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AO DOUTO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE

________/UF

FULANO DE TAL, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado na


rua , nº , Bairro , nesta cidade, inscrito no CPF sob o n. e portador da Carteira de
Identidade RG ______, filho de ____, email: _______, telefone: ______, vem, respeitosamente,
a presença deste r. Juízo, por intermédio de seu procurador, com fulcro no art. 644 do CPC,
ajuizar

AÇÃO COMINATÓRIA

BELTRANO DE LÁ, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado na


rua , nº , Bairro , nesta cidade, inscrito no CPF sob o n. , diante das seguintes razões de
fato e de direito:

DOS FATOS

O Requerente e sua família residem no imóvel situado na Rua , nº, bairro , nesta
cidade.

Ocorre que a partir de ___, o Requerente e seus familiares se depararam com uma triste
realidade, isto porque o Requerido, locador (ou proprietário) do imóvel situado na Rua , nº ,
nesta cidade, distante aproximadamente 50 metros do imóvel do Requerente, explora um bar, de
onde os frequentadores provocam ruídos que incomodam sobremaneira o Requerente e seus
familiares.

O imóvel do Requerido, utilizado como bar, possui uma grande movimentação de


pessoas que ficam a noite toda provocando excesso de ruídos com gritarias, cantorias e
algazarras. Além disso, há ainda o ruído praticado por som de aparelhagem. Se não bastasse
isto, o som ao vivo que provoca ruído de vozes e instrumentos.

Várias vezes, as pessoas que frequentam o bar, chegam em seus veículos provocando
ruídos desnecessários que fazem incomodar também.

Outras tantas vezes, não raras, o Requerente e seus familiares são obrigadas a cruzar em
seu passeio com bêbados inconvenientes que estão chegando ou saindo do bar do Requerido.

Não rara as vezes que o Requerente vê suas plantas quebradas e pisadas por indivíduos
que passam para ter acesso ao Bar.

Em muitas ocasiões, a esposa e filhos do Requerente passam o final de semana fora do


lar, porque os infantes não conseguem dormir.

O Requerente já cansou de reclamar diretamente para o Requerido, porém, as últimas


vezes foi agredido verbalmente pelo Requerido e por pessoas que frequentam o bar.

Até os momentos destinados ao estudo foram abandonados porque o Requerente e seus


familiares não conseguem se concentrar em face do excesso de ruídos.

O requerido não ignora todos estes transtornos, no entanto, sua avidez por lucro o
impede de respeitar o direito do Requerente à inviolabilidade, a paz e sossego.
O Requerido, mesmo já notificado e multado no Juizado Especial Criminal, não alterou
a rotina de seu bar, pois os excessos continuam, inclusive com sons acima do permitido,
proveniente das atividades de música mecânica.

Portanto, fica claro que o Requerido, em nenhum momento, se preocupou com os


problemas que vinha e vem causando ao Requerente, ignorando seguidas vezes as reclamações,
mostrando um verdadeiro descaso para com as pessoas que moram perto de seu
estabelecimento.

Não bastasse a perturbação provocada pelo bar, o Requerente ainda enfrenta a desordem
promovida pelos frequentadores do local, que constantemente se envolvem em brigas, uso de
drogas, urinam nos muros divisórios e na porta das casas dos vizinhos.

Ninguém está obrigado a suportar o excesso de barulho e desrespeito do Requerido, que


jamais aceito uma solução amigável, não restando outro caminho, se não ajuizar a presente
ação.

DO DIREITO

Assim fixa o Código Civil, na parte dos direitos de vizinhança e do uso anormal da
propriedade, em seus artigos 1277 a 1279, transcrito adiante:

Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as


interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam,
provocadas pela utilização de propriedade vizinha.

Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização,


a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e
os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as
interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o
possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal.

Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá
o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.

Em sua obra Direito Ambiental Brasileiro, afirma o mestre Paulo Affonso Leme
Machado:

“Estudo publicado pela Organização Mundial da Saúde assinala como efeitos do ruído:
perda da audição; interferência com a comunicação; dor; interferência no sono; efeitos
clínicos sobre a saúde; efeitos sobre a execução de tarefas; incômodo; efeitos não
específicos.

Como efeitos o ruído sobre a saúde em geral registram-se sintomas de grande fadiga,
lassidão, fraqueza. O ritmo cardíaco acelera-se e a pressão arterial aumenta. Quanto ao
sistema respiratório, pode-se registrar dispneia e impressão de asfixia. No concernente
ao aparelho digestivo, as glândulas encarregadas de fabricar ou de regular os elementos
químicos fundamentais para o equilíbrio humano são atingidos (como supre-renais,
etc.).

O incômodo ou perturbação é geralmente relacionado aos efeitos diretamente exercidos


pelo ruído sobre certas atividades, por exemplo: perturbação de conversação, da
concentração mental, do repouso e dos lazeres”. (Paulo Affonso Leme Machado,
DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO, Ed. Malheiros, 5ª Edição, São Paulo, 1995,
pago. 419).

Sobre esse tema, TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL, Doutorando vinculado ao


Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense
(UFF), linha de pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais, Mestre Ciências
Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), produziu um artigo bastante
exemplificativo a respeito, asseverando que:

“Ab initio, ao se abordar o direito de vizinhança, pode-se salientar que o corolário


maciço hasteia como flâmula que o proprietário, ou o possuidor, não pode exercer seu
direito de modo que acarrete prejuízos à segurança, ao sossego e à saúde daqueles que
habitam o prédio vizinho.
Se o vizinho não gozar de atenção no que toca às regras de boa convivência, lançando
mão de sua propriedade em condições anormais à sua época, meio ou ainda grupo em
que se encontra convivendo, não atenderá, de maneira efetiva, a finalidade da
vizinhança.

A Codificação Civil em vigor, repetindo o que estava consagrado no Codex de 1916,


consagrou a Teoria do Uso Normal da Propriedade, desenvolvida por Rudolf von
Ihering, que apregoa a proibição de qualquer emprego do bem que extrapole o uso
normal e dê ensejo a uma imissão nociva na posse ou propriedade alheia a ponto de
acarretar lesão a saúde, sossego ou segurança dos prédios vizinhos. Rememorar se faz
imprescindível que o uso normal da propriedade é aquele que almeja a preservação da
segurança, do sossego e da saúde dos moradores da região onde o imóvel se encontra
localizado. O Estatuto Civil de 2002, em seu artigo 1.277, estabelece conceitos
jurídicos indeterminados, com o escopo primevo de preservar o morador e o prédio,
para tanto são erigidos os seguintes valores como axiomas a orientarem o direito de
vizinhança: segurança, sossego e saúde.

Insta salientar que a acepção de sossego não se encontra atrelado com a completa
ausência de ruídos, mas a possibilidade de afastar ruídos excessivos que comprometem
a incolumidade da pessoa. Trata-se, com destaque, de direito dos moradores de um
estado de relativa tranquilidade, na qual boates, algazarras, animais e vibrações
intensas provenientes acarretam enormes desgastes à paz do ser humano. Ao lado
disso, o sossego deve ser encarado como tranquilidade e, maiormente, paz de espírito,
valores de cunho essencialmente subjetivo, logo, a sua violação atenta contra o
equipamento psíquico do indivíduo e, a partir de tal viés, merece ser encarado como
um dos direitos à integridade moral do homem, tangendo, por vezes, os direitos à
intimidade, à imagem e à incolumidade da mente.

Igualmente, gritarias, barulho ensurdecedor de indústria, oficina mecânica, pedreira,


escola de samba, emprego de alto-falante de grande potência para transmitir
programas radiofônicos ou ainda provocar aglomeração de clientes na rua,
funcionamento de bar em quiosque ao ar livre, com uso de som mecânico ou ao vivo,
todos esses são exemplos de situações que atentam contra o sossego. Ao lado disso,
cuida trazer á colação os entendimentos jurisprudenciais que robustecem, de maneira
rotunda, as ponderações expedidas acima, conforme se infere:

Ementa: Apelação Cível. Ação de Indenização por dano moral. Direitos de vizinhança.
Uso nocivo do direito de propriedade. Poluição sonora. Situação que se manteve por
aproximadamente três anos. Perturbação do sossego. Dever de indenizar. Quantum
mantido. Negaram provimento ao apelo (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul –
Décima Sétima Câmara Cível / Apelação Cível n. 70033119892 / Relatora:
Desembargadora Elaine Harzheim Macedo / Julgado em 25.02.2010).

Ementa: Apelação Cível. Ação Cominatória. Direito de Vizinhança. Perturbação do


Sossego Alheio. Funcionamento de bar em quiosque ao ar livre, com utilização de som
mecânico e ao vivo. Ruídos excessivos. Limitações ao direito de propriedade, face ao
incômodo causado dos vizinhos. A Constituição Federal, em seu artigo 182, assegura a
todos o direito ao meio ambiente saudável e seguro, podendo daí se concluir que o
exercício do direito de propriedade não é absoluto, encontrando suas limitações no
interesse público e também no interesse privado, ex vi do disposto no artigo 1.277 do
CC/02. Abusa do direito de propriedade do imóvel quem o utiliza nocivamente, pondo
em risco ou afetando a segurança, o sossego e a saúde dos moradores dos prédios
vizinhos. Existindo prova satisfatória do uso nocivo da propriedade, a perturbar o
sossego da vizinhança, é de se manter o juízo de procedência da demanda. Recurso
improvido. Unânime (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Décima Oitava
Câmara Cível / Apelação Cível n. 70018092973 / Relator: Desembargador Cláudio
Augusto Rosa Lopes Nunes / Julgado em 12.03.2009).

Não se pode olvidar que, em muitos casos, as perturbações sonoras podem molestar, de
maneira simultânea, o sossego, a saúde e a própria segurança dos vizinhos.

O uso anormal da propriedade resta manifestado quando o proprietário incomoda a


coletividade próxima, sem que haja qualquer atenuante social. Logo, se não existe
qualquer interesse social na manutenção da atividade perturbadora, a sua cessação é
medida que se impõe, eis que se revela adequada ao caso, em razão da impossibilidade
de extinção dos distúrbios. Desta feita, se, por exemplo, o proprietário do bar ou da
boate não eliminar a poluição sonora decorrente de sua atividade, caberá a cassação
do alvará. Por oportuno, a autorização administrativa para o funcionamento de
estabelecimento é conseguida por meio de reserva implícita de não serem atentados
direitos de terceiros.”
Como já salientou o saudoso advogado BIASI RUGGIERO, “ninguém pode usar a
propriedade de modo nocivo. Provado que o mau uso da propriedade vem ultrapassando
os limites toleráveis da boa vizinhança, tem o proprietário ou inquilino o direito de
socorrer-se do judiciário para fazer cessar os atos prejudiciais ao convívio social. A
convivência, nos tempos atuais, impõe aos vizinhos respeito mútuo, obrigando-os a
observar normas que regem os princípios de boa vizinhança” (Questões imobiliárias,
Saraiva, São Paulo, 1997, p. 115).

Assim, como o Requerido não tem cumprido a legislação pertinente, no sentido de


reduzir a emissão de ruídos em níveis inferiores aos tolerados, deve o mesmo ser compelido
judicialmente a cessar esta conduta, bem como a realizar obras no seu estabelecimento, visando
evitar a dispersão de ruídos para o meio externo.

Por outro lado, se for possibilitado ao Requerido que continue com sua atividade danosa
enquanto perdurar o processo estar-se-á permitindo a continuação de uma atividade
comprovadamente danosa, em prejuízo da saúde e do bem-estar de um numero indeterminado
de pessoas que vivem na vizinhança do imóvel. Aí reside o periculum in mora.

Demonstrou-se aqui que o ordenamento jurídico brasileiro protege, em todos os degraus


de sua hierarquia normativa, o ambiente natural, bem como o sossego.

Disso resulta a necessidade de concessão de medida liminar inaudita altera parts, sem
necessidade de justificação prévia, determinando-se que o bar do Requerido, conhecido como
________ seja interditado.

Em caso de descumprimento da liminar, requer seja fixada multa cominatória diária no


valor de 02 salários mínimos.

DIANTE DO EXPOSTO, requer:


I – a concessão de liminar nos moldes anteriormente delineados;

II – a citação do Requerido, para querendo, responder e acompanhar os termos da


presente ação, sob pena de ser considerado como verdadeiros os fatos nesta alegados;

III – condene o Requerido na obrigação de não fazer, consistente em abster-se de


produzir ruídos, mediante a emissão de sons e ruídos que perturbam a vizinhança, sob pena de
multa diária a ser fixada por este r. Juízo;

IV – em caso de descumprimento, seja o Requerido condenando ao pagamento de multa


diária de, no mínimo, 2 salários mínimos.

V – Protesta-se ainda por todos os meios de prova em dirito admitidos e se fizerem


necessários, inclusive depoimento pessoal do Requerido, prova pericial, documental,
testemunhal e inspeção in loco.

VI – seja julgada procedente esta ação em todos os termos do pedido retro, condenando-
se o Requerido ao ônus de sucumbência e demais cominações legais, inclusive honorários
advocatícios;

VII – Requer-se ainda, em concedendo a liminar, que designe e oficie a Secretaria


Municipal de Serviços urbanos (ou de Planejamento Urbano) para a fiscalização do
cumprimento da ordem, apontando ao juízo eventuais violações para a apuração de multa diária.

Atribui-se á causa o valor de efeito meramente processual de R$ 100,00 (cem reais).

P. deferimento.
Cidade/MG, data

NOME DO ADVOGADO

OAB/___ N. ____

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