados, frente aos interesses do go- Tomando como referência a teoria marxis- resses imobiliários, em detrimento de um
verno estadual e da SABESP, que preten- ta, em que a terra é entendida enquanto projeto de reforma agrária que pudesse 5
Ver os três últimos Relatórios sobre os Con-
diam transformar o imóvel em um aterro um tipo especial de mercadoria, no Brasil, destinar terra de trabalho para quem dela flitos no Campo no Brasil, publicados pela CPT.
exclusivo para o depósito de lodo das Es- especificamente após a Lei de Terras, de precisa, a explosão do preço da área tem
tações de Tratamento de Efluentes da re- 1850, a terra irá funcionar enquanto renda inviabilizado a implantação de projetos de 6
Referência a Pedro Arantes, durante sua par-
gião metropolitana de São Paulo. fundiária capitalizada. Ou seja, enquanto reforma agrária na região. Especialmente ticipação no II Colóquio Habitat e Cidadania:
uma relação contraditória, forjada no mo- em um período de desmonte do INCRA e habitação social no campo, realizado em 2011,
O início dos anos 2000 também marcava vimento histórico do próprio capitalismo, dos programas de fomento à agricultu- na USP São Carlos.
o período em que a coordenação estadual e que irá funcionar como relação media- ra camponesa; de recrudescimento dos 7
Iremos nos apoiar nas formulações que têm
do MST estava formulando os projetos das dora da reprodução ampliada do capital. conflitos por terra, território e água5; e de sido propostas por alguns pesquisadores do
Comunas da Terra, como uma proposta transformação da política nacional de re- Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustenta-
de reforma agrária para as regiões me- Dessa forma, o acréscimo significativo no forma agrária em uma concessão de títu- Produção agroecológica da Joselene, moradora do Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. bilidade (HABIS), do IAU/USP, em São Carlos.
09 Sobre o método Sobre o método 10
também do ITESP, no caso do estado de No interior da disputa pela terra, os cam- boração do Programa Habitat do Campo.
São Paulo) eram uma etapa indispensá- poneses que ocuparam a antiga Fazenda Além de ressaltar que a habitação deveria
vel à adequação dos projetos dos assen- Giacometi, além de exporem a centrali- ser tratada como um dos eixos estrutu-
tamentos rurais às diferentes realidades dade particular de seu problema, isto é, a rantes e constitutivos do habitat rural, o
dos camponeses sem terra do país. expropriação de seu instrumento de vida documento também destacava: a impor-
e trabalho, também disputavam, naquele tância do planejamento territorial dos as-
Ou seja, se a universidade pública não período, uma refundação dos conceitos de sentamentos; a inclusão das áreas rurais
1. Sobre o método estava formando profissionais qualifica-
dos para planejar, projetar e assessorar
cidade, urbanidade e cidadania. A não ci-
dade, portanto, surgia como uma expres-
nas estratégias municipais de planeja-
mento; a qualificação dos técnicos do IN-
Por Rodolfo José Viana Sertori Primeira reunião com coordenadores de Núcleos. Acervo do ILS | 2022. o desenho, a implantação e estruturação são política que não se opunha necessa- CRA e a abertura de vagas para arquitetos
dos assentamentos rurais, contribuindo, riamente ao urbano, mas à racionalidade e urbanistas na autarquia; e a participação
inclusive, com a proposição de soluções neoliberal que estrutura, de forma hege- popular em todas as instâncias de debate
relacionadas à habitação, ao saneamen- mônica, os processos de urbanização das e decisão sobre o planejamento e a cria-
1.1. O conceito de habitat camponês to, às infraestruturas e aos equipamen- cidades brasileiras. ção dos assentamentos rurais.
tos necessários à reprodução social dos
No Brasil, o debate sobre o planejamento preensão dissonante sobre as classes • A parceria com escritórios de topo- camponeses assentados, o próprio movi- Na medida em que esses sujeitos deve- Apesar de o Programa Habitat do Campo
e o projeto territorial dos habitats da re- sociais que estão no centro dos confli- grafia que concorriam nas licitações mento se ocupava de suprir esta lacuna, riam ter as garantias necessárias para não ter ido adiante, as duas edições se-
forma agrária tem sido promovido há pelo tos fundiários e, principalmente, sobre os do INCRA e que, quando tinham suas disputando a formação de sua base e tra- sua permanência em seu habitat – sem guintes do evento11, ocorridas em 2011 (São
menos duas décadas, contando com for- efeitos decorrentes destas disputas – os propostas aprovadas, realizavam es- balhando em conjunto com os servidores a premissa de uma urbanização dos as- Carlos/SP) e 2015 (Brasília/DF), foram
mulações, reflexões e contribuições de quais, nos últimos anos, têm demonstrado tes levantamentos, respeitando os públicos. sentamentos, que reproduzisse a mesma fundamentais para a ampliação das dis-
movimentos sociais, grupos de pesquisa a gravidade da questão agrária brasileira. posicionamentos políticos acordados lógica do mercado e do consumo –, o di- cussões sobre a habitação e o habitat nas
e assessorias técnicas empenhadas em nas ocupações; Durante a espacialização das lutas no reito à cidadania é também um direito dos áreas rurais brasileiras.
diferentes trabalhos e ações de ATHIS. Portanto, para iniciarmos o debate sobre • A parceria que o movimento estabe- campo (ou seja, as ocupações e os acam- sem-cidade. A despeito de qualquer asso-
o habitat camponês – tendo em vista sua lecia com os técnicos do INCRA, de pamentos), os camponeses sem terra se ciação etimológica que se possa fazer en- Essas duas edições do Colóquio, além de
Por ser um assunto de pouco interesse relevância para este Plano Territorial Po- modo que a etapa inicial de desenho deparam com as ameaças constantes das tre cidade e cidadania, Lopes et al. (2017) e terem tido uma abrangência nacional (e
no campo específico da arquitetura e do pular –, partimos de um primeiro questio- dos assentamentos e parcelamento reintegrações de posse que, na medida Sertori (2020) afirmam que não é a cidade internacional, como foi o caso do III Coló-
urbanismo – e, da mesma forma, tratado namento: quais seriam os desafios para o dos lotes expressasse os eixos políti- em que ocorrem, deflagram: a confluência que resguarda a universalidade da cidada- quio Habitat e Cidadania), tiveram a coor-
de modo secundário no âmbito do Estado, planejamento e o projeto dos territórios da cos estabelecidos nos acampamen- entre Estado e as classes de capitalistas nia, tampouco o seu negativo. A cidadania denação do Grupo HABIS (IAU/USP) que,
por meio de políticas e programas sociais reforma agrária no Brasil, considerando: i) tos; e grandes proprietários; o poder e a vio- da qual estamos tratando ainda está em desde 2003, vinha acumulando experiên-
–, o direito ao habitat para os camponeses sua relação com o problema da habita- • A formação política dos acampados, lência dos aparelhos estatais; e a própria disputa. É um direito a ser conquistado no cias com a coordenação de projetos de
e trabalhadores que vivem nos assenta- ção social; ii) as lacunas teóricas sobre sobretudo no que dizia respeito à ti- orientação do poder judiciário que, como interior da luta de classes que, como bem pesquisa e assessoria técnica, direciona-
mentos rurais também está relacionado este assunto; iii) e seus vínculos com a tularidade, prevendo-se a garantia do demonstra Maués (2022), tem operado, sabem os movimentos sociais por direito dos à produção habitacional em assenta-
ao problema da habitação social no Brasil, questão agrária brasileira e os impasses título de concessão de uso da terra, historicamente, a favor da propriedade à terra, ao território, à água, energia, mo- mentos de reforma agrária do estado de
no seu sentido mais amplo. Um assunto colocados para a própria reforma agrária, em contraposição ao título de pro- privada rentista e patrimonial. radia e cidade, tem sido negado aos expro- São Paulo12. No entanto, foi na edição de
que, segundo Sertori & Lopes (2019), tem especialmente no período atual? priedade privada dos lotes; priados e explorados, sejam eles das áreas 2015 que o debate sobre o habitat nas áre-
sido delimitado aos territórios efetiva- • O debate sobre modelos alternativos Ao mesmo tempo, é na espacialização das rurais ou das áreas urbanas sem cidade. as rurais do país adquiriu um escopo mais
mente urbanizados; às periferias urbanas 1.1.1. O início às Agrovilas, que vinham perdendo lutas pela terra que muitos acampados amplo.
desprovidas de cidade; e à classe de tra- adesão por fragmentarem o local de irão experienciar sua formação política e 1.1.2. Ampliando o debate
balhadores domiciliada no que se conven- Contribuições do MST moradia e a área destinada à produ- o debate sobre os projetos dos assenta- 8
Caderno de Cooperação Agrícola Nº 10 – O
cionou denominar por cidade. ção; e, também, pela proximidade en- mentos. Neste processo, também são dis- Contribuições da universidade pública que levar em conta para a organização do as-
Primeiramente, podemos concordar que tre as moradias, interferindo na priva- cutidas as questões referentes à reforma sentamento: a discussão no acampamento.
Ainda de acordo com os autores, esta existe uma diferença radical entre o pro- cidade do núcleo familiar; agrária e à cidadania no campo, conside- Na esfera acadêmica, o Grupo de Estudos
associação imediata entre a questão da jeto de uma área rural, destinada à produ- • O cuidado no sorteio dos lotes, bus- rando o direito à saúde, educação e habi- em Reforma Agrária e Habitat (GERAH)10, 9
USINA – Centro de Trabalhos para o Ambiente
habitação social e as áreas urbanas es- ção de commodities agrícolas – ou à cria- cando-se promover uma heteroge- tação; o direito a infraestruturas, serviços em parceria com a coordenação do MST Habitado. Trata-se de uma assessoria técnica,
taria relacionada, em parte, a uma leitura ção de um Aterro Sanitário, como previsto neidade entre os assentados e um re- e equipamentos adequados e acessíveis; do Rio Grande do Norte, organizou, em fundada em 1990 e sediada em São Paulo, com
polarizada entre campo e cidade (ou urba- para a antiga Fazenda Itahyê, por exemplo conhecimento de suas diversidades o combate ao machismo, racismo, capa- 2006, o I Colóquio Habitat e Cidadania: ha- um significativo histórico de atuação junto aos
no e rural), que insiste em prevalecer não –, e o planejamento territorial de um as- culturais, sociais e econômicas; citismo e à LGBTQIA+(fobia); e a luta por bitação de interesse social no campo. Re- movimentos sociais de luta pela terra e por
somente em algumas áreas do conheci- sentamento rural, para que famílias cam- • A implantação, se os assentados as- soberania alimentar, com condições dig- alizado no município de Ceará Mirim, este moradia. Para saber mais: www.usina-ctah.
mento, mas também nas formulações de ponesas vivam com dignidade e cidadania. sim desejassem, de núcleos de mora- nas para a produção e comercialização de evento foi um marco para o início deste org.br.
movimentos sociais, partidos de esquer- dia (agrupamentos de casas no fundo alimentos saudáveis. debate na área acadêmica da arquitetura
da, assim como nas ações governamen- Em um documento da Confederação das dos lotes) ou núcleos habitacionais e do urbanismo. 10
Coordenado pela Profa. Amadja Henrique
tais, em todas as esferas. Amparada por Cooperativas de Reforma Agrária do Bra- (concentração das unidades habita- Contribuições de assessorias técnicas Borges, o GERAH é um dos grupos de pesqui-
uma concepção que esconde a contradi- sil (CONCRAB), publicado em 20018, os cionais em uma área externa aos lo- Reunindo estudantes de graduação e sa vinculados ao Programa de Pós-Graduação
ção e dissocia o rural e o urbano, quando militantes do MST, com base na avaliação tes de cada família, os quais seriam No período de 1998 a 2000, a USINA-CTAH9, pós-graduação, movimentos organiza- em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade
o próprio capital já os unificou (MARTINS, das experiências vivenciadas e difundi- destinados, especificamente, à pro- em parceria com o MST, desenvolveu um dos, servidores públicos e assessorias Federal do Rio Grande do Norte.
1986), essa leitura fragmentada dos terri- das desde a criação dos primeiros as- dução camponesa) e; trabalho no assentamento rural Ireno Al- técnicas, o evento propôs um diálogo
tórios em disputa ainda delimitam o locus sentamentos de reforma agrária do país, • A oferta de infraestruturas e equi- ves, que foi resultado de uma das maiores aberto sobre as experiências de pesquisa 11
O II Colóquio foi organizado pelo Grupo HABIS
do ofício de arquitetos e urbanistas, prin- já apresentavam uma série de tipologias, pamentos que contemplassem suas ocupações de terra, nos anos 90, na região e assessoria técnica que estavam sendo (IAU/USP), em parceria com a USINA-CTAH e
cipalmente no que se refere ao direito à critérios e ações a ser considerada nos atividades culturais, produtivas, es- centro-oeste do Paraná. Esta experiência coordenadas pelo GERAH naquela época, o GERAH. Para o III Colóquio, o Grupo HABIS
habitação e à cidade. projetos de assentamentos rurais. portivas, políticas e de lazer. de assessoria técnica provocou nos su- assim como sobre o planejamento e o pro- contou com a colaboração do GERAH, da USI-
jeitos imbricados na luta pela terra, bem jeto de assentamentos rurais, consideran- NA-CTAH e do Grupo CASAS (Centro de Ação
Como consequência, nos deparamos com Estas diretrizes já apontavam para as re- Se estas ações do MST pudessem sugerir como nos arquitetos da USINA, a propo- do as demandas dos assentados por terra, Social em Arquitetura Sustentável), da FAU/
uma confusão nas interpretações sobre lações que o debate sobre o habitat da qualquer tipo de aparelhamento das ins- sição de uma Cidade da Reforma Agrária. moradia, infraestruturas, equipamentos e UnB. Sobre os três Colóquios, ver: Sertori, 2019.
os conceitos de espaço, território, região, reforma agrária estabelece com as lutas tituições do Estado, nosso entendimento Sua concepção, segundo Lopes (2002), serviços.
habitat e cidade. Interpretações essas que por terra, moradia e melhores condições é que, àquela época, a formação e parti- partiria do avesso da cidade – ou, do que 12
Ver: Portfólios Acadêmicos 1 e 2, publicados
também estarão vinculadas a uma com- de vida no campo. São exemplos: cipação política dos técnicos do INCRA (e o arquiteto designou como a não cidade. Um dos resultados do I Colóquio foi a ela- pelo Grupo HABIS em 2021.
11 Sobre o método Sobre o método 12
Atendendo a uma sugestão apresentada Paulo, a serem atendidos pelo programa. proprietários (sejam eles grileiros ou não); Os pesquisadores do Grupo HABIS tam- tadas em dois aspectos principais: i) a trabalho camponês, como: a segu-
na edição de 2011, o III Colóquio contem- b) pelas agências governamentais, que re- bém buscaram demonstrar que são os estruturação dos assentamentos já exis- rança da posse da terra e seu pleno
plou não apenas a participação de campo- Historicamente marcado pela grilagem gulam os preços para a comercialização processos de territorialização dos assen- tentes, via ampliação dos créditos para a direito de usufruto; o fornecimento
neses, mas, também, dos povos das águas e por conflitos fundiários violentos, essa da produção camponesa; c) pelos atraves- tamentos de reforma agrária que irão des- produção da agricultura camponesa e dos de água para irrigação e energia para
e florestas, como indígenas, quilombolas, região – que concentra o maior número sadores, que disputam com os assentados velar as relações constitutivas do habitat programas setoriais relacionados à mo- o uso de maquinários, consideran-
atingidos por barragens, seringueiros e de assentamentos rurais e de famílias as- os melhores preços dos alimentos; d) pe- camponês e de seus próprios sujeitos. Do radia e às infraestruturas básicas; ii) e a do também os recursos (públicos ou
pescadores. Além disso, os pesquisadores sentadas do estado – também está na rota los assentados, que praticam entre si as mesmo modo, a compreensão dos as- “emancipação” dos assentados, por meio das próprias famílias) para a instala-
do Grupo HABIS envolvidos na organiza- de expansão do setor sucroenergético16. rendas em dinheiro, trabalho e produto; e) sentamentos rurais enquanto territórios da titularidade dos lotes18. ção destas infraestruturas básicas; a
ção do evento – os quais haviam iniciado Assim, as extensas plantações de cana e pelas empresas vinculadas ao mercado em constantes conflitos fundiários não existência de equipamentos específi-
uma pesquisa em três assentamentos ru- que contornam os assentamentos ali ter- global que, por meio de arrendamentos ignora seus vínculos (bem como os dos Os governos que implantaram o maior cos para o armazenamento individual
rais do oeste paulista13, em janeiro de 2015 ritorializados (bem como os assentamen- dos lotes ou doações de mudas aos as- assentados) com as áreas urbanas dos conjunto de políticas e programas sociais, e/ou associado da produção; o aces-
– propuseram, na programação do Coló- tos rurais das regiões de Campinas, Bauru, sentados, extraem a referida parcela da municípios. Na medida em que os assen- destinado à cidadania dos povos rurais, so aos programas sociais destinados
quio, o debate sobre as relações entre o Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, por mais-valia geral socialmente produzida. tados vivem a cidade e dela fazem parte também foram condescendentes com à aquisição de mudas, sementes e
problema da habitação nas áreas rurais e exemplo), além de prejudicarem a agricul- enquanto cidadãos, camponeses e traba- a grilagem de terras, reduzindo as desa- alimentos para sua comercializa-
a questão agrária brasileira. tura camponesa dos assentados, também Na medida em que estas formas de extra- lhadores, a pesquisa colocou em xeque as propriações para fins de reforma agrária e ção e distribuição; as condições de
funcionam, segundo Sertori & Lopes (2019, ção da renda fundiária representam uma lacunas e os impasses entre a conquista fechando os olhos para o aumento da vio- escoamento da produção (tendo em
O período do III Colóquio (e da pesquisa p. 8-9), como “um alerta constante deste das expressões das disputas pelo territó- de cada assentamento e sua constituição lência e da barbárie nas áreas rurais. vista a qualidade das estradas e suas
coordenada pelo Grupo HABIS) marcava o setor do capital, lembrando permanen- rio capitalista, a pesquisa, além de ter se enquanto um habitat possível. conexões com as malhas viárias); a
início da produção do Programa Nacional temente aos assentados que eles estão amparado na produção científica de al- Se é na dificuldade em se disputar uma existência de áreas comerciais es-
de Habitação Rural (PNHR) nos assenta- onde não deveriam estar”. guns autores da geografia e da sociologia, Neste sentido, também levou-se em con- ampliação do Estado (pelo viés das po- pecíficas à produção camponesa e à
mentos rurais brasileiros. Durante o even- também esteve fundamentada em dois sideração as injunções entre os progra- líticas públicas) que reside o recrudes- construção civil, bem como sua pro-
to, porém, uma das questões que chamou Diante deste cenário, a produção habita- posicionamentos teórico-políticos: mas de reforma agrária e os programas cimento da institucionalidade das lutas ximidade com os assentamentos; a
a atenção foi a divergência entre os repre- cional que acontecia naqueles assenta- sociais destinados a garantir o acesso sociais, fato é que este cenário de para- distância entre os assentamentos e
sentantes dos povos do campo, das águas mentos rurais passou a ser analisada a • O primeiro refere-se à atualização dos assentados à habitação, às infraes- lisia da esquerda brasileira – o qual temos os latifúndios do setor sucroenergé-
e florestas sobre seus respectivos enten- partir de seu vínculo indissociável com a da teoria marxista, elaborada por truturas e à produção. Embora estes as- presenciado e vivenciado há alguns anos – tico; a oferta e eficiência dos serviços
dimentos sobre o problema da habitação questão agrária. Estruturada em quatro José de Souza Martins, que reconhe- pectos já constassem na segunda versão tem nos distanciado de uma crítica eman- de emergência (como corpo de bom-
nas áreas rurais. eixos temáticos (cada um com escalas ce as classes sociais como sendo do Programa Nacional de Reforma Agrá- cipada, capaz de produzir um horizonte beiros e resgate) e; a disponibilidade
e categorias de análise específicas)17, a representadas por capitalistas, pro- ria (PNRA) – lançado em 2003, durante o político de distinção estratégica entre o de unidades de formação profissional
De acordo com Sertori (2019, p. 48), en- pesquisa também considerou o imbrica- prietários de terras, trabalhadores e primeiro governo Lula –, enquanto direitos que é legítimo em termos legais, daquilo na região, assim como o acesso a as-
quanto alguns coordenadores dos movi- mento entre três categorias centrais para camponeses. Assim, diferentemente sociais básicos a serem assegurados aos que poderia ser entendido como desobe- sessorias técnicas.
mentos sociais rurais estavam preocu- o debate sobre o habitat camponês: terra, de como sugerem alguns autores, o assentados, a fragmentação entre os pro- diente e ilegal, porém, tão legítimo quanto.
pados em debater e disputar os rumos do capital e trabalho. campesinato não seria uma catego- gramas criados (ou reformulados) durante • Por fim, vale destacar que os aspec-
PNHR – que, desde 2009, funcionava como ria da classe trabalhadora ou uma os governos petistas, além de incidir dire- Dessa forma, as análises elaboradas pe- tos referentes à vida coletiva não
a modalidade rural do Minha Casa, Minha Entendida não apenas como um fenôme- classe em vias de extinção; mas, uma tamente na cidadania dos camponeses da los pesquisadores do Grupo HABIS resul- sugerem qualquer apelo (ou apego)
Vida (MCMV) –, o posicionamento dos po- no regional ou conjuntural, mas enquanto classe específica, criada e recriada reforma agrária, já indicava o modus ope- taram em uma compreensão do habitat à coletivização dos assentados, mas
vos das águas e florestas esteve funda- um impasse estrutural e histórico – que, no interior do capitalismo. Oliveira randi do que foi a política lulista para as camponês organizada em três relações
mentado nos conflitos fundiários que têm segundo Martins (1999, p. 106), tem inviabi- (2007, p. 11) salienta que, no Brasil, é áreas e os povos rurais. sociais, inerentes à dimensão territorial: a 13
“Produção do PNHR nos assentamentos ru-
colocado em risco seus territórios, extra- lizado o avanço do capitalismo, sobretudo no movimento contraditório do pró- reprodução social; a produção campone- rais do estado de SP: inserção territorial e ava-
polando a via institucional das políticas no Brasil –, a questão agrária é forjada no prio capital que são forjadas as condi- Amparada na aliança entre Estado, seto- sa e; a vida coletiva. liação arquitetônica, construtiva e tecnológi-
públicas. Justamente pelos limites que interior do movimento do próprio capital. ções necessárias para o surgimento res empresariais e proprietários de terra, ca”. Pesquisa desenvolvida entre 2015 e 2018,
essas políticas carregam no seu bojo; ou, Ou seja, com a aprovação da Lei de Terras, e a manutenção, tanto do latifúndio, bem como na conciliação de interesses De acordo com Akemi Ino et al. (2023), financiada pelo CNPq (461728/2014-1) e coor-
como disse Ailton Krenak, “por reprodu- em 1850 – mesmo período em que o trá- quanto do campesinato. A agricultura de classes sociais opostas, cuja media- denada pelos professores Akemi Ino e João
zirem nas áreas rurais o mesmo modelo fico negreiro abria espaço para a “imigra- camponesa, baseada na força de tra- ção seria realizada no âmbito da própria • No que diz respeito à reprodução Marcos de A. Lopes, do IAU/USP. Ver: Akemi Ino
equivocado e inviável das chamadas habi- ção espontânea” daqueles que formariam balho familiar, nasce na produção das institucionalidade estatal, os programas social, a pesquisa apurou as condi- et al. (2018; 2023); Sertori (2019).
tações que são produzidas nas cidades”14. o sistema de colonato –, as oligarquias mercadorias; diferencia-se, portanto, sociais criados e mantidos no período de ções materiais e necessárias à vida
nacionais pretendiam reafirmar o caráter da agricultura capitalista, fundamen- 2003 a 2016 já nasceram cindidos entre doméstica dos camponeses, como: 14
Comunicação oral de Ailton Krenak, durante
1.1.3. Formulando o conceito de classe do acesso à terra, por conver- tada na exploração do trabalho, na si. Além disso, por expressarem uma ra- a disponibilidade de água potável, o III Colóquio Habitat e Cidadania, ocorrido em
tê-la em um equivalente de mercadoria. circulação do capital e nas diferentes cionalidade neoliberal, a disponibilidade energia (elétrica ou renováveis), sa- maio de 2015, em Brasília/DF. Ver: Sertori, 2019.
A contribuição do Grupo HABIS – IAU/USP Neste sentido, quando transformada em formas de extração da mais-valia. orçamentária para o seu funcionamento, neamento básico e coleta de lixo; as
um equivalente de mercadoria, a terra não associada a uma dinâmica operacional condições de moradia, habitabilidade 15
Ver: Sertori (2019); Rodríguez (2020); Akemi
Diferentemente das pesquisas anteriores gera lucro, mas renda. O seu preço, apesar • O segundo diz respeito ao reconheci- lenta e burocrática, esteve atrelada às os- e salubridade; o direito à soberania Ino et al. (2023).
já coordenadas pelo Grupo HABIS, base- de estar atrelado às variações das taxas mento de que, no modo de produção cilações do capitalismo financeiro mun- alimentar e o acesso a eletrodomés-
adas nas ferramentas metodológicas da de juros no mercado de capitais, não é da agricultura capitalista, a territo- dial, agravando-se após o estouro da crise ticos necessários à conservação de 16
Ver: Akemi Ino et al. (2018; 2023); Sertori
pesquisa-ação e direcionadas ao projeto e capital, mas, sim, renda fundiária capita- rialização do campesinato (incluindo internacional, em 2008. alimentos; o acesso às áreas comer- (2019).
à produção habitacional em assentamen- lizada. os assentados da reforma agrária) ciais; a oferta de equipamentos e ser-
tos rurais paulistas, a pesquisa que moti- irá ocorrer de forma contraditória e Durante um determinado período dos go- viços de saúde, bem como de atenção 17
Os quatro eixos da pesquisa foram: I - Ques-
vou a formulação do conceito de habitat Compreendida como uma relação media- combinada com a territorialização vernos de Lula e Dilma, o país experimen- e cuidado às famílias (sobretudo às tão agrária no oeste paulista; II - Infraestrutu-
camponês tinha como objetivo inicial dora da reprodução ampliada do capital, de setores capitalistas (como aque- tou a retomada do crescimento econômi- crianças, mulheres, aos idosos e por- ras, serviços e equipamentos; III - Programas,
analisar a produção do PNHR nos assen- a capitalização da renda fundiária – que les representados pelo agronegócio, co, a expansão do crédito e a redução das tadores de necessidades especiais e projetos e produção habitacional e; IV - Produ-
tamentos rurais do estado de São Paulo15. também esteve embutida como uma por exemplo). Dessa forma, os as- desigualdades sociais. No caso dos as- doenças crônicas); a disponibilidade ção da agricultura camponesa. Ver: Ino et al.
fenda irracional nas últimas versões dos sentamentos da reforma agrária, e sentamentos rurais, contudo, ao mesmo de serviços de emergência e; o dis- (2018); Sertori (2019).
Mobilizando estratégias e dinâmicas que programas de reforma agrária e crédito também os latifúndios, são territórios tempo em que a política de reforma agrá- tanciamento de áreas poluídas ou
são próprias das pesquisas de campo, fundiário, por exemplo – será extraída nos em disputa. Seus processos de terri- ria passava por um encolhimento no que perigosas. 18
Especificamente durante os governos pe-
o trabalho abrangeu cinco contratos do assentamentos, de acordo com Sertori & torialização expressariam, de acordo diz respeito às desapropriações de terras • Com relação à produção camponesa, tistas, a proposta de conceder a titulação dos
PNHR, em três assentamentos do oeste Ino (2022): a) pelo Estado, que, no processo com Oliveira (2004), a materialidade e à criação de novos assentamentos, as foram identificadas a disponibilidade lotes aos assentados (especialmente àqueles
paulista – os primeiros, no estado de São de desapropriação, remunera os antigos da luta de classes nas áreas rurais. ações governamentais estiveram orien- dos meios materiais e sociais para o que já usufriam de seus lotes há, pelo menos,
13 Sobre o método Sobre o método 14
à vida cotidiana e compartilhada nos reito ao habitat camponês, imbricada nos quanto ações populares, capazes de dis- compasso entre a regularização dos não convencionais de geração de esse conceito de habitat camponês não
assentamentos. Dessa forma, foram contextos e efeitos territoriais da questão putarem os sentidos da cidade, frente à assentamentos e a instalação dessas energia, captação de águas pluviais, se configura enquanto uma fórmula pa-
analisados os seguintes aspectos: a agrária brasileira, também irá depender da dominação capitalista. infraestruturas básicas, faz parte do saneamento, tratamento e reuso de drão de estudos (ou de projetos) para os
mobilidade rural-urbana dos assen- força e organização política dos assenta- cotidiano dos assentados a vida no resíduos, contemplando tanto a es- assentamentos rurais paulistas. Mas, en-
tados e sua relação com a oferta de dos e dos movimentos sociais de luta pela 1.1.4. Perspectivas de continuidade escuro, a ausência completa de luz, cala do próprio território, quanto a quanto uma tentativa de contribuir com
transporte público que, por sua vez, terra; ii) se é no processo de espacializa- a submissão ao frio e a enfermida- escala dos lotes. o aprofundamento do debate sobre o
está atrelada à qualidade das estra- ção da reforma agrária que são concebi- Se as diretrizes e ferramentas do planeja- des, e o aquecimento de água, para • O projeto e a produção de unidades planejamento e o projeto dos habitats da
das internas aos assentamentos; a dos os projetos de assentamentos rurais, mento territorial integrado não ignorarem sua higiene pessoal, no fogo a lenha. habitacionais (e demais edificações) reforma agrária, incluindo aqueles que se
existência de serviços de assistência a descentralização das infraestruturas, as diferentes morfologias e dinâmicas Em alguns casos, este descompasso adequadas às realidades das famí- diferenciam dos assentamentos propria-
social, unidades de formação técnica dos equipamentos e serviços, sobretudo regionais, municipais e locais (conside- no acionamento das infraestruturas, lias, considerando: sua qualidade mente ditos, como são os casos das Co-
e/ou superior, creches e escolas de nos municípios que possuem um grande rando, ainda, a urgência de rompermos associada às longas esperas pela li- arquitetônica e construtiva; a dispo- munas da Terra.
ensino fundamental, médio e de jo- número de assentamentos e camponeses com a inviolabilidade da propriedade pri- beração de recursos e à ausência de nibilidade de recursos, tanto para o
vens e adultos; a criação de áreas de (como é o caso do município de Mirante do vada rentista e patrimonial), o traçado das clareza nas atribuições institucio- projeto, quanto para a etapa de obras; Com relação à Comuna da Terra Irmã Al-
convívio social, os equipamentos de Paranapanema, por exemplo), pode ser um conexões entre assentamentos, ou entre nais, provoca o enferrujamento das a garantia de assessorias técnicas berta, a sua não regularização, além de
lazer, formação política e esportes, importante indicador para o planejamento assentamentos e núcleos urbanos mu- tubulações hidráulicas dos poços já qualificadas, multidisciplinares e impedir, por décadas, o acesso das famí-
os eventos e as atividades culturais, territorial integrado. nicipais, poderá favorecer o processo de instalados, paralisando seu funcio- bem remuneradas; a boa adminis- lias a políticas e programas fundamentais
os templos religiosos e os pontos co- conquista da cidadania dos camponeses, namento e requerendo, muitas vezes, tração dos canteiros de obras; o re- à sua cidadania, tem contribuído para que
merciais. A herança de um urbanismo que reduz as rompendo com seu isolamento territorial, novos investimentos para que os sis- cebimento e o estoque dos materiais o próprio território continue em dispu-
sedes administrativas dos municípios ao inclusive no interior dos próprios assen- temas voltem a funcionar; construtivos, evitando-se perdas e ta. Seja por famílias que têm parcelado
A análise dessas três relações sociais que é cidade, também encolhe as possi- tamentos. Ao colocarmos em debate as • Um parcelamento adequado da gle- atrasos nos cronogramas e; a con- e vendido pequenas áreas de seus lotes;
também apontou para as dificuldades im- bilidades de se viver com cidadania nas perspectivas de subversão da lógica “cen- ba, contemplando, principalmente, o cepção, pré-fabricação e instalação seja por famílias que, não encontrando
postas à cidadania das famílias assenta- “não cidades”, sejam elas rurais ou urba- tro e periferia”, as infraestruturas, vege- assentamento de famílias em lotes de componentes e sistemas cons- condições de pagar aluguéis nas áreas
das, que decorrem da ausência de um pla- nas. A urgência de transpormos a ideia tações, os corpos hídricos, as estradas e com áreas compatíveis ao desenvol- trutivos adaptados, priorizando-se o urbanas, têm ocupado a Comuna de ma-
nejamento territorial que integre as áreas conservadora de que as áreas rurais re- características topográficas pré-existen- vimento da agricultura na região. As- uso de materiais construtivos locais, neira desordenada; seja por famílias que
urbanas e rurais, seja pela oferta descen- presentam o atraso (sobretudo quando tes nas antigas fazendas desapropriadas sim, evita-se a reprodução de mini- renováveis, de baixo custo e impactos têm avançado sobre as áreas de proteção
fúndios nos assentamentos (ou seja, e, principalmente, duráveis e de bons ou coletivas, tanto para ampliarem suas
lotes com áreas insuficientes para a desempenhos tecnológicos. produções, quanto para abrigarem outros
reprodução social dos camponeses); integrantes de seus grupos familiares.
• Um arranjo articulado e integrado ***
entre as áreas produtivas, os diver- O entrave em torno da regularização da
sos serviços necessários para a re- A formulação conceitual do habitat cam- Comuna também impôs aos seus habi-
produção social dos camponeses ponês, apresentada aqui de forma bas- tantes a tarefa de proporem um “projeto
(como equipamentos para conservar tante resumida, além de estar em aberto, por conta” do habitat, envolvendo: a con-
e armazenar alimentos, ferramentas também não exclui (ou reduz) a importân- tratação de serviços de topografia; a per-
e insumos) e as unidades habitacio- cia de outras formulações e abordagens furação de poços para captação de água
nais, proporcionando maior qualidade teóricas sobre o tema – inclusive, aquelas em seus lotes (os quais, dependendo da
de vida na roça, preservando-se os que têm sido pensadas a partir das reali- localização ou da época do ano, não fun-
Produção agroecológica em um dos lotes da Estrada de acesso a um dos lotes, com ocor- Estrada de acesso a um dos lotes, com ocor-
Comuna. Acervo do ILS | 2022. rência de erosão. Acervo do ILS | 2022. rência de erosão. Acervo do ILS | 2022. corpos hídricos, as matas nativas e as dades de outros territórios rurais. cionam regularmente); a autoconstru-
áreas de proteção; e, ainda, dinami- ção de suas moradias, as quais, em sua
tralizada de serviços públicos, seja pela esta perspectiva está fundamentada em poderão orientar as etapas de projeto dos zando os diferentes ciclos produtivos; Ainda assim, o conceito formulado pelo maioria, encontram-se inacabadas ou em
garantia do acesso aos serviços e equipa- um ideário desenvolvimentista) nos faz assentamentos, tendo em vista: • O planejamento do traçado das es- Grupo HABIS orientou não apenas a eta- condições precárias de habitabilidade; e o
mentos localizados nos núcleos urbanos. encarar o desafio de pensarmos se já não tradas internas, de modo a favorecer pa de diagnósticos do nosso Projeto, mas, desenvolvimento da produção que, assim
A escassez de creches nos assentamen- existem saídas possíveis para uma vida • Um desenho mais heterogêneo dos a oferta de transporte coletivo e uma também: como os outros elementos referentes ao
tos rurais, por exemplo, acaba submeten- digna no campo, as quais não perpassam lotes, e não necessariamente per- diversidade de fluxos e mobilidades habitat rural, carecem de políticas pú-
do as mulheres assentadas, sobretudo pela lógica de dominação predominante pendicular às vias internas das gle- no interior dos assentamentos, prio- • A realização do Curso de Formação blicas com linhas de subsídio e financia-
aquelas com filhos pequenos, a uma con- nas áreas urbanas. Ou seja, a conquista bas, o que acaba por reproduzir uma rizando e preservando: as sinaliza- em ATHIS-Rural, de abrangência na- mento diversificadas, e de assessorias
dição de superexploração, análoga à das da cidadania do campesinato não depen- mesma tipologia “em xadrez” para os ções onde forem necessárias; a ins- cional, fomentado pelo CAU/SP e técnicas multidisciplinares, permanentes
trabalhadoras urbanas mais pobres. deria, necessariamente, de um modelo assentamentos rurais, muitas vezes talação de sistemas de drenagem e promovido em 2020, pela Peabiru- e qualificadas.
de urbanização do campo. Mas, de uma independente da região ou do estado. escoamento de águas superficiais; a -Trabalhos Técnicos e Ambientais, em
No bojo do debate sobre a divisão sexual transformação radical na estrutura fundi- Além disso, essa tipologia dificulta segurança dos assentados; uma co- parceria com a coordenação do MST/
do trabalho, muitas mulheres campone- ária do país, articulada a políticas de pla- a produção habitacional e a integra- nexão com a malha viária asfaltada; a SP e o Grupo Pitá (atualmente, deno- 10 anos), vinha sendo articulada por gestores
sas, dos assentamentos rurais do oeste nejamento territorial que não ignorassem ção dos lotes com as instalações e qualidade no trajeto de ônibus e vans, minado como Grupo Maitá)19; do INCRA e do próprio governo, desde o início
paulista, por exemplo, se desdobravam a existência dos territórios rurais; e, prin- infraestruturas já existentes nas gle- garantindo-se pontos de ônibus con- • A continuidade e proposição de no- do primeiro mandato de Dilma. Apesar de am-
entre o trabalho doméstico, o cuidado dos cipalmente, que não negassem aos seus bas, podendo, inclusive, encarecer a fortáveis; a integração com outros vas pesquisas, que têm aprofundado plamente criticada pelo MST, esta ação estava
filhos e o cultivo na terra, enquanto seus habitantes o direito à cidade e à cidadania. instalação de novas infraestruturas modais ou com linhas intermunici- o tema (para além dos assentamen- baseada em um ideário de “emancipação dos
maridos ou companheiros passavam a se- (como poços ou reservatórios coleti- pais, a preços justos (ou com passe tos de reforma agrária) e têm sido assentados”, de modo que o orçamento da
mana fora do assentamento, trabalhando, Na medida em que muitas famílias que vos de água, sistemas de saneamen- livre), principalmente em regiões desenvolvidas por pesquisadores de autarquia não estivesse mais compromissa-
muitas vezes, na informalidade, na busca hoje vivem nos assentamentos rurais não to ambiental e de fornecimento de metropolitanas, como é o caso da Co- universidades e grupos de pesquisa do com os direitos básicos e imprescindíveis
por um incremento da renda familiar. almejaram ou desistiram de viver nas áre- energia). Justamente porque seu fun- muna da Terra Irmã Alberta; o escoa- de diferentes estados e; à cidadania no campo. Ver: Um novo INCRA. O
as urbanas das cidades (como é o caso de cionamento e sua distribuição irão mento da produção dos camponeses; • A nossa própria tarefa de compreen- Estado de São Paulo, 05 de janeiro de 2013; Ver
A territorialização dos assentamentos muitas famílias que habitam a Comuna da acontecer de forma análoga às redes a redução dos impactos ambientais dermos como os sujeitos que hoje ha- também: Sertori (2019).
de reforma agrária que, especialmen- Terra Irmã Alberta), o entrave a ser supe- urbanas. O sistema de bombeamento provocados pelas emissões de CO2 bitam a Comuna da Terra Irmã Alberta
te no período atual, segue em conflitos rado é de ordem fundiária, agrária e urba- de água dos reservatórios coletivos, e; a redução de impactos sonoros e têm disputado os significados políti- 19
Ver: “Caderno Síntese do Curso de Formação
alarmantes com grileiros, mineradoras e na. Exatamente porque as políticas, estra- assim como sua conexão aos lotes, a garantia de privacidade nas áreas cos de seu próprio habitat. em ATHIS Rural: diagnósticos, núcleos de base
setores do agronegócio, também nos per- tégias e os instrumentos de planejamento depende da instalação dos postes habitacionais; e agendas coletivas”, publicado pela Peabiru-
mite duas observações: i) a garantia do di- territorial ainda não se concretizaram en- de energia elétrica. Devido ao des- • O projeto e a instalação de sistemas É importante mencionar, contudo, que -TCA, em 2021.
15 Sobre o método Sobre o método 16
1.2. Reuniões e assembleias 1.3. Diagnósticos

Nos dias 23 e 29 de janeiro, alguns inte- com o/a coordenador/a, por meio de os quais tiveram início na tarde daquele A etapa de diagnósticos contemplou 42 dução agrícola; oficinas de trabalho e; com a autorização das famílias, regis-
grantes da equipe técnica se reuniram panfletagem lote a lote; mesmo dia e foram finalizados 15 dias de- famílias ao todo, sendo: 06 famílias no infraestruturas específicas para cria- tros fotográficos e croquis dos lotes e
com representantes da coordenação dos • Nas assembleias, além de serem pois. Núcleo 01; 13 famílias no Núcleo 02; 10 fa- ção de animais, bem como para o es- das unidades habitacionais. Com os cro-
quatro núcleos, para discutirem como as apresentados os objetivos centrais do mílias no Núcleo 03 e; 13 famílias no Nú- toque e beneficiamento da produção; quis dos lotes, foi possível compreender
atividades previstas no projeto – organi- projeto e, principalmente, dos diag- Enquanto os diagnósticos nos lotes das cleo 04. a organização espacial proposta pelas
zadas em três etapas – seriam iniciadas. nósticos, as famílias presentes pode- famílias do Núcleo 04 estavam sendo fi- • As condições de produção, consi- famílias, tendo em vista: as dimensões
Dessa forma, foi proposta uma reunião riam tirar dúvidas e indicar as datas nalizados, a equipe técnica se reuniu no Na escala do lote, o roteiro elaborado pela derando: a área do lote destinada à e características topográficas da área; a
ampliada, que aconteceria no dia 05 de e os horários para os agendamentos lote da Maria Alves (uma das coordena- equipe técnica abrangeu os seguintes as- produção e sua relação com as ca- implantação da unidade habitacional e
fevereiro e que contaria com a presença dos diagnósticos em seus lotes. doras da Comuna), no dia 16 de fevereiro, pectos: racterísticas topográficas do lote, a sua relação com as dinâmicas cotidianas
da equipe técnica e dos coordenadores de para tratar sobre os diagnósticos no Nú- unidade habitacional e as infraestru- de vida e trabalho das famílias; a presença
núcleos. Diante da diferença do número de famílias cleo 02. Neste sentido, a assembleia do • O histórico da família, considerando: turas; a experiência das famílias com de infraestruturas (como poços de cap-
moradoras de cada núcleo, bem como dos Núcleo 02 aconteceu no dia 26 de feverei- o estado e o município de origem; a o trabalho na terra e a agricultura; tação de água, sistemas de coleta e ar-
Esta reunião, realizada na manhã de um diversos conflitos presentes na Comuna, ro e 14 famílias tiveram seus diagnósticos composição familiar; idade, escola- as condições de fertilidade do solo mazenamento de águas pluviais, oficinas
sábado, foi organizada em quatro momen- os coordenadores que participaram da agendados, os quais também foram reali- ridade e trabalho; a principal fonte e as alternativas encontradas pelas de trabalho etc.) e; a parcela destinada à
tos: a) no primeiro, todos os participantes reunião do dia 05 de fevereiro também zados no prazo de 15 dias. de renda; a trajetória da família até famílias para a correção de acidez; produção.
se apresentaram, uma vez que alguns sugeriram que os diagnósticos fossem a chegada à Comuna; as relações os principais alimentos produzidos,
integrantes da equipe técnica nunca ha- iniciados junto às famílias do Núcleo 04. No dia 11 de março, a equipe técnica se sociais estabelecidas e; o estado de como hortaliças, frutas e legumes; o Com relação aos croquis das unidades ha-
viam estado na Comuna; b) em seguida, reuniu com a coordenação do Núcleo 03 saúde de cada integrante do grupo uso ou não de agrotóxicos; a integra- bitacionais, pudemos verificar: as dimen-
os objetivos gerais do projeto foram bre- No dia 09 de fevereiro, portanto, no perí- e, em seguida, realizou a panfletagem nos familiar; ção da família junto ao Setor de Pro- sões dos cômodos e seu arranjo espacial;
vemente expostos, de modo que todas e odo da manhã, a equipe técnica se reuniu lotes das famílias indicadas. No dia 12 de dução; a renda extraída com a venda as dimensões das aberturas e sua relação
todos tivessem clareza sobre a finalidade na casa da Dona Noêmia, coordenadora do março, aconteceu a assembleia do Núcleo • As condições habitacionais, com des- dos alimentos; as dificuldades para com a orientação da unidade e com o con-

Assembleia com as famílias do Núcleo 02. Assembleia com as famílias do Núcleo 03. Assembleia com as famílias do Núcleo 04. Traçado dos lotes das famílias do Núcleo 04. Equipe técnica em trabalho de campo no Diagnóstico no lote de um casal do Núcleo
Acervo do ILS | 2022. Acervo do ILS | 2022. Acervo do ILS | 2022. Acervo do ILS | 2022. Núcleo 02. Acervo do ILS | 2022. 02. Acervo do ILS | 2022.

dos trabalhos que seriam conduzidos nos Núcleo 04, para avaliar a viabilidade do ro- 03, que contou com, aproximadamente, 10 taque para: o tipo de unidade (perma- produzir ou comercializar e; as prin- forto termoacústico; e, também, os deta-
próximos meses; c) no terceiro momento, teiro de questões, elaborado para orientar representantes. nente, provisória, acabada ou inaca- cipais demandas, como: assessoria lhes construtivos (como as condições dos
os coordenadores dos núcleos fizeram um a equipe técnica na condução dos diag- bada); a implantação da casa no lote; técnica, meios de transporte, cursos componentes estruturais, dos sistemas
breve histórico da Comuna, destacando: nósticos. Durante este “teste” com a Dona Por fim, no dia 26 de março, alguns inte- os materiais e sistemas construtivos de formação, acesso a políticas pú- de vedação, das instalações prediais e dos
as mobilizações sociais ocorridas há 20 Noêmia, na medida em que passávamos grantes da equipe técnica se reuniram na empregados, bem como suas origens blicas de fomento à agricultura cam- revestimentos).
anos, no período da ocupação; os princi- pelas questões e pelos temas contidos casa da Dona Nice, que é coordenadora do (reutilização, extração local, doação ponesa e necessidade de melhores
pais entraves com a SABESP – que perdu- no roteiro, foi possível identificarmos os Núcleo 01. Nesta reunião, foi definido que e/ou compra); a área construída e o condições de infraestruturas (tanto Já na escala da Comuna, os aspectos
ram até hoje –, relacionados à propriedade ajustes que precisariam ser feitos, bem a assembleia do Núcleo 01 seria realizada número de cômodos; a presença de na escala do lote, quanto na escala contemplados pelos diagnósticos nos
da área e às dificuldades para sua desa- como os assuntos que haviam sido consi- no dia 02 de abril. Durante a assembleia, água encanada e energia elétrica; a da própria Comuna). permitiram elaborar alguns mapas, que
propriação para fins de reforma agrária; a derados previamente, mas que não faziam que contou com a participação de 10 pes- existência e o tipo de fossa para a co- serão exibidos no capítulo 2. Dentre esses
organização territorial das famílias, bem parte da realidade do conjunto de famílias soas, foram traçadas algumas estratégias leta de esgoto; as dificuldades para a Os diagnósticos ocorreram às quartas-fei- aspectos, destacamos: o mapeamento e
como as relações sociais e políticas exis- da Comuna. No período da tarde, já com o para a panfletagem nos lotes das famílias, conclusão das unidades inacabadas; ras e aos sábados. Os integrantes da equi- a classificação dos lotes; os perímetros
tentes e; os principais conflitos sociais e roteiro reformulado, uma parte da equipe tendo em vista os conflitos específicos a presença e o tipo de patologias pe técnica foram organizados em duplas, e os conflitos territoriais de cada núcleo;
territoriais presentes em cada núcleo; d) realizou o diagnóstico no lote do Zé Mar- presentes nesse núcleo – os quais serão construtivas; o conforto termoacús- de modo que cada uma tivesse a presen- a presença e a localização de nascentes
por fim, no quarto momento, os coorde- tins (que também é coordenador do mes- detalhados no capítulo 2. tico; os recursos financeiros gastos ça de, pelo menos, um(a) arquiteto(a). As e corpos hídricos; a localização das áre-
nadores de núcleo sugeriram a seguinte mo núcleo), enquanto os outros integran- pelas famílias durante o processo conversas com as famílias aconteceram, as de preservação e reflorestamento; as
dinâmica para o início dos trabalhos: tes fizeram a panfletagem, convidando as Para a panfletagem, portanto, foi neces- construtivo; a composição da mão- em média, durante um período de 2 horas. características topográficas da gleba; o
famílias a participarem da assembleia. sário que cada integrante da equipe téc- -de-obra; o tempo necessário para a As informações relatadas pelas famílias traçado viário, as condições dos acessos
• Primeiramente, a equipe técnica faria nica fosse identificado com um crachá, construção e; as principais demandas foram registradas em caderno de campo e das estradas e sua relação com a mo-
uma reunião específica com os coor- Assim, a assembleia do Núcleo 04 acon- com nome e formação, além da parceria habitacionais; e, posteriormente, sistematizadas, visan- bilidade das famílias; a presença de rede
denadores de cada núcleo, de modo teceu na manhã do dia 12 de fevereiro, na de fomento. Das 12 famílias indicadas du- do-se obter uma leitura geral das condi- elétrica; a existência de lixeiras coletivas
que fossem indicadas as famílias que casa da Dona Noêmia. Naquela ocasião, rante a assembleia, os diagnósticos con- • A presença de infraestruturas bási- ções sociais, econômicas, habitacionais e e a oferta de coleta de lixo; a disponibili-
seriam convidadas para as respecti- além da equipe técnica, estiveram pre- templaram 06 famílias. As demais, ou não cas, como: poços para captação de ambientais da Comuna. dade de transporte público municipal e
vas assembleias; sentes 15 representantes de famílias. To- se encontravam nos dias em que a equipe água; sistemas e componentes para intermunicipal; e, por fim, a presença e a
• O convite às famílias seria realiza- das agendaram os dias e horários para os esteve na Comuna, ou não quiseram nos coleta e armazenamento de águas Além das anotações em caderno de cam- localização de infraestruturas e equipa-
do pela equipe técnica, em conjunto diagnósticos em seus respectivos lotes, receber. pluviais; sistemas de irrigação da pro- po, também foram realizados, sempre mentos coletivos.
17 Sobre o método Sobre o método 18

LINHA DO TEMPO DO PROJETO: da aprovação pelo CAU/SP à elaboração do Plano Territorial Popular

Dezembro de 2021 Fevereiro de 2022 De março a maio de 2022 De junho a julho de 2022
O CAU/SP entrou em contato com um dos arquitetos Definição das estratégias para o início da etapa de Definição das estratégias para o Curso Canteiro Escola de Realização do Curso Canteiro Escola de
da equipe, informando que o Projeto “Consolidação diagnósticos junto às famílias da Comuna. Construção Agroecológica. Esta modalidade de Canteiro Construção Agroecológica na Comuna da
Habitacional da Comuna da Terra Irmã Alberta”, que Escola envolveu duas ações: Terra Irmã Alberta | Módulo I: construção
encontrava-se em primeiro lugar na lista de espera do eixos temáticos com bambu e saneamento agroecológico.
edital 003/2021, havia sido contemplado. a) O projeto e a construção do sistema estrutural, em bam-
Histórico da Condições sociais Condições territo- bu, do Armazém Agroecológico;
Alguns integrantes da equipe técnica se reuniram para Comuna e habitacionais riais e ambientais b) A continuidade das obras de saneamento, juntamente
elaborar e encaminhar os documentos adicionais soli- com a Brigada Centenário Paulo Freire, para o projeto da Ci-
citados, para a assinatura do Termo de Outorga. randa Luís Beltrame, que será edificada no Núcleo 04.

Ainda em dezembro, ocorreram as primeiras reuniões Dentre as atividades preparatórias, específicas para a cons-
Elaboração de roteiro para as conversas com as famílias
da equipe técnica, para definir a retomada dos traba- trução do Armazém, destacam-se: a concepção dos projetos
lhos em janeiro. Reuniões com a coordenação geral arquitetônico e executivo do sistema estrutural; a colheita e
Reuniões com coordenadores de núcleos o tratamento das peças de bambu; a elaboração do crono-
grama físico-financeiro; a limpeza do terreno e a locação
Assembleias de núcleos da obra; a aquisição de materiais e ferramentas; a execu-
21 de fevereiro de 2022 Levantamentos de campo ção dos elementos de fundação; a montagem e instalação
Entrega do primeiro Relatório Parcial, junto com a dos componentes estruturais e o telhamento da cobertura.
Levantamentos de documentos adicionais Neste período, também foram planejadas a campanha de Fonte: Acervo do ILS | 2022.
prestação de contas.
Sistematização de dados e elaboração de mapas captação de recursos adicionais e as atividades didáticas do
Curso, as quais, em conjunto com a obra, ocorreram entre
Elaboração do Plano Territorial Popular junho e julho.

dezembro janeiro fevereiro março abril maio junho julho

Janeiro de 2022
Início das primeiras reuniões, para montagem e definição da
equipe técnica, responsável pelo Projeto. A equipe foi com- De fevereiro a abril de 2022 Maio de 2022
posta por 06 profissionais da área de arquitetura e urbanismo; Reuniões de núcleos, assembleias e diagnósticos Início da elaboração do Plano Territo-
01 profissional da área de engenharia ambiental; 01 profissio- rial Popular da Comuna da Terra Irmã
nal da área de assistência social; e 01 profissional da área de Alberta.
geografia. Além desses profissionais, o Projeto também foi
acompanhado por 03 representantes da coordenação estadu-
al do MST. A partir da segunda quinzena de abril de 2022 23 de julho de 2022
Início da sistematização dos dados obtidos com Realização do Evento Final, na Comu-
Ainda em janeiro, foram definidos: a carga horária e a remu- os diagnósticos. Além das informações cole- na da Terra Irmã Alberta, com a pre-
neração da equipe; o dia e horário das reuniões gerais; os dias tadas em campo, a equipe também se deparou sença de integrantes da equipe téc-
e períodos das idas a campo; e as estratégias iniciais para o com a necessidade de acessar referências bi- nica, representantes da coordenação
início da etapa de diagnósticos. bliográficas (bem como o processo jurídico da dos Núcleos, famílias e educandos do
Comuna), de modo a compreender, em detalhes, Curso Canteiro Escola. Nesse even-
o histórico de luta pelo território e os impasses to, foram apresentados os resultados
para sua regularização. consolidados dos diagnósticos, assim
como as principais demandas desta-
25 de abril de 2022 cadas pelas famílias.
Entrega do segundo Relatório Parcial, junto com
a prestação de contas. julho de 2022
Fonte: Acervo do ILS | 2022. Reuniões gerais para a conclusão
do Projeto e preparação do Relatório
A partir dos diagnósticos, verificou-se que, atualmente, a Comuna da Terra Irmã Alberta Final e da prestação de contas, que
está ocupada por 67 famílias. Destas: foram entregues no dia 17 de agosto.
49 encontram-se em situação regular; A conclusão e publicação do Plano
05 encontram-se em lotes parcelados ou cedidos irregularmente; Territorial Popular estavam previstas
13 encontram-se em lotes temporários; para o final de 2022, mas só ocorreram
16 correspondem a invasões de “baixa densidade habitacional”; em maio de 2023.
03 correspondem a invasões de “alta densidade habitacional”.
19 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 20
2.2. Um projeto de Comuna da Terra na Grande São Paulo

Em seu livro “Modo de produção capita- compartilhando a mesma parcela de entanto, vale pontuarmos que, segundo
lista, agricultura e reforma agrária”, pu- terra – como vem ocorrendo com al- Martins (2003), desde as primeiras mobi-
blicado em 2007, o geógrafo e professor gumas famílias da Comuna; lizações em torno da reforma agrária no
da USP São Paulo, Ariovaldo Umbelino de Brasil já havia uma cisão, tanto à esquer-
2. Sobre a Comuna Oliveira, afirma que o camponês, “(...) mes-
mo expulso da terra, com frequência a ela
• E à intenção de retomarem (ou inicia-
rem) o trabalho na lavoura, incluindo
da, quanto à direita, entre os sujeitos que
protagonizavam os embates em torno de
Por Rodolfo José Viana Sertori Campo de futebol no Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. retorna, mesmo que para isso tenha que também a busca por oportunidades um projeto de modernização e desenvol-
(e)migrar”. de formação técnica, melhores ga- vimento para as áreas rurais brasileiras.
nhos financeiros e a chance de vi-
Durante a etapa de diagnósticos do nosso verem exclusivamente da produção Tal cisão, caracterizada também por uma
2.1. Outra proposta de assentamentos rurais: as Comunas da Terra Projeto, verificamos que esta foi (e ainda camponesa. ideia de que o campesinato brasileiro pas-
é) a realidade da maioria das famílias que sava por uma transição para a classe tra-
Em 2003, Delwek Matheus – um dos coor- das Comunas da Terra, apresentada por de créditos para a aquisição (ou aluguel) habita a Comuna da Terra Irmã Alberta. Ao Ao mesmo tempo em que estas dinâmicas balhadora, contribuiu para que muitos dos
denadores do MST/SP – concluía o curso Delwek Matheus, fundamentava-se em de maquinários e ferramentas de pequeno tomarmos conhecimento sobre suas tra- socioterritoriais já deflagravam uma de- conflitos agrários, vivenciados sobretudo
“Realidade brasileira a partir dos grandes cinco eixos. porte, seriam fundamentais. jetórias de vida, constatamos que muitas manda por terra de trabalho no município nas décadas de 50 e 60, fossem interpre-
pensadores brasileiros”, oferecido pela delas (pais, filhos, genros, noras) deixaram e na região metropolitana de São Paulo, tados como conflitos trabalhistas, e não
Faculdade de Serviço Social, da Univer- O primeiro eixo dizia respeito ao vínculo O quarto eixo priorizava o incentivo às re- seus estados e municípios de origem, na elas também eram contemporâneas dos enquanto conflitos fundiários.
sidade Federeal de Juíz de Fora (UFJF/ das famílias com o trabalho na terra e a lações de cooperação, socialização dos busca por melhores condições e oportu- contextos agrário, político e urbano que
MG), em parceria com a Escola Nacio- produção. Na medida em que muitos tra- meios de produção e solidariedade, tanto nidades de educação, moradia, saúde e marcaram o final dos anos de 1990 e início Se considerarmos que a história da po-
nal Florestan Fernandes (ENFF). Em seu balhadores das regiões metropolitanas entre os próprios habitantes das Comu- trabalho. dos anos 2000, tanto na escala nacional, lítica brasileira tem demonstrado, com
Trabalho de Conclusão de Curso, Delwek são emigrantes de outros estados e têm, nas, por meio de associações, coopera- quanto nas escalas estadual e municipal. cada vez mais evidência, as irracionalida-
apresentou “uma outra concepção de as- em suas trajetórias de vida, a experiência tivas, redes de produtores (de alimentos, Apesar de variadas, as razões e expec- des decorrentes da aliança entre terra e
sentamento de reforma agrária”, baseada com o trabalho na lavoura, as Comunas da sementes, mudas e fertilizantes naturais), tativas que motivaram este processo (e) Vale lembrarmos, por exemplo, que du- capital, o que estava em jogo no interior
na proposta das Comunas da Terra. Terra poderiam se configurar como uma quanto entre outros agentes públicos, migratório, e que também contribuíram rante a segunda metade da década de 90 dessas disputas políticas daquele período
oportunidade para que esses trabalhado- locais e regionais (como moradores de para que alguns destes indivíduos aderis- eclodiram no país dois dos maiores con- eram justamente os impasses estruturais
O período marcava o início do primeiro go- res retornassem à terra, com condições bairros urbanos, prefeituras, mercados, sem à ocupação – especialmente aqueles flitos fundiários, como o massacre de Co- decorrentes da Lei de Terras. Na análise
verno Lula, quando estava em formulação dignas de produção e vida no campo. grupos de pesquisa etc.). que já residiam próximos à antiga Fazenda rumbiara (RO), em agosto de 1995, com 12 de Martins (2003, p. 151), esta divergência
o II Plano Nacional de Reforma Agrária Itahyê, no início dos anos 2000 –, estiveram mortos, e o massacre de Eldorado de Ca- entre os agentes mediadores da questão
(PNRA)20. Lançado em novembro de 2003, Com relação ao segundo eixo, a proposta Por fim, com o quinto eixo, o destaque foi relacionadas: rajás (PA), em abril de 1996, com 19 mor- agrária desvelava “o esgotamento do mo-
durante a Conferência da Terra, em Bra- destacava a garantia do direito de uso e dado ao “desenvolvimento sócio-cultural” tos. No caso do estado de São Paulo, mais delo de relações de trabalho forjado na
sília/DF, o II PNRA foi apresentado como posse da terra aos assentados. Diferen- das famílias, referido ao planejamento • Aos custos elevados com aluguel, precisamente na região do Pontal do Pa- crise da escravidão, no século XIX”, o qual
o maior plano nacional de reforma agrá- temente da propriedade privada capita- territorial das Comunas, o qual envolves- transporte e alimentação (além das ranapanema, Fernandes & Ramalho (2001, iria substituir o trabalho escravo por for-
ria da história do país. Contando com um lista, baseada na exploração do trabalho se: sua integração com os núcleos urba- despesas com gás, água e energia), p. 241) mostraram que, de 1990 a 2000, as mas não capitalistas de produção.
investimento de um pouco mais de R$ 5 e na extração da mais valia, a propriedade nos; o parcelamento e o projeto espacial os quais não eram compatíveis com lutas por terra naquela região totalizaram
bilhões, a meta principal do plano seria camponesa deve ser o instrumento es- dos lotes e sua relação com a habitação, seus respectivos salários (ou rendas 336 ocupações, abrangendo quase 100 mil E, também, a consequente impossibilida-
assentar 400 mil famílias no período de sencial para a realização do trabalho fa- as infraestruturas básicas, os equipamen- brutas familiares); hectares de terras griladas e mobilizando, de histórica de seu equacionamento, por
2003 a 2006, por meio de um conjunto de miliar e o cumprimento da função social tos coletivos locais e a produção; e a ofer- aproximadamente, 18 mil famílias sem meio da reforma agrária, sem alterações
programas de acesso à terra e regulari- da terra. Neste sentido, as parcelas de ta de serviços e equipamentos públicos • À precariedade em seus contratos terra. profundas na estrutura fundiária brasilei-
zação fundiária21, contemplando diversos terra das famílias – que, no caso das Co- sociais, garantindo o direito e o acesso e postos de trabalho, baseados em ra, baseada no latifúndio e na proprieda-
segmentos dos povos rurais sem terra do munas da Terra, possuem uma área mui- das famílias à saúde, educação, ao trans- jornadas exaustivas, inseguranças Portanto, a consolidação das políticas ne- de privada. É neste sentido que, entre os
Brasil. to menor em relação aos lotes de diver- porte de qualidade, à cultura, ao esporte, na permanência em seus ofícios e oliberais no Brasil, ao longo dos anos de anos de 1950 e 1960, Martins (1999, p. 106)
sos assentamentos rurais paulistas, por convívio e lazer. direitos trabalhistas mínimos ou ine- 1990, além de contribuir para o aumento argumenta que a desvinculação das cate-
Ao mesmo tempo em que o II PNRA era exemplo – não devem ser comercializa- xistentes; dos conflitos por terra, território e mora- gorias terra e trabalho, pela esquerda, e a
formulado, a coordenação do MST/SP das, tampouco ficarem ociosas ou serem dia, também demonstrou que a questão transformação do grande capital em pro-
20
Ver: II Plano Nacional de Reforma Agrária:
também vinha organizando, a partir de usadas, exclusivamente, como patrimônio paz, produção e qualidade de vida no meio ru-
• A problemas de saúde diversos que, agrária, assim como a questão urbana, prietário de terras, por iniciativa do Estado
suas frentes de massa, uma parcela de rentista. ral. Disponível aqui: https://bityli.com/xxpdga.
em alguns casos, demandam por permanecem, até hoje, como questões e das oligarquias nacionais, “bloquearam
trabalhadores urbanos desempregados (e acompanhamentos médicos periódi- estruturais do processo de desenvolvi- (...) qualquer possibilidade de uma refor-
em condições de extrema precariedade e O terceiro eixo era referente à matriz de 21
Dentre os programas previstos no II PNRA, cos e tratamentos com medicações mento do capitalismo. E, justamente por ma agrária referida à dimensão clássica
vunerabilidade de socioeconômica), do- produção nos territórios da reforma agrá- destacavam-se: a criação de novos assenta- que, nem sempre, são distribuídas isso, como impasses ainda não resolvidos da questão agrária, a do impasse histórico
miciliada em municípios das regiões me- ria. Já naquele período, as coordenações mentos; o cadastro e a regularização fundiária gratuitamente pelo SUS. Além disso, no país. que inviabiliza o desenvolvimento do ca-
tropolitanas do estado. É neste contexto, nacional e estadual do MST vinham de- de assentamentos já existentes; a recupera- alguns desses problemas de saúde pitalismo”.
portanto, que surge a proposta de criação batendo outras práticas produtivas nos ção de assentamentos antigos; o acesso à ter- (incluindo os emocionais e psicoló- 2.2.1. Um breve histórico das políticas de
das Comunas da Terra. assentamentos – as quais, por meio da ra por meio do crédito fundiário; a promoção gicos) foram intensificados pela au- reforma agrária no Brasil O próprio Estatuto da Terra, aprovado logo
agroecologia, iriam integrar a proposta da igualdade de gênero nos assentamentos; sência de condições adequadas de após o Golpe de 1964, confirmaria a hipó-
Tendo como base alguns dados e levan- de Reforma Agrária Popular, aprovada no a titulação de territórios quilombolas; o reas- urbanidade e habitação nos bairros Apesar da tentativa de contextualizarmos tese de que o que se pretendia não era
tamentos científicos e estatísticos, es- V Congresso Nacional do movimento, em sentamento de ocupantes não-indígenas em onde residiam, antes de chegarem à alguns debates que são concernentes às solucionar a contradição estrutural entre
pecialmente da década de 90, referentes 2007 –, com especial atenção para a pro- territórios indígenas; a criação e regularização Comuna; questões que dizem respeito a este Plano terra e capital pela reforma agrária. Se-
à estrutura fundiária brasileira, à questão dução de alimentos saudáveis e livres de de reservas extrativistas e outros territórios da Territorial Popular, não cabe aqui recupe- gundo Martins (1999, p. 106), a função do
agrária e à política agrícola no país, bem agrotóxicos. Dessa forma, as políticas e os floresta; o reassentamento de povos atingidos • À oportunidade que os integrantes de rarmos, em detalhes, as origens das lutas Estado, especialmente durante a ditadura,
como às porcentagens da população ur- programas de fomento à assessoria técni- por barragens e outras obras de infraestrutura; um mesmo grupo familiar encontra- organizadas por terra e reforma agrária no foi a de promover as condições necessá-
bana e rural, tanto na escala nacional, ca, à extensão rural, à produção e comer- e o reconhecimento dos territórios dos povos ram para estarem próximos uns dos Brasil, bem como o histórico dos emba- rias para que grandes empresários, indus-
quanto na escala estadual, a proposta cialização, bem como de oferta de linhas ribeirinhos e das águas. outros, vivendo em lotes vizinhos ou tes políticos que as caracteriza(ra)m. No triais e banqueiros pudessem se conver-
21 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 22
ter em latifundiários. Em outras palavras, Em 2003, com a chegada de Lula à pre- assentados ao movimento de financia- taxa de juros na Bolsa de Valores. • Cadastro SNCR: 638.358.083.852-7 as quais possam possibilitar novas práti-
prosseguindo com as análises de Martins sidência, reinicia-se no país a versão lu- mento público concedido às indústrias • Distância da mancha urbana do mu- cas agrícolas; o desenvolvimento social
(2003, p. 155), a política praticada pelo Es- lista24 da velha política estruturada na agroexportadoras, implicando em um Na escala macrorregional, o imóvel está nicípio de São Paulo: 27,5 km e econômico; a preservação de recursos
tado, durante o regime militar, foi a de fa- aliança entre Estado, setores empresa- possível retorno das terras reformadas ao localizado na extrema região noroeste • Módulo Fiscal (São Paulo): 5,0 hecta- naturais e a inserção produtiva e cidadã
vorecer a reprodução ampliada do capital, riais e proprietários de terra. Na análise mercado de terras, via compra ou arren- do município de São Paulo, que faz divisa res das famílias assentadas.”
incorporando a renda capitalizada da terra de Safatle (2016), os acordos políticos que damentos25. com os municípios de Santana de Parna- • Nº de módulos físcais do imóvel: 23,14
enquanto uma das relações não capitalis- sustentaram a aplicação do Programa De- íba e Cajamar. Conforme apresentado no Dentre as recomendações, orientações e
tas, mediadoras e propulsoras de sua pró- mocrático Popular naquele período esta- Nesse sentido, não espanta que estas Mapa Macrorregional (p. 23-24), a área que 2º Período (14/04 a 05/05 de 2008) propostas da equipe técnica, contidas no
pria expansão. vam fundamentados na incorporação de ações dos governos petistas estivessem hoje abriga a Comuna também está pró- processo jurídico da Comuna, podemos
demandas populares que antes estavam ocorrendo em consonância com uma in- xima dos municípios de Caieiras, Franco • Realização do LAF destacar:
Se, na década de 60, as reformas agrária e fora do processo político, conciliando-as e tensa concentração fundiária no país, pelo da Rocha e Francisco Morato, os quais,
urbana, por exemplo, se configuravam en- administrando-as com os interesses das viés histórico da grilagem. De acordo com juntamente com os dois municípios an- Dados do imóvel (em hectares): • Possibilidade de aproveitar nichos de
quanto os principais anseios das classes oligarquias dominantes. Oliveira (2015, p. 31-32), no período que teriormente citados, estão localizados na mercado com maior valor agregado,
de trabalhadores e camponeses, o caráter marcou as duas gestões de Lula (2003 a Bacia Hidrográfica Alto Tietê, que abran- • 16,01 com eucalipto (em APP) como o de alimentos orgânicos, uma
violento e brutal que marcou o período mi- Para o filósofo, ao invés de propor uma 2010), as grandes propriedades particula- ge também os Rios Tietê e Juquery, bem • 72,83 com pasto vez que a área está situada em uma
litar, na interpretação de Paulo Arantes22, reinvenção da institucionalidade do Es- res aumentaram sua área em 92,1 milhões como os Parques Jaraguá, da Cantareira e • 12,82 com eucalipto localidade com forte presença de
só se explica porque, naquele período, ha- tado, de modo a reverter o papel do Con- de hectares, passando de 146,8 milhões de do Jurquery. • 03,95 com pasto (em APP) mercados consumidores e terminais
via uma alternativa à esquerda que preci- gresso Nacional enquanto “caixa de res- hectares em 2003 para 238,9 milhões de • 0,77 com mata nativa (em APP) de exportação;
sava ser erradicada. Porém, não de qual- sonância dos interesses oligárquicos”, hectares em 2010. Oliveira observa ainda Em 2004, com a aprovação do Plano Dire- • 2,29 com estradas (incluindo o trecho • Estimular o desenvolvimento local
quer forma, mas, sim, de modo traumático abrindo caminhos para uma democracia que, ao fim do primeiro governo Dilma, tor Estratégico do Município de São Pau- asfaltado) sustentável, articulado à proposta de
e exemplar, para que jamais voltasse a se direta e menos representativa, com ampla este crescimento foi de 5,8 milhões de lo, a área da antiga Fazenda Itahyê, antes • 1,01 com áreas inapropriadas um Projeto de Desenvolvimento Sus-
repetir e para que nunca se apagasse da participação popular, o governo acabou hectares. Ou seja, de 2003 a 2014, o au- considerada como um imóvel rural, pas- • 05,99 com cobertura vegetal (mata) tentável (PDS)27 para a Comuna;
memória da população. promovendo o contrário. Aprofundando mento das propriedades rurais privadas saria a integrar a Macrozona de Estrutura- • Área total da Fazenda: 117,771850 • Contribuir com a preservação de re-
as alianças firmadas com a Nova Repú- foi de 97,9 milhões de hectares, contra 17,7 ção e Qualificação Urbana, caracterizada • Área total avaliada: 115,6822 cursos hídricos e dos mananciais;
Com a derrota do movimento das Diretas blica, a estratégia lulista de mediação das milhões durante o período de 1992 a 2003 pelas seguintes zonas específicas: Zona • Número de famílias acampadas: 65 • Estimular parcerias com instituições
Já e a instauração do pacto conciliatório demandas sociais foi transferi-las para o (que compreende os governos de Collor, Predominantemente Industrial (ZPI); Zona de ensino, pesquisa e extensão.
da Nova República – que reativou a con- interior do Estado, fortalecendo a própria Itamar Franco e FHC). de Lazer e Turismo (ZLT); e Zona Especial Sobre o uso e a ocupação do solo:
fluência estrutural entre terra e capital –, institucionalidade e incorporando em seu de Proteção Ambiental (ZEPAM). Com relação à proposta de um Projeto
o governo de José Sarney lança, em 1985, campo gravitacional os movimentos e sin- 2.2.2 A Comuna da Terra Irmã Alberta • Fertilidade natural baixa; de Desenvolvimento Sustentável para a
o I Programa Nacional de Reforma Agrá- dicatos de trabalhadores urbanos e rurais. Contemporânea do Plano Nacional de • Baixo risco de inundação; Comuna (tendo em vista que, até aquele
ria (PNRA), com a promessa de assentar As críticas aos governos petistas apresen- Habitação (PlanHab) – com formulação • Baixa ocorrência de pedregosidade; momento, o INCRA já havia implantado 13
1,4 milhão de famílias e desapropriar 43 É com base nesta dinâmica contraditória, tadas nesta seção e direcionadas, especi- iniciada em 2004 e lançamento ocorrido • Relevo com classe de declividade assentamentos no estado de São Paulo
milhões de hectares de terras griladas ou que acabou por converter os movimentos ficamente, às políticas e aos programas em 2008 –, esta versão do Plano Diretor forte e muito forte; no modelo de PDS), as recomendações da
improdutivas. Porém, os números orga- sociais e sindicais em administradores de reforma agrária, não são meramente também contribuiu para o processo de • Obrigatoriedade de preservação da equipe técnica destacavam:
nizados por Oliveira (2007) demonstram de políticas públicas que, em novembro gratuitas. Pelo contrário. Considerando expansão imobiliária e industrial que viria APP;
que, ao final de seu governo, Sarney havia de 2003, Lula lançou a segunda versão do que as famílias da Comuna – mesmo ten- a acontecer na Grande São Paulo. Combi- • Predominância de terras nas Classes • A redução de custos com a implanta-
assentado apenas 89.950 famílias (6,5% PNRA, prometendo assentar 400 mil fa- do vivenciado os governos de Lula e Dil- nado com o Programa de Aceleração do VI e VIII (inadequadas para cultivos,
da meta) e desapropriado 4,8 milhões de mílias até 2006, com um investimento de ma – jamais conseguiram a regularização Crescimento (PAC) e com o PMCMV, cujas segundo o LAF). 22
Essa interpretação do Prof. Paulo Arantes
hectares (1,5% da meta). R$ 5 bilhões. Durante seu primeiro man- de seu território, tampouco o acesso aos operacionalizações se iniciaram em 2007 está baseada nas formulações teóricas de
dato, o número de famílias assentadas, programas de subsídio às infraestruturas, e em 2009, respectivamente, tal processo Recomendações da equipe técnica (res-
Francisco de Oliveira (mais precisamente, n’O
No início da década de 90, a reforma agrá- de acordo com apuração feita por Oliveira à habitação e à produção, os dois ques- teve um impacto significativo nos preços ponsável pelo LAF) para a implantação da
Ornitorrinco), e foi exposta durante sua partici-
ria pretendida pelo governo Collor tinha a (2015), foi de 150 mil (significando quase tionamentos centrais que fazemos neste da terra urbana, bem como no modelo de Comuna:
pação no debate “Caminhos da esquerda dian-
meta de assentar 500 mil famílias (repre- 40% da meta prevista). Já em seu segun- Plano Territorial Popular, são: “a) Como urbanização (ou de produção de não cida- te do golpe, ocorrido no dia 30 de maio de 2016,
sentando 35% do que propusera o governo do mandato (2007 a 2010), apenas 65 mil isto foi possível? b) Quais são os principais des) que passaria a acontecer no país. • Promover práticas contínuas de con- na USP São Paulo.
anterior). Após o impeachment de Collor e famílias foram assentadas. Com relação impasses que têm impedido a realização servação;
ao final da gestão de seu sucessor, Itamar ao primeiro governo Dilma (2011 a 2014), de um projeto de reforma agrária para a É neste contexto, portanto, que têm iní- • Promover rotação de culturas anuais, 23
Oliveira (2007, p. 142) destaca que esses
Franco, os dados divulgados pelo INCRA apenas 31 mil famílias foram assentadas Comuna da Terra Irmã Alberta?” cio as disputas populares e jurídicas em para reposição de matéria orgânica; números oficiais incluem, além dos assen-
apontavam que menos de 50 mil famílias nesses quatro anos. No que diz respeito torno do projeto de reforma agrária para • Garantir assessoria técnica perma- tamentos criados a partir de processos de-
haviam sido assentadas no período de ao número de desapropriações de terra, Em 2002, quando a área da antiga Fazenda a Comuna da Terra Irmã Alberta, as quais nente às famílias; sapropriatórios, as regularizações fundiárias,
1990 a 1994. Dilma desapropriou 86 imóveis rurais em Itahyê foi ocupada, a SABESP foi a primei- iremos descrever aqui, resumidamente – e • Garantir linhas de crédito diversifica- os remanescentes de quilombos, os assenta-
seu primeiro mandato, superando apenas ra empresa estatal do Brasil a entrar no cuja síntese pode ser verificada na Linha das, destinadas a subsidir a produção mentos extrativistas e os projetos dos antigos
Este cenário não se alterou ao longo dos o governo Collor (1990 a 1992), que desa- mercado da Bolsa de Valores. Em termos do Tempo da Comuna26, apresentada nas e a correção da acidez do solo; programas Casulo e Cédula Real.
governos posteriores. No que diz respeito propriou 28 imóveis rurais. gerais, isto significava que as “mercado- páginas 25-26. • Promover a recomposição da vegeta-
ao primeiro mandato de Fernando Hen- rias” produzidas (e/ou de propriedade) ção nativa presente na APP. 24
Ver: Singer (2009).
rique Cardoso, a proposta para os quatro Antes mesmo de 2014, os gestores do go- da empresa passariam a ter seus preços 1º Período
anos de governo (1994 a 1998) era assentar verno Dilma articulavam a concessão da mediados e regulados pelas variações de Ainda em 2008, a equipe técnica do INCRA 25
Ver: Um novo INCRA. O Estado de São Paulo,
280 mil famílias, correspondendo a menos titulação dos lotes aos assentados da re- suas ações no mercado de capitais, con- O INCRA solicita a abertura do processo realizou um Estudo de Viabilidade Técnica 05 de janeiro de 2013.
de 60% da meta apresentada por Collor e forma agrária, especificamente àqueles figurando-se, portanto, enquanto ativos jurídico para a desapropriação, por inte- e Financeira para a criação de um projeto
20% da previsão inicial do I PNRA, como que faziam uso de suas parcelas de terra financeiros. Neste sentido, não foi só a resse social, da antiga Fazenda Itahyê, de reforma agrária na área da antiga Fa- 26
As informações apresentadas na Linha do
apurou Oliveira (2007). Ainda segundo o há mais de 10 anos. A partir de uma fal- água que adentrou ao fluxo financeiro das de propriedade da SABESP. Também é zenda Itahyê. Segundo consta no proces- Tempo foram extraídas do processo jurídico da
geógrafo, os dados divulgados pelo IN- sa ideia de emancipação dos assentados, commodities. Suas propriedades fundiá- organizada a equipe de técnicos que fica- so jurídico: Comuna, que tramita no INCRA desde 2008 e
CRA, referentes aos seis primeiros anos os gestores ruralistas pretendiam que os rias, incluindo o imóvel da antiga Fazen- ria responsável pela realização do Laudo do qual tivemos acesso, por intermédio do ad-
do governo FHC (1994 a 2000), indicavam camponeses não fossem mais uma res- da Itahyê, iriam funcionar enquanto renda Agronômico de Fiscalização (LAF). “o assentamento não deve ser visto ape- vogado do MST.
o assentamento de 373.210 famílias23, cuja ponsabilidade do INCRA. Por trás desta fundiária capitalizada, cujos preços tam- nas como uma unidade produtiva, mas
maioria estava localizada na Amazônia. medida, estava o interesse de integrar os bém estariam em função da variação da Informações gerais do imóvel: como um território com relações sociais, 27
A proposta de PDS foi criada pela Portaria Nº
23 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 24

MACRO REGIÃO
COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

MUNICÍPIO
de São Paulo
Francisco Morato
MUNICÍPIOS
Região Metropolitana
de São Paulo
Comuna da Terra
LIMITE
Dom Tomás Balduíno Região Metropolitana
de São Paulo
Comuna da Terra Franco da Rocha
LIMITE
Dom Pedro Bacia Hidrográfica
Casaldáliga do Alto Tietê

HIDROGRAFIA
8 RODOVIAS
Cajamar
Mairiporã FERROVIAS
4
Pirapora 3 PARQUES
Caieiras
do Bom Jesus Estaduais

1 Rio Tietê
2 2 Rio Juquery
3 Rodovia Anhanguera
4 Rodovia Bandeirantes
5 Rodoanel
7
1 6 Parque Jaraguá

Comuna da Terra 7 Parque da Cantareira


5
Santana de Parnaíba Irmã Alberta 8 Parque do Juquery
São Paulo
6

Escala 1:100.000
Elaboração: Luiz Azevedo
25 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 26

LINHA DO TEMPO DA COMUNA: a concessão da área à SABESP e os impasses para a regularização


23 de julho de 2002 Laudo Agronômico de Fiscalização (LAF) – abril a maio de 2008 Em 2021
Ocupação da antiga Fazenda Itahyê, por aproximada- O INCRA solicita a abertura de processo para a desapropriação, Início do Projeto de Saneamento, na área
mente 300 famílias de trabalhadores sem terra, sem por interesse social, da antiga Fazenda Itahyê, de propriedade da onde será construída a Ciranda Luís Bel-
teto e desempregados, organizadas pelo MST. SABESP. Também é organizada a equipe de técnicos que ficaria trame, no Núcleo 4.
responsável pela elaboração do LAF.
Fonte da imagem (ao lado): extraída do Google Earth, 2002. Dezembro de 2021
18 de novembro de 2008 O Instituto Laudenor de Souza inicia o
A SABESP emite o Termo de Autorização de Permanência na área e esclarece que Projeto Consolidação Habitacional da
30 de setembro de 1999 Lei 13.885, de 25 de agosto de 2004
o documento não implica no reconhecimento do direito de posse às famílias. Comuna da Terra Irmã Alberta, com par-
Homologação do Registro de Propriedade da Estabelecia normas complementares ao Plano Diretor
Fazenda Itahyê pela SABESP. Estratégico; instituía os Planos Regionais Estratégicos ceria de fomento do CAU/SP.
29 de abril de 2009
Valor do imóvel: R$ 8.209.437,28. das Subprefeituras; e dipunha sobre o parcelamento, a
INCRA e SABESP encaminham os termos de autorização de permanência na área, fevereiro a abril de 2022
disciplina e o ordenamento do uso e da ocupação do
contemplando 37 famílias. O INCRA também solicita um estudo de Viabilidade Realização de diagnósticos em
20 de novembro de 1980 solo no município de São Paulo.
Técnica e Financeira, para a criação do Projeto de Reforma Agrária, considerando 42 lotes da Comuna, para a ela-
Alberto Jackson Byington Jr. vende uma projeção futura para o assentamento de 84 famílias.
A partir dessa Lei, a Fazenda Itahyê (um imóvel rural) boração do Plano Territorial Po-
o imóvel à Administradora Itahyê,
passava a estar localizada na Macrozona de Estrutura- pular.
pelo valor de Cr$ 54.674.874,81. O 11 e 12 de novembro de 2009
registro do imóvel pela Administra- ção e Qualificação Urbana, caracterizada pelas seguin-
Reunião no INCRA, para debater a validade do LAF, bem como o conflito de interes- junho de 2022
dora Itahyê é realizado no dia 24 de tes zonas específicas:
ses, decorrente da participação de técnicos do ITESP na sua elaboração. Segundo Início do Canteiro Escola de
junho de 1981. a) ZPI: Zona Predominantemente Industrial
a SABESP, o valor da área do imóvel, apresentado pelo LAF, estava abaixo do seu Construção Agroecológica na
b) ZLT: Zona de Lazer e Turismo
valor real. Em 2008, os técnicos resposáveis pelo laudo avaliaram a área em R$ Comuna da Terra Irmã Alberta.
Segundo documentos contidos no c) ZEPAM: Zona Especial de Proteção Ambiental.
11.444.520,93. No ano anterior, a SABESP afirmava que a área estava avaliada em
processo jurídico que tramita no R$ 23.087.079,72.
INCRA, o primeiro registro do imó-
vel data de 1881.

1980 1998 1999 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
13 de janeiro de 2010
26 de maio de 1998 Agosto de 2005 Agosto de 2008 Reunião do Comitê Regional do INCRA,
O ex-governador Mário Covas aprova o Decreto A SABESP apresentou uma ordem de reintegra- Mais de 5.000 pessoas realizam a Romaria da Terra, organizada pe- para solicitar a emissão de Decreto Pre-
Nº 43.124, que declara a desapropriação da an- ção de posse da antiga Fazenda Itahyê. As famí- los acampados e pelo MST, com apoio da CPT e da Pastoral da Juven- sidencial, para a criação do Projeto de Re-
tiga Fazenda Itahyê para a SABESP, que seria lias acampadas teriam até o dia 05 de setembro tude, para se posicionarem contrárias ao projeto do Aterro (Lixão) e a forma Agrária para a Comuna.
destinada para a implantação de um Aterro Sa- para desocuparem a área. favor de sua regularização na Comuna.
nitário exclusivo para a disposiçao final de lodos 28 de janeiro de 2010
das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) de Os acampados organizaram um abaixo assinado INCRA avalia o imóvel como Grande Pro-
Barueri, Suzano, ABC, Parque Novo Mundo e São com 2 mil assinaturas, em defesa de sua per- priedade Improdutiva.
Miguel. manência no território.
19 de fevereiro de 2010
12 de agosto de 2006 A SABESP emite concordância com o
Ato de inauguração da Comuna da Terra Irmã Alberta, LAF e com o valor do imóvel.
organizado pelos próprios acampados e pelo MST. O
ato foi uma manifestação em repúdio à reintegração Fonte: Cartilha da Comuna Irmã Alberta | MST (s/d). 10 de março de 2011
de posse, em defesa do território e do assentamento Parecer do INCRA sobre a viabilidade ju-
das famílias acampadas. Ao longo de 2009 rídica expropriatória, favorável à desapro-
Famílias, apoiadores e o MST realizam diversas ações, ocupa- priação para criação do Projeto de Refor-
ções e reuniões (incluindo com o INCRA, o ITESP, a SABESP e ma Agrária da Comuna.
o governo estadual), para reivindicarem a regularização da Co-
muna da Terra Irmã Alberta. Um dos resultados dessas ações 18 de março de 2011
foi a promessa de que a área seria desapropriada pelo INCRA Comissão Técnica afirma à Superinten-
até março de 2010. dência do INCRA que o valor do imóvel
estava muito superior em relação à Pla-
nilha de Preços Referenciais. Devido ao
alto valor do imóvel, a Comissão Técnica
questiona sobre a conveniência de conti- Fonte: Acervo do ILS, 2022.
Fonte: Cartilha da Comuna Irmã Alberta | MST (s/d).
nuidade do processo de desapropriação.

26 de agosto de 2014
ITESP envia um Ofício, comunicando que o imóvel, se-
gundo novo laudo, estava avaliado em R$ 38.600.000,00.
Fonte: Cartilha da Comuna Irmã Alberta | MST (s/d).
27 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 28
ção do projeto de reforma agrária na município de São Paulo, que ocorreu em cimento dos adensamentos urbanos nos 2.3. A organização territorial das famílias
região; 2014. Nesta versão, a maior parte da área limites dos municípios de Santana de
• A proteção legal do uso da terra pelas da Comuna estava inserida na Macroárea Parnaíba e Cajamar. E, ainda, os diferentes
famílias, bem como o cumprimento de Controle e Qualificação Urbana e Am- zoneamentos estabelecidos pela revisão 2.3.1. A classificação dos lotes são parcelas de terra multifamiliares, teriais indispensáveis para a reprodução
de sua função social; biental, prevendo-se o apoio e incentivo à do PDE de São Paulo, de 2014, os quais não ocupadas por grupos de famílias sem social do campesinato.
• A geração de trabalho, emprego e agricultura urbana e periurbana. apenas circunscrevem a área da Comuna, Em abril de 2009, conforme apresentado terra e sem teto, sem diálogo com a
renda para jovens e adultos; mas têm sido caracterizados por uma sig- na Linha do Tempo da Comuna, o INCRA e coordenação e com risco de serem Já a segunda está relacionada às arma-
• O uso sustentável da oferta ambien- Segundo o Caderno de Propostas dos nificativa expansão industrial e por ocupa- a SABESP emitiram os termos de autori- vendidas ilegalmente. dilhas embutidas no comércio de terras
tal da área, assim como a preserva- Planos Regionais das Subprefeituras, a ções “irregulares” de moradias, inseridas zação de permanência, contemplando 37 reformadas, uma vez que sua regulamen-
ção de sua integridade física; Subprefeitura de Perus teria como diretriz na Macroárea de Preservação dos Ecos- famílias que ocupavam a área. Passados Antes de prosseguirmos com a caracte- tação, além de corroborar o processo de
• A diversificação dos processos e mé- “incentivar o desenvolvimento sustentá- sistemas Naturais – e que, inclusive, têm 13 anos, nossa equipe técnica verificou, rização dos núcleos, é importante men- reconcentração de terras, também repre-
todos de gerenciamento de políticas vel e a geração de renda, através da agri- adentrado ao perímetro da Comuna (como por meio dos diagnósticos, que 67 famí- cionarmos que a ocorrência de vendas senta um retrocesso no sentido político
públicas; lias habitam atualmente a Comuna, em 03 de lotes nos assentamentos de reforma da reforma agrária; isto é, o de alterar a
• A garantia de cidadania e dignidade Projeto Inicial da Comuna da Terra Irmã Alberta | 2006 tipologias de lotes, classificadas pela co- agrária (federais ou estaduais), inclusive estrutrua fundiária brasileira, baseada na
no campo; ordenação, em parceria com o MST, como: aqueles já regularizados, não é um fato grilagem e no latifúndio, por meio da justa
• A cooperação técnica e a integração Núcleo 01 – Antônio Conselheiro isolado; e não necessariamente se confi- redistribuição de terras e da garantia do
entre órgãos e diferentes agentes; • Lotes Regulares: com área de 0,5 gura como uma ilegalidade – apesar de o seu acesso àqueles que as reivindicam
• A produção agroecológica, com ga- hectare, em média, correspondem tema ser complexo, contraditório e, justa- para produzirem e viverem com seguran-
rantia de assessoria técnica e exten- aos lotes cujas famílias possuem o mente por isto, merecer um amplo debate ça e dignidade no campo.
são rural; termo de autorização concedido pela com o conjunto da sociedade.
• A conexão das áreas de conservação; SABESP; e, também, aos lotes que Em 2016 – ano em que o país (também)
Área de Produção foram posteriormente parcelados e Pelo menos no estado de São Paulo, as passava por uma forte crise política e por
• A articulação de sistemas de serviço, Núcleo 02 – Luís Ferreira Área Social Coletiva ocupados por novas famílias, a partir famílias dos assentamentos rurais que um recrudescimento da extrema direita,
como: secagem e beneficiamento;
produção de mudas nativas; infraes- de diálogos com a coordenação, res- vinham sendo administrados pelo ITESP, culminando no impeachment de Dilma –, a
truturas específicas para a produção; peitando-se as decisões e os acordos nos últimos anos, tinham a oportunidade Corregedoria Geral da União (CGU) divul-
informação mercadológica e ecotu- coletivos; de realizarem uma permuta entre seus gou o relatório de uma auditoria pública,
rismo. • Lotes Temporários: presentes nos lotes. Ou seja, uma família homologada, que apontava falhas e irregularidades na
Núcleo 03 – Paulo Freire Núcleos 01 e 02, esses lotes possuem de um assentamento A, poderia “trocar” concessão de benefícios da reforma agrá-
O Projeto Popular Inicial da Comuna áreas variadas e correspondem a no- de lote com outra família homologada, de ria, em todo o país.
Área de Produção Coletiva
vos parcelamentos, cedidos a algu- um assentamento B. Atestada a regula-
Antes mesmo do início das ações do IN- mas famílias de forma estratégica, ridade dos titulares dos lotes – por meio Tais irregularidades incluíam: a) a venda
CRA, as próprias famílias, de forma autô- por meio de instâncias coletivas de da DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf) expontânea de lotes no interior dos as-
noma e coletiva, em parceria com a coor- decisão (como assembleias), visando ou outros documentos –, ambos os lotes sentamentos, que não se restringiam ape-
denação estadual do MST, conduziram o garantir a produção e impedir a ocor- passariam por avaliações e levantamen- nas à terra, mas, inclusive, às benfeitorias
Área de Produção rência de ocupações irregulares e/ou tos financeiros, realizados por técnicos presentes nos lotes, como infraestruturas,
planejamento territorial da área, que en- Coletiva
volveu a perimetragem dos lotes unifami- vendas de terra; do ITESP, de modo que as diferenças de moradias, instalações; b) a concessão de
liares (realizada “na corda”, segundo elas) • Lotes Regulares (cedidos ou ocupa- preços poderiam ser pagas por meio de fi- lotes a empresários, políticos e funcioná-
e, também, das áreas coletivas e sociais. dos irregularmente): correspodem a nanciamentos. Esta é uma forma legal de rios públicos; c) a transferência expontâ-
parcelas de terra que, ao longo dos resolver os casos de desistência do lote nea de lotes a terceiros (sem comunica-
Na época da inauguração da Comuna da Núcleo 04 – Olga Benário anos, foram cedidas (por habitantes ou de famílias interessadas em migrarem ção prévia com o INCRA), que poderiam
Terra Irmã Alberta, que aconteceu em da Comuna) a novos grupos familia- para outros assentamentos – que, inclu- ser parentes, amigos ou outras pessoas
2006, com um ato político e comemorati- res que não participam das instâncias sive, podem estar localizados em outros sem relação de parentesco/proximidade
Fonte: MST | 2006 coletivas; ou, se configuram enquanto municípios. com os antigos beneficiários; d) a exis-
vo, a gleba estava parcelada da seguinte Sem Escala
forma: ampliações de lotes regulares, desti- tência de lotes desocupados e/ou impro-
cultura familiar e orgânica”. Já o Períme- é o caso do Vale do Sol). nados a aumentar a área produtiva; No caso dos assentamentos rurais admi- dutivos, por desistências ou falecimentos
• 04 Núcleos de Base, totalizando 42 tro de Ação Chácara Maria Trindade, onde ou, ainda, passaram por novos parce- nistrados pelo INCRA, a tentativa institu- dos antigos beneficiários; e) e a conversão
lotes unifamiliares, com 0,5 ha cada; se localiza a Comuna, teria como objetivo Já na escala local, ou seja, da própria lamentos e/ou vendas, ignorando as cional de viabilizar o comércio de lotes, de lotes em estabelecimentos comerciais
• 03 Áreas de Produção Coletiva, dividi- “estimular a atividade agrícola de baixo Comuna, as condições e os conflitos so- decisões coletivas. como já mencionamos anteriormente, é particulares, entre outras.
das entre os Núcleos 02, 03 e 04; impacto ambiental” e, ainda, como dire- cioterritoriais e ambientais, verificados antiga. Com relação a esta prática, a co-
• 01 Área Social, localizada no Núcleo triz, “incentivar o desenvolvimento sus- e analisados pela nossa equipe técnica, Além dos lotes regulares, os 04 Núcleos ordenação nacional do MST, por exemplo, A divulgação destas informações, quando
02. tentável através da agricultura familiar na durante a condução do Projeto, foram or- (conforme os mapas apresentados nas tem se posicionado contrária desde o promovida por canais midiáticos hegemô-
Comuna Irmã Alberta”28. ganizados a partir do mapeamento dos 04 páginas 33-40) também contam com 02 princípio, por duas razões principais. nicos e conservadores, sobretudo em pe-
Além dos Núcleos de Base, o Projeto Po- Núcleos de Base e serão apresentados no tipologias de invasões: ríodos de sérios tensionamentos políticos,
pular Inicial da Comuna (ilustrado na ima- A despeito do que dispunham os objeti- item 2.3, a seguir. A primeira fundamenta-se no entendi- acabam por corroborar uma leitura distor-
gem ao lado) também incluía: 03 áreas de vos e as diretrizes de tais instrumentos • Invasões Pontuais: também classifi- mento de que os lotes da reforma agrária cida sobre o tema da reforma agrária no
produção coletiva; e 01 área social – res- urbanísticos – que, vale lembrar, nunca cadas pela equipe técnica como inva- não se configuram enquanto propriedades país. Contrários às políticas de reforma
peitando-se, em todos os parcelamentos, se efetivaram neste território específico sões de baixa densidade habitacional, privadas capitalistas, mas no seu oposto. agrária (e, geralmente, defensores da pro-
a preservação das nascentes, da vegeta- –, a Comuna da Terra Irmã Alberta, assim são parcelas de terra unifamiliares, Enquanto terra de trabalho, seu papel priedade privada capitalista e de medidas
ção nativa e das áreas de proteção. como sua microrregião (apresentada no ocupadas por famílias sem terra e político não está baseado na exploração de mercado para solucionar os conflitos
Mapa Microrregional (p. 29-30)), vem sen- sem teto, sem diálogo com a coorde- do trabalho e na extração de mais-valia, agrários), estes setores – que, vale lem-
Os anos seguintes, que foram marcados do palco de conflitos, disputas e transfor- nação e com risco de serem vendidas mas no cumprimento de sua função so- brar, pertencem às classes de grandes
477/99, pelo INCRA, a partir de uma demanda
por marchas, manifestações, negociações mações socioterritoriais constantes. ilegalmente; cial. Neste sentido, a garantia do direito proprietários e capitalistas – também re-
do Conselho Nacional de Seringueiros do Acre.
institucionais e ameaças de reintregra- • Invasões Coletivas: também denomi- de posse e usufruto da terra ao assentado forçam a criminalização dos movimentos
ção de posse, também contaram com a Na escala microrregional, portanto, nos- 28
Ver: São Paulo, 2014; São Paulo, 2016a; São nadas pela equipe técnica como inva- não lhe confere o direito de propriedade, sociais de luta pela terra; e, ainda, com-
revisão do Plano Diretor Estratégico do so trabalho procurou demonstrar o cres- Paulo, 2016b. sões de alta densidade habitacional, mas o acesso a uma das condições ma- pactuam, em última instância, com a anu-
29 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 30
lação do lugar histórico ocupado pelos su- pequenos lotes, bem como sua co- de muitos conflitos e desafios. Especial- Além disso, a maioria dos lotes está ocu- Já o Núcleo 02, demonstrado no mapa das lamento de lotes, localizado em uma área
jeitos políticos que protagonizam as lutas mercialização ilegal, torna ainda mente porque, sendo a Comuna um ter- pada por famílias compostas por 01 a 04 páginas 35-36, e cujo acesso principal bastante íngreme, cujo desenho foi de-
por terra, por demarcações de territórios mais complexo o caráter político da ritório ainda em disputa, seus sentidos indivíduos, entre idosos, adultos, jovens e ocorre pela Área Social, é composto por nominado, popularmente pelas famílias,
indígenas e quilombolas, pela defesa de ocupação propriamente dita. Essas políticos também estarão em permanente crianças. 10 lotes regulares; 07 lotes irregulares; como “Roda de Carroça”. No sentido oeste,
florestas, reservas extrativistas, rios, ma- ações não somente ignoram as mo- confronto, independente de seu estatuto 04 lotes temporários e 02 ocorrências de próximo ao córrego que divide o perímetro
res e marés, e pelo direito universal à água bilizações que deram origem à ocu- jurídico. No que diz respeito às atividades laborais, invasão. No sentido leste, no trecho da da Comuna com a área urbana de Santana
e energia. pação da antiga Fazenda Itahyê (ou os desempregados representam 5%; co- estrada de terra com acesso pelo Teatro, de Parnaíba, existe uma ocorrência de in-
seja, baseadas na reivindicação para Ou seja, a própria regularização da Co- merciantes e aposentados representam, são constantes os empoçamentos em vasão, caracterizada pela equipe técnica
É a partir de discursos ideológicos desta que a área, antes ociosa e prevista muna, ao mesmo tempo em que se apre- cada um, 7%; trabalhadores da educação, períodos de chuva. No trecho adiante, que como sendo de “alta demanda habitacio-
natureza que, frequentemente, os meios para abrigar um aterro sanitário, fos- senta como uma reivindicação legítima e da construção civil e motoristas de cami- irá interligar o Núcleo 02 com o Núcleo nal”, bastante problemática.
de comunicação conservadores reportam se destinada à reforma agrária), como necessária, é também contraditória em si nhão representam, cada um, 9%; donas 03, a alta declividade da área, somada às
determinadas ações de luta do MST, por também dificultam as negociações mesma, posto que o reconhecimento das de casa representam 16%; agricultores inúmeras erosões, dificulta a mobilidade Não somente pelo comércio ilegal de pe-
exemplo, como “invasões de propriedade”, institucionais para a conquista do famílias enquanto portadoras de direitos representam 26%; e, por fim, 9% indicam interna dos habitantes, dificultando seus quenos parcelamentos de terra, do qual a
referendando uma ideia abstrata e despo- território. universais só se efetivaria, de fato, me- aqueles que se dedicam a outras ativida- deslocamentos para atividades cotidia- coordenação da Comuna tomou conheci-
litizada de que toda propriedade teria que diante a outorga da regularização do ter- des e 3% não responderam. nas, bem como o escoamento da produ- mento, mas, principalmente, pelo fato de
ser tratada como um “bem sagrado e in- 2.3.1. A caracterização dos Núcleos ritório – isto é, a demonstração evidente ção, sobretudo em épocas com alto índice muitas moradias estarem em uma área
violável”. do quanto o Estado brasileiro e suas ins- *** de chuvas. de encosta que, devido à ausência de sis-
Originados na fase dos acampamentos tituições burocráticas operam a favor da temas de contenção, apresenta alta inci-
Ora, o que as ocupações de terra organi- e orgânicos às dinâmicas de concepção manutenção do atraso. O Núcleo 01, conforme o mapa apresen- A maioria das famílias que ocupa os lotes dência de deslizamentos e desmorona-
zadas pelo MST (e por outros movimentos do projeto político-territorial do futu- tado nas páginas 33-34, é recortado pela regulares tem conseguido produzir, de mentos. Assim, as famílias ali instaladas,
de luta pela terra) buscam desvelar são, ro assentamento, os Núcleos de Base, Logo, mesmo a conquista da Comuna, via asfaltada Leonel Martiniano, que se forma agroecológica, uma diversidade de além de representarem uma parcela do
justamente, as contradições e ilegalida- presentes em muitos assentamentos de enquanto um projeto oficial de reforma conecta à Rodovia Anhanguera. Possui 13 frutas, hortaliças e legumes, fornecendo déficit habitacional urbano que precisaria
des embutidas nas formas de propriedade reforma agrária territorializados no país agrária, seria incapaz de por fim às dis- lotes regulares; 01 lote temporário para alimentos saudáveis à Cooperativa Terra ser solucionado, garantindo-lhes o direi-
privada que ainda prevalecem no Brasil, – especificamente aqueles que contaram, putas e aos conflitos socioterritoriais em moradia; 05 lotes temporários para produ- e Liberdade. to à habitação e à cidade, encontram-se
baseadas na grilagem e em práticas vio- submetidas a um sério risco de vida, bem
lentas de expropriação. Enquanto um mo- como as pessoas que trafegam por aquele
vimento social que reivindica a reforma trecho da estrada.
agrária como uma media constitucional
e de justiça social, as ocupações organi- Por fim, o Núcleo 04, apresentado nas
zadas pelo MST ocorrem em terras gri- páginas 39-40, possui 17 lotes regulares,
ladas e/ou devolutas e/ou improdutivas. 01 lote cedido irregularmente e 01 lote ir-
Tais ocupações (e não invasões), portanto, regular. Em sua face sul, o Núcleo 04 faz
se configuram enquanto táticas políticas divisa com a Comunida Vale do Sol, com-
que, além de denunciarem o modus ope- posta por mais de 500 famílias que, sem
randi da propriedade privada no Brasil, ter onde morar, ocuparam aquela área.
também disputam, por meio da reforma Construção do Armazém Agroecológico no Construção de uma casa com superadobe no Etapa de diagnósticos no lote de uma família Oficina para o Sistema de Tratamento de Durante o período crítico da pandemia
agrária, uma alteração na estrutura fun- Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. Núcleo 02. Acervo do Francisco | s/d. do Núcleo 03. Acervo do ILS | 2022. Esgoto no Núcleo 04. Acervo do ILS | 2022. de Covid-19, o adensamento da ocupação
diária brasileira, fundamentada no latifún- fez com que mais de 50 famílias sem teto
dio, no patrimonialismo e no rentismo. desde o princípio, com ações organizadas seu interior. ção; 05 lotes irregulares; 01 ocorrência de Com relação ao Núcleo 03, cujo mapa adentrassem ao perímetro da Comuna,
pelo MST –, são a expressão territorial da invasão; 03 edificações de uso comercial; pode ser observado nas páginas 37-38, gerando uma série de conflitos socioter-
É neste sentido que as invasões que têm organização política dos camponeses e Porém, talvez não seja esta a questão cen- 01 grande área, com 09 hectares, destina- nossa equipe técnica verificou a existên- ritoriais e ambientais. Sobretudo porque
ocorrido na Comuna da Terra Irmã Alberta trabalhadores sem terra. Configuram-se, tral com a qual tenhamos que nos preocu- da à produção coletiva e, também, abriga cia de 12 lotes regulares; 07 lotes irregula- a área interna à Comuna, hoje ocupada
representam um sério dilema. Desvincu- assim, enquanto táticas de organização e par, uma vez que não estamos tratando de o campinho e a Área Social. Devido à in- res e 09 ocorrências de invasão. por essas famílias, havia sido destinada,
ladas do processo político que deu origem direcionamento dos diversos assuntos re- (tampouco almejando) um território idea- tensidade dos conflitos políticos entre al- por meio de instâncias coletivas de de-
à ocupação da antiga Fazenda Itahyê – e ferentes aos setores (ou “frentes de luta”) lizado e isento de contradições. Muito pelo gumas famílias desse Núcleo e a coorde- Embora o Núcleo 03 possua a maior par- liberação, para o projeto da Ciranda Luiz
que tem garantido a existência da Comu- que orientam as ações do movimento – contrário. O reconhecimento dos embates nação da Comuna, nossa equipe técnica cela de APP, contando também com 04 Beltrame – um equipamento de educação
na até hoje –, tais ocorrências deflagram como educação, produção, saúde, cultura socioterritoriais presentes atualmente na precisou tomar alguns cuidados especí- nascentes, muitas famílias com as quais infantil, destinado a contemplar as crian-
uma dupla contradição: etc.; e, também, das atividades de forma- Comuna são, também, elementos consti- ficos, durante a etapa de diagnósticos, de nossa equipe técnica dialogou relataram ças tanto da Comuna, quanto da própria
ção política e das instâncias democráti- tutivos das múltiplas identidades daquele modo a evitar novos tensionamentos. dificuldades com a produção agrícola, Comunidade.
• I – A alta demanda por terra na região cas de deliberação. território e, principalmente, dos sujeitos baseadas, em sua maioria: na ausência
da Grande São Paulo torna evidente políticos que, de forma organizada, legí- O Núcleo 01 é permeado por nascentes de sistemas de fornecimento regular de Em 2018, as famílias da Comuna, junta-
que a reprodução social de um con- No caso específico da Comuna da Terra tima e democrática, o disputam enquanto e porções de mata nativa, classificadas água; na demanda por cursos de forma- mente com militantes do MST e asses-
tingente de famílias (e)migrantes, de- Irmã Alberta, os 04 Núcleos de Base ali um habitat; um lugar que lhes assegure as como APP. Os lotes mais próximos ao cór- ção técnica e acompanhamento periódico sores técnicos da área de arquitetura e
sempregadas, sem terra e sem teto é organizados homenageiam camponeses condições necessárias para ali viverem e rego que divide a Comuna e a área urba- por profissionais especializados; na baixa urbanismo, conseguiram construir, a par-
um fenômeno constante e indivisível assassinados, como é o caso de Luís Fer- trabalharem com dignidade, respeito, se- na de Santana de Parnaíba possuem alta qualidade do solo; na dificuldade com o tir de oficinas de formação e parceria de
do desenvolvimento desigual e com- reira, que dá nome ao Núcleo 02, e figuras gurança e cidadania. declividade, sendo também prejudicados planejamento do núcleo produtivo, tendo fomento com o CAU/SP, o primeiro barra-
binado do capitalismo; e, ainda, a ma- históricas e revolucionárias do nosso país, pelo rebaixamento do lençol freático, o em vista as características morfológicas cão da Ciranda, edificado com tijolos de
nifestação dessa demanda, que ocor- como Antônio Conselheiro (Núcleo 01), Sobre as condições socioeconômicas que dificulta a captação de água. Apesar e topográficas da área; na precariedade adobe. Porém, com o avanço das ocupa-
re em uma região caracterizada por Paulo Freire (Núcleo 03) e Olga Benário de a via asfaltada possuir iluminação pú- das estradas; e, também, na demanda por ções para o interior da Comuna, o barra-
processos conflitantes de territoriali- (Núcleo 04). A partir dos resultados dos diagnósticos, blica, a pavimentação apresenta diversas equipamentos, ferramentas e marqui- cão foi demolido, atrasando a consolida-
zação, mais aproxima do que distan- verificamos que, das 42 famílias que par- patologias, exigindo soluções para con- nários, fundamentais para a agricultura ção do projeto da Ciranda.
cia o rural do urbano, impondo novos Esses quatro agrupamentos (cujos mape- ticiparam do nosso Projeto, mais da meta- tenção de taludes, coleta e drenagem de camponesa.
desafios aos agentes envolvidos com amentos podem ser verificados nas pági- de de seus integrantes é representada por águas superficiais, sinalizações e cone-
o tema do planejamento territorial; nas 33-40) trazem consigo um histórico mulheres e está compreendida em uma xões adequadas para os acessos ao Teatro No projeto inicial da Comuna, como de-
• II – O parcelamento arbitrário de de conquistas significativas, mas também faixa etária entre 40 e mais de 60 anos. e à Área Social. monstrado na página 27, havia um parce-
31 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 32

MICRO REGIÃO
COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

COMUNA DA TERRA
Irmã Alberta
Parque
LIMITE
Anhanguera Municípios
1
MANCHA URBANA
Bairros

MANCHA URBANA
Cajamar Uso Industrial
2
ZONEAMENTO
Macroárea de Estruturação
Metropolitana
Comuna da Terra
Irmã Alberta ZONEAMENTO
Macroárea de Preservação
dos Ecossistemas Naturais
São Paulo
RODOVIA
Anhanguera

1 Macrozona de Estruturação
e Qualificação Urbana
3
2 Macroárea de Controle e
Qualificação Urbana e
Ambiental; Macrozona de
Proteção e Recuperação
Ambiental; Zona de Preservação
e Desenvolvimento Sustentável

Colinas Vale do Sol 3 Zona Rural

Santana
de Parnaíba
Jardim
Britania
Escala 1:10.000 Fonte: Plano Diretor Estratégico do Município
de São Paulo (2014).
Elaboração: Luiz Azevedo
33 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 34

NÚCLEO 1
ANTÔNIO CONSELHEIRO
COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

LOTES REGULARES

LOTES TEMPORÁRIOS
exclusivos para produção

7
LOTES INVADIDOS
Baixa densidade
6 habitacional

4
5 3 2 Leonel Martiniano LOTE IRREGULAR
1
13
12
ÁREA IRRIGADA
8
10 Área Social Teatro
INVASÕES
Alta densidade
15 11 habitacional
Campinho
14
9 PERÍMETRO DO IRMÃ
12 ABLBERTA
17 Área Coletiva para produção
10 11 CORPOS D’ÁGUA
16
Rios e Córregos
13
NASCENTES

ESTRADAS DE TERRA
Núcleo 02
ESTRADA ASFALTADA

COMÉRCIO
Sem Escala Sem Escala
Elaboração: Rodolfo Sertori
35 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 36

NÚCLEO 2
LUÍS FERREIRA
Leonel Martiniano COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

Área Social LOTES REGULARES

Campinho
LOTES TEMPORÁRIOS
exclusivos para produção

Viela LOTES INVADIDOS


Baixa densidade
10 Área Coletiva para produção habitacional

LOTES IRREGULARES
9 8 7 6 5
4 PERÍMETRO DO IRMÃ
3 ABLBERTA
2
1 CORPOS D’ÁGUA
Rios e Córregos

NASCENTES

ESTRADAS DE TERRA

ESTRADA ASFALTADA

COMÉRCIO

Núcleo 03 Sem Escala

Elaboração: Victor Presser


37 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 38

NÚCLEO 3
PAULO FREIRE
COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

LOTES REGULARES

LOTES INVADIDOS
7 Baixa densidade
habitacional

LOTE IRREGULAR
1 8
6
LOTE CEDIDO OU
2
9 OCUPADO
IRREGULARMENTE
13
12 3 INVASÕES
5 Alta densidade
4
habitacional

PERÍMETRO DO IRMÃ
15 ABLBERTA
14
CORPOS D’ÁGUA
Rios e Córregos
17
10 11 NASCENTES
16 11
10
ESTRADAS DE TERRA

ESTRADA ASFALTADA

12
Núcleo 04

Sem Escala Sem Escala


Elaboração: Rodolfo Sertori
39 Sobre a Comuna Sobre a Comuna 40

NÚCLEO 4
OLGA BENÁRIO
COMUNA DA TERRA IRMÃ ALBERTA

LOTES REGULARES
Núcleo 03

LOTES INVADIDOS
Baixa densidade
habitacional

1
LOTE IRREGULAR
2
LOTE CEDIDO OU
OCUPADO
IRREGULARMENTE
13
12 3 INVASÕES
Alta densidade
4 habitacional

5 PERÍMETRO DO IRMÃ
15 ABLBERTA
14 6
CORPOS D’ÁGUA
Rios e Córregos
17 7
8 9 NASCENTES
16 10 11
ESTRADAS DE TERRA

ESTRADA ASFALTADA

COMÉRCIO

CIRANDA
LUÍS BELTRAME
Comunidade Vale do Sol Sem Escala
Elaboração: Victor Presser
41 Cenário atual do habitat Cenário atual do habitat 42
MUT) – mecanismos incorporados pelo por exemplo, e de outros territórios que, com a proposição de soluções arqui-
governo federal para rastrear as famílias apesar de regularizados ou demarcados, tetônicas, construtivas e tecnológi-
que já haviam acessado outros financia- ainda convivem com disputas fundiárias cas adequadas e adaptadas aos di-
mentos habitacionais, que mobilizavam –, não se resolveria (no âmbito do PNHR) versos contextos regionais, culturais,
fundos públicos. sem que antes as relações de propriedade sociais, econômicos, ambientais e
e expropriação fossem solucionadas. De patrimoniais, característicos das áre-
Para as famílias do Grupo I (especifica- acordo com Sertori (2019), não foi por aca- as e dos povos rurais do país;
3. Cenário atual do habitat mente aquelas das regiões sul, sudeste, so o PNHR ter concentrado sua produção, • O atendimento às famílias com pos-
centro-oeste e nordeste), o PNHR disponi- particularmente no estado de São Paulo, tos de trabalho nas áreas urbanas,
Por Rodolfo José Viana Sertori Lote de uma família do Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022.
bilizou, até 2016, os seguintes valores por nas áreas rurais com melhores condições mas que residiam nas áreas rurais
unidade, sendo 96% na forma de subsídio de infraestrutura; e, também, onde os con- – sobretudo aquelas submetidas a
e 4% na forma de financiamento, dividido flitos fundiários inexistiam ou estavam, condições habitacionais precárias; e,
em 4 parcelas anuais, sem juros: aparentemente, solucionados. também, o atendimento às famílias
3.1. Condições habitacionais que não conseguiam comprovar sua
• Construção: R$ 28.500,00 B) A despeito do reajuste de valores, apro- renda e/ou a posse da terra (como
3.1.1. Sobre os programas habitacionais çado em 2003, durante o primeiro governo na compra de materiais padronizados (via • Reforma/Ampliação: 17.200,00 vado em 2016, ficaram de fora das novas trabalhadores rurais informais, pos-
Lula, após uma reformulação do antigo cestas de materiais), ferramentas e na ad- • Assessoria Técnica: R$ 600,00 diretrizes do PNHR – vigentes até a extin- seiros etc.);
Antes do lançamento do Programa Minha PSH (criado no segundo governo de FHC), ministração da obra. Cada unidade habita- • Trabalho Técnico Social: R$ 400,00 ção do MCMV, em 2019: • A integração com os programas de
Casa, Minha Vida (MCMV) – regulamenta- o programa disponibilizava um subsídio cional contava com um projeto padrão de provimento das infraestruturas bási-
do pela lei Nº 11.977, de julho de 2009 –, a de R$ 4.500,00 por unidade, contando com 43,18 m² de área construída, prevendo-se a No estado de São Paulo, muitos dos pri- • A garantia da Lei de Assistência Téc- cas, o que poderia: facilitar a organi-
produção habitacional nos assentamen- um aporte do INCRA (via Crédito Instala- possibilidade de ampliação. meiros contratos do PNHR, aprovados nica (Nº 11.888/2008) na etapa de ela- zação dos trabalhos nos canteiros de
tos rurais de todo o país era subsidiada, ção), que poderia variar de R$ 2.000,00 a no âmbito do Grupo I, contaram com um boração das peças técnicas. No caso obras; evitar atrasos com as entre-
quase que exclusivamente, pelo Programa R$ 5.000,00. Além de contemplar famílias 3.1.2. O PNHR vinculado ao MCMV aporte de R$ 10 mil por unidade, oriundo do do PNHR, o Ministério das Cidades gas de materiais (que ocorriam em
Crédito Instalação, do INCRA. inadimplentes – situação vivenciada por Programa Casa Paulista30. não autorizava a remuneração dessa decorrência das más condições das
muitos assentados –, Cecília Silva (2014) Segundo Rover & Munarini (2010), Silva etapa, uma vez que a multiplicidade estradas de terra); e reduzir os custos
Criado originalmente em 1985 – mesmo e Sertori (2019) afirmam que o PSH-Rural (2014) e Sertori (2019), a primeira versão do Em março de 2016, com a Portaria Inter- de projetos elaborados e encami- adicionais com o suprimento de água,
período de lançamento do I Plano Nacio- produziu, durante seu período de vigência, PNHR data de 2003, reunindo o PSH-Rural ministerial Nº 97, a renda bruta anual dos nhados para a análise do corpo téc- energia e outros insumos;
nal de Reforma Agrária, durante o gover- 9.410 unidades em todo o país, por meio de e as duas modalidades do Carta de Crédi- possíveis beneficiários do Grupo I foi re- nico dos agentes financeiros (como • A abertura do debate sobre proces-
no de José Sarney –, o Crédito Instalação mutirões autogeridos e autoconstruções. to. Em 2004, o Programa Crédito Solidário, ajustada para R$ 17 mil, assim como os a Caixa e o Banco do Brasil) se con- sos “não hegomônicos” de produção
vinha sendo gerenciado por agrônomos e que vinha sendo operacionalizado com valores disponibilizados pelo programa figurava em um risco potencial de habitacional, priorizando: uma justa
técnicos agrícolas. Até 2012, o programa • Programa Carta de Crédito recursos do Fundo de Desenvolvimento (considerando aqui, novamente, as regi- reprovação. Diante desta irracionali- remuneração das Entidades e dos
oferecia duas modalidades de subsídio Social (FDS), também foi incorporado ao ões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste): dade burocrática, as Entidades Orga- trabalhadores; o uso de materiais
habitacional, contemplando os assenta- Organizado em duas modalidades – Ope- PNHR, que seria transformado na moda- nizadoras transferiram tal etapa para construtivos não convencionais; o
mentos regularizados e com infraestru- rações Coletivas e Operações de Parce- lidade rural do MCMV em 2009. • Construção: R$ 34.200,00 empresas com capital de giro (como projeto e a pré-fabricação de compo-
turas instaladas, como água e energia: a) rias –, esse programa foi originalmente • Reforma/Ampliação: R$ 20.700,00 escritórios locais ou pequenas em- nentes construtivos com desempe-
aquisição de materiais para a construção lançado em 2000 e também mobilizou Em fevereiro de 2013, com a aprovação da • Assistência Técnica: R$ 1.000,00 preiteiras, localizadas, às vezes, em nhos satisfatórios; a formação de jo-
de novas moradias; b) e aquisição de ma- recursos do FGTS e do OGU. O Carta de Portaria Interministerial Nº 78, os assen- • Trabalho Técnico Social: R$ 700,00 cidades ou estados distintos de onde vens e adultos nas diversas etapas de
teriais para recuperação, reforma e am- Crédito contou com a parceria do INCRA e tados da reforma agrária foram incluí- a produção habitacional aconteceria), projeto e obra; e a criação de oportu-
pliação de moradias já construídas. de estados, Distrito Federal e municípios, dos enquanto possíveis beneficiários do No bojo das articulações que foram em- que, geralmente, utilizavam projetos nidades complementares de trabalho
para: aquisição de terrenos; garantia de PNHR29. Neste sentido, a questão habi- penhadas a partir de 2014, visando redefi- padronizados, oriundos do banco de e renda, por meio da organização de
De acordo com Cecília Silva (2014) e Ser- infraestruturas básicas (como estradas e tacional nos assentamentos de reforma nir as metas, os subsídios e as diretrizes projetos da Caixa. Assim, facilitava- empreendimentos coletivos locais,
tori (2019), até 2008, os valores concedidos fornecimento de água e energia); e acesso agrária, antes mediada pelo antigo Minis- operacionais do PNHR, marcadas também -se sua adequação à Tabela SINAPI solidários e autogestionários.
para cada família assentada que conse- das famílias à assessoria técnica. Segun- tério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por uma reconfiguração das relações en- e assegurava-se sua aprovação. De
guiu acessar o Programa, na primeira mo- do Cecília Silva (2014) e Sertori (2019, p. por intermédio do INCRA, seria gerenciada tre setores organizados dos povos rurais e acordo com Akemi Ino et al. (2018), 3.1.3. Condições habitacionais na Comuna
dalidade, eram de R$ 5 mil, os quais foram 134), o programa subsidiou a produção de pelo Ministério das Cidades. agências do governo federal, algumas ob- Sertori (2019) e Rodríguez (2020), tais
reajustados para R$ 15 mil, em 2009, e R$ 62.310 unidades nas Operações Coletivas servações – formuladas por Akemi Ino et empresas tornaram-se responsáveis Ao longo dos 20 anos de existência da
25 mil, em 2012. Já os valores referentes à e 43.715 unidades nas Operações Parce- Ao longo das duas primeiras fases de seu al. (2018), Sertori (2019) e Rodríguez (2020) pela gestão das obras, o que incluía: Comuna da Terra Irmã Alberta, a maio-
segunda modalidade, no mesmo período, rias, em todo o país. funcionamento (de 2009 a 2014), as fa- – merecem ser destacadas: a contratação e o pagamento da mão ria de seus habitantes (que participou da
eram de R$ 3 mil, passando para R$ 5 mil, mílias do Grupo I (no qual os assentados de obra; a definição e compra dos ocupação, em julho de 2002) presenciou
em 2009, e R$ 8 mil, em 2012. Já na escala estadual (particularmente no foram incluídos) deveriam ter uma renda A) O déficit habitacional nas áreas rurais materiais de construção; o aluguel o funcionamento de todos os programas
caso do estado de São Paulo), podemos bruta anual de até R$ 15 mil, comprovada (incluindo os assentamentos de reforma de equipamentos e a contratação de
Além do Crédito Instalação, alguns assen- destacar o Pró-Lar Rural, que foi lançado pela Relação de Beneficiários (RB), emiti- agrária), considerado enquanto força mo- serviços e fornecedores de insumos 29
Desde o início do MCMV, em 2009, o PNHR já
tamentos também foram atendidos por em outubro 2003, durante o governo de da pelo INCRA. Por meio deste documen- triz que justificaria a existência do PNHR/ (como caminhões pipa e geradores, incluía, como possíveis beneficiários do Grupo
outros programas habitacionais federais, Geraldo Alckmin. Por meio de um con- to, a Caixa verificava a regularidade no MCMV e, ainda, o seu possível direciona- quando os assentamentos ainda não I, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, pesca-
especialmente durante os anos de 2003 vênio entre o ITESP e a CDHU, o governo usufruto do lote pelos assentados, além mento para as regiões onde este contin- contavam com fornecimento de água dores artesanais, indígenas e demais comuni-
a 2012. Dentre esses programas, podemos estadual pretendia subsidiar a construção dos programas e créditos já acessados, gente deficitário seria maior (cuja mag- e energia); e a adequação orçamen- dades tradicionais (BRASIL, 2013).
destacar: de 3.785 unidades habitacionais nas áreas destinados ao incentivo do ciclo de produ- nitude e qualificação ainda carecem de tária dos projetos, com autonomia de
rurais paulistas, abrangendo 63 municí- ção agrícola. apurações mais detalhadas e precisas), decisão sobre alterações ou supres- 30
Gerenciado pela Secretaria Estadual de Ha-
• PSH-Rural (Programa de Subsídio à pios e mobilizando um investimento total está diretamente atrelado à questão agrá- sões de etapas construtivas (como bitação, o aporte do Programa Casa Paulista
Habitação de Interesse Social Rural) de R$ 32,7 milhões. Os possíveis beneficiários também não ria brasileira. acabamentos, revestimentos e va- era proveniente do Fundo Paulista de Habita-
podiam estar em débito com a Receita Fe- randas) e sobre a remuneração dos ção de Interesse Social (FPHIS), instituído pela
Gerenciado pela Caixa Econômica Federal, Para o processo construtivo, a CDHU re- deral, tampouco estarem registrados no Ou seja, o problema habitacional nos ter- trabalhadores da construção; Lei Nº 53.823/2008 e aprovado pela Delibera-
o PSH-Rural mobilizava recursos do Fundo passava às prefeituras municipais (ou Cadastro Informativo de Créditos não Qui- ritórios rurais, sobretudo aqueles perme- • O incentivo a parcerias com univer- ção Normativa Nº 11, de 11/09/2012. Esse aporte
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e demais parceiros) o valor de R$ 8.655,05 tados do Setor Público Federal (CADIN), ou ados por conflitos fundiários – como é o sidades, grupos de pesquisa e outros contemplou 4 mil unidades, até 2015. Ver: Ser-
do Orçamento Geral da União (OGU). Lan- por unidade, o qual deveria ser empregado no Cadastro Nacional de Mutuários (CAD- caso da Comuna da Terra Irmã Alberta, agentes, que poderiam contribuir tori (2019, p. 140-141).
43 Cenário atual do habitat Cenário atual do habitat 44

Síntese das condições habitacionais - Período de referência: julho de 2022


Giza e Márcio (Núcleo 04) José Martins e Judite (Núcleo 04) Noêmia e Osmar (Núcleo 04)
O casal divide a edificação com os três O investimento na construção da casa foi de Com um investimento de quase R$ 90
filhos, Raoni, Tomás e Núbia. A unida- R$ 130 mil, sem a mão de obra. A casa, pro- mil, a casa foi construída há 5 anos, com
de, que possui sala, cozinha, banheiro jetada pelo morador, possui sala, cozinha, um a ajuda de filhos, amigos e parentes. É
e dois quartos, foi construída com sis- quarto com banheiro, um banheiro social e uma das moradias mais bem acabadas,
tema estrutural em peças de eucalipto uma lavanderia. As paredes internas de al- com piso cerâmico, azulejo na cozinha
roliço, extraídas da própria Comuna, e guns cômodos estão apenas rebocadas. O e no banheiro, pinturas externa e in-
vedação em paletes e chapas de po- piso é de cimento queimado, com cera. Pela terna, forro interno de PVC, esquadrias
lionda de PVC. O piso é de terra batida imagem, é possível ver a calha que direciona metálicas, telhado de fibrocimento e
e as telhas são de fibrocimento. As ins- a água da chuva para uma caixa d’água exter- varandas. A única patologia relatada
talações elétricas e hidráulicas estão na. Nos períodos de seca, só conseguem água pela família refere-se a goteiras no in-
expostas no interior da edificação. para tomar banho e preparar a comida. terior da edificação.

Bianca e Rafa (Núcleo 02) Lucilene (Núcleo 02) Iranice (Núcleo 01)
A edificação foi construída com siste- Com sala integrada à cozinha, dois quartos A unidade possui dois quartos, dois ba-
mas mistos em madeira e terra (taipa e um banheiro, a casa foi construída com nheiros, sala, cozinha e varanda, com
de mão). Possui uma sala integrada à estrutura em roliços de eucalipto (extraídos área de serviço. Foi edificada com al-
cozinha e ao depósito de ferramentas, da Comuna), alvenaria cerâmica no banhei- venaria cerâmica, com revestimento
um banheiro e um quarto. O piso é de ro (rebocada apenas no interior) e chapas de interno, piso cerâmico, azulejo na co-
cimento aparente e as instalações elé- madeirite. O sistema de cobertura possui te- zinha e nos banheiros e cobertura com
tricas e hidráulicas estão aparentes. Há souras em madeira e telhas de fibrocimento telhas de fibrocimento, sem forro. As
frestas nas vedações, o que prejudica e metálicas, sem forro. Há uma caixa d’água fiações elétricas estão expostas e as
o conforto térmico no inverno e coloca interna, posicionada acima do banheiro, e as tubulações hidráulicas e sanitárias es-
em risco a segurança do casal, devido fiações elétricas estão expostas pelo interior tão embutidas. Possui fossa séptica e
aos animais peçonhentos. da unidade. dois poços de água perfurados no lote.

EDIFICAÇÕES PROVISÓRIAS EDIFICAÇÕES COM SISTEMAS MISTOS E INACABADAS EDIFICAÇÕES DE ALVENARIA ACABADAS

Roseane e Henrique (Núcleo 03) Amaro e Josefa (Núcleo 02) Nazareth (Núcleo 01)
Ocupada pelo casal, pelas duas filhas Amaro investiu recursos próprios na compra A edificação possui dois quartos, sala,
pequenas, Lívia e Luiza, e pela irmã da de materiais e no pagamento de mão de obra. banheiro e cozinha, com duas varan-
Roseane, Maria Raiane, a edificação foi A casa possui uma sala integrada à cozinha, das. A construção, que ocorreu em 2018,
construída há 3 anos pelo José Rober- dois quartos e um pequeno banheiro. As pare- foi organizada durante um período de
to (pai de Roseane), que desembolsou des estão rebocadas e apresentam rachadu- 12 meses. Nazareth não sabe ao cer-
aproximadamente R$ 7 mil com mate- ras; já o contrapiso está aparente. Aos fundos, to quanto gastou durante o processo
riais construtivos. O sistema estrutural Amaro construiu uma varanda improvisada, construtivo. O sogro de um de seus fi-
é composto por roliços de eucalipto, com pé-direito baixo e que abriga a lavanderia lhos ajudou com a compra de areia, te-
extraídos no local; as vedações são em e o forno à lenha. Quando utilizado, a fumaça lha, cimento e mão de obra. Os outros
chapas de polionda de PVC e as telhas expelida pelo forno torna o interior da casa materiais foram adquiridos por ela, em
são onduladas, de fibrocimento. bastante desconortável. lojas de materiais de construção da re-
gião. A única patologia na edificação,
relatada por ela, diz respeito à presença
Damião e Ernestina (Núcleo 03) Sílvia e Vandenício (Núcleo 01) de goteiras na sala, devido ao mau posi-
Com sala, cozinha, quarto e uma va- Além do casal, também moram na edificação cionamento das telhas de fibrocimento.
randa em L, a edificação foi construída os dois filhos mais novos, Luan (22) e Lucas
pelo Damião, que utitlizou eucalipto ro- (20). Construída com entulhos encontrados Aos fundos, há dois cômodos separados
liço para a estrutura, e paletes e chapas no próprio terreno, doações de parentes e e com pé direito baixo, construídos com
de polionda de PVC para as vedações. vizinhos e materiais comprados em depósi- tábuas em estado precário de conser-
O banheiro está localizado na área tos locais, a unidade possui vedação parcial- vação. Um desses cômodos abriga o
externa. As instalações elétricas e hi- mente em alvenaria cerâmica aparente (sala, seu irmão (um senhor que possui pro-
dráulicas estão aparentes, assim como copa, banheiros e quartos), e parcialmente blemas de saúde e necessita de cui-
o quadro de disjuntores. Na varanda, o em tábuas de dimensões diversas (cozinha, dados); o outro é utilizado exporadica-
piso é de terra batida. No interior, o con- quarto e área de ferramentas). As telhas são mente por um de seus filhos, que reside
trapiso não possui revestimento. onduladas, de fibrocimento. com a mulher e os filhos em Cajamar.
45 Cenário atual do habitat Cenário atual do habitat 46
habitacionais que foram mencionados sos, estão desgatados ou em estado avan- com alguns ambientes subdimensionados 3.2. Condições de acesso a infraestruturas, equipamentos e serviços
anteriormente. No entanto, devido ao im- çado de apodrecimento, prejudicando os e com baixa ventilação e iluminação natu-
passe fundiário com a SABESP – que tem desempenhos dos sistemas construtivos rais. Apesar desses arranjos supostamen-
contribuído para que o não reconheci- – os quais, além disso, encontram-se em te atenderem às dinâmicas internas de 3.2.1. Sobre as políticas de infraestruturas tante e necessária para os povos rurais. renováveis), bem como para a captação, o
mento do território pelo INCRA esteja se desconformidade com parâmetros nor- uso dos moradores, o programa arquitetô- Contudo, não podemos deixar de colocar armazenamento e a distribuição de água.
arrastando por duas décadas –, as famílias mativos e orientações técnicas de projeto nico poderia ter sido melhor solucionado, • Energia e água em questão que as tipologias em xadrez
da Comuna sequer tiveram a oportunida- e construção. caso as famílias tivessem garantido seu dos assentamentos rurais (como apre- Se, por um lado, o acesso à energia elétri-
de de, sequer, acessá-los. direito à assessoria técnica, especialmen- Nos assentamentos de reforma agrária, sentamos no capítulo 1, sobre o conceito ca é um direito social elementar e indis-
A implantação dessas unidades, somada te nas fases de projeto e construção. particularmente aqueles criados e homo- de habitat camponês) acaba impondo tal pensável para as atividades domésticas
Organizadas em três grupos, conforme às diversas inadequações arquitetônicas logados pelo INCRA – ou seja, quando la- sistema como principal modelo para o e produtivas nos assentamentos rurais, a
apresentado acima, na síntese elabora- e irregularidades construtivas, não favo- Em alguns casos, as instalações elétricas tifúndios improdutivos ou terras griladas fornecimento de energia aos assentados instalação de tecnologias limpas, de bai-
da pela equipe técnica – i) edificações rece a iluminação natural e a ventilação encontram-se em situações semelhan- passam por processos desapropriatórios – isto, quando as antigas fazendas já não xo custo e de fácil manutenção também
provisórias; ii) edificações com sistemas cruzada no interior dos cômodos, assim tes àquelas observadas nas moradias do e são convertidos, geralmente, em tipo- contavam com energia elétrica instalada, podem se configurar como alternativas
mistos e inacabadas; iii) edificações de como a sugurança e o conforto dos mo- primeiro grupo. Os pisos variam entre ter- logias padronizadas de assentamentos antes da criação dos assentamentos. complementares para a democratização
alvenaria acabadas –, as moradias das fa- radores, devido: à presença de animais ra batida, contrapiso aparente, cimento rurais, com lotes unifamiliares, garantindo do direito à energia, justamente por con-
mílias da Comuna foram construídas por peçonhentos, que adentram pelas frestas queimado caseiro (com cera) e revesti- o reconhecimento legal do direito de pos- Quando não, esse modelo acaba enca- templarem: a) as diversidades regionais
elas mesmas (ou com a ajuda de parentes verificadas nos sistemas de vedação ou mento cerâmico com peças uniformes ou se e usufruto das respectivas parcelas de recendo o processo de estruturação dos e climáticas do país; b) a não dependên-
e/ou vizinhos), com recursos financeiros nas interfaces entre sistemas (vedação e cacos. Apesar de o fornecimento de água terras aos assentados –, o acesso às in- assentamentos, uma vez que a rede de cia única e exclusiva de energia elétrica,
próprios e escassos, e sem o apoio de as- esquadrias, vedação e estruturas, vedação na Comuna ser um dos principais entraves fraestruturas básicas, como água e ener- eletrificação precisa abranger toda a me- contribuindo, inclusie, para a redução dos
sessoria técnica nas etapas de projetos, e cobertura); à exposição de fiações elétri- a ser solucionado, as famílias desse grupo gia, vinha ocorrendo (pelo menos durante tragem linear das estradas internas. Além gastos com as tarifas de energia elétri-
orçamentos e obra. cas no interior dos ambientes, geralmente possuem caixas d’água instaladas na área os últimos governos de Lula e Dilma ) por disso, a depender das orientações políti- ca; c) e a variedade de usos (domésticos
mal dimensionadas, mal encapadas e mal externa, conectadas aos pontos de consu- meio de licitações promovidas pela autar- cas dos governos federais, bem como das e produtivos), tanto na escala unifamiliar,
Essas moradias apresentam (sobretudo conectadas aos disjuntores, às tomadas e mo das unidades, por meio de tubulações quia31, as quais englobavam, muitas vezes, conjunturas político-econômicas nacio- quanto na escala de associações e/ou co-
aquelas dos dois primeiros grupos, que aos interruptores; e à passagem de vento aparentes e/ou embutidas. diversos assentamentos de um mesmo nais e internacionais, o repasse de recur- operativas.
são a maioria das unidades habitacionais e água de chuva, que não apenas intensi- município ou região. sos para a composição orçamentária do
da Comuna) um conjunto de precarieda- fica o desconforto das famílias, sobretudo Algumas moradias possuem calhas im- INCRA pode ser reduzido drasticamente, Da mesma forma, a abertura para solu-
des e patologias, relacionado às condições nas épocas de frio, como, também, fragi- provisadas, que abastecem reservatórios Tais licitações, além de estarem atreladas atrasando ou inviabilizando, por anos, a ções tecnológicas destinadas ao forne-
de habitabilidade. Ou seja, à: a) funciona- liza seu estado de saúde (principalmente, adicionais para o armazenamento de à disponibilidade orçamentária e técnica instalação e o acionamento dos servi- cimento de água nos assentamentos, no
lidade, considerando o programa arquite- das crianças, idosos e pessoas com esta- águas pluviais. Em sua maioria, as casas do INCRA, eram direcionadas à contrata- ços de energia (e, consequentemente, de interior das políticas e dos programas se-
tônico, as dimensões dos ambientes, sua dos de saúde fragilizados). estão conectadas a fossas ecológicas ou ção de serviços especializados para: água) nos assentamentos. toriais, também se apresenta como uma
organização e adequação espacial, bem sépticas. No entanto, alguns moradores disputa necessária pela democratização
como sua relação com os mobiliários, o Além de os banheiros estarem localizados ainda fazem uso da “fossa suja”, contri- • A perfuração de poços d’água (cujo Outro aspecto problemático, segundo Ser- do direito à água – especialmente para os
conforto termoacústico e os usos dos cô- na área externa, como anexos à unidade, buindo com a contaminação do solo. funcionamento, acionado por bombas tori (2019), diz respeito às tarifas de ener- habitantes de territórios “informais” ou “ir-
modos estabelecidos pelos moradores; b) os dejetos de pias, tanques, ralos e vasos mecânicas, depende do fornecimento gia e sua divisão entre os assentados. Or- regulares”, uma vez que estamos tratando
acessibilidade, tomando como referência sanitários são despejados ora no terreno, • Edificações de alvenaria acabadas de energia elétrica nos assentamen- ganizadas a partir do consumo de energia de um direito humano essencial.
a NBR 9050/2015; c) flexibilidade dos sis- ora em fossas irregulares, prejudicando tos); para o funcionamento dos reservatórios
temas construtivos e das instalações pre- a qualidade do solo, do lençol freático, As edificações organizadas nesse terceiro • A instalação de reservatórios coleti- coletivos – cujos poços são instalados em Neste sentido, o Programa Cisternas32
diais, tendo em vista as faciilidades e difi- da produção e os sistemas de captação grupo representam a minoria das casas vos junto aos poços d’água (cuja co- locais específicos no interior dos assen- que, desde 2003, tem contribuído para me-
culdades no caso de futuras reformas ou de água dos vizinhos, dependendo de sua das famílias da Comuna. Construídas com nexão aos lotes pressupunha que as tamentos, de modo que cada reservatório lhorar as condições de vida e cidadania de
ampliações; e d) implantação da unidade localização e/ou da topografia do terreno. blocos cerâmicos (com paredes externas unidades habitacionais estivessem possa abastecer um grupo de famílias –, famílias rurais do semiárido, assim como
no lote, considerando o favorecimento de e internas rebocadas e pintadas), cobertu- finalizadas e fossem definitivas – essas tarifas são coletivas, e não individu- de outras regiões do país que são atingi-
iluminação e ventilação naturais e, ainda, • Edificações com sistemas mistos e ra com telhas de fibrocimento (às vezes, logo, supostamente subsidiadas por ais, sendo recebidas em nome dos repre- das pela seca, não apenas precisaria ser
suas conexões com acessos e passeios, inacabadas com forro de PVC no interior) e conecta- programas habitacionais), de modo a sentantes de cada grupo, os quais, por sua retomado, mas melhorado e ampliado.
infraestruturas, instalações para os ofí- das a varandas ou alpêndres, posiciona- fornecer água para o consumo fami- vez, se responsabilizam pelo recolhimen-
cios laborais, vegetações e áreas livres, de As moradias desse segundo grupo en- dos nas áreas de acesso à sala e/ou à co- liar, e não para a irrigação da produ- to da cota-parte dos outros integrantes de 31
Nos últimos anos e na esfera nacional, as
convívio e produção. contram-se em um processo contínuo de zinha, essas unidades possuem melhores ção agrícola; seu respectivo grupo. O atraso ou o não infraestruturas básicas dos assentamentos
“obra em andamento”. Ou seja, a partir da condições construtivas, se comparadas • E a instalação de rede de energia, via pagamento da referida cota-parte por um são uma das atribuições da Diretoria de De-
• Edificações provisórias disponibilidade de recursos financeiros e àquelas dos dois grupos anteriores. concessionárias, composta por pos- ou mais integrantes pode gerar conflitos senvolvimento e Consolidação de Projetos de
mão de obra, assim como das oportunida- tes de concreto dispostos ao longo entre os assentados, bem como implicar Assentamento. No estado de São Paulo, que
No que diz respeito às moradias desse des de conciliarem o trabalho na lavoura e Contudo, para além de algumas deficiên- das estradas internas, contemplando no endividamento dos representantes; e, conta com uma Superintendência Regional,
primeiro grupo, os materiais empregados na construção, as famílias seguem cons- cias particulares, verificadas no projeto sistemas bifásicos ou trifásicos, mas inclusive, na interrupção do fornecimento este tema é tratado no âmbito das Divisões
no processo construtivo são os mais di- truindo suas casas, seja para finalizarem arquitetônico e referentes à organização não a iluminação da malha viária – de energia pela concessionária, no caso de Desenvolvimento e Consolidação; Implan-
versos, como: chapas de polionda de PVC etapas construtivas inacabadas, seja para espacial e à métrica dos cômodos, tam- uma vez que a oferta deste serviço, do não pagamento da tarifa – acarretando, tação; Infraestrutura; e Desenvolvimento de
e OSB, telhas de fibrocimento, roliços de solucionarem patologias decorrentes da bém foram observados alguns problemas pelo menos no estado de São Paulo, também, na interrupção do fornecimento Assentamentos.
eucalipto extraídos na própria Comuna própria inconclusão dessas etapas (ou de- no sistema de cobertura – que, em alguns dependia de acordos firmados com de água.
(não tratados e com diâmetros de, apro- rivadas de inadequações relacionadas aos casos, apresenta goteiras. E problemas no as prefeituras municipais (SERTORI, 32
Apesar de ser operacionalizado desde 2003,
ximadamente, 10 cm), paletes, madeirite, seus respectivos processos construtivos). conforto térmico, devido à orientação das 2019). No bojo do debate sobre as políticas e os com recursos do antigo Ministério do Desen-
terra crua, lonas plásticas e outros ma- unidades, propiciando a ocorrência de mo- programas setoriais destinados a garantir volvimento Agrário (MSD), o Programa Nacio-
teriais reaproveitados, adquiridos por do- Com sistemas de vedação vertical em fos; e, também, relacionado às dimensões No âmbito das políticas públicas voltadas essas infraestruras básicas aos assen- nal de Apoio à Captação de Água de Chuva e
ações ou encontrados no próprio lote ou alvenaria cerâmica (com revestimentos e à posição das aberturas (e ao material a resolver a falta de energia nas áreas ru- tamentos rurais, Akemi Ino et al. (2018) e Outras Tecnologias Sociais de Acesso à Àgua,
em locais de dentro ou fora da Comuna. parciais ou totais no interior dos cômodos) das portas e janelas que, no geral, são me- rais brasileiras, o Programa Luz para To- Sertori (2019) apontaram para a ausência mais conhecido como Programa Cisternas, foi
e, também em alguns casos, compostos tálicas), tornando os ambientes internos dos – instituído no dia 11 de novembro de de incentivos à pesquisa, ao projeto e à oficialmente instituído pela Lei 12.873, de 24 de
Utilizados na execução de sistemas estru- por peças de madeira reaproveitadas e de mais quentes e abafados nos períodos de 2003, durante o primeiro governo Lula, por implantação de soluções complementa- outubro de 2013. Sua finalidade é “promover o
turais e de vedação, bem como em portas dimensões variadas, essas unidades apre- seca e calor intenso. meio do Decreto Nº 4.873 – se configurou res para o fornecimento de energia (in- acesso à água para o consumo humano, ani-
e janelas, esses materiais, em muitos ca- sentam arranjos espaciais mal resolvidos, como uma ação inegavelmente impor- cluindo aquelas geradas a partir de fontes mal e para a produção de alimentos”, sobretu-
47 Cenário atual do habitat Cenário atual do habitat 48
• Estradas mesmas soluções encontradas por aque-
les que não têm poços semiartesianos
São Paulo.
Síntese das condições de infraestruturas,
Com relação ao traçado e à abertura das
estradas internas, muitos assentamentos
em seus lotes, ou seja, a instalação de
sistemas de captação de águas pluviais,
Com relação aos equipamentos coletivos,
a Comuna conta, atualmente, com um
equipamentos e serviços
rurais do estado de São Paulo foram bene- conectados a reservatórios externos; e a campinho de futebol, localizado ao lado
Captação e Armazenamento de Água Estradas Internas (de terra)
ficiados pelo Programa Melhor Caminho33, reserva de água, fornecida semanalmente da Área Social, e com um Teatro, que foi
operacionalizado pela antiga Companhia pelos caminhões pipa, ofertados pela pre- resultado de um Canteiro Escola, organi- I
de Desenvolvimento Agrícola de São Pau- feitura de Cajamar. zado em parceria com o MST e realizado N
lo (CODASP). em 2018. F
No que se refere às condições da ma- R
Dentre os serviços realizados, destaca- lha viária, o trecho asfaltado, localizado Durante o nosso Projeto, também fizeram
A
vam-se: a abertura e/ou a recuperação parcialmente no perímetro da Comuna, parte das atvidades práticas de arquitetu-
das estradas de terra já existentes nas an- abrangendo os Núcleos 01 e 04, apresen- ra e construção a concepção e elevação E
tigas fazendas; a regularização e o nivela- ta diversas patologias na pavimentação de um sistema estrutrual em bambu, para 1 3 S 1 2
mento da pavimentação; e a execução de e não possui: acostamentos, sinaliza- a edificação do Armazém Agroecológico T
Imagens 1-2. Caixas d’água de Iluminação Pública Imagem 1. Empoçamentos na
sistemas de drenagem. Após a conclusão ções, redutores de velocidade, contenção da Comuna, destinado à comercialização R
PVC, instaladas para arma- estrada de acesso ao Teatro.
dos serviços, a manutenção das estradas de taludes e sistemas de escoamento dos alimentos produzidos pelas famílias.
zenamento e distribuição de
U
(necessária para solucionar casos recor- e drenagem de águas superficiais. Já as Imagem 2. Erosões na mesma
água no interior das unidades T estrada (em trecho com alta
rentes de erosões e empoçamentos, os estradas de terra, localizadas no interior Outra atividade que foi incorporada ao (e
habitacionais. Imagem 3. Ca- U declividade), a qual também
quais dificultam ou até impedem a loco- da Comuna, abrangendo todos os Núcle- apoiada pelo) nosso Projeto diz respeito à
moção de veículos, inclusive dos ônibus os, apresentam: erosões (de média e alta continuidade das obras de saneamento – lha improvisada por um mo- R dá acesso aos Núcleo 02 e 03.
escolares) ficava sob a responsabilidade dimensões); pavimentações irregulares e que já vinham sendo conduzidas pela Bri- rador, para captação e direcio- A A iluminação pública abrange
inadequadas, que contribuem para a ocor- gada “Centenário Paulo Freire” –, na nova namento de águas pluviais a S os trechos de vias asfaltadas
das prefeituras municipais – o que, geral-
mente, segundo Sertori (2019), poderia ou rência de empoçamentos, deslizamentos área onde será construída a Ciranda. 2 um reservatório externo. dos Núcleos 01 e 04.
não acontecer. e atoleiros, dificultando ou impedindo o
tráfego de veículos, sobretudo em perío- Este equipamento, cujo projeto ainda está Área Social Cultura
3.2.2 Sobre as condições na Comuna dos de chuva; e taludes sem contenções, na fase de esboços e croquis, será desti-
especialmente nos trechos com alta de- nado à educação infantil (das crianças da E Inaugurada em 2018 e constru-
No que diz respeito ao acesso à energia, clividade, agravando as possíveis ocorrên- Comuna e das ocupações vizinhas), inte- ída com recursos (materiais e
praticamente todas as famílias que ha- cias de desmoronamentos. grada à produção agroecológica, à edu- Q
financeiros) provenientes de
bitam a Comuna realizaram conexões cação alimentar e ambiental e, também, U doações de diferentes parcei-
improvisadas entre a rede pública e suas Essas patologias, além de prejudicarem a à formação pedagógica de educadoras e I ros do MST, a edificação do Te-
edificações. Apesar de o acesso à energia mobilidade interna dos assentados, tam- educadores populares. A conquista deste P atro encontra-se, atualmente,
elétrica estar, a princípio, garantido, as fa- bém dificultam: o acesso das crianças e equipamento, para além de sua relevân- inacabada, necessitando de
mílias encontram-se em uma situação de dos jovens às creches e escolas; o aces- cia social e política, também representa a A
recursos e assessoria técni-
irregularidade, uma vez que a medição do so a serviços de saúde e demais equipa- luta das famílias da Comuna por autono- A Área Social, localizada na divisa dos Núcleos 01 e 02 (como M ca para sua conclusão. Já foi
consumo mensal de energia, tampouco a mentos, localizados nas áreas urbanas mia, não somente no que diz respeito ao apresentado nos mapas do capítulo 2), possui uma edificação E palco para diversas atividades
emissão das respectivas tarifas, não têm dos municípios vizinhos; o tráfego de direito à educação, mas à oportunidade de que serve tanto para as atividades de organização política e de N culturais, promovidas em par-
sido realizadas. ambulâncias e dos veículos de resgate e disputarem os sentidos e significados de confraternização, quanto para o atendimento médico ofereci- ceria com a Cia Antropofágica,
do corpo de bombeiros; e o escoamento uma pedagogia crítica e transformadora.
T
do semanalmente às famílias, por meio do Programa de Agen- e está localizada no Núcleo 01,
Neste sentido, o debate sobre o projeto da da produção (que incide diretamente nos tes Comunitários de Saúde (PACS), no âmbito da Estratégia O ao lado do terreno reserva-
Comuna, e sua consequente regulariza- rendimentos financeiros das famílias), Saúde da Família, do governo federal. A edificação apresenta S do para a Escola Popular de
ção, exige considerarmos o gasto familiar especialmente daquelas que integram o diversas patologias e precariedades, necessitando de asses- Agroecologia.
mensal com energia elétrica, bem como Setor de Produção – uma vez que, nos pe- do às famílias rurais de baixa renda, atingidas soria técnica e recursos para sua reforma e ampliação.
suas condições de arcarem com esta ríodos de chuva, é impossível o transporte pela seca ou pela falta regular de água. Se-
despesa. Além disso, esse debate tam- de seus alimentos ao ponto central de ar- gundo reportagem do Brasil de Fato, de abril
bém se relaciona com as possibilidades mazenamento coletivo. Coleta de Lixo Comércios
de 2022, o programa alcançou, desde 2003,
de instalação de outras tecnologias para Apesar de o serviço de coleta
mais de 5 milhões de brasileiros, subsidiando
a geração, o fornecimento e a distribui- Ao longo de todo o período de existên- de lixo ocorrer semanalmente,
a construção de mais de 1,3 milhão de cister-
ção de energia aos lotes, equipamentos cia da Comuna, as famílias conseguiram o caminhão percorre apenas
nas e abrangendo 1.200 municípios. Durante o
e às áreas coletivas, baseadas em fontes acessar o Programa de Agentes Comuni- governo desastroso de Bolsonaro, os recursos
o trecho da via asfaltada, não S
renováveis e visando a redução de custos tários de Saúde, por meio da Estratégia abrangendo o interior da Co-
Saúde da Família, do Ministério da Saúde.
que devriam ter sido alocados para o funcio-
muna. Geralmente, as famílias E
(relacionados à estruturação da Comuna) namento do programa foram, praticamente,
e gastos (relacionados ao funcionamento Os agendamentos das consultas são re- extintos. Ver: Cisternas no Brasil: vidas foram praticam a queima do lixo em R
dos sistemas). alizados por agentes de saúde e as con- transformadas, mas desmonte retoma cenário seus lotes. V
sultas, realizadas por um clínico geral, de escassez hídrica. Brasil de Fato, 27 de abril
ocorrem todas as quintas-feiras, na Área Abastecimento I Na Comuna, foram identificadas quatro unidades comerciais
Com relação ao acesso à água, algumas de 2022.
famílias conseguiram perfurar poços se- Social. O forcecimento de água é Ç (para venda de bebidas e petiscos diversos), localizadas nos
miartesianos em seus lotes. No entanto, uma das principais demandas O Núcleos 01 e 04. Também no Núcleo 04 há um pequeno salão
33
O Programa Melhor Caminho, destinado à
o acesso à água não é constante, devido No caso de ocorrências mais graves, as no território. O caminhão pipa, de cabeleireiro. Outros comércios maiores (como mercados,
execução, recuperação e manutenção de es- S
ao rebaixamento do lençol freático em famílias são encaminhadas aos serviços ofertado pela prefeitura de açougues e lojas de vestuários, mobiliários, eletrodomésticos
tradas rurais, foi criado por meio do Decreto
algumas áreas da Comuna. Dessa forma, de saúde dos municípios de Cajamar ou Nº 41, em abril de 1997, e era operacionalizado Cajamar, percorre o interior da etc.) estão localizados nos bairros e municípios do entorno.
os poços de água ficam cheios apenas Santana de Parnaíba. Já as doenças crô- pela CODASP (vinculada à Secretaria Estadual Comuna semanalmente, para Assim como creches, escolas, UPA’s, UBS’s, hospitais, praças,
durante os períodos de chuva. Em outras nicas, ou que demandam por acompanha- de Agricultura e Abastecimento), em parceria o abastecimento de água po- quadras esportivas e pontos de ônibus inter/municipais. Ser-
épocas, essas famílias dependem das mentos especializados, são atendidas em com o INCRA e as prefeituras municipais. tável às famílias. viços médicos especializados são acessados em São Paulo.
49 Cenário atual do habitat Cenário atual do habitat 50

Síntese das condições ambientais, de saneamento e de produção


Características Gerais do Solo Coleta e Gestão de Resíduos Animais
Apesar de não termos incluído o mapa Pelo menos no estado de São Paulo, é comum Dentre os animais presentes nos lotes
com as curvas de nível, a maioria dos encontrarmos assentamentos rurais locali- de algumas famílias contempladas nos
lotes perimetrados atualmente possui zados a quilômetros do perímetro urbano de diagnósticos, destacam-se: carneiro,
declividade média ou alta. Algumas seus municípios e, além disso, ignorados pe- codorna, galinha, pato e porco. Desti-
famílias têm encontrado dificuldades los instrumentos urbanísticos e, consequen- nados ao consumo familiar e à comer-
com a produção, devido à elevada taxa temente, pela oferta de serviços públicos, cialização, a criação de alguns desses
de acidez no solo. Alguns trechos das como é o caso da coleta de lixo. Na Comuna animais demanda por condições espe-
estradas de terra, por estarem muito Irmã Alberta, a ausência desse serviço, asso- cíficas, como infraestrutura adequada,
compactados, dificultam a permeabi- ciada às condições precárias das estradas de investimento com rações e tratamen-
lidade da água e a recarga do lençol Lixeira próxima a uma das invasões, no Nú- terra, não deixa outra opção às famílias a não Criação de carneiros em um dos lotes do tos, conhecimento técnico e organiza-
freático, contribuindo, ainda, com a cleo 03. Acervo do ILS | 2022. ser praticarem a queima de resíduos sólidos e Núcleo 02. Acervo do ILS | 2022. ção do trabalho familiar.
ocorrência de erosões. No entanto, a inorgânicos em seus próprios lotes. As lixei-
gleba é favorável à preservação e re- ras coletivas, presentes na entrada do Teatro
posição da floresta nativa, desde que- e na estrada que contorna o Núcleo 03, foram Hortaliças
as diretrizes iniciais de parcelamento instaladas por iniciativa própria das famílias. A maioria das famílias cultiva diversas
e uso do solo sejam respeitadas. Porém, as imagens ao lado demonstram não hortaliças em seus lotes, devido à faci-
apenas sua ineficiência, como também as lidade com a organização do ciclo pro-
graves consequências provocadas pela au- dutivo. Apesar de não fazerem uso de
sência da oferta do serviço público de cole- agrotóxicos, algumas famílias apresen-
ta de lixo. E, ainda, de uma política interna e tam dificuldades no cultivo, sobretudo
coletiva de gestão de resíduos, articulada a aquelas cujos lotes estão próximos a
ações voltadas à formação e educação am- áreas degradadas/desmatadas; e, tam-
biental, à redução da quantidade de resíduos, bém, aquelas que têm dificuldades com
Fonte: MST | 2006 Lixo em trecho de estrada próximo à invasão assim como ao reaproveitamento, à recicla- Horta agroecológica em um dos lotes do a captação de água para a irrigação de
Sem Escala do Núcleo 03. Acervo do ILS | 2022. gem e ao descarte adequado. Núcleo 02. Acervo do ILS | 2022. sua produção agrícola.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

Córregos e Nascentes Esgotamento Sanitário Frutas e Legumes


As famílias, em conjunto com militan- De acordo com os resultados dos diagnósti- Segundo os resultados dos diagnós-
tes do MST, identificaram, por conta pró- cos, das 42 famílias contempladas, apenas 03 ticos, praticamente metade, das 42
pria, a maioria das nascentes presentes instalaram um sistema ecológico de coleta famílias, produzem frutas e legumes
na Comuna. Apesar de preservadas, tal de esgoto, enquanto mais de 30 instalaram variados em seus respectivos lotes,
levantamento necessitaria de uma revi- fossas sépticas ou “sujas” em seus respec- contemplando tanto o consumo fami-
são técnica mais apurada, acompanha- tivos lotes. É importante levarmos em conta liar quanto a comercialização. Ainda
da de diretrizes para sua preservação, que a consciência ambiental é um processo que a maioria traga consigo experiên-
bem como de soluções adequadas para político-social, que deve ser acompanhado cias e saberes relacionados ao cultivo
o esgotamento sanitário, evitando-se a de políticas públicas sólidas e integradas, na terra – dedicando-se, inclusive, à
Córrego soterrado em frente a um dos lotes contaminação do lençol freático, como Fossa Séptica em um dos lotes do Núcleo 01. destinadas a garantir aos seus beneficiários Mandala agroecológica em um dos lotes do produção agroecológica –, a agricul-
do Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. também dos rios e córregos. Acervo do ILS | 2022. o direito à habitação e ao saneamento. As ini- Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. tura camponesa nos territórios da re-
ciativas verificadas em campo que, em sua forma agrária demanda por assessoria
maioria, podem ser entendidas como “solu- técnica interdisciplinar e permanente,
Áreas de Preservação ções possíveis” – haja vista as condições de bem como por políticas públicas inte-
Algumas famílias têm contribuído com precariedade e desamparo às quais as famí- gradas, de modo a subsidiar/financiar:
a reposição e preservação de espécies lias, há vinte anos, estão submetidas – têm as infraestruturas e os equipamentos
nativas, respeitando tanto as legisla- contaminado o solo, o lençol freático e as necessários ao armazenamento e be-
ções quanto as orientações previstas produções agrícolas. Neste sentido, solucio- neficiamento; as etapas de pré-produ-
no projeto da Comuna. Algumas inva- nar o esgotamento sanitário na Comuna Irmã ção (planejamento do lote, melhorias
sões ou concessões irregulares de lo- Alberta, em suas diferentes escalas, é uma no solo, disponibilidade de mudas, se-
tes, no entanto, além de contribuírem demanda urgente. E, da mesma forma, indis- mentes, ferramentas e maquinários); de
com o desordenamento territorial, tam- sociável da demanda por soluções ao défi- produção; de escoamento; e de comer-
bém têm colocado em risco as APP’s, cit habitacional, priorizando-se alternativas cialização, prevendo-se a consolidação
Limite entre APP e um lote cedido irregular- justamente por ignorarem os períme- Fossa “suja” em um lote cedido irregular-
arquitetônicas, construtivas e tecnológicas Jiló agroecológico em uma das lavouras do
de redes e parcerias com mercados lo-
mente no Núcleo 03. Acervo do ILS | 2022. tros destinados à preservação. mente no Núcleo 03. Acervo do ILS | 2022. economicamente viáveis e agroecológicas. Núcleo 01. Acervo do ILS | 2022. cais, municipais e estaduais.
51 Por um Plano Territorial Por um Plano Territorial 52

Um habitat, de maneira nenhuma, pode ser resumido a um abrigo (...). Habitat supõe outras conexões
com o lugar onde você está estabelecido. Supõe algum grau de interação entre o sujeito que está na-
quele lugar e aquele lugar. A sua ecologia, o seu ecossistema (...). Nós não podemos reduzir a nossa
compreensão de habitat a um abrigo. Porque, senão, não faz muita diferença sair debaixo de uma lona
4. Por um Plano Territorial para ir debaixo de um telhado de amianto ou de concreto. Porque você não escolheu o lugar onde você
Por Coordenação da Comuna, Marília Leite e Rodolfo Sertori Diagnóstico no lote da Bianca e do Rafa. Acervo do ILS | 2022. quer ficar, mas alguém escolheu por você.
Ailton Krenak, durante sua participação no III Colóquio Habitat e Cidadania, ocorrido em maio de 2015, em Brasília/DF.

Bandeiras, demandas e reivindicações

Neste Plano, procuramos apresentar e detalhar os Conforme demonstrado no capítulo 3, a maioria A garantia de infraestruturas básicas nos assenta- As condições ambientais e de saneamento na Para que os assentamentos de reforma agrária se-
impasses fundiários que, há 20 anos, têm impedido das famílias da Comuna está submetida a con- mentos rurais diz respeito à dignidade e cidadania Comuna perpassam pelo planejamento territo- jam produtivos, cumprindo-se com a função social
que a área da Comuna da Terra Irmã Alberta seja dições precárias de habitação. Este cenário está dos assentados e, também, às condições indispen- rial do habitat e estão vinculadas: à qualidade do da terra e preservando-se as bases agroecológi-
desapropriada para fins de Reforma Agrária. Ao diretamente atrelado à irregularidade do território, sáveis para que outros elementos do habitat rural solo, dos córregos e da água; à preservação das cas, é fundamental que os demais aspectos do ha-
longo destas duas décadas, o aumento do preço da o que se configura como uma barreira, impedindo sejam assegurados – como a produção habitacio- nascentes e áreas de proteção permanente; à re- bitat rural estejam resolvidos (como água, energia,
antiga Fazenda Itahyê, atrelado ao capital finan- que seus habitantes pudessem acessar os progra- nal e a produção da agricultura. Neste sentido, é posição florestal; às condições habitacionais e de habitação, estradas, equipamentos etc.). Também
ceiro, tem servido apenas aos interesses econômi- mas habitacionais vigentes nos últimos 20 anos – fundamental que haja uma integração entre a po- infraestruturas; e às condições e práticas de pro- é imprescindível que os assentados acessem as
cos da SABESP e de seus acionistas, enquanto as especificamente aqueles direcionados à produção lítica de reforma agrária e os subsídios às infraes- dução da agricultura. Neste sentido, as famílias políticas e os programas de fomento à agricultura
famílias seguem na irregularidade e na inseguran- habitacional nas áreas rurais, tanto na modalidade truturas, de tal modo que, ao acessarem a terra, as apresentam uma demanda urgente por sistemas camponesa (federais e/ou estaduais), com linhas
ça com relação à sua permanência no território. “construção”, quanto na modalidade “reforma”. famílias tenham o acesso imediato aos sistemas de tratamento de esgoto adequados, ecológicos e de crédito e subsídio integradas e diversificadas,

Para a conquista da Pelo direito à Por melhores condições de Por melhores condições Por melhores condições para a

COMUNA DA TERRA HABITAÇÃO INFRA. SERV. E EQUIP. AMBIENTAIS E DE SANEAM. PRODUÇÃO


Além disso, a não realização da Reforma Agrária Considerando que o déficit habitacional presente de fornecimento de água e energia, assim como a de fácil instalação e manutenção, conectados às articuadas à garantia de assessoria técnica qua-
no imóvel – um direito previsto pela Constituição atualmente na Comuna abrange a construção de um sistema viário que atenda às suas demandas unidades habitacionais e aos equipamentos co- lificada e permanente. Sendo assim, as bandeiras,
Federal, para aqueles que demandam por terra novas unidades habitacionais, bem como refor- por mobilidade, escoamento da produção e segu- letivos, de modo a evitar a contaminação do solo, reivindicações e demandas das famílias incluem:
de vida e trabalho – não apenas tem aumentado mas e ampliações, nossa principal bandeira é pela rança. Sendo assim, reivindicamos: do lençol freático, dos córregos, das nascentes e
os conflitos fundiários na Comuna, como também garantia do seu direito à habitação, por meio do da produção. Também fazem parte do conjunto de • A adequação do traçado dos lotes unifamilia-
tem impedido que as famílias, que hoje habitam a acesso ao Programa Nacional de Habitação Rural. • A implantação de sistemas de captação, tra- bandeiras e demandas das famílias: res e das áreas coletivas de produção, con-
área, tenham acesso a políticas e programas so- Dessa forma, é imprescindível que as novas dire- tamento e abastecimento de água potável, siderando um planejamento territorial que
ciais fundamentais à sua dignidade e cidadania. trizes técnicas e orçamentárias do programa pos- contemplando os lotes unifamiliares e as áre- • A elaboração de um plano de saneamento integre as infraestruturas, a habitação, os
sam contemplar: as sociais, assim como a instalação de siste- ambiental para a Comuna, considerando: a lo- equipamentos e a produção;
Sendo assim, nossa reivindicação é pela imediata mas de irrigação da produção; calização e o mapeamento das microbacias; a • A construção de equipamentos coletivos des-
realização de um Projeto de Reforma Agrária no • A participação e a justa remuneração de equi- • O fornecimento de energia elétrica em toda a identificação e caracterização das diferentes tinados ao armazenamento, beneficiamento e
imóvel da antiga Fazenda Itahyê, que contemple: pes de assessoria técnica qualificadas e mul- Comuna, bem como o fomento ao projeto e à áreas presentes no território; a qualidade atu- à comercialização da produção;
tidisciplinares, responsáveis pela discussão instalação de sistemas de geração de energia, al do solo, das nascentes e dos rios e córre- • A garantia de boas condições das estradas in-
• A retomada do processo jurídico referente à e elaboração dos projetos junto às famílias, a partir de fontes renováveis; gos; o levantamento do passivo florestal; e a ternas, melhorando a mobilidade dos assen-
desapropriação; bem como pela organização e pelo acom- • O planejamento do traçado viário, consideran- atualização dos levantamentos topográficos; tados e o escoamento da produção;
• A formação de equipes técnicas qualificadas panhamento dos trabalhos nos canteiros de do: a recuperação de trechos degradados; os • A formulação de diretrizes voltadas à preser- • A integração entre a Comuna, mercados mu-
e multidisciplinares, responsáveis pelos le- obras; sistemas de escoamento e drenagem; as con- vação das áreas de proteção e das nascentes, nicipais, creches e escolas, garantindo a ofer-
vantamentos e laudos técnicos; pela adequa- • A equidade no atendimento às demandas por tenções de taludes; as devidas sinalizações e e que estejam integradas à elaboração de um ta de alimentos saudáveis à população;
ção do projeto territorial da Comuna (consi- novas construções e às demandas por refor- iluminações; a qualidade e durabilidade das plano de reposição florestal na Comuna, con- • O incentivo e a difusão de práticas agroecoló-
derando a proposta inicial e sua conformação mas e ampliações; pavimentações; e a manutenção periódica; siderando todas as etapas do ciclo produtivo gicas em todos os ciclos produtivos, evitando-
atual); e pelo desenho espacial dos lotes, das • A adequação arquitetônica e orçamentária • O planejamento da gestão de resíduos sólidos e seu possível consorciamento agroecológico -se o uso de agrotóxicos;
áreas coletivas e das áreas destinadas à pro- dos projetos e, ainda, a garantia de desempe- e a garantia do serviço periódico e permanen- com a produção de alimentos; • A oferta (por meio de aquisições, aluguéis ou
dução da agricultura camponesa; nhos contrutivos e tecnológicos satisfatórios; te de coleta de lixo; • A formulação de diretrizes para a gestão de empréstimos gratuitos) de ferramentas, ma-
• A participação e representação popular em • O uso de materiais, componentes e sistemas • A oferta de ônibus escolar gratuito, perma- resíduos sólidos e de efluentes, articulada à quinários e meios de transporte, necessários
todas as etapas e instâncias de discussão e construtivos de baixo impacto econômico e nente e de qualidade; oferta permanente do serviço de coleta de à limpeza do terreno e às etapas de plantio e
decisão; ambiental, renováveis, pré-fabricados e de • A permanência do Programa de Agentes Co- lixo, evitando-se o acúmulo de dejetos, a quei- comercialização;
• A mediação dos conflitos territoriais presen- bons desempenhos técnicos; munitários de Saúde e sua integração com o ma de lixo nos lotes, a contaminação do solo • A realização de atividades de formação, em
tes atualmente na Comuna, assim como a • A formação de trabalhadoras e trabalhadores projeto da Farmácia Viva; e do lençol freático e a presença de animais parceria com diferentes agentes, que fomen-
busca por soluções fundamentadas na justiça da construção civil, nas etapas de projeto e • O fomento ao projeto e à construção de equi- peçonhentos, que colocam em risco a saúde tem a criação de oportunidades de trabalho e
social. obra, bem como a geração de oportunidades pamentos coletivos, abrangendo as atividades dos habitantes. renda às famílias.
de trabalho e renda para jovens e adultos. culturais, esportivas, lúdicas e de produção.
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