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Ana Fridman-Educacao
Ana Fridman-Educacao
Resumo: Descrevemos aqui a estrutura básica da tese de doutorado de mesmo título, sendo que a
mesma encontra-se em fase de finalização. O tema de pesquisa de doutorado consiste na elaboração de
propostas para a improvisação musical no formato de workshops sob o tema conexão
corpo/instrumento, criando ambientes híbridos de improvisação a partir de materiais da música não
ocidental. Para alcançarmos tal propósito, traçamos uma linha do tempo que aborda o contato com a
música não ocidental a partir do início do século XX, indo da composição à improvisação em contextos
formativos para o músico adulto.
The contact with the music of non-Western cultures: from the composition of the twentieth century to the
body / instrument connection in proposals for improvisation
Abstract: Here we describe the basic structure of the doctoral thesis of same title, which is being
finalized at the moment. The subject of this doctoral research is the development of proposals for music
improvisation in a workshop format under the theme body/instrument connection, creating hybrid
improvisation environments from materials of non-Western music. To achieve this purpose, we draw a
timeline that covers the contact with non-Western music from the early twentieth century, ranging from
composition to improvisation in training contexts for the adult musician.
1. Pontos de partida
“Se houvesse uma nova versão da música, esta não viria do ocidente, mas sim do
oriente 1” (GRIFFITHS, 1994, p.116)
havendo portanto outros compositores e outras abordagens que fizeram parte direta ou
indiretamente do processo de contato com a música não ocidental.
Hoje temos acesso retrospectivo a toda produção de música no ocidente e mais toda
a música feita em outros lugares do mundo e de origem não europeia. Esta situação
cria condições para um desenraizamento da música atual. Este desenraizamento
parece apontar positivamente para o advento de novos tempos onde as estruturas
mais profundas da arte, da linguagem e do pensamento se desprendem de suas
especificidades idiomáticas para expressar formas mais sutis da existência: o
"molecular", o cósmico. (COSTA, 2003, p.29)
A cultura humana não é algo para ser apenas transmitido, perpetuado ou conservado,
e sim algo que está sob constante reinterpretação. Como um elemento vital do
processo cultural, a música é, no melhor sentido do termo, recriacional: ajudando
para que nós e as nossas culturas sejam renovadas, transformadas 4. (SWANWICK,
2005, p.119)
“Você diz “Eu” e fica orgulhoso dessa palavra. Mas melhor do que isso –embora
você não acredite – é seu corpo e sua grande inteligência, que não diz “Eu”, mas interpreta o
“Eu”.” (NIETZSCHE apud Marins, 2011, p.65)
6. Considerações finais
“formação ideal” para o músico do ocidente, nem mesmo de elencar a prática da improvisação
como única forma de interação com a música não ocidental, considerando que nossa pesquisa
parte de outras interações possíveis, como as realizadas na composição e na performance.
Sendo assim, amostramos procedimentos musicais utilizados desde o século
passado que podem ser expandidos para propostas diversas, com o objetivo de ampliar o
espectro de linguagem do músico da atualidade. Partindo dessa ideia, nosso foco principal é
interagir com linguagens musicais sob parâmetros multiculturais, criando novas conversas
musicais e incentivando práticas como a improvisação a partir de ambientes híbridos e
transculturais. Neste aspecto, há muito da música não ocidental que pode aumentar nosso
vocabulário musical quando tratamos da formação do músico de hoje.
Um universo de palavras para enriquecer nossas conversas.
Referências:
GRIFFITHS, Paul. Modern Music: a concise history, New York: Thames and Hudson Inc.,
1994.
HILLIER, Paul (org). Steve Reich: Writings on Music (1965-2000), New York: Oxford
University Press, 2002.
NIETSZCHE, Frederich; tradução Alex Marins. Assim falou Zaratustra. 2ª edição. São Paulo:
Martin Claret, 2011.
SCHIPPERS, Huib. Facing the Music: Shaping Music Education from a Global perspective.
New York: Oxford University Press, 2010.
SWANWICK, Keith. Music, Mind, and Education. 4ª edição. New York: Routledge Falmer,
2005.
1
“If there were to be a new release in music, it would come not from the west but from the east”
2
“The question then arises as to how, if at all, this knowledge of non-Western music influences a composer. The
least insteresting form of influence, to my mind, is that of imitating sound of some non-Western music. [...]
Alternatively, one can create a music with own’s sound that is constructed in the light of one’s knowledge of
non-Western structures.”
I Jornada Acadêmica Discente – PPGMUS/USP
3
Em relação ao termo, o etnomusicólogo australiano Huib Schippers cita a dificuldade de tratar a diversidade
cultural em termos como world music, música indiana, música africana, música oriental e música não ocidental.
O autor menciona por exemplo que, quando falamos de música indiana, estamos em geral referindo-nos à
música tradicional do norte da Índia, enquanto existe a música mais ligada à religião feita no sul e a música
popular dos filmes que hoje figuram no circuito chamado de Bollywood music. Quando nos referimos à música
africana, alguns estudiosos podem desaprovar o termo, considerando as diferentes regiões da África e suas
peculiaridades musicais, como a música do Marrocos, da Gâmbia e da Tanzânia. O termo música oriental é mais
aplicado para referências à música da Arábia e da Ásia, também relacionadas à uma qualidade exótica, carregada
de um certo olhar de estranhamento, como se a música do Ocidente fosse normal e a do Oriente fosse diferente.
(Schippers, 2012, p. 17-27). Em nosso trabalho adotamos o termo música não ocidental, por este ser utilizado
em grande parte dos estudos que abordam o contato com a música de outras culturas fora da tradição europeia.
4
“Human culture is not something to be merely transmitted, perpetuated or preserved but is constantly being re-
interpreted. As a vital element of the cultural process, music is, in the best sense of the term, re-creational:
helping us and our cultures to become renewed, transformed.”