Resenha do livro: WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria. Zahar, 2001.
As prisões da miséria referem-se ao sistema penal e suas consequências para a
população vulnerável. Examinar uma política pública não é tarefa livre de dificuldades. Muitas vezes é difícil determinar seu impacto, verificar que efeitos tem sobre o problema que se tinha proposto resolver, quais são suas conseqüências indiretas. No entanto, talvez a primeira dificuldade seja anterior a tudo isso. Porque é necessário, sobretudo, perceber que também a caracterização de um determinado problema faz parte da construção de uma política.
É dessa premissa que parte Loïc Wacquant em As Prisões da Miséria, ao examinar a
orientação de repressão ao crime que resultou naquilo que o livro chama de "Estado Penal". A definição da própria violência a ser combatida é parte essencial da formulação da estratégia para combatê-la.
O livro aborda a penalidade neoliberal, caracterizada pela privatização e precarização
do sistema prisional, agravando a insegurança criminal no Brasil. Discute a violência policial como reflexo das desigualdades sociais e da falta de políticas públicas eficazes. Destaca como a miséria e a exclusão social podem aprisionar não só fisicamente, mas também por um sistema que perpetua a desigualdade e a injustiça.
A penalidade neoliberal é um conjunto de práticas relacionadas à pena criminal surgidas
da ideologia neoliberal. Busca remediar a insegurança através do aumento do controle policial e penitenciário, com uma diminuição do Estado econômico e social. Aplicada em países com fortes desigualdades sociais, muitas vezes sem tradição democrática. A insegurança criminal no Brasil é agravada pela violência letal e tortura das forças da ordem.
A violência policial no Brasil tem raízes na escravidão e na ditadura militar, operando
com uma concepção hierárquica e paternalista da cidadania. A polícia tende a assimilar marginais, trabalhadores e criminosos, usando tortura e execuções sumárias. O livro desmistifica a ideia de ressocialização nas prisões dos EUA, evidenciando um viés privatizador. Destaca a relação entre o sistema prisional e a desigualdade social, questionando a eficácia das prisões no combate à criminalidade.
Ao analisar criticamente o sistema prisional, o livro contribui para o debate
criminológico sobre a criminalização da pobreza, a violência policial e a falta de ressocialização dos detentos. Destaca a importância de políticas mais inclusivas e justas para lidar com a segurança pública e a criminalidade. Ainda, o livro ressalta a necessidade de uma abordagem mais humanizada e empática em relação aos indivíduos em situação de vulnerabilidade social, buscando alternativas à punição e encarceramento em massa, propondo a promoção de políticas de inclusão social, acesso à educação e oportunidades de trabalho como formas de combater as raízes da criminalidade e da violência. Por fim, enfatiza a importância do diálogo e da colaboração entre diferentes setores da sociedade na busca por soluções mais eficazes e justas para os desafios relacionados à segurança pública e ao sistema penal.
Essas reflexões apresentadas no livro são extremamente relevantes e atuais,
especialmente diante do cenário de violência e desigualdade que vivemos no Brasil. A abordagem crítica do sistema penal e da violência policial nos faz refletir sobre a urgência de mudanças estruturais para garantir uma sociedade mais justa e segura para todos.
A necessidade de políticas públicas mais inclusivas e eficazes, que visem a
ressocialização e a promoção da igualdade social, é fundamental para romper com o ciclo de violência e exclusão que aprisiona tantos indivíduos em situação de vulnerabilidade.
A valorização da empatia e do diálogo como ferramentas para construir soluções mais
humanizadas e colaborativas também é essencial para transformar a realidade do sistema penal e da segurança pública no país.
Em suma, o livro nos convida a repensar nossas práticas e políticas em relação à
criminalidade e à punição, buscando caminhos mais justos e eficazes para lidar com os desafios que enfrentamos como sociedade.