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CURSO DE DIREITO - Disciplina: Direito de Empresa IV - SFWK

UCAM Niterói - 2018.2

21 Da Convolação da Recuperação Judicial em Falência


- arts. 73 e 74 LFRE
- vinculação do insucesso da recuperação judicial e decretação da falência
- com a recuperação judicial, a falência vem a ser a última opção do devedor em crise, mas a ocorrência de certas
situações no durante o processamento da recuperação judicial acarretará a convolação da recuperação em falência,
mediante o requerimento do Ministério Público, credores ou quaisquer interessados.
- pressupõe-se que o devedor, ao solicitar a recuperação judicial, está admitindo sua crise econômica, financeira ou
patrimonial (sua condição pré-falimentar). Desta forma, se não obtiver a recuperação judicial ou não a cumprir, deve-
se instaurar o processo falimentar.
- única hipótese em que o insucesso da recuperação judicial não implica necessariamente a decretação da falência:
falta de apresentação, no prazo fixado pelo juiz, das certidões tributárias negativas (art. 57 LFRE; e art. 191-A CTN).
- hipóteses de convolação da recuperação judicial em falência no curso do processamento da recuperação
judicial (para Campinho, o rol é taxativo)
- art. 73 LFRE
- pela LFRE são 4 hipóteses em que o juiz decretará a falência:
a) deliberação dos credores
- arts. 73 I e 42 LFRE
- deliberação da Assembleia Geral dos Credores, observado o quorum normal de deliberação - credores que
representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia geral (art. 42 LFRE).
- se a maioria do plenário calculada proporcionalmente ao valor dos créditos dos presentes considerar que a situação
de crise econômica, financeira ou patrimonial do devedor é de suma gravidade e que não há sentido em qualquer
esforço de reorganização, a LFRE lhe confere a prerrogativa de abortar o processo de recuperação judicial.
- essa hipótese de convolação se dá durante as fases de postulação e deliberação. Depois de homologado ou aprovado
o plano pelo juiz, sendo este cumprido pelo beneficiado, não têm mais os credores competência para, em Assembleia,
votar a convolação em falência.
b) não apresentação do plano pelo devedor no prazo
- arts. 73, II e 53 caput LFRE
- o requerente do benefício deve submeter ao juiz o plano de recuperação no prazo de 60 dias, contados do despacho
que determina o processamento da ação. Se não cumprir esse prazo, o juiz deve decretar sua falência.
- o prazo para apresentação do plano é improrrogável, independentemente da justificativa apresentada pelo devedor,
sob pena de decretação da falência pelo juiz
c) rejeição de plano pela assembleia dos credores.
- arts. 73 III e. 56 par. 4o LFRE
- convocada pelo juiz, a Assembleia dos Credores apreciará, na mesma oportunidade, o plano de recuperação
elaborado pelo requerente, eventuais planos alternativos (de credor, do administrador judicial ou do Comitê) e as
objeções articuladas em juízo.
- se da deliberação resultar a rejeição tanto do plano elaborado pelo devedor quanto dos alternativos ou do
acolhimento de objeção suscitada por credor, o juiz deve sentenciar a falência.
- quando houver sido rejeitado o plano de recuperação pelos credores (art. 56 par. 4o LFRE na situação da
recuperação ordinária e art. 72 parágrafo único, na circunstância da recuperação pautada em plano especial), a
assembleia geral, para este fim, será convocada por credores que representem, no mínimo, 25% do valor total dos
créditos de uma determinada classe (art. 36 par. 2o LFRE) ou pelo comitê, caso tenha sido instalado (art. 27, I “e”
LFRE)
d) descumprimento do plano de recuperação.
- art. 61 par. 1o LFRE
- caso, na fase de execução, o devedor em recuperação judicial não cumpra qualquer obrigação assumida no plano de
recuperação homologado ou aprovado pelo juiz, cabe a convolação em falência.
- na hipótese de desobediência e convolação da recuperação judicial em falência, opera-se a resolução do plano.
- há uma cláusula resolutiva tácita em qualquer plano de recuperação judicial, que é o sucesso de sua implementação.
A condição sob a qual os credores concordaram em rever seus direitos não se realizou e retornam eles, por isso, ao
status quo ante. Nessa hipótese, os credores serão atendidos, na execução concursal, pelo valor e classificação dos
créditos que titularizavam antes do processo de recuperação judicial.
- efeitos da convolação em relação aos credores
- os efeitos variam segundo sejam estes anteriores ou posteriores à impetração do benefício.
- os credores anteriores à impetração do benefício que tiveram seus direitos alterados no plano de recuperação
judicial retornam à exata condição jurídica que desfrutavam antes da aprovação do plano.
- por outro lado, convolada a recuperação judicial em falência, por qualquer razão, os credores posteriores à
distribuição do pedido serão reclassificados (art. 67 LFRE).
- eficácia dos atos
- na convolação da recuperação em falência, os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação
praticados durante o processo de recuperação judicial presumem-se válidos e eficazes, desde que realizados na forma
da lei (art. 74 LFRE). Em princípio, não ficam prejudicados em virtude da convolação em falência.
- essa presunção é relativa pois, apesar da obediência à forma legal na prática do ato, este, em seu conteúdo, poderá
revelar-se viciado, por ex. fraude. Provado o vício, não há como se deixar de operar o seu desfazimento.

22 Do Plano Especial de Recuperação Judicial das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte
- arts. 70 a 72 LFRE
- a LFRE reconhece a situação peculiar da microempresa ou empresa de pequeno porte na economia nacional (art. 179
CF), mas não define, para os seus fins, microempresa ou empresa de pequeno porte, adotando o conceito da lei geral.
- o devedor microempresa ou empresa de pequeno porte pode optar entre os seguintes meios de recuperação judicial:
a) submeter-se ao regime geral da recuperação judicial (procedimento normal/ordinário) ou b) apresentar um
plano/procedimento especial.
- a adoção do procedimento especial não é automática, devendo, o requerente, expressamente formular pedido na
petição inicial para que seja implementado. Se não, seguirá o curso ordinário.
- o Plano Especial:
- possui regras legais específicas (regime especial), com rito processual mais simplificado, considerando as
reduzidas dimensões das atividades econômicas exploradas.
- abrange todos os créditos existentes na data do pedido, vencidos e vincendos, exceto os créditos decorrentes de
repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos no art. 49 par. 3o e 4o LFRE .
- consiste no parcelamento do passivo em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas monetariamente e
acrescidas de juros legais. O número de parcelas será definido na proposta apresentada com o pedido de
recuperação judicial. A primeira parcela deve ser paga no prazo máximo de 180 dias, a partir da data da
distribuição do pedido de recuperação judicial.
- sua aprovação ou rejeição cabe exclusivamente ao juiz, não sendo convocada, neste procedimento, a Assembleia
Geral dos Credores.
- o devedor sofre a restrição de não poder aumentar despesas nem contratar empregados sem autorização judicial,
ouvido o administrador judicial e, se for o caso, o Comitê de Credores.
- o processo tem início com a petição inicial do devedor expondo as razões da crise e apresentando a proposta de
plano com renegociação do passivo, observados os requisitos legais.
- apresentado e recebido o pedido, o juiz decide de pronto: homologando a proposta apresentada ou, decretando sua
falência ou, determinando a retificação do plano especial, quando desconforme com os parâmetros da lei. Se
desobedecida ou não atendida a determinação, o juiz decreta a falência.
- o plano propriamente dito deve ser apresentado em até 60 dias da publicação da decisão que deferir a medida.
- os credores interessados podem suscitar em juízo suas objeções. Nesse caso, o juiz determinará ao requerente que se
manifeste, oportunidade em que poderá ser revista a proposta por acordo entre as partes. Se a microempresa ou
empresa de pequeno porte devedora questionar a manifestação do credor e insistir na proposta, o juiz decidirá o
conflito, determinando seu aditamento ou homologando-a.
- com a sentença de homologação da proposta de parcelamento operam-se os efeitos do benefício, como a suspensão
das ações e das execuções e a novação das obrigações compreendidas no plano especial.
- apesar da LFRE não fazer menção expressa, se a proposta não tiver cumprimento conforme o prometido, o juiz pode
operar a convolação da recuperação em falência.
- essa modalidade de recuperação judicial não acarreta a suspensão do lapso prescricional das ações e execuções por
créditos nela não compreendidos.
- atenção1: no parágrafo único do art. 72 LFRE, apesar de constar remissão ao art. 83, o correto seria o art. 41.
- atenção2: a remuneração do administrador judicial não pode ser superior a 2% do valor devido aos credores na
recuperação ou do valor da venda dos ativos na falência na microempresa ou pequeno porte.
23 Recuperação Extrajudicial
- tanto a recuperação judicial como extrajudicial visam ao exaurimento dos meios instrumentais para se evitar a
falência da empresa em crise, mantendo os empregos, a arrecadação, fornecedores e o nome com o respectivo conceito
no mercado.
- a LFRE entende válida a realização de acordos privados (pactos inominados) entre o devedor e seus credores, os
quais poderão estipular qualquer objeto lícito para esses fins, visando evitar a quebra e criando condições favoráveis à
reestruturação da empresa.
- a repactuação pode ser global ou parcial das dívidas, podendo adotar as formas de moratória (dilação do prazo de
pagamento), de remissão parcial dos débitos (redução do montante a ser pago), de alteração das condições de
pagamento ou de garantias, dentre outras.
- para que produzam seus efeitos entre as partes, os pactos privados não precisam de interferência estatal, bastando
que o devedor tenha obtido o consenso entre seus credores. Seu alcance é individual e só obriga os seus signatários
(princípio da relatividade - os efeitos dos contratos se limitam às partes que o firmaram, salvo disposição legal
expressa).
- o pacto pode ser levado à homologação judicial, trazendo vantagens a justificá-la, conferindo maior eficácia ao
exercício de determinados direitos do pacto resultantes, e propiciando uma maior extensão de seus efeitos,
abrangendo, assim, certos credores, ainda que não signatários do respectivo instrumento.
- a LFRE se ocupa em disciplinar apenas o plano de recuperação extrajudicial que levado à homologação (art. 167
LFRE). Note-se que, além do acordo celebrado e homologado nos termos da LFRE, o devedor poderá celebrar
acordos paralelos com alguns credores.
- a recuperação extrajudicial possui as seguintes subespécies:
(a) homologável: acordo celebrado entre credores e devedor com a finalidade de amenizar a crise
econômico/financeira pela qual o devedor vem atravessando e homologado pelo Poder Judiciário; e
(b) não homologável: acordos privados entre o devedor e seus credores, sem a necessidade de homologação pelo
Poder Judiciário.
- resumindo: o devedor pode diretamente acordar com seus credores, em todo ou em parte, novas condições para o
cumprimento de suas obrigações, buscando com o procedimento uma solução negociada para a crise econômico-
financeira. Existe a possibilidade do devedor requerer a homologação judicial, ocasião em que deverá observar os
requisitos de ordem geral que a lei estabelece para a recuperação extrajudicial (arts. 161 e 162 LFRE). Caso pretenda
estender os efeitos do acordo a credores que constem do plano, mas que não assinaram o instrumento, a homologação
se faz necessária, impondo-se o atendimento aos requisitos gerais (art. 161 LFRE) e a certas condições especiais (art.
163 LFRE).
- vantagens da homologação judicial: 3 aspectos derivados do ato judicial:
(a) a constituição do título executivo judicial (art. 515 III do CPC) a partir da sentença de homologação do plano de
recuperação extrajudicial apresentado (art. 161 par. 6o LFRE);
(b) a impossibilidade, após a distribuição do pedido de homologação, de o credor signatário do plano desistir de sua
adesão sem a anuência expressa de todos aqueles que o subscreveram (art. 161 par. 5o LFRE);
(c) possibilidade de alienação em hasta pública de filiais ou unidades produtivas isoladas, quando do acordo constar a
providência (art. 166 LFRE).
- condições ou requisitos: o preenchimento das condições legais e a observância dos demais regramentos exigidos
pela LFRE para a recuperação extrajudicial se aplicam somente para os acordos que serão levados à homologação
judicial. O art. 161 da LFRE remete para o art. 48 LFRE, indicando requisitos que devem ser preenchidos pelo
devedor que pretende propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial. Os requisitos de ordem
geral para que o plano de recuperação extrajudicial possa ser homologado em juízo se subdividem em subjetivos e
objetivos
- requisitos subjetivos para a homologação da recuperação extrajudicial: (arts. 161 e outros) são relacionados à
pessoa do devedor e se destinam a apenas ao devedor que precisa ou pretende levar o acordo à homologação judicial.
Requisitos:
a) atender às mesmas condições estabelecidas pela LFRE para o acesso à recuperação judicial: no momento do
pedido, exercer regularmente sua atividade empresarial há mais de 2 anos; não ser falido ou, se o foi, terem sido
declaradas extintas suas obrigações por sentença transitada em julgado; não ter sido condenado ou não ter, como
administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por crime falimentar (art.48, caput e incisos I e IV LFRE e
caput do art. 161 LFRE);
b) não haver nenhum pedido de recuperação judicial dele (não pode ter pendente pedido de recuperação judicial) (art.
161, par 3º primeira parte LFRE);
c) não ter obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2
anos (art. 161, par. 3o, segunda parte).
- requisitos objetivos para a homologação da recuperação extrajudicial: dizem respeito ao conteúdo do próprio
plano de recuperação acordado entre o devedor e os credores envolvidos (ou parte significativa deles). Para ter direito
à homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial, não basta o atendimento aos requisitos subjetivos. A
LFRE também exige 5 os requisitos objetivos dispersos no capítulo referente à recuperação extrajudicial:
a) não pode ser previsto o pagamento antecipado de nenhuma dívida (art. 161, par. 2o , primeira parte LFRE)
(requisito objetivo geral);
b) o plano não poderá contemplar tratamento desfavorável aos credores que não estejam sujeitos ao plano. Também,
todos os credores sujeitos ao plano devem receber tratamento paritário, vedado o favorecimento de alguns ou o
desfavorecimento apenas de parte deles (art. 161, par 2o, segunda parte LFRE) (requisito objetivo geral) ;
c) o plano obrigará, ou seja, só pode abranger os créditos constituídos até a data o pedido de homologação (art. 163,
par. 1o parte final) (requisito objetivo especial) ;
d) o plano só pode contemplar a alienação de bem gravado (objeto de garantia real), a supressão ou substituição de
garantia real se o credor garantido concordar expressamente com a medida no plano (hipotecário, pignoratício etc.)
(art. 163, par. 4o LFRE) (requisito objetivo especial);
e) o plano não pode estabelecer o afastamento da variação cambial nos créditos em moeda estrangeira sem contar com
a anuência expressa do respectivo credor no plano (art. 163, par. 5.o LFRE) (requisito objetivo especial) ;
- desistência de adesão ao plano de recuperação extrajudicial: o credor que aderiu ao plano de recuperação
extrajudicial não pode dele desistir após a distribuição do pedido de homologação judicial, a menos que os demais
signatários concordem. A anuência do devedor e de todos os credores aderentes é condição para a existência, validade
e eficácia do arrependimento porque o plano de recuperação extrajudicial deve sempre ser considerado em sua
integralidade.
- credores sujeitos à recuperação extrajudicial: o plano de recuperação somente poderá abranger titulares de
créditos já constituídos à data do pedido de homologação (art. 163, parágrafo 1º, in fine, LFRE). Poderão ser atingidos
pelo plano os credores com garantia real, com privilégio especial e geral, quirografários e subordinados.
- credores excluídos (preservados) da recuperação extrajudicial: alguns credores são impedidos legalmente de
integrar plano de recuperação extrajudicial homologável. Não é permitido a eles renegociar os seus créditos nas
condições que a lei prevê para a recuperação extrajudicial passível de homologação judicial. Assim, eles não terão
seus créditos atingidos pela recuperação extrajudicial (arts. 49, §3o, 86, inciso II do caput e 161 par. 1o da LFRE).
Para eles, a renegociação se faz exclusivamente por regras próprias da disciplina legal do crédito em questão ou,
quando inexistentes, pelas do direito das obrigações. Todos os demais credores se submetem ao regime legal de
recuperação extrajudicial. Os credores preservados da recuperação extrajudicial são:
a) Credores trabalhistas/acidente de trabalho: tanto os créditos derivados da relação empregatícia como os de
acidente de trabalho não podem ser alterados por meio de recuperação extrajudicial.
b) Créditos tributários: em razão do regime de direito público disciplinar dessa categoria de crédito (princípio da
indisponibilidade do interesse público), a renegociação pela autoridade tributária no plano da recuperação
extrajudicial é inadmissível. O credor tributário só mediante lei pode conceder remissão ou anistia, ou prorrogar o
vencimento da obrigação do contribuinte.
c) Proprietário fiduciário, arrendador mercantil, vendedor ou promitente vendedor de imóvel por contrato
irrevogável e vendedor titular de reserva de domínio: são os credores identificados no art. 49, par. 3o LFRE.
Eles até podem renegociar com o devedor em crise, com o objetivo de contribuir para a superação desta. A
exclusão significa apenas a impossibilidade de a homologação da recuperação extrajudicial atingir seus créditos,
mesmo quando o plano tiver sido aprovado por 3/5 dos credores.
d) Instituição financeira credora por adiantamento ao exportador: os bancos, pelos créditos derivados do
adiantamento ao exportador de contrato de câmbio, estão preservados da recuperação extrajudicial. Assim, não há
hipótese em que seu crédito seja alterado contra a sua vontade, mesmo que a alteração fosse essencial à superação
da crise do devedor.
- homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial
- para que os pactos privados produzam seus efeitos entre as partes que o celebram não há necessidade de chancela
judicial, bastando, para a eficácia pretendida, que o devedor obtenha o consenso com os seus credores (alcance é
individual, obriga apenas os signatários). Mas nada impede que o acordo seja levado à homologação judicial, que
implica em certas vantagens a justificá-la.
- a LFRE prevê 2 hipóteses de homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial:
a) a facultativa (art. 162 da LFRE): é a homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial que
conta com a adesão da totalidade dos credores atingidos pelas medidas nele previstas. Por isso, a homologação
judicial não é obrigatória para a sua implementação. Todos já se encontram obrigados nos termos do plano por
força da adesão resultante de sua manifestação de vontade.
- há 2 motivos que podem justificar a homologação facultativa: revestir o ato de maior solenidade, para chamar
a atenção das partes para a sua importância; e possibilitar a alienação por hasta judicial de filiais ou unidades
produtivas isoladas quando prevista a medida (art. 166 LFRE).
b) a obrigatória (art. 163 da LFRE): é homologação em juízo de plano de recuperação extrajudicial (acordo
que envolve apenas os credores que a ele aderiram), objetivando vincular todos os credores pelo plano
abrangidos, ainda que não o tenham assinado. Com a homologação judicial do plano de recuperação estendem-
se os efeitos do plano aos minoritários nele referidos, suprindo-se, desse modo, a necessidade de sua adesão
voluntária.
- para ser homologado com base no art. 163 LFRE, o devedor deverá observar outras condições, de natureza
especial, além das condições gerais previstas no do art. 161 LFRE
- o plano de recuperação extrajudicial deve ter a assinatura de pelo menos 3/5 de todos os créditos de cada
espécie por ele abrangidos. Por "espécies" de crédito se deve entender, para os fins de aplicação desse
dispositivo, as classes referidas nos incisos II, IV, V, VI e VIII do art. 83 LFRE.
- na aferição do elevado grau de adesão ao plano de recuperação extrajudicial, só tem relevância considerar os
créditos alcançados pelo plano (art. 163, par. 2o LFRE), não se considerando aqueles por ele não alcançados, os
quais não poderão ter seus valores ou condições originais de pagamento alteradas.
- instrução do pedido (petição inicial)
- para o pedido de homologação facultativa (hipótese do art. 162 LFRE): a instrução é mais simples, considerando
que os seus efeitos têm menor alcance (ficarão restritos às partes que o celebraram). O devedor deve juntar ao seu
requerimento a justificativa (justificação) e o instrumento de recuperação extrajudicial assinado pelos credores que a
ele aderiram, devendo, ainda, observar as condições do art. 161 LFRE. Note-se que o plano já conta com a adesão de
todos os credores por ele alcançados e a homologação não lhes afeta os direitos creditórios.
- para o pedido de homologação obrigatória (hipótese do art. 163 LFRE): pela sua especialidade e pelo seu maior
alcance dos efeitos (estarão obrigados todos os credores por ele abrangidos, ainda que não signatários, desde que
atingido o percentual de aprovação pela maioria dos credores previsto em lei), esta instrução é mais complexa e
diferenciada. Para que possa ser homologado em juízo, além do requerimento, deve-se apresentar em juízo:
a) a justificativa do acordo (plano) celebrado;
b) seu instrumento que traduza os termos e as condições, com as assinaturas de credores que representem mais
de três quintos de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos (maioria aderente);
c) exposição de sua situação patrimonial;
d) demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as levantadas especialmente para instruir o
pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente
de: balanço patrimonial; demonstração de resultados acumulados; demonstração do resultado desde o último
exercício social; e relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
e) demonstrações contábeis referentes ao período desde o fim do último exercício e a data do plano, levantadas
especialmente para o pedido;
f) documento comprobatório da outorga do poder para novar ou transigir para os subscritores do plano em nome
dos credores (exemplo: ato de investidura do administrador de sociedade empresária acompanhado do estatuto
ou contrato social, instrumento de procuração com poderes específicos) ;
g) relação nominal de todos os credores, com endereço, classificação e valor atualizado do crédito, além da
origem, vencimento e remissão ao seu registro contábil de cada um (art. 163 par. 6o LFRE) .
- processamento do pedido de homologação facultativa ou obrigatória
- art. 164 da LFRE
- os pedidos de homologação facultativa e obrigatória seguem o mesmo procedimento.
- recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial, em quaisquer de suas modalidades (arts.
162 ou 163 LFRE), o juiz determina a publicação de edital convocando todos os credores do devedor (não apenas
aqueles a ele sujeitos ou por ele abrangidos, conforme caput art. 164 LFRE) para que apresentem eventuais
impugnações no prazo 30 dias, seguintes à publicação do edital.
- a convocação é feita por publicação de edital no órgão oficial e jornal de grande circulação nacional ou das
localidades da sede e das filiais do devedor oficial,
- na fluência do prazo de impugnação, o devedor requerente deve provar que comunicou, por carta, todos os credores
que ficarão sujeitos ao plano domiciliados ou sediados no Brasil, informando a distribuição do pedido de
homologação judicial, as condições do plano apresentado e o prazo para a impugnação (art. 164 par. 1o LFRE).
- oposição dos credores
- a impugnação deve ser instruída com a prova do crédito do impugnante e só pode versar sobre um dos seguintes
fundamentos/matérias (art. 164 par. 3o LFRE):
a) não preenchimento do percentual mínimo de 60% (3/5) de todos os créditos de cada espécie de crédito por
ele abrangidos (previsto no caput do art. 163 LFRE), quando nele o requerimento estiver arrimado.
b) prática de qualquer dos atos de falência previstos no art. 94, III LFRE
c) prática de ato que terá sua ineficácia subjetivamente suspensa, com base no art. 130 da LFRE, se vier a ser
decretada a quebra do requerente (realização de atos com a intenção prejudicar credores, provando-se o conluio
fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratou, e o efetivo prejuízo do ato advindo para os
credores (art. 130 LFRE);
d) desatendimento a requisito subjetivo ou objetivo (condições legais) para a homologação do plano;
e) descumprimento de qualquer outra exigência legal para a homologação do plano (art. 164, par. 3o LFRE)
- para alguns autores, o conteúdo da oposição ao plano admite mais 2 matérias: a simulação de créditos e o vício de
representação dos credores que subscreverem o plano (art. 164 par. 6o LFRE).
- apresentada a impugnação por qualquer dos legitimados, o requerente será intimado para se manifestar em 5 dias
(art. 164 par. 4o LFRE). Após, os autos serão conclusos ao juiz para a apreciação das impugnações e proferir decisão
em igual prazo de 5 dias (deferir a petição inicial e homologar o plano, acolher a impugnação e indeferir a
homologação).
- o plano será homologado por sentença se o juiz se convencer de que sua concretização não implica a prática de atos
fraudulentos, com a intenção de prejudicar credores (art. 130 LFRE), e desde que inexistam outras irregularidades (art.
164 par. 5o LFRE). Se não forem preenchidas condições legais ou se houver qualquer vício que macule o acordo, o
juiz pode conhecer de ofício para embasar a rejeição do plano. Da mesma forma, havendo prova de simulação de
créditos ou vício de representação dos credores que subscreveram o plano, a homologação também será indeferida
(art. 164 par. 6o LFRE). Note-se que, mesmo que inexistam impugnações, o juiz pode rejeitar o pedido.
- da sentença, em qualquer caso, cabe apelação sem efeito suspensivo (art. 164 par. 7o LFRE), que poderá ser
interposta pelo devedor ou pelo credor impugnante.
- atenção: o indeferimento da homologação do plano apresentado não implica a decretação da falência, podendo o
devedor apresentar um novo pedido, desde que cumpridas as formalidades legais, com a superação do fato que
ensejou o indeferimento (art. 164 par. 8o LFRE).
- efeitos da homologação
- art. 165. LFRE
- o plano de recuperação extrajudicial terá eficácia após o trânsito em julgado da sentença que o homologar, sendo
lícito que nele se estabeleça a produção de efeitos anteriores ao ato, desde que tais efeitos se limitem à modificação do
valor ou da forma de pagamento dos credores signatários. Para as demais alterações e para os créditos de quem não
aderiu ao plano, os efeitos são posteriores à homologação.
- rejeitada a homologação por qualquer motivo, o credor que havia concordado com a mudança do valor ou da forma
de pagamento readquire seus direitos anteriores à adesão, nas condições originais, devolvendo-se a eles o direito de
exigir seus créditos nas condições originais, com a dedução dos valores efetiva e comprovadamente pagos.
- o requerimento de homologação do plano, bem como o seu acolhimento, não acarretará suspensão de direitos, ações
ou execuções, nem prejudicará pedido de falência formulado pelos credores por ele não alcançados (art. 161 par. 4o
LFRE), os quais estarão imunes a seus efeitos, não sofrendo quaisquer restrições que dele possam decorrer.
- alienação em hasta judicial: se o plano de recuperação extrajudicial prevê e é homologada a venda judicial de filiais
ou unidades produtivas isoladas, essa venda se fará por hasta, nos moldes estabelecidos para a realização do ativo dos
falidos (leilão, propostas ou pregão). (art. 166. LFRE)
24 Crimes Falimentares
Fraude a Credores
Art. 168. LFRE Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a
recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Aumento da pena
o
§ 1 A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:
I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;
II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar, ou altera escrituração ou balanço
verdadeiros;
III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou sistema informatizado;
IV – simula a composição do capital social;
V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração contábil obrigatórios.
Contabilidade paralela
o
§ 2 A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valores paralelamente à
contabilidade exigida pela legislação.
Concurso de pessoas
o
§ 3 Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outros profissionais que, de qualquer modo,
concorrerem para as condutas criminosas descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade.
Redução ou substituição da pena
o
§ 4 Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condutas
fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas
penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.
Violação de sigilo empresarial
Art. 169. LFRE Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços,
contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Divulgação de informações falsas
Art. 170 LFRE. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à
falência ou de obter vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Indução a erro
Art. 171. LFRE Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou de
recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia-geral de credores, o Comitê
ou o administrador judicial:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Favorecimento de credores
Art. 172. LFRE Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano de
recuperação extrajudicial, ato de disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais
credores em prejuízo dos demais:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa beneficiar-se de ato previsto no caput deste artigo.
Desvio, ocultação ou apropriação de bens
Art. 173 LFRE. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob recuperação judicial ou à massa falida, inclusive por
meio da aquisição por interposta pessoa:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens
Art. 174 LFRE. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o
adquira, receba ou use:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Habilitação ilegal de crédito
Art. 175 LFRE. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos
ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou simulado:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Exercício ilegal de atividade
Art. 176 LFRE. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, nos termos desta Lei:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Violação de impedimento
Art. 177 LFRE Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o
escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial,
ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Omissão dos documentos contábeis obrigatórios
Art. 178 LFRE. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a
recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

- a expressão “crime falimentar” é usada pela doutrina para os crimes tipificados pela LFRE, apesar da norma não
utilizá-la.
- os crimes previstos na LFRE são de ação penal pública, admitindo-se a ação penal privada subsidiária no prazo
decadencial de 6 meses (art. 184 LFRE).
- as condições objetivas de punibilidade são a sentença declaratória de falência, a concessão da recuperação judicial e
a homologação da recuperação extrajudicial.
- independente de uma pré-investigação feita pelo administrador judicial, que é enviada ao MP (art. 22 III e LFRE), o
MP, intimado da sentença de decretação da falência ou da concessão da recuperação judicial, pode promover de
imediato a ação penal ou requisitar a instauração de inquérito policial.
- para alguns autores, a norma do art. 183 da LFRE é inconstitucional, já que a CF estabelece que cabe à lei estadual
de organização judiciária definir a competência para a ação penal por crimes falimentares.
- os efeitos da condenação por crimes falimentares (art. 181 LFRE) implicam restrições ao condenado enquanto não
for penalmente reabilitado.
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