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Tratamento Da Obesidade
Tratamento Da Obesidade
APRESENTAÇÃO
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
INTRODUÇÃO
A obesidade pode ter início em qualquer época da vida, mas seu aparecimento é comum na infância
e na adolescência. A obesidade, um dos problemas de saúde mais frequentes entre os transtornos
nutricionais infantis, é considerada um grave problema de saúde pública. Existe recentemente um
grande interesse de pesquisadores e clínicos nos aspectos psicológicos da obesidade,
especificamente, na forma como ela afeta crianças e adolescentes. Nesse sentido, este Caderno irá
abordar os principais aspectos psicológicos da obesidade, tanto em crianças quanto em adultos.
OBJETIVOS
(DALLMAN, M. F. (2010). Stress-induced obesity and the emotional nervous system. Trends
Endocrinol. Metab. 21(3):159-165)
A participação em um tratamento para emagrecer pode ser um tipo de estresse psicológico,
enquanto que procedimentos para a redução de peso podem ocasionar níveis clínicos de depressão
provocados pelos esforços de resistir ao alimento.
(ADES, L.; KERBAUYK, R. R. (2002). Obesity: Reality and Questions. Psicologia USP, 13 (1), 197 -216)
Ser obeso ou mesmo estar acima do peso é uma condição altamente estigmatizada na sociedade.
As pessoas obesas que sofrem estigma pela sua condição lidam constantemente com reações de
hostilidade por parte dos outros. O estresse produzido por antecipação dessas reações adversas
pode levar à depressão.
(MacLean, L. et al. (2009) Obesity, stigma and public health planning. Health Promot Int. 24(1):88-
93).
Em crianças obesas, o comportamento alimentar da família tem um papel importante no que diz
respeito ao aparecimento e à manutenção do excesso de peso e da obesidade. As crianças
aprendem por meio da observação e da imitação, bem como pela modelagem do comportamento
de seus pais.
Buzzo e Kerbauy (1995) procuraram esclarecer, em estudo com cinco mães de classe média, com
filhos de 6 a 8 anos, quais os fatores que influenciam a escolha e a instalação das regras alimentares
que a mãe ensina aos filhos. Observaram: (a) uma incoerência entre o que a mãe faz e o que diz em
relação a ela e a própria criança, (b) o conceito de obesidade é negativo, mas quanto ao bebê, há
menor ênfase no aspecto aversivo, (c) a história alimentar de uma mãe é repetida no filho e duas
mães a reformularam e corrigiram, (d) as orientações médicas quanto à alimentação infantil não
são seguidas por todos. Uma das crianças era obesa e as demais tinham peso normal. Concluiu-se
pela necessidade de programas preventivos com as mães para ensiná-las a lidar com a sua história
alimentar com ênfase na quantidade, na qualidade e no horário e aprender conceitos e
comportamentos relacionados à alimentação. Esses resultados podem ser referendados pelo
trabalho de Epstein, Valoski, Wing, e McCurley (1994) com crianças e suas famílias. Há risco de uma
criança obesa tornar-se um adulto obeso e este risco aumenta com a idade. Há também evidências
de que quando a perda de peso é na infância e adolescência esse ganho permanece.
(ADES, L., & KERBAUYK, R. R. (2002). Obesity: Reality and Questions. Psicologia USP, 13 (1), 197-
216).
Entre tais grupos vulneráveis para o desenvolvimento da depressão infantil, encontra-se também o
das crianças obesas. A obesidade muitas vezes acarreta dificuldades comportamentais, interferindo,
assim, no relacionamento social, familiar e acadêmico da criança. Para avaliar a depressão infantil,
são utilizados instrumentos para se quantificar a intensidade e frequência dos sintomas depressivos.
Um instrumento de autorrelato muito utilizado é o Inventário de Depressão Infantil (Children’s
Depression Inventory – CDI), constituído por uma escala abordando vários itens que avaliam sinais
cognitivos, afetivos e comportamentais de depressão em crianças, como tristeza, perda de
interesse, choro frequente, desesperança, culpa, baixa autoestima, entre outros.
Nota-se a necessidade e a importância de estudos com a população infantil brasileira que verifiquem
a presença de sintomas depressivos entre crianças obesas e da elaboração de instrumentos
específicos para a cultura brasileira, que avaliem adequadamente tais sintomas. Faz-se necessário
ainda salientar que os transtornos depressivos constituem uma série de alterações
comportamentais, biológicas, cognitivas, emocionais e somáticas, que geralmente associam-se a
outras queixas, como, por exemplo, a ansiedade.
A alimentação induzida pelo estresse também é observada em mulheres com peso normal que
realizam regime alimentar. Como tal restrição requer um grande esforço emocional, torna-se por si
só um tipo de estresse crônico. Alguns indivíduos parecem destinados a enfrentar uma batalha para
emagrecer. Esse processo de luta pode produzir excessiva preocupação com alimentação, peso,
autocondenação, ansiedade e depressão, bem como repetidos ciclos de perda e recuperação de
peso.
O estresse pode ser definido como (1) a soma de respostas físicas e mentais causadas por
determinados estímulos externos (estressores) e que permitem ao indivíduo (humano ou animal)
superar determinadas exigências do meio-ambiente e (2) o desgaste físico e mental causado por
esse processo. O estresse pode ser causado pela mudança brusca no estilo de vida e pela exposição
a um determinado ambiente, que leva a pessoa a sentir um determinado tipo de angústia. A
síndrome geral de adaptação, uma teoria inicial de estresse proposta por Seyle (1936), diz que o
organismo reage à percepção de um estressor com uma reação de adaptação. Esse processo
atravessa as três fases a seguir.
As bases para comportamentos que levam à obesidade estão sendo entendidas. Elas incluem
circuitos cerebrais relacionados à aprendizagem e à memória de recompensa, bem como à
formação de hábitos e à diminuição do controle cognitivo.
Situações percebidas como ameaça desencadeiam a resposta do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal,
que regula o fator de liberação de corticotropina e a liberação de cortisol, um hormônio do estresse
importante. O cortisol aumenta os níveis de adiposidade central e níveis de leptina. A leptina está
envolvida na regulação da saciedade, sugerindo que os níveis elevados de cortisol podem perturbar
o sistema de leptina e, assim, aumentar o risco de obesidade. Essas reações a estressores têm sido
associadas ao ganho de peso por meio de alterações metabólicas e de comportamentos adaptativos
de enfrentamento, como a falta de exercício e o excesso de ingestão.
Além disso, tem-se constatado que a realização de dietas e programas de redução de peso podem
levar ao aumento de ansiedade e, em longo prazo, à depressão em indivíduos obesos. Assim,
ansiedade, depressão e estresse são aspectos emocionais identificados como causadores ou como
consequências da condição de obesidade.
Sugerimos que conheça a série de vídeos do Programa Globo Repórter, onde são abordadas diversas
dimensões da obesidade, incluindo aspectos emocionais.
marcoa131952@hotmail.com
O ser gordo ou magro na sociedade atual é veiculado pela mídia, na maior parte das vezes, sem
relação com a saúde. O ideal é o corpo magro, sem que se levem em conta diferenças genéticas. O
ser gordo pode também significar falta de controle de impulsos, preguiça, ser relaxado. Com a
transmissão desses conceitos é evidente que o sobrepeso pode ser um fator de sofrimento para
aqueles que não alcançaram um corpo perfeito.
(ADES, L.; KERBAUYK, R. R. (2002). Obesity: Reality and Questions. Psicologia USP, 13 (1), 197 -216).
A cultura ocidental divulga uma imagem de corpo inatingível para a maioria dos indivíduos, e muitos
passam a viver uma grande discrepância entre o corpo real e o corpo ideal. Tal discrepância vem
sendo associada a (1) um decréscimo na autoestima, (2) a distorções na imagem corporal e (3) a
depressão. A experiência de “sentir-se gordo” mesmo quando o peso corporal real não corresponde
a tal sentimento, parece ser um sentimento compartilhado socialmente.
A imagem corporal, não é unicamente a forma como os outros nos veem, porém, é a concepção que
nós temos sobre nossa imagem. A autopercepção corporal, as atitudes, as crenças, as práticas, as
representações, os sentimentos, as sensações e os comportamentos relativos ao corpo são apenas
alguns dos aspectos envolvidos no fenômeno da imagem corporal.
Nesta unidade, iremos discutir a relação entre imagem corporal, autoestima e obesidade em
diferentes estágios do desenvolvimento.
A imagem visual é um processo que envolve não apenas representações visuais, mas também outros
elementos subjetivos. Toda vez que uma imagem é lembrada, pensamentos e sentimentos
relacionados podem afetar a imagem resultante.
Depoimentos
Sueli (16 anos) acha que a imagem sem dúvida é um princípio de inclusão ou de exclusão. Para ser
bem-aceita nos relacionamentos, é fundamental cuidar tão bem do corpo quanto se cuida da alma:
– Eu li numa revista sobre anorexia e fiquei com vontade de ter para ser muito magra... li aquela
reportagem e acho que inconscientemente eu desenvolvi a anorexia. Eu lia muito Boa Forma, e, se
você for ver no armário quanta Boa Forma tem aí... E isso é muito ruim sabe? As revistas fazem
muito mal... Eu acho que comecei a me sentir mais feia depois que comecei a ler...(Sueli)
– Ahhhh... mas vai ver uma Daniela Cicarelli, sei lá, uma dessas modelos aí, todo mundo baba e você
vai se sentir pior. Na verdade se você tem cinquenta e oito quilos pensa “nossa sou uma baleia!”.
Nossa eu acho revista uma coisa ridícula, parece que fazem pensando para deixar a pessoa mal! E
eu acho que a imagem que você passa para os outros importa muito!” (Sueli).
Dinora (26 anos), que tem uma história de sobrepeso anterior à anorexia, conta que sentia-se
socialmente discriminada pelo excesso de peso. Seu depoimento é marcadamente entoado por
grande sofrimento subjetivo, e, várias vezes, atribui como causa de sua doença o fato do sobrepeso
ter se constituído uma marca social, um tipo de atributo depreciativo imputado à sua pessoa.
Quando eu passei do meu peso, eles começaram a me chamar de gorda... então eu tentei abaixar o
meu peso e fui deixando de comer... Sempre me lembrava do tempo que me chamavam de gorda,
isso não saía da minha cabeça... Isso me levou a... Quando as pessoas me chamavam de gorda eu
pensava que tinha que fazer regime... todo mundo tirava sarro... parecia que todo mundo olhava
pra mim e me achava gorda (chora e faz um grande silêncio).
É exatamente o valor que o atributo físico adquire na vida social do indivíduo que pode estigmatizá-
lo. Dinora, em algum momento, assumiu como sua imagem real, essa imagem disforme e
desvalorizada de indivíduo, e simbolicamente parece ser exatamente dessa “gordura” que ela tenta
se livrar.
Em homens, e mais ainda em mulheres, a imagem corporal é um tema relevante associado ao peso
corporal, ao estresse e, por sua vez, ao comprometimento da qualidade de vida. Diversos estudos
relacionam as desordens alimentares à percepção da imagem corporal, à autoestima e à satisfação
com a própria aparência física. Os estudos sobre distorção e insatisfação com a imagem corporal
focalizam-se principalmente em populações portadoras de transtornos alimentares como anorexia
nervosa e bulimia, sendo recente a observação desse tipo de distúrbio em populações isentas desses
transtornos, mas que têm desenvolvido hábitos alimentares que colocam em risco sua saúde. Na
unidade III serão discutidos, de forma mais detalhada, os principais aspectos dos transtornos
alimentares.
Pessoas anoréxicas experimentam uma excessiva inquietação com algum aspecto de sua aparência,
que pode ser irreal ou real (no caso de ser real, é desproporcional), e que gera grande sofrimento.
O pensamento constante do medo de engordar não é aliviado pelo emagrecimento, mas, ao
contrário, frequentemente, na medida em que o sujeito diminui o peso, aumenta o seu medo de
engordar. Esses indivíduos apresentam uma distorção da sua imagem corporal de tal forma que,
mesmo extremamente magros, podem avaliar-se “gordos”, ou ainda, sentirem-se magros, mas
permanecendo preocupados com partes “gordas” de seu corpo.
Tô me sentindo gorda, mas eu já emagreço! – “Minha barriga tá grande!”; nunca tive barriga,
imagine se naquela época minha barriga ia estar grande! Daí eu via pelanca aqui (mostra os dedos),
via pelanca na mão, era uma coisa absurda assim, tudo tinha gordura... E nada era o suficiente...
Mas eu me olhava muito no espelho, muito, todo dia, toda hora, né; então tinha aquela obsessão:
qualquer coisa que parecesse fora do lugar, eu já me sentia gorda, né, falava: – “Ai, que que é isso?”,
tipo “Uma gordurinha, vou emagrecer mais!”, entendeu, “Vô emagrecer pra tirar isso aqui!”. Tinha
o prazer físico de se tocar, entendeu? De sentir as costelinhas aparecendo, de ver os buracos do
corpo aparecendo, afundando mais, então essa era uma sensação corporal que era agradável sim.
Por mim eu emagreceria em uma semana, emagreceria cinco quilos na outra semana, mais cinco na
outra, mais cinco na outra, mais cinco... até zerar, entendeu, virar uma formiguinha! (Depoimento
de Kely, 23 anos, sobre o período em que esteve doente).
Em um trabalho recente, Griffiths, Parsons e Hill (2010) realizaram uma revisão dos artigos
publicados a partir de 1994 que versavam sobre obesidade, autoestima e qualidade de vida em
crianças e adolescentes. Os autores concluíram que jovens obesos apresentam baixa autoestima e
comprometimento da qualidade de vida, especificamente na percepção da sua aparência física, da
sua competência atlética e do seu desempenho social.
O objetivo desse estudo foi avaliar a percepção da imagem corporal, o comportamento alimentar e
o estado nutricional de estudantes de cursos das áreas da saúde e humanas de uma universidade
de Ribeirão Preto, Brasil, para comparação entre estas.
A partir dos conceitos aprendidos nesta unidade, elabore um texto que discuta por que os adultos
obesos parecem ter maiores alterações psicológicas, relacionadas com imagem corporal e
autoestima, quando comparados com crianças obesas.
DIAGNÓSTICO
Anorexia e bulimia nervosa são duas das principais patologias que constituem os transtornos da
alimentação. Segundo o manual para o diagnóstico dos transtornos mentais DSM-IV-TR (APA, 2000),
essas duas patologias apresentaram um maior número de incidência durante as últimas décadas. A
tabela 1 ilustra a presença/ausência de critérios diagnósticos em transtornos alimentares.
anorexia de tipo restritivo, que descreve quadros clínicos nos quais se consegue a perda de peso
fazendo dieta, jejuando ou realizando exercícios intensos, e nunca por meio de purgantes;
1. Existência de ataques de gula ou episódios de ingestão voraz, como característica principal dessa
patologia. Nesse tipo de episódio, diferentemente dos episódios de superingestão, presentes com
frequência em pacientes obesos, pacientes diabéticos e população normal, existe uma sensação de
perda de controle e de culpa após estes.
2. Atitudes negativas para com a própria imagem e peso. Essa opinião negativa estará influindo,
como no caso da anorexia nervosa, no comportamento alimentar e no estado de humor do
paciente.
tipo purgativo:
consiste na autopercepção consciente das dimensões do corpo: postura, movimentos, forma e toda
a superfície corporal acessível aos sentidos. Caracteriza-se por superestimar (no caso da anorexia)
ou subestimar (no caso da obesidade) a superfície do corpo e suas dimensões.
refere-se a uma internalização de modelos de subjetivação e ideais de corpo prescritos pela cultura.
Estamos diante de uma distorção de tipo social quando existe uma expectativa de emagrecimento
irreal, quantitativa e qualitativamente. Esta é uma dimensão de difícil diagnóstico, tendo em vista o
desejo de emagrecimento irrealista culturalmente reforçado nos dias de hoje.
O peso e a forma do corpo influenciam fortemente a autoavaliação dos sujeitos acometidos por
anorexia nervosa e bulimia nervosa, ou seja, este é entendido e descrito como um critério
diagnóstico comum nos dois grupos clínicos. Porém, estudos recentes mostram que existem
diferenças significativas na distorção da imagem corporal se comparamos as duas entidades
nosológicas.
Na anorexia nervosa a distorção autoperceptiva sobre o peso e a forma do corpo é mais grave do
que no caso da bulimia nervosa e pode variar no que se refere ao conteúdo do conflito. O paciente
anoréxico pode tanto negar o baixo peso, ou seja, não perceber nenhum tipo de problema com a
forma do seu corpo, bem como superestimar a forma ou o peso corporal, como, por exemplo, julgar-
se ou perceber-se mais gordo do que de fato está.
Pacientes bulímicos apresentam maior motivação para tratamento, o que se deve, em parte, à
maior insatisfação com o peso e a forma do corpo mencionada anteriormente. Essa motivação está
influenciada pelos episódios de compulsão alimentar, pois estes têm consequências diretas na
forma como eles se percebem e avaliam sua imagem corporal. Outro aspecto importante, é que
esses pacientes estão em geral mais distantes do “peso ideal” fantasiosamente estabelecido por
eles. Por esta razão, sentem-se desmotivados com relação a suspender os episódios de compulsão
alimentar.
A experiência subjetiva com relação ao corpo pode ser bastante variável, como o curso da doença.
Sentir -se gordo depende muito do que o paciente conseguiu cumprir em termos de metas e de
rotina alimentar. Por isto, as avaliações sobre a imagem corporal revelam, em geral, a dinâmica da
doença naquele determinado momento. Avaliações sobre a imagem corporal devem ser realizadas
constantemente, pois a ênfase nesta ou naquela dimensão varia drasticamente durante o
tratamento e conforme a evolução do caso.
O estudo das comorbidades dos transtornos alimentares (TA) tem aplicabilidade clínica, visto que a
presença de outros transtornos psiquiátricos pode influenciar o curso dos TA, camuflar a presença
de um TA subjacente, influencia a procura de assistência e ter um impacto no planejamento do
tratamento. Além disso, o estudo das comorbidades pode auxiliar nas pesquisas relacionadas à
etiologia dos transtornos alimentares, porque as comorbidades podem sugerir a presença de
mecanismos patológicos compartilhados.
Transtorno obsessivo-compulsivo
Transtornos de ansiedade
Estão fortemente associados aos transtornos alimentares, sendo muito mais frequentes nestes
pacientes do que na população em geral, relação observada tanto em amostras clínicas quanto na
comunidade. Os transtornos de ansiedade mais frequentes são a fobia social e o transtorno de
ansiedade generalizada. Tanto na anorexia quanto na bulimia, há uma prevalência aumentada de
história de transtorno de ansiedade de separação em relação à população em geral. Tem-se
observado que a frequência de episódios de compulsão alimentar e comportamentos purgativos
em paciente bulímicos é diretamente proporcional à intensidade da sintomatologia ansiosa. Não se
pode afirmar que a diferença na época de surgimento dos sintomas se deva a uma relação causal
específica entre os dois tipos de transtornos, que ambos tenham a mesma base etiológica ou que
essa relação temporal se deva apenas ao curso e à idade de aparecimento de cada tipo de transtorno
separadamente.
Transtornos de humor
Enquanto há uma ideia geral de que a desnutrição e suas complicações clínicas é a maior causa de
morte no curso dos TA (notadamente na anorexia), uma metanálise recente mostra que o suicídio
é a causa mais frequente de morte entre pacientes anoréxicos, com prevalências variando de 1,8 a
7,3%. Os principais fatores de risco para tentativas de suicídio entre os pacientes com anorexia são:
anorexia de tipo purgativo, baixo índice de massa corporal (IMC), sintomas obsessivos, abuso de
drogas e depressão maior.
entes com anorexia são: anorexia de tipo purgativo, baixo índice de massa corporal (IMC), sintomas
obsessivos, abuso de drogas e depressão maior.
Abuso de substâncias
É muito mais frequente nas amostras de pacientes que apresentam episódios de descontrole
alimentar (bulimia nervosa e anorexia nervosa do tipo bulímico) do que em pacientes com
comportamento alimentar puramente restritivo. O abuso e a dependência de álcool e outras drogas
psicoativas estão associados ao comportamento impulsivo.
Estudos clínicos e biológicos sugerem que os transtornos alimentares são expressões fenotípicas de
outros transtornos psiquiátricos e parte de espectros de psicopatologia, em especial dos espectros
dos transtornos do humor e do transtorno obsessivo-compulsivo. Sugerimos que realize a leitura do
artigo “Transtornos alimentares e os espectro do humor e obsesivo-compulsivo”. Disponível em:
<Erro! A referência de hiperlink não é válida.>. Acesso em:15 ago. 2011.
Neste capítulo serão abordados os tipo de intervenção psicológica para o tratamento da obesidade
e dos transtornos alimentares.
Anorexia Nervosa
» monitoração de refeições;
» reestruturação cognitiva;
» resolução de problemas;
Nutricional – psicoeducativo:
mostram-se muito úteis para conseguir uma redução inicial dos sintomas propriamente bulímicos
(ataques de gula e vômitos) e a normalização de uma regularidade em hábitos alimentares tanto
em quantidade quanto em frequência. Porém, mostra-se insuficiente para trabalhar aspectos
substanciais da patologia alimentar, como as cognições irracionais e a resolução inadequada de
problemas.
Terapia interpessoal:
Tratamento cognitivo-comportamental:
este modelo entende que a pressão social por obter um ideal de beleza e de magreza, e os
correspondentes pensamentos e cognições irracionais em relação à própria imagem e alimentação
conduzirão o paciente a hábitos alimentares restritivos, podendo resultar em episódios bulímicos e,
na maioria dos casos, em vômitos. Por isso, tanto o comportamento alimentar quanto os
conseguintes episódios bulímicos e sua conduta compensatória serão vistos como consequências
negativas das cognições irracionais em relação à própria imagem e ao próprio peso.
TRATAMENTO DA OBESIDADE
O programa está dirigido a pessoas que precisem perder menos de 20kg e que não apresentem
nenhuma patologia psicológica significativa nem outros problemas de alimentação relacionados
com a obesidade. Por isso é necessário fazer uma avaliação diferencial, realizada fundamentalmente
por meio de entrevistas clínicas individualizadas.
As sessões dividem-se em duas partes. A primeira parte é realizada pelos terapeutas com todo o
grupo e é estruturada da seguinte forma.
• Pesar todos os participantes e anotar seu peso em uma tabela elaborada para isso, onde
aparecerão recolhidos os nomes dos membros do grupo e o peso que cada um quer atingir
ao final do programa.
Na segunda parte da sessão, divide-se o grupo em dois subgrupos, se houver dois terapeutas. Dessa
forma, é possível atender melhor aos problemas individuais, embora a metodologia de trabalho
continue sendo em grupo. Isto é, os membros do grupo são estimulados a apresentar soluções, eles
mesmos, aos diversos problemas propostos.
1ª sessão
Objetivos a cumprir: conhecer os membros do grupo entre si, criar um bom relacionamento de
trabalho, motivar participantes, informar acerca do problema da obesidade e de que fatores podem
ser mais relevantes em cada caso específico, realizar autorregistros principais.
O primeiro a se discutir no grupo é o peso-meta que cada um quer adquirir; tanto o peso atual
quanto o peso a adquirir são anotados em uma cartolina grande, onde vai sendo registrado, semana
a semana, o peso marcado pela balança. O peso-meta é adaptado a um peso razoável depois de
discutido em grupo.
2ª sessão
Objetivos específicos: começar a avaliar a motivação para perder peso, introduzir em autorregistros
cognitivos, iniciar a análise funcional do problema, avaliar o companheiro.
É importante que os participantes analisem as razões que os levam a perder peso e estejam
motivados para trabalhar para consegui-lo. Se essa meta não é atingida durante o período de
avaliação, é preferível que não passem ao tratamento nesse momento.
Os pacientes aprendem a realizar um novo autorregistro, esse registro é realizado em dois níveis,
sobre as situações que os levam a comer e a beber em excesso e sobre esses comportamentos uma
vez realizados.
3ª sessão
São analisadas as diferentes motivações para entrar no programa, corrigindo rações incorretas,
como as de querer perder peso para agradar outra pessoa, evitar as críticas sociais ou chegar a ser
modelo. Ainda, são corrigidas as expectativas incorretas de custos do programa, como passar muita
fome, sacrificar-se ou, ao contrário, não se esforçar nada. A pessoa tem de querer perder peso por
si mesma, para se sentir melhor e prevenir uma obesidade maior.
4ª sessão
Dentro do controle de estímulos, começa-se com os objetivos de fixar um horário determinado para
comer, fazer de 3 a 4 refeições organizadas, mudar de posição habitual na mesa e comer sempre no
mesmo lugar sem realizar outras atividades. Gera-se motivação para aumentar a atividade física,
discutindo em grupo suas principais vantagens: é saudável para o organismo, aumenta o bem-estar
psíquico, incentiva o acompanhamento do programa aumentando o sentimento de autoeficácia,
diminui o apetite, ajuda a perder peso porque aumenta o gasto energético, aumenta a beleza
corporal fortalecendo a musculatura estriada e mantém as perdas de peso durante mais tempo. As
atividades físicas dessa sessão e das seguintes são registradas previamente como metas a conseguir
durante cada semana, anotando mais tarde, no mesmo formato de registro, se realmente são
realizadas.
Em educação nutricional, discute-se sobre o que são as calorias, o nível ótimo de calorias diário e a
relação que desempenha no aumento de peso.
5ª sessão
No controle, os sujeitos aprendem a discriminar entre fome e apetite, de forma que a ingestão de
alimentos seja controlada pela primeira. Chega-se ao acordo de fazer compras sempre com uma
lista já feita e com o estômago cheio. Também nessa condição devem ser preparados os alimentos,
evitando as frituras e os pré-cozidos. Aprendem a como guardar a comida, de maneira que o acesso
a ela não seja fácil. Ainda, ensina-se os participantes a se autorreforçarem quando conseguirem
atingir essas metas.
6ª sessão
Aumenta-se o tempo de caminhada para uma hora, utilizando os meios necessários para tornar o
hábito agradável, não uma obrigação.
7ª sessão
Dedica-se grande parte da sessão à educação nutricional. Não se pretende implantar uma dieta
alimentar estrita, mas orientar os participantes em princípios nutritivos para que comam de forma
mais equilibrada. Não se deve perder mais de 1kg por semana. Recomenda-se comer de tudo, mas
de maneira equilibrada, reduzindo ao máximo o consumo de gordura, principalmente polissaturada,
que é a procedente de manteiga, maionese, leite integral, queijos gordurosos, embutidos etc.
Os sujeitos irão incorporar ao hábito de andar uma hora diária o resto dos hábitos da vida ativa
versus sedentária.
8ª sessão
Comer rápido tem duas desvantagens: (1) os alimentos ingeridos levam mais tempo para ser
absorvidos e, portanto, a sensação de fome demora mais para desaparecer e (2) reduz o tempo de
saborear e desfrutar a comida. Os pequenos truques que se ensinam para isso são:
• colocar pedaços pequenos de comida na boca e não repetir a operação até que não tenha
mais nada nela;
9ª sessão
São incentivados a realizar algum exercício programado, além de continuar com os hábitos
cotidianos de vida ativa.
10ª sessão
Objetivo específico: aprender a romper cadeias comportamentais, utilizando, para isso, todas as
técnicas cognitivo-comportamentais aprendidas até o momento.
Pede-se aos sujeitos, como tarefa para casa, a realização de pré-registros e de registros de cadeias
comportamentais. Os registros não são feitos apenas quando ocorrem os comportamentos finais,
mas também como previsão deles. Assim, devem escrever possíveis situações de alto risco que
possam enfrentar em um determinado dia, comportamentos e pensamentos que podem levar ao
comportamento final de transgredir seus objetivos e possíveis estratégias para quebrar a cadeia o
quanto antes possível.
11ª sessão
Tanto essa sessão como a seguinte são de preparação para que no seguimento não se percam as
conquistas adquiridas. Explica-se a diferença entre queda, recaída e perda total das conquistas.
Ensinam-se estratégias de “solução de problemas” para evitar possíveis quedas futuras. Dessa
maneira, os participantes identificam possíveis situações futuras de alto risco e as cadeias
comportamentais que levariam a uma queda. Uma vez posta em prática, avalia-se se o plano
funcionou e, se não, aplicam-se as estratégias ensinadas depois do enfrentamento das quedas para
evitar que se tornem recaídas.
As estratégias de enfrentamento das quedas podem ser resumidas em seis passos.
2. Identificar as crenças irracionais e substituí-las por crenças racionais, como especial ênfase
naquelas que levem a sentimentos de culpa.
5. Partir para ação; uma vez decidido o que se vai fazer, pôr em prática o antes possível.
12ª sessão
Objetivos específicos: iguais aos da sessão anterior. Preparar-se para terminar o programa e
trabalhar para que os hábitos adquiridos sejam permanentes.
Texto 1
(Ades, L., &– Kerbauy, R. R. (2002). Obesidade: Realidades e Indagações. Psicologia USP, 13 (1), 197-
216. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
65642002000100010> Acesso em: 14 ago 2011. Texto adaptado)
A denominação de obesidade é conhecida e remete a uma doença, mas coloca pouca ênfase na
análise do comportamento alimentar. Antes de empregar técnicas que podem ter sucesso em curto
prazo, é preciso descrever contingências conflitantes, que atuam em comportamentos complexos
como neste caso.
Stuart (1980) conclui que para se obter resultados mais duradouros nos tratamentos
comportamentais para a perda de peso, deve-se levar em consideração quatro pontos no momento
de se proceder ao delineamento experimental de um programa: (1) a obesidade é uma doença
complexa de origem fisiológica, psicológica, social e situacional; (2) a obesidade é um distúrbio de
estilo de vida que implica investimento para ser corrigido; (3) a obesidade só pode ser combatida
por meio de alternativas para os problemas comportamentais que levem ao enfraquecimento da
motivação para a emissão de comportamentos problemáticos e à supressão de respostas-problema;
(4) para efetuar as mudanças necessárias os clientes deveriam ser ajudados a superar quatro
estágios do controle de peso: (a) a decisão de agir, (b) a manipulação da necessidade de comer
seguida da manipulação do comportamento alimentar em si ; (c) a manipulação do período
imediatamente anterior ao tratamento quando a não adesão é iminente; (d) a manipulação do
período após o tratamento, em médio e longo prazo, quando as dificuldades aparecem.
Fisher Jr., Levenkron, Loue, Loro e Green (1985), sugerem que uma das falhas na manutenção do
peso perdido em pacientes submetidos a programas comportamentais deve-se ao fato de os
tratamentos serem muito estruturados, diretivos ou invasivos. Além disso, esses procedimentos são
aplicados uniformemente e ignoram as diferenças individuais, bem como a variação dos hábitos de
cada indivíduo. A fim de resolver esse problema, esses autores desenvolveram uma técnica para
mudança comportamental chamada auto-iniciação no treino de autocontrole. O objetivo dessa
técnica era desenvolver nos clientes estratégias de autocontrole adequadas às suas necessidades,
ou seja, promover um tratamento individualizado e ajudar os indivíduos a perceber as
consequências de suas ações.
Uma das autoras deste estudo (Ades), em sua experiência com ambulatório, em Recife, relata que
uma questão essencial para M., uma paciente (e para os outros pacientes), é a nova relação com o
alimento que, após a cirurgia, precisou ser estabelecida. Percebe-se que há um grande prazer em
antecipar, na imaginação, a quantidade de comida, a ideia de “deliciar-se” comendo. Assim, a
frustração é experimentada pelos pacientes que reduziram o estômago e que não podem mais
comer em quantidade. M. diz logo de início que sente muita raiva diante de um bom prato de
comida, porque antes estava acostumada com muito, e podia comê-lo, e agora só aguenta um
pouquinho. Por exemplo: “Estou com muita vontade de cachorro-quente...”. Mas é a vontade de
um cachorroquente grande que vem à sua cabeça: “... aquele com purê, com molho, com tudo. Só
de pensar que só posso um tequinho... nem adianta comer. Fico com aquela raiva em mim”.
Pacientes que entram no programa de mudança comportamental e que iniciam a dieta antes da
cirurgia parecem estar mais prontos a aceitar a alimentação no período pós-operatório (líquidos,
papas etc.) e parecem ter mais consciência de que uma reeducação alimentar é necessária. O
prognóstico é bastante melhor.
É fato aceito hoje que múltiplos fatores de risco atuam, em diferentes combinações, para as
pessoas. Há: (1) riscos para a população (disponibilidade de alimento rico em gordura; dieta rica em
gordura; níveis decrescentes de atividade física; padrões alimentares que estimulam a obesidade);
(2) riscos para os indivíduos (fatores biológicos: genéticos, baixa taxa metabólica em repouso,
número elevado de células adiposas) e fatores comportamentais (como padrões alimentares,
negação do exercício e vida sedentária). Segundo Brownell e Neil (1993/1999), as controvérsias e
os modismos das dietas alimentares podem trazer riscos à saúde e inúmeras questões: a perda de
10% do peso corporal é suficiente para melhorar os fatores de risco? A dieta provoca alimentação
desordenada (compulsão, bulimia, anorexia)? Quem deveria perder peso? Quais as condições para
a dieta? Quanto uma pessoa deveria perder? Qual a melhor maneira?
Além da dieta, o outro ponto para o controle de peso é evitar a vida sedentária e efetuar exercício.
É um tópico específico bastante disseminado no mundo e no Brasil. Andar tornou-se fator relevante
e de fácil manutenção, pois pode ocorrer em qualquer situação. É recomendação nos programas
comportamentais, pois auxilia o balanceamento de energia envolvendo e energia ingerida e gasta,
apesar das controvérsias a respeito de qual a prescrição melhor.
O ponto básico para as pesquisas é, ainda, descobrir as diferenças individuais no valor reforçador
do alimento e verificar seu papel na manutenção de comportamentos alimentares novos. Será que
existem regras sobre alimentação que quando aprendidas dificilmente entram em desuso? É, no
entanto, interessante constatar que pré-adolescentes têm mais sucesso em manutenção de peso
que adultos. Será o processo biológico mais maleável em tenra idade ou será que novos
comportamentos quase incompatíveis com comer são aprendidos e mantidos pela gratificação
continuada?
texto 2
Introdução
Evidências sugerem que a ingestão de nutrientes, assim como o metabolismo destes nutrientes,
podem ser controlados ou modulados por estruturas neurais e por sistemas neuroquímicos e
neuroendócrinos específicos. Alterações nestes sistemas neurais podem estar associadas às
mudanças no comportamento alimentar.
Informações atualizadas sobre as relações entre algumas áreas específicas do Sistema Nervoso
Central, sistemas de neurotransmissão, processos sensoriais e a ingestão de alimentos nesta
revisão, abordando vários tópicos de interesse da psicobiologia sobre o comportamento alimentar.
Nível neurofisiológico
O hipotálamo exerce influência na autosseleção de alimentos, nas respostas a dietas com alto
conteúdo proteico, no desbalanceamento de aminoácidos, na placentofagia, no estresse alimentar,
na textura dietética, na consistência e no paladar, na aprendizagem aversiva, no olfato e nos efeitos
de manipulações hormonais. O hipotálamo lateral está envolvido nos sistemas catecolaminérgico e
serotoninérgico, participa do controle circadiano da alimentação, de atividades espontâneas
devidas à excitabilidade de neurônios no Sistema Motor e de diferenças sexuais típicas na
alimentação.
É provável que a regulação gastrointestinal esteja compreendida entre o tronco cerebral caudal,
onde o sistema neural requerido para resposta metabólica parece estar mais largamente
distribuído. Ratos cerebelotomizados apresentam três aspectos de drásticas alterações: mudanças
qualitativas e quantitativas na ingestão de alimentos, diminuição no peso corporal e mudanças em
parâmetros bioquímicos relacionados à ingestão e à digestão de alimentos.
Apesar da ablação do bulbo olfatório não influenciar o total de alimento ingerido, afeta
profundamente o padrão alimentar de ratos e resulta em diminuição do tamanho da refeição com
aumento compensatório no número de refeições, além da atividade de cheirar durante e entre
refeições aumentadas.
Funções neuroquímicas
Entre diversas espécies, em várias condições experimentais, existe forte evidência de que o
aumento na atividade pós-sináptica dos receptores serotoninérgicos provoca, posteriormente,
redução na quantidade de alimento ingerido durante uma refeição e modifica o padrão de
alimentação. A mesma evidência existe para o papel anorético da serotonina, particularmente como
resposta às dietas com desbalanceamento de aminoácidos.
O balanço na ingestão de carboidrato parece envolver a ação do ácido gama aminobutírico (GABA),
da noradrenalina e do neuropeptídeo Y, em associação com corticosterona e glicose circulantes no
sangue. Um dos locais de ação destas substâncias no cérebro é a região medial do hipotálamo.
Experimentos nos quais ratos podem selecionar os três macronutrientes (proteína, carboidrato e
gordura), separadamente oferecidos, revelam que estes neuroquímicos especialmente
potencializam a ingestão de carboidrato e têm pequeno ou nenhum impacto no consumo de
proteína e de gordura.
No caso do neuropeptídeo Y, que participa no controle da ingestão e no metabolismo do
carboidrato, o nível varia no hipotálamo do nascimento à puberdade, e somente em ratas fêmeas
adultas há variação na concentração deste neuropeptídeo. Nas fêmeas, a baixa preferência por
gordura pode ser consequência do esteroide estrogênio, o qual tem sido associado à supressão de
ingestão de gordura.
Precursores alimentares
Uma questão relevante é determinar em que circunstância particular poderia o triptofano exibir
uma possível ação antidepressiva.
A serotonina tem efeito inibitório em agressão, e dados clínicos sugerem que seu baixo nível no
cérebro está associado à agressão direcionada a outros e à agressão por suicídio. Estudos animais
sugerem que a serotonina esteja também envolvida no controle da ingestão de alimento, com altos
níveis de serotonina diminuindo a ingestão energética total, ou seletivamente diminuindo a seleção
de carboidrato em relação à proteína.
Processos sensoriais
Um órgão sensorial é a parte especializada do corpo que é seletivamente sensível a alguns tipos de
mudanças no ambiente e não a outros. Paladar, olfato, visão e audição, agindo principalmente por
intermédio do hipotálamo, podem afetar o estado corporal e o comportamento; promovem
reflexos, liberação de hormônios e ajustamento visceral, assim como performance somática.
O sabor do alimento e o estado corporal podem não ser tão essenciais ou críticos no controle da
ingestão proteico-energética de animais de laboratório. Independentemente da fonte de
carboidrato (sucrose ou amido), animais adultos geralmente apresentam constante ingestão
energética, apesar de que animais que consomem sucrose apresentam maior peso corporal.
A motivação para comer e o consumo de alimento podem ser afetados pelos sons associados à
alimentação e também à observação do processo mastigatório. Características do alimento podem
contribuir para o processo motivacional alimentar. Outros mecanismos, além da transmissão de
informação social e ambiental, afetam a preferência alimentar, e a exposição ao odor também
influencia a preferência pela dieta. Experimentalmente isto pode refletir em uma situação em que
o animal simplesmente prefere uma dieta com algum odor familiar em relação a uma dieta
completamente nova. Fatores sociais e estímulos sensoriais influenciam a preferência alimentar,
sendo que os fatores sociais são marcadamente importantes neste contexto.
Apetite e saciedade
Sob condições usuais, o alimento é ingerido após a percepção da fome e a ingestão termina quando
a sensação de saciedade é alcançada. Sistemas distintos são responsáveis pelo início e pelo término
do consumo de alimento; cada um é regulado por sinais de respostas oriundos do sistema central e
periférico, incluindo trato gastrintestinal, fígado, cérebro e sistemas sensoriais periféricos.
Alterações do apetite são observadas nas várias fases do ciclo reprodutivo e, nas fêmeas,
geralmente os períodos gestacional e lactacional ocorrem com maior consumo alimentar, tanto em
relação aos outros períodos quanto em relação ao consumo alimentar verificado em machos da
mesma espécie. As dietas afetam a secreção corporal de hormônios e estes influenciam o
comportamento. Variação na ingestão de nutrientes depende do sexo e pode estar relacionada, em
parte, com os hormônios circulantes, em particular os hormônios adrenais e esteroides gonadais.
Considerações finais
Claramente muitos neurotransmissores e muitas estruturas do Sistema Nervoso Central participam
na regulação do comportamento alimentar. Metodologias comportamentais sofisticadas têm-nos
permitido compreender alguns dos parâmetros psicológicos que estão envolvidos nos processos
neurais; no entanto, há reduzida informação sobre as mudanças celulares e moleculares que estão
envolvidas na manifestação do comportamento e ação de eventos ambientais na modificação dos
processos fisiológicos básicos. A psicobiologia tem contribuído com um impressionante conjunto de
informações, que revela a plasticidade do Sistema Nervoso em todos os estágios de
desenvolvimento.
Os pesquisadores reconhecem que a dieta tem um profundo efeito no cérebro e no Sistema Nervoso
e, assim, nas condições mentais e emocionais. A aplicação da dieta no estudo das desordens
comportamentais representa uma nova fronteira no campo da Psicobiologia. Precauções devem ser
tomadas quanto ao uso dos conhecimentos gerados a partir de pesquisas com animais em assuntos
específicos de áreas do Sistema Nervoso, de neurotransmissão e de sistemas endócrinos.
No nível humano, devem ser levados em conta fatores como variáveis sociais, hábitos alimentares,
nível de informação ou educação. A pressão das indústrias de alimentos e da mídia leva a distorções
no consumo de alimentos, com aumento excessivo da ingestão de alimentos comerciais
desequilibrados (basicamente carboidratos e gorduras), com consequências preocupantes quanto
ao consumo alimentar da população. Entre os jovens, a alimentação desajustada tende a gerar
défices em mecanismos atencionais e reflexos na aprendizagem escolar, com eventual aquisição de
maus hábitos alimentares que podem resultar em obesidade e outras consequências para o
desenvolvimento e a saúde física e mental.
ANEXO