Você está na página 1de 74

APOSTILA DE ECONOMIA

PROF. ANDRÉ LUIZ PIRES MUNIZ

UBERLÂNDIA
1-2024
INTRODUÇÃO
A economia é uma ciência ampla que envolve diversos aspectos e ramos de
estudos. Por ser uma ciência social, sua compreensão se torna de fundamental
importância para se entender a própria realidade em que um indivíduo está
inserido. Neste sentido, esta apostila de trabalho tem a intenção de fornecer aos
alunos os conceitos básicos sobre economia e os princípios gerais que norteiam o
estudo da microeconomia, macroeconomia, economia internacional e do
desenvolvimento econômico.
Acredita-se que os pontos abordados nesta apostila, elaborada a partir das
referências bibliográficas básicas apontadas no Plano de Ensino, permitirá ao aluno
a compreensão de conceitos básicos que são de grande importância para seguir seus
estudos em períodos posteriores, além de fornecer subsídios para que os alunos
possam compreender melhor o mundo que os cercam e a conjuntura econômica
atual do país e do mundo.
Com estes objetivos gerais, estruturou-se a apostila da seguinte maneira: Na
unidade 1 são abordados os primeiros conceitos econômicos, indicando ao aluno
qual o real foco do estudo da economia (escassez e os problemas dela decorrentes),
o funcionamento geral da dinâmica econômica de uma sociedade e as diversas
vertentes de estudo possíveis dentro da Ciência Econômica. Na unidade 2 estuda-se
o conceito e a importância da microeconomia, de oferta e demanda, a importância e
função do cálculo de elasticidades e os tipos de estrutura de mercado. Na unidade
seguinte (unidade 3) se estuda as noções básicas de macroeconomia, destacando a
função desta área da economia, os principais agregados macroeconômicos
(indicadores econômicos) e as principais ferramentas macroeconômicas que um
governo pode utilizar para influenciar no andamento de uma economia (política
monetária, fiscal, externa (comercial e cambial), e renda). Por fim, são descritas as
referências bibliográficas utilizadas para o desenvolvimento desta apostila.
Recomenda-se que os alunos não se limitem aos conceitos e explicações
destacados nesta apostila de trabalho. É importante que os alunos consultem os
livros recomendados nas referências bibliográficas, realizem exercícios de fixação e
participem ativamente das aulas com perguntas, opiniões pertinentes aos
conteúdos estudados. Somente assim conseguirão promover uma efetiva
aprendizagem. É importante esclarecer que grande parte do processo de
aprendizagem depende fundamentalmente de como o aluno se organiza e
administra o conhecimento adquirido. Desejo a todos bons estudos e sucesso em
mais um semestre letivo!
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
- Abaixo a apresentação das datas de avaliação estabelecidas pelo calendário
acadêmico:
Prova 1º bimestre: 17 de Abril
Prova 2º bimestre: 19 de junho

- O acompanhamento de faltas é de exclusiva responsabilidade dos alunos. Não


existe abono de falta, a não ser em casos específicos de tratamento especial que o
aluno deverá procurar a secretaria para maiores instruções. O aluno ter no máximo
21 faltas. Cada aula representa 3 faltas.

- As listas de exercícios que irão compor as notas de atividades avaliativas serão


disponibilizadas no plataforma no decorrer do semestre ou realizadas em sala de
aula, conforme o conteúdo for ministrado.

- A composição da nota:
Atividades 1º Bimestre – 20 pontos (listas de exercícios que serão aplicadas no
decorrer do primeiro bimestre de trabalho).
Prova 1º Bimestre – 20 pontos (avaliação).
Atividades 2º Bimestre – 20 pontos (listas de exercícios que serão aplicadas no
decorrer do primeiro bimestre de trabalho).
Prova 2º Bimestre – 20 pontos (avaliação).
Desafio Acadêmico Semestral (DAS) – 20 pontos.
SOBRE O PROFESSOR
Nome completo: ANDRÉ LUIZ PIRES MUNIZ

Idade: 43 anos.

Formação:
- Graduação: Ciências Econômicas – Universidade de Sorocaba (Uniso) – 1999 –
2003.
- Mestrado: Economia – Universidade de Uberlândia (IE-UFU) – 2004 – 2006.
- Especialização em Gestão Escolar – Uninter – 2022
- Especialização em Design Instrucional – FaculMinas – 2023

Breve currículo profissional:


- 17 anos na docência universitária, ministrando disciplinas nas áreas de Economia,
Finanças, Estatística. Atuei em diversas instituições de ensino superior, dentre as
quais CESUC (Catalão), ESAMC, UFU (professor substituto), Faculdade Pitágoras e
Una (Uberlândia). Já atuei como membro de CPA (Comissão Permanente de
Avaliação) e como coordenador de Núcleo de Pesquisa, gerenciando trabalhos de
conclusão de curso. Orientei grande quantidade de trabalhos de conclusão de curso
e participei de muitas bancas de avaliação de trabalhos. Atualmente sou
coordenador dos cursos da área de Gestão da Faculdade Uniessa e professor desta
mesma instituição. Além das atividades docentes, atuo como consultor na área de
finanças e como consultor de Business Inteligence (BI).
Para maiores informações sobre minha vida docente, como trabalhos publicados,
orientações, e participação em eventos, acessem o link:
http://lattes.cnpq.br/9035462843024466
3

SUMÁRIO (EMENTÁRIO)

UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ECONOMIA............................................................................ 4


1. O objeto de estudo da Ciência Econômica ................................................................................................ 4
2. Noção de escassez e suas implicações ...................................................................................................... 5
3. Tipos de bens ............................................................................................................................................. 8
4. Os fatores de produção e suas remunerações ........................................................................................ 10
5. Organização e funcionamento dos sistemas econômicos....................................................................... 11
6. Áreas de estudo da economia ................................................................................................................. 18
UNIDADE 2 – MICROECONOMIA .................................................................................................................... 19
1. Conceito a aplicação da microeconomia ................................................................................................. 19
2. Teoria da oferta, demanda e equilíbrio de mercado .............................................................................. 21
3. Teoria da firma ........................................................................................................................................ 31
4. Elasticidade .............................................................................................................................................. 40
5. Estruturas de mercado ............................................................................................................................ 45
UNIDADE 3 – MACROECONOMIA ................................................................................................................... 52
1. Conceitos gerais de macroeconomia....................................................................................................... 52
2. Política fiscal ............................................................................................................................................ 53
3. Política externa ........................................................................................................................................ 55
4. Política de rendas .................................................................................................................................... 61
5. Política monetária.................................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... 72
4

UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA


ECONOMIA
O objetivo geral desta unidade é fornecer aos alunos os conceitos básicos do
estudo da economia, ressaltando o principal objetivo de estudo desta ciência, ou
seja, o estudo da escassez. Destaca-se ainda o funcionamento e composição de um
sistema econômico, assim como as sub-áreas de estudo da Ciência Econômica.

1. O objeto de estudo da Ciência Econômica

A Economia é uma ciência social. Diferentemente das ciências biológicas ou


da física, na economia não é possível realizar experimentos controlados em
laboratório. Não é possível, por exemplo, fazer um experimento para verificar os
impactos da elevação da taxa de juros na economia brasileira, ou ainda verificar
quantos milhões de pessoas irão se tornar pobres se o governo deixar de criar
programas sociais. Neste sentido, como afirmam Pinho & Sandoval de Vasconcellos
(1998, p. 05), a ciência econômica necessita de tempo para desenvolver
observações, a fim de serem utilizadas como evidências no teste de hipóteses sobre
o comportamento dos fenômenos econômicos.
Dizer que a economia é uma ciência social significa dizer que ela repousa
sobre os atos dos seres humanos, e apesar da tendência das previsões econômicas
serem cada vez mais precisas, é impossível se fazer análises puramente frias e
numéricas e com 100% de acerto, isolando as complexas reações do homem no
contexto das atividades econômicas. A economia é uma ciência social por ocupar-se
do comportamento humano, estudando como as pessoas e as organizações na
sociedade se empenham na produção, troca e consumo de bens e serviços.
A economia é uma ciência muito abrangente, e pelo fato de lidar com os atos
dos seres humanos acaba se fundindo com outras ciências. Desta forma, a economia
é uma ciência estritamente relacionada com a política, com a história, com a
geografia, com a sociologia, com a matemática e com a estatística, dentre outras do
campo das ciências sociais.
Paul Samuelson (apud PINHO & SANDOVAL DE VASCONCELLOS 1998, p. 09)
expõe que a economia “é uma ciência social que procura estudar a administração de
recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos”. Sintetizando o que foi
exposto até o momento, Sandoval de Vasconcellos (2002, p.21) expõem que a
“Economia pode ser entendida como a ciência social que estuda como o indivíduo e
a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e
5

serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com


a finalidade de satisfazer às necessidades humanas”.
Assim, para se compreender o foco de estudo da economia é necessário
entender primeiramente o conceito de bens escassos, tópico a ser abordado em
seguida.

2. Noção de escassez e suas implicações

O significado da palavra escassez de acordo com o dicionário Aurélio é:


Escassez - qualidade de escasso; pouca abundância. Falta, míngua, carência,
privação. Sandroni (2001, p. 211) afirma que escassez, em termos econômicos,
surge da ideia de que as necessidades humanas são infinitas, porém os bens e os
meios para satisfazer tais necessidades são limitados, ou seja, finitos. É neste
confronto entre necessidade e disponibilidade de recursos que surge o conceito de
escassez. Assim, quanto maiores as necessidades por um determinado bem, visto
que a disponibilidade deste bem é limitado, maior será a escassez deste item na
economia. Assim, a partir deste conceito geral de escassez, o que se pode notar e
que nada na natureza existe em infinita abundância.

Figura – Origem da escassez

Se as coisas da natureza não fossem escassas, ou seja, existissem em plena


abundância, não faria sentido em se preocupar com desperdícios ou com o uso
irracional das coisas. Assim, por exemplo, se a produção de carvão ou de petróleo
fosse infinita, não haveria com certeza a necessidade de se preocupar com o seu uso
e com a busca de novas jazidas e novas fontes destas matérias primas ou ainda com
formas renováveis de energia. Se a água fosse para toda a vida, não haveria, como
há atualmente, a preocupação em se utilizar de maneira correta e preservada esta
valiosa fonte de vida.
Tem-se, portanto, duas forças contrárias agindo na economia. Enquanto os
recursos e materiais utilizados na produção dos bens são escassos (limitados), a
6

busca pela satisfação das necessidades humanas é ilimitada. A partir destas duas
forças contrárias que se pode entender o significado do conceito de escassez.
Segundo Troster & Mochón (2002, p. 04) uma necessidade “é a sensação de
carência de algo unida ao desejo de satisfazê-la”, e pode ser dividida em dois tipos,
conforme pode ser visto no esquema a seguir:

Figura – Classificação dos tipos de necessidades

Tipos de necessidades

Segundo o requerente Segundo a natureza

Indivíduo Sociedade Vitais ou Primárias Civilizadas ou Secundárias

Natural Coletivas

Social
Social Públicas
Públicas

Ainda de acordo com Troster & Mochón (2002, p. 04) as necessidades


individuais de ordem natural, referem-se às necessidades implícitas a qualquer ser
humano, como a necessidade de se alimentar e de se manter hidratado com o
consumo de água. As necessidades de ordem social referem-se àquelas decorrentes
da vida social que uma determinada pessoa leva, como participar de festas, estar
junto de amigos, enfim, em convívio social. As necessidades coletivas são aquelas
que partem de um indivíduo, mas que passam a ser da sociedade, pois outras
pessoas têm necessidades iguais, como por exemplo, a necessidade de transporte
(público). As necessidades públicas surgem na mesma sociedade, porém sua
amplitude é maior do que a coletiva, pois atinge a toda a sociedade, como a
segurança ou a ordem pública.
As necessidades ainda podem ser classificadas segundo sua natureza. Neste
sentido, elas podem ser vitais (ou primárias), sendo aquelas que são vitais para a
conservação da vida humana, ou civilizadas (ou secundárias) que são aquelas que
elevam o bem-estar do indivíduo e variam no tempo, de acordo com a cultura,
situação sócio-econômica em que um indivíduo está inserido.
Reunindo os conceitos apresentados até aqui, resumidamente a escassez
surge:
7

(...) em virtude das necessidades humanas ilimitadas e da restrição física


de recursos. Afinal, o crescimento populacional renovas as necessidades
básicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida (que
poderíamos classificar como uma necessidade “social” de melhoria de
status) e a evolução tecnológica fazem com que surjam “novas”
necessidades (computador, freezer, vídeo, CD, etc). Nenhum país, mesmo
os países ricos, são auto-suficientes, em termos de disponibilidade de
recursos produtivos, para satisfazer a todas as necessidades da população
(SANDOVAL DE VASCONCELLOS 2002, p. 21).

Detalhando o conceito de economia de Paul Samuelson visto anteriormente,


tem-se mais detalhadamente:
• a economia é uma ciência social: pois se preocupa e se baseia em atos dos
seres humanos;
• que procura estudar a administração de recursos escassos: administrar qual a
melhor aplicação dos recursos limitados que proporcionem uma melhor
“satisfação” das necessidades humanas;
• entre usos alternativos e fins competitivos: os recursos escassos podem ter
diversos fins e muitos deles competitivos, como por exemplo, a cana de
açúcar, que pode ser utilizada tanto para a produção de açúcar, como para a
produção de álcool para a locomoção de automóveis.

Segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 13), conceitualmente, as


necessidades humanas podem ser entendidas como qualquer “manifestação de
desejo que envolva a escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a
sobrevivência ou para a realização social do indivíduo”. Estas necessidades não são
estáveis e não são iguais para todos os indivíduos de uma sociedade. Elas se
renovam dia a dia (são mutáveis) e se diferem entre as pessoas, como, por exemplo,
gostar de comer fígado.
Neste sentido, se o objetivo é o de atender ao máximo as ilimitadas
necessidades da população e se os recursos são limitados, então a administração
desses recursos tem que ser feita de maneira cuidadosa, econômica, racional e
eficiente. Em outras palavras, temos que “economizar” recursos. A economia é,
portanto, o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes.
O que é importante frisar, portanto, sobre a Ciência Econômica é: que seu
objeto é o estudo da escassez e de como a partir desta limitação de recursos
podem-se criar bens econômicos (ou seja, bens gerados a partir da utilização de
recursos limitados); e que por se basear em atos dos seres humanos, se classifica
entre as Ciências Sociais.
8

Assim como aponta Pinho & Sandoval de Vasconcellos (2002), Sandoval de


Vasconcellos (1998), Troster & Mochón (2002) e todos os outros manuais de
economia introdutória, o problema da escassez cria quatro problemas econômicos
básicos, dentre eles: O QUE, QUANTO, COMO, e PARA QUEM produzir? A partir dos
conceitos expostos acima, fica claro que se os bens e recursos não fossem escassos,
estes problemas não existiriam. Todavia, na realidade existem ilimitadas
necessidades e limitados recursos disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada
nestas restrições, a Economia deve optar dentre os bens a serem produzidos e os
processos técnicos capazes de transformar os recursos escassos em produção.
Assim, a Economia é uma ciência ligada ao problema da escolha. Somente
devido à escassez de recursos em relação às ilimitadas necessidades humanas que
devem ser atendidas é que se justifica a preocupação de utilizá-los de forma mais
racional e eficiente quanto possível.

Figura – Os problemas econômicos básicos

Necessidades ilimitadas
O QUE produzir?

QUANTO produzir?
X
Escassez → ESCOLHA → COMO produzir?

PARA QUEM produzir?


Disponibilidade recursos
limitados

Fonte: Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 22).

3. Tipos de bens

Um bem é tudo aquilo que permite satisfazer uma ou várias necessidades


humanas e pode ser classificado quanto sua raridade, ou seja, se são bens livres ou
bens econômicos. Os bens livres são aqueles que existem em quantidade ilimitada,
podem ser obtidos com pouco ou nenhum esforço humano e segundo Troster &
Mochón (2002, p. 08) não são apropriáveis, como por exemplo, a luz solar, o ar, o
mar. Estes itens são bens porque satisfazem as necessidades humanas, mas sua
utilização não implica em relações de ordem econômica, ou seja, é um bem cuja
principal característica é a inexistência (pelo menos por enquanto) de preço (tem
preço zero).
Ao contrário, os bens econômicos, são relativamente escassos e supõem a
ocorrência de esforço humano para sua obtenção e possuem preço, além de terem
a característica de serem apropriáveis. Os bens econômicos, por sua vez, podem ser
9

classificados em materiais ou imateriais (ou serviços). Os primeiros (bens materiais)


são tangíveis, como roupas, alimentos, etc, enquanto os bens econômicos imateriais
são intangíveis, ou seja, não podem ser tocados, como os serviços prestados por um
médico, um professor ou ainda um analista contábil ou um administrador de
empresas.
Os bens materiais podem ainda ser classificado em bens de consumo e bens
de capital. Os bens de consumo são aqueles utilizados diretamente para a satisfação
das necessidades humanas, podendo ser duráveis (como eletrodomésticos) e não
duráveis (como alimentos). Os bens de capital são aqueles que permitem produzir
outros bens, como as máquinas de uma grande fábrica de automóveis. O esquema
apresentado abaixo simplifica a visualização das relações apontadas acima.

Figura – Bens e sua forma de classificação

Bens

Bens
Bens Livres
Econômicos

Bem Bem
Material Imaterial

Bens de
Consumo

Bens de
Capital

Os bens de consumo ainda podem ser classificados segundo sua função, ou


seja, podem ser classificados em bens finais, que são aqueles que já passaram por
todo o processo de produção e transformação e estão prontos para consumo, e em
bens intermediários, que são aqueles que ainda precisam ser transformados para
atingir sua forma definitiva. Os bens intermediários são aqueles utilizados no
processo de produção para se tornarem bens finais.
Os bens ainda podem ser classificados em bens privados, na qual são
produzidos e possuídos privadamente, como automóveis e televisão, ou em bens
públicos, que se referem ao conjunto de bens gerais fornecidos pelo setor público,
como educação, justiça, segurança, etc.
10

Para se produzir tais bens são necessários recursos básicos, denominados de


fatores de produção, tópico a ser abordado na próxima seção.

4. Os fatores de produção e suas remunerações

Os recursos produtivos, também denominados de fatores de produção, são


elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de
mercadorias as quais, por sua vez, serão utilizados para satisfazer as necessidades
humanas. Os fatores produtivos e suas respectivas remunerações estão
discriminados no quadro abaixo:

Terra → aluguel
Trabalho → salário
Capital → juros

Segundo Sandroni (2001, p. 235) os fatores de produção são:

Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais.


Tradicionalmente, desde Say, são considerados fatores de produção a
terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital
(máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente,
costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial e o conjunto
de ciência/técnica (pesquisa). De modo geral, os fatores de produção são
limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o
local e a situação histórica.

Desta forma, o recurso terra se refere a todos os recursos naturais, como as


florestas, os minerais e os recursos hídricos. O recurso trabalho é o nome dado para
designar todo o esforço humano, seja físico ou mental, despendido na produção de
bens e serviços (é um fator limitado pelo tamanho da população). O recurso capital
é o conjunto de bens fabricados pelo homem e que não se destina à satisfação das
necessidades através do consumo, mas que são utilizados no processo de produção
de outros bens. Todos estes recursos são limitados, ou seja, são escassos e são
também, de alguma forma, remunerados, ou seja, é pago um preço pela utilização
dos serviços dos fatores de produção, se constituindo, desta forma, em renda para
os proprietários dos fatores.
A utilização destes fatores de produção se difere conforme o sistema
econômico predominante, conforme será visto a seguir.
11

5. Organização e funcionamento dos sistemas econômicos

Segundo Passos & Nogami (2001, p. 05), um sistema econômico “é a forma


como a sociedade está organizada para desenvolver as atividades econômicas de
produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços”. Todo sistema é
composto de agentes econômicos, que segundo estes mesmos autores (pp. 15-16)
são pessoas de natureza física ou jurídica que, através de suas ações, contribuem
para o funcionamento do sistema. O sistema econômico, portanto, é formato pelas
famílias (unidades familiares), pelas empresas (unidades produtivas) e pelos
governos. É a partir da interação destes agentes que se constituem os sistemas
econômicos.
Dentro dos sistemas econômicos existem os chamados mercados. Segundo
Passos & Nogami (2001, p. 16), um mercado é um local ou contexto em que
compradores e vendedores de bens, serviços ou recursos estabelecem contato e
realizam transações.
Dentro de um sistema econômico os agentes que o compõem realizam trocas.
A troca é um processo que envolve pelo menos dois indivíduos com necessidades
diferentes. É uma transação em que eles se desfazem do produto que possuem em
excesso para adquiri outros produtos de que necessitam (TROSTER & MOCHÓN,
2002, p. 40). Em tempos antigos, as trocas eram realizadas através de produtos (o
chamado escambo).
Segundo Sandroni (2001, p. 211), escambo é:

Troca de bens e serviços sem a intermediação do dinheiro. É o estágio


mais primitivo das relações de troca e caracteriza as sociedades de
economia natural. Nas sociedades modernas, o escambo pode ressurgir
em momentos de elevada taxa inflacionária, em que os consumidores
perdem a confiança no papel-moeda. Isso ocorreu na Alemanha depois da
Segunda Guerra Mundial, quando o marco, hiper-desvalorizado, foi
substituído, nas relações de trocas mais simples, pelo café e pelo cigarro.

Porém, este processo, com a evolução da humanidade ficou cada vez mais
difícil de se realizado, pois o escambo é um processo que exige a chamada “dupla
coincidência de desejos”, ou seja, as partes envolvidas na negociação têm que ao
mesmo tempo ser demandantes e ofertantes. Em outras palavras, para que o
agricultor consiga trocar trigo por carne, ao mesmo tempo o criador tem que estar
desejando o trigo e ter carne para a troca. Assim, quanto mais atividades existir em
uma economia, ou seja, quanto mais o ser humano foi se especializando e criando
novas atividades e a economia se tornando mais complexa, este processo de troca
12

ficou cada vez mais difícil de ocorrer. Como exposto por Troster & Mochón (2002, p.
41):
A troca realizada dessa forma [escambo] tem sérios inconvenientes. Por
um lado, levaria muito tempo, já que cada indivíduo encontre alguém
disposto a adquirir precisamente o que ele pretende trocar, ou seja, a
troca requer uma coincidência de necessidades [também chamada de
dupla coincidência de desejos]. Outro inconveniente da troca deriva da
indivisibilidade de alguns bens. Quando envolvem muitos participantes, as
trocas tornam-se muito complexas e as limitações básicas das trocas –
coincidência de necessidades e indivisibilidade – fazem com que ela seja
praticamente inviável.

Com o passar do tempo e com a evolução da humanidade foram se criando


formas mais simples de uma determinada troca ocorrer. Assim, um grande passo da
humanidade foi a criação do dinheiro, ou seja, de um meio de pagamento aceito
por todos, sendo possível através dele trocar por qualquer bem e serviço, além de
ser utilizado para saldar dívidas. Com o dinheiro, portanto, as limitações da
coincidência de desejos e indivisibilidade foram sanadas (este tópico será mais bem
explorado na unidade referente à macroeconomia – política monetária).
Com estes aspectos gerais em mente, são duas as formas com que um sistema
econômico pode estar organizado: a descentralizada (ou economia de mercado), do
tipo brasileiro, ou a centralizada, do tipo cubano. Porém, para um melhor
entendimento destas formas de organização econômica, é necessário se apreender
outros conceitos básicos, como o funcionamento do sistema de preços, e algumas
características do sistema capitalista, o que será descrito a seguir.

ECONOMIA DE MERCADO (FORMA DESCENTRALIZADA)


Segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, pp. 18-19) este tipo de
sistema tem as seguintes características: 1) não há por parte de nenhum agente
econômico a preocupação de se gerenciar o bom funcionamento da economia; 2)
todos os agentes correm riscos estimados, mesmo com um futuro incerto; 3) os
agentes agem de forma egoísta, e no seu conjunto resolvem inconscientemente os
problemas da coletividade.
Neste sistema de mercado, baseado na dinâmica de preços, tudo é realizado
sem coerção ou direção centralizada de qualquer organismo consciente. Por não
possuir um organismo que direcione, pressupõe-se que este sistema é caótico e
anárquico, porém, a forma egoísta com que os agentes econômicos agem faz com
que este sistema possua ordem e coordenação.
13

Neste sistema privado de preços o desejo dos indivíduos e que determinará a


magnitude da demanda (procura), e a produção das empresas determinará a
magnitude da oferta e o equilíbrio (demanda X oferta) será atingido a partir da
flutuação dos preços. O mecanismo de preços aqui é um sistema de tentativas e
erros, de aproximações sucessivas, para alcançar o equilíbrio entre demanda X
oferta.
Assim, a partir deste sistema, os quatro problemas básicos da economia são
resolvidos pela concorrência dos mercados e pelo mecanismo de preços existente:
• O QUE PRODUZIR: será decidido pela procura dos consumidores no mercado;
• QUANTO PRODUZIR: será determinado será determinado pela atuação dos
consumidores e dos produtores no mercado com os ajustamentos dados pelo
sistema de preços.
• COMO PRODUZIR: será determinado pela concorrência entre os produtores.
• PARA QUEM PRODUZIR: a produção será destinada para aqueles que tiverem
renda para pagar, sendo assim, o preço é o instrumento de exclusão do
mercado consumidor.
Resumindo: neste sistema, há a ação conjunta da demanda e da oferta nos
seguintes termos: os consumidores, após escolherem os bens desejados, dirigem-se
ao mercado com suas rendas e hábitos determinados a fim de comprarem os bens e
maximizarem suas satisfações; do outro lado os produtores ofertam os bens no
mercado, considerando seus custos de produção, a fim de maximizar seu lucro total.
O sistema de preços coordena as decisões de milhões de unidades econômicas e faz
com que eles se equilibrem, uns aos outros, e força ajustamentos para torná-los
condizentes com o nível tecnológico e com o montante disponível de recursos.
Este tipo de sistema necessita de alguns elementos básicos para seu
funcionamento, dentro os quais: capital, da propriedade privada, da divisão do
trabalho e da moeda.
Por capital entende-se como sendo o conjunto de bens econômicos
heterogêneos (como máquinas, instrumentos, fábricas, terras, matéria-prima, etc)
capazes de reproduzir bens e serviços. Para a formação de capital é necessário
destinar tempo e poupar recursos. E a partir da propriedade privada dos fatores
que o capitalista se apropria e acumula parte da renda gerada nas atividades
econômicas. Por divisão do trabalho entende-se como a especialização de funções,
que permite a cada pessoa usar, com maior vantagem, qualquer diferença peculiar
de aptidões e recursos. A divisão do trabalho permite a produção massificada de
bens econômicos, porém gera a interdependência de funções. Já a moeda tem
papel fundamental em uma economia capitalista, pois é a partir dela que realizam
as transações econômicas, evitando a dupla coincidência de necessidades (como
em uma economia de escambo – este tópico será abordado com maiores detalhes
na seção de macroeconomia).
14

A ilustração descreve o chamado FLUXO CIRCULAR DA RENDA, e permite


visualizar o funcionamento básico deste sistema:

Figura - Fluxo circular da renda (sem governo e comércio internacional)

Assim, nesta economia simplificada, sem governo e comércio com o resto do


mundo, existem indivíduos e empresas e dois mercados básicos: o mercado de
fatores de produção e o mercado de bens e serviços. Os indivíduos são os
detentores dos fatores de produção (terra, capital e mão de obra) que os
disponibilizam no mercado de fatores para que as empresas possam utilizá-los e
produzir bens e serviços, disponibilizando-os no mercado de bens e serviços para os
indivíduos. Este primeiro fluxo de atividades é o fluxo de bens e serviços (ou fluxo
real) da economia, caracterizado pela linha cheia do fluxo.
Paralelamente a este fluxo, corre um outro, que é o fluxo monetário (linha
tracejada). Este fluxo indica que as empresas pagam aos indivíduos um salário, um
aluguel ou juros (dependendo do fator utilizado) pelo fornecimento dos fatores de
produção, enquanto que os indivíduos, por sua vez, pagam às empresas o montante
referente aos bens consumidos ou serviços utilizados.
Assim, grosso modo, o fluxo real é caracterizado pela movimentação dos
recursos produtivos e bens e serviços entre os agentes econômicos e o fluxo
monetário é aquele composto pela somatória dos pagamentos efetuados em troca
15

destes bens e serviços e fatores de produção utilizados no processo. O fluxo


monetário, consequentemente gira em direção contrária ao fluxo real.
Importante ainda ressaltar que este esquema explicita apenas as transações
de bens finais que ocorrem em uma determinada economia, ou seja, não são
mostradas neste esquema as transações que ocorrem entre firmas, como por
exemplo, na compra de uma determinada matéria-prima. Isto é importante, pois na
mensuração da produção de um determinado país não se pode levar em
consideração, como se verá mais a frente, os bens intermediários utilizados no
processo produtivo de modo a evitar a dupla contagem, distorcendo assim a
medida de atividade econômica.

ECONOMIA PLANIFICADA (FORMA CENTRALIZADA)


Neste tipo de organização econômica, os problemas básicos da economia são
determinados e resolvidos pelo(s) órgão(ãos) planejador(es) centrais e não pelo
sistema de preços como nas economias de mercado. Troster & Mochón (2002, p. 63)
apontam que o sistema de mercado funciona de tal maneira que provoca
desemprego e constantes crises econômicas o que implicam em desperdícios de
recursos, sendo o principal argumento a favor do planejamento econômico
centralizado.
Em uma economia centralizada, os preços têm outras funções diferentes da
economia de mercado. Os preços nesta economia permitem, no processo de
produção dos bens, realizarem o controle da eficiência do sistema produtivo. O
preço ainda é utilizado como um mero instrumento para a distribuição da produção,
evitando o excesso ou a falta da produção.
No sistema centralizado, a contração ou expansão da produção são
determinados pelo governo, enquanto no sistema de mercado, é determinado pelo
sistema de preços (que por sua vez depende da demanda e da oferta). Conforme
Passos & Nogami (2001, p. 37) expõem:

A ação governamental se faz presente através de um órgão central de


planejamento, a quem cabe elaborar os planos de produção de todos os
setores econômicos. Tais planos são elaborados a partir de um
levantamento não só das necessidades a serem atendidas como também
dos recursos e técnicas disponíveis para produção, a fim de dimensionar o
que cada empresa, seja ela agrícola, comercial ou industrial, pode
realmente produzir.
Identificadas as disponibilidades existentes, fixam-se as metas de
produção, ou seja, as quantidades a serem produzidas de cada bem
procurando, na medida do possível, atender as necessidades de consumo
da sociedade.
16

Outra diferença entre economia de mercado e economia centralizada é o fato


de que o diretor de uma indústria ou uma empresa em uma economia de mercado é
chamado de empresário, enquanto que em uma economia centralizada, o diretor é
apenas um burocrata, pois a decisão de realizar novos investimentos, de planejar o
que produzir e como fazer essa produção não é decisão deste diretor e sim de
órgãos superiores, diferente de uma economia de mercado. Assim, quanto maior a
quantidade de empresas, maior o aparato burocrático necessário para controlar tais
empresas.
Em uma economia centralizada, os meios de produção são considerados como
pertencentes a todo o povo, isto é, existe a propriedade coletiva (PINHO &
SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 1998, p. 27). As residências também pertencem ao
Estado, porém os meios de sobrevivência, como roupas, automóveis,
eletrodomésticos pertencem aos indivíduos.

ECONOMIA MISTA (A PRESENÇA DO ESTADO)


O sistema de preços descrito anteriormente possui algumas falhas que geram
muitas distorções no funcionamento da organização econômica. Resumidamente,
segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos, estas falhas são:
• imperfeições na concorrência dos mercados: caracterizada pela existência de
oligopólios, monopólios, gerando distorções nos preços praticados;
• efeitos externos (externalidades): que são acontecimentos que o mercado é
incapaz de internalizar no cômputo dos seus benefícios e/ou custos. É o caso,
por exemplo, da poluição, do desmatamento, etc.
Estas distorções que podem ocorrer (e geralmente ocorrem) levam a má
distribuição da renda e do bem-estar, e somente com a atuação do Estado é que se
torna possível corrigir estas distorções. Muitas vezes o Estado pode até mesmo
assumir papel de produtor na economia, através das empresas estatais, produzindo
o que o setor privado poderia fazer, mas não faz por falta de capital ou de interesse
(é o caso da criação de hidroelétricas, da Petrobrás, dentre outras).
Assim, conforme descrevem Troster & Mochón (2002, p. 68), em uma
economia mista, o setor público colabora com a iniciativa privada nas respostas às
perguntas sobre o que, como e para quem produzir.
Ao se adicionar ao esquema o governo, verifica-se que a esquematização do
fluxo circular da renda se torna um pouco mais complexo, porém a lógica é idêntica.
Expandindo-se o esquema do fluxo circular da renda para três setores (incluindo o
governo) tem-se que no mercado de recursos o governo, no papel de comprador,
adquire os serviços de fatores de produção utilizando-os para produzir bens e
17

serviços públicos, não negociados, tais como defesa nacional, instalações de saúde
pública, proteção policial, escolas, etc., tornando-os disponíveis às famílias e às
empresas.

Figura - Fluxo Circular da Renda com o Governo

O governo possui também alguns recursos, como por exemplo, terras, que
vende ou arrenda, que são disponibilizados no mercado de fatores. Além disso, o
governo, em seus vários níveis, vende e subsidia a venda de determinados bens no
mercado de produtos, recebendo pagamentos por tal atividade, como por exemplo,
os serviços postais, transporte, habitação popular e saneamento básico (água e
esgoto, por exemplo). O governo ainda compra bens e serviços no mercado de
produtos, tais como equipamentos bélicos, veículos, serviços burocráticos, e a maior
parte da renda que financia tais atividades governamentais provêm de impostos e
taxas cobradas dos indivíduos e das empresas.

DESCENTRALIZADA X CENTRALIZADA (DIFERENÇAS BÁSICAS)


As diferenças básicas que podem ser assinaladas entre uma economia
centralizada com uma economia descentralizada segundo Pinho & Sandoval de
Vasconcellos (1998, p. 27) são:
• Propriedade privada versus propriedade pública dos meios de produção;
18

• Sistema de preço em uma economia de mercado leva a uma maior eficiência


no uso dos recursos escassos e na organização da produção, se comparada
com as economias centralizadas;
• O maior controle do sistema de preços nas economias centralizadas produz
uma maior justiça social na distribuição da produção.
Visto os conceitos gerais de economia, na seção seguinte são descritas as
quatro grandes áreas em que a economia pode ser dividida. Cada grande área é um
ramo de estudo da economia.

6. Áreas de estudo da economia

Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, pp. 35-36) a economia pode, grosso


modo, ser dividida em quatro grandes áreas, a saber:
a) Microeconomia: estuda o comportamento de consumidores e produtores e
o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e
quantidades em mercados específicos;
b) Macroeconomia: estuda a determinação e o comportamento dos grandes
agregados, como PIB, consumo nacional, investimento agregado, exportação, nível
geral de preços, etc., com o objetivo de delinear uma política econômica. Tem um
enfoque conjuntural, isto é, preocupa-se com a resolução de questões como
inflação e desemprego, a curto prazo.
c) Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvolvimento que
levem à elevação do padrão de vida (bem-estar) da coletividade. Trata de questões
estruturais, de longo prazo (crescimento da renda per capitã, distribuição da renda,
evolução tecnológica).
d) Economia Internacional: estuda as relações de troca entre países
(transações de bens e serviços e transações monetárias). Trata da determinação da
taxa de câmbio, do comércio exterior e das relações financeiras internacionais.
Na unidade seguinte inicia-se o estudo de elementos de microeconomia. O
objetivo desta unidade será destacar o conceito de mercado, sua composição e a
importância de se compreender o funcionamento da dinâmica de mercado e como
sua estrutura influencia as decisões de consumo e produção dos agentes
econômicos.
19

UNIDADE 2 – MICROECONOMIA
Os objetivos gerais desta unidade são compreender a função do estudo da
microeconomia, os fatores que determinam a oferta e a demanda de bens, a noção
de elasticidades assim como sua forma de cálculo e o funcionamento das principais
estruturas de mercado, focando a questão da determinação dos preços e das
quantidades.

1. Conceito a aplicação da microeconomia

Mas afinal, o que é a microeconomia? Para que serve esta área de estudo da
Ciência Econômica? Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 47), a
microeconomia (ou também chamada de teoria dos preços) é uma vertente da
economia que se preocupa fundamentalmente em estudar o comportamento
econômico das unidades individuais, tais como os consumidores, as empresas e os
proprietários de fatores de produção. Preocupa-se em estudar como e porque os
agentes econômicos agem de determinadas formas. Dentre muitas perguntas, a
microeconomia procura respostas para as seguintes questões:
- O que determina o preço dos bens e serviços de uma economia?
- O que determina o quanto cada mercadoria será produzida?
- O que determina a maneira pela qual um indivíduo gasta sua renda?
Conforme apontado em Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 69):

Genericamente, a microeconomia é concebida como o ramo da Ciência


Econômica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo
representadas pelos indivíduos e/ou famílias (estas desde que caracterizadas
por um orçamento único), ao estudo das empresas, suas respectivas
produções e custos e ao estudo da geração e preços dos diversos bens,
serviços e fatores produtivos.

Contudo, Sandoval de Vasconcellos (2002) pondera que a microeconomia não


pode ser entendida como uma área da economia que foca apenas a empresa, mas sim
um ramo em que se dedica a estudar o mercado no qual as empresas e consumidores
interagem. É por isto que se diz que a microeconomia procura estudar o
comportamento dos agentes econômicos em um determinado mercado, ou seja, como
as unidades tomam decisões econômicas e como as políticas econômicas
governamentais podem influenciar a decisão de tais agentes (PINDYCK &
RUBINFELD, 1999, pp. 03-04).
O estudo da microeconomia se baseia muito na condição “coeteris paribus”.
Como se pode verificar no dia a dia de nossas vidas, um determinado fenômeno
(inclusive os econômicos) ocorre devido a diversos fatores determinantes que atuam
sobre ele simultaneamente. Esta simultaneidade com que os fatores atuam sobre um
20

determinado fenômeno dificulta a análise e o entendimento de como cada um desses


fatores atua isoladamente.
É neste sentido que a condição “coeteris paribus” se torna importante. É uma
expressão em latim que significa “tudo o mais permanecendo constante”. Assim,
ao se adotar esta condição, pode verificar como a demanda (ou até mesmo a oferta) é
influenciada pelo preço, permanecendo os demais fatores (como hábitos, renda,
dentre outros) constantes (ou melhor, inalterados).
Conforme ressalta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 69):

A Microeconomia é parcial. Para poder analisar um mercado isoladamente,


supõe todos os demais mercados constantes. Ou seja, supõe que o mercado
em estudo não afeta nem é afetado pelos demais. Essa condição [coeteris
paribus] serve também para verificarmos o efeito de variáveis isoladas,
independente dos efeitos de outras variáveis; ou seja, quando queremos, por
exemplo, saber o efeito isolado de uma variação de preço sobre a procura
de determinado bem, independente do efeito de outras variáveis que afetam
a procura, como a renda do consumidor; gastos e preferências, etc.

Mas antes de se prosseguir no estudo das teorias de oferta e demanda, faz-se


necessário explicitar um conceito importante na microeconomia – o conceito de
mercado.
Conforme apontam Pindyck & Rubinfeld (1999, p. 09), as unidades
econômicas podem ser divididas em dois grandes grupos – os compradores e os
vendedores. É a partir da interação destes dois grupos que surgem os mercados: Um
mercado é, pois, um grupo de compradores e vendedores que, por meio de suas reais
ou potenciais interações, determina o preço de um produto ou um conjunto de
produtos.
Importante esclarecer ainda que mercado não é a mesma coisa que indústria.
Uma indústria é um conjunto de empresas que vende o mesmo produto ou produtos
correlatos. Assim, uma indústria corresponde apenas a um dos lados (o lado dos
vendedores) que compõem um mercado. Segundo Pindyck & Rubinfeld (1999, p.
12), o conhecimento do conceito de mercado e sua abrangência é importante, pois:

Uma empresa, por exemplo, precisa saber quem são seus reais e potenciais
competidores nos produtos que ela vende ou possa vir a vender no futuro.
Uma empresa também precisa conhecer as características que definem um
produto específico e as fronteiras geográficas de um determinado mercado,
para que seja capaz de fixar preços, determinar as verbas de publicidade e
tomar decisões de investimento.
A definição do mercado é igualmente importante para a escolha de políticas
públicas. Deve o governo permitir as fusões e incorporações de companhias
que produzem produtos similares? A resposta depende do impacto disso na
competição futura e nos preços; ora, isso frequentemente só pode ser
avaliado definindo mercado.

Na próxima seção se estudará a teoria da oferta, da demanda e como é possível


através destes dois conceitos se chegar em uma situação de equilíbrio de mercado.
21

2. Teoria da oferta, demanda e equilíbrio de mercado

A teoria da oferta e da demanda é a base de muitos conceitos econômicos, não


somente na área de estudo da microeconomia. Contudo, nesta seção se estudará o
conceito e os determinantes da teoria da oferta e da demanda, assim como estes dois
conceitos unidos permitem se chegar a uma situação de equilíbrio de mercado,
conceito teórico este que é muito importante para a Ciência Econômica.

LEI DA DEMANDA
A demanda (ou também conhecida como procura) de um indivíduo por um
determinado bem ou serviço refere-se à quantidade desse bem (ou serviço) que este
indivíduo está disposto e capacitado a comprar, por unidade de tempo.
Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 49):

Demanda (ou procura) é a quantidade de determinado bem ou serviço que


os consumidores desejam adquirir, num dado período.
Assim, a chamada demanda é um desejo, um plano. Representa o máximo
que o consumidor pode aspirar, dada sua renda e os preços no mercado.
A escala de demanda indica quanto o consumidor pode adquirir, dada
várias alternativas de preços de um bem ou serviço. (...) a demanda não
representa a compra efetiva, mas a intenção de compra, a dados preços.

A fundamentação teórica da lei da demanda esta baseada na teoria do valor


utilidade. Assim, como expõem Sandoval de Vasconcellos (2002) a utilidade
“representa o grau de satisfação que os consumidores atribuem aos bens e serviços
que podem adquirir no mercado”. Ou seja, a utilidade é a qualidade de satisfazer as
necessidades humanas. A teoria do valor utilidade, portanto, pressupõe que o valor de
um bem se forma por sua demanda, isto é, pela satisfação que o bem representa para
o consumidor.
Assim como exposto em Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 81), as
pessoas demandam bens e serviços porque seu consumo lhes traz algum tipo de
prazer ou satisfação. Esta, portanto, e a condição básica para que um determinado
produto seja procurado. Não há demanda de produtos indesejáveis. O exemplo
clássico para se visualizar a questão da utilidade de um produto é o chocolate. Assim:

(...) suponhamos que a mercadoria em questão seja o chocolate em barra.


Se passarmos a dar uma barra de chocolate por semana a uma criança que
até então não consumia nada de chocolate, essa barra de chocolate
provavelmente trará uma satisfação muito grande a essa criança, gerando
assim uma utilidade relativamente alta. Se, depois disso, passarmos a dar
uma segunda barra semanal de chocolate, essa barra será bem recebida pela
criança, mas provavelmente não com o mesmo entusiasmo com que foi
recebida a primeira barra. Uma terceira barra será recebida com um
entusiasmo ainda menor. Se formos aumentando o número de barras de
chocolate, chegaremos a um ponto em que uma barra adicional de
chocolate representará para a nossa criança um benefício tão pequeno que
22

para ela será quase indiferente receber ou não essa barra adicional. Isso
porque o chocolate sendo consumido praticamente até a saciedade, deixou
de ser para ela um produto escasso (PINHO & SANDOVAL DE
VASCONCELLOS, 1998, p. 82).

O exemplo acima demonstra que a utilidade total oriunda do consumo de


chocolate cresce à medida que se aumenta o número de barras consumidas, porém, o
valor acrescentado à utilidade total da última barra consumida é menor do que a barra
anterior. A idéia implícita neste caso implica em dois novos conceitos – utilidade
total e a de utilidade marginal.
Assim como expõem Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 50):

Tem-se que a Utilidade Total tende a aumentar quanto maior a quantidade


consumida do bem ou serviço. Entretanto, a Utilidade Marginal, que é a
satisfação adicional (na margem) obtida pelo consumo de mais uma
unidade do bem, é decrescente, porque o consumidor vai saturando-se
desse bem, quanto mais o consumo.

Um exemplo numérico pode facilitar a ilustração dos conceitos expostos


acima. A tabela a seguir indica o grau de utilidade de uma determinada barra de
chocolate para um indivíduo. O grau de utilidade de 100% indica que a pessoa esta
saciada, ou seja, não existe mais uma necessidade humana.

Barras de chocolate Utilidade da NOVA barra consumida Utilidade da ÚLTIMA barra Utilidade Total (Última + Nova
consumidas (Utilidade Marginal %) consumida (em %) barra) - em %
1 45,0 0,0 45,0
2 20,0 45,0 65,0
3 15,0 65,0 80,0
4 10,0 80,0 90,0
5 5,0 90,0 95,0
6 3,0 95,0 98,0
7 1,5 98,0 99,5
8 0,5 99,5 100,0
9 0,0 100,0 100,0

O exemplo exposto acima demonstra que o consumo do chocolate irá se saturar


na nona unidade, ou seja, o consumo da nona unidade não irá promover nenhuma
utilidade. Em outras palavras, a utilidade marginal da nona unidade é igual a zero.
Percebe-se ainda que a cada unidade NOVA de chocolate consumida, a satisfação
total (ou utilidade total) aumenta, porém em quantidades menores do que a última
unidade consumida. Em outras palavras, a cada unidade consumida, a satisfação
marginal (ou utilidade marginal) decresce, como exposto anteriormente.
Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 53) a demanda é influenciada por
diversos fatores. Os principais fatores seriam:
a) preço do bem: normalmente, é de se esperar que o consumidor deseje
adquirir uma quantidade maior de um bem quanto menor for o seu preço. Assim, o
preço do bem tem uma relação negativa com a quantidade demanda.
23

b) renda do consumidor: na maioria dos bens, é de se esperar que uma


elevação na renda do consumidor esteja associada a uma elevação nas quantidades
compradas desses bens. Um exemplo é o caso da carne de primeira. Se você passa a
ganhar mais, você provavelmente irá passar a comer mais carne de primeira do que
antigamente. Estes tipos de bens são chamados de bens normais (ou seja, quando se
eleva a renda e eleva-se também a demanda deste bem). Porém, existem algumas
exceções a esta regra, ou seja, existem aqueles produtos e serviços cujo consumo
varia inversamente à variação da renda, dentro de certa faixa de renda. Isso significa
dizer que a quantidade adquirida desse tipo de produto diminui com o aumento da
renda, ou, caso haja uma diminuição da renda, a quantidade adquirida desse produto
aumenta. Esse tipo de bens e serviços com relacionamento negativo com a renda são
denominados de bens inferiores. São chamados desta forma, pois o aumento da renda
substitui estes bens por outros de qualidade superior. É o caso, por exemplo, da carne
de segunda com a carne de primeira, ou ainda das roupas usadas pelas roupas novas.
Quando há uma elevação da renda do indivíduo, ele tende a substituir o consumo da
carne de segunda por uma carne de melhor qualidade ou ainda deixar de comprar
roupas usadas para comprar roupas novas. Existe ainda os bens de consumo saciado,
que são aqueles na qual mesmo a renda se elevando, o consumo deste bem não se
modificará. Este é o caso, em geral, dos alimentos básicos como o açúcar, o sal, o
arroz, o feijão, do papel higiênico, etc. Este último caso refere-se aqueles em que a
renda não exerce influência sobre a demanda dos produtos. Sandoval de Vasconcellos
(2002, p. 58) pondera ainda que tudo isto depende da classe de renda a qual um
determinado consumidor pertence. Segundo este autor, para os consumidores de
baixa renda praticamente não existem bens inferiores. Assim, quanto mais elevada a
renda, maior o número de produtos que passam a ter a possibilidade de serem
classificados com bens inferiores ou de consumo saciado.
c) gosto e preferências do consumidor: a demanda depende também dos
hábitos de consumo e das preferências individuais, que consequentemente, dependem
do sexo, da idade, da tradição cultural e religiosa e até mesmo do nível educacional
de cada indivíduo.
d) preço dos bens relacionados: não é somente o preço do bem (ou serviço)
que influencia a sua quantidade demandada. Os preços de outros bens também o
influenciam. Neste sentido, a demanda de um bem pode ser influenciada pelas
alterações nos preços de seus bens complementares ou de seus bens substitutos. Os
bens complementares são aqueles que tendem a ser utilizado em conjunto, ou seja,
quando o preço de um se eleva, ocorre a redução da quantidade demandada do outro,
como por exemplo, o caso da margarina e do pão, ou ainda o efeito do aumento do
preço dos automóveis sobre a demanda de gasolina. Já com os bens substitutos ocorre
o contrário. São aqueles cujo consumo pode substituir o consumo de outro, ou seja, a
elevação do preço de um bem pode elevar a quantidade demanda do outro. Alguns
exemplos: é o caso da manteiga e a maionese ou margarina, da carne de frango, vaca
e peixe, da viagem de trem ou de ônibus, da Coca-Cola com o Guaraná (coeteris
paribus, ou seja, considerando que as outras condições como as preferências do
consumidor são constantes).
24

e) questão populacional: quando aumenta o número de pessoas em um


determinado mercado, ou seja, um maior mercado consumidor, faz com que gere a
tendência de elevar a quantidade demandada dos bens.
No quadro a seguir é descrito sinteticamente os efeitos de tais variáveis sobre a
demanda.

Quadro - Causas do deslocamento da demanda


Aumento da demanda Diminuição da demanda

Aumento da renda dos consumidores Diminuição da renda dos consumidores

Mudança de gosto favorável a um bem Mudança de gosto desfavorável a um bem

Aumento no preço de bens substitutos Diminuição no preço de bens substitutos

Queda no preço dos bens Aumento no preço dos bens


complementares complementares

Além dos fatores apontados nesta seção, as expectativas em relação ao futuro, a


facilidade de crédito (disponibilidade, taxa de juros e prazos), a propaganda, fatores
climáticos e sazonais também exercem influência sobre a demanda e são fatores que
devem ser levados em consideração.

Relação quantidade demandada e preço


Segundo Passos & Nogami (2001, pp. 49-50), a partir de uma escala de
demanda individual, ou seja, de quanto cada consumidor estará disposto a adquirir de
um determinado bem a diferentes preços, é possível construir a curva de demanda,
que auxilia na ilustração da Lei da Demanda.
25

Escala de demanda por Leite


Preço Qtde.
Ponto
(R$/Unid.) Litros/Semana
4.00 2 A
3.00 4 B
2.00 6 C
1.00 8 D

Gráfico – Demanda por Leite


4.50

4.00

3.50

3.00
Preço (R$/unid.)

2.50

2.00

1.50

1.00

0.50

0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Qtde. (litros/semana)

No gráfico é possível verificar que ao preço de R$ 3,00, o consumidor estará


disposto a adquirir uma quantidade máxima de 4 litros de leite por semana. A curva
de demanda é desenhada (como ilustra o gráfico) de cima para baixo, da esquerda
para direita, e sua inclinação negativa indica que a quantidade demandada aumenta a
medida que o preço cai. Esta é a Lei da Demanda e é aplicável a praticamente a todos
os bens de uma economia. Neste sentido, a Lei Geral da Demanda enuncia que:

A quantidade demandada de um bem ou serviço varia inversamente ao seu


preço, pressumindo-se que tudo o mais que possa afetar a demanda
permaneça o mesmo, ou seja, sob a condição “coeteris paribus” (PASSOS
& NOGAMI, 2001, p. 50).

A relação negativa da curva de demanda ocorre devido dois efeitos básicos:


a) efeito substituição: enuncia que irá ocorrer a substituição de um
determinado bem por outro similar devido à elevação do preço do primeiro. Assim, o
bem fica mais barato relativamente aos concorrentes, com o que a quantidade
26

demandada aumenta. Exemplo: Se o preço da pêra aumentar, irei substituí-la por


maça.
b) efeito renda: supondo-se que a renda do consumidor, em termos nominais,
permaneça a mesma, quando o preço de um bem diminui, a renda dos consumidores,
em termos reais, se eleva, tornando o consumidor “mais rico” e fazendo com que ele
possa aumentar o consumo deste bem. Com a queda do preço, o poder aquisitivo do
consumidor aumenta, e a quantidade demandada do bem deve aumentar. Isto é, ao
cair o preço de um bem, mesmo com sua renda não variando, o consumidor pode
comprar mais mercadorias. Assim, preços mais baixos induzem as pessoas que já
adquiriam a mercadoria a demandar maiores quantidades da mesma. Esse é o efeito
renda, provocado pela queda do preço.
É importante notar ainda que os pontos do gráfico se referem às quantidades
demandadas a diferentes níveis de preços e não às alterações na curva de demanda,
pois esta só sofrerá alterações se outros fatores se alterarem, como exposto
anteriormente.

LEI DA OFERTA
A oferta pode ser entendida como a quantidade de um determinado bem que o
produtor deseja vender no mercado, por unidade de tempo. Assim como descreve
Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 66), a oferta representa uma intensão e não a
venda efetiva. As quantidades ofertadas referem-se aos pontos em que os vendedores
estão minimizando seus custos.
Assim como a demanda, pode ser influenciada por inúmeros fatores. Os
fatores determinantes da oferta, grosso modo, dizem respeito ao aspecto de custos de
produção e o lucro do empresário. Assim, todos os itens que direta ou
indiretamente podem influenciar o custo e o lucro de um determinado produto,
podem também influenciar sua oferta. Dentre os principais fatores que podem
influenciar o custo de produção e o lucro do empresário estão:
a) preço do bem: espera-se que quanto mais elevado for o preço de um bem
(ou serviço), maior será o estímulo do produtor para aumentar sua produção (pois
maiores serão seus lucros), e assim, elevar a quantidade oferecida desse bem no
mercado.
b) preço dos fatores de produção: a oferta de um determinado bem no
mercado depende dos custos relativos a sua produção e conseqüentemente, do preço
pago aos fatores de produção (como os salários – como pagamento da mão de obra e
os aluguéis – como pagamento do uso da terra). Desta maneira, quando o preço dos
fatores de produção se reduz (e consequentemente os custos de produção), a produção
torna-se mais lucrativa. Esta maior lucratividade pode gerar dois efeitos: i) estimular
as empresas existentes a produzirem mais, ou; ii) estimular a entrada de novas
empresas concorrentes no mercado. O que é importante notar é que
independentemente do efeito, ocorrerá a elevação da oferta.
c) tecnologia: a tecnologia é um outro fator que se relaciona diretamente com
os custos de produção e produtividade e consequentemente com a oferta. Assim,
avanços tecnológicos que permitem obter um volume maior de produção a custos
27

menores, aumentando a lucratividade das empresas produtoras do bem em cujo


processo houve a evolução tecnológica, ocorrerá a elevação da oferta.
d) preço de outros bens: a oferta também pode ser influenciada por produtos
substitutos ou complementares da produção. No caso dos bens substitutos, são
aqueles que poderiam ser produzidos com aproximadamente a mesma quantidade de
recursos. Um exemplo disto seria a empresa de processamento de soja. Essa mesma
empresa possui uma estrutura que poderia processar qualquer outro tipo de grão.
Assim, um aumento no preço do milho, por exemplo, tornaria essa cultura mais
atraente para a empresa processadora de grãos, que substituiria o processamento da
soja pelo processamento do milho, que iria lhe trazer, possivelmente, um maior
retorno. Assim, ocorreria neste caso uma redução da oferta de soja processada em
função de um aumento no preço do milho. Já no caso dos bens complementares,
ocorre o inverso, ou seja, o aumento no preço de um determinado bem estimula a
quantidade ofertada do outro. É o caso, por exemplo, da carne com o couro e miúdos.
Um aumento no preço da carne poderá provocar o estímulo de se abater mais animais
(na busca de um maior lucro), que por decorrência ira provocar um aumento na oferta
de couro e de miúdos bovinos.
e) clima: o clima exerce também grande influência na oferta de alguns
produtos, especialmente os agrícolas. Um exemplo clássico para este tipo de fator é o
sorvete, que em temporada de clima frio tem sua oferta reduzida, elevando-se
significativamente no período de calor.
A seguir um quadro síntese de como estes fatores influenciam a oferta.

Quadro - Causas do deslocamento da oferta


Aumento da oferta Diminuição da oferta

Diminuição no preço dos fatores de


produção Aumento no preço dos fatores de produção

Diminuição no preço dos bens substitutos Aumento no preço dos bens substitutos na
na produção produção

Aumento no preço de bens Diminuição no preço de bens


complementares na produção complementares na produção

Mudança tecnológica favorável Mudança tecnológica desfavorável


28

Relação quantidade ofertada e preço


Aqui será analisada a maneira pelas quais as alterações no preço afetam a
disposição e a capacidade do produtor em ofertar bens e serviços para a população.
Assim, a partir de uma escala de oferta, ou seja, da quantidade de um bem (ou
serviço) que um produtor estará disposto a oferecer a diferentes preços possíveis,
pode-se estudar a curva e a Lei da Oferta. No quadro a seguir está um exemplo de
escala de oferta de camisas.

Escala de oferta de camisas


Preço Qtde.
Ponto
(R$/Unid.) (camisas por mês)
100,00 400 A
80,00 300 B
60,00 200 C
40,00 100 D

Gráfico – Oferta de Camisas


120

100

080
Preço (R$ unid)

060

040

020

000
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1901ral 1901ral

Qtde de camisas

A partir deste gráfico elaborado com os dados de escala da oferta é possível


verificar que a um preço de R$ 80,00 as empresas estariam dispostas a ofertar no
máximo 300 camisas por mês. Normalmente a curva de oferta é desenhada de baixo
para cima, da esquerda para a direita, e sua inclinação positiva indica que a
quantidade ofertada aumenta quando o preço do produto se eleva. Esta é a Lei da
Oferta, que diz:

A quantidade ofertada de um bem geralmente varia diretamente com seu


preço, presumindo-se quer todos os outros fatores que influenciam a oferta
permaneçam constantes, ou seja, dada a condição “coeteris paribus”.
29

A seguir, a partir dos conceitos apreendidos sobre a Lei da oferta e da demanda


é possível tecer comentários gerais sobre como o mercado pode chegar ao equilíbrio,
ou seja, descreve-se no tópico a seguir o processo de ajustamento do mercado.

EQUILÍBRIO DE MERCADO (O PROCESSO DE AJUSTAMENTO)


Primeiramente, é preciso ressaltar que o equilíbrio que se tratará é aquele
existente em um mercado competitivo, caracterizado por muitos compradores e
vendedores e que de maneira isolada nenhum deles tem a capacidade de influenciar
sozinho o preço e a quantidade de mercado. Como se verá mais adiante, outras
estruturas de mercado (como oligopólios e monopólios) possuem um esquema de
equilíbrio diferente.
Neste sentido, segundo Passos & Nogami (2001, p. 63) o equilíbrio em um
mercado competitivo é o ponto na qual a oferta se iguala a demanda. Para isso,
portanto, é necessário se unir às curvas de oferta e de demanda em um único gráfico.
Os dados do quadro a seguir ilustram este processo.
Escalas de oferta e demanda do mercado de camisas
Qtde.
Preço Demandada Qtde. Ofertada Excesso Oferta (+) Pressão sobre o
Excesso Demanda (- preço
(R$/unid.) (camisas/mês) (camisas/mês) )
100.00 1000 11000 10000 descendente
90.00 2000 10000 8000 descendente
80.00 3000 9000 6000 descendente
70.00 4000 8000 4000 descendente
60.00 5000 7000 2000 descendente
50.00 6000 6000 Equilíbrio nenhuma
40.00 7000 5000 -2000 ascendente
30.00 8000 4000 -4000 ascendente
20.00 9000 3000 -6000 ascendente
10.00 10000 2000 -8000 ascendente
30

Gráfico – Equilíbrio no mercado de camisas


120.00

100.00

80.00
Excesso de Oferta
Preço (R$/unid)

60.00

E - ponto de equilíbrio

40.00

Excesso de Demanda
20.00

0.00
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
Qtdes demandadas e ofertadas

Oferta Demanda

Como se pode observar no exemplo ilustrativo do mercado de camisas, existe


apenas um preço em que a quantidade demandada é exatamente igual a quantidade
ofertada. Este é o chamado preço de equilíbrio. A quantidade correspondente a este
preço é chamada de quantidade de equilíbrio.
Este ponto de equilíbrio indica o preço em que os consumidores estariam
dispostos a pagar e os ofertantes dispostos a receber sem que houvesse, contudo,
excesso de oferta nem excesso de demanda. Em outras palavras, seria o preço em
que tudo o que fosse vendido seria comprado pelos consumidores (não existindo,
porém relação de causalidade entre a oferta e a procura).
O alcance deste ponto, no entanto, não é algo tão simples de ser alcançado
como se parece. Depende de tempo e de um processo de tentativa e erro, na qual, a
partir da interação entre compradores e ofertantes ocorreriam os ajustes até alcançar o
ponto de equilíbrio.
Para ilustrar este processo interativo, vamos supor que os produtores
estabeleçam vender suas camisas a R$ 70,00. A este preço eles colocariam a
disposição no mercado cerca de 8000 camisas, contudo, os compradores só estariam
dispostos a comprar 4000 delas, gerando um estoque para os produtores de outras
4000 unidades.
Certamente, o acúmulo de estoque, período após período, não é uma coisa
interessante para os produtores, uma vez que precisam pagar suas despesas e não
possuem receitas suficientes. Ou seja, o acúmulo de estoque desfalca o caixa para
fazer jus às despesas e dívidas adquiridas. Esta situação de insolvência faz com que
os produtores coloquem uma quantidade inferior de produtos no mercado a um menor
31

preço. Vamos supor, portanto, que estes ofertantes decidem cobrar R$ 40,00 por suas
camisas e colocam a disposição cerca de 5000 unidades no mercado. Porém, a este
preço, a demanda se eleva para 7000 camisas, ou seja, na verdade faltarão 2000
unidades. Esta situação de excesso de demanda é caracterizada pela falta de produto
de mercado, ou seja, nem todos conseguirão encontrar camisas no mercado. Esta
situação ainda fará com que os produtores novamente reajustem seus preços e suas
quantidades ofertadas para satisfazer o excesso de demanda.
Assim, o processo de tentativa e erro continua até o momento em que não
houver mais excesso de oferta, nem excesso de demanda. Mas o que se tem na
realidade é que este é um processo constante, ou seja, não tem fim, pois, a todo
instante, existem outros fatores (além do preço do bem) que influenciam e deslocam a
curva de demanda e de oferta para cima ou para baixo, fazendo com que os pontos de
equilíbrio que foram uma vez atingidos precisem ser reajustados.

3. Teoria da firma

Assim como visto anteriormente, um mercado é composto por vendedores e


compradores. Até o momento estudou-se de maneira um pouco mais aprofundada a
teoria do consumidor, onde foi detalhado os motivos que levam um consumidor a
optar, dada uma restrição orçamentária e os preços vigentes no mercado, por uma
determinada cesta de produtos. Estudou-se ainda a lei da oferta, que se refere ao lado
da produção. Como foi destacado, assim quando se iniciou o estudo da Lei da Oferta,
os vendedores buscam em sua essência a redução dos custos e, em consequência, o
aumento da lucratividade.
Nesta seção, se estudará com maiores detalhes a teoria da produção e dos
custos, tópicos que compõem a chamada Teoria da Firma, com o intuito de entender a
racionalidade que assenta a oferta de um determinado produto. Sinteticamente, a
teoria da produção e a teoria dos custos indicam o seguinte:

A teoria da produção que passaremos a analisar refere-se às relações


tecnológicas, físicas, entre a quantidade produzida e as quantidades de
insumos utilizados na produção, enquanto a teoria dos custos inclui os
preços dos insumos (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p. 118).

Como exposto em Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 143), a Teoria


da Firma trata “(...) do problema da produção, dos custos de produção e dos
rendimentos da firma”. A Teoria da Firma divide-se, neste sentido, em Teoria da
Produção e Teoria dos Custos, tópicos a serem abordados a seguir:

TEORIA DA PRODUÇÃO
Assim como exposto por Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 144) a
teoria da produção fornece conceitos e princípios que norteiam a análise de preços e
32

emprego dos fatores de produção, constituindo-se na base para a análise dos custos e
da oferta dos bens produzidos.
Antes de se prosseguir com a teoria da produção é importante esclarecer alguns
conceitos importantes como o que é firma e o que são fatores de produção. Segundo
Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 145), firma é uma unidade técnica que
produz bens, enquanto fatores de produção são bens e serviços transformáveis em
novos itens. Estes últimos (fatores de produção) podem ser classificados em
primários, ou seja, aqueles que não são produzidos por outras empresas (como os
recursos naturais, por exemplo) e os secundários, cuja existência deriva do processo
produtivo realizado por outras empresas.
Outro conceito importante é o de produção, definido como:

(...) o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção [seja
os primários ou secundários] em produtos ou serviços para a venda no
mercado. Assim, a firma é uma intermediária: compra insumos (inputs,
fatores de produção), combina-os segundo um processo de produção
escolhido e vende produtos (outputs) no mercado (SANDOVAL DE
VASCONCELLOS, 2002, p. 118).

O esquema apresentado a seguir ilustra o conceito apresentado acima:

O processo de produção pode ser capital-intensivo, mão de obra intensivo ou


terra-intensivo, dependendo da quantidade do fator de produção mais utilizado no
processo.
Com estes conceitos gerais em mente, inicia-se o desenvolvimento da teoria da
produção a partir do entendimento do que é uma função de produção. Segundo Pinho
& Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 145) a função de produção:

Identifica a forma de solucionar os problemas técnicos da produção por


meio da apresentação das combinações de fatores que podem ser utilizados
para o desenvolvimento do processo produtivo. Podemos conceituá-lo
como sendo a relação que mostra qual a quantidade obtida do produto, a
partir da quantidade utilizada dos fatores de produção.

Nesta altura do campeonato, é necessário distinguir a diferença de processo de


produção com o conceito de função de produção. Ainda segundo Pinho & Sandoval
de Vasconcellos (1998, p. 146):
33

É possível perceber pelos conceitos apresentados, que a função de produção


indica o máximo de produto que se pode obter com as quantidades dos
fatores, uma vez escolhido determinado processo de produção mais
conveniente. A diferença entre os conceitos de função de produção e
processo de produção é extremamente sutil. O processo de produção, na
realidade, indica quanto de cada fator se faz necessário para obter certa
quantidade de produto. Por seu turno, a função de produção indica o
máximo de produto que se pode obter a partir de uma dada quantidade de
fatores, mediante a adequada escolha do processo de produção. Em outras
palavras, podem existir diversas formas de combinar os fatores para se
obter certa quantidade de produto. Cada uma dessas formas caracteriza um
processo de produção. Por conseguinte, quando se fala em função de
produção no sentido genérico, admite-se implicitamente que o processo ou
a forma escolhida de combinar os fatores é a mais eficiente. Todas as
demais formas ou processos menos eficientes já foram desprezados.

Exposta a diferença, uma função de produção é descrita da seguinte maneira:


q = f(N, K, T, Mp)

Uma função, portanto, indica o grau de dependência (ou causalidade) entre


alguns itens. No caso expresso acima, a função de produção indica que a quantidade
de produto fabricado (q) depende (é uma função) da quantidade de fatores de
produção como a mão de obra (N), capital físico (K), terras (T) e matérias primas
(Mp) utilizadas no processo de produção.
Os fatores de produção podem ainda ser fixos ou variáveis. Os fatores de
produção fixos são aqueles que permanecem inalterados mesmo quando ocorre
variação na produção, enquanto, os fatores de produção variáveis se alteram
juntamente com as variações nas quantidades produzidas. São exemplos de fatores
fixos o capital fixo e as instalações da empresa, e de fatores variáveis a mão de obra e
as matérias primas utilizadas (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p. 120).
Com estes aspectos gerais sobre a função de produção em mente, pode-se
definir dois outros conceitos importantes: o conceito de curto e longo prazo. Assim,
curto prazo em microeconomia é o período no qual existe pelo menos um fator de
produção fixo, enquanto, no longo prazo todos os fatores de produção variam. Assim,
tem-se, por exemplo, que o curto prazo para uma empresa metalúrgica é maior do que
o de uma fábrica de biscoitos, dado que as alterações de um equipamento ou
instalação de uma metalúrgica requerem mais tempo para acontecer do que em uma
fábrica de biscoitos. A seguir, estuda-se mais detalhadamente a questão da produção
no curto e no longo prazo.

Função de produção no CURTO prazo


Supondo uma função de produção simplificada, em que o nível de produto
pode ser determinado apenas pela utilização de mão de obra e capital e que a mão se
obra seja o fator variável e o capital o fator fixo, tem-se a seguinte situação:
34

q = f(N, K)

Como K é fixo (ou constante no curto prazo), a função de produção desta firma
pode ser reescrita da seguinte forma:

q = f(N)

Ou seja, o nível de produto varia apenas em função das mudanças na


quantidade de mão de obra utilizada. Com estas ideias introdutórias, é possível
calcular a chamada produtividade média e produtividade marginal do fator
variável. Assim, a produtividade média do fator variável é o resultado do quociente
da quantidade total produzida (q) pela quantidade utilizada deste fator (que no
exemplo acima é a mão de obra N). É dada pela seguinte expressão:

Produtividade média (PMe) = q / N

Por produtividade marginal entende-se como a relação entre as variações no


produto total e as variações nas quantidades utilizadas do fator variável. E dada pela
seguinte expressão:

Produtividade marginal (PMg) = Δq / ΔN

Para ilustrar tais cálculos, segue um exemplo numérico.

Capital M.O Produto


Pme PMg
K N q
10 0 0 - -
10 1 3 3,00 3
10 2 8 4,00 5
10 3 12 4,00 4
10 4 15 3,75 3
10 5 17 3,40 2
10 6 17 2,83 0
10 7 16 2,29 -1
10 8 13 1,63 -3

Observa-se que no ponto máximo de produção (q) a produtividade marginal


(PMg) da mão de obra (N) é igual a zero. Antes deste ponto a PMg é positiva, porém,
após este ponto torna-se negativa. Uma PMg negativa significa dizer que os
acréscimos de mão de obra estão tendo um impacto negativo no produto, ou seja,
estão diminuindo a quantidade de bens produzidos (q).
Outro exemplo simples para explicar por que isto acontece é o seguinte:
suponha uma fábrica com 10 máquinas e que cada máquina empregue 1 pessoa (N) e
produza, quando funcionando, 20 itens de produto (q). Assim, se apenas 1 máquina
35

estiver funcionando, serão produzidas 20 unidades de produto (q), o que implicará em


uma Produtividade Média da mão de obra (PMe) = 20 / 1 = 20 e uma produtividade
marginal (PMg) igual a 20 também. Como a empresa opera com capacidade ociosa, é
possível contratar mais mão de obra para trabalhar nas máquinas paradas. Assim esta
empresa decide empregar mais um funcionário para operar com mais uma máquina.
Esta empresa passará a produzir q = 40 e terá agora 2 funcionários. A produtividade
média desta empresa será 40/2 = 20 (não se alterou) e a produtividade marginal será
Δq / ΔN = (40-20)/(2-1) = 20. Como o mercado esta crescendo, a empresa decide
utilizar toda sua capacidade instalada, ou seja, emprega mais 8 pessoas e passa a
utilizar as 10 máquinas existentes. Sua produção passa a ser, portanto, 200 unidades,
o que implica em uma produtividade média igual a 200/10 = 20 e uma produtividade
marginal igual a 20 também. Porém, o dono da empresa possui um amigo que esta em
uma situação difícil, sem emprego e para ajudar este amigo, decide contratá-lo para
fazer parte do corpo de funcionários da empresa. Porém a empresa já esta trabalhando
com sua capacidade total, ou seja, produzindo q = 200 unidades. Porém agora a
produtividade média será igual a 200/11 = 18,18 (a produtividade média esta se
reduzindo) enquanto que a produtividade marginal será igual a (200-200)/(11-10) = 0.
Assim, este novo funcionário nada contribuiu para o crescimento da produção da
empresa, visto que a empresa já estava operando com capacidade total instalada. Para
que este funcionário não prejudicasse o desempenho da empresa seria necessário
comprar uma nova máquina para que ele pudesse contribuir na produção e manter as
taxas de produtividade média e marginal iguais às observadas anteriormente.
Isto ocorre em virtude da lei dos rendimentos decrescentes. Segundo Sandoval
de Vasconcellos (2002, p. 124), a lei dos rendimentos decrescentes implica que:

Ao aumentar o fator variável [que no caso do exemplo é a mão de obra –


N], sendo dada a quantidade do fator fixo [no exemplo, é dada o número de
máquinas e suas capacidades de produção], a PMg do fator variável cresce
até certo ponto e, a partir daí, decresce, até tornar-se negativo.

Esta lei, contudo, só é válida se um dos fatores de produção é mantido fixo, ou


seja, só é válida em uma análise de curto prazo. A seguir, estuda-se o funcionamento
da função de produção no longo prazo.

Função de produção no LONGO prazo


Como indicado anteriormente, na análise de longo prazo todos os fatores de
produção podem variar, ou seja, no longo prazo não existem fatores fixos de
produção. De maneira simplificada, supõem-se novamente dois fatores de produção
(mão de obra e capital), em que a função de produção poderia ser expressa da
seguinte forma:

q = f(N, K)
36

Assim, como existem dois fatores de produção e ambos podem variar, a função
de produção pode ser representada por uma isoquanta. Segundo Sandoval de
Vasconcellos (2002, p. 125) o conceito de isoquanta é:

Isoquanta significa igual quantidade e pode ser definida como sendo uma
linha na qual todos os pontos representam infinitas combinações de fatores,
que indicam a mesma quantidade produzida. Ou seja, a isoquanta expressa
os vários métodos ou processos alternativos de produção, que
proporcionam a mesma quantidade produzida.

Abaixo segue um exemplo numérico para ilustrar o significado de uma


isoquanta.

Capital M.O Produto


K N q
6 50 0
4 80 3
2 150 8
160

140

120

100
Mão de obra - N

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Capital - K

Isoquanta

As variações nas quantidades produzidas, juntamente com as variações nos


fatores de produção podem levar a três situações de variações nos rendimentos:
1) Rendimentos crescentes de escala: ocorre quando todos os fatores de
produção crescem em uma mesma proporção e a produção cresce em uma proporção
maior. Exemplo: Uma empresa de biscoitos empregou mais 10% de mão de obra e
investiu 10% mais em capital e ampliou sua produção em 15%. Sinteticamente, esta
situação ocorre quando:

Δq > ΔN=ΔK=ΔMp
37

2) Rendimentos decrescentes de escala: ocorre quando todos os fatores de


produção crescem em uma mesma proporção e a produção cresce em uma proporção
menor. Exemplo: Uma empresa de biscoitos empregou mais 10% de mão de obra e
investiu 10% mais em capital e ampliou sua produção em apenas 7%. Sinteticamente,
esta situação ocorre quando:

Δq < ΔN=ΔK=ΔMp

3) Rendimentos constantes de escala: ocorre quando todos os fatores de


produção crescem em uma mesma proporção e a produção cresce na mesma
proporção. Exemplo: Uma empresa de biscoitos empregou mais 10% de mão de obra
e investiu 10% mais em capital e ampliou sua produção em exatamente 10%.
Sinteticamente, esta situação ocorre quando:

Δq = ΔN=ΔK=ΔMp

No tópico a seguir estuda-se a segunda teoria que compõem a teoria da firma –


a teoria dos custos de produção.

TEORIA DOS CUSTOS


O objetivo de toda firma é maximizar os resultados através de sua atividade
produtiva, ou seja, procurar o máximo de produção com uma certa combinação de
fatores. Contudo, ela não consegue adquirir tais fatores de maneira gratuita, assim,
toda firma tem também que pagar para adquirir bens que são utilizados no processo
de produção para criar outros bens. É neste sentido que o estudo dos custos da
empresa se torna de fundamental importância. Assim, a quantidade utilizada de cada
fator, multiplicado pelo seu preço constituirá os custos da empresa, denominado de
custo total de produção (PINHO & SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 1998, p.
158).
Em outras palavras, o custo total de produção é o total das despesas realizadas
pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores por meio da
qual é obtida uma determinada quantidade de produto. Os custos totais podem ser
divididos em dois: os custos fixos e os custos variáveis. Os custos fixos são as
despesas que não dependem da quantidade produzida, sendo decorrentes dos fatores
fixos de produção como o aluguel, por exemplo. Já os custos variáveis são parcelas
dos custos totais que dependem necessariamente da quantidade produzida.
Representam as despesas que dependem dos fatores variáveis de produção.
Assim como realizado na Teoria da Produção, a teoria dos custos também é
analisada no curto e no longo prazo, conforme se estudará a seguir.
38

Custos de produção no CURTO prazo


No curto prazo apenas os fatores variáveis afetam o custo. O custo total no
curto prazo é descrito da seguinte forma:

CT = CV + CF

Na qual: CT = custo total; CV = custo variável (preço X quantidade do fator


variável utilizado no processo de produção) – o custo variável é o mesmo que a soma
dos custos marginais (CMg); CF = custo fixo (preço X quantidade do fator fixo
utilizado no processo de produção). Com isto, tem-se:

CT = pv . Qv + pf . Qf

Assim, o custo total de produção no curto prazo depende diretamente do nível


de produção estabelecido pela firma, pois é a partir das mudanças do nível de
produção que ocorrerão as mudanças nos fatores variáveis utilizados no processo. A
figura abaixo ilustra a relação existente entre o custo total com o custo variável e com
o custo fixo.

Além dos custos totais, fixos e variáveis, a microeconomia se interessa por


outras análises. Neste sentido, faz-se importante analisar também os custos médios e
os custos marginais a partir das fórmulas descritas a seguir:

CTmédio (ou custo unitário) = CT / q

CVmédio = CV / q
39

CFmédio = CF / q

Assim como exposto por Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 161):

(...) o custo variável total é uma despesa de produção diretamente


relacionada com o andamento desta última [a produção]. Portanto, a
medida que a produção cresce, o custo variável total aumenta. O custo
variável médio, por sua vez, é inicialmente decrescente, após atingir um
mínimo, torna-se crescente.
Por seu turno, o custo fixo total é constante para cada intervalo de
produção. Em decorrência desse fato o custo fixo médio é decrescente à
medida que a produção aumenta.

Existe ainda a análise dos custos marginais que se refere à variação do custo
em resposta a uma variação na quantidade produzida. As formas de cálculo são
apresentadas a seguir:

CTmarginal = ΔCT / Δq

CVmarginal = ΔCV / Δq

Como o custo fixo não se altera no curto prazo, não existe a necessidade de se
calcular e analisar o custo fixo marginal.

Custos de produção no LONGO prazo


No longo prazo, todos os insumos são variáveis, não existindo, portanto, custos
fixos de produção. Em outras palavras, todos os custos são variáveis.
Neste sentido, como todos os fatores de produção podem se alterar, torna-se
relevante o conceito de isocusto. Isocusto, segundo Pinho & Sandoval de
Vasconcellos (1998, p. 167), é uma linha onde todos os pontos indicam combinações
de quantidades utilizadas dos fatores adquiridos pela firma que representam sempre o
mesmo custo total. O exemplo numérico a seguir ilustra este novo conceito.

Preço fator Qtde fator CT Preço fator Qtde fator CT CT


x1 x1 x1 x2 x2 x2 CTx1 + CTx2
6,0 20,0 120,0 4,0 0,0 0,0 120,0
6,0 18,0 108,0 4,0 3,0 12,0 120,0
6,0 14,0 84,0 4,0 9,0 36,0 120,0
6,0 10,0 60,0 4,0 15,0 60,0 120,0
6,0 6,6 39,6 4,0 20,1 80,4 120,0
6,0 3,2 19,2 4,0 25,2 100,8 120,0
6,0 0,0 0,0 4,0 30,0 120,0 120,0
40

35,0

30,0

25,0

Qtde fator x2 20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
Qtde fator x1

Isocusto = R$ 120,00

4. Elasticidade

Como visto na teoria da oferta e da demanda estudado anteriormente, a


quantidade consumida e/ou ofertada de um bem ou serviço é influenciado por
diversos fatores, dentre eles o próprio preço dos bens e serviços. Assim, diz-se que a
demanda e/ou a oferta são sensíveis às mudanças de preços (e de outros fatores, como
a renda, por exemplo).
Verificou-se até o momento a direção da relação entre os diversos fatores e a
quantidade consumida e ofertada, ou seja, no estudo realizado até aqui sabe-se que a
elevação do preço de um produto reduz sua demanda, porém eleva sua oferta.
Contudo, não se conhece a magnitude numérica desta relação, ou seja, se o preço do
produto aumentar 10% qual será a magnitude da mudança que ocorrerá na demanda e
na oferta? O conceito de elasticidade permite justamente responder esta pergunta, ou
seja, a elasticidade fornece um indicador numérico da relação entre diversos fatores
com a quantidade demandada e ofertada.
Neste sentido, o conceito de elasticidade permite verificar qual a
oferta/demanda de produtos e serviços que são mais sensíveis às alterações de preços
(ou outros fatores) do que outros. É a partir do conceito de elasticidade que se pode
medir esse grau de sensibilidade de um produto em relação à alteração de preço ou da
renda (ou de outros fatores que sejam mensuráveis). Desta maneira, a elasticidade
pode ser entendida como um número que indica se um bem ou serviço é sensível
ou não às alterações de um determinado fator como o preço ou a renda.
Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 78), o conceito de
elasticidade é aplicável em diversas áreas da Economia e não somente na Micro.
41

FORMA DE CÁLCULO E CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE


A fórmula básica para medir o grau de sensibilidade de um produto em relação
às alterações de um fator qualquer (como o preço, a renda ou qualquer outro que seja
mensurável) e dada pela seguinte expressão:

Variação Percentual da Qtde. demandada/ofertada


E=
Variação Percentual do fator determinante em questão

Ou mais detalhadamente:

Qtde. demandada/ofertada final – Qtde demandada/ofertada inicial


Qtde demandada/ofertada inicial
E=
Valor final do determinante – Valor inicial do determinante
Valor inicial do determinante

Os dados abaixo permitem exemplificar este procedimento de cálculo. Suponha


a seguinte escala de demanda, dada pela relação entre quantidade demanda e o preço
do produto, conforme demonstrado pela tabela abaixo:

Tabela – Exemplo (Escala de Demanda de Trigo)


Quantidade Demandada de Trigo
Preço do Trigo
(ton)
50.00 89
55.00 75

75 – 89
89
E=
55 – 50
50

-14
89
E=
5
50
42

-0,1573
E=
0,1000

E = -1,5730

Neste exemplo, as variáveis relacionadas são preço e quantidade demandada. O


coeficiente calculado acima, por relacionar estas duas variáveis chama-se de
coeficiente de elasticidade de elasticidade-preço da demanda. Caso as variáveis
relacionadas fossem a renda e quantidade demanda, teríamos um coeficiente
denominado de elasticidade-renda da demanda.
O que se pode notar a partir do exemplo acima é que o preço do produto teve
um crescimento de 10% (de R$ 50,00 para R$ 55,00), enquanto que a quantidade
demanda se reduziu em 15,73% (de 89 para 75 toneladas) gerando um coeficiente de
elasticidade-preço da demanda igual a -1,5730.
O sinal negativo indica uma relação negativa das variáveis em questão. No
exemplo, o sinal negativo confirma a ideia por trás da teoria da demanda, ou seja,
quando se eleva o preço, reduz a quantidade demanda de um determinado produto.
Caso o sinal do coeficiente fosse positivo, indicaria uma relação positiva, ou seja, um
aumento no preço, elevaria também a quantidade.
A partir do valor em módulo (ou seja, dos valores positivos) destes
coeficientes, pode-se classificar um bem ou serviço em 3 tipos básicos de
elasticidade:
1) ELÁSTICA (quando |E > 1|): significa que uma mudança (em termos
percentuais) no preço (ou na renda ou em qualquer outro fator) provoca uma
mudança (em termos percentuais) da quantidade (demandada ou ofertada) maior que
a mudança do preço. Significa dizer que um produto ou serviço é muito sensível às
alterações que ocorrem em um determinado fator determinante.
2) INELÁSTICA (quando |E < 1|): significa que uma mudança (em termos
percentuais) no preço (ou na renda ou em qualquer outro fator) provoca uma
mudança (em termos percentuais) da quantidade (demandada ou ofertada) menor que
a mudança do preço. É o mesmo que dizer que a quantidade (demanda/ofertada) de
um determinado produto é pouco sensível às alterações que ocorrem em um
determinado fator determinante.
3) ELASTICIDADE UNITÁRIA (quando |E = 1|): significa que uma
mudança (em termos percentuais) no preço (ou na renda ou em qualquer outro fator)
provoca uma mudança (em termos percentuais) da quantidade (demandada ou
ofertada) igual que a mudança do preço. É o mesmo que dizer que um produto não é
sensível, ou não é influenciado pelas alterações neste fator determinante em questão.
No exemplo realizado anteriormente o coeficiente de elasticidade-preço da
demanda foi igual a -1,5730, que em módulo seria igual a 1,5730, ou seja, superior a
1, indicando que a demanda de trigo é elástica ao preço do produto. Em outras
43

palavras, a quantidade consumida de trigo é muito sensível às mudanças que ocorrem


no preço do produto.
Exemplo ilustrativo: suponha que o preço de um determinado produto sofra
uma redução de R$ 8,00 para R$ 6,00 e que a quantidade demandada passe de um
valor de 25 para 30 unidades. Qual o valor do coeficiente de elasticidade?
Aplicando a fórmula básica de cálculo, ter-se-ia a seguinte situação:

30 – 25
25
E=
6–8
8

5
25
E=
-2
8

0,2000
E=
-
0,2500

E = -0,8000

Neste exemplo, percebe-se que a quantidade demandada sofreu uma variação


de 20% (de 25 para 30 unidades) enquanto a variação no preço foi de -25% (de R$
8,00 para R$ 6,00), permitindo criar um coeficiente igual a -0,80, que em módulo é
igual a 0,80. Como este valor é menor que 1, indica-se que a demanda deste produto é
inelásticas (ou pouco sensível) as mudanças no preço do produto. Isto fica claro com
a simples visualização da variação na quantidade demandada e no preço do produto.
A variação na quantidade demandada foi de 20% enquanto a variação no preço foi de
25%, ou seja, ΔQ< ΔP.
A mesma lógica de análise pode ser feita quanto se relacionada quantidade
ofertada e preço, quantidade demanda e renda e quantidade ofertada e renda, dentre
outras inúmeras possibilidades.

FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE DE UM


DETERMINADO BEM OU SERVIÇO
Os fatores que podem influenciar a elasticidades dos produtos, segundo Passos
& Nogami (2001, pp. 126-127) são:
44

a) grau de essencialidade dos produtos: quanto mais essencial for o produto


ou o serviço, mais inelástico ele será, ou seja, por ser muito essencial, um grande
aumento no preço, dificilmente irá reduzir na mesma magnitude a quantidade
demandada deste produto. São os casos, por exemplo, de itens de consumo cotidiano,
como o arroz e o sal, ou ainda como remédios.
b) possibilidade de substituição: quanto mais produtos substitutos uma
mercadoria tiver, mais elástica ela se torna às variações nos preços, ou seja, grandes
aumentos nos preços provocam grandes reduções nas quantidades demandadas destes
produtos. Um exemplo pode ser encontrado na concorrência entre Coca-Cola e
Guaraná.
c) importância relativa do bem no orçamento do consumidor: quanto
menor for o peso de um bem no orçamento do consumidor, mais inelástico este
produto será. Por exemplo, o fósforo, por ser um item que tem pequeno peso no
orçamento familiar tem uma demanda mais inelástica (ou seja, menos sensível às
alterações de preço) do que a carne, que tem um grande peso no orçamento familiar.
d) o tempo: com o passar do tempo, novos produtos e novos hábitos de
consumo surgem, fazendo com que a demanda dos produtos se torne mais elástica, ou
seja, mais sensíveis e suscetíveis às alterações de preço.

ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADO DA DEMANDA


Como já visto anteriormente, um determinado bem, além de ser influenciado
pelo seu próprio preço, também é influenciado pelo preço de outros bens. Contudo,
com o conceito de elasticidade-preço cruzado da demanda é possível se
mensurar o impacto desta influência e verificar se os produtos são
complementares ou substitutos entre si.
A elasticidade-preço cruzado da demanda permite medir a variação na
quantidade demandada de um bem X resultante de uma variação percentual no preço
do bem Y. A forma básica de cálculo é a seguinte:
Qx
Qx
Exy =
Py
Py

A partir do sinal dos coeficientes de elasticidade-cruzadas da demanda é


possível realizar a classificação se os bens em questão são substitutos,
complementares ou independentes entre si.
Assim, se:

a) Exy > 0: bens são substitutos;


b) Exy < 0: bens são complementares;
c) Exy = 0: bens são independentes.
45

Para exemplificar o processo de cálculo, vamos supor que ocorreu um aumento


no preço de um bem Y qualquer de R$ 2,00 para R$ 3,00 e que a quantidade do bem
X se elevou de 2 para 4 unidades. Afinal, estes bens são substitutos, complementares
ou independentes?

ΔQx = 4 – 2 = 2 ΔPy = 3 – 2 = 1
Qx = 2 Py = 2

Qx 2
Qx
Exy = = 2 =2
Py 1
Py 2

Neste exemplo, como o valor de Exy foi positivo (ou seja, maior que zero),
pode-se dizer que estes bens são substitutos, como é o caso, por exemplo, da
manteiga e da margarina. Ou seja, um aumento no preço da manteiga (de R$ 2,00
para R$ 3,00) elevou a quantidade demanda da margarina (de 2 para 4 unidades).
Resumidamente, os coeficientes têm as seguintes interpretações:

Quadro – Elasticidade-Preço Cruzada da Demanda


Medição Numérica Terminologia O que significa
Um aumento no preço do bem Y leva a um
Exy > 0 Bem substituto
aumento na quantidade demanda do bem X
Um aumento no preço do bem Y leva a uma
Exy < 0 Bem complementar diminuição na quantidade demandada do bem
X
Um aumento no preço do bem Y não provoca
Exy = 0 Bens independentes nenhuma modificação na quantidade
demandada do bem X

5. Estruturas de mercado

Neste tópico pretende-se estudar a forma pela quais são determinados os preços
dos produtos e as quantidades oferecidas nas diversas estruturas de mercado. Porém
tais mercados são estruturados de maneiras diferenciadas. Conforme apontam Passos
& Nogami (2001, p. 228), dois fatores básicos diferenciam estas estruturas de
mercado, a saber: i) o número de firmas produtoras atuando, e; ii) a
homogeneidade/diferenciação existente entre os produtos.
A partir destes dois itens, pode existir as seguintes estruturas de mercado: a)
concorrência perfeita; b) monopólio; c) concorrência monopolista, e d) oligopólio. A
figura abaixo indica a localização de cada estrutura de mercado segundo o critério do
46

número de empresas que compõem o mercado e o grau de homogeneidade


(igualdade) dos produtos de cada mercado.

A seguir apresentam-se mais detalhadamente as características gerais de cada


uma das estruturas indicadas anteriormente e como funciona o processo de
determinação de preço e quantidade produzida em cada uma delas.

CONCORRÊNCIA PERFEITA
Como apontam Passos & Nogami (2001, p 229), a concorrência perfeita é uma
estrutura que visa mostrar qual deveria ser o funcionamento ideal de uma
economia, servindo de base comparativa para outras estruturas. Apesar de ser uma
construção teórica, existem algumas situações que se aproximam a ela, como é o caso
do mercado dos produtos agrícolas, ou de uma feira livre.
A concorrência perfeita é a situação de mercado caracterizada pela existência
de muitos compradores e vendedores, e que são tão pequenos que nenhum deles, de
maneira isolada, é capaz de influenciar o preço de mercado, ou seja, tantos os
produtores como os consumidores são tomadores de preço.
Neste tipo de mercado, os produtos são homogêneos, ou seja, não existem
diferenças entre eles, sendo assim, perfeitos substitutos entre si. A partir disso, tem-
se que os compradores são indiferentes quanto a que empresa irá recorrer para
efetuar a compra do produto.
Uma terceira hipótese básica deste tipo de estrutura de mercado é a
inexistência de barreiras legais e econômicas tanto para a entrada como para a
saída das empresas do mercado. Esta hipótese torna-se importante, pois é a partir
dela que se garante que não haverá um pequeno número de empresas controlando o
mercado e se destacando das demais empresas. É bem sabido, contudo, que esta é
uma hipótese extremamente forte, pois existem diversas barreiras para as empresas
entrarem como até mesmo para saírem de um determinado mercado, como os
aspectos burocráticos, necessidade de grandes investimentos, capital imobilizado de
pequena liquidez, dentre outros.
Existe ainda neste tipo de mercado uma grande transparência, no sentido de
que tanto os compradores como os vendedores têm informações perfeitas sobre o
funcionamento do mercado. Ou seja, existe pleno conhecimento dos custos e lucros
das empresas concorrentes, dos preços praticados no mercado, enfim, plena
existência de informações.
Apesar de serem hipóteses extremamente rígidas e irrealistas, são elas que
garantem o pleno funcionamento do mercado. Apesar deste tipo de estrutura de
47

mercado dificilmente ocorrer na realidade, ele é de grande importância, pois serve de


comparativo-base para as demais estruturas no estudo do relaxamento das
hipóteses apresentadas.

MONOPÓLIO
O monopólio é uma estrutura totalmente diferente da concorrência perfeita. Na
verdade, é seu extremo oposto. É uma situação de mercado em que existe um só
produtor de um bem (ou serviço) que não tenha substituto próximo, ou seja, o
produto não é homogêneo. Em outras palavras, o grau de diferenciação do produto é
pleno. Com isto, a empresa monopolista exerce grande influência na determinação
do preço a ser cobrado pelo seu produto e das respectivas quantidades que oferecerá
ao mercado.
As principais características desta estrutura de mercado são: a) um determinado
produto é suprido por uma única empresa; b) não existem substitutos próximos para
este produto, e; c) existem obstáculos à entrada de novas firmas no segmento.
Contudo, para que o monopólio exista é necessário manter as concorrentes em
potencial afastadas do mercado através de barreiras que impeçam ou desestimulem o
surgimento de novas competidoras. Estes obstáculos podem ser oriundos do: a)
monopólio natural; b) controle sobre o fornecimento de matérias primas; c) proteção
de patentes; d) processo burocrático do sistema, ou ainda; e) monopólios legais
(como é o caso da Petrobrás – que tem direito exclusivo do governo para operar no
país).

CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA
A concorrência monopolista é uma estrutura de mercado que contém
elementos da concorrência perfeita e do monopólio, ficando em uma posição
intermediária entre as duas. Assim como na concorrência perfeita, existe na
concorrência monopolista muitas empresas respondendo por apenas uma pequena
fração da produção total e tendo a possibilidade de ingressar ou abandonar o mercado
com relativa facilidade.
O que irá diferenciar a concorrência monopolista é o afrouxamento da
hipótese de produtos homogêneos, ou seja, na concorrência monopolista, as
firmas produzem produtos diferenciados, porém substitutos próximos. Na
realidade, cada produtor procura diferenciar seu produto a fim de torná-lo
único no mercado.
A diferenciação do produto pode ser classificada em diferenciação real ou
diferenciação ilegítima. A primeira representa as diferenças reais nas características
dos produtos enquanto a segunda são diferenças superficiais, como marcas, design,
embalagens, ou seja, a composição do produto fica praticamente intacta.
E essa diferenciação no produto que dá ao produtor o poder de monopólio,
uma vez que somente ele produz aquele tipo de bem, existindo assim, alguma
liberdade para que os produtores possam fixar seus preços. Exemplos deste tipo
48

de estrutura de mercado podem ser encontrados no setor de serviço como academias


de ginástica, salões de beleza, padarias, etc.

OLIGOPÓLIO
É o tipo de estrutura que prevalece nos dias atuais (principalmente no mundo
ocidental). Esta estrutura é caracterizada pela existência de poucas empresas
controlando a oferta de um determinado bem (ou serviço).
O oligopólio pode ser classificado como puro (ou perfeito) ou diferenciado. O
oligopólio puro é aquele em que o grupo (de poucas) empresas oferece exatamente o
mesmo produto homogêneo. Este é o caso encontrado, por exemplo, na indústria de
cimentos, alumínio e outros minerais. No caso dos produtos não serem
homogêneos, o oligopólio é classificado como diferenciado, como é o caso da
indústria de automóvel e cigarros.

MONOPSÔNIO E OLIGOPSÔNIO
O monopsônio é uma situação caracterizada pela existência de muitos
vendedores e um único comprador. É uma situação que pode prevalecer
especialmente no mercado de trabalho. É o caso, por exemplo, da empresa que se
instala em uma determinada cidade do interior e, por ser única, torna-se a demandante
exclusiva de mão de obra.
O oligopsônio, por sua vez, é uma forma de mercado onde existem poucos
compradores, que dominam o mercado, para muitos vendedores.

SITUAÇÕES OLIGOPOLISTAS (CARTEL E MODELO DE LIDERANÇA


DE PREÇO)
O cartel é uma organização formal de produtores dentro de um setor. Essa
organização formal determina as políticas para todas as empresas do cartel,
objetivando aumentar os lucros totais dele. Por ser uma prática ilegal (pelo menos no
Brasil), o cartel ocorre sem que haja qualquer documento explicitando o
comportamento. Um exemplo do dia a dia é a prática de preço dos postos de
gasolina. Mesmo que estes jurem de pés juntos que não existe organização entre os
postos, os preços são praticamente os mesmos. Este tipo de comportamento é
prejudicial aos consumidores, pois impede a concorrência via preço.
O modelo de liderança de preço é uma forma de conluio imperfeito em que as
empresas do setor decidem, sem acordo formal, estabelecem o mesmo preço,
aceitando a liderança de preço de uma empresa da indústria. A firma líder – a
empresa que fixa o preço - pode tanto ser a firma de custo mais baixo, como
também a maior firma do mercado. Todas as firmas que conseguem seguir os
preços adotados pela líder maximizam o lucro reconhecendo a interdependência que
têm entre si
49

Este modelo pressupõe que a liderança decorre do fato de uma das firmas rivais
possuírem estrutura de custos mais baixos que as demais. Por esta razão consegue se
impor como líder do grupo. De início, os preços podem ser diferenciados. O mercado,
entretanto, preferirá o produto que esteja sendo oferecido a preços mais baixos. Desta
forma, resta à firmas que oferecem o produto a preços mais elevados duas
possibilidades: ou mantêm o preço, perdendo aos poucos seu mercado e como
consequência são obrigadas a abandoná-lo, ou aceitam o preço praticado pela rival de
menores custos, e continuam no mercado, sem maximizar os lucros, correndo o risco
também, se não conseguirem ajustar e igualar seus custos a concorrente, de fecharem
as portas.
Assim é que a firma líder de preços fica, através de um acordo tácito (ou
seja, um acordo não formal), responsável pela determinação do nível de venda
do produto. As firmas menos favorecidas em termos de preço tornam-se
seguidoras dos preços fixados pela empresa líder.
O Quadro a seguir sintetiza as principais características das quatro principais
estruturas de mercado estudadas neste tópico e a influência de tal estrutura sobre os
preços praticados.

Quadro– Resumo das estruturas de mercado


Condição de
Nº de Influência
Estrutura Diferenciação do produto entrada e
Empresas sobre o preço
saída
Concorrência
muitas produto homogêneo fácil nenhuma
perfeita
produto único sem substituto
Monopólio uma difícil forte
próximo
Concorrência
muitas produto diferenciado fácil leve
monopolística
Oligopólio poucas homogêneo ou diferenciado difícil considerável

INDICADORES DE CONCENTRAÇÃO DE MERCADO


Para avaliar o grau de concentração de um determinado mercado é necessário
se avaliar indicadores para tal fim. Existem diversos indicadores que mede o grau de
concentração de um determinado mercado, mas os mais conhecidos e utilizados pela
sua simplicidade são os indicadores de Grau de Concentração de Mercado e o Índice
Herfindahl-Hirschman. Contudo, tais indicadores dependem da disponibilidade de
dados para serem calculados, o que nem sempre existe.
É importante destacar também que tais indicadores podem ser calculados
utilizando como variáveis de avaliação o número de empregados, o faturamento ou a
quantidade produzida ou vendida. Tais informações são difíceis de serem obtidas por
50

sua confidencialidade e por isso exige-se das empresas uma estrutura de coleta de
informações (inteligência) muito apurada.
O indicador de Relação de Concentração (C) é dada pela seguinte expressão:
𝑛

𝐶 = ∑ 𝑃𝑖
𝑖=1
Na qual:
n = número de firmas (empresas) de um determinado mercado;
Pi = participação da firma (empresa) i no mercado.

Este indicador é interpretado da seguinte maneira: se um pequeno número de


firmas é responsável por uma parcela grande da produção, venda ou número de
empregados, existe um alto nível de concentração desse mercado.
Como exemplo, vamos visualizar a figura abaixo:

Figura – Indicador de grau de concentração (Relação de Concentração – C)


Ramo A Ramo B
Empresas Vendas (R$) % Total % Acum Vendas (R$) % Total % Acum
1 300 45% 45% 400 44% 44%
2 200 30% 75% 200 22% 67%
3 100 15% 90% 100 11% 78%
4 50 7% 97% 100 11% 89%
5 20 3% 100% 100 11% 100%
Total 670 900
C3A= 90% C3B = 78%

A figura acima demonstra o nível de concentração de dois ramos em que


existem 5 empresas cada um. Coletou-se o valor monetário vendido de cada empresa
para cada ramos. O primeiro passo é calcular o quanto cada empresa participa no total
de vendas do ramo. Em seguida, estabeleceu-se que se desejaria validar o grau de
concentração tomando-se como referência as três maiores empresas de cada ramo.
Considerando essas três empresas de cada ramo, percebe-se que no Ramo A, as
três primeiras empresas juntas somam 90% de participação no mercado, enquanto no
Ramo B, essas três primeiras empresas somam 78%. Desta forma, a partir do
indicador de Relação de Concentração é possível afirmar que o Ramo A é um
mercado mais concentrado que o Ramo B.
Outro importante indicador de concentração de mercado é o IHH, que é dado
pela expressão indicada abaixo:
51
𝑛

𝐼𝐻𝐻 = ∑ 𝑃𝐼 2
𝑖=1

As informações utilizadas são as mesmas que o indicador anterior, porém


eleva-se a participação de cada empresa ao quadrado, dando importância para os
valores mais altos.
A interpretação deste indicador é feita da seguinte forma:
IHH = 10000 → monopólio.
IHH = 0 → concorrência perfeita.
IHH < 1000 → mercado de alta competição (baixa concentração).
IHH entre 1000 e 1800 → concentração moderada.
IHH > 1800 → mercado concentrado.
Segue o cálculo do IHH para os valores do exemplo anterior na figura abaixo

Figura – Indicador de grau de concentração (Índice Herfindahl-Hirschman – IHH)


Ramo A Ramo B
2
Empresas Vendas (R$) % total % total Vendas (R$) % total % total 2
1 300 45% 2025 400 44% 1936
2 200 30% 900 200 22% 484
3 100 15% 225 100 11% 121
4 50 7% 49 100 11% 121
5 20 3% 9 100 11% 121
Total 670 900
IHH3A= 3150 C3B = 2541

Novamente, percebe-se que, tomando-se as 3 maiores empresas como


referência, que o grau de concentração do Ramo A é maior que o grau de
concentração existente no Ramo B. Apesar dos dois ramos serem caracterizados
como mercados concentrados, o A tem maior concentração que o B. Este indicador,
contudo, faz com que empresas que tenham um grau de participação maior tomem
destaque frente as outras. O IHH é considerado um indicador mais preciso que o C,
portanto, preferível em análises de avaliação de estruturas de mercado.
52

UNIDADE 3 – MACROECONOMIA
O objetivo geral desta seção é descrever o foco de estudo da macroeconomia e
indicar as principais ferramentas que um governo tem para intervir na economia de
modo a atingir determinados objetivos macroeconômicos.

1. Conceitos gerais de macroeconomia

Diferentemente da microeconomia, a macroeconomia procura estudar a


economia como um todo. Ao invés de focar no estudo do comportamento dos
indivíduos que compõem uma determinada sociedade, a macroeconomia, conforme
aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 189), foca no estudo dos agregados
econômicos, como a renda nacional, o investimento, a poupança e o consumo, o nível
geral de preços (inflação), emprego e desemprego, estoque de moeda, taxas de juros,
balanço de pagamentos e taxa de câmbio de toda uma sociedade. Assim, a
macroeconomia trata os mercados de maneira global. Assim como apontam Troster
& Mochón (2002, p. 178):

A macroeconomia busca a imagem que mostra o funcionamento da


economia em seu conjunto. Seu propósito é obter uma visão simplificada
do funcionamento da economia que, porém, permita ao mesmo tempo
conhecer e atuar sobre o nível de atividade econômica de um determinado
país ou de um determinado conjunto de países.

Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 190) a teoria


macroeconômica preocupa-se com questões conjunturais, de curto prazo, como a
inflação, o desemprego, o nível de renda, enquanto questões do tipo estruturais são
preocupações das teorias do desenvolvimento econômico (tópico a ser abordado no
próximo capítulo desta apostila).
Porém, assim como afirmam Passos & Nogami (2001, p. 291) não é correto
também afirmar que a microeconomia está voltada para o estudo das empresas e a
macroeconomia para o estudo do comportamento dos agregados dos agentes
econômicos. Assim como afirmam estes autores, as duas áreas (micro e
macroeconomia) andam juntas e sua separação prejudica o correto entendimento da
teoria econômica. A macro e a micro se diferenciam apenas segundo o nível de
agregação das variáveis econômicas.
A teoria macroeconômica busca as seguintes metas:
i) alto nível de emprego (ou em outras palavras, reduzir o desemprego);
ii) estabilidade de preços (reduzir o problema da inflação);
iii) distribuição igualitária de renda;
iv) crescimento econômico (evolução do nível de produção – PIB (Produto
Interno Bruto)).
Contudo, um aspecto importante da teoria macroeconômica é a de que
normalmente os objetivos não são independentes uns dos outros, ou seja,
53

normalmente os objetivos macroeconômicos são conflitantes. Em outras palavras,


para se ter crescimento econômico, normalmente a estabilidade de preços é
comprometida. Normalmente é impossível se conseguir atingir mais de um objetivo
ao mesmo tempo. Desse modo, o administrador público (também chamado de policy
maker) tem que fazer uma escolha quanto à ênfase a ser dada a diferentes objetivos,
ou seja, existe o que se chama de trade-off entre os objetivos macroeconômicos.
Conforme ressalta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 193):

Cada combinação afeta diferentes grupos na sociedade de diferentes


maneiras, e qualquer escolha estará sujeita à objeção política pelos
representantes dos grupos para os quais a escolha alternativa é pior. Na
maioria dos países, é geralmente possível prever a alternativa de política
econômica a ser escolhida, a partir do conhecimento prévio de que partido
político deve assumir o poder.

Neste sentido, os objetivos macroeconômicos a serem atingidos estão muito


relacionados com a vertente política seguida por um determinado policy maker. Para
alcançar tais objetivos o policy maker pode adotar as seguintes ferramentas de
política macroeconômica: política fiscal, política externa, política de renda e política
monetária. Uma política macroeconômica são as formas que um determinado
governo pode utilizar para influenciar sobre a capacidade produtiva ou sobre as
despesas agregadas visando sempre fazer com que a economia opere no pleno
emprego, com baixas taxas de inflação e com distribuição de renda igualitária.
A seguir se descreverá com um pouco mais de detalhes cada uma destas
políticas.

2. Política fiscal

A política fiscal, segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 195) refere-se a


todos os instrumentos de que um governo dispõe para a arrecadação de tributos
(também chamada de política tributária) e controle de suas despesas (política de
gastos). Em outras palavras, são todas as decisões do governo acerca aos gastos
públicos e a arrecadação de impostos.
Conforme aponta Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, pp. 557-558) o
setor público tem três grandes funções econômicas a serem desempenhadas: a)
função alocativa: associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos
adequadamente pelo sistema de mercado; b) função distributiva: o governo exerce
esta função quando consegue retirar renda do seguimento mais rico e transferir para o
seguimento menos favorecido, e; c) função estabilizadora: está relacionada com a
intervenção estatal que influencia os níveis de preços e emprego. A política fiscal,
portanto, é uma das formas que o governo pode utilizar para atingir os objetivos
macroeconômicos e assim, exercer suas funções econômicas básicas.
Neste sentido, a política fiscal pode causar efeitos (de elevação ou redução)
tanto na oferta como na demanda. Sinteticamente, a tabela a seguir demonstra que
54

tipo de política fiscal um governo deve utilizar para alcançar certos tipos de objetivos
macroeconômicos.

OBJETIVOS MACROECONÔMICOS POLÍTICA FISCAL UTILIZADA


- Redução do desemprego/crescimento - Política de gastos expansionista (aumento dos
econômico gastos públicos) e uma política tributária mais
branda/leve (redução da carga tributária).
- Estabilidade dos preços (controle da inflação) - Política de gastos restritivas (redução dos
gastos públicos) e uma política tributária mais
forte (elevação da carga tributária).
- Distribuição de renda - Política tributária e de gastos que beneficie os
grupos menos favorecidos.

Como é possível perceber, uma política fiscal expansionista, apesar de ajudar a


reduzir o desemprego e a promover o crescimento com a economia torna-se
incompatível com o objetivo de reduzir a inflação. Eis aqui o momento em que o
governo deve optar por qual o objetivo dará mais importância no estabelecimento de
suas políticas.
De maneira simplificada, existe na economia um grande debate de qual deve
ser a postura que um governo deve adotar em relação à política fiscal. Segundo
Troster & Mochón (2002, p. 227), existe o enfoque clássico que se baseia em que o
governo deve limitar os seus gastos e manter o orçamento público equilibrado, pois o
gasto desenfreado e o desequilíbrio das contas públicas seriam os principais
causadores da inflação, considerado por este enfoque o principal mal econômico de
todos. Para o enfoque clássico, para se conseguir crescer e desenvolver a economia e
alcançar qualquer outro objetivo, necessariamente deve-se controlar primeiramente a
inflação.
Por outro lado, o enfoque keynesiano prega que diante de um momento de
recessão (da demanda principalmente), o setor público deve intervir, manipulando os
gastos e os impostos de modo a promover o crescimento da economia. Segundo esta
vertente, o orçamento deve equilibrar-se de maneira cíclica, ou seja, nos momento de
recessão o governo terá déficits, pois gastará recursos procurando promover o
crescimento da economia. Porém, assim que a economia voltasse a apresentar taxas
de crescimento, o governo deixaria de gastar e colheria os recursos, através de
impostos e de uma maior movimentação econômica, para sanar os déficits do início.
Um debate relativamente recente sobre esse assunto refere-se às privatizações
das empresas brasileiras. No início da década de 90 do século passado, o Brasil,
assim como diversas outras economias consideradas subdesenvolvidas, passou por
um processo chamado de privatização, que nada mais é do que vender as empresas de
posse do governo para o setor privado. O principal argumento a favor das
privatizações é que o setor público sempre foi ineficiente e improdutivo e ao se
privatizar, as empresas se tornariam mais eficientes e produtivas e ficaria a cargo de
terceiros a função de gastar com modernizações e não mais com o governo. Porém, a
vertente contrária a este processo indica que as privatizações deixariam o país mais
55

vulnerável ao capital estrangeiro e poderia elevar a taxa de desemprego de um país. O


debate sobre esta questão, especificamente no caso brasileiro, é muito rico e merece
especial atenção, principalmente no que se refere a forma como foram vendidas as
empresas brasileiras, porém não é foco desta apostila.
A seguir aborda-se as medidas de política externa que um governo pode adotar
almejando alcançar os objetivos macroeconômicos.

3. Política externa

A política externa refere-se às medidas utilizadas pelo governo que influenciam


variáveis relacionadas com o setor externo da economia. Assim como explica
Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 196), a política externa é composta pela política
cambial e pela política comercial. A política cambial refere-se ao controle do governo
sobre as taxas de câmbio e o regime cambial, enquanto, que a política comercial diz
respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e estímulo/desestimulo às
importações, ou seja, instrumentos que influenciam diretamente o fluxo do comércio
internacional do país.

POLÍTICA CAMBIAL
Política cambial, portanto, refere-se à forma com que o governo atua na
manipulação da principal variável relacionada com o comércio exterior – a taxa de
câmbio. Segundo Carvalho & Leite da Silva (2002, p. 150), taxa de câmbio é o
preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. Obviamente há
pelo menos tantas taxas de câmbio quantas moedas estrangeiras. É uma taxa de
conversão de moedas, utilizadas para a realização de comércio com outros países.
Assim quando se fala que um dólar americano vale um real e oito centavos, já
está se expressando a taxa de câmbio entre as duas moedas: US$ 1,00 = R$ 1,08.
Pode-se entender mais facilmente taxa de câmbio, como uma taxa de
transformação, ou seja, caso eu tenha R$ 150,00 em minhas mãos e irei viajar para
os EUA onde precisarei de dólares, tenho, portanto, que transformar os Reais em
Dólares. Suponha que a taxa de câmbio do dia da viagem esteja a seguinte: US$ 1,00
= R$ 2,50. Significa que no momento da viagem, quando transformar R$ 150,00 em
dólares, irei receber US$ 60,00 (R$ 150 / 2,50).
Segundo Carvalho & Leite da Silva (2002, p. 150):

A taxa de câmbio é uma variável econômica muito importante porque


intermedeia todas as transações entre residentes e não-residentes de um
país. Em outras palavras, todas as contas do balanço de pagamentos são
influenciadas pela taxa de câmbio, cujas alterações afetam exportações,
importações, entradas de capitais estrangeiros, rentabilidade das aplicações
no exterior, volume de reservas etc.
56

Cada país possui sua moeda e as transações devem ser realizadas a partir das
moedas correntes de cada país. Neste sentido, um gaúcho que queira realizar a
compra de um computador na Bahia, basta utilizar em sua transação o Real (R$).
Porém, caso este mesmo gaúcho queira fazer a compra de um computador dos EUA,
como ele deverá proceder?
Primeiramente, é preciso esclarecer que ele não pode comprar este
computador com Reais (R$), pois a moeda corrente nos EUA é o dólar. Outro
aspecto importante é que as transações realizadas entre os países não envolvem
em nenhum instante a movimentação/deslocamento de moeda entre os países.
Tudo funciona através de débitos e créditos no sistema bancário.
Vamos supor, portanto, que este gaúcho queira comprar um computador no
valor de US$ 1.000,00 dólares hoje e a taxa de câmbio no momento da compra esteja
R$ 1,50 por dólar (US$ 1,00 = R$ 1,50). Com estas informações em mãos o gaúcho
deverá proceder da seguinte maneira:
a) deverá ter em mãos a conta corrente da empresa que vendeu o computador a
ele;
b) deverá se dirigir a um banco comercial, que efetuará os cálculos de quanto
(em Reais) o gaúcho deverá pagar pelo computador que comprou. No caso
indicado acima, o computador custava US$ 1.000 e a taxa de câmbio do dia
era R$ 1,50 por dólar. Neste sentido, o gaúcho deverá desembolsar o valor
de R$ 1.500,00.
c) ele deverá, portanto, depositar na conta do americano o valor de R$
1.500,00.
d) automaticamente o sistema bancário irá efetuar o depósito na conta do
americano em dólares, fazendo uma nova conversão, ou seja, convertendo
R$ 1.500,00 em dólares (no caso US$ 1.000,00).
e) é um processo automático, em que os envolvidos na negociação têm apenas
o trabalho de se deslocarem (isso quando tem) ao sistema bancário para
efetuar os respectivos depósitos ou saques.
Importante ainda esclarecer como o valor da taxa de câmbio é determinada.
Segundo Carvalho e Leite da Silva (2002), sendo a taxa de câmbio um preço, ela
também será influenciada pela oferta e demanda, no caso, de divisas, ou seja, pela
oferta e demanda de moeda estrangeira que entra ou sai de um determinado país.
Assim, caso entre muita moeda estrangeira no país, a moeda estrangeira se
tornará menos escassa e, portanto, seu preço em moeda nacional tenderá a se reduzir.
Neste sentido, uma diminuição no preço da moeda estrangeira em moeda nacional
denomina-se de valorização cambial. Caso a moeda estrangeira comece a sair do
país, sua escassez se elevará, ocorrendo um aumento no preço da moeda estrangeira
em moeda nacional, denominando-se de desvalorização cambial. Assim, o termo
desvalorização significa que a moeda nacional passa a valer menos em termos de
moeda estrangeira.
Uma desvalorização da taxa de câmbio estimula as exportações, uma vez
que os exportadores passarão a receber mais reais por dólar de produto exportado; por
outro lado, desestimula as importações, uma vez que os importadores receberão
57

menos reais por dólar de produto importado. Isto faz aumentar o saldo comercial
(exportações menos importações), sendo por isso considerado um eficaz mecanismo
de correção dos déficits em conta corrente do Balanço de Pagamentos.
Por outro lado, não se pode esquecer dos impactos inflacionários de uma
desvalorização cambial, uma vez que ela aumenta o custo dos produtos importados.
No caso de fatores de produção importados, uma desvalorização significa aumentos
nos custos de produção. Se as empresas repassarem esses aumentos de custos para os
preços dos produtos, os preços internos acabam por se elevar e assim gerar inflação.
A política cambial também envolve a determinação do regime cambial. Um
regime cambial pode ser entendido como uma regra que a autoridade monetária de
um país adota para determinar a sua taxa de câmbio (CARVALHO & LEITE DA
SILVA, 2002, p. 150). Como se pode visualizar na figura seguinte, existe
basicamente dois tipos de regimes cambiais.

Figura – Tipos de Regimes Cambiais

Regimes Cambiais

Fixo

Flutuante

Flutuante Limpo

Flutuante Sujo

Em um regime cambial fixo, o Banco Central fixa o preço de uma moeda


estrangeira em moeda nacional. A autoridade monetária garante a conversão de
moeda estrangeira em nacional, e vice-versa, àquele preço. Todas as transações com
o exterior que envolvam entrada e saída de moeda estrangeira obedecerão à taxa de
câmbio fixa para converter as moedas.
No regime de taxas de câmbio flexíveis ou flutuantes, o Banco Central
permite que o mercado estabeleça o preço da moeda estrangeira. Há, de um lado,
agentes que demandam moeda estrangeira – importadores, turistas que vão ao
exterior etc. – e, de outro, aqueles que demandam moeda nacional em troca de moeda
estrangeira que possuem (ofertantes de moeda estrangeira) – exportadores, turistas
estrangeiros no país etc.
Nesta modalidade de regime cambial (câmbio flexível), pode ocorrer o caso
(muito raro hoje em dia) em que a autoridade monetária nunca interfere no mercado
de divisas, constituindo-se em um regime cambial flutuante limpo. Isto raramente
ocorre, pois há uma relação bastante estreita entre mercado cambial e política
monetária (que será estudada logo mais neste mesmo capítulo), e, em um regime de
taxas flutuantes, o governo perde o controle sobre a oferta monetária.
58

Por isto, é comum que os Bancos Centrais intervenham no mercado cambial


quando o preço da moeda estrangeira se afasta muito de um valor que o governo
julgue conveniente para atingir seus objetivos, caracterizando um regime cambial de
flutuação suja (ou também conhecido como “dirty floating”). Alguns países que
administram sua política cambial por meio de flutuações sujas estabelecem bandas
cambiais, ou seja, intervalos dentro dos quais a taxa de câmbio pode flutuar
livremente. Quando o mercado estabelece um preço para a moeda estrangeira que
esteja fora desses limites, ou seja, fora da banda cambial, a autoridade monetária
interfere, vendendo ou comprando divisas conforme for o caso.
Mas na prática, a maioria dos países não adota nem um regime nem outro, de
forma radical, mas com adaptações. Na atualidade, a política cambial de boa parte
das nações baseia-se em um regime de câmbio fixo. Em geral, a taxa de câmbio de
um país é fixa em relação a outra moeda, que pode ser considerada uma âncora.
Portanto, adotar um regime de taxas fixas significa ancorar o valor de uma
moeda no de outra, ou no de uma cesta de moedas. A ancoragem pode ocorrer
basicamente de três maneiras distintas:
1) No regime de ancoragem unilateral, a responsabilidade pela manutenção
da paridade do país ancorado, e não do país-âncora. Em outras palavras, a política
econômica do país que adotou esse regime passa a ser guiada pela necessidade de
manter a taxa de câmbio estabelecida, enquanto o país que serve de âncora não se
preocupa com o assunto. Na atualidade poucos países adotam este sistema.
2) O currency board é uma versão radical da ancoragem unilateral. Nesse
regime, o país ancorado não só estabelece unilateralmente uma taxa de câmbio fixa,
como vincula o volume de moeda local à quantidade de moeda estrangeira de
referência existente no país. Com essa medida, fica garantida, por parte da autoridade
monetária, a conversão entre as moedas local e estrangeira à taxa de câmbio
estipulada. O país que adota este regime perde completamente a capacidade de
executar política monetária. A Argentina adotou este regime em maio de 1991,
quando fixou sua taxa de câmbio, constitucionalmente, em $1/US$1, e condicionou o
volume de pesos argentinos em circulação ao saldo de dólares de suas reservas.
3) O arranjo cambial cooperativo é um sistema de ancoragem que se
distingue do unilateral na medida em que todos os países envolvidos são responsáveis
pela manutenção das paridades cambiais entre as respectivas moedas. A União
Européia é um exemplo de ancoragem cooperativa.

POLÍTICA COMERCIAL
Conforme aponta Carvalho & Leite da Silva (2002, p. 50) política comercial
refere-se aos mecanismos que o governo pode utilizar para intervir sobre o comércio
exterior, seja estimulando as exportações ou estimulando/impedindo as importações.
Todo comércio é formado de transações. Para que uma transação ocorra é
necessário que haja, pelo menos, duas partes interessadas, sendo uma interessada em
realizar uma compra e a outra interessada em realizar uma venda. Assim, todo o
comércio é considerado mutuamente benéfico, pois a transação não se consolidará se
59

ambas as partes sentirem suas necessidades satisfeitas. O processo de transações entre


países também não é diferente, porém recebe novas nomenclaturas – exportação e
importação. Uma exportação ocorre quando um país vende produtos e/ou serviços
para outro país, enquanto uma importação é o processo de compra de produtos e/ou
serviços de outro país. Necessariamente, a exportação de um país é uma importação
de outro.
No comércio internacional a lógica empresarial também é válida. Toda
empresa procura maximizar resultados, lucros. As formas que ela tem de fazer isto
são basicamente duas: ampliar as receitas ou reduzir seus custos. Um país funciona
da mesma forma!!! Ele tem que melhorar a situação dele, e para que isto ocorra, ele
tem que exportar mais (ampliando suas receitas) ou importar menos ou importar
produtos de maneira mais barata (reduzindo seus custos). Portanto, para um país a
lógica é a mesma, ou seja, quanto mais exportar, teoricamente, em melhor situação
financeira este país estará. Porém, é importante ressaltar que é impossível um país
não importar produtos de outro.
Como se sabe, nenhum país é autárquico, ou seja, é autossuficiente. Assim
como são as pessoas (ou seja, nenhuma pessoa é capaz de produzir tudo o que
necessita para seu consumo), existem determinados tipos de necessidades e recursos
que obrigam um país a trazer produtos do exterior (ou seja, importar) para satisfazê-
las, pois normalmente não são produzidos internamente ou quando são, sua produção
é insuficiente para abastecer todo o mercado interno.
De maneira geral, argumenta-se que as exportações são importantes, pois
permitem o país arrecadar recursos com a venda de produtos para o exterior. Mas o
principal argumento a favor de se estimular às exportações é o fato de que para se
vender mais é necessário se produzir mais. Normalmente para se produzir mais, é
necessário empregar mais pessoas. Assim, estimular as exportações de um país
significa estimular a criação de empregos e o crescimento econômico. O contrário
ocorre com o aumento das importações, ou seja, comprar em demasia de outros
países significa a saída de recursos do país e a criação de empregos em outros países.
Por isto, normalmente os policy makers adotam medidas para incrementar as
exportações e desestimular as importações.
Segundo Carvalho e Leite da Silva (2002, pp. 55-73), as principais medidas
que um governo pode utilizar para atingir estes objetivos são:
a) tarifas: uma tarifa é um imposto sobre importação e é cobrado quando uma
mercadoria entra no país. Normalmente quando os policy makers querem reduzir as
importações, eles promovem a elevação de tais impostos, encarecendo o produto
importado e desestimulando as pessoas a comprar do exterior e procurar um produto
similar dentro de seu próprio país.
b) subsídios: os subsídios consistem em um pagamento, direto ou indireto,
realizados pelo governo, para encorajar as exportações ou desestimular as
importações. Um exemplo de subsídios são as baixas taxas de juros fornecidas para
os agricultores, ou para as empresas financiarem sua expansão. Existem também
situações em que o governo compra produtos (como por exemplo, fertilizantes) e os
vende a preços menores do que os preços de custo. Normalmente, os subsídios
60

implicam em despesa para o governo e esta ferramenta pode entrar em conflitos com
os objetivos de política fiscal. Este tipo de mecanismo, normalmente implica em
menores custos para o produtor. Tais custos, contudo, são assumidos pelo governo.
c) quotas (ou licenças) de importação: são restrições quantitativas impostas
sobre o volume ou sobre o valor das importações. Com estas medidas, um governo
pode, por exemplo, limitar a entrada de um produto em um país, ou ainda criar uma
política seletiva de importações. Esta política seletiva ocorreu com frequência no
Brasil no período em que ele estava se industrializando (1930 a 1980). Para aqueles
produtos que seriam fundamentais para o processo de industrialização, liberavam-se
licenças mais facilmente e quotas mais amplas do que para aqueles produtos
considerados desnecessários para os objetivos do governo.
d) controles cambiais: o governo pode ainda manipular a taxa de câmbio
(através do “dirty floating”) de modo a ampliar as exportações ou reduzir as
importações. Como se estudou anteriormente, uma taxa de câmbio desvalorizada
estimula as exportações e desestimula as importações. Neste sentido, o governo pode
promover intencionalmente desvalorizações cambiais (reduzindo a quantidade de
moeda estrangeira dentro do país) para elevar as vendas e reduzir as compras com
outros países. Ou ainda se o objetivo do governo é aumentar a quantidade importada,
o governo pode manipular a taxa de câmbio (através de medidas de política
monetária, como se estudará mais à frente) de forma a valorizá-la. Outra medida
existente dentro dos controles cambiais se chama mecanismo de taxas múltiplas de
câmbio, na qual, o governo administra diversas taxas de câmbio diferenciadas, sendo
utilizadas de acordo com o seu interesse. Se o governo quer, por exemplo, estimular a
venda de bananas, ele estabelece que as bananas utilizarão uma taxa de câmbio maior
do que a de outros produtos. Resumidamente, quanto maior o interesse em proteger
determinado produto, maior a taxa de câmbio fixada para sua importação.
e) proibição de importações: esta é uma forma direta de controle e pode ser
seletiva em função da mercadoria ou do país de origem.
f) monopólio estatal: esta é uma situação em que o próprio governo centraliza
a importação de um determinado produto e impede a atuação de outros agentes nesse
mercado. No Brasil, o exemplo clássico deste tipo de medida é a importação de
petróleo, monopólio da Petrobrás.
g) depósito prévio à importação: neste tipo de mecanismo, antes de se
realizar a importação de uma determinada mercadoria, seu valor total (ou um
percentual dele) é recolhido por um órgão do governo (normalmente o Banco
Central) e permanece retido por um determinado período. É um método que dificulta
através da burocracia estatal e permite com que o governo tenha um recurso extra por
um determinado tempo para utilizar da forma como ele achar melhor (empréstimo
forçado ao governo).
h) barreiras não-tarifárias: são restrições impostas pelo funcionamento
normal da burocracia e nem sempre tem o intuito principal de reduzir as importações.
Às vezes, inclusive, tais barreiras prejudicam a venda dos próprios produtos, como
foi o caso da carne bovina brasileira no início de 2008, que não se encaixava nos
padrões técnicos e sanitários estabelecidos pelo mercado europeu. Neste caso,
61

constituem-se em barreiras não-tarifárias as restrições relacionadas aos regulamentos


sanitários e de saúde, normas técnicas que devem ser seguidas, padrões de segurança,
dificuldades relativas à documentação, inspeção e outras formas de dificultar o
processo de compra e venda de produtos entre os países.
4. Política de rendas

Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 196) as políticas de


rendas referem-se aos controles exercidos pelo governo sobre os preços e salários.
Segundo este autor, a característica especial deste tipo de política é a de que:

(...) nesses controles, os agentes econômicos ficam proibidos de levar a


cabo o que fariam, em resposta a influências econômicas normais do
mercado.
Normalmente, esses controles são utilizados como política de combate à
inflação. No Brasil, a política salarial e a atuação da Secretaria especial de
Abastecimento e Preços (Seap) situavam-se nesse contexto. Esses controles
também denominadas “políticas de rendas” no sentido de que influem
diretamente sobre as rendas (salários, lucros, juros, aluguel).

O controle de preços e salários, segundo Sandroni (2001, p. 489) é o modo de


intervenção mais direto e mais radical do poder público no mercado. Regulado, seja
no interesse do produtor ou no do consumidor, o controle de preços e salários visa a
fixar um preço mínimo (como é o caso do salário mínimo) ou um preço máximo
(como é o caso de produtos em geral disponíveis no mercado). Ambas as formas tem
o impacto direto sobre as rendas dos indivíduos.

5. Política monetária

A política monetária contempla uma série de instrumentos e é, na atualidade


uma das formas mais utilizadas pelas autoridades para intervir na economia e
alcançar os objetivos macroeconômicos. É uma grande área de estudo da
macroeconomia, pois envolve uma das principais variáveis da ciência econômica – a
moeda. Antes de descrever as principais políticas monetárias existentes, destaca-se
inicialmente as funções e principais características que uma moeda deve possuir. Em
seguida, realiza-se uma breve discussão da evolução histórica da moeda. Na
sequência, estuda-se os principais instrumentos de política monetária e por fim, a
importância da intermediação financeira e a estrutura do sistema financeiro brasileiro.

FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA MOEDA


Segundo Lopes & Rossetti (2002), a moeda pode ser compreendida como
sendo uma mercadoria que serve de equivalente geral para todas as outras
mercadorias do mercado. Mas para algum item se tornar realmente uma moeda é
necessário desempenhar algumas funções e possuir características específicas. A
62

seguir serão discriminadas as principais funções que a moeda deve desempenhar


assim como as principais características que deve possuir.

Funções da moeda
Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 19-25), as principais funções que a
moeda deve desempenhar são:
a) função de intermediária de trocas: esta função permitiu com que fosse
superada a fase de economia de escambo e passasse para uma economia monetária. A
superação da economia de escambo trouxe muitas vantagens, dentre as quais o
aumento generalizado da eficiência econômica em sensível acréscimo da quantidade
de bens e serviços que passaram a ser posta no mercado para a troca. A moeda
desempenhando a função de intermediária de trocas fez com que não fosse mais
necessário haver a dupla coincidência de desejos para a realização das trocas.
b) função de medida de valor: a generalização da moeda implica na criação
de uma unidade-padrão de medida, à qual são convertidos os valores de todos os
bens e serviços de uma economia. Se esta função não existisse, seria praticamente
impossível apurar a contabilidade social, o nível de produto e da renda, o volume de
consumo, etc.
c) função de reserva de valor: esta terceira função da moeda é a que decorre
da particularidade de a moeda servir como uma reserva de valor, desde o momento
em que é recebida até o instante em que é gasta por seu detentor. Esta capacidade
traduz a forma alternativa de guardar riqueza. A moeda é a representante universal
da riqueza.
d) função liberatória: esta função refere-se à capacidade da moeda de saldar
dívidas, de liquidar débitos, de livrar seu detentor de uma situação passiva.
e) função de padrão de pagamentos diferidos: esta função resulta na
capacidade que a moeda tem de facilitar a distribuição de pagamentos ao longo do
tempo, quer para a concessão de crédito ou de diferentes formas de adiantamentos.
Trata-se de uma função importante, pois a partir disto é garantido, na economia
moderna, a viabilização dos fluxos de produção e renda, que, embora simultâneos e
interdependentes, desenvolvem-se por etapas, exigindo que, ao longo delas, sejam
antecipados diferentes tipos de pagamentos.
f) função de instrumento de poder: a moeda permite que os que a detêm
possuam direitos de haver sobre os bens e serviços disponíveis no mercado, tanto
maiores e mais amplos quanto maior for o montante disponível de moeda. Assim,
quanto maior as quantidades de moeda que cada indivíduo tem, maiores serão seus
poderes, tanto econômicos, políticos ou sociais.
À medida que a moeda de uma determinada economia começa a perder esses
atributos, ela inicia um processo de perda de seu papel no sistema monetário, levando
os governantes à sua substituição. Este foi o caso, por exemplo, da economia
brasileira na década de 80 e início da década de 90, quando a nossa moeda foi
rebatizada por diversas vezes, por meio da alteração de sua medida de valor.
63

Características essenciais da moeda


Para que a moeda possa desempenhar suas principais funções ela deve possuir
uma série de atributos. Importante ressaltar que os instrumentos monetários foram se
adaptando as necessidades cada vez mais complexas da sociedade. Neste sentido, as
principais características que a moeda deve possuir para desempenhar suas funções
com eficiência, segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 25-27) são:
a) indestrutibilidade e inalterabilidade: a moeda deve resistir às inúmeras
relações de troca a que estiver sujeita. Ela deve ser suficientemente durável
no sentido de que não se destrua ou se deteriore à medida que os agentes
econômicos a utilizam na economia.
b) homogeneidade: duas unidades monetárias distintas, de igual valor, devem
ser rigorosamente iguais. A não homogeneidade da moeda pode gerar no
processo de relação de desentendimentos que venham dificultar as relações
econômicas entre os agentes.
c) divisibilidade: a moeda padrão ou moeda principal de uma economia deve
possuir múltiplos e submúltiplos, denominados de moedas subsidiárias, de
modo que se possa garantir a realização de todos os tipos de transações
comerciais, sejam elas de pequeno ou grande porte.
d) transferibilidade: a moeda deve circular na economia sem nenhuma
dificuldade, facilitando o processo de troca. Se a moeda estiver
materializada em uma mercadoria qualquer ou em uma cédula emitida e
garantida pelo Estado, é desejável que tanto a mercadoria quanto a cédula
não tragam quaisquer registros que identifiquem seu atual possuidor.
e) facilidade de manuseio e transporte: o papel-moeda de uma economia
deve ser impresso de forma a facilitar o seu uso e o seu transporte, para
evitar que a sua utilização seja dificultada.
Conclusivamente: na história econômica de todos os povos, a exigência das
características essenciais que destacamos foi uma das principais justificativas para se
passar de um tipo de moeda para outro, ou, mesmo, de um sistema monetário para
outro. Este processo ficou claro quando se estuda o processo evolutivo da moeda,
tópico da próxima seção.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA


A evolução da moeda é tão antiga quanto a própria humanidade é se torna
necessário um grande recuo no tempo e um pequeno exercício de imaginação para
que se possa imaginar e caracterizar as atividades econômicas de grupos humanos
primitivos que não utilizavam nenhuma forma de moeda.
Segundo Lopes & Rossetti (2002, p. 16), os primeiros agrupamentos humanos,
em geral nômades, teriam sobrevivido com padrões de atividade econômica bastante
simples, baseados nas trocas diretas de produtos, denominado de escambo. Estes
grupos tinham necessidades limitadas que na grande maioria das vezes eram
satisfeitas com os próprios recursos advindos da natureza com a prática da caça,
pesca e coleta de frutos (práticas extrativistas). Além disto, a pequena diversidade de
64

produtos disponíveis facilitava a dupla coincidência de desejos, o que facilitava o


processo do escambo.
Contudo, com o advento da primeira revolução agrícola, na qual grupos
humanos passaram a se fixar em determinadas áreas (como por exemplo, nos deltas
dos Rios Nilo e Eufrates), o nomadismo foi gradativamente cedendo lugar à forma
sedentária de viver, o que tornou a vida social mais complexa. A questão da
divisão social do trabalho teve papel fundamental no processo do surgimento da
moeda. Com cada integrante da sociedade desempenhando uma função, aumentou
sensivelmente o número de bens e serviços exigidos para a satisfação humana, o que
dificultou a dupla coincidência de desejos, o que dificultava ainda mais as trocas
diretas entre as pessoas.
Assim, para permitir o desenvolvimento das trocas o escambo deu lugar,
gradativamente, a processos indiretos de pagamentos. É neste ambiente, da
generalização da aceitação de determinados produtos como forma de pagamento que
se configura a origem da moeda. A partir deste momento tem-se que as operações
de compra e venda são separadas e intermediadas por produtos de aceitação
geral que atuavam como moedas.
Um ponto importante a se observar e ressaltado por Lopes & Rossetti (2002, p.
18) é o fato de que a criação da moeda é um fator essencialmente social, pois um
produto só se torna em um ativo monetário se os membros do grupo o aceitarem em
pagamento das transações que se efetivam.
Com o passar do tempo, a evolução da sociedade impôs a necessidade de se
facilitar às relações de trocas. Os indivíduos, então, passaram a eleger um único
produto como referencial de trocas: uma mercadoria que tivesse algum valor e que
fosse aceita por todos. Essa passagem do escambo para a escolha de uma única
mercadoria para intermediar as trocas é chamada de era das moedas mercadorias.
Neste período, vários tipos de produtos foram utilizados como referencial das
relações de trocas, tais como gado, fumo, azeite de oliva, sal, dentre outros, como
ilustra o Quadro a seguir.
Apesar deste tipo de moeda ter facilitado um pouco o dia a dia dos indivíduos,
algumas dificuldades ainda persistiam principalmente em relação à não satisfação das
características essenciais da moeda. Neste sentido, não tardou para que a era da
moeda metálica chegasse.
De forma geral, os metais foram às mercadorias que mais se ajustaram às
funções monetárias, não só porque suas características intrínsecas aproximam-se
mais das características essenciais que se exigem dos instrumentos monetários, como
também porque seu valor de uso não compromete nem compete tão diretamente com
seu valor de troca.
65

Quadro – Principais mercadorias utilizadas como moeda


REGIÕES MERCADORIAS-MOEDA
Antiguidade (até 410)
- Egito cobre
- Babilônia, Assíria cobre, prata, cevada
- Pérsia gado
- Índia animais domésticos, arroz, metais
- China conchas, seda, sal, cereais
Idade Média (410 a 1453)
- Ilhas Britânicas moedas de couro, gado, ouro, prata
- Alemanha gado, cereais, mel
- Islândia gado, tecidos, bacalhau
- Noruega gado, escravos, tecidos
- Rússia gado, prata
- China arroz, chá, sal, estanho, prata
- Japão anéis de cobre, pérolas, arroz
Idade Moderna (1453 a 1789)
- Estados Unidos fumo, cereais, madeira, gado
- Austrália rum, trigo, carne
- Canadá peles, cereais
- França metais preciosos, cereais
- Japão arroz

Inicialmente, foram os metais não nobres como o cobre, o bronze e em especial


o ferro, que eram utilizados como moeda, porém, a descoberta de novas jazidas e a
existência destes tipos de metais em abundância fez com que ocorresse a progressiva
substituição dos metais não nobres pelo ouro e pela prata (que eram bens escassos e
as novas jazidas não influenciavam significativamente o estoque já existente, de tal
forma que era possível manter o seu valor estável). Mas apesar de ter sido um grande
avanço em relação às moedas mercadorias, a moeda metálica ainda tinha um
grande inconveniente relacionado com o transporte do mesmo a longas
distâncias, que se tornou difícil (por causa do peso) e muito arriscado (por causa dos
roubos).
Assim, surgiu a era da moeda-papel. A moeda-papel veio eliminar, portanto,
as dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas
regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e de crédito.
Ao invés de partirem carregando a moeda metálica, levavam apenas um pedaço
de papel denominado de certificados de depósitos, que era emitido por
instituições conhecidas como Casas de Custódia, onde os comerciantes
depositavam as suas moedas metálicas, ou quaisquer outros valores, sob
garantia. Assim, criou-se uma moeda, 100% lastreada e com a garantia de plena
conversibilidade, a qualquer momento, pelo seu detentor, e que se tornou, ao longo
do tempo, o meio preferencial de troca e de reserva de valor.
Com o tempo, contudo, as Casas de Custódia notaram que a reconversão da
moeda-papel em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores
ao mesmo tempo e que enquanto uns solicitavam a reconversão, outros
realizavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades de ouro
66

e prata para depósitos. Assim e que surgiu a era da moeda fiduciária1 (ou papel
moeda) em que começaram a se emitir certificados sem lastro integral, porém o
uso abusivo desta prática fez com que diversos sistemas econômicos fossem a ruína.
Devido a estes problemas, o Estado foi levado a assumir o mecanismo de
emissões, passando a controlá-lo. Com o passar do tempo, passou-se à emissão de
notas inconversíveis. Atualmente, a maioria dos sistemas monetários são
fiduciários, tendo as seguintes características: a) inexistência de lastro metálico;
b) inconversibilidade absoluta, e; c) monopólio estatal das emissões.
Com a evolução do sistema bancário desenvolveu-se outro tipo de moeda: a
moeda bancária (ou moeda escritural). Ela é representada pelos depósitos a vista e
a curto prazo nos bancos, que passaram a movimentar esses recursos por cheques ou
ordens de pagamentos. Ela é chamada de moeda escritural uma vez que diz respeito
aos lançamentos (débito e crédito) realizados nas contas correntes dos bancos.
Basicamente, nos dias de hoje existem três tipos de moeda: a) moeda metálica;
b) o papel-moeda, e; c) a moeda escritural. A moeda metálica representa as reservar
de barras de ouro retidas no Banco Central e que são utilizadas para saldar as dívidas
com o comércio exterior. O papel-moeda é composto pelas cédulas e moedas
emitidas pelo governo e que circulam legalmente por força de dispositivo legal, que
lhes dá curso forçado no país e são aceitos como forma de pagamento. A moeda
escritural é a moeda dos bancos que são constituídos pelos cheques e ordens de
pagamento. Alguns estudiosos da área indicam ainda a existência de um quarto tipo
de moeda – a moeda eletrônica, constituído pelos cartões de crédito e débito.
Existe ainda as chamadas quase-moedas, que compreendem um conjunto de
ativos do sistema financeiro não monetário. Estes ativos são constituídos por
compromissos assumidos pelas instituições financeiras e pelo governo e se
caracterizam pela sua extrema liquidez, além de possuírem outras propriedades da
moeda. Alguns deles são os títulos da dívida pública, depósitos de poupança,
certificados de depósitos bancários (CDBs), por exemplo. A razão principal para não
serem chamados de moedas se deve ao fato de não ser utilizado para os pagamentos
de nossas despesas de consumo do dia a dia.

POLÍTICA MONETÁRIA – CONCEITO E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS


Existe de certa forma, um grande reconhecimento, exceto por alguns
representantes de setores da sociedade menos comprometidos com os objetivos
sociais de distribuição de renda e igualdade social, de que a inflação é perversa e
indesejável para um país.
Segundo Armínio Fraga e Ilan Goldfajn (Política Monetária no Brasil – Valor
Econômico – 6 de novembro de 2002), “a estabilidade de preços pode gerar maiores
taxas de crescimento do produto ao reduzir incertezas e distorções, alongar os
horizontes de decisão, e permitir aumento de investimentos e ganhos de

1
Vem de “fidus” que significa confiança. Era uma moeda baseada na confiança das pessoas que depositavam suas
riquezas junto as Casas de Custódia.
67

produtividade”. E concluem: “Portanto, deve-se ter claro que não existe a opção de
um maior crescimento sustentável com mais inflação”.
Traduzindo o que foi exposto acima: se os preços são previsíveis, os agentes
econômicos se sentem mais seguros para tomarem decisões de consumo ou de
investimento. Assim, a manutenção de níveis baixos de inflação é altamente
desejável, para que se tenha um ambiente macroeconômico favorável ao
desenvolvimento econômico.
Mas que meios um determinado governo possui para controlar efetivamente a
inflação e promover o crescimento econômico de um país? Uma das diversas formas
é através da política monetária, foco de estudo desta seção. Segundo Lopes &
Rossetti (2002, p. 253), a política monetária, pode ser definida como o controle da
oferta de moeda e das taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os
objetivos da política econômica global do governo. Alternativamente, pode
também ser definida como a atuação das autoridades monetárias, por meio de
instrumentos de efeito direto e indireto, com o propósito de controlar a liquidez
do sistema econômico.
Assim, a política monetária age diretamente sobre o controle da quantidade de
dinheiro em circulação, visando defender o poder de compra da moeda. Tal prática
pode ser expansionista ou restritiva. Em uma política monetária restritiva, a
quantidade de dinheiro em circulação é diminuída (ou mantida estável) e os
empréstimos são encarecidos, com o objetivo de desaquecer a economia e evitar o
aumento dos preços. Já, em uma política monetária expansionista, a quantidade de
dinheiro em circulação é aumentada e o crédito e barateado, com o objetivo de
aquecer a demanda e incentivar o crescimento econômico.
É importante relembrar ainda que o manejo do conjunto de instrumentos de
ação a disposição do governo para a realização de políticas monetárias não é
facilmente conciliável, no sentido de que sejam alcançados os objetivos pretendidos
pela política econômica global. Ou seja, às vezes é necessário se praticar uma política
monetária restritiva para controlar a inflação o que se torna incompatível com o
objetivo do governo de crescimento econômico.
Feita essa ponderação, torna-se importante agora esclarecer quais são os
principais instrumentos de política monetária e seus respectivos modos de
funcionamento que o governo tem a disposição para atingir os objetivos
macroeconômicos globais. Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 255-269), os
governos dispõem de cinco instrumentos básicos para efetivar a política monetária:
a) incentivo/restrição (controle) ao crédito;
b) compra/venda de títulos públicos (open market);
c) depósitos compulsórios (taxa de reserva);
d) taxa de redesconto;
e) taxa de juros.
Vejamos como cada um desses instrumentos é utilizado:

1) Incentivo/Restrição (controle) ao Crédito: por ter efeito direto sobre


determinados setores da economia, o incentivo ou a restrição ao crédito (controle
68

direto sobre o volume e o preço do crédito) são utilizados pelo governo como
instrumentos de desenvolvimento microeconômico. Assim, se o governo deseja
expandir o agronegócio, cria incentivos para a concessão de créditos aos produtores
rurais. Se deseja restringir o consumo de determinado segmento de produtos, cria
instrumentos que restrinjam o acesso ao crédito para compra de produtos desse
segmento. A utilização desse instrumento pelas autoridades monetárias pode referir-
se às três seguintes formas de intervenção direta: a) controle do volume e da
destinação do crédito; b) controle das taxas de juros, e; c) determinação dos prazos,
limites e condições dos empréstimos.

2) Compra/Venda de Títulos Públicos (open market): através da compra e da


venda de títulos públicos, o Banco Central afeta diretamente a quantidade de dinheiro
em circulação. Ao comprar títulos do público, o banco central promove política
monetária expansionista, pois entrega dinheiro em troca dos títulos. Ao contrário,
para enxugar a liquidez do sistema, o Banco Central pode vender títulos de sua
carteira própria, entregando papéis e recebendo dinheiro, que é tirado de circulação.
A figura abaixo demonstra os efeitos da política de compra e venda de títulos do
governo nos meios de pagamentos e na taxa de juros.

Figura - Impacto das operações de open market sobre os meios de pagamento e


sobre a taxa de juros

As duas políticas apresentadas anteriormente (controle de crédito e open


market) são instrumentos utilizados em conjunto para definir a política cambial.
Assim como assinalado anteriormente, a política monetária está muito ligada à
política cambial e normalmente os instrumentos monetários são utilizados para
influenciar a taxa de câmbio e consequentemente a política externa do país.

3) Depósitos Compulsórios (taxa de reserva): parte dos depósitos efetuados


pelos clientes não bancários nos bancos comerciais deve ser recolhido ao Banco
Central, compulsoriamente (obrigatoriamente). Esse instrumento tem o objetivo de
69

diminuir o poder que os bancos comerciais possuem de multiplicar o dinheiro em


circulação através dos empréstimos, possibilitando ao Banco Central manter o
controle da quantidade de dinheiro em circulação. Este é um dos mais poderosos
instrumentos que a autoridade monetária possui para controlar a liquidez da
economia. A figura seguinte ilustra e simplifica o funcionamento deste instrumento
sobre a liquidez da economia.

Figura – Forma de funcionamento da taxa de reserva compulsória

4) Taxa do Redesconto: é uma taxa exigida pelo Banco Central para cobrir os
eventuais "buracos" nos caixas dos bancos comerciais, ou seja, consiste na concessão
de assistência financeira de liquidez aos bancos comerciais. Na execução desta
operação, o Banco Central funciona como o banco dos bancos, descontando títulos
dos bancos comerciais a uma taxa prefixada, com a finalidade de atender às suas
necessidades momentâneas de caixa, a curtíssimo prazo.

Figura – Forma de funcionamento do redesconto


70

Se a taxa é baixa e o prazo é longo, os bancos podem se expor a riscos maiores,


aumentando os empréstimos e, por consequência, a quantidade de dinheiro em
circulação. Se a taxa é alta e o prazo é curto, os bancos precisam exigir riscos
menores, diminuindo os empréstimos e, por consequência, a quantidade de dinheiro
em circulação. O controle dos meios de pagamento por intermédio do redesconto
resulta da alteração das taxas de juros cobradas pelo Banco Central, pela mudança
dos prazos concedidos aos bancos comerciais para resgate dos títulos redescontados,
pela fixação de limites da operação ou, ainda, pela restrição dos tipos de títulos
redescontáveis.

5) Taxa de Juros: na teoria, a taxa de juros tem efeito direto sobre a poupança,
influenciando a remuneração do capital, e sobre os investimentos, influenciando o
custo do capital. Assim, se o objetivo é uma política monetária restritiva, a elevação
da taxa de juros irá diminuir a quantidade de dinheiro em circulação, ao estimular a
poupança e elevar os custos dos investimentos. Ao contrário, para estimular o
consumo e os investimentos, as taxas de juros devem ser mais baixas.
Além destes instrumentos que permitem o governo controlar a quantidade de
moeda na economia de maneira indireta, o governo pode atuar diretamente sobre a
economia, pois é o governo a instância responsável pela emissão ou retirada de papel
moeda em circulação da economia. Ou seja, o governo pode, além dos instrumentos
indicados acima, atuar diretamente sobre a oferta de moeda (SANDOVAL DE
VASCONCELLOS, 2002, p. 195).

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA – SURGIMENTO E IMPORTÂNCIA


Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 405-412) a formação de um sistema
financeiro necessariamente necessita de três fatores básicos para existir. O primeiro é
a superação do estágio primitivo de escambo (através da introdução da moeda). O
segundo é que haja bases institucionais para o funcionamento do mercado de
intermediação financeira e o terceiro é a necessidade de se existirem agentes
econômicos deficitários e superavitários, respectivamente dispostos a financiar seus
déficits aos custos correntes e a transformar seus ativos monetários em ativos
financeiros aos riscos e às possibilidades correntes de ganho real.
Destas três pré-condições para a existência da intermediação financeira, é
atribuída primordial importância à terceira. O pressuposto básico mais importante
para que a intermediação financeira se estabeleça em bases permanentes é a
existência de agentes deficitários e superavitários. Na realidade, os intermediários
financeiros só têm razão de ser quando se encontram agentes que desejam gastar mais
do que seus rendimentos correntes, e em paralelo existam outros agentes que
possuem rendimentos em excesso, relativamente às suas intenções de gasto,
predispondo-se a trocar seus ativos monetários por ativos financeiros não monetários.
O esquema abaixo ilustra a importância da intermediação financeira:
71

Figura – O processo de intermediação e o estabelecimento do mercado


financeiro

Assim, entre as duas situações básicas (agentes deficitários e superavitários)


posicionam-se os intermediários financeiros, cuja atividade consiste em viabilizar o
atendimento das necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos,
manifestadas pelos agentes carentes, e a aplicação, sob riscos minimizados, das
disponibilidades dos agentes excedentes orçamentários. Trata-se, pois, de uma
atividade que estabelece uma ponte entre os agentes que poupam e os que se
encontram dispostos a gastar além dos limites de suas rendas correntes.
O surgimento da intermediação financeira permitiu os seguintes benefícios:
1) Ao invés dos agentes superavitários e deficitários administrarem suas
próprias carteiras de títulos, é preferível que eles confiem esta atividade para as
instituições especializadas, pois elas estão tecnicamente equipadas para realizar
julgamentos e previsões de melhores investimentos, devido ao fato de possuírem
informações mais consistentes para tal tarefa;
2) A existência de intermediários financeiros pode minimizar os custos de
cobertura dos riscos existentes em determinado sistema econômico;
3) A existência de intermediários financeiros amplia as possibilidades de os
agentes econômicos deficitários encontrarem excedentes livres no momento exato de
suas necessidades; de igual forma, amplia as oportunidades dos agentes
superavitários, com relação à absorção, a qualquer instante, de seus excedentes no
mercado financeiro;
4) A intermediação pode elevar os níveis de formação de capital, mediante
maior incentivo à poupança individual, e;
5) A intermediação financeira pode conduzir a ganhos de eficiência, em termos
de produção, para igual volume de formação e capital.
72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Maria Auxiliadora de; LEITE DA SILVA, César Roberto. Economia
Internacional. 2ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002.

LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia monetária. 8ª ed. São
Paulo: Editora Atlas, 2002.

PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. 3ª ed. Princípios de economia. São
Paulo: Editora Pioneira, 2001.

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 4ª ed. São Paulo: Makron
Books, 1999.

PINHO, Diva Benevides; SANDOVAL DE VASCONCELLOS, Marco Antônio (orgs.).


Manual de economia: equipe de professores da USP. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 1998.

SANDOVAL DE VASCONCELLOS, Marco Antônio. Economia: Micro e macro. 3ª ed.


São Paulo: Atlas, 2002.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 6ª ed. São Paulo: Editora Best
Seller, 2001.

TROSTER, Roberto Luis; MOCHÓN, Francisco. Introdução à economia. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2002.

Você também pode gostar