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Artigos 314 a 326 do Código Penal II

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento:

Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em
razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

1. Análise do núcleo do tipo. As condutas previstas são extraviar, sonegar e inutilizar e


podem ser realizadas total ou parcialmente, o que torna mais difícil a configuração da
tentativa, já que a inutilização parcial de um documento constitui delito consumado,
em face da descrição típica.
2. Sujeitos
a) Ativo: somente o funcionário público.
b) Passivo: o Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou outra pessoa
prejudicada.
3. Elemento subjetivo. Dolo, nao se exige elemento subjetivo nem se pune a forma
culposa.
4. Objetos material e jurídico. Objeto material é o livro oficial ou outro documento e o
objeto jurídico é a administração pública.
5. Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo, omissivo, ou omisso
impróprio, instantâneo, unisubjetivo, uni ou plurissubsistente; admite tentativa na
forma plurissubsistente.
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas

Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

1. Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em dar aplicação, e tem como objeto
as verbas ou rendas públicas.
2. Sujeitos:
a) ativo: funcionário público.
b) passivo: o Estado, secundariamente, a entidade de direito público prejudicada.
3. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico, nem
se pune a forma culposa.
4. Objetos material e jurídico. Objeto material é a verba ou a renda pública, objeto
jurídico é a administração pública, em seus interesses patrimonial e moral.
5. Classificação. Crime próprio, material, de forma livre, comissivo e,
excepcionalmente, omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente;
admite tentativa.
Concussão

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

1. Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em exigir, que significa ordenar ou


demandar, havendo um aspecto nitidamente impositivo na conduta.
2. Sujeitos
a) ativo: somente o funcionário público.
b) passivo: Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou a pessoa
diretamente prejudicada.
3. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se o elemento subjetivo específico,
consistente em destinar a vantagem para i ou para outra pessoa. Não existe forma
culposa.
4. Objetos material e jurídico. Objeto material é a vantagem indevida e objeto jurídico
é a administração púbica (aspectos material e moral).
5. Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente,
omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissusistente,
forma em que admite tentativa.
Excesso de exação

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber


indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a
lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de
27.12.1990)

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu


indevidamente para recolher aos cofres públicos:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Exação é a cobrança pontual de impostos. Pune-se o excesso, sabido que o abuso de


direito é considerado ilícito. Assim, quando o funcionário público cobre imposto além
da quantia efetivamente devida, comete o excesso de exação.
1. Análise do núcleo do tipo. Há duas formas para compor o excesso de exação: a)
exigir o pagamento de tributo ou contribuição sindical indevidos; b) empregar meio
vexatório na cobrança.
2. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, nas modalidades direta e indireta. Não há
elemento subjetivo do tipo, nem se pune a forma culposa.
3. Elemento normativo do tipo. Meio vexatório é o que causa vergonha ou ultraje;
gravoso é o meio oneroso ou opressor.
4. Norma em branco. É preciso consultar os meios de cobrança de tributos e
contribuições, instituídos em lei específica, para apurar se está havendo excesso de
exação.
5. Objetos material e jurídico. O objeto material é o tributo ou a contribuição social. O
objeto jurídico é a administração pública (interesses material e moral).
6. Classificação. crime próprio, formal na forma exigir e material na modalidade
empregar na cobrança, de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, unissubjetivo,
unissubsistente ou plurissubsistente, forma em que se admite tentativa.
Corrupção passiva

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
10.763, de 12.11.2003)

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com


infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

1. Crime comum ou militar. A corrupção passiva está tipificada tanto no direito penal
ordinário (art. 317 do CPB) quanto no direito penal militar (art. 308 do CPM)

2. Corrupção eleitoral. No Código Eleitoral (Lei 4737/65) está previsto também a


corrupção passiva como crime eleitoral. A referida lei sofreu modificações introduzidas
pela lei 9504/97 entretanto, os tipos penais continuam sendo disciplinados pela lei
4737/65. O tipo penal aqui descrito é de conteúdo alternativo porque traz vários
verbos contemplando tanto a corrupção passiva quanto a ativa.

3. Análise do núcleo do tipo. O tipo penal descrito no art. 317 do CPB é composto por
três verbos: solicitar, receber, aceitar. Diz respeito ao indivíduo que solicita, recebe ou
aceita promessa de vantagem indevida.

4. Corrupção própria: solicitação, recebimento ou aceitação de promessa de vantagem


indevida para a prática de ato ilícito, contrário aos deveres funcionais. Ex: Firmina
recebe para retirar provas essenciais do processo.

5. Corrupção imprópria:quando a prática se refere a ato lícito, inerente aos deveres


impostos pejo cargo ou função. Ex: Dênis recebe vantagem para agilizar a entrega de
algum ofício.
6. Corrupção antecedente. Quando o pedido de retribuição é feito antes da realização
do ato, configura-se a corrupção a priori.

7. Corrupção subsequente. Quando o pedido de retribuição é feito após a realização


do ato.

8. Delito bilateral. Nos crimes cometidos por particulares contra a Administração


Pública (crime de Corrupção ativa - previsto no art. 333 do CP), se o particular oferece
ou promete vantagem indevida ao funcionário ou servidor público e este a recebe,
temos aí o que se chama de delito bilateral; é a combinação simultânea da Corrupção
ativa (Art. 333 do CPB - oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício) com a corrupção
passiva (Art. 317 do CPB - solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem). O delito bilateral é exceção
à teoria monista ou unitária do Direito Penal, consiste na teoria pluralística.

9. Causa de aumento de pena. Está prevista no §1º do art. 317 do CP, configura a
chamada corrupção exaurida (A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de
ofício ou o pratica infringindo dever funcional).

10. Pena. A corrupção passiva é punida com reclusão, de 2 a 12 anos, e multa. Pena
determinada pela Lei 10.763/03. Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda
ato de ofício, com infração do dever funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem, a pena é detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

11. Ação Penal. Ação Penal Pública incondicionada

12. Tentativa. A tentativa é admissível

Facilitação de contrabando ou descaminho

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou


descaminho (art. 334):

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137,
de 27.12.1990)

1. Conduta típica. É a facilitação com violação do dever funcional do descaminho ou


contrabando. Para configurar a prática do delito previsto no art. 318 do CP, é
necessário que o funcionário público esteja investido na função de fiscalizar a entrada
e a saída de mercadorias do território nacional.
2. Contrabando. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização
seja proibida.

3. Descaminho. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização


seja legalmente permitida com a ocorrência de fraude no pagamento de tributos.

4. Competência. Pelo disposto no art. 144 da CF/88, julgar pessoas incursas na prática
do presente delito é de competência da justiça federal, sendo a polícia federal a
competente para efetuar as prisões.

5. Tipo remetido. A facilitação de contrabando ou descaminho é considerado como


tipo remetido porque remete ao delito do contrabando ou descaminho (art. 334 do
CPB).

6. Exceção à teoria unitária. Se alguém facilita a prática do delito previsto no art. 334
do CP deveria responder pelo delito previsto no art. 318 do CPB (facilitação de
contrabando ou descaminho) bem como pelo contrabando ou descaminho (art. 334 do
CPB), entretanto, temos aqui mais uma vez a teoria pluralística sendo aplicada,
configurando mais uma exceção à teoria unitária, vez que uma pessoa é quem facilita
o contrabando ou descaminho e outra é quem pratica o contrabando ou descaminho.

7. Defesa preliminar. No tipo penal ora estudado (da facilitação de contrabando ou


descaminho - Art. 318 do CPB) não há a incidência de possibilidade da defesa
preliminar do funcionário público.

Prevaricação

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo


contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Do latim praevaricare que significa faltar com os deveres do cargo

1. Objeto jurídico. Proteger o prestígio da Administração Pública

2. Sujeito

a) Ativo. Funcionário público no exercício da função

b) Passivo. O Estado

3. Análise do núcleo do tipo. "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de


ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal".
O tipo penal tem seu núcleo composto por 3 verbos: retardar, deixar de praticar,
praticar.

4. Classificação. Crime próprio - somente pode ser praticado por funcionário público,
se retirada a qualidade o fato torna-se atípico - formal - comissivo - instantâneo -
unissubjetivo - plurissubsistente - de ação múltipla - de conteúdo variado ou
alternativo.

5. Elemento subjetivo do tipo. É o dolo, ou seja a vontade específica de prevaricar. O


interesse pessoal está ligado ao sentimental.

6. Diferença entre a prevaricação comum e a militar. A prevaricação comum está


prevista no art. 319 do CP e é punida com pena de detenção de 3 meses a 1 ano mais
multa, sendo aplicada a normatização prevista na lei 9099/95. A prevaricação militar
está prevista no art. 319 do CPM e é punida com pena de 6 meses a 2 anos. Verifica-se
então que a diferença principal entre as duas tipificações do delito está na pena
aplicada.

7. Ação penal. Pública incondicionada

8. Legislação especial

art. 10, §4º -> lei 1521/51 => crimes contra a economia popular;

art. 345 -> lei 4737/65 => prazos da lei eleitoral;

art. 23 -> lei 7492/81 => lei do sistema financeiro (justiça federal);

art. 7º -> lei 4729/65 => sonegação fiscal;

art. 15, §2º -> lei 6938/81 => previsão na lei do meio ambiente.

PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA OU ESPECIAL

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu
dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído
pela Lei nº 11.466, de 2007).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

1. Objeto jurídico. Proteger o prestígio da Administração Pública

2. Sujeito
a) Ativo. Funcionário público no exercício da função

b) Passivo. O Estado

3. Análise do núcleo do tipo. : “Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público,


de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.”

O tipo caçula do Código Penal merece alguns momentos de atenção. Em seu elemento
objetivo, primeiramente o tipo abrange aparelhos telefônicos, podendo ser móveis ou
fixos, pois não faz ressalvas. Veda também o acesso do preso a rádios, que, no sentido
do texto, devem ser aparelhos de radiodifusão, quer sejam transceptores
(transmissores e receptores), apenas transmissores ou apenas receptores, mas,
obviamente, se excluindo rádios receptores de meios de comunicação (AM, FM, OC,
etc.).

E isso porque a exegese típica demanda o impedimento à comunicação de presos com


outros presos ou com o ambiente externo, o que não significa incomunicabilidade do
indivíduo ao mundo, mesmo porque, é permitido o acesso a televisores e rádios
receptores comerciais em determinados estabelecimentos penais. Logo, o que deseja a
norma é o impedimento à intercomunicabilidade, ou seja, a transmissão de
informações entre pessoas. Diz a lei, ainda, sobre aparelhos similares, parecendo que
se refere a similares de rádios e não também a telefones.

Assim, poderiam se incluir aparelhos tipo pagers, outros transmissores de ondas


eletromagnéticas, os Ipods, bluetooth e, em breve, os Iphones. O tipo não fala em
outros meios telemáticos, pelo que, o uso de computadores parece não estar
abrangido. Ou seria similar a rádio? E o vocábulo rádio usado no texto legal foi aposto
no sentido de aparelho material, coisa, ou no sentido de meio transmissivo. Mas
estaria incluído o uso de Internet mediante telefones, eis que a vedação é o acesso a
estes aparelhos e não sobre o modo técnico da comunicação.

Ainda sobre computadores, com fio ou wireless, poderia se argumentar que os dados
ficariam gravados e mesmo se apagados, poderiam ser desvendados mediante
perícias. Porém o usuário teria como usar códigos e cifras e mais ainda, o problema do
segredo não componente do tipo penal, mas responsabilidade do usuário, por sua
conta e risco. E o acesso a aparelhos telegráficos ou telex que funcionam como linhas
telefônicas? São aparelhos telefônicos ou similares a rádios? A questão toda recai
sobre a interpretação da lei penal, ampliativa ou restritiva, diante do princípio da
reserva legal e a tecnicidade do aparelho acessível, pelo que, não se apresenta tão
clara e resolutivo essa nova modalidade criminosa.
Denota-se que o espírito legislativo foi impedir a comunicação entre presos ou destes
com pessoas fora do estabelecimento, não importando o assunto a ser tratado. Não
obstante, poderá acontecer o acesso e a comunicação entre presos e funcionários no
ambiente interno do estabelecimento com os aparelhos mencionados no artigo, pelo
que, também ao que consta, deve se afigurar atípica essa situação, pois a lei é expressa
ao vedar o acesso para comunicação entre presos e o ambiente externo, e claramente,
quem está no interior do presídio não está em ambiente externo. Quid juris? Aflora
mais um problema de interpretação legal. Como se proíbe o acesso aos aparelhos, não
se exige o uso pelo indivíduo preso, que é consequência (pos factum impunível).

4. Classificação. Crime próprio, formal - comissivo - instantâneo - unissubjetivo -


plurissubsistente - de ação múltipla - de conteúdo variado ou alternativo.

5. Elemento subjetivo do tipo. É o dolo, ou seja a vontade específica de prevaricar.


Conduta omissiva própria (deixar), configurada na inércia do servidor.

6. Consumação: ocorre com a omissão, ou seja, a permissão ao acesso aos aparelhos


pelo funcionário. Impossível será a tentativa, porque crime omissivo puro.

7. Diferença entre prevaricação própria (art 319) e imprópria (art.319-A): Batizado de


prevaricação imprópria porque o funcionário age sem a necessidade de motivos
particulares aos seus deveres, difere da prevaricação própria do art. 319.

8. Ação penal. Pública incondicionada

Condescendência criminosa

Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que


cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar
o fato ao conhecimento da autoridade competente:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

1. Definição jurídica. A condescendência criminosa consiste em "deixar o funcionário,


por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do
cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da
autoridade competente, punível com pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um)
mês, ou multa".

A terminologia é imprópria porque não se trata apenas do fato de um funcionário


público ser condescendente com outro que tenha tido conduta criminosa mas
também, se aquele tiver cometido qualquer falta disciplinar.

A condescendência criminosa é praticada pelo funcionário público que, por


indulgência, benevolência ou tolerância, deixa de responsabilizar subalterno
hierárquico que tenha cometido crime, contravenção penal ou qualquer falta
disciplinar. Também comete o delito em estudo o funcionário público que, embora não
seja superior hierárquico daquele que tenha cometido crime, contravenção penal ou
qualquer falta disciplinar, deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente para puni-lo.

2. Bem jurídico. A Administração Pública

3. Sujeitos

a) ativo. Funcionário público

b) passivo. O Estado

4. Tipo subjetivo. Indulgência, benevolência ou tolerância; no Direito Penal Militar


além disso, a negligência.

5. Condutas típicas

Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu


infração no exercício do cargo;

Deixar o funcionário, por indulgência, de levar ao conhecimento de autoridade


competente para punir, o fato de que outro funcionário público tenha cometido
infração no exercício do cargo, evitando assim que o infrator seja responsabilizado.

6. Consumação. Com a omissão

7. Tentativa. Inadmissível porque o delito é omissivo próprio.

8. Classificação.

Advocacia administrativa

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

1. Definição jurídica. O termo advocacia é impróprio e indevido pois nada tem a ver
com a função do advogado. O delito consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário; punível com pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Se o
interesse é ilegítimo a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da
multa". No Direito Penal Militar a incorreição no nomem iuris é desfeita, naquele
diploma legal a nomenclatura usada é "patrocínio indébito". Importa salientar que no
projeto de reforma do CPB o presente tipo adota a nomenclatura do CPM.

2. Análise do núcleo do tipo. O verbo núcleo do tipo é patrocinar, significa proteger ou


beneficiar. É a figura do funcionário público relapso que relega seu serviço a um
segundo plano e passa a defender interesses privados, legítimos ou ilegítimos, ante a
Administração Pública.

3. Sujeitos

a) ativo. Funcionário público

b) passivo. A Administração Pública

4. Desnecessidade de ser advogado. Tendo em vista que o funcionário público é


impedido de exercer a advocacia, é desnecessária a qualidade de advogado ao autor
para que o delito se configure.

5. Outras condutas

Lei 8137/90, art. 3º, inc. III  funcionário público patrocinado interesse privado contra
a Administração Fazendária;

Lei 8666/93, art. 94  funcionário público patrocinado interesse privado no âmbito


das licitações

Violência arbitrária

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.

1. Revogação do artigo 322 pela Lei de Abuso de Autoridade. GUILHERME NUCCI crê
estar revogado este tipo penal pela vigência da Lei 4.898/65, que disciplinou,
integralmente, os crimes de abuso de autoridade. Assim, a violência praticada no
exercício da função ou a pretexto de exercê-la deve encaixar-se em uma das figuras
previstas na referida lei, não havendo mais necessidade de se utilizar o art. 322.

Abandono de função

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.


§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

1. Definição jurídica. O delito consiste em "abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei; punível com pena de detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou
multa. Se do fato resulta prejuízo público a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano, e multa. Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira a
pena é de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. É o cidadão que investido em
cargo público, por nomeação ou contratação, abandona-o. No Direito Penal Militar
tem-se a figura do abandono de cargo e do abandono de posto (figura do sentinela na
guarita).

2. O prazo do abandono. A lei não estabelece prazo mínimo para configuração do


abandono, basta haver prova da probabilidade de dano que o delito está
caracterizado. Se houver prova do dano ou se o delito tiver sido cometido em faixa
fronteiriça (150 km de largura - lei 6634/79, art. 1º), o crime será qualificado. A lei
869/58 (Estatuto dos Servidores Públicos de Minas Gerais) estabelece prazo de 30 dias
para caracterizar o abandono. Pela Lei 8112/90, constitui o abandono a ausência
intencional por mais de trinta dias consecutivos. No Direito Penal Militar basta provar
o espaço que o sentinela afastou-se do seu posto. No caso de abandono de função em
região de fronteira o prazo pode ser contado até em horas.

3. Elemento normativo do tipo. A expressão "fora dos casos permitidos em lei"


constitui o elemento normativo do tipo.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências


legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que
foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Violação de sigilo funcional

1. Análise do núcleo do tipo. Entrar no exercício significa iniciar o desempenho de


determinada atividade; continuar a exercê-la quer dizer prosseguir no desempenho de
determinada atividade. O objeto é a função pública.

2. Sujeitos.

a) ativo: somente funcionário público nomeado, porém sem ter tomado posse; na
segunda hipótese, há de estar afastado ou exonerado.
b) passivo: Estado.
3. Elemento subjetivo do tipo. É o dolo. Não se exige elemento subjetivo específico,
nem se pune a forma culposa. Na segunda figura, há apenas o dolo direto. Inexiste
forma culposa.

4. Elemento normativo do tipo. A expressão “sem autorização” indica a ilicitude da


conduta, ao passo que a continuidade do exercício, devidamente permitida pela
administração pública, não configura o tipo penal.

5. Objetos material e jurídico. O objeto material é a função pública e o objeto jurídico


é a administração pública, nos interesses material e moral.

6. Classificação. Crime próprio, delito de mão própria, formal, de forma livre,


comissivo e, excepcionalmente, omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente; admite tentativa.

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer
em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime
mais grave.

§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou


qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de
informações ou banco de dados da Administração Pública; (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)

II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:


(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

1. Análise do núcleo do tipo. Revelar significa fazer conhecer ou divulgar; facilitar a


revelação quer dizer tornar sem custo ou esforço a descoberta. O objeto é o fato que
deva permanecer em segredo.

2. Sujeitos
a) ativo: o funcionário público, abrangendo o aposentado ou em disponibilidade.

b) passivo: o Estado, secundariamente, a pessoa prejudicada com a revelação.

3. Elemento subjetivo do tipo. O dolo, não existe a forma culposa, nem se exige
elemento subjetivo do tipo específico.

4. Objetos material e jurídico. O objeto material é a informação sigilosa. O objeto


jurídico é a administração pública, nos interesses material e moral.

5. Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente,


omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurisusistente,
forma em que se admite a tentativa.

Violação do sigilo de proposta de concorrência

Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a


terceiro o ensejo de devassá-lo:

Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

Esse dispositivo foi tacitamente revogado pelo art. 94 da Lei n. 8.666/93.

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