Solucoes de Ecodesign Como Resposta Ao G

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Revista Boletim do Gerenciamento

Site: www.nppg.org.br/revistas/boletimdogerenciamento

Soluções de Ecodesign como resposta ao gerenciamento de riscos e gestão


ambiental em parques solares
MAIA, Monique de Barros Melo1; ANDRIANI, Cesare Davide2
1 Engenheira Civil, Pós-Graduanda em Gestão e Gerenciamento de Projetos NPPG/UFRJ
2 Engineering and Environmental Geologist | Envision Sustainability Professional

Informações do Artigo Resumo: Informações do Artigo

Histórico: Os desafios para desenvolver uma matriz energética cada vez mais limpa
Recebimento: 18 Janeiro 2020 no Brasil são grandes. Para garantir a segurança de abastecimento, e
Revisão: 15 Fevereiro 2020 alcançar as metas e compromissos assumidos nos acordos climáticos, é
Aprovação: 00 Mês 2020 essencial que o país aumente e diversifique, por meio de fontes renováveis,
que ganham mais espaço e visibilidade. Nesse sentido, destaca-se o
crescente investimento em projetos e construção de usinas fotovoltaicas,
cuja implantação em grandes áreas enfrenta desafios, principalmente no
Palavras-chave:
que diz respeito ao manejo das águas pluviais dentro e fora do parque. A
Sustentabilidade
relevância desse trabalho consiste em aplicar uma metodologia para
Risco
Gestão ambiental
gestão de riscos, identificando os potenciais riscos associados à
Parque solar
implantação de um sistema de drenagem de parque solar com o objetivo
Renováveis
de avaliar os impactos, consequências e buscar ações como resposta a
Drenagem esses riscos. A partir do resultado da aplicação, o objetivo é mostrar como
no âmbito da gestão ambiental, soluções ecológicas podem ser
desenvolvidas de forma mitigar tais riscos consolidando a teoria do
Ecodesign no desenvolvimento de projetos de engenharia.

1. Introdução diversos impactos negativos em decorrência do


regime de chuvas local e da desproteção do
A geração solar fotovoltaica centralizada, solo devido à supressão vegetal, tanto na fase
representada por usinas de grande porte, assim de construção quanto na de operação, levando
como tantas outras aplicações da tecnologia o tema ‘drenagem’ ao foco das discussões.
solar fotovoltaica no Brasil, têm se Embora em um primeiro momento possa
consolidado como uma fonte renovável de parecer óbvio, quanto maior a área a ser
geração de energia elétrica com alto valor drenada, mais complexo se torna o sistema,
agregado para a sociedade brasileira. demandando inclusive o uso de bacias de
Devido ao recente desenvolvimento do amortecimento para grandes volumes.
setor no país, ainda permeava o pensamento Esse tema ganhará ainda mais relevância
advindo do exterior de que áreas planas, com para o Brasil devido ao aumento de inserção de
declividade relativamente média a baixa, Usinas Híbridas, que visam a
dispensavam sistemas de drenagem. Porém, complementariedade entre as fontes solar e
com o avanço da tecnologia e a execução de eólica. Neste tipo de projeto, a probabilidade
plantas cada vez maiores no país, observou-se de que o terreno seja mais acidentado, e então
2

desfavorável à implantação de usinas solares, é Ressalta-se que o processo de construção


maior, salientando assim a importância de de uma usina é precedido pela supressão
sistemas de drenagem, do gerenciamento de vegetal da área. A partir deste momento, o solo
riscos e da gestão ambiental do fica exposto e a capacidade de infiltração e
empreendimento. Além disso, em 2019 o interceptação de água diminui. Em casos de
Brasil ultrapassou a marca de 2 GW de chuva, a ação da água sobre o solo é
potência operacional em sistemas de geração
intensificada, podendo ocorrer processos
solar fotovoltaica centralizada conectadas ao
erosivos importantes e a deposição de
Sistema Interligado Nacional (SIN) [1],
ocupando a posição de 7ª maior fonte em sedimentos em áreas mais baixas, como em
capacidade instalada do Brasil, ultrapassando a talvegues, podendo afetar nascestes de água
nuclear. que existam próximo ao empreendimento. Os
O Brasil tem um dos melhores recursos potenciais impactos na região se agravam, caso
solares do mundo, ainda numa fase incipiente essas sejam Áreas de Proteção Permanente.
de exploração. Portanto, é importante que se Quanto maior a planta, maiores podem ser
produza conhecimento e experiência para os impactos associados. Portanto, em função
estimular o desenvolvimento dessa tecnologia também do regime de chuvas, há a necessidade
no Brasil. de se projetar um sistema de drenagem para
Sendo o gerenciamento de riscos um controle do escoamento a fim de evitar não só
processo sistemático de planejamento impactos ambientais, mas também impactos
estratégico que tem como objetivo identificar,
materiais na própria planta.
analisar e responder aos riscos aos quais o
projeto está sujeito, o objetivo deste artigo é O dimensionamento hidráulico de um
identificar riscos de implantação de um sistema de drenagem é feito baseado em
sistema de drenagem de parque solar em algumas premissas. Uma delas é o Tempo de
construção, conforme descrito pelo PMI [2]. Recorrência ou Período de Retorno. O tempo
Além disso, promover uma análise envolvendo de recorrência se refere ao intervalo de tempo,
aspectos da gestão ambiental, para então em anos, onde ao menos uma vez, um dado
propor soluções eficientes como resposta aos fenômeno é igualado ou superado.
riscos. Ao mesmo tempo, ressaltando o A escolha do período de retorno da chuva
conceito de sustentabilidade aliada à de projeto, e consequentemente, da vazão de
engenharia, que agrega ainda mais valor ao dimensionamento dos dispositivos hidráulicos,
contexto renovável. significa a escolha de um risco aceitável para a
obra desejada. Essa escolha também está
2. Gestão de riscos
associada ao custo da obra, pois um nível de
segurança alto para a obra exige um custo
Os projetos de usinas fotovoltaicas visam
elevado. As dificuldades existentes na escolha
maximizar a geração de energia a partir da
do período de retorno normalmente levam a
energia solar. Deste modo, busca-se os locais
decisão para uma escolha pelo meio técnico.
com melhor recurso disponível, ou seja, maior
Recomenda-se que a escolha do período de
irradiação solar, fator de extrema importância
retorno do projeto seja determinada a partir da
para a viabilidade econômica de um sistema de
análise do risco da ocorrência do evento de
geração de energia fotovoltaica. O Brasil é um
período de retorno TR, calculando-se através
país extremamente privilegiado nesse aspecto,
da Equação 2:
apresentando alto índice de irradiação solar na
𝐽 = 1 − 𝑝𝑛 (Equação 1)
maioria de seu território.
Onde:
Outros fatores importantes são a altitude e
J = probabilidade de ocorrer pelo menos
a geomorfologia, por isso platôs são muito
um evento que se iguale ou exceda ao evento
visados para a instalação dessas usinas.
de período de retorno TR, num intervalo de “n”
3

anos quaisquer; ou RISCO de ocorrer pelo do projeto de drenagem, presente na Tabela 4,


menos um evento que se iguale ou exceda ao anexo A.
evento de período de retorno TR; Para Schuyler (2001), ‘risco’ é o efeito
TR = período de retorno do evento em acumulativo da probabilidade de incerteza que
anos; pode afetar positivamente (oportunidade) ou
P = probabilidade de um determinado negativamente (ameaça) o projeto. Galway
evento ocorrer ou ser ultrapassado num ano (2004), em vez de buscar respostas para a
qualquer (inverso do período de retorno TR); pergunta “O que é uma boa análise de riscos?”,
p = 1-P = probabilidade de não ocorrer tal buscou responder o que os usuários do projeto
evento = 1-(1/TR) esperam do gerenciamento de riscos. A
Logo: resposta foi óbvia: precisão (análise
1 qualitativa-probabilidade) e auxílio no
𝐽 = 1 − (1 − ( ))𝑛 (Equação 2)
𝑇𝑅
processo decisório [3].
Cabe ressaltar que a escolha do período de
A identificação dos riscos tem como
recorrência está intimamente conectada com a
objetivo detectar com antecedência todos os
ideia do risco assumido, isto é, a análise da
fatores que podem impactar o projeto, a fim de
Tabela 3 mostra que para uma vida útil de 25
eliminar ou reduzir os riscos negativos e
anos (normal para obras de drenagem) os
aumentar os riscos positivos ou oportunidades.
riscos são praticamente de 100% para obras de
Uma correta identificação dos riscos é
sistemas secundários que considerem períodos
essencial, uma vez que o restante dos
de recorrência baixos.
processos de gestão, como a análise de risco e
Tabela 3 – Risco de ocorrência de eventos com as estratégias de resposta, só podem acontecer
TR, em anos, para diferentes horizontes de vida nos riscos potenciais identificados. Existem
útil.
alguns métodos úteis para identificar os riscos
TR Vida útil da obra (anos)
potenciais de projetos, como lista de
(anos) 2 5 25 50 100 verificação, diagramas de influência,
2 75% 97% 100% 100% 100% diagramas de causa e efeito, análise do modo
5 36% 67% 100% 100% 100% de falha e seus efeitos, árvores de falhas e
10 19% 41% 93% 99% 100%
25 8% 18% 64% 87% 98%
árvores de eventos (Yim et al., 2015; Ahmed,
50 4% 10% 40% 64% 87% Kayis e Amornsawadwatana, 2007, Chapman
100 2% 5% 22% 39% 63% 1998) [4].
200 1% 2% 12% 22% 39% Foi elaborada uma matriz de risco com o
500 0% 1% 5% 10% 18%
objetivo não só de identificar os riscos, mas
também classificá-los e propor ações como
Sistemas de maior importância como a
resposta a eles.
rede de drenagem de acessos principais, cuja
A classificação dos riscos foi feita com
inundação e indisponibilidade possa trazer
base na matriz de Tabela 1:
grandes prejuízos e riscos de acidentes, ou
áreas cuja inundação possa causar a Tabela 1 – Matriz de classificação de risco.
paralisação operacional, exigem maior Probabilidade
precaução e prevenção induzindo à utilização 1 2 3 4 5
de períodos de recorrência mais amplos. 1 1 2 3 4 5
Severidade

Portanto, mesmo com a implantação de um 2 2 4 6 8 10 Baixo


sistema de drenagem, ainda existem desafios 3 3 6 9 12 15 Médio
que foram identificados como potenciais riscos 4 4 8 12 16 20 Alto
na implantação de um parque solar no âmbito 5 5 10 15 20 25
4

Como resposta ao risco, existem quatro engenheiro José Angel Sola, se dividem em
estratégias possíveis, que podem ser duas:
visualizadas na Tabela 2.
 Barreira: Utilizando pallets como
Tabela 2 – Resposta aos riscos.
estrutura vertical, solo da escavação da
própria vala, compactação e tela
Estratégia Descrição
Eliminar ou remover
metálica para finalizar o conjunto, a
Evitar solução cumpre o papel e ainda permite
totalmente a ameaça.
Transferir o impacto negativo o plantio de vegetação da região do tipo
AMEAÇAS

Transferir
para terceiros. trepadeira, se transformando em uma
Reduzir a probabilidade e/ou barreira viva. Figura 1 e Figura 2.
Mitigar
impacto da ameaça.  Gabiões: complementos ecológicos
Estar disposto a lidar com os
Aceitar impactos negativos, caso o aos dissipadores do sistema de
risco ocorra. drenagem padrão DNIT, visam a
Garantir que o risco ocorra redução da energia do escoamento e a
Explorar para a organização aproveitar retenção dos sedimentos através de
os impactos positivos. gabiões de madeira triturada originada
OPORTUNIDADES

Aumentar a probabilidade
Aumentar e/ou impactos da
de troncos de árvores da área de
oportunidade supressão vegetal. Figura 3 e Figura 4.
Compartilhar a oportunidade Pedras de mão podem ser adicionadas
Compartilhar
com terceiro, que possam para conferir mais peso à solução,
capturar melhor os benefícios trabalhando contra possível flutuação.
dela.
Estar disposto a aproveitar os Figura 1 – Barreira.
Aceitar impactos positivos, caso o
risco ocorra.

3. Soluções ecológicas

Desafios em grandes projetos pedem por


soluções inovadoras e sustentáveis, que nos
permitam enxergar para além dos problemas e
imaginar um novo futuro possível.
Devido ao fornecimento de módulos
fotovoltaicos, uma planta solar de 600MW, por
exemplo, recebe aproximadamente 39.000
pallets que precisam ser destinados. Como as Figura 2 – Barreira: sequência construtiva.
obras geralmente se localizam em lugares mais
remotos, esses resíduos precisam ser levados a
quilômetros de distância para serem
descartados em aterros sanitários ou acabam
levando um fim inapropriado, sendo
queimados em fornos de indústrias cerâmicas.
Em vista disso e frente aos desafios já citados,
vislumbra-se a oportunidade de reutilizar este
material, que outrora era considerado um
resíduo, para justamente mitigar riscos do
próprio projeto através de gestão ambiental.
As soluções ecológicas apresentadas neste
documento, inicialmente idealizadas pelo
5

Figura 3 – Gabiões de madeira triturada. Baseado nos três pilares da


sustentabilidade, as soluções propostas podem
trazer os seguintes benefícios ao projeto:
 Econômico: reduzir ingresso de água
no parque e arraste de sedimentos,
evitando a necessidade de reparos após
transbordamentos;
 Social: evitar o assoreamento das
nascentes, preservando a qualidade da
água;
 Ambiental: reduzir processos erosivos,
deter a degradação do ecossistema,
preservar a biodiversidade, além de
Figura 4 – Gabiões: esquema de instalação.
reduzir o volume de resíduos e as
emissões de CO2.

4.1 Ecodesign

Ecodesign é todo o processo que contempla os


aspectos ambientais onde o objetivo principal
é projetar ambientes, desenvolver produtos e
executar serviços que de alguma maneira irão
reduzir o uso dos recursos não-renováveis ou
ainda minimizar o impacto ambiental dos
mesmos durante seu ciclo de vida. Isto
significa reduzir a geração de resíduo e
economizar custos de disposição final. [5]

O conceito de Ecodesign pode ser melhor


entendido a partir de três outros conceitos
chave: o de desenvolvimento sustentável, o de
redução de resíduos e emissões e o da
abordagem do ciclo de vida [6].
O reuso engenhoso de pallets e madeira
O princípio básico do desenvolvimento
triturada visa potencializar o funcionamento do
sustentável é atender às necessidades atuais
sistema de drenagem em ocasião dos eventos
sem impedir que as gerações futuras tenham
chuvosos mais severos, de um lado
condições de atender às suas.
aumentando a segurança e a resiliência do
A redução de resíduos e emissões é vista
parque, do outro minimizando potenciais
como uma das principais medidas práticas para
impactos socioambientais no território a
atingir o desenvolvimento sustentável, sendo
jusante da usina, além de diminuir o volume de
outro conceito associado ao Ecodesign.
resíduos, desviando-os dos aterros e
O ciclo de vida tem o pensamento em que
promovendo oportunidades de reuso.
as questões ecológicas ou ambientais são
ponderadas em todas as fases do ciclo de vida
4. Gestão ambiental dos produtos.
Segundo Ezio Manzini, ecodesign é a
As soluções propostas nasceram com o "atividade que, ligando o tecnicamente
propósito de não só mitigar possíveis possível com o ecologicamente necessário, faz
problemas, mas também de incorporar o nascer novas propostas que sejam social e
conceito da sustentabilidade nas soluções de culturalmente aceitáveis." As soluções
engenharia. anteriormente apresentadas estão intimamente
6

ligadas ao conceito do Ecodesign na medida Segundo Contreras (2017), a Avaliação do


em que promovem a redução dos resíduos e Ciclo de Vida (ACV) mostra-se como uma
emissões, reutilizando-os para outras funções importante metodologia a ser aplicada de
após seu primeiro uso. forma complementar à EC, pois permite testar
os pressupostos dos modelos de negócio
orientados à EC, reconhecer limitações do
4.2 Avaliação do ciclo de vida e
modelo e explorar abordagens alternativas,
Economia circular
Ao considerar aspectos ambientais, além de definir objetivos e melhorar
sociais e econômicos associados ao ciclo de continuamente a circularidade para
vida é necessária uma abordagem sistêmica. O implementação prática da EC [8].
Pensamento do Ciclo de Vida (PCV) é uma
Figura 5 – Reuso de pallets do fornecimento de
forma de visualização completa de todas as módulos fotovoltaicos: economia circular
questões envolvidas para obtenção, utilização
e disposição final de um produto ou serviço,
sem deixar externalidades que maculam a
sustentabilidade.
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), ou
Life Cycle Assessment (LCA), como é
conhecida mundialmente, é definida como a

compilação e avaliação das entradas,


saídas e dos impactos ambientais
potenciais de um sistema de produto ao
longo do seu ciclo de vida [7].

A Avaliação do Ciclo de Vida auxilia a


concentrar-se nos pontos cruciais que causam
maior impacto na sustentabilidade de um
produto, processo ou serviço. Identificar estes
hotspots é essencial para criar cenários de
melhor adequação ambiental. A ACV e a Economia circular são
ferramentas complementares e podem,
A perspectiva do ciclo de vida conjuntamente, contribuir para uma melhoria
possibilita que a transferência de cargas contínua em direção à uma maior circularidade
ambientais potenciais entre estágios do na economia, com múltiplos benefícios
ciclo de vida ou entre processos ambientais.
individuais possa ser identificada e Indo mais além do próprio conceito de EC,
possivelmente evitada”. ( p. 7) [7] a solução está relacionada com o princípio da
Criação de Valor Compartilhado (CSV), que
Logo, por exemplo, sendo o transporte dos pressupõe a geração de valor econômico para a
pallets para o descarte uma fase de grande empresa e para a comunidade do território em
impacto, o reuso desses materiais, além de que ela está inserida.
diminuir custos com frete, resultará em um CSV não é responsabilidade social,
menor consumo de combustíveis e menos filantropia ou mesmo sustentabilidade, mas
emissões de poluentes na atmosfera. Neste uma nova forma de promover a geração de
sentindo, além dos benefícios socioambientais valor .
diretos, a Barreira se apresenta como um Algo que se destaca é a importância de
exemplo de economia circular (EC), conforme deixar claro que o futuro dos negócios está
Figura 5. fundamentado em uma necessária mudança de
mentalidade, focada no modo como nos
7

relacionamos com a sociedade e o meio Figura 8 – Barreira 2.0: sequência construtiva.


ambiente. Entender, mapear e considerar os
impactos socioambientais positivos e
negativos da atividade econômica não é mais
visto como diferencial, mas como condição
indispensável para a sustentabilidade do
negócio. [9]

4.3 PDCA
O princípio básico de um Sistema de
Gestão Ambiental é o ciclo Planejar, Executar,
Verificar e Agir (PDCA, Plan, Do, Check, 5. Análise econômica
Act), que permite a busca da melhoria
contínua, conforme Figura 6. A análise econômica da barreira, com base
de custos de 2019, levou em consideração um
Figura 6 – Ciclo PDCA e melhoria contínua. projeto no qual seria possível o reuso de 25.000
pallets. Enquanto resíduo, esse material seria
destinado à queima em indústria cerâmica a
225 km de distância do canteiro de obras.
Sabendo que cada carreta consegue transportar
em média 130 pallets, seriam necessárias 192
carretas para esse serviço. Ou seja, analisando
apenas a economia com combustível diesel
para destinação dos resíduos, a solução
O ciclo PDCA aplicado à solução promove um abatimento de aproximadamente
ecológica desenvolvida permitiu verificar, R$ 500.000,00, correspondente a 86.400 km
após execução de um protótipo, que poderia rodados.
ser promovida uma melhoria na Barreira,
Considerando agora os custos para
aumentando o uso de pallets e intensificando
implantação das soluções, seria necessário
assim os benefícios alcançados pela solução.
Isso proporcionou o surgimento da Barreira dispor de R$ 370.000,00, somando-se além dos
2.0, conforme Figura 7 e Figura 8. Utilizando custos com mão-de-obra, escavação com
o quádruplo de pallets da primeira versão, a valetadeira já mobilizada no site e tela metálica
barreira é capaz de deter a ação da água a um para envolver 2.050 m³ a madeira que já estava
menor custo de implantação, pois dispensa, sendo triturada no local
principalmente, o uso de tela metálica. Ressalta-se que o saldo do investimento é
positivo em R$ 130.000,00, se configurando
Figura 7 – Barreira 2.0. em um benefício econômico direto,
reafirmando o conceito de Criação de Valor
Compartilhado (CSV). Além disso, evitando o
transporte, estima-se a prevenção da emissão
de 420 toneladas de CO2 (3,41kgCO2/litro)
[10], sem considerar as emissões evitadas com
a queima dos pallets na produção de cerâmica.
Logo, destaca-se que as soluções
necessitam de pouquíssima manutenção e são
viáveis técnica e economicamente, além de
8

trazer benefícios que suplantam o campo Tabela 4 – Matriz de identificação de partes


financeiro. interessadas.

Interesse
6. Stakeholders

Poder
(0-5)

(0-5)
Stakeholder Tratativa
Os stakeholders (partes interessadas) são
as pessoas e as organizações que podem ser Engenharia 2 5 Manter informado
afetadas por um projeto ou empresa, de forma Construção 4 5
Gerenciar com
atenção
direta ou indireta, positiva ou negativamente.
Sustentabilidade 1 5 Manter informado
Os stakeholders fazem parte da base da gestão O&M 1 2 Monitorar
de comunicação e são importantes para Relações
1 4 Manter informado
o planejamento e execução de um projeto. institucionais
Comunicação 1 5 Manter informado
É fundamental que os stakeholders sejam
Gerenciar com
identificados o quanto antes, visto que eles EPCista 5 4
atenção
influenciam nas restrições e nos requisitos a Fornecedores 1 4 Manter informado
serem colocados em prática na gestão de Poder público 3 3 Manter satisfeito
Comunidade
projetos. Isso ajuda, inclusive, na avaliação 3 3 Manter satisfeito
local
dos riscos de gerenciamento do que vai ser Órgão Gerenciar com
4 5
feito. ambiental atenção
A área de Engenharia e de Construção está
diretamente envolvida na elaboração e Figura 9 – Classificação dos stakeholders de
implementação das soluções ecológicas acordo com seu grau de poder e interesse no
apresentadas. No entanto, para a gestão projeto.
integral do projeto, são necessárias áreas
estratégicas de uma organização como
Sustentabilidade, na relação com a
comunidade local, Operação e Manutenção
para a manutenção, Relações Institucionais
para o diálogo com o poder público e
Comunicação, para a divulgação interna e
externa.
Analisando os stakeholders externos, o
projeto impacta principalmente a EPCista
contratada e seus colaboradores, os
fornecedores (de materiais e equipamentos), o  Quadrante I: Monitorar (esforço
poder público e os moradores da comunidade mínimo)
local, o órgão ambiental estadual.  Quadrante II: Manter informado
A ideia de identificar os stakeholders é  Quadrante III: Manter satisfeito
classificá-los em ordem de importância e  Quadrante IV: Gerenciar com atenção
desenvolver um plano de ação para cada um
deles, conforme a Tabela 4 e Figura 9. 7. Conclusão

Neste trabalho foram utilizados conceitos


de gerenciamento de riscos, identificando os
potenciais riscos associados à implantação de
um sistema de drenagem de parque solar com
o objetivo de avaliar os impactos, e buscando
9

ações como resposta a esses riscos. Não fez Ao se realizar um projeto com o intuito de
parte da matriz de risco, porém é importante ser ecológico, não se deve considerar apenas o
ressaltar que o dimensionamento hidráulico do ciclo de vida ou reaproveitamento de materiais
sistema leva em consideração premissas e recursos renováveis, para que não seja
conectadas com a ideia do risco assumido e adotada uma visão limitada à causa-efeito. O
custo da obra, o que deve ser bem avaliado. objetivo principal tem que ser projetar com
A aplicação desta metodologia de gestão foco no ser humano, que seria a “quarta
de riscos, baseada nos conceitos descritos pelo dimensão” da sustentabilidade, considerando-
PMI, permitiu perceber que um dos desafios o parte interdependente do sistema maior e isto
enfrentados em obras de grande magnitude, a é possível pensando o projeto em modo
redução do volume de resíduos, poderia ser completo, no conceito do ecodesign sistêmico.
transformada em soluções mitigatórias para os Desse modo, é necessário trabalhar com
riscos identificados, traçando uma importante foco no todo, não apenas em uma parte.
conexão com a gestão ambiental de parques Afinal, “o todo é maior que a soma de suas
solares. partes” (Aristóteles) [11].
As barreiras ecológicas surgem visando
proteger as plantas fotovoltaicas contra 8. Referências
potenciais danos que podem ser causados
durante os períodos chuvosos mais severos. [1] Perspectivas para a geração centralizada
Tendo como motivação a preocupação solar fotovoltaica no brasil. 20/04/2019.
com a proteção dos talvegues, surgem os Disponível em:
gabiões de madeira triturada como http://www.absolar.org.br/noticia/artigos-da-
complementos ecológicos aos dissipadores do
absolar/perspectivas-para-a-geracao-
sistema de drenagem, com o objetivo de
centralizada-solar-fotovoltaica-no-brasil.html.
reduzir a energia do escoamento e reter os
sedimentos. Acesso em 18 jan. 2020
Ainda no âmbito da gestão ambiental, foi
demonstrado como as soluções abraçam os [2] PMI - Project Management Institute –
conceitos de Economia circular e Criação de PMBOK - Um Guia do Conjunto de
Valor Compartilhado promovendo diversos Conhecimentos em Gerenciamento de
benefícios pautados nas três dimensões da Projetos. 6. ed. Newtown Square: Project
sustentabilidade: econômica, social e Management Institute, Inc., 2017.
ambiental.
O ciclo PDCA foi aplicado buscando a [3] SILVA, C. E. S. et al. Aplicação do
melhoria contínua das soluções, tendo como gerenciamento de riscos no processo de
resultado a multiplicação do uso de pallets e a desenvolvimento de produtos nas empresas de
geração de um saldo positivo na análise autopeças. Prod. v. 20, n. 2, p. 200-213, 2010.
econômica, além de evitar a emissão de mais
de 400 toneladas de CO2. [4] OLIVEIRA, F. J. de. Identificação de
A identificação das partes interessadas Riscos em Projetos de Usinas Solares
tem papel fundamental para a execução das Fotovoltaicas. Ietec, 2017.
soluções para garantir o sucesso do projeto, se
[5] Ecodesign. Disponível em:
tornando parte importante deste documento.
Em suma, as soluções propostas visam https://www.mma.gov.br/informma/item/7654
consolidar a teoria do Ecodesign já na fase de -ecodesign.html. Acesso em: 15/02/2020.
Engenharia, na busca por soluções inovadoras
e sustentáveis para o desenvolvimento de [6] FERREIRA, A. R. et al. Ecodesign: uma
projetos de geração de energia por fontes estratégia para o aumento e a melhoria da
renováveis, tanto no Brasil como no exterior, competitividade das empresas. ENUS, 2008.
ressaltando a replicabilidade destas ações.
10

[7] ABNT - Associação Brasileira de Normas


Técnicas. NBR ISO 14040: Gestão Ambiental
- Avaliação do ciclo de vida - Princípios e
estrutura. Rio de Janeiro, 2009a.

[8] PONTES, A. T. et al. Análise da relação


entre a economia circular e a avaliação do ciclo
de vida: uma revisão de literatura. Instituto
Venturi. 9º Fórum Internacional de Resíduos
Sólidos. Instituto Venturi. Porto Alegre, 2018.

[9] KRAMER, M. E. P. et al. Criação de valor


compartilhado. Harvard Business Review.
06/01/2011. Disponível em:
https://hbrbr.uol.com.br/criacao-de-valor-
compartilhado/. Acesso em 18 jan. 2020.

[10] FERRAZ, É. Et al. Transporte. 3º


Simpósio Brasileiro de Construção
Sustentável. São Paulo, 2010.

[11] Ecodesign Series Sustentabilidade.


30/08/2018. Disponível em:
https://atemporaledesign.com.br/blog/o-que-
e-ecodesign. Acesso em 18 jan. 2020.
11

9. Anexos e Apêndices

ANEXO A
Tabela 3 – Matriz de risco de implantação de sistema de drenagem em parque solar

Probabilidade

Classificação

Responsável

Resposta do
Severidade
Impacto

do risco
Descrição do

risco
Consequências Ação
risco

Áreas internas do Ajuste de


parque podem ficar cronograma de
Não finalização desprotegidas, execução.
Prazo e Custo

da construção do instalações Criação de barreiras


sistema de eletromecânicas 3 Médio Mitigar impermeáveis a
4
drenagem antes poderiam ser
do período danificadas, ocorrência partir de solução
chuvoso de sulcos erosivos em sustentável que
áreas niveladas já promove o reuso de
entregues à montadora. pallets.
Proteção das áreas
Instalações mais sensíveis do
Transbordamento eletromecênicas parque com a
de água no poderiam ser criação de barreiras
Custo

parque nos danificadas, ocorrência 3 3 Médio Mitigar impermeáveis a


eventos de chuva de sulcos erosivos em partir de solução
mais severos áreas niveladas já sustentável que
entregues à montadora. promove o reuso de
pallets.
Assoreamento das
nascentes e impacto Complementos
Custo e Qualidade

Erosões e
negativo em ecológicos aos
deposições de
comunidades que dissipadores do
sedimento em 5 Alto Mitigar
dependem dessa água, 4
talvegues sistema de
erosões em Áreas de
próximos ao drenagem já
Proteção Permanente,
empreendimento projetados.
notificações do órgão
ambiental.
Promover o reuso
Grande volume dos materiais
Custo e Qualidade

pallets devido ao buscando mitigar


Oportunidade de
fornecimento de impactos negativos
destinação alternativa 1 Médio Aceitar
módulos 5
desses materiais. que possam ocorrer
fotovoltaicos e
Impacto visual positivo. em função da
madeira da
supressão vegetal implementação do
projeto.

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