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ÍNDICE

Prefácio ......................................................................................................................... 3
Introdução ..................................................................................................................... 4

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS CONCEITUAIS DE LIDERANÇA


1.1 - Propósito ............................................................................................................ 1-1
1.2 - Aspectos Filosóficos ........................................................................................... 1-2
1.3 - Aspectos Psicológicos ........................................................................................1-4
1.4 - Aspectos Sociológicos ........................................................................................1-6
1.5 - A Teoria dos Grupos Humanos .........................................................................1-10

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS TEÓRICOS DA LIDERANÇA


2.1 - Propósito ............................................................................................................ 2-1
2.2 - Falácias da Liderança ......................................................................................... 2-2
2.3 - Conceito de Liderança .......................................................................................2-2
2.4 - Chefiar, Dominar e Manipular ............................................................................2-2
2.5 - Bases da Liderança ............................................................................................ 2-3
2.6 - Níveis de Liderança ........................................................................................... 2-3

CAPÍTULO 3 - DESENVOLVIMENTO PESSOAL DA ARTE DA LIDERANÇA


3.1 - Propósito ............................................................................................................ 3-1
3.2 - Processos dos Cinco Passos ...............................................................................3-2

CAPÍTULO 4 - A PRÁTICA DA LIDERANÇA


4.1 - Propósito ............................................................................................................ 4-1
4.2 - Fatores Fundamentais ........................................................................................4-2
4.3 - Estilos de Liderança ........................................................................................... 4-2
4.4 - Delegação .......................................................................................................... 4-6
4.5 - Processos de Influenciação ................................................................................4-8
4.6 - Expedição de Ordens ......................................................................................... 4-8
4.7 - O Líder e suas Virtudes ......................................................................................4-8
4.8 - O Moral .............................................................................................................. 4-8
4.9 - Conceitos relevantes ......................................................................................... 4-9

ANEXOS
ANEXO A - Virtudes de um Líder ................................................................................A-1
ANEXO B - Orientações sobre Expedição de Ordens ..................................................B-1
ANEXO C - Referências ............................................................................................... C-1

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA


PREFÁCIO

É com grande satisfação que apresento a segunda revisão do Manual de Liderança, cuja

primeira versão foi elaborada no ano de 1996. O manual sofreu sua primeira revisão em 2018, quando foi

amplamente divulgado no III Simpósio Naval de Liderança, promovido pela Diretoria de Ensino da

Marinha, no auditório da Escola de Guerra Naval e, agora, ganha o formato digital, diagramado no padrão

de revista digital, e passa a ser disponibilizado ao público, interno e externo, da Marinha do Brasil.

Além das atualizações teóricas que se faziam necessárias, nesta oportunidade, com a

contribuição dos oficiais que compõem a Comissão Permanente de Atualização do Ensino da Liderança na

Marinha (CPAELM), o manual recebeu a inserção de conceitos relevantes sobre liderança. Temas como a

conexão interpessoal, inteligência emocional, autoliderança e tutoria e mentoria são trazidos para

conhecimento e reflexão do leitor.

A liderança é abordada desde seus fundamentos conceituais, teorias e processos de

desenvolvimento, até sua abordagem prática. A finalidade é contribuir para a disseminação dos

conhecimentos afetos ao tema e buscar uma uniformização de procedimentos na Marinha do Brasil, além

de possibilitar ao público externo conhecer os métodos e valores característicos da nossa Força.

Nesta publicação, o líder é compreendido como o indivíduo capaz de inspirar e influenciar as

pessoas e seus comportamentos para alcançar bons resultados, e os estilos de liderança são descritos

como métodos essenciais para fazer a mediação entre os liderados e os objetivos da organização.

Assim, o aprendizado dos processos relacionados à liderança representa importante instrumento

de desenvolvimento de chefes, gestores e gerentes, tornando-os mais capacitados a conduzirem equipes

mais eficientes e eficazes. Seja nas atividades específicas do meio militar ou em outros setores de

atividade, o manual aborda de forma simples e objetiva esse assunto de interesse de toda a sociedade.

Por fim, desejo uma agradável e esclarecedora leitura a todos, em especial aos jovens Oficiais,

Praças e Alunos das diversas escolas de formação da Marinha.

RENATO GARCIA ARRUDA


Vice-Almirante
Diretor de Ensino da Marinha

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INTRODUÇÃO

1 - PROPÓSITO
Esta publicação tem o propósito de apresentar os conceitos fundamentais, aspectos teóricos
aplicáveis ao estudo da liderança, além de servir como material didático e de aperfeiçoamento para a
prática desta arte.
2 - DESCRIÇÃO
O conhecimento técnico-profissional é de suma importância para a execução das tarefas de
qualquer agente em sua organização. Porém, na atividade militar, o conhecimento da teoria e das
ferramentas de liderança é indispensável para o sucesso, visto que os militares, normalmente, são
submetidos a situações em que devem conduzir um grupo em condições extremas, conforme as
exigências impostas em combate.
A arte de liderar pode e deve ser desenvolvida por todos os militares. A literatura militar é vasta
em apresentar exemplos de líderes do passado que se destacaram por suas habilidades nesta arte. Para
empreender uma melhor formação e capacitação dos líderes modernos, não podemos prescindir dos
ensinamentos dos que nos antecederam. Possíveis erros e acertos devem ser analisados dentro de seu
contexto histórico.
O assunto liderança não tem se restringido ao meio militar. Na atualidade, o setor empresarial
tem investido no aperfeiçoamento de gestores, visando à obtenção de melhores resultados nos negócios,
por meio de adaptações dos ensinamentos militares à realidade comercial. Entre os maiores best sellers
editoriais, encontram-se uma gama de títulos dedicados a este tema.
A Marinha do Brasil (MB), atenta à importância da liderança no Sistema de Ensino Naval (SEN),
apresenta esta disciplina nas escolas de formação, de Oficiais e Praças, onde são disseminadas as
instruções básicas sobre o tema. Posteriormente, são aperfeiçoadas ao longo da carreira, por meio da
prática, incentivos à leitura e a elaboração de trabalhos escritos. Inúmeras iniciativas de discussão do
tema foram criadas: simpósios, portais de difusão de livros e textos, bem como fóruns de debate. Todos
mecanismos importantes para a manutenção de um canal permanente de troca de informações e
experiências.
A MB possui dois documentos principais sobre o tema liderança. A Doutrina de Liderança da
Marinha (EMA-137), que tem o propósito precípuo de orientar o desenvolvimento do ensino de liderança
na Força Naval, por meio da apresentação de conceitos básicos sobre o tema, e o Manual de Liderança da
Marinha (DEnsM-1005), lançado em sua primeira versão em 1996, com a finalidade de disponibilizar um
conteúdo de cunho teórico-prático, a ser empregado principalmente nas escolas de formação e por
aqueles que desejarem aperfeiçoar-se na prática desta importante disciplina.
Nessa atualização do Manual de Liderança, buscou-se torná-lo um instrumento ainda mais prático,
sem se descuidar da apresentação sucinta de conteúdo teórico básico, fundamental para o entendimento
das bases onde se desenvolve esta arte. A publicação pode ser apresentada, também, como uma
compilação dos ensinos das principais correntes teóricas, sempre destacando qual é o entendimento dado
pela MB, conforme o contido na sua doutrina (EMA- 137).
Os dois primeiros capítulos do Manual são dedicados ao estudo teórico. No primeiro, são
apresentados os fundamentos conceituais da liderança, com ênfase nos aspectos inerentes à filosofia,
psicologia e sociologia, bem como as relações existentes entre líder e liderados. O capítulo subsequente
discorre, inicialmente, sobre os entendimentos equivocados do tema. Em seguida, é descrito o conceito
de liderança adotado pela Marinha, contido no EMA-137, e outros pontos basilares que devem ser fixados,
como as bases e os níveis de liderança.
Com o viés bastante prático, próprio dos manuais, os capítulos três e quatro indicam um processo
a ser empregado no desenvolvimento de competências individuais (por meio de um método elaborado a
partir da prática acadêmica, descrito no Capítulo 3) e do emprego dos estilos de liderança e processos de
influenciação, diante de determinadas características do líder e do liderado, da equipe, da situação e da
cultura organizacional, entre outros aspectos básicos da prática da liderança, apresentados no Capítulo 4.
Portanto, espera-se que este manual seja uma ferramenta útil como material didático aos
docentes e discentes do SEN; aos Oficiais e Praças da MB, como um manual de pronto uso, em apoio a
suas atividades operativas e administrativas; e, quiçá, aos membros das demais Forças e estudantes de
outras redes de ensino do país interessados na arte da liderança.
3 - CLASSIFICAÇÃO
Esta publicação é classificada como: Publicação da Marinha do Brasil (PMB), não controlada,
ostensiva, básica e manual.
4 – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
Inserção de conceitos relevantes sobre liderança, tais como conexão interpessoal, inteligência
emocional, autoliderança e tutoria e mentoria.
5 - SUBSTITUIÇÃO
Esta revisão substitui o Manual de Liderança, 1ª Edição, aprovado em 2018.

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1.1. PROPÓSITO

Este capítulo destina-se a discorrer sobre aspectos fundamentais conceituais de


liderança. Tais aspectos foram agrupados, de forma didática, em três: filosóficos, psicológicos e
sociológicos.
Tendo em vista que a liderança é um processo de influenciar pessoas, ao longo deste
capítulo buscou-se apresentar aspectos fundamentais da relação líder-liderados, incluindo
questões como ética, percepção, estereótipo, preconceito, bem como outros temas que versam
sobre o homem e seu comportamento no grupo. O objetivo principal é estabelecer uma base
conceitual essencial para o estudo da liderança.

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1.2. ASPECTOS FILOSÓFICOS Mesmo os sentidos e a imaginação têm, no
caso, valor limitado, restringindo-se à fase
Entre outros aspectos, o homem se inicial da especulação filosófica, com o
distingue do animal porque questiona; não propósito de obter dados do real.
aceita, sem indagação, nem mesmo a realidade
concreta que o cerca.
A criança, nos primeiros anos de vida, tão
logo começa a dominar a linguagem verbal,
inicia a fase dos porquês e para quê, quando
busca, ansiosamente, resposta para o mundo,
ainda restrito, na sua vida.
Desde os primórdios, o homem buscou
entender os fenômenos naturais que ora o
amedrontavam, ora o fascinavam.
O que a filosofia tem buscado até nossos
dias são respostas a indagações fundamentais
do homem: "Quem somos?" e "Qual o sentido
da vida?"
Obviamente não foram encontradas FONTE:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/88/Plato_Silanion_Musei_Capitolini_MC1377.jpg
respostas definitivas para dúvidas de tal
magnitude, o que não invalida a pesquisa
filosófica. Inclusive porque a filosofia pretende Quanto ao escopo (ou finalidade), a
fomentar uma atitude de permanente filosofia não tem compromisso com fins
questionamento (de não aceitação plena de imediatos ou interesseiros de qualquer ordem;
verdades acabadas).Sempre que traçamos seu objetivo único é o conhecimento e a
planos para nossa vida pessoal, que pesquisa da verdade em si mesma. Ela está,
estabelecemos prioridades em casa, no portanto, segundo Aristóteles, livre para
trabalho, que educamos nossos filhos, que contemplar o verdadeiro.
selecionamos objetivos, que interagimos com
os outros, de uma forma consciente e crítica, 1.2.2. Os Grandes Temas Filosóficos
estamos na verdade pondo em prática alguma Um dos grandes temas filosóficos é a
forma de filosofia. questão da lógica, que pretende servir
O que fazer e como fazer, a instrumentalmente à filosofia, fornecendo-lhe
hierarquização de prioridades, em todos os as regras do pensamento correto.
níveis, pessoal, social, nacional, fazem parte do Outras questões abrangidas pela
domínio da filosofia. filosofia incluem o problema do conhecimento
O mundo contemporâneo caracteriza-se (suas origens, formas, e valor); o problema da
pelo culto à ciência e à tecnologia. O linguagem (que interessa também a outras
extraordinário progresso digital dá ao homem áreas de conhecimento, tais como fisiologia,
de hoje a ilusão de onipotência, bem como a psicologia, sociologia etc.); o problema
sensação de que os problemas que nos antropológico (que estuda o homem em seus
angustiam e as questões por responder múltiplos aspectos); a questão pedagógica (que
poderão ser solucionadas pelo computador. se refere à educação, em geral); a questão
No entanto, em um exame mais apurado, cultural (que se refere ao estudo do homem
percebemos que, a despeito da revolução inserido em seu grupo social e de sua produção
tecnológica, persistem inúmeras indagações de cultura) etc.
que afligem a humanidade, afora outras, mais A liderança é um processo de
recentes, que vieram a se somar às primeiras. influenciar pessoas e deve existir em função
Além da fome e da miséria, em escala mundial, daquilo que é do interesse específico da
intensificam-se outros desafios: desemprego, instituição Marinha do Brasil, tendo propósitos
conflitos étnicos e religiosos, violência absolutamente impessoais.
crescente nos grandes centros urbanos, a A essência da liderança caracteriza-se
questão do tráfico etc. ainda pela relação da ética e da axiologia com
o processo de influenciação. A ética trata
1.2.1. Atributos da Filosofia fundamentalmente da moral e de sua prática;
Os atributos específicos da Filosofia são: ao passo que a axiologia ou teoria dos valores
o instrumento de trabalho, o método, e o refere-se ao estudo e à hierarquia desses.
escopo (ou finalidade). No dizer de Platão, o Outro aspecto que reforça o ponto de
instrumento de trabalho do filósofo é a razão vista da ligação entre liderança e os temas da
pura. De nada valem os instrumentos materiais, ética e da axiologia consiste no fato de que o
tais como microscópios ou computadores, na líder é alguém que tem poder sobre um grupo
pesquisa e análise filosóficas. (maior ou menor) de indivíduos.

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E o uso do poder assume aspectos bastante Ao líder em geral cabe transmitir
espinhosos podendo gerar abusos ou aplicações permanentemente o comportamento ético da
indesejáveis. instituição a que pertence, ou do seu grupo
Com base neste entendimento, social em que trabalha.
abordaremos alguns aspectos da ética e da Em todos os níveis, desde o grupo
axiologia. familiar (célula da vida social) até a condução de
um povo, há que haver uma ética norteando
1.2.3. A Ética qualquer ato dos indivíduos em sociedade.
“A ética não é um valor em si mesma, é,
1.2.4. A Axiologia (ou Teoria dos Valores)
sim, um processo de escolha por meio de
Para a grande maioria dos filósofos, a
valores. Assim, um comportamento ético
axiologia é considerada a parte mais nobre – e a
é aquele selecionado, dentre tantos
mais importante – da Filosofia. Além de ser
outros, a partir de valores culturalmente
bastante urgente no atual momento histórico
consagrados. Esses valores se referem às
que o mundo vive, pois, esta disciplina é basilar
virtudes. Assim, somos levados a concluir
no sentido de lançar sólidos alicerces para a
que o viver ético é complexo, pois
elaboração de uma nova cultura de dimensões
pressupõe optar por virtudes” (DEnsM-
cosmopolitas e da criação de uma nova
2002, 2016).
sociedade.
“A ética, ou filosofia moral, é a parte da
A característica fundamental da
filosofia que se ocupa com a reflexão a
axiologia consiste na hierarquização dos valores.
respeito dos fundamentos da vida
Tanto aqueles estabelecidos pela sociedade à
moral”. (DGPM-319, 1ª Revisão)
qual pertencemos, quanto aqueles (que em geral
Dessa forma, podemos definir moral
coincidem com os primeiros) que nos são
como um conjunto de regras que determinam o
transmitidos pela educação familiar e são por
comportamento dos indivíduos em uma dada
nós escalonados, isto é, a eles são atribuídas
sociedade.
prioridades.
As normas são externas e anteriores ao
Assim é que, geralmente, o homem tem
indivíduo; ou seja, ao nascer a criança já se
como valor primordial a própria vida e a luta
encontra dentro de um conjunto de regras de
permanente por sua preservação. Nem sempre,
comportamento, as quais deverão ser
repetimos, este é o valor maior. Por exemplo, a
respeitadas (atos morais), ou não (atos imorais).
prática dos kamikazes, pilotos suicidas
Dois aspectos devem ser enfatizados, japoneses, que, durante a Segunda Guerra
segundo Vásquez (1995): Mundial, lançavam-se contra objetivos inimigos,
a)Tais regras são dinâmicas, variam no privilegiando como valor primeiro a pátria e não
tempo e no espaço. Por exemplo, a moral da a própria vida. Podemos afirmar que tais valores
Idade Média (e seus conceitos de vassalagem e devem ser transmitidos e, evidentemente,
servidão) já não valia no período da Revolução praticados, pelo líder, de forma permanente e
Industrial. cotidiana.
Atualmente, para bem cumprir tal tarefa
Além disso, o que é moral em uma dada de doutrinamento, há que se enfrentarem
sociedade (como a poligamia praticada pelos dificuldades adicionais; a começar pela
muçulmanos) pode não ser moral no seio de relativização de valores praticada pelas
outros grupos sociais (o mesmo exemplo, no sociedades em geral, embora nem sempre de
caso de uma sociedade ocidental cristã). forma explícita: privilegia-se o que é concreto e
b)A moral, ao mesmo tempo em que tem transitório (o dinheiro, como fonte de poder e
caráter coletivo, expressando as normas satisfação; o culto ao corpo, à beleza e à
estabelecidas pela sociedade, só tem valor real juventude etc), em detrimento de valores
se for aceita, em termos pessoais, por cada abstratos e perenes, como os acima
membro de tal grupo social. mencionados.
Aqueles que pretendem liderar – em
Portanto, quando educamos jovens
todos os níveis da hierarquia militar – devem ter
(nossos filhos ou nossos alunos, por exemplo),
sempre em mente, como um farol a norteá-los, a
não basta citarmos um elenco de regras de
fundamental importância de conhecer
convívio social; é indispensável que acreditemos
claramente a prioridade estabelecida pela
efetivamente nelas e as pratiquemos, por meio
Marinha com relação aos valores virtuosos que
do exemplo, para que os jovens acreditem em
lhe são vitais (Rosa das virtudes - anexo A)
tais normas e possam praticá-las,
Conhecendo-os com clareza, conquistas
voluntariamente.
da nossa cultura, como a honra, a honestidade, a
Podemos ainda acrescentar que o ato bondade etc. devem ser praticados
moral é complexo, livre, consciente e inquestionavelmente, em quaisquer
intencional; o que implica na responsabilidade do circunstâncias, e transmitidos, dia e noite, aos
indivíduo com a comunidade à qual pertence. liderados. Este é o desafio inicial a ser
enfrentado pelo líder.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-3


1.3. ASPECTOS PSICOLÓGICOS 1.3.1. Percepção
O conceito psicológico de percepção é
Conhece-te a ti mesmo, célebre máxima uma contribuição da escola psicológica da
socrática, provavelmente foi a primeira Gestalt (termo alemão, cuja significação é
afirmação consequente sobre a natureza referente à forma ou ao todo). Para esta escola,
psicológica do homem. o homem é sempre capaz de receber estímulos
Mas a Psicologia só muito recentemente, do mundo externo e responder a eles após os
em fins do século XIX, ganhou status de haver interpretado. Tais estímulos incluem
ciência, com o advento da chamada Psicologia coisas, pessoas e situações.
Científica. Antes disto, estivera sucessivamente Claro está que o psiquismo do próprio
subordinada à Filosofia, à religião e à Medicina. observador, sua subjetividade, vai interferir
decisivamente em seu processo de percepção.
Quanto mais complexo for este estímulo,
maiores são as possibilidades de ocorrerem
percepções distintas, por parte de diferentes
observadores.
Quando conhecemos alguém, tendemos
a formar impressões imediatas sobre a pessoa.
Podemos achá-la simpática, inteligente, mas
um pouco arrogante, por exemplo. Um segundo
observador, ao conhecer esta mesma pessoa,
pode considerá-la simpática, não muito
inteligente, e bastante simples já um terceiro,
poderá dizer que nem se aproximou muito por
considerá-la antipática.
FONTE: O exemplo citado é superficial. Foram
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bc/Socrate_du_Louvre.jpg
usadas poucas características da pessoa
percebida. Claro está que quanto mais atributos
Podemos assegurar que a matéria prima forem utilizados, maiores são as possibilidades
da Psicologia é a vida humana em seus de percepções distintas por parte de diferentes
múltiplos aspectos: mentais, corporais e de observadores. Ou seja, a subjetividade de quem
interação com o mundo externo. Seu objeto de percebe interfere poderosamente no processo
estudo são os fenômenos psicológicos. Mas, o de formação de juízos. Esta é uma primeira
que vem a ser isto? São processos que ocorrem constatação quando estudamos o processo de
no mundo interno dos indivíduos, construídos percepção.
ao longo de sua vida; são contínuos, e nos
permitem sentir o mundo de forma própria, Tais constatações nos levam a uma
comportarmo-nos desta ou daquela maneira, primeira conclusão: nossa percepção é falha,
adequarmo-nos à realidade e transformá-la. quando estamos observando pessoas (ou
Tais processos são constitutivos de nossa grupos delas); isto porque os seres humanos
subjetividade. (sujeitos e objetos do processo) têm emoções
E a liderança, onde entra na questão? Que muitas vezes secretas. Por este motivo é que,
relação tem com a Psicologia? Pelo que já foi em algumas ocasiões, somos surpreendidos por
mencionado acima, não nos parece difícil manifestações imprevisíveis de comportamento
responder. de outra pessoa. Quantos exemplos já tivemos
A liderança consiste em uma relação que ao longo de nossa vida? O indivíduo
envolve pessoas (líder e liderados) interagindo, descontraído, brincalhão, que subitamente
muito específica, estreita, construída ao longo entra em processo de depressão e se suicida;
do tempo e sujeita a permanente reavaliação. ou aquele sempre pacífico e cordato, que de
Fica, pois, evidente, o quanto é repente se torna agressivo e violento. Surpresas
importante para o líder conhecer seu próprio desta ordem ocorrem com relativa frequência e
perfil psicológico, ao mesmo tempo em que serão maiores quanto mais despreparados
necessita exercitar, pacientemente, o estivermos para lidar com as emoções dos
conhecimento dos membros do grupo sob suas outros.
ordens, suas possibilidades e limitações, além
Como poderíamos reduzir a tendência
de avaliar suas possíveis reações em diferentes
de estabelecermos percepções equivocadas
contextos.
sobre terceiros? Primeiramente, reconhecer que
Vamos nos ater, portanto, a três conceitos
as pessoas não são formulações matemáticas
da Psicologia os quais interessam,
que apresentam solução-padrão; em seguida,
objetivamente, ao processo da liderança.
ter suficiente humildade para não confiar
São eles: percepção, motivação e atitude.
cegamente na própria percepção, tendo

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-4


capacidade para reformulá-la após observação Em sua essência, o preconceito é uma
mais duradoura. atitude, sendo assim uma pessoa preconceituosa
Examinemos, neste ponto, alguns dos pode comportar-se de maneira ofensiva com
processos mais comumente postos em prática determinado grupo, por acreditar que aquele
pelos observadores, em geral, que conduzem à grupo possui características negativas.
graves equívocos na formação de juízos sobre Tecnicamente, o preconceito pode ser positivo ou
terceiros. negativo. Pode ser, por exemplo, a favor ou
a)Efeito halo - É muito comum contra estrangeiros, dependendo de sua
categorizarmos o objeto de nossa percepção em nacionalidade, se você já supõe, em princípio,
termos de bom e mau, deduzindo, a partir desta que suecos tinham a faculdade de despertar
primeira classificação, os demais traços do sentimentos positivos e negativos. No entanto,
indivíduo observado. Esta tendência é chamada em Psicologia Social o termo é usado apenas no
de efeito halo, porque a pessoa rotulada de boa caso de atitudes negativas, não levando
passa a ser cercada por uma aura positiva, sendo necessariamente a atos hostis ou
a ela atribuídas todas as qualidades consideradas comportamentos discriminatórios. Por sua vez,
favoráveis. Ao contrário, se o indivíduo é rotulado quando nos referimos ao comportamento,
de mau, passa a possuir um halo negativo utilizamos o termo discriminação. Neste caso
(alguns autores classificam como efeito horn), sentimentos hostis somados a crenças
sendo a ele atribuídas todas as más qualidades. estereotipadas deságuam numa atuação que
Experiências já demonstraram como as pode variar de um tratamento diferenciado a
pessoas observadas, uma vez incluídas em uma expressões verbais de desprezo e a atos
dessas categorias, dificilmente são avaliadas manifestos de agressividade.
com alguma riqueza de detalhes por parte da e)Principais conclusões - Pelo exposto
grande maioria dos observadores. Verificou-se, acima, podemos identificar alguns aspectos e
pois, que os observadores, em geral, formam características gerais que devem ser evitadas:
impressões bastante superficiais sobre os outros, I)No processo de percepção de
tendendo à simplificação e à descrição indivíduos interagem três variáveis, a saber: o
empobrecida dos objetos percebidos. observador, sujeito da ação; a pessoa percebida,
b)Similaridade suposta - É comum a objeto da ação; e a situação em que ambos
tendência das pessoas de suporem que as outras (sujeito e objeto) estão envolvidos.
são semelhantes a elas mesmas. Se o indivíduo II)O observador deverá evitar a
gosta de futebol, tende a crer que os outros tendência à simplificação e à generalização (que
também gostam; se é agressivo, supõe que os revelam acomodação) no processo de percepção
outros também o são e assim por diante. Por de pessoas. Deverá tentar formular juízos da
exemplo, o avaliador atribui seus próprios valores forma mais acurada e abrangente possível,
ou características de personalidade ao avaliado. considerando que os outros são indivíduos
É o que se chama similaridade suposta. complexos.
c)Estereótipo - Segundo Rodrigues
(2015), estereótipos são crenças sobre 1.3.2. Motivação e Incentivo
características que atribuímos a pessoas ou Robbins (2009) conceitua a motivação
grupos. O termo foi empregado pelo jornalista como resultante da interação do indivíduo com a
americano Walter Lippman ao referir-se à situação e que seu nível varia tanto de indivíduo
imputação de certas características a pessoas para indivíduo, quanto em um mesmo indivíduo
pertencentes a um determinado grupo. Os em diferentes situações. Afirmou também que os
psicólogos sociais contemporâneos identificam o indivíduos motivados permanecem na realização
estereótipo como a base cognitiva do de suas tarefas até atingirem seus objetivos.
preconceito. Como veremos adiante, os
sentimentos negativos em relação a um grupo
constituiriam o componente afetivo, e a
discriminação, o componente comportamental.
O uso do estereótipo na avaliação de
pessoas revela tendência à generalização e à
simplificação grosseira no juízo que pretendemos
formular sobre alguém, o que conduzirá,
fatalmente, a uma impressão absolutamente
imprecisa da pessoa observada.
d)Preconceito e discriminação - Ainda de
acordo com Rodrigues (2015), se o estereótipo é
a base cognitiva do preconceito, os sentimentos
negativos em relação a um grupo constituiriam o
componente afetivo do preconceito, e, as ações,
FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB
o componente comportamental.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-5


Assim, podemos definir motivo como este elemento trata de gostar (ou não) de um
uma condição interna que leva o indivíduo a agir determinado objeto, independente de
e persistir em um dado comportamento, visando argumentos racionais.
um determinado objetivo. Um terceiro elemento, chamado
Todo comportamento humano é comportamental, trata das tendências ou
motivado. Nossos atos, mesmo os mais predisposições do indivíduo para agir de maneira
rotineiros, têm, por trás de si, motivos que os própria.
norteiam. É importante ressaltar que os elementos
Um conceito importante, relacionado à citados não atuam isoladamente, mas se
motivação, é o de incentivo, de grande utilidade interpenetram, imbricam-se, apresentando uma
para aqueles que, como os líderes, necessitam resultante final que se manifestará através do
influenciar os comportamentos de outras comportamento por ela gerado.
pessoas. Convém chamar atenção para outra
Incentivos são objetos ou condições que parte da definição que afirma que as atitudes
podem despertar motivos ou simplesmente são sempre relativas a um dado objeto. Os
modificar o comportamento do indivíduo. Só objetos podem ser pessoas (o pai, o vizinho, o
serão eficazes se a intensidade, a direção e a patrão etc.), grupos sociais (negros, judeus,
persistência atenderem às necessidades do membros de uma seita ou religião, componentes
indivíduo em determinada circunstância. Vamos de um partido político etc.), ideias ou crenças.
exemplificar: o alimento só funcionará como O fato é que a liderança, como processo
incentivo para alguém que esteja faminto, não de influenciação, consiste precisamente em
tendo efeito para outra pessoa cuja fome esteja atuar no complexo sistema de atitudes de
saciada. Visa atender aos fatores extrínsecos indivíduos. A efetiva liderança não se limita à
(periféricos) ao indivíduo. simples manifestação de comportamento, já que
esta pode ser meramente a adesão aparente - e
1.3.3. Atitude e Comportamento não voluntária e legítima - aos objetivos
Atitude é um conceito hipotético (como propostos.
muitos outros em psicologia), isto é, não pode
ser diretamente observável, o que não impede 1.4. ASPECTOS SOCIOLÓGICOS
que seu efeito possa ser inferido a partir do
comportamento decorrente (o qual, como vimos, Neste tópico pretende-se estabelecer a
é manifestado pelo sujeito). Podemos, assim, relação entre Sociologia e liderança. Ou seja, a
assegurar que o comportamento é a expressão medida pela qual a Sociologia fornece alguns
de uma atitude (ou de uma combinação de conceitos à Liderança, sobre os quais esta pode
atitudes). ser construída.
Vamos examinar, mais detidamente, a Assim, como foram desenvolvidos os
definição enunciada acima. De início, afirma-se aspectos filosóficos e psicológicos, vamos
que atitude é um sistema; portanto, compõe-se examinar conceitos sociológicos que também
de partes. Que partes são estas? possuem relação com a liderança.
A Sociologia tem como objeto de estudo
as sociedades com as suas relações humanas
em um amplo sistema de interações. Importante
ressaltar, neste ponto, que o termo “sociedade”
não está vinculado à ideia de maior ou menor
ordem de grandeza. Podemos nos referir a
sociedades compostas por milhões de seres
humanos (a sociedade brasileira, por exemplo),
ou a sociedade de dimensão muito mais
modesta (a associação de moradores de um
condomínio). O que, então, caracteriza uma
sociedade? O grau de complexidade das relações
internas desta coletividade, suficientemente
amplo para ser analisado do ponto de vista
sociológico.
Max Weber afirma que uma situação
FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB
social é aquela em que as pessoas orientam suas
ações umas para as outras. O resultado desta
Uma delas, de caráter racional, é orientação de forças agindo no seio de uma
chamada de elemento cognitivo; é conceitual, coletividade é que vai constituir o material de
ligado, portanto, à consciência do indivíduo. análise sociológica.
Outra parte componente do sistema de
atitudes de uma pessoa é o elemento afetivo,
relacionado a sentimentos e emoções do sujeito;

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-6


Sociólogos concordam que a Tais normas definem o que é moral ou não no
perspectiva sociológica envolve um processo seio de determinada sociedade; esta cobra
que vai permitir examinar as coletividades além determinados comportamentos de seus
das fachadas das estruturas sociais. Nesta membros, proibindo outros. Os sociólogos, em
medida, a sociologia tem como meta mostrar o geral, afirmam que, em uma sociedade com um
lado de dentro das sociedades, com o propósito sistema de valores claramente definido e
de refletir, com profundidade, sobre a dinâmica firmemente implantado, existe muito pouco
de forças atuantes em dada coletividade. probabilidade de conduta pessoal desviante.
Pode-se verificar o quanto a Sociologia Importante perceber que, dentro de
tem para contribuir em termos de uma determinada cultura, podemos notar
embasamento teórico no estudo e na grupos de pessoas que desenvolvem
construção do processo da liderança. Para comportamentos próprios, não compartilhados
muitos teóricos, a liderança, dadas as por todos os membros desta cultura; é o que se
características singulares que envolve, define como subcultura. As subculturas se
constitui-se em um processo ímpar de interação distinguem umas das outras por traços
social, o que só vem corroborar sua relação específicos entre os quais podemos citar a
com a Sociologia. religião, a ocupação, a faixa etária, a classe
social e outros. Claro está que os indivíduos, em
1.4.1. A Questão da Cultura geral, participam de várias destas subculturas,
O homem, além de um ser natural, é, embora todos incluídos na cultura maior de
fundamentalmente, um ser cultural. Todos nós, âmbito nacional.
representantes da espécie humana, nascemos Buscando maior especificidade,
dentro de determinado contexto cultural, do podemos constatar que os militares, em geral,
qual recebemos uma herança social. Podemos em função da peculiaridade de suas atividades
introduzir modificações nesta última e profissionais, constituem uma subcultura dentro
transformá-la, contribuindo para o legado de da sociedade brasileira; focalizando mais de
futuras gerações. Portanto, podemos definir perto ainda, podemos afirmar que a Marinha,
cultura como tudo que é socialmente aprendido dentro das Forças Armadas, em face de suas
e partilhado pelos membros de dada sociedade. atribuições muito próprias, constitui-se,
Esclarecendo melhor, cultura é um igualmente, em uma subcultura. No âmbito
termo que pode ter significado elitista, mesmo da Marinha, podemos distinguir
pedagógico ou antropológico. Na primeira subculturas, correspondentes aos diferentes
acepção, refere-se à quantidade de saber em Corpos (Armada, Fuzileiros Navais e
geral (ou em um aspecto específico) que Intendentes), em função da missão atribuída a
alguém é capaz de deter; no sentido cada um deles.
pedagógico refere-se à formação, à educação, A liderança, por definição, pressupõe a
ao cultivo do homem; antropologicamente trata atuação do líder sobre grupos humanos; os
do conjunto de língua, costumes, técnicas e membros destes grupos são, em geral, oriundos
valores que caracteriza um grupo social, um de diferentes subculturas, conceito que
povo, uma nação. acabamos de examinar. Estes indivíduos, ao
A língua é, sem dúvida, o primeiro ingressarem na Marinha, passarão a integrar-se
elemento a unir grupos de indivíduos sob um a esta nova subcultura após um período de
signo comum; é o elemento catalisador, agente adaptação.
das relações sociais. Mas a língua não é
suficiente por si só para caracterizar uma 1.4.2. Etnocentrismo
cultura (por exemplo, o português falado em Diretamente decorrente do conceito de
culturas diversas como a brasileira, a cultura, a noção de etnocentrismo é de capital
portuguesa e a angolana). importância, uma vez que sua prática é muito
Os costumes abrangem inúmeros frequente no interior de grupos humanos.
aspectos, tais como o vestuário, a alimentação, Tal prática consiste em considerar a
a música, a religião etc. Tratam, de fato, do cultura do próprio grupo como superior às
estilo de vida de um povo, sua maneira de lidar demais; ou seja, é usada como padrão de
com a realidade. Os costumes são relativos ao referência em relação às outras. Afirmações do
comportamento em geral. tipo povo eleito, raça superior, verdadeiros fiéis
As técnicas tratam das formas próprias etc., são claramente etnocêntricas.
pelas quais culturas diferentes desenvolvem Os sociólogos afirmam que o
meios próprios de trabalho e produção de bens; etnocentrismo é um produto de cultivo
por exemplo formas específicas de trabalhar a inconsciente, mas que, em maior ou menor
terra e desenvolver a agricultura. escala, toda raça, classe social, grupo etário ou
Os valores referem-se a critérios, regional estimulam o etnocentrismo de seus
normas e ideias de uma dada sociedade; Eles membros.
têm íntima relação com o processo de formação Já que é comum a prática entre grupos,
de atitudes. e tal prática pode ser desenvolvida pelos

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-7


líderes junto a seus liderados, devemos além disto, na sua interação com os liderados é
examiná-la com rigor crítico. O que tem o fundamental que o líder atue como um
etnocentrismo de bom e de mau? É estimulador de atitudes positivas de seus
aconselhável ou não o estímulo a sua aceitação subordinados.
plena dentro de um grupo humano? Devemos aprofundar um pouco mais a
O aspecto positivo refere-se ao noção de "papel", estabelecendo o conceito de
fortalecimento da autoestima do grupo, sua papel atribuído e papel adquirido.
lealdade interna e, consequentemente, sua Os status e papéis atribuídos
autopreservação; é fator de estímulo do independem de escolha do indivíduo e se
patriotismo, do nacionalismo, do espírito de referem a atribuições por sexo, idade, raça,
corpo e do "espírito de navio", como dizemos nacionalidade, classe social etc. Assim, por
na Marinha. exemplo, ser homem, brasileiro e de classe
O aspecto negativo diz respeito à média, formam um conjunto de papéis
proteção contra eventuais mudanças e a não atribuídos a determinado indivíduo.
aceitação de elementos externos àquela Já status e papel adquiridos são
cultura. Se meu grupo é o mais perfeito do pertinentes às escolhas do indivíduo, e são
mundo, por que mudar? Esta é a pergunta obtidos através de sua capacidade e
óbvia. Portanto, o etnocentrismo pode conduzir desempenho. Por exemplo, o status de marido
ao isolamento, à cristalização e à falta de e o de militar, são adquiridos.
autocrítica no seio do grupo. É possível a ocorrência de conflitos
entre os diferentes papéis que o indivíduo
1.4.3. Papel e Status desempenha na vida, podendo ocorrer choques
Papel e status são aspectos de um entre o status e o desempenho real do papel.
mesmo fenômeno, constantemente vivenciados Líder é um papel de grande
pelos membros de qualquer grupo social. complexidade, entre outras razões, porque a
Status é um conjunto de privilégios e deveres; liderança tem caráter situacional, Isto nos faz
papel é o comportamento derivado de tal constatar que o papel do líder modifica-se em
conjunto de privilégios e deveres. Podemos função de eventuais mudanças contextuais.
acrescentar, para uma melhor compreensão, Liderar em situação de paz, por exemplo,
que papel é o comportamento esperado de um requer atributos muito distintos daqueles da
indivíduo que detém determinado status. liderança em situação de combate. Do líder,
portanto, é exigida grande capacidade de
flexibilizar sua atuação, em função das
diferentes situações em que tal atuação pode
ocorrer.

1.4.4. Processos Sociais


Os sociólogos Horton e Hunt (1981)
definem processos sociais como a interação
repetitiva de padrões de comportamento
comumente encontrados na vida social.
É importante examinarmos alguns
destes processos, uma vez que sua ocorrência
é frequente no interior dos grupos humanos.
Não nos esqueçamos que o líder, cuja matéria-
FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB prima é o grupo liderado, necessita identificar a
As normas da cultura são retidas existência de tais processos, estimulando-os ou
através da aprendizagem de papéis; todos nós, não, em função das especificidades da situação
ao longo da existência, devemos aprender a corrente e da natureza da missão a ser levada a
desempenhar vários papéis, como de: cidadão, termo.
pai, filho, marido, profissional, membro de Neste tópico, trataremos dos processos
determinada classe social ou de uma religião, e de interação de maior incidência nas
assim por diante. sociedades e grupos humanos. São eles:
Para tanto, dois aspectos, basicamente, cooperação, competição e conflito.
apoiam essa aprendizagem, quais sejam: a)Cooperação - Etimologicamente,
a) aprendemos a cumprir deveres e cooperação significa trabalhar em conjunto.
reivindicar direitos relativos a um dado papel; e Implica uma opção pelo coletivo em detrimento
b) devemos adquirir atitudes positivas do individual. Para tal, torna-se importante o
em relação ao papel. desenvolvimento e o estímulo das habilidades
A formação dos líderes, em geral, de cada membro em prol de um objetivo
pressupõe o atendimento dos dois aspectos comum.
acima; Sob muitos aspectos, é a forma ideal de
atuação de grupos.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-8


Se quisermos estabelecer analogias A competição pode ser pessoal (entre
com o mundo animal, verificamos que algumas um número limitado de concorrentes que se
espécies que caçam em matilhas, como lobos e conhecem), ou impessoal (quando o número de
hienas, enquanto outras, como abelhas e rivais é tal, que se torna impossível o
formigas, trabalham em conjunto, visando a conhecimento entre eles, como ocorre, por
preservação da colmeia ou do formigueiro. Isto exemplo, nos exames vestibulares ou em
equivale a dizer que a natureza mostra a concursos públicos).
possibilidade de cooperação, tanto quanto de Alguns sociólogos mais antigos
competição ou de conflito. sustentavam que a competição seria uma lei
As sociedades humanas também são universal, segundo a qual a luta pela
ilustrativas deste processo tanto nos menos sobrevivência implica eliminação dos mais
complexos, como podemos constatar nas fracos, em favor da manutenção dos mais
pequenas cooperativas agrícolas ou de pesca, fortes; consideravam que a cooperação e a
quanto nos mais amplos, como em processos filantropia, ao permitirem a preservação dos
de cooperação científica e cultural entre menos capazes, atuavam contra o
instituições governamentais, não aprimoramento da espécie.
governamentais e Estados, como o caso da Modernamente, os especialistas
Organização das Nações Unidas, entre outros. concordam que ambos os processos
(cooperação e competição) coexistem e, até
mesmo, sobrepõem-se na maioria das
sociedades. O que varia, em função de
diferenças culturais, é a intensidade com que
cada um é experimentado.
Quando tratamos da competição sob
um ponto de vista psicológico, mencionamos
seus efeitos. Se por um lado ela pode ter o
mérito inicial de estimular a atividade dos
indivíduos e dos grupos, aumentando-lhes a
produtividade; por outro, pode ter o grave
inconveniente de desencorajar os esforços
FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB
daqueles que se habituaram a fracassar. Como
Ocorre que nem sempre é possível, já citamos, vencedor há um só; todos os demais
dentro de um grupo, manter, exclusivamente, o são perdedores. Para cada gênio a quem a
processo cooperativo. Em função do contexto, competição estimulou, é provável que
das circunstâncias da própria tarefa a realizar, correspondam centenas ou milhares de
da natureza do grupo, ou das características do fracassados, a quem esta mesma competição
líder, outros processos se desenvolvem. desmoralizou. (Horton e Hunt, 1981).
b)Competição - Tratamos anteriormente Outro inconveniente sério, decorrente
deste tema, quando examinamos as bases do estímulo à competição, consiste na forte
psicológicas da liderança. possibilidade de desenvolvimento de
Vamos, agora, estudar a competição hostilidades e desavenças no interior do grupo,
como um dos processos de interação social contribuindo para sua desagregação.
absolutamente distinto da cooperação. Além dos aspectos já citados, a
Competição é definida como a luta pela instabilidade inerente ao processo competitivo
posse de recompensas cuja oferta é limitada. faz com que este, com bastante frequência, se
Tais recompensas incluem dinheiro, poder, transforme em conflito, cuja natureza
status, amor e muitos outros. Outra forma de passaremos a examinar a seguir.
descrever o processo competitivo o mostra c)Conflito - Podemos dizer que o
como a tentativa de obter uma recompensa conflito é a exacerbação da competição. Uma
superando todos os rivais. definição mais específica afirma que tal
processo consiste em obter recompensas pela
eliminação ou enfraquecimento dos
competidores (e não pela superação destes,
como ocorre no processo de competição). Ou
seja, o conflito é uma forma de competição em
que a violência tende a se instalar, e vai-se
intensificando, à medida que aumenta a
duração do processo, já que este tem caráter
cumulativo (a cada ato hostil surge uma
represália cada vez mais agressiva).

FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-9


Duas correntes de pensamento
manifestam-se com relação à visão que se tem
dos grupos. A primeira delas, difundida no
passado, considera a personalidade do grupo
como sendo o somatório das personalidades dos
indivíduos que o compõem. A segunda, mais
recente, defende que a personalidade do grupo é
algo novo, resultante da combinação das
personalidades de seus membros; ou seja, o
grupo tem “cara” própria.
A atual Psicologia Social considera que o
estudo desta personalidade do grupo, bem como
a influência que este último exerce sobre cada
um de seus membros, faz parte integrante do
domínio da liderança, em geral. O grupo reage à
FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB liderança tanto quanto cada um de seus
membros. Tal influência se exerce em dois
Um grupo de modernos sociólogos sentidos: do grupo sobre o indivíduo e do
considera o conflito como processo social básico, indivíduo sobre o grupo. Feitas estas
correspondendo ao estado normal das considerações iniciais, vamos tentar definir o que
sociedades; seus protagonistas rivais podem ser é, efetivamente, um grupo social.
representantes de diferentes classes sociais, de O grupo é um ser eminentemente
raças distintas, de grupos etários (como o coletivo, uma síntese ou reunião de indivíduos,
tradicional conflito de gerações¹). que possui uma unidade interna, e como tal é
percebido por seus membros. O grupo não é um
1.5. A TEORIA DOS GRUPOS HUMANOS simples aglomerado de pessoas; seus membros
estão em permanente interação.
No estudo da liderança, quatro Ou seja, os transeuntes em uma rua, ou
componentes coexistem e interagem; são eles: o os passageiros do metrô não se constituem um
líder, os liderados, a cultura organizacional e a grupo, já que não atendem às condições acima.
situação. Em face de sua importância, decidimos Podemos concluir que a simples proximidade
dedicar um espaço exclusivo aos grupos física das pessoas não caracteriza o grupo social
humanos. e sim a consciência de interação conjunta.

_____________________
1) Enquanto na base, a geração Z, dos jovens que nasceram a partir do fim dos anos 1990, faz sua estreia no mercado de trabalho, os baby boomers, no topo,
– nascidos entre 1946 e 1964 – se encaminham para aposentadoria. Ligando a base – repleta de novatos – ao topo, o lugar é ainda bastante ocupado por
veteranos, representados por duas letras, que nomeiam gerações: a X (nascidos entre 1960 e 1980) e a Y (nascidos entre 1981 e meados da década de 1990).
Assim, a diversidade etária se faz completa no ambiente corporativo. À parte o perigo de incorrermos nas generalizações, há distinções que procedem. Entre as
principais, está a dificuldade maior que, em geral, os baby boomers tendem a enfrentar com aparatos tecnológicos em oposição à extrema facilidade dos
profissionais Y e Z neste campo.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 1-10


2.1. PROPÓSITO

No capítulo anterior, foram apresentadas as noções fundamentais dos aspectos


filosóficos, psicológicos e sociológicos, que interessam ao estudo da liderança.
Embora existam diferentes teorias a respeito do tema, este capítulo inicia-se
esclarecendo as falácias e definindo qual o conceito de liderança será utilizado neste Manual.
Apresenta, ainda, os quatro fatores predisponentes para o exercício desta atividade.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 2-1


2.2. FALÁCIAS DA LIDERANÇA (EMA-137, 1ª Revisão) é taxativa e perfeitamente
clara em definir como:
Diversas teorias e abordagens têm sido “… o processo que consiste em influenciar
propaladas sobre liderança. Algumas delas
pessoas no sentido de que ajam,
carregam uma visão superficial, baseada em
estudos não sistematizados, o que compromete voluntariamente, em prol do cumprimento
sua veracidade. da missão”. Fica evidenciado, pela
Dentre as várias afirmações equivocadas, definição, que a liderança inclui não só a
quatro mitos sobressaem: capacidade de fazer um grupo realizar
a) Liderança é inata (é um dom natural) - uma tarefa específica mas, sobretudo,
A ideia de que algumas pessoas nascem prontas executá-la de forma voluntária, atendendo
para liderar, por possuírem algumas
ao desejo do líder como se fosse o seu
características genéticas específicas, é um mito.
Pesquisas mostram que traços de personalidade próprio.”
não são os únicos fatores determinantes para o Este conceito é, moralmente, neutro. O
exercício da liderança. Uma pessoa que líder pode influenciar para o bem (regida pela
aprimorou suas competências na área da virtude) ou para o mal (regida pelo ódio), os
inteligência intrapessoal e interpessoal terá mais objetivos, estes sim, podem ser questionados
facilidade para exercer a liderança do que aquela moralmente dentro de uma circunstância.
que não as otimizou.
(CORTELLA, 2009).
Na verdade a liderança pode ser
desenvolvida em maior ou menor grau por
qualquer ser humano, desde que desenvolva 2.4. CHEFIAR, DOMINAR E MANIPULAR
suas Competências para exercer influência sobre
outras pessoas. (CORTELLA, 2009; GOLDSMITH, A chefia é caracterizada pela autoridade,
2007) pelo domínio, ou seja, pelo poder para ordenar,
b)Liderança é função da posição (cargo) fazer com que (alguém) obedeça, mesmo que
que ocupa - A liderança não é advinda de um
preferisse não fazê-lo. Advém da responsabilida-
cargo ou função exercida por um chefe dentro da
estrutura organizacional, onde prevalece a de atribuída à função, associada com aquela de-
autoridade hierárquica e o poder é exercido corrente de seu posto ou graduação (EMA-137,
somente de cima para baixo (obediência pura). 1ª Revisão). O chefe segue as regras obtidas por
Na liderança, este processo, também meio de alguma formalidade (por exemplo, um
vertical, é reconhecido de baixo para cima. Os decreto).
seguidores seguem o líder voluntariamente. Por Essa autoridade, de se fazer obedecer,
ser ato espontâneo, terá que ser alcançado com
deve ser exercida com perfeito controle e com
muito empenho, por meio de processos de
influenciação eficazes. base em adequada análise situacional.
c)Liderança é popularidade - Não deve ser A chefia sem controle pode desencadear a
uma preocupação do líder a conquista da utilização da violência física ou verbal (coação)
popularidade junto aos seus seguidores. Ser ou ameaça psicológica (apelo à disciplina, aos
querido é sempre bom, mas em muitas regulamentos e à obediência pura, coerção).
situações, o líder terá de tomar decisões
Com a ocorrência dessas ações, a chefia fica
consideradas “amargas”, mas necessárias a
consecução dos objetivos institucionais, o que, desvirtuada, caracterizando a dominação.
provavelmente, irá gerar descontentamento Como mencionado anteriormente, a
temporário em seus liderados. (MENDONÇA, liderança é um processo de influenciação de
2012) pessoas para que ajam em prol do alcance de
d)Sempre é exercida por um arquétipo da objetivos de interesse de uma instituição. No
virtude humana - Caracterizar um líder sempre entanto, quando este suposto líder é seduzido a
como um indivíduo virtuoso, pode ser
usar seu poder de influenciação em prol de
considerado um estereótipo. O líder como todo
ser humano, é possuidor de qualidades e interesses particulares e com propósitos
defeitos, entretanto, se destaca em algumas absolutamente pessoais, a liderança fica
circunstâncias, por possuir a amplitude de desvirtuada, caracterizando a manipulação.
competências necessárias para o eficaz exercício Na manipulação, os objetivos não são
da Liderança em situações adversas específicas. sociais, estão camuflados e atendem ao
(CORTELLA, 2009). interesse do suposto líder. Aquele que usa a sua
influência sobre uma pessoa ou grupo para obter
2.3. CONCEITO DE LIDERANÇA benefícios pessoais, por exemplo, utilizando-se
do carisma, pode gerar idolatria, que é o
A Doutrina de Liderança da Marinha extremo da manipulação.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 2-2


Segundo Cortella (2009), “todo poder A liderança direta, conquanto seja mais
que, em vez de servir, se serve, é um poder intensa no comando de pequenas frações ou
que não serve”. unidades, tendo em vista que a estrutura
organizacional da Força exige o trato com
2.5. BASES DA LIDERANÇA assessores e subordinados diretos.
A liderança organizacional desenvolve-
São quatro os fatores predisponentes se em organizações de maior envergadura,
para o exercício da Liderança: autoridade orga- normalmente estruturadas como Estado-
nizacional, autoridade moral, conhecimento Maior, sendo composta por liderança direta,
técnico e carisma: conduzida em menor escala, voltada para os
a)A autoridade organizacional - subordinados imediatos e por delegação de
consiste no direito legal e funcional em exercer tarefas.
o mando. A autoridade organizacional pode A liderança estratégica quando exercida
provir: no contexto militar é aquela exercida nos
I)do ato de designação para o cargo; e níveis que definem a política e a estratégia da
II) de ordem superior. Força. É um processo empregado para
b)A autoridade moral - decorre da conduzir a realização de uma visão de futuro
identificação entre o líder e seus liderados no desejável e bem delineada.
que diz respeito a: valores, crenças, ideias,
objetivos e metas a atingir.
c)Conhecimento técnico - entendimen- 2.6.1. Liderança Direta
to adquirido a respeito do assunto ou tema so- Essa é a primeira linha de liderança e
bre o qual dá ordens. É fundamental para con- ocorre em organizações onde os subordinados
quistar a confiança dos liderados. estão acostumados a ver seus chefes frequen-
d)Carisma - Dom natural que desperta temente: seções, divisões, departamentos, na-
admiração, respeito ou fascinação, provocando vios2, batalhões, companhias, pelotões e es-
a simpatia dos liderados. Este sentimento de quadras de tiro. Para serem eficazes, os líde-
reconhecimento, por parte dos liderados, res diretos devem possuir muitas habilidades
contribui para o exercício da liderança, mas é interpessoais, conceituais, técnicas e táticas.
importante ressaltar que a colaboração do
carisma não deve ser exagerada, pois quando
utilizado intensamente, ele pode levar à
idolatria e à dependência dos liderados, como
ocorrem em algumas seitas, patologias e
cometimentos de crimes.

2.6. NÍVEIS DE LIDERANÇA

Com a evolução das técnicas de gestão


empresarial, o foco do estudo sobre o
comportamento dos dirigentes passou a ser
voltado para as diferenças entre o líder de
base e o de cúpula. Foi então idealizado um
padrão de organização baseado em três níveis
funcionais: operacional, tático e estratégico,
discriminando as características desejáveis FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB
para um líder nos três níveis, de acordo com
suas habilidades.
Em consonância com esses novos Os líderes diretos aplicam os atributos
conceitos, foram estabelecidos três níveis de conceituais de pensamento crítico-lógico e
liderança: direta, organizacional e estratégica. pensamento criativo para determinar a melhor
Estes três níveis definem com precisão toda a maneira de cumprir a missão. Como todo líder,
abrangência da liderança e será adotado ao usam a ética para pautar suas condutas e
longo deste manual. adquirir certeza de que suas escolhas são as
A liderança direta é obtida por meio do melhores e contribuem para o
relacionamento face a face entre o líder e seus aperfeiçoamento da performance do grupo,
liderados e é mais presente nos escalões dos subordinados e deles próprios. Eles
inferiores, quando o contato pessoal é empregam os atributos interpessoais de
constante. comunicação e supervisão para realizar o seu
trabalho.

____________________
2) Nos navios e batalhões ocorre também a Liderança Organizacional.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 2-3


Desenvolvem seus liderados por pela força do exemplo, estimulando os subor-
instruções e aconselhamento e os moldam em dinados e supervisionando-os apropriadamen-
equipes coesas, treinando-os até a obtenção te. Sempre que possível, o líder organizacional
de um padrão. deve mostrar sua presença física junto aos es-
Pode-se dizer ainda que são calões subordinados, seja por intermédio de
especialistas técnicos e os melhores visitas e mostras, seja por meio de reuniões
mentores. Tanto seus chefes quanto seus funcionais com os comandantes subordinados.
subordinados esperam que eles conheçam
bem sua equipe, os equipamentos e que
sejam expert na área em que atuam. Usam a
competência para incrementar a disciplina
entre os seus comandados. Usam o
conhecimento dos equipamentos e da
doutrina para treinar homens e levá-los a
alcançar padrões elevados, bem como criam e
sustentam equipes com habilidade, certeza e
confiança no sucesso na paz e na guerra.
Líderes exercem influência
continuamente, buscando cumprir a missão,
tendo por base os propósitos e orientações
emanadas das decisões e do conceito da
operação do chefe, adquirindo e aferindo FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB

resultados e motivando seus subordinados,


principalmente pelo exemplo pessoal. Devido 2.6.3. Liderança Estratégica
a sua liderança ser face a face, veem os Líderes estratégicos exercem sua
resultados de suas ações quase liderança no âmbito dos níveis mais elevados
imediatamente. da instituição. Sua influência é ainda mais
Trabalham focando as atividades de indireta e distante do que a dos líderes
seus subordinados em direção aos objetivos organizacionais. Desse modo, eles devem
da organização, bem como planejam, desenvolver atributos adicionais de forma a
preparam, executam e controlam os eliminar ou reduzir esses inconvenientes.
resultados. Os líderes estratégicos trabalham para
Se aperfeiçoam ao assumirem os deixar hoje a instituição pronta para o
valores da instituição e ao estabelecerem um amanhã, ou seja, para enfrentar os desafios
modelo de conduta para seus subordinados, do futuro, oscilando entre a consciência das
colocando os interesses da instituição e do necessidades nacionais correntes e na missão
grupo que lideram acima dos próprios. Com e objetivos de longo prazo.
isto, eles desenvolvem equipes fortes e Desde que a incerteza quanto às
coesas em um ambiente de aprendizagem possíveis ameaças não permita uma
saudável e efetiva. visualização clara do futuro, a visão dos
Os líderes diretos devem, ainda, líderes estratégicos é especialmente crucial na
estimular ao máximo o desenvolvimento de identificação do que é importante com relação
líderes subordinados, de forma a potencializar ao pessoal, material, logística e tecnologia, a
a sua influência até os níveis organizacionais fim de subsidiar decisões críticas que irão
mais baixos e obter melhores resultados. determinar a estrutura e a capacidade futura
da organização.
2.6.2. Liderança Organizacional Dentro da instituição, os líderes
Ao contrário do que acontece no nível estratégicos constroem o suporte para facilitar
de liderança direta, onde os líderes planejam, a busca dos objetivos finais de sua visão. Isto
preparam, executam e controlam diretamente significa montar um staff que possa
os resultados dos seus trabalhos, a influência assessorá-los convenientemente a conduzir
dos líderes organizacionais é basicamente seus subordinados de maneira segura e
indireta: eles expedem suas políticas e flexível. Para obter o suporte necessário, os
diretivas e incentivam seus liderados por meio líderes estratégicos procuram obter o
de seu staff e comandantes subordinados. consenso não só no âmbito interno da
Devido ao fato de não haver proximidade, os organização, como também trabalhando junto
resultados de suas ações são frequentemente a outros órgãos e instituições a que tenham
menos visíveis e mais demorados. No entanto, acesso, em questões como orçamento,
a presença desses líderes em momentos e estrutura da Força e outras de interesse, bem
lugares críticos aumenta a confiança e a como estabelecendo contatos com
performance dos seus liderados. Independente representações de outros países e Forças em
do tipo de organização que eles chefiem, assuntos de interesse mútuo.
líderes organizacionais conduzem operações

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 2-4


A maneira como eles comunicam as domínio dos requisitos operacionais, da
suas políticas e diretivas aos militares e civis situação geopolítica e da sociedade, os líderes
subordinados e apresentam aquelas de estratégicos conduzem adequadamente a
interesse aos demais cidadãos vai determinar Força e contribuem para o desenvolvimento e
o nível de compreensão alcançado e o a segurança da Nação.
possível apoio para as novas ideias. Para se Tendo em vista que os conflitos nos dias
fazer entender por essas diversas audiências, de hoje podem ser desencadeados muito
os líderes estratégicos empregam múltiplas rapidamente, não permitindo um longo
mídias, ajustando a mensagem ao público- período de mobilização para a guerra – como
alvo, sempre reforçando os temas de real se fazia no passado – o sucesso de um líder
interesse da instituição. estratégico significa deixar a Força pronta
Os líderes estratégicos estão decidindo para vencer uma variedade de conflitos no
hoje como transformar a Força para o futuro. presente e permanecer pronta para enfrentar
Eles devem trabalhar para criar e desenvolver as incertezas do futuro.
a próxima geração de líderes estratégicos, Em resumo, esses líderes preparam a
montar a estrutura para o futuro e pesquisar instituição para o futuro por meio de sua
os novos sistemas que contribuirão na liderança. Isto significa influenciar pessoas –
obtenção do sucesso. integrantes da própria organização, membros
Para capitanear as mudanças de outros setores do governo, elites políticas –
pessoalmente e levar a instituição em direção por meio de propósitos significativos, direções
à realização do seu projeto de futuro, esses claras e motivação consistente. Significa,
líderes transformam programas conceituais e também, acompanhar o desenrolar das
políticos em iniciativas práticas e concretas. missões atuais, sejam quais forem e buscar
Esse processo envolve uma progressiva aperfeiçoar a instituição – tendo a certeza que
alavancagem tecnológica e uma modelagem o pessoal está adestrado e de que seus
cultural. Conhecendo a si mesmos e aos equipamentos e estrutura estão prontos para
demais “atores” estratégicos, tendo um nítido os futuros desafios.

FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 2-5


3.1. PROPÓSITO

Todo militar tem o dever de desenvolver as competências necessárias para o exercício


eficaz da liderança, particularmente, aquelas relacionadas às inteligências intrapessoal e
interpessoal.
Este capítulo apresenta uma ferramenta prática, desenvolvida na prática acadêmica,
para o aprimoramento desta arte, por meio de cumprimento de etapas básicas, não tendo a
pretensão de cercear outras iniciativas.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-1


3.2. PROCESSO DOS CINCO PASSOS 3.2.1. Primeiro Passo (competências
almejadas)
De forma sucinta, este método se desen- Em face da imperiosa necessidade de in-
volve da seguinte forma: o primeiro passo visa fluenciar seus colaboradores e de conquistar
estabelecer as competências necessárias para credibilidade, é desejável que o líder desenvol-
o exercício da liderança em um cenário espe- va algumas competências, que podem ser defi-
cífico (matriz de competências). Tendo por base nidas como “um conjunto de conhecimentos,
as competências já identificadas, o segundo habilidades e atitudes específicas que permi-
passo tem como objetivo reconhecer as compe- tem ao indivíduo desempenhar com eficácia de-
tências já desenvolvidas. No terceiro, por sua terminadas tarefas, em qualquer situação, de
vez, estabelece como os liderados percebem o forma peculiar” (MENDONÇA, 2012; GAUDÊN-
líder, por meio de feedback. O quarto passo CIO, 2007), conhecido como “Matriz de Compe-
compara a auto-imagem do líder com a recebi- tências”.
da dos liderados, na etapa anterior, conhecida
como hetero-imagem. No último passo, o líder
busca corrigir as deficiências anteriormente
identificadas, reiniciando, a partir daí, um novo
ciclo.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-2


Assim, podemos relacionar as seguintes 3.2.2. Segundo Passo
competências mínimas que devem ser Nesta etapa, por meio de uma
almejadas por aqueles que pretendam exercer autoanálise, pretende-se verificar quais os
a liderança na Marinha: pontos fortes e as oportunidades de melhoria
a)Visão:criar, compartilhar uma em relação às competências identificadas no
estratégia baseada em uma visão prospectiva, primeiro passo. O ser humano (indivíduo) e a
produzindo condições para torná-la realidade e busca do autoconhecimento.
humildade para executar correções de rumo, se a)Com a finalidade de conhecer suas
necessárias; competências e, eventuais, deficiências, o líder
b)Entusiasmo:energizar/mobilizar/ deverá fazer a si mesmo alguns questionamen-
inspirar/influenciar outras pessoas, obtendo a tos, como os a seguir apresentados (MOSCO-
cumplicidade dos membros da sua equipe, VIC, 1991; RUPERT, 2003):
determinação para a realização das tarefas e o I)A que realmente dou valor? O que
comprometimento com os propósitos me incentiva: Dinheiro? Poder? Prestígio? reali-
propostos; zação profissional?
c)Integridade ética:proceder sem II)Sigo os preceitos éticos de conduta?
falhas morais agindo baseado em referências III)Qual é o meu tipo psicológico: intro-
virtuosas, com elevado senso de justiça e vertido, extrovertido, racional, emocional?
solidariedade; (HARVARD, 2005) IV)Dou o exemplo?
d)Inteligência intrapessoal:possuir V)Sou entusiasmado pela minha ativi-
autodesenvolvimento profissional permanente dade? Energizo meus liderados?
compatível com o seu grau hierárquico, VI)Possuo as competências necessá-
autoconhecimento, controle das emoções, rias?
automotivação, senso de humor e VII)Gosto de trabalhar com pessoas
desprendimento (GOLDSMITH), 2007. Essas em equipe?
competências constituem um conceito VIII)Gosto de ouvir a opinião dos ou-
chamado “autoliderança”, que é a capacidade tros?
de liderar a si próprio, especialmente em um IX)Possuo humildade para modificar
mundo em constante evolução como o atual. meus pontos de vista e minhas decisões, em
“Autoliderar-se” é um passo decisivo para que face dos argumentos apresentados por outras
uma pessoa seja exemplo para as demais. pessoas?
e)Inteligência interpessoal: realizar X)Costumo reconhecer os méritos de
interações saudáveis com os liderados meus subordinados e premiá-los pelos esforços
mantendo elevado o moral, valorizando-os despendidos?
profissionalmente, criando condições favoráveis XI)Outras.
para a resolução de conflitos e a manifestação b)Planilha de Avaliação /Autoimagem
(identificação) e o desenvolvimento do talento
latente em cada membro da equipe
(surgimento de novos líderes com a delegação
de desafios) e um ambiente favorável a uma
comunicação eficaz (saber e querer ouvir); e
f)Iniciativa: ser proativo diante dos
desafios, principalmente, em situações
adversas ou na ausência dos superiores.
O conjunto dessas competências gera
credibilidade do líder perante seus liderados.

Para facilitar o autoconhecimento, pode ser utilizada uma Matriz de Competências (conhecimento,
habilidade e atitude/CHA), conforme abaixo apresentada. (MOSCOVIC, 1991; MENDONÇA, 2012 )

PONTOS FORTES OPORTUNIDADES DE MELHORIA


Minhas Competências Minhas Deficiências
Entusiamo Habilidade de falar em público
Higidez Física Empatia
Conhecimento Profissional Controle Emocional

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-3


3.2.3. Terceiro Passo (desenvolvimento da IV)Seja honesto, direto e específico
prática de feedback) em suas observações, sem utilizar palavras que
Espera-se neste passo obter o modo posam ofender ou afetar a autoestima do avali-
como os outros identificam meus pontos fortes ado;
e oportunidades de melhoria. Processo de V)Proponha um Plano de Desenvolvi-
fornecer informações a uma pessoa de como o mento/Acompanhamento Pessoal (PDP/ coach);
ambiente externo percebe o seu desempenho e
na Organização, suas dificuldades, suas VI)Termine com uma declaração positi-
ansiedades, seus filtros culturais/preconceitos e va gerando uma expectativa de mudanças de-
como este comportamento afeta a equipe, o sejadas. (MOSCOVIC, 1991;GAUDÊNCIO, 2007;
trabalho e a organização. Esta prática é MAXWELL,2007).
fundamental para aperfeiçoar o b)Janela de Johari (FRITZEN, 1988; MOS-
autoconhecimento. (GOLDSMITH, 2007) COVIC, 1991).
a)Cuidados ao fornecer feedback (diálogo É uma ferramenta conceitual, criada por
de desenvolvimento): Joseph e Harrington em 1955. A palavra Johari é
I)Inicie o feedback explicando o formada pelos prenomes dos seus criadores.
propósito da utilização da ferramenta; Essa ferramenta nos auxilia nos relacionamen-
II)Aponte os pontos positivos do tos interpessoais (no meu relacionamento com
liderado (reforço do comportamento); outra pessoa ou grupo) e no entendimento do
III)Descreva os problemas; discuta processo de comunicação. Como esse processo
como eliminá-los; indique o que pode ser se desenvolve.
melhorado, compartilhando ideias e explorando Essa ferramenta ou esse conceito tem o
alternativas (substitua o tradicional, “mas” pelo seguinte modelo de representação. Imagine
“e”). Reprima a “Identificação Projetiva”; uma janela com quatro "vidros" e que cada "vi-
dro" corresponde a uma área

EU

Conhecido para mim Desconhecido para mim


Conhecido para os
outros
OUTROS

ÁREA ABERTA ÁREA CEGA


Desconhecidos para os
outros

ÁREA SECRETA ÁREA DESCONHECIDA

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-4


I)Área aberta/arena pública: é uma - percepções e opiniões a respeito do grupo ou
área que se caracteriza pela troca livre e aberta de seus integrantes ou de nós mesmos (desejos
de informações entre o “EU” e os “OUTROS”. inconfessos que nos atormentam toda vida).
II)Área cega3: contém informações a Temos medo que se o grupo vier a saber dos
respeito do nosso “EU” que ignoramos, mas nossos sentimentos, poderá nos rejeitar ou
que são do conhecimento dos “OUTROS” atacar.
(nossa maneira de agir, nosso jeito de falar,
nosso estilo de relacionamento, manifestações IV)Área desconhecida4: contém infor-
nervosas). mações a nosso respeito que o “EU” e o
III)Área secreta: contém informações “GRUPO” desconhecem (comportamentos ar-
que sabemos a nosso respeito (“EU”) que são quivados abaixo do nível consciente, traumas
desconhecidas pelo “GRUPO” recalcados...).
c) Janela Ideal

EU

Conhecido para mim Desconhecido para mim


Conhecido para os
outros

ÁREA ABERTA
OUTROS

Desconhecidos para os outros

- Fala e escuta
- Relação transparente e construtiva

________________
3) Na área cega estão as características que os outros percebem, mas nem sempre percebemos.
4) Na área desconhecida estão fatores que não percebemos em nós mesmos, nem as outras pessoas.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-5


3.2.4. Quarto Passo (obtenção do Perfil 3.2.5. Quinto Passo (gestão das competên-
Real) (MOSCOVIC, 1991) cias)
Após o levantamento das competências e Conhecendo o seu perfil real, o líder
deficiências, apontadas no desenvolvimento do procura sanar as suas lacunas de competências
autoconhecimento e as apontadas pelos outros, (deficiências), aprimorando-as, por intermédio
no feedback (Ex.: Reunião de Aconselhamento), de: experiências adquiridas, cursos; leituras,
o líder elabora a planilha de autoimagem X adestramentos, treinamentos etc.
heteroimagem e, com isso, obtém o seu perfil
real. Veja o exemplo: Veja o exemplo:

Perfil Real Perfil Real


Oportunida- Lacunas de
(Competên-
Pontos fortes feedback des de feedback Competências
cias Pessoais) (Competências
Melhorias Competências
Pessoais)

O entusiasmo Entusiasmo Confirmado Não há


Habilidade e a higidez
Entusiasmo para física são ver-
falar em pú- dadeiros e
blico bem recebi- Higidez Física Confirmada Não há
dos pelos li-
80% dos lide-
derados, mas
rados com-
preciso trans-
preendem,
90% dos lide- parecer me-
plenamente,
rados conside- lhor meu co-
as informa-
Higidez ram-me um lí- nhecimento Conhecimento Precisa trans- Melhoria na
Empatia ções que
Física der entusias- profissional Profissional parecer mais Comunicação
transmito em
mado, que para que a
parada, mas
presa pelo equipe recor-
60% dos lide-
TFM, mas so- ra mais a mim
rados identifi-
mente 30% para solucio-
cam a minha
dos liderados nar proble-
necessidade Precisa melho- Necessidade
afirmam pro- mas. Empatia
de melhorar a rar de leitura e
curar-me para Falo melhor
empatia e o prática acerca
sanar dúvidas em público do
controle emo- da empatia
profissionais. que eu acre-
cional.
ditava, mas Precisa melho- e do controle
Controle preciso de- Controle Emocional emocional
Conhecimento rar
Emocional senvolver para a Lide-
Profissional
maior empa- rança.
tia e controle
emocional,
Habilidade para falar
para atuar
em Confirmada Não há
melhor como
público
líder.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 3-6


4.1 – PROPÓSITO

Após uma breve explanação conceitual e teórica, seguida de orientações sobre o


desenvolvimento pessoal, serão apresentadas, neste capítulo, informações básicas para a
prática da liderança.
Como é uma atividade complexa, o líder deverá flexibilizar o emprego de diferentes
Estilos e Processos de Influenciação, conforme sua capacidade de identificar e se adaptar aos
cenários vivenciais, normalmente, diversos e desafiadores.
Esta versatilidade no exercício da liderança causa impacto direto na geração de
resultados, pelo maior ou menor comprometimento dos liderados e dependerá da combinação
equilibrada e indissociável de quatro fatores fundamentais: o ser humano, a equipe, a situação
e a cultura organizacional em que atua.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-1


4.2. FATORES FUNDAMENTAIS V)interagindo para atingir metas/obje-
tivos comuns.
Em consonância com a abordagem b)Fortalecimento da equipe (MENDONÇA,
situacional, o líder poderá assumir os diferentes 2012; RUPERT, 2003):
estilos apresentados no artigo 4.2, conforme I)Compartilhar a missão e objetivos
sua capacidade de diagnosticar os distintos das equipes;
contextos e seu esforço pessoal de se adaptar II)Definir claramente os papéis de to-
continuamente às mudanças (EMA-137, 1ª dos os membros da equipe;
Revisão). III)Promover a autonomia (intenso
Desta forma, o líder tende a ser eficaz adestramento);
quando alterna flexivelmente entre os estilos IV)Promover uma comunicação eficaz
de liderança na medida do necessário. Contudo, (dar e receber feedback);
poucos líderes têm todos os estilos em seu V)Promover o aprendizado permanen-
repertório pessoal, o que revela a importância: te (autocrítica);
do autoconhecimento, para identificar os estilos VI)Criar ambiente em que as pessoas
que melhor precisa desenvolver; do estejam dispostas a receber conselhos ou críti-
conhecimento dos seus liderados, na medida cas construtivas e admitir erros; e
em que o líder poderá montar uma equipe com VII)Compartilhar sonhos, aspirações e
membros que empreguem estilos que ele tem valores da equipe para gerar sinergia necessá-
dificuldade de dominar; e da análise crítica da ria à realização das metas institucionais.
situação e da cultura organizacional para
escolha do estilo adequado (GOLEMAN, 2015; 4.2.3. A Situação
EMA-137, 1ª Revisão). “Não existem normas ou fórmulas que
Assim, a aplicação da liderança é a mostrem com exatidão o que deve ser
combinação equilibrada e indissociável de feito. O líder precisa compreender a
quatro fatores fundamentais: o ser humano (as dinâmica do processo de liderança, os
características do líder e de cada liderado), a fatores principais que o compõem, as
equipe (sintalidade), a situação e a cultura características de seus liderados, e
organizacional em que atua. aplicar estes conhecimentos como guia
para cada situação em particular.”
4.2.1. O Ser Humano (Líder/Liderado) (BRASIL, 1991, p.3).
O autoconhecimento (comentado no
inciso 3.1.2) e o conhecimento individual do 4.2.4. A Cultura Organizacional
liderado são fatores essenciais para o exercício “Cultura organizacional é o conjunto de
da liderança (BRASIL, 1991, p.3-4). O líder deve pressupostos básicos desenvolvidos que
conhecer as seguintes características e em um grupo a partir do aprendizado
limitações próprias, assim como de cada adquirido com problemas ocorridos
liderado: internamente e com o meio externo,
a)Desenvolvimento profissional (potenci- sendo valorizados e passados aos novos
al): conjunto integrado de conhecimento técni- integrantes como sendo a forma correta
co, experiência e habilidade; de agir e pensar dentro do grupo.”
b)Desenvolvimento emocional (atitude): (SCHEIN, 1989)
prontidão emocional (autoconfiança e disposi- Como vimos no capítulo 1, os elementos
ção para executar determinada tarefa); fundamentais da cultura, são: a língua; os
c)Graduação, idade, sexo, formação aca- costumes; as técnicas; e os valores.
dêmica; e
d)Personalidade / Temperamento / Cará- 4.3. ESTILOS DE LIDERANÇA
ter.
As principais escolas de liderança
4.2.2.A Equipe (Auditório Objetivo) consideram a existência de sete estilos de
a)Conceito de equipe: É um grupo de liderança (forma com que cada profissional
pessoas: lidera seu grupo), divididos em três eixos:
I)com habilidades complementares quanto ao grau de centralização do poder,
(unir talentos); quanto ao tipo de incentivo e quanto ao foco
II)com tarefas, funções e papéis defini- (EMA-137, 1ª Revisão).
dos;
III)atuando juntas em harmonia, inter- 4.3.1. Grau de Centralização de Poder
dependência e sinergia; Segundo Lewin (1978), existem 3 estilos
IV)comprometidas (qualidade relacio- de liderança quanto ao grau de centralização
namento/resultados); e do poder, veja a seguir:

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-2


ASPECTOS DO LÍDER
ESTILO
TOMADA DE DECISÕES COMPORTAMENTO

Apenas o líder decide sem


É disciplinador. O líder exerce
nenhuma participação do
pressão contínua. O líder
CENTRALIZADOR grupo. O líder define todos
determina.
os parâmetros para o
cumprimento das tarefas.

Trabalha como educador,


treinador
O líder decide após debater da equipe, encoraja a
PARTICIPATIVO as ideias e as sugestões do participação
grupo. e aceita sugestões.
O líder consulta, persuade e
compartilha.
O grupo decide. O líder Atua somente quando é solicitado
DELEGATIVO acompanha e interfere ou conclui que os objetivos não
quando não concordar. serão alcançados. O Líder delega.

Não existe um melhor estilo de liderança. Essa teoria planifica os estilos adotados
Os líderes eficazes utilizam estilos diferentes, pelo líder em um gráfico com quatro áreas
em distintos cenários. Tudo irá depender da distintas (E1, E2, E3 e E4). Cada área
personalidade do líder, do desenvolvimento do corresponde a um estilo de Liderança
liderado (profissional e emocional), das Situacional, e o que determina qual estilo
características da equipe, da situação e da adotar é o nível de maturidade 5 dos liderados,
cultura organizacional. representado pela parábola invertida. No
A Teoria da Liderança Situacional é uma gráfico, a maturidade cresce no sentido do
excelente ferramenta de auxílio ao líder na quadrante E1 para o E4.
escolha de qual estilo de liderança adotar.
“De acordo com a Liderança Situacional,
não existe um único modo melhor de
influenciar pessoas. O estilo de liderança
que uma pessoa deve adotar com
indivíduos ou grupos depende do nível de
maturidade das pessoas que o líder
deseja influenciar”. (HERSEY e
BLANCHARD, 1986)

______________
5) Na liderança situacional define-se a maturidade como a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio
comportamento. Essas variáveis de maturidade devem ser consideradas somente em relação a uma tarefa específica a ser realizada. Ou seja, um indivíduo ou
um grupo não é maduro ou imaturo num sentido total. (Hersey e Blanchard, 1986)

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-3


A figura da Curva de Estilos de Liderança, segundo Hersey e Blanchard, é demonstrada conforme
a seguir:

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-4


O quadro a seguir correlaciona a Liderança Situacional com os estilos de liderança classificados
quanto ao grau de centralização do poder:

ESTILO DE LIDERANÇA MATURIDADE CORRELAÇÃO COM OS


CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DE LIDERANÇA
SITUACIONAL DOS LIDERADOS ESTILOS DE LEWIN (1978)

Aplicado quando o liderado apresentar baixo nível de


maturidade, exposto pela falta de capacidade e vontade
de assumir a responsabilidade em algo a ser feito. Isso
pode ter origem na insegurança, baixo nível de
adestramento ou até na pressão que a situação exige
DETERMINANTE (E1) Baixa (M1) CENTRALIZADOR
do liderado. Nesse estilo o líder orienta e supervisiona
de forma clara e específica, focando o seu
comportamento muito mais na tarefa do que no
relacionamento com os liderados.

ESTILO DE LIDERANÇA MATURIDADE CORRELAÇÃO COM OS


CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DE LIDERANÇA
SITUACIONAL DOS LIDERADOS ESTILOS DE LEWIN (1978)

Aplicado quando o liderado possuir um nível de


maturidade entre o baixo e moderado, exposto
normalmente pela disposição em assumir a
responsabilidade em algo a ser feito, mas não possuem
ainda a plena capacidade para tal. O líder adota um
comportamento diretivo com relação à tarefa, em
PERSUASIVO Moderada (M2)
virtude da falta de capacitação do liderado, mantendo a PARTICIPATIVO
(E2)
ênfase no relacionamento, de maneira a reforçar a
disposição e o entusiasmo do liderado. O líder procura
conseguir que os liderados se sintam convencidos
psicologicamente a adotarem os comportamentos
desejados.

Aplicado quando o liderado possuir um nível de


maturidade entre o moderado e alto, exposto
normalmente pela real capacidade em assumir a
responsabilidade em algo a ser feito, mas não possuem a
disposição para tal. Essa falta de disposição do liderado
é consequência muitas vezes da falta de confiança em si
COMPARTILHADOR (E3) Moderada (M3) próprio ou insegurança. O principal problema nesse nível PARTICIPATIVO
não é a capacitação, e sim a motivação. Por isso, o líder
adota um comportamento mais focado no
relacionamento do que no direcionamento da tarefa,
buscando usar a capacidade que os liderados já
possuem.

Aplicado quando o liderado possuir um nível de


maturidade alto, exposto pela capacidade e disposição
em assumir a responsabilidade em algo a ser feito.
Liderados que se encontram nesse nível de maturidade
sentem-se confortáveis em perceber um comportamento
DELEGATIVO (E4) Alta (M4) DELEGATIVO
de pouca interferência do líder, tanto na tarefa como no
relacionamento, significando para eles confiança6.
Liderados com este nível de maturidade sentem-se
psicologicamente confortáveis com líderes que não
necessitem focar nem na tarefa nem no relacionamento.

______________
6) No ambiente militar-naval, é importante o destaque de essa delegação não extingue a responsabilidade do mais antigo, transcrita através de “não se delega
responsabilidade, e sim, autoridade”.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-5


b)Liderança orientada para o
4.3.2. Tipo de incentivo
relacionamento: nesse estilo de liderança, o foco
De acordo com o tipo de incentivo utilizado
do líder é a manutenção e fortalecimento das
pelo líder para inspirar seus liderados, os estilos
relações pessoais e do próprio grupo. O líder
de liderança podem ser classificados em lideran-
demonstra sensibilidade às necessidades
ça transacional ou liderança transformacional.
pessoais dos liderados, concentra-se nas relações
a)Transacional: se vale dos incentivos que
interpessoais, no clima e no moral do grupo. Esse
apelam aos interesses e, especialmente, às
estilo de liderança, que está significativamente
necessidades primárias dos seguidores para
associado a medidas de satisfação dos liderados
alcançar os resultados organizacionais desejados.
em relação ao trabalho e ao chefe, pode ser útil
Fundamentada em uma relação de troca de
em situações de tensão, frustração, insatisfação
natureza econômica ou psicológica (como
e desmotivação do grupo (EMA-137, 1ª Revisão).
promoções, salários, elogios, liberdade de
Ken Blanchard e Paul Hersey (2009), em
horários etc. (CAVALCANTI et al, 2005; EMA-137,
sua Teoria da Liderança Situacional,
1ª Revisão). Os valores estão voltados para as
consideravam, originalmente, a classificação
mudanças de comportamento do indivíduo, sem
acima apresentada: Comportamento de Tarefa e
necessariamente, envolver uma mudança de
Comportamento de Relacionamento. Entretanto,
consciência do indivíduo. Entretanto, sua eficácia
na versão atual dessa Teoria, passaram a adotar
é temporária e, dessa forma, pode ser utilizada
a terminologia de Comportamento Diretivo e
pontualmente em algumas situações. Concretiza-se
Comportamento de Apoio, considerando que o
por um modo diferente de agir.
foco do líder deve estar sempre voltado para a
b)Transformacional: está voltada para o
obtenção do resultado desejado pela execução
crescimento e o desenvolvimento das pessoas e
das tarefas (cumprimento da missão). Porém, os
para mudanças no seu nível de consciência
liderados com menor desenvolvimento
levando-as a pensar por si mesmas, a trabalhar
profissional e psicológico necessitam ser dirigidos
de forma independente, a dedicar-se a uma
(ou direcionados) durante o desempenho de suas
causa, um produto, uma ideia e a buscarem
tarefas; enquanto os de maior desenvolvimento,
padrões de desempenho que vão além do seu
apenas apoiados, quando necessário.
próprio cargo e um propósito coletivo mais
elevado. Envolve estimulação intelectual,
4.4. DELEGAÇÃO
autorrealização, mudanças de crenças e valores,
a dicotomia trabalho/prazer desaparece e pode
Qualquer missão, seja em conflito ou na
aumentar o potencial motivacional (BARRET,
paz, é composta por múltiplas e complexas
2000, apud CAVALCANTI et al, 2005). Auxilia a
tarefas, que precisam ser executadas por uma
preparar os liderados para situações de pressão,
equipe. Como ninguém possui as faculdades da
crise, mudança e ausência dos líderes (EMA-137,
onipresença, da onisciência e da onipotência,
1ª Revisão). Concretiza-se por um modo diferente
impõe-se a necessidade da divisão de trabalho e
de ser.
da consequente delegação.
4.3.3. Foco do Líder Define-se delegação como a designação
O líder deve preocupar-se com duas atribuída a alguém para o cumprimento de
vertentes do desenvolvimento do trabalho da determinadas tarefas, conferindo-lhe, em
equipe que lidera. A primeira é o resultado das consequência, a autoridade necessária para a
tarefas a serem executadas, ou seja, o tomada das decisões afetas às citadas tarefas.
cumprimento da missão que lhe foi atribuída. A Consideram-se duas características funda-
segunda é o relacionamento interpessoal dos mentais da delegação:
integrantes de sua equipe, de modo a manter um a)a cada delegação corresponde poderes e
ambiente de trabalho saudável. autoridade estabelecidos pelo superior; e
Portanto, quanto ao foco do líder, existem b)a delegação não exclui a
dois estilos de liderança: liderança orientada responsabilidade, de quem delegou, pelo
para a tarefa e liderança orientada para o cumprimento das tarefas delegadas.
relacionamento. Há pessoas que necessitam de mais
a)Liderança orientada para tarefa: a treinamento técnico-profissional que outras,
especialização em tarefas é uma das principais antes que possam assumir responsabilidade
responsabilidades do líder, na medida em que sobre o cumprimento de determinadas tarefas.
possui a necessária qualificação profissional para Há ainda aquelas que, mesmo possuindo
o exercício da função. Nesse estilo de liderança, conhecimento técnico adequado, necessitam de
então, o líder focaliza o desempenho das tarefas constante orientação e apoio psicológico. Por
e a realização dos objetivos, transmitindo isso, para delegar, o líder precisa conhecer seus
orientações específicas, definindo maneiras de subordinados o mais profundamente possível, de
realizar o trabalho, o que espera de cada um e modo a identificar quem está preparado para
quais são os padrões organizacionais (EMA-137, fazer o quê.
1ª Revisão).

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-6


Além disso, o líder deve estar sempre dis- a delegação é o melhor processo de avaliação
ponível para sanar dúvidas e orientar, quando da capacidade de liderança e de empreendedo-
solicitado, os subordinados a quem delegou ta- rismo, tendo em vista que propicia a iniciativa,
refas. Isso porque é necessário delegar também a coragem para assumir responsabilidades e a
para os subordinados mais inseguros e menos capacidade de adoção de soluções oportunas e
desenvolvidos tecnicamente, para que adqui- acertadas; e
ram autoconfiança e se desenvolvam na profis- d)Moral do pessoal: a prática da delega-
são, visando a prepará-los para a execução de ção eleva o moral do pessoal, pelo melhor aten-
tarefas mais complexas no futuro. dimento de suas necessidades, promovendo a
Assim, a delegação consciente e contro- autoestima, o prestígio e a autorrealização (me-
lada, além de descentralizar as ações, contribui lhora o clima humano).
para o fortalecimento do espírito de equipe e Em resumo, delegar aumenta a eficiência
para o desenvolvimento técnico e psicológico da Instituição, valorizando o trabalho em equi-
dos subordinados, preparando-os para exercer pe, incentivando a iniciativa, aprimorando o
a liderança futuramente. senso de responsabilidade e contribuindo para
o desenvolvimento profissional e psicológico
4.4.1. Princípios Fundamentais dos liderados.
a)Propor desafios;
b)Transmitir à pessoa habilitada (treina- 4.4.3. Cuidados ao Delegar (MENDONÇA,
da); 2012)
c)Descentralizar as atribuições o máximo Há pessoas que necessitam de
possível; treinamento antes de assumirem poderes.
d)Comunicar de forma clara, precisa e Outras necessitam de permanente orientação.
concisa; Mas há que lhes atribuir tarefas, para que elas
e)Fornecer meios à realização; e se desenvolvam, adquiram autoconfiança e se
f)Acompanhar e orientar a execução preparem para outras tarefas de maior
(controle). responsabilidade. A delegação é um
aprendizado bilateral, tanto de quem delega
4.4.2. Vantagens da Delegação quanto de quem recebe a delegação, e exige
A liderança é caracterizada, dentre outros um clima organizacional favorável e regras
aspectos, pelo esforço diuturno de orientar, claras.
instruir, avaliar e inspirar os liderados. A Assim, alguns procedimentos devem ser
maneira mais eficiente de conseguir tudo isso é adotados, a fim de dirimir possíveis riscos
delegando competência para o cumprimento de indesejáveis:
tarefas, na medida em que a delegação a)iniciar com tarefas mais simples;
demonstra confiança do líder em seus b)divulgar adequadamente a delegação
subordinados, fortalecendo, em contrapartida, efetuada;
a confiança dos subordinados no líder. c)certificar-se de que o subordinado tem
Com a delegação, são observadas capacidade para realizar a tarefa delegada
vantagens em termos de: (Desenvolvimento Técnico e/ou Emocional);
a)Resolução em nível de execução: ao se d)definir, claramente, o nível decisório;
estender o poder de resolução aos que e)manter o controle sobre a execução da
realmente lidam com os problemas, diminui-se tarefa, assumindo a responsabilidade por
o risco de distorções e protelações, tendo em eventuais erros ou falhas;
vista que o responsável pela resolução do f)evitar delegar a quem já está sobrecar-
problema está mais próximo das fontes de regado de tarefas;
dados, aliviando o trabalho do Líder; aumenta- g)deixar claro que você delegou, estando
se a eficiência; acentua-se o trabalho em a postos para ajudar sem, em nenhum
equipe e aprimora-se o senso de momento, se eximir de suas responsabilidades;
responsabilidade. e
b)Autodesenvolvimento: o militar que h)evitar delegar somente tarefas desa-
recebe a delegação terá mais liberdade de ação gradáveis.
para pesquisar e estudar os aspectos do Com essas medidas, complementares às
problema, tomar iniciativa e desenvolver a sua orientações para delegação contidas no anexo
criatividade. Com isso, seu potencial é D do EMA-137, evita-se que a delegação se
revelado, e se promovendo-se e estimulando transforme num fato gerador de conflitos, por
seu autodesenvolvimento. superposição de áreas ou de tarefas. O militar
c)Avaliação da capacidade executiva centralizador, que por qualquer motivo não
(desenvolvimento de novas lideranças): confia em ninguém, exceto em si mesmo,
encontrará extremas dificuldades para liderar.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-7


A delegação desempenha assim os f)Argumentação (apelo à razão e ao
papéis de: descentralização de ações, raciocínio lógico): para caracterizar a
treinamento e desenvolvimento de pessoal. “argumentação”, o influenciador deverá utilizar-
se de dados estatísticos, comparações,
4.5. PROCESSOS DE INFLUENCIAÇÃO analogias, generalizações e opiniões do autor.
g)Exortação (apelo aos sentimentos e às
O líder deve ter em mente que as emoções): para caracterizar a “exortação”
atitudes podem ser modificadas ou deverá ocorrer uma comunicação verbal
aperfeiçoadas pela educação e pela seguida de uma reação emocional da plateia.
doutrinação, mediante a formação de novos h)Efeito de atmosfera ou ambiente (apelo
hábitos do pensamento e de ação, que a ela se à aptidão): para reagir a um estímulo externo
incorporam. E desejável que esses novos específico, sem a participação ativa da
hábitos sejam sadios, em conformidade com a vontade.
ética militar. Para caracterizar o efeito atmosfera/am-
As forças militares são bastante biente, o influenciador deverá preparar um ce-
exigentes em relação a seu pessoal, às quais é nário favorável com estímulos externos (cores,
requerido o sacrifício da própria vida. iluminação, música etc.) visando a uma reação
Para o convencimento dos liderados, o dos liderados, normalmente inconsciente, favo-
líder poderá aplicar os seguintes processos de rável aos propósitos desejados.
influenciação, de acordo com as circunstâncias:
Incentivação, Afirmação e repetição, Sugestão, 4.5.1. Vetor de Disseminação
Exemplo, Prestígio, Exortação, Argumentação e O vetor de disseminação de informações,
Efeito atmosfera ou ambiente. opiniões e ideias contidas em um processo de
a)Incentivação: a incentivação que visa influenciação escolhido é a
atender aos fatores extrínsecos (periféricos) do publicidade/propaganda (técnica que apoia a
indivíduo, com o objetivo de manter o grau de maioria dos processos).
insatisfação dos liderados no nível mais baixo Pratique-os no seu dia-a-dia. Aprimore a
possível, pode conseguir, temporariamente, sua técnica. Procure ler a respeito. Ouça a
uma mudança de comportamento. Nos casos opinião de seus companheiros.
em que atende aos fatores intrínsecos, poderá 4.6. EXPEDIÇÃO DE ORDENS
despertar o potencial motivacional do liderado,
gerando uma mudança de atitude. O anexo A contém orientações
Para o líder escolher o tipo adequado de referentes à expedição de ordens, em razão
incentivo, é fundamental desenvolver a sua da importância desses fatores para o exercício
capacidade de percepção das necessidades dos da liderança.
subordinados.
b)Afirmação e repetição (apelo ao hábito 4.7. O LÍDER E SUAS VIRTUDES
e a memória): uma afirmação repetida
suficientemente acaba criando uma opinião e O líder não é uma figura de ficção, é real,
mais tarde uma crença. Para caracterizar esse de carne e osso, quer na paz como na guerra. É
processo, a mensagem (afirmação) deve estar apenas uma pessoa dotada de valores, sejam
contida algumas vezes no processo escolhido virtuosos ou não, cuja presença faz aumentar a
ou, através de outros canais, ser repetida várias estima por ele.
vezes. O bem não é para ser contemplado, é
c)Sugestão (apelo às tendências e ideias para ser feito. As virtudes são os valores
pré-existentes): para caracterizar esse morais, vividos em atos. Assim, a virtude é uma
processo, a informação explorada já deve estar disposição adquirida para fazer o bem.
contida na memória ou no inconsciente do Com finalidade didática, e para os efeitos
subordinado. Estas ideias pré-existentes foram da presente publicação, as virtudes do líder
absorvidas, basicamente, durante a infância e constam do anexo B (Rosa das Virtudes).
adolescência (experiências vivenciais, fatos
importantes, estereótipos etc.). 4.8. O MORAL
d)Exemplo (apelo à imitação): para
caracterizar esse processo, não deve haver O moral é o estado de espírito de
ausência entre a mensagem do “influenciador” alguém, gerado pelas circunstâncias que
e a sua prática. afetam a participação dele como membro de
e)Prestígio (apelo à afeição): para um grupo.
caracterizar esse processo o “influenciador” Esse estado psicológico resulta de:
deve se utilizar do próprio prestígio ou de a)valores morais de cada um diante do
outrem para mudar o comportamento de um imenso esforço que lhe será exigido na
indivíduo ou de um grupo de pessoas. superação de barreiras da própria consciência
nas situações de estresse;

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-8


b)engajamento na missão (baseado nos V)a disposição para enfrentar a luta
sacrifícios e sofrimentos que deverá suportar, no campo de batalha.
na luta pelo cumprimento da missão, onde o b)Algumas regras podem ser empregadas
exemplo é fundamental); para desenvolver, elevar e consolidar o moral
c)realização profissional ou esperança de do pessoal:
realização da causa que defende; I)conquistar-lhes a confiança, pela im-
d)aceitação das condições de vida, quer parcialidade, serenidade, acerto e firmeza de
a sua, quer a de seus dependentes; suas decisões;
e)credibilidade dos líderes (o exemplo é II)manter-se em contato com proble-
fundamental); mas e aspirações pessoais deles;
f)prontificação operativa (treinamento/ex- III)garantir-lhes a melhor condição de
periência de combate); vida;
g)incentivação da cultura Organizacional IV)mantê-los permanentemente orien-
(espírito de equipe); e tados e informados;
h)aumento da autonomia (delegação). V)tratá-los como seres humanos na
O moral elevado normalmente existe em plenitude de seus direitos;
grupos onde a disciplina consciente predomina, VI)proporcionar-lhes momentos de la-
sendo baseado na crença de cada um em si zer e descanso;
mesmo e na causa que defende. A crença em si VII)evitar o ócio e a monotonia a todo
mesmo deriva de convicções pessoais e custo;
padrões de comportamento, consolidados numa VIII)interessar-se por suas carreiras;
autodisciplina forjada por lideranças seguras. IX)promover o desenvolvimento pes-
Manifesta-se por meio de uma personalidade soal deles;
forte, uma filosofia de vida otimista, com X)discipliná-los e incentivar a discipli-
objetivos elevados, em suma, um cotidiano na consciente;
pleno de significado e razão de viver. XI)fazer com que sintam a importância
A causa que defende é a justificativa que do seu trabalho e do papel que desempenham
o homem dá a si mesmo, para: no grupo;
a)enfrentar as situações de estresse; XII)incentivar o espírito de equipe; e
b)o imenso esforço que lhe será exigido XIII)fazer com que sintam a sua pre-
na superação de barreiras da própria sença e o pulso da sua liderança.
consciência; e
c)os sacrifícios e sofrimentos que deverá 4.9. CONCEITOS RELEVANTES
suportar na luta pelo cumprimento da missão.
O alcance desse moral é facilitado pelo Sendo a liderança um processo de
trabalho dos grupos e de seus líderes. influenciar e dirigir os pensamentos, a sua
Os grupos contribuem para manter o prática apresenta melhores resultados quando
moral individual, na medida em que seus estão em sintonia com os conceitos que
integrantes comungam convicções básicas, envolvem a inteligência emocional, a tutoria e a
ideais semelhantes no caminho certo, pelo mentoria. Da mesma forma, faz-se necessário
líder. conceituar a conexão interpessoal e sua
relevância para na relação líder-liderado.
4.8.1. Valor Moral da Tropa
É a qualidade coletiva que confere ao 4.9.1. Conexão Interpessoal
militar maior capacidade de combate, A conexão interpessoal decorre do
sustentando a vontade de lutar e a resistência relacionamento entre duas ou mais pessoas.
às vicissitudes e pressões do combate. Essa relação sofre influência do contexto onde
ela está inserida, podendo ser um contexto
a)O estado de espírito do pessoal familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade
imprime um significado especial a tudo que e pode ser conceituada no âmbito da sociologia
eles fazem. Portanto, um Líder atento pode e da psicologia.
avaliar o moral de seus liderados considerando A importância da conexão interpessoal
os seguintes fatores em relação ao grupo: como eixo estruturante para o aprimoramento
I)o desempenho em suas atividades; de líderes é baseada nas seguintes condições:
a)quando aprofundamos e expandimos
II)atitude em relação a seus superio- nossos vínculos, aprendemos mais rápido e
res; melhoramos a troca de informações, o que é
crítico em um ambiente de rápidas mudanças.
III)o espírito de equipe;
Os membros da equipe discutem livremente os
IV)o grau de satisfação, consideradas erros para melhorar. As conexões permitem
as circunstâncias; e avaliação e feedback honestos, promovendo

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-9


aprendizagem rápida. Além disso, fortalecemos Ao mesmo tempo, uma liderança tóxica
os laços de confiança e lealdade; pode envenenar a atmosfera emocional de
b)ao construir relacionamentos, os um local de trabalho. Os líderes vibrantes,
vínculos pessoais fortalecem o caráter e a que conseguem ressoar seu entusiasmo
resiliência, pois nos permitem compartilhar por toda a empresa, obtêm a excelência
experiências e aprender uns com os outros, o não somente por meio de técnicas,
que nos tornam mais capazes de operar como dinamismo e inteligência, mas pela
equipes, mesmo quando estamos separados no capacidade de estabelecer uma conexão
espaço e no tempo; emocional com os outros, utilizando suas
c)para sermos eficazes, devemos construir habilidades de Inteligência Emocional (IE),
fortes vínculos com outros líderes e equipes. como empatia, assertividade e
Líderes mais antigos que não se conectam com autoconfiança.” (GOLEMAN, 2002).
outros transformam-se em um risco para a
instituição, tornam-se fracos para enfrentar 4.9.3. Tutoria e Mentoria
desafios e ameaçam a nos afastar do nosso A tutoria é um processo didático
objetivo; pedagógico que tem como objetivo acompanhar
d)equipes altamente conectadas e orientar o indivíduo ao longo do seu
desenvolvem comprometimento e resistência, aprendizado. Neste contexto, a mentoria será o
desenvolvendo um senso de pertencimento e acompanhamento, por um profissional mais
coesão; e experiente na área de atuação desejada, do
e)as mudanças tecnológicas afetam a indivíduo que necessitar acelerar ou ampliar o
maneira como nos conectamos. As mídias sociais processo de aprendizado.
e outras tecnologias fornecem meios mais fáceis Noções dos aspectos relacionados às
de se conectar a longas distâncias, mas, longe atividades de tutoria e mentoria constituem
demais, elas também podem promover importante auxílio ao exercício da liderança.
sentimentos de isolamento. Liderança é um O tutor preocupa-se em orientar seu
empreendimento humano. A tecnologia tem seu tutorado nas habilidades mais técnicas
lugar, mas geralmente é um substituto ruim para relacionadas à execução da tarefa. Funciona
as conexões pessoa a pessoa. como uma espécie de coach, que deve possuir
três habilidades bem desenvolvidas (FRANKLIN
4.9.2. Inteligência Emocional COVEY, 2019):
Inteligência emocional é um conceito da a)escutar, para entender o ponto de vista
psicologia que caracteriza o indivíduo que é do outro;
capaz de identificar e controlar seus sentimentos b)questionar, ajudando as pessoas a
e suas emoções com mais facilidade. As descobrir suas próprias soluções; e
habilidades que envolvem a inteligência c)reconhecer, realçando às pessoas que
emocional, se bem empregadas no ambiente de elas possuem habilidades que são úteis.
trabalho, constituem importante aliado ao O mentor, entretanto, oferece orientação
exercício da liderança. mais abrangente e de longo prazo, de caráter
“As emoções do líder são contagiosas. Se o mais comportamental, tanto inerente à vida
líder consegue ressoar energia e profissional quanto à vida pessoal de seu
entusiasmo, toda a empresa prospera; mentorado. É na fase inicial da carreira que o
mas se este dissemina negatividade e militar encontra mentores que o auxiliam a
desarmonia, esta corre o risco de desenvolver a competência individual, o caráter
fracassar. (...) O líder emocionalmente pessoal e o estabelecimento de vínculos entre o
inteligente tem a capacidade de inspirar, novo líder e sua equipe.
provocar paixão e entusiasmo, e manter Ser um pouco tutor ou mentor de nossos
as pessoas motivadas e engajadas. subordinados contribui para fomentar a conexão
interpessoal tão almejada nesse processo.

FONTE: REPOSITÓRIO FLICKR MB

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA 4-10


ANEXO A - VIRTUDES DE UM LÍDER

ROSA DAS VIRTUDES

HONRA LEALDADE
A Honra é o sentimento que induz o A Lealdade é o verdadeiro, espontâneo e
indivíduo à prática do Bem, da Justiça e da Moral. incansável devotamento a uma causa, a sincera
É a força que o impele a prestigiar sua própria obediência à autoridade dos superiores e o
personalidade, como um sentimento de seu respeito aos sentimentos de dignidade alheia. O
patrimônio moral, um misto de brio e valor. Ela subordinado leal cumpre as ordens que recebe
exige a posse do perfeito sentimento do que é sempre com o mesmo ardor, quer esteja perto
justo e respeitável, para a elevação da dignidade ou longe de quem as deu, ainda que, por vezes,
e da bravura desse indivíduo, e, assim, afrontar intimamente não as compreenda. A Lealdade é
perigos de toda a ordem, na sustentação dos mais do que a Obediência, porque esta se refere
ditames da Verdade e do Direito. É a virtude por à vontade expressa pelo superior e aquela, ao
excelência, porque em si contém todas as firme propósito de honestamente interpretá-la e
demais. A Honra está acima da vida e de tudo fielmente cumpri-la. É o sentimento que leva,
que existe no mundo. Os haveres e demais bens pois, o subordinado a fazer tudo quanto for
que o indivíduo possui são transitórios, enquanto humanamente possível para bem cumprir uma
que a Honra a tudo sobrevive; transmite-se aos ordem ou desempenhar uma dada missão. A
filhos, aos netos, ao lar, à profissão escolhida e à Lealdade exige que se manifeste ao superior,
terra em que se nasce. A Honra é o patrimônio disciplinadamente e no interesse do serviço,
da alma. Na profissão, ela consiste, toda eventual incompreensão em relação à
principalmente, na dedicação ao serviço, no determinação ou orientação recebida. A
cumprimento do dever, na intrepidez e na franqueza respeitosa, oportuna e justa é uma
disciplina, tudo inspirado pelo patriotismo. Um autêntica expressão de lealdade. Mantida,
navio nunca se entrega ao inimigo e sua porém, a ordem, a mesma lealdade exige que se
bandeira jamais se arria em presença dele. A cumpra rigorosa e interessadamente o que foi
Honra do Marinheiro o impede! determinado.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA A-1


INICIATIVA COOPERAÇÃO
A Iniciativa é o ânimo pronto para Cooperar é auxiliar eficiente e
conceber e executar. É uma manifestação de desinteressadamente; é esforçar-se em benefício
inteligência, imaginação, atividade, saber e de uma causa comum. O militar deve sempre
dedicação ao serviço. Um militar cumpre de agir no interesse maior do conjunto dos serviços.
forma conscienciosa as obrigações, as rotinas de É a Cooperação que faz a eficiência da Marinha.
seu cargo, faz o treinamento regular de seus Em todas as atividades, o trabalho deve
homens, etc. Um outro faz tudo isto e vê onde obedecer a esse espírito de comunhão de
um aperfeiçoamento pode ser introduzido. Não esforços, a fim de que a potencialidade do
só o concebe, como se interessa por sua adoção. conjunto, como um todo, seja a mais elevada
Se for coisa que só dele dependa e a sua ideia possível. Assim, superiores e subordinados não
não vai ferir a conveniência da uniformidade dos devem limitar-se apenas ao cumprimento das
diversos serviços, nem a harmonia da tarefas que lhes tiverem sido cometidas, mas,
cooperação, ele a adota, estuda e a desenvolve. sim, procurar ajudar-se mutuamente na
A Iniciativa, em um plano mais elevado, é a execução das mesmas, buscando compreender
faculdade de deliberar acertadamente em as necessidades e prioridades da instituição
circunstâncias imprevistas ou na ausência dos como um todo.
superiores, agindo sob responsabilidade própria, A Cooperação é uma exigência imperiosa
mas dentro da doutrina, a bem do serviço. Para para a eficiência da instituição, mas só possui
assim fazer, é preciso ter capacidade esta qualidade quem não dá guarida às
profissional, confiança em si e estar bem influências perniciosas do egoísmo, da intriga ou
orientado. da indiferença, em prol de um sincero e
profissional desprendimento.

ESPÍRITO DE SACRIFÍCIO ZELO


O Espírito de Sacrifício é a disposição O Zelo é atributo que não depende, em
sincera de realmente oferecer, alto grau, de preparo profissional, de predicados
espontaneamente, interesses, comodidades, especiais de inteligência e de saber. É, por isso
vida, tudo, em prol do cumprimento do dever. O mesmo, virtude que deve ser comum a todos os
cultivo do Espírito de Sacrifício é praticado que servem à Marinha. Essa qualidade é
vencendo os pequenos incômodos pessoais, os consequência direta do “amor próprio”, do amor
menores percalços do dia a dia. “Quem não é fiel à Marinha e à Nação. É o sentimento que leva a
no pouco, certamente não será no muito”: não poupar esforços para o bom desempenho
somente percebendo o valor das coisas é que se das funções que lhes são atribuídas. É o
desenvolve o Espírito de Sacrifício e torna-se sentimento que conduz à dedicação ao serviço,
capaz de dar um passo a mais na formação do como autêntica expressão do Dever. No Zelo
caráter marinheiro. está implícita a aceitação de que se serve à
Nação e não a pessoas. Ninguém tem o direito
de deixar de zelar por suas obrigações, por
motivos circunstanciais, alheios ou não à sua
vontade. O Zelo está intimamente ligado à
probidade, vista como a capacidade de bem
administrar os bens, fundos e recursos que nos
foram confiados. Faz-se presente, assim, no
exato cumprimento de orçamentos e planos
financeiros e no atento cuidado com o
patrimônio da Marinha.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA A-2


CORAGEM ORDEM
A Coragem é a disposição natural que nos A Ordem é diligência, porque economiza o
permite dominar o medo e enfrentar qualquer tempo e é previdência, porque o conserva.
perigo. É a força capaz de fazer com que aquele Como exemplo de disciplina e método, a
que ama a vida, e que nela é feliz, saiba arriscá-la ordem orienta o espírito e promove segurança,
e se disponha a morrer por uma causa nobre. A porque resguarda e alinha em lugar próprio aquilo
Coragem é o destemor em combate. Há também que será utilizado no futuro. A sua falta traz o
a coragem moral – não menos imprescindível e desperdício e a perda do tempo, bem precioso, e
valiosa, a força psíquica que ampara os homens que, uma vez perdido, não há como reaver. A arte
nas crises do pensamento e do caráter. É a de organizar, pôr em ordem, é essencial em um
sustentação das próprias ordens, atitudes e condutor de homens. O aprendizado da arte de
convicções; o saber assumir a responsabilidade organizar inicia-se individualmente na ordenação
dos seus atos; o afrontamento à perfídia, à inveja do próprio trabalho; organizando o material, os
e à incompreensão; a manutenção intransigente livros, os uniformes; encontrando o tempo
do rumo moral, custe o que custar. A coragem necessário para se ocupar adequadamente dos
tem de andar de mãos dadas com a sabedoria, a estudos e das demais atividades de formação.
prudência, o bom senso e a calma. O militar
corajoso é otimista; confia em si; é eficiente;
acredita no valor de seus companheiros. Comanda
seus subordinados, certo de conquistar o êxito.

FIDELIDADE FOGO SAGRADO


Ser fiel é ser honesto, ter têmpera forte O Fogo Sagrado é a paixão, a fé, o
para opinar e agir sempre pelo bem, mesmo, e entusiasmo com que o militar se dedica à sua
principalmente, quando não favorecer ou até carreira; é o seu intenso amor à Marinha, o seu
devotamento pela grandeza da sua profissão; é a
contrariar as conveniências pessoais. A fidelidade
larga medida de uma verdadeira vocação e de um
ao serviço impede que o militar cuide de afazeres sadio patriotismo; é o supremo amor pelo serviço.
e atividades estranhos à Marinha, enquanto É essa crença que anima a ponto de,
estiver ao seu serviço, e negligencie as suas naturalmente, julgar que os deveres que a lei
obrigações. Executar ordens que são agradáveis, marca é o mínimo, e que para bem servir cumpre
ou que partem de pessoas a quem se dedica ir além do próprio dever, fazer tudo quanto é
estima, é um dever fácil de cumprir. Mas, cumprir humanamente possível, à custa, embora, de
ingente labor. O “Fogo Sagrado” é essa força
ordens difíceis, arriscando a vida, contrariando os
misteriosa que, dominando a alma do verdadeiro
próprios interesses e opiniões, por fidelidade ao marinheiro, o conduz sempre ao sacrifício com
serviço, é muito mais digno, porquanto implica inexcedível vibração e estoica resignação. O “Fogo
sacrifício, que caracteriza a virtude militar. Sagrado” transmite-se, mas para tanto é preciso
possuí-lo em grande intensidade e demonstrá-lo
mais por atitudes e ações do que por ordens e
palavras. O “Fogo Sagrado” é a alma da Marinha!

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA A-3


TENACIDADE DECISÃO
Aplicação é uma forma de dedicação, de Decidir é tomar resolução, é sentenciar, é
amor ao serviço. É a disposição para estudar orientar a ação. Não há qualidade, no trato geral
dos militares para com seus subordinados, que
tanto o material em si como também a maneira
mais tenda a aumentar o respeito e confiança
de utilizá-lo; para estar a par das rotinas, da desses subordinados, do que sua capacidade de
organização interna de bordo, da ordenança, dos decidir. O irresoluto, o perplexo, jamais poderá
regulamentos e das leis; para bem conhecer conduzir homens ou comandar navios. Uma
tudo referente aos aspectos essenciais da orientação insegura é tão nociva quanto à
profissão. Na arte de conduzir os homens, o ausência de orientação. Uma decisão vigorosa é
campo é mais profundo: faz-se necessária a a característica dos vencedores. Evidentemente,
para acertar, é necessária meditação, cálculo,
tenacidade, o poder da vontade. É o saber
considerações cuidadosas e reflexão a respeito
querer longamente, sem desfalecimento e sem das circunstâncias, a fim de chegar a uma
trégua. É a presença de ânimo perante qualquer decisão conveniente. Tal “exame de situação”
obstáculo ou dificuldade, a vontade constante de deve preceder à emissão da ordem. O verdadeiro
tudo superar e bem desempenhar a tarefa ou chefe medita bem antes de chegar a uma
função, de caráter operativo ou administrativo. O decisão. Se sabe dizer sim ou não, com serena
espírito de tenacidade transmite-se, pois, energia e acerto, e mantém-se firme em sua
posição, ganha confiança de seus subordinados.
exatamente, pela continuidade da ação.
A menos que novas circunstâncias se
apresentem, a modificação de uma decisão
tomada dá a impressão de que houve
precipitação ou leviandade em formulá-la.
O hábito constante de examinar todas
as possíveis situações e analisar todos os dados
disponíveis é muito recomendável. Assim
procedendo, há sempre certeza de decisões
oportunas e adequadas.

ABNEGAÇÃO ESPÍRITO MILITAR


A Abnegação é o esquecimento voluntário Espírito Militar é a qualidade que impele o
do que há de egoístico nos desejos e tendências militar de cumprir com natural interesse, dentro
naturais, em proveito de uma pessoa, causa ou da ética, os deveres e obrigações do serviço,
ideia. É a renegação de si mesmo e a disposição com disciplina e lealdade, sempre animado pelo
de se colocar a serviço dos outros com o desejo de ver brilhar o seu navio, a sua classe e
sacrifício dos próprios interesses. O caráter aumentar a eficiência e o prestígio da Marinha. O
marinheiro é carregado de Abnegação: tem a militar demonstra estar possuído de Espírito
consciência do “servir” - inclui a base de todas Militar em suas maneiras de agir e de se
as virtudes, a humanidade - e possui a expressar; no apuro de seus uniformes; na
simplicidade em todas as suas ações e palavras. saudação a seus superiores; na discrição com
A Abnegação, portanto, fortalece o que se manifesta; na seriedade que imprime ao
desenvolvimento de todas as atividades de seu serviço, como expressão da dignidade da
serviço à Marinha, criando a unidade de ação, sua função e da eficiência dos seus encargos. O
pois ela é passar por cima de qualquer interesse militar dotado de Espírito Militar cria em torno de
individual. si um ambiente de compostura, seriedade e
confiança, qualidades essenciais a quem
comanda e tem sob sua direta responsabilidade
a guarda e a defesa de preciosos valores morais
e materiais da Nação.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA A-4


DISCIPLINA PATRIOTISMO
A força de coesão de qualquer coletividade O Patriotismo é o sentimento irresistível
humana é a Disciplina. É indispensável não só a que prende os indivíduos a terra em que
um Organismo Militar, mas a qualquer outro que
nasceram. É a trama de afetos que, através das
pretenda reunir indivíduos em uma unidade
sólida e eficaz. A Disciplina tem um único inimigo gerações, vai sendo tecido em suas almas ao
verdadeiro, que é o egoísmo, tão mais obstinado redor do solo querido. Externamente, é a
quanto mais inconsciente de si mesmo. O amor emoção que os indivíduos sentem ao ouvir os
próprio ilimitado separa o homem de seus mais acordes do Hino Nacional e ao ver desfraldada a
nobres pensamentos, tornando-o um ser isolado, Bandeira de sua Pátria. Em essência, é a crença
que nada aceita fora do seu eu. na defesa dos ideais de Nacionalidade.
Despido de todo o sentimento de
Expressão de carinho que os liga à terra que
solidariedade, não pode conceber a Disciplina a
não ser como forma de escravidão. A Disciplina serviu de berço, o Patriotismo é à força de
não visa a tolher a personalidade, mas sim a coesão poderosa que os torna solidários em um
regular e coordenar esforços. Ela somente torna- interesse comum, ensinando-os a bem querer,
se fecunda quando há condições de ser alegre e servir, honrar e defender a Pátria.
ativa. Um simples conformismo ou o receio das
censuras ou sanções não trazem a Disciplina. O
que a faz presente e aceita é um forte
sentimento de interesse comum e,
principalmente, a correta percepção de um
dever comum. Assim entendida, não haverá o
risco de ela coibir ou enfraquecer as iniciativas,
pois não será imposta, mais sim adquirida. A
Disciplina Militar manifesta-se basicamente: pela
obediência pronta às ordens do superior; pela
utilização total das energias em prol do serviço;
e pela correção de atitudes e cooperação
espontânea em benefício da disciplina coletiva e
da eficiência da instituição. Na Marinha, a
Disciplina é inseparável da hierarquia e traduz-se
no perfeito cumprimento do dever por cada um
de seus componentes.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA A-5


ANEXO B - ORIENTAÇÕES SOBRE EXPEDIÇÃO DE ORDENS

A muitos parecerá que a expedição de Evitar ordens contraditórias: poucas


uma ordem seja coisa tão simples que dispense coisas impressionam tão mal o subordinado
qualquer estudo a respeito; basta que o chefe como a circunstância do chefe expedir
se inteire do que deve ser realizado e determinada ordem e, logo a seguir exprimi-la
transmita, aos subordinados, a necessária num sentido oposto. O chefe parece-lhe
ordem a esse respeito. Mas, como veremos a inseguro, vacilante sobre o que conhece e diz.
seguir, o fato não é tão simples como parece à Claro que pode surgir a necessidade de
primeira vista, exigindo do chefe não somente se modificar uma ordem, até mesmo em
o conhecimento de determinadas “normas” sentido contrário. Em tais ocasiões, porém, o
como, até mesmo, a plena ciência dos motivos subordinado deve estar ciente de que o chefe
determinantes de uma ordem. É necessário, “sabe o que está fazendo” e tem fundadas
portanto, antes de estabelecer “como dar razões para assim agir.
ordens”, indagar “porque” são dadas, “o que” O propósito da expedição de ordens
são na realidade e “quando” são precisas. depois de assinalar que se devem ter em conta
Para que as ordens, quando necessárias, os fatores relativos à recepção adequada da
sejam corretamente dadas, deve o chefe: ordem, sua transmissão perfeita e execução
Ser claro: significa que, sendo a clareza correta, focaliza os seguintes cuidados cuja
essencial, o chefe deve escolher observância será muito útil ao chefe:
cuidadosamente as palavras – escritas ou I)Relativo à “atenção”. É importante que
faladas e principalmente escritas – de tal forma o subordinado focalize a sua atenção
que signifiquem a mesma coisa para ele e os completamente nas ordens que lhe são dadas.
subordinados. II)Relativo à “memória”. O chefe deve
Usar um tom de voz adequado: as fazer com que, na medida do possível, a ordem
ordens devem ser dadas num tom de voz firme, seja curta e clara, de maneira que possa ser
natural, vigoroso, sem denotar, porém, facilmente retida pela memória.
exasperação, fadiga ou aborrecimento. Finalmente, o chefe deve verificar se as
Evitar ordens simultâneas: não raro, ordens foram compreendidas.
encontramos chefes que, por motivo de uma Normas apontadas por Beckman:
errônea concepção de “eficiência”, se dirigem a) procure estar bem informado antes de
ao subordinado determinando-lhe uma série de dar a ordem;
ordens ao mesmo tempo. Isso cria confusão, b) determine a tarefa tendo em vista o
demora de assimilação e desnorteamento com que o trabalhador pode executar;
relação às tarefas a serem executadas. c) dê instruções precisas, embora breves,
Dar ordens simples: na devida distintamente pronunciadas;
sequência de tempo e de tal forma que as d) não tenha a compreensão da ordem
tarefas mais importantes sejam realizadas em como garantida;
primeiro lugar. e) repita a ordem, se não entendida;
Reduzir ao mínimo as ordens f) pergunte se as ordens são claras – faça
negativas: assim como as ordens expedidas com que o trabalhador as repita;
em tom imperativo têm um efeito inibitório g) controle o mau gênio; evite a
para com o subordinado, as que apresentam irreverência, o abuso e o sarcasmo;
um caráter negativo são psicologicamente h) faça uma demonstração da tarefa,
contraindicadas e acarretam um efeito muitas quando necessário;
vezes contraproducente. i) adote maneiras apropriadas ao
Procure dar às ordens um conteúdo indivíduo;
positivo. Há qualquer coisa na natureza j) adote maneiras adequadas à situação;
humana que se torna de pronto curiosa a k) não dê várias ordens ao mesmo tempo;
respeito do que não deve ser feito. Embora haja l) não determine mais trabalho do que
coisas que certamente não devem ser feitas, a possa ser executado;
atenção deve ser focalizada no que deve ser m) escreva as ordens mais difíceis ou
feito, pois isso, aliado ao apoio e estímulo complexas; e
oferecidos neste sentido, fará com que reste n) explique a finalidade, se necessário.
pouco tempo para que se pense nas
“alternativas indesejáveis”.
Também é mais fácil, num grupo bem
organizado, convencer do acerto daquilo que
contribui para os propósitos do mesmo, do que
demonstrar a necessidade dos “não se deve”
ou “não farás”.

MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA B-1


ANEXO C - REFERÊNCIAS

BLANCHARD, Kenneth; ZIGARMI, Drea; HORTON, Paul; HUNT, Chester. Sociologia. São
ZIGARMI, Patrícia. Liderança e o Gerente Paulo: Mc Graw Hill, 1981.
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