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Microbiologia e Imunologia

Book · January 2015

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1 author:

Silvia Aranha
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
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Sílvia de Araújo Aranha

Microbiologia e
Imunologia
Microbiologia e
Imunologia
Sílvia de Araújo Aranha

Microbiologia e
Imunologia

Natal/RN
2015
presidente
PROF. PAULO DE PAULA

diretor geral
PROF. EDUARDO BENEVIDES

diretora acadêmica
PROFA. LEIDEANA BACURAU

diretora de produção de projeto


PROFA. JUREMA DANTAS

FICHA TÉCNICA

gestão de produção de materiais didáticos


PROFA. LEIDEANA BACURAU

coordenação de design instrucional


PROFA. ANDRÉA CÉSAR PEDROSA

projeto gráfico
ADAUTO HARLEY SILVA

diagramação
MAURIFRAN GALVÃO

designer instrucional
WANNYEMBERG KLAYBINDA SILVA DANTAS
ÍRIS NUNES

revisão de língua portuguesa


FERNANDO PAULO DE FARIAS NETO

revisão das normas da ABNT


LUÍS CAVALCANTE FONSECA JÚNIOR

ilustração
RAFAEL EUFRÁSIO DE OLIVEIRA
Catalogação da Publicação na Fonte (CIP).
Ficha Catalográfica elaborada por Luís Cavalcante Fonseca Júnior - CRB 15/726.

A662m Aranha, Sílvia de Araújo Aranha.


Microbiologia e imunologia / Sílvia de Araújo Aranha ;
edição e revisão do Instituto Tecnológico Brasileiro (ITB). –
Natal, RN : 2015.
119 p. : il. color.

ISBN 978-85-68100-52-3
Inclui referências

1. Microbiologia. 2. Microorganismos. 3. Célula


bacteriana. I. Instituto Tecnológico Brasileiro. II.Título.

RN/ITB/LCFJ CDU 579.222


“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pen-
sar o que ninguém pensou sobre aquilo que todo mundo vê”.
(Arthur Schopenhauer)
Índice iconográfico

Atividades Vocabulário Importante

Mídias Curiosidade Querendo mais

Você conhece? Diálogos


Internet

O material didático do Sistema de Aprendizado itb propõe ao aluno uma linguagem objetiva, sim-
ples e interativa. Deseja “conversar” diretamente, dialogar e interagir, garantir o suporte para o es-
tudante percorrer os passos necessários a sua aprendizagem. Os ícones são disponibilizados como
ferramentas de apoio que direcionam o foco, identificando o tipo de atividade ou material de estudo.
Observe-os na descrição a seguir:

Curiosidade – Texto para além da aula, explorando um assunto abordado. São pitadas de conheci-
mento a mais que o professor pode proporcionar ao aluno.

Importante! – Destaque dado a uma parte do conteúdo ou a um conceito estudado, que seja con-
siderado muito relevante.

Querendo mais – Indicação de uma leitura fora do material de estudo. Vem ao final da competência,
antes do resumo.

Vocabulário – Texto explicativo, normalmente curto, sobre novos termos que são apresentados no
decorrer do estudo.

Você conhece? – Foto e biografia de uma personalidade conhecida pelas suas obras relacionadas
ao objeto de estudo.

Atividade – Resumo do conteúdo praticado na competência em forma de exercício. Pode ser apre-
sentado ao final ou ao longo do texto.

Mídias – Contém material de estudo auxiliar e sugestões de filmes, entrevistas, artigos, podcast e
outros, podendo ser de diversas mídias: vídeo, áudio, texto, nuvem.

Internet – Citação de conteúdo exibido na Internet: sites, blogs, redes sociais.

Diálogos – Convite para discussão de assunto pelo chat do ambiente virtual ou redes sociais.
Sumário
Apresentação institucional.................................................................................................09
Palavra do professor autor...................................................................................................11
Apresentação das competências........................................................................................13

Competência 01
Identificar a célula bacteriana, discutir sua diversidade e identificar os
benefícios trazidos por esses microrganismos............................................................. 17
Célula bacteriana...........................................................................................................17
A diversidade bacteriana...............................................................................................20
Os micróbios que nos fazem bem.................................................................................23
Resumo...........................................................................................................................25
Autoavaliação..................................................................................................................25

Competência 02
Identificar as patologias bacterianas com suas manifestações clínicas,
estabelecendo mecanismos de controle....................................................................... 31
A diversidade da bactéria Staphylococcus aureus......................................................31
DVibrio cholerae: o agente etiológico da cólera...........................................................33
Enterobactérias: as bactérias gastrointestinais...........................................................34
Helicobacter pylori e as complicações do trato gastrointestinal................................39
As doenças causadas por Clostridium spp. .................................................................40
As bactérias Lactobacillales..........................................................................................42
Mycoplasma pneumoniae.............................................................................................47
As actinobactérias..........................................................................................................47
O gênero Leptospira.......................................................................................................51
Resumo...........................................................................................................................52
Autoavaliação..................................................................................................................52
Competência 03
Identificar a estrutura viral e reconhecer o modo como as viroses
comprometem sua saúde .............................................................................................. 57
Conhecendo a estrutura viral........................................................................................57
Como os vírus se multiplicam........................................................................................59
Doenças virais da pele...................................................................................................61
Doenças virais do sistema nervoso..............................................................................64
Doenças virais do sistema cardiovascular e linfático..................................................65
Doenças virais do trato respiratório..............................................................................65
Resumo...........................................................................................................................70
Autoavaliação..................................................................................................................70

Competência 04
Examinar as patologias fúngicas, suas manifestações em nosso organismo
e seu modo de transmissão ........................................................................................... 75
Micose superficial...........................................................................................................82
Resumo...........................................................................................................................87
Autoavaliação..................................................................................................................87

Competência 05
Identificar a estrutura e a fisiologia do sistema imunológico e reconhecer
os mecanismos de defesa às infecções......................................................................... 91
O seu exército de defesa em ação................................................................................91
A imunidade inata e a imunidade adquirida................................................................92
Os componentes da imunidade inata...........................................................................93
As vacinas......................................................................................................................100
As reações de hipersensibilidade................................................................................100
A inflamação..................................................................................................................101
Quando o corpo ataca a si próprio...............................................................................101
Resumo..........................................................................................................................101
Autoavaliação.................................................................................................................101

Competência 06
RDiferenciar a homeostasia imune e das imunopatologias e reconhecer
a importância da imunologia para a área de saúde..................................................... 107
Homeostas.....................................................................................................................107
Quando as nossas defesas falham..............................................................................109
A imunologia e os transplantes....................................................................................112
Resumo..........................................................................................................................113
Autoavaliação.................................................................................................................113

Referências...........................................................................................................................116
Gabarito................................................................................................................................118
Conheça o autor...................................................................................................................119
Apresentação institucional

Microbiologia e Imunologia
O Instituto Tecnológico Brasileiro (itb) foi construído a partir do sonho de educadores e
empreendedores reconhecidos no cenário educacional pelas suas contribuições no desen-
volvimento econômico e social dos Estados em que atuaram, em prol de uma educação de
qualidade nos níveis básico e superior, nas modalidades presencial e a distância.
Esta experiência volta-se para a educação profissional, sensível ao cenário de desen-
volvimento econômico nacional, que necessita de pessoas devidamente qualificadas para 9
ocuparem vagas de trabalho e garantirem suporte ao contínuo crescimento do setor pro-
dutivo da nação.
O Sistema itb de Aprendizado Profissional privilegia o desenvolvimento do estudante a
partir de competências profissionais requeridas pelo mundo do trabalho. Está direcionado
a você, interessado na construção de uma formação técnica que lhe proporcione rapida-
mente concorrer aos crescentes postos de trabalho.
No Sistema itb de Aprendizado Profissional o estudante encontra uma linguagem clara
e objetiva, presente no livro didático, nos slides de aula, no Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem e nas videoaulas. Neste material didático, um verdadeiro diálogo estimula a leitura, o
projeto gráfico permite um estudo com leveza e a iconografia utilizada lembra as modernas
comunicações das redes sociais, tão acessadas nos dias atuais.
O itb pretende estar com você neste novo percurso de qualificação profissional, con-
tribuindo decisivamente para a ampliação de sua empregabilidade. Por fim, navegue no
Sistema itb: um estudo prazeroso, prático, interativo e eficiente o conduzirá a um posicio-
namento profissional diferenciado, permitindo-lhe uma atuação cidadã que contribua para
o seu desenvolvimento pessoal e do seu país.
Palavra do professor autor

Microbiologia e Imunologia
Olá!
Neste livro, você irá estudar a Microbiologia e a Imunologia. Você sabe o que essas
ciências estudam?
A Microbiologia estuda os microrganismos, enquanto que a imunologia investiga como o
nosso corpo se defende desses seres.
Muitas pessoas pensam que os organismos microscópicos são apenas maléficos cau- 11
sadores de doenças. Contudo, existem muitos microrganismos que nos trazem benefícios,
sabia?
Aqui, você vai conhecer um pouco mais sobre esses seres fascinantes, como o seu or-
ganismo funciona convivendo com esses micróbios e ainda vai entender como o seu corpo
reage em caso de doenças.
Fique atento às atividades e às avaliações ao final de cada competência!
Microbiologia e Imunologia

12
Apresentação das competências

Microbiologia e Imunologia
Você já viu que o nosso desafio será estudar os microrganismos e descobrir como o
nosso corpo interage com esses seres. Agora, saiba que passos você dará para atingir
esse objetivo:
Na primeira competência, você identificará uma célula bacteriana, discutirá a sua diver-
sidade e reconhecerá os microrganismos que podem nos beneficiar. Na segunda compe-
tência, você identificará as patologias bacterianas com suas manifestações clínicas, esta- 13
belecendo mecanismos de controle.
Já na competência três, você vai identificar a estrutura viral e reconhecer o modo como
as viroses comprometem sua saúde. Em seguida, na competência quatro, você vai apren-
der sobre as patologias fúngicas, aquelas causadas por fungos, e as suas manifestações
em nosso organismo, identificando seu modo de transmissão.
Na competência cinco, você identificará a estrutura e a fisiologia do sistema imunoló-
gico, reconhecendo os mecanismos de defesa às infecções. Por fim, na competência seis,
você diferenciará a homeostasia imune e as imunopatologias, além de reconhecer sua
importância à área da saúde.
Competência
01
Identificar a célula
bacteriana, discutir sua diversidade e
identificar os benefícios trazidos por esses
microrganismos
Identificar a célula
bacteriana, discutir sua diversidade
e identificar os benefícios trazidos
por esses microrganismos

Quando você pensa em microrganismos, provavelmente, vem à mente as bactérias que

Microbiologia e Imunologia
nos causam doenças. Acertei? No entanto, você vai aprender que sem as bactérias o fun-
cionamento do nosso corpo estaria prejudicado, pois muitas delas ajudam a manter nosso
organismo em equilíbrio. Diversas bactérias habitam o nosso intestino e desempenham pa-
péis importantes na nossa digestão e na formação das nossas fezes. Elas também estão
presentes em nossa boca e, em sua maioria, são inofensivas, isto é, não nos causam mal.
Mas é claro que há várias bactérias patogênicas que podem até nos matar, o que veremos
com detalhes na próxima competência. Bactérias patogê-
nicas: são aquelas 17
Além das bactérias, existem os vírus e os fungos, que serão apresentados mais adiante. capazes de nos
causar doenças.
Por isso que você, profissional da área de saúde, deve se interessar em aprender um pouco
mais sobre esses micróbios.

Nesta competência, usaremos como exemplo o caso de Flávia, que está grávida aos
24 anos de idade. Preocupada com a saúde de seu bebê que está a caminho, porque
grande parte dos hospitais da cidade possui altos índices de infecção microbiana, essa
jovem mãe se questiona sobre o que aconteceria com ele caso entrasse em contato com
algumas bactérias.

Vamos conhecer um pouco mais sobre esses microrganismos para tentar acalmá-la?

Célula bacteriana
Antes de tudo, você precisa saber que as bactérias são seres celulares do tipo proca-
riontes — ou procarióticas ou protocélulas. Esse tipo de organismo é constituído por uma
única célula, por isso as bactérias são denominadas seres unicelulares. Por não apresen-
tarem núcleo, sua informação genética está contida no ácido desoxirribonucleico – ADN
(em inglês: deoxyribonucleic acid – DNA), que forma um cromossomo circular disperso no
citoplasma: o nucleoide.

Célula bacteriana apresentando


DNA disperso no citoplasma, ri-
bossomos, plasmídeos, membra-
na celular, parede celular, cápsula,
fímbrias e flagelo. Todas essas es-
truturas você vai conhecer ao lon-
go desta competência.

Figura 1 – Célula procarionte


Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com-
Microbiologia e Imunologia

mons/thumb/7/72/Average
_prokaryote_cell-_es.svg/1258px-Average_prokaryo-
te_cell-_es.svg.png>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Diferentemente delas, nós, seres humanos, somos formados por inúmeras células eu-
cariontes. Esse tipo de célula possui um núcleo verdadeiro, com material genético envolvi-
do por uma membrana nuclear, conferindo maior proteção ao nosso DNA.

18

Figura 2 – Célula eucariótica mostrando um núcleo verdadeiro, com DNA envolvido por membrana nuclear
Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-ovGnrMT2FNw/VBowb31A7pI/AAAAAAAAAFs/Z1m
ExclaL2U/s1600/eucarioto-e-procarioto.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

µm: lê-se micrôme-


tro; é uma unidade A célula procarionte mede cerca de 1 a 20 µm de comprimento e desempenha todas as
de medida que é
funções necessárias à sobrevivência do microrganismo. As bactérias apresentam uma pare-
mil vezes menor
que um milímetro. de celular rígida, mas permeável, que possibilita o trânsito de substâncias nutritivas e água
para o interior da procarionte. Essa parede é formada de peptideoglicanos, uma combinação
de proteínas e carboidratos que a protege contra choques e dá forma em diversos formatos
à célula: os cocos são esféricos, os bacilos possuem forma de bastão, os espirilos têm forma
espiralada e os vibriões se assemelham a uma vírgula. Algumas dessas formas podem se
agrupar em cadeias, caracterizando colônias específicas, que conheceremos mais adiante.

Observe na Figura 1 a presença da membrana celular abaixo da parede celular. A mem-


brana é importante para a célula, pois a separa do meio exterior, protegendo o seu con-
teúdo imerso no citoplasma e conferindo individualidade à bactéria. Além disso, existe
a presença dos ribossomos, que são organelas responsáveis por produzir as proteínas
necessárias ao metabolismo e à constituição celular. Organismos procariontes também
podem apresentar cílios e flagelos, responsáveis pela locomoção. Além disso, alguns des-
ses representantes possuem estruturas responsáveis pela adesão da bactéria ao meio
em que vivem, chamados de “pili” ou “fímbria”. Algumas bactérias apresentam ainda uma

Microbiologia e Imunologia
cápsula viscosa, composta de carboidratos, que envolve a célula externamente, conferindo
à bactéria maior proteção contra o nosso sistema de defesa.

As bactérias patogênicas se alimentam por difusão simples, absorvendo nutrientes do


meio em que vivem. A difusão simples é um tipo de transporte passivo, isto é, que ocorre
sem gasto de energia. Substâncias nutritivas, presentes no meio em que a bactéria se
encontra, passam através da parede celular e da membrana celular para o interior da bac-
téria, tendo em vista que há maior concentração de nutrientes no meio externo do que no 19
interior do microrganismo. Elas se multiplicam por fissão binária, na qual a bactéria duplica
o seu material genético e divide o seu conteúdo celular, formando dois indivíduos idênticos.

Figura 3 – Célula bacteriana multiplicando-se por fissão binária


Fonte: <http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR4W7KmRF6SXT
wu7d68A__1r4CnJPkhwds_y6-ryOnOetj8ieo>. Acesso em: 20 jul. 2015..
Muitas bactérias podem apresentar DNA extra em seu interior, encontrado em peque-
nos cromossomos circulares denominados plasmídeos. Essas estruturas podem ser du-
plicadas e transferidas para outras bactérias, o que pode fazer com que algumas delas
adquiram resistência a determinados antibióticos. Tal transferência é realizada através de
um mecanismo chamado conjugação, em que a bactéria doadora do material genético
emite uma estrutura proteica, o “pilus sexual” ou “pilus F” (F de fertilidade), aderindo-se
à célula receptora e formando entre elas uma ponte citoplasmática por onde o plasmídeo
será transferido de modo unidirecional.
Microbiologia e Imunologia

20

Figura 4 – Células bacterianas em processo de conjugação


Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3e/Conjugation.svg/1130px-Conjugation.svg.png>.
Acesso em: 20 jul. 2015.

A diversidade bacteriana
As bactérias estão divididas em dois grandes domínios: Archaea e Bacteria. As primeiras,
conhecidas como arquibactérias, não possuem peptideoglicanos em sua parede celular e
são encontradas em ambientes extremos, sejam eles muito salinos ou com temperaturas
elevadas. Tais bactérias não provocam doenças em seres humanos e não serão objetos
deste estudo. Vamos estudar apenas os microrganismos presentes no domínio Bacteria.

As bactérias podem ser classificadas em Gram-positivas ou Gram-negativas. As positi-


vas, por terem sua parede celular espessa, coram de violeta ao utilizarmos o corante de
Gram, já às negativas, por possuírem parede celular fina, não aderem ao corante, mas se
coram de vermelho devido à adição de safranina após a lavagem com o descorante. Outra
característica das Gram-negativas é que elas possuem uma membrana externa em volta
da parede celular, que confere maior patogenicidade devido à presença de lipopolissaca-
rídeos, uma mistura de gordura e açúcares que agrava a infecção. É importante que você
saiba que ambas podem causar doenças em seres humanos.

Curiosidade
Mas você sabe como é feito o teste de Gram? O corante capaz de diferenciar
as bactérias foi desenvolvido por um grande bacteriologista dinamarquês
chamado Hans Christian Gram, em 1884. Para realizar o teste, tais micror-

Microbiologia e Imunologia
ganismos são colocados em uma lâmina e corados com cristal violeta. Em
seguida, é aplicado sobre eles um descorante que possui acetona em sua
composição. Outro corante, chamado safranina, é adicionado para corar de
vermelho as células que foram descoradas.

Esse teste é importante para os profissionais da saúde, porque permite que os clínicos
21
tenham um diagnóstico inicial para conduzir a terapia.

Figura 5 – Parede celular das bactérias Figura 6 – Parede celular das bactérias
Gram-positivas à esquerda Gram-negativas à direita.
Fonte: <http://phmb.info/images/p005_1_00.jpg>. Acesso Fonte: <http://phmb.info/images/p005_1_01.jpg>. Aces-
em: 20 jul. 2015. so em: 20 jul. 2015.

Você precisa saber que o peptideoglicano da parede celular bacteriana pode ser degra-
dado pela enzima lisozima que está presente na lágrima e em nossas secreções mucosas.
Esse é um dos mecanismos que o seu corpo dispõe para se defender desses micróbios.
Você sabe como as enzimas agem? As enzimas são proteínas que têm a função de ace-
lerar uma reação química digerindo uma substância, o substrato, transformando-a em um
produto útil ao organismo. É fácil entender a ação das enzimas quando pensamos em nos-
sa digestão. Quando nos alimentamos, elas transformam a nossa comida em nutrientes
para o corpo e, no caso das bactérias mencionadas, as enzimas digerem a parede celular
da bactéria e ela não sobrevive.

Atividade 01
Você foi visitar um laboratório de análises clínicas e seu colega o convidou
para analisar algumas lâminas com ele. Antes de você chegar, ele tinha
Microbiologia e Imunologia

realizado o teste de Gram em algumas amostras bacterianas e agora que-


ria sua ajuda para ver o resultado de duas lâminas. Ao colocar as lâminas
no microscópio, você conseguiu observar essas duas imagens:

22

Figura 6 – Células bacterianas em processo de conjugação


Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3e/Conjugation.svg/1130px-
-Conjugation.svg.png>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Analise as imagens e identifique qual delas representa uma colônia de


bactérias Gram-positivas. Justifique sua resposta com base no que você
aprendeu sobre o teste de Gram.
Os micróbios que nos fazem bem
Você já percebeu que seria impossível vivermos sem as bactérias, tendo em vista que
algumas delas fazem parte da microbiota normal presente em nosso corpo? Mas saiba
que abrigado no útero materno, você estava livre dos micróbios. Eles só entram em contato
com você na hora do parto: os Lactobacillus — bactérias presentes no corpo materno que
colonizam a pele do bebê na hora do parto e em seguida se alojam em seu intestino para
participar da digestão. À medida que respiramos e nos alimentamos, adquirimos outros
microrganismos que passam a conviver conosco. Será que já poderemos tranquilizar a Flá-
via quanto ao receio de seu filho ter contato com as bactérias? Ou você ainda quer saber
mais? Então, vamos em frente!

Bactérias do gênero Staphylococcus, por exemplo, estão presentes em nossa boca, que
apresenta uma população bem variada de microrganismos na língua, na bochecha, na

Microbiologia e Imunologia
gengiva e até nos dentes. Todavia, a saliva possui substâncias que inibem o crescimento
dos micróbios e, além disso, quando mastigamos o alimento, o movimento da língua faz
com que muitos microrganismos sejam desalojados.

Muitas bactérias, como Staphylococcus, Corynebacterium e Micrococcus entram em


contato com a nossa pele, porém, o suor e a oleosidade produzidos pelas nossas glân-
dulas não permitem que elas se alojem. Além disso, existe a queratina, proteína fibrosa
que forma a camada superior da epiderme, a qual funciona como uma barreira resistente 23
presente na pele e no cabelo.

No estômago são encontrados muitos cocos Gram-positivos, pois eles são mais toleran-
tes a acidez gástrica. Entretanto, alguns pacientes com gastrite e úlcera gástrica apresen-
tam em seu estômago um bacilo Gram-negativo, chamado Helicobacter pilori. A quantida-
de de bactérias presentes em nossa microbiota intestinal é dez vezes maior que o número
de células que formam nosso corpo. No intestino delgado, por exemplo, encontramos tanto
Staphylococcus quanto Streptococcus e Lactobacillus.

A bactéria Escherichia coli – E. Coli habita naturalmente o nosso intestino grosso e de-
sempenha papéis importantes em nosso metabolismo. Um deles é produzir a vitamina K,
importante para a coagulação sanguínea. Além disso, esse procarionte produz substâncias
capazes de inibir o crescimento de outras bactérias causadoras de doenças graves, como
a Salmonella e a Shigella — estudadas mais adiante. No entanto, quando representantes
de E. Coli, provenientes do intestino grosso, passam a colonizar o trato urinário, podemos
desenvolver infecções urinárias.
Figura 7 – Bactéria E. Coli, habitante inofensiva do trato intestinal. Observe as fímbrias e os flagelos presentes.
Fonte: <http://espacoescolar.com.br/wp-content/uploads/2011/06/BACTERIA-E-COLI.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.
Microbiologia e Imunologia

A flora bacteriana presente na vagina de uma mulher adulta, por exemplo, faz com que
o pH local se mantenha ácido, em torno de quatro. E você imagina por que isso é tão impor-
tante? Porque ajuda a inibir o crescimento do fungo Candida albicans capaz de ocasionar
a candidíase que provoca vaginite, corrimento e irritação local, muito comum nas mulheres
em idade reprodutiva.

24

Querendo mais
O pH é o potencial hidrogeniônico de uma substância e indica seu grau de
acidez ou alcalinidade que vai de zero a quatorze. As substâncias mais áci-
das têm pH mais próximo do zero e as mais alcalinas, mais próximo do 14.
O pH 7 é considerado neutro.

No idoso, a microbiota intestinal normal é rica em Clostridium Perfringens, Lactobacillus


e Enterococcus. Por outro lado, a quantidade de Bifidobacterium é menor no idoso do que
no adulto. As bifidobactérias atuam como probióticos, que são comercializados como lei-
tes fermentados. No entanto, eles são de fato organismos vivos que quando ingeridos em
quantidade ideal favorecem o equilíbrio da microbiota intestinal e traz efeitos benéficos ao
indivíduo, como, por exemplo, o aumento das defesas imunológicas, a produção de vitami-
nas e a inativação de substâncias cancerígenas. Por isso, a saúde do idoso é, geralmente,
mais frágil que a do adulto, tendo em vista que os idosos apresentam menor quantidade
de bactérias probióticas em sua microbiota normal.

Muitos dos microrganismos presentes em nossa flora microbiana ajudam a combater


outros micróbios “inimigos” que poderiam prejudicar nossa saúde. Há uma competição
por nutrientes entre esses “inimigos”, mas os microrganismos habitantes do nosso cor-
po geralmente conseguem nos defender desses micróbios potencialmente patogênicos.
Tal fenômeno é chamado de antagonismo microbiano ou exclusão competitiva. Contudo,
quando há um desequilíbrio em nossa flora microbiana, nosso organismo falha nessa com-
petição e ficamos doentes. Para evitar esse desequilíbrio, devemos nos alimentar de modo
saudável, dormir o suficiente e praticar exercícios físicos, o que fortalece o nosso sistema
imunológico — estudado mais adiante.

A Flávia, que estava aflita quanto ao futuro de seu bebê, deve tranquilizar-se, tendo
em vista que muitas bactérias fazem parte da nossa flora microbiana e nos fazem bem.

Microbiologia e Imunologia
Além disso, ela deve amamentar o seu filho, pois o leite materno apresenta anticorpos
chamados imunoglobulinas, ausentes no leite em pó, que agem fortalecendo o sistema
imunológico do bebê. Dessa forma, ele estará protegido contra as bactérias patogênicas
do ambiente hospitalar e ela ficará segura quanto à saúde do seu filho.

Resumo 25
Nesta primeira competência, você estudou como uma célula bacteriana é organizada e
quais as suas partes constituintes viajando por uma célula virtual. Você observou que as
bactérias são classificadas em dois domínios e reconheceu que elas podem ser patogêni-
cas ou não. Você também viu as diferenças existentes entre as bactérias Gram-positivas e
Gram-negativas, classificação de grande importância para o tratamento de doenças. Além
disso, você identificou como alguns desses microrganismos podem nos trazer benefícios e
contribuir para o nosso equilíbrio corporal.

Autoavaliação
01. Os seres __________ não possuem núcleo individualizado, apresentando material ge-
nético denominado _________, mergulhado no citoplasma. A parede celular das bac-
térias __________ apresenta uma camada espessa de peptideoglicano, enquanto as
_________ apresentam uma fina camada de peptideoglicano, além de uma membrana
_________ capaz de agravar a infecção devido presença dos lipopolissacarídeos.
Os espaços do texto acima são preenchidos corretamente com as seguintes palavras:

a) Procariontes, nucleóide, Gram-positivas, Gram-negativas, externa.

b) Procariontes, núcleo, Gram-negativas, Gram-positivas, interna.

c) Eucariontes, núcleo, Gram-negativas, Gram-positivas, externa.

d) Eucariontes, nucleóide, Gram-positivas, Gram-negativas, interna.

02. Os seres procariontes possuem uma única célula capaz de realizar todas as funções do
organismo. De acordo com o assunto estudado, marque a alternativa correta:

a) O pilus F é uma estrutura que auxilia a bactéria a se dividir por fissão binária.

b) Os cílios e os flagelos são estruturas que ajudam na captura de alimentos para a bactéria.
Microbiologia e Imunologia

c) Os ribossomos são muito importantes porque atuam produzindo proteínas essenciais


para o funcionamento da bactéria.

d) Os plasmídeos, capazes de proporcionar a bactéria resistência a determinados antibió-


ticos, são transferidos de uma bactéria para outra por fissão binária.

03. O teste de Gram é capaz de diferenciar bactérias para ajudar os profissionais da área
26 de saúde na condução das terapias. Com base no que você aprendeu, marque a alter-
nativa correta:

a) O teste de Gram é importante porque diferencia os microrganismos do domínio Archea


daqueles do domínio Bactéria.

b) O teste de Gram é capaz de diferenciar as bactérias patogênicas das não patogênicas.

c) O teste de Gram separa as bactérias Gram-positivas das Gram-negativas com base nas
diferenças existentes em suas paredes celulares.

d) O teste de Gram deixou de ser utilizado, tendo em vista que as substâncias utilizadas
em sua realização são prejudiciais ao meio ambiente.

04. Os probióticos são importantes para o nosso equilíbrio microbiano. Diante disso, mar-
que a alternativa correta:

a) Os probióticos matam as bactérias patogênicas, trazendo benefícios a nossa saúde.

b) As bifidobactérias, encontradas principalmente nos leites fermentados, são capazes de


fortalecer nosso sistema de defesa e até de impedir a progressão de tumores, quando
consumidos em quantidade ideal.

c) Todos os iogurtes convencionais comercializados apresentam probióticos em sua cons-


tituição. Por esse motivo, devemos consumir esses alimentos em excesso para fortale-
cer nosso sistema imunológico.

d) Os idosos apresentam saúde mais fragilizada por causa da ausência de bifidobactérias


em seu intestino.

05. Dentre as bactérias listadas abaixo, assinale a alternativa que consta apenas bactérias
que trazem benefícios aos seres humanos, quando suas populações estão colonizando
em equilíbrio o nosso organismo.

Microbiologia e Imunologia
a) Lactobacillus, Helicoabter pilori, Shigella.

b) Candida albicans, Escheria coli, Staphylococcus.

c) Salmonella, Shigella e Streptococus.

d) Lacotbacillus, Escherichia coli, Bifidobacterium.

27
Competência
02
Identificar as patologias
bacterianas com suas manifestações
clínicas, estabelecendo mecanismos
de controle
Identificar as patologias
bacterianas com suas manifes-
tações clínicas, estabelecendo
mecanismos de controle

Todos nós já ficamos doentes pelo menos uma vez na vida, não é verdade? Mas você
sabe quais são os microrganismos responsáveis por cada doença que lhe acomete? Nesta

Microbiologia e Imunologia
competência, você vai identificar as doenças causadas por bactérias que são consideradas
mais importantes. Vamos lá?

Você já aprendeu, na competência anterior, como as bactérias são organizadas. Agora,


você poderá reconhecer como algumas delas são capazes de prejudicar nossa saúde.

A pele, maior órgão de nosso corpo, é a primeira barreira encontrada pelos microrganis-
mos. Além de liberar secreções ácidas, apenas pequenas partes da pele tem umidade sufi-
ciente para abrigar grandes populações de bactérias, como as axilas e a região do períneo. 31
A pele ainda apresenta antibióticos chamados defensinas, que atuam nos defendendo dos Períneo: no homem
é a região que vai
seres indesejáveis. Contudo, alguns micróbios conseguem ultrapassar essas barreiras e
da raiz do pênis
provocar infecções. Você imagina como isso acontece? Vejamos! até o ânus. Já na
mulher, situa-se da
porção inferior dos
grandes lábios até
A diversidade da bactéria Staphylococcus aureus o ânus.

Bactérias do gênero Staphylococcus possuem enzimas que possibilitam a invasão ao


hospedeiro. Por produzirem muitas toxinas, elas penetram em nosso corpo e invadem nos-
sos tecidos. As feridas na pele também são portas de entrada para esses patógenos, muito
presentes em ambientes hospitalares.

Staphylococcus aureus é uma espécie de bactéria Gram-positiva que se apresenta em


forma de cocos, que se agrupam originando estruturas semelhantes aos cachos de uvas.
São imóveis e possuem uma cápsula viscosa de polissacarídeos que os protege contra os
glóbulos brancos de nosso corpo, os quais as atacam nos momentos de infecção.
Figura 8 (a) – Bactéria patogênica Gram-positiva s, causa- Figura 8 (b) – Aspecto das colônias de Staphylococcus
dora de diversas infecções aureus em forma de cachos de uva
Fonte: <http://upload.wikimedia.org/ Fonte: <http://www.microbeworld.org/index.php?
wikipedia/commons/d/d3/ option=com_jlibrary&view=article&task=download&id=7611>.
Staphylococcus_aureus_VISA_2.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015. Acesso em: 20 jul. 2015.

Bactérias desta espécie são anaeróbias facultativas, o que significa que elas podem
Microbiologia e Imunologia

sobreviver tanto na presença quanto na ausência de oxigênio. Você sabia que esses mi-
cróbios causam diversos tipos de infecção, desde simples acnes e furúnculos até graves
pneumonias? Eles podem causar ainda impetigo, intoxicações alimentares e infecções
hospitalares. Esta bactéria produz a toxina que ocasiona a síndrome do choque tóxico,
infecção tão grave que chega a matar.

Esses microrganismos têm grande capacidade de se tornar resistentes a antibióticos. A


32 maioria das doenças causadas por Staphylococcus aureus ou S. aureus são disseminadas
de pessoa para pessoa, por contato direto, ou por contato com objetos contaminados, como
roupas, toalhas e talheres. O tratamento dessas doenças deve ser feito por antibiótico.

Importante
Os antibióticos são as principais substâncias no combate às infecções bac-
terianas, contudo, o uso indiscriminado dessa terapêutica faz com que as
bactérias se tornem mais resistentes, pois criam ambientes onde as células
que resistem as drogas prosperem.

Na intoxicação alimentar, carnes processadas, como presunto e carne de porco salga-


da, são as que normalmente podem apresentar contaminação por S. aureus, já que ela é
capaz de crescer em altas concentrações de sal.
Esse micróbio também é encontrado na nasofaringe. Portanto, se a pessoa que prepara
o alimento espirrar ou estiver com as mãos contaminadas, pode introduzir o patógeno no
alimento. Se a comida permanecer em temperatura ambiente ou superior, a bactéria se
multiplica e libera a toxina capaz de causar a intoxicação alimentar. O pior é que o alimento
não aparenta estar estragado e o seu sabor não muda, impedindo que as pessoas iden-
tifiquem a contaminação. Por esse motivo, é muito importante a higienização correta das
mãos antes de manipular os alimentos — para controlar a transmissão desse patógeno.

Cerca de quatro horas após a ingestão do alimento, o indivíduo apresenta vômito, diar-
reia, dor no abdome, náuseas, podendo ter também suores, dores de cabeça e desidra-
tação. Os sintomas duram em média 24 horas. O tratamento deve ser feito para aliviar a
diarreia e as dores; e os antibióticos não são recomendados, tendo em vista que é a toxina
bacteriana que provoca esses sintomas e não a multiplicação da bactéria.

Microbiologia e Imunologia
Vibrio cholerae: o agente etiológico da cólera
Você já deve ter ouvido falar da doença cólera. O Vibrio cholerae é o agente causador
desta doença — muito frequente em países em desenvolvimento devido à falta de sanea-
mento básico. Até hoje, já foram registradas sete pandemias de cólera.
Períneo: no homem
é a região que vai 33
da raiz do pênis
até o ânus. Já na
mulher, situa-se da
porção inferior dos
grandes lábios até
o ânus.

Figura 9 – Vibrio cholerae, bactéria patogênica Gram-negativa que apresenta forma de vibrião e um flagelo polar
Fonte: <https://s3.amazonaws.com/healthtap-public/ht-staging/user_answer/reference_image/8742/large/Cholera.jpeg>.
Acesso em: 20 jul. 2015.

Esses vibriões são bactérias Gram-negativas, anaeróbias facultativas, que se apresen-


tam na forma de bacilos levemente curvados, encontrados em ambientes aquáticos, ca-
pazes de sobreviver em águas contaminadas ou salinizadas. Por esse motivo, esses mi-
crorganismos são transmitidos principalmente através da ingestão de água e de alimentos
contaminados, causando gastroenterite e forte diarreia. Os vibriões são susceptíveis aos
ácidos presentes em seu estômago, por isso afetam mais facilmente indivíduos cuja pro-
dução de ácido gástrico esteja diminuída ou neutralizada.

Os vibriões produzem a toxina colérica que é libera quando há lise da célula, isto é,
quando a parede celular da bactéria se rompe, a célula morre e libera seu conteúdo para
o meio. Grande parte dos microrganismos do gênero Vibrio spp se locomove através de
movimentos rápidos realizados por um flagelo polar. Além disso, esses micróbios são por-
tadores de plasmídeos e fímbrias — já estudados na competência um.

Muitas pessoas podem apresentar infecção assintomática. No entanto, algumas delas


podem desenvolver infecções tão graves que chegam a matar. Nesses casos, os pacien-
tes podem perder mais de um litro de líquido por hora através de diarreia e vômito, e o
patógeno só não é varrido do trato gastrointestinal porque se adere à parede do intestino
Microbiologia e Imunologia

através das fímbrias. A grande perda de líquido faz com que o indivíduo desidrate, sinta
câimbras e tenha uma diminuição dos eletrólitos. Além disso, os rins podem falhar e pode
Eletrólitos: são haver também arritmia cardíaca. As cepas que não se aderem ao intestino não conseguem
íons condutores de
estabelecer infecção no hospedeiro.
eletricidade que
participam de nos-
O diagnóstico é realizado através de exame de fezes no início da doença e o tratamento
so metabolismo,
como o magnésio, deve ser feito para hidratação e reposição dos fluidos e eletrólitos perdidos. Em casos mais
34 o potássio e o
graves é recomendado o uso de antibióticos. Higienização correta dos alimentos, esteriliza-
sódio.
ção da água e uso de instalações sanitárias adequadas são medidas capazes de diminuir
a incidência da doença.

Enterobactérias: as bactérias gastrointestinais


Escherichia spp., Salmonella spp. e Shigella spp. são gêneros de bactérias encontradas
no trato gastrointestinal e, em sua maioria, atuam como fermentadores de glicose e ou-
tros carboidratos que ingerimos em nossa alimentação. Apresentam-se como bastonetes
Gram-negativos, anaeróbios facultativos, que se locomovem através de flagelos peritríque-
os, isto é, que se apresentam em toda a periferia da célula. Ressaltamos ainda a presença
de fímbrias que atuam aderindo a bactéria em superfícies ou mucosas, além das pilus
sexuais, que são capazes de trocar informações genéticas — como vimos na competên-
cia um. Além disso, as enterobactérias produzem bacteriocinas, proteínas que impedem o
crescimento de outras bactérias relacionadas, o que proporciona um equilíbrio ecológico
das bactérias no trato digestivo.
Escherichia coli: a bactéria modelo
Você aprendeu na competência um que a Escherichia coli faz parte da microbiota nor-
mal dos seres humanos. No entanto, quando o indivíduo está com o sistema imune enfra-
quecido, ela pode provocar infecção. A ingestão de carne mal cozida e falta de higiene na
manipulação dos alimentos também são formas de transmissão desse patógeno.

Microbiologia e Imunologia
Figura 10 – Escherichia coli apresentando flagelos peritríquios e fímbrias
Fonte: <http://www.cdc.gov/ecoli/images/ecoli-1184px.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Esta espécie é uma das bactérias mais bem estudadas pelos microbiologistas, servindo 35
como modelo biológico importante para pesquisas básicas. Quando esse microrganismo
é encontrado em água e alimentos, há indícios de que existe contaminação por fezes. Tais
micróbios podem causar infecções urinárias, diarreia, meningites e sepses (infecções).

Essas bactérias provocam a chamada diarreia do viajante, semelhante à provocada


pela bactéria Salmonella spp., infecção que vamos ver a seguir. A enterotoxina (entero
significa intestino) liberada por esse microrganismo aumenta a produção de fluidos e ele-
trólitos, provocando diarreia. A E. coli enterotoxigênica produz enterotoxina não invasiva,
que provoca diarreia semelhante a da cólera em casos leves. Já os representantes da E.
coli enteroagregativa organizam-se em grupos de células, como se fossem tijolos empi-
lhados. Por fim, a E. coli enteroinvasiva invade as células intestinais e ocasiona disenteria
semelhante a da Shigella spp., provocando inflamação e febre. Essa bactéria também será
estudada nesta competência.

Recentemente foram identificadas linhagens de E. coli enterro-hemorrágicas produto-


ras de toxina Shiga, semelhante a produzida pelas bactérias do gênero Shigella spp., que
são liberadas no lúmen intestinal. Essa toxina pode levar a inflamação do colo e causar
hemorragia. O tratamento das infecções por E. coli deve ser feito para aliviar os sintomas
e proporcionar reidratação. O controle pode ser realizado através de medidas de higiene
adequadas na manipulação de alimentos e cozimento adequado da carne.

As salmonelas patogênicas
Você imagina que pode estar sendo contaminado por uma bactéria ao comer um sim-
ples ovo mal passado? Pois saiba que isso é possível! Espécies do gênero Salmonella
são encontradas principalmente na água, nos alimentos, como ovos, frango e carne mal
passada, e em fezes de indivíduos doentes. Esta bactéria pode sobreviver no ovo porque a
albumina, presente na clara do ovo, atua como um conservante natural, o que favorece a
manutenção da bactéria naquele meio. Portanto, quando for ingerir ovos tenha a certeza
de que eles estão bem cozidos.

A salmonelose é uma das infecções de origem alimentar mais comuns. Seus bacilos são
Microbiologia e Imunologia

portadores de plasmídeos resistentes a antibióticos e de vários tipos de fimbrias capazes


de aderir às células intestinais. Esta doença é causada pela Salmonella enterica que infec-
ta vários animais de sangue quente e apresenta mais de 2.400 variedades sorológicas. Os
testes sorológicos são muito úteis para identificar e diferenciar os sorotipos desta espécie.

36

Figura 11 – Duas bactérias da espécie Salmonella entérica apresentando flagelos peritríqueos


Fonte: <https://microbewiki.kenyon.edu/images/1/1a/S_enterica.JPEG>. Acesso em: 20 jul. 2015.

A salmonelose é caracterizada por infecção aguda do intestino e diarreia, sendo frequentes


as dores de cabeça, febre, cólicas e calafrios. Seu período de incubação varia de 12 a 36 horas
e sua taxa de mortalidade é baixa, menor que 1%, sendo maior em idosos e recém-nascidos.

O curioso é que mesmo após o desaparecimento dos sintomas, a bactéria pode ser
encontrada nas fezes dos indivíduos que foram infectados por até seis meses. O controle
desta doença deve ser feito através da lavagem dos alimentos frescos e das mãos após
o uso de instalações sanitárias adequadas. Também é importante evitar o consumo de
ovos e carnes mal cozidas. O tratamento para os casos de intoxicações alimentares não
necessita de antibióticos e deve ser feito através de reidratação. Já a Salmonella typhi
causa a febre tifóide, doença mais grave, causada por bactérias desse gênero que exige
tratamento com antibiótico.

Microbiologia e Imunologia
Figura 12 – Salmonella typhi, microrganismo responsável pela febre tifóide
Fonte: <http://web.uconn.edu/mcbstaff/graf/Student%20presentations/
Salmonellatyphi/StyphiImage1.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

37
Ocorre mais comumente em crianças que, quando contaminadas, são acometidas por
uma infecção sistêmica, atingindo todo o organismo, a qual se inicia na mucosa do intes-
tino — onde a bactéria se adere através das fímbrias —, e progride invadindo as células
epiteliais, disseminando-se por todo o corpo através da circulação sanguínea.

No fígado, no baço e na medula óssea esses microrganismos se multiplicam e voltam


para a sangue originando os sintomas: dor de cabeça, dor abdominal, apatia e febre per-
sistente durante 10 a 14 dias. O paciente pode ainda sentir, no início da infecção, calafrios,
tontura, falta de apetite, dor de garganta, tosse e dores musculares.

O sequenciamento do genoma da S. Typhi está auxiliando os cientistas na busca de


genes alvos para o desenvolvimento de novos antibióticos e vacinas contra a febre tifóide.
Algumas vacinas estão sendo usadas, mas ainda apresentam eficácia variável e não po-
dem ser utilizadas por recém-nascidos e crianças.

A disenteria bacilar
A shigelose, também conhecida como disenteria bacilar, é uma doença potencialmente
letal causada por espécies do gênero Shigella, ela pode infectar humanos e outros pri-
matas, como macacos e chimpanzés. A shigelose, assim como a salmonelose, apresenta
período de incubação mais longo que as demais intoxicações bacterianas gastrointesti-
nais, podendo durar de doze horas a duas semanas — tempo necessário ao crescimento
do patógeno no hospedeiro. Frequentemente, há intima relação da Shigella spp. com a
E. coli patogênica.

Este gênero apresenta quatro espécies, todas patogênicas. A Shigella sonnei causa
uma leve disenteria, também conhecida como disenteria do viajante, mais comum em
crianças de até cinco anos de idade. Já a Shigella dysenteriae é a espécie mais viru-
lenta, sendo frequentemente encontrada em países tropicais onde a mortalidade pode
chegar a 20% dos casos.
Microbiologia e Imunologia

38

Figura 13 – Shigella dysenteriae, espécie virulenta capaz de matar


Fonte: <http://www.denniskunkel.com/gallery/bacteria/21200B.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015

Sua transmissão se dá de modo fecal-oral, sendo necessária uma quantidade muito


pequena de bactérias para o desencadeamento da infecção. Bactérias desta espécie
liberam a toxina Shiga, altamente virulenta, capaz de destruir os tecidos do intestino.
Esses micróbios proliferam bastante no intestino delgado, mas se alojam principalmente
no intestino grosso.

Os sintomas provocados pela S. dysenteriae incluem disenteria grave, que pode chegar
até 20 evacuações diárias, cólicas abdominais, prostração e febre. Ela é tão poderosa que
é capaz de matar os nossos macrófagos, combatentes dos microrganismos invasores.
A vacina contra este patógeno ainda não foi desenvolvida. Normalmente é indicada a
reidratação oral e, em casos graves, a terapia com antibiótico. Para evitar sua transmissão,
a higienização correta das mãos e dos alimentos é recomendada.

Helicobacter pylori e as complicações do trato


gastrointestinal
Você pode observar que existem muitas bactérias capazes de colonizar o nosso intes-
tino e de provocar doenças. Mas você sabia que muitos casos de gastrite, úlcera e câncer
de estomago são provocados por uma bactéria chamada Helicobacter pylori? Essa espécie
é Gram-negativa e apresenta forma de bacilo curvilíneo com múltiplos flagelos, o que dá
grande mobilidade à célula. Ela pode viver em condição microaerófila, em que o teor de
oxigênio é diminuído e a concentração de gás carbônico é alta.

Microbiologia e Imunologia
39

Figura 14 – Helicobacter pylori, bactéria causadora de gastrite, úlcera e câncer de estômago


Fonte: <http://www.drbayma.com/wp-content/uploads/2012/02/49302-300x240.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Os seres humanos são reservatórios desta bactéria, nos quais a maioria das infecções
ocorre antes dos 10 anos de idade. A transmissão entre pessoas se dá de modo fecal-oral.
As infecções geralmente persistem por um longo período, até que a pessoa faça o trata-
mento específico, ou por toda a vida.

Durante a fase aguda, o indivíduo sente como se estivesse com o estômago cheio,
náusea, vômito e diminuição na produção de ácido clorídrico. Quando a doença torna-se
crônica, cerca de 10 a 15% dos pacientes desenvolvem úlcera onde há intensa inflamação
local. Como a bactéria se adere à mucosa gástrica, não pode ser detectada em amostra de
sangue ou fezes, portanto, seu diagnóstico é feito por exame do tecido gástrico através de
biópsia local. O tratamento deve ser feito com uma combinação de drogas e, atualmente,
uma vacina está sendo testada. O seu controle deve ser realizado através de medidas de
educação sanitária.

Atividade 01
Você já percebeu que as bactérias estudadas até agora são capazes de
provocar doenças em nosso sistema digestório? Diante disso, construa
um quadro comparativo dessas espécies organizando as informações em
Microbiologia e Imunologia

colunas, constando: nome da doença, nome da espécie causadora da do-


ença, tipo (forma) da célula, sintomas da doença, modos de transmissão
e suas formas de controle. Com o quadro pronto, descubra as semelhan-
ças e diferenças entre as patologias.

40
As doenças causadas por Clostridium spp.
Você sabia que algumas bactérias podem atingir o seu sistema nervoso? Os micror-
ganismos pertencentes ao gênero Clostridium são bastonetes anaeróbios obrigatórios,
pois não crescem na presença de oxigênio. São microrganismos ubíquos, isto é, estão
por toda parte, sendo encontrados no solo, na água, em esgotos e ainda no intestino
humano. Produzem endósporos, estruturas resistentes ao calor e a compostos quími-
cos, que chegam a deformar a célula. Tais endósporos são muito importantes, pois
permitem que as bactérias sobrevivam em condições ambientais diversas e se man-
tenham viáveis, voltando a crescer rapidamente quando as condições de nutrientes
forem adequadas e houver ausência de oxigênio.

O Clostridium tetani é a bactéria responsável pelo tétano. É um bacilo grande e móvel


que forma esporos arredondados. Essa espécie é tão sensível ao oxigênio que quando as
células entram em contato com ele tornam-se rapidamente inviáveis. Todavia, os esporos
formados permitem que a bactéria sobreviva por muito tempo em condições adversas,
sendo comumente encontrado em solo com fezes de animais.
Figura 15 – Clostridium tetani, agente etiológico do tétano
Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-ZdumOmHW_w4/UdHonTU3ibI/AAAAAAAAAJ8/
WBqeOPNUVpw/s640/tetanus.png>. Acesso em: 20 jul. 2015.

O tétano e o botulismo são duas doenças bacterianas que afetam o sistema nervoso.
As bactérias que causam tétano não provocam inflamação local, contudo, liberam a teta-

Microbiologia e Imunologia
nopasmina, uma neurotoxina muito potente capaz de penetrar no sistema nervoso central
e impedir que haja relaxamento muscular, causando os espasmos, contrações musculares
involuntárias — característicos do tétano. Os músculos da mandíbula se contraem de tal
forma que a pessoa fica impedida de abrir a boca. Pode ocorrer ainda arritmia cardíaca,
sudorese, desidratação e oscilação de pressão arterial. Caso os músculos respiratórios
comecem a espasmar, o paciente entra em óbito.

Quando nos ferimos com algum instrumento, devemos higienizar adequadamente a 41


área atingida, pois muitas vezes esses objetos estão enferrujados e contaminados. Caso
não haja assepsia adequada, as condições anaeróbicas favorecem o crescimento do mi-
crorganismo no local da lesão e a infecção tem início. Os usuários de drogas, por utilizarem
seringas, também são susceptíveis a contaminação por C. tetani.

O tétano neonatal, em recém-nascidos, ocorre devido à infecção do cordão umbilical, pro-


gredindo para uma infecção generalizada. A taxa de mortalidade em recém-nascidos chega
a 90%. Aqueles que sobrevivem, geralmente, apresentam deficiências no desenvolvimento.

A vacina é utilizada com eficiência, inativando a toxina produzida pela bactéria. Ela tam-
bém imuniza o paciente contra a difteria, doença que estudaremos em breve. No entanto,
nos países em desenvolvimento, onde a vacinação não está disponível, esta bactéria é
responsável por muitas mortes. Aproximadamente um milhão de casos ocorrem em todo
o mundo e a taxa de mortalidade varia de 30 a 50%. A doença ocorre principalmente em
pacientes idosos, pois eles têm a imunidade reduzida.

Você já ouviu falar em botulismo? É uma doença causada pela bactéria Clostridium
botulinum. Os produtores de toxina botulínica são grandes bacilos anaeróbios formadores
de esporos. A toxina é termolábil, podendo ser destruída quando mantida por 10 minutos
em temperatura de 60 a 100º C. Ela bloqueia a transmissão entre os neurônios, causando
paralisia flácida — caracterizada por uma fraqueza dos músculos periféricos. Há casos de
morte quando ocorre paralisia respiratória.
Microbiologia e Imunologia

Figura 16 – Clostridium botulinum, bactéria causadora do botulismo


Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-XMogegZwM6s/UMj2_hKnSfI/AAAAAAAAKvE/DQXFeqMKaV4/s640/
Clostridium+botulinum.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

O botulismo alimentar está associado ao consumo de alimentos em conserva. Por esse


motivo, é importante fervermos esses alimentos antes de consumi-los, como, por exemplo,
42 o palmito. O indivíduo contaminado apresenta fraqueza, tontura, visão turva com pupilas fi-
xas e dilatadas, boca seca, constipação e dor abdominal. Geralmente, para que o paciente
se recupere por completo, são necessários muitos meses ou anos — tendo em vista que as
terminações nervosas demoram a se recompor.

O botulismo infantil ocorre com a ingestão de alimentos, como mel e leite em pó con-
tendo esporos botulínicos ou através da ingestão de poeira ou solo contaminado. Crianças
com menos de um ano de idade aparentam atraso no crescimento, além de apresentarem
constipação e choro fraco.

O tratamento deve ser feito com antibióticos, além de lavagem gástrica, para elimina-
ção da bactéria. A antitoxina botulínica também deve ser aplicada para neutralizar a toxina
presente na corrente sanguínea.

As bactérias Lactobacillales
Muitos gêneros de bactérias patogênicas importantes são encontrados na ordem Lac-
tobacillales, como, por exemplo, Streptococcus spp., Enterococcus spp. e Listeria spp.
Vamos estudá-los?
Os Streptococcus spp.
Representantes do gênero Streptococcus são cocos esféricos de 1 a 2 µm de diâmetro
que formam cadeias curtas de bactérias Gram-positivas capazes de causar várias infecções.
A maioria das espécies é anaeróbia facultativa, mas algumas só crescem na presença de gás
carbônico. As espécies patogênicas liberam substâncias que destroem as células que fago-
citam as bactérias. Os tecidos são muito lesados nas infecções, sofrendo destruição intensa
pela ação das enzimas produzidas pela bactéria — o que piora a infecção.

Você sabia que a maioria das cáries dentárias é causada pelo Streptococcus mutans? E
que grande parte das faringites é ocasionada por Streptococcus pyogenes? A faringite estrep-
tocócica se manifesta com a sintomatologia de inflamação da garganta, cefaleia, mal-estar e
febre. Sua transmissão se dá através de contato com secreções respiratórias contaminadas.

Microbiologia e Imunologia
43

Figura 17 – Aspecto de garganta infectada por Streptococcus pyogenes, com inflamação evidente
Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4a/Pos_strep.JPG>. Acesso em: 20 jul. 2015.

A superfície da célula bacteriana de S. pyogenes possui um fator de virulência importan-


te chamado “proteína M” que protege a bactéria contra a fagocitose e a auxilia a invadir as
células epiteliais, o que garante a penetração do micróbio em tecidos profundos e faz com
que as infecções persistam.

Curiosidade
As nossas células de defesa, como, por exemplo, os macrófagos, absorvem
os microrganismos que penetram em nosso corpo, envolvendo-os através de
expansões da membrana celular — isso é o que chamamos de fagocitose.
Algumas cepas de S. pyogenes possuem cápsula em sua estrutura e geralmente estão
associadas a graves infecções sistêmicas — aquelas em que o organismo é afetado como
um todo. Essa bactéria também é responsável por doenças, como febre escarlatina e febre
reumática, que são complicações da faringite

Querendo mais
Saiba mais sobre a escarlatina, visitando o site: <http://drauziovarella.com.
br/crianca-2/escarlatina/> e para aprender mais sobre a febre reumática,
acesse: <http://drauziovarella.com.br/letras/f/febre-reumatica/>.
Microbiologia e Imunologia

As cepas de Streptococcus spp. que causam faringite são diferentes daquelas que in-
fectam a pele. No impetigo (ou pioderma), também causado por S. pyogenes, há infecção
das áreas expostas da pele com a liberação de pus. Essa bactéria é transmitida por contato
direto ou indireto. O patógeno penetra nos tecidos subcutâneos através de lesões na pele
ocasionadas por arranhões ou picada de insetos. Quando essa doença progride, as pústu-
44 las se rompem e crostas na pele são formadas.

A erisipela, outra doença causada por S. pyogenes, é caracterizada por uma in-
fecção aguda da pele e é mais comum em crianças e idosos. A inflamação provoca
vermelhidão na pele, o que faz com que o paciente sinta calor e dor localizada, frequen-
temente na perna. Os linfonodos aumentam de tamanho e a infecção pode se tornar
sistêmica, causando febre.

Figura 18 – Perna com erisipela causada por S. pyogenes


Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-hdSybXeVtvA/U006vowmSdI/AAAAAAAAA7Q/bmvUPlayH1w/s1600/Foto+-0019.jpg>.
Acesso em: 20 jul. 2015.
Streptococcus pneumoniae é a bactéria responsável pela pneumonia comum, denomi-
nada pneumonia típica. As células bacterianas se dispõem aos pares apresentando uma
cápsula densa, o que dificulta a fagocitose. Os alvéolos pulmonares ficam cheios de fluidos
dificultando o funcionamento dos pulmões, o que prejudica a oxigenação do corpo. Dor no
tórax, dificuldade de respirar e febre alta são os sintomas mais evidentes, atingindo princi-
palmente crianças e idosos. A transmissão do patógeno se dá através das vias respirató-
rias e o tratamento deve ser feito com antibióticos. A vacina é o melhor meio de prevenção.

Os Enterococcus spp.
Você sabia que muitas regiões do nosso corpo apresentam baixa oxigenação, mas são
ricas em nutrientes? Os Enterococcus spp. estão exatamente nessas regiões, como por
exemplo na boca, na vagina, no estômago, no intestino e, consequentemente, nas fezes.

Microbiologia e Imunologia
São micróbios resistentes que permanecem em nossas mãos e roupas de cama e que
também se espalham facilmente em ambientes hospitalares. Com o passar do tempo,
bactérias desse gênero tornaram-se resistentes a muitos antibióticos e, atualmente, são os
maiores agentes causais de infecções hospitalares. Feridas cirúrgicas e o aparelho urinário
são frequentemente infectados por Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium.

45

Figura 19 – Enterococcus faecium, causador de infecções hospitalares


Fonte: <http://cdn.c.photoshelter.com/img-get/I0000ulICDX2Ik30/s/600/600/284250.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

A Listeria spp.
O gênero Listeria apresenta uma espécie patogênica, anaeróbia facultativa, em forma
de pequeno bacilo móvel, denominada Listeria monocytogenes. Tais bacilos aparecem iso-
lados ou em grupos, formando pares ou cadeias curtas.
Figura 20 – Listeria monocytogenes, agente etiológico da listeriose
Fonte: <http://cdn.amanaimages.com/cen3tzG4fTr7Gtw1PoeRer/01808012157.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

É importante destacar que essas células podem ser confundidas com as de Streptococ-
cus pneumoniae e Enterococcus. Portanto, a observação das amostras deve ser feita com
Microbiologia e Imunologia

cautela, tendo em vista que tanto S. pneumoniae quanto L. monocytogenes podem causar
meningite. E, além de meningite, a L. monocytogenes é capaz de provocar gastroenterite,
encefalite e septicemia, com taxa de mortalidade maior que 20%.

Esse microrganismo pode ser encontrado no solo, na água, em esgotos e em alimentos,


principalmente laticínios (leite, requeijão), enlatados (patês, defumados, salsichas), carne
de peru e vegetais crus. Este é um dos patógenos que mais preocupa a indústria alimentí-
46 cia. E essa preocupação é pertinente, pois as infecções ocorrem através da ingestão dos
alimentos contaminados.

O trato gastrointestinal de infecções de L. monocytogenes e outros patógenos, ao mes-


mo tempo, faz com que aumente a invasão bacteriana. Os sintomas frequentes são febre,
dores musculares, dores de cabeça, diarreia e náuseas.

Mesmo quando são fagocitadas pelas células de defesa do nosso corpo, essas bacté-
rias ainda sobrevivem em nosso interior. Além disso, crescem em ampla faixa de tempera-
tura (de 4 a 45º C), suportando a temperatura dos refrigeradores, e ainda são capazes de
resistir ao congelamento e a alta concentração de sal (20%).

Quando mulheres gestantes entram em contato com esse tipo de patógeno, pode haver
prejuízo para o feto ou até mesmo fazer com que ele nasça morto. Idosos e adultos debili-
tados também estão no grupo de risco.

O controle deve ser realizado através da higienização das mãos na manipulação de


alimentos e também através da cocção (cozimento) dos mesmos. Deve-se evitar ainda
o consumo de leite e queijos não pasteurizados e vegetais lavados inadequadamente. O
tratamento pode ser feito através de associação de antibióticos.
Mycoplasma pneumoniae
Você sabia que muitas infecções respiratórias são causadas por bactérias? Vejamos!

Membros do grupo Mycoplasma não apresentam parede celular e, por esse motivo,
aparentam várias formas, sendo denominados pleomórficos. São células diminutas que
medem de 0,1 a 0,25 µm — representando os menores indivíduos de vida livre conhecidos,
capazes de se autoduplicar.

A bactéria mais conhecida desse gênero é a Mycoplasma pneumoniae, causadora da


pneumonia atípica — também conhecida como pneumonia por micoplasma. Por muitas
vezes, a pneumonia causada por M. pneumoniae é confundida com a pneumonia viral.
Os sintomas persistentes são tosse, dor de cabeça e febre baixa. O diagnóstico é feito por
testes sorológicos, o tratamento é feito com antibiótico.

Microbiologia e Imunologia
As actinobactérias
As actinobactérias são bactérias Gram-positivas que se caracterizam por formarem es-
poros. Vejamos como seus membros apresentam-se.

O gênero Mycobacterium 47
Os membros do gênero Mycobacterium são bastonetes aeróbios que não formam
esporos. Seu crescimento é filamentoso, muito parecido com o dos fungos, daí sua
denominação — myco significa fungo. Apesar de serem bactérias Gram-positivas, sua
parede celular possui estrutura bem parecida com a parede celular das bactérias
Gram-negativas. Sua camada mais externa é formada de ácidos micólicos, que se
assemelham a cera, fazendo com que sua parede seja resistente à água — o que evita
o ressecamento.

Você sabia que a tuberculose é causada por uma espécie desse gênero? Pois é, ela é
uma pandemia que causa mais de dois milhões de mortes por ano, principalmente entre
os pacientes portadores de HIV, que acometem o trato respiratório inferior. É causada pela
bactéria Mycobacterium tuberculosis, um bacilo delgado com aeróbio obrigatório — que
cresce lentamente e tende a formar cachos. Sua parede celular apresenta grande quanti-
dade de lipídeos, conferindo uma maior proteção à bactéria contra estresses ambientais,
como o ressecamento. Esses bacilos podem sobreviver por semanas em escarro seco,
sendo resistentes aos antissépticos e desinfetantes.
Microbiologia e Imunologia

Figura 21 – Mycobacterium tuberculosis, bactéria responsável pela tuberculose


Fonte: <https://nihdirectorsblog.files.wordpress.com/2013/01/tb_3.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Pode ser transmitida através da inalação dos bacilos que alcançam os pulmões
48 ou ainda pelo consumo de leite não pasteurizado contaminado. A tosse persistente
e o muco com sangue são os sintomas mais evidentes, mas o paciente ainda pode
apresentar perda de peso e apatia. O diagnóstico é feito com raios-X do tórax e com
exame do escarro.

As medidas profiláticas são o consumo de leite pasteurizado e a vacinação com BCG —


que apresenta maior eficiência em crianças. Como o bacilo cresce lentamente, o tratamen-
to deve ser prolongado, durando no mínimo seis meses, com uma combinação de três ou
quatro antibióticos. Esse tratamento é caro e essa doença continua sendo um dos maiores
problemas de saúde do mundo.

Outra bactéria importante desse gênero é a Mycobacterium leprae, causadora da


hanseníase. Possui forma de bacilo, é resistente a ácidos e está intimamente relaciona-
da à bactéria causadora da tuberculose. Esse patógeno atinge o sistema nervoso perifé-
rico, sobrevivendo à ação dos macrófagos, prejudicando a resposta imune.

Há duas formas principais de hanseníase. A primeira é a tuberculoide (neural), em que


áreas da pele insensíveis são circundadas por nódulos formando bordas. Nesses casos, a
recuperação pode ser espontânea quando as reações imunes forem eficazes.
Figura 22 (a) – Nódulos característicos da hanseníase
formando borda. Fonte: <http://www.especialista24.com/ Figura 22 (b) – Indivíduo com mão em forma de garra, uma
wp-content/uploads/2013/03/Doen%C3%A7a-de-Hansen- das características da hanseníase
-mal-de-Hansen-Lepra-morfeia-ou-mal-de-L%C3%A1zaro- Fonte: <http://louletania.blogs.sapo.pt/arquivo/Lepra.jpg>.
-Hansen%C3%ADase.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2015. Acesso em: 20 jul. 2015.

Microbiologia e Imunologia
Já na forma lepromatosa, ou progressiva, a bactéria infecta as células da pele e nódulos
desfigurados aparecem em todo o corpo. Nesses casos, a resposta imune não é tão eficaz,
a mucosa do nariz é afetada e o indivíduo aparenta ter face de leão, como mostrado na
Figura 23, e as mãos aparentam forma de garra — podendo ocorrer necrose tecidual.

49

Figura 23 – Indivíduo com face de leão


Fonte: <http://lh5.ggpht.com/-5B2w0tNocMc/Tt6rkhkcQwI/AAAAAAAAhts/kpKnMWUjwmI/%
252521cid_E224B2B9697146BFB5309B343444DE4F%252540hot_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800>.
Acesso em: 20 jul. 2015.

Acredita-se que a transmissão se dá quando secreções com o patógeno entram em


contato com a mucosa nasal, mas isso somente ocorre quando há contato prolongado com
o paciente. A manifestação dos sintomas pode ocorrer anos após a infecção. O diagnóstico
é realizado através de uma biopsia da pele na borda de uma lesão ativa.
Na idade média, as pessoas denominadas leprosas eram excluídas da sociedade e che-
gavam até a usar sinos para que as pessoas as evitassem. O medo de contaminação era
constante. Contudo, atualmente o tratamento é feito sem isolamento dos pacientes, tendo
em vista que a droga utilizada torna-os não contagiosos em poucos dias.

Mais de quinhentos mil novos casos de hanseníase são registrados no mundo anual-
mente, atingindo principalmente o Brasil, a África e a Ásia. Verificou-se atualmente que a
vacina contra tuberculose (BCG) confere alguma proteção contra a hanseníase. Entretanto,
estudos estão sendo realizados para o desenvolvimento de uma vacina específica.

O gênero Corynebacterium
A doença mais importante do gênero Corynebacterium é a difteria, doença respiratória
do trato superior causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae, bacilo pleomórfico
Microbiologia e Imunologia

Gram-positivo, que não forma esporos. Essa bactéria é disseminada pelo ar e resiste ao
ressecamento.

Uma característica típica da difteria é a presença de uma membrana cinzenta rígida


na garganta do indivíduo infectado, ela pode bloquear a passagem de ar para os pulmões.
Quando os nervos são atingidos pode haver paralisia facial.

50

Figura 24 – Criança com membrana cinzenta rígida na garganta, característica típica da difteria, causada pela bactéria
Corynebacterium diphtheria. Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/47/Dirty
_white_pseudomembrane_classically_seen_in_diphtheria_2013-07-06_11-07.jpg/220px-Dirty_white_pseudomembrane_
classically_seen_in_diphtheria_2013-07-06_11-07.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Algumas bactérias podem liberar toxinas que, mesmo em pequena quantidade, são
fatais. Por esse motivo, a terapia antitoxina deve ser realizada antes que a substância
tóxica atinja os tecidos. Depois que a toxina atinge o coração e os rins, a doença é fatal. A
vacina contra a difteria é a tríplice, na qual a antidiftérica está associada à antitetânica e
à anticoqueluche.

O gênero Leptospira
A leptospirose é uma das doenças mais importantes do sistema urinário. Bactérias
do gênero Leptospira apresentam forma em espiral extremamente fina e enrolada e, por
isso, são denominadas espiroquetas. A bactéria causadora da leptospirose é a Leptospi-
ra interrogans, disseminada por água contaminada e através da urina de animais, como
ratos e cachorros.

Microbiologia e Imunologia
Figura 25 – Leptospira interrogans com sua típica forma em espiral denominada espiroqueta.
51
Fonte: <http://cdn.wwnorton.com/college/biology/microbiology3
/micrograph/fig/C02/FIG02.06.D_MICROB3_CH02.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.

É importante lembrar que os animais domésticos devem ser imunizados através


de vacinas contra a leptospirose periodicamente, tendo em vista que a bactéria é
excretada juntamente com a urina desses animais. Se os seres humanos entrarem
em contato com a urina desses animais contaminados pela bactéria, eles podem
desenvolver a doença.

Leptospira interrogans é uma bactéria aeróbica obrigatória, isto é, que necessita da


presença de oxigênio para sobreviver. Esse patógeno penetra através de escoriações
na pele ou através das mucosas. O paciente apresenta dores musculares e de cabeça,
além de febre. Em casos raros, o fígado e os rins são infectados, o que pode levar a
morte. Como os sintomas são comuns aos de várias doenças, o seu diagnóstico é difí-
cil, sendo possível somente através de testes sorológicos. Se recuperado, o indivíduo
torna-se imune contra a sorovar infectada. O tratamento com antibiótico só é eficiente
no início da infecção.
Resumo
Nesta competência, você aprendeu que muitas bactérias podem ocasionar doenças em
seres humanos. Essas doenças podem provocar uma simples diarreia ou até mesmo levar
a morte. Diante disso, foram apresentadas a você as características morfológicas de várias
bactérias, fazendo uma correlação com as manifestações clínicas das doenças e dos seus
métodos de transmissão e controle.

Autoavaliação
01. A.M.F., sexo feminino, 66 anos de idade, há 24 horas apresenta sintomas de diarreia,
desidratação, dor abdominal e de cabeça. Sabendo que esses sintomas podem ser evi-
dentes em situações de intoxicação alimentar provocada por diversos tipos de bactéria,
Microbiologia e Imunologia

qual dos patógenos estaria descartado diante dos sintomas observados?

a) Vibrio Cholereae.

b) Stafilococcus aureus.

c) Salmonella entérica.

d) Clostridium tetani.

52
02. Bactéria presente na microbiota normal do trato gastrointestinal, utilizada como mode-
lo pelos microbiologistas, capaz de causar infecções quando o sistema imune do indiví-
duo encontra-se debilitado, provocando doenças como diarreia, infecções urinárias ou
meningite. A bactéria a que se refere o texto é:

a) Leptospira interrogans.

b) Listeria monocytogenes.

c) Escherichia coli.

d) Helycobater pylori.

03. Você estudou diversos mecanismos de controle para evitar as doenças bacterianas.
Qual das assertivas abaixo retrata os métodos de controle contra o botulismo causado
pela bactéria Clostridium botulinum?

a) O consumo de alimentos frescos somente deve ser realizado após higienização adequa-
da dos mesmos.
b) Os alimentos em conserva devem ser fervidos por 10 minutos em temperatura de 60 a
100º C, tendo em vista que a toxina botulínica é termolábil.

c) Como a transmissão se dá através do contato direto, deve-se evitar o contato com pes-
soas contaminadas por este patógeno.

d) É importante evitar entrar em contato com objetos utilizados pelo paciente infectado,
como talheres e roupas de cama.

04. Bactéria Gram-negativa em forma de bacilo curvilíneo, rica em flagelos, capaz de so-
breviver em condição microaerófila, isto é, com baixa concentração de oxigênio e alta
concentração de gás carbônico. As características descritas identificam uma bactéria
capaz de desencadear as seguintes patologias:

a) Gastrite, úlcera e câncer de estômago.

Microbiologia e Imunologia
b) Botulismo e tétano.

c) Cárie dentária, faringite e pneumonia.

d) Hanseníase e tuberculose.

05. A bactéria Shigella dysenteriae é uma espécie tão virulenta que pode levar a morte. Em
53
países tropicais, a morte por shigelose pode chegar a 20% dos casos. Diante do assunto
estudado, marque a alternativa correta:

a) Essa bactéria libera a toxina Shiga, muito virulenta, que pode destruir os tecidos intestinais.

b) A transmissão desse patógeno se dá através do contato com secreções mucosas.

c) Os sintomas da shigelose são diarreia leve, cólicas e ausência de febre.

d) Nosso sistema de defesa combate essa bactéria com eficiência, pois ela é uma célula
imóvel, que não apresenta flagelos.
Competência
03
Identificar a estrutura
viral e reconhecer o modo como as viroses
comprometem sua saúde
Identificar a estrutura
viral e reconhecer o modo como as
viroses comprometem sua saúde

Você já percebeu que diversas bactérias podem nos beneficiar, mas muitas outras po-
dem nos prejudicar. Nesta competência, você irá conhecer as principais doenças causadas

Microbiologia e Imunologia
por vírus e desvendar a estrutura biológica desses patógenos. Com certeza você já teve
alguma virose, como uma gripe, por exemplo. Que tal conhecer melhor esses vírus e enten-
der o que se passa no seu corpo quando isso acontece? Vamos lá?

Conhecendo a estrutura viral


Você sabia que muitos estudiosos não consideram os vírus seres vivos? Isso acontece 57
porque os vírus não conseguem se manter vivos nem se reproduzir sem parasitar uma
célula. Por esse motivo, eles são considerados acelulares e são denominados parasitas
intracelulares obrigatórios.

Os vírus são estruturas biológicas simples formadas basicamente por material genético
e proteínas. O material genético dos vírus pode ser formado por DNA ou RNA, que é envolvi-
do e protegido pelo capsídeo, uma estrutura formada por unidades de proteínas chamadas
de capsômeros. A esse conjunto damos o nome de núcleocapsídeo. Quando está com-
pleta, a partícula viral é capaz de infectar uma célula hospedeira e é chamada de vírion.
Alguns tipos de vírus possuem uma estrutura externa ao capsídeo, chamada de envelope
ou invólucro lipoprotéico, formado por lipídeos provenientes da membrana celular da célula
hospedeira e por proteínas virais.
A) Partícula viral com proteínas, for-
mando o capsídeo em cinza; e o mate-
rial genético em vermelho, formando o
núcleocapsídeo.

B) Partícula viral envelopada. Observe


o envelope destacado em azul e a sua
superfície contendo proteínas antigê-
Microbiologia e Imunologia

nicas, em amarelo.

Figura 26 – Desenho esquemático da estrutura viral


básica. Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/3/3a/Virus_scheme.jpg>.
Acesso em: 21 jul. 2015.

58
Muitos capsídeos virais têm forma geométrica, sendo proporcional ao tamanho do seu
genoma. Na simetria helicoidal os capsômeros se dispõem em hélice e na simetria icosa-
Genoma: conjunto édrica os capsômeros se organizam de modo que formam uma estrutura com vinte lados
de genes de um
triangulares iguais (estrutura observada nos vírus da Figura 27).
organismo, isto é, o
seu material genéti-
co que, no caso dos
vírus, pode ser DNA
ou RNA.

Figura 27 – Desenho esquemático de partícula viral em simetria helicoidal, geralmente encontrado infectando vegetais.
Observe as proteínas formando o capsídeo em verde e o material genético em azul. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/8/8a/Non-enveloped_helical_virus.svg>. Acesso em: 21 jul. 2015
Existem vírus capazes de infectar bactérias e por isso são chamados de bacteriófa-
gos ou fagos.

Figura 28 (b) – O desenho esquemático de um bacteriófago.


Figura 28 (a) – Bacteriófago infectando uma bactéria Observe suas partes constituintes: cabeça formada por mate-

Microbiologia e Imunologia
Fonte: <http://jonlieffmd.com/wp-content/uploa- rial genético e capsídeo, bastão, bainha e caudas
ds/2012/06/20070207_virus1.jpg>. Fonte: <http://www.armageddononline.org/image/virus2.
Acesso em: 21 jul. 2015. JPG>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Alguns vírus também são capazes de infectar plantas e outros conseguem infectar ani-
mais. Muitas doenças de plantas também podem ser causadas por viroides, que são es-
truturas ainda mais simples, compostas apenas de RNA, sem envoltório protetor e sem
estruturas facilitadoras de penetração na célula. 59

Os vírus animais penetram em nossas células e utilizam suas partes constituintes para
se reproduzir e se transferir para outras células. Alguns vírus são tão simples que apresen-
tam apenas um tipo de proteína em sua estrutura. As proteínas são muito importantes na
estrutura viral, porque são moléculas antigênicas, isto é, estimulam o nosso organismo a
se defender desse patógeno.

Os vírus que possuem a mesma informação genética e infectam os mesmos hospedeiros


são considerados da mesma espécie viral. As subespécies são designadas por números.

Como os vírus se multiplicam


Os vírus possuem genes que, uma vez incorporados às células hospedeiras, podem
multiplicá-los e em seguida transferi-los de uma célula para outra. Você precisa entender
que eles multiplicam-se em duas etapas: na primeira, usam as organelas da célula para-
sitada para fabricar suas partes constituintes; na segunda ocorre a montagem das partes
que se juntam para formar novos vírions.
Os vírus podem se multiplicar de modo lítico ou lisogênico. Tomemos como exemplo a
multiplicação do bacteriófago T4, que infecta a bactéria E. coli, estudada anteriormente.

A multiplicação lítica ocorre em quatro etapas. Na primeira, chamada de adsorção, o


fago desenrola as proteínas da sua cauda e se fixa à parede da bactéria. A segunda con-
siste na penetração do DNA do fago na bactéria, permanecendo no exterior da bactéria a
cabeça, a cauda e a bainha do fago. A bainha se contrai e introduz na parede da célula bac-
teriana a cauda do bacteriófago, que libera enzimas para destruir parte da parede bacte-
riana. Na terceira fase, denominada eclipse, ocorre a síntese do DNA dos bacteriófagos, os
quais ainda não são capazes de infectar uma célula e por isso estão na forma vegetativa.
Em seguida, o DNA do fago produz as primeiras proteínas, chamadas proteínas precoces,
que fabricam as proteínas estruturais do fago. Ocorre, então, a montagem da cabeça com
o DNA envolvido pelos capsômeros, a montagem das fibras da cauda e, por fim, da cauda,
sem consumo de energia. Depois, as três partes se reúnem formando o bacteriófago. A
Microbiologia e Imunologia

última etapa, a quarta, consiste na liberação dos fagos através da ruptura da bactéria hos-
pedeira facilitada pela enzima lisozima, fabricada pelo fago.

60 Querendo mais
Visualize o ciclo lítico acompanhando as etapas da multiplicação viral aces-
sando o link do vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=VfrpUR3ZB0I>.

A multiplicação lisogênica se dá sem a destruição da bactéria que hospeda o vírus, pois


o DNA dele se une ao DNA da bactéria e se multiplica junto com ele, essa fusão é conheci-
da por provírus. Como no momento estamos tratando de fago, ele é denominado profago.
Nesse tipo de multiplicação, os fagos podem levar DNA do genoma da bactéria hospedeira
Pinocitose: para outra bactéria, contribuindo assim com a evolução bacteriana.
corresponde a um
processo de endo- Os vírions que atacam células animais, como as nossas, não possuem estruturas ca-
citose, no qual uma
partícula presente
pazes de se fixar em nossas células como fazem os profagos. Mas a superfície desses
no meio extrace- vírions apresenta moléculas proteicas que têm grande afinidade com os componentes da
lular é englobada
pela membrana da
membrana de nossas células. Geralmente, os vírions são envolvidos pela membrana da
célula, formando célula hospedeira através do fenômeno da pinocitose. Contudo, há vírions que possuem
uma vesícula que
é internalizada ao
envelope, o que permite que se fundam diretamente com a membrana celular e penetrem
citoplasma. no citoplasma da célula hospedeira.
A multiplicação do material genético do vírus animal ocorre no citosol da célula hospedei-
ra, após a desmontagem do nucleocapsídeo e a codificação da polimerase — enzima respon-
sável pela replicação viral. Isso corresponde à fase de eclipse estudada nos bacteriófagos.

Atividade 01
Agora que você já conhece a estrutura viral, faça um desenho esquemá-
tico de um vírus helicoidal e de um vírus icosaédrico, identificando suas
partes constituintes.

Doenças virais da pele

Microbiologia e Imunologia
Verrugas, varíola, catapora e herpes são exemplos de doenças virais que atingem a
nossa pele. As verrugas (ou papilomas) são transmitidas pelo contato direto entre pessoas,
apresentando-se como crescimentos cutâneos benignos que variam em aparência. Seu
tratamento geralmente se dá através da aplicação de nitrogênio líquido (crioterapia) ou de
ácidos para queimá-las. Algumas drogas de uso tópico também podem ser utilizadas.

A varíola, ocasionada pelo Variola virus que apresenta DNA fita dupla, foi uma doença 61
de grande incidência durante a idade média — atingindo cerca de 80% da população eu-
ropeia. Contudo, foi a primeira doença erradicada através de vacina. Existem dois tipos de
varíola: a varíola maior, que chega a causar 20% de mortalidade, e a varíola menor, com
taxa de mortalidade menor que 1%. Sua transmissão se dá através do trato respiratório,
infectando muitos órgãos internos. Em torno do décimo dia de infecção, o crescimento do
vírus na epiderme causa lesões pustulares na pele.

Figura 29 (a) – Vírus da varíola apresentando envelope em Figura 29 (b) – O aspecto da pele de um paciente com
verde e material genético em vermelho lesões pustulares, característica da varíola
Fonte: <http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_21/ Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com-
revoltavacinaimagem/variola.gif>. Acesso em: 21 jul. 2015. mons/7/70/Smallpox.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.
Atualmente, o vírus da varíola ainda é mantido em estoques nos Estados Unidos e na
Rússia e teme-se que esses vírus sejam usados como agentes de bioterrorismo. Por pre-
caução, estão sendo acumulados estoques da vacina que é aplicada desde 1995, sendo
efetiva em 97% dos casos.

A varicela, também conhecida como catapora, acomete principalmente crianças, apre-


sentando taxa de mortalidade muito baixa. É causada pelo herpesvirus humano tipo 3 (ou
herpes vírus varicela zoster), que apresenta DNA fita dupla. Esse vírus penetra no corpo
pelo trato respiratório e infecta a pele em aproximadamente 2 semanas. Por 3 ou 4 dias a
pele apresenta vesículas que se enchem de pus, rompem-se e formam crostas principal-
mente no rosto, nas costas e na garganta, podendo atingir também os ombros e o peito.
Mulheres infectadas pelo vírus no início da gestação podem acarretar danos ao feto em
torno de 2% dos casos.
Microbiologia e Imunologia

62

Figura 30 – Criança apresentando pele com vesículas com pus, sintoma típico da catapora
Fonte: <http://www.jornalcomarca.com.br/fotos_materias/07102013181027932_net.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Os herpesvírus podem permanecer latentes em nosso organismo, pois as partículas vi-


rais podem penetrar nos nervos periféricos, atingir um gânglio nervoso central e lá persistir
na forma de DNA viral. Como os anticorpos humorais não alcançam as células nervosas, o
nosso sistema imune não ataca-o. Anos depois, o vírus pode ser reativado por estresse ou
baixa imunidade e causam uma nova infecção viral, agora na forma de herpes zoster. Esta
infecção pode causar sensação de queimação e dor severa em um dos lados do corpo,
caracterizando uma neuralgia pós-herpética que pode durar meses ou anos.

O herpes simples é causado por 2 tipos de vírus, os herpesvírus 1 e 2 (Herpes Simplex


Virus) que são estruturas icosaédricas envelopadas. O tipo 1 (HSV-1), conhecido como her-
pes labial, é transmitido pelas vias orais ou respiratórias. Grande parte da população é
infectada por este vírus, mas muitos não desenvolvem o sintoma da doença caracterizado
por vesículas, que surgem nas margens dos lábios. Algumas vezes o herpes labial é con-
fundido com aftas ou úlceras bucais. Contudo, o que as diferenciam do herpes é a região
em que ocorrem, sendo frequentemente encontradas na mucosa da bochecha, língua e
parte interna dos lábios. O HSV-1 permanece latente no nervo trigêmeo, responsável pela
comunicação da face com o sistema nervoso central.

O herpesvírus 2 (HSV-2) se assemelha ao tipo 1, contudo, sua transmissão se dá por


contato sexual. Causador do herpes genital, esse vírus fica latente no gânglio nervoso sa-
cral, próximo a medula espinal.

Microbiologia e Imunologia
63
Figura 31 – Vírus do Herpes apresentando simetria icosaédrica. Observe o material genético, o capsídeo e o envelope
presentes na partícula viral. Fonte: <http://thumbs.dreamstime.com/z/herpes-virus-structure-27182865.jpg>.
Acesso em: 21 jul. 2015.

O vírus do herpes possibilita a fusão das membranas celulares, dando origem a células
gigantes. Esse patógeno tem a particularidade de infectar células vizinhas sem passar pelo
meio extracelular, e isso faz com que esses vírus não entrem em contato com os anticorpos
que estão nos fluidos extracelulares. Por esse motivo, o herpes é uma doença prolongada
— com períodos de melhora e recaída.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa, pois a transmissão se dá entre pesso-


as, através da via respiratória, antes mesmo da manifestação dos sintomas. Sua vacina é
a tríplice viral, que traz uma combinação de vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola.
Estima-se que essa vacina possa reduzir a taxa de mortalidade em 90% dos casos. O sa-
rampo é mais frequente em crianças com menos de um ano de idade, tendo em vista que a
imunização só se dá após os 12 meses, pois a vacina não é eficiente em bebês. Dez a doze
dias após a infecção pelo vírus do sarampo, o paciente desenvolve sintomas semelhantes
ao de um resfriado. Logo depois, aparecem erupções maculares na face que se espalham
para o tronco e extremidades.
Figura 30 – Bebê apresentando erupções maculares na pele causadas pelo vírus do sarampo
Fonte: <http://static.tuasaude.com/img/posts/2013/01/
d36100ab6f503c9ef774abc00c7535b4.jpeg>. Acesso em: 21 jul. 2015.
Microbiologia e Imunologia

Doenças virais do sistema nervoso


A raiva e a poliomielite são as principais doenças virais que afetam o nosso sistema
nervoso. Uma campanha mundial da vacina Sabin, em 1988, foi muito bem sucedida, dimi-
nuindo drasticamente o número de casos de paralisia por poliomielite. No entanto, o vírus
ainda é encontrado em poucos países da África e da Ásia.
64 Diferentemente da poliomielite, que foi praticamente erradicada, muitos casos de raiva
ainda resultam em morte. O vírus da raiva é um Lyssavirus pertencente à família Rhabdo-
viridae e possui formato que lembra a bala de um revólver. São vírus de RNA fita simples
que apresenta forma helicoidal e são transmitidos através da mordida de animais que
apresentam o vírus na saliva, geralmente cachorros.

Esse vírus prolifera no Sistema Nervoso Periférico – SNP e se movimenta para o Siste-
ma Nervoso Central – SNC, onde causa graves danos e encefalite. Quando atinge o SNC,
o indivíduo alterna períodos de tranquilidade e de agitação com espasmos musculares e
hidrofobia (aversão à água). Com o avanço da doença, ocorre paralisia dos músculos e
tanto os cachorros quanto os humanos tendem a morder outros indivíduos, o que contribui
para que doença se espalhe.

A resposta imune do nosso organismo não é eficaz contra esse patógeno, contudo,
como o período de incubação da raiva é longo, em média de 30 a 50 dias, é possível rece-
ber doses da vacina antirrábica e injeções de imunoglobulina após o contato com o vírus.
No entanto, se os sintomas se manifestarem, não há o que fazer para tratar a doença e o
paciente vai a óbito. Dessa forma, é importante lembrar que os animais domésticos devem
ser vacinados contra a raiva para evitar a transmissão da doença.
Doenças virais do sistema cardiovascular e linfático
O Epstein-Barr é um vírus complexo que apresenta DNA fita dupla como material gené-
tico. É o causador da mononucleose infecciosa caracterizada por febre, dor de garganta,
inchaço nos linfonodos e fraqueza. Crianças, geralmente, têm infecções assintomáticas,
enquanto que os adultos apresentam uma intensa resposta imunológica. Essa virose inci-
de principalmente em jovens de 15 a 25 anos, tendo em vista que a transmissão do pató-
geno se dá através da saliva pelo beijo ou pelo compartilhamento de copos. O período de
incubação para o surgimento dos sintomas é de 4 a 7 semanas. O indivíduo pode demorar
semanas para se recuperar da doença, mas se torna imune permanentemente. Essa doen-
ça favorece o surgimento do linfoma de Burkitt, causa de tumor no tecido linfático.

A dengue é outra doença que atinge os sistemas cardiovascular e linfático. Apresenta dis-
tribuição mundial, contudo, atinge principalmente países tropicais como o Brasil, que apre-

Microbiologia e Imunologia
senta casos de epidemia em diversas regiões, sendo o Nordeste a mais atingida. O Flavivirus,
agente causal da dengue, pertence à família Flaviviridae e se caracteriza por apresentar uma
fita simples de RNA como material genético, um capsídeo icosaédrico e um envelope.

65

Figura 33 (a) – Flavivirus causador da dengue. Figura 33 (b) – Fêmea hematófaga do mosquito Aedes
Observe a estrutura da partícula viral envelopada aegypti. Observe o abdome do inseto repleto de sangue
Fonte: <http://education.expasy.org/images/Flaviviridae_vi- Fonte: <http://jornaldehojecdn.s3.amazonaws.com/media/
rion.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015. hrtjrut6u5u.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Doenças virais do trato respiratório


Certamente você já teve uma gripe pelo menos uma vez em sua vida. Os sintomas recor-
rentes são febre, calafrios, dores de cabeça e musculares. Muitas pessoas confundem gri-
pe com resfriado, mas, apesar de ambos serem causados por vírus, o resfriado se diferen-
cia da gripe por não ocasionar febre e por ser transmitido por espécies virais diferentes. Os
Rhinovirus, vírus de RNA fita simples não envelopado, pertencente à família Picornaviridae,
são os responsáveis pelos resfriados, enquanto o Influenza, da família Orthomyxoviridae,
é o causador da gripe. O vírus influenza A H1N1 já causou, aproximadamente, 50 milhões
de morte no mundo.

O Influenza é um vírus de RNA fita simples segmentado com forma helicoidal que apre-
senta um envelope lipídico circundando o capsídeo. Além disso, esse vírus apresenta es-
pículas, que se projetam da camada lipídica, as quais podem ser detectadas em testes
sorológicos para identificação do vírus. Existem dois tipos de espículas. As espículas de
hemaglutinina – HÁ são responsáveis por reconhecer e se ligar às células do hospedeiro
antes da infecção. Cada vírion apresenta cerca de 500 espículas HÁ e os nossos anticorpos
se direcionam para essas espículas quando nosso corpo é infectado. Já as espículas de
neuraminidase – NA, presentes em número de 100 por partícula viral, fazem com que o
vírus se separe da célula hospedeira após sua multiplicação.
Microbiologia e Imunologia

66

Figura 30 – Influenza, vírus da gripe


Fonte: <http://www.mundovestibular.com.br/content_images/
1/Biologia/vida/influenzafigure1.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.

Se você foi vacinado contra a gripe em 2014, deve lembrar que a vacina tomada foi
contra Influenza A H1N1, A H3N2 e Influenza B. Mas você sabe o que isso significa? Os
vírus variam muito quanto à antigenicidade devido às alterações nas proteínas que for-
mam as espículas. Como existem 16 subtipos de HA e 9 subtipos de NA, as formas dife-
rentes de antígenos recebem números. Cada número indica uma alteração na constitui-
ção de proteínas da espícula que foi ocasionada por rearranjos genéticos. Dessa forma,
os vírus conseguem escapar da imunidade da população, sendo esse um dos motivos
das pandemias ocorridas.

Suínos e aves também podem ser infectados por esses vírus, funcionando como locais
para recombinações de genes, o que ocorre com frequência na Ásia. Atualmente, há uma
preocupação de que mutações modifiquem os vírus influenza que afetam as aves e esses
sejam transmitidos com eficiência para os humanos, causando uma pandemia letal.

Doença do sistema reprodutivo


O HPV, papiloma vírus humano, é o responsável por uma infecção sexualmente trans-
missível muito comum que geralmente provoca verrugas na região genital e pode até cau-
sar câncer. É um vírus de DNA fita dupla, não envelopado, pertencente à família Papovavi-
ridae. Existem mais de 60 sorotipos de HPV e alguns deles estão relacionados à aparência
da verruga que varia de esponjosa com múltiplas projeções até lisas e planas. O período
de incubação pode durar de semanas a meses e, frequentemente, atinge a faixa etária de
14 a 59 anos.

Além de verrugas genitais, esse vírus está relacionado ao câncer de colo do útero, res-

Microbiologia e Imunologia
ponsável pela morte de muitas mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, 137 mil casos
são registrados anualmente no Brasil. Atualmente, uma vacina está sendo utilizada em me-
ninas a partir dos 9 anos de idade ou que ainda não iniciaram atividade sexual. Contudo,
é importante que meninos a partir dos 9 anos também se vacinem, tendo em vista que o
HPV pode causar câncer anal.

A vacina veiculada é quadrivalente, pois atua contra 4 sorotipos do HPV: o 16 e o 18,


que causam cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero; e o 6 e 11, responsáveis 67
por aproximadamente 90% dos casos de verrugas genitais. É importante ressaltar que não
há cura para essa doença e que o tratamento é feito para o desaparecimento das verrugas,
podendo durar até dois anos.

Doença do sistema imune


A AIDS é uma doença de grande relevância mundial, tendo em vista que sua cura ainda
não foi encontrada. Cerca de 5 milhões de pessoas são infectadas por ano e aproximada-
mente 25 milhões de pessoas já morreram de AIDS no mundo. Essa é a doença que mais
mata na África, enquanto que na Europa e nos Estados Unidos o número de mortes vem
diminuindo com a utilização de algumas drogas que têm se mostrado eficazes. Contudo, é
importante ressaltar que a doença é considerada apenas o estágio final da infecção prolon-
gada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV.

Pertencente à família Retroviridae, o HIV é um retrovírus do gênero Lentivirus, que pos-


sui envelope lipídico com espículas de glicoproteínas — uma mistura de proteínas e carboi-
dratos. Os retrovírus apresentam duas fitas iguais de RNA como material genético, elas têm
a capacidade de se transformar em DNA devido à ação da enzima transcriptase reversa
presente no vírus. O DNA formado se incorpora ao DNA do hospedeiro e passa a controlar a
maquinaria da célula atingida. Os retrovírus ainda apresentam alta taxa de mutação, o que
significa dizer que eles alteram sua informação genética, dificultando as pesquisas para o
desenvolvimento de testes diagnósticos, vacinas e drogas para a cura da doença.
Microbiologia e Imunologia

Figura 35 – Vírus HIV.


Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-M18Vd92LOE0/UU1Jz8mHp_I/AAAAAAAAAM4/kKkjz6usMyQ/s320/virus-aids.jpg>.
Acesso em: 21 jul. 2015.

68
O HIV é transmitido por contato direto com o sangue ou o sêmen contaminado, o que
geralmente acontece através do contato sexual íntimo, do aleitamento materno, da infec-
ção transplacentária do feto, do uso de agulhas com sangue contaminado, da transfusão
de sangue, dos transplantes de órgãos e da inseminação artificial. É importante ressaltar
que nos países desenvolvidos é improvável a transmissão por transfusão sanguínea, tendo
em vista que o sangue utilizado é testado para HIV e seus anticorpos. Vale lembrar ainda
que esse vírus não pode ser transmitido por insetos, abraço, uso de talheres ou comparti-
lhamento de utensílios domésticos. Também não é relatada transmissão através do beijo,
pois a saliva possui quantidade ínfima do vírus.

Quando penetra no corpo, o vírus é capturado pelas células dendríticas do sistema imu-
ne e levado aos órgãos linfoides. Isso estimula a resposta imune inicial. Para que o vírus
se fixe na célula alvo, deve haver uma afinidade da glicoproteína da espícula do vírus com
o receptor da célula CD4 do sistema imune, a qual estudaremos na competência 5. O DNA
viral passa a controlar a infecção, produzindo mais vírus que brotam da célula.

Em alguns casos, o DNA viral, que se integrou ao DNA cromossômico do hospedeiro,


pode manter-se integrado sem produzir novos vírus e, por esse motivo, é chamado de pro-
vírus. Além disso, quando o HIV é produzido pela célula hospedeira, ele pode não ser libe-
rado e permanecer como vírion latente, armazenado em vacúolo.

Essa propriedade de permanecer como provírus ou vírus latente faz com que o HIV
se proteja do sistema imune. Ele também pode se difundir célula a célula, movendo-se
de uma célula infectada para outra célula vizinha sadia, o que é mais uma forma de
burlar o sistema imune. Além disso, ele ainda conta com a vantagem de poder mudar
rapidamente suas proteínas da espícula, dificultando o reconhecimento pelas células
de defesa do corpo humano. Esses são alguns dos motivos que tornam a busca pela
cura do HIV tão exaustiva.

A infecção por HIV apresenta três fases clínicas. A primeira pode ser assintomática ou
o paciente pode apresentar inchaço nos linfonodos. Nesta fase, o RNA viral se multiplica
bruscamente, podendo chegar a 10 milhões de moléculas em uma semana, atingindo bi-
lhões de células CD4 em poucas semanas.

Microbiologia e Imunologia
Na segunda fase, a replicação do HIV continua em ritmo menos acelerado nos linfono-
dos, mas o número de células CD4 cai constantemente. Os sintomas são pouco evidentes
nesta fase, mas podem surgir infecções persistentes por Candida albicans (levedura, que
será estudada na próxima competência) na boca, na garganta ou na vagina. Alguns pacien-
tes podem apresentar diarreia e febre persistentes.

A terceira fase, geralmente, ocorre 10 anos após a infecção, caracterizando a fase clíni- 69
ca da AIDS propriamente dita. A contagem das células CD4 é baixíssima nesta fase e o pa-
ciente pode apresentar infecções do sistema respiratório (traqueia, brônquios e pulmões),
tuberculose, pneumonia, toxoplasmose no cérebro e sarcoma de Kaposi — um tipo de cân-
cer de pele e vasos sanguíneos causado pelo herpesvírus humano 8, que está intimamente
relacionado a portadores de HIV.

Bebês e crianças ainda não possuem o sistema imune completamente formado e


os idosos não conseguem substituir com eficiência as células CD4. Por esses motivos,
essas faixas etárias são as mais prejudicadas, já que são muito mais susceptíveis às
infecções oportunistas. Cerca de 80% das crianças nascidas de mães soropositivas
não são infectadas pelo HIV. No entanto, os bebês infectados sobrevivem, geralmente,
menos de 18 meses.

Para controlar essa doença, a melhor medida é minimizar a transmissão do vírus. Dessa
forma, evitar a promiscuidade e o uso de preservativo são medidas recomendadas. Como
há grande dificuldade no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV, estudos es-
tão sendo realizados em busca de uma vacina que estimule o sistema imune do paciente
já infectado, ajudando-o a eliminar o vírus.
Querendo mais
Para compreender o ciclo do HIV com mais detalhes e ver como ele se com-
porta na célula humana, assista ao vídeo a seguir acessando o link: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=MDhnoenDQHs>.

Resumo
Nesta competência, você conheceu alguns vírus que podem nos causar doenças, as
suas estruturas virais e como eles multiplicam-se. Identificou também muitas espécies
Microbiologia e Imunologia

causadoras de virose importantes no Brasil e no mundo, além das principais formas para
evitar a contaminação por esses vírus.

Autoavaliação
01. Os vírus apresentam estrutura simples e por isso são considerados parasitas intracelu-

70 lares obrigatórios. Conforme estudado, marque a alternativa que apresenta os compo-


nentes encontrados em uma partícula viral.

a) Núcleo, membrana celular e capsídeo.

b) Proteínas, material genético (DNA ou RNA) e envelope.

c) Proteínas, envelope nuclear e material genético (DNA).

d) Material genético (RNA), capsídeo e ribossomos.

02. Vimos que a multiplicação do vírus na célula hospedeira acontece em 4 etapas. Mar-
que a alternativa que traz os 4 passos necessários à formação de novos vírus.

a) Abertura, inclusão, montagem e liberação.

b) Inclusão, envolvimento, montagem e penetração.

c) Adsorção, penetração, montagem e liberação.

d) Adsorção, inclusão, combinação e fissão.


03. Das doenças abaixo relacionadas, apenas uma não atinge a pele. Marque a alternativa
que apresenta essa exceção:

a) Varíola.

b) Catapora.

c) Herpes.

d) Mononucleose.

04. É muito comum as pessoas confundirem gripe com resfriado. Nesta competência, você
aprendeu a diferenciá-los. Assim, marque a alternativa correta:

a) A gripe é causada por um RNA fita simples e o resfriado é causado por um vírus de DNA.

b) Ambos são causados por vírus de DNA que podem sofrer mutações. No entanto, gripe e

Microbiologia e Imunologia
resfriado são causados por espécies diferentes.

c) Tanto a gripe quanto o resfriado são causados por espécies virais com RNA fita simples.
No entanto, enquanto a gripe é causada pelo vírus Influenza, o resfriado é causado por
Rhinovirus.

d) Enquanto o resfriado é causado pelo vírus Influenza, a gripe é desencadeada pelo Rhi-
novirus. Porém, ambos são considerados retrovírus, pois podem converter o RNA viral
71
em DNA.

05. Aprendemos que o HIV é vírus responsável pela AIDS, causando muitas mortes em
todo o mundo. De acordo com o que você estudou, marque a alternativa que contém
medidas de controle eficientes no combate a AIDS.

a) Usar preservativos e evitar a promiscuidade são medidas que diminuem a transmissão


do vírus.

b) Imunização através de vacina garante a não contaminação por HIV.

c) Evitar beijar e abraçar pessoas soropositivas além de não utilizar talheres e copos usa-
dos por pessoas contaminadas.

d) Uso de repelentes para evitar contato com insetos hematófagos capazes de transmitir
o HIV.
Competência
04
Examinar as patologias
fúngicas, suas manifestações em nosso
organismo e seu modo de transmissão
Microbiologia e Imunologia

74
Examinar as patologias
fúngicas, suas manifestações em
nosso organismo e seu modo de
transmissão

Você sabia que além das bactérias e dos vírus, os fungos também são causadores de
doenças? Nos últimos anos, as infecções causadas por fungos têm aumentado, ocorrendo

Microbiologia e Imunologia
frequentemente quando há infecções hospitalares e em indivíduos com o sistema imune
enfraquecido. Eles ainda podem afetar as plantas, causando prejuízos para a agricultura e
são bastante encontrados em alimentos contaminados, causando um bolor muito comum
em pães, conhecido como mofo.

No entanto, os fungos também podem nos trazer benefícios. São constituintes im-
portantes da cadeia alimentar e atuam como decompositores de matéria orgânica — o
que permite a ciclagem de nutrientes na natureza. Além disso, alguns cogumelos são 75
comestíveis e as leveduras ainda podem atuar na fermentação para fabricação do pão e
da cerveja. Outra contribuição importante dos fungos é a produção do antibiótico penici-
lina, sintetizado a partir do fungo Penicillium. Esse medicamento é muito utilizado contra
infecções bacterianas.

Querendo mais
Quer saber mais sobre a diversidade dos fungos e conhecer algumas es-
pécies comestíveis? Acesse: <http://super.abril.com.br/alimentacao/cogu-
melos-charme-veneno-438916.shtml>.

A ciência que estuda os fungos é a micologia. Para compreender melhor as doenças


causadas por esses seres, vamos conhecer primeiro a estrutura básica desses organismos.
Curiosidade
Você sabia que existem associações obrigatórias na natureza entre fungos
e algas? São os chamados líquens. As duas espécies sobrevivem ligadas
intimamente, estabelecendo uma relação simbiótica. Para saber mais
acesse o link: <http://www.superinteressante.pt/index.php?option=com_
content&id=488:vigilantes-do-ambiente&Itemid=80>.

Características gerais dos fungos


Microbiologia e Imunologia

Os fungos são organismos eucariotos, material genético envolvido por membrana celular,
apresentando compartimentalização, ou seja, cada parte da célula realiza uma função: os ri-
bossomos são as organelas responsáveis pela produção de proteínas; o retículo endoplasmá-
tico rugoso apresenta ribossomos em sua superfície externa, é o responsável por receber as
proteínas produzidas pelos ribossomos e encaminhá-las ao complexo de Golgi — local em que
as proteínas são modificadas e endereçadas a diversos locais, de acordo com a necessidade
da célula; o retículo endoplasmático liso é o responsável pelo metabolismo das gorduras (os
76 lipídeos); as mitocôndrias são as organelas responsáveis pela produção de energia na célula.

Na Figura 36 apresenta-se a célula eucarionte mostrando núcleo verdadeiro, com DNA


envolvido por membrana nuclear, ribossomos, retículo endoplasmático rugoso, retículo en-
doplasmático liso, complexo de Golgi e mitocôndrias.

Figura 36 – Célula eucarionte mostrando núcleo verdadeiro


Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-ovGnrMT2FNw/VBowb31A7pI/AAAAAAAAAFs/Z1mExclaL2U/s1600/eucarioto-e-procario-
to.jpg>. Acesso em: 22 jul. 2015.
Geralmente, os fungos são aeróbicos, eles necessitam de oxigênio para sobreviver, po-
rém, algumas espécies, como as leveduras, são anaeróbicas facultativas. Alimentam-se
por absorção, sendo seres quimio-heterotróficos, que obtêm energia através da quebra
(oxidação) de compostos orgânicos.

Inicialmente, os estudiosos consideravam que os fungos deveriam ser agrupados


como vegetais. Contudo, em 1969 eles foram alocados em um reino a parte, denomina-
do reino Fungi. Essa modificação ocorreu porque esses organismos têm características
que os diferenciam dos vegetais. Como vimos acima, os componentes desse reino são
seres heterotróficos — diferente das plantas, seres autotróficos, que realizam fotossínte-
se para obter energia.

Apesar dos fungos possuírem parede celular, a sua constituição é diversa daquela pre-
sente nos vegetais e nas bactérias. As plantas apresentam parede celular composta de ce-
lulose, as bactérias de peptideoglicanas e os fungos de quitina, um carboidrato resistente,

Microbiologia e Imunologia
insolúvel em água, também encontrado no esqueleto externo dos insetos: o exoesqueleto.
As células vegetais possuem amido como carboidrato de reserva, já os fungos armazenam
carboidrato na forma de glicogênio, como acontece com os animais.

Os fungos também são organismos formadores de esporos, como as bactérias.


Entretanto, eles são usados com finalidades diferentes: as bactérias utilizam os
esporos como estruturas de resistência, já os fungos, para reprodução. Nas bacté-
77
rias, a esporulação não é uma forma de reprodução, pois não origina um novo ser,
apenas mantém o ser já existente quando as condições ambientais são adversas
— relembre o que você estudou na competência 01. Já os esporos fúngicos não de-
sempenham essa função, pois não são tão resistentes quanto os endósporos das
bactérias, já que não suportam ambientes muito secos ou quentes por longos pe-
ríodos de tempo. Portanto, quando um fungo filamentoso forma um esporo, ele se
separa da célula mãe e germina, originando um novo fungo, aumentando o número
de organismos da população.

Alguns fungos são unicelulares: as leveduras, por exemplo. Contudo, muitos fun-
gos são multicelulares, como os cogumelos ou as espécies que formam filamentos
ou bolores. As leveduras apresentam células esféricas ou ovais, que a olho nu enxer-
gamos apenas como um pó branco que cobre os vegetais. Frequentemente, elas são
as responsáveis pela produção de pão, vinho, queijos e iogurtes, através do processo
de fermentação.
Figura 37 – Leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae, fungos unicelulares
Fonte: <http://cdn.phys.org/newman/gfx/news/hires/2013/colouredscan.jpg>. Acesso em: 22 jul. 2015.
Microbiologia e Imunologia

Os fungos multicelulares podem formar colônias chamadas de estruturas vegetativas.


Os fungos filamentosos ou carnosos possuem um corpo, denominado talo, formado por
hifas: longos filamentos de células conectadas. Na Figura 38 identificamos o Microscopia
de varredura eletrônica (cores adicionadas) de micélio fúngico com as hifas (verde), espo-
rângio (laranja) e esporos (azul), Penicillium sp. (aumento de 1560x).

78

Figura 38 – Microscopia de varredura eletrônica


Fonte: <http://www.grupoescolar.com/a/b/136C3.jpg>. Acesso em: 22 jul. 2015.

Os septos são paredes que dividem as hifas, de modo que cada unidade abrigue um nú-
cleo celular e forme as hifas septadas. No entanto, algumas hifas não apresentam septos,
pois são multinucleadas: apresentam vários núcleos e são denominadas hifas cenocíticas.
As hifas crescem alongando suas extremidades. Sua porção responsável pela re-
produção é chamada de hifa reprodutiva ou aérea, capaz de abrigar os esporos repro-
dutivos que se abrigam nos esporângios. Já a porção da hifa que atua na absorção de
nutrientes é denominada hifa vegetativa. Quando as condições ambientais são ideais
para o seu crescimento, as hifas formam o micélio, uma massa filamentosa que é pos-
sível identificar a olho nu.

Microbiologia e Imunologia
Figura 39 (a) – Hifas septadas uni e multinucleadas Figura 39 (b) – O micélio fúngico
Fonte: <http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAABrwYAE-46. Fonte: <http://img17.imageshack.us/img17/6325/chb9.jpg>.
jpg>. Acesso em: 22 jul. 2015. Acesso em: 22 jul. 2015.

As leveduras crescem por brotamento, quando uma célula parental forma um broto 79
(protuberância) na superfície externa que se alonga e se divide. Quando os brotos não se
separam uns dos outros, dizemos que há a formação de uma pequena cadeia de células
chamada de pseudo-hifa.

Curiosidade
Você sabia que o maior ser vivo do mundo é um fungo? Quer saber
como isso é possível? Descubra tudo no link: <http://veja.abril.com.
br/160800/p_080.html>.

Os fungos se dispersam principalmente através do ar por meio dos esporos, mas a


água, os animais, as plantas, o homem e até mesmo os insetos são agentes de dispersão
desses organismos.
Figura 40 – Esporos sendo liberados do esporângio para dispersão do fungo
Fonte: <http://images.comunidades.net/rei/reinofungi/11reprodassexu03.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.
Microbiologia e Imunologia

Como os fungos crescem lentamente, geralmente provocam infecções crônicas em se-


res humanos. As micoses podem ser classificadas em: cutânea, subcutânea, superficial,
sistêmica ou oportunista. Você conhecerá cada uma delas ao longo desta competência.

80
Atividade 01
Agora que você já conhece a organização geral dos fungos, faça um pe-
queno resumo com as características dos fungos e das bactérias —es-
tudadas na competência 02 — referentes ao tipo celular (procarionte ou
eucarionte), a constituição da parede celular, ao metabolismo (autotrófico
ou heterotrófico) e a utilização do esporo.

Micoses cutâneas
Os fungos causam muitas doenças na pele, denominadas micoses cutâneas. Nesse
tipo de micose, eles abrigam-se em locais que apresentam a proteína queratina, como pe-
los, unhas e camada mais externa da epiderme, conhecida como estrato córneo.

Os principais gêneros causadores de micoses cutâneas são: Trichophyton, Microspo-


rum e Epidermophyton, causadores das dermatofitoses mais frequentes do mundo des-
de a antiguidade. Elas são evidenciadas como hifas hialinas na pele, que se apresentam
septadas e ramificadas ou ainda em cadeias. São, geralmente, doenças persistentes e
incômodas, mas não são fatais.

Umas das doenças mais conhecidas são as tíneas, que atingem o couro cabeludo,
comumente encontradas em crianças, resultando em áreas da cabeça sem cabelos. A con-
taminação se dá através de objetos contaminados, como pentes, escovas ou até mesmo
através de contato com animais — como cães e gatos contaminados.

A tínea também ocorre na virilha e nos pés, locais úmidos que favorecem a infecção.
Nos pés é popularmente conhecida como pé de atleta e manifesta-se através de prurido
(coceira) entre os dedos e pequenas bolhas que liberam um líquido quando se rompem.

Microbiologia e Imunologia
Figura 41 – Pé infantil apresentando sintomas da tínea 81
Fonte: <http://www.danielapodologa.com.br/wp-content/uploads/2013/07/tinea.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

É importante que regiões, como virilha e pés, sejam secas com eficiência após o banho,
pois a umidade favorece o crescimento dos fungos. Drogas tópicas antifúngicas são utili-
zadas no tratamento.

Micoses subcutâneas
As micoses subcutâneas atingem a área abaixo da pele e geralmente são causadas
por fungos que habitam o solo que penetram na pele através de ferimentos e alcançam o
tecido subcutâneo.

Candida albicans é um exemplo de fungo leveduriforme subcutâneo —encontrado na


boca e no trato geniturinário, causando a candidíase. Quando há uso constante de antibió-
ticos, o paciente diminui sua microbiota normal de bactérias, tornando-se mais susceptível
a infecções oportunistas, como as ocasionadas por Candida sp., que é resistente a fagoci-
tose realizada pelas nossas células de defesa.
Figura 42 – Fungo Candida albicans de aspecto leveduriforme, causador da candidíase
Fonte: <http://www.biotrans.uni.wroc.pl/files/galeria/201203
04172109skaning4%20drozdzaki.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

A candidíase oral é frequente em recém-nascidos, pois eles ainda não estabeleceram


Microbiologia e Imunologia

sua microbiota normal e apresentam uma camada esbranquiçada na boca. Pessoas in-
fectadas com HIV também são mais propensas a infecções por Candida nas mucosas,
já que se encontram imunossuprimidas. Nestes pacientes, a candidíase pode se tornar
sistêmica e até matar.

As infecções vaginais por Candida são muito comuns em mulheres jovens — sendo mais
frequente a espécie Candida albicans, que acomete 85 a 90% das pacientes. Infecções por
82 Candida glabrata geralmente resistem aos antifúngicos utilizados no tratamento, podendo
ocasionar infecções recorrentes e crônicas. Quando há infecção por C. albicans, o pH vagi-
nal torna-se muito ácido, abaixo de 4, quando o normal deve ser entre 4,8 a 4,2. A mucosa
vaginal torna-se seca e avermelhada, produzindo, em alguns casos, um fluido de consistên-
cia branca ou coalhada, que pode apresentar odor fermentado, além de coceira intensa.

IO uso de pílulas anticoncepcionais e a gravidez podem favorecer as infecções por C.


albicans, tendo em vista que há um aumento de glicogênio na vagina, tornando o pH local
mais ácido. Mulheres com diabetes não controlado também são mais susceptíveis a esse
patógeno oportunista. O tratamento pode ser por via oral ou local através de antifúngicos.

Micose superficial
As micoses superficiais são aquelas que acometem os fios de cabelo e as células su-
perficiais da pele. Malassezia globosa é uma espécie causadora de uma micose superficial
chamada pitiríase versicolor, conhecida popularmente como “pano branco”.

É uma patologia leve, porém crônica, caracterizada por manchas isoladas na pele
— comumente encontradas no tórax, costas, braços e abdome, com pigmentação mais
clara ou mais escura que a da pele do indivíduo infectado. As placas podem aumentar e co-
alescer — podendo levar, em alguns casos, a descamação, inflamação e irritação da pele.
O tratamento deve ser diário e a base de sulfeto de selênio. Vale salientar que espécies do
fungo Malassezia são constituintes normais da nossa flora, sendo encontradas na pele e
no cabelo. No entanto, essa espécie pode contribuir para a dermatite seborreica.

Microbiologia e Imunologia
Figura 43 (a) – Fungo Malassezia globosa de aspecto globo-
so, causador da pitiríase versicolor Figura 43 (b) – Sintomas da pitiríase versicolor.
Fonte: <http://www.pfdb.net/photo/nishiyama_y/ <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/83/
box20010917/wide/024.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015. Tinea_versicolor1.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

Doenças fúngicas sistêmicas e oportunistas 83

As doenças fúngicas oportunistas são aquelas em que o fungo se aproveita da fragi-


lidade do sistema imunológico do indivíduo para se desenvolver — o que normalmente
não aconteceria no indivíduo saudável. As micoses oportunistas podem invadir tecidos
diferentes, mas geralmente são sistêmicas. As infecções sistêmicas são aquelas em que
o patógeno invade muitos tecidos e órgãos, comprometendo o organismo como um todo.

Quando estudamos as micoses subcutâneas, vimos que a candidíase é uma doença


oportunista. A criptococose é outra doença oportunista causada por fungos do gênero
Cryptococcus. Suas células são esféricas, parecidas com as leveduriformes.

Dificilmente os fungos atingem o sistema nervoso central – SNC, no entanto, espécies


desse gênero são capazes de se desenvolver nos fluidos do SNC e provocar meningite — in-
fecção oportunista muito comum em pacientes portadores do HIV, que pode levar a morte.

C. neoformas e são as espécies que mais acometem os seres humanos. A


contaminação se dá através da inalação de fezes secas de pássaros. Apesar de existir uma
combinação de drogas para o tratamento, a mortalidade ocorre em 30% dos casos.
Doenças fúngicas do sistema respiratório
Os esporos produzidos pelos fungos são facilmente disseminados pelo ar. Por esse
motivo, muitas doenças fúngicas acometem o trato respiratório. Além do HIV, as drogas
anticâncer e aquelas utilizadas em transplantes também enfraquecem a imunidade dos
indivíduos, tornando-os mais susceptíveis a essas infecções oportunistas.

Muitas pessoas com sintomas semelhantes aos da tuberculose apresentam uma do-
ença causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, o qual deu origem ao nome da doença
histoplasmose.
Microbiologia e Imunologia

Figura 44 – Histoplasma capsulatum, fungo causador da histoplasmose, em seu aspecto leveduriforme


84 Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/0/0e/Histoplasma_capsulatum_var._duboisii._PHIL_4221_lores.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

O diagnóstico é feito através de testes sorológicos e os indivíduos com histoplasmose


não apresentam diagnóstico confirmado pelo teste da tuberculina para a tuberculose. O H.
capsulatum é um fungo dimórfico, isto é, que apresenta duas formas. Ele se assemelha as
leveduras quando estão infectando os tecidos, mas no solo formam um micélio filamentoso
apresentando conídios reprodutivos, como os esporos. Os conídios dessa espécie de fungo
Conídios: estrutu- são encontrados no ar em locais onde há fezes de aves e morcegos, pois o acúmulo de
ras reprodutivas
nitrogênio nos dejetos favorece a multiplicação do fungo. A contaminação humana ocorre
assexuadas produ-
zidas pelas hifas. através da inalação dos conídios presentes no ar. Inicialmente, os pulmões são infectados,
mas, em casos raros, a doença torna-se sistêmica, disseminando-se pelo sangue e pela
linfa, lesionando a maior parte dos órgãos, causando doença grave e generalizada.

Outra doença fúngica que atinge os pulmões é a coccidioidomicose, causada pelo


Coccidioides immitis, outro fungo dimórfico. Seus esporos são encontrados nas Américas
do norte e do sul, em solos secos e de pH alcalino. Em nosso organismo, o fungo forma
uma esférula, estrutura de paredes espessas cheia de esporos. Já no solo, são formados
filamentos através de artrósporos, conídios resultantes da fragmentação de hifas, que
são levados pelo vento, capazes de transmitir a infecção para pessoas que passam pela
região contaminada.

Esse tipo de infecção muitas vezes não apresenta sintomas e os indivíduos se recupe-
ram sem tratamento em algumas semanas. Contudo, quando estão presentes, os sinto-
mas manifestados são dor torácica, febre, tosse e perda de peso. Essa doença acomete
com mais frequência idosos e portadores de HIV. O diagnóstico é feito com a identificação
das esférulas nos fluidos ou tecidos do organismo infectado. Drogas antifúngicas são utili-
zadas para o tratamento.

A aspergilose é outra infecção fúngica oportunista causada por Aspergillus fumigatus,


facilmente encontrado na vegetação em decomposição. Atinge pessoas no mundo inteiro
através da inalação dos conídios encontrados no ar. Em pacientes com leucemia, ou subme-
tidos a transplante de células tronco, os conídios germinam e atingem os pulmões através de
hifas, que são capazes de invadir outros tecidos. Alguns indivíduos desencadeiam reações

Microbiologia e Imunologia
asmáticas, apresentando dificuldade para respirar, sendo possível o desenvolvimento de fi-
brose pulmonar permanente, em que o tecido pulmonar é substituído por tecido cicatricial.

85

Figura 45 – Aspergillus fumigatus, fungo causador da aspergilose


Fonte: <http://fungi.myspecies.info/sites/fungi.myspecies.info/files/394097-Aspergillus-fumigatu.jpg>.
Acesso em: 24 jul. 2015.

Rhizopus e Mucor são gêneros de fungos formadores de bolores que produzem es-
poros e são capazes de causar infecções pulmonares muito perigosas. Câncer, diabetes
e sistema imune debilitado predispõem os indivíduos a esse tipo de infecção sistêmica,
atingindo muitos tecidos e órgãos. A infecção pode evoluir rapidamente invadindo seios
nasais, olhos, ossos cranianos e cérebro — os vasos sanguíneos e os nervos também são
lesionados. Mesmo sendo tratado, o paciente pode apresentar sequelas, como: paralisia
parcial da face ou até mesmo a perda de um olho.
Doenças fúngicas do sistema digestório
Algumas espécies de fungos são capazes de produzir toxinas, denominadas micotoxi-
nas, que provocam doenças graves e causam lesões renais, hepáticas e câncer, além de
acometer os sistemas sanguíneo e nervoso.

O ergotismo é causado pelo fungo Claviceps purpurea, contaminando sementes e grãos


de cereais, como, por exemplo, o centeio. Foi muito disseminado na idade média e a sua to-
xina pode ocasionar gangrena ao restringir o fluxo de sangue nos braços e nas pernas. Em
alguns casos, o paciente pode exibir comportamento diferente da normalidade, chegando
a ter alucinações.

O fungo causador do mofo comum é o Aspergillus flavus, que também é produtor de


uma micotoxina, a aflatoxina, comumente encontrada em amendoins. Quando encontrada
em ração animal, pode prejudicar os rebanhos. Além disso, na Índia e na África há evidên-
Microbiologia e Imunologia

cias de que a presença de aflatoxinas em alimentos contaminados pode contribuir para


uma maior incidência de lesões hepáticas e câncer de fígado.

86

Figura 46 – Aspergillus flavus, fungo causador do mofo comum


Fonte: <http://www.clt.astate.edu/mhuss/Aspergillus%20flavus%20pict.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

Fungos causadores de hipersensibilidade


Diariamente, estamos submetidos aos esporos fúngicos presentes na atmosfera que
vão de encontro ao nosso sistema respiratório. Algumas pessoas respondem com hiper-
sensibilidade a esses antígenos presentes na superfície das partículas fúngicas, mesmo
que eles não cresçam ou estejam viáveis em nosso organismo.

Os sintomas variam entre rinite, asma brônquica e alveolite — inflamação dos alvéolos
pulmonares. Ambientes fechados com umidade alta e estruturas em madeira podem estar
contaminados por bolores de fungos e apresentar alta concentração de esporos no ar. Para
evitar as reações de hipersensibilidade, o paciente deve evitar se expor ao fungo agressor,
sendo o tratamento geralmente feito com corticosteroides.

Resumo
Nesta competência, você aprendeu que os fungos são organismos causadores de do-
enças, no entanto, essas patologias não são tão graves como as doenças bacterianas ou
viróticas. Os fungos infectam os sistemas respiratório, digestório e até mesmo o nervoso,
contudo, a maioria das micoses não são muito invasoras, atingindo apenas a pele, o cabelo
e as unhas. Os fungos, frequentemente, crescem em locais onde há umidade em excesso.
A contaminação, na maioria das vezes, se dá através de esporos veiculados pelo ar e o
tratamento é feito, geralmente, através de agentes antifúngicos.

Microbiologia e Imunologia
Autoavaliação
01. Em 1969, os fungos foram agrupados em um novo reino. Uma das razões que levou os
estudiosos a separar os fungos das plantas foi:

a) As plantas possuem parede celular, já os fungos são desprovidos dessa estrutura.

b) Os fungos produzem esporos de resistência e as plantas produzem esporos para repro-


87
dução.

c) Enquanto os fungos são organismos heterótrofos, as plantas são organismos


autótrofos.

d) As plantas armazenam carboidratos na forma de glicogênio e os fungos possuem amido


como açúcar de reserva da mesma forma que os animais.

02. Vimos que os fungos são causadores de micoses cutâneas, abrigando-se nos pelos,
nas unhas e na epiderme. Sobre esse estudado, assinale a alternativa que contém
exemplos de micoses cutâneas:

a) Dermatofitoses e tíneas.

b) Candidíase e histoplasmose.

c) Aspergilose e criptococose.

d) Pitiríase versicolor e tíneas.


03. A candidíase é uma micose subcutânea causada pelo fungo oportunista Candida albi-
cans que pode atingir tanto a cavidade oral quanto o trato geniturinário. De acordo com
esse estudo, marque a alternativa correta.

a) Esse fungo não atinge mulheres em idade reprodutiva, tendo em vista que o pH vaginal
nessa fase do ciclo de vida torna a mulher imune a esse tipo de infecção.

b) Essa doença é frequente em recém-nascidos, pois ainda não estabeleceram sua micro-
biota normal e em pessoas com o sistema imune enfraquecido como, por exemplo, os
pacientes portadores do vírus HIV.

c) Mulheres que fazem uso de pílula anticoncepcional também estão protegidas contra
infecção por Candida albicans.

d) Pacientes diabéticos estão imunes à infecção por Candida albicans.


Microbiologia e Imunologia

04. Você estudou que os fungos provocam diversas doenças respiratórias. Dentre as es-
pécies listadas abaixo, marque a alternativa em que todos os fungos podem causar
infecção respiratória:

a) Aspergillus flavus, Claviceps purpúrea e Cryptococcus neoformas.

b) Histoplasma capsulatum, Coccidioides immitis e Aspergillus fumigatus.


88 c) Coccidioides immitis, Aspergillus flavus e Claviceps purpúrea.

d) Histoplasma capsulatum, Cryptococcus neoformas e Candida albicans.

05. Malassezia globosa é uma espécie de fungo capaz de causar uma micose superficial
chamada pitiríase versicolor, conhecida popularmente como pano branco. Diante do
assunto estudado, marque a alternativa correta.

a) Ele pode atingir os pulmões, causando graves infecções respiratórias.

b) Pacientes portadores de HIV estão mais susceptíveis ao contágio desse fungo, tendo
em vista que o seu sistema imune encontra-se debilitado.

c) Não existe tratamento para essa patologia, já que esse fungo pertence à microbiota
normal do corpo humano e, dessa forma, proporciona infecções crônicas ao indivíduo.

d) Indivíduos contaminados por esse fungo apresentam manchas isoladas na pele, princi-
palmente no tórax, nas costas, nos braços e no abdome, com pigmentação mais clara
ou mais escura que o seu tom de pele.
Competência
05
Identificar a estrutura
e a fisiologia do sistema imunológico e
reconhecer os mecanismos de
defesa às infecções
Microbiologia e Imunologia

90
Identificar a estrutura
e a fisiologia do sistema imunológico
e reconhecer os mecanismos de
defesa às infecções

A palavra imune surgiu do termo em latim immunis, que significa isento. Portanto, a
imunidade se refere aos mecanismos usados pelo corpo para que ele fique isento de agen-

Microbiologia e Imunologia
tes estranhos ao organismo. Você já parou para pensar como você consegue se manter
saudável a maior parte do tempo? E já imaginou como o seu corpo reage tentando se de-
fender dos patógenos quando você adoece?

O grande responsável por proteger você e combater os microrganismos estudados nas


últimas competências é o seu sistema imune, também conhecido como sistema imuno-
lógico ou sistema imunitário. Esse sistema, formado por vários componentes que serão
apresentados ao longo desta competência, é capaz de mantê-lo saudável e defender seu 91
corpo dos inúmeros microrganismos que entram em contato com você diariamente. Vamos
descobrir como tudo isso funciona?

O seu exército de defesa em ação


Imagine que o seu sistema imunológico funciona como uma grande orquestra, em que
cada instrumento entoa as notas ideais para compor uma melodia harmoniosa e agradável
aos ouvidos, porém, quando um instrumento desafina, todo o conjunto musical é prejudi-
cado. Com essa imagem em mente, você vai entender melhor o funcionamento do sistema
imune. No entanto, distúrbios neste sistema podem ocasionar inflamações crônicas, doen-
ças autoimunes e até mesmo câncer.

As moléculas que o compõem são capazes de reconhecer e de se ligar especificamente


a outras moléculas que podem ser normalmente encontradas no corpo — reconhecidas
como próprias — e a moléculas que são estranhas ao corpo — denominadas não próprias.
Dessa forma, o corpo começa a diferenciar o que é próprio do corpo do que não é para
poder se defender dos organismos invasores e atacar apenas o que for estranho para ele.
Qualquer partícula estranha que invada o nosso corpo e seja capaz de se ligar às
nossas células de defesa são denominadas de antígenos. Já os anticorpos são
proteínas que se formam em nosso organismo em resposta à imunização. Circulam
livremente pelo corpo e atualmente são também denominadas imunoglobulinas.

Nos dias atuais, as pesquisas em imunologia estão interagindo com as pesquisas em


biologia molecular, buscando argumentos em mecanismos genéticos que mostrem as es-
pecificidades das respostas imunes em cada indivíduo. Além disso, a bioinformática tam-
bém tem auxiliado nos estudos, com o uso do sequenciamento de proteínas específicas do
patógeno, para identificar o microrganismo em questão.
Microbiologia e Imunologia

Você já aprendeu que a pele, a lágrima, o suor e até mesmo o pH ácido do estômago
são barreiras que dificultam a entrada dos microrganismos em nosso corpo. No entanto,
algumas vezes os patógenos conseguem transpor as barreiras físicas e químicas, burlar
o nosso sistema de defesa e nós adoecemos. Quando ficamos doentes, o nosso sistema
imune reage e, caso haja uma segunda infecção pelo mesmo patógeno, o organismo apre-
senta uma memória imunológica — permitindo que o indivíduo não adoeça novamente.

92

A imunidade inata e a imunidade adquirida


Os cientistas classificam a imunidade em dois tipos principais: a imunidade inata e a
imunidade adquirida. A imunidade inata, também conhecida como natural, é aquela que
você já possui ao nascer. Ela é inespecífica, isto é, pode reconhecer diversos tipos de mi-
crorganismos e atuar rapidamente quando o corpo for infectado por um organismo estra-
nho. A pele, as membranas mucosas, o suor, os pelos nas narinas e a tosse, por exemplo,
são barreiras pertencentes à imunidade inata. Contudo, basta um pequeno ferimento na
pele para que o patógeno penetre no hospedeiro. Quando eles conseguem vencer a imuni-
dade inata, a imunidade adquirida inicia-se para destruir o invasor.

Apesar de a imunidade adquirida ser uma forma mais lenta de resposta à infecção,
ela é bem específica e cada componente do sistema imunitário é capaz de reconhecer
apenas um tipo de patógeno. A imunidade adquirida pode ser mediada por células e por
anticorpos, sendo esta última conhecida como imunidade humoral. Os linfócitos T são os
responsáveis pela imunidade mediada por células, enquanto os linfócitos B respondem
pela imunidade humoral — mediada por anticorpos. Vale ressaltar que a resposta imune a
um patógeno pode se dá através da interação entre a imunidade humoral, celular e natural
na busca para gerar mecanismos antígeno-específicos eficientes que proporcionem a mor-
te do microrganismo invasor.

Figura 47 – Linfócito T Figura 48 – Linfócito B

Microbiologia e Imunologia
Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Fonte: <http://upload.wikimedia.org/
commons/6/63/Blausen_0625_Lymphocyte_T_cell.png>. wikipedia/commons/0/0b/Blausen_0624_Lymphocyte_B_
Acesso em: 24 jul. 2015 cell.png>. Acesso em: 24 jul. 2015.

Na competência 03, você estudou a bactéria Mycobacterium tuberculosis que causa


a tuberculose. Aprendeu que, quando um indivíduo é infectado por ela, sua imunidade
celular se responsabiliza por combater a infecção. Além de determinadas bactérias, a imu-
nidade celular é responsável por combater fungos e parasitas. 93
Quando há uma infecção por vírus, os interferons atuam em resposta à infecção. Essas
moléculas são proteínas que provocam uma reação contra os vírus nas células adjacentes. Nas
infecções do trato respiratório, os macrófagos conseguem fagocitar, isto é, englobar e destruir
alguns microrganismos. Os linfonodos também são capazes de destruir tais patógenos.

Os componentes da imunidade inata


Você já aprendeu que a imunidade inata é formada por barreiras físicas (pele, mem-
branas mucosas), por barreiras químicas (pH, lipídeos, enzimas) e por células. Mas quais
seriam essas células?

Os leucócitos, conhecidos como glóbulos brancos do sangue, são as células de defe-


sa do nosso organismo que compreendem os monócitos, os macrófagos, os linfócitos e
as células polimorfonucleares, que exibem variadas formas com grânulos no citoplasma,
evidenciando-se como basófilos, eosinófilos ou neutrófilos. Essas células protegem o seu
corpo contra infecções, todavia, quando há uma disfunção nelas, o indivíduo é acometido
por infecções crônicas ou recorrentes.
Figura 49 – Leucócitos, as células brancas do sangue
Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Leucocitos.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.
Microbiologia e Imunologia

O linfonodo e o baço são os locais de maior concentração dos leucócitos. Os primeiros gló-
bulos brancos que entram em ação quando você se fere são os neutrófilos, que migram para
o local da infecção para tentar destruir o patógeno. Na Figura 50 é visto o sistema linfático.
Note a presença do timo, baço, medula óssea e dos linfonodos em diversos pontos do corpo.

94

Figura 50 – Sistema linfático


Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-linfatico/imagens/sistem1.jpg>.
Mastócitos: células Acesso em: 24 jul. 2015.
granulosas origi-
nadas na medula
óssea, atuam na
Os neutrófilos, macrófagos, mastócitos, as células dendríticas e as células apresenta-
resposta imune
alérgica. doras de antígeno atuam tanto na imunidade inata quanto na imunidade adquirida.
Figura 51 – Célula dendrítica (em azul) ligada à célula T auxiliar (em roxo) e a célula T citotóxica (em verde)
Fonte: <http://sphweb.bumc.bu.edu/otlt/MPH-Modules/PH/Ph709_Defenses/Dendritic%20Cell%20presenting%20anti-
gen.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.

Os monócitos são células esféricas e pequenas que migram pelo sangue para inúmeros
tecidos do corpo — onde sofrem diferenciação em células responsáveis por fagocitose,
como as células de Kupffer (no fígado), as células da micróglia (no sistema nervoso) e os

Microbiologia e Imunologia
macrófagos. Os macrófagos são fagócitos que se originam dos monócitos do sangue. Eles
captam, processam e apresentam os antígenos as células T. Como estão presentes na
corrente sanguínea, geralmente fazem o primeiro contato com o patógeno.

As células dendríticas apresentam-se imaturas na maioria dos tecidos e possuem vida


longa. Elas reconhecem e fagocitam patógenos e antígenos. O papel das células apresen-
tadoras de antígeno, como o próprio nome sugere, é processar e apresentar os antígenos
95
aos receptores da célula T, que são específicos para cada antígeno. Elas possuem molé-
culas denominadas Complexo Principal de Histocompatibilidade – MHC (do inglês Major
Histocompatibility Complex), que são determinantes para o sucesso de transplantes de
tecidos e órgãos. Quanto maior a semelhança entre o MHC do doador e do receptor do
órgão, maior a chance de sucesso do transplante.

Figura 52 – Célula apresentadora de antígeno (APC) ligada ao linfócito T e macrófago ligado ao linfócito B
Fonte: <https://i0.wp.com/lh5.ggpht.com/_STDVFQGESJI/TMzJR01pDtI/AAAAAAAABZA/TZTp29n1f54/tnf-fig2%5B3%5D.
jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.
Existem também as células citocidas naturais, mais conhecidas como natural killer – NK.
Elas são linfócitos granulares citotóxicos que reconhecem as células anormais, cancerosas ou
infectadas por vírus e podem provocar lise (destruição) dessas células ou ainda causar a apop-
tose, a morte programada da célula. Elas não possuem receptores antígenos específicos, mas
reconhecem seus alvos através do contato célula-célula ligando-se ao MHC das células.

Você vai perceber que a resposta inata procura atingir dois objetivos. O primeiro deles
é eliminar patógenos e substâncias que sejam estranhas ao corpo. E o segundo é gerar
uma resposta imune adquirida, específica para cada antígeno e que proporcione memória
imunológica, ou seja, que forneça uma imunidade duradoura. No entanto, é importante
lembrar que somente a imunidade inata não é capaz de gerar uma memória imunológica.

As células da imunidade adquirida


Microbiologia e Imunologia

Diferentemente das células do sistema imune inato, que não apresentam especifici-
dade em relação ao antígeno, as células linfócitos B e T do sistema imune adquirido ex-
pressam receptores antígeno-específicos e os utilizam para reconhecer os antígenos. Além
disso, a resposta imune adquirida faz uso de células de memória que impedem que haja
nova infecção do mesmo patógeno. Esse tipo de imunidade somente é adquirida quando o
hospedeiro entra em contato com o microrganismo.
96 O nosso corpo dispõe de um sistema linfático responsável pela maturação, diferen-
ciação e proliferação dos linfócitos. Os linfócitos são pequenos leucócitos que expressam
receptores antígenos-específicos e circulam continuamente pelo corpo, sendo encontrados
no sangue, na linfa, nos órgãos linfoides e nos tecidos. Os linfócitos B e T são formados
na medula óssea, contudo, os primeiros amadurecem na medula, enquanto os demais, no
timo — sendo esses dois órgãos considerados órgãos linfoides primários. As células B rece-
beram essa denominação porque foram primeiramente estudadas na Bursa de Fabricius,
órgão presente nas aves. Já as células T receberam esse nome por causa de seu amadu-
recimento, que se dá no timo.

Curiosidade
O timo é uma glândula localizada na porção anteroposterior da cavidade toráci-
ca que apresenta duas partes, os lobos. Eles crescem desde o desenvolvimen-
to do feto até a puberdade. Durante a idade adulta, o timo atrofia lentamente.
Uma vez maduras, as células B e T viajam pelo sangue e pelo sistema linfático
até atingirem os órgãos linfoides secundários (ou periféricos) principais que são os
linfonodos, o baço. Nesses órgãos, as células B e T são ativadas pelo antígeno. As
amígdalas, o apêndice e os agregados dos linfócitos encontrados em diversas partes
do corpo também são considerados órgãos linfoides secundários. As principais fun-
ções desempenhadas por esses órgãos são: a captação e a concentração de subs-
tâncias estranhas ao corpo; e a produção de anticorpos e de linfócitos T antígeno-
-específicos. Depois dos linfonodos capturarem os antígenos, eles penetram nosso
corpo com muita eficiência. Já no interior dos linfonodos, os antígenos vão interagir
com os macrófagos, células B e T.

É importante que os linfócitos migrem pelo corpo para que, quando expostos a um antí-
geno, ele seja capturado com seu linfócito específico, estimulando a proliferação e diferen-
ciação dos outros linfócitos. Dessa forma, há uma expansão dos linfócitos B e T específicos

Microbiologia e Imunologia
para o antígeno em questão e das células de memória, que garantem imunidade por um
longo período.

Saiba que quando um antígeno entra no corpo, ele ultrapassa as barreiras físicas e se
depara com os componentes celulares do sistema imune e com os anticorpos. A partir daí,
ele pode seguir três caminhos.

No primeiro deles, se houver penetrado através da corrente sanguínea, o sistema circu-


97
latório vai encaminhá-lo para o baço — local em que vai interagir com a célula apresentado-
ra de antígeno, as células dendríticas e os macrófagos.

Uma segunda opção seria o antígeno alojar-se na epiderme, na derme ou nos te-
cidos subcutâneos, para estimular respostas inflamatórias. Daí, o antígeno chegaria
ao interior dos linfonodos onde interagiria com os macrófagos, as células dendríticas
e as células B e T para gerar uma resposta imune. Os anticorpos e as células T an-
tígeno-específicas são sintetizados nos linfonodos e entram na circulação atingindo
vários tecidos.

O terceiro caminho seria a entrada dos antígenos pelo trato gastrointestinal ou respira-
tório, onde interagem com macrófagos e linfócitos. A partir disso, os linfócitos são distribu-
ídos para diversos tecidos através da circulação. Os linfócitos B são aqueles que produzem
anticorpos (ou imunoglobulinas) expressos em sua superfície.
Microbiologia e Imunologia

Figura 53 – Linfócito B com seus anticorpos na superfície


Fonte: <http://sanidadanimal.info/cursos/inmunologia3/images/imagen_019_350.png>. Acesso em: 24 jul. 2014.

Os anticorpos apresentam forma de Y ou T. Existem cinco classes de imunoglobuli-


nas desempenhando funções diferentes: IgG, IgM, IgA, IgD e IgE. Todas elas possuem
uma estrutura básica de quadro cadeias (duas leves e duas pesadas), mas se dife-

98 renciam nas cadeias pesadas (observe a Figura 53). As cadeias pesadas constituem
os braços da imunoglobulina e é a parte responsável por reconhecer o organismo
estranho ao corpo.

A IgA possui as cadeias pesadas α e é secretada pelo tecido mucoso linfoide, presente
na lágrima, no leite e na secreção nasal. A IgD apresenta cadeias pesadas δ e está pre-
sente na superfície dos linfócitos B, contudo, seu papel ainda não está bem definido. A IgE
possui cadeias pesadas ϵ e atua nas reações alérgicas. A IgG possui cadeias pesadas γ,
sendo a imunoglobulina mais abundante no sangue, constituindo o principal anticorpo do
nosso organismo. A IgM possui cadeias pesadas µ e é a primeira a aparecer na superfície
da célula B. Dessa forma, quando a célula B é estimulada pelo antígeno, a IgM é a primei-
ra imunoglobulina a ser produzida. Na Figura 54 observamos a estrutura básica de uma
imunoglobulina. Observe as cadeias leves e pesadas, as regiões constantes e variáveis e
os sítios de ligações do antígeno:
Figura 54 – Estrutura básica de uma imunoglobulina

Microbiologia e Imunologia
Fonte: <http://biologicamentefalando.blog.com/files/2011/02/estrutura-anticorpo.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2014.

Existem vários tipos de células T. Por serem auxiliares, como o nome indica, acompa-
nham as células B a aumentarem sua produção de anticorpos, pois liberam citocininas,
substâncias que regulam a proliferação de células B. A liberação das citocininas induz
ainda a migração e a ativação de monócitos e de macrófagos, o que causa as reações in-
flamatórias. As células T auxiliares expressam em sua superfície as moléculas CD4.
99
As células T citotóxicas expressam moléculas CD8 e são capazes de matar as células
alvo. Geralmente reconhece e destrói as células hospedeiras infectadas por vírus. Já as T
reguladoras, como o próprio nome indica, regulam a ativação de outras células T possuin-
do atividade supressora.

Vimos na competência 4 que pacientes infectados por HIV apresentam uma diminuição
da população de células T, o que acarreta deficiência imunológica e torna o paciente mais
susceptível a infecções. Ainda vale lembrar que o consumo de bebidas alcoólicas, cigarro e
drogas também suprimem o sistema imunitário.

Atividade 01
Agora que você já aprendeu sobre a imunidade inata e a imunidade ad-
quirida, construa uma tabela comparativa entre os dois tipos, diferencian-
do-os quanto a sua função e os seus componentes.
As vacinas
Você sabia que o termo vacina é derivado da palavra vaca? Saiba por quê!?

Essa forma de imunização recebeu esse nome porque os primeiros experimentos, re-
alizados no século XVIII, foram feitos através da secreção de uma ferida de um indivíduo
contaminado por varíola bovina, uma forma mais leve da varíola humana. Em seguida, essa
secreção foi inoculada (disseminada) em um garoto sadio, que posteriormente foi exposto
ao vírus da varíola humana e se apresentou imune.

Diante disso, ficou evidente que a pré-exposição a uma forma reduzida do patógeno
provocava uma resposta imune no indivíduo. Em um posterior contato com o mesmo pa-
tógeno, o sistema imune responderia mais rapidamente a infecção por apresentar uma
memória imunológica, o que seria suficiente para que o indivíduo não desenvolvesse a
doença. É importante salientar que esse tipo de experimento atualmente não é permitido
Microbiologia e Imunologia

sem que os códigos de ética sejam obedecidos. Hoje se sabe que é o antígeno que induz
a resposta imune adquirida.

A profilaxia, através das vacinas contra doenças infecciosas, tem sido muito eficien-
Profilaxia: parte te no combate a inúmeras doenças, como: poliomielite, varíola, malária, hepatite A e B,
da medicina que
pneumonia, meningite, febre amarela, HPV, tétano, poliomielite, gripe, rubéola, sarampo,
estabelece medidas
preventivas para a difteria, coqueluche e tuberculose.
100 preservação da saú-
de da população.

Querendo mais
Para saber mais sobre as vacinas disponíveis e o calendário recomendado
para administração das doses, visite a página da Sociedade Brasileira de
Imunização acessando o link: <http://www.sbim.org.br/vacinacao/>.

As reações de hipersensibilidade
As reações de hipersensibilidade são duas: aquelas em que há uma resposta exagera-

Anafilaxia: é uma
da a antígenos estranhos ou aquelas inadequadas aos antígenos próprios ao corpo. As re-
reação alérgica ações de hipersensibilidades mais frequentes são aquelas medidas pela IgE, responsável
potencialmente
fatal quando ocorre
pelas reações alérgicas que ocorrem rapidamente, minutos após o contato com o antígeno.
contato com agen- Nesses casos, há liberação de substâncias que mediam a inflamação e provocam manifes-
tes farmacologica-
mente ativos.
tações, como rinite, asma e anafilaxia.
A inflamação
Em alguns casos infecciosos, quando as células imunes se mobilizam para combater
uma infecção, ocorre o processo de inflamação como resposta daquilo que pode tornar-se
crônico. A inflamação, caracterizada por edema (inchaço), dor, vermelhidão e calor, apesar
de nos proporcionar desconforto, é um mecanismo de defesa do corpo, que visa restaurar
o seu equilíbrio ao fazer com que a parte lesada volte ao normal.

A dor é sentida porque o diâmetro dos vasos aumenta, no processo de vasodilatação,


e, consequentemente, aumenta o fluxo de sangue, por isso percebe-se o calor e a verme-
lhidão no local lesionado.

Quando a resposta inflamatória torna-se sistêmica, a febre se manifesta, há o aumento do nú-


mero de leucócitos e a produção de proteínas de fase aguda, como por exemplo, a proteína C re-
ativa, ligando-se ao microrganismo e ativando o sistema complemento, proporcionando a lise do

Microbiologia e Imunologia
patógeno e o aumento da fagocitose. Em algumas doenças, como tuberculose, artrite reumatoide Sistema comple-
mento: sistema for-
ou glomerulonefrite (inflamação dos glomérulos renais), a inflamação pode tornar-se crônica.
mado por cerca de
30 proteínas que
atuam tanto na res-

Quando o corpo ataca a si próprio posta imune inata


quanto na resposta
adquirida mediada
Em algumas ocasiões, o corpo pode desenvolver uma resposta imunológica aos seus por anticorpos,
próprios antígenos, causando doenças autoimunes, como lúpus, esclerose múltipla, hiper- complementando 101
a capacidade de o
tireoidismo, diabetes tipo I e até mesmo algumas formas de artrite. O que acontece nesses anticorpo matar a
casos é que o sistema imunológico passa a atacar as células que são próprias do corpo. bactéria.

A maioria das doenças autoimunes é causada por fatores genéticos e ambientais. Hormô-
nios e fármacos também podem desencadear essas doenças.

Resumo
Nesta competência, você estudou a estrutura e a fisiologia do sistema imunológico e
reconheceu como seu corpo combate as infecções. Você aprendeu também a diferenciar
a imunidade inata da imunidade adquirida e identificou os componentes de cada uma
delas. Além disso, você reconheceu as reações de hipersensibilidade, o uso das vacinas e
algumas doenças autoimunes.

Autoavaliação
01. Sobre as imunidades inata e adquirida, marque a alternativa correta:
a) A imunidade inata é aquela que se manifesta ao longo da vida enquanto a imunidade
adquirida é adquirida logo ao nascer.

b) A imunidade inata é aquela capaz de reconhecer os microrganismos atuando com espe-


cificidade em cada um deles.

c) A imunidade adquirida é aquela em que as células de defesa reconhecem o antígeno


específico, contudo, sua resposta é mais lenta que a imunidade inata.

d) A imunidade inata permite que o indivíduo fique imune ao antígeno envolvido para o
resto da vida.

02. As imunidades inata e adquirida são desempenhadas por diversos componentes. Qual
das alternativas abaixo corresponde a esses componentes?
Microbiologia e Imunologia

a) A imunidade mediada por células é realizada pelos linfócitos T, já imunidade humoral é


de responsabilidade dos linfócitos B, sendo mediada por anticorpos.

b) A imunidade inata é realizada apenas pelas barreiras físicas existentes em nosso corpo
como, por exemplo, as membranas mucosas e a pele.

c) Enquanto os linfócitos T combatem vírus e bactérias, os linfócitos B combatem ape-


nas fungos.
102 d) Macrófagos, mastócitos, neutrófilos e eosinófilos são células exclusivas da imunida-
de inata.

03. As imunoglobulinas são os anticorpos responsáveis pela imunidade humoral mediada


pelas células B. Marque a alternativa correta sobre as imunoglobulinas:

a) A imunoglobulina A é importante em processos alérgicos.

b) A imunoglobulina D é a primeira a ser produzida quando há infecção.

c) A imunoglobulina G é o principal anticorpo presente no organismo, sendo a imunoglobu-


lina mais abundante na corrente sanguínea.

d) A imunoglobulina E é frequentemente encontrada na lágrima, na secreção nasal e no


leite materno.

04. Os estudos para imunização através de vacinas foram iniciados ainda no século XVIII
utilizando antígenos provenientes da varíola bovina. Das alternativas abaixo, assinale
aquela que melhor responde a essa questão.
a) A imunização através de vacinação primeiramente provoca o desenvolvimento da doen-
ça no indivíduo vacinado. No entanto, deve ser administrada para que em um segundo
contato como patógeno a doença não se manifeste de modo tão grave.

b) A vacinação é realizada através da inoculação no indivíduo de uma forma atenuada do


patógeno. Isso desencadeia uma resposta imune sem que o indivíduo adoeça. Assim,
em um segundo contato com o mesmo antígeno, o indivíduo apresentará uma memoria
imunológica que combaterá com eficiência o patógeno invasor.

c) A vacinação só é eficiente na idade infantil. Indivíduos não vacinados durante a infância


não poderão fazê-lo na idade adulta — momento em que o corpo já está mais fragilizado
para receber as doses do patógeno atenuado.

d) AIDS, câncer, gripe e rubéola são exemplos de doenças em que a vacinação é medida
profilática eficiente no combate à infecção por esses patógenos.

Microbiologia e Imunologia
05. Aprendemos que a inflamação é uma resposta do organismo, em alguns casos. Sobre
essa questão, marque a alternativa que melhor caracteriza o processo inflamatório:

a) Na inflamação há morte dos tecidos lesionados, diminuindo o fluxo sanguíneo local e


contaminando o ferimento por patógenos oportunistas.

b) Na inflamação, as células do sistema imune começam a atacar as próprias células do 103


corpo, proporcionando o surgimento das doenças autoimunes que causam sérios preju-
ízos ao organismo, como lúpus, esclerose múltipla e hipertireoidismo.

c) As doenças autoimunes são somente determinadas pela genética. Portanto, indivíduos


com histórico familiar têm maior probabilidade de desenvolver a doença em questão.

d) Durante o processo inflamatório, são evidentes os sintomas de vermelhidão, calor e


inchaço. Tais características manifestam-se devido à vasodilatação que ocorre no local
lesionado, aumentando o fluxo sanguíneo.
Competência
06
Diferenciar a homeostasia
imune e das imunopatologias e reconhecer
a importância da imunologia para
a área de saúde
Microbiologia e Imunologia

106
Diferenciar a
homeostasia
imune e das imunopatologias
e reconhecer a importância da
imunologia para a área de saúde

Microbiologia e Imunologia
Você aprendeu como é constituído o sistema imune. Agora, fique por dentro de como
seu corpo mantém-se em equilíbrio. Saiba também qual a importância da imunologia para
a área da saúde.

Homeostas
A homeostasia é a capacidade que os seres vivos têm de manter suas funções corpo-
107
rais em equilíbrio, mesmo com as variações das condições ambientais. Dessa forma, as
condições do meio corporal interno mantêm-se estáveis. Para que os sistemas do nosso
corpo funcionem perfeitamente, é necessário que as nossas células mantenham-se em um
funcionamento estável. Podemos dizer que um organismo está em homeostase quando o
meio interno corporal tem a concentração ideal de substâncias químicas e a temperatura
e a pressão são adequadas ao funcionamento do corpo. Quando há uma perturbação na
homeostase, pode haver o desenvolvimento de uma doença. Se a homeostase não voltar
a ocorrer, o organismo vai a óbito.

Você sabia que o estresse pode perturbar a homeostase? Isso acontece porque em
períodos estressantes há uma quebra do equilíbrio corporal interno. O estresse pode ser
desencadeado naturalmente pelo frio ou calor, mas também pode ocorrer pela falta de
oxigênio, por elevação da pressão arterial, na presença de tumores e até mesmo por pen-
samentos desagradáveis.

Os mecanismos que regulam a homeostase são controlados pelos sistemas nervoso e


endócrino. O sistema nervoso detecta o desequilíbrio corporal e rapidamente envia impul-
sos nervosos aos órgãos adequados para que o organismo volte a homeostase.
Microbiologia e Imunologia

Figura 55 – Componentes do sistema nervoso


Fonte: <http://www.todamateria.com.br/sistema-nervoso/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

Já o sistema endócrino, formado por glândulas produtoras de hormônios, funciona mais


lentamente, lançando os mensageiros químicos na corrente sanguínea para que a home-
ostase se reestabeleça.

108

Figura 56 – Componentes do sistema endócrino


Fonte: <http://cmapspublic.ihmc.us/rid%3D1281326031359
_616716334_29186/SISTEMA%2520ENDOCRINO%252022.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2015.
Os cientistas acreditam que o grau de evolução de uma espécie pode ser medido pela
homeostase, pois se observa que os organismos mais evoluídos apresentam sistemas in-
ternos mais estáveis, o que os torna mais independentes do meio externo.

Você já parou pra pensar que o modo como você vive pode influenciar a homeostase
corporal? A qualidade do ar que você respira, a sua alimentação, a maneira como você rea-
ge a situações adversas e muitos outros fatores podem influenciar o seu equilíbrio corporal.
Diante disso, vale lembrar que alimentação saudável aliada à prática regular de exercício
físico é a chave para manutenção da sua homeostase. Além disso, muitos pesquisadores
revelam que boas noites de sono são capazes de proteger nosso sistema nervoso e nos
livrar de doenças autoimunes.

Microbiologia e Imunologia
Querendo mais
Entenda melhor como uma boa noite de sono pode favorecer o seu bem
estar e proteger você das doenças neurodegenerativas. Acesse o link a se-
guir e saiba mais: <http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noti-
cias/2013/09/11/noticia_saudeplena,145377/estudo-revela-que-dormir-
-bem-pode-ajudar-a-proteger-o-sistema-nervoso.shtml>. 109

Quando as nossas defesas falham


Você aprendeu que quando há uma infecção, o patógeno ativa a resposta imune inata
provocando os sintomas da doença. Em seguida, ocorre a resposta imune adaptativa que
elimina a infecção e confere memória imunológica ao seu organismo. Entretanto, em mui-
tos casos, há falhas no mecanismo de defesa à infecção e à propagação do patógeno, vai
depender da capacidade dele em se multiplicar dentro do hospedeiro e em se disseminar
para outros organismos.

Os cientistas observam que os parasitas vêm desenvolvendo, ao longo de milhões de


anos, inúmeras estratégias para evitar serem destruídos pelo sistema imune. Por esse
motivo, muitas vezes o patógeno persiste no organismo hospedeiro ocasionando uma in-
fecção bem sucedida para ele. Isso pode acontecer, pois a presença do patógeno no corpo
não induz uma resposta imune ou porque ele consegue escapar dessa resposta.
Você vai perceber, no estudo desta competência, que os microrganismos causadores
de doenças desenvolveram muitas maneiras de enganar ou transpor as defesas inerentes
ao nosso corpo.

Nas infecções do trato respiratório, os macrófagos conseguem fagocitar, isto é, englo-


bar e destruir alguns microrganismos. Os linfonodos também são capazes de destruir tais
patógenos.

Quando o indivíduo adoece de pneumonia bacteriana, por exemplo, pode estar sendo
contaminado por um dos 84 tipos de Streptococcus pneumoniae existentes. Cada tipo
apresenta uma estrutura diferente na cápsula de polissacarídeos que envolvem a bactéria
(relembre essa estrutura na competência 02). Dessa forma, quando o indivíduo é conta-
minado por um dos tipos, denominados de sorotipos, não está imune contra os demais
sorotipos, pois nesses casos a imunidade é tipo específica. Por esse motivo, a mesma
pessoa pode ter pneumonia várias vezes ao longo da vida, já que se torna imune apenas
Microbiologia e Imunologia

ao sorotipo pelo qual foi contaminada.

Na competência 02, você estudou a bactéria Mycobacterium tuberculosis, causadora


da tuberculose. Quando um indivíduo é infectado por ela, a imunidade celular se responsa-
biliza por combater essa infecção. Além de determinadas bactérias, a imunidade celular é
responsável por combater fungos e parasitas.

110 Quando o bacilo da tuberculose atinge o nosso organismo, ele induz uma resposta imu-
ne. Contudo, ele dispõe de mecanismos que resistem aos efeitos dessa resposta. Dessa
forma, as bactérias são ingeridas pelos macrófagos normalmente, mas não permitem que
eles as destruam, ou seja, os bacilos se hospedam nos macrófagos, mas não permitem
que o fagossoma se funda com o lisossoma e, por isso, a bactéria não é destruída.

A bactéria causadora da lepra, Mycobacterium leprae, é capaz de suprimir a imunidade


mediada por células, provocando um estado denominado de anergia, em que há ausên-
cia de hipersensibilidade tardia para vários antígenos não relacionados ao M. leprae. Isso
acontece quando há ocorrência da forma lepromatosa. Já na forma tuberculoide, a imuni-
dade mediada por células torna-se potente, com ativação de macrófagos que controlam a
infecção, mas não a erradicam.

Quando há uma infecção por vírus, os interferons atuam em resposta à infecção. Essas
moléculas são proteínas que provocam uma reação contra os vírus nas células adjacentes.
No entanto, os vírus são capazes de subverter o sistema imune de diferentes formas: ini-
bindo a imunidade humoral, inibindo a resposta inflamatória, bloqueando a apresentação
dos antígenos ou provocando a imunossupressão do hospedeiro.

Como vimos na competência 03, o vírus Influenza, causador da gripe, é um vírus de


RNA fita simples e o seu material genético pode sofrer mutações com maior frequência.
Por esse motivo, as vacinas contra a gripe precisam ser elaboradas a cada ano, tornando
o indivíduo imune apenas ao sorotipo envolvido.

Alguns vírus podem ainda entrar em um estado chamado de latência. O vírus causa-
dor do herpes simples, por exemplo, entra em estado de latência e durante este período
não se replica, não causando doença. Mas como o sistema de defesa não o detecta, ele
também não é eliminado pelo organismo. Dessa forma, a infecção ora latente pode mais
tarde ser reativada e, por esse motivo, muitas pessoas têm infecções causadas pelo
herpes labial repetidamente. Os fatores que mais comumente reativam esse vírus são
a luz solar, as infecções bacterianas (o que deixa o organismo mais enfraquecido) e até
mesmo alterações hormonais.

O vírus Epstein Barr também pode entrar em latência nas células B. Geralmente, isso
acontece quando há uma infecção primária, muitas vezes não diagnosticada. Em poucos

Microbiologia e Imunologia
casos, a infecção aguda é severa e causa a mononucleose infecciosa, já estudada na com-
petência 03.

Quando o indivíduo adoece de sarampo, a imunossupressão pode durar meses. Isso


acontece porque as células B e T têm sua função reduzida. Além disso, há redução, ou até
mesmo ausência, de hipersensibilidade tardia, o que torna as crianças mais susceptíveis
à infecção por micobactérias.
111
Nas pessoas infectadas por HIV, os casos de imunossupressão são ainda mais graves
e, por esse motivo, as infecções oportunistas causam a morte em pacientes com AIDS. O
que acontece é que a infecção pelo HIV faz com que o indivíduo perca gradualmente sua
competência imunológica, podendo ser agredido por organismos que normalmente não
causariam doenças.

Atividade 01
Você aprendeu como o seu corpo funciona para permanecer em equilíbrio
e o que acontece durante as imunopatologias. Agora, para saber como
atuam os sistemas nervoso e endócrino, pesquise sobre a função de cada
um. Descreva como você entendeu esse processo e poste sua resposta
no fórum do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Lembre-se de infor-
mar a fonte pesquisada.
A imunologia e os transplantes
A imunologia é uma ciência de grande importância para a área de saúde, tendo em vis-
ta que seus estudos possibilitam a terapia médica através do transplante de tecidos para
Fator Rh: impor- substituição de órgãos doentes.
tante antígeno
presente no sangue Em muitos casos, o principal impedimento para um transplante bem sucedido é a
de determinadas
resposta imune adaptativa ao tecido enxertado. Existem antígenos que são variáveis
pessoas, cuja pre-
sença significa que nos diferentes indivíduos e essas proteínas estranhas ao receptor são rejeitadas pela
a classificação será
resposta imune.
Rh+. Os indivíduos
que não possuem
O primeiro tipo de transplante realizado foi a transfusão sanguínea, e ele ainda é o
naturalmente o tal
antígeno, recebem tipo mais comum de transplante atualmente. Para que seja um sucesso, é necessário
a classificação Rh-.
que haja combinação dos antígenos dos grupos sanguíneos ABO e o fator Rh entre o
Fonte: <http://www.
significados.com.br/ doador e o receptor.
Microbiologia e Imunologia

fator-rh/>.

Curiosidade
Você sabia que atualmente é possível transplantar um coração que já parou
de funcionar? O coração permanece em uma caixa especial até o momento
112
do transplante. Veja como isso é possível. Acesse a página: <http://www.
bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141024_coracao_em_caixa_
pu>.saiba como tudo acontece.

Quando o transplante é realizado com outros tipos de tecido, diferentes do tecido san-
guíneo, as células T respondem às moléculas polimórficas do MHC, que quase sempre
desencadeiam uma resposta contra o órgão enxertado. Já aprendemos que a compatibi-
lidade entre o MHC do doador e do receptor proporciona uma maior chance de êxito nos
transplantes. No entanto, a compatibilidade ideal é possível apenas quando o doador e o
receptor do tecido transplantado são parentes, mas mesmo assim as diferenças genéticas
existentes entre eles ainda podem desencadear rejeição.

Apesar disso, a tolerância aos antígenos dos tecidos enxertados pode ser induzida arti-
ficialmente. Contudo, como não é possível suprimir especificamente a resposta ao enxerto
sem comprometer as defesas do hospedeiro, é necessário que haja uma imunossupressão
generalizada de quem recebe o enxerto. Isso pode ocasionar toxicidade ao organismo e até
mesmo aumentar o risco de câncer e infecção.

É interessante notar que um tecido que sempre é enxertado e tolerado é o feto dos ma-
míferos. Mesmo o feto possuindo MCH paterno, a mãe consegue gerar o filho que expressa
às proteínas estranhas originadas do pai. Os imunologistas ainda não conseguem explicar
por que o feto não é rejeitado.

Querendo mais
Para saber sobre a ética em transplantes, visite a página da Associação Bra-
sileira de Transplante e Órgãos, através do link: <http://www.abto.org.br/
abtov03/default.aspx?mn=481&c=922&s=0&friendly=etica-em-transplan-

Microbiologia e Imunologia
tes>. Nesse site, você também pode consultar os centros de transplantes
existentes em todo o Brasil.

Resumo
113
Nesta última competência de nosso estudo, você aprendeu a diferenciar a homeostasia
corporal imune das imunopatologias, e reconheceu à importância a imunologia para a área
de saúde, principalmente em relação ao transplante de órgãos e tecidos; bem como enten-
deu a sua importância para manutenção da nossa vida. Você aprendeu também como o
nosso corpo reage nas patologias e como mantém-se em equilíbrio.

Autoavaliação
01. Diante do que você estudou sobre homeostase, marque a alternativa correta:

a) A homeostase acontece quando adoecemos e o nosso sistema imune entra em ação.

b) Quando o corpo está em homeostase, significa dizer que ele está em desequilíbrio. Des-
sa forma, o corpo está em constante mudança para atingir o equilíbrio.

c) A homeostasia é o estado corporal em que há equilíbrio interior, mesmo com as mudan-


ças das condições externas.

d) A homeostase deixa de existir quando há equilíbrio nas funções corporais internas.


02. Você aprendeu que, em alguns casos, quando adquirimos uma doença ficamos imunes
a ela permanentemente. No entanto, em outros casos, a pessoa pode adquirir a mesma
doença por várias vezes. Por que isso acontece?

a) A pneumonia, por exemplo, é uma infecção causada por diversos sorotipos. Portanto, a
pessoa doente fica imune apenas ao sorotipo adquirido, podendo adoecer várias vezes
ao contaminar-se por diferentes sorotipos.

b) A pessoa adoece várias vezes porque o sistema imunológico falha no combate à infecção.

c) Isso acontece apenas quando as infecções são virais. Quando a infecção é bacteriana
a doença não se repete.

d) Quando o organismo não se torna tolerante ao antígeno envolvido, adoece novamente.


Microbiologia e Imunologia

03. A principal dificuldade enfrentada em transplante de órgãos é:

a) A falta de doador compatível com o receptor.

b) O risco de rejeição do tecido transplantado pelo receptor.

c) A falta de conhecimento sobre imunologia que dê suporte aos transplantes.

d) A imunossupressão que deve ser induzida em casos de transplante de tecidos.

114
04. Os mecanismos que regulam a homeostase são controlados pelos sistemas nervoso e
endócrino. Marque a alternativa que identifica a função correta de um desses sistemas.

a) O sistema nervoso é o responsável por lançar os hormônios na corrente sanguínea,


originando respostas rápidas para que o corpo não permaneça em homeostase.

b) O sistema nervoso é capaz de detectar o desequilíbrio corporal e rapidamente envia


impulsos nervosos aos órgãos adequados para que o organismo volte a homeostase.

c) O sistema endócrino é formado por glândulas produtoras de hormônios que agem rapi-
damente lançando os mensageiros químicos na corrente sanguínea e desequilibrando
nosso organismo.

d) O sistema endócrino é formado pelos rins e tem por função eliminar as substâncias
tóxicas produzidas pelo organismo.

05. Ao longo dos anos, os parasitas desenvolveram inúmeras estratégias para evitar exter-
mínios provocados pelo sistema imune. Marque a alternativa que expressa corretamen-
te uma dessas estratégias de sucesso que permitem que a infecção persista.

a) Os bacilos da tuberculose são ingeridos pelos macrófagos, mas não são destruídos por
eles, isto é, os bacilos hospedam-se nos macrófagos, mas não permitem que o fagosso-
ma funda-se com o lisossoma e, por isso, a bactéria não é destruída.

b) O Influenza é um vírus capaz de causar a gripe. Ele é constituído de RNA fita simples.
Como o seu material genético nunca sofre mutações, após uma infecção, o indivíduo
não pode ser contaminado novamente. Por esse motivo, uma vacina é eficaz contra
todos os tipos de gripe.

c) O vírus causador do sarampo entra em estado de latência, período no qual não se repli-
ca. Por esse motivo, poderemos adoecer apenas uma vez com sarampo.

d) A bactéria causadora da hanseníase é capaz de subverter o sistema imune, inibindo a


imunidade humoral ou inibindo a resposta inflamatória.

Microbiologia e Imunologia
115
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TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, Flávio. Microbiologia. 5. ed. São Paulo:


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Microbiologia e Imunologia
117
Gabarito
Autoavaliação
Competência 01 Competência 04
1. a 1. c
2. c c. a
3. c 3. b
4. b 4. b
5. d 5. d

Competência 02 Competência 05
Microbiologia e Imunologia

1. d 1. c
2. c 2. a
3. b 3. c
4. a 4. b
5. a 5. d

118 Competência 03 Competência 06


1. b 1. c
c. c c. a
3. d 3. b
4. c 4. b
5. a 5. a
Conheça o autor
Sílvia de Arújo Aranha

Microbiologia e Imunologia
Sílvia de Araújo Aranha é Bióloga, especialista em Biotecnologia Vegetal e mestre em
Fitopatologia. Tem experiência em pesquisa na área de Biologia Molecular aplicada à viro-
logia, bem como em Biotecnologia Vegetal com ênfase em Cultura de Tecidos. Suas pesqui-
sas foram desenvolvidas na Universidade de Brasília e na Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária em Brasília/DF. Foi responsável técnica do laboratório de biotecnologia da
119
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte – EMPARN. Foi professora
substituta da disciplina de biologia no Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN em
Natal/RN. Atuou no ensino superior na Universidade Potiguar em Natal/RN ministrando au-
las das disciplinas Biologia Celular, Biologia Molecular, Bioquímica, Genética, Biotecnologia
e atividades integradas em saúde para cursos da área Biomédica. Por duas vezes recebeu
o prêmio de melhor professora no curso de Ciências Biológicas e de Fisioterapia da Univer-
sidade Potiguar. Sua atuação também abrange a pós-graduação na Universidade Estadual
Vale do Acaraú, pólo Natal/RN, ministrando as disciplinas de Desenvolvimento Humano e
Metodologia do Trabalho Científico. Além disso, é professora orientadora de trabalhos de
conclusão de curso para elaboração de monografias em cursos de pós-graduação.
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