Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O combate terrorista em Moçambique tem sido travado por tropas locais, às quais no passado, se
juntaram mercenários russos e sul-africanos.
O clima de terror e a instabilidade em abril deste ano, levaram a que a petrolífera Total suspendesse
o projeto de exploração de gás natural na região.
Desde outubro de 2017, os ataques terroristas em Cabo Delgado já provocaram mais de dois mil
mortos e 817 mil deslocados. : https://pt.euronews.com/2021/07/26/inundacoes-em-londres-
provocam-cheias-nas-estacoes-de-metro.
EuroDefense Portugal
Menu
Notícias
Introdução
Não obstante a pertinência de outras teorias, é evidente que as motivações que suscitaram o
conflito em Cabo Delgado são de natureza religiosa e seguem uma ideologia e um modelo
civilizacional próprio inspirado nas interpretações mais radicais do Islamismo, nomeadamente nos
termos do movimento salafita, procurando implementar na população os seus costumes e hábitos
religiosos e também sociais, como explica Fernando Jorge Cardoso, especialista em assuntos
africanos. Existe, porém, um conjunto de outros fatores que influenciam o desenrolar do conflito em
Cabo Delgado. Sendo certo que os cérebros do grupo que atormentam a região são provenientes de
outros países como a Tanzânia em conjunto com indivíduos moçambicanos radicalizados, um dos
grandes motores da ação terrorista prende-se com o recrutamento de jovens moçambicanos que
veem na adesão uma oportunidade para atingir melhores níveis de vida, irrealistas numa
comunidade que evidencia dificuldades em acompanhar o desenvolvimento que se verifica em
outras partes do país e que, de certa forma, se sente abandonada e distante do governo central.
Soluções
O desenrolar dos acontecimentos em Cabo Delgado despertou o governo de Maputo, que adotou,
desde cedo, uma postura fortemente direcionada para uma resposta armada, que revelar-se-ia
insuficiente, pouco organizada, reveladora da falta de preparação e de equipamento das forças
militares moçambicanas, e ao mesmo tempo marcada pela contratação de empresas de segurança
privada estrangeiras, que mais serviram para prestar segurança aos investimentos relacionados com
o gás natural do que propriamente para combater efetivamente a ameaça terrorista. De certa
forma, o comportamento belicoso assumido pelas entidades governativas de Moçambique levanta
algumas questões quanto à sua eficácia tendo em conta as especificidades que compõem a dinâmica
terrorista sentida na região.
A adesão em grande escala de jovens moçambicanos parece ser motivada mais por uma questão de
revolta face às falhas do modelo governativo, afastando-se, em parte, de matrizes religiosas
fundamentalistas. Neste contexto, as soluções e os mecanismos de resposta ao terrorismo devem
ser equacionados além do combate armado por si só. O diálogo, a proximidade e o investimento na
população de Cabo Delgado devem complementar a ação militar no combate ao terrorismo,
sobretudo no seio desta fação jovem que luta pela sua sobrevivência mais do que luta por ideais ou
por uma identidade.
Por sua vez, o diálogo direto com a associação terrorista, cenário já mencionado por alguns
analistas, parece constituir uma possibilidade menos viável por duas razões essenciais: por um lado,
seria naturalmente desafiante dialogar com um tipo de estrutura que carece de um líder assumido e,
portanto, de um rosto com o qual seja possível chegar a alguma via de consenso; numa outra visão,
é difícil crer ser possível chegar a pontos e considerações comuns, sabendo antecipadamente da
existência de posições antagónicas, para além de ser fictício pensar que o grupo terrorista reúne
disponibilidade para iniciar algum tipo de conversação.
No que diz respeito às propostas de soluções para o conflito no norte de Moçambique existem ainda
outros aspetos a considerar que complementam o diálogo e a ação da força militar. Neste ponto,
olhemos para o papel dos atores oriundos do próprio continente africano, que devem olhar para
uma ideia de paz em Cabo Delgado como forma de garantir também a paz e a segurança no
continente africano como um todo. O Institute for Security Studies (ISS Africa) através de uma das
suas publicações aponta para a coordenação como o fator crucial para uma solução em Cabo
Delgado. Efetivamente, os diferentes atores africanos devem adotar uma postura de colaboração
mútua e maior capacidade de organização, desenvolvendo a comunicação entre partes envolvidas,
cooperando com vista a desenvolver uma solução de longo prazo para o conflito na região e
trabalhar no sentido de intervir junto das populações com o objetivo de evitar recrutamentos.
Papel do Ocidente
O interesse em garantir a paz na província de Cabo Delgado tem vindo a ser uma prioridade na
agenda da UE, mesmo depois de uma fase inicial em que a pandemia Covid-19 ofuscou a
problemática vivida. Recentemente, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios
Estrangeiros e a Política de Segurança afirmou que na ótica da União “um Moçambique seguro e
próspero dará um contributo importante para a segurança, a paz e a prosperidade de todo o mundo
– e também nossa”, declaração que enfatiza a ideia de um sistema internacional disciplinado capaz
de servir e beneficiar todos, também numa perspetiva de multilateralismo e cooperação.
Adicionalmente, situações como a que sucede em Cabo Delgado podem vir a trazer consequências
no seio da própria União Europeia, no que concerne, por exemplo, a refugiados de guerra que
migram para solo europeu, fator que tem gerado discussão, cisões internas e problemas logísticos
para a UE, sendo, portanto, do seu maior interesse minimizar este tipo de ocorrências. Por outro
lado, é também importante considerar os exemplos em que conflitos localizados e distantes da
realidade europeia se expandem e tomam outras proporções, afetando de maneira mais ou menos
direta todo o globo: a atual guerra na Ucrânia é prova clara de um problema localizado que tem
implicações em todo o mundo, designadamente, no fornecimento de cereais. É igualmente esta
amplificação que um conflito pode atingir que deve alertar não só a Europa, mas a generalidade dos
Estados, tendo em conta a dinâmica de um mundo globalizado.
No seguimento do raciocínio que invoca a prática de uma estratégia de diálogo como via de
resolução, os atores ocidentais devem empenhar-se em estabelecer mecanismos de comunicação no
interior das populações afetadas com vista a procurar opções para esfriar revoltas violentas de
indivíduos radicalizados e precaver uma possível nova investida no recrutamento de jovens.
Atual Cenário
A situação em que se encontra atualmente o conflito de Cabo Delgado transmite a ilusão de uma
acalmia no cenário dos ataques. Na verdade, o clima de segurança na região sofreu consideráveis
progressos no decorrer do ano de 2021, conjuntura que se estendeu ao presente ano civil e surge
por consequência das intervenções militares bem-sucedidas por parte das tropas provenientes do
Ruanda no âmbito da missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM).
Factualmente, o clima de violência na região melhorou substancialmente com a chegada destas
tropas que aterrorizam o grupo terrorista islâmico. Fontes do próprio grupo declaram até que os
seus membros “fogem assim que ouvem os primeiros tiros ruandeses”, tendo ordens dos líderes
para não atacar de volta. Esta situação representa uma evidência do êxito da cooperação
internacional na resolução do conflito, com especial valor tendo em conta que acontece dentro do
continente africano.
Surge, no entanto, um outro problema. A realidade demonstra que apesar das intervenções
militares triunfantes, a província de Cabo Delgado encontra-se ainda afastada de um cenário de paz.
Perante as intervenções ruandesas, o grupo rebelde desorganizou-se, separou-se e atua agora sem o
habitual rigor através de ataques isolados e espalhados geograficamente, esquecendo, por vezes, a
componente estratégica que outrora marcava a sua atuação e que teve a vila de Mocímboa da Praia
como exemplo da procura de pontos estratégicos. Consequentemente, existe agora o perigo de
assistirmos à extensão do conflito a outros locais fora da província de Cabo Delgado como aliás
aconteceu na vizinha província de Nampula, em que os ataques provocaram cerca de 47 mil
deslocados no passado mês de setembro. A realidade de Nampula é merecedora de atenção, na
medida em que pode significar não apenas uma expansão geográfica do problema, como também
ser sinónimo do advento da radicalização em outras áreas do Estado de Moçambique. Ao mesmo
tempo, Moçambique vai reforçando os acordos de cooperação com outros atores do mesmo
continente, desta vez com a Tanzânia, Estado fronteiriço que poderá ter um papel importante no
desenrolar dos acontecimentos, não só pela participação militar nas forças da SADC, mas também
no combate à radicalização no seio das populações e no controlo das deslocações dos terroristas
provenientes daquele país.
Ao longo do recente mês de setembro, a situação no norte de Moçambique tem assistido a alertas
de expansão do conflito ao mesmo tempo que a situação em Cabo Delgado melhora e onde já se
iniciam processos de realojamento. Por outro lado, as respostas em termos da segurança e da
defesa ganham agora outro tom, através de reforços no policiamento e pela atribuição do pacote de
ajuda em armamento não-letal por parte da União Europeia. Existe ainda outra dimensão do conflito
bastante ativa e que tem a ver com o ataque a indivíduos católicos sediados na região onde
predomina a religião islâmica. Neste aspeto, a Igreja Católica tem desempenhado um papel
importante no campo da ajuda humanitária por meio de associações e missionários, mas também na
resistência ao radicalismo. Com as complicações derivadas do conflito entre a Rússia e a Ucrânia
abre-se uma nova porta no que toca à questão do gás em Cabo Delgado, que pode neste momento
constituir uma nova solução à crise que se faz sentir em solo europeu. Porventura, Cabo Delgado
poderá tirar proveito desta situação, precisamente, por haver um interesse acrescido na resolução
do conflito que assombra o território, ainda que as explorações de gás natural, forçadas suspender
os trabalhos perante o clima de insegurança, ainda não regressaram à atividade, não existindo para
já nenhuma previsão para tal.
Bibliografia
ARTHUR, W. Brian. Positive Feedbacks in the Economy: A New Economic Theory elucidates
mechanisms whereby small changes events early in the history of an industry or technology can tilt
the competitive balance, Stanford University, 1990.
DOI : 10.1038/scientificamerican0290-92
BOBHAN, R. Aid Dependence and Donor Policy: The Case of Tanzania with Lessons from
Bangladesh’s Experience.IN: Sida . Aid Dependency: Causes, Symptoms and Remedies, project 2015,
Bangladesh, 1996.
Leo e LEYS, Colin. O Império Realoaded, Editora Marlin Press CLACSO, São Paulo, 2005.
BORON, A. A. Império e Imperialismo: Uma Leitura Crítica de Michael Hardt e Antonio Negri, 1ª
edição, Bueno Aires: Clacso, Tradução de: Lilian Koifman, 2002.
BRAUTINGAM, Deborah. Aid Dependence and Governance, Norstsedts Tryckeri AB, Oxford
University Press, New York, 2000.
BRAUTINGAM, Deborah. The Dragon’s Gift: The Real Story of China in Africa, Oxford University Press,
New York, 2009.
CASTEL-BRANCO, Carlos Nuno. Desafios da mobilização de recursos domésticos: revisão crítica do
debate. IN: DE BRITO, Luís et. al. (Org.). Desafios para Moçambique 2012. Editor: Instituto de Estudos
Sociais e Econômicos, Maputo, 2012.
_____________. Exploração das areais pesadas de Moma: nem imposto, nem desenvolvimento
econômico e social local, Edição Nº 12/2014, novembro, Maputo, 2014.
CHICHAVA, Sergio. Moçambique na Rota da China: Uma oportunidade para o Desenvolvimento? IN:
DE BRITO, Luís et al. Desafios para Moçambique 2010. Editor: Instituto de Estudos Sociais e
Econômicos, Maputo, 2010.
DAVID, Paul A. Why are the Institutions they ‘Carriers the History’? Path Dependence and the
Evolutions of Conventions, Organizations and Institutions. Oxford University Press, 1994.
DOS SANTOS, Theotonio. Teoria de Dependência: Balanço e Perspectivas, Obras Escolhidas, Vol. 1,
Florianópolis: Insular. Reedição ampl. e atual, 2015.
DRÈZE, Jean e SEN, Amartya; Glória incerta: A Índia e suas Contradições, 1ª Edição, Tradução de
Ricardo Doninelli Mendes e Laila Countinho, Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2015.
FRANCISCO, António. Sociedade Civil em Moçambique: Expectativas e Desafios. IN: DE BRITO, Luís et
al. Desafios para Moçambique 2010. Editor: Instituto de Estudos Sociais e Econômicos, Maputo,
2010.
GOVERNO DA PROVÍNCIA DE TETE. Informe sobre as Atividades das ONG’S que Operam na Província
de Tete. Tete, Maio de 20008.
HARVEY, D. O Neoliberalismo: História e Implicações. Edições Loyola, Tradução: Adail Sobral e Maria
Stela Gonçalves, 4ª edição, São Paulo, 2013.
HAYEK, Friedrich. O Caminho da Sirvidão. São Paulo, Instituto Ludwing Von Meses Brasil, 6ª edição,
2010.
DOI : 10.1080/09557571.2012.734779
PEDONE, Luiz. Formulação, Implementação e Avaliação de Políticas Públicas Brasília: FUNCEP, 1986.
PERRY, Anderson. Balanço do Neoliberalismo. IN: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-
neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
ROCHA, Frederico (Coord.). Perspectivas da Política Industrial dos BRICS, Rio de Janeiro, UFRJ,
Instituto de Economia, 2008/2009. 278 p. Relatório integrante da pesquisa “Perspectiva do
investimento no Brasil”, em parceria com o Instituto de Economia da UNICAMP. Disponível em:
http//WWW.projetopib.org/?=documentos, acesso em 1 de julho de 2015.
SOUTHALL, Roger and MELBER, Henning (Eds). A New Scramble for África? Impelrialism, investment
and development, University of Kwazulu-Natal, 2010.
WACHE, Paulo M.; LUNDIN, Iraê Baptista; FAINDA, Valter e GOMES, Sérgio. As Potências Emergentes
na Construção da Multipolaridade Inclusiva: Uma Abordagem Comparativa das Políticas Externas dos
BRICS, Editora: Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), Maputo, 2014.
World Bank. Mozambique Country Economic Memorandum Sustaining growth and reducing poverty,
Maputo, 2005.
Moçambique encontra-se desde 2017 a enfrentar ataques terroristas na província de Cabo Delgado,
que constituem uma ameaça à segurança nacional e regional. Perante a extensão e a amplitude da
ameaça, o Governo Moçambicano solicitou apoio internacional para conter o terrorismo e fortalecer
as capacidades das Forças de Defesa e Segurança (FDS). Foi neste contexto que a SADC e a União
Europeia (UE) manifestaram o seu apoio à Moçambique, através duma Missão da SADC, a SAMIM,
(SADC Mission in Mozambique) e uma missão de treinamento da UE, a EUTM-Moz (European Union
Military Training Mission in Mozambique).
1 de Abril de 2022 – O governo dos E.U.A. anunciou hoje que Moçambique foi seleccionado como
um país prioritário para a Estratégia dos E.U.A. para Prevenir Conflitos e Promover a Estabilidade.
Esta Estratégia delineia a cooperação com o governo de Moçambique e a sociedade civil a níveis
nacional e local para investir numa abordagem de longo prazo, liderada localmente para abordar as
causas de conflito e reforçar os alicerces de estabilidade.
A Estratégia dos E.U.A. para Prevenir Conflitos e Promover a Estabilidade providencia recursos
adicionais para promover a estabilidade e fortalecer a resiliência de comunidades moçambicanas
afectadas pelo extremismo violento e terrorismo. Ao trabalhar com o governo de Moçambique, a
sociedade civil, o sector privado, e parceiros regionais e internacionais, os Estados Unidos irão
coordenar a sua assistência ao desenvolvimento, diplomático, e ao sector de segurança através de
um plano de dez-anos que inclui programas de prevenção de conflitos e de estabilização para apoiar
uma governação democrática, transparência, e desenvolvimento inclusivo.
“Os Estados Unidos estão comprometidos a ajudar os nossos parceiros em Moçambique para
prevenir a violência, promover a estabilidade, e construir resiliência”, disse a Encarregada de
Negócios da Embaixada dos E.U.A., Abigail Dressel. “Além disso, o respeito pelos direitos humanos e
pelo estado de direito são primordiais para combater eficazmente o terrorismo, uma vez que a
ausência de tais princípios possa alimentar ainda mais o extremismo violento”, disse.
No desenvolvimento deste plano de dez-anos, a prioridade máxima do governo dos E.U.A. será o
apoio aos parceiros locais, tanto governamentais como não-governamentais, que estão a
desenvolver e a implementar soluções para os desafios mais prementes desta crise. Isto significa
consultar com as contrapartes locais e incorporar a perícia dos intervenientes dos E.U.A.
especializados nestas áreas.
Moçambique é um dos cinco locais prioritários seleccionados para esta Estratégia dos E.U.A. para
Prevenir Conflitos e Promover Estabilidade. Em estreita colaboração com o Governo da República
de Moçambique, o governo dos E.U.A. disponibiliza anualmente mais de US$ 500 milhões em
assistência para ajudar Moçambique a construir um país mais saudável, mais seguro, mais
democrático, e mais próspero para todos os cidadãos. https://mz.usembassy.gov/pt/mozambique-
and-united-states-partner-to-prevent-conflict-and-promote-stability-pt/